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A pátria portátil: uma história do livro judaico na Argentina

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Trata-se, portanto, de uma disputa que se materializa na escolha

linguística a ser feita nas sinagogas, nos lares, nas instituições de ensino,

nas ruas e também nos livros. A tríade iídiche (dissociada do sionismo),

hebraico (associado ao sionismo) e castelhano (relacionado à assimilação)

se apresenta num cenário público de debate-silêncio, pondo-nos a

questionar as noções de Estado, pátria, monolinguismo, plurilinguismo,

língua de herança, língua de cultura etc. Isso se dá de tal forma que, quando

o autor nos fornece os números da queda vertiginosa das publicações

em iídiche ao longo das décadas na Argentina, não propõe uma chave de

leitura única, mas aponta para múltiplas variáveis que tornam a história

do livro judaico nesse país um caso singular, sobre o qual incidem muito

mais aspectos do que no estudo de outros livros. Seguindo a recomendação

de Darnton (2010 [2009], p. 189ss), Dujovne faz uma história do

livro de modo holístico, considerando os indispensáveis agentes/atores

envolvidos com o objeto, as circunstâncias, a política local, nacional e

internacional etc.

E é com esse paradigma holístico que o autor de A pátria portátil vai

delineando como diversas casas editoriais judaicas surgiram em Buenos

Aires, às vezes de modo planejado, às vezes fruto do acaso, agregando

interesse econômico (de sobrevivência) e interesse intelectual. Um dos

personagens mais notáveis é o fundador da Biblioteca de Temas Judíos

[Biblioteca de Temas Judaicos], Manuel Gleizer:

Manuel Gleizer nasceu em 1889 no povoado de Ataki, na então

Bessarábia, nos confins do Império Russo. Chegou à Argentina

em 1906, com sua mãe e quatro irmãos, e com eles se instalou na

colônia agrícola de Narcisse Leven, na província de Entre Ríos.

Depois de se casar, Gleizer deixa o vilarejo em 1918, fixando-se

na cidade de Buenos Aires. Dedicou-se por um tempo à venda

ambulante a crédito e depois à venda de bilhetes de loteria. Para

saldar uma dívida contraída nessa atividade, pôs à venda seus

livros e descobriu assim, por acaso, as possibilidades comerciais

do livro. Dois anos depois, montou uma livraria no número 556

da Triunvirato (hoje, Avenida Corrientes) e, em 1921, mudou-se

para o número 537 da mesma rua (muito próximo da atual Avenida

Scalabrini Ortiz), no bairro de Villa Crespo (p. 148 ).

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