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paul-feyerabend-contra-o-metodo

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Essa maneira liberal de agir não é, repito, apenas um fato da<br />

história da ciência. g algo razoável e absolutamente necessário para que<br />

se desenvolva o conhecimento. De maneira mais específica, é possível<br />

evidenciar o seguinte: dada uma regra qualquer, por ‘fundamental’<br />

e ‘necessária’ que se afigure para a ciência, sempre haverá<br />

circunstâncias em que se torna conveniente não apenas ignorá-la<br />

como adotar a regra oposta. Exemplificando: há circunstâncias em<br />

que é aconselhável introduzir. elaborar e defender hipóteses ad hoc,<br />

ou hipóteses que se colocam em <strong>contra</strong>dição com resultados experimentais<br />

bem estabelecidos e aceitos, ou hipóteses de conteúdo<br />

mais reduzido que o da existente e empiricamente adequada alternativa,<br />

ou hipóteses auto<strong>contra</strong>ditórias, e assim por diante 1.<br />

Há circunstâncias — que ocorrem com apreciável freqüência<br />

— em que a argumentação (ou o debate) perde sua característica<br />

antecipadora para tornar-se obstáculo ao progresso. Ninguém sustentará<br />

que ensinar crianças é puramente uma questão de debate<br />

(embora a argumentação possa fazer parte do ensino e dele devesse<br />

fazer parte em maior extensão do que a habitual) e quase todos<br />

hoje admitem que um aparente resultado da razão — o domínio<br />

de uma linguagem, a existência de um mundo perceptível ricamente<br />

articulado, a capacidade lógica — é devido, em parte, à doutrinação,<br />

e, em parte, a um processo de desenvolvimento que atua<br />

com a força de uma lei natural. E quando os argumentos parecem<br />

produzir efeito, isto se deve mais à repetição física do que ao seu<br />

conteúdo semântico.<br />

Tendo admitido isso, também devemos conceder que existe<br />

a possibilidade de desenvolvimento não argumentativo, assim<br />

no adulto como nas (partes teoréticas das) instituições, tais<br />

como a ciência, a religião, a prostituição e assim por diante. Não<br />

cabe, ao certo, dar como assentado que o possível para uma<br />

criança — adquirir, ao menos estímulo, novos modos e comportamento,<br />

adotá-las sem esforço visível — está para além do<br />

alcance de pessoas mais velhas. Antes, caberia esperar que alterações<br />

catastróficas do ambiente e físico, guerras, desmorona-<br />

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