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38ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Antônio Saracura

O Itabaianista

Pedro de

Chiquinho Gordo

Do livro -

Os Curadores

de Cobra e

de Gente

Itabaiana

SERGIPE

BRASIL

Romancista, Contista, Cronista e Poeta, Formado em Administração pela Universidade Federal de SE

Membro da Academia Itanbaianense de Letras e da Academia Sergipana de Letras

Isaias Marinho

Pedro era um homem bom

Com alguma restrição

Ninguém viesse apertá-lo

Com muita reclamação

Ele com o juízo quente

Não era nada prudente

Ficar perto de sua mão.

[...]

Num cômodo improvisado

Do tamanho de um banheiro

Pedro de Chiquinho Gordo

É agora fogueteiro,

Pelo chão e numa estante

Pólvora, papel e barbante

Bombas de breu e morteiros.

Taquaras de busca-pé

E busca-pés cordoados

Cargas de dinamite

Salitre e enxofre jogados

Uma caixa de explosivo

À espera do agente ativo,

E varas de fumo brabo...

[...]

O Estado resolveu

Enquadrar Itabaiana

E enviou seus fiscais

Para, em uma semana,

Notificar e multar

Desde o gerente do altar

Ao roleteiro de cana.

O toc-toc na porta

Pedro ouviu, mas nem ligou

Podia ser um vadio...

Mas a insistência o irritou

E o fez parar a labuta:

— Seu filho de uma puta!

Vai entrar ou encovou?

O fiscal pigarreou

Para ganhar atenção

Pedro nem olhou pra ele

E murmurou resmungão:

— Quer fogos pra seu guri?

Espere que eu acabe aqui...

Senta aí nesse caixão!

O fiscal olhou em volta

E sentiu um arrepio

Não atinava o motivo

Mas não gostou do que viu

Deu um breque na tensão

E ativou a missão

Que a Receita definiu:

— O senhor é um infrator

Trabalha à margem da lei

Posso dizer sem temor

Pelo que aqui vejo, eu sei,

Vai morrer pagando multa

E o nome filho da puta,

Que me deu, quando eu entrei.

Não se me faça de mouco

Que eu sei de sua leitura...

Cadê os livros legais

O alvará, a escritura?

Apenas por desacato

Posso prendê-lo no ato

Sem dar direito a soltura.

Xxx

Pedro de Chiquinho Gordo

Não sabia o que falar,

Trabalhava pela feira

E muitas vezes sem dar

A vida dele e Anita (a esposa)

Era uma vida restrita

Sem chance de melhorar.

O fiscal à sua frente

Era a figura do cão

Apontava o dedo em riste

Desnorteando a razão...

Queria que assinasse,

Queria que se curvasse

E que deitasse no chão.

Xxx

Pólvora e dinamites,

Foguetes mal-acabados

Mais o fiscal no caixão 1

(Aracaju 2014. Livre adaptação do conto Pedro de Chiquinho Gordo, do livro

História Breve de uma Paixão, de Antônio Oliveira).

Mais estopins inflamados

Tudo isso em uma cabeça

Pode fazer que aconteça

Um Big Bang danado.

— Não tenho nada a perder

Não gosto de minha vida

Vou resolver essa encrenca

De uma maneira antiga...

E com um toque ligeiro

Acionou no isqueiro

Uma chama colorida.

A língua da labareda

Avermelhou o salão

Pedro com olhos de louco

Revolteava o tição...

O fiscal abriu no mundo;

Depois, o acharam no fundo

De um tanque no Bastião.

(Povoado a seis km da cidade)

18

Atração_dezembro de 2020

1 Há um duplo sentido entre o local onde o fi scal se sentara e onde deveria fi car daqui a pouco.

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