12.04.2013 Views

Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Formar</strong> <strong>Leitores</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>Ler</strong><br />

o <strong>Mundo</strong>


<strong>Formar</strong> <strong>Leitores</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>Ler</strong><br />

o <strong>Mundo</strong><br />

António Nóvoa / António José Teixeira / António Prole<br />

Dolores López-Casero / Eduardo Marçal Grilo / Fernando Savater<br />

Galeno Amorim / Isabel Alçada / José António Gomes<br />

José Barata-Moura / Lawrence Sipe / Maria de Lourdes Dionísio<br />

Maria Nikolajeva / Michel Fayol / Paula Morão / Pedro Cerrillo<br />

Pep Duran / Peter Hunt / Sandra Lee Beckett / Teresa Colomer<br />

Comunicações<br />

CONGRESSO INTERNACIONAL DE PROMOÇÃO DA LEITURA<br />

Janeiro 2009<br />

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN<br />

SERVIÇO DE EDUCAÇÃO E BOLSAS


6<br />

13<br />

17<br />

19<br />

33<br />

57<br />

65<br />

77<br />

81<br />

83<br />

95<br />

105<br />

113<br />

129<br />

ABERTURA<br />

A Promoção da <strong>Leitura</strong> –<br />

– Educação, cultura, cidadania<br />

PAULA MORÃO<br />

PAINEL 1<br />

Literatura <strong>para</strong> a infância e formação<br />

de leitores<br />

The Decline and Decline of Literary<br />

Literacy: Childhood and Children’s<br />

Literature in the UK Today<br />

PETER HUNT<br />

Peritexts and Page Breaks: Opportunities<br />

for Meaning-Making in Picturebooks<br />

LAWRENCE R. SIPE<br />

Visual Literacy and the Implied Readers<br />

of Children’s Picturebooks<br />

MARIA NIKOLAJEVA<br />

Crossover Fiction: Creating Readers with<br />

Stories that Address the Big Questions<br />

SANDRA L. BECKETT<br />

Relatório do painel 1<br />

JOSÉ ANTÓNIO GOMES<br />

PAINEL 2<br />

Estratégias de leitura e compreensão leitora<br />

Planificar la Lectura en la Escuela<br />

TERESA COLOMER<br />

Sociedad y Lectura. La Importancia de los<br />

Mediadores en Lectura<br />

PEDRO C. CERRILLO TORREMOCHA<br />

Comprendre en Lisant<br />

MICHEL FAYOL<br />

Leer el mundo a traves de los cuentos<br />

PEP DURAN<br />

Relatório do Painel 2<br />

MARIA DE LOURDES DIONÍSIO<br />

131<br />

133<br />

147<br />

159<br />

169<br />

185<br />

187<br />

189<br />

192<br />

199<br />

206<br />

209<br />

Índice<br />

PAINEL 3<br />

Projectos de Promoção da leitura<br />

Um Percurso pela Pedagogia Para<br />

<strong>Ler</strong> a Casa da <strong>Leitura</strong><br />

ANTÓNIO NÓVOA<br />

Casa da <strong>Leitura</strong>: Alicerces,<br />

arquitectura e integração<br />

na paisagem<br />

ANTÓNIO PROLE<br />

Primeros Contactos con la Lectura:<br />

Leer sin saber leer<br />

DOLORES GONZÁLEZ LÓPEZ-CASERO<br />

Os Muitos Retratos da <strong>Leitura</strong><br />

no Brasil<br />

GALENO AMORIM<br />

PAINEL 4<br />

A leitura em debate<br />

Abertura<br />

ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA<br />

JOSÉ BARATA-MOURA<br />

EDUARDO MARÇAL GRILO<br />

FERNANDO SAVATER<br />

ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA<br />

ENCERRAMENTO<br />

211<br />

ISABEL ALÇADA<br />

7


O Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong> FORMAR<br />

LEITORES PARA LER O MUNDO, que a <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong><br />

acolheu em Janeiro de 2009, seguiu de perto as áreas<br />

que estruturam o portal www.casadaleitura.org, ou seja, a literatura<br />

infanto-juvenil, as questões teóricas da leitura enquanto<br />

processo cognoscivo e as boas práticas e estratégias de promoção<br />

da leitura.<br />

Na sequência dos objectivos da Casa da <strong>Leitura</strong>, tratava-se de<br />

acrescentar eficácia ao desenvolvimento de projectos e políticas<br />

de formação de leitores competentes. <strong>Formar</strong> leitores competentes<br />

foi, pois, a linha orientadora do Congresso: as políticas,<br />

estratégias, metodologias e instrumentos <strong>para</strong> a formação<br />

de novos públicos leitores foram o fio condutor e unificador<br />

de todas as temáticas abordadas.<br />

Em torno de três painéis – Literatura <strong>para</strong> a Infância e Formação<br />

de <strong>Leitores</strong>; Estratégias de leitura e Compreensão Leitora e<br />

Projectos de Promoção da <strong>Leitura</strong> – organizados segundo um<br />

modelo em que à conferência principal se seguiram desenvolvimentos<br />

mais específicos a cargo de três oradores. A participação<br />

da numerosa assistência foi remetida <strong>para</strong> momento posterior,<br />

em sala à parte e sob inscrição, na presença do moderador<br />

e dos oradores, tendo possibilitado assim tratamento mais<br />

aprofundado e produtivo. O programa ficou completo com um<br />

estimulante debate.<br />

Espera-se que daqui tenham saído contributos, alguns deles<br />

agora publicados, <strong>para</strong> uma cidadania activa capaz de ler o<br />

<strong>Mundo</strong>.<br />

Ana Margarida Ramos<br />

António Prole<br />

Fernanda Leopoldina Viana<br />

João Paulo Cotrim<br />

Sara Reis da Silva<br />

9


Abertura


12<br />

A Promoção da <strong>Leitura</strong> –<br />

– Educação, cultura, cidadania<br />

PAULA MORÃO*<br />

É uma honra <strong>para</strong> a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB)<br />

representar o Ministério da Cultura neste Congresso Internacional de<br />

Promoção da <strong>Leitura</strong>, organizado pelo Projecto Casa da <strong>Leitura</strong> da<br />

<strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>. Tal representação enquadra-se no<br />

contexto de um protocolo entre o Projecto Casa da <strong>Leitura</strong> e a DGLB,<br />

prevendo nomeadamente o trabalho nesta equipa de um técnico superior<br />

desta Direcção-Geral, responsável por actividades do Projecto de que este<br />

Congresso dá notícia.<br />

Não se trata no entanto apenas de uma colaboração formal entre as<br />

nossas instituições, mas de dar o aval da DGLB a um projecto cujos<br />

objectivos e pressupostos encontram muitos ecos na nossa actividade.<br />

Com efeito, a nossa responsabilidade inclui a formulação e a execução de<br />

programas visando a Promoção da <strong>Leitura</strong> – tanto no quadro do que<br />

designamos por Livro, como no desenho e acompanhamento da Rede<br />

Nacional de Bibliotecas Públicas (nesta data, dos 308 concelhos do país,<br />

175 têm a sua a biblioteca inaugurada). Os objectivos do programa da<br />

nossa área de Bibliotecas são, conforme define a Lei Orgânica que nos<br />

rege, acompanhar a criação e instalação de bibliotecas municipais. De<br />

acordo com critérios internacionais (Manifesto da UNESCO e directrizes<br />

da UNESCO/IFLA), o programa acompanha técnica e financeiramente os<br />

projectos de cada Município, emitindo pareceres sobre as diversas fases<br />

da planificação e execução anterior à abertura e ao funcionamento das<br />

respectivas bibliotecas. Assim é que temos competências <strong>para</strong> emitir<br />

parecer sobre aspectos que o público não vê, sejam eles a planificação e<br />

distribuição funcional dos diferentes espaços da biblioteca (espaços<br />

públicos e de apoio nos bastidores), as cablagens e o ar condicionado, ou<br />

o equipamento informático (aquisição de sistemas de gestão de<br />

bibliotecas, desenvolvimento de serviços com recurso às TIC, etc.). Cabe-nos<br />

ainda acompanhar o projecto de distribuição do mobiliário e equipamento<br />

e, claro está, dos fundos bibliográficos, incluindo os documentos áudio,<br />

vídeo e electrónicos, garantindo com os responsáveis locais a melhor forma<br />

de acesso a todo o acervo das bibliotecas nas melhores condições: sabemos<br />

todos que o conforto se alia à qualidade técnica dos recursos e serviços ao<br />

*Directora da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas/Ministério da Cultura; professora<br />

da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.<br />

13


14<br />

dispor dos utilizadores, de modo a que estes sejam chamados à Biblioteca<br />

e se tornem seus frequentadores habituais.<br />

Neste ponto, as tarefas descritas cruzam-se com a concepção do que deve<br />

ser uma biblioteca hoje. Cite-se a propósito o Manifesto da UNESCO sobre<br />

Bibliotecas Públicas (1994):<br />

A liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são<br />

valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos<br />

estiverem na posse das informações que lhes permitam exercer os seus direitos<br />

democráticos e ter um papel activo na sociedade. A participação construtiva e<br />

o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação<br />

satisfatória como de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao<br />

pensamento, à cultura e à informação.<br />

(…)<br />

Este Manifesto proclama a confiança que a UNESCO deposita na Biblioteca<br />

Pública, enquanto força viva <strong>para</strong> a educação, cultura e informação, e como<br />

agente essencial <strong>para</strong> a promoção da paz e do bem-estar espiritual através do<br />

pensamento dos homens e mulheres. Assim, a UNESCO encoraja as autoridades<br />

nacionais e locais a apoiar activamente e a comprometerem-se no<br />

desenvolvimento das bibliotecas públicas.<br />

(…)<br />

Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade<br />

de acesso <strong>para</strong> todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião,<br />

nacionalidade, língua ou condição social.<br />

Tendo em conta os termos definidos neste documento orientador, se o<br />

objectivo for apenas o de constituir depósitos de livros ou de outros<br />

materiais ao dispor do público, parece discutível que seja necessário<br />

definir e levar a cabo um programa que, como este, visa a construção e a<br />

instalação de uma Biblioteca em cada concelho do país. Quando, em<br />

1987, se iniciou este programa (pela mão de Teresa Patrício Gouveia, a<br />

partir de um relatório coordenado por Maria José Moura), a situação era<br />

de penúria de equipamentos culturais em todo o país; o acesso à leitura<br />

era garantido pela rede de Bibliotecas Itinerantes da <strong>Fundação</strong> Calouste<br />

<strong>Gulbenkian</strong> e por um restrito número de bibliotecas dispersas, muitas<br />

vezes alimentadas por beneméritos locais ou dependentes de outras<br />

instituições. Ora, ao definir como meta a instalação de pelo menos uma<br />

Biblioteca em cada concelho do território nacional, o que este programa<br />

visava e visa é garantir o acesso à leitura como veículo de cultura e – no<br />

mais nobre sentido da palavra – à educação de todos. Não será difícil<br />

vislumbrar aqui um elemento fundamental da democracia e do progresso<br />

que simbólica e materialmente a consubstanciam: o conhecimento abre<br />

<strong>para</strong> o mundo, e um leitor é certamente melhor cidadão do que um não-<br />

-leitor. Nesta perspectiva, faz todo o sentido que o Estado assuma a<br />

responsabilidade, que é um compromisso com a população, de garantir a<br />

existência de uma rede de Bibliotecas Públicas que cubra de modo<br />

satisfatório toda a extensão do território nacional. Hoje, vinte anos passados,<br />

estamos ainda a fazer caminho, o qual pensamos, na DGLB, que deve merecer<br />

reflexão e eventuais acertos em função da experiência concreta, sem<br />

desvirtuar no entanto os benefícios da concepção democrática de cultura e<br />

educação que presidiu ao desígnio nacional prosseguido.<br />

Precisamente por assim entendermos é que a nossa acção se não limita a<br />

acompanhar a parte material e mais «dura» do programa – a construção e<br />

instalação das Bibliotecas; seria pelo menos discutível que nos<br />

contentássemos com um rol de edifícios, sem pensar nas funções que lhes<br />

devem caber. Salvaguarde-se que as Bibliotecas Públicas não são do Estado,<br />

pertencem às respectivas autarquias; a DGLB, enquanto organismo do<br />

poder central, não tem nem a gestão dos edifícios, nem a de outros recursos<br />

materiais ou humanos (como por exemplo a contratação de técnicos ou a<br />

actualização dos fundos bibliográficos). A nossa ligação institucional com<br />

as Bibliotecas faz-se através de diversas formas de apoio às actividades e aos<br />

técnicos que lhes dão vida, nomeadamente através das Acções de Promoção<br />

da <strong>Leitura</strong>/Carteira de Itinerâncias. Consideramos que este é um eixo<br />

central e estruturante, e por isso damos muita atenção à Carteira de<br />

Itinerâncias que todos os anos disponibilizamos às Bibliotecas (da Rede<br />

Pública ou outras), publicitando-as no nosso site (www.dglb.pt), e<br />

garantindo a qualidade dos formadores ou promotores de ateliers diversos,<br />

dos cursos breves de literatura, das comunidades de leitores, etc.; no ano de<br />

2009, temos em curso de execução mais de quinhentas acções. Na<br />

promoção da leitura inscrevem-se também actividades de comemoração de<br />

Dias Mundiais ligados ao Livro (Dia Mundial da Poesia, Dia Internacional<br />

do Livro Infantil e Dia Mundial do Livro); destaca-se neste domínio a<br />

produção e larga distribuição de cartazes, postais, jogos, exposições, etc.<br />

Para lá do lugar privilegiado que são as Bibliotecas, apraz-nos muito<br />

salientar o estender destas acções a espaços não convencionais de leitura,<br />

como são os hospitais e as prisões; orgulhamo-nos d’ «A Hora do Conto» em<br />

24 hospitais com secção pediátrica e do programa «<strong>Leitura</strong> sem Fronteiras»<br />

(nos estabelecimentos prisionais), mesmo se o fazemos com meios que<br />

consideramos inferiores ao que seria necessário.<br />

Permitam-me uma nota pessoal a este respeito: sendo professora<br />

universitária de Literatura Portuguesa, e acreditando profundamente no<br />

valor estético e simbólico das letras, presenciei nestas funções uma das<br />

mais tocantes e transparentes definições do uso da leitura; foi quando, no<br />

Dia Mundial do Livro de 2008, ouvi uma jovem reclusa dizer, na Biblioteca<br />

do Estabelecimento prisional de Tires: «Não gosto de ler. Mas escrevo todos os<br />

dias, porque isso me liberta.» Que bela lição: escrever, face gémea do acto de<br />

15


16<br />

ler, liberta; ler/escrever conduz a outros espaços através da imaginação,<br />

ler/escrever abate fronteiras, muros e tempos; ler liberta, sim, ler cria<br />

mundos possíveis, desprende do peso dos dias e das circunstâncias; ler, seja<br />

o que for que se leia, faz-nos melhores pessoas.<br />

Mas voltemos ao que aqui porventura se espera que diga sobre as actividades<br />

da Promoção da <strong>Leitura</strong>, sobre os laços que os contactos feitos <strong>para</strong> pôr em<br />

movimento uma vasta carteira de acções neste domínio vão estabelecendo e<br />

consolidando. É que os bibliotecários e outros técnicos do país conhecem-<br />

-nos, sabem o que fazemos e como o fazemos, consultam-nos e exigem mais,<br />

mais quantidade, melhor qualidade. Dentro da contenção de meios a que nos<br />

vemos constrangidos, é o que procuramos fazer. Aproveitando essa rede de<br />

contactos, disponibilizamos, através do portal Rede do Conhecimento das<br />

Bibliotecas Públicas (RCBP; http://rcbp.dglb.pt), conteúdos, recursos e serviços<br />

que vão da publicitação de actividades promovidas pelas Bibliotecas, sobre<br />

inaugurações, etc., à informação sobre normas técnicas, até ao alojamento de<br />

sites individuais das Bibliotecas, passando por uma base de dados com<br />

fotografias e informações práticas sobre todo o universo abrangido.<br />

Não esquecemos a colaboração que, em boa sintonia, temos tido com outras<br />

instituições que desenvolvem esforços na área da Promoção da <strong>Leitura</strong> no<br />

nosso país: por um lado, a <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>; por outro lado, o<br />

Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>, de que somos parceiros em representação do<br />

Ministério da Cultura (aproveito <strong>para</strong> saudar o dinâmico profissionalismo da<br />

Comissária Nacional do PNL, Isabel Alçada). Além das funções associadas à<br />

inclusão social e ao desenvolvimento pessoal e da comunidade, até no plano<br />

económico, a leitura abre <strong>para</strong> mundos imaginários, estimula a viagem<br />

mental, e contribui decisivamente <strong>para</strong> o acesso ao conhecimento em todas<br />

as áreas; recorrendo de novo ao Manifesto da UNESCO, ler é um instrumento<br />

que «fornece as condições básicas <strong>para</strong> a aprendizagem ao longo da vida, <strong>para</strong><br />

uma tomada de decisão independente e <strong>para</strong> o desenvolvimento cultural do<br />

indivíduo e dos grupos sociais.» A causa da leitura tem tal importância que<br />

todos não somos demais <strong>para</strong> assumir os esforços necessários a que ela seja<br />

uma corrida de longo curso, cujo único resultado tem de ser o de pôr todos<br />

os portugueses a ler de forma continuada, com gosto e proveito.<br />

Do Projecto <strong>Gulbenkian</strong> Casa da <strong>Leitura</strong>, nos seus resultados visíveis (com<br />

destaque <strong>para</strong> este Congresso, de tão promissor programa), esperamos contributos<br />

relevantes e o congregar de esforços <strong>para</strong> a Promoção da <strong>Leitura</strong> –<br />

questão de inquestionável relevo nacional. Sendo uma actividade espontânea<br />

e de prazer, a leitura exige a todos os profissionais que a ela se dedicam<br />

reflexão que sustente as práticas; sabemos, ou saberemos melhor depois de<br />

cruzar o que aprenderemos neste Congresso, que à aparência de simplicidade<br />

subjazem necessariamente técnicas e trabalho. No caminho da<br />

cidadania está o conhecimento que nos permite ser melhores profissionais,<br />

melhores pessoas.<br />

PAINEL 1<br />

Literatura<br />

<strong>para</strong> a infância<br />

e formação<br />

de leitores


18<br />

The Decline and Decline<br />

of Literary Literacy: Childhood<br />

and Children’s Literature<br />

in the UK Today<br />

PETER HUNT*<br />

Are there not some pursuits that we practise because they are good in themselves,<br />

and some pleasures that are final? And is not [reading] among<br />

them? I have sometimes dreamt, at least, that when the Day of Judgment<br />

dawns and the great conquerors and lawyers and statesmen come to receive<br />

their rewards... the Almighty will turn to Peter and say, not without a certain<br />

envy when He sees us coming with our books under our arms, «Look,<br />

these need no reward. We have nothing to give them here. They have loved<br />

reading.» – Virginia Woolf (Woolf 1966: 11)<br />

You’ve really got to start hitting the books, because it’s no joke out here. –<br />

Spike Lee (ThinkExist)<br />

I wish to present a simple thesis, with which many will intuitively agree,<br />

although it is more difficult to quantify. It is that in the past 40 years or<br />

so, the nature of reading has changed in the UK – and probably across the<br />

western world. In the context of electronic media, there has been a<br />

change in narrative: a change in how material is acquired and processed,<br />

and with it the nature of books has changed, and the nature of what we<br />

understand by reading, and literacy, and «quality».<br />

A dramatic example is E. Nesbit’s The Phoenix and the Carpet (1904), which<br />

was issued as a Puffin Classic in 1994; adapted for BBC television in 1996,<br />

it was republished in a version «retold» from the television series by<br />

Helen Cresswell (1997). The cover of the 1997 version declares that «E.<br />

Nesbit’s magical story has lost nothing in the retelling...» except, it has to<br />

be observed, about 50,000 words. This change in the text may seem to<br />

suggest a precipitous decline in literacy among children, who are more<br />

used to fragmented reading patterns, and lack sustained commitment to<br />

(or training for) extended verbal narratives – but it is perhaps not so surprising,<br />

given the competition from different stimuli.<br />

But it is not simply the amount of text that has changed: the style of what<br />

*Professor Catedrático da Universidade de Cardiff, Reino Unido.<br />

19


20<br />

might broadly be called «quality», or «mainstream» or «literary» fiction<br />

has moved closer to that of «popular» fiction: what is thought of as<br />

«good» has changed. It seems to many observers that the style of children’s<br />

fiction in general has become less subtle, less suggestive, less allusive<br />

(in certain ways), less original, and less reflective: content dominates<br />

over form. What is being said is more important than how it is being said<br />

– and the inevitable link between these two elements is being blurred.<br />

This is important in the context of reading and literacy because in the<br />

past, a certain type of text was thought to allow, encourage, permit, and<br />

even force certain types of reading. These were considered to be more<br />

valuable; the «writerly» texts that required more input from the reader,<br />

it was argued, producing a richer experience. There is, therefore, a difference<br />

between «functional» literacy – the interpretation of signs for practical<br />

purposes, fiction-reading literacy – that is, responding on a simple<br />

level to undemanding texts, and «literary» literacy – that is, engaging in<br />

sophisticated dialogue with sophisticated text (see Williams 1976/1983).<br />

I should emphasise that this is NOT necessarily a question of «value» or<br />

«quality» declining: simply that books are now different. However, the<br />

implications of this situation are far-reaching. If we are «creating readers<br />

to understand the world», can we accept a shift away from the word as it<br />

has been used in fiction – or a change of (and, it might be suggested, a<br />

diminution of) the function of the word? The essence of this argument<br />

is change – the change in childhood, the change in means of communication<br />

and modes of transmission – and the focus is upon the adults, the<br />

mediators of text. Childhood is changing radically: the question is, how<br />

are the mediators coping? Are we satisfied if more reading is being done,<br />

regardless of what being offered or read? Jack Zipes, reacting to gloomy<br />

prognostications of American literacy has observed:<br />

For children’s and young adult literature, the increase in production and<br />

the decrease in quality have been highly visible, but it is not so much this<br />

phenomenon that is of concern. Rather it is the way reading and viewing<br />

are framed by the... culture industry that configures children and teenagers<br />

into its calculations as consumers and as saturated nodal points of mass<br />

information. (Zipes 2009: 5)<br />

In these circumstances, «simply put, a book for children is a commodity,<br />

not the holy grail nor the salvation of civilised society». (Zipes 2009: 31)<br />

The UK National Year of Reading 2008 involved a number of government<br />

incentives, using agencies such as the National Literacy Trust, the<br />

Reading Agency, the Arts Council, and BookTrust. It was begun in<br />

response to worries about national literacy: at the launch, in January<br />

2008, it was pointed out that one in four adults had not read a book in<br />

the past year, and 40% of people lie about having read the classics (BBC<br />

News, 10 January, 2008). The National Literacy Trust website suggests that<br />

20% of the population are affected by poor literacy skills. The Project<br />

Director of the Year of Reading, Honor Wilson-Fletcher, was careful to<br />

point out that reading was not an elitist occupation:<br />

No medium is less important than any other, be it a classic novel, Scott’s last<br />

message from the North Pole, one of Morrissey’s lyrics or graffiti on a wall<br />

– they can all educate and change our lives. This is not a year of worthiness,<br />

it’s a year of reading. (BBC News)<br />

However, there was a constant sub-text that «Books are Better», epitomised<br />

by a statement by Ed Balls, the Education Secretary: «Books are at the<br />

heart of the Year’s activities, but all reading “counts”». (Number10.gov.uk)<br />

While the year’s work has not yet been fully evaluated, and there is an<br />

ongoing campaign for 2009: «We believe that reading sits at the heart of<br />

social justice... New campaign... READING FOR LIFE» (Year of Reading website),<br />

to an outsider, the results do not seem to be very distinguished. The<br />

claim is for 2 million new library members (although, according to the PLR<br />

News (from the Public Lending Rights Authority), library loans dropped<br />

from 323 million to 315 million between February 2008 and February<br />

2009); 6000 reading events in the year (which is 16 a day country-wide); and<br />

the distribution of 250,000 picture-books and 30,000 «quick reads» – simplified<br />

or simple texts to encourage beginner-readers. Publishers recorded<br />

a rise of 13% in book sales, in both volume and value – but no mention of<br />

the kinds of texts involved.<br />

Indeed, it seems to be accepted that there is an inevitable correlation<br />

between certain types of books and certain types of readers. For example,<br />

The Times (16 May, 2007) carried the headline: «160 books on must-read list<br />

for boys – full of blood, guts and class heroes», and again (14 June, 2008):<br />

«Comic Books “can get boys in the habit of reading”.»<br />

Does this mean, then, that any reading is good reading? That is not a<br />

view shared either by literacy experts or the «culture» in general, as a survey<br />

of relevant quotations shows (see appendix). One of the guiding<br />

themes of this conference is «Creating Competent Readers» – and what<br />

we mean by competence is deeply bound up with what we think reading<br />

can potentially do.<br />

Sally Yates has observed that:<br />

In defining literacy, it is now common to go beyond simply describing the<br />

decoding of written text and to include reference to creation of meaning<br />

from print, as decoding without making sense has no purpose.<br />

21


22<br />

And she quotes both a UNESCO website, which defines literacy as «skills…<br />

that allow one to function competently in society…» and encourages book<br />

reading, and quotes S. Fischer, A History of Reading (London: Reaktion,<br />

2003): «Of course, only those societies will best succeed that encourage<br />

and support a legitimate “culture of reading”, in particular the respect<br />

and love of books» (Yates 2004: II, 762; and see Gamble and Yates 2008).<br />

And so we move from functional literacy to the literate act of reading,<br />

which has many liberal-humanist supporters, for example, Aidan<br />

Chambers:<br />

Because book-writing, by which I mean literary writing, is the best means<br />

by which we express what is innermost, and because book-reading leaves the<br />

entire act of interpretation to the reader’s inner self, we not only come intimately<br />

closer to the consciousness of another person than is possible in any<br />

other way but are also engaged with our own consciousness more intricately<br />

and more actively than by any other means. This is why we so often feel,<br />

when we have read a great book, a book that matters to us, that we have<br />

grown, that we are more aware of some aspect of our self, of other people,<br />

of life itself, than we were before…<br />

To put it like this is, of course, to make a religious statement. (Chambers<br />

2001: 27)<br />

But not only a religious statement. Less poetic commentators assert their<br />

faith in the virtues of reading «real books» as opposed to «basal readers».<br />

The assumptions are that basal readers lead to «unnatural» behaviours in<br />

reading, being «readerly» texts for the «passive» reader, as opposed to<br />

«writerly» texts for the active reader, while it is also assumed that the latter<br />

is more rewarding and consequently leads to «better» reading. Thus<br />

Margaret Meek:<br />

The authors who exploit their art, and the illustrators who make pictures<br />

with secrets, link what children know, partly know, and are learning about<br />

the world, to ways of presenting the world in books… Children who<br />

encounter such books learn many lessons that are hidden forever from those<br />

who move directly from the reading scheme to the worksheet.<br />

Compare the textual variety of children’s picture books with that of reading<br />

schemes. You will see how the interactions made possible by skilled artists<br />

and writers far outweigh what can be learned from books made up by those<br />

who offer readers no experiment, no challenge, no real help… What texts<br />

teach is a process of discovery for readers, not a programme of instruction<br />

for teachers. (Meek 1988/2008: 47)<br />

And Lawrence R. Sipe, speaking of using literature to enhance literacy:<br />

[Literature] ...actually expands our view of what literacy is. This... includes<br />

literary understanding as an integral part of literate behaviour. Children<br />

with developed literary understanding are alive to the force and power of<br />

multiple interpretations of what they read and know how to engage in a<br />

critical exchange of views with their peers. They are children who know how<br />

to pleasurably surrender to the power of the text...while also using their<br />

analytical skill to heighten their pleasure. They are children who know that<br />

literature can be an informing and transforming force in their lives... (Sipe<br />

1997: 104; and see Elkin 2006, and Meek 1993)<br />

Of course, there are three obvious objections to these rousing but slightly<br />

optimistic views. The first is that the form of text has nothing to do<br />

with literary status; the second is that, objectively, basal texts are just as<br />

complex linguistically as any others; and the third is that we cannot<br />

account for what the readers do with texts – what meanings or readings<br />

are made. But we are dealing with common perceptions, and what seems,<br />

educationally, to be a decreasing sensitivity to surface textures.<br />

Certain sorts of books, then, are inherently valued; and texts have<br />

changed. But this must be taken in the context that we are living at the<br />

most exciting period of change in the history of reading and information<br />

transfer. The way in which children access information has changed<br />

almost beyond recognition, and, more importantly, the way they assemble<br />

and perceive narrative has changed. «Mainstream» texts have responded<br />

to all these influences by, in effect, regressing – essentially from a<br />

19th-century style to an 18th-century style: from inner to outer, from<br />

nuanced to direct, from implied to stated, and from showing to telling.<br />

To support this thesis fully would require extensive, highly complex analyses,<br />

which are beyond the scope of this paper. The brief analyses of examples<br />

here are, of course, open to the charge of being unrepresentative,<br />

and the analytic technique requires another kind of regression – to an<br />

unfashionable stylistic analysis – one of the tenets of which is that texts<br />

are holistic: a small sample contains the seeds of all the rest.<br />

The first example is from a much reviled author, infamous for her supposed<br />

simplicity: critical interest is in inverse proportion to her popularity<br />

(she is probably the highest-selling English-language author ever). This<br />

is Enid Blyton, from a series-book, Five Go Down to the Sea (1953/1982: 21):<br />

It was about five o’clock and a very lovely evening. They met nobody at all, not<br />

even a slow old farm cart. It was even too hot for the birds to sing. No wind<br />

blew. There seemed a curious silence and loneliness everywhere. Miles and miles<br />

of countryside, set with cornfields, pasture land, tall hedges and glimpses of<br />

winding lanes; heather was out on some of the hills, blazing purple in the sun;<br />

and, gleaming in the distance, was the dark blue brilliance of the sea...<br />

23


24<br />

This was, by the critical standards of 1953, «junk» writing. And yet it is far<br />

from «simple». It is characterised by a leisurely pace; narrator’s judgements<br />

(«lovely», «curious»), a quite subtle use of free indirect discourse or<br />

«mind style» («glimpses of») (see Wales 1990: 191-2); ingenious atmosphere<br />

building by exploiting the negative or absence («not even...») as<br />

well as assonance – «blazing», «brilliance». Not bad for a by-word for simplicity,<br />

who was regarded for many decades as a threat to literacy.<br />

In contrast, here is a modern, award-winning author, whose success has<br />

changed the landscape of 21st-century children’s writing. This is from a book<br />

described by another award-winning author, Jan Mark, as «beautifully written»:<br />

[She] felt a thrill of fear. There was only one thing this could mean.<br />

«Ah,» said the doctor, relieved to find the conversation turning to another<br />

subject, «there’s a real advance. With the first model we could never entirely<br />

overcome the risk of the patient dying of shock, but we’ve improved that<br />

no end.» (Pullman 1996: 273)<br />

Here we have a texture of clichés («felt a thrill»), telling rather than showing<br />

(«relieved to find»), and curiously uneven and inappropriate speech patterns<br />

(«could never entirely overcome... no end»). Of course, it is very difficult to<br />

compare like with like, and it is unlikely that Philip Pullman, praised for his<br />

prose, would appreciate being unfavourably compared to Blyton. But the<br />

point is not that one writer is better than the other: the point is that complex<br />

stylistic features once thought appropriate to «popular» writing do not<br />

even feature in what is now seen as «quality» writing. Philip Pullman’s<br />

Northern Lights, from which this extract is taken, has been a worldwide best-<br />

-seller, studied seriously for its ideas. Pullman, a highly intelligent and articulate<br />

author, has made points about style: «For me, prose should be a plain<br />

glass window, and not a fanciful mirror – not that you need make it so workmanlike<br />

that it’s drab» (Carter 1999: 184). However, it is questionable whether<br />

this view would hold up theoretically – for meaning, and the way meanings<br />

are constructed and accessed are embedded in style, and not se<strong>para</strong>ble.<br />

A comparison between two well-respected «mainstream» authors of two eras<br />

might be less contentious. The first is from Nina Bawden’s, Carrie’s War (1973):<br />

They had left the wooded slopes behind them and the valley had opened out.<br />

Springy, sheep-cropped turf, criss-crossed with dry stone walls, ran down to<br />

the back yards of the houses. Narrow, straight streets; one long, thin one,<br />

like a spine down the middle and short, stumpy ones leading off, steeply<br />

climbing the hillside. It was peaceful enough and the slate roofs shone in<br />

the soft, evening light, but it was still a hideous place, the oldest boy<br />

thought: ugly houses and black pit machinery and smooth cones of slag,<br />

meanly dark against the green mountain. (Bawden 1973/1991: 17)<br />

Here we have multiple adjectives, a broad vocabulary, and a subtle<br />

manipulation of both direct and indirect thought (what does «the oldest<br />

boy thought» control?).<br />

In contrast, Eva Ibbotson’s, Journey to the River Sea (2001), a contemporary<br />

award-winner (Winner, Gold Medal, Smarties Book Prize, 2001; runner-<br />

-up, Whitbread Children’s Book of the Year, Guardian Children’s Fiction<br />

Award) seems stylistically unenterprising.<br />

The market was dazzling. There were watermelons bigger than babies, and<br />

green bananas and yellow ones that were almost orange. There were piles<br />

of nuts heaped on barrows, and pineapples and peppers and freshly caught<br />

fish and fish that had been dried. There were animals tugging at their<br />

ropes, and delicate lacework and silverware and woven baskets and leather<br />

bags. (Ibbotson 2001: 25)<br />

Again, the author falls back on clichés («tugging», «delicate», «leather»),<br />

simple listing, a neutral narrational style, imprecise images («animals»,<br />

«piles... heaped») and one rather odd image («bigger than babies»). The<br />

fact that this book is described on its cover as «A warm-hearted, well-written<br />

and absorbing adventure» (Independent on Sunday) and «The most perfect<br />

children’s book of the year... captivatingly told, funny and moving»<br />

(Nicolette Jones, Sunday Times) perhaps makes the point that things have<br />

changed.<br />

The way in which style reflects, or necessarily invokes certain attitudes<br />

can be seen in a comparison between The Tale of Peter Rabbit by Beatrix<br />

Potter (1902) and a more modern version, adapted by David Hately (1987),<br />

occasioned by Beatrix Potter’s exit from copyright. The new version is a<br />

remarkable example of the «closing» of a text by a writer who betrays his<br />

lack of faith in the capacities of his readership.<br />

Potter writes:<br />

«Now, my dears,» said old Mrs. Rabbit one morning, «you may go into the<br />

fields or down the lane, but don’t go in to Mr. McGregor’s garden: your<br />

Father had an accident there; he was put in a pie by Mrs McGregor.» (10)<br />

Hately has different social perspective, a different relationship between<br />

mother and child – and a different attitude to the death joke:<br />

One day they were allowed to play outside. «Stay near home», said their.<br />

«Please don’t go to Mr McGregor’s garden.»<br />

«Why not?», asked Peter.<br />

«Because he doesn’t like rabbits», answered Mrs. Rabbit. «He will try to<br />

catch you.» (np)<br />

25


26<br />

But the point here is that the original is oblique and requires interpretation<br />

– and an appreciation of an ironic collusion between author and<br />

readers. Later, the text is closed even more firmly: «But Peter, who was<br />

very naughty, ran straight away to Mr. McGregor’s garden, and squeezed<br />

under the gate!», writes Potter:<br />

First he ate some lettuces and some French beans; and then he ate some<br />

radishes;<br />

And then, feeling rather sick, he went to look for some parsley. (21-3)<br />

Hateley supplies much more information, which first precludes thought,<br />

and then leads on to judgements and control:<br />

There were lots of vegetables in Mr McGregor’s garden. Peter Rabbit loved<br />

vegetables. He began to eat them. First he tried the lettuces. Next he tried<br />

the beans. Then he ate some radishes.<br />

Peter ate too much, because he was greedy. He began to feel sick. «I must find<br />

some parsley to nibble», he said to himself. «That will make me feel better.» (np)<br />

These changes can be summed up in two versions of E. Nesbit’s Five<br />

Children and It (1902). Here, in the original, is the episode in which the<br />

children learn to fly:<br />

The Sand-fairy blew himself out, and next moment each child felt a funny<br />

feeling, half heaviness and half lightness on its shoulders. The Psammead<br />

put its head on one side and turned its snail’s eyes from one to the other...<br />

The wings were very big, and more beautiful than you can imagine – for<br />

they were soft and smooth, and every feather lay neatly in its place. And the<br />

feathers were of the most lovely mixed changing colours, like the rainbow,<br />

or iridescent glass, or the beautiful scum that sometimes floats on water<br />

that is not at all nice to drink.<br />

«Oh – but can we fly?» Jane said, standing anxiously first on one foot and<br />

then on the other.<br />

«Look out!» said Cyril; «you’re treading on my wing.»<br />

«Does it hurt?» asked Anthea with interest; but no one answered, for Robert<br />

had spread his wings and jumped up, and now he was slowly rising in the<br />

air. He looked very awkward in his knickerbocker suit – his boots in particular<br />

hung helplessly, and seemed much larger than when he was standing<br />

in them. But the others cared but little how he looked – or how they looked,<br />

for that matter. For now they all spread out their wings and rose in the air.<br />

Of course you all know what flying feels like, because everyone has dreamed<br />

about flying, and it seems so beautifully easy – only, you can never remember<br />

how you did it; and as a rule you have to do it without wings, in your<br />

dreams, which is more clever and uncommon, but not so easy to remember<br />

the rule for. Now the four children rose flapping from the ground, and you<br />

can’t think how good the air felt running against their faces. Their wings<br />

were tremendously wide when they were spread out, and they had to fly<br />

quite a long way apart so as not to get in each other’s way. But little things<br />

like this are easily learned.<br />

All the words in the English Dictionary, and in the Greek Lexicon as well, are,<br />

I find, of no use at all to tell you exactly what it feels like to be flying, so I will<br />

not try. But I will say that to look down on the fields and woods, instead of<br />

along at them is something like looking at a beautiful live map, where,<br />

instead of silly colours on paper, you have real moving sunny woods and<br />

green fields laid out one after the other. (Nesbit 1902/1994: 73-3)<br />

Again, the narrator is part of the experience, there is a wide range of<br />

judgements, images, vocabulary, allusion careful incidental detail, and<br />

an ironic narrative voice («easily learned»). None of that survives in the<br />

anonymous adaptation brought out in 2004 by Sandfairy Merchandising<br />

Ltd. to support a film version:<br />

Jane squealed. When Anthea and Cyril turned to look, they couldn’t believe<br />

their eyes – Jane had sprouted a pair of wings!<br />

Anthea was next to scream, as she too sprouted wings from her back, and<br />

then Cyril did the same.<br />

«Robert!» growled Cyril. «He must have made a wish!»<br />

There was a beating noise at the window. It was Robert – and he was flying!<br />

Cyril opened the window.<br />

«You’ve done it again!» he yelled. «What were you thinking?»<br />

Robert hovered just outside the window. (np)<br />

Once again, here are the clichés, the limited vocabulary, the lack of narrative<br />

contract – all the things that, in relative terms, mark an «undesirable»<br />

text in «old» critical terms. However, there is a problem for critics<br />

in that there is no filling-in of detail – is this a VERY open text indeed. And<br />

a little later on, it is «writerly» in the extreme: what is happening here?<br />

There were Zeppelins everywhere, their engines droning.<br />

And one of them was heading straight for Jane!<br />

«Look out!» yelled Robert.<br />

He hurtled across the sky and snatched Jane to safety. [my italics]<br />

Can critics brought up with certain attitudes to words account for a text<br />

like that? So little is supplied, that any meaning must either be provided<br />

by an image derived from elsewhere (memory of the film, perhaps), or<br />

27


28<br />

the author is assuming an understanding that people brought up in an<br />

older kind of literacy may not appreciate.<br />

What are the implications of all this? In terms of the production of text,<br />

the change of style suggests that editors are reacting to, or promoting,<br />

the need for a different kind of text, which may or may not imply a lack<br />

of knowledge of earlier writers and texts. Certainly, reviewers are working<br />

to different standards from those of their predecessors. Similarly,<br />

critics display either a lack of technical vocabulary to approach style, or<br />

a lack of interest in this aspect of text.<br />

Readers, as we have seen, are offered restricted technical devices in prose,<br />

and a restriction of vocabulary; this may or may not be seen as appropriate<br />

to childhood as now constructed: it certainly implies a change in<br />

reading skills. Thus, in books, there is a shift towards the graphic: the<br />

genuinely experimental responses to multimedia are not found in the<br />

word-based texts. Does the success of picturebooks in responding to other<br />

media suggest a shift to visual literacy, which in turn would mean a shift<br />

of thinking for critics and theorists? Do those of us concerned with reading<br />

and literacy and literature need to change our inherent and unspoken<br />

value-assumptions? Do we need to change in the nature of the critical<br />

intervention?<br />

We are left, then, with some broad questions:<br />

– Do we accept this step-change in what we think of as literacy?<br />

– Do changes in reading (and skills) reflect changes in childhood?<br />

– What are the implications for the future of the book?<br />

– Do we need to revise our ideas of literacy, reading, and literature?<br />

– Is «literature» now a redundant idea?<br />

– How far is it just as valid to produce skilled readers of video games –<br />

which represent a change of power-relationships from the book, a change<br />

in childhood, and a change in literacy skills?<br />

In short, do we accept the change in thinking implied by the change in<br />

language; and are we creating readers who understand the current<br />

world, but not the world of the past or possible worlds of the future?<br />

Appendix<br />

REFLECTIONS ON READING AND LITERARY READING<br />

Are there not some pursuits that we practise because they are good in themselves, and some pleasures<br />

that are final? And is not [reading] among them? I have sometimes dreamt, at least, that when<br />

the Day of Judgment dawns and the great conquerors and lawyers and statesmen come to receive<br />

their rewards... the Almighty will turn to Peter and say, not without a certain envy when He sees us<br />

coming with our books under our arms, «Look, these need no reward. We have nothing to give them<br />

here. They have loved reading.<br />

Virginia Woolf<br />

If anything fit to be called by the name of reading, the process itself should be absorbing and voluptuous;<br />

we should gloat over a book, be rapt clean out of ourselves.<br />

Robert Louis Stevenson<br />

A book should be an ice-axe to break up the frozen sea within us.<br />

Franz Kafka<br />

I suggest that the only books that influence us are those for which we are ready, and which have<br />

gone a little farther down our particular path than we have got ourselves.<br />

E.M. Forster<br />

Reading is to the mind, what exercise is to the body. As by the one, health is preserved, strengthened, and<br />

invigorated: by the other, virtue (which is the health of the mind) is kept alive, cherished, and confirmed.<br />

Joseph Addison<br />

Books have always a secret influence on the understanding; we cannot at pleasure obliterate ideas: he that<br />

reads books of science, though without any desire fixed of improvement, will grow more knowing; he that<br />

entertains himself with moral or religious treatises, will imperceptibly advance in goodness; the ideas<br />

which are often offered to the mind, will at last find a lucky moment when it is disposed to receive them.<br />

Samuel Johnson<br />

A book is a garden, an orchard, a storehouse, a party, a company by the way, a counsellor, a multitude<br />

of counsellors.<br />

Henry Ward Beecher<br />

When I look back, I am so impressed again with the life-giving power of literature. If I were a young<br />

person today, trying to gain a sense of myself in the world, I would do that again by reading, just as<br />

I did when I was young.<br />

Maya Angelou<br />

The failure to read good books both enfeebles the vision and strengthens our most fatal tendency –<br />

the belief that the here and now is all there is.<br />

Allan Bloom<br />

A conventional good read is usually a bad read, a relaxing bath in what we know already. A true good<br />

read is surely an act of innovative creation in which we, the readers, become conspirators.<br />

Malcolm Bradbury<br />

Children are made readers on the laps of their parents.<br />

Emilie Buchwald<br />

Read in order to live.<br />

Gustave Flaubert<br />

29


30<br />

The best of a book is not the thought which it contains, but the thought which it suggests; just as<br />

the charm of music dwells not in the tones but in the echoes of our hearts.<br />

Oliver Wendell Holmes<br />

You’ve really got to start hitting the books, because it’s no joke out here.<br />

Spike Lee<br />

A book is like a garden carried in the pocket.<br />

Chinese proverb<br />

Books are the bees which carry the quickening pollen from one to another mind.<br />

James Russell Lowell<br />

To acquire the habit of reading is to construct for yourself a refuge from almost all of the miseries of life.<br />

W. Somerset Maugham<br />

Any book that helps a child to form a habit of reading, to make reading one of his deep and continuing<br />

needs, is good for him.<br />

Richard McKenna<br />

Books, to the reading child, are so much more than books – they are dreams and knowledge, they<br />

are a future, and a past.<br />

Esther Meynell<br />

It is not enough to simply teach children to read; we have to give them something worth reading.<br />

Something that will stretch their imaginations – something that will help them make sense of their own<br />

lives and encourage them to reach out toward people whose lives are quite different from their own.<br />

Katherine Paterson<br />

Properly, we should read for power. Man reading should be man intensely alive. The book should be<br />

a ball of light in one’s hand.<br />

Ezra Pound<br />

We shouldn’t teach great books; we should teach a love of reading.<br />

B.F. Skinner<br />

The more things you read, the more things you will know. The more that you learn, the more places<br />

you’ll go.<br />

Dr. Seuss<br />

Every man who knows how to read has it in his power to magnify himself, to multiply the ways in<br />

which he exists, to make his life full, significant and interesting.<br />

Aldous Huxley<br />

We read to know we are not alone.<br />

C.S. Lewis<br />

There are perhaps no days of our childhood we lived so fully as those we spent with a f avorite book.<br />

Marcel Proust<br />

To learn to read is to light a fire; every syllable that is spelled out is a spark.<br />

Victor Hugo<br />

It is not true that we have only one life to live; if we can read, we can live as many more lives and as<br />

many kinds of lives as we wish.<br />

S.I. Hayakawa<br />

Bibliography<br />

PRIMARY TEXTS<br />

Bawden, Nina (1973/1992). Carrie’s War, London: Victor Gollancz.<br />

Blyton, Enid (1953/1982). Five Go Down to the Sea, London: Hodder and Stoughton.<br />

Ibbotson, Eva (2001/2002). Journey to the River Sea, London: Macmillan Children’s Books.<br />

Nesbit, Edith (1902/1994). Five Children and It, ed. Sandra Kemp, Oxford: Oxford University Press.<br />

Nesbit, Edith [anonymous adaptation from screenplay by David Solomons] (1902/2004). Five Children<br />

and It, London: HarperCollins.<br />

Nesbit, Edith (1904/1994). The Phoenix and the Carpet, London: Penguin (Puffin Classics).<br />

Nesbit, Edith [retold by Helen Cresswell] (1997). The Phoenix and the Carpet, London: Penguin (Puffin).<br />

Potter, Beatrix (1902). The Tale of Peter Rabbit, London: Frederick Warne.<br />

Potter, Beatrix [adapted by David Hately] (1987). The Tale of Peter Rabbit, Loughborough: Ladybird Books<br />

in association with Frederick Warne.<br />

Pullman, Philip (1996). Northern Lights, London: Scholastic, 1996.<br />

SECONDARY TEXTS<br />

Beckett, Sandra L., ed. (1997). Reflections of Change. Children’s Literature Since 1945, Westport, CT:<br />

Greenwood Press.<br />

Carter, James (1999). Talking Books, London: Routledge.<br />

Chambers, Aidan (2001). Reading Talk, South Woodchester: Thimble Press.<br />

Elkin, Judith (2006). «Children as Readers», in Charles Butler (Ed.), Teaching Children’s Fiction,<br />

Basingstoke and New York: Palgrave Macmillan, 152-171.<br />

Gamble, Nikki & Yates, Sally (2008, second edition). Exploring Children’s Literature, London: Sage.<br />

Meek, Margaret (1988/2008). «How Texts Teach What Readers Learn», in Peter Hunt (Ed.), Children’s<br />

Literature. Critical Concepts in Literary and Cultural Studies, London and New York: Routledge, II, 38-59.<br />

Meek, Margaret (1993). «What Will Literacy Be Like?», in Morag Styles and Mary Jane Drummond (Ed.),<br />

The Politics of Reading, Cambridge: Cambridge Institute of Education and Homerton College, 89-99.<br />

Sipe, Lawrence R. (1997/2008). «Children’s Literature, Literacy, and Literary Understanding» [Journal of<br />

Children’s Literature 23 (2) (Fall 1997): 6-19], in Peter Hunt (Ed.), Children’s Literature. Critical Concepts in<br />

Literary and Cultural Studies, London and New York: Routledge, II, 92-109.<br />

Wales, Katie (1989). A Dictionary of Stylistics, London: Longman.<br />

Wall, Barbara (1991). The Narrator’s Voice. The Dilemma of Children’s Fiction, Basingstoke and London:<br />

Macmillan Academic.<br />

Williams, Raymond (1976/1983). Keywords. A Vocabulary of Culture and Society, London: Fontana.<br />

Woolf, Virginia (1966). «How Should One Read a Book?», in Collected Essays, London: Hogarth Press.<br />

Yates, Sally (2004, second edition). «Reading and Literacy», in Peter Hunt (Ed.), International Companion<br />

Encyclopedia of Children’s Literature, London and New York: Routledge, II, 762-770.<br />

Zipes, Jack (2009). Relentless Progress. The Reconfiguration of Children’s Literature, Fairy Tales and Storytelling,<br />

New York: Routledge.<br />

WEBSITES<br />

ThinkExist – http://www.thinkexist.com/<br />

BBC News – http://news.bbc.co.uk<br />

UK National Literacy Trust – http://www.literacytrust.org.uk/<br />

Number10 – http://www.number10.gov.uk/<br />

Year of Reading – http://www.readingforlife.org.uk/<br />

31


32<br />

Peritexts and Page Breaks:<br />

Opportunities for Meaning-<br />

-Making in Picturebooks<br />

LAWRENCE R. SIPE*<br />

Introduction<br />

This paper deals with two studies that examine two major affordances of<br />

picturebooks for aesthetic enjoyment and exploration. The first is the<br />

presence of an elaborate «peritext», to employ Gerard Genette’s terminology,<br />

in the form of dust jacket, front and back board covers, endpapers,<br />

dedication page, half-title page, and title page, as well as the back endpapers.<br />

All of these elements are carefully planned so as to «surround» the<br />

story and prepare the reader for it. A number of scholars have written<br />

about picturebook peritexts, or specific elements of the peritext, such as<br />

the endpapers. However, not much work has been done to examine the<br />

responses of young children to these elements. Of course, children must<br />

be guided by an astute teacher, but when this happens, even young children<br />

use peritextual elements in sophisticated and astute ways. Thus, the<br />

first part of the paper explains the elements of picturebook peritexts<br />

briefly, and then gives several examples of how children from 4 to 7 years<br />

of age interpreted these elements.<br />

The second part of the paper deals with another element that is quite<br />

important to picturebooks, but which has received less attention from<br />

either theorists or researchers. This element is the page turns (sometimes<br />

called page breaks) from one double-page spread to the next. Because picturebooks<br />

are most often quite brief, the author, illustrator, designer,<br />

and editor must decide what to include in the story and what to leave<br />

out. As we turn from one double-page spread to the next, there is always<br />

a gap or indeterminacy in the action, and to make sense of the story as a<br />

coherent whole in terms of both words and the picture sequence, we<br />

must make inferences about what happens between one double-page<br />

spread and the next. Page turns are therefore very carefully considered<br />

when picturebooks are constructed. I present several examples of the<br />

ways in which young children were invited to fill in the gaps represented<br />

by the page turns, through the simple device of the teacher asking,<br />

«What do you think happened between these two double-page spreads?»<br />

The children’s responses, just as their responses to peritextual elements,<br />

* Professor Adjunto na Escola Superior de Educação da Universidade da Pensilvânia, E.U.A.<br />

33


34<br />

were both sophisticated and varied. The paper argues, therefore, that<br />

these two qualities of picturebooks – the peritextual features and the<br />

page turns – are important for the purpose of inviting active and engaged<br />

participation on the part of readers, thus contributing both to readers’<br />

enjoyment and to their understanding/interpretation of the picturebook.<br />

Study #1<br />

Children Use Peritextual Features in Their Meaning-Making<br />

Literary critic Gérard Genette (1987/1997) uses the term «<strong>para</strong>text» to<br />

refer to these surrounding elements as well as related elements external<br />

to the book itself, such as interviews with the author and promotional<br />

materials. In his discussion of <strong>para</strong>texts, Genette distinguishes between<br />

features included within the book (the «peritext») and outside of the book<br />

(the «epitext»), and it is the peritext – what appears within the book itself<br />

– that is the focus of the present study. In picturebooks, as in other literary<br />

works, peritexts are important because they act as liminal spaces<br />

(Turner 1969) or thresholds (Genette, 1987/1997), mediating the reader’s<br />

transition from outside to inside the story world. Genette further observes<br />

that, «More than a boundary or a sealed border, the <strong>para</strong>text is, rather, a<br />

threshold, or – a word Borges used apropos of a preface – a “vestibule” that<br />

offers the world at large the possibility of either stepping inside or turning<br />

back» (pp.1-2). Derrida (1981) suggests that because of the peritext,<br />

«the text is no longer the snug airtight inside of an interiority or an identity-to-itself»<br />

(p. 35). As a «space between», the peritext is uniquely placed<br />

to draw attention to the materiality of the book and to provide a playful<br />

arena for the production of textual meaning (Higonnet, 1990), as well as<br />

presenting a rich orienting experience to the reader. While all books<br />

include some of these features, such as covers and a title page, in picturebooks<br />

all peritextual features are especially planned and designed so that<br />

there is an aesthetic coherence to the entire book (Higonnet, 1990). Thus,<br />

close examination of all of these intentionally designed features would<br />

seem to play an important role in reading picturebooks with students.<br />

Though Nikolajeva & Scott have devoted an entire chapter to this issue in<br />

their book How Picturebooks Work, few other theorists have undertaken<br />

extensive work. Still less research has considered the responses of children,<br />

though some researchers, such as Arizpe & Styles (2003) and<br />

Pantaleo (2003) have explored this issue.<br />

RESEARCH QUESTION AND METHOD<br />

The research question for this study was: In what ways do young children<br />

(age 4-7 years) respond orally to the peritextual features of picture storybooks<br />

before the story begins, in the context of whole class and small<br />

group readalouds? Data consisted of a sample of 23 transcripts of both<br />

small and large group readaloud discussions from two classrooms, drawn<br />

from 63 total transcripts from two studies of the literary responses of<br />

children (Sipe 2000; Sipe & Daley 2005). Criteria for selection of the sample<br />

consisted of the following: (1) since both studies lasted for the full<br />

school year, we skewed our selection to include more transcripts from the<br />

last half of the academic year, on the assumption that children would<br />

have become more familiar with the routines of readaloud response and<br />

would therefore demonstrate a wider repertoire of response to peritextual<br />

features; (2) we ensured that there was balance, variety, and cultural<br />

relevance in the genres of the texts read aloud, including traditional literature,<br />

fantasy, and contemporary realistic fiction; (3) we balanced the<br />

sample from the Sipe (2000) study to include roughly equal numbers of<br />

small-group and whole-class discussions; and (4) we ensured that the<br />

total number of student conversational turns in the samples from the<br />

two classrooms was roughly equal (1677 turns from the first study and<br />

1670 turns from the second), so that our results would not favor one<br />

study over the other.<br />

The first classroom (Sipe 2000) was a combined first and second grade (6<br />

and 7 year-olds) in a public school located in a working-class area of a<br />

large midwestern city, and which had a long history of using children’s<br />

literature to teach reading. The classroom teacher, a European American,<br />

had taught for six years and conducted twice-daily readalouds with the<br />

whole group of 27 children (23 European American, 3 African American,<br />

1 Native American; 15 boys and 12 girls). Data from this classroom included<br />

transcripts of 5 whole group readalouds (conducted by the teacher)<br />

and 7 small group readalouds with 5 students (conducted by Sipe). The<br />

second site (Sipe & Daley 2005) was a kindergarten classroom (4 and 5<br />

year-olds) in a large northeastern urban public school district. The classroom<br />

teacher, a European American, had taught for ten years and also<br />

read books aloud twice each day. Student enrollment varied between 20<br />

and 25 students over the course of the year; all students were African<br />

American and there was a roughly equal number of boys and girls at all<br />

times. Data from this classroom consisted of 11 transcribed whole class<br />

readalouds. Both classrooms were rich literacy environments, each with<br />

over 500 books readily available to the children in reading areas within<br />

the classrooms. In both classrooms, readalouds were conducted interactively<br />

(Barrentine 1996), with multiple opportunities for children to voice<br />

their thoughts and interpretations; as well, both teachers devoted extensive<br />

discussion to peritextual features of the picturebooks before beginning<br />

to read the story.<br />

Analysis proceeded in several stages. A first pass through the data divided<br />

each readaloud transcript into two parts: the initial portion of each<br />

readaloud discussion, where the teacher and children discussed the peri-<br />

35


36<br />

textual features of the picturebook before beginning the story text; and<br />

the subsequent discussion of the story. A second examination of each<br />

transcript identified the children’s conversational turns (Sinclair &<br />

Coulthard 1975) about each se<strong>para</strong>te element of the peritext (for example,<br />

talk about the front cover or the title page). Third, these sections of<br />

children’s talk were analyzed at the level of the conversational turn in<br />

order to conceptually label the purposes and subjects of the discussion.<br />

During a fourth pass through the data, the inductive conceptual labels<br />

were then grouped into conceptual categories representing the major<br />

points of the peritextual discussion, following the three stage model of<br />

Strauss and Corbin (1990). A fifth stage involved the coding of the peritextual<br />

discussion according to the final instantiation of the conceptual categories,<br />

with the two authors coding independently. Interrater reliability<br />

was 94%. Following this, with the assistance of a third coder (a doctoral<br />

student), consensus was achieved about all discrepancies and disagreements.<br />

This process resulted in slight adjustments to the conceptual category<br />

system. Finally, tallies and percentages for each conceptual category<br />

were computed, along with the percentage of peritextual talk (by children’s<br />

conversational turns) for each story and for the data set as a whole.<br />

The finalized list of conceptual categories constituted the ways in which<br />

the children utilized the features of the peritext to make meaning before<br />

the story was read, thus answering the research question.<br />

RESULTS<br />

Results suggest that discussion of peritextual elements before beginning<br />

the reading of the story comprised about 21% of the total student turns<br />

– 712 turns out of a total of 3347 turns – in the readaloud discussions,<br />

suggesting that children, with their teacher’s encouragement, were highly<br />

engaged in peritextual response. We found that there were nine main<br />

ways in which children responded in the initial peritextual discussion:<br />

(1) References to conventions of picturebook construction, production, and reading.<br />

Children demonstrated their knowledge of picturebook conventions in a<br />

number of ways. Perhaps most simply, they named or identified particular<br />

peritextual features such as the dust jacket, front cover, endpapers,<br />

title page, and dedication page. In this way, they were making use of the<br />

metalanguage of picturebooks, enabling them to identify the parts of the<br />

peritext with precision. This metalanguage had been taught to them by<br />

their teachers, who said, for example, «here are the endpages» or «here is<br />

the half-title page». Children also took note of any awards that the books<br />

had won, discussing the significance of the silver or gold Caldecott<br />

medallions appearing on the front cover. For example, in the peritextual<br />

discussion of The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales (Scieszka,<br />

1992), Julie observed that the book «got a medal». Another child specified<br />

that it was a «Caldecott», and the children elaborated on their understanding<br />

of the award system:<br />

Gordon: Caldecott Honor Book.<br />

Charles: This is second best.<br />

Teacher: Yes, this is silver.<br />

Although the publishing information is not a prominent feature of the<br />

picturebook peritext, the children took great delight in discovering the<br />

book’s date of publication, comparing it to their own birth year. They<br />

were fascinated to find out that most books published in the United<br />

States seem to originate in New York City:<br />

Jim: New York again! Most books must be publishing in New York. It looks<br />

like when they’re makin’ books, most books are made in New York.<br />

The dedication page often inspired talk about to whom a book was dedicated<br />

and hypotheses about the possible reasons for this dedication (in<br />

their own book-writing, children utilized this convention, dedicating<br />

their home-made books to their friends and/or parents).<br />

Finally, the children were accustomed to both the routines employed by<br />

the teachers as they conducted readalouds and the commonly occurring<br />

elements of the peritext. Because their teachers had established these<br />

routines, they insisted that, for example, the teacher remove the dust<br />

jacket of the book in order to see if the board cover duplicated the dust<br />

jacket or was different. They also insisted on examining and speculating<br />

about the endpapers, half-title and title pages, etc. They simply would not<br />

allow teachers to take a brief look at the front cover and then begin reading<br />

the story!<br />

(2) Description.<br />

Children described or labeled details of illustrations within the peritext.<br />

Included here are responses that seem to answer simple «what» or «who»<br />

questions. The title page of Christopher Coady’s (1991) Red Riding Hood<br />

contains an oval vignette of a leafless tree silhouetted against a full<br />

moon. Sean commented, «At first there’s some red strokes over the moon,<br />

[pointing to the branches of the tree] and down here too [pointing to the<br />

lower left edge of the vignette].»<br />

(3) Interpretation and evaluation.<br />

Description was often followed by interpretation. Included in this category<br />

were responses that went beyond simple description and seemed to<br />

37


38<br />

answer «why», «how», «where», and «when» questions: «How does this<br />

make you feel?», «How do you think they feel?», «How are the characters<br />

related to one another?», «How did this scene come to be?» Because of the<br />

complexity of this category, we further subdivided it into three parts: (a)<br />

Interpretation/evaluation of illustrations; (b) Interpretation/evaluation of<br />

tone and mood; and (c) Interpretation/evaluation of characters.<br />

(a) Interpretation/evaluation of illustrations.<br />

In this subcategory, children constructed meaning from the visual<br />

images in the peritext. For example, they discussed the possible reasons<br />

for the choice of color palette (the vignette from Red Riding Hood [Coady<br />

1991]) discussed in the previous section contains red strokes «because<br />

when the hunter cuts him open there’s blood in the story. Similarly, as<br />

the children examined the endpapers of Red Riding Hood (Coady 1991),<br />

they speculated as to how three leaves came to rest on what they interpreted<br />

as Red Riding Hood’s cloak:<br />

Kevin: It’s on the ground.<br />

Teacher: How’d it get on the ground?<br />

Martin: ’Cause she took it off.<br />

Teacher: Why would she take it off?<br />

The children returned to this question after the story was read. It should<br />

be noted that in this version of the story, both Red Riding Hood and her<br />

grandmother are dead at the end of the tale; no woodsman comes to save<br />

them. The children therefore had a new view of the back endpapers,<br />

which show the cloak and the leaves again:<br />

Louise: Now I know! The coat’s on the ground because the wolf killed her!<br />

And he just left the coat on the ground because there’s leaves on it! And<br />

probably blood, too!<br />

(b) Interpretation/evaluation of tone/mood.<br />

Children were sensitive to the various qualities of illustrations and peritextual<br />

text that assisted them in interpreting the tone or mood of stories<br />

as funny, transgressive, bizarre, or scary. For example, they were quite<br />

sensitive to the mood of two variants of Red Riding Hood: a cheerful, amusing<br />

version by James Marshall and the much more serious one by<br />

Christopher Coady, which I have just discussed. Reactions to the Marshall<br />

version included:<br />

She looks like she’s going to fall off that log!<br />

The wolf looks a little silly in this one.<br />

Reactions to the Coady version were quite different:<br />

I can tell this is not going to be a funny story.<br />

Look at that wolf — I’d be afraid of him.<br />

(c) Interpretation/evaluation of characters.<br />

Based on text and illustrations, the children interpreted characters’ outward<br />

appearance, including the characters’ race/ethnicity and gender;<br />

their mood, inner state, or personality; their relationships with one<br />

another; and their connection to the author and illustrator who created<br />

them. As her class commented on the title page of No, David! (Shannon,<br />

1998), Naisha observed, «She’s angry», referring to the mother in the<br />

illustration. The teacher probed for her evidence for this response, and<br />

Naisha elaborated, «Because she got her shoulders like this!», imitating<br />

the mother’s stance with her hands planted firmly on her hips. Amanda<br />

supported this assessment, adding, «She’s stomping her foot!»<br />

(4) Prediction.<br />

The peritext is in many ways a pre<strong>para</strong>tion or preview for the story that<br />

follows. The children thus drew on the elements of the peritext in order<br />

to make predictions about a variety of characteristics of the ensuing<br />

pages of the story. They predicted particular plot points as well as an overarching<br />

structure. Children also asked predicting questions, suggesting<br />

that they had taken notice of particular details that they felt would carry<br />

subsequent significance. The design features of the peritext assisted children<br />

in predicting those features that would carry through the story in<br />

order to give it aesthetic coherence. For example, think back to the children’s<br />

reactions to the tone of the two variants of Red Riding Hood by<br />

Marshall and Coady. Their predictions about the silliness of the Marshall<br />

version and the dark serious tone of the Coady version were correct.<br />

(5) Attention to written language.<br />

The words of the peritext provided opportunities for children’s emergent<br />

attempts to read. This was especially true of titles, and some of the 4-5 years<br />

old clamored to do so at every opportunity. Children also paid close attention<br />

to print at the level of individual letters, connecting these to their<br />

names (Kendra’s «I see a K and that starts with my name!» in reference to her<br />

close examination of author Eric Kimmel’s (1988) name in Anansi and the<br />

Moss-Covered Rock), as well as to the meaning of punctuation marks such as<br />

exclamation points and question marks. In No, David! (Shannon 1998)<br />

Amanda identified the punctuation mark at the end of the title as an «exclamation<br />

point» and Martin was then able to use this to interpret the way in<br />

which the title should be read; he shouted it. Yet another aspect of chil-<br />

39


40<br />

dren’s attention to the written language in the peritext concerned their<br />

exploration of the meaning of individual words. Children forwarded a number<br />

of interpretations of the word «moss» in Anansi and the Moss-Covered Rock:<br />

«something that’s green», «it looks like grass», and «something that’s soft».<br />

(6) Intratextual connections.<br />

As the peritextual discussion proceeded, children related various parts of<br />

the peritext to each other. This discussion of the interrelationships,<br />

which we term «intratextual connections», is central to the project of<br />

conceiving the book as an aesthetic whole. In order to forge these connections,<br />

children navigated backward and forward through the peritext to<br />

note these relationships. For example, one child amusingly noted the<br />

Caldecott Medal on the front cover and the blind-stamped cow on the<br />

board cover of David Macaualay’s Black and White, and made an amusing<br />

pun: «Look, teacher, it got the Cow-decott Medal! Get it?»<br />

(7) Intertextual connections.<br />

In addition to making connections within the peritextual elements of<br />

the book being read, children also made connections to other texts,<br />

including storybooks, videos, movies, television shows, and songs. In discussing<br />

David’s pointed teeth in No, David! (Shannon 1998), several children<br />

connected his scary grin to Michael Jackson’s werewolf transformation<br />

in the music video «Thriller». As well, children stitched two stories<br />

together by peritextual elements. For example, when they saw the front<br />

cover of the Richard Egielski version of The Gingerbread Boy, which takes<br />

place in New York City (notice the Empire State Building in the background),<br />

they automatically connected to a more traditional version by<br />

Paul Galdone they already knew. One boy’s comment is that the two gingerbread<br />

boys probably are brothers.<br />

(8) Personal connections.<br />

During the peritextual discussion, children were also able to draw the<br />

story to themselves and their own lives in various ways. These personal<br />

connections ranged from expressions of delight that a character resembled<br />

a classmate to expressions of personal preference and appreciation.<br />

The title or illustrations often prompted the children to tell personal stories<br />

relating these elements to their lives. In the discussion of a book<br />

called Uptown (Collier 2000), children excitedly shared their experiences<br />

of going «uptown»: they went to «buy stuff» and saw «big buildings» on<br />

these outings with their caregivers.<br />

(9) «Performances.»<br />

In other articles, Sipe (2000, 2002; Sipe & Daley 2005) has defined a type<br />

of response in which children use the text as a playground or a stage for<br />

their own flights of interpretive fancy. Rather than dismissing these<br />

responses as off-task, Sipe theorizes that they represent children’s assertion<br />

of a specific kind of interpretive authority as they «take over» the<br />

text (Sipe 2002) to use it as a site for «carnivalesque» (Bakhtin 1984) subversion.<br />

The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales (Scieszka 1992)<br />

was a particularly rich source for children’s performative responses. The<br />

front endflap contains the words, «Only $16.99! 56 action-packed pages.<br />

75% more than those old 32-page “Brand-X” books. 10 complete stories! 25<br />

lavish paintings! New! Improved! Funny! Good! Buy! Now!» Following the<br />

teacher’s reading, the children reacted to this frenetic parody of marketing<br />

hype with their own subversive responses:<br />

Gordon: Why, just say «why», just say «why», just say it.<br />

Teacher: What? Okay, why?<br />

Gordon: How come? Because. Where? When? Who?<br />

[dissolves into giggles]<br />

Teacher: [Laughing and rereading] New! Improved! Funny! Good!<br />

Buy! Now!<br />

Terry: I don’t wanna go «bye» now! I don’t wanna go bye-bye now!<br />

Gordon: Me neither.<br />

Several children: Bye-bye! [waving]<br />

This exchange exemplifies the children’s appropriation of the text for<br />

their own playful purposes. Parody is parodied here: Gordon urges the<br />

teacher to say the word «why», which Gordon then uses as an opening for<br />

his own rapid-fire sequence of staccato words and phrases that <strong>para</strong>llel<br />

and satirize the language of the text. Terry’s pun («bye» for «buy») evokes<br />

more carnivalesque behavior on the part of the group.<br />

SIGNIFICANCE<br />

This study demonstrates the very rich interpretive potentials afforded by<br />

picturebook peritexts. Giving children this interpretive space supports<br />

their development of an appreciation of picturebooks as sophisticated<br />

aesthetic objects in which every detail is the result of an intentional<br />

design choice. Many teachers may talk with children about the significance<br />

of the title and the front cover illustration; however, fewer teachers<br />

may be inclined to explore the other elements of the peritext, such as the<br />

endpapers, title and dedication pages, and the publishing information.<br />

These elements are equally deserving of teachers’ and students’ close<br />

attention.<br />

In this study, the teachers chose to begin their storybook readalouds in<br />

an uncommon way, by focusing on the peritextual affordances of the<br />

41


42<br />

book itself rather than their own purpose-setting questions. Very little<br />

empirical research has been conducted on this method of introducing<br />

and beginning a picture storybook readaloud with young children.<br />

Although it may be a more common approach for the teacher to ask purpose-setting<br />

questions in order to explicitly activate background knowledge,<br />

it may be the case that discussion of the peritextual features of picture<br />

storybooks serves as an equally valid introduction to the story: in<br />

other words, teachers may want to consider «trusting the book» – particularly<br />

the peritext – to be its own best prelude to set the stage for richly<br />

interpreting the story. Foregrounding children’s own ideas from the very<br />

beginning of the discussion may result in validating their interpretive<br />

trajectories rather than subordinating them to predetermined teacher<br />

purposes. Researchers and practitioners who are concerned with the literary<br />

and literacy development of young children may find this<br />

approach to be an intriguing alternative. This study demonstrates young<br />

children’s abilities to conceptualize picture storybooks as aesthetic wholes;<br />

that is, to integrate their knowledge of the various parts of the picturebook<br />

in order to construct coherent and cohesive interpretations. This integration<br />

results in rich and aesthetically powerful literary understanding.<br />

Study #2<br />

Children Use Page Breaks in Their Meaning-Making<br />

In stark contrast to a novel, where the page breaks come arbitrarily<br />

(Mackey 2001), a picturebook, which contains a much smaller set of<br />

words than a novel, is arranged very carefully as a series of facing pages,<br />

called «doublespreads» or «page openings» (Doonan 1993, p. 83), and the<br />

text of the whole picturebook has been carefully broken into a series of<br />

these facing pages. Good readers pay attention to how the words and<br />

accompanying illustrations on one set of facing pages relate to the next<br />

set of words and illustrations on the following doublespread. The page<br />

turns in a picturebook, also known as page breaks, thus have a complex<br />

semiotic significance (Sipe 1998a). A picturebook is not only a slow motion<br />

series of presented verbal and visual images; the brief hiatus as we<br />

turn the page can be used meaningfully by the author and/or illustrator<br />

in various ways.<br />

I examined how 6 and 7 year-olds made meaning out of the page breaks<br />

of several picturebooks so as to construct a sensible and seamless narrative.<br />

Neither picturebook theory nor empirical research on children’s<br />

responses to picturebooks addresses this aspect of picturebooks in any<br />

detail. However, several theoretical concepts can be drawn together to<br />

form a framework for the study. First, in Barbara Bader’s (1976) memorable<br />

phrase, we experience «the drama of the turning of the page» (p. 1)<br />

in a picturebook, as we proceed from one set of facing pages to the next.<br />

For Bader, then, the page turn represents a moment of anticipation, puzzlement,<br />

or confusion, which is then resolved upon turning to the next<br />

set of facing pages. There is a break or gap between turning the page from<br />

one spread to the next, and this gap often requires a high degree of critical<br />

and inferential thinking. This is all up to the reader, because the<br />

reader supplies something that is literally not there. According to Iser<br />

(1978), every text has «gaps» or indeterminacies, which the reader must<br />

fill in as he/she reads. In a picturebook, the page breaks suggest clearly<br />

identifiable gaps for all readers to puzzle over and interpret, gaps that<br />

are sometimes large or quite small.<br />

However large or small, though, there is always at least a slight rift, fissure,<br />

or «aporia» (blind spot of uncertainty) (Derrida 1993) in the verbal<br />

and visual narrative when a page is turned. For this reason, we theorize<br />

that page breaks may be a rich site for investigating children’s cognitive<br />

integration of text and pictures, as well as their resolution of the gaps or<br />

indeterminacies (Iser 1978) in the «imagetext» (Mitchell 1994). The illustrator<br />

and author have only a small number of opportunities to tell the<br />

story. Therefore, the page breaks constitute some of the major gaps in the<br />

text. The illustrator and author must choose carefully what will be illustrated/written<br />

and what will be omitted. Another way of conceiving page<br />

breaks is forwarded by Bartow (2007), who suggests that they are liminal<br />

spaces (Turner, 1969), in which readers find themselves neither in the<br />

familiar context created by the imagetext of one doublespread, nor in the<br />

imagetext of the next doublespread: they are spaces «between».<br />

Barthes (1974) calls texts requiring much involvement and activity from<br />

the reader «writerly texts», in which the reader must act as the writer of<br />

the texts. Clearly, in the turning of the picturebook pages, readers are<br />

forced into this «writerly» mode.<br />

Author/illustrator Brian Selznick, in his acceptance speech for the 2008<br />

Caldecott Medal, states that «…the secret [for conceptualizing The Invention<br />

of Hugo Cabret] was in the page turns… Only the reader turning the page<br />

can move the story forward» (p. 403). Selznick also quotes from an unpublished<br />

essay by illustrator Remy Charlip: «A thrilling picturebook not<br />

only makes beautiful single images or sequential images, but also allows<br />

us to become aware of a book’s unique physical structure by bringing our<br />

attention, once again, to that momentous moment: the turning of the<br />

page» (pp. 403-404).<br />

However, although picturebook designers, illustrators, and authors often<br />

talk about the importance of page breaks, the standard comprehensive texts<br />

on picturebooks (Kiefer 1995; Lewis 200; Nikolajeva & Scott 2001; Nodelman<br />

1988; Stewig 1995) mention them only in passing, and there is no empirical<br />

research we could discover that focuses specifically on children’s interpretations<br />

of page breaks, though it seems an intriguing topic for investigation.<br />

43


44<br />

Why would this be important? I suggest that to invite children to speculate<br />

about «what happened» between one page opening and the next is to<br />

engage them in a complex and critically important process, because this<br />

speculation automatically engages children in high-level inference-making<br />

because the discussion is about the gap or indeterminacy that the page<br />

break represents. In other words, we theorize that by asking the question<br />

of what happens between two openings, we are encouraging children to<br />

verbalize what may be going on in their minds as they build coherence<br />

through inference. This is an alternative to approaches that advocate<br />

«training» in making inferences (Dewitz, Carr, & Patberg 1987) or teaching<br />

one strategy at a time (Keene & Zimmermann 1997), and allows for the<br />

integration of comprehension strategies, an approach Pressley (2003) believes<br />

is more powerful than teaching isolated strategies. Finally, discussion of<br />

page breaks answers the call by seasoned literacy researchers for ways of<br />

teaching comprehension in the primary grades, rather than focusing almost<br />

exclusively on decoding (Pearson & Duke 2003).<br />

METHOD<br />

The research question for this descriptive, naturalistic study was: In what<br />

ways does a class of 6 and 7 year-olds interpret the page breaks in five<br />

selected picturebooks as the books are read aloud by their classroom<br />

teacher?<br />

DATA<br />

Data for the study consisted of complete transcripts of audiotapes of the<br />

reading and discussion of No, David! (Shannon, 1998), My Friend Rabbit<br />

(Rohmann 2002), Don’t Let the Pigeon Drive the Bus! (Willems 2003), Hondo<br />

and Fabian (McCarty 2002) and Where the Wild Things Are (Sendak 1963). We<br />

chose these books (all Caldecott Medal or Honor winners) after carefully<br />

examining their page breaks and concluding that these page breaks<br />

offered an especially rich variety of potential «gap-filling» by the children.<br />

This variety is specified below when we describe each book.<br />

None of the books had been read aloud in the classroom before, though<br />

some children were already familiar with some of the books, and almost<br />

all of the children had heard Where the Wild Things Are in a different context<br />

– in another classroom or at home. In this way, we hoped to capture<br />

children’s interpretations for books that were entirely new to them as well<br />

as books with which they had some prior familiarity, contributing to the<br />

naturalistic quality of the study. Data also consisted of fieldnotes, in<br />

which Ms. Brightman (who was the classroom teacher) kept track of the<br />

times when the children spontaneously commented about page breaks<br />

during their independent reading, other times during the school day, or<br />

during readalouds that were not part of the study.<br />

CHILDREN AND CLASSROOM CONTEXT<br />

The data were collected in a self-contained second-grade classroom located<br />

in a K-3 public school, which served a middle-class suburban community<br />

in the Northeastern United States. The class consisted of eleven boys<br />

and twelve girls: two African Americans, two Hispanic Americans, one<br />

Asian American, and 18 of European descent. Two children in the classroom<br />

qualified for free lunch, three received special education services,<br />

and six participated in a pull-out program of basic skills reading instruction.<br />

Ms. Brightman, the classroom teacher, was in her seventh year of<br />

teaching, having spent the great majority of these years teaching either<br />

first or second grade. She had completed a master’s program in literacy<br />

that avoided a deficit perspective (Valencia 1997), emphasizing the literacy<br />

knowledge children brought to the classroom rather than the knowledge<br />

they did not possess. She envisioned children as active learners in<br />

a socially interactive environment. She had also been a co-investigator<br />

(with Sipe) on a number of prior research projects involving young children’s<br />

literary understanding, and had been asked by her school district<br />

to teach a professional development course entitled, «Interactive<br />

Readalouds in the K-3 Classroom». This course demonstrated her interest<br />

in utilizing picturebooks, not as mere tools to teach decoding and low-<br />

-level comprehension skills, but rather to increase children’s critical thinking,<br />

literary meaning-making, and complex understanding of stories.<br />

The children in this classroom were actively engaged in meaningful literacy<br />

activities throughout the school day. Ms. Brightman began every<br />

morning with a storybook readaloud, followed by language and word<br />

study, reader’s workshop (including guided reading), and writer’s workshop.<br />

The children were accustomed to responding to text and illustrations<br />

during readalouds in an interactive and dialogic manner<br />

(Barrentine 1996). In other words, the children actively responded before,<br />

during, and after the reading of each text. Ms. Brightman gathered her<br />

students in the library corner of her classroom. Before introducing a new<br />

picturebook, she reminded the students that they did not need to raise<br />

their hands if they had something to share about the text or illustrations.<br />

Because the students were encouraged to speak freely and to direct their<br />

comments to one another, much cross-talk (Nystrand 1997; Chinn,<br />

Anderson, & Waggoner 2001) was noted. Ms. Brightman understood her<br />

role to be as a facilitator for a meaningful conversation, not a controller<br />

of the discussion. She demonstrated her deep listening by allowing the<br />

children agency and then acting on what she learned from them, rather<br />

than acting according to a preconceived agenda (Paley 1986; Schultz<br />

2003), an art that is easier said than done. The children were comfortable<br />

with this approach to interactive readalouds and thus Ms. Brightman<br />

permitted the students’ exchanges to continue with little interference as<br />

45


46<br />

long as the children actively contributed meaningful thoughts and ideas<br />

to the conversation. Each of the readalouds for the study lasted about 50<br />

minutes, and resulted in an average of 31 transcripted pages.<br />

Data were collected over a two-week period in May, near the end of the<br />

school year, so that the children’s responses throughout each readaloud<br />

reflected their extensive knowledge of a wide array of literature. They<br />

had already been exposed to well over 150 readalouds, and were quite familiar<br />

with the interactive style during story time. They also knew the teacher<br />

encouraged a wide range of responses, rarely asking questions to which she<br />

already knew the answer. By this time, Ms. Brightman had created a cohesive<br />

«interpretive community» (Fish 1980), with implicit and explicit<br />

rules about what «counted» as literary response during storybook<br />

readalouds. Furthermore, the children were familiar with much of the<br />

metalanguage of picturebooks, such as «doublepage spread» and «full<br />

bleed». This mode of participating interactively in storybook readalouds<br />

had been introduced gradually and spontaneously over the course of the<br />

year by Ms. Brightman, who was adept at perceiving authentic teachable<br />

moments. Her typical approach was to mention picturebook terminology<br />

in passing, for example saying, «Here are the endpapers». In subsequent<br />

readalouds, she repeated this terminology until the children<br />

began to utilize it independently, demonstrating that they had internalized<br />

the appropriate use of the «language of picturebooks» (Sipe 1998).<br />

As part of the school district’s second grade literacy curriculum, children<br />

were expected to be familiar with various literary genres. Ms.<br />

Brightman’s way of teaching distinctions among the genres was to<br />

expose children to a large variety of stories and to construct an increasingly<br />

sophisticated list of genre characteristics, which were then added<br />

to a wall chart in the library corner of the classroom over the course of<br />

the school year. As stories were read aloud, children often referred to this<br />

chart to interpret and discuss the books’ literary genre. In other words,<br />

Ms. Brightman’s general style was to build the children’s literary understanding<br />

and knowledge of terminology in a very gradual, naturalistic<br />

manner. She thus tended to eschew direct explicit teaching in favor of<br />

allowing the children to construct this understanding for themselves,<br />

while providing appropriate scaffolding.<br />

PROCEDURE FOR INTRODUCING THE IDEA OF PAGE BREAKS<br />

In order to capitalize on this rich background in a naturalistic way, Ms.<br />

Brightman introduced the idea of page breaks by simply asking, «What<br />

do you think happened between here [showing one doublespread] and<br />

here [showing the following doublespread]?» after she had read the second<br />

doublespread. We note that Ms. Brightman did not ask specific<br />

questions such as «How much time do you think might have gone by?» or<br />

«What do you think X might have done?» during the page breaks, because<br />

we wanted to know how the children would respond with a simple general<br />

question. Ms. Brightman did not ask this question for every page<br />

break, but only a limited number of times during the reading of each<br />

book. In this way, the idea of interpreting page breaks was planted in<br />

children’s minds in a subtle way, within the context of an already familiar<br />

literacy practice. We did not want to overburden the children with<br />

interpretation of page breaks; rather, we intended to introduce the idea<br />

of thinking about page breaks as one of the many items in the children’s<br />

«literary tool box» (Bigler-McCarthy 1996).<br />

BOOKS USED IN THE STUDY<br />

The first readaloud in this study was No, David! written and illustrated by<br />

David Shannon (1998). In this Caldecott Honor winner, Shannon endeavors<br />

to recreate a book he wrote as a young child in which his mother<br />

repeatedly uttered the words, «No, David», every time he behaved inappropriately.<br />

This picturebook contains sparse text (Ghiso & McGuire<br />

2007), with only a few words on each page opening, and we felt that this<br />

would prompt the students to create more dialogue for the page breaks.<br />

As well, the book is episodic, with one naughty action by David after<br />

another. Most of the page breaks depict these se<strong>para</strong>te actions, and are<br />

not necessarily joined by anything more than their place in the sequence<br />

of behaviors. Some of the breaks, however, clearly bridge two openings<br />

that are part of the same episode. We were interested in how this variation<br />

in the nature of the breaks, as well as the sparse text, would invite<br />

children’s inference-making.<br />

The second picturebook explored with the students was My Friend Rabbit,<br />

written and illustrated by Eric Rohmann (2002). In this Caldecott Medal<br />

winner, Rabbit must enlist the help of his animal friends to retrieve<br />

Mouse’s airplane from a tree. Although Rohmann’s picturebook contains<br />

more text than Shannon’s story, it is still limited and thus much<br />

of what occurs between each page had to be carefully examined and<br />

interpreted by the children. The page breaks in this book are invariably<br />

connected by the plot, which is not episodic (as in No, David!) but cumulative:<br />

Rabbit finds an ever-increasing number of animals to help<br />

retrieve the airplane. Thus, inferences about these breaks could be<br />

expected to create coherence in children’s understanding of the cumulative<br />

assemblage of animals. As well, the story actually begins on the<br />

title page, with an illustration of an opened package and Mouse sitting<br />

proudly in the airplane, which is a present from Rabbit. We were interested<br />

in how the children might interpret the page break leading to the<br />

next doublespread, which depicts Rabbit about to launch the plane on<br />

the left-hand side of the opening, and the illustration of Mouse falling<br />

47


48<br />

out of the plane as Rabbit overenthusiastically launches it in on the<br />

right-hand side.<br />

Don’t Let the Pigeon Drive the Bus!, written and illustrated by Mo Willems<br />

(2003) was the third picturebook investigated in this study. In this<br />

Caldecott Honor winner, a bus driver decides to leave his bus unattended<br />

and asks readers to ensure that Pigeon does not drive his bus. Pigeon<br />

works hard to convince readers that it would be a responsible driver if<br />

only it were given a chance. The page breaks in this book virtually force<br />

readers to respond to pigeon as it reasons, whines, cajoles, throws<br />

tantrums, and otherwise tries to convince readers to let it drive the bus.<br />

In this book, therefore, inferences about the page breaks might be expected<br />

to be «audience participation» in the story, a different type of response<br />

to the breaks.<br />

The fourth picturebook utilized in this study was author/illustrator Peter<br />

McCarty’s (2002) Caldecott Honor winner Hondo and Fabian. Hondo (the<br />

dog) and Fabian (the cat) are depicted as two playful animals having fun<br />

in a variety of situations. For the majority of the text, Hondo and Fabian<br />

spend their day apart from one another, and the stories of the two animals<br />

alternate. Readers must therefore analyze the page breaks as the<br />

<strong>para</strong>llel stories unfold. The page breaks in this book are different from<br />

the other books because readers must keep in mind what has happened<br />

in the sequence of openings where Hondo is the main character, and the<br />

sequence of openings where Fabian is the main character.<br />

Where the Wild Things Are, written and illustrated by Maurice Sendak (1963)<br />

was the final readaloud in this study. This Caldecott Medal winner is a<br />

favorite of many young children as readers can easily relate to Max’s<br />

desire to escape from his bedroom into a whimsical world constructed in<br />

his fantasy. We were interested in the page breaks of this book for two reasons.<br />

First, it was a book the students knew well already, and we wanted<br />

to explore how students would respond to an invitation to speculate<br />

about page breaks in a book whose plot was already grasped by the children.<br />

Second, the book contains a transition from real-life situations<br />

(Max creating a tent by nailing a hole in the wall to hold one side of a<br />

blanket and Max chasing the family pet) and the fantasy of a forest growing<br />

in Max’s room. We wanted to note whether the students would speculate<br />

about the change in genre from realistic fiction to fantasy.<br />

Taken together, then, the picturebooks used in the study afforded different<br />

opportunities and potentials for children to interpret page breaks.<br />

DATA ANALYSIS<br />

Ms. Brightman transcribed the tapes to ensure accuracy, as she knew the<br />

children’s voices well. Each child was assigned a pseudonym to ensure<br />

anonymity. The analysis proceeded in the following manner. First, each<br />

time the teacher explicitly asked about what might have happened<br />

between page breaks was noted in the transcripts, along with the subsequent<br />

discussion. In addition, every time children spontaneously volunteered<br />

a suggestion about page breaks during the readaloud discussion<br />

without the teacher’s prompting was also noted, along with the discussion<br />

pertaining to the page break. We identified these sections of the<br />

transcripts as Topic Units, hereafter called TUs (Roser & Martinez 2004),<br />

beginning with either (1) the teacher’s question about what might have<br />

happened during the page break or (2) student-initiated comments. The<br />

student conversational turns (Sinclair & Coulthard 1975) within each TU<br />

were then analyzed by coding according to the standard qualitative content<br />

analysis techniques suggested by Strauss and Corbin (1998): first,<br />

assigning conceptual labels to each of the conversational turns about<br />

page breaks within each TU; second, grouping these conceptual labels<br />

into a more limited number of conceptual categories; and third, describing<br />

the «core category» (Strauss & Corbin 1998) as the relationship<br />

among these conceptual categories, in order to answer the research question.<br />

Also factored into the analysis as supplemental data were the spontaneous<br />

comments about page breaks made by children during other storybook<br />

readalouds, their independent reading, and at other times during<br />

the school day.<br />

During this process, the two co-authors coded two transcripts together,<br />

creating conceptual labels, and then independently coded the other<br />

three transcripts, following this by achieving agreement on the conceptual<br />

labels for each conversational turn. When the second stage of coding<br />

began, a graduate student who was interested in page breaks (having<br />

written a theoretical paper on the subject) joined the team, and assisted<br />

in grouping the conceptual labels into a smaller number of tentative conceptual<br />

categories. The formation of these provisional conceptual categories<br />

was done in a series of meetings with all three researchers present.<br />

Following this, the co-authors each coded two transcripts by conceptual<br />

category, and the graduate student coded one transcript. Finally, the<br />

researchers exchanged transcripts and noted any discrepancies in their<br />

assigning of conceptual categories. At a final series of meetings, the three<br />

researchers reached consensus on any disagreements, paying attention to<br />

discrepant cases and modifying the original conceptual categories, thereby<br />

accounting for all the data. Lastly, the conceptual categories were<br />

related to each other, constituting the «core category» that is the third<br />

and final stage of Strauss and Corbin’s analytical model, thus answering<br />

the research question.<br />

An important aspect to note in the analysis is that we deliberately omitted<br />

children’s predictions about what would happen next, because predictions<br />

do not have to do with speculation about what happens between<br />

49


50<br />

page openings, but rather with using knowledge of the prior page openings<br />

to predict what will happen on the following openings, and then<br />

either confirming or disconfirming these hypotheses. Important as these<br />

types of responses are, they constitute a qualitatively different type of<br />

response than our focus, which was on what the students had inferred<br />

was omitted in the liminal space of the page breaks.<br />

RESULTS<br />

The findings suggest that children responded enthusiastically to the<br />

teacher’s questions about «what happened» between one set of facing<br />

pages and the next. In fact, children quickly took on this challenge, and<br />

began to speculate on their own, without any prompting from the<br />

teacher, suggesting this was an intriguing issue for them.<br />

(1) Character Actions.<br />

About 41% (99) of the children’s conversational turns about page breaks<br />

were speculations about actions the characters might have performed<br />

during the turning of the page. This in itself is not surprising, since,<br />

according to Aristotle’s Poetics, plot consists of «characters-in-action», and<br />

the children seemed to interpret their task as primarily filling in gaps in<br />

the plot represented by the page breaks. In the discussion of No, David! the<br />

children inventively speculated about what happened between the second<br />

opening, which depicts David reaching precariously toward a cookie<br />

jar with the text «No, David!» and the third opening, which shows<br />

David covered with mud, muddy tracks over the beige carpet and the<br />

words, «No, David, No!» This TU was begun by the teacher:<br />

Teacher: Here’s my question for you…What happened between this<br />

page and this page?<br />

Catherine: I think he took the cookies, he grabbed the jar, and went outside<br />

and he ate it.<br />

Tracey: Then he went in the mud.<br />

Dave: And slipped on it.<br />

Kate: I think it was all mushy, and he didn’t want to eat the cookies so he<br />

put them away.<br />

Mickey: Maybe he was burying the cookies and then he fell in the mud puddle<br />

next to where he buried them. Then maybe… he started to roll in the mud.<br />

This vignette shows how the children attempted to create coherence by<br />

joining these two episodes (reaching for the cookies and tracking mud<br />

over the carpet) which are not necessarily related directly to each other.<br />

The children’s inference-making about what happened between the<br />

openings was in this case quite creative.<br />

(2) Creating Dialogue.<br />

About 17% (40) of the children’s conversational turns created imaginary<br />

dialogue among characters or for one character that may have occurred<br />

during the page breaks. In Don’t Let the Pigeon Drive the Bus!, the children<br />

inserted themselves into the book as characters. On the fourth opening,<br />

the pigeon states, «My cousin Herb drives a bus almost every day!» in an<br />

attempt to persuade the reader/viewer to let it drive the bus. The fifth<br />

opening shows the pigeon with its wing over its heart and the words,<br />

«True story». Ellen, beginning the TU, commented, «I think between<br />

those two pages there’s like an invisible page and we’re on it and we’re<br />

saying, “Nuh-uh. I don’t believe it.”» Another example of creating dialogue<br />

occurred when the children discussed the 15 th and 16 th openings<br />

of No, David! The 15 th opening shows David, who has been getting into<br />

trouble throughout the book, with his arms outstretched, and the words<br />

«Davey, come here», while the 16 th (and last) opening shows a contented<br />

David cuddled in his mother’s arms, and the words, «Yes, David… I love<br />

you.» The children invented some dialogue for this page break, in a TU<br />

begun by the teacher:<br />

Teacher: Who can tell me what they think was going on between these<br />

two pages?<br />

Peter: Maybe he said, «Sorry, Mommy.» He says, «Do you still love me?» and<br />

she said, «Yes.»<br />

Caroline: Or maybe he said, «Mommy, will you forgive me? I’m sorry.» [spoken<br />

in a little child’s voice]<br />

(3) Hypotheses about Characters’ Thoughts and Feelings.<br />

About 12% (29) of the conversational turns about page breaks were<br />

focused on imagining how a character might think or feel. In Where the<br />

Wild Things Are, the third opening depicts Max in his bedroom with an<br />

irritated look, while the fourth opening shows his room beginning to<br />

turn into a forest. Gary, beginning the TU, pointed out that there is a<br />

plant with green leaves on the table of Max’s room in the third opening,<br />

and that the plant turns into a bush through Max’s vivid imagination: «If<br />

you turn to that page we were just on [third opening], it looks like that<br />

little vase there in the back, with flowers in it, and maybe it grew. He was<br />

imagining like it grew and… then more trees grew.» Caroline agreed, stating,<br />

«I think that between the pages, he… was getting bored and so he<br />

started to kinda think about stuff and he thought about the flowers. So he<br />

thought it would be cool if his bedroom turned into a forest.» This is an<br />

example of how a particular type of page break specific to Wild Things lended<br />

itself to this type of speculation.<br />

51


52<br />

(4) Changes in Setting.<br />

About 16% (38) of the conversational turns were primarily concerned<br />

with children’s ideas about how the setting might have changed during<br />

the page break. Changes in setting are closely related to character<br />

actions; however, we felt it was justifiable to count this as a se<strong>para</strong>te conceptual<br />

category because of the emphasis in the children’s responses on<br />

this important traditional element of narrative. An alternative would<br />

have been to make changes in setting a subsection of character actions;<br />

however, the effect of this would be to obscure the focus of the responses<br />

on setting, because character actions already comprise the largest category.<br />

An example of children’s discussion about changes in setting during<br />

page breaks occurred between the sixth and seventh openings of My<br />

Friend Rabbit, when children speculated where Rabbit might have gone to<br />

find all the animals, after the teacher began the conversation:<br />

Teacher: What else is happening between these pages?<br />

Peter: I think he’s going to the zoo to get animals.<br />

Tommy: I think they’re getting all the animals from like Africa and Egypt.<br />

Kathy: I think they are already in the zoo and they’re just going into different<br />

cages to get the animals.<br />

(5) Elapsed Time.<br />

In about 8% (20) turns, the children offered suggestions about how much<br />

time might have gone by between one opening and the next. In Hondo and<br />

Fabian, the 12 th opening shows Fabian with a «turkey sandwich» mentioned<br />

in the text, and the 13 th opening depicts Hondo outside the house<br />

and back from his trip to the beach, with the words, «At last Hondo<br />

comes home. It’s time for dinner!» Jane, beginning the TU, observed,<br />

«Maybe what they were eating [on the 12 th opening] was their lunch and<br />

then it got darker and hours passed and then they are having dinner [on<br />

the 13 th opening].» Jane thus inferred that several hours had gone by during<br />

the page break.<br />

(6) Changes in the Reader’s Visual Perspective.<br />

A few (3% or 7) conversational turns made observations about how the<br />

children’s own visual perspective had changed as viewers/readers during<br />

a page break. From the third to the fourth opening of Wild Things, Alice<br />

(beginning the TU) noticed, «If you turn back a page [to the third opening],<br />

the bed is actually bigger than the one on that page [the fourth<br />

opening].» Abigail agreed: «Maybe we are moving farther away.» Abigail’s<br />

response to Alice indicated her realization that we as readers/viewers had<br />

moved physically back from the scene between the third and fourth<br />

openings. Abigail and Alice first noticed the difference in perspective<br />

between the two spreads, and then were able to make the inference that<br />

they as viewers had moved «farther away» during the page break.<br />

(7) Changes in Literary Genre.<br />

For only one readaloud (Where the Wild Things Are), the children noticed a<br />

change from one literary genre to another during page breaks. This type<br />

of talk occurred only 7 times (about 3%). Wild Things is the only book in<br />

the set to have such a change in genre, and therefore the only book where<br />

such a response could have occurred. Max begins his adventure at home,<br />

doing things a boy might realistically do, but when he is sent to his room,<br />

imaginary elements begin. In other words, the genre changes from realistic<br />

fiction to fantasy. The children had been taught these literary<br />

terms, and were able to use them to describe the change between the<br />

third opening, where Max is standing in his bedroom, and the next opening,<br />

where trees are beginning to grow in the same room. Beginning the<br />

TU, Abby suggested, «Maybe this [the third opening] is the end of realistic<br />

fiction.» Abby was implying that the page break signaled the transition<br />

from Max’s realistic adventures to a form of fantasy. In this comment, we<br />

can see that the children were speculating about the page break as the<br />

site of the abrupt change in the story from realistic fiction to fantasy.<br />

SIGNIFICANCE<br />

This study extends and supplements current pedagogical literacy practices<br />

in primary classrooms by providing a way for practitioners to engage children<br />

in discussion of an important element of picture storybooks that has<br />

been hitherto unexploited. We claim that exploring the liminal spaces of<br />

page breaks may help children to make richer meaning from these types of<br />

texts. Specifically, the study suggests a way of inviting children to make<br />

high-level inferences during storybook readalouds, without undue teacher<br />

control. This study appears to be the first to focus on children’s interpretations<br />

of page breaks in picturebooks, and is meant to open up the issue for<br />

further research. The study provides evidence that page breaks contribute<br />

to children’s sophisticated meaning-making and literary interpretation. In<br />

addition, the study shows that relatively few direct questions by the<br />

teacher may plant the idea of page breaks in children’s minds, and they<br />

will then spontaneously speculate about what happened between two successive<br />

doublespreads. This type of speculation develops children’s critical<br />

and inferential thinking, and positions them as co-authors of the book,<br />

along with the author and illustrator. Instead of the rather artificial and<br />

compartmentalized approach where teachers may say, «Today we are going<br />

to focus on learning inferences» or other topics such as making predictions<br />

or discerning the main idea, this study suggests that children can be<br />

taught high-level inference-making in much more integrated, meaningful,<br />

53


54<br />

and authentic ways. The study thus counters many current conceptions of<br />

both the nature of literacy and the ways in which it should be taught.<br />

By reporting on seven ways in which second graders filled in the gaps<br />

represented by the page breaks in five specific picturebooks, we do not<br />

claim that these seven ways exhaust the possibilities – far from it. Indeed,<br />

although we speculate that character actions, feelings/thoughts, and<br />

imaginary dialogue may well constitute a large percentage of children’s<br />

gap-filling of the page breaks in most picturebooks, we can see, even<br />

from this small sample, that different picturebooks have different affordances<br />

in terms of the ways children may interpret page breaks.<br />

We need to know much more about children’s responses to page breaks.<br />

We are only at the beginning of knowing the specifics and the complexities<br />

of children’s responses to this unique feature of picturebooks.<br />

Discussion of page breaks provides an invitation to make inferences and<br />

engage in higher-level response and interpretation. We also need to know<br />

more about how good teachers can facilitate these rich discussions, as<br />

well as how the characteristics of texts constrain, enable, and afford<br />

potentials for children’s response and literary undersanding.<br />

In conclusion, inviting children to speculate about page breaks thus<br />

seems an eminently sensible and pragmatic thing to do when talking<br />

with children about picture storybooks in general, provided they are<br />

familiar with an interactive style and are encouraged to speculate and<br />

interpret before, during, and after the story is read aloud. Speculation<br />

about page breaks encourages children to be critical thinkers, and to<br />

adopt this stance when they begin to read on their own.<br />

Bibliography for Study #1<br />

Arizpe, E. & Styles, M. (2003). Children Reading Pictures: Interpreting visual texts, New York:<br />

RoutledgeFalmer.<br />

Bakhtin, M. (1984). Rabelais and His World (H. Iswolsky, Trans.), Cambridge, MA: MIT Press.<br />

Barrentine, S. (1996). «Engaging with Reading Through Interactive Read-alouds», in The Reading<br />

Teacher, 50, 36-43.<br />

Coady, C. (1991). Red Riding Hood, New York: Dutton Children’s Books.<br />

Collier, B. (2000). Uptown, New York: Henry Holt & Co.<br />

Derrida, J. (1981). Dissemination (B. Johnson, Trans.), Chicago: University of Chicago Press.<br />

Genette, G. (1997). Paratexts: Thresholds of interpretation (J.E. Lewin, Trans.), Cambridge: Cambridge<br />

University Press (Original work published 1987).<br />

Genette, G. (1998). Palimpsests: Literature in the second degree (C. Newman & C. Doubinsky, Trans.),<br />

Lincoln: University of Nebraska Press. (Original work published in 1982).<br />

Higonnet, M.R. (1990). «The Playground of the Peritext», in Children’s Literature Association Quarterly, 15,<br />

47-49.<br />

Kimmel, E. (1988). Anansi and the Moss-covered Rock, New York: Scholastic.<br />

Pantaleo, S. (2003). «“Godzilla Lives in New York”: Grade 1 students and the peritextual features of<br />

picture books», in Journal of Children’s Literature, 29, 66-77.<br />

Scieszka, J. (1992). The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales, New York: Viking Penguin.<br />

Shannon, D. (1998). No, David!, New York: Blue Sky Press.<br />

Sinclair, J. McH. & Coulthard, M. (1975). Towards an Analysis of Discourse: The English used by teachers and<br />

pupils, London: Oxford University Press.<br />

Sipe, L.R. (2000). «The Construction of Literary Understanding by First and Second Graders in Oral<br />

Response to Picture Storybook Readalouds», in Reading Research Quarterly, 35, 252-275.<br />

Sipe, L.R. (2001). «A Palimpsest of Stories: Young children’s construction of intertextual links among<br />

fairytale variants», in Reading Research and Instruction, 40, 333-352.<br />

Sipe. L.R. (2002). «Talking Back and Taking Over: Young children’s expressive engagement during storybook<br />

read-alouds.», in The Reading Teacher, 55, 476-483.<br />

Sipe, L.R. & Daley, P.A. (2005). «Story-reading, Story-making, Story-telling: Urban African American<br />

kindergartners respond to culturally relevant picture books», in J. May & D. Henderson (Eds.),<br />

Exploring Culturally Diverse Literature for Children and Adolescents: Learning to listen in new ways (pp. 229-<br />

242), New York: Allyn & Bacon.<br />

Sipe, L.R. & McGuire, C.E. (2006). «Picturebook Endpapers: Resources for literary and aesthetic interpretation»,<br />

in Children’s Literature in Education, 37, 291-304.<br />

Strauss, A. & Corbin, J. (1990). Basics of Qualitative Research: Grounded theory procedures and techniques,<br />

Newbury Park, CA: Sage.<br />

Turner, V. (1969). The Ritual Process: Structure and anti-structure, Chicago: Aldine.<br />

Bibliography for Study #2<br />

Bader, B. (1976). American Picturebooks: From Noah’s ark to the beast within, New York: Macmillan.<br />

Bakhtin, M.M. (1982). The Dialogic Imagination: Four essays. M. Holquist, V. Liapunov & K. Bostram (Eds.<br />

& Trans.), Austin: University of Texas Press.<br />

Barrentine, S.J. (1996). «Engaging with Reading Through Interactive Readalouds», in The Reading<br />

Teacher, 50, 35-43.<br />

Barthes, R. (1974). S/Z: An essay (R. Miller, Trans.), New York: Hill and Wang.<br />

Bartow, K. (2007). The (Untold) Drama of the Turning Page: The role of page breaks in understanding picturebooks.<br />

Unpublished manuscript.<br />

Bigler-McCarthy, T. (1996, October). Personal Communication.<br />

Chinn, C.A., Anderson, R.C. & Waggoner, M.A. (2001). «Patterns of Discourse in Two Kinds of<br />

Literature Discussion», in Reading Research Quarterly, 36, 378-411.<br />

Derrida, J. (1983). Aporias (T. Dutoit, Trans.), Palo Alto: Stanford University Press.<br />

Dewitz, P., Carr, E.M. & Patberg, J.P. (1987). «Effects of Inference Training on Comprehension and<br />

Comprehension Monitoring», Reading Research Quarterly, 22, 99-121.<br />

Fish, S. (1980). Is There a Text in This Class? The Authority of Interpretive Communities, Cambridge, MA:<br />

Harvard University Press.<br />

55


56<br />

Ghiso, M.P. & McGuire, C.E. (2007). «“I Talk Them Through It”: Teacher mediation of picturebooks<br />

with sparse verbal text during whole-class readalouds», in Reading Research and Instruction, 46, 341-362.<br />

Iser, W. (1978). The Act of Reading, Baltimore, MD: John Hopkins University Press.<br />

Keene, E.O. & Zimmermann, S. (1997). Mosaic of Thought: Teaching comprehension in a reader’s workshop,<br />

Portsmouth, NH: Heinemann.<br />

Kiefer, B. (1995). The Potential of Picturebooks: From visual literacy to aesthetic understanding. Englewood<br />

Cliffs, NJ: Prentice-Hall.<br />

Lewis, D. (2001). Reading Contemporary Picturebooks: Picturing text. New York: Routledge/Falmer.<br />

Mackey, M. (2001). «The Survival of Engaged Reading in the Internet Age: New media, old media, and<br />

the book», in Children’s Literature in Education, 32, 167-189.<br />

McCarty, P. (2002). Hondo and Fabian, New York: Henry Holt and Co.<br />

Mitchell, W.J.T. (1995). Picture Theory: Essays on verbal and visual representation, Chicago: University of<br />

Chicago Press.<br />

Nikolajeva, M. & Scott, C. (2001). How Picturebooks Work, New York: Garland Publishing.<br />

Nodelman, P. (1988). Words About Pictures: The narrative art of children’s picture books, Athens: University<br />

of Georgia Press.<br />

Nystrand, M. (1997). Opening Dialogue: Understanding the dynamics of language and learning in the English<br />

classroom, New York: Teachers College Press.<br />

Paley, V. (1986). «On Listening to What Children Say», in Harvard Educational Review, 56, 122-131.<br />

Pantaleo, S. (2008). Exploring Student Response to Contemporary Picturebooks, Toronto: University of<br />

Toronto Press.<br />

Pearson, P.D. & Duke, N. (2003). «Comprehension Instruction in the Primary Grades», in Block, C.C. &<br />

Pressley, M. (Eds.), Comprehension Instruction: Research-based best practices (pp. 247-258), New York: The<br />

Guilford Press.<br />

Rohman, E. (2002). My Friend Rabbit, New York: Scholastic.<br />

Roser, N. & Martinez, M. (2004, December). Helping Young Children Learn to Read Chapter Books: The role of<br />

the teacher in reading aloud. Paper presented at the National Reading Conference, San Antonio,TX.<br />

Schultz, K. (2003). Listening: A framework for teaching across differences, New York: Teachers College Press.<br />

Selznick, B. (2008). «Caldecott Medal Acceptance», in The Horn Book Magazine, July/August, pp. 393-406.<br />

Sendak, M. (1963). Where the Wild Things Are, New York: HarperCollins.<br />

Shannon, D. (1998). No, David!, New York: Blue Sky Press.<br />

Sinclair, J. McH. & Couthard, M. (1975). Towards an Analysis of Discourse: The English used by teachers and<br />

pupils, London: Oxford University Press.<br />

Sipe, L.R. (2008). Storytime: Young children’s literary understanding in the classroom, New York: Teachers<br />

College Press.<br />

Sipe, L.R. (1998a). «Learning the Language of Picturebooks», in Journal of Children’s Literature, 24, 66-75.<br />

Sipe, L.R. (1998b). «How Picture Books Work: A semiotically framed theory of text-picture relationships»,<br />

in Children’s Literature in Education: An International Quarterly 29, 97-108.<br />

Sipe, L.R. & Pantaleo, S. (2008) (Eds.). Postmodern Picturebooks: Play, parody, and self-referentiality, New York:<br />

Routledge.<br />

Stewig, J.W. (1995). Looking at Picture Books, Fort Atkinson, Wisconsin: Highsmith Press.<br />

Strauss, A. & Corbin, J. (1998). Basics of Qualitative Research: Techniques and procedures for developing grounded<br />

theory (2 nd Ed.), Newbury Park, CA: Sage.<br />

Turner, V. (1969). The Ritual Process: Structure and Anti-Structure, Chicago: Aldine.<br />

Valencia, R.R. (Ed.) (1997). The Evolution of Deficit Thinking: Educational thought and practice, London:<br />

Falmer Press.<br />

Willems, M. (2003). Don’t Let the Pigeon Drive the Bus!, New York: Scholastic.<br />

Visual Literacy<br />

and the Implied Readers<br />

of Children’s Picturebooks<br />

MARIA NIKOLAJEVA*<br />

While we take great efforts in teaching children to read, and in persuading<br />

both children and those adults who act as mediators, of the importance<br />

of reading, it is a common prejudice that visual literacy comes natural<br />

and does not have to be taught and trained. True, there is vast evidence<br />

of very young children responding to images; however, response<br />

and understanding are not quite identical. Neither do adults automatically<br />

acquire visual reading skills, as we all have witnessed our students’<br />

rather naïve and primitive discussion of picturebooks when they first<br />

encounter these in a children’s literature course.<br />

Visual literacy is just as essential component of a child’s intellectual<br />

growth as the ability to read verbal texts. And if verbal literacy can be and<br />

is trained, so should be visual literacy. Although a vast number of empirical<br />

studies have been carried out dealing with four-year-olds responding<br />

to this picturebook and six-years-olds responding to that picturebook (e.g.<br />

Arizpe & Styles 2003), the very process of understanding and the successively<br />

increasing ability to decode the complex synergy of word and<br />

image have not yet been studied and theorized sufficiently. It may sound<br />

like a <strong>para</strong>dox when picturebook scholarship has recently expanded like<br />

no other field in children’s literature research (e.g. Doonan 1993; Lewis<br />

2001; Nikolajeva & Scott 2001). Indeed, I would claim that while we still<br />

do not have a comprehensive children’s literature-specific theory, we do<br />

have a well-developed theory of multimodal communication, including<br />

picturebooks. Still, we know too little about how picturebooks are perceived<br />

by and make impact on young readers. I will therefore not discuss<br />

the question whether actual children do or do not understand certain<br />

aspects of multimodal texts, but use as a point of departure the concept<br />

of the implied reader, the reader that can be extracted and constructed<br />

from the text as such. The concept of literary competence is central in<br />

such line of inquiry. I will thus speak about competent/incompetent and<br />

sophisticated/unsophisticated readers, without putting any evaluative or<br />

pejorative significance in these terms.<br />

In his ground-breaking work on reader-oriented semiotics, S/Z (1974),<br />

*Professora de Letras na Universidade de Cambridge, R.U.<br />

57


58<br />

Roland Barthes suggests that readers need to have access to a number of<br />

codes in order to be able to decipher the message:<br />

the proairetic code<br />

the hermeneutic code<br />

the semic code<br />

the symbolic code<br />

the referential code<br />

I will in the following consider how these codes are pertinent to visual literacy<br />

and how, if in any way, they become specific in a multimodal text.<br />

The proairetic, or anticipatory code controls understanding of the plot. In<br />

order to comprehend the plot, the reader must have elementary knowledge<br />

of what a narrative is, a text that has temporal and causal components.<br />

In using proairatic decoding, readers interact with texts on the<br />

basis of anticipation and retrospection, as developed in Wolfgang Iser’s<br />

reception theory. The understanding of plot components, such as exposition,<br />

complication, and culmination, will facilitate readers’ anticipation<br />

of a conflict resolution and, in most cases, a happy ending. It will also<br />

enable readers to make inferences from completed events about previously<br />

planted details; or to understand the characters’ actions and intentions.<br />

The most essential code in reading a picturebook is its sequential nature.<br />

This is something that art critics often ignore in their picturebook analyses.<br />

Unlike the verbal text, images are disjunctive, and it must be understood<br />

that there is a temporal and causal relationship between them. In<br />

other words, an event in one image takes place before or after an event in<br />

another image and usually is connected to it by some form of cause-and-<br />

-effect. On the other hand, unlike a verbal text, images have the possibility<br />

of depicting two or more events, suggesting <strong>para</strong>llel plots that either<br />

take place simultaneously or successively, for instance, in Come Away from<br />

the Water, Shirley, by John Burningham. The readers’ competence will<br />

decide whether they will be able to make the connection between plots<br />

or conclude that they are independent of each other.<br />

The materiality of a picturebook creates further premises. A specific feature<br />

of visual anticipatory code is page-turning, with a conspicuous<br />

detail placed in the bottom right corner of a doublespread and leading<br />

into the next one. Page layout can contribute to plot progression with several<br />

panels on a doublespread. Words and images can enhance and complement<br />

each other: words can lead readers’ attention toward images, for<br />

instance in Curious George, by H.A. Rey, where the words point at images<br />

without actually naming what happens: «First this –/and then this!» The<br />

sequential nature of a picturebook demands following plot development<br />

over several doublespreads. The visual plot can start already on the cover;<br />

it can also be developed on title page and the endpapers, and conclude<br />

on the back cover. In other words, the proairatic visual and multimodal<br />

code offers some further potential as compared to purely verbal.<br />

Images can range within a broad continuum of representation modes,<br />

from photography to abstraction. Visual literacy is here built on the<br />

understanding of the connection between the signifier and the signified,<br />

that is the word and the image. For instance, a wide range of different<br />

images of cats have the same referent, but the viewers are required to<br />

understand that the signifiers, the images, can be of different kinds. They<br />

are further prompted to ascribe higher degree of fact to photographic<br />

and true-to-life images, while abstract or distorted images will be perceived<br />

as fictional.<br />

Images can also be totally devoid of a referent, that is, be empty signifiers.<br />

Picturebooks frequently play with such possibilities, either offering a<br />

non-existing referent, such as the Grinch or a Zizzer-Zazzer-Zuzz in books<br />

by Dr. Seuss, or just ignoring the whole issue. Such books are normally<br />

labelled as nonsense, while they are in fact incredibly useful implements<br />

in visual education.<br />

The hermeneutic code, adhering closely to the proairetic, involves interpretation<br />

on the story level. The specific aspect of interpretation of a multimodal<br />

text is precisely its multimodality, where the overall meaning is<br />

created on at least two levels; moreover, not by the sum, but the interaction<br />

and synergy of these. This is a basic premise of contemporary picturebook<br />

scholarship, so I will not dwell on it further, referring to the<br />

above-mentioned works. The famous hermeneutic circle can be perfectly<br />

elucidated by the process of reading a picturebook, turning from words<br />

to images and back, with a new and deeper understanding with every spiral.<br />

Further, since images are non-linear they allow a truly hermeneutic<br />

activity of starting with the first overall impression, examining the<br />

details, returning to the whole with a more profound understanding,<br />

and so on, infinitely. Thus the understanding of the plot, of what actually<br />

happens in the narrative, is highly dependent on the level of visual<br />

sophistication. The verbal and visual plots can be mutually redundant,<br />

complementary or contradictory; they may even be independent of each<br />

other. There may be several visual plots to one verbal or several verbal<br />

plots to one visual. The verbal plot may be simple, while the visual is complex,<br />

and the other way round. The potentials are endless.<br />

In wordless picturebooks, a type of narrative that has no <strong>para</strong>llel in the<br />

novel, plots are vague and allow multiple interpretations, even when<br />

images are relatively simple. From a sequence of panels on the same doublespread<br />

or from a sequence of pages and spreads, the plot may seem<br />

more or less clear. For instance, in Jan Ormerod’s Moonlight, the most obvious<br />

plot is a child’s reluctance to go to sleep and the parents’ patience<br />

59


60<br />

and loving support. However, with some imagination, we can elaborate<br />

on the story. We can tell it in short, concise sentences, or supply long and<br />

complex details. It is not self-evident that the adult is the child’s mother;<br />

she (or it is a he? The absence of a verbal text leaves the gender blurred)<br />

may be for some reason staying over with distant relatives. The story can<br />

depict the child’s first night in a child home, whereupon the implication<br />

becomes much more dramatic. We can add a retrospective aspect and suggest<br />

that an adult narrator is looking back at a childhood experience.<br />

Without verbal support, images can prompt a variety of plots and conflicts.<br />

More complex, postmodern wordless narratives present further challenges.<br />

The non-linear nature of images stimulates various reading directions,<br />

even though some details may suggest the order. Titles such as A<br />

Journey or The Road to a Feast may prompt the interpretation, but they do<br />

not provide any actual plot.<br />

When images are accompanied by words, they can accentuate plot progression,<br />

for instance, by the implied movement. It has been repeatedly<br />

pointed out that in Western picturebooks images are read left to right, in<br />

the direction of verbal reading. If we, as a commutative test, reverse an<br />

image, to flow of the plot will be disturbed. In cultures where text is read<br />

right to left, the reverse is used, and in translations of books between left-<br />

-to-right and right-to-left cultures, the iconotext frequently gets destroyed.<br />

Another convention is depicting a character several times on a page to<br />

denote movement and flow of time. To decode such images needs some<br />

competence, and it is often suggested that young readers do not decode<br />

them adequately. A sequence of framed or unframed images also suggests<br />

progression. Multiple images can sometimes become extremely complex,<br />

for instance in The Girl Who Was Good at Many Things, by Dorte Karrebaek,<br />

where three figures of the same character at various ages are portrayed<br />

behind each other in the same image.<br />

A frequently overlooked aspect of a picturebook interpretation is setting.<br />

Most picturebooks utilize images to create settings that can literally set<br />

the plot in a certain surrounding, but also convey narrative time, for<br />

instance, by change of seasons, as in Virginia Lee Burton’s The Little House;<br />

enhance characterization, convey a mood, such as the gloomy breakfast<br />

scene in Anthony Browne’s Gorilla, or add details not mentioned in the<br />

text. Visual space can be distorted, as in Roberto Innocenti’s The Last Resort.<br />

Even if the setting is not integral to the plot, it still has a function of contributing<br />

to the overall impression. Picturebooks can also employ negative<br />

space, a white background that often emphasizes the central position of<br />

the character, a child’s self-centralization. Negative space is an artistic convention<br />

that needs decoding, since it does not occur in real life.<br />

Specifically visual codes also include motion lines, speech and thought<br />

balloons, and intrapictorial words (words that appear inside images, but<br />

are not part of the narrative). Simultaneous succession, that is, depicting<br />

the same object several times to denote motion and flow of time, is yet<br />

another convention.<br />

Mastering hermeneutic codes is not an automatic skill. Readers must<br />

realize that there is a meaning in a text, which is far from self-evident,<br />

and not least, that in picturebooks, the meaning is produced by the synergy<br />

of word and image. To extract meaning from a picturebook text alone,<br />

which unfortunately is not unusual in educational and scholarly practice,<br />

is pointless, as can be seen in the extreme case of the well-known picturebook<br />

Rosie’s Walk, by Pat Hutchins. But also discussing content-related issues<br />

such as gender, child/parent relationship, war or multiculturalism, without<br />

paying attention to images, is dubious, since images can both amplify<br />

and seriously subvert the messages and values of the verbal text.<br />

The semic code governs, according to Barthes, the understanding of literary<br />

characters. Here I would like to add an essential aspect to Barthes’ definition<br />

as pertaining exclusively to literary characters. The most recent studies<br />

in narrative theory have been focused on the issue of fictionality.<br />

Young children – and frequently unsophisticated adult readers – have<br />

problems with understanding of fiction as opposed to fact, and of the<br />

conventions used in literary works. The ontological status of fictional<br />

characters, that is, their relationship to real people or other objects outside<br />

the text, is highly dependent on our general position towards art as<br />

mimetic or semiotic. If we view literature as a direct reflection of reality,<br />

we interpret it in a different way as compared to when we perceive it as<br />

a pure construction. A mimetically oriented reader will in literary characters<br />

seek, for instance, psychological credibility, motivation, and background<br />

causality. A semiotically-oriented reader will accept that literary<br />

characters have no will of their own, that they can lack integrity, wholeness,<br />

complexity that real people possess. Characters can be fully subordinate<br />

and instrumental to the plot and lack any psychological traits, as<br />

for instance fairy-tale heroes. Yet even these can be given a certain<br />

amount of roundness. The images of the witch in the various picturebooks<br />

based on the Hansel and Gretel fairy tale are radically different in<br />

their complexity. Thus, Anthony Browne’s version contains several<br />

dimensions neither present in the verbal story nor in any of the other<br />

illustrated versions. If we put mimetic demands on characters that are<br />

deliberately not constructed as mimetic, we will perhaps perceive them<br />

as flat and unconvincing. I am not directly claiming that semiotic reading<br />

implies higher competence, but the awareness of options certainly<br />

does. For instance, the ontological status of the so-called imaginary<br />

friends, such as the eponymous character of John Burningham’s Aldo, is<br />

decisive for the general interpretation of the narrative.<br />

In terms of characterization, picturebooks offer some interesting possi-<br />

61


62<br />

bilities as compared to novels. Images can be employed in characterization<br />

in different and occasionally more effective ways than words. But<br />

they also have limitations. Images are extremely suitable for external<br />

descriptions, giving us an immediate portrait of the character. Yet sometimes<br />

the verbal/visual interaction can be redundant; my favourite example<br />

is Peter Rabbit’s blue jacket (the text states that it is blue, while it is<br />

clearly seen in the image); but also the verbal statement about the brother<br />

and sister in Browne’s The Tunnel being different, which is promptly<br />

conveyed by the images.<br />

Images can in various ways indicate and emphasize gender or ethnicity,<br />

but they can only indirectly provide information about age, and they<br />

have no nominative function, that is, cannot inform us about the character’s<br />

name. They can, by position on the page (high/low, central/peripheral),<br />

convey power hierarchies, but they cannot express the exact relationships,<br />

such as mother/daughter or sister/brother.<br />

Images can reveal that characters are not human. Picturebooks abound<br />

in animal characters, yet the fact is not necessarily mentioned in the verbal<br />

text. Literary competence includes understanding that anthropomorphic<br />

animal figures represent children and adults. Certain superficial<br />

traits, for instance, clothes, suggest gender. However, the animal shape<br />

occasionally allows circumventing the issue of age, as well as some other<br />

issues. Are the two hippos in James Marshall’s Martha and George two children<br />

playing house, or are they two happy pensioners visiting each<br />

other? Are Arnold Lobel’s Toad and Frog homosexuals?<br />

Anthropomorphic animals or toys seldom pose hard interpretative questions,<br />

but in some cases there is a fluctuant border between animal and<br />

human, like in The Tale of Peter Rabbit, that once again demands a deeper<br />

understanding of the character’s ontology. Picturebook characters can<br />

even be abstract figures, yet semic codes will clearly prompt relevant interpretation,<br />

for instance, in Leo Lionni’s Little Blue and Little Yellow, where the<br />

significance of colour, size, and mutual position is obvious. Not least,<br />

abstract notions, like the night in Ray Bradbury’s and Leo and Dianne<br />

Dillons’ Switch on the Night, can be represented visually.<br />

Images can convey the characters’ mood or state of mind (happy, sad,<br />

angry, worried), but they have limited possibilities of representing complex<br />

mental conditions, unless we go from the mimetic to the symbolic<br />

level of interpretation, which takes us to the next of Barthes’ codes.<br />

The symbolic code assists the reader in understanding the symbolic/nonmimetic<br />

meaning of the text. Literary texts are, unlike non-fiction, polysemantic,<br />

which means that they have at least two interpretative levels,<br />

the literal and the transferred. Unsophisticated readers frequently read<br />

texts on the literal level only. For instance, they might read Gro Dahle’s<br />

and Svein Nyhus’s Behind Mumme Lives Moni as pure adventure, neglecting<br />

its metaphorical level dealing with suppressed aggressions represented by<br />

the monster. Yet the clothes of the monster in the images clearly prompt<br />

that he is the boy’s double. In The New Playmate, by Dorte Karrebaek, it is<br />

likewise necessary to understand that the images represent the character’s<br />

inner world. It may be gratifying to compare images of male and female<br />

protagonists to observe how masculine emotions are portrayed visually as<br />

violent, while female feelings are rather those of anxiety and fear.<br />

While images, as stated earlier, have limited potential in conveying literal<br />

inward characterization, they have vast possibilities in depicting nonverbal<br />

and subverbal states, using complex symbols and other visual figurative<br />

language. I have on several occasions discussed the wordless doublespread<br />

in The Tunnel, corresponding to one short sentence in the verbal<br />

narrative: «She was frightened.» To decode the symbolic aspects of the<br />

image, readers must possess several skills. They must be familiar with the<br />

conventions of depicting motion to understand that the static image in<br />

fact conveys duration. They must recognize the wide scope of interpictorial<br />

links. Not least, they must allow the possibility that the event takes<br />

place wholly within the character’s mind. Images can encourage symbolic<br />

encoding, for instance, by adding the sense of hesitation as to the interpretation<br />

of events as external or internal, as play, dream or actual happening.<br />

The counterpoint of words and images creates a tension that<br />

stimulates different levels of reading.<br />

Intertextuality is a decisive component of literary competence, and in picturebooks<br />

we normally speak about intervisuality, visual or pictorial connections<br />

between texts. These include direct visual quotations, self-references<br />

and parody, extensively discussed in recent criticism. It has frequently<br />

been questioned whether picturebooks abounding in interpictorial<br />

images are in fact addressed to children. For my discussion this argument<br />

is irrelevant, since adult readers can just as well be uninformed<br />

about rich layers of visual references, for instance, in Anthony Browne’s<br />

Willy’s Pictures, while children may in the same book recognize elements<br />

from specific childhood culture. As usual, we are speaking about competent<br />

versus incompetent readers irrespective of age.<br />

Understanding metafiction is quite an advanced skill; yet picturebook<br />

images have great potential for metafictional games with readers, prominent<br />

in such much-discussed books as David Wiesner’s The Three Pigs, or<br />

Lauren Child’s Who is Afraid of the Big Bad Book. In Remy Charlip’s and Jon<br />

J. Muth’s Why I Will Never Ever Ever Ever Have Enough Time to Read This Book,<br />

the mis-en-abyme image, repeated in every spread, creates a comic effect,<br />

but also brings the readers’ attention to the text’s status as a text, a literary<br />

construction.<br />

Finally, the referential code points to the cultural context. Here, too, I would<br />

like to broaden Barthes’ definition by discussion context as such. Readers<br />

63


64<br />

need to understand that literary texts are created during different historical<br />

periods and naturally reflect the time when they were written and<br />

published. The simplest example is clothes that naturally point at a specific<br />

period. Setting is – or may be – significant to place the narrative in<br />

a historical context as in Roberto Innocenti’s Rose Blanche, but is lost on<br />

readers who do not recognize the markers, for instance, the Eiffel Tower<br />

in Ludwig Bemmelmans’ Madeline. Here cultural decoding is essential.<br />

Not least, ideological contextualization is essential. Picturebooks containing,<br />

from today’s vantage point, conservative values, can still be<br />

appealing to young readers on the plot level. Books that we as critics may<br />

consider as artistically high standing can be obsolete in their ideology,<br />

especially hidden ideology. On the other hand, sophisticated readers – I<br />

would say, excessively sophisticated readers – might view Slovenly Peter stories<br />

as parody, while others, including myself, are terrified. By contrast,<br />

the images in The Girl who Was Good at Many Things reflects a modern, feminist<br />

view of the child liberating herself from parental restraints.<br />

It should be clear that the codes are hierarchical, starting from the most<br />

elementary, the proairetic, to the most complex, the referential. Since literary<br />

competence develops gradually, this would seem to be the most natural<br />

order in training young readers in visual decoding. Yet there is some<br />

difference inherent to the texts themselves. From his discussion of codes,<br />

Roland Barthes identifies two distinct types of artistic texts, readerly and<br />

writerly. Readerly are texts consciously based on codes common to<br />

authors and recipients. Writerly texts deliberately break conventions and<br />

thus defy recipients’ interpretations. Obviously, most of children’s picturebooks<br />

fall under the first category, demanding little effort in the<br />

process of decoding. Yet the texts that critics most often take up for discussion<br />

are those that offer resistance and encourage readers’ interaction.<br />

In terms of another theory, readerly texts are monological, while<br />

writerly texts are dialogical, based on a creative dialogue between the<br />

text and the reader. I am far from claiming that writerly texts in general<br />

and writerly picturebooks in particular are unquestionably of higher<br />

artistic quality. Yet they doubtless are more suitable for encouraging and<br />

training visual competence in young readers.<br />

Crossover Fiction:<br />

Creating Readers with Stories<br />

that Address the Big Questions<br />

SANDRA L. BECKETT*<br />

The recent crossover phenomenon, which was ushered in with the<br />

extraordinary success of J.K. Rowling’s Harry Potter books, has had an<br />

enormous impact on children’s literature and reading in the last decade.<br />

My recent book on Crossover Fiction examines the contemporary phenomenon<br />

in a broad global and historical context. While crossover literature<br />

is not a new phenomenon, it has recently acquired a new status and<br />

a great deal of media attention. Although the genre also includes adult<br />

fiction read by young readers, the term crossover fiction has generally<br />

been adopted only for children’s or young adult books that appeal to<br />

adults. This paper focuses on contemporary child-to-adult crossover fiction<br />

that is playing a very significant role in «creating readers to understand<br />

the world.»<br />

Crossover fiction has been seen by many journalists and critics only as a<br />

marketing and mass media phenomenon. The view expressed by the<br />

author of the article «Harry Potter and the Art of Making Money» is widely<br />

shared: «The whole J.K. Rowling thing long ago passed out of the realm<br />

of literature into accountancy.» 1 Although the commercial success of the<br />

super crossovers often overshadows literary considerations, these books<br />

are a literary as well as a marketing phenomenon. 2 Yet, there are still<br />

those who stubbornly refuse to see crossover fiction as «serious literature».<br />

In a review of Io Non Ho Paura (I’m Not Scared) by Niccolò Ammaniti,<br />

the British writer George Walden censures «those who sell us... kidult<br />

writing as serious literature» 3 . His statement is inadvertently ironic<br />

because this particular example, although hailed as a crossover novel in<br />

the English-speaking world, was released as a highly acclaimed adult<br />

novel in Italy in 2001. Crossover books, especially the hugely popular children’s<br />

fantasy novels being read by adults, are often seen merely as<br />

«escapist pap» or an indication of «the infantilization of adult culture»<br />

and the «dumbing down» of culture in general. The American critic<br />

Harold Bloom considers the success of the Harry Potter books in an article<br />

titled «Dumbing Down American Readers», while the British writer<br />

Anthony Holden claims it is additional proof that the British are «increa-<br />

References<br />

Arizpe, E. & Styles, M. (2003). Children Reading Pictures: Interpreting Visual Texts, London: Routledge.<br />

Barthes, R. (1974). S/Z, New York: Hill & Wang.<br />

Doonan, J. (1993). Looking at Pictures in Picture Books, Stroud: Thimble Press.<br />

Lewis, D. (2001). Reading Contemporary Picturebooks, Picturing Text, London: Routledge.<br />

Nikolajeva, M. & Scott, C. (2001). How Picturebooks Work, New York: Garland. * Professora de Línguas, Literaturas e Culturas Modernas da Universidade de Brock, Canadá.<br />

65


66<br />

singly dragged down to the lowest common denominator by the purveyors<br />

of all forms of mindless mass entertainment» 5 . In recent years, a number<br />

of terms have been coined to refer to these infantilised adults, including<br />

«kidults», «adultescents», and «middlescents» 6 . Several British authors<br />

who write solely for adults, including A.S. Byatt, Philip Hensher, and<br />

Howard Jacobson, have expressed their shocked dismay at all the adults<br />

reading Harry Potter and other books published for children. In an article<br />

devoted to «the sad grown-ups» who don’t realize that they are «supposed<br />

to grow out of children’s books», Jonathan Myerson says that if he<br />

had his way, the books would all carry «a heavy-print literacy warning:<br />

“This Is A Children’s Book, Designed For Under Elevens. It May Seriously<br />

Damage Your Credibility.”» In his view, children’s books have absolutely<br />

nothing to offer adult readers, who do not share the same interests and<br />

problems as children. Myerson appallingly underestimates both children’s<br />

literature and child readers, chiding the children’s author foolish<br />

enough to believe that a child reader would «understand, let alone<br />

enjoy», complex plotting. 7 Philip Pullman took issue with Myerson’s<br />

scathing article in a film made for the 2001 Whitbread Book Awards, at<br />

which The Amber Spyglass became the first children’s book ever to win the<br />

prestigious Book of the Year award. Only those who have not been<br />

exposed to children’s books for decades could believe that their appeal<br />

with adults is a sign of dumbing down. Readers, writers, critics, publishers,<br />

booksellers, and librarians now widely agree that some of the very<br />

finest fiction is being written and published for young readers.<br />

While some critics attribute the crossover phenomenon to the «infantilization»<br />

of adults, others point to the «adultization» of today’s children<br />

and young adults. 8 This view has also led to the coining of a number of<br />

new terms, including «tweenager», «tween», and «tweenie». Scott<br />

MacDonald, a staff writer for the Canadian publishing trade magazine<br />

Quill & Quire, thinks that young adult no longer applies to the 13-to-17 age<br />

range, but rather to that of 11-to-14. 9 It is felt that children’s fiction in<br />

general is becoming more «adult», as children and adolescents become<br />

increasingly sophisticated. In the belief that children’s literature is not<br />

distinct from general literature and should share the same artistic freedom,<br />

many contemporary children’s authors have freed themselves from<br />

the conventions and codes that traditionally governed the genre, thus<br />

opening new avenues for crossover fiction.<br />

J.K. Rowling was seen to have transgressed all the rules for a conventional<br />

children’s book, notably with regard to length and the darkness of the<br />

subject matter. Her ever longer books challenged the bias about children’s<br />

ability to read lengthy novels. At 255,000 words, the fourth volume,<br />

Harry Potter and the Goblet of Fire, was called the longest children’s<br />

book in existence. While the Harry Potter books established indisputably<br />

that children could easily and eagerly devour seven-hundred-page novels,<br />

they only confirmed what many children’s writers had been claiming for<br />

years about the child reader’s desire and need to be challenged. Prior to<br />

Rowling, other authors had convincingly made the case with lengthy and<br />

much more complex novels, such as Michael Ende’s Die Unendliche<br />

Geschichte (The Neverending Story), at 428 pages, and Jostein Gaarder’s Sophies<br />

Verden (Sophie’s World), at 508 pages. Since the unprecedented success of<br />

Rowling’s books, however, page counts of children’s books have increased<br />

exponentially in many markets. The first of the exquisitely written novels<br />

of La Saga de los Confines (The Saga of the Lands at the End of the<br />

World) trilogy, which the Argentine author Liliana Bodoc published in<br />

2000, is about 350 pages, but the longest is close to 500 pages. Published<br />

in 2003 for a readership of ten years and up, Tintenherz, the first novel in<br />

Cornelia Funke’s bestselling Inkheart trilogy, is almost 600 pages. The<br />

2005 début novel in Stephanie Meyer’s Twilight series, which has filled<br />

the void for many Harry Potter fans, is 498 pages and the final sequel,<br />

Breaking Dawn, is 754 pages. Although the Harry Potter books made the<br />

point on a much more global scale, the rules for conventional children’s<br />

books had actually all been broken in much earlier works.<br />

Children’s authors whose books are also enjoyed by adults often use complex<br />

narrative techniques with more innovation and audacity than<br />

authors writing exclusively for adults. Whereas adult fiction has<br />

remained very compartmentalized, children’s literature has been defying<br />

the boundaries for years. Crossover works often transgress or transcend<br />

traditional generic boundaries as well as conventional age boundaries.<br />

The hybridization of traditional genres characterizes much contemporary<br />

crossover fiction. The complex, disturbing novels of the<br />

British author Jan Mark, which appeal to adults as well as young readers,<br />

do not fit the typical science fiction mould. While child-to-adult<br />

crossovers can be found in most genres, the super crossovers that have<br />

garnered most of the public and critical attention have been fantasy<br />

titles. In the past decade, fantasy has become an increasingly popular<br />

genre with adults as well as children. However, it has always been a very<br />

flexible genre that easily bridges the young adult and adult markets. In<br />

recent years, it has become less marginalized in the literary establishment,<br />

in large part due to innovative genre blending. Jostein Gaarder’s<br />

international bestseller Sophie’s World, published in 1991, blends fantasy<br />

with mystery in «A Novel about the History of Philosophy». Tormod<br />

Haugen cleverly combines fantasy, realism, thriller, and science fiction<br />

with cinematographic techniques in Skriket fra Jungelen (The Cry from the<br />

Jungle, 1989), which is subtitled «A Film Novel». Philip Pullman’s treatment<br />

of moral issues in His Dark Materials certainly elevates his work<br />

above such clear-cut generic categories as «fantasy». The fantasy elements<br />

67


68<br />

in the sophisticated trilogy allow the author to explore human psychology<br />

through characters that have very human thoughts and emotions. His<br />

Dark Materials has led a move toward more realistic fantasy or fantasy<br />

realism, in which other worlds help us to better understand our own. The<br />

Australian author Garth Nix has been hailed by some as the successor to<br />

Pullman. His first novel, Sabriel, published in 1995, won the first Aurealis<br />

Award in both the adult and young adult categories, as did the sequels in<br />

The Old Kingdom series. Like Pullman, Nix thinks that «all the best fantasy<br />

is very firmly grounded in reality», as he put it in an interview on the<br />

Harper Teen website. Herr der Diebe (The Thief Lord), published in Germany in<br />

2000, marked the brilliant international début of Cornelia Funke, who<br />

has been called «the German J.K. Rowling». The intricate narrative blends<br />

magical fantasy and real-life adventures to tell the story of a gang of misfits<br />

living in a deserted cinema in contemporary Venice.<br />

The British author and screenwriter William Nicholson writes epic fantasy<br />

that deals with real threats and very human issues. At the same time,<br />

his The Wind on Fire trilogy has a strong spiritual element. The author<br />

believes that fantasy literature is currently filling a spiritual need in both<br />

adult and child readers. 10 The British author David Almond blurs the<br />

boundaries of fantasy and realism so completely that his works have been<br />

classified as both. His first novel, Skellig (1998), which won the 1998<br />

Whitbread Children’s Award (beating out the second Harry Potter) and<br />

could have competed in the adult category according to the jury’s president,<br />

is the haunting story of a strange creature that a boy discovers in<br />

the garage of their rundown new house. Almond is attributed with creating<br />

a genre all his own, a unique blend of spirituality and gritty, urban<br />

realism that is sometimes referred to as mystical realism.<br />

Another new facet of the fantasy genre shares much in common with historical<br />

fiction. While The Tales of the Otori trilogy has a strong mythic<br />

and epic adventure dimension, Lian Hearn immersed herself in Japanese<br />

history, culture, and language to convincingly create a world set in a<br />

mythical feudal Japan. Kevin Crossley-Holland’s award-winning Arthur<br />

trilogy, which begins with The Seeing Stone (2000), is a retelling of<br />

Arthurian legend blended with a realistic view of rural medieval life at<br />

the time of the Crusades. An acclaimed poet and translator of Beowulf,<br />

Crossley-Holland did not set out to write specifically for children, but<br />

rather to transmit the ancient Arthurian legends, a goal which he achieves<br />

in meticulously researched books full of period detail and marked by his<br />

knowledge of Old English. Liliana Bodoc’s La Saga de los Confines trilogy is<br />

at once a magical epic story in the tradition of Tolkien but inspired by the<br />

native legends of Latin America, and the story of the conquest of the<br />

Americas. Reviewers urged adults, as well as children, to read these stimulating<br />

books that address important moral issues of our time.<br />

Even extremely popular comic crossover fantasies often take on other<br />

dimensions. Terry Pratchett’s hugely successful comic/fantasy Discworld<br />

series began as a spoof of the conventions of the fantasy genre, but<br />

evolved into an increasingly satirical commentary on almost every aspect<br />

of today’s world. His unique brand of fantasy has attracted a huge cult following<br />

among young readers as well as adults, although only four novels<br />

in the series have been marketed for a young audience. In a fantastic, surreal<br />

setting, Pratchett humorously examines real-world questions and<br />

practices what has been called «stealth philosophy». Like Pratchett, the<br />

German author Walter Moers offers a witty and satiric reflection on contemporary<br />

society in comic fantasy novels that appeal to a similarly<br />

enthusiastic crossover audience. Using an action-film formula, Eoin<br />

Colfer blends folklore, fantasy, crime, and technology in his fantasy series<br />

Artemis Fowl. Like the Harry Potter saga, the Artemis Fowl series has special<br />

appeal for reluctant readers, especially teenage boys. Although<br />

Colfer’s books may not be of high literary value, the numerous allusions<br />

to literature, television, cinema, video games, and the internet give them<br />

a hip quality that appeals to many teenagers and adults.<br />

The extensive contemporary child-to-adult crossover is largely due to the<br />

fact that today’s children’s and young adult books are complex and multilayered<br />

texts that invite readings on many levels. Characters do not<br />

adhere to clearly defined categories of good and bad or black and white;<br />

rather, they are complex and ambiguous. The characters in Pullman’s<br />

trilogy illustrate this particularly well, but even Harry Potter has a disturbing,<br />

dark side. The clearly delineated plots of conventional children’s<br />

literature have been replaced by complex plots with multiple, interwoven<br />

story lines. The complicated plot of His Dark Materials became increasingly<br />

so with each novel. Readers’ diverse responses to these multilayered<br />

texts are not necessarily the result of age, but rather of individual sensibilities.<br />

Children, adolescents, and adults read crossover texts differently<br />

from diverse perspectives, but they can all take equal pleasure from the<br />

reading experience.<br />

Many crossover books are of extremely high literary quality and have a<br />

very sophisticated style. Reviewers feel that some children’s books have<br />

been so slanted to an adult audience that they require adult competencies<br />

and make inappropriate intellectual and emotional demands. The<br />

majority of children’s authors disagree, however. In the 1990s, the<br />

Danish author Kim Fupz Aakeson stated: «It’s all right to provoke children<br />

with something they don’t understand or get a bit wrong. Neither<br />

does it matter if a children’s book contains something that is perhaps<br />

only for the adult reader.» 11 Already in the 1970s and 1980s, Jan Mark, a<br />

rare two-time winner of the prestigious Carnegie Medal, was writing very<br />

difficult and sophisticated works said to «stretch the range of children’s<br />

69


70<br />

books». A reviewer of Handles (1983) claimed that Mark «provides for<br />

young people the combination of fine prose and strong realism generally<br />

reserved for adults». 12 Early in his writing career, the Flemish author<br />

Bart Moeyaert consciously chose what one critic terms «adult writing for<br />

children and youth». While books by authors like Moeyaert may sometimes<br />

be less accessible for young readers, they «tap uncharted depths in<br />

children». 13 The same can be said of the Norwegian author Tormod<br />

Haugen and the Danish author Louis Jensen, whose novels are characterized<br />

by their literary quality and complex narrative techniques. Aidan<br />

Chambers’s Carnegie Medal-winning novel Postcards from No Man’s Land<br />

(1999), which was recommended for sophisticated teenage readers and<br />

adults, indicates the extent to which the «literary novel» had gained a<br />

foothold in young adult fiction by the end of the 1990s. Like many other<br />

young adult novels, Postcards from No Man’s Land could have been published<br />

for the adult market. It is unlikely that novels such as Chamber’s<br />

This Is All: The pillow book of Cordelia Kenn and M.T. Anderson’s The Astonishing<br />

Life of Octavian Nothing, Traitor to the Nation, which were both published in<br />

2006, would have appeared as young adult novels only a few years earlier.<br />

Jonathan Hunt argues that «young adult literature has matured into something<br />

virtually indistinguishable from the best adult literary fiction». 14 An<br />

increasing number of books being published as young adult titles could<br />

just as easily be published for adults, and vice-versa. 15<br />

While young readers do not have to understand everything in a text<br />

(adult readers don’t necessarily either), many critics feel that today’s<br />

young readers generally have more literary competence than their predecessors.<br />

Children of the twenty-first century are savvy consumers<br />

exposed to the same cultural and marketing influences as adults.<br />

Children’s authors realize that they have a demanding and discerning<br />

audience. Convinced that preteen readers are the most difficult audience<br />

of all, Carl Hiaasen asked for an escape clause in his two-book contract<br />

with Knopf so he could bail if Hoot (2002), his début novel for young readers,<br />

was a failure.<br />

Many crossover novels contain thought-provoking concepts that engage<br />

the reader – adult or child – on an intellectual as well as an emotional<br />

level, often raising questions that remain unanswered. Jane Nissen, a former<br />

children’s editor at Penguin, contends that «Philip Pullman’s trilogy<br />

heralded the rise of quality fiction and led the way for Harry Potter.» 16<br />

Many critics feel that His Dark Materials can better lay claim to the<br />

crossover label than Harry Potter due to the complexity of a work that the<br />

author describes as «Paradise Lost for teenagers». A number of American<br />

critics feel that Pullman writes more for adults because his challenging<br />

books require some knowledge of religion, metaphysics, physics, psychology,<br />

politics, and previous literary works. However, other critics rightly<br />

point out that «adults read J.K. Rowling because she is not complicated;<br />

children read Philip Pullman because he is». 17 As we have seen, Pullman<br />

was not the first author to write children’s fiction of high literary quality<br />

that appealed to adults. A few years before Pullman, Jostein Gaarder<br />

also accomplished the rare achievement of gaining both commercial success<br />

and the approbation of the literary establishment with a children’s<br />

book, namely Sophie’s World, published in 1991. Gaarder’s books for children<br />

and young adults are sophisticated, ingeniously contrived, and multilayered.<br />

All of his novels, whether published for an adult or a juvenile<br />

audience, deal with profound metaphysical questions which are of interest<br />

to young and old alike.<br />

The darkness in children’s books, which took many adults by surprise<br />

when the crossover vogue brought them under closer scrutiny, is certainly<br />

not a new phenomenon. Violence and death figure prominently in<br />

many children’s classics, including the fairy tales of Perrault and the<br />

Brothers Grimm, Alice in Wonderland, and Peter Pan. Dark themes were<br />

largely discouraged in children’s literature throughout much of the<br />

twentieth century, however. Robert Cormier’s first young adult novel was<br />

rejected by numerous publishers for its pessimistic ending, although his<br />

subsequent works continued to describe the dark underside of adolescence.<br />

Since his first novel, Janne, Min Vän (Johnny My Friend), published in<br />

1985, the Swedish author Peter Pohl has consistently dealt with difficult<br />

themes in works that rarely have a happy ending. Today children’s<br />

authors often present a much more pessimistic view of the world. In writing<br />

The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, Mark Haddon claims that<br />

he wanted to get rid of the «little invisible ring of safety» that characterizes<br />

children’s fiction and to say to the reader: «This is the real world, bad<br />

things might happen.» 18 Since the outset of his career, Tormod Haugen has<br />

never hesitated to use discomforting themes, because he wants to depict life<br />

as it really is, rather than the way adults want children to believe it is.<br />

According to Bart Moeyaert, many adults object to novels of this kind and<br />

feel that «you can’t give children a dark corridor with no bright end in<br />

sight». 19 Jan Mark often portrayed a dark, bleak view of the world, especially<br />

in her science fiction novels for older readers, for example, The Eclipse of the<br />

Century (1999), Useful Idiots (2004), and Riding Tycho (2005). In Daniel Handler’s<br />

A Series of Unfortunate Events, the innocent, young Baudelaire orphans unjustly<br />

undergo an inordinate amount of sorrow, despair, pain, and suffering,<br />

far exceeding that of any Dickens orphan. The author believes that «most<br />

children’s books aren’t nearly dark enough, given the randomness and<br />

chaos of the real world». 20 Many writers are of the opinion that it is essential<br />

to present children with the truth even when it is dark and painful, and<br />

many people would argue that today’s darker children’s fiction merely<br />

reflects the darker world in which young people now live. 21<br />

71


72<br />

«A Children’s Writer with Adult Topics» is the title of an article devoted<br />

to Philip Pullman, but it could be applied equally well to many contemporary<br />

children’s authors who no longer offer the traditional fare of children’s<br />

books. 22 Tormod Haugen’s Vinterstedet (The Winter Place), published<br />

in Norway in 1984, is a powerful novel about suicide. The award-winning<br />

1994 novel Vallen (Falling), by the Flemish author Anne Provoost, addresses<br />

xenophobia and racism. Boike You Better Believe It, by the South African<br />

author Dianne Hofmeyr, deals with important issues, including terrorism,<br />

without the least trace of «writing down» to her audience, claimed<br />

the convener of the panel of judges when she won the Sanlam Gold<br />

Award for Youth Literature in 1994. 23 The American Meg Rosoff’s bestseller<br />

How I Live Now is a powerful story about young people caught up in<br />

the horrors of war. The Australian author, John Marsden, addresses the<br />

same topic in his hugely popular Tomorrow series, which opened in 1993<br />

with Tomorrow, When the War Began. Although Britain’s third Children’s<br />

Laureate, Michael Morpurgo, says he does not like the crossover tag, his<br />

work nonetheless has adult appeal, due to the serious themes of novels<br />

such as Kensuke’s Kingdom (1999), which deals with the aftermath of the<br />

Nagasaki bombing. The horrors of the Holocaust are the subject of Robert<br />

Cormier’s Tunes for Bears to Dance to (1992) and, more recently, Markus<br />

Zusak’s The Book Thief (2006). The Dominican-American author Julia<br />

Alvarez describes her children’s novel Before We Were Free (2002), set during<br />

the repressive regime of El Jefe, Rafael Trujillo, as The Diary of Anne<br />

Frank for the Latin American crowd. Although the author initially questioned<br />

the appropriateness of writing about torture for a young audience,<br />

she eventually decided that since it was part of life, it should be<br />

written down. 24 It has been suggested that Lian Hearn’s Tales of the Otori<br />

novels, which include sexuality, rape, violence, homosexuality, sadism,<br />

and torture, break with the children’s literature model, but they are certainly<br />

not the first to do so. Although these themes are treated in a<br />

restrained manner, they give Hearn’s novels their adult feel. The same<br />

can be said of the way in which the Quebecois author Dominique Demers<br />

deals with attempted rape and cannibalism in Maïna, a novel published<br />

simultaneously for both adolescents and adults in 1997. The fact that<br />

there are very few, if any, taboo subjects in contemporary literature for<br />

young readers blurs the distinction between children’s and adult fiction,<br />

and facilitates the crossover in both directions. A similar situation existed<br />

prior to the creation of a se<strong>para</strong>te literature for children. Maurice<br />

Sendak points out that the tales collected by the Grimm brothers appeal<br />

to all ages because they are «about the pure essence of life – incest, murder,<br />

insane mothers, love, sex». 25<br />

The best fiction, regardless of the target audience, nourishes our desire<br />

for a fulfilling narrative while simultaneously providing more profound<br />

food for thought. Mike Bryan of Penguin International believes that the<br />

most successful crossovers offer «corking good escapist fun», but he<br />

insists that they also contain «serious messages about values». 26 Crossover<br />

authors agree that writing for children allows them to address the fundamental<br />

issues they feel strongly about and to engage in weighty psychological<br />

and philosophical reflections. Whereas Myerson states categorically<br />

that a children’s novel cannot provide «truths about human<br />

life» or «psychological understanding», many crossover authors believe<br />

that they are, in fact, the only books that can 27 . Pullman explains why he<br />

writes for children: «Children’s books still deal with the huge themes<br />

which have always been part of literature – love, loyalty, the place of religion<br />

and science in life, what it really means to be human. Contemporary<br />

adult fiction is too small and too sterile for what I’m trying to do.» 28<br />

William Nicholson agrees: «Issues of God and heaven, life and death, are<br />

central to our lives but [as adults] we’re shy of talking about them. When<br />

you write for children, though, you can go roaring into these incredibly<br />

important stories.» 29<br />

The huge success of a few super crossover books raised the profile of children’s<br />

literature and gave it an entirely new status. The significance of<br />

J.K. Rowling’s achievement in the age of multimedia is formulated in the<br />

following terms by Julia Eccleshare: «For the first time since the arrival of<br />

other mass media, a series of children’s books is holding a cultural position<br />

that is a match for [I would say more than a match for] a series such<br />

as Friends or Neighbours, something that had seemed unimaginable in an<br />

era in which reading, and children’s reading in particular, is not especially<br />

highly valued beyond the level of a functional literacy.» 30 Children’s literature,<br />

children’s authors, and the child reader have gained a new<br />

respect in the literary world and are enjoying a much higher profile in<br />

the media. Children’s authors have been acknowledged as some of the<br />

world’s most influential people. In November 2006, the European edition<br />

of Time magazine included Rowling, along with names like Mother<br />

Theresa and Nelson Mandela, in their special issue «60 Years of Heroes»<br />

because: «In a time when everything comes to us in bits and bytes,<br />

Rowling has made storytelling cool again.» 31 Harry Potter turned millions<br />

of children hooked on video games and television into avid readers, singlehandedly<br />

lowering the illiteracy rate worldwide. Although Rowling’s<br />

media superstar status has overshadowed other writers, she is not alone.<br />

In 2005, after Dragon Rider became the longest-running New York Times<br />

number one bestseller since Harry Potter, Time magazine put Cornelia<br />

Funke on its «Time 100» list of «the world’s most influential people».<br />

Children’s authors are finally being recognized, far beyond the children’s<br />

book sphere, or even the literary world, for the significant role they play<br />

in creating readers and citizens to understand the world.<br />

73


74<br />

The literary quality of children’s literature and its relevance for readers<br />

of all ages has been universally acknowledged. Children’s books appear<br />

on, even dominate, general bestseller lists. Harry Potter and the Sorcerer’s<br />

Stone was the first children’s book to hold the number one position on<br />

the New York Times list of hardcover bestsellers, and each of the first three<br />

books in the series held that position in turn. When their domination of<br />

the top three spots resulted in the creation of a se<strong>para</strong>te list for children’s<br />

books, it was widely felt that children’s bestsellers had every right to<br />

appear on the regular fiction list, especially since many readers were<br />

adults. Children’s books have also become contenders for prestigious<br />

mainstream literary awards. This began even before Harry Potter ushered<br />

in the crossover phenomenon. In 1995, Dianne Hofmeyr’s Boike You Better<br />

Believe It was awarded the M-Net Book Prize, the most important literary<br />

prize in South Africa, beating out J.M. Coetzee’s Master of Petersburg (Nobel<br />

Laureate Nadine Gordimer was also nominated, but withdrew). The judging<br />

criteria include literary merit and strong narrative content as well as<br />

accessibility to a broad reading public. 32 Hofmeyr told me she thinks her<br />

novel won because it was timely and captured «what was happening in<br />

the “new” South Africa just prior to Nelson Mandela coming to power». 33<br />

The final volume in Pullman’s His Dark Materials achieved what the<br />

third Harry Potter had failed, by one vote, to do two years earlier: The<br />

Amber Spyglass overwhelmingly won the 2001 Whitbread Book of the Year<br />

award, the British book world’s second highest honour after the Man<br />

Booker Prize. It became the first children’s book winner since the award’s<br />

inception to claim the overall prize, an achievement that for many had<br />

previously been inconceivable. However, a few commentators had even<br />

begun to speculate on the possibility of a children’s book winning the<br />

prestigious Booker Prize. In 1999, one British journalist wrote: «The real<br />

barrier to overcome is not one of the possibilities of the genre but the<br />

judges’ reluctance to value something that could also be valued by a<br />

child, believing that if a child could like it, it must be childish for an<br />

adult to like it.» 34 Many critics and writers were comparing children’s literature<br />

favourably with literary fiction, which had long neglected the<br />

story and had become increasingly abstruse and tedious. 35 When Pullman<br />

won the Carnegie Medal for the first volume of His Dark Materials in<br />

1996, he attacked adult novelists in his acceptance speech, claiming that<br />

many had lost the art of telling a good story. In 1999, the author reiterated:<br />

«There are very few writers of what one might call the literary Booker<br />

Prize short-list novel who are good at stories and who think stories are<br />

important.» 36 Two years later, the third volume of His Dark Materials<br />

became the first children’s book to be longlisted for the Booker Prize.<br />

This nomination led one journalist to write in The Guardian: «Segregation<br />

of genres may remain valid commercially and as a filter for parents. In<br />

judging the best writing, it is now redundant.» 37 Even the literary establishment<br />

seems finally to be acknowledging that books published for<br />

children are literary works worthy of the attention and respect of adults.<br />

The children’s books that fall into the crossover category address important<br />

moral issues of our time and invite readers of all ages to reflect on<br />

the challenging metaphysical and existential questions that concern all<br />

human beings. Crossover fiction recognizes the continuity that connects<br />

readers of all ages and acknowledges that different generations share<br />

experiences, knowledge, desires, and concerns. It offers a shared reading<br />

experience for all ages that brings the generations together in a better<br />

understanding of our world.<br />

NOTES<br />

1 Hensher, P. (2003, June 19). «Harry Potter and the Art of Making Money», in The Independent, London.<br />

2 See Nel, P. (2005). «Is There a Text in This Advertising Campaign? Literature, Marketing, and Harry<br />

Potter», in The Lion and the Unicorn 29, no. 2: 236.<br />

3 Walden, G. (2003, January 26). «A Child’s View, Again», in Daily Telegraph.<br />

4 Bloom, H. (2003, September). «Dumbing Down American Readers», in The Boston Globe 24. See also his<br />

article (2000, July 11) «Can 35 Million Book Buyers Be Wrong? Yes», in Wall Street Journal, A26.<br />

5 Holden, A. (2000, June 25). «Why Harry Potter Doesn’t Cast a Spell over Me», in The Observer.<br />

6 See Furedi, F. (2003, July 29). «The Children Who Won’t Grow Up», in Spiked.<br />

7 Myerson, J. (2001, November 14). «Harry Potter and the Sad Grown-ups», in The Independent.<br />

8 See, for example, Glistrup, E. (1997, August 31-September 5). «Children’s Literature in Denmark:<br />

Trends and Currents in the 1990s», Copenhagen: paper presented at the 63rd International<br />

Federation of Library Associations and Institutions Annual Conference; Tiberghien, M. (2000,<br />

December 1-2). «Table Ronde», round table presented at the international conference on «Perspectives<br />

Contemporaines du Roman pour la Jeunesse», Eaubonne, France: Institut International Charles<br />

Perrault.<br />

9 Mayer, A. (2006, March 14). «Sharing the Love: How Publishers are Re-branding Adult Fiction for<br />

Younger Readers», CBC, http://www.cbc.ca/arts/books/youngadultfiction.html (accessed December 6,<br />

2006).<br />

10 Rees, J. (2003, November 17). «We’re All Reading Children’s Books», in Daily Telegraph.<br />

11 Qtd. in Glistrup, «Children’s Literature in Denmark: Trends and Currents in the 1990s».<br />

12 Langton, J. (1985, July 28). Review of Handles, by Jan Mark.<br />

13 Leysen, A. (1997). «About Flemish and Dutch Literature», in A Companion to Dutch and Flemish Letters<br />

(translated from the Dutch by David Colmer and Paul Vincent), N.p.: Stichting Frankfurter Buchmesse, 46.<br />

14 Hunt, J. (2007, March-April). «Redefining the Young Adult Novel», in The Horn Book Magazine 83, vol.<br />

2: 141-47.<br />

15 It is widely believed that an increasing number of adolescents are turning to adult novels. In his<br />

article «How Publishers are Re-branding Adult Fiction for Young Readers», Andre Mayer states that<br />

«the fact that teenagers are picking up ostensibly grown-up fiction is hardly novel», but that «the difference<br />

nowadays is that publishers and vendors are becoming more proactive with young bookworms».<br />

16 Nissen J. (2000, March). «The Bookseller.»<br />

17 FitzHerbert, C. (2002, January 23). «This Author Is Original and Also Dangerous», in The Daily<br />

Telegraph.<br />

18 Craig, A. (2004, February). «Mark Haddon», in Sunday Times.<br />

19 Moeyaert, B. (2000, May 12-13). «Seven Small Stories», paper presented at the seminar «Coming<br />

Home in Children’s Literature», London: Roehampton Institute.<br />

20 Qtd. in Templeton, D. (2002, March 14-20). «Dark Days: Ghouls and Goblins, Mayhem and Murder –<br />

It’s Just Kids’ Stuff», in North Bay Bohemian.<br />

75


76<br />

21. Beverly Horowitz, vice president and publisher of Knopf Delacorte Dell Young Readers Group (a<br />

division of Random House Children’s Books), has worked with Robert Cormier and Philip Pullman.<br />

She has noticed «a trend of younger readers tackling books that were not intended for their age<br />

group» and concludes: «Perhaps the truth is not that children’s books are darker than they used to<br />

be, but that younger kids are now reading dark books» (see Templeton).<br />

22. Penny, T. (2001, February 23). «A Children’s Writer with Adult Topics», in The Telegraph.<br />

23. Posted on the website of the University of South Africa’s Children’s Literature Research Unit,<br />

http://www.childlit.org.za/boikie.html (accessed January 5, 2009).<br />

24. Jones, V. E. (2002, September 19 ). «Young-Adult Books Are No Longer Child’s Play for Bestselling<br />

Authors», in Boston Globe, D1.<br />

25. Lanes, S. (1980). The Art of Maurice Sendak, New York: Harry N. Adams, 206.<br />

26. Dante (2004, March 8). «Reading into Crossover Trends», in Straits Times.<br />

27. Myerson, «Harry Potter and the Sad Grown-ups.»<br />

28. Eccleshare, J. (1996, September). «Northern Lights and Christmas Miracles», in Books for Keeps 100:<br />

15.<br />

29. Pepper, T. (2001, February 23). «Not Just for Children», in Newsweek International.<br />

30. Eccleshare, J. (2002). A Guide to the Harry Potter Novels, London: Continuum, 106.<br />

31. Farouky, J. (2006, November 13). «J. K. Rowling», in Time 168 (Europe), no. 21.<br />

32. With a new reading culture developing in South Africa, more adults are turning to young adult<br />

novels. One such crossover novel is Riana Scheepers’s Blinde Sambok (Blind Whip), published in 2001.<br />

Scheepers, who had previously published only for adults, wrote the novel for children/young adults<br />

because there was a lack of good books for young readers, whom she felt were being given nothing<br />

but problem novels. Since her motto as a writer is: «Do not underestimate a child’s intelligence», the<br />

book was also hugely popular with adults, many of whom read it in reading clubs.<br />

33. E-mail message from the author on April 3, 2006.<br />

34. Jones, N. (1999, September 10). «Twice the Appeal», in The Children’s Bookseller, 22.<br />

35. See, for example, Spufford, F. (2002) The Child that Books Built, London: Faber & Faber. He believes<br />

that children’s books fill a need for compelling stories currently missing in adult fiction.<br />

36. Parsons, W. & Nicholson, C. (1999). «Talking to Philip Pullman: An Interview», in The Lion and the<br />

Unicorn 23, no. 1: 122.<br />

37. (2001, August 18). «Literary Expansion: Children’s books break through the barrier», in Guardian.<br />

Relatório do painel 1<br />

JOSÉ ANTÓNIO GOMES*<br />

O painel de abertura do «Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong>»,<br />

promovido pela Casa da <strong>Leitura</strong>, marcou de modo indelével os dois dias de<br />

trabalhos, tanto pela craveira internacional dos conferencistas e pela<br />

qualidade das suas intervenções, como pela pertinência e actualidade dos<br />

temas abordados e dos questionamentos sugeridos.<br />

Talvez não seja ousado apontar a literacia, encarada numa perspectiva<br />

global e nas suas diversas dimensões, como o leitmotiv que percorreu os<br />

quatro discursos (em especial os três primeiros) escutados na manhã de<br />

22 de Janeiro. Da parte da tarde, foi possível aos conferencistas entabular<br />

um diálogo com o público, a partir das suas perguntas, o qual permitiu<br />

clarificar e debater algumas das questões suscitadas pelas quatro<br />

intervenções.<br />

Peter Hunt, professor da Universidade de Cardiff, autor de obras de<br />

referência e de uma impressiva bibliografia sobre Literatura <strong>para</strong> a<br />

Infância e a Juventude, tanto em número de títulos publicados como no<br />

que respeita à projecção internacional da sua actividade crítica e<br />

investigativa, proporcionou uma viva reflexão em torno do declínio da<br />

literacia literária no Reino Unido, não obstante a generalização, neste<br />

país, de um programa nacional de promoção da leitura, de iniciativa<br />

governamental, que está longe, contudo, de alcançar os objectivos<br />

desejados. Com efeito, como se pôde porventura concluir, ler apenas, ler<br />

mais, ler «tudo» não implica, necessariamente, ler melhor. A insuficiência<br />

do trabalho desenvolvido em prol da literacia literária, ou seja, da<br />

formação de leitores literários, encontra uma infeliz correspondência na<br />

alteração qualitativa a que se assistiu nas últimas décadas: por um lado,<br />

dos critérios que definem um bom livro infantil e do que a crítica tem<br />

afirmado a este respeito e, por outro, da própria condição de criança –<br />

atraída pelas mais diversas fontes de prazer e submersa de forma<br />

crescente, na cultura da televisão, do videogame e da imagem.<br />

Esta alteração, de sinal negativo, tem tido implicações como, entre<br />

outras, o empobrecimento da linguagem e das estruturas textuais dos<br />

novos livros infantis e, até mesmo, dos «clássicos», na medida em que<br />

estes são objecto de adaptações que, procurando ir ao encontro, por<br />

razões comerciais e outras, das reais competências de leitura e das<br />

experiências de vida do seu público-alvo, notoriamente enfraquecem<br />

esses livros e os desfiguram. Foram dados exemplos de versões modernas<br />

*Professor Coordenador da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto.<br />

77


78<br />

dos álbuns de Beatrix Potter, nomeadamente das transformações<br />

empobrecedoras que a linguagem e o estilo desta autora sofreram, na<br />

sequência da edição de livros resultantes de adaptações televisivas das<br />

suas obras. Peter Hunt contrastou ainda o estilo e a técnica narrativa de<br />

uma autora de grande sucesso, durante muito tempo conotada com a bad<br />

writing – referia-se a Enid Blyton – e o estilo de um conhecido autor do nosso<br />

tempo – Philip Pullman –, cujos títulos têm granjeado considerável êxito<br />

junto do público juvenil e até adulto. Numa breve análise que se centrou<br />

em aspectos estilísticos e tecnico-narrativos, os específicos segmentos<br />

confrontados, de extensão breve, permitiram, surpreendentemente, inferir<br />

a maior riqueza da escrita de Blyton. Muitos livros actuais seriam assim,<br />

<strong>para</strong> Peter Hunt, exemplos de uma escrita mais literal, mais simplificada<br />

no estilo, menos capaz de estimular a dedução, a inferência de sentidos e a<br />

relacionação de elementos, menos susceptível por isso de desenvolver a<br />

capacidade de interpretar os vazios de um texto literário de maior<br />

complexidade. Implícito nas palavras do conferencista ficou, porventura,<br />

um apelo no sentido da exigência e de um trabalho mais aprofundado no<br />

campo da educação literária.<br />

A esta intervenção subordinada ao título «Declínio e Diminuição da Literacia<br />

Literária: Infância e literatura <strong>para</strong> a infância no Reino Unido na actualidade»<br />

seguiu-se a de Lawrence Sipe, professor da Universidade da Pensilvânia:<br />

«Peritextos e Quebras de Página: Oportunidades <strong>para</strong> construir sentido nos<br />

álbuns».<br />

Partindo, em parte, da teorização de Gérard Genette sobre a <strong>para</strong>textualidade,<br />

o essencial da conferência de Sipe veio colocar na ordem do dia a<br />

necessidade do desenvolvimento da literacia nos seus múltiplos aspectos,<br />

designadamente a capacidade de descodificar as diferentes componentes do<br />

<strong>para</strong>texto, prevendo, assim, certos conteúdos do próprio texto, e perceber os<br />

modos de progressão do discurso narrativo no álbum ou picture story book. Ao<br />

relatar uma experiência realizada com pré-leitores e leitores infantis, nos<br />

Estados Unidos, sublinhou, com efeito, a capacidade que este público,<br />

situado entre os quatro e os sete anos, evidencia na interpretação do peritexto<br />

e das quebras de página, quando confrontado com picture story books<br />

<strong>para</strong> as primeiras idades, em que tais dimensões se revestem de particular<br />

importância na construção da significação e da narratividade. Ao explorar<br />

estes elementos, o mediador da leitura torna possível o desenvolvimento de<br />

mecanismos de previsão textual no plano da lógica narrativa, da caracterização<br />

e evolução das personagens, do tom da história e da própria apreciação<br />

estética das ilustrações, entre outros aspectos. A leitura global de uma<br />

obra – e em especial de uma obra como o picture story book – quedar-se-á, pois,<br />

sempre lacunar, caso sejam ignorados todos os elementos da periferia do<br />

texto cuja observação e entendimento constitui factor essencial da apropriação<br />

do livro pelo leitor infantil.<br />

Maria Nikolajeva, da Universidade de Estocolmo, reconhecida especialista<br />

em Literatura <strong>para</strong> Crianças e no estudo do álbum, apresentou, numa<br />

intervenção intitulada «Literacia Visual e o Leitor Implícito nos Álbuns<br />

<strong>para</strong> Crianças», numerosos exemplos do picture story book, que é hoje um<br />

dos géneros mais relevantes e, do ponto de vista estético, mais ousados da<br />

literatura dirigida aos mais novos; em simultâneo, um dos mais<br />

complexos e desafiantes <strong>para</strong> a investigação. Isto porque confronta o<br />

leitor com uma tessitura discursiva semioticamente complexa que<br />

assenta na interacção de um discurso linguístico com um discurso<br />

pictórico e com outros elementos visuais. Trata-se, pois, de um texto<br />

multimodal em que coexistem uma componente verbal e uma outra de<br />

tipo visual (formato, elementos de design gráfico, ilustrações…). A<br />

redundância, o <strong>para</strong>lelismo, a complementaridade, a confirmação são<br />

apenas alguns dos tipos de interplay que o discurso visual vai construindo<br />

com as palavras <strong>para</strong> produzir significação e fabricar a narratividade, na<br />

busca de um relato eficaz, quando não quase perfeito, da história. Mas se<br />

a metáfora, o símbolo, a polissemia são traços quase sempre fundamentais<br />

do texto verbal de tipo literário, se este se inscreve, por outro lado, numa<br />

rede intertextual, também a imagem, à sua escala, surge dotada de<br />

elementos semelhantes (de natureza metafórica, simbólica, etc.) que<br />

importa ler. Torna-se, por isso, essencial dotar o leitor de instrumentos<br />

que lhe permitam interpretar o discurso pictórico e a relação deste com<br />

a escrita; daí a necessidade do desenvolvimento da literacia visual,<br />

aspecto indispensável ao desenvolvimento da própria competência<br />

literária.<br />

Com uma conferência cujo título foi traduzido <strong>para</strong> português como<br />

«Ficção de Cruzamento: Criando leitores com histórias que tematizam as<br />

grandes questões», Sandra Lee Beckett, professora da Universidade de<br />

Brock, no Canadá, e autora de uma obra recente intitulada Crossover Fiction:<br />

Global and historical perspectives (Routledge, 2008), referiu-se a livros de<br />

ficção dirigidos a um público juvenil de que o público adulto de algum<br />

modo se apropria também. Um fenómeno de transversalidade ou de<br />

recepção transgeracional que adquiriu visibilidade com a série Harry<br />

Potter, de J.K. Rowling, mas que parece emergir como um dos traços<br />

marcantes da produção literária <strong>para</strong> os mais novos nos tempos que<br />

correm, com consequências ao nível da extensão dos textos e da sua<br />

apresentação gráfica (poucas ou nenhumas ilustrações, capas susceptíveis<br />

de captar a atenção tanto de jovens como de adultos, considerável número<br />

de páginas, etc.). Philip Pullman, Carl Hiaasen, Mark Haddon, Tormod<br />

Haugen, Eoin Colfer foram apenas alguns dos muitos autores de diferentes<br />

espaços linguísticos e culturais cujas obras Sandra Lee Beckett passou em<br />

revista, a fim de evidenciar a realidade da crossover fiction. A este propósito,<br />

poderão então colocar-se diversas questões. Estamos perante uma gradual<br />

79


80<br />

infantilização dos leitores adultos por efeito da cultura de massas? O êxito<br />

destas obras é resultado de uma conjugação de factores literários e de<br />

sofisticadas estratégias de marketing? Certo é que, na perspectiva da<br />

conferencista, esta crossover fiction – que possui uma tradição na história da<br />

literatura merecedora de estudo – veio responder a um certo gosto<br />

adolescente pelos reptos, nomeadamente o da entrega à vertiginosa<br />

leitura de uma história de aventuras emocionante, muitas vezes de cunho<br />

fantástico, que se desenrola ao longo de várias centenas de páginas –<br />

circunstância que, além do mais, acabou por atrair <strong>para</strong> a leitura muitos<br />

e muitos jovens a ela refractários e que veio suscitar, uma vez mais, a<br />

questão dos limites do cânone.<br />

Conclua-se referindo que a potencial divergência implícita na visão de<br />

Peter Hunt e na de Sandra Lee Beckett não chegou, contudo, a ser<br />

dirimida no participado debate que, da parte da tarde, complementou<br />

este painel de intervenções, marcado pela qualidade científica e de<br />

comunicação dos quatro conferencistas.<br />

PAINEL 2<br />

Estratégias de<br />

leitura e<br />

compreensão<br />

leitora


82<br />

Planificar la Lectura<br />

en la Escuela<br />

TERESA COLOMER*<br />

¿Para qué enseñar literatura?<br />

Durante mucho tiempo se ha arrastrado la idea devaluada de que la<br />

enseñanza literaria se proponía traspasar un patrimonio concreto, un<br />

paquete de obras y autores que se deberían conocer. Hoy parece que lo<br />

más interesante de ese legado es que lleva a las personas a progresar en<br />

su capacidad de interpretar, un acto que se produce siempre en el<br />

contexto de una cultura. El patrimonio literario se constituye como un<br />

conjunto de textos, estructuras poéticas y narrativas, símbolos, formas de<br />

enunciación, efectos lingüísticos, prototipos de conducta, etc. que<br />

testimonian las tensiones y avances del pensamiento humano expresado<br />

a través del arte a lo largo de los tiempos. Ofrece a las nuevas generaciones<br />

la posibilidad de incorporarse a un forum permanente de voces<br />

que amplían su capacidad de comprensión y disfrute de la vida.<br />

En ese patrimonio de textos que nos llevan a entender como idea rectora,<br />

se inscribe lo que ha dado en llamarse el «imaginario colectivo», un término<br />

utilizado por los estudios antropológico-literarios <strong>para</strong> describir el<br />

inmenso repertorio de imágenes simbólicas que aparecen ya en el folclore<br />

y que perviven y se renuevan en la literatura de todas las épocas. Se<br />

trata de imágenes, símbolos y mitos que los humanos utilizan como fórmulas<br />

tipificadas <strong>para</strong> comprender el mundo y las relaciones sociales.<br />

Con ellos se da forma a los sueños, se encarrilan las pulsiones o se adoptan<br />

diferentes perspectivas sobre la realidad. La cualidad colectiva de ese<br />

imaginario refuerza la representación social de una cultura, lo que contribuye<br />

a su cohesión.<br />

Las funciones históricas de la literatura como proveedora de ficciones y<br />

de educación moral comparten ahora terreno con otros canales, como las<br />

formas audiovisuales o los mass media. Pero no se puede discutir, en cambio,<br />

su preeminencia en el dominio del lenguaje. Justamente, durante<br />

siglos, la enseñanza de la literatura sirvió sobre todo <strong>para</strong> aprender a construir<br />

discursos orales y escritos. En el siglo XIX se abandonó la preceptiva<br />

retórica en favor de la historia literaria. Se inició un divorcio que en las<br />

últimas décadas ha intentado solventarse con fortuna variable. Por ejemplo,<br />

la lingüística del texto y la investigación sobre los procesos de escritura<br />

«reinventaron» las técnicas de escritura <strong>para</strong> volver a afirmar que la<br />

* Professora da Universidade Autónoma de Barcelona.<br />

83


84<br />

literatura nos permite apreciar las infinitas posibilidades de estructurar<br />

y reestructurar los recursos del lenguaje al servicio de la actividad comunicativa.<br />

Puesto que el hecho de explorar deliberadamente la construcción<br />

del discurso forma parte del oficio de la literatura, el análisis de los<br />

textos literarios supone un potente instrumento <strong>para</strong> no quedar a merced<br />

de los discursos ajenos y poder construir los propios.<br />

La educación literaria no es pues un «lujo» escolar de acceso al ocio, sino<br />

que revierte en la capacidad de comprensión y expresión de todo tipo de<br />

discursos y no puede quedar marginada por objetivos «más urgentes» en<br />

la planificación de la enseñanza lingüística. Lo verdaderamente urgente<br />

es rescatar a la literatura, o bien de su anquilosamiento en antiguos<br />

modelos didácticos, o bien de su disminución en modelos comunicativos<br />

actuales que le otorgan un peso casi anecdótico. La literatura ofrece<br />

modelos de lengua y discurso, genera un sistema de referentes<br />

compartidos que constituye una comunidad cultural a través del<br />

imaginario colectivo y es un instrumento de inserción del individuo en<br />

la cultura. No son funciones menores en la educación de la infancia.<br />

Entender la educación literaria como un aprendizaje de interpretación<br />

de los textos renueva su enseñanza en las aulas. Supone, en primer lugar,<br />

admitir que se necesitan dos líneas de fuerza <strong>para</strong>lelas <strong>para</strong> que se<br />

produzca el aprendizaje: la adhesión afectiva a través de la autopercepción<br />

de uno mismo como perteneciente a la comunidad interpretativa y el<br />

aprendizaje de las convenciones que rigen las formas literarias <strong>para</strong> que se<br />

pueda desvelar el máximo de sentido. Ambas líneas no se pueden<br />

divorciar; es decir, que no se trata de disfrutar en primaria y aprender<br />

literatura en secundaria.<br />

En segundo lugar, conlleva una práctica educativa que se desarrolla a través<br />

de otras dos líneas de fuerza: la recepción oral o la lectura directa de los<br />

textos por parte de los aprendices y las formas guiadas <strong>para</strong> enseñar la<br />

manera de construir sentidos cada vez más complejos. Sin duda, ambos<br />

tipos de actividades han estado presentes a lo largo del tiempo, pero han<br />

mantenido relaciones difíciles y variables en la sucesión de los distintos<br />

modelos de enseñanza literaria. Así por ejemplo, en los últimos tiempos,<br />

la gran extensión de la llamada «animación a la lectura» ha primado el acceso<br />

a los textos – en el mejor de los casos – pero no ha incidido en el apoyo<br />

a los lectores en su esfuerzo interpretativo. Por contra, el que un número<br />

importante de adolescentes confiese no haber leído un libro entero en<br />

toda su vida, incluso cuando se hallan en un contexto favorable a ello,<br />

muestra que la escuela actual puede continuar desentendiéndose de la<br />

construcción de hábitos lectores.<br />

Siete puntos <strong>para</strong> renovar la enseñanza literaria<br />

Voy a sintetizar en siete puntos los aspectos a tener en cuenta en la renovación<br />

de la lectura literaria en las aulas. Dejaremos de lado aquí dos<br />

aspectos igualmente importantes: la formación del profesorado y los<br />

recursos externos de apoyo a la tarea educativa.<br />

1. ¿DE QUÉ ES RESPONSABLE LA ESCUELA?<br />

Los aprendizajes literarios se realizan dentro y fuera del ámbito escolar.<br />

Todos los estudios sobre hábitos y nivel de dominio lector (como los famosos<br />

informes PISA) han coincidido en señalar que la colaboración explícita<br />

de familia, escuela y comunidad social (biblioteca pública, acciones<br />

culturales ciudadanas, etc.) potencian enormemente la adquisición de<br />

hábitos lectores y el desarrollo cultural de las nuevas generaciones. Eso es<br />

así hasta tal punto que, en nuestras sociedades occidentales, la escuela no<br />

puede ser vista como la institución responsable de asegurar estos hábitos.<br />

Si la escuela intenta asumir esta función a menudo reitera actividades de<br />

animación a la lectura que ya se llevan a cabo en otras instancias, mientras<br />

que, en cambio, deja de asegurar determinadas funciones de enseñanza<br />

que no tienen cabida en los otros ámbitos. Por otra parte, la superposición<br />

indiscriminada de objetivos ha sido la norma de los últimos<br />

tiempos, de manera que los estudios existentes sobre las opiniones de los<br />

enseñantes muestran que éstos se sienten escindidos entre las funciones<br />

de traspasar un patrimonio, enseñar a leer y fomentar los hábitos de lectura. Son<br />

finalidades que requieren estrategias y prioridades que no coinciden per<br />

se, sino que requieren de un esfuerzo explícito y consciente de articulación.<br />

Si, como se ha dicho, enseñar a leer a los niños es tarea «de toda la tribu»,<br />

hay que clarificar qué es responsabilidad prioritaria de la escuela tanto<br />

en usos, como en saberes literarios y qué colaboraciones pueden<br />

establecerse con las otras instancias <strong>para</strong> alcanzar entre todos los<br />

objetivos deseados. Así, podemos aventurar como competencias más<br />

propias del cometido escolar:<br />

❖ Enseñar a leer, en el sentido amplio que ha tomado en las últimas<br />

décadas. Éste sería el objetivo más propio de la tarea tradicional de la<br />

escuela, aunque actualizado ahora con todo lo que sabemos sobre el proceso<br />

de lectura y de interpretación de los textos como práctica social.<br />

❖ Asegurar la lectura de libros de calidad <strong>para</strong> todos, de manera que su<br />

lectura contribuya a establecer criterios sobre las jerarquías existentes<br />

entre los textos sociales. No todos los textos son igual de valiosos bajo el<br />

punto de vista estético y de sentido, aunque el lector pueda darles el uso<br />

que le plazca según sus gustos, intereses y objetivos personales. Es algo<br />

que debe aprenderse en algún lugar y la escuela debe ofrecer a todos la<br />

85


86<br />

oportunidad de crearse un horizonte de lecturas sobre el cual proyectar<br />

e inscribir las propias.<br />

❖ Asegurar el conocimiento, aunque sea a diferentes niveles, de algunos<br />

de los textos «clásicos» que sirven como referentes de la colectividad. La<br />

función de «traspaso patrimonial» continúa siendo una de las más sentidas<br />

por parte de la escuela y no se trata de prescindir de ella, sino de actualizarla<br />

de manera reflexiva; por ejemplo, teniendo en cuenta el grado de<br />

complejidad intercultural y de globalización de las sociedades actuales<br />

que pueden llevar a la recepción de obras universales y de las culturas en<br />

contacto.<br />

❖ Enseñar la manera de abordar textos inicialmente difíciles <strong>para</strong> el lector.<br />

O sea, ofrecer la experiencia de lectura de textos lingüísticamente<br />

complejos, alejados temporalmente o de significado poco transparente y<br />

mostrar a los lectores qué pueden hacer <strong>para</strong> entender los libros en profundidad<br />

y con espíritu crítico. La lectura guiada es una actividad propia<br />

de la escuela que tiene que renovarse con lo que sabemos sobre las formas<br />

individuales y sociales de construir el aprendizaje. Pero dar espacio a la<br />

construcción compartida o más protagonismo a los alumnos, como sería<br />

deseable, no significa abandonar el papel de enseñarles qué es lo que<br />

deben hacer (ellos) <strong>para</strong> entender un texto.<br />

❖ Asegurar una cierta sistematización sobre el funcionamiento de los sistemas<br />

ficcionales y literarios de la sociedad. La escuela es el lugar adecuado<br />

<strong>para</strong> analizar, conceptualizar y adquirir esquemas mentales que<br />

organicen la comprensión explícita de cómo funcionan las cosas.<br />

2. ¿QUÉ SE VA A ENSEÑAR?<br />

Resulta necesario que la comunidad educativa en general, y las<br />

administraciones en concreto, definan, con mayor claridad que la que<br />

presentan los curricula oficiales actuales (Duran & Manresa 2008) qué es<br />

lo que es preciso haber conseguido en la formación literaria de los<br />

ciudadanos al acabar el período de la enseñanza obligatoria. Muchos<br />

países han realizado notables reformas curriculares en la última década.<br />

En general, puede decirse que en ellas se han actualizado positivamente<br />

los objetivos formativos de la literatura. Pero en la mayoría de casos la<br />

formulación se ha abordado con una prudencia que lleva a definiciones<br />

excesivamente generales y vagas respecto a dónde se quiere llegar en la<br />

educación común de los ciudadanos y a través de qué contenidos y<br />

prácticas recomendadas.<br />

Probablemente el trabajo escolar mejoraría si se cuestionara cuáles son<br />

realmente los aprendizajes que deben realizarse durante la escolaridad<br />

obligatoria. Por ejemplo, la importancia de la traducción en la recepción<br />

de las obras es un aspecto importante en el acceso de cualquier ciudadano<br />

a una gran parte de la literatura actual, y en cambio no figura en nin-<br />

gún programa. Tampoco ningún curricula alerta sobre la conveniencia de<br />

asegurar que los alumnos han experimentado las perspectivas generales – y<br />

poco numerosas – con las que los humanos contemplan la realidad a través<br />

de la literatura: la épica, la parodia, la mímesis, etc. O bien puede verse que<br />

la idea de influencia o variación respecto de la tradición (recurrencia de<br />

motivos y esquemas argumentales, etc.) es algo que aparece implícito en los<br />

programas, cuando la potencia de esa idea merecería ser explicitada en las<br />

aulas, de modo que la imagen de un diálogo permanente de las obras entre<br />

sí y de las voces de la humanidad reflexionando sobre sí misma y sobre la<br />

realidad, llevara a los jóvenes a sentir que la literatura tiene mucho que<br />

decir a los habitantes actuales. O bien sería mucho mejor abordar el estudio<br />

de las formas poéticas relacionadas con la respiración, el ritmo, la música,<br />

el habla… que como un juego caprichoso de estrofas. Y también resultaría<br />

de interés compartir la idea de que la mayoría de las grandes obras pueden<br />

entenderse de modos diversos, tanto desde la posición del lector, como por<br />

ejemplo, según la perspectiva de distintas teorías interpretativas.<br />

3. ¿DÓNDE Y CUÁNDO SE VA A ENSEÑAR?<br />

Respecto de la lengua y la literatura: El aprendizaje de la lengua y la literatura<br />

supone una interrelación evidente y hace tiempo que los curricula hicieron<br />

una clara apuesta por la fusión de su enseñanza. Sin embargo, en la práctica,<br />

ello parece haber tenido consecuencias claramente negativas <strong>para</strong> los<br />

aprendizajes literarios, especialmente en la etapa secundaria, cuando se produce<br />

una explicitación y conceptualización mayor. Parece recomendable,<br />

pues, asegurar objetivos curriculares específicos que mantengan la presencia<br />

de actividades de literatura a lo largo de las etapas educativas, así como reservar<br />

un espacio curricular propio a la literatura en los últimos cursos de la<br />

etapa secundaria.<br />

Respecto de la continuidad: Dentro de esta línea de clarificación y continuidad<br />

educativa, sería conveniente establecer rutinas concretas de colaboración<br />

entre los cursos, ciclos y etapas en cuanto al seguimiento lector de<br />

los alumnos (por ejemplo, a través del traspaso de informes individuales<br />

de lectura, información y acuerdo sobre las lecturas colectivas de los<br />

ciclos y centros educativos en el paso de primaria a secundaria, etc.).<br />

Respecto de las áreas curriculares: Por otra parte, continúa siendo una realidad<br />

la ausencia de textos literarios en la enseñanza de las lenguas extranjeras<br />

y la escasa presencia de la literatura universal.<br />

Respecto a la articulación didáctica: Si se quiere mejorar la educación literaria,<br />

parece ineludible proceder a una nueva articulación de los diferentes espacios<br />

curriculares en que debería producirse. Eso significa, por ejemplo, repartir<br />

y coordinar las lecturas, los contenidos y las actividades <strong>para</strong> rentabilizar<br />

al máximo el tiempo escolar que puede dedicarse a los aprendizajes literarios,<br />

tal como se sugiere en el cuadro siguiente (Colomer 2005):<br />

87


88<br />

Tipos y objetivos Actividades Instrumentos Evaluación<br />

Leer<br />

Lectura libre (escolar)<br />

- Aprovechar la guía<br />

del propio texto.<br />

- Ejercitar las<br />

habilidades lectoras.<br />

- Aprender a seleccionar<br />

los libros autónomamente.<br />

Compartir<br />

Lectura socializada<br />

- Compartir con los demás.<br />

- Implicarse y responder.<br />

- Contrastar y<br />

construir sentido.<br />

- Usar un metalenguaje<br />

literario.<br />

- Construir referentes<br />

colectivos.<br />

Expandir<br />

Lectura integrada<br />

en los objetivos<br />

escolares<br />

- Leer con propósitos<br />

distintos.<br />

- Escribir.<br />

- Oralizar, dramatizar.<br />

- Expresar creativamente.<br />

- Aprender sobre<br />

otras áreas.<br />

Interpretar<br />

Lectura integrada<br />

en la programación de<br />

la enseñanza literaria<br />

- Adquirir competencias<br />

y conocimientos de<br />

forma implícita y/o<br />

explícita.<br />

Lectura de obras en la escolaridad obligatoria<br />

- Tiempo de lectura.<br />

- Visitas externas<br />

(a librerías, etc.).<br />

- Club de lectores/<br />

lectura en parejas/<br />

en grupos/ a través<br />

de internet,<br />

etcétera.<br />

- Discutir, elaborar.<br />

- Recomendar.<br />

- Recordar juntos.<br />

- Lectura colectiva.<br />

- Escritura<br />

(manipulación,<br />

imitación, etc.).<br />

- Dramatización.<br />

- Expresión plástica.<br />

- Paso a otros códigos.<br />

- Lectura reflexiva.<br />

- Discusión y<br />

comentário guiado.<br />

- Proyectos de<br />

trabajo literario.<br />

- Biblioteca<br />

de aula o de centro.<br />

- Cuaderno<br />

de lectura.<br />

- Mural de<br />

valoración.<br />

- Mural de<br />

recomendación.<br />

- Pautas<br />

o preguntas<br />

de ayuda.<br />

- Entrevistas<br />

personales.<br />

- Lectura<br />

modalizada.<br />

- Selecciones<br />

puntuales de libros<br />

según las necesidades<br />

de creación de<br />

escritos, espectáculos,<br />

exposiciones,<br />

videos, etcétera.<br />

- Selección de obras.<br />

- Dispositivos<br />

didácticos.<br />

- Información sobre<br />

la lectura cuantitativa<br />

de cada alumno.<br />

- Información sobre<br />

gustos y capacidades.<br />

- Información sobre<br />

el uso (traspaso)<br />

de saberes literarios.<br />

- Sobre capacidades<br />

interpretativas.<br />

- Según los objetivos<br />

específicos.<br />

- Sobre saberes<br />

literarios.<br />

4. ¿QUIÉN VA A HACERLO?<br />

La tarea de los docentes tiene un gran aliado en el personal de la biblioteca<br />

de centro. Allí es donde puede producirse la lectura de libros como<br />

práctica autónoma de los niños. Toda la literatura sobre el tema considera<br />

la biblioteca escolar como un elemento básico <strong>para</strong> la igualdad de<br />

oportunidades en el acceso a la información y la cultura, un recurso fundamental<br />

<strong>para</strong> conseguir los objetivos educativos y un gran potencial<br />

<strong>para</strong> la dinamización cultural de la comunidad donde se encuentra.<br />

En 2006 apareció el informe del instituto de evaluación educativa IDEA<br />

(Marchesi & Miret 2006) sobre el estado y funcionamiento de la biblioteca<br />

escolar en España y en estos momentos el proyecto evaluativo se extiende<br />

a diversos países iberoamericanos. El estudio español revela una<br />

preocupante mala dotación de las bibliotecas, así como deficiencias de<br />

uso y de dedicación de personal <strong>para</strong> su cuidado y atención. Las leyes<br />

educativas más recientes y muchas iniciativas de las administraciones<br />

han empezado a incidir en esta situación (la creación de bibliotecas o<br />

rincones de libros en las aulas, con dotaciones provenientes de procesos<br />

de selección, acciones integradas en planes de lectura, etc.). El esfuerzo<br />

que se plantea va dirigido a los aprendizajes escolares en general, pero es<br />

evidente que la lectura literaria tiene un papel esencial en la actividad<br />

lectora. Por fortuna, llevar los libros a los niños ha sido una de las<br />

consignas más sentidas en estas últimas décadas y reseñar las<br />

experiencias llevadas a cabo sería algo infinito.<br />

Para continuar progresando en este ámbito es necesario ahora profundizar<br />

en la tarea de diagnóstico, con la evaluación de la existencia y<br />

estado de las bibliotecas de cada uno de los centros, dada la gran<br />

variabilidad de contextos; la creación de proyectos generales de soporte<br />

técnico aprovechando las nuevas tecnologías; el desarrollo de mecanismos<br />

compartidos de selección de libros de calidad adecuados a la<br />

lectura infantil y juvenil; el apoyo a la animación de los fondos, ya que la<br />

práctica revela que muchas veces los libros facilitados son claramente<br />

desaprovechados, a veces sin salir ni siquiera de sus cajas. Un aspecto<br />

esencial, entonces, es el de la dotación de personal específico y la formación<br />

de los educadores tanto a través de la formación inicial, como de la<br />

formación permanente.<br />

5. ¿CÓMO VA A HACERSE?<br />

En la actualidad coexisten diversos modelos de actuación que a menudo<br />

se superponen e interfieren de forma no deliberada. La literatura a veces<br />

se utiliza como simple punto de partida <strong>para</strong> los ejercicios de lengua; o<br />

sigue ordenadamente un hilo de exposición cronológica; o existe sólo<br />

como lectura libre; o bien ofrece material <strong>para</strong> el debate de temas de<br />

tutoría; o se trata básicamente en talleres de escritura creativa; etc.<br />

89


90<br />

Probablemente una de las razones de la marginación que acaba sufriendo<br />

la literatura en la programación es la pérdida de seguridad escolar sobre<br />

la manera de abordarla en el aula.<br />

Una de las peores realidades en esa falta de articulación es el divorcio entre<br />

la sistematización de los saberes literarios, por una parte, y la lectura (o<br />

escritura) libre de los textos, por otra. Cabe recordar entonces que el centro del<br />

aprendizaje escolar es el esfuerzo por la construcción personal de sentido. Se<br />

puede representar como una franja situada en un espacio intermedio entre<br />

el efecto inmediato de la lectura personal y el acceso al conocimiento de<br />

saberes exteriores que inciden en la interpretación cultural. Interpretar los<br />

textos a los que se accede supone una tarea de reflexión y construcción<br />

compartida. Verbalizar la propia experiencia estética de manera que sea<br />

comunicable o evaluar las opiniones e interpretaciones ajenas <strong>para</strong> enriquecer<br />

la propia son procesos que requieren un dominio creciente del lenguaje<br />

metaliterario y de la conciencia explícita de los elementos implicados<br />

<strong>para</strong> hacerlo de manera eficaz.<br />

El acceso a los textos y la discusión sobre ellos configuran el núcleo de la<br />

educación literaria. Los textos se reciben de forma oral o escrita y, en estos<br />

momentos, también a través del uso de las nuevas tecnologías que facilitan<br />

experiencias audiovisuales de poemas y otros textos. Asímismo, el uso<br />

creciente de las pantallas (de la televisión, el cine, la consola o la<br />

computadora) ofrece a los niños y niñas formas de ficción y familiarización<br />

con elementos y obras literarias que colaboran activamente en la<br />

construcción de todo un conjunto de saberes y competencias literarias. Con<br />

esa inmersión textual hay que contar, en las proporciones correspondientes<br />

a cada contexto, <strong>para</strong> preveer lo mucho que los niños y niñas actuales<br />

pueden saber de manera previa y <strong>para</strong>lela a la actividad escolar.<br />

Los estudios educativos sobre lectura escolar hace décadas que señalan la<br />

importancia de dedicar un tiempo de lectura individual en la escuela y<br />

muchos países hace años que desarrollan programas en este sentido. Las<br />

propuestas de la LOE en España en 2006, por ejemplo, acaban de instaurar<br />

un tiempo de lectura en cada una de las asignaturas del curriculum. Pero,<br />

aparte del vínculo con los diferentes aprendizajes específicos de cada área,<br />

la lectura literaria es la que incide más fácilmente en la adquisición de<br />

muchas de las habilidades de lectura que tienen que dominar los alumnos<br />

y la que tiene más relación con la creación de hábitos permanentes de<br />

lectura. Así, pues, tanto <strong>para</strong> la enseñanza literaria como <strong>para</strong> el acceso al<br />

escrito, es esencial preveer un tiempo dentro del horario escolar <strong>para</strong><br />

fomentar la lectura literaria autónoma, sea en la biblioteca escolar o en el<br />

aula, y hacerlo en las formas y modalidades que aconseja la investigación<br />

y la experiencia acumulada por la práctica educativa.<br />

La discusión en el aula debe llevar la interpretación más allá del lugar a<br />

donde llegan por sí solos los lectores: dar pistas <strong>para</strong> ver los niveles de<br />

lectura y lo que hay «tras las líneas», ofrecer información contextual si se<br />

necesaria, enlazar con el entorno actual <strong>para</strong> hacer posible una<br />

comprensión que conecte con lo que los alumnos saben y piensan sobre el<br />

mundo, sistematizar los descubrimientos <strong>para</strong> que sirvan como futuros<br />

esquemas interpretativos, etc. Ese es el terreno de nuestro trabajo y no el<br />

análisis expuesto por el docente <strong>para</strong> propiciar una admiración impostada.<br />

Las antiguas actividades literarias basadas en la oralidad, que buscaban en<br />

parte potenciar la recepción afectiva y la adhesión cultural, disminuyeron en<br />

la segunda mitad del siglo XX en favor del acceso escrito al texto. En estos<br />

momentos, sin embargo, se ha iniciado una cierta recuperación de estas<br />

actividades (narración de cuentos, recitado de poemas, dramatizaciones, lectura<br />

en voz alta, etc.), así como también de la asociación textual con la imagen.<br />

No sólo por criterios didácticos, sino porque el desarrollo tecnológico de las<br />

sociedades occidentales potencia los canales comunicativos de la oralidad y la<br />

imagen. Por ello, es una línea emergente de gran fuerza y potencial didáctico,<br />

que parece además especialmente rentable en las situaciones educativas en las<br />

que los fenómenos propios de las sociedades avanzadas coexisten entremezclados<br />

con los índices de una alfabetización muy escasa.<br />

Otra forma de acceso a la literatura es la de la propia escritura literaria.<br />

Los talleres de escritura se han demostrado enormemente eficaces en el<br />

desarrollo de la competencia literaria y el dominio del escrito. Se trata de<br />

una línea clara de actuación que debería continuar extendiéndose en las<br />

aulas ya que presenta múltiples ventajas, como la de otorgar un protagonismo<br />

motivador a los alumnos, la fusión natural de las habilidades<br />

lingüísticas en su desarrollo y la gratificación de alcanzar productos concretos<br />

y visibles en el trabajo escolar.<br />

El siguiente cuadro ofrece una síntesis de lo que la investigación ha desvelado<br />

sobre la mejor forma concreta de incidir en el aprendizaje de la<br />

lectura literaria (Baye et al. 2003; Ruddell 1995):<br />

❖ Fomentar la lectura de obras enteras o textos largos que el docente conozca bien.<br />

❖ Presentar los libros y guiar la lectura en el aula.<br />

❖ Englobar la lectura en proyectos bien secuenciados, con sentido propio y diferentes<br />

finalidades (y ligarla con la escritura).<br />

❖ Emprender tareas complejas con un grado elevado de exigencia, pero con<br />

un desarrollo sostenido que permita triunfar a los alumnos.<br />

❖ Usar la lectura cooperativa con intercambios que favorezcan las estrategias<br />

interpretativas, críticas e inferenciales, con atención a los aspectos estéticos<br />

y emocionales.<br />

❖ Usar actividades que permitan la toma de conciencia de los chicos y chicas sobre<br />

el hecho de que progresan, adquieren conocimientos y aprenden formas eficaces<br />

de proceder.<br />

❖ Ayudar individualmente los alumnos.<br />

91


92<br />

6. ¿QUÉ LIBROS NOS AYUDARÁN?<br />

En las últimas décadas la escuela ha asistido al estallido del corpus de<br />

textos que era habitual desde que se extendió la escolaridad obligatoria,<br />

hace ahora más de cien años. Enseñar a interpretar y desarrollar una<br />

competencia literaria no presupone la obligación de hacerlo sobre obras<br />

predeterminadas por la historia crítica. Así pues, ha ido calando la idea de<br />

que el corpus varía según los contextos y según la función que otorguemos<br />

a una lectura concreta en el conjunto del itinerario de formación previsto.<br />

El corpus adecuado será entonces el conjunto de lecturas que mejor<br />

puedan incidir en el aprendizaje literario de los niños y niñas.<br />

En la práctica, sin embargo, ese criterio no se ha desarrollado<br />

convenientemente. No lo ha hecho, en primer lugar, en la articulación de<br />

los distintos corpus. Todos los recuentos y estudios realizados en los<br />

últimos años sobre las lecturas escolares prescriptivas señalan que ese<br />

corpus presenta ahora una enorme dispersión de títulos, autores y tipos<br />

de libros (folclore, literatura infantil, novela juvenil clásica o actual,<br />

literatura patrimonial, en la lengua propia o traducida, etc.). Tanta<br />

dispersión cuestiona situaciones antes estables de textos socialmente<br />

compartidos, como podía ser el traspaso del folclore en los primeros<br />

niveles o el acceso a un corpus social de referencia en los últimos cursos<br />

de secundaria.<br />

En segundo lugar, la presencia de uno u otro tipo de textos se reparte de<br />

manera desigual en las etapas educativas: en primaria se utiliza de forma<br />

casi exclusiva un corpus de libros infantiles, mientras que en secundaria<br />

coexisten dos líneas muy poco relacionadas entre sí: por una parte, los<br />

textos patrimoniales derivados de un programa que continúa basándose<br />

en el desarrollo de la historia literaria; por otra, tanto la presión social,<br />

como las prácticas de primaria, introducen la lectura de novelas juveniles<br />

o de títulos de actualidad en una lectura fuera del aula y desgajada del<br />

aprendizaje planificado.<br />

En tercer lugar, tampoco se ha procedido adecuadamente respecto de la<br />

evaluación de las cualidades formativas de corpus elegido. Los libros<br />

«exteriores» entraron en la escuela hace décadas a partir de los cambios<br />

en la concepción sobre el acceso al escrito como práctica social. Pero la<br />

creciente preocupación por los bajos índices de lectura favorecieron que<br />

el criterio dominante fuera simplemente el de su fácil conexión con los<br />

lectores. En muchos casos, la poca formación inicial de los docentes sobre<br />

la tradición oral o el corpus infantil y juvenil se tradujo en la elección de<br />

textos que no se sitúan entre los de más calidad, sino entre los más divulgados<br />

en aquel momento. Tras un par de décadas de «libros fáciles», la<br />

polémica se ha extendido y han surgido muchas voces (Machado 2005,<br />

por ejemplo) e iniciativas encaminadas a la utilización de lecturas de cali-<br />

dad, sean infantiles o de otro tipo, y más o menos estables en el tiempo,<br />

de manera que puedan ejercer una función referencial y cohesionadora<br />

de la sociedad.<br />

7. UTILIZAR LA LITERATURA PARA LOS NUEVOS RETOS SOCIALES<br />

La literatura es un gran instrumento de ayuda <strong>para</strong> enfrentar los cambios<br />

sociales. Por ejemplo, la inestabilidad de los valores sociales en las nuevas<br />

sociedades urbanas postindustriales o la necesidad de conjugar distintos<br />

niveles de identidad cultural, ya que éstos se suporponen cada vez más en<br />

las sociedades occidentales presididas por grandes migraciones humanas o<br />

por el reconocimiento de comunidades internas que habían sido<br />

marginadas por las culturas oficiales. Por ello se están desarrollando líneas<br />

de investigación sobre el uso de la literatura en la acogida de emigrantes o<br />

en la reflexión sobre las esferas de la intimidad personal, un espacio<br />

ampliamente abordado por la literatura infantil de la última década.<br />

En definitiva, este es el panorama en el que nos encontramos <strong>para</strong> el<br />

avance inmediato de la enseñanza de la lectura literaria en la escuela. Un<br />

reto <strong>para</strong> el que estamos mucho más pre<strong>para</strong>dos que hace unos años,<br />

pero que también se percibe como mucho más frágil en los tiempos<br />

actuales, dado que muchos cambios sociales afectan las funciones tradicionales<br />

de la literatura y de su enseñanza. Personalmente creo, como<br />

Italo Calvino (2007: 13), que «hay cosas que sólo la literatura con sus medios<br />

específicos puede dar». Nuestra esperanza, supongo que compartida por<br />

todos los que aquí nos encontramos, es que la escuela pueda ofrecerlas a<br />

los niños y niñas del nuevo siglo.<br />

Referencias<br />

Baye, A., Lafontaine, D. & Vanhulle, S. (2003). «Lire ou Ne Pas Lire: Etat de la question», in Les Cahiers<br />

du CLPCF (Centre de Lecture Publique de la Communauté Française), núm. 4: 3-64.<br />

Calvino, I. (2007). Seis Propuestas <strong>para</strong> el Próximo Milenio, Madrid: Siruela.<br />

Colomer, T. (2007). Andar Entre Livros. A <strong>Leitura</strong> Literária na Escola, São Paulo: Global Editora.<br />

Duran, C. & Manresa, M. (2008). «Entre Països: l’Acció Educativa al Nostre Entorn», in Colomer, T.<br />

(coord.) Lectures Adolescents, Barcelona: Graó.<br />

Machado, A.M. (2005). Clásicos, Niños y Jóvenes, Bogotá: Norma.<br />

Marchesi, A. & Miret, I. (dir) (2006). Las Bibliotecas Escolares en España: Análisis y recomendaciones, Madrid:<br />

Fundación Germán Sánchez Ruipérez. http://www.fundaciongsr.es/pdfs/bibliotecas_escolares.pdf<br />

Ruddell (1995). «Those Influential Literacy Teachers: Meaning negociators and motivation<br />

builders», in The Reading Teacher, 48, 6, pp. 454-463.<br />

93


94<br />

Sociedad y Lectura.<br />

La Importancia de los<br />

Mediadores en Lectura<br />

PEDRO C. CERRILLO TORREMOCHA*<br />

La alfabetización es algo más que saber leer y escribir, y hoy, en el siglo<br />

de las nuevas tecnologías, estamos obligados a facilitar el acceso de los<br />

ciudadanos al mundo globalizado de la información, pero también a pre<strong>para</strong>rlos<br />

<strong>para</strong> manejarse, libre y críticamente, en él; y esto no es posible<br />

sin competencia lectora. La lectura no es sólo el reconocimiento de unos<br />

sonidos, de unas sílabas o de unas palabras en el conjunto de un texto; las<br />

palabras pueden significar cosas muy diferentes, que sólo un lector competente<br />

sabrá «leer» en cada momento. Debemos entender la lectura,<br />

pues, como la capacidad de comprender e interpretar mensajes, que posibilita<br />

– además – <strong>para</strong> dar opiniones y realizar valoraciones de lo leído.<br />

Hoy es frecuente ver cómo se confunden «sociedad de la información» y<br />

«sociedad del conocimiento», que no son, en ningún caso, conceptos<br />

sinónimos. La «información» es algo externo y rápidamente acumulable<br />

por las personas, pero que puede ser «nada» si una persona no es capaz<br />

de asimilarla, discriminarla, procesarla y enjuiciarla, y eso sólo lo faculta<br />

la competencia lectora. El «conocimiento», en cambio, es algo interno,<br />

estructurado, que se relaciona con el entendimiento y con la inteligencia,<br />

que crece lentamente y que puede conducir a la acción.<br />

Si el logro de la «sociedad del conocimiento» es un objetivo de la sociedad,<br />

como dicen desde hace tiempo muchos gobiernos, es imprescindible<br />

que lo sea también la adquisición de la competencia lectora de todas las<br />

personas, pues es la que va a hacer posible el acceso al «conocimiento»,<br />

no sólo a la «información». En el siglo XXI es más necesario que nunca un<br />

ciudadano lector, competente y crítico, capaz de leer diferentes tipos de<br />

textos y de discriminar la abundante información que se le ofrece a diario<br />

en diversos soportes, es decir un ciudadano con competencia lectora, lo<br />

que le permitirá abandonar el sistema de exclusión educativa, interpretar<br />

y enjuiciar ideas pasadas y presentes, acceder críticamente a las «tics»,<br />

protegerse ante los mensajes publicitarios indiscriminados o compartir<br />

emociones, sentimientos y esperanzas con personas de otras culturas y<br />

otros territorios. Esa competencia lectora es la que hará posible, además,<br />

*Professor Catedrático de Didáctica de Língua e da Literatura na Universidad de Castela-Mancha.<br />

95


96<br />

el paso a la «competencia literaria», que es la competencia que permite a la<br />

persona ejercer la libertad de la palabra y de las ideas, por medio de la que<br />

podrá construir significados propios, que pueden ser contrarios a los que<br />

le son impuestos desde cualquier instancia o institución (Corral 2007: 93).<br />

Para lograrlo, son necesarias intervenciones institucionales decididas y<br />

duraderas que desarrollen y atiendan programas de promoción lectora a<br />

los que tengan acceso todos los ciudadanos, convirtiendo la lectura en un<br />

asunto de política de gobierno, con participación de todas las administraciones,<br />

de manera que se logre, en un tiempo razonable, generar un<br />

clima social que la favorezca y desarrolle, así como crear conciencia de su<br />

valor social y modificar las actitudes de la población hacia ella, hacia los<br />

libros y hacia los lectores. Aunque no estoy del todo de acuerdo con<br />

Alberto Manguel (2002: 2), una parte de razón sí tiene cuando dice que:<br />

Nuestras sociedades no creen en la importancia del acto intelectual.<br />

Los gobiernos tienen mucho miedo... Es muy difícil gobernar a un<br />

pueblo que lea y cuestione las cosas.<br />

Por desgracia, la historia – en muchas ocasiones – ha confirmado las palabras<br />

de Manguel: las hogueras de libros, la persecución de ciertas ediciones,<br />

los índices inquisitoriales de libros prohibidos, las persecuciones<br />

fundamentalistas de escritores críticos, el secuestro de libros... Para<br />

algunos de quienes han ostentado el poder ha sido una tentación limitar,<br />

condicionar, controlar o prohibir el acceso a los libros que pudieran ser<br />

sospechosos de contradecir al gobernante, por ser portadores de críticas<br />

o subversiones. Todo ello puede hacernos pensar, al menos a veces, que<br />

no se pone toda la voluntad necesaria <strong>para</strong> intervenir de verdad en la<br />

mejora de los índices lectores de la población. Quizá podríamos preguntarnos<br />

si es legítimo «intervenir» (es decir, mediar) en la actitud lectora de<br />

los ciudadanos, siendo ésa una elección personal. Creo que sí es legítimo<br />

y conveniente intervenir, como también lo es la intervención institucional<br />

en otras actitudes o hábitos: la conducción temeraria, el consumo<br />

de alcohol y tabaco o la conservación de la naturaleza. La bondad de esas<br />

intervenciones la corroboran los beneficios de esas prácticas.<br />

La lectura fue antaño una actividad minoritaria que discriminaba a las personas;<br />

pero hoy debiera considerarse un bien «de primera necesidad», al que<br />

tienen derecho todos los ciudadanos. Ser alfabetizado es un derecho universal<br />

de todas las sociedades, porque el valor instrumental de la lectura «competente»<br />

permitirá a los ciudadanos participar, autónoma y libremente, en la<br />

«sociedad del conocimiento». El logro de este objetivo exige, sin duda, la intervención<br />

de mediadores en lectura sólidamente formados y con los medios necesarios<br />

<strong>para</strong> cumplir dignamente su responsabilidad, porque son quienes van<br />

a propiciar el contacto de los lectores con los libros desde las primeras edades.<br />

La lectura hay que entenderla como un acto plenamente social, que está<br />

muy relacionado con el contexto cultural más cercano a las personas, con<br />

capacidad <strong>para</strong> liberar ataduras e imposiciones:<br />

Los más optimistas habrán llegado a pensar que la represión política y<br />

cultural y la autarquía moral son cosas ya del pasado. Pero son cosas<br />

que, además de residir todavía en nuestro presente actual, se han transmutado<br />

en la democracia en otra serie de presiones y, por qué no, de<br />

represiones contemporáneas (…) Ahí está, entre otros variados a<strong>para</strong>tos<br />

represivos u opresivos de la sociedad del mercado, el discurso publicitario<br />

<strong>para</strong> demostrar, como persuasor textual modélico, que vivimos en<br />

una ilusión fabricada – en un sueño, en una ambición, etc. – y no en una<br />

realidad autónoma, puesto que, como es bien sabido, la publicidad, más<br />

que vender productos compra clientes, <strong>para</strong> lo cual obviamente ha de<br />

vendernos deseos de consumir y deseos de exhibir lo consumido. Esto es,<br />

el mercado nos induce a la necesidad de presumir como si se tratara de<br />

lo que los sociólogos denominan necesidad primaria. (Corral 2007: 90)<br />

El lector no nace, se hace; pero el no lector también: nos hacemos lectores<br />

o no lectores con el paso del tiempo, a lo largo de un proceso formativo en<br />

el que interviene el desarrollo de la personalidad y en el que vivimos<br />

experiencias lectoras motivadoras y desmotivadoras, casi siempre en dos<br />

únicos contextos, el familiar y el escolar. Para bien mediar en ese proceso<br />

formativo que puede conducir a las personas a ser lectores, se debe intervenir<br />

desde los tres ámbitos clave de la lectura:<br />

La familia: el entorno más inmediato en que transcurren los primeros años<br />

de la vida y el lugar idóneo <strong>para</strong> el descubrimiento de la palabra por<br />

medio de la oralidad; un ámbito que no conlleva el aprendizaje de la lectura<br />

de las palabras escritas, y en el que la responsabilidad es de los padres.<br />

La escuela: un ámbito de obligatorio cumplimiento, en el que se aprende a leer<br />

las palabras escritas y se empieza a entender el significado de esas palabras.<br />

Es el ámbito de la primera lectura comprensiva. La responsabilidad es de los<br />

docentes, pero sin que los padres deban permanecer totalmente al margen.<br />

La biblioteca: a diferencia de los anteriores, es un ámbito indirecto, porque el<br />

acceso a ella es, y debe ser, voluntario, aunque el acceso a la biblioteca puede<br />

realizarse en busca de lecturas placenteras (ocio) o en busca de lecturas instrumentales<br />

(estudio), pero siempre por iniciativa propia. La responsabilidad<br />

es de los bibliotecarios. La biblioteca es patrimonio de una comunidad; en ella<br />

los lectores aprenderán a compartir y respetar los bienes comunes: libros y<br />

otros materiales a disposición de todos los usuarios.<br />

97


98<br />

Educación y lectura <strong>para</strong> todos. La figura del mmeeddiiaaddoorr<br />

Durante siglos se trató de garantizar el mantenimiento del privilegio<br />

de la educación <strong>para</strong> los bien nacidos. Los libros se preservaban<br />

por medio de copias hechas a mano, una a una, por escribas o monjes<br />

copistas, al servicio de reyes, papas, monasterios ricos, nobles. Las<br />

bibliotecas eran de los poderosos. El dominio de la escritura y de la<br />

lectura o el acceso a la educación, también. (Machado 2007: 50)<br />

A partir del siglo XVIII se fue extendiendo el convencimiento de que la<br />

educación era necesaria <strong>para</strong> todos, reivindicándose la igualdad de<br />

oportunidades, algo que no siempre ni en todos los lugares se ha logrado,<br />

y que, todavía hoy, sigue siendo muy difícil, pues son necesarios<br />

mediadores capacitados y con recursos suficientes <strong>para</strong> intervenir con<br />

eficacia.<br />

En la creación de hábitos lectores, sobre todo en los periodos de la infancia<br />

y la adolescencia, es muy importante la figura del mediador, papel que<br />

suelen cumplir adultos con perfiles específicos (padres, maestros, educadores<br />

sociales, trabajadores sociales o bibliotecarios, aunque, en buena<br />

lógica, deberíamos considerar también como tales a los editores, a los<br />

autores o a los libreros). Y es importante porque en la infancia y en la adolescencia<br />

los lectores tienen niveles diferentes y progresivos en sus capacidades<br />

de comprensión lectora y recepción literaria; por eso, es necesario<br />

el mediador, como puente o enlace entre los libros y esos primeros lectores<br />

que propicia y facilita el diálogo entre ambos. En esos casos, el<br />

mediador cumple el papel de primer receptor del texto, siendo el lector<br />

infantil el segundo receptor, algo que se da en la Literatura Infantil, porque<br />

es una literatura que se dirige a unos lectores específicos. En<br />

Literatura Infantil, pues, el mediador es, casi siempre, el primer receptor<br />

de la obra (Lluch 2003: 28), que facilitará ideas y caminos <strong>para</strong> realizar las<br />

lecturas, también <strong>para</strong> elegirlas, porque el destinatario de las mismas es<br />

todavía un ser en desarrollo, con poca experiencia de contacto consciente<br />

con los textos literarios (su experiencia se suele limitar a la literatura<br />

oral), y con una pequeña competencia enciclopédica.<br />

No todo el mundo cree en la conveniencia de que exista ese mediador, ya<br />

que la decisión final en la elección de un libro la debe tener siempre el lector,<br />

pero creo que no es desdeñable una intervención mediadora que, con<br />

conocimiento de causa, aporte soluciones ante las dudas y facilite, en lo<br />

posible, la decisión en la elección de la lectura adecuada.<br />

El mediador, sobre todo si es docente, no debe olvidar que hacer lectores<br />

en el ámbito escolar tiene una serie de dificultades, cuyo conocimiento le<br />

ayudará a superarlas en muchos momentos; las causas que provocan esas<br />

dificultades son variadas: desde el aprendizaje de los mecanismos lecto-<br />

-escritores como una actividad mecánica, sin la necesaria atención a los<br />

aspectos comprensivos, hasta la excesiva «instrumentalización» escolar<br />

de la lectura, pasando por las diferencias en los niveles de adquisición de<br />

la lengua de expresión y en experiencias lectoras previas de los alumnos,<br />

o por la consideración social de la lectura como una actividad seria, «aburrida»,<br />

o por la falta de ambiente de lectura en el entorno extraescolar del<br />

niño.<br />

1. LA FORMACIÓN DEL MEDIADOR EN LECTURA<br />

El problema nos lo encontramos, en más ocasiones de las deseadas, en la<br />

formación de los mediadores. No quisiera ser excesivamente pesimista,<br />

pero al acabar sus estudios reglados ni profesores ni bibliotecarios tienen<br />

una formación específica <strong>para</strong> ejercer la mediación lectora en buenas<br />

condiciones. Veamos por qué: en lo que se refiere a los bibliotecarios, la<br />

formación institucionalizada que se les da les faculta <strong>para</strong> desarrollar<br />

actividades como la catalogación, la documentación o la organización de<br />

la biblioteca, pero no <strong>para</strong> intervenir en el proceso de lectura, en el análisis<br />

de textos o en la selección de un canon de lecturas juveniles, por<br />

ejemplo. ¿Y los profesores? (Cerrillo 2007: 82-97): el sistema universitario<br />

actual pre<strong>para</strong> a maestros y filólogos, es decir a los futuros profesores de<br />

Primaria, Secundaria y Bachillerato, proporcionándoles una formación,<br />

en lo que a lectura se refiere, que les capacita, en el caso de los maestros,<br />

<strong>para</strong> que enseñen a leer pero no <strong>para</strong> que creen y formen lectores, quedando<br />

esta formación a expensas del empeño individual y la voluntad posterior<br />

de quienes tienen más inquietud, ya que el maestro actual puede<br />

tener conocimientos suficientes de organización escolar, de didáctica<br />

general, de legislación educativa o de psicología evolutiva, pero no los<br />

tiene ni del acto de leer, ni de lenguaje literario, ni de análisis de textos,<br />

ni de Historia de la Literatura. En el caso de los filólogos, pueden terminar<br />

sus estudios con conocimientos de Historia de la Literatura, de comentario<br />

de textos, de lingüística o de gramática, pero no suelen saber nada ni<br />

del proceso lector, ni de Literatura Infantil y Juvenil, ni de Didáctica de la<br />

Literatura.<br />

El mediador en lectura debe formarse a lo largo de un proceso largo, organizado,<br />

coherente y comprometido, en el que se unirán conocimientos<br />

generales y específicos, competencias profesionales, espíritu crítico, capacidad<br />

<strong>para</strong> la intervención comunicativa, creatividad, criterios socializadores,<br />

humanismo y, hoy también, capacidad <strong>para</strong> entender y atender la<br />

diversidad cultural. Este proceso, que sólo la voluntad del propio mediador<br />

puede llegar a cumplir en su totalidad, es el que hará posible que<br />

reúna las actitudes, aptitudes y requisitos que debieran ser exigibles <strong>para</strong><br />

desarrollar la labor de mediación lectora, y que, aunque pudieran parecer<br />

obvios, deben saberse:<br />

99


100<br />

Ser un lector habitual, convencido de las bondades de la lectura.<br />

Conocimiento del grupo y capacidad <strong>para</strong> promover su participación.<br />

Una cierta dosis de imaginación y creatividad.<br />

Creer firmemente en su trabajo de mediador: compromiso y entusiasmo.<br />

Capacidad <strong>para</strong> acceder a información suficiente y renovada.<br />

Conocimiento del contexto de procedencia de los destinatarios de sus intervenciones<br />

mediadores.<br />

Poseer una mínima formación literaria, psicológica y didáctica, que le posibilite,<br />

entre otros, conocimientos sobre:<br />

El proceso lector y las habilidades que facilitan la lectura.<br />

Un cierto canon de lecturas literarias: obras que pueden ser iniciáticas en la formación<br />

literaria del niño, al margen de las lecturas escolares que forman parte del currículo.<br />

La teoría y la práctica de técnicas y estrategias de animación lectora.<br />

La Literatura Infantil y sus mecanismos editoriales.<br />

La contextualización histórica de la Literatura Infantil.<br />

La evolución psicológica del individuo en su relación con la lectura.<br />

Todo ello sin olvidar que <strong>para</strong> hacer lectores no existe mejor medicina<br />

que los buenos libros, seleccionados por su capacidad <strong>para</strong> transmitir<br />

mensajes expresados con corrección lingüística y calidad literaria, y por<br />

su capacidad <strong>para</strong> emocionarnos o <strong>para</strong> hacernos vibrar, sentir, soñar o<br />

compartir. La labor del mediador en la selección de lecturas es muy<br />

importante porque pone en contacto el libro que considera adecuado con<br />

sus potenciales lectores, entendiendo que, siempre, la última palabra en<br />

la elección debería tenerla el lector. Lo que sucede es que el análisis que<br />

el mediador haga de las características de un libro, puede condicionar la<br />

edad recomendada en el propio libro por la editorial.<br />

Pero ¿dónde puede un mediador adquirir la formación que precisa? Ya<br />

hemos comentado que es difícil encontrar estudios de «grado» por medio<br />

de los que la Universidad (aunque me refiero a la española, no creo que<br />

sea muy diferente en otros países) forme profesionales de esas características.<br />

Tampoco parece que con la reforma «Bolonia» la situación vaya a<br />

cambiar. Pese a todo, en los últimos años, algunas universidades, con la<br />

colaboración de otras instituciones, ofrecen algunas posibilidades formativas<br />

en estudios universitarios de postgrado o en programas de formación<br />

complementaria (las universidades de Castilla La Mancha,<br />

Autónoma de Barcelona, Alcalá de Henares, Valencia o Extremadura).<br />

2. EL MEDIADOR Y EL ENTORNO SOCIAL<br />

La escuela puede lograr que los niños asuman que leer es importante,<br />

pero difícilmente podrá conseguir que la lectura sea una alternativa de<br />

ocio <strong>para</strong> ellos. Además, la lectura escolar es una lectura lastrada por su<br />

101<br />

inclusión en un área como la que representa la unión de «Lengua y<br />

Literatura» y por la «prescripción lectora», lo que la convierte en una lectura<br />

claramente instrumental: los escolares, que queremos que pronto y<br />

durante mucho tiempo sean lectores, deben enfrentarse a unos textos en<br />

los que se ejemplifican nociones y conceptos morfológicos, sintácticos y<br />

léxicos, o conocimientos y valores programados en el periodo educativo<br />

que corresponda, siempre en detrimento de los valores literarios de esos<br />

textos. No es extraño que esos escolares huyan de la lectura en cuanto ésta<br />

no es una actividad obligada <strong>para</strong> ellos. Sobre este asunto ya se expresó<br />

Lázaro Carreter hace muchos años:<br />

El niño no se acerca al libro como al juego, al circo o al deporte; no<br />

existe entre sus apetencias (…) Sus primeros contactos con el libro son<br />

de vencimiento de obstáculos; primero, el de descifrar los signos gráficos<br />

y el de relacionarlos con el significado del léxico y del discurso;<br />

después, el de la comprensión de los distintos saberes... Con el libro de<br />

texto, los muchachos, en rigor, no leen, sino que aprenden. No es raro<br />

que este esfuerzo les disuada del camino de la lectura (...) No creo apenas<br />

en el lector espontáneo; los que solemos tenernos por tales hallaremos<br />

en los orígenes de nuestra afición, si recapacitamos, estímulos<br />

y contagio. (Carreter 1984: 7)<br />

El mediador (en el ámbito que sea) es quien fomentará las primeras tendencias<br />

lectoras, consolidándolas con las estrategias más adecuadas en<br />

cada momento. Su trabajo es esencial, pero también complejo (sobre todo<br />

en el ámbito escolar), entre otras razones porque deberá trabajar con lecturas<br />

de diverso tipo, con las que pretenderá lograr diversos objetivos:<br />

información, instrucción, diversión, imaginación, etc., lo que no deja de<br />

provocar ciertas confusiones. Además, se encontrará con la competencia,<br />

a veces desleal, de actividades y prácticas de ocio, muy extendidas en el<br />

conjunto de la sociedad, que tienen en su pasividad el principal reclamo:<br />

la televisión, los juegos electrónicos o las nuevas tecnologías provocan<br />

una fascinación inmediata con la que el ejercicio de la lectura, con lo que<br />

tiene de voluntario, individual, esforzado o silencioso, difícilmente<br />

puede competir. El auge de los medios audiovisuales y la poderosa irrupción<br />

de las nuevas tecnologías han favorecido un cambio de modelo cultural:<br />

de la supremacía de una cultura alfabética, textual e impresa, se ha<br />

pasado a la supremacía de una cultura de imágenes audiovisuales, lo que<br />

ha provocado ciertos cambios en los usos del lenguaje y en las capacidades<br />

de razonamiento.<br />

Y, sin embargo, la historia nos dice que ha sido la práctica de la lectura la<br />

que ha aportado a los hombres capacidad <strong>para</strong> interpretar, elegir, debatir<br />

y criticar. Los mediadores y los educadores son los primeros que lo deben


102<br />

tener en cuenta, pero no debieran ser los únicos: la sociedad – a través de<br />

sus instituciones – tiene que formarlos adecuadamente y proporcionarles<br />

los medios necesarios <strong>para</strong> cumplir dignamente esa responsabilidad. No<br />

sería bueno – creo yo – que las sociedades desarrolladas, justificándose en<br />

la revolución tecnológica, renunciaran a la extensión de la práctica lectora<br />

a todos los ciudadanos, y con ella a su pre<strong>para</strong>ción no sólo <strong>para</strong> el trabajo,<br />

sino también <strong>para</strong> la vida y <strong>para</strong> todo lo que en ella van a encontrar.<br />

A modo de conclusión<br />

Ninguna persona, en ningún lugar del mundo, nace sabiendo hablar, leer<br />

o escribir, ni aprende solo cualquiera de esas habilidades, ya que las tres<br />

necesitan ser enseñadas y aprendidas, porque, como bien dice Ana Mª<br />

Machado (2007: 49):<br />

Leer no es natural. Más aún, hablar y conversar no son actos naturales,<br />

sino culturales (…) El lenguaje articulado no es un fenómeno<br />

de la naturaleza sino de la cultura, del grupo social. Principalmente<br />

el lenguaje simbólico, que va más allá de la mera indicación concreta<br />

y trabaja con abstracciones. Pura cultura. Si nadie enseña, nadie<br />

aprende.<br />

De ahí, la importancia que tienen los mediadores en lectura, también después<br />

del momento en que se aprenden los mecanismos técnicos de la<br />

lecto-escritura.<br />

De todos modos, la Lectura, necesita una profunda reflexión en este tiempo<br />

de grandes cambios sociales, porque a la lectura literaria, la que tiene<br />

en el libro su soporte esencial, le acompañan ahora otras lecturas, electrónicas<br />

unas, icónicas otras y mediáticas otras más, que son, en principio,<br />

más asequibles, porque no necesitan el recorrido de un camino previo<br />

largo, voluntario y, en ocasiones, difícil y esforzado, y que son enormemente<br />

atractivas <strong>para</strong> los niños y los adolescentes. Sólo el lector competente<br />

(es decir aquel que tiene capacidad <strong>para</strong> discriminar, reflexionar y<br />

opinar sobre lo leído) podrá acceder a todas esas lecturas en buenas condiciones.<br />

Si los gobiernos totalitarios siempre han visto peligrosa <strong>para</strong> sus intereses<br />

la lectura literaria, por lo que aporta de libertad y de capacidad crítica<br />

a sus lectores, la práctica exclusiva de esos nuevos tipos de lecturas<br />

(que suelen denostar la lectura literaria), conlleva otros peligros <strong>para</strong> las<br />

sociedades desarrolladas y democráticas, que debieran preocuparnos a<br />

todos, también a quienes las gobiernan, porque pueden empobrecer cultural<br />

y lingüísticamente a sus ciudadanos, restringiéndoles sus capacidades<br />

<strong>para</strong> la reflexión, el juicio crítico y el pensamiento autónomo.<br />

Además, que nadie crea que las nuevas tecnologías son neutras o inocentes:<br />

103<br />

«chatear», por ejemplo, no es sólo una forma de comunicación, sino que<br />

exige – quizá impone – un nuevo lenguaje y, con él, un nuevo lector.<br />

Georges Steiner (2000: 64) ha señalado que nunca tanta información ha generado<br />

menos conocimiento. No podemos confundirnos: internet es una excepcional<br />

manera de democratizar el acceso a la información que hace posible,<br />

además, la adquisición de nuevos conocimientos, pero es una lectura<br />

«instrumental»; como dice Ana Mª Machado (2002: 36):<br />

No es una forma de adquirir sabiduría. Para la transmisión de la<br />

sabiduría se exige otro proceso, en el que decidir no depende de una<br />

opción entre otras del menú, de una preferencia por «esto o aquello»,<br />

sino de una com<strong>para</strong>ción entre «esto y aquello», con análisis de argumentos,<br />

oposición de contrarios, encadenamiento lógico que lleve a<br />

conclusiones, etc. Un proceso complejo...<br />

El concepto de «alfabetización» hoy ha cambiado: al aprendizaje de los<br />

mecanismos lectoescritores hay que sumarle la competencia lectora, que es<br />

la competencia que permitirá al lector leer diversos tipos de textos (escolares,<br />

instrumentales, informativos, literarios,…), en situaciones diversas<br />

y en códigos diferentes (verbales, icónicos, audiovisuales,…), siendo capaz<br />

de discriminar, reflexionar y opinar sobre lo leído.<br />

Por otro lado, no sería justificable que el pensamiento «globalizador», tan<br />

difundido por muchos medios de comunicación, llevara a las sociedades<br />

actuales a dilapidar sus patrimonios culturales, en los que los textos<br />

escritos han ocupado el mayor espacio de sus historias literarias, pero en<br />

los que los materiales literarios orales han sido una parte muy importante<br />

del imaginario de cada colectividad. En esos materiales orales hay un<br />

fondo común, sin duda, del que forman parte cuentos, mitos, leyendas,<br />

canciones escenificadas, nanas o trabalenguas, pero hay también un<br />

fondo particularizado nada desdeñable:<br />

…Materiales de ficción que configuran el espacio de la literatura oral<br />

(…) y que constituyen el patrimonio inmaterial de los pueblos.<br />

(Manila 2007: 16)<br />

Este patrimonio inmaterial (de carácter folclórico y etnológico) que forman<br />

los textos literarios orales caracteriza una parte importante de la<br />

cultura de una sociedad; aunque su sustento sea la memoria, no debiera<br />

renunciarse a su consideración como objeto de conocimiento.<br />

La suma de las experiencias que se derivan de los diversos tipos de lecturas<br />

ayudará a la formación del espíritu crítico del lector, porque se acostumbrará<br />

a elegir, a formarse opinión propia, a entender y explicar lo<br />

que es y lo que siente, lo que sucedió en otro tiempo y lo que le hubiera


104<br />

gustado que nunca sucediera. Se sentirá, de algún modo, con capacidad<br />

<strong>para</strong> ejercer el juicio crítico con libertad.<br />

Para lograrlo, o al menos <strong>para</strong> intentarlo, la sociedad – por medio de sus<br />

instituciones – tiene que asumir la responsabilidad de capacitar a los<br />

mediadores en lectura: formándolos adecuadamente y proporcionándoles<br />

los medios necesarios <strong>para</strong> cumplir dignamente su responsabilidad, porque<br />

la lectura debe ser entendida como una responsabilidad social, no<br />

sólo escolar, pues está relacionada con el contexto cultural más cercano<br />

a las personas, con especial influencia – además – en las primeras edades,<br />

y porque la lectura puede llevarnos al conocimiento, y el conocimiento<br />

hace que una sociedad sea más justa y, sobre todo, más libre.<br />

Referencias Bibliográficas<br />

Cerrillo, P.C. (2007). Literatura Infantil y Juvenil y Educación Literaria, Barcelona: Octaedro.<br />

Janer Manila, G. (2007). «Literatura Oral y Ecología de lo Imaginario», in Oheee, 3, 14-31.<br />

Lázaro Carreter, F. (1984, 12 de febrero). «El deseo de leer», in ABC, p. 7.<br />

Lluch, G. (2003). Análisis de Narrativas Infantiles y Juveniles, Cuenca: Ediciones de la Universidad de<br />

Castilla La Mancha.<br />

Machado, A.M. (2002). Lectura, Escuela y Creación Literaria, Madrid: Anaya.<br />

– (2007). «Derecho de Ellos y Deber Nuestro. Literatura Infantil, ¿Para Qué?», in CLIJ, 210, 48-57.<br />

Manguel, A. (2002, 12 de enero). Entrevista en Babelia, in El País, 2-3.<br />

Sánchez Corral, L. (2007). «Lectura e Identidad: ¿Es posible la educación literaria?», in VV. AA.,<br />

Literatura Infantil, Nuevas Lecturas y Nuevos Lectores, Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla La<br />

Mancha, pp. 83-96.<br />

Steiner, G. (2000). La Barbarie de la Ignorancia, Barcelona: Taller de Mario Muchnik.<br />

Comprendre en Lisant<br />

MICHEL FAYOL*<br />

105<br />

Lecture et compréhension<br />

Lire, c’est extraire d’une représentation graphique du langage la prononciation<br />

et la signification qui lui correspondent. La lecture est donc une<br />

activité mentale complexe qui peut s’analyser en au moins deux dimensions<br />

complémentaires. L’une d’elles concerne la compréhension, qui<br />

constitue l’objectif de l’activité de lecture. On lit pour comprendre, afin<br />

de s’informer, se distraire, apprendre, etc. La compréhension n’est toutefois<br />

pas spécifique à la lecture: elle s’exerce aussi bien lorsque nous regardons<br />

un film ou lorsque nous suivons une conversation (Gernsbacher<br />

1997). Elle précède l’apprentissage de la lecture et s’exerce à la fois au<br />

cours et en dehors de cet apprentissage. Elle peut même faire l’objet d’un<br />

entraînement spécifique chez les enfants de niveau pré-scolaire (Bianco,<br />

sous presse). Le problème auquel se trouve confronté l’enfant est de mettre<br />

en œuvre l’activité de compréhension à partir de la lecture (Fayol &<br />

Morais 2004).<br />

La seconde dimension est spécifique à la lecture. Cette dernière est une<br />

activité complexe au cours de laquelle le lecteur doit reconnaître les<br />

mots, construire la signification des phrases et des textes, retenir en<br />

mémoire ce qui est déjà lu, etc. La plupart de ces processus est déjà exercée<br />

à l’oral avant que les enfants n’apprennent à lire. Ce que la lecture<br />

introduit de nouveau tient à ce que les conditions de mise en œuvre de<br />

ces processus diffèrent de celles de l’oral: l’identification des mots et l’accès<br />

à leurs formes phonologique (comment ils se prononcent), orthographique<br />

(comment ils s’écrivent) et à leur sens s’effectuent à partir de leur<br />

forme orthographique; les mots déjà traités restent disponibles sous les<br />

yeux, ce qui permet de moduler la vitesse de traitement des mots et<br />

même de les relire, ce que le traitement oral ne permet pas (Fayol 1992).<br />

L’identification des mots écrits et la compréhension en lecture sont<br />

fortement corrélées. Toutefois, certains enfants manifestent une différence<br />

très forte entre ces deux dimensions. Il en ya ainsi des dyslexiques,<br />

qui présentent des difficultés de décodage, ou des enfants qui présentent<br />

des difficultés de la compréhension en général (pas spécifiquement en<br />

lecture) en l’absence de tout déficit en reconnaissance de mots (ONL 2000).<br />

Il est ainsi possible de distinguer entre les enfants qui éprouvent des<br />

difficultés de compréhension, ceux pour qui le décodage ou l’identification<br />

*Professor de Psicologia na Universidade Blaise Pascal, França; membro do Observatoire National de<br />

la Lecture.


106<br />

des mots pose problème, et ceux, enfin, qui cumulent les deux handicaps<br />

(Braibant 1994). Tout lecteur qui présente des déficits de compréhension en<br />

lecture de textes alors que l’identification des mots écrits peut être<br />

considérée normale aurait des difficultés de compréhension en général.<br />

Aussi bien la capacité d’identification des mots écrits que les capacités de<br />

compréhension de la langue sont des conditions nécessaires mais non<br />

suffisantes de la compréhension de l’écrit.<br />

Considérer que la lecture comporte deux dimensions complémentaires<br />

ne suffit pas. En effet, les lecteurs doivent les gérer simultanément au<br />

cours même de la lecture. Or, les êtres humains, ont une capacité limitée<br />

à traiter des informations à un moment donné. S’il est possible de mener<br />

en <strong>para</strong>llèle deux activités automatisées, une activité automatisée et une<br />

autre qui ne l’est pas, il est très difficile de le faire avec deux activités coûteuses<br />

en attention. Comme il est peu probable que l’activité de compréhension<br />

des discours et des textes puisse être automatisée, elle<br />

mobilise toujours de l’attention pour coordonner les différents types<br />

d’informations et les intégrer en une représentation cohérente. Ce sont<br />

donc les autres composantes de la lecture-compréhension qui doivent<br />

être automatisées ou dont le coût doit être allégé, notamment le coût de<br />

l’identification des mots.<br />

Les difficultés propres à la compréhension<br />

La connaissance du lexique constitue une source importante de<br />

difficultés pour la compréhension en lecture, particulièrement lorsque<br />

les textes sont de nature technique et visent à permettre l’apprentissage<br />

de notions nouvelles. Il existe d’ailleurs une forte relation entre l’étendue<br />

du lexique et la compréhension de textes écrits, mais elle est à double<br />

sens. La connaissance du lexique influe directement sur la<br />

compréhension de textes: les enfants qui disposent du lexique le plus<br />

étendu sur un domaine donné sont ceux qui comprennent le mieux les<br />

textes relatifs à ce domaine. Toutefois, la pratique de la compréhension<br />

au cours de la lecture induit également en retour l’accroissement du<br />

lexique (Cunningham & Stanovich 1998). Chez les plus jeunes, le<br />

vocabulaire disponible à l’oral joue un rôle fondamental dans la<br />

compréhension. Ultérieurement, plus les élèves maîtrisent la lecture et<br />

sont en mesure de lire par eux-mêmes, plus le lexique augmente et<br />

s’organise. Cette influence réciproque augmente les différences<br />

interindividuelles: ceux qui lisent le plus accroissent leur lexique et<br />

peuvent plus vite et mieux traiter les textes, alors que ceux qui lisent peu<br />

bénéficient d’une moindre augmentation de leur lexique, laquelle<br />

rejaillit sur la compréhension, et donc sur le développement lexical. On<br />

pourrait penser que l’instruction explicite du lexique est susceptible<br />

d’améliorer rapidement les performances en compréhension. Or,<br />

107<br />

l’efficacité des leçons de vocabulaire pour la compréhension en lecture<br />

reste limitée (Bauman et al. 2003). Le nombre restreint de mots qui y est<br />

à chaque fois étudié ne permet pas de rendre compte de l’évolution très<br />

rapide du vocabulaire disponible en compréhension chez les enfants. Des<br />

recherches complémentaires sont toutefois nécessaires pour déterminer<br />

si certains modes d’introduction des connaissances lexicales pourraient<br />

induire à la fois un accroissement du stock lexical et une meilleure<br />

compréhension des textes.<br />

La lecture nécessite l’élaboration en fonction du but poursuivi (se<br />

distraire, s’informer, explorer un document, etc.) d’une représentation<br />

mentale de la situation décrite intégrant des informations présentées<br />

successivement dans le texte. Cette élaboration est nécessairement<br />

progressive puisqu’elle commence à partir des premiers éléments traités<br />

auxquels sont ensuite rattachées les informations suivantes (Gernsbacher<br />

1997). Celles-ci introduisent des données dont le degré de nouveauté<br />

varie par rapport à ce qui a déjà été lu, ce qui les rend plus ou moins<br />

faciles à intégrer. Or, le lecteur doit à la fois assurer la cohérence de la<br />

représentation élaborée à partir des éléments déjà traités et prendre en<br />

compte les éléments nouveaux qui imposent la modification et<br />

l’actualisation de la représentation jusqu’alors élaborée (Zwaan &<br />

Radvansky 1998). Pour cela, il lui faut établir le thème du texte, le lieu et<br />

le moment de l’action s’il s’agit d’un récit; regrouper en un ensemble<br />

organisé en fonction d’un but les actions d’un personnage, puis d’un<br />

autre, et ainsi de suite. Ces mécanismes généraux s’appuient d’une part,<br />

sur les indices disponibles dans le texte (par exemple les suites de noms,<br />

les pronoms, etc.), d’autre part, sur les savoirs dont un individu dispose<br />

du fait de son expérience propre ou des enseignements qu’il a reçus,<br />

enfin, sur des habiletés ou capacités qui permettent de traiter les<br />

informations (attention, mémoire à court terme…).<br />

Les données disponibles montrent que la compréhension présente des<br />

difficultés propres, indépendamment de la modalité (orale, écrite...).<br />

Certaines ont été identifiées et ont donné lieu à des recherches visant à<br />

étudier s’il était possible d’enseigner aux enfants des procédures pour les<br />

prévenir ou y remédier (Gaonach & Fayol 2003; Oakhill & Cain 2003).<br />

Deux difficultés ont ainsi été particulièrement abordées: le traitement<br />

des inférences; le traitement des anaphores.


108<br />

1. LE TRAITEMENT DES INFÉRENCES<br />

Lorsque deux propositions ou phrases successives comportent au moins<br />

un élément commun, leur mise en relation s’effectue de manière<br />

généralement rapide et facile, par exemple dans «Le chien aperçut son<br />

maître. Il courut vers lui». La continuité thématique est assurée par la<br />

pronominalisation, qui conserve par ailleurs les positions et les rôles (le<br />

chien [agent] – il; son maître [patient] – lui). Il n’en va pas toujours ainsi.<br />

Dans les deux phrases «Les vacanciers sortirent le pique-nique du coffre. La bière<br />

était tiède.» la mise en relation exige que le syntagme «la bière» soit associé<br />

au groupe «pique-nique» pour conduire à ce que le lecteur estime avoir<br />

compris que les vacanciers avaient sorti la bière tiède du coffre. Cette<br />

mise en relation constitue une inférence. Elle repose sur des<br />

connaissances non explicitement évoquées par et dans le texte et que le<br />

lecteur doit retrouver dans sa mémoire ou élaborer par déduction pour<br />

établir la continuité des situations ou des événements décrits (Fayol &<br />

Morais 2004). Pour cela, ces connaissances doivent être disponibles: ceux<br />

qui n’ont jamais pratiqué ou observé un pique-nique ont des difficultés<br />

pour comprendre de telles séquences. Elles doivent aussi être accessibles:<br />

plus l’association entre deux personnes, objets, états, etc. est fréquente et<br />

plus elle est facile à mobiliser. La réalisation d’une inférence présente<br />

donc toujours un certain coût, qui se manifeste par le ralentissement<br />

plus ou moins important de la vitesse de lecture. La réalisation des<br />

inférences est nécessaire pour établir la continuité dans la construction<br />

de la représentation mentale de la situation décrite par le texte. En son<br />

absence, la compréhension se limite en l’élaboration «d’îlots de<br />

signification» sans intégration de toutes les informations.<br />

Les lecteurs en général, et les faibles compreneurs en particulier, tendent à<br />

effectuer peu d’inférences. Toutefois, les entraînements à la réalisation des<br />

inférences qui ont été conduits auprès d’enfants de 7 à 10 ans montrent<br />

qu’on peut améliorer la production de celles-ci, ce qui induit une meilleure<br />

compréhension, cela même chez les enfants de 5-6 ans, en travaillant sur<br />

l’oral (Bianco 2003; Bianco et al., sous presse; Oakhill & Yuill 1996; Yuill &<br />

Oakhill 1991). Ces entraînements provoquent de nets progrès chez les faibles<br />

compreneurs. Ceci suggère que ces derniers n’étaient pas conscients de leurs<br />

possibilités et de la nécessité des inférences ou bien ignoraient la manière de<br />

procéder. Dans le premier cas, il s’agit d’une méconnaissance de savoirs<br />

relatifs à la dimension métacognitive de la compréhension (voir plus loin).<br />

Dans le second, les lacunes portent sur la connaissance et la mise en œuvre<br />

des savoir-faire (ou procédures) susceptibles de faciliter la compréhension.<br />

L’instruction explicite a provoqué un apprentissage des procédures à mettre<br />

en œuvre et des conditions dans lesquelles elles sont susceptibles de<br />

s’appliquer. Ces résultats ouvrent évidemment d’intéressantes perspectives<br />

pour l’intervention pédagogique (Bianco et al., sous presse).<br />

109<br />

2. LE TRAITEMENT DES ANAPHORES<br />

Les anaphores permettent de déterminer si un objet ou une personne<br />

évoqués dans une proposition sont les mêmes que dans une autre proposition<br />

ou phrase, en général antérieure. Elles assurent la continuité,<br />

notamment référentielle, des informations. Ainsi, dans «Le garçon et la<br />

fillette jouaient dans la cour. Elle le poursuivait.» elle renvoie à la fillette et le au<br />

garçon. Les personnages évoqués dans la première phrase sont repris<br />

dans la seconde, associés à de nouvelles informations qui modifient la<br />

situation. Les relations anaphoriques sont marquées par les articles<br />

(indéfini/défini), ou par l’emploi d’autres mots super- ou sous-ordonnés<br />

(chien/animal/cocker). L’interprétation des anaphores exige du lecteur qu’il<br />

distingue les marques (pronoms, articles) et les associe aux entités<br />

correctes (personnes ou objets déjà évoqués ou non dans le texte), de sorte<br />

que la représentation mentale de la situation décrite puisse être<br />

précisément élaborée.<br />

L’interprétation des anaphores dépend de deux facteurs. Elle dépend<br />

d’abord de la distance entre le pronom et son référent: plus la distance<br />

s’accroît et plus la récupération du référent demande de temps et<br />

d’efforts et plus les risques d’erreurs augmentent. Toutefois, cela vaut<br />

essentiellement pour les personnages secondaires. Elle dépend ensuite de<br />

la nature des anaphores. Lorsque celles-ci portent des indications de<br />

nombre ou de genre, le traitement s’en trouve facilité. Par exemple, en<br />

Français, les déterminants (un/une; des) et les pronoms diffèrent en<br />

fonction du genre (il/elle ou le/la) et du nombre (le-la/les): leur résolution est<br />

d’autant plus rapide et précise qu’ils portent ces indications permettant<br />

de prévenir les ambiguïtés.<br />

Les données de la recherche montrent que même les bons lecteurs<br />

commettent fréquemment des erreurs d’interprétation des anaphores<br />

(Ehrlich & Remond 1997). Toutefois, les recherches ont mis en évidence<br />

que les enfants, et en particulier les faibles compreneurs, bénéficient<br />

d’un entraînement à l’interprétation des anaphores, même lorsqu’ils<br />

sont très jeunes (Bauman 1986; Bianco 2003, sous presse).<br />

De manière plus générale, on peut, d’une part, enseigner le traitement de<br />

difficultés spécifiques, telles les inférences et l’interprétation des anaphores<br />

et, d’autre part, viser globalement l’amélioration de la conscience, des<br />

attitudes et des comportements des lecteurs, indépendamment des<br />

caractéristiques des textes qu’ils ont à aborder. C’est ce que tente l’approche<br />

métacognitive de la compréhension en lecture.


110<br />

Contrôler et gérer sa propre compréhension:<br />

l’approche métacognitive<br />

Pour parvenir à une compréhension satisfaisante d’un texte, le lecteur<br />

doit systématiquement déterminer s’il a ou non compris la partie du<br />

texte qu’il a déjà traitée. Ce contrôle permet d’autoréguler la compréhension,<br />

c’est-à-dire de modifier la vitesse ou la modalité de la lecture<br />

afin d’améliorer la compréhension. Ce qui revient à mettre en place des<br />

stratégies de lecture en fonction des difficultés identifiées et des<br />

connaissances relatives à la manière de les résoudre. Par exemple, le<br />

lecteur peut élaborer un résumé de ce qu’il a déjà lu afin de vérifier qu’il<br />

a une «vue d’ensemble» du texte. Ou encore, s’il a un doute sur sa<br />

compréhension de la situation décrite par le texte, il peut en relire une<br />

partie plus ou moins importante: quelques mots, une phrase, un<br />

<strong>para</strong>graphe, etc. Il peut enfin simplement ralentir la vitesse de lecture<br />

pour mieux intégrer les informations (Fayol & Gaonach 2003). La<br />

perspective métacognitive s’attache précisément à l’étude des savoirs sur<br />

la lecture (qu’est-ce qu’un texte difficile? A quoi sert de ralentir la vitesse<br />

de lecture? Pourquoi relire?) et les savoir-faire (ou stratégies) correspondants<br />

(ralentir la vitesse; relire; résumer…).<br />

Les bons lecteurs confrontés à des textes difficiles procèdent de manière<br />

stratégique. Ils passent en revue le texte à lire, lisent sélectivement, résument<br />

et reviennent sur les informations à retenir. Ces stratégies visent à<br />

assurer l’efficacité de la compréhension en l’organisant et en en gérant<br />

soigneusement le déroulement (ONL 2000). Les lecteurs tout-venant ont<br />

de moindres performances en lecture et recourent moins aux stratégies<br />

que les lecteurs experts; par exemple, ils relisent moins les passages les<br />

plus difficiles à interpréter ou ils modulent moins leur vitesse de prise<br />

d’information en fonction des difficultés. Toutefois, là encore, les expériences<br />

consistant à enseigner les stratégies de lecture – pauses, retours<br />

en arrière, résumés de passages déjà traités, etc. – attestent que l’instruction<br />

ainsi dispensée améliore les performances des lecteurs, même s’il<br />

s’agit d’enfants ayant des troubles de l’apprentissage. En somme, il est<br />

possible de rendre stratégiques même les faibles lecteurs (Gersten et al.<br />

2001; Paris, Lipson & Wixson 1983; Remond 2003).<br />

Pour conclure<br />

La maîtrise de la lecture compréhension est toujours relative (Fayol &<br />

Morais 2004). Nous sommes tous, à un moment ou un autre, de faibles compreneurs,<br />

accaparés par le traitement de mots techniques trop nouveaux ou<br />

dépassés par la saisie du sens de textes qui exigent des connaissances spécifiques.<br />

Nous éprouvons de la fatigue en lisant un texte difficile (pour nous),<br />

alors même que, dans d’autres circonstances, la lecture nous <strong>para</strong>ît facile et<br />

nous nous demandons comment elle peut poser problème à certains. Ces<br />

111<br />

sentiments contradictoires tiennent à ce que pour l’adulte bon lecteur<br />

comme pour l’enfant débutant lire nécessite toujours la coordination de<br />

deux activités – le traitement du code et la gestion de la compréhension –<br />

dont chacune présente un coût, variable selon les textes et leurs contenus.<br />

Garder cela présent à l’esprit peut contribuer à la fois à mieux comprendre<br />

les difficultés de certains individus et à mettre en place des situations destinées<br />

à prévenir ou éviter l’échec.<br />

Les enfants qui sont en phase d’apprentissage du code peuvent difficilement<br />

conduire une activité de compréhension au cours même de la lecture.<br />

Leur attention est captée par le traitement des mots et il leur est difficile<br />

d’imaginer les situations ou les événements décrits. Or, ces enfants<br />

disposent déjà d’habiletés très développées de compréhension, qu’ils<br />

exercent aussi bien à l’oral que sur des supports imagés. En conséquence,<br />

le matériel utilisé pour l’apprentissage, centré sur l’acquisition du code<br />

alphabétique, présente souvent un intérêt discutable du point de vue de<br />

la compréhension. Toutes les solutions envisagées posent le problème de<br />

l’articulation de deux objectifs difficiles à concilier au moins initialement:<br />

l’apprentissage du code alphabétique et la compréhension.<br />

Au fur et à mesure que l’enfant progresse, l’identification des mots<br />

connus et le traitement des mots nouveaux s’accélèrent. L’attention<br />

mobilisée par ces activités se trouve réduite, et la compréhension peut de<br />

mieux en mieux s’exercer <strong>para</strong>llèlement au décodage. Pourtant, il reste<br />

difficile pour les enfants de faire simultanément face à des traitements<br />

complexes sur le code, par exemple du fait de la présence de nombreux<br />

mots nouveaux, et sur la compréhension, par exemple lorsque le thème<br />

n’est pas familier. En conséquence, il est nécessaire de mettre en adéquation<br />

les difficultés des textes et les objectifs poursuivis. Si le but est de travailler<br />

sur le code, il est prudent de limiter les difficultés de compréhension.<br />

Au contraire, s’il s’agit de mettre l’accent sur la compréhension, il<br />

convient de réduire le coût du traitement du code.<br />

On passe ainsi de l’identification des difficultés à leur gestion pédagogique.


112<br />

Références<br />

Bauman, J.F. (1986). «Teaching Third Grade Students to Comprehend Anaphoric Relationships: The<br />

application of a direct instruction model», in Reading Research Quarterly, 21, 70-90.<br />

Bianco, M. (2003). «Apprendre à Comprendre: l’Entraînement à l’utilisation des marques linguistiques»,<br />

in D. Ganoach & M. Fayol (Eds.). Aider les Elèves à Comprendre, du Texte au Multimédia, Paris:<br />

Hachette.<br />

Bianco, M., Bressoux, P., Doyen, A.L., Lambert, E., Lima, L., Pellenq, C. & Zorman, M. (sous presse).<br />

«Early Training in Oral Comprehension and Phonological Skills: Results of a three-year longitudinal<br />

study», in Scientific Studies of Reading.<br />

Braibant, J.M. (1994). «Le Décodage et la Compréhension», in J. Grégoire & B. Pierart (Eds.). Evaluer les<br />

Troubles de la Lecture (pp. 173-194), Bruxelles: De Boeck.<br />

Cunningham, A.E. & Stanovich, K.E. (1998). «What Reading Does for the Mind», in American Educator,<br />

22, 8-15.<br />

Ehlich, M.-F. & Remond, M. (1997). «Skilled and Less Skilled Comprehenders: French children’s processing<br />

of anaphoric devices in written text», in British Journal of Developmental Psychology, 15, 291-309.<br />

Fayol, M. (1992). «Comprendre ce qu’On Lit: De l’automatisme au contrôle», in M. Fayol, J.E. Gombert,<br />

P. Lecocq, L. Sprenger-Charolles & D. Zagar (Eds.), Psychologie Cognitive de la Lecture, Paris: P.U.F.<br />

Fayol, M. & Gaonach, D. (2003). «La Compréhension: Une approche cognitive», in D. Gaonach & M.<br />

Fayol (2003), Aider les Elèves à Comprendre, Paris: Hachette.<br />

Fayol, M. & Morais, J. (2004). «La Lecture et Son Apprentissage», in ONL (Ed.), L’Evolution de<br />

l’Enseignement de la Lecture en France Depuis Dix Ans, Paris: Observatoire National de la Lecture.<br />

Gaonach, D. & Fayol, M. (2003). Aider les Elèves à Comprendre, Paris: Hachette.<br />

Gernsbacher, M.A. (1997). «Two Decades of Structure Building», in Discourse Processes, 23, 265-304.<br />

Gersten, R., Fuchs, L.S., Williams, J.P. & Baker, S. (2001). «Teaching Reading Comprehension Strategies<br />

to Students with Learning Disabilities: A review of research», in Review of Educational Research, 71, 279-<br />

-320.<br />

Oakhill, J. & Cain, K. (2003). «The Development of Comprehension Skills», in T. Nunes & P. Bryant<br />

(Eds.), Handbook of Children’s Literacy, Dordrecht (The Netherland): Kluwer Academic Publisher.<br />

Oakhill, J. & Yuill, N. (1996). «Higher Order Factors in Comprehension Disability: Processes and remediation»,<br />

in C. Cornoldi & J. Oakhill (Eds.), Reading Comprehension Difficulties: Processes and intervention,<br />

Mahwah (N.J.): Lawrence Erlbaum Associates.<br />

ONL (1998). Apprendre à Lire, Paris: CNDP et O. Jacob.<br />

ONL (2000). Maîtriser la Lecture, Paris: CNDP et O. Jacob.<br />

Paris, S.G., Lipson, M.Y. & Wixson, K.K. (1983). «Becoming a Strategic Reader», in Contemporary<br />

Educational Psychology, 8, 293-316.<br />

Remond, M. (2003). «Enseigner la Compréhension: Les entraînements métacognitifs», in D. Gaonach<br />

& M. Fayol (2003), Aider les Elèves à Comprendre, Paris: Hachette.<br />

Yuill, N. & Oakhill, J. (1991). Children’s Problem in Text Comprehension, Cambridge, UK: Cambridge<br />

University Press.<br />

Zwaan, R.A. & Radvansky, G.A. (1998). «Situation Models in Language Comprehension and Memory»,<br />

in Psychological Bulletin, 123, 162-185.<br />

Leer el mundo<br />

a traves de los cuentos<br />

PEP DURAN*<br />

113<br />

Leemos el mundo con el cuerpo<br />

La motivación a la lectura debe atender los tres centros energéticos; cabeza,<br />

corazón y tripas.<br />

En contacto permanente con las familias, con las escuelas y con las bibliotecas,<br />

me he dado cuenta de que el acto de leer no sólo depende del aprendizaje,<br />

de la práctica lectora y de los hábitos lectores, sino básicamente de<br />

la decisión de leer.<br />

Una decisión interna, muchas veces no pensada, sin un planteamiento<br />

racional explícito, pero que actúa prácticamente a través del cuerpo<br />

encontrando el espacio, el tiempo y la actitud necesaria <strong>para</strong> sumergirse<br />

en la lectura silenciosa de un libro.<br />

La decisión de leer, <strong>para</strong> cada persona, se afianza en la memoria de sensaciones<br />

placenteras que ha experimentado el cuerpo, y que tiene la promesa<br />

de recuperar, al descifrar el sonido y significado de las palabras leídas<br />

en cada texto.<br />

En mi práctica diaria, como librero, cuento libros como quien cuenta<br />

películas, cuento cuentos que están en los álbumes ilustrados, cuento<br />

cuentos modernos editados en libros que presentan actitudes del vivir<br />

como metáforas, cuento a los niños, a los padres, a los maestros, a los<br />

bibliotecarios, a los empresarios, a los periodistas, a los notarios, a los<br />

políticos... Cuento con los libros en la mano, mostrando las ilustraciones,<br />

y cuento con objetos que llenan mis maletas de secretos, de misterios y de<br />

tesoros. Cuento con estos objetos que contienen historias, que encierran<br />

emociones, que guardan olores y que suscitan caricias. Relaciono los<br />

libros con las cosas que muestro y con sus historias.<br />

Mediante la voz y la presencia del contador, surge una energía que despierta,<br />

en los que escuchan, un encuentro con su mundo interior.<br />

Es la observación de los resultados de esta práctica la que me ha hecho<br />

llegar al enunciado dado, que puedo resumir como:<br />

La decisión de leer se sustenta en la memoria sensitiva del cuerpo.<br />

Librero de oficio<br />

No me considero un gran lector y sin embargo mi vida ha estado marcada<br />

por la lectura. Mi infancia transcurrió sin libros. En mi pueblo no<br />

* Livreiro, contador de histórias.


114<br />

habían bibliotecas donde asistir, no las había de ningún tipo, ni escolar<br />

ni pública. Tampoco librerías, solo un estanco en el que se vendían, además<br />

de alpargatas, muchos tebeos y algún libro. En mi casa no había<br />

libros. El oficio de mi familia desde mi tatarabuelo era el de carretero,<br />

tenían un taller donde se construían carros y utensilios de madera <strong>para</strong><br />

el campo. Mi bisabuelo, como patriarca de la familia, decía: «Primero es la<br />

obligación que la devoción.» Leer se consideraba una devoción, el trabajo<br />

manual era la obligación. Sin embargo me hice librero de profesión<br />

(desde el año 1971), fue por casualidad, encontrando en este oficio mi<br />

vocación de difusor de libros, comprometido con la formación de lectores<br />

y con la promoción de la lectura en todas las edades.<br />

Yo era un librero «progre», creía que podía cambiar el mundo con la lectura<br />

de libros que ayudaran a pensar, a plantearse la vida social y política,<br />

a tener nuevas ideas pese a que estuvieran prohibidas... En el 1975<br />

abrimos una pequeña librería en Mataró junto con cinco compañeros, le<br />

dimos la estructura jurídica de una cooperativa de trabajo, «ROBAFAVES<br />

s.c.c.l.», nos entregamos al oficio con propuestas dinámicas, colaborando<br />

con el movimiento ciudadano y con el mundo escolar. Aprendimos el oficio<br />

ejerciendo de libreros-dinamizadores culturales y fuimos creciendo en<br />

número, hasta que en julio de 1981 vino el desastre.<br />

La noche en que las letras se liberaron<br />

Aquella noche se había desencadenado una tormenta de verano. Por la<br />

mañana llegué a la tienda <strong>para</strong> abrirla al público, hacia sol como cada<br />

mañana. La librería estaba situada en la calle Torrente, una de las calles<br />

que canalizan el agua hacia el mar en una ciudad de la costa catalana.<br />

Aquella noche, la del 18 de julio, no había colocado los protectores en el<br />

portal tal como acostumbraba cuando temía que lloviera de manera<br />

torrencial.<br />

Cuando abrí la puerta metálica de la tienda y quise entrar, una sensación<br />

de humedad y olor a papel mojado me invadió los sentidos. Quise abrir<br />

las luces, pero saltaron los fusibles; a medida que penetraba hacia el interior<br />

de la tienda de libros mis pies se humedecían y mi cabeza recibía<br />

goteos constantes. Todo el piso estaba embarrancado de agua y el techo<br />

goteaba completamente, el cielo raso estaba empapado.<br />

La librería se había instalado en una antigua bodega de vino, la casa tenia<br />

un patio superior que se sostenía con vigas de madera, al cubrir estas<br />

vigas con el moderno cielo raso habíamos dejado un agujero <strong>para</strong> que respirase<br />

la humedad acumulada, fue por este agujero que se había colado<br />

el agua de la azotea al taponarse el desagüe del patio superior.<br />

¡Que desastre! estaba lloviendo en el interior de la librería y además el<br />

agua había entrado por la puerta inundando todo el piso.<br />

¡¡Los libros!!, grité,<br />

115<br />

¿Os imagináis los libros?, estaban situados en mesas y en estantes bien<br />

ordenados. ¡¡Todos empapados de agua!!<br />

Los libros de las mesas de novedades estaban chorreando, pero no solo<br />

estos, también los de los estantes de las paredes que habían recibido el<br />

agua del techo de la librería y, de un estante a otro, el agua había penetrado<br />

en los lomos y en el interior de cada uno.<br />

¡¡Que tragedia!!<br />

Ante semejante espectáculo, me derrumbé.<br />

Todo el trabajo de tantos años de sacrificio <strong>para</strong> hacer que la tienda fuera<br />

negocio, <strong>para</strong> que pudiéramos vivir de nuestro trabajo, del trabajo de<br />

librero que tanto amábamos, se hundía por causa de una inundación.<br />

¿Quién iba a comprar libros mojados, enganchados, retorcidos...?<br />

Si no podíamos vender los libros era nuestra ruina, podía significar el cierre<br />

de la librería.<br />

Sentí temblor en la espalda y un sudor frío me empapó, se me aflojaron<br />

las piernas y caí al suelo mojándome los pantalones. Sentado en el piso<br />

de la librería me di cuenta que flotaban sobre el agua unas minúsculas<br />

formas negras, ¿podían ser insectos de los que comen papel? Cogí un<br />

puñado y al abrir la mano pude observar sorprendido que eran letras. ¿De<br />

donde habían salido tantas letras? Intrigado, empecé a abrir libros, sus<br />

hojas estaban en blanco, más libros y más libros mojados..., ¡¡todos estaban<br />

en blanco!!<br />

¡Se habían despegado todas las letras de los libros!<br />

¿Como podía solucionar el problema? Se trataba de recoger las letras y<br />

volverlas a colocar dentro de los libros. ¿Pero en que orden? No sabia lo<br />

que decían todos los libros, algunos si porqué los leemos, ¿pero todos?<br />

Los libreros sabemos de los libros su olor, porqué los libros huelen.<br />

Sabemos su tacto, según la calidad del papel... casi podemos deducir su<br />

sabor, ¡pero lo que dicen...!<br />

En nuestra librería recibimos más de 82 libros nuevos cada día, unos<br />

22.000 libros de novedad al año. No los leemos todos, no disponemos de<br />

tanto tiempo, por lo que no sabemos lo que dice cada uno. No podíamos<br />

volver a colocar las letras dentro de cada libro <strong>para</strong> que dijera lo mismo<br />

que había escrito su autor y poder venderlos, y si no los podíamos vender...<br />

estábamos arruinados, era una gran catástrofe <strong>para</strong> nuestro negocio,<br />

<strong>para</strong> nuestra cooperativa de trabajo, <strong>para</strong> la librería Robafaves.<br />

Nos reunimos en asamblea extraordinaria, todos los compañeros de la<br />

cooperativa nos sometimos a una tormenta de ideas <strong>para</strong> encontrar la<br />

que nos salvara. Después vino la calma i elaboramos una propuesta que<br />

podía salvarnos si nuestra intuición sobre la lectura era cierta.<br />

Nos pusimos a trabajar juntos <strong>para</strong> pescar las letras, aplicando todos los<br />

métodos y sistemas de pescar letras... luego poníamos las letras a secar al<br />

sol. Era el mes de julio y la mañana era espléndida. Secamos los libros ten-


116<br />

diéndolos al sol y utilizando secadores eléctricos... trabajamos fuerte limpiando<br />

la librería y ordenándola durante tres días.<br />

Al cuarto día volvimos a abrir la librería. Pusimos grandes carteles explicativos,<br />

como los de las superficies comerciales y unas balanzas en el<br />

mostrador.<br />

Al principio los clientes entraban con cierta expectación, sabían de la<br />

inundación y estaban atentos a nuestras propuestas, esperaban que los<br />

sorprendiéramos o que cerrásemos, no sospechaban como podíamos continuar<br />

el negocio y seguir adelante después de la tragedia.<br />

Al leer los carteles con sus propuestas quedaban desconcertados, pero<br />

acto seguido nos pedían ejemplares de aquellos libros y los compraban<br />

con entusiasmo.<br />

Los carteles anunciaban:<br />

«PUEDES SER AUTOR DE TU PROPIO LIBRO,<br />

POR CADA LIBRO DE PÁGINAS EN BLANCO TE REGALAMOS MEDIO<br />

QUILO DE LETRAS NEGRAS,<br />

solo debes colocarlas dentro.»<br />

La gente compraba los libros y ordenaba las letras formando palabras y<br />

con ellas explicaba historias, sensaciones, emociones... Explicaban sus<br />

alegrías, sus penas, sus frustraciones, sus deseos, sus fantasías… explicaban<br />

su propia historia, aquello que les hubiera gustado vivir y todo aquello<br />

que nunca hubieran deseado vivir, de aquel libro hacían su propio<br />

libro.<br />

Vendimos todos los libros y nos hicimos ricos. Abrimos otra librería más<br />

grande en otra calle céntrica de la ciudad y la aseguramos con una póliza<br />

completa que cubriera todo tipo de inundaciones.<br />

Nuestra percepción fue buena, como libreros nos habíamos dado cuenta de<br />

que los lectores buscan en los libros que leen su propia historia, sea real o<br />

imaginaria. Buscan en la voz del autor el despertar de su propia voz interna,<br />

esta voz que nos describe la realidad de lo que sentimos al vivir.<br />

Cuando decidimos leer un libro buscamos repetir las sensaciones que nuestro<br />

cuerpo tiene guardado en su memoria, de manera consciente o no.<br />

Deseamos que el texto que leemos nos transporte, nos complazca, nos estimule,<br />

nos calme, nos emocione o nos sitúe en el mundo en el que vivimos,<br />

nos ayude a comprender la vida y a comprendernos a nosotros mismos.<br />

Es por ello que la lectura ha marcado mi vida ejerciendo una profesión<br />

que me enamora, la de librero y trajinante de cuentos. Con ella enlazo<br />

con la antigua profesión de mi familia, la de carretero.<br />

117<br />

Comentarios personales de quien escucha cuentos<br />

Quiero comentar algunos fragmentos de los escritos, muy personales,<br />

que recibí de las alumnas de 2.º curso de formación de maestros de<br />

Educación Infantil de la escuela FRETA de Mataró, después de una sesión<br />

de formación en la que el «trajinante de cuentos» mostraba una manera<br />

de motivar a la lectura contando cuentos (Febrero de 2003, las futuras<br />

educadoras tenían alrededor de 20 años de edad).<br />

El ambiente que se creó fue de alta sensibilidad, con algo de magia, y los<br />

escritos reflejan la sorpresa experimentada, así como la emoción que percibían<br />

en sus cuerpos.<br />

He ordenado los fragmentos en cuatro grupos <strong>para</strong> señalar aquellos<br />

aspectos que me interesa resaltar:<br />

1. CONEXIÓN CON LOS PROPIOS RECUERDOS<br />

El ambiente que se creó con los cuentos que explicaba les sorprendió de<br />

tal manera que su prevención ante la charla quedó anulada y dio paso a<br />

una apertura que les llevó a conectar con sus recuerdos de infancia vividos<br />

con los seres queridos.<br />

2. CONEXIÓN CON LOS SENTIMIENTOS PERSONALES A TRAVÉS DE LOS OBJETOS QUE SURGEN<br />

DE LAS MALETAS<br />

Las palabras, unidas a los objetos inesperados que surgen de las maletas,<br />

despiertan el interés por descubrir lo que está encerrado. Cada objeto se<br />

une a una vivencia que guarda sensaciones corporales de tacto, volumen,<br />

olor, fragancia, color...<br />

3. POSIBILIDAD DE TOCAR LOS OBJETOS Y DE OBSERVAR EL MATERIAL QUE CONTIENEN LAS<br />

MALETAS QUE ACOMPAÑAN AL ACTO DE CONTAR<br />

Dar permiso <strong>para</strong> tocar, <strong>para</strong> comprobar con los sentidos que las palabras<br />

tienen cuerpo es una forma de fijar las sensaciones experimentadas y alimentar<br />

la memoria corporal.<br />

4. CONCIENCIA DEL PROPIO MUNDO INTERIOR, SENTIR LA VOCACIÓN, SENTIR LA NECESIDAD<br />

DE TRANSFORMACIÓN, TOMAR CONCIENCIA DEL «VACÍO EXISTENCIAL»<br />

Al transitar por las estancias del mundo interior personal, surge la conciencia<br />

de preguntas sin respuesta y de toda la riqueza del ser real.<br />

Siguen los testimonios de las vivencias a través de algunos fragmentos de<br />

los escritos que me hicieron llegar, les pedí que me explicaran lo que<br />

habían sentido durante la sesión de cuentos.


118<br />

1. CONECTAR CON LOS PROPIOS RECUERDOS<br />

Aurora: «... Ayer volví atrás con total satisfacción, me dejé llevar por mil sueños<br />

escondidos dentro de grandes maletas llenas de recuerdos... Creo que<br />

no lo puedo explicar con palabras, ya que todas me quedan cortas <strong>para</strong><br />

todos los sentimientos que ayer sentí en el vientre (¿o puede que fuera mi<br />

Dragón?)... Gracias por abrir mi cajita mágica (¡¡estaba bien escondida!!).»<br />

Marta: «... Fue una tarde mágica. Antes a mí me gustaba guardar pequeños<br />

tesoros en cajitas (como las suyas), pero después de muchas broncas<br />

con mi madre <strong>para</strong> que dejara de guardar viejos recuerdos que sólo servían<br />

<strong>para</strong> acumular polvo, comencé a no guardar nada más. Pero ¿¡por qué<br />

no!? Cada pequeña caja, cada cosa tiene significado y una magia especial<br />

y una historia <strong>para</strong> explicar. Es bonito tener pequeños recuerdos que te<br />

llenan el corazón...»<br />

M. Angels: «Me gustó mucho cómo iba narrando los cuentos mientras<br />

explicaba cosas de la vida diaria de todas las personas. Nunca había pensado<br />

que un cuento sirviese como ejemplo en la vida diaria. Sí que sabía que<br />

los cuentos tienen mensajes secretos, pero nunca le había dado importancia<br />

[...] cuando escuché el cuento relacionado con un problema de cada<br />

día, pensé que posiblemente fuera de las mejores terapias con las que puedes<br />

encontrarte [...] Durante dos horas me volví a sentir como una niña...»<br />

Míriam: «Un cuento no sólo fascina a los pequeños, sino que a los adultos<br />

nos vuelve a nuestra infancia. Mediante los recursos que utilizabas nos<br />

sorprendías, enternecías, emocionabas...»<br />

Teresa: «... Cuando terminaste, tuve pena, me habría gustado que aquel<br />

momento no terminase, pero después, cuando llegué a casa, me di cuenta<br />

de que no había terminado, que toda aquella magia estaba dentro de<br />

mí; me hizo sonreír porque, en mi interior, me sentía bien...»<br />

Silvia: «... Lo que hizo ayer fue abrirme los ojos, ayudarme a reflexionar y a<br />

despertar en mí una capacidad que desconocía, la capacidad de escuchar<br />

un cuento [...] olvidé por dos horas los problemas que tengo. Me enseñó en<br />

una tarde aquello que llevo buscando hace tiempo, aquello que me ayude<br />

a tomar decisiones, a respetarme a mí misma y a los demás y a entregarme<br />

a mí y a lo que tengo [...] Ayer, al llegar a casa, me puse a pensar y llegué a<br />

una conclusión: no hay una felicidad completa, sino que existen momentos<br />

felices, y hasta el momento no los veía, los tenía pero no los veía, ni los<br />

valoraba [...] A partir de hoy empezaré una vida distinta afrontando mis<br />

problemas cara a cara [...] y disfrutando de los momentos alegres...»<br />

Iolanda: «... A través de los cuentos nos has enseñado muchos recursos<br />

<strong>para</strong> podernos comunicar con los niños y niñas con los que más adelante<br />

nos encontraremos como educadores. Pero también personalmente, y yo<br />

ya no soy tan pequeña, me has hecho recordar cosas y sentimientos que<br />

en la vida adulta se olvidan y que es importante recordar <strong>para</strong> encontrar<br />

la felicidad...»<br />

119<br />

2. CONECTAR CON SENTIMIENTOS A TRAVÉS DE LOS OBJETOS QUE SURGEN DE LAS MALETAS<br />

Laura: «... Cuando explicabas las cosas que te habían pasado, los recuerdos<br />

que guardabas [...] el valor que escondían aquellos pequeños objetos<br />

[...] era como si yo me hubiera encontrado en aquellos momentos de tu<br />

vida, era como si pudiera oler la madera de la que estaba hecha la<br />

“Matriowska”...»<br />

Marta: «... Cuando comentaste que la gorra de tu abuelo te recordaba<br />

(cada vez que la olías) aquellos momentos en que sentías su abrazo, yo<br />

también tengo algunos objetos que por su olor me recuerdan a personas<br />

queridas, situaciones [...] y también texturas.»<br />

Yesica: «... Me quedó grabada la explicación de las máscaras; puede que yo<br />

sea una persona enmascarada. Debería mostrarme tal como soy y no tal<br />

como me quieren ver. De esta manera podría amar...»<br />

Georgina: «... En el transcurso de la narración me alejaba de la realidad y<br />

me introducía en el mundo de los cuentos. Gracias a distintos materiales<br />

como los muñecos, las piedras mágicas, el polvo de luna, los espejos, las<br />

pequeñas cajas, las cajas de música... los cuentos tomaban vida. Cada uno<br />

de los objetos tenía una historia mágica. Muchos de ellos yo también los<br />

tengo en casa y cada uno tiene su historia particular. Cada vez que mostrabas<br />

uno, recordaba las historias de mis objetos. Volví a mi infancia.»<br />

Laura: «... No puedes imaginarte cómo me emocionó el sonido del mar<br />

que llevas en tu maleta, o el sonido de cristal que se instala en el centro<br />

del cuerpo de las campanas tibetanas [...] Mirando tu atrezzo, tus peludos<br />

compañeros de viaje, tus libros de cuentos..., sentí nostalgia de la infancia,<br />

de... la capacidad de soñar, los muñecos, las pequeñas cajas, el olor a<br />

after-shave de mi abuelo, que decidió marchar al cielo... hará un año [...]<br />

y lo encontré a faltar, a él y los momentos que pasé jugando en el suelo<br />

de la salita de mi casa, mis patines, las vacaciones y a aquella niña que<br />

justo llegaba a la confortable barriguita de mi madre al abrazarla [...] A la<br />

vez me he dado cuenta de que haber escogido esto [se refiere a la formación<br />

de educadora] es lo mejor que he hecho en mi vida, un tributo a mi<br />

propia capacidad de volar, un homenaje a la niña que seré siempre.»<br />

Christina: «... Aquellas maletas llenas de pequeños objetos con los que<br />

poder explicar mil historias... maletas llenas de ilusión, de vida [...] Nos<br />

sumergiste en un mundo mágico lleno de ternura hacia aquello que nos<br />

rodea [...] que con pequeñas cosas se pueden crear grandes historias...»<br />

M.ª Angels: «... Me he marcado otro objetivo, saber explicar cuentos con<br />

estos sentimientos. Pienso que estos sentimientos a la hora de explicar<br />

cuentos, mezclados con los objetos y muñecos que utilizas, forman una<br />

mezcla explosiva y muy interesante, que tanto a los pequeños como a los<br />

adultos dejan boquiabiertos...»


120<br />

3. POSIBILIDAD DE TOCAR LOS OBJETOS QUE CONTIENEN LAS MALETAS Y DE OBSERVAR EL<br />

MATERIAL QUE ACOMPAÑA AL ACTO DE CONTAR<br />

Míriam: «... Todos los objetos y muñecos que traías eran muy curiosos,<br />

tanto los muñecos pequeños como los objetos que hacían sonido, y más<br />

aquellas cajas llenas de recuerdos...»<br />

Lavinia: «... Pienso que el momento culminante de la charla fue al final,<br />

cuando nos invitó a tocar los objetos. Todos nos levantamos y fuimos a<br />

observar las cajas, a tocar...»<br />

Alba: «... Una de las cosas que más me ha gustado, y no esperaba poder<br />

hacerlo, ha sido tocar y tener entre mis manos todos estos elementos y<br />

objetos mágicos, desde el libro más pequeño hasta una de las cosas más<br />

grandes, como podía ser la bruja...»<br />

4. CONCIENCIA DEL MUNDO INTERIOR, VOCACIÓN, TRANSFORMACIÓN, CONCIENCIA DE<br />

«VACÍO EXISTENCIAL»<br />

Míriam: «... Enviaste muchos mensajes útiles <strong>para</strong> uno mismo y mensajes<br />

que me llegaron dentro, como el de abrirse y conocerse uno mismo, abrirse<br />

y dar de uno mismo...»<br />

Fátima: «... A medida que hablabas, que explicabas, que nos mostrabas<br />

recuerdos... me olvidaba de los problemas... y quería soñar, volar, vivir<br />

todo lo que explicabas, y lo conseguí. Pensé que era hora de aprender a<br />

valorar pequeños aspectos de la vida que nos llevan a la felicidad.<br />

¿Cómo podía estar triste, preocupada o enfadada existiendo cosas tan<br />

maravillosas? ¡No valía la pena!...»<br />

Anna: «... Sus palabras resonaron dentro de un corazón inquieto y lleno de<br />

dudas... A veces buscamos... buscamos una cosa que no sabemos lo que es.<br />

De pequeños buscamos, de jóvenes buscamos y continuaremos buscando<br />

hasta encontrar aquello que sea capaz de llenar este vacío. Siempre he<br />

tenido este vacío... Al escuchar sus palabras se me abrió una vez más la<br />

esperanza [...] Soy consciente de que lo que hago me llena, es mi vocación,<br />

por esto quiero continuar buscando [...] Las palabras no sólo nos aportan<br />

conocimiento, sino que nos hacen sentir, nos ayudan a vivir, a experimentar,<br />

a conocer, son fuente de vida, una puerta que podemos abrir siempre<br />

que queramos, la llave de nuestra voluntad... Por eso con sus palabras me<br />

hizo sentir que podemos buscar y que merece la pena hacerlo...»<br />

Si estas chicas podían conectar con su mundo interno a través de los<br />

cuentos, las sugerencias de los objetos y la palabra del narrador en voz<br />

alta, es porque guardaban memoria de otros momentos en que una situación<br />

similar se había dado. Por lo tanto, a partir de este punto de contacto<br />

con el sí mismo, podrían transmitir su energía comunicativa a los<br />

alumnos que tendrían a su cuidado.<br />

Podrían transmitir los cuentos que guardan los libros a los niños y niñas<br />

que se introducen en el aprendizaje de la lectura en la Primaria.<br />

121<br />

La palabra se encarna en el que la escucha, se encarna en el que la lee, a<br />

partir de la experiencia vivida, a partir del significado vivenciado que<br />

tiene <strong>para</strong> el lector, a través de ser sentida y experimentada por el cuerpo.<br />

Por eso Bruno de la Salle manifestó en Guadalajara (Maratón 2002):<br />

... al contar, la palabra se encarna en el cuerpo.<br />

El que habla muestra su sí, el que escucha la encuentra<br />

en sí.<br />

Espacios interiores que guardan los registros<br />

de la memoria del cuerpo<br />

Fue en las sesiones con los más pequeños (p. 3, p. 4, p. 5, 1.º, 2.º de<br />

Primaria) cuando empecé a darme cuenta de la fuerza de las palabras<br />

acompañadas con imágenes y objetos.<br />

En las sesiones de cuentacuentos yo observo cómo penetran y abren espacios<br />

íntimos en cada ser que escucha. En estos espacios habitan las palabras<br />

junto a los recuerdos, junto a las sensaciones que se crean en el<br />

momento de contar con un libro, con un objeto, con la sugerencia de una<br />

aroma o con el sonido de un carrusel.<br />

Estoy convencido de que la lectura abre espacios en el interior del lector,<br />

espacios nuevos en algunos casos y espacios que estaban cerrados u olvidados<br />

en otros. Espacios antiguos en los que habitan emociones enquistadas<br />

por no haber encontrado la palabra que les permita fluir.<br />

Cuando estas palabras son leídas o escuchadas – leídas en los grafismos<br />

de las partituras que forman el texto escrito u oídas a través de la música<br />

de su sonido –, estas palabras ocupan i despliegan las arrugas del ser,<br />

abren puertas cerradas por el olvido o el dolor, despiertan abundantes<br />

sensaciones en el cuerpo.<br />

El cuerpo las registra, las guarda, las asocia al objeto libro, a la acción de<br />

leer, a la persona que se las ha entregado.<br />

El lector las registra en la memoria sensitiva del cuerpo. Esta memoria del<br />

cuerpo actúa sobre la decisión a tomar, y pone en funcionamiento la actitud<br />

de esfuerzo necesaria <strong>para</strong> leer.<br />

No debemos olvidar que esta decisión de tomar un libro <strong>para</strong> leer implica soledad,<br />

dificultad, esfuerzo, pero también satisfacción, plenitud, ilusión y<br />

una multitud de emociones sensitivas.<br />

Cito algunas opiniones de niños y niñas (2.º de Primaria, 7 años,) de la<br />

escuela Germanes Bertomeu de Mataró, recogidas por Maria, su maestra,<br />

después de una sesión del «trajinante de cuentos» en el aula.<br />

Haja explica: «... Llevó muchas cosas en las maletas mientras las mostraba<br />

sentí que eran maravillosas. Después nos dejó tocarlas y en aquel<br />

momento me emocioné. Me habría gustado mezclarme con ellas <strong>para</strong><br />

entender todos sus secretos.»


122<br />

Lorena cuenta: «... Sentía los libros (escuchaba los cuentos) y sentí una<br />

sensación muy extraña, como si mi corazón quisiese escribir.»<br />

Fátima: «... Sentía como si aquello me sucediese a mí, y cuando acabó la<br />

historia no podía sacarme esta sensación.»<br />

Javier: «Me sentía con ganas de leer y de escuchar todas las cosas que<br />

decía, y ver todos los objetos y tocarlos.»<br />

Desi: «... Sentí una sensación muy extraña, y lo que más quería saber es<br />

qué había en todas las maletas y en todas las cajas.»<br />

Marina: «Sentí una cosa por dentro, aquello eran como muchas cosquillas.»<br />

Soukaina: «... Me gustó el mochuelo, yo sentía su calor [...] me sentía dentro<br />

del cuento de brujas y yo podía volar.»<br />

A los siete años describen sus sentimientos después de una sesión en la<br />

que, en el comienzo, les invito a escuchar el sonido de una campana tibetana<br />

y el circuito que recorre dentro de su cuerpo atendiendo a tres puntos<br />

esenciales: la cabeza (pensamiento), el pecho-corazón (emoción) y el<br />

vientre (instinto).<br />

Cabe subrayar en las frases la palabra sentir, que describe el sentimiento<br />

y la decisión de actuar, de descubrir secretos, de leer libros.<br />

Otras maneras de leer el mundo a través<br />

de contar cuentos<br />

En los últimos meses mi doble realidad de librero-empresario y de cuentacuentos<br />

me ha proporcionado situaciones de riesgo, algo insólitas en el<br />

ámbito profesional y social.<br />

Las palabras de los cuentos transmitidos como metáforas en ambientes y<br />

grupos no acostumbrados a estos lenguajes han conseguido abrir y descargar<br />

tensiones, así como transmitir y despertar el interés de los presentes,<br />

tomando actitudes y comportamientos sociales llenos de valores humanos.<br />

Cito a continuación un conjunto de lugares y momentos donde conté, en<br />

ambientes en los que no es habitual contar cuentos<br />

AMBIENTES FORMALES<br />

❖ Contar ante el notario, los abogados y empresarios editores en la firma<br />

del contrato de compraventa de la librería Catalònia de Barcelona.<br />

❖ Contar en una rueda de prensa, ante periodistas que afanan las noticias.<br />

❖ Contar en encuentros de empresas de economía social.<br />

❖ Contar en el acto de la firma de un convenio entre administraciones,<br />

(Consell Comarcal, Ayuntamientos y Generalitat) <strong>para</strong> implantar un programa<br />

de integración de los inmigrantes del Maresme.<br />

❖ Contar en foros profesionales en los que los empresarios buscan un<br />

hueco en el mercado competitivo.<br />

123<br />

AMBIENTES FAMILIARES<br />

❖ Contar en una ceremonia funeraria civil <strong>para</strong> despedir a una persona querida.<br />

❖ Contar en bodas <strong>para</strong> rendir homenaje al compromiso personal.<br />

AMBIENTE CEREMONIAL<br />

❖ Contar en el Paraninfo de la Universidad de Barcelona, ante un público<br />

empresarial, en la recepción del Premio Bufi y Planas a la labor realizada<br />

por Robafaves s.c.c.l. <strong>para</strong> unir la fuerza del trabajo y la del capital.<br />

En todas estas ocasiones tengo el recuerdo y la imagen de como las caras<br />

se relajan, las bocas se entreabren, los ojos se iluminan, la emoción fluye<br />

y las dificultades en los tratos se disipan.<br />

Las palabras, los cuentos, las historias, las lecturas de ficción configuran<br />

espacios y territorios íntimos y personales. (Petit, M. (2001). Lecturas: Del<br />

espacio íntimo al espacio público, Fondo de Cultura Económica.)<br />

La decisión de leer se ubica en el cuerpo del lector<br />

Se ubica en lo que siente y en la memoria de lo que ha sentido, <strong>para</strong><br />

recuperar esta emoción a través de las palabras escritas. Se ubica en las<br />

ganas, en la voluntad, en la acción, en la ilusión, en el pensamiento instintivo,<br />

en la barriga, en las tripas.<br />

En realidad son los tres pensamientos unidos los que intervienen en la lectura:<br />

el pensamiento racional, el pensamiento emocional y el pensamiento instintivo;<br />

por eso los uno al contar los cuentos con el sonido de la campana tibetana.<br />

De esta manera, los padres, los maestros, los mediadores cuentan conectando<br />

con su ilusión, con sus ganas, con su deseo prendido en su propio<br />

cuerpo. No es desde el deber – pensamiento racional –, sino conectando<br />

con los tres cerebros: el cerebro racional, el cerebro emocional y<br />

el cerebro instintivo.<br />

Cuando cito estas energías comunicativas estoy hablando de comunicación.<br />

Las palabras, los textos que se encuentran confinados en los libros,<br />

sólo son los pretextos, los medios, los canales por los que transcurre la<br />

comunicación, la energía en forma de comunicación.<br />

En último término todo son vibraciones, materia y tiempo. (Hoffmann, A.<br />

<strong>Mundo</strong> Interior, <strong>Mundo</strong> Exterior, Ed. Liebre de Marzo)<br />

El <strong>Mundo</strong> en el que vivimos es un espacio físico, una materia formada a<br />

través de moléculas, de átomos, de vibraciones a frecuencias distintas.<br />

Nosotros mismos somos cuerpo, materia,… vida.<br />

Es la vida la que se manifiesta en nosotros, por esto nacemos cada día,<br />

<strong>para</strong> leer el mundo i hacernos responsables de nuestra presencia en él a<br />

través de nuestra vida consciente.


124<br />

Más estrategias <strong>para</strong> formar lectores<br />

desde la librería Robafaves de Mataró<br />

LA ACTIVIDAD EN LA LIBRERÍA<br />

Consiste en proponer a un grupo aula, de un nivel a partir de 4.º de<br />

Primaria, que venga a la librería <strong>para</strong> escoger los libros que quiere leer<br />

durante el curso o <strong>para</strong> surtir su biblioteca de aula.<br />

Vienen con su profesor; después de explicarles de manera lúdica el oficio<br />

de librero, les leo unos textos, escogidos de entre los libros que puedo<br />

recomendarles. Les explico cómo está organizada la librería y les muestro<br />

la manera de encontrar los libros que pueden ser de su interés. Es como<br />

enseñarles a leer la librería, a manejarse y orientarse dentro de la librería;<br />

les acompaño <strong>para</strong> que se muevan con seguridad en el espacio de los<br />

libros. Después los dejo solos, porque se trata de que busquen y encuentren<br />

sus libros, aquellos que les apetecen de entre todos los que hay en la<br />

sala de ventas. Han de escoger dos libros cada uno y con un albarán a consulta<br />

<strong>para</strong> toda el aula se los pueden llevar sin pagar, de momento. Tienen<br />

sus límites, aquellos que se hayan impuesto en el grupo aula, con el profesor;<br />

puede ser un límite el precio, o el tema, o el formato, o el nivel...<br />

Aquí empieza una frenética búsqueda comentada con los compañeros, se<br />

vuelven un poco locos, se sienten excitados: está todo a su alcance y lo pueden<br />

obtener de inmediato. La duración total de la actividad es de 60 minutos,<br />

según el tiempo de que dispongan con el profesor. Cuando se van hacia<br />

la escuela, están radiantes y agradecidos, cada uno con su bolsa, que contiene<br />

los dos libros escogidos; en el aula los reunirán todos, junto con los<br />

que ha escogido el profesor y las sugerencias que yo mismo he incluido al<br />

conjunto. Discutirán, defenderán sus opciones, escogerán, de entre todos,<br />

aquellos en los que se pongan de acuerdo; los demás me los devolverán.<br />

El interés que tienen estos libros escogidos por ellos en un espacio de consumo,<br />

en el que los productos están expuestos <strong>para</strong> ser comprados, es muy<br />

fuerte, y lo utilizan <strong>para</strong> descubrir y disfrutar de sus contenidos.<br />

Puede que los libros seleccionados no sean los que yo recomendaría, pero<br />

son los que ellos han escogido. Se equivocan muchas veces, pero es la<br />

forma de aprender sin grandes riesgos.<br />

Con la actividad se consiguen otras cosas: conocer y familiarizarse con el funcionamiento<br />

de la librería, ser acompañados por el profesor y por el librero<br />

<strong>para</strong> dominar un espacio de consumo de productos culturales, donde también<br />

se encuentran otras sugerencias que alimentan el conocimiento.<br />

En casa los espacios <strong>para</strong> leer escasean o no están previstos. Es bueno que<br />

existan otros lugares sociales, o espacios públicos, en que la lectura se<br />

encuentre integrada como una actividad lúdica y de referencia.<br />

Leer en la librería en voz alta es una actividad que agrada y sorprende a<br />

los visitantes.<br />

125<br />

¿Por qué leer en voz alta los fragmentos escogidos de un libro?<br />

Porque hemos comprobado que la lectura en voz alta actúa como referencia<br />

<strong>para</strong> que el que escucha encuentre en sí su propia voz interior, su propia<br />

voz lectora.<br />

La vibración de la palabra hablada resuena en el interior del que escucha y<br />

acompaña a descubrir la propia, a reconocerla y a emplearla en el futuro.<br />

Es un darme cuenta de mi voz interna de lector, <strong>para</strong>rme a escuchar los<br />

matices de esta propia voz interna, darme cuenta de lo obvio.<br />

La literatura oral es física y tiene efectos físicos en el propio cuerpo, leemos<br />

con el cuerpo.<br />

LAS VOCES DEL LIBRO<br />

Es en la librería Catalònia, en Barcelona, donde actualmente aplicamos<br />

muchas de estas experiencias de comprobada eficacia. Recientemente, a<br />

principios de noviembre, hemos inaugurado la remodelación de esta<br />

librería de 750 m 2 en el centro de la ciudad, en la Ronda Sant Pere, confluencia<br />

del Paseo de Gracia con la Plaza Catalunya, justo frente al Corte<br />

Inglés; es un lugar de paso de muchos peatones y tiene <strong>para</strong>da de autobús<br />

casi en su puerta.<br />

Tres días a la semana (de momento), jueves, viernes y sábado, de 18 a 20<br />

horas, un actor-lector lee en voz alta un libro de novedad en la entrada de<br />

la librería. Está sentado en una mesa de café, situado de manera alzada,<br />

equipado con megafonía local <strong>para</strong> que se escuche en la acera de paso y<br />

en la entrada de la librería. La escenografía es adecuada <strong>para</strong> que se descubra<br />

el libro que lee de comienzo a final, lo que permita las seis horas<br />

totales de lectura. Los libros los escogemos junto con el editor que quiere<br />

dar a conocer una novedad, promocionar un contenido o resaltar un<br />

autor.<br />

La financiación del lector corre a cargo del editor, el precio es muy asequible<br />

y la novedad de la iniciativa despierta interés y sorpresa entre los<br />

lectores y no lectores.<br />

LECTURAS EN VOZ ALTA EN LAS PRESENTACIONES DE LIBROS<br />

En todas las presentaciones de libros literarios que se efectúan en la<br />

Catalònia se busca la presencia de un lector profesional <strong>para</strong> que descubra<br />

el sonido físico del texto que se está presentando.<br />

Para los asistentes al acto es importante conocer al autor, intercambiar<br />

ideas y expresiones y a la vez conocer la voz del texto que contiene el libro<br />

que presentamos. Se trata de combinar un acto intelectual con una manifestación<br />

lúdica. Escuchar un texto bien leído produce placer (si el texto<br />

lo permite).


126<br />

TERTULIA DE LIBROS INFANTILES DE 0 A 6 AÑOS<br />

El tercer martes de cada mes, en la librería Catalònia, en Barcelona, de 10<br />

a 12 de la mañana, se reúnen en tertulia abierta un equipo de maestros/as,<br />

bibliotecarios/as, prescriptores/as, contadores/as, que forma un grupo llamado<br />

Ratas de Biblioteca, <strong>para</strong> comentar las novedades editoriales de los<br />

últimos meses. A ella pueden asistir como espectadores los padres/madres<br />

y público interesado que circula por la librería.<br />

También en Robafaves, el primer martes del mes, de 10 a 12 de la noche,<br />

desde hace más de 20 años, nos reunimos en tertulia abierta los libreros,<br />

bibliotecarios, maestros y los mediadores de lecturas que lo deseen, <strong>para</strong><br />

explicar nuestras lecturas y comentar las novedades editoriales de los<br />

últimos meses.<br />

CAMPAÑA DE LECTURAS EN VOZ ALTA EN ESCUELAS, BIBLIOTECAS Y LIBRERÍAS<br />

Partimos de la constatación de que en los centros de Enseñanza<br />

Secundaria los alumnos tienen dificultades <strong>para</strong> leer y descifrar los textos<br />

de los autores clásicos contemporáneos, de modo que <strong>para</strong> conseguir<br />

que se lean libros recomendados cada vez se buscan textos más simples.<br />

Partimos del convencimiento de que un buen lector puede dar a conocer<br />

el sonido de un buen texto y conseguir que resuenen las palabras en el<br />

interior del futuro lector <strong>para</strong> que eso le ayude a encontrar su propia voz<br />

lectora.<br />

Desde Cal Llibre (asociación cultural) propusimos en el curso 2002/03 una<br />

campaña piloto de lectura en voz alta promovida por La Cambra del Llibre<br />

de Cataluña, con el apoyo financiero del ICIC (Institut Cátala d’Industries<br />

Culturals de la Generalitat de Catalunya). En este curso 2003/04 se ha repetido<br />

la segunda fase con un total de 180 actuaciones en centros de<br />

Enseñanza Primaria y Secundaria, en bibliotecas y en librerías.<br />

El proyecto ofrece a unos centros seleccionados (en función de su receptividad<br />

o de la conveniencia de reforzar su labor con estas experiencias<br />

concretas) la visita de un lector profesional (actor) que presentará su biografía<br />

lectora como si se tratase de un itinerario real a través de libros,<br />

autores y lecturas, leyendo en voz alta durante 50 minutos a un grupo de<br />

alumnos.<br />

Las lecturas se han escogido de entre un total de 130 libros comprobados<br />

en las aulas, todos ellos seleccionados a través de la práctica diaria de la<br />

directora del proyecto, Lola Casas.<br />

Los lectores son actores profesionales que han pasado un casting centrado<br />

en sus aptitudes <strong>para</strong> leer en voz alta; se presentan como lectores que<br />

explican su experiencia vital en el descubrimiento de los libros.<br />

La experiencia contempla una presentación a los responsables de los centros<br />

donde se va a leer <strong>para</strong> conseguir su implicación y compromiso, una<br />

coordinación en los espacios concretos y una evaluación de la experien-<br />

127<br />

cia y de su proyección futura. Pretende incitar a los distintos centros a<br />

implicarse en una labor de continuidad a través de los profesores más<br />

entusiastas. Para ello se han diseñado unos cursos de formación de lectores<br />

en voz alta impartidos por profesionales vinculados a la voz y al teatro.<br />

El resultado de la experiencia en este segundo año es una aceptación<br />

espectacular en los centros de enseñanza; por el contrario, en las bibliotecas<br />

y en las librerías necesita una revisión y una adecuación debido al<br />

modo en que se forman los grupos de asistentes a las lecturas.<br />

En las librerías y bibliotecas los grupos son libres, de modo que están formados<br />

por un número variable de personas, que, además, tienen distintas<br />

edades, lo que dificulta la adaptación del guión.<br />

En la evaluación final nos damos cuenta de que en estos espacios (bibliotecas<br />

y librerías) las lecturas en voz alta deberán tener un formato de<br />

actuación dirigida a un público adulto, como si se tratara de un espectáculo<br />

de pequeño formato de literatura oral.<br />

La librería reúne y acoge acciones con la familia, con las escuelas y con<br />

las bibliotecas a partir de los recursos que le son propios<br />

Por su propia naturaleza de comercio de productos culturales en forma<br />

de libros, la librería necesita conectar y ofrecer a la familia una orientación<br />

en el conjunto de libros de novedades que se editan, de acuerdo con<br />

su profesionalidad, su vocación y su filosofía. Algunas de estas actividades<br />

son:<br />

❖ La «hora del cuento» en la librería (cada miércoles a las 18 horas).<br />

❖ Intervención en el programa de TV Comarcal de Mataró (martes y jueves<br />

10 minutos antes de las noticias de la noche con el título «Noticia de llibres»<br />

<strong>para</strong> presentar una selección de las mejores novedades recibidas).<br />

❖ Publicación de Noticia de Llibres, una revista semestral que se nutre de la<br />

tertulia mensual en la librería Robafaves que se mantiene con lectores,<br />

libreros, bibliotecarios, maestros y mediadores.<br />

❖ Actuar como «hora del cuento» en las bibliotecas de la comarca, con frecuencia<br />

mensual, a través del «trajinante de cuentos» que presenta los contenidos<br />

de los mejores libros recibidos de novedad.<br />

❖ Conferencia-actuación <strong>para</strong> padres y maestros en las bibliotecas de la<br />

comarca presentando los mejores libros infantiles y juveniles publicados<br />

durante el año con el soporte de una exposición de los libros físicos


128<br />

La librería y la familia. Leer en casa<br />

Para leer en casa yo necesito un espacio adecuado con instalaciones que<br />

me permitan aislarme del entorno y centrar mi atención al texto que me<br />

entrega el libro abierto.<br />

No es frecuente encontrar en los espacios familiares la butaca cómoda<br />

con la luz bien orientada y el ambiente necesario, en cambio si que hay<br />

espacio <strong>para</strong> el televisor, <strong>para</strong> el ordenador...<br />

Será pues necesario encontrar el estímulo de la lectura fuera de casa y<br />

hacerse el sitio <strong>para</strong> leer cuando yo lo decida en mi fuero interno.<br />

Fuera de casa puedo leer al aire libre, en un banco del parque, en el autobús,<br />

en el tren de cercanías, en el metro, en el bar esperando a un amigo,<br />

en las salas de espera del dentista, en la biblioteca, en la escuela, en la<br />

librería.<br />

Es pues en la librería, mi lugar de trabajo, donde puedo estimular a la lectura<br />

a través de acciones lúdicas que atraigan al grupo familiar, al grupo<br />

escolar, al grupo de amigos… a los lectores individualmente. Puedo dar<br />

referencias de libros leyendo en voz alta, presentando a autores, contando<br />

cuentos... haciendo del espacio de la librería un entorno agradable,<br />

lleno de estímulos <strong>para</strong> escoger aquellas lecturas que disfrutaré en casa.<br />

«... El acto de leer no sólo depende del aprendizaje, de la práctica lectora<br />

y de los hábitos lectores, sino básicamente de la decisión de leer.<br />

Una decisión interna, muchas veces no pensada, sin un planteamiento<br />

racional explícito, pero que actúa prácticamente a través del cuerpo<br />

encontrando el espacio, el tiempo y la actitud necesaria <strong>para</strong> sumergirse<br />

en la lectura silenciosa de un libro.»<br />

Relatório do Painel 2<br />

MARIA DE LOURDES DIONÍSIO*<br />

129<br />

As quatro conferências em debate materializam, no seu conjunto, a<br />

complexidade e pluralidade dos factos individuais e sociais implicados no<br />

acto de ler, contribuindo com distintos e suficientes elementos <strong>para</strong> nos<br />

pôr de sobreaviso quando perante soluções simplistas sobre as condições<br />

<strong>para</strong> a leitura. Condições que, com as quatro estimulantes intervenções,<br />

vimos serem de ordem variável: cognitivas, no texto do professor Fayol;<br />

escolares, no da professora Colomer; sociais na intervenção de Pep Duran e<br />

de certa forma também na do professor Cerrillo. Para além disto, todos eles<br />

perspectivam, a seu modo, os usos dos textos como parte integrante de<br />

processos sociais e culturais mais vastos, por meio dos quais as pessoas se<br />

relacionam, educam, participam no mundo, realizam objectivos de vida.<br />

Na defesa das «suas» condições <strong>para</strong> a leitura, os conferencistas e a conferencista<br />

concebem a leitura como uma prática situada, não desvinculada de<br />

outras práticas sociais; como um processo de estabelecimento de redes; de<br />

«conexões», chamou-lhe Pep Duran. Significa isto que os sentidos construídos<br />

estão sempre ligados às acções situadas das pessoas num mundo material e<br />

social e aos valores atribuídos à experiência. Pep Duran, ainda, dizia-nos: «A<br />

decisão de ler sustenta-se na memória sensitiva do corpo», envolvendo<br />

«cérebro racional, emocional e cérebro instintivo». E se a palavra-chave da<br />

apresentação de Pep Duran é, então, «conectar», foi também das «conexões»<br />

indispensáveis ao acto de ler que nos falou o professor Fayol, ao distinguir<br />

entre «tratamento do código» e a «compreensão» – a construção da representação<br />

da situação <strong>para</strong> a qual é necessário mobilizar inúmeros conhecimentos<br />

prévios (desde linguísticos a experienciais e cognitivos), sem os<br />

quais não se consegue ler.<br />

Compreender é «conectarmo-nos» com o mundo de conhecimentos (que<br />

permitem as inferências) adquiridos nas interacções sociais prévias; pelas<br />

aprendizagens, não apenas de factos, conteúdos, mas também dos modelos<br />

culturais e das linguagens sociais de que fazem parte e que os verbalizam.<br />

Contudo, tal como a intervenção da professora Teresa Colomer mostrou,<br />

esta aquisição de modelos culturais está intimamente ligada a condições<br />

escolares: métodos, recursos, textos. Modelos que variarão, portanto, consoante<br />

as «combinatórias» que estes elementos assumirem; modelos que<br />

podem ainda ser conflituais e que, por isso, podendo servir de «moeda de<br />

troca» nuns determinados contextos, podem não servir noutros. Vejam-se,<br />

por exemplo, como as condições <strong>para</strong> a leitura de Pep Duran podem não<br />

*Professora Associada da Universidade do Minho.


130<br />

servir os objectivos e modelos da escola, mesmo nas condições de «renovação»<br />

apresentadas por Teresa Colomer. Recordem-se também, as palavras do<br />

Professor Cerrillo:<br />

La escuela puede lograr que los niños asuman que leer es importante, pero<br />

dificilmente podrá conseguir que la lectura sea una alternativa de ócio<br />

<strong>para</strong> ellos. Además, la lectura escolar es una lectura lastrada por su<br />

inlcusión en un área como la que representa la unión de «Lengua y<br />

Literatura» y por la «prescripción lectora», lo que convierte en una lectura<br />

claramente instrumental… (Cerrillo, slide 19).<br />

Neste sentido, podemos revisitar as condições sociais e cognitivas de Pep<br />

Duran e Michel Fayol, acrescentando que as tais «conexões», que possibilitam<br />

a decisão de ler e a compreensão, produzem-se em condições institucionais<br />

específicas e que os sentidos que produzimos são em muito os sentidos<br />

«autorizados» por essas instituições. Neste quadro, compreender-se-á<br />

melhor o perfil do «mediador» de leitura, caracterizado por Pedro Cerrillo<br />

na sua detalhada apresentação sobre a importância destes agentes e das<br />

condições <strong>para</strong> a sua formação, entre elas, «1. Ser un lector habitual… convencido<br />

de la bondad de la lectura» (slide 15).<br />

Apesar do reconhecimento afirmado de que leitor «será quien lea libremente<br />

diversos tipos de textos: escolares, instrumentales, informativos, literários…<br />

en situaciones diversas y en códigos diferentes: verbales, icónicos,<br />

audiovisuales…» (Cerrillo, slide 24), ficaram-nos <strong>para</strong> debater agora muitas<br />

questões; entre elas, certamente, as que relevam da quase exclusividade da<br />

leitura da literatura nestas intervenções e das possíveis (des)articulações, por<br />

um lado, com os objectivos escolares relativos ao domínio da linguagem, ou<br />

com a urgência da aprendizagem da dimensão técnica da leitura, e, por<br />

outro lado, com o impacto assumido das mudanças nos modelos culturais e<br />

da aceitação da leitura como uma prática mediadora de objectivos sociais<br />

mais vastos.<br />

Em jeito de conclusão, diga-se que no vivo debate, <strong>para</strong> além daquelas questões,<br />

uma outra foi recorrente: a da conciliação dos postulados dos quatro<br />

conferencistas com os constrangimentos da sala de aula, espaço que, nas<br />

intervenções dos participantes, nem sempre tem condições <strong>para</strong> acolher o<br />

trabalho pedagógico sobre as múltiplas dimensões da leitura.<br />

PAINEL 3<br />

Projectos de<br />

promoção<br />

da leitura


132<br />

Um Percurso pela Pedagogia<br />

Para <strong>Ler</strong> a Casa da <strong>Leitura</strong><br />

ANTÓNIO NÓVOA*<br />

133<br />

O texto procura revisitar os grandes pilares da Educação Nova, movimento<br />

mundialmente difundido no início do século XX e que definiu (define?) a matriz da<br />

modernidade pedagógica, isto é, o modo como professores, pais e sociedade se<br />

relacionaram (se relacionam?) com as crianças do ponto de vista do seu<br />

desenvolvimento pessoal e social e da sua educação.<br />

Escolhem-se quatro entradas que resumem o ideário deste movimento, tendo como<br />

suporte principal os famosos «trinta princípios da Escola nova tipo», que foram<br />

publicados por Adolphe Ferrière, pela primeira vez em 1915, no prefácio que escreveu<br />

<strong>para</strong> o livro de A. Faria de Vasconcelos, Une Ecole Nouvelle en Belgique.<br />

Para cada uma destas entradas, com o subtítulo E agora?, defende-se a necessidade de<br />

uma nova atitude que alinhe o pensamento pedagógico com as grandes questões da<br />

contemporaneidade.<br />

No final de cada uma das quatro partes, porque este é um Congresso sobre promoção<br />

da leitura, deixam-se algumas pistas sobre a formação dos leitores, tendo<br />

como referência o projecto Casa da <strong>Leitura</strong> promovido pela <strong>Fundação</strong> Calouste<br />

<strong>Gulbenkian</strong>.<br />

Sei bem que vos proponho um discurso contracorrente, que causará dúvidas,<br />

perplexidades e discordâncias. Mas julgo que chegamos a um ponto em que se torna<br />

imprescindível repensar, com a mesma radicalidade com que o fez a Escola Nova, as<br />

bases em que assentam ainda hoje os nossos credos pedagógicos, ou antipedagógicos<br />

– é o mesmo 1 .<br />

<strong>Formar</strong> <strong>Leitores</strong> Para <strong>Ler</strong> o <strong>Mundo</strong>. O título deste Congresso organizado pela<br />

<strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> 2 envia-nos, de imediato, <strong>para</strong> o universo<br />

de Paulo Freire: «A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que<br />

a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura<br />

daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente» (1991, pp.<br />

11-12). As propostas de Paulo Freire foram vistas muitas vezes, erradamente,<br />

como uma desvalorização dos «conteúdos» e até do trabalho de<br />

memória e do estudo paciente sem os quais não há aprendizagem. Vale a<br />

pena, por isso, regressar a duas passagens breves das suas Cartas a Quem<br />

Ousa Ensinar. Na primeira, explica que, «quando aprendemos a ler, o fazemos<br />

sobre a escrita de alguém que antes aprendeu a ler e a escrever»<br />

(1994, p. 36). Que melhor definição do que esta <strong>para</strong> sublinhar a importância<br />

*Reitor da Universidade de Lisboa.


134<br />

do conhecimento cultural e científico, dos «conteúdos disciplinares», <strong>para</strong> o<br />

estudo e <strong>para</strong> a educação? Na segunda, aborda o sentido do trabalho paciente<br />

e persistente: «Ninguém escreve se não escrever, assim como ninguém nada<br />

se não nadar» (1994, p. 38). Que melhor resposta do que esta quanto à necessidade<br />

do trabalho regular, do exercício, da prática sistemática?<br />

O Eterno Retorno de Rousseau. Em 1762, no Emílio ou da Educação, Jean-Jacques<br />

Rousseau dirige-se a um jovem professor <strong>para</strong> lhe dizer: «Sem dúvida, a<br />

criança só deve fazer aquilo que quer.» E por aqui tem ficado a nossa leitura,<br />

pobre e simplista. Ignora-se o modo como o autor completa o seu pensamento:<br />

«Mas atenção que a criança deve querer apenas aquilo que vocês<br />

querem que ela faça; a criança não deve dar passo sem que vocês o tenham<br />

previsto; não deve abrir a boca sem que vocês saibam o que vai<br />

dizer.» Jean-Jacques Rousseau conclui com uma referência essencial <strong>para</strong><br />

os debates educativos da modernidade: «Não há dominação tão perfeita<br />

como aquela que mantém a aparência da liberdade, porque assim cativa-<br />

-se a própria vontade.» A frase identifica o sentido principal do gesto<br />

pedagógico: conduzir, dirigir, inspirar. Como o autor explica, <strong>para</strong> que<br />

não fiquem dúvidas: «deixem que o vosso aluno acredite ser ele o mestre,<br />

quando, na verdade, são vocês que o são».<br />

Evidente-mente. Em educação, o que é evidente mente. Nos parágrafos anteriores,<br />

asinalei os dois problemas principais da educação que têm servido,<br />

mediocremente, <strong>para</strong> promover uma pedagogia das banalidades ou<br />

<strong>para</strong> difundir uma vulgata anti-pedagógica. No primeiro parágrafo, servi-<br />

-me de Paulo Freire <strong>para</strong> dizer que os conteúdos não valem por si só, isolados<br />

de um contexto de sentido e de um sujeito que os apreende; mas<br />

<strong>para</strong> dizer também que, desta afirmação, não se deve deduzir a inutilidade<br />

da exercitação, da memória e sobretudo de uma «pedagogia do<br />

esforço», na perspectiva adoptada por António Sérgio na sua Educação<br />

Cívica. No segundo parágrafo, socorri-me de Rousseau <strong>para</strong> situar o problema<br />

da autoridade que constitui o ponto central de qualquer debate<br />

pedagógico. Como evitar que o gesto pedagógico se traduza num mero<br />

exercício de força e violência ou, a contrario, numa rotina de pura<br />

sedução? A autoridade conquista-se através de um esforço continuado de<br />

nos darmos ao respeito, de construirmos o espaço educativo como um<br />

lugar de diálogo e de trabalho. A lucidez de Vitorino Magalhães Godinho<br />

merece ser recordada:<br />

Quer-se fazer despertar a iniciativa do educando […] mas com intervenção<br />

activa do professor, e da parte do educando pelo esforço consciente até<br />

penoso; não há que «facilitar» o ensino, não há que fazer uma educação «em<br />

algodão em rama» – não há que ceder à tentação de tornar o ensino<br />

135<br />

atraente <strong>para</strong> quem o recebe. A escola é local de trabalho, um corpo de<br />

oficinas rodeia as aulas. Quer dizer que a democracia na escola (a escola<br />

<strong>para</strong> a democracia) pressupõe a disciplina, que evoluirá, se bem conduzida,<br />

<strong>para</strong> a auto-disciplina. O essencial não está decerto nos programas, mas no<br />

professor e sua capacidade de despertar personalidades. (1984, p. 8)<br />

A inteligência e a sensibilidade destas palavras contrasta, e de que maneira,<br />

com o simplismo das dicotomias que, nos dias que correm, empobrecem os<br />

debates pedagógicos em Portugal e no mundo. De um lado, repetem-se as<br />

mesmas banalidades há mais de cem anos, como se o pensamento<br />

educacional tivesse <strong>para</strong>do e não houvesse meio de entrar, enfim, no século<br />

XXI. Do outro, alimenta-se a ilusão do regresso a um passado que se<br />

imagina «ordeiro» e «glorioso», mas que constitui, de facto, a pobreza maior<br />

da nossa história, tanto pela ausência total de investimento na educação<br />

como pela mediocridade do ensino que se ministrava nas nossas escolas.<br />

Uns e outros só têm certezas. Definitivas. Sobre tudo e sobre nada. Ninguém<br />

tem dúvidas. Evidências do senso comum. Falsas evidências. Continuamente<br />

desmentidas. Continuamente repetidas. Doutrinas. Visões. Dogmas. São<br />

crenças iguais, ainda que de sinal contrário. Evidente-mente. Recordo Pedro<br />

Paixão nas suas Saudades de Nova Iorque: «Quem não está confuso corre o risco<br />

de estar enganado, pior, de se estar a enganar» (2000, p. 83). A única saída<br />

possível é romper o círculo vicioso do pensamento inútil e instaurar, de<br />

novo, uma reflexão crítica, um debate público informado, sobre a educação<br />

e a pedagogia. Ainda iremos a tempo?<br />

1. Da escola só (transbordante)<br />

<strong>para</strong> o espaço público da educação<br />

O ideal da Educação Nova é o internato no campo, «pois apenas a influência<br />

total do meio no qual a criança cresce permite realizar uma educação<br />

plenamente eficaz» 3 . Aqui, retirada do mundo, a criança pode desenvolver-<br />

-se em contacto com a natureza, «que constitui o seu meio natural».<br />

Forçando um pouco a argumentação, podemos dizer que a escola estava<br />

só, e sentia-se só, na sua responsabilidade de educar as crianças. Por isso,<br />

não espanta que o programa da «educação integral» seja aquele que melhor<br />

caracteriza o movimento da Escola Nova.<br />

Adolphe Ferrière reconhece que seria preferível deixar a criança «sob a<br />

influência natural da família», mas verifica que tal não é possível. As<br />

sociedades rurais do princípio do século XX eram demasiado frágeis do<br />

ponto de vista cultural <strong>para</strong> que pudessem cumprir esta missão. A situação<br />

era ainda mais evidente num país como Portugal que, no início do<br />

século XX, mantinha um nível de analfabetismo próximo dos 75%.


136<br />

A escola era chamada a tomar conta das crianças, também <strong>para</strong> as<br />

proteger da sociedade, de tal maneira que passou a ocupar a quase<br />

totalidade do espaço educativo. Em Portugal, os internatos não<br />

conheceram um grande desenvolvimento, a não ser nos meios religiosos,<br />

mas a imagem da escola ao lado da igreja como as duas instituições da<br />

«aldeia» simboliza bem um processo histórico que tende a transformar a<br />

educação em educação escolar.<br />

Esta «escola só» cedeu à tentação de assumir todas as missões educativas<br />

e mesmo sociais. Os sonhos desmedidos da educação integral<br />

favoreceram a emergência daquilo que tenho designado por uma «escola<br />

transbordante», exorbitante e sufocada por um excesso de missões<br />

(Nóvoa, 2005). Tudo foi sendo passado <strong>para</strong> dentro da escola e a escola,<br />

generosa e ingenuamente, tudo foi aceitando como sua missão: a<br />

educação <strong>para</strong> a cidadania e os valores, a educação <strong>para</strong> a saúde, a<br />

educação sexual, a educação alimentar e a prevenção da obesidade, o<br />

combate ao tabagismo e à toxicodependência, a luta contra o alcoolismo<br />

e os comportamentos de risco, a ecologia e a protecção do ambiente, o<br />

bem-estar das crianças e a luta contra a violência doméstica, a<br />

conservação do património e das tradições locais, a educação do<br />

consumidor, a prevenção rodoviária, o combate à delinquência juvenil, a<br />

sensibilização <strong>para</strong> as questões da segurança e do terrorismo, a<br />

pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> lidar com situações de emergência e catástrofes naturais,<br />

etc. etc. etc.<br />

E AGORA?<br />

Nenhum de nós ousaria dizer, a não ser por provocação, que a escola deveria<br />

abdicar de uma só das missões acima mencionadas. Mas podemos<br />

colocar a questão ao contrário: será que a escola consegue dar conta de<br />

todas estas missões, <strong>para</strong> além das aprendizagens escolares propriamente<br />

ditas? A resposta só pode ser negativa. Como sair, então, deste impasse?<br />

A solução passa por uma recentragem da escola, de modo a que adquira um<br />

lugar mais modesto, o que só é possível se, ao mesmo tempo, houver uma<br />

maior ambição e compromisso da sociedade em relação à educação.<br />

Actualmente, vivemos em sociedades cada vez mais urbanas e menos rurais,<br />

altamente escolarizadas e dotadas de redes de conhecimento, de instituições<br />

científicas e de estruturas culturais como nunca existiram no passado.<br />

É a partir desta «riqueza» que podemos imaginar a consolidação de um<br />

espaço público da educação, bem mais amplo do que o espaço escolar,<br />

reelaborando o conceito de esfera pública proposto por Jürgen Habermas<br />

137<br />

(1989). Trata-se de ampliar as responsabilidades educativas das famílias,<br />

das comunidades locais e das instituições sociais 4 , de tal maneira que a<br />

escola se possa recentrar naquilo que é especificamente escolar. A escola já<br />

não está sozinha e é necessário retirar todas as consequências desta realidade.<br />

O espaço público da educação deve organizar-se em torno de novas<br />

responsabilidades locais e assumir uma dimensão deliberativa: as pessoas<br />

e as instituições devem ter uma capacidade de decisão, e não apenas de<br />

consulta ou acompanhamento.<br />

Alguns argumentarão que a desestruturação das famílias, dos laços sociais<br />

e a fragilidade da «sociedade civil» tornam problemática esta evolução.<br />

É uma observação justa, mas que apenas realça a necessidade de reconstruir<br />

solidariedades, espaços de convivialidade e de vida social e cultural<br />

que tenham como ponto de referência a educação das crianças e dos<br />

jovens.<br />

A CASA DA LEITURA – 1.º COMENTÁRIO<br />

A leitura é um elemento central do espaço público da educação. O modo<br />

como a Casa da <strong>Leitura</strong> está concebida, nos seus dois instrumentos<br />

principais – S.O.L. (Serviço de Orientação da <strong>Leitura</strong>) e ABZ da <strong>Leitura</strong> –,<br />

procura facilitar uma participação informada de todos, educadores<br />

profissionais, mas também pais e outras pessoas e instituições, na promoção<br />

da leitura. É muito interessante a forma como se envolvem as<br />

pessoas neste projecto, designadamente através da rubrica «Livros da<br />

Minha Infância», mas também o esforço <strong>para</strong> dar visibilidade a iniciativas<br />

que exigem um maior conhecimento e continuidade («Laboratórios»). A<br />

criação de comunidades de leitores e de redes é fundamental <strong>para</strong> inscrever<br />

a leitura como um «acto banal», e não excepcional, do nosso dia-a-dia.<br />

2. Da criança no centro <strong>para</strong> a valorização<br />

da cultura e das aprendizagens<br />

Uma das mudanças principais da Educação Nova, que não é mais, aliás,<br />

do que um sinal dos tempos, consiste na centralidade que é concedida à<br />

criança. A expansão das disciplinas psicopedagógicas traduz, também,<br />

uma nova atenção e uma nova relação dos adultos com as crianças.<br />

Uma série interminável de livros, de textos e de programas de formação<br />

analisam as necessidades da criança e os seus interesses espontâneos, a<br />

importância de estar atento às suas experiências pessoais e aos seus<br />

ritmos de desenvolvimento. A obra emblemática é escrita por Édouard<br />

Claparède, em 1905, Psychologie de l’Enfant et Pédagogie Expérimentale.


138<br />

Sucessivamente reeditada durante décadas, ilustra a «revolução copernicana»<br />

deste princípio do século XX: não é o Sol que gira à volta da Terra, é a Terra<br />

que gira à volta da Criança-sol.<br />

Numa sociedade rural, num certo sentido «indiferente» aos afectos e à<br />

especificidade da infância, esta revolução era necessária. E ela teve continuidade<br />

nas décadas seguintes, com Sua Majestade a Criança – título de<br />

uma obra de Almerindo Lessa e Alberto Costa – a adquirir uma importância<br />

cada vez maior na vida familiar, social e económica. Exagerando o<br />

raciocínio, quase podemos dizer que, hoje, a criança está no centro de<br />

tudo: das famílias e da sociedade, da comunicação social e da publicidade,<br />

da economia e das políticas públicas.<br />

E AGORA?<br />

Depois de um século que concedeu uma atenção quase asfixiante à<br />

criança será que ainda precisamos que ela continue no centro? Ou será<br />

que, tal como o fez a Educação Nova, devemos construir uma pedagogia<br />

que forneça aquilo que não existe na sociedade? Por isso – e sabendo que<br />

educar é sempre educar alguém e que esquecê-lo é perder um património<br />

essencial <strong>para</strong> os dias de hoje –, será que não devemos colocar no centro<br />

a cultura e as aprendizagens?<br />

Na Comunicação de Cracóvia, em 1934, Gaston Bachelard sugere que se<br />

substitua o aborrecimento de viver pela alegria de pensar. Os divertimentos<br />

do dia-a-dia, aparentemente mais alegres, rapidamente se transformam<br />

em monotonia. Já o pensamento, uma vez adquiridos os instrumentos<br />

básicos de cultura, abre sempre novas perspectivas.<br />

Numa série de estudos prospectivos realizados nos últimos anos, a OCDE<br />

aponta seis cenários de futuro <strong>para</strong> a escola, organizados em torno de três<br />

eixos (cf. Nóvoa, 2009):<br />

1.º eixo – Statu quo<br />

Manutenção de sistemas escolares burocráticos<br />

Êxodo dos professores e desintegração do sistema<br />

2.º eixo – Re-escolarização<br />

A escola no centro da colectividade<br />

A escola como organização centrada na aprendizagem<br />

3º eixo – Des-escolarização<br />

Redes de aprendizagem e sociedade-em-rede<br />

Privatização e extensão do modelo de mercado<br />

139<br />

Sem surpresa, a grande maioria dos educadores e professores apontam,<br />

como desejável, o eixo da re-escolarização. Mas dividem-se, praticamente<br />

a meio, quanto à preferência por um cenário que coloca a escola no centro<br />

da colectividade (reforçando assim as missões sociais) ou por um<br />

cenário que a concebe como uma organização centrada na aprendizagem<br />

(reforçando assim a cultura escolar).<br />

Pessoalmente, revejo-me neste segundo cenário, recusando no entanto<br />

qualquer tendência no sentido do «back to basics» ou da «escola mínima»,<br />

movimentos que se traduzem, metaforicamente, por um regresso à escola<br />

pobre e medíocre do «ler, escrever e contar». Mas adoptando um conceito<br />

enriquecido de aprendizagem – que incorpore os novos conhecimentos<br />

das neurociências e dos estudos sobre a cognição, as teorias da complexidade<br />

e da imprevisibilidade, as teorias da informação e as novas tecnologias,<br />

etc. – podemos construir uma nova abordagem do currículo,<br />

investindo as dimensões do conhecimento, da cultura e da ciência que não<br />

cabem na estrutura disciplinar herdada do século XIX e que se manteve,<br />

no essencial, inalterada ao longo do século XX.<br />

A CASA DA LEITURA – 2.º COMENTÁRIO<br />

A organização da Casa da <strong>Leitura</strong> dá particular atenção ao registo das<br />

obras, adoptando um critério inovador: pré-leitores, leitores iniciais,<br />

leitores medianos e leitores autónomos. As «Vidas e Obras» (S.O.L.) e as<br />

«Práticas» e os «Projectos» (ABZ da <strong>Leitura</strong>) constituem um apoio muito<br />

importante ao trabalho sobre a leitura. O fundamental é adquirir uma<br />

linguagem e depois usufruir das possibilidades que ela abre. É impossível<br />

gostar de xadrez sem conhecer as suas regras. E o mesmo se poderá dizer<br />

<strong>para</strong> qualquer outra linguagem: a música, o bailado, a matemática, etc.<br />

Voltemos a Paulo Freire: «Assim como um pedreiro não pode prescindir<br />

de um conjunto de instrumentos de trabalho, sem os quais não levanta<br />

as paredes da casa que está sendo construída, assim também o leitor<br />

estudioso precisa de instrumentos fundamentais sem os quais não pode<br />

ler ou escrever com eficácia» (1994, p. 34). Claro que a leitura é sempre<br />

feita por alguém, e as dimensões pessoais e subjectivas são centrais, mas é<br />

o domínio da linguagem e a sua exercitação que criam as condições <strong>para</strong><br />

que o gosto e o desejo se desenvolvam.


140<br />

3. Dos métodos activos <strong>para</strong> as abordagens reflexivas<br />

A referência primeira da Educação Nova é a Escola Activa, de tal maneira<br />

que os dois termos confundem-se frequentemente. Quando Adolphe<br />

Ferrière escreve que a escola é uma invenção diabólica está a pensar sobretudo<br />

na forma como a criança é fechada em instituições e condenada ao<br />

imobilismo: «A criança adora a natureza: encerraram-na dentro de casas.<br />

A criança gosta de brincar: obrigam-na a trabalhar. Gosta de mexer-se:<br />

condenam-na à imobilidade. Gosta de falar: impõem-lhe silêncio» (1928,<br />

p. 12). Quando se procura caricaturar a oposição entre a escola nova e a<br />

escola tradicional, esta é sempre representada por um aluno imóvel,<br />

recipiente inerte que recebe os saberes transmitidos pelo professor.<br />

Os métodos activos baseados no jogo, nas dimensões lúdicas, no interesse<br />

e na acção da criança, na sua liberdade e iniciativa, baseados na motivação<br />

e na participação do aluno nas tarefas escolares, constituem um<br />

património central da pedagogia moderna. Numa sociedade marcada por<br />

uma relação rígida com a infância, na qual as dimensões lúdicas eram<br />

pouco valorizadas e o corpo das crianças sujeito a um grande controlo, os<br />

métodos activos eram, naturalmente, uma necessidade vital <strong>para</strong> repensar<br />

a educação.<br />

Não se confundam, aliás, os «métodos activos» com pura agitação física<br />

ou movimento, pois o que verdadeiramente está em causa é a motivação<br />

e a participação no trabalho escolar. Há um texto muito interessante de<br />

David Labaree (2000) no qual se explica que o ensino é uma profissão de<br />

grande complexidade, utilizando-se mesmo uma curiosa com<strong>para</strong>ção:<br />

um médico pode operar com sucesso um doente anestesiado, mas um<br />

professor necessita da cooperação activa do aluno <strong>para</strong> atingir os seus<br />

objectivos.<br />

E AGORA?<br />

Mas será que, hoje, numa sociedade feita de hiper-actividade, o debate<br />

sobre os métodos activos se coloca ainda nos mesmos termos? Creio que<br />

não. As crianças vivem num estado quase permanente de sobre-excitação,<br />

sempre ligadas às mais diversas actividades, quantas vezes simultaneamente<br />

(jogos, telemóveis, ipods, televisão, computador, etc.). Esta é, aliás,<br />

uma das características mais notáveis da juventude, e que contrasta fortemente<br />

com o comportamento da geração anterior.<br />

A questão coloca-se uma vez mais: será que a escola deve contribuir <strong>para</strong><br />

esta inflação de actividades ou, bem pelo contrário, deve pensar o seu<br />

141<br />

trabalho contra a tendência dos dias que correm? A minha resposta é<br />

clara: a escola não tem qualquer interesse em lançar-se nesta competição<br />

e deve ser capaz, isso sim, de reintroduzir a calma e a serenidade no<br />

espaço da sala de aula. O princípio é sempre o mesmo: a exemplo do que<br />

aconteceu no tempo da Educação Nova, a escola deve fornecer às crianças,<br />

primordialmente, o que elas não têm na sociedade. A sociedade<br />

mudou e o que se espera da escola é, hoje, diferente daquilo que se esperava<br />

há cem anos.<br />

O silêncio, a introspecção e o estudo são costumes a recuperar, sempre<br />

num quadro de partilha e de convivialidade. Poderemos, assim, valorizar<br />

na escola atitudes e abordagens reflexivas, insistindo em dois pontos.<br />

Primeiro, a reflexão não é um exercício vazio ou que se faça no vazio – é<br />

sempre a partir de saberes, de conhecimentos e experiências, que se<br />

elabora o sentido do trabalho escolar. Segundo, a reflexão não é um acto<br />

isolado ou solitário – sem esquecer a importância do «pensar consigo», o<br />

que melhor caracteriza o trabalho escolar é o «pensar com os outros»,<br />

investindo assim o diálogo como lugar decisivo da aprendizagem.<br />

A CASA DA LEITURA – 3.º COMENTÁRIO<br />

A «Bibliografia» e as «Orientações Teóricas» do ABZ da <strong>Leitura</strong> revelam<br />

bem o cuidado que os autores da Casa da <strong>Leitura</strong> puseram na elaboração<br />

deste instrumento. É preciso pensar e dar sentido às práticas de promoção<br />

da leitura. E, ao mesmo tempo, despertar nos leitores a curiosidade<br />

de um gesto que não se esgota na mecânica das palavras e que nos<br />

leva a outros mundos e a outras vidas. A leitura é, simultaneamente, o<br />

mais solitário e o mais partilhado de todos os actos. Cada um lê <strong>para</strong> si,<br />

ao seu ritmo, à sua maneira, mas ao fazê-lo está em comunicação com os<br />

outros e as suas histórias. A dimensão reflexiva nasce deste diálogo entre<br />

mim mesmo e os outros. Se é certo que as disciplinas escolares necessitam<br />

de um trabalho árduo e persistente <strong>para</strong> serem aprendidas, não devemos<br />

ignorar que certas experiências de leitura, como aliás outras vivências<br />

artísticas e culturais, podem constituir, por si só, momentos insubstituíveis<br />

do processo de formação de cada um. Ninguém aprende<br />

Matemática ou História sem um longo investimento de anos e anos de<br />

estudo. Mas a leitura de um único livro pode ter efeitos consideráveis e<br />

proporcionar apendizagens que, de outro modo, levariam muito tempo a<br />

obter.


142<br />

4. Da diferenciação na homogeneidade <strong>para</strong> a valorização<br />

da diversidade e a construção do diálogo<br />

Um quarto traço fundamental da Educação Nova prende-se com a<br />

diferenciação pedagógica. Recorde-se o livro de Édouard Claparède, L’Ecole<br />

Sur Mesure (traduzido por A Escola Sob Medida), publicado em 1920. O título<br />

contém, em si mesmo, todo um programa educativo: «Quando um<br />

alfaiate faz um fato ajusta-o à altura do seu cliente, e se este é gordo e<br />

pequeno não lhe impõe um fato estreito com o argumento de que é<br />

aquele que corresponde, em regra, à sua altura. O sapateiro começa por<br />

registar num papel os contornos do pé e as suas particularidades,<br />

incluindo as deformações. O chapeleiro adapta os seus trabalhos à forma<br />

e à dimensão das cabeças… Apenas o pedagogo veste, calça e penteia todos<br />

os espíritos da mesma maneira. Só tem produtos pronto-a-vestir e as suas<br />

prateleiras não têm a mais pequena escolha.» (1953, p. 74)<br />

A diferenciação pedagógica é um objectivo fundamental da Educação<br />

Nova, ainda que, naquela época, as escolas públicas e privadas fossem relativamente<br />

homogéneas. Eram os mesmos grupos sociais que estavam<br />

representados na escola e a integração de alunos de outras origens sociais<br />

fazia-se sem grandes sobressaltos. Ainda assim, a diferenciação<br />

pedagógica raramente foi concretizada ao longo dos últimos cem anos.<br />

No decurso de grande parte do século XX, não houve necessidade de justificar<br />

a escola, cujo sentido na vida das pessoas e das sociedades se<br />

impunha com grande naturalidade. A expansão e a abertura do pós-II<br />

Guerra Mundial trouxeram <strong>para</strong> a escola todas as crianças e todos os<br />

jovens, mas provocaram uma desvalorização dos diplomas e puseram em<br />

causa o valor da instituição como factor de mobilidade social.<br />

E AGORA?<br />

Hoje, <strong>para</strong> muitos alunos, a escola não tem qualquer sentido, nem<br />

representa um projecto no qual eles próprios ou as suas famílias sintam<br />

que vale a pena investir. A pedagogia, habituada a lidar com as questões<br />

da motivação num quadro de adesão à ideia de escola, fica desarmada<br />

perante estes alunos. Já não estamos apenas face a um desafio de<br />

diferenciar na homogeneidade mas de construir uma pedagogia que<br />

valorize a diversidade. E é preciso consegui-lo sem ceder às tendências da<br />

«infantilização» ou da «comunitarização».<br />

Contra a infantilização, porque uma aceitação acrítica das culturas<br />

infantis e juvenis dominantes poderia levar-nos a aproximar a escola do<br />

143<br />

mundo social de tal maneira que deixaria de haver distinções. E então a<br />

escola seria uma instituição igual às outras e perderia todo o seu sentido.<br />

São os jogos de computador na sala de aula, são as séries de televisão nos<br />

programas de ensino, são os jogadores de futebol nos livros escolares. Eu<br />

sei que a intenção é boa e que temos de ser engenhosos no nosso esforço<br />

de conquistar as crianças. Mas temos de exercer uma enorme vigilância<br />

crítica <strong>para</strong> que estes «expedientes» não se transformem, pouco a pouco,<br />

na «essência» da escola.<br />

Contra a comunitarização, porque aquilo que nos junta no espaço escolar<br />

não são, em primeiro lugar, as afinidades ou os laços afectivos, mas sim<br />

a vontade de ensinar as regras da vida social, de aprender a viver em<br />

conjunto. Provocatoriamente, Meirieu e Guiraud (1997) falam dos «bárbaros»<br />

que durante muito tempo estiveram fora das escolas e que agora<br />

as ocupam de pleno direito. Dizem que estes alunos estão, muitas vezes,<br />

inseridos em grupos sociais quentes, nomeadamente em bandos juvenis,<br />

com chefes carismáticos e ambientes de grande «solidariedade<br />

interna». Afirmam, por isso, que não precisam que a escola lhes dê<br />

«mais comunidade», mas sim que lhes dê «mais sociedade». Não se trata<br />

tanto de conviver, mas sim de aprender as regras do convívio, isto é, a<br />

aprendizagem do diálogo, da democracia e das regras de vida em<br />

sociedade.<br />

Compreender e trabalhar a diversidade, conduzindo os alunos pelos caminhos<br />

da aprendizagem, e incluindo-os socialmente através do diálogo,<br />

constituem o desafio maior da pedagogia contemporânea. Não se trata,<br />

apenas, o que já não seria pouco, de acolher e integrar estas crianças e<br />

estes jovens; trata-se de conseguir que eles adquiram os instrumentos do<br />

pensamento e da cultura, o que implica uma actividade metódica, rigorosa,<br />

sistemática. Sem isso, a escola torna-se dispensável.<br />

A escola não é apenas um lugar de vida; é sobretudo um lugar de aprendizagem.<br />

A escola não é apenas um espaço de desenvolvimento pessoal; é<br />

o espaço onde se constrói o diálogo social. Aprender a viver com, a conviver:<br />

nas sociedades deste início do século XXI a escola continua a ser uma<br />

instituição insubstituível.<br />

A CASA DA LEITURA – 4.º COMENTÁRIO<br />

Os «Projectos» e os «Laboratórios» do ABZ da <strong>Leitura</strong> contêm frequentes<br />

exemplos de actividades colectivas de leitura. Numa sociedade que necessita,<br />

urgentemente, de encontrar formas adequadas de diálogo, a leitura<br />

é, certamente, uma das principais ferramentas <strong>para</strong> compreender a diver-


144<br />

sidade, outros universos culturais, religiosos e sociais, outras histórias e<br />

maneiras de pensar e de sentir. Numa reflexão notável, retomada em<br />

Conferência proferida na <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> no dia 27 de<br />

Outubro de 2008, Arjun Appadurai avisa-nos quanto aos riscos do diálogo,<br />

afirmando que «o diálogo é sempre uma forma de negociação que não<br />

pode basear-se nem numa compreensão mútua total nem numa espécie<br />

de consenso que seria independente das fronteiras e das diferenças»<br />

(2006, p. 26). Na leitura, o trabalho dos mediadores é essencial <strong>para</strong> facilitar<br />

o inter-conhecimento e a inter-compreensão, valorizando a palavra<br />

que permite construir uma linguagem comum no respeito pela diversidade.<br />

Concluindo…<br />

Ao longo desta intervenção procurei assinalar quatro propostas da<br />

Educação Nova que marcaram a pedagogia moderna e interrogar-me<br />

sobre a sua pertinência nos dias de hoje. Poderia ter falado de outras propostas,<br />

mas estas são bem ilustrativas da importância histórica deste<br />

movimento e, também, da necessidade de o reactualizar. A Educação<br />

Nova faz parte do património pedagógico e as suas teses estão incorporadas<br />

na matriz pedagógica dos educadores e da sociedade. Não se trata,<br />

pois, de as negar, mas sim de compreender que é urgente revê-las à luz<br />

das realidades contemporâneas. É esse o sentido da minha intervenção.<br />

A Casa da <strong>Leitura</strong> é um projecto de grande mérito, que nos ajuda a conceber<br />

a leitura como um acto de vida. <strong>Ler</strong> o mundo dia a dia, dia após dia,<br />

numa actividade sistemática feita de continuidade, na escola, nas<br />

famílias e na sociedade. <strong>Ler</strong> o mundo no dia-a-dia, no quotidiano de cada<br />

um, como uma rotina que faz parte do modo como vivemos. Nada se<br />

resolve com campanhas, programas especiais, modas ou reformas. O<br />

grande programa que nos deve mobilizar é a inscrição da leitura como<br />

um acto normal, natural, banal. A Casa da <strong>Leitura</strong>, na qual hoje nos reunimos,<br />

procura contribuir <strong>para</strong> esta «banalização» e, por isso, merece a<br />

nossa admiração. Em educação, o mais difícil é sempre o que parece mais<br />

fácil.<br />

Notas<br />

145<br />

1 Recorro aqui à expressão famosa de John Dewey, «credo pedagógico», utilizada originalmente em<br />

texto de 1897.<br />

2 Este texto é constituído pelas notas da intervenção realizada no dia 21 de Janeiro de 2009, no<br />

Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong>, e mantém, por isso, as marcas da oralidade.<br />

3 Todas as citações não identificadas são do prefácio de Adolphe Ferrière ao livro de A. Faria de<br />

Vasconcelos. 4<br />

4 As sociedades dispõem hoje de uma longa lista de instituições que podem participar neste espaço<br />

público da educação, sem tudo remeter <strong>para</strong> dentro da escola: centros de saúde, espaços culturais,<br />

igrejas, associações locais, centros sociais, museus, grupos desportivos, empresas, grupos artísticos,<br />

ocupação de tempos livres, centros de acolhimento e ajuda, associações de voluntariado social, etc.<br />

Referências bibliograficas<br />

Appadurai, A. (2006). «The Risks of Dialogue», in New Stakes for Intercultural Dialogue, Paris: UNESCO,<br />

pp. 33-37.<br />

Bachelard, G. (1934). Valeur Morale de la Culture Scientifique, Cracovie: Communication de Cracovie.<br />

Claparède, É. (1911, 4.ª edição). Psychologie de l’Enfant et Pédagogie Expérimentale, Genève: Librarie<br />

Kündig.<br />

Claparède, É. (1953; 1920, 1.ª edição). L’Ecole sur Mesure, Genève: Payot.<br />

Dewey, J. (1897). «My Pedagogic Creed», in The School Journal, vol. 4, n.º 3, pp. 77-80.<br />

Ferrière, A. (1915). «Préface», in Une Ecole Nouvelle en Belgique, Neuchâtel: Delachaux & Niestlé, pp. 7-20.<br />

Ferrière, A. (1928). Transformemos a Escola, Paris: Livraria Francesa e Estrangeira Truchy-<strong>Ler</strong>oy.<br />

Freire, P. (1991, 25.ª edição). A Importância do Ato de <strong>Ler</strong>, São Paulo: Cortez Editora.<br />

Freire, P. (1994, 4.ª edição). Professora Sim, Tia Não – Cartas a quem ousa ensinar, São Paulo: Editora Olho<br />

d’Água.<br />

Godinho, V.M.G. (1984). «Prefácio», in Educação Cívica, Lisboa: Ministério da Educação, pp. 1-18.<br />

Habermas, J. (1989). The Structural Transformation of the Public Sphere, Cambridge: Polity.<br />

Labaree, D. (2000). «On the Nature of Teaching and Teacher Education – Difficult practices that look<br />

easy», in Journal of Teacher Education, vol. 51, n.º 3, pp. 228-233.<br />

Lessa, A. & Costa, A. (1945). Sua Majestade a Criança, Coimbra: Editorial Nobel.<br />

Meirieu, P. & Guiraud, M. (1997). L’Ecole ou la Guerre Civile, Paris: Plon.<br />

Nóvoa, A. (2005). Evidentemente – Histórias da educação, Porto: Edições ASA.<br />

Nóvoa, A. (2009). Professores – Imagens do futuro presente, Lisboa: Educa.<br />

Paixão, P. (2000). Saudades de Nova Iorque, Lisboa: Livros Cotovia.<br />

Sérgio, A. (1984; 1915, 1.ª edição). Educação Cívica, Lisboa: Ministério da Educação.<br />

Vasconcelos, A.F. (1915). Une Ecole Nouvelle en Belgique. Neuchâtel: Delachaux & Niestlé.


146<br />

Casa da <strong>Leitura</strong>:<br />

Alicerces, arquitectura<br />

e integração na paisagem<br />

ANTÓNIO PROLE*<br />

147<br />

As minhas primeiras palavras dirigem-se à FCG e destinam-se a expressar<br />

publicamente o meu profundo agradecimento por me ter sido dada a<br />

possibilidade de conceber um projecto de promoção da leitura, dotado<br />

dos meios financeiros necessários e do apoio institucional indispensável<br />

<strong>para</strong> que os seus objectivos pudessem ser atingidos. Tal facto acarretou<br />

responsabilidades acrescidas mas constituiu não só uma oportunidade<br />

única, mas um verdadeiro desafio.<br />

Gostaria ainda de deixar registada uma palavra de gratidão à professora<br />

Paula Morão, pelo incentivo e apoio que me deu enquanto directora do<br />

organismo que tenho a honra de integrar.<br />

Faz no próximo dia 4 de Fevereiro dois anos que a Casa da <strong>Leitura</strong> abriu<br />

as suas portas, encerramos hoje, com este congresso, o compromisso de<br />

três anos estabelecido com a <strong>Fundação</strong> <strong>para</strong> o desenvolvimento do<br />

projecto. O objecto desta comunicação não é fazer um balanço crítico do<br />

nosso trabalho e da sua aceitação, mas deixarei a esse propósito umas<br />

breves notas.<br />

São muitos e complexos os problemas no domínio da leitura no nosso<br />

país, mas considero que a questão da formação dos mediadores de leitura<br />

é central na luta contra a iliteracia. O objectivo central da Casa da <strong>Leitura</strong><br />

é constituir-se como um instrumento de (in)formação dos mediadores,<br />

promotores e potenciais promotores de leitura, incluindo-se neste grupo<br />

estudiosos e estudantes do ensino superior. Para que este objectivo seja<br />

alcançado é condição necessária que o projecto se constitua como uma<br />

plataforma transversal de difusão de conteúdos teórico/práticos,<br />

respeitantes à literatura, à leitura e às práticas de promoção da leitura.<br />

Neste contexto, sentimo-nos confortáveis com o número de visitas que<br />

tivemos até hoje, cerca de 1 milhão e meio. Os ecos que nos chegam sobre<br />

a aceitação do projecto são francamente animadores. Um conjunto muito<br />

alargado de mediadores, bibliotecários, professores, promotores de<br />

leitura, usam a Casa da <strong>Leitura</strong> como ferramenta de trabalho; estudantes<br />

universitários citam com uma frequência crescente os nossos conteúdos;<br />

uma tese de mestrado foi elaborada tendo como objecto um dos<br />

* Responsável pela concepção do projecto Casa da <strong>Leitura</strong><br />

e coordenador entre Outubro de 2005 e Março de 2009.


148<br />

laboratórios de Beja; professores do ensino superior, especialmente das<br />

Escolas Superiores de Educação, dão a Casa da <strong>Leitura</strong> como referência<br />

aos seus alunos; cada vez mais especialistas disponibilizam originais <strong>para</strong><br />

a Casa da <strong>Leitura</strong>; o modo entusiasta como este congresso foi recebido<br />

desde a primeira hora e o número de participantes no mesmo, como há<br />

muito não se via, são sinais claros que a Casa da <strong>Leitura</strong> é já hoje um<br />

instrumento credível e de referência <strong>para</strong> um universo alargado de<br />

mediadores de leitura e uma plataforma de informação atractiva <strong>para</strong> os<br />

estudiosos e investigadores da área da literatura e da leitura.<br />

No que respeita aos conteúdos disponibilizados, e tendo em atenção os<br />

objectivos apontados no projecto apresentado, não só cumprimos os<br />

objectivos como abrimos novos espaços de informação.<br />

Ocupamos na paisagem da leitura pública em Portugal um espaço<br />

próprio, os mediadores encontram na Casa da <strong>Leitura</strong> uma ferramenta<br />

(in)formativa que lhes é útil e que vem preencher lacunas e necessidades<br />

fundamentais.<br />

Dito isto, e neste momento de fechar de página, permiti-me a liberdade de<br />

fazer uma leitura da Casa a partir de uma perspectiva interior e com o<br />

olhar de quem idealizou desenvolver no espaço da leitura uma narrativa<br />

que se constitui num pequeno mas importante contributo no contexto da<br />

formação de novos públicos leitores. No fundo, explicitar alguns dos pressupostos<br />

teóricos que implicitamente constituem os fundamentos, os<br />

alicerces, da Casa da <strong>Leitura</strong> e a sua filiação e perspectiva arquitectónica.<br />

Se noutros domínios artístico-culturais acolho a emergência de arquitecturas<br />

conceptuais de ruptura com a envolvente onde se inserem, desencadeando<br />

espanto estético e uma fruição interrogativa, já no âmbito da recepção da<br />

literatura e da leitura balizada pelo território da promoção da leitura<br />

rejeito veementemente a ideia de uma arquitectura de ruptura ou<br />

descontinuidade.<br />

Não me revejo nos edifícios sofisticados que por vezes emergem neste<br />

domínio mas que no entanto se anunciam como tendo uma função<br />

pública e de capacitação dos mediadores. A pretexto de ultrapassarem o<br />

ruído das narrativas superficiais da cidade, tornam-se edifícios<br />

conceptuais sofisticados, virados <strong>para</strong> si mesmos, criando uma<br />

ambiência ensimesmada e elitista que se enclausura em condomínios<br />

fechados. São estruturas narcísicas que não raro resvalam <strong>para</strong> a<br />

alienação, tal o fosso cavado relativamente ao terreno da promoção da<br />

leitura e aos seus agentes, sem chegarem a ser, longe disso, casulos de<br />

investigação de ponta (pura) em relação aos quais a perspectiva crítica de<br />

análise é outra e os nós problemáticos residem em grande medida na<br />

actualização prática dos conhecimentos teoricamente adquiridos.<br />

Tão pouco sou defensor de edifícios de cota baixa que, a pretexto de uma<br />

acessibilidade mais alargada simplificam e banalizam a sua arquitectura,<br />

149<br />

usam estruturas conceptuais superficiais e não acrescentam nenhuma<br />

mais-valia à envolvente onde se inserem. Convertem-se em edifícios<br />

indiferentes no território da promoção da leitura e que acabam por se<br />

desmoronar por inutilidade funcional.<br />

A Casa da <strong>Leitura</strong> é um edifício que se situa a meio caminho entre estes<br />

dois extremos e que se desenvolve a partir de uma ideia estruturante que<br />

caracteriza o seu perfil e a filia numa dada corrente arquitectónica. Essa<br />

ideia estruturante definiu o esboço que antecedeu e perspectivou o desenho<br />

arquitectónico e assenta em dois conceitos que se implicam mutuamente:<br />

compromisso e contexto. Existe uma questão teórica prévia que<br />

sustenta estes dois alicerces estruturantes: a criação de novos públicos<br />

leitores e a luta contra os altos níveis de iliteracia da nossa população, é<br />

um processo lento e cumulativo, onde nenhum contributo pode ser desperdiçado,<br />

nenhuma herança pode pura e simplesmente ser ignorada. O<br />

trabalho de promoção da leitura faz-se às cavalitas do passado e ensaiando<br />

em determinados momentos, quando estão reunidas determinadas<br />

condições, moderadas revoluções de veludo.<br />

Compromisso e contexto são os caboucos conceptuais da idealização do<br />

edifício. A antecipação que preside a toda a idealização, o esboço que<br />

antecede o desenho arquitectónico, desenvolveu-se a partir desta ideia<br />

central que configuraria a tipologia arquitectónica de base da Casa da<br />

<strong>Leitura</strong>. A Casa filia-se numa arquitectura contextualizada, que tem em<br />

consideração as principais especificidades do território da leitura e com<br />

um forte compromisso com a história da leitura pública, balizada pelo<br />

movimento das bibliotecas públicas. Uma estrutura no (con)texto que<br />

pretende acrescentar um algo mais à narrativa da leitura pública,<br />

contribuindo <strong>para</strong> o reconhecimento ou o reforço de uma nova<br />

centralidade territorial: a promoção da leitura, e contribuir <strong>para</strong> induzir<br />

em grande parte dos espaços de leitura e em grande número dos<br />

mediadores, respectivamente, novas funcionalidades e competências.<br />

Define-se nesta perspectiva como uma arquitectura de funcionalidades,<br />

como uma Casa pragmática, cuja contextualização com a envolvente e<br />

comprometimento com a história territorial invalida qualquer ruptura<br />

com o terreno mas também não deixa indiferente a paisagem da leitura.<br />

Estas características arquitectónicas da Casa filiam-na numa arquitectura<br />

que poderíamos designar como moderna pós-modernista e que tem em<br />

Adjaye um representante da nova geração.<br />

A paisagem da leitura pública está entre nós fortemente marcada por um<br />

conjunto de edifícios que constituem uma malha apertada no território<br />

e que se constituem como um todo coerente e com uma identidade<br />

colectiva. Esta realidade de uma homogeneidade arquitectónica<br />

territorial onde as diferenças se expressam é uma das características mais<br />

positivas da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP) e pressupõe


150<br />

uma política de desígnio nacional e uma liderança de proximidade<br />

continuada e reconhecida. Espaços interiores definidos pelas suas<br />

múltiplas funcionalidades, dotados dos mais diversos suportes informativos,<br />

com espaços diferenciados <strong>para</strong> públicos com interesses diferentes, com<br />

acervos informativos e literários satisfatórios, local de encontro de<br />

manifestações literárias e culturais diversas e competências adaptadas<br />

aos serviços prestados, as bibliotecas públicas marcam a paisagem da<br />

leitura não obrigatória.<br />

Esta malha de edifícios acumula uma vantagem territorial e de eficácia<br />

com<strong>para</strong>tiva relativamente a outras realidades europeias: a sua cooperação<br />

muito estreita com as bibliotecas escolares. Se é certo que este relacionamento<br />

se destinou a colmatar a falta de formação em Ciências<br />

Documentais dos bibliotecários escolares, o facto é que isso estreitou e<br />

oleou as relações entre as bibliotecas públicas e a comunidade escolar e<br />

em muitos locais o trabalho em conjunto estendeu-se a outras áreas e criaram-se<br />

condições potenciais <strong>para</strong> qualificar o trabalho de parceria, na<br />

existência de um plano estratégico de promoção da leitura. Houve quem<br />

pensasse que esta mais-valia iria ser um dos eixos principais de uma futura<br />

política nacional de promoção da leitura. Infelizmente, penso que<br />

temos vindo a desperdiçar esse capital.<br />

Mas <strong>para</strong> a questão essencial que agora nos ocupa, importa sublinhar um<br />

factor da maior importância que reforça a centralidade potencial das<br />

bibliotecas públicas numa política de formação de novos públicos<br />

leitores. A biblioteca pública é a estrutura que reúne as melhores<br />

condições <strong>para</strong> desenvolver projectos de promoção da leitura junto das<br />

famílias, é a única que no limite pode ser a Casa da <strong>Leitura</strong> das famílias<br />

não leitoras. Numa dada fase do desenho do projecto fazia sentido <strong>para</strong> a<br />

coerência do mesmo, e tendo em conta as suas limitações, que a família<br />

enquanto mediadora de leitura fosse residente da Casa e integrasse os<br />

seus laboratórios, desenvolvendo aí práticas regulares e continuadas de<br />

leitura partilhada entre pais e filhos que pudessem ser divulgadas e o<br />

processo devidamente avaliado. Percorrido todo o território da leitura só<br />

encontrei nas bibliotecas públicas exemplos de projectos teoricamente<br />

sustentados, coerentemente desenvolvidos e suficientemente enraizados<br />

<strong>para</strong> decorrerem com regularidade e continuidade. E é por essa razão que<br />

são duas bibliotecas públicas, Odivelas e Beja, que integram a equipa da<br />

Casa da <strong>Leitura</strong>. A biblioteca pública é o lugar onde naturalmente<br />

acontece a leitura pela leitura e onde há condições potenciais não só <strong>para</strong><br />

que pais e filhos se encontrem, mas <strong>para</strong> que se desenvolvam projectos<br />

sustentados de leitura partilhada.<br />

Mas o contexto onde a Casa da <strong>Leitura</strong> se iria inserir, a envolvente territorial<br />

da promoção da leitura, era muito pouco homogéneo e o trabalho<br />

desenvolvido nestas duas bibliotecas estava longe de ser o espelho da rea-<br />

151<br />

lidade, uma prática corrente. Mas era o sintoma de que algo estava a<br />

mudar no terreno e que há mais mundo de aprendizagem <strong>para</strong> além da<br />

aprendizagem formal institucionalizada.<br />

Há dois exemplos que simbolizam e sintetizam a realidade próxima da<br />

promoção da leitura quando o projecto da Casa foi desenhado.<br />

A Comissão de Coordenação da Região Norte, numa iniciativa pioneira e<br />

única no país, abriu, no âmbito do anterior quadro comunitário de apoio,<br />

uma medida específica de apoio financeiro a projectos de promoção da<br />

leitura e solicitou a assessoria técnica do Instituto Português do Livro e<br />

das Bibliotecas. Uma percentagem significativa dos projectos realizados<br />

tinha muita animação e pouca leitura. Acabado o foguetório desmontou-<br />

-se a tenda e na terra não ficou uma única semente capaz de germinar. No<br />

entanto, alguns bibliotecários fizeram um percurso de aprendizagem e a<br />

noção de promoção da leitura e as competências exigidas <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

de um projecto foi fazendo aqui e ali o seu caminho. Em<br />

2005, cinco bibliotecas do Alto Minho elaboraram o projecto Dar Vida às<br />

Letras e solicitaram a assessoria científica de especialistas do Instituto de<br />

Estudos da Criança da Universidade do Minho. Este projecto viria a ganhar<br />

o prémio de Inovação em Promoção da <strong>Leitura</strong> da prestigiada<br />

International Reading Association.<br />

Em 2004, por iniciativa do IPLB, são desenvolvidos três projectos-piloto de<br />

promoção da leitura em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares e<br />

envolvendo bibliotecas públicas e escolares e professores. Com uma<br />

metodologia e estratégia que se revelaram acertadas, uma formação<br />

integrada e à medida, com bibliografia e literatura seleccionada, com um<br />

acompanhamento regular e continuado da equipa que coordenou os<br />

projectos, mereceu destaque o projecto de Matosinhos que se constituiu<br />

como um projecto de boas práticas. Infelizmente, não houve disponibilidade<br />

financeira <strong>para</strong> replicar a experiência, fazer uma divulgação<br />

convenientemente e tentar provocar o chamado efeito dominó. A ideia de<br />

um Plano Nacional da <strong>Leitura</strong> já andava no ar e alguns acreditaram que<br />

se tal intenção se materializasse, essa experiência-piloto seria a referência<br />

de um dos seus eixos principais.<br />

Há duas conclusões que se podem retirar de imediato destas duas<br />

experiências, e tendo em conta o trabalho desenvolvido em Beja, Odivelas e<br />

noutras bibliotecas, que importa sublinhar: os bons resultados alcançados<br />

estão directamente relacionados com as competências dos mediadores e as<br />

competências acrescidas de investigadores e estudiosos; começa-se a formar<br />

uma massa crítica com alguma expressão capaz de desenvolver boas práticas<br />

de promoção da leitura, mas a maioria dos projectos não tem a mínima<br />

sustentabilidade teórica e assenta em práticas de resultados tendencialmente<br />

nulos no que respeita à criação de hábitos de leitura e ao<br />

desenvolvimento de novas competências leitoras do público infanto-juvenil.


152<br />

Tal facto resulta de dois factores. Por um lado, a formação académica dos<br />

nossos mediadores especializados não os capacita <strong>para</strong> a formação de<br />

novos públicos leitores, a dos bibliotecários públicos restringe-se, no<br />

essencial, às Ciências Documentais e às Tecnologias de Informação e<br />

Comunicação, os bibliotecários escolares não têm nenhuma formação<br />

específica e a formação inicial da maioria dos professores do ensino básico<br />

não os capacita <strong>para</strong> os novos desafios que se colocam à formação de<br />

leitores competentes: Inês Sim-Sim, uma das vozes mais autorizadas no<br />

âmbito da leitura, afirmou não há muito tempo que os nossos alunos<br />

mostram cada vez maiores dificuldades em aprender a ler e os nossos professores<br />

uma incapacidade crescente em ensinar a ler, realidade reflectida,<br />

aliás, nos resultados do PISA. Por outro lado, bibliotecários públicos,<br />

promotores da leitura, formadores, estudiosos, técnicos da Admistração<br />

Pública com funções na área da leitura, encetavam um caminho de formação<br />

informal, recorriam à vasta literatura existente em Espanha,<br />

seguiam com redobrada atenção o trabalho desenvolvido pela FGSR e outras<br />

instituições internacionais. Daqui resultava um universo de mediadores<br />

de competências muito díspares, com necessidades de informação<br />

muito diferenciadas, a que a Casa da <strong>Leitura</strong> tinha que dar resposta.<br />

Desde o início que idealizei uma Casa de arquitectura sóbria e marcada<br />

por grandes superfícies de linhas rectas e angulares, que proporcionassem<br />

uma leitura imediata, racional e sem ruído. A curva livre e sensual<br />

(…) que encontro nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida, como afirma<br />

Oscar Niemeyer, a curva que transporta a ideia de afectividade, essa<br />

escondida na zona íntima dos laboratórios onde pais e filhos partilham<br />

leituras. Como afirma Cristina Taquelim, contar estórias é como dar colo.<br />

Esta opção inseria a Casa da <strong>Leitura</strong> na tipologia arquitectónica dominante<br />

dos edifícios que marcavam o território da leitura pública, leia-se<br />

da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas.<br />

Mas estas grandes superfícies exteriores não eram paredes cegas, mas<br />

pelo contrário tinham múltiplas aberturas. O contexto onde a Casa se<br />

inseria, as características da envolvente leitora, exigia um edifício que<br />

permitisse níveis de leitura diferentes sobre o mesmo objecto. A solução<br />

encontrada foi dotar as aberturas que dão acesso às centralidades do<br />

espaço interior de se<strong>para</strong>dores que possibilitassem ao utilizador do<br />

edifício leituras de nível crescente de complexidade sobre o mesmo<br />

objecto de análise, criando através de um fio condutor um contínuo de<br />

evolução analítico. Esta característica arquitectónica permitiria o acesso<br />

à informação por parte de públicos-mediadores com diferentes competências.<br />

Ainda dentro deste contexto, uma última ideia orientou o desenho da<br />

Casa. A Casa da <strong>Leitura</strong> é uma arquitectura de funcionalidades,<br />

pragmática, pretende in-formar mas também alavancar as competências<br />

153<br />

potenciais dos seus visitantes. Contextualizada e comprometida com a<br />

envolvente, a sua eficácia depende da sua capacidade em contribuir <strong>para</strong><br />

a qualificação da paisagem leitora induzindo novas funcionalidades nas<br />

instituições com responsabilidades na leitura e novas competências no<br />

universo-mediador. Visto numa outra perspectiva, terá que ser um<br />

edifício com a capacidade <strong>para</strong> influenciar a emergência de uma nova<br />

centralidade: a promoção da leitura.<br />

A metodologia organizativa das várias camadas narrativas sobre o mesmo<br />

objecto é fundamental <strong>para</strong> que as funcionalidades da Casa se tornem<br />

instrumentos capazes de promover novas competências. A capacitação dos<br />

mediadores, nomeadamente num projecto transversal, é um processo que<br />

exige que os patamares de análise sejam de complexidade gradual e não<br />

estabeleçam entre eles rupturas na arquitectura conceptual. Para melhor<br />

explicitar esta ideia, e por analogia, usarei o conceito de Zona de<br />

Desenvolvimento Proximal (ZDP) de Vygotsky, aqui aplicado, não ao<br />

desenvolvimento cognitivo das crianças, mas ao desenvolvimento das<br />

competências dos mediadores de leitura. A ZDP seria neste contexto o<br />

espaço próximo que medeia entre as competências que o mediador possui<br />

e pode desenvolver por si próprio e aquelas que só pode adquirir através<br />

da mediação de um instrumento in-formativo. Ou dito de outro modo, a<br />

Casa da <strong>Leitura</strong> foi idealizada também como um auxiliar instrumental<br />

capaz de actualizar as competências potenciais dos seus visitantes,<br />

contribuir <strong>para</strong> que alcancem a etapa subsequente de desenvolvimento<br />

das suas competências mediadoras que dificilmente alcançariam por si<br />

próprios.<br />

Uma outra preocupação que esteve sempre presente durante a fase de<br />

projecto foi acautelar a questão ambiental, tendo sempre no horizonte a<br />

construção de um edifício inteligente que não contribuísse <strong>para</strong> a difusão<br />

e divulgação de produtos tóxicos. O peso económico do segmento da<br />

produção do livro infanto-juvenil na indústria do livro é significativo. O<br />

crescimento deste segmento do mercado e a sua lógica de funcionamento<br />

geram, simultaneamente, maior diversidade na oferta de produtos de<br />

qualidade e um aumento exponencial de produtos poluentes, dando<br />

origem ao aparecimento e rápido desenvolvimento de uma espécie de<br />

literatura de pacotilha servida por uma narrativa escrita que chega a ser<br />

ofensiva <strong>para</strong> a inteligência das nossas crianças e que maltrata a língua<br />

portuguesa e por uma narrativa imagética de uma pobreza confrangedora.<br />

Como importava incorporar na sua construção critérios de qualidade que<br />

impossibilitassem narrativas superficiais.<br />

Tomemos como exemplo o espaço da literatura, o denominado S.O.L. –<br />

Serviço de Orientação à <strong>Leitura</strong> –, <strong>para</strong> termos uma ideia mais clara do<br />

que esta linha transversal do desenho da Casa significa na economia da<br />

sua estruturação.


154<br />

Em primeiro lugar, este espaço foi idealizado não como o repositório de<br />

uma listagem de títulos acantonados por idades, mas como uma selecção<br />

de obras baseada em critérios de qualidade, aplicáveis à narrativa escrita<br />

e imagética, distribuída por perfis de competência leitora. Na Casa da<br />

<strong>Leitura</strong> não há alunos, nem faixas etárias, há leitores e visitantes com<br />

diferentes competências e interesses. Na Casa da <strong>Leitura</strong> não há uma mera<br />

catalogação e indexação de obras seleccionadas, mas uma análise informativa<br />

com diversos níveis de complexidade. Esta metodologia permite<br />

distinguir o que é literário do que, tendo a forma de livro e de narrativa<br />

literária, é um embuste e possibilita o acesso de públicos-mediadores e<br />

estudiosos de diferentes competências a um edifício de qualidade.<br />

Concretizemos. Quando um utilizador, usando as várias portas de entrada,<br />

acede a uma obra apresentam-se-lhe três patamares narrativos de<br />

complexidade e volumetria crescente.<br />

O primeiro patamar, de pequena volumetria, é marcado pela sobriedade<br />

dos seus traços e pela narrativa simples e sem sofisticações conceptuais<br />

da sinopse da obra. Na idealização do projecto este seria o patamar de<br />

acesso universal, isto é, passível de ser visitado por todos os públicos-<br />

-mediadores. Para melhor garantir esta condição, e como auxiliar funcional<br />

<strong>para</strong> o seu conhecimento, os visitantes têm acesso a uma dupla<br />

página da obra em consulta, tomando assim contacto com a sua narrativa<br />

escrita e imagética.<br />

O encontro com a materialidade do livro através da presença da página<br />

dupla cumpria uma outra função: a introdução de um factor de<br />

qualidade mínima na narrativa de abordagem à obra. O patamar<br />

universal, embora exigisse uma linguagem simples, deveria ultrapassar o<br />

relato factual da estória, já presente nos <strong>para</strong>textos dos livros, nos textos<br />

de divulgação das obras nos sítios das editoras e nas pequenas colunas de<br />

jornais e revistas generalistas ou dedicadas à infância.<br />

O desenho do segundo patamar, de volumetria média, obedecia a uma<br />

arquitectura conceptual mais elaborada, próxima do comentário crítico, e<br />

exigia o domínio de determinados conceitos e o conhecimento prévio de<br />

alguma (in)formação. Um glossário como auxiliar directo e em alguns<br />

casos abordagens temáticas que permitiam enquadrar a análise específica,<br />

alojadas noutras divisões da Casa, serviam de auxiliares de compreensão.<br />

O terceiro patamar aparecia arquitectonicamente como o mais complexo<br />

e o sítio de visita dos mediadores mais especializados. Foi pensado como<br />

um lugar de grande silêncio e conforto, próprio <strong>para</strong> acolher a visita de<br />

utentes sem pressa e que interagiam com narrativas que exigiam concentração<br />

no acto de escavar o seu sentido. Aqui iria morar o ensaio literário.<br />

Chegados aqui, e antes de entrarmos no ambiente do interior da Casa,<br />

podemos sintetizar as principais ideias que orientaram a sua arquitectura<br />

exterior.<br />

155<br />

Se a arquitectura da Casa se identifica com algum arquitecto, nas linhas<br />

mestras que determinam a sua concepção, ele é sem dúvida David Adjaye.<br />

Tanto na arquitectura da Casa, como na obra do arquitecto inglês nascido<br />

na Tanzânia, o contexto, a situação e o comprometimento histórico<br />

são os referenciais que determinam o projecto, melhor dizendo, cada um<br />

dos projectos considerados em si mesmos. Estas premissas não permitem<br />

encontrar na sua obra uma expressão identitária, cada obra tem os seus<br />

próprios pressupostos, determinados pelo contexto e a narrativa territorial<br />

onde se insere e ainda o público-alvo a que se destina. O exemplo<br />

acabado deste facto é a diferença arquitectónica e dos seus pressupostos<br />

que podemos encontrar no Museu de Arte Contemporânea de Denver e<br />

no Centro de Artes Visuais Rivington em Londres. O mesmo aconteceria<br />

se me fosse dada a oportunidade de projectar, por exemplo, uma Casa da<br />

<strong>Leitura</strong> <strong>para</strong> Cabo Verde ou <strong>para</strong> Espanha.<br />

Em Adjaye o compromisso da arquitectura com a história, o estabelecimento<br />

necessário de uma ponte entre a narrativa arquitectónica e a narrativa<br />

histórica do território, tinha como contraponto a rejeição várias vezes<br />

reafirmada da ideia de sofisticação, que segundo Adjaye, pode alienar.<br />

Esta ideia foi por nós expressa na rejeição de uma arquitectura de<br />

ruptura ou descontinuidade, no âmbito da leitura: «não me revejo nos<br />

edifícios sofisticados que por vezes emergem neste domínio (…) tornam-se<br />

edifícios conceptuais sofisticados, virados <strong>para</strong> si mesmos, criando uma<br />

ambiência ensimesmada e elitista que se enclausura em condomínios<br />

fechados. São estruturas narcísicas que não raro resvalam <strong>para</strong> a alienação,<br />

tal o fosso cavado relativamente ao terreno da promoção da leitura e aos<br />

seus agentes (…).»<br />

Esta rejeição da sofisticação tinha como destinatário, pelo menos em<br />

parte, a arquitectura high-tech que em Inglaterra tinha no muito premiado<br />

Norman Foster e em Richard Rogers, que aliás chegaram a trabalhar<br />

juntos, duas das suas figuras mais proeminentes. Abra-se aqui um<br />

parêntesis <strong>para</strong> dizer que Rogers, responsável pelo Centro Georges<br />

Pompidou, integrou a equipa responsável pelo projecto da Frente<br />

Ribeirinha de Almada Nascente, cujo empreendimento não chegou a ser<br />

construído. Na arquitectura high-tech há uma estética da dimensão<br />

tecnológica da arquitectura servida por uma volumetria excessiva e<br />

muitas vezes brutal. Não raro, esta esteticidade esmagadora é expressão<br />

simbólica do poder económico, como acontece no Dubai. Para o que<br />

agora nos interessa, importa relevar que o fascínio pela inovação<br />

tecnológica era de tal ordem que a tecnologia aparecia como meio e fim<br />

da própria arquitectura, como ideologia.<br />

Também no domínio do saber esta tendência se manifestou e continua a<br />

fazer o seu caminho, e em domínios tão essenciais como a leitura, porque<br />

condição necessária <strong>para</strong> toda a aprendizagem, a high-tech se manifesta


156<br />

como meio e fim em si mesmo. Proclamando a urgência do domínio de<br />

novas literacias adaptadas ao novo <strong>para</strong>digma informacional, à nova era<br />

cultural e às novas formas de aprendizagem que a internet inaugura com<br />

as suas auto-estradas da informação sem portagens, tomam o meio como<br />

fim e afirmam a democratização do conhecimento na futura aldeia<br />

global. Acontece que as auto-estradas da informação só são úteis <strong>para</strong><br />

aqueles que são capazes de interpretar e ter um sentido crítico sobre a<br />

informação circulante. Seja qual for o suporte, o conhecimento só se<br />

adquire se o leitor dominar certas competências leitoras, isto é, se o<br />

utilizador souber ler, condição sem a qual a internet como meio se torna<br />

ineficaz e se reduz a um espaço de entretenimento. E pode-se aprender a<br />

ler em qualquer suporte. Mais ainda, como afirma Carlos Ceia: «não vejo<br />

a era da informação como o grande inimigo da leitura literária (…) se<br />

estivermos educados na leitura sabemos sempre espaço no mundo da<br />

comunicação tecnológica <strong>para</strong> não só ler mas também <strong>para</strong> ler de forma<br />

diferente (…)».<br />

Houve mais dois factos que me atraíram em Adjaye. Adjaye é mais que um<br />

arquitecto, é um divulgador da arquitectura, tendo sido responsável,<br />

nomeadamente, por programas de rádio e televisão – Dreamspaces e<br />

Building Africa: Architecture of a continent, na BBC, por outro lado, dois<br />

projectos de Adjaye provocaram espanto: as Ideas Stores, bibliotecas com<br />

serviços de medieteca e que incorporam mercados de rua. Numa<br />

arquitectura de espaços informais, o arquitecto inglês aglomera o que é<br />

disjunto.<br />

Acontece que a pele onde melhor me sinto é a de divulgador, entendo ser<br />

nesse estatuto que posso dar um contributo mais substantivo <strong>para</strong> a<br />

questão da formação de novos públicos leitores. O papel do divulgador sempre<br />

foi secundarizado pelo mundo académico e científico e atacado pela<br />

sua falta de rigor conceptual. É verdade que uma das funções do divulgador<br />

é tornar acessível a um universo mais alargado arquitecturas conceptuais<br />

herméticas tendo em vista a sua compreensão e a possibilidade da actualização<br />

no terreno dos desenvolvimentos teóricos, mas o divulgador é também<br />

um fazedor de novas intertextualidades, colocando em diálogo linhas<br />

de investigação diferentes: literatura e leitura, liberto que está das amarras<br />

da especialização e da fragmentação do conhecimento.<br />

Quando idealizei o projecto sempre entendi que ele deveria dar resposta<br />

a estas questões e que só nessa medida ele poderia ser um instrumento<br />

útil <strong>para</strong> os mediadores da leitura. Embora a questão teoria/prática seja<br />

da maior importância, a relação da literatura com a leitura permitir-me-<br />

-á de uma forma mais clara, e de um modo com<strong>para</strong>tivo, singularizar a<br />

Casa no território da leitura.<br />

A paisagem da investigação e da divulgação no que respeita à literatura e<br />

à leitura é, entre nós, de tipo unifamiliar disperso, vive congenitamente<br />

157<br />

enquistada em condomínios fechados. Os Encontros de Literatura e<br />

<strong>Leitura</strong> do Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho, por<br />

serem uma iniciativa de referência, são disso o melhor exemplo. As<br />

mudanças constantes do modelo organizativo têm por base a tentativa,<br />

sempre frustrada, de ultrapassar a dicotomia literatura/leitura.<br />

Os nossos académicos entrincheiram-se nas respectivas especialidades,<br />

uns tratam da análise e da crítica literária e das questões que lhes estão<br />

associadas, outros da didáctica da recepção leitora, do desenvolvimento<br />

dos processos cognitivos e da promoção da leitura.<br />

Este posicionamento, por razões endógenas que não é agora oportuno<br />

analisar, ganha em Portugal contornos mais nítidos mas é algo que<br />

preside ao pós-moderno e contamina todas as áreas do saber. O que marca<br />

a nossa contemporaneidade é uma compartimentação, uma segmentação<br />

do conhecimento, do saber académico e da investigação. Pensadores<br />

como Edgar Morin, só <strong>para</strong> dar um exemplo, há muito que o vêm<br />

afirmando.<br />

Ora, a Casa da <strong>Leitura</strong> assenta num alicerce estruturante que lhe configurou<br />

um dos traços mais distintivos da tipologia arquitectónica do seu<br />

interior. Um pilar constituído por diferentes materiais, pensadamente<br />

construído <strong>para</strong> suportar e agilizar o diálogo entre diversas narrativas<br />

normalmente disjuntas e que constitui um dos traços mais distintivos da<br />

ambiência do seu interior marcadamente intertextual: a literatura dialogando<br />

com a leitura, a teoria dialogando com a prática. A Casa da <strong>Leitura</strong><br />

alberga sobre o mesmo tecto, envolve na mesma ambiência interior, a literatura<br />

e a leitura, é uma espécie de cluster com uma espacialidade aberta<br />

que induz a percorrer caminhos diversos a partir de um mesmo local<br />

de partida.<br />

Façamos um trajecto demonstrativo. Ultrapassada a soleira da porta, um<br />

visitante entrou no espaço da literatura e deixou-se seduzir pela narrativa<br />

escrita da dupla página de um livro. Foi atrás da obra do autor e encontrou<br />

num dos títulos aconselhado <strong>para</strong> pré-leitores uma abertura <strong>para</strong><br />

uma prática desenvolvida num dos laboratórios da Casa. Aí se explicitava<br />

como, num ambiente lúdico e de leitura partilhada, as crianças desenvolviam<br />

actividades de antecipação. Aqui abriam-se duas janelas, uma<br />

<strong>para</strong> um artigo sobre a importância da antecipação <strong>para</strong> a compreensão<br />

leitora, outra <strong>para</strong> outras práticas sobre a mesma competência leitora.<br />

Seguido o caminho do texto teórico, abria-se o campo da bibliografia<br />

sobre o tema. O visitante imprimiu todo o material consultado e constituiu<br />

um dossiê e regressou à prática, abriu a janela de outras práticas,<br />

deixou-se atrair pela estória que servia de base a uma delas, espreitou a<br />

sinopse e a dupla página, mas desta vez seguiu pelo atalho dos temas: os<br />

monstros e encaminhou-se <strong>para</strong> o sítio da Casa onde moravam todos os<br />

monstros e iniciou um novo percurso.


158<br />

Há um princípio teórico fundante que determina a ambiência interior da<br />

Casa e a relação umbilical entre a literatura e a leitura ou, colocando a<br />

questão noutros termos, entre a leitura literária e as competências<br />

literácitas. Iluminemos esta questão a partir da noção de promoção da<br />

leitura. A promoção da leitura visa dois objectivos: criar hábitos de<br />

leitura e, simultaneamente, desenvolver competências de compreensão<br />

leitora que possibilitem uma leitura autónoma, reflexiva e crítica.<br />

Especificando, as actividades lúdicas de animação da leitura, assentes na<br />

leitura como um fim em si mesmo, devem desenvolver processos<br />

cognitivos como a antecipação, a indução ou a intertextualidade,<br />

permitindo chegar ao sentido implícito, fazer inferências e construir<br />

hipóteses interpretativas. <strong>Ler</strong> exige como condição necessária uma<br />

interacção íntima entre o leitor e o texto, e o texto literário é o que<br />

melhor cumpre este papel junto dos aprendizes de leitores, mas a<br />

literatura é também um instrumento de capacitação leitora. Do ponto de<br />

vista da recepção leitora, a literatura aparece como um fim em si mesmo,<br />

como um momento de fruição que não exige nada em troca, mas do<br />

ponto de vista do mediador ela é instrumental e visa formar leitores<br />

competentes, capacitados <strong>para</strong> lerem textos complexos, capazes de lerem<br />

nas entrelinhas e no não-dito. Dir-me-ão: «Está a instrumentalizar a<br />

literatura!» Claro que sim, mas respeitando-a tanto quanto um leitor<br />

respeita a literatura «quando a escreve <strong>para</strong> que ela seja possível». <strong>Formar</strong><br />

leitores competentes é diferente do querer formar leitores literários,<br />

exige políticas e estratégias diferentes. Sabendo nós que quanto maior for<br />

a percentagem de leitores competentes, maior será o número de leitores<br />

literários e que um leitor competente pode ser sempre um leitor<br />

resgatado <strong>para</strong> a leitura literária, mas sabendo também que nem todos os<br />

leitores que lêem literatura são leitores literários.<br />

Voltando ao espaço interior da Casa. Há a recriação de uma espacialidade<br />

aberta mas com territórios específicos que idealmente se abrem, se<br />

entrecruzam, em todas as direcções. A Casa foi projectada <strong>para</strong> induzir o<br />

visitante a percorrê-la fosse qual fosse o seu ponto de partida, numa<br />

espécie de carrossel de espaços de conhecimento interligados entre si.<br />

Conforme as suas necessidades e interesses, cada um deambulará por<br />

onde achar mais conveniente, mas sempre acontecerá encontrar-se com<br />

territórios menos conhecidos ou mesmo desconhecidos.<br />

Olhada desde a perspectiva da idealização, a Casa fez nestes três anos o<br />

seu caminho, tornou-se concreta e ganhou vida graças ao trabalho<br />

competente de uma equipa, transformou-se mantendo os traços<br />

essenciais do projecto e, como sempre acontece quando se faz um<br />

caminho, muito mais caminho há <strong>para</strong> andar.<br />

Primeros Contactos<br />

con la Lectura:<br />

Leer sin saber leer<br />

DOLORES GONZÁLEZ LÓPEZ-CASERO*<br />

159<br />

En el Centro Internacional del Libro Infantil y Juvenil trabajamos, desde<br />

el año 1985, con un objetivo muy concreto: fomentar la lectura entre la<br />

población infantil y juvenil, creando <strong>para</strong> ello una variada oferta de servicios<br />

dirigidos a niños, jóvenes, familias y profesionales de distintos sectores<br />

educativos y culturales.<br />

Son muchos los autores e investigadores que constatan el papel tan<br />

importante que juega la lectura de cuentos en el desarrollo de la alfabetización<br />

emergente de los niños/as y cómo este acercamiento a los cuentos<br />

es deseable que comience en edades muy tempranas.<br />

Los libros y las historias contribuyen a potenciar el importante proceso de<br />

prelectura en el que se encuentran los niños, antes de aprender a leer.<br />

La lectura favorece los primeros contactos con el lenguaje, desarrolla la<br />

atención y la capacidad de expresión e inicia a los pequeños en la comprensión<br />

de secuencias narrativas y temporales. Los libros ponen el<br />

mundo a su alcance de una forma simplificada y constituyen un medio<br />

excelente de comunicación entre niños y adultos que refuerzan, además,<br />

las relaciones afectivas.<br />

No cabe duda que los padres tienen un papel primordial a la hora de<br />

fomentar y consolidar el hábito y el gusto por la lectura de sus hijos. El<br />

espacio familiar es un contexto idóneo <strong>para</strong> inculcar valores sociales y<br />

hábitos culturales y ofrece posibilidades inigualables <strong>para</strong> contribuir al<br />

proceso de crear lectores. Planteando la lectura sin obligaciones, ni<br />

exigencias, como algo que se disfruta durante el tiempo de ocio, algo que<br />

a través de la palabra, refuerza los afectos e invita a compartir emociones.<br />

Todas estas consideraciones forman parte de los planteamientos que<br />

desde el centro tenemos en cuenta <strong>para</strong> perfilar programas o iniciativas<br />

de fomento de lectura dirigidos a las familias con niños pequeños y, muy<br />

especialmente, el programa que a continuación voy a detallar.<br />

Para su desarrollo (en las dos etapas: Ronda de libros y Prelectores), el<br />

centro cuenta con un espacio específico <strong>para</strong> realizar actividades con los<br />

usuarios que todavía no saben leer. Se trata de una sala de lectura, que<br />

combina funcionalidad, atractivo y flexibilidad. Cuenta con zonas<br />

*Directora do Centro Internacional do Livro Infantil e Juvenil da <strong>Fundação</strong> Germán Sánchez Ruipérez.


160<br />

especialmente diseñadas <strong>para</strong> exponer libros, de modo que estos se<br />

muestren cercanos y accesibles.<br />

Los libros están organizados por bloques temáticos, representados con iconos<br />

fácilmente reconocibles, visibles en una pegatina que va adherida a los<br />

libros y en los carteles colgados del techo que indican los espacios dedicados<br />

a cada tipo de material: Libros <strong>para</strong> leer en compañía, Libros con música,<br />

con sorpresa, sobre el mundo que nos rodea y Libros <strong>para</strong> leer solitos.<br />

El fondo seleccionado <strong>para</strong> trabajar con los niños de estas edades es<br />

amplio y variado en cuanto a la temática y lo componen: álbumes ilustrados,<br />

libros informativos, libros con rimas-canciones-repeticiones, imaginarios,<br />

cuentos populares y tradicionales –, cuentos con sorpresa, vídeos,<br />

música, cederrones y una selección de páginas web.<br />

La sala tiene varias zonas con rincones de lectura: un teatrillo de marionetas<br />

donde se puede jugar a crear historias; una chimenea, el lugar elegido<br />

<strong>para</strong> compartir las historias; un pequeño parque con una enorme<br />

seta; una nube cubierta con moqueta que invita a tumbarse <strong>para</strong> disfrutar<br />

de los libros de imágenes y otro rincón con un puesto de ordenador y<br />

una pequeña estantería donde están los títulos en soporte audiovisual<br />

con los que se trabaja en el programa. A la entrada, en el vestíbulo, están<br />

los armarios <strong>para</strong> colgar los abrigos y tablones de anuncios en los que se<br />

exponen información y materiales destinados a los padres: folletos, guías<br />

de lectura u otras publicaciones.<br />

El equipo humano asignado al área de prelectura, lo constituyen profesionales<br />

que conocen las características esenciales de los niños de estas<br />

edades, la oferta editorial existente y los criterios básicos <strong>para</strong> seleccionar<br />

los materiales más adecuados a los objetivos que se trabajan.<br />

El papel fundamental lo asume la bibliotecaria que conduce las sesiones<br />

en la sala y, es obvio que, además de ser una persona creativa, altamente<br />

motivada, tiene también una gran capacidad de improvisación y cuenta<br />

con habilidades de relación y de comunicación, tanto <strong>para</strong> facilitar el desarrollo<br />

de las dinámicas con los niños, como <strong>para</strong> conseguir la implicación<br />

de los adultos acompañantes.<br />

La dinámica de trabajo que se utiliza en las distintas sesiones está marcada<br />

por estrategias de juego, que aportan un tono lúdico y divertido a las<br />

actividades y propuestas que favorecen la participación activa de todos<br />

los usuarios (esta característica en el programa Ronda de Libros se extiende<br />

al adulto acompañante como protagonista esencial de determinadas<br />

actividades).<br />

La capacidad de atención de los niños de esta edad exige disponer de un<br />

amplio catálogo de actividades construidas con planteamientos sencillos y<br />

que tengan corta duración. Es conveniente, también, utilizar materiales<br />

atractivos (tarjetas ilustradas, cuento gigante, marionetas, etc…) que motivan<br />

al niño y contribuyen a mantener su atención e interés.<br />

161<br />

Y por supuesto, en todas las sesiones se cuentan cuentos a los niños de<br />

ambas edades (0-3 y 3-6 años) con distintas estrategias y materiales<br />

(marionetas, narración oral, narración con objetos, proyección de<br />

imágenes…)<br />

RONDA DE LIBROS<br />

Hace ya 12 años, en 1997, se puso en marcha el programa Ronda de<br />

Libros. Los usuarios de este programa son los bebés de 9 meses a 3 años y<br />

sus padres y adultos acompañantes.<br />

El programa focaliza sus objetivos y dinámicas en el valor de la relación<br />

adultos/niños a través de los libros. No es un programa de animación a la<br />

lectura precoz, ni tampoco una escuela de padres y aunque se ofrecen<br />

pautas <strong>para</strong> la selección de historias o estrategias <strong>para</strong> contar cuentos, el<br />

objetivo esencial no es establecer modelos de actuación en torno al libro...<br />

Es una invitación a los adultos <strong>para</strong> que contemplen lo que sucede<br />

cuando se pone un libro en manos de un bebé y participen en las<br />

acciones que se pueden desarrollar en torno a este encuentro.<br />

Intentamos que los niños, acompañados de sus padres puedan ver y escuchar<br />

otras voces, otras sensaciones… Y, sobre todo, sean los padres los<br />

auténticos mediadores en ese proceso. El diseño del programa potencia y<br />

favorece la implicación del adulto en las dinámicas de cada sesión. Como<br />

resultado, su actitud pasa de ser meramente receptiva a participativa. No<br />

traen a sus hijos a la biblioteca simplemente <strong>para</strong> que pasen un buen rato<br />

y que la bibliotecaria actúe <strong>para</strong> ellos, sino que son ellos mismos los que<br />

se involucran en muchas partes de la sesión y se convierten en verdaderos<br />

conductores de la misma.<br />

El niño tiene la oportunidad de escuchar, en pequeños grupos o de<br />

manera individual, cuentos que les narran las bibliotecarias o sus padres,<br />

compartir los cuentos con otros niños, jugar en el rincón de las<br />

marionetas, participar en actividades de juego con canciones, rimas y<br />

mímica en las que es imprescindible la participación del adulto; y en el<br />

cuento colectivo.<br />

Los padres aprenden otra forma de relacionarse con los libros, observan<br />

la evolución que van teniendo sus hijos a lo largo de los meses y valoran<br />

positivamente cómo se incrementa su capacidad <strong>para</strong> desenvolverse en<br />

un espacio diferente, <strong>para</strong> relacionarse con otros niños, <strong>para</strong> contar historias<br />

a su manera y como van manifestando progresivamente sus preferencias<br />

y exigencias.<br />

Encuentran en la actividad y en la biblioteca una variedad de recursos y<br />

de fuentes de información que les sirven de orientación en su papel de<br />

mediadores. A ello contribuye, por ejemplo, el fichero de «Ronda de<br />

Libros» que se compone de, aproximadamente, 30 fichas en las que se<br />

abordan distintos temas: cómo contar un cuento, cómo elegir buenas his-


162<br />

torias; o temas como: la hora de ir a la cama, los celos, el aseo, los juguetes…<br />

Cada ficha se compone de una breve introducción del tema, el ejemplo<br />

de un cuento y pautas <strong>para</strong> contarlo a los niños y una bibliografía<br />

sobre el tema.<br />

Otro elemento es el «Cuaderno de Rondas» que cada semana se lleva a<br />

casa una familia diferente <strong>para</strong> anotar en él los textos y la forma de juego<br />

de su canción o poema favorito, de modo que puedan ser compartidos en<br />

la biblioteca con el resto de los participantes.<br />

Hasta el comienzo del curso 2008/09, que se han implementado algunos<br />

cambios como resultado de las conclusiones/recomendaciones del estudio<br />

de investigación, el programa se desarrollaba todos los lunes, de 5 a<br />

7.30 horas de la tarde y el tiempo aconsejado de permanencia en la<br />

biblioteca era de una hora.<br />

PRELECTORES<br />

Desde el año 1986, se trabaja con los niños prelectores (3-6 años) y las<br />

sesiones tienen lugar en la misma sala de lectura.<br />

(Igualmente a comienzo del presente curso se han modificado los<br />

horarios de estos grupos. Hasta esa fecha, los niños podían asistir a la<br />

biblioteca, de martes a viernes, entre las 5 y las 8 horas de la tarde)<br />

ESTRUCTURA DE LA SESIÓN<br />

1. Tiempo de libre elección de los materiales de la sala.<br />

2. Narración colectiva de cuentos (diferentes soportes y técnicas).<br />

3. Actividades especiales (1 vez al mes durante 1 ó 2 semanas).<br />

TALLERES Y PROPUESTAS DE CREACIÓN<br />

Actividades de Formación de usuarios con dos programas específicos:<br />

Exploradores de biblioteca y Lectores de pantalla. Ambos intentan que los<br />

niños/as se impliquen en la dinámica de la biblioteca y de mejorar sus<br />

destrezas y autonomía en el uso de los materiales bibliográficos y los<br />

recursos informáticos disponibles en la sala.<br />

Los niños de 4 y 5 años participan, también, en los programas: Welcome<br />

Aboard y Cuentos del <strong>Mundo</strong>.<br />

Los padres no tienen una presencia habitual en las sesiones, aunque se<br />

intenta que se impliquen en algunas actividades de la sala y en las que se<br />

les proponen a través de charlas, talleres, tablón de anuncios… <strong>para</strong> realizar<br />

en casa. Una de las funciones primordiales de las personas que trabajan<br />

en este programa es la labor de asesoramiento a las familias, aportándoles<br />

pautas y recursos <strong>para</strong> que sean eficaces mediadores de la lectura.<br />

Esta información dirigida a los padres se completa con la edición trimestral<br />

del boletín: Te Contamos, que recoge las actividades que se realizan<br />

en la sala junto con comentarios, recomendaciones y selecciones de<br />

163<br />

libros sobre el tema monográfico que se aborda en cada uno.<br />

En los dos programas, Ronda de libros y Prelectores, se intenta fomentar<br />

el uso del servicio de préstamo, tanto de lecturas <strong>para</strong> niños como los<br />

materiales seleccionados <strong>para</strong> los padres, <strong>para</strong> ello ofrecemos una sección<br />

específica del servicio de préstamo del centro, con libros, revistas y audiovisuales<br />

sobre la infancia, lectura y educación.<br />

Como apoyo a las familias y <strong>para</strong> compartir lecturas padres e hijos en el<br />

espacio familiar, se crea, hace más de 5 años, el programa «Leemos<br />

Juntos», que ofrece lotes con materiales y propuestas de lectura estimulantes<br />

y fáciles de desarrollar en este entorno, servidos en un maletín que<br />

contiene 7 materiales (libros, revistas, música, video, CD-ROM con una<br />

propuesta didáctica).<br />

Durante estos años, el Centro Internacional del Libro Infantil y Juvenil ha<br />

desarrollado otras iniciativas dirigidas a las familias que con toda<br />

seguridad complementan y refuerzan las propuestas que trabajan en<br />

estos programas.<br />

CLUB DE LECTURA DE PADRES Y MADRES<br />

Se reúnen una vez al mes, en la biblioteca, <strong>para</strong> comentar los libros<br />

publicados <strong>para</strong> los más pequeños.<br />

TRAE A TUS PADRES A LA BIBLIOTECA<br />

Los sábados se invita a los adultos a acompañar a sus hijos a la biblioteca<br />

<strong>para</strong> que puedan participar con ellos en las actividades que se<br />

programan: cuenta cuentos, talleres, juegos en la intranet etc…<br />

TALLERES<br />

Para disfrutar juntos de talleres de fotografía, video, encuadernación y<br />

teatro, entre otros.<br />

SERVICIO DE ORIENTACION DE LECTURA – SOL<br />

Es un recomendador de lecturas y Banco de Recursos e incluye una sección<br />

dirigida a las familias.<br />

Libros, actividades, ideas y consejos en torno a la lectura, complementados<br />

con un servicio de atención personalizado, atendido por especialistas,<br />

que responde a las preguntas que los usuarios pueden plantear a través<br />

de la propia página (www.sol-e.com).<br />

PUBLICACIONES<br />

Folletos pensados <strong>para</strong> la familia: Leer en Casa y Lectura y Familia.<br />

Guías de lectura: selecciones de libros y otros materiales de lectura recomendados<br />

<strong>para</strong> distintas edades.<br />

Punto de Lectura: trimestralmente especialistas en promoción de la lectu-


164<br />

ra, educación, literatura infantil y disciplinas afines, abordan monográficamente<br />

temas de interés relacionados con la familia y los libros <strong>para</strong><br />

niños, como: los videojuegos, relación familia escuela, la escritura, cómo<br />

se hace un lector etc…<br />

PROGRAMA LEER EN COMPAÑÍA<br />

Charlas-coloquio dirigidas a los padres. Se suministran pautas <strong>para</strong> leer<br />

en casa con los hijos o <strong>para</strong> motivarles y crear con ellos una disposición<br />

favorable hacía la lectura. En las sesiones se da cabida a la exposición de<br />

dudas y reflexiones por parte de los asistentes.<br />

PRESENTACIÓN DE NOVEDADES<br />

Sesiones periódicas a las que se convoca a los padres <strong>para</strong> darles a conocer<br />

las novedades del panorama editorial.<br />

CANAL DE COMUNICACIÓN CON LAS FAMILIAS<br />

La intranet y la página Web de la Fundación cuentan con secciones especiales<br />

<strong>para</strong> los padres: actividades y servicios que ofrece la biblioteca y<br />

también se puede acceder a la lectura de algunos materiales informativos<br />

que el centro edita: boletines, guías de lectura, puntos de lectura.<br />

ALGUNOS DATOS<br />

ALGUNOS Familias DATOS Ronda (curso 08-09).................................................125 niños<br />

Familias participantes en Ronda (desde 1997 hasta 2009)........1.260<br />

Familias Ronda (curso 08-09): 125 niños<br />

Familias participantes en Ronda (desde 1997 hasta 2009): 1.260<br />

Préstamos a primeras a primeras edades (0 edades - 6 años). (0 Más - 6 de años). 27.000 anuales Más de (2008) 27.000 anuales (2008)<br />

3 - 6 años: 11.117 + 4.013 audiovisuales<br />

3 - 6 años..........................11.117 + 4.013 audiovisuales<br />

Bebés: 2.498 + 398 audiovisuales<br />

Sábados: Bebés...................................2.498 + 398 audiovisuales 7.170 + 1924 audiovisuales<br />

Sábados............................7.170 + 1924 audiovisuales<br />

Préstamo a padres (2008): 741 libros + 422 audiovisuales<br />

Préstamo Leemos Juntos (2008): 1.437 maletines prestados (200 maletas)<br />

Préstamo a padres (2008).................741 libros + 422 audiovisuales<br />

Préstamo Leemos Juntos (2008).1.437 maletines prestados (200 maletas)<br />

EL ESTUDIO: PRIMEROS CONTACTOS CON LA LECTURA. LEER SIN SABER LEER<br />

Es el título de la publicación que recoge el estudio de investigación evaluativo<br />

que se inició en octubre de 2004 y finalizó en septiembre de 2007.<br />

Trabajo que ha realizado un equipo de investigadoras de la Facultad de<br />

Educación de la Universidad de Salamanca: María Clemente Linuesa, Elena<br />

Ramírez Orellana y Mari Cruz Sánchez Gómez, con la estrecha colaboración<br />

de las profesionales de la Fundación que trabajan en el programa.<br />

Fue en los primeros meses del año 1986 cuando comenzamos a trabajar<br />

con los niños de 3 - 6 años y posteriormente, en 1997, con los bebés de 9<br />

meses a 3 años. Y tras estos años de experiencia vimos necesario abordar<br />

165<br />

este trabajo de investigación y evaluación, con el fin de divulgar pautas<br />

de trabajo, que basadas en la experimentación y el estudio y refrendados<br />

por la opinión de especialistas, puedan aportar alguna ayuda a la labor<br />

de instituciones y personas que trabajan en temas de lectura, no sólo <strong>para</strong><br />

la puesta en marcha de nuevas iniciativas sino también <strong>para</strong> la revisión<br />

de proyectos ya iniciados.<br />

PROGRAMAS EVALUADOS<br />

Programa Ronda de Libros (bebés de 9 meses a 3 años y los adultos acompañantes).<br />

Programa de prelectores (3 - 6 años).<br />

Evaluación de los hábitos lectores de la primera promoción de niños que<br />

asistieron al programa.<br />

METODOLOGÍA<br />

Rigurosa metodología que incluye:<br />

❖ Cuestionarios que se han pasado a los padres (obtención de la información<br />

necesaria).<br />

❖ Grupos de discusión entre ellos (<strong>para</strong> conocer sus opiniones de forma<br />

directa).<br />

❖ Para conocer los aspectos más concretos de la practica se han realizado<br />

un buen número de sesiones de observación directa en la sala donde se<br />

desarrolla la parte presencial del programa.<br />

❖ Entrevistas orales a los niños (primera promoción de Ronda).<br />

❖ Para conocer aspectos sociológicos de los niños y sus familias (año de<br />

nacimiento, lugar de residencia, colegio al que asisten, profesión de los<br />

padres…se examinaron las fichas de inscripción de la biblioteca.<br />

OBJETIVOS<br />

Los objetivos específicos que han conducido el desarrollo de este proyecto<br />

han sido:<br />

❖ Dar a conocer el programa, exponiendo cómo se ha desarrollado y<br />

cómo ha sido asumido y valorado por los usuarios.<br />

❖ Valorar el impacto social que tiene y conocer el interés social suscitado<br />

por el mismo.<br />

❖ Analizar la motivación de los padres hacia el programa y, en general,<br />

hacia otras propuestas en torno a la lectura y los libros que la biblioteca<br />

dirige a ellos y a sus hijos.<br />

❖ Evaluar el desarrollo y acciones del programa en su propio contexto.<br />

❖ Conocer los efectos formativos del programa en los padres como mediadores<br />

de la iniciación de sus hijos como lectores.<br />

❖ Conocer algunos efectos del programa en la evolución de los niños con<br />

respecto a la lectura.<br />

❖ Formular recomendaciones que se estimen convenientes <strong>para</strong> su mejora.


166<br />

PERFIL DE LOS ASISTENTES<br />

Viven en zonas distintas de la ciudad.<br />

Padres en su mayoría con títulos universitarios o postsecundarios.<br />

Grado como lector medio-alto.<br />

Compran libros con frecuencia <strong>para</strong> ellos y <strong>para</strong> sus hijos.<br />

Dicen leer fundamentalmente por placer.<br />

Los motivos <strong>para</strong> asistir son: iniciar a los niños tempranamente <strong>para</strong> que<br />

disfruten leyendo y <strong>para</strong> crear hábitos.<br />

Práctica habitual de la narración con los niños: <strong>para</strong> jugar y <strong>para</strong> explicar<br />

cosas.<br />

CONCLUSIONES<br />

Las principales conclusiones obtenidas por el estudio, que aparecen<br />

recogidas en la publicación, señalan que:<br />

La valoración del programa, traducción de los numerosos testimonios<br />

recogidos entre los usuarios (padres principalmente y también algunos<br />

niños que participaron en su día en las primeras promociones del<br />

programa Ronda de Libros), es altamente positiva en todos los apartados<br />

evaluados. Los padres valoran especialmente los siguientes aspectos:<br />

❖ En relación con sus hijos: la variedad y el atractivo de las actividades<br />

desarrolladas en la sala; las relaciones entre iguales que se establecen con<br />

otros niños participantes; los hábitos de lectura adquiridos; la mejora de<br />

autonomía del niño en la biblioteca – acompañada del descubrimiento de<br />

nuevos materiales; la adquisición de hábitos de cuidado y orden.<br />

❖ En lo que respecta a ellos mismos (Padres): la especial relación que<br />

establecen con sus hijos a través de los libros; las propuestas del programa;<br />

el conocimiento adquirido de materiales de literatura infantil; el<br />

aprendizaje de estrategias y pautas concretas <strong>para</strong> fomentar el gusto por<br />

la lectura y <strong>para</strong> contar cuentos; el contacto con otras familias.<br />

FACTORES DE ÉXITO<br />

Del estudio se destacan los siguientes factores de éxito:<br />

❖ El «Enfoque y la Filosofía» del programa, que incide en el fomento de la<br />

lectura desde las edades más tempranas y considera imprescindible la<br />

implicación de los padres (se complementa con servicios, actividades y<br />

recursos destinados a las familias). Orientar + Informar + Motivar a<br />

Participar.<br />

❖ La capacidad del programa <strong>para</strong> actuar como espacio de formación del<br />

mediador adulto (padre o madre) y fuente de aprendizajes <strong>para</strong> el niño<br />

(no sólo en el espacio de la biblioteca, sino también en capacidades de<br />

atención, comprensión y relación, en actitudes de participación y hábitos<br />

de orden y cuidado de los libros).<br />

167<br />

❖ El diseño del espacio, con un ambiente entrañable y muy sugerente<br />

<strong>para</strong> los niños. Apropiado al tono lúdico de las sesiones y a las actividades<br />

que se realizan en ellas.<br />

❖ La existencia de un fondo bibliográfico adecuado en cantidad, diversidad<br />

y calidad (también de materiales audiovisuales) junto con la posibilidad<br />

de disponer de él a través del servicio de préstamo.<br />

❖ La dinamización del fondo: señalización y juegos destinados a que los<br />

niños se familiaricen con sus contenidos y su ubicación en la sala y las actividades<br />

concretas con la presencia de la oralidad como estrategia central.<br />

❖ La pre<strong>para</strong>ción del equipo humano, sus aptitudes <strong>para</strong> trabajar con<br />

primeras edades y su conocimiento del panorama literario. Así como su<br />

capacidad de respuesta y adaptación a las diversas situaciones que genera<br />

el colectivo de usuarios: niños, padres o adultos acompañantes.<br />

❖ La colaboración con Instituciones Educativas: que permite la incorporación<br />

de personal de prácticas que, sin duda, posibilita una atención<br />

más personalizada a los asistentes (niños y adultos).<br />

❖ Un contexto social favorable, que ofrece la progresiva concienciación<br />

de las familias sobre la importancia de fomentar el gusto por la lectura<br />

entre sus hijos, que repercute en el alto grado de implicación y motivación<br />

de las familias participantes.<br />

PUNTOS DE MEJORA<br />

❖ Limitación espacial de la sala dedicada al programa (la alta ocupación<br />

lleva a situaciones de incomodidad asociadas al ruido, calor o desorden).<br />

❖ Ausencia de espacios anexos adecuados <strong>para</strong> uso como: dejar los carritos<br />

de los bebés o dar meriendas.<br />

❖ Balance deficitario entre la demanda de plazas y la capacidad<br />

disponible <strong>para</strong> atenderlas (este punto no tiene repercusión en el resultado<br />

del programa pero impide el potencial crecimiento del mismo en términos<br />

cuantitativos).<br />

❖ Circunstancias asociadas a la flexibilidad horaria. En Ronda de Libros<br />

por «defecto», consideran 1 día fijo y único como escaso y se produce una<br />

concentración excesiva de personas en la sala. En prelectores por «exceso»,<br />

y aunque la flexibilidad horaria está bien valorada por los padres, en<br />

la práctica impide controlar el volumen de asistentes cada día y la composición<br />

del grupo, que cuando es muy heterogénea dificulta la dinámica<br />

de las sesiones.<br />

RECOMENDACIONES (PARA LA MEJORA DE LOS PROGRAMAS)<br />

❖ Poder asistir más de 1 día. Realizar dos sesiones semanales del programa<br />

Ronda de Libros, una sesión por la mañana y otra por la tarde.<br />

❖ Retrasar el inicio de la sesión, aproximadamente, medía hora.<br />

Comenzar a las 5.30h en vez de a las 5h.


168<br />

❖ En prelectores: potenciar las estrategias de formación de usuarios que<br />

familiarizarían a los niños con el espacio y los recursos de la biblioteca y<br />

crear grupos, concentrando edades similares, y asignar, a cada uno de<br />

ellos, un día de los cuatro días de la semana en los que tienen lugar las<br />

sesiones del programa.<br />

❖ Promocionar, aún más, los servicios creados de modo específico <strong>para</strong><br />

los adultos: préstamo <strong>para</strong> padres, club de lectura, charlas/taller….<br />

❖ Incrementar la dotación de material audiovisual disponible en el préstamo<br />

infantil.<br />

PROPUESTAS GENERALES PARA DESARROLLAR INICIATIVAS DE ESTE TIPO<br />

Biblioteca<br />

❖ Lugar de encuentro en torno a los libros.<br />

❖ Implicar a los padres.<br />

❖ Cuidar de las estrategias y canales de difusión.<br />

❖ Fomentar el uso de los servicios bibliotecarios.<br />

Profesionales<br />

❖ Formación en LIJ, motivados y creativos.<br />

❖ Conocedores de la psicología infantil.<br />

❖ Habilidades de comunicación e improvisación.<br />

❖ Capacidad <strong>para</strong> desarrollar estrategias narrativas.<br />

Actividades<br />

❖ Primar lo lúdico.<br />

❖ Estimular a los adultos a participar.<br />

❖ Actividades en grupo (también momentos de atención personalizada).<br />

❖ Utilizar gama amplia de estrategias y recursos.<br />

Espacios<br />

❖ Adaptados a los usuarios, acogedores, cómodos y multifuncionales.<br />

❖ Salas amplias, con distintos espacios y ambientes.<br />

❖ Mobiliario atractivo, que facilite el acceso a los materiales.<br />

❖ Sistema de señalización de secciones-rincones y de etiquetado.<br />

❖ Accesos y espacios anexos adecuados.<br />

Materiales<br />

❖ Material audiovisual.<br />

❖ Publicaciones <strong>para</strong> los padres.<br />

❖ Contar con elementos de apoyo (marionetas, juegos instrumentos...).<br />

❖ Ofrecer club de lectura.<br />

Os Muitos Retratos da <strong>Leitura</strong><br />

no Brasil<br />

GALENO AMORIM*<br />

169<br />

Um mergulho nos retratos atuais da leitura no Brasil traz à tona algumas<br />

revelações surpreendentes. A primeira delas é que, ao contrário do que se<br />

supunha, os brasileiros estão lendo mais. É bem verdade que ainda é<br />

menos do que se deseja, mas não dá <strong>para</strong> deixar de reconhecer que os<br />

índices nacionais de leitura encontram-se, nestes primeiros anos do novo<br />

milênio, bem acima do que se imaginava.<br />

A boa nova mais inesperada é, no entanto, outra. Espalhado por seu<br />

imenso território continental e com um perfil nada homogêneo,<br />

descobriu-se que existe por aí, às vezes nem tão visível, um contingente<br />

formidável de 95 milhões de leitores. São pessoas que declaram ter lido<br />

pelo menos um livro, seja qual for ele, nos três meses anteriores. Com a<br />

cautela devidamente necessária que se deve ter em pesquisas de opinião<br />

quantitativas, isso, definitivamente, não é pouco. No entanto, como<br />

veremos a seguir, também não é tudo.<br />

Uma leitura mais atenta dos resultados de estudos recentes sobre o<br />

comportamento leitor da população brasileira pode trazer outras<br />

informações interessantes. Mas, por vezes, inquietantes. E, pelo menos,<br />

duas grandes constatações: a primeira delas é que existem nesse país tão<br />

grande quanto diverso algumas ou várias realidades que são muito<br />

distintas entre si também quando o assunto é a prática social da leitura.<br />

Ou seja, também aqui vigora o que alguns cientistas sociais batizaram de<br />

Belíndia, que é uma mistura da parte rica da Bélgica com a fatia mais<br />

pobre da Índia. Ou, ainda, dito de outra forma, existem diversos brasis,<br />

que lá convivem, nem sempre tão harmoniosamente assim.<br />

A segunda grande constatação é que, <strong>para</strong> superar as dificuldades e os<br />

desafios típicos de um país tão imenso quanto complexo, há tarefas e<br />

responsabilidades <strong>para</strong> todos: <strong>para</strong> o Estado, o setor privado e a sociedade.<br />

E que sem esse esforço coletivo dificilmente se chegará a parte alguma,<br />

por maiores e mais bem intencionados que sejam os esforços e a disposição<br />

de acertar.<br />

Afinal, ao lado dessa quase uma centena de milhões de leitores auto-<br />

-declarados, há uma massa humana numericamente assustadora e maior<br />

do que a maior parte dos países do mundo, constituída por nada menos<br />

do que 77 milhões de não-leitores, que são pessoas que não leram um<br />

* Escritor e jornalista. Coordenador do primeiro Plano Nacional do Livro e da <strong>Leitura</strong>, Brasil.


170<br />

único livro nos meses anteriores. Esse outro exército é formado por boa<br />

parte da população pobre, analfabetos absolutos e analfabetos<br />

funcionais, mas também por pessoas da classe média e por uma fatia dos<br />

mais ricos, gente aparentemente sem dificuldades <strong>para</strong> ter acesso a bens<br />

culturais como o teatro, o cinema e os livros. Chama a atenção nesse<br />

grupo o fato de que 1.3 milhões desses não-leitores ostentarem um<br />

diploma universitário.<br />

Uns e outros convivem, às vezes, muito próximos. Estão nas mesmas<br />

regiões, vivem nas cidades e, por vezes, também pertencem aos mesmos<br />

grupos sociais. Não raro, não-leitores dividem as mesmas casas,<br />

dormitórios e locais de trabalho com os chamados leitores ativos, aquele<br />

um grupo que, dependendo do recorte social que se faça, chega a ler algo<br />

como 8 livros por ano. O que explica isso?<br />

Este último número é quase o dobro da média nacional de leitura (4,7<br />

livros por habitante/ano, segundo apurou a pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no<br />

Brasil, do Instituto Pró-Livro, coordenado pelo Observatório do Livro e da<br />

<strong>Leitura</strong>). É, evidentemente, muito superior às estatísticas produzidas nas<br />

regiões e populações mais pobres ou com menor escolaridade ou com<br />

menos acesso à cultura e à educação e entre a população mais velha,<br />

agrupamentos onde os índices são incrivelmente baixos.<br />

Mas, apesar da pressão cada vez maior da sociedade, e das justas<br />

cobranças por políticas públicas cada vez mais abrangentes e profundas<br />

– até como forma de assegurar uma boa educação e o acesso a bibliotecas<br />

públicas de qualidade –, não se pode deixar de reconhecer que tem<br />

havido avanços importantes nesta década. E que, na média, os brasileiros<br />

estão, de fato, lendo mais. Ou um pouco mais, pelo menos.<br />

Há, pontualmente, outras notícias auspiciosas. Uma delas, por exemplo,<br />

é que as pessoas no Brasil voltaram a ler poesia, que já aparece nas<br />

estatísticas de leitura como um dos cinco gêneros da literatura mais lidos<br />

e apreciados pelos leitores locais, especialmente os mais jovens, o que é<br />

bom. Todos receberam bem o fato de Monteiro Lobato (que inaugurou, na<br />

primeira metade do século XX, a moderna literatura infanto-juvenil<br />

brasileira e, de certa forma, como editor, inventou o atual mercado<br />

editorial do País, o oitavo maior do planeta) aparecer como o escritor<br />

brasileiro mais admirado de todos os tempos. O júbilo faz todo sentido: o<br />

escritor, morto em meados do século passado, permaneceu duas décadas<br />

sem que seus livros fossem reeditados.<br />

A mesma pesquisa acabaria por imprimir um caráter científico à<br />

percepção generalizada sobre o papel da escola enquanto espaço<br />

privilegiado <strong>para</strong> a formação de leitores. Entre os 60 milhões de<br />

brasileiros matriculados em qualquer um dos níveis de ensino, da<br />

Educação Infantil à Pós Graduação, a leitura chega a ser duas vezes maior<br />

do que entre os leitores que já deixaram o ensino regular. As pistas<br />

171<br />

encontradas sugerem que talvez o Brasil tenha finalmente encontrado o<br />

rumo certo <strong>para</strong> enfrentar seus problemas com a não-leitura.<br />

Mas o estudo não traçou, seguramente, um cenário cor-de-rosa <strong>para</strong> esta<br />

questão. Trouxe também notícias que não são tão boas assim e, ao mesmo<br />

tempo, faz uma advertência bastante séria: o ritmo e a velocidade das<br />

ações, sobretudo as governamentais, <strong>para</strong> ampliar o acesso aos livros,<br />

aumentar o número de leitores e fortalecer a prática social da leitura<br />

ainda estão deixando a desejar. São, por ora, insuficientes. E, provavelmente,<br />

muitos daqueles que possuem algum tipo de responsabilidade nesse tema<br />

provavelmente não estão conseguindo fazer direito sua lição de casa e<br />

tudo aquilo que se esperava deles.<br />

Das milhares de informações e gráficos resultantes dos cruzamentos dos<br />

dados colhidos em fins de 2007 junto a 5 mil pessoas a partir de 5 anos<br />

de idade, que deu uma amostra representativa de 172 milhões de<br />

habitantes, incluindo analfabetos e não-leitores em geral, é possível<br />

extrair duas grandes notícias no campo institucional. A notícia boa é que<br />

a pesquisa pôde escancarar, aos olhos de todos, não deixando qualquer<br />

dúvida quanto a isso, que quando o Estado investe seriamente em<br />

políticas públicas – o que, afinal, é seu dever – os resultados não tardam<br />

a aparecer. Para tanto, bastar espiar os índices de leitura produzidos pelas<br />

crianças e jovens que frequentam as escolas: são quatro ou cinco vezes<br />

maiores do que em outros segmentos da população.<br />

Antes que gestores e educadores saíssem <strong>para</strong> comemorar, com toda<br />

razão, essa constatação, o estudo tratou também de trazer à luz outra<br />

questão, esta sim preocupante: a escola está falhando em sua missão de<br />

formar leitores que gostem de ler e continuem a fazer isto mesmo depois<br />

que estiverem longe dela. Ou seja, que além de dominar as habilidades<br />

técnicas da leitura (quando esse aprendizado realmente acontece, pois<br />

medições internacionais indicam que é ruim o desempenho dos alunos<br />

brasileiros em compreensão leitora, quando com<strong>para</strong>dos com colegas de<br />

outros países), façam isso com prazer.<br />

Outra notícia não muito boa é que, apesar dos avanços recentes, a<br />

sociedade brasileira, embora associe a questão da leitura ao<br />

conhecimento e de forma altamente positiva, ainda não consegue<br />

reconhecer a questão do livro e da leitura como um valor social e<br />

estratégico <strong>para</strong> seu futuro. Talvez por isso os governos hesitem tanto em<br />

conferir a ela a dimensão de política de Estado, o que significa<br />

orçamentos públicos dignos, estrutura mínima <strong>para</strong> aplicá-los e,<br />

principalmente, uma clara definição dos papéis a serem exercidos pelos<br />

vários entes do sistema político-administrativo do país, representado pela<br />

administração federal, pelos governos dos estados e pelos municípios.<br />

Um exemplo disso é a percepção e o uso que a população brasileira faz, e<br />

também foi medido pela pesquisa, de suas bibliotecas, um serviço


172<br />

público essencial, mas que continua a receber do Estado um tratamento<br />

típico de questão secundária. Somente um em cada dez brasileiros<br />

frequenta com assiduidade esse equipamento que, <strong>para</strong>doxalmente, é o<br />

espaço cultural mais presente na vida das 5.560 cidades do país,<br />

conforme apurou outro estudo recente, do Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatísticas (IBGE), o órgão oficial de pesquisas do governo<br />

brasileiro. As bibliotecas vivem às mínguas e em situação precária e, não<br />

raro, são publicadas notícias nos jornais dando conta do fechamento de<br />

algumas delas.<br />

A pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil criou quatro indicadores principais,<br />

que serão investigados a cada três anos <strong>para</strong> constituir uma série<br />

histórica. Eles mostram, em linhas gerais, o seguinte:<br />

❖ Existem 95 milhões de leitores em todo o país;<br />

❖ Os não-leitores somam 77 milhões de pessoas;<br />

❖ Há 36 milhões de consumidores de livros, que compram, em média, 5<br />

exemplares por ano. Considerando toda a população, o índice de livros<br />

adquiridos é baixo: só 1,2 livros por ano;<br />

❖ O índice nacional de leitura é de 4,7 livros lidos por habitante /ano.<br />

Quando com<strong>para</strong>do ao único índice anterior disponível (1,8 livro por<br />

habitante/ano, de 2000), logo se conclui que a leitura aumentou. Mas não<br />

se pode com<strong>para</strong>r as duas pesquisas, já que a metodologia de medição<br />

mudou: agora, por exemplo, são investigados todos os moradores acima<br />

de 5 anos, sejam alfabetizados ou não. No mesmo grupo estudado<br />

anteriormente (pessoas acima de 15 anos, com pelo menos três anos de<br />

escolaridade e que haviam lido pelo menos um livro nos três meses<br />

anteriores), o número dobrou de 1,8 <strong>para</strong> 3,6 livros per capita.<br />

Vale notar que entre 2000 e 2006 o Brasil ganhou um contingente de 5<br />

milhões de indivíduos com formação universitária, o que elevou o total<br />

de habitantes com esse grau de instrução <strong>para</strong> 15 milhões. No mesmo<br />

período, agregou outros 12 milhões de jovens com instrução média<br />

concluída. Ao mesmo tempo, outros 6 milhões estavam frequentando, em<br />

2006, algum curso de alfabetização de jovens e adultos. Como<br />

escolaridade e renda estão intimamente ligados ao gosto pela leitura e<br />

sua prática habitual, talvez isso ajude a explicar esse incremento, e justo<br />

em um momento em que a economia nacional se consolidou e milhões<br />

de brasileiros ascenderam à condição de classe média.<br />

Além disso, nesta década, os programas sociais do livro (que fazem do<br />

governo brasileiro um dos maiores compradores do mundo, com 150<br />

milhões de livros distribuídos gratuitamente todos os anos) incluíram em<br />

sua lista de beneficiados mais 9 milhões de jovens do Ensino Médio e os<br />

adultos que voltaram ou entraram tardiamente na escola.<br />

Mais do que o diagnóstico, importante por si só, Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil<br />

tem procurado estimular o aprofundamento das investigações sobre<br />

173<br />

outros aspectos em torno da leitura no País – mais do ponto de vista<br />

qualitativo do que o levantamento quantitativo inicial, típico das<br />

pesquisas de opinião. Um de seus méritos tem sido, justamente, gerar<br />

debates e novas linhas de pesquisa. Desde sua publicação, em 2008, na<br />

forma de livro do mesmo nome (com os dados da pesquisa acrescidos de<br />

reflexões feitas por dez importantes especialistas no tema), essas<br />

pesquisas de uma hora <strong>para</strong> outra avançaram surpreendentemente nas<br />

universidades e nos centros de pesquisa.<br />

Ao mesmo tempo, autoridades do governo e gestores de políticas públicas<br />

e privadas passaram a incluir em seus discursos, avaliações, planejamentos<br />

e decisões de novos investimentos aos dados da pesquisa. O mesmo têm<br />

feito dirigentes da cadeia produtiva do livro e novos empresários que<br />

continuam a desembarcar no Brasil <strong>para</strong> investir no negócio do livro.<br />

Em um país que carece, cronicamente, de boas estatísticas e diagnósticos<br />

precisos nessa área, a pesquisa atende, de certa forma, tanto às demandas<br />

do governo e da iniciativa privada como aos reclamos dos meios de comunicação<br />

e da própria sociedade, sempre às voltas com as dificuldades <strong>para</strong><br />

tatear nesse pantanoso terreno do desconhecido.<br />

Afinal, cada vez mais dirigentes e formadores de opinião se parecem<br />

convencidos de que não se chegará a lugar algum sem uma compreensão<br />

mais clara do momento atual. E, principalmente, se, a partir dessas novas<br />

constatações, revelações e, principalmente, das inquietações que esse tipo<br />

de estudo costuma, em geral, suscitar, não se <strong>para</strong>r <strong>para</strong> refletir,<br />

reconhecer as deficiências, apontar caminhos e, por fim, estabelecer um<br />

grande pacto nacional em favor da leitura, com responsabilidades <strong>para</strong><br />

cada uma das partes: Estado (em âmbito nacional, estadual e municipal),<br />

setor privado e sociedade.<br />

Tem sido essa, sem dúvida, a principal contribuição de Retratos da <strong>Leitura</strong><br />

no Brasil, que o Instituto Pró-Livro – entidade mantida pelas principais<br />

entidades do livro no país, que coeditou a obra, em parceria com a<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – acabou por fazer chegar às<br />

mãos das autoridades do governo, secretários de Educação e Cultura dos<br />

Estados e prefeitos. E também aos atores sociais e militantes que formam<br />

o chamado Povo do Livro, como é conhecida a legião de editores, livreiros,<br />

escritores, trabalhadores do setor, professores, bibliotecários, pesquisadores,<br />

ONGs e interessados em geral no tema.<br />

Poucas semanas após a divulgação dos primeiros dados, outros pesquisadores<br />

independentes, universidades, centros de estudos e pesquisas e<br />

promotores de feiras de livros e festivais de literatura no País já estavam no<br />

campo <strong>para</strong> se debruçarem sobre as informações e repensarem suas próprias<br />

práticas atuais. Também um grande número de seminários, debates,<br />

conferências e teses acadêmicas têm acontecido desde então e espera-se que<br />

assim continue até 2011, quando, então, serão traçados os novos retratos


174<br />

da leitura no Brasil. Espera-se, até lá, que os dados sejam melhores do que<br />

os atuais, dando ensejo a um novo ciclo de refletir, planejar, fazer,<br />

monitorar e avaliar.<br />

<strong>Ler</strong> <strong>para</strong> o outro é um ato de amor. Já ler <strong>para</strong> si próprio é, mais do que<br />

uma ação intuitiva que busca prazer, conhecimento e o desenvolvimento<br />

da própria inteligência, uma atitude de cidadania. Mesmo porque um<br />

livro, mais do que qualquer outro objeto que se conhece, vai muito além<br />

do seu significado primeiro, na medida em que contém muito mais do<br />

que meras folhas de papel coladas ou costuradas e sinais gráficos<br />

estampados. É justamente além do limite dessa simplória definição que<br />

se dá seu significado pleno e tem início a produção do valor simbólico e<br />

social da leitura.<br />

Mas, <strong>para</strong> isso, há muito a ser feito até que o Brasil venha a tornar-se, de<br />

fato, no futuro, um país de cidadãos leitores. Espera-se que disso saia algo<br />

capaz de gerar novas ações e diretrizes <strong>para</strong> aprimorar o que tem sido<br />

feito na área do livro e da leitura no Brasil.<br />

Pode parecer pouco, mas não é!<br />

A evolução que se deu na atual década – e isto pode ser confirmado pelo<br />

exame dos próprios indicadores de Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil, o mais<br />

abrangente estudo já realizado no País – se sustenta, em parte, em pelo<br />

menos dois grandes pilares. O primeiro deles reside no fato de que, no<br />

último século, do pioneiro Monteiro Lobato até aos dias atuais, uma legião<br />

de brasileiros anônimos e outros nem tanto arregaçou as mangas e se<br />

engajou como militante da causa da leitura. A segunda é que, em<br />

consequência da ampla mobilização nacional ocorrida em 2005, no Ano<br />

Ibero-americano da <strong>Leitura</strong>, que ficou conhecido como Vivaleitura, foi<br />

amplamente debatida e construída uma agenda de políticas públicas que,<br />

de certo modo, parece já estar surtindo algum efeito.<br />

O ponto de partida foi a Lei do Livro, de 2003. Em seguida, houve a<br />

desoneração fiscal do livro (o Brasil é um dos poucos países do mundo onde<br />

não é cobrado nenhum tipo de taxa sobre esse produto). Depois, programas<br />

governamentais <strong>para</strong> financiar a produção de livros e a criação de espaços<br />

institucionais de debate e concertação política, que é a Câmara Setorial do<br />

Livro. Ao mesmo tempo, teve início um programa <strong>para</strong> zerar o número de<br />

municípios sem biblioteca (eram 1.300 no início da década), que deve ser<br />

concluído em 2010. Também surgiu, em 2006, o primeiro Plano Nacional<br />

do Livro e <strong>Leitura</strong> da história, a cargo dos ministérios da Cultura e da<br />

Educação.<br />

É verdade que, no século passado, algumas medidas importantes haviam<br />

sido tomadas, como a criação do Instituto Nacional do Livro e da<br />

Secretaria Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong>. Porém, mais tarde ambos foram<br />

desativados. Já a criação dos programas sociais do livro e, na seqüência,<br />

do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, acabaria por<br />

175<br />

consagrar a conversão dessas ações em política de Estado, acima de<br />

governos e questões menores, e isso tem contribuído verdadeiramente<br />

<strong>para</strong> impulsionar a questão da leitura no País.<br />

Agora, entretanto, é preciso ir além e dar um novo salto. O primeiro passo<br />

deve ser a consolidação e o enraizamento dessas novas políticas públicas<br />

do livro e leitura nos estados e cidades, que devem passar a ter seus<br />

próprios planos estaduais e municipais do livro e leitura já a partir de<br />

2009. Isso deve representar um extraordinário avanço institucional.<br />

Outra tarefa importante se refere à criação de instrumentos de Estado<br />

capazes de financiar, gerir e articular essas políticas – que também<br />

devem passar a ser monitoradas, observadas e avaliadas de forma<br />

permanente.<br />

Como se esperava, portanto, o estudo passou a oferecer a munição<br />

necessária senão <strong>para</strong> compreender por inteiro o comportamento leitor<br />

da população brasileira, pelo menos <strong>para</strong> produzir inquietações novas. E<br />

talvez até jogar alguma luz nova sobre esforços que vêm sendo feitos até<br />

aqui por governos, empresas e sociedade.<br />

Uma coisa é certa: há muito ainda o que se fazer! E há lugar <strong>para</strong> mais<br />

gente nessa viagem. Que, diga-se de passagem, é uma adorável viagem...<br />

Tarefa <strong>para</strong> todos<br />

Já existe uma convicção formada entre os atores sociais que atuam na<br />

questão do livro e da leitura no Brasil que, <strong>para</strong> se chegar a uma situação<br />

minimamente razoável nesta área, não dá mais <strong>para</strong> esperar, candidamente,<br />

que algum ente – o Estado ou seja lá quem for – resolva de forma cabal<br />

todos os problemas existentes. Não, não será por aí – e todos estão, mais<br />

do que nunca, convencidos disso.<br />

Universidades, empresas da cadeia produtiva do livro, organizações<br />

não-governamentais e o próprio governo estão convencidos, no fundo, de que<br />

<strong>para</strong> se construir um país mais leitor, e de cidadãos leitores, o desafio<br />

maior, a partir de agora, é estabelecer, com clareza, as tarefas de cada<br />

uma das partes. Não só do Estado, que tem, evidentemente, grandes<br />

responsabilidades nessa história, mas também da iniciativa privada e da<br />

sociedade de forma geral.<br />

Não por outra razão tanto ações de abrangência nacional, ou quase<br />

nacional, como, em especial, aquelas em nível local estão se multiplicando<br />

por toda parte. No nível institucional, por exemplo, há inúmeros<br />

programas e projetos que são desenvolvidos por outros órgãos<br />

governamentais que não os ministérios da Educação e da Cultura, que são<br />

os responsáveis diretos pelas políticas públicas do livro e da leitura.<br />

O grande passo nesse sentido foi a mobilização extraordinária ocorrida<br />

em 2005 <strong>para</strong> celebrar o Ano Ibero-americano da <strong>Leitura</strong>, o Vivaleitura,<br />

quando foram registrados 100 mil ações, projetos ou programas em todo


176<br />

território nacional. Liderados pelo governo federal – o próprio presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva lançou o programa – e com forte presença de<br />

organismos internacionais como a UNESCO e a Organização dos Estados<br />

Ibero-americanos, a iniciativa foi o pontapé inicial que daria origem,<br />

mais tarde, à criação do próprio Plano Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong>.<br />

Uma das 800 ações que compõem o Plano é, por exemplo, o próprio<br />

Prêmio Vivaleitura, que desde 2006 já identificou e catalogou 10 mil<br />

ações e projetos pelo país afora. São iniciativas de escolas, bibliotecas,<br />

organizações não-governamentais, prefeituras e grupos de voluntários<br />

que, muitas vezes sem qualquer recurso ou apoio público, estão fazendo<br />

com que os livros cheguem às mãos dos leitores, aonde eles estiverem. E,<br />

principalmente, cuidam <strong>para</strong> fazer com que eles leiam esses livros.<br />

Essas ações podem ir de desde um modesto barco-biblioteca na região<br />

amazônica, na cidade turística de Florianópolis ou nas comunidades<br />

caiçaras no litoral brasileiro até uma borracharia onde, além de prestar<br />

serviços aos donos de automóveis, ônibus e caminhões, o dono do<br />

pequeno negócio também aproveita <strong>para</strong> oferecer livros <strong>para</strong> serem lidos<br />

enquanto os clientes aguardam pelo conserto dos pneus danificados ou<br />

mesmo <strong>para</strong> os moradores da vizinhança.<br />

Entre as iniciativas que se espalham pelo Brasil, e são dezenas de<br />

milhares delas, algumas chamam muito a atenção. Tanto pela obstinação<br />

de seus empreendedores, mas, sobretudo, por criatividade e inventividade.<br />

Elas estão localizadas tanto nas pequenas cidades do interior do Brasil<br />

como nas grandes capitais, como é o caso do Rio de Janeiro, onde, por<br />

exemplo, um pedreiro que se alfabetizou já adulto resolveu compartilhar<br />

com vizinhos e desconhecidos tudo o que aprendeu e cresceu na vida<br />

graças aos livros.<br />

Ou, ainda, o caso de um pequeno comerciante de carnes de Brasília que<br />

transformou seu açougue também em um local onde fornece,<br />

gratuitamente, bens culturais como shows de artistas populares e<br />

escritores e livros. Esse mesmo comerciante instalou estantes com 500<br />

livros nas dezenas de <strong>para</strong>das de ônibus da capital do Brasil e lá, sem que<br />

haja um único funcionário <strong>para</strong> atender, cada leitor pega o livro que<br />

quiser <strong>para</strong> ler e levar <strong>para</strong> casa. Devolve em qualquer lugar da cidade, e,<br />

como não há ninguém <strong>para</strong> controlar, só se quiser fazê-lo. Mesmo assim,<br />

os índices de devolução de livros nesses locais chegam a ser superiores ao<br />

da maioria das bibliotecas públicas.<br />

Exemplos de como pequenos grupos organizados ou mesmo pessoas que<br />

fazem isso individualmente, de forma voluntária, estão ajudando a<br />

mudar a questão da leitura no Brasil se espalham cada vez mais e podem<br />

ser vistos nos mais diferentes lugares. Só muito recentemente grandes<br />

empresas privadas, bancos e órgãos do governo central e nos estados<br />

passaram a desenvolver uma política de editais, que de alguns anos <strong>para</strong><br />

177<br />

cá passaram a distribuir pequenos recursos como forma de valorizar e<br />

mesmo apoiar essas ações. Mas eles já aconteciam, antes, de alguma<br />

forma. Na década atual, ganharam visibilidade, se fortaleceram e<br />

estimularam outras pessoas a fazerem o mesmo. Isso tem sido, de certa<br />

forma, contagiante.<br />

Foi o caso, por exemplo, de um pescador do Rio São Francisco, um rio que<br />

atravessa as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil e é o mais importante do<br />

país depois do Rio Amazonas. Ele montou um clube de leitura que<br />

funciona nas manhãs de domingo em uma feira livre nas ruas da<br />

pequena cidade do interior de Minas Gerais, um dos estados mais<br />

populosos do país. Empresta livros gratuitamente, atrai leitores que<br />

andavam distantes dos livros e virou a grande atração do local.<br />

Outro projeto bastante interessante, vencedor de prêmios nacionais, é<br />

Jegue-Livro, que também virou sensação no interior do Maranhão, na<br />

região Nordeste, a menos desenvolvida do Brasil e onde os índices de<br />

leitura são os mais baixos. Esse animal, muito parecido com o burro, tem<br />

grande valor social e econômico nas cidades mais pobres e afetadas pela<br />

miséria e pela seca em alguns lugares do país. Os donos desses animais<br />

foram convencidos a emprestá-los duas vezes por mês e as escolas de<br />

pequenos vilarejos (que não têm bibliotecas, livrarias ou quiosques de<br />

jornais e revistas) colocam os livros dentro de uma cesta que é espalhada<br />

em locais estratégicos desses povoados. Com ajuda dos alunos, fazem,<br />

assim, e com toda essa simplicidade, com que os livros cheguem às mãos<br />

dos moradores, que, em geral, não têm acesso a esses e a nenhum outro<br />

bem cultural.<br />

O projeto, também conhecido como Biblio-Jegue, tem ajudado a<br />

prefeitura local a combater a evasão escolar, as taxas de repetência e<br />

mesmo o desempenho dos estudantes nas competições nacionais de<br />

rendimento escolar.<br />

Nessa mesma linha, projetos de iniciativa popular como a Expedição<br />

Vagalume, formada por um grupo de jovens que percorre comunidades<br />

ribeirinhas na região amazônica, têm produzido modificações<br />

substanciais na qualidade do ensino das escolas públicas dos estados da<br />

região Norte, onde os índices de leitura são os mais baixos do País, e na<br />

própria vida dessas comunidades. Essas ações são apoiadas por empresas<br />

privadas e quase nunca obtém verbas públicas. Só recentemente o<br />

Ministério da Cultura criou, no atual governo, concursos e editais <strong>para</strong><br />

apoiar com algum dinheiro essas iniciativas aparentemente isoladas, mas<br />

que, quando somadas, representam um esforço de alto impacto.<br />

Já no setor privado, marcas conhecidas como a Fiat e a Volkswagen<br />

também passaram a investir, nos últimos anos, em projetos <strong>para</strong> ajudar a<br />

formar agentes de leitura. Em menos de dez anos, cresceu de forma<br />

significativa o número de empresários dispostos a atrelar a imagem de


178<br />

seus empreendimentos à questão do livro e da leitura, encarando isso<br />

uma ação eficaz de responsabilidade social empresarial. Isso vem se<br />

reproduzindo também na forma de patrocínios às feiras de livro e<br />

festivais de leitura que acontecem em todas as regiões do Brasil.<br />

Os exemplos, enfim, estão por toda parte. O próprio governo federal criou<br />

um programa de implantação de pequenas bibliotecas no campo que tem<br />

merecido destaque internacional. Criado em 2003 pelo Ministério do<br />

Desenvolvimento Agrário, órgão responsável pela política de reforma<br />

agrária e agricultura familiar, o Programa Arca das Letras já abriu mais<br />

de 6 mil minibibliotecas no campo. Elas estão em assentamentos rurais,<br />

aldeias indígenas e comunidades de antigos escravos negros, entre outros<br />

locais onde tradicionalmente as pessoas não têm acesso aos livros.<br />

Em poucos anos, 625 mil famílias foram diretamente beneficiadas em<br />

1.700 municípios. Os livros são, em geral, doados por empresas ou por<br />

outras áreas do próprio governo e até as estantes são fabricadas com<br />

todos os cuidados de uma concepção politicamente correta: com<br />

madeiras apreendidas de desmatamentos ilegais e por detentos de<br />

presídios, que, assim, convertem os dias de trabalho em favor da<br />

educação e da cultura em dias de liberdade futura.<br />

Junto com a chegada dessas pequenas bibliotecas rurais, que fazem o<br />

maior sucesso nessas comunidades onde estão presentes, também<br />

chegam os cursos de formação de agentes de leitura. Até agora, nos cinco<br />

primeiros anos do programa, foram formados 12 mil mediadores, que<br />

cuidam dos livros, dão dicas e cooperam <strong>para</strong> que os acervos não fiquem<br />

encostados.<br />

Também é cada vez mais expressivo o número de instituições do terceiro<br />

setor que passaram a se dedicar exclusivamente à questão do livro e da<br />

leitura. Algumas são mantidas pelo próprio mercado do livro, caso da<br />

<strong>Fundação</strong> Nacional do Livro Infantil e Juvenil, mais antiga, ou do recém-<br />

-criado Instituto Pró-Livro.<br />

Em um movimento também recente na história do mercado editorial<br />

nacional, importantes casas editorais passaram, igualmente, a investir na<br />

área. Seja por meio de iniciativas diretas – como o grupo espanhol<br />

Santillana, que criou a <strong>Fundação</strong> Santillana, ou a fábrica de papel<br />

Suzano, que abriu o Instituto Ecofuturo – ou por meio de parceiros, como<br />

faz o Grupo Record, um dos maiores do país, com o Instituto Oldenburg,<br />

que apóia a criação de minibibliotecas em alguns estados.<br />

Há casos exemplares também de pequenas instituições que surgiram<br />

inicialmente sem grandes recursos ou parceiros poderosos, mas que<br />

rapidamente acabaram ocupando papéis importantes na vida nacional<br />

nessa área. Um caso típico é <strong>Fundação</strong> Palavra Mágica, localizada no<br />

município de Ribeirão Preto, 600 mil habitantes, no interior do estado de<br />

São Paulo. É um caso que merece ser estudado: ela mantém uma unidade<br />

179<br />

que se dedica inteiramente ao estudo e à pesquisa sobre temas da área e<br />

uma outra voltada <strong>para</strong> a execução de projetos e programas de fomento<br />

à leitura.<br />

Ela é a principal mantenedora, por exemplo, do Observatório do Livro e<br />

da <strong>Leitura</strong>, um organismo que monitora e avalia a execução de políticas<br />

públicas, mobiliza a sociedade em torno dessa causa e ainda busca<br />

parceiros <strong>para</strong> financiar estudos e pesquisas, como foi o caso da Retratos<br />

da <strong>Leitura</strong> no Brasil. Um dos projetos desse Observatório é uma agência de<br />

notícias – batizada de Brasil Que Lê – que distribui, várias vezes por<br />

semana, informações e textos de opinião <strong>para</strong> 25 mil jornalistas de 3 mil<br />

redações de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e sites da<br />

internet sobre temas da área.<br />

Trata-se de uma estratégia <strong>para</strong> ampliar a presença desse tipo de assunto<br />

na imprensa. Já sua revista eletrônica chega semanalmente a 76 mil<br />

atores sociais interessados nas políticas públicas do livro e leitura.<br />

Um dos projetos da <strong>Fundação</strong> Palavra Mágica na área da leitura é uma<br />

oficina de leitura e escrita que já beneficiou 1.200 jovens. Outro deles<br />

implantou, no último ano, nada menos do que 100 clubes de leitura<br />

somente em Ribeirão Preto. Esses clubes funcionam em locais que podem<br />

ir desde escolas regulares e cursos de alfabetização de adultos até<br />

hospitais, escolas de cegos, instituições sociais ou presídios. A mecânica é<br />

simples: escolhem os livros que querem ler, se reúnem uma vez por mês<br />

<strong>para</strong> comentá-los e a fundação, que consegue os livros com parceiros, faz<br />

com que nos meses seguintes eles possam <strong>para</strong>r nas mãos de outros<br />

leitores.<br />

Em 2009, a <strong>Fundação</strong> Palavra Mágica criou outro programa igualmente<br />

inovador, chamado Você é o Escritor! A instituição distribuiu, gratuitamente,<br />

150 mil exemplares de um mesmo livro na cidade <strong>para</strong> estimular a<br />

população a ler, discutir seus problemas e pensar em soluções <strong>para</strong> o<br />

futuro. O livro infanto-juvenil (O Menino que Sonhava de Olhos Abertos) é um<br />

título como qualquer outro do gênero, mas com uma diferença<br />

substancial: as últimas páginas são reservadas <strong>para</strong> que o próprio leitor<br />

pense e escreva seu próprio final <strong>para</strong> a história. Cada livro lido e que<br />

provoca um final diferente (mostrado, depois, em um programa numa<br />

televisão de boa audiência), vira imediatamente uma nova edição e o<br />

leitor, agora transformado em co-autor, pode visualizar a obra, imprimila<br />

gratuitamente no site do projeto ou adquirir, a preço de custo, de um<br />

dos parceiros do projeto.<br />

É assim, principalmente com criatividade e persistência, que o Brasil<br />

começa a ganhar a guerra contra os seus históricos baixos índices de<br />

leitura. Há um longo caminho a percorrer, sem dúvida. Mas os primeiros<br />

resultados alcançados até aqui já permitem antever que, a continuar com<br />

esse e outros tipos de iniciativa, e convertendo cada vez mais o tema em


180<br />

política de estado, esta missão não será nada impossível. Ainda levará<br />

algum tempo, é certo, e demandará muitos investimentos, sejam eles<br />

financeiros ou físicos, <strong>para</strong> que esse tipo de ação bancada pela sociedade<br />

continue a acontecer, sejam ampliados quando for o caso e tenham a<br />

longevidade que merecem.<br />

Mas os resultados serão, com toda certeza, alvissareiros.<br />

Como talvez dissesse nos dias atuais o poeta Fernando Pessoa, a caravela<br />

já partiu. Pandas de sonhos e de esperanças.<br />

Chegaremos todos a bom porto!<br />

Como foi feita a pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil<br />

Esta foi a segunda vez, em menos de dez anos, que o Brasil efetuou uma<br />

ampla pesquisa <strong>para</strong> medir o comportamento leitor de sua população,<br />

estimada em 190 milhões de habitantes. A nova edição começou a ser<br />

engendrada em 2004, enquanto o governo brasileiro discutia os rumos,<br />

diretrizes e metas <strong>para</strong> uma abrangente política do livro e leitura que<br />

mirasse, no mínimo, <strong>para</strong> os vinte ou trinta anos seguintes.<br />

Diversos atores sociais foram convocados a debater e construir<br />

coletivamente esse caminho. UNESCO, Instituto Brasileiro de Geografia e<br />

Estatísticas e universidades foram instados a, juntamente com os técnicos<br />

e dirigentes do governo, definir as necessidades e o escopo <strong>para</strong> um<br />

diagnóstico mais atual sobre o comportamento leitor da população. A<br />

idéia era incluir indicadores que pudessem, mais tarde, servir de<br />

parâmetro <strong>para</strong> com<strong>para</strong>ções internacionais e locais, contribuindo,<br />

assim, <strong>para</strong> o estabelecimento de objetivos e metas de curto, médio e<br />

longo prazo, até 2022, quando o Brasil completa 200 anos de<br />

independência política.<br />

O Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe<br />

(CERLALC/UNESCO) incluiu o tema na celebração, em 2005, do Ano Ibero-<br />

-americano da <strong>Leitura</strong> e convocou um grupo de especialistas dos países da<br />

região <strong>para</strong> definir uma metodologia capaz de servir de base <strong>para</strong> as<br />

investigações internacionais, levando em conta tanto as novas visões<br />

sobre a questão da leitura no mundo como também as peculiaridades<br />

locais.<br />

O primeiro projeto-piloto foi realizado em fins de 2004 no município de<br />

Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, onde a prefeitura, com diversos<br />

parceiros locais e nacionais, implantara uma boa política de bibliotecas<br />

públicas (80 bibliotecas foram abertas em apenas três anos, além da<br />

adoção de uma inovadora Lei do Livro). Dois anos depois, a nova<br />

metodologia foi outra vez experimentada, desta vez em uma área maior,<br />

o estado do Rio Grande do Sul, no Sul do País. Estavam, assim, criadas as<br />

condições <strong>para</strong> a realização de uma mediação com abrangência nacional,<br />

de acordo com as estratégias do Plano Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong> (PNLL).<br />

181<br />

Seus objetivos eram claros: medir a intensidade, a forma, as motivações e<br />

as condições <strong>para</strong> a prática da leitura no Brasil. E aproveitar <strong>para</strong> gerar<br />

outras informações quantitativas e qualitativas sobre o acesso ao livro e à<br />

leitura, além de intensificar a investigação sobre as bibliotecas públicas e<br />

seu papel na formação de leitores. Ao buscar um padrão internacional<br />

<strong>para</strong> as medições, permitindo com<strong>para</strong>ções entre os países, a idéia<br />

também já era criar as condições necessárias <strong>para</strong> a construção de uma<br />

inédita série histórica, com novas medições em intervalos de três anos.<br />

Uma das principais inovações da nova metodologia, e que se revelou um<br />

grande acerto, foi incluir no universo investigado as crianças e<br />

adolescentes entre cinco e 13 anos, que continuam de fora das pesquisas<br />

em boa parte dos países do mundo. No caso do Brasil, a decisão permitiu<br />

agregar ao estudo nada menos do que 34.7 milhões de brasileiros em<br />

idade escolar, todos, portanto, leitores em potencial.<br />

Também passou a fazer parte da amostra – atacando, assim, outra lacuna<br />

existente em praticamente todos os estudos feitos pelo mundo afora – a<br />

população com menos de três anos de escolaridade. São 51.5 milhões de<br />

pessoas (dos quais 20 milhões com menos de 14 anos) nessa condição.<br />

Também estão aí os analfabetos, que reforçam o time de 77 milhões de<br />

brasileiros não-leitores.<br />

No caso brasileiro, o universo investigado aumentou de 86 milhões em<br />

2000 (o que correspondia a 49% da população) <strong>para</strong>, seis anos mais tarde,<br />

172.7 milhões (ou 92% da população, em 2006). O substancial aumento,<br />

quase dobrando a amostra em um período em que o crescimento<br />

vegetativo da população foi de 10.2%, implicou, evidentemente, drásticas<br />

alterações nas amostras da população segundo escolaridade, idade,<br />

gênero, religião, regiões geográficas etc.<br />

Outra inovação significativa foi a ampliação do número de cidades<br />

investigadas. Se em 2000 haviam sido realizadas 5.200 entrevistas em 44<br />

municípios de 19 das 27 unidades da Federação, desta vez os<br />

pesquisadores foram a 311 cidades de todos os estados brasileiros mais o<br />

Distrito Federal. Assim, todas as capitais e regiões metropolitanas foram<br />

pesquisadas e o número de pequenas cidades visitadas foi sete vezes<br />

maior do que em 2000, o que permitiu captar melhor a diversidade da<br />

geografia nacional.<br />

O território nacional foi coberto com a aplicação de 5.012 questionários,<br />

com duração média de 60 minutos, feita nos próprios domicílios. A<br />

margem de erro foi de 1.4% e o intervalo de confiança de 95% (ou seja, se<br />

a mesma pesquisa for realizada 100 vezes, em 95 delas os resultados serão<br />

semelhantes). Foi feita uma pesquisa quantitativa de opinião a partir do<br />

sorteio de amostras idênticas à população, levando em conta gênero,<br />

idade, grau de instrução, ramo de atividade, atividade profissional, renda<br />

e número de moradores nas casas.


182<br />

Embora o objetivo central fosse diagnosticar e medir o comportamento<br />

leitor principalmente em relação aos livros, também foram analisados<br />

outros suportes como jornais, revistas, histórias em quadrinhos, livros<br />

digitais, áudio-livro e Braille. Buscou-se, assim, conhecer o perfil de<br />

leitores e dos não-leitores de livros, suas preferências, opiniões, hábitos e<br />

práticas do cotidiano. Também quis saber sobre quem são os principais<br />

influenciadores, as barreiras contra a leitura e como anda a percepção<br />

sobre leitura no imaginário da sociedade.<br />

Foram considerados leitores aqueles que, no momento da entrevista,<br />

declararam ter lido pelo menos um livro nos três meses anteriores. E não-<br />

-leitores os que disseram não ter lido nenhum livro nesse período, ainda<br />

que tenham feito isso em outros ou mesmo folheado ou lido<br />

ocasionalmente livros ou outro suporte de leitura. A pesquisa não fez<br />

nenhuma avaliação sobre qualidade da leitura ou sobre os níveis de<br />

compreensão dos textos lidos. Como qualquer pesquisa de opinião,<br />

baseou-se somente nas declarações dos entrevistados, em resposta às<br />

questões que foram formuladas pelos pesquisadores.<br />

183


184<br />

185<br />

PAINEL 4<br />

A leitura em<br />

debate


186<br />

Abertura<br />

ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA*<br />

187<br />

Felicito, antes de mais, a <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> por mais este investimento<br />

na leitura, numa leitura competente. O prazer da leitura é também<br />

uma ferramenta fundamental <strong>para</strong> interpretar o mundo. Felicito o projecto<br />

Casa da <strong>Leitura</strong> que o Serviço de Educação e Bolsas está a espalhar<br />

mundo fora. Felicito também a <strong>Fundação</strong> pela realização deste congresso<br />

e agradeço a oportunidade <strong>para</strong> partilhar esta leitura, <strong>para</strong> o privilégio de<br />

ouvir três «homens de palavra», como diria o saudoso Ruy Belo, que<br />

muito aprecio.<br />

Quando João Paulo Cotrim e Manuel Carmelo Rosa me convidaram <strong>para</strong><br />

este congresso veio-me à memória um pequeno livro de Roland Barthes,<br />

O Prazer do Texto, prefaciado por Eduardo Prado Coelho, poucos dias<br />

depois da Revolução do 25 de Abril, uma revolução também, convém<br />

dizê-lo, da palavra. Nesse livro, Barthes distinguiu o «texto de prazer:<br />

aquele que contenta, enche, dá euforia, aquele que vem da cultura, não<br />

rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura»; do texto<br />

de fruição: «aquele, que coloca em situação de perda, aquele que desconforta<br />

(talvez até chegar a um certo aborrecimento), que faz vacilar as<br />

bases históricas, culturais, psicológicas, as bases do leitor, a consistência<br />

dos seus gostos, dos seus valores e das suas recordações, aquele que faz<br />

entrar em crise a sua relação com a linguagem». Prazer e fruição cruzam-<br />

-se, alternam, na vida de cada um de nós, são parte da mesma aventura<br />

que nos faz ganhar mundo. Barthes deixa nesse livro uma curiosa proposta:<br />

a criação da «sociedade dos amigos do texto». Os seus membros não<br />

teriam nada em comum, pois não existe forçosamente acordo sobre os<br />

textos do prazer, a não ser os seus inimigos, os maçadores de todas as<br />

espécies… E <strong>para</strong> não ser maçador, passo à apresentação dos ilustres membros<br />

deste painel. Estou entre dois filósofos e um engenheiro, três homens<br />

de palavra.<br />

Começo por Fernando Savater, a quem dou as boas-vindas. Nasceu em San<br />

Sebastian, é conhecido de todos. Licenciado em Filosofia pela Universidade<br />

Complutense de Madrid, foi catedrático de Ética durante doze anos na<br />

Universidade do País Basco e, a seguir, exerceu durante quinze anos<br />

como catedrático de Filosofia da Complutense de Madrid. Escreveu<br />

muitos livros – meia centena –, colabora na imprensa, co-dirige uma<br />

revista importante em Espanha, Claves de Razón Práctica, e tem muitos<br />

dos seus livros de ensaio e ficção traduzidos em Portugal. Considera-se<br />

* Jornalista, director da SIC Notícias.


188<br />

um opositor de todos os nacionalismos, defende a vantagem de os superar<br />

em benefício de um ideal de humanidade universal. Reivindicou o<br />

prazer como alternativa emancipadora frente a uma modernidade asfixiada<br />

pela razão. Veremos o que é que isso poderá querer dizer na sua<br />

intervenção…<br />

Eduardo Marçal Grilo não necessita de apresentações, está em casa. Ainda<br />

assim, refiro que é doutorado em engenharia mecânica pelo Instituto<br />

Superior Técnico, foi consultor do Banco Mundial na área da educação,<br />

presidente do Conselho Nacional de Educação e ministro da Educação<br />

entre 1995-1999. É administrador da <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>. Teve um<br />

papel muito importante no Programa das Bibliotecas Escolares, no apoio<br />

às bibliotecas, nos incentivos à leitura e à formação de responsáveis por<br />

bibliotecas. Relevo também <strong>para</strong> o seu empenho nos prémios de literatura<br />

com que a <strong>Fundação</strong> estimula a escrita. Sempre um estímulo à procura<br />

de mais livros, de mais leitura.<br />

José Barata-Moura, reitor da Universidade de Lisboa entre 1998 e 2006,<br />

professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa<br />

desde 1986, professor catedrático de filosofia e presidente do conselho<br />

directivo da Faculdade de Letras em 1981-1982, foi também político, deputado<br />

no Parlamento Europeu, tem inúmeras obras publicadas,<br />

nomeadamente, sobre filosofia, de Kant a Aristóteles, Platão, Marx. É<br />

também conhecido – essa foi a primeira marca que recebi dele – por aquilo<br />

que fez em relação às palavras dedicadas às crianças, seja na música,<br />

seja também na literatura infantil. Basta recordar O Coelho Barafunda e<br />

Capitão Tão Balão.<br />

JOSÉ BARATA-MOURA*<br />

189<br />

Nesta mesa e neste congresso, está em debate a leitura, mas será que é<br />

preciso debater a leitura? Há uns que dirão que não, o que é preciso é que<br />

as pessoas sejam instruídas, <strong>para</strong> depois serem capazes de folhear os jornais.<br />

Outros, mais activistas, vão dizer que não é preciso debater a leitura,<br />

o que é preciso é promovê-la e incentivá-la de uma forma bastante<br />

activista e pragmática. Quanto a esta pergunta gostaria de colocar um<br />

ponto e que é este: não apenas debater a leitura, mas debater também os<br />

conteúdos que são lidos. Por conseguinte, se calhar, esta pergunta é também<br />

mais complexa. Debater a leitura, debater os conteúdos e, provavelmente,<br />

descobrir que os próprios textos que são lidos representam, eles<br />

mesmos, o resultado dum debate. Um debate com o mundo, um debate<br />

com os outros, um debate de cada um com os seus mundos.<br />

A segunda questão. Nas nossas sociedades escolarizadas é pacífico o<br />

entendimento de que há que pre<strong>para</strong>r as novas gerações <strong>para</strong> a vida.<br />

Também não gosto nada da expressão de que a educação é pre<strong>para</strong>ção<br />

<strong>para</strong> a vida, como se a vida fosse uma coisa que viesse depois do processo<br />

educativo. Portanto, talvez, sugerir que, em vez de agarrarmos o<br />

problema por «pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> a leitura», eventualmente, poderia ser<br />

interessante reflectirmos sobre «educar com a leitura», isto é, qual o<br />

papel, o lugar e a dinâmica que pode ser desencadeada e tratada à volta<br />

dessa leitura.<br />

Uma terceira questão: parece haver consenso em torno de que a leitura<br />

serve <strong>para</strong> ler o mundo. Mas aqui talvez nós pudéssemos levantar uma<br />

tripla interrogação. A leitura serve <strong>para</strong> ler o mundo, mas então a ficção<br />

faz parte do mundo? É evidente que faz parte do mundo. Há leitura sem<br />

interpretação? Porque, se calhar não chega só o saber ler, mas é preciso<br />

cuidar também do sentido e é isso que tecnicamente pode vir através de<br />

vários procedimentos hermenêutico-interpretativos. E uma terceira<br />

sub-questão bastante incómoda <strong>para</strong> certas orelhas mais sensíveis às<br />

sonoridades estridentes. E ler basta? É evidente que, se calhar, não basta<br />

ler e, se calhar, não basta interpretar. Talvez seja preciso reunir isso num<br />

projecto prático de viver em que a transformação está presente.<br />

Uma quarta pergunta. A leitura é uma das nossas funções vitais que imediatamente<br />

aparenta desdobrar-se num tabuleiro teorético, de teoria, e<br />

uma pergunta poderia ser: mas fica a leitura enclausurada nos domínios<br />

da teoria?<br />

Porque pode obrigar-se a ler, pode ler-se por obrigação mas, se calhar, a<br />

grande batalha da leitura são o estímulo e a descoberta do gosto da<br />

*Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.


190<br />

fruição. Todo o problema da leitura, que obviamente tem dimensões que<br />

são de natureza cognitiva, teorética, hermenêutica, interpretativa e com<br />

ideias e pensamentos, possui uma dimensão fundamental <strong>para</strong> todo o<br />

problema da leitura e da sua promoção, que é a questão do gosto pela<br />

fruição. E isso, no meu ponto de vista, também se educa, isto é, contrariamente<br />

ao que muita gente imagina, os sentidos também se educam.<br />

Finalmente, haveria uma quinta questão, de alguma maneira englobante,<br />

da qual eu não vou falar, aquilo a que costumo chamar a dinâmica prática<br />

da cultura e, porventura, a conveniência de encararmos uma constelação<br />

que envolva ler, compreender e transformar. Isto tem por trás uma<br />

concepção da cultura como alargamento da nossa experiência e do nosso<br />

campo de diálogo com os outros e os monumentos da cultura, as obras da<br />

cultura, os produtos da cultura. E isto no termo de um diálogo de apropriação,<br />

de descoberta, de interrogação que esse é o trabalho da leitura,<br />

em que a cultura nos ajuda a ler o mundo, mas a cultura é também um<br />

enriquecimento <strong>para</strong> a nossa plataforma de intervenção do mundo.<br />

Portanto, ficam as perguntas e creio que ficam melhor servidos. Muito<br />

obrigado.<br />

Falou aqui um pouco na leitura enclausurada na própria leitura. De<br />

algum modo também numa certa perdição da leitura e também há quem<br />

fale da obrigação de ler e alguém diz também, «não leias, estuda». O que<br />

é que se passa?<br />

O que me pareceu mais interpelador foi pegar na questão da leitura pelo<br />

lado dos perigos. Este é um problema da leitura e é também um problema<br />

da cultura. Porque muita gente olha <strong>para</strong> a cultura como uma carga<br />

e um peso enormes que, carregando às costas, nos impedem de andar.<br />

Estou a brincar, mas há muita gente que acha que uma medida profiláctica<br />

é exactamente a anticultura, o riscar a cultura, no limite, o riscar a<br />

história porque isso é um empecilho <strong>para</strong> a acção. Eu estou tão sobrecarregado,<br />

tão envolto em todo esse peso de séculos de tradição e gente que<br />

tão profundas e interessantes coisas disse, que fico <strong>para</strong>lisado na minha<br />

acção. Então podemos ter uma espécie de um existencialismo um pouco<br />

doméstico em que se risca toda a essência em nome de uma existência<br />

virada <strong>para</strong> a frente e que diz, «não, isso que nos afoga, que nos impede a<br />

marcha e o caminho, não». Este problema ainda é mais complicado<br />

porque a leitura e a cultura podem ser uma forma de alienação requintada,<br />

podemos dizer uma forma benéfica de alheamento sofisticado, isto é,<br />

o mundo em que nós vivemos e actuamos é duro, é agreste, faz-nos sofrer.<br />

Felizmente, porque por educação, gosto, nós temos acesso a essas portas<br />

do mundo da cultura e, se o mundo em que nós vivemos é tão frio, tão<br />

agreste, fazendo-nos sofrer, e há tanta coisa <strong>para</strong> mobilar a nossa cabeça<br />

e temos aqui a cultura como ópio. Isto perdendo-se de vista que provavel-<br />

191<br />

mente a cultura e a leitura não são um substituto nem da acção nem do<br />

viver, porque a verdade é que tudo aquilo que nós encontramos depositado<br />

como experiência do outro nesses monumentos da cultura, nada disso<br />

substitui a nossa necessidade de pensar e de agir. Hegel dizia, criticando<br />

Kant e Denken, que ninguém pode pensar por nós. Eu também digo que<br />

nas grandes acções e nas pequenas acções, também ninguém pode agir<br />

por nós. A questão fundamental aqui é uma dialéctica da cultura em que<br />

esse alargamento da experiência do outro vai enriquecer aquilo que é a<br />

plataforma a partir da qual nós temos que fazer essa viagem e essa aventura.<br />

Terminaria chamando a atenção <strong>para</strong> duas coisas que talvez convenha<br />

evitar. A história é verídica: um jornalista na antiga Emissora Nacional<br />

perguntava a uma autora de grande sucesso o que são as suas leituras? E<br />

a senhora respondeu que tinha tantas solicitações <strong>para</strong> escrever que não<br />

lia. A história é verídica e a outra, que é um pouco também a mistura<br />

disto, e é terrível <strong>para</strong> quem tenha experiência de dirigir e acompanhar<br />

teses de doutoramento. A vida das pessoas que tenham de escrever uma<br />

tese é terrível e, às vezes, o orientador tem um papel nisso, que é dizer: «E<br />

quando é que pára?» Porque se não, há sempre muitas outras coisas <strong>para</strong><br />

ler e depois há ali angústias, ansiedades, e sobre certos aspectos o que eu<br />

quero é ir <strong>para</strong> casa ler, porque, aí, o desafio da vida é outro e a fruição é<br />

outra. Quando se tem o problema de fazer uma tese há uma decisão<br />

muito complicada que é a de dizer «e agora aqui temos de <strong>para</strong>r com a<br />

leitura».


192<br />

EDUARDO MARÇAL GRILO*<br />

O que é que está a fazer um engenheiro mecânico no meio dos filósofos,<br />

a falar sobre a leitura?<br />

Quando me convidaram <strong>para</strong> este painel, eu perguntei ao Dr. António<br />

Prole: «O que é que quer que eu diga? Qual é o objectivo?» E a resposta foi<br />

esta: «Eu sei que você lê e, portanto, gostava que falasse sobre a sua<br />

experiência como leitor.»<br />

Eu não sei bem se sou um leitor. Tenho hábitos de leitura, leio todos os<br />

dias durante um período extenso, mas não sei se sou um leitor na<br />

verdadeira acepção da palavra. Não sei se obedeço ao cânone do que é um<br />

leitor, se é que há um cânone de leitor. Quando pensei no que havia de<br />

dizer, qual o contributo que eu aqui poderia trazer, pareceu-me que o<br />

melhor seria fazer uma intervenção que fosse muito autêntica, isto é, que<br />

fosse muito eu próprio, com o que leio, por que é que leio, como é que<br />

comecei a ler, o que é que verdadeiramente me motivou <strong>para</strong> ler, o que é<br />

que tenho lido, o que é que tenho aprendido com os livros.<br />

Estou na <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> há vinte e quatro anos, estive quatro anos<br />

fora, portanto, estou aqui há vinte anos, mas nunca abri aqui esta minha<br />

faceta de leitor a não ser nas conversas informais. Vou, então, contar<br />

como comecei a ler.<br />

Eu vivo hoje no mundo dos livros, mas não nasci no mundo dos livros.<br />

Em minha casa, em Castelo Branco, havia relativamente poucos livros. O<br />

meu pai praticamente não lia, tinha uma vida muito assoberbada e não<br />

lia livros com algum significado. Recordo-me de um ou dois livros ao<br />

longo de toda a minha vida. A minha mãe tinha uma enorme preocupação<br />

em que eu lesse. A minha mãe era filha de um professor primário<br />

do final do século XIX, que era um homem culto e tinha uma pequena<br />

biblioteca de quem eu herdei alguns dos livros, que ainda hoje guardo e<br />

que estão em razoável estado. Detesto livros em mau estado, gosto imenso<br />

de ter livros mas sobretudo em bom estado. Mando-os normalmente<br />

restaurar quando não estão em condições.<br />

Há umas pessoas que dizem que começaram a ler umas coisas fantásticas.<br />

Eu comecei a ler as coisas mais normais deste mundo: Emílio Salgari, O<br />

Corsário Negro e Sandokan. Depois, passei obviamente <strong>para</strong> os livros policiais:<br />

li o Ellery Queen, a Agatha Christie, Erle Stanley Gardner, Michael Z.<br />

Lewin, li praticamente toda a colecção Vampiro. Nunca li O Cavaleiro<br />

Andante. Tinha uma aversão total em relação a tudo o que era folhetos,<br />

tudo o que era coisas em folhetins. Tinha um amigo que quando<br />

acabavam as séries do Tintin ou do Black and Mortimer trazia-mos e eu lia<br />

todos seguidos.<br />

* Administrador da <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>.<br />

193<br />

Quando tinha talvez uns dezasseis anos, tive um professor de filosofia<br />

que era um homem muito culto e que uma vez me disse uma coisa que<br />

eu nunca esqueci – eu tinha a mania dos automóveis e das mecânicas, por<br />

isso é que fui <strong>para</strong> engenheiro mecânico – «Essas coisas da matemática,<br />

da física, tudo isso é muito importante, mas tu tens que ler outras coisas.»<br />

Por essa idade, (sexto ou sétimo ano do liceu, aquilo que é hoje o décimo,<br />

décimo primeiro ano), tinha uma colecção chamada Colecção Miniatura –<br />

eu ainda hoje guardo esses livros – e fui ver o que é que eu li nessa altura.<br />

Li o Somerset Maugham com Um Casamento em Florença, As Férias de Natal,<br />

As Histórias dos Mares do Sul, O Biombo Chinês e O Agente Britânico. Li os três<br />

livros do Albert Camus mais famosos que eram A Peste, O Estrangeiro e O<br />

Exílio e o Reino. Li o Pierre Marc Orlean, com La Bandera. Li A Porta Estreita,<br />

do André Gide. Li O Velho e o Mar como não podia deixar de ser, do<br />

Hemingway. Li O Génio e a Deusa do Aldous Huxley e fiquei com a ideia de<br />

que, <strong>para</strong> além do mundo das engenharias, em que eu pretendia entrar,<br />

havia um outro mundo muito fascinante, que era o mundo da literatura<br />

<strong>para</strong> a qual eu nunca tive qualquer espécie de pre<strong>para</strong>ção. Nunca estudei<br />

literatura, nunca fui verdadeiramente treinado <strong>para</strong> ler. O treino que tive<br />

foi aquele que qualquer estudante do ensino secundário teve nos anos<br />

sessenta.<br />

Hoje verifico, ao fim deste tempo e tendo alguns hábitos de leitura, que<br />

leio por três razões essenciais: leio por prazer, leio por necessidade e leio<br />

por interesse.<br />

Não vou falar do que leio, nem na <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> onde passo<br />

grande parte do dia, nem na área do desporto, que é uma área sobre a<br />

qual também leio muito. Vou falar da área em que eu me movo e que<br />

gosto de fruir, como dizia o José Barata-Moura.<br />

Penso que ler é como andar. É poder viajar no espaço e no tempo e eu<br />

viajo muito no espaço e no tempo, isto é, sou capaz de me mover nos<br />

livros, gosto daquilo que se faz hoje muito que é navegar na Net. Gosto<br />

muito de navegar nos livros, gosto de andar de livro em livro.<br />

O Daniel Pennac, naqueles dez mandamentos que escreveu há uns anos<br />

atrás, no livro Como um Romance diz uma coisa muito interessante sobre<br />

os direitos do leitor: o direito a não ler, a saltar páginas, o direito de não<br />

acabar um livro, o direito de reler, o direito de ler não importa o quê, o<br />

direito de amar os heróis dos romances, o direito de ler não importa onde<br />

e o direito de saltar de livro em livro. Eu acho, que estes são direitos que<br />

nós temos.<br />

Eu não tenho propriamente uma biblioteca, tenho cerca de quatro mil<br />

obras, mas não considero uma biblioteca; tenho livros. Gosto muito de<br />

estar no meio dos livros, tirar um e tirar outro. E Pennac, relativamente<br />

a este debicar do livro, quando fala deste direito, do direito de saltar de<br />

livro em livro, diz uma coisa engraçadíssima, «assim podemos abrir


194<br />

Proust, Shakespeare ou a Correspondance de Raymond Chandler e em qualquer<br />

página, debicar aqui e ali, sem correr o mínimo risco de decepção.<br />

Quando não se tem tempo nem os meios <strong>para</strong> passar uma semana em<br />

Veneza, porquê recusar o direito de lá passar cinco minutos?» Eu acho<br />

que classifica muito bem aquilo que é a fruição que se pode ter dos livros<br />

e aquela ideia que se tem, muitas vezes errada na minha perspectiva, de<br />

que um livro tem que se ler de ponta a ponta – eu normalmente leio os<br />

livros de ponta a ponta, mas também admito que não se leia um livro de<br />

ponta a ponta.<br />

O livro tem uma vantagem enorme sobre muitos outros meios porque<br />

nunca nos maça. Quando nos maça, nós fechamo-lo. E ler é um acto de<br />

liberdade em que a leitura aparece como um acto de criação<br />

permanente. Nós estamos permanentemente a criar qualquer coisa<br />

quando lemos. Há uma citação muito interessante que é feita por<br />

Alberto Manguel quando fala em Petrarca e em Santo Agostinho, que eu<br />

acho muito verdadeira e que ocorre muito comigo: «Aquilo que<br />

Agostinho, na imaginação de Petrarca sugere, é uma nova maneira de<br />

ler, nem usar o livro como apoio <strong>para</strong> o pensamento, nem confiar nele<br />

como se confiaria na autoridade de um sábio, mas tirar dele uma ideia,<br />

uma frase, uma imagem e relacioná-la com uma outra extraída de um<br />

texto distante, preservado na memória, ligando o todo com reflexões<br />

próprias e produzindo, de facto, um novo texto da autoria do próprio<br />

leitor.» Esta ideia de que cada página de um livro nos permite escrever o<br />

nosso próprio livro, com tudo aquilo que nós acumulámos na nossa<br />

memória, de todos os livros que lemos, é um privilégio que nenhum<br />

outro meio nos dá.<br />

É evidente que o acto de ler tem uma maçada em relação, designadamente,<br />

aos grandes competidores do livro, se é que há competidores do<br />

livro. É que ler significa esforço, significa trabalho, significa reflexão, significa<br />

investigação, aumento do conhecimento, ao contrário, da televisão,<br />

que é um meio completamente passivo. Verifiquei este fenómeno<br />

quando estive uma vez particularmente doente e em casa alguns meses,<br />

e não tinha capacidade <strong>para</strong> ler, estava muito cansado e via televisão. Eu<br />

vejo muito pouca televisão, sou capaz de ver uma entrevista ou outra do<br />

António José Teixeira, mas a única coisa que eu vejo verdadeiramente na<br />

televisão são os jogos do Sporting.<br />

Há dois aspectos que eu gostava de referir quanto ao livro e à importância<br />

da leitura, que não é apenas o conhecer o melhor do mundo ou conhecer<br />

melhor os mundos, é conhecermo-nos melhor a nós próprios. Há uma<br />

citação do François Mauriac em que ele diz, «O pouco que sabemos de nós<br />

próprios, é por vezes a personagem dum livro, quem no-lo sugere em voz<br />

baixa.» Julgo que nós aprendemos muito nos livros sobre nós próprios,<br />

porque, muitas vezes, aí encontramos os nossos comportamentos, as<br />

195<br />

situações do dia-a-dia, os amigos, os familiares e, sobretudo, a<br />

complexidade do livro na qual nós nos vamos embrenhando e que vamos,<br />

em certa medida, destrinçando com uma e outra ideia que esse livro faz<br />

nascer em nós.<br />

Mas o livro é também, uma aventura, uma aventura permanente, porque<br />

estamos permanentemente a empurrar a barreira que temos na frente,<br />

que não nos deixa ver o resto do mundo. Humberto Eco diz, «Há o hábito<br />

de pensar que se entra numa biblioteca <strong>para</strong> procurar um livro. Não é<br />

verdade. Sim, é por aí que se começa, mas o que na realidade se busca é a<br />

aventura e não o livro.»<br />

O José Barata-Moura deixou aqui uma questão que é muito interessante:<br />

saber como é que melhor se conhece o mundo? Através de que tipo de<br />

livros? Eu tenho umas centenas de livros sobre o período europeu que<br />

medeia entre o final da Primeira Guerra e o final da Segunda Guerra, portanto<br />

entre 1918 e 1945, e leio muito sobre essa temática. Nos últimos<br />

anos li os autores mais significativos: Trevor Roper, Ian Kershaw, Martin<br />

Allen, A.J.P. Taylor, Richard Evans, Martin Gilbert, Alfred Smith, John<br />

Keegan, Marlig Steinert, Churchill e De Gaulle, Richard Overy, Joachim<br />

Fest, Henry Amouroux, etc.<br />

Li depois uma área que gosto muito, a dos Diários. Tenho Diários de<br />

muitas pessoas, uns anónimos, outros mais famosos. Mas o José deixou<br />

aqui uma pergunta, que não a expressou directamente, mas que eu vou<br />

expressar da seguinte forma: não será através da ficção que nós melhor<br />

conhecemos o mundo? Posso dizer-vos que é.<br />

Há um livro absolutamente fascinante, talvez, na minha perspectiva, o<br />

melhor livro que se escreveu sobre o período entre 1941 e 1945, que melhor<br />

caracteriza o que aconteceu na Europa, sobretudo, na Alemanha<br />

nazi, uma ficção chamada Les Bienveillantes, escrito por Jonathan Littell, e<br />

que foi, <strong>para</strong> mim, uma espécie de fecho de todos os livros de história que<br />

eu li relativos ao referido período.<br />

Para se perceber o que a França viveu a seguir à invasão, em 1940,<br />

recomendo vivamente dois pequenos romances publicados num livro<br />

chamado Suites Françaises de Irène Némirovsky, hoje mais conhecida do<br />

que era na altura.<br />

Ou seja, julgo que o José Barata-Moura queria levantar essa questão: que<br />

tipo de livros ou com que tipo de livros ou com que tipo de literatura é<br />

que nós melhor conhecemos os outros, nós próprios e o mundo? Eu sou<br />

capaz de afirmar que não será exclusivamente através do romance de<br />

ficção, mas é sobretudo através do romance de ficção. Aliás, o prof.<br />

Eduardo Lourenço, há pouco tempo, dizia mais ou menos isto: ainda<br />

conhecemos mal, hoje, o período do Estado Novo, porque se escreveram<br />

poucos romances sobre essa época da nossa história.


196<br />

Li muito recentemente um livro de um grande escritor que eu muito<br />

aprecio, Sir Vidia Naipaul, que, aliás, esteve aqui na <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Gulbenkian</strong> há pouco tempo, chamado Sementes Mágicas (Magic Seeds),<br />

onde existem duas passagens sobre o livro que eu não resisto a ler-vos.<br />

Uma das personagens principais, Willie, era escritor e estava há mais de<br />

dez anos sem ver um livro (por razões que não vou agora referir). Está<br />

preso, é colocado numa enfermaria e a irmã, que vive em Inglaterra,<br />

manda-lhe uma série de livros.<br />

Naipaul descreve a cena assim: «Duas semanas depois da visita de Sarojini [a<br />

irmã], Willie [o herói da festa] foi transferido <strong>para</strong> a enfermaria. Recebeu<br />

livros que ela lhe enviara e recomeçou a ler. Sentia-se maravilhado com tudo<br />

o que lia. Parecia-lhe tudo miraculoso. Todos os escritores lhe pareciam um<br />

prodígio, algo semelhante àquilo que acontecera há muito tempo quando,<br />

noutra vida, como agora lhe parecia, tentara escrever histórias e por vezes<br />

ficava bloqueado, a mente obstruída. Normalmente isso acontecia-lhe<br />

quando estava profundamente absorvido por uma história. Perguntava-se,<br />

como é que alguém tinha coragem <strong>para</strong> escrever uma frase que fosse.<br />

Olhava até <strong>para</strong> um frasco de “aspirinas” ou de xarope <strong>para</strong> a tosse e<br />

maravilhava-se com a confiança do homem que escrevera as instruções e<br />

advertências. Começou, assim, a sentir um respeito profundo por todos<br />

aqueles que juntavam palavras e sentia-se transportado por tudo o que lia.<br />

A experiência era maravilhosa e achava que, provavelmente, valera a pena<br />

ir <strong>para</strong>r à prisão apenas <strong>para</strong> ter de passar por aquilo, aquela intensificação<br />

do prazer intelectual, aquela abertura a algo de que pouco sabia.»<br />

Eu acho que este texto é uma maravilha.<br />

A outra passagem tem a ver com um aspecto que o José não levantou, mas<br />

que eu coloco aqui como tema de discussão que é o da data dos livros. O<br />

Naipaul coloca na boca de uma das suas personagens estas frases<br />

fantásticas: «Wolf disse-me que a coisa mais importante num livro é a sua<br />

data. Não vale a pena ler um livro se não se sabe qual a data, quando não<br />

se sabe o quanto está distante ou próximo de nós. A data de um livro fixa-<br />

-o no tempo. E quando se conhecem outros livros e acontecimentos, as<br />

datas começam a dar-nos a escala temporal. Nem te consigo dizer o<br />

quanto isso foi libertador <strong>para</strong> mim.»<br />

Eu julgo que estes dois textos mostram que o livro existe por si, mas existe<br />

com todos os outros e com tudo aquilo que se pode ter à volta.<br />

Queria, ainda, referir dois aspectos que me parecem importantes. Um é o<br />

da compatibilidade do livro com todos os outros meios que nós hoje<br />

temos à nossa disposição, designadamente, a Internet, a televisão, os<br />

vídeos, e que nos obrigam, diariamente, a tomar uma decisão sobre o que<br />

queremos fazer e como é que o queremos fazer.<br />

Não resisto a contar aqui uma pequena história... Estive em Istambul em<br />

Maio passado e li um livro do Pamuk chamado Istambul, que é absoluta-<br />

197<br />

mente fascinante, muito bem escrito e a tradução é belíssima. No livro,<br />

Pamuk fala várias vezes, e tem umas reproduções, do que ele chama as<br />

quarenta e oito gravuras de um arquitecto e pintor francês chamado<br />

Melling que viveu no século XIX em Istambul e que foi arquitecto do sultão.<br />

Eu resolvi ir à Net ver quem é o Melling e o primeiro site que me saiu foi o<br />

da <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>. O Melling e a <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>? Então, verifiquei<br />

que na Biblioteca de Arte da <strong>Fundação</strong> temos um livro absolutamente<br />

fantástico – só há dois no mundo e um deles pertence à colecção do<br />

Sr. <strong>Gulbenkian</strong> que ele próprio comprou em 1920, por 120 libras – e que é<br />

um livro que contem todas as gravuras do Melling. Passei uma manhã aqui<br />

na nossa Biblioteca de Arte a ver o livro. É um livro que foi feito <strong>para</strong> a Srª.<br />

Duquesa de Berry, no inicio do século XIX, em Paris, que era uma grande<br />

mecenas das artes. O livro é de uma beleza inacreditável, é enorme, com<br />

cerca de 90cm por 50cm, e tem as quarenta e oito gravuras intactas, metidas<br />

numa charneira e dobradas, com uma explicação dada por dois autores<br />

que descrevem cada uma das gravuras. É um privilégio enorme poder<br />

saltar de um livro do Pamuk <strong>para</strong> aquilo que é um livro que o Pamuk seguramente<br />

não conhece. Eu pedi ao Serviço de Comunicação que mandasse<br />

dizer ao Pamuk que este livro estava aqui à disposição dele. Assim como nós<br />

navegamos na Net, também navegamos nos livros.<br />

Que estratégias é que podemos, além da palavra, do cativar com o<br />

exemplo, do prazer por si próprio, como é que se promove a leitura, que<br />

é o tema deste congresso?<br />

Eu tenho uma especial embirração com os livros obrigatórios, sobretudo,<br />

quando alguém chega ao pé de mim e diz, «Tens que ler este livro»; normalmente,<br />

não leio. Detesto que me imponham um livro. Há coisas que tenho<br />

que ler, que tenho de estudar. Por exemplo, ler o orçamento da <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Gulbenkian</strong> não é uma coisa propriamente agradável. É um livro que eu<br />

tenho que ler por razões profissionais e a leitura é muito importante <strong>para</strong><br />

eu perceber exactamente o que é que lá está. Em relação à fruição da leitura,<br />

não suporto a ideia de que há livros obrigatórios.<br />

Eu só tive livros obrigatórios quando me doutorei numa área muito<br />

específica, que era tecnologia mecânica de materiais. Havia quatro ou<br />

cinco livros básicos e depois havia todos os papers publicados até aquela<br />

altura, até 1973, um conjunto de bibliografia que era obrigatório ler,<br />

porque senão, nós não estávamos pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> poder avançar no conhecimento.<br />

Agora, em relação ao livro que eu leio por interesse pessoal,<br />

por gosto ou <strong>para</strong> completar aquilo que eu considero que são os conhecimentos<br />

que vou adquirindo e que gosto de ir adquirindo sobre uma determinada<br />

matéria, não há livros obrigatórios.<br />

Há, e isso ajuda imenso uma pessoa que goste de ler, recensões muito<br />

bem feitas que eu leio com muita atenção <strong>para</strong> perceber exactamente


198<br />

onde é que o livro me pode levar, qual é o tipo de informação que eu<br />

posso tirar desse livro e qual é o gozo que eu posso ter com esse livro.<br />

A leitura obrigatória, que muitas vezes é praticada sobretudo nas escolas,<br />

e nas escolas tem um sentido pedagógico, didáctico, de conteúdo, que<br />

tem a ver com uma lógica de formação numa determinada idade, aí o<br />

livro é obrigatório. No resto, eu considero que o livro não deve ser obrigatório.<br />

Não podemos ter a obrigatoriedade de ler um determinado livro.<br />

Mais, lemos os livros pela ordem que entendemos.<br />

Por exemplo, eu sou capaz de comprar três ou quatro livros e leio-os por<br />

uma ordem qualquer. Não tenho nenhum interesse em estar a dizer que<br />

este livro articula-se com aquele. Não; leio e aquilo anda tudo <strong>para</strong> trás e<br />

<strong>para</strong> frente e há livros que eu estou permanentemente a reler. Por exemplo,<br />

há um livro que já devo ter lido umas três vezes que é O Leopardo do<br />

Tomaso Lampedusa, que é talvez um dos mais belos romances do século<br />

XX. É um livro que nos permite viver durante três, quatro, cinco dias que<br />

dura a sua leitura, naquele ambiente fantástico da Sicília.<br />

O ler as histórias às crianças ou fazê-las ouvir histórias. Eu tive um<br />

privilégio enorme quando era miúdo. Tinha uma tia (que chamávamos<br />

tia, que era prima do meu pai), que eu já conheci cega (tinha cataratas,<br />

naquela altura não se operava como hoje, isto passa-se nos anos<br />

cinquenta) e que era uma contadora de histórias – tinha talvez umas<br />

catorze, quinze ou dezasseis histórias que contava seguidas. Quando nós<br />

estávamos doentes, em Castelo Branco, não havia televisão, vinha a tia<br />

Lucrécia <strong>para</strong> o nosso quarto e contava as histórias. Eu usava um<br />

bocadinho a tia Lucrécia como um vídeo, andava <strong>para</strong> trás e <strong>para</strong> diante,<br />

eu dizia, «Prima Lucrécia, agora conte esta e a outra.» Ela ia contando e<br />

contava sempre da mesma maneira, sempre com mesma entoação, tinha<br />

as histórias todas metidas na cabeça e isso foi um incentivo enorme <strong>para</strong><br />

eu passar, rapidamente, <strong>para</strong> os livros, não de banda desenhada que não<br />

havia nessa altura, mas <strong>para</strong> O João Pateta e um livro interessantíssimo que<br />

ainda hoje leio às minhas netas, O Livro das Crianças, do António Botto, que<br />

é um livro fantástico; esteve na exposição de literatura (Weltliteratur) que<br />

se fez aqui na <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>, e foi adoptado no ensino na Irlanda<br />

como um livro oficial <strong>para</strong> as crianças.<br />

Essa leitura de livros às crianças faz com que elas depois leiam por si. Eu<br />

tenho uma neta que está na quarta classe que já lê por si e está permanentemente<br />

a pedir os livros. É assim que se lá vai.<br />

FERNANDO SAVATER*<br />

199<br />

Queridas amigas, queridos amigos, bueno, en primer lugar, voy a intentar<br />

hablar lo más lentamente posible <strong>para</strong> facilitar su comprensión ya que<br />

por desgracia yo no puedo hablarles en portugués, Cuando voy a Italia,<br />

mi editor italiano que sostiene que todos los italianos entienden el<br />

castellano, el español, cosa que no es verdad, cuando me presenta al<br />

público me dice «Habla un español <strong>para</strong> italianos.» Entonces, yo hablo el<br />

mismo español que hablo siempre, pero un poco más despacio. Pues<br />

ahora voy a hablar un español <strong>para</strong> portugueses, que es hablar un<br />

poquito más despacio, el mismo de siempre.<br />

Cuando en muchas ocasiones me piden vocaciones tan agradables como<br />

éstas, compartiendo la mesa con personas tan entrañables y tan<br />

inteligentes como aquí, me piden que venga a hablar o a hacer una<br />

especie de elogio de la lectura. Realmente es una cosa comprometida<br />

porque cuando a uno le gusta mucho algo le es difícil elogiarlo porque<br />

no entiende por qué a los demás no les gusta también. Es decir, si a uno<br />

le ha costado mucho llegar a algo, un converso que realmente se ha<br />

convertido finalmente a una religión o, esta gente, que deja de fumar, por<br />

ejemplo, y se convierte en misioneros, en predicadores, de los males del<br />

tabaco, pero cuando a uno realmente desde siempre, y yo no puedo<br />

recordarme sin estar leyendo, entonces cuando a uno siempre le ha<br />

gustado una cosa, cómo lo va a explicar a los demás, que voy a decir, voy<br />

a decir pues pruébelo e inténtelo. Entonces más bien, casi seguiría el<br />

camino opuesto, intentar disuadirles a ustedes de que lean, decirles que<br />

no se les ocurra intentar leer.<br />

Tengo un amigo que es profesor de Primera Enseñanza y que sostiene que<br />

como normalmente los niños, sobre todo los adolescentes, tienen una<br />

cierta tendencia a llevar la contraria y a afirmar su personalidad, rebelándose<br />

un poco contra lo que les dicen, él me dice que cometemos un gran<br />

error diciendo tienes que leer, leer es muy importante, habría que decir<br />

completamente prohibido leer, el que lea será condenado a muerte, y a ver si<br />

así surge, por deseo de rebelión. Claro, yo no voy a llegar a tanto, pero me<br />

gustaría también hablar por experiencia propia de los peligros de la lectura,<br />

decir la lectura es algo muy fuerte, muy heavy es una droga dura.<br />

Entonces si uno realmente se entrega a la lectura, la lectura es una forma<br />

de vida, decir no a quien es un lector ocasional, lee de vez en cuando un<br />

librito, un libro que recomiendan, lee un libro al año, en fin, eso supongo<br />

no tiene mayor peligro, pero tampoco tiene que ver con lo que yo<br />

entiendo por leer. Si uno realmente entra en la lectura, quiere decir que<br />

cambia de vida y que se convierte en el homolector, en una variante del<br />

*Escritor e filósofo.


200<br />

hombre normal, del ser humano normal. Una variante que tiene unas<br />

posibilidades mentales, como se ha dicho, intelectuales, pero que pierde<br />

también muchas capacidades de otro orden, es decir, yo estoy convencido<br />

de que la lectura, que me ha dado los mayores placeres de mi vida, los<br />

mayores placeres que he tenido en mi vida me los ha dado la lectura, pero<br />

también me ha limitado mucho. Me ha hecho mucho más limitado de lo<br />

que hubiera sido si no hubiera tenido esta pasión absorbente. Es decir,<br />

realmente, cuando la lectura se apodera de uno, y se apodera desde<br />

pequeño, eso poco a poco te va convirtiendo en alguien casi unilateral.<br />

Yo vengo de un país cuya figura literaria más emblemática es<br />

precisamente alguien que se volvió loco por leer muchos libros. Yo creo<br />

que a partir de eso la mayoría de los españoles ha decidido evitar ese<br />

peligro y casi ninguno realmente sigue por ese camino entusiástico que<br />

ha llevado el Don Quijote por tan malos pasos. Pero de todas maneras, esa<br />

advertencia cervantina, Cervantes era un poseído también por la lectura,<br />

él decía que con tal de leer, leía hasta los pedazos de papeles rotos que<br />

encontraba por las calles. Iba por la calle, veía un papel roto, cogía a ver<br />

lo que ponía, no podía resistir. El verdadero drogadicto de la lectura<br />

comprende ese afán de leer todo, de estar constantemente en contacto<br />

con el libro, por eso él entendía, yo creo muy bien, hasta donde puede<br />

arrastrar la lectura y por eso, en el fondo, como recuerdan ustedes, el<br />

Quijote es una novela que trata de un personaje que enloquece por la<br />

lectura y también el propio libro es argumento de la novela, es decir, la<br />

primera parte del Quijote es comentada, ha sido leída, etc., por los<br />

personajes de la segunda parte. Creo que es uno de los primeros casos en<br />

que los personajes de un libro han leído el propio libro de cual forman<br />

parte. Y comentan las incidencias del libro del cual forman parte. Es<br />

decir, la lectura, no solamente es la lectura, la locura de Don Quijote, es<br />

la locura de Don Quijote y de alguna manera es el problema del resto de<br />

los personajes, puesto que como han leído la historia de Don Quijote<br />

tienen ya también su propia fábula sobre el. Entonces yo creo que la<br />

lectura es algo que hay que tomar en serio, como una pasión que<br />

arrebata, es una forma de vida que nos va a cerrar algunos caminos y nos<br />

va a abrir otros infinitamente, por lo menos, placenteros, no sé si mejores<br />

o peores. Si uno no lee con ningún afán utilitario, mientras uno quiere<br />

leer <strong>para</strong> conseguir, <strong>para</strong> obtener una plaza académica o <strong>para</strong><br />

impresionar a los demás, <strong>para</strong> crear fama de sabio, mientras alguno tiene<br />

un afán instrumental de la lectura no es un verdadero lector, a mi juicio.<br />

Thomas Mann tiene también un libro que se llama Travesía con D. Quijote y<br />

que es precisamente cuando él se escapa de Alemania, de Alemania nazi<br />

<strong>para</strong> ir a Estados Unidos, va en barco y va leyendo El Quijote y sacando<br />

consecuencias de alguna forma de cómo la locura de los libros puede<br />

convertirse en un peligro mortal. Porque claro, cuando D. Quijote hace su<br />

201<br />

famoso discurso de las armas y de las letras, él defiende las armas frente<br />

a las letras. Entonces, claro, Don Quijote es un personaje sin crueldad,<br />

todo el mundo es cruel con él y él no es cruel con nadie, es el encanto,<br />

por decirlo así, hasta qué punto con el encanto que puede tener una<br />

figura de Don Quijote, es la figura de alguien sin crueldad. Es decir, él no<br />

es cruel con nadie y todos son crueles con él. Pero claro, esas mismas<br />

ideas quijotescas, de resolverlo todo a lanzazos, a sablazos, y de pasar por<br />

encima de las convenciones y de derribar, de alguna manera, los<br />

miramientos humanos tradicionales, etc., éste tipo de planteamiento,<br />

claro dice Thomas Mann, en manos de alguien que no sea tan carente de<br />

crueldad como el Don Quijote, es decir, alguien con las ideas de Don<br />

Quijote, pero con crueldad, puede convertirse en unos nazis. Entonces, él<br />

se da cuenta de cómo, digamos, lo que es ir en algunos casos una especie<br />

de locura benévola puede ser una locura asesina y terrible y eso lo ha<br />

meditado durante el viaje que hacia hasta Estados Unidos.<br />

En la época de Franco, Fraga Iribarne, cuando era Ministro de<br />

Información, inventó, acuñó, un lema de propaganda de la lectura que<br />

decía Un libro ayuda a triunfar. Bueno, en la España de Franco, un libro,<br />

más o menos, podía ayudar a triunfar, pero dos te llevaban a la cárcel<br />

inmediatamente porque siempre había uno de los dos que estaba<br />

prohibido. Digo bueno, bien, pero ni siquiera el primero era cierto, es<br />

decir, no es verdad, o es irrelevante que un libro ayuda a triunfar, es decir,<br />

que un libro ayude a triunfar es como si alguien, no sé, pues dijera que<br />

ha conquistado una noche a Catherine Zeta Jones y cuando le<br />

preguntáramos qué tal, esto puede beneficiar mi carrera cinematográfica<br />

porque también, mire, no sé, hay cosas que verdaderamente en cuanto se<br />

reducen a un interés de tipo, pues de triunfo, de academia, etc., han<br />

perdido su gracia. La lectura es algo que cuando a uno le posee realmente<br />

se convierte en lo que sustituye a todo lo demás.<br />

Yo, la experiencia mía es que, según uno va envejeciendo, muchos de los<br />

placeres y muchos, bueno hay muchos placeres que ya no puede uno<br />

permitirse. La verdad es que, no es que uno con los años abandone los<br />

placeres, sino que normalmente son los placeres los que lo abandonan a<br />

uno. Entonces, es decir, los vicios nos van dejando porque nos consideran<br />

que no los merecemos, entonces, poco a poco, uno se va volviendo mejor<br />

de lo que era por falta de capacidad de ser peor. Pero bueno, digo que uno<br />

va perdiendo unos placeres por incompetencia <strong>para</strong> ellos y notros casos<br />

por qué realmente te aburre. Yo reconozco que con los años me voy<br />

volviendo cada vez más impaciente, me aburro más en los grupos, de las<br />

conversaciones, todo me impacienta, estoy deseando volver a casa <strong>para</strong><br />

leer. Decir, cada vez, la única cosa que me gusta cada vez más, me gusta<br />

además como una de esas obsesiones con la que compensa uno todo lo<br />

demás es, precisamente, es precisamente, la lectura, no. Quiero decir la


202<br />

lectura se va agravando, se va haciendo más grave cada vez, la adicción a<br />

la lectura se va haciendo cada vez más grave, no se le pasan a uno las<br />

ganas de leer porque la lectura, por otra parte, es una cadena infinita, es<br />

decir, leer un libro es recordar los otros libros que has leído. Y es<br />

necesidad de releer otra vez.<br />

Por ejemplo, hay, yo es casi imposible viajar a un lugar sin llevarme un<br />

libro más o menos conectado con el sitio, ambientado en ese lugar, etc.<br />

Ahora me he traído una novela de Eça de Queirós, que es uno de mis escritores<br />

favoritos, que se llama La Capital, y trata de un joven de provincias<br />

que viene a Lisboa, etc., etc., bueno, estoy disfrutando tanto, yo me quedaría<br />

en el hotel, leyendo la novela, y no saldría a la calle. Parece mejor<br />

leer lo que cuenta de Lisboa Eça de Queirós, es decir, que es, que es verdad<br />

que uno comprende, ya recuerdan ustedes ese personaje de Raymond<br />

Roussel, extravagante escritor francés, que escribió un libro que se llamaba<br />

Impresiones de África y que cuenta un viaje por África de un personaje<br />

que nunca se baja del barco ni sale jamás, ni ve nada, está siempre dentro<br />

del barco mirando el camarote del barco, encantado de eso y nunca<br />

va a ver ninguno de los paisajes que lo rodean.<br />

En cierta medida, el aficionado a la lectura es como ese personaje, es<br />

decir, es alguien que, de alguna forma, ha llegado a un mundo mental<br />

tan potente que el exterior se convierte en una especie de obstáculo, de<br />

impedimento <strong>para</strong> llegar de nuevo al que a él le interesa realmente, que<br />

no está fuera sino dentro. Claro, piensan ustedes que la mayoría de nosotros<br />

vive dentro de su cabeza, es curioso que estemos siempre preocupados<br />

por cuáles son los muebles que hay en nuestra casa, los electrodomésticos,<br />

los objetos técnicos, etc., de lo que nos rodea, cuando en realidad lo<br />

que estamos es dentro de nuestra casa, entonces aquí los objetos, los valores,<br />

los muebles, las cosas preciosas tenemos que tenerlas dentro, pues es<br />

ahí donde estamos la mayor parte del tiempo, la mayor parte del tiempo,<br />

nuestros sueños y nuestro pensamiento nos hace que estemos dentro de<br />

la cabeza y no fuera, y claro, los libros se meten directamente junto con<br />

nosotros dentro de nuestra cabeza, nos acompañan al interior de nosotros<br />

mismos. Nos traen a otras personas, a nuestro interior porque en el<br />

fondo la novela, la lectura y la literatura, en general, aparte de todas estas<br />

cosas que han dicho que es un placer, que es una experiencia, pero sobre<br />

todo es una forma de relación con otros, con otros a los que no íbamos a<br />

conocer de ninguna otra manera. Es decir, la lectura, Quevedo hablaba<br />

de, en uno de sus versos, Quevedo dice: «yo hablo con los muertos con los<br />

ojos, a través de mis ojos hablo con los muertos», es decir, uno puede convocar<br />

a los muertos como hace Ulises en la Odisea, cuando convoca a los<br />

muertos y <strong>para</strong> preguntar y pedir el camino, digamos, que debe seguir de<br />

retorno, y entonces vierte la sangre, aparecen ahí los muertos alimentados<br />

con su sangre, por la sangre de los vivos, pues esos muertos que apa-<br />

203<br />

recen alimentándose con la sangre de los vivos son los personajes que<br />

están en los libros, en los libros, dentro de cada uno de los libros hay<br />

alguien que está esperando nuestra sangre <strong>para</strong> volver y hablarnos.<br />

Marcel Proust, que tiene paginas muy bonitas sobre la lectura, dice que<br />

la lectura es una amistad sin frivolidad, es decir, realmente los amigos<br />

que tenemos con los libros, no son amigos que los tenemos por interés,<br />

por capricho o por deseo o por, o por ningún otro tipo de frivolidad, sino<br />

que los amigos que tenemos por los libros los tenemos por una amistad<br />

de alma, alma, con una relación irrompible, que entramos dentro de<br />

ellos y ellos entran dentro de nosotros de una forma, con una relación,<br />

como yo creo que quizá no tengamos con nadie más. Es posible que algunas<br />

de las relaciones más fuertes que yo he tenido en mi vida, las he tenido<br />

con personas las que nunca veré nunca, pero de las que he leído sus<br />

libros. Y eso, esa fuerza que a veces asusta, que a veces estremece un poco,<br />

no, de la lectura que realmente es una forma de posesión, claro, esa posesión,<br />

como uno puede enseñar a los demás. Es primero, es, yo no me atrevería<br />

a decir, si alguien debe realmente renunciar a su vida y dedicarse<br />

solamente a leer, me parece bien que lea algunas cosas, aprenda a frecuentar<br />

información, que obtenga información por parte de la lectura,<br />

que amplíe sus conocimientos, esas cosas útiles, pero si yo realmente<br />

tuviera alguien y pudiera decir, tal como yo, tal como hizo mi madre,<br />

conmigo, mi madre que era una gran lectora, la que me introdujo en la<br />

literatura, entonces, a veces pienso, tengo yo derecho a convertir a<br />

alguien en lo que yo soy, es decir, a pasarle esta droga, esta adicción.<br />

Bueno, realmente, quizá sea algo <strong>para</strong> pensar, pero sobre todo es que<br />

como las adicciones, como todo, es muy difícil transmitirlas más que por<br />

contagio. El amor, la afición a la lectura, se puede contagiar, pero no se<br />

puede explicar. Yo, por ejemplo, veía a mi madre, todos los años, que<br />

esperaba la llegada de la novela de Agatha Christie. Agatha Christie era<br />

un fenómeno casi geológico, entonces todos los años producía una<br />

novela, siempre maravillosa, siempre espléndida, nunca decepcionante,<br />

por lo menos <strong>para</strong> los que hemos sido lectores de Agatha Christie, y mi<br />

madre era una fanática de Agatha Christie, entonces todo el año se<br />

pasaba esperando, se enteraba de cuando ya había aparecido en<br />

Inglaterra, calculaba lo que tardaría en traducirse al castellano <strong>para</strong> que<br />

ella pudiera leer y por fin llegaba a la librería la novela de Agatha Christie<br />

y era un festejo, era una fiesta mayor que la Navidad, o que el Fin de Año,<br />

ha llegado la novela de Agatha Christie, entonces sabía que durante un<br />

tiempo ella estaba en el mundo secreto, placentero, de esa novela. Como<br />

yo veía ese disfrute de ella a mi no me hacía falta que me explicara que<br />

la lectura es placentera, no tenía más que verla a ella, o sea, me daba<br />

cuenta de que esas cosas no se fingen, de que nadie puede fingir ese<br />

entusiasmo por la lectura, eso se siente y eso podía pasarle a alguien,


204<br />

claro alguien relevante <strong>para</strong> mí, evidentemente. Como en otros casos, las<br />

aficiones las transmite alguien a quien nosotros admiramos, veneramos,<br />

entonces cuando vemos que él toma determinada droga, o tiene<br />

determinada costumbre, pues le imitamos, ¿no?. En este caso, fue por<br />

contagio de su amor a la lectura, por la que yo llegué a concebir el mío.<br />

Y uno entiende mejor a los lectores, yo reconozco que comprendo mejor<br />

a los lectores, sobre todo al lector, al lector del entusiasmo, al lector que<br />

está encerrado en su mundo, que a ningún otro tipo de ser humano.<br />

Hace unos años me invitó la entonces ministra de Cultura de Colombia,<br />

no sé si lo sigue siendo todavía, que es una mujer muy interesante y que<br />

se ha preocupado mucho, sobre todo, de las bibliotecas y ya sabe, yo he<br />

tenido bastante la obsesión de la biblioteca y he escrito bastante sobre las<br />

bibliotecas, y he intentado promover, en lo posible, la extensión de<br />

bibliotecas, sobre todo en los países de América Latina. Hicieron varias<br />

bibliotecas muy importantes en los barrios más deprimidos, más pobres<br />

y más peligrosos de Bogotá. Realmente, son unos edificios incluso<br />

arquitectónicamente muy bonitos, a mi juicio, muy funcionales y tienen<br />

un servicio, que está en barrios en que la gente vive en condiciones duras,<br />

no tiene abundancia de nada y, además, incluso pues hay peligros, la<br />

gente no sale a la calle con tranquilidad y ahí se han hecho varias<br />

bibliotecas importantes. Entonces, yo un día me dediqué a visitarlas, esas<br />

bibliotecas, y recuerdo, en una de ellas, que estaba en uno de los barrios<br />

más duros, entré en un momento en una de las salas y yo estaba un poco<br />

deprimido porque pensaba, «Pues bueno, esta gente no necesitará de<br />

otras cosas, en el fondo esta obsesión que tenemos algunos con la<br />

biblioteca, esta gente necesita comida, trabajo, protección, seguridad, a lo<br />

mejor la biblioteca es lo de menos…», es decir, que yo estoy tan contento<br />

de que esta gente tenga una biblioteca y esta gente necesita mucho más<br />

otras cosas, entonces en una pequeña sala, había un niño, un niño que<br />

tendría doce años, once, doce años, gordito, así como era yo en aquel<br />

tiempo, ahora también… (risos), un niño gordito y estaba leyendo uno de<br />

los tres volúmenes del Señor de los Anillos de Tolkien y estaba encerrado,<br />

estaba poseído, yo le vi e inmediatamente conocí esa cara, esa situación y<br />

me di cuenta de que a ese niño al que probablemente le faltaban muchas<br />

cosas, nada de lo que le ofrecieran en el mundo lo iba a preferir a ese<br />

cuento que estaba leyendo, ese momento de lectura <strong>para</strong> él estaba siendo<br />

algo más importante que todo lo demás y que de alguna manera,<br />

contrapesaba o compensaba todas sus carencias, y digamos, todas las<br />

faltas de la vida. Entonces, de alguna manera, yo me sentí identificado<br />

con él, pues es verdad, a todas las vidas les faltan muchas cosas, falta<br />

tiempo, falta amor, falta justicia, todos, en el fondo, sentimos, incluso en<br />

la mejor de las vidas, la humillación que significa envejecer, morir. Y sin<br />

embargo, la lectura es como lo que contrapesa, contrapesa todo eso, por<br />

205<br />

lo menos <strong>para</strong> algunos, es lo que... el obvio, digamos, que hace olvidar<br />

todo lo demás. Y aquel niño me parece que estaba poseído y que se le<br />

hubiera ofrecido cualquier cosa no hubiera querido más que eso.<br />

De modo que, en cierta medida, la lectura puede ser un sucedáneo<br />

infernal del <strong>para</strong>íso, es decir, hay un poeta español, José Bergamín, que<br />

tiene un libro muy bonito que se llama Fronteras Infernales de la Poesía.<br />

Quizá la literatura, la lectura, tiene unas fronteras infernales, pero en el<br />

fondo de ese infierno se está en una situación <strong>para</strong>disíaca y es lo mismo<br />

que pensaba Virgina Woolf en una carta que tiene a una amiga suya, que<br />

también era muy lectora, Virgina era muy lectora además de una gran<br />

escritora, y Virgina Woolf escribe a una amiga y le dice, «He soñado a<br />

veces que cuando amanezca el día del juicio, y los grandes<br />

conquistadores y abogados y juristas y gobernantes se acerquen al Señor<br />

<strong>para</strong> recibir su recompensa, coronas, laureles, sus nombres tallados de<br />

manera indeleble en mármol imperecedero, etc... Entonces, El todopoderoso,<br />

se volverá hacia Pedro y dirá, no sin un poco de envidia, cuando nos vea<br />

venir a nosotras, a ti y a mí, con nuestros libros bajo el brazo, “Mira, esas<br />

no necesitan recompensa, no tenemos nada que darles, les gustaba leer.”»<br />

Muchas gracias.<br />

Que estratégias é que podemos, além da palavra, do cativar com o<br />

exemplo, do prazer por si próprio, como é que se promove a leitura, que<br />

é o tema deste congresso?<br />

Desde luego, lo que no puede ser, es la obligación. Eduardo había mencionado<br />

antes a Pennac. Pennac dice «El verbo leer no tolera la voz imperativa.»<br />

Nunca puede conjugarse el verbo leer en el imperativo: lee. Eso es la<br />

forma de hacer oído de la lectura, sobretodo, a los niños. No veas la televisión,<br />

lee. Eso inmediatamente convierte la televisión en algo deseable y<br />

la lectura en una orden, una imposición, etc. A mi, me parece que si en<br />

las casas en que se lee, en que hay aprecio por la lectura, yo creo que hay<br />

grandes probabilidades de que todos los jovénes terminen leyendo, sobretodo,<br />

cuando los padres han leído cuentos a los niños. Es decir, yo, mi<br />

madre venía y me contaba un cuento pero leyéndolo de un livro, en parte<br />

lo leía, en parte lo inventaba ella, pero tenía el livro en las manos como<br />

<strong>para</strong> darme la idea de que la historia, el cuento que me gustaba, salia de<br />

allí, de que allí estaban los cuentos y que algún dia, yo, por mi mismo, sin<br />

ella, podría leerlos. Leer a los niños de pequeños, con un livro en la mano<br />

y dejarselo ahí, en la cama, eso es una forma de ir suscitando el deseo.<br />

Desde luego que no se puede hacer es: «Toma, lee, mañana voy a preguntarte<br />

que has aprendido del livro.» Eso no puede ser.


206<br />

ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA<br />

Estamos a falar muito do prazer da leitura e julgo que, de alguma forma,<br />

estes três homens que aqui estão comigo, são um pouco dealers da leitura.<br />

Portanto, essa promoção da leitura, julgo que fala por si, não precisa ser<br />

sublinhada. Já aqui falámos (o prof. Marçal Grilo falou disso), que é preciso<br />

ler por interesse, por necessidade, por prazer e, depois, é preciso promover<br />

a leitura. Lembro-me de Fernando Savater ter escrito que, em vez<br />

do serviço militar obrigatório, deveria haver o serviço de leitura obrigatório.<br />

Isso remete-me <strong>para</strong> o facto de que ler também é um esforço,<br />

como falava José Barata-Moura. Não se obriga a ler como aquela coisa um<br />

pouco ao contrário, que é, quem for apanhado a ler um livro, pena de<br />

morte... Provavelmente, não funciona! Que estratégias devemos utilizar?<br />

Que podemos fazer, além da palavra, do cativar com o exemplo, do prazer<br />

por si próprio? Como é que se promove a leitura, que é o tema deste<br />

congresso?<br />

Não resisto, por esse mesmo prazer da leitura, a ler um extracto de um<br />

texto de Fernando Savater sobre esse mesmo prazer.<br />

«Ser pelos livros, <strong>para</strong> os livros, através deles. Perdoar à existência o seu<br />

básico transtorno, dado que nela existem livros. Não conceber a rebeldia<br />

política ou a perversão erótica sem a sua correspondente bibliografia.<br />

Vacilar entre linhas, dar rédea solta aos fantasmas, capítulo após capítulo,<br />

empreender grandes viagens <strong>para</strong> encontrar lugares que já visitámos<br />

através das novelas, desdenhar dos recantos sem literatura, desconfiar<br />

dos espaços ou das formas de vida que ainda não tenham merecido um<br />

poema, sair da angústia lendo, voltar a ela pela mesma porta, não acatar<br />

emoções analfabetas, em coisas assim, consiste a perdição da leitura.<br />

Quem a experimentou, sabe-o.»


208<br />

209<br />

Encerramento


210<br />

ISABEL ALÇADA*<br />

211<br />

Agradeço muito ao Prof. Marçal Grilo e à <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> o convite<br />

<strong>para</strong> participar neste congresso e também o privilégio de assistir à conferência,<br />

como a que acabámos de ouvir. As comunicações dos Professores<br />

Barata-Moura e Marçal Grilo geraram nesta sala um ambiente «leitor». O<br />

debate desenvolveu-se calorosamente, num registo com o qual todos nos<br />

identificámos, o registo de quem gosta de ler, quem tem hábitos de leitura.<br />

Ouvi com muito interesse as questões colocadas pelo Professor Barata-Moura<br />

por quem nutro a maior admiração desde os tempos de escola, onde ele<br />

ensaiava o coro dos mais novos, pois andámos na mesma escola desde o<br />

1º ciclo. Depois andámos também na mesma Faculdade, no mesmo curso<br />

de Filosofia, onde ele era um «grande estudante» e onde depois se veio a<br />

tornar o «grande professor». José Barata-Moura disse na sua comunicação<br />

que «a leitura é uma função vital». Será que a leitura é de facto uma<br />

capacidade natural? Permito-me discordar. Julgo que a leitura é uma competência<br />

cultural e que é precisamente por isso que temos que formar<br />

leitores.<br />

Ouvi com igual interesse o Professor Marçal Grilo. A certa altura, afirmou:<br />

«ler é como andar». Interroguei-me também sobre esta sua afirmação<br />

e permito-me também discordar. As pessoas aprendem a andar<br />

naturalmente, mas a ler não. Precisam de iniciação, de ensino <strong>para</strong> conseguirem<br />

ter acesso à leitura.<br />

Nesta assembleia, sentimo-nos confortavelmente no registo de leitores e<br />

debatemos as questões da leitura como se todos os seres humanos pertencessem<br />

ao grupo de «leitores». Sabemos porém que o grupo ainda não<br />

é universal. Talvez possamos sonhar com um mundo em que um dia, no<br />

futuro, todos tenham a possibilidade de entrar em ambientes como aquele<br />

que aqui foi criado. É precisamente essa a meta do Plano Nacional de<br />

<strong>Leitura</strong>.<br />

Todos sabem que antes do lançamento do Plano Nacional de <strong>Leitura</strong> já há<br />

muito a <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> tomara em mãos a tarefa de promoção<br />

da leitura. Quero, mais uma vez saudar o relevante contributo<br />

desta instituição. Há décadas que a <strong>Fundação</strong> lançou pelo país as suas<br />

inesquecíveis carrinhas-biblioteca que partiam em busca de potenciais<br />

leitores. O efeito foi magnífico. Muitos portugueses, hoje personalidades<br />

de relevo, descobriram a leitura graças às carrinhas <strong>Gulbenkian</strong>.<br />

E neste, como em outros domínios, a <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong> nunca mais<br />

parou, adequando sempre a sua acção e ao contexto, evoluindo sempre e<br />

ajustando as suas práticas à época e articulando a sua oferta com a oferta<br />

de outras instituições.<br />

* Comissária do Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>


212<br />

Assim, quando o Governo assumiu a necessidade de criar uma rede de<br />

leitura e foram surgindo bibliotecas públicas nos vários concelhos, a<br />

<strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> não se retirou. Continuou a dar apoio e a<br />

intervir da forma mais adequada.<br />

Do lado do governo foi aliás o Prof. Marçal Grilo – enquanto Ministro da<br />

Educação –, que tomou a iniciativa de criar a rede das bibliotecas escolares,<br />

RBE, estrutura que se veio a revelar determinante na evolução da<br />

leitura pública. A rede das bibliotecas escolares, orientada de forma brilhante<br />

pela Dr.ª Teresa Calçada, permite, hoje, que se apreciem os resultados<br />

da iniciativa. Neste momento, com mais de duas mil bibliotecas em<br />

escolas públicas, a RBE continua a expandir-se e permite a existência<br />

serviços de bibliotecas em todas as escolas portuguesas com ambientes de<br />

leitura, onde o livro atrai o leitor.<br />

Quanto ao Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>, iniciativa também governamental,<br />

de 2006, recebeu desde logo a parceria da <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong>.<br />

Desde então a <strong>Fundação</strong> tem proporcionado um relevante apoio, com a<br />

competente participação do Dr. Carmelo Rosa no Conselho Científico, e<br />

com apoio financeiro que permitiu disponibilizar mais livros <strong>para</strong> leitura<br />

nas salas de aula.<br />

A ideia-chave do PNL foi alargar as competências e os hábitos de leitura<br />

dos portugueses. O público-alvo é, nada mais, nada menos, do que todos<br />

os cidadãos, embora incidindo prioritariamente no Ensino Básico. E os<br />

agentes são todos os bibliotecários, professores e também todos os leitores<br />

que queiram participar.<br />

O Plano Nacional de <strong>Leitura</strong> adoptou uma estratégia descentralizada. O<br />

seu papel é tão-somente criar condições <strong>para</strong> que as instituições, escolas,<br />

bibliotecas e todos os interessados possam trabalhar melhor e comunicar<br />

melhor, dando mais visibilidade ao trabalho de promoção da leitura.<br />

Considerou-se que a disponibilidade de uma grande diversidade de livros<br />

seria a condição essencial <strong>para</strong> que cada um pudesse descobrir o prazer<br />

de ler. Com este princípio a equipa do PNL procurou encontrar recursos<br />

<strong>para</strong> que as escolas tivessem o maior número possível de livros <strong>para</strong> ler<br />

diariamente nas salas de aula. Livros de ciência, drama, poesia, ficção,<br />

etc., deveriam marcar presença permanente nas salas de aula. Os livros<br />

são por isso uma das pedras angulares deste edifício.<br />

Conhecendo os processos de trabalho dos professores, considerou-se que,<br />

no momento da leitura orientada na sala de aula, cada grupo de dois<br />

alunos deveria dispor de um livro. Com esse propósito, as escolas receberam<br />

financiamento <strong>para</strong> adquirirem conjuntos de livros em número suficiente<br />

e os livros passaram a rodar de turma <strong>para</strong> turma, de escola <strong>para</strong><br />

escola. O Plano Nacional de <strong>Leitura</strong> elaborou e disponibilizou também listas<br />

com recomendações de livros potencialmente interessantes e adequados<br />

a cada idade, a cada nível de leitura, recomendando aos professores<br />

213<br />

que os adoptassem numa perspectiva de progressão. Funcionando como<br />

um instrumento claro de apoio à selecção, as listas de livros tornaram-se<br />

num motivo da adesão dos docentes ao Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>. E a<br />

dinâmica gerada a partir do incentivo à leitura foi permitindo reforçar a<br />

ligação das bibliotecas escolares às salas de aula e também às bibliotecas<br />

públicas.<br />

Não sendo tão fácil atingir as famílias, foi com muito gosto que surgiu a<br />

proposta de uma associação de médicos, a Associação de Médicos de<br />

Clínica Geral, que celebrou com o PNL uma parceria destinada a envolver<br />

os profissionais dos Centros de Saúde na promoção da leitura junto das<br />

famílias. O projecto «<strong>Ler</strong> Mais Dá Saúde» foi o resultado e tem dado bons<br />

frutos. Entre as diferentes iniciativas lançadas pelo PNL permitam-me<br />

que destaque ainda a Semana da <strong>Leitura</strong>, que permitiu uma frutuosa<br />

articulação entre escolas, bibliotecas públicas e famílias, o «Clube de<br />

<strong>Leitura</strong>s», um site onde se pode comunicar e partilhar o interesse pela<br />

leitura, o Dia da Poesia organizado pelo CCB e o Concurso Nacional de<br />

<strong>Leitura</strong> realizado com apoio da RTP. Durante o ainda curto período de<br />

vida do PNL muitas outras instituições se têm associado, numa ligação<br />

em rede que inclui as autarquias como parceiros privilegiados e engloba<br />

escolas, bibliotecas, associações, empresas, fundações, etc. Parceiros e<br />

mecenas têm contribuído <strong>para</strong> divulgação da missão do PNL o que naturalmente<br />

produziu visibilidade crescente e suscitou alargamento de<br />

adesões.<br />

Tem sido um privilégio desenvolver um projecto como o PNL, com recursos<br />

e em condições que considero adequadas, incluindo uma avaliação<br />

externa realizada num centro de investigação independente, o CIES do<br />

ISCTE. Esta avaliação, realizada ao longo de cada ano lectivo e com publicação<br />

de relatório de balanço no final de cada ano, tem permitido acompanhar<br />

a execução. Os resultados são expressivos e encorajadores, uma<br />

vez que a adesão de docentes e discentes é muito expressiva e que, passados<br />

dois anos e meio, 96% dos Portugueses reconhecem a existência e consideram<br />

positiva a intervenção do Plano Nacional de <strong>Leitura</strong>.<br />

Estamos ainda no início de um processo lento que exige trabalho e persistência.<br />

Apesar dos resultados positivos, é indispensável não esquecer<br />

que a meta do desenvolvimento só será atingida se a nossa sociedade se<br />

mobilizar <strong>para</strong> ler mais.


Reservados todos os direitos de acordo com a lei<br />

Edição da FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN –<br />

– Serviço de Educação e Bolsas<br />

Av. de Berna, 45A 1067-001 Lisboa<br />

Coordenação: Maria Helena Melim Borges<br />

Revisão: Mariana Sim-Sim David<br />

Design: Rui Garrido<br />

Maquetagem: Catarina Severino<br />

Impressão: Textype<br />

Tiragem: 1.000 exemplares<br />

Depósito Legal nº<br />

ISBN 978-972-31-1326-6<br />

Julho 2010


216

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!