11.04.2013 Views

124 anos da sanção da Lei Áurea: ainda somos um país racista?

124 anos da sanção da Lei Áurea: ainda somos um país racista?

124 anos da sanção da Lei Áurea: ainda somos um país racista?

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

HISTÓRIA<br />

<strong>124</strong> <strong>anos</strong> <strong>da</strong> <strong>sanção</strong> <strong>da</strong> <strong>Lei</strong> <strong>Áurea</strong>: ain<strong>da</strong> <strong>somos</strong><br />

<strong>um</strong> <strong>país</strong> <strong>racista</strong>?<br />

11/05/2012<br />

Depois de tanto tempo <strong>da</strong> assinatura <strong>da</strong> lei que proibiu a escravidão do Brasil, <strong>um</strong>a<br />

pergunta ain<strong>da</strong> fica: <strong>somos</strong> <strong>racista</strong>s? Universia Brasil e professores respondem<br />

Em 1888, a <strong>Lei</strong> áurea foi finalmente<br />

sanciona<strong>da</strong> pela princesa Isabel, filha de<br />

Dom Pedro II<br />

No dia 13 de maio de 1888, mais <strong>da</strong><br />

metade do Brasil estava comemorando.<br />

O País, habitado majoritariamente por<br />

escravos vindo <strong>da</strong> África, havia<br />

sancionado <strong>um</strong>a lei que proibia a<br />

escravidão. No entanto, depois de<br />

muita festa, os trabalhadores chegaram<br />

à conclusão de que pouco havia<br />

mu<strong>da</strong>do. O Brasil não era mais<br />

escravista, porém ain<strong>da</strong> era injusto. Os<br />

reflexos de <strong>um</strong>a história perversa ain<strong>da</strong><br />

estão expostos na nossa socie<strong>da</strong>de e<br />

esta <strong>da</strong>ta é <strong>um</strong> ponto de parti<strong>da</strong> para<br />

entender <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s maiores injustiças<br />

com a qual o brasileiro tem que<br />

conviver – seja pelo simples fato de an<strong>da</strong>r pela rua, seja ao ler os livros de História. »<br />

Professores e alunos: racismo na escola<br />

» A Bahia <strong>racista</strong><br />

» A escravidão no Brasil colônia Conversamos com o professor do Cursinho Oficina do<br />

Estu<strong>da</strong>nte e mestre em história pela Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas (UNICAMP), Rodrigo<br />

Miran<strong>da</strong>, para explicar o contexto <strong>da</strong> <strong>sanção</strong> <strong>da</strong> <strong>Lei</strong> <strong>Áurea</strong> e por que o Brasil, mesmo tendo<br />

proibido a escravidão há tanto tempo, ain<strong>da</strong> é considerado <strong>um</strong> <strong>país</strong> <strong>racista</strong>. Primeiramente, é<br />

necessário entender como a <strong>sanção</strong> <strong>da</strong> <strong>Lei</strong> <strong>Áurea</strong> se deu. “Em 1845, a Inglaterra declarou a <strong>Lei</strong><br />

Bill Aberdeen, que legalizava ataques a navios negreiros no mar. À Inglaterra não lhe interessava<br />

mais o tráfico de escravos por diversos motivos, principalmente, porque era vantajoso para ela<br />

que o mundo tivesse trabalhadores assalariados para comprar seus produtos manufaturados.<br />

Devido a essa lei, o preço do escravo subiu muito no Brasil”, explica o professor. Paralelamente<br />

a isso, no Brasil, havia duas forças de trabalho de produção de café: a do Vale do Paraíba junto<br />

com o Rio de Janeiro e a do Oeste Paulista. “A primeira usava trabalho escravo e a segun<strong>da</strong>,<br />

assalariado de imigrantes. Com o passar do tempo, o polo do Oeste Paulista foi se impondo e o<br />

País começou a enxergar que a escravidão não era <strong>um</strong>a situação apropria<strong>da</strong>”. Além disso, a<br />

população, em geral, “apoiava a ‘libertação’ dos escravos porque eles tinham defendido o Brasil<br />

na Guerra do Paraguai”, conclui o mestre em história. Após leis como Eusébio de Queirós (que<br />

Copyright © 2012 Universia Brasil. Todos os direitos reservados. Página 1 de 2


proibia o tráfico interatlântico de escravo), Ventre Livre (que, na prática, só libertava os que<br />

atingissem a maiori<strong>da</strong>de, ou seja, 21 <strong>anos</strong>, após a lei) e dos Sexagenários (que libertava todos os<br />

escravos com mais de 60 <strong>anos</strong>, sendo que a média de vi<strong>da</strong> de <strong>um</strong> negro no Brasil era de 40<br />

<strong>anos</strong>); em 1888, a <strong>Lei</strong> áurea foi finalmente sanciona<strong>da</strong> pela princesa Isabel, filha de Dom Pedro II.<br />

Estudiosos brasileiros afirmam que o imperador se ausentou do <strong>país</strong> na época para que sua<br />

filha colhesse a populari<strong>da</strong>de de sancionar <strong>um</strong>a <strong>Lei</strong> tão popular. Dom Pedro II estava doente e<br />

planejava colocar sua filha-herdeira no poder do Brasil. Porém, o País se transformou em <strong>um</strong>a<br />

República logo em 1889 com o levante acontecido em 15 de novembro. Mas e como fica o<br />

negro no meio disso? Sem trabalho, marginalizado e, ca<strong>da</strong> vez mais, migrando para os centros<br />

urb<strong>anos</strong>. “Nessa época, o racismo era, inclusive, científico; ou seja, teóricos ‘explicavam’ por<br />

teses, tabelas, estatísticas que os negros eram inferiores e que o Brasil seria melhor sem eles”,<br />

revela Rodrigo Miran<strong>da</strong>. Esse preconceito levou a <strong>um</strong> movimento chamado “branqueamento <strong>da</strong><br />

população” discutido por muitos políticos <strong>da</strong> Primeira República Brasileira. Em geral, eles<br />

desejavam neutralizar os negros com a imigração europeia e coloca-los ca<strong>da</strong> vez mais à margem<br />

<strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de. A consequência disso é óbvia. Quem está isolado, faz o que pode para<br />

sobreviver: trabalha em condições paupérrimas, mora em cortiços, rouba, etc. “Embora a<br />

socie<strong>da</strong>de seja menos tolerante ao racismo, ele ain<strong>da</strong> existe. É só analisar o cenário universitário<br />

atual, em que muitos alunos ain<strong>da</strong> não aceitam o fato de <strong>um</strong> negro entrar no lugar de <strong>um</strong> branco<br />

na universi<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong>s cotas”, opina o professor. O assunto entrou em pauta porque, há<br />

duas semanas, o Congresso votou a constitucionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cotas em Brasília. O assunto<br />

sempre gera polêmica porque, em geral, é difícil aceitar mu<strong>da</strong>nças. Quem sempre se viu<br />

beneficiado de <strong>um</strong> sistema desigual não quer ver o negro penetrar n<strong>um</strong> ambiente<br />

majoritariamente branco: a universi<strong>da</strong>de.<br />

Fonte: Fabrício Bernardes - Universia Brasil<br />

Copyright © 2012 Universia Brasil. Todos os direitos reservados. Página 2 de 2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!