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COMUNICAÇÕES 247 - PEDRO DOMINGUINHOS O GUARDIÃO DO PRR

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a conversa dificuldades

a conversa dificuldades significativas. Os meus avós maternos tinham uma queijaria na Chança, onde nasci. O meu avô sempre foi muito empreendedor. Era uma pessoa que tinha uma consciência política muito forte. Chegou a ser detido pela PIDE e tinha um enraizamento muito forte no Alentejo. Era um comunista puro, defendia verdadeiramente os valores em que acreditava. Quando se constituíram as cooperativas, ele doou parte significativa dos seus bens à cooperativa. Foi a conviver com ele e com os meus tios que ganhei consciência política, ainda muito pequeno. Sendo tão pequeno, é extraordinário que tenha guardado isso na memória… Brincávamos na rua. A minha aldeia tem um largo enorme, é talvez das aldeias que eu conheço com maior vivência no largo. Tínhamos um ringue (hoje é um polidesportivo), onde jogávamos à bola. Num dia, em 1977, estava a haver uma manifestação de trabalhadores e passa um delegado da UGT da nossa terra. Centenas de pessoas no ringue começaram a chamar fascista ao delegado da UGT. A questão política ficoume muito marcada. 20 Eram outros tempos… Sim. Eu fiz a escola primária numa altura em que existiam ainda quatro turmas na Chança, éramos quase 80 alunos. Hoje, já não existe escola primária. Na sua infância e adolescência alguma vez teve a noção de que era um menino privilegiado? É também uma maneira de perguntar pelos destinos que lhe foram traçando e que foi traçando para si. Falenos mais dessas origens… Não éramos propriamente privilegiados, mas nunca senti carências. Os meus pais trabalhavam. O meu pai na CP, a minha mãe na queijaria. Até inícios dos anos 80 tive uma infância normalíssima. Mas houve algo que me marcou: assisti ao Verão de 75 e aos anos que se seguiram, assisti a todas as ocupações. Eu tenho uma imagem na minha cabeça que nunca mais esquecerei. Que idade tinha? Quatro, cinco, seis anos. Mas ainda tenho imagens desse tempo. Na altura, nós morávamos na Estrada Nacional e os verões eram muito quentes. Não havia ar condicionado e dormíamos a sesta. Recordo-me de estar à janela com a minha mãe e ela dizer: “Fecha-te, porque pode haver problemas”. Estava a passar um trator cheio de trabalhadores rurais com machados, picaretas, enxadas, a caminharem para a ocupação de uma herdade. Foi algo que me toldou, que construiu a minha própria consciência política. Qual o sentido de justiça de alguém ocupar herdades de outras pessoas? Houve situações extremas, de pessoas quase enforcadas… “Sendo eu alentejano, desde muito cedo percebi que a questão do território é essencial e que precisamos de dar voz às pessoas” Apesar de ser muito novinho. As coisas não nos escapavam. Os nossos pais não nos podiam proteger destas questões. Eu vivi o verão quente, uma experiência muito forte, assistimos a muitas ocupações de herdades no Alentejo. Do ponto de vista político, isso construiu de forma muito vincada a minha consciência, a minha noção de justiça social, a noção de propriedade privada. Assisti também ao desenrolar da cooperativa. Os ideais são muito importantes, mas depois quando as pessoas implementam os ideais as coisas descambam, sobretudo quando não se regem por princípios éticos e morais. Assistiu à desilusão do seu avô? Sim. Muito grande. O meu avô teve uma desilusão muito forte porque acreditava verdadeiramente nos ideais e lutou por eles, na sua terra, em Tolosa. Lutou para que os baldios fossem de todos e não apenas, à data, dos ricos. E isso foi muito penalizado, reprimido. Felizmente, ele tinha um amigo que era juiz e que disse à GNR, antes do 25 de Abril, que não era comunista – embora fosse. Ele defendia os interesses da população. Houve muitos radicalismos no calor do momento. Eu sou um democrata, não tolero excessos. Isto marcou-me politicamente. Mas outras coisas também me marcaram. O meu pai sempre teve atividade cívica, foi membro das assembleias de freguesia durante muitos anos. Foi presidente de mesa das eleições durante mais de duas décadas e eu assisti a tudo isso, na altura em que os boletins de voto iam para casa dos presidentes de mesa. Portanto, foi natural esta questão da política e, sobretudo, da consciencialização cívica e de servidor

“Ainda hoje não é normal as pessoas irem para o ensino superior” 21

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