Revista Mistérios de Órunmilá - 03
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“(...)Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.”
Cecília Meireles –extraído do poema A Arte de Ser Feliz
os lugares, a mortalidade infantil caiu drasticamente - em 1960, segundo
a Organização Mundial da Saúde, de cada cinco crianças nascidas,
uma morria antes dos cinco anos; hoje, 19 de cada 20 sobrevivem. O
analfabetismo atinge 15% da população mundial, contra 44% na década
de 80 do século XX. A pobreza extrema também foi reduzida em 75%,
dizem os números, e as guerras diminuíram.
E A FELICIDADE, O QUE É?
Alegria, bem estar, paz consigo mesmo, e com os outros, saúde,
prosperidade, um amor, um trabalho que faça sentir bem, amigos, família.
Afinal, de quantos desejos e anseios é feita a felicidade humana? O que
é felicidade? Como ser feliz? As respostas são muitas e a maioria delas,
durante milênios, foi seara exclusiva de filósofos, com os gregos à frente
durante séculos. De lá para cá, estes questionamentos foram abraçados
pelas mais diversas áreas de estudo, passando a ter valor essencial no
desenvolvimento da civilização humana, hoje totalmente globalizada e sob
uma velocidade e intensidade de informação e comunicação inéditas em
toda a sua história.
Já se sabe que há uma descarga enorme de elementos químicos em
nosso cérebro que produzem e distribuem a sensação de bem estar, que
traduziria em termos genéricos o significado de felicidade para o ser
humano. Também é fato comprovado e objeto de estudos científicos, que
depois de ter as necessidades básicas supridas de forma satisfatória – boa
comida, casa, educação, condições de cuidar da saúde, lazer – o que pode
ser comprado ou acumulado em posses materiais não faz diferença, ou
seja, não significa mais felicidade. Sob este ponto de vista, a Humanidade
deveria estar se sentindo “mais feliz”. “As pessoas, em todos os cantos
do mundo estão mais ricas, gozam de mais saúde, são mais livres, têm
mais educação, estão mais pacíficas e desfrutam de uma maior igualdade
do que nunca antes. Todas as estatísticas indicam que melhoramos.
Em geral, a Humanidade se encontra melhor que nunca”, argumenta o
cientista cognitivo Steven Pinker, professor da Universidade de Harvard,
em entrevista ao jornal espanhol El País. Se se levar em conta somente os
dados estatísticos, não há o que contestar: adultos vivem mais em todos
26 Mistérios de Órunmilá Fevereiro 2017
De onde vem, então, a sensação de que estamos indo direto para um
despenhadeiro caótico e que nunca saímos da barbárie? Segundo dados
da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão, reconhecida
como a doença deste século, avança, atingindo mais de 350 milhões
de pessoas de todas as idades, com maior número de mulheres, sendo
a principal causa de incapacidade em todo o mundo. Nos estágios
mais graves, pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem
por suicídio a cada ano e esta é a segunda maior causa da morte de
pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O quadro é tão alarmante, que a
campanha referente ao Dia Mundial da Saúde deste ano (7 de abril) tem
como tema a conscientização sobre a doença.
A explicação, em parte, estaria justamente no fato de que a humanidade
se tornou mais exigente, e porque a felicidade, embora seja sentida e
projetada de forma individual, não pode se expandir sem o sentido
coletivo que a impregna. Diariamente, somos bombardeados com
informações de todos os lugares do mundo. Vemos os horrores
da guerra se espalhando, milhões de refugiados, a fome e a miséria
assolando países africanos e batendo na porta ao nosso lado, o meio
ambiente se degradando pela ação humana provocando tragédias
em todos os lugares e ficamos sabendo também que apenas 1% da
população global concentra uma riqueza equivalente ao que possuem os
outros 99% dos quase 8 bilhões de seres humanos. A sensação de que
mesmo as pequenas felicidades podem se dissipar de repente, assombra
até os mais otimistas eventualmente.
Crianças em Burundi na África