Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...
Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...
Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Formar</strong> <strong>Leitores</strong><br />
<strong>para</strong> <strong>Ler</strong><br />
o <strong>Mundo</strong>
<strong>Formar</strong> <strong>Leitores</strong><br />
<strong>para</strong> <strong>Ler</strong><br />
o <strong>Mundo</strong><br />
António Nóvoa / António José Teixeira / António Prole<br />
Dolores López-Casero / Eduardo Marçal Grilo / Fernando Savater<br />
Galeno Amorim / Isabel Alçada / José António Gomes<br />
José Barata-Moura / Lawrence Sipe / Maria de Lourdes Dionísio<br />
Maria Nikolajeva / Michel Fayol / Paula Morão / Pedro Cerrillo<br />
Pep Duran / Peter Hunt / Sandra Lee Beckett / Teresa Colomer<br />
Comunicações<br />
CONGRESSO INTERNACIONAL DE PROMOÇÃO DA LEITURA<br />
Janeiro 2009<br />
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN<br />
SERVIÇO DE EDUCAÇÃO E BOLSAS
6<br />
13<br />
17<br />
19<br />
33<br />
57<br />
65<br />
77<br />
81<br />
83<br />
95<br />
105<br />
113<br />
129<br />
ABERTURA<br />
A Promoção da <strong>Leitura</strong> –<br />
– Educação, cultura, cidadania<br />
PAULA MORÃO<br />
PAINEL 1<br />
Literatura <strong>para</strong> a infância e formação<br />
de leitores<br />
The Decline and Decline of Literary<br />
Literacy: Childhood and Children’s<br />
Literature in the UK Today<br />
PETER HUNT<br />
Peritexts and Page Breaks: Opportunities<br />
for Meaning-Making in Picturebooks<br />
LAWRENCE R. SIPE<br />
Visual Literacy and the Implied Readers<br />
of Children’s Picturebooks<br />
MARIA NIKOLAJEVA<br />
Crossover Fiction: Creating Readers with<br />
Stories that Address the Big Questions<br />
SANDRA L. BECKETT<br />
Relatório do painel 1<br />
JOSÉ ANTÓNIO GOMES<br />
PAINEL 2<br />
Estratégias de leitura e compreensão leitora<br />
Planificar la Lectura en la Escuela<br />
TERESA COLOMER<br />
Sociedad y Lectura. La Importancia de los<br />
Mediadores en Lectura<br />
PEDRO C. CERRILLO TORREMOCHA<br />
Comprendre en Lisant<br />
MICHEL FAYOL<br />
Leer el mundo a traves de los cuentos<br />
PEP DURAN<br />
Relatório do Painel 2<br />
MARIA DE LOURDES DIONÍSIO<br />
131<br />
133<br />
147<br />
159<br />
169<br />
185<br />
187<br />
189<br />
192<br />
199<br />
206<br />
209<br />
Índice<br />
PAINEL 3<br />
Projectos de Promoção da leitura<br />
Um Percurso pela Pedagogia Para<br />
<strong>Ler</strong> a Casa da <strong>Leitura</strong><br />
ANTÓNIO NÓVOA<br />
Casa da <strong>Leitura</strong>: Alicerces,<br />
arquitectura e integração<br />
na paisagem<br />
ANTÓNIO PROLE<br />
Primeros Contactos con la Lectura:<br />
Leer sin saber leer<br />
DOLORES GONZÁLEZ LÓPEZ-CASERO<br />
Os Muitos Retratos da <strong>Leitura</strong><br />
no Brasil<br />
GALENO AMORIM<br />
PAINEL 4<br />
A leitura em debate<br />
Abertura<br />
ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA<br />
JOSÉ BARATA-MOURA<br />
EDUARDO MARÇAL GRILO<br />
FERNANDO SAVATER<br />
ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA<br />
ENCERRAMENTO<br />
211<br />
ISABEL ALÇADA<br />
7
O Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong> FORMAR<br />
LEITORES PARA LER O MUNDO, que a <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong><br />
acolheu em Janeiro de 2009, seguiu de perto as áreas<br />
que estruturam o portal www.casadaleitura.org, ou seja, a literatura<br />
infanto-juvenil, as questões teóricas da leitura enquanto<br />
processo cognoscivo e as boas práticas e estratégias de promoção<br />
da leitura.<br />
Na sequência dos objectivos da Casa da <strong>Leitura</strong>, tratava-se de<br />
acrescentar eficácia ao desenvolvimento de projectos e políticas<br />
de formação de leitores competentes. <strong>Formar</strong> leitores competentes<br />
foi, pois, a linha orientadora do Congresso: as políticas,<br />
estratégias, metodologias e instrumentos <strong>para</strong> a formação<br />
de novos públicos leitores foram o fio condutor e unificador<br />
de todas as temáticas abordadas.<br />
Em torno de três painéis – Literatura <strong>para</strong> a Infância e Formação<br />
de <strong>Leitores</strong>; Estratégias de leitura e Compreensão Leitora e<br />
Projectos de Promoção da <strong>Leitura</strong> – organizados segundo um<br />
modelo em que à conferência principal se seguiram desenvolvimentos<br />
mais específicos a cargo de três oradores. A participação<br />
da numerosa assistência foi remetida <strong>para</strong> momento posterior,<br />
em sala à parte e sob inscrição, na presença do moderador<br />
e dos oradores, tendo possibilitado assim tratamento mais<br />
aprofundado e produtivo. O programa ficou completo com um<br />
estimulante debate.<br />
Espera-se que daqui tenham saído contributos, alguns deles<br />
agora publicados, <strong>para</strong> uma cidadania activa capaz de ler o<br />
<strong>Mundo</strong>.<br />
Ana Margarida Ramos<br />
António Prole<br />
Fernanda Leopoldina Viana<br />
João Paulo Cotrim<br />
Sara Reis da Silva<br />
9
Abertura
12<br />
A Promoção da <strong>Leitura</strong> –<br />
– Educação, cultura, cidadania<br />
PAULA MORÃO*<br />
É uma honra <strong>para</strong> a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB)<br />
representar o Ministério da Cultura neste Congresso Internacional de<br />
Promoção da <strong>Leitura</strong>, organizado pelo Projecto Casa da <strong>Leitura</strong> da<br />
<strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>. Tal representação enquadra-se no<br />
contexto de um protocolo entre o Projecto Casa da <strong>Leitura</strong> e a DGLB,<br />
prevendo nomeadamente o trabalho nesta equipa de um técnico superior<br />
desta Direcção-Geral, responsável por actividades do Projecto de que este<br />
Congresso dá notícia.<br />
Não se trata no entanto apenas de uma colaboração formal entre as<br />
nossas instituições, mas de dar o aval da DGLB a um projecto cujos<br />
objectivos e pressupostos encontram muitos ecos na nossa actividade.<br />
Com efeito, a nossa responsabilidade inclui a formulação e a execução de<br />
programas visando a Promoção da <strong>Leitura</strong> – tanto no quadro do que<br />
designamos por Livro, como no desenho e acompanhamento da Rede<br />
Nacional de Bibliotecas Públicas (nesta data, dos 308 concelhos do país,<br />
175 têm a sua a biblioteca inaugurada). Os objectivos do programa da<br />
nossa área de Bibliotecas são, conforme define a Lei Orgânica que nos<br />
rege, acompanhar a criação e instalação de bibliotecas municipais. De<br />
acordo com critérios internacionais (Manifesto da UNESCO e directrizes<br />
da UNESCO/IFLA), o programa acompanha técnica e financeiramente os<br />
projectos de cada Município, emitindo pareceres sobre as diversas fases<br />
da planificação e execução anterior à abertura e ao funcionamento das<br />
respectivas bibliotecas. Assim é que temos competências <strong>para</strong> emitir<br />
parecer sobre aspectos que o público não vê, sejam eles a planificação e<br />
distribuição funcional dos diferentes espaços da biblioteca (espaços<br />
públicos e de apoio nos bastidores), as cablagens e o ar condicionado, ou<br />
o equipamento informático (aquisição de sistemas de gestão de<br />
bibliotecas, desenvolvimento de serviços com recurso às TIC, etc.). Cabe-nos<br />
ainda acompanhar o projecto de distribuição do mobiliário e equipamento<br />
e, claro está, dos fundos bibliográficos, incluindo os documentos áudio,<br />
vídeo e electrónicos, garantindo com os responsáveis locais a melhor forma<br />
de acesso a todo o acervo das bibliotecas nas melhores condições: sabemos<br />
todos que o conforto se alia à qualidade técnica dos recursos e serviços ao<br />
*Directora da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas/Ministério da Cultura; professora<br />
da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.<br />
13
14<br />
dispor dos utilizadores, de modo a que estes sejam chamados à Biblioteca<br />
e se tornem seus frequentadores habituais.<br />
Neste ponto, as tarefas descritas cruzam-se com a concepção do que deve<br />
ser uma biblioteca hoje. Cite-se a propósito o Manifesto da UNESCO sobre<br />
Bibliotecas Públicas (1994):<br />
A liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são<br />
valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos<br />
estiverem na posse das informações que lhes permitam exercer os seus direitos<br />
democráticos e ter um papel activo na sociedade. A participação construtiva e<br />
o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação<br />
satisfatória como de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao<br />
pensamento, à cultura e à informação.<br />
(…)<br />
Este Manifesto proclama a confiança que a UNESCO deposita na Biblioteca<br />
Pública, enquanto força viva <strong>para</strong> a educação, cultura e informação, e como<br />
agente essencial <strong>para</strong> a promoção da paz e do bem-estar espiritual através do<br />
pensamento dos homens e mulheres. Assim, a UNESCO encoraja as autoridades<br />
nacionais e locais a apoiar activamente e a comprometerem-se no<br />
desenvolvimento das bibliotecas públicas.<br />
(…)<br />
Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade<br />
de acesso <strong>para</strong> todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião,<br />
nacionalidade, língua ou condição social.<br />
Tendo em conta os termos definidos neste documento orientador, se o<br />
objectivo for apenas o de constituir depósitos de livros ou de outros<br />
materiais ao dispor do público, parece discutível que seja necessário<br />
definir e levar a cabo um programa que, como este, visa a construção e a<br />
instalação de uma Biblioteca em cada concelho do país. Quando, em<br />
1987, se iniciou este programa (pela mão de Teresa Patrício Gouveia, a<br />
partir de um relatório coordenado por Maria José Moura), a situação era<br />
de penúria de equipamentos culturais em todo o país; o acesso à leitura<br />
era garantido pela rede de Bibliotecas Itinerantes da <strong>Fundação</strong> Calouste<br />
<strong>Gulbenkian</strong> e por um restrito número de bibliotecas dispersas, muitas<br />
vezes alimentadas por beneméritos locais ou dependentes de outras<br />
instituições. Ora, ao definir como meta a instalação de pelo menos uma<br />
Biblioteca em cada concelho do território nacional, o que este programa<br />
visava e visa é garantir o acesso à leitura como veículo de cultura e – no<br />
mais nobre sentido da palavra – à educação de todos. Não será difícil<br />
vislumbrar aqui um elemento fundamental da democracia e do progresso<br />
que simbólica e materialmente a consubstanciam: o conhecimento abre<br />
<strong>para</strong> o mundo, e um leitor é certamente melhor cidadão do que um não-<br />
-leitor. Nesta perspectiva, faz todo o sentido que o Estado assuma a<br />
responsabilidade, que é um compromisso com a população, de garantir a<br />
existência de uma rede de Bibliotecas Públicas que cubra de modo<br />
satisfatório toda a extensão do território nacional. Hoje, vinte anos passados,<br />
estamos ainda a fazer caminho, o qual pensamos, na DGLB, que deve merecer<br />
reflexão e eventuais acertos em função da experiência concreta, sem<br />
desvirtuar no entanto os benefícios da concepção democrática de cultura e<br />
educação que presidiu ao desígnio nacional prosseguido.<br />
Precisamente por assim entendermos é que a nossa acção se não limita a<br />
acompanhar a parte material e mais «dura» do programa – a construção e<br />
instalação das Bibliotecas; seria pelo menos discutível que nos<br />
contentássemos com um rol de edifícios, sem pensar nas funções que lhes<br />
devem caber. Salvaguarde-se que as Bibliotecas Públicas não são do Estado,<br />
pertencem às respectivas autarquias; a DGLB, enquanto organismo do<br />
poder central, não tem nem a gestão dos edifícios, nem a de outros recursos<br />
materiais ou humanos (como por exemplo a contratação de técnicos ou a<br />
actualização dos fundos bibliográficos). A nossa ligação institucional com<br />
as Bibliotecas faz-se através de diversas formas de apoio às actividades e aos<br />
técnicos que lhes dão vida, nomeadamente através das Acções de Promoção<br />
da <strong>Leitura</strong>/Carteira de Itinerâncias. Consideramos que este é um eixo<br />
central e estruturante, e por isso damos muita atenção à Carteira de<br />
Itinerâncias que todos os anos disponibilizamos às Bibliotecas (da Rede<br />
Pública ou outras), publicitando-as no nosso site (www.dglb.pt), e<br />
garantindo a qualidade dos formadores ou promotores de ateliers diversos,<br />
dos cursos breves de literatura, das comunidades de leitores, etc.; no ano de<br />
2009, temos em curso de execução mais de quinhentas acções. Na<br />
promoção da leitura inscrevem-se também actividades de comemoração de<br />
Dias Mundiais ligados ao Livro (Dia Mundial da Poesia, Dia Internacional<br />
do Livro Infantil e Dia Mundial do Livro); destaca-se neste domínio a<br />
produção e larga distribuição de cartazes, postais, jogos, exposições, etc.<br />
Para lá do lugar privilegiado que são as Bibliotecas, apraz-nos muito<br />
salientar o estender destas acções a espaços não convencionais de leitura,<br />
como são os hospitais e as prisões; orgulhamo-nos d’ «A Hora do Conto» em<br />
24 hospitais com secção pediátrica e do programa «<strong>Leitura</strong> sem Fronteiras»<br />
(nos estabelecimentos prisionais), mesmo se o fazemos com meios que<br />
consideramos inferiores ao que seria necessário.<br />
Permitam-me uma nota pessoal a este respeito: sendo professora<br />
universitária de Literatura Portuguesa, e acreditando profundamente no<br />
valor estético e simbólico das letras, presenciei nestas funções uma das<br />
mais tocantes e transparentes definições do uso da leitura; foi quando, no<br />
Dia Mundial do Livro de 2008, ouvi uma jovem reclusa dizer, na Biblioteca<br />
do Estabelecimento prisional de Tires: «Não gosto de ler. Mas escrevo todos os<br />
dias, porque isso me liberta.» Que bela lição: escrever, face gémea do acto de<br />
15
16<br />
ler, liberta; ler/escrever conduz a outros espaços através da imaginação,<br />
ler/escrever abate fronteiras, muros e tempos; ler liberta, sim, ler cria<br />
mundos possíveis, desprende do peso dos dias e das circunstâncias; ler, seja<br />
o que for que se leia, faz-nos melhores pessoas.<br />
Mas voltemos ao que aqui porventura se espera que diga sobre as actividades<br />
da Promoção da <strong>Leitura</strong>, sobre os laços que os contactos feitos <strong>para</strong> pôr em<br />
movimento uma vasta carteira de acções neste domínio vão estabelecendo e<br />
consolidando. É que os bibliotecários e outros técnicos do país conhecem-<br />
-nos, sabem o que fazemos e como o fazemos, consultam-nos e exigem mais,<br />
mais quantidade, melhor qualidade. Dentro da contenção de meios a que nos<br />
vemos constrangidos, é o que procuramos fazer. Aproveitando essa rede de<br />
contactos, disponibilizamos, através do portal Rede do Conhecimento das<br />
Bibliotecas Públicas (RCBP; http://rcbp.dglb.pt), conteúdos, recursos e serviços<br />
que vão da publicitação de actividades promovidas pelas Bibliotecas, sobre<br />
inaugurações, etc., à informação sobre normas técnicas, até ao alojamento de<br />
sites individuais das Bibliotecas, passando por uma base de dados com<br />
fotografias e informações práticas sobre todo o universo abrangido.<br />
Não esquecemos a colaboração que, em boa sintonia, temos tido com outras<br />
instituições que desenvolvem esforços na área da Promoção da <strong>Leitura</strong> no<br />
nosso país: por um lado, a <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>; por outro lado, o<br />
Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>, de que somos parceiros em representação do<br />
Ministério da Cultura (aproveito <strong>para</strong> saudar o dinâmico profissionalismo da<br />
Comissária Nacional do PNL, Isabel Alçada). Além das funções associadas à<br />
inclusão social e ao desenvolvimento pessoal e da comunidade, até no plano<br />
económico, a leitura abre <strong>para</strong> mundos imaginários, estimula a viagem<br />
mental, e contribui decisivamente <strong>para</strong> o acesso ao conhecimento em todas<br />
as áreas; recorrendo de novo ao Manifesto da UNESCO, ler é um instrumento<br />
que «fornece as condições básicas <strong>para</strong> a aprendizagem ao longo da vida, <strong>para</strong><br />
uma tomada de decisão independente e <strong>para</strong> o desenvolvimento cultural do<br />
indivíduo e dos grupos sociais.» A causa da leitura tem tal importância que<br />
todos não somos demais <strong>para</strong> assumir os esforços necessários a que ela seja<br />
uma corrida de longo curso, cujo único resultado tem de ser o de pôr todos<br />
os portugueses a ler de forma continuada, com gosto e proveito.<br />
Do Projecto <strong>Gulbenkian</strong> Casa da <strong>Leitura</strong>, nos seus resultados visíveis (com<br />
destaque <strong>para</strong> este Congresso, de tão promissor programa), esperamos contributos<br />
relevantes e o congregar de esforços <strong>para</strong> a Promoção da <strong>Leitura</strong> –<br />
questão de inquestionável relevo nacional. Sendo uma actividade espontânea<br />
e de prazer, a leitura exige a todos os profissionais que a ela se dedicam<br />
reflexão que sustente as práticas; sabemos, ou saberemos melhor depois de<br />
cruzar o que aprenderemos neste Congresso, que à aparência de simplicidade<br />
subjazem necessariamente técnicas e trabalho. No caminho da<br />
cidadania está o conhecimento que nos permite ser melhores profissionais,<br />
melhores pessoas.<br />
PAINEL 1<br />
Literatura<br />
<strong>para</strong> a infância<br />
e formação<br />
de leitores
18<br />
The Decline and Decline<br />
of Literary Literacy: Childhood<br />
and Children’s Literature<br />
in the UK Today<br />
PETER HUNT*<br />
Are there not some pursuits that we practise because they are good in themselves,<br />
and some pleasures that are final? And is not [reading] among<br />
them? I have sometimes dreamt, at least, that when the Day of Judgment<br />
dawns and the great conquerors and lawyers and statesmen come to receive<br />
their rewards... the Almighty will turn to Peter and say, not without a certain<br />
envy when He sees us coming with our books under our arms, «Look,<br />
these need no reward. We have nothing to give them here. They have loved<br />
reading.» – Virginia Woolf (Woolf 1966: 11)<br />
You’ve really got to start hitting the books, because it’s no joke out here. –<br />
Spike Lee (ThinkExist)<br />
I wish to present a simple thesis, with which many will intuitively agree,<br />
although it is more difficult to quantify. It is that in the past 40 years or<br />
so, the nature of reading has changed in the UK – and probably across the<br />
western world. In the context of electronic media, there has been a<br />
change in narrative: a change in how material is acquired and processed,<br />
and with it the nature of books has changed, and the nature of what we<br />
understand by reading, and literacy, and «quality».<br />
A dramatic example is E. Nesbit’s The Phoenix and the Carpet (1904), which<br />
was issued as a Puffin Classic in 1994; adapted for BBC television in 1996,<br />
it was republished in a version «retold» from the television series by<br />
Helen Cresswell (1997). The cover of the 1997 version declares that «E.<br />
Nesbit’s magical story has lost nothing in the retelling...» except, it has to<br />
be observed, about 50,000 words. This change in the text may seem to<br />
suggest a precipitous decline in literacy among children, who are more<br />
used to fragmented reading patterns, and lack sustained commitment to<br />
(or training for) extended verbal narratives – but it is perhaps not so surprising,<br />
given the competition from different stimuli.<br />
But it is not simply the amount of text that has changed: the style of what<br />
*Professor Catedrático da Universidade de Cardiff, Reino Unido.<br />
19
20<br />
might broadly be called «quality», or «mainstream» or «literary» fiction<br />
has moved closer to that of «popular» fiction: what is thought of as<br />
«good» has changed. It seems to many observers that the style of children’s<br />
fiction in general has become less subtle, less suggestive, less allusive<br />
(in certain ways), less original, and less reflective: content dominates<br />
over form. What is being said is more important than how it is being said<br />
– and the inevitable link between these two elements is being blurred.<br />
This is important in the context of reading and literacy because in the<br />
past, a certain type of text was thought to allow, encourage, permit, and<br />
even force certain types of reading. These were considered to be more<br />
valuable; the «writerly» texts that required more input from the reader,<br />
it was argued, producing a richer experience. There is, therefore, a difference<br />
between «functional» literacy – the interpretation of signs for practical<br />
purposes, fiction-reading literacy – that is, responding on a simple<br />
level to undemanding texts, and «literary» literacy – that is, engaging in<br />
sophisticated dialogue with sophisticated text (see Williams 1976/1983).<br />
I should emphasise that this is NOT necessarily a question of «value» or<br />
«quality» declining: simply that books are now different. However, the<br />
implications of this situation are far-reaching. If we are «creating readers<br />
to understand the world», can we accept a shift away from the word as it<br />
has been used in fiction – or a change of (and, it might be suggested, a<br />
diminution of) the function of the word? The essence of this argument<br />
is change – the change in childhood, the change in means of communication<br />
and modes of transmission – and the focus is upon the adults, the<br />
mediators of text. Childhood is changing radically: the question is, how<br />
are the mediators coping? Are we satisfied if more reading is being done,<br />
regardless of what being offered or read? Jack Zipes, reacting to gloomy<br />
prognostications of American literacy has observed:<br />
For children’s and young adult literature, the increase in production and<br />
the decrease in quality have been highly visible, but it is not so much this<br />
phenomenon that is of concern. Rather it is the way reading and viewing<br />
are framed by the... culture industry that configures children and teenagers<br />
into its calculations as consumers and as saturated nodal points of mass<br />
information. (Zipes 2009: 5)<br />
In these circumstances, «simply put, a book for children is a commodity,<br />
not the holy grail nor the salvation of civilised society». (Zipes 2009: 31)<br />
The UK National Year of Reading 2008 involved a number of government<br />
incentives, using agencies such as the National Literacy Trust, the<br />
Reading Agency, the Arts Council, and BookTrust. It was begun in<br />
response to worries about national literacy: at the launch, in January<br />
2008, it was pointed out that one in four adults had not read a book in<br />
the past year, and 40% of people lie about having read the classics (BBC<br />
News, 10 January, 2008). The National Literacy Trust website suggests that<br />
20% of the population are affected by poor literacy skills. The Project<br />
Director of the Year of Reading, Honor Wilson-Fletcher, was careful to<br />
point out that reading was not an elitist occupation:<br />
No medium is less important than any other, be it a classic novel, Scott’s last<br />
message from the North Pole, one of Morrissey’s lyrics or graffiti on a wall<br />
– they can all educate and change our lives. This is not a year of worthiness,<br />
it’s a year of reading. (BBC News)<br />
However, there was a constant sub-text that «Books are Better», epitomised<br />
by a statement by Ed Balls, the Education Secretary: «Books are at the<br />
heart of the Year’s activities, but all reading “counts”». (Number10.gov.uk)<br />
While the year’s work has not yet been fully evaluated, and there is an<br />
ongoing campaign for 2009: «We believe that reading sits at the heart of<br />
social justice... New campaign... READING FOR LIFE» (Year of Reading website),<br />
to an outsider, the results do not seem to be very distinguished. The<br />
claim is for 2 million new library members (although, according to the PLR<br />
News (from the Public Lending Rights Authority), library loans dropped<br />
from 323 million to 315 million between February 2008 and February<br />
2009); 6000 reading events in the year (which is 16 a day country-wide); and<br />
the distribution of 250,000 picture-books and 30,000 «quick reads» – simplified<br />
or simple texts to encourage beginner-readers. Publishers recorded<br />
a rise of 13% in book sales, in both volume and value – but no mention of<br />
the kinds of texts involved.<br />
Indeed, it seems to be accepted that there is an inevitable correlation<br />
between certain types of books and certain types of readers. For example,<br />
The Times (16 May, 2007) carried the headline: «160 books on must-read list<br />
for boys – full of blood, guts and class heroes», and again (14 June, 2008):<br />
«Comic Books “can get boys in the habit of reading”.»<br />
Does this mean, then, that any reading is good reading? That is not a<br />
view shared either by literacy experts or the «culture» in general, as a survey<br />
of relevant quotations shows (see appendix). One of the guiding<br />
themes of this conference is «Creating Competent Readers» – and what<br />
we mean by competence is deeply bound up with what we think reading<br />
can potentially do.<br />
Sally Yates has observed that:<br />
In defining literacy, it is now common to go beyond simply describing the<br />
decoding of written text and to include reference to creation of meaning<br />
from print, as decoding without making sense has no purpose.<br />
21
22<br />
And she quotes both a UNESCO website, which defines literacy as «skills…<br />
that allow one to function competently in society…» and encourages book<br />
reading, and quotes S. Fischer, A History of Reading (London: Reaktion,<br />
2003): «Of course, only those societies will best succeed that encourage<br />
and support a legitimate “culture of reading”, in particular the respect<br />
and love of books» (Yates 2004: II, 762; and see Gamble and Yates 2008).<br />
And so we move from functional literacy to the literate act of reading,<br />
which has many liberal-humanist supporters, for example, Aidan<br />
Chambers:<br />
Because book-writing, by which I mean literary writing, is the best means<br />
by which we express what is innermost, and because book-reading leaves the<br />
entire act of interpretation to the reader’s inner self, we not only come intimately<br />
closer to the consciousness of another person than is possible in any<br />
other way but are also engaged with our own consciousness more intricately<br />
and more actively than by any other means. This is why we so often feel,<br />
when we have read a great book, a book that matters to us, that we have<br />
grown, that we are more aware of some aspect of our self, of other people,<br />
of life itself, than we were before…<br />
To put it like this is, of course, to make a religious statement. (Chambers<br />
2001: 27)<br />
But not only a religious statement. Less poetic commentators assert their<br />
faith in the virtues of reading «real books» as opposed to «basal readers».<br />
The assumptions are that basal readers lead to «unnatural» behaviours in<br />
reading, being «readerly» texts for the «passive» reader, as opposed to<br />
«writerly» texts for the active reader, while it is also assumed that the latter<br />
is more rewarding and consequently leads to «better» reading. Thus<br />
Margaret Meek:<br />
The authors who exploit their art, and the illustrators who make pictures<br />
with secrets, link what children know, partly know, and are learning about<br />
the world, to ways of presenting the world in books… Children who<br />
encounter such books learn many lessons that are hidden forever from those<br />
who move directly from the reading scheme to the worksheet.<br />
Compare the textual variety of children’s picture books with that of reading<br />
schemes. You will see how the interactions made possible by skilled artists<br />
and writers far outweigh what can be learned from books made up by those<br />
who offer readers no experiment, no challenge, no real help… What texts<br />
teach is a process of discovery for readers, not a programme of instruction<br />
for teachers. (Meek 1988/2008: 47)<br />
And Lawrence R. Sipe, speaking of using literature to enhance literacy:<br />
[Literature] ...actually expands our view of what literacy is. This... includes<br />
literary understanding as an integral part of literate behaviour. Children<br />
with developed literary understanding are alive to the force and power of<br />
multiple interpretations of what they read and know how to engage in a<br />
critical exchange of views with their peers. They are children who know how<br />
to pleasurably surrender to the power of the text...while also using their<br />
analytical skill to heighten their pleasure. They are children who know that<br />
literature can be an informing and transforming force in their lives... (Sipe<br />
1997: 104; and see Elkin 2006, and Meek 1993)<br />
Of course, there are three obvious objections to these rousing but slightly<br />
optimistic views. The first is that the form of text has nothing to do<br />
with literary status; the second is that, objectively, basal texts are just as<br />
complex linguistically as any others; and the third is that we cannot<br />
account for what the readers do with texts – what meanings or readings<br />
are made. But we are dealing with common perceptions, and what seems,<br />
educationally, to be a decreasing sensitivity to surface textures.<br />
Certain sorts of books, then, are inherently valued; and texts have<br />
changed. But this must be taken in the context that we are living at the<br />
most exciting period of change in the history of reading and information<br />
transfer. The way in which children access information has changed<br />
almost beyond recognition, and, more importantly, the way they assemble<br />
and perceive narrative has changed. «Mainstream» texts have responded<br />
to all these influences by, in effect, regressing – essentially from a<br />
19th-century style to an 18th-century style: from inner to outer, from<br />
nuanced to direct, from implied to stated, and from showing to telling.<br />
To support this thesis fully would require extensive, highly complex analyses,<br />
which are beyond the scope of this paper. The brief analyses of examples<br />
here are, of course, open to the charge of being unrepresentative,<br />
and the analytic technique requires another kind of regression – to an<br />
unfashionable stylistic analysis – one of the tenets of which is that texts<br />
are holistic: a small sample contains the seeds of all the rest.<br />
The first example is from a much reviled author, infamous for her supposed<br />
simplicity: critical interest is in inverse proportion to her popularity<br />
(she is probably the highest-selling English-language author ever). This<br />
is Enid Blyton, from a series-book, Five Go Down to the Sea (1953/1982: 21):<br />
It was about five o’clock and a very lovely evening. They met nobody at all, not<br />
even a slow old farm cart. It was even too hot for the birds to sing. No wind<br />
blew. There seemed a curious silence and loneliness everywhere. Miles and miles<br />
of countryside, set with cornfields, pasture land, tall hedges and glimpses of<br />
winding lanes; heather was out on some of the hills, blazing purple in the sun;<br />
and, gleaming in the distance, was the dark blue brilliance of the sea...<br />
23
24<br />
This was, by the critical standards of 1953, «junk» writing. And yet it is far<br />
from «simple». It is characterised by a leisurely pace; narrator’s judgements<br />
(«lovely», «curious»), a quite subtle use of free indirect discourse or<br />
«mind style» («glimpses of») (see Wales 1990: 191-2); ingenious atmosphere<br />
building by exploiting the negative or absence («not even...») as<br />
well as assonance – «blazing», «brilliance». Not bad for a by-word for simplicity,<br />
who was regarded for many decades as a threat to literacy.<br />
In contrast, here is a modern, award-winning author, whose success has<br />
changed the landscape of 21st-century children’s writing. This is from a book<br />
described by another award-winning author, Jan Mark, as «beautifully written»:<br />
[She] felt a thrill of fear. There was only one thing this could mean.<br />
«Ah,» said the doctor, relieved to find the conversation turning to another<br />
subject, «there’s a real advance. With the first model we could never entirely<br />
overcome the risk of the patient dying of shock, but we’ve improved that<br />
no end.» (Pullman 1996: 273)<br />
Here we have a texture of clichés («felt a thrill»), telling rather than showing<br />
(«relieved to find»), and curiously uneven and inappropriate speech patterns<br />
(«could never entirely overcome... no end»). Of course, it is very difficult to<br />
compare like with like, and it is unlikely that Philip Pullman, praised for his<br />
prose, would appreciate being unfavourably compared to Blyton. But the<br />
point is not that one writer is better than the other: the point is that complex<br />
stylistic features once thought appropriate to «popular» writing do not<br />
even feature in what is now seen as «quality» writing. Philip Pullman’s<br />
Northern Lights, from which this extract is taken, has been a worldwide best-<br />
-seller, studied seriously for its ideas. Pullman, a highly intelligent and articulate<br />
author, has made points about style: «For me, prose should be a plain<br />
glass window, and not a fanciful mirror – not that you need make it so workmanlike<br />
that it’s drab» (Carter 1999: 184). However, it is questionable whether<br />
this view would hold up theoretically – for meaning, and the way meanings<br />
are constructed and accessed are embedded in style, and not se<strong>para</strong>ble.<br />
A comparison between two well-respected «mainstream» authors of two eras<br />
might be less contentious. The first is from Nina Bawden’s, Carrie’s War (1973):<br />
They had left the wooded slopes behind them and the valley had opened out.<br />
Springy, sheep-cropped turf, criss-crossed with dry stone walls, ran down to<br />
the back yards of the houses. Narrow, straight streets; one long, thin one,<br />
like a spine down the middle and short, stumpy ones leading off, steeply<br />
climbing the hillside. It was peaceful enough and the slate roofs shone in<br />
the soft, evening light, but it was still a hideous place, the oldest boy<br />
thought: ugly houses and black pit machinery and smooth cones of slag,<br />
meanly dark against the green mountain. (Bawden 1973/1991: 17)<br />
Here we have multiple adjectives, a broad vocabulary, and a subtle<br />
manipulation of both direct and indirect thought (what does «the oldest<br />
boy thought» control?).<br />
In contrast, Eva Ibbotson’s, Journey to the River Sea (2001), a contemporary<br />
award-winner (Winner, Gold Medal, Smarties Book Prize, 2001; runner-<br />
-up, Whitbread Children’s Book of the Year, Guardian Children’s Fiction<br />
Award) seems stylistically unenterprising.<br />
The market was dazzling. There were watermelons bigger than babies, and<br />
green bananas and yellow ones that were almost orange. There were piles<br />
of nuts heaped on barrows, and pineapples and peppers and freshly caught<br />
fish and fish that had been dried. There were animals tugging at their<br />
ropes, and delicate lacework and silverware and woven baskets and leather<br />
bags. (Ibbotson 2001: 25)<br />
Again, the author falls back on clichés («tugging», «delicate», «leather»),<br />
simple listing, a neutral narrational style, imprecise images («animals»,<br />
«piles... heaped») and one rather odd image («bigger than babies»). The<br />
fact that this book is described on its cover as «A warm-hearted, well-written<br />
and absorbing adventure» (Independent on Sunday) and «The most perfect<br />
children’s book of the year... captivatingly told, funny and moving»<br />
(Nicolette Jones, Sunday Times) perhaps makes the point that things have<br />
changed.<br />
The way in which style reflects, or necessarily invokes certain attitudes<br />
can be seen in a comparison between The Tale of Peter Rabbit by Beatrix<br />
Potter (1902) and a more modern version, adapted by David Hately (1987),<br />
occasioned by Beatrix Potter’s exit from copyright. The new version is a<br />
remarkable example of the «closing» of a text by a writer who betrays his<br />
lack of faith in the capacities of his readership.<br />
Potter writes:<br />
«Now, my dears,» said old Mrs. Rabbit one morning, «you may go into the<br />
fields or down the lane, but don’t go in to Mr. McGregor’s garden: your<br />
Father had an accident there; he was put in a pie by Mrs McGregor.» (10)<br />
Hately has different social perspective, a different relationship between<br />
mother and child – and a different attitude to the death joke:<br />
One day they were allowed to play outside. «Stay near home», said their.<br />
«Please don’t go to Mr McGregor’s garden.»<br />
«Why not?», asked Peter.<br />
«Because he doesn’t like rabbits», answered Mrs. Rabbit. «He will try to<br />
catch you.» (np)<br />
25
26<br />
But the point here is that the original is oblique and requires interpretation<br />
– and an appreciation of an ironic collusion between author and<br />
readers. Later, the text is closed even more firmly: «But Peter, who was<br />
very naughty, ran straight away to Mr. McGregor’s garden, and squeezed<br />
under the gate!», writes Potter:<br />
First he ate some lettuces and some French beans; and then he ate some<br />
radishes;<br />
And then, feeling rather sick, he went to look for some parsley. (21-3)<br />
Hateley supplies much more information, which first precludes thought,<br />
and then leads on to judgements and control:<br />
There were lots of vegetables in Mr McGregor’s garden. Peter Rabbit loved<br />
vegetables. He began to eat them. First he tried the lettuces. Next he tried<br />
the beans. Then he ate some radishes.<br />
Peter ate too much, because he was greedy. He began to feel sick. «I must find<br />
some parsley to nibble», he said to himself. «That will make me feel better.» (np)<br />
These changes can be summed up in two versions of E. Nesbit’s Five<br />
Children and It (1902). Here, in the original, is the episode in which the<br />
children learn to fly:<br />
The Sand-fairy blew himself out, and next moment each child felt a funny<br />
feeling, half heaviness and half lightness on its shoulders. The Psammead<br />
put its head on one side and turned its snail’s eyes from one to the other...<br />
The wings were very big, and more beautiful than you can imagine – for<br />
they were soft and smooth, and every feather lay neatly in its place. And the<br />
feathers were of the most lovely mixed changing colours, like the rainbow,<br />
or iridescent glass, or the beautiful scum that sometimes floats on water<br />
that is not at all nice to drink.<br />
«Oh – but can we fly?» Jane said, standing anxiously first on one foot and<br />
then on the other.<br />
«Look out!» said Cyril; «you’re treading on my wing.»<br />
«Does it hurt?» asked Anthea with interest; but no one answered, for Robert<br />
had spread his wings and jumped up, and now he was slowly rising in the<br />
air. He looked very awkward in his knickerbocker suit – his boots in particular<br />
hung helplessly, and seemed much larger than when he was standing<br />
in them. But the others cared but little how he looked – or how they looked,<br />
for that matter. For now they all spread out their wings and rose in the air.<br />
Of course you all know what flying feels like, because everyone has dreamed<br />
about flying, and it seems so beautifully easy – only, you can never remember<br />
how you did it; and as a rule you have to do it without wings, in your<br />
dreams, which is more clever and uncommon, but not so easy to remember<br />
the rule for. Now the four children rose flapping from the ground, and you<br />
can’t think how good the air felt running against their faces. Their wings<br />
were tremendously wide when they were spread out, and they had to fly<br />
quite a long way apart so as not to get in each other’s way. But little things<br />
like this are easily learned.<br />
All the words in the English Dictionary, and in the Greek Lexicon as well, are,<br />
I find, of no use at all to tell you exactly what it feels like to be flying, so I will<br />
not try. But I will say that to look down on the fields and woods, instead of<br />
along at them is something like looking at a beautiful live map, where,<br />
instead of silly colours on paper, you have real moving sunny woods and<br />
green fields laid out one after the other. (Nesbit 1902/1994: 73-3)<br />
Again, the narrator is part of the experience, there is a wide range of<br />
judgements, images, vocabulary, allusion careful incidental detail, and<br />
an ironic narrative voice («easily learned»). None of that survives in the<br />
anonymous adaptation brought out in 2004 by Sandfairy Merchandising<br />
Ltd. to support a film version:<br />
Jane squealed. When Anthea and Cyril turned to look, they couldn’t believe<br />
their eyes – Jane had sprouted a pair of wings!<br />
Anthea was next to scream, as she too sprouted wings from her back, and<br />
then Cyril did the same.<br />
«Robert!» growled Cyril. «He must have made a wish!»<br />
There was a beating noise at the window. It was Robert – and he was flying!<br />
Cyril opened the window.<br />
«You’ve done it again!» he yelled. «What were you thinking?»<br />
Robert hovered just outside the window. (np)<br />
Once again, here are the clichés, the limited vocabulary, the lack of narrative<br />
contract – all the things that, in relative terms, mark an «undesirable»<br />
text in «old» critical terms. However, there is a problem for critics<br />
in that there is no filling-in of detail – is this a VERY open text indeed. And<br />
a little later on, it is «writerly» in the extreme: what is happening here?<br />
There were Zeppelins everywhere, their engines droning.<br />
And one of them was heading straight for Jane!<br />
«Look out!» yelled Robert.<br />
He hurtled across the sky and snatched Jane to safety. [my italics]<br />
Can critics brought up with certain attitudes to words account for a text<br />
like that? So little is supplied, that any meaning must either be provided<br />
by an image derived from elsewhere (memory of the film, perhaps), or<br />
27
28<br />
the author is assuming an understanding that people brought up in an<br />
older kind of literacy may not appreciate.<br />
What are the implications of all this? In terms of the production of text,<br />
the change of style suggests that editors are reacting to, or promoting,<br />
the need for a different kind of text, which may or may not imply a lack<br />
of knowledge of earlier writers and texts. Certainly, reviewers are working<br />
to different standards from those of their predecessors. Similarly,<br />
critics display either a lack of technical vocabulary to approach style, or<br />
a lack of interest in this aspect of text.<br />
Readers, as we have seen, are offered restricted technical devices in prose,<br />
and a restriction of vocabulary; this may or may not be seen as appropriate<br />
to childhood as now constructed: it certainly implies a change in<br />
reading skills. Thus, in books, there is a shift towards the graphic: the<br />
genuinely experimental responses to multimedia are not found in the<br />
word-based texts. Does the success of picturebooks in responding to other<br />
media suggest a shift to visual literacy, which in turn would mean a shift<br />
of thinking for critics and theorists? Do those of us concerned with reading<br />
and literacy and literature need to change our inherent and unspoken<br />
value-assumptions? Do we need to change in the nature of the critical<br />
intervention?<br />
We are left, then, with some broad questions:<br />
– Do we accept this step-change in what we think of as literacy?<br />
– Do changes in reading (and skills) reflect changes in childhood?<br />
– What are the implications for the future of the book?<br />
– Do we need to revise our ideas of literacy, reading, and literature?<br />
– Is «literature» now a redundant idea?<br />
– How far is it just as valid to produce skilled readers of video games –<br />
which represent a change of power-relationships from the book, a change<br />
in childhood, and a change in literacy skills?<br />
In short, do we accept the change in thinking implied by the change in<br />
language; and are we creating readers who understand the current<br />
world, but not the world of the past or possible worlds of the future?<br />
Appendix<br />
REFLECTIONS ON READING AND LITERARY READING<br />
Are there not some pursuits that we practise because they are good in themselves, and some pleasures<br />
that are final? And is not [reading] among them? I have sometimes dreamt, at least, that when<br />
the Day of Judgment dawns and the great conquerors and lawyers and statesmen come to receive<br />
their rewards... the Almighty will turn to Peter and say, not without a certain envy when He sees us<br />
coming with our books under our arms, «Look, these need no reward. We have nothing to give them<br />
here. They have loved reading.<br />
Virginia Woolf<br />
If anything fit to be called by the name of reading, the process itself should be absorbing and voluptuous;<br />
we should gloat over a book, be rapt clean out of ourselves.<br />
Robert Louis Stevenson<br />
A book should be an ice-axe to break up the frozen sea within us.<br />
Franz Kafka<br />
I suggest that the only books that influence us are those for which we are ready, and which have<br />
gone a little farther down our particular path than we have got ourselves.<br />
E.M. Forster<br />
Reading is to the mind, what exercise is to the body. As by the one, health is preserved, strengthened, and<br />
invigorated: by the other, virtue (which is the health of the mind) is kept alive, cherished, and confirmed.<br />
Joseph Addison<br />
Books have always a secret influence on the understanding; we cannot at pleasure obliterate ideas: he that<br />
reads books of science, though without any desire fixed of improvement, will grow more knowing; he that<br />
entertains himself with moral or religious treatises, will imperceptibly advance in goodness; the ideas<br />
which are often offered to the mind, will at last find a lucky moment when it is disposed to receive them.<br />
Samuel Johnson<br />
A book is a garden, an orchard, a storehouse, a party, a company by the way, a counsellor, a multitude<br />
of counsellors.<br />
Henry Ward Beecher<br />
When I look back, I am so impressed again with the life-giving power of literature. If I were a young<br />
person today, trying to gain a sense of myself in the world, I would do that again by reading, just as<br />
I did when I was young.<br />
Maya Angelou<br />
The failure to read good books both enfeebles the vision and strengthens our most fatal tendency –<br />
the belief that the here and now is all there is.<br />
Allan Bloom<br />
A conventional good read is usually a bad read, a relaxing bath in what we know already. A true good<br />
read is surely an act of innovative creation in which we, the readers, become conspirators.<br />
Malcolm Bradbury<br />
Children are made readers on the laps of their parents.<br />
Emilie Buchwald<br />
Read in order to live.<br />
Gustave Flaubert<br />
29
30<br />
The best of a book is not the thought which it contains, but the thought which it suggests; just as<br />
the charm of music dwells not in the tones but in the echoes of our hearts.<br />
Oliver Wendell Holmes<br />
You’ve really got to start hitting the books, because it’s no joke out here.<br />
Spike Lee<br />
A book is like a garden carried in the pocket.<br />
Chinese proverb<br />
Books are the bees which carry the quickening pollen from one to another mind.<br />
James Russell Lowell<br />
To acquire the habit of reading is to construct for yourself a refuge from almost all of the miseries of life.<br />
W. Somerset Maugham<br />
Any book that helps a child to form a habit of reading, to make reading one of his deep and continuing<br />
needs, is good for him.<br />
Richard McKenna<br />
Books, to the reading child, are so much more than books – they are dreams and knowledge, they<br />
are a future, and a past.<br />
Esther Meynell<br />
It is not enough to simply teach children to read; we have to give them something worth reading.<br />
Something that will stretch their imaginations – something that will help them make sense of their own<br />
lives and encourage them to reach out toward people whose lives are quite different from their own.<br />
Katherine Paterson<br />
Properly, we should read for power. Man reading should be man intensely alive. The book should be<br />
a ball of light in one’s hand.<br />
Ezra Pound<br />
We shouldn’t teach great books; we should teach a love of reading.<br />
B.F. Skinner<br />
The more things you read, the more things you will know. The more that you learn, the more places<br />
you’ll go.<br />
Dr. Seuss<br />
Every man who knows how to read has it in his power to magnify himself, to multiply the ways in<br />
which he exists, to make his life full, significant and interesting.<br />
Aldous Huxley<br />
We read to know we are not alone.<br />
C.S. Lewis<br />
There are perhaps no days of our childhood we lived so fully as those we spent with a f avorite book.<br />
Marcel Proust<br />
To learn to read is to light a fire; every syllable that is spelled out is a spark.<br />
Victor Hugo<br />
It is not true that we have only one life to live; if we can read, we can live as many more lives and as<br />
many kinds of lives as we wish.<br />
S.I. Hayakawa<br />
Bibliography<br />
PRIMARY TEXTS<br />
Bawden, Nina (1973/1992). Carrie’s War, London: Victor Gollancz.<br />
Blyton, Enid (1953/1982). Five Go Down to the Sea, London: Hodder and Stoughton.<br />
Ibbotson, Eva (2001/2002). Journey to the River Sea, London: Macmillan Children’s Books.<br />
Nesbit, Edith (1902/1994). Five Children and It, ed. Sandra Kemp, Oxford: Oxford University Press.<br />
Nesbit, Edith [anonymous adaptation from screenplay by David Solomons] (1902/2004). Five Children<br />
and It, London: HarperCollins.<br />
Nesbit, Edith (1904/1994). The Phoenix and the Carpet, London: Penguin (Puffin Classics).<br />
Nesbit, Edith [retold by Helen Cresswell] (1997). The Phoenix and the Carpet, London: Penguin (Puffin).<br />
Potter, Beatrix (1902). The Tale of Peter Rabbit, London: Frederick Warne.<br />
Potter, Beatrix [adapted by David Hately] (1987). The Tale of Peter Rabbit, Loughborough: Ladybird Books<br />
in association with Frederick Warne.<br />
Pullman, Philip (1996). Northern Lights, London: Scholastic, 1996.<br />
SECONDARY TEXTS<br />
Beckett, Sandra L., ed. (1997). Reflections of Change. Children’s Literature Since 1945, Westport, CT:<br />
Greenwood Press.<br />
Carter, James (1999). Talking Books, London: Routledge.<br />
Chambers, Aidan (2001). Reading Talk, South Woodchester: Thimble Press.<br />
Elkin, Judith (2006). «Children as Readers», in Charles Butler (Ed.), Teaching Children’s Fiction,<br />
Basingstoke and New York: Palgrave Macmillan, 152-171.<br />
Gamble, Nikki & Yates, Sally (2008, second edition). Exploring Children’s Literature, London: Sage.<br />
Meek, Margaret (1988/2008). «How Texts Teach What Readers Learn», in Peter Hunt (Ed.), Children’s<br />
Literature. Critical Concepts in Literary and Cultural Studies, London and New York: Routledge, II, 38-59.<br />
Meek, Margaret (1993). «What Will Literacy Be Like?», in Morag Styles and Mary Jane Drummond (Ed.),<br />
The Politics of Reading, Cambridge: Cambridge Institute of Education and Homerton College, 89-99.<br />
Sipe, Lawrence R. (1997/2008). «Children’s Literature, Literacy, and Literary Understanding» [Journal of<br />
Children’s Literature 23 (2) (Fall 1997): 6-19], in Peter Hunt (Ed.), Children’s Literature. Critical Concepts in<br />
Literary and Cultural Studies, London and New York: Routledge, II, 92-109.<br />
Wales, Katie (1989). A Dictionary of Stylistics, London: Longman.<br />
Wall, Barbara (1991). The Narrator’s Voice. The Dilemma of Children’s Fiction, Basingstoke and London:<br />
Macmillan Academic.<br />
Williams, Raymond (1976/1983). Keywords. A Vocabulary of Culture and Society, London: Fontana.<br />
Woolf, Virginia (1966). «How Should One Read a Book?», in Collected Essays, London: Hogarth Press.<br />
Yates, Sally (2004, second edition). «Reading and Literacy», in Peter Hunt (Ed.), International Companion<br />
Encyclopedia of Children’s Literature, London and New York: Routledge, II, 762-770.<br />
Zipes, Jack (2009). Relentless Progress. The Reconfiguration of Children’s Literature, Fairy Tales and Storytelling,<br />
New York: Routledge.<br />
WEBSITES<br />
ThinkExist – http://www.thinkexist.com/<br />
BBC News – http://news.bbc.co.uk<br />
UK National Literacy Trust – http://www.literacytrust.org.uk/<br />
Number10 – http://www.number10.gov.uk/<br />
Year of Reading – http://www.readingforlife.org.uk/<br />
31
32<br />
Peritexts and Page Breaks:<br />
Opportunities for Meaning-<br />
-Making in Picturebooks<br />
LAWRENCE R. SIPE*<br />
Introduction<br />
This paper deals with two studies that examine two major affordances of<br />
picturebooks for aesthetic enjoyment and exploration. The first is the<br />
presence of an elaborate «peritext», to employ Gerard Genette’s terminology,<br />
in the form of dust jacket, front and back board covers, endpapers,<br />
dedication page, half-title page, and title page, as well as the back endpapers.<br />
All of these elements are carefully planned so as to «surround» the<br />
story and prepare the reader for it. A number of scholars have written<br />
about picturebook peritexts, or specific elements of the peritext, such as<br />
the endpapers. However, not much work has been done to examine the<br />
responses of young children to these elements. Of course, children must<br />
be guided by an astute teacher, but when this happens, even young children<br />
use peritextual elements in sophisticated and astute ways. Thus, the<br />
first part of the paper explains the elements of picturebook peritexts<br />
briefly, and then gives several examples of how children from 4 to 7 years<br />
of age interpreted these elements.<br />
The second part of the paper deals with another element that is quite<br />
important to picturebooks, but which has received less attention from<br />
either theorists or researchers. This element is the page turns (sometimes<br />
called page breaks) from one double-page spread to the next. Because picturebooks<br />
are most often quite brief, the author, illustrator, designer,<br />
and editor must decide what to include in the story and what to leave<br />
out. As we turn from one double-page spread to the next, there is always<br />
a gap or indeterminacy in the action, and to make sense of the story as a<br />
coherent whole in terms of both words and the picture sequence, we<br />
must make inferences about what happens between one double-page<br />
spread and the next. Page turns are therefore very carefully considered<br />
when picturebooks are constructed. I present several examples of the<br />
ways in which young children were invited to fill in the gaps represented<br />
by the page turns, through the simple device of the teacher asking,<br />
«What do you think happened between these two double-page spreads?»<br />
The children’s responses, just as their responses to peritextual elements,<br />
* Professor Adjunto na Escola Superior de Educação da Universidade da Pensilvânia, E.U.A.<br />
33
34<br />
were both sophisticated and varied. The paper argues, therefore, that<br />
these two qualities of picturebooks – the peritextual features and the<br />
page turns – are important for the purpose of inviting active and engaged<br />
participation on the part of readers, thus contributing both to readers’<br />
enjoyment and to their understanding/interpretation of the picturebook.<br />
Study #1<br />
Children Use Peritextual Features in Their Meaning-Making<br />
Literary critic Gérard Genette (1987/1997) uses the term «<strong>para</strong>text» to<br />
refer to these surrounding elements as well as related elements external<br />
to the book itself, such as interviews with the author and promotional<br />
materials. In his discussion of <strong>para</strong>texts, Genette distinguishes between<br />
features included within the book (the «peritext») and outside of the book<br />
(the «epitext»), and it is the peritext – what appears within the book itself<br />
– that is the focus of the present study. In picturebooks, as in other literary<br />
works, peritexts are important because they act as liminal spaces<br />
(Turner 1969) or thresholds (Genette, 1987/1997), mediating the reader’s<br />
transition from outside to inside the story world. Genette further observes<br />
that, «More than a boundary or a sealed border, the <strong>para</strong>text is, rather, a<br />
threshold, or – a word Borges used apropos of a preface – a “vestibule” that<br />
offers the world at large the possibility of either stepping inside or turning<br />
back» (pp.1-2). Derrida (1981) suggests that because of the peritext,<br />
«the text is no longer the snug airtight inside of an interiority or an identity-to-itself»<br />
(p. 35). As a «space between», the peritext is uniquely placed<br />
to draw attention to the materiality of the book and to provide a playful<br />
arena for the production of textual meaning (Higonnet, 1990), as well as<br />
presenting a rich orienting experience to the reader. While all books<br />
include some of these features, such as covers and a title page, in picturebooks<br />
all peritextual features are especially planned and designed so that<br />
there is an aesthetic coherence to the entire book (Higonnet, 1990). Thus,<br />
close examination of all of these intentionally designed features would<br />
seem to play an important role in reading picturebooks with students.<br />
Though Nikolajeva & Scott have devoted an entire chapter to this issue in<br />
their book How Picturebooks Work, few other theorists have undertaken<br />
extensive work. Still less research has considered the responses of children,<br />
though some researchers, such as Arizpe & Styles (2003) and<br />
Pantaleo (2003) have explored this issue.<br />
RESEARCH QUESTION AND METHOD<br />
The research question for this study was: In what ways do young children<br />
(age 4-7 years) respond orally to the peritextual features of picture storybooks<br />
before the story begins, in the context of whole class and small<br />
group readalouds? Data consisted of a sample of 23 transcripts of both<br />
small and large group readaloud discussions from two classrooms, drawn<br />
from 63 total transcripts from two studies of the literary responses of<br />
children (Sipe 2000; Sipe & Daley 2005). Criteria for selection of the sample<br />
consisted of the following: (1) since both studies lasted for the full<br />
school year, we skewed our selection to include more transcripts from the<br />
last half of the academic year, on the assumption that children would<br />
have become more familiar with the routines of readaloud response and<br />
would therefore demonstrate a wider repertoire of response to peritextual<br />
features; (2) we ensured that there was balance, variety, and cultural<br />
relevance in the genres of the texts read aloud, including traditional literature,<br />
fantasy, and contemporary realistic fiction; (3) we balanced the<br />
sample from the Sipe (2000) study to include roughly equal numbers of<br />
small-group and whole-class discussions; and (4) we ensured that the<br />
total number of student conversational turns in the samples from the<br />
two classrooms was roughly equal (1677 turns from the first study and<br />
1670 turns from the second), so that our results would not favor one<br />
study over the other.<br />
The first classroom (Sipe 2000) was a combined first and second grade (6<br />
and 7 year-olds) in a public school located in a working-class area of a<br />
large midwestern city, and which had a long history of using children’s<br />
literature to teach reading. The classroom teacher, a European American,<br />
had taught for six years and conducted twice-daily readalouds with the<br />
whole group of 27 children (23 European American, 3 African American,<br />
1 Native American; 15 boys and 12 girls). Data from this classroom included<br />
transcripts of 5 whole group readalouds (conducted by the teacher)<br />
and 7 small group readalouds with 5 students (conducted by Sipe). The<br />
second site (Sipe & Daley 2005) was a kindergarten classroom (4 and 5<br />
year-olds) in a large northeastern urban public school district. The classroom<br />
teacher, a European American, had taught for ten years and also<br />
read books aloud twice each day. Student enrollment varied between 20<br />
and 25 students over the course of the year; all students were African<br />
American and there was a roughly equal number of boys and girls at all<br />
times. Data from this classroom consisted of 11 transcribed whole class<br />
readalouds. Both classrooms were rich literacy environments, each with<br />
over 500 books readily available to the children in reading areas within<br />
the classrooms. In both classrooms, readalouds were conducted interactively<br />
(Barrentine 1996), with multiple opportunities for children to voice<br />
their thoughts and interpretations; as well, both teachers devoted extensive<br />
discussion to peritextual features of the picturebooks before beginning<br />
to read the story.<br />
Analysis proceeded in several stages. A first pass through the data divided<br />
each readaloud transcript into two parts: the initial portion of each<br />
readaloud discussion, where the teacher and children discussed the peri-<br />
35
36<br />
textual features of the picturebook before beginning the story text; and<br />
the subsequent discussion of the story. A second examination of each<br />
transcript identified the children’s conversational turns (Sinclair &<br />
Coulthard 1975) about each se<strong>para</strong>te element of the peritext (for example,<br />
talk about the front cover or the title page). Third, these sections of<br />
children’s talk were analyzed at the level of the conversational turn in<br />
order to conceptually label the purposes and subjects of the discussion.<br />
During a fourth pass through the data, the inductive conceptual labels<br />
were then grouped into conceptual categories representing the major<br />
points of the peritextual discussion, following the three stage model of<br />
Strauss and Corbin (1990). A fifth stage involved the coding of the peritextual<br />
discussion according to the final instantiation of the conceptual categories,<br />
with the two authors coding independently. Interrater reliability<br />
was 94%. Following this, with the assistance of a third coder (a doctoral<br />
student), consensus was achieved about all discrepancies and disagreements.<br />
This process resulted in slight adjustments to the conceptual category<br />
system. Finally, tallies and percentages for each conceptual category<br />
were computed, along with the percentage of peritextual talk (by children’s<br />
conversational turns) for each story and for the data set as a whole.<br />
The finalized list of conceptual categories constituted the ways in which<br />
the children utilized the features of the peritext to make meaning before<br />
the story was read, thus answering the research question.<br />
RESULTS<br />
Results suggest that discussion of peritextual elements before beginning<br />
the reading of the story comprised about 21% of the total student turns<br />
– 712 turns out of a total of 3347 turns – in the readaloud discussions,<br />
suggesting that children, with their teacher’s encouragement, were highly<br />
engaged in peritextual response. We found that there were nine main<br />
ways in which children responded in the initial peritextual discussion:<br />
(1) References to conventions of picturebook construction, production, and reading.<br />
Children demonstrated their knowledge of picturebook conventions in a<br />
number of ways. Perhaps most simply, they named or identified particular<br />
peritextual features such as the dust jacket, front cover, endpapers,<br />
title page, and dedication page. In this way, they were making use of the<br />
metalanguage of picturebooks, enabling them to identify the parts of the<br />
peritext with precision. This metalanguage had been taught to them by<br />
their teachers, who said, for example, «here are the endpages» or «here is<br />
the half-title page». Children also took note of any awards that the books<br />
had won, discussing the significance of the silver or gold Caldecott<br />
medallions appearing on the front cover. For example, in the peritextual<br />
discussion of The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales (Scieszka,<br />
1992), Julie observed that the book «got a medal». Another child specified<br />
that it was a «Caldecott», and the children elaborated on their understanding<br />
of the award system:<br />
Gordon: Caldecott Honor Book.<br />
Charles: This is second best.<br />
Teacher: Yes, this is silver.<br />
Although the publishing information is not a prominent feature of the<br />
picturebook peritext, the children took great delight in discovering the<br />
book’s date of publication, comparing it to their own birth year. They<br />
were fascinated to find out that most books published in the United<br />
States seem to originate in New York City:<br />
Jim: New York again! Most books must be publishing in New York. It looks<br />
like when they’re makin’ books, most books are made in New York.<br />
The dedication page often inspired talk about to whom a book was dedicated<br />
and hypotheses about the possible reasons for this dedication (in<br />
their own book-writing, children utilized this convention, dedicating<br />
their home-made books to their friends and/or parents).<br />
Finally, the children were accustomed to both the routines employed by<br />
the teachers as they conducted readalouds and the commonly occurring<br />
elements of the peritext. Because their teachers had established these<br />
routines, they insisted that, for example, the teacher remove the dust<br />
jacket of the book in order to see if the board cover duplicated the dust<br />
jacket or was different. They also insisted on examining and speculating<br />
about the endpapers, half-title and title pages, etc. They simply would not<br />
allow teachers to take a brief look at the front cover and then begin reading<br />
the story!<br />
(2) Description.<br />
Children described or labeled details of illustrations within the peritext.<br />
Included here are responses that seem to answer simple «what» or «who»<br />
questions. The title page of Christopher Coady’s (1991) Red Riding Hood<br />
contains an oval vignette of a leafless tree silhouetted against a full<br />
moon. Sean commented, «At first there’s some red strokes over the moon,<br />
[pointing to the branches of the tree] and down here too [pointing to the<br />
lower left edge of the vignette].»<br />
(3) Interpretation and evaluation.<br />
Description was often followed by interpretation. Included in this category<br />
were responses that went beyond simple description and seemed to<br />
37
38<br />
answer «why», «how», «where», and «when» questions: «How does this<br />
make you feel?», «How do you think they feel?», «How are the characters<br />
related to one another?», «How did this scene come to be?» Because of the<br />
complexity of this category, we further subdivided it into three parts: (a)<br />
Interpretation/evaluation of illustrations; (b) Interpretation/evaluation of<br />
tone and mood; and (c) Interpretation/evaluation of characters.<br />
(a) Interpretation/evaluation of illustrations.<br />
In this subcategory, children constructed meaning from the visual<br />
images in the peritext. For example, they discussed the possible reasons<br />
for the choice of color palette (the vignette from Red Riding Hood [Coady<br />
1991]) discussed in the previous section contains red strokes «because<br />
when the hunter cuts him open there’s blood in the story. Similarly, as<br />
the children examined the endpapers of Red Riding Hood (Coady 1991),<br />
they speculated as to how three leaves came to rest on what they interpreted<br />
as Red Riding Hood’s cloak:<br />
Kevin: It’s on the ground.<br />
Teacher: How’d it get on the ground?<br />
Martin: ’Cause she took it off.<br />
Teacher: Why would she take it off?<br />
The children returned to this question after the story was read. It should<br />
be noted that in this version of the story, both Red Riding Hood and her<br />
grandmother are dead at the end of the tale; no woodsman comes to save<br />
them. The children therefore had a new view of the back endpapers,<br />
which show the cloak and the leaves again:<br />
Louise: Now I know! The coat’s on the ground because the wolf killed her!<br />
And he just left the coat on the ground because there’s leaves on it! And<br />
probably blood, too!<br />
(b) Interpretation/evaluation of tone/mood.<br />
Children were sensitive to the various qualities of illustrations and peritextual<br />
text that assisted them in interpreting the tone or mood of stories<br />
as funny, transgressive, bizarre, or scary. For example, they were quite<br />
sensitive to the mood of two variants of Red Riding Hood: a cheerful, amusing<br />
version by James Marshall and the much more serious one by<br />
Christopher Coady, which I have just discussed. Reactions to the Marshall<br />
version included:<br />
She looks like she’s going to fall off that log!<br />
The wolf looks a little silly in this one.<br />
Reactions to the Coady version were quite different:<br />
I can tell this is not going to be a funny story.<br />
Look at that wolf — I’d be afraid of him.<br />
(c) Interpretation/evaluation of characters.<br />
Based on text and illustrations, the children interpreted characters’ outward<br />
appearance, including the characters’ race/ethnicity and gender;<br />
their mood, inner state, or personality; their relationships with one<br />
another; and their connection to the author and illustrator who created<br />
them. As her class commented on the title page of No, David! (Shannon,<br />
1998), Naisha observed, «She’s angry», referring to the mother in the<br />
illustration. The teacher probed for her evidence for this response, and<br />
Naisha elaborated, «Because she got her shoulders like this!», imitating<br />
the mother’s stance with her hands planted firmly on her hips. Amanda<br />
supported this assessment, adding, «She’s stomping her foot!»<br />
(4) Prediction.<br />
The peritext is in many ways a pre<strong>para</strong>tion or preview for the story that<br />
follows. The children thus drew on the elements of the peritext in order<br />
to make predictions about a variety of characteristics of the ensuing<br />
pages of the story. They predicted particular plot points as well as an overarching<br />
structure. Children also asked predicting questions, suggesting<br />
that they had taken notice of particular details that they felt would carry<br />
subsequent significance. The design features of the peritext assisted children<br />
in predicting those features that would carry through the story in<br />
order to give it aesthetic coherence. For example, think back to the children’s<br />
reactions to the tone of the two variants of Red Riding Hood by<br />
Marshall and Coady. Their predictions about the silliness of the Marshall<br />
version and the dark serious tone of the Coady version were correct.<br />
(5) Attention to written language.<br />
The words of the peritext provided opportunities for children’s emergent<br />
attempts to read. This was especially true of titles, and some of the 4-5 years<br />
old clamored to do so at every opportunity. Children also paid close attention<br />
to print at the level of individual letters, connecting these to their<br />
names (Kendra’s «I see a K and that starts with my name!» in reference to her<br />
close examination of author Eric Kimmel’s (1988) name in Anansi and the<br />
Moss-Covered Rock), as well as to the meaning of punctuation marks such as<br />
exclamation points and question marks. In No, David! (Shannon 1998)<br />
Amanda identified the punctuation mark at the end of the title as an «exclamation<br />
point» and Martin was then able to use this to interpret the way in<br />
which the title should be read; he shouted it. Yet another aspect of chil-<br />
39
40<br />
dren’s attention to the written language in the peritext concerned their<br />
exploration of the meaning of individual words. Children forwarded a number<br />
of interpretations of the word «moss» in Anansi and the Moss-Covered Rock:<br />
«something that’s green», «it looks like grass», and «something that’s soft».<br />
(6) Intratextual connections.<br />
As the peritextual discussion proceeded, children related various parts of<br />
the peritext to each other. This discussion of the interrelationships,<br />
which we term «intratextual connections», is central to the project of<br />
conceiving the book as an aesthetic whole. In order to forge these connections,<br />
children navigated backward and forward through the peritext to<br />
note these relationships. For example, one child amusingly noted the<br />
Caldecott Medal on the front cover and the blind-stamped cow on the<br />
board cover of David Macaualay’s Black and White, and made an amusing<br />
pun: «Look, teacher, it got the Cow-decott Medal! Get it?»<br />
(7) Intertextual connections.<br />
In addition to making connections within the peritextual elements of<br />
the book being read, children also made connections to other texts,<br />
including storybooks, videos, movies, television shows, and songs. In discussing<br />
David’s pointed teeth in No, David! (Shannon 1998), several children<br />
connected his scary grin to Michael Jackson’s werewolf transformation<br />
in the music video «Thriller». As well, children stitched two stories<br />
together by peritextual elements. For example, when they saw the front<br />
cover of the Richard Egielski version of The Gingerbread Boy, which takes<br />
place in New York City (notice the Empire State Building in the background),<br />
they automatically connected to a more traditional version by<br />
Paul Galdone they already knew. One boy’s comment is that the two gingerbread<br />
boys probably are brothers.<br />
(8) Personal connections.<br />
During the peritextual discussion, children were also able to draw the<br />
story to themselves and their own lives in various ways. These personal<br />
connections ranged from expressions of delight that a character resembled<br />
a classmate to expressions of personal preference and appreciation.<br />
The title or illustrations often prompted the children to tell personal stories<br />
relating these elements to their lives. In the discussion of a book<br />
called Uptown (Collier 2000), children excitedly shared their experiences<br />
of going «uptown»: they went to «buy stuff» and saw «big buildings» on<br />
these outings with their caregivers.<br />
(9) «Performances.»<br />
In other articles, Sipe (2000, 2002; Sipe & Daley 2005) has defined a type<br />
of response in which children use the text as a playground or a stage for<br />
their own flights of interpretive fancy. Rather than dismissing these<br />
responses as off-task, Sipe theorizes that they represent children’s assertion<br />
of a specific kind of interpretive authority as they «take over» the<br />
text (Sipe 2002) to use it as a site for «carnivalesque» (Bakhtin 1984) subversion.<br />
The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales (Scieszka 1992)<br />
was a particularly rich source for children’s performative responses. The<br />
front endflap contains the words, «Only $16.99! 56 action-packed pages.<br />
75% more than those old 32-page “Brand-X” books. 10 complete stories! 25<br />
lavish paintings! New! Improved! Funny! Good! Buy! Now!» Following the<br />
teacher’s reading, the children reacted to this frenetic parody of marketing<br />
hype with their own subversive responses:<br />
Gordon: Why, just say «why», just say «why», just say it.<br />
Teacher: What? Okay, why?<br />
Gordon: How come? Because. Where? When? Who?<br />
[dissolves into giggles]<br />
Teacher: [Laughing and rereading] New! Improved! Funny! Good!<br />
Buy! Now!<br />
Terry: I don’t wanna go «bye» now! I don’t wanna go bye-bye now!<br />
Gordon: Me neither.<br />
Several children: Bye-bye! [waving]<br />
This exchange exemplifies the children’s appropriation of the text for<br />
their own playful purposes. Parody is parodied here: Gordon urges the<br />
teacher to say the word «why», which Gordon then uses as an opening for<br />
his own rapid-fire sequence of staccato words and phrases that <strong>para</strong>llel<br />
and satirize the language of the text. Terry’s pun («bye» for «buy») evokes<br />
more carnivalesque behavior on the part of the group.<br />
SIGNIFICANCE<br />
This study demonstrates the very rich interpretive potentials afforded by<br />
picturebook peritexts. Giving children this interpretive space supports<br />
their development of an appreciation of picturebooks as sophisticated<br />
aesthetic objects in which every detail is the result of an intentional<br />
design choice. Many teachers may talk with children about the significance<br />
of the title and the front cover illustration; however, fewer teachers<br />
may be inclined to explore the other elements of the peritext, such as the<br />
endpapers, title and dedication pages, and the publishing information.<br />
These elements are equally deserving of teachers’ and students’ close<br />
attention.<br />
In this study, the teachers chose to begin their storybook readalouds in<br />
an uncommon way, by focusing on the peritextual affordances of the<br />
41
42<br />
book itself rather than their own purpose-setting questions. Very little<br />
empirical research has been conducted on this method of introducing<br />
and beginning a picture storybook readaloud with young children.<br />
Although it may be a more common approach for the teacher to ask purpose-setting<br />
questions in order to explicitly activate background knowledge,<br />
it may be the case that discussion of the peritextual features of picture<br />
storybooks serves as an equally valid introduction to the story: in<br />
other words, teachers may want to consider «trusting the book» – particularly<br />
the peritext – to be its own best prelude to set the stage for richly<br />
interpreting the story. Foregrounding children’s own ideas from the very<br />
beginning of the discussion may result in validating their interpretive<br />
trajectories rather than subordinating them to predetermined teacher<br />
purposes. Researchers and practitioners who are concerned with the literary<br />
and literacy development of young children may find this<br />
approach to be an intriguing alternative. This study demonstrates young<br />
children’s abilities to conceptualize picture storybooks as aesthetic wholes;<br />
that is, to integrate their knowledge of the various parts of the picturebook<br />
in order to construct coherent and cohesive interpretations. This integration<br />
results in rich and aesthetically powerful literary understanding.<br />
Study #2<br />
Children Use Page Breaks in Their Meaning-Making<br />
In stark contrast to a novel, where the page breaks come arbitrarily<br />
(Mackey 2001), a picturebook, which contains a much smaller set of<br />
words than a novel, is arranged very carefully as a series of facing pages,<br />
called «doublespreads» or «page openings» (Doonan 1993, p. 83), and the<br />
text of the whole picturebook has been carefully broken into a series of<br />
these facing pages. Good readers pay attention to how the words and<br />
accompanying illustrations on one set of facing pages relate to the next<br />
set of words and illustrations on the following doublespread. The page<br />
turns in a picturebook, also known as page breaks, thus have a complex<br />
semiotic significance (Sipe 1998a). A picturebook is not only a slow motion<br />
series of presented verbal and visual images; the brief hiatus as we<br />
turn the page can be used meaningfully by the author and/or illustrator<br />
in various ways.<br />
I examined how 6 and 7 year-olds made meaning out of the page breaks<br />
of several picturebooks so as to construct a sensible and seamless narrative.<br />
Neither picturebook theory nor empirical research on children’s<br />
responses to picturebooks addresses this aspect of picturebooks in any<br />
detail. However, several theoretical concepts can be drawn together to<br />
form a framework for the study. First, in Barbara Bader’s (1976) memorable<br />
phrase, we experience «the drama of the turning of the page» (p. 1)<br />
in a picturebook, as we proceed from one set of facing pages to the next.<br />
For Bader, then, the page turn represents a moment of anticipation, puzzlement,<br />
or confusion, which is then resolved upon turning to the next<br />
set of facing pages. There is a break or gap between turning the page from<br />
one spread to the next, and this gap often requires a high degree of critical<br />
and inferential thinking. This is all up to the reader, because the<br />
reader supplies something that is literally not there. According to Iser<br />
(1978), every text has «gaps» or indeterminacies, which the reader must<br />
fill in as he/she reads. In a picturebook, the page breaks suggest clearly<br />
identifiable gaps for all readers to puzzle over and interpret, gaps that<br />
are sometimes large or quite small.<br />
However large or small, though, there is always at least a slight rift, fissure,<br />
or «aporia» (blind spot of uncertainty) (Derrida 1993) in the verbal<br />
and visual narrative when a page is turned. For this reason, we theorize<br />
that page breaks may be a rich site for investigating children’s cognitive<br />
integration of text and pictures, as well as their resolution of the gaps or<br />
indeterminacies (Iser 1978) in the «imagetext» (Mitchell 1994). The illustrator<br />
and author have only a small number of opportunities to tell the<br />
story. Therefore, the page breaks constitute some of the major gaps in the<br />
text. The illustrator and author must choose carefully what will be illustrated/written<br />
and what will be omitted. Another way of conceiving page<br />
breaks is forwarded by Bartow (2007), who suggests that they are liminal<br />
spaces (Turner, 1969), in which readers find themselves neither in the<br />
familiar context created by the imagetext of one doublespread, nor in the<br />
imagetext of the next doublespread: they are spaces «between».<br />
Barthes (1974) calls texts requiring much involvement and activity from<br />
the reader «writerly texts», in which the reader must act as the writer of<br />
the texts. Clearly, in the turning of the picturebook pages, readers are<br />
forced into this «writerly» mode.<br />
Author/illustrator Brian Selznick, in his acceptance speech for the 2008<br />
Caldecott Medal, states that «…the secret [for conceptualizing The Invention<br />
of Hugo Cabret] was in the page turns… Only the reader turning the page<br />
can move the story forward» (p. 403). Selznick also quotes from an unpublished<br />
essay by illustrator Remy Charlip: «A thrilling picturebook not<br />
only makes beautiful single images or sequential images, but also allows<br />
us to become aware of a book’s unique physical structure by bringing our<br />
attention, once again, to that momentous moment: the turning of the<br />
page» (pp. 403-404).<br />
However, although picturebook designers, illustrators, and authors often<br />
talk about the importance of page breaks, the standard comprehensive texts<br />
on picturebooks (Kiefer 1995; Lewis 200; Nikolajeva & Scott 2001; Nodelman<br />
1988; Stewig 1995) mention them only in passing, and there is no empirical<br />
research we could discover that focuses specifically on children’s interpretations<br />
of page breaks, though it seems an intriguing topic for investigation.<br />
43
44<br />
Why would this be important? I suggest that to invite children to speculate<br />
about «what happened» between one page opening and the next is to<br />
engage them in a complex and critically important process, because this<br />
speculation automatically engages children in high-level inference-making<br />
because the discussion is about the gap or indeterminacy that the page<br />
break represents. In other words, we theorize that by asking the question<br />
of what happens between two openings, we are encouraging children to<br />
verbalize what may be going on in their minds as they build coherence<br />
through inference. This is an alternative to approaches that advocate<br />
«training» in making inferences (Dewitz, Carr, & Patberg 1987) or teaching<br />
one strategy at a time (Keene & Zimmermann 1997), and allows for the<br />
integration of comprehension strategies, an approach Pressley (2003) believes<br />
is more powerful than teaching isolated strategies. Finally, discussion of<br />
page breaks answers the call by seasoned literacy researchers for ways of<br />
teaching comprehension in the primary grades, rather than focusing almost<br />
exclusively on decoding (Pearson & Duke 2003).<br />
METHOD<br />
The research question for this descriptive, naturalistic study was: In what<br />
ways does a class of 6 and 7 year-olds interpret the page breaks in five<br />
selected picturebooks as the books are read aloud by their classroom<br />
teacher?<br />
DATA<br />
Data for the study consisted of complete transcripts of audiotapes of the<br />
reading and discussion of No, David! (Shannon, 1998), My Friend Rabbit<br />
(Rohmann 2002), Don’t Let the Pigeon Drive the Bus! (Willems 2003), Hondo<br />
and Fabian (McCarty 2002) and Where the Wild Things Are (Sendak 1963). We<br />
chose these books (all Caldecott Medal or Honor winners) after carefully<br />
examining their page breaks and concluding that these page breaks<br />
offered an especially rich variety of potential «gap-filling» by the children.<br />
This variety is specified below when we describe each book.<br />
None of the books had been read aloud in the classroom before, though<br />
some children were already familiar with some of the books, and almost<br />
all of the children had heard Where the Wild Things Are in a different context<br />
– in another classroom or at home. In this way, we hoped to capture<br />
children’s interpretations for books that were entirely new to them as well<br />
as books with which they had some prior familiarity, contributing to the<br />
naturalistic quality of the study. Data also consisted of fieldnotes, in<br />
which Ms. Brightman (who was the classroom teacher) kept track of the<br />
times when the children spontaneously commented about page breaks<br />
during their independent reading, other times during the school day, or<br />
during readalouds that were not part of the study.<br />
CHILDREN AND CLASSROOM CONTEXT<br />
The data were collected in a self-contained second-grade classroom located<br />
in a K-3 public school, which served a middle-class suburban community<br />
in the Northeastern United States. The class consisted of eleven boys<br />
and twelve girls: two African Americans, two Hispanic Americans, one<br />
Asian American, and 18 of European descent. Two children in the classroom<br />
qualified for free lunch, three received special education services,<br />
and six participated in a pull-out program of basic skills reading instruction.<br />
Ms. Brightman, the classroom teacher, was in her seventh year of<br />
teaching, having spent the great majority of these years teaching either<br />
first or second grade. She had completed a master’s program in literacy<br />
that avoided a deficit perspective (Valencia 1997), emphasizing the literacy<br />
knowledge children brought to the classroom rather than the knowledge<br />
they did not possess. She envisioned children as active learners in<br />
a socially interactive environment. She had also been a co-investigator<br />
(with Sipe) on a number of prior research projects involving young children’s<br />
literary understanding, and had been asked by her school district<br />
to teach a professional development course entitled, «Interactive<br />
Readalouds in the K-3 Classroom». This course demonstrated her interest<br />
in utilizing picturebooks, not as mere tools to teach decoding and low-<br />
-level comprehension skills, but rather to increase children’s critical thinking,<br />
literary meaning-making, and complex understanding of stories.<br />
The children in this classroom were actively engaged in meaningful literacy<br />
activities throughout the school day. Ms. Brightman began every<br />
morning with a storybook readaloud, followed by language and word<br />
study, reader’s workshop (including guided reading), and writer’s workshop.<br />
The children were accustomed to responding to text and illustrations<br />
during readalouds in an interactive and dialogic manner<br />
(Barrentine 1996). In other words, the children actively responded before,<br />
during, and after the reading of each text. Ms. Brightman gathered her<br />
students in the library corner of her classroom. Before introducing a new<br />
picturebook, she reminded the students that they did not need to raise<br />
their hands if they had something to share about the text or illustrations.<br />
Because the students were encouraged to speak freely and to direct their<br />
comments to one another, much cross-talk (Nystrand 1997; Chinn,<br />
Anderson, & Waggoner 2001) was noted. Ms. Brightman understood her<br />
role to be as a facilitator for a meaningful conversation, not a controller<br />
of the discussion. She demonstrated her deep listening by allowing the<br />
children agency and then acting on what she learned from them, rather<br />
than acting according to a preconceived agenda (Paley 1986; Schultz<br />
2003), an art that is easier said than done. The children were comfortable<br />
with this approach to interactive readalouds and thus Ms. Brightman<br />
permitted the students’ exchanges to continue with little interference as<br />
45
46<br />
long as the children actively contributed meaningful thoughts and ideas<br />
to the conversation. Each of the readalouds for the study lasted about 50<br />
minutes, and resulted in an average of 31 transcripted pages.<br />
Data were collected over a two-week period in May, near the end of the<br />
school year, so that the children’s responses throughout each readaloud<br />
reflected their extensive knowledge of a wide array of literature. They<br />
had already been exposed to well over 150 readalouds, and were quite familiar<br />
with the interactive style during story time. They also knew the teacher<br />
encouraged a wide range of responses, rarely asking questions to which she<br />
already knew the answer. By this time, Ms. Brightman had created a cohesive<br />
«interpretive community» (Fish 1980), with implicit and explicit<br />
rules about what «counted» as literary response during storybook<br />
readalouds. Furthermore, the children were familiar with much of the<br />
metalanguage of picturebooks, such as «doublepage spread» and «full<br />
bleed». This mode of participating interactively in storybook readalouds<br />
had been introduced gradually and spontaneously over the course of the<br />
year by Ms. Brightman, who was adept at perceiving authentic teachable<br />
moments. Her typical approach was to mention picturebook terminology<br />
in passing, for example saying, «Here are the endpapers». In subsequent<br />
readalouds, she repeated this terminology until the children<br />
began to utilize it independently, demonstrating that they had internalized<br />
the appropriate use of the «language of picturebooks» (Sipe 1998).<br />
As part of the school district’s second grade literacy curriculum, children<br />
were expected to be familiar with various literary genres. Ms.<br />
Brightman’s way of teaching distinctions among the genres was to<br />
expose children to a large variety of stories and to construct an increasingly<br />
sophisticated list of genre characteristics, which were then added<br />
to a wall chart in the library corner of the classroom over the course of<br />
the school year. As stories were read aloud, children often referred to this<br />
chart to interpret and discuss the books’ literary genre. In other words,<br />
Ms. Brightman’s general style was to build the children’s literary understanding<br />
and knowledge of terminology in a very gradual, naturalistic<br />
manner. She thus tended to eschew direct explicit teaching in favor of<br />
allowing the children to construct this understanding for themselves,<br />
while providing appropriate scaffolding.<br />
PROCEDURE FOR INTRODUCING THE IDEA OF PAGE BREAKS<br />
In order to capitalize on this rich background in a naturalistic way, Ms.<br />
Brightman introduced the idea of page breaks by simply asking, «What<br />
do you think happened between here [showing one doublespread] and<br />
here [showing the following doublespread]?» after she had read the second<br />
doublespread. We note that Ms. Brightman did not ask specific<br />
questions such as «How much time do you think might have gone by?» or<br />
«What do you think X might have done?» during the page breaks, because<br />
we wanted to know how the children would respond with a simple general<br />
question. Ms. Brightman did not ask this question for every page<br />
break, but only a limited number of times during the reading of each<br />
book. In this way, the idea of interpreting page breaks was planted in<br />
children’s minds in a subtle way, within the context of an already familiar<br />
literacy practice. We did not want to overburden the children with<br />
interpretation of page breaks; rather, we intended to introduce the idea<br />
of thinking about page breaks as one of the many items in the children’s<br />
«literary tool box» (Bigler-McCarthy 1996).<br />
BOOKS USED IN THE STUDY<br />
The first readaloud in this study was No, David! written and illustrated by<br />
David Shannon (1998). In this Caldecott Honor winner, Shannon endeavors<br />
to recreate a book he wrote as a young child in which his mother<br />
repeatedly uttered the words, «No, David», every time he behaved inappropriately.<br />
This picturebook contains sparse text (Ghiso & McGuire<br />
2007), with only a few words on each page opening, and we felt that this<br />
would prompt the students to create more dialogue for the page breaks.<br />
As well, the book is episodic, with one naughty action by David after<br />
another. Most of the page breaks depict these se<strong>para</strong>te actions, and are<br />
not necessarily joined by anything more than their place in the sequence<br />
of behaviors. Some of the breaks, however, clearly bridge two openings<br />
that are part of the same episode. We were interested in how this variation<br />
in the nature of the breaks, as well as the sparse text, would invite<br />
children’s inference-making.<br />
The second picturebook explored with the students was My Friend Rabbit,<br />
written and illustrated by Eric Rohmann (2002). In this Caldecott Medal<br />
winner, Rabbit must enlist the help of his animal friends to retrieve<br />
Mouse’s airplane from a tree. Although Rohmann’s picturebook contains<br />
more text than Shannon’s story, it is still limited and thus much<br />
of what occurs between each page had to be carefully examined and<br />
interpreted by the children. The page breaks in this book are invariably<br />
connected by the plot, which is not episodic (as in No, David!) but cumulative:<br />
Rabbit finds an ever-increasing number of animals to help<br />
retrieve the airplane. Thus, inferences about these breaks could be<br />
expected to create coherence in children’s understanding of the cumulative<br />
assemblage of animals. As well, the story actually begins on the<br />
title page, with an illustration of an opened package and Mouse sitting<br />
proudly in the airplane, which is a present from Rabbit. We were interested<br />
in how the children might interpret the page break leading to the<br />
next doublespread, which depicts Rabbit about to launch the plane on<br />
the left-hand side of the opening, and the illustration of Mouse falling<br />
47
48<br />
out of the plane as Rabbit overenthusiastically launches it in on the<br />
right-hand side.<br />
Don’t Let the Pigeon Drive the Bus!, written and illustrated by Mo Willems<br />
(2003) was the third picturebook investigated in this study. In this<br />
Caldecott Honor winner, a bus driver decides to leave his bus unattended<br />
and asks readers to ensure that Pigeon does not drive his bus. Pigeon<br />
works hard to convince readers that it would be a responsible driver if<br />
only it were given a chance. The page breaks in this book virtually force<br />
readers to respond to pigeon as it reasons, whines, cajoles, throws<br />
tantrums, and otherwise tries to convince readers to let it drive the bus.<br />
In this book, therefore, inferences about the page breaks might be expected<br />
to be «audience participation» in the story, a different type of response<br />
to the breaks.<br />
The fourth picturebook utilized in this study was author/illustrator Peter<br />
McCarty’s (2002) Caldecott Honor winner Hondo and Fabian. Hondo (the<br />
dog) and Fabian (the cat) are depicted as two playful animals having fun<br />
in a variety of situations. For the majority of the text, Hondo and Fabian<br />
spend their day apart from one another, and the stories of the two animals<br />
alternate. Readers must therefore analyze the page breaks as the<br />
<strong>para</strong>llel stories unfold. The page breaks in this book are different from<br />
the other books because readers must keep in mind what has happened<br />
in the sequence of openings where Hondo is the main character, and the<br />
sequence of openings where Fabian is the main character.<br />
Where the Wild Things Are, written and illustrated by Maurice Sendak (1963)<br />
was the final readaloud in this study. This Caldecott Medal winner is a<br />
favorite of many young children as readers can easily relate to Max’s<br />
desire to escape from his bedroom into a whimsical world constructed in<br />
his fantasy. We were interested in the page breaks of this book for two reasons.<br />
First, it was a book the students knew well already, and we wanted<br />
to explore how students would respond to an invitation to speculate<br />
about page breaks in a book whose plot was already grasped by the children.<br />
Second, the book contains a transition from real-life situations<br />
(Max creating a tent by nailing a hole in the wall to hold one side of a<br />
blanket and Max chasing the family pet) and the fantasy of a forest growing<br />
in Max’s room. We wanted to note whether the students would speculate<br />
about the change in genre from realistic fiction to fantasy.<br />
Taken together, then, the picturebooks used in the study afforded different<br />
opportunities and potentials for children to interpret page breaks.<br />
DATA ANALYSIS<br />
Ms. Brightman transcribed the tapes to ensure accuracy, as she knew the<br />
children’s voices well. Each child was assigned a pseudonym to ensure<br />
anonymity. The analysis proceeded in the following manner. First, each<br />
time the teacher explicitly asked about what might have happened<br />
between page breaks was noted in the transcripts, along with the subsequent<br />
discussion. In addition, every time children spontaneously volunteered<br />
a suggestion about page breaks during the readaloud discussion<br />
without the teacher’s prompting was also noted, along with the discussion<br />
pertaining to the page break. We identified these sections of the<br />
transcripts as Topic Units, hereafter called TUs (Roser & Martinez 2004),<br />
beginning with either (1) the teacher’s question about what might have<br />
happened during the page break or (2) student-initiated comments. The<br />
student conversational turns (Sinclair & Coulthard 1975) within each TU<br />
were then analyzed by coding according to the standard qualitative content<br />
analysis techniques suggested by Strauss and Corbin (1998): first,<br />
assigning conceptual labels to each of the conversational turns about<br />
page breaks within each TU; second, grouping these conceptual labels<br />
into a more limited number of conceptual categories; and third, describing<br />
the «core category» (Strauss & Corbin 1998) as the relationship<br />
among these conceptual categories, in order to answer the research question.<br />
Also factored into the analysis as supplemental data were the spontaneous<br />
comments about page breaks made by children during other storybook<br />
readalouds, their independent reading, and at other times during<br />
the school day.<br />
During this process, the two co-authors coded two transcripts together,<br />
creating conceptual labels, and then independently coded the other<br />
three transcripts, following this by achieving agreement on the conceptual<br />
labels for each conversational turn. When the second stage of coding<br />
began, a graduate student who was interested in page breaks (having<br />
written a theoretical paper on the subject) joined the team, and assisted<br />
in grouping the conceptual labels into a smaller number of tentative conceptual<br />
categories. The formation of these provisional conceptual categories<br />
was done in a series of meetings with all three researchers present.<br />
Following this, the co-authors each coded two transcripts by conceptual<br />
category, and the graduate student coded one transcript. Finally, the<br />
researchers exchanged transcripts and noted any discrepancies in their<br />
assigning of conceptual categories. At a final series of meetings, the three<br />
researchers reached consensus on any disagreements, paying attention to<br />
discrepant cases and modifying the original conceptual categories, thereby<br />
accounting for all the data. Lastly, the conceptual categories were<br />
related to each other, constituting the «core category» that is the third<br />
and final stage of Strauss and Corbin’s analytical model, thus answering<br />
the research question.<br />
An important aspect to note in the analysis is that we deliberately omitted<br />
children’s predictions about what would happen next, because predictions<br />
do not have to do with speculation about what happens between<br />
49
50<br />
page openings, but rather with using knowledge of the prior page openings<br />
to predict what will happen on the following openings, and then<br />
either confirming or disconfirming these hypotheses. Important as these<br />
types of responses are, they constitute a qualitatively different type of<br />
response than our focus, which was on what the students had inferred<br />
was omitted in the liminal space of the page breaks.<br />
RESULTS<br />
The findings suggest that children responded enthusiastically to the<br />
teacher’s questions about «what happened» between one set of facing<br />
pages and the next. In fact, children quickly took on this challenge, and<br />
began to speculate on their own, without any prompting from the<br />
teacher, suggesting this was an intriguing issue for them.<br />
(1) Character Actions.<br />
About 41% (99) of the children’s conversational turns about page breaks<br />
were speculations about actions the characters might have performed<br />
during the turning of the page. This in itself is not surprising, since,<br />
according to Aristotle’s Poetics, plot consists of «characters-in-action», and<br />
the children seemed to interpret their task as primarily filling in gaps in<br />
the plot represented by the page breaks. In the discussion of No, David! the<br />
children inventively speculated about what happened between the second<br />
opening, which depicts David reaching precariously toward a cookie<br />
jar with the text «No, David!» and the third opening, which shows<br />
David covered with mud, muddy tracks over the beige carpet and the<br />
words, «No, David, No!» This TU was begun by the teacher:<br />
Teacher: Here’s my question for you…What happened between this<br />
page and this page?<br />
Catherine: I think he took the cookies, he grabbed the jar, and went outside<br />
and he ate it.<br />
Tracey: Then he went in the mud.<br />
Dave: And slipped on it.<br />
Kate: I think it was all mushy, and he didn’t want to eat the cookies so he<br />
put them away.<br />
Mickey: Maybe he was burying the cookies and then he fell in the mud puddle<br />
next to where he buried them. Then maybe… he started to roll in the mud.<br />
This vignette shows how the children attempted to create coherence by<br />
joining these two episodes (reaching for the cookies and tracking mud<br />
over the carpet) which are not necessarily related directly to each other.<br />
The children’s inference-making about what happened between the<br />
openings was in this case quite creative.<br />
(2) Creating Dialogue.<br />
About 17% (40) of the children’s conversational turns created imaginary<br />
dialogue among characters or for one character that may have occurred<br />
during the page breaks. In Don’t Let the Pigeon Drive the Bus!, the children<br />
inserted themselves into the book as characters. On the fourth opening,<br />
the pigeon states, «My cousin Herb drives a bus almost every day!» in an<br />
attempt to persuade the reader/viewer to let it drive the bus. The fifth<br />
opening shows the pigeon with its wing over its heart and the words,<br />
«True story». Ellen, beginning the TU, commented, «I think between<br />
those two pages there’s like an invisible page and we’re on it and we’re<br />
saying, “Nuh-uh. I don’t believe it.”» Another example of creating dialogue<br />
occurred when the children discussed the 15 th and 16 th openings<br />
of No, David! The 15 th opening shows David, who has been getting into<br />
trouble throughout the book, with his arms outstretched, and the words<br />
«Davey, come here», while the 16 th (and last) opening shows a contented<br />
David cuddled in his mother’s arms, and the words, «Yes, David… I love<br />
you.» The children invented some dialogue for this page break, in a TU<br />
begun by the teacher:<br />
Teacher: Who can tell me what they think was going on between these<br />
two pages?<br />
Peter: Maybe he said, «Sorry, Mommy.» He says, «Do you still love me?» and<br />
she said, «Yes.»<br />
Caroline: Or maybe he said, «Mommy, will you forgive me? I’m sorry.» [spoken<br />
in a little child’s voice]<br />
(3) Hypotheses about Characters’ Thoughts and Feelings.<br />
About 12% (29) of the conversational turns about page breaks were<br />
focused on imagining how a character might think or feel. In Where the<br />
Wild Things Are, the third opening depicts Max in his bedroom with an<br />
irritated look, while the fourth opening shows his room beginning to<br />
turn into a forest. Gary, beginning the TU, pointed out that there is a<br />
plant with green leaves on the table of Max’s room in the third opening,<br />
and that the plant turns into a bush through Max’s vivid imagination: «If<br />
you turn to that page we were just on [third opening], it looks like that<br />
little vase there in the back, with flowers in it, and maybe it grew. He was<br />
imagining like it grew and… then more trees grew.» Caroline agreed, stating,<br />
«I think that between the pages, he… was getting bored and so he<br />
started to kinda think about stuff and he thought about the flowers. So he<br />
thought it would be cool if his bedroom turned into a forest.» This is an<br />
example of how a particular type of page break specific to Wild Things lended<br />
itself to this type of speculation.<br />
51
52<br />
(4) Changes in Setting.<br />
About 16% (38) of the conversational turns were primarily concerned<br />
with children’s ideas about how the setting might have changed during<br />
the page break. Changes in setting are closely related to character<br />
actions; however, we felt it was justifiable to count this as a se<strong>para</strong>te conceptual<br />
category because of the emphasis in the children’s responses on<br />
this important traditional element of narrative. An alternative would<br />
have been to make changes in setting a subsection of character actions;<br />
however, the effect of this would be to obscure the focus of the responses<br />
on setting, because character actions already comprise the largest category.<br />
An example of children’s discussion about changes in setting during<br />
page breaks occurred between the sixth and seventh openings of My<br />
Friend Rabbit, when children speculated where Rabbit might have gone to<br />
find all the animals, after the teacher began the conversation:<br />
Teacher: What else is happening between these pages?<br />
Peter: I think he’s going to the zoo to get animals.<br />
Tommy: I think they’re getting all the animals from like Africa and Egypt.<br />
Kathy: I think they are already in the zoo and they’re just going into different<br />
cages to get the animals.<br />
(5) Elapsed Time.<br />
In about 8% (20) turns, the children offered suggestions about how much<br />
time might have gone by between one opening and the next. In Hondo and<br />
Fabian, the 12 th opening shows Fabian with a «turkey sandwich» mentioned<br />
in the text, and the 13 th opening depicts Hondo outside the house<br />
and back from his trip to the beach, with the words, «At last Hondo<br />
comes home. It’s time for dinner!» Jane, beginning the TU, observed,<br />
«Maybe what they were eating [on the 12 th opening] was their lunch and<br />
then it got darker and hours passed and then they are having dinner [on<br />
the 13 th opening].» Jane thus inferred that several hours had gone by during<br />
the page break.<br />
(6) Changes in the Reader’s Visual Perspective.<br />
A few (3% or 7) conversational turns made observations about how the<br />
children’s own visual perspective had changed as viewers/readers during<br />
a page break. From the third to the fourth opening of Wild Things, Alice<br />
(beginning the TU) noticed, «If you turn back a page [to the third opening],<br />
the bed is actually bigger than the one on that page [the fourth<br />
opening].» Abigail agreed: «Maybe we are moving farther away.» Abigail’s<br />
response to Alice indicated her realization that we as readers/viewers had<br />
moved physically back from the scene between the third and fourth<br />
openings. Abigail and Alice first noticed the difference in perspective<br />
between the two spreads, and then were able to make the inference that<br />
they as viewers had moved «farther away» during the page break.<br />
(7) Changes in Literary Genre.<br />
For only one readaloud (Where the Wild Things Are), the children noticed a<br />
change from one literary genre to another during page breaks. This type<br />
of talk occurred only 7 times (about 3%). Wild Things is the only book in<br />
the set to have such a change in genre, and therefore the only book where<br />
such a response could have occurred. Max begins his adventure at home,<br />
doing things a boy might realistically do, but when he is sent to his room,<br />
imaginary elements begin. In other words, the genre changes from realistic<br />
fiction to fantasy. The children had been taught these literary<br />
terms, and were able to use them to describe the change between the<br />
third opening, where Max is standing in his bedroom, and the next opening,<br />
where trees are beginning to grow in the same room. Beginning the<br />
TU, Abby suggested, «Maybe this [the third opening] is the end of realistic<br />
fiction.» Abby was implying that the page break signaled the transition<br />
from Max’s realistic adventures to a form of fantasy. In this comment, we<br />
can see that the children were speculating about the page break as the<br />
site of the abrupt change in the story from realistic fiction to fantasy.<br />
SIGNIFICANCE<br />
This study extends and supplements current pedagogical literacy practices<br />
in primary classrooms by providing a way for practitioners to engage children<br />
in discussion of an important element of picture storybooks that has<br />
been hitherto unexploited. We claim that exploring the liminal spaces of<br />
page breaks may help children to make richer meaning from these types of<br />
texts. Specifically, the study suggests a way of inviting children to make<br />
high-level inferences during storybook readalouds, without undue teacher<br />
control. This study appears to be the first to focus on children’s interpretations<br />
of page breaks in picturebooks, and is meant to open up the issue for<br />
further research. The study provides evidence that page breaks contribute<br />
to children’s sophisticated meaning-making and literary interpretation. In<br />
addition, the study shows that relatively few direct questions by the<br />
teacher may plant the idea of page breaks in children’s minds, and they<br />
will then spontaneously speculate about what happened between two successive<br />
doublespreads. This type of speculation develops children’s critical<br />
and inferential thinking, and positions them as co-authors of the book,<br />
along with the author and illustrator. Instead of the rather artificial and<br />
compartmentalized approach where teachers may say, «Today we are going<br />
to focus on learning inferences» or other topics such as making predictions<br />
or discerning the main idea, this study suggests that children can be<br />
taught high-level inference-making in much more integrated, meaningful,<br />
53
54<br />
and authentic ways. The study thus counters many current conceptions of<br />
both the nature of literacy and the ways in which it should be taught.<br />
By reporting on seven ways in which second graders filled in the gaps<br />
represented by the page breaks in five specific picturebooks, we do not<br />
claim that these seven ways exhaust the possibilities – far from it. Indeed,<br />
although we speculate that character actions, feelings/thoughts, and<br />
imaginary dialogue may well constitute a large percentage of children’s<br />
gap-filling of the page breaks in most picturebooks, we can see, even<br />
from this small sample, that different picturebooks have different affordances<br />
in terms of the ways children may interpret page breaks.<br />
We need to know much more about children’s responses to page breaks.<br />
We are only at the beginning of knowing the specifics and the complexities<br />
of children’s responses to this unique feature of picturebooks.<br />
Discussion of page breaks provides an invitation to make inferences and<br />
engage in higher-level response and interpretation. We also need to know<br />
more about how good teachers can facilitate these rich discussions, as<br />
well as how the characteristics of texts constrain, enable, and afford<br />
potentials for children’s response and literary undersanding.<br />
In conclusion, inviting children to speculate about page breaks thus<br />
seems an eminently sensible and pragmatic thing to do when talking<br />
with children about picture storybooks in general, provided they are<br />
familiar with an interactive style and are encouraged to speculate and<br />
interpret before, during, and after the story is read aloud. Speculation<br />
about page breaks encourages children to be critical thinkers, and to<br />
adopt this stance when they begin to read on their own.<br />
Bibliography for Study #1<br />
Arizpe, E. & Styles, M. (2003). Children Reading Pictures: Interpreting visual texts, New York:<br />
RoutledgeFalmer.<br />
Bakhtin, M. (1984). Rabelais and His World (H. Iswolsky, Trans.), Cambridge, MA: MIT Press.<br />
Barrentine, S. (1996). «Engaging with Reading Through Interactive Read-alouds», in The Reading<br />
Teacher, 50, 36-43.<br />
Coady, C. (1991). Red Riding Hood, New York: Dutton Children’s Books.<br />
Collier, B. (2000). Uptown, New York: Henry Holt & Co.<br />
Derrida, J. (1981). Dissemination (B. Johnson, Trans.), Chicago: University of Chicago Press.<br />
Genette, G. (1997). Paratexts: Thresholds of interpretation (J.E. Lewin, Trans.), Cambridge: Cambridge<br />
University Press (Original work published 1987).<br />
Genette, G. (1998). Palimpsests: Literature in the second degree (C. Newman & C. Doubinsky, Trans.),<br />
Lincoln: University of Nebraska Press. (Original work published in 1982).<br />
Higonnet, M.R. (1990). «The Playground of the Peritext», in Children’s Literature Association Quarterly, 15,<br />
47-49.<br />
Kimmel, E. (1988). Anansi and the Moss-covered Rock, New York: Scholastic.<br />
Pantaleo, S. (2003). «“Godzilla Lives in New York”: Grade 1 students and the peritextual features of<br />
picture books», in Journal of Children’s Literature, 29, 66-77.<br />
Scieszka, J. (1992). The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales, New York: Viking Penguin.<br />
Shannon, D. (1998). No, David!, New York: Blue Sky Press.<br />
Sinclair, J. McH. & Coulthard, M. (1975). Towards an Analysis of Discourse: The English used by teachers and<br />
pupils, London: Oxford University Press.<br />
Sipe, L.R. (2000). «The Construction of Literary Understanding by First and Second Graders in Oral<br />
Response to Picture Storybook Readalouds», in Reading Research Quarterly, 35, 252-275.<br />
Sipe, L.R. (2001). «A Palimpsest of Stories: Young children’s construction of intertextual links among<br />
fairytale variants», in Reading Research and Instruction, 40, 333-352.<br />
Sipe. L.R. (2002). «Talking Back and Taking Over: Young children’s expressive engagement during storybook<br />
read-alouds.», in The Reading Teacher, 55, 476-483.<br />
Sipe, L.R. & Daley, P.A. (2005). «Story-reading, Story-making, Story-telling: Urban African American<br />
kindergartners respond to culturally relevant picture books», in J. May & D. Henderson (Eds.),<br />
Exploring Culturally Diverse Literature for Children and Adolescents: Learning to listen in new ways (pp. 229-<br />
242), New York: Allyn & Bacon.<br />
Sipe, L.R. & McGuire, C.E. (2006). «Picturebook Endpapers: Resources for literary and aesthetic interpretation»,<br />
in Children’s Literature in Education, 37, 291-304.<br />
Strauss, A. & Corbin, J. (1990). Basics of Qualitative Research: Grounded theory procedures and techniques,<br />
Newbury Park, CA: Sage.<br />
Turner, V. (1969). The Ritual Process: Structure and anti-structure, Chicago: Aldine.<br />
Bibliography for Study #2<br />
Bader, B. (1976). American Picturebooks: From Noah’s ark to the beast within, New York: Macmillan.<br />
Bakhtin, M.M. (1982). The Dialogic Imagination: Four essays. M. Holquist, V. Liapunov & K. Bostram (Eds.<br />
& Trans.), Austin: University of Texas Press.<br />
Barrentine, S.J. (1996). «Engaging with Reading Through Interactive Readalouds», in The Reading<br />
Teacher, 50, 35-43.<br />
Barthes, R. (1974). S/Z: An essay (R. Miller, Trans.), New York: Hill and Wang.<br />
Bartow, K. (2007). The (Untold) Drama of the Turning Page: The role of page breaks in understanding picturebooks.<br />
Unpublished manuscript.<br />
Bigler-McCarthy, T. (1996, October). Personal Communication.<br />
Chinn, C.A., Anderson, R.C. & Waggoner, M.A. (2001). «Patterns of Discourse in Two Kinds of<br />
Literature Discussion», in Reading Research Quarterly, 36, 378-411.<br />
Derrida, J. (1983). Aporias (T. Dutoit, Trans.), Palo Alto: Stanford University Press.<br />
Dewitz, P., Carr, E.M. & Patberg, J.P. (1987). «Effects of Inference Training on Comprehension and<br />
Comprehension Monitoring», Reading Research Quarterly, 22, 99-121.<br />
Fish, S. (1980). Is There a Text in This Class? The Authority of Interpretive Communities, Cambridge, MA:<br />
Harvard University Press.<br />
55
56<br />
Ghiso, M.P. & McGuire, C.E. (2007). «“I Talk Them Through It”: Teacher mediation of picturebooks<br />
with sparse verbal text during whole-class readalouds», in Reading Research and Instruction, 46, 341-362.<br />
Iser, W. (1978). The Act of Reading, Baltimore, MD: John Hopkins University Press.<br />
Keene, E.O. & Zimmermann, S. (1997). Mosaic of Thought: Teaching comprehension in a reader’s workshop,<br />
Portsmouth, NH: Heinemann.<br />
Kiefer, B. (1995). The Potential of Picturebooks: From visual literacy to aesthetic understanding. Englewood<br />
Cliffs, NJ: Prentice-Hall.<br />
Lewis, D. (2001). Reading Contemporary Picturebooks: Picturing text. New York: Routledge/Falmer.<br />
Mackey, M. (2001). «The Survival of Engaged Reading in the Internet Age: New media, old media, and<br />
the book», in Children’s Literature in Education, 32, 167-189.<br />
McCarty, P. (2002). Hondo and Fabian, New York: Henry Holt and Co.<br />
Mitchell, W.J.T. (1995). Picture Theory: Essays on verbal and visual representation, Chicago: University of<br />
Chicago Press.<br />
Nikolajeva, M. & Scott, C. (2001). How Picturebooks Work, New York: Garland Publishing.<br />
Nodelman, P. (1988). Words About Pictures: The narrative art of children’s picture books, Athens: University<br />
of Georgia Press.<br />
Nystrand, M. (1997). Opening Dialogue: Understanding the dynamics of language and learning in the English<br />
classroom, New York: Teachers College Press.<br />
Paley, V. (1986). «On Listening to What Children Say», in Harvard Educational Review, 56, 122-131.<br />
Pantaleo, S. (2008). Exploring Student Response to Contemporary Picturebooks, Toronto: University of<br />
Toronto Press.<br />
Pearson, P.D. & Duke, N. (2003). «Comprehension Instruction in the Primary Grades», in Block, C.C. &<br />
Pressley, M. (Eds.), Comprehension Instruction: Research-based best practices (pp. 247-258), New York: The<br />
Guilford Press.<br />
Rohman, E. (2002). My Friend Rabbit, New York: Scholastic.<br />
Roser, N. & Martinez, M. (2004, December). Helping Young Children Learn to Read Chapter Books: The role of<br />
the teacher in reading aloud. Paper presented at the National Reading Conference, San Antonio,TX.<br />
Schultz, K. (2003). Listening: A framework for teaching across differences, New York: Teachers College Press.<br />
Selznick, B. (2008). «Caldecott Medal Acceptance», in The Horn Book Magazine, July/August, pp. 393-406.<br />
Sendak, M. (1963). Where the Wild Things Are, New York: HarperCollins.<br />
Shannon, D. (1998). No, David!, New York: Blue Sky Press.<br />
Sinclair, J. McH. & Couthard, M. (1975). Towards an Analysis of Discourse: The English used by teachers and<br />
pupils, London: Oxford University Press.<br />
Sipe, L.R. (2008). Storytime: Young children’s literary understanding in the classroom, New York: Teachers<br />
College Press.<br />
Sipe, L.R. (1998a). «Learning the Language of Picturebooks», in Journal of Children’s Literature, 24, 66-75.<br />
Sipe, L.R. (1998b). «How Picture Books Work: A semiotically framed theory of text-picture relationships»,<br />
in Children’s Literature in Education: An International Quarterly 29, 97-108.<br />
Sipe, L.R. & Pantaleo, S. (2008) (Eds.). Postmodern Picturebooks: Play, parody, and self-referentiality, New York:<br />
Routledge.<br />
Stewig, J.W. (1995). Looking at Picture Books, Fort Atkinson, Wisconsin: Highsmith Press.<br />
Strauss, A. & Corbin, J. (1998). Basics of Qualitative Research: Techniques and procedures for developing grounded<br />
theory (2 nd Ed.), Newbury Park, CA: Sage.<br />
Turner, V. (1969). The Ritual Process: Structure and Anti-Structure, Chicago: Aldine.<br />
Valencia, R.R. (Ed.) (1997). The Evolution of Deficit Thinking: Educational thought and practice, London:<br />
Falmer Press.<br />
Willems, M. (2003). Don’t Let the Pigeon Drive the Bus!, New York: Scholastic.<br />
Visual Literacy<br />
and the Implied Readers<br />
of Children’s Picturebooks<br />
MARIA NIKOLAJEVA*<br />
While we take great efforts in teaching children to read, and in persuading<br />
both children and those adults who act as mediators, of the importance<br />
of reading, it is a common prejudice that visual literacy comes natural<br />
and does not have to be taught and trained. True, there is vast evidence<br />
of very young children responding to images; however, response<br />
and understanding are not quite identical. Neither do adults automatically<br />
acquire visual reading skills, as we all have witnessed our students’<br />
rather naïve and primitive discussion of picturebooks when they first<br />
encounter these in a children’s literature course.<br />
Visual literacy is just as essential component of a child’s intellectual<br />
growth as the ability to read verbal texts. And if verbal literacy can be and<br />
is trained, so should be visual literacy. Although a vast number of empirical<br />
studies have been carried out dealing with four-year-olds responding<br />
to this picturebook and six-years-olds responding to that picturebook (e.g.<br />
Arizpe & Styles 2003), the very process of understanding and the successively<br />
increasing ability to decode the complex synergy of word and<br />
image have not yet been studied and theorized sufficiently. It may sound<br />
like a <strong>para</strong>dox when picturebook scholarship has recently expanded like<br />
no other field in children’s literature research (e.g. Doonan 1993; Lewis<br />
2001; Nikolajeva & Scott 2001). Indeed, I would claim that while we still<br />
do not have a comprehensive children’s literature-specific theory, we do<br />
have a well-developed theory of multimodal communication, including<br />
picturebooks. Still, we know too little about how picturebooks are perceived<br />
by and make impact on young readers. I will therefore not discuss<br />
the question whether actual children do or do not understand certain<br />
aspects of multimodal texts, but use as a point of departure the concept<br />
of the implied reader, the reader that can be extracted and constructed<br />
from the text as such. The concept of literary competence is central in<br />
such line of inquiry. I will thus speak about competent/incompetent and<br />
sophisticated/unsophisticated readers, without putting any evaluative or<br />
pejorative significance in these terms.<br />
In his ground-breaking work on reader-oriented semiotics, S/Z (1974),<br />
*Professora de Letras na Universidade de Cambridge, R.U.<br />
57
58<br />
Roland Barthes suggests that readers need to have access to a number of<br />
codes in order to be able to decipher the message:<br />
the proairetic code<br />
the hermeneutic code<br />
the semic code<br />
the symbolic code<br />
the referential code<br />
I will in the following consider how these codes are pertinent to visual literacy<br />
and how, if in any way, they become specific in a multimodal text.<br />
The proairetic, or anticipatory code controls understanding of the plot. In<br />
order to comprehend the plot, the reader must have elementary knowledge<br />
of what a narrative is, a text that has temporal and causal components.<br />
In using proairatic decoding, readers interact with texts on the<br />
basis of anticipation and retrospection, as developed in Wolfgang Iser’s<br />
reception theory. The understanding of plot components, such as exposition,<br />
complication, and culmination, will facilitate readers’ anticipation<br />
of a conflict resolution and, in most cases, a happy ending. It will also<br />
enable readers to make inferences from completed events about previously<br />
planted details; or to understand the characters’ actions and intentions.<br />
The most essential code in reading a picturebook is its sequential nature.<br />
This is something that art critics often ignore in their picturebook analyses.<br />
Unlike the verbal text, images are disjunctive, and it must be understood<br />
that there is a temporal and causal relationship between them. In<br />
other words, an event in one image takes place before or after an event in<br />
another image and usually is connected to it by some form of cause-and-<br />
-effect. On the other hand, unlike a verbal text, images have the possibility<br />
of depicting two or more events, suggesting <strong>para</strong>llel plots that either<br />
take place simultaneously or successively, for instance, in Come Away from<br />
the Water, Shirley, by John Burningham. The readers’ competence will<br />
decide whether they will be able to make the connection between plots<br />
or conclude that they are independent of each other.<br />
The materiality of a picturebook creates further premises. A specific feature<br />
of visual anticipatory code is page-turning, with a conspicuous<br />
detail placed in the bottom right corner of a doublespread and leading<br />
into the next one. Page layout can contribute to plot progression with several<br />
panels on a doublespread. Words and images can enhance and complement<br />
each other: words can lead readers’ attention toward images, for<br />
instance in Curious George, by H.A. Rey, where the words point at images<br />
without actually naming what happens: «First this –/and then this!» The<br />
sequential nature of a picturebook demands following plot development<br />
over several doublespreads. The visual plot can start already on the cover;<br />
it can also be developed on title page and the endpapers, and conclude<br />
on the back cover. In other words, the proairatic visual and multimodal<br />
code offers some further potential as compared to purely verbal.<br />
Images can range within a broad continuum of representation modes,<br />
from photography to abstraction. Visual literacy is here built on the<br />
understanding of the connection between the signifier and the signified,<br />
that is the word and the image. For instance, a wide range of different<br />
images of cats have the same referent, but the viewers are required to<br />
understand that the signifiers, the images, can be of different kinds. They<br />
are further prompted to ascribe higher degree of fact to photographic<br />
and true-to-life images, while abstract or distorted images will be perceived<br />
as fictional.<br />
Images can also be totally devoid of a referent, that is, be empty signifiers.<br />
Picturebooks frequently play with such possibilities, either offering a<br />
non-existing referent, such as the Grinch or a Zizzer-Zazzer-Zuzz in books<br />
by Dr. Seuss, or just ignoring the whole issue. Such books are normally<br />
labelled as nonsense, while they are in fact incredibly useful implements<br />
in visual education.<br />
The hermeneutic code, adhering closely to the proairetic, involves interpretation<br />
on the story level. The specific aspect of interpretation of a multimodal<br />
text is precisely its multimodality, where the overall meaning is<br />
created on at least two levels; moreover, not by the sum, but the interaction<br />
and synergy of these. This is a basic premise of contemporary picturebook<br />
scholarship, so I will not dwell on it further, referring to the<br />
above-mentioned works. The famous hermeneutic circle can be perfectly<br />
elucidated by the process of reading a picturebook, turning from words<br />
to images and back, with a new and deeper understanding with every spiral.<br />
Further, since images are non-linear they allow a truly hermeneutic<br />
activity of starting with the first overall impression, examining the<br />
details, returning to the whole with a more profound understanding,<br />
and so on, infinitely. Thus the understanding of the plot, of what actually<br />
happens in the narrative, is highly dependent on the level of visual<br />
sophistication. The verbal and visual plots can be mutually redundant,<br />
complementary or contradictory; they may even be independent of each<br />
other. There may be several visual plots to one verbal or several verbal<br />
plots to one visual. The verbal plot may be simple, while the visual is complex,<br />
and the other way round. The potentials are endless.<br />
In wordless picturebooks, a type of narrative that has no <strong>para</strong>llel in the<br />
novel, plots are vague and allow multiple interpretations, even when<br />
images are relatively simple. From a sequence of panels on the same doublespread<br />
or from a sequence of pages and spreads, the plot may seem<br />
more or less clear. For instance, in Jan Ormerod’s Moonlight, the most obvious<br />
plot is a child’s reluctance to go to sleep and the parents’ patience<br />
59
60<br />
and loving support. However, with some imagination, we can elaborate<br />
on the story. We can tell it in short, concise sentences, or supply long and<br />
complex details. It is not self-evident that the adult is the child’s mother;<br />
she (or it is a he? The absence of a verbal text leaves the gender blurred)<br />
may be for some reason staying over with distant relatives. The story can<br />
depict the child’s first night in a child home, whereupon the implication<br />
becomes much more dramatic. We can add a retrospective aspect and suggest<br />
that an adult narrator is looking back at a childhood experience.<br />
Without verbal support, images can prompt a variety of plots and conflicts.<br />
More complex, postmodern wordless narratives present further challenges.<br />
The non-linear nature of images stimulates various reading directions,<br />
even though some details may suggest the order. Titles such as A<br />
Journey or The Road to a Feast may prompt the interpretation, but they do<br />
not provide any actual plot.<br />
When images are accompanied by words, they can accentuate plot progression,<br />
for instance, by the implied movement. It has been repeatedly<br />
pointed out that in Western picturebooks images are read left to right, in<br />
the direction of verbal reading. If we, as a commutative test, reverse an<br />
image, to flow of the plot will be disturbed. In cultures where text is read<br />
right to left, the reverse is used, and in translations of books between left-<br />
-to-right and right-to-left cultures, the iconotext frequently gets destroyed.<br />
Another convention is depicting a character several times on a page to<br />
denote movement and flow of time. To decode such images needs some<br />
competence, and it is often suggested that young readers do not decode<br />
them adequately. A sequence of framed or unframed images also suggests<br />
progression. Multiple images can sometimes become extremely complex,<br />
for instance in The Girl Who Was Good at Many Things, by Dorte Karrebaek,<br />
where three figures of the same character at various ages are portrayed<br />
behind each other in the same image.<br />
A frequently overlooked aspect of a picturebook interpretation is setting.<br />
Most picturebooks utilize images to create settings that can literally set<br />
the plot in a certain surrounding, but also convey narrative time, for<br />
instance, by change of seasons, as in Virginia Lee Burton’s The Little House;<br />
enhance characterization, convey a mood, such as the gloomy breakfast<br />
scene in Anthony Browne’s Gorilla, or add details not mentioned in the<br />
text. Visual space can be distorted, as in Roberto Innocenti’s The Last Resort.<br />
Even if the setting is not integral to the plot, it still has a function of contributing<br />
to the overall impression. Picturebooks can also employ negative<br />
space, a white background that often emphasizes the central position of<br />
the character, a child’s self-centralization. Negative space is an artistic convention<br />
that needs decoding, since it does not occur in real life.<br />
Specifically visual codes also include motion lines, speech and thought<br />
balloons, and intrapictorial words (words that appear inside images, but<br />
are not part of the narrative). Simultaneous succession, that is, depicting<br />
the same object several times to denote motion and flow of time, is yet<br />
another convention.<br />
Mastering hermeneutic codes is not an automatic skill. Readers must<br />
realize that there is a meaning in a text, which is far from self-evident,<br />
and not least, that in picturebooks, the meaning is produced by the synergy<br />
of word and image. To extract meaning from a picturebook text alone,<br />
which unfortunately is not unusual in educational and scholarly practice,<br />
is pointless, as can be seen in the extreme case of the well-known picturebook<br />
Rosie’s Walk, by Pat Hutchins. But also discussing content-related issues<br />
such as gender, child/parent relationship, war or multiculturalism, without<br />
paying attention to images, is dubious, since images can both amplify<br />
and seriously subvert the messages and values of the verbal text.<br />
The semic code governs, according to Barthes, the understanding of literary<br />
characters. Here I would like to add an essential aspect to Barthes’ definition<br />
as pertaining exclusively to literary characters. The most recent studies<br />
in narrative theory have been focused on the issue of fictionality.<br />
Young children – and frequently unsophisticated adult readers – have<br />
problems with understanding of fiction as opposed to fact, and of the<br />
conventions used in literary works. The ontological status of fictional<br />
characters, that is, their relationship to real people or other objects outside<br />
the text, is highly dependent on our general position towards art as<br />
mimetic or semiotic. If we view literature as a direct reflection of reality,<br />
we interpret it in a different way as compared to when we perceive it as<br />
a pure construction. A mimetically oriented reader will in literary characters<br />
seek, for instance, psychological credibility, motivation, and background<br />
causality. A semiotically-oriented reader will accept that literary<br />
characters have no will of their own, that they can lack integrity, wholeness,<br />
complexity that real people possess. Characters can be fully subordinate<br />
and instrumental to the plot and lack any psychological traits, as<br />
for instance fairy-tale heroes. Yet even these can be given a certain<br />
amount of roundness. The images of the witch in the various picturebooks<br />
based on the Hansel and Gretel fairy tale are radically different in<br />
their complexity. Thus, Anthony Browne’s version contains several<br />
dimensions neither present in the verbal story nor in any of the other<br />
illustrated versions. If we put mimetic demands on characters that are<br />
deliberately not constructed as mimetic, we will perhaps perceive them<br />
as flat and unconvincing. I am not directly claiming that semiotic reading<br />
implies higher competence, but the awareness of options certainly<br />
does. For instance, the ontological status of the so-called imaginary<br />
friends, such as the eponymous character of John Burningham’s Aldo, is<br />
decisive for the general interpretation of the narrative.<br />
In terms of characterization, picturebooks offer some interesting possi-<br />
61
62<br />
bilities as compared to novels. Images can be employed in characterization<br />
in different and occasionally more effective ways than words. But<br />
they also have limitations. Images are extremely suitable for external<br />
descriptions, giving us an immediate portrait of the character. Yet sometimes<br />
the verbal/visual interaction can be redundant; my favourite example<br />
is Peter Rabbit’s blue jacket (the text states that it is blue, while it is<br />
clearly seen in the image); but also the verbal statement about the brother<br />
and sister in Browne’s The Tunnel being different, which is promptly<br />
conveyed by the images.<br />
Images can in various ways indicate and emphasize gender or ethnicity,<br />
but they can only indirectly provide information about age, and they<br />
have no nominative function, that is, cannot inform us about the character’s<br />
name. They can, by position on the page (high/low, central/peripheral),<br />
convey power hierarchies, but they cannot express the exact relationships,<br />
such as mother/daughter or sister/brother.<br />
Images can reveal that characters are not human. Picturebooks abound<br />
in animal characters, yet the fact is not necessarily mentioned in the verbal<br />
text. Literary competence includes understanding that anthropomorphic<br />
animal figures represent children and adults. Certain superficial<br />
traits, for instance, clothes, suggest gender. However, the animal shape<br />
occasionally allows circumventing the issue of age, as well as some other<br />
issues. Are the two hippos in James Marshall’s Martha and George two children<br />
playing house, or are they two happy pensioners visiting each<br />
other? Are Arnold Lobel’s Toad and Frog homosexuals?<br />
Anthropomorphic animals or toys seldom pose hard interpretative questions,<br />
but in some cases there is a fluctuant border between animal and<br />
human, like in The Tale of Peter Rabbit, that once again demands a deeper<br />
understanding of the character’s ontology. Picturebook characters can<br />
even be abstract figures, yet semic codes will clearly prompt relevant interpretation,<br />
for instance, in Leo Lionni’s Little Blue and Little Yellow, where the<br />
significance of colour, size, and mutual position is obvious. Not least,<br />
abstract notions, like the night in Ray Bradbury’s and Leo and Dianne<br />
Dillons’ Switch on the Night, can be represented visually.<br />
Images can convey the characters’ mood or state of mind (happy, sad,<br />
angry, worried), but they have limited possibilities of representing complex<br />
mental conditions, unless we go from the mimetic to the symbolic<br />
level of interpretation, which takes us to the next of Barthes’ codes.<br />
The symbolic code assists the reader in understanding the symbolic/nonmimetic<br />
meaning of the text. Literary texts are, unlike non-fiction, polysemantic,<br />
which means that they have at least two interpretative levels,<br />
the literal and the transferred. Unsophisticated readers frequently read<br />
texts on the literal level only. For instance, they might read Gro Dahle’s<br />
and Svein Nyhus’s Behind Mumme Lives Moni as pure adventure, neglecting<br />
its metaphorical level dealing with suppressed aggressions represented by<br />
the monster. Yet the clothes of the monster in the images clearly prompt<br />
that he is the boy’s double. In The New Playmate, by Dorte Karrebaek, it is<br />
likewise necessary to understand that the images represent the character’s<br />
inner world. It may be gratifying to compare images of male and female<br />
protagonists to observe how masculine emotions are portrayed visually as<br />
violent, while female feelings are rather those of anxiety and fear.<br />
While images, as stated earlier, have limited potential in conveying literal<br />
inward characterization, they have vast possibilities in depicting nonverbal<br />
and subverbal states, using complex symbols and other visual figurative<br />
language. I have on several occasions discussed the wordless doublespread<br />
in The Tunnel, corresponding to one short sentence in the verbal<br />
narrative: «She was frightened.» To decode the symbolic aspects of the<br />
image, readers must possess several skills. They must be familiar with the<br />
conventions of depicting motion to understand that the static image in<br />
fact conveys duration. They must recognize the wide scope of interpictorial<br />
links. Not least, they must allow the possibility that the event takes<br />
place wholly within the character’s mind. Images can encourage symbolic<br />
encoding, for instance, by adding the sense of hesitation as to the interpretation<br />
of events as external or internal, as play, dream or actual happening.<br />
The counterpoint of words and images creates a tension that<br />
stimulates different levels of reading.<br />
Intertextuality is a decisive component of literary competence, and in picturebooks<br />
we normally speak about intervisuality, visual or pictorial connections<br />
between texts. These include direct visual quotations, self-references<br />
and parody, extensively discussed in recent criticism. It has frequently<br />
been questioned whether picturebooks abounding in interpictorial<br />
images are in fact addressed to children. For my discussion this argument<br />
is irrelevant, since adult readers can just as well be uninformed<br />
about rich layers of visual references, for instance, in Anthony Browne’s<br />
Willy’s Pictures, while children may in the same book recognize elements<br />
from specific childhood culture. As usual, we are speaking about competent<br />
versus incompetent readers irrespective of age.<br />
Understanding metafiction is quite an advanced skill; yet picturebook<br />
images have great potential for metafictional games with readers, prominent<br />
in such much-discussed books as David Wiesner’s The Three Pigs, or<br />
Lauren Child’s Who is Afraid of the Big Bad Book. In Remy Charlip’s and Jon<br />
J. Muth’s Why I Will Never Ever Ever Ever Have Enough Time to Read This Book,<br />
the mis-en-abyme image, repeated in every spread, creates a comic effect,<br />
but also brings the readers’ attention to the text’s status as a text, a literary<br />
construction.<br />
Finally, the referential code points to the cultural context. Here, too, I would<br />
like to broaden Barthes’ definition by discussion context as such. Readers<br />
63
64<br />
need to understand that literary texts are created during different historical<br />
periods and naturally reflect the time when they were written and<br />
published. The simplest example is clothes that naturally point at a specific<br />
period. Setting is – or may be – significant to place the narrative in<br />
a historical context as in Roberto Innocenti’s Rose Blanche, but is lost on<br />
readers who do not recognize the markers, for instance, the Eiffel Tower<br />
in Ludwig Bemmelmans’ Madeline. Here cultural decoding is essential.<br />
Not least, ideological contextualization is essential. Picturebooks containing,<br />
from today’s vantage point, conservative values, can still be<br />
appealing to young readers on the plot level. Books that we as critics may<br />
consider as artistically high standing can be obsolete in their ideology,<br />
especially hidden ideology. On the other hand, sophisticated readers – I<br />
would say, excessively sophisticated readers – might view Slovenly Peter stories<br />
as parody, while others, including myself, are terrified. By contrast,<br />
the images in The Girl who Was Good at Many Things reflects a modern, feminist<br />
view of the child liberating herself from parental restraints.<br />
It should be clear that the codes are hierarchical, starting from the most<br />
elementary, the proairetic, to the most complex, the referential. Since literary<br />
competence develops gradually, this would seem to be the most natural<br />
order in training young readers in visual decoding. Yet there is some<br />
difference inherent to the texts themselves. From his discussion of codes,<br />
Roland Barthes identifies two distinct types of artistic texts, readerly and<br />
writerly. Readerly are texts consciously based on codes common to<br />
authors and recipients. Writerly texts deliberately break conventions and<br />
thus defy recipients’ interpretations. Obviously, most of children’s picturebooks<br />
fall under the first category, demanding little effort in the<br />
process of decoding. Yet the texts that critics most often take up for discussion<br />
are those that offer resistance and encourage readers’ interaction.<br />
In terms of another theory, readerly texts are monological, while<br />
writerly texts are dialogical, based on a creative dialogue between the<br />
text and the reader. I am far from claiming that writerly texts in general<br />
and writerly picturebooks in particular are unquestionably of higher<br />
artistic quality. Yet they doubtless are more suitable for encouraging and<br />
training visual competence in young readers.<br />
Crossover Fiction:<br />
Creating Readers with Stories<br />
that Address the Big Questions<br />
SANDRA L. BECKETT*<br />
The recent crossover phenomenon, which was ushered in with the<br />
extraordinary success of J.K. Rowling’s Harry Potter books, has had an<br />
enormous impact on children’s literature and reading in the last decade.<br />
My recent book on Crossover Fiction examines the contemporary phenomenon<br />
in a broad global and historical context. While crossover literature<br />
is not a new phenomenon, it has recently acquired a new status and<br />
a great deal of media attention. Although the genre also includes adult<br />
fiction read by young readers, the term crossover fiction has generally<br />
been adopted only for children’s or young adult books that appeal to<br />
adults. This paper focuses on contemporary child-to-adult crossover fiction<br />
that is playing a very significant role in «creating readers to understand<br />
the world.»<br />
Crossover fiction has been seen by many journalists and critics only as a<br />
marketing and mass media phenomenon. The view expressed by the<br />
author of the article «Harry Potter and the Art of Making Money» is widely<br />
shared: «The whole J.K. Rowling thing long ago passed out of the realm<br />
of literature into accountancy.» 1 Although the commercial success of the<br />
super crossovers often overshadows literary considerations, these books<br />
are a literary as well as a marketing phenomenon. 2 Yet, there are still<br />
those who stubbornly refuse to see crossover fiction as «serious literature».<br />
In a review of Io Non Ho Paura (I’m Not Scared) by Niccolò Ammaniti,<br />
the British writer George Walden censures «those who sell us... kidult<br />
writing as serious literature» 3 . His statement is inadvertently ironic<br />
because this particular example, although hailed as a crossover novel in<br />
the English-speaking world, was released as a highly acclaimed adult<br />
novel in Italy in 2001. Crossover books, especially the hugely popular children’s<br />
fantasy novels being read by adults, are often seen merely as<br />
«escapist pap» or an indication of «the infantilization of adult culture»<br />
and the «dumbing down» of culture in general. The American critic<br />
Harold Bloom considers the success of the Harry Potter books in an article<br />
titled «Dumbing Down American Readers», while the British writer<br />
Anthony Holden claims it is additional proof that the British are «increa-<br />
References<br />
Arizpe, E. & Styles, M. (2003). Children Reading Pictures: Interpreting Visual Texts, London: Routledge.<br />
Barthes, R. (1974). S/Z, New York: Hill & Wang.<br />
Doonan, J. (1993). Looking at Pictures in Picture Books, Stroud: Thimble Press.<br />
Lewis, D. (2001). Reading Contemporary Picturebooks, Picturing Text, London: Routledge.<br />
Nikolajeva, M. & Scott, C. (2001). How Picturebooks Work, New York: Garland. * Professora de Línguas, Literaturas e Culturas Modernas da Universidade de Brock, Canadá.<br />
65
66<br />
singly dragged down to the lowest common denominator by the purveyors<br />
of all forms of mindless mass entertainment» 5 . In recent years, a number<br />
of terms have been coined to refer to these infantilised adults, including<br />
«kidults», «adultescents», and «middlescents» 6 . Several British authors<br />
who write solely for adults, including A.S. Byatt, Philip Hensher, and<br />
Howard Jacobson, have expressed their shocked dismay at all the adults<br />
reading Harry Potter and other books published for children. In an article<br />
devoted to «the sad grown-ups» who don’t realize that they are «supposed<br />
to grow out of children’s books», Jonathan Myerson says that if he<br />
had his way, the books would all carry «a heavy-print literacy warning:<br />
“This Is A Children’s Book, Designed For Under Elevens. It May Seriously<br />
Damage Your Credibility.”» In his view, children’s books have absolutely<br />
nothing to offer adult readers, who do not share the same interests and<br />
problems as children. Myerson appallingly underestimates both children’s<br />
literature and child readers, chiding the children’s author foolish<br />
enough to believe that a child reader would «understand, let alone<br />
enjoy», complex plotting. 7 Philip Pullman took issue with Myerson’s<br />
scathing article in a film made for the 2001 Whitbread Book Awards, at<br />
which The Amber Spyglass became the first children’s book ever to win the<br />
prestigious Book of the Year award. Only those who have not been<br />
exposed to children’s books for decades could believe that their appeal<br />
with adults is a sign of dumbing down. Readers, writers, critics, publishers,<br />
booksellers, and librarians now widely agree that some of the very<br />
finest fiction is being written and published for young readers.<br />
While some critics attribute the crossover phenomenon to the «infantilization»<br />
of adults, others point to the «adultization» of today’s children<br />
and young adults. 8 This view has also led to the coining of a number of<br />
new terms, including «tweenager», «tween», and «tweenie». Scott<br />
MacDonald, a staff writer for the Canadian publishing trade magazine<br />
Quill & Quire, thinks that young adult no longer applies to the 13-to-17 age<br />
range, but rather to that of 11-to-14. 9 It is felt that children’s fiction in<br />
general is becoming more «adult», as children and adolescents become<br />
increasingly sophisticated. In the belief that children’s literature is not<br />
distinct from general literature and should share the same artistic freedom,<br />
many contemporary children’s authors have freed themselves from<br />
the conventions and codes that traditionally governed the genre, thus<br />
opening new avenues for crossover fiction.<br />
J.K. Rowling was seen to have transgressed all the rules for a conventional<br />
children’s book, notably with regard to length and the darkness of the<br />
subject matter. Her ever longer books challenged the bias about children’s<br />
ability to read lengthy novels. At 255,000 words, the fourth volume,<br />
Harry Potter and the Goblet of Fire, was called the longest children’s<br />
book in existence. While the Harry Potter books established indisputably<br />
that children could easily and eagerly devour seven-hundred-page novels,<br />
they only confirmed what many children’s writers had been claiming for<br />
years about the child reader’s desire and need to be challenged. Prior to<br />
Rowling, other authors had convincingly made the case with lengthy and<br />
much more complex novels, such as Michael Ende’s Die Unendliche<br />
Geschichte (The Neverending Story), at 428 pages, and Jostein Gaarder’s Sophies<br />
Verden (Sophie’s World), at 508 pages. Since the unprecedented success of<br />
Rowling’s books, however, page counts of children’s books have increased<br />
exponentially in many markets. The first of the exquisitely written novels<br />
of La Saga de los Confines (The Saga of the Lands at the End of the<br />
World) trilogy, which the Argentine author Liliana Bodoc published in<br />
2000, is about 350 pages, but the longest is close to 500 pages. Published<br />
in 2003 for a readership of ten years and up, Tintenherz, the first novel in<br />
Cornelia Funke’s bestselling Inkheart trilogy, is almost 600 pages. The<br />
2005 début novel in Stephanie Meyer’s Twilight series, which has filled<br />
the void for many Harry Potter fans, is 498 pages and the final sequel,<br />
Breaking Dawn, is 754 pages. Although the Harry Potter books made the<br />
point on a much more global scale, the rules for conventional children’s<br />
books had actually all been broken in much earlier works.<br />
Children’s authors whose books are also enjoyed by adults often use complex<br />
narrative techniques with more innovation and audacity than<br />
authors writing exclusively for adults. Whereas adult fiction has<br />
remained very compartmentalized, children’s literature has been defying<br />
the boundaries for years. Crossover works often transgress or transcend<br />
traditional generic boundaries as well as conventional age boundaries.<br />
The hybridization of traditional genres characterizes much contemporary<br />
crossover fiction. The complex, disturbing novels of the<br />
British author Jan Mark, which appeal to adults as well as young readers,<br />
do not fit the typical science fiction mould. While child-to-adult<br />
crossovers can be found in most genres, the super crossovers that have<br />
garnered most of the public and critical attention have been fantasy<br />
titles. In the past decade, fantasy has become an increasingly popular<br />
genre with adults as well as children. However, it has always been a very<br />
flexible genre that easily bridges the young adult and adult markets. In<br />
recent years, it has become less marginalized in the literary establishment,<br />
in large part due to innovative genre blending. Jostein Gaarder’s<br />
international bestseller Sophie’s World, published in 1991, blends fantasy<br />
with mystery in «A Novel about the History of Philosophy». Tormod<br />
Haugen cleverly combines fantasy, realism, thriller, and science fiction<br />
with cinematographic techniques in Skriket fra Jungelen (The Cry from the<br />
Jungle, 1989), which is subtitled «A Film Novel». Philip Pullman’s treatment<br />
of moral issues in His Dark Materials certainly elevates his work<br />
above such clear-cut generic categories as «fantasy». The fantasy elements<br />
67
68<br />
in the sophisticated trilogy allow the author to explore human psychology<br />
through characters that have very human thoughts and emotions. His<br />
Dark Materials has led a move toward more realistic fantasy or fantasy<br />
realism, in which other worlds help us to better understand our own. The<br />
Australian author Garth Nix has been hailed by some as the successor to<br />
Pullman. His first novel, Sabriel, published in 1995, won the first Aurealis<br />
Award in both the adult and young adult categories, as did the sequels in<br />
The Old Kingdom series. Like Pullman, Nix thinks that «all the best fantasy<br />
is very firmly grounded in reality», as he put it in an interview on the<br />
Harper Teen website. Herr der Diebe (The Thief Lord), published in Germany in<br />
2000, marked the brilliant international début of Cornelia Funke, who<br />
has been called «the German J.K. Rowling». The intricate narrative blends<br />
magical fantasy and real-life adventures to tell the story of a gang of misfits<br />
living in a deserted cinema in contemporary Venice.<br />
The British author and screenwriter William Nicholson writes epic fantasy<br />
that deals with real threats and very human issues. At the same time,<br />
his The Wind on Fire trilogy has a strong spiritual element. The author<br />
believes that fantasy literature is currently filling a spiritual need in both<br />
adult and child readers. 10 The British author David Almond blurs the<br />
boundaries of fantasy and realism so completely that his works have been<br />
classified as both. His first novel, Skellig (1998), which won the 1998<br />
Whitbread Children’s Award (beating out the second Harry Potter) and<br />
could have competed in the adult category according to the jury’s president,<br />
is the haunting story of a strange creature that a boy discovers in<br />
the garage of their rundown new house. Almond is attributed with creating<br />
a genre all his own, a unique blend of spirituality and gritty, urban<br />
realism that is sometimes referred to as mystical realism.<br />
Another new facet of the fantasy genre shares much in common with historical<br />
fiction. While The Tales of the Otori trilogy has a strong mythic<br />
and epic adventure dimension, Lian Hearn immersed herself in Japanese<br />
history, culture, and language to convincingly create a world set in a<br />
mythical feudal Japan. Kevin Crossley-Holland’s award-winning Arthur<br />
trilogy, which begins with The Seeing Stone (2000), is a retelling of<br />
Arthurian legend blended with a realistic view of rural medieval life at<br />
the time of the Crusades. An acclaimed poet and translator of Beowulf,<br />
Crossley-Holland did not set out to write specifically for children, but<br />
rather to transmit the ancient Arthurian legends, a goal which he achieves<br />
in meticulously researched books full of period detail and marked by his<br />
knowledge of Old English. Liliana Bodoc’s La Saga de los Confines trilogy is<br />
at once a magical epic story in the tradition of Tolkien but inspired by the<br />
native legends of Latin America, and the story of the conquest of the<br />
Americas. Reviewers urged adults, as well as children, to read these stimulating<br />
books that address important moral issues of our time.<br />
Even extremely popular comic crossover fantasies often take on other<br />
dimensions. Terry Pratchett’s hugely successful comic/fantasy Discworld<br />
series began as a spoof of the conventions of the fantasy genre, but<br />
evolved into an increasingly satirical commentary on almost every aspect<br />
of today’s world. His unique brand of fantasy has attracted a huge cult following<br />
among young readers as well as adults, although only four novels<br />
in the series have been marketed for a young audience. In a fantastic, surreal<br />
setting, Pratchett humorously examines real-world questions and<br />
practices what has been called «stealth philosophy». Like Pratchett, the<br />
German author Walter Moers offers a witty and satiric reflection on contemporary<br />
society in comic fantasy novels that appeal to a similarly<br />
enthusiastic crossover audience. Using an action-film formula, Eoin<br />
Colfer blends folklore, fantasy, crime, and technology in his fantasy series<br />
Artemis Fowl. Like the Harry Potter saga, the Artemis Fowl series has special<br />
appeal for reluctant readers, especially teenage boys. Although<br />
Colfer’s books may not be of high literary value, the numerous allusions<br />
to literature, television, cinema, video games, and the internet give them<br />
a hip quality that appeals to many teenagers and adults.<br />
The extensive contemporary child-to-adult crossover is largely due to the<br />
fact that today’s children’s and young adult books are complex and multilayered<br />
texts that invite readings on many levels. Characters do not<br />
adhere to clearly defined categories of good and bad or black and white;<br />
rather, they are complex and ambiguous. The characters in Pullman’s<br />
trilogy illustrate this particularly well, but even Harry Potter has a disturbing,<br />
dark side. The clearly delineated plots of conventional children’s<br />
literature have been replaced by complex plots with multiple, interwoven<br />
story lines. The complicated plot of His Dark Materials became increasingly<br />
so with each novel. Readers’ diverse responses to these multilayered<br />
texts are not necessarily the result of age, but rather of individual sensibilities.<br />
Children, adolescents, and adults read crossover texts differently<br />
from diverse perspectives, but they can all take equal pleasure from the<br />
reading experience.<br />
Many crossover books are of extremely high literary quality and have a<br />
very sophisticated style. Reviewers feel that some children’s books have<br />
been so slanted to an adult audience that they require adult competencies<br />
and make inappropriate intellectual and emotional demands. The<br />
majority of children’s authors disagree, however. In the 1990s, the<br />
Danish author Kim Fupz Aakeson stated: «It’s all right to provoke children<br />
with something they don’t understand or get a bit wrong. Neither<br />
does it matter if a children’s book contains something that is perhaps<br />
only for the adult reader.» 11 Already in the 1970s and 1980s, Jan Mark, a<br />
rare two-time winner of the prestigious Carnegie Medal, was writing very<br />
difficult and sophisticated works said to «stretch the range of children’s<br />
69
70<br />
books». A reviewer of Handles (1983) claimed that Mark «provides for<br />
young people the combination of fine prose and strong realism generally<br />
reserved for adults». 12 Early in his writing career, the Flemish author<br />
Bart Moeyaert consciously chose what one critic terms «adult writing for<br />
children and youth». While books by authors like Moeyaert may sometimes<br />
be less accessible for young readers, they «tap uncharted depths in<br />
children». 13 The same can be said of the Norwegian author Tormod<br />
Haugen and the Danish author Louis Jensen, whose novels are characterized<br />
by their literary quality and complex narrative techniques. Aidan<br />
Chambers’s Carnegie Medal-winning novel Postcards from No Man’s Land<br />
(1999), which was recommended for sophisticated teenage readers and<br />
adults, indicates the extent to which the «literary novel» had gained a<br />
foothold in young adult fiction by the end of the 1990s. Like many other<br />
young adult novels, Postcards from No Man’s Land could have been published<br />
for the adult market. It is unlikely that novels such as Chamber’s<br />
This Is All: The pillow book of Cordelia Kenn and M.T. Anderson’s The Astonishing<br />
Life of Octavian Nothing, Traitor to the Nation, which were both published in<br />
2006, would have appeared as young adult novels only a few years earlier.<br />
Jonathan Hunt argues that «young adult literature has matured into something<br />
virtually indistinguishable from the best adult literary fiction». 14 An<br />
increasing number of books being published as young adult titles could<br />
just as easily be published for adults, and vice-versa. 15<br />
While young readers do not have to understand everything in a text<br />
(adult readers don’t necessarily either), many critics feel that today’s<br />
young readers generally have more literary competence than their predecessors.<br />
Children of the twenty-first century are savvy consumers<br />
exposed to the same cultural and marketing influences as adults.<br />
Children’s authors realize that they have a demanding and discerning<br />
audience. Convinced that preteen readers are the most difficult audience<br />
of all, Carl Hiaasen asked for an escape clause in his two-book contract<br />
with Knopf so he could bail if Hoot (2002), his début novel for young readers,<br />
was a failure.<br />
Many crossover novels contain thought-provoking concepts that engage<br />
the reader – adult or child – on an intellectual as well as an emotional<br />
level, often raising questions that remain unanswered. Jane Nissen, a former<br />
children’s editor at Penguin, contends that «Philip Pullman’s trilogy<br />
heralded the rise of quality fiction and led the way for Harry Potter.» 16<br />
Many critics feel that His Dark Materials can better lay claim to the<br />
crossover label than Harry Potter due to the complexity of a work that the<br />
author describes as «Paradise Lost for teenagers». A number of American<br />
critics feel that Pullman writes more for adults because his challenging<br />
books require some knowledge of religion, metaphysics, physics, psychology,<br />
politics, and previous literary works. However, other critics rightly<br />
point out that «adults read J.K. Rowling because she is not complicated;<br />
children read Philip Pullman because he is». 17 As we have seen, Pullman<br />
was not the first author to write children’s fiction of high literary quality<br />
that appealed to adults. A few years before Pullman, Jostein Gaarder<br />
also accomplished the rare achievement of gaining both commercial success<br />
and the approbation of the literary establishment with a children’s<br />
book, namely Sophie’s World, published in 1991. Gaarder’s books for children<br />
and young adults are sophisticated, ingeniously contrived, and multilayered.<br />
All of his novels, whether published for an adult or a juvenile<br />
audience, deal with profound metaphysical questions which are of interest<br />
to young and old alike.<br />
The darkness in children’s books, which took many adults by surprise<br />
when the crossover vogue brought them under closer scrutiny, is certainly<br />
not a new phenomenon. Violence and death figure prominently in<br />
many children’s classics, including the fairy tales of Perrault and the<br />
Brothers Grimm, Alice in Wonderland, and Peter Pan. Dark themes were<br />
largely discouraged in children’s literature throughout much of the<br />
twentieth century, however. Robert Cormier’s first young adult novel was<br />
rejected by numerous publishers for its pessimistic ending, although his<br />
subsequent works continued to describe the dark underside of adolescence.<br />
Since his first novel, Janne, Min Vän (Johnny My Friend), published in<br />
1985, the Swedish author Peter Pohl has consistently dealt with difficult<br />
themes in works that rarely have a happy ending. Today children’s<br />
authors often present a much more pessimistic view of the world. In writing<br />
The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, Mark Haddon claims that<br />
he wanted to get rid of the «little invisible ring of safety» that characterizes<br />
children’s fiction and to say to the reader: «This is the real world, bad<br />
things might happen.» 18 Since the outset of his career, Tormod Haugen has<br />
never hesitated to use discomforting themes, because he wants to depict life<br />
as it really is, rather than the way adults want children to believe it is.<br />
According to Bart Moeyaert, many adults object to novels of this kind and<br />
feel that «you can’t give children a dark corridor with no bright end in<br />
sight». 19 Jan Mark often portrayed a dark, bleak view of the world, especially<br />
in her science fiction novels for older readers, for example, The Eclipse of the<br />
Century (1999), Useful Idiots (2004), and Riding Tycho (2005). In Daniel Handler’s<br />
A Series of Unfortunate Events, the innocent, young Baudelaire orphans unjustly<br />
undergo an inordinate amount of sorrow, despair, pain, and suffering,<br />
far exceeding that of any Dickens orphan. The author believes that «most<br />
children’s books aren’t nearly dark enough, given the randomness and<br />
chaos of the real world». 20 Many writers are of the opinion that it is essential<br />
to present children with the truth even when it is dark and painful, and<br />
many people would argue that today’s darker children’s fiction merely<br />
reflects the darker world in which young people now live. 21<br />
71
72<br />
«A Children’s Writer with Adult Topics» is the title of an article devoted<br />
to Philip Pullman, but it could be applied equally well to many contemporary<br />
children’s authors who no longer offer the traditional fare of children’s<br />
books. 22 Tormod Haugen’s Vinterstedet (The Winter Place), published<br />
in Norway in 1984, is a powerful novel about suicide. The award-winning<br />
1994 novel Vallen (Falling), by the Flemish author Anne Provoost, addresses<br />
xenophobia and racism. Boike You Better Believe It, by the South African<br />
author Dianne Hofmeyr, deals with important issues, including terrorism,<br />
without the least trace of «writing down» to her audience, claimed<br />
the convener of the panel of judges when she won the Sanlam Gold<br />
Award for Youth Literature in 1994. 23 The American Meg Rosoff’s bestseller<br />
How I Live Now is a powerful story about young people caught up in<br />
the horrors of war. The Australian author, John Marsden, addresses the<br />
same topic in his hugely popular Tomorrow series, which opened in 1993<br />
with Tomorrow, When the War Began. Although Britain’s third Children’s<br />
Laureate, Michael Morpurgo, says he does not like the crossover tag, his<br />
work nonetheless has adult appeal, due to the serious themes of novels<br />
such as Kensuke’s Kingdom (1999), which deals with the aftermath of the<br />
Nagasaki bombing. The horrors of the Holocaust are the subject of Robert<br />
Cormier’s Tunes for Bears to Dance to (1992) and, more recently, Markus<br />
Zusak’s The Book Thief (2006). The Dominican-American author Julia<br />
Alvarez describes her children’s novel Before We Were Free (2002), set during<br />
the repressive regime of El Jefe, Rafael Trujillo, as The Diary of Anne<br />
Frank for the Latin American crowd. Although the author initially questioned<br />
the appropriateness of writing about torture for a young audience,<br />
she eventually decided that since it was part of life, it should be<br />
written down. 24 It has been suggested that Lian Hearn’s Tales of the Otori<br />
novels, which include sexuality, rape, violence, homosexuality, sadism,<br />
and torture, break with the children’s literature model, but they are certainly<br />
not the first to do so. Although these themes are treated in a<br />
restrained manner, they give Hearn’s novels their adult feel. The same<br />
can be said of the way in which the Quebecois author Dominique Demers<br />
deals with attempted rape and cannibalism in Maïna, a novel published<br />
simultaneously for both adolescents and adults in 1997. The fact that<br />
there are very few, if any, taboo subjects in contemporary literature for<br />
young readers blurs the distinction between children’s and adult fiction,<br />
and facilitates the crossover in both directions. A similar situation existed<br />
prior to the creation of a se<strong>para</strong>te literature for children. Maurice<br />
Sendak points out that the tales collected by the Grimm brothers appeal<br />
to all ages because they are «about the pure essence of life – incest, murder,<br />
insane mothers, love, sex». 25<br />
The best fiction, regardless of the target audience, nourishes our desire<br />
for a fulfilling narrative while simultaneously providing more profound<br />
food for thought. Mike Bryan of Penguin International believes that the<br />
most successful crossovers offer «corking good escapist fun», but he<br />
insists that they also contain «serious messages about values». 26 Crossover<br />
authors agree that writing for children allows them to address the fundamental<br />
issues they feel strongly about and to engage in weighty psychological<br />
and philosophical reflections. Whereas Myerson states categorically<br />
that a children’s novel cannot provide «truths about human<br />
life» or «psychological understanding», many crossover authors believe<br />
that they are, in fact, the only books that can 27 . Pullman explains why he<br />
writes for children: «Children’s books still deal with the huge themes<br />
which have always been part of literature – love, loyalty, the place of religion<br />
and science in life, what it really means to be human. Contemporary<br />
adult fiction is too small and too sterile for what I’m trying to do.» 28<br />
William Nicholson agrees: «Issues of God and heaven, life and death, are<br />
central to our lives but [as adults] we’re shy of talking about them. When<br />
you write for children, though, you can go roaring into these incredibly<br />
important stories.» 29<br />
The huge success of a few super crossover books raised the profile of children’s<br />
literature and gave it an entirely new status. The significance of<br />
J.K. Rowling’s achievement in the age of multimedia is formulated in the<br />
following terms by Julia Eccleshare: «For the first time since the arrival of<br />
other mass media, a series of children’s books is holding a cultural position<br />
that is a match for [I would say more than a match for] a series such<br />
as Friends or Neighbours, something that had seemed unimaginable in an<br />
era in which reading, and children’s reading in particular, is not especially<br />
highly valued beyond the level of a functional literacy.» 30 Children’s literature,<br />
children’s authors, and the child reader have gained a new<br />
respect in the literary world and are enjoying a much higher profile in<br />
the media. Children’s authors have been acknowledged as some of the<br />
world’s most influential people. In November 2006, the European edition<br />
of Time magazine included Rowling, along with names like Mother<br />
Theresa and Nelson Mandela, in their special issue «60 Years of Heroes»<br />
because: «In a time when everything comes to us in bits and bytes,<br />
Rowling has made storytelling cool again.» 31 Harry Potter turned millions<br />
of children hooked on video games and television into avid readers, singlehandedly<br />
lowering the illiteracy rate worldwide. Although Rowling’s<br />
media superstar status has overshadowed other writers, she is not alone.<br />
In 2005, after Dragon Rider became the longest-running New York Times<br />
number one bestseller since Harry Potter, Time magazine put Cornelia<br />
Funke on its «Time 100» list of «the world’s most influential people».<br />
Children’s authors are finally being recognized, far beyond the children’s<br />
book sphere, or even the literary world, for the significant role they play<br />
in creating readers and citizens to understand the world.<br />
73
74<br />
The literary quality of children’s literature and its relevance for readers<br />
of all ages has been universally acknowledged. Children’s books appear<br />
on, even dominate, general bestseller lists. Harry Potter and the Sorcerer’s<br />
Stone was the first children’s book to hold the number one position on<br />
the New York Times list of hardcover bestsellers, and each of the first three<br />
books in the series held that position in turn. When their domination of<br />
the top three spots resulted in the creation of a se<strong>para</strong>te list for children’s<br />
books, it was widely felt that children’s bestsellers had every right to<br />
appear on the regular fiction list, especially since many readers were<br />
adults. Children’s books have also become contenders for prestigious<br />
mainstream literary awards. This began even before Harry Potter ushered<br />
in the crossover phenomenon. In 1995, Dianne Hofmeyr’s Boike You Better<br />
Believe It was awarded the M-Net Book Prize, the most important literary<br />
prize in South Africa, beating out J.M. Coetzee’s Master of Petersburg (Nobel<br />
Laureate Nadine Gordimer was also nominated, but withdrew). The judging<br />
criteria include literary merit and strong narrative content as well as<br />
accessibility to a broad reading public. 32 Hofmeyr told me she thinks her<br />
novel won because it was timely and captured «what was happening in<br />
the “new” South Africa just prior to Nelson Mandela coming to power». 33<br />
The final volume in Pullman’s His Dark Materials achieved what the<br />
third Harry Potter had failed, by one vote, to do two years earlier: The<br />
Amber Spyglass overwhelmingly won the 2001 Whitbread Book of the Year<br />
award, the British book world’s second highest honour after the Man<br />
Booker Prize. It became the first children’s book winner since the award’s<br />
inception to claim the overall prize, an achievement that for many had<br />
previously been inconceivable. However, a few commentators had even<br />
begun to speculate on the possibility of a children’s book winning the<br />
prestigious Booker Prize. In 1999, one British journalist wrote: «The real<br />
barrier to overcome is not one of the possibilities of the genre but the<br />
judges’ reluctance to value something that could also be valued by a<br />
child, believing that if a child could like it, it must be childish for an<br />
adult to like it.» 34 Many critics and writers were comparing children’s literature<br />
favourably with literary fiction, which had long neglected the<br />
story and had become increasingly abstruse and tedious. 35 When Pullman<br />
won the Carnegie Medal for the first volume of His Dark Materials in<br />
1996, he attacked adult novelists in his acceptance speech, claiming that<br />
many had lost the art of telling a good story. In 1999, the author reiterated:<br />
«There are very few writers of what one might call the literary Booker<br />
Prize short-list novel who are good at stories and who think stories are<br />
important.» 36 Two years later, the third volume of His Dark Materials<br />
became the first children’s book to be longlisted for the Booker Prize.<br />
This nomination led one journalist to write in The Guardian: «Segregation<br />
of genres may remain valid commercially and as a filter for parents. In<br />
judging the best writing, it is now redundant.» 37 Even the literary establishment<br />
seems finally to be acknowledging that books published for<br />
children are literary works worthy of the attention and respect of adults.<br />
The children’s books that fall into the crossover category address important<br />
moral issues of our time and invite readers of all ages to reflect on<br />
the challenging metaphysical and existential questions that concern all<br />
human beings. Crossover fiction recognizes the continuity that connects<br />
readers of all ages and acknowledges that different generations share<br />
experiences, knowledge, desires, and concerns. It offers a shared reading<br />
experience for all ages that brings the generations together in a better<br />
understanding of our world.<br />
NOTES<br />
1 Hensher, P. (2003, June 19). «Harry Potter and the Art of Making Money», in The Independent, London.<br />
2 See Nel, P. (2005). «Is There a Text in This Advertising Campaign? Literature, Marketing, and Harry<br />
Potter», in The Lion and the Unicorn 29, no. 2: 236.<br />
3 Walden, G. (2003, January 26). «A Child’s View, Again», in Daily Telegraph.<br />
4 Bloom, H. (2003, September). «Dumbing Down American Readers», in The Boston Globe 24. See also his<br />
article (2000, July 11) «Can 35 Million Book Buyers Be Wrong? Yes», in Wall Street Journal, A26.<br />
5 Holden, A. (2000, June 25). «Why Harry Potter Doesn’t Cast a Spell over Me», in The Observer.<br />
6 See Furedi, F. (2003, July 29). «The Children Who Won’t Grow Up», in Spiked.<br />
7 Myerson, J. (2001, November 14). «Harry Potter and the Sad Grown-ups», in The Independent.<br />
8 See, for example, Glistrup, E. (1997, August 31-September 5). «Children’s Literature in Denmark:<br />
Trends and Currents in the 1990s», Copenhagen: paper presented at the 63rd International<br />
Federation of Library Associations and Institutions Annual Conference; Tiberghien, M. (2000,<br />
December 1-2). «Table Ronde», round table presented at the international conference on «Perspectives<br />
Contemporaines du Roman pour la Jeunesse», Eaubonne, France: Institut International Charles<br />
Perrault.<br />
9 Mayer, A. (2006, March 14). «Sharing the Love: How Publishers are Re-branding Adult Fiction for<br />
Younger Readers», CBC, http://www.cbc.ca/arts/books/youngadultfiction.html (accessed December 6,<br />
2006).<br />
10 Rees, J. (2003, November 17). «We’re All Reading Children’s Books», in Daily Telegraph.<br />
11 Qtd. in Glistrup, «Children’s Literature in Denmark: Trends and Currents in the 1990s».<br />
12 Langton, J. (1985, July 28). Review of Handles, by Jan Mark.<br />
13 Leysen, A. (1997). «About Flemish and Dutch Literature», in A Companion to Dutch and Flemish Letters<br />
(translated from the Dutch by David Colmer and Paul Vincent), N.p.: Stichting Frankfurter Buchmesse, 46.<br />
14 Hunt, J. (2007, March-April). «Redefining the Young Adult Novel», in The Horn Book Magazine 83, vol.<br />
2: 141-47.<br />
15 It is widely believed that an increasing number of adolescents are turning to adult novels. In his<br />
article «How Publishers are Re-branding Adult Fiction for Young Readers», Andre Mayer states that<br />
«the fact that teenagers are picking up ostensibly grown-up fiction is hardly novel», but that «the difference<br />
nowadays is that publishers and vendors are becoming more proactive with young bookworms».<br />
16 Nissen J. (2000, March). «The Bookseller.»<br />
17 FitzHerbert, C. (2002, January 23). «This Author Is Original and Also Dangerous», in The Daily<br />
Telegraph.<br />
18 Craig, A. (2004, February). «Mark Haddon», in Sunday Times.<br />
19 Moeyaert, B. (2000, May 12-13). «Seven Small Stories», paper presented at the seminar «Coming<br />
Home in Children’s Literature», London: Roehampton Institute.<br />
20 Qtd. in Templeton, D. (2002, March 14-20). «Dark Days: Ghouls and Goblins, Mayhem and Murder –<br />
It’s Just Kids’ Stuff», in North Bay Bohemian.<br />
75
76<br />
21. Beverly Horowitz, vice president and publisher of Knopf Delacorte Dell Young Readers Group (a<br />
division of Random House Children’s Books), has worked with Robert Cormier and Philip Pullman.<br />
She has noticed «a trend of younger readers tackling books that were not intended for their age<br />
group» and concludes: «Perhaps the truth is not that children’s books are darker than they used to<br />
be, but that younger kids are now reading dark books» (see Templeton).<br />
22. Penny, T. (2001, February 23). «A Children’s Writer with Adult Topics», in The Telegraph.<br />
23. Posted on the website of the University of South Africa’s Children’s Literature Research Unit,<br />
http://www.childlit.org.za/boikie.html (accessed January 5, 2009).<br />
24. Jones, V. E. (2002, September 19 ). «Young-Adult Books Are No Longer Child’s Play for Bestselling<br />
Authors», in Boston Globe, D1.<br />
25. Lanes, S. (1980). The Art of Maurice Sendak, New York: Harry N. Adams, 206.<br />
26. Dante (2004, March 8). «Reading into Crossover Trends», in Straits Times.<br />
27. Myerson, «Harry Potter and the Sad Grown-ups.»<br />
28. Eccleshare, J. (1996, September). «Northern Lights and Christmas Miracles», in Books for Keeps 100:<br />
15.<br />
29. Pepper, T. (2001, February 23). «Not Just for Children», in Newsweek International.<br />
30. Eccleshare, J. (2002). A Guide to the Harry Potter Novels, London: Continuum, 106.<br />
31. Farouky, J. (2006, November 13). «J. K. Rowling», in Time 168 (Europe), no. 21.<br />
32. With a new reading culture developing in South Africa, more adults are turning to young adult<br />
novels. One such crossover novel is Riana Scheepers’s Blinde Sambok (Blind Whip), published in 2001.<br />
Scheepers, who had previously published only for adults, wrote the novel for children/young adults<br />
because there was a lack of good books for young readers, whom she felt were being given nothing<br />
but problem novels. Since her motto as a writer is: «Do not underestimate a child’s intelligence», the<br />
book was also hugely popular with adults, many of whom read it in reading clubs.<br />
33. E-mail message from the author on April 3, 2006.<br />
34. Jones, N. (1999, September 10). «Twice the Appeal», in The Children’s Bookseller, 22.<br />
35. See, for example, Spufford, F. (2002) The Child that Books Built, London: Faber & Faber. He believes<br />
that children’s books fill a need for compelling stories currently missing in adult fiction.<br />
36. Parsons, W. & Nicholson, C. (1999). «Talking to Philip Pullman: An Interview», in The Lion and the<br />
Unicorn 23, no. 1: 122.<br />
37. (2001, August 18). «Literary Expansion: Children’s books break through the barrier», in Guardian.<br />
Relatório do painel 1<br />
JOSÉ ANTÓNIO GOMES*<br />
O painel de abertura do «Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong>»,<br />
promovido pela Casa da <strong>Leitura</strong>, marcou de modo indelével os dois dias de<br />
trabalhos, tanto pela craveira internacional dos conferencistas e pela<br />
qualidade das suas intervenções, como pela pertinência e actualidade dos<br />
temas abordados e dos questionamentos sugeridos.<br />
Talvez não seja ousado apontar a literacia, encarada numa perspectiva<br />
global e nas suas diversas dimensões, como o leitmotiv que percorreu os<br />
quatro discursos (em especial os três primeiros) escutados na manhã de<br />
22 de Janeiro. Da parte da tarde, foi possível aos conferencistas entabular<br />
um diálogo com o público, a partir das suas perguntas, o qual permitiu<br />
clarificar e debater algumas das questões suscitadas pelas quatro<br />
intervenções.<br />
Peter Hunt, professor da Universidade de Cardiff, autor de obras de<br />
referência e de uma impressiva bibliografia sobre Literatura <strong>para</strong> a<br />
Infância e a Juventude, tanto em número de títulos publicados como no<br />
que respeita à projecção internacional da sua actividade crítica e<br />
investigativa, proporcionou uma viva reflexão em torno do declínio da<br />
literacia literária no Reino Unido, não obstante a generalização, neste<br />
país, de um programa nacional de promoção da leitura, de iniciativa<br />
governamental, que está longe, contudo, de alcançar os objectivos<br />
desejados. Com efeito, como se pôde porventura concluir, ler apenas, ler<br />
mais, ler «tudo» não implica, necessariamente, ler melhor. A insuficiência<br />
do trabalho desenvolvido em prol da literacia literária, ou seja, da<br />
formação de leitores literários, encontra uma infeliz correspondência na<br />
alteração qualitativa a que se assistiu nas últimas décadas: por um lado,<br />
dos critérios que definem um bom livro infantil e do que a crítica tem<br />
afirmado a este respeito e, por outro, da própria condição de criança –<br />
atraída pelas mais diversas fontes de prazer e submersa de forma<br />
crescente, na cultura da televisão, do videogame e da imagem.<br />
Esta alteração, de sinal negativo, tem tido implicações como, entre<br />
outras, o empobrecimento da linguagem e das estruturas textuais dos<br />
novos livros infantis e, até mesmo, dos «clássicos», na medida em que<br />
estes são objecto de adaptações que, procurando ir ao encontro, por<br />
razões comerciais e outras, das reais competências de leitura e das<br />
experiências de vida do seu público-alvo, notoriamente enfraquecem<br />
esses livros e os desfiguram. Foram dados exemplos de versões modernas<br />
*Professor Coordenador da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto.<br />
77
78<br />
dos álbuns de Beatrix Potter, nomeadamente das transformações<br />
empobrecedoras que a linguagem e o estilo desta autora sofreram, na<br />
sequência da edição de livros resultantes de adaptações televisivas das<br />
suas obras. Peter Hunt contrastou ainda o estilo e a técnica narrativa de<br />
uma autora de grande sucesso, durante muito tempo conotada com a bad<br />
writing – referia-se a Enid Blyton – e o estilo de um conhecido autor do nosso<br />
tempo – Philip Pullman –, cujos títulos têm granjeado considerável êxito<br />
junto do público juvenil e até adulto. Numa breve análise que se centrou<br />
em aspectos estilísticos e tecnico-narrativos, os específicos segmentos<br />
confrontados, de extensão breve, permitiram, surpreendentemente, inferir<br />
a maior riqueza da escrita de Blyton. Muitos livros actuais seriam assim,<br />
<strong>para</strong> Peter Hunt, exemplos de uma escrita mais literal, mais simplificada<br />
no estilo, menos capaz de estimular a dedução, a inferência de sentidos e a<br />
relacionação de elementos, menos susceptível por isso de desenvolver a<br />
capacidade de interpretar os vazios de um texto literário de maior<br />
complexidade. Implícito nas palavras do conferencista ficou, porventura,<br />
um apelo no sentido da exigência e de um trabalho mais aprofundado no<br />
campo da educação literária.<br />
A esta intervenção subordinada ao título «Declínio e Diminuição da Literacia<br />
Literária: Infância e literatura <strong>para</strong> a infância no Reino Unido na actualidade»<br />
seguiu-se a de Lawrence Sipe, professor da Universidade da Pensilvânia:<br />
«Peritextos e Quebras de Página: Oportunidades <strong>para</strong> construir sentido nos<br />
álbuns».<br />
Partindo, em parte, da teorização de Gérard Genette sobre a <strong>para</strong>textualidade,<br />
o essencial da conferência de Sipe veio colocar na ordem do dia a<br />
necessidade do desenvolvimento da literacia nos seus múltiplos aspectos,<br />
designadamente a capacidade de descodificar as diferentes componentes do<br />
<strong>para</strong>texto, prevendo, assim, certos conteúdos do próprio texto, e perceber os<br />
modos de progressão do discurso narrativo no álbum ou picture story book. Ao<br />
relatar uma experiência realizada com pré-leitores e leitores infantis, nos<br />
Estados Unidos, sublinhou, com efeito, a capacidade que este público,<br />
situado entre os quatro e os sete anos, evidencia na interpretação do peritexto<br />
e das quebras de página, quando confrontado com picture story books<br />
<strong>para</strong> as primeiras idades, em que tais dimensões se revestem de particular<br />
importância na construção da significação e da narratividade. Ao explorar<br />
estes elementos, o mediador da leitura torna possível o desenvolvimento de<br />
mecanismos de previsão textual no plano da lógica narrativa, da caracterização<br />
e evolução das personagens, do tom da história e da própria apreciação<br />
estética das ilustrações, entre outros aspectos. A leitura global de uma<br />
obra – e em especial de uma obra como o picture story book – quedar-se-á, pois,<br />
sempre lacunar, caso sejam ignorados todos os elementos da periferia do<br />
texto cuja observação e entendimento constitui factor essencial da apropriação<br />
do livro pelo leitor infantil.<br />
Maria Nikolajeva, da Universidade de Estocolmo, reconhecida especialista<br />
em Literatura <strong>para</strong> Crianças e no estudo do álbum, apresentou, numa<br />
intervenção intitulada «Literacia Visual e o Leitor Implícito nos Álbuns<br />
<strong>para</strong> Crianças», numerosos exemplos do picture story book, que é hoje um<br />
dos géneros mais relevantes e, do ponto de vista estético, mais ousados da<br />
literatura dirigida aos mais novos; em simultâneo, um dos mais<br />
complexos e desafiantes <strong>para</strong> a investigação. Isto porque confronta o<br />
leitor com uma tessitura discursiva semioticamente complexa que<br />
assenta na interacção de um discurso linguístico com um discurso<br />
pictórico e com outros elementos visuais. Trata-se, pois, de um texto<br />
multimodal em que coexistem uma componente verbal e uma outra de<br />
tipo visual (formato, elementos de design gráfico, ilustrações…). A<br />
redundância, o <strong>para</strong>lelismo, a complementaridade, a confirmação são<br />
apenas alguns dos tipos de interplay que o discurso visual vai construindo<br />
com as palavras <strong>para</strong> produzir significação e fabricar a narratividade, na<br />
busca de um relato eficaz, quando não quase perfeito, da história. Mas se<br />
a metáfora, o símbolo, a polissemia são traços quase sempre fundamentais<br />
do texto verbal de tipo literário, se este se inscreve, por outro lado, numa<br />
rede intertextual, também a imagem, à sua escala, surge dotada de<br />
elementos semelhantes (de natureza metafórica, simbólica, etc.) que<br />
importa ler. Torna-se, por isso, essencial dotar o leitor de instrumentos<br />
que lhe permitam interpretar o discurso pictórico e a relação deste com<br />
a escrita; daí a necessidade do desenvolvimento da literacia visual,<br />
aspecto indispensável ao desenvolvimento da própria competência<br />
literária.<br />
Com uma conferência cujo título foi traduzido <strong>para</strong> português como<br />
«Ficção de Cruzamento: Criando leitores com histórias que tematizam as<br />
grandes questões», Sandra Lee Beckett, professora da Universidade de<br />
Brock, no Canadá, e autora de uma obra recente intitulada Crossover Fiction:<br />
Global and historical perspectives (Routledge, 2008), referiu-se a livros de<br />
ficção dirigidos a um público juvenil de que o público adulto de algum<br />
modo se apropria também. Um fenómeno de transversalidade ou de<br />
recepção transgeracional que adquiriu visibilidade com a série Harry<br />
Potter, de J.K. Rowling, mas que parece emergir como um dos traços<br />
marcantes da produção literária <strong>para</strong> os mais novos nos tempos que<br />
correm, com consequências ao nível da extensão dos textos e da sua<br />
apresentação gráfica (poucas ou nenhumas ilustrações, capas susceptíveis<br />
de captar a atenção tanto de jovens como de adultos, considerável número<br />
de páginas, etc.). Philip Pullman, Carl Hiaasen, Mark Haddon, Tormod<br />
Haugen, Eoin Colfer foram apenas alguns dos muitos autores de diferentes<br />
espaços linguísticos e culturais cujas obras Sandra Lee Beckett passou em<br />
revista, a fim de evidenciar a realidade da crossover fiction. A este propósito,<br />
poderão então colocar-se diversas questões. Estamos perante uma gradual<br />
79
80<br />
infantilização dos leitores adultos por efeito da cultura de massas? O êxito<br />
destas obras é resultado de uma conjugação de factores literários e de<br />
sofisticadas estratégias de marketing? Certo é que, na perspectiva da<br />
conferencista, esta crossover fiction – que possui uma tradição na história da<br />
literatura merecedora de estudo – veio responder a um certo gosto<br />
adolescente pelos reptos, nomeadamente o da entrega à vertiginosa<br />
leitura de uma história de aventuras emocionante, muitas vezes de cunho<br />
fantástico, que se desenrola ao longo de várias centenas de páginas –<br />
circunstância que, além do mais, acabou por atrair <strong>para</strong> a leitura muitos<br />
e muitos jovens a ela refractários e que veio suscitar, uma vez mais, a<br />
questão dos limites do cânone.<br />
Conclua-se referindo que a potencial divergência implícita na visão de<br />
Peter Hunt e na de Sandra Lee Beckett não chegou, contudo, a ser<br />
dirimida no participado debate que, da parte da tarde, complementou<br />
este painel de intervenções, marcado pela qualidade científica e de<br />
comunicação dos quatro conferencistas.<br />
PAINEL 2<br />
Estratégias de<br />
leitura e<br />
compreensão<br />
leitora
82<br />
Planificar la Lectura<br />
en la Escuela<br />
TERESA COLOMER*<br />
¿Para qué enseñar literatura?<br />
Durante mucho tiempo se ha arrastrado la idea devaluada de que la<br />
enseñanza literaria se proponía traspasar un patrimonio concreto, un<br />
paquete de obras y autores que se deberían conocer. Hoy parece que lo<br />
más interesante de ese legado es que lleva a las personas a progresar en<br />
su capacidad de interpretar, un acto que se produce siempre en el<br />
contexto de una cultura. El patrimonio literario se constituye como un<br />
conjunto de textos, estructuras poéticas y narrativas, símbolos, formas de<br />
enunciación, efectos lingüísticos, prototipos de conducta, etc. que<br />
testimonian las tensiones y avances del pensamiento humano expresado<br />
a través del arte a lo largo de los tiempos. Ofrece a las nuevas generaciones<br />
la posibilidad de incorporarse a un forum permanente de voces<br />
que amplían su capacidad de comprensión y disfrute de la vida.<br />
En ese patrimonio de textos que nos llevan a entender como idea rectora,<br />
se inscribe lo que ha dado en llamarse el «imaginario colectivo», un término<br />
utilizado por los estudios antropológico-literarios <strong>para</strong> describir el<br />
inmenso repertorio de imágenes simbólicas que aparecen ya en el folclore<br />
y que perviven y se renuevan en la literatura de todas las épocas. Se<br />
trata de imágenes, símbolos y mitos que los humanos utilizan como fórmulas<br />
tipificadas <strong>para</strong> comprender el mundo y las relaciones sociales.<br />
Con ellos se da forma a los sueños, se encarrilan las pulsiones o se adoptan<br />
diferentes perspectivas sobre la realidad. La cualidad colectiva de ese<br />
imaginario refuerza la representación social de una cultura, lo que contribuye<br />
a su cohesión.<br />
Las funciones históricas de la literatura como proveedora de ficciones y<br />
de educación moral comparten ahora terreno con otros canales, como las<br />
formas audiovisuales o los mass media. Pero no se puede discutir, en cambio,<br />
su preeminencia en el dominio del lenguaje. Justamente, durante<br />
siglos, la enseñanza de la literatura sirvió sobre todo <strong>para</strong> aprender a construir<br />
discursos orales y escritos. En el siglo XIX se abandonó la preceptiva<br />
retórica en favor de la historia literaria. Se inició un divorcio que en las<br />
últimas décadas ha intentado solventarse con fortuna variable. Por ejemplo,<br />
la lingüística del texto y la investigación sobre los procesos de escritura<br />
«reinventaron» las técnicas de escritura <strong>para</strong> volver a afirmar que la<br />
* Professora da Universidade Autónoma de Barcelona.<br />
83
84<br />
literatura nos permite apreciar las infinitas posibilidades de estructurar<br />
y reestructurar los recursos del lenguaje al servicio de la actividad comunicativa.<br />
Puesto que el hecho de explorar deliberadamente la construcción<br />
del discurso forma parte del oficio de la literatura, el análisis de los<br />
textos literarios supone un potente instrumento <strong>para</strong> no quedar a merced<br />
de los discursos ajenos y poder construir los propios.<br />
La educación literaria no es pues un «lujo» escolar de acceso al ocio, sino<br />
que revierte en la capacidad de comprensión y expresión de todo tipo de<br />
discursos y no puede quedar marginada por objetivos «más urgentes» en<br />
la planificación de la enseñanza lingüística. Lo verdaderamente urgente<br />
es rescatar a la literatura, o bien de su anquilosamiento en antiguos<br />
modelos didácticos, o bien de su disminución en modelos comunicativos<br />
actuales que le otorgan un peso casi anecdótico. La literatura ofrece<br />
modelos de lengua y discurso, genera un sistema de referentes<br />
compartidos que constituye una comunidad cultural a través del<br />
imaginario colectivo y es un instrumento de inserción del individuo en<br />
la cultura. No son funciones menores en la educación de la infancia.<br />
Entender la educación literaria como un aprendizaje de interpretación<br />
de los textos renueva su enseñanza en las aulas. Supone, en primer lugar,<br />
admitir que se necesitan dos líneas de fuerza <strong>para</strong>lelas <strong>para</strong> que se<br />
produzca el aprendizaje: la adhesión afectiva a través de la autopercepción<br />
de uno mismo como perteneciente a la comunidad interpretativa y el<br />
aprendizaje de las convenciones que rigen las formas literarias <strong>para</strong> que se<br />
pueda desvelar el máximo de sentido. Ambas líneas no se pueden<br />
divorciar; es decir, que no se trata de disfrutar en primaria y aprender<br />
literatura en secundaria.<br />
En segundo lugar, conlleva una práctica educativa que se desarrolla a través<br />
de otras dos líneas de fuerza: la recepción oral o la lectura directa de los<br />
textos por parte de los aprendices y las formas guiadas <strong>para</strong> enseñar la<br />
manera de construir sentidos cada vez más complejos. Sin duda, ambos<br />
tipos de actividades han estado presentes a lo largo del tiempo, pero han<br />
mantenido relaciones difíciles y variables en la sucesión de los distintos<br />
modelos de enseñanza literaria. Así por ejemplo, en los últimos tiempos,<br />
la gran extensión de la llamada «animación a la lectura» ha primado el acceso<br />
a los textos – en el mejor de los casos – pero no ha incidido en el apoyo<br />
a los lectores en su esfuerzo interpretativo. Por contra, el que un número<br />
importante de adolescentes confiese no haber leído un libro entero en<br />
toda su vida, incluso cuando se hallan en un contexto favorable a ello,<br />
muestra que la escuela actual puede continuar desentendiéndose de la<br />
construcción de hábitos lectores.<br />
Siete puntos <strong>para</strong> renovar la enseñanza literaria<br />
Voy a sintetizar en siete puntos los aspectos a tener en cuenta en la renovación<br />
de la lectura literaria en las aulas. Dejaremos de lado aquí dos<br />
aspectos igualmente importantes: la formación del profesorado y los<br />
recursos externos de apoyo a la tarea educativa.<br />
1. ¿DE QUÉ ES RESPONSABLE LA ESCUELA?<br />
Los aprendizajes literarios se realizan dentro y fuera del ámbito escolar.<br />
Todos los estudios sobre hábitos y nivel de dominio lector (como los famosos<br />
informes PISA) han coincidido en señalar que la colaboración explícita<br />
de familia, escuela y comunidad social (biblioteca pública, acciones<br />
culturales ciudadanas, etc.) potencian enormemente la adquisición de<br />
hábitos lectores y el desarrollo cultural de las nuevas generaciones. Eso es<br />
así hasta tal punto que, en nuestras sociedades occidentales, la escuela no<br />
puede ser vista como la institución responsable de asegurar estos hábitos.<br />
Si la escuela intenta asumir esta función a menudo reitera actividades de<br />
animación a la lectura que ya se llevan a cabo en otras instancias, mientras<br />
que, en cambio, deja de asegurar determinadas funciones de enseñanza<br />
que no tienen cabida en los otros ámbitos. Por otra parte, la superposición<br />
indiscriminada de objetivos ha sido la norma de los últimos<br />
tiempos, de manera que los estudios existentes sobre las opiniones de los<br />
enseñantes muestran que éstos se sienten escindidos entre las funciones<br />
de traspasar un patrimonio, enseñar a leer y fomentar los hábitos de lectura. Son<br />
finalidades que requieren estrategias y prioridades que no coinciden per<br />
se, sino que requieren de un esfuerzo explícito y consciente de articulación.<br />
Si, como se ha dicho, enseñar a leer a los niños es tarea «de toda la tribu»,<br />
hay que clarificar qué es responsabilidad prioritaria de la escuela tanto<br />
en usos, como en saberes literarios y qué colaboraciones pueden<br />
establecerse con las otras instancias <strong>para</strong> alcanzar entre todos los<br />
objetivos deseados. Así, podemos aventurar como competencias más<br />
propias del cometido escolar:<br />
❖ Enseñar a leer, en el sentido amplio que ha tomado en las últimas<br />
décadas. Éste sería el objetivo más propio de la tarea tradicional de la<br />
escuela, aunque actualizado ahora con todo lo que sabemos sobre el proceso<br />
de lectura y de interpretación de los textos como práctica social.<br />
❖ Asegurar la lectura de libros de calidad <strong>para</strong> todos, de manera que su<br />
lectura contribuya a establecer criterios sobre las jerarquías existentes<br />
entre los textos sociales. No todos los textos son igual de valiosos bajo el<br />
punto de vista estético y de sentido, aunque el lector pueda darles el uso<br />
que le plazca según sus gustos, intereses y objetivos personales. Es algo<br />
que debe aprenderse en algún lugar y la escuela debe ofrecer a todos la<br />
85
86<br />
oportunidad de crearse un horizonte de lecturas sobre el cual proyectar<br />
e inscribir las propias.<br />
❖ Asegurar el conocimiento, aunque sea a diferentes niveles, de algunos<br />
de los textos «clásicos» que sirven como referentes de la colectividad. La<br />
función de «traspaso patrimonial» continúa siendo una de las más sentidas<br />
por parte de la escuela y no se trata de prescindir de ella, sino de actualizarla<br />
de manera reflexiva; por ejemplo, teniendo en cuenta el grado de<br />
complejidad intercultural y de globalización de las sociedades actuales<br />
que pueden llevar a la recepción de obras universales y de las culturas en<br />
contacto.<br />
❖ Enseñar la manera de abordar textos inicialmente difíciles <strong>para</strong> el lector.<br />
O sea, ofrecer la experiencia de lectura de textos lingüísticamente<br />
complejos, alejados temporalmente o de significado poco transparente y<br />
mostrar a los lectores qué pueden hacer <strong>para</strong> entender los libros en profundidad<br />
y con espíritu crítico. La lectura guiada es una actividad propia<br />
de la escuela que tiene que renovarse con lo que sabemos sobre las formas<br />
individuales y sociales de construir el aprendizaje. Pero dar espacio a la<br />
construcción compartida o más protagonismo a los alumnos, como sería<br />
deseable, no significa abandonar el papel de enseñarles qué es lo que<br />
deben hacer (ellos) <strong>para</strong> entender un texto.<br />
❖ Asegurar una cierta sistematización sobre el funcionamiento de los sistemas<br />
ficcionales y literarios de la sociedad. La escuela es el lugar adecuado<br />
<strong>para</strong> analizar, conceptualizar y adquirir esquemas mentales que<br />
organicen la comprensión explícita de cómo funcionan las cosas.<br />
2. ¿QUÉ SE VA A ENSEÑAR?<br />
Resulta necesario que la comunidad educativa en general, y las<br />
administraciones en concreto, definan, con mayor claridad que la que<br />
presentan los curricula oficiales actuales (Duran & Manresa 2008) qué es<br />
lo que es preciso haber conseguido en la formación literaria de los<br />
ciudadanos al acabar el período de la enseñanza obligatoria. Muchos<br />
países han realizado notables reformas curriculares en la última década.<br />
En general, puede decirse que en ellas se han actualizado positivamente<br />
los objetivos formativos de la literatura. Pero en la mayoría de casos la<br />
formulación se ha abordado con una prudencia que lleva a definiciones<br />
excesivamente generales y vagas respecto a dónde se quiere llegar en la<br />
educación común de los ciudadanos y a través de qué contenidos y<br />
prácticas recomendadas.<br />
Probablemente el trabajo escolar mejoraría si se cuestionara cuáles son<br />
realmente los aprendizajes que deben realizarse durante la escolaridad<br />
obligatoria. Por ejemplo, la importancia de la traducción en la recepción<br />
de las obras es un aspecto importante en el acceso de cualquier ciudadano<br />
a una gran parte de la literatura actual, y en cambio no figura en nin-<br />
gún programa. Tampoco ningún curricula alerta sobre la conveniencia de<br />
asegurar que los alumnos han experimentado las perspectivas generales – y<br />
poco numerosas – con las que los humanos contemplan la realidad a través<br />
de la literatura: la épica, la parodia, la mímesis, etc. O bien puede verse que<br />
la idea de influencia o variación respecto de la tradición (recurrencia de<br />
motivos y esquemas argumentales, etc.) es algo que aparece implícito en los<br />
programas, cuando la potencia de esa idea merecería ser explicitada en las<br />
aulas, de modo que la imagen de un diálogo permanente de las obras entre<br />
sí y de las voces de la humanidad reflexionando sobre sí misma y sobre la<br />
realidad, llevara a los jóvenes a sentir que la literatura tiene mucho que<br />
decir a los habitantes actuales. O bien sería mucho mejor abordar el estudio<br />
de las formas poéticas relacionadas con la respiración, el ritmo, la música,<br />
el habla… que como un juego caprichoso de estrofas. Y también resultaría<br />
de interés compartir la idea de que la mayoría de las grandes obras pueden<br />
entenderse de modos diversos, tanto desde la posición del lector, como por<br />
ejemplo, según la perspectiva de distintas teorías interpretativas.<br />
3. ¿DÓNDE Y CUÁNDO SE VA A ENSEÑAR?<br />
Respecto de la lengua y la literatura: El aprendizaje de la lengua y la literatura<br />
supone una interrelación evidente y hace tiempo que los curricula hicieron<br />
una clara apuesta por la fusión de su enseñanza. Sin embargo, en la práctica,<br />
ello parece haber tenido consecuencias claramente negativas <strong>para</strong> los<br />
aprendizajes literarios, especialmente en la etapa secundaria, cuando se produce<br />
una explicitación y conceptualización mayor. Parece recomendable,<br />
pues, asegurar objetivos curriculares específicos que mantengan la presencia<br />
de actividades de literatura a lo largo de las etapas educativas, así como reservar<br />
un espacio curricular propio a la literatura en los últimos cursos de la<br />
etapa secundaria.<br />
Respecto de la continuidad: Dentro de esta línea de clarificación y continuidad<br />
educativa, sería conveniente establecer rutinas concretas de colaboración<br />
entre los cursos, ciclos y etapas en cuanto al seguimiento lector de<br />
los alumnos (por ejemplo, a través del traspaso de informes individuales<br />
de lectura, información y acuerdo sobre las lecturas colectivas de los<br />
ciclos y centros educativos en el paso de primaria a secundaria, etc.).<br />
Respecto de las áreas curriculares: Por otra parte, continúa siendo una realidad<br />
la ausencia de textos literarios en la enseñanza de las lenguas extranjeras<br />
y la escasa presencia de la literatura universal.<br />
Respecto a la articulación didáctica: Si se quiere mejorar la educación literaria,<br />
parece ineludible proceder a una nueva articulación de los diferentes espacios<br />
curriculares en que debería producirse. Eso significa, por ejemplo, repartir<br />
y coordinar las lecturas, los contenidos y las actividades <strong>para</strong> rentabilizar<br />
al máximo el tiempo escolar que puede dedicarse a los aprendizajes literarios,<br />
tal como se sugiere en el cuadro siguiente (Colomer 2005):<br />
87
88<br />
Tipos y objetivos Actividades Instrumentos Evaluación<br />
Leer<br />
Lectura libre (escolar)<br />
- Aprovechar la guía<br />
del propio texto.<br />
- Ejercitar las<br />
habilidades lectoras.<br />
- Aprender a seleccionar<br />
los libros autónomamente.<br />
Compartir<br />
Lectura socializada<br />
- Compartir con los demás.<br />
- Implicarse y responder.<br />
- Contrastar y<br />
construir sentido.<br />
- Usar un metalenguaje<br />
literario.<br />
- Construir referentes<br />
colectivos.<br />
Expandir<br />
Lectura integrada<br />
en los objetivos<br />
escolares<br />
- Leer con propósitos<br />
distintos.<br />
- Escribir.<br />
- Oralizar, dramatizar.<br />
- Expresar creativamente.<br />
- Aprender sobre<br />
otras áreas.<br />
Interpretar<br />
Lectura integrada<br />
en la programación de<br />
la enseñanza literaria<br />
- Adquirir competencias<br />
y conocimientos de<br />
forma implícita y/o<br />
explícita.<br />
Lectura de obras en la escolaridad obligatoria<br />
- Tiempo de lectura.<br />
- Visitas externas<br />
(a librerías, etc.).<br />
- Club de lectores/<br />
lectura en parejas/<br />
en grupos/ a través<br />
de internet,<br />
etcétera.<br />
- Discutir, elaborar.<br />
- Recomendar.<br />
- Recordar juntos.<br />
- Lectura colectiva.<br />
- Escritura<br />
(manipulación,<br />
imitación, etc.).<br />
- Dramatización.<br />
- Expresión plástica.<br />
- Paso a otros códigos.<br />
- Lectura reflexiva.<br />
- Discusión y<br />
comentário guiado.<br />
- Proyectos de<br />
trabajo literario.<br />
- Biblioteca<br />
de aula o de centro.<br />
- Cuaderno<br />
de lectura.<br />
- Mural de<br />
valoración.<br />
- Mural de<br />
recomendación.<br />
- Pautas<br />
o preguntas<br />
de ayuda.<br />
- Entrevistas<br />
personales.<br />
- Lectura<br />
modalizada.<br />
- Selecciones<br />
puntuales de libros<br />
según las necesidades<br />
de creación de<br />
escritos, espectáculos,<br />
exposiciones,<br />
videos, etcétera.<br />
- Selección de obras.<br />
- Dispositivos<br />
didácticos.<br />
- Información sobre<br />
la lectura cuantitativa<br />
de cada alumno.<br />
- Información sobre<br />
gustos y capacidades.<br />
- Información sobre<br />
el uso (traspaso)<br />
de saberes literarios.<br />
- Sobre capacidades<br />
interpretativas.<br />
- Según los objetivos<br />
específicos.<br />
- Sobre saberes<br />
literarios.<br />
4. ¿QUIÉN VA A HACERLO?<br />
La tarea de los docentes tiene un gran aliado en el personal de la biblioteca<br />
de centro. Allí es donde puede producirse la lectura de libros como<br />
práctica autónoma de los niños. Toda la literatura sobre el tema considera<br />
la biblioteca escolar como un elemento básico <strong>para</strong> la igualdad de<br />
oportunidades en el acceso a la información y la cultura, un recurso fundamental<br />
<strong>para</strong> conseguir los objetivos educativos y un gran potencial<br />
<strong>para</strong> la dinamización cultural de la comunidad donde se encuentra.<br />
En 2006 apareció el informe del instituto de evaluación educativa IDEA<br />
(Marchesi & Miret 2006) sobre el estado y funcionamiento de la biblioteca<br />
escolar en España y en estos momentos el proyecto evaluativo se extiende<br />
a diversos países iberoamericanos. El estudio español revela una<br />
preocupante mala dotación de las bibliotecas, así como deficiencias de<br />
uso y de dedicación de personal <strong>para</strong> su cuidado y atención. Las leyes<br />
educativas más recientes y muchas iniciativas de las administraciones<br />
han empezado a incidir en esta situación (la creación de bibliotecas o<br />
rincones de libros en las aulas, con dotaciones provenientes de procesos<br />
de selección, acciones integradas en planes de lectura, etc.). El esfuerzo<br />
que se plantea va dirigido a los aprendizajes escolares en general, pero es<br />
evidente que la lectura literaria tiene un papel esencial en la actividad<br />
lectora. Por fortuna, llevar los libros a los niños ha sido una de las<br />
consignas más sentidas en estas últimas décadas y reseñar las<br />
experiencias llevadas a cabo sería algo infinito.<br />
Para continuar progresando en este ámbito es necesario ahora profundizar<br />
en la tarea de diagnóstico, con la evaluación de la existencia y<br />
estado de las bibliotecas de cada uno de los centros, dada la gran<br />
variabilidad de contextos; la creación de proyectos generales de soporte<br />
técnico aprovechando las nuevas tecnologías; el desarrollo de mecanismos<br />
compartidos de selección de libros de calidad adecuados a la<br />
lectura infantil y juvenil; el apoyo a la animación de los fondos, ya que la<br />
práctica revela que muchas veces los libros facilitados son claramente<br />
desaprovechados, a veces sin salir ni siquiera de sus cajas. Un aspecto<br />
esencial, entonces, es el de la dotación de personal específico y la formación<br />
de los educadores tanto a través de la formación inicial, como de la<br />
formación permanente.<br />
5. ¿CÓMO VA A HACERSE?<br />
En la actualidad coexisten diversos modelos de actuación que a menudo<br />
se superponen e interfieren de forma no deliberada. La literatura a veces<br />
se utiliza como simple punto de partida <strong>para</strong> los ejercicios de lengua; o<br />
sigue ordenadamente un hilo de exposición cronológica; o existe sólo<br />
como lectura libre; o bien ofrece material <strong>para</strong> el debate de temas de<br />
tutoría; o se trata básicamente en talleres de escritura creativa; etc.<br />
89
90<br />
Probablemente una de las razones de la marginación que acaba sufriendo<br />
la literatura en la programación es la pérdida de seguridad escolar sobre<br />
la manera de abordarla en el aula.<br />
Una de las peores realidades en esa falta de articulación es el divorcio entre<br />
la sistematización de los saberes literarios, por una parte, y la lectura (o<br />
escritura) libre de los textos, por otra. Cabe recordar entonces que el centro del<br />
aprendizaje escolar es el esfuerzo por la construcción personal de sentido. Se<br />
puede representar como una franja situada en un espacio intermedio entre<br />
el efecto inmediato de la lectura personal y el acceso al conocimiento de<br />
saberes exteriores que inciden en la interpretación cultural. Interpretar los<br />
textos a los que se accede supone una tarea de reflexión y construcción<br />
compartida. Verbalizar la propia experiencia estética de manera que sea<br />
comunicable o evaluar las opiniones e interpretaciones ajenas <strong>para</strong> enriquecer<br />
la propia son procesos que requieren un dominio creciente del lenguaje<br />
metaliterario y de la conciencia explícita de los elementos implicados<br />
<strong>para</strong> hacerlo de manera eficaz.<br />
El acceso a los textos y la discusión sobre ellos configuran el núcleo de la<br />
educación literaria. Los textos se reciben de forma oral o escrita y, en estos<br />
momentos, también a través del uso de las nuevas tecnologías que facilitan<br />
experiencias audiovisuales de poemas y otros textos. Asímismo, el uso<br />
creciente de las pantallas (de la televisión, el cine, la consola o la<br />
computadora) ofrece a los niños y niñas formas de ficción y familiarización<br />
con elementos y obras literarias que colaboran activamente en la<br />
construcción de todo un conjunto de saberes y competencias literarias. Con<br />
esa inmersión textual hay que contar, en las proporciones correspondientes<br />
a cada contexto, <strong>para</strong> preveer lo mucho que los niños y niñas actuales<br />
pueden saber de manera previa y <strong>para</strong>lela a la actividad escolar.<br />
Los estudios educativos sobre lectura escolar hace décadas que señalan la<br />
importancia de dedicar un tiempo de lectura individual en la escuela y<br />
muchos países hace años que desarrollan programas en este sentido. Las<br />
propuestas de la LOE en España en 2006, por ejemplo, acaban de instaurar<br />
un tiempo de lectura en cada una de las asignaturas del curriculum. Pero,<br />
aparte del vínculo con los diferentes aprendizajes específicos de cada área,<br />
la lectura literaria es la que incide más fácilmente en la adquisición de<br />
muchas de las habilidades de lectura que tienen que dominar los alumnos<br />
y la que tiene más relación con la creación de hábitos permanentes de<br />
lectura. Así, pues, tanto <strong>para</strong> la enseñanza literaria como <strong>para</strong> el acceso al<br />
escrito, es esencial preveer un tiempo dentro del horario escolar <strong>para</strong><br />
fomentar la lectura literaria autónoma, sea en la biblioteca escolar o en el<br />
aula, y hacerlo en las formas y modalidades que aconseja la investigación<br />
y la experiencia acumulada por la práctica educativa.<br />
La discusión en el aula debe llevar la interpretación más allá del lugar a<br />
donde llegan por sí solos los lectores: dar pistas <strong>para</strong> ver los niveles de<br />
lectura y lo que hay «tras las líneas», ofrecer información contextual si se<br />
necesaria, enlazar con el entorno actual <strong>para</strong> hacer posible una<br />
comprensión que conecte con lo que los alumnos saben y piensan sobre el<br />
mundo, sistematizar los descubrimientos <strong>para</strong> que sirvan como futuros<br />
esquemas interpretativos, etc. Ese es el terreno de nuestro trabajo y no el<br />
análisis expuesto por el docente <strong>para</strong> propiciar una admiración impostada.<br />
Las antiguas actividades literarias basadas en la oralidad, que buscaban en<br />
parte potenciar la recepción afectiva y la adhesión cultural, disminuyeron en<br />
la segunda mitad del siglo XX en favor del acceso escrito al texto. En estos<br />
momentos, sin embargo, se ha iniciado una cierta recuperación de estas<br />
actividades (narración de cuentos, recitado de poemas, dramatizaciones, lectura<br />
en voz alta, etc.), así como también de la asociación textual con la imagen.<br />
No sólo por criterios didácticos, sino porque el desarrollo tecnológico de las<br />
sociedades occidentales potencia los canales comunicativos de la oralidad y la<br />
imagen. Por ello, es una línea emergente de gran fuerza y potencial didáctico,<br />
que parece además especialmente rentable en las situaciones educativas en las<br />
que los fenómenos propios de las sociedades avanzadas coexisten entremezclados<br />
con los índices de una alfabetización muy escasa.<br />
Otra forma de acceso a la literatura es la de la propia escritura literaria.<br />
Los talleres de escritura se han demostrado enormemente eficaces en el<br />
desarrollo de la competencia literaria y el dominio del escrito. Se trata de<br />
una línea clara de actuación que debería continuar extendiéndose en las<br />
aulas ya que presenta múltiples ventajas, como la de otorgar un protagonismo<br />
motivador a los alumnos, la fusión natural de las habilidades<br />
lingüísticas en su desarrollo y la gratificación de alcanzar productos concretos<br />
y visibles en el trabajo escolar.<br />
El siguiente cuadro ofrece una síntesis de lo que la investigación ha desvelado<br />
sobre la mejor forma concreta de incidir en el aprendizaje de la<br />
lectura literaria (Baye et al. 2003; Ruddell 1995):<br />
❖ Fomentar la lectura de obras enteras o textos largos que el docente conozca bien.<br />
❖ Presentar los libros y guiar la lectura en el aula.<br />
❖ Englobar la lectura en proyectos bien secuenciados, con sentido propio y diferentes<br />
finalidades (y ligarla con la escritura).<br />
❖ Emprender tareas complejas con un grado elevado de exigencia, pero con<br />
un desarrollo sostenido que permita triunfar a los alumnos.<br />
❖ Usar la lectura cooperativa con intercambios que favorezcan las estrategias<br />
interpretativas, críticas e inferenciales, con atención a los aspectos estéticos<br />
y emocionales.<br />
❖ Usar actividades que permitan la toma de conciencia de los chicos y chicas sobre<br />
el hecho de que progresan, adquieren conocimientos y aprenden formas eficaces<br />
de proceder.<br />
❖ Ayudar individualmente los alumnos.<br />
91
92<br />
6. ¿QUÉ LIBROS NOS AYUDARÁN?<br />
En las últimas décadas la escuela ha asistido al estallido del corpus de<br />
textos que era habitual desde que se extendió la escolaridad obligatoria,<br />
hace ahora más de cien años. Enseñar a interpretar y desarrollar una<br />
competencia literaria no presupone la obligación de hacerlo sobre obras<br />
predeterminadas por la historia crítica. Así pues, ha ido calando la idea de<br />
que el corpus varía según los contextos y según la función que otorguemos<br />
a una lectura concreta en el conjunto del itinerario de formación previsto.<br />
El corpus adecuado será entonces el conjunto de lecturas que mejor<br />
puedan incidir en el aprendizaje literario de los niños y niñas.<br />
En la práctica, sin embargo, ese criterio no se ha desarrollado<br />
convenientemente. No lo ha hecho, en primer lugar, en la articulación de<br />
los distintos corpus. Todos los recuentos y estudios realizados en los<br />
últimos años sobre las lecturas escolares prescriptivas señalan que ese<br />
corpus presenta ahora una enorme dispersión de títulos, autores y tipos<br />
de libros (folclore, literatura infantil, novela juvenil clásica o actual,<br />
literatura patrimonial, en la lengua propia o traducida, etc.). Tanta<br />
dispersión cuestiona situaciones antes estables de textos socialmente<br />
compartidos, como podía ser el traspaso del folclore en los primeros<br />
niveles o el acceso a un corpus social de referencia en los últimos cursos<br />
de secundaria.<br />
En segundo lugar, la presencia de uno u otro tipo de textos se reparte de<br />
manera desigual en las etapas educativas: en primaria se utiliza de forma<br />
casi exclusiva un corpus de libros infantiles, mientras que en secundaria<br />
coexisten dos líneas muy poco relacionadas entre sí: por una parte, los<br />
textos patrimoniales derivados de un programa que continúa basándose<br />
en el desarrollo de la historia literaria; por otra, tanto la presión social,<br />
como las prácticas de primaria, introducen la lectura de novelas juveniles<br />
o de títulos de actualidad en una lectura fuera del aula y desgajada del<br />
aprendizaje planificado.<br />
En tercer lugar, tampoco se ha procedido adecuadamente respecto de la<br />
evaluación de las cualidades formativas de corpus elegido. Los libros<br />
«exteriores» entraron en la escuela hace décadas a partir de los cambios<br />
en la concepción sobre el acceso al escrito como práctica social. Pero la<br />
creciente preocupación por los bajos índices de lectura favorecieron que<br />
el criterio dominante fuera simplemente el de su fácil conexión con los<br />
lectores. En muchos casos, la poca formación inicial de los docentes sobre<br />
la tradición oral o el corpus infantil y juvenil se tradujo en la elección de<br />
textos que no se sitúan entre los de más calidad, sino entre los más divulgados<br />
en aquel momento. Tras un par de décadas de «libros fáciles», la<br />
polémica se ha extendido y han surgido muchas voces (Machado 2005,<br />
por ejemplo) e iniciativas encaminadas a la utilización de lecturas de cali-<br />
dad, sean infantiles o de otro tipo, y más o menos estables en el tiempo,<br />
de manera que puedan ejercer una función referencial y cohesionadora<br />
de la sociedad.<br />
7. UTILIZAR LA LITERATURA PARA LOS NUEVOS RETOS SOCIALES<br />
La literatura es un gran instrumento de ayuda <strong>para</strong> enfrentar los cambios<br />
sociales. Por ejemplo, la inestabilidad de los valores sociales en las nuevas<br />
sociedades urbanas postindustriales o la necesidad de conjugar distintos<br />
niveles de identidad cultural, ya que éstos se suporponen cada vez más en<br />
las sociedades occidentales presididas por grandes migraciones humanas o<br />
por el reconocimiento de comunidades internas que habían sido<br />
marginadas por las culturas oficiales. Por ello se están desarrollando líneas<br />
de investigación sobre el uso de la literatura en la acogida de emigrantes o<br />
en la reflexión sobre las esferas de la intimidad personal, un espacio<br />
ampliamente abordado por la literatura infantil de la última década.<br />
En definitiva, este es el panorama en el que nos encontramos <strong>para</strong> el<br />
avance inmediato de la enseñanza de la lectura literaria en la escuela. Un<br />
reto <strong>para</strong> el que estamos mucho más pre<strong>para</strong>dos que hace unos años,<br />
pero que también se percibe como mucho más frágil en los tiempos<br />
actuales, dado que muchos cambios sociales afectan las funciones tradicionales<br />
de la literatura y de su enseñanza. Personalmente creo, como<br />
Italo Calvino (2007: 13), que «hay cosas que sólo la literatura con sus medios<br />
específicos puede dar». Nuestra esperanza, supongo que compartida por<br />
todos los que aquí nos encontramos, es que la escuela pueda ofrecerlas a<br />
los niños y niñas del nuevo siglo.<br />
Referencias<br />
Baye, A., Lafontaine, D. & Vanhulle, S. (2003). «Lire ou Ne Pas Lire: Etat de la question», in Les Cahiers<br />
du CLPCF (Centre de Lecture Publique de la Communauté Française), núm. 4: 3-64.<br />
Calvino, I. (2007). Seis Propuestas <strong>para</strong> el Próximo Milenio, Madrid: Siruela.<br />
Colomer, T. (2007). Andar Entre Livros. A <strong>Leitura</strong> Literária na Escola, São Paulo: Global Editora.<br />
Duran, C. & Manresa, M. (2008). «Entre Països: l’Acció Educativa al Nostre Entorn», in Colomer, T.<br />
(coord.) Lectures Adolescents, Barcelona: Graó.<br />
Machado, A.M. (2005). Clásicos, Niños y Jóvenes, Bogotá: Norma.<br />
Marchesi, A. & Miret, I. (dir) (2006). Las Bibliotecas Escolares en España: Análisis y recomendaciones, Madrid:<br />
Fundación Germán Sánchez Ruipérez. http://www.fundaciongsr.es/pdfs/bibliotecas_escolares.pdf<br />
Ruddell (1995). «Those Influential Literacy Teachers: Meaning negociators and motivation<br />
builders», in The Reading Teacher, 48, 6, pp. 454-463.<br />
93
94<br />
Sociedad y Lectura.<br />
La Importancia de los<br />
Mediadores en Lectura<br />
PEDRO C. CERRILLO TORREMOCHA*<br />
La alfabetización es algo más que saber leer y escribir, y hoy, en el siglo<br />
de las nuevas tecnologías, estamos obligados a facilitar el acceso de los<br />
ciudadanos al mundo globalizado de la información, pero también a pre<strong>para</strong>rlos<br />
<strong>para</strong> manejarse, libre y críticamente, en él; y esto no es posible<br />
sin competencia lectora. La lectura no es sólo el reconocimiento de unos<br />
sonidos, de unas sílabas o de unas palabras en el conjunto de un texto; las<br />
palabras pueden significar cosas muy diferentes, que sólo un lector competente<br />
sabrá «leer» en cada momento. Debemos entender la lectura,<br />
pues, como la capacidad de comprender e interpretar mensajes, que posibilita<br />
– además – <strong>para</strong> dar opiniones y realizar valoraciones de lo leído.<br />
Hoy es frecuente ver cómo se confunden «sociedad de la información» y<br />
«sociedad del conocimiento», que no son, en ningún caso, conceptos<br />
sinónimos. La «información» es algo externo y rápidamente acumulable<br />
por las personas, pero que puede ser «nada» si una persona no es capaz<br />
de asimilarla, discriminarla, procesarla y enjuiciarla, y eso sólo lo faculta<br />
la competencia lectora. El «conocimiento», en cambio, es algo interno,<br />
estructurado, que se relaciona con el entendimiento y con la inteligencia,<br />
que crece lentamente y que puede conducir a la acción.<br />
Si el logro de la «sociedad del conocimiento» es un objetivo de la sociedad,<br />
como dicen desde hace tiempo muchos gobiernos, es imprescindible<br />
que lo sea también la adquisición de la competencia lectora de todas las<br />
personas, pues es la que va a hacer posible el acceso al «conocimiento»,<br />
no sólo a la «información». En el siglo XXI es más necesario que nunca un<br />
ciudadano lector, competente y crítico, capaz de leer diferentes tipos de<br />
textos y de discriminar la abundante información que se le ofrece a diario<br />
en diversos soportes, es decir un ciudadano con competencia lectora, lo<br />
que le permitirá abandonar el sistema de exclusión educativa, interpretar<br />
y enjuiciar ideas pasadas y presentes, acceder críticamente a las «tics»,<br />
protegerse ante los mensajes publicitarios indiscriminados o compartir<br />
emociones, sentimientos y esperanzas con personas de otras culturas y<br />
otros territorios. Esa competencia lectora es la que hará posible, además,<br />
*Professor Catedrático de Didáctica de Língua e da Literatura na Universidad de Castela-Mancha.<br />
95
96<br />
el paso a la «competencia literaria», que es la competencia que permite a la<br />
persona ejercer la libertad de la palabra y de las ideas, por medio de la que<br />
podrá construir significados propios, que pueden ser contrarios a los que<br />
le son impuestos desde cualquier instancia o institución (Corral 2007: 93).<br />
Para lograrlo, son necesarias intervenciones institucionales decididas y<br />
duraderas que desarrollen y atiendan programas de promoción lectora a<br />
los que tengan acceso todos los ciudadanos, convirtiendo la lectura en un<br />
asunto de política de gobierno, con participación de todas las administraciones,<br />
de manera que se logre, en un tiempo razonable, generar un<br />
clima social que la favorezca y desarrolle, así como crear conciencia de su<br />
valor social y modificar las actitudes de la población hacia ella, hacia los<br />
libros y hacia los lectores. Aunque no estoy del todo de acuerdo con<br />
Alberto Manguel (2002: 2), una parte de razón sí tiene cuando dice que:<br />
Nuestras sociedades no creen en la importancia del acto intelectual.<br />
Los gobiernos tienen mucho miedo... Es muy difícil gobernar a un<br />
pueblo que lea y cuestione las cosas.<br />
Por desgracia, la historia – en muchas ocasiones – ha confirmado las palabras<br />
de Manguel: las hogueras de libros, la persecución de ciertas ediciones,<br />
los índices inquisitoriales de libros prohibidos, las persecuciones<br />
fundamentalistas de escritores críticos, el secuestro de libros... Para<br />
algunos de quienes han ostentado el poder ha sido una tentación limitar,<br />
condicionar, controlar o prohibir el acceso a los libros que pudieran ser<br />
sospechosos de contradecir al gobernante, por ser portadores de críticas<br />
o subversiones. Todo ello puede hacernos pensar, al menos a veces, que<br />
no se pone toda la voluntad necesaria <strong>para</strong> intervenir de verdad en la<br />
mejora de los índices lectores de la población. Quizá podríamos preguntarnos<br />
si es legítimo «intervenir» (es decir, mediar) en la actitud lectora de<br />
los ciudadanos, siendo ésa una elección personal. Creo que sí es legítimo<br />
y conveniente intervenir, como también lo es la intervención institucional<br />
en otras actitudes o hábitos: la conducción temeraria, el consumo<br />
de alcohol y tabaco o la conservación de la naturaleza. La bondad de esas<br />
intervenciones la corroboran los beneficios de esas prácticas.<br />
La lectura fue antaño una actividad minoritaria que discriminaba a las personas;<br />
pero hoy debiera considerarse un bien «de primera necesidad», al que<br />
tienen derecho todos los ciudadanos. Ser alfabetizado es un derecho universal<br />
de todas las sociedades, porque el valor instrumental de la lectura «competente»<br />
permitirá a los ciudadanos participar, autónoma y libremente, en la<br />
«sociedad del conocimiento». El logro de este objetivo exige, sin duda, la intervención<br />
de mediadores en lectura sólidamente formados y con los medios necesarios<br />
<strong>para</strong> cumplir dignamente su responsabilidad, porque son quienes van<br />
a propiciar el contacto de los lectores con los libros desde las primeras edades.<br />
La lectura hay que entenderla como un acto plenamente social, que está<br />
muy relacionado con el contexto cultural más cercano a las personas, con<br />
capacidad <strong>para</strong> liberar ataduras e imposiciones:<br />
Los más optimistas habrán llegado a pensar que la represión política y<br />
cultural y la autarquía moral son cosas ya del pasado. Pero son cosas<br />
que, además de residir todavía en nuestro presente actual, se han transmutado<br />
en la democracia en otra serie de presiones y, por qué no, de<br />
represiones contemporáneas (…) Ahí está, entre otros variados a<strong>para</strong>tos<br />
represivos u opresivos de la sociedad del mercado, el discurso publicitario<br />
<strong>para</strong> demostrar, como persuasor textual modélico, que vivimos en<br />
una ilusión fabricada – en un sueño, en una ambición, etc. – y no en una<br />
realidad autónoma, puesto que, como es bien sabido, la publicidad, más<br />
que vender productos compra clientes, <strong>para</strong> lo cual obviamente ha de<br />
vendernos deseos de consumir y deseos de exhibir lo consumido. Esto es,<br />
el mercado nos induce a la necesidad de presumir como si se tratara de<br />
lo que los sociólogos denominan necesidad primaria. (Corral 2007: 90)<br />
El lector no nace, se hace; pero el no lector también: nos hacemos lectores<br />
o no lectores con el paso del tiempo, a lo largo de un proceso formativo en<br />
el que interviene el desarrollo de la personalidad y en el que vivimos<br />
experiencias lectoras motivadoras y desmotivadoras, casi siempre en dos<br />
únicos contextos, el familiar y el escolar. Para bien mediar en ese proceso<br />
formativo que puede conducir a las personas a ser lectores, se debe intervenir<br />
desde los tres ámbitos clave de la lectura:<br />
La familia: el entorno más inmediato en que transcurren los primeros años<br />
de la vida y el lugar idóneo <strong>para</strong> el descubrimiento de la palabra por<br />
medio de la oralidad; un ámbito que no conlleva el aprendizaje de la lectura<br />
de las palabras escritas, y en el que la responsabilidad es de los padres.<br />
La escuela: un ámbito de obligatorio cumplimiento, en el que se aprende a leer<br />
las palabras escritas y se empieza a entender el significado de esas palabras.<br />
Es el ámbito de la primera lectura comprensiva. La responsabilidad es de los<br />
docentes, pero sin que los padres deban permanecer totalmente al margen.<br />
La biblioteca: a diferencia de los anteriores, es un ámbito indirecto, porque el<br />
acceso a ella es, y debe ser, voluntario, aunque el acceso a la biblioteca puede<br />
realizarse en busca de lecturas placenteras (ocio) o en busca de lecturas instrumentales<br />
(estudio), pero siempre por iniciativa propia. La responsabilidad<br />
es de los bibliotecarios. La biblioteca es patrimonio de una comunidad; en ella<br />
los lectores aprenderán a compartir y respetar los bienes comunes: libros y<br />
otros materiales a disposición de todos los usuarios.<br />
97
98<br />
Educación y lectura <strong>para</strong> todos. La figura del mmeeddiiaaddoorr<br />
Durante siglos se trató de garantizar el mantenimiento del privilegio<br />
de la educación <strong>para</strong> los bien nacidos. Los libros se preservaban<br />
por medio de copias hechas a mano, una a una, por escribas o monjes<br />
copistas, al servicio de reyes, papas, monasterios ricos, nobles. Las<br />
bibliotecas eran de los poderosos. El dominio de la escritura y de la<br />
lectura o el acceso a la educación, también. (Machado 2007: 50)<br />
A partir del siglo XVIII se fue extendiendo el convencimiento de que la<br />
educación era necesaria <strong>para</strong> todos, reivindicándose la igualdad de<br />
oportunidades, algo que no siempre ni en todos los lugares se ha logrado,<br />
y que, todavía hoy, sigue siendo muy difícil, pues son necesarios<br />
mediadores capacitados y con recursos suficientes <strong>para</strong> intervenir con<br />
eficacia.<br />
En la creación de hábitos lectores, sobre todo en los periodos de la infancia<br />
y la adolescencia, es muy importante la figura del mediador, papel que<br />
suelen cumplir adultos con perfiles específicos (padres, maestros, educadores<br />
sociales, trabajadores sociales o bibliotecarios, aunque, en buena<br />
lógica, deberíamos considerar también como tales a los editores, a los<br />
autores o a los libreros). Y es importante porque en la infancia y en la adolescencia<br />
los lectores tienen niveles diferentes y progresivos en sus capacidades<br />
de comprensión lectora y recepción literaria; por eso, es necesario<br />
el mediador, como puente o enlace entre los libros y esos primeros lectores<br />
que propicia y facilita el diálogo entre ambos. En esos casos, el<br />
mediador cumple el papel de primer receptor del texto, siendo el lector<br />
infantil el segundo receptor, algo que se da en la Literatura Infantil, porque<br />
es una literatura que se dirige a unos lectores específicos. En<br />
Literatura Infantil, pues, el mediador es, casi siempre, el primer receptor<br />
de la obra (Lluch 2003: 28), que facilitará ideas y caminos <strong>para</strong> realizar las<br />
lecturas, también <strong>para</strong> elegirlas, porque el destinatario de las mismas es<br />
todavía un ser en desarrollo, con poca experiencia de contacto consciente<br />
con los textos literarios (su experiencia se suele limitar a la literatura<br />
oral), y con una pequeña competencia enciclopédica.<br />
No todo el mundo cree en la conveniencia de que exista ese mediador, ya<br />
que la decisión final en la elección de un libro la debe tener siempre el lector,<br />
pero creo que no es desdeñable una intervención mediadora que, con<br />
conocimiento de causa, aporte soluciones ante las dudas y facilite, en lo<br />
posible, la decisión en la elección de la lectura adecuada.<br />
El mediador, sobre todo si es docente, no debe olvidar que hacer lectores<br />
en el ámbito escolar tiene una serie de dificultades, cuyo conocimiento le<br />
ayudará a superarlas en muchos momentos; las causas que provocan esas<br />
dificultades son variadas: desde el aprendizaje de los mecanismos lecto-<br />
-escritores como una actividad mecánica, sin la necesaria atención a los<br />
aspectos comprensivos, hasta la excesiva «instrumentalización» escolar<br />
de la lectura, pasando por las diferencias en los niveles de adquisición de<br />
la lengua de expresión y en experiencias lectoras previas de los alumnos,<br />
o por la consideración social de la lectura como una actividad seria, «aburrida»,<br />
o por la falta de ambiente de lectura en el entorno extraescolar del<br />
niño.<br />
1. LA FORMACIÓN DEL MEDIADOR EN LECTURA<br />
El problema nos lo encontramos, en más ocasiones de las deseadas, en la<br />
formación de los mediadores. No quisiera ser excesivamente pesimista,<br />
pero al acabar sus estudios reglados ni profesores ni bibliotecarios tienen<br />
una formación específica <strong>para</strong> ejercer la mediación lectora en buenas<br />
condiciones. Veamos por qué: en lo que se refiere a los bibliotecarios, la<br />
formación institucionalizada que se les da les faculta <strong>para</strong> desarrollar<br />
actividades como la catalogación, la documentación o la organización de<br />
la biblioteca, pero no <strong>para</strong> intervenir en el proceso de lectura, en el análisis<br />
de textos o en la selección de un canon de lecturas juveniles, por<br />
ejemplo. ¿Y los profesores? (Cerrillo 2007: 82-97): el sistema universitario<br />
actual pre<strong>para</strong> a maestros y filólogos, es decir a los futuros profesores de<br />
Primaria, Secundaria y Bachillerato, proporcionándoles una formación,<br />
en lo que a lectura se refiere, que les capacita, en el caso de los maestros,<br />
<strong>para</strong> que enseñen a leer pero no <strong>para</strong> que creen y formen lectores, quedando<br />
esta formación a expensas del empeño individual y la voluntad posterior<br />
de quienes tienen más inquietud, ya que el maestro actual puede<br />
tener conocimientos suficientes de organización escolar, de didáctica<br />
general, de legislación educativa o de psicología evolutiva, pero no los<br />
tiene ni del acto de leer, ni de lenguaje literario, ni de análisis de textos,<br />
ni de Historia de la Literatura. En el caso de los filólogos, pueden terminar<br />
sus estudios con conocimientos de Historia de la Literatura, de comentario<br />
de textos, de lingüística o de gramática, pero no suelen saber nada ni<br />
del proceso lector, ni de Literatura Infantil y Juvenil, ni de Didáctica de la<br />
Literatura.<br />
El mediador en lectura debe formarse a lo largo de un proceso largo, organizado,<br />
coherente y comprometido, en el que se unirán conocimientos<br />
generales y específicos, competencias profesionales, espíritu crítico, capacidad<br />
<strong>para</strong> la intervención comunicativa, creatividad, criterios socializadores,<br />
humanismo y, hoy también, capacidad <strong>para</strong> entender y atender la<br />
diversidad cultural. Este proceso, que sólo la voluntad del propio mediador<br />
puede llegar a cumplir en su totalidad, es el que hará posible que<br />
reúna las actitudes, aptitudes y requisitos que debieran ser exigibles <strong>para</strong><br />
desarrollar la labor de mediación lectora, y que, aunque pudieran parecer<br />
obvios, deben saberse:<br />
99
100<br />
Ser un lector habitual, convencido de las bondades de la lectura.<br />
Conocimiento del grupo y capacidad <strong>para</strong> promover su participación.<br />
Una cierta dosis de imaginación y creatividad.<br />
Creer firmemente en su trabajo de mediador: compromiso y entusiasmo.<br />
Capacidad <strong>para</strong> acceder a información suficiente y renovada.<br />
Conocimiento del contexto de procedencia de los destinatarios de sus intervenciones<br />
mediadores.<br />
Poseer una mínima formación literaria, psicológica y didáctica, que le posibilite,<br />
entre otros, conocimientos sobre:<br />
El proceso lector y las habilidades que facilitan la lectura.<br />
Un cierto canon de lecturas literarias: obras que pueden ser iniciáticas en la formación<br />
literaria del niño, al margen de las lecturas escolares que forman parte del currículo.<br />
La teoría y la práctica de técnicas y estrategias de animación lectora.<br />
La Literatura Infantil y sus mecanismos editoriales.<br />
La contextualización histórica de la Literatura Infantil.<br />
La evolución psicológica del individuo en su relación con la lectura.<br />
Todo ello sin olvidar que <strong>para</strong> hacer lectores no existe mejor medicina<br />
que los buenos libros, seleccionados por su capacidad <strong>para</strong> transmitir<br />
mensajes expresados con corrección lingüística y calidad literaria, y por<br />
su capacidad <strong>para</strong> emocionarnos o <strong>para</strong> hacernos vibrar, sentir, soñar o<br />
compartir. La labor del mediador en la selección de lecturas es muy<br />
importante porque pone en contacto el libro que considera adecuado con<br />
sus potenciales lectores, entendiendo que, siempre, la última palabra en<br />
la elección debería tenerla el lector. Lo que sucede es que el análisis que<br />
el mediador haga de las características de un libro, puede condicionar la<br />
edad recomendada en el propio libro por la editorial.<br />
Pero ¿dónde puede un mediador adquirir la formación que precisa? Ya<br />
hemos comentado que es difícil encontrar estudios de «grado» por medio<br />
de los que la Universidad (aunque me refiero a la española, no creo que<br />
sea muy diferente en otros países) forme profesionales de esas características.<br />
Tampoco parece que con la reforma «Bolonia» la situación vaya a<br />
cambiar. Pese a todo, en los últimos años, algunas universidades, con la<br />
colaboración de otras instituciones, ofrecen algunas posibilidades formativas<br />
en estudios universitarios de postgrado o en programas de formación<br />
complementaria (las universidades de Castilla La Mancha,<br />
Autónoma de Barcelona, Alcalá de Henares, Valencia o Extremadura).<br />
2. EL MEDIADOR Y EL ENTORNO SOCIAL<br />
La escuela puede lograr que los niños asuman que leer es importante,<br />
pero difícilmente podrá conseguir que la lectura sea una alternativa de<br />
ocio <strong>para</strong> ellos. Además, la lectura escolar es una lectura lastrada por su<br />
101<br />
inclusión en un área como la que representa la unión de «Lengua y<br />
Literatura» y por la «prescripción lectora», lo que la convierte en una lectura<br />
claramente instrumental: los escolares, que queremos que pronto y<br />
durante mucho tiempo sean lectores, deben enfrentarse a unos textos en<br />
los que se ejemplifican nociones y conceptos morfológicos, sintácticos y<br />
léxicos, o conocimientos y valores programados en el periodo educativo<br />
que corresponda, siempre en detrimento de los valores literarios de esos<br />
textos. No es extraño que esos escolares huyan de la lectura en cuanto ésta<br />
no es una actividad obligada <strong>para</strong> ellos. Sobre este asunto ya se expresó<br />
Lázaro Carreter hace muchos años:<br />
El niño no se acerca al libro como al juego, al circo o al deporte; no<br />
existe entre sus apetencias (…) Sus primeros contactos con el libro son<br />
de vencimiento de obstáculos; primero, el de descifrar los signos gráficos<br />
y el de relacionarlos con el significado del léxico y del discurso;<br />
después, el de la comprensión de los distintos saberes... Con el libro de<br />
texto, los muchachos, en rigor, no leen, sino que aprenden. No es raro<br />
que este esfuerzo les disuada del camino de la lectura (...) No creo apenas<br />
en el lector espontáneo; los que solemos tenernos por tales hallaremos<br />
en los orígenes de nuestra afición, si recapacitamos, estímulos<br />
y contagio. (Carreter 1984: 7)<br />
El mediador (en el ámbito que sea) es quien fomentará las primeras tendencias<br />
lectoras, consolidándolas con las estrategias más adecuadas en<br />
cada momento. Su trabajo es esencial, pero también complejo (sobre todo<br />
en el ámbito escolar), entre otras razones porque deberá trabajar con lecturas<br />
de diverso tipo, con las que pretenderá lograr diversos objetivos:<br />
información, instrucción, diversión, imaginación, etc., lo que no deja de<br />
provocar ciertas confusiones. Además, se encontrará con la competencia,<br />
a veces desleal, de actividades y prácticas de ocio, muy extendidas en el<br />
conjunto de la sociedad, que tienen en su pasividad el principal reclamo:<br />
la televisión, los juegos electrónicos o las nuevas tecnologías provocan<br />
una fascinación inmediata con la que el ejercicio de la lectura, con lo que<br />
tiene de voluntario, individual, esforzado o silencioso, difícilmente<br />
puede competir. El auge de los medios audiovisuales y la poderosa irrupción<br />
de las nuevas tecnologías han favorecido un cambio de modelo cultural:<br />
de la supremacía de una cultura alfabética, textual e impresa, se ha<br />
pasado a la supremacía de una cultura de imágenes audiovisuales, lo que<br />
ha provocado ciertos cambios en los usos del lenguaje y en las capacidades<br />
de razonamiento.<br />
Y, sin embargo, la historia nos dice que ha sido la práctica de la lectura la<br />
que ha aportado a los hombres capacidad <strong>para</strong> interpretar, elegir, debatir<br />
y criticar. Los mediadores y los educadores son los primeros que lo deben
102<br />
tener en cuenta, pero no debieran ser los únicos: la sociedad – a través de<br />
sus instituciones – tiene que formarlos adecuadamente y proporcionarles<br />
los medios necesarios <strong>para</strong> cumplir dignamente esa responsabilidad. No<br />
sería bueno – creo yo – que las sociedades desarrolladas, justificándose en<br />
la revolución tecnológica, renunciaran a la extensión de la práctica lectora<br />
a todos los ciudadanos, y con ella a su pre<strong>para</strong>ción no sólo <strong>para</strong> el trabajo,<br />
sino también <strong>para</strong> la vida y <strong>para</strong> todo lo que en ella van a encontrar.<br />
A modo de conclusión<br />
Ninguna persona, en ningún lugar del mundo, nace sabiendo hablar, leer<br />
o escribir, ni aprende solo cualquiera de esas habilidades, ya que las tres<br />
necesitan ser enseñadas y aprendidas, porque, como bien dice Ana Mª<br />
Machado (2007: 49):<br />
Leer no es natural. Más aún, hablar y conversar no son actos naturales,<br />
sino culturales (…) El lenguaje articulado no es un fenómeno<br />
de la naturaleza sino de la cultura, del grupo social. Principalmente<br />
el lenguaje simbólico, que va más allá de la mera indicación concreta<br />
y trabaja con abstracciones. Pura cultura. Si nadie enseña, nadie<br />
aprende.<br />
De ahí, la importancia que tienen los mediadores en lectura, también después<br />
del momento en que se aprenden los mecanismos técnicos de la<br />
lecto-escritura.<br />
De todos modos, la Lectura, necesita una profunda reflexión en este tiempo<br />
de grandes cambios sociales, porque a la lectura literaria, la que tiene<br />
en el libro su soporte esencial, le acompañan ahora otras lecturas, electrónicas<br />
unas, icónicas otras y mediáticas otras más, que son, en principio,<br />
más asequibles, porque no necesitan el recorrido de un camino previo<br />
largo, voluntario y, en ocasiones, difícil y esforzado, y que son enormemente<br />
atractivas <strong>para</strong> los niños y los adolescentes. Sólo el lector competente<br />
(es decir aquel que tiene capacidad <strong>para</strong> discriminar, reflexionar y<br />
opinar sobre lo leído) podrá acceder a todas esas lecturas en buenas condiciones.<br />
Si los gobiernos totalitarios siempre han visto peligrosa <strong>para</strong> sus intereses<br />
la lectura literaria, por lo que aporta de libertad y de capacidad crítica<br />
a sus lectores, la práctica exclusiva de esos nuevos tipos de lecturas<br />
(que suelen denostar la lectura literaria), conlleva otros peligros <strong>para</strong> las<br />
sociedades desarrolladas y democráticas, que debieran preocuparnos a<br />
todos, también a quienes las gobiernan, porque pueden empobrecer cultural<br />
y lingüísticamente a sus ciudadanos, restringiéndoles sus capacidades<br />
<strong>para</strong> la reflexión, el juicio crítico y el pensamiento autónomo.<br />
Además, que nadie crea que las nuevas tecnologías son neutras o inocentes:<br />
103<br />
«chatear», por ejemplo, no es sólo una forma de comunicación, sino que<br />
exige – quizá impone – un nuevo lenguaje y, con él, un nuevo lector.<br />
Georges Steiner (2000: 64) ha señalado que nunca tanta información ha generado<br />
menos conocimiento. No podemos confundirnos: internet es una excepcional<br />
manera de democratizar el acceso a la información que hace posible,<br />
además, la adquisición de nuevos conocimientos, pero es una lectura<br />
«instrumental»; como dice Ana Mª Machado (2002: 36):<br />
No es una forma de adquirir sabiduría. Para la transmisión de la<br />
sabiduría se exige otro proceso, en el que decidir no depende de una<br />
opción entre otras del menú, de una preferencia por «esto o aquello»,<br />
sino de una com<strong>para</strong>ción entre «esto y aquello», con análisis de argumentos,<br />
oposición de contrarios, encadenamiento lógico que lleve a<br />
conclusiones, etc. Un proceso complejo...<br />
El concepto de «alfabetización» hoy ha cambiado: al aprendizaje de los<br />
mecanismos lectoescritores hay que sumarle la competencia lectora, que es<br />
la competencia que permitirá al lector leer diversos tipos de textos (escolares,<br />
instrumentales, informativos, literarios,…), en situaciones diversas<br />
y en códigos diferentes (verbales, icónicos, audiovisuales,…), siendo capaz<br />
de discriminar, reflexionar y opinar sobre lo leído.<br />
Por otro lado, no sería justificable que el pensamiento «globalizador», tan<br />
difundido por muchos medios de comunicación, llevara a las sociedades<br />
actuales a dilapidar sus patrimonios culturales, en los que los textos<br />
escritos han ocupado el mayor espacio de sus historias literarias, pero en<br />
los que los materiales literarios orales han sido una parte muy importante<br />
del imaginario de cada colectividad. En esos materiales orales hay un<br />
fondo común, sin duda, del que forman parte cuentos, mitos, leyendas,<br />
canciones escenificadas, nanas o trabalenguas, pero hay también un<br />
fondo particularizado nada desdeñable:<br />
…Materiales de ficción que configuran el espacio de la literatura oral<br />
(…) y que constituyen el patrimonio inmaterial de los pueblos.<br />
(Manila 2007: 16)<br />
Este patrimonio inmaterial (de carácter folclórico y etnológico) que forman<br />
los textos literarios orales caracteriza una parte importante de la<br />
cultura de una sociedad; aunque su sustento sea la memoria, no debiera<br />
renunciarse a su consideración como objeto de conocimiento.<br />
La suma de las experiencias que se derivan de los diversos tipos de lecturas<br />
ayudará a la formación del espíritu crítico del lector, porque se acostumbrará<br />
a elegir, a formarse opinión propia, a entender y explicar lo<br />
que es y lo que siente, lo que sucedió en otro tiempo y lo que le hubiera
104<br />
gustado que nunca sucediera. Se sentirá, de algún modo, con capacidad<br />
<strong>para</strong> ejercer el juicio crítico con libertad.<br />
Para lograrlo, o al menos <strong>para</strong> intentarlo, la sociedad – por medio de sus<br />
instituciones – tiene que asumir la responsabilidad de capacitar a los<br />
mediadores en lectura: formándolos adecuadamente y proporcionándoles<br />
los medios necesarios <strong>para</strong> cumplir dignamente su responsabilidad, porque<br />
la lectura debe ser entendida como una responsabilidad social, no<br />
sólo escolar, pues está relacionada con el contexto cultural más cercano<br />
a las personas, con especial influencia – además – en las primeras edades,<br />
y porque la lectura puede llevarnos al conocimiento, y el conocimiento<br />
hace que una sociedad sea más justa y, sobre todo, más libre.<br />
Referencias Bibliográficas<br />
Cerrillo, P.C. (2007). Literatura Infantil y Juvenil y Educación Literaria, Barcelona: Octaedro.<br />
Janer Manila, G. (2007). «Literatura Oral y Ecología de lo Imaginario», in Oheee, 3, 14-31.<br />
Lázaro Carreter, F. (1984, 12 de febrero). «El deseo de leer», in ABC, p. 7.<br />
Lluch, G. (2003). Análisis de Narrativas Infantiles y Juveniles, Cuenca: Ediciones de la Universidad de<br />
Castilla La Mancha.<br />
Machado, A.M. (2002). Lectura, Escuela y Creación Literaria, Madrid: Anaya.<br />
– (2007). «Derecho de Ellos y Deber Nuestro. Literatura Infantil, ¿Para Qué?», in CLIJ, 210, 48-57.<br />
Manguel, A. (2002, 12 de enero). Entrevista en Babelia, in El País, 2-3.<br />
Sánchez Corral, L. (2007). «Lectura e Identidad: ¿Es posible la educación literaria?», in VV. AA.,<br />
Literatura Infantil, Nuevas Lecturas y Nuevos Lectores, Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla La<br />
Mancha, pp. 83-96.<br />
Steiner, G. (2000). La Barbarie de la Ignorancia, Barcelona: Taller de Mario Muchnik.<br />
Comprendre en Lisant<br />
MICHEL FAYOL*<br />
105<br />
Lecture et compréhension<br />
Lire, c’est extraire d’une représentation graphique du langage la prononciation<br />
et la signification qui lui correspondent. La lecture est donc une<br />
activité mentale complexe qui peut s’analyser en au moins deux dimensions<br />
complémentaires. L’une d’elles concerne la compréhension, qui<br />
constitue l’objectif de l’activité de lecture. On lit pour comprendre, afin<br />
de s’informer, se distraire, apprendre, etc. La compréhension n’est toutefois<br />
pas spécifique à la lecture: elle s’exerce aussi bien lorsque nous regardons<br />
un film ou lorsque nous suivons une conversation (Gernsbacher<br />
1997). Elle précède l’apprentissage de la lecture et s’exerce à la fois au<br />
cours et en dehors de cet apprentissage. Elle peut même faire l’objet d’un<br />
entraînement spécifique chez les enfants de niveau pré-scolaire (Bianco,<br />
sous presse). Le problème auquel se trouve confronté l’enfant est de mettre<br />
en œuvre l’activité de compréhension à partir de la lecture (Fayol &<br />
Morais 2004).<br />
La seconde dimension est spécifique à la lecture. Cette dernière est une<br />
activité complexe au cours de laquelle le lecteur doit reconnaître les<br />
mots, construire la signification des phrases et des textes, retenir en<br />
mémoire ce qui est déjà lu, etc. La plupart de ces processus est déjà exercée<br />
à l’oral avant que les enfants n’apprennent à lire. Ce que la lecture<br />
introduit de nouveau tient à ce que les conditions de mise en œuvre de<br />
ces processus diffèrent de celles de l’oral: l’identification des mots et l’accès<br />
à leurs formes phonologique (comment ils se prononcent), orthographique<br />
(comment ils s’écrivent) et à leur sens s’effectuent à partir de leur<br />
forme orthographique; les mots déjà traités restent disponibles sous les<br />
yeux, ce qui permet de moduler la vitesse de traitement des mots et<br />
même de les relire, ce que le traitement oral ne permet pas (Fayol 1992).<br />
L’identification des mots écrits et la compréhension en lecture sont<br />
fortement corrélées. Toutefois, certains enfants manifestent une différence<br />
très forte entre ces deux dimensions. Il en ya ainsi des dyslexiques,<br />
qui présentent des difficultés de décodage, ou des enfants qui présentent<br />
des difficultés de la compréhension en général (pas spécifiquement en<br />
lecture) en l’absence de tout déficit en reconnaissance de mots (ONL 2000).<br />
Il est ainsi possible de distinguer entre les enfants qui éprouvent des<br />
difficultés de compréhension, ceux pour qui le décodage ou l’identification<br />
*Professor de Psicologia na Universidade Blaise Pascal, França; membro do Observatoire National de<br />
la Lecture.
106<br />
des mots pose problème, et ceux, enfin, qui cumulent les deux handicaps<br />
(Braibant 1994). Tout lecteur qui présente des déficits de compréhension en<br />
lecture de textes alors que l’identification des mots écrits peut être<br />
considérée normale aurait des difficultés de compréhension en général.<br />
Aussi bien la capacité d’identification des mots écrits que les capacités de<br />
compréhension de la langue sont des conditions nécessaires mais non<br />
suffisantes de la compréhension de l’écrit.<br />
Considérer que la lecture comporte deux dimensions complémentaires<br />
ne suffit pas. En effet, les lecteurs doivent les gérer simultanément au<br />
cours même de la lecture. Or, les êtres humains, ont une capacité limitée<br />
à traiter des informations à un moment donné. S’il est possible de mener<br />
en <strong>para</strong>llèle deux activités automatisées, une activité automatisée et une<br />
autre qui ne l’est pas, il est très difficile de le faire avec deux activités coûteuses<br />
en attention. Comme il est peu probable que l’activité de compréhension<br />
des discours et des textes puisse être automatisée, elle<br />
mobilise toujours de l’attention pour coordonner les différents types<br />
d’informations et les intégrer en une représentation cohérente. Ce sont<br />
donc les autres composantes de la lecture-compréhension qui doivent<br />
être automatisées ou dont le coût doit être allégé, notamment le coût de<br />
l’identification des mots.<br />
Les difficultés propres à la compréhension<br />
La connaissance du lexique constitue une source importante de<br />
difficultés pour la compréhension en lecture, particulièrement lorsque<br />
les textes sont de nature technique et visent à permettre l’apprentissage<br />
de notions nouvelles. Il existe d’ailleurs une forte relation entre l’étendue<br />
du lexique et la compréhension de textes écrits, mais elle est à double<br />
sens. La connaissance du lexique influe directement sur la<br />
compréhension de textes: les enfants qui disposent du lexique le plus<br />
étendu sur un domaine donné sont ceux qui comprennent le mieux les<br />
textes relatifs à ce domaine. Toutefois, la pratique de la compréhension<br />
au cours de la lecture induit également en retour l’accroissement du<br />
lexique (Cunningham & Stanovich 1998). Chez les plus jeunes, le<br />
vocabulaire disponible à l’oral joue un rôle fondamental dans la<br />
compréhension. Ultérieurement, plus les élèves maîtrisent la lecture et<br />
sont en mesure de lire par eux-mêmes, plus le lexique augmente et<br />
s’organise. Cette influence réciproque augmente les différences<br />
interindividuelles: ceux qui lisent le plus accroissent leur lexique et<br />
peuvent plus vite et mieux traiter les textes, alors que ceux qui lisent peu<br />
bénéficient d’une moindre augmentation de leur lexique, laquelle<br />
rejaillit sur la compréhension, et donc sur le développement lexical. On<br />
pourrait penser que l’instruction explicite du lexique est susceptible<br />
d’améliorer rapidement les performances en compréhension. Or,<br />
107<br />
l’efficacité des leçons de vocabulaire pour la compréhension en lecture<br />
reste limitée (Bauman et al. 2003). Le nombre restreint de mots qui y est<br />
à chaque fois étudié ne permet pas de rendre compte de l’évolution très<br />
rapide du vocabulaire disponible en compréhension chez les enfants. Des<br />
recherches complémentaires sont toutefois nécessaires pour déterminer<br />
si certains modes d’introduction des connaissances lexicales pourraient<br />
induire à la fois un accroissement du stock lexical et une meilleure<br />
compréhension des textes.<br />
La lecture nécessite l’élaboration en fonction du but poursuivi (se<br />
distraire, s’informer, explorer un document, etc.) d’une représentation<br />
mentale de la situation décrite intégrant des informations présentées<br />
successivement dans le texte. Cette élaboration est nécessairement<br />
progressive puisqu’elle commence à partir des premiers éléments traités<br />
auxquels sont ensuite rattachées les informations suivantes (Gernsbacher<br />
1997). Celles-ci introduisent des données dont le degré de nouveauté<br />
varie par rapport à ce qui a déjà été lu, ce qui les rend plus ou moins<br />
faciles à intégrer. Or, le lecteur doit à la fois assurer la cohérence de la<br />
représentation élaborée à partir des éléments déjà traités et prendre en<br />
compte les éléments nouveaux qui imposent la modification et<br />
l’actualisation de la représentation jusqu’alors élaborée (Zwaan &<br />
Radvansky 1998). Pour cela, il lui faut établir le thème du texte, le lieu et<br />
le moment de l’action s’il s’agit d’un récit; regrouper en un ensemble<br />
organisé en fonction d’un but les actions d’un personnage, puis d’un<br />
autre, et ainsi de suite. Ces mécanismes généraux s’appuient d’une part,<br />
sur les indices disponibles dans le texte (par exemple les suites de noms,<br />
les pronoms, etc.), d’autre part, sur les savoirs dont un individu dispose<br />
du fait de son expérience propre ou des enseignements qu’il a reçus,<br />
enfin, sur des habiletés ou capacités qui permettent de traiter les<br />
informations (attention, mémoire à court terme…).<br />
Les données disponibles montrent que la compréhension présente des<br />
difficultés propres, indépendamment de la modalité (orale, écrite...).<br />
Certaines ont été identifiées et ont donné lieu à des recherches visant à<br />
étudier s’il était possible d’enseigner aux enfants des procédures pour les<br />
prévenir ou y remédier (Gaonach & Fayol 2003; Oakhill & Cain 2003).<br />
Deux difficultés ont ainsi été particulièrement abordées: le traitement<br />
des inférences; le traitement des anaphores.
108<br />
1. LE TRAITEMENT DES INFÉRENCES<br />
Lorsque deux propositions ou phrases successives comportent au moins<br />
un élément commun, leur mise en relation s’effectue de manière<br />
généralement rapide et facile, par exemple dans «Le chien aperçut son<br />
maître. Il courut vers lui». La continuité thématique est assurée par la<br />
pronominalisation, qui conserve par ailleurs les positions et les rôles (le<br />
chien [agent] – il; son maître [patient] – lui). Il n’en va pas toujours ainsi.<br />
Dans les deux phrases «Les vacanciers sortirent le pique-nique du coffre. La bière<br />
était tiède.» la mise en relation exige que le syntagme «la bière» soit associé<br />
au groupe «pique-nique» pour conduire à ce que le lecteur estime avoir<br />
compris que les vacanciers avaient sorti la bière tiède du coffre. Cette<br />
mise en relation constitue une inférence. Elle repose sur des<br />
connaissances non explicitement évoquées par et dans le texte et que le<br />
lecteur doit retrouver dans sa mémoire ou élaborer par déduction pour<br />
établir la continuité des situations ou des événements décrits (Fayol &<br />
Morais 2004). Pour cela, ces connaissances doivent être disponibles: ceux<br />
qui n’ont jamais pratiqué ou observé un pique-nique ont des difficultés<br />
pour comprendre de telles séquences. Elles doivent aussi être accessibles:<br />
plus l’association entre deux personnes, objets, états, etc. est fréquente et<br />
plus elle est facile à mobiliser. La réalisation d’une inférence présente<br />
donc toujours un certain coût, qui se manifeste par le ralentissement<br />
plus ou moins important de la vitesse de lecture. La réalisation des<br />
inférences est nécessaire pour établir la continuité dans la construction<br />
de la représentation mentale de la situation décrite par le texte. En son<br />
absence, la compréhension se limite en l’élaboration «d’îlots de<br />
signification» sans intégration de toutes les informations.<br />
Les lecteurs en général, et les faibles compreneurs en particulier, tendent à<br />
effectuer peu d’inférences. Toutefois, les entraînements à la réalisation des<br />
inférences qui ont été conduits auprès d’enfants de 7 à 10 ans montrent<br />
qu’on peut améliorer la production de celles-ci, ce qui induit une meilleure<br />
compréhension, cela même chez les enfants de 5-6 ans, en travaillant sur<br />
l’oral (Bianco 2003; Bianco et al., sous presse; Oakhill & Yuill 1996; Yuill &<br />
Oakhill 1991). Ces entraînements provoquent de nets progrès chez les faibles<br />
compreneurs. Ceci suggère que ces derniers n’étaient pas conscients de leurs<br />
possibilités et de la nécessité des inférences ou bien ignoraient la manière de<br />
procéder. Dans le premier cas, il s’agit d’une méconnaissance de savoirs<br />
relatifs à la dimension métacognitive de la compréhension (voir plus loin).<br />
Dans le second, les lacunes portent sur la connaissance et la mise en œuvre<br />
des savoir-faire (ou procédures) susceptibles de faciliter la compréhension.<br />
L’instruction explicite a provoqué un apprentissage des procédures à mettre<br />
en œuvre et des conditions dans lesquelles elles sont susceptibles de<br />
s’appliquer. Ces résultats ouvrent évidemment d’intéressantes perspectives<br />
pour l’intervention pédagogique (Bianco et al., sous presse).<br />
109<br />
2. LE TRAITEMENT DES ANAPHORES<br />
Les anaphores permettent de déterminer si un objet ou une personne<br />
évoqués dans une proposition sont les mêmes que dans une autre proposition<br />
ou phrase, en général antérieure. Elles assurent la continuité,<br />
notamment référentielle, des informations. Ainsi, dans «Le garçon et la<br />
fillette jouaient dans la cour. Elle le poursuivait.» elle renvoie à la fillette et le au<br />
garçon. Les personnages évoqués dans la première phrase sont repris<br />
dans la seconde, associés à de nouvelles informations qui modifient la<br />
situation. Les relations anaphoriques sont marquées par les articles<br />
(indéfini/défini), ou par l’emploi d’autres mots super- ou sous-ordonnés<br />
(chien/animal/cocker). L’interprétation des anaphores exige du lecteur qu’il<br />
distingue les marques (pronoms, articles) et les associe aux entités<br />
correctes (personnes ou objets déjà évoqués ou non dans le texte), de sorte<br />
que la représentation mentale de la situation décrite puisse être<br />
précisément élaborée.<br />
L’interprétation des anaphores dépend de deux facteurs. Elle dépend<br />
d’abord de la distance entre le pronom et son référent: plus la distance<br />
s’accroît et plus la récupération du référent demande de temps et<br />
d’efforts et plus les risques d’erreurs augmentent. Toutefois, cela vaut<br />
essentiellement pour les personnages secondaires. Elle dépend ensuite de<br />
la nature des anaphores. Lorsque celles-ci portent des indications de<br />
nombre ou de genre, le traitement s’en trouve facilité. Par exemple, en<br />
Français, les déterminants (un/une; des) et les pronoms diffèrent en<br />
fonction du genre (il/elle ou le/la) et du nombre (le-la/les): leur résolution est<br />
d’autant plus rapide et précise qu’ils portent ces indications permettant<br />
de prévenir les ambiguïtés.<br />
Les données de la recherche montrent que même les bons lecteurs<br />
commettent fréquemment des erreurs d’interprétation des anaphores<br />
(Ehrlich & Remond 1997). Toutefois, les recherches ont mis en évidence<br />
que les enfants, et en particulier les faibles compreneurs, bénéficient<br />
d’un entraînement à l’interprétation des anaphores, même lorsqu’ils<br />
sont très jeunes (Bauman 1986; Bianco 2003, sous presse).<br />
De manière plus générale, on peut, d’une part, enseigner le traitement de<br />
difficultés spécifiques, telles les inférences et l’interprétation des anaphores<br />
et, d’autre part, viser globalement l’amélioration de la conscience, des<br />
attitudes et des comportements des lecteurs, indépendamment des<br />
caractéristiques des textes qu’ils ont à aborder. C’est ce que tente l’approche<br />
métacognitive de la compréhension en lecture.
110<br />
Contrôler et gérer sa propre compréhension:<br />
l’approche métacognitive<br />
Pour parvenir à une compréhension satisfaisante d’un texte, le lecteur<br />
doit systématiquement déterminer s’il a ou non compris la partie du<br />
texte qu’il a déjà traitée. Ce contrôle permet d’autoréguler la compréhension,<br />
c’est-à-dire de modifier la vitesse ou la modalité de la lecture<br />
afin d’améliorer la compréhension. Ce qui revient à mettre en place des<br />
stratégies de lecture en fonction des difficultés identifiées et des<br />
connaissances relatives à la manière de les résoudre. Par exemple, le<br />
lecteur peut élaborer un résumé de ce qu’il a déjà lu afin de vérifier qu’il<br />
a une «vue d’ensemble» du texte. Ou encore, s’il a un doute sur sa<br />
compréhension de la situation décrite par le texte, il peut en relire une<br />
partie plus ou moins importante: quelques mots, une phrase, un<br />
<strong>para</strong>graphe, etc. Il peut enfin simplement ralentir la vitesse de lecture<br />
pour mieux intégrer les informations (Fayol & Gaonach 2003). La<br />
perspective métacognitive s’attache précisément à l’étude des savoirs sur<br />
la lecture (qu’est-ce qu’un texte difficile? A quoi sert de ralentir la vitesse<br />
de lecture? Pourquoi relire?) et les savoir-faire (ou stratégies) correspondants<br />
(ralentir la vitesse; relire; résumer…).<br />
Les bons lecteurs confrontés à des textes difficiles procèdent de manière<br />
stratégique. Ils passent en revue le texte à lire, lisent sélectivement, résument<br />
et reviennent sur les informations à retenir. Ces stratégies visent à<br />
assurer l’efficacité de la compréhension en l’organisant et en en gérant<br />
soigneusement le déroulement (ONL 2000). Les lecteurs tout-venant ont<br />
de moindres performances en lecture et recourent moins aux stratégies<br />
que les lecteurs experts; par exemple, ils relisent moins les passages les<br />
plus difficiles à interpréter ou ils modulent moins leur vitesse de prise<br />
d’information en fonction des difficultés. Toutefois, là encore, les expériences<br />
consistant à enseigner les stratégies de lecture – pauses, retours<br />
en arrière, résumés de passages déjà traités, etc. – attestent que l’instruction<br />
ainsi dispensée améliore les performances des lecteurs, même s’il<br />
s’agit d’enfants ayant des troubles de l’apprentissage. En somme, il est<br />
possible de rendre stratégiques même les faibles lecteurs (Gersten et al.<br />
2001; Paris, Lipson & Wixson 1983; Remond 2003).<br />
Pour conclure<br />
La maîtrise de la lecture compréhension est toujours relative (Fayol &<br />
Morais 2004). Nous sommes tous, à un moment ou un autre, de faibles compreneurs,<br />
accaparés par le traitement de mots techniques trop nouveaux ou<br />
dépassés par la saisie du sens de textes qui exigent des connaissances spécifiques.<br />
Nous éprouvons de la fatigue en lisant un texte difficile (pour nous),<br />
alors même que, dans d’autres circonstances, la lecture nous <strong>para</strong>ît facile et<br />
nous nous demandons comment elle peut poser problème à certains. Ces<br />
111<br />
sentiments contradictoires tiennent à ce que pour l’adulte bon lecteur<br />
comme pour l’enfant débutant lire nécessite toujours la coordination de<br />
deux activités – le traitement du code et la gestion de la compréhension –<br />
dont chacune présente un coût, variable selon les textes et leurs contenus.<br />
Garder cela présent à l’esprit peut contribuer à la fois à mieux comprendre<br />
les difficultés de certains individus et à mettre en place des situations destinées<br />
à prévenir ou éviter l’échec.<br />
Les enfants qui sont en phase d’apprentissage du code peuvent difficilement<br />
conduire une activité de compréhension au cours même de la lecture.<br />
Leur attention est captée par le traitement des mots et il leur est difficile<br />
d’imaginer les situations ou les événements décrits. Or, ces enfants<br />
disposent déjà d’habiletés très développées de compréhension, qu’ils<br />
exercent aussi bien à l’oral que sur des supports imagés. En conséquence,<br />
le matériel utilisé pour l’apprentissage, centré sur l’acquisition du code<br />
alphabétique, présente souvent un intérêt discutable du point de vue de<br />
la compréhension. Toutes les solutions envisagées posent le problème de<br />
l’articulation de deux objectifs difficiles à concilier au moins initialement:<br />
l’apprentissage du code alphabétique et la compréhension.<br />
Au fur et à mesure que l’enfant progresse, l’identification des mots<br />
connus et le traitement des mots nouveaux s’accélèrent. L’attention<br />
mobilisée par ces activités se trouve réduite, et la compréhension peut de<br />
mieux en mieux s’exercer <strong>para</strong>llèlement au décodage. Pourtant, il reste<br />
difficile pour les enfants de faire simultanément face à des traitements<br />
complexes sur le code, par exemple du fait de la présence de nombreux<br />
mots nouveaux, et sur la compréhension, par exemple lorsque le thème<br />
n’est pas familier. En conséquence, il est nécessaire de mettre en adéquation<br />
les difficultés des textes et les objectifs poursuivis. Si le but est de travailler<br />
sur le code, il est prudent de limiter les difficultés de compréhension.<br />
Au contraire, s’il s’agit de mettre l’accent sur la compréhension, il<br />
convient de réduire le coût du traitement du code.<br />
On passe ainsi de l’identification des difficultés à leur gestion pédagogique.
112<br />
Références<br />
Bauman, J.F. (1986). «Teaching Third Grade Students to Comprehend Anaphoric Relationships: The<br />
application of a direct instruction model», in Reading Research Quarterly, 21, 70-90.<br />
Bianco, M. (2003). «Apprendre à Comprendre: l’Entraînement à l’utilisation des marques linguistiques»,<br />
in D. Ganoach & M. Fayol (Eds.). Aider les Elèves à Comprendre, du Texte au Multimédia, Paris:<br />
Hachette.<br />
Bianco, M., Bressoux, P., Doyen, A.L., Lambert, E., Lima, L., Pellenq, C. & Zorman, M. (sous presse).<br />
«Early Training in Oral Comprehension and Phonological Skills: Results of a three-year longitudinal<br />
study», in Scientific Studies of Reading.<br />
Braibant, J.M. (1994). «Le Décodage et la Compréhension», in J. Grégoire & B. Pierart (Eds.). Evaluer les<br />
Troubles de la Lecture (pp. 173-194), Bruxelles: De Boeck.<br />
Cunningham, A.E. & Stanovich, K.E. (1998). «What Reading Does for the Mind», in American Educator,<br />
22, 8-15.<br />
Ehlich, M.-F. & Remond, M. (1997). «Skilled and Less Skilled Comprehenders: French children’s processing<br />
of anaphoric devices in written text», in British Journal of Developmental Psychology, 15, 291-309.<br />
Fayol, M. (1992). «Comprendre ce qu’On Lit: De l’automatisme au contrôle», in M. Fayol, J.E. Gombert,<br />
P. Lecocq, L. Sprenger-Charolles & D. Zagar (Eds.), Psychologie Cognitive de la Lecture, Paris: P.U.F.<br />
Fayol, M. & Gaonach, D. (2003). «La Compréhension: Une approche cognitive», in D. Gaonach & M.<br />
Fayol (2003), Aider les Elèves à Comprendre, Paris: Hachette.<br />
Fayol, M. & Morais, J. (2004). «La Lecture et Son Apprentissage», in ONL (Ed.), L’Evolution de<br />
l’Enseignement de la Lecture en France Depuis Dix Ans, Paris: Observatoire National de la Lecture.<br />
Gaonach, D. & Fayol, M. (2003). Aider les Elèves à Comprendre, Paris: Hachette.<br />
Gernsbacher, M.A. (1997). «Two Decades of Structure Building», in Discourse Processes, 23, 265-304.<br />
Gersten, R., Fuchs, L.S., Williams, J.P. & Baker, S. (2001). «Teaching Reading Comprehension Strategies<br />
to Students with Learning Disabilities: A review of research», in Review of Educational Research, 71, 279-<br />
-320.<br />
Oakhill, J. & Cain, K. (2003). «The Development of Comprehension Skills», in T. Nunes & P. Bryant<br />
(Eds.), Handbook of Children’s Literacy, Dordrecht (The Netherland): Kluwer Academic Publisher.<br />
Oakhill, J. & Yuill, N. (1996). «Higher Order Factors in Comprehension Disability: Processes and remediation»,<br />
in C. Cornoldi & J. Oakhill (Eds.), Reading Comprehension Difficulties: Processes and intervention,<br />
Mahwah (N.J.): Lawrence Erlbaum Associates.<br />
ONL (1998). Apprendre à Lire, Paris: CNDP et O. Jacob.<br />
ONL (2000). Maîtriser la Lecture, Paris: CNDP et O. Jacob.<br />
Paris, S.G., Lipson, M.Y. & Wixson, K.K. (1983). «Becoming a Strategic Reader», in Contemporary<br />
Educational Psychology, 8, 293-316.<br />
Remond, M. (2003). «Enseigner la Compréhension: Les entraînements métacognitifs», in D. Gaonach<br />
& M. Fayol (2003), Aider les Elèves à Comprendre, Paris: Hachette.<br />
Yuill, N. & Oakhill, J. (1991). Children’s Problem in Text Comprehension, Cambridge, UK: Cambridge<br />
University Press.<br />
Zwaan, R.A. & Radvansky, G.A. (1998). «Situation Models in Language Comprehension and Memory»,<br />
in Psychological Bulletin, 123, 162-185.<br />
Leer el mundo<br />
a traves de los cuentos<br />
PEP DURAN*<br />
113<br />
Leemos el mundo con el cuerpo<br />
La motivación a la lectura debe atender los tres centros energéticos; cabeza,<br />
corazón y tripas.<br />
En contacto permanente con las familias, con las escuelas y con las bibliotecas,<br />
me he dado cuenta de que el acto de leer no sólo depende del aprendizaje,<br />
de la práctica lectora y de los hábitos lectores, sino básicamente de<br />
la decisión de leer.<br />
Una decisión interna, muchas veces no pensada, sin un planteamiento<br />
racional explícito, pero que actúa prácticamente a través del cuerpo<br />
encontrando el espacio, el tiempo y la actitud necesaria <strong>para</strong> sumergirse<br />
en la lectura silenciosa de un libro.<br />
La decisión de leer, <strong>para</strong> cada persona, se afianza en la memoria de sensaciones<br />
placenteras que ha experimentado el cuerpo, y que tiene la promesa<br />
de recuperar, al descifrar el sonido y significado de las palabras leídas<br />
en cada texto.<br />
En mi práctica diaria, como librero, cuento libros como quien cuenta<br />
películas, cuento cuentos que están en los álbumes ilustrados, cuento<br />
cuentos modernos editados en libros que presentan actitudes del vivir<br />
como metáforas, cuento a los niños, a los padres, a los maestros, a los<br />
bibliotecarios, a los empresarios, a los periodistas, a los notarios, a los<br />
políticos... Cuento con los libros en la mano, mostrando las ilustraciones,<br />
y cuento con objetos que llenan mis maletas de secretos, de misterios y de<br />
tesoros. Cuento con estos objetos que contienen historias, que encierran<br />
emociones, que guardan olores y que suscitan caricias. Relaciono los<br />
libros con las cosas que muestro y con sus historias.<br />
Mediante la voz y la presencia del contador, surge una energía que despierta,<br />
en los que escuchan, un encuentro con su mundo interior.<br />
Es la observación de los resultados de esta práctica la que me ha hecho<br />
llegar al enunciado dado, que puedo resumir como:<br />
La decisión de leer se sustenta en la memoria sensitiva del cuerpo.<br />
Librero de oficio<br />
No me considero un gran lector y sin embargo mi vida ha estado marcada<br />
por la lectura. Mi infancia transcurrió sin libros. En mi pueblo no<br />
* Livreiro, contador de histórias.
114<br />
habían bibliotecas donde asistir, no las había de ningún tipo, ni escolar<br />
ni pública. Tampoco librerías, solo un estanco en el que se vendían, además<br />
de alpargatas, muchos tebeos y algún libro. En mi casa no había<br />
libros. El oficio de mi familia desde mi tatarabuelo era el de carretero,<br />
tenían un taller donde se construían carros y utensilios de madera <strong>para</strong><br />
el campo. Mi bisabuelo, como patriarca de la familia, decía: «Primero es la<br />
obligación que la devoción.» Leer se consideraba una devoción, el trabajo<br />
manual era la obligación. Sin embargo me hice librero de profesión<br />
(desde el año 1971), fue por casualidad, encontrando en este oficio mi<br />
vocación de difusor de libros, comprometido con la formación de lectores<br />
y con la promoción de la lectura en todas las edades.<br />
Yo era un librero «progre», creía que podía cambiar el mundo con la lectura<br />
de libros que ayudaran a pensar, a plantearse la vida social y política,<br />
a tener nuevas ideas pese a que estuvieran prohibidas... En el 1975<br />
abrimos una pequeña librería en Mataró junto con cinco compañeros, le<br />
dimos la estructura jurídica de una cooperativa de trabajo, «ROBAFAVES<br />
s.c.c.l.», nos entregamos al oficio con propuestas dinámicas, colaborando<br />
con el movimiento ciudadano y con el mundo escolar. Aprendimos el oficio<br />
ejerciendo de libreros-dinamizadores culturales y fuimos creciendo en<br />
número, hasta que en julio de 1981 vino el desastre.<br />
La noche en que las letras se liberaron<br />
Aquella noche se había desencadenado una tormenta de verano. Por la<br />
mañana llegué a la tienda <strong>para</strong> abrirla al público, hacia sol como cada<br />
mañana. La librería estaba situada en la calle Torrente, una de las calles<br />
que canalizan el agua hacia el mar en una ciudad de la costa catalana.<br />
Aquella noche, la del 18 de julio, no había colocado los protectores en el<br />
portal tal como acostumbraba cuando temía que lloviera de manera<br />
torrencial.<br />
Cuando abrí la puerta metálica de la tienda y quise entrar, una sensación<br />
de humedad y olor a papel mojado me invadió los sentidos. Quise abrir<br />
las luces, pero saltaron los fusibles; a medida que penetraba hacia el interior<br />
de la tienda de libros mis pies se humedecían y mi cabeza recibía<br />
goteos constantes. Todo el piso estaba embarrancado de agua y el techo<br />
goteaba completamente, el cielo raso estaba empapado.<br />
La librería se había instalado en una antigua bodega de vino, la casa tenia<br />
un patio superior que se sostenía con vigas de madera, al cubrir estas<br />
vigas con el moderno cielo raso habíamos dejado un agujero <strong>para</strong> que respirase<br />
la humedad acumulada, fue por este agujero que se había colado<br />
el agua de la azotea al taponarse el desagüe del patio superior.<br />
¡Que desastre! estaba lloviendo en el interior de la librería y además el<br />
agua había entrado por la puerta inundando todo el piso.<br />
¡¡Los libros!!, grité,<br />
115<br />
¿Os imagináis los libros?, estaban situados en mesas y en estantes bien<br />
ordenados. ¡¡Todos empapados de agua!!<br />
Los libros de las mesas de novedades estaban chorreando, pero no solo<br />
estos, también los de los estantes de las paredes que habían recibido el<br />
agua del techo de la librería y, de un estante a otro, el agua había penetrado<br />
en los lomos y en el interior de cada uno.<br />
¡¡Que tragedia!!<br />
Ante semejante espectáculo, me derrumbé.<br />
Todo el trabajo de tantos años de sacrificio <strong>para</strong> hacer que la tienda fuera<br />
negocio, <strong>para</strong> que pudiéramos vivir de nuestro trabajo, del trabajo de<br />
librero que tanto amábamos, se hundía por causa de una inundación.<br />
¿Quién iba a comprar libros mojados, enganchados, retorcidos...?<br />
Si no podíamos vender los libros era nuestra ruina, podía significar el cierre<br />
de la librería.<br />
Sentí temblor en la espalda y un sudor frío me empapó, se me aflojaron<br />
las piernas y caí al suelo mojándome los pantalones. Sentado en el piso<br />
de la librería me di cuenta que flotaban sobre el agua unas minúsculas<br />
formas negras, ¿podían ser insectos de los que comen papel? Cogí un<br />
puñado y al abrir la mano pude observar sorprendido que eran letras. ¿De<br />
donde habían salido tantas letras? Intrigado, empecé a abrir libros, sus<br />
hojas estaban en blanco, más libros y más libros mojados..., ¡¡todos estaban<br />
en blanco!!<br />
¡Se habían despegado todas las letras de los libros!<br />
¿Como podía solucionar el problema? Se trataba de recoger las letras y<br />
volverlas a colocar dentro de los libros. ¿Pero en que orden? No sabia lo<br />
que decían todos los libros, algunos si porqué los leemos, ¿pero todos?<br />
Los libreros sabemos de los libros su olor, porqué los libros huelen.<br />
Sabemos su tacto, según la calidad del papel... casi podemos deducir su<br />
sabor, ¡pero lo que dicen...!<br />
En nuestra librería recibimos más de 82 libros nuevos cada día, unos<br />
22.000 libros de novedad al año. No los leemos todos, no disponemos de<br />
tanto tiempo, por lo que no sabemos lo que dice cada uno. No podíamos<br />
volver a colocar las letras dentro de cada libro <strong>para</strong> que dijera lo mismo<br />
que había escrito su autor y poder venderlos, y si no los podíamos vender...<br />
estábamos arruinados, era una gran catástrofe <strong>para</strong> nuestro negocio,<br />
<strong>para</strong> nuestra cooperativa de trabajo, <strong>para</strong> la librería Robafaves.<br />
Nos reunimos en asamblea extraordinaria, todos los compañeros de la<br />
cooperativa nos sometimos a una tormenta de ideas <strong>para</strong> encontrar la<br />
que nos salvara. Después vino la calma i elaboramos una propuesta que<br />
podía salvarnos si nuestra intuición sobre la lectura era cierta.<br />
Nos pusimos a trabajar juntos <strong>para</strong> pescar las letras, aplicando todos los<br />
métodos y sistemas de pescar letras... luego poníamos las letras a secar al<br />
sol. Era el mes de julio y la mañana era espléndida. Secamos los libros ten-
116<br />
diéndolos al sol y utilizando secadores eléctricos... trabajamos fuerte limpiando<br />
la librería y ordenándola durante tres días.<br />
Al cuarto día volvimos a abrir la librería. Pusimos grandes carteles explicativos,<br />
como los de las superficies comerciales y unas balanzas en el<br />
mostrador.<br />
Al principio los clientes entraban con cierta expectación, sabían de la<br />
inundación y estaban atentos a nuestras propuestas, esperaban que los<br />
sorprendiéramos o que cerrásemos, no sospechaban como podíamos continuar<br />
el negocio y seguir adelante después de la tragedia.<br />
Al leer los carteles con sus propuestas quedaban desconcertados, pero<br />
acto seguido nos pedían ejemplares de aquellos libros y los compraban<br />
con entusiasmo.<br />
Los carteles anunciaban:<br />
«PUEDES SER AUTOR DE TU PROPIO LIBRO,<br />
POR CADA LIBRO DE PÁGINAS EN BLANCO TE REGALAMOS MEDIO<br />
QUILO DE LETRAS NEGRAS,<br />
solo debes colocarlas dentro.»<br />
La gente compraba los libros y ordenaba las letras formando palabras y<br />
con ellas explicaba historias, sensaciones, emociones... Explicaban sus<br />
alegrías, sus penas, sus frustraciones, sus deseos, sus fantasías… explicaban<br />
su propia historia, aquello que les hubiera gustado vivir y todo aquello<br />
que nunca hubieran deseado vivir, de aquel libro hacían su propio<br />
libro.<br />
Vendimos todos los libros y nos hicimos ricos. Abrimos otra librería más<br />
grande en otra calle céntrica de la ciudad y la aseguramos con una póliza<br />
completa que cubriera todo tipo de inundaciones.<br />
Nuestra percepción fue buena, como libreros nos habíamos dado cuenta de<br />
que los lectores buscan en los libros que leen su propia historia, sea real o<br />
imaginaria. Buscan en la voz del autor el despertar de su propia voz interna,<br />
esta voz que nos describe la realidad de lo que sentimos al vivir.<br />
Cuando decidimos leer un libro buscamos repetir las sensaciones que nuestro<br />
cuerpo tiene guardado en su memoria, de manera consciente o no.<br />
Deseamos que el texto que leemos nos transporte, nos complazca, nos estimule,<br />
nos calme, nos emocione o nos sitúe en el mundo en el que vivimos,<br />
nos ayude a comprender la vida y a comprendernos a nosotros mismos.<br />
Es por ello que la lectura ha marcado mi vida ejerciendo una profesión<br />
que me enamora, la de librero y trajinante de cuentos. Con ella enlazo<br />
con la antigua profesión de mi familia, la de carretero.<br />
117<br />
Comentarios personales de quien escucha cuentos<br />
Quiero comentar algunos fragmentos de los escritos, muy personales,<br />
que recibí de las alumnas de 2.º curso de formación de maestros de<br />
Educación Infantil de la escuela FRETA de Mataró, después de una sesión<br />
de formación en la que el «trajinante de cuentos» mostraba una manera<br />
de motivar a la lectura contando cuentos (Febrero de 2003, las futuras<br />
educadoras tenían alrededor de 20 años de edad).<br />
El ambiente que se creó fue de alta sensibilidad, con algo de magia, y los<br />
escritos reflejan la sorpresa experimentada, así como la emoción que percibían<br />
en sus cuerpos.<br />
He ordenado los fragmentos en cuatro grupos <strong>para</strong> señalar aquellos<br />
aspectos que me interesa resaltar:<br />
1. CONEXIÓN CON LOS PROPIOS RECUERDOS<br />
El ambiente que se creó con los cuentos que explicaba les sorprendió de<br />
tal manera que su prevención ante la charla quedó anulada y dio paso a<br />
una apertura que les llevó a conectar con sus recuerdos de infancia vividos<br />
con los seres queridos.<br />
2. CONEXIÓN CON LOS SENTIMIENTOS PERSONALES A TRAVÉS DE LOS OBJETOS QUE SURGEN<br />
DE LAS MALETAS<br />
Las palabras, unidas a los objetos inesperados que surgen de las maletas,<br />
despiertan el interés por descubrir lo que está encerrado. Cada objeto se<br />
une a una vivencia que guarda sensaciones corporales de tacto, volumen,<br />
olor, fragancia, color...<br />
3. POSIBILIDAD DE TOCAR LOS OBJETOS Y DE OBSERVAR EL MATERIAL QUE CONTIENEN LAS<br />
MALETAS QUE ACOMPAÑAN AL ACTO DE CONTAR<br />
Dar permiso <strong>para</strong> tocar, <strong>para</strong> comprobar con los sentidos que las palabras<br />
tienen cuerpo es una forma de fijar las sensaciones experimentadas y alimentar<br />
la memoria corporal.<br />
4. CONCIENCIA DEL PROPIO MUNDO INTERIOR, SENTIR LA VOCACIÓN, SENTIR LA NECESIDAD<br />
DE TRANSFORMACIÓN, TOMAR CONCIENCIA DEL «VACÍO EXISTENCIAL»<br />
Al transitar por las estancias del mundo interior personal, surge la conciencia<br />
de preguntas sin respuesta y de toda la riqueza del ser real.<br />
Siguen los testimonios de las vivencias a través de algunos fragmentos de<br />
los escritos que me hicieron llegar, les pedí que me explicaran lo que<br />
habían sentido durante la sesión de cuentos.
118<br />
1. CONECTAR CON LOS PROPIOS RECUERDOS<br />
Aurora: «... Ayer volví atrás con total satisfacción, me dejé llevar por mil sueños<br />
escondidos dentro de grandes maletas llenas de recuerdos... Creo que<br />
no lo puedo explicar con palabras, ya que todas me quedan cortas <strong>para</strong><br />
todos los sentimientos que ayer sentí en el vientre (¿o puede que fuera mi<br />
Dragón?)... Gracias por abrir mi cajita mágica (¡¡estaba bien escondida!!).»<br />
Marta: «... Fue una tarde mágica. Antes a mí me gustaba guardar pequeños<br />
tesoros en cajitas (como las suyas), pero después de muchas broncas<br />
con mi madre <strong>para</strong> que dejara de guardar viejos recuerdos que sólo servían<br />
<strong>para</strong> acumular polvo, comencé a no guardar nada más. Pero ¿¡por qué<br />
no!? Cada pequeña caja, cada cosa tiene significado y una magia especial<br />
y una historia <strong>para</strong> explicar. Es bonito tener pequeños recuerdos que te<br />
llenan el corazón...»<br />
M. Angels: «Me gustó mucho cómo iba narrando los cuentos mientras<br />
explicaba cosas de la vida diaria de todas las personas. Nunca había pensado<br />
que un cuento sirviese como ejemplo en la vida diaria. Sí que sabía que<br />
los cuentos tienen mensajes secretos, pero nunca le había dado importancia<br />
[...] cuando escuché el cuento relacionado con un problema de cada<br />
día, pensé que posiblemente fuera de las mejores terapias con las que puedes<br />
encontrarte [...] Durante dos horas me volví a sentir como una niña...»<br />
Míriam: «Un cuento no sólo fascina a los pequeños, sino que a los adultos<br />
nos vuelve a nuestra infancia. Mediante los recursos que utilizabas nos<br />
sorprendías, enternecías, emocionabas...»<br />
Teresa: «... Cuando terminaste, tuve pena, me habría gustado que aquel<br />
momento no terminase, pero después, cuando llegué a casa, me di cuenta<br />
de que no había terminado, que toda aquella magia estaba dentro de<br />
mí; me hizo sonreír porque, en mi interior, me sentía bien...»<br />
Silvia: «... Lo que hizo ayer fue abrirme los ojos, ayudarme a reflexionar y a<br />
despertar en mí una capacidad que desconocía, la capacidad de escuchar<br />
un cuento [...] olvidé por dos horas los problemas que tengo. Me enseñó en<br />
una tarde aquello que llevo buscando hace tiempo, aquello que me ayude<br />
a tomar decisiones, a respetarme a mí misma y a los demás y a entregarme<br />
a mí y a lo que tengo [...] Ayer, al llegar a casa, me puse a pensar y llegué a<br />
una conclusión: no hay una felicidad completa, sino que existen momentos<br />
felices, y hasta el momento no los veía, los tenía pero no los veía, ni los<br />
valoraba [...] A partir de hoy empezaré una vida distinta afrontando mis<br />
problemas cara a cara [...] y disfrutando de los momentos alegres...»<br />
Iolanda: «... A través de los cuentos nos has enseñado muchos recursos<br />
<strong>para</strong> podernos comunicar con los niños y niñas con los que más adelante<br />
nos encontraremos como educadores. Pero también personalmente, y yo<br />
ya no soy tan pequeña, me has hecho recordar cosas y sentimientos que<br />
en la vida adulta se olvidan y que es importante recordar <strong>para</strong> encontrar<br />
la felicidad...»<br />
119<br />
2. CONECTAR CON SENTIMIENTOS A TRAVÉS DE LOS OBJETOS QUE SURGEN DE LAS MALETAS<br />
Laura: «... Cuando explicabas las cosas que te habían pasado, los recuerdos<br />
que guardabas [...] el valor que escondían aquellos pequeños objetos<br />
[...] era como si yo me hubiera encontrado en aquellos momentos de tu<br />
vida, era como si pudiera oler la madera de la que estaba hecha la<br />
“Matriowska”...»<br />
Marta: «... Cuando comentaste que la gorra de tu abuelo te recordaba<br />
(cada vez que la olías) aquellos momentos en que sentías su abrazo, yo<br />
también tengo algunos objetos que por su olor me recuerdan a personas<br />
queridas, situaciones [...] y también texturas.»<br />
Yesica: «... Me quedó grabada la explicación de las máscaras; puede que yo<br />
sea una persona enmascarada. Debería mostrarme tal como soy y no tal<br />
como me quieren ver. De esta manera podría amar...»<br />
Georgina: «... En el transcurso de la narración me alejaba de la realidad y<br />
me introducía en el mundo de los cuentos. Gracias a distintos materiales<br />
como los muñecos, las piedras mágicas, el polvo de luna, los espejos, las<br />
pequeñas cajas, las cajas de música... los cuentos tomaban vida. Cada uno<br />
de los objetos tenía una historia mágica. Muchos de ellos yo también los<br />
tengo en casa y cada uno tiene su historia particular. Cada vez que mostrabas<br />
uno, recordaba las historias de mis objetos. Volví a mi infancia.»<br />
Laura: «... No puedes imaginarte cómo me emocionó el sonido del mar<br />
que llevas en tu maleta, o el sonido de cristal que se instala en el centro<br />
del cuerpo de las campanas tibetanas [...] Mirando tu atrezzo, tus peludos<br />
compañeros de viaje, tus libros de cuentos..., sentí nostalgia de la infancia,<br />
de... la capacidad de soñar, los muñecos, las pequeñas cajas, el olor a<br />
after-shave de mi abuelo, que decidió marchar al cielo... hará un año [...]<br />
y lo encontré a faltar, a él y los momentos que pasé jugando en el suelo<br />
de la salita de mi casa, mis patines, las vacaciones y a aquella niña que<br />
justo llegaba a la confortable barriguita de mi madre al abrazarla [...] A la<br />
vez me he dado cuenta de que haber escogido esto [se refiere a la formación<br />
de educadora] es lo mejor que he hecho en mi vida, un tributo a mi<br />
propia capacidad de volar, un homenaje a la niña que seré siempre.»<br />
Christina: «... Aquellas maletas llenas de pequeños objetos con los que<br />
poder explicar mil historias... maletas llenas de ilusión, de vida [...] Nos<br />
sumergiste en un mundo mágico lleno de ternura hacia aquello que nos<br />
rodea [...] que con pequeñas cosas se pueden crear grandes historias...»<br />
M.ª Angels: «... Me he marcado otro objetivo, saber explicar cuentos con<br />
estos sentimientos. Pienso que estos sentimientos a la hora de explicar<br />
cuentos, mezclados con los objetos y muñecos que utilizas, forman una<br />
mezcla explosiva y muy interesante, que tanto a los pequeños como a los<br />
adultos dejan boquiabiertos...»
120<br />
3. POSIBILIDAD DE TOCAR LOS OBJETOS QUE CONTIENEN LAS MALETAS Y DE OBSERVAR EL<br />
MATERIAL QUE ACOMPAÑA AL ACTO DE CONTAR<br />
Míriam: «... Todos los objetos y muñecos que traías eran muy curiosos,<br />
tanto los muñecos pequeños como los objetos que hacían sonido, y más<br />
aquellas cajas llenas de recuerdos...»<br />
Lavinia: «... Pienso que el momento culminante de la charla fue al final,<br />
cuando nos invitó a tocar los objetos. Todos nos levantamos y fuimos a<br />
observar las cajas, a tocar...»<br />
Alba: «... Una de las cosas que más me ha gustado, y no esperaba poder<br />
hacerlo, ha sido tocar y tener entre mis manos todos estos elementos y<br />
objetos mágicos, desde el libro más pequeño hasta una de las cosas más<br />
grandes, como podía ser la bruja...»<br />
4. CONCIENCIA DEL MUNDO INTERIOR, VOCACIÓN, TRANSFORMACIÓN, CONCIENCIA DE<br />
«VACÍO EXISTENCIAL»<br />
Míriam: «... Enviaste muchos mensajes útiles <strong>para</strong> uno mismo y mensajes<br />
que me llegaron dentro, como el de abrirse y conocerse uno mismo, abrirse<br />
y dar de uno mismo...»<br />
Fátima: «... A medida que hablabas, que explicabas, que nos mostrabas<br />
recuerdos... me olvidaba de los problemas... y quería soñar, volar, vivir<br />
todo lo que explicabas, y lo conseguí. Pensé que era hora de aprender a<br />
valorar pequeños aspectos de la vida que nos llevan a la felicidad.<br />
¿Cómo podía estar triste, preocupada o enfadada existiendo cosas tan<br />
maravillosas? ¡No valía la pena!...»<br />
Anna: «... Sus palabras resonaron dentro de un corazón inquieto y lleno de<br />
dudas... A veces buscamos... buscamos una cosa que no sabemos lo que es.<br />
De pequeños buscamos, de jóvenes buscamos y continuaremos buscando<br />
hasta encontrar aquello que sea capaz de llenar este vacío. Siempre he<br />
tenido este vacío... Al escuchar sus palabras se me abrió una vez más la<br />
esperanza [...] Soy consciente de que lo que hago me llena, es mi vocación,<br />
por esto quiero continuar buscando [...] Las palabras no sólo nos aportan<br />
conocimiento, sino que nos hacen sentir, nos ayudan a vivir, a experimentar,<br />
a conocer, son fuente de vida, una puerta que podemos abrir siempre<br />
que queramos, la llave de nuestra voluntad... Por eso con sus palabras me<br />
hizo sentir que podemos buscar y que merece la pena hacerlo...»<br />
Si estas chicas podían conectar con su mundo interno a través de los<br />
cuentos, las sugerencias de los objetos y la palabra del narrador en voz<br />
alta, es porque guardaban memoria de otros momentos en que una situación<br />
similar se había dado. Por lo tanto, a partir de este punto de contacto<br />
con el sí mismo, podrían transmitir su energía comunicativa a los<br />
alumnos que tendrían a su cuidado.<br />
Podrían transmitir los cuentos que guardan los libros a los niños y niñas<br />
que se introducen en el aprendizaje de la lectura en la Primaria.<br />
121<br />
La palabra se encarna en el que la escucha, se encarna en el que la lee, a<br />
partir de la experiencia vivida, a partir del significado vivenciado que<br />
tiene <strong>para</strong> el lector, a través de ser sentida y experimentada por el cuerpo.<br />
Por eso Bruno de la Salle manifestó en Guadalajara (Maratón 2002):<br />
... al contar, la palabra se encarna en el cuerpo.<br />
El que habla muestra su sí, el que escucha la encuentra<br />
en sí.<br />
Espacios interiores que guardan los registros<br />
de la memoria del cuerpo<br />
Fue en las sesiones con los más pequeños (p. 3, p. 4, p. 5, 1.º, 2.º de<br />
Primaria) cuando empecé a darme cuenta de la fuerza de las palabras<br />
acompañadas con imágenes y objetos.<br />
En las sesiones de cuentacuentos yo observo cómo penetran y abren espacios<br />
íntimos en cada ser que escucha. En estos espacios habitan las palabras<br />
junto a los recuerdos, junto a las sensaciones que se crean en el<br />
momento de contar con un libro, con un objeto, con la sugerencia de una<br />
aroma o con el sonido de un carrusel.<br />
Estoy convencido de que la lectura abre espacios en el interior del lector,<br />
espacios nuevos en algunos casos y espacios que estaban cerrados u olvidados<br />
en otros. Espacios antiguos en los que habitan emociones enquistadas<br />
por no haber encontrado la palabra que les permita fluir.<br />
Cuando estas palabras son leídas o escuchadas – leídas en los grafismos<br />
de las partituras que forman el texto escrito u oídas a través de la música<br />
de su sonido –, estas palabras ocupan i despliegan las arrugas del ser,<br />
abren puertas cerradas por el olvido o el dolor, despiertan abundantes<br />
sensaciones en el cuerpo.<br />
El cuerpo las registra, las guarda, las asocia al objeto libro, a la acción de<br />
leer, a la persona que se las ha entregado.<br />
El lector las registra en la memoria sensitiva del cuerpo. Esta memoria del<br />
cuerpo actúa sobre la decisión a tomar, y pone en funcionamiento la actitud<br />
de esfuerzo necesaria <strong>para</strong> leer.<br />
No debemos olvidar que esta decisión de tomar un libro <strong>para</strong> leer implica soledad,<br />
dificultad, esfuerzo, pero también satisfacción, plenitud, ilusión y<br />
una multitud de emociones sensitivas.<br />
Cito algunas opiniones de niños y niñas (2.º de Primaria, 7 años,) de la<br />
escuela Germanes Bertomeu de Mataró, recogidas por Maria, su maestra,<br />
después de una sesión del «trajinante de cuentos» en el aula.<br />
Haja explica: «... Llevó muchas cosas en las maletas mientras las mostraba<br />
sentí que eran maravillosas. Después nos dejó tocarlas y en aquel<br />
momento me emocioné. Me habría gustado mezclarme con ellas <strong>para</strong><br />
entender todos sus secretos.»
122<br />
Lorena cuenta: «... Sentía los libros (escuchaba los cuentos) y sentí una<br />
sensación muy extraña, como si mi corazón quisiese escribir.»<br />
Fátima: «... Sentía como si aquello me sucediese a mí, y cuando acabó la<br />
historia no podía sacarme esta sensación.»<br />
Javier: «Me sentía con ganas de leer y de escuchar todas las cosas que<br />
decía, y ver todos los objetos y tocarlos.»<br />
Desi: «... Sentí una sensación muy extraña, y lo que más quería saber es<br />
qué había en todas las maletas y en todas las cajas.»<br />
Marina: «Sentí una cosa por dentro, aquello eran como muchas cosquillas.»<br />
Soukaina: «... Me gustó el mochuelo, yo sentía su calor [...] me sentía dentro<br />
del cuento de brujas y yo podía volar.»<br />
A los siete años describen sus sentimientos después de una sesión en la<br />
que, en el comienzo, les invito a escuchar el sonido de una campana tibetana<br />
y el circuito que recorre dentro de su cuerpo atendiendo a tres puntos<br />
esenciales: la cabeza (pensamiento), el pecho-corazón (emoción) y el<br />
vientre (instinto).<br />
Cabe subrayar en las frases la palabra sentir, que describe el sentimiento<br />
y la decisión de actuar, de descubrir secretos, de leer libros.<br />
Otras maneras de leer el mundo a través<br />
de contar cuentos<br />
En los últimos meses mi doble realidad de librero-empresario y de cuentacuentos<br />
me ha proporcionado situaciones de riesgo, algo insólitas en el<br />
ámbito profesional y social.<br />
Las palabras de los cuentos transmitidos como metáforas en ambientes y<br />
grupos no acostumbrados a estos lenguajes han conseguido abrir y descargar<br />
tensiones, así como transmitir y despertar el interés de los presentes,<br />
tomando actitudes y comportamientos sociales llenos de valores humanos.<br />
Cito a continuación un conjunto de lugares y momentos donde conté, en<br />
ambientes en los que no es habitual contar cuentos<br />
AMBIENTES FORMALES<br />
❖ Contar ante el notario, los abogados y empresarios editores en la firma<br />
del contrato de compraventa de la librería Catalònia de Barcelona.<br />
❖ Contar en una rueda de prensa, ante periodistas que afanan las noticias.<br />
❖ Contar en encuentros de empresas de economía social.<br />
❖ Contar en el acto de la firma de un convenio entre administraciones,<br />
(Consell Comarcal, Ayuntamientos y Generalitat) <strong>para</strong> implantar un programa<br />
de integración de los inmigrantes del Maresme.<br />
❖ Contar en foros profesionales en los que los empresarios buscan un<br />
hueco en el mercado competitivo.<br />
123<br />
AMBIENTES FAMILIARES<br />
❖ Contar en una ceremonia funeraria civil <strong>para</strong> despedir a una persona querida.<br />
❖ Contar en bodas <strong>para</strong> rendir homenaje al compromiso personal.<br />
AMBIENTE CEREMONIAL<br />
❖ Contar en el Paraninfo de la Universidad de Barcelona, ante un público<br />
empresarial, en la recepción del Premio Bufi y Planas a la labor realizada<br />
por Robafaves s.c.c.l. <strong>para</strong> unir la fuerza del trabajo y la del capital.<br />
En todas estas ocasiones tengo el recuerdo y la imagen de como las caras<br />
se relajan, las bocas se entreabren, los ojos se iluminan, la emoción fluye<br />
y las dificultades en los tratos se disipan.<br />
Las palabras, los cuentos, las historias, las lecturas de ficción configuran<br />
espacios y territorios íntimos y personales. (Petit, M. (2001). Lecturas: Del<br />
espacio íntimo al espacio público, Fondo de Cultura Económica.)<br />
La decisión de leer se ubica en el cuerpo del lector<br />
Se ubica en lo que siente y en la memoria de lo que ha sentido, <strong>para</strong><br />
recuperar esta emoción a través de las palabras escritas. Se ubica en las<br />
ganas, en la voluntad, en la acción, en la ilusión, en el pensamiento instintivo,<br />
en la barriga, en las tripas.<br />
En realidad son los tres pensamientos unidos los que intervienen en la lectura:<br />
el pensamiento racional, el pensamiento emocional y el pensamiento instintivo;<br />
por eso los uno al contar los cuentos con el sonido de la campana tibetana.<br />
De esta manera, los padres, los maestros, los mediadores cuentan conectando<br />
con su ilusión, con sus ganas, con su deseo prendido en su propio<br />
cuerpo. No es desde el deber – pensamiento racional –, sino conectando<br />
con los tres cerebros: el cerebro racional, el cerebro emocional y<br />
el cerebro instintivo.<br />
Cuando cito estas energías comunicativas estoy hablando de comunicación.<br />
Las palabras, los textos que se encuentran confinados en los libros,<br />
sólo son los pretextos, los medios, los canales por los que transcurre la<br />
comunicación, la energía en forma de comunicación.<br />
En último término todo son vibraciones, materia y tiempo. (Hoffmann, A.<br />
<strong>Mundo</strong> Interior, <strong>Mundo</strong> Exterior, Ed. Liebre de Marzo)<br />
El <strong>Mundo</strong> en el que vivimos es un espacio físico, una materia formada a<br />
través de moléculas, de átomos, de vibraciones a frecuencias distintas.<br />
Nosotros mismos somos cuerpo, materia,… vida.<br />
Es la vida la que se manifiesta en nosotros, por esto nacemos cada día,<br />
<strong>para</strong> leer el mundo i hacernos responsables de nuestra presencia en él a<br />
través de nuestra vida consciente.
124<br />
Más estrategias <strong>para</strong> formar lectores<br />
desde la librería Robafaves de Mataró<br />
LA ACTIVIDAD EN LA LIBRERÍA<br />
Consiste en proponer a un grupo aula, de un nivel a partir de 4.º de<br />
Primaria, que venga a la librería <strong>para</strong> escoger los libros que quiere leer<br />
durante el curso o <strong>para</strong> surtir su biblioteca de aula.<br />
Vienen con su profesor; después de explicarles de manera lúdica el oficio<br />
de librero, les leo unos textos, escogidos de entre los libros que puedo<br />
recomendarles. Les explico cómo está organizada la librería y les muestro<br />
la manera de encontrar los libros que pueden ser de su interés. Es como<br />
enseñarles a leer la librería, a manejarse y orientarse dentro de la librería;<br />
les acompaño <strong>para</strong> que se muevan con seguridad en el espacio de los<br />
libros. Después los dejo solos, porque se trata de que busquen y encuentren<br />
sus libros, aquellos que les apetecen de entre todos los que hay en la<br />
sala de ventas. Han de escoger dos libros cada uno y con un albarán a consulta<br />
<strong>para</strong> toda el aula se los pueden llevar sin pagar, de momento. Tienen<br />
sus límites, aquellos que se hayan impuesto en el grupo aula, con el profesor;<br />
puede ser un límite el precio, o el tema, o el formato, o el nivel...<br />
Aquí empieza una frenética búsqueda comentada con los compañeros, se<br />
vuelven un poco locos, se sienten excitados: está todo a su alcance y lo pueden<br />
obtener de inmediato. La duración total de la actividad es de 60 minutos,<br />
según el tiempo de que dispongan con el profesor. Cuando se van hacia<br />
la escuela, están radiantes y agradecidos, cada uno con su bolsa, que contiene<br />
los dos libros escogidos; en el aula los reunirán todos, junto con los<br />
que ha escogido el profesor y las sugerencias que yo mismo he incluido al<br />
conjunto. Discutirán, defenderán sus opciones, escogerán, de entre todos,<br />
aquellos en los que se pongan de acuerdo; los demás me los devolverán.<br />
El interés que tienen estos libros escogidos por ellos en un espacio de consumo,<br />
en el que los productos están expuestos <strong>para</strong> ser comprados, es muy<br />
fuerte, y lo utilizan <strong>para</strong> descubrir y disfrutar de sus contenidos.<br />
Puede que los libros seleccionados no sean los que yo recomendaría, pero<br />
son los que ellos han escogido. Se equivocan muchas veces, pero es la<br />
forma de aprender sin grandes riesgos.<br />
Con la actividad se consiguen otras cosas: conocer y familiarizarse con el funcionamiento<br />
de la librería, ser acompañados por el profesor y por el librero<br />
<strong>para</strong> dominar un espacio de consumo de productos culturales, donde también<br />
se encuentran otras sugerencias que alimentan el conocimiento.<br />
En casa los espacios <strong>para</strong> leer escasean o no están previstos. Es bueno que<br />
existan otros lugares sociales, o espacios públicos, en que la lectura se<br />
encuentre integrada como una actividad lúdica y de referencia.<br />
Leer en la librería en voz alta es una actividad que agrada y sorprende a<br />
los visitantes.<br />
125<br />
¿Por qué leer en voz alta los fragmentos escogidos de un libro?<br />
Porque hemos comprobado que la lectura en voz alta actúa como referencia<br />
<strong>para</strong> que el que escucha encuentre en sí su propia voz interior, su propia<br />
voz lectora.<br />
La vibración de la palabra hablada resuena en el interior del que escucha y<br />
acompaña a descubrir la propia, a reconocerla y a emplearla en el futuro.<br />
Es un darme cuenta de mi voz interna de lector, <strong>para</strong>rme a escuchar los<br />
matices de esta propia voz interna, darme cuenta de lo obvio.<br />
La literatura oral es física y tiene efectos físicos en el propio cuerpo, leemos<br />
con el cuerpo.<br />
LAS VOCES DEL LIBRO<br />
Es en la librería Catalònia, en Barcelona, donde actualmente aplicamos<br />
muchas de estas experiencias de comprobada eficacia. Recientemente, a<br />
principios de noviembre, hemos inaugurado la remodelación de esta<br />
librería de 750 m 2 en el centro de la ciudad, en la Ronda Sant Pere, confluencia<br />
del Paseo de Gracia con la Plaza Catalunya, justo frente al Corte<br />
Inglés; es un lugar de paso de muchos peatones y tiene <strong>para</strong>da de autobús<br />
casi en su puerta.<br />
Tres días a la semana (de momento), jueves, viernes y sábado, de 18 a 20<br />
horas, un actor-lector lee en voz alta un libro de novedad en la entrada de<br />
la librería. Está sentado en una mesa de café, situado de manera alzada,<br />
equipado con megafonía local <strong>para</strong> que se escuche en la acera de paso y<br />
en la entrada de la librería. La escenografía es adecuada <strong>para</strong> que se descubra<br />
el libro que lee de comienzo a final, lo que permita las seis horas<br />
totales de lectura. Los libros los escogemos junto con el editor que quiere<br />
dar a conocer una novedad, promocionar un contenido o resaltar un<br />
autor.<br />
La financiación del lector corre a cargo del editor, el precio es muy asequible<br />
y la novedad de la iniciativa despierta interés y sorpresa entre los<br />
lectores y no lectores.<br />
LECTURAS EN VOZ ALTA EN LAS PRESENTACIONES DE LIBROS<br />
En todas las presentaciones de libros literarios que se efectúan en la<br />
Catalònia se busca la presencia de un lector profesional <strong>para</strong> que descubra<br />
el sonido físico del texto que se está presentando.<br />
Para los asistentes al acto es importante conocer al autor, intercambiar<br />
ideas y expresiones y a la vez conocer la voz del texto que contiene el libro<br />
que presentamos. Se trata de combinar un acto intelectual con una manifestación<br />
lúdica. Escuchar un texto bien leído produce placer (si el texto<br />
lo permite).
126<br />
TERTULIA DE LIBROS INFANTILES DE 0 A 6 AÑOS<br />
El tercer martes de cada mes, en la librería Catalònia, en Barcelona, de 10<br />
a 12 de la mañana, se reúnen en tertulia abierta un equipo de maestros/as,<br />
bibliotecarios/as, prescriptores/as, contadores/as, que forma un grupo llamado<br />
Ratas de Biblioteca, <strong>para</strong> comentar las novedades editoriales de los<br />
últimos meses. A ella pueden asistir como espectadores los padres/madres<br />
y público interesado que circula por la librería.<br />
También en Robafaves, el primer martes del mes, de 10 a 12 de la noche,<br />
desde hace más de 20 años, nos reunimos en tertulia abierta los libreros,<br />
bibliotecarios, maestros y los mediadores de lecturas que lo deseen, <strong>para</strong><br />
explicar nuestras lecturas y comentar las novedades editoriales de los<br />
últimos meses.<br />
CAMPAÑA DE LECTURAS EN VOZ ALTA EN ESCUELAS, BIBLIOTECAS Y LIBRERÍAS<br />
Partimos de la constatación de que en los centros de Enseñanza<br />
Secundaria los alumnos tienen dificultades <strong>para</strong> leer y descifrar los textos<br />
de los autores clásicos contemporáneos, de modo que <strong>para</strong> conseguir<br />
que se lean libros recomendados cada vez se buscan textos más simples.<br />
Partimos del convencimiento de que un buen lector puede dar a conocer<br />
el sonido de un buen texto y conseguir que resuenen las palabras en el<br />
interior del futuro lector <strong>para</strong> que eso le ayude a encontrar su propia voz<br />
lectora.<br />
Desde Cal Llibre (asociación cultural) propusimos en el curso 2002/03 una<br />
campaña piloto de lectura en voz alta promovida por La Cambra del Llibre<br />
de Cataluña, con el apoyo financiero del ICIC (Institut Cátala d’Industries<br />
Culturals de la Generalitat de Catalunya). En este curso 2003/04 se ha repetido<br />
la segunda fase con un total de 180 actuaciones en centros de<br />
Enseñanza Primaria y Secundaria, en bibliotecas y en librerías.<br />
El proyecto ofrece a unos centros seleccionados (en función de su receptividad<br />
o de la conveniencia de reforzar su labor con estas experiencias<br />
concretas) la visita de un lector profesional (actor) que presentará su biografía<br />
lectora como si se tratase de un itinerario real a través de libros,<br />
autores y lecturas, leyendo en voz alta durante 50 minutos a un grupo de<br />
alumnos.<br />
Las lecturas se han escogido de entre un total de 130 libros comprobados<br />
en las aulas, todos ellos seleccionados a través de la práctica diaria de la<br />
directora del proyecto, Lola Casas.<br />
Los lectores son actores profesionales que han pasado un casting centrado<br />
en sus aptitudes <strong>para</strong> leer en voz alta; se presentan como lectores que<br />
explican su experiencia vital en el descubrimiento de los libros.<br />
La experiencia contempla una presentación a los responsables de los centros<br />
donde se va a leer <strong>para</strong> conseguir su implicación y compromiso, una<br />
coordinación en los espacios concretos y una evaluación de la experien-<br />
127<br />
cia y de su proyección futura. Pretende incitar a los distintos centros a<br />
implicarse en una labor de continuidad a través de los profesores más<br />
entusiastas. Para ello se han diseñado unos cursos de formación de lectores<br />
en voz alta impartidos por profesionales vinculados a la voz y al teatro.<br />
El resultado de la experiencia en este segundo año es una aceptación<br />
espectacular en los centros de enseñanza; por el contrario, en las bibliotecas<br />
y en las librerías necesita una revisión y una adecuación debido al<br />
modo en que se forman los grupos de asistentes a las lecturas.<br />
En las librerías y bibliotecas los grupos son libres, de modo que están formados<br />
por un número variable de personas, que, además, tienen distintas<br />
edades, lo que dificulta la adaptación del guión.<br />
En la evaluación final nos damos cuenta de que en estos espacios (bibliotecas<br />
y librerías) las lecturas en voz alta deberán tener un formato de<br />
actuación dirigida a un público adulto, como si se tratara de un espectáculo<br />
de pequeño formato de literatura oral.<br />
La librería reúne y acoge acciones con la familia, con las escuelas y con<br />
las bibliotecas a partir de los recursos que le son propios<br />
Por su propia naturaleza de comercio de productos culturales en forma<br />
de libros, la librería necesita conectar y ofrecer a la familia una orientación<br />
en el conjunto de libros de novedades que se editan, de acuerdo con<br />
su profesionalidad, su vocación y su filosofía. Algunas de estas actividades<br />
son:<br />
❖ La «hora del cuento» en la librería (cada miércoles a las 18 horas).<br />
❖ Intervención en el programa de TV Comarcal de Mataró (martes y jueves<br />
10 minutos antes de las noticias de la noche con el título «Noticia de llibres»<br />
<strong>para</strong> presentar una selección de las mejores novedades recibidas).<br />
❖ Publicación de Noticia de Llibres, una revista semestral que se nutre de la<br />
tertulia mensual en la librería Robafaves que se mantiene con lectores,<br />
libreros, bibliotecarios, maestros y mediadores.<br />
❖ Actuar como «hora del cuento» en las bibliotecas de la comarca, con frecuencia<br />
mensual, a través del «trajinante de cuentos» que presenta los contenidos<br />
de los mejores libros recibidos de novedad.<br />
❖ Conferencia-actuación <strong>para</strong> padres y maestros en las bibliotecas de la<br />
comarca presentando los mejores libros infantiles y juveniles publicados<br />
durante el año con el soporte de una exposición de los libros físicos
128<br />
La librería y la familia. Leer en casa<br />
Para leer en casa yo necesito un espacio adecuado con instalaciones que<br />
me permitan aislarme del entorno y centrar mi atención al texto que me<br />
entrega el libro abierto.<br />
No es frecuente encontrar en los espacios familiares la butaca cómoda<br />
con la luz bien orientada y el ambiente necesario, en cambio si que hay<br />
espacio <strong>para</strong> el televisor, <strong>para</strong> el ordenador...<br />
Será pues necesario encontrar el estímulo de la lectura fuera de casa y<br />
hacerse el sitio <strong>para</strong> leer cuando yo lo decida en mi fuero interno.<br />
Fuera de casa puedo leer al aire libre, en un banco del parque, en el autobús,<br />
en el tren de cercanías, en el metro, en el bar esperando a un amigo,<br />
en las salas de espera del dentista, en la biblioteca, en la escuela, en la<br />
librería.<br />
Es pues en la librería, mi lugar de trabajo, donde puedo estimular a la lectura<br />
a través de acciones lúdicas que atraigan al grupo familiar, al grupo<br />
escolar, al grupo de amigos… a los lectores individualmente. Puedo dar<br />
referencias de libros leyendo en voz alta, presentando a autores, contando<br />
cuentos... haciendo del espacio de la librería un entorno agradable,<br />
lleno de estímulos <strong>para</strong> escoger aquellas lecturas que disfrutaré en casa.<br />
«... El acto de leer no sólo depende del aprendizaje, de la práctica lectora<br />
y de los hábitos lectores, sino básicamente de la decisión de leer.<br />
Una decisión interna, muchas veces no pensada, sin un planteamiento<br />
racional explícito, pero que actúa prácticamente a través del cuerpo<br />
encontrando el espacio, el tiempo y la actitud necesaria <strong>para</strong> sumergirse<br />
en la lectura silenciosa de un libro.»<br />
Relatório do Painel 2<br />
MARIA DE LOURDES DIONÍSIO*<br />
129<br />
As quatro conferências em debate materializam, no seu conjunto, a<br />
complexidade e pluralidade dos factos individuais e sociais implicados no<br />
acto de ler, contribuindo com distintos e suficientes elementos <strong>para</strong> nos<br />
pôr de sobreaviso quando perante soluções simplistas sobre as condições<br />
<strong>para</strong> a leitura. Condições que, com as quatro estimulantes intervenções,<br />
vimos serem de ordem variável: cognitivas, no texto do professor Fayol;<br />
escolares, no da professora Colomer; sociais na intervenção de Pep Duran e<br />
de certa forma também na do professor Cerrillo. Para além disto, todos eles<br />
perspectivam, a seu modo, os usos dos textos como parte integrante de<br />
processos sociais e culturais mais vastos, por meio dos quais as pessoas se<br />
relacionam, educam, participam no mundo, realizam objectivos de vida.<br />
Na defesa das «suas» condições <strong>para</strong> a leitura, os conferencistas e a conferencista<br />
concebem a leitura como uma prática situada, não desvinculada de<br />
outras práticas sociais; como um processo de estabelecimento de redes; de<br />
«conexões», chamou-lhe Pep Duran. Significa isto que os sentidos construídos<br />
estão sempre ligados às acções situadas das pessoas num mundo material e<br />
social e aos valores atribuídos à experiência. Pep Duran, ainda, dizia-nos: «A<br />
decisão de ler sustenta-se na memória sensitiva do corpo», envolvendo<br />
«cérebro racional, emocional e cérebro instintivo». E se a palavra-chave da<br />
apresentação de Pep Duran é, então, «conectar», foi também das «conexões»<br />
indispensáveis ao acto de ler que nos falou o professor Fayol, ao distinguir<br />
entre «tratamento do código» e a «compreensão» – a construção da representação<br />
da situação <strong>para</strong> a qual é necessário mobilizar inúmeros conhecimentos<br />
prévios (desde linguísticos a experienciais e cognitivos), sem os<br />
quais não se consegue ler.<br />
Compreender é «conectarmo-nos» com o mundo de conhecimentos (que<br />
permitem as inferências) adquiridos nas interacções sociais prévias; pelas<br />
aprendizagens, não apenas de factos, conteúdos, mas também dos modelos<br />
culturais e das linguagens sociais de que fazem parte e que os verbalizam.<br />
Contudo, tal como a intervenção da professora Teresa Colomer mostrou,<br />
esta aquisição de modelos culturais está intimamente ligada a condições<br />
escolares: métodos, recursos, textos. Modelos que variarão, portanto, consoante<br />
as «combinatórias» que estes elementos assumirem; modelos que<br />
podem ainda ser conflituais e que, por isso, podendo servir de «moeda de<br />
troca» nuns determinados contextos, podem não servir noutros. Vejam-se,<br />
por exemplo, como as condições <strong>para</strong> a leitura de Pep Duran podem não<br />
*Professora Associada da Universidade do Minho.
130<br />
servir os objectivos e modelos da escola, mesmo nas condições de «renovação»<br />
apresentadas por Teresa Colomer. Recordem-se também, as palavras do<br />
Professor Cerrillo:<br />
La escuela puede lograr que los niños asuman que leer es importante, pero<br />
dificilmente podrá conseguir que la lectura sea una alternativa de ócio<br />
<strong>para</strong> ellos. Además, la lectura escolar es una lectura lastrada por su<br />
inlcusión en un área como la que representa la unión de «Lengua y<br />
Literatura» y por la «prescripción lectora», lo que convierte en una lectura<br />
claramente instrumental… (Cerrillo, slide 19).<br />
Neste sentido, podemos revisitar as condições sociais e cognitivas de Pep<br />
Duran e Michel Fayol, acrescentando que as tais «conexões», que possibilitam<br />
a decisão de ler e a compreensão, produzem-se em condições institucionais<br />
específicas e que os sentidos que produzimos são em muito os sentidos<br />
«autorizados» por essas instituições. Neste quadro, compreender-se-á<br />
melhor o perfil do «mediador» de leitura, caracterizado por Pedro Cerrillo<br />
na sua detalhada apresentação sobre a importância destes agentes e das<br />
condições <strong>para</strong> a sua formação, entre elas, «1. Ser un lector habitual… convencido<br />
de la bondad de la lectura» (slide 15).<br />
Apesar do reconhecimento afirmado de que leitor «será quien lea libremente<br />
diversos tipos de textos: escolares, instrumentales, informativos, literários…<br />
en situaciones diversas y en códigos diferentes: verbales, icónicos,<br />
audiovisuales…» (Cerrillo, slide 24), ficaram-nos <strong>para</strong> debater agora muitas<br />
questões; entre elas, certamente, as que relevam da quase exclusividade da<br />
leitura da literatura nestas intervenções e das possíveis (des)articulações, por<br />
um lado, com os objectivos escolares relativos ao domínio da linguagem, ou<br />
com a urgência da aprendizagem da dimensão técnica da leitura, e, por<br />
outro lado, com o impacto assumido das mudanças nos modelos culturais e<br />
da aceitação da leitura como uma prática mediadora de objectivos sociais<br />
mais vastos.<br />
Em jeito de conclusão, diga-se que no vivo debate, <strong>para</strong> além daquelas questões,<br />
uma outra foi recorrente: a da conciliação dos postulados dos quatro<br />
conferencistas com os constrangimentos da sala de aula, espaço que, nas<br />
intervenções dos participantes, nem sempre tem condições <strong>para</strong> acolher o<br />
trabalho pedagógico sobre as múltiplas dimensões da leitura.<br />
PAINEL 3<br />
Projectos de<br />
promoção<br />
da leitura
132<br />
Um Percurso pela Pedagogia<br />
Para <strong>Ler</strong> a Casa da <strong>Leitura</strong><br />
ANTÓNIO NÓVOA*<br />
133<br />
O texto procura revisitar os grandes pilares da Educação Nova, movimento<br />
mundialmente difundido no início do século XX e que definiu (define?) a matriz da<br />
modernidade pedagógica, isto é, o modo como professores, pais e sociedade se<br />
relacionaram (se relacionam?) com as crianças do ponto de vista do seu<br />
desenvolvimento pessoal e social e da sua educação.<br />
Escolhem-se quatro entradas que resumem o ideário deste movimento, tendo como<br />
suporte principal os famosos «trinta princípios da Escola nova tipo», que foram<br />
publicados por Adolphe Ferrière, pela primeira vez em 1915, no prefácio que escreveu<br />
<strong>para</strong> o livro de A. Faria de Vasconcelos, Une Ecole Nouvelle en Belgique.<br />
Para cada uma destas entradas, com o subtítulo E agora?, defende-se a necessidade de<br />
uma nova atitude que alinhe o pensamento pedagógico com as grandes questões da<br />
contemporaneidade.<br />
No final de cada uma das quatro partes, porque este é um Congresso sobre promoção<br />
da leitura, deixam-se algumas pistas sobre a formação dos leitores, tendo<br />
como referência o projecto Casa da <strong>Leitura</strong> promovido pela <strong>Fundação</strong> Calouste<br />
<strong>Gulbenkian</strong>.<br />
Sei bem que vos proponho um discurso contracorrente, que causará dúvidas,<br />
perplexidades e discordâncias. Mas julgo que chegamos a um ponto em que se torna<br />
imprescindível repensar, com a mesma radicalidade com que o fez a Escola Nova, as<br />
bases em que assentam ainda hoje os nossos credos pedagógicos, ou antipedagógicos<br />
– é o mesmo 1 .<br />
<strong>Formar</strong> <strong>Leitores</strong> Para <strong>Ler</strong> o <strong>Mundo</strong>. O título deste Congresso organizado pela<br />
<strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> 2 envia-nos, de imediato, <strong>para</strong> o universo<br />
de Paulo Freire: «A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que<br />
a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura<br />
daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente» (1991, pp.<br />
11-12). As propostas de Paulo Freire foram vistas muitas vezes, erradamente,<br />
como uma desvalorização dos «conteúdos» e até do trabalho de<br />
memória e do estudo paciente sem os quais não há aprendizagem. Vale a<br />
pena, por isso, regressar a duas passagens breves das suas Cartas a Quem<br />
Ousa Ensinar. Na primeira, explica que, «quando aprendemos a ler, o fazemos<br />
sobre a escrita de alguém que antes aprendeu a ler e a escrever»<br />
(1994, p. 36). Que melhor definição do que esta <strong>para</strong> sublinhar a importância<br />
*Reitor da Universidade de Lisboa.
134<br />
do conhecimento cultural e científico, dos «conteúdos disciplinares», <strong>para</strong> o<br />
estudo e <strong>para</strong> a educação? Na segunda, aborda o sentido do trabalho paciente<br />
e persistente: «Ninguém escreve se não escrever, assim como ninguém nada<br />
se não nadar» (1994, p. 38). Que melhor resposta do que esta quanto à necessidade<br />
do trabalho regular, do exercício, da prática sistemática?<br />
O Eterno Retorno de Rousseau. Em 1762, no Emílio ou da Educação, Jean-Jacques<br />
Rousseau dirige-se a um jovem professor <strong>para</strong> lhe dizer: «Sem dúvida, a<br />
criança só deve fazer aquilo que quer.» E por aqui tem ficado a nossa leitura,<br />
pobre e simplista. Ignora-se o modo como o autor completa o seu pensamento:<br />
«Mas atenção que a criança deve querer apenas aquilo que vocês<br />
querem que ela faça; a criança não deve dar passo sem que vocês o tenham<br />
previsto; não deve abrir a boca sem que vocês saibam o que vai<br />
dizer.» Jean-Jacques Rousseau conclui com uma referência essencial <strong>para</strong><br />
os debates educativos da modernidade: «Não há dominação tão perfeita<br />
como aquela que mantém a aparência da liberdade, porque assim cativa-<br />
-se a própria vontade.» A frase identifica o sentido principal do gesto<br />
pedagógico: conduzir, dirigir, inspirar. Como o autor explica, <strong>para</strong> que<br />
não fiquem dúvidas: «deixem que o vosso aluno acredite ser ele o mestre,<br />
quando, na verdade, são vocês que o são».<br />
Evidente-mente. Em educação, o que é evidente mente. Nos parágrafos anteriores,<br />
asinalei os dois problemas principais da educação que têm servido,<br />
mediocremente, <strong>para</strong> promover uma pedagogia das banalidades ou<br />
<strong>para</strong> difundir uma vulgata anti-pedagógica. No primeiro parágrafo, servi-<br />
-me de Paulo Freire <strong>para</strong> dizer que os conteúdos não valem por si só, isolados<br />
de um contexto de sentido e de um sujeito que os apreende; mas<br />
<strong>para</strong> dizer também que, desta afirmação, não se deve deduzir a inutilidade<br />
da exercitação, da memória e sobretudo de uma «pedagogia do<br />
esforço», na perspectiva adoptada por António Sérgio na sua Educação<br />
Cívica. No segundo parágrafo, socorri-me de Rousseau <strong>para</strong> situar o problema<br />
da autoridade que constitui o ponto central de qualquer debate<br />
pedagógico. Como evitar que o gesto pedagógico se traduza num mero<br />
exercício de força e violência ou, a contrario, numa rotina de pura<br />
sedução? A autoridade conquista-se através de um esforço continuado de<br />
nos darmos ao respeito, de construirmos o espaço educativo como um<br />
lugar de diálogo e de trabalho. A lucidez de Vitorino Magalhães Godinho<br />
merece ser recordada:<br />
Quer-se fazer despertar a iniciativa do educando […] mas com intervenção<br />
activa do professor, e da parte do educando pelo esforço consciente até<br />
penoso; não há que «facilitar» o ensino, não há que fazer uma educação «em<br />
algodão em rama» – não há que ceder à tentação de tornar o ensino<br />
135<br />
atraente <strong>para</strong> quem o recebe. A escola é local de trabalho, um corpo de<br />
oficinas rodeia as aulas. Quer dizer que a democracia na escola (a escola<br />
<strong>para</strong> a democracia) pressupõe a disciplina, que evoluirá, se bem conduzida,<br />
<strong>para</strong> a auto-disciplina. O essencial não está decerto nos programas, mas no<br />
professor e sua capacidade de despertar personalidades. (1984, p. 8)<br />
A inteligência e a sensibilidade destas palavras contrasta, e de que maneira,<br />
com o simplismo das dicotomias que, nos dias que correm, empobrecem os<br />
debates pedagógicos em Portugal e no mundo. De um lado, repetem-se as<br />
mesmas banalidades há mais de cem anos, como se o pensamento<br />
educacional tivesse <strong>para</strong>do e não houvesse meio de entrar, enfim, no século<br />
XXI. Do outro, alimenta-se a ilusão do regresso a um passado que se<br />
imagina «ordeiro» e «glorioso», mas que constitui, de facto, a pobreza maior<br />
da nossa história, tanto pela ausência total de investimento na educação<br />
como pela mediocridade do ensino que se ministrava nas nossas escolas.<br />
Uns e outros só têm certezas. Definitivas. Sobre tudo e sobre nada. Ninguém<br />
tem dúvidas. Evidências do senso comum. Falsas evidências. Continuamente<br />
desmentidas. Continuamente repetidas. Doutrinas. Visões. Dogmas. São<br />
crenças iguais, ainda que de sinal contrário. Evidente-mente. Recordo Pedro<br />
Paixão nas suas Saudades de Nova Iorque: «Quem não está confuso corre o risco<br />
de estar enganado, pior, de se estar a enganar» (2000, p. 83). A única saída<br />
possível é romper o círculo vicioso do pensamento inútil e instaurar, de<br />
novo, uma reflexão crítica, um debate público informado, sobre a educação<br />
e a pedagogia. Ainda iremos a tempo?<br />
1. Da escola só (transbordante)<br />
<strong>para</strong> o espaço público da educação<br />
O ideal da Educação Nova é o internato no campo, «pois apenas a influência<br />
total do meio no qual a criança cresce permite realizar uma educação<br />
plenamente eficaz» 3 . Aqui, retirada do mundo, a criança pode desenvolver-<br />
-se em contacto com a natureza, «que constitui o seu meio natural».<br />
Forçando um pouco a argumentação, podemos dizer que a escola estava<br />
só, e sentia-se só, na sua responsabilidade de educar as crianças. Por isso,<br />
não espanta que o programa da «educação integral» seja aquele que melhor<br />
caracteriza o movimento da Escola Nova.<br />
Adolphe Ferrière reconhece que seria preferível deixar a criança «sob a<br />
influência natural da família», mas verifica que tal não é possível. As<br />
sociedades rurais do princípio do século XX eram demasiado frágeis do<br />
ponto de vista cultural <strong>para</strong> que pudessem cumprir esta missão. A situação<br />
era ainda mais evidente num país como Portugal que, no início do<br />
século XX, mantinha um nível de analfabetismo próximo dos 75%.
136<br />
A escola era chamada a tomar conta das crianças, também <strong>para</strong> as<br />
proteger da sociedade, de tal maneira que passou a ocupar a quase<br />
totalidade do espaço educativo. Em Portugal, os internatos não<br />
conheceram um grande desenvolvimento, a não ser nos meios religiosos,<br />
mas a imagem da escola ao lado da igreja como as duas instituições da<br />
«aldeia» simboliza bem um processo histórico que tende a transformar a<br />
educação em educação escolar.<br />
Esta «escola só» cedeu à tentação de assumir todas as missões educativas<br />
e mesmo sociais. Os sonhos desmedidos da educação integral<br />
favoreceram a emergência daquilo que tenho designado por uma «escola<br />
transbordante», exorbitante e sufocada por um excesso de missões<br />
(Nóvoa, 2005). Tudo foi sendo passado <strong>para</strong> dentro da escola e a escola,<br />
generosa e ingenuamente, tudo foi aceitando como sua missão: a<br />
educação <strong>para</strong> a cidadania e os valores, a educação <strong>para</strong> a saúde, a<br />
educação sexual, a educação alimentar e a prevenção da obesidade, o<br />
combate ao tabagismo e à toxicodependência, a luta contra o alcoolismo<br />
e os comportamentos de risco, a ecologia e a protecção do ambiente, o<br />
bem-estar das crianças e a luta contra a violência doméstica, a<br />
conservação do património e das tradições locais, a educação do<br />
consumidor, a prevenção rodoviária, o combate à delinquência juvenil, a<br />
sensibilização <strong>para</strong> as questões da segurança e do terrorismo, a<br />
pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> lidar com situações de emergência e catástrofes naturais,<br />
etc. etc. etc.<br />
E AGORA?<br />
Nenhum de nós ousaria dizer, a não ser por provocação, que a escola deveria<br />
abdicar de uma só das missões acima mencionadas. Mas podemos<br />
colocar a questão ao contrário: será que a escola consegue dar conta de<br />
todas estas missões, <strong>para</strong> além das aprendizagens escolares propriamente<br />
ditas? A resposta só pode ser negativa. Como sair, então, deste impasse?<br />
A solução passa por uma recentragem da escola, de modo a que adquira um<br />
lugar mais modesto, o que só é possível se, ao mesmo tempo, houver uma<br />
maior ambição e compromisso da sociedade em relação à educação.<br />
Actualmente, vivemos em sociedades cada vez mais urbanas e menos rurais,<br />
altamente escolarizadas e dotadas de redes de conhecimento, de instituições<br />
científicas e de estruturas culturais como nunca existiram no passado.<br />
É a partir desta «riqueza» que podemos imaginar a consolidação de um<br />
espaço público da educação, bem mais amplo do que o espaço escolar,<br />
reelaborando o conceito de esfera pública proposto por Jürgen Habermas<br />
137<br />
(1989). Trata-se de ampliar as responsabilidades educativas das famílias,<br />
das comunidades locais e das instituições sociais 4 , de tal maneira que a<br />
escola se possa recentrar naquilo que é especificamente escolar. A escola já<br />
não está sozinha e é necessário retirar todas as consequências desta realidade.<br />
O espaço público da educação deve organizar-se em torno de novas<br />
responsabilidades locais e assumir uma dimensão deliberativa: as pessoas<br />
e as instituições devem ter uma capacidade de decisão, e não apenas de<br />
consulta ou acompanhamento.<br />
Alguns argumentarão que a desestruturação das famílias, dos laços sociais<br />
e a fragilidade da «sociedade civil» tornam problemática esta evolução.<br />
É uma observação justa, mas que apenas realça a necessidade de reconstruir<br />
solidariedades, espaços de convivialidade e de vida social e cultural<br />
que tenham como ponto de referência a educação das crianças e dos<br />
jovens.<br />
A CASA DA LEITURA – 1.º COMENTÁRIO<br />
A leitura é um elemento central do espaço público da educação. O modo<br />
como a Casa da <strong>Leitura</strong> está concebida, nos seus dois instrumentos<br />
principais – S.O.L. (Serviço de Orientação da <strong>Leitura</strong>) e ABZ da <strong>Leitura</strong> –,<br />
procura facilitar uma participação informada de todos, educadores<br />
profissionais, mas também pais e outras pessoas e instituições, na promoção<br />
da leitura. É muito interessante a forma como se envolvem as<br />
pessoas neste projecto, designadamente através da rubrica «Livros da<br />
Minha Infância», mas também o esforço <strong>para</strong> dar visibilidade a iniciativas<br />
que exigem um maior conhecimento e continuidade («Laboratórios»). A<br />
criação de comunidades de leitores e de redes é fundamental <strong>para</strong> inscrever<br />
a leitura como um «acto banal», e não excepcional, do nosso dia-a-dia.<br />
2. Da criança no centro <strong>para</strong> a valorização<br />
da cultura e das aprendizagens<br />
Uma das mudanças principais da Educação Nova, que não é mais, aliás,<br />
do que um sinal dos tempos, consiste na centralidade que é concedida à<br />
criança. A expansão das disciplinas psicopedagógicas traduz, também,<br />
uma nova atenção e uma nova relação dos adultos com as crianças.<br />
Uma série interminável de livros, de textos e de programas de formação<br />
analisam as necessidades da criança e os seus interesses espontâneos, a<br />
importância de estar atento às suas experiências pessoais e aos seus<br />
ritmos de desenvolvimento. A obra emblemática é escrita por Édouard<br />
Claparède, em 1905, Psychologie de l’Enfant et Pédagogie Expérimentale.
138<br />
Sucessivamente reeditada durante décadas, ilustra a «revolução copernicana»<br />
deste princípio do século XX: não é o Sol que gira à volta da Terra, é a Terra<br />
que gira à volta da Criança-sol.<br />
Numa sociedade rural, num certo sentido «indiferente» aos afectos e à<br />
especificidade da infância, esta revolução era necessária. E ela teve continuidade<br />
nas décadas seguintes, com Sua Majestade a Criança – título de<br />
uma obra de Almerindo Lessa e Alberto Costa – a adquirir uma importância<br />
cada vez maior na vida familiar, social e económica. Exagerando o<br />
raciocínio, quase podemos dizer que, hoje, a criança está no centro de<br />
tudo: das famílias e da sociedade, da comunicação social e da publicidade,<br />
da economia e das políticas públicas.<br />
E AGORA?<br />
Depois de um século que concedeu uma atenção quase asfixiante à<br />
criança será que ainda precisamos que ela continue no centro? Ou será<br />
que, tal como o fez a Educação Nova, devemos construir uma pedagogia<br />
que forneça aquilo que não existe na sociedade? Por isso – e sabendo que<br />
educar é sempre educar alguém e que esquecê-lo é perder um património<br />
essencial <strong>para</strong> os dias de hoje –, será que não devemos colocar no centro<br />
a cultura e as aprendizagens?<br />
Na Comunicação de Cracóvia, em 1934, Gaston Bachelard sugere que se<br />
substitua o aborrecimento de viver pela alegria de pensar. Os divertimentos<br />
do dia-a-dia, aparentemente mais alegres, rapidamente se transformam<br />
em monotonia. Já o pensamento, uma vez adquiridos os instrumentos<br />
básicos de cultura, abre sempre novas perspectivas.<br />
Numa série de estudos prospectivos realizados nos últimos anos, a OCDE<br />
aponta seis cenários de futuro <strong>para</strong> a escola, organizados em torno de três<br />
eixos (cf. Nóvoa, 2009):<br />
1.º eixo – Statu quo<br />
Manutenção de sistemas escolares burocráticos<br />
Êxodo dos professores e desintegração do sistema<br />
2.º eixo – Re-escolarização<br />
A escola no centro da colectividade<br />
A escola como organização centrada na aprendizagem<br />
3º eixo – Des-escolarização<br />
Redes de aprendizagem e sociedade-em-rede<br />
Privatização e extensão do modelo de mercado<br />
139<br />
Sem surpresa, a grande maioria dos educadores e professores apontam,<br />
como desejável, o eixo da re-escolarização. Mas dividem-se, praticamente<br />
a meio, quanto à preferência por um cenário que coloca a escola no centro<br />
da colectividade (reforçando assim as missões sociais) ou por um<br />
cenário que a concebe como uma organização centrada na aprendizagem<br />
(reforçando assim a cultura escolar).<br />
Pessoalmente, revejo-me neste segundo cenário, recusando no entanto<br />
qualquer tendência no sentido do «back to basics» ou da «escola mínima»,<br />
movimentos que se traduzem, metaforicamente, por um regresso à escola<br />
pobre e medíocre do «ler, escrever e contar». Mas adoptando um conceito<br />
enriquecido de aprendizagem – que incorpore os novos conhecimentos<br />
das neurociências e dos estudos sobre a cognição, as teorias da complexidade<br />
e da imprevisibilidade, as teorias da informação e as novas tecnologias,<br />
etc. – podemos construir uma nova abordagem do currículo,<br />
investindo as dimensões do conhecimento, da cultura e da ciência que não<br />
cabem na estrutura disciplinar herdada do século XIX e que se manteve,<br />
no essencial, inalterada ao longo do século XX.<br />
A CASA DA LEITURA – 2.º COMENTÁRIO<br />
A organização da Casa da <strong>Leitura</strong> dá particular atenção ao registo das<br />
obras, adoptando um critério inovador: pré-leitores, leitores iniciais,<br />
leitores medianos e leitores autónomos. As «Vidas e Obras» (S.O.L.) e as<br />
«Práticas» e os «Projectos» (ABZ da <strong>Leitura</strong>) constituem um apoio muito<br />
importante ao trabalho sobre a leitura. O fundamental é adquirir uma<br />
linguagem e depois usufruir das possibilidades que ela abre. É impossível<br />
gostar de xadrez sem conhecer as suas regras. E o mesmo se poderá dizer<br />
<strong>para</strong> qualquer outra linguagem: a música, o bailado, a matemática, etc.<br />
Voltemos a Paulo Freire: «Assim como um pedreiro não pode prescindir<br />
de um conjunto de instrumentos de trabalho, sem os quais não levanta<br />
as paredes da casa que está sendo construída, assim também o leitor<br />
estudioso precisa de instrumentos fundamentais sem os quais não pode<br />
ler ou escrever com eficácia» (1994, p. 34). Claro que a leitura é sempre<br />
feita por alguém, e as dimensões pessoais e subjectivas são centrais, mas é<br />
o domínio da linguagem e a sua exercitação que criam as condições <strong>para</strong><br />
que o gosto e o desejo se desenvolvam.
140<br />
3. Dos métodos activos <strong>para</strong> as abordagens reflexivas<br />
A referência primeira da Educação Nova é a Escola Activa, de tal maneira<br />
que os dois termos confundem-se frequentemente. Quando Adolphe<br />
Ferrière escreve que a escola é uma invenção diabólica está a pensar sobretudo<br />
na forma como a criança é fechada em instituições e condenada ao<br />
imobilismo: «A criança adora a natureza: encerraram-na dentro de casas.<br />
A criança gosta de brincar: obrigam-na a trabalhar. Gosta de mexer-se:<br />
condenam-na à imobilidade. Gosta de falar: impõem-lhe silêncio» (1928,<br />
p. 12). Quando se procura caricaturar a oposição entre a escola nova e a<br />
escola tradicional, esta é sempre representada por um aluno imóvel,<br />
recipiente inerte que recebe os saberes transmitidos pelo professor.<br />
Os métodos activos baseados no jogo, nas dimensões lúdicas, no interesse<br />
e na acção da criança, na sua liberdade e iniciativa, baseados na motivação<br />
e na participação do aluno nas tarefas escolares, constituem um<br />
património central da pedagogia moderna. Numa sociedade marcada por<br />
uma relação rígida com a infância, na qual as dimensões lúdicas eram<br />
pouco valorizadas e o corpo das crianças sujeito a um grande controlo, os<br />
métodos activos eram, naturalmente, uma necessidade vital <strong>para</strong> repensar<br />
a educação.<br />
Não se confundam, aliás, os «métodos activos» com pura agitação física<br />
ou movimento, pois o que verdadeiramente está em causa é a motivação<br />
e a participação no trabalho escolar. Há um texto muito interessante de<br />
David Labaree (2000) no qual se explica que o ensino é uma profissão de<br />
grande complexidade, utilizando-se mesmo uma curiosa com<strong>para</strong>ção:<br />
um médico pode operar com sucesso um doente anestesiado, mas um<br />
professor necessita da cooperação activa do aluno <strong>para</strong> atingir os seus<br />
objectivos.<br />
E AGORA?<br />
Mas será que, hoje, numa sociedade feita de hiper-actividade, o debate<br />
sobre os métodos activos se coloca ainda nos mesmos termos? Creio que<br />
não. As crianças vivem num estado quase permanente de sobre-excitação,<br />
sempre ligadas às mais diversas actividades, quantas vezes simultaneamente<br />
(jogos, telemóveis, ipods, televisão, computador, etc.). Esta é, aliás,<br />
uma das características mais notáveis da juventude, e que contrasta fortemente<br />
com o comportamento da geração anterior.<br />
A questão coloca-se uma vez mais: será que a escola deve contribuir <strong>para</strong><br />
esta inflação de actividades ou, bem pelo contrário, deve pensar o seu<br />
141<br />
trabalho contra a tendência dos dias que correm? A minha resposta é<br />
clara: a escola não tem qualquer interesse em lançar-se nesta competição<br />
e deve ser capaz, isso sim, de reintroduzir a calma e a serenidade no<br />
espaço da sala de aula. O princípio é sempre o mesmo: a exemplo do que<br />
aconteceu no tempo da Educação Nova, a escola deve fornecer às crianças,<br />
primordialmente, o que elas não têm na sociedade. A sociedade<br />
mudou e o que se espera da escola é, hoje, diferente daquilo que se esperava<br />
há cem anos.<br />
O silêncio, a introspecção e o estudo são costumes a recuperar, sempre<br />
num quadro de partilha e de convivialidade. Poderemos, assim, valorizar<br />
na escola atitudes e abordagens reflexivas, insistindo em dois pontos.<br />
Primeiro, a reflexão não é um exercício vazio ou que se faça no vazio – é<br />
sempre a partir de saberes, de conhecimentos e experiências, que se<br />
elabora o sentido do trabalho escolar. Segundo, a reflexão não é um acto<br />
isolado ou solitário – sem esquecer a importância do «pensar consigo», o<br />
que melhor caracteriza o trabalho escolar é o «pensar com os outros»,<br />
investindo assim o diálogo como lugar decisivo da aprendizagem.<br />
A CASA DA LEITURA – 3.º COMENTÁRIO<br />
A «Bibliografia» e as «Orientações Teóricas» do ABZ da <strong>Leitura</strong> revelam<br />
bem o cuidado que os autores da Casa da <strong>Leitura</strong> puseram na elaboração<br />
deste instrumento. É preciso pensar e dar sentido às práticas de promoção<br />
da leitura. E, ao mesmo tempo, despertar nos leitores a curiosidade<br />
de um gesto que não se esgota na mecânica das palavras e que nos<br />
leva a outros mundos e a outras vidas. A leitura é, simultaneamente, o<br />
mais solitário e o mais partilhado de todos os actos. Cada um lê <strong>para</strong> si,<br />
ao seu ritmo, à sua maneira, mas ao fazê-lo está em comunicação com os<br />
outros e as suas histórias. A dimensão reflexiva nasce deste diálogo entre<br />
mim mesmo e os outros. Se é certo que as disciplinas escolares necessitam<br />
de um trabalho árduo e persistente <strong>para</strong> serem aprendidas, não devemos<br />
ignorar que certas experiências de leitura, como aliás outras vivências<br />
artísticas e culturais, podem constituir, por si só, momentos insubstituíveis<br />
do processo de formação de cada um. Ninguém aprende<br />
Matemática ou História sem um longo investimento de anos e anos de<br />
estudo. Mas a leitura de um único livro pode ter efeitos consideráveis e<br />
proporcionar apendizagens que, de outro modo, levariam muito tempo a<br />
obter.
142<br />
4. Da diferenciação na homogeneidade <strong>para</strong> a valorização<br />
da diversidade e a construção do diálogo<br />
Um quarto traço fundamental da Educação Nova prende-se com a<br />
diferenciação pedagógica. Recorde-se o livro de Édouard Claparède, L’Ecole<br />
Sur Mesure (traduzido por A Escola Sob Medida), publicado em 1920. O título<br />
contém, em si mesmo, todo um programa educativo: «Quando um<br />
alfaiate faz um fato ajusta-o à altura do seu cliente, e se este é gordo e<br />
pequeno não lhe impõe um fato estreito com o argumento de que é<br />
aquele que corresponde, em regra, à sua altura. O sapateiro começa por<br />
registar num papel os contornos do pé e as suas particularidades,<br />
incluindo as deformações. O chapeleiro adapta os seus trabalhos à forma<br />
e à dimensão das cabeças… Apenas o pedagogo veste, calça e penteia todos<br />
os espíritos da mesma maneira. Só tem produtos pronto-a-vestir e as suas<br />
prateleiras não têm a mais pequena escolha.» (1953, p. 74)<br />
A diferenciação pedagógica é um objectivo fundamental da Educação<br />
Nova, ainda que, naquela época, as escolas públicas e privadas fossem relativamente<br />
homogéneas. Eram os mesmos grupos sociais que estavam<br />
representados na escola e a integração de alunos de outras origens sociais<br />
fazia-se sem grandes sobressaltos. Ainda assim, a diferenciação<br />
pedagógica raramente foi concretizada ao longo dos últimos cem anos.<br />
No decurso de grande parte do século XX, não houve necessidade de justificar<br />
a escola, cujo sentido na vida das pessoas e das sociedades se<br />
impunha com grande naturalidade. A expansão e a abertura do pós-II<br />
Guerra Mundial trouxeram <strong>para</strong> a escola todas as crianças e todos os<br />
jovens, mas provocaram uma desvalorização dos diplomas e puseram em<br />
causa o valor da instituição como factor de mobilidade social.<br />
E AGORA?<br />
Hoje, <strong>para</strong> muitos alunos, a escola não tem qualquer sentido, nem<br />
representa um projecto no qual eles próprios ou as suas famílias sintam<br />
que vale a pena investir. A pedagogia, habituada a lidar com as questões<br />
da motivação num quadro de adesão à ideia de escola, fica desarmada<br />
perante estes alunos. Já não estamos apenas face a um desafio de<br />
diferenciar na homogeneidade mas de construir uma pedagogia que<br />
valorize a diversidade. E é preciso consegui-lo sem ceder às tendências da<br />
«infantilização» ou da «comunitarização».<br />
Contra a infantilização, porque uma aceitação acrítica das culturas<br />
infantis e juvenis dominantes poderia levar-nos a aproximar a escola do<br />
143<br />
mundo social de tal maneira que deixaria de haver distinções. E então a<br />
escola seria uma instituição igual às outras e perderia todo o seu sentido.<br />
São os jogos de computador na sala de aula, são as séries de televisão nos<br />
programas de ensino, são os jogadores de futebol nos livros escolares. Eu<br />
sei que a intenção é boa e que temos de ser engenhosos no nosso esforço<br />
de conquistar as crianças. Mas temos de exercer uma enorme vigilância<br />
crítica <strong>para</strong> que estes «expedientes» não se transformem, pouco a pouco,<br />
na «essência» da escola.<br />
Contra a comunitarização, porque aquilo que nos junta no espaço escolar<br />
não são, em primeiro lugar, as afinidades ou os laços afectivos, mas sim<br />
a vontade de ensinar as regras da vida social, de aprender a viver em<br />
conjunto. Provocatoriamente, Meirieu e Guiraud (1997) falam dos «bárbaros»<br />
que durante muito tempo estiveram fora das escolas e que agora<br />
as ocupam de pleno direito. Dizem que estes alunos estão, muitas vezes,<br />
inseridos em grupos sociais quentes, nomeadamente em bandos juvenis,<br />
com chefes carismáticos e ambientes de grande «solidariedade<br />
interna». Afirmam, por isso, que não precisam que a escola lhes dê<br />
«mais comunidade», mas sim que lhes dê «mais sociedade». Não se trata<br />
tanto de conviver, mas sim de aprender as regras do convívio, isto é, a<br />
aprendizagem do diálogo, da democracia e das regras de vida em<br />
sociedade.<br />
Compreender e trabalhar a diversidade, conduzindo os alunos pelos caminhos<br />
da aprendizagem, e incluindo-os socialmente através do diálogo,<br />
constituem o desafio maior da pedagogia contemporânea. Não se trata,<br />
apenas, o que já não seria pouco, de acolher e integrar estas crianças e<br />
estes jovens; trata-se de conseguir que eles adquiram os instrumentos do<br />
pensamento e da cultura, o que implica uma actividade metódica, rigorosa,<br />
sistemática. Sem isso, a escola torna-se dispensável.<br />
A escola não é apenas um lugar de vida; é sobretudo um lugar de aprendizagem.<br />
A escola não é apenas um espaço de desenvolvimento pessoal; é<br />
o espaço onde se constrói o diálogo social. Aprender a viver com, a conviver:<br />
nas sociedades deste início do século XXI a escola continua a ser uma<br />
instituição insubstituível.<br />
A CASA DA LEITURA – 4.º COMENTÁRIO<br />
Os «Projectos» e os «Laboratórios» do ABZ da <strong>Leitura</strong> contêm frequentes<br />
exemplos de actividades colectivas de leitura. Numa sociedade que necessita,<br />
urgentemente, de encontrar formas adequadas de diálogo, a leitura<br />
é, certamente, uma das principais ferramentas <strong>para</strong> compreender a diver-
144<br />
sidade, outros universos culturais, religiosos e sociais, outras histórias e<br />
maneiras de pensar e de sentir. Numa reflexão notável, retomada em<br />
Conferência proferida na <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> no dia 27 de<br />
Outubro de 2008, Arjun Appadurai avisa-nos quanto aos riscos do diálogo,<br />
afirmando que «o diálogo é sempre uma forma de negociação que não<br />
pode basear-se nem numa compreensão mútua total nem numa espécie<br />
de consenso que seria independente das fronteiras e das diferenças»<br />
(2006, p. 26). Na leitura, o trabalho dos mediadores é essencial <strong>para</strong> facilitar<br />
o inter-conhecimento e a inter-compreensão, valorizando a palavra<br />
que permite construir uma linguagem comum no respeito pela diversidade.<br />
Concluindo…<br />
Ao longo desta intervenção procurei assinalar quatro propostas da<br />
Educação Nova que marcaram a pedagogia moderna e interrogar-me<br />
sobre a sua pertinência nos dias de hoje. Poderia ter falado de outras propostas,<br />
mas estas são bem ilustrativas da importância histórica deste<br />
movimento e, também, da necessidade de o reactualizar. A Educação<br />
Nova faz parte do património pedagógico e as suas teses estão incorporadas<br />
na matriz pedagógica dos educadores e da sociedade. Não se trata,<br />
pois, de as negar, mas sim de compreender que é urgente revê-las à luz<br />
das realidades contemporâneas. É esse o sentido da minha intervenção.<br />
A Casa da <strong>Leitura</strong> é um projecto de grande mérito, que nos ajuda a conceber<br />
a leitura como um acto de vida. <strong>Ler</strong> o mundo dia a dia, dia após dia,<br />
numa actividade sistemática feita de continuidade, na escola, nas<br />
famílias e na sociedade. <strong>Ler</strong> o mundo no dia-a-dia, no quotidiano de cada<br />
um, como uma rotina que faz parte do modo como vivemos. Nada se<br />
resolve com campanhas, programas especiais, modas ou reformas. O<br />
grande programa que nos deve mobilizar é a inscrição da leitura como<br />
um acto normal, natural, banal. A Casa da <strong>Leitura</strong>, na qual hoje nos reunimos,<br />
procura contribuir <strong>para</strong> esta «banalização» e, por isso, merece a<br />
nossa admiração. Em educação, o mais difícil é sempre o que parece mais<br />
fácil.<br />
Notas<br />
145<br />
1 Recorro aqui à expressão famosa de John Dewey, «credo pedagógico», utilizada originalmente em<br />
texto de 1897.<br />
2 Este texto é constituído pelas notas da intervenção realizada no dia 21 de Janeiro de 2009, no<br />
Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong>, e mantém, por isso, as marcas da oralidade.<br />
3 Todas as citações não identificadas são do prefácio de Adolphe Ferrière ao livro de A. Faria de<br />
Vasconcelos. 4<br />
4 As sociedades dispõem hoje de uma longa lista de instituições que podem participar neste espaço<br />
público da educação, sem tudo remeter <strong>para</strong> dentro da escola: centros de saúde, espaços culturais,<br />
igrejas, associações locais, centros sociais, museus, grupos desportivos, empresas, grupos artísticos,<br />
ocupação de tempos livres, centros de acolhimento e ajuda, associações de voluntariado social, etc.<br />
Referências bibliograficas<br />
Appadurai, A. (2006). «The Risks of Dialogue», in New Stakes for Intercultural Dialogue, Paris: UNESCO,<br />
pp. 33-37.<br />
Bachelard, G. (1934). Valeur Morale de la Culture Scientifique, Cracovie: Communication de Cracovie.<br />
Claparède, É. (1911, 4.ª edição). Psychologie de l’Enfant et Pédagogie Expérimentale, Genève: Librarie<br />
Kündig.<br />
Claparède, É. (1953; 1920, 1.ª edição). L’Ecole sur Mesure, Genève: Payot.<br />
Dewey, J. (1897). «My Pedagogic Creed», in The School Journal, vol. 4, n.º 3, pp. 77-80.<br />
Ferrière, A. (1915). «Préface», in Une Ecole Nouvelle en Belgique, Neuchâtel: Delachaux & Niestlé, pp. 7-20.<br />
Ferrière, A. (1928). Transformemos a Escola, Paris: Livraria Francesa e Estrangeira Truchy-<strong>Ler</strong>oy.<br />
Freire, P. (1991, 25.ª edição). A Importância do Ato de <strong>Ler</strong>, São Paulo: Cortez Editora.<br />
Freire, P. (1994, 4.ª edição). Professora Sim, Tia Não – Cartas a quem ousa ensinar, São Paulo: Editora Olho<br />
d’Água.<br />
Godinho, V.M.G. (1984). «Prefácio», in Educação Cívica, Lisboa: Ministério da Educação, pp. 1-18.<br />
Habermas, J. (1989). The Structural Transformation of the Public Sphere, Cambridge: Polity.<br />
Labaree, D. (2000). «On the Nature of Teaching and Teacher Education – Difficult practices that look<br />
easy», in Journal of Teacher Education, vol. 51, n.º 3, pp. 228-233.<br />
Lessa, A. & Costa, A. (1945). Sua Majestade a Criança, Coimbra: Editorial Nobel.<br />
Meirieu, P. & Guiraud, M. (1997). L’Ecole ou la Guerre Civile, Paris: Plon.<br />
Nóvoa, A. (2005). Evidentemente – Histórias da educação, Porto: Edições ASA.<br />
Nóvoa, A. (2009). Professores – Imagens do futuro presente, Lisboa: Educa.<br />
Paixão, P. (2000). Saudades de Nova Iorque, Lisboa: Livros Cotovia.<br />
Sérgio, A. (1984; 1915, 1.ª edição). Educação Cívica, Lisboa: Ministério da Educação.<br />
Vasconcelos, A.F. (1915). Une Ecole Nouvelle en Belgique. Neuchâtel: Delachaux & Niestlé.
146<br />
Casa da <strong>Leitura</strong>:<br />
Alicerces, arquitectura<br />
e integração na paisagem<br />
ANTÓNIO PROLE*<br />
147<br />
As minhas primeiras palavras dirigem-se à FCG e destinam-se a expressar<br />
publicamente o meu profundo agradecimento por me ter sido dada a<br />
possibilidade de conceber um projecto de promoção da leitura, dotado<br />
dos meios financeiros necessários e do apoio institucional indispensável<br />
<strong>para</strong> que os seus objectivos pudessem ser atingidos. Tal facto acarretou<br />
responsabilidades acrescidas mas constituiu não só uma oportunidade<br />
única, mas um verdadeiro desafio.<br />
Gostaria ainda de deixar registada uma palavra de gratidão à professora<br />
Paula Morão, pelo incentivo e apoio que me deu enquanto directora do<br />
organismo que tenho a honra de integrar.<br />
Faz no próximo dia 4 de Fevereiro dois anos que a Casa da <strong>Leitura</strong> abriu<br />
as suas portas, encerramos hoje, com este congresso, o compromisso de<br />
três anos estabelecido com a <strong>Fundação</strong> <strong>para</strong> o desenvolvimento do<br />
projecto. O objecto desta comunicação não é fazer um balanço crítico do<br />
nosso trabalho e da sua aceitação, mas deixarei a esse propósito umas<br />
breves notas.<br />
São muitos e complexos os problemas no domínio da leitura no nosso<br />
país, mas considero que a questão da formação dos mediadores de leitura<br />
é central na luta contra a iliteracia. O objectivo central da Casa da <strong>Leitura</strong><br />
é constituir-se como um instrumento de (in)formação dos mediadores,<br />
promotores e potenciais promotores de leitura, incluindo-se neste grupo<br />
estudiosos e estudantes do ensino superior. Para que este objectivo seja<br />
alcançado é condição necessária que o projecto se constitua como uma<br />
plataforma transversal de difusão de conteúdos teórico/práticos,<br />
respeitantes à literatura, à leitura e às práticas de promoção da leitura.<br />
Neste contexto, sentimo-nos confortáveis com o número de visitas que<br />
tivemos até hoje, cerca de 1 milhão e meio. Os ecos que nos chegam sobre<br />
a aceitação do projecto são francamente animadores. Um conjunto muito<br />
alargado de mediadores, bibliotecários, professores, promotores de<br />
leitura, usam a Casa da <strong>Leitura</strong> como ferramenta de trabalho; estudantes<br />
universitários citam com uma frequência crescente os nossos conteúdos;<br />
uma tese de mestrado foi elaborada tendo como objecto um dos<br />
* Responsável pela concepção do projecto Casa da <strong>Leitura</strong><br />
e coordenador entre Outubro de 2005 e Março de 2009.
148<br />
laboratórios de Beja; professores do ensino superior, especialmente das<br />
Escolas Superiores de Educação, dão a Casa da <strong>Leitura</strong> como referência<br />
aos seus alunos; cada vez mais especialistas disponibilizam originais <strong>para</strong><br />
a Casa da <strong>Leitura</strong>; o modo entusiasta como este congresso foi recebido<br />
desde a primeira hora e o número de participantes no mesmo, como há<br />
muito não se via, são sinais claros que a Casa da <strong>Leitura</strong> é já hoje um<br />
instrumento credível e de referência <strong>para</strong> um universo alargado de<br />
mediadores de leitura e uma plataforma de informação atractiva <strong>para</strong> os<br />
estudiosos e investigadores da área da literatura e da leitura.<br />
No que respeita aos conteúdos disponibilizados, e tendo em atenção os<br />
objectivos apontados no projecto apresentado, não só cumprimos os<br />
objectivos como abrimos novos espaços de informação.<br />
Ocupamos na paisagem da leitura pública em Portugal um espaço<br />
próprio, os mediadores encontram na Casa da <strong>Leitura</strong> uma ferramenta<br />
(in)formativa que lhes é útil e que vem preencher lacunas e necessidades<br />
fundamentais.<br />
Dito isto, e neste momento de fechar de página, permiti-me a liberdade de<br />
fazer uma leitura da Casa a partir de uma perspectiva interior e com o<br />
olhar de quem idealizou desenvolver no espaço da leitura uma narrativa<br />
que se constitui num pequeno mas importante contributo no contexto da<br />
formação de novos públicos leitores. No fundo, explicitar alguns dos pressupostos<br />
teóricos que implicitamente constituem os fundamentos, os<br />
alicerces, da Casa da <strong>Leitura</strong> e a sua filiação e perspectiva arquitectónica.<br />
Se noutros domínios artístico-culturais acolho a emergência de arquitecturas<br />
conceptuais de ruptura com a envolvente onde se inserem, desencadeando<br />
espanto estético e uma fruição interrogativa, já no âmbito da recepção da<br />
literatura e da leitura balizada pelo território da promoção da leitura<br />
rejeito veementemente a ideia de uma arquitectura de ruptura ou<br />
descontinuidade.<br />
Não me revejo nos edifícios sofisticados que por vezes emergem neste<br />
domínio mas que no entanto se anunciam como tendo uma função<br />
pública e de capacitação dos mediadores. A pretexto de ultrapassarem o<br />
ruído das narrativas superficiais da cidade, tornam-se edifícios<br />
conceptuais sofisticados, virados <strong>para</strong> si mesmos, criando uma<br />
ambiência ensimesmada e elitista que se enclausura em condomínios<br />
fechados. São estruturas narcísicas que não raro resvalam <strong>para</strong> a<br />
alienação, tal o fosso cavado relativamente ao terreno da promoção da<br />
leitura e aos seus agentes, sem chegarem a ser, longe disso, casulos de<br />
investigação de ponta (pura) em relação aos quais a perspectiva crítica de<br />
análise é outra e os nós problemáticos residem em grande medida na<br />
actualização prática dos conhecimentos teoricamente adquiridos.<br />
Tão pouco sou defensor de edifícios de cota baixa que, a pretexto de uma<br />
acessibilidade mais alargada simplificam e banalizam a sua arquitectura,<br />
149<br />
usam estruturas conceptuais superficiais e não acrescentam nenhuma<br />
mais-valia à envolvente onde se inserem. Convertem-se em edifícios<br />
indiferentes no território da promoção da leitura e que acabam por se<br />
desmoronar por inutilidade funcional.<br />
A Casa da <strong>Leitura</strong> é um edifício que se situa a meio caminho entre estes<br />
dois extremos e que se desenvolve a partir de uma ideia estruturante que<br />
caracteriza o seu perfil e a filia numa dada corrente arquitectónica. Essa<br />
ideia estruturante definiu o esboço que antecedeu e perspectivou o desenho<br />
arquitectónico e assenta em dois conceitos que se implicam mutuamente:<br />
compromisso e contexto. Existe uma questão teórica prévia que<br />
sustenta estes dois alicerces estruturantes: a criação de novos públicos<br />
leitores e a luta contra os altos níveis de iliteracia da nossa população, é<br />
um processo lento e cumulativo, onde nenhum contributo pode ser desperdiçado,<br />
nenhuma herança pode pura e simplesmente ser ignorada. O<br />
trabalho de promoção da leitura faz-se às cavalitas do passado e ensaiando<br />
em determinados momentos, quando estão reunidas determinadas<br />
condições, moderadas revoluções de veludo.<br />
Compromisso e contexto são os caboucos conceptuais da idealização do<br />
edifício. A antecipação que preside a toda a idealização, o esboço que<br />
antecede o desenho arquitectónico, desenvolveu-se a partir desta ideia<br />
central que configuraria a tipologia arquitectónica de base da Casa da<br />
<strong>Leitura</strong>. A Casa filia-se numa arquitectura contextualizada, que tem em<br />
consideração as principais especificidades do território da leitura e com<br />
um forte compromisso com a história da leitura pública, balizada pelo<br />
movimento das bibliotecas públicas. Uma estrutura no (con)texto que<br />
pretende acrescentar um algo mais à narrativa da leitura pública,<br />
contribuindo <strong>para</strong> o reconhecimento ou o reforço de uma nova<br />
centralidade territorial: a promoção da leitura, e contribuir <strong>para</strong> induzir<br />
em grande parte dos espaços de leitura e em grande número dos<br />
mediadores, respectivamente, novas funcionalidades e competências.<br />
Define-se nesta perspectiva como uma arquitectura de funcionalidades,<br />
como uma Casa pragmática, cuja contextualização com a envolvente e<br />
comprometimento com a história territorial invalida qualquer ruptura<br />
com o terreno mas também não deixa indiferente a paisagem da leitura.<br />
Estas características arquitectónicas da Casa filiam-na numa arquitectura<br />
que poderíamos designar como moderna pós-modernista e que tem em<br />
Adjaye um representante da nova geração.<br />
A paisagem da leitura pública está entre nós fortemente marcada por um<br />
conjunto de edifícios que constituem uma malha apertada no território<br />
e que se constituem como um todo coerente e com uma identidade<br />
colectiva. Esta realidade de uma homogeneidade arquitectónica<br />
territorial onde as diferenças se expressam é uma das características mais<br />
positivas da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP) e pressupõe
150<br />
uma política de desígnio nacional e uma liderança de proximidade<br />
continuada e reconhecida. Espaços interiores definidos pelas suas<br />
múltiplas funcionalidades, dotados dos mais diversos suportes informativos,<br />
com espaços diferenciados <strong>para</strong> públicos com interesses diferentes, com<br />
acervos informativos e literários satisfatórios, local de encontro de<br />
manifestações literárias e culturais diversas e competências adaptadas<br />
aos serviços prestados, as bibliotecas públicas marcam a paisagem da<br />
leitura não obrigatória.<br />
Esta malha de edifícios acumula uma vantagem territorial e de eficácia<br />
com<strong>para</strong>tiva relativamente a outras realidades europeias: a sua cooperação<br />
muito estreita com as bibliotecas escolares. Se é certo que este relacionamento<br />
se destinou a colmatar a falta de formação em Ciências<br />
Documentais dos bibliotecários escolares, o facto é que isso estreitou e<br />
oleou as relações entre as bibliotecas públicas e a comunidade escolar e<br />
em muitos locais o trabalho em conjunto estendeu-se a outras áreas e criaram-se<br />
condições potenciais <strong>para</strong> qualificar o trabalho de parceria, na<br />
existência de um plano estratégico de promoção da leitura. Houve quem<br />
pensasse que esta mais-valia iria ser um dos eixos principais de uma futura<br />
política nacional de promoção da leitura. Infelizmente, penso que<br />
temos vindo a desperdiçar esse capital.<br />
Mas <strong>para</strong> a questão essencial que agora nos ocupa, importa sublinhar um<br />
factor da maior importância que reforça a centralidade potencial das<br />
bibliotecas públicas numa política de formação de novos públicos<br />
leitores. A biblioteca pública é a estrutura que reúne as melhores<br />
condições <strong>para</strong> desenvolver projectos de promoção da leitura junto das<br />
famílias, é a única que no limite pode ser a Casa da <strong>Leitura</strong> das famílias<br />
não leitoras. Numa dada fase do desenho do projecto fazia sentido <strong>para</strong> a<br />
coerência do mesmo, e tendo em conta as suas limitações, que a família<br />
enquanto mediadora de leitura fosse residente da Casa e integrasse os<br />
seus laboratórios, desenvolvendo aí práticas regulares e continuadas de<br />
leitura partilhada entre pais e filhos que pudessem ser divulgadas e o<br />
processo devidamente avaliado. Percorrido todo o território da leitura só<br />
encontrei nas bibliotecas públicas exemplos de projectos teoricamente<br />
sustentados, coerentemente desenvolvidos e suficientemente enraizados<br />
<strong>para</strong> decorrerem com regularidade e continuidade. E é por essa razão que<br />
são duas bibliotecas públicas, Odivelas e Beja, que integram a equipa da<br />
Casa da <strong>Leitura</strong>. A biblioteca pública é o lugar onde naturalmente<br />
acontece a leitura pela leitura e onde há condições potenciais não só <strong>para</strong><br />
que pais e filhos se encontrem, mas <strong>para</strong> que se desenvolvam projectos<br />
sustentados de leitura partilhada.<br />
Mas o contexto onde a Casa da <strong>Leitura</strong> se iria inserir, a envolvente territorial<br />
da promoção da leitura, era muito pouco homogéneo e o trabalho<br />
desenvolvido nestas duas bibliotecas estava longe de ser o espelho da rea-<br />
151<br />
lidade, uma prática corrente. Mas era o sintoma de que algo estava a<br />
mudar no terreno e que há mais mundo de aprendizagem <strong>para</strong> além da<br />
aprendizagem formal institucionalizada.<br />
Há dois exemplos que simbolizam e sintetizam a realidade próxima da<br />
promoção da leitura quando o projecto da Casa foi desenhado.<br />
A Comissão de Coordenação da Região Norte, numa iniciativa pioneira e<br />
única no país, abriu, no âmbito do anterior quadro comunitário de apoio,<br />
uma medida específica de apoio financeiro a projectos de promoção da<br />
leitura e solicitou a assessoria técnica do Instituto Português do Livro e<br />
das Bibliotecas. Uma percentagem significativa dos projectos realizados<br />
tinha muita animação e pouca leitura. Acabado o foguetório desmontou-<br />
-se a tenda e na terra não ficou uma única semente capaz de germinar. No<br />
entanto, alguns bibliotecários fizeram um percurso de aprendizagem e a<br />
noção de promoção da leitura e as competências exigidas <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />
de um projecto foi fazendo aqui e ali o seu caminho. Em<br />
2005, cinco bibliotecas do Alto Minho elaboraram o projecto Dar Vida às<br />
Letras e solicitaram a assessoria científica de especialistas do Instituto de<br />
Estudos da Criança da Universidade do Minho. Este projecto viria a ganhar<br />
o prémio de Inovação em Promoção da <strong>Leitura</strong> da prestigiada<br />
International Reading Association.<br />
Em 2004, por iniciativa do IPLB, são desenvolvidos três projectos-piloto de<br />
promoção da leitura em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares e<br />
envolvendo bibliotecas públicas e escolares e professores. Com uma<br />
metodologia e estratégia que se revelaram acertadas, uma formação<br />
integrada e à medida, com bibliografia e literatura seleccionada, com um<br />
acompanhamento regular e continuado da equipa que coordenou os<br />
projectos, mereceu destaque o projecto de Matosinhos que se constituiu<br />
como um projecto de boas práticas. Infelizmente, não houve disponibilidade<br />
financeira <strong>para</strong> replicar a experiência, fazer uma divulgação<br />
convenientemente e tentar provocar o chamado efeito dominó. A ideia de<br />
um Plano Nacional da <strong>Leitura</strong> já andava no ar e alguns acreditaram que<br />
se tal intenção se materializasse, essa experiência-piloto seria a referência<br />
de um dos seus eixos principais.<br />
Há duas conclusões que se podem retirar de imediato destas duas<br />
experiências, e tendo em conta o trabalho desenvolvido em Beja, Odivelas e<br />
noutras bibliotecas, que importa sublinhar: os bons resultados alcançados<br />
estão directamente relacionados com as competências dos mediadores e as<br />
competências acrescidas de investigadores e estudiosos; começa-se a formar<br />
uma massa crítica com alguma expressão capaz de desenvolver boas práticas<br />
de promoção da leitura, mas a maioria dos projectos não tem a mínima<br />
sustentabilidade teórica e assenta em práticas de resultados tendencialmente<br />
nulos no que respeita à criação de hábitos de leitura e ao<br />
desenvolvimento de novas competências leitoras do público infanto-juvenil.
152<br />
Tal facto resulta de dois factores. Por um lado, a formação académica dos<br />
nossos mediadores especializados não os capacita <strong>para</strong> a formação de<br />
novos públicos leitores, a dos bibliotecários públicos restringe-se, no<br />
essencial, às Ciências Documentais e às Tecnologias de Informação e<br />
Comunicação, os bibliotecários escolares não têm nenhuma formação<br />
específica e a formação inicial da maioria dos professores do ensino básico<br />
não os capacita <strong>para</strong> os novos desafios que se colocam à formação de<br />
leitores competentes: Inês Sim-Sim, uma das vozes mais autorizadas no<br />
âmbito da leitura, afirmou não há muito tempo que os nossos alunos<br />
mostram cada vez maiores dificuldades em aprender a ler e os nossos professores<br />
uma incapacidade crescente em ensinar a ler, realidade reflectida,<br />
aliás, nos resultados do PISA. Por outro lado, bibliotecários públicos,<br />
promotores da leitura, formadores, estudiosos, técnicos da Admistração<br />
Pública com funções na área da leitura, encetavam um caminho de formação<br />
informal, recorriam à vasta literatura existente em Espanha,<br />
seguiam com redobrada atenção o trabalho desenvolvido pela FGSR e outras<br />
instituições internacionais. Daqui resultava um universo de mediadores<br />
de competências muito díspares, com necessidades de informação<br />
muito diferenciadas, a que a Casa da <strong>Leitura</strong> tinha que dar resposta.<br />
Desde o início que idealizei uma Casa de arquitectura sóbria e marcada<br />
por grandes superfícies de linhas rectas e angulares, que proporcionassem<br />
uma leitura imediata, racional e sem ruído. A curva livre e sensual<br />
(…) que encontro nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida, como afirma<br />
Oscar Niemeyer, a curva que transporta a ideia de afectividade, essa<br />
escondida na zona íntima dos laboratórios onde pais e filhos partilham<br />
leituras. Como afirma Cristina Taquelim, contar estórias é como dar colo.<br />
Esta opção inseria a Casa da <strong>Leitura</strong> na tipologia arquitectónica dominante<br />
dos edifícios que marcavam o território da leitura pública, leia-se<br />
da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas.<br />
Mas estas grandes superfícies exteriores não eram paredes cegas, mas<br />
pelo contrário tinham múltiplas aberturas. O contexto onde a Casa se<br />
inseria, as características da envolvente leitora, exigia um edifício que<br />
permitisse níveis de leitura diferentes sobre o mesmo objecto. A solução<br />
encontrada foi dotar as aberturas que dão acesso às centralidades do<br />
espaço interior de se<strong>para</strong>dores que possibilitassem ao utilizador do<br />
edifício leituras de nível crescente de complexidade sobre o mesmo<br />
objecto de análise, criando através de um fio condutor um contínuo de<br />
evolução analítico. Esta característica arquitectónica permitiria o acesso<br />
à informação por parte de públicos-mediadores com diferentes competências.<br />
Ainda dentro deste contexto, uma última ideia orientou o desenho da<br />
Casa. A Casa da <strong>Leitura</strong> é uma arquitectura de funcionalidades,<br />
pragmática, pretende in-formar mas também alavancar as competências<br />
153<br />
potenciais dos seus visitantes. Contextualizada e comprometida com a<br />
envolvente, a sua eficácia depende da sua capacidade em contribuir <strong>para</strong><br />
a qualificação da paisagem leitora induzindo novas funcionalidades nas<br />
instituições com responsabilidades na leitura e novas competências no<br />
universo-mediador. Visto numa outra perspectiva, terá que ser um<br />
edifício com a capacidade <strong>para</strong> influenciar a emergência de uma nova<br />
centralidade: a promoção da leitura.<br />
A metodologia organizativa das várias camadas narrativas sobre o mesmo<br />
objecto é fundamental <strong>para</strong> que as funcionalidades da Casa se tornem<br />
instrumentos capazes de promover novas competências. A capacitação dos<br />
mediadores, nomeadamente num projecto transversal, é um processo que<br />
exige que os patamares de análise sejam de complexidade gradual e não<br />
estabeleçam entre eles rupturas na arquitectura conceptual. Para melhor<br />
explicitar esta ideia, e por analogia, usarei o conceito de Zona de<br />
Desenvolvimento Proximal (ZDP) de Vygotsky, aqui aplicado, não ao<br />
desenvolvimento cognitivo das crianças, mas ao desenvolvimento das<br />
competências dos mediadores de leitura. A ZDP seria neste contexto o<br />
espaço próximo que medeia entre as competências que o mediador possui<br />
e pode desenvolver por si próprio e aquelas que só pode adquirir através<br />
da mediação de um instrumento in-formativo. Ou dito de outro modo, a<br />
Casa da <strong>Leitura</strong> foi idealizada também como um auxiliar instrumental<br />
capaz de actualizar as competências potenciais dos seus visitantes,<br />
contribuir <strong>para</strong> que alcancem a etapa subsequente de desenvolvimento<br />
das suas competências mediadoras que dificilmente alcançariam por si<br />
próprios.<br />
Uma outra preocupação que esteve sempre presente durante a fase de<br />
projecto foi acautelar a questão ambiental, tendo sempre no horizonte a<br />
construção de um edifício inteligente que não contribuísse <strong>para</strong> a difusão<br />
e divulgação de produtos tóxicos. O peso económico do segmento da<br />
produção do livro infanto-juvenil na indústria do livro é significativo. O<br />
crescimento deste segmento do mercado e a sua lógica de funcionamento<br />
geram, simultaneamente, maior diversidade na oferta de produtos de<br />
qualidade e um aumento exponencial de produtos poluentes, dando<br />
origem ao aparecimento e rápido desenvolvimento de uma espécie de<br />
literatura de pacotilha servida por uma narrativa escrita que chega a ser<br />
ofensiva <strong>para</strong> a inteligência das nossas crianças e que maltrata a língua<br />
portuguesa e por uma narrativa imagética de uma pobreza confrangedora.<br />
Como importava incorporar na sua construção critérios de qualidade que<br />
impossibilitassem narrativas superficiais.<br />
Tomemos como exemplo o espaço da literatura, o denominado S.O.L. –<br />
Serviço de Orientação à <strong>Leitura</strong> –, <strong>para</strong> termos uma ideia mais clara do<br />
que esta linha transversal do desenho da Casa significa na economia da<br />
sua estruturação.
154<br />
Em primeiro lugar, este espaço foi idealizado não como o repositório de<br />
uma listagem de títulos acantonados por idades, mas como uma selecção<br />
de obras baseada em critérios de qualidade, aplicáveis à narrativa escrita<br />
e imagética, distribuída por perfis de competência leitora. Na Casa da<br />
<strong>Leitura</strong> não há alunos, nem faixas etárias, há leitores e visitantes com<br />
diferentes competências e interesses. Na Casa da <strong>Leitura</strong> não há uma mera<br />
catalogação e indexação de obras seleccionadas, mas uma análise informativa<br />
com diversos níveis de complexidade. Esta metodologia permite<br />
distinguir o que é literário do que, tendo a forma de livro e de narrativa<br />
literária, é um embuste e possibilita o acesso de públicos-mediadores e<br />
estudiosos de diferentes competências a um edifício de qualidade.<br />
Concretizemos. Quando um utilizador, usando as várias portas de entrada,<br />
acede a uma obra apresentam-se-lhe três patamares narrativos de<br />
complexidade e volumetria crescente.<br />
O primeiro patamar, de pequena volumetria, é marcado pela sobriedade<br />
dos seus traços e pela narrativa simples e sem sofisticações conceptuais<br />
da sinopse da obra. Na idealização do projecto este seria o patamar de<br />
acesso universal, isto é, passível de ser visitado por todos os públicos-<br />
-mediadores. Para melhor garantir esta condição, e como auxiliar funcional<br />
<strong>para</strong> o seu conhecimento, os visitantes têm acesso a uma dupla<br />
página da obra em consulta, tomando assim contacto com a sua narrativa<br />
escrita e imagética.<br />
O encontro com a materialidade do livro através da presença da página<br />
dupla cumpria uma outra função: a introdução de um factor de<br />
qualidade mínima na narrativa de abordagem à obra. O patamar<br />
universal, embora exigisse uma linguagem simples, deveria ultrapassar o<br />
relato factual da estória, já presente nos <strong>para</strong>textos dos livros, nos textos<br />
de divulgação das obras nos sítios das editoras e nas pequenas colunas de<br />
jornais e revistas generalistas ou dedicadas à infância.<br />
O desenho do segundo patamar, de volumetria média, obedecia a uma<br />
arquitectura conceptual mais elaborada, próxima do comentário crítico, e<br />
exigia o domínio de determinados conceitos e o conhecimento prévio de<br />
alguma (in)formação. Um glossário como auxiliar directo e em alguns<br />
casos abordagens temáticas que permitiam enquadrar a análise específica,<br />
alojadas noutras divisões da Casa, serviam de auxiliares de compreensão.<br />
O terceiro patamar aparecia arquitectonicamente como o mais complexo<br />
e o sítio de visita dos mediadores mais especializados. Foi pensado como<br />
um lugar de grande silêncio e conforto, próprio <strong>para</strong> acolher a visita de<br />
utentes sem pressa e que interagiam com narrativas que exigiam concentração<br />
no acto de escavar o seu sentido. Aqui iria morar o ensaio literário.<br />
Chegados aqui, e antes de entrarmos no ambiente do interior da Casa,<br />
podemos sintetizar as principais ideias que orientaram a sua arquitectura<br />
exterior.<br />
155<br />
Se a arquitectura da Casa se identifica com algum arquitecto, nas linhas<br />
mestras que determinam a sua concepção, ele é sem dúvida David Adjaye.<br />
Tanto na arquitectura da Casa, como na obra do arquitecto inglês nascido<br />
na Tanzânia, o contexto, a situação e o comprometimento histórico<br />
são os referenciais que determinam o projecto, melhor dizendo, cada um<br />
dos projectos considerados em si mesmos. Estas premissas não permitem<br />
encontrar na sua obra uma expressão identitária, cada obra tem os seus<br />
próprios pressupostos, determinados pelo contexto e a narrativa territorial<br />
onde se insere e ainda o público-alvo a que se destina. O exemplo<br />
acabado deste facto é a diferença arquitectónica e dos seus pressupostos<br />
que podemos encontrar no Museu de Arte Contemporânea de Denver e<br />
no Centro de Artes Visuais Rivington em Londres. O mesmo aconteceria<br />
se me fosse dada a oportunidade de projectar, por exemplo, uma Casa da<br />
<strong>Leitura</strong> <strong>para</strong> Cabo Verde ou <strong>para</strong> Espanha.<br />
Em Adjaye o compromisso da arquitectura com a história, o estabelecimento<br />
necessário de uma ponte entre a narrativa arquitectónica e a narrativa<br />
histórica do território, tinha como contraponto a rejeição várias vezes<br />
reafirmada da ideia de sofisticação, que segundo Adjaye, pode alienar.<br />
Esta ideia foi por nós expressa na rejeição de uma arquitectura de<br />
ruptura ou descontinuidade, no âmbito da leitura: «não me revejo nos<br />
edifícios sofisticados que por vezes emergem neste domínio (…) tornam-se<br />
edifícios conceptuais sofisticados, virados <strong>para</strong> si mesmos, criando uma<br />
ambiência ensimesmada e elitista que se enclausura em condomínios<br />
fechados. São estruturas narcísicas que não raro resvalam <strong>para</strong> a alienação,<br />
tal o fosso cavado relativamente ao terreno da promoção da leitura e aos<br />
seus agentes (…).»<br />
Esta rejeição da sofisticação tinha como destinatário, pelo menos em<br />
parte, a arquitectura high-tech que em Inglaterra tinha no muito premiado<br />
Norman Foster e em Richard Rogers, que aliás chegaram a trabalhar<br />
juntos, duas das suas figuras mais proeminentes. Abra-se aqui um<br />
parêntesis <strong>para</strong> dizer que Rogers, responsável pelo Centro Georges<br />
Pompidou, integrou a equipa responsável pelo projecto da Frente<br />
Ribeirinha de Almada Nascente, cujo empreendimento não chegou a ser<br />
construído. Na arquitectura high-tech há uma estética da dimensão<br />
tecnológica da arquitectura servida por uma volumetria excessiva e<br />
muitas vezes brutal. Não raro, esta esteticidade esmagadora é expressão<br />
simbólica do poder económico, como acontece no Dubai. Para o que<br />
agora nos interessa, importa relevar que o fascínio pela inovação<br />
tecnológica era de tal ordem que a tecnologia aparecia como meio e fim<br />
da própria arquitectura, como ideologia.<br />
Também no domínio do saber esta tendência se manifestou e continua a<br />
fazer o seu caminho, e em domínios tão essenciais como a leitura, porque<br />
condição necessária <strong>para</strong> toda a aprendizagem, a high-tech se manifesta
156<br />
como meio e fim em si mesmo. Proclamando a urgência do domínio de<br />
novas literacias adaptadas ao novo <strong>para</strong>digma informacional, à nova era<br />
cultural e às novas formas de aprendizagem que a internet inaugura com<br />
as suas auto-estradas da informação sem portagens, tomam o meio como<br />
fim e afirmam a democratização do conhecimento na futura aldeia<br />
global. Acontece que as auto-estradas da informação só são úteis <strong>para</strong><br />
aqueles que são capazes de interpretar e ter um sentido crítico sobre a<br />
informação circulante. Seja qual for o suporte, o conhecimento só se<br />
adquire se o leitor dominar certas competências leitoras, isto é, se o<br />
utilizador souber ler, condição sem a qual a internet como meio se torna<br />
ineficaz e se reduz a um espaço de entretenimento. E pode-se aprender a<br />
ler em qualquer suporte. Mais ainda, como afirma Carlos Ceia: «não vejo<br />
a era da informação como o grande inimigo da leitura literária (…) se<br />
estivermos educados na leitura sabemos sempre espaço no mundo da<br />
comunicação tecnológica <strong>para</strong> não só ler mas também <strong>para</strong> ler de forma<br />
diferente (…)».<br />
Houve mais dois factos que me atraíram em Adjaye. Adjaye é mais que um<br />
arquitecto, é um divulgador da arquitectura, tendo sido responsável,<br />
nomeadamente, por programas de rádio e televisão – Dreamspaces e<br />
Building Africa: Architecture of a continent, na BBC, por outro lado, dois<br />
projectos de Adjaye provocaram espanto: as Ideas Stores, bibliotecas com<br />
serviços de medieteca e que incorporam mercados de rua. Numa<br />
arquitectura de espaços informais, o arquitecto inglês aglomera o que é<br />
disjunto.<br />
Acontece que a pele onde melhor me sinto é a de divulgador, entendo ser<br />
nesse estatuto que posso dar um contributo mais substantivo <strong>para</strong> a<br />
questão da formação de novos públicos leitores. O papel do divulgador sempre<br />
foi secundarizado pelo mundo académico e científico e atacado pela<br />
sua falta de rigor conceptual. É verdade que uma das funções do divulgador<br />
é tornar acessível a um universo mais alargado arquitecturas conceptuais<br />
herméticas tendo em vista a sua compreensão e a possibilidade da actualização<br />
no terreno dos desenvolvimentos teóricos, mas o divulgador é também<br />
um fazedor de novas intertextualidades, colocando em diálogo linhas<br />
de investigação diferentes: literatura e leitura, liberto que está das amarras<br />
da especialização e da fragmentação do conhecimento.<br />
Quando idealizei o projecto sempre entendi que ele deveria dar resposta<br />
a estas questões e que só nessa medida ele poderia ser um instrumento<br />
útil <strong>para</strong> os mediadores da leitura. Embora a questão teoria/prática seja<br />
da maior importância, a relação da literatura com a leitura permitir-me-<br />
-á de uma forma mais clara, e de um modo com<strong>para</strong>tivo, singularizar a<br />
Casa no território da leitura.<br />
A paisagem da investigação e da divulgação no que respeita à literatura e<br />
à leitura é, entre nós, de tipo unifamiliar disperso, vive congenitamente<br />
157<br />
enquistada em condomínios fechados. Os Encontros de Literatura e<br />
<strong>Leitura</strong> do Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho, por<br />
serem uma iniciativa de referência, são disso o melhor exemplo. As<br />
mudanças constantes do modelo organizativo têm por base a tentativa,<br />
sempre frustrada, de ultrapassar a dicotomia literatura/leitura.<br />
Os nossos académicos entrincheiram-se nas respectivas especialidades,<br />
uns tratam da análise e da crítica literária e das questões que lhes estão<br />
associadas, outros da didáctica da recepção leitora, do desenvolvimento<br />
dos processos cognitivos e da promoção da leitura.<br />
Este posicionamento, por razões endógenas que não é agora oportuno<br />
analisar, ganha em Portugal contornos mais nítidos mas é algo que<br />
preside ao pós-moderno e contamina todas as áreas do saber. O que marca<br />
a nossa contemporaneidade é uma compartimentação, uma segmentação<br />
do conhecimento, do saber académico e da investigação. Pensadores<br />
como Edgar Morin, só <strong>para</strong> dar um exemplo, há muito que o vêm<br />
afirmando.<br />
Ora, a Casa da <strong>Leitura</strong> assenta num alicerce estruturante que lhe configurou<br />
um dos traços mais distintivos da tipologia arquitectónica do seu<br />
interior. Um pilar constituído por diferentes materiais, pensadamente<br />
construído <strong>para</strong> suportar e agilizar o diálogo entre diversas narrativas<br />
normalmente disjuntas e que constitui um dos traços mais distintivos da<br />
ambiência do seu interior marcadamente intertextual: a literatura dialogando<br />
com a leitura, a teoria dialogando com a prática. A Casa da <strong>Leitura</strong><br />
alberga sobre o mesmo tecto, envolve na mesma ambiência interior, a literatura<br />
e a leitura, é uma espécie de cluster com uma espacialidade aberta<br />
que induz a percorrer caminhos diversos a partir de um mesmo local<br />
de partida.<br />
Façamos um trajecto demonstrativo. Ultrapassada a soleira da porta, um<br />
visitante entrou no espaço da literatura e deixou-se seduzir pela narrativa<br />
escrita da dupla página de um livro. Foi atrás da obra do autor e encontrou<br />
num dos títulos aconselhado <strong>para</strong> pré-leitores uma abertura <strong>para</strong><br />
uma prática desenvolvida num dos laboratórios da Casa. Aí se explicitava<br />
como, num ambiente lúdico e de leitura partilhada, as crianças desenvolviam<br />
actividades de antecipação. Aqui abriam-se duas janelas, uma<br />
<strong>para</strong> um artigo sobre a importância da antecipação <strong>para</strong> a compreensão<br />
leitora, outra <strong>para</strong> outras práticas sobre a mesma competência leitora.<br />
Seguido o caminho do texto teórico, abria-se o campo da bibliografia<br />
sobre o tema. O visitante imprimiu todo o material consultado e constituiu<br />
um dossiê e regressou à prática, abriu a janela de outras práticas,<br />
deixou-se atrair pela estória que servia de base a uma delas, espreitou a<br />
sinopse e a dupla página, mas desta vez seguiu pelo atalho dos temas: os<br />
monstros e encaminhou-se <strong>para</strong> o sítio da Casa onde moravam todos os<br />
monstros e iniciou um novo percurso.
158<br />
Há um princípio teórico fundante que determina a ambiência interior da<br />
Casa e a relação umbilical entre a literatura e a leitura ou, colocando a<br />
questão noutros termos, entre a leitura literária e as competências<br />
literácitas. Iluminemos esta questão a partir da noção de promoção da<br />
leitura. A promoção da leitura visa dois objectivos: criar hábitos de<br />
leitura e, simultaneamente, desenvolver competências de compreensão<br />
leitora que possibilitem uma leitura autónoma, reflexiva e crítica.<br />
Especificando, as actividades lúdicas de animação da leitura, assentes na<br />
leitura como um fim em si mesmo, devem desenvolver processos<br />
cognitivos como a antecipação, a indução ou a intertextualidade,<br />
permitindo chegar ao sentido implícito, fazer inferências e construir<br />
hipóteses interpretativas. <strong>Ler</strong> exige como condição necessária uma<br />
interacção íntima entre o leitor e o texto, e o texto literário é o que<br />
melhor cumpre este papel junto dos aprendizes de leitores, mas a<br />
literatura é também um instrumento de capacitação leitora. Do ponto de<br />
vista da recepção leitora, a literatura aparece como um fim em si mesmo,<br />
como um momento de fruição que não exige nada em troca, mas do<br />
ponto de vista do mediador ela é instrumental e visa formar leitores<br />
competentes, capacitados <strong>para</strong> lerem textos complexos, capazes de lerem<br />
nas entrelinhas e no não-dito. Dir-me-ão: «Está a instrumentalizar a<br />
literatura!» Claro que sim, mas respeitando-a tanto quanto um leitor<br />
respeita a literatura «quando a escreve <strong>para</strong> que ela seja possível». <strong>Formar</strong><br />
leitores competentes é diferente do querer formar leitores literários,<br />
exige políticas e estratégias diferentes. Sabendo nós que quanto maior for<br />
a percentagem de leitores competentes, maior será o número de leitores<br />
literários e que um leitor competente pode ser sempre um leitor<br />
resgatado <strong>para</strong> a leitura literária, mas sabendo também que nem todos os<br />
leitores que lêem literatura são leitores literários.<br />
Voltando ao espaço interior da Casa. Há a recriação de uma espacialidade<br />
aberta mas com territórios específicos que idealmente se abrem, se<br />
entrecruzam, em todas as direcções. A Casa foi projectada <strong>para</strong> induzir o<br />
visitante a percorrê-la fosse qual fosse o seu ponto de partida, numa<br />
espécie de carrossel de espaços de conhecimento interligados entre si.<br />
Conforme as suas necessidades e interesses, cada um deambulará por<br />
onde achar mais conveniente, mas sempre acontecerá encontrar-se com<br />
territórios menos conhecidos ou mesmo desconhecidos.<br />
Olhada desde a perspectiva da idealização, a Casa fez nestes três anos o<br />
seu caminho, tornou-se concreta e ganhou vida graças ao trabalho<br />
competente de uma equipa, transformou-se mantendo os traços<br />
essenciais do projecto e, como sempre acontece quando se faz um<br />
caminho, muito mais caminho há <strong>para</strong> andar.<br />
Primeros Contactos<br />
con la Lectura:<br />
Leer sin saber leer<br />
DOLORES GONZÁLEZ LÓPEZ-CASERO*<br />
159<br />
En el Centro Internacional del Libro Infantil y Juvenil trabajamos, desde<br />
el año 1985, con un objetivo muy concreto: fomentar la lectura entre la<br />
población infantil y juvenil, creando <strong>para</strong> ello una variada oferta de servicios<br />
dirigidos a niños, jóvenes, familias y profesionales de distintos sectores<br />
educativos y culturales.<br />
Son muchos los autores e investigadores que constatan el papel tan<br />
importante que juega la lectura de cuentos en el desarrollo de la alfabetización<br />
emergente de los niños/as y cómo este acercamiento a los cuentos<br />
es deseable que comience en edades muy tempranas.<br />
Los libros y las historias contribuyen a potenciar el importante proceso de<br />
prelectura en el que se encuentran los niños, antes de aprender a leer.<br />
La lectura favorece los primeros contactos con el lenguaje, desarrolla la<br />
atención y la capacidad de expresión e inicia a los pequeños en la comprensión<br />
de secuencias narrativas y temporales. Los libros ponen el<br />
mundo a su alcance de una forma simplificada y constituyen un medio<br />
excelente de comunicación entre niños y adultos que refuerzan, además,<br />
las relaciones afectivas.<br />
No cabe duda que los padres tienen un papel primordial a la hora de<br />
fomentar y consolidar el hábito y el gusto por la lectura de sus hijos. El<br />
espacio familiar es un contexto idóneo <strong>para</strong> inculcar valores sociales y<br />
hábitos culturales y ofrece posibilidades inigualables <strong>para</strong> contribuir al<br />
proceso de crear lectores. Planteando la lectura sin obligaciones, ni<br />
exigencias, como algo que se disfruta durante el tiempo de ocio, algo que<br />
a través de la palabra, refuerza los afectos e invita a compartir emociones.<br />
Todas estas consideraciones forman parte de los planteamientos que<br />
desde el centro tenemos en cuenta <strong>para</strong> perfilar programas o iniciativas<br />
de fomento de lectura dirigidos a las familias con niños pequeños y, muy<br />
especialmente, el programa que a continuación voy a detallar.<br />
Para su desarrollo (en las dos etapas: Ronda de libros y Prelectores), el<br />
centro cuenta con un espacio específico <strong>para</strong> realizar actividades con los<br />
usuarios que todavía no saben leer. Se trata de una sala de lectura, que<br />
combina funcionalidad, atractivo y flexibilidad. Cuenta con zonas<br />
*Directora do Centro Internacional do Livro Infantil e Juvenil da <strong>Fundação</strong> Germán Sánchez Ruipérez.
160<br />
especialmente diseñadas <strong>para</strong> exponer libros, de modo que estos se<br />
muestren cercanos y accesibles.<br />
Los libros están organizados por bloques temáticos, representados con iconos<br />
fácilmente reconocibles, visibles en una pegatina que va adherida a los<br />
libros y en los carteles colgados del techo que indican los espacios dedicados<br />
a cada tipo de material: Libros <strong>para</strong> leer en compañía, Libros con música,<br />
con sorpresa, sobre el mundo que nos rodea y Libros <strong>para</strong> leer solitos.<br />
El fondo seleccionado <strong>para</strong> trabajar con los niños de estas edades es<br />
amplio y variado en cuanto a la temática y lo componen: álbumes ilustrados,<br />
libros informativos, libros con rimas-canciones-repeticiones, imaginarios,<br />
cuentos populares y tradicionales –, cuentos con sorpresa, vídeos,<br />
música, cederrones y una selección de páginas web.<br />
La sala tiene varias zonas con rincones de lectura: un teatrillo de marionetas<br />
donde se puede jugar a crear historias; una chimenea, el lugar elegido<br />
<strong>para</strong> compartir las historias; un pequeño parque con una enorme<br />
seta; una nube cubierta con moqueta que invita a tumbarse <strong>para</strong> disfrutar<br />
de los libros de imágenes y otro rincón con un puesto de ordenador y<br />
una pequeña estantería donde están los títulos en soporte audiovisual<br />
con los que se trabaja en el programa. A la entrada, en el vestíbulo, están<br />
los armarios <strong>para</strong> colgar los abrigos y tablones de anuncios en los que se<br />
exponen información y materiales destinados a los padres: folletos, guías<br />
de lectura u otras publicaciones.<br />
El equipo humano asignado al área de prelectura, lo constituyen profesionales<br />
que conocen las características esenciales de los niños de estas<br />
edades, la oferta editorial existente y los criterios básicos <strong>para</strong> seleccionar<br />
los materiales más adecuados a los objetivos que se trabajan.<br />
El papel fundamental lo asume la bibliotecaria que conduce las sesiones<br />
en la sala y, es obvio que, además de ser una persona creativa, altamente<br />
motivada, tiene también una gran capacidad de improvisación y cuenta<br />
con habilidades de relación y de comunicación, tanto <strong>para</strong> facilitar el desarrollo<br />
de las dinámicas con los niños, como <strong>para</strong> conseguir la implicación<br />
de los adultos acompañantes.<br />
La dinámica de trabajo que se utiliza en las distintas sesiones está marcada<br />
por estrategias de juego, que aportan un tono lúdico y divertido a las<br />
actividades y propuestas que favorecen la participación activa de todos<br />
los usuarios (esta característica en el programa Ronda de Libros se extiende<br />
al adulto acompañante como protagonista esencial de determinadas<br />
actividades).<br />
La capacidad de atención de los niños de esta edad exige disponer de un<br />
amplio catálogo de actividades construidas con planteamientos sencillos y<br />
que tengan corta duración. Es conveniente, también, utilizar materiales<br />
atractivos (tarjetas ilustradas, cuento gigante, marionetas, etc…) que motivan<br />
al niño y contribuyen a mantener su atención e interés.<br />
161<br />
Y por supuesto, en todas las sesiones se cuentan cuentos a los niños de<br />
ambas edades (0-3 y 3-6 años) con distintas estrategias y materiales<br />
(marionetas, narración oral, narración con objetos, proyección de<br />
imágenes…)<br />
RONDA DE LIBROS<br />
Hace ya 12 años, en 1997, se puso en marcha el programa Ronda de<br />
Libros. Los usuarios de este programa son los bebés de 9 meses a 3 años y<br />
sus padres y adultos acompañantes.<br />
El programa focaliza sus objetivos y dinámicas en el valor de la relación<br />
adultos/niños a través de los libros. No es un programa de animación a la<br />
lectura precoz, ni tampoco una escuela de padres y aunque se ofrecen<br />
pautas <strong>para</strong> la selección de historias o estrategias <strong>para</strong> contar cuentos, el<br />
objetivo esencial no es establecer modelos de actuación en torno al libro...<br />
Es una invitación a los adultos <strong>para</strong> que contemplen lo que sucede<br />
cuando se pone un libro en manos de un bebé y participen en las<br />
acciones que se pueden desarrollar en torno a este encuentro.<br />
Intentamos que los niños, acompañados de sus padres puedan ver y escuchar<br />
otras voces, otras sensaciones… Y, sobre todo, sean los padres los<br />
auténticos mediadores en ese proceso. El diseño del programa potencia y<br />
favorece la implicación del adulto en las dinámicas de cada sesión. Como<br />
resultado, su actitud pasa de ser meramente receptiva a participativa. No<br />
traen a sus hijos a la biblioteca simplemente <strong>para</strong> que pasen un buen rato<br />
y que la bibliotecaria actúe <strong>para</strong> ellos, sino que son ellos mismos los que<br />
se involucran en muchas partes de la sesión y se convierten en verdaderos<br />
conductores de la misma.<br />
El niño tiene la oportunidad de escuchar, en pequeños grupos o de<br />
manera individual, cuentos que les narran las bibliotecarias o sus padres,<br />
compartir los cuentos con otros niños, jugar en el rincón de las<br />
marionetas, participar en actividades de juego con canciones, rimas y<br />
mímica en las que es imprescindible la participación del adulto; y en el<br />
cuento colectivo.<br />
Los padres aprenden otra forma de relacionarse con los libros, observan<br />
la evolución que van teniendo sus hijos a lo largo de los meses y valoran<br />
positivamente cómo se incrementa su capacidad <strong>para</strong> desenvolverse en<br />
un espacio diferente, <strong>para</strong> relacionarse con otros niños, <strong>para</strong> contar historias<br />
a su manera y como van manifestando progresivamente sus preferencias<br />
y exigencias.<br />
Encuentran en la actividad y en la biblioteca una variedad de recursos y<br />
de fuentes de información que les sirven de orientación en su papel de<br />
mediadores. A ello contribuye, por ejemplo, el fichero de «Ronda de<br />
Libros» que se compone de, aproximadamente, 30 fichas en las que se<br />
abordan distintos temas: cómo contar un cuento, cómo elegir buenas his-
162<br />
torias; o temas como: la hora de ir a la cama, los celos, el aseo, los juguetes…<br />
Cada ficha se compone de una breve introducción del tema, el ejemplo<br />
de un cuento y pautas <strong>para</strong> contarlo a los niños y una bibliografía<br />
sobre el tema.<br />
Otro elemento es el «Cuaderno de Rondas» que cada semana se lleva a<br />
casa una familia diferente <strong>para</strong> anotar en él los textos y la forma de juego<br />
de su canción o poema favorito, de modo que puedan ser compartidos en<br />
la biblioteca con el resto de los participantes.<br />
Hasta el comienzo del curso 2008/09, que se han implementado algunos<br />
cambios como resultado de las conclusiones/recomendaciones del estudio<br />
de investigación, el programa se desarrollaba todos los lunes, de 5 a<br />
7.30 horas de la tarde y el tiempo aconsejado de permanencia en la<br />
biblioteca era de una hora.<br />
PRELECTORES<br />
Desde el año 1986, se trabaja con los niños prelectores (3-6 años) y las<br />
sesiones tienen lugar en la misma sala de lectura.<br />
(Igualmente a comienzo del presente curso se han modificado los<br />
horarios de estos grupos. Hasta esa fecha, los niños podían asistir a la<br />
biblioteca, de martes a viernes, entre las 5 y las 8 horas de la tarde)<br />
ESTRUCTURA DE LA SESIÓN<br />
1. Tiempo de libre elección de los materiales de la sala.<br />
2. Narración colectiva de cuentos (diferentes soportes y técnicas).<br />
3. Actividades especiales (1 vez al mes durante 1 ó 2 semanas).<br />
TALLERES Y PROPUESTAS DE CREACIÓN<br />
Actividades de Formación de usuarios con dos programas específicos:<br />
Exploradores de biblioteca y Lectores de pantalla. Ambos intentan que los<br />
niños/as se impliquen en la dinámica de la biblioteca y de mejorar sus<br />
destrezas y autonomía en el uso de los materiales bibliográficos y los<br />
recursos informáticos disponibles en la sala.<br />
Los niños de 4 y 5 años participan, también, en los programas: Welcome<br />
Aboard y Cuentos del <strong>Mundo</strong>.<br />
Los padres no tienen una presencia habitual en las sesiones, aunque se<br />
intenta que se impliquen en algunas actividades de la sala y en las que se<br />
les proponen a través de charlas, talleres, tablón de anuncios… <strong>para</strong> realizar<br />
en casa. Una de las funciones primordiales de las personas que trabajan<br />
en este programa es la labor de asesoramiento a las familias, aportándoles<br />
pautas y recursos <strong>para</strong> que sean eficaces mediadores de la lectura.<br />
Esta información dirigida a los padres se completa con la edición trimestral<br />
del boletín: Te Contamos, que recoge las actividades que se realizan<br />
en la sala junto con comentarios, recomendaciones y selecciones de<br />
163<br />
libros sobre el tema monográfico que se aborda en cada uno.<br />
En los dos programas, Ronda de libros y Prelectores, se intenta fomentar<br />
el uso del servicio de préstamo, tanto de lecturas <strong>para</strong> niños como los<br />
materiales seleccionados <strong>para</strong> los padres, <strong>para</strong> ello ofrecemos una sección<br />
específica del servicio de préstamo del centro, con libros, revistas y audiovisuales<br />
sobre la infancia, lectura y educación.<br />
Como apoyo a las familias y <strong>para</strong> compartir lecturas padres e hijos en el<br />
espacio familiar, se crea, hace más de 5 años, el programa «Leemos<br />
Juntos», que ofrece lotes con materiales y propuestas de lectura estimulantes<br />
y fáciles de desarrollar en este entorno, servidos en un maletín que<br />
contiene 7 materiales (libros, revistas, música, video, CD-ROM con una<br />
propuesta didáctica).<br />
Durante estos años, el Centro Internacional del Libro Infantil y Juvenil ha<br />
desarrollado otras iniciativas dirigidas a las familias que con toda<br />
seguridad complementan y refuerzan las propuestas que trabajan en<br />
estos programas.<br />
CLUB DE LECTURA DE PADRES Y MADRES<br />
Se reúnen una vez al mes, en la biblioteca, <strong>para</strong> comentar los libros<br />
publicados <strong>para</strong> los más pequeños.<br />
TRAE A TUS PADRES A LA BIBLIOTECA<br />
Los sábados se invita a los adultos a acompañar a sus hijos a la biblioteca<br />
<strong>para</strong> que puedan participar con ellos en las actividades que se<br />
programan: cuenta cuentos, talleres, juegos en la intranet etc…<br />
TALLERES<br />
Para disfrutar juntos de talleres de fotografía, video, encuadernación y<br />
teatro, entre otros.<br />
SERVICIO DE ORIENTACION DE LECTURA – SOL<br />
Es un recomendador de lecturas y Banco de Recursos e incluye una sección<br />
dirigida a las familias.<br />
Libros, actividades, ideas y consejos en torno a la lectura, complementados<br />
con un servicio de atención personalizado, atendido por especialistas,<br />
que responde a las preguntas que los usuarios pueden plantear a través<br />
de la propia página (www.sol-e.com).<br />
PUBLICACIONES<br />
Folletos pensados <strong>para</strong> la familia: Leer en Casa y Lectura y Familia.<br />
Guías de lectura: selecciones de libros y otros materiales de lectura recomendados<br />
<strong>para</strong> distintas edades.<br />
Punto de Lectura: trimestralmente especialistas en promoción de la lectu-
164<br />
ra, educación, literatura infantil y disciplinas afines, abordan monográficamente<br />
temas de interés relacionados con la familia y los libros <strong>para</strong><br />
niños, como: los videojuegos, relación familia escuela, la escritura, cómo<br />
se hace un lector etc…<br />
PROGRAMA LEER EN COMPAÑÍA<br />
Charlas-coloquio dirigidas a los padres. Se suministran pautas <strong>para</strong> leer<br />
en casa con los hijos o <strong>para</strong> motivarles y crear con ellos una disposición<br />
favorable hacía la lectura. En las sesiones se da cabida a la exposición de<br />
dudas y reflexiones por parte de los asistentes.<br />
PRESENTACIÓN DE NOVEDADES<br />
Sesiones periódicas a las que se convoca a los padres <strong>para</strong> darles a conocer<br />
las novedades del panorama editorial.<br />
CANAL DE COMUNICACIÓN CON LAS FAMILIAS<br />
La intranet y la página Web de la Fundación cuentan con secciones especiales<br />
<strong>para</strong> los padres: actividades y servicios que ofrece la biblioteca y<br />
también se puede acceder a la lectura de algunos materiales informativos<br />
que el centro edita: boletines, guías de lectura, puntos de lectura.<br />
ALGUNOS DATOS<br />
ALGUNOS Familias DATOS Ronda (curso 08-09).................................................125 niños<br />
Familias participantes en Ronda (desde 1997 hasta 2009)........1.260<br />
Familias Ronda (curso 08-09): 125 niños<br />
Familias participantes en Ronda (desde 1997 hasta 2009): 1.260<br />
Préstamos a primeras a primeras edades (0 edades - 6 años). (0 Más - 6 de años). 27.000 anuales Más de (2008) 27.000 anuales (2008)<br />
3 - 6 años: 11.117 + 4.013 audiovisuales<br />
3 - 6 años..........................11.117 + 4.013 audiovisuales<br />
Bebés: 2.498 + 398 audiovisuales<br />
Sábados: Bebés...................................2.498 + 398 audiovisuales 7.170 + 1924 audiovisuales<br />
Sábados............................7.170 + 1924 audiovisuales<br />
Préstamo a padres (2008): 741 libros + 422 audiovisuales<br />
Préstamo Leemos Juntos (2008): 1.437 maletines prestados (200 maletas)<br />
Préstamo a padres (2008).................741 libros + 422 audiovisuales<br />
Préstamo Leemos Juntos (2008).1.437 maletines prestados (200 maletas)<br />
EL ESTUDIO: PRIMEROS CONTACTOS CON LA LECTURA. LEER SIN SABER LEER<br />
Es el título de la publicación que recoge el estudio de investigación evaluativo<br />
que se inició en octubre de 2004 y finalizó en septiembre de 2007.<br />
Trabajo que ha realizado un equipo de investigadoras de la Facultad de<br />
Educación de la Universidad de Salamanca: María Clemente Linuesa, Elena<br />
Ramírez Orellana y Mari Cruz Sánchez Gómez, con la estrecha colaboración<br />
de las profesionales de la Fundación que trabajan en el programa.<br />
Fue en los primeros meses del año 1986 cuando comenzamos a trabajar<br />
con los niños de 3 - 6 años y posteriormente, en 1997, con los bebés de 9<br />
meses a 3 años. Y tras estos años de experiencia vimos necesario abordar<br />
165<br />
este trabajo de investigación y evaluación, con el fin de divulgar pautas<br />
de trabajo, que basadas en la experimentación y el estudio y refrendados<br />
por la opinión de especialistas, puedan aportar alguna ayuda a la labor<br />
de instituciones y personas que trabajan en temas de lectura, no sólo <strong>para</strong><br />
la puesta en marcha de nuevas iniciativas sino también <strong>para</strong> la revisión<br />
de proyectos ya iniciados.<br />
PROGRAMAS EVALUADOS<br />
Programa Ronda de Libros (bebés de 9 meses a 3 años y los adultos acompañantes).<br />
Programa de prelectores (3 - 6 años).<br />
Evaluación de los hábitos lectores de la primera promoción de niños que<br />
asistieron al programa.<br />
METODOLOGÍA<br />
Rigurosa metodología que incluye:<br />
❖ Cuestionarios que se han pasado a los padres (obtención de la información<br />
necesaria).<br />
❖ Grupos de discusión entre ellos (<strong>para</strong> conocer sus opiniones de forma<br />
directa).<br />
❖ Para conocer los aspectos más concretos de la practica se han realizado<br />
un buen número de sesiones de observación directa en la sala donde se<br />
desarrolla la parte presencial del programa.<br />
❖ Entrevistas orales a los niños (primera promoción de Ronda).<br />
❖ Para conocer aspectos sociológicos de los niños y sus familias (año de<br />
nacimiento, lugar de residencia, colegio al que asisten, profesión de los<br />
padres…se examinaron las fichas de inscripción de la biblioteca.<br />
OBJETIVOS<br />
Los objetivos específicos que han conducido el desarrollo de este proyecto<br />
han sido:<br />
❖ Dar a conocer el programa, exponiendo cómo se ha desarrollado y<br />
cómo ha sido asumido y valorado por los usuarios.<br />
❖ Valorar el impacto social que tiene y conocer el interés social suscitado<br />
por el mismo.<br />
❖ Analizar la motivación de los padres hacia el programa y, en general,<br />
hacia otras propuestas en torno a la lectura y los libros que la biblioteca<br />
dirige a ellos y a sus hijos.<br />
❖ Evaluar el desarrollo y acciones del programa en su propio contexto.<br />
❖ Conocer los efectos formativos del programa en los padres como mediadores<br />
de la iniciación de sus hijos como lectores.<br />
❖ Conocer algunos efectos del programa en la evolución de los niños con<br />
respecto a la lectura.<br />
❖ Formular recomendaciones que se estimen convenientes <strong>para</strong> su mejora.
166<br />
PERFIL DE LOS ASISTENTES<br />
Viven en zonas distintas de la ciudad.<br />
Padres en su mayoría con títulos universitarios o postsecundarios.<br />
Grado como lector medio-alto.<br />
Compran libros con frecuencia <strong>para</strong> ellos y <strong>para</strong> sus hijos.<br />
Dicen leer fundamentalmente por placer.<br />
Los motivos <strong>para</strong> asistir son: iniciar a los niños tempranamente <strong>para</strong> que<br />
disfruten leyendo y <strong>para</strong> crear hábitos.<br />
Práctica habitual de la narración con los niños: <strong>para</strong> jugar y <strong>para</strong> explicar<br />
cosas.<br />
CONCLUSIONES<br />
Las principales conclusiones obtenidas por el estudio, que aparecen<br />
recogidas en la publicación, señalan que:<br />
La valoración del programa, traducción de los numerosos testimonios<br />
recogidos entre los usuarios (padres principalmente y también algunos<br />
niños que participaron en su día en las primeras promociones del<br />
programa Ronda de Libros), es altamente positiva en todos los apartados<br />
evaluados. Los padres valoran especialmente los siguientes aspectos:<br />
❖ En relación con sus hijos: la variedad y el atractivo de las actividades<br />
desarrolladas en la sala; las relaciones entre iguales que se establecen con<br />
otros niños participantes; los hábitos de lectura adquiridos; la mejora de<br />
autonomía del niño en la biblioteca – acompañada del descubrimiento de<br />
nuevos materiales; la adquisición de hábitos de cuidado y orden.<br />
❖ En lo que respecta a ellos mismos (Padres): la especial relación que<br />
establecen con sus hijos a través de los libros; las propuestas del programa;<br />
el conocimiento adquirido de materiales de literatura infantil; el<br />
aprendizaje de estrategias y pautas concretas <strong>para</strong> fomentar el gusto por<br />
la lectura y <strong>para</strong> contar cuentos; el contacto con otras familias.<br />
FACTORES DE ÉXITO<br />
Del estudio se destacan los siguientes factores de éxito:<br />
❖ El «Enfoque y la Filosofía» del programa, que incide en el fomento de la<br />
lectura desde las edades más tempranas y considera imprescindible la<br />
implicación de los padres (se complementa con servicios, actividades y<br />
recursos destinados a las familias). Orientar + Informar + Motivar a<br />
Participar.<br />
❖ La capacidad del programa <strong>para</strong> actuar como espacio de formación del<br />
mediador adulto (padre o madre) y fuente de aprendizajes <strong>para</strong> el niño<br />
(no sólo en el espacio de la biblioteca, sino también en capacidades de<br />
atención, comprensión y relación, en actitudes de participación y hábitos<br />
de orden y cuidado de los libros).<br />
167<br />
❖ El diseño del espacio, con un ambiente entrañable y muy sugerente<br />
<strong>para</strong> los niños. Apropiado al tono lúdico de las sesiones y a las actividades<br />
que se realizan en ellas.<br />
❖ La existencia de un fondo bibliográfico adecuado en cantidad, diversidad<br />
y calidad (también de materiales audiovisuales) junto con la posibilidad<br />
de disponer de él a través del servicio de préstamo.<br />
❖ La dinamización del fondo: señalización y juegos destinados a que los<br />
niños se familiaricen con sus contenidos y su ubicación en la sala y las actividades<br />
concretas con la presencia de la oralidad como estrategia central.<br />
❖ La pre<strong>para</strong>ción del equipo humano, sus aptitudes <strong>para</strong> trabajar con<br />
primeras edades y su conocimiento del panorama literario. Así como su<br />
capacidad de respuesta y adaptación a las diversas situaciones que genera<br />
el colectivo de usuarios: niños, padres o adultos acompañantes.<br />
❖ La colaboración con Instituciones Educativas: que permite la incorporación<br />
de personal de prácticas que, sin duda, posibilita una atención<br />
más personalizada a los asistentes (niños y adultos).<br />
❖ Un contexto social favorable, que ofrece la progresiva concienciación<br />
de las familias sobre la importancia de fomentar el gusto por la lectura<br />
entre sus hijos, que repercute en el alto grado de implicación y motivación<br />
de las familias participantes.<br />
PUNTOS DE MEJORA<br />
❖ Limitación espacial de la sala dedicada al programa (la alta ocupación<br />
lleva a situaciones de incomodidad asociadas al ruido, calor o desorden).<br />
❖ Ausencia de espacios anexos adecuados <strong>para</strong> uso como: dejar los carritos<br />
de los bebés o dar meriendas.<br />
❖ Balance deficitario entre la demanda de plazas y la capacidad<br />
disponible <strong>para</strong> atenderlas (este punto no tiene repercusión en el resultado<br />
del programa pero impide el potencial crecimiento del mismo en términos<br />
cuantitativos).<br />
❖ Circunstancias asociadas a la flexibilidad horaria. En Ronda de Libros<br />
por «defecto», consideran 1 día fijo y único como escaso y se produce una<br />
concentración excesiva de personas en la sala. En prelectores por «exceso»,<br />
y aunque la flexibilidad horaria está bien valorada por los padres, en<br />
la práctica impide controlar el volumen de asistentes cada día y la composición<br />
del grupo, que cuando es muy heterogénea dificulta la dinámica<br />
de las sesiones.<br />
RECOMENDACIONES (PARA LA MEJORA DE LOS PROGRAMAS)<br />
❖ Poder asistir más de 1 día. Realizar dos sesiones semanales del programa<br />
Ronda de Libros, una sesión por la mañana y otra por la tarde.<br />
❖ Retrasar el inicio de la sesión, aproximadamente, medía hora.<br />
Comenzar a las 5.30h en vez de a las 5h.
168<br />
❖ En prelectores: potenciar las estrategias de formación de usuarios que<br />
familiarizarían a los niños con el espacio y los recursos de la biblioteca y<br />
crear grupos, concentrando edades similares, y asignar, a cada uno de<br />
ellos, un día de los cuatro días de la semana en los que tienen lugar las<br />
sesiones del programa.<br />
❖ Promocionar, aún más, los servicios creados de modo específico <strong>para</strong><br />
los adultos: préstamo <strong>para</strong> padres, club de lectura, charlas/taller….<br />
❖ Incrementar la dotación de material audiovisual disponible en el préstamo<br />
infantil.<br />
PROPUESTAS GENERALES PARA DESARROLLAR INICIATIVAS DE ESTE TIPO<br />
Biblioteca<br />
❖ Lugar de encuentro en torno a los libros.<br />
❖ Implicar a los padres.<br />
❖ Cuidar de las estrategias y canales de difusión.<br />
❖ Fomentar el uso de los servicios bibliotecarios.<br />
Profesionales<br />
❖ Formación en LIJ, motivados y creativos.<br />
❖ Conocedores de la psicología infantil.<br />
❖ Habilidades de comunicación e improvisación.<br />
❖ Capacidad <strong>para</strong> desarrollar estrategias narrativas.<br />
Actividades<br />
❖ Primar lo lúdico.<br />
❖ Estimular a los adultos a participar.<br />
❖ Actividades en grupo (también momentos de atención personalizada).<br />
❖ Utilizar gama amplia de estrategias y recursos.<br />
Espacios<br />
❖ Adaptados a los usuarios, acogedores, cómodos y multifuncionales.<br />
❖ Salas amplias, con distintos espacios y ambientes.<br />
❖ Mobiliario atractivo, que facilite el acceso a los materiales.<br />
❖ Sistema de señalización de secciones-rincones y de etiquetado.<br />
❖ Accesos y espacios anexos adecuados.<br />
Materiales<br />
❖ Material audiovisual.<br />
❖ Publicaciones <strong>para</strong> los padres.<br />
❖ Contar con elementos de apoyo (marionetas, juegos instrumentos...).<br />
❖ Ofrecer club de lectura.<br />
Os Muitos Retratos da <strong>Leitura</strong><br />
no Brasil<br />
GALENO AMORIM*<br />
169<br />
Um mergulho nos retratos atuais da leitura no Brasil traz à tona algumas<br />
revelações surpreendentes. A primeira delas é que, ao contrário do que se<br />
supunha, os brasileiros estão lendo mais. É bem verdade que ainda é<br />
menos do que se deseja, mas não dá <strong>para</strong> deixar de reconhecer que os<br />
índices nacionais de leitura encontram-se, nestes primeiros anos do novo<br />
milênio, bem acima do que se imaginava.<br />
A boa nova mais inesperada é, no entanto, outra. Espalhado por seu<br />
imenso território continental e com um perfil nada homogêneo,<br />
descobriu-se que existe por aí, às vezes nem tão visível, um contingente<br />
formidável de 95 milhões de leitores. São pessoas que declaram ter lido<br />
pelo menos um livro, seja qual for ele, nos três meses anteriores. Com a<br />
cautela devidamente necessária que se deve ter em pesquisas de opinião<br />
quantitativas, isso, definitivamente, não é pouco. No entanto, como<br />
veremos a seguir, também não é tudo.<br />
Uma leitura mais atenta dos resultados de estudos recentes sobre o<br />
comportamento leitor da população brasileira pode trazer outras<br />
informações interessantes. Mas, por vezes, inquietantes. E, pelo menos,<br />
duas grandes constatações: a primeira delas é que existem nesse país tão<br />
grande quanto diverso algumas ou várias realidades que são muito<br />
distintas entre si também quando o assunto é a prática social da leitura.<br />
Ou seja, também aqui vigora o que alguns cientistas sociais batizaram de<br />
Belíndia, que é uma mistura da parte rica da Bélgica com a fatia mais<br />
pobre da Índia. Ou, ainda, dito de outra forma, existem diversos brasis,<br />
que lá convivem, nem sempre tão harmoniosamente assim.<br />
A segunda grande constatação é que, <strong>para</strong> superar as dificuldades e os<br />
desafios típicos de um país tão imenso quanto complexo, há tarefas e<br />
responsabilidades <strong>para</strong> todos: <strong>para</strong> o Estado, o setor privado e a sociedade.<br />
E que sem esse esforço coletivo dificilmente se chegará a parte alguma,<br />
por maiores e mais bem intencionados que sejam os esforços e a disposição<br />
de acertar.<br />
Afinal, ao lado dessa quase uma centena de milhões de leitores auto-<br />
-declarados, há uma massa humana numericamente assustadora e maior<br />
do que a maior parte dos países do mundo, constituída por nada menos<br />
do que 77 milhões de não-leitores, que são pessoas que não leram um<br />
* Escritor e jornalista. Coordenador do primeiro Plano Nacional do Livro e da <strong>Leitura</strong>, Brasil.
170<br />
único livro nos meses anteriores. Esse outro exército é formado por boa<br />
parte da população pobre, analfabetos absolutos e analfabetos<br />
funcionais, mas também por pessoas da classe média e por uma fatia dos<br />
mais ricos, gente aparentemente sem dificuldades <strong>para</strong> ter acesso a bens<br />
culturais como o teatro, o cinema e os livros. Chama a atenção nesse<br />
grupo o fato de que 1.3 milhões desses não-leitores ostentarem um<br />
diploma universitário.<br />
Uns e outros convivem, às vezes, muito próximos. Estão nas mesmas<br />
regiões, vivem nas cidades e, por vezes, também pertencem aos mesmos<br />
grupos sociais. Não raro, não-leitores dividem as mesmas casas,<br />
dormitórios e locais de trabalho com os chamados leitores ativos, aquele<br />
um grupo que, dependendo do recorte social que se faça, chega a ler algo<br />
como 8 livros por ano. O que explica isso?<br />
Este último número é quase o dobro da média nacional de leitura (4,7<br />
livros por habitante/ano, segundo apurou a pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no<br />
Brasil, do Instituto Pró-Livro, coordenado pelo Observatório do Livro e da<br />
<strong>Leitura</strong>). É, evidentemente, muito superior às estatísticas produzidas nas<br />
regiões e populações mais pobres ou com menor escolaridade ou com<br />
menos acesso à cultura e à educação e entre a população mais velha,<br />
agrupamentos onde os índices são incrivelmente baixos.<br />
Mas, apesar da pressão cada vez maior da sociedade, e das justas<br />
cobranças por políticas públicas cada vez mais abrangentes e profundas<br />
– até como forma de assegurar uma boa educação e o acesso a bibliotecas<br />
públicas de qualidade –, não se pode deixar de reconhecer que tem<br />
havido avanços importantes nesta década. E que, na média, os brasileiros<br />
estão, de fato, lendo mais. Ou um pouco mais, pelo menos.<br />
Há, pontualmente, outras notícias auspiciosas. Uma delas, por exemplo,<br />
é que as pessoas no Brasil voltaram a ler poesia, que já aparece nas<br />
estatísticas de leitura como um dos cinco gêneros da literatura mais lidos<br />
e apreciados pelos leitores locais, especialmente os mais jovens, o que é<br />
bom. Todos receberam bem o fato de Monteiro Lobato (que inaugurou, na<br />
primeira metade do século XX, a moderna literatura infanto-juvenil<br />
brasileira e, de certa forma, como editor, inventou o atual mercado<br />
editorial do País, o oitavo maior do planeta) aparecer como o escritor<br />
brasileiro mais admirado de todos os tempos. O júbilo faz todo sentido: o<br />
escritor, morto em meados do século passado, permaneceu duas décadas<br />
sem que seus livros fossem reeditados.<br />
A mesma pesquisa acabaria por imprimir um caráter científico à<br />
percepção generalizada sobre o papel da escola enquanto espaço<br />
privilegiado <strong>para</strong> a formação de leitores. Entre os 60 milhões de<br />
brasileiros matriculados em qualquer um dos níveis de ensino, da<br />
Educação Infantil à Pós Graduação, a leitura chega a ser duas vezes maior<br />
do que entre os leitores que já deixaram o ensino regular. As pistas<br />
171<br />
encontradas sugerem que talvez o Brasil tenha finalmente encontrado o<br />
rumo certo <strong>para</strong> enfrentar seus problemas com a não-leitura.<br />
Mas o estudo não traçou, seguramente, um cenário cor-de-rosa <strong>para</strong> esta<br />
questão. Trouxe também notícias que não são tão boas assim e, ao mesmo<br />
tempo, faz uma advertência bastante séria: o ritmo e a velocidade das<br />
ações, sobretudo as governamentais, <strong>para</strong> ampliar o acesso aos livros,<br />
aumentar o número de leitores e fortalecer a prática social da leitura<br />
ainda estão deixando a desejar. São, por ora, insuficientes. E, provavelmente,<br />
muitos daqueles que possuem algum tipo de responsabilidade nesse tema<br />
provavelmente não estão conseguindo fazer direito sua lição de casa e<br />
tudo aquilo que se esperava deles.<br />
Das milhares de informações e gráficos resultantes dos cruzamentos dos<br />
dados colhidos em fins de 2007 junto a 5 mil pessoas a partir de 5 anos<br />
de idade, que deu uma amostra representativa de 172 milhões de<br />
habitantes, incluindo analfabetos e não-leitores em geral, é possível<br />
extrair duas grandes notícias no campo institucional. A notícia boa é que<br />
a pesquisa pôde escancarar, aos olhos de todos, não deixando qualquer<br />
dúvida quanto a isso, que quando o Estado investe seriamente em<br />
políticas públicas – o que, afinal, é seu dever – os resultados não tardam<br />
a aparecer. Para tanto, bastar espiar os índices de leitura produzidos pelas<br />
crianças e jovens que frequentam as escolas: são quatro ou cinco vezes<br />
maiores do que em outros segmentos da população.<br />
Antes que gestores e educadores saíssem <strong>para</strong> comemorar, com toda<br />
razão, essa constatação, o estudo tratou também de trazer à luz outra<br />
questão, esta sim preocupante: a escola está falhando em sua missão de<br />
formar leitores que gostem de ler e continuem a fazer isto mesmo depois<br />
que estiverem longe dela. Ou seja, que além de dominar as habilidades<br />
técnicas da leitura (quando esse aprendizado realmente acontece, pois<br />
medições internacionais indicam que é ruim o desempenho dos alunos<br />
brasileiros em compreensão leitora, quando com<strong>para</strong>dos com colegas de<br />
outros países), façam isso com prazer.<br />
Outra notícia não muito boa é que, apesar dos avanços recentes, a<br />
sociedade brasileira, embora associe a questão da leitura ao<br />
conhecimento e de forma altamente positiva, ainda não consegue<br />
reconhecer a questão do livro e da leitura como um valor social e<br />
estratégico <strong>para</strong> seu futuro. Talvez por isso os governos hesitem tanto em<br />
conferir a ela a dimensão de política de Estado, o que significa<br />
orçamentos públicos dignos, estrutura mínima <strong>para</strong> aplicá-los e,<br />
principalmente, uma clara definição dos papéis a serem exercidos pelos<br />
vários entes do sistema político-administrativo do país, representado pela<br />
administração federal, pelos governos dos estados e pelos municípios.<br />
Um exemplo disso é a percepção e o uso que a população brasileira faz, e<br />
também foi medido pela pesquisa, de suas bibliotecas, um serviço
172<br />
público essencial, mas que continua a receber do Estado um tratamento<br />
típico de questão secundária. Somente um em cada dez brasileiros<br />
frequenta com assiduidade esse equipamento que, <strong>para</strong>doxalmente, é o<br />
espaço cultural mais presente na vida das 5.560 cidades do país,<br />
conforme apurou outro estudo recente, do Instituto Brasileiro de<br />
Geografia e Estatísticas (IBGE), o órgão oficial de pesquisas do governo<br />
brasileiro. As bibliotecas vivem às mínguas e em situação precária e, não<br />
raro, são publicadas notícias nos jornais dando conta do fechamento de<br />
algumas delas.<br />
A pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil criou quatro indicadores principais,<br />
que serão investigados a cada três anos <strong>para</strong> constituir uma série<br />
histórica. Eles mostram, em linhas gerais, o seguinte:<br />
❖ Existem 95 milhões de leitores em todo o país;<br />
❖ Os não-leitores somam 77 milhões de pessoas;<br />
❖ Há 36 milhões de consumidores de livros, que compram, em média, 5<br />
exemplares por ano. Considerando toda a população, o índice de livros<br />
adquiridos é baixo: só 1,2 livros por ano;<br />
❖ O índice nacional de leitura é de 4,7 livros lidos por habitante /ano.<br />
Quando com<strong>para</strong>do ao único índice anterior disponível (1,8 livro por<br />
habitante/ano, de 2000), logo se conclui que a leitura aumentou. Mas não<br />
se pode com<strong>para</strong>r as duas pesquisas, já que a metodologia de medição<br />
mudou: agora, por exemplo, são investigados todos os moradores acima<br />
de 5 anos, sejam alfabetizados ou não. No mesmo grupo estudado<br />
anteriormente (pessoas acima de 15 anos, com pelo menos três anos de<br />
escolaridade e que haviam lido pelo menos um livro nos três meses<br />
anteriores), o número dobrou de 1,8 <strong>para</strong> 3,6 livros per capita.<br />
Vale notar que entre 2000 e 2006 o Brasil ganhou um contingente de 5<br />
milhões de indivíduos com formação universitária, o que elevou o total<br />
de habitantes com esse grau de instrução <strong>para</strong> 15 milhões. No mesmo<br />
período, agregou outros 12 milhões de jovens com instrução média<br />
concluída. Ao mesmo tempo, outros 6 milhões estavam frequentando, em<br />
2006, algum curso de alfabetização de jovens e adultos. Como<br />
escolaridade e renda estão intimamente ligados ao gosto pela leitura e<br />
sua prática habitual, talvez isso ajude a explicar esse incremento, e justo<br />
em um momento em que a economia nacional se consolidou e milhões<br />
de brasileiros ascenderam à condição de classe média.<br />
Além disso, nesta década, os programas sociais do livro (que fazem do<br />
governo brasileiro um dos maiores compradores do mundo, com 150<br />
milhões de livros distribuídos gratuitamente todos os anos) incluíram em<br />
sua lista de beneficiados mais 9 milhões de jovens do Ensino Médio e os<br />
adultos que voltaram ou entraram tardiamente na escola.<br />
Mais do que o diagnóstico, importante por si só, Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil<br />
tem procurado estimular o aprofundamento das investigações sobre<br />
173<br />
outros aspectos em torno da leitura no País – mais do ponto de vista<br />
qualitativo do que o levantamento quantitativo inicial, típico das<br />
pesquisas de opinião. Um de seus méritos tem sido, justamente, gerar<br />
debates e novas linhas de pesquisa. Desde sua publicação, em 2008, na<br />
forma de livro do mesmo nome (com os dados da pesquisa acrescidos de<br />
reflexões feitas por dez importantes especialistas no tema), essas<br />
pesquisas de uma hora <strong>para</strong> outra avançaram surpreendentemente nas<br />
universidades e nos centros de pesquisa.<br />
Ao mesmo tempo, autoridades do governo e gestores de políticas públicas<br />
e privadas passaram a incluir em seus discursos, avaliações, planejamentos<br />
e decisões de novos investimentos aos dados da pesquisa. O mesmo têm<br />
feito dirigentes da cadeia produtiva do livro e novos empresários que<br />
continuam a desembarcar no Brasil <strong>para</strong> investir no negócio do livro.<br />
Em um país que carece, cronicamente, de boas estatísticas e diagnósticos<br />
precisos nessa área, a pesquisa atende, de certa forma, tanto às demandas<br />
do governo e da iniciativa privada como aos reclamos dos meios de comunicação<br />
e da própria sociedade, sempre às voltas com as dificuldades <strong>para</strong><br />
tatear nesse pantanoso terreno do desconhecido.<br />
Afinal, cada vez mais dirigentes e formadores de opinião se parecem<br />
convencidos de que não se chegará a lugar algum sem uma compreensão<br />
mais clara do momento atual. E, principalmente, se, a partir dessas novas<br />
constatações, revelações e, principalmente, das inquietações que esse tipo<br />
de estudo costuma, em geral, suscitar, não se <strong>para</strong>r <strong>para</strong> refletir,<br />
reconhecer as deficiências, apontar caminhos e, por fim, estabelecer um<br />
grande pacto nacional em favor da leitura, com responsabilidades <strong>para</strong><br />
cada uma das partes: Estado (em âmbito nacional, estadual e municipal),<br />
setor privado e sociedade.<br />
Tem sido essa, sem dúvida, a principal contribuição de Retratos da <strong>Leitura</strong><br />
no Brasil, que o Instituto Pró-Livro – entidade mantida pelas principais<br />
entidades do livro no país, que coeditou a obra, em parceria com a<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – acabou por fazer chegar às<br />
mãos das autoridades do governo, secretários de Educação e Cultura dos<br />
Estados e prefeitos. E também aos atores sociais e militantes que formam<br />
o chamado Povo do Livro, como é conhecida a legião de editores, livreiros,<br />
escritores, trabalhadores do setor, professores, bibliotecários, pesquisadores,<br />
ONGs e interessados em geral no tema.<br />
Poucas semanas após a divulgação dos primeiros dados, outros pesquisadores<br />
independentes, universidades, centros de estudos e pesquisas e<br />
promotores de feiras de livros e festivais de literatura no País já estavam no<br />
campo <strong>para</strong> se debruçarem sobre as informações e repensarem suas próprias<br />
práticas atuais. Também um grande número de seminários, debates,<br />
conferências e teses acadêmicas têm acontecido desde então e espera-se que<br />
assim continue até 2011, quando, então, serão traçados os novos retratos
174<br />
da leitura no Brasil. Espera-se, até lá, que os dados sejam melhores do que<br />
os atuais, dando ensejo a um novo ciclo de refletir, planejar, fazer,<br />
monitorar e avaliar.<br />
<strong>Ler</strong> <strong>para</strong> o outro é um ato de amor. Já ler <strong>para</strong> si próprio é, mais do que<br />
uma ação intuitiva que busca prazer, conhecimento e o desenvolvimento<br />
da própria inteligência, uma atitude de cidadania. Mesmo porque um<br />
livro, mais do que qualquer outro objeto que se conhece, vai muito além<br />
do seu significado primeiro, na medida em que contém muito mais do<br />
que meras folhas de papel coladas ou costuradas e sinais gráficos<br />
estampados. É justamente além do limite dessa simplória definição que<br />
se dá seu significado pleno e tem início a produção do valor simbólico e<br />
social da leitura.<br />
Mas, <strong>para</strong> isso, há muito a ser feito até que o Brasil venha a tornar-se, de<br />
fato, no futuro, um país de cidadãos leitores. Espera-se que disso saia algo<br />
capaz de gerar novas ações e diretrizes <strong>para</strong> aprimorar o que tem sido<br />
feito na área do livro e da leitura no Brasil.<br />
Pode parecer pouco, mas não é!<br />
A evolução que se deu na atual década – e isto pode ser confirmado pelo<br />
exame dos próprios indicadores de Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil, o mais<br />
abrangente estudo já realizado no País – se sustenta, em parte, em pelo<br />
menos dois grandes pilares. O primeiro deles reside no fato de que, no<br />
último século, do pioneiro Monteiro Lobato até aos dias atuais, uma legião<br />
de brasileiros anônimos e outros nem tanto arregaçou as mangas e se<br />
engajou como militante da causa da leitura. A segunda é que, em<br />
consequência da ampla mobilização nacional ocorrida em 2005, no Ano<br />
Ibero-americano da <strong>Leitura</strong>, que ficou conhecido como Vivaleitura, foi<br />
amplamente debatida e construída uma agenda de políticas públicas que,<br />
de certo modo, parece já estar surtindo algum efeito.<br />
O ponto de partida foi a Lei do Livro, de 2003. Em seguida, houve a<br />
desoneração fiscal do livro (o Brasil é um dos poucos países do mundo onde<br />
não é cobrado nenhum tipo de taxa sobre esse produto). Depois, programas<br />
governamentais <strong>para</strong> financiar a produção de livros e a criação de espaços<br />
institucionais de debate e concertação política, que é a Câmara Setorial do<br />
Livro. Ao mesmo tempo, teve início um programa <strong>para</strong> zerar o número de<br />
municípios sem biblioteca (eram 1.300 no início da década), que deve ser<br />
concluído em 2010. Também surgiu, em 2006, o primeiro Plano Nacional<br />
do Livro e <strong>Leitura</strong> da história, a cargo dos ministérios da Cultura e da<br />
Educação.<br />
É verdade que, no século passado, algumas medidas importantes haviam<br />
sido tomadas, como a criação do Instituto Nacional do Livro e da<br />
Secretaria Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong>. Porém, mais tarde ambos foram<br />
desativados. Já a criação dos programas sociais do livro e, na seqüência,<br />
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, acabaria por<br />
175<br />
consagrar a conversão dessas ações em política de Estado, acima de<br />
governos e questões menores, e isso tem contribuído verdadeiramente<br />
<strong>para</strong> impulsionar a questão da leitura no País.<br />
Agora, entretanto, é preciso ir além e dar um novo salto. O primeiro passo<br />
deve ser a consolidação e o enraizamento dessas novas políticas públicas<br />
do livro e leitura nos estados e cidades, que devem passar a ter seus<br />
próprios planos estaduais e municipais do livro e leitura já a partir de<br />
2009. Isso deve representar um extraordinário avanço institucional.<br />
Outra tarefa importante se refere à criação de instrumentos de Estado<br />
capazes de financiar, gerir e articular essas políticas – que também<br />
devem passar a ser monitoradas, observadas e avaliadas de forma<br />
permanente.<br />
Como se esperava, portanto, o estudo passou a oferecer a munição<br />
necessária senão <strong>para</strong> compreender por inteiro o comportamento leitor<br />
da população brasileira, pelo menos <strong>para</strong> produzir inquietações novas. E<br />
talvez até jogar alguma luz nova sobre esforços que vêm sendo feitos até<br />
aqui por governos, empresas e sociedade.<br />
Uma coisa é certa: há muito ainda o que se fazer! E há lugar <strong>para</strong> mais<br />
gente nessa viagem. Que, diga-se de passagem, é uma adorável viagem...<br />
Tarefa <strong>para</strong> todos<br />
Já existe uma convicção formada entre os atores sociais que atuam na<br />
questão do livro e da leitura no Brasil que, <strong>para</strong> se chegar a uma situação<br />
minimamente razoável nesta área, não dá mais <strong>para</strong> esperar, candidamente,<br />
que algum ente – o Estado ou seja lá quem for – resolva de forma cabal<br />
todos os problemas existentes. Não, não será por aí – e todos estão, mais<br />
do que nunca, convencidos disso.<br />
Universidades, empresas da cadeia produtiva do livro, organizações<br />
não-governamentais e o próprio governo estão convencidos, no fundo, de que<br />
<strong>para</strong> se construir um país mais leitor, e de cidadãos leitores, o desafio<br />
maior, a partir de agora, é estabelecer, com clareza, as tarefas de cada<br />
uma das partes. Não só do Estado, que tem, evidentemente, grandes<br />
responsabilidades nessa história, mas também da iniciativa privada e da<br />
sociedade de forma geral.<br />
Não por outra razão tanto ações de abrangência nacional, ou quase<br />
nacional, como, em especial, aquelas em nível local estão se multiplicando<br />
por toda parte. No nível institucional, por exemplo, há inúmeros<br />
programas e projetos que são desenvolvidos por outros órgãos<br />
governamentais que não os ministérios da Educação e da Cultura, que são<br />
os responsáveis diretos pelas políticas públicas do livro e da leitura.<br />
O grande passo nesse sentido foi a mobilização extraordinária ocorrida<br />
em 2005 <strong>para</strong> celebrar o Ano Ibero-americano da <strong>Leitura</strong>, o Vivaleitura,<br />
quando foram registrados 100 mil ações, projetos ou programas em todo
176<br />
território nacional. Liderados pelo governo federal – o próprio presidente<br />
Luiz Inácio Lula da Silva lançou o programa – e com forte presença de<br />
organismos internacionais como a UNESCO e a Organização dos Estados<br />
Ibero-americanos, a iniciativa foi o pontapé inicial que daria origem,<br />
mais tarde, à criação do próprio Plano Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong>.<br />
Uma das 800 ações que compõem o Plano é, por exemplo, o próprio<br />
Prêmio Vivaleitura, que desde 2006 já identificou e catalogou 10 mil<br />
ações e projetos pelo país afora. São iniciativas de escolas, bibliotecas,<br />
organizações não-governamentais, prefeituras e grupos de voluntários<br />
que, muitas vezes sem qualquer recurso ou apoio público, estão fazendo<br />
com que os livros cheguem às mãos dos leitores, aonde eles estiverem. E,<br />
principalmente, cuidam <strong>para</strong> fazer com que eles leiam esses livros.<br />
Essas ações podem ir de desde um modesto barco-biblioteca na região<br />
amazônica, na cidade turística de Florianópolis ou nas comunidades<br />
caiçaras no litoral brasileiro até uma borracharia onde, além de prestar<br />
serviços aos donos de automóveis, ônibus e caminhões, o dono do<br />
pequeno negócio também aproveita <strong>para</strong> oferecer livros <strong>para</strong> serem lidos<br />
enquanto os clientes aguardam pelo conserto dos pneus danificados ou<br />
mesmo <strong>para</strong> os moradores da vizinhança.<br />
Entre as iniciativas que se espalham pelo Brasil, e são dezenas de<br />
milhares delas, algumas chamam muito a atenção. Tanto pela obstinação<br />
de seus empreendedores, mas, sobretudo, por criatividade e inventividade.<br />
Elas estão localizadas tanto nas pequenas cidades do interior do Brasil<br />
como nas grandes capitais, como é o caso do Rio de Janeiro, onde, por<br />
exemplo, um pedreiro que se alfabetizou já adulto resolveu compartilhar<br />
com vizinhos e desconhecidos tudo o que aprendeu e cresceu na vida<br />
graças aos livros.<br />
Ou, ainda, o caso de um pequeno comerciante de carnes de Brasília que<br />
transformou seu açougue também em um local onde fornece,<br />
gratuitamente, bens culturais como shows de artistas populares e<br />
escritores e livros. Esse mesmo comerciante instalou estantes com 500<br />
livros nas dezenas de <strong>para</strong>das de ônibus da capital do Brasil e lá, sem que<br />
haja um único funcionário <strong>para</strong> atender, cada leitor pega o livro que<br />
quiser <strong>para</strong> ler e levar <strong>para</strong> casa. Devolve em qualquer lugar da cidade, e,<br />
como não há ninguém <strong>para</strong> controlar, só se quiser fazê-lo. Mesmo assim,<br />
os índices de devolução de livros nesses locais chegam a ser superiores ao<br />
da maioria das bibliotecas públicas.<br />
Exemplos de como pequenos grupos organizados ou mesmo pessoas que<br />
fazem isso individualmente, de forma voluntária, estão ajudando a<br />
mudar a questão da leitura no Brasil se espalham cada vez mais e podem<br />
ser vistos nos mais diferentes lugares. Só muito recentemente grandes<br />
empresas privadas, bancos e órgãos do governo central e nos estados<br />
passaram a desenvolver uma política de editais, que de alguns anos <strong>para</strong><br />
177<br />
cá passaram a distribuir pequenos recursos como forma de valorizar e<br />
mesmo apoiar essas ações. Mas eles já aconteciam, antes, de alguma<br />
forma. Na década atual, ganharam visibilidade, se fortaleceram e<br />
estimularam outras pessoas a fazerem o mesmo. Isso tem sido, de certa<br />
forma, contagiante.<br />
Foi o caso, por exemplo, de um pescador do Rio São Francisco, um rio que<br />
atravessa as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil e é o mais importante do<br />
país depois do Rio Amazonas. Ele montou um clube de leitura que<br />
funciona nas manhãs de domingo em uma feira livre nas ruas da<br />
pequena cidade do interior de Minas Gerais, um dos estados mais<br />
populosos do país. Empresta livros gratuitamente, atrai leitores que<br />
andavam distantes dos livros e virou a grande atração do local.<br />
Outro projeto bastante interessante, vencedor de prêmios nacionais, é<br />
Jegue-Livro, que também virou sensação no interior do Maranhão, na<br />
região Nordeste, a menos desenvolvida do Brasil e onde os índices de<br />
leitura são os mais baixos. Esse animal, muito parecido com o burro, tem<br />
grande valor social e econômico nas cidades mais pobres e afetadas pela<br />
miséria e pela seca em alguns lugares do país. Os donos desses animais<br />
foram convencidos a emprestá-los duas vezes por mês e as escolas de<br />
pequenos vilarejos (que não têm bibliotecas, livrarias ou quiosques de<br />
jornais e revistas) colocam os livros dentro de uma cesta que é espalhada<br />
em locais estratégicos desses povoados. Com ajuda dos alunos, fazem,<br />
assim, e com toda essa simplicidade, com que os livros cheguem às mãos<br />
dos moradores, que, em geral, não têm acesso a esses e a nenhum outro<br />
bem cultural.<br />
O projeto, também conhecido como Biblio-Jegue, tem ajudado a<br />
prefeitura local a combater a evasão escolar, as taxas de repetência e<br />
mesmo o desempenho dos estudantes nas competições nacionais de<br />
rendimento escolar.<br />
Nessa mesma linha, projetos de iniciativa popular como a Expedição<br />
Vagalume, formada por um grupo de jovens que percorre comunidades<br />
ribeirinhas na região amazônica, têm produzido modificações<br />
substanciais na qualidade do ensino das escolas públicas dos estados da<br />
região Norte, onde os índices de leitura são os mais baixos do País, e na<br />
própria vida dessas comunidades. Essas ações são apoiadas por empresas<br />
privadas e quase nunca obtém verbas públicas. Só recentemente o<br />
Ministério da Cultura criou, no atual governo, concursos e editais <strong>para</strong><br />
apoiar com algum dinheiro essas iniciativas aparentemente isoladas, mas<br />
que, quando somadas, representam um esforço de alto impacto.<br />
Já no setor privado, marcas conhecidas como a Fiat e a Volkswagen<br />
também passaram a investir, nos últimos anos, em projetos <strong>para</strong> ajudar a<br />
formar agentes de leitura. Em menos de dez anos, cresceu de forma<br />
significativa o número de empresários dispostos a atrelar a imagem de
178<br />
seus empreendimentos à questão do livro e da leitura, encarando isso<br />
uma ação eficaz de responsabilidade social empresarial. Isso vem se<br />
reproduzindo também na forma de patrocínios às feiras de livro e<br />
festivais de leitura que acontecem em todas as regiões do Brasil.<br />
Os exemplos, enfim, estão por toda parte. O próprio governo federal criou<br />
um programa de implantação de pequenas bibliotecas no campo que tem<br />
merecido destaque internacional. Criado em 2003 pelo Ministério do<br />
Desenvolvimento Agrário, órgão responsável pela política de reforma<br />
agrária e agricultura familiar, o Programa Arca das Letras já abriu mais<br />
de 6 mil minibibliotecas no campo. Elas estão em assentamentos rurais,<br />
aldeias indígenas e comunidades de antigos escravos negros, entre outros<br />
locais onde tradicionalmente as pessoas não têm acesso aos livros.<br />
Em poucos anos, 625 mil famílias foram diretamente beneficiadas em<br />
1.700 municípios. Os livros são, em geral, doados por empresas ou por<br />
outras áreas do próprio governo e até as estantes são fabricadas com<br />
todos os cuidados de uma concepção politicamente correta: com<br />
madeiras apreendidas de desmatamentos ilegais e por detentos de<br />
presídios, que, assim, convertem os dias de trabalho em favor da<br />
educação e da cultura em dias de liberdade futura.<br />
Junto com a chegada dessas pequenas bibliotecas rurais, que fazem o<br />
maior sucesso nessas comunidades onde estão presentes, também<br />
chegam os cursos de formação de agentes de leitura. Até agora, nos cinco<br />
primeiros anos do programa, foram formados 12 mil mediadores, que<br />
cuidam dos livros, dão dicas e cooperam <strong>para</strong> que os acervos não fiquem<br />
encostados.<br />
Também é cada vez mais expressivo o número de instituições do terceiro<br />
setor que passaram a se dedicar exclusivamente à questão do livro e da<br />
leitura. Algumas são mantidas pelo próprio mercado do livro, caso da<br />
<strong>Fundação</strong> Nacional do Livro Infantil e Juvenil, mais antiga, ou do recém-<br />
-criado Instituto Pró-Livro.<br />
Em um movimento também recente na história do mercado editorial<br />
nacional, importantes casas editorais passaram, igualmente, a investir na<br />
área. Seja por meio de iniciativas diretas – como o grupo espanhol<br />
Santillana, que criou a <strong>Fundação</strong> Santillana, ou a fábrica de papel<br />
Suzano, que abriu o Instituto Ecofuturo – ou por meio de parceiros, como<br />
faz o Grupo Record, um dos maiores do país, com o Instituto Oldenburg,<br />
que apóia a criação de minibibliotecas em alguns estados.<br />
Há casos exemplares também de pequenas instituições que surgiram<br />
inicialmente sem grandes recursos ou parceiros poderosos, mas que<br />
rapidamente acabaram ocupando papéis importantes na vida nacional<br />
nessa área. Um caso típico é <strong>Fundação</strong> Palavra Mágica, localizada no<br />
município de Ribeirão Preto, 600 mil habitantes, no interior do estado de<br />
São Paulo. É um caso que merece ser estudado: ela mantém uma unidade<br />
179<br />
que se dedica inteiramente ao estudo e à pesquisa sobre temas da área e<br />
uma outra voltada <strong>para</strong> a execução de projetos e programas de fomento<br />
à leitura.<br />
Ela é a principal mantenedora, por exemplo, do Observatório do Livro e<br />
da <strong>Leitura</strong>, um organismo que monitora e avalia a execução de políticas<br />
públicas, mobiliza a sociedade em torno dessa causa e ainda busca<br />
parceiros <strong>para</strong> financiar estudos e pesquisas, como foi o caso da Retratos<br />
da <strong>Leitura</strong> no Brasil. Um dos projetos desse Observatório é uma agência de<br />
notícias – batizada de Brasil Que Lê – que distribui, várias vezes por<br />
semana, informações e textos de opinião <strong>para</strong> 25 mil jornalistas de 3 mil<br />
redações de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e sites da<br />
internet sobre temas da área.<br />
Trata-se de uma estratégia <strong>para</strong> ampliar a presença desse tipo de assunto<br />
na imprensa. Já sua revista eletrônica chega semanalmente a 76 mil<br />
atores sociais interessados nas políticas públicas do livro e leitura.<br />
Um dos projetos da <strong>Fundação</strong> Palavra Mágica na área da leitura é uma<br />
oficina de leitura e escrita que já beneficiou 1.200 jovens. Outro deles<br />
implantou, no último ano, nada menos do que 100 clubes de leitura<br />
somente em Ribeirão Preto. Esses clubes funcionam em locais que podem<br />
ir desde escolas regulares e cursos de alfabetização de adultos até<br />
hospitais, escolas de cegos, instituições sociais ou presídios. A mecânica é<br />
simples: escolhem os livros que querem ler, se reúnem uma vez por mês<br />
<strong>para</strong> comentá-los e a fundação, que consegue os livros com parceiros, faz<br />
com que nos meses seguintes eles possam <strong>para</strong>r nas mãos de outros<br />
leitores.<br />
Em 2009, a <strong>Fundação</strong> Palavra Mágica criou outro programa igualmente<br />
inovador, chamado Você é o Escritor! A instituição distribuiu, gratuitamente,<br />
150 mil exemplares de um mesmo livro na cidade <strong>para</strong> estimular a<br />
população a ler, discutir seus problemas e pensar em soluções <strong>para</strong> o<br />
futuro. O livro infanto-juvenil (O Menino que Sonhava de Olhos Abertos) é um<br />
título como qualquer outro do gênero, mas com uma diferença<br />
substancial: as últimas páginas são reservadas <strong>para</strong> que o próprio leitor<br />
pense e escreva seu próprio final <strong>para</strong> a história. Cada livro lido e que<br />
provoca um final diferente (mostrado, depois, em um programa numa<br />
televisão de boa audiência), vira imediatamente uma nova edição e o<br />
leitor, agora transformado em co-autor, pode visualizar a obra, imprimila<br />
gratuitamente no site do projeto ou adquirir, a preço de custo, de um<br />
dos parceiros do projeto.<br />
É assim, principalmente com criatividade e persistência, que o Brasil<br />
começa a ganhar a guerra contra os seus históricos baixos índices de<br />
leitura. Há um longo caminho a percorrer, sem dúvida. Mas os primeiros<br />
resultados alcançados até aqui já permitem antever que, a continuar com<br />
esse e outros tipos de iniciativa, e convertendo cada vez mais o tema em
180<br />
política de estado, esta missão não será nada impossível. Ainda levará<br />
algum tempo, é certo, e demandará muitos investimentos, sejam eles<br />
financeiros ou físicos, <strong>para</strong> que esse tipo de ação bancada pela sociedade<br />
continue a acontecer, sejam ampliados quando for o caso e tenham a<br />
longevidade que merecem.<br />
Mas os resultados serão, com toda certeza, alvissareiros.<br />
Como talvez dissesse nos dias atuais o poeta Fernando Pessoa, a caravela<br />
já partiu. Pandas de sonhos e de esperanças.<br />
Chegaremos todos a bom porto!<br />
Como foi feita a pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil<br />
Esta foi a segunda vez, em menos de dez anos, que o Brasil efetuou uma<br />
ampla pesquisa <strong>para</strong> medir o comportamento leitor de sua população,<br />
estimada em 190 milhões de habitantes. A nova edição começou a ser<br />
engendrada em 2004, enquanto o governo brasileiro discutia os rumos,<br />
diretrizes e metas <strong>para</strong> uma abrangente política do livro e leitura que<br />
mirasse, no mínimo, <strong>para</strong> os vinte ou trinta anos seguintes.<br />
Diversos atores sociais foram convocados a debater e construir<br />
coletivamente esse caminho. UNESCO, Instituto Brasileiro de Geografia e<br />
Estatísticas e universidades foram instados a, juntamente com os técnicos<br />
e dirigentes do governo, definir as necessidades e o escopo <strong>para</strong> um<br />
diagnóstico mais atual sobre o comportamento leitor da população. A<br />
idéia era incluir indicadores que pudessem, mais tarde, servir de<br />
parâmetro <strong>para</strong> com<strong>para</strong>ções internacionais e locais, contribuindo,<br />
assim, <strong>para</strong> o estabelecimento de objetivos e metas de curto, médio e<br />
longo prazo, até 2022, quando o Brasil completa 200 anos de<br />
independência política.<br />
O Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe<br />
(CERLALC/UNESCO) incluiu o tema na celebração, em 2005, do Ano Ibero-<br />
-americano da <strong>Leitura</strong> e convocou um grupo de especialistas dos países da<br />
região <strong>para</strong> definir uma metodologia capaz de servir de base <strong>para</strong> as<br />
investigações internacionais, levando em conta tanto as novas visões<br />
sobre a questão da leitura no mundo como também as peculiaridades<br />
locais.<br />
O primeiro projeto-piloto foi realizado em fins de 2004 no município de<br />
Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, onde a prefeitura, com diversos<br />
parceiros locais e nacionais, implantara uma boa política de bibliotecas<br />
públicas (80 bibliotecas foram abertas em apenas três anos, além da<br />
adoção de uma inovadora Lei do Livro). Dois anos depois, a nova<br />
metodologia foi outra vez experimentada, desta vez em uma área maior,<br />
o estado do Rio Grande do Sul, no Sul do País. Estavam, assim, criadas as<br />
condições <strong>para</strong> a realização de uma mediação com abrangência nacional,<br />
de acordo com as estratégias do Plano Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong> (PNLL).<br />
181<br />
Seus objetivos eram claros: medir a intensidade, a forma, as motivações e<br />
as condições <strong>para</strong> a prática da leitura no Brasil. E aproveitar <strong>para</strong> gerar<br />
outras informações quantitativas e qualitativas sobre o acesso ao livro e à<br />
leitura, além de intensificar a investigação sobre as bibliotecas públicas e<br />
seu papel na formação de leitores. Ao buscar um padrão internacional<br />
<strong>para</strong> as medições, permitindo com<strong>para</strong>ções entre os países, a idéia<br />
também já era criar as condições necessárias <strong>para</strong> a construção de uma<br />
inédita série histórica, com novas medições em intervalos de três anos.<br />
Uma das principais inovações da nova metodologia, e que se revelou um<br />
grande acerto, foi incluir no universo investigado as crianças e<br />
adolescentes entre cinco e 13 anos, que continuam de fora das pesquisas<br />
em boa parte dos países do mundo. No caso do Brasil, a decisão permitiu<br />
agregar ao estudo nada menos do que 34.7 milhões de brasileiros em<br />
idade escolar, todos, portanto, leitores em potencial.<br />
Também passou a fazer parte da amostra – atacando, assim, outra lacuna<br />
existente em praticamente todos os estudos feitos pelo mundo afora – a<br />
população com menos de três anos de escolaridade. São 51.5 milhões de<br />
pessoas (dos quais 20 milhões com menos de 14 anos) nessa condição.<br />
Também estão aí os analfabetos, que reforçam o time de 77 milhões de<br />
brasileiros não-leitores.<br />
No caso brasileiro, o universo investigado aumentou de 86 milhões em<br />
2000 (o que correspondia a 49% da população) <strong>para</strong>, seis anos mais tarde,<br />
172.7 milhões (ou 92% da população, em 2006). O substancial aumento,<br />
quase dobrando a amostra em um período em que o crescimento<br />
vegetativo da população foi de 10.2%, implicou, evidentemente, drásticas<br />
alterações nas amostras da população segundo escolaridade, idade,<br />
gênero, religião, regiões geográficas etc.<br />
Outra inovação significativa foi a ampliação do número de cidades<br />
investigadas. Se em 2000 haviam sido realizadas 5.200 entrevistas em 44<br />
municípios de 19 das 27 unidades da Federação, desta vez os<br />
pesquisadores foram a 311 cidades de todos os estados brasileiros mais o<br />
Distrito Federal. Assim, todas as capitais e regiões metropolitanas foram<br />
pesquisadas e o número de pequenas cidades visitadas foi sete vezes<br />
maior do que em 2000, o que permitiu captar melhor a diversidade da<br />
geografia nacional.<br />
O território nacional foi coberto com a aplicação de 5.012 questionários,<br />
com duração média de 60 minutos, feita nos próprios domicílios. A<br />
margem de erro foi de 1.4% e o intervalo de confiança de 95% (ou seja, se<br />
a mesma pesquisa for realizada 100 vezes, em 95 delas os resultados serão<br />
semelhantes). Foi feita uma pesquisa quantitativa de opinião a partir do<br />
sorteio de amostras idênticas à população, levando em conta gênero,<br />
idade, grau de instrução, ramo de atividade, atividade profissional, renda<br />
e número de moradores nas casas.
182<br />
Embora o objetivo central fosse diagnosticar e medir o comportamento<br />
leitor principalmente em relação aos livros, também foram analisados<br />
outros suportes como jornais, revistas, histórias em quadrinhos, livros<br />
digitais, áudio-livro e Braille. Buscou-se, assim, conhecer o perfil de<br />
leitores e dos não-leitores de livros, suas preferências, opiniões, hábitos e<br />
práticas do cotidiano. Também quis saber sobre quem são os principais<br />
influenciadores, as barreiras contra a leitura e como anda a percepção<br />
sobre leitura no imaginário da sociedade.<br />
Foram considerados leitores aqueles que, no momento da entrevista,<br />
declararam ter lido pelo menos um livro nos três meses anteriores. E não-<br />
-leitores os que disseram não ter lido nenhum livro nesse período, ainda<br />
que tenham feito isso em outros ou mesmo folheado ou lido<br />
ocasionalmente livros ou outro suporte de leitura. A pesquisa não fez<br />
nenhuma avaliação sobre qualidade da leitura ou sobre os níveis de<br />
compreensão dos textos lidos. Como qualquer pesquisa de opinião,<br />
baseou-se somente nas declarações dos entrevistados, em resposta às<br />
questões que foram formuladas pelos pesquisadores.<br />
183
184<br />
185<br />
PAINEL 4<br />
A leitura em<br />
debate
186<br />
Abertura<br />
ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA*<br />
187<br />
Felicito, antes de mais, a <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> por mais este investimento<br />
na leitura, numa leitura competente. O prazer da leitura é também<br />
uma ferramenta fundamental <strong>para</strong> interpretar o mundo. Felicito o projecto<br />
Casa da <strong>Leitura</strong> que o Serviço de Educação e Bolsas está a espalhar<br />
mundo fora. Felicito também a <strong>Fundação</strong> pela realização deste congresso<br />
e agradeço a oportunidade <strong>para</strong> partilhar esta leitura, <strong>para</strong> o privilégio de<br />
ouvir três «homens de palavra», como diria o saudoso Ruy Belo, que<br />
muito aprecio.<br />
Quando João Paulo Cotrim e Manuel Carmelo Rosa me convidaram <strong>para</strong><br />
este congresso veio-me à memória um pequeno livro de Roland Barthes,<br />
O Prazer do Texto, prefaciado por Eduardo Prado Coelho, poucos dias<br />
depois da Revolução do 25 de Abril, uma revolução também, convém<br />
dizê-lo, da palavra. Nesse livro, Barthes distinguiu o «texto de prazer:<br />
aquele que contenta, enche, dá euforia, aquele que vem da cultura, não<br />
rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura»; do texto<br />
de fruição: «aquele, que coloca em situação de perda, aquele que desconforta<br />
(talvez até chegar a um certo aborrecimento), que faz vacilar as<br />
bases históricas, culturais, psicológicas, as bases do leitor, a consistência<br />
dos seus gostos, dos seus valores e das suas recordações, aquele que faz<br />
entrar em crise a sua relação com a linguagem». Prazer e fruição cruzam-<br />
-se, alternam, na vida de cada um de nós, são parte da mesma aventura<br />
que nos faz ganhar mundo. Barthes deixa nesse livro uma curiosa proposta:<br />
a criação da «sociedade dos amigos do texto». Os seus membros não<br />
teriam nada em comum, pois não existe forçosamente acordo sobre os<br />
textos do prazer, a não ser os seus inimigos, os maçadores de todas as<br />
espécies… E <strong>para</strong> não ser maçador, passo à apresentação dos ilustres membros<br />
deste painel. Estou entre dois filósofos e um engenheiro, três homens<br />
de palavra.<br />
Começo por Fernando Savater, a quem dou as boas-vindas. Nasceu em San<br />
Sebastian, é conhecido de todos. Licenciado em Filosofia pela Universidade<br />
Complutense de Madrid, foi catedrático de Ética durante doze anos na<br />
Universidade do País Basco e, a seguir, exerceu durante quinze anos<br />
como catedrático de Filosofia da Complutense de Madrid. Escreveu<br />
muitos livros – meia centena –, colabora na imprensa, co-dirige uma<br />
revista importante em Espanha, Claves de Razón Práctica, e tem muitos<br />
dos seus livros de ensaio e ficção traduzidos em Portugal. Considera-se<br />
* Jornalista, director da SIC Notícias.
188<br />
um opositor de todos os nacionalismos, defende a vantagem de os superar<br />
em benefício de um ideal de humanidade universal. Reivindicou o<br />
prazer como alternativa emancipadora frente a uma modernidade asfixiada<br />
pela razão. Veremos o que é que isso poderá querer dizer na sua<br />
intervenção…<br />
Eduardo Marçal Grilo não necessita de apresentações, está em casa. Ainda<br />
assim, refiro que é doutorado em engenharia mecânica pelo Instituto<br />
Superior Técnico, foi consultor do Banco Mundial na área da educação,<br />
presidente do Conselho Nacional de Educação e ministro da Educação<br />
entre 1995-1999. É administrador da <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>. Teve um<br />
papel muito importante no Programa das Bibliotecas Escolares, no apoio<br />
às bibliotecas, nos incentivos à leitura e à formação de responsáveis por<br />
bibliotecas. Relevo também <strong>para</strong> o seu empenho nos prémios de literatura<br />
com que a <strong>Fundação</strong> estimula a escrita. Sempre um estímulo à procura<br />
de mais livros, de mais leitura.<br />
José Barata-Moura, reitor da Universidade de Lisboa entre 1998 e 2006,<br />
professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa<br />
desde 1986, professor catedrático de filosofia e presidente do conselho<br />
directivo da Faculdade de Letras em 1981-1982, foi também político, deputado<br />
no Parlamento Europeu, tem inúmeras obras publicadas,<br />
nomeadamente, sobre filosofia, de Kant a Aristóteles, Platão, Marx. É<br />
também conhecido – essa foi a primeira marca que recebi dele – por aquilo<br />
que fez em relação às palavras dedicadas às crianças, seja na música,<br />
seja também na literatura infantil. Basta recordar O Coelho Barafunda e<br />
Capitão Tão Balão.<br />
JOSÉ BARATA-MOURA*<br />
189<br />
Nesta mesa e neste congresso, está em debate a leitura, mas será que é<br />
preciso debater a leitura? Há uns que dirão que não, o que é preciso é que<br />
as pessoas sejam instruídas, <strong>para</strong> depois serem capazes de folhear os jornais.<br />
Outros, mais activistas, vão dizer que não é preciso debater a leitura,<br />
o que é preciso é promovê-la e incentivá-la de uma forma bastante<br />
activista e pragmática. Quanto a esta pergunta gostaria de colocar um<br />
ponto e que é este: não apenas debater a leitura, mas debater também os<br />
conteúdos que são lidos. Por conseguinte, se calhar, esta pergunta é também<br />
mais complexa. Debater a leitura, debater os conteúdos e, provavelmente,<br />
descobrir que os próprios textos que são lidos representam, eles<br />
mesmos, o resultado dum debate. Um debate com o mundo, um debate<br />
com os outros, um debate de cada um com os seus mundos.<br />
A segunda questão. Nas nossas sociedades escolarizadas é pacífico o<br />
entendimento de que há que pre<strong>para</strong>r as novas gerações <strong>para</strong> a vida.<br />
Também não gosto nada da expressão de que a educação é pre<strong>para</strong>ção<br />
<strong>para</strong> a vida, como se a vida fosse uma coisa que viesse depois do processo<br />
educativo. Portanto, talvez, sugerir que, em vez de agarrarmos o<br />
problema por «pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> a leitura», eventualmente, poderia ser<br />
interessante reflectirmos sobre «educar com a leitura», isto é, qual o<br />
papel, o lugar e a dinâmica que pode ser desencadeada e tratada à volta<br />
dessa leitura.<br />
Uma terceira questão: parece haver consenso em torno de que a leitura<br />
serve <strong>para</strong> ler o mundo. Mas aqui talvez nós pudéssemos levantar uma<br />
tripla interrogação. A leitura serve <strong>para</strong> ler o mundo, mas então a ficção<br />
faz parte do mundo? É evidente que faz parte do mundo. Há leitura sem<br />
interpretação? Porque, se calhar não chega só o saber ler, mas é preciso<br />
cuidar também do sentido e é isso que tecnicamente pode vir através de<br />
vários procedimentos hermenêutico-interpretativos. E uma terceira<br />
sub-questão bastante incómoda <strong>para</strong> certas orelhas mais sensíveis às<br />
sonoridades estridentes. E ler basta? É evidente que, se calhar, não basta<br />
ler e, se calhar, não basta interpretar. Talvez seja preciso reunir isso num<br />
projecto prático de viver em que a transformação está presente.<br />
Uma quarta pergunta. A leitura é uma das nossas funções vitais que imediatamente<br />
aparenta desdobrar-se num tabuleiro teorético, de teoria, e<br />
uma pergunta poderia ser: mas fica a leitura enclausurada nos domínios<br />
da teoria?<br />
Porque pode obrigar-se a ler, pode ler-se por obrigação mas, se calhar, a<br />
grande batalha da leitura são o estímulo e a descoberta do gosto da<br />
*Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
190<br />
fruição. Todo o problema da leitura, que obviamente tem dimensões que<br />
são de natureza cognitiva, teorética, hermenêutica, interpretativa e com<br />
ideias e pensamentos, possui uma dimensão fundamental <strong>para</strong> todo o<br />
problema da leitura e da sua promoção, que é a questão do gosto pela<br />
fruição. E isso, no meu ponto de vista, também se educa, isto é, contrariamente<br />
ao que muita gente imagina, os sentidos também se educam.<br />
Finalmente, haveria uma quinta questão, de alguma maneira englobante,<br />
da qual eu não vou falar, aquilo a que costumo chamar a dinâmica prática<br />
da cultura e, porventura, a conveniência de encararmos uma constelação<br />
que envolva ler, compreender e transformar. Isto tem por trás uma<br />
concepção da cultura como alargamento da nossa experiência e do nosso<br />
campo de diálogo com os outros e os monumentos da cultura, as obras da<br />
cultura, os produtos da cultura. E isto no termo de um diálogo de apropriação,<br />
de descoberta, de interrogação que esse é o trabalho da leitura,<br />
em que a cultura nos ajuda a ler o mundo, mas a cultura é também um<br />
enriquecimento <strong>para</strong> a nossa plataforma de intervenção do mundo.<br />
Portanto, ficam as perguntas e creio que ficam melhor servidos. Muito<br />
obrigado.<br />
Falou aqui um pouco na leitura enclausurada na própria leitura. De<br />
algum modo também numa certa perdição da leitura e também há quem<br />
fale da obrigação de ler e alguém diz também, «não leias, estuda». O que<br />
é que se passa?<br />
O que me pareceu mais interpelador foi pegar na questão da leitura pelo<br />
lado dos perigos. Este é um problema da leitura e é também um problema<br />
da cultura. Porque muita gente olha <strong>para</strong> a cultura como uma carga<br />
e um peso enormes que, carregando às costas, nos impedem de andar.<br />
Estou a brincar, mas há muita gente que acha que uma medida profiláctica<br />
é exactamente a anticultura, o riscar a cultura, no limite, o riscar a<br />
história porque isso é um empecilho <strong>para</strong> a acção. Eu estou tão sobrecarregado,<br />
tão envolto em todo esse peso de séculos de tradição e gente que<br />
tão profundas e interessantes coisas disse, que fico <strong>para</strong>lisado na minha<br />
acção. Então podemos ter uma espécie de um existencialismo um pouco<br />
doméstico em que se risca toda a essência em nome de uma existência<br />
virada <strong>para</strong> a frente e que diz, «não, isso que nos afoga, que nos impede a<br />
marcha e o caminho, não». Este problema ainda é mais complicado<br />
porque a leitura e a cultura podem ser uma forma de alienação requintada,<br />
podemos dizer uma forma benéfica de alheamento sofisticado, isto é,<br />
o mundo em que nós vivemos e actuamos é duro, é agreste, faz-nos sofrer.<br />
Felizmente, porque por educação, gosto, nós temos acesso a essas portas<br />
do mundo da cultura e, se o mundo em que nós vivemos é tão frio, tão<br />
agreste, fazendo-nos sofrer, e há tanta coisa <strong>para</strong> mobilar a nossa cabeça<br />
e temos aqui a cultura como ópio. Isto perdendo-se de vista que provavel-<br />
191<br />
mente a cultura e a leitura não são um substituto nem da acção nem do<br />
viver, porque a verdade é que tudo aquilo que nós encontramos depositado<br />
como experiência do outro nesses monumentos da cultura, nada disso<br />
substitui a nossa necessidade de pensar e de agir. Hegel dizia, criticando<br />
Kant e Denken, que ninguém pode pensar por nós. Eu também digo que<br />
nas grandes acções e nas pequenas acções, também ninguém pode agir<br />
por nós. A questão fundamental aqui é uma dialéctica da cultura em que<br />
esse alargamento da experiência do outro vai enriquecer aquilo que é a<br />
plataforma a partir da qual nós temos que fazer essa viagem e essa aventura.<br />
Terminaria chamando a atenção <strong>para</strong> duas coisas que talvez convenha<br />
evitar. A história é verídica: um jornalista na antiga Emissora Nacional<br />
perguntava a uma autora de grande sucesso o que são as suas leituras? E<br />
a senhora respondeu que tinha tantas solicitações <strong>para</strong> escrever que não<br />
lia. A história é verídica e a outra, que é um pouco também a mistura<br />
disto, e é terrível <strong>para</strong> quem tenha experiência de dirigir e acompanhar<br />
teses de doutoramento. A vida das pessoas que tenham de escrever uma<br />
tese é terrível e, às vezes, o orientador tem um papel nisso, que é dizer: «E<br />
quando é que pára?» Porque se não, há sempre muitas outras coisas <strong>para</strong><br />
ler e depois há ali angústias, ansiedades, e sobre certos aspectos o que eu<br />
quero é ir <strong>para</strong> casa ler, porque, aí, o desafio da vida é outro e a fruição é<br />
outra. Quando se tem o problema de fazer uma tese há uma decisão<br />
muito complicada que é a de dizer «e agora aqui temos de <strong>para</strong>r com a<br />
leitura».
192<br />
EDUARDO MARÇAL GRILO*<br />
O que é que está a fazer um engenheiro mecânico no meio dos filósofos,<br />
a falar sobre a leitura?<br />
Quando me convidaram <strong>para</strong> este painel, eu perguntei ao Dr. António<br />
Prole: «O que é que quer que eu diga? Qual é o objectivo?» E a resposta foi<br />
esta: «Eu sei que você lê e, portanto, gostava que falasse sobre a sua<br />
experiência como leitor.»<br />
Eu não sei bem se sou um leitor. Tenho hábitos de leitura, leio todos os<br />
dias durante um período extenso, mas não sei se sou um leitor na<br />
verdadeira acepção da palavra. Não sei se obedeço ao cânone do que é um<br />
leitor, se é que há um cânone de leitor. Quando pensei no que havia de<br />
dizer, qual o contributo que eu aqui poderia trazer, pareceu-me que o<br />
melhor seria fazer uma intervenção que fosse muito autêntica, isto é, que<br />
fosse muito eu próprio, com o que leio, por que é que leio, como é que<br />
comecei a ler, o que é que verdadeiramente me motivou <strong>para</strong> ler, o que é<br />
que tenho lido, o que é que tenho aprendido com os livros.<br />
Estou na <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> há vinte e quatro anos, estive quatro anos<br />
fora, portanto, estou aqui há vinte anos, mas nunca abri aqui esta minha<br />
faceta de leitor a não ser nas conversas informais. Vou, então, contar<br />
como comecei a ler.<br />
Eu vivo hoje no mundo dos livros, mas não nasci no mundo dos livros.<br />
Em minha casa, em Castelo Branco, havia relativamente poucos livros. O<br />
meu pai praticamente não lia, tinha uma vida muito assoberbada e não<br />
lia livros com algum significado. Recordo-me de um ou dois livros ao<br />
longo de toda a minha vida. A minha mãe tinha uma enorme preocupação<br />
em que eu lesse. A minha mãe era filha de um professor primário<br />
do final do século XIX, que era um homem culto e tinha uma pequena<br />
biblioteca de quem eu herdei alguns dos livros, que ainda hoje guardo e<br />
que estão em razoável estado. Detesto livros em mau estado, gosto imenso<br />
de ter livros mas sobretudo em bom estado. Mando-os normalmente<br />
restaurar quando não estão em condições.<br />
Há umas pessoas que dizem que começaram a ler umas coisas fantásticas.<br />
Eu comecei a ler as coisas mais normais deste mundo: Emílio Salgari, O<br />
Corsário Negro e Sandokan. Depois, passei obviamente <strong>para</strong> os livros policiais:<br />
li o Ellery Queen, a Agatha Christie, Erle Stanley Gardner, Michael Z.<br />
Lewin, li praticamente toda a colecção Vampiro. Nunca li O Cavaleiro<br />
Andante. Tinha uma aversão total em relação a tudo o que era folhetos,<br />
tudo o que era coisas em folhetins. Tinha um amigo que quando<br />
acabavam as séries do Tintin ou do Black and Mortimer trazia-mos e eu lia<br />
todos seguidos.<br />
* Administrador da <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>.<br />
193<br />
Quando tinha talvez uns dezasseis anos, tive um professor de filosofia<br />
que era um homem muito culto e que uma vez me disse uma coisa que<br />
eu nunca esqueci – eu tinha a mania dos automóveis e das mecânicas, por<br />
isso é que fui <strong>para</strong> engenheiro mecânico – «Essas coisas da matemática,<br />
da física, tudo isso é muito importante, mas tu tens que ler outras coisas.»<br />
Por essa idade, (sexto ou sétimo ano do liceu, aquilo que é hoje o décimo,<br />
décimo primeiro ano), tinha uma colecção chamada Colecção Miniatura –<br />
eu ainda hoje guardo esses livros – e fui ver o que é que eu li nessa altura.<br />
Li o Somerset Maugham com Um Casamento em Florença, As Férias de Natal,<br />
As Histórias dos Mares do Sul, O Biombo Chinês e O Agente Britânico. Li os três<br />
livros do Albert Camus mais famosos que eram A Peste, O Estrangeiro e O<br />
Exílio e o Reino. Li o Pierre Marc Orlean, com La Bandera. Li A Porta Estreita,<br />
do André Gide. Li O Velho e o Mar como não podia deixar de ser, do<br />
Hemingway. Li O Génio e a Deusa do Aldous Huxley e fiquei com a ideia de<br />
que, <strong>para</strong> além do mundo das engenharias, em que eu pretendia entrar,<br />
havia um outro mundo muito fascinante, que era o mundo da literatura<br />
<strong>para</strong> a qual eu nunca tive qualquer espécie de pre<strong>para</strong>ção. Nunca estudei<br />
literatura, nunca fui verdadeiramente treinado <strong>para</strong> ler. O treino que tive<br />
foi aquele que qualquer estudante do ensino secundário teve nos anos<br />
sessenta.<br />
Hoje verifico, ao fim deste tempo e tendo alguns hábitos de leitura, que<br />
leio por três razões essenciais: leio por prazer, leio por necessidade e leio<br />
por interesse.<br />
Não vou falar do que leio, nem na <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> onde passo<br />
grande parte do dia, nem na área do desporto, que é uma área sobre a<br />
qual também leio muito. Vou falar da área em que eu me movo e que<br />
gosto de fruir, como dizia o José Barata-Moura.<br />
Penso que ler é como andar. É poder viajar no espaço e no tempo e eu<br />
viajo muito no espaço e no tempo, isto é, sou capaz de me mover nos<br />
livros, gosto daquilo que se faz hoje muito que é navegar na Net. Gosto<br />
muito de navegar nos livros, gosto de andar de livro em livro.<br />
O Daniel Pennac, naqueles dez mandamentos que escreveu há uns anos<br />
atrás, no livro Como um Romance diz uma coisa muito interessante sobre<br />
os direitos do leitor: o direito a não ler, a saltar páginas, o direito de não<br />
acabar um livro, o direito de reler, o direito de ler não importa o quê, o<br />
direito de amar os heróis dos romances, o direito de ler não importa onde<br />
e o direito de saltar de livro em livro. Eu acho, que estes são direitos que<br />
nós temos.<br />
Eu não tenho propriamente uma biblioteca, tenho cerca de quatro mil<br />
obras, mas não considero uma biblioteca; tenho livros. Gosto muito de<br />
estar no meio dos livros, tirar um e tirar outro. E Pennac, relativamente<br />
a este debicar do livro, quando fala deste direito, do direito de saltar de<br />
livro em livro, diz uma coisa engraçadíssima, «assim podemos abrir
194<br />
Proust, Shakespeare ou a Correspondance de Raymond Chandler e em qualquer<br />
página, debicar aqui e ali, sem correr o mínimo risco de decepção.<br />
Quando não se tem tempo nem os meios <strong>para</strong> passar uma semana em<br />
Veneza, porquê recusar o direito de lá passar cinco minutos?» Eu acho<br />
que classifica muito bem aquilo que é a fruição que se pode ter dos livros<br />
e aquela ideia que se tem, muitas vezes errada na minha perspectiva, de<br />
que um livro tem que se ler de ponta a ponta – eu normalmente leio os<br />
livros de ponta a ponta, mas também admito que não se leia um livro de<br />
ponta a ponta.<br />
O livro tem uma vantagem enorme sobre muitos outros meios porque<br />
nunca nos maça. Quando nos maça, nós fechamo-lo. E ler é um acto de<br />
liberdade em que a leitura aparece como um acto de criação<br />
permanente. Nós estamos permanentemente a criar qualquer coisa<br />
quando lemos. Há uma citação muito interessante que é feita por<br />
Alberto Manguel quando fala em Petrarca e em Santo Agostinho, que eu<br />
acho muito verdadeira e que ocorre muito comigo: «Aquilo que<br />
Agostinho, na imaginação de Petrarca sugere, é uma nova maneira de<br />
ler, nem usar o livro como apoio <strong>para</strong> o pensamento, nem confiar nele<br />
como se confiaria na autoridade de um sábio, mas tirar dele uma ideia,<br />
uma frase, uma imagem e relacioná-la com uma outra extraída de um<br />
texto distante, preservado na memória, ligando o todo com reflexões<br />
próprias e produzindo, de facto, um novo texto da autoria do próprio<br />
leitor.» Esta ideia de que cada página de um livro nos permite escrever o<br />
nosso próprio livro, com tudo aquilo que nós acumulámos na nossa<br />
memória, de todos os livros que lemos, é um privilégio que nenhum<br />
outro meio nos dá.<br />
É evidente que o acto de ler tem uma maçada em relação, designadamente,<br />
aos grandes competidores do livro, se é que há competidores do<br />
livro. É que ler significa esforço, significa trabalho, significa reflexão, significa<br />
investigação, aumento do conhecimento, ao contrário, da televisão,<br />
que é um meio completamente passivo. Verifiquei este fenómeno<br />
quando estive uma vez particularmente doente e em casa alguns meses,<br />
e não tinha capacidade <strong>para</strong> ler, estava muito cansado e via televisão. Eu<br />
vejo muito pouca televisão, sou capaz de ver uma entrevista ou outra do<br />
António José Teixeira, mas a única coisa que eu vejo verdadeiramente na<br />
televisão são os jogos do Sporting.<br />
Há dois aspectos que eu gostava de referir quanto ao livro e à importância<br />
da leitura, que não é apenas o conhecer o melhor do mundo ou conhecer<br />
melhor os mundos, é conhecermo-nos melhor a nós próprios. Há uma<br />
citação do François Mauriac em que ele diz, «O pouco que sabemos de nós<br />
próprios, é por vezes a personagem dum livro, quem no-lo sugere em voz<br />
baixa.» Julgo que nós aprendemos muito nos livros sobre nós próprios,<br />
porque, muitas vezes, aí encontramos os nossos comportamentos, as<br />
195<br />
situações do dia-a-dia, os amigos, os familiares e, sobretudo, a<br />
complexidade do livro na qual nós nos vamos embrenhando e que vamos,<br />
em certa medida, destrinçando com uma e outra ideia que esse livro faz<br />
nascer em nós.<br />
Mas o livro é também, uma aventura, uma aventura permanente, porque<br />
estamos permanentemente a empurrar a barreira que temos na frente,<br />
que não nos deixa ver o resto do mundo. Humberto Eco diz, «Há o hábito<br />
de pensar que se entra numa biblioteca <strong>para</strong> procurar um livro. Não é<br />
verdade. Sim, é por aí que se começa, mas o que na realidade se busca é a<br />
aventura e não o livro.»<br />
O José Barata-Moura deixou aqui uma questão que é muito interessante:<br />
saber como é que melhor se conhece o mundo? Através de que tipo de<br />
livros? Eu tenho umas centenas de livros sobre o período europeu que<br />
medeia entre o final da Primeira Guerra e o final da Segunda Guerra, portanto<br />
entre 1918 e 1945, e leio muito sobre essa temática. Nos últimos<br />
anos li os autores mais significativos: Trevor Roper, Ian Kershaw, Martin<br />
Allen, A.J.P. Taylor, Richard Evans, Martin Gilbert, Alfred Smith, John<br />
Keegan, Marlig Steinert, Churchill e De Gaulle, Richard Overy, Joachim<br />
Fest, Henry Amouroux, etc.<br />
Li depois uma área que gosto muito, a dos Diários. Tenho Diários de<br />
muitas pessoas, uns anónimos, outros mais famosos. Mas o José deixou<br />
aqui uma pergunta, que não a expressou directamente, mas que eu vou<br />
expressar da seguinte forma: não será através da ficção que nós melhor<br />
conhecemos o mundo? Posso dizer-vos que é.<br />
Há um livro absolutamente fascinante, talvez, na minha perspectiva, o<br />
melhor livro que se escreveu sobre o período entre 1941 e 1945, que melhor<br />
caracteriza o que aconteceu na Europa, sobretudo, na Alemanha<br />
nazi, uma ficção chamada Les Bienveillantes, escrito por Jonathan Littell, e<br />
que foi, <strong>para</strong> mim, uma espécie de fecho de todos os livros de história que<br />
eu li relativos ao referido período.<br />
Para se perceber o que a França viveu a seguir à invasão, em 1940,<br />
recomendo vivamente dois pequenos romances publicados num livro<br />
chamado Suites Françaises de Irène Némirovsky, hoje mais conhecida do<br />
que era na altura.<br />
Ou seja, julgo que o José Barata-Moura queria levantar essa questão: que<br />
tipo de livros ou com que tipo de livros ou com que tipo de literatura é<br />
que nós melhor conhecemos os outros, nós próprios e o mundo? Eu sou<br />
capaz de afirmar que não será exclusivamente através do romance de<br />
ficção, mas é sobretudo através do romance de ficção. Aliás, o prof.<br />
Eduardo Lourenço, há pouco tempo, dizia mais ou menos isto: ainda<br />
conhecemos mal, hoje, o período do Estado Novo, porque se escreveram<br />
poucos romances sobre essa época da nossa história.
196<br />
Li muito recentemente um livro de um grande escritor que eu muito<br />
aprecio, Sir Vidia Naipaul, que, aliás, esteve aqui na <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong> há pouco tempo, chamado Sementes Mágicas (Magic Seeds),<br />
onde existem duas passagens sobre o livro que eu não resisto a ler-vos.<br />
Uma das personagens principais, Willie, era escritor e estava há mais de<br />
dez anos sem ver um livro (por razões que não vou agora referir). Está<br />
preso, é colocado numa enfermaria e a irmã, que vive em Inglaterra,<br />
manda-lhe uma série de livros.<br />
Naipaul descreve a cena assim: «Duas semanas depois da visita de Sarojini [a<br />
irmã], Willie [o herói da festa] foi transferido <strong>para</strong> a enfermaria. Recebeu<br />
livros que ela lhe enviara e recomeçou a ler. Sentia-se maravilhado com tudo<br />
o que lia. Parecia-lhe tudo miraculoso. Todos os escritores lhe pareciam um<br />
prodígio, algo semelhante àquilo que acontecera há muito tempo quando,<br />
noutra vida, como agora lhe parecia, tentara escrever histórias e por vezes<br />
ficava bloqueado, a mente obstruída. Normalmente isso acontecia-lhe<br />
quando estava profundamente absorvido por uma história. Perguntava-se,<br />
como é que alguém tinha coragem <strong>para</strong> escrever uma frase que fosse.<br />
Olhava até <strong>para</strong> um frasco de “aspirinas” ou de xarope <strong>para</strong> a tosse e<br />
maravilhava-se com a confiança do homem que escrevera as instruções e<br />
advertências. Começou, assim, a sentir um respeito profundo por todos<br />
aqueles que juntavam palavras e sentia-se transportado por tudo o que lia.<br />
A experiência era maravilhosa e achava que, provavelmente, valera a pena<br />
ir <strong>para</strong>r à prisão apenas <strong>para</strong> ter de passar por aquilo, aquela intensificação<br />
do prazer intelectual, aquela abertura a algo de que pouco sabia.»<br />
Eu acho que este texto é uma maravilha.<br />
A outra passagem tem a ver com um aspecto que o José não levantou, mas<br />
que eu coloco aqui como tema de discussão que é o da data dos livros. O<br />
Naipaul coloca na boca de uma das suas personagens estas frases<br />
fantásticas: «Wolf disse-me que a coisa mais importante num livro é a sua<br />
data. Não vale a pena ler um livro se não se sabe qual a data, quando não<br />
se sabe o quanto está distante ou próximo de nós. A data de um livro fixa-<br />
-o no tempo. E quando se conhecem outros livros e acontecimentos, as<br />
datas começam a dar-nos a escala temporal. Nem te consigo dizer o<br />
quanto isso foi libertador <strong>para</strong> mim.»<br />
Eu julgo que estes dois textos mostram que o livro existe por si, mas existe<br />
com todos os outros e com tudo aquilo que se pode ter à volta.<br />
Queria, ainda, referir dois aspectos que me parecem importantes. Um é o<br />
da compatibilidade do livro com todos os outros meios que nós hoje<br />
temos à nossa disposição, designadamente, a Internet, a televisão, os<br />
vídeos, e que nos obrigam, diariamente, a tomar uma decisão sobre o que<br />
queremos fazer e como é que o queremos fazer.<br />
Não resisto a contar aqui uma pequena história... Estive em Istambul em<br />
Maio passado e li um livro do Pamuk chamado Istambul, que é absoluta-<br />
197<br />
mente fascinante, muito bem escrito e a tradução é belíssima. No livro,<br />
Pamuk fala várias vezes, e tem umas reproduções, do que ele chama as<br />
quarenta e oito gravuras de um arquitecto e pintor francês chamado<br />
Melling que viveu no século XIX em Istambul e que foi arquitecto do sultão.<br />
Eu resolvi ir à Net ver quem é o Melling e o primeiro site que me saiu foi o<br />
da <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>. O Melling e a <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>? Então, verifiquei<br />
que na Biblioteca de Arte da <strong>Fundação</strong> temos um livro absolutamente<br />
fantástico – só há dois no mundo e um deles pertence à colecção do<br />
Sr. <strong>Gulbenkian</strong> que ele próprio comprou em 1920, por 120 libras – e que é<br />
um livro que contem todas as gravuras do Melling. Passei uma manhã aqui<br />
na nossa Biblioteca de Arte a ver o livro. É um livro que foi feito <strong>para</strong> a Srª.<br />
Duquesa de Berry, no inicio do século XIX, em Paris, que era uma grande<br />
mecenas das artes. O livro é de uma beleza inacreditável, é enorme, com<br />
cerca de 90cm por 50cm, e tem as quarenta e oito gravuras intactas, metidas<br />
numa charneira e dobradas, com uma explicação dada por dois autores<br />
que descrevem cada uma das gravuras. É um privilégio enorme poder<br />
saltar de um livro do Pamuk <strong>para</strong> aquilo que é um livro que o Pamuk seguramente<br />
não conhece. Eu pedi ao Serviço de Comunicação que mandasse<br />
dizer ao Pamuk que este livro estava aqui à disposição dele. Assim como nós<br />
navegamos na Net, também navegamos nos livros.<br />
Que estratégias é que podemos, além da palavra, do cativar com o<br />
exemplo, do prazer por si próprio, como é que se promove a leitura, que<br />
é o tema deste congresso?<br />
Eu tenho uma especial embirração com os livros obrigatórios, sobretudo,<br />
quando alguém chega ao pé de mim e diz, «Tens que ler este livro»; normalmente,<br />
não leio. Detesto que me imponham um livro. Há coisas que tenho<br />
que ler, que tenho de estudar. Por exemplo, ler o orçamento da <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong> não é uma coisa propriamente agradável. É um livro que eu<br />
tenho que ler por razões profissionais e a leitura é muito importante <strong>para</strong><br />
eu perceber exactamente o que é que lá está. Em relação à fruição da leitura,<br />
não suporto a ideia de que há livros obrigatórios.<br />
Eu só tive livros obrigatórios quando me doutorei numa área muito<br />
específica, que era tecnologia mecânica de materiais. Havia quatro ou<br />
cinco livros básicos e depois havia todos os papers publicados até aquela<br />
altura, até 1973, um conjunto de bibliografia que era obrigatório ler,<br />
porque senão, nós não estávamos pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> poder avançar no conhecimento.<br />
Agora, em relação ao livro que eu leio por interesse pessoal,<br />
por gosto ou <strong>para</strong> completar aquilo que eu considero que são os conhecimentos<br />
que vou adquirindo e que gosto de ir adquirindo sobre uma determinada<br />
matéria, não há livros obrigatórios.<br />
Há, e isso ajuda imenso uma pessoa que goste de ler, recensões muito<br />
bem feitas que eu leio com muita atenção <strong>para</strong> perceber exactamente
198<br />
onde é que o livro me pode levar, qual é o tipo de informação que eu<br />
posso tirar desse livro e qual é o gozo que eu posso ter com esse livro.<br />
A leitura obrigatória, que muitas vezes é praticada sobretudo nas escolas,<br />
e nas escolas tem um sentido pedagógico, didáctico, de conteúdo, que<br />
tem a ver com uma lógica de formação numa determinada idade, aí o<br />
livro é obrigatório. No resto, eu considero que o livro não deve ser obrigatório.<br />
Não podemos ter a obrigatoriedade de ler um determinado livro.<br />
Mais, lemos os livros pela ordem que entendemos.<br />
Por exemplo, eu sou capaz de comprar três ou quatro livros e leio-os por<br />
uma ordem qualquer. Não tenho nenhum interesse em estar a dizer que<br />
este livro articula-se com aquele. Não; leio e aquilo anda tudo <strong>para</strong> trás e<br />
<strong>para</strong> frente e há livros que eu estou permanentemente a reler. Por exemplo,<br />
há um livro que já devo ter lido umas três vezes que é O Leopardo do<br />
Tomaso Lampedusa, que é talvez um dos mais belos romances do século<br />
XX. É um livro que nos permite viver durante três, quatro, cinco dias que<br />
dura a sua leitura, naquele ambiente fantástico da Sicília.<br />
O ler as histórias às crianças ou fazê-las ouvir histórias. Eu tive um<br />
privilégio enorme quando era miúdo. Tinha uma tia (que chamávamos<br />
tia, que era prima do meu pai), que eu já conheci cega (tinha cataratas,<br />
naquela altura não se operava como hoje, isto passa-se nos anos<br />
cinquenta) e que era uma contadora de histórias – tinha talvez umas<br />
catorze, quinze ou dezasseis histórias que contava seguidas. Quando nós<br />
estávamos doentes, em Castelo Branco, não havia televisão, vinha a tia<br />
Lucrécia <strong>para</strong> o nosso quarto e contava as histórias. Eu usava um<br />
bocadinho a tia Lucrécia como um vídeo, andava <strong>para</strong> trás e <strong>para</strong> diante,<br />
eu dizia, «Prima Lucrécia, agora conte esta e a outra.» Ela ia contando e<br />
contava sempre da mesma maneira, sempre com mesma entoação, tinha<br />
as histórias todas metidas na cabeça e isso foi um incentivo enorme <strong>para</strong><br />
eu passar, rapidamente, <strong>para</strong> os livros, não de banda desenhada que não<br />
havia nessa altura, mas <strong>para</strong> O João Pateta e um livro interessantíssimo que<br />
ainda hoje leio às minhas netas, O Livro das Crianças, do António Botto, que<br />
é um livro fantástico; esteve na exposição de literatura (Weltliteratur) que<br />
se fez aqui na <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>, e foi adoptado no ensino na Irlanda<br />
como um livro oficial <strong>para</strong> as crianças.<br />
Essa leitura de livros às crianças faz com que elas depois leiam por si. Eu<br />
tenho uma neta que está na quarta classe que já lê por si e está permanentemente<br />
a pedir os livros. É assim que se lá vai.<br />
FERNANDO SAVATER*<br />
199<br />
Queridas amigas, queridos amigos, bueno, en primer lugar, voy a intentar<br />
hablar lo más lentamente posible <strong>para</strong> facilitar su comprensión ya que<br />
por desgracia yo no puedo hablarles en portugués, Cuando voy a Italia,<br />
mi editor italiano que sostiene que todos los italianos entienden el<br />
castellano, el español, cosa que no es verdad, cuando me presenta al<br />
público me dice «Habla un español <strong>para</strong> italianos.» Entonces, yo hablo el<br />
mismo español que hablo siempre, pero un poco más despacio. Pues<br />
ahora voy a hablar un español <strong>para</strong> portugueses, que es hablar un<br />
poquito más despacio, el mismo de siempre.<br />
Cuando en muchas ocasiones me piden vocaciones tan agradables como<br />
éstas, compartiendo la mesa con personas tan entrañables y tan<br />
inteligentes como aquí, me piden que venga a hablar o a hacer una<br />
especie de elogio de la lectura. Realmente es una cosa comprometida<br />
porque cuando a uno le gusta mucho algo le es difícil elogiarlo porque<br />
no entiende por qué a los demás no les gusta también. Es decir, si a uno<br />
le ha costado mucho llegar a algo, un converso que realmente se ha<br />
convertido finalmente a una religión o, esta gente, que deja de fumar, por<br />
ejemplo, y se convierte en misioneros, en predicadores, de los males del<br />
tabaco, pero cuando a uno realmente desde siempre, y yo no puedo<br />
recordarme sin estar leyendo, entonces cuando a uno siempre le ha<br />
gustado una cosa, cómo lo va a explicar a los demás, que voy a decir, voy<br />
a decir pues pruébelo e inténtelo. Entonces más bien, casi seguiría el<br />
camino opuesto, intentar disuadirles a ustedes de que lean, decirles que<br />
no se les ocurra intentar leer.<br />
Tengo un amigo que es profesor de Primera Enseñanza y que sostiene que<br />
como normalmente los niños, sobre todo los adolescentes, tienen una<br />
cierta tendencia a llevar la contraria y a afirmar su personalidad, rebelándose<br />
un poco contra lo que les dicen, él me dice que cometemos un gran<br />
error diciendo tienes que leer, leer es muy importante, habría que decir<br />
completamente prohibido leer, el que lea será condenado a muerte, y a ver si<br />
así surge, por deseo de rebelión. Claro, yo no voy a llegar a tanto, pero me<br />
gustaría también hablar por experiencia propia de los peligros de la lectura,<br />
decir la lectura es algo muy fuerte, muy heavy es una droga dura.<br />
Entonces si uno realmente se entrega a la lectura, la lectura es una forma<br />
de vida, decir no a quien es un lector ocasional, lee de vez en cuando un<br />
librito, un libro que recomiendan, lee un libro al año, en fin, eso supongo<br />
no tiene mayor peligro, pero tampoco tiene que ver con lo que yo<br />
entiendo por leer. Si uno realmente entra en la lectura, quiere decir que<br />
cambia de vida y que se convierte en el homolector, en una variante del<br />
*Escritor e filósofo.
200<br />
hombre normal, del ser humano normal. Una variante que tiene unas<br />
posibilidades mentales, como se ha dicho, intelectuales, pero que pierde<br />
también muchas capacidades de otro orden, es decir, yo estoy convencido<br />
de que la lectura, que me ha dado los mayores placeres de mi vida, los<br />
mayores placeres que he tenido en mi vida me los ha dado la lectura, pero<br />
también me ha limitado mucho. Me ha hecho mucho más limitado de lo<br />
que hubiera sido si no hubiera tenido esta pasión absorbente. Es decir,<br />
realmente, cuando la lectura se apodera de uno, y se apodera desde<br />
pequeño, eso poco a poco te va convirtiendo en alguien casi unilateral.<br />
Yo vengo de un país cuya figura literaria más emblemática es<br />
precisamente alguien que se volvió loco por leer muchos libros. Yo creo<br />
que a partir de eso la mayoría de los españoles ha decidido evitar ese<br />
peligro y casi ninguno realmente sigue por ese camino entusiástico que<br />
ha llevado el Don Quijote por tan malos pasos. Pero de todas maneras, esa<br />
advertencia cervantina, Cervantes era un poseído también por la lectura,<br />
él decía que con tal de leer, leía hasta los pedazos de papeles rotos que<br />
encontraba por las calles. Iba por la calle, veía un papel roto, cogía a ver<br />
lo que ponía, no podía resistir. El verdadero drogadicto de la lectura<br />
comprende ese afán de leer todo, de estar constantemente en contacto<br />
con el libro, por eso él entendía, yo creo muy bien, hasta donde puede<br />
arrastrar la lectura y por eso, en el fondo, como recuerdan ustedes, el<br />
Quijote es una novela que trata de un personaje que enloquece por la<br />
lectura y también el propio libro es argumento de la novela, es decir, la<br />
primera parte del Quijote es comentada, ha sido leída, etc., por los<br />
personajes de la segunda parte. Creo que es uno de los primeros casos en<br />
que los personajes de un libro han leído el propio libro de cual forman<br />
parte. Y comentan las incidencias del libro del cual forman parte. Es<br />
decir, la lectura, no solamente es la lectura, la locura de Don Quijote, es<br />
la locura de Don Quijote y de alguna manera es el problema del resto de<br />
los personajes, puesto que como han leído la historia de Don Quijote<br />
tienen ya también su propia fábula sobre el. Entonces yo creo que la<br />
lectura es algo que hay que tomar en serio, como una pasión que<br />
arrebata, es una forma de vida que nos va a cerrar algunos caminos y nos<br />
va a abrir otros infinitamente, por lo menos, placenteros, no sé si mejores<br />
o peores. Si uno no lee con ningún afán utilitario, mientras uno quiere<br />
leer <strong>para</strong> conseguir, <strong>para</strong> obtener una plaza académica o <strong>para</strong><br />
impresionar a los demás, <strong>para</strong> crear fama de sabio, mientras alguno tiene<br />
un afán instrumental de la lectura no es un verdadero lector, a mi juicio.<br />
Thomas Mann tiene también un libro que se llama Travesía con D. Quijote y<br />
que es precisamente cuando él se escapa de Alemania, de Alemania nazi<br />
<strong>para</strong> ir a Estados Unidos, va en barco y va leyendo El Quijote y sacando<br />
consecuencias de alguna forma de cómo la locura de los libros puede<br />
convertirse en un peligro mortal. Porque claro, cuando D. Quijote hace su<br />
201<br />
famoso discurso de las armas y de las letras, él defiende las armas frente<br />
a las letras. Entonces, claro, Don Quijote es un personaje sin crueldad,<br />
todo el mundo es cruel con él y él no es cruel con nadie, es el encanto,<br />
por decirlo así, hasta qué punto con el encanto que puede tener una<br />
figura de Don Quijote, es la figura de alguien sin crueldad. Es decir, él no<br />
es cruel con nadie y todos son crueles con él. Pero claro, esas mismas<br />
ideas quijotescas, de resolverlo todo a lanzazos, a sablazos, y de pasar por<br />
encima de las convenciones y de derribar, de alguna manera, los<br />
miramientos humanos tradicionales, etc., éste tipo de planteamiento,<br />
claro dice Thomas Mann, en manos de alguien que no sea tan carente de<br />
crueldad como el Don Quijote, es decir, alguien con las ideas de Don<br />
Quijote, pero con crueldad, puede convertirse en unos nazis. Entonces, él<br />
se da cuenta de cómo, digamos, lo que es ir en algunos casos una especie<br />
de locura benévola puede ser una locura asesina y terrible y eso lo ha<br />
meditado durante el viaje que hacia hasta Estados Unidos.<br />
En la época de Franco, Fraga Iribarne, cuando era Ministro de<br />
Información, inventó, acuñó, un lema de propaganda de la lectura que<br />
decía Un libro ayuda a triunfar. Bueno, en la España de Franco, un libro,<br />
más o menos, podía ayudar a triunfar, pero dos te llevaban a la cárcel<br />
inmediatamente porque siempre había uno de los dos que estaba<br />
prohibido. Digo bueno, bien, pero ni siquiera el primero era cierto, es<br />
decir, no es verdad, o es irrelevante que un libro ayuda a triunfar, es decir,<br />
que un libro ayude a triunfar es como si alguien, no sé, pues dijera que<br />
ha conquistado una noche a Catherine Zeta Jones y cuando le<br />
preguntáramos qué tal, esto puede beneficiar mi carrera cinematográfica<br />
porque también, mire, no sé, hay cosas que verdaderamente en cuanto se<br />
reducen a un interés de tipo, pues de triunfo, de academia, etc., han<br />
perdido su gracia. La lectura es algo que cuando a uno le posee realmente<br />
se convierte en lo que sustituye a todo lo demás.<br />
Yo, la experiencia mía es que, según uno va envejeciendo, muchos de los<br />
placeres y muchos, bueno hay muchos placeres que ya no puede uno<br />
permitirse. La verdad es que, no es que uno con los años abandone los<br />
placeres, sino que normalmente son los placeres los que lo abandonan a<br />
uno. Entonces, es decir, los vicios nos van dejando porque nos consideran<br />
que no los merecemos, entonces, poco a poco, uno se va volviendo mejor<br />
de lo que era por falta de capacidad de ser peor. Pero bueno, digo que uno<br />
va perdiendo unos placeres por incompetencia <strong>para</strong> ellos y notros casos<br />
por qué realmente te aburre. Yo reconozco que con los años me voy<br />
volviendo cada vez más impaciente, me aburro más en los grupos, de las<br />
conversaciones, todo me impacienta, estoy deseando volver a casa <strong>para</strong><br />
leer. Decir, cada vez, la única cosa que me gusta cada vez más, me gusta<br />
además como una de esas obsesiones con la que compensa uno todo lo<br />
demás es, precisamente, es precisamente, la lectura, no. Quiero decir la
202<br />
lectura se va agravando, se va haciendo más grave cada vez, la adicción a<br />
la lectura se va haciendo cada vez más grave, no se le pasan a uno las<br />
ganas de leer porque la lectura, por otra parte, es una cadena infinita, es<br />
decir, leer un libro es recordar los otros libros que has leído. Y es<br />
necesidad de releer otra vez.<br />
Por ejemplo, hay, yo es casi imposible viajar a un lugar sin llevarme un<br />
libro más o menos conectado con el sitio, ambientado en ese lugar, etc.<br />
Ahora me he traído una novela de Eça de Queirós, que es uno de mis escritores<br />
favoritos, que se llama La Capital, y trata de un joven de provincias<br />
que viene a Lisboa, etc., etc., bueno, estoy disfrutando tanto, yo me quedaría<br />
en el hotel, leyendo la novela, y no saldría a la calle. Parece mejor<br />
leer lo que cuenta de Lisboa Eça de Queirós, es decir, que es, que es verdad<br />
que uno comprende, ya recuerdan ustedes ese personaje de Raymond<br />
Roussel, extravagante escritor francés, que escribió un libro que se llamaba<br />
Impresiones de África y que cuenta un viaje por África de un personaje<br />
que nunca se baja del barco ni sale jamás, ni ve nada, está siempre dentro<br />
del barco mirando el camarote del barco, encantado de eso y nunca<br />
va a ver ninguno de los paisajes que lo rodean.<br />
En cierta medida, el aficionado a la lectura es como ese personaje, es<br />
decir, es alguien que, de alguna forma, ha llegado a un mundo mental<br />
tan potente que el exterior se convierte en una especie de obstáculo, de<br />
impedimento <strong>para</strong> llegar de nuevo al que a él le interesa realmente, que<br />
no está fuera sino dentro. Claro, piensan ustedes que la mayoría de nosotros<br />
vive dentro de su cabeza, es curioso que estemos siempre preocupados<br />
por cuáles son los muebles que hay en nuestra casa, los electrodomésticos,<br />
los objetos técnicos, etc., de lo que nos rodea, cuando en realidad lo<br />
que estamos es dentro de nuestra casa, entonces aquí los objetos, los valores,<br />
los muebles, las cosas preciosas tenemos que tenerlas dentro, pues es<br />
ahí donde estamos la mayor parte del tiempo, la mayor parte del tiempo,<br />
nuestros sueños y nuestro pensamiento nos hace que estemos dentro de<br />
la cabeza y no fuera, y claro, los libros se meten directamente junto con<br />
nosotros dentro de nuestra cabeza, nos acompañan al interior de nosotros<br />
mismos. Nos traen a otras personas, a nuestro interior porque en el<br />
fondo la novela, la lectura y la literatura, en general, aparte de todas estas<br />
cosas que han dicho que es un placer, que es una experiencia, pero sobre<br />
todo es una forma de relación con otros, con otros a los que no íbamos a<br />
conocer de ninguna otra manera. Es decir, la lectura, Quevedo hablaba<br />
de, en uno de sus versos, Quevedo dice: «yo hablo con los muertos con los<br />
ojos, a través de mis ojos hablo con los muertos», es decir, uno puede convocar<br />
a los muertos como hace Ulises en la Odisea, cuando convoca a los<br />
muertos y <strong>para</strong> preguntar y pedir el camino, digamos, que debe seguir de<br />
retorno, y entonces vierte la sangre, aparecen ahí los muertos alimentados<br />
con su sangre, por la sangre de los vivos, pues esos muertos que apa-<br />
203<br />
recen alimentándose con la sangre de los vivos son los personajes que<br />
están en los libros, en los libros, dentro de cada uno de los libros hay<br />
alguien que está esperando nuestra sangre <strong>para</strong> volver y hablarnos.<br />
Marcel Proust, que tiene paginas muy bonitas sobre la lectura, dice que<br />
la lectura es una amistad sin frivolidad, es decir, realmente los amigos<br />
que tenemos con los libros, no son amigos que los tenemos por interés,<br />
por capricho o por deseo o por, o por ningún otro tipo de frivolidad, sino<br />
que los amigos que tenemos por los libros los tenemos por una amistad<br />
de alma, alma, con una relación irrompible, que entramos dentro de<br />
ellos y ellos entran dentro de nosotros de una forma, con una relación,<br />
como yo creo que quizá no tengamos con nadie más. Es posible que algunas<br />
de las relaciones más fuertes que yo he tenido en mi vida, las he tenido<br />
con personas las que nunca veré nunca, pero de las que he leído sus<br />
libros. Y eso, esa fuerza que a veces asusta, que a veces estremece un poco,<br />
no, de la lectura que realmente es una forma de posesión, claro, esa posesión,<br />
como uno puede enseñar a los demás. Es primero, es, yo no me atrevería<br />
a decir, si alguien debe realmente renunciar a su vida y dedicarse<br />
solamente a leer, me parece bien que lea algunas cosas, aprenda a frecuentar<br />
información, que obtenga información por parte de la lectura,<br />
que amplíe sus conocimientos, esas cosas útiles, pero si yo realmente<br />
tuviera alguien y pudiera decir, tal como yo, tal como hizo mi madre,<br />
conmigo, mi madre que era una gran lectora, la que me introdujo en la<br />
literatura, entonces, a veces pienso, tengo yo derecho a convertir a<br />
alguien en lo que yo soy, es decir, a pasarle esta droga, esta adicción.<br />
Bueno, realmente, quizá sea algo <strong>para</strong> pensar, pero sobre todo es que<br />
como las adicciones, como todo, es muy difícil transmitirlas más que por<br />
contagio. El amor, la afición a la lectura, se puede contagiar, pero no se<br />
puede explicar. Yo, por ejemplo, veía a mi madre, todos los años, que<br />
esperaba la llegada de la novela de Agatha Christie. Agatha Christie era<br />
un fenómeno casi geológico, entonces todos los años producía una<br />
novela, siempre maravillosa, siempre espléndida, nunca decepcionante,<br />
por lo menos <strong>para</strong> los que hemos sido lectores de Agatha Christie, y mi<br />
madre era una fanática de Agatha Christie, entonces todo el año se<br />
pasaba esperando, se enteraba de cuando ya había aparecido en<br />
Inglaterra, calculaba lo que tardaría en traducirse al castellano <strong>para</strong> que<br />
ella pudiera leer y por fin llegaba a la librería la novela de Agatha Christie<br />
y era un festejo, era una fiesta mayor que la Navidad, o que el Fin de Año,<br />
ha llegado la novela de Agatha Christie, entonces sabía que durante un<br />
tiempo ella estaba en el mundo secreto, placentero, de esa novela. Como<br />
yo veía ese disfrute de ella a mi no me hacía falta que me explicara que<br />
la lectura es placentera, no tenía más que verla a ella, o sea, me daba<br />
cuenta de que esas cosas no se fingen, de que nadie puede fingir ese<br />
entusiasmo por la lectura, eso se siente y eso podía pasarle a alguien,
204<br />
claro alguien relevante <strong>para</strong> mí, evidentemente. Como en otros casos, las<br />
aficiones las transmite alguien a quien nosotros admiramos, veneramos,<br />
entonces cuando vemos que él toma determinada droga, o tiene<br />
determinada costumbre, pues le imitamos, ¿no?. En este caso, fue por<br />
contagio de su amor a la lectura, por la que yo llegué a concebir el mío.<br />
Y uno entiende mejor a los lectores, yo reconozco que comprendo mejor<br />
a los lectores, sobre todo al lector, al lector del entusiasmo, al lector que<br />
está encerrado en su mundo, que a ningún otro tipo de ser humano.<br />
Hace unos años me invitó la entonces ministra de Cultura de Colombia,<br />
no sé si lo sigue siendo todavía, que es una mujer muy interesante y que<br />
se ha preocupado mucho, sobre todo, de las bibliotecas y ya sabe, yo he<br />
tenido bastante la obsesión de la biblioteca y he escrito bastante sobre las<br />
bibliotecas, y he intentado promover, en lo posible, la extensión de<br />
bibliotecas, sobre todo en los países de América Latina. Hicieron varias<br />
bibliotecas muy importantes en los barrios más deprimidos, más pobres<br />
y más peligrosos de Bogotá. Realmente, son unos edificios incluso<br />
arquitectónicamente muy bonitos, a mi juicio, muy funcionales y tienen<br />
un servicio, que está en barrios en que la gente vive en condiciones duras,<br />
no tiene abundancia de nada y, además, incluso pues hay peligros, la<br />
gente no sale a la calle con tranquilidad y ahí se han hecho varias<br />
bibliotecas importantes. Entonces, yo un día me dediqué a visitarlas, esas<br />
bibliotecas, y recuerdo, en una de ellas, que estaba en uno de los barrios<br />
más duros, entré en un momento en una de las salas y yo estaba un poco<br />
deprimido porque pensaba, «Pues bueno, esta gente no necesitará de<br />
otras cosas, en el fondo esta obsesión que tenemos algunos con la<br />
biblioteca, esta gente necesita comida, trabajo, protección, seguridad, a lo<br />
mejor la biblioteca es lo de menos…», es decir, que yo estoy tan contento<br />
de que esta gente tenga una biblioteca y esta gente necesita mucho más<br />
otras cosas, entonces en una pequeña sala, había un niño, un niño que<br />
tendría doce años, once, doce años, gordito, así como era yo en aquel<br />
tiempo, ahora también… (risos), un niño gordito y estaba leyendo uno de<br />
los tres volúmenes del Señor de los Anillos de Tolkien y estaba encerrado,<br />
estaba poseído, yo le vi e inmediatamente conocí esa cara, esa situación y<br />
me di cuenta de que a ese niño al que probablemente le faltaban muchas<br />
cosas, nada de lo que le ofrecieran en el mundo lo iba a preferir a ese<br />
cuento que estaba leyendo, ese momento de lectura <strong>para</strong> él estaba siendo<br />
algo más importante que todo lo demás y que de alguna manera,<br />
contrapesaba o compensaba todas sus carencias, y digamos, todas las<br />
faltas de la vida. Entonces, de alguna manera, yo me sentí identificado<br />
con él, pues es verdad, a todas las vidas les faltan muchas cosas, falta<br />
tiempo, falta amor, falta justicia, todos, en el fondo, sentimos, incluso en<br />
la mejor de las vidas, la humillación que significa envejecer, morir. Y sin<br />
embargo, la lectura es como lo que contrapesa, contrapesa todo eso, por<br />
205<br />
lo menos <strong>para</strong> algunos, es lo que... el obvio, digamos, que hace olvidar<br />
todo lo demás. Y aquel niño me parece que estaba poseído y que se le<br />
hubiera ofrecido cualquier cosa no hubiera querido más que eso.<br />
De modo que, en cierta medida, la lectura puede ser un sucedáneo<br />
infernal del <strong>para</strong>íso, es decir, hay un poeta español, José Bergamín, que<br />
tiene un libro muy bonito que se llama Fronteras Infernales de la Poesía.<br />
Quizá la literatura, la lectura, tiene unas fronteras infernales, pero en el<br />
fondo de ese infierno se está en una situación <strong>para</strong>disíaca y es lo mismo<br />
que pensaba Virgina Woolf en una carta que tiene a una amiga suya, que<br />
también era muy lectora, Virgina era muy lectora además de una gran<br />
escritora, y Virgina Woolf escribe a una amiga y le dice, «He soñado a<br />
veces que cuando amanezca el día del juicio, y los grandes<br />
conquistadores y abogados y juristas y gobernantes se acerquen al Señor<br />
<strong>para</strong> recibir su recompensa, coronas, laureles, sus nombres tallados de<br />
manera indeleble en mármol imperecedero, etc... Entonces, El todopoderoso,<br />
se volverá hacia Pedro y dirá, no sin un poco de envidia, cuando nos vea<br />
venir a nosotras, a ti y a mí, con nuestros libros bajo el brazo, “Mira, esas<br />
no necesitan recompensa, no tenemos nada que darles, les gustaba leer.”»<br />
Muchas gracias.<br />
Que estratégias é que podemos, além da palavra, do cativar com o<br />
exemplo, do prazer por si próprio, como é que se promove a leitura, que<br />
é o tema deste congresso?<br />
Desde luego, lo que no puede ser, es la obligación. Eduardo había mencionado<br />
antes a Pennac. Pennac dice «El verbo leer no tolera la voz imperativa.»<br />
Nunca puede conjugarse el verbo leer en el imperativo: lee. Eso es la<br />
forma de hacer oído de la lectura, sobretodo, a los niños. No veas la televisión,<br />
lee. Eso inmediatamente convierte la televisión en algo deseable y<br />
la lectura en una orden, una imposición, etc. A mi, me parece que si en<br />
las casas en que se lee, en que hay aprecio por la lectura, yo creo que hay<br />
grandes probabilidades de que todos los jovénes terminen leyendo, sobretodo,<br />
cuando los padres han leído cuentos a los niños. Es decir, yo, mi<br />
madre venía y me contaba un cuento pero leyéndolo de un livro, en parte<br />
lo leía, en parte lo inventaba ella, pero tenía el livro en las manos como<br />
<strong>para</strong> darme la idea de que la historia, el cuento que me gustaba, salia de<br />
allí, de que allí estaban los cuentos y que algún dia, yo, por mi mismo, sin<br />
ella, podría leerlos. Leer a los niños de pequeños, con un livro en la mano<br />
y dejarselo ahí, en la cama, eso es una forma de ir suscitando el deseo.<br />
Desde luego que no se puede hacer es: «Toma, lee, mañana voy a preguntarte<br />
que has aprendido del livro.» Eso no puede ser.
206<br />
ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA<br />
Estamos a falar muito do prazer da leitura e julgo que, de alguma forma,<br />
estes três homens que aqui estão comigo, são um pouco dealers da leitura.<br />
Portanto, essa promoção da leitura, julgo que fala por si, não precisa ser<br />
sublinhada. Já aqui falámos (o prof. Marçal Grilo falou disso), que é preciso<br />
ler por interesse, por necessidade, por prazer e, depois, é preciso promover<br />
a leitura. Lembro-me de Fernando Savater ter escrito que, em vez<br />
do serviço militar obrigatório, deveria haver o serviço de leitura obrigatório.<br />
Isso remete-me <strong>para</strong> o facto de que ler também é um esforço,<br />
como falava José Barata-Moura. Não se obriga a ler como aquela coisa um<br />
pouco ao contrário, que é, quem for apanhado a ler um livro, pena de<br />
morte... Provavelmente, não funciona! Que estratégias devemos utilizar?<br />
Que podemos fazer, além da palavra, do cativar com o exemplo, do prazer<br />
por si próprio? Como é que se promove a leitura, que é o tema deste<br />
congresso?<br />
Não resisto, por esse mesmo prazer da leitura, a ler um extracto de um<br />
texto de Fernando Savater sobre esse mesmo prazer.<br />
«Ser pelos livros, <strong>para</strong> os livros, através deles. Perdoar à existência o seu<br />
básico transtorno, dado que nela existem livros. Não conceber a rebeldia<br />
política ou a perversão erótica sem a sua correspondente bibliografia.<br />
Vacilar entre linhas, dar rédea solta aos fantasmas, capítulo após capítulo,<br />
empreender grandes viagens <strong>para</strong> encontrar lugares que já visitámos<br />
através das novelas, desdenhar dos recantos sem literatura, desconfiar<br />
dos espaços ou das formas de vida que ainda não tenham merecido um<br />
poema, sair da angústia lendo, voltar a ela pela mesma porta, não acatar<br />
emoções analfabetas, em coisas assim, consiste a perdição da leitura.<br />
Quem a experimentou, sabe-o.»
208<br />
209<br />
Encerramento
210<br />
ISABEL ALÇADA*<br />
211<br />
Agradeço muito ao Prof. Marçal Grilo e à <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> o convite<br />
<strong>para</strong> participar neste congresso e também o privilégio de assistir à conferência,<br />
como a que acabámos de ouvir. As comunicações dos Professores<br />
Barata-Moura e Marçal Grilo geraram nesta sala um ambiente «leitor». O<br />
debate desenvolveu-se calorosamente, num registo com o qual todos nos<br />
identificámos, o registo de quem gosta de ler, quem tem hábitos de leitura.<br />
Ouvi com muito interesse as questões colocadas pelo Professor Barata-Moura<br />
por quem nutro a maior admiração desde os tempos de escola, onde ele<br />
ensaiava o coro dos mais novos, pois andámos na mesma escola desde o<br />
1º ciclo. Depois andámos também na mesma Faculdade, no mesmo curso<br />
de Filosofia, onde ele era um «grande estudante» e onde depois se veio a<br />
tornar o «grande professor». José Barata-Moura disse na sua comunicação<br />
que «a leitura é uma função vital». Será que a leitura é de facto uma<br />
capacidade natural? Permito-me discordar. Julgo que a leitura é uma competência<br />
cultural e que é precisamente por isso que temos que formar<br />
leitores.<br />
Ouvi com igual interesse o Professor Marçal Grilo. A certa altura, afirmou:<br />
«ler é como andar». Interroguei-me também sobre esta sua afirmação<br />
e permito-me também discordar. As pessoas aprendem a andar<br />
naturalmente, mas a ler não. Precisam de iniciação, de ensino <strong>para</strong> conseguirem<br />
ter acesso à leitura.<br />
Nesta assembleia, sentimo-nos confortavelmente no registo de leitores e<br />
debatemos as questões da leitura como se todos os seres humanos pertencessem<br />
ao grupo de «leitores». Sabemos porém que o grupo ainda não<br />
é universal. Talvez possamos sonhar com um mundo em que um dia, no<br />
futuro, todos tenham a possibilidade de entrar em ambientes como aquele<br />
que aqui foi criado. É precisamente essa a meta do Plano Nacional de<br />
<strong>Leitura</strong>.<br />
Todos sabem que antes do lançamento do Plano Nacional de <strong>Leitura</strong> já há<br />
muito a <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> tomara em mãos a tarefa de promoção<br />
da leitura. Quero, mais uma vez saudar o relevante contributo<br />
desta instituição. Há décadas que a <strong>Fundação</strong> lançou pelo país as suas<br />
inesquecíveis carrinhas-biblioteca que partiam em busca de potenciais<br />
leitores. O efeito foi magnífico. Muitos portugueses, hoje personalidades<br />
de relevo, descobriram a leitura graças às carrinhas <strong>Gulbenkian</strong>.<br />
E neste, como em outros domínios, a <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> nunca mais<br />
parou, adequando sempre a sua acção e ao contexto, evoluindo sempre e<br />
ajustando as suas práticas à época e articulando a sua oferta com a oferta<br />
de outras instituições.<br />
* Comissária do Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>
212<br />
Assim, quando o Governo assumiu a necessidade de criar uma rede de<br />
leitura e foram surgindo bibliotecas públicas nos vários concelhos, a<br />
<strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> não se retirou. Continuou a dar apoio e a<br />
intervir da forma mais adequada.<br />
Do lado do governo foi aliás o Prof. Marçal Grilo – enquanto Ministro da<br />
Educação –, que tomou a iniciativa de criar a rede das bibliotecas escolares,<br />
RBE, estrutura que se veio a revelar determinante na evolução da<br />
leitura pública. A rede das bibliotecas escolares, orientada de forma brilhante<br />
pela Dr.ª Teresa Calçada, permite, hoje, que se apreciem os resultados<br />
da iniciativa. Neste momento, com mais de duas mil bibliotecas em<br />
escolas públicas, a RBE continua a expandir-se e permite a existência<br />
serviços de bibliotecas em todas as escolas portuguesas com ambientes de<br />
leitura, onde o livro atrai o leitor.<br />
Quanto ao Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>, iniciativa também governamental,<br />
de 2006, recebeu desde logo a parceria da <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>.<br />
Desde então a <strong>Fundação</strong> tem proporcionado um relevante apoio, com a<br />
competente participação do Dr. Carmelo Rosa no Conselho Científico, e<br />
com apoio financeiro que permitiu disponibilizar mais livros <strong>para</strong> leitura<br />
nas salas de aula.<br />
A ideia-chave do PNL foi alargar as competências e os hábitos de leitura<br />
dos portugueses. O público-alvo é, nada mais, nada menos, do que todos<br />
os cidadãos, embora incidindo prioritariamente no Ensino Básico. E os<br />
agentes são todos os bibliotecários, professores e também todos os leitores<br />
que queiram participar.<br />
O Plano Nacional de <strong>Leitura</strong> adoptou uma estratégia descentralizada. O<br />
seu papel é tão-somente criar condições <strong>para</strong> que as instituições, escolas,<br />
bibliotecas e todos os interessados possam trabalhar melhor e comunicar<br />
melhor, dando mais visibilidade ao trabalho de promoção da leitura.<br />
Considerou-se que a disponibilidade de uma grande diversidade de livros<br />
seria a condição essencial <strong>para</strong> que cada um pudesse descobrir o prazer<br />
de ler. Com este princípio a equipa do PNL procurou encontrar recursos<br />
<strong>para</strong> que as escolas tivessem o maior número possível de livros <strong>para</strong> ler<br />
diariamente nas salas de aula. Livros de ciência, drama, poesia, ficção,<br />
etc., deveriam marcar presença permanente nas salas de aula. Os livros<br />
são por isso uma das pedras angulares deste edifício.<br />
Conhecendo os processos de trabalho dos professores, considerou-se que,<br />
no momento da leitura orientada na sala de aula, cada grupo de dois<br />
alunos deveria dispor de um livro. Com esse propósito, as escolas receberam<br />
financiamento <strong>para</strong> adquirirem conjuntos de livros em número suficiente<br />
e os livros passaram a rodar de turma <strong>para</strong> turma, de escola <strong>para</strong><br />
escola. O Plano Nacional de <strong>Leitura</strong> elaborou e disponibilizou também listas<br />
com recomendações de livros potencialmente interessantes e adequados<br />
a cada idade, a cada nível de leitura, recomendando aos professores<br />
213<br />
que os adoptassem numa perspectiva de progressão. Funcionando como<br />
um instrumento claro de apoio à selecção, as listas de livros tornaram-se<br />
num motivo da adesão dos docentes ao Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>. E a<br />
dinâmica gerada a partir do incentivo à leitura foi permitindo reforçar a<br />
ligação das bibliotecas escolares às salas de aula e também às bibliotecas<br />
públicas.<br />
Não sendo tão fácil atingir as famílias, foi com muito gosto que surgiu a<br />
proposta de uma associação de médicos, a Associação de Médicos de<br />
Clínica Geral, que celebrou com o PNL uma parceria destinada a envolver<br />
os profissionais dos Centros de Saúde na promoção da leitura junto das<br />
famílias. O projecto «<strong>Ler</strong> Mais Dá Saúde» foi o resultado e tem dado bons<br />
frutos. Entre as diferentes iniciativas lançadas pelo PNL permitam-me<br />
que destaque ainda a Semana da <strong>Leitura</strong>, que permitiu uma frutuosa<br />
articulação entre escolas, bibliotecas públicas e famílias, o «Clube de<br />
<strong>Leitura</strong>s», um site onde se pode comunicar e partilhar o interesse pela<br />
leitura, o Dia da Poesia organizado pelo CCB e o Concurso Nacional de<br />
<strong>Leitura</strong> realizado com apoio da RTP. Durante o ainda curto período de<br />
vida do PNL muitas outras instituições se têm associado, numa ligação<br />
em rede que inclui as autarquias como parceiros privilegiados e engloba<br />
escolas, bibliotecas, associações, empresas, fundações, etc. Parceiros e<br />
mecenas têm contribuído <strong>para</strong> divulgação da missão do PNL o que naturalmente<br />
produziu visibilidade crescente e suscitou alargamento de<br />
adesões.<br />
Tem sido um privilégio desenvolver um projecto como o PNL, com recursos<br />
e em condições que considero adequadas, incluindo uma avaliação<br />
externa realizada num centro de investigação independente, o CIES do<br />
ISCTE. Esta avaliação, realizada ao longo de cada ano lectivo e com publicação<br />
de relatório de balanço no final de cada ano, tem permitido acompanhar<br />
a execução. Os resultados são expressivos e encorajadores, uma<br />
vez que a adesão de docentes e discentes é muito expressiva e que, passados<br />
dois anos e meio, 96% dos Portugueses reconhecem a existência e consideram<br />
positiva a intervenção do Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>.<br />
Estamos ainda no início de um processo lento que exige trabalho e persistência.<br />
Apesar dos resultados positivos, é indispensável não esquecer<br />
que a meta do desenvolvimento só será atingida se a nossa sociedade se<br />
mobilizar <strong>para</strong> ler mais.
Reservados todos os direitos de acordo com a lei<br />
Edição da FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN –<br />
– Serviço de Educação e Bolsas<br />
Av. de Berna, 45A 1067-001 Lisboa<br />
Coordenação: Maria Helena Melim Borges<br />
Revisão: Mariana Sim-Sim David<br />
Design: Rui Garrido<br />
Maquetagem: Catarina Severino<br />
Impressão: Textype<br />
Tiragem: 1.000 exemplares<br />
Depósito Legal nº<br />
ISBN 978-972-31-1326-6<br />
Julho 2010
216