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COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais

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a conversa 22

a conversa 22 sociedades. Fascina-me a forma como se organizam as comunidades, como é que comunidades de pessoas que não se conhecem tomam decisões que dizem respeito ao coletivo, como é que usam recursos em comum, como é que aplicam esses recursos, que escolhas fazem. Acho isso fascinante! A forma como inventámos a democracia, demos o direito de voto a cada vez mais pessoas, começámos a fazer escolhas coletivas já não são só para um déspota acumular poder, escolhas que têm de dar retorno a toda a comunidade. Isso é a essência da política? Sim. Não somos pessoas isoladas. Não vivemos só por nós ou pela nossa família. Beneficiamos das sociedade onde nos inserimos e, por isso, temos responsabilidades, deveríamos empenhar-nos em tarefas cívicas. Essas duas coisas, para mim, sempre estiveram muito presentes. Como foi a experiência em Macau, nos anos 90, a trabalhar com o secretário adjunto para a Administração e Justiça de Macau? Foi importante para si? Claro. Foi uma oportunidade. Alguém que queria viajar e conhecer o mundo, de repente, com 24 anos, perguntam-lhe: “Queres ir para Macau?”. Claro que sim, vamos já embora, a correr! Não foi preciso pensar muito. E cresceu muito como profissional nessa altura? Sim, estive lá dois anos e meio. Regressou, porquê? Primeiro, porque nasceu-nos um filho e queríamos que ele crescesse em Portugal. Depois, senti que, profissionalmente, já não tinha muito mais espaço de progressão. Era muito confortável viver em Macau. Eu ganhava bem, mas não ia fazer muita coisa diferente do que já tinha feito naqueles dois anos. Senti que poderia começar a perder outras oportunidades de crescimento profissional. Como chegou a assessor jurídico de Jorge Sampaio? Como foi a experiência? Eu era adjunto do presidente da câmara. Era muito novo, mas acho que os melhores adjuntos que podemos ter são pessoas jovens, com muita capacidade e “Tive várias hesitações em termos profissionais, mas desde pequeno que tinha esta ideia de que queria sair, queria conhecer o mundo” qualidade intelectual. Foi uma experiência muito marcante. É fascinante trabalhar numa câmara municipal, porque tem impacto imediato na vida das pessoas. E num município com a dimensão de Lisboa é um trabalho com muita complexidade e responsabilidade. Portanto, exposto a muitas tarefas diferentes. E isso é muito positivo. Na sua família falava-se de política? Havia ali um lado politizado? Não, ninguém tinha atividade política ou partidária. Então, foi o primeiro advogado da família e o primeiro a ter ligações à política? Sim, quando estive na câmara municipal de Lisboa acabei por me filiar no PS, mas saí logo a seguir. A minha vida não passava por ali. Aliás, a certa altura, tal como tinha saído de Macau ao fim de dois anos, comecei a pensar que queria ter uma vida profissional autónoma. Liberdade passa por independência profissional e económica. Por isso, com 28 anos, disse: “Agora isto acabou. Agora vou ser advogado”. Tendo deixado o PS, nunca abandonou o tal chamamento cívico… Nunca, é verdade, mas passei a ser um espetador comprometido. Não tive atividade política ou partidária durante mais de 20 anos. Mas sentia a missão de serviço público? Sim, sempre acreditei que não devemos encolher os ombros. Devemos preocupar-nos com as decisões dos que governam o coletivo, não devemos deixar de estar informados e de ter opinião. O nosso voto conta. Devemos isso a nós próprios como cidadãos. Mas a verdade é que, durante 20 e tal anos, fui exclusivamente advogado, dedicado aos meus clientes e às sociedades onde trabalhei, não mais do que isso. Como agora, aliás. Perguntar-lhe se é de esquerda é uma maneira de perguntar pela sua história, pela sua essência? Tenho um coração à esquerda, no sentido em que sempre fui muito sensível à situação dos mais frágeis. Sempre me interessei pela maneira como, ao longo da história, se tentou construir sociedades mais igualitá-

“Vejo a reemergência dos movimentos extremistas como um sinal de que o sistema capitalista e a democracia precisam de fazer qualquer coisa” rias, que acabassem com a ideia de estratificação e de que o destino das pessoas é determinado à nascença. Considero que essa é uma matriz de esquerda. Mas, de feitio, sou intrinsecamente moderado, incrementalista, reformista. Falou do valor da liberdade, muito associado a uma certa direita liberal. A liberdade é um valor da democracia. Não pertence à direita nem à esquerda. A ideia de liberdade é uma ideia de autodeterminação. Sou livre para dizer “sim” ou “não” aos meus clientes, às oportunidades profissionais e, com isso, manter integridade e fidelidade aos meus valores. E isso é facilitado quando temos independência económica. Por isso, uma sociedade desigual não garante liberdade aos mais frágeis. Limita a liberdade a quem tem dinheiro. E isso é inaceitável. Mas, como disse há pouco, sou moderado de temperamento. Talvez por ser jurista não acredito em revoluções; acredito em mudanças estabelecidas no seio da democracia. Aliás, acho que a história da democracia ocidental é uma história de progresso inequívoco para a humanidade. A emancipação das classes trabalhadoras aconteceu melhor nas sociedades ocidentais do que noutras. Preocupa-o, já agora, os movimentos extremistas a subirem de tom na Europa e em Portugal? Claro. Sobretudo quando os extremistas chegam ao sistema político e partidário e têm influência no voto. Isto, periodicamente, acontece na História. Sabemos que, quando os regimes começam a falhar, quando deixam de assegurar um nível de bem-estar partilhado, geram descontentamento, geram revolta. Aparecem pessoas a oferecer revoluções, a dizer: “Estes que mandam não vos servem. Eu é que resolverei os vossos problemas”. Temos populistas de direita, como aconteceu nos fascismos nos anos 30 na Europa, mas também temos revoluções de esquerda, com os argumentos: “Trabalhamos 14 horas por dia e ganhamos um salário de fome”. Qual a solução? Quando estas coisas acontecem, as sociedades ou conseguem reformar-se e encontrar um caminho que partilhe benefícios com todos – como aconteceu com a construção do estado social na Europa ou com o New Deal nos Estados Unidos, com o presidente Roosevelt, que reinventou a democracia e o sistema capitalista –, ou então temos extremismos e radicalismos. Normalmente, estes acabam mal, acabam em guerras. Vejo a 23

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