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Revista Dr Plinio 275

Fevereiro de 2021

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Publicação Mensal<br />

Vol. XXIV - Nº <strong>275</strong> Fevereiro de 2021<br />

Revelando as intenções<br />

de muitos corações


Flávio Lourenço<br />

Pedra de escândalo<br />

Q<br />

uando o Profeta Simeão<br />

teve nos braços o Menino<br />

Jesus e entoou o seu famoso<br />

cântico Nunc dimittis servum<br />

tuum, Domine... – Senhor,<br />

agora envia em paz o teu servo...<br />

–, ele disse que Nosso Senhor foi<br />

enviado como pedra de escândalo<br />

para a perdição e salvação de<br />

muitos, e para que se conhecessem<br />

as cogitações ocultas dos corações.<br />

Portanto, Nosso Senhor foi mandado<br />

para salvar a todos, mas a<br />

perdição daqueles que O recusassem<br />

não significava o fracasso<br />

d’Ele, e sim um elemento intrínseco<br />

à sua Missão, ou seja, criar<br />

condições para os justos conhecerem<br />

a verdade e se salvarem, para<br />

os ímpios manifestarem a sua<br />

impiedade e, não se arrependendo,<br />

irem para o Inferno.<br />

Christianus alter Christus – o<br />

cristão é um outro Cristo. Também<br />

nós somos pedra de escândalo<br />

posta para a salvação e a perdição<br />

de muitos, e para que se revelem<br />

as cogitações dos ímpios. A<br />

nossa missão é, pois, suscitar nas<br />

pessoas a definição, para a salvação<br />

dos bons.<br />

Apresentação do Menino<br />

Jesus no Templo - Catedral de<br />

Notre-Dame, Anvers, Bélgica<br />

(Extraído de conferência de<br />

31/1/1966)


Sumário<br />

Publicação Mensal<br />

Vol. XXIV - Nº <strong>275</strong> Fevereiro de 2021<br />

Vol. XXIV - Nº <strong>275</strong> Fevereiro de 2021<br />

Revelando as intenções<br />

de muitos corações<br />

Na capa, Nossa Senhora<br />

do Bom Sucesso - Real<br />

Convento da Imaculada<br />

Conceição, Quito, Equador.<br />

Foto: Gabriel K.<br />

As matérias extraídas<br />

de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

— designadas por “conferências” —<br />

são adaptadas para a linguagem<br />

escrita, sem revisão do autor<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

ISSN - 2595-1599<br />

CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />

INSC. - 115.227.674.110<br />

Diretor:<br />

Roberto Kasuo Takayanagi<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Redação e Administração:<br />

Rua Virgílio Rodrigues, 66 - Tremembé<br />

02372-020 São Paulo - SP<br />

E-mail: editoraretornarei@gmail.com<br />

Impressão e acabamento:<br />

Northgraph Gráfica e Editora Ltda.<br />

Rua Enéias Luís Carlos Barbanti, 423<br />

02911-000 - São Paulo - SP<br />

Tel: (11) 3932-1955<br />

Preços da<br />

assinatura anual<br />

Comum............... R$ 200,00<br />

Colaborador........... R$ 300,00<br />

Propulsor.............. R$ 500,00<br />

Grande Propulsor....... R$ 700,00<br />

Exemplar avulso........ R$ 18,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

editoraretornarei@gmail.com<br />

Segunda página<br />

2 Pedra de escândalo<br />

Editorial<br />

4 Revelando as cogitações de muitos corações<br />

Piedade pliniana<br />

5 Prece para fazer bem uma meditação<br />

Dona Lucilia<br />

6 Lição de confiança<br />

Eco fidelíssimo da Igreja<br />

10 A importância do apostolado<br />

leigo na “consecratio mundi” - II<br />

Denúncia profética<br />

16 As portas do Inferno não<br />

prevalecerão contra a Igreja<br />

Revolução Industrial<br />

19 RevoluçãoIndustrial e intemperança<br />

Perspectiva pliniana da História<br />

22 Amor, obediência e veneração<br />

pela Cátedra de São Pedro<br />

Calendário dos Santos<br />

26 Santos de Fevereiro<br />

Hagiografia<br />

28 A justiça e a misericórdia<br />

se oscularam<br />

Luzes da Civilização Cristã<br />

31 Como um voo angélico<br />

Última página<br />

36 Admirável lição de confiança<br />

3


Editorial<br />

Revelando as cogitações de muitos corações<br />

A<br />

s revelações de Nossa Senhora do Bom Sucesso a Sóror Mariana de Jesús Torres tratam muito sobre<br />

o papel do Equador e da América do Sul sob o ponto de vista da Contra-Revolução. A Santíssima<br />

Virgem faz profecias muito precisas a respeito da Revolução na América do Sul, da batalha entre<br />

revolucionários e contrarrevolucionários, e da vitória que Ela assegurará para estes últimos.<br />

A Mãe de Deus quis aparecer e fazer-Se venerar ali sob a invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso,<br />

da Candelária ou da Purificação, apelativos referentes a um mesmo episódio narrado no Evangelho e<br />

contemplado no quarto mistério gozoso do Rosário.<br />

Que relação há entre a Purificação e tudo quanto Nossa Senhora predisse a propósito da Revolução e<br />

Contra-Revolução na história da América do Sul, do papel deste Continente no mundo e, afinal, da vitória<br />

dos contrarrevolucionários?<br />

Nessa passagem do Evangelho Nosso Senhor é chamado pelo Profeta Simeão de pedra de escândalo,<br />

ou seja, de divisão, para que se revelem as cogitações de muitos corações.<br />

Ora, não há dúvida de que a Contra-Revolução constitui uma pedra de escândalo contínua nesta nossa<br />

época em que mais nenhuma aberração escandaliza. Entretanto, que aplicação haveria para estas palavras:<br />

“para que se revelem as cogitações de muitos corações”?<br />

Consideremos que Simeão esperou a vida inteira para ver o Messias e, quando O encontrou, discerniu<br />

n’Ele a pedra de escândalo e anunciou isto com amor e entusiasmo, como sendo uma das missões específicas<br />

d’Aquele Menino.<br />

Nosso Senhor manifestou tudo quanto está no Evangelho a respeito dos desígnios de Deus relativos à<br />

salvação dos homens. Entretanto, quem são aqueles cujas cogitações Ele revelou?<br />

Particularmente os fariseus.<br />

E como Ele o fez?<br />

Denunciando e desmascarando as intenções daqueles hipócritas que, embora se desagradassem com a<br />

pregação e a Pessoa do Divino Mestre, evitavam atacá-Lo publicamente, porque não queriam revelar as<br />

suas cogitações. Por isso, vinham com perguntas capciosas, tentando conservar oculta a própria posição.<br />

Em nossos dias, aqueles que lutam pela Contra-Revolução são chamados a imitar o Divino Redentor<br />

especialmente a este título de pedra de escândalo e a assumir, mutatis mutandis, todas as lutas e sofrimentos<br />

que, em Nosso Senhor, culminaram na Paixão, Morte e Ressurreição.<br />

A meu ver, aqui está o nexo entre nós e a devoção a Nossa Senhora do Bom Sucesso, que explica para<br />

onde devem se orientar nossos passos e projeta uma luz sobre nossa piedade.<br />

Com efeito, nos vários episódios da vida do Salvador, devemos procurar contemplar como Ele foi obrigando<br />

as cogitações a se revelarem. Por exemplo, um dos fatos mais marcantes foi a ressurreição de Lázaro.<br />

Após este milagre espetacular, tornaram-se manifestas as intenções dos fariseus que comentaram entre<br />

si: “É preciso matá-Lo.”<br />

Também quando o populacho, instigado pelos agentes do Sinédrio, preferiu Barrabás a Nosso Senhor,<br />

revelaram-se quais eram as cogitações dessa gente. E, por fim, na Crucifixão de Jesus, uma vez mais foram<br />

elas reveladas.<br />

Assim, do início ao fim, continuamente, Nosso Senhor Jesus Cristo apresentou-Se como pedra de escândalo.<br />

Então, nós podemos orar ao Homem-Deus, por meio de sua Mãe Santíssima, dizendo: “Ó Divina Pedra de<br />

Escândalo, posta para a revelação das cogitações de muitos corações, dos hipócritas e fariseus, tende piedade<br />

de nós e dai-nos, pelos vossos méritos infinitos, a força que mostrastes nesses lances de vossa vida terrena.” *<br />

* Cf. Conferência de 12/2/1982.<br />

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

4


Piedade pliniana<br />

Luis Samuel<br />

A Virgem e o<br />

Menino (acervo<br />

particular)<br />

Prece para fazer bem<br />

uma meditação<br />

Ave, Maria, Filha bem-amada do Padre Eterno, Mãe admirável de Deus Filho,<br />

Esposa fidelíssima do Espírito Santo!<br />

Ave, ó minha Mãe e Senhora, soberana do mundo, Rainha dos Corações<br />

e auxílio onipotente de todos os que a Vós recorrem e em Vós confiam!<br />

Coloco-me mais especialmente neste momento em vossa presença, pedindo-Vos<br />

vossa assistência e que me obtenhais a graça para, em união convosco, fazer bem esta<br />

meditação.<br />

Vós bem conheceis as dificuldades que terei, em consequência de minha dissipação<br />

constante, de minha preguiça mental, de meu relaxamento interior.<br />

Suplico-Vos, portanto, ó Esposa sem mácula do Divino Espírito Santo, vossas luzes,<br />

vossos favores, vossa misericórdia, enfim, para que eu possa tirar todo proveito<br />

desta meditação, para vossa maior honra, glória e serviço. Assim seja.<br />

5


Dona Lucilia<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

Lição de<br />

confiança<br />

Considerando<br />

os exemplos<br />

de ilustres<br />

antepassados, Dona<br />

Lucilia hauria os<br />

princípios que<br />

lhe serviam de<br />

fundamento para a<br />

prática da virtude<br />

da confiança.<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

<strong>Dr</strong>. Gabriel José Rodrigues<br />

dos Santos<br />

Para compreender o papel da<br />

confiança na minha vida é<br />

preciso considerar esta virtude<br />

na história de Dona Lucilia.<br />

Ancestrais exemplos<br />

de confiança<br />

Minha mãe pertencia a uma<br />

das antigas famílias de São Paulo,<br />

às quais se costumam chamar de<br />

“paulistas de quatrocentos anos”,<br />

e estava habituada à ideia de que<br />

6


Joaquim José Insley Pacheco (CC3.0)<br />

poderia ocorrer com ela o mesmo<br />

que se dera com alguns de seus antepassados,<br />

os quais, embora fossem<br />

pessoas de muita projeção e<br />

importância, capazes de realizar<br />

grandes esforços e se tornarem célebres<br />

por praticarem ações insignes<br />

para cumprir seu dever e a vontade<br />

de Deus, estiveram por vezes<br />

sujeitos a riscos de sofrerem terríveis<br />

fracassos. Foi o que se deu<br />

com o avô dela, a quem não cheguei<br />

a conhecer, <strong>Dr</strong>. Gabriel José<br />

Rodrigues dos Santos.<br />

Ele era um homem alto, com porte<br />

muito nobre, dotado de uma capacidade<br />

oratória digna de nota. Ao<br />

mesmo tempo, um político exímio e<br />

capaz de se impor com firmeza. Entretanto,<br />

compreendia os “azares”,<br />

as dificuldades da política e, por causa<br />

disso, também as derrotas que<br />

não raras vezes ela impunha.<br />

Dom Pedro II<br />

Joaquim José Insley Pacheco (CC3.0)<br />

Brigadeiro Tobias de Aguiar<br />

A narração de um episódio de sua<br />

história pode nos dar uma ideia de<br />

como era a mentalidade dele e qual<br />

o papel da confiança<br />

em sua vida.<br />

Passando do brejo<br />

para o forno,<br />

de Secretário de<br />

Estado a tropeiro<br />

Duque de Caxias<br />

Sendo muito bom<br />

político e orador, esse<br />

meu bisavô tornou-<br />

-se logo Secretário de<br />

Estado – uma espécie<br />

de ministro – do Governador<br />

de São Paulo<br />

daquele tempo, Rafael<br />

Tobias de Aguiar 1 .<br />

Houve em São Paulo<br />

uma revolução contra<br />

o Imperador, à qual<br />

Tobias de Aguiar aderiu,<br />

e <strong>Dr</strong>. Gabriel acabou<br />

“embarcando nessa<br />

canoa”.<br />

As tropas comandadas<br />

pelo Duque de<br />

Caxias 2 invadiram São<br />

Paulo e meu bisavô teve<br />

de fugir, de noite, escondendo-se<br />

no atual Parque Dom Pedro II, que<br />

era então um pântano enorme onde<br />

havia muita vegetação. Ali passou<br />

a noite inteira, metido no charco, o<br />

grande político e orador que dançara<br />

com a Imperatriz, causando sensação<br />

na corte.<br />

Depois, com o auxílio de correligionários,<br />

conseguiu partir para Sorocaba,<br />

uma das cidades mais próximas<br />

de São Paulo.<br />

Porém, não tardou para que os soldados<br />

do Duque de Caxias chegassem<br />

àquele lugar. Ao ouvir a notícia<br />

da entrada das tropas na então pequena<br />

Sorocaba, e vendo que facilmente<br />

o encontrariam, procurou refúgio<br />

na casa de um padeiro conhecido<br />

e simpatizante seu. Este lhe disse:<br />

— Minha casa é pequena e qualquer<br />

pessoa nota que o senhor está<br />

aqui. Só vejo uma solução: o meu<br />

forno está apagado e é enorme; o senhor<br />

entra nele e fica aí até a tropa<br />

passar adiante.<br />

Assim, o Secretário de Estado<br />

passou do brejo para o forno. Mas<br />

vendo que se continuasse naquela cidade<br />

por mais tempo seria capturado,<br />

disfarçou-se de tropeiro e, com a<br />

intenção de se refugiar na Argenti-<br />

Sébastien Auguste Sisson (CC3.0)<br />

7


Dona Lucilia<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

na, engajou-se numa tropa que conduzia<br />

gado rumo ao Sul do Brasil.<br />

<strong>Dr</strong>. Gabriel é descoberto<br />

pela esposa de seu patrão<br />

Tendo partido de Sorocaba e estando<br />

já a caminho do Rio Grande<br />

do Sul, seu patrão resolveu vender<br />

algumas cabeças de gado a um sujeito<br />

interessado em comprá-las. Contudo,<br />

na hora do pagamento começou<br />

uma discussão intérmina e não<br />

havia meio de entrarem em acordo.<br />

<strong>Dr</strong>. Gabriel, que tinha pressa em<br />

partir dali porque corria grande risco<br />

de ser preso, notou que o problema<br />

estava nos cálculos matemáticos<br />

errados, pois ambos não sabiam fazer<br />

as contas. Então, interferiu na<br />

negociação e, com muita destreza,<br />

apresentou-lhes a solução. Os negociantes<br />

ficaram muito satisfeitos, e<br />

assim puderam continuar a viagem.<br />

Ora, a esposa do chefe da tropa<br />

presenciara a cena e, estando a sós<br />

Duque de Caxias na Guerra do Paraguai<br />

le apuro, vendo o dinheiro acabar, de<br />

repente ele ouviu uma voz conhecida<br />

que cantava em português. Ele prestou<br />

mais atenção e reconheceu ser<br />

uma negra escrava da mãe dele.<br />

Ele foi correndo à janela e chamou<br />

a mulher. Ao entrar onde ele<br />

estava, a primeira coisa que ela fez<br />

foi tirar um xale que a cobria e desamarrar<br />

uma espécie de colete no<br />

qual estavam costuradas, por dentro,<br />

uma grande quantidade de moedas<br />

de ouro. Então contou sua aventura.<br />

Preocupada com a situação do filho,<br />

a mãe de meu bisavô mandara<br />

essa escrava de confiança viajar de<br />

São Paulo para a Argentina à procura<br />

do <strong>Dr</strong>. Gabriel José Rodrigues<br />

dos Santos para lhe entregar essas<br />

moedas.<br />

Chegando à fronteira, ela precisava<br />

atravessar a ponte limítrofe entre<br />

Brasil e Argentina, guarnecida por<br />

soldados brasileiros e que ninguém<br />

podia atravessar sem permissão. Como<br />

essa mulher não tinha autorizacom<br />

seu marido, disse-lhe:<br />

— Você não percebeu<br />

que esse homem<br />

que está trabalhando<br />

para você<br />

não é tropeiro?<br />

— Mas por que<br />

você diz isto?<br />

— Veja com que<br />

facilidade ele fez as<br />

contas. Você acha<br />

que um simples tropeiro<br />

é capaz disso?<br />

— Hum, é verdade...<br />

— Para evitar encrencas<br />

para nós, vá<br />

e pergunte quem é<br />

ele. De repente é um<br />

fugitivo político...<br />

O chefe dos tropeiros<br />

seguiu o conselho<br />

da mulher e<br />

interrogou meu bisavô,<br />

o qual acabou<br />

por revelar sua identidade.<br />

Surpreso, o patrão<br />

tirou o chapéu<br />

e disse:<br />

— <strong>Dr</strong>. Gabriel<br />

José Rodrigues dos<br />

Santos! Pois saiba<br />

que sou um grande<br />

admirador do senhor.<br />

Conte comigo<br />

para o que precisar.<br />

Na Argentina,<br />

recebendo o<br />

socorro materno<br />

Por fim, ele conseguiu<br />

chegar até a<br />

fronteira com a Argentina<br />

e ingressar<br />

nesse país. Mas ali<br />

não tardou a que lhe<br />

faltassem os meios de<br />

subsistência. Quando<br />

se encontrava naque-<br />

Conselheiro Crispiniano<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

8


ção e nem meios de obtê-la, começou<br />

a produzir doces que ora vendia,<br />

ora dava de graça para os soldados<br />

brasileiros.<br />

Certo dia ela quis atravessar a<br />

ponte, mas os guardas suspeitaram<br />

do pedido dela e disseram:<br />

— Nós deixamos passar, mas temos<br />

que revistar você antes.<br />

Ela respondeu:<br />

— Isso não! Ninguém toca em<br />

mim, eu proíbo absolutamente.<br />

Declarou isso com tal dignidade<br />

que não ousaram revistá-la, e deixaram-na<br />

passar. E lá foi ela com o coletezinho<br />

repleto de ouro.<br />

Já em terras argentinas, ela começou<br />

a perguntar por um exilado brasileiro,<br />

mas ninguém sabia informar.<br />

Então ela resolveu ir andando pela<br />

cidade, cantando uma canção que<br />

meu bisavô conhecia, confiando que<br />

ele ouviria e viria à janela. E assim<br />

aconteceu. Ele a reconheceu e se encheu<br />

de dinheiro.<br />

A vitória da confiança<br />

<strong>Dr</strong>. Gabriel José ficou ainda morando<br />

algum tempo na Argentina,<br />

até receber o recado de que o Governo<br />

imperial estava disposto a dar<br />

anistia aos revoltosos caso não se levantassem<br />

mais em armas. Ele aceitou<br />

e voltou para o Brasil. Mas a<br />

anistia não tinha sido concedida e,<br />

vindo a São Paulo, ele foi preso.<br />

No julgamento dele, o advogado de<br />

defesa foi o Conselheiro Crispiniano 3 ,<br />

muito amigo de meu bisavô, e era um<br />

famoso Conselheiro de Estado.<br />

O discurso de defesa feito pelo<br />

Conselheiro Crispiniano se tornou<br />

célebre pela ostentação do orador,<br />

cujas primeiras palavras ao subir à<br />

tribuna foram:<br />

— Egrégios membros do tribunal,<br />

a minha simples presença nesta tribuna<br />

prova a importância da causa<br />

que vou defender.<br />

Isso, na vida pacata da São Paulo<br />

daquele tempo, marcava muito:<br />

“Olhe o vaidoso!”<br />

Afinal, meu bisavô foi julgado e<br />

absolvido.<br />

Quando ele saiu do tribunal, os<br />

alunos da Faculdade de Direito e<br />

as moças da sociedade de São Paulo<br />

formaram uma ala ininterrupta<br />

da Praça João Mendes até a casa<br />

dele, na esquina da Rua 15 de Novembro<br />

com a Praça da Sé. À medida<br />

que meu bisavô passava, as<br />

moças iam jogando flores. Essa fase<br />

de carreira política dele estava<br />

encerrada.<br />

Aí está a vida desse antepassado<br />

de Dona Lucilia, feita de diversas<br />

tensões e situações difíceis, mas<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em agosto de 1995<br />

da qual mamãe tirava a lição de que,<br />

tendo confiança, ele vencia tudo.v<br />

(Extraído de conferências de<br />

29/6/1977 e 19/8/1995)<br />

1) Político e militar, um dos líderes<br />

da Revolução Liberal de 1842<br />

(*4/10/1794 - †7/10/1857).<br />

2) Luís Alves de Lima e Silva<br />

(*25/8/1803 - †7/5/1880).<br />

3) João Crispiniano Soares. Jurista<br />

e político paulista (*24/7/1809 -<br />

†15/8/1876).<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

9


Eco fidelíssimo da Igreja<br />

A importância do apostolado<br />

leigo na “consecratio mundi” - II<br />

Cabe aos leigos tornar sagrada a própria sociedade temporal,<br />

tarefa que exige grande dedicação e a generosa disposição de<br />

a ela consagrar toda a existência. A quem seguir esta via de<br />

renúncia e entrega está prometida uma grande glória: viver<br />

nos braços de Maria Santíssima e sob a proteção d’Ela.<br />

Arquivo Nacional (CC3.0)<br />

Oque vem a ser a consecratio<br />

mundi?<br />

A sociedade temporal,<br />

como todas as coisas criadas, deve<br />

ser consagrada a Deus, oferecida<br />

a Ele e ordenada segundo os desígnios<br />

divinos, para assim colaborar<br />

em sua obra. Nisto consiste a consecratio<br />

mundi: tornar sagrada a própria<br />

sociedade temporal, tarefa que<br />

Pio XII 1 afirma ser especificamente<br />

dos leigos.<br />

Apostolado próprio<br />

e insubstituível<br />

Às vezes ouço pessoas elogiarem<br />

certos sacerdotes nos seguintes termos:<br />

“Fulano é formidável. Tem-se<br />

a impressão de que ele não é padre.<br />

É divertido, camarada, conversa sobre<br />

tudo, sabe quem ganhou a última<br />

competição, anda de lambreta.<br />

Ninguém imaginaria o que ele faz.<br />

De padre assim é que eu gosto: bem<br />

moderno e igual a nós.” E o pobre<br />

Pe. Fulano pensa do mesmo modo…<br />

Trata-se de uma concepção errada<br />

da condição sacerdotal. O padre<br />

é um ministro do Senhor. Ele<br />

faz parte do clero, daqueles chamados<br />

a viver numa atmosfera sagrada<br />

e não na que se move o comum dos<br />

homens. A sacristia e o Altar constituem<br />

o lugar próprio do padre e, se<br />

ele não está ali, tudo fica deserto e<br />

a igreja não funciona. Se há alguém<br />

que não deve levar a vida de um leigo<br />

é o padre.<br />

Então quem vai levar aos diferentes<br />

meios sociais a Palavra de Deus?<br />

Nós, os leigos. E, por isso, no discurso<br />

ao Segundo Congresso Mundial<br />

do Apostolado dos Leigos o Santo<br />

Padre Pio XII mostra bem que a<br />

Igreja está constituída de tal maneira<br />

que nunca haverá padres em número<br />

suficiente para atender às necessidades<br />

do apostolado. Para entrar<br />

nas faculdades, nas oficinas, nos<br />

bondes, nos ônibus, em qualquer<br />

parte, é preciso que haja leigos e que<br />

estes sejam portadores habituais da<br />

Palavra de Deus.<br />

Por uma razão de número e de<br />

missão própria, o apostolado leigo<br />

não é substituído pela ação do sacerdote.<br />

E, portanto, a principal tarefa<br />

do sacerdote não consiste em fazer<br />

tudo, mas em formar grupos de<br />

bons leigos, que por toda parte entrem,<br />

atuem e produzam aquela par-<br />

Papa Pio XII


Flávio Lourenço<br />

cela de bem que cabe à sociedade<br />

temporal realizar para a santificação<br />

das almas.<br />

Conta-se que, em certa ocasião,<br />

Pio XII perguntou a um grupo de<br />

cardeais com os quais conversava:<br />

“Eminências, o que é mais necessário<br />

para a santificação do mundo<br />

nos dias atuais?” Um cardeal pensou<br />

um pouco e respondeu que faltavam<br />

igrejas grandes, porque com igrejas<br />

tão pequenas ninguém ia à Missa.<br />

Outro disse que seria preciso desenvolver<br />

a imprensa católica, pois<br />

por meio dela todos ouviriam a Palavra<br />

de Deus. E um terceiro levantou<br />

o tema das missões. O Papa ouviu a<br />

todos e concluiu: “Nada disso é verdade.<br />

O mais necessário hoje é que<br />

em cada paróquia exista um punhado<br />

de leigos realmente católicos, que<br />

levem a Palavra de Deus à sociedade<br />

temporal. Se houvesse isto, a crise<br />

do mundo contemporâneo estaria<br />

conjurada.”<br />

Eu não apresento esse fato como<br />

argumento, porque não gosto de jogar<br />

com palavras pronunciadas pelos<br />

Papas em conversas particulares.<br />

Mas, si non è vero, è bene trovato 2 .<br />

Ainda que ele não as tenha dito, isso<br />

é verdade e eu estou inteiramente de<br />

acordo com o inventor dessa fábula,<br />

se foi inventada.<br />

Doação especial a Deus<br />

no estado laical<br />

Peregrinação a Saint-Josse-sur-Mer<br />

Museu de Belas Artes, Arras, França<br />

A Santa Missa - Museu J. Paul Getty, Califórnia<br />

Ora, se o apostolado dos leigos é<br />

tão necessário, percebe-se sem dificuldade<br />

que ele exige uma grande dedicação.<br />

Essa ação jamais será suficientemente<br />

desenvolvida se um certo<br />

número de leigos generosos não<br />

for além de um simples apostolado<br />

comum e não consagrar a ela sua vida,<br />

dentro do seu ambiente próprio.<br />

Compreendem-se, então, as diretrizes<br />

do Santo Padre Pio XII na Encíclica<br />

Sacra Virginitas, na qual ele<br />

afirma que o celibato representa o<br />

estado ideal, ainda que não se trate<br />

de padre nem de freira, porque, em<br />

si mesma considerada, a castidade<br />

perfeita significa uma doação maior<br />

a Deus nosso Senhor e proporciona<br />

mais tempo para servir à Igreja.<br />

Quer dizer, um movimento leigo<br />

não pode manter-se sem muitas pessoas<br />

que dediquem a vida inteira a<br />

ele, quase como um sacerdote, embora<br />

continuem nas fileiras do laicato.<br />

E essa doação especial a Deus, no es-<br />

GCI (CC3.0)<br />

11


Eco fidelíssimo da Igreja<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

tado leigo, é tão agradável a Ele que<br />

atualmente a Igreja conta com associações<br />

só de leigos, que continuam<br />

a morar em suas casas, mas praticam<br />

a pobreza, a castidade e a obediência<br />

para melhor atuarem no apostolado.<br />

Vê-se aí a importância que a Igreja<br />

dá a essa ideia do leigo que se conserva<br />

no mundo, nele trabalha para a<br />

salvação das almas e liga-se ao serviço<br />

de Deus pelo celibato, à semelhança<br />

do sacerdote. Trata-se de um apostolado<br />

em que muitos – intencionalmente<br />

não digo todos – consagram-se<br />

inteiramente, de tal maneira que renunciem<br />

a todas as coisas da Terra.<br />

Entretanto, cabe ressaltar que<br />

aqueles que constituem família devem<br />

continuar servindo a esse apostolado<br />

na medida em que os laços<br />

matrimoniais o permitam, sem deixar-se<br />

dominar pelo seguinte estado<br />

de espírito: “Faço apostolado porque<br />

quero, não sou obrigado a fazê-lo.”<br />

O Santo Padre Pio XII nos ensina<br />

o contrário: o leigo também está obrigado<br />

a fazer apostolado porque é fi-<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> com o uniforme da Linha de Tiro, em 1929<br />

lho da Igreja. A vida<br />

foi-lhe dada não<br />

para gozar, mas para<br />

ele carregar a<br />

Cruz de Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo<br />

e santificar-se. Todos<br />

os problemas<br />

de carreira e outros<br />

desse teor são completamente<br />

secundários<br />

ante a santificação<br />

das nossas<br />

almas e a do<br />

próximo. Nesse esforço<br />

que os leigos<br />

desenvolvem, ninguém<br />

tem o direito<br />

de dizer que devem<br />

se sacrificar apenas<br />

aqueles que são<br />

muito inteligentes,<br />

organizadores e capazes.<br />

Não é assim.<br />

Aqui se aplica a parábola<br />

dos talentos:<br />

cada um deve prestar contas a Deus<br />

ainda que seja por<br />

um só talento recebido.<br />

Ai de nós se deixarmos<br />

o talento enterrado,<br />

sem fruto!<br />

Dois caminhos,<br />

uma escolha<br />

Lembro-me de<br />

uma série de problemas<br />

que se apresentaram<br />

a mim quando<br />

eu contava entre dezenove<br />

e vinte anos.<br />

Eu tinha muita vontade<br />

de fazer carreira<br />

e dispunha dos<br />

meios para isto. Por<br />

outro lado, vinha-me<br />

a ideia de dedicar-<br />

-me ao apostolado<br />

e a sensação viva do<br />

que eu poderia realizar<br />

pela Igreja.<br />

Parábola dos Talentos - Catedral de<br />

St. Colman, Cork, Irlanda<br />

Eu imaginava os dois caminhos. O<br />

primeiro, sem fazer apostolado: via-<br />

-me homem provecto, rico, bem colocado,<br />

usufruindo de todos os deleites<br />

que a vida pode dar. Depois imaginava-me<br />

fazendo apostolado e sentia<br />

que, neste caso, o mundo não me<br />

receberia bem e minha carreira ficaria<br />

gravemente prejudicada. Ademais,<br />

percebia que, se quisesse me<br />

conservar um homem reto, jamais<br />

conseguiria os cargos que desejava.<br />

Contudo, ao pensar na primeira hipótese,<br />

via-me com as mãos vazias de<br />

méritos e contemplando a Igreja, minha<br />

Mãe, esbofeteada, pisoteada, negada,<br />

abandonada, servida com negligência<br />

e ininteligência, por covardes<br />

que fugiam quando ela era seriamente<br />

atacada, enquanto eu me empanturrava<br />

do que a vida oferece, com o peito<br />

coberto de medalhas, sentado num<br />

palacete ou num automóvel de luxo,<br />

confesso que sentia náusea destas coisas,<br />

náusea de mim mesmo, náusea de<br />

tudo quanto não fosse o cumprimento<br />

Andreas F. Borchert (CC3.0)<br />

12


de meu dever. A visão de Jesus Cristo<br />

no Horto das Oliveiras e sendo crucificado,<br />

numa renovação de sua Paixão,<br />

fazia-me compreender que esta<br />

via não só me conduziria à perdição,<br />

mas também me daria um constante<br />

asco de mim mesmo.<br />

E hoje eu percebo que, se houvesse<br />

morrido nesse caminho, Deus teria<br />

me pedido contas das almas de todos<br />

aqueles que pertencem ao nosso<br />

Movimento. Eu Lhe responderia que<br />

não os conhecia e nada sabia a respeito<br />

deles. Então o Divino Juiz me diria:<br />

“Segundo os planos eternos de minha<br />

Providência, você deveria ter estabelecido<br />

relação com eles. Entretanto,<br />

na hora em que eles precisaram de<br />

sua ação direta ou indireta, você, pela<br />

sua covardia, pela sua ambição, pela<br />

sua falta de senso moral, pela sua<br />

fundamental indiferença em relação<br />

a Mim, pela sua vergonhosa adoração<br />

a si mesmo, você não sabia que essas<br />

pessoas existiam. Agora você será<br />

medido, pesado e julgado. E irá para<br />

o Inferno, porque todas as vezes que<br />

um daqueles que Me personificavam –<br />

pois todo católico é membro do meu<br />

Corpo Místico – precisou de você, era<br />

Eu que tinha sede de um bom conselho<br />

e você não Me deu, Eu que estava<br />

nu de forças para resistir ao adversário<br />

e você não Me vestiu. Eu lhe dei recursos<br />

para agir como devia, e você o que<br />

fez? Empanturrou-se de comida, inebriou-se<br />

de bebida, cobriu-se de condecorações<br />

e gloríolas, tornou-se um<br />

homem importante e se refestelou em<br />

palácios e cadillacs, mas a Mim deixou<br />

só.” Se isso me acontecesse, teria sido<br />

merecido.<br />

Responsabilidade do<br />

apóstolo, mesmo sendo leigo<br />

Recordo-me que, algum tempo<br />

depois de ter resolvido entrar para a<br />

Congregação Mariana e intencionalmente<br />

não fazer carreira, li um fato<br />

da vida de São João Bosco que muito<br />

me impressionou. Ele era menino e<br />

sonhou que homens de todas as raças<br />

cercavam sua cama, de mãos postas,<br />

pedindo-lhe que fosse logo até eles.<br />

Muito anos depois Deus lhe deu a interpretação<br />

do sonho. Os Salesianos<br />

são missionários e se espalharam pela<br />

Terra, e eram essas almas que eles<br />

deveriam evangelizar que estavam ao<br />

lado da cama de Dom Bosco pedindo<br />

que ele se apressasse, porque precisavam<br />

ser salvas.<br />

Se eu, aos vinte anos, houvesse tido<br />

um sonho assim, certamente veria<br />

os Anjos da Guarda de muitos dos<br />

que entraram e ainda entrarão em<br />

nosso Movimento pedindo que me<br />

apressasse.<br />

Mas o que vale para mim, vale para<br />

qualquer batizado. Se cada um pudesse<br />

ver as almas que deve edificar e salvar,<br />

veria também, ao lado do próprio<br />

leito, os Anjos da Guarda dessas almas<br />

pedindo que se apressasse. Porque os<br />

acontecimentos correm, o Inferno não<br />

dorme, o demônio trabalha constantemente<br />

e a todo momento almas se pre-<br />

Flávio Lourenço<br />

Jesus sendo cravado na Cruz - Museu Nacional de Port-Royal-des-Champs, França<br />

13


Eco fidelíssimo da Igreja<br />

Flávio Lourenço<br />

cipitam no Inferno. Compreende-se<br />

então a tremenda responsabilidade de<br />

um apóstolo, mesmo quando leigo. Devemos<br />

nos dedicar ao apostolado de alma<br />

e coração, como o bom sacerdote<br />

que vive para o seu ministério com toda<br />

a dedicação, pois sabemos quantas<br />

contas Deus nos pedirá do imenso bem<br />

que podemos fazer.<br />

Uma recompensa<br />

demasiadamente grande<br />

Deus bate no coração de cada um<br />

de nós dizendo: “Filho, vem e segue-<br />

-Me.” Houve um pintor alemão que<br />

fez um quadro representando Nosso<br />

Senhor batendo numa porta, como<br />

símbolo do Bom Pastor que bate<br />

à porta do coração humano. Quando<br />

foi exposta, a tela causou sensação.<br />

Então certa pessoa se aproximou<br />

do pintor e disse: “O quadro é<br />

muito bonito, mas falta uma coisa.<br />

O senhor se esqueceu de colocar fechadura<br />

na porta.” O pintor respondeu:<br />

“Fiz isso de propósito. A porta<br />

do coração não tem fechadura do lado<br />

de fora; ela só abre por dentro.”<br />

De modo análogo, o Divino Espírito<br />

Santo nos pede que Lhe abramos<br />

a porta. Dar-Lhe tudo, consagrar-<br />

-Lhe tudo é o que Deus pede de nós.<br />

E consagrar tudo não é consagrar<br />

muito, mas consagrar aquilo que dói<br />

mais. Aquele que tem mania de ser<br />

orgulhoso, que seja humilde. Aquele<br />

que tem tendência para a impureza,<br />

procure ser casto. Aquele que tem<br />

desejo de fazer carreira, procure apagar-se.<br />

Cada um dê a Nosso Senhor<br />

aquilo que lhe custa mais, porque Ele<br />

realmente o merece.<br />

Agora cabe uma palavra sobre a<br />

recompensa.<br />

Deus prometeu: “Eu mesmo serei<br />

a vossa recompensa demasiadamente<br />

grande” (cf. Gn 15, 1). Ou seja,<br />

Ele não dá uma recompensa, mas<br />

Ele é a recompensa! E nisso Se assemelha<br />

a um rei que diz aos seus soldados:<br />

“Não os condecorarei, não<br />

lhes concederei o título de duque,<br />

nem mesmo lhes entregarei meu trono;<br />

darei a Mim mesmo aos soldados<br />

que tiverem combatido por Mim.”<br />

Trata-se de uma recompensa verdadeiramente<br />

demasiada.<br />

Sebastião C.<br />

Jesus salva São Pedro<br />

enquanto caminha sobre as<br />

águas - Convento de Santa<br />

Maria Novella, Florença<br />

Essa recompensa não consiste apenas<br />

na salvação eterna, mas se inicia<br />

na Terra. Uma imagem pode ajudar a<br />

compreendê-lo. Imaginemos dois barcos<br />

que singram o Lago de Tiberíades.<br />

Um deles leva pescadores comuns, sobre<br />

os quais paira a proteção divina,<br />

segundo a Providência geral que Deus<br />

tem para com todos. No outro barco a<br />

situação é diferente... Os ventos soprarão<br />

sobre esta embarcação. Mas Nosso<br />

Senhor Se levantará e, como narra<br />

o Evangelho (cf. Mt 8, 26-27), os ventos<br />

e os mares Lhe obedecerão e a tormenta<br />

será aplacada. Às vezes Ele pedirá<br />

aos tripulantes do barco que andem<br />

sobre as águas, como São Pedro,<br />

e os sustentará.<br />

De mesmo modo, quem foi chamado<br />

por uma providência especial<br />

de Deus, tem direito e obrigação a<br />

uma confiança especial n’Ele.<br />

Deus exige muito daqueles<br />

aos quais deseja dar muito<br />

O sacrifício de Isaac - Igreja dos Clérigos, Porto, Portugal<br />

Quando tivermos problemas de<br />

vida interior sobremaneira difíceis e<br />

14


nebulosos, rezemos a Nossa Senhora,<br />

certos de que Ela nos ajudará a<br />

progredir. Quando nosso apostolado<br />

estiver em crise, rezemos a Nossa<br />

Senhora, certos de que sobre nós<br />

paira uma providência especialíssima.<br />

Quando surgirem dificuldades financeiras,<br />

lembremos que Deus ama<br />

aqueles que trilham a via da incerteza.<br />

Quando notarmos que as coisas<br />

se encrencam com facilidade, firmemo-nos<br />

na certeza de que somos do<br />

número daqueles a quem Deus protege.<br />

Quando ficarmos numa dependura,<br />

sem ter ninguém a quem apelar,<br />

e nos conservarmos em inteira<br />

paz, certos de que Deus nos ajudará,<br />

aí seremos verdadeiros filhos d’Ele.<br />

Então teremos o que Deus nos<br />

prometeu, isto é, a recompensa demasiadamente<br />

grande: após atravessarmos<br />

muitas dificuldades, nós O<br />

sentiremos ao nosso lado, constantemente<br />

nos protegendo e apoiando.<br />

Esta é a via da confiança especial na<br />

Providência, mas confiança em cada<br />

caso concreto, que tem direito de seguir<br />

aqueles que se entregam a Deus<br />

nesta vida.<br />

É bem conhecida a história de<br />

Abraão. Deus lhe prometera que seria<br />

pai de uma numerosa descendência,<br />

da qual nasceria o Messias. No<br />

entanto, este homem que daria origem<br />

a uma prole fecunda permanece<br />

estéril até velhice e, quando tem<br />

um filho, o Senhor lhe pede que o<br />

imole. Com uma confiança cega na<br />

Providência, ele não discute nem raciocina.<br />

E só no momento em que o<br />

sacrifício está interiormente realizado,<br />

a ponto de ele levantar o braço<br />

para o golpe, que o Anjo aparece e<br />

o detém. Diante desta prova de confiança<br />

o mensageiro celeste lhe diz<br />

que sua descendência seria mais numerosa<br />

que as estrelas do céu e as<br />

areias do mar.<br />

Às vezes Deus exige muito de<br />

nós, para dar muito também. A raça<br />

dos que vivem na dependura é a raça<br />

daqueles a quem Deus nunca faltará.<br />

Desejemos a graça de ficar, pelo<br />

menos algumas vezes, neste estado,<br />

de renunciar a todas as coisas da<br />

Terra para só almejar as do Céu, de<br />

compreender essa vocação especial,<br />

da qual teremos de prestar contas<br />

severíssimas. Mas compreendamos<br />

tudo isso à luz do amor de Nossa Senhora,<br />

que tem um amor inexprimível<br />

por cada um de seus filhos e os<br />

ampara sempre.<br />

A vida de renúncia e de dedicação<br />

completa do leigo tem esta grande<br />

glória: é uma vida nos braços de<br />

Maria e sob a proteção d’Ela. v<br />

(Extraído de conferência de<br />

21/1/1958)<br />

1) Cf. Alocução ao Segundo<br />

Congresso Mundial do<br />

Apostolado dos Leigos,<br />

5/10/1957.<br />

2) Do italiano: “Se não é<br />

verdadeiro, está bem<br />

achado.”<br />

Daniel A.<br />

15


Teodoro Reis / Walterpeitz (CC3.0)<br />

Denúncia profética<br />

As portas do Inferno<br />

não prevalecerão<br />

contra a Igreja<br />

Em meio às ondas encapeladas do mal que investem contra a Igreja<br />

Católica, tenhamos a coragem de remar contra a maré, seguindo<br />

os exemplos dos Santos. Façamos violência aos Céus por orações,<br />

sacrifícios, zelo e combatividade para que em torno de nós as portas do<br />

Inferno não prevaleçam contra a ação vivificadora da Esposa de Cristo.<br />

Apromessa divina do Salvador,<br />

de que as portas do Inferno<br />

não prevalecerão contra a Santa<br />

Igreja, não equivale a dizer que em<br />

uma dada região ou em um determinado<br />

país esteja livre o Catolicismo de ser<br />

completamente banido e extirpado.<br />

Não deixemos nos levar<br />

por um estado eufórico<br />

de vazio otimismo<br />

É indestrutível a Igreja. A malícia<br />

dos homens, porém, transformou em<br />

deserto pagão, herético ou cismático,<br />

muitos lugares em que a Esposa<br />

de Cristo antes espargia o leite e o<br />

mel de sua Doutrina e de sua missão<br />

salvadora.<br />

O Oriente cristão em grande parte<br />

foi assim esmagado pela infidelidade<br />

do Islã. Para citar exemplos<br />

mais recentes, temos a Suécia, antes<br />

cristianíssima, e onde o desenvolvimento<br />

da heresia protestante acarretou<br />

a extirpação completa da Igreja<br />

Católica em uma determinada época.<br />

Na Inglaterra, durante os reina-<br />

dos de Henrique VIII e de Isabel,<br />

o culto católico foi quase completamente<br />

extinto, passando a ter uma<br />

existência clandestina, e a Ilha dos<br />

Santos, como era chamada, veio a<br />

ser país de missão, ficando a cura de<br />

almas ali confiada a sacerdotes que,<br />

para desempenhar o sagrado ministério,<br />

tinham de usar disfarces a fim<br />

de ocultar sua identidade. Do mesmo<br />

modo, nestes trinta anos de bolchevismo,<br />

sabemos a que frangalhos<br />

foi reduzido o trabalho apostólico da<br />

Santa Sé na Rússia soviética.<br />

16


É indefectível a Igreja, mas esta<br />

certeza não nos deve levar a um estado<br />

eufórico de vazio otimismo idêntico<br />

ao dos habitantes de Bizâncio –<br />

da Bizâncio dominada pela política<br />

do Baixo Império –, os quais porfiavam<br />

em fechar os olhos à realidade<br />

dos muçulmanos acampados a poucas<br />

léguas de suas portas.<br />

Nossa atitude em relação a esta<br />

verdade consoladora deve ser pautada<br />

pelo exemplo dos Santos que a<br />

Igreja suscitou.<br />

Jansenismo, a heresia mais<br />

sutil que o diabo engendrou<br />

Ao ensejo da canonização de São<br />

Luís Maria Grignion<br />

de Montfort, vem a<br />

propósito lembrar seu<br />

exemplo e o de São<br />

Vicente de Paulo, no<br />

tocante a este ponto.<br />

Viveram estes dois<br />

Santos em uma época<br />

e em um lugar dominado<br />

por dois perniciosos<br />

inimigos da unidade<br />

católica. Embora<br />

emergindo vitoriosa<br />

de uma luta encarniçada<br />

contra a heresia<br />

protestante, achava-se<br />

a França subjugada<br />

pelo galicanismo<br />

e pelo jansenismo.<br />

O galicanismo, que<br />

transferia para César<br />

os direitos de Deus,<br />

abria as portas ao erro<br />

religioso do jansenismo,<br />

entre outras<br />

razões por dificultar a<br />

aceitação do pronunciamento<br />

da Santa Sé<br />

em matéria de doutrina.<br />

João Duvergier de<br />

Hauranne 1 , Abade de<br />

Saint-Cyran e um dos<br />

mais destacados che-<br />

A França, porém, providencialmente<br />

encontrou em São Vicente<br />

de Paulo e em São Luís de Montfort<br />

dois articuladores seguros<br />

do movimento<br />

de resistência contra<br />

tal investida heterodoxa,<br />

os quais se conduziram<br />

nesse emaranhado<br />

cipoal de insidias<br />

como verdadeiros<br />

campeões da Fé<br />

e da sã Doutrina, não<br />

temendo nem a perseguição<br />

dos maus<br />

nem a incompreensão<br />

dos bons no desempenho<br />

da missão que<br />

lhes reservara a Providência,<br />

de combate<br />

a tão terrível e perniciosa<br />

heresia. Para<br />

eles a crença na indefectibilidade<br />

da Igreja<br />

serviu de incentivo,<br />

não para uma atitude<br />

cômoda de complacência<br />

com o erro<br />

pelo temor de atiçar<br />

o ódio dos maus e<br />

de criar inimigos, mas<br />

para conclamar os fiéis<br />

a se abrigarem sob<br />

o estandarte do Rei<br />

invencível a que alude<br />

Santo Inácio, visto<br />

que as portas do Infes<br />

jansenistas, assim se abria a São<br />

Vicente de Paulo, quando tentava<br />

“catequizá-lo” para a sua seita: “Calvino<br />

não havia sido partidário de uma<br />

causa assim tão má, apenas a havia<br />

defendido mal.”<br />

Não fosse o jansenismo a heresia<br />

mais sutil que o diabo engendrou,<br />

como diz Fleury… “Vendo que os<br />

protestantes, separando-se da Igreja,<br />

se condenaram a si próprios, e<br />

que haviam sido censurados por esta<br />

separação, tomaram os jansenistas<br />

por máxima fundamental de sua<br />

conduta não se separarem jamais exteriormente<br />

do Catolicismo, protestando,<br />

pelo contrário, sua submissão<br />

às decisões da Igreja, com o cuida-<br />

Prédica de São Vicente de Paulo - Museu<br />

Nacional do Palácio Mansi, Lucca, Itália<br />

do de achar todos os dias novas sutilezas<br />

para explicá-las, de modo que<br />

parecessem submissos sem mudar de<br />

sentimentos.”<br />

Insistindo, assim, em permanecer<br />

dentro da Igreja e tudo fazendo para<br />

impedir ou protelar uma condenação<br />

de seus erros pérfidos e sutis,<br />

tornavam os jansenistas assaz delicada<br />

a situação de seus adversários.<br />

A finalidade dessa heresia<br />

era trabalhar pela completa<br />

ruína da Religião Católica<br />

Flávio Lourenço<br />

17


Denúncia profética<br />

ferno não prevalecem contra a Igreja,<br />

mas se acham escancaradas para tragar<br />

as almas dos infelizes transviados<br />

e para estreitar e restringir os espaços<br />

da caridade de Cristo.<br />

A nenhum dos dois se pode aplicar<br />

o terrível epiteto de cães mudos,<br />

a que se referia o Profeta Isaías. São<br />

Vicente, diante dos erros do jansenismo,<br />

desejava, segundo Rohrbacher 2 ,<br />

que os membros de sua Congregação,<br />

embora evitando discussões estéreis,<br />

“falassem claramente quando as circunstâncias<br />

o exigissem, sem receio<br />

de criarem inimigos”.<br />

“Que Deus não permita, dizia São<br />

Vicente, que esses fracos motivos, que<br />

enchem o Inferno, impeçam os missionários<br />

de defender os interesses de<br />

Deus e de sua Igreja!” Foi à luz deste<br />

princípio que ele rejeitou o conselho<br />

de um seu irmão de hábito, de deixar<br />

cada um crer nessas matérias controversas<br />

o que julgasse a propósito.<br />

“É preciso, adverte o Santo, que<br />

tenhamos todos unius labii 3 , de outro<br />

modo nós nos dilaceraremos<br />

uns aos outros. Obedecer<br />

neste ponto não é submeter-<br />

-se a um superior, mas a Deus<br />

e ao sentimento dos papas,<br />

dos concílios e dos Santos. E<br />

se qualquer um dos nossos assim<br />

não agir, será melhor retirar-se,<br />

a convite mesmo de<br />

seus companheiros.”<br />

Não parou, porém, aí o zelo<br />

de São Vicente. Além de<br />

batalhar pela obtenção de um<br />

rescrito apostólico contra os<br />

erros jansenistas, tudo fez para<br />

que essa decisão pontifícia<br />

fosse aceita por toda a França,<br />

tão convencido estava do<br />

perigo por que passava a filha<br />

primogênita da Igreja diante<br />

das maquinações da cabala,<br />

que tinha João Duvergier de<br />

Hauranne e Jansênio por chefes<br />

e cuja finalidade era trabalhar<br />

pela completa ruína da<br />

Religião Católica.<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

“Tenhamos a coragem de<br />

remar contra a maré”<br />

Seguindo as pegadas de São Vicente<br />

de Paulo, São Luís de Montfort<br />

haveria de ser alvo do ódio dos<br />

sectários jansenistas por toda a sua<br />

vida de apóstolo da sã Doutrina.<br />

A um amigo de sacerdócio que o<br />

censurava por provocar contradição,<br />

crítica e perseguição por toda parte,<br />

assim respondia Grignion de Montfort:<br />

“Se a sabedoria consistisse em<br />

não fazer falar de si, os Apóstolos fizeram<br />

muito mal em sair de Jerusalém;<br />

São Paulo, pelo menos, não devia<br />

fazer tantas viagens, nem São Pedro<br />

arvorar a Cruz sobre o Capitólio.<br />

Semelhante sabedoria, sem dúvida,<br />

não teria assustado a sinagoga,<br />

que teria deixado em paz os primeiros<br />

discípulos do Salvador; mas, então,<br />

estes não teriam jamais conquistado<br />

o mundo.”<br />

Era de outra natureza a sabedoria<br />

de São Luís de Montfort. “O que me<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1947<br />

faz dizer que obterei a divina sabedoria,<br />

diz ele em carta dirigida à Irmã<br />

Maria Luísa de Jesus, são as perseguições<br />

que sofri e que estou sofrendo<br />

todos os dias.”<br />

Não é o discípulo maior que o Mestre,<br />

e todo aquele que combate pela<br />

boa causa pode estar certo de que o<br />

“homem inimigo” não o poupará.<br />

Dizia o jansenista de Saint-Cyran<br />

a São Vicente de Paulo que Deus se<br />

achava cansado com os pecados dos<br />

homens em certos países, e por isso<br />

lhes queria tirar a Fé, da qual se haviam<br />

tornado indignos, sendo uma temeridade,<br />

portanto, ir-se contra os desígnios<br />

do Alto, defendendo a Igreja, quando o<br />

próprio Deus resolvera perdê-la.<br />

Não copiemos, por nossa fraqueza<br />

e conivência com o espírito do<br />

mundo, esse triste exemplo de derrotismo<br />

jansenista, nem o vazio otimismo<br />

dos bizantinos.<br />

Em meio às ondas encapeladas do<br />

mal, que hoje ameaçam a Civilização<br />

Católica, tenhamos a coragem de remar<br />

contra a maré, seguindo<br />

o exemplo de São Vicente de<br />

Paulo, o apóstolo da caridade,<br />

e de São Luís de Montfort, o<br />

apóstolo da verdadeira devoção<br />

à Santa Mãe de Deus: fazendo<br />

violência aos Céus por<br />

nossas orações, por nossos<br />

sacrifícios, por nosso zelo e<br />

combatividade, para que em<br />

torno de nós as portas do Inferno<br />

não prevaleçam contra<br />

a ação vivificadora da Santa<br />

Igreja.<br />

v<br />

(Extraído de O Legionário<br />

n. 781, 27/7/1947)<br />

1) Jean-Ambroise Duvergier de<br />

Hauranne (*1581 - †1643).<br />

2) René François Rohrbacher<br />

(*1789 - †1856), sacerdote e historiador<br />

francês.<br />

3) Do latim: uma só língua (cf.<br />

Gn 11, 1).<br />

18


Divulgação (CC3.0)<br />

Revolução Industrial<br />

Revolução<br />

Industrial e<br />

intemperança<br />

A temperança é uma virtude cardeal cujo<br />

efeito próprio é auxiliar cada uma das demais<br />

virtudes a exercer-se perfeitamente. O vício<br />

oposto, a intemperança, foi especialmente<br />

desencadeada na sociedade em fins da<br />

Idade Média, mas a Revolução Industrial<br />

imprimiu-lhe um ritmo vertiginoso.<br />

Devemos considerar os elementos<br />

constitutivos da intemperança,<br />

enquanto produzida<br />

artificialmente pela Revolução<br />

Industrial.<br />

Um processo lento que<br />

se torna vertiginoso no<br />

início do século XX<br />

O papel da Revolução Industrial,<br />

como desencadeadora de todas as intemperanças,<br />

fica mais claro se tomarmos<br />

em consideração que a temperança<br />

é uma virtude cardeal cujo<br />

efeito próprio, conjugada com as demais<br />

virtudes, é auxiliar cada uma de-<br />

las a exercer-se perfeitamente. Por<br />

exemplo, a fortaleza, em certo sentido,<br />

pode existir em um homem sem<br />

a temperança: um grande batalhador,<br />

um corajoso, um Ferrabrás, tem elementos<br />

muito característicos da virtude<br />

da fortaleza; porém só a praticará<br />

com perfeição se for temperante.<br />

A intemperança foi especialmente<br />

desencadeada em fins da Idade<br />

Média. Portanto, quando a Revolução<br />

Industrial arrebentou já havia<br />

séculos de intemperança estabelecidos.<br />

Apesar disso, ela imprimiu,<br />

à sua maneira, um ritmo vertiginoso<br />

àquilo que já vinha mar alto. A análise<br />

de algumas fotografias dos Estados<br />

Unidos, no início do século XX,<br />

pode nos ajudar a compreender o<br />

modo pelo qual a Revolução Industrial<br />

produziu esse efeito.<br />

Em termos de História francesa,<br />

poderíamos situar o início da Revolução<br />

Industrial no reinado de Luís<br />

Filipe 1 . A máquina a vapor e coisas<br />

congêneres tiveram uma expansão<br />

muito lenta no começo, não sendo<br />

suficiente para desatarraxar logo<br />

os costumes. Este fenômeno verificou-se<br />

também nos Estados Unidos.<br />

A partir de certo momento essa<br />

Revolução foi tomando intensidade<br />

e, em 1850, já estavam postas todas<br />

as condições para seu amplo cres-<br />

19


Revolução Industrial<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

Passeios pela praia em Soabreeze, Flórida, no início do século XX<br />

A humanidade preparava-se para<br />

os efeitos da Primeira Guerra Mundial.<br />

Porém, quando eclodiu a Segunda<br />

Guerra Mundial, os maiôs já<br />

tinham invadido as praias e as pessoas<br />

se preparavam para os efeitos do<br />

comunismo.<br />

É interessante considerar que essa<br />

presença junto ao mar e esses prazeres<br />

campestres têm um bisneto: a<br />

ecologia. Não quer dizer que a pessoa<br />

seja ecologista por passear no campo.<br />

Contudo, trata-se de uma reação contra<br />

o costume das pessoas, no século<br />

XIX, de ficarem todo o tempo em<br />

casa, fechadas, com horror às excursões.<br />

Essa reação, feita de um modo<br />

intemperante, provoca uma explosão<br />

cujo bisneto é a ecologia.<br />

E pelo modo como eles viam a natureza,<br />

os trajes tinham que dar no<br />

nudismo. Por exemplo, o traje campestre<br />

de uma alemã de tempos anteriores<br />

que faz um passeio no mato<br />

é adequado a essa finalidade. Mas<br />

a mulher que passeia no mato sem a<br />

indumentária apropriada, de repente<br />

quer encolher a saia ou qualquer<br />

outra coisa, etc. É forçoso.<br />

Eu acho que a vida social é, talvez,<br />

dos vários aspectos de uma sociedade,<br />

o mais indicativo de uma<br />

psicologia, de uma mentalidade. E<br />

como tal tem uma importância hiscimento.<br />

E meio século mais tarde,<br />

ao despontar o século XX, ela já tivera<br />

tempo à vontade para se desenvolver.<br />

Entrada dos Estados<br />

Unidos na Primeira<br />

Guerra Mundial<br />

É muito pitoresco notar, pelos trajes<br />

desse período, como a velha Europa<br />

mantinha ainda “acorrentados”<br />

os Estados Unidos que, por si, queriam<br />

ir muito mais longe. Um exemplo<br />

característico é o passeio das famílias<br />

pela praia. Embora já indicasse<br />

um desejo de entrar no mar, os<br />

vestidos lembram as senhoras nas<br />

ruas de Berlim, na mesma época.<br />

Percebe-se, no contexto histórico<br />

geral, que a psicologia americana era<br />

louca para avançar muito mais nesse<br />

tempo, mas como as senhoras de<br />

Berlim, e também as de São Petersburgo,<br />

Viena, Paris, Londres, andavam<br />

todas assim, as norte-americanas<br />

não ousavam ir além.<br />

Quando este prestígio da Europa,<br />

que funcionava como freio da intemperança,<br />

se rompeu? Com a entrada<br />

dos Estados Unidos na Primeira<br />

Guerra, como grande potência mundial.<br />

De maneira que, se quiséssemos<br />

classificar as consequências his-<br />

tóricas desse conflito, sob o ponto de<br />

vista de ambientes e costumes, diríamos<br />

que o grande acontecimento,<br />

com a queda da Áustria, do último<br />

Sacro Império, foi, em certo sentido,<br />

a ruína da Europa inteira diante do<br />

poderio norte-americano.<br />

Comunismo, ecologia, nudismo<br />

Notem a contradição entre os trajes<br />

e as atitudes das mulheres nesse<br />

ambiente campestre. Esse jogo já<br />

cheira ao esporte, ao estádio, a tudo<br />

quanto conduz à masculinização da<br />

mulher. Entretanto, nas roupas a influência<br />

da velha Europa se impõe.<br />

Mulheres numa partida de golfe nas Olimpíadas de 1900<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

20


tórica enorme, mais como documento<br />

do que como acontecimento. Mas<br />

como acontecimento também tem<br />

muita importância.<br />

Saudação de um<br />

mundo sem tradição<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

Banda americana entre os anos 1900-1909 - Minesota, Estados Unidos<br />

Então chegou o automóvel! É interessante<br />

nas primeiras corridas de<br />

carro notar o estado de espírito do<br />

triunfo. Estão todos triunfantes e<br />

querendo se mostrar, como se participassem<br />

um pouco da proeza dos<br />

competidores. Não havia heroísmo<br />

nenhum dentro disso. Não arriscaram<br />

a vida em nada.<br />

É a alegria vivaz de quem saúda<br />

o advento de uma era nova, como<br />

que dizendo “Viva o progresso!”<br />

É a despedida do passado, a ruptura<br />

com a tradição e a saudação de um<br />

mundo sem tradição.<br />

As pessoas saúdam nisso um estado<br />

de espírito despreocupado, prático,<br />

libertado de considerações sentimentais<br />

ou metafísicas do século passado,<br />

livre dos vínculos tradicionais<br />

que ainda amarravam o homem às regras<br />

de educação difíceis, complexas,<br />

às normas de agir subtis, etc. É a técnica<br />

se libertando do pensamento.<br />

Outro efeito da Revolução Industrial,<br />

que não aparece nessas fotografias,<br />

é a arte moderna. A arte<br />

procurou adaptar-se à Revolução<br />

Industrial, e nessa adaptação ela encontrou<br />

um modo sofismado de se<br />

reduzir ao caixotão e às formas simplicíssimas.<br />

Isso ainda não havia surgido<br />

no tempo em que foram tiradas<br />

essas fotografias.<br />

Na foto do concerto de banda, nota-se<br />

a seriedade ainda existente antes<br />

da Primeira Guerra Mundial,<br />

misturada com os costumes futuros.<br />

Tudo isto iria desaparecer. Não<br />

devemos transformar essas considerações<br />

num histórico da alma norte-americana,<br />

mas procurar os efeitos<br />

da Revolução Industrial sobre tudo<br />

isso.<br />

Esses trajes, que as pessoas usavam<br />

só no campo, tornaram-se depois<br />

a indumentária para viajar em<br />

trem, ônibus, automóvel a toda velocidade,<br />

em suma viver no regime de<br />

negócios americano. Todos os ritmos<br />

da Revolução Industrial convidavam<br />

para isso.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

10/9/1986)<br />

1) Reinou de 1830 a 1848.<br />

La Vie au Grand Air (CC3.0)<br />

Gordon Bennett Cup, em 1904<br />

21


Perspectiva pliniana da História<br />

Richard (CC3.0)<br />

Amor,<br />

obediência<br />

e veneração<br />

pela Cátedra<br />

de São Pedro<br />

Cátedra de São Pedro<br />

Basílica do Vaticano<br />

A Cátedra de São Pedro lembra o supremo<br />

governo da Igreja Católica Apostólica Romana.<br />

Se as vicissitudes humanas podem dar a essa<br />

Cátedra brilho maior ou menor, ou até rodeá-la<br />

de trevas, ela é sempre a mesma. Nosso amor<br />

à Santa Igreja é absolutamente sem limites<br />

e acima de todas as coisas da Terra, e deve<br />

incidir de modo especial sobre a Cátedra de<br />

São Pedro, qualquer que seja o seu ocupante.<br />

Vatican Museums (CC3.0)<br />

Arespeito da festa da Cátedra<br />

de São Pedro, Dom Guéranger,<br />

em sua obra L’Année<br />

Liturgique, cita um trecho do Sermão<br />

82 de São Leão Magno. Eis os dizeres<br />

deste Santo Pontífice:<br />

A Providência preparou o<br />

Império Romano para a<br />

pregação do Evangelho<br />

O Deus bom, justo e todo-poderoso,<br />

que jamais negou sua misericórdia<br />

22<br />

São Leão Magno<br />

Museu do Vaticano


ao gênero humano, e que pela abundância<br />

de seus dons forneceu a todos<br />

os mortais os meios de conhecermos<br />

o seu Nome, nos secretos desígnios<br />

de seu imenso amor, teve piedade da<br />

cegueira voluntária dos homens e da<br />

malícia que os precipitava na degradação,<br />

enviou o seu Verbo, que Lhe é<br />

igual e coeterno.<br />

Ora, esse Verbo, tendo-Se feito carne,<br />

tão estritamente uniu a natureza<br />

divina à natureza humana que o abaixamento<br />

da primeira até nossa abjeção<br />

tornou-se para nós o princípio da<br />

elevação mais sublime.<br />

Mas, a fim de difundir no mundo<br />

inteiro os efeitos desse favor, a Providência<br />

preparou o Império Romano<br />

e deu-lhe tão grandes limites que<br />

ele abarcava em seu vasto meio a universalidade<br />

das nações. Foi feita uma<br />

coisa muito útil à realização da obra<br />

projetada, que os diversos reinos formassem<br />

uma confederação de um império<br />

único, a fim de que a pregação<br />

geral chegasse mais rapidamente aos<br />

povos, unidos que já estavam sob o regime<br />

de uma só cidade.<br />

Roma, dominada<br />

pelo demônio, foi<br />

conquistada por Cristo<br />

Esta cidade, desconhecendo o divino<br />

Autor de seus destinos, fizera-se escrava<br />

dos erros de todos os povos, no<br />

instante mesmo em que ela os tinha<br />

sob suas leis e acreditava possuir uma<br />

grande religião, porque não rejeitava<br />

nenhuma mentira. Mas quanto mais<br />

duramente foi dominada pelo demônio,<br />

mais maravilhosamente foi conquistada<br />

por Cristo.<br />

Com efeito, quando os doze Apóstolos,<br />

após terem recebido do Espírito<br />

Santo o dom de falar todas as línguas,<br />

espalhados pelos quatro cantos<br />

da Terra, e que tomaram conta deste<br />

mundo onde deviam difundir o Evangelho,<br />

o Bem-aventurado Pedro, príncipe<br />

dos Apóstolos, recebeu como herança<br />

a cidadela do Império Romano,<br />

a fim de que a luz da verdade que se<br />

manifestava para a salvação de todas<br />

as nações se propagasse mais eficazmente,<br />

difundindo-se no centro desse<br />

Império sobre o mundo inteiro.<br />

Qual a nação, com efeito, que não<br />

contava com numerosos representantes<br />

nessa cidade? Qual povo ignorava<br />

o que Roma ensinava? Era lá que deviam<br />

ser esmagadas as opiniões de Filosofia,<br />

dissipadas as vaidades da sabedoria<br />

terrestre, o culto dos demônios<br />

seria confundido, destruída enfim<br />

a impiedade de todos os sacrifícios, no<br />

mesmo lugar onde uma superstição<br />

hábil reunira tudo o que os diversos<br />

erros haviam produzido.<br />

A unidade civil do<br />

Império Romano<br />

preparou a aceitação<br />

da unidade religiosa<br />

A primeira ideia que aparece neste<br />

texto é de que a humanidade estava<br />

extremamente degradada, e Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo, Segunda Pessoa<br />

da Santíssima Trindade, encarnou-Se,<br />

realizando por esta forma uma descida<br />

que era imensa – porque do mais<br />

alto dos Céus, do infinito, para uma<br />

condição degradada –, mas há uma<br />

correspondência entre o enorme dessa<br />

descida e a extraordinária ascensão<br />

que o gênero humano teve. Porque,<br />

assim como Deus Se humilhou imensamente<br />

encarnando-Se, nós fomos<br />

incomensuravelmente elevados pela<br />

Encarnação d’Ele.<br />

Há uma expressão que diz:<br />

“Quanto maior a altura, tanto maior<br />

o tombo.” Aqui se poderia afirmar,<br />

salvadas as proporções: “Quanto<br />

maior o tombo, maior a altura.”<br />

Quanto mais Deus Se humilhou,<br />

tanto mais nós fomos prodigiosamente<br />

levantados por Ele. Então,<br />

vem acentuada aqui a imensa misericórdia<br />

do dia de Natal, que patenteia<br />

aos homens a elevação sublime e incompreensível<br />

da natureza humana<br />

pela união hipostática na Segunda<br />

Pessoa da Santíssima Trindade.<br />

O segundo pensamento é o seguinte:<br />

esse favor da Providência só<br />

daria todos os seus resultados pela<br />

constituição do Império Romano.<br />

Porque era um Império enorme que<br />

continha, dentro de seu bojo, todas<br />

as nações da orla do Mediterrâneo e<br />

muitas outras ainda. Como se sabe,<br />

o Império Romano estendeu-se até<br />

o atual território da Inglaterra e um<br />

Maquete representando Roma durante o<br />

reinado de Constantino (306-337)<br />

Jean-Pierre Dalbéra (CC3.0)<br />

23


Perspectiva pliniana da História<br />

Gabriel K.<br />

Triunfo de Constantino na Ponte Mílvia<br />

Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque<br />

pouco o da Escócia; e que na linha<br />

sul ele tocou as lindes da Etiópia.<br />

A África do Norte era povoada,<br />

fértil e intensamente latina no tempo<br />

dos romanos, e o poder destes afundou<br />

pela Pérsia adentro, tocando<br />

quase até na Índia. De algum modo,<br />

se podia dizer que o mundo conhecido<br />

era todo romano. Ou seja, houve<br />

uma unificação de incontáveis nações<br />

sob um só Império, e São Leão Magno<br />

mostra porque esta unificação serviu<br />

para a difusão do enorme benefício<br />

que houve, em que Cristo se Encarnasse<br />

e elevasse a natureza humana.<br />

Ele, então, dá algumas razões.<br />

Uma razão, muito rapidamente<br />

mencionada, é ligada ao fato de que<br />

onde há um só Estado, sem fronteiras,<br />

cabe mais facilmente a ideia de<br />

uma só religião. E por causa disso<br />

a unidade civil do Império Romano<br />

preparava as mentes para a aceitação<br />

de uma unidade religiosa.<br />

A Roma dos Papas<br />

Depois ele desenvolve uma ideia<br />

mais viva, que é a seguinte: a cidade<br />

de Roma era como que um coração<br />

mantendo dentro de si, com movimentos<br />

de sístole e diástole, um sangue<br />

que circulava por todo o Império.<br />

Em Roma havia habitantes de<br />

todas as partes do Império, que ou<br />

ali moravam e exerciam influência<br />

sobre suas respectivas províncias, ou<br />

estavam sempre em viagem e assim<br />

levavam a influência de Roma para<br />

os últimos recantos.<br />

De um modo ou de outro, Roma<br />

era como um coração que havia<br />

atraído para si pessoas de todo o Império,<br />

e depois mandava para longe<br />

funcionários, legionários e todo<br />

o aparelho administrativo e militar<br />

romano. De maneira que, cristianizando<br />

a cidade de Roma, estava conquistado<br />

o ponto estratégico para a<br />

cristianização do Império. Feita a<br />

cristianização do Império, estava potencialmente<br />

cristianizado o mundo.<br />

Então ele explica que, por um desígnio<br />

soberano de Deus, Roma foi<br />

escolhida para ser a cidade do Papa<br />

porque era uma cidade estratégica,<br />

onde este benefício da salvação podia<br />

se tornar mais geralmente conhecido.<br />

Daí vem a Cátedra de São Pedro,<br />

a qual se trata de venerar, posta no<br />

centro de influência do mundo inteiro,<br />

e que inoculou em todo o orbe a<br />

regeneração católica, a verdadeira<br />

Fé, disseminou a Igreja.<br />

É bonito verificar como a Providência<br />

age de um modo político interessante.<br />

E eu não recuo diante da palavra<br />

“político”. Enquanto a Igreja era<br />

pequena e fraca, tornava-se necessário<br />

que a sede d’Ela fosse na mais importante<br />

cidade do mundo, para poder espalhar<br />

a sua influência. Mas depois<br />

que a Igreja se difundiu por todo o orbe,<br />

convinha que o Papa, tornado personagem<br />

humanamente poderosíssimo,<br />

não convivesse na mais importante<br />

cidade do mundo com o maior poder<br />

temporal, porque sairia fricção. E<br />

em certo momento, tornou-se necessário<br />

que Roma não fosse mais a capital<br />

política do mundo.<br />

Então, Constantino deixou Roma<br />

e se transladou para Bizâncio. Atribuem<br />

alguns esta ideia a que exatamente<br />

o Imperador não incomodasse<br />

o papa, mas isso é um pouco discutido,<br />

porque Roma já não era capital<br />

do Império. A capital do Império<br />

era Milão, Ravena, e nunca mais Roma<br />

veio a ser a capital de um país que<br />

fosse uma potência internacional.<br />

Nós tivemos a Roma dos Papas,<br />

que foi sempre um pequeno Estado<br />

temporal. Depois a carnavalesca<br />

Roma dos Saboias, capital do reino<br />

da Itália. Esta Roma foi capital de<br />

um Estado de alguma importância na<br />

Europa, mas não de um poder político<br />

e militar mundial. De uma influência<br />

cultural mundial, sim; de um poder<br />

político e militar mundial, não.<br />

24


Vitold Muratov (CC3.0)<br />

Amor sem limites ao papado<br />

e à Cátedra de São Pedro<br />

Poderia começar a aparecer, então,<br />

uma espécie de opressão da Roma<br />

civil, poderosa, sobre a Roma religiosa.<br />

O que se passou? Ocorreu a<br />

coisa mais inesperada do mundo. Para<br />

tocar para a frente a obra de humilhação<br />

do Papa, a Roma dos Saboias<br />

foi uma Roma constitucional e depois<br />

se transformou numa república. Mas<br />

quando se fizeram as eleições, verificou-se<br />

que a maior influência eleitoral<br />

da Itália era o Papa. E hoje em<br />

dia, por detrás do governo democrata-cristão,<br />

é o Papa que governa.<br />

De maneira que os papéis se inverteram<br />

e, em vez de ser a Roma<br />

civil que governa a Roma religiosa,<br />

nós temos, até certo ponto, a Roma<br />

religiosa que governa a Roma civil.<br />

E assim, o desígnio de que o papado<br />

fosse opresso pelo poder civil não<br />

ser realizou.<br />

Será o melhor possível esse governo<br />

democrata-cristão? Uma coisa é<br />

verdadeira: se São Pio X estivesse no<br />

Sólio Pontifício, a Itália seria a nação<br />

mais bem governada do mundo.<br />

Quanto a isto não há dúvida!<br />

Quando se fala da<br />

Cátedra de São Pedro,<br />

refere-se naturalmente<br />

ao móvel da cátedra.<br />

No fundo da Igreja de<br />

São Pedro há uma cátedra<br />

em bronze, feita por<br />

Bernini 1 , cercada de resplendores,<br />

recebendo<br />

por isso o nome de “a<br />

glória de Bernini.” Essa<br />

cátedra é oca e dentro<br />

se encontra o pequeno<br />

trono de madeira, que<br />

São Pedro usava em Roma,<br />

o qual até hoje se<br />

conserva para veneração<br />

dos fiéis e é exposto<br />

em certas ocasiões.<br />

A cátedra simbolicamente<br />

lembra o poder, o<br />

papado, o pontificado, a<br />

continuidade dessa instituição,<br />

através de todos<br />

os homens tão diferentes<br />

que a têm ocupado. Recorda, então,<br />

o supremo governo da Santa Igreja<br />

Católica Apostólica Romana.<br />

Se as vicissitudes humanas podem<br />

dar brilho maior ou menor, ou até<br />

rodear de trevas essa Cátedra, ela é<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1966<br />

sempre a mesma. O supremo governo<br />

da Igreja é a cabeça da Igreja. Quando<br />

se ama alguém, se ama sobretudo<br />

sua face, sua cabeça. Portanto, nosso<br />

amor à Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana, que é um amor absolutamente<br />

sem limites e acima de todas<br />

as coisas da Terra, deve incidir especialmente<br />

sobre o papado e a Cátedra<br />

de São Pedro, qualquer que seja o<br />

seu ocupante. Porque esse é Pedro, a<br />

quem foram dadas as chaves dourada<br />

e prateada, a do Céu e a do poder indireto<br />

na Terra.<br />

E a este Pedro nós osculamos, em<br />

espírito, os pés, como expressão de homenagem<br />

e de adesão. Porque em relação<br />

à Cátedra de São Pedro, nosso<br />

amor, nossa obediência, nossa veneração<br />

absolutamente não têm limites.v<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

(Extraído de conferência de<br />

17/1/1966)<br />

Altar da Cátedra de São Pedro, Vaticano<br />

1) Gian Lorenzo Bernini (*1598 -<br />

†1680), arquiteto e escultor italiano.<br />

25


WGA (CC3.0)<br />

C<br />

alendário<br />

Beato João de Fiesole<br />

1. Beato Reginaldo de Orleans,<br />

presbítero (†1220). Passando por Roma<br />

e animado pela pregação de São<br />

Domingos, fez-se dominicano, fundou<br />

o grande convento de Bolonha e<br />

deu novo vigor ao de Paris.<br />

2. Apresentação do Senhor. Ver página<br />

2.<br />

Beato Luís Brisson, presbítero<br />

(†1908). Sacerdote da diocese de<br />

Troyes, fundou as congregações das<br />

Irmãs Oblatas e dos Oblatos de São<br />

Francisco de Sales.<br />

3. São Brás, bispo e mártir (†c. 320).<br />

Santo Oscar, bispo (†865).<br />

Beata Maria Helena Stollenwerk,<br />

virgem (†1900). Junto com Santo Arnaldo<br />

Janssen, fundou a Congregação<br />

das Servas Missionárias do Espírito<br />

Santo, em Steyl, Holanda. Após deixar<br />

a função de superiora, se entregou<br />

à Adoração Perpétua.<br />

4. São Nicolau Studita, monge<br />

(†868). Abade do Mosteiro de Studion,<br />

em Constantinopla, hoje Istambul,<br />

Turquia. Foi exilado várias vezes<br />

por defender o culto às imagens.<br />

dos Santos – ––––––<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

5. Santa Águeda, virgem e mártir<br />

(†c. 251).<br />

Santo Avito, bispo (†518). Converteu<br />

ao Catolicismo São Segismundo, rei da<br />

Borgonha. Defendeu as Gálias da heresia<br />

ariana. Faleceu em Vienne, França.<br />

6. São Paulo Miki e companheiros,<br />

mártires (†1597).<br />

São Mateus Correa, presbítero e<br />

mártir (†1927). Durante a perseguição<br />

contra a Igreja, se recusou a revelar<br />

um segredo de Confissão e por isso<br />

foi fuzilado em Durango, México.<br />

7. V Domingo do Tempo Comum.<br />

São Ricardo, leigo (†c. 720). Pai dos<br />

santos Vinebaldo e Valburges, morreu<br />

quando ia com seus filhos em peregrinação<br />

da Inglaterra para Roma.<br />

8. São Jerônimo Emiliani, presbítero<br />

(†1537).<br />

Santa Josefina Bakhita, virgem<br />

(†1947).<br />

Santo Estêvão, abade (†1124).<br />

Fundador da Ordem de Grandmont,<br />

perto de Limoges, França. Com sua<br />

vida austera atraiu numerosos discípulos.<br />

Beato Leopoldo de Alpandeire<br />

9. Beato Leopoldo de Alpandeire,<br />

religioso (†1956). Irmão leigo capuchinho,<br />

que exerceu o ofício de hortelão,<br />

porteiro, sacristão e esmoler. Faleceu<br />

em Granada, Espanha.<br />

10. Santa Escolástica, virgem<br />

(†c. 547).<br />

Beata Eusébia Palomino Yenes,<br />

virgem (†1935). Trabalhou em diversas<br />

casas de família até se tornar religiosa<br />

salesiana, onde deu testemunho<br />

de humildade, em Valverde del Camino,<br />

Espanha.<br />

11. Nossa Senhora de Lourdes.<br />

12. São Ludano, peregrino (†1202).<br />

Natural da Escócia, filho do príncipe<br />

Hildebold, dedicou-se ao serviço dos<br />

doentes e construiu hospitais e orfanatos.<br />

Morreu em Northeim, Alemanha,<br />

quando ia em peregrinação às<br />

basílicas dos Apóstolos.<br />

13. São Paulo Lê-Văn-Lôc, presbítero<br />

e mártir (†1859). No tempo do imperador<br />

Tu Ðúc, foi decapitado às portas<br />

da cidade vietnamita de Thi-Nghè.<br />

14. VI Domingo do Tempo Comum.<br />

São Cirilo, monge (†869) e São<br />

Metódio, bispo (†885).<br />

Beato Vicente Vilar David, mártir<br />

(†1937). Durante a perseguição religiosa,<br />

acolheu sacerdotes e religiosas em<br />

sua casa e por recusar-se a renegar a<br />

Fé, foi fuzilado em Valência, Espanha.<br />

15. São Cláudio de La Colombière,<br />

presbítero (†1682). Sacerdote jesuíta,<br />

superior do Colégio de Paray-<br />

-le-Monial, França, que com seus retos<br />

conselhos, conduziu muitas pessoas<br />

ao amor de Deus.<br />

16. São Maruta, bispo (†a. 420).<br />

Presidiu o Concílio de Selêucia, restaurou<br />

as Igrejas arruinadas na perseguição<br />

do rei Sapor e recolheu as relíquias<br />

dos mártires da Pérsia para serem<br />

veneradas na cidade de sua sede<br />

26


––––––––––––––– * Fevereiro * ––––<br />

episcopal, a atual Silvan, Turquia, que<br />

passou a chamar-se Martirópolis.<br />

17. Sete Santos Fundadores dos<br />

Servitas (†1310).<br />

18. Beato João de Fiesole, presbítero<br />

(†1455). Religioso dominicano e<br />

pintor de fama mundial, mais conhecido<br />

como Fra Angelico, possuía uma<br />

alma profundamente contemplativa.<br />

Morreu no convento de Santa Maria<br />

sopra Minerva, em Roma.<br />

19. Beato José Zaplata, religioso e<br />

mártir (†1945). Religioso da Congregação<br />

do Sagrado Coração de Jesus,<br />

deportado da Polônia para o campo de<br />

concentração de Dachau, Alemanha,<br />

onde morreu vítima dos maus tratos.<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

20. São Leão, bispo (†c. 787). Religioso<br />

beneditino eleito Bispo de Catânia,<br />

Itália. Dedicou com grande diligência<br />

ao cuidado dos pobres e lutou<br />

contra os iconoclastas.<br />

21. I Domingo da Quaresma.<br />

São Pedro Damião, bispo e Doutor<br />

da Igreja (†1072).<br />

Beato Reinaldo de Orleans<br />

dou o Instituto das irmãs dos Anjos<br />

da Guarda, em Bilbao, Espanha.<br />

Butinone Bernardino (CC3.0)<br />

Gachepi (CC3.0)<br />

24. Beata Josefa Naval Girbés, virgem<br />

(†1510). Consagrada a Deus no<br />

mundo, dedicou-se em Algemesí, Espanha,<br />

à catequese das crianças.<br />

Santo Avito<br />

Beato Vicente Vilar David<br />

São Germano, abade (†c. 667).<br />

Procurando defender com diálogos<br />

pacíficos os habitantes vizinhos do<br />

mosteiro de Grandfelt, Suíça, foi atacado<br />

por ladrões e morto atravessado<br />

por uma lança.<br />

22. Festa da Cátedra de São Pedro<br />

Apóstolo. Ver página 22.<br />

São Papias, bispo (†séc. II). Bispo<br />

de Hierápolis, Frígia (atual Turquia).<br />

Foi companheiro de São Policarpo,<br />

recolheu fatos narrados por testemunhas<br />

dos Apóstolos e escreveu vários<br />

comentários sobre os Evangelhos.<br />

23. São Policarpo, bispo e mártir<br />

(†c. 155).<br />

Beata Rafaela Ybarra de Vilallonga,<br />

fundadora (†1900). Mãe de sete<br />

filhos, que com o assentimento do esposo,<br />

emitiu os votos religiosos e fun-<br />

25. Beato Ciríaco María Sancha y<br />

Hervás, bispo (†1909). Bispo de Toledo<br />

e Valência, Patriarca das Índias e<br />

fundador da Congregação das Irmãs<br />

da Caridade do Cardeal Sancha, em<br />

Toledo, Espanha.<br />

26. Santa Paula de São José Calasanz,<br />

virgem (†1889). Fundadora do<br />

Instituto das Filhas de Maria das Escolas<br />

Pias, em Barcelona, Espanha.<br />

Tinha como lema: Piedade e letras.<br />

27. Beata Maria da Caridade Brader<br />

do Amor do Espírito Santo, virgem<br />

(†1943). Religiosa franciscana enviada<br />

da Suíça para Pasto, Colômbia,<br />

onde fundou a Congregação das Irmãs<br />

Franciscanas de Maria Imaculada.<br />

28. II Domingo da Quaresma.<br />

São Romão, abade (†463). Seguindo<br />

o exemplo dos antigos anacoretas, foi<br />

viver como eremita na região do Jura,<br />

França, e depois se tornou pai espiritual<br />

de muitos monges. Ver página 28.<br />

27


Hagiografia<br />

A justiça e a misericórdia<br />

se oscularam<br />

Há espíritos que fazem admiravelmente o bem por meio<br />

da severidade, e outros que o realizam, dentro da medida<br />

do razoável, pela brandura e suavidade. Uns imitam mais<br />

Nosso Senhor enquanto expulsava os vendilhões do Templo;<br />

outros, enquanto Ele perdoava Santa Maria Madalena.<br />

Flávio Aliança<br />

A28 de fevereiro a Igreja comemora<br />

a festa de São Romão,<br />

abade. Temos a comentar<br />

uma ficha biográfica tirada da<br />

obra de Daras, Les Vies des Saints.<br />

Lutar corajosamente<br />

contra o demônio<br />

São Romão, nascido em 399, na<br />

Borgonha, foi fundador de um famoso<br />

convento na região do Franco Condado.<br />

Desde jovem retirou-se para a<br />

solidão, sendo mais tarde seguido por<br />

seu irmão, São Licínio. Conta-se que<br />

levavam uma vida que consideravam<br />

de paz e felicidade, quando o demônio<br />

resolveu interrompê-la. Cada vez<br />

que se punham de joelhos para rezar,<br />

o demônio fazia cair sobre eles uma<br />

chuva de pedras cortantes, que os feriam<br />

e impediam de continuar. Ambos<br />

resistiram por algum tempo, mas,<br />

vendo que nada conseguiam, decidiram<br />

abandonar o retiro. Ao chegarem<br />

a uma aldeia, foram hospedados por<br />

uma pobre mulher que lhes perguntou<br />

de onde vinham. Não sem alguma<br />

vergonha, narraram toda a verdade.<br />

— Vós deveríeis, disse a mulher, lutar<br />

corajosamente contra o demônio e<br />

não temer os embustes e ódio daquele<br />

que tão frequentemente foi vencido<br />

pelos amigos de Deus. Se ele ataca os<br />

homens, é por medo de que eles, por<br />

suas virtudes, subam ao lugar de onde<br />

a perfídia diabólica o fez cair.<br />

Ao saírem dessa casa, consideraram<br />

a sua fraqueza e quão pouco haviam<br />

combatido. Voltaram sobre seus passos<br />

e, com orações e paciência, venceram<br />

o inimigo.<br />

São Licínio era severíssimo<br />

e São Romão agia<br />

com brandura<br />

Mais tarde, tendo já fundado numerosos<br />

mosteiros, os dois irmãos visitavam<br />

essas fundações com frequência. São Licínio<br />

era severíssimo, não perdoando o<br />

menor deslize. São Romão, ao contrário,<br />

era bem mais misericordioso.<br />

Aconteceu que São Licínio, visitando<br />

um convento na Alemanha, encontrou<br />

na cozinha excessiva quantidade<br />

de legumes e peixes. Escandalizado<br />

com aquilo, fez cozinhar tudo<br />

junto para castigo dos monges. A comida<br />

saiu tão repugnante que doze religiosos<br />

deixaram a casa, não suportando<br />

a penitência. São Romão teve<br />

28<br />

Cristo expulsa mercadores do Templo<br />

Museu Palazzo Rosso, Gênova


Flávio Lourenço<br />

Jesus comendo na casa do fariseu Simão - Museu de Belas Artes, Rennes, França<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

uma visão sobre esse acontecimento e,<br />

quando Licínio voltou, disse-lhe:<br />

— Meu irmão, é melhor não visitar<br />

as ovelhas do que ir vê-las para dispersá-las.<br />

Resposta de São Licínio:<br />

— Não tenhais pena, meu caro irmão!<br />

Não é preciso purificar o campo do<br />

Senhor e separar a palha do bom grão?<br />

Os que se foram eram doze orgulhosos<br />

em quem o Senhor não mais habitava.<br />

São Romão concordou. Mas daí em<br />

diante chorava tão profundamente, magoado<br />

com a partida dos monges, que<br />

Deus, atendendo suas preces, reconduziu<br />

mais tarde os doze recalcitrantes ao<br />

convento. A ele se apresentaram voluntariamente<br />

para fazer penitência.<br />

São Romão e São Licínio<br />

Combatentes varonis<br />

Nesta narração há uma série de<br />

fatos interessantes para considerar.<br />

Em primeiro lugar, encontramo-<br />

-nos em face da admirável floração<br />

de Santos ocorrida depois da queda<br />

do Império Romano do Ocidente.<br />

Vemos dois irmãos que levam uma<br />

vida de grande santidade, num lugar<br />

ermo, em meio a uma natureza<br />

amena, bucólica, felizes sem os<br />

atrativos das coisas da cidade, nem<br />

do mundo.<br />

Podemos imaginar, nas horas de<br />

oração, esses irmãos ajoelhados, rezando<br />

um ao lado do outro – assim<br />

os representaria uma iluminura –,<br />

Nossa Senhora aparecendo no alto e<br />

sorrindo para eles.<br />

Então, um primeiro ato é o da felicidade<br />

eremítica e bucólica desses<br />

dois irmãos, que vivem numa atmosfera<br />

terrena encimada por um céu<br />

parecido com o ar diáfano daqueles<br />

firmamentos azuis de Fra Angelico.<br />

Em seguida, vem a provação. O<br />

demônio, que lhes tem ódio, emprega<br />

um modo de castigá-los muito interessante:<br />

uma chuva de pedras cortantes.<br />

Eles, tão bonzinhos, tão direitinhos...<br />

vem uma chuva medonha<br />

de pedras cortantes e os molesta.<br />

Procuram, então, rezar direito, mas<br />

afinal de contas as pedras são muito<br />

sérias e eles resolvem sair.<br />

Encontram, por fim, uma boa mulher<br />

que habita uma choupana no<br />

campo. Ela perdeu o marido, tem<br />

um filho que mora longe e de quem<br />

apenas recebe, de vez em quando,<br />

uma carta; com uma perna inchada,<br />

doente, reumática, reza o tempo inteiro<br />

e vive só para Deus.<br />

Essa mulher, provada por sofrimentos<br />

e cheia de sabedoria, recebe<br />

os dois e, naturalmente, primeiro<br />

lhes oferece algo para comer, ajuda<br />

a curar alguma ferida causada pelas<br />

pedras e depois pergunta o que há.<br />

Fora está chovendo torrencialmente,<br />

eles estão abrigados na casinha<br />

da mulher e lhe contam o ocorrido.<br />

Ela suspira, põe os olhos num crucifixo<br />

e afirma:<br />

29


Hagiografia<br />

— Irmãos, andastes mal...<br />

E lhes diz a verdade.<br />

Eles, compungidos, passam a noite<br />

em prece. Na manhã seguinte, voltam<br />

para o ermo e vão lutar contra o demônio.<br />

São dois guerreiros contra o<br />

maligno que emergem dessa atmosfera<br />

azul e rosa-claro, ouro rutilante, os<br />

quais, a partir desse momento, transformam-se<br />

em lutadores varonis. É a<br />

formação deles que assim se enuncia.<br />

Esse era o ambiente e o modo pelo<br />

qual a graça operava nessa época. Portanto,<br />

não se trata de lenda, mas é o<br />

estilo da ação de Deus nesse período.<br />

Os diferentes métodos devem<br />

ser utilizados de acordo<br />

com o sopro da graça<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

Depois – na ficha saltam-se vários<br />

anéis intermediários –, eles nos aparecem<br />

numa posição pomposa, majestosa.<br />

São dois Santos veneráveis, cuja fama<br />

de santidade reuniu em torno deles<br />

vários conventos que lhes<br />

obedecem. Tornaram-se patriarcas,<br />

provavelmente já de<br />

barbas brancas, mais sábios,<br />

mais provados na vida do que<br />

aquela mulher, derrotaram os<br />

demônios, enfrentaram os adversários,<br />

fizeram viagens perigosas<br />

passando por lugares<br />

onde havia feras, pontes mal<br />

construídas, bandidos, tempestades,<br />

tudo enfrentaram<br />

por causa de Deus Nosso Senhor.<br />

Estão no zênite de suas<br />

vidas, porém mais uma vez um<br />

episódio entre eles se dará.<br />

Há uma certa medida de severidade<br />

e de brandura que deve<br />

ser utilizada de acordo com<br />

o sopro da graça e com o modo<br />

pelo qual o Divino Salvador<br />

quer conduzir os espíritos.<br />

Existem espíritos que só sabem<br />

fazer bem por meio da severidade<br />

suma, e realizam um bem<br />

admirável. Há outros espíritos<br />

que, dentro da medida do razoável,<br />

quase se diria que estão no extremo<br />

oposto: são muito brandos, muito<br />

suaves, e fazem bem pela sua brandura<br />

e suavidade. Uns imitam mais Nosso<br />

Senhor enquanto expulsava os vendilhões<br />

do Templo; outros enquanto Ele<br />

perdoava Santa Maria Madalena.<br />

Começam a governar esses mosteiros.<br />

São Licínio visita um deles e,<br />

encontrando irregularidades, aplica<br />

uma correção severa. Entretanto a<br />

Igreja é multíplice, e São Romão tinha<br />

o espírito diverso de seu irmão.<br />

Notem a sutileza e o conteúdo teológico<br />

interessantíssimo do fato: São<br />

Romão lamentou tal atitude e censurou<br />

São Licínio. Este deu-lhe uma<br />

resposta esplêndida, explicando tudo.<br />

São Romão, suspirando, concordou.<br />

Severidade e doçura<br />

aliadas à força da oração<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1967<br />

Mas a Providência quis que a misericórdia<br />

não saísse derrotada. Onde<br />

São Licínio tinha feito bem em<br />

expulsar, São Romão fez bem em<br />

pedir que voltassem. Este se pôs a<br />

chorar, e vê-se então o velho com<br />

as barbas brancas, numa atitude enternecida,<br />

pensando naquelas almas,<br />

as lágrimas cristalinas de olhos<br />

cristalinos, que correm ao longo de<br />

uma face alva e emaciada e chegam<br />

a cair no chão, enternecem o Anjo<br />

da Guarda e encontram eco diante<br />

de Nossa Senhora, a Qual, por<br />

sua vez, tem sempre audiência diante<br />

de Deus. Maria Santíssima pede.<br />

Resultado: os monges, que São<br />

Licínio com tão boa vassoura varrera,<br />

voltam. Não regressam como<br />

ele tinha varrido, mas emendados<br />

por uma ação que está para além<br />

das vias normais da graça: não é o<br />

corretivo de São Licínio, mas uma<br />

bela superação dele. A graça conseguiu<br />

a conversão daqueles que a<br />

justiça, a tão bom título e tão oportunamente,<br />

tinha castigado. Iustitia<br />

et pax osculatæ sunt, diz o<br />

Salmo (85, 11) – a justiça e<br />

a paz se oscularam. Aqui se<br />

poderia afirmar que a justiça<br />

e a misericórdia se oscularam.<br />

E termina assim, num<br />

encantador happy end, esta<br />

ficha.<br />

Que São Romão nos consiga<br />

essa candura de alma, tão<br />

extraordinariamente agradável,<br />

para praticarmos a virtude.<br />

Mas que tenhamos também<br />

a compreensão dos métodos<br />

de São Licínio, e não<br />

apenas a ternura empregada<br />

por São Romão. E nos façam<br />

parecidos com eles: São Licínio<br />

nos dê toda a sua severidade;<br />

e São Romão, a sua doçura<br />

com sua força de oração,<br />

pois sem esta de nada lhe valeria<br />

a doçura. v<br />

(Extraído de conferência de<br />

28/2/1967)<br />

30


Luzes da Civilização Cristã<br />

Como um voo<br />

Alberto Luccaroni (CC3.0)<br />

angélico<br />

Assim como o gótico, no seu início, manifestava uma força muito<br />

grande, com riquezas de graça, delicadeza e leveza que só depois<br />

se exprimiram, do mesmo modo, olhando para ele, no fundo de<br />

nossas almas católicas há um anseio de que algo novo, realmente<br />

magnífico ainda apareça. Nas obras do Espírito Santo não pode haver<br />

contradição. Tudo é lógica por mais que o passo seja enorme.<br />

ACatedral de Ravena, na Itália, é um edifício octogonal<br />

construído num estilo bizantino muito<br />

característico, com aquelas figuras em mosaico,<br />

típicas da arte bizantina, postas numa espécie de estado<br />

contemplativo, desligadas das circunstâncias concretas<br />

de tudo, sobre um fundo dourado.<br />

Os diversos estilos ao sopro do Espírito Santo<br />

Passar desse estilo para o românico constitui, sem dúvida,<br />

um salto. Não se deve confundir o românico com o greco-<br />

-romano. Este último é o estilo grego com pequenas adaptações<br />

feitas pelos romanos. O românico é uma adaptação que<br />

os bárbaros fizeram do estilo romano a algo existente na alma<br />

deles e que não havia no espírito da civilização romana.<br />

Quando consideramos um estilo mais próximo do românico,<br />

como é o da época de Ravena, não é fácil perceber<br />

que de lá surgirá o românico. Entretanto, ao ver o<br />

românico e depois o gótico, percebemos que o gótico estava<br />

nascendo no românico.<br />

Então, podemos dizer que o espírito de Ravena correspondia<br />

a alguma coisa do gótico, mas com interferência<br />

de algo violentamente diferente ligado ao romano antigo.<br />

Já do românico para o gótico, pelo contrário, continua<br />

em linha reta.<br />

Assim como o gótico, no seu início, manifestava uma força<br />

muito grande, com riquezas de graça, delicadeza e leveza<br />

que só depois se exprimiram, mas que já estavam presentes<br />

no gótico originário, poderíamos perguntar o seguinte:<br />

quando o gótico chegou a exprimir a sua delicadeza, a par<br />

de sua força, ele estava esgotado ou tinha mais algo?<br />

A força e a graça são posições ou valores harmônicos,<br />

mas tão diversos entre si que se diria, à primeira vista,<br />

31


Luzes da Civilização Cristã<br />

Marie Thérèse Hébert & Jean Robert Thibault (CC3.0)<br />

Fachada e detalhes<br />

da Catedral de<br />

Ravena, Itália<br />

tratar-se de uma contradição. Mas, de fato, dentro das<br />

coisas da Igreja, como nas obras do Espírito Santo, não<br />

pode haver contradição. Tudo é lógica por mais que o<br />

passo seja enorme.<br />

Algo de novo ainda poderá surgir do gótico<br />

Tomado esse conjunto de força e de graça, qual é a nova<br />

perfeição contida potencialmente no espírito católico<br />

e que viria a se exprimir no Reino de Maria?<br />

Poder-se-ia conjeturar que fosse uma coisa muito ousadamente<br />

diversa e profundamente afim, mais ou menos<br />

como a capa leve e graciosa de uma rainha, capaz de<br />

tremular ao vento de tal maneira que uma pessoa pensasse<br />

ter sido a capa dilacerada pela ventania. Mas, na<br />

realidade, ela nunca se rasgou; voltou-se de um lado e<br />

de outro e deu, por vezes, uma impressão de fragmentação,<br />

porém um olhar bem exercitado perceberia a unidade<br />

que nunca se rompeu. Assim, nós poderíamos conjeturar<br />

o que seria o estilo do Reino de Maria.<br />

Algo, portanto, que seria uma continuação do gótico<br />

surpreendentemente descontínua na aparência, compensando,<br />

por assim dizer, a sensação de fim de caminho,<br />

de perfeição que não há como acrescer ao que o gótico<br />

trazia consigo.<br />

Há como crescer! Com um salto prodigioso, mas um<br />

salto de Anjo. Um voo, não um salto, numa direção inteiramente<br />

diversa, que apareceria e começaria a bri-<br />

Isatz (CC3.0)<br />

Darkugo (CC3.0)<br />

32


lhar de um modo superior à conjetura do espírito humano.<br />

Uma beleza que a graça faria ver em determinado<br />

momento. Então, a nossa exclamação de entusiastas<br />

do gótico, que quereríamos vê-lo conservado com veneração<br />

no esplendor do Reino de Maria, seria: “Ah, era isso<br />

mesmo que faltava!”<br />

Porque, embora olhando para o gótico tenhamos a<br />

impressão de não lhe faltar nada, no fundo de nossas almas<br />

católicas há um anseio de que algo novo, realmente<br />

magnífico, ainda apareça.<br />

Um golpe de gênio<br />

Dou um exemplo que pode chocar alguns rigoristas do<br />

gótico. Bernini 1 foi um artista muito marcado pela Renascença;<br />

entretanto, ele teve um golpe de gênio construindo<br />

aquela colunata do lado de fora da Basílica de<br />

São Pedro. Após ter visto essa colunata<br />

com olhos de homem maduro<br />

capaz de fazer uma análise, ficaram<br />

dois efeitos no meu espírito.<br />

Em primeiro lugar, um conjunto<br />

de colunas coberto, tendo, portanto,<br />

algo em comum com uma igreja<br />

ou casa, mas muito mais arejado<br />

do que qualquer destes ambientes;<br />

uma colunata fora da igreja,<br />

mas continuando o edifício sagrado,<br />

constitui uma espécie de meio-<br />

-termo harmônico entre o templo e o<br />

mundo profano, que agrada ao espírito<br />

conceber.<br />

O próprio traçado da colunata da<br />

Basílica de São Pedro é firme, lógico;<br />

neste ponto pouco renascentista<br />

por ser um traçado forte e sério, não<br />

tendo aquele aspecto trêmulo das<br />

coisas renascentistas.<br />

Ademais, a colunata é majestosa.<br />

Dir-se-ia que cada coluna é como<br />

um soldado invisível prestando armas<br />

e continência ao rei que passa.<br />

Neste caso é o mais alto Rei da Terra,<br />

o Papa, não considerado apenas<br />

como soberano dos Estados Pontifícios,<br />

mas como Rei deste Reino de<br />

tamanho mais do que cesáreo, que é<br />

Igreja Católica Apostólica Romana,<br />

a qual se estende sobre toda a Terra,<br />

penetra em todos os povos e abriga<br />

em si todas as raças.<br />

Outro efeito causado pela colunata<br />

em meu espírito é a ideia<br />

de que, depois de Bernini ter descoberto essa fórmula,<br />

ninguém construiu uma igreja tão magnífica que<br />

merecesse uma colunata, e se fizesse ficaria uma cópia<br />

desagradável porque pretensiosa. Por outro lado,<br />

mais ninguém teve talento para conceber um conjunto<br />

de colunas e dar-lhe um desenho novo, que não seja<br />

uma repetição da colunata de São Pedro. Ficou, portanto,<br />

uma coisa encalhada. Mas vejo na colunata de<br />

Bernini algo no qual talvez se pudesse vislumbrar um<br />

prenúncio falho, abortivo, de um elemento para o Reino<br />

de Maria.<br />

É uma hipótese que eu carrego de incertezas; mas fica-me<br />

uma impressão meio conjectural na alma de que,<br />

para o exterior de igrejas, alguma coisa assim se inventará<br />

no Reino de Maria, e para cuja elaboração essa<br />

obra de Bernini foi apenas um esboço.<br />

Igreja da Abadia de Maria Laach (estilo românico)<br />

Renânia-Palatinado, Alemanha<br />

Nikanos (CC3.0)<br />

33


Luzes da Civilização Cristã<br />

Deus deverá suscitar, a<br />

pedido de Nossa Senhora,<br />

um homem com talento<br />

Dentro da Basílica de São Pedro encontramos<br />

o Altar da Confissão, encimado por<br />

um dossel sustentado por quatro colunas<br />

também esculpidas por Bernini. Como todas<br />

as obras de arquitetura da grande épo-<br />

MarkusMark (CC3.0)<br />

Jean-Pol GRANDMONT (CC3.0)<br />

Colunata de Bernini - Praça de São Pedro, Vaticano<br />

Mathieu_Pinto (CC3.0)<br />

Altar da Confissão - Basílica de São Pedro, Vaticano<br />

ca da Itália, são feitas de mármore. Os mármores italianos<br />

são lindíssimos, e a pedra de que é construído aquele<br />

conjunto é muito bonita. Entretanto, as colunas não<br />

me agradam, por serem esculpidas num formato espiral<br />

grossão e mole.<br />

Mas está ali uma tentativa de representar algo que<br />

correspondesse à seguinte pergunta do espírito humano<br />

diante de uma coluna: “Esta coluna não poderia ter um<br />

traçado em que ela, sem deixar de ser coluna, sugeriria a<br />

ideia de um movimento mais elegante, mais leve?”<br />

O artista tentou dar a resposta com aquela fórmula.<br />

A meu ver, ele fracassou. Mas não haveria uma solução?<br />

Nesta procura de algo que fizesse com que a coluna, sem<br />

deixar de ser majestosa, alta e forte, apresentasse algo<br />

de ligeiro, que é quase a antítese da coluna? Admito a<br />

possibilidade de que seja assim, mas é uma incógnita.<br />

Deus deverá suscitar, a pedido de Nossa Senhora, um<br />

homem com talento igual ou talvez muito maior do que<br />

o de Bernini para apresentar uma fórmula nessa linha.<br />

Simplesmente em torno desses dois elementos – a colunata<br />

externa da Basílica de São Pedro e o sonho que<br />

as colunas do Altar da Confissão não realizaram – quiçá<br />

nascesse um estilo novo.<br />

34<br />

Visão Geral da Praça de São Pedro, Vaticano


Hipóteses que não se podem perder de vista<br />

Na Basílica de São Paulo, situada fora dos muros de<br />

Roma, há também elementos artísticos muito bonitos<br />

que apontam para um novo estilo, e cuja história conto<br />

resumidamente.<br />

No século XIX, aquela Basílica sofreu um incêndio que<br />

danificou gravemente os vitrais. Quando o Papa Pio IX<br />

mandou reconstruir a igreja, surgiu o problema de<br />

substituir os vitrais perdidos, por outros que estivesse<br />

à altura da beleza da Basílica. Às vezes, Deus Se<br />

compraz em ser glorificado pelos seus adversários. O<br />

Sultão da Turquia, maometano, ofereceu ao Pontífice<br />

chapas de alabastro muito finas e bonitas, que davam<br />

cada uma para encher o vácuo de uma janela.<br />

Assim, por presente desse filho de Maomé, apareceu<br />

uma forma de “vitral” muito bonita, porque<br />

tinha o indeciso da luz que penetra através de certo<br />

tipo de alabastro, com a delicadeza dos veios<br />

discretos, mas imaginosos, que as pedras por vezes<br />

apresentam.<br />

Pio IX não teve dúvida nenhuma e mandou colocar<br />

os alabastros.<br />

Em viagem a Roma, pude ver algumas dessas<br />

peças detidamente, e me veio ao espírito esta pergunta:<br />

“Será que matérias homogêneas e não mais<br />

com aquela riqueza cromática dos vitrais, mas com<br />

um colorido homogêneo e discreto, não representariam<br />

a nova fórmula de vitral no Reino de Maria?”<br />

Diz-se com entusiasmo o que eu vou afirmar<br />

sem entusiasmo: a indústria está muito avançada,<br />

e por isso se fabricam joias falsas com toda espécie<br />

de matérias levadas a altas temperaturas. Não haveria<br />

algum grande artista capaz de fabricar matérias<br />

mais bonitas do que o alabastro, e que, entretanto,<br />

representassem uma fórmula nova para os vitrais<br />

de uma igreja, de um palácio ou de um castelo?<br />

São hipóteses que não podemos perder de vista,<br />

compreendendo que se deve sentir nisto sempre<br />

o espírito gótico, e nunca o repúdio desse espírito.<br />

O espírito gótico presente, completado por<br />

mais uma ogiva, que seria o elemento novo por ele<br />

explicitado.<br />

Se pudéssemos imaginar como será um Santo no Reino<br />

de Maria, então conseguiríamos vislumbrar alguma<br />

coisa da arte nesse Reino.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de 28/7/1989)<br />

1) Gian Lorenzo Bernini (*1598 - †1680), arquiteto e escultor<br />

italiano.<br />

Fachada da Basílica de São Paulo Extramuros, Roma<br />

Interior da Basílica de São Paulo Extramuros, Roma<br />

Berthold Werner (CC3.0)<br />

Tango7174 (CC3.0)<br />

35


Luis C.R. Abreu<br />

Admirável lição de confiança<br />

Estamos vivendo uma terrível hora<br />

de castigos, mas também uma<br />

admirável hora de misericórdia. A<br />

condição para isto é olharmos para Maria,<br />

a Estrela do Mar, que nos guia em<br />

meio às tempestades.<br />

Durante mais de cem anos, movida de<br />

compaixão para com a humanidade pecadora,<br />

a Santíssima Virgem, em Lourdes,<br />

tem nos alcançado os mais estupendos<br />

milagres. Esta piedade se terá extinguido?<br />

Têm fim as misericórdias de uma Mãe, e<br />

da melhor das mães? Quem ousaria afirmá-lo?<br />

Se alguém duvidasse, Lourdes lhe<br />

serviria de admirável lição de confiança.<br />

Nossa Senhora há de nos socorrer.<br />

(Extraído de Catolicismo n. 86,<br />

fevereiro de 1958)<br />

Nossa Senhora de Lourdes<br />

Capela a Ela dedicada,<br />

Mairiporã, Brasil

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