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Moda & Negócios EDIÇÃO 10

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José Nivaldo Júnior<br />

A<strong>Moda</strong>é<br />

paraSempre<br />

Houve uma época em que a palavra moda estava associada<br />

a futilidade. Essa visão distorcida, felizmente,<br />

ficou para trás.<br />

Hoje as atividades da moda constituem empreendimentos<br />

complexos e sofisticados, que geram milhões de empregos<br />

e representam uma expressiva fatia do PIB de qualquer país<br />

com economia moderna. No Brasil, salvo engano, essa participação<br />

ultrapassa a casa dos 4%.<br />

A indústria da moda é, do ponto de vista histórico, provavelmente<br />

a mais antiga e ininterrupta. Enquanto as atividades<br />

mais longevas – por exemplo, a produção de vinhos – ostentam<br />

uma biografia com milhares de anos, com relação à<br />

moda podemos falar, pasmem, em milhões de anos.<br />

Começou artesanalmente e de forma espontânea desde que<br />

o ser humano se entendeu como tal. Já na era das cavernas,<br />

havia a moda como elemento identificador dos grupos humanos<br />

primitivos.<br />

A maneira de se vestir, pentear, adornar, pintar caracterizava<br />

e identificava as tribos do longo período que antecedeu a<br />

sociedade competitiva. Como permanece até hoje. Uma vez<br />

instaladas a sociedade excludente e de classes, a partir do<br />

Egito e da Mesopotâmia, antigos, a moda ganhou uma nova<br />

vitalidade e um novo patamar.<br />

É tão profunda a vinculação de cada povo e de cada época<br />

com a moda que, sem qualquer outro elemento identificador,<br />

toda pessoa medianamente informada é capaz de identificar<br />

a procedência, no tempo e no espaço e até a condição social<br />

de qualquer indivíduo, a partir de uma ilustração de corpo<br />

inteiro. Pelas vestes, pelos adereços, pelo penteado. Muitas<br />

vezes, um simples detalhe é suficiente para uma demarcação<br />

precisa. A moda tem essa duração e alcance porque,<br />

como nenhum outro setor, atua em sintonia com a essência<br />

do universo, que é a transformação permanente. Tudo flui<br />

o tempo inteiro, sintetiza Heráclito, o filósofo que há 2.500<br />

anos anunciou a dinâmica da natureza e da sociedade.<br />

Além disso, a moda contempla as duas necessidades e desejos<br />

fundamentais aparentemente contraditórios, dos seres<br />

humanos: a procura de identidade com o grupo do qual fazem<br />

parte e ao mesmo tempo o desejo de expressarem sua<br />

individualidade. Dessa forma, a indústria da moda está destinada<br />

a se fortalecer cada vez mais.<br />

Como vem da época da comunidade primitiva, não deverá<br />

desaparecer sequer com o possível fim, no futuro, da sociedade<br />

de classes.<br />

Enquanto houver mudança – e haverá sempre – e seres humanos<br />

em busca de identificar-se e diferenciar-se, logo à<br />

primeira vista, a moda prevalecerá.<br />

Se eu pudesse recomendar a alguém um investimento sem<br />

erro a longuíssimo prazo, recomendaria investir em moda.<br />

Enquanto houver seres humanos e sociedade, haverá moda.<br />

Um brinde à tamanha vitalidade.<br />

José Nivaldo Júnior<br />

Publicitário, escritor e historiador.<br />

Membro da Academia Pernambucana de Letras<br />

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