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paul-feyerabend-contra-o-metodo

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condições de luz deixam a desejar ou quando nos sentimos inseguros<br />

quanto a nosso poder de observação — e isso expressa a<br />

convicção de que há circunstâncias comuns em que nossos sentidos<br />

se mostram aptos a ver o mundo ‘como ele realmente é’ e de<br />

que há circunstâncias, igualmente comuns, em que nossos sentidos<br />

se enganam. Expressa a convicção de que algumas de nossas<br />

impressões sensoriais são corretas e outras não são. E damos<br />

também como certo que o meio material que se interpõe entre nós<br />

e o objeto não exerce influência deturpadora e que a entidade física<br />

de que o contato depende — a luz — veicula um quadro verdadeiro.<br />

Trata-se, em todos os casos, de pressupostos abstratos e<br />

altamente discutíveis que dão forma à nossa concepção do mundo,<br />

sem se tornarem acessíveis a uma crítica direta. Em geral, nem<br />

sequer nos damos conta desses pressupostos e só lhes reconhecemos<br />

os efeitos quando nos defrontamos com uma cosmologia<br />

inteiramente diversa: os preconceitos são descobertos graças a<br />

<strong>contra</strong>ste e não graças a análise. O material de que o cientista dispõe,<br />

inclusive suas mais elaboradas teorias e suas técnicas mais refinadas,<br />

estrutura-se de modo exatamente idêntico. Encerra, também,<br />

princípios que não são conhecidos e que, se conhecidos, seriam<br />

de verificação extremamente difícil. (Em conseqüência, uma<br />

teoria poderá conflitar com a evidência não porque deixe de ser<br />

correta, mas porque a evidência está adulterada.)<br />

Ora — como nos seria possível examinar algo de que nos<br />

estamos valendo o tempo todo? Como analisar — para lhes apontar<br />

os pressupostos — os termos em que habitualmente expressamos<br />

nossas observações mais simples e diretas? Como — agindo<br />

como agimos — descobrir a espécie de mundo que pressupomos?<br />

A resposta é clara: não podemos descobrir o mundo a<br />

partir de dentro. Há necessidade de um padrão externo de crítica:<br />

precisamos de um conjunto de pressupostos alternativos ou —<br />

uma vez que esses pressupostos serão muito gerais, fazendo surgir,<br />

por assim dizer, todo um mundo alternativo — necessita-<br />

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