O que é a Capoeira - Asociacion Cultural de Capoeira Angola
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'Os concorrentes novatos dançam entre si. Mas quando algum<br />
bailarino se <strong>de</strong>staca, o mestre dança com ele, apontando-o, por meio <strong>de</strong>ssa<br />
distinção à atenção dos veteranos, novatos e assistentes. Essa autorida<strong>de</strong> do<br />
Mestre <strong>é</strong> uma das coisas mais admiráveis e comoventes <strong>que</strong> tenho visto. O<br />
respeito a ele <strong>de</strong>monstrado pela coletivida<strong>de</strong>, o carinho com <strong>que</strong> o cercam,<br />
fariam inveja a muito regente <strong>de</strong> música erudita. Prova isto <strong>que</strong> o espírito<br />
<strong>de</strong> disciplina <strong>é</strong> mais vivo no povo ru<strong>de</strong> e inculto da nossa terra, quando este<br />
se organiza, <strong>que</strong> entre as camadas superiores, já mais habituados à<br />
organização conseqüente da própria instrução e do exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
culturais e <strong>que</strong>, por isso mesmo, teriam maior obrigação <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a<br />
necessida<strong>de</strong> e a importância da disciplina na coletivida<strong>de</strong>. Acontece por<strong>é</strong>m<br />
<strong>que</strong> o mestre nunca abusa <strong>de</strong> seus direitos. Não se atribui po<strong>de</strong>res<br />
ditatoriais. Sabe <strong>que</strong> sua autorida<strong>de</strong> emana da própria coletivida<strong>de</strong> e<br />
comporta-se como parte integrante <strong>de</strong>sta.”<br />
Ao entrar na <strong>de</strong>scrição do terreiro on<strong>de</strong> aprecia a <strong>Capoeira</strong>, as<br />
anotações <strong>de</strong>screvem as condições <strong>de</strong> vida da gente anônima e humil<strong>de</strong> <strong>que</strong><br />
resiste com a luta: “O terreiro <strong>de</strong> mestre Wal<strong>de</strong>mar localiza-se no c<strong>é</strong>lebre<br />
bairro proletário da Liberda<strong>de</strong>. Bairro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> população,<br />
sem pretensões, es<strong>que</strong>cido da Prefeitura <strong>que</strong> se preocupa em embelezar e<br />
cuidar só da<strong>que</strong>les trechos da Cida<strong>de</strong> do Salvador <strong>que</strong> se encontram à vista<br />
do turista. Quanto ao bairro da Liberda<strong>de</strong>, não <strong>é</strong> para ‘gringo’ ver. Como<br />
todo bairro operário, não tem calçamento, <strong>é</strong> cheio <strong>de</strong> valas on<strong>de</strong>, em tempo<br />
<strong>de</strong> chuva, as águas parecem envoltas em nuvens <strong>de</strong> mosquitos; seus<br />
incontáveis casebres mal se têm <strong>de</strong> p<strong>é</strong>, e se o fazem <strong>é</strong> por pura teimosia.<br />
Abundam as vendolas on<strong>de</strong> se compra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o jabá at<strong>é</strong> a caninha. É um<br />
bairro repleto <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> movimento, corajoso e revoltado.”<br />
A <strong>de</strong>scrição da <strong>Capoeira</strong> praticada à <strong>é</strong>poca <strong>de</strong>ixa claro <strong>que</strong> a beleza<br />
do jogo se encontra no respeito à forma tradicional, na perícia e habilida<strong>de</strong><br />
no manejo do corpo, sem resvalar para o confronto aberto.<br />
“Quando chegamos ao terreiro a capoeira já começara. Dois<br />
dançarinos coleavam rentes ao chão, enquanto dois berimbaus e três<br />
pan<strong>de</strong>iros acompanhavam com estranhos ritmos e sons a<strong>que</strong>la dança<br />
magnífica e arrebatadora, <strong>de</strong> gente combativa e forte. Os dançarinos do<br />
momento eram um carregador do mercado <strong>de</strong> Água dos Meninos e um<br />
operário da construção civil. O operário estava todo <strong>de</strong> branco, sapatos<br />
brilhando, camisa alvejando. Era um dos melhores dançarinos. É costume<br />
da fina-flor dos capoeiristas o dançar assim, ‘<strong>de</strong> ponto branco’ como se<br />
costuma dizer, para <strong>de</strong>monstrar sua perícia. Chegam ao cúmulo da dançar<br />
<strong>de</strong> chap<strong>é</strong>u e os bailarinos hábeis se gabam <strong>de</strong> sair da dança sem uma só<br />
mancha <strong>de</strong> terra na roupa, limpos e bem arrumados como se ainda não