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COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais

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a conversa 24

a conversa 24 reemergência destes movimentos extremistas como um sinal de que o sistema capitalista e a democracia precisam de fazer qualquer coisa. Espero que sejam capazes de mudar, como já fizeram no passado. Espero que não tenhamos de passar novamente pela experiência de ser geridos por extremistas que levam os países à miséria e à guerra. Como é que se definiria como político que foi até há pouco tempo? Eu não me defino como político. Defino-me como cidadão que exerceu temporariamente funções políticas, que é uma coisa diferente. Sentia-se um outsider? Não. Sentia-me completamente comprometido. Tenho a noção de que, enquanto estava no governo, era político. Mas era-o temporariamente. Como avaliaria a experiência? Foi muito boa. Inesquecível. Como foi conhecer a realidade concreta do setor empresarial português? Tenho ideia de que já o conhecia. Não estive propriamente a aprender. Mas é verdade que se tem acesso a um nível de informação e de conhecimento que, noutras funções, seria muito difícil de conseguir. Foi uma experiência que me enriqueceu, também pessoalmente. Preparou-o ainda mais para voltar a ser advogado? Não, nunca vi isso assim. Todas as experiências pelas quais vamos passando na vida devemos vivê-las plenamente, focados no que estamos a fazer. E enriquecem sempre, mas nunca como plataformas para seja lá o que for. Eu, quando era advogado, não estava a pensar que ia ser ministro. O que gostou mais da experiência governativa? O que foi mais reconfortante? Quando se exerce funções políticas, estamos no nível mais elevado de serviço público, com mais impacto na vida das pessoas. Isso é muito emocionante, se quisermos pensar nas coisas assim. Depois, obviamente, tive experiências únicas, como participar no processo de decisão de assuntos com enorme relevo para o país. Ainda por cima, devido à pandemia, vivemos momentos muito intensos, em que tínhamos de tomar decisões muito rapidamente, com muito pouca informação e com verdadeiro impacto na vida das pessoas. Conseguia dormir? Não posso dizer que dormisse muito. “Uma sociedade desigual não garante liberdade aos mais frágeis. Limita a liberdade a quem tem dinheiro. E isso é inaceitável” Quais são os valores na política com que se identifica? O que mais me move é organizar uma sociedade que, de forma mais eficaz, ofereça a todas as pessoas a oportunidade de realizarem os seus sonhos e aspirações, cada vez mais exigentes. Alargar as oportunidades e a capacidade concreta de cada cidadão ter acesso a bens como a educação, saúde, emprego. Isto sim, é recompensador. É a tarefa política mais importante. Para mim, uma sociedade democrática e capitalista tem de assegurar crescimento económico, mas é preciso que isso seja acompanhado de preocupações de coesão social. Nesse sentido, não poderia ter estado numa pasta mais interessante do que a da Economia... Gostei muito da pasta. A tarefa mais interessante como ministro da Economia é criar o contexto mais favorável possível para que as empresas possam desenvolver a sua atividade. Mas, ao mesmo tempo, assegurar uma transformação estrutural da nossa economia. Há 30 anos, a economia portuguesa especializava-se em produtos e atividades de mais baixo valor acrescentado, que competia pelo preço baixo e, portanto, precisava de manter os custos de produção, particularmente os salários, reduzidos. À medida que fomos educando a população, tornou-se impossível manter este modelo. As pessoas mais educadas já não querem aceitar tarefas desqualificadas. Portanto, o trabalho que temos de fazer no país não é só garantir que as empresas funcionam bem. É incentivá-las a gerarem, cada vez mais, produtos de maior valor acrescentado, vendidos mais caros e que permitam melhorar os fatores de produção, designadamente o trabalho. Por outro lado, penalizar quem não acompanha este movimento. Vivemos um momento único, em que temos de aproveitar a oportunidade de transformar estruturalmente a economia? Uma transformação estrutural não é uma coisa que se

dê num estalar de dedos. Demora muito tempo, é preciso manter as políticas consistentemente, por exemplo, educar a população, investir no sistema científico e tecnológico, dar incentivos às empresas para se internacionalizarem… Isso são coisas que, ao fim de vários anos, começam a dar resultado. Quando olho para a estrutura produtiva da economia portuguesa de há 20 anos percebo que muita coisa mudou. Vejo muito mais orientação para os mercados externos e uma diminuição do peso relativo do mercado interno. Vejo pessoas muito mais qualificadas. Portanto, as coisas estão a acontecer. Mas mais devagar do que seria de esperar? Não sei se mais devagar ou mais depressa. Não partilho nada desta ideia de que a economia portuguesa está estagnada há 20 anos. Não acho que seja verdade! Uma economia estagnada é uma economia onde nada se passa. Há quem diga: em 20 anos o crescimento médio do PIB em Portugal foi na ordem de 1%. E é verdade, mas isso não significa que temos uma economia que se limitou a crescer 1% ao ano, sem que nada se passasse. É uma economia que, durante estes 20 anos, teve períodos de crescimento de produto, de destruição de produto, de novo crescimento e de nova destruição. Portanto, andámos assim, aos saltos. E, nesses saltos, houve uma alteração significativa da composição do nosso Produto Interno Bruto. Hoje, temos muito mais empresas exportadoras, estamos a desenvolver uma economia de serviços tecnologicamente avançados, de produção industrial cada vez mais complexa. Há 15 anos, o valor das nossas exportações era inferior a 30% do PIB e, hoje, é de 50%. Exportamos para muito mais mercados e para mercados muito mais exigentes. O investimento estrangeiro que atraímos é em setores tecnologicamente mais avançados. Não é uma economia que esteve parada. É verdade que houve grupos económicos que desapareceram. Tivemos grande destruição de valor em alguns setores, mas noutros estamos a crescer. É este balanceamento que me dá nota de uma transformação estrutural. Portanto, quando olhamos só para a média do crescimento do PIB, não vemos isto. Não se conta a história toda, é isso? Não se conta a história toda. “Talvez por ser jurista não acredito em revoluções; acredito em mudanças estabelecidas no seio da democracia” Ainda assim, em termos de indicadores, a Roménia já passou à nossa frente… Se vocês forem à Roménia não vão achar que eles estão à nossa frente! Faz-se a comparação do PIB per capita relativamente à média da União Europeia (UE) e toda a média da UE está a subir. Portanto, nós temos uma economia mais madura do que esses países que ainda estão no início, ainda estão a crescer muito. Nós crescemos ao mesmo ritmo do que eles nos primeiros 15 anos após a adesão à União Europeia e agora estamos a passar por este período de transformação. Outra questão tem a ver com a conversão do PIB per capita em paridades de poder de compra. Sabemos que 100 euros em Portugal compram muito mais coisas do que 100 euros na Holanda, portanto, corrigimos o PIB português para nos aproximarmos mais da Holanda. Em termos reais, o nosso PIB é cerca de metade do que o da Holanda. Em termos de paridade de poder de compra, aproximamo-nos. A mesma coisa para a Roménia; de facto, 100 euros na Roménia compram muita coisa e essa correção também faz esse desvio. Essa métrica é importante, mas está longe de ser determinante. As métricas determinantes, as que nos mostram se estamos ou não a caminhar no sentido certo, são coisas como o tipo de produção que vamos fazendo, com maior valor acrescentado, se estamos ou não a ter uma economia mais internacionalizada, etc. Isto do ponto de visto económico. E do ponto de vista social? Do ponto de vista social temos indicadores como a escolaridade da população, indicadores de saúde, esperança de vida, qualidade ambiental, etc. Tudo isto nos mostra progressos indubitáveis. Queremos que a economia cresça para darmos melhor bem-estar e qualidade de vida à população. É um otimista? Acredita que há sempre maneira de dar a volta às dificuldades que se vão atravessando pela frente? Não sou um otimista. Mas acho que um dos grandes problemas que os portugueses têm é focarem-se apenas naquilo que acham que está mal. E fazem-no sem que isso crie um impulso de transformação. Pelo contrário, as nossas elites comprazem-se em ser cada vez mais sofisticadas e elegantes a dizer mal do país, como se o país não tivesse esperança. Isto deve vir tudo do 25

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