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solange serrano salles desenho cultivado - Faculdade de Ciências

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“O papel do professor <strong>de</strong>veria ser como o <strong>de</strong> um regente <strong>de</strong> orquestra, para oqual os alunos (instrumentistas) têm participação única e significativa naconstrução coletiva e individual dos processos e produtos da aprendizagem”.Rosa Iavelberg


ResumoAo <strong>de</strong>senharem as crianças produzem cultura em diferentes espaços e tempos,atribuindo significados às suas experiências. Atualmente as crianças têm odireito garantido a uma educação que lhes proporcione oportunida<strong>de</strong>s para<strong>de</strong>senhar e avançar em seus saberes <strong>de</strong>senhistas. No dia-a-dia das escolas,tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental, a criança tem queter assegurado orientações a<strong>de</strong>quadas e mediadas por um professor quesaberá conduzir-la para o seu <strong>de</strong>senvolvimento criativo na linguagem do<strong><strong>de</strong>senho</strong>. Observar como a criança apren<strong>de</strong> a <strong>de</strong>senhar é fator fundamentalpara o trabalho educacional da escola construtivista. Embora existamorientações para o seu ensino, observamos diferentes posturas na suautilização nos espaços escolares. Esta pesquisa surge da busca por respostasque justifiquem a mistura <strong>de</strong> concepções pedagógicas e didáticas nas práticaseducativas <strong>de</strong> alguns professores na atualida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança écompreendido por meio <strong>de</strong> fases que se suce<strong>de</strong>m e espontâneo, observadaspela autora <strong>de</strong>ste trabalho, que atua como professora <strong>de</strong> arte na re<strong>de</strong> pública<strong>de</strong> ensino na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru. Pautada em teorias sobre o <strong>de</strong>senvolvimentoinfantil e a infância, sobre a história das concepções pedagógicas em arte,sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança, esta pesquisa realizada por meio <strong>de</strong> revisãoreferencial, se complementa com conhecimentos e as contribuições do <strong><strong>de</strong>senho</strong><strong>cultivado</strong>, ou seja, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> criativo da criança, como objeto simbólico ecultural, expressivo e construtivo, individuado e influenciado pela cultura.Palavras-chave: Desenho infantil; Desenvolvimento infantil; Arte-educação;Tendências pedagógicas; Desenho <strong>cultivado</strong>.


SUMÁRIOINTRODUÇÃO ................................................................................................. 81 O DESENHO E A EDUCAÇÃO ESCOLAR .................................................. 111.1 Os conhecimentos sobre a infância ..................................................... 141.2 Legislação e ensino da arte ................................................................. 181.3 O ensino e a aprendizagem e suas tendências pedagógicas em arte . 211.3.1 Arte na escola tradicional .................................................................. 241.3.2 Arte na escola nova .......................................................................... 251.3.3 Arte na escola tecnicista ................................................................... 271.3.4 Arte na escola libertadora ................................................................. 281.3.5 Escola libertária ................................................................................ 291.3.6 Escola crítico-social dos conteúdos .................................................. 291.3.7 Arte na escola construtivista ............................................................. 302 AS PROPOSIÇÕES DO MARCO CURRICULAR CONSTRUTIVISTA ........ 362.1 Contribuições da epistemologia genética ............................................. 362.2 As proposições da escola sócio histórica <strong>de</strong> Vygotsky ........................ 412.3 Ausubel e aprendizagem significativa .................................................. 423 DO DESENHO ESPONTÂNEO AO DESENHO CULTIVADO ..................... 463.1 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> realista <strong>de</strong> Luquet .............................................................. 473.2 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> espontâneo <strong>de</strong> Viktor Lowenfeld ....................................... 493.3 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> autodidata e espontâneo <strong>de</strong> Rhoda Kellogg ...................... 504 O DESENHO CULTIVADO ........................................................................... 52CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 62REFERÊNCIAS ................................................................................................ 65


8IntroduçãoDes<strong>de</strong> muito pequenas, as crianças possuem um interesse inegável pelo<strong><strong>de</strong>senho</strong>. Os <strong><strong>de</strong>senho</strong>s da criança e do jovem são, hoje, compreendidos comodiálogo com os conceitos, procedimentos e valores sobre <strong><strong>de</strong>senho</strong>s do meio noqual vivem e <strong>de</strong> outros ao qual têm acesso. Des<strong>de</strong> a educação infantil po<strong>de</strong>mospropiciar um universo rico em aprendizagens em <strong><strong>de</strong>senho</strong>, ampliando ouniverso cultural das crianças. Na vivência escolar, percebe-se que[...] a oportunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senhar sistematicamente promove seuprogresso na linguagem do <strong><strong>de</strong>senho</strong>. Uma orientação a<strong>de</strong>quada po<strong>de</strong>ajudar o aluno avançar e o contrário, ou seja, um abandono ou umaorientação equivocada nas situações educativas <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> po<strong>de</strong>estagnar o processo criativo (IAVELBERG, 2006, p. 57).Desenhar não é uma questão <strong>de</strong> dom, como muitos ainda insistem emdizer, nem tampouco a execução <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>s prontos. Compreen<strong>de</strong>r o que faza criança <strong>de</strong>senhar, como ocorre a evolução do <strong><strong>de</strong>senho</strong> na criança e osespaços reservados na rotina escolar po<strong>de</strong> colaborar na prática <strong>de</strong> muitosprofissionais da educação, pedagogos ou professores <strong>de</strong> arte no século XXI.A escolha pelo tema <strong>de</strong>ste trabalho justifica-se por algumas razões. Emprimeiro lugar, porque com a nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional, <strong>de</strong> 1996, a Arte passa a ser disciplina obrigatória na Educação Básicano Brasil e o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, compreendido como objeto <strong>de</strong> conhecimento, presentenos objetivos e conteúdos da linguagem Artes Visuais, propostos nosParâmetros Curriculares Nacionais – PCNs Arte (BRASIL, 1998) merece serestudado, pois constitui disciplina do currículo e linguagem para a arte.Em segundo lugar, porque em nossa vivência educacional comoprofessora <strong>de</strong> Arte no Ciclo I em classes comuns do Ensino Fundamental dare<strong>de</strong> pública estadual na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru, presenciamos na atualida<strong>de</strong>,diferentes posturas <strong>de</strong> profissionais da educação <strong>de</strong>ntre eles, professores <strong>de</strong>arte, professores polivalentes e coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos, quanto ao ensinoe utilização do <strong><strong>de</strong>senho</strong> na escola. É fundamental enten<strong>de</strong>r por qual caminhoseguiu o ensino e aprendizagem e a valorização do <strong><strong>de</strong>senho</strong> na história daeducação brasileira, por meio do <strong>de</strong>senrolar das tendências pedagógicas noensino da arte.


9Buscou-se por meio da revisão referencial a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> infância, aconcepção <strong>de</strong> criança apresentada nas pesquisas <strong>de</strong> Jean Piaget, abordadashoje na concepção construtivista <strong>de</strong> ensino e aprendizagem em arte, assimcomo as proposições da escola sócio–histórica <strong>de</strong> Vygotsky e a teoria daaprendizagem significativa <strong>de</strong> Ausubel, principais bases teóricas que orientamos PCNs <strong>de</strong> Arte (BRASIL, 1998) para o Ensino Fundamental no Brasil.Na busca por teorias diferentes daquelas em que se consi<strong>de</strong>ravam o<strong>de</strong>senvolvimento do <strong><strong>de</strong>senho</strong> espontâneo em fases fixas que se sucediam,encontramos o <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> proposto por Rosa Iavelberg (1995, 2003,2006), nosso referencial principal <strong>de</strong> pesquisa, que baseia o seu trabalho naobservação da capacida<strong>de</strong> do aprendiz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar e interpretar <strong><strong>de</strong>senho</strong>spróprios e <strong>de</strong> outros produtores, além da investigação <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong>aprendizagens em <strong><strong>de</strong>senho</strong>.É importante compreen<strong>de</strong>r o papel do professor na organização eorientação <strong>de</strong> situações educativas que irão promover “transformações paraníveis <strong>de</strong> menos saber <strong>de</strong>senhista para outros <strong>de</strong> mais saber, alcançados emmúltiplas interações” (IAVELBERG, 2006, p. 11). Conhecer a gênese e astransformações do <strong><strong>de</strong>senho</strong> é fator fundamental para o trabalho educacional,visto como objeto da cultura infantil, e que po<strong>de</strong> se alimentar da produçãocultural adulta e histórica.Neste contexto <strong>de</strong>stacamos o valor das intervenções pedagógicas quecontribuem para que a crença no conhecimento espontâneo, compreendidocomo natural e alienado da cultura <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> existir. Alimentados pela cultura, <strong>de</strong>forma cultivada os aprendizes em arte po<strong>de</strong>rão conhecer melhor a socieda<strong>de</strong>em que vivem interpretar a cultura <strong>de</strong> sua época e tomar contato com a <strong>de</strong>outros povos.O estudo teve uma abordagem qualitativa e foi realizado por meio <strong>de</strong>pesquisa referencial (bibliográfica e virtual) por meio <strong>de</strong> análise e sínteses dosreferenciais selecionados. De acordo com Lakasco & Marconi (1995, p. 43) “apesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobrecerto assunto, mas propicia exame <strong>de</strong> um tema sob novo enfoque ouabordagem, chegando a conclusões inovadoras”.


10Com o objetivo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r aos questionamentos relacionados ao<strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil no contexto educacional, para que se possa contribuir com aformação continuada <strong>de</strong> professores no ensino do <strong><strong>de</strong>senho</strong>, foi realizada estapesquisa, no qual vários autores consagrados foram utilizados no sentido domesmo ser validado, realizando uma busca abrangente sobre os estudosanteriormente pesquisados.


111 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> e a Educação EscolarA ciência tem nos levado a admitir que os mais antigos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s feitospelo ser humano são aqueles encontrados sobre as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rochas,sobretudo em cavernas. O homem primitivo se comunicou por meio <strong>de</strong> códigosvisuais, ou seja, <strong><strong>de</strong>senho</strong>s, pinturas... Os primeiros <strong>de</strong>senhistas procuraramrepresentar, por meio <strong>de</strong> imagens, a realida<strong>de</strong> em que viviam ou mesmo seus<strong>de</strong>sejos, sonhos, medos, vitórias. A esses registros <strong>de</strong> imagens po<strong>de</strong>mosconferir o título <strong>de</strong> as primeiras expressões artísticas conhecidas.Po<strong>de</strong>mos concluir que o <strong><strong>de</strong>senho</strong> como forma <strong>de</strong> expressão humanaatravessou milênios e que o homem sempre o utilizou. Com <strong><strong>de</strong>senho</strong>s, ohomem <strong>de</strong>ixou marcas <strong>de</strong> seu tempo, contou parte <strong>de</strong> sua história “a históriapo<strong>de</strong> ser concebida como investigação, exploração, experimentação. A históriapo<strong>de</strong> se fazer a todo momento: o homem é seu gran<strong>de</strong> inventor e sua gran<strong>de</strong>invenção” (DERDYK, 1994, p.18). O <strong><strong>de</strong>senho</strong> ao longo da história passa a sercompreendido e reconhecido como uma linguagem, e como tal possuidor <strong>de</strong>características próprias.Segundo Derdyk (1994), o <strong><strong>de</strong>senho</strong> como linguagem para a arte, para aciência e para a técnica, é um instrumento <strong>de</strong> conhecimento possuindo gran<strong>de</strong>capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abrangência como meio <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> expressão. Para aautora os <strong><strong>de</strong>senho</strong>s criados e projetados pelo homem, ou seja, os sinais<strong>de</strong>ixados pelo próprio homem evi<strong>de</strong>nciando suas passagens pelos tempos e os<strong><strong>de</strong>senho</strong>s vivos da natureza, são exemplos que nos fazem pensar a respeitodas idéias que se têm do <strong><strong>de</strong>senho</strong>, ampliando suas possibilida<strong>de</strong>s materiais <strong>de</strong>realização. A autora coloca o <strong><strong>de</strong>senho</strong> como linguagem para a arte atribuindoao mesmo caráter instrumental para o conhecimento.O homem é um ser social, e que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu nascimento, é membro <strong>de</strong>um grupo social, a família. Nas famílias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito pequenas, as criançaspossuem um interesse inegável pelo <strong><strong>de</strong>senho</strong>. Elas po<strong>de</strong>m ser incentivadas a<strong>de</strong>senhar pelas pessoas próximas a elas, que po<strong>de</strong>m ser outras crianças oumesmo pelos adultos. As famílias, inseridas em grupos maiores <strong>de</strong> pessoas, asocieda<strong>de</strong>, interagem regidas por suas letras, sua arte, seus modos <strong>de</strong> vida,


12seus sistemas <strong>de</strong> valores, suas tradições, suas crenças, seus direitos, enfimsua cultura.O homem é um ser cultural e a cultura é uma criação humana:[...] ao tentar resolver seus problemas, o ser humano produz os meiospara a satisfação <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos, transformando omundo natural e a si mesmo. Por meio do trabalho instaura relaçõessociais, cria mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> comportamento, instituições e saberes(ARANHA, 2006, p. 67).O aperfeiçoamento <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s só é possível pela transmissão dosconhecimentos adquiridos <strong>de</strong> uma geração para outra, o que garantem acontinuação das mesmas quando valorizadas pelo grupo social. “É a educaçãoque mantém viva a memória <strong>de</strong> um povo e dá condições para a suasobrevivência material e espiritual”. (ARANHA, 2006, p. 67)A educação é fundamental na transmissão da cultura quando oportunizaao indivíduo adquirir conhecimento para que se transforme, se liberte e se tornein<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, a fim <strong>de</strong> permitir a continuida<strong>de</strong> do homem como ser histórico esocial.[...] A educação não é, porém, a simples transmissão da herança dosantepassados, mas o processo pelo qual também se torna possível agestação do novo e a ruptura com o velho. Educação é um conceitogenérico, mais amplo, que supõe o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentointegral do homem (ARANHA, 2002, p. 50 - 51).A educação, uma prática social, inclui o conhecimento científico, a arte ea vida. Dessa forma, ao chegarem à escola, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Educação Infantil, ascrianças passam a utilizar o <strong><strong>de</strong>senho</strong> como instrumento <strong>de</strong> conhecimento epara o conhecimento.“O estudo da educação e da pedagogia é imprescindível aoconhecimento da educação atual, pois esta é um produto histórico e nãoinvenção exclusiva <strong>de</strong> nosso tempo”. (PEREIRA, 2002, p. 18) Dessa maneira éimportante conhecer como o <strong><strong>de</strong>senho</strong> é utilizado no espaço escolar naatualida<strong>de</strong> como instrumento para o conhecimento e transformação do homemdo século XXI.Na educação escolar atual, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> está presente nos objetivos econteúdos das Artes Visuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Educação Infantil ao Ensino Médio.A expressão artes visuais apareceu a partir dos anos 50, numaamplitu<strong>de</strong> maior, para <strong>de</strong>signar a expressão artística captada pela


13visão. Autores se alternam quanto a nomeação das artes em geral.Uns usam artes visuais e outros preferem artes plásticas (SANS,1995, p.14).As Artes Visuais, apresentadas nas formas tradicionais e mo<strong>de</strong>rnascomo o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, a pintura, a escultura, a gravura, a arquitetura, o <strong><strong>de</strong>senho</strong>industrial, a fotografia, as artes gráficas, o cinema, a televisão, o ví<strong>de</strong>o, acomputação, <strong>de</strong>ntre outros estão presentes no cotidiano da vida infantil. Naescola, ou mesmo fora <strong>de</strong>la, a criança <strong>de</strong>senha, pinta, mo<strong>de</strong>la ou constróiformas. Utiliza materiais encontrados em seu entorno, ao rabiscar e <strong>de</strong>senharfaz uso <strong>de</strong> sua expressão sensível.Temos crianças na educação infantil e no ensino fundamental, é precisogarantir que sejam atendidas em suas necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre elas, a <strong>de</strong>expressão e criação na linguagem do <strong><strong>de</strong>senho</strong>. Segundo Kramer (2006, p. 20)“educação infantil e ensino fundamental são indissociáveis: ambos envolvemconhecimentos e afetos; saberes e valores; cuidados e atenção; serieda<strong>de</strong> eriso”. Na educação infantil, a criança tem assegurado o seu direito <strong>de</strong> brincar,criar, apren<strong>de</strong>r.O ensino fundamental no Brasil passou a ter nove anos <strong>de</strong> duração coma aprovação da Lei nº 11.274/2006, incluindo crianças <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>nas escolas, e um dos <strong>de</strong>safios dos educadores neste momento consiste ematuar para assegurar a apropriação e a construção do conhecimento por todos.Para que os direitos das crianças sejam assegurados, o trabalho pedagógicoprecisa levar em conta a singularida<strong>de</strong> das ações infantis e o direito àbrinca<strong>de</strong>ira, a produção cultural tanto na educação infantil como no ensinofundamental.Segundo Iavelberg (2003), o professor lida com a complexida<strong>de</strong> ao atuarna escola construtivista, e ao abraçar essa proposta, precisará colocar emprática vários conhecimentos, sobre a criança, sobre os conteúdos específicosdas áreas do conhecimento, sobre a pedagogia, o que envolverá comotrabalhar, para quem, o que, além <strong>de</strong> estar inserido no seu tempo, pois acrianças ouvem, compreen<strong>de</strong>m o que vivem no seu entorno.


15<strong>de</strong>stacamos Colin Heywood (2004), pesquisador inglês que fez uma importantesíntese do avanço dos estudos sobre o tema rastreando pesquisas produzidasno Reino Unido, na França, nos EUA, na Itália, na Rússia e nos paísesescandinavos.Na publicação da obra “Uma História da Infância: da Ida<strong>de</strong> Média àÉpoca Contemporânea no Oci<strong>de</strong>nte”, em 2004, verificamos que o autori<strong>de</strong>ntifica várias <strong>de</strong>scobertas da infância: nos séculos VI a VII, nos séculos XII aXIV, nos séculos XVI a XVII, no século XVIII e início do XIX, e no final do XIX einício do XX.A visão sobre a infância da criança brasileira, que hoje ocupa osespaços escolares, como um período específico pelo qual todos passam é umaconstrução <strong>de</strong>finida no momento presente, mas que tem origem na história dacolonização brasileira. Para Colin Heywood (2004), em torno dos séculos XVI eXVII, o olhar para a infância, da fase do <strong>de</strong>smame aos sete anos, era concebidoquanto às formas <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s dos pais, ou seja, dos adultos, que viam a criançacomo pecadora inata.As crianças passaram a conviver em instituições que além <strong>de</strong> oferecera educação, tinham o objetivo <strong>de</strong> corrigi-la, pois a criança, nascida do pecadooriginal, <strong>de</strong>veria ser educada para o bem. No Brasil, a partir <strong>de</strong> 1530, em plenoperíodo <strong>de</strong> colonização, a educação estava a cargo dos jesuítas, que a serviçoda Companhia <strong>de</strong> Jesus tinham a incumbência <strong>de</strong> evangelizar, ensinando aleitura e a escrita aos índios adultos.Posteriormente, os jesuítas viram nas crianças a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levara conversão aos gentios adultos, pois podiam ser ensinadas com maisfacilida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>riam passar os conhecimentos aos pais. Para a historiadoraDel Priori (2004, p. 58):[...] a infância estava sendo <strong>de</strong>scoberta nesse momento no VelhoMundo, resultado da transformação nas relações entre o indivíduo e ogrupo, o que ensejava o nascimento <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> ea própria “afirmação do sentimento da infância”, na qual Igreja eEstado tiveram um papel fundamental. Neste sentido, foi também essemovimento “quem fez a Companhia escolher as crianças indígenascomo o papel branco, a cera virgem, em que tanto se <strong>de</strong>sejavaescrever, e inscrever-se.


16A concepção <strong>de</strong> infância e o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> educação nesse período eramcopiados do mo<strong>de</strong>lo europeu. Os filhos dos senhores e escravos muitas vezesocupavam os mesmos espaços privados enquanto pequenos, vindo a sedistanciar a partir dos sete anos quando os filhos dos senhores iniciavam osestudos. Nesta ida<strong>de</strong> os filhos dos escravos começavam a exercer ativida<strong>de</strong>sprodutivas no mundo do trabalho, não sobrando tempo e oportunida<strong>de</strong> parabrincar ou estudar.Para os filhos da elite era oferecida uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> quemuitas vezes era concluída na Europa, já para os filhos da classe trabalhadora,menos favorecida, a educação escolar <strong>de</strong>ficitária. Sobre a influência do filósofoJohn Locke, no século XVIII, o olhar sobre a criança era <strong>de</strong> um ser que nãopensava, existindo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prepará-la para a vida adulta, educando-apara <strong>de</strong>senvolver o seu caráter e a razão.Segundo Heywood (2004), a obra do autor <strong>de</strong>senvolveu uma visão maisprivilegiada da criança em relação a outros períodos. Para o filósofo, ascrianças necessitavam <strong>de</strong> ajuda, pois sofriam <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong> natural, <strong>de</strong>veriam<strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocinar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o berço.No mesmo século, o escritor Jean Jaques Rousseau (1712-1778),reconstruiu a idéia <strong>de</strong> infância ao contrariar a tradição cristã do pecado originale <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a inocência original das crianças, vista em sua obra Emílio. Para oautor, a criança se diferenciava da razão intelectual adulta, tinha formaspróprias <strong>de</strong> ver, pensar, sentir e raciocinar.No final do século XVIII, surge uma concepção romântica <strong>de</strong> infância, naqual as crianças eram vistas como criaturas <strong>de</strong> profunda sabedoria esensibilida<strong>de</strong> estética. Apesar da existência <strong>de</strong>ssa visão, havia uma fortetradição religiosa e as crianças ingressavam cedo no mundo dos adultos. Como advento da Revolução Industrial, no século XIX, na Europa, as indústrias emcrescimento passaram a necessitar da mão <strong>de</strong> obra das mulheres que aoingressarem no trabalho das fábricas passaram a <strong>de</strong>ixar seus filhos eminstituições para seus cuidados.As crianças passam a ser assistidas ou mesmo con<strong>de</strong>nadas ao trabalhona fábrica, con<strong>de</strong>nadas a não serem mais crianças. No século XIX, o Brasil do


17período Imperial, educava as crianças da elite para <strong>de</strong>sempenharem papéissociais, a fim <strong>de</strong> garantirem a manutenção e reprodução dos i<strong>de</strong>ais propostospara a vida, garantidos por meio da educação.Del Priori (2004) afirma que a história da criança brasileira não foidiferente da dos adultos, tendo sido feita à sua sombra. Sombra <strong>de</strong> umasocieda<strong>de</strong> que viveu quase quatro séculos <strong>de</strong> escravidão, tendo a divisão entresenhores e escravos <strong>de</strong>terminando uma estrutura social. As crianças dasclasses mais abastadas eram educadas por preceptores particulares, não tendofreqüentado escolas até o início do século XX, e os filhos dos pobres, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>muito cedo, eram consi<strong>de</strong>rados força produtiva, não tendo a educação comopriorida<strong>de</strong>.Para Kramer (2006), numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual, as crianças<strong>de</strong>sempenham, nos diversos contextos, papéis diferentes. Para a autora a idéia<strong>de</strong> infância mo<strong>de</strong>rna foi universalizada com base em um padrão <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong>classe média, a partir <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pendência do adulto,característicos <strong>de</strong> sua inserção no interior <strong>de</strong>ssas classes. No entanto,[...] é preciso consi<strong>de</strong>rar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos sociais, culturais epolíticos: no Brasil, as nações indígenas, suas línguas e seuscostumes; a escravidão das populações negras; a opressão e apobreza da expressiva parte da população; o colonialismo e oimperialismo que <strong>de</strong>ixaram marcas diferentes no processo <strong>de</strong>socialização <strong>de</strong> crianças e adultos (KRAMER, 2006, p. 15).O que observamos é que até hoje o projeto educativo da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>ainda não é real, pois para a maioria da população infantil, em países como oBrasil, on<strong>de</strong> não é assegurado às crianças o direito <strong>de</strong> brincar, <strong>de</strong> não trabalhar.Conhecer não um conceito <strong>de</strong> infância e sim <strong>de</strong> infâncias nos possibilitam “veras crianças pelo que são no presente, sem se valer <strong>de</strong> estereótipos, idéias préconcebidasou <strong>de</strong> práticas educativas que visam a moldá-las em função <strong>de</strong>visões i<strong>de</strong>ológicas e rígidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem”.(NASCIMENTO, 2006, p. 27)No Brasil, segundo Nascimento (2006), ainda é muito recente a buscapela <strong>de</strong>mocratização da escolarização obrigatória e hoje presenciamos a suaampliação com a aprovação da Lei nº 11.274/2006, mais crianças foramincluídas no sistema educacional brasileiro, especialmente aquelas


18pertencentes aos setores populares, ou seja, a inclusão das crianças <strong>de</strong> seisanos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> no Ensino Fundamental.Nesse sentido, o Ensino Fundamental proposto <strong>de</strong> nove anos é maisuma estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização e acesso à escola. Com Paulo Freire (1979),apren<strong>de</strong>mos que a educação e a pedagogia dizem respeito à formação cultural.A educação, uma prática social, inclui o conhecimento, a arte e a vida cotidiana.Tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental as criançasprecisam ter assegurados os seus direitos sociais e o trabalho pedagógicoprecisa levar em conta a singularida<strong>de</strong> das ações infantis.Neste contexto <strong>de</strong>stacamos a importância <strong>de</strong> um trabalho pedagógicopreocupado com o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil como parte integrante da cultura infantil. Acultura infantil é produção e criação <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>s, gestos, cantos, escritas,danças. Ao <strong>de</strong>senharem as crianças produzem cultura e são produzidas nacultura <strong>de</strong> seus espaços e tempos.Para Leite (2007), a criança produz cultura quando atribui significados àssuas experiências.[...] Ela (re)significa o vivido, o ouvido, o visto,o sentido, o provado, ocheirado e os transforma <strong>de</strong> maneira singular e autoral. Seus<strong><strong>de</strong>senho</strong>s, gestos, cantos, escritas, danças e dramatizações dãomaterialida<strong>de</strong> à sua expressão cultural, isto é: cada vez que<strong>de</strong>senham, pintam, colam, recortam, mo<strong>de</strong>lam, fotografam,constroemcom sucatas – sempre experimentando materiais diversos, tentando,tentando, tentando novamente, transformando, <strong>de</strong>struindo, criandooutro, começando <strong>de</strong> novo, transformando mais uma vez -, ascrianças expressam-se <strong>de</strong> forma autoral e singular; expressõesprenhes <strong>de</strong> significação e indagação; expressões que resultam <strong>de</strong>uma trajetória autônoma, ao mesmo tempo particular e coletiva (LEITEIn: PILLOTTO, 2007, p. 50).1.2 Legislação e ensino da arteAs crianças têm o direito a uma escola estruturada <strong>de</strong> acordo com umaorganização curricular que favoreça a sua inserção crítica da cultura. Tambémtêm direito a condições oferecidas pelo Estado e pela socieda<strong>de</strong> que garantamo atendimento <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s básicas em outras esferas da vidaeconômica e social.


19No Brasil, temos importantes documentos legais que são frutos <strong>de</strong>conquistas sociais. A Constituição Brasileira <strong>de</strong> 1988, a primeira a reconhecer aEducação Infantil como direito das crianças <strong>de</strong> zero a seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>verdo Estado e opção da família; o Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº8.069, <strong>de</strong> 1990), que afirma os direitos e <strong>de</strong>veres das crianças e as protege; e aLei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional, <strong>de</strong> 1996 que reconhece, pelaprimeira vez, a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica noBrasil.O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI(BRASIL, 1998), que tem como objetivo na organização <strong>de</strong> seus três volumesaten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>terminações da Lei 9.394/96. No volume relativo ao âmbito <strong>de</strong>experiência Conhecimento <strong>de</strong> Mundo, que contém seis documentos referentesaos eixos <strong>de</strong> trabalho orientados para a construção das diferentes linguagenspelas crianças, e para as relações que elas estabelecem com os objetos doconhecimento, encontramos as Artes Visuais. O RNCEI (BRASIL,1998) ressaltaque as Artes Visuais é uma forma <strong>de</strong> expressão e comunicação humana, e queestá presente no cotidiano infantil, o que justifica sua presença no contextoeducacional.Concebida como linguagem que tem estrutura e características próprias,e que a sua aprendizagem se dá por meio da articulação <strong>de</strong> aspectos do fazerartístico, apreciação e reflexão.[...] As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboramsentidos <strong>de</strong> suas experiências. A partir daí constroem significaçõessobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outrosconhecimentos a respeito da arte. Nesse sentido, as Artes Visuais<strong>de</strong>vem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura ecaracterísticas próprias, cuja aprendizagem, no âmbito prático ereflexivo, se dá por meio da articulação dos seguintes aspectos: fazerartístico, apreciação e reflexão (BRASIL, 1998, p. 89)Dessa forma, para que uma aprendizagem significativa e real em arteaconteça proporcionando o <strong>de</strong>senvolvimento da imaginação criadora, daexpressão e das capacida<strong>de</strong>s estéticas das crianças, é necessário uma açãopedagógica a<strong>de</strong>quada à essa clientela, o queprofessor da Educação Infantil.exige um planejamento do


20Além da importância do <strong><strong>de</strong>senho</strong> no fazer artístico, apreciação e reflexãodas crianças observamos que o RCNEI (BRASIL,1998) <strong>de</strong>staca a importânciapara a construção das outras linguagens como a pintura, mo<strong>de</strong>lagem,construções e colagem as quais tem como base o próprio <strong><strong>de</strong>senho</strong>.[...] A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham tidomuitas oportunida<strong>de</strong>s, na instituição <strong>de</strong> educação infantil, <strong>de</strong> vivenciarexperiências envolvendo as Artes Visuais, po<strong>de</strong>-se esperar que ascrianças utilizem o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, a pintura, a mo<strong>de</strong>lagem e outras formas<strong>de</strong> expressão plástica para representar, expressar-se e comunicar-se.Para tanto, é necessário que as crianças tenham vivenciado diversasativida<strong>de</strong>s envolvendo o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, a pintura, a mo<strong>de</strong>lagem etc.,explorando as mais diversas técnicas e materiais (BRASIL, 1998, p.113).O RCNEI (BRASIL,1998), visto como um conjunto <strong>de</strong> princípios que,po<strong>de</strong> orientar a visão do ensino das Artes Visuais na Educação Infantilapresenta os objetivos e conteúdos estabelecidos por faixa etária, ou seja, <strong>de</strong> 0a 3 e <strong>de</strong> 4 a 6 anos, além <strong>de</strong> orientações didáticas que visam garantiroportunida<strong>de</strong>s às crianças e ao trabalho docente na Educação infantil.No Ensino Fundamental, da mesma forma que na Educação Infantil,encontramos um documento que propõe uma reorientação curricular para oensino <strong>de</strong> arte na educação escolar, os Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>de</strong>Arte – PCN (BRASIL, 1997) parte importante da reforma educacional, que foifruto das exigências do Plano Decenal <strong>de</strong> Educação para Todos (1993-2003).Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a “Arte tem umafunção tão importante quanto à <strong>de</strong> outros conhecimentos no processo <strong>de</strong> ensinoe aprendizagem” (BRASIL, 1997, p.19).Concebido na concepção construtivista <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, osPCNs: 1ª à 4ª séries (BRASIL, 1997) orientam a prática educacional <strong>de</strong> ensino<strong>de</strong> arte, como referência e elemento <strong>de</strong> reflexão para a modificação daspráticas educativas e não como um currículo obrigatório. Os PCNs (BRASIL,1997) <strong>de</strong> Arte foram construídos com a contribuição <strong>de</strong> pesquisadores eespecialistas na área <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s e das Secretarias da Educação, e quereúne as reflexões e estudos <strong>de</strong> educadores <strong>de</strong> todo o país, com o propósito <strong>de</strong>fornecer o esclarecimento <strong>de</strong> princípios educacionais e estéticos, que po<strong>de</strong>mauxiliar o trabalho do professor na sala <strong>de</strong> aula.


21A proposta <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, e não mais seriação das escolas, éapresentada nos PCNs (BRASIL, 1997) <strong>de</strong> forma sistematizada, propondomudanças no sistema educacional. O documento circunscreve a arte no ensinofundamental, <strong>de</strong>stacando as quatro linguagens: Artes Visuais, Dança, Música eTeatro. O programa <strong>de</strong> Artes Visuais <strong>de</strong>stinado aos alunos do primeiro esegundo ciclos tem como objetivo apresentar a importância das formastradicionais das Artes Visuais (o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, a pintura, a escultura, a gravura, aarquitetura, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> industrial, o artefato) e outras modalida<strong>de</strong>s que resultam<strong>de</strong> avanços tecnológicos e transformações estéticas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> (afotografia, as artes gráficas, o cinema, a televisão, o ví<strong>de</strong>o, a computação, aperformance).O documento propõe os blocos <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> Artes Visuais que searticulam para uma aprendizagem significativa com aspectos do fazer artístico,apreciação e reflexão sobre a arte. Segundo Iavelberg (2003) uma daselaboradoras dos PCNs <strong>de</strong> Arte (BRASIL, 1997), na abordagem construtivista, oprofessor lida com a complexida<strong>de</strong> e, ao abraçar essas propostas, colocará emprática vários conhecimentos: sobre a arte, sobre crianças, sobre como seensina e como se apren<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>mais áreas do conhecimento e em arte, sobreescolas, sobre a gênese das construções do aluno em arte, sobre o trabalho emequipe na escola, sobre a estrutura curricular e projeto educativo e sobre ocontexto sócio-político-educativo.No entanto, apesar <strong>de</strong> contemplarmos o ensino e aprendizagem do<strong><strong>de</strong>senho</strong> nos currículos escolares, ainda observamos na escola atual tantooportunida<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>senhar sistematicamente como o contrário ou mesmo oseu abandono. É fundamental conhecer os motivos do sucesso como do<strong>de</strong>clínio das ações <strong>de</strong>senhistas das crianças que estão neste cenário.1.3 O ensino e aprendizagem e as suas tendências pedagógicas em arteO ensino <strong>de</strong> arte no Brasil vem se processando ao longo da história. Aoanalisarmos o histórico da arte na educação escolar brasileira verificamos queas tendências pedagógicas que se suce<strong>de</strong>ram ainda estão presentes em


22diversos contextos educativos. Muitos professores misturam orientaçõesdidáticas e várias concepções <strong>de</strong> arte em suas práticas, escreve Iavelberg(2005). Fusari e Ferraz (1997) apontam que as práticas educativas surgem dasmobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e no caso da arte, tambémartísticas e estéticas. Para Barbosa (2002) a falta <strong>de</strong> conhecimento sobre opassado está levando os arte-educadores brasileiros a valorizaremexcessivamente o novo. Tudo o que é novida<strong>de</strong> é adotado entusiasticamente,mas sem um conhecimento aprofundado sobre os objetivos, os métodos, osprocedimentos e as suas inter-relações.[...] Novos objetivos têm sido propostos sem a necessária renovação,continuando-se a usar irrefletidamente métodos relacionados comobjetivos formulados por períodos culturais anteriores e vice-versa.Esta falta <strong>de</strong> estrutura interna no ensino da arte, ensino este que sepreten<strong>de</strong> inovador, está levando a uma concepção <strong>de</strong> arte comononsense, uma espécie <strong>de</strong> fazer sem intenção (BARBOSA, 2002, p.33).Esta busca <strong>de</strong> propostas contemporâneas para tratar das questões doensino-aprendizagem nas instituições <strong>de</strong> ensino formal vem sendo uma dasprincipais preocupações dos arte-educadores brasileiros nos últimos anos. ParaBarbosa (2002), um dos instrumentos <strong>de</strong> conscientização dos educadorespo<strong>de</strong>rá se constituir na análise do sistema educacional que numa socieda<strong>de</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, que necessariamente é histórica, porque a análise históricaatravessa o processo <strong>de</strong> transformação, mo<strong>de</strong>rnização e inovação do sistemaeducacional, <strong>de</strong>tectando os agentes controladores e <strong>de</strong>svendando os caminhosda “invasão cultural”.[...] O primeiro passo em direção à in<strong>de</strong>pendência é a conscientizaçãoda <strong>de</strong>pendência. “Aqueles que verda<strong>de</strong>iramente se comprometemcom a libertação”, <strong>de</strong>viam adotar um conceito dos homens “comocorpos conscientes” e da “consciência como consciência intencionadado mundo” (BARBOSA, 2002, p. 39).Dominar os conhecimentos históricos relacionados com a arte-educaçãoé <strong>de</strong> fundamental importância, para analisar os avanços e retrocessos <strong>de</strong> cadamomento, para uma transformação do ensino e aprendizagem da arte naatualida<strong>de</strong>. Ao analisar as tendências pedagógicas que influenciaram econtinuam influenciando o ensino-aprendizagem da arte teremos condições <strong>de</strong>escolher qual a prática educativa mais a<strong>de</strong>quada como caminho na construção


23da nossa própria história. Fusari e Ferraz (1992) apontam duas vertentes para aeducação escolar em arte: i<strong>de</strong>alista liberal e realista progressista.Para as autoras na tendência i<strong>de</strong>alista liberal, a educação, sozinha,po<strong>de</strong> garantir a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais igualitária e <strong>de</strong>mocrática. Atendência realista progressista surge na década <strong>de</strong> 60 no Brasil, quando sepassa a discutir as contribuições da escola, principalmente pública, para aconscientização do povo. Essas vertentes, as quais interpretam a questão daeducação na socieda<strong>de</strong> estão assim classificadas:I<strong>de</strong>alista Liberal Escola Tradicional Escola Nova Escola TecnicistaRealista Progressiva Escola Libertadora Escola Libertária Crítico-social dos ConteúdosFatos importantes antece<strong>de</strong>ram a educação tradicional em arte conformeesclarecem Barbosa (2002) e Fusari e Ferraz (1992). Para Barbosa (2002) a<strong>de</strong>terminação e caracterização dos períodos da arte-educação no Brasil requero confronto com o <strong>de</strong>senvolvimento da educação geral, assim paracompreen<strong>de</strong>r a arte-educação no Brasil hoje, ou qualquer outra manifestaçãosocial, é necessário compreen<strong>de</strong>r essa dinâmica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu início.No período compreendido entre 1549-1808, a educação jesuíticaenfatizava mais a literatura do que as belas artes. No período chamado <strong>de</strong>colonial, observamos a existência do “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo artísticonacional baseado na transformação do Barroco Jesuítico vindo <strong>de</strong> Portugal”.(BARBOSA, 2002, p. 41)Segundo Fusari e Ferraz (1992) com a criação da Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong>Belas Artes no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1816, tivemos entre nós a instalação oficialdo ensino artístico, seguindo mo<strong>de</strong>los similares aos europeus. No Brasil, como


24na Europa, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> era consi<strong>de</strong>rado a base <strong>de</strong> todas as artes, tornado-sematéria obrigatória nos anos iniciais <strong>de</strong> estudo da Aca<strong>de</strong>mia Imperial. Po<strong>de</strong>mosafirmar que sob o teto da Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong> Belas Artes, por volta <strong>de</strong> 1855,dois tipos <strong>de</strong> alunos usufruíam do ensino da arte: os alunos direcionados àsArtes Mecânicas, ou seja, do povo em geral, e os alunos direcionados às BelasArtes, as elites.[...] Todos convivendo sob o mesmo teto da Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong>Belas Artes por volta <strong>de</strong> 1855. Essas duas classes <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong>veriamconviver no mesmo ambiente, numa tentativa <strong>de</strong> aproximação entre a“cultura <strong>de</strong> massas” e a “cultura <strong>de</strong> elite”. Na realida<strong>de</strong> aconteceu ocontrário do que se pretendia na época, um reforço elitista e a divisão<strong>de</strong> classes sociais (SCHRAMM, 2003, p. 4).Assim, sob a influência francesa, o Barroco Brasileiro é substituído peloNeoclassismo e a concepção popular <strong>de</strong> arte é substituída por uma concepçãoburguesa. Nas escolas secundárias dominavam o retrato e a cópia <strong>de</strong> estampaspor meio <strong>de</strong> exercícios formais, métodos também usados nas escolaselementares particulares. Neste período a ativida<strong>de</strong> artística não era incluídanas escolas públicas.1.3.1 Arte na escola tradicionalPreocupando-se com a universalização dos conhecimentos, a pedagogiatradicional no Brasil teve como marco inicial o advento da República. SegundoBarbosa (2002), influenciado pelos mo<strong>de</strong>los educativos americanos, ingleses ebelgas, Rui Barbosa copiou e transcreveu literalmente as propostas <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong><strong>de</strong> Walter Smith sem nenhuma preocupação com a cultura nativa. Em 1883, pormeio <strong>de</strong> um parecer feito por ele sobre o ensino primário, fica bem evi<strong>de</strong>nte que“o <strong><strong>de</strong>senho</strong> ocupa um espaço equivalente ao do mundo em industrialização”(FUSARI, FERRAZ, 1993, p. 24). Na prática, o ensino do <strong><strong>de</strong>senho</strong> faziaanalogias com o trabalho, valorizando a concepção neoclássica com ênfase nalinha, no contorno, no traçado e na configuração.A relação entre ensino <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> e preparação para o trabalhocontinuou, no século XX, para as classes sociais mais baixas.


25[...] Na escola tradicional, o meio ditava a regra <strong>de</strong> acomodação dacriança a mo<strong>de</strong>los para apren<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>senhar, por intermédio darepetição <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> treino <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s, a questão técnicaocupava vasta área no que entendia por criação em <strong><strong>de</strong>senho</strong>, comênfase no produto (IAVELBERG, 2006, p. 15).Os mo<strong>de</strong>los propostos pelo professor eram reproduzidos pelos alunos etrabalhos manuais passaram a fazer parte do currículo escolar.Entre 1930 e 1970, os programas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> abordavam asmodalida<strong>de</strong>s: <strong><strong>de</strong>senho</strong> do natural, <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong>corativo, <strong><strong>de</strong>senho</strong> geométrico,conteúdos discriminados e centrados nas representações convencionais <strong>de</strong>imagens. Os professores “encaminhavam os conteúdos através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sque seriam fixadas pela repetição e tinham finalida<strong>de</strong> exercitar a vista, a mão, ainteligência, a memorização, o gosto e o senso moral” (FUSARI, FERRAZ,1997, p. 30).Na tendência tradicional,[...] os métodos baseiam-se tanto na exposição verbal como na<strong>de</strong>monstração dos conteúdos que são apresentados <strong>de</strong> forma linear,sem levar em consi<strong>de</strong>ração as características próprias dos alunos,muitas vezes encarados como adultos em miniatura (SCHRMAMM,1999, p. 4).Na relação didática, a autorida<strong>de</strong> do professor predomina, a disciplina éimposta, além do silêncio e da atenção, que são necessários para um ambiente<strong>de</strong> aprendizagem dos conteúdos consi<strong>de</strong>rados verda<strong>de</strong>s absolutas.1.3.2 Arte na escola novaA escola nova ou escola ativa surge no Brasil por volta <strong>de</strong> 1930, mas suadisseminação acontece somente a partir dos anos 50/60 com as escolasexperimentais. Com origens na Europa e Estados Unidos no século XIX, aescola nova tem seus objetivos centrados no aluno. A preocupação com ométodo, o aluno, seus interesses, sua espontaneida<strong>de</strong> e o processo <strong>de</strong> trabalhodão a essa pedagogia características essencialmente experimentais, Nela, oprofessor utiliza encaminhamentos que consi<strong>de</strong>ram o ensino e a aprendizagembasicamente como processo <strong>de</strong> pesquisa individual ou no máximo <strong>de</strong> pequenosgrupos <strong>de</strong> alunos.


26No século XX, diferentes autores marcaram os trabalhos dos professores<strong>de</strong> arte no Brasil. Com John Dewey, Herbert Read e Viktor Lowelfeld, o ensino<strong>de</strong> arte na escola nova torna-se um marco importante na história das escolasbrasileiras. Os seguidores do filósofo americano John Dewey procuravam“aprofundar suas idéias, partindo <strong>de</strong> problemas ou assuntos <strong>de</strong> interesse dosalunos, para assim <strong>de</strong>senvolver as experiências cognitivas, num apren<strong>de</strong>rfazendo” (FUSARI, FERRAZ, 1993, p. 27).Segundo as autoras do ponto <strong>de</strong> vista da Escola Nova, osconhecimentos já obtidos pela ciência e acumulados pela humanida<strong>de</strong> nãoprecisariam ser transmitidos aos alunos, pois se acreditava que ao concretizar ométodo que exigia uma certa or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> passos, eles seriam naturalmenteencontrados e organizados.Em 1947, influenciado pelas teorias freudianas e as contribuições dateoria piagetiana, Viktor Lowelfeld, publica o livro “Desenvolvimento daCapacida<strong>de</strong> Criadora”, escrito em co-autoria com W. Lambert Brittain. Essesautores abordaram a arte como meio para compreen<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>senvolvimentoindividual em suas diferentes fases e como <strong>de</strong>senvolvimento da consciênciaestética e criadora do indivíduo. Pesquisador da criativida<strong>de</strong>, Lowelfeld, em1955, i<strong>de</strong>ntificou oito critérios para dimensioná-la, os quais foram utilizados noBrasil como “ponto <strong>de</strong> partida para a criação <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> avaliação emescolas formais e em escolinhas <strong>de</strong> arte” (IAVELBERG, 2003, p. 112).Outro autor a influenciar o pensamento <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte da escolanova foi Herbert Read que se <strong>de</strong>dicou à análise <strong>de</strong> expressões artísticas <strong>de</strong>crianças e adolescentes. Em “A Educação pela Arte”, obra publicada em 1943,Read discute a questão do objetivo da educação afirmando que a base <strong>de</strong>sta<strong>de</strong>ve residir na liberda<strong>de</strong> individual. Ao ser difundida no Brasil, esta obrarecuperou a valorização da arte infantil e a concepção <strong>de</strong> arte baseada naexpressão e na liberda<strong>de</strong> criadora. Read (1948) propõe categorias para aobservação da manifestação artística a partir dos tipos psicológicos <strong>de</strong> Jung.Para ele as idéias são pensadas, sentidas e experimentadas, opondo-se asconcepções intelectualistas da educação, segundo as quais a criança <strong>de</strong>senhao que vê, e não o que imagina (IAVELBERG, 2003, p. 113).


27Na escola nova, priorizavam-se os aspectos psicológicos do<strong>de</strong>senvolvimento, com pouca ênfase nos aspectos sociais. A aprendizagempela <strong>de</strong>scoberta, centrada no aluno, no qual o professor tinha o papel <strong>de</strong>facilitador da aprendizagem eram orientações que <strong>de</strong>veriam levar o aluno àpesquisa e a soluções <strong>de</strong> problemas.Enfatizava-se o <strong>de</strong>senvolvimento e o apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r como fatomais importante do que apren<strong>de</strong>r os conteúdos. Iavelberg (2003) <strong>de</strong>screve queestas propostas sofreram <strong>de</strong>formações no ensino da arte no Brasil com umexcesso <strong>de</strong> psicologização, com práticas espontaneístas <strong>de</strong> sensibilização eexperimentação técnica pobre e <strong>de</strong>sorientada.[...] O <strong><strong>de</strong>senho</strong>, como se viu, passou a ser discutido como açãoexpressiva. Livre das influências do ensino, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> é tratado maiscomo produção espontânea da infância e menos como imitação erepresentação precisa da realida<strong>de</strong>, alcançada por meio <strong>de</strong> formaçãotécnica. A educação estética passa a ser <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m na vida mo<strong>de</strong>rna ena formação geral. A idéia <strong>de</strong> que todos po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ter ativida<strong>de</strong>criadora é paradigma da escola renovada e das idéias da educaçãoestética com fins sociais e formação geral (IAVELBERG, 2006, p. 20).1.3.3 Arte na escola tecnicistaA escola tecnicista instala-se no Brasil nos anos 60 e 70, visando umamelhoria na educação, objetivando a preparação <strong>de</strong> indivíduos maiscompetentes para o mercado <strong>de</strong> trabalho. Sob a influência do behaviorismo, naescola tecnicista, os elementos essenciais – objetivos, conteúdos, estratégias,técnicas, avaliação - apresentam-se interligados. O professor “passa a serconsi<strong>de</strong>rado com um técnico responsável por um competente planejamento doscursos escolares” (FUSARI, FERRAZ, 1992, p. 37).Uma mo<strong>de</strong>rnização do ensino é sugerida na escola tecnicista com autilização <strong>de</strong> recursos tecnológicos e audiovisuais. Nas aulas <strong>de</strong> arte osprofessores eram responsáveis pela eficiência e eficácia do ensino, enfatizavamum saber construir e um saber exprimir-se reduzidos a um saber técnico eespontaneístico.No início da década <strong>de</strong> 70, é assinada a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases daEducação Nacional n° 5692/71, que introduz a Educação Artística no currículoescolar.


28[...] Os professores <strong>de</strong> Desenho, Música, Trabalhos Manuais, CantoCoral e Artes Aplicadas, que vinham atuando segundo osconhecimentos específicos <strong>de</strong> suas linguagens, viram esses saberesrepentinamente transformados em meras ativida<strong>de</strong>s artísticas(FUSARI e FERRAZ, 1993, p. 37).A lei <strong>de</strong>terminava que fossem abordados conteúdos <strong>de</strong> música, teatro,dança e artes plásticas nos cursos <strong>de</strong> 1° e 2° graus, com um único professor,que <strong>de</strong>veria dominar todas essas linguagens <strong>de</strong> forma competente.A educação artística passa então a ser tratada <strong>de</strong> modo in<strong>de</strong>finido, comoobservamos no texto do Parecer n° 540/77 “não é uma matéria, mas uma áreabastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências edos interesses” (FUSARI e FERRAZ, 1993, p. 38).Os professores, <strong>de</strong>spreparados e inseguros, passam a valorizar os livrosdidáticos que neste período estão em pleno auge mercadológico, poisofereciam propostas e ativida<strong>de</strong>s que os auxiliavam na preparação <strong>de</strong> suasaulas. Em 1981 surgem movimentos <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte quepassam a discutir em congressos os cursos <strong>de</strong> arte da pré-escola até auniversida<strong>de</strong>.1.3.4 Arte na escola libertadoraA tendência progressista é o resultado da inquietação <strong>de</strong> muitoseducadores que, a partir da década <strong>de</strong> 60, manifestaram suas angústias emrelação ao rumo que a educação vinha tomando. Os educadores, passam adiscutir as reais contribuições da escola, principalmente a escola pública.Sugerem uma educação para o povo, <strong>de</strong> caráter não formal, visando libertar aspessoas da opressão da ignorância e da dominação.Essa tendência tem sua origem ligada diretamente com o método aopensar <strong>de</strong> Paulo Freire, em que o homem é consi<strong>de</strong>rado um ser situado nummundo material, concreto, econômico, social e i<strong>de</strong>ologicamente <strong>de</strong>terminado. Oensino da arte na escola libertadora e libertária segue as propostas da escolaativa ou escola nova, com ações interdisciplinares em torno <strong>de</strong> um temagerador, com práticas não diretivas, e os conteúdos da arte popular, comconteúdos políticos presentes.


29O professor tinha o papel <strong>de</strong> amimador e mantinha uma postura dialógicana relação com o educando. A aprendizagem acontecia a partir <strong>de</strong>problematizações, no qual professores e alunos “dialogam em condições <strong>de</strong>igualda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>safiados por situações-problemas que <strong>de</strong>vem compreen<strong>de</strong>r esolucionar” (FUSARI e FERRAZ, 1993, p. 40).1.3.5 Escola libertáriaA escola libertária propõe e valoriza a experiência da autogestão,autonomia e não-diretivida<strong>de</strong> do processo educativo. A autonomia vivenciadapor grupos <strong>de</strong> alunos e seus professores da escola libertária po<strong>de</strong> levar a idéia<strong>de</strong> conhecimento a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> respostas relacionadas àsexigências da vida social. Os conteúdos resultam das necessida<strong>de</strong>s e dosinteresses do grupo, sendo o professor um conselheiro, monitor e instrutor.1.3.6 Escola crítico-social dos conteúdosA compreensão do papel da escola nas mudanças sociais facilita oaparecimento <strong>de</strong>ssa tendência pedagógica. A retomada dos estudos teóricocríticos,nos fins da década <strong>de</strong> 70, cujas metas eram conseguir uma escolapública <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong> e garantir aos alunos acesso aos conteúdosfundamentais, propõe a unida<strong>de</strong> entre a teoria e prática e formação <strong>de</strong> umaconsciência crítica para essa escola. Os conteúdos <strong>de</strong>vem estar ligados àcultura universal e às realida<strong>de</strong>s sociais dos alunos, o professor é autorida<strong>de</strong>competente, mediador entre a experiência do aluno e o saber, que direciona oprocesso <strong>de</strong> ensino e aprendizagem.Segundo Saviani (1986) os métodos <strong>de</strong>ssa prática situam-se para alémdos tradicionais e novos, superando, por incorporação, as contribuições <strong>de</strong> unse outros. Libâneo (1985), que também contribui para a elaboração <strong>de</strong>ssapedagogia, propõe para o trabalho docente um saber, um saber ser e um saberfazer pedagógico que <strong>de</strong>vem integrar os aspectos matéria/formal do ensino earticulá-lo com os movimentos concretos ten<strong>de</strong>ntes à transformação da


30socieda<strong>de</strong>. No livro “Metodologia do Ensino <strong>de</strong> Arte”, Ferraz e Fusari (1997, p.36) escrevem “é preciso saber arte e saber ser professor <strong>de</strong> arte junto acrianças”, elas propõem um ensino <strong>de</strong> arte orientado por um professor quetenha uma consciência histórica e a reflexão crítica sobre os conceitos, asidéias e as ações educativas.1.3.7 Arte na escola construtivistaNo final da década <strong>de</strong> setenta, ao perceber a relevância <strong>de</strong> se conhecero processo histórico do ensino <strong>de</strong> arte e nele saber inferir com consciência, AnaMae Barbosa apresenta importante trabalho em análises e sínteses na área <strong>de</strong>arte. Em seus livros, Barbosa (1978, 1982, 1984, 1986 , 1990) contribui comrelatos e reflexões que pu<strong>de</strong>ram auxiliar o trabalho <strong>de</strong> professores a partir <strong>de</strong>posicionamentos mais claros numa tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratizar o conhecimento<strong>de</strong> arte.Dentre as ações que visavam melhoria no ensino da arte estava oposicionamento teórico-metodológico conhecido por “Metodologia Triangular”.[...] Uma das ações que está em processo, hoje, e que vem seafirmando por sua maior abrangência cultural, refere-se a umposicionamento teórico metodológico, conhecido entre nós por“Metodologia Triangular”. Esta proposta difundida e orientada por AnaMae Barbosa, e que está sem dúvida interferindo qualitativamente noprocesso e melhoria do ensino da arte, tem por base um trabalhopedagógico integrador <strong>de</strong> três facetas do conhecimento em arte: o“fazer artístico”, a “análise <strong>de</strong> obras artísticas” e a “história da arte”(FERRAZ e FUSARI, 1993, p. 35).Segundo Ferraz e Fusari (1993), esta proposta se <strong>de</strong>senvolveu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oinício da década <strong>de</strong> noventa, em São Paulo, no museu <strong>de</strong> Arte Contemporâneada USP e no sul do país, pela Fundação Iochpe e Universida<strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul, <strong>de</strong>ntre outras instituições <strong>de</strong> ensino.O ensino <strong>de</strong> arte acompanhou os movimentos da arte e da educaçãonum processo dinâmico, assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> 1980, o ensino da arte sofreunova reorientação: a arte produzida na socieda<strong>de</strong>, nas diversas culturas, passaa ser objeto <strong>de</strong> conhecimento nas escolas. Mesmo utilizando recursos


31tradicionais como lousa, papel, tinta e lápis, novas tecnologias foramincorporadas às ativida<strong>de</strong>s escolares.Em meados dos anos 80, “surgem novas proposições como a escolasócio-interacionista-construtivista, que, posteriormente, é chamada <strong>de</strong> escolaconstrutivista” (IAVELBERG, 2003, p. 34). A escola construtivista integra ascontribuições da epistemologia genética <strong>de</strong> Piaget, da escola sócio-histórica <strong>de</strong>Vygostsky e da teoria da aprendizagem significativa <strong>de</strong> Ausubel. Classificadacomo escola ativa, a escola construtivista tem o aluno como centro e sujeito <strong>de</strong>suas aprendizagens. As pesquisas sobre a aquisição do conhecimento, comFerreiro e Teberosky (1986), orientam os professores que passam a ver o alunoque percorre níveis conceituais na aprendizagem por estratégias pessoais, asquais ele põe em prática em função <strong>de</strong> hipóteses e <strong>de</strong> seus saberes.Ocorre o retorno à valorização dos conteúdos que <strong>de</strong> maneira diferenteda escola tradicional, são <strong>de</strong>finidos conforme sua utilida<strong>de</strong> social na formaçãopara a cidadania e aplicação na vida escolar ou cotidiana do aprendiz. Aobservação dos métodos <strong>de</strong> aprendizagem dos alunos e suas estratégiasindividuais, a variação <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> assimilação <strong>de</strong> conhecimento, segundo osdiferentes tipos <strong>de</strong> conteúdo (conceituais, procedimentais e atitudinais)articulados entre si nas situações <strong>de</strong> aprendizagem, passaram a ser fatores<strong>de</strong>terminantes nas escolas nos anos 90.“A aprendizagem <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> conteúdos associam-se aaprendizagem <strong>de</strong> competências e habilida<strong>de</strong>s, que passam a ser mobilizadaspelo aprendiz em diversas situações” (IAVELBERG, 2006, p. 29).A nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394,aprovada em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996, estabelece em seu artigo 26, parágrafo2°: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversosníveis da educação básica, <strong>de</strong> forma a promover o <strong>de</strong>senvolvimento cultural dosalunos”. Segundo Iavelberg (2003), a nova lei vem propiciar a consolidação dosParâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997) e a mobilização emtorno da formação contínua <strong>de</strong> professores, pois sozinhos os Parâmetros nãopo<strong>de</strong>riam gerar uma transformação na sala <strong>de</strong> aula.


32Os PCNs (BRASIL, 1997) contribuem para o ensino da arte, “porque nãosão uma metodologia nem uma proposta <strong>de</strong> currículo, e sim um conjunto <strong>de</strong>princípios que orientam a visão do ensino da arte” (ARSLAN ; IAVELBERG,2007, p. 4).Segundo Arslan e Iavelberg, os PCNs <strong>de</strong> Arte propõem uma reflexãosobre os processos <strong>de</strong> produção e legitimação da arte e da cultura em umanova perspectiva quando sugere que ações disciplinares e interdisciplinares searticulem com os temas transversais: ética, pluralida<strong>de</strong> cultural, meioambiente,saú<strong>de</strong> e orientação sexual. Os PCNs – Arte (BRASIL, 1997)conceituam a arte como área <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>finida nas linguagens: ArtesVisuais, Dança, Música e Teatro, com o foco na aprendizagem e fazemindicações para os objetivos, conteúdos, orientações didáticas e avaliação dasquatro linguagens em arte.Os aspectos metodológicos da escola construtivista são apresentadospor Iavelberg no livro “Para gostar <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r arte” (2003), o qual <strong>de</strong>screve aaprendizagem por meio da criação e resolução <strong>de</strong> problemas, e o convívio comas dúvidas que <strong>de</strong>vem ser orientadas no processo <strong>de</strong> ensino, que por sua vezprecisa dialogar com o processo <strong>de</strong> aprendizagem.“Definem-se critérios para a criação <strong>de</strong> boas situações <strong>de</strong> aprendizagem,nas quais o aluno tem problemas a resolver e <strong>de</strong>cisões a tomar e põe em jogotudo o que sabe sobre os conteúdos envolvidos. A relação, o relativismo e ainteração são fatos <strong>de</strong> aprendizagem” (IAVELBERG, 2003, p. 119).Os conhecimentos prévios dos alunos, ou seja, o conjunto <strong>de</strong> idéias,representações e informações que o aluno possui <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado conteúdo,passam a ser valorizados e tornam-se o ponto <strong>de</strong> partida para novasaprendizagens. O professor observador avalia as ações dos alunos para obterindicações para as suas intervenções no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem.Concluído em 1996, o relatório Jacques Delors, para a UNESCO, pelaComissão Internacional sobre Educação para o século XXI, <strong>de</strong>fine os quatropilares para a educação: saber saberes, saber fazeres, saber ser e saber ser noconvívio com o outro. Esses saberes ganham expressão nas práticas


33educativas e atribuem à escola, a educação para a recuperação dos valoreshumanos fundamentais.Segundo Iavelberg, “Os domínios saber saberes, saber fazeres e saberser e ser no convívio com o outro, po<strong>de</strong>m estar articulados em três eixos <strong>de</strong>experiências <strong>de</strong> aprendizagem para preservar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver arte naescola” (IAVELBERG, 2003, p. 47). Aos eixos das ações <strong>de</strong> aprendizagemsignificativa dos alunos para apren<strong>de</strong>r – fazer arte, ler arte e situar a produçãosócio cultural e histórica da arte – correspon<strong>de</strong>m conteúdos a serem aprendidos<strong>de</strong> distintos campos <strong>de</strong> ação, procedimentos, valores e atitu<strong>de</strong>s.QUADRO I - Conteúdos e articulação dos eixos <strong>de</strong> aprendizagem significativaem artes visuais (IAVELBERG, 2003, p. 48).Eixos <strong>de</strong> experiências<strong>de</strong> aprendizagemsignificativaFazerApreciarRefletirTipologia dos conteúdos aserem ensinados eaprendidosFatos, conceitos, princípios,procedimentos, valores,atitu<strong>de</strong>s, sensibilida<strong>de</strong>.Fatos, conceitos, princípios,procedimentos, valores,atitu<strong>de</strong>s, sensibilida<strong>de</strong>.Fatos, conceitos, princípios,procedimentos, valores,atitu<strong>de</strong>s, sensibilida<strong>de</strong>.TônicaDesenvolvimento do percursocriador <strong>cultivado</strong> no aluno emoficinas <strong>de</strong> fazer artístico(expressão e construção).Desenvolvimento dacompetência <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong>sfrutedas próprias imagens e dasimagens <strong>de</strong> outros (adultos ecrianças) e do universo natural.Desenvolvimento <strong>de</strong> teoriaspróprias a partir <strong>de</strong> interaçãocom fontes informativas einformantes que refletem sobrearte.Ao citar Barbosa (1998), Iavelberg escreve que o fazer artístico, aapreciação e a contextualização são ações, mesmo que sejam em um primeiromomento <strong>de</strong>finidas por intermédio das disciplinas que compunham o ensino daArte: produção, crítica, história da arte e estética, conforme sua PropostaTriangular para o ensino da Arte, formulada no livro “A imagem no ensino daarte”, <strong>de</strong> 1991.[...] “A Proposta Triangular <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma dupla triangulação. Aprimeira é <strong>de</strong> natureza epistemológica, ao <strong>de</strong>signar os componentesdo ensino-aprendizagem por três ações mentalmente e sensoriamentebásicas, quais sejam: criação (fazer artístico), leitura da obra <strong>de</strong> arte econtextualização” (BARBOSA, 1998, p. 33 apud IAVELBERG, 2003, p.48).


34Para Iavelberg (2006), nos anos 90 o ensino do <strong><strong>de</strong>senho</strong> tem como basea interação com imagens, procedimentos e valores das culturas. Segundo osPCNs (1997), “ver arte” é um dos eixos da aprendizagem significativa do ensino<strong>de</strong> arte. A leitura <strong>de</strong> imagens passa a fazer parte das aulas <strong>de</strong> arte por meio <strong>de</strong>propostas <strong>de</strong> apreciação estética. Dentre as propostas <strong>de</strong>stacamos aspesquisas <strong>de</strong> Edmund Feldmam (1970), Robert Ott (1984) e Michael Parsons(1992). Estes autores <strong>de</strong>senvolveram pesquisas e trabalhos <strong>de</strong>screvendo einterpretando os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da compreensão estética dosleitores <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte.Segundo Vernalha (2005), Feldman (1970) preocupou-se com aconstrução <strong>de</strong> um olhar crítico e com a formação <strong>de</strong> alunos capazes <strong>de</strong> realizaruma leitura crítica da obra <strong>de</strong> arte, assim propôs quatro estágios para a leiturada imagem: <strong>de</strong>scrição, análise, interpretação e julgamento. Este métodoenvolve o conhecer, o apreciar e o fazer através da comparação entre obras <strong>de</strong>arte <strong>de</strong> diversos períodos, para que o aluno perceba as suas diferenças e assuas similarida<strong>de</strong>s.Para Arslan (2007), o sistema <strong>de</strong> Ott (1984) foi uma das primeirasorientações para o trabalho com leituras <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte divulgadas no Brasil.O sistema <strong>de</strong> crítica artística Image Watching <strong>de</strong> Robert Ott é composto por umestágio inicial <strong>de</strong> aquecimento e sensibilização seguido <strong>de</strong> cinco momentos oucinco níveis <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> imagem: <strong>de</strong>screvendo, analisando, interpretando,fundamentando e revelando.Ao citar Parsons (1992), Arslan (2007) <strong>de</strong>screve os cinco estágios do<strong>de</strong>senvolvimento da apreciação estética <strong>de</strong> sua teoria realizada por meio <strong>de</strong>entrevistas com indivíduos <strong>de</strong> diferentes faixas etárias e conhecimentosartísticos. Segundo Parsons (1992) os estágios da apreciação estética são ofavoritismo, a beleza e realismo, a expressão, o estilo e forma e a autonomia.O <strong>de</strong>senvolvimento pelos níveis propostos pelos autores <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>aprendizagem e oportunida<strong>de</strong>s educativas advindas <strong>de</strong> experiência com osobjetos <strong>de</strong> arte, cabendo ao professor criá-las <strong>de</strong> maneira significativa. Emtodas essas propostas <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> imagens o professor torna-se um


35interlocutor para orientar a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> suasexperiências culturais po<strong>de</strong> fazer com que os alunos avancem em seus saberesem arte a partir dos questionamentos propostos especificamente em cada umdos sistemas <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> imagem.


362 A proposições do marco curricular construtivistaDes<strong>de</strong> a segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil passou a serobjeto <strong>de</strong> estudo para autores e pesquisadores que estudaram e valorizaram o<strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança. Segundo Iavelberg (2006), po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar os trabalhos<strong>de</strong> Corrado Ricci (1887), Sully (1898), Kerschensteiner (1905), Claparè<strong>de</strong>(1907),Rouma (1947), Stern (1961), Lowenfeld & Brittain (1961), Luçart &Wallon(1968), Kellogg (1969),Luquet (1969), Mèridieu (1979), entre outros. Apartir <strong>de</strong>ssas contribuições, em meados do século XX, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantilcomeçava a fazer sua história com base na documentação e na análise <strong>de</strong>trabalhos <strong>de</strong> crianças por psicólogos, antropólogos, historiadores, teóricos <strong>de</strong>arte e educadores.Como afirma Kobayashi (2008, p. 18),[...] os estudos científicos sobre a infância e a criança tiveram ummarco no século XX, alvo da psicologia, pedagogia, sociologia,antropologia e medicina entre outras ciências, o que po<strong>de</strong> serconstatado com os trabalhos <strong>de</strong> Freud, Montessori, Marakenko,Freinet, Neil Margaret Mead, Dewey, Piaget e Vygotsky entre tantosnomes que po<strong>de</strong>ríamos apresentar.Os educadores do final do século XX tornam-se observadores <strong>de</strong> seusaprendizes. Lidar com a ação e interpretação do aprendiz, consi<strong>de</strong>rando anatureza do objeto <strong><strong>de</strong>senho</strong> na história e na contemporaneida<strong>de</strong> conduz oeducador à compreensão dos motivos que levam os alunos à perda dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão criadora em artes visuais ou o sucesso das ações<strong>de</strong>senhistas.A concepção construtivista <strong>de</strong> ensino e aprendizagem consi<strong>de</strong>ra algunsaspectos da aprendizagem, baseados nas formulações <strong>de</strong> Piaget e<strong>de</strong>senvolvidas pelos seus seguidores.2.1 Contribuições da Epistemologia GenéticaO <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança é uma das condutas da função simbólica<strong>de</strong>scritas por Jean Piaget (1896-1980) ao lado do jogo simbólico, da imitaçãodiferida, da evocação verbal e da imagem mental. A principal colaboração <strong>de</strong>


37Piaget foi a <strong>de</strong> observar como o sujeito da aprendizagem transforma níveismenos avançados <strong>de</strong> conhecimento em níveis mais avançados. Rosa Iavelberg(2006, p. 20) escreve que “Hoje concebemos o <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança como arteda infância, portanto, <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> criação e jogo”.A teoria <strong>de</strong> Piaget, do <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, é uma teoria <strong>de</strong> etapasque pressupõe que os seres humanos passam por uma série <strong>de</strong> mudançasor<strong>de</strong>nadas e previsíveis. A construção da inteligência da criança se dá emetapas sucessivas, com complexida<strong>de</strong>s crescentes, enca<strong>de</strong>adas umas asoutras. Para Piaget, o conhecimento não po<strong>de</strong> ser concebido como algopre<strong>de</strong>terminado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, nem como resultado do simples registro<strong>de</strong> percepções e informações. Resulta das ações e interações do sujeito com oambiente on<strong>de</strong> vive.Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ainfância, por meio <strong>de</strong> interações do sujeito com os objetos que procuraconhecer, sejam eles do mundo físico, lógico–matemático, social ou cultural. Omeio e a cultura, portanto têm papel fundamental em criar situações as quais osujeito tenha que relacionar-se em função <strong>de</strong> seus conhecimentos para a suaampliação, quer seja mental, físico, social, moral e tantas outras situações quecriam <strong>de</strong>sequilíbrios constantes.O <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo do indivíduo ocorre por meio <strong>de</strong> constantes<strong>de</strong>sequilíbrios e equilibrações. Para Wadsworth (1993), Piaget <strong>de</strong>fine ainteligência como a adaptação que tem como característica o equilíbrio entre oorganismo e o meio, que resulta na interação entre o processo <strong>de</strong> assimilação eacomodação, que é o motor da aprendizagem. Para o autor, o processo <strong>de</strong>assimilação consiste em uma mudança quantitativa no sujeito, mediante aincorporação <strong>de</strong> elementos que vem do meio para as suas estruturas mentais jáexistentes, o que implica no seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual.Por meio <strong>de</strong>sse mecanismo o organismo, <strong>de</strong>senvolve ações <strong>de</strong>stinadasa atribuir significações, a partir <strong>de</strong> experiência anterior, aos elementos doambiente com os quais interage.O processo <strong>de</strong> acomodação consiste em uma mudança qualitativa naestrutura intelectual do sujeito pelas quais se adapta ao meio. É a modificação


38<strong>de</strong> um esquema ou <strong>de</strong> uma estrutura, entendido como o conhecimento sobrealgo, e em função das particularida<strong>de</strong>s do objeto a ser assimilado.Ao citar Ferreiro (2001), Iavelberg escreve que existe diferença entreassimilar e registrar o conhecimento. Segundo a autora, para que ocorra aassimilação é preciso consi<strong>de</strong>rar a interação do aluno com os conteúdos daárea e a realização <strong>de</strong> uma ação reflexiva sobre os conteúdos para assimilá-losa partir <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, conhecimentos anteriores.Outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado para a autora, o relativismo, é necessário queo aluno transforme seus saberes e fazeres ao longo do <strong>de</strong>senvolvimento daaprendizagem, constituindo um corpo <strong>de</strong> acertos provisórios, o qual po<strong>de</strong> serchamado <strong>de</strong> erro construtivista.[...] Não se trata <strong>de</strong> um conhecimento para fazer arte e sobre arte daforma como é estruturado pelos artistas, críticos ou historiadores daarte, mas um conhecimento ou aproximação, no âmbito das relações,que consegue articular a cada momento <strong>de</strong> sua aprendizagem. Dessaforma, adquire, progressivamente, modos avançados <strong>de</strong> formularsaberes sobre arte, sejam conceitos ou saberes práticos ou, aindavalores filosóficos (IAVELBERG, 2003, p. 43-44).Outro aspecto consi<strong>de</strong>rado para a ocorrência da assimilação é ochamado <strong>de</strong> construção, pelo qual o aluno constrói por si mesmo oconhecimento, que não é introduzido por outrem ou introjetado pelo aluno apartir <strong>de</strong> conteúdos externos, nem emerge à medida que o aluno se <strong>de</strong>senvolvee amadurece. No construtivismo seqüencial <strong>de</strong> Piaget a construção dainteligência se dá por meio <strong>de</strong> etapas, não diretamente ligadas a uma ida<strong>de</strong>,períodos em que acontece o <strong>de</strong>senvolvimento motor, verbal e mental dacriança, seqüencial porque as características e o conhecimento <strong>de</strong> uma etapasão a base para o <strong>de</strong>senvolvimento posterior.Segundo Piaget (2002), no final do período sensório-motor, que vai donascimento aos dois anos aproximadamente, surge uma função que autorizarepresentar, tomar uma coisa por outra, diferenciar um significado <strong>de</strong> umsignificante. No período sensório-motor a criança não sabe representar, suainteligência é prática. Em torno dos nove meses, a criança passa a procurar umobjeto que <strong>de</strong>saparece <strong>de</strong> seu campo perceptivo, começa a explorar o meio aose relacionar com o objeto. A assimilação sensório-motora, já consiste ematribuir significados, apesar <strong>de</strong> perceptiva.


39No período seguinte, aproximadamente dos dois aos quatro anos,chamado <strong>de</strong> período simbólico, surge a função semiótica que permite oaparecimento da linguagem, do <strong><strong>de</strong>senho</strong>, da imitação, da dramatização, etc. Acriança po<strong>de</strong> criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação, é operíodo da fantasia, do faz <strong>de</strong> conta, do jogo simbólico. Para Piaget [...] “aprimeira forma <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> não parece imitativa e participa ainda <strong>de</strong> um jogopuro, porém <strong>de</strong> exercício: são as garatujas a que se entrega a criança <strong>de</strong> 2 a 2½ anos, quando lhe fornecem um lápis” (PIAGET, INHELDER, 2002, p. 57).[...] A imitação é uma forma importante <strong>de</strong> aprendizagem. Assim comoimita o gesto e o som, a criança imita a ação adulta <strong>de</strong> riscar no papel.Seu interesse está no gesto, que imita com muito prazer, e não naimitação daquilo que o adulto está fazendo. Imita a ação: o agir,escrever, <strong>de</strong>senhar, cantar, dançar, tocar,... A ação está na própriaação, e é isso que imita (MARTINS, 1998, p. 101 e 102).Martins (1998) escreve que neste momento há muita pressa paraalgumas pessoas, que a criança <strong>de</strong>ixe logo as garatujas e passe para os<strong><strong>de</strong>senho</strong>s reconhecíveis, e que só há <strong><strong>de</strong>senho</strong> quando a criança faz ofigurativo. Para a autora, a maior tarefa dos educadores <strong>de</strong>ssa faixa etária, éampliar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa, valorizando a exploração gráfica,plástica, tátil, sensorial, sonora, corporal, <strong>de</strong>safiando a criança com projetospropostos a partir da observação atenta e sensível <strong>de</strong> sua própria ação. A arte éa linguagem básica dos pequenos e <strong>de</strong>ve merecer um espaço especial.No período intuitivo, que vai dos quatro anos aos sete anosaproximadamente, já existe o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> explicação dos fenômenos pelacriança. Distingue a fantasia do real, po<strong>de</strong>ndo dramatizar a mesma sem queacredite nela.Os períodos simbólico e intuitivo são comumente apresentados comoperíodo pré-operatório. Iavelberg (2006) ao referenciar esse período escreve:[...] Quando <strong>de</strong> posse da função simbólica no pré-operatório, suasestruturas inteligentes permitirão separar significantes <strong>de</strong> significados,tomar uma coisa por outra, fazer <strong>de</strong> conta. Aí resi<strong>de</strong> o potencialhumano para fazer e refletir sobre arte, incorporando, evi<strong>de</strong>ntemente,as conquistas do momento prece<strong>de</strong>nte (IAVELBERG, 2006, p. 21).


40Sobre o aparecimento da função semiótica no <strong>de</strong>senvolvimento dacriança, Piaget e Inhel<strong>de</strong>r (2002) escrevem:[...] No curso do segundo ano surge, ao contrário, um conjunto <strong>de</strong>condutas que supõe a evocação representativa <strong>de</strong> um objeto ou <strong>de</strong>um acontecimento ausente e envolve, por conseguinte, a construçãoou o emprego <strong>de</strong> significantes diferenciados, visto que <strong>de</strong>vem po<strong>de</strong>rreferir-se não só a elementos perceptíveis mas também aos que seacham presentes. Distinguem-se, pelo menos, cinco <strong>de</strong>ssas condutas,<strong>de</strong> aparecimento mais ou menos simultâneo, e que vamos enumerar<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> crescente: a imitação diferida, o jogo simbólico, o<strong><strong>de</strong>senho</strong> ou imagem gráfica, a imagem mental e a evocação mental(PIAGET ; INHELDER, 2002, p. 48-49).Essas condutas estão articuladas entre si nas ações das crianças,conforme o exemplo dado por Rosa Iavelberg (2006, p. 21) “a criança <strong>de</strong>senhajogando e evoca situações verbalmente”.O período operatório-concreto, dos sete aos onze anosaproximadamente, é o período em que a criança é capaz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar elementospor seu tamanho, incluindo conjuntos, organizando o mundo <strong>de</strong> forma lógica ouoperatória. Sua flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento permite varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>aprendizagens, já sendo capaz <strong>de</strong> relacionar diferentes aspectos e abstrairdados da realida<strong>de</strong>. Sua organização social é a <strong>de</strong> grupo, po<strong>de</strong>ndo participar <strong>de</strong>grupos maiores, compreen<strong>de</strong>ndo regras, sendo fiéis a elas e estabelecercompromissos.Ao <strong>de</strong>screver o modo noticioso <strong>de</strong> mostrar o mundo por meio do<strong><strong>de</strong>senho</strong>, Martins (1998) afirma que as crianças apresentam avançosconsi<strong>de</strong>ráveis na compreensão <strong>de</strong> conceitos em profunda relação com aconcretu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas interações com o mundo, as pessoas e os objetos. E essaconcretu<strong>de</strong> é indicada, por exemplo, pelo aparecimento da linha <strong>de</strong> base, ouseja, pelo chão no <strong><strong>de</strong>senho</strong> on<strong>de</strong> se apóiam os objetos, as paisagens, aspessoas.[...] A criação <strong>de</strong> espaços pela criança também é buscada com seusbrinquedos e objetos. Está presente o jogo <strong>de</strong> construção. È hora <strong>de</strong>montar cabanas, <strong>de</strong> habitar espaços imaginários, <strong>de</strong> inventar e viveraventuras, expedições. A realida<strong>de</strong> é o ponto <strong>de</strong> partida para oimaginário. A narrativa dos acontecimentos também aparece comotema <strong>de</strong> suas produções em <strong><strong>de</strong>senho</strong>, pintura e teatro. Cenas <strong>de</strong>guerra e paisagens contam fatos, expõem idéias e leituras sobre omundo (MARTINS, 1998, p. 112).


41Para Piaget, o ápice do <strong>de</strong>senvolvimento da inteligência acontece dosonze anos em diante no período chamado <strong>de</strong> operatório abstrato quecorrespon<strong>de</strong> ao nível <strong>de</strong> pensamento hipotético-<strong>de</strong>dutivo-matemático. A criançase liberta inteiramente do objeto. O jovem começa a explorar o pensamentosobre o mundo do pensamento, da emoção com novos níveis <strong>de</strong> elaboração. Éo momento “em que as palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m do mundo adulto geram um aparentee irreal território a ser conquistado“ (MARTINS, 1998, p. 115).Para Iavelberg (2003), a questão da qprendizagem está relacionada ao<strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores interativos e ativos do aluno emcontextos <strong>de</strong> aprendizagem [...] nos quais progressivamente transforma seusconhecimentos, estabelecendo relações entre seus conhecimentos anteriores eos novos conteúdos nas situações <strong>de</strong> aprendizagem. (IAVELBERG, 2003, p.44)2.2 As proposições da escola sócio-histórica <strong>de</strong> VygotskyO <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança, a partir dos anos oitenta passou a ser observadocomo ativida<strong>de</strong> da vida cotidiana ou escolar. Objeto <strong>de</strong> estudo, o <strong><strong>de</strong>senho</strong>infantil não escapa das condicionantes da influência cultural, sem que seimponha à criança mo<strong>de</strong>los da estética adulta como forma <strong>de</strong> submissão, mas<strong>de</strong> diálogo construtivo.As idéias <strong>de</strong> Vygotsky (1984) colaboram para a compreensão dasrelações entre o <strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem nos contatos interativosentre pares <strong>de</strong> níveis diferentes e objetos socioculturais. Para Iavelberg (2006)hoje temos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que o <strong><strong>de</strong>senho</strong> faz parte dasaprendizagens tanto sociais quanto culturais, mediados por informantes oufontes <strong>de</strong> informação.[...] A abordagem <strong>de</strong> Vygotsky sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil é mo<strong>de</strong>rnista,na esteira do pensamento <strong>de</strong> sua época. Portanto, o que interessa <strong>de</strong>suas formulações é a compreensão que traz sobre as relações entrepensamento e linguagem e a influência do meio por intermédio dasinterações com objetos sócio-históricos e culturais <strong>de</strong>senvolvidasmediante seu conceito <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal(IAVELBERG, 2006, p. 25).


42Vygotsky trabalha com a noção <strong>de</strong> que a relação do homem com omundo não é uma relação direta, mas fundamentalmente, é uma relaçãomediada. Segundo Vygotsky o principal símbolo ou signo fornecido pelasocieda<strong>de</strong> é a linguagem que é dividida em duas funções básicas: o<strong>de</strong>senvolvimento da língua, como forma <strong>de</strong> comunicação, troca <strong>de</strong> experiênciase o pensamento generalizante, a língua nomeia e classifica os grupos. Na teoriado <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Vygotsky, a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal é adistancia existente entre o que o sujeito já sabe e aquilo que ele tempotencialida<strong>de</strong> em apren<strong>de</strong>r, mas com o auxílio <strong>de</strong> outrem.[...] Vygotsky fala da “zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal” (ZDP), naqual a criança encontra soluções para problemas com a ajuda doadulto ou <strong>de</strong> um colega mais avançado. O aluno apren<strong>de</strong> mergulhadoem um ambiente em que já existem culturas que exercem influênciaem sua ação e reflexão (IAVELBERG, 2003, p. 44-45).Consi<strong>de</strong>ra-se que, ao <strong>de</strong>senhar a criança use cognição e sensibilida<strong>de</strong> emais a experiência que tem diretamente com <strong><strong>de</strong>senho</strong> no contexto sóciohistóricoe cultural em que vive, por si ou com a mediação <strong>de</strong> outros. O alunoapren<strong>de</strong> em um ambiente em que já existem as culturas e elas exerceminfluência em suas ações e reflexões. È importante saber como a criançaapren<strong>de</strong> e se <strong>de</strong>senvolve nesse campo <strong>de</strong> forças.[...] Constatamos que as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação culturaloferecidas pela Escola Construtivista marcaram diferenças no<strong>de</strong>senvolvimento em <strong><strong>de</strong>senho</strong> entre os sujeitos. [...] Assim sendo, o<strong><strong>de</strong>senho</strong> observado a partir <strong>de</strong> métodos que a criança utiliza para asua produção afirma-se como objeto da cultura infantil e, conforme asoportunida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>rá alimentar-se da produção cultural adulta ehistórica. Po<strong>de</strong>mos concluir que conhecer como a criança apren<strong>de</strong> éfato fundamental para o trabalho educacional (IAVELBERG, 1995, p.8).2.3 Ausubel e a aprendizagem significativaAs idéias do psicólogo norte-americano David Paul Ausubel sobre aaprendizagem escolar tiveram suas formulações iniciais na década <strong>de</strong> 60. Suaspropostas encontram-se entre as primeiras propostas psicoeducativas que


43tentam explicar a aprendizagem escolar e o ensino <strong>de</strong> um marco distanciadodos princípios condutistas. Ausubel (1982) observa a aprendizagem em umaperspectiva lógica e psicológica, apontando que a assimilação <strong>de</strong> novosconteúdos mobiliza gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conhecimentos prévios doaprendiz. A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novoconteúdo é incorporado às estruturas <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> um aluno e adquiresignificado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio.O aluno constrói a realida<strong>de</strong>, atribuindo-lhe significado. Ao contrário, elase torna mecânica ou repetitiva. Para que a aprendizagem significativa ocorra épreciso enten<strong>de</strong>r um processo <strong>de</strong> modificação do conhecimento, em vez <strong>de</strong>comportamento em um sentido externo e observável, e reconhecer aimportância que os processos mentais têm nesse <strong>de</strong>senvolvimento. Para oautor, para haver aprendizagem significativa são necessárias duas condiçõesem primeiro lugar, o aluno precisa ter uma disposição para apren<strong>de</strong>r, comoescreve Iavelberg (2003) [...] necessita <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> favorável para apren<strong>de</strong>r,o aluno <strong>de</strong>ve estar motivado, relacionando o que apren<strong>de</strong> ao que já sabe.(IAVELBERG, 2003, p. 45)Em segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que serpotencialmente significativo, ou seja, ele tem que ser lógica e psicologicamentesignificativo. O significado lógico quando <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente da natureza doconteúdo e significado psicológico quando ocorre uma experiência pessoal, éuma experiência que cada indivíduo tem. O aprendiz como sujeito ativo,mobiliza seus esquemas <strong>de</strong> conhecimento para construir novas formas <strong>de</strong> agire compreen<strong>de</strong>r o universo.[...] Não apren<strong>de</strong> acumulando informações, numa perspectivasomatória, mas colocando em contato, por si ou por influência domeio, seus esquemas <strong>de</strong> conhecimentos práticos e teóricos comconhecimentos novos, realizando uma aprendizagem significativa.(IAVELBERG, 2003, p. 45)As proposições <strong>de</strong> Ausubel partem da consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que os indivíduosapresentam uma organização cognitiva interna baseada em conhecimentos <strong>de</strong>caráter conceitual, sendo que a sua complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito mais dasrelações que esses conceitos estabelecem em si que do número <strong>de</strong> conceitospresentes. Enten<strong>de</strong>-se que essas relações têm um caráter hierárquico, <strong>de</strong>


44maneira que a estrutura cognitiva é compreendida, fundamentalmente, comouma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceitos organizados <strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong> abstração e <strong>de</strong>generalização.A partir <strong>de</strong>ssa especificação, a aprendizagem escolar passa acaracterizar-se globalmente como a assimilação a essa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadoscorpos <strong>de</strong> conhecimentos conceituais, selecionados socialmente comorelevantes e organizados nas áreas <strong>de</strong> conhecimento. Segundo Iavelberg(2003), para que isso ocorra, os conteúdos da situação <strong>de</strong> aprendizagem<strong>de</strong>vem estar ao alcance do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo do aluno,mobilizando os conhecimentos anteriores assim como <strong>de</strong>spertar disponibilida<strong>de</strong>e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r do aluno.Caberá ao professor provocar um conflito cognitivo, perceptivo,procedimental e atitudinal em seus aprendizes <strong>de</strong>spertando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> seguirapren<strong>de</strong>ndo. Possibilitar o conhecimento dos processos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r; favorecera construção <strong>de</strong> autoconfiança em relação aos processos <strong>de</strong> fazer, apreciar erefletir sobre a arte; possibilitar ao aluno construir expressar-se, apreciar erefletir sobre a arte, alimentado pelas informações provenientes da cultura e daexperiência, com marca pessoal; favorecer estruturação progressiva <strong>de</strong>apren<strong>de</strong>r por si, com autonomia.A partir <strong>de</strong>ssas contribuições sobre como a criança apren<strong>de</strong>, notamosque o ato <strong>de</strong> aprendizagem precisa ser percebido e compreendido peloprofessor que utiliza o <strong><strong>de</strong>senho</strong> em suas práticas educativas. É essencial que oprofessor possa respon<strong>de</strong>r o que é <strong><strong>de</strong>senho</strong> e quais são suas correspondênciascom o mundo físico, com o mundo do <strong>de</strong>senhista e com o mundo da cultura.[...] Em cada época e lugar, um conjunto complexo <strong>de</strong> intenções,teorias, práticas e valores orienta as tendências pedagógicas.Observa-se uma reorientação substantiva das instituiçõeseducacionais, da escola renovada do início do século XX à escolaconstrutivista, a partir dos anos <strong>de</strong> l980. (ARSLAN ; IAVELBERG,2007, p. 2)Segundo as autoras, as transformações nas tendências pedagógicasarticulam-se com as mudanças nas teorias e práticas educativas.As práticas educativas da escola construtivista aproximaram-se daspráticas sociais, incluindo a produção <strong>de</strong> diferentes tempos e culturas como


45conteúdo a ser ensinado, ou seja, a tradição e a inovação aparecem imbricadasna articulação entre teorias da arte, educação, práticas sociais e ensino da arte.


463 Do <strong><strong>de</strong>senho</strong> espontâneo ao <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>No final do século XIX e início do século XX, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criançapassa a ser reconhecido como ativida<strong>de</strong> própria da infância, observado a partir<strong>de</strong> suas ações e como recurso <strong>de</strong> compreensão do seu mundo externo. Para osestudiosos do <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil, as fases do <strong><strong>de</strong>senho</strong> correspondiam àspossibilida<strong>de</strong>s expressivas dos alunos em cada momento do seu<strong>de</strong>senvolvimento. A ênfase nos aspectos do <strong>de</strong>senvolvimento, porém nãoexplicavam o bloqueio criativo comum no ingresso do ensino fundamental,como aponta Iavelberg (2003).. Na Escola Nova as fases do <strong><strong>de</strong>senho</strong> correspondiam às possibilida<strong>de</strong>sexpressivas do aluno. Luquet (1979) observou a aprendizagem como um fatonatural e inevitável, bastando não criar obstáculos à criança.Utilizou uma terminologia que consi<strong>de</strong>rava os resultados e osprocedimentos do fazer <strong>de</strong>senhista infantil, mas não os modos <strong>de</strong>aprendizagem <strong>de</strong>senhistas da criança. Assim, os professores da escola nova,diante <strong>de</strong> uma criança que ao sentir insatisfação com os próprios <strong><strong>de</strong>senho</strong>s,não tinham conhecimentos suficientes para analisar as idéias ou hipóteses dasmesmas.Para Luquet (1979), Lowenfeld (1977) e Mèridieu (1979), a perda dacriativida<strong>de</strong>, que ocorre com a entrada no ensino fundamental é o resultado <strong>de</strong>alguns aspectos como a intervenção dos mo<strong>de</strong>los da arte adulta, oa<strong>de</strong>stramento da mão imposto pela alfabetização, do julgamento estético <strong>de</strong>certo e errado pelo professor e do período <strong>de</strong> latência. Iavelberg (2003)comenta que em meio a este fato, alguns estudantes sobreviveram,autodidatas, se alimentando das imagens do entorno. Para a autora sobrevivemtambém aqueles que têm oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r sem bloqueio <strong>de</strong>vido aspropostas a<strong>de</strong>quadas a modos <strong>de</strong> aprendizagem.[...] As práticas educativas com mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> imagens da arte e asintervenções educativas para apren<strong>de</strong>r a fazer e apren<strong>de</strong>r sobre artesão consolidadas nas abordagens da escola construtivista, queconsi<strong>de</strong>ra a cultura e o contexto educativo fatores importantes daaprendizagem (IAVELBERG, 2003, p. 42).


47Segundo Iavelberg (2003), a concepção renascentista sobre a aquisiçãodo <strong><strong>de</strong>senho</strong> é ina<strong>de</strong>quada para os dias <strong>de</strong> hoje, assim como a assimilaçãoparcial <strong>de</strong> teorias sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil, comum entre muitos educadores.Para a autora, cabe aos educadores lutarem pela “[...] não <strong>de</strong>formação <strong>de</strong>conceitos sobre arte em seu ensino, pois é fundamental que se possa apren<strong>de</strong>r<strong>de</strong> forma atualizada, ou seja, em correspondência com o pensamento sobre o<strong><strong>de</strong>senho</strong> e com fontes na história da linguagem”. (IAVELBERG, 2003, p. 85) Omarco curricular construtivista trouxe transformações que orientam a práticaeducacional no ensino <strong>de</strong> forma geral. Percebe-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisasligadas a diferentes objetos <strong>de</strong> conhecimento que constituem as disciplinas docurrículo, <strong>de</strong>ntre eles encontramos o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil.Iavelberg (1993), em sua pesquisa sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> dacriança, revisita autores que consi<strong>de</strong>raram o <strong><strong>de</strong>senho</strong> da infantil a partir <strong>de</strong>fases e do espontâneo, conforme apresentaremos a seguir.3.1 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> realista <strong>de</strong> LuquetO <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança classificado em fases é discutido no começo doséculo XX por George-Henri Luquet (1913), incluído por Piaget (1969) e seuscolaboradores na análise das relações entre a construção das geometrias noespaço gráfico e o <strong>de</strong>senvolvimento do <strong><strong>de</strong>senho</strong> pela criança. Entre os anos <strong>de</strong>1910 e 1930, Luquet <strong>de</strong>dica-se especialmente ao estudo da arte primitiva e préhistóricae ao estudo do <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil. Ele constrói seu pensamentoentretecendo diferentes domínios do conhecimento: a filosofia, a lógica e amatemática, a psicologia, a antropologia e a educação.Os seus estudos da arte primitiva e pré-histórica permaneceram restritasa análise <strong>de</strong> obras encontradas em museus, coleções ou reproduções, o estudodo <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil foi realizado em ato, a partir das observações sistemáticasdo <strong>de</strong>senhar dos seus filhos Jean e Simone Luquet. Seus estudos seentrecruzaram produzindo uma reflexão muito própria da época: uma relaçãoentre filogenia, o <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano, e a ontogenia, o


48<strong>de</strong>senvolvimento do sujeito. Ao analisar os <strong><strong>de</strong>senho</strong>s primitivos e os <strong><strong>de</strong>senho</strong>sdas crianças percebe que o <strong>de</strong>senhar é uma representação da realida<strong>de</strong>. Suaconcepção <strong>de</strong> realismo no <strong><strong>de</strong>senho</strong> se opõe à concepção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alismo daépoca. Luquet consi<strong>de</strong>ra que o <strong><strong>de</strong>senho</strong> é um jogo no qual a criança seentrega, age no ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar. “[...] A criança <strong>de</strong>senha para se divertir. O<strong><strong>de</strong>senho</strong> é para ela um jogo como quaisquer outros e que se intercala entreeles”. (LUQUET, 1979, p. 15)Para o autor, o realismo é o melhor termo para caracterizar o <strong><strong>de</strong>senho</strong>infantil no seu conjunto, o qual consi<strong>de</strong>ra tendência natural da representaçãográfica da criança, pela escolha dos motivos e também pelos seus fins.Or<strong>de</strong>nou em quatro fases o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil: Realismo fortuito, realismofracassado, realismo intelectual e realismo visual.Realismo fortuitoÉ a primeira fase do <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil como necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scargacom prazer, o que leva acriança <strong>de</strong>senhar novamente. A criança<strong>de</strong>senha por imitação do adulto e repete a ação por prazer, sem apreocupação <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar algo. Inicialmente sem intenção <strong>de</strong>representar o objeto, pouco a pouco percebe que po<strong>de</strong> haver umasemelhança entre seu <strong><strong>de</strong>senho</strong> e o objeto real.Realismo fracassadoA criança ao <strong>de</strong>senhar quer ser realista, mas encontra obstáculos <strong>de</strong>duas or<strong>de</strong>ns: física e psíquica.[...] O primeiro dos obstáculos que se <strong>de</strong>param ao realismo é <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m puramente física: a criança não sabe ainda dirigir e limitar osseus movimentos gráficos <strong>de</strong> modo a dar ao seu traçado o aspectoque queria, qual violinista estreante que toca uma nota falsa(LUQUET, 1979, p. 147).O segundo obstáculo observado pelo autor, já não é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m gráfica,mas psíquica, ou seja, <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>scontínuo da atenção ou capacida<strong>de</strong>sintética, quando a criança percebe os <strong>de</strong>talhes do objeto mas nãoconsegue executar.


49Realismo intelectualUma vez superada a incapacida<strong>de</strong> sintética, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> passa a serplenamente realista. O <strong><strong>de</strong>senho</strong> po<strong>de</strong> representar os pormenores doobjeto, mesmo aqueles não vistos. A criança <strong>de</strong>senha tudo o que sabeas coisas. Rebatimento, transparência, planificação e diferentes pontos<strong>de</strong> vista que caracterizam o espaço num mesmo <strong><strong>de</strong>senho</strong>.Realismo VisualA verda<strong>de</strong>ira síntese do <strong><strong>de</strong>senho</strong> para Luquet materializa-se no realismovisual. “Uma vez executado o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, todos os elementos querepresenta são simultaneamente visíveis, e os que não sãorepresentados estão totalmente ausentes”. (LUQUET, 1979, p. 195).Para ele, quando a submissão à perspectiva, entra no <strong><strong>de</strong>senho</strong> dacriança, atinge a proximida<strong>de</strong> visual com a arte do adulto.3.2 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> espontâneo <strong>de</strong> Viktor LowenfeldViktor Lowenfeld (1977), importante representante da escola nova, situaa necessida<strong>de</strong> da ação pedagógica como um incentivo ao <strong>de</strong>senvolvimento dopotencial criador da criança por meio <strong>de</strong> temas, técnicas e consi<strong>de</strong>rações ao<strong>de</strong>senvolvimento do aluno. Lowenfeld sobrevivente a duas gran<strong>de</strong>s guerrasmundiais, iniciou sua vida profissional na Áustria, em meio ao expressionismoalemão apostando na capacida<strong>de</strong> criadora <strong>de</strong> cegos trabalhando em arte,inicialmente com esculturas em argila num trabalho inovador para o seu tempo,o ensino criador, e <strong>de</strong>pois na América numa educação inclusiva culturalmente,em uma instituição criada para a educação <strong>de</strong> afro-americanos, ajudando-osem sua luta emancipatória.Autor <strong>de</strong> obras como “A natureza da ativida<strong>de</strong> criadora (1938),“Criativida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento mental” (1947), “A criança e sua arte” (1977)e “Desenvolvimento da capacida<strong>de</strong> criadora” (1970), propõe a arte como açãoespontânea e natural da criança e do jovem, pois acredita que a criança ou o


50jovem po<strong>de</strong>m transferir a postura <strong>de</strong> ação criadora, que realiza nas açõesartísticas, para as <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua vida escolar e <strong>de</strong> fora <strong>de</strong>la. Para oautor, “se fosse possível que as crianças se <strong>de</strong>senvolvessem sem nenhumainterferência do mundo exterior, não seria necessário estimulo para seutrabalho artístico”. (LOWELFELD, 1977, p. 19)Segundo Lowenfeld (1977), o incentivo ao ato criador visa os seusprocessos e não os seus produtos. Valoriza mais a forma <strong>de</strong> expressão, que<strong>de</strong>ve ser fruto único das intenções do sujeito, que o conteúdo, o que e não ocomo.[...] As crianças <strong>de</strong>senham <strong>de</strong> formas previsíveis, passando porsucessivas fases, razoavelmente <strong>de</strong>finidas, que começam com asprimeiras garatujas, numa folha <strong>de</strong> papel, e vão progredindo atravésda adolescência. Embora consi<strong>de</strong>remos essas etapas como diferentespassos no <strong>de</strong>senvolvimento da arte, é difícil, às vezes dizer on<strong>de</strong> umatermina e começa a outra. LOWENFELD, 1970 p. 53-54).As imagens gráficas geradas pela criança ao longo do seu<strong>de</strong>senvolvimento são <strong>de</strong>scritas por meio <strong>de</strong> fases são: garatuja, garatujanomeada, pré-esquema, esquema e realismo.Defen<strong>de</strong> a idéia <strong>de</strong> auto-expressão, livre das idéias <strong>de</strong> outros nessepercurso criador, opondo-se à imitação, a qual consi<strong>de</strong>ra como submissão amo<strong>de</strong>los externos alheios aos esquemas assimilativos do sujeito. O<strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem <strong>de</strong>vem ser automotivados, cabendo aoprofessor criar condições para isso com propostas que aproximem a criança <strong>de</strong>suas próprias experiências e a reassegurem <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s.Para o autor, a arte da criança é <strong>de</strong>finida como meio <strong>de</strong> auto-expressão,portanto é fundamentalmente diferente do adulto. Para Arslan (2007, p. 72), suaproposta “[...] dignifica o papel da criança nos atos <strong>de</strong> criação e aproxima aestética da infância <strong>de</strong> seus valores e experiências”.3.3 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> autodidata e espontâneo <strong>de</strong> Rhoda KelloggPara a pesquisadora norte-americana Rhoda Kellogg (1981) ver é crer, eo <strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança <strong>de</strong>senvolve-se a partir <strong>de</strong> observações que a criançarealiza sobre sua própria ação gráfica. A pesquisadora estudou cerca <strong>de</strong> 300


51mil <strong><strong>de</strong>senho</strong>s <strong>de</strong> crianças entre 2 e 4 anos. Segundo a autora, todos os futuros<strong><strong>de</strong>senho</strong>s <strong>de</strong> um indivíduo serão construídos a partir dos movimentos iniciadosna primeira infância e registrados no papel ou na massinha <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar.Para Kellogg (1981), os rabiscos constituem movimentos espontâneos,fruto da ação natural da criança, que são realizados com ou sem o controle davisão. Dos rabiscos iniciais nascem formas circulares, triangulares,quadrangulares, irregulares, a cruz, e o x. Seu mo<strong>de</strong>lo compreen<strong>de</strong> a arte dacriança em dois momentos. O primeiro momento <strong>de</strong> arte da criança éautodidata, em que ela passa pelo estágio dos padrões, ou seja, rabiscosbásicos e padrões <strong>de</strong> disposição.O segundo momento <strong>de</strong> arte da criança é espontânea, o estágio do<strong><strong>de</strong>senho</strong>, apresentando combinações e agregados queformam tipos <strong>de</strong>diagramas e mandalas, sóis e radiais, como também pelo estágio dasexpressões pictóricas, figura humana, casa, plantas e outros temas. Para aautora, são quatro estruturas <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> que se <strong>de</strong>senvolvem entre o segundoe o quinto ano <strong>de</strong> vida das crianças: padrões, figuras, <strong><strong>de</strong>senho</strong> e expressãopictórica.Em sua pesquisa concluiu que o <strong><strong>de</strong>senho</strong> se transforma porque umaestrutura linear conduz à outra, uma vez que o sistema linear é visualmentelógico. Ao citar o pensamento <strong>de</strong> Kellogg (1969), Iaveberg (2006, p. 49) escreveque a criança apren<strong>de</strong> a <strong>de</strong>senhar por si, quando livre das interferências dosoutros e “[...] atribui a fatores externos, como a escolarização e influência <strong>de</strong>padrões imagéticos adultos, o não <strong>de</strong>senvolvimento da Arte da criança noperíodo escolar, em torno do sétimo ano <strong>de</strong> vida”.[...] “Tanto los niños como lãs niñas están interessados em apren<strong>de</strong>r adibujar y, durante algún tiempo, están <strong>de</strong>seosos <strong>de</strong> realizar trabajos <strong>de</strong>copia. Tropiezan com la dificuldad <strong>de</strong> que no existe um sistemavisualmente lógico para copiar el arte adulto y <strong>de</strong> que este carece <strong>de</strong>la dinâmica <strong>de</strong>l arte infantil espontâneo. Los alumnos que pier<strong>de</strong>minterés por el arte pue<strong>de</strong>n abandonarlo, puesto que no es uma matériaobrigatória. Pier<strong>de</strong>n porque lês <strong>de</strong>cepcionan los métodos <strong>de</strong>aprendizaje artístico” (KELLOGG, 1981, p. 155-156).Essas idéias, aliadas à <strong>de</strong> que a alfabetização a<strong>de</strong>stra a mão da criança<strong>de</strong>svia a atenção dos educadores para a prática do <strong><strong>de</strong>senho</strong>.


524 O <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>Rosa Iavelberg em sua dissertação <strong>de</strong> mestrado “O <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>da criança”, <strong>de</strong> 1993, com publicação parcial em 1995, aponta que os<strong>de</strong>senhistas têm suas próprias idéias ou teorias sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, as quaisregem suas ações e interpretações em <strong><strong>de</strong>senho</strong>.[...] Novos marcos curriculares vêm orientando a prática educacional.O ensino da arte parece resistir a tais reorientações, o que aumenta anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhos específicos tanto em relação aos objetos <strong>de</strong>conhecimento circunscritos à área como em relação à aprendizagem<strong>de</strong>sses objetos, para que modos atualizados <strong>de</strong> ver a aprendizagem ea arte gerem propostas <strong>de</strong> ensino a<strong>de</strong>quadas à natureza intrínsecados objetos artísticos e aos modos <strong>de</strong> construção (IAVELBERG, 1995,p. 3-4).Constatou que tais construções são edificadas e transformadas a partirdas experiências <strong>de</strong> aprendizagem, que cada um tem ao longo da vida,envolvendo a interação com a produção <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> pares e produtores adultos,com o meio ambiente natural e cultural e com o próprio fazer <strong>de</strong>senhista.Como pesquisadora elegeu um conjunto <strong>de</strong> procedimentos paraverificar as teorias dos aprendizes. Dentre eles um <strong><strong>de</strong>senho</strong> inicial, entrevistacom respostas orais e observações <strong>de</strong> imagens por meio <strong>de</strong> pranchas comimagens <strong>de</strong>senhadas e xerografadas, um pratinho <strong>de</strong> porcelana com umaimagem <strong>de</strong> Picasso impressa e dois conjuntos <strong>de</strong> pedras, um com pedrasdispersas e outro formando figura humana.Foram entrevistados sujeitos entre 3 e 14 anos. O questionário eracomposto por quatro perguntas: O que é <strong><strong>de</strong>senho</strong>? O que po<strong>de</strong> aparecer nos<strong><strong>de</strong>senho</strong>s? Coisas que existem e que não existem po<strong>de</strong>m aparecer nos<strong><strong>de</strong>senho</strong>s? Rabisco é <strong><strong>de</strong>senho</strong>? Realizadas <strong>de</strong> diversas maneiras, na tentativa<strong>de</strong> revelar se a criança observa outros <strong><strong>de</strong>senho</strong>s e se isso interfere em seus<strong><strong>de</strong>senho</strong>s. Constatou a partir da análise das entrevistas que: O agir sobre os <strong><strong>de</strong>senho</strong>s é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> predisposição humana porintermédio <strong>de</strong> ações autônomas, ou seja, por meio <strong>de</strong> exercícios dasfunções inteligentes;


54A criança aos poucos articula esses símbolos em imagens narrativas.Nesse momento do <strong><strong>de</strong>senho</strong> a criança pensa que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar o que elaquiser e que muitas coisas po<strong>de</strong>m aparecer nos seus <strong><strong>de</strong>senho</strong>s. Coisa queexistem e que não existem. A criança usa a transparência, o plano <strong>de</strong>itado e orebatimento para representar o espaço. A este momento conceitual Iavelberg(1993) chamou <strong>de</strong> Imaginação II.Desenho <strong>de</strong> ApropriaçãoO momento conceitual do <strong><strong>de</strong>senho</strong> seguinte é nomeado <strong>de</strong> Apropriaçãopor Rosa Iavelberg. É um conjunto <strong>de</strong> transformações que ocorrem no <strong><strong>de</strong>senho</strong>pelo gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo que os <strong>de</strong>senhistas têm <strong>de</strong> se apropriarem dasregularida<strong>de</strong>s dos códigos da linguagem e <strong>de</strong> seu sistema aberto <strong>de</strong>simbolização.A criança <strong>de</strong>scobre que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar partes dos objetosreais e irreais para representá-lo, pois percebe que essas formas <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>existem em seu ambiente cultural e, com base em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>s queobserva, é capaz <strong>de</strong> querer fazê-los. Um exemplo <strong>de</strong>ste momento são os<strong><strong>de</strong>senho</strong>s das casinhas, não estereotipadas, que, ao invés <strong>de</strong> terem pare<strong>de</strong>stransparentes como no momento anterior, surgem com janelas através dasquais enxergamos o espaço interno.Neste momento a criança percebe com mais clareza que o <strong><strong>de</strong>senho</strong>existe no seu meio e percebe as diferentes formas <strong>de</strong> estruturação <strong>de</strong>les.Observa as regras <strong>de</strong> representação do espaço, a perspectivação, os modos <strong>de</strong><strong>de</strong>senhar partes específicas <strong>de</strong> objetos que não domina, <strong>de</strong>scobre que existemmaneiras eficazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar e querer dominá-las.[...] “Neste momento conceitual a ação educativa e a mediaçãocultural dos professores são importantíssimas. Muitos alunos nessemomento afirmam que não sabem <strong>de</strong>senhar, os professorescostumam acreditar que estão bloqueados por insegurança ousubmissão a padrões adultos. Mas o aluno está querendo dizer: eunão sei <strong>de</strong>senhar e gostaria que alguém me ensinasse “(IAVELBERG,2006, p. 67).


55Para Iavelberg (2006), a compreensão sobre as necessida<strong>de</strong>s e<strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>senhistas do aluno do ensino fundamental po<strong>de</strong> colaborar com o<strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem no momento conceitual nomeada <strong>de</strong>Apropriação, que requer abordagens que transcen<strong>de</strong>m as orientações da livreexpressão.Desenho <strong>de</strong> ProposiçãoNo momento seguinte, o <strong>de</strong> Proposição, cada <strong>de</strong>senhista temconsciência <strong>de</strong> que o <strong><strong>de</strong>senho</strong> po<strong>de</strong> expressar o que quiser, sentimentos,idéias, eventos, e ainda apresentar-se em diversas modalida<strong>de</strong>s: bidimensional,tridimensional, virtual. Surge a consciência do <strong><strong>de</strong>senho</strong> como formaindividualizada com a marca do estilo do produtor.[...] A criança não observa os mo<strong>de</strong>los apenas como produções domeio, ma como possibilida<strong>de</strong> e opção para si mesma, ou seja,percebe-se como possível produtora <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los associados à suaindividualida<strong>de</strong>. Trata-se do nível conceitual mais avançado <strong>de</strong>representação mental do objeto artístico <strong><strong>de</strong>senho</strong>. Passam areconsi<strong>de</strong>rar o rabisco como <strong><strong>de</strong>senho</strong> quando classificam-no comopossível abstração ou ação intencional (IAVELBERG, 1995, p. 28).Iavelberg (1993) observou com clareza, que o <strong>de</strong>senvolvimento dasrepresentações sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> acompanha o <strong>de</strong>senvolvimento artístico dosujeito. Em seus estudos retomou teorias sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil <strong>de</strong>ntre algunsautores do começo do século até sua pesquisa, teorias que consi<strong>de</strong>ravam o<strong>de</strong>senvolvimento do <strong><strong>de</strong>senho</strong> como uma sequência <strong>de</strong> estágios, em açõesespontâneas da criança. Também observou que poucos trabalhos indicavam aexistência <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> aprendizagem ligados ao meio social na arte dainfância.Em sua pesquisa, percebeu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova <strong>de</strong>finição para o<strong><strong>de</strong>senho</strong> da criança, diante da constatação <strong>de</strong> que as teorias da criançaparticipam da realização dos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s, sendo elas próprias <strong>de</strong>terminadas porfatores interativos. Ao analisar o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> alguns autores como Luquet(1913), Lowenfeld (1947) e Kellogg (1969), que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a idéia <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>


56espontâneo, <strong>de</strong>monstrou em contraposição, os ganhos teóricos e <strong>de</strong>scritivoscontidos na noção <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> da criança.Ao proce<strong>de</strong>r as análises <strong>de</strong> seus dados, verificou constâncias noconjunto <strong>de</strong> respostas <strong>de</strong> sua pesquisa, encontrando níveis conceituaisdistintos, uma psicogênese do <strong><strong>de</strong>senho</strong>, quatro momentos conceituais pelosquais a criança passa na construção do <strong><strong>de</strong>senho</strong>, cuja or<strong>de</strong>m se justifica tantopelos limites e possibilida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>senvolvimento das estruturas operatóriascomo pela influência da cultura e das experiências <strong>de</strong> aprendizagemorganizadas na escola ou fora <strong>de</strong>la.A autora propõe a compreensão dos momentos conceituais i<strong>de</strong>ntificadospor ela, como fenômenos conceituais a serem consi<strong>de</strong>rados e respeitados, osquais orientam as ações e interpretações dos <strong>de</strong>senhistas. “Tais momentosconceituais não se caracterizam como fases do <strong><strong>de</strong>senho</strong> e sim comopossibilida<strong>de</strong>s construtivas on<strong>de</strong> a cada nível há superação e integração donível anterior como parte” (IAVELBERG, 1995, p. 13).QUADRO II – O <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> da criança em sua or<strong>de</strong>nação estrutural comos autores (IAVELBERG, 2003, p. 87).LUQUET1913Realismo fortuitoRealismofracassadoRealismointelectualRealismo visualLOWENFELD1947KELLOGG1969IAVELBERG1993GaratujaRabiscos básicos/mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>Garatuja nomeada implantaçãoAçãoPré-esquemaDiagrama emergente ediagramaImaginação 1Formas – 2 diagramas =CombinadoEsquemaDesenhos – mandala radialPictóricos – sóis, humanos,Imaginação 2animais, vegetação,habitações, transportesMo<strong>de</strong>los sociais eRealismoempobrecimento da arte ApropriaçãoinfantilProposiçãoPara a autora, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> aproxima os processos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>todas as áreas do conhecimento. O <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> da infância expressa


57síntese dos esquemas <strong>de</strong> representação sobre <strong><strong>de</strong>senho</strong> do sujeito, esquemasestes que são construídos numa busca ativa do conhecimento, o que envolve,além das situações <strong>de</strong> busca espontânea, situações <strong>de</strong> interação constantecom os sistemas presentes na cultura, ou seja, com os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>produzidos socialmente e acumulados historicamente.[...] As pesquisa psicogenéticas contemporâneas <strong>de</strong>screvem osprocessos <strong>de</strong> aprendizagem, consi<strong>de</strong>rando que o conhecimentoconstruído pela criança expressa-se em ações e explicações.Talconhecimento, no <strong><strong>de</strong>senho</strong>, organiza-se através <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ourepresentações dos quais fazem parte esquemas <strong>de</strong> todo tipo. Essesesquemas têm uma estrutura e organizam-se como uma sucessão <strong>de</strong>ações externas e mentais, que estão correlacionadas com o nível <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento operatório (IAVELBERG, 1995, p. 4-5)Para a autora, cabe “[...] às equipes <strong>de</strong> educadores das escolas e re<strong>de</strong>s<strong>de</strong> ensino realizar um trabalho <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> que crianças, jovens eadultos gostem <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r arte”. (IAVELBERG, 2003, p. 9) A autora fazreferência à importância da arte e a sua apreciação que po<strong>de</strong> ser cultivada porintermédio <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s educativas. Para ela, quem conhece arte ampliasua participação como cidadão, pois po<strong>de</strong> compartilhar <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>interação único no meio cultural.Apren<strong>de</strong>r arte envolve a ação em distintos eixos <strong>de</strong> aprendizagem: fazer,apreciar e refletir sobre a produção social e histórica da arte, contextualizandoos objetos artísticos e seus conteúdos. O papel dos professores é importantepara que os alunos aprendam a fazer arte e a gostar <strong>de</strong>la ao longo da vida, poistêm papel significativo na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das crianças e dos jovens e<strong>de</strong>vem respeitar os modos <strong>de</strong> aprendizagem. O gosto por apren<strong>de</strong>r nascetambém da qualida<strong>de</strong> da mediação que os professores realizam entre osaprendizes e a arte, otimizando o tempo didático com orientações e conteúdosa<strong>de</strong>quados que interessam aos alunos por ser parte do seu cotidiano.No <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>, o conhecimento técnico e o fazer expressivocaminham lado a lado, pensamento e fazer são um só corpo, as técnicasutilizadas estão relacionadas à história do <strong><strong>de</strong>senho</strong> e avançam com asinovações tecnológicas e <strong>de</strong>scobertas científicas.


59Para a autora, um bloqueio para <strong>de</strong>senhar po<strong>de</strong> ser fruto <strong>de</strong> orientaçãoequivocada em casa ou nas escolas, que não observa a lógica das ações dos<strong>de</strong>senhistas. Para Iavelberg (2006),[...] Hoje sabemos que não se po<strong>de</strong> generalizar aquilo que se passanos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s infantis em termos <strong>de</strong> fases. As variáveis culturaisgeram modos <strong>de</strong> pensar o <strong><strong>de</strong>senho</strong>, os quais transcen<strong>de</strong>m um únicosistema explicativo que dê conta da produção <strong>de</strong> todas as crianças.(IAVELBERG, 2006, p. 28)Segundo a autora, estudos antropológicos e interculturais apontamdiferenças nos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s das crianças <strong>de</strong> países ou regiões diferentes, seja nomodo <strong>de</strong> usar o papel ou nos símbolos eleitos, <strong>de</strong>notando influência da culturavisual, educacional e do meio ambiente dos <strong>de</strong>senhistas.No <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>, Iavelberg (2006), esclarece que os momentosconceituais nomeados por ela requerem orientações didáticas próprias. Nomomento conceitual nomeado <strong>de</strong> APROPRIAÇÃO, o aluno precisa participar <strong>de</strong>práticas específicas para não bloquear sua criativida<strong>de</strong> como <strong>de</strong>senhista. Nestemomento, a APROPRIAÇÃO, não é um empobrecimento narrativo e criativo.[...] È um momento <strong>de</strong> intenso interesse por imitar ativamentemo<strong>de</strong>los visuais das culturas, <strong>de</strong>calcando tentando fazer réplicas <strong>de</strong>imagens observadas, fazer figuras das histórias em quadrinhos e dasmídias, <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> moda, etc (IAVELBERG, 2006, p. 70).Cabe ao professor orientar situações que favoreçam a aprendizagem e oenvolvimento em <strong><strong>de</strong>senho</strong> na escola e em outros espaços educativos, como<strong>de</strong>senhar muito e com freqüência, observação <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>s <strong>de</strong> colegas eprodutores <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>s da comunida<strong>de</strong> e outros artistas e exercícios com<strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> imaginação, <strong>de</strong> memória e <strong>de</strong> observação.Ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar muitos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s po<strong>de</strong> favorecerprogressos, pois com os próprios trabalhos po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r ao percebersoluções resultantes <strong>de</strong> tentativas que fez utilizando materiais variados,ampliando o seu repertório <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhista.A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluçõescontempladas nos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s dos colegas propicia o crescimento na observaçãodas muitas possibilida<strong>de</strong>s do fazer em <strong><strong>de</strong>senho</strong>, assim como ler <strong><strong>de</strong>senho</strong>s <strong>de</strong>


60vários produtores <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> vários momentos da história o colocará em contatocom ricas possibilida<strong>de</strong>s e transformações ocorridas no tempo, na história.[...] Portanto, o ensino do <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong>ve estar orientado para aformação cultivada e participativa da socieda<strong>de</strong> e também possibilitaro <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação cultivada, ou seja,alimentada por diferentes contextos sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong>: instituiçõesculturais, mostras, feiras, diferentes mídias, reproduções, trabalhos <strong>de</strong>crianças, etc (IAVELBERG, 2006, p. 78).Figura 1 – Desenho <strong>de</strong> observação – Momento conceitual: Imaginação IIA gênese dos <strong><strong>de</strong>senho</strong>s das crianças <strong>de</strong>ve ser reconhecida em cadacontexto <strong>de</strong> gerações <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong>s e na singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus produtores.Assim, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> espontâneo da escola renovada dá lugar ao <strong><strong>de</strong>senho</strong><strong>cultivado</strong>, “[...] que influenciado pela cultura, mantém seu epicentro na criança,sujeito criador informado, que produz como protagonista <strong>de</strong> seus <strong><strong>de</strong>senho</strong>s”.(IAVELBERG, 2006, p. 12).


61Figura 2 - Desenho <strong>de</strong> apropriação.Figura 3 - Desenho <strong>de</strong> proposição.


62Consi<strong>de</strong>rações FinaisFazemos nossa história a todo o momento. Das marcas das pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>rochas até nossos dias utilizamos o <strong><strong>de</strong>senho</strong> para nos situarmos no mundo,compreen<strong>de</strong>ndo-o e modificando-o. Contamos <strong>de</strong>senhando palavras e nosapropriando das imagens da cultura <strong>de</strong> todos os tempos. As crianças contamhistórias, <strong>de</strong>ixando as suas marcas, <strong><strong>de</strong>senho</strong>s, gestos, cantos, enfim produzema sua própria cultura.Passam pelo julgamento daqueles que estão à sua volta e que nemsempre compreen<strong>de</strong>m o que acontece quando elas <strong>de</strong>senham, dançam ecantam. Por meio <strong>de</strong> nossos estudos percebemos que os conhecimentos dosobre a infância, são um eixo primordial para a compreensão <strong>de</strong> uma propostapedagógica on<strong>de</strong> se valoriza o ensino e aprendizagem em <strong><strong>de</strong>senho</strong>, objeto <strong>de</strong>estudo <strong>de</strong>ssa pesquisaUm dos <strong>de</strong>safios daqueles que atuam na educação atual, talvez seja,compreen<strong>de</strong>r a infância que temos hoje, da criança <strong>de</strong> direitos, nem semprevivenciados nos espaços a elas reservados. Constatamos a existência <strong>de</strong> umalegislação que garante o ensino e aprendizagem em arte e o <strong><strong>de</strong>senho</strong> comolinguagem com características próprias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Educação Infantil <strong>de</strong>ve servivenciado pelas crianças, por meio <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s educativas e tenhamgarantido seu aprendizado.Percorrendo os caminhos das tendências pedagógicas que influenciarame continuam influenciando o ensino e aprendizagem do <strong><strong>de</strong>senho</strong> na escola <strong>de</strong>nossos dias, constatamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os professores se entendamcomo sujeitos <strong>de</strong>sse processo histórico e percebam as suas responsabilida<strong>de</strong>snesse processo, mudanças que contribuirão para a formação do nosso aluno,sujeito da aprendizagem, principalmente no que diz respeito ao ensino eaprendizagem do <strong><strong>de</strong>senho</strong> na escola.O <strong><strong>de</strong>senho</strong> infantil merece ser estudado e situá-lo na história daeducação, assim como compreendê-lo por intermédio daqueles que oanalisaram, po<strong>de</strong> colaborar para que tanto os pais, quanto os professores quelidam com as crianças e seus <strong><strong>de</strong>senho</strong>s. Na escola construtivista encontramos


63um professor mediador que oportunizará a aprendizagem em <strong><strong>de</strong>senho</strong> por meio<strong>de</strong> ações cultivadas, alimentada pela cultura, ampliando o processo criativo dosseus alunos quando fizer uso do conhecimento sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> esuas contribuições.Constatamos por meio do conceito do <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> que: o agirsobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> predisposição humana por intermédio <strong>de</strong>ações autônomas, o <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> é um conceito por meio do qual épossível ver que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo a criança observa e imita atos e formas <strong>de</strong><strong><strong>de</strong>senho</strong>s realizados em sua presença, incorporando-os no seu repertório, porintermédio <strong>de</strong> assimilação recriadora.As representações sobre o <strong><strong>de</strong>senho</strong> estão relacionadas àsoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer e pensar o <strong><strong>de</strong>senho</strong> no meio ambiente por sóciointeração,como foi possível constatar quando a criança consi<strong>de</strong>rou o rabisco nomomento nomeado <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> ação. A aprendizagem também ocorre nassituações em que o sujeito age sobre suas próprias representaçõestransformando-as, num estilo pessoal, pois a criança <strong>de</strong>senha mergulhada emum ambiente on<strong>de</strong> já existem imagens, que exercem influência em suas açõesgráficas.Consi<strong>de</strong>ramos importante o reconhecimento dos quatro momentosconceituais nomeados do <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>: <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> ação, <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong>imaginação, <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> apropriação e <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>de</strong> proposição e que acompreensão sobre o momento conceitual transcen<strong>de</strong> a explicação do <strong><strong>de</strong>senho</strong>por fases, porque se consi<strong>de</strong>ra o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo como possibilida<strong>de</strong>para apren<strong>de</strong>r e não como <strong>de</strong>terminação.Para colocar em prática as possibilida<strong>de</strong>s construtivas encontradas nosmomentos conceituais do <strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong>, o professor tem que conhecercomo a criança age, reflete e abstrai sentidos nas suas experiências com o<strong><strong>de</strong>senho</strong> e a arte. Verificamos que as intervenções po<strong>de</strong>m colaborar ou abafar o<strong>de</strong>senvolvimento criativo da criança, assim o que se propõe é não agirconduzindo e sim orientando propostas, com objetivo <strong>de</strong> promovertransformações no fazer <strong>de</strong>senhista, para um aluno construtor <strong>de</strong> seus saberesem arte, por meio do <strong><strong>de</strong>senho</strong>, estabelecendo relações entre o percurso <strong>de</strong>


64criação <strong>de</strong> seus trabalhos e sua reflexão do mundo. O marco curricular trouxetransformações que orientam a prática educacional no ensino <strong>de</strong> forma geral,encontramos pesquisas que se renovam em seus estudos como no caso do<strong><strong>de</strong>senho</strong> <strong>cultivado</strong> em que Iavelberg postula a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um compromissonão só do professor <strong>cultivado</strong>r, mas <strong>de</strong> toda a estrutura educacional numenvolvimento que garanta a função primordial da educação, a libertação dohomem, seu auto-conhecimento, na ação contínua <strong>de</strong> existir como homem:histórico e social.Figura 4 - Desenho <strong>de</strong> imaginação.


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