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Kazuo Ohno - Treino e(m) Poema

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erguia de sua poltrona para demonstrar aquilo que lhe vinha à cabeça

com gestos e sons. Ele costumava dizer que não era professor, que não

sabia sê-lo. A única coisa que sabia fazer era falar das coisas de que

gostava, do seu jeito de perceber a vida, e de dançar para nós.

O desejo de traduzir o livro de Kazuo Ohno começou há décadas. Era

um projeto pessoal de Felícia Ogawa, pesquisadora da dança e uma das

primeiras difusoras do butô no Brasil nos idos dos anos 1980, junto com

seu marido, Takao Kusuno, diretor da Cia. Tamanduá de Dança-teatro,

que aportou aqui em 1977 vindo do Japão.O projeto não se concretizou,

pois Felícia faleceu precocemente durante uma das turnês de Kazuo

Ohno por São Paulo. Takao tentou retomar a iniciativa, mas problemas

de saúde e, posteriormente, sua morte, pouco depois da de sua esposa,

impediram-no de realizá-lo. Nesse ínterim, o livro foi traduzido para o

inglês por John Barrett, grande amigo com quem tive o prazer de conviver

no estúdio e fora dele, durante os três anos em que vivi em Tóquio.

A tradução de Barrett, intitulada Kazuo Ohno's Wor/d, incluiu também o

texto de Yoshito Ohno denominado Food for the Sou/.

O sonho de Felícia se tornou uma "ação entre amigos'; retomada

graças à diligência da ProfsTae Suzuki, que nos apresenta, agora, a sua

versão em português do livro de Kazuo Ohno. O imenso valor desta obra

está no fato de ela dar ao leitor brasileiro a oportunidade de imersão

direta na fonte, uma vez que o texto é composto de transcrições de aulas

do mestre Ohno traduzidas a partir do original japonês. Esta tradução

é um convite ao mergulho na experiência de recriação de suas aulas. A

tradutora, que nunca teve contato direto com a dança de Ohno, precisou

deixar-se dançar em pensamento com a mesma liberdade proposta

por ele ao convidar os seus pupilos para a dança. Só assim poderia dar

conta da difícil tarefa de traduzi-lo sem tentar explicar ou adaptar sua

fala na tentativa de facilitar seu entendimento. Como a própria dança de

Ohno, a tradução provocará estranhamento - e isto é mais um sinal

de que lhe foi fiel, inclusive ao manter em inglês as palavras que nessa

língua ele falava. As que ele usava com maior frequência eram: crazy!,

insect, f1ower, love, skinship, my mother, universe, free sty/e!, thinking

dame! [dame, em japonês, significa "não pode"].

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