A pátria portátil: uma história do livro judaico na Argentina
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de um belo ensaio histórico ricamente ilustrado com dados, amplamente
documentado. Um trabalho de arquivo que dá muitas lições a nós, pesquisadores
brasileiros interessados por questões que envolvem o livro, mas
também os Estudos Culturais. Escassas são iniciativas como este livro, e
como fazem falta no Brasil, uma vez que não temos, apenas para dar um
exemplo, uma história minuciosa do livro afro-brasileiro (considerando
que essa é nossa diáspora mais relevante), ainda que por diversos motivos
diferentes. Talvez não tenhamos nem mesmo uma história do livro dos
colonos não portugueses, como europeus germânicos radicados no Brasil
que fizeram parte fundamental de algumas de nossas primeiras iniciativas
editoriais de sucesso, como a editora Laemmert, levada a cabo por dois
irmãos, que, chegando ao Brasil, mudam seus nomes para adaptá-los
às línguas faladas no país e lançam uma série de títulos exitosos. Nem
mesmo temos, de forma ampla, estudos que mostrem como o estatuto da
cidadania ao (ex-)escravizado demora a chegar em muito porque não lhe
são acessíveis livros, periódicos, jornais, revistas... nem mesmo a leitura
de documentos, como tragicamente narra, num conto, Maria Firmina dos
Reis na epígrafe, cujas cores da dominação restituímos. Se pouco se fala
sobre a racialização da leitura no Brasil, necessário se faz mostrar a cor
de quem lê e escreve, e engana e domina ao ler e escrever.
O trabalho de Dujovne, que, como veremos já no próximo capítulo, é
inspirado por um encontro acidental, se torna extremamente relevante
também para pensarmos em como determinadas materialidades históricas
sucumbem diante do discurso dominante, mas podem ser recuperadas
e reconstituídas quando disponibilizadas e consideradas pertinentes
aos olhos do pesquisador. Esses olhos devem estar não apenas atentos,
como qualquer filosofia da ciência defenderá, mas também interessados
em enxergar borrões, falhas, amassões, manchas e marcas de borracha
em papel velho.
O autor faz um movimento de compreensão do período histórico mundial,
mas principalmente de como esse contexto se localiza na Argentina, onde
a produção editorial se vincula às instituições de difusão da cultura judaica
e o interesse pelas chamadas obras de “interesse judaico” vai significando e
se diversificando entre o iídiche, o hebraico e o castelhano, estabelecendo
outros desafios para a prática editorial na nova “pátria”. Assim, A pátria
portátil se conformou pela criação do Mes del Libro Judío [Mês do Livro
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