Quereis ver Jesus? Contemplai-O na cruz! - Diocese de Leiria Fátima
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ANO XVI • NÚMERO 47 • jANEIRO / juNhO • 2009<br />
• Destaque • Peregri<strong>na</strong>ção Diocesa<strong>na</strong> • pág. 69<br />
“<strong>Quereis</strong> <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>? <strong>Contemplai</strong>-O <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>!”<br />
• Destaque 2 • pág. 73<br />
Festa do Corpo e Sangue <strong>de</strong> Cristo <strong>na</strong>s ruas <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
“Estar com o Senhor,<br />
caminhar com Ele,<br />
ajoelhar em adoração”<br />
• Especial • Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong> • pág. 77<br />
D. António Marto <strong>na</strong> Vigararia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
• Teologia/Pastoral • 26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009 • pág. 161<br />
Canonização <strong>de</strong> Nuno Álvares Pereira<br />
• história • Saul António Gomes • pág. 185<br />
D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros: elementos sobre o seu episcopado<br />
DOCUMENTOS • <strong>de</strong>cretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong><br />
ANO XVII • NÚMERO 47 • JANEIRO / JUNHO • 2009
Ficha Técnica|<br />
Director | Luís Inácio joão<br />
Chefe <strong>de</strong> Redacção | Luís Miguel Ferraz<br />
Administrador | henrique Dias da Silva<br />
Conselho <strong>de</strong> Redacção<br />
2 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
| Belmira <strong>de</strong> Sousa, jorge Guarda, Luciano Cristino,<br />
Manuel Melquía<strong>de</strong>s, Saul Gomes<br />
Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz<br />
Proprieda<strong>de</strong>/Editor | <strong>Diocese</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> / Gabinete <strong>de</strong> Apoio aos Serviços Pastorais<br />
Se<strong>de</strong><br />
Periodicida<strong>de</strong> | Semestral<br />
| Seminário Diocesano <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> • 2414-011 <strong>Leiria</strong><br />
Tel.: 244832760 • Fax: 244821102<br />
Correio Elec.: revista@leiria-fatima.pt<br />
Tiragem | 330 exemplares<br />
Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assi<strong>na</strong>tura anual)<br />
Impressão | Tipografia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
Depósito Legal | 64587/93
Índice<br />
. editorial .<br />
Prezado Leitor 5<br />
Documentos•••<br />
. <strong>de</strong>cretos .<br />
Nomeação • Incardi<strong>na</strong>ção do padre Gonçalo Diniz 9<br />
Decreto • Remuneração do Clero e funcionários 9<br />
Nomeação • Assistente da Juventu<strong>de</strong> Operária Católica 10<br />
Nomeações • Tribu<strong>na</strong>l Eclesiástico da <strong>Diocese</strong> 10<br />
Nomeações • Responsáveis <strong>de</strong> paróquias e serviços 11<br />
. documentos pastorais .<br />
Nota Pastoral • Peregri<strong>na</strong>ção a <strong>Fátima</strong>, com São Paulo 13<br />
Mensagem para a Quaresma <strong>de</strong> 2009 • Para uma nova Prima<strong>ver</strong>a espiritual 14<br />
Carta aos sacerdotes • “Ano Sacerdotal” 16<br />
. escritos episcopais .<br />
Homilia • Para uma nova prima<strong>ver</strong>a social: Combater a pobreza para construir a paz 19<br />
Homilia <strong>na</strong>s exéquias do Cónego Dr. Carlos da Silva • “Cantarei ao Senhor enquanto vi<strong>ver</strong>” 24<br />
Convite do Senhor Bispo • Jubileu das vocações 27<br />
Homilia • Consagrar o Mundo a Cristo Re<strong>de</strong>ntor por Maria e com Maria 28<br />
Peregri<strong>na</strong>ção Diocesa<strong>na</strong> • “Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>!” – A urgência <strong>de</strong> “ir ao coração da fé” 33<br />
Mensagem à CERCILEI • Serviço e benefício 37<br />
Homilia <strong>na</strong> Missa Crismal • A Beleza do Sacerdócio 38<br />
Na abertura do Congresso Nacio<strong>na</strong>l dos Antigos Alunos dos Seminários • Da memória à profecia 43<br />
Homilia <strong>na</strong> missa <strong>de</strong> encerramento do Congresso • Testemunhas da vida nova em Cristo 45<br />
Saudação <strong>de</strong> Abertura da Peregri<strong>na</strong>ção • Peregri<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> confiança em momento <strong>de</strong> crise 48<br />
Conferencia <strong>de</strong> Imprensa • Solidarieda<strong>de</strong>, responsabilida<strong>de</strong> e confiança 50<br />
Homilia no Dia da Cida<strong>de</strong> • A amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> 52<br />
Abertura do Congresso “Francisco Marto” • É Hora <strong>de</strong> escutar as crianças 56<br />
Homilia no Congresso • “Francisco Marto” 59<br />
Encerramento do Congresso • Palavra <strong>de</strong> gratidão e parabéns 62<br />
17.ª Gala da Rádio Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (25.09.2009) • A Voz da(s) Palavra(s) 64<br />
. di<strong>ver</strong>sos .<br />
Conselho Pastoral Diocesano • Diaco<strong>na</strong>do permanente 65<br />
Conselho Presbiteral - termo <strong>de</strong> mandato • Revisão do ano pastoral 66<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 3
Índice<br />
Vida Eclesial•••<br />
. <strong>de</strong>staque .<br />
Peregri<strong>na</strong>ção diocesa<strong>na</strong> 2009 • “<strong>Quereis</strong> <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>? <strong>Contemplai</strong>-O <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>!” 69<br />
Corpo e Sangue <strong>de</strong> Cristo • “Estar com o Senhor, caminhar com Ele, ajoelhar em adoração” 73<br />
Faleceu o Cónego Carlos da Silva • Servidor do sacerdócio, da <strong>Diocese</strong> e da música 76<br />
4 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
. especial .<br />
Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong> • D. António Marto <strong>na</strong> vigararia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> 77<br />
. notícias .<br />
Resumo noticioso do semestre 84<br />
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
Resumo noticioso do semestre 106<br />
. serviços e movimentos .<br />
Campanha <strong>de</strong> Angariação <strong>de</strong> Fundos • Obras no Seminário Diocesano 114<br />
Centro <strong>de</strong> Formação e Cultura 118<br />
Comissão Diocesa<strong>na</strong> Justiça e Paz • Direitos humanos e Realida<strong>de</strong>s actuais 120<br />
Os Samaritanos 126<br />
Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l da Cáritas – 8 a 15 <strong>de</strong> Março • Juntos, daremos vida à esperança 128<br />
Muitas estrelas <strong>na</strong> festa da Missão • Ondjoyetu promove espectáculo solidário 133<br />
Serviço Diocesano <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l • Formação missionária “Chama que chama” 134<br />
CPM - <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> • Encontros <strong>de</strong> Noivos 2008/2009 135<br />
. entrevistas .<br />
Congresso no centenário do Pastorinho • Francisco Marto – Crescer para o Dom 137<br />
Entrevista a D. A<strong>na</strong>cleto Gonçalves Oliveira • “S. Paulo tor<strong>na</strong>r-se-á uma figura mais popular” 148<br />
Entrevista ao padre Gonçalo Diniz • Aulas <strong>de</strong> EMRCatólica: Uma opção cheia <strong>de</strong> sentido! 151<br />
Entrevista ao Reitor, padre Manuel Armindo Janeiro • O Seminário em Obras 155<br />
Reflexões•••<br />
. teologia/pastoral .<br />
26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009 • Canonização <strong>de</strong> Nuno Álvares Pereira 161<br />
Congresso <strong>de</strong> Antigos Semi<strong>na</strong>ristas • Mais <strong>de</strong> 67 mil portugueses <strong>de</strong>vem formação aos seminários 171<br />
O papel dos mosteiros <strong>de</strong> vida consagrada • Uma presença orante no ano sacerdotal 175<br />
Padre Carlos da Silva • A<strong>de</strong>us ao Mestre <strong>de</strong> todos nós 179<br />
A Igreja da Misericórdia – Que futuro? 183<br />
. história .<br />
Saul António Gomes<br />
D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros: elementos documentais sobre o seu episcopado leiriense 185
Prezado Leitor<br />
Editorial<br />
Queremos pedir <strong>de</strong>sculpa pelo atraso <strong>de</strong> alguns números do <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
– Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>, que circunstâncias várias acabaram por nos<br />
impor. En<strong>de</strong>reçamos o mesmo pedido aos nossos colaboradores e a quantos,<br />
da Administração à Redacção, nunca mitigaram a sua <strong>de</strong>dicação. Na situação<br />
concreta, que não pu<strong>de</strong>mos evitar, não é possível passar adiante como se<br />
<strong>na</strong>da fosse. Envidamos esforços para que a falta seja rapidamente colmatada<br />
e, ultimando já os números que restam <strong>de</strong> 2009 e 2010, esperamos proce<strong>de</strong>r<br />
quanto antes aos respectivos envios.<br />
Aproveitamos para informar que, com o fi<strong>na</strong>l do ano <strong>de</strong> 2010, o Órgão<br />
Oficial dará por concluída a sua publicação. Efectivamente, a difusão documental,<br />
que foi a sua principal incumbência, começou a ser partilhada com<br />
a pági<strong>na</strong> on line, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a <strong>Diocese</strong> en<strong>ver</strong>edou pelos novos trilhos da Internet.<br />
Com o aproveitamento crescente das novas possibilida<strong>de</strong>s, aumentou<br />
a inclusão, que passou a ser exaustiva, da documentação oficial. Esta, conjuntamente<br />
com os Discursos e outras intervenções episcopais, os Subsídios<br />
Pastorais e Informações mais importantes, entre outros, passou a estar disponível<br />
“<strong>na</strong> hora”, colmatando a espera inevitável da publicação em papel. O<br />
Órgão Oficial per<strong>de</strong>u, <strong>de</strong>ste modo, a exclusivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garante da publicação<br />
documental, e foi sendo votado à situação <strong>de</strong> repetidor dispensável, mesmo<br />
que útil. Ao mesmo tempo, viu os seus leitores habituarem-se, cada vez mais<br />
numerosos, à facilida<strong>de</strong> e rapi<strong>de</strong>z do ciberespaço.<br />
A alter<strong>na</strong>tiva apresentada traz seguramente muitas vantagens, mas não<br />
escon<strong>de</strong> os seus inconvenientes. Antes <strong>de</strong> mais, no âmbito pessoal, pedimos<br />
<strong>de</strong>sculpa aos nossos Leitores, sobretudo aos menos familiarizados com a comunicação<br />
digital. Esperamos que os benefícios acabem por suplantar as dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Sobre inconvenientes <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m, ligados, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>damente, à<br />
<strong>na</strong>tureza, tempo <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> e durabilida<strong>de</strong> dos conteúdos, confiamos<br />
que serão conseguidos os bons <strong>de</strong>sígnios, nestes e noutros aspectos, dos responsáveis<br />
pelo novo projecto.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 5
Editorial<br />
Não nos <strong>de</strong>spedimos <strong>de</strong> imediato, pois se aguardam ainda o último número<br />
<strong>de</strong> 2009 e os dois <strong>de</strong> 2010. No entanto, à imagem da futura disponibilização<br />
on line, as edições que ainda serão publicadas, sobretudo as <strong>de</strong> 2010,<br />
confi<strong>na</strong>r-se-ão às partes documental e histórica, a que nos habituámos, e dispensarão<br />
a parte informativa, que facilmente po<strong>de</strong>mos encontrar nos nossos<br />
periódicos.<br />
Bem haja.<br />
O Director<br />
6 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Documentos<br />
. <strong>de</strong>cretos . documentos pastorais .<br />
. escritos episcopais . di<strong>ver</strong>sos .
Nomeação episcopal<br />
Incardi<strong>na</strong>ção do padre Gonçalo Diniz<br />
. <strong>de</strong>cretos .<br />
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />
faz saber quanto segue:<br />
Tendo o Rev.º Padre Gonçalo Corrêa Men<strong>de</strong>s Teixeira Diniz, da Fraternida<strong>de</strong><br />
Missionária Verbum Dei, solicitado a sua incardi<strong>na</strong>ção nesta <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, consi<strong>de</strong>rando as necessida<strong>de</strong>s pastorais do Povo <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>sta<br />
Igreja particular e tendo em conta que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum tempo <strong>de</strong> “exclaustração<br />
simples”, durante o qual <strong>de</strong>sempenhou di<strong>ver</strong>sos serviços nesta <strong>Diocese</strong>,<br />
a Santa Sé lhe conce<strong>de</strong>u o necessário Rescrito (Prot. N. 51171/2008) com<br />
o indulto <strong>de</strong> saída da Fraternida<strong>de</strong> Missionária Verbum Dei e <strong>de</strong> incardi<strong>na</strong>ção<br />
<strong>na</strong> <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>;<br />
Havemos por bem incardi<strong>na</strong>r este sacerdote <strong>na</strong> nossa <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<br />
<strong>Fátima</strong>, segundo a norma dos cânones 265, 267 e 693, integrando-o no Presbitério<br />
diocesano.<br />
<strong>Leiria</strong>, 10 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009.<br />
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
Decreto episcopal<br />
Remuneração do Clero e funcionários<br />
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />
faz saber quanto segue:<br />
De acordo com os Artigos 67º, 68º e 69º do Regulamento da Administração<br />
<strong>de</strong> Bens da Igreja, a remuneração do Clero e funcionários dos serviços<br />
diocesanos terá um aumento <strong>de</strong> 3% neste ano <strong>de</strong> 2009.<br />
O salário mensal do Clero será no valor <strong>de</strong> 848,72 €.<br />
A mesma percentagem (3%) será aplicada à quantia correspon<strong>de</strong>nte ao<br />
alojamento daqueles que resi<strong>de</strong>m em casa da entida<strong>de</strong> patro<strong>na</strong>l, passando a<br />
ser <strong>de</strong> 276,00 €.<br />
Estas alterações são aplicáveis a partir do mês <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2008.<br />
<strong>Leiria</strong>, 12 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009.<br />
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 9<br />
Documentos
. <strong>de</strong>cretos .<br />
Nomeação episcopal<br />
Assistente da Juventu<strong>de</strong> Operária Católica<br />
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />
faz saber quanto segue:<br />
Sendo necessário pro<strong>ver</strong> movimentos eclesiais da necessária assistência<br />
espiritual, havemos por bem nomear Assistente Diocesano da Juventu<strong>de</strong><br />
Operária Católica o Revº Padre Orlandino Barbeiro Bom, que entrará em<br />
funções durante este mês <strong>de</strong> Março.<br />
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo<br />
diocesano.<br />
Esta nomeação é válida pelo período <strong>de</strong> cinco anos.<br />
<strong>Leiria</strong>, 10 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2009.<br />
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
Nomeações episcopais<br />
Tribu<strong>na</strong>l Eclesiástico da <strong>Diocese</strong><br />
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />
faz saber quanto segue:<br />
Tendo termi<strong>na</strong>do o mandato dos di<strong>ver</strong>sos oficiais do Tribu<strong>na</strong>l Eclesiástico<br />
<strong>de</strong>sta <strong>Diocese</strong>, havemos por bem pro<strong>ver</strong> os di<strong>ver</strong>sos cargos da seguinte<br />
forma:<br />
Vigário Judicial:<br />
P. Dr. Fer<strong>na</strong>ndo Clemente Varela<br />
Juízes:<br />
P. A<strong>de</strong>lino Rodrigues Ferreira<br />
Cón. Doutor Américo Ferreira<br />
P. Doutor Augusto Ascenso Pascoal<br />
Dr. José da Conceição Martins Rodrigues e Gonçalves Afonso<br />
P. Dr. Manuel dos Santos José<br />
Defensores do Vínculo e Promotores <strong>de</strong> Justiça:<br />
P. Dr. A<strong>de</strong>lino Filipe Guarda<br />
P. Augusto Gomes Gonçalves<br />
Dr. Ilídio Gonçalves <strong>de</strong> Vasconcelos<br />
10 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. <strong>de</strong>cretos .<br />
Chefe da Chancelaria do Tribu<strong>na</strong>l:<br />
Dr. Ildo da Rocha Silva<br />
Notários–Actuários:<br />
Dr. Francisco <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Moreira<br />
Eng. Sérgio Pinto Macias Marques<br />
Exercerão o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o<br />
Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período <strong>de</strong> cinco anos.<br />
<strong>Leiria</strong>, 11 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2009.<br />
† António Augusto dos Santos Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
Nomeações Episcopais<br />
Responsáveis <strong>de</strong> paróquias e serviços<br />
O Senhor D. António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, proce<strong>de</strong>u às seguintes<br />
nomeações:<br />
O P. Fer<strong>na</strong>ndo Pereira Ferreira é nomeado Pároco <strong>de</strong> Monte Real e <strong>de</strong><br />
Ortigosa, <strong>de</strong>ixando a paroquialida<strong>de</strong> da Maceira.<br />
O P. Marcelo Cavalcante <strong>de</strong> Moraes é nomeado Pároco <strong>de</strong> Maceira.<br />
O P. José Martins Alves é nomeado Pároco das Paróquias <strong>de</strong> São João e<br />
<strong>de</strong> São Pedro, em Porto <strong>de</strong> Mós, e <strong>de</strong> Alcaria. Deixa as paróquias <strong>de</strong> Monte<br />
Real e Carvi<strong>de</strong>.<br />
O P. Sérgio Feliciano <strong>de</strong> Sousa Henriques é nomeado Pároco <strong>de</strong> Vieira <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong> e <strong>de</strong> Carvi<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando as paróquias <strong>de</strong> Caxarias e do Olival. Mantém<br />
as funções <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor do Serviço <strong>de</strong> Apoio Pastoral à Mobilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Amigrante.<br />
O P. Bertolino Vieira é nomeado Pároco <strong>de</strong> Caxarias e <strong>de</strong> Olival, <strong>de</strong>ixando<br />
a paróquia <strong>de</strong> Vieira <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
O P. Isidro da Pieda<strong>de</strong> Alberto é nomeado Pároco <strong>de</strong> Regueira <strong>de</strong> Pontes,<br />
<strong>de</strong>ixando as Paróquias <strong>de</strong> São João e <strong>de</strong> São Pedro, em Porto <strong>de</strong> Mós, e <strong>de</strong><br />
Alcaria.<br />
O P. Vítor José Mira <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> é nomeado Pároco <strong>de</strong> Urqueira. Deixa a<br />
Paróquia <strong>de</strong> Regueira <strong>de</strong> Pontes e mantém as funções <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor do<br />
Serviço <strong>de</strong> Animação Missionária.<br />
O P. Segunda Julieta Miguel, da <strong>Diocese</strong> do Sumbe, em Angola, é nomeado<br />
Vigário Paroquial da Urqueira.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 11<br />
Documentos
. <strong>de</strong>cretos .<br />
O P. Manuel Vítor <strong>de</strong> Pi<strong>na</strong> Pedro é nomeado capelão do Mosteiro da Visitação,<br />
<strong>na</strong> Batalha. Mantém as funções <strong>de</strong> Capelão dos Estabelecimentos<br />
Prisio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
O P. Henrique Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s da Fonseca é dispensado da paroquialida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ortigosa, a seu pedido, por motivos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Mantém as funções <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor<br />
do Serviço <strong>de</strong> Apoio ao Clero.<br />
O P. Virgílio da Silva é dispensado da paroquialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Urqueira, a seu<br />
pedido, por motivos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Assume a colaboração pastoral <strong>na</strong>s paróquias<br />
<strong>de</strong> Bajouca e Carni<strong>de</strong> para as quais é nomeado Vigário Paroquial.<br />
O P. João Rodrigues é nomeado auxiliar da Câmara Eclesiástica.<br />
Além <strong>de</strong>stas nomeações, o Senhor Bispo homologou a nomeação da Irmã<br />
Drª Ângela <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> Coelho, da Congregação da Aliança <strong>de</strong> Santa Maria,<br />
como Adjunta, com direito a sucessão, do Vice-Postulador da Causa <strong>de</strong> Canonização<br />
<strong>de</strong> Francisco e Jacinta Marto.<br />
Vítor Coutinho, Chefe <strong>de</strong> Gabinete Episcopal<br />
12 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. documentos pastorais .<br />
Nota Pastoral<br />
Peregri<strong>na</strong>ção a <strong>Fátima</strong>, com São Paulo<br />
Em 28 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2008, o Santo Padre Bento XVI i<strong>na</strong>ugurou solenemente<br />
um especial ano jubilar <strong>de</strong>dicado a São Paulo, o Apóstolo das gentes,<br />
para comemorar os dois mil anos do seu <strong>na</strong>scimento.<br />
Com esta iniciativa, o Santo Padre quis pôr toda a Igreja “um ano a caminhar<br />
com São Paulo” a fim <strong>de</strong> conhecer a figura <strong>de</strong>ste gran<strong>de</strong> Apóstolo, <strong>de</strong><br />
re<strong>de</strong>scobrir a sua rica mensagem para nós hoje, <strong>de</strong> se e<strong>na</strong>morar cada vez mais<br />
<strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Cristo, <strong>de</strong> reavivar a fé e o ardor missionário.<br />
Assim, o “Ano Paulino é um ano <strong>de</strong> peregri<strong>na</strong>ção não só no sentido <strong>de</strong> um<br />
caminho exterior em direcção aos lugares paulinos, mas também e sobretudo<br />
uma peregri<strong>na</strong>ção do coração, com São Paulo, até <strong>Jesus</strong> Cristo” (Bento XVI).<br />
Neste sentido, a Igreja em Portugal marcou um gran<strong>de</strong> encontro com São<br />
Paulo, numa especial peregri<strong>na</strong>ção a <strong>Fátima</strong>, no dia 25 <strong>de</strong> Janeiro, festa litúrgica<br />
da con<strong>ver</strong>são <strong>de</strong> Paulo a Cristo, no caminho para Damasco. A peregri<strong>na</strong>ção<br />
será presidida por D. Antonine Audo, bispo da Síria, on<strong>de</strong> se situa a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Damasco, com o seguinte programa:<br />
Sábado, 24 <strong>de</strong> Janeiro<br />
21h00 – Rosário, <strong>na</strong> Capelinha das Aparições, e Procissão <strong>de</strong> velas<br />
22h30 – Vigília Pauli<strong>na</strong>, orientada por jovens, <strong>na</strong> Igreja da SSma.Trinda<strong>de</strong><br />
Domingo, 25 <strong>de</strong> Janeiro – Festa da Con<strong>ver</strong>são <strong>de</strong> São Paulo<br />
10h00 – Rosário, <strong>na</strong> Capelinha das Aparições<br />
11h00 – Missa, no Recinto do Santuário, presidida pelo Senhor D. Antonie<br />
Audo, Bispo da Síria<br />
14h00 – Festa Pauli<strong>na</strong>, <strong>na</strong> igreja da Santíssima Trinda<strong>de</strong>: Evocação <strong>de</strong><br />
São Paulo (audiovisual); actuação da Schola Cantorum Pastorinhos <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
e do Coro da Sé do Porto; Declamação <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Convido, pois, todos os diocesanos, paróquias, movimentos, associações a<br />
participarem, <strong>na</strong> medida do possível, nesta gran<strong>de</strong> manifestação <strong>de</strong> fé. E peço<br />
aos Re<strong>ver</strong>endos Párocos que mobilizem as suas comunida<strong>de</strong>s neste sentido.<br />
Lembro ainda que o ofertório das Missas, nesse dia, se <strong>de</strong>sti<strong>na</strong> aos pobres<br />
através da Cáritas Diocesa<strong>na</strong>. É um gesto-si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> actualização da gran<strong>de</strong> colecta<br />
que São Paulo realizou a favor dos pobres da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jerusalém.<br />
<strong>Leiria</strong>, 5 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 13<br />
Documentos
. documentos pastorais .<br />
Mensagem para a Quaresma <strong>de</strong> 2009<br />
Para uma nova Prima<strong>ver</strong>a espiritual<br />
1. Peregri<strong>na</strong>ção interior às fontes da fé<br />
Estamos prestes a entrar <strong>na</strong> “Gran<strong>de</strong> e Santa Quaresma”, segundo a bela<br />
expressão dos nossos irmãos cristãos ortodoxos. Durante quarenta dias, todos<br />
os cristãos são convidados a fazerem uma revisão <strong>de</strong> vida e a reavivarem o<br />
dom da fé, recebido no baptismo, para celebrarem a Páscoa da Ressurreição<br />
com um coração novo. Quem não sente a necessida<strong>de</strong> dum tempo forte <strong>de</strong><br />
mais recolhimento para pôr a vida em or<strong>de</strong>m?<br />
Neste ano jubilar <strong>de</strong>dicado a S. Paulo, a Quaresma é, <strong>de</strong> modo especial, o<br />
tempo privilegiado para ir beber à fonte, ao coração do mistério da fé com a<br />
ajuda do Apóstolo. Queremos pois que a nossa Quaresma seja uma etapa da<br />
peregri<strong>na</strong>ção do coração, com S. Paulo, até <strong>Jesus</strong> Cristo: uma peregri<strong>na</strong>ção<br />
interior às raízes da fé, ao encontro pessoal com Cristo vivo.<br />
2. Retiro espiritual com S. Paulo<br />
Neste sentido proponho à diocese um “retiro popular”, acessível a todo o<br />
povo <strong>de</strong> Deus, com o tema “Permanecer no coração da fé com S. Paulo”, em<br />
or<strong>de</strong>m a um aprofundamento da fé e a uma revitalização da vida espiritual.<br />
Como no ano passado, convido os cristãos a reunirem-se em pequenos<br />
grupos informais, uma vez por sema<strong>na</strong>, durante uma hora, a fim <strong>de</strong> meditarem<br />
alguns belos textos <strong>de</strong> S. Paulo, segundo o método da leitura orante da<br />
Palavra <strong>de</strong> Deus (a lectio divi<strong>na</strong>) e partilharem a fé. Para este efeito já foi distribuído<br />
pelas paróquias um guião como subsídio para o retiro. Peço aos párocos<br />
o melhor empenho <strong>na</strong> organização <strong>de</strong>ste gran<strong>de</strong> retiro do Povo <strong>de</strong> Deus.<br />
Na escuta e meditação da Palavra, cada um apren<strong>de</strong>rá a ler o seu coração<br />
e a sua vida com o olhar benévolo, misericordioso, amigo e cordial <strong>de</strong> Deus<br />
e a abrir-se à Sua graça e à Sua novida<strong>de</strong>. E, certamente, <strong>de</strong>scobrirá surpresas<br />
<strong>de</strong> Deus!<br />
“O coração humano – o teu, o meu, o <strong>de</strong> todos – é mais rico <strong>de</strong> quanto<br />
possa parecer; é mais sensível <strong>de</strong> quanto se possa imagi<strong>na</strong>r; é gerador <strong>de</strong><br />
energias inesperadas; é uma mi<strong>na</strong> <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s muitas vezes pouco conhecidas<br />
ou até sufocadas pela frustrante convicção <strong>de</strong> que “ como assim, é<br />
impossível mudar alguma coisa” ou então “eu já não consigo”. Experimenta<br />
interrogar-te sobre as <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>s que estão no mais profundo <strong>de</strong> ti. É um direito<br />
14 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. documentos pastorais .<br />
teu interrogares-te para te conheceres <strong>na</strong>s tuas luzes e sombras, para saberes<br />
don<strong>de</strong> vens, para on<strong>de</strong> estás a caminhar, que sentido tem a tua vida.<br />
E no silêncio <strong>de</strong> algum momento sente-te querido por Deus e procura<br />
conhecer <strong>Jesus</strong>. Quando O conheceres, senti-lo-ás próximo, amigo, vivo. E<br />
quando fizeres a experiência <strong>de</strong> suscitar um sorriso ou acen<strong>de</strong>r uma esperança<br />
<strong>na</strong> vida dos outros, dar-te-ás conta <strong>de</strong> que também <strong>na</strong> tua vida ha<strong>ver</strong>á mais<br />
luz, mais sentido, mais alegria” (Car<strong>de</strong>al Martini).<br />
Tenho a certeza <strong>de</strong> que o retiro popular, vivido nesta perspectiva, <strong>de</strong>spertará<br />
uma nova prima<strong>ver</strong>a espiritual, uma prima<strong>ver</strong>a da fé <strong>na</strong>s nossas comunida<strong>de</strong>s<br />
cristãs.<br />
3. O perfume do jejum e da partilha<br />
Esta perspectiva ajuda-nos ainda a <strong>de</strong>scobrir o sentido da antiga e sempre<br />
actual praxis do jejum e da partilha quaresmais.<br />
“Quando jejuares, perfuma a tua cabeça”, diz o Evangelho. Que perfume<br />
querem os cristãos espalhar nesta Quaresma <strong>de</strong> 2009? Na Mensagem para<br />
a Quaresma, o Santo Padre Bento XVI convida a “valorizar o significado<br />
autêntico e perene <strong>de</strong>sta antiga prática penitencial do jejum que po<strong>de</strong> ajudarnos<br />
a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o nosso coração ao amor <strong>de</strong> Deus<br />
e do próximo”.<br />
Neste sentido, o jejum – <strong>na</strong>s várias formas expressivas da sobrieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> consumo – tor<strong>na</strong>-se oração e comunhão. Reaviva o amor. Abre no<br />
coração a fonte da partilha. Não faz barulho, mas dá frutos <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong><br />
carida<strong>de</strong>.<br />
Neste ano marcado pela crise sócio-económica, cujas primeiras vítimas<br />
são os mais pobres, o fruto da habitual renúncia quaresmal <strong>na</strong> nossa diocese<br />
será <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do a duas instituições: ao Centro <strong>de</strong> Acolhimento da Paróquia da<br />
Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> que serve alimentação e outros apoios às pessoas sem abrigo que<br />
passam pela cida<strong>de</strong> ou nela vivem, e à Comunida<strong>de</strong> Vida e Paz ao serviço dos<br />
sem abrigo e da recuperação dos toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
A todos os diocesanos <strong>de</strong>sejo uma “gran<strong>de</strong> e santa Quaresma”!<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
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Documentos
. documentos pastorais .<br />
Carta aos sacerdotes<br />
“Ano Sacerdotal”<br />
Caros irmãos Padres:<br />
Após um frutuoso ano <strong>de</strong>dicado a S. Paulo, o Santo Padre propõe a toda<br />
a Igreja um “Ano Sacerdotal”, com o sugestivo lema “Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo,<br />
fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do padre”. E coloca-o sob a égi<strong>de</strong> e inspiração do Santo Cura d’<br />
Ars, por ocasião do 150º ani<strong>ver</strong>sário da sua morte.<br />
Ao completar três anos da minha tomada <strong>de</strong> posse como bispo da diocese,<br />
resolvi escre<strong>ver</strong> uma carta aos meus irmãos padres sobre o Ano Sacerdotal,<br />
que mais directamente nos diz respeito, acrescentando algumas informações.<br />
Peço, pois, a vossa benevolência para a ler<strong>de</strong>s.<br />
A acção do Cura d’ Ars <strong>de</strong>senvolveu-se numa situação caracterizada pela<br />
indiferença, pela hostilida<strong>de</strong> e pelo cinismo em relação ao cristianismo e à<br />
Igreja, num mundo pós-revolução francesa. O estado <strong>de</strong> crise da Igreja no seu<br />
tempo assemelha-se, em vários pontos, à situação que a Igreja enfrenta hoje.<br />
A referência ao Santo Patrono não po<strong>de</strong> ser vista como uma “cópia” conforme<br />
ao mo<strong>de</strong>lo. Deve ser, antes, compreendida como uma dinâmica espiritual<br />
e pastoral <strong>de</strong> que ele continua a ser inspirador. De facto, o povo<br />
apreciava nele o sacerdócio acorrendo em multidão, enquanto o via como<br />
testemunha da ternura salvífica <strong>de</strong> Cristo e da santida<strong>de</strong> <strong>na</strong> entrega total e<br />
quotidia<strong>na</strong> ao seu ministério <strong>de</strong> pastor.<br />
Por que razões o Papa Bento XVI <strong>de</strong>cidiu então proclamar um Ano Sacerdotal?<br />
1. Em primeiro lugar, o Ano Sacerdotal preten<strong>de</strong> levar as comunida<strong>de</strong>s<br />
cristãs a tomar consciência do ministério dos padres como um dom <strong>de</strong> Deus<br />
essencial para a vida e a missão da Igreja, portanto, das próprias comunida<strong>de</strong>s.<br />
É que hoje vivemos numa cultura on<strong>de</strong> se me<strong>de</strong> tudo pelo funcio<strong>na</strong>l. E<br />
entre o povo cristão também se infiltrou esta visão <strong>de</strong>formada e redutora<br />
acerca do padre como funcionário duma instituição religiosa, um prestador<br />
<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> que se tem necessida<strong>de</strong> algumas horas <strong>na</strong> vida. Assim per<strong>de</strong>se<br />
a dimensão sobre<strong>na</strong>tural do sacerdócio <strong>de</strong> Cristo e dos padres para o povo<br />
<strong>de</strong> Deus e a humanida<strong>de</strong>.<br />
Hoje como ontem, os padres são um dom inestimável e necessário para<br />
a beleza e a saú<strong>de</strong> espirituais da Igreja e do mundo.<br />
16 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. documentos pastorais .<br />
On<strong>de</strong> o bem estar é o limite do horizonte, eles anunciam o Invisível que<br />
é Deus-Amor e a esperança que ele suscita e oferece.<br />
On<strong>de</strong> o que é rentável e mensurável domi<strong>na</strong> e tor<strong>na</strong> prisioneira a vida,<br />
eles querem ser “profetas” do Evangelho do amor e da liberda<strong>de</strong> autênticos.<br />
On<strong>de</strong> as divisões ferem e <strong>de</strong>stroem as relações, eles oferecem o dom do<br />
perdão divino e abrem caminhos <strong>de</strong> reconciliação, <strong>de</strong> comunhão e <strong>de</strong> paz.<br />
No meio das mudanças profundas da nossa socieda<strong>de</strong>, os padres querem<br />
ser pastores bons e compassivos, incansáveis testemunhas da ternura e da misericórdia<br />
<strong>de</strong> Deus que salva o mundo. “Um bom pastor, um pastor segundo<br />
o coração <strong>de</strong> Deus, é o maior tesouro que Deus po<strong>de</strong> dar a uma paróquia e um<br />
dos mais preciosos dons da misericórdia divi<strong>na</strong>” (Cura d’Ars).<br />
2. Em segundo lugar, o Ano Sacerdotal preten<strong>de</strong> levar os próprios padres<br />
a re<strong>de</strong>scobrir a beleza do seu sacerdócio, a dar um “salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>” <strong>na</strong> sua<br />
vida espiritual e pastoral, <strong>na</strong> sua entrega a Cristo e ao seu povo, para correspon<strong>de</strong>rem<br />
o mais dig<strong>na</strong>mente possível ao dom e à responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
são portadores. É o que chamamos a “segunda con<strong>ver</strong>são”.<br />
Homens tomados <strong>de</strong> entre os homens, os padres também conhecem as<br />
suas próprias fragilida<strong>de</strong>s e apoiam-se <strong>na</strong> graça <strong>de</strong> Deus (“Basta-te a minha<br />
graça”- disse o Senhor a Paulo), <strong>na</strong> fraternida<strong>de</strong> do presbitério e no amor e<br />
carinho das comunida<strong>de</strong>s que servem.<br />
A gran<strong>de</strong>za do ministério do padre não vem ape<strong>na</strong>s do po<strong>de</strong>r “agir em<br />
nome <strong>de</strong> Cristo” para anunciar o Evangelho, para celebrar a Eucaristia, para<br />
perdoar e para construir a comunhão. A força da sua missão vem também<br />
do facto <strong>de</strong> que as suas palavras e os seus gestos, pelos quais Cristo age no<br />
mundo, se enraízam <strong>na</strong> oferta que ele faz da sua própria vida a Cristo e aos<br />
irmãos, em cada dia.<br />
Tal como os pais fazem tantos sacrifícios para alimentar, vestir e educar<br />
os filhos, assim também o sacerdote os realiza, como pai espiritual, para assegurar<br />
os dons da salvação ao povo que Deus lhe confiou. E isto só se faz<br />
com muita fé e muito amor! O próprio celibato é a expressão dum amor que<br />
dá a vida pelo seu povo.<br />
A usura do tempo leva porém a esmorecer os entusiasmos do início: é<br />
o pó do tempo a cobrir <strong>de</strong> insensibilida<strong>de</strong> mesmo as maiores realida<strong>de</strong>s.<br />
Tor<strong>na</strong>-se então mais propenso a “calcular” o que se dá; a sentir o peso <strong>de</strong> um<br />
cansaço subtil; a agir <strong>de</strong> modo quase mecânico, privando <strong>de</strong> alma mesmo os<br />
gestos mais nobres e sagrados. Facilmente se po<strong>de</strong> resvalar para uma mediocrida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 17<br />
Documentos
. documentos pastorais .<br />
Não basta pois uma fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> puramente exterior, resig<strong>na</strong>da, compensada<br />
por algum “sucedâneo” mais ou menos lícito ou agradável.<br />
Por tudo isto, o Ano Sacerdotal é um apelo aos sacerdotes a um exame<br />
<strong>de</strong> consciência e a dar um salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>na</strong> vivência do nosso sacerdócio.<br />
Em concreto: renovar o entusiasmo do primeiro “sim”; intensificar a<br />
renovação da vida espiritual “num coração a coração com Cristo” (Bento<br />
XVI), aproveitando as recolecções mensais e o retiro anual; ter uma “regra <strong>de</strong><br />
vida” que assegure tempo e espaço para Deus e para os fiéis bem como para<br />
o repouso salutar; recuperar a fraternida<strong>de</strong> sacramental do presbitério frente<br />
a uma forte tendência para o individualismo no exercício do ministério; valorizar<br />
os dons e carismas dos fiéis, a sua corresponsabilida<strong>de</strong> <strong>na</strong> edificação da<br />
comunida<strong>de</strong>; cuidar, com <strong>de</strong>svelo, das vocações ao sacerdócio.<br />
Que no vosso rosto brilhe a alegria <strong>de</strong> ser padre! Testemunhai com a vossa<br />
alegria irradiante que vale a pe<strong>na</strong> ser padre! Propon<strong>de</strong>, com coragem, o caminho<br />
cristão da alegria!<br />
Na sequência <strong>de</strong>sta reflexão ouso solicitar a vossa participação interessada<br />
nos seguintes eventos eclesiais, marcando-os <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>na</strong> vossa agenda.<br />
O VI Simpósio do Clero <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong> 1 a 4 <strong>de</strong> Setembro próximo, em<br />
<strong>Fátima</strong>, com o belo e apropriado tema: ”Reaviva o dom que há em ti”. As<br />
inscrições <strong>de</strong>vem ser enviadas para o Vigário Geral, até 31 <strong>de</strong> Julho, com o<br />
valor requerido para a inscrição.<br />
A Festa da Dedicação da Catedral no dia 13 <strong>de</strong> Julho, com celebração da<br />
eucaristia às 19 horas, que revestirá o tom <strong>de</strong> abertura do Ano Sacerdotal <strong>na</strong><br />
nossa diocese.<br />
A “Festa da Fé. Rosto(s) da Igreja Diocesa<strong>na</strong>”, <strong>de</strong> 21 a 23 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />
2010, <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, com vários eventos, a culmi<strong>na</strong>r o próximo ano<br />
pastoral <strong>de</strong>dicado à comunida<strong>de</strong> cristã. Mais tar<strong>de</strong> dar-se-à informação mais<br />
pormenorizada sobre esta festa <strong>de</strong> nível diocesano, que está em preparação.<br />
Os turnos <strong>de</strong> formação permanente para o clero <strong>de</strong> 18 a 22 e <strong>de</strong> 25 a 29<br />
<strong>de</strong> Janeiro, que terão lugar <strong>na</strong> Casa das Irmãs Francisca<strong>na</strong>s Hospitaleiras da<br />
Imaculada Conceição, em Linda-a-Pastora, nos arredores <strong>de</strong> Lisboa.<br />
A todos e a cada um dos sacerdotes renovo a expressão da minha estima<br />
pessoal e toda a gratidão pelo trabalho <strong>de</strong>dicado e por toda a colaboração.<br />
Confio-vos a todos, <strong>na</strong> oração, à protecção mater<strong>na</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora, Rainha<br />
dos Apóstolos.<br />
Um abraço fraterno do vosso irmão bispo,<br />
<strong>Leiria</strong>, 25 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
18 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Homilia no Dia Mundial da Paz<br />
. escritos episcopais .<br />
Para uma nova prima<strong>ver</strong>a social:<br />
Combater a pobreza<br />
para construir a paz<br />
No início do Ano Novo, a Palavra do Senhor, referida pela primeira leitura,<br />
vem ao nosso encontro como bênção ensi<strong>na</strong>da por Deus a Moisés. É uma<br />
bênção que chega até nós, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a noite dos tempos, alegrando e confortando<br />
o nosso coração, trazendo-nos esperança e consolação para os dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Po<strong>de</strong>mos, assim, resumir os votos <strong>de</strong> início <strong>de</strong> ano com esta oração: Olha<br />
propício para nós, Senhor; protege-nos e conce<strong>de</strong>-nos a paz!<br />
Esta paz tem um rosto, <strong>Jesus</strong> Cristo, Príncipe da paz, dado à luz e à nossa<br />
contemplação por Maria, cuja maternida<strong>de</strong> divi<strong>na</strong> hoje celebramos.<br />
E é precisamente neste primeiro dia do ano que estamos reunidos a rezar<br />
pela paz, a pedir que os homens se u<strong>na</strong>m em projectos comuns <strong>de</strong> paz.<br />
1. Os múltiplos rostos da pobreza, hoje<br />
Para esta ocasião, o Santo Padre oferece-nos uma mensagem “combater<br />
a pobreza para construir a paz”, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>sejaria sublinhar alguns aspectos.<br />
O Papa começa por nos ad<strong>ver</strong>tir <strong>de</strong> que, se não há paz, é porque <strong>de</strong>ixamos<br />
<strong>de</strong> nos preocupar, conscientemente, por aquela parte tão gran<strong>de</strong> da humanida<strong>de</strong><br />
(1/3) que é constituída pelos miseráveis, os indigentes, os mais pobres. E<br />
sublinha como as condições <strong>de</strong> extrema pobreza em que vivem hoje inumeráveis<br />
populações são uma séria ameaça à paz. “Trata-se <strong>de</strong> um problema que<br />
se impõe à consciência da humanida<strong>de</strong>” e a cada um <strong>de</strong> nós. Não po<strong>de</strong>mos<br />
escamoteá-lo.<br />
Não po<strong>de</strong>mos esquecer que a paz está sempre unida à garantia <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s<br />
e condições mínimas <strong>de</strong> vida, isto é, a direitos sociais mínimos como o<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 19<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
direito à educação, à saú<strong>de</strong>, ao trabalho, a uma casa dig<strong>na</strong>, etc. O que mostra<br />
bem como é possível falar <strong>de</strong> uma paz positiva, muito para além da simples<br />
ausência <strong>de</strong> conflitos.<br />
O tema escolhido para este dia mundial da Paz inscreve-se <strong>na</strong> actualida<strong>de</strong><br />
da crise económico-fi<strong>na</strong>nceira e das suas consequências, <strong>de</strong> que os mais<br />
pobres são as primeiras vítimas. O Papa a<strong>na</strong>lisa o fenómeno da pobreza no<br />
contexto da globalização e traça os múltiplos rostos <strong>de</strong> pobreza - um retrato<br />
dos lugares da pobreza.<br />
A questão da pobreza é, <strong>na</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, um problema material <strong>de</strong> economia e<br />
fluxos fi<strong>na</strong>nceiros. Mas é também e sobretudo um problema cultural, moral e<br />
espiritual porque está em causa a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa huma<strong>na</strong>. Por isso,<br />
Bento XVI convida-nos a uma ampla e articulada visão da pobreza: material,<br />
relacio<strong>na</strong>l, moral e espiritual.<br />
A pobreza manifesta os seus di<strong>ver</strong>sos rostos, concretamente, <strong>na</strong>s vítimas<br />
<strong>de</strong> doenças e pan<strong>de</strong>mias, às quais faltam os cuidados básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; <strong>na</strong><br />
pobreza absoluta <strong>de</strong> 900 milhões <strong>de</strong> crianças no mundo, as vítimas mais vulneráveis;<br />
<strong>na</strong> corrida aos armamentos (que cresceu 6% em relação a 2006)<br />
<strong>de</strong>sviando recursos económicos e humanos dos projectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
dos países mais pobres; <strong>na</strong> amplidão da crise alimentar tanto mais escandalosa<br />
quanto não é provocada por uma insuficiência <strong>de</strong> recursos mas por<br />
uma especulação económica, pondo em cheque a satisfação das necessida<strong>de</strong>s<br />
básicas; no aumento do fosso entre os ricos e os pobres.<br />
Estes aspectos da pobreza são outros tantos <strong>de</strong>safios <strong>na</strong> promoção e construção<br />
da paz.<br />
Origi<strong>na</strong>l é, sem dúvida, o convite a consi<strong>de</strong>rar a pobreza do ponto <strong>de</strong><br />
vista das crianças. Na pobreza das crianças reflectem-se os vários rostos da<br />
pobreza e vêem-se, automaticamente, as priorida<strong>de</strong>s. “Consi<strong>de</strong>rar a pobreza,<br />
pondo-se da parte das crianças, leva a consi<strong>de</strong>rar prioritários aqueles objectivos<br />
que lhes dizem mais directamente respeito, por exemplo, os cuidados<br />
maternos, a educação, o acesso aos cuidados médicos e à água potável, a<br />
salvaguarda do ambiente, e sobretudo o empenho <strong>na</strong> <strong>de</strong>fesa da família e da<br />
estabilida<strong>de</strong> das relações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la” (n. 5)<br />
Nesta linha, um Nobel da Paz, o bispo D. Tutu, ad<strong>ver</strong>te-nos: “Em cada<br />
3,6 segundos, alguém morre <strong>de</strong> fome; e em três sobre quatro casos trata-se<br />
<strong>de</strong> crianças abaixo dos cinco anos. Se compreendêssemos que somos uma só<br />
família, não consentiríamos que uma coisa do género suce<strong>de</strong>sse a um nosso<br />
irmão ou irmã”.<br />
20 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
2. Repensar o mundo a partir da solidarieda<strong>de</strong>:<br />
para uma nova prima<strong>ver</strong>a social<br />
. escritos episcopais .<br />
O escândalo da pobreza manifesta a insuficiência dos actuais sistemas da<br />
convivência huma<strong>na</strong> <strong>na</strong> promoção do bem comum. Isto tor<strong>na</strong> necessária uma<br />
reflexão sobre as raízes profundas da pobreza material e também sobre a miséria<br />
espiritual que tor<strong>na</strong> o homem indiferente aos sofrimentos do próximo.<br />
Vivemos, sem dúvida, um momento <strong>de</strong> crise global, a nível planetário, um<br />
momento propício para nos perguntarmos que tipo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mundo<br />
queremos construir. As crises são uma chamada <strong>de</strong> atenção ou um alarme<br />
para mudar o mundo e edificá-lo sobre outras bases.<br />
Numa visão realista, o Papa oferece algumas <strong>de</strong>ssas bases. No quadro da<br />
globalização, para combater a pobreza é necessária uma solidarieda<strong>de</strong> global.<br />
Numa frase <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> efeito e alcance afirma: “a globalização, por si<br />
só, é incapaz <strong>de</strong> construir a paz. Só a loucura po<strong>de</strong> levar a construir uma<br />
casa dourada (dos ricos), mas ro<strong>de</strong>ada pelo <strong>de</strong>serto ou pela <strong>de</strong>gradação (os<br />
pobres)”(n.14). É um grito <strong>de</strong> alarme e um chamamento à esperança activa<br />
para que possa <strong>na</strong>scer uma nova prima<strong>ver</strong>a social, uma nova, mais profunda<br />
e uni<strong>ver</strong>sal solidarieda<strong>de</strong>. Sem a solidarieda<strong>de</strong> global todos acabaremos por<br />
nos afundar.<br />
Descendo ao concreto, especifica alguns aspectos <strong>de</strong>sta solidarieda<strong>de</strong>:<br />
1) Uma nova sensibilida<strong>de</strong> e um novo olhar como atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundo.<br />
Neste sentido, o Papa interpela a responsabilida<strong>de</strong> e a consciência <strong>de</strong> cada<br />
um. Um mundo di<strong>ver</strong>so só po<strong>de</strong> ser possível “se cada um se sentir pessoalmente<br />
ferido pelas injustiças existentes no mundo e pelas violações dos direitos<br />
humanos a elas ligadas” (n.8). “Sentir-se pessoalmente ferido” – é uma<br />
belíssima expressão porque traz também para o interior do horizonte <strong>de</strong> cada<br />
um, problemas que parecem ingo<strong>ver</strong>náveis e procura tirar-nos da indiferença.<br />
Não pensemos que a luta contra a pobreza e a fome se joga só nos tabuleiros<br />
do xadrez inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Joga-se também no plano das consciências individuais.<br />
Só homens “feridos” por este escândalo e apaixo<strong>na</strong>dos pelo <strong>de</strong>stino<br />
dos outros po<strong>de</strong>m construir uma civilização di<strong>ver</strong>sa.<br />
2) Mobilização <strong>de</strong> todos os actores em campo numa sinergia <strong>de</strong> acção.<br />
Numa perspectiva económico-cultural, Bento XVI lembra que o combate<br />
sistemático à pobreza requer a mobilização <strong>de</strong> três actores: o mercado, o estado<br />
e a socieda<strong>de</strong> civil: “Pôr os pobres em primeiro lugar comporta que se<br />
reserve um espaço a<strong>de</strong>quado a uma correcta lógica económica da parte dos<br />
actores do mercado inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, a uma correcta lógica política por parte dos<br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
actores institucio<strong>na</strong>is e a uma correcta lógica participativa capaz <strong>de</strong> valorizar<br />
a socieda<strong>de</strong> civil, local e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l” (n.12)<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma passagem relevante, porque vem revalorizar o papel da<br />
socieda<strong>de</strong> civil, com a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa gratuita e criadora <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong>s que com a sua proximida<strong>de</strong> chega on<strong>de</strong> e como o Estado não<br />
é capaz.<br />
A luta contra a pobreza, num contexto <strong>de</strong> globalização, requer um <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro<br />
envolvimento das pessoas. Os problemas do <strong>de</strong>senvolvimento, das<br />
ajudas e da cooperação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l são muitas vezes resolvidos como meras<br />
questões técnicas <strong>de</strong> predisposição <strong>de</strong> estruturas, <strong>de</strong> acordos tarifários, <strong>de</strong><br />
disposição <strong>de</strong> fi<strong>na</strong>nciamentos anónimos. Ora a luta contra a pobreza tem necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> homens e mulheres que vivam profundamente a fraternida<strong>de</strong> e<br />
sejam capazes <strong>de</strong> acompanhar pessoas, famílias e comunida<strong>de</strong>s em percursos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />
3) Promo<strong>ver</strong> a cultura da legalida<strong>de</strong><br />
Aquilo que a globalização tornou evi<strong>de</strong>nte, através da actual crise fi<strong>na</strong>nceira,<br />
é que um mercado sem regras é um mercado sem alma que tornou mais<br />
miserável a condição dos pobres no mundo. Um mercado go<strong>ver</strong><strong>na</strong>do só pela<br />
avi<strong>de</strong>z do lucro imediato, a qualquer preço, por parte dos mais fortes, está<br />
inevitavelmente <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do a corromper as nossas almas. É preciso ter em<br />
conta as razões da solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do processo económico. Para isso, o<br />
Papa aponta, mais uma vez, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um “código ético fundamental”<br />
a fim <strong>de</strong> conter a <strong>de</strong>generação <strong>de</strong> comportamentos <strong>de</strong>vida aos mecanismos do<br />
mercado, tais como a corrupção, a especulação, a crimi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>.<br />
Mas, para além disso, é preciso também cultivar as virtu<strong>de</strong>s: a mo<strong>de</strong>ração<br />
no alcance <strong>de</strong> enriquecimentos pessoais; a recusa <strong>de</strong> especulações exploradoras;<br />
a tutela da ocupação, hoje tão precária, bem como a dos aforradores.<br />
Sem ética e sem virtu<strong>de</strong>s serão a mentira e a barbárie a triunfar sobre tudo e<br />
sobre todos.<br />
3. O que posso fazer? O que po<strong>de</strong>mos fazer?<br />
Perante os vários rostos da pobreza, agravada pela crise mundial, a inquietação<br />
está aí. Lê-se nos rostos; diz-se <strong>na</strong>s con<strong>ver</strong>sas. Cada dia somos testemunhas<br />
<strong>de</strong> novas dificulda<strong>de</strong> económicas e sociais. Tomemos tempo para<br />
reflectir sobre aquilo a que esta crise nos convida.<br />
Que posso fazer? Que po<strong>de</strong>mos fazer? – São interrogações que nos inquietam<br />
como indivíduos e como comunida<strong>de</strong>s. Nem um lí<strong>de</strong>r carismático,<br />
22 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
nem uma campanha política têm a solução mágica. Todos estamos em causa<br />
como parte da solução do problema.<br />
Há um estilo <strong>de</strong> vida, construído sobre o consumismo, que todos somos<br />
convidados a mudar para voltar a uma saudável sobrieda<strong>de</strong>, si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> justiça<br />
antes ainda <strong>de</strong> ser si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>.<br />
Há uma nova prima<strong>ver</strong>a social a fazer florescer <strong>na</strong>s nossas cida<strong>de</strong>s e al<strong>de</strong>ias,<br />
feita <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> para sair do anonimato e do isolamento, para que<br />
ninguém se sinta abando<strong>na</strong>do; feita <strong>de</strong> apoio mútuo, <strong>de</strong> cooperação em re<strong>de</strong><br />
porque só juntos é possível enfrentar e superar as dificulda<strong>de</strong>s que experimentamos<br />
e se perspectivam.<br />
Peço a todas as comunida<strong>de</strong>s cristãs e à Caritas diocesa<strong>na</strong> que reflictam<br />
sobre as várias formas <strong>de</strong> pobreza, realizem um sério discernimento das necessida<strong>de</strong>s,<br />
elaborem projectos criativos <strong>de</strong> ajuda, mobilizem as comunida<strong>de</strong>s<br />
e <strong>de</strong>cidam o melhor modo <strong>de</strong> actuar.<br />
Alargando o nosso olhar à situação do país, parece-nos encontrar os traços<br />
<strong>de</strong> um país cansado, abatido e dividido. Uma das razões <strong>de</strong>ste cansaço é<br />
o alto nível <strong>de</strong> crispação e <strong>de</strong> litigiosida<strong>de</strong> da política, expressão <strong>de</strong> divisões<br />
profundas, enraizadas tantas vezes em lógicas <strong>de</strong> interesses partidários e incapazes<br />
<strong>de</strong> levantar o olhar para o horizonte mais amplo e profundo do bem<br />
comum. Seria <strong>de</strong> perguntar: os 18% <strong>de</strong> pessoas que vivem no limiar da pobreza<br />
e o <strong>de</strong>snível entre ricos e pobres, tão acentuado em Portugal, não valeriam<br />
a con<strong>ver</strong>gência num pacto social para erradicar ou diminuir a pobreza e as<br />
suas consequências?<br />
Não queria termi<strong>na</strong>r sem expressar o meu reconhecimento à Comissão<br />
Nacio<strong>na</strong>l Justiça e Paz, à Caritas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e diocesa<strong>na</strong>, às IPSS, às Conferências<br />
vicenti<strong>na</strong>s e a tantos voluntários, pelo testemunho cristão e cívico no seu<br />
esforço <strong>de</strong>nodado <strong>de</strong> combate às tantas formas <strong>de</strong> pobreza.<br />
Confiemos a Maria, Mãe <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e Mãe nossa, a causa da paz no mundo,<br />
principalmente <strong>na</strong> terra <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, ensanguentada pela guerra. Que Ela nos<br />
acompanhe e ilumine <strong>na</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos caminhos <strong>de</strong> paz social.<br />
Catedral <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 23<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
Homilia <strong>na</strong>s exéquias do Cónego Dr. Carlos da Silva<br />
“Cantarei ao Senhor enquanto vi<strong>ver</strong>”<br />
Estamos aqui como Igreja <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, recolhida à volta do altar do Senhor,<br />
para celebrar as exéquias do nosso irmão sacerdote Cónego Dr. Carlos da<br />
Silva, ou seja, para oferecê-lo a Deus <strong>de</strong>ntro da gran<strong>de</strong> oferta que <strong>Jesus</strong> fez<br />
<strong>de</strong> si e <strong>de</strong> nós com Ele ao Pai.<br />
É uma oferta que acontece <strong>na</strong> dor, pela perda da companhia <strong>de</strong> um irmão<br />
conhecido, estimado e amado. Des<strong>de</strong> já, em nome da diocese e em meu nome<br />
pessoal, exprimo aos seus familiares e aos membros da Casa Sacerdotal a<br />
nossa profunda comunhão <strong>de</strong> sentimentos, bem como a gratidão pelo apoio<br />
com que o acompanharam nos últimos anos da sua doença.<br />
Mas esta oferta acontece também <strong>na</strong> fé, <strong>na</strong> esperança e <strong>na</strong> carida<strong>de</strong> cujos<br />
laços nos unem para alem da morte; e, sobretudo, em acção <strong>de</strong> graças pelos<br />
oitenta anos <strong>de</strong> vida, pelos cinquenta e sete <strong>de</strong> ministério sacerdotal do Dr.<br />
Carlos Silva e pelos dons com que, através do seu ministério, enriqueceu a<br />
nossa Igreja diocesa<strong>na</strong> e a Igreja em Portugal, particularmente no seu serviço<br />
à música e ao canto litúrgicos.<br />
Orar cantando<br />
Significativamente, neste ano jubilar <strong>de</strong>dicado a S. Paulo, o Apóstolo recomenda<br />
às comunida<strong>de</strong>s cristãs: “Vivei em acção <strong>de</strong> graças; e com salmos,<br />
hinos e cânticos cantai a Deus”. E especifica como cantar: “<strong>de</strong> todo o coração”<br />
animados por uma profunda gratidão.<br />
“Cantarei ao Senhor enquanto vi<strong>ver</strong>; grato lhe seja o meu canto” era o<br />
cântico <strong>de</strong> que o Dr. Carlos mais gostava entre os que compôs, segundo confissão<br />
sua, que lhe fazia como<strong>ver</strong> as entranhas. Bem po<strong>de</strong>mos dizer que este<br />
cântico é também a síntese da sua vocação e do seu ministério. Nele se expri-<br />
24 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
me a sua dupla vocação: à música e ao sacerdócio. Assim pô<strong>de</strong> servir sacerdotalmente<br />
a música e musicalmente o sacerdócio, transmitindo aos outros a<br />
alegria e o amor <strong>de</strong> Deus através da beleza da música e do canto.<br />
“Escrevo música para rezar”, disse um dia, a propósito do livro “Orar<br />
cantando”, que recolhe uma parte substancial das suas obras musicais. A música<br />
faz-se oração, ofício divino, em que se po<strong>de</strong> vislumbrar e experimentar<br />
algo da beleza e da magnificência <strong>de</strong> Deus. Sim, a música e o canto trazem<br />
ao mundo dos homens a alegria e a beleza <strong>de</strong> Deus capazes <strong>de</strong> arrebatar o<br />
coração humano.<br />
Vem-nos à mente uma palavra <strong>de</strong> Santo Agostinho: “Cantare amantis est”<br />
– a fonte do canto é o amor; o canto é expressão do amor! É este amor que<br />
explica a intensida<strong>de</strong> espiritual das composições do Dr. Carlos, a sua paixão<br />
pela liturgia e pela música litúrgica.<br />
Ao seu serviço pôs, <strong>de</strong> facto, toda a sua paixão: o seu talento, a sua sensibilida<strong>de</strong>,<br />
as suas forças, a sua discipli<strong>na</strong>, o seu entusiasmo, a sua fantasia e<br />
criativida<strong>de</strong>, o seu zelo <strong>de</strong> educador musical <strong>de</strong> assembleias e <strong>de</strong> gerações <strong>de</strong><br />
sacerdotes e leigos.<br />
Com ele apren<strong>de</strong>mos que a educação para o canto, para o cantar em coro,<br />
todos juntos, não é só um exercício do ouvido exterior e da voz; é também<br />
uma educação para a fé, o amor, a oração, a beleza, a harmonia e a paz.<br />
Queremos nós ser fiéis a este seu legado tão precioso e actual?<br />
Ave, o Theotokos! Ave, o Mater Dei! A <strong>de</strong>voção maria<strong>na</strong><br />
Neste momento, <strong>na</strong> sequência do evangelho proclamado, não podia <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong> referir também a espiritualida<strong>de</strong> maria<strong>na</strong>, a comovida <strong>de</strong>voção a Nossa<br />
Senhora que transparece <strong>na</strong>s suas composições.<br />
Ele próprio afirmou que não compunha cânticos marianos sem se imagi<strong>na</strong>r<br />
mergulhado no meio da multidão dos peregrinos em <strong>Fátima</strong>. Foi talvez<br />
essa intuição <strong>de</strong> sentir-se unido ao coração do povo que lhe permitiu captar e<br />
cantar a beleza e a ternura <strong>de</strong> Maria, Mãe <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e Mãe da Igreja, bem como<br />
a riqueza e a beleza da Sua Mensagem em <strong>Fátima</strong>, tão belamente sintetizada,<br />
em poesia e em música, no hino Ave, o Theotokos, da sua autoria. Mesmo no<br />
seu testamento invoca a protecção mater<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Maria.<br />
Não será este aspecto um apelo a nós a uma <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>voção a Nossa<br />
Senhora, a acolhê-la <strong>na</strong> nossa casa como o discípulo João, isto é, no nosso<br />
coração e <strong>na</strong> nossa diocese, e a uma renovada compreensão da Mensagem <strong>de</strong><br />
<strong>Fátima</strong> e da sua graça também para a nossa diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>?<br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
Misericórdia, perdão e esperança<br />
Por fim, <strong>de</strong>sejaria ressaltar os temas da misericórdia, do perdão e da esperança,<br />
característicos da espiritualida<strong>de</strong> cristã, presentes nos salmos que ele<br />
musicou e assumiu interiormente, como se po<strong>de</strong> <strong>ver</strong> no seu testamento.<br />
Sabemos que ele era uma pessoa <strong>de</strong> consciência escrupulosa e, talvez por<br />
isso, com as cordas do coração muito sensíveis a este registo.<br />
Seja-me permitido dar-vos a conhecer duas breves passagens do seu testamento:<br />
“Mandar celebrar cinquenta missas por intenção <strong>de</strong> todos os sacerdotes<br />
e <strong>de</strong> todas as pessoas que, porventura, ao longo da minha vida tenha <strong>de</strong>fraudado<br />
moral ou religiosamente, quer por qualquer palavra ou atitu<strong>de</strong> menos<br />
sacerdotal, quer por falta <strong>de</strong> zelo e doação. Particularmente aos meus irmãos<br />
no sacerdócio peço <strong>de</strong>sculpa e perdão das minhas faltas havidas para com<br />
eles ao longo <strong>de</strong> tantos anos quer como professor, quer como membro da Comissão<br />
Diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> Liturgia. Que o Senhor a todos supra com a Sua graça<br />
<strong>na</strong>quilo a que tinham direito <strong>de</strong> mim e que, ou por limitação <strong>na</strong>tural ou por<br />
minha culpa, não receberam”.<br />
E termi<strong>na</strong> o testamento como quem se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>:<br />
“Confiado <strong>na</strong> misericórdia infinita <strong>de</strong> Deus sempre pronto a perdoar e<br />
<strong>na</strong> protecção mater<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Maria, vou assi<strong>na</strong>r, <strong>na</strong> esperança <strong>de</strong> todos nos encontrarmos<br />
mais tar<strong>de</strong> <strong>na</strong> presença do Deus eterno, como assegura a fé que<br />
professamos”.<br />
Peçamos ao Senhor que lhe conceda entrar no concerto celeste para, com<br />
Maria, Nossa Senhora do Magnificat, po<strong>de</strong>r contemplar, experimentar e cantar<br />
<strong>de</strong>finitivamente a alegria, a beleza, a bem-aventurança <strong>de</strong> Deus, Pai, Filho<br />
e Espírito Santo!<br />
26 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 18 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
Convite do Senhor Bispo<br />
Jubileu das vocações<br />
. escritos episcopais .<br />
Há momentos gran<strong>de</strong>s <strong>na</strong> vida <strong>de</strong> todas as pessoas. Há festas importantes<br />
em cada família ou comunida<strong>de</strong>. São “marcos” – que <strong>de</strong>ixam marcas – <strong>na</strong><br />
história da vida pessoal, familiar e comunitária que merecem e requerem ser<br />
evocados, celebrados, rezados e meditados à luz da fé, em Igreja.<br />
Na linguagem comum, usamos o termo “Jubileu” (dia <strong>de</strong> júbilo, <strong>de</strong> alegria)<br />
para comemorar os 25 ou 50 anos <strong>de</strong> um acontecimento significativo.<br />
Neste ano jubilar paulino, em que procuramos “ir ao coração da fé” para<br />
permanecermos firmes e sólidos nela, como exorta o apóstolo Paulo (cf Cl<br />
1,23), enquanto Igreja Diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> queremos continuar a iniciativa<br />
<strong>de</strong> celebrar, <strong>de</strong> um modo especial, o “Jubileu das Vocações” ao matrimónio,<br />
ao ministério sacerdotal e à especial consagração <strong>na</strong> vida religiosa<br />
ou <strong>na</strong> vida secular.<br />
Será um momento alto para revi<strong>ver</strong> e reavivar o encanto e a frescura do<br />
primeiro “sim”, para celebrar o caminho percorrido e correspondido ao longo<br />
da vida, para agra<strong>de</strong>cer a Deus os frutos que, através <strong>de</strong>stas vocações, suscitou<br />
ao serviço da vida e do amor, e para renovar os compromissos vocacio<strong>na</strong>is.<br />
Assim manifestar-se-á também a beleza das várias vocações que ador<strong>na</strong>m<br />
a Igreja <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e fazem <strong>de</strong>la um jardim florido com o esplendor dos mais<br />
variados dons e vocações.<br />
Convido, pois, todos e todas que neste ano perfazem 25, 50 ou 60 anos,<br />
<strong>de</strong> matrimónio, <strong>de</strong> sacerdócio e <strong>de</strong> vida consagrada a estarem no Santuário <strong>de</strong><br />
<strong>Fátima</strong> no dia 2 <strong>de</strong> Maio próximo, para celebrarmos todos juntos o “Jubileu<br />
das vocações”.<br />
Programa:<br />
14h30 Acolhimento (Albergue do Peregrino)<br />
15h00 Encontro <strong>de</strong> apresentação e testemunho<br />
16h30 Eucaristia <strong>na</strong> Basílica, presidida por D. António Marto<br />
18h00 Convívio no Albergue do Peregrino<br />
Des<strong>de</strong> já, o meu agra<strong>de</strong>cimento.<br />
<strong>Leiria</strong>, 27 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto<br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
Homilia <strong>na</strong> Consagração do Mundo a Nossa Senhora<br />
Consagrar o Mundo<br />
a Cristo Re<strong>de</strong>ntor<br />
por Maria e com Maria<br />
Diante da tua imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, ó Virgem<br />
Mãe, prostro-me espiritualmente, juntamente com todos estes teus filhos e<br />
filhas, meus irmãos e minhas irmãs <strong>na</strong> graça da fé, cujos corações e olhares<br />
estão voltados neste momento para ti.<br />
Em seu nome e em nome pessoal quero saudar-te: saúdo-te com as palavras<br />
do Anjo <strong>na</strong> mensagem da parte <strong>de</strong> Deus: Alegra-te, ó cheia <strong>de</strong> graça, o<br />
Senhor está contigo! Saúdo-te com as palavras da tua prima Isabel: Bendita<br />
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Salve, Santa Maria,<br />
humil<strong>de</strong> serva do Senhor e mãe gloriosa <strong>de</strong> Cristo!<br />
Nesta minha saudação afectuosa à Virgem Mãe quero envol<strong>ver</strong> todos vós,<br />
irmãos e irmãs aqui presentes, a quem <strong>de</strong>sejaria abraçar espiritualmente num<br />
só e gran<strong>de</strong> abraço. Abraço frater<strong>na</strong>lmente o nosso querido senhor D. Serafim,<br />
o senhor Reitor do Santuário e os <strong>de</strong>mais Sacerdotes concelebrantes; e<br />
abraço ainda muito afectuosamente os doentes e todos os que sofrem a quem<br />
nos sentimos profundamente unidos nesta hora.<br />
Festa do primeiro anúncio do Mistério da Encar<strong>na</strong>ção<br />
Caros irmãos e irmãs: celebramos hoje a festa da Anunciação do Senhor.<br />
É a festa <strong>de</strong> Deus no seu amor trinitário, festa <strong>de</strong> Maria, festa da Igreja, festa<br />
do mundo. É a festa do primeiro anúncio do mistério da encar<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> Deus<br />
connosco <strong>na</strong> nossa carne huma<strong>na</strong>: anúncio surpreen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>sconcertante,<br />
inesperado que nos <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar atónitos, cheios <strong>de</strong> assombro, <strong>de</strong> maravilhamento<br />
e perturbação entranhada e comovida tal como <strong>de</strong>ixou Maria.<br />
28 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
O conteúdo <strong>de</strong>ste primeiro anúncio é o mistério da encar<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> Deus,<br />
o mistério da misericórdia <strong>de</strong> Deus que toma carne huma<strong>na</strong>, rosto humano,<br />
coração humano em <strong>Jesus</strong> Cristo, o filho <strong>de</strong> Deus feito homem como nós,<br />
Deus connosco, Deus para nós, Deus por nós. É algo i<strong>na</strong>udito!<br />
E o primeiro <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>tário que recebeu este anúncio, em primeira-mão,<br />
com toda a novida<strong>de</strong>, com todo o carácter <strong>de</strong> surpresa foi Maria; e, através<br />
<strong>de</strong>la, este primeiro e gran<strong>de</strong> anúncio é para todo o mundo, para todas as gerações,<br />
para todos os tempos. O que foi dito a Maria e o que lhe foi dado como<br />
dom nesse primeiro anúncio, aquilo que é dito <strong>de</strong>la <strong>na</strong> atitu<strong>de</strong> e <strong>na</strong> resposta<br />
com que o acolhe, tudo isso é dito e dado para nós hoje. Quer dizer que a<br />
beleza, a gran<strong>de</strong>za e a riqueza <strong>de</strong>ste anúncio ultrapassa os dados biográficos<br />
<strong>de</strong> Maria: ela é toda relativa a este gran<strong>de</strong> anúncio para ser espelho e mediação<br />
do anúncio do mistério da encar<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> Deus para nós. Por isso vamos<br />
contemplar durante alguns momentos tudo o que é dito e dado a Maria e a<br />
nós através <strong>de</strong>la.<br />
Os dons <strong>de</strong> Deus a Maria e à humanida<strong>de</strong><br />
E agora ve<strong>de</strong> bem: a primeira palavra e o primeiro dom <strong>de</strong> Deus a Maria e<br />
à humanida<strong>de</strong> é: Alegra-te Maria! – o dom da alegria, a alegria nova que vem<br />
<strong>de</strong> Deus e que rompe o silêncio do luto da solidão do mundo, envelhecido e<br />
fechado em si mesmo. De facto, quem crê nunca está só, nem <strong>na</strong> vida nem <strong>na</strong><br />
morte. A presença <strong>de</strong> Deus é alegria! Nunca esqueçais isto!<br />
A segunda a palavra e o segundo dom: “Cheia <strong>de</strong> Graça”! É o nome próprio<br />
e novo que lhe é dado por Deus. Maria acolhe a onda do amor eterno<br />
e infinito <strong>de</strong> Deus que se <strong>de</strong>rrama sobre ela no seu coração e, através <strong>de</strong>la,<br />
para o mundo e para todas as gerações. A graça é alegria; a alegria é efeito<br />
da graça.<br />
O terceiro dom a Maria é o dom do alento, da confiança, da coragem e<br />
da esperança segura: “Não tenhas medo, Maria; a Deus <strong>na</strong>da é impossível”!<br />
Aquele que se revela no seu rosto <strong>de</strong> amor misericordioso vence o medo do ser<br />
humano, da sua fraqueza, da sua fragilida<strong>de</strong>, da sua miséria; pela fé, o homem<br />
ganha confiança no Senhor e, por conseguinte, <strong>na</strong> vida e <strong>na</strong> bonda<strong>de</strong> da vida.<br />
O quarto dom é o da maternida<strong>de</strong>, da fecundida<strong>de</strong> não só biológica mas<br />
da fecundida<strong>de</strong> espiritual para a vida do mundo: “conceberás e darás à luz<br />
um filho e pôr-lhe às o nome <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> que quer dizer Salvador”! Este filho<br />
é a vida e o futuro do mundo, da sua salvação, da sua re<strong>de</strong>nção, confiado ao<br />
coração materno <strong>de</strong> Maria.<br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
O quinto dom é o Espírito Santo: “O Espírito Santo virá sobre ti e cobrirte<br />
à com a sombra do Altíssimo”! É o primeiro Pentecostes <strong>de</strong> Maria: o Espírito<br />
Santo que a protege e a guarda <strong>na</strong> união mais íntima e mais profunda<br />
que se possa imagi<strong>na</strong>r do coração da mãe ao coração do filho, a união mais<br />
entranhada <strong>de</strong> Maria com <strong>Jesus</strong> pelo amor do Espírito Santo.<br />
Por fim, o sexto dom – embora a palavra saia da boca <strong>de</strong> Maria – é o Sim<br />
da sua fé, da sua entrega, da sua disponibilida<strong>de</strong>, do seu serviço: “Eis-me<br />
aqui! Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”, segundo<br />
o teu projecto <strong>de</strong> salvação para toda a humanida<strong>de</strong>. Esta é a última palavra,<br />
a palavra-chave para compreen<strong>de</strong>r toda a disponibilida<strong>de</strong>, todo o papel <strong>de</strong><br />
Maria, todo o seu serviço <strong>de</strong>ntro da história da salvação.<br />
Por isso, a festa <strong>de</strong> hoje é a festa chave da história da salvação <strong>de</strong> Deus<br />
com a humanida<strong>de</strong> <strong>na</strong> qual Ele entra, em carne e osso como nós, através do<br />
coração e do seio <strong>de</strong> Maria. Gran<strong>de</strong> festa que <strong>de</strong>ve encher os nossos corações!<br />
Mesmo se tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da iniciativa <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também <strong>de</strong>sse Sim<br />
<strong>de</strong> Maria pelo qual se pôs toda ela numa disponibilida<strong>de</strong> inteira ao serviço <strong>de</strong><br />
Deus e ao serviço do mundo, ao serviço <strong>de</strong> Deus para a re<strong>de</strong>nção do mundo.<br />
Maria unida à oblação <strong>de</strong> Cristo <strong>na</strong> Cruz pela consagração do mundo<br />
“Eis-me aqui”! Se bem ouvistes, a Carta aos Hebreus põe <strong>na</strong> boca <strong>de</strong><br />
<strong>Jesus</strong> esta mesma atitu<strong>de</strong> com que Ele entrou no mundo através <strong>de</strong> Maria.<br />
Como que num colóquio intimo com o Pai, <strong>Jesus</strong> diz: “ formaste-me um corpo<br />
humano e eu disse eis-me aqui! Eu venho, ó Pai, para fazer a tua vonta<strong>de</strong>”.<br />
O eis-me aqui <strong>de</strong> Maria une-se, numa comunhão total, ao eis-me aqui <strong>de</strong><br />
Cristo, à entrega <strong>de</strong> Cristo até ao fim e até ao fundo, até à <strong>cruz</strong>. Por isso, o<br />
coração <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro anúncio fica íntima e totalmente unido ao<br />
coração do filho no seu amor pelo mundo, por este mundo, por nós homens e<br />
para nossa salvação, por nós aqui, hoje.<br />
Sim, Ela esteve sempre presente ao lado do filho <strong>Jesus</strong> até à <strong>cruz</strong> e <strong>na</strong> <strong>cruz</strong><br />
compartilha até ao fim e até ao fundo o amor da paixão, o amor apaixo<strong>na</strong>do<br />
<strong>de</strong> Cristo pelo mundo. Aquele amor <strong>de</strong> entrega em virtu<strong>de</strong> do qual nós somos<br />
consagrados, santificados, consagrados pela oblação do corpo <strong>de</strong> Cristo feita<br />
<strong>de</strong> uma vez para sempre, como diz a Carta aos Hebreus. Quer dizer, Nossa<br />
Senhora, mãe <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, junto à <strong>cruz</strong> partilha da consagração <strong>de</strong> Cristo, da entrega<br />
total <strong>de</strong> Cristo pelo mundo para nos consagrar a nós mesmos, para nos<br />
santificar a nós mesmos.<br />
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Não há anunciação sem visitação<br />
. escritos episcopais .<br />
Sabeis também que não há nenhuma anunciação autêntica sem a visitação!<br />
Nossa Senhora <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber e contemplar numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> assombro,<br />
<strong>de</strong> maravilhamento, todo este mistério, foi comunicá-lo, à pressa, à<br />
sua prima Isabel: foi em visitação, não o guardou para si porque ele é para a<br />
humanida<strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>is então que Nossa Senhora tenha feito também a<br />
visitação à humanida<strong>de</strong> aqui em <strong>Fátima</strong> para nos trazer à memoria viva este<br />
gran<strong>de</strong> mistério <strong>de</strong> amor <strong>de</strong> Deus connosco numa hora trágica da humanida<strong>de</strong><br />
que ameaçava afundar-se no precipício da guerra, da auto-<strong>de</strong>struição e do<br />
aniquilamento da fé.<br />
Por isso ela fez sentir aqui o seu grito <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> dor pela humanida<strong>de</strong><br />
ferida e atribulada e fê-lo sentir através <strong>de</strong> uma visão para que os nossos<br />
olhos e, através <strong>de</strong>les, o nosso coração e a nossa mente pu<strong>de</strong>ssem contemplar<br />
e sentir toda a dor e todo o amor do coração materno e imaculado da<br />
mãe: fez <strong>ver</strong> isso através do seu coração imaculado cravado <strong>de</strong> espinhos. Os<br />
espinhos são símbolo da dor das feridas da humanida<strong>de</strong> e ao mesmo tempo<br />
do amor para curar essas feridas. Então veio pedir aqui a consagração <strong>de</strong>ste<br />
mundo, ferido, dilacerado, dividido, ameaçado <strong>de</strong> aniquilamento, ao seu Coração<br />
Imaculado. O seu Coração Imaculado é o ícone, a imagem mais pura<br />
da compaixão divi<strong>na</strong> pelo mundo; e todos os que sofrem, ao contemplar este<br />
coração, contemplam e sentem a compaixão divi<strong>na</strong>, a compaixão <strong>de</strong> Deus<br />
através da compaixão mater<strong>na</strong> <strong>de</strong> Maria e do seu Coração Imaculado. Só a<br />
compaixão cura a dor e a dor profunda.<br />
O sentido da consagração do mundo ao Coração Imaculado <strong>de</strong> Maria<br />
Eis porque o nosso querido Santo Padre João Paulo II, há 25 anos, quis<br />
satisfazer este pedido, fazendo esta consagração do mundo, então dilacerado<br />
e ameaçado <strong>de</strong> auto-<strong>de</strong>struição, diante da imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora do<br />
Rosário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, <strong>na</strong> Praça do Vaticano, em união com a Igreja inteira para<br />
suscitar uma união <strong>de</strong> toda a Igreja à volta do coração da mãe, para nos pôr<br />
a todos em sintonia, pôr o nosso coração em sintonia com o Sim do Coração<br />
Imaculado <strong>de</strong> Maria, para nos pôr todos numa onda <strong>de</strong> comunhão <strong>de</strong> graça e<br />
<strong>de</strong> bem – nós por vezes pensamos que só vivemos <strong>na</strong> solidarieda<strong>de</strong> do mal<br />
– para nos pôr todos a vibrar numa única e só esperança <strong>de</strong> que a graça do Senhor<br />
é mais forte do que o pecado do homem e o pecado do mundo, <strong>de</strong> que a<br />
força do bem é mais forte do que a força do mal e para não <strong>de</strong>ixar a Igreja e o<br />
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. escritos episcopais .<br />
mundo resig<strong>na</strong>rem-se à ba<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do mal que hoje impera e à impotência, à<br />
resig<strong>na</strong>ção diante da força do mal. Este é o sentido da consagração do mundo<br />
ao Coração Imaculado <strong>de</strong> Maria: consagrar o mundo a Cristo Re<strong>de</strong>ntor por<br />
Maria e com Maria.<br />
Não é só lançar no coração da mãe todas as preocupações do mundo; mas<br />
meter-nos a nós <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse coração, sentindo com esse coração as feridas do<br />
mundo para nos implicarmos a nós mesmos e receber <strong>de</strong>la aquela palavra <strong>de</strong><br />
confiança, a última palavra que ela disse relativamente ao seu Coração Imaculado:<br />
“Por fim, o meu Coração Imaculado triunfará”, quer dizer, o Coração<br />
Imaculado <strong>de</strong> Maria é o reflexo do coração compassivo e misericordioso <strong>de</strong><br />
Deus próximo <strong>de</strong> nós através do coração da mãe e, por isso, ao dizer “Por fim,<br />
o meu Coração Imaculado triunfará”, quer dizer fi<strong>na</strong>lmente triunfará a graça e<br />
a misericórdia do Senhor através do meu coração materno e da sua solicitu<strong>de</strong><br />
para com os meus filhos e filhas que constituem toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
Eis a razão porque hoje queremos renovar esta consagração com as mesmas<br />
palavras do Papa João Paulo II, numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção <strong>de</strong> graças porque<br />
a partir <strong>de</strong>ssa consagração <strong>de</strong> há 25 anos começaram a cair os muros da divisão<br />
e do ódio que separavam os povos e começaram a cair as resistências ao<br />
anúncio da fé cristã e à perseguição feroz que tinha sido <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada contra<br />
ela. Queremos agra<strong>de</strong>cer também essas maravilhas da graça que o Senhor<br />
conce<strong>de</strong>u à nossa humanida<strong>de</strong> através do coração materno <strong>de</strong> Maria.<br />
Terminemos. Mas não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> vos confi<strong>de</strong>nciar uma coisa: é com<br />
todo o gosto, diria mesmo, com todo o gozo e com todo o amor que hoje,<br />
por graça <strong>de</strong> Nossa Senhora, me é concedido po<strong>de</strong>r repetir e renovar esta<br />
consagração do mundo ao seu Coração Imaculado com as mesmas palavras<br />
do nosso amado Papa João Paulo II, <strong>de</strong> santa memória.<br />
Interce<strong>de</strong> por nós, Santa Mãe <strong>de</strong> Deus, para que nós abramos as portas<br />
do nosso coração a Cristo como tu abriste as portas do teu Coração Imaculado;<br />
reza por nós pecadores para que sintamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo como<br />
re<strong>de</strong>ntor da nossa vida e do nosso mundo; interce<strong>de</strong> pela humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />
terceiro milénio para que abra <strong>de</strong> par em par as portas do seu coração à plenitu<strong>de</strong><br />
da re<strong>de</strong>nção divi<strong>na</strong>. Ámen!<br />
32 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
25 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
Peregri<strong>na</strong>ção Diocesa<strong>na</strong><br />
. escritos episcopais .<br />
“Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>!”<br />
– A urgência <strong>de</strong> “ir ao coração da fé”<br />
Senhor D. Serafim, meu caro irmão episcopado,<br />
meus caros irmãos <strong>na</strong> graça do sacerdócio ministerial,<br />
caros irmãos e irmãs <strong>na</strong> graça da fé e do baptismo em Cristo:<br />
É com profunda alegria e com sentida emoção que daqui do alto contemplo<br />
a Igreja Diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, a minha querida Igreja, hoje aqui<br />
reunida, em multidão <strong>de</strong> fiéis com todo o seu presbitério e o seu bispo, aos<br />
pés da Mãe, Nossa Senhora <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, sua padroeira.<br />
Contemplo uma Igreja peregri<strong>na</strong> no caminho da beleza da fé; uma Igreja<br />
que solta as suas velas ao vento do Espírito, pronta a acolher a novida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Deus numa juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> coração e <strong>de</strong> espírito a exemplo <strong>de</strong> Maria; uma<br />
Igreja hoje aqui recolhida em retiro espiritual para fazer a sua revisão <strong>de</strong> vida<br />
diante do Senhor para, juntamente com Maria, ir ao coração da fé, a fim <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>remos permanecer firmes e sólidos <strong>na</strong> fé.<br />
Por isso, a minha primeira palavra <strong>de</strong> saudação vai para Maria, padroeira<br />
da nossa Igreja Diocesa<strong>na</strong>: Salve, Santa Maria, humil<strong>de</strong> serva do Senhor, mãe<br />
gloriosa <strong>de</strong> Cristo e nossa querida padroeira! E com esta alegria abraço espiritualmente<br />
a todos vós aqui reunidos. Abraço e abençoo, <strong>de</strong> um modo particular,<br />
este significativo grupo <strong>de</strong> jovens, rapazes e raparigas, aqui à frente,<br />
com muitos dos quais celebrei ontem uma vigília - a vigília da peregri<strong>na</strong>ção<br />
às fontes da alegria da fé.<br />
Queridos jovens, amigos e amigas, fico muito satisfeito em <strong>ver</strong> os vossos<br />
rostos a manifestar com a vossa presença que a Igreja <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> tem um rosto<br />
jovem e que não se <strong>de</strong>ixa envelhecer. Espero que leveis esta alegria da vossa<br />
juventu<strong>de</strong> para as vossas comunida<strong>de</strong>s paroquiais.<br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
A urgência <strong>de</strong> “ir ao coração da fé”<br />
Ir ao coração <strong>de</strong> fé e permanecer firmes e sólidos <strong>na</strong> fé, é o tema da nossa<br />
peregri<strong>na</strong>ção Diocesa<strong>na</strong> e é uma urgência pastoral dos nossos tempos, tempos<br />
difíceis para vi<strong>ver</strong> e testemunhar a fé cristã.<br />
O maior problema do ponto <strong>de</strong> vista da fé é que temos a impressão <strong>de</strong><br />
assistir a uma espécie <strong>de</strong> “eclipse cultural” <strong>de</strong> Deus: em que Deus <strong>de</strong>saparece<br />
do horizonte da vida dos homens e a luz que vem <strong>de</strong>le parece apagar-se no<br />
coração e <strong>na</strong> mente dos homens, da cultura e da socieda<strong>de</strong>. Muitos cristãos<br />
<strong>de</strong>ixam-se contagiar por este ambiente e vivem como se Deus não existisse,<br />
como se Deus não fosse alguém presente <strong>na</strong> vida <strong>de</strong> cada dia. Vivem <strong>de</strong> costas<br />
voltadas para Deus e em muitos parece que assistimos ao apagar-se da fé<br />
como uma chama que já não se alimenta. Daí a urgência prioritária <strong>de</strong> ir ao<br />
coração da fé.<br />
Mas, meus caros amigos e amigas, quando tudo vai mal ou parece ir mal,<br />
os profetas do Senhor não dizem “está tudo perdido”; antes encontram sempre<br />
razões novas para a esperança, tal como o profeta Jeremias que hoje acabámos<br />
<strong>de</strong> ouvir. Perante as infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s do povo, o profeta anuncia um novo<br />
tempo <strong>de</strong> graça, um novo tempo <strong>de</strong> interiorização da fé, um novo tempo para<br />
dar um salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>na</strong> fé: um convite a abrir o nosso coração a Deus,<br />
não a um Deus qualquer – reduzido a uma i<strong>de</strong>ia bonita para explicar o surgir<br />
do uni<strong>ver</strong>so - mas ao Deus que falou ao seu povo no Si<strong>na</strong>i, ao Deus que falou<br />
pelo profeta Jeremias como Deus da Nova Aliança, ao Deus cujo rosto se<br />
revela para nós no rosto <strong>de</strong> Cristo, no rosto santo <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>.<br />
“Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>”!<br />
Por isso, também nós fazemos o mesmo pedido daqueles gregos que foram<br />
em peregri<strong>na</strong>ção a Jerusalém, pela festa da Páscoa, e que ouvindo falar<br />
<strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> bateram à porta da comunida<strong>de</strong> dos discípulos. Foram ter junto <strong>de</strong><br />
Filipe e fazer-lhe o pedido: “Senhor, queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>”!<br />
“Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>”: não se trata <strong>de</strong> um <strong>ver</strong> alguém ou alguma perso<strong>na</strong>gem<br />
que passa, mas trata-se <strong>de</strong> encontrar, <strong>de</strong> conhecer <strong>de</strong> perto, ao vivo,<br />
pessoalmente a <strong>Jesus</strong>, <strong>de</strong> entrar em relação profunda com ele, <strong>de</strong> entrar no<br />
mistério da sua amiza<strong>de</strong>, da sua intimida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> buscar o seu rosto autêntico,<br />
um conhecimento por experiência pessoal.<br />
Meus caros amigos e amigas, há tantos que conhecem <strong>Jesus</strong> só em segunda<br />
mão, por ouvirem falar <strong>de</strong>le, pelo que os outros dizem <strong>de</strong>le, talvez através<br />
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. escritos episcopais .<br />
dum livro. Mas assim não se conhece <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iramente <strong>Jesus</strong>. Só se conhece<br />
alguém e só se conhece <strong>Jesus</strong> num encontro vivo e pessoal com <strong>Jesus</strong> Cristo,<br />
vivo e ressuscitado. Por conseguinte, para ir ao coração da fé temos <strong>de</strong> passar<br />
<strong>de</strong>ste conhecimento <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> em segunda mão para o conhecermos em<br />
primeira-mão, por nós mesmos, por experiência pessoal.<br />
Contemplar o rosto <strong>de</strong> Cristo a partir da <strong>cruz</strong><br />
“Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>” disseram os Gregos. Mandaram esse recado a <strong>Jesus</strong><br />
através <strong>de</strong> Filipe e André. <strong>Jesus</strong>, porém, não lhes dá uma resposta directa. Em<br />
vez <strong>de</strong> os chamar “vin<strong>de</strong> cá”, remete-os para a sua hora. E diz: “vai chegar<br />
a hora em que o Filho do Homem será glorificado; então, elevado da terra,<br />
atrairei todos a mim”. Como quem diz: quereis <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>, quereis conhecê-lo<br />
realmente <strong>na</strong> profundida<strong>de</strong> do seu mistério? Então olhai para Ele elevado <strong>na</strong><br />
<strong>cruz</strong>, contemplai-O a partir da <strong>cruz</strong>! Esta é a sua hora!<br />
Sim, vós sabeis, tão bem como eu, que <strong>na</strong> vida <strong>de</strong> uma pessoa por vezes<br />
há horas <strong>de</strong>cisivas, em que através <strong>de</strong> um gesto, <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> uma<br />
acção, a pessoa diz tudo o que é, revela-se. Para <strong>Jesus</strong>, a sua hora <strong>de</strong>cisiva<br />
é, <strong>de</strong> facto, a hora da <strong>cruz</strong>: elevado <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>, <strong>Jesus</strong> diz tudo o que é e é tudo<br />
aquilo que diz. Ele mesmo interpretou: “não há maior prova <strong>de</strong> amor do que<br />
dar (entregar) a vida pelos seus amigos”.<br />
Mas, mais ainda, para nos ajudar a compreen<strong>de</strong>r toda a riqueza e profundida<strong>de</strong><br />
que se encerra no mistério da sua morte e ressurreição, <strong>Jesus</strong> usa uma<br />
imagem muito simples e ao mesmo tempo muito bela <strong>de</strong> quem conhece bem<br />
a agricultura, as leis da <strong>na</strong>tureza e da terra: a imagem do grão trigo que morre<br />
para dar fruto abundante. É <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, o grão <strong>de</strong> trigo precisa <strong>de</strong> morrer para<br />
explodir toda a força e toda a energia que encerra, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dar fruto<br />
abundante, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dar vida nova. Assim também todo o amor, todo o<br />
mistério santo e eterno <strong>de</strong> amor presente <strong>na</strong> vida <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> <strong>de</strong>sabrochou, manifestou<br />
toda a sua energia e fecundida<strong>de</strong> através da sua entrega até ao fim, até<br />
ao fundo, até ao extremo, <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>.<br />
É ajoelhados junto à <strong>cruz</strong> do Senhor que O conhecemos <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iramente<br />
e conhecemos o rosto santo <strong>de</strong> Deus. Deus é amor até ao fim e até ao extremo.<br />
Foi isso também que São Paulo reconheceu com os olhos da fé e o viveu<br />
como experiência <strong>de</strong> vida, ao dizer-nos: “vivo a vida presente <strong>na</strong> fé do Filho<br />
<strong>de</strong> Deus que me amou e se entregou por mim”. É um acontecimento <strong>de</strong> amor<br />
ainda hoje por nós, por cada um <strong>de</strong> nós.<br />
<strong>Quereis</strong> <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>? <strong>Contemplai</strong>-o estendido <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>. Os braços estendidos<br />
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. escritos episcopais .<br />
<strong>de</strong> Cristo <strong>na</strong> <strong>cruz</strong> são aquele gesto <strong>de</strong> abraço com que Ele nos atrai e em que<br />
Ele nos quer envol<strong>ver</strong> nos braços do seu amor para que tenhamos vida, vida<br />
abundante.<br />
Ser cristão marca a diferença<br />
Queremos conhecer <strong>Jesus</strong>? Sim, conhecemo-lo, <strong>de</strong> uma maneira paradoxal,<br />
junto à <strong>cruz</strong>.<br />
A partir daí <strong>ver</strong>ificamos que <strong>Jesus</strong> faz a diferença: não é um Deus qualquer<br />
é o Deus do amor eterno e santo, Deus solidário das nossas dores e das<br />
nossas esperanças. <strong>Jesus</strong> faz a diferença e faz-nos diferentes. E hoje, para ser<br />
cristãos é preciso ter a coragem da diferença; ser cristão marca a diferença e<br />
vós sabei-lo muito bem como eu.<br />
E agora voltamo-nos novamente para Maria, pedindo-lhe: Maria, mãe <strong>de</strong><br />
<strong>Jesus</strong>, mostra-nos <strong>Jesus</strong>, bendito fruto do teu ventre. Ensi<strong>na</strong>-nos a conhecê-lo,<br />
a reconhecê-lo e a segui-lo <strong>na</strong> tua escola <strong>de</strong> fé e amor. Ajuda-nos a permanecer<br />
firmes e sólidos <strong>na</strong> fé!<br />
Termino com uma oração intitulada, exactamente, “Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>”,<br />
dirigida a Nossa Senhora pelo nosso querido Papa Bento XVI:<br />
Maria, mãe do sim, tu escutaste <strong>Jesus</strong> e conheces o timbre da sua voz e o<br />
bater do seu coração; estrela da manhã, fala-nos <strong>de</strong>le e conta-nos o teu caminho<br />
para segui-lo no caminho da fé.<br />
Maria que em Nazaré habitaste com <strong>Jesus</strong>, imprime <strong>na</strong> nossa vida os teus<br />
sentimentos, a tua docilida<strong>de</strong>, o teu silêncio que escuta e faz florescer a palavra<br />
em opções <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira liberda<strong>de</strong>.<br />
Maria fala-nos <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> para que a frescura da nossa fé brilhe nos nossos<br />
olhos e aqueça o coração <strong>de</strong> quem nos encontra, como tu fizeste visitando<br />
Isabel, que <strong>na</strong> sua velhice se alegrou contigo pelo dom da vida.<br />
Maria, Virgem das bodas <strong>de</strong> Caná, ajuda-nos a levar a alegria ao mundo e<br />
leva cada um <strong>de</strong> nós a empenhar-se no serviço dos irmãos e a fazer só o que<br />
<strong>Jesus</strong> nos disser.<br />
Maria, Senhora da <strong>Fátima</strong>, porta do céu, ajuda-nos a levantar o olhar para<br />
o alto. Queremos <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>, falar com Ele, anunciar a todos o Seu amor.<br />
Ámen!<br />
36 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
<strong>Fátima</strong>, 29 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
Mensagem à CERCILEI<br />
Serviço e benefício<br />
. escritos episcopais .<br />
Uma saudação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, reconhecimento e apreço a quantos constituem<br />
a “família” CERCILEI, por ocasião do 25º Sarau <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s corporais.<br />
A Cooperativa existe para cuidar das pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />
Cuidando <strong>de</strong>stas pessoas, em múltiplos aspectos e com variados serviços,<br />
po<strong>de</strong>mos tomar consciência <strong>de</strong> que também nós somos portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências.<br />
Deste modo, e não ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> dignida<strong>de</strong> e nos direitos <strong>de</strong> pessoa<br />
huma<strong>na</strong>, somos iguais a elas, participamos dos seus limites. Elas revelam-nos<br />
os nossos próprios limites. E isto liga-nos ainda mais.<br />
O serviço prestado aos outros, mesmo como ocupação profissio<strong>na</strong>l, é um<br />
modo <strong>de</strong> vi<strong>ver</strong> o mandamento divino: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”<br />
(Mt 19,19). O próximo é outro eu mesmo. Cuidar <strong>de</strong>le é fazer bem a<br />
alguém com quem me i<strong>de</strong>ntifico, que é semelhante a mim e, em certo sentido,<br />
é parte <strong>de</strong> mim e eu <strong>de</strong>le. Gandhi, o gran<strong>de</strong> pensador e político indiano, disse<br />
estas palavras: “Tu e eu não somos senão uma coisa só. Não posso fazer-te<br />
mal sem que também eu fique ferido”. Po<strong>de</strong>mos reformular num sentido positivo<br />
a segunda frase: “Quando te faço bem sou também eu beneficiado com<br />
a minha acção”. E mais, <strong>de</strong> algum modo, também tu me fazes bem.<br />
“Amar é também <strong>de</strong>ixar-se amar”, diz uma canção. É importante dar à pessoa<br />
a quem se serve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, <strong>de</strong> nos fazer bem, <strong>de</strong> nos manifestar<br />
a sua ternura e gratidão. A pessoa portadora <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência também é capaz<br />
<strong>de</strong> amar o seu próximo. Ela é portadora <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, qualida<strong>de</strong>s e dons, que<br />
<strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r oferecer e <strong>de</strong>senvol<strong>ver</strong>, para seu bem, da sua família e da socieda<strong>de</strong>.<br />
Praticado assim, o serviço aos outros tor<strong>na</strong>-se gratificante, traz também<br />
benefícios existenciais e espirituais a quem o <strong>de</strong>sempenha. É a experiência<br />
da reciprocida<strong>de</strong> no amor, que tor<strong>na</strong> felizes as pessoas. Este é o clima mais<br />
saudável para se <strong>de</strong>senvol<strong>ver</strong> a educação, assistência e formação das pessoas,<br />
quaisquer que elas sejam.<br />
Oxalá se viva sempre melhor este serviço e enriquecimento mútuo em<br />
toda a família CERCILEI.<br />
Um abraço amigo.<br />
<strong>Leiria</strong>, 31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
Homilia <strong>na</strong> Missa Crismal<br />
A Beleza do Sacerdócio<br />
Nós Te damos graças, ó Pai, “porque nos enviaste a consolar todos<br />
os que andam amargurados, a levar o óleo da alegria aos aflitos <strong>de</strong><br />
Sião”(Is 61,2). Nós Te damos graças porque somos chamados “sacerdotes<br />
do Senhor”, “ministros do nosso Deus”. Nós Te damos graças<br />
porque nos ungiste com aquele óleo da alegria que <strong>de</strong>rramaste em<br />
abundância sobre Cristo, sumo e eterno sacerdote.<br />
Caríssimos irmãos <strong>na</strong> graça do sacerdócio ministerial,<br />
caros semi<strong>na</strong>ristas e <strong>de</strong>mais irmãos e irmãs em Cristo:<br />
Esta missa crismal introduz-nos já <strong>na</strong> celebração da Páscoa do Senhor;<br />
e é para todos nós um si<strong>na</strong>l, esperado em cada ano, da nossa comunhão ministerial<br />
e frater<strong>na</strong> e da missão pastoral que partilhamos. Sinto-me particularmente<br />
feliz por estar aqui com todos vós para vi<strong>ver</strong> este intenso momento<br />
sacramental em que queremos fazer memória do nosso sacerdócio, exprimir<br />
visivelmente a graça da comunhão <strong>de</strong> todo o presbitério com o próprio bispo<br />
e renovar a nossa alegre e total <strong>de</strong>dicação a <strong>Jesus</strong> Cristo no serviço da sua<br />
Igreja. Saúdo-vos a todos com cordial e fraterno afecto.<br />
Neste momento, quero recordar e congratular os presbíteros que este ano<br />
celebram o jubileu dos 25 e 50 anos da sua or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção. Recordo, em particular,<br />
os presbíteros doentes ou idosos que não po<strong>de</strong>m estar aqui presentes.<br />
Desejo ainda fazer memória daqueles que partiram para a casa do Pai ao<br />
longo <strong>de</strong>ste último ano. Penso também nos sacerdotes que, por di<strong>ver</strong>sas circunstâncias,<br />
já não exercem o seu ministério. Rezo por eles e convido-vos a<br />
recordá-los <strong>na</strong> oração para que mantenham sempre vivo o compromisso da fé<br />
cristã e da comunhão eclesial.<br />
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A Beleza do Rosto sacerdotal e eucarístico <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong><br />
. escritos episcopais .<br />
Hoje, em Quinta feira Santa, o dia por excelência da Eucaristia e do Sacerdócio,<br />
quero convidar-vos a contemplar juntamente comigo a beleza do<br />
nosso sacerdócio, <strong>na</strong> sua face humano-divi<strong>na</strong>, que é um reflexo da beleza <strong>de</strong><br />
Deus em nós.<br />
Neste tempo <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>sencanto e cansaço que caracteriza a nossa cultura<br />
e nos afecta a todos, temos necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>scobrir esta beleza, <strong>de</strong><br />
reaprendê-la, <strong>de</strong> dizê-la, <strong>de</strong> novo e <strong>de</strong> maneira nova, uns aos outros e ao mundo.<br />
Ela é tão bela como no primeiro dia em que nos foi dada, porque Deus<br />
não envelhece. É tão bela como no dia em que nos levantámos do gesto da<br />
prostração, porque Deus não se arrepen<strong>de</strong> dos seus dons.<br />
Que beleza é esta? Don<strong>de</strong> nos vem? Como se exprime e espelha, em concreto,<br />
no nosso ministério e <strong>na</strong> nossa vida?<br />
Trata-se, antes <strong>de</strong> mais, da beleza do sacerdócio <strong>de</strong> Cristo que transparece<br />
<strong>na</strong> beleza do seu rosto <strong>de</strong> Filho <strong>de</strong> Deus feito homem. Como os olhos <strong>de</strong> toda<br />
a si<strong>na</strong>goga, também os nossos, agora, estão fixos em <strong>Jesus</strong>, para contemplar,<br />
à luz da Palavra proclamada, a beleza do seu rosto sacerdotal e eucarístico:<br />
- <strong>na</strong> beleza íntima da sua Palavra <strong>de</strong> Graça, que é o anúncio da Boa Nova<br />
<strong>de</strong> libertação e salvação da parte <strong>de</strong> Deus aos homens, que restaura a dignida<strong>de</strong><br />
da pessoa huma<strong>na</strong>;<br />
- no rosto do Pastor belo que conhece as ovelhas pelo nome e dá a vida<br />
por elas para que tenham vida em abundância;<br />
- no rosto <strong>de</strong>sfigurado do Crucificado e no seu coração trespassado, revelação<br />
total do coração divino que ama com o seu amor <strong>de</strong> misericórdia e<br />
a sua ternura fiel: a beleza do Amor que exce<strong>de</strong> toda a inteligência e todo o<br />
conhecimento, todo o cálculo e toda a medida;<br />
- no rosto resplan<strong>de</strong>cente do Ressuscitado, Aquele que é mais forte que<br />
a morte, a Testemunha fiel que nos ama agora e sempre, que vem <strong>de</strong>rramar<br />
sobre nós a graça e a paz, a vida e a salvação.<br />
A Beleza do sacerdócio <strong>de</strong> Cristo, que abrange toda a sua vida e missão,<br />
é a Beleza do Amor que salva!<br />
Este mistério <strong>de</strong> Beleza é comunicado à humanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo singular e<br />
sacramental, <strong>na</strong> Última Ceia <strong>na</strong> qual tem origem a eucaristia como memorial da<br />
Páscoa <strong>de</strong> Cristo, banquete <strong>de</strong> comunhão e penhor da futura glória. Estes três<br />
aspectos da celebração eucarística são como três janelas que se abrem sobre a<br />
beleza do sacerdócio daqueles a quem o Senhor confiou o ministério <strong>de</strong> a ela<br />
presidir em seu nome (in perso<strong>na</strong> Christi): “Fazei isto em memória <strong>de</strong> mim”.<br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
A beleza do ministério da consolação da Páscoa re<strong>de</strong>ntora <strong>de</strong> Cristo<br />
Na Última Ceia começou para o mundo uma presença nova <strong>de</strong> Cristo,<br />
uma presença que se realiza, ininterruptamente, em toda a parte on<strong>de</strong> é celebrada<br />
a eucaristia e um sacerdote empresta a Cristo a sua pessoa, as suas<br />
mãos e a sua voz repetindo os gestos e as palavras santas, amorosas e comoventes<br />
da instituição: “Isto é o meu corpo entregue por vós”, “Este é o cálice<br />
do meu sangue <strong>de</strong>rramado por vós”. É a presença <strong>de</strong> Cristo ressuscitado <strong>na</strong><br />
totalida<strong>de</strong> da sua pessoa e <strong>na</strong> plenitu<strong>de</strong> do mistério <strong>de</strong> amor entregue até à<br />
<strong>cruz</strong>, até ao extremo: o Deus connosco, Deus para nós, Deus por nós e Deus<br />
em nós. Eis o mistério admirável da nossa fé! Eis a beleza do Amor re<strong>de</strong>ntor<br />
<strong>de</strong> Cristo! Eis a re<strong>de</strong>nção da beleza da humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfigurada pelo pecado<br />
e que nos é oferecida <strong>na</strong> eucaristia!<br />
É para nós uma alegria e uma beleza e, ao mesmo tempo, uma fonte <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> o estar tão intimamente vinculados a este mistério. Hoje,<br />
queremos tomar consciência disso com o coração cheio <strong>de</strong> assombro, <strong>de</strong> <strong>de</strong>slumbramento<br />
e <strong>de</strong> gratidão!<br />
Aqui, neste amor re<strong>de</strong>ntor <strong>de</strong> Cristo, o sacerdote recebe e alimenta, continuamente,<br />
o amor pastoral com que é enviado ao serviço do Evangelho a<br />
favor dos homens, no ministério da Palavra da salvação, dos sacramentos da<br />
ternura <strong>de</strong> Deus e da relação cordial e próxima, tão belamente expresso em<br />
termos existenciais no texto <strong>de</strong> Isaías: “anunciar a Boa Nova aos infelizes,<br />
curar as chagas dos corações atribulados, consolar todos os amargurados,<br />
levar alento aos aflitos <strong>de</strong> Sião, uma coroa em vez <strong>de</strong> cinza, o óleo da alegria<br />
em vez do trajo <strong>de</strong> luto, um canto <strong>de</strong> louvor em vez <strong>de</strong> um espírito abatido”.<br />
É o ministério da consolação da mente, do coração e da vida - hoje mais<br />
necessário do que nunca neste mal-estar <strong>de</strong> civilização - para uma humanida<strong>de</strong><br />
nova, livre e pura que viva a graça, o perdão, a serenida<strong>de</strong>, a alegria e a<br />
paz no Espírito Santo. Que missão mais bela po<strong>de</strong> existir?!<br />
A beleza do ministério da comunhão e da fraternida<strong>de</strong><br />
Na eucaristia, Cristo entrega-se por nós e a nós para realizar a comunhão<br />
viva connosco e fazer da Igreja um Corpo <strong>de</strong> comunhão. Como Cristo-Cabeça<br />
faz a unida<strong>de</strong> dos membros, assim o sacerdócio ministerial se oferece como<br />
ministério <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> comunhão. É chamado a servir esta beleza <strong>de</strong> Cristo<br />
eucarístico que une os corações <strong>de</strong> quantos O comungam, a oferecê-la como<br />
Boa Nova ao nosso mundo que aparece tantas vezes como um arquipélago <strong>de</strong><br />
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. escritos episcopais .<br />
solidões. O padre é por isso um tecedor dos fios <strong>de</strong> comunhão frater<strong>na</strong> num<br />
trabalho quotidiano, paciente e perse<strong>ver</strong>ante, <strong>de</strong> acolhimento, <strong>de</strong> escuta, <strong>de</strong><br />
diálogo, <strong>de</strong> corresponsabilida<strong>de</strong> e até <strong>de</strong> correcção frater<strong>na</strong> <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong>.<br />
A beleza <strong>de</strong>ste serviço joga-se, <strong>de</strong> modo particular, <strong>na</strong>s relações huma<strong>na</strong>s.<br />
É importante compreen<strong>de</strong>r o caminho das pessoas e fazer compreen<strong>de</strong>r<br />
a cada pessoa que o seu caminho não é inútil, ba<strong>na</strong>l e doloroso, mas santificante,<br />
que ela é amada e objecto <strong>de</strong> atenção. Na profundida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> sincerida<strong>de</strong><br />
e <strong>na</strong> autenticida<strong>de</strong> das relações huma<strong>na</strong>s e frater<strong>na</strong>s joga-se a beleza da vida<br />
da comunida<strong>de</strong>. Quem tem um campo <strong>de</strong> relações tão ricas e belas como um<br />
padre: com crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, doentes...? Nesta<br />
missão, o sacerdote testemunha que o Cristo que anuncia e tor<strong>na</strong> presente não<br />
só é <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro e justo, mas também belo, capaz <strong>de</strong> dar beleza à vida <strong>de</strong> cada<br />
um e <strong>de</strong> unir a todos <strong>na</strong> beleza <strong>de</strong> Deus e da comunhão frater<strong>na</strong>.<br />
A beleza do ministério da esperança<br />
A comunhão no mistério eucarístico não se esgota em si mesma, no tempo<br />
presente. Tem uma dimensão <strong>de</strong> futuro: aponta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, para a Beleza da<br />
comunhão eter<strong>na</strong> e ple<strong>na</strong> em Deus. Por isso, a eucaristia é pão <strong>de</strong> vida eter<strong>na</strong>,<br />
alimento dos peregrinos a caminho da pátria <strong>de</strong>finitiva, sacramento da esperança<br />
em Deus que não enga<strong>na</strong>, que nos sustenta no meio das dificulda<strong>de</strong>s e<br />
provações, nos abre caminhos novos <strong>de</strong> renovação e não nos <strong>de</strong>ixa prisioneiros<br />
da resig<strong>na</strong>ção, da indiferença e do <strong>de</strong>sânimo.<br />
Esta experiência eucarística leva os sacerdotes, em virtu<strong>de</strong> do seu ministério<br />
<strong>de</strong> presidência, a serem sentinelas da Beleza do futuro absoluto, anunciadores<br />
da esperança teologal, sendo companheiros <strong>de</strong> caminho dos homens<br />
e capazes <strong>de</strong> levar com eles o peso do vi<strong>ver</strong> quotidiano e do quotidiano morrer.<br />
A esperança no “Deus sempre maior” que a nossa fragilida<strong>de</strong> é uma graça<br />
imensa e um serviço inestimável aos outros.<br />
Naturalmente, este dom e mistério do sacerdócio não po<strong>de</strong> ser vivido sem<br />
vibração do Espírito e sem doação <strong>de</strong> vida, sem se <strong>de</strong>ixar transformar – os<br />
olhos, a mente e o coração - pelo mistério da eucaristia que celebramos.<br />
Ten<strong>de</strong> fé no Sacerdócio e <strong>na</strong> Eucaristia<br />
É belo ser padre hoje! O dom do sacerdócio não é só para a Igreja, mas<br />
também para a humanida<strong>de</strong>. É um raio da beleza <strong>de</strong> Deus no mundo! À semelhança<br />
<strong>de</strong> Cristo, o Pastor belo, o padre cuida da beleza espiritual da huma-<br />
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. escritos episcopais .<br />
nida<strong>de</strong>. Como homem do Evangelho, apela ao que há <strong>de</strong> mais belo e positivo<br />
no coração <strong>de</strong> cada ser humano, levando Cristo e semeando a sua Palavra, <strong>na</strong>s<br />
gran<strong>de</strong>s metrópoles ou <strong>na</strong>s al<strong>de</strong>ias mais recônditas.<br />
O serviço mais precioso a prestar a cada homem é fazer-lhe <strong>de</strong>scobrir a<br />
dignida<strong>de</strong> única e ímpar <strong>de</strong> filho <strong>de</strong> Deus, ajudá-lo a compreen<strong>de</strong>r o valor<br />
da sua vida que não tem preço e que po<strong>de</strong> ser revestida <strong>de</strong> graça, <strong>de</strong> beleza<br />
divi<strong>na</strong>; a compreen<strong>de</strong>r como é infinita a misericórdia <strong>de</strong> Deus por cada um!<br />
Do mais íntimo do coração, digo-vos, caríssimos padres: ten<strong>de</strong> fé no sacerdócio,<br />
no vosso sacerdócio! É participação no sacerdócio eterno e santo <strong>de</strong><br />
Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre, porque é o Ressuscitado; é participação,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> há dois milénios, <strong>na</strong> sua carida<strong>de</strong> pastoral, <strong>na</strong>quele seu amor<br />
forte e misericordioso que po<strong>de</strong> curar a nossa socieda<strong>de</strong> das infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s, das<br />
indiferenças, da idolatria, da violência.<br />
O nosso tempo é atravessado por gran<strong>de</strong>s transformações culturais e por<br />
preocupantes crises e tensões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espiritual, moral e social. É necessário<br />
que os padres saibam oferecer, com o exemplo e a palavra, horizontes<br />
luminosos <strong>de</strong> sentido e motivos convincentes <strong>de</strong> esperança. E po<strong>de</strong>m fazê-lo<br />
porque a nossa certeza é fundada sobre a rocha da Palavra <strong>de</strong> Deus e sobre a<br />
força salvífica da Eucaristia. Ten<strong>de</strong> fé <strong>na</strong> eucaristia!<br />
Hoje, mais do que nunca, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padres que testemunhem a<br />
beleza da fé, que se façam companheiros <strong>de</strong> viagem dos seus contemporâneos,<br />
sem domi<strong>na</strong>r as pessoas, mas ajudando-as a crescer <strong>na</strong> maturida<strong>de</strong> da fé e<br />
<strong>na</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira liberda<strong>de</strong>. Há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padres que consolem e confortem<br />
os corações, mas que ao mesmo tempo, inquietem as consciências propondo,<br />
com coragem e sabedoria, os valores do evangelho, sobretudo aos jovens; há<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padres que, morando no coração <strong>de</strong> Cristo cheio <strong>de</strong> amor e<br />
compaixão, saibam partilhar as dores e os sofrimentos das gentes, libertandoas<br />
do medo e abrindo-as a horizontes <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> paz.<br />
Há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padres que acreditam no amor forte <strong>de</strong> Deus pela humanida<strong>de</strong><br />
e querem anunciá-Lo com alegria, com esperança e com perse<strong>ver</strong>ança!<br />
“Ó Cristo do Cenáculo, do Calvário e da Ressurreição! Acolhe-nos a<br />
todos nós que somos os sacerdotes do ano do Senhor <strong>de</strong> 2009 e com<br />
o mistério <strong>de</strong>sta Quinta-Feira Santa santifica-nos <strong>de</strong> novo, embelezanos<br />
com a tua santida<strong>de</strong>! Ámen! Aleluia!”<br />
42 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
Catedral <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 9 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
Na abertura do Congresso Nacio<strong>na</strong>l<br />
dos Antigos Alunos dos Seminários<br />
Da memória à profecia<br />
. escritos episcopais .<br />
A vida huma<strong>na</strong> está feita <strong>de</strong> memória e <strong>de</strong> esperança, que são, por sua vez,<br />
o fundamento da profecia. Como disse alguém, “a memória dá-nos as raízes;<br />
a esperança oferece-nos as asas para voar”.<br />
A palavra raiz remete-nos, à primeira vista, para o mundo das plantas e<br />
das árvores que aparecem à superfície, avançando em altura, <strong>na</strong> medida em<br />
que lançam raízes em profundida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>baixo da terra. Da raiz brota a seiva<br />
que dá vida ao tronco, aos ramos, às flores e aos frutos. A metáfora da raiz é<br />
expressão da origem, das fontes que alimentam a vida. O homem vive “enraizado”<br />
recebendo a seiva e a vida das suas raízes e, por tudo isso, capacitado<br />
para crescer, florescer e frutificar. Como diz Simone Weil: “O enraizamento<br />
é talvez a necessida<strong>de</strong> mais importante e a mais <strong>de</strong>sconhecida da alma huma<strong>na</strong>”.<br />
As raízes culturais são as raízes da alma.<br />
A esta luz compreen<strong>de</strong>mos que a memória huma<strong>na</strong> não é um mero lugar<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>positamos ou enterramos o passado (factos, tradições e experiências<br />
acumuladas) como num disco duro, num armazém ou num museu <strong>de</strong> arqueologia.<br />
É antes um lugar <strong>de</strong> vida, on<strong>de</strong> guardamos vivas, no coração, as experiências<br />
mais importantes e significativas com as alegrias e as feridas; é um<br />
ma<strong>na</strong>ncial. É o saber que temos da nossa origem, da proveniência da nossa<br />
vida, das suas raízes, do que a tor<strong>na</strong> possível e a mantém viva.<br />
A memória conserva, <strong>de</strong> modo permanente, o que já se viveu, não o <strong>de</strong>ixa<br />
per<strong>de</strong>r e faz disso o fundamento para construir a casa da nossa vida, isto é,<br />
o presente e o futuro. Sobre o que se viveu, nos apoiamos para continuar a<br />
avançar com esperança. Não há futuro sem memória.<br />
A memória tor<strong>na</strong>-nos possível a consciência do tempo e <strong>de</strong> nós mesmos<br />
no tempo. Por isso, quem não tem memória, não tem ple<strong>na</strong> consciência <strong>de</strong> si<br />
mesmo, da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
É este ma<strong>na</strong>ncial da memória que queremos recolher neste primeiro congresso<br />
<strong>de</strong> antigos alunos dos seminários quer revisitando a história <strong>de</strong>sta venerável<br />
instituição que foi uma escola <strong>de</strong> vida e formação para tantos quando<br />
não havia a <strong>de</strong>mocratização do ensino, quer como partilha <strong>de</strong> histórias e me-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 43<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
mórias vivenciais que são uma <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira permuta <strong>de</strong> dons. É uma experiência<br />
<strong>de</strong> comunhão. O nosso caminho, <strong>de</strong> facto, é sustentado pela comunhão<br />
horizontal dos irmãos e companheiros como também pela comunhão <strong>ver</strong>tical<br />
que atravessa o tempo.<br />
E fazemos memória <strong>de</strong> tudo isto não como quem <strong>de</strong>senterra o passado<br />
por mera curiosida<strong>de</strong> arcaica ou nostalgia dos velhos tempos, mas antes para<br />
tomar consciência dos traços que marcaram a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal, social,<br />
cultural e ainda da enorme e indiscutível relevância dos seminários para<br />
a missão da Igreja e para a vida da socieda<strong>de</strong> portuguesa pela presença e<br />
acção <strong>de</strong> tantos <strong>na</strong>s estruturas eclesiais, sociais e politicas; e a partir daí, tirar<br />
inspiração, força vital e fundamento para construir o presente e avançar para<br />
o futuro que se apresentam com <strong>de</strong>safios inéditos.<br />
Por isso muito me alegra <strong>ver</strong>ificar que o congresso se orienta nesta direcção<br />
do diálogo do cristianismo com a cultura. Assim retoma uma inspiração<br />
que esteve <strong>na</strong> origem da instituição dos seminários pelo concílio <strong>de</strong> Trento,<br />
procurando agora respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios e às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje, concretamente:<br />
- a criar uma nova cultura da vocação que permita ao homem pós-mo<strong>de</strong>rno<br />
reencontrar-se consigo mesmo e abrir-se ao outro, seu semelhante, e ao<br />
Outro, o Deus do Amor que em <strong>Jesus</strong> Cristo chama cada um a colaborar, com<br />
os próprios dons, no Seu projecto <strong>de</strong> amor pela humanida<strong>de</strong>;<br />
- respon<strong>de</strong>r às exigências <strong>de</strong> uma nova evangelização para anunciar com<br />
novo ardor a novida<strong>de</strong> e a beleza da fé cristã num mundo novo marcado pelo<br />
pluralismo cultural e religioso;<br />
- tor<strong>na</strong>r presentes <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong> os gran<strong>de</strong>s valores do humanismo cristão<br />
numa socieda<strong>de</strong> fragmentada, dividida, sem consensos éticos básicos, mi<strong>na</strong>da<br />
pela cultura do vazio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais e valores e que precisa <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />
esperança capaz <strong>de</strong> lhe restituir a confiança <strong>na</strong> bonda<strong>de</strong> e <strong>na</strong> beleza da vida.<br />
Que a presença protectora <strong>de</strong> Maria, Mãe <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e Mãe da Igreja, exemplo<br />
vivo da memória e da profecia no canto do Magnificat, vos acompanhe e<br />
vos ilumine juntamente com a intercessão do Beato Francisco Marto, exemplo<br />
luminoso do e<strong>na</strong>moramento pela beleza <strong>de</strong> Deus e vos obtenha o dom da<br />
profecia para ser<strong>de</strong>s profetas/sentinelas da manhã, isto é, do alvorecer <strong>de</strong> um<br />
mundo novo!<br />
Bom Congresso para todos!<br />
44 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
. escritos episcopais .<br />
Homilia <strong>na</strong> missa <strong>de</strong> encerramento do Congresso<br />
Nacio<strong>na</strong>l dos Antigos Alunos dos Seminários<br />
Testemunhas da vida nova em Cristo<br />
“Paz a todos vós que estais em Cristo”!<br />
Com estas palavras do apóstolo Pedro, extraídas da segunda leitura proclamada,<br />
saúdo cordialmente todos os congressistas.<br />
E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta breve saudação, quero fazer convosco uma meditação, <strong>de</strong>ixando-nos<br />
ilumi<strong>na</strong>r e inspirar pela Palavra <strong>de</strong> Deus que acabámos <strong>de</strong> ouvir.<br />
<strong>Jesus</strong> está vivo e actua em nós<br />
Hoje celebramos a festa <strong>de</strong> S. Marcos evangelista, que nos <strong>de</strong>ixou, por<br />
escrito, o Evangelho <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, com a preocupação particular <strong>de</strong> levar aqueles<br />
que o lêem e meditam a interrogar-se: Quem é <strong>Jesus</strong>? Quem é <strong>Jesus</strong> para<br />
mim? Quem é <strong>Jesus</strong> para a Igreja? Quem é <strong>Jesus</strong> para o mundo?<br />
Ouvimos o texto fi<strong>na</strong>l com que S. Marcos encerra o seu Evangelho. É<br />
como que um pequeno catecismo, isto é, uma síntese da mensagem da ressurreição<br />
tão própria para este tempo pascal que ainda estamos a vi<strong>ver</strong>. Por<br />
isso, convida-nos a contemplar <strong>Jesus</strong> ressuscitado e a <strong>de</strong>scobrir quem é <strong>Jesus</strong><br />
ressuscitado para nós, quem somos nós para Ele, qual é a nossa missão <strong>de</strong><br />
discípulos <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> ressuscitado hoje.<br />
Então, a primeira mensagem que São Marcos nos quer transmitir ao apresentar<br />
<strong>Jesus</strong> ressuscitado, que se manifesta aos onze apóstolos, é que <strong>Jesus</strong> não<br />
é uma figura do passado, que disse e fez coisas boas e belas, que nos <strong>de</strong>ixou<br />
uma doutri<strong>na</strong> e um exemplo maravilhosos, que nos <strong>de</strong>ixou, porventura, regras<br />
<strong>de</strong> bom comportamento e <strong>na</strong>da mais. A primeira mensagem é: <strong>Jesus</strong> está vivo,<br />
vive connosco, caminha connosco, actua em nós. Exactamente a última frase<br />
do Evangelho: “o Senhor colaborava com os discípulos e confirmava a sua palavra<br />
com os si<strong>na</strong>is que a acompanhavam” isto é, com as maravilhas da graça.<br />
Por isso, leva-nos a contemplar o Senhor <strong>Jesus</strong> ressuscitado e, como que faz<br />
brotar do nosso coração uma breve oração: “Senhor <strong>Jesus</strong> ressuscitado, Tu não<br />
só estás comigo mas actuas em mim. Eu actuo contigo, mas Tu és sempre o primeiro<br />
a trabalhar em mim, comigo e através <strong>de</strong> mim”. Esta é a gran<strong>de</strong> palavra<br />
<strong>de</strong> fé que nos sustenta, que nos dá animo e apoio com a sua força.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 45<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
Gritai a boa notícia da ressurreição!<br />
Em segundo lugar, quem faz esta experiência <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> vivo e presente <strong>na</strong> sua<br />
vida e <strong>na</strong> Igreja é convidado pelo Senhor a irradiar, a contagiar, com a palavra e o<br />
testemunho da vida, esta boa notícia. Por isso o Senhor diz: “I<strong>de</strong> por todo o mundo<br />
e proclamai o Evangelho a toda a criatura”, a toda a criação. É interessante<br />
que a palavra origi<strong>na</strong>l no texto <strong>de</strong> S. Marcos, quando diz “proclamai”, podíamos<br />
traduzi-la: “gritai” o Evangelho da ressurreição, gritai a boa notícia da ressurreição.<br />
Não se trata <strong>de</strong> gritar uma fórmula, mas sim o po<strong>de</strong>r salvífico <strong>de</strong> Cristo sobre<br />
a minha vida e sobre o mundo <strong>de</strong> hoje. Gritai, testemunhai a força que <strong>Jesus</strong> tem<br />
<strong>de</strong> transformar o meu coração, a minha vida, o mundo inteiro.<br />
Os cinco si<strong>na</strong>is da vida nova em Cristo ressuscitado<br />
E <strong>de</strong>pois, o Evangelho mostra-nos como se expressa esta força salvífica <strong>de</strong><br />
<strong>Jesus</strong> ressuscitado <strong>na</strong>queles e através daqueles que o acolhem, que nele crêem.<br />
Através <strong>de</strong> cinco si<strong>na</strong>is como ouvimos. Desejaria confi<strong>de</strong>nciar-vos que, quando<br />
era jovem estudante no seminário e ouvia estes si<strong>na</strong>is que acompanham a missão<br />
dos que crêem em <strong>Jesus</strong>, ficava sempre perplexo e pensava comigo mesmo: “se<br />
calhar, eu não tenho fé porque eu não faço, nem sou capaz <strong>de</strong> fazer estes si<strong>na</strong>is:<br />
expulsar <strong>de</strong>mónios, falar línguas novas, pegar em serpentes, tomar veneno e não<br />
morrer, impor as mãos sobre os doentes e curá-los… Que quer dizer isto?” Só<br />
compreendi mais tar<strong>de</strong>, passada a juventu<strong>de</strong>, mas encontro aqui toda a beleza da<br />
vida que Cristo ressuscitado nos oferece. Eis o que significam estes cinco si<strong>na</strong>is:<br />
- Aqueles que acreditarem em Cristo expulsarão <strong>de</strong>mónios, quer dizer, serão<br />
libertos e capazes <strong>de</strong> libertar do po<strong>de</strong>r do mal, que escraviza os corações e as<br />
consciências quando essa força do mal se aninha neles e <strong>de</strong>strói a vida;<br />
- Falarão novas línguas: quem acolhe o Evangelho no seu coração e <strong>na</strong> sua vida<br />
começa a comunicar com os outros <strong>de</strong> modo novo; falará uma linguagem nova e<br />
uni<strong>ver</strong>sal que todos compreen<strong>de</strong>rão: a linguagem do amor, a linguagem da comunhão,<br />
a linguagem da mansidão, quer dizer, da não-violência, a linguagem da paz;<br />
- Pegarão em serpentes: o Senhor dar-lhes-á a força e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar<br />
situações ad<strong>ver</strong>sas: a hostilida<strong>de</strong> ou a indiferença do ambiente social e cultural em<br />
relação à fé, enfrentar estas situações sem medo, sem complexo <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong>,<br />
com a certeza <strong>de</strong> que o Senhor ressuscitado está sempre connosco e é a nossa força;<br />
- Não ficarão envene<strong>na</strong>dos: significa a força espiritual que nos dá Cristo ressuscitado<br />
para não nos <strong>de</strong>ixarmos contami<strong>na</strong>r pelo veneno do mal, do pecado, da<br />
corrupção moral, da corrupção social; significa a força que o Senhor nos dá <strong>de</strong><br />
suportar dificulda<strong>de</strong>s, críticas, porventura troça e <strong>de</strong>sprezo com coragem, com<br />
46 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
serenida<strong>de</strong> e com paz;<br />
- Fi<strong>na</strong>lmente, o quinto si<strong>na</strong>l: curarão os enfermos sobre quem impuserem as<br />
mãos. Sim! O Evangelho <strong>de</strong> Cristo, a palavra <strong>de</strong> Cristo, os sacramentos da Sua<br />
graça, têm um po<strong>de</strong>r terapêutico, curativo, quer dizer, <strong>de</strong> curar as feridas dos<br />
corações e das almas, <strong>de</strong> reconciliar as divisões, <strong>de</strong> consolar, <strong>de</strong> infundir ânimo<br />
on<strong>de</strong> se instala tristeza, o <strong>de</strong>sânimo e a solidão.<br />
A vida <strong>de</strong> muitas pessoas melhora porque entraram <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong> e começaram<br />
a vi<strong>ver</strong> a Boa Nova da presença do Ressuscitado <strong>na</strong> sua vida<br />
Esta é, meus irmãos e irmãs, a vida nova em Cristo ressuscitado, a vida que<br />
traz as marcas da ressurreição <strong>de</strong> Cristo, os si<strong>na</strong>is on<strong>de</strong> se tor<strong>na</strong> visível e palpável<br />
o po<strong>de</strong>r salvífico <strong>de</strong> Cristo ressuscitado.<br />
A beleza e a alegria da vocação cristã<br />
Este é o testemunho <strong>de</strong> que <strong>Jesus</strong> é <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iramente o Senhor dos nossos<br />
corações, das nossas vidas e da nossa história. Esta é a vida e o testemunho dos<br />
que confiam <strong>na</strong> força do amor, do perdão, da misericórdia, da compaixão <strong>de</strong> Deus<br />
por cada pessoa, da mansidão evangélica e da paz. Esta é a beleza <strong>de</strong> Cristo<br />
ressuscitado. Esta é a beleza da fé dos que acreditam n’Ele e O acolhem. Esta é<br />
a beleza da vocação cristã que está <strong>na</strong> base da di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> das várias vocações<br />
específicas. Bem gostaria que saísseis daqui, hoje, com esta beleza e com esta<br />
alegria a inundar o vosso coração.<br />
O Evangelho não nos diz <strong>na</strong>da sobre Maria <strong>na</strong> sua relação com Cristo ressuscitado.<br />
Mas a tradição cristã gosta <strong>de</strong> a representar no encontro cheio <strong>de</strong> alegria<br />
com o Filho ressuscitado, que primeiro recebera no seu regaço quando <strong>de</strong>scera<br />
da <strong>cruz</strong>; e nós po<strong>de</strong>mos, sem dúvida, dar largas à nossa imagi<strong>na</strong>ção para, <strong>de</strong> algum<br />
modo, compreen<strong>de</strong>r a alegria da mãe no encontro com o Filho ressuscitado:<br />
Regi<strong>na</strong> coeli laetare, aleluia!<br />
Que Ela, hoje, nos aju<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scobrir, a saborear esta alegria e esta beleza da<br />
fé em Cristo ressuscitado. Levai convosco esta beleza da fé e do amor que salva.<br />
Levai-a no vosso coração, nos vossos olhos, nos vossos lábios, nos vossos gestos.<br />
Levai-a para vossa casa, para a vossa família. Levai-a para as vossas comunida<strong>de</strong>s<br />
e para as vossas paróquias. Levai-a para o mundo on<strong>de</strong> viveis, on<strong>de</strong> conviveis<br />
e on<strong>de</strong> trabalhais. E então, com Maria, a cantora e a solista do Magnificat, po<strong>de</strong>remos<br />
também nós cantar, com o coração, com a alma e com a vida, o refrão do<br />
salmo <strong>de</strong> hoje: “Senhor, cantarei eter<strong>na</strong>mente a vossa bonda<strong>de</strong>!” Ámen! Aleluia!<br />
25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
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Documentos
. escritos episcopais .<br />
Saudação <strong>de</strong> Abertura da Peregri<strong>na</strong>ção<br />
Peregri<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> confiança<br />
em momento <strong>de</strong> crise<br />
1. Cada um <strong>de</strong> nós é um peregrino. Todos nos sentimos chamados a avançar,<br />
com coragem, pelo caminho <strong>de</strong> Deus, à Sua busca ou ao Seu encontro,<br />
e atraídos por Ele, como reza uma bela inscrição <strong>na</strong> Basílica <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong><br />
Latrão: “Tu atraíste-nos para Ti, Senhor, e inflamaste os nossos corações”.<br />
Foi esta atracção íntima <strong>de</strong> Deus, através do coração materno <strong>de</strong> Maria, que<br />
nos trouxe em peregri<strong>na</strong>ção a <strong>Fátima</strong>. Como vosso irmão, bispo <strong>de</strong>sta diocese,<br />
saúdo a todos vós aqui presentes com todo o afecto e no amor <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Cristo.<br />
Saúdo com particular e fraterno afecto o Senhor Car<strong>de</strong>al D. Óscar Maradiaga,<br />
arcebispo <strong>de</strong> Tegucigalpa, <strong>na</strong>s Honduras, e Presi<strong>de</strong>nte da Caritas Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />
que se dignou aceitar o convite para presidir a esta peregri<strong>na</strong>ção ani<strong>ver</strong>sária <strong>de</strong><br />
13 <strong>de</strong> Maio e cuja presença muito nos honra e alegra. Em nome pessoal e <strong>de</strong><br />
todos os peregrinos dou-lhe as boas vindas e expresso-lhe o nosso profundo<br />
reconhecimento. Seja bem-vindo, Senhor Car<strong>de</strong>al, e muito obrigado!<br />
Saúdo também frater<strong>na</strong>lmente os irmãos no episcopado aqui presentes.<br />
2. O caminho exterior do peregrino tor<strong>na</strong>-se parábola, expressão viva <strong>de</strong><br />
uma peregri<strong>na</strong>ção interior. Pelo caminho, lançamos um olhar retrospectivo<br />
ao percurso da nossa vida: umas vezes, com lágrimas <strong>de</strong> dor ou <strong>de</strong> arrependimento,<br />
outras com gratidão e alegria. De qualquer modo, seguimos em frente,<br />
porventura com inquietação e ansieda<strong>de</strong>, mas sempre com expectativa e<br />
esperança, sabendo que há outros que nos encorajam ao longo do caminho e<br />
que, no termo, alguém nos espera e espera por nós.<br />
A peregri<strong>na</strong>ção tor<strong>na</strong>-se pois numa viagem espiritual: uma “santa viagem”<br />
<strong>na</strong> fé e <strong>na</strong> esperança. A fé ajuda-nos a <strong>ver</strong> um horizonte para além <strong>de</strong><br />
nós mesmos, com dimensão <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong>! O amor incondicio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Deus,<br />
que dá a vida a cada um, tem um significado e uma meta para cada vida huma<strong>na</strong>.<br />
É um Amor salvador, digno <strong>de</strong> confiança!<br />
<strong>Jesus</strong> indica-nos o caminho a seguir: o caminho da esperança e do amor,<br />
que guia cada passo do nosso caminhar, <strong>de</strong> tal modo que também nos tornemos<br />
portadores <strong>de</strong>sta esperança e <strong>de</strong>ste amor para os outros.<br />
48 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
E Maria, Mãe <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e Mãe nossa, que aqui nos espera, corrobora a<br />
indicação <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>: “Fazei o que Ele vos disser”!<br />
3. É toda esta riqueza espiritual da peregri<strong>na</strong>ção que Nossa Senhora nos<br />
convida a vivenciar aqui em <strong>Fátima</strong>. Chegados à meta do seu santuário, ecoam<br />
em nós as mesmas palavras <strong>de</strong> alento que Ela dirigiu aos pequenos vi<strong>de</strong>ntes<br />
e, através <strong>de</strong>les, à humanida<strong>de</strong> em tremenda provação pelo sofrimento <strong>de</strong><br />
guerras mundiais: “A graça <strong>de</strong> Deus será o vosso conforto”; “O meu Coração<br />
Imaculado será o teu refúgio e conduzir-te-á até Deus”!<br />
Confiantes no po<strong>de</strong>r da Sua intercessão queremos colocar hoje no Seu coração<br />
materno todas as intenções que trazemos connosco ou confiaram à nossa<br />
oração, mas sobretudo duas muito particulares, <strong>de</strong> dimensão eclesial e uni<strong>ver</strong>sal.<br />
Antes <strong>de</strong> mais, confiamos à Mãe da Igreja o bom êxito da peregri<strong>na</strong>ção<br />
apostólica do Santo Padre, Bento XVI, à Terra Santa – “tão santa como dolorosa”<br />
por conflitos e feridas constantes - on<strong>de</strong> se encontra como corajoso e<br />
intrépido peregrino da paz, do diálogo e da reconciliação. Quando o Papa realiza<br />
um gesto tão significativo e solene como é o <strong>de</strong> uma viagem à Terra Santa,<br />
fá-lo em nome e em representação <strong>de</strong> toda a Igreja, como ele próprio afirmou.<br />
Por isso, somos todos nós que o acompanhamos, unidos a ele em oração.<br />
Queremos também confiar a Nossa Senhora as ansieda<strong>de</strong>s e preocupações<br />
que hoje atormentam tantas pessoas e famílias, sem trabalho ou recursos, vítimas<br />
das agravadas dificulda<strong>de</strong>s da actual crise económica mundial.<br />
Com todos vós quero renovar a confiança <strong>na</strong> Mãe da humanida<strong>de</strong> que<br />
não nos abando<strong>na</strong>rá <strong>na</strong>s nossas necessida<strong>de</strong>s, conscientes <strong>de</strong> que isto não<br />
significa simplesmente pedir-lhe ajuda e consolação. Significa também escutar<br />
o seu apelo, feito aqui em <strong>Fátima</strong>, a reparar as injustiças (as estruturas<br />
<strong>de</strong> injustiça) do nosso mundo e a empenharmo-nos a favor dos outros com<br />
um gran<strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e um alto sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />
A nossa confiança não é uma confiança simplista numa solução mágica dos<br />
problemas; é antes uma confiança no empenho <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos e <strong>na</strong><br />
nossa presença ao lado dos irmãos em dificulda<strong>de</strong>.<br />
Com gran<strong>de</strong> confiança no po<strong>de</strong>r da Sua intercessão dirigimo-nos pois a<br />
Ela com a nossa prece:<br />
“À vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe <strong>de</strong> Deus.<br />
Não <strong>de</strong>sprezeis as nossas súplicas em nossas necessida<strong>de</strong>s;<br />
mas livrai-nos <strong>de</strong> todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”. Ámen!<br />
Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, 12 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 49<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
Conferencia <strong>de</strong> Imprensa<br />
Solidarieda<strong>de</strong>, responsabilida<strong>de</strong><br />
e confiança<br />
Nesta peregri<strong>na</strong>ção não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter presente o agravamento<br />
das dificulda<strong>de</strong>s resultantes da crise económico-fi<strong>na</strong>nceira em curso. Significa<br />
que a própria peregri<strong>na</strong>ção nos provoca a assumir as nossas responsabilida<strong>de</strong>s,<br />
nos estimula a empenharmo-nos com os outros e a favor dos outros e<br />
nos infun<strong>de</strong> coragem para realizar os passos necessários em or<strong>de</strong>m a enfrentar<br />
juntos a difícil situação actual.<br />
Cada um é chamado a realizar a sua própria parte animado por um gran<strong>de</strong><br />
espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, que é reconhecer em quem está em necessida<strong>de</strong><br />
um irmão a amar e a ajudar; e ao mesmo tempo, com um alto sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />
em or<strong>de</strong>m a encontrar respostas respeitadoras e promotoras da<br />
dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o ser humano que comporta, entre outras coisas, garantir o<br />
direito ao trabalho. Este constitui o elo mais fraco em toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> consequências<br />
<strong>de</strong>sastrosas da crise.<br />
O espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> levou à mobilização <strong>de</strong> todos os organismos<br />
sócio-caritativos da Igreja, a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, diocesano e paroquial. Desejaria<br />
neste momento, renovar o convite a todas e cada uma das comunida<strong>de</strong>s<br />
cristãs a uma leitura atenta e sábia das necessida<strong>de</strong>s concretas e a elaborar<br />
projectos, inteligentes e em re<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ajuda a fim <strong>de</strong> que quem per<strong>de</strong> o trabalho<br />
não perca também a dignida<strong>de</strong>.<br />
O meu pensamento vai, <strong>de</strong> modo particular, para as famílias em dificulda<strong>de</strong>,<br />
consciente <strong>de</strong> que a actual situação do trabalho não comporta só menor<br />
produção ou menores consumos e riqueza, mas significa sobretudo menor<br />
possibilida<strong>de</strong> para a família <strong>de</strong> olhar com serenida<strong>de</strong> suficiente para o próprio<br />
futuro. Em certos casos, a situação acaba por configurar-se não só como um<br />
grave problema, mas como um <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro e próprio drama.<br />
É preciso também sabedoria e coragem para re<strong>ver</strong> o estilo do nosso vi<strong>ver</strong><br />
pessoal e social no sentido <strong>de</strong> uma maior sobrieda<strong>de</strong> e para promo<strong>ver</strong> com<br />
quem está em dificulda<strong>de</strong>, a nosso lado, uma solidarieda<strong>de</strong> feita <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong><br />
e partilha respeitosa e concreta. Segundo as funções que <strong>de</strong>sempe-<br />
50 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
nhamos, <strong>de</strong>vemos contribuir para que se <strong>de</strong>senvolva, com a intervenção das<br />
instituições e das várias forças sociais, económicas e fi<strong>na</strong>nceiras, uma renovada<br />
e séria politica social <strong>de</strong> modo a dar resposta sistemática e contínua às<br />
necessida<strong>de</strong>s primárias das pessoas e das famílias.<br />
Com esta mensagem <strong>de</strong>sejaria apelar também ao sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />
O temor ou, infelizmente, a realida<strong>de</strong> da perda do lugar <strong>de</strong> trabalho e<br />
do rendimento para si e para a família gera di<strong>ver</strong>sas reacções e sentimentos:<br />
o <strong>de</strong>sconforto, o medo, a angústia, o sentido <strong>de</strong> fracasso, o protesto, a revolta.<br />
São sentimentos compreensíveis.<br />
Todavia não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar que a crise económica se transforme numa<br />
explosão social violenta. Para evitar este risco todos <strong>de</strong>vem contribuir com<br />
a sua parte: Estado, empresários, trabalhadores, sindicatos, socieda<strong>de</strong> civil.<br />
É preciso uma atenta reflexão sobre as regras da fi<strong>na</strong>nça e da economia,<br />
sobre o modo <strong>de</strong> fazer empresa, sobre a intervenção das instituições a favor<br />
<strong>de</strong> quem está em dificulda<strong>de</strong> por causa da crise.<br />
O sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> é necessário ainda mais no momento em<br />
que as empresas vêem reduzir-se as encomendas, as margens <strong>de</strong> acção, as<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ganho. Um maior empenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação, <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> da parte <strong>de</strong> empresários e trabalhadores contribuirá seguramente<br />
para o bem <strong>de</strong> toda a empresa e <strong>de</strong> todo o tecido económico.<br />
Esta crise pôs em evidência como no trabalho empresarial é absolutamente<br />
necessária a referência ao fundamento ético. Os dirigentes da empresa <strong>de</strong>vem<br />
estar conscientes <strong>de</strong> que têm responsabilida<strong>de</strong>s precisas em relação aos<br />
seus <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e respectivas famílias: um trabalhador não é simplesmente<br />
uma das muitas componentes da empresa, mas é uma pessoa com expectativas,<br />
sonhos e projectos que vão para além do tempo passado no trabalho.<br />
Nunca po<strong>de</strong>mos esquecer que “ as coisas têm preço; as pessoas têm dignida<strong>de</strong>”<br />
(Kant).<br />
Talvez seja <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> que, neste momento <strong>de</strong> crise, a única coisa certa é a<br />
incerteza, mas <strong>de</strong>vemos ter confiança. Não uma confiança simplista numa<br />
solução mágica dos problemas, mas uma confiança no empenho <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos e <strong>na</strong> nossa presença ao lado <strong>de</strong> quem está em dificulda<strong>de</strong>.<br />
<strong>Fátima</strong>, 12 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
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. escritos episcopais .<br />
Homilia no Dia da Cida<strong>de</strong><br />
A amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong><br />
É com muita alegria que me associo ao Dia da Cida<strong>de</strong>, que coinci<strong>de</strong> com<br />
o do ani<strong>ver</strong>sário da fundação da <strong>Diocese</strong>. Com esta alegria saúdo, afectuosamente,<br />
todos os presentes. Saúdo, com cordial <strong>de</strong>ferência, a Exma. Sra.<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Câmara, o conselho municipal e os <strong>de</strong>mais autarcas.<br />
Nesta ocasião permitam-me oferecer-lhes uma meditação intitulada: “A<br />
amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>”, <strong>de</strong>ixando-nos inspirar pela Palavra <strong>de</strong> Deus<br />
que foi proclamada.<br />
1. Um novo olhar sobre a cida<strong>de</strong><br />
As leituras que ouvimos são uma <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira Cantata ao Amor, à beleza do<br />
Amor que <strong>Jesus</strong> Cristo introduz no coração dos homens e do mundo.<br />
Na ceia da <strong>de</strong>spedida, <strong>Jesus</strong> <strong>de</strong>ixa-nos o testemunho e o testamento <strong>de</strong>finitivos<br />
do seu amor: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros<br />
como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida<br />
pelos seus amigos”! São palavras <strong>de</strong> fogo! Sem este amor, o coração humano<br />
e a cida<strong>de</strong> dos homens tor<strong>na</strong>m-se um <strong>de</strong>serto espiritual. Além disso, abre-se<br />
diante <strong>de</strong> nós um programa <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> empenho praticamente ilimitado,<br />
total e uni<strong>ver</strong>sal.<br />
Por sua vez, S. Paulo enumera uma série <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s concretas em que se<br />
traduz este amor para vi<strong>ver</strong> em comunida<strong>de</strong>: a carida<strong>de</strong>, o acolhimento e a<br />
hospitalida<strong>de</strong>, a estima recíproca, a solidarieda<strong>de</strong> com os que riem e com os<br />
que choram, a diligência no trabalho, o serviço humil<strong>de</strong>, a esperança alegre...<br />
A atitu<strong>de</strong> do amor <strong>de</strong> benevolência, <strong>de</strong> querer bem ao outro como tal,<br />
tem profundas implicações cívicas e sociais: é uma atitu<strong>de</strong> necessária para<br />
construir uma cida<strong>de</strong> e uma socieda<strong>de</strong> convivial, <strong>de</strong> que é expressão bela “o<br />
banquete” eucarístico em cada domingo. <strong>Jesus</strong> introduz um novo ambiente<br />
convivial entre as pessoas. Convida-nos, pois, a um novo olhar sobre a cida<strong>de</strong>,<br />
a re<strong>de</strong>scobri-la como espaço e expressão <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
reconciliação, que <strong>de</strong>ita por terra os muros da divisão e introduz a paz <strong>na</strong>s<br />
relações entre as pessoas que habitam e formam a cida<strong>de</strong>. Temos aqui então<br />
o tema da amiza<strong>de</strong>.<br />
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2. A amiza<strong>de</strong> como o “cimento da cida<strong>de</strong>”<br />
. escritos episcopais .<br />
A amiza<strong>de</strong> é-nos apresentada já no mundo clássico, pelos pensadores antigos,<br />
Platão e Aristóteles, <strong>de</strong>pois retomados por S. Tomás <strong>de</strong> Aquino, como<br />
o “cimento da cida<strong>de</strong>”. Para o bem-estar <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, diziam, requer-se,<br />
sem dúvida, a boa vonta<strong>de</strong> dos cidadãos e um bom go<strong>ver</strong>no. Mas há algo<br />
mais substancial, que dá suporte <strong>de</strong> fundo à vida dos homens <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, que<br />
é a amiza<strong>de</strong>. A amiza<strong>de</strong> que leva à concórdia, que permite fazer comunida<strong>de</strong>,<br />
estabelecer relações comunitárias, a amiza<strong>de</strong> que faz prosperar a cida<strong>de</strong>.<br />
A amiza<strong>de</strong> exprime-se antes <strong>de</strong> mais para com a cida<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>ramos a<br />
cida<strong>de</strong> quase como uma pessoa viva, uma pessoa com vida.<br />
Um gran<strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da câmara, filósofo, teórico e poeta da cida<strong>de</strong>, G.<br />
La Pira, presi<strong>de</strong>nte da câmara da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Florença em Itália, em 1954 escrevia<br />
este texto lindo sobre a cida<strong>de</strong>: “As cida<strong>de</strong>s têm um rosto próprio, têm<br />
por assim dizer uma alma e um <strong>de</strong>stino próprios. Não são meros armazéns <strong>de</strong><br />
pedra; são misteriosas habitações dos homens e, mais ainda, <strong>de</strong> certo modo,<br />
misteriosas habitações <strong>de</strong> Deus”. Sim, também Deus habita <strong>na</strong>s cida<strong>de</strong>s dos<br />
homens!<br />
La Pira capta com luci<strong>de</strong>z a relação entre a pessoa e a cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo a<br />
po<strong>de</strong>r afirmar que a crise do nosso tempo po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como um <strong>de</strong>senraizamento<br />
do contexto orgânico da cida<strong>de</strong>, daquilo que dá uma harmonia<br />
orgânica à cida<strong>de</strong>.<br />
Leio-vos um pequeno texto muito interessante, que ele escreveu: “Não é<br />
<strong>ver</strong>da<strong>de</strong> que a pessoa huma<strong>na</strong> se realiza <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, se enraíza <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> como<br />
a árvore se enraíza no solo? Que a pessoa huma<strong>na</strong> se enraíza nos elementos<br />
que constituem a vida da cida<strong>de</strong>?” E exemplifica: “No templo, para a sua<br />
união com Deus e a sua vida espiritual; <strong>na</strong> casa para a sua vida <strong>de</strong> família; <strong>na</strong><br />
ofici<strong>na</strong> para a sua vida <strong>de</strong> trabalho; <strong>na</strong> escola para a sua vida intelectual; no<br />
hospital para a sua vida física saudável; <strong>na</strong>s praças para a sua vida <strong>de</strong> lazer e<br />
<strong>de</strong> convívio”.<br />
São os lugares simbólicos que exprimem a vida espiritual, a vida familiar,<br />
a vida económica, a vida cultural, a vida convivial, social e lúdica da cida<strong>de</strong>.<br />
É isto que dá alma à cida<strong>de</strong>. Portanto, convida-nos a olhar para a cida<strong>de</strong>, não<br />
ape<strong>na</strong>s como lugar on<strong>de</strong> dispomos <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong> estruturas que tor<strong>na</strong>m cómoda<br />
e oferecem bem estar à nossa vida, mas sobretudo como lugar e espaço<br />
on<strong>de</strong> se realiza a vida dos homens <strong>na</strong>s suas várias dimensões e <strong>ver</strong>tentes. Daí<br />
então esta exigência da amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>.<br />
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. escritos episcopais .<br />
3. Expressões da amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong><br />
1. A primeira expressão fundamental <strong>de</strong>sta amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> é não<br />
fugir da cida<strong>de</strong>: não no sentido físico, <strong>de</strong> quem ao fim <strong>de</strong> sema<strong>na</strong> vai a campo<br />
ou à montanha, o que é saudável; mas no sentido <strong>de</strong> não se alhear, não se<br />
<strong>de</strong>sinteressar pela vida da cida<strong>de</strong>, pelos seus problemas, mas consi<strong>de</strong>rar a<br />
cida<strong>de</strong> como a nossa casa, uma casa comum, pela qual e <strong>na</strong> qual todos nós<br />
somos responsáveis. Por isso, somos chamados a apren<strong>de</strong>r a vi<strong>ver</strong> <strong>na</strong> cida<strong>de</strong><br />
como numa casa comum: que cada um aprenda a vi<strong>ver</strong> nela com gosto,<br />
com corresponsabilida<strong>de</strong>, com empenho, <strong>de</strong> modo a torná-la mais habitável,<br />
mais à medida da pessoa huma<strong>na</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as pequeni<strong>na</strong>s coisas até aos gran<strong>de</strong>s<br />
problemas que se vivem <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, por exemplo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cada um e <strong>de</strong> cada família em manter a cida<strong>de</strong> limpa e bela, à participação<br />
<strong>na</strong> sua vida social e cultural até ao contributo que cada um <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong> dar<br />
para ajudar a resol<strong>ver</strong> os problemas da cida<strong>de</strong>, concretamente os problemas<br />
sociais.<br />
2. Uma outra expressão da amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, é o empenho<br />
em iniciativas para cultivar as relações entre pessoas e grupos para além das<br />
suas afinida<strong>de</strong>s <strong>na</strong>turais, ou das afinida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> cada um e <strong>de</strong> cada grupo.<br />
Por vezes, a cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> aparecer como um aglomerado <strong>de</strong> grupos ou <strong>de</strong><br />
vários corpos separados, <strong>de</strong> vários extractos da população que não comunicam<br />
entre si: categorias sociais, profissões, interesses <strong>de</strong> trabalho, interesses<br />
políticos, imigrados que vêm trabalhar para junto <strong>de</strong> nós, etnias, como por<br />
exemplo os ciganos, etc. Tem-se a impressão, por vezes, <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> já<br />
é um corpo <strong>de</strong>masiado gran<strong>de</strong> para que haja um laço <strong>de</strong> fundo que possa pôr<br />
em comunicação e em relação todos estes grupos que formam a cida<strong>de</strong>, que<br />
haja um laço <strong>de</strong> fundo que possa dar unida<strong>de</strong> e tor<strong>na</strong>r a cida<strong>de</strong> unida. É, pois,<br />
importante atravessar estes grupos com amiza<strong>de</strong>s que ponham em relação,<br />
que ponham em re<strong>de</strong>, em comunicação, costumes, interesses, linguagens e<br />
culturas di<strong>ver</strong>sas. É um enriquecimento para a cida<strong>de</strong>.<br />
3. Neste contexto, coloca-se, <strong>de</strong> modo particular, a missão da nossa Igreja,<br />
das nossas comunida<strong>de</strong>s cristãs, <strong>de</strong> cada comunida<strong>de</strong> cristã da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
criar laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, <strong>de</strong> comunhão e solidarieda<strong>de</strong> para além das afinida<strong>de</strong>s<br />
<strong>na</strong>turais, para constituir aquele tecido <strong>de</strong> referência que dá suporte <strong>de</strong> fundo<br />
ao sentido cívico e moral <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>.<br />
Daqui <strong>de</strong>riva também um compromisso, um empenho para todos, <strong>de</strong> criar<br />
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. escritos episcopais .<br />
ca<strong>na</strong>is <strong>de</strong> comunicação, por exemplo entre os lugares do trabalho e os do tempo<br />
livre, entre os lugares do sofrimento e os da solidarieda<strong>de</strong> e do voluntariado,<br />
entre as prisões e a chamada “socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem”, entre as instituições<br />
culturais e a gente comum, entre os margi<strong>na</strong>lizados e os sem-abrigo e aqueles<br />
que são ricos <strong>de</strong> relações e <strong>de</strong> abrigo.<br />
Construir a cida<strong>de</strong> não quer dizer só construir o quadro exterior, isto é, os<br />
serviços, as infra-estruturas ao serviço do nosso vi<strong>ver</strong> quotidiano, que é muito<br />
importante, <strong>na</strong>turalmente. A cida<strong>de</strong> faz corpo com as pessoas que a habitam<br />
e a pessoa huma<strong>na</strong> vive <strong>de</strong> relações e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s. Neste sentido, o homem<br />
é a sua cida<strong>de</strong>. Cada um <strong>de</strong>ve sentir a cida<strong>de</strong> como sua. O homem é a sua<br />
cida<strong>de</strong> e a cida<strong>de</strong> é chamada a ser lugar <strong>de</strong> boas relações e <strong>de</strong> boas amiza<strong>de</strong>s,<br />
que requer <strong>de</strong> todo o cidadão um coração uni<strong>ver</strong>sal, <strong>de</strong> abertura uni<strong>ver</strong>sal a<br />
todos. Para esta tarefa quer contribuir também a Igreja <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Cristo. Na<br />
expressão concreta das comunida<strong>de</strong>s cristãs que vivem no meio da cida<strong>de</strong>, a<br />
Igreja quer mostrar-se amiga da cida<strong>de</strong>, trazendo para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la ape<strong>na</strong>s o<br />
Evangelho <strong>de</strong> Cristo.<br />
Caros irmãos e irmãs, a amiza<strong>de</strong> pela cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> é uma expressão<br />
concreta do nosso amor a Deus, que nos confia a cida<strong>de</strong> e do amor ao próximo,<br />
porque Deus nos confia uns aos outros.<br />
O meu acto <strong>de</strong> amor concreto por esta nossa cida<strong>de</strong> - por esta minha cida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> que sou habitante ainda há pouco tempo, mas já a consi<strong>de</strong>ro minha<br />
- exprime-se, neste momento, com uma sincera invocação da bênção do<br />
Senhor para toda a cida<strong>de</strong>, para os seus cidadãos e, <strong>de</strong> um modo particular,<br />
para os seus go<strong>ver</strong><strong>na</strong>ntes, para os seus autarcas e familiares: “O Senhor te<br />
abençoe e te proteja, ó querida cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. O Senhor dirija para ti o seu<br />
olhar e te conceda a paz”. Ámen!<br />
Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 22 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
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Abertura do Congresso “Francisco Marto”<br />
É Hora <strong>de</strong> escutar as crianças<br />
É com viva alegria que, como bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, acolho e saúdo,<br />
do coração, todos os congressistas. Congratulo-me e felicito o Santuário, <strong>na</strong><br />
pessoa do Senhor Reitor, pela feliz iniciativa <strong>de</strong> realizar este congresso sobre<br />
a figura simpática do beato Francisco Marto, para comemorar o centésimo<br />
ani<strong>ver</strong>sário do seu <strong>na</strong>scimento. Quero também agra<strong>de</strong>cer aos membros<br />
da Comissão Científica do Congresso, particularmente ao Senhor Professor<br />
Doutor Ar<strong>na</strong>ldo Pinho, como presi<strong>de</strong>nte, e ao Senhor Doutor Vítor Coutinho,<br />
como secretário, por todo o trabalho e <strong>de</strong>dicação em gizar tão belo programa<br />
e <strong>na</strong> organização.<br />
1. É hora <strong>de</strong> escutar as crianças<br />
Quando o Senhor Padre Kondor foi entregar o processo <strong>de</strong> beatificação<br />
dos pastorinhos à Congregação para a Causa dos Santos, confrontou-se com<br />
uma primeira resposta negativa <strong>de</strong> aceitação do processo. A justificação dada<br />
era não ser possível canonizar crianças. A santida<strong>de</strong> seria pois coisa <strong>de</strong> adultos!<br />
Os apóstolos pareciam partilhar, em parte, esta opinião. Não afastaram<br />
eles, ru<strong>de</strong>mente, as crianças que se aproximavam <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>? Ele porém recriminou-os<br />
se<strong>ver</strong>amente: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque <strong>de</strong>las é o<br />
reino dos céus” (Mt 19, 14).<br />
Perante os prodígios realizados por <strong>Jesus</strong>, em Jerusalém, são ainda as<br />
crianças a gritar no templo: “Hossa<strong>na</strong> ao Filho <strong>de</strong> David”! Os sumos sacerdotes,<br />
indig<strong>na</strong>dos, dizem a <strong>Jesus</strong>: “Ouves o que elas dizem?” E <strong>Jesus</strong> respon<strong>de</strong>:<br />
“Sim, nunca lestes: da boca dos pequeninos e das crianças <strong>de</strong> peito fizestes<br />
sair o louvor perfeito?” (Mt 21, 15-16).<br />
Por sua vez, as aparições <strong>de</strong> Nossa Senhora aos pastorinhos, em <strong>Fátima</strong>, e<br />
a mensagem que lhes confiou para a Igreja e a humanida<strong>de</strong> põem em evidência<br />
o protagonismo das crianças <strong>na</strong> história da salvação e do mundo.<br />
Há pois boas razões para olhar em profundida<strong>de</strong> e escutar as crianças.<br />
Têm muito a ensi<strong>na</strong>r-nos a propósito <strong>de</strong> Deus e da nossa própria humanida<strong>de</strong>.<br />
Também os adultos apren<strong>de</strong>m das crianças!<br />
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2. Pequenos “vi<strong>de</strong>ntes” e “profetas”<br />
. escritos episcopais .<br />
De um ponto <strong>de</strong> vista físico, psíquico, intelectual e moral, o adulto é mais<br />
bem dotado, mais complexo, mais estruturado do que a criança.<br />
Existe porém um plano profundo em que a criança é superior ao adulto.<br />
S. Paulo falaria da dimensão espiritual, pneumática do cristão. É o ângulo da<br />
alma em que o Espírito <strong>de</strong> Deus toca directamente o homem com a sua graça,<br />
o purifica e transfigura.<br />
É nesta fonte, que difun<strong>de</strong> graça no seu coração, que as crianças bebem<br />
tudo o que vêem e dizem acerca <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e <strong>de</strong> Deus. Neste sentido, são pequenos<br />
“vi<strong>de</strong>ntes” e “profetas”.<br />
Deus fala muito cedo ao coração das crianças e atrai-as ao seu coração<br />
<strong>de</strong> Pai que nos revela todo o seu amor em <strong>Jesus</strong>. E os pequeninos percebem<br />
Deus, <strong>Jesus</strong>, o Espírito Santo, Maria, com uma <strong>na</strong>turalida<strong>de</strong> que nós, adultos,<br />
raramente, conservamos intacta. Eles sentem Deus como Mozart sentia continuamente<br />
melodias interiores. Sem esforço, sem interrupções, quase sem<br />
se dar conta. Mas, em qualquer caso, sem imagi<strong>na</strong>r que <strong>de</strong><strong>ver</strong>ão dizer ou<br />
escre<strong>ver</strong> isso.<br />
No entanto, as crianças são também excepcio<strong>na</strong>is locutores <strong>de</strong> Deus como<br />
pequenos profetas. O seu vocabulário não é sofisticado. Não passa pelo crivo<br />
da crítica e da racio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>. Para falarem <strong>de</strong> Deus, dispõem ape<strong>na</strong>s das<br />
palavras normais, palavras do seu uni<strong>ver</strong>so particular, palavras simples sem<br />
o <strong>ver</strong>niz da cultura, sem revestimento artificial ou retórico. E, precisamente<br />
por isso, são palavras surpreen<strong>de</strong>ntes, surpreen<strong>de</strong>ntemente apropriadas e eficazes...<br />
Se falam assim a propósito <strong>de</strong> Deus, é porque se servem duma linguagem<br />
pré-lógica – ou, porventura, supra-lógica – que brota da fonte, fresquíssima,<br />
<strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira linguagem religiosa.<br />
Tudo isto nos ajuda a compreen<strong>de</strong>r e a<strong>na</strong>lisar a perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do pequeno<br />
Francisco com a sua fé pura e simples, com o vocabulário infantil do seu<br />
tempo, como pequeno vi<strong>de</strong>nte e “profeta” (locutor <strong>de</strong> Deus), contemplativo,<br />
místico <strong>de</strong> “<strong>Jesus</strong> escondido” <strong>na</strong> Eucaristia e mistagogo, e ainda “pequeno<br />
teólogo” com um sentido surpreen<strong>de</strong>nte da hierarquia das <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>s da fé e<br />
com a vivência duma estética teológica enquanto e<strong>na</strong>morado da beleza <strong>de</strong><br />
Deus: “Gostei muito <strong>de</strong> <strong>ver</strong> o Anjo. Gostei mais <strong>de</strong> <strong>ver</strong> Nossa Senhora. Mas<br />
do que gostei mais foi <strong>de</strong> <strong>ver</strong> Deus <strong>na</strong>quela luz que Nossa Senhora nos metia<br />
no peito. Oh como é Deus! Isso sim que nós não po<strong>de</strong>mos dizer”!<br />
De facto, a estética teológica <strong>de</strong>sempenha um duplo papel: <strong>de</strong>scobrir<br />
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. escritos episcopais .<br />
Deus que se revela através da experiência sensível (“luz que irradia das mãos<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora”); e <strong>de</strong>ixar-se atrair pelo esplendor da sua glória numa atitu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> admiração não utilitarista, <strong>de</strong> maravilhamento e assombro. Encontramos<br />
estes elementos <strong>na</strong> experiência <strong>de</strong> Francisco, que o introduziu <strong>na</strong> lógica<br />
do dom, da gratuida<strong>de</strong>, da alegria feliz e festiva do seu ser e da sua vida, e<br />
que fez <strong>de</strong>le uma peque<strong>na</strong> estrela que brilha no firmamento da fé, para nós.<br />
3. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma “segunda ingenuida<strong>de</strong>”<br />
A figura do Francisco convida-nos, pois, a um novo olhar sobre a infância<br />
neste momento cultural do século XXI e a uma nova ingenuida<strong>de</strong>, à “segunda<br />
ingenuida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> que fala Paul Ricoeur. Não idêntica à primeira, porque passa<br />
pela ida<strong>de</strong> e pelo filtro da crítica restauradora do “compreen<strong>de</strong>r para crer”,<br />
mas consciente e assumida. Nova ingenuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma fé adulta e ilumi<strong>na</strong>da,<br />
capaz <strong>de</strong> acolher o Deus da surpresa e a surpresa <strong>de</strong> Deus com maravilhamento<br />
e espanto; <strong>de</strong> readquirir a alegria e a simplicida<strong>de</strong> da infância, a confiança<br />
<strong>na</strong> bonda<strong>de</strong> e <strong>na</strong> beleza da vida; <strong>de</strong> realizar a passagem da ciência à sabedoria,<br />
da mente ao coração, da abstracção do conceito ao afecto da relação.<br />
A <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira infância está pois diante <strong>de</strong> nós. É preciso acolhê-la como<br />
graça: crescer para o dom, como refere o tema do nosso congresso.<br />
A atenção ao dom, ao gratuito, captado <strong>na</strong>s várias nuances do quotidiano,<br />
sobretudo <strong>na</strong> relação, mostra a beleza da fé, que é a re<strong>de</strong>scoberta contínua e<br />
surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um Dom que nos prece<strong>de</strong> e exce<strong>de</strong>, do Tu <strong>de</strong> Deus-Trinda<strong>de</strong><br />
que nos <strong>de</strong>sperta e acompanha, que nos ama anteriormente e nos proporcio<strong>na</strong><br />
a experiência do ser e da vida como Dom, isto é, graça, doação, comunhão,<br />
alegria, beleza, santida<strong>de</strong>!<br />
Bom e inspirador Congresso para todos, para <strong>Fátima</strong> e para a Igreja!<br />
58 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
Homilia no Congresso<br />
“Francisco Marto”<br />
. escritos episcopais .<br />
Minhas irmãs e meus irmãos, a liturgia convida-nos hoje a celebrar a solenida<strong>de</strong><br />
do Sagrado Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>. É a festa do amor divino num si<strong>na</strong>l humano,<br />
o coração do Filho <strong>de</strong> Deus feito homem. É uma festa cheia <strong>de</strong> beleza<br />
e muito querida ao nosso povo cristão, uma beleza que sobressai se ti<strong>ver</strong>mos<br />
diante <strong>de</strong> nós o contexto em que surgiu e se propagou a <strong>de</strong>voção ao Coração<br />
<strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> através da revelação particular a Santa Margarida Maria Alacoque.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista cultural, no século XVII, domi<strong>na</strong>va o iluminismo racio<strong>na</strong>lista<br />
que tinha reduzido Deus a um gran<strong>de</strong> arquitecto do mundo que<br />
fabricou toda a gran<strong>de</strong> máqui<strong>na</strong> do uni<strong>ver</strong>so, mas que permanecia longe e<br />
distante. E daí surgia a imagem <strong>de</strong> um Deus longínquo, <strong>de</strong>masiado distante<br />
para se interessar por nós e para ter algum interesse para nós.<br />
Por outro lado, do ponto <strong>de</strong> vista religioso, domi<strong>na</strong>va o jansenismo, essa<br />
corrente rigorista que reduzia Deus a um juiz se<strong>ver</strong>o e implacável diante do<br />
qual os homens viviam no temor, no tremor e no medo do terror. E no meio<br />
<strong>de</strong> tudo isto estavam ainda uma teologia escolástica que era como que esquelética<br />
(quer dizer um esqueleto firme mas sem carne e sem coração), e uma<br />
liturgia celebrada em latim ao qual as gran<strong>de</strong>s massas não tinham acesso.<br />
Como impedir que estas gran<strong>de</strong>s massas <strong>de</strong>sertassem a fé cristã e a Igreja<br />
<strong>de</strong> Cristo? Naturalmente foi por outro caminho. Nosso Senhor escreve direito<br />
através <strong>de</strong> linhas tortas e vai escrevendo a sua história através das curvas e<br />
contracurvas dos homens e mesmo da sua Igreja. E por isso suscitou esta <strong>de</strong>voção<br />
ao Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>. Usa com os homens a linguagem mais acessível<br />
e mais entranhada para a humanida<strong>de</strong>, como dizia o Car<strong>de</strong>al Newman: Cor<br />
ad cor loquitur, só o coração é capaz <strong>de</strong> falar ao coração.<br />
Por isso, o amor <strong>de</strong> Deus não é um conceito, não é uma abstracção; é um<br />
coração. É o coração humano <strong>de</strong> Cristo, visibilida<strong>de</strong> huma<strong>na</strong> do amor divino.<br />
O coração é o símbolo <strong>de</strong> todo o mistério, <strong>de</strong> toda a profundida<strong>de</strong> da pessoa,<br />
e quando falamos <strong>de</strong> coração, enten<strong>de</strong>mos imediatamente a proximida<strong>de</strong>, o<br />
afecto, a ternura, a intimida<strong>de</strong> e, mais ainda, a misericórdia.<br />
Não é cheia <strong>de</strong> beleza, porventura, a primeira leitura do profeta Oseias,<br />
em que o Senhor usa para com o seu povo e para connosco hoje a linguagem<br />
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. escritos episcopais .<br />
da ternura, da ternura mater<strong>na</strong> e pater<strong>na</strong>? “Quando Israel era ainda criança,<br />
eu já O amava; do Egipto chamei o meu Filho; eu ensi<strong>na</strong>va Efraím a andar e<br />
trazia-o nos braços mas não compreen<strong>de</strong>ram que era eu quem cuidava <strong>de</strong>les.<br />
Atraía-os com laços humanos, com vínculos <strong>de</strong> amor, tratava-os como quem<br />
pega um menino ao colo, incli<strong>na</strong>va-me para lhes dar <strong>de</strong> comer. Meu coração<br />
agita-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim, estremece <strong>de</strong> compaixão”. Quem não sente aqui toda<br />
a carga da ternura pater<strong>na</strong> e mater<strong>na</strong> do amor divino? É esta a linguagem que<br />
as pessoas enten<strong>de</strong>m imediatamente.<br />
Portanto, o amor <strong>de</strong> Deus palpita num coração humano capaz dum palpitar<br />
intenso, terno e apaixo<strong>na</strong>do. Ele palpita <strong>de</strong> amor pelos homens, por cada<br />
homem, por cada um <strong>de</strong> nós, porque não ama a humanida<strong>de</strong> em bloco mas<br />
cada um em particular.<br />
Esta <strong>de</strong>voção é essencialmente cristocêntrica, convida-nos a elevar o nosso<br />
coração e o nosso olhar para Cristo e encontra um fundamento bíblico, um<br />
ícone bíblico no lado trespassado <strong>de</strong> Cristo <strong>na</strong> Cruz. Esse lado aberto <strong>de</strong> Cristo<br />
<strong>na</strong> Cruz abre o nosso coração para o infinito da misericórdia <strong>de</strong> Deus que<br />
ultrapassa e supera todas as nossas medidas, como disse S. Paulo <strong>na</strong> leitura<br />
da carta aos Efésios.<br />
Nesta contemplação do coração aberto <strong>de</strong> Cristo, po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r<br />
a largura, o comprimento, a altura e a profundida<strong>de</strong> do amor <strong>de</strong> Cristo<br />
que ultrapassa todo o conhecimento. E assim somos totalmente saciados <strong>na</strong><br />
plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. É um coração aberto como uma fonte don<strong>de</strong> jorra, permanentemente<br />
e ao longo <strong>de</strong> todas as gerações, um caudal <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> vida<br />
abundante no qual nos saciamos e por isso cantamos no salmo responsorial:<br />
” bebereis com alegria das fontes da salvação”.<br />
Enfim, dum ponto <strong>de</strong> vista prático, queria <strong>de</strong>ixar duas indicações. A primeira<br />
é que a nossa fé não se funda, não se fundamenta numa abstracção,<br />
num i<strong>de</strong>al por mais bonito que seja, num conjunto <strong>de</strong> regras <strong>de</strong> comportamento,<br />
mas funda-se e fundamenta-se no encontro com este mistério do amor<br />
que se revela no coração <strong>de</strong> Cristo à humanida<strong>de</strong>. É daqui don<strong>de</strong> tudo parte;<br />
aqui está o coração da fé.<br />
Em segundo lugar, só se ace<strong>de</strong> a este amor através <strong>de</strong> uma experiência<br />
<strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> quem o acolhe, <strong>de</strong> quem o vive e <strong>de</strong> quem o testemunha. É aquela<br />
experiência mística que fizeram os Pastorinhos e que fez Francisco ao associarem<br />
juntamente os dois corações, o Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> e o Coração <strong>de</strong><br />
Maria. Naturalmente o Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> é o coração do Filho <strong>de</strong> Deus feito<br />
homem, Único; o coração <strong>de</strong> Maria é o reflexo materno do coração divino, do<br />
coração <strong>de</strong> Cristo e do coração <strong>de</strong> Deus, para nós também.<br />
60 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
Hoje vivemos uma espécie <strong>de</strong> eclipse cultural <strong>de</strong> Deus. Temos a impressão<br />
que Deus <strong>de</strong>saparece da cultura e do horizonte dos homens, sobretudo<br />
por causa duma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> indiferença mesmo entre aqueles que se dizem<br />
crentes e cristãos. Muitos vivem como se Deus não existisse. Acreditam ape<strong>na</strong>s<br />
<strong>na</strong> cabeça: dizem que Deus existe como dizemos que existiu D. Afonso<br />
Henriques. Mas Deus não está presente, não é fonte <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong><br />
di<strong>na</strong>mismo <strong>na</strong> sua vida.<br />
Hoje precisamos <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> um modo novo <strong>de</strong> Deus, que seja capaz <strong>de</strong><br />
tocar directamente o coração humano, que seja capaz <strong>de</strong> seduzir o coração<br />
humano como seduziu o coração dos pastorinhos e <strong>de</strong> tantos <strong>de</strong> nós. Essa<br />
via chama-se a mistagogia. Não é pelos gran<strong>de</strong>s discursos, nem mesmo pelas<br />
gran<strong>de</strong>s homilias que se façam aqui em <strong>Fátima</strong> que passa esta experiência <strong>de</strong><br />
Deus para os homens; é através da contemplação, do acompanhamento que<br />
ajuda a entrar neste mistério a pessoa inteira, corpo, alma, mente, coração,<br />
sentidos e sentimentos, razão e afecto. Por isso, esta <strong>de</strong>voção, esta festa ao<br />
Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> tem uma sedução particular para po<strong>de</strong>r falar directamente<br />
ao coração humano.<br />
A festa, o culto ao Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, é um culto ao Amor eterno e santo<br />
com que Deus nos ama. É a expressão do nosso amor para com Deus e também<br />
do nosso amor para com os irmãos, englobados todos eles no coração<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Termino com uma citação do Papa João Paulo II que nos mostra bem esta<br />
beleza e esta riqueza da <strong>de</strong>voção ao Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> como uma escola <strong>de</strong><br />
mistagogia para vi<strong>ver</strong> a nossa fé:<br />
“Unido ao coração <strong>de</strong> Cristo, o coração humano apren<strong>de</strong> a conhecer o<br />
sentido <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro e único da vida e do próprio <strong>de</strong>stino, a compreen<strong>de</strong>r o<br />
valor duma vida autenticamente cristã, a guardar-se <strong>de</strong> certas per<strong>ver</strong>sões do<br />
coração, a unir o amor filial para com Deus ao amor para com próximo. Assim,<br />
e é esta a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira reparação pedida pelo Salvador, sobre as ruí<strong>na</strong>s acumuladas<br />
do ódio e da violência po<strong>de</strong>rá ser edificada a civilização do coração<br />
<strong>de</strong> Cristo que é a civilização do amor”!<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 61<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
Encerramento do Congresso “Francisco Marto”<br />
Palavra <strong>de</strong> gratidão e parabéns<br />
Na palavra <strong>de</strong> abertura que tive a ocasião <strong>de</strong> proferir, disse: É hora <strong>de</strong><br />
olhar em profundida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> escutar as crianças. Elas têm muito a dizer-nos a<br />
propósito <strong>de</strong> Deus e da nossa própria humanida<strong>de</strong>. E, <strong>de</strong> facto, o Congresso<br />
foi exactamente uma amostra visível e bela daquilo que nos po<strong>de</strong>m dizer as<br />
crianças, concretamente, a partir <strong>de</strong>sta figura que eu consi<strong>de</strong>ro tão simpática<br />
como é o beato Francisco Marto.<br />
Foi um Congresso <strong>de</strong> elevada qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão, todo ele atravessado<br />
pela beleza, pela ternura, pela simplicida<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, com aquela<br />
profundida<strong>de</strong> também própria do tema que tratou e, diria, que abriu e fechou<br />
com chave <strong>de</strong> ouro. Abriu com chave <strong>de</strong> ouro, com aquela conferência magistral<br />
do Senhor Padre Doutor Ar<strong>na</strong>ldo <strong>de</strong> Pinho, sobre a fenomenologia do<br />
dom <strong>na</strong> infância e a santida<strong>de</strong>, e fechou com a conferência magistral e cheia<br />
<strong>de</strong> sabedoria do nosso querido Senhor Car<strong>de</strong>al Patriarca.<br />
Eu queria dizer uma última palavra, feita toda ela <strong>de</strong> gratidão e <strong>de</strong> parabéns,<br />
e permitam-me que comece exactamente por dirigir esta palavra <strong>de</strong><br />
gratidão e parabéns ao Senhor Car<strong>de</strong>al Patriarca pela amabilida<strong>de</strong> com que<br />
aceitou, <strong>de</strong> imediato, o convite para vir fazer esta conferência <strong>de</strong> encerramento<br />
do Congresso, sabendo que tinha esse dia da agenda bem ocupado. Por<br />
isso, Senhor Car<strong>de</strong>al, foi uma honra para nós tê-lo aqui presente, foi um gosto<br />
ouvi-lo e partilhar da sua sabedoria, enfim, já com esse olhar voltado para o<br />
fim, mas para o fim com plenitu<strong>de</strong>, embora com o olhar rico e belo do coração<br />
<strong>de</strong> criança. Muito obrigado Senhor Car<strong>de</strong>al e parabéns pela conferência com<br />
que nos brindou.<br />
Parabéns, também, e gratidão ao Santuário pela iniciativa <strong>de</strong> realizar o<br />
Congresso como coroamento <strong>de</strong> tantas activida<strong>de</strong>s com as crianças e para<br />
as crianças, <strong>de</strong> tal maneira que o Santuário hoje é um ponto já <strong>de</strong> referência<br />
para as crianças do país. Vêm aqui cheias <strong>de</strong> alegria como quem se sente em<br />
casa, como quem celebra a vida. Eu sou testemunha disso. Enfim, às vezes<br />
sou criança com as crianças, também, mas sinto-me bem no meio <strong>de</strong>las. Por<br />
isso, quero agra<strong>de</strong>cer e felicitar o Santuário por esta iniciativa, todo o apoio,<br />
logística, organização, material, enfim, ao meu caro amigo, o Senhor Reitor,<br />
62 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. escritos episcopais .<br />
a quem quero, também, mais uma vez, dar todo o apoio para o seu trabalho e<br />
missão, tão bela mas tão <strong>de</strong>licada, <strong>de</strong> conduzir o Santuário.<br />
Parabéns também à Comissão Científica do Congresso, que procurou darlhe<br />
a soli<strong>de</strong>z, o horizonte e a serieda<strong>de</strong> científica, em relação aos temas que<br />
foram tratados, aos conferentes que foram convidados, <strong>de</strong>pois, todo o trabalho<br />
da preparação e organização, concretamente <strong>na</strong> pessoa do Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Comissão Científica, meu caro amigo, o Senhor Professor Ar<strong>na</strong>ldo <strong>de</strong> Pinho;<br />
<strong>na</strong> pessoa do Secretário, com o trabalho incansável, <strong>de</strong> que fui também testemunha,<br />
do Senhor Doutor Vítor Coutinho, meu Chefe <strong>de</strong> Gabinete. Naturalmente,<br />
digo-o com todo o orgulho e com toda a estima, eu fui testemunha das<br />
noitadas que fez e das preocupações que teve para que o Congresso corresse<br />
bem.<br />
Agra<strong>de</strong>ço também ao Secretariado e quero incluir neste agra<strong>de</strong>cimento o<br />
Senhor Doutor José Carlos Carvalho por este belo relatório <strong>de</strong> conclusão e <strong>de</strong><br />
apanhado fi<strong>na</strong>l que nos quis oferecer.<br />
Estendo esta saudação, <strong>na</strong>turalmente, à Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica <strong>na</strong> pessoa<br />
do Padre Doutor Peter Stilwell, e quero dizer-lhe que nunca posso esquecer<br />
os laços do afecto. Desculpem a emoção, mas a Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica foi a<br />
minha casa durante muitos anos.<br />
E, <strong>de</strong>pois, gratidão e parabéns aos participantes, a todos os membros do<br />
Congresso pela sua assiduida<strong>de</strong>, pelo seu interesso, pelas suas intervenções,<br />
pelo clima e ambiente tão cordial e convivial que se criou. Também estão <strong>de</strong><br />
parabéns todos os membros congressistas.<br />
E, vamos chegando ao fim, gratidão e parabéns, como não podia <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong> ser, ao beato Francisco, no dia ani<strong>ver</strong>sário do seu baptismo e pela ocasião<br />
que o seu centésimo ani<strong>ver</strong>sário nos proporcionou <strong>de</strong> olhar, com a profundida<strong>de</strong><br />
da luz da fé e da razão, para a infância, hoje, com o que ela significa <strong>de</strong><br />
beleza, <strong>de</strong> encanto, <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios e <strong>de</strong> pedido <strong>de</strong> respostas.<br />
Fi<strong>na</strong>lmente, parabéns a Deus e à Virgem Mãe no dia da festa do Imaculado<br />
Coração <strong>de</strong> Maria. De maneira que termino, então, com esse clássico<br />
louvor “Laus Deo Virginique Matri”, louvor a Deus e à Virgem Mãe.<br />
2009/06/20<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 63<br />
Documentos
. escritos episcopais .<br />
17.ª Gala da Rádio Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (25.09.2009)<br />
A Voz da(s) Palavra(s)<br />
A voz e a palavra constituem o binómio fundamental que faz da rádio um<br />
meio <strong>de</strong> comunicação fasci<strong>na</strong>nte.<br />
“A voz é mais importante que as marcas digitais”, afirma Rino Icardi, um<br />
gran<strong>de</strong> jor<strong>na</strong>lista da rádio <strong>na</strong> Itália. “A voz diz mais <strong>de</strong> quanto as palavras, só<br />
por si, possam significar. Através da voz sente-se quem és, o que queres, <strong>de</strong><br />
que parte estás; se és honesto, se és leal, se és poeta”.<br />
A voz, com as suas modulações, dá às palavras vida e vivacida<strong>de</strong>, afecto,<br />
emoção, força <strong>de</strong> comunicação, alegria ou tristeza, comunhão. Mas também<br />
é preciso que as palavras, <strong>de</strong> que a voz se faz eco, sejam Palavra, isto é,<br />
mensagem, pensamento, substância. De contrário, a voz não passa <strong>de</strong> um<br />
som retumbante, <strong>de</strong> um ruído ou <strong>de</strong> um palavreado que acaba por enfastiar...<br />
Bela voz e bela(s) Palavra(s), em toda a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido, são os meus<br />
votos para a Rádio Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>!<br />
64 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
<strong>Leiria</strong>, 25 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2009<br />
† António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>
Conselho Pastoral Diocesano<br />
Diaco<strong>na</strong>do permanente<br />
. di<strong>ver</strong>sos .<br />
Sob a presidência do Bispo diocesano, D. António Marto, reuniu-se a <strong>de</strong>z<br />
<strong>de</strong> Janeiro, no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />
tendo como principais pontos da agenda a partilha das iniciativas<br />
<strong>de</strong> formação previstas e realizadas <strong>na</strong>s paróquias, vigararias e movimentos,<br />
e a reflexão sobre a implementação do diaco<strong>na</strong>do permanente <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>.<br />
D. António Marto <strong>de</strong>u início aos trabalhos com um momento <strong>de</strong> oração<br />
e meditação a partir <strong>de</strong> um excerto da Carta aos Romanos (15, 14-16) sobre<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos caminharem, como diz São Paulo, “cheios <strong>de</strong> boa<br />
vonta<strong>de</strong> e repletos <strong>de</strong> toda a espécie <strong>de</strong> conhecimento”, <strong>de</strong> modo que a Fé não<br />
permaneça enterrada <strong>na</strong> memória do passado, mas esta memória continue a<br />
animar o espírito e seja um lugar <strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>mento, ma<strong>na</strong>ncial <strong>de</strong> vida e fonte<br />
<strong>de</strong> inspiração, <strong>de</strong> estímulo e <strong>de</strong> luz.<br />
Seguidamente, dando a conhecer algumas das iniciativas realizadas, a<br />
nível local, os conselheiros <strong>de</strong>stacaram os encontros <strong>de</strong> formação e oração<br />
com a presença do Bispo diocesano, as Escolas <strong>de</strong> Fé que vêm surgindo <strong>na</strong>s<br />
vigararias, os momentos <strong>de</strong> formação para catequistas, adolescentes e jovens,<br />
a nível vicarial, os encontros <strong>de</strong> formação litúrgica e os grupos <strong>de</strong> reflexão<br />
sobre São Paulo. Ao nível diocesano, o Vigário Geral informou estar quase<br />
concluído o guião para o retiro popular da Quaresma e apresentou as acções<br />
<strong>de</strong> formação já agendadas para o clero.<br />
No seguimento <strong>de</strong> uma reflexão orientada pelo Padre A<strong>de</strong>lino Guarda, os<br />
conselheiros afirmaram não ha<strong>ver</strong> esclarecimento sobre o diaco<strong>na</strong>do permanente<br />
junto da gran<strong>de</strong> maioria dos fiéis leigos e que estes não se questio<strong>na</strong>m<br />
por não sentirem a sua necessida<strong>de</strong> pastoral. Mesmo ao nível do presbitério<br />
parece ha<strong>ver</strong> alguma insegurança sobre o assunto. Fi<strong>na</strong>lmente, inquiridos<br />
pelo responsável do Serviço Diocesano para o Diaco<strong>na</strong>do Permanente, Padre<br />
A<strong>de</strong>lino Guarda, os presentes partilharam as suas opiniões e concluíram que<br />
os diáconos po<strong>de</strong>rão aproximar o ministério or<strong>de</strong><strong>na</strong>do aos fiéis e constituírem<br />
um enriquecimento para a Igreja, mas, antes, há que esclarecer e preparar o<br />
povo <strong>de</strong> Deus. Concluindo, o senhor Bispo informou estar em elaboração um<br />
documento, que classificou <strong>de</strong> bastante acessível, sobre o diaco<strong>na</strong>do permanente<br />
e a sua implementação <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>.<br />
O Secretariado Permanente<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 65<br />
Documentos
. di<strong>ver</strong>sos .<br />
Conselho Presbiteral - termo <strong>de</strong> mandato<br />
Revisão do ano pastoral<br />
No dia 28 <strong>de</strong> Maio, reuniu-se o Conselho Presbiteral <strong>na</strong>quela que foi a<br />
última sessão do seu mandato. Em cima da mesa esteve a revisão do ano pastoral<br />
2008/09 e uma primeira reflexão sobre o próximo ano pastoral.<br />
Os conselheiros <strong>de</strong>ram conhecimento a D. António Marto das iniciativas<br />
levadas a cabo em toda a diocese <strong>na</strong> linha dos <strong>de</strong>safios lançados pelo plano<br />
pastoral para o ano que agora termi<strong>na</strong>. Foram muitas as acções realizadas<br />
sob o tema geral da formação e o saldo, no geral, foi claramente positivo.<br />
Mereceram <strong>de</strong>staque o retiro popular, as vigílias vocacio<strong>na</strong>is, os encontros <strong>de</strong><br />
formação e oração com a presença do bispo diocesano, e as visitas pastorais<br />
realizadas em di<strong>ver</strong>sas paróquias. Os conselheiros referiram no entanto a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se dar continuida<strong>de</strong> a este trabalho, já que um só ano é sempre<br />
pouco para se adquirir um mínimo <strong>de</strong> formação.<br />
O Conselho Presbiteral reflectiu ainda sobre a temática do próximo ano,<br />
a comunhão frater<strong>na</strong>. Algumas iniciativas estão já a ser estudadas e planificadas<br />
<strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>rem ser iniciadas no início <strong>de</strong> Outubro.<br />
Ao longo <strong>de</strong>ste mandato o Conselho Presbiteral foi chamado a a<strong>na</strong>lisar<br />
e re<strong>ver</strong> os estatutos do RABI, regulamento <strong>de</strong> Administração dos Bens da<br />
Igreja, além <strong>de</strong> alguns aspectos importantes relacio<strong>na</strong>dos com a reestruturação<br />
da fisionomia da diocese. Entretanto será constituído novo Conselho que<br />
continuará a ajudar o senhor bispo <strong>na</strong> programação da pastoral diocesa<strong>na</strong>.<br />
66 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
O Secretariado Permanente
Vida Eclesial<br />
. <strong>de</strong>staque . notícias . Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
. serviços e movimentos . entrevistas .
LMFerraz<br />
Peregri<strong>na</strong>ção diocesa<strong>na</strong> 2009<br />
“<strong>Quereis</strong> <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>?<br />
<strong>Contemplai</strong>-O <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>!”<br />
Rui Ribeiro<br />
. <strong>de</strong>staque .<br />
Como <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há 78 anos, a nossa <strong>Diocese</strong> fez a sua peregri<strong>na</strong>ção comunitária<br />
ao Santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>. Reunidos com o<br />
seu Bispo, milhares <strong>de</strong> diocesanos ouviram o seu apelo continuado a “ir ao<br />
coração da fé” e a permanecer nela “firmes e sólidos”, como recomenda S.<br />
Paulo. Em tempos <strong>de</strong> “eclipse <strong>de</strong> Deus”, é preciso contemplar “<strong>Jesus</strong> estendido<br />
<strong>na</strong> <strong>cruz</strong>, num abraço aberto a todos e cada um”.<br />
“Saúdo com sentida emoção e profunda alegria a minha querida Igreja<br />
diocesa<strong>na</strong>, que posso contemplar daqui do altar”. Com estas palavras, D.<br />
António Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong>, iniciou a meditação que partilhou com os<br />
muitos fiéis, cerca <strong>de</strong> 35 mil, que<br />
se <strong>de</strong>slocaram a <strong>Fátima</strong>, no passado<br />
dia 29 <strong>de</strong> Maio, <strong>na</strong>quela que<br />
foi a 78ª peregri<strong>na</strong>ção diocesa<strong>na</strong>.<br />
O prelado exprimiu a sua alegria<br />
por <strong>ver</strong> e sentir uma Igreja tão variada<br />
<strong>na</strong>s suas expressões, “uma<br />
Igreja reunida e recolhida em retiro<br />
espiritual para ir ao coração<br />
da Fé”.<br />
Depois <strong>de</strong> saudar os presentes<br />
e <strong>de</strong> fazer uma calorosa saudação<br />
a Nossa Senhora, e comentando<br />
as leituras do dia, o Bispo continuou<br />
relembrando que “ir ao coração<br />
da fé e permanecer firmes<br />
e sólidos <strong>na</strong> fé, é uma exigência<br />
pastoral para os tempos que atra-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 69<br />
Vida Eclesial
. <strong>de</strong>staque .<br />
vessamos. Assistimos a um “eclipse” (cultural e existencial) <strong>de</strong> Deus; Ele é<br />
esquecido pelos homens da cultura e da ciência; como uma vela que se vai<br />
extinguindo, vemos apagar-se lentamente a luz <strong>de</strong> Deus; por toda a parte<br />
vive-se como se Deus não existisse, ou, se existe, como se não fosse importante<br />
para a vida e felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um”. O prelado fez esta breve análise<br />
com sentido sofrimento interior e mágoa <strong>de</strong> pastor. Por isso, quis culminá-la<br />
com um grito ar<strong>de</strong>nte “ para reacen<strong>de</strong>r a chama é preciso ir ao coração da fé”.<br />
Continuou, <strong>de</strong>pois, em tom mais optimista e esperançoso, afirmando que<br />
“em tempos <strong>de</strong> crise e ruí<strong>na</strong>, os profetas encontram sempre razões para a<br />
esperança e alento para seguir em frente”. E apontou o exemplo do profeta<br />
Jeremias, <strong>de</strong> que falava a primeira leitura da celebração, que apelava para a<br />
renovação da fé em Deus “não um Deus qualquer, ou um Deus <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, mas<br />
um Deus bem concreto, um Deus que fez história e que está presente <strong>na</strong> vida<br />
quotidia<strong>na</strong> e que tem um rosto”. Esta visão real <strong>de</strong> Deus e esta convicção da<br />
Sua presença <strong>na</strong> história foi o motivo para que, no Evangelho, “alguns se tenham<br />
aproximado para <strong>ver</strong>em o rosto <strong>de</strong> Deus. Ver o rosto <strong>de</strong> Deus, significa<br />
entrar <strong>na</strong> sua intimida<strong>de</strong>, partilhar a sua vida; vi<strong>ver</strong> com Ele e vi<strong>ver</strong> <strong>de</strong>le”.<br />
O prelado quis <strong>de</strong>ixar bem vincada a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a fé e o próprio Deus<br />
vão para lá das i<strong>de</strong>ias e são realida<strong>de</strong>s concretas, comprometedoras e existenciais.<br />
Por isso, apontou o caminho: “para ir ao coração da fé é preciso<br />
passar do conhecimento <strong>de</strong> Deus em segunda-mão, para um conhecimento<br />
em primeira-mão” sendo que este é aquele que <strong>na</strong>sce da experiência e da<br />
relação directa com Ele. E o contacto com Ele leva-nos a fazer o caminho<br />
da <strong>cruz</strong>. “Ao falar da Sua hora, <strong>Jesus</strong> diz-nos que o Seu rosto se <strong>de</strong>scobre<br />
<strong>na</strong> <strong>cruz</strong>. Elevado <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>, <strong>Jesus</strong> diz tudo o que é e é tudo o que diz”. Uma<br />
realida<strong>de</strong> que o Evangelho expressa com uma imagem bem comum tirada do<br />
mundo agrícola. Tal como o grão <strong>de</strong> trigo precisa <strong>de</strong> morrer para dar muito<br />
fruto “também todo o mistério <strong>de</strong> amor <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> se manifesta pela entrega e<br />
pela morte <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>”.<br />
No fi<strong>na</strong>l da sua reflexão, D. António lançou um repto aos fiéis que o acompanhavam:<br />
quereis <strong>ver</strong> <strong>Jesus</strong>? Então contemplai-o estendido <strong>na</strong> <strong>cruz</strong>. Os seus<br />
braços abertos são os braços com que nos quer abraçar, a todos e a cada um”.<br />
No fi<strong>na</strong>l da sua meditação, dirigiu uma súplica a Maria, padroeira da diocese<br />
e mãe da Igreja, pedindo que fosse ela a levar-nos até <strong>Jesus</strong> e a mostrar-nos<br />
o seu rosto.<br />
No <strong>de</strong>correr da celebração houve ainda oportunida<strong>de</strong> para abençoar e enviar<br />
um grupo <strong>de</strong> missionários que irão para a diocese do Sumbe, em Angola,<br />
com o pedido <strong>de</strong> lavarem o rosto <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> àqueles que anseiam vê-lo.<br />
70 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
LMFerraz<br />
Memória do cónego Carlos da Silva<br />
Evocação “Cantarei eter<strong>na</strong>mente”<br />
Luís Miguel Ferraz<br />
. <strong>de</strong>staque .<br />
O último momento da peregri<strong>na</strong>ção, após o almoço, é normalmente reservado<br />
a uma sessão que procura envol<strong>ver</strong> o tema em ambiente <strong>de</strong> festa e <strong>de</strong><br />
convívio. Este ano, a ocasião serviu para evocar a memória do cónego Carlos<br />
da Silva, falecido no passado dia 16 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, um dos padres mais ligado<br />
a estas peregri<strong>na</strong>ções, bem como a toda a pastoral do Santuário e da <strong>Diocese</strong>,<br />
compositor <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 500 obras musicais para a liturgia e maestro <strong>de</strong> coros<br />
e assembleias durante mais <strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong> sacerdócio.<br />
Sob o lema “Cantarei eter<strong>na</strong>mente”, que po<strong>de</strong> resumir a sua forma <strong>de</strong> entrega<br />
à vida, à Igreja e a Deus, cerca <strong>de</strong> mil pessoas participaram, no Centro<br />
Paulo VI, nesta evocação que uniu música, imagens e testemunhos.<br />
Começou com uma apresentação multimédia <strong>de</strong> fotos e o relato do percurso<br />
<strong>de</strong> vida <strong>de</strong> Carlos da Silva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância à or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção sacerdotal, aos<br />
estudos musicais em Roma e às suas múltiplas activida<strong>de</strong>s pastorais, sobretudo<br />
como professor no Seminário Diocesano, compositor <strong>de</strong> música sacra<br />
e mestre <strong>de</strong> padres e leigos <strong>na</strong>s discipli<strong>na</strong>s litúrgicas. Lembraram-se ainda<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 71<br />
Vida Eclesial
. <strong>de</strong>staque .<br />
algumas das suas afirmações, numa entrevista <strong>de</strong> 2001 a O Mensageiro, por<br />
ocasião do cinquentenário da sua or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção, testemunho da sua paixão pela<br />
música como forma <strong>de</strong> oração, e do seu amor a Deus, princípio e fim <strong>de</strong> todo<br />
o sentido que procurou para a sua vida, e à Eucaristia como expressão máxima<br />
da celebração da fé da Igreja.<br />
Depois, algumas das suas músicas foram entoadas pelo Coro do Santuário<br />
<strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, dirigido pelo padre Artur Oliveira. Des<strong>de</strong> os trechos populares da<br />
juventu<strong>de</strong> e incursões mais líricos, aos cânticos mais meditativos e profundos,<br />
os presentes pu<strong>de</strong>ram recordar um pouco da obra <strong>de</strong>ste autor.<br />
À mistura, surgiram testemunhos <strong>de</strong> quem, com ele, apren<strong>de</strong>u, trabalhou<br />
e viveu.<br />
Os padres Luciano Cristino e Pedro Viva, alunos do home<strong>na</strong>geado, um<br />
no início e outro no fi<strong>na</strong>l da sua carreira <strong>de</strong> mestre, salientaram a sua serieda<strong>de</strong>,<br />
integrida<strong>de</strong> e amiza<strong>de</strong> enquanto homem, a sua paixão, profundida<strong>de</strong><br />
e sabedoria enquanto professor, e a sua entrega, espiritualida<strong>de</strong> e santida<strong>de</strong><br />
enquanto padre.<br />
Sobre o seu trabalho artístico, o músico Paulo Lameiro salientou a “origi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />
e unida<strong>de</strong> estilística” do reportório <strong>de</strong> Carlos Silva, que fazem<br />
<strong>de</strong>le “um génio daqueles que aparecem em cada geração”. “Partindo da palavra<br />
para a <strong>de</strong>scoberta dos sons, preocupado sobretudo com a melodia a uma<br />
só voz, que seja facilmente cantada por gran<strong>de</strong>s assembleias, Carlos Silva<br />
encontra <strong>na</strong> voz huma<strong>na</strong> o instrumento primordial”, concluiu o musicólogo<br />
leiriense.<br />
Antes da oração <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento que todos rezaram também a uma só<br />
voz, D. António Marto dirigiu aos diocesanos um apelo: “Façamos memória<br />
viva do melhor que Carlos da Silva nos <strong>de</strong>ixou, como sacerdote <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
valor humano e espiritual, vivendo sacerdotalmente a música e musicalmente<br />
o sacerdócio”. Referiu ainda a profunda <strong>de</strong>voção do home<strong>na</strong>geado a Nossa<br />
Senhora <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, “a quem cantava com a ternura <strong>de</strong> um filho pela sua<br />
mãe”, bem como “os valores da humilda<strong>de</strong>, do perdão, da misericórdia, da<br />
con<strong>ver</strong>são e da esperança, que fazia espelhar <strong>na</strong> sua vida e <strong>na</strong>s suas músicas”.<br />
Por fim, o Bispo diocesano dirigiu-lhe um agra<strong>de</strong>cimento e um pedido:<br />
“Obrigado pela tua presença e pela tua partilha <strong>de</strong> dons; reza pela vitalida<strong>de</strong><br />
da nossa diocese!”.<br />
72 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
LMFerraz<br />
. <strong>de</strong>staque .<br />
Festa do Corpo e Sangue <strong>de</strong> Cristo <strong>na</strong>s ruas <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
“Estar com o Senhor, caminhar<br />
com Ele, ajoelhar em adoração”<br />
Luís Miguel Ferraz<br />
São os três momentos importantes da centenária Festa do Corpo e Sangue<br />
<strong>de</strong> Cristo, mais conhecida por “Corpo <strong>de</strong> Deus”: a celebração da Eucaristia,<br />
a procissão pelas ruas da cida<strong>de</strong> e a adoração e bênção do Santíssimo Sacramento.<br />
E foi <strong>de</strong>stacando cada um <strong>de</strong>sses momentos que o Bispo Diocesano,<br />
D. António Marto, se dirigiu aos fiéis <strong>na</strong> homilia da celebração, no passado<br />
dia 11 <strong>de</strong> Junho: “Estamos juntos <strong>na</strong> presença do Senhor, a celebrar <strong>na</strong> Eucaristia<br />
o mistério do seu Corpo e Sangue; caminhamos juntos com Ele, que<br />
é o caminho em direcção ao Pai; e ajoelhamos em adoração diante d’Ele,<br />
pedindo que nos abençoe com as suas graças”.<br />
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Vida Eclesial
. <strong>de</strong>staque .<br />
Nos jardins exteriores da igreja <strong>de</strong> Santo Agostinho, muitas cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong><br />
cristãos marcaram presença neste encontro, que tradicio<strong>na</strong>lmente junta pessoas<br />
vindas <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s da <strong>Diocese</strong>, padres, religiosos e leigos.<br />
Sendo a manifestação religiosa anual mais expressiva e “pública” <strong>na</strong> cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, serve também <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> encontro e comunhão da nossa Igreja<br />
particular. “Sinto enorme alegria em ser Pastor <strong>de</strong> uma Igreja que assim testemunha<br />
a sua fé publicamente, sem medo, sem <strong>ver</strong>gonha, numa comunhão<br />
representativa <strong>de</strong> todo este querido povo que o Senhor me confiou”, afirmava<br />
D. António no fi<strong>na</strong>l da homilia, numa expressão comovida que foi saudada<br />
pelos fiéis com uma calorosa salva <strong>de</strong> palmas.<br />
Estar e caminhar<br />
“Deus reúne todos os povos numa aliança selada com o seu sangue, e<br />
estamos aqui com Ele, uns ao lado dos outros, porque somos um só corpo,<br />
alimentados pelo mesmo Pão”, afirmou o Bispo diocesano e lamentou que<br />
“esta união <strong>de</strong> di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong>s seja uma maravilha que os nossos olhos às vezes<br />
já não distinguem”. Lembrando o valor da Eucaristia dominical como pólo<br />
agluti<strong>na</strong>dor das comunida<strong>de</strong>s, o prelado alertou que “ser cristão é juntar-se<br />
aos outros crentes num único corpo em Cristo”.<br />
Quanto ao momento da procissão, D. António referiu a importância <strong>de</strong><br />
“caminharmos com Aquele que é o caminho, a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> e vida, Aquele que<br />
vai sempre ao nosso lado, que é o Pão que nos dá força no trajecto e que nos<br />
indica o rumo certo”. E perguntou: “Como po<strong>de</strong>ríamos aguentar a caminhada,<br />
se Ele não estivesse ao nosso lado, presente nos problemas, <strong>na</strong>s alegrias<br />
e <strong>na</strong>s esperanças da nossa vida?”. “Caminha sempre connosco, Senhor!” foi<br />
a oração que pediu aos fiéis durante o percurso <strong>de</strong> ligação à catedral, pelo<br />
coração da cida<strong>de</strong>, num longo cordão <strong>de</strong> gente, ao ritmo musical <strong>de</strong> algumas<br />
filarmónicas da região, e cujo centro era a custódia com a Hóstia consagrada,<br />
<strong>na</strong>s mãos do Pastor da <strong>Diocese</strong>.<br />
Ajoelhar e adorar<br />
Num último momento, o convite à adoração, <strong>de</strong> joelhos diante do Senhor<br />
do Céu e da terra, que a todos abençoa e enche <strong>de</strong> dons. É o culmi<strong>na</strong>r <strong>de</strong> toda<br />
a festa, no átrio da Catedral. “A adoração é o prolongamento da celebração,<br />
da comunhão Eucarística que a todos uniu no Corpo e Sangue <strong>de</strong> Cristo,<br />
e da caminhada que fazemos com Ele”, tinha referido o Bispo <strong>na</strong> homilia.<br />
“Este mistério tão gran<strong>de</strong> da beleza e da riqueza do amor <strong>de</strong> Deus precisa <strong>de</strong><br />
impreg<strong>na</strong>r todos os nossos sentimentos e afectos, toda a nossa razão e acção;<br />
74 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. <strong>de</strong>staque .<br />
ao ajoelharmos diante d’Ele não fazemos <strong>na</strong>da <strong>de</strong>mais, pois também Ele se<br />
ajoelhou para lavar os nossos pés sujos pelo pecado”, afirmou o prelado.<br />
Depois, lembrou a ocasião do centenário do <strong>na</strong>scimento do Beato Francisco<br />
Marto, precisamente neste dia 11 <strong>de</strong> Junho: “A adoração leva nossa alma a<br />
alimentar-se <strong>de</strong> Cristo, a <strong>de</strong>scobrir o amor <strong>de</strong> Deus presente no sacrário”. A<br />
este propósito, D. António Marto fez um apelo à imitação do Francisco, a<br />
“consolá-l’O e a dar-Lhe alegrias, cultivando o recolhimento e a adoração”,<br />
lamentando <strong>ver</strong>ificar “tantas vezes a falta do sentido da presença <strong>de</strong> Deus nos<br />
sacrários das nossas igrejas, transformadas em autênticas feiras e locais <strong>de</strong><br />
convívio”.<br />
Com esta mensagem no coração e a bênção do Santíssimo Sacramento,<br />
todos foram enviados a “ir por todo o mundo e proclamar o Evangelho”,<br />
como se entoou no cântico fi<strong>na</strong>l.<br />
Um momento musical pelas filarmónicas presentes (Pousos, Soutocico,<br />
Maceira, Monte Redondo) serviu ainda para colorir <strong>de</strong> festa a <strong>de</strong>spedida <strong>de</strong><br />
mais esta realização anual da Igreja diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 75<br />
Vida Eclesial
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Faleceu o Cónego Carlos da Silva<br />
Servidor do sacerdócio,<br />
da <strong>Diocese</strong> e da música<br />
Carlos da Silva, ilustre sacerdote da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, faleceu<br />
no dia 16 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, <strong>na</strong> Casa do Clero, em <strong>Fátima</strong>. Tinha 80 anos. A<br />
missa exequial teve lugar no dia 18, às 10h00, <strong>na</strong> Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, e o funeral<br />
seguiu para Min<strong>de</strong>, em cujo cemitério se proce<strong>de</strong>u ao sepultamento.<br />
O Cónego Carlos da Silva era filho <strong>de</strong> José da Silva e <strong>de</strong> Maria do Nascimento<br />
Pe<strong>na</strong>. Nasceu em Min<strong>de</strong>, concelho <strong>de</strong> Alcane<strong>na</strong>, a 5 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />
1928. Entrou para o Seminário <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> em Outubro <strong>de</strong> 1939 e terminou<br />
o curso <strong>de</strong> teologia em 1950. Foi or<strong>de</strong><strong>na</strong>do sacerdote em 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong><br />
1951. Frequentou o Instituto Pontifício <strong>de</strong> Música Sacra, em Roma, on<strong>de</strong><br />
obteve a licenciatura em Canto Gregoriano.<br />
Na sua longa vida sacerdotal trabalhou no Seminário <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, <strong>de</strong> Outubro<br />
<strong>de</strong> 1955 a Setembro <strong>de</strong> 1996, como educador e professor <strong>de</strong> muitas<br />
gerações <strong>de</strong> sacerdotes. Em 1976 foi nomeado cónego da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
igreja em que regia o respectivo coro e conduzia a animação musical das<br />
celebrações litúrgicas. Também no Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> regeu o canto da<br />
assembleia ao longo <strong>de</strong> muitos anos.<br />
Exerceu ainda as tarefas <strong>de</strong> director diocesano da Obra Pontifícia da<br />
Propagação da Fé, professor <strong>de</strong> Religião e Moral no Liceu Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>, conselheiro espiritual das Equipas <strong>de</strong> Nossa Senhora, membro do<br />
Secretariado Diocesano <strong>de</strong> Liturgia e da Equipa sacerdotal do Movimento<br />
dos Cursos <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong>.<br />
Nos últimos anos, <strong>de</strong>vido à doença e à ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixou o Seminário <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong> e passou a residir <strong>na</strong> Casa Diocesa<strong>na</strong> do Clero, em <strong>Fátima</strong>.<br />
Dotado <strong>de</strong> notável sensibilida<strong>de</strong> e talento musical, compôs muitos cânticos<br />
para a liturgia, que distribuía pelos cantores e dava generosamente a<br />
quem lhos pedia. Parte substancial das suas obras musicais foi reunida em<br />
livro, “Orar Cantando”, publicado pelo Secretariado Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Liturgia,<br />
em 2001. Com a sua criativida<strong>de</strong> e dotes musicais, o Cónego Carlos Silva<br />
cantou e ensinou a cantar os louvores <strong>de</strong> Deus, empenhando-se <strong>na</strong> promoção<br />
<strong>de</strong> uma “participação activa, consciente e frutuosa” dos fiéis <strong>na</strong>s<br />
celebrações litúrgicas.
Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong><br />
. especial . visita pastoral .<br />
D. António Marto <strong>na</strong> vigararia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
D. António Marto completou mais um ciclo da sua Visita Pastoral, <strong>de</strong>sta<br />
feita <strong>na</strong> vigararia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, primeiro <strong>na</strong> paróquia da Atouguia, <strong>de</strong> 19 a 22 <strong>de</strong><br />
Fe<strong>ver</strong>eiro, e <strong>de</strong>pois São Mame<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro a 1 <strong>de</strong> Março, Santa Catari<strong>na</strong><br />
da Serra <strong>de</strong> 11 a 15 <strong>de</strong> Março, e, por fim, <strong>Fátima</strong>, <strong>de</strong> 18 a 22 <strong>de</strong> Março.<br />
Como tem sido hábito, procuramos repercutir alguns ecos <strong>de</strong>sse encontro<br />
do Pastor com as comunida<strong>de</strong>s, recorremos aos respectivos párocos e às entrevistas<br />
por eles concedidas a O Mensageiro. As perguntas colocadas serão<br />
as mesmas das visitas anteriores:<br />
1. Que pensa <strong>de</strong>sta iniciativa do Bispo diocesano <strong>de</strong> fazer uma visita pastoral a<br />
todas as paróquias?<br />
2. Como se preparou a comunida<strong>de</strong> para receber o Bispo?<br />
3. Qual foi o critério <strong>na</strong> elaboração do programa?<br />
4. De forma geral, como <strong>de</strong>correu a visita?<br />
5. Houve algum momento especial que queira <strong>de</strong>stacar?<br />
6. Qual a principal mensagem ou marca <strong>de</strong>ixada por D. António Marto?<br />
7. Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral?<br />
8. Foi já <strong>de</strong>finida alguma priorida<strong>de</strong> pastoral ou tomada alguma <strong>de</strong>cisão em<br />
or<strong>de</strong>m à renovação da dinâmica paroquial?<br />
Padre Fer<strong>na</strong>ndo Clemente Varela, pároco <strong>de</strong> Atouguia<br />
1. A visita pastoral do Nosso Bispo reveste-se da<br />
máxima importância para que possa conhecer a <strong>Diocese</strong><br />
e tomar o pulso à vida cristã dos seus diocesanos.<br />
É também uma gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evangelização<br />
e revitalização da vida cristã das comunida<strong>de</strong>s.<br />
2. Preparou-se com a oração e com encontros a nível<br />
dos grupos existentes <strong>na</strong> paróquia.<br />
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .<br />
3. Na programação, <strong>de</strong>u-se priorida<strong>de</strong> ao encontro com as pessoas (crianças,<br />
jovens, adultos e idosos/doentes) e com os grupos intervenientes <strong>na</strong> vida<br />
paroquial (catequistas, comissões e conselhos, grupos <strong>de</strong> apostolado, etc.).<br />
4. Foi uma visita que <strong>de</strong>correu em ambiente <strong>de</strong> festa e <strong>de</strong> alegria, com<br />
muita paz e tranquilida<strong>de</strong>, num clima <strong>de</strong> confiança e <strong>de</strong> fraterno ambiente<br />
familiar.<br />
5. Destacaria o encontro com os idosos do Centro <strong>de</strong> Dia e com as crianças<br />
do Jardim Infantil. Foram momentos <strong>de</strong> muita emoção.<br />
6. A principal mensagem <strong>de</strong>ixada pelo senhor Bispo é dupla:<br />
- Vale a pe<strong>na</strong> ser cristão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se aposte numa vida cristã <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
(ilumi<strong>na</strong>da pela luz da fé e da razão e fundamentada <strong>na</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />
pessoal <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong> cristã que se manifesta em atitu<strong>de</strong>s<br />
concretas <strong>de</strong> empenhamento <strong>na</strong> vida);<br />
- Vale a pe<strong>na</strong> ter esperança (e coragem) porque Cristo está vivo e está no<br />
meio <strong>de</strong> nós, connosco, actuante, mesmo que o mundo em que vivemos pareça<br />
<strong>de</strong>svirtuado da presença <strong>de</strong> Deus e nos diga que Deus não existe: Cristo<br />
é a nossa única esperança!<br />
7. A visita abre expectativas <strong>de</strong> maior empenho <strong>na</strong> formação cristã (pessoal<br />
e comunitária) e <strong>na</strong> oração, para que exista uma vida cristã <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
e que seja testemunha <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira da presença <strong>de</strong> Cristo no meio dos homens;<br />
expectativas <strong>de</strong> um maior empenho pessoal <strong>na</strong> vida comunitária, através do<br />
compromisso pessoal.<br />
8. Entre as priorida<strong>de</strong>s pastorais mais evi<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>stacamos duas: maior<br />
atenção à pastoral juvenil, com os jovens que acabam a catequese institucio<strong>na</strong>l<br />
e a constituição <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> jovens; e a criação do Conselho Pastoral<br />
Paroquial.<br />
78 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
Padre António Ramos, pároco <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong><br />
1. Sendo o Bispo diocesano o primeiro responsável<br />
pela vivência do Evangelho <strong>na</strong> diocese, não po<strong>de</strong> ficar<br />
<strong>de</strong>scansado <strong>na</strong> sua se<strong>de</strong>, mesmo recebendo informações<br />
fi<strong>de</strong>dig<strong>na</strong>s, mas tem todo o interesse em <strong>de</strong>scer<br />
ao terreno e <strong>ver</strong>, com os próprios olhos, como vivem as<br />
comunida<strong>de</strong>s paroquiais. Estas, ao <strong>ver</strong>em-se visitadas<br />
pelo seu Bispos, não se sentem como ovelhas sem pas-
. especial . visita pastoral .<br />
tor, mas acompanhadas por aquele que vem em nome do bom Pastor, que nos<br />
conduz por caminhos <strong>de</strong> Vida.<br />
2. A preparação da comunida<strong>de</strong> fez-se seguindo os esquemas propostos<br />
pela <strong>Diocese</strong>. Em toda a paróquia se formaram-se bastantes grupos da Lectio<br />
Divi<strong>na</strong>, ou Leitura Orante da Palavra. Só Deus conhece o íntimo das pessoas,<br />
mas po<strong>de</strong>ríamos dizer que houve autênticas con<strong>ver</strong>sões.<br />
3. Na elaboração do programa, houve a preocupação <strong>de</strong> que todas as pessoas<br />
pu<strong>de</strong>ssem contactar <strong>de</strong> perto com o seu Bispo, quer nos centros <strong>de</strong> culto,<br />
quer nos di<strong>ver</strong>sos encontros específicos.<br />
4. Tudo correu muito bem, com serieda<strong>de</strong> e serenida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> as crianças<br />
aos idosos, todos se sentiram motivados. Ape<strong>na</strong>s os pais das crianças e adolescentes<br />
da catequese e os casais mais novos falharam um pouco no encontro<br />
que lhes era <strong>de</strong>dicado.<br />
5. É difícil distinguir um momento, pois todos foram especiais. Mas ficou<br />
a ecoar no coração <strong>de</strong> todos os membros da comunida<strong>de</strong> paroquial <strong>de</strong> São<br />
Mame<strong>de</strong> o apelo a que não tenham medo <strong>de</strong> ser cristãos.<br />
6. A sua mensagem apelativa ficará certamente <strong>na</strong> lembrança <strong>de</strong> todos.<br />
E Deus queira que passe para a vida, pois a todos e cada um o nosso Bispo<br />
cativou com a sua afabilida<strong>de</strong> e atenção.<br />
7. A Visita Pastoral tem um antes, um durante e um <strong>de</strong>pois. O antes gerou<br />
gran<strong>de</strong> interesse; o durante teve momentos <strong>de</strong> entusiasmo; e o <strong>de</strong>pois?<br />
Se tudo for como enxurrada que passa sem penetrar no íntimo <strong>de</strong> cada um,<br />
será mal empregado tanto esforço. Mas não! Há que aproveitar e não <strong>de</strong>ixar<br />
esquecer a <strong>de</strong>scoberta da riqueza <strong>de</strong> trabalhar em grupo, como se fez <strong>na</strong><br />
preparação. A Lectio Divi<strong>na</strong> foi para muitos uma novida<strong>de</strong> entusiasmante.<br />
Talvez alguns se tenham sentido tocados por aquilo que se diz dos cristãos<br />
das primeiras comunida<strong>de</strong>s: Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união<br />
frater<strong>na</strong>, à fracção do pão e às orações (Act 2, 42). Esta assiduida<strong>de</strong> mantinha-os<br />
perse<strong>ver</strong>antes.<br />
8. Falando <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s, a renovação da paróquia só se fará com uma<br />
educação permanente da fé. A Igreja incentiva a “novos métodos e novas<br />
estruturas”, e consi<strong>de</strong>ra “a paróquia como comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s”. É<br />
preciso evitar o anonimato e a massificação. Ou se formam novas comunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>na</strong> comunida<strong>de</strong> paroquial ou o entusiasmo resfria.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 79<br />
Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .<br />
Já existem algumas comunida<strong>de</strong>s, que procuram fazer uma caminhada<br />
lenta, mas segura. Espera-se que aqueles que <strong>de</strong>scobriram novida<strong>de</strong>s nos grupos<br />
da Lectio Divi<strong>na</strong> venham a dar mais um passo em frente, <strong>de</strong>scobrindo<br />
ainda mais novida<strong>de</strong>.<br />
E não esquecer o grito apelativo do nosso Bispo: Não tenham medo <strong>de</strong><br />
ser cristãos!<br />
Padre Mário Verdasca, pároco <strong>de</strong> Santa Catari<strong>na</strong> da Serra<br />
1. Acho que a visita pastoral se impunha por di<strong>ver</strong>sas<br />
razões: antes <strong>de</strong> mais, porque o nosso Bispo<br />
iniciou recentemente o seu múnus pastoral <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong><br />
que precisa <strong>de</strong> conhecer; <strong>de</strong>pois, a Igreja vive<br />
uma situação muito peculiar <strong>de</strong>vido às dificulda<strong>de</strong>s e<br />
circunstâncias novas <strong>de</strong>ste tempo presente; fi<strong>na</strong>lmente,<br />
porque a Igreja precisa <strong>de</strong> pastores que baixem ao<br />
mundo concreto, e D. António Marto disse.nos vir<br />
“pôr os olhos nos nossos olhos, o coração ao lado do<br />
nosso coração”, que renovem a esperança e o entusiasmo<br />
que estão com saldo negativo.<br />
2. Há já cerca <strong>de</strong> um ano que vínhamos falando da importância que a<br />
visita podia ter <strong>na</strong> nossa comunida<strong>de</strong> paroquial, primeiro no Conselho Pastoral<br />
Paroquial e no Conselho Económico, <strong>de</strong>pois com os catequistas e todos<br />
os que se comprometem e marcam com o seu trabalho e preocupação a<br />
vida pastoral. O Conselho Pastoral trabalhou num levantamento da realida<strong>de</strong><br />
paroquial, elaborou o programa e lançou cerca <strong>de</strong> trinta grupos <strong>de</strong> Leitura<br />
Orante da Palavra <strong>de</strong> Deus. Nas reuniões <strong>de</strong> pais das crianças da catequese<br />
foi mostrado um pequeno filme e falou-se sobre a missão do Bispo, sucessor<br />
dos Apóstolos. Elaborámos ainda uma apresentação digital que fez as <strong>de</strong>lícias<br />
das crianças, dos adolescentes e até dos adultos.<br />
3. O critério que presidiu ao programa foi, antes <strong>de</strong> mais, que o Bispo<br />
pusesse estar com todos, em todos os círculos, e que todos pu<strong>de</strong>ssem estar<br />
perto do seu Pastor. Queríamos acolher tudo o que nos trazia e que aceitasse<br />
a nossa <strong>de</strong>dicação e ternura <strong>de</strong> filhos que o estimam e admiram como aquele<br />
que vem em nome do Senhor – do Bispo para nós e <strong>de</strong> nós para o nosso Bispo.<br />
4. A visita <strong>de</strong>correu muito bem. No encontro com o Agrupamento <strong>de</strong> Escolas<br />
da Serra, os professores escutaram com admiração a mensagem que o<br />
80 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. especial . visita pastoral .<br />
Sr. D. António lhes comunicou com a simplicida<strong>de</strong> e a sabedoria do Evangelho.<br />
Na reunião com as autarquias e associações o ambiente foi <strong>de</strong> interesse<br />
e abertura ao espírito <strong>de</strong> serviço e disponibilida<strong>de</strong>. Nos encontros com<br />
as di<strong>ver</strong>sas comunida<strong>de</strong>s, as Igrejas foram peque<strong>na</strong>s para quantos quiseram<br />
escutar a palavra do Mestre <strong>na</strong> Fé e os convívios calorosos e fartos foram<br />
manifestações claras <strong>de</strong> comunhão afecto.<br />
5. Destacaria especialmente a tar<strong>de</strong> em que cerca <strong>de</strong> 400 crianças, 250<br />
adolescentes e 80 jovens passaram pela Igreja para estarem com o seu Bispo,<br />
que soube falar-lhes ao coração, e a Eucaristia <strong>de</strong> encerramento, on<strong>de</strong> D.<br />
António dirigiu à comunida<strong>de</strong> paroquial com palavras cheias <strong>de</strong> ternura e<br />
encanto elogiando o di<strong>na</strong>mismo que ela .<br />
6. A principal mensagem <strong>de</strong> D. António parece-me ter sido a da importância<br />
da presença <strong>de</strong> Deus em cada um e <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong>, fonte <strong>de</strong> alegria<br />
e esperança para a vida e missão que todos no meio on<strong>de</strong> vivemos e num<br />
mundo tão necessitado <strong>de</strong>stes dons.<br />
7. Acima <strong>de</strong> todo, Senhor D. António comunicou-nos um entusiasmo extraordinário<br />
por <strong>Jesus</strong> e pela Igreja e <strong>de</strong>ixou um <strong>de</strong>safio a uma vida <strong>de</strong> fé tranquila<br />
mas dinâmica. Desig<strong>na</strong>damente, apelou a uma preparação séria para os<br />
sacramentos, em particular da Eucaristia, que são os gran<strong>de</strong>s momentos <strong>de</strong><br />
encontro com Deus e com os <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iros valores espirituais.<br />
8. Para já, estamos a saborear os momentos bonitos que se vi<strong>ver</strong>am <strong>na</strong><br />
comunida<strong>de</strong> e a dar largas ao entusiasmo que em nós se reanimou. Mas, a<br />
seu tempo vamos a<strong>na</strong>lisar e discernir em conjunto sobre os caminhos que se<br />
abriram e se vão abrindo a partir <strong>de</strong>sta visita.<br />
Padre Rui Marto, pároco <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
1. Ninguém ama o que não conhece. A Visita Pastoral<br />
é um dos melhores meios <strong>de</strong> o Bispo conhecer<br />
a sua diocese, os cristãos que <strong>de</strong>la fazem parte e até<br />
o meio social em que vivem. Não se trata <strong>de</strong> um momento<br />
fugitivo <strong>de</strong> celebração <strong>de</strong> um sacramento ou <strong>de</strong><br />
contacto com uma ou outra pessoa, equipa ou movimento.<br />
Olhos nos olhos, coração a coração, o Senhor<br />
D. António escolheu o estilo do encontro pessoal. Re-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 81<br />
Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .<br />
alizada <strong>de</strong>ste modo, a sua visita é uma presença e cria laços profundos e efectivos<br />
entre o Pastor e a sua diocese. Foi assim que o nosso Bispo enten<strong>de</strong>u por<br />
bem realizar a sua Visita Pastoral à Paróquia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>.<br />
2. Há cerca <strong>de</strong> seis meses que a comunida<strong>de</strong> se vinha preparando. Com<br />
o anúncio público e outras iniciativas como uma própria <strong>na</strong>s Eucaristias e<br />
noutros momentos como reuniões <strong>de</strong> movimentos, <strong>de</strong> grupos e <strong>de</strong> comissões,<br />
ninguém <strong>de</strong>sconhecia a vinda do Senhor Bispo. De um modo ou outro, todos<br />
se prepararam, <strong>na</strong> expectativa, ansieda<strong>de</strong> e esperança da chegada do gran<strong>de</strong><br />
amigo. Fizeram-se reuniões <strong>de</strong> trabalho com os Conselhos Económico e Pastoral,<br />
e a catequese, comissões das igrejas, movimentos apostólicos, todos<br />
promo<strong>ver</strong>am reuniões <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> preparação.<br />
3. A elaboração do programa teve em conta vários aspectos da vida paroquianos<br />
e as reais disponibilida<strong>de</strong>s horárias. O encontro com as crianças e<br />
adolescentes teria <strong>de</strong> ser ao sábado; a Assembleia paroquial po<strong>de</strong>ria ser logo<br />
<strong>de</strong> início, mas à noite; a ida às oito igrejas era mais conveniente em fim <strong>de</strong><br />
tar<strong>de</strong>, tal como o encontro e a Eucaristia com as famílias; e a celebração com<br />
idosos e doentes ficaria bem a meio da tar<strong>de</strong>. A conclusão da visita <strong>de</strong><strong>ver</strong>ia<br />
ser <strong>na</strong> celebração da Eucaristia seguida <strong>de</strong> almoço <strong>de</strong> convívio, em ambiente<br />
<strong>de</strong> alegria, sereno e muito pessoal.<br />
4. A visita <strong>de</strong>correu como previsto. Houve momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> emoção,<br />
especialmente com os mais idosos e doentes e <strong>na</strong> visita às comunida<strong>de</strong>s. Nas<br />
oito igrejas, à hora combi<strong>na</strong>da, todos os que podiam compareceram e, em comunida<strong>de</strong>,<br />
entoaram cânticos, rezaram, escutaram a palavra do Pastor e não<br />
<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> lhe oferecer uma lembrança.<br />
5. O gran<strong>de</strong> realce vai para a gran<strong>de</strong> Assembleia paroquial, a mais numerosa<br />
que o Senhor disse ter encontrado e que congregou as forças vivas da Paróquia.<br />
Mas o encontro com a catequese foi um momento quase divino, com a<br />
participação <strong>de</strong> todas as crianças nos cânticos (resultado <strong>de</strong> algumas sema<strong>na</strong>s<br />
<strong>de</strong> ensaio). No fi<strong>na</strong>l, uma criança que <strong>de</strong>sabafou com a mãe ainda não ter<br />
vistos os olhos do Senhor Bispo, foi-lhe apresentada e por ele abraçada como<br />
o pai ao filho querido. Os adolescentes foram exemplares nos cânticos, <strong>na</strong>s<br />
ence<strong>na</strong>ções e, sobretudo, <strong>na</strong> escuta em silencio do que lhes dizia o Senhor<br />
Bispo, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>damente quando lhes contou a história da galinha e da águia.<br />
6. O Senhor D. António <strong>de</strong>ixou várias marcas: ficou a sua presença, o<br />
cumprimento terno e afectuoso que dirigiu a cada uma e cada um, em sauda-<br />
82 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. especial . visita pastoral .<br />
ção amiga, frater<strong>na</strong> e pater<strong>na</strong>l. Na Eucaristia <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong>ixou à Paróquia<br />
quatro recados, a saber: maior empenho <strong>na</strong> <strong>de</strong>scoberta e aprofundamento da<br />
fé; participação assídua <strong>na</strong> Eucaristia dominical; amor à Igreja; e coragem no<br />
testemunho cristão, num mundo cheio <strong>de</strong> obstáculos à própria vida dos filhos<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
7. Estes quatro recados <strong>de</strong>ixados pelo Senhor Bispo e a sua prática virão<br />
trazer muita alegria aos cristãos e às comunida<strong>de</strong>s, um reencontro <strong>na</strong> fé e <strong>na</strong><br />
prática efectiva. Se antes da visita já se trabalhava, o rosto da Paróquia será<br />
bem diferente a partir <strong>de</strong> agora. Não po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> o ser.<br />
8. No início do ano pastoral haviam sido <strong>de</strong>lineadas algumas priorida<strong>de</strong>s.<br />
Serão agora revistas em or<strong>de</strong>m a uma maior dinâmica e renovação, nos vários<br />
âmbitos e com maior di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas. Procuraremos beneficiar <strong>de</strong>sta<br />
visita tão bela e do contributo importantíssimo do nosso Bispo. As comunida<strong>de</strong>s<br />
estão mais vivas e reforçadas. Nesta terra escolhida por Nossa Senhora,<br />
procuraremos seguir mais <strong>de</strong> perto o exemplo dos Pastorinhos tão recordado<br />
por D. António. A Paróquia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> agra<strong>de</strong>ce, do fundo do coração, a <strong>Jesus</strong><br />
e ao Pastor que, em seu nome, nos enviou.<br />
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Vida Eclesial
. notícias.<br />
Pe. A<strong>de</strong>lino Ascenso faz doutoramento em Teologia<br />
O padre A<strong>de</strong>lino Ascenso, sacerdote da Socieda<strong>de</strong> Missionária da Boa<br />
Nova, <strong>na</strong>tural da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, apresentou e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a tese <strong>de</strong><br />
doutoramento em Teologia Fundamental <strong>na</strong> Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Gregoria<strong>na</strong>, em<br />
Roma, no passado dia 11 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2008. Além do júri, esti<strong>ver</strong>am<br />
presentes cerca <strong>de</strong> 30 convidados e amigos, entre os quais o embaixador do<br />
Japão <strong>na</strong> Santa Sé e D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo emérito <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<br />
<strong>Fátima</strong>.<br />
A tese, apresentada e <strong>de</strong>fendida em inglês, teve o seguinte tema: “Transcultural<br />
Theodicy in the Fiction of Shusaku Endo”. Faz <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da dimensão estética como caminho antropológico da busca <strong>de</strong> Deus. Teve<br />
como mo<strong>de</strong>rador o R. P. Prof. Michael Paul Gallagher, S.J. Recebeu a classificação<br />
académica <strong>de</strong> “Summa Cum Lau<strong>de</strong>”.<br />
O escritor e romancista Shusaku Endo (1923-1996) foi um bravo pensador<br />
japonês, baptizado aos12 anos, que sentiu o catecismo católico como um<br />
“casaco oci<strong>de</strong>ntal”. A metáfora preten<strong>de</strong> significar as múltiplas diferenças<br />
entre um oci<strong>de</strong>nte monoteísta e um oriente panteísta. Os “pontos quentes”<br />
e comuns giram à volta do bem e do mal. A pessoa <strong>de</strong> Cristo aparece como<br />
companheiro <strong>de</strong> viagem do tempo para fora do tempo.<br />
O padre A<strong>de</strong>lino Ascenso regressou, entretanto, ao Japão, on<strong>de</strong> continua<br />
a sua missão como professor da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Osaka. Aguarda-se<br />
entretanto a publicação da tese.<br />
Formação e Oração <strong>na</strong> vigararia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
Conforme anunciado <strong>na</strong> Carta Pastoral “Ir ao Coração da Fé”, D. António<br />
Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, está a presidir em cada vigararia a um encontro<br />
<strong>de</strong> formação e oração com os principais colaboradores da acção pastoral<br />
<strong>na</strong>s paróquias, em que apresenta o perfil e alguns critérios <strong>de</strong> escolha e <strong>de</strong><br />
formação dos mesmos.<br />
Para a vigararia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, o encontro <strong>de</strong>correu no dia 9 <strong>de</strong> Janeiro, no<br />
Seminário Diocesano. Os párocos da vigararia fizeram convites pessoais, <strong>de</strong><br />
modo a atingir os principais agentes pastorais <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>legada. Cerca <strong>de</strong><br />
250 <strong>de</strong>legados esti<strong>ver</strong>am presentes e pu<strong>de</strong>ram acompanhar a reflexão feita<br />
pelo bispo, com <strong>de</strong>staque para o <strong>de</strong>safio a uma maior corresponsabilida<strong>de</strong> dos<br />
leigos <strong>na</strong> vida da Igreja diocesa<strong>na</strong>.<br />
84 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
Seguindo o mo<strong>de</strong>lo da lectio divi<strong>na</strong>, o prelado reflectiu passo a passo um<br />
texto <strong>de</strong> S. Paulo aos Romanos (Rom 15, 14-16; 16, 1-7.25-27), salientando<br />
a importância <strong>de</strong> “reavivar a memória da fé”, como forma <strong>de</strong> “re<strong>de</strong>scobrir os<br />
valores da vida cristã e encontrar a forma e o vigor para seguir em frente”.<br />
Neste sentido referiu-se à urgência <strong>de</strong> “<strong>de</strong>scobrir e reavivar a riqueza e a<br />
beleza da fé que cada um traz consigo no coração”. Referindo-se aos colaboradores<br />
<strong>de</strong> Paulo, D. António Marto sublinhou a capacida<strong>de</strong> do apóstolo em<br />
reunir e congregar os colaboradores necessários, “indo recrutá-los a todos<br />
os quadrantes sociais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que unidos pela profissão <strong>de</strong> uma mesma fé”.<br />
“Assim a Igreja surge como lugar <strong>de</strong> comunhão e união”, sublinhou, para<br />
reforçar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que é urgente “trabalhar em equipa, trabalhar em re<strong>de</strong>,<br />
olhando e <strong>de</strong>stacando mais os aspectos positivos que nos unem e não tanto<br />
as falhas que por vezes nos separam, um trabalho que requer, a exemplo <strong>de</strong><br />
Paulo, uma estima e apreço por cada um, para que cada pessoa seja estimada<br />
e afectivamente apreciada”.<br />
Contra uma visão ainda <strong>de</strong>masiadamente clerical, D. António <strong>de</strong>safiou os<br />
leigos a tomarem sobre si a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho que é <strong>de</strong> todos<br />
e não ape<strong>na</strong>s dos padres. “Os leigos precisam tomar o pulso nos <strong>de</strong>stinos das<br />
comunida<strong>de</strong>s. Para tanto, é preciso investir mais e mais <strong>na</strong> formação”. Reflectindo<br />
sobre a falta <strong>de</strong> novas or<strong>de</strong><strong>na</strong>ções sacerdotais <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>, apontou<br />
os <strong>de</strong>safios que essa situação traz consigo: “Tempos <strong>de</strong> crise po<strong>de</strong>m ser tempos<br />
<strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s; por vezes, precisamos <strong>de</strong> sentir a escassez para<br />
saborear melhor o pouco que temos”. Terminou a sua reflexão referindo-se a<br />
algumas propostas diocesa<strong>na</strong>s que vão no sentido da formação dos cristãos,<br />
a saber: lectio divi<strong>na</strong>, retiro popular, os cursos do CFC, Escola Razões da<br />
Esperança e uma síntese da fé que será publicada no próximo ano.<br />
Ministros Extraordinários da Comunhão em recolecção<br />
No dia 10 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009, realizou-se o primeiro turno da recolecção<br />
para Ministros Extraordinários da Comunhão, no Seminário <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, orientado<br />
pelo padre Sérgio Henriques e com a presença <strong>de</strong> 250 pessoas, sob o<br />
lema “A Eucaristia, dom <strong>de</strong> Deus para a vida do mundo”.<br />
Após a oração inicial, o orientador, fezendo uma reflexão a partir da sua<br />
experiência como <strong>de</strong>legado diocesano ao último Congresso Eucarístico Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
(Quebec, Ca<strong>na</strong>dá), acentuou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coerência entre a<br />
participação <strong>na</strong> celebração e a vida, pois “a Eucaristia convoca os cristãos a<br />
construírem a paz, a justiça e a carida<strong>de</strong>”.<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
Da parte da tar<strong>de</strong>, os participantes receberam informações sobre as di<strong>ver</strong>sas<br />
propostas <strong>de</strong> formação a <strong>de</strong>correr <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>, nomeadamente as que lhes<br />
são <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>das, como a leitura e reflexão da Exortação Apostólica <strong>de</strong> Bento<br />
XVI “Sacramento da Carida<strong>de</strong>” e da Carta Pastoral <strong>de</strong> D. António Marto para<br />
o presente ano. O encontro terminou com a celebração da Eucaristia, <strong>na</strong> igreja<br />
do Seminário.<br />
Coimbrão home<strong>na</strong>geia 30 anos <strong>de</strong> serviço do pároco<br />
No dia 11 <strong>de</strong> Janeiro, o Conselho Económico da Paróquia do Coimbrão,<br />
da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>Fátima</strong>, organizou no salão paroquial um almoço <strong>de</strong><br />
home<strong>na</strong>gem ao seu pároco, padre Joaquim <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> João, pelos 30 anos ao<br />
serviço <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong>. No evento participaram várias cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> paroquianos<br />
dos três centros <strong>de</strong> culto da paróquia (Coimbrão, Erve<strong>de</strong>ira e Praia<br />
do Pedrógão).<br />
Coube a Ilía Gervásio, professora aposentada, falar em nome da comunida<strong>de</strong>,<br />
agra<strong>de</strong>cendo ao sacerdote “toda a <strong>de</strong>dicação e trabalho realizado em<br />
prole do bem”, mas não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> referir algumas iniciativas menos conseguidas<br />
e a esperança <strong>de</strong> que “pu<strong>de</strong>sse continuar ainda, por muitos mais<br />
anos, com saú<strong>de</strong> e com o zelo que se lhe reconhece”. O pároco agra<strong>de</strong>ceu a<br />
surpresa da home<strong>na</strong>gem e o convívio, e pediu “<strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> não ter feito mais<br />
e melhor”. Agra<strong>de</strong>ceu ainda toda a colaboração prestada ao longo dos anos<br />
pelas várias comissões das igrejas, conselhos pastorais, catequistas, grupos,<br />
associações e entida<strong>de</strong>s autárquicas, que se associaram à iniciativa. Lembrou<br />
ainda, com comoção, os 849 baptismos, 198 casamentos e 716 funerais a que<br />
presidiu durante estes 30 anos.<br />
A sessão terminou com um concerto musical pela Filarmónica <strong>de</strong> Bajouca.<br />
Encontro <strong>de</strong> adolescentes <strong>na</strong> Vigararia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
O Serviço Pastoral Vocacio<strong>na</strong>l da Vigararia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> organizou um encontro<br />
para todos os adolescentes que se preparam para receber o sacramento<br />
do Crisma, no dia 17 <strong>de</strong> Janeiro. Com a participação <strong>de</strong> D. António Marto,<br />
a acção visou a formação dos adolescentes em or<strong>de</strong>m à recepção do referido<br />
sacramento e ao mesmo tempo proporcio<strong>na</strong>r um espaço <strong>de</strong> convívio e troca<br />
<strong>de</strong> experiências entre os jovens das várias paróquias. Foram realizados vários<br />
ateliers dinâmicos sobre alguns aspectos litúrgicos relacio<strong>na</strong>dos com o<br />
Crisma.<br />
86 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
Dia do Cursista<br />
Pela segunda vez, o Secretariado Diocesano do Movimento dos Cursilhos<br />
<strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong> promoveu um encontro no Seminário Diocesano <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, no<br />
dia 18 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009. Com o objectivo <strong>de</strong> reunir num dia <strong>de</strong> convívio,<br />
partilha e troca <strong>de</strong> experiências os cursistas das di<strong>ver</strong>sas paróquias da <strong>Diocese</strong>,<br />
esta foi uma oportunida<strong>de</strong> para promo<strong>ver</strong> a di<strong>na</strong>mização local do movimento.<br />
Muitos cursistas participaram <strong>na</strong>s activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas núcleos<br />
do movimento das diferentes paróquias, que incluíram teatro, música, poesia,<br />
etc. Depois do almoço partilhado houve a intervenção do Padre Francisco<br />
Senra Coelho, subordi<strong>na</strong>da ao tema “A Acção dos Cursistas nos Ambientes”.<br />
Colégio <strong>de</strong> N.ª Sr.ª <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> leva “São Paulo” à ce<strong>na</strong><br />
No âmbito do Ano Paulino, o Colégio <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> levou<br />
a efeito, no dia 23 <strong>de</strong> Janeiro, um espectáculo sobre S. Paulo, intitulado “Caminhar<br />
a uma Nova Luz”. O local escolhido foi o adro da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, num<br />
evento <strong>de</strong> carácter religioso, mas, sem dúvida, também cultural e artístico.<br />
Colecta a favor dos pobres<br />
Em toda a <strong>Diocese</strong>, o ofertório das celebrações eucarísticas dominicais <strong>de</strong><br />
25 <strong>de</strong> Janeiro, festa da con<strong>ver</strong>são <strong>de</strong> S. Paulo, foi encaminhado para a ajuda<br />
aos pobres e necessitados. No n.º 4.4 da Carta Pastoral “Ir ao coração da fé”,<br />
o Senhor Bispo, D. António Marto, propunha que o presente ano fosse um<br />
tempo especial <strong>de</strong> graça para a formação cristã, <strong>na</strong> companhia do “apóstolo<br />
das gentes”, e apresentava 10 iniciativas concretas. De entre elas, a proposta<br />
n.º 8 referia esta colecta a favor dos pobres, cujo produto se <strong>de</strong>stinou à Caritas<br />
Diocesa<strong>na</strong>, como forma simbólica <strong>de</strong> actualizar a gran<strong>de</strong> colecta realizada<br />
pelo Apóstolo nos primórdios da Igreja.<br />
Formação para a carida<strong>de</strong> <strong>na</strong> vigararia dos Milagres<br />
A propósito da gran<strong>de</strong> colecta diocesa<strong>na</strong> a favor dos pobres, <strong>na</strong>s missas do<br />
dia 25 <strong>de</strong> Janeiro, a vigararia dos Milagres organizou uma acção <strong>de</strong> formação,<br />
<strong>na</strong> área da pastoral sócio-caritativa, com o tema “Chamados à globalização da<br />
carida<strong>de</strong>”. Realizada em S. Eufémia, no dia 18 <strong>de</strong> Janeiro, levou os participantes<br />
a reflectir sobre “O amor uni<strong>ver</strong>sal à luz <strong>de</strong> S. Paulo”, com a ajuda do<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
padre Gonçalo Diniz. Pela Caritas Diocesa<strong>na</strong>, Ambrósio Santos apresentou<br />
o tema “Caminham juntas, a fé, a esperança e a carida<strong>de</strong>”. Também o Grupo<br />
Missionário Diocesano Ondjoyetu falou da “Missão – Uma ‘casa’ comum”.<br />
Esta acção <strong>de</strong>stinou-se especialmente aos grupos sócio-caritativos, membros<br />
das conferências vicenti<strong>na</strong>s e a muitos cristãos que trabalham activamente<br />
<strong>na</strong> acção social da Igreja, mas contou com a participação dos ministros<br />
extraordinários da comunhão e outras pessoas <strong>de</strong>dicadas ao voluntariado.<br />
Encontro <strong>de</strong> oração para jovens<br />
Como habitual, <strong>de</strong>correm no Seminário <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, à última sexta-feira <strong>de</strong><br />
cada mês, às 21h30, os encontros “Shemá” para jovens.<br />
São momentos inspirados <strong>na</strong>s orações <strong>de</strong> Taizé, num ambiente que privilegia<br />
o canto e a oração meditada, e que têm registado uma boa resposta por<br />
parte dos jovens.<br />
Cada sessão é marcada por um gesto específico, <strong>de</strong> acordo com a temática<br />
diferenciada, e termi<strong>na</strong> num espaço <strong>de</strong> convívio com chá e bolos. O convite<br />
é dirigido a todos os jovens, <strong>de</strong> modo especial aos que integram grupos paroquiais.<br />
As datas para este semestre são: 30 <strong>de</strong> Janeiro, 27 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, 27 <strong>de</strong><br />
Março, 24 <strong>de</strong> Abril, 29 <strong>de</strong> Maio e 26 <strong>de</strong> Junho.<br />
Clero <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> em formação<br />
Decorreram <strong>de</strong> 19 a 23 e 26 a 30 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009 os dois turnos <strong>de</strong><br />
formação anual para o clero <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> (dias), com uma participação<br />
<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> setenta sacerdotes, acompanhados pelo Bispo, D. António Marto,<br />
no convento <strong>de</strong> Montariol, em Braga.<br />
A parte doutri<strong>na</strong>l, que ocupou as manhãs, foi conduzida pelo Bispo auxiliar<br />
<strong>de</strong> Braga, D. António Couto, que propôs uma série <strong>de</strong> aulas sobre S.<br />
Paulo, num reencontro fecundo com esta figura central <strong>na</strong> história do cristianismo<br />
das origens, inspiradora <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> evangelização<br />
para os nossos dias. As tar<strong>de</strong>s foram ocupadas com assuntos directamente<br />
relacio<strong>na</strong>dos com a vida da Igreja da <strong>Diocese</strong>, nomeadamente, a temática<br />
das vocações, com <strong>de</strong>staque para o pré-seminário e o diaco<strong>na</strong>do permanente.<br />
Em cada turno, houve ainda tempo para uma visita a algumas referências<br />
culturais da região: Dume, ruí<strong>na</strong>s do mosteiro <strong>de</strong> S. Martinho e mosteiro <strong>de</strong><br />
Tibães.<br />
88 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
Retiro <strong>de</strong> Casais<br />
O Serviço <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l (SAV) da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
organizou, no dia 1 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, em colaboração com o Departamento <strong>de</strong><br />
Pastoral Familiar, uma proposta <strong>de</strong> reflexão para os casais cristãos da <strong>Diocese</strong>.<br />
Tratou-se <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong> retiro, <strong>de</strong> paragem, oração e reflexão em casal,<br />
numa altura em que tanto se lamenta não ha<strong>ver</strong> tempo, proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>scoberta<br />
e novo vigor para os que, seguindo a vocação matrimonial, se receberam<br />
<strong>de</strong> Deus <strong>na</strong> comunhão das suas vidas.<br />
O retiro foi orientado pelo casal Graça e Carlos Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>correu no<br />
Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>.<br />
A caminho da Páscoa com São Paulo<br />
Na introdução da sua Carta Pastoral para este ano, D. António Marto faz<br />
referência a dois gran<strong>de</strong>s acontecimentos da Igreja: o Sínodo dos Bispos e<br />
o Ano Paulino. Nessa linha, o Serviço Diocesano <strong>de</strong> Catequese propôs uma<br />
caminhada quaresmal <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> São Paulo como “mestre e guia”, procurando<br />
dar a conhecer a sua vida e obra, <strong>de</strong> forma simples e acessível. Em<br />
cada sema<strong>na</strong> os catequizandos foram-se <strong>de</strong>parando com os principais locais<br />
e acontecimentos que enquadraram a activida<strong>de</strong> do Apóstolo <strong>de</strong> anúncio <strong>de</strong><br />
<strong>Jesus</strong> Cristo morto e ressuscitado.<br />
A caminhada motivou ainda a participação no concurso “Nos passos das<br />
gran<strong>de</strong>s figuras bíblicas”, que <strong>de</strong>correu a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
À medida que iam conhecendo a vida <strong>de</strong> São Paulo, as crianças eram convidadas<br />
a completar tarefas que exigiam a leitura <strong>de</strong> alguns textos bíblicos,<br />
e, <strong>de</strong>ste modo, eram progressivamente iniciadas <strong>na</strong> prática da lectio divi<strong>na</strong>.<br />
Renúncia quaresmal para os sem-abrigo<br />
A renúncia quaresmal <strong>de</strong>ste ano, <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>, tem como <strong>de</strong>stino o Centro<br />
<strong>de</strong> Acolhimento da Paróquia da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, “que serve alimentação e outros<br />
apoios às pessoas sem-abrigo que passam pela cida<strong>de</strong> ou nela vivem”, e a<br />
Comunida<strong>de</strong> Vida e Paz, ao serviço dos sem-abrigo e da recuperação dos<br />
toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. D. António Marto, Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, lembra que<br />
“num mundo tão marcado pela crise socioeconómica, as primeiras vítimas<br />
são os mais pobres”.<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
Retiro popular com S. Paulo<br />
“De novo, estimulado pela boa a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> muitas pessoas no ano passado,<br />
proponho à Igreja diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> um retiro popular, a realizar<br />
durante a Quaresma. Desta vez, fazemo-lo com São Paulo, no ano a ele <strong>de</strong>dicado.<br />
Queremos que sirva para o aprofundamento da fé, <strong>de</strong> modo que os<br />
fiéis permaneçam firmes e sólidos nela (cf Col 1, 23), caminhando para uma<br />
fé adulta, capaz <strong>de</strong> dar pessoalmente razões da própria esperança em <strong>Jesus</strong><br />
Cristo e <strong>de</strong> a testemunhar <strong>na</strong> vida quotidia<strong>na</strong>.” Foi <strong>de</strong>ste modo que o nosso<br />
Bispo apresentou o guião do Retiro popular “Permanecer no coração da fé,<br />
com São Paulo”.<br />
“Na vida quotidia<strong>na</strong>, sem sair dos lugares e ocupações habituais, <strong>de</strong>dicando<br />
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos momentos a essa fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>”, escreveu dirigindo-se a<br />
“todo o povo <strong>de</strong> Deus”, <strong>na</strong> própria casa, <strong>na</strong>s igrejas ou noutros espaços a<strong>de</strong>quados,<br />
todos são convidados a seguir o itinerário dos seis temas propostos.<br />
A partir do encontro <strong>de</strong> Paulo com Cristo, <strong>de</strong>scobrindo que <strong>Jesus</strong> continua<br />
no caminho dos homens <strong>de</strong> hoje, cantando o hino dos cristãos à beleza dos<br />
dons espirituais recebidos, e acolhendo a Palavra <strong>de</strong> Deus que transforma o<br />
coração e impele ao anúncio da Boa-Nova, somos exortados por Paulo ao<br />
crescimento <strong>na</strong> carida<strong>de</strong> até à maturida<strong>de</strong> em <strong>Jesus</strong> Cristo que nos amou e Se<br />
entregou por nós (Cf. Gal 2,20).<br />
Plano Pastoral Diocesano – reunião dos Vigários<br />
A 6 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, em reunião com o Bispo diocesano, os Vigários a<strong>na</strong>lisaram<br />
as activida<strong>de</strong>s formativas para catequistas, leitores e outros serviços<br />
litúrgicos, agentes <strong>de</strong> acção social e caritativa, visitadores e assistentes <strong>de</strong><br />
doentes e idosos, casais empenhados <strong>na</strong> preparação para o matrimónio, entre<br />
outros, realizadas <strong>na</strong>s respectivas áreas pastorais. Concluiu-se que são muitas<br />
as pessoas que aproveitam a formação da Escola Diocesa<strong>na</strong> “Razões da Esperança”<br />
e do Centro <strong>de</strong> Formação e Cultura.<br />
Foi também abordada a criação do ministério do Diaco<strong>na</strong>do Permanente<br />
<strong>na</strong> <strong>Diocese</strong> e concluiu-se ser necessário sensibilizar e informar as comunida<strong>de</strong>s<br />
e, em especial, às pessoas que já <strong>de</strong>sempenham serviços apostólicos.<br />
Para tal, foi sugerida a elaboração <strong>de</strong> um instrumento <strong>de</strong> trabalho sobre esse<br />
ministério e vocação.<br />
D. António Marto afirmou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res para que as comunida<strong>de</strong>s<br />
se <strong>de</strong>senvolvam e os párocos possam contar com bons colaboradores e<br />
90 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
boas “dinâmicas <strong>de</strong> grupo”que tornem as reuniões <strong>de</strong> formação e outras mais<br />
interessantes e frutuosas. Sobre o Diaco<strong>na</strong>do Permanente, disse <strong>de</strong>sejar que<br />
a reflexão seja efectivamente alargada para que não seja o Bispo sozinho a<br />
<strong>de</strong>cidir da sua criação <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>.<br />
Formação para visitadores <strong>de</strong> doentes<br />
A vigararia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> promoveu uma acção para visitadores <strong>de</strong> doentes,<br />
organizada pelo Serviço Diocesano da Pastoral da Saú<strong>de</strong> e pelo CFC. Os encontros<br />
<strong>de</strong>correram no Seminário Diocesano, <strong>de</strong> 7 e 14 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, e foram<br />
especialmente <strong>de</strong>dicados a pessoas que lidam com doentes, funcionários <strong>de</strong><br />
instituições - lares, centros <strong>de</strong> dia e outras - e voluntários.<br />
Colégio <strong>de</strong> São Miguel promove vocações<br />
Através <strong>de</strong> um ambiente favorável, no contacto com “testemunhos vivos”,<br />
realizando a Sema<strong>na</strong> Vocacio<strong>na</strong>l e outras iniciativas anuais, o colégio<br />
<strong>de</strong> São Miguel, em <strong>Fátima</strong>, empenha-se em suscitar vocações, <strong>na</strong> sua varieda<strong>de</strong><br />
e complementarida<strong>de</strong>. Foi a conclusão do Conselho Pastoral <strong>de</strong>sta instituição,<br />
em encontro com os responsáveis do Serviço Diocesano <strong>de</strong> Animação<br />
Vocacio<strong>na</strong>l, a 12 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro passado.<br />
Avaliando o resultado do trabalho <strong>de</strong>senvolvido: cinco alunos seguiram<br />
a vocação sacerdotal, vários outros a consagração religiosa e muitos assumiram<br />
a vida familiar, profissio<strong>na</strong>l e eclesial à luz dos valores da “<strong>ver</strong>da<strong>de</strong>,<br />
amiza<strong>de</strong> e exigência” recebidos.<br />
Em relação ao futuro, dirigentes e professores apontaram <strong>na</strong> animação<br />
vocacio<strong>na</strong>l valorizando iniciativas já com alguma tradição nesta comunida<strong>de</strong><br />
educativa: os grupos <strong>de</strong> reflexão, oração e partilha, apelos em momentos<br />
oportunos e empenho em tocar mais <strong>de</strong> perto os alunos do secundário.<br />
Na reunião, ficou bem vincada a afirmação do Papa João Paulo II: “todos<br />
os membros da Igreja, sem excepção, têm a graça e a responsabilida<strong>de</strong> do cuidado<br />
das vocações”, o que pressupõe colaboração e trabalho em re<strong>de</strong>. Foram<br />
lembradas as orientações pastorais <strong>de</strong> D. António Marto, segundo as quais “o<br />
problema vocacio<strong>na</strong>l põe-se a cada fiel cristão” no seu itinerário educativo e<br />
“toda a comunida<strong>de</strong> cristã normal <strong>de</strong>ve ser, por <strong>na</strong>tureza, ‘casa e escola vocacio<strong>na</strong>l’<br />
que faz <strong>de</strong>spertar e crescer, <strong>de</strong> modo normal, as vocações normais a<br />
partir da fé vivida e testemunhada como apelo”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 91<br />
Vida Eclesial
. notícias .<br />
“Noite Pauli<strong>na</strong>” <strong>na</strong> Cruz da Areia<br />
A paróquia da Cruz da Areia organizou, a 21 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro recente, uma<br />
“Noite Pauli<strong>na</strong>”, que esteve a cargo do Agrupamento dos escuteiros. Tratouse<br />
<strong>de</strong> um espectáculo <strong>de</strong> música, som e imagem, que percorreu os principais<br />
passos da vida <strong>de</strong> São Paulo, em sis cenários variados <strong>na</strong>s suas formas rítmicas<br />
e coreográficas. Durante a apresentação foi servido um jantar a todos os<br />
participantes.<br />
Reunião <strong>de</strong> animadores vocacio<strong>na</strong>is<br />
O Serviço Diocesano <strong>de</strong> Animação vocacio<strong>na</strong>l reuniu no Seminário <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>, a 28 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro passado, recente, os padres responsáveis por este<br />
sector pastoral <strong>na</strong>s vigararias e os animadores que actuam <strong>na</strong>s paróquias,<br />
vigararias e institutos <strong>de</strong> vida consagrada, com o objectivo <strong>de</strong> repensar os<br />
serviços <strong>de</strong> animação vocacio<strong>na</strong>l e partilhar experiências e perspectivas, no<br />
sentido da maior entreajuda e estímulo.<br />
Porque suscitar vocações é uma responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o povo <strong>de</strong> Deus<br />
e <strong>de</strong> cada comunida<strong>de</strong> cristã, insiste permanentemente o nosso Bispo, é necessário<br />
que haja em cada paróquia ou vigararia um grupo <strong>de</strong> animadores<br />
vocacio<strong>na</strong>is. Aos que já assumiram uma tarefa vocacio<strong>na</strong>l, <strong>de</strong><strong>ver</strong>ão juntar-se<br />
outros, nomeadamente, pais, catequistas e <strong>de</strong>mais educadores <strong>na</strong> fé. Como<br />
disse João Paulo II, todos temos a “graça e a responsabilida<strong>de</strong> do cuidado<br />
pelas vocações”.<br />
Monte Real reaviva chama vocacio<strong>na</strong>l<br />
Jovens e adultos da vigararia <strong>de</strong> Monte Real encheram a igreja da Ortigosa,<br />
no passado dia 6 <strong>de</strong> Março, em vigília <strong>de</strong> oração vocacio<strong>na</strong>l. Os fiéis<br />
presentes tomaram consciência da vocação como apelo e graça <strong>de</strong> Deus a<br />
cada um “para dar mais do que tem” em favor dos outros. A cada pessoa foi<br />
colocada uma fita com a questão: “Já ouviste a voz <strong>de</strong> Deus hoje?”, e foram<br />
enviadas velas acesas a várias comunida<strong>de</strong>s lembrando a perse<strong>ver</strong>ança <strong>na</strong><br />
oração pelo dom <strong>de</strong> novas vocações.<br />
Através <strong>de</strong> leituras, cânticos, interpelações e preces, jovens e adultos foram<br />
convidados a ouvir a voz <strong>de</strong> Deus e a <strong>de</strong>ixá-Lo entrar <strong>na</strong> própria casa,<br />
rezando: “Senhor que queres que eu faça?”. O Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor Diocesano do<br />
Serviço <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l lembrou que a vocação é encontrar Deus<br />
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. notícias .<br />
e n’Ele a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> si mesmo. E partindo do exemplo bíblico <strong>de</strong> Samuel,<br />
disse que, para <strong>de</strong>scobrir a própria vocação, é preciso estar próximo <strong>de</strong> Deus,<br />
vi<strong>ver</strong> <strong>na</strong> sua casa, prestar atenção ao seu chamamento insistente e respon<strong>de</strong>r<br />
com prontidão. Mas também é necessário confiar em quem possa ajudar a<br />
i<strong>de</strong>ntificar a voz <strong>de</strong> Deus e a dar-Lhe um sim incondicio<strong>na</strong>l no caminho que<br />
nos indicar.<br />
Estas vigílias correspon<strong>de</strong>m ao apelo do nosso Bispo a toda a <strong>Diocese</strong> e a<br />
todas as comunida<strong>de</strong>s e movimentos para dar vida a uma gran<strong>de</strong> oração pelas<br />
vocações e estão programadas para todas as vigararias.<br />
Encontro – peregri<strong>na</strong>ção dos CPM<br />
Nos dias 21 e 22 <strong>de</strong> Março, <strong>de</strong>correu em <strong>Fátima</strong> o Encontro-Peregri<strong>na</strong>ção<br />
dos Centros <strong>de</strong> Preparação para o Matrimónio (CPM) <strong>de</strong> todo o País. Os<br />
casais que se empenham neste Movimento laical comprometem-se <strong>na</strong> renovação<br />
<strong>de</strong> vida conjugal e familiar e no testemunho aos noivos que participam<br />
no encontros <strong>de</strong> preparação matrimonial. O programa, como habitualmente,<br />
incluiu tempos <strong>de</strong> oração e tempos <strong>de</strong> formação.<br />
Ao primeiro acto <strong>de</strong> recitação do Rosário <strong>na</strong> Capelinha das Aparições, às<br />
14h00 do dia 21, sábado, suce<strong>de</strong>u-se um tempo <strong>de</strong> reflexão domi<strong>na</strong>do pelo<br />
tema das recentes Jor<strong>na</strong>das Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, “Conjugalida<strong>de</strong> e Parentalida<strong>de</strong>,<br />
hoje: Di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong>s e Evolução”, com espaços privilegiados <strong>de</strong> partilha. As<br />
conclusões foram apresentadas no domingo antes da celebração da Eucaristia<br />
<strong>de</strong> conclusão e do almoço.<br />
Vigararia da Batalha escutou D. António Marto<br />
Cerca <strong>de</strong> meio milhar <strong>de</strong> fiéis, padres e leigos, da vigararia da Batalha<br />
juntaram-se no dia 27 <strong>de</strong> Março para escutar D. António Marto sobre o tema<br />
<strong>de</strong>ste ano pastoral, “Permanecei firmes e sólidos <strong>na</strong> fé”.<br />
Depois da apresentação dos grupos paroquiais, D. António manifestou<br />
alegria pela presença tão numerosa e di<strong>ver</strong>sificada, si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> empenhadamente<br />
gratuito e <strong>de</strong>sinteressado, e a todos lançou o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> vi<strong>ver</strong>em a sua fé sem<br />
ro<strong>de</strong>ios, neste mundo on<strong>de</strong> grassa a confusão, on<strong>de</strong> se espalha a <strong>de</strong>scrença e<br />
on<strong>de</strong> os crentes são ridicularizados, sob inspiração <strong>de</strong> S. Paulo, “<strong>de</strong> quem a<br />
graça <strong>de</strong> Deus fez uma estrela <strong>de</strong> primeira gran<strong>de</strong>za a ilumi<strong>na</strong>r a noite da fé”.<br />
Para tal, é necessária “uma fé consciente, perso<strong>na</strong>lizada, convicta e testemunhante,<br />
capaz <strong>de</strong> resistir a um ambiente hostil, <strong>de</strong> apresentar as razões que a<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
fundamentam e <strong>de</strong> mobilizar para a acção concreta”, afirmou o prelado <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo<br />
a importância da formação permanente para alimentar essa fé adulta,<br />
própria <strong>de</strong> quem “sabe o que crê, luta pelo que crê e vive aquilo que crê”.<br />
Partindo <strong>de</strong> excertos da Carta aos Romanos, D. António referiu que “também<br />
hoje o Apóstolo (Bispo) precisa <strong>de</strong> muitos e bons colaboradores, cheios<br />
<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, com conhecimentos sólidos e capacida<strong>de</strong> para se aconselharem<br />
e crescerem em ajuda mútua”. E, salientando a afirmação pauli<strong>na</strong> “escrevi-vos<br />
para vos reavivar a memória” esclareceu que esta “não é uma memória<br />
<strong>de</strong> registos passados, mas sim uma memória viva, que guarda o melhor da<br />
vida para o tor<strong>na</strong>r sempre presente, que sustenta as raízes da esperança e dá<br />
asas para construir o futuro”.<br />
Sempre a exemplo <strong>de</strong> S. Paulo, que “<strong>na</strong> sua gigante empresa <strong>de</strong> evangelização<br />
soube procurar e encontrar muitos e bons colaboradores”, <strong>na</strong> acção<br />
pastoral actual “não po<strong>de</strong>mos trabalhar sozinhos, mas em re<strong>de</strong> eclesial, <strong>na</strong><br />
multiplicida<strong>de</strong> dos dons e carismas, seja <strong>na</strong> retaguarda, seja mais visivelmente”,<br />
afirmou, pois “o sonho <strong>de</strong> um só é só um sonho, mas o sonho <strong>de</strong> muitos<br />
tor<strong>na</strong>-se realida<strong>de</strong>”.<br />
Tal como Paulo referia o seu afecto por cada um dos seus colaboradores,<br />
não como gente anónima, mas com nome e história, vivendo numa comunhão<br />
que era testemunho da fé para quem os observava, também o Bispo quis manifestar<br />
o seu apreço a cada um dos presentes. E não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lembrar que<br />
“somos colaboradores em Cristo e participantes da missão do apóstolo”, não<br />
po<strong>de</strong>ndo, portanto, esquecer que se não fosse Ele e ape<strong>na</strong>s contássemos com<br />
as nossas capacida<strong>de</strong>s, já teríamos falhado irremediavelmente.<br />
Por fim, o Pastor alertou para a escassez <strong>de</strong> vocações sacerdotais, agravada<br />
com a elevada média etária do clero. “Esta realida<strong>de</strong> irá obrigar-nos a<br />
alterar hábitos adquiridos, causará algum sofrimento a todos, mas não irá acabar<br />
com a nossa fé”, afirmou, remetendo para o exemplo da Igreja africa<strong>na</strong>,<br />
on<strong>de</strong> a presença dos sacerdotes é mínima e a fé é crescente, e para a Igreja<br />
do Japão, que sobreviveu dois séculos à expulsão dos missionários. Uma das<br />
consequências <strong>de</strong>sta situação será “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leigos bem formados,<br />
que possam formar outros”, e o incremento <strong>de</strong> iniciativas como a lectio divi<strong>na</strong>,<br />
“pois a nossa maior <strong>ver</strong>gonha será não conhecermos o nosso primeiro<br />
livro, a Bíblia”.<br />
Nessa linha, ganham especial importância as escolas <strong>de</strong> formação que<br />
a <strong>Diocese</strong> tem em funcio<strong>na</strong>mento, como a Escola Razões da Esperança e a<br />
Escola Teológica <strong>de</strong> Leigos, bem como todas as acções <strong>de</strong> formação para<br />
adultos que terão <strong>de</strong> ser a “gran<strong>de</strong> aposta da Igreja”.<br />
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. notícias .<br />
A noite terminou com um beberete <strong>de</strong> confraternização, não sem antes os<br />
presentes terem agra<strong>de</strong>cido as palavras <strong>de</strong> conforto e confiança do seu Bispo<br />
e aplaudido as orientações e linhas <strong>de</strong> acção enunciadas.<br />
Entretanto, o “testemunho” foi passado simbolicamente à vigararia <strong>de</strong><br />
Monte Real, através da entrega do ícone <strong>de</strong> S. Paulo.<br />
Abertura <strong>de</strong> Centro Alimentar em <strong>Leiria</strong><br />
A Associação Mãos Unidas Padre Damião, Instituição Particular <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong><br />
Social presente em Portugal e em di<strong>ver</strong>sos países do mundo, i<strong>na</strong>ugurou<br />
no dia 29 <strong>de</strong> Março um Núcleo Regio<strong>na</strong>l em <strong>Leiria</strong>, com o objectivo<br />
primordial <strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>r como Centro Alimentar contra a Fome e a Pobreza.<br />
“Numa época em que cada vez mais se agravam as situações <strong>de</strong> pobreza e<br />
fome no seio das famílias, o Núcleo Regio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> focaliza-se <strong>na</strong> distribuição<br />
<strong>de</strong> alimentos, dando também o apoio possível noutras áreas, convicto<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r beneficiar a população da região - <strong>Leiria</strong> e concelhos limítrofes –<br />
dando especial atenção aos mais pobres, aos afectados com <strong>de</strong>ficiências mentais<br />
e psíquicas, aos emigrantes e aos sem-abrigo.<br />
Com os objectivos <strong>de</strong> combater o <strong>de</strong>sperdício dos exce<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>spertar<br />
a solidarieda<strong>de</strong> para com os mais <strong>de</strong>sfavorecidos, a associação procura apoio<br />
junto <strong>de</strong> empresas do ramo alimentar, e tenta sensibilizar os pais e professores<br />
do ensino básico.<br />
O Centro Alimentar ficou instalado num espaço cedido pela Junta <strong>de</strong> Freguesia<br />
da Barreira. A i<strong>na</strong>uguração contou com a presença do fundador da Associação<br />
em Portugal e presi<strong>de</strong>nte <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, Mário Nogueira, várias entida<strong>de</strong>s<br />
locais, colaboradores e benfeitores. Na ocasião, foi lançado o livro “P. Damião<br />
<strong>de</strong> Molokai: O Construtor da Esperança”, da autoria <strong>de</strong> Mário Nogueira.<br />
Abril, mês <strong>de</strong> oração vocacio<strong>na</strong>l<br />
Como no ano passado, o Serviço <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l (SAV) propôs<br />
a toda a <strong>Diocese</strong> que viva todos os dias <strong>de</strong> Abril como “Mês <strong>de</strong> oração pelas<br />
vocações”. O projecto é que cada comunida<strong>de</strong>, paroquial ou <strong>de</strong> vida religiosa,<br />
assuma um dia para a rezar pelas vocações e organize, segundo as suas possibilida<strong>de</strong>s<br />
e entendimento. Deste modo, crescerá seguramente a consciência<br />
da urgência e importância das vocações.<br />
O SAV <strong>de</strong>ixou algumas sugestões. “Que seja um tempo <strong>de</strong> pelo menos<br />
uma hora, <strong>de</strong>dicado, totalmente ou em parte, à adoração ao Santíssimo Sacra-<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
mento; procure-se divulgar a iniciativa localmente, para que outras pessoas<br />
que conhecem a comunida<strong>de</strong> possam também participar; no caso em que haja<br />
comunida<strong>de</strong>s próximas, religiosas ou paroquiais, que coincidam no mesmo<br />
dia, consi<strong>de</strong>rem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar este momento <strong>de</strong> oração em<br />
conjunto. Seria particularmente interessante que se organizassem encontros<br />
entre alguma comunida<strong>de</strong> religiosa e uma comunida<strong>de</strong> paroquial”.<br />
Esta iniciativa procura respon<strong>de</strong>r ao apelo do Senhor Bispo a toda a <strong>Diocese</strong><br />
e a todas as comunida<strong>de</strong>s e movimentos, <strong>na</strong> sua Carta Pastoral, Descobrir<br />
a Beleza e a Alegria da Vocação cristã, “para darem vida a uma “Gran<strong>de</strong><br />
Oração pelas Vocações”: uma oração vivida com intensa confiança e perse<strong>ver</strong>ança,<br />
capaz <strong>de</strong> envol<strong>ver</strong> pessoalmente todos os membros do povo <strong>de</strong> Deus e<br />
a realizar com oportu<strong>na</strong>s modalida<strong>de</strong>s comunitárias, <strong>de</strong> modo programado e<br />
calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual”.<br />
Mais <strong>de</strong> 60 comunida<strong>de</strong>s religiosas e paroquiais já se comprometeram<br />
nesta oração durante o mês <strong>de</strong> Abril.<br />
A “Barraca” ajuda o Lar <strong>de</strong> Santa Isabel<br />
Valência do Centro Social Paroquial Paulo VI, a “Barraca”, <strong>na</strong>sceu com o<br />
objectivo <strong>de</strong> promo<strong>ver</strong> o convívio entre as pessoas e congregar vonta<strong>de</strong>s para<br />
a angariação <strong>de</strong> fundos a favor do Lar <strong>de</strong> Santa Isabel. Para tal contribuem<br />
as iniciativas <strong>de</strong> um generoso grupo <strong>de</strong> voluntários, nomeadamente durante<br />
o período da Feira <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, com o funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> restaurante,<br />
bar e quermesse.<br />
Mas muitas outras acções têm sido organizadas, como o jantar <strong>de</strong> beneficência,<br />
no dia 24 <strong>de</strong> Abril, no restaurante “Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Santo Antão”, <strong>na</strong><br />
Batalha. Além <strong>de</strong> colaboração numa boa causa, expressão <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e<br />
ajuda, foi também ocasião <strong>de</strong> confraternização e convívio.<br />
Congresso Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Antigos Alunos dos Seminários<br />
Nos dias 24 a 26 <strong>de</strong> Abril, realizou-se em <strong>Fátima</strong> o 1.º Congresso Nacio<strong>na</strong>l<br />
<strong>de</strong> Antigos Alunos dos Seminários, com o tema “Seminários: Da memória<br />
à profecia”. Congregar antigos alunos dos Seminários diocesanos e religiosos<br />
<strong>de</strong> Portugal tem sido a aspiração <strong>de</strong> algumas das suas associações. No<br />
dizer da Organização, “faltava um espaço mais alargado on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma forma<br />
sistemática, se revisitasse a experiência vivida e se discernissem elementos<br />
que permanecem e são promessa <strong>de</strong> futuro”. A oportunida<strong>de</strong> surgiu com a<br />
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. notícias .<br />
celebração do centenário <strong>na</strong>talício do Beato Francisco Marto, “porque nele se<br />
po<strong>de</strong> <strong>ver</strong> a acção extraordinária da graça divi<strong>na</strong> e intuir a profundida<strong>de</strong> a que<br />
chegou a sua experiência do mistério <strong>de</strong> Deus (...) Com as <strong>de</strong>vidas distâncias,<br />
explicou o padre Manuel Armindo Janeiro, secretário do Congresso, também<br />
aqueles que um dia passaram pelo Seminário foram atraídos pelo seu mistério<br />
<strong>de</strong> Amor, que os marcou para toda a vida: alguns seguiram o caminho do<br />
sacerdócio, e a maioria assumiu outras responsabilida<strong>de</strong>s sociais e eclesiais”.<br />
O itinerário temático foi lançado, com uma conferência, em cada um dos<br />
três dias, sobre o percurso da instituição Seminário; a sua razão <strong>de</strong> ser, o mistério<br />
da vocação sacerdotal; e o projecto da Nova Evangelização.<br />
Além das conferências, houve cinco painéis para colher o olhar institucio<strong>na</strong>l<br />
da Igreja sobre os Seminários (primeiro), recolher o sentir <strong>de</strong> antigos<br />
alunos manifestado num inquérito do Centro <strong>de</strong> Estudos e Sondagens <strong>de</strong> Opinião<br />
da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica (segundo), reflectir sobre diferentes percursos<br />
<strong>de</strong> discernimento vocacio<strong>na</strong>l (terceiro), consi<strong>de</strong>rar a importância do Seminário<br />
<strong>na</strong> construção <strong>de</strong> estilos <strong>de</strong> vida (quarto); e avaliar o impacto do Seminário<br />
<strong>na</strong> vida profissio<strong>na</strong>l e <strong>na</strong> participação social (quinto).<br />
Sondagem aos ex-semi<strong>na</strong>ristas<br />
A iniciativa foi patroci<strong>na</strong>da pelo Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, no âmbito do Centenário<br />
do <strong>na</strong>scimento do Pastorinho Francisco Marto, e realizada pelo Centro<br />
<strong>de</strong> Estudos e Sondagens <strong>de</strong> Opinião (CESOP) da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica<br />
Portuguesa, em sondagem, por telefone, a cerca <strong>de</strong> 1200 antigos alunos <strong>de</strong><br />
todos os Seminários e <strong>de</strong> várias gerações, entre Fe<strong>ver</strong>eiro e Março <strong>de</strong>ste ano.<br />
Nas palavras do investigador do CESOP, João António, procurou-se<br />
“compreen<strong>de</strong>r o que levou os antigos alunos a entrar no Seminário, que memórias<br />
guardam e que percursos <strong>de</strong> vida seguiram, e conhecer as suas opiniões<br />
sobre a relevância dos Seminários para a socieda<strong>de</strong> em geral”. Não sendo<br />
um estudo em profundida<strong>de</strong>, é “um primeiro retrato” duma população que,<br />
ao que parece, nunca terá sido alvo <strong>de</strong> um estudo semelhante, esclareceu o<br />
investigador, e que permite “saber, <strong>de</strong> uma maneira sucinta, por on<strong>de</strong> andam,<br />
o que fazem, como estão ou o que pensam os antigos alunos”. “Esta sondagem,<br />
acrescentou, tem ainda o interesse <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r suscitar novas perguntas a<br />
que outros po<strong>de</strong>rão procurar respon<strong>de</strong>r utilizando esta ou outra metodologia”.<br />
O resultado <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> investigação foi apresentado em <strong>Fátima</strong>,<br />
no dia 24 <strong>de</strong> Abril, durante o Congresso <strong>de</strong> Antigos Alunos, como contributo<br />
para a “reflexão sobre a importância dos Seminários <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong> portuguesa<br />
do século XX e <strong>de</strong>ste início <strong>de</strong> século XXI”.<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
Convívio Fraterno em <strong>Fátima</strong><br />
A equipa dos Convívios Fraternos da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> organizou,<br />
<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Abril a 3 <strong>de</strong> Maio, um encontro no Centro <strong>de</strong> Espiritualida<strong>de</strong><br />
Francisco e Jacinta Marto, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do a maiores <strong>de</strong> 18 anos que <strong>de</strong>sejavam<br />
“aprofundar um pouco mais a sua experiência <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong> passar momentos<br />
di<strong>ver</strong>tidos, durante um fim-<strong>de</strong>-sema<strong>na</strong> inteiro”. O convívio terminou com a<br />
Eucaristia, presidida pelo Bispo diocesano, no Seminário <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, com a<br />
participação <strong>de</strong> amigos e familiares.<br />
Peregri<strong>na</strong>ção a Tuy e Pontevedra<br />
O Secretariado do Movimento da Mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> organizou, <strong>de</strong> 1<br />
a 3 <strong>de</strong> Maio, mais uma peregri<strong>na</strong>ção anual a Tuy e Pontevedra, on<strong>de</strong> viveu<br />
a Irmã Lúcia entre 1925 a 1946. Participaram também alguns diocesanos <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />
A primeira paragem foi em Balasar, <strong>na</strong> igreja on<strong>de</strong> se encontra sepultada a<br />
Beata Alexandri<strong>na</strong>. Depois da Missa e do almoço, houve a visita à casa on<strong>de</strong><br />
viveu e morreu Alexandri<strong>na</strong> <strong>de</strong> Balasar, beatificada pelo Papa João Paulo II,<br />
em 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2004.<br />
Após a passagem por Santa Luzia, em Via<strong>na</strong> do Castelo, o grupo seguiu<br />
para Tuy, on<strong>de</strong> se fez uma Adoração Eucarística, <strong>de</strong>pois da explicação da<br />
visão mística da Santíssima Trinda<strong>de</strong> e do pedido <strong>de</strong> Nossa Senhora à Irmã<br />
Lúcia para a consagração do mundo e em particular da Rússia ao seu Imaculado<br />
Coração.<br />
No segundo dia, 1.º sábado do mês <strong>de</strong> Maio, o grupo esteve em Pontevedra,<br />
on<strong>de</strong> o assistente diocesano celebrou Missa <strong>na</strong> peque<strong>na</strong> capela, antigo<br />
quarto da Irmã Lúcia, on<strong>de</strong> Nossa Senhora pediu, a 10 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1925,<br />
a <strong>de</strong>voção dos cinco primeiros sábados. Fez-se também uma visita ao pátio<br />
da casa on<strong>de</strong>, em 15 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> 1926, houve um diálogo entre a Irmã<br />
Lúcia e uma criança que, passados alguns dias, ela viria a <strong>de</strong>scobrir ser o<br />
Menino <strong>Jesus</strong> que lhe recordava a <strong>de</strong>voção dos primeiros sábados. Pela tar<strong>de</strong><br />
chegavam a Santiago <strong>de</strong> Compostela.<br />
No domingo, após a Missa no Mosteiro do Poio, regressaram a Portugal,<br />
com uma breve visita aos santuários do Sameiro e do Bom <strong>Jesus</strong> <strong>de</strong> Braga. Na<br />
igreja dos Franciscanos, em Montariol, ti<strong>ver</strong>am uma cerimónia <strong>de</strong>dicada ao<br />
Dia da Mãe, com uma breve reflexão, oração e a entrega <strong>de</strong> uma rosa a todas<br />
as senhoras da comitiva.<br />
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. notícias .<br />
Celebrar o dom da vocação cristã<br />
A Igreja diocesa<strong>na</strong> celebrou no dia 2 <strong>de</strong> Maio, em <strong>Fátima</strong>, o dom das<br />
diferentes vocações que concretizam a graça baptismal, num “Jubileu das<br />
Vocações” que se vem celebrando anualmente.<br />
“O vosso testemunho vocacio<strong>na</strong>l precisa <strong>de</strong> ser conhecido, pois ele é<br />
contagiante e faz <strong>de</strong>spertar novas vocações”, disse D. António Marto aos 53<br />
casais, 3 sacerdotes e 5 religiosas festejados pelos 25, 50 ou 60 anos <strong>de</strong> vocação,<br />
que exortou, conjuntamente com todos os peregrinos que enchiam a<br />
basílica, ao empenho em suscitar novas vocações, mediante o testemunho <strong>na</strong>s<br />
comunida<strong>de</strong>s cristãs. “Cuidar das vocações, <strong>de</strong> todas elas, afirmou, significa<br />
cuidar da beleza espiritual da humanida<strong>de</strong>; todas as vocações são santas, boas<br />
e belas, pois brotam da mesma fonte do amor <strong>de</strong> Deus”.<br />
Antes da Missa <strong>de</strong> acção <strong>de</strong> graças e renovação dos compromissos, houve<br />
em encontro <strong>de</strong> apresentação e testemunho. Representantes <strong>de</strong> diferentes<br />
vocações, falando das suas experiências, manifestaram todos a sua gratidão<br />
a Deus pelos dons recebidos. O casal <strong>de</strong>stacou a importância da preparação<br />
que fizeram para o Matrimónio e os valores humanos e cristãos que suportam<br />
e informam a sua vida conjugal e familiar. O acompanhamento dos filhos, a<br />
oração, o diálogo conjugal e a participação <strong>na</strong> vida da Igreja e em responsabilida<strong>de</strong>s<br />
associativas têm marcado o seu percurso, pelo qual se sentem<br />
muito gratos a Deus. O testemunho dos sacerdotes e da religiosa <strong>de</strong>stacou a<br />
influência <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte do ambiente familiar no surgir das respectivas vocações,<br />
bem como a importância da intimida<strong>de</strong> com Deus e da <strong>de</strong>voção à<br />
Virgem Maria para manter o entusiasmo <strong>de</strong> uma entrega total. Um sacerdote<br />
salientou ainda a celebração do Sacramento do Perdão, com experiência essencial.<br />
Como penitente e como ministro, viu a transformação operada pela<br />
misericórdia divi<strong>na</strong>.<br />
Esta celebração comum, que exaltou a beleza e a di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> dos dons <strong>de</strong><br />
Deus à Igreja, foi possível com o concurso <strong>de</strong> vários esforços, coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dos<br />
pelo Departamento Diocesano <strong>de</strong> Pastoral Familiar, Serviço <strong>de</strong> Animação<br />
Vocacio<strong>na</strong>l, Fraternida<strong>de</strong> Sacerdotal e Confe<strong>de</strong>ração dos Institutos Religiosos<br />
da <strong>Diocese</strong>.<br />
Assembleia do Clero: Programar para melhor trabalhar<br />
Convocada pelo Bispo da <strong>Diocese</strong>, a Assembleia Diocesa<strong>na</strong> do Clero, <strong>de</strong><br />
5 <strong>de</strong> Maio, proporcionou um momento <strong>de</strong> oração comum, introduzida por<br />
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Vida Eclesial
. notícias .<br />
D. António Marto, e a apresentação <strong>de</strong> vários assuntos relativos à <strong>Diocese</strong>,<br />
nomeadamente as conclusões sobre a reestruturação da <strong>Diocese</strong>, após alguns<br />
meses <strong>de</strong> laboriosa reflexão. Destacaram-se quatro pontos: o empenho e <strong>de</strong>dicação<br />
do clero; valorização da vocação e acção laical; programação das celebrações<br />
dominicais <strong>de</strong> acordo com as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> presença dos presbíteros;<br />
e a presença da Igreja em zo<strong>na</strong>s urba<strong>na</strong>s, com a hipótese <strong>de</strong> criação<br />
<strong>de</strong> novas unida<strong>de</strong>s pastorais.<br />
Depois da apresentação, seguiu-se um tempo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> grupos sobre<br />
alguns aspectos da programação do próximo ano pastoral, <strong>de</strong>dicado à comunhão<br />
frater<strong>na</strong> <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s paroquiais e <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong> diocesa<strong>na</strong>.<br />
No fi<strong>na</strong>l dos trabalhos, a apresentação do relatório das contas da <strong>Diocese</strong>,<br />
relativo a 2008, permitiu <strong>ver</strong>ificar que, não obstante algum equilíbrio<br />
conseguido, a situação continua <strong>de</strong>ficitária e a requerer o maior empenho e<br />
colaboração <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s.<br />
A Assembleia teve a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coincidir com o 62º ani<strong>ver</strong>sário do<br />
Senhor Bispo, motivo acrescido <strong>de</strong> jubilosa celebração e <strong>de</strong> acção <strong>de</strong> graças<br />
pelo Pastor dado por Deus a esta Igreja diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />
Dia diocesano da Família<br />
No culmi<strong>na</strong>r da Sema<strong>na</strong> da Vida, o Dia Diocesano da Família teve lugar<br />
a 16 <strong>de</strong> Maio, bem no centro do tema da formação escolhido para este ano,<br />
com o propósito <strong>de</strong> “proporcio<strong>na</strong>r uma reflexão sobre o apelo feito pelo nosso<br />
Bispo <strong>na</strong> sua última Carta Pastoral: “Família, reacen<strong>de</strong> o dom da fé que está<br />
em ti. Comunica a tua fé!”.<br />
Para isso, o Departamento diocesano <strong>de</strong> Pastoral Familiar programou a<br />
tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse sábado, <strong>de</strong> modo a proporcio<strong>na</strong>r reflexão, partilha e oração em<br />
torno <strong>de</strong>sse mesmo apelo. O tema foi exposto por Dom João Alves, Bispo<br />
emérito <strong>de</strong> Coimbra.<br />
Jor<strong>na</strong>das MCC: Intervenção do Cristão <strong>na</strong> vida política<br />
No âmbito das comemorações do 50.º ani<strong>ver</strong>sário do Movimento dos<br />
Cursilhos <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong> (MCC), realizaram-se no dia 17 <strong>de</strong> Maio, <strong>na</strong> Casa<br />
da Sagrada Família, <strong>na</strong> Praia <strong>de</strong> Mira, as Jor<strong>na</strong>das Cursilhistas do Núcleo<br />
Centro, subordi<strong>na</strong>das ao tema “Intervenção do Cristão <strong>na</strong> Vida Política”,<br />
apresentado pelo director espiritual do Secretariado Diocesano do MCC <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />
padre Francisco Pereira.<br />
100 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
Sempre importante, por ser a participação política um <strong>de</strong><strong>ver</strong> cívico essencial<br />
<strong>de</strong> todos, o tema revestiu-se <strong>de</strong> particular actualida<strong>de</strong> com a preparação<br />
em curso <strong>de</strong> três actos eleitorais num só ano. Aos cristãos cabe a obrigação<br />
<strong>de</strong> uma intervenção esclarecida, ao serviço ao bem comum, <strong>de</strong> acordo com<br />
os valores fundamentais do Evangelho, e no testemunho <strong>de</strong> uma cooperação<br />
responsável e plural.<br />
Houve ainda espaço para a partilha <strong>de</strong> testemunhos <strong>de</strong> cursilhistas mais<br />
ligados à activida<strong>de</strong> política.<br />
Participaram mais <strong>de</strong> uma cente<strong>na</strong> <strong>de</strong> pessoas, das dioceses <strong>de</strong> Coimbra,<br />
Guarda, Santarém, Portalegre-Castelo Branco e <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />
Relíquias <strong>de</strong> Santa Margarida Maria Alacoque<br />
A diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> recebeu as relíquias <strong>de</strong> Santa Margarida Maria<br />
Alacoque, entre os dias 20 a 22 <strong>de</strong> Maio, no âmbito das comemorações dos<br />
50 anos da i<strong>na</strong>uguração do Monumento a Cristo Rei, em Almada.<br />
Como referiu D. António Marto <strong>na</strong> sua nota pastoral a este propósito,<br />
Santa Margarida “teve revelações místicas, particularmente sobre a <strong>de</strong>voção<br />
ao Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, e contribuiu muito para introduzir o seu culto <strong>na</strong> Igreja”.<br />
Por isso, a veneração das suas relíquias “será motivo para louvar e dar graças<br />
a Deus pelas maravilhas que nela realizou, e para fazer aumentar nos fiéis <strong>de</strong><br />
hoje o conhecimento e a experiência da abundância da misericórdia que brota<br />
do Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>”.<br />
A visita à nossa diocese foi organizada pelo Apostolado da Oração e incluiu<br />
a passagem pelo Mosteiro das Irmãs da Visitação, <strong>na</strong> Batalha, pelo Santuário<br />
<strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> e pela paróquia <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>. As relíquias seguiram <strong>de</strong>pois para<br />
a diocese <strong>de</strong> Portalegre-Castelo Branco.<br />
Acanto<strong>na</strong>mento Jovem Missionário<br />
O Grupo Missionário Ondjoyetu organizou um acanto<strong>na</strong>mento missionário,<br />
<strong>de</strong> 22 a 24 <strong>de</strong> Maio, em Chão das Pias, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do aos jovens da diocese<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />
Eram «bagagem» necessária e imprescindível para este fim-<strong>de</strong>-sema<strong>na</strong><br />
“espírito jovem, boa disposição e alegria”. Com cerca <strong>de</strong> 40 participantes, o<br />
encontro privilegiou jovens com mais <strong>de</strong> 17 anos, sobretudo dos grupos da<br />
diocese.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 101<br />
Vida Eclesial
. notícias .<br />
Igreja Diocesa<strong>na</strong> em Vigília <strong>de</strong> Pentecostes<br />
“Ir ao coração da fé, movidos pelo Espírito” foi o tema da celebração da<br />
vigília <strong>de</strong> Pentecostes, presidida por D. António Marto, <strong>na</strong> Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, a 30<br />
<strong>de</strong> Maio. Preparada por vários movimentos e associações, com gestos, símbolos,<br />
cânticos e escuta da Palavra <strong>de</strong> Deus, foi invocação do Espírito Santo<br />
e dos seus dons para a missão da Igreja <strong>de</strong> anunciar no mundo o Evangelho<br />
<strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Cristo.<br />
Enquadrados no projecto do ano pastoral e em clima <strong>de</strong> comunhão eclesial,<br />
os fiéis das comunida<strong>de</strong>s paroquiais, dos diferentes movimentos, associações<br />
e obras apostólicas, uniram-se no louvor <strong>de</strong> Deus que, em Cristo e<br />
pelo Seu Espírito, acen<strong>de</strong> nos corações a chama irradiante da fé e do amor.<br />
A assembleia que enchia a Sé, escutou a exortação do seu Bispo a uma<br />
participação activa <strong>na</strong> comunicação do Evangelho <strong>de</strong> Cristo <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong>.<br />
“É que – explicou – vocês estão e chegam aon<strong>de</strong> não é possível ao bispo e<br />
aos sacerdotes”. D. António Marto apelou ainda para que todos reavivam a<br />
chama da fé <strong>na</strong> leitura orante da Palavra <strong>de</strong> Deus e cui<strong>de</strong>m da sua formação<br />
cristã, para estarem em condições <strong>de</strong>, sob o impulso do Espírito, darem as<br />
razões da própria esperança no nosso mundo difícil e em crise <strong>de</strong> confiança.<br />
Marcaram presença cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>ze<strong>na</strong> e meia <strong>de</strong> movimentos, associações,<br />
grupos e novas comunida<strong>de</strong>s, que, com cânticos, gestos e preces, invocaram<br />
o Espírito Santo, para que venha “transformar o mundo, recriar a vida do homem<br />
e congregar o seu povo <strong>na</strong> justiça”. Teve especial relevo o testemunho<br />
pessoal <strong>de</strong> quem encontrou <strong>Jesus</strong> Cristo e, a partir <strong>de</strong> então, com a sua família,<br />
passou a <strong>de</strong>dicar-se totalmente ao serviço do Evangelho, integrado numa<br />
das actuais novas comunida<strong>de</strong>s.<br />
Esta celebração, que se realiza já há vários anos, procurou dar expressão<br />
ao Projecto Pastoral Diocesano <strong>de</strong> “acolher e discernir os carismas, dons <strong>de</strong><br />
Deus para bem da Igreja e do Mundo”. Segundo o Concílio Vaticano II, estes<br />
dons do Espírito, “quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples<br />
e comuns, <strong>de</strong>vem ser recebidos com acção <strong>de</strong> graças e consolação, por<br />
serem muito acomodados e úteis às necessida<strong>de</strong>s da Igreja” (LG 12).<br />
O Anuário da <strong>Diocese</strong> regista quase quarenta associações, movimentos,<br />
obras eclesiais e novas comunida<strong>de</strong>s, com diferentes dimensões, fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s<br />
e di<strong>na</strong>mismos, manifestação da variada riqueza concedida pelo Espírito em<br />
or<strong>de</strong>m ao bem comum e ao enriquecimento da Igreja e da sua acção. Todos<br />
<strong>de</strong>vem contribuir para formar e ajudar os fiéis a amadurecer <strong>na</strong> fé para a missão<br />
<strong>de</strong> anunciar o Evangelho e promo<strong>ver</strong> a prática da carida<strong>de</strong>.<br />
102 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
Campanha <strong>de</strong> Recolha <strong>de</strong> Alimentos<br />
Nos dias 30 e 31 <strong>de</strong> Maio, o Banco Alimentar Contra a Fome <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
integrou a campanha <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l coor<strong>de</strong><strong>na</strong>da pela Fe<strong>de</strong>ração Portuguesa<br />
dos Bancos Alimentares e realizada em 43 supermercados dos concelhos <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>, Batalha, Porto <strong>de</strong> Mós, Marinha Gran<strong>de</strong>, Ourém, Pombal e Figueiró<br />
dos Vinhos. Os alimentos recolhidos foram integrados num plano semestral,<br />
com distribuição mensal, que actualmente atinge as 414 toneladas, através<br />
<strong>de</strong> 53 IPSS. Estas acolhem, cuidam ou assistem pessoas comprovadamente<br />
carenciadas, <strong>na</strong>s mais di<strong>ver</strong>sas valências da solidarieda<strong>de</strong> social, <strong>na</strong> região <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>. Esti<strong>ver</strong>am envolvidos cerca <strong>de</strong> mil voluntários, <strong>na</strong>s lojas, armazém e<br />
transportes, coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dos por chefes <strong>de</strong> equipa do Banco Alimentar.<br />
Caminho Neocatecume<strong>na</strong>l<br />
“Se um membro do corpo receber uma honra, todos os outros membros<br />
partilham <strong>de</strong>ssa alegria” (1 Cor 12,26). Ilumi<strong>na</strong>dos por esta palavra <strong>de</strong> S.<br />
Paulo, os Responsáveis do Caminho Neocatecume<strong>na</strong>l <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> convidaram<br />
a Igreja diocesa<strong>na</strong> a participar <strong>na</strong> acção <strong>de</strong> graças presidida por D.<br />
António Marto, no dia 25 <strong>de</strong> Junho, <strong>na</strong> Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, <strong>na</strong> sequência da aprovação<br />
<strong>de</strong>finitiva dos estatutos do Caminho Neocatecume<strong>na</strong>l pela Santa Sé, em<br />
Junho <strong>de</strong> 2008. Esta aprovação, no dizer do Presi<strong>de</strong>nte do Conselho Pontifício<br />
para os Leigos, “significa a confirmação, por parte da Igreja, da autenticida<strong>de</strong>,<br />
do carácter genuíno do carisma que se encontra em sua origem, <strong>na</strong> vida<br />
e <strong>na</strong> missão da Igreja”.<br />
“O Caminho já tem uma longa história <strong>na</strong> Igreja, mais <strong>de</strong> 40 anos, e traz<br />
à vida da Igreja muitos frutos, muitas vidas mudadas profundamente, muitas<br />
famílias reconstruídas, muitas vocações religiosas e sacerdotais, e muito<br />
compromisso a favor da nova evangelização. Portanto, é um momento <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> alegria para a Igreja, é um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alegria para a realida<strong>de</strong><br />
eclesial que recebe este reconhecimento”, acrescentou o mesmo Car<strong>de</strong>al<br />
Stanislaw Rylko.<br />
Nascido em 1964, num dos bairros mais pobres <strong>de</strong> Madrid, o Caminho<br />
Neocatecume<strong>na</strong>l está em 107 países, com 20 mil comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saíram<br />
mais <strong>de</strong> 600 famílias que foram evangelizar as áreas mais <strong>de</strong>scristianizadas<br />
do planeta, vivendo entre os pobres, e 70 seminários diocesanos missionários<br />
“Re<strong>de</strong>mptoris Mater”, que <strong>de</strong>ram à Igreja 1.260 presbíteros.<br />
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> conta-se entre as1.200 dioceses, com um total <strong>de</strong> 5.700 pa-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 103<br />
Vida Eclesial
. notícias .<br />
róquias, on<strong>de</strong> o Caminho se encontra presente. Na <strong>Diocese</strong>, têm comunida<strong>de</strong>s<br />
as paróquias <strong>de</strong> Marrazes (três), São Mame<strong>de</strong> (duas), Santa Catari<strong>na</strong> da Serra<br />
(uma) e Bajouca (uma).<br />
A aprovação dos Estatutos aconteceu cinco anos após uma primeira <strong>ver</strong>são<br />
“ad experimentum”.<br />
World Café sobre “Endividamento Jovem”<br />
No dia 27 <strong>de</strong> Junho, a Juventu<strong>de</strong> Operária Católica (JOC) da diocese <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> promoveu um World Café sobre “Endividamento Jovem”, <strong>na</strong><br />
praça <strong>de</strong> S. Pedro <strong>de</strong> Moel. Segundo a organização, não é fácil abordar o endividamento<br />
das famílias e, mais concretamente, dos jovens. Está em causa<br />
o acesso a um tipo <strong>de</strong> informação que as partes envolvidas procuram omitir.<br />
O World Café é um espaço on<strong>de</strong> os presentes são encorajados a contribuir<br />
com i<strong>de</strong>ias e perspectivas. De mesa em mesa, conhecendo novas pessoas,<br />
levam i<strong>de</strong>ias e enriquecem a con<strong>ver</strong>sa com temas e i<strong>de</strong>ias.<br />
Sendo empenho da JOC o <strong>de</strong>spertar para esta nova realida<strong>de</strong>, o principal<br />
objectivo da dinâmica foi “cativar, sensibilizar, informar, mobilizar e organizar<br />
os jovens e a população em geral para serem voz activa nesta socieda<strong>de</strong>”.<br />
Encerramento do Ano Paulino<br />
Cumprindo o que escre<strong>ver</strong>a <strong>na</strong> sua Carta Pastoral “Ir ao coração da fé”, D.<br />
António Marto, Bispo da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, presidiu à Eucaristia <strong>de</strong><br />
encerramento solene do Ano Paulino, <strong>na</strong> Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, no dia 28 <strong>de</strong> Junho. A<br />
assembleia era constituída sobretudo por sacerdotes, religiosos e religiosas,<br />
responsáveis e colaboradores dos serviços e instituições diocesa<strong>na</strong>s, e membros<br />
dos movimentos e associações católicas.<br />
Como foi salientado em reuniões dos vigários, do Conselho Pastoral Diocesano<br />
e do Conselho Presbiteral, o balanço do ano Paulino, <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong>, é<br />
muito positivo. Entre os acontecimentos mais marcantes <strong>de</strong>stacaram-se, o<br />
retiro popular, <strong>na</strong> Quaresma, os encontros vicariais <strong>de</strong> formação e oração,<br />
o curso <strong>de</strong> formação permanente do clero e as múltiplas iniciativas a nível<br />
diocesano, vicarial e paroquial, que tomaram S. Paulo como mo<strong>de</strong>lo para alcançar<br />
“o sublime conhecimento <strong>de</strong> Cristo”. O retiro popular congregou mais<br />
<strong>de</strong> 250 grupos <strong>de</strong> base e envolveu cerca <strong>de</strong> 5 mil pessoas, e os nove encontros<br />
vicariais, presididos pelo Senhor Bispo, ti<strong>ver</strong>am, no conjunto, mais <strong>de</strong> 3 mil<br />
pessoas, das mais empenhadas e activas.<br />
104 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. notícias .<br />
Agricultores pe<strong>de</strong>m ajuda<br />
A Fe<strong>de</strong>ração dos Agricultores do Distrito <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>de</strong>u conhecimento ao<br />
Bispo da <strong>Diocese</strong>, D. António Marto, <strong>de</strong> alguns dos principais problemas<br />
do sector, nomeadamente, baixos preços dos produtos produzidos pelo agricultor,<br />
dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escoamento dos produtos; aumentos dos custos dos<br />
factores <strong>de</strong> produção; suspensão do pagamento da electricida<strong>de</strong> <strong>ver</strong><strong>de</strong> para<br />
fins agrícolas; ajudas à agricultura selectiva, em prejuízo da agricultura familiar;<br />
introdução do pagamento único (com atribuição <strong>de</strong> subsídios com base<br />
no histórico dos terrenos). Segundo a Fe<strong>de</strong>ração, “as consequências <strong>de</strong>stas<br />
medidas estão já a fazer-se notar com o aumento da <strong>de</strong>sertificação do mundo<br />
rural, aumento das importações, aumento da pobreza no mundo rural e a <strong>de</strong>scaracterização<br />
do espaço geográfico do País”.<br />
D. António Marto registou a voz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento que está a aumentar<br />
nos diferentes sectores da vida do País e <strong>de</strong>ixou uma nota <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
para com as pessoas em dificulda<strong>de</strong>.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 105<br />
Vida Eclesial
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
Tema para 2009: Os puros <strong>de</strong> coração <strong>ver</strong>ão a Deus<br />
Em continuida<strong>de</strong> com o que vem acontecendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano 2001, em que<br />
se <strong>de</strong>cidiu iniciar uma longa reflexão <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos acerca dos Mandamentos<br />
da Lei <strong>de</strong> Deus, o Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> escolheu propor à reflexão dos seus<br />
peregrinos e visitantes durante o ano <strong>de</strong> 2009 o Nono Mandamento.<br />
Este será o tema central das suas activida<strong>de</strong>s pastorais, litúrgicas e formativas,<br />
segundo a formulação do catecismo: “Guardar castida<strong>de</strong> nos pensamentos<br />
e nos <strong>de</strong>sejos”, sintetizada no lema “Os puros <strong>de</strong> coração <strong>ver</strong>ão a<br />
Deus”.<br />
“Terá sentido, ainda hoje, falar <strong>de</strong> pureza <strong>de</strong> coração? A experiência <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> relações entre as pessoas está continuamente a <strong>de</strong>monstrar, pela<br />
negativa, as consequências da sua ausência. Os fenómenos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação<br />
familiar, consequência <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s e traições, são o melhor espelho. Se,<br />
para tirarmos esta conclusão, não bastasse a vida real que conhecemos directa<br />
ou indirectamente, teríamos a avalanche <strong>de</strong> romances, filmes e novelas que,<br />
por outra via, nos fazem entrar essa realida<strong>de</strong> pelos olhos <strong>de</strong>ntro”, escreveu<br />
o reitor do Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, padre Virgílio Antunes, <strong>na</strong> apresentação do<br />
tema do ano.<br />
O padre Virgílio Antunes salientou que se trata <strong>de</strong> “uma temática cheia <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong>s para a catequese e para a Evangelização em todas as peregri<strong>na</strong>ções,<br />
on<strong>de</strong> os cristãos são chamados a testemunhar a beleza <strong>de</strong> um coração<br />
puro”.<br />
Ir. Ângela Coelho <strong>na</strong> Canonização dos Pastorinhos<br />
A irmã Ângela <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> Coelho, da Aliança <strong>de</strong> Santa Maria, foi nomeada<br />
adjunta, com direito a sucessão, do vice-postulador da Causa <strong>de</strong> Canonização<br />
<strong>de</strong> Francisco e Jacinta Marto. Segundo o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> nomeação, a Irmã<br />
Ângela partilhará estas funções com o padre Luís Kondor, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960 é<br />
responsável pela causa <strong>de</strong> beatificação e canonização <strong>de</strong> Francisco e Jacinta<br />
Marto. A nomeação é feita pelo postulador, no Vaticano, e homologada pelo<br />
Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />
106 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
A vice-postulação tem como missão promo<strong>ver</strong> o processo <strong>de</strong> canonização,<br />
recolhendo testemunhos e divulgando a <strong>de</strong>voção aos Beatos Francisco<br />
e Jacinta Marto. Representa o postulador, com se<strong>de</strong> em Roma, e mantém<br />
contacto com comunida<strong>de</strong>s e pessoas que, em todo o mundo, se interessam<br />
pelos vi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>.<br />
O vice-postulador, também <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>do “postulador extra urbem” tem a<br />
missão <strong>de</strong> estudar a vida dos candidatos à canonização, a sua fama <strong>de</strong> santida<strong>de</strong><br />
e a sua intercessão por meio das graças alcançadas. Compete-lhe ainda<br />
administrar todo o processo, salientar a importância dos Pastorinhos para a<br />
pieda<strong>de</strong> dos cristãos e promo<strong>ver</strong> o conhecimento da sua perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> e espiritualida<strong>de</strong>.<br />
Nas causas <strong>de</strong> canonização ou beatificação, é o mais importante colaborador<br />
do Bispo e da Santa Sé e é também responsável pela recolha e administração<br />
dos meios fi<strong>na</strong>nceiros necessários ao andamento das causas.<br />
Irmã Ângela Coelho<br />
Ângela Coelho tem já uma longa experiência <strong>de</strong> estudo e divulgação da<br />
Mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>. Des<strong>de</strong> há vários anos que é convidada frequente para<br />
conferências em di<strong>ver</strong>sos países, especialmente nos Estados Unidos da América.<br />
Em Portugal tem feito conferências e prédicas em muitas paróquias.<br />
As funções que agora assume incluem também a responsabilida<strong>de</strong> directa<br />
pelo “Secretariado dos Pastorinhos”, no qual <strong>de</strong>ve orientar uma equipa <strong>de</strong><br />
colaboradores cuja missão é promo<strong>ver</strong> em todo o mundo o conhecimento e a<br />
<strong>de</strong>voção às crianças vi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>.<br />
Religiosa e médica, <strong>na</strong>sceu em 1971 em Fren<strong>de</strong> (Baião) e viveu no Porto,<br />
on<strong>de</strong> frequentou o ensino secundário. Licenciou-se em Medici<strong>na</strong>, <strong>na</strong> Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Medici<strong>na</strong> do Porto e leccionou nesta mesma faculda<strong>de</strong>, exercendo<br />
actualmente no Hospital <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Fez Licenciatura em Ciências Religiosas<br />
pela Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Pontifícia <strong>de</strong> Comillas, em Madrid.<br />
Entrou para a Congregação da Aliança <strong>de</strong> Santa Maria em 1995. É Mestra<br />
<strong>de</strong> noviças da sua congregação e Superiora da Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>. Faz<br />
parte da comissão <strong>de</strong> formação inicial da Conferência dos Institutos Religiosos<br />
<strong>de</strong> Portugal e integra a equipa responsável do Inter-Noviciados <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>.<br />
É docente no Curso <strong>de</strong> Ciências Religiosas no ISCRA (Aveiro) e no Curso<br />
Geral <strong>de</strong> Teologia, do Centro <strong>de</strong> Formação e Cultura da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<br />
<strong>Fátima</strong>. Além disso, dá cursos <strong>de</strong> formação religiosa, orienta retiros espirituais,<br />
é convidada frequente em palestras e <strong>de</strong>senvolve di<strong>ver</strong>sas acções <strong>de</strong><br />
formação.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 107<br />
Vida Eclesial
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
Capelinha das Aparições “online”<br />
No início <strong>de</strong>ste ano, o Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> iniciou a transmissão em directo<br />
da Capelinha das Aparições, disponível 24h00 por dia em www.fatima.<br />
pt. Este serviço surgiu em resposta aos muitos pedidos que os inter<strong>na</strong>utas<br />
fizeram chegar nos últimos anos ao Santuário, para po<strong>de</strong>rem visualizar em<br />
directo o chamado “coração” do Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> e acompanhar as celebrações<br />
ali realizadas.<br />
Recor<strong>de</strong>-se que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há vários anos, a Rádio Re<strong>na</strong>scença – Emissora<br />
Católica Portuguesa transmite em directo, primeiramente via rádio e agora<br />
também por internet, <strong>de</strong> segunda a sexta-feira, a partir da Capelinha das Aparições,<br />
o Rosário das 18h30.<br />
Livro-álbum “<strong>Fátima</strong>-Mundo”<br />
O projecto “<strong>Fátima</strong> no Mundo”, que começou por ser uma exposição,<br />
i<strong>na</strong>ugurada por ocasião da realização do congresso <strong>Fátima</strong> para o Século<br />
XXI, no encerramento das comemorações dos 90 Anos das Aparições <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
(Outubro <strong>de</strong> 2007), está editado como livro-álbum. Nele são apresentados,<br />
em Português e em Inglês, 101 santuários, catedrais, igrejas e capelas<br />
<strong>de</strong>dicados a Nossa Senhora <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, nos cinco continentes. A Exposição<br />
continua patente <strong>na</strong> Igreja da Santíssima Trinda<strong>de</strong>. I<strong>na</strong>ugurada no átrio do<br />
Centro Pastoral Paulo VI, encontra-se actualmente patente no espaço <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>do<br />
como Convívio <strong>de</strong> Santo Agostinho. A este propósito, D. António Marto<br />
sublinhou a “irradiação e influência uni<strong>ver</strong>sal da Mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> <strong>na</strong><br />
pieda<strong>de</strong> dos fiéis e até dos bispos e dos Papas”.<br />
Encontro <strong>de</strong> Animadores sócio-pastorais das migrações<br />
“Mobilida<strong>de</strong> global – uma nova oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> missão” foi o tópico que<br />
motivou apresentações, <strong>de</strong>bates e partilhas no IX Encontro <strong>de</strong> Animadores<br />
Sócio-pastorais das Migrações, realizado em <strong>Fátima</strong> nos dias 16, 17 e 18 <strong>de</strong><br />
Janeiro <strong>de</strong> 2009.<br />
O Dia do Migrante e Refugiado foi assi<strong>na</strong>lado em Portugal, entre outras<br />
iniciativas, pelo estudo e <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> temáticas relacio<strong>na</strong>das com as migrações<br />
entre aqueles que, ao longo <strong>de</strong> todo o ano, trabalham em contextos da mobilida<strong>de</strong><br />
huma<strong>na</strong>. Equipas dos Secretariados Diocesanos da Mobilida<strong>de</strong>, das<br />
108 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
Caritas Diocesa<strong>na</strong>s e <strong>de</strong> outras estruturas relacio<strong>na</strong>das ou não com a Igreja<br />
Católica em Portugal, nomeadamente meios <strong>de</strong> comunicação social, levaram<br />
para estes três dias <strong>de</strong> encontro as problemáticas vividas <strong>na</strong> proximida<strong>de</strong> com<br />
muitos migrantes. Procuraram-se soluções e novas alter<strong>na</strong>tivas huma<strong>na</strong>s ou<br />
legais que ofereçam a cada pessoa mais dignida<strong>de</strong> e ple<strong>na</strong> integração <strong>na</strong>s<br />
socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acolhimento.<br />
Celebração Nacio<strong>na</strong>l do Ano Paulino em <strong>Fátima</strong><br />
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) organizou uma celebração<br />
<strong>de</strong> âmbito <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l no Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, integrada <strong>na</strong>s celebrações do<br />
Ano Paulino, nos dias 24 e 25 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2009, dia litúrgico da Festa<br />
da Con<strong>ver</strong>são <strong>de</strong> São Paulo. Começou com uma vigília pauli<strong>na</strong> no dia 24 e<br />
teve como momento alto a Eucaristia do dia 25, às 11h00 , presidida por D.<br />
Antoine Audo, bispo sírio, com a presença dos bispos <strong>de</strong> Portugal. Na tar<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ste dia foi ainda realizada uma “Festa Pauli<strong>na</strong>”, <strong>na</strong> Igreja da Santíssima<br />
Trinda<strong>de</strong>, com uma projecção audiovisual <strong>de</strong> evocação <strong>de</strong> São Paulo e a participação<br />
da Schola Cantorum Pastorinhos <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> e do Coro da Sé do Porto.<br />
O ofertório da celebração foi <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do para ajuda à Igreja <strong>na</strong> Síria, manifestando<br />
“a nossa consonância com a colecta Pauli<strong>na</strong>, fenómeno único no<br />
cristianismo antigo e si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> comunhão entre as Igrejas”, informaram os<br />
bispos portugueses.<br />
Exposição no Santuário sobre João Paulo II<br />
A exposição fotográfica “Karol Wojtyla, a fé, o caminho, a amiza<strong>de</strong>. Excursões<br />
com os Amigos (1952-1954)” foi i<strong>na</strong>ugurada no Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
no dia 13 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro e ficou patente ao público no complexo da Igreja da<br />
Santíssima Trinda<strong>de</strong>. Esta ocasião contou com a presença da embaixadora<br />
da República da Polónia em Portugal, Katarzy<strong>na</strong> Skórznska. A exposição é<br />
constituída por quase trinta expositores com mais <strong>de</strong> oito <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s <strong>de</strong> fotografias.<br />
Apresentada pela primeira vez em Cracóvia, em Dezembro <strong>de</strong> 2006,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> percorrer outros espaços <strong>na</strong> Polónia e noutros países, esteve patente,<br />
entre Novembro e Dezembro <strong>de</strong> 2008, <strong>na</strong> Biblioteca João Paulo II, <strong>na</strong><br />
Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica, em Lisboa.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 109<br />
Vida Eclesial
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
Acolhimento especial para idosos<br />
Para um mais próximo acolhimento aos grupos <strong>de</strong> idosos que visitam o<br />
Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, o Santuário propõe um programa especial para quantos<br />
nele queiram participar, individualmente ou em grupo. O programa arrancou<br />
em Abril e irá prolongar-se até fi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Outubro, às quartas-feiras, com<br />
o seguinte programa: 10h00 – Adoração, <strong>na</strong> Capela da Morte <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> (no<br />
piso subterrâneo da Igreja da Santíssima Trinda<strong>de</strong>); 11h00 – Visita à Igreja<br />
da Santíssima Trinda<strong>de</strong>; 12h00 – Rosário, <strong>na</strong> Capelinha; 12h30 – Missa, <strong>na</strong><br />
Capelinha.<br />
O acolhimento aos peregrinos <strong>de</strong> maior ida<strong>de</strong> não é uma iniciativa inédita<br />
<strong>na</strong> instituição, uma vez que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há vários anos a esta parte, pelos serviços<br />
<strong>de</strong> Associações (SEAS) e <strong>de</strong> Doentes (SEAD) do Santuário, numa organização<br />
a cargo do Movimento da Mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, vários grupos <strong>de</strong> idosos,<br />
<strong>de</strong> todas as dioceses <strong>de</strong> Portugal, vêm participando num programa para eles<br />
organizado. São as chamadas “Peregri<strong>na</strong>ções <strong>de</strong> Idosos ao Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>”,<br />
que começam <strong>na</strong> terça-feira às 10h00 e termi<strong>na</strong>m com o almoço <strong>de</strong><br />
quarta-feira, incluindo momentos <strong>de</strong> oração, visitas guiadas e convívio.<br />
Um outro momento particularmente <strong>de</strong>dicado aos mais velhos, mais em<br />
específico para os avós e para o qual os netos também são convidados, é o<br />
Dia dos Avós, celebrado anualmente por ocasião da Festa Litúrgica <strong>de</strong> S.<br />
Joaquim e Santa A<strong>na</strong> (26 <strong>de</strong> Julho), pais <strong>de</strong> Nossa Senhora e avós <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>.<br />
Exposição no ani<strong>ver</strong>sário da morte do Francisco<br />
No dia em que se assi<strong>na</strong>lou a morte do Beato Francisco Marto, 4 <strong>de</strong> Abril,<br />
foi i<strong>na</strong>ugurada no Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, a exposição “Francisco Marto: can<strong>de</strong>ia<br />
que Deus acen<strong>de</strong>u”. Trata-se <strong>de</strong> mais uma iniciativa inserida no programa<br />
celebrativo do Centenário do Nascimento do Pastorinho, organizada pelo<br />
Departamento <strong>de</strong> Arte e Património (DAP) do Santuário. Patente no vestíbulo<br />
do Convivum Santo Agostinho, no complexo da Igreja da Santíssima Trinda<strong>de</strong>,<br />
até 30 <strong>de</strong> Junho, a exposição integrou di<strong>ver</strong>sas peças, como obras <strong>de</strong><br />
pintura, <strong>de</strong> escultura, algumas relíquias e vários objectos ligados à família do<br />
pastorinho. Para além <strong>de</strong> uma componente bibliográfica sobre a produção <strong>de</strong><br />
livros sobre o vi<strong>de</strong>nte, esti<strong>ver</strong>am também integrados documentos contemporâneos<br />
das Aparições, entre os quais um com a assi<strong>na</strong>tura do próprio vi<strong>de</strong>nte.<br />
110 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
II Congresso Ibero-Americano <strong>de</strong> Destinos Religiosos<br />
e V Congresso Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong>s-Santuário<br />
<strong>Fátima</strong> recebeu, <strong>de</strong> 4 a 6 <strong>de</strong> Junho, no Centro Pastoral Paulo VI, a segunda<br />
edição do Congresso Ibero-Americano <strong>de</strong> Destinos Religiosos, em simultâneo<br />
com a quinta edição do Congresso Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l das Cida<strong>de</strong>s Santuário. Oscilando<br />
em torno dos eixos do or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento urbano em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recepção<br />
<strong>de</strong> peregrinos e <strong>de</strong> turismo religioso e das especificida<strong>de</strong>s da promoção dos<br />
<strong>de</strong>stinos religiosos, o congresso <strong>de</strong>stinou-se tanto a investigadores da área,<br />
como a empresários, entida<strong>de</strong>s religiosas, autarquias e operadores turísticos.<br />
A iniciativa foi Câmara Municipal <strong>de</strong> Ourém, com apoio do Santuário <strong>de</strong><br />
<strong>Fátima</strong>, da Entida<strong>de</strong> Regio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Turismo <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, da ACISO – Associação<br />
Empresarial Ourém-<strong>Fátima</strong> e do Centro <strong>de</strong> Investigação I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />
e Di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong>s do Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Com oradores como<br />
Xosé Santos Solla, da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Compostela, Cristi<strong>na</strong> Teresa<br />
Carballo, da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Luján (Argenti<strong>na</strong>), Paul Claval<br />
(França) e Dallen J. Timothy (EUA), contou com cerca <strong>de</strong> três cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong><br />
participantes oriundos <strong>de</strong> 24 <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s, maioritariamente, da Europa e<br />
da América Lati<strong>na</strong>. A maior representação foi a portuguesa, com 67% dos<br />
inscritos, seguida da Espanha e da Colômbia com 9% dos participantes. Receberam-se<br />
ainda <strong>de</strong>legações importantes do Brasil e Guatemala e <strong>de</strong> países<br />
tão díspares como Israel, Sérvia ou África do Sul.<br />
Os objectivos <strong>de</strong>ste evento foram “estabelecer relações <strong>de</strong> intercâmbio e <strong>de</strong><br />
cooperação, num quadro inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l alargado, entre cida<strong>de</strong>s-santuário; criar<br />
plataformas <strong>de</strong> diálogo entre os responsáveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> peregri<strong>na</strong>ção e<br />
turismo religioso, europeus e ibero-americanos; perspectivar as virtualida<strong>de</strong>s<br />
do estabelecimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s entre <strong>de</strong>stinos religiosos; <strong>de</strong>bater a importância da<br />
peregri<strong>na</strong>ção e do turismo religioso <strong>na</strong> actualida<strong>de</strong>; a<strong>na</strong>lisar as potencialida<strong>de</strong>s<br />
do turismo religioso no <strong>de</strong>senvolvimento dos territórios (a nível local, regio<strong>na</strong>l<br />
ou <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l); e reflectir sobre a gestão e o or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento <strong>de</strong>stes lugares <strong>de</strong> acolhimento<br />
e partilhar conhecimentos acerca das melhores formas <strong>de</strong> promoção<br />
dos <strong>de</strong>stinos religiosos <strong>na</strong>s socieda<strong>de</strong>s contemporâneas”.<br />
O evento foi antecedido pela realização <strong>de</strong> um encontro <strong>de</strong> trabalho da<br />
associação “Shrines of Europe”, no dia 3 <strong>de</strong> Junho. O projecto europeu das<br />
cida<strong>de</strong>s-santuário, intitulado “Shrines of Europe”, congrega as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
(Portugal), Czestochowa (Polónia), Loretto (Itália), Lour<strong>de</strong>s (França) e<br />
Mariazell (Áustria) e as respectivas organizações <strong>de</strong> promoção turística. O<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 111<br />
Vida Eclesial
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
principal tema <strong>de</strong>ste encontro <strong>de</strong> trabalho foi “o estabelecimento <strong>de</strong> gemi<strong>na</strong>ções<br />
como forma <strong>de</strong> alcançar uma cooperação efectiva entre Municípios<br />
Cida<strong>de</strong>s-Santuário”, procurando dar especial ênfase às questões relacio<strong>na</strong>das<br />
com as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas gemi<strong>na</strong>ções ao nível cultural e tendo em vista<br />
o seu <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />
Crianças celebram e cantam com o Francisco<br />
No encerramento do Ano do Centenário do Nascimento do Beato Francisco<br />
Marto (11 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1908), o Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> apresentou um<br />
conjunto <strong>de</strong> iniciativas em que a criança vi<strong>de</strong>nte é motivo <strong>de</strong> louvor a Deus e<br />
objecto <strong>de</strong> reflexão. Em especial <strong>de</strong>staque esteve a Peregri<strong>na</strong>ção Nacio<strong>na</strong>l das<br />
Crianças, a 9 e 10 <strong>de</strong> Junho, on<strong>de</strong> os mais novos foram o centro das atenções.<br />
A peregri<strong>na</strong>ção reflectiu sobre o tema do ano do Santuário “Os puros <strong>de</strong><br />
coração <strong>ver</strong>ão a Deus”, este ano baseado no 9º Mandamento: “Guardar castida<strong>de</strong><br />
nos pensamentos e nos <strong>de</strong>sejos”. Este mandamento interpela a manter a<br />
pureza <strong>de</strong> coração, pois só assim <strong>na</strong>scerão as boas obras, já que todas as acções<br />
<strong>na</strong>scem no coração do Homem, o que nesta peregri<strong>na</strong>ção foi sintetizado<br />
no lema: “Quero ter um coração bonito”.<br />
A peregri<strong>na</strong>ção foi também uma gran<strong>de</strong> festa <strong>de</strong> ani<strong>ver</strong>sário, para a qual<br />
o pastorinho Francisco convidou todos os seus amigos e amigas a estarem<br />
presentes. Lançou-se aos colégios católicos e catequeses o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> preparar<br />
a festa, propondo algumas activida<strong>de</strong>s sobre o Francisco, como leituras,<br />
<strong>de</strong>bates, elaboração <strong>de</strong> brinquedos, jogos, instrumentos musicais ou até peças<br />
<strong>de</strong> roupa do tempo do Francisco ou típicos da região <strong>de</strong> cada um, etc.<br />
Foi ainda realizado o 1.º Encontro Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Coros Infantis, no dia 14<br />
<strong>de</strong> Junho, pelas 15h00, <strong>na</strong> igreja da Santíssima Trinda<strong>de</strong>. Com o objectivo<br />
<strong>de</strong> “estimular o envolvimento das crianças <strong>na</strong> animação musical <strong>na</strong> liturgia<br />
e procurar uma prática musical mais qualitativa <strong>na</strong>s celebrações com e para<br />
crianças”, o encontro contou com a participação <strong>de</strong> várias <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s <strong>de</strong> pequenos<br />
cantores <strong>de</strong> coros vindos <strong>de</strong> todo o país.<br />
Imagem Peregri<strong>na</strong> visitou o Vaticano<br />
No dia 20 <strong>de</strong> Junho, festa do Imaculado Coração da Virgem Santa Maria,<br />
uma das imagens peregri<strong>na</strong>s <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> visitou o Vaticano,<br />
on<strong>de</strong> foi colocada à veneração dos fiéis <strong>na</strong> Basílica <strong>de</strong> S. Pedro. O Papa Bento<br />
112 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> .<br />
XVI marcou presença no fi<strong>na</strong>l das celebrações, para a bênção apostólica.<br />
Esta visita integrou-se <strong>na</strong> peregri<strong>na</strong>ção <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que a imagem realizou<br />
por Itália, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Abril e até ao próximo mês <strong>de</strong> Setembro, motivada pela<br />
comemoração do 50.º ani<strong>ver</strong>sário da consagração do país ao Imaculado Coração<br />
<strong>de</strong> Maria.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 113<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
Campanha <strong>de</strong> Angariação <strong>de</strong> Fundos<br />
Obras no Seminário Diocesano<br />
I<strong>na</strong>ugurado há 40 anos, o Seminário diocesano <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> é um edifício <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s dimensões, cerca <strong>de</strong> 20.000 m2, construído para acolher os candidatos<br />
ao sacerdócio <strong>na</strong> igreja diocesa<strong>na</strong>. O Conceito da construção foi proporcio<strong>na</strong>r<br />
as melhores condições para a formação integral dos alunos, religiosa,<br />
científica, artística e <strong>de</strong>sportiva, e a sua dimensão a<strong>de</strong>quava-se ao tempo em<br />
que os alunos ingressavam, numerosos, no Seminário, logo após o ensino<br />
primário.<br />
Com a alteração do sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> ensino (escolarida<strong>de</strong> até ao 9º<br />
ano), o seminário passou a albergar menos alunos, quase só imediatamente<br />
antes dos estudos superiores. Por este facto e com a diminuição dos candidatos<br />
que começou a <strong>ver</strong>ificar-se, o espaço foi sobrando.<br />
Mas, sem <strong>de</strong>ixar esta sua primeira missão, o “coração da <strong>Diocese</strong>”, assim<br />
<strong>de</strong>sig<strong>na</strong>do por nele se formarem os candidatos ao sacerdócio, continuaria a<br />
bater, aberto também à formação dos fiéis leigos e aos <strong>de</strong>mais serviços diocesanos,<br />
num <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro projecto-âncora da <strong>Diocese</strong>!<br />
Durante mais <strong>de</strong> dois anos, pessoas competentes e empresas especializadas<br />
vinham a estudar a melhor forma <strong>de</strong> executar um plano <strong>de</strong> obras já<br />
aprovado pela autorida<strong>de</strong> competente. Antes ainda da conclusão <strong>de</strong>ste estudo,<br />
ti<strong>ver</strong>am lugar duas intervenções importantes, <strong>na</strong> biblioteca e <strong>na</strong> igreja.<br />
A biblioteca foi ampliada <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r integrar as últimas doações<br />
<strong>de</strong> instituições e pessoas, e a reunir obras até aí dispersas pelo edifício, e<br />
ficou preparada para acondicio<strong>na</strong>r documentos <strong>de</strong> conservação mais exigente.<br />
Além <strong>de</strong> libertar os espaços para as obras, a intervenção permitiu iniciar<br />
uma reorganização geral, sob a orientação <strong>de</strong> um técnico e com a ajuda <strong>de</strong><br />
voluntários, que permite melhor acesso aos leitores, alunos, padres, leigos e<br />
público em geral.<br />
Os trabalhos <strong>na</strong> igreja e torre incluíram o isolamento térmico exterior, a<br />
reparação e adaptação do adro, a colocação <strong>de</strong> uma cobertura sobre a entrada<br />
principal e a colocação <strong>de</strong> vitrais evocativos do mistério da re<strong>de</strong>nção e <strong>de</strong><br />
episódios da vida nossa Senhora.<br />
114 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. serviços e movimentos .<br />
Fi<strong>na</strong>lmente, em Outubro passado, a primeira fase das obras arrancou nos<br />
espaços reservados aos alunos e às pessoas que vierem para retiros e formações.<br />
Com ape<strong>na</strong>s 7.000 metros quadrados, num total <strong>de</strong> 20.000, esta será,<br />
mesmo assim, a parte mais dispendiosa por ser resi<strong>de</strong>ncial e exigir, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, a<br />
instalação <strong>de</strong> estruturas que servirão também às áreas <strong>de</strong> intervenção ulterior.<br />
No seu todo, o edifício passará a comportar quatro áreas funcio<strong>na</strong>is: comunida<strong>de</strong><br />
do Seminário para alunos, formadores e respectivos serviços, casa<br />
<strong>de</strong> formação e retiros, centro pastoral da diocese e residência <strong>de</strong> sacerdotes. A<br />
primeira remo<strong>de</strong>lação contempla a comunida<strong>de</strong> do Seminário, com 22 quartos<br />
para alunos e 3 para formadores (se necessário po<strong>de</strong>m ser afectados mais<br />
quartos até ao máximo <strong>de</strong> 66), e a casa <strong>de</strong> retiros e formação, com 44 quartos,<br />
5 salas <strong>de</strong> trabalho e 2 espaços <strong>de</strong> culto (área que po<strong>de</strong>rá expandir-se se o<br />
Seminário não necessitar <strong>de</strong> todo o espaço atribuído). Ao todo, 120 quartos,<br />
uma dúzia <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> trabalho, três espaços <strong>de</strong> culto e uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalações<br />
técnicas antes quase inexistentes.<br />
Por força dos seus objectivos, a intervenção <strong>na</strong> zo<strong>na</strong> do Seminário e da<br />
formação laical, mesmo que material, sintoniza-nos com o apelo do nosso<br />
Bispo, neste ano pastoral, para irmos ao coração da fé e sermos testemunhas<br />
da ternura <strong>de</strong> Deus.<br />
Para esta fase estima-se um investimento um pouco acima dos 3 milhões<br />
<strong>de</strong> euros.<br />
Dar a todos a alegria <strong>de</strong> participar!<br />
Há cinquenta anos <strong>de</strong>corria em toda a <strong>Diocese</strong> a angariação <strong>de</strong> fundos<br />
a favor da construção do actual edifício, com o objectivo <strong>de</strong> acolher a comunida<strong>de</strong><br />
do Seminário. Agora, quase meio século <strong>de</strong>pois, urge conservar e<br />
melhorar os espaços que, por força das mudanças sociais e eclesiais operadas,<br />
além se servirem ao Seminário, irão abrir-se também aos serviços centrais da<br />
<strong>Diocese</strong> e à di<strong>na</strong>mização da pastoral diocesa<strong>na</strong>.<br />
Vendo como as paróquias, com os respectivos centros <strong>de</strong> culto, se têm<br />
unido em torno <strong>de</strong> projectos às vezes <strong>de</strong> impressio<strong>na</strong>nte dimensão, acreditamos<br />
que, com o mesmo empenho e <strong>de</strong>dicação, quererão oferecer à <strong>Diocese</strong><br />
um edifício renovado que responda às suas necessida<strong>de</strong>s.<br />
Conscientes <strong>de</strong> que, <strong>na</strong> Igreja, as obras materiais são sempre meios para<br />
a realização da sua missão, enten<strong>de</strong>mos que a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira causa ultrapassa a<br />
simples construção material. Unindo os corações e congregando as vonta<strong>de</strong>s<br />
Deus edifica-nos como comunida<strong>de</strong>. A promoção das vocações <strong>na</strong> Igreja é<br />
indissociável da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um à sua própria vocação. O que parecia<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 115<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
longe <strong>de</strong> nós entrará no nosso coração e nos nossos próprios projectos.<br />
O Seminário precisa da ajuda das comunida<strong>de</strong>s cristãs e estas precisam do<br />
Seminário. Propomos a todos uma iniciativa anual, em cada centro <strong>de</strong> culto,<br />
que contemple um momento <strong>de</strong> oração pelas vocações e outro <strong>de</strong> convívio e<br />
angariação <strong>de</strong> fundos.<br />
Até Junho <strong>de</strong> 2009, foram recebidos 184.306,40 euros, que a reitoria do<br />
Seminário muito agra<strong>de</strong>ce.<br />
Para ajudar <strong>na</strong> sensibilização, está disponível uma apresentação das obras<br />
em suporte digital (PDF), que po<strong>de</strong> ser pedida a sdl.reitoria@mail.telepac.pt.<br />
Algumas iniciativas<br />
Tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> convívio<br />
A 18 <strong>de</strong> Abril, a comunida<strong>de</strong> que se reúne aos domingos, <strong>de</strong> forma habitual,<br />
<strong>na</strong> Igreja do Seminário, realizou um convívio para angariação <strong>de</strong> fundos.<br />
O Reitor acolheu os convivas no anfiteatro com um resumo da história do<br />
Seminário e alguns dados sobre os jovens que nele se foram formando, muitos<br />
dos quais, não tendo seguido o caminho do sacerdócio, se valorizaram,<br />
mesmo assim, para o serviço da Igreja e da socieda<strong>de</strong>. Hoje, explicou, o Seminário<br />
é um espaço <strong>de</strong> formação também para os leigos que vêm aprofundar<br />
a sua fé e se<strong>de</strong> dos principais serviços e movimentos diocesanos. Depois, em<br />
imagens, apresentou as di<strong>ver</strong>sas fases das obras e o <strong>de</strong>stino previsto para <strong>de</strong><br />
cada área.<br />
Seguiram-se um breve momento <strong>de</strong> oração, uma visita guiada às obras e<br />
uma merenda a que não faltaram a alegria e a música. Segundo Fer<strong>na</strong>ndo Manuel<br />
Almeida, um dos organizadores, “cada um partiu para a sua casa levando<br />
uma nova missão: transmitir aos amigos e a todos, em geral, a responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> olhar por esta casa/coração da <strong>Diocese</strong>, e ajudar a que ela possa servir<br />
melhor a Igreja e a socieda<strong>de</strong>”.<br />
A 14 <strong>de</strong> Junho, a mesma comunida<strong>de</strong> da missa dominical no Seminário<br />
organizou mais um convívio. Desta vez, aos <strong>de</strong> perto juntaram algumas <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s<br />
<strong>de</strong> pessoas da Vieira, acompanhadas pelo seu pároco, que trouxeram<br />
as famosas sardinhas da sua praia. No fi<strong>na</strong>l, guiados pelo Reitor, visitaram as<br />
obras já concluídas.<br />
116 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. serviços e movimentos .<br />
“Encontro com o Fado”<br />
Promovido pelo Movimento dos Cursilhos <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong> (MCC) da<br />
<strong>Diocese</strong>, <strong>de</strong>correu no anfiteatro do Seminário, a 9 <strong>de</strong> Maio, uma noite <strong>de</strong><br />
fados, com a participação <strong>de</strong> Acácio Norte, Ilídia Pedrosa e Mónica Batista,<br />
acompanhados por Joaquim Domingues e Eduardo Carvalho.<br />
Cerca <strong>de</strong> 200 pessoas correspon<strong>de</strong>ram ao apelo do MCC e <strong>de</strong>ram o seu<br />
contributo para as obras do Seminário que sempre abriu as suas portas aos<br />
cursistas e <strong>de</strong>mais movimentos da <strong>Diocese</strong>.<br />
Ao intervalo, não faltaram chá e di<strong>ver</strong>sas iguarias que prolongaram e<br />
enriqueceram o momento, e, no fi<strong>na</strong>l, algumas vozes amadoras, da plateia,<br />
acrescentaram ainda mais brilho a essa noite memorável.<br />
Almoço <strong>na</strong> Bajouca<br />
Também a paróquia da Bajouca <strong>de</strong>cidiu realizar, no dia 24 <strong>de</strong> Maio, um<br />
almoço no salão paroquial para angariação <strong>de</strong> fundos para as obras do Seminário.<br />
O dia começou com a celebração da Missa presidida pelo Reitor, padre<br />
Armindo Janeiro, que falou sobre o Seminário e as obras em curso. Seguiuse<br />
o almoço no salão, com cerca <strong>de</strong> 300 pessoas. As receitas cifraram-se em<br />
2.300 euros.<br />
Convívio <strong>de</strong> antigos alunos do Seminário<br />
A Associação dos Antigos Alunos do Seminário Diocesano <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> organizou<br />
um convívio, a 20 <strong>de</strong> Junho, que reuniu uma cente<strong>na</strong> <strong>de</strong> antigos<br />
alunos, leigos e sacerdotes, e outros amigos. Além do reencontro dos antigos<br />
colegas, a iniciativa visou a recolha <strong>de</strong> fundos e incluiu uma visita às obras,<br />
a celebração da Eucaristia, um arraial com sardinhada e um concerto <strong>de</strong> João<br />
Junqueira que quis lançar o seu novo disco <strong>na</strong> casa on<strong>de</strong> <strong>de</strong>u os primeiros<br />
passos artísticos.<br />
Na aula mag<strong>na</strong>, durante cerca <strong>de</strong> duas horas, <strong>de</strong>sfilaram as canções, cantadas<br />
e contadas ao som <strong>de</strong> violas, violoncelos, violinos, cavaquinhos, piano<br />
e guitarra clássica. Além <strong>de</strong> João Junqueira, que escreveu todas as músicas,<br />
João Maria André, também filho da casa, <strong>de</strong>clamou quatro recentes poemas<br />
da sua autoria. Entre os músicos e executantes, Carlos Carneiro escreveu todos<br />
os arranjos. Ao mesmo tempo, foram <strong>de</strong>sfilando outras memórias e ritmos,<br />
com sons cabo-<strong>ver</strong>dianos, do Martinho Nunes <strong>de</strong> Brito e recordações<br />
musicais pelo Luís Matias. Parte da venda dos discos será oferecida para a<br />
renovação do edifício do Seminário.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 117<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
Centro <strong>de</strong> Formação e Cultura<br />
Curso <strong>de</strong> Teologia<br />
O calendário para o 2.º semestre do Curso <strong>de</strong> Teologia no Centro <strong>de</strong> Formação<br />
e Cultura é o seguinte:<br />
Mistério <strong>de</strong> Deus - das 19h00 às 20h30, durante os seguintes dias: Fe<strong>ver</strong>eiro<br />
12, 19; Março 5, 12, 19, 26; Abril 2, 23, 27, 30; Maio 7, 14, 18, 21 e<br />
28 (avaliação).<br />
Teologia Fundamental - das 21h00 às 22h30, nos seguintes dias: Fe<strong>ver</strong>eiro<br />
12, 19, 26; Março 5, 12, 19, 26; Abril 2, 23, 27, 30; Maio 7, 14, 18;<br />
Junho 4 (avaliação).<br />
Formação Complementar, “7 Olhares sobre a morte” - à segundafeira,<br />
19h00-20h15 e 21h00-22h30, com o coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor Dr. A<strong>de</strong>lino Guarda;<br />
9 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, “A morte <strong>na</strong> Filosofia” (Dra. Maria Hele<strong>na</strong> Carvalhão); 16 <strong>de</strong><br />
Fe<strong>ver</strong>eiro, “A morte <strong>na</strong> Literatura Portuguesa” (Dra. Susa<strong>na</strong> Couceiro Vieira<br />
Santos); 2 <strong>de</strong> Março, “A morte: perspectivas psicológicas e médicas” (Dra.<br />
Ângela Coelho Pereira da Silva); 9 <strong>de</strong> Março, “A morte <strong>na</strong> Teologia” (Dr.<br />
A<strong>de</strong>lino Filipe Guarda); 16 <strong>de</strong> Março, “A morte <strong>na</strong> Bíblia” (Dr. Gonçalo Teixeira<br />
Diniz); 23 <strong>de</strong> Março, “Ética da morte e do morrer” (Dr. Vítor Manuel<br />
Leitão Coutinho); 30 <strong>de</strong> Março, “Os que ficam: morte e luto” (Dr. A<strong>de</strong>lino<br />
Filipe Guarda); 20 <strong>de</strong> Abril – Avaliação fi<strong>na</strong>l.<br />
Escola Diocesa<strong>na</strong> Razões da Esperança<br />
A Escola Diocesa<strong>na</strong> Razões da Esperança iniciou o 2.º semestre no dia<br />
3 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, no Seminário Diocesano. As aulas estão agendadas para os<br />
seguintes dias: 3 e 17 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro; 3, 17 e 31 <strong>de</strong> Março; 21 <strong>de</strong> Abril; 5 e 19<br />
<strong>de</strong> Maio; 2 <strong>de</strong> Junho (celebração <strong>de</strong> encerramento e convívio). O horário é<br />
das 21h00 às 21h50 para as seguintes ca<strong>de</strong>iras: “Ler o Antigo Testamento<br />
hoje” (padre Gonçalo Diniz) e “Igreja e Missão” (padre A<strong>de</strong>lino Guarda).<br />
Das 22h00 às 23h00 serão as seguintes formações: Formação específica,<br />
Curso <strong>de</strong> Iniciação para Catequistas, Curso Geral <strong>de</strong> Catequistas, Estágio <strong>de</strong><br />
Catequistas, Cursistas, Animação Vocacio<strong>na</strong>l, S. Paulo (CNE), Lectio Divi<strong>na</strong><br />
do Evangelho Dominical, Canto Litúrgico, Escola <strong>de</strong> Leitores e 4X4 – Formação<br />
<strong>de</strong> Animadores <strong>de</strong> Jovens (SDPJ).<br />
118 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. serviços e movimentos .<br />
Já se encontra <strong>de</strong>finido o calendário para o próximo ano pastoral 2009/10,<br />
cuja sessão <strong>de</strong> abertura será no dia 29 <strong>de</strong> Setembro, presidida pelo senhor<br />
Bispo, D. António Marto.<br />
As aulas do primeiro semestre estão programadas para os seguintes dias:<br />
6 e 20 <strong>de</strong> Outubro; 3 e 17 Novembro; 1 e 15 <strong>de</strong> Dezembro; 5 e 19 <strong>de</strong> Janeiro.<br />
As aulas do segundo semestre serão nos dias: 2 e 23 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro; 9 e<br />
23 <strong>de</strong> Março; 13 e 27 <strong>de</strong> Abril; 11 e 25 <strong>de</strong> Maio. No dia 1 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2010<br />
realizar-se-á a sessão <strong>de</strong> encerramento.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 119<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
Comissão Diocesa<strong>na</strong> Justiça e Paz<br />
Direitos humanos e Realida<strong>de</strong>s actuais<br />
5º Colóquio<br />
Crise económica e social<br />
A 19 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, no auditório do Seminário <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, a Comissão Diocesa<strong>na</strong><br />
Justiça e Paz (CDJP) organizou o 5º colóquio do ciclo “Direitos Humanos<br />
e realida<strong>de</strong>s actuais”, <strong>de</strong>dicado à análise da “crise económico-social”.<br />
O assunto não estava previsto <strong>na</strong> programação inicial mas, referiu o Presi<strong>de</strong>nte<br />
da CDJP, Tomás Oliveira Dias, “impôs-se <strong>de</strong> tal forma <strong>na</strong> nossa vida<br />
que não pu<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>bruçar sobre ele”. “É que, adiantou, a crise<br />
arrasta consigo pobreza e injustiças, à escala <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e à escala inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />
pelo que há que ter em conta, <strong>na</strong>s <strong>de</strong>cisões a tomar para a sua resolução,<br />
a <strong>de</strong>fesa dos direitos humanos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o direito à vida ao direito ao trabalho,<br />
sem esquecer todas as outras disposições, da maior transcendência, nesta matéria<br />
como as que constam da Declaração Uni<strong>ver</strong>sal dos Direitos Humanos<br />
e da nossa própria Constituição”. E conclui: “Trata-se, afi<strong>na</strong>l, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
dignida<strong>de</strong> da pessoa huma<strong>na</strong> e <strong>de</strong> apoiar em especial os mais <strong>de</strong>sfavorecidos,<br />
como tantas vezes tem recomendado a Doutri<strong>na</strong> Social da Igreja”.<br />
Foi convidado a expor o tema e a respon<strong>de</strong>r no respectivo <strong>de</strong>bate o Dr.<br />
Francisco Sarsfield Cabral, reputado especialista <strong>na</strong> matéria, que, além da<br />
conferência proferida, conce<strong>de</strong>u uma entrevista sobre o mesmo tema, que foi<br />
publicada nos jor<strong>na</strong>is diocesanos e que reproduzimos mais abaixo.<br />
6º Colóquio<br />
“Direitos humanos e crimi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>: entre a liberda<strong>de</strong> e a segurança”<br />
O 6.º colóquio do ciclo “Direitos Humanos e Realida<strong>de</strong>s Actuais” <strong>de</strong>correu<br />
no dia 18 <strong>de</strong> Junho, <strong>de</strong>dicado ao tema “Direitos Humanos e Crimi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>,<br />
entre a liberda<strong>de</strong> e a segurança”. Foi conferencista convidado, o Dr. Álvaro<br />
Laborinho Lúcio, <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> um “curriculum” notável, nomeadamente<br />
como magistrado, político e professor.<br />
O Direito à Segurança está inscrito <strong>na</strong> nossa Constituição, a par do Direito<br />
à Liberda<strong>de</strong>. Todavia, o aumento da crimi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> em Portugal está <strong>na</strong><br />
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or<strong>de</strong>m do dia. Como harmonizar estes direitos e todas as situações conexas,<br />
em prol da <strong>de</strong>fesa dos cidadãos, sem esquecer que os <strong>de</strong>linquentes também<br />
são pessoas huma<strong>na</strong>s com a sua dignida<strong>de</strong>? O <strong>de</strong>safio será que a prevenção<br />
e as próprias pe<strong>na</strong>s tenham em vista, fundamentalmente, a recuperação dos<br />
criminosos e sua reinserção <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong>.<br />
A par <strong>de</strong>ste problema surgem outras situações concretas, realida<strong>de</strong>s que<br />
<strong>de</strong>vemos a<strong>na</strong>lisar e enfrentar. Por exemplo: a prevenção do crime e acção das<br />
polícias; a actuação dos tribu<strong>na</strong>is e celerida<strong>de</strong> da justiça; a reforma da legislação<br />
aplicável; a corrupção e o crime; o funcio<strong>na</strong>mento das prisões e o seu<br />
papel <strong>na</strong> recuperação dos criminosos.<br />
Estes e muitos outros problemas preocupam e muitas vezes escandalizam<br />
as pessoas, ouvindo-se até sugestões como as da reposição da prisão perpétua<br />
e, mesmo, pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> morte, totalmente i<strong>na</strong>ceitáveis. Mas todos sentimos que<br />
alguma coisa vai mal.<br />
Entrevista a Francisco Sarsfield Cabral<br />
Crise económica e social<br />
- causas, consequências e previsões<br />
Licenciado em Direito e observador competente e interessado da vida<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, sobretudo nos âmbitos económico e social, Francisco Sarsfield Cabral<br />
pertenceu aos quadros técnicos da Presidência do Conselho e da Associação<br />
Industrial Portuguesa, foi jor<strong>na</strong>lista do Diário Popular e do semanário<br />
O Jor<strong>na</strong>l, e subdirector para a informação <strong>na</strong> RTP. Além <strong>de</strong> comentador <strong>de</strong><br />
assuntos económicos e da integração europeia noutros ca<strong>na</strong>is televisivos, jor<strong>na</strong>is<br />
e semanários, <strong>de</strong>sempenhou cargos <strong>de</strong> relevo no Ministro dos Negócios<br />
Estrangeiros, <strong>na</strong> assessoria do Primeiro-Ministro e do Gabinete em Portugal<br />
da Comissão Europeia. Actualmente colabora <strong>na</strong> Rádio Re<strong>na</strong>scença da qual<br />
foi director <strong>de</strong> informação e é colunista do Público e comentador da SIC.<br />
Em seu enten<strong>de</strong>r, quais as causas da presente crise?<br />
A causa próxima <strong>de</strong>sta crise económico-social é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m fi<strong>na</strong>nceira. Não<br />
é uma crise <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada por uma euforia bolsista seguida do afundamento<br />
das cotações, como aconteceu em 1929 (tendo, <strong>de</strong>pois, falido muitos bancos).<br />
Desta vez, o problema foi o crédito. Crédito barato (juro baixo), concedido<br />
sem prudência, <strong>na</strong> convicção <strong>de</strong> que tudo correria bem (por exemplo, que o<br />
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preço das casas hipotecadas nos Estados Unidos continuaria a subir) e crédito<br />
transformado em títulos, elimi<strong>na</strong>ndo a relação pessoal entre <strong>de</strong>vedor e credor.<br />
Mas as causas profundas são <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ética. Em parte porque o comunismo<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser uma ameaça, muitos capitalistas convenceram-se que tudo<br />
seria possível, incluindo procedimentos <strong>de</strong> duvidosa moralida<strong>de</strong>. Daí a falta<br />
<strong>de</strong> cuidado <strong>na</strong> concessão <strong>de</strong> crédito e a irresponsabilida<strong>de</strong> com que gestores<br />
bancários e fi<strong>na</strong>nceiros (principescamente pagos) aconselharam aos seus<br />
clientes aplicações que se revelaram <strong>de</strong> alto risco. Muitos dos novos e sofisticados<br />
produtos fi<strong>na</strong>nceiros são hoje chamados “tóxicos”: pouco ou <strong>na</strong>da<br />
valem. Daí prejuízos enormes nos bancos e outras instituições fi<strong>na</strong>nceiras,<br />
provocando uma súbita contracção do crédito – o que leva ao atrofiamento da<br />
activida<strong>de</strong> económica.<br />
O excesso <strong>de</strong> crédito foi facilitado pelo acesso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> poupanças aos Estados Unidos (vindas sobretudo da Chi<strong>na</strong>), enquanto os<br />
americanos <strong>de</strong>ixaram praticamente <strong>de</strong> poupar, aumentando o seu consumo<br />
com base em empréstimos.<br />
E quais as suas principais consequências <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong> portuguesa, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>damente<br />
no campo social?<br />
A mais grave consequência é o aumento do <strong>de</strong>semprego e a falta <strong>de</strong> dinheiro<br />
do Estado para ajudar quem precisa. Também vejo uma consequência<br />
negativa, a prazo, que tem a <strong>ver</strong> com a forte (e necessária) intervenção do<br />
Estado no sistema bancário e em sectores económicos e empresas. Isto irá<br />
aumentar a nossa secular <strong>de</strong>pendência em relação ao Estado.<br />
Para quando se po<strong>de</strong> esperar a in<strong>ver</strong>são da crise e retoma da economia?<br />
Ninguém sabe quanto tempo vai durar a crise e qual a sua gravida<strong>de</strong>. Mas<br />
parece claro que esta é a crise mais séria pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Gran<strong>de</strong> Depressão<br />
dos anos 30 do século passado.<br />
Ainda assim, que medidas po<strong>de</strong>mos tomar para que seja possível essa<br />
retoma?<br />
Rei<strong>na</strong> uma gran<strong>de</strong> insegurança quanto à própria <strong>na</strong>tureza da crise (porque<br />
ela é inédita) e quanto aos remédios a aplicar. Mas pensa-se ser indispensável,<br />
antes <strong>de</strong> mais, evitar o colapso do sistema fi<strong>na</strong>nceiro (que levaria ao total <strong>de</strong>sastre<br />
económico). Ainda não é certo que se tenha evitado tal colapso.<br />
Por outro lado, são necessárias políticas para espevitar a procura – investimentos<br />
públicos e/ou baixa <strong>de</strong> impostos. O importante é que essas medidas<br />
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produzam efeitos tão imediatos quanto possível, o que aconselha os investimentos<br />
públicos geradores <strong>de</strong> emprego.<br />
Também é indispensável reforçar os apoios sociais, até por motivos económicos:<br />
quem tem menos dinheiro, se recebe uma ajuda vai gastá-lo – o que<br />
já po<strong>de</strong>rá não acontecer com quem tem rendimentos mais altos, pois po<strong>de</strong>rá<br />
preferir poupar em vez <strong>de</strong> consumir.<br />
Em que medida a retoma <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da retoma inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l?<br />
A nossa retoma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em larguíssima medida da retoma inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />
sobretudo <strong>na</strong> Europa. Mas tal não invalida, por um lado, que as autorida<strong>de</strong>s<br />
portuguesas possam e <strong>de</strong>vam agir no combate à crise; e, por outro, que seja<br />
preciso muita cautela em não <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>rrapar <strong>de</strong>masiado o défice das contas<br />
do Estado português. É que, se tal acontecer, o crédito que temos <strong>de</strong> angariar<br />
no estrangeiro será mais caro e difícil. E nós somos um país on<strong>de</strong> toda a gente<br />
está endividada: Estado, empresas, famílias, bancos…<br />
Os reflexos visíveis da crise<br />
A Caritas Diocesa<strong>na</strong> e o Centro <strong>de</strong> acolhimento <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> são duas instituições<br />
da <strong>Diocese</strong>, que se <strong>de</strong>param diariamente com a relação sempre tensa<br />
entre a crise e os direitos humanos. Graças à disponibilida<strong>de</strong> dos seus responsáveis<br />
mais directos, tomamos maior consciência da gravida<strong>de</strong> e número<br />
crescente dos problemas humanos.<br />
Cáritas Diocesa<strong>na</strong> - A situação <strong>de</strong> dia para dia<br />
Por Ambrósio Jorge dos Santos, Presi<strong>de</strong>nte da Cáritas Diocesa<strong>na</strong><br />
Compreen<strong>de</strong>-se que a comunicação social <strong>de</strong>seje dispor <strong>de</strong> elementos<br />
necessários para informar os leitores ou ouvintes acerca do modo como a<br />
actual crise, fi<strong>na</strong>nceira, económica e social se manifesta <strong>na</strong>s instituições que<br />
prestam algum tipo <strong>de</strong> apoio social, e que respostas cada uma po<strong>de</strong> oferecer<br />
para resol<strong>ver</strong> ou minorar as dificulda<strong>de</strong>s com que se <strong>de</strong>frontam as famílias<br />
neste contexto.<br />
A Cáritas não foge à regra e também ela é, com muita frequência solicitada<br />
a transmitir o seu conhecimento e sensibilida<strong>de</strong> nesta matéria, no que<br />
respeita ao perfil das pessoas que a procuram, ao seu número e evolução nos<br />
últimos meses, e também quanto às respostas que estão ao seu alcance.<br />
Está fora <strong>de</strong> propósito trazer aqui tudo o que são as activida<strong>de</strong>s e preocu-<br />
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pações da Cáritas, mas é gostosamente que trazemos aos leitores as nossas<br />
impressões sobre o modo como a situação social actual é sentida <strong>na</strong> Cáritas.<br />
Temos fugido sempre da dramatização inútil, que só contribuiria para o<br />
agravamento dos problemas mas não po<strong>de</strong>mos também iludir as questões.<br />
Des<strong>de</strong> há mais <strong>de</strong> um ano que se vem registando um crescimento contínuo<br />
no número <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>mandam a Cáritas no sentido <strong>de</strong> obterem algum<br />
tipo <strong>de</strong> ajuda.<br />
Quanto a proveniências, elas vêm sobretudo da zo<strong>na</strong> urba<strong>na</strong> e suburba<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>; compreensivelmente, aliás, pois não custa reconhecer que em<br />
tempos <strong>de</strong> crise, é <strong>na</strong>s cida<strong>de</strong>s que se encontram as pessoas mais in<strong>de</strong>fesas<br />
e com menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência às alterações económicas graves e<br />
inesperadas, como a crise actual, que nenhum profeta ou adivinho sabe on<strong>de</strong><br />
irá parar. As situações são di<strong>ver</strong>sas, mas prevalecem as situações <strong>de</strong> doença,<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego e, sobretudo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação familiar; mas também muitos<br />
imigrantes, com predomínio <strong>de</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> brasileira e <strong>de</strong> países <strong>de</strong> leste<br />
procuram <strong>na</strong> Cáritas todo o género <strong>de</strong> auxílio.<br />
Além <strong>de</strong> um atendimento que <strong>de</strong>sejamos sempre humano e compreensivo,<br />
é no banco <strong>de</strong> bens móveis que as pessoas encontram a resposta a muitas<br />
das suas necessida<strong>de</strong>s. Em vestuário e agasalho, roupa <strong>de</strong> cama, calçado,<br />
móveis e equipamentos domésticos, material escolar, brinquedos e outros,<br />
ascen<strong>de</strong>u a cerca <strong>de</strong> 34000 o número dos bens entregues a 400 pessoas, no<br />
ano que findou.<br />
Mas é principalmente no domínio dos bens alimentares que se vem registando<br />
um aumento maior <strong>de</strong> procura. A título <strong>de</strong> exemplo, a quantida<strong>de</strong><br />
apreciável <strong>de</strong> bens alimentares entregues, por ocasião <strong>de</strong> Natal, por três paróquias<br />
da diocese, por alguns particulares e pelos jovens do Leo Clube <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>, encontra-se quase esgotada: só no mês agora a findar, foram 30 as<br />
pessoas que vieram pedir bens <strong>de</strong> alimentação, algumas encaminhadas por<br />
serviços oficiais. Também significativa, neste âmbito, é a necessida<strong>de</strong> sentida<br />
ultimamente pela Cáritas, <strong>de</strong> dispor sempre <strong>de</strong> alguns bens alimentares para<br />
as necessida<strong>de</strong>s mais urgentes, que adquire periodicamente no mercado local.<br />
A Cáritas presta também peque<strong>na</strong>s ajudas fi<strong>na</strong>nceiras, maioritariamente dirigidas<br />
às dificulda<strong>de</strong>s sentidas com os custos fixos da vida <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, como a<br />
renda <strong>de</strong> casa ou do quarto, as <strong>de</strong>spesas com água, luz, gás, e medicamentos,<br />
entre outros. Privilegiamos sempre, mas sobretudo em caso <strong>de</strong> ajudas fi<strong>na</strong>nceiras,<br />
a interacção com organismos oficiais e grupos sócio-caritativos locais que,<br />
por motivos profissio<strong>na</strong>is ou por razões <strong>de</strong> vizinhança e proximida<strong>de</strong>, estão em<br />
melhores condições para avaliar da urgência e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada situação.<br />
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. serviços e movimentos .<br />
Costumamos dizer que a Cáritas é um lugar <strong>de</strong> exercício da gratuida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> voluntariado. Lugar <strong>de</strong> exercício da di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens que po<strong>de</strong>mos<br />
partilhar, sejam eles o tempo, as capacida<strong>de</strong>s ou os bens materiais. Porque o<br />
que a Cáritas tem para distribuir é o que cada um lhe confia.<br />
A partilha vai para além das sobras, do supérfluo, do que já não serve.<br />
Partilhar é um modo <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> estar, no dia a dia, próprio <strong>de</strong> quem não<br />
<strong>de</strong>posita as suas esperanças nos bens <strong>de</strong>ste mundo, mas reconhece como dádiva<br />
<strong>de</strong> Deus, todos os bens, dons e talentos que possui, para o serviço <strong>de</strong><br />
todos. É um imperativo cristão, mas também um <strong>de</strong><strong>ver</strong> <strong>de</strong> cidadania. Cada<br />
um reconhece-se responsável pelo bem <strong>de</strong> todos, segundo a sua capacida<strong>de</strong>.<br />
A Cáritas não substitui o <strong>de</strong><strong>ver</strong> <strong>de</strong> cada cristão, cada cidadão, cada comunida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> participar activamente <strong>na</strong> resolução dos problemas sociais, quaisquer<br />
que eles sejam.<br />
Centro <strong>de</strong> Acolhimento <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
- Agravamento e aumento dos casos<br />
Por Edite Tojeira, Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora do CAL<br />
A coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora do Centro <strong>de</strong> Acolhimento <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (CAL) faz um ponto<br />
da situação sobre o modo como a actual crise se tem manifestado no trabalho<br />
da instituição: “É notório o agravamento das condições económicas para um<br />
maior número <strong>de</strong> pessoas”.<br />
O CAL acolhe todos os que se encontram em situação <strong>de</strong> exclusão social:<br />
vítimas <strong>de</strong> alcoolismo, toxico<strong>de</strong>pendência, doenças incapacitantes, problemas<br />
<strong>de</strong> psiquiatria, violência doméstica, <strong>de</strong>semprego, ex-reclusão, sem-abrigo,<br />
ou simples isolamento. O número varia <strong>de</strong> ano para ano, mas “sente-se<br />
que, <strong>de</strong>vido à actual crise económica, o <strong>de</strong>semprego tem maior relevância”.<br />
Prova disso, recorrerem ao CAL “pessoas e famílias que nunca apareceriam<br />
se não fosse a carência <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong>”, afirma Edite Tojeira,<br />
consi<strong>de</strong>rando que, ainda assim, “estes casos são os menos difíceis <strong>de</strong> resol<strong>ver</strong>,<br />
pois as pessoas vêm com hábitos <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> vida em socieda<strong>de</strong>,<br />
só não têm meios económicos para se sustentarem ou sustentar a família”. O<br />
papel do Centro, nestes casos, acaba por ser temporário, <strong>de</strong> “ajudar a procurar<br />
meios para um reequilíbrio”.<br />
Para isto, o CAL conta com a ajuda da Cáritas Diocesa<strong>na</strong>, que doa meta<strong>de</strong><br />
do seu peditório anual a esta instituição, bem como da paróquia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, que<br />
assume a totalida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>spesas.<br />
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Vida Eclesial
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Os Samaritanos<br />
Natal <strong>na</strong>s prisões…<br />
A época <strong>de</strong> Natal ganha especial importância para todos os que se encontram<br />
privados <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, longe das festas com a família e da euforia das<br />
compras e prendas.<br />
No fi<strong>na</strong>l da tar<strong>de</strong> do dia 24 <strong>de</strong> Dezembro, o Grupo <strong>de</strong> Visitadores dos<br />
Estabelecimentos Prisio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> “Os Samaritanos” em conjunto com<br />
alguns jovens do Grupo Missionário “Ondjoyetu”, <strong>de</strong>slocaram-se à antiga<br />
Prisão-escola para, cela a cela, distribuírem uma vela para os reclusos acen<strong>de</strong>rem<br />
durante a noite, um marcador <strong>de</strong> livros “10 milhões <strong>de</strong> velas pela Paz”<br />
e um saquinho com bombons oferecidos pela Pastelaria Haiti e por mais alguns<br />
particulares.<br />
No domingo, dia 4, jovens <strong>de</strong> várias associações, entre elas, Caminheiros<br />
da Região <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, Grupo Missionário Ondjoyetu e grupo <strong>de</strong> visitadores<br />
“Os Samaritanos”, reuniram-se com os reclusos, <strong>de</strong> manhã <strong>na</strong> Prisão-escola<br />
e à tar<strong>de</strong> <strong>na</strong> Ca<strong>de</strong>ia Regio<strong>na</strong>l.<br />
O dia iniciou-se com a celebração da Eucaristia animada pelos jovens<br />
presentes, e o convite da Palavra proclamada a re<strong>na</strong>scer à semelhança do<br />
Menino <strong>Jesus</strong>.<br />
Seguiu-se um momento <strong>de</strong> convívio nos di<strong>ver</strong>sos pavilhões. Numa dinâmica<br />
baseada no texto “Caixa <strong>de</strong> Brinquedos”, todos foram convidados<br />
a oferecer a Deus o que tinham <strong>de</strong> melhor. Ao som da “Estrela Polar” cada<br />
recluso escreveu a sua oferta e, reunidos os pedaços escritos, chegou-se à<br />
gran<strong>de</strong> estrela on<strong>de</strong> brilhavam todas as coisas boas oferecidas. Em ambiente<br />
<strong>de</strong> música e alegria foi possível manifestar sentimentos <strong>de</strong> gratidão pelo tempo<br />
disponibilizado, e vi<strong>ver</strong> <strong>de</strong> modo especial o espírito Natal.<br />
Da tar<strong>de</strong>, repetiram-se a mesma dinâmica e programa <strong>na</strong> zo<strong>na</strong> femini<strong>na</strong><br />
da Ca<strong>de</strong>ia Regio<strong>na</strong>l, com gran<strong>de</strong> correspondência das reclusas. A termi<strong>na</strong>r,<br />
<strong>de</strong> cela a cela, distribuíram-se um postal ilustrado, uma estrela com o Menino<br />
<strong>Jesus</strong> e um saco com algumas outras lembranças.<br />
No emaranhado do quotidiano é possível <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r um pouco do nosso<br />
tempo com os outros, principalmente com aqueles que são mais facilmente<br />
esquecidos pela socieda<strong>de</strong>. E esta diferença nota-se nos sorrisos, no brilho<br />
dos olhos e no voltar a acreditar neles próprios, afi<strong>na</strong>l é sempre altura <strong>de</strong><br />
recomeçar um caminho <strong>de</strong> esperança.<br />
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Para que o sorriso voltasse, os olhos voltassem a brilhar e os mais esquecidos<br />
da socieda<strong>de</strong> voltassem a creditar em si mesmos, bastou romper com<br />
a monotonia do emaranhado quotidiano, motivar patrocínios <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s<br />
como a Pastelaria Trigo e Centeio, Análises Beatriz Godinho e Missionários<br />
do Verbo Divino, e recolher generosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Milagres, Bairro das Almuinhas,<br />
Batalha, Marinha Gran<strong>de</strong> e Comunida<strong>de</strong> Francisca<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Um<br />
agra<strong>de</strong>cimento a todos, que se esten<strong>de</strong> ao pessoal dos Estabelecimentos Prisio<strong>na</strong>is<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> pelo acolhimento e gentil colaboração.<br />
Páscoa <strong>na</strong>s prisões...<br />
Páscoa… Ressurreição <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>… Ressurgem a alegria e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ser feliz.<br />
Porque a gran<strong>de</strong> mensagem que <strong>Jesus</strong> nos <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>ve ser partilhada por<br />
todos, no passado dia 19 <strong>de</strong> Abril, o grupo dos “Samaritanos”, com di<strong>ver</strong>sos<br />
jovens do grupo missionário “Ondjoyetu” e dos Escuteiros da nossa região,<br />
foram celebrar a Páscoa nos Estabelecimentos Prisio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
Depois da Eucaristia, os visitadores dividiram-se em grupos para visitarem<br />
os pavilhões e levarem a alegria <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Ressuscitado a todos os reclusos.<br />
O relato evangélico da con<strong>ver</strong>são <strong>de</strong> Zaqueu, o cobrador <strong>de</strong> impostos,<br />
inspirou a partilha. É ao nosso encontro que o Senhor vem, hoje, fazendo<br />
questão <strong>de</strong> “ficar em nossa casa”. Queiramos nós vê-Lo e escutar o que diz e<br />
suscita como vida nova…<br />
No fi<strong>na</strong>l foi entregue uma caixinha com um pequeno “tesouro”: o convite<br />
a <strong>de</strong>ixar <strong>Jesus</strong> ficar connosco, uma peque<strong>na</strong> <strong>cruz</strong> a assi<strong>na</strong>lar a sua entrega por<br />
cada um <strong>de</strong> nós, uma folha <strong>de</strong> oliveira alusiva à árvore a que subiu Zaqueu,<br />
o ovo <strong>de</strong> chocolate, símbolo da Páscoa, e uma imagem <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> lançando o<br />
<strong>de</strong>safio: “Vem e segue-me”.<br />
A Páscoa foi a notícia levada: <strong>Jesus</strong> ressuscitou. A Páscoa foi o irmão que<br />
nos enriqueceu com a abertura da vida que está nele, pronta a <strong>de</strong>sabrochar,<br />
ape<strong>na</strong>s esperando quem a acolha.<br />
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Vida Eclesial
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Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l da Cáritas – 8 a 15 <strong>de</strong> Março<br />
Juntos, daremos vida à esperança<br />
Submergidos uns pelos outros, po<strong>de</strong> questio<strong>na</strong>r-se o alcance prático dos<br />
sucessivos dias ou sema<strong>na</strong>s <strong>de</strong> uma qualquer causa, que <strong>na</strong> sua maior parte<br />
passam <strong>de</strong>spercebidos não <strong>de</strong>ixando atrás <strong>de</strong> si qualquer rasto perceptível.<br />
Po<strong>de</strong> não constituir excepção e não escapar à indiferença comum a existência<br />
<strong>de</strong> uma Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l da Cáritas. No entanto, as circunstâncias do tempo<br />
presente marcadas pela grave crise social em <strong>de</strong>senvolvimento, trouxeram<br />
para a actualida<strong>de</strong> um interesse redobrado, não ape<strong>na</strong>s pela acção da Cáritas<br />
em todo o espaço <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l para aliviar as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um crescente<br />
número <strong>de</strong> famílias, mas também pelos valores, i<strong>de</strong>ário e motivações que a<br />
inspiram. É legítimo esperar, por isso, que as propostas e acções preparadas<br />
para esta Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l pela Cáritas <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> encontrem também<br />
redobrado eco e envolvente participação, tanto da parte dos crentes como <strong>de</strong><br />
todas as pessoas que se i<strong>de</strong>ntificam com os seus propósitos e com a sua acção<br />
concreta.<br />
A interpelação a uma forma <strong>de</strong> vi<strong>ver</strong> caracterizada pela atenção às necessida<strong>de</strong>s<br />
dos outros, sobretudo os mais pobres e fracos, que caracteriza a<br />
Cáritas, po<strong>de</strong>rão e <strong>de</strong><strong>ver</strong>ão uns colhê-la no nexo radical do amor a Deus e<br />
do amor ao próximo, que perpassa, <strong>de</strong> forma inequívoca, por toda a tradição<br />
evangélica. Outros, porém, a partir da condição <strong>de</strong> cidadãos da mesma cida<strong>de</strong><br />
e membros da mesma família huma<strong>na</strong>, farão dos gestos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentramento<br />
dos interesses pessoais, um exercício <strong>de</strong> cidadania consequente e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
activa, mostrando <strong>de</strong> igual modo que o próximo em dificulda<strong>de</strong> não<br />
lhes é indiferente. A Cáritas <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, tendo embora <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s cristãs<br />
da diocese o seu suporte mais significativo, po<strong>de</strong> testemunhar aqui, também<br />
com grato reconhecimento, essa pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contributos <strong>na</strong> vivência da<br />
solidarieda<strong>de</strong>.<br />
Deste modo, por caminhos diferentes mas igualmente nobres, po<strong>de</strong>mos<br />
todos, políticos e go<strong>ver</strong><strong>na</strong>ntes, empresários e trabalhadores, associações religiosas<br />
ou civis, abrir-nos à aceitação recíproca, ajudando os mais fracos,<br />
superando barreiras e indiferenças, contribuindo para o fortalecimento dos<br />
laços da solidarieda<strong>de</strong> huma<strong>na</strong> e estabelecendo os alicerces <strong>de</strong> uma convivência<br />
frater<strong>na</strong> e pacífica. Sobretudo nos dias difíceis como os que atravessamos,<br />
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. serviços e movimentos .<br />
nenhum contributo, nenhuma boa vonta<strong>de</strong> está a mais, como não po<strong>de</strong> estar a<br />
menos, para promo<strong>ver</strong> uma <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira humanização das estruturas políticas,<br />
económicas e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Só juntos, venceremos pessimismos e daremos<br />
vida à esperança.<br />
De entre as iniciativas preparadas para esta sema<strong>na</strong>, é o chamado “peditório”<br />
público a que tem maior visibilida<strong>de</strong>. Ainda que, e sobretudo <strong>na</strong> hora<br />
actual, as carências materiais estejam <strong>na</strong> primeira linha das preocupações da<br />
Cáritas, ela propõe-se ser também escola <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, agente transformador<br />
da socieda<strong>de</strong>, no <strong>de</strong>spertar das consciências para os problemas sociais<br />
mais graves e suscitar para a comum responsabilida<strong>de</strong> <strong>na</strong> sua resolução.<br />
As outras acções que preparámos, como a participação <strong>na</strong> dádiva <strong>de</strong> sangue,<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências das pessoas cuidadoras <strong>de</strong> doentes<br />
<strong>de</strong> Alzheimer e a formação <strong>de</strong> agentes/colaboradores da Cáritas, indo ao encontro<br />
<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> muitas famílias e da socieda<strong>de</strong> em geral,<br />
reflectem também a largueza das preocupações da Cáritas e dos horizontes<br />
que se abrem à sua intervenção. Mas exprimem ainda a sua disponibilida<strong>de</strong><br />
para continuar a dar o seu <strong>de</strong>cidido contributo para o compromisso comum<br />
<strong>de</strong> edificação <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> renovada, justa e solidária, on<strong>de</strong> prevaleça o<br />
reconhecimento da primazia do bem comum e da igual e absoluta dignida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cada pessoa huma<strong>na</strong>.<br />
Ambrósio Santos, presi<strong>de</strong>nte da Cáritas Diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
Abertura da Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l da Cáritas em <strong>Leiria</strong><br />
“É bom saber a doutri<strong>na</strong>, mas muito melhor praticá-la”<br />
“É bom saber a doutri<strong>na</strong>, mas muito melhor praticá-la”, afirmou José Dias<br />
da Silva aos mais <strong>de</strong> cem colaboradores da Cáritas que participaram, no passado<br />
dia 8 <strong>de</strong> Março, em <strong>Leiria</strong>, no seu XII Encontro anual.<br />
A reunião, convocada pela Cáritas Diocesa<strong>na</strong> para ser espaço <strong>de</strong> formação,<br />
intercâmbio <strong>de</strong> experiências, formação, oração e convívio, foi presidida<br />
por D. António Marto, e contou com a participação <strong>de</strong> numerosos grupos e<br />
voluntários vindos <strong>de</strong> muitas paróquias da diocese.<br />
A intervenção <strong>de</strong> fundo esteve a cargo daquele perito <strong>na</strong>s áreas da pastoral<br />
social e doutri<strong>na</strong> social da Igreja, que centrou a sua conferência em torno<br />
da conhecida expressão <strong>de</strong> S: Paulo” Se não ti<strong>ver</strong> carida<strong>de</strong>, <strong>na</strong>da sou”, que<br />
constitui também o lema da Cáritas Portuguesa para a sua Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l<br />
que <strong>de</strong>corre até ao dia 15.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 129<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
Com uma linguagem coloquial e muito próxima das realida<strong>de</strong>s que bem<br />
conhece, o Dr. José Dias pren<strong>de</strong>u a atenção da numerosa assembleia, percorrendo<br />
o tema do amor cristão nos seus fundamentos humanos e teológicos,<br />
à luz da tradição bíblica e dos documentos da Igreja; mas também <strong>na</strong>s exigências<br />
concretas para um mo<strong>de</strong>lo diferente <strong>de</strong> organizar a vida pessoal e a<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
“Temos muita experiência em pôr remendos, mas muita dificulda<strong>de</strong> em<br />
atacar as raízes”, disse. Sem subestimar o amor cristão <strong>na</strong>s suas práticas mais<br />
comuns e assistenciais, apontou, sobretudo, para o amor cristão que promove<br />
a auto<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ção e que conduz a pessoa assistida à <strong>de</strong>scoberta da sua<br />
dignida<strong>de</strong>; que leva à transformação das estruturas socio-políticas e não se<br />
fica pela integração no sistema; que não pensa ape<strong>na</strong>s no tempo presente mas<br />
também <strong>na</strong>s gerações futuras; que é libertador das amarras da <strong>de</strong>pendência,<br />
e não ape<strong>na</strong>s protector ou assistencial; que obriga a um modo diferente <strong>de</strong><br />
<strong>ver</strong> os pobres, sujeitos da história e não fardos importunos; que é generoso,<br />
<strong>de</strong>sinteresseiro e ilimitado, um exercício permanente que não po<strong>de</strong> ficar-se<br />
pelas palavras: “é bom saber a doutri<strong>na</strong>; mas muito melhor praticá-la”.<br />
Nas palavras que dirigiu também aos participantes, D. António Marto<br />
referiu-se à actual situação <strong>de</strong> emergência social, dizendo que os cristãos são<br />
chamados a dar suporte às necessida<strong>de</strong>s básicas da vida, pelo que se tor<strong>na</strong><br />
mais premente e mais urgente o apelo da Cáritas para mobilizar e <strong>de</strong>spertar<br />
as consciências para po<strong>de</strong>r repartir.<br />
O bispo da diocese exortou a uma con<strong>ver</strong>gência <strong>de</strong> acção não ape<strong>na</strong>s<br />
<strong>de</strong>ntro da Igreja, mas também em cooperação com outras instituições civis,<br />
para um amor activo, inteligente, atencioso e eficiente. Feito com alegria e<br />
generosida<strong>de</strong> do coração, porventura no silêncio, sem ruído nem espectáculo,<br />
porque não procura a gratificação imediata, mas é feito <strong>de</strong> gratuida<strong>de</strong> generosa<br />
e silenciosa.<br />
Ambrósio Santos, presi<strong>de</strong>nte da Cáritas<br />
Conferência da Cáritas sobre doença <strong>de</strong> Alzheimer<br />
O “afecto” e o “humano” no centro das terapias<br />
Decorreu no dia 5 <strong>de</strong> Março, no auditório municipal da Batalha, uma<br />
jor<strong>na</strong>da <strong>de</strong> trabalho sobre a doença <strong>de</strong> Alzheimer, iniciativa promovida pela<br />
Cáritas Diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (CDL) em parceria com a Delegação Centro da<br />
Alzheimer Portugal (AP) e com o apoio do Município da Batalha. Sob o<br />
130 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. serviços e movimentos .<br />
lema “Alzheimer - conhecer para bem cuidar”, teve como principal objectivo<br />
“promo<strong>ver</strong> a preparação das pessoas que prestam cuidados aos doentes <strong>de</strong><br />
Alzheimer, <strong>de</strong> forma a conseguir que o façam com o máximo <strong>de</strong> eficácia para<br />
o bem-estar daqueles e com o mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste para si próprios”.<br />
Na sessão <strong>de</strong> abertura, Ambrósio Santos, presi<strong>de</strong>nte da CDL, agra<strong>de</strong>ceu<br />
a colaboração das entida<strong>de</strong>s participantes e da autarquia, salientando a importância<br />
<strong>de</strong>sta temática no contexto social actual, em que cada vez mais<br />
pessoas sofrem as consequências <strong>de</strong> tão grave enfermida<strong>de</strong>, não só os doentes<br />
como os seus familiares e amigos mais próximos. Agra<strong>de</strong>ceu igualmente a<br />
boa a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> técnicos e público em geral a esta proposta, numa sala cheia<br />
com mais <strong>de</strong> duzentos participantes. Também Rosária Cabral, presi<strong>de</strong>nte da<br />
Delegação Centro da AP, frisou a pertinência <strong>de</strong>sta abordagem, “sobretudo<br />
a partir da experiência prática <strong>de</strong> quem lida com esta ‘tortura’ diariamente”.<br />
No mesmo sentido interveio Carlos Henriques, vice-presi<strong>de</strong>nte da Câmara da<br />
Batalha, consi<strong>de</strong>rando que “a autarquia acolheu <strong>de</strong> bom grado esta iniciativa<br />
da Cáritas, convicta <strong>de</strong> que será cada vez mais prioritária a acção social dos<br />
executivos municipais, em <strong>de</strong>trimento das infra-estruturas, já que é aí que se<br />
concentra a principal fonte <strong>de</strong> bem-estar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações”.<br />
Com mo<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Alda Moreira, directora técnica do Centro Paroquial<br />
<strong>de</strong> Seiça, os trabalhos começaram com a abordagem do papel do médico <strong>de</strong><br />
família em relação a esta doença, um tema orientado por Célia Men<strong>de</strong>s, médica<br />
do Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Figueiró dos Vinhos. Enunciou as características<br />
fundamentais a ter em conta num doente com Alzheimer; referiu formas <strong>de</strong><br />
atenuar o avanço da doença, bem como algumas técnicas para evitar conflitos<br />
com os portadores, pois “a agressivida<strong>de</strong> vai levar a agressivida<strong>de</strong>”,<br />
acentuou. Nesse sentido, alertou para o papel da família no envolvimento em<br />
todo o processo da doença e apresentou tratamentos alter<strong>na</strong>tivos da medici<strong>na</strong><br />
complementar.<br />
Depois, Carla Pereira, assistente social da AP, falou do apoio social prestado<br />
ao doente, sobretudo em resposta à “instabilida<strong>de</strong> familiar” suscitada<br />
pela situação. “O cuidador é o pilar <strong>de</strong> sustentação do afectado”, afirmou esta<br />
técnica, referindo os vários apoios go<strong>ver</strong><strong>na</strong>mentais que estão ao dispor das<br />
famílias e que possibilitam o acesso a uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> técnicos especializados.<br />
E, resumindo, afirmou: “Cuidar é criar afectos”.<br />
Ainda no primeiro painel, seguiu-se a intervenção da enfermeira Suse<br />
Simões, do Centro Hospitalar <strong>de</strong> Coimbra, <strong>na</strong> linha dos cuidados <strong>de</strong> enfermagem<br />
necessários ao doente <strong>de</strong> Alzheimer, on<strong>de</strong> é fundamental a articulação<br />
entre comunicação <strong>ver</strong>bal e não <strong>ver</strong>bal. A acção abarca as medidas <strong>de</strong> segu-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 131<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
rança para o bem-estar do doente, a higiene pessoal, o vestuário, a alimentação,<br />
os exercícios físicos e as activida<strong>de</strong>s regulares, mas também o papel<br />
motivador do cuidador, que “não <strong>de</strong>ve esquecer-se <strong>de</strong> si próprio”. Quanto<br />
às dificulda<strong>de</strong>s inerentes, fi<strong>na</strong>lizou com uma citação <strong>de</strong> Fer<strong>na</strong>ndo Pessoa:<br />
“Pedras no caminho? Levando-as todas, um dia vou construir um castelo!”.<br />
Da parte da tar<strong>de</strong>, um novo painel abriu com a intervenção <strong>de</strong> Carla Lemos,<br />
fisioterapeuta do Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pombal, centrada no papel da fisioterapia<br />
<strong>na</strong> recuperação das capacida<strong>de</strong>s físicas perdidas ao longo da doença.<br />
“Quando se intervém precocemente, é possível atenuar o avanço da doença<br />
a nível da mobilida<strong>de</strong>, postura e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção física”, afirmou a especialista,<br />
fornecendo algumas indicações quanto a exercícios físicos, posicio<strong>na</strong>mento<br />
dos doentes e materiais a utilizar para auxiliar o doente e o cuidador no diaa-dia.<br />
Na linha das terapias complementares, Elisabete Pereira, terapeuta ocupacio<strong>na</strong>l,<br />
salientou a importância <strong>de</strong>sta acção <strong>de</strong> acompanhamento continuado,<br />
com avaliação progressiva e criação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> intervenção que tenha<br />
em conta a história <strong>de</strong> vida do doente, “através da abordagem da pessoa como<br />
um todo, englobando todos os factores envolventes ao seu meio”. Numa frase,<br />
concluiu, “o terapeuta humaniza a relação: fala, toca e olha”.<br />
Voltando um pouco o discurso para tónica do testemunho, a última parte<br />
da sessão contou com a partilha <strong>de</strong> alguns cuidadores <strong>de</strong> familiares com Alzheimer,<br />
organizados em “Grupos <strong>de</strong> Auto-Ajuda”, que revelaram episódios<br />
reveladores do processo da doença, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diagnóstico ao seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />
gradual. Também a presi<strong>de</strong>nte da Delegação Centro da AP testemunhou<br />
a vivência <strong>de</strong>sta doença “no seio da família”, pelo seu caso pessoal <strong>de</strong><br />
acompanhamento do marido, numa altura em que a doença era ainda pouco<br />
conhecida. Uma exposição enriquecida com imagens <strong>de</strong>monstrativas do percurso<br />
<strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um doente e com a força <strong>de</strong> quem sentiu <strong>na</strong> primeira pessoa<br />
essa realida<strong>de</strong>.<br />
A termi<strong>na</strong>r, num pequeno <strong>de</strong>bate, muitos outros testemunhos emocio<strong>na</strong>dos<br />
surgiram, bem como agra<strong>de</strong>cimentos a quem se <strong>de</strong>dica a tratar e a ajudar<br />
os que sofrem com esta terrível doença. Nas palavras da mo<strong>de</strong>radora Alda<br />
Moreira, “foi um dia <strong>de</strong> esperança, em que os cuidadores sentiram que não<br />
estão sós, que po<strong>de</strong>m solicitar ajuda e dar uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida a<br />
estes doentes”.<br />
Vera Lúcia Lino Ferreira | LMF<br />
132 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. serviços e movimentos .<br />
Muitas estrelas <strong>na</strong> festa da Missão<br />
Ondjoyetu promove espectáculo solidário<br />
Antes da realização <strong>de</strong> mais um espectáculo solidário com a Missão do<br />
Gungo, misturavam-se sentimentos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, receio e expectativa mas,<br />
acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> esperança. De facto, um turbilhão <strong>de</strong> sentimentos acompanhou<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta iniciativa.<br />
Ao longo dos últimos anos, os espectáculos têm constituído um forte contributo,<br />
ajudando no pagamento das viagens dos voluntários e <strong>na</strong> realização<br />
dos projectos que temos vindo a <strong>de</strong>senvol<strong>ver</strong>. Ao início tudo parecia difícil,<br />
mas, graças à ajuda preciosa <strong>de</strong> todos, os objectivos foram cumpridos. Ficamos<br />
muito emocio<strong>na</strong>dos porque, ao longo <strong>de</strong>stes árduos dias <strong>de</strong> trabalho, o grupo<br />
pô<strong>de</strong> contar com a colaboração <strong>de</strong> muitos, aos quais agra<strong>de</strong>cemos, em nome<br />
do grupo missionário e, sobretudo, do povo do Gungo: “Twapandula” (muito<br />
obrigado, no dialecto do Gungo)!<br />
Há quem diga que a união faz a força e isso confirmou-se no dia da Festa.<br />
Por isso, o grupo agra<strong>de</strong>ce aos padres diocesanos, leigos, professores <strong>de</strong><br />
moral, pessoas do grupo missionário, patroci<strong>na</strong>dores e apoiantes em geral. De<br />
forma especial, às cerca <strong>de</strong> 1200 pessoas que vieram participar. Foram muitos<br />
os principais elos do sucesso <strong>de</strong>ste ano; temos <strong>de</strong> acreditar que todos juntos,<br />
caminhando lado a lado, conseguimos construir coisas belas.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos ao Coro Ninfas do Lis, que <strong>de</strong> forma gratuita ajudou o nosso<br />
projecto e que nos brindou com uma maravilhosa actuação: um coro <strong>de</strong> alegria,<br />
cor, simpatia e talento. Agra<strong>de</strong>cemos ao Ricardo Azevedo e à sua equipa, pela<br />
belíssima actuação e forma como interagiram com o público e com o projecto<br />
missionário. As músicas e as palavras com que foi comunicando formaram um<br />
todo harmonioso, numa noite <strong>de</strong> festa e muita alegria, mas também <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
e carinho para com os que mais precisam <strong>de</strong> uma mão amiga.<br />
Por falar nisso, não podia esquecer o momento especial em que tivemos<br />
o privilégio <strong>de</strong> ouvir, por breves minutos, os sons <strong>de</strong> alegria dos missionários<br />
que estão no Gungo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>ver</strong>mos algumas imagens <strong>de</strong>liciosas <strong>de</strong>ssa terra<br />
<strong>de</strong> missão. Obrigada, padre Vítor, pelo filme fantástico com que nos <strong>de</strong>liciou e<br />
pela forma tão pura como retratou a vida e o trabalho dos missionários.<br />
É graças a todos vós que, hoje, <strong>de</strong>pois do evento, po<strong>de</strong>mos acreditar e continuar<br />
a sonhar. No dia 14 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro, não foi só mais uma iniciativa do Grupo Missionário<br />
Diocesano – Ondjoyetu. Foi sobretudo uma união <strong>de</strong> irmãos em amor e<br />
amiza<strong>de</strong>. Resumo tudo isto numa frase bela e profunda: “Amor, Fonte da Missão”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 133<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
Serviço Diocesano <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l<br />
Formação missionária “Chama que chama”<br />
A animação e o acompanhamento vocacio<strong>na</strong>l vão continuar <strong>na</strong> programação<br />
da Escola diocesa<strong>na</strong> “Razões da Esperança”, no ano pastoral que se está<br />
a iniciar. Será uma das ofertas para a segunda hora, orientada pelo Serviço<br />
Diocesano <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l, para apoio da animação vocacio<strong>na</strong>l. Dirige-se<br />
a catequistas, animadores da liturgia, qualquer animador vocacio<strong>na</strong>l,<br />
mesmo não integrado num grupo organizado e outras pessoas que venham a<br />
interessar-se. As inscrições far-se-ão <strong>na</strong>s modalida<strong>de</strong>s e condições da Escola.<br />
O programa, o mesmo do ano passado mas revisto, inclui, no primeiro<br />
semestre, aspectos práticos da ajuda ao <strong>de</strong>spertar das vocações nos grupos e<br />
comunida<strong>de</strong>s, e, no segundo semestre, o processo <strong>de</strong> acompanhamento pessoal<br />
e em grupo, para a <strong>de</strong>scoberta e amadurecimento da própria vocação.<br />
Desti<strong>na</strong>tários<br />
- Membros dos grupos paroquiais e vicariais da animação vocacio<strong>na</strong>l.<br />
- Catequistas e animadores <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> jovens e <strong>de</strong> adultos.<br />
- Padres, religiosos e leigos interessados <strong>na</strong> animação vocacio<strong>na</strong>l.<br />
Objectivos<br />
- Possibilitar a tomada <strong>de</strong> consciência e o apreço pela própria vocação.<br />
- Promo<strong>ver</strong> a disponibilida<strong>de</strong> para ajudar outros <strong>na</strong> <strong>de</strong>scoberta e resposta<br />
à própria vocação.<br />
- Preparar para o ministério <strong>de</strong> animador vocacio<strong>na</strong>l, oferecendo conhecimentos<br />
e instrumentos.<br />
Programa<br />
Primeiro semestre – Vocação e animação vocacio<strong>na</strong>l<br />
Tema 1: Conceitos, objectivos e programa.<br />
MÓDULO I: VOCAÇÃO E PROJECTO PESSOAL DE VIDA<br />
Tema 2: Vocação pessoal.<br />
Tema 3: Itinerário e projecto <strong>de</strong> vida.<br />
Tema 4: Oração e maturida<strong>de</strong> espiritual.<br />
Tema 5: As mediações <strong>na</strong> vocação (pessoal, familiar e comunitária).<br />
134 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
MÓDULO II: DA VOCAÇÃO À PRO-VOCAÇÃO<br />
Tema 6: O papel dos animadores.<br />
Tema 7: Como ajudar a <strong>de</strong>spertar e amadurecer a vocação.<br />
Tema 8: Desafios e propostas.<br />
. serviços e movimentos .<br />
Segundo semestre – O acompanhamento no caminho vocacio<strong>na</strong>l<br />
MODULO I: CONCEITO E MODELO<br />
Tema 1. O que é o acompanhamento vocacio<strong>na</strong>l (pessoal e em grupo).<br />
Tema 2. Ícones bíblicos do acompanhamento: Emaús e Paulo.<br />
Tema 3. O início do caminho vocacio<strong>na</strong>l: do <strong>de</strong>spertar à <strong>de</strong>cisão pessoal.<br />
MÓDULO II: O ACOMPANHANTE<br />
Tema 4. Quem acompanha e como (pais, catequistas, pároco, religioso/a...).<br />
Tema 5. Características da relação <strong>de</strong> ajuda e suas condições.<br />
Tema 6. Acompanhamento pessoal e <strong>de</strong> grupo: semelhanças e diferenças.<br />
MÓDULO III. O ACOMPANHADO<br />
Tema 7. Criança, adolescente e jovem: aspectos psicológicos e espirituais.<br />
Tema 8. I<strong>de</strong>ntificação do chamamento <strong>de</strong> Deus e resposta pessoal.<br />
Enquadramento e calendário<br />
- Formação integrada <strong>na</strong> Escola “Razões da Esperança”.<br />
- De Outubro a Maio, quinze<strong>na</strong>lmente, às terças-feiras, no Seminário <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>: das 21h. às 21h50, formação teológica geral; das 22h às 23h30, formação<br />
sobre animação vocacio<strong>na</strong>l.<br />
- Datas: Outubro, 6 e 20; Novembro, 3 e 17; Dezembro, 1 e 15; Janeiro, 5<br />
e 19; Fe<strong>ver</strong>eiro, 2 e 23; Março, 9 e 23; Abril, 13 e 27; Maio, 11 e 25; Junho,<br />
1 (encerramento).<br />
Orientadores<br />
- Equipa do Serviço <strong>de</strong> Animação Vocacio<strong>na</strong>l: padre Jorge Guarda, padre<br />
André Batista, padre Pedro Viva, padre Vítor Pinto, irmã Goreti Roda,<br />
irmã Maricélia Galindo, Filome<strong>na</strong> Carvalho, Sónia Repolho, Célia Morouço<br />
e Paulo Henriques.<br />
Certificado <strong>de</strong> participação<br />
- No fi<strong>na</strong>l do percurso, a quem participou em 2/3 das sessões será entregue<br />
um certificado <strong>de</strong> participação.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 135<br />
Vida Eclesial
. serviços e movimentos .<br />
CPM – <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
Encontros <strong>de</strong> Noivos 2008/2009<br />
2008<br />
Novembro, 29/30 Cruz da Areia<br />
2009<br />
Janeiro, 31/Fev., 1 Cruz da Areia<br />
Fe<strong>ver</strong>eiro, 7/8 Monte Real<br />
Fe<strong>ver</strong>eiro 7/8 Caxarias<br />
Fe<strong>ver</strong>eiro, 28/Março, 1 M. Gran<strong>de</strong><br />
Março, 7/8 Caranguejeira<br />
Março, 7/8 Albergaria dos Doze<br />
Março, 14/15 Cruz da Areia<br />
Maio, 9/10 Cruz da Areia<br />
Maio, 9/10 Burinhosa<br />
Maio, 30/31 Caxarias<br />
Maio, 30/31 Santa Eufémia<br />
Junho, 6/7 Ortigosa<br />
Junho, 20/21 Cruz da Areia<br />
Junho, 27/28 Marinha Gran<strong>de</strong><br />
Setembro, 26/27 Cruz da Areia<br />
Para melhor aproveitamento, os noivos <strong>de</strong>vem ir antes a uma “reunião<br />
zero”. Informar-se <strong>na</strong> paróquia.<br />
Os noivos não participarão sem terem preenchido as fichas <strong>na</strong>s paróquias<br />
e estas <strong>de</strong>vem enviá-las à Equipa CPM, a tempo <strong>de</strong> se organizar o encontro.<br />
Não se po<strong>de</strong>m aceitar fichas <strong>de</strong> última hora.<br />
136 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Congresso no centenário do Pastorinho<br />
. entrevistas .<br />
Francisco Marto – Crescer para o Dom<br />
Decorreu entre 18 e 20 <strong>de</strong> Junho o congresso “Francisco Marto – Crescer<br />
para o Dom”, que estudou a figura e o testemunho do vi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> bem<br />
como alguns aspectos da espiritualida<strong>de</strong> infantil. Integrado <strong>na</strong>s comemorações<br />
do centenário do <strong>na</strong>scimento do Pastorinho <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, a iniciativa do<br />
Santuário integrou gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas e a participação <strong>de</strong> perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s<br />
com diferentes formações.<br />
Publicamos uma série <strong>de</strong> entrevistas dadas, <strong>na</strong> ocasião, por alguns intervenientes<br />
a Luís Miguel Ferraz e Rui Ribeiro (O Mensageiro) e a Leopoldi<strong>na</strong><br />
Reis Simões (Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>).<br />
Padre Vítor Coutinho, presi<strong>de</strong>nte da Comissão Organizadora<br />
“Olhar para a figura do Pastorinho Francisco<br />
e a realida<strong>de</strong> que ele representa”<br />
Qual a perspectiva que o congresso vai assumir?<br />
Será uma perspectiva abrangente e multidiscipli<strong>na</strong>r.<br />
Tentaremos conhecer melhor a pessoa do<br />
Francisco, aprofundando sobretudo a dimensão da<br />
sua vida interior. Os conferencistas são <strong>de</strong> áreas<br />
muito di<strong>ver</strong>sificadas: da espiritualida<strong>de</strong> e da teologia,<br />
da literatura e do direito, da pedagogia e da<br />
ética, da pastoral e da catequética, da história, da<br />
música, etc. Os temas, que correspon<strong>de</strong>rão a uma<br />
gama muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> interesses, olharão não só<br />
para a figura do pastorinho Francisco Marto, mas<br />
também para a realida<strong>de</strong> das crianças que ele representa, e para alguns <strong>de</strong>safios<br />
que estas colocam à Igreja e à socieda<strong>de</strong>.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 137<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
A que pessoas po<strong>de</strong>rá interessar?<br />
Antes <strong>de</strong> mais, a qualquer cristão que queira conhecer melhor a mensagem<br />
<strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, mas também a todos os que se interessem pela espiritualida<strong>de</strong><br />
cristã <strong>na</strong>s suas di<strong>ver</strong>sas formas, e queiram reflectir sobre a educação religiosa<br />
e espiritual das crianças, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>damente, pais, educadores, catequistas, professores<br />
<strong>de</strong> religião e moral… Interessará ainda a quem se questio<strong>na</strong>r sobre<br />
a forma como a socieda<strong>de</strong> e a Igreja se <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong>safiar pela presença das<br />
crianças.<br />
De di<strong>ver</strong>sos níveis <strong>de</strong> aprofundamento, umas mais acessíveis e práticas,<br />
outras mais teóricas e exigentes, as conferências respon<strong>de</strong>rão a uma gran<strong>de</strong><br />
di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expectativas.<br />
Ar<strong>na</strong>ldo <strong>de</strong> Pinho, presi<strong>de</strong>nte da Comissão Científica<br />
“<strong>Fátima</strong> não é assunto <strong>de</strong> criancinhas”<br />
Do que a Comissão Organizadora já revelou,<br />
<strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que o Congresso irá ao encontro<br />
<strong>de</strong> um vasto leque <strong>de</strong> aspectos relacio<strong>na</strong>dos<br />
com a infância. É uma reflexão premente?<br />
Efectivamente. É a primeira vez que se aborda<br />
uma revelação, embora privada, mas no sentido<br />
<strong>de</strong> Rahner uma revelação privada é um carisma<br />
para toda a igreja, feita a crianças. Por outro lado,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o séc. XIX – lembremos sobretudo o nome<br />
<strong>de</strong> Maria Montessori – a criança não é vista como<br />
um adulto pequeno, mas como um paradigma do<br />
humano. Será também uma figura da graça e um lugar teológico?<br />
Para antecipar um pouco: infância e santida<strong>de</strong> são realida<strong>de</strong>s inerentes,<br />
inseparáveis?<br />
A teologia, sobretudo a partir do carisma <strong>de</strong> Santa Teresinha do Menino<br />
<strong>Jesus</strong> tem alguma reflexão sobre a infância espiritual como caminho <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>.<br />
Todavia, essa reflexão não se aplica cabalmente às crianças <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>,<br />
porque Teresa <strong>de</strong> Lisieux, ou Teresa Martin, não era criança. Não há uma<br />
inerência entre a infância e a graça. Mas há que explorar a infância como<br />
<strong>na</strong>turalmente apta para a graça.<br />
138 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
A or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da temática respon<strong>de</strong> às expectativas do Congresso. Reparese<br />
como se privilegiam os aspectos antropológicos, isto é, a <strong>na</strong>tureza específica<br />
da infância, como aptidão (S. Tomás e K. Rahner diriam potência obediencial)<br />
para a graça.<br />
Quais as suas expectativas para este congresso?<br />
Espero que as pessoas que participarem e vierem a ler as Actas reparem<br />
no fenómeno <strong>Fátima</strong> não como um assunto <strong>de</strong> criancinhas, mas, diferentemente,<br />
como o que <strong>de</strong>vemos às crianças numa perspectiva <strong>de</strong> educação integral<br />
que comporta crescer para o dom, isto é, para a transcendência.<br />
Irmã Ângela Coelho, mo<strong>de</strong>radora num dos painéis<br />
“O Francisco é um talento<br />
que Deus confiou ao nosso mundo!”<br />
Em primeiro lugar… justifica-se um congresso<br />
sobre uma criança, Francisco Marto?<br />
Ao longo <strong>de</strong>stes 90 anos tem-se falado muito<br />
<strong>na</strong> mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> e a vida dos pastorinhos<br />
começou a ganhar maior relevo a partir da sua beatificação,<br />
no ano 2000. O congresso justifica-se,<br />
antes <strong>de</strong> mais, porque a perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do Francisco<br />
ainda não é muito conhecida nem foi aprofundada.<br />
Po<strong>de</strong>rá ser um bom ponto <strong>de</strong> partida agora<br />
que muito mais informação começa a estar ao<br />
nosso dispor. Até aqui havia uma concentração <strong>na</strong>s<br />
Memórias da Irmã Lúcia e <strong>na</strong>lguns livros <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>, actualmente temos<br />
uma informação muito mais vasta, reunida <strong>na</strong> Documentação crítica <strong>de</strong><br />
<strong>Fátima</strong>.<br />
O que tor<strong>na</strong> a perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do Francisco Marto tão especial?<br />
A Mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> assenta no que Nossa Senhora pediu e foi posto<br />
em prática pelas três crianças, Francisco, Jacinta e Lúcia, no seu conjunto, e<br />
também por cada um <strong>de</strong>les <strong>de</strong> uma forma pessoal. Cada um contribuiu com<br />
algo especial. Lembro uma passagem do Antigo Testamento que po<strong>de</strong> ser<br />
inspiradora, quando Elias sobe ao monte Horeb para se encontrar com Deus:<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 139<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
primeiro há um trovão, um vento muito impetuoso, que faz lembrar a Lúcia,<br />
que vê, que fala e fica com a missão <strong>de</strong> anunciar; <strong>de</strong>pois surge o fogo, que faz<br />
lembrar a Jacinta, que tinha no peito aquele ardor pelo Coração Imaculado <strong>de</strong><br />
Maria e pelo Santo Padre; fi<strong>na</strong>lmente, vem a brisa suave on<strong>de</strong> estava Deus,<br />
que me lembra o Francisco, uma criança contemplativa que encontra Deus<br />
no silêncio. Por ser uma alma silenciosa é capaz <strong>de</strong> captar, <strong>de</strong> uma forma<br />
especial, aquilo que é, por exemplo, o Coração eucarístico <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>. O Francisco<br />
tem também isso <strong>de</strong> especial: encontra a sua missão muito cedo, é uma<br />
criança que se retira para o “<strong>de</strong>serto” da Serra <strong>de</strong> Aire, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve a sua<br />
dimensão contemplativa.<br />
É essa a principal característica que o distingue das outras duas vi<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>?<br />
Sim, mas há muitas outras coisas que o distinguem. O Francisco era mais<br />
intro<strong>ver</strong>tido e pacífico, um menino calmo que perdia os jogos mas não levava<br />
a mal nem amuava, ao passo que a Jacinta amuava logo. Depois das<br />
aparições, o Francisco vai mudar mas a partir da sua <strong>na</strong>tureza: gosta <strong>de</strong> estar<br />
sozinho, mas tem um sentido para esta solidão: estar com Deus.<br />
Também era muito sensível. Dos três, é o mais perto da <strong>na</strong>tureza, gosta<br />
muito <strong>de</strong> animais e vive apaixo<strong>na</strong>do pela música e pelo seu pífaro. É ainda<br />
muito corajoso. Na prisão, é ele que dá força à irmã quando ela chora, a encoraja<br />
e anima.<br />
Outra característica sua é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discernimento. Quando vê a<br />
Lúcia em apuros, por não saber o que respon<strong>de</strong>r às pessoas, ou por não querer<br />
ir às aparições, em Julho, com medo que seja o <strong>de</strong>mónio, é o Francisco que<br />
lhe dá coragem e lhe mostra que está enga<strong>na</strong>da: como po<strong>de</strong> ser o <strong>de</strong>mónio “se<br />
Nossa Senhora é tão bonita e o <strong>de</strong>mónio é tão feio”?<br />
Que po<strong>de</strong>m <strong>ver</strong> <strong>de</strong> interessante as crianças <strong>de</strong> hoje neste menino <strong>na</strong>scido<br />
há 100 anos?<br />
Po<strong>de</strong>m olhar para ele como criança absolutamente normal. Os que hoje<br />
brincam com playstation e computadores po<strong>de</strong>m re<strong>ver</strong>-se no Francisco porque<br />
ele não é uma criança extraordinária. Mas viveu um acontecimento especial<br />
que o levou a <strong>de</strong>senvol<strong>ver</strong> virtu<strong>de</strong>s e características que me parecem<br />
fundamentais para as crianças <strong>de</strong> hoje.<br />
Por exemplo, o sentido da obediência. O Francisco era muito obediente<br />
aos pais e obe<strong>de</strong>ceu prontamente aos pedidos <strong>de</strong> Nossa Senhora. Ela pediulhe<br />
que rezasse muitos terços a fim <strong>de</strong> ir para o Céu, e o Francisco não per-<br />
140 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
gunta porquê, não resmunga, não faz birra, ape<strong>na</strong>s reza.<br />
Outro aspecto é o sentido da pureza. Ser puro é <strong>ver</strong> as coisas como Deus<br />
as vê, <strong>ver</strong> as pessoas e os acontecimentos como Deus os vê, com o olhar <strong>de</strong><br />
Deus. O Francisco <strong>de</strong>senvolveu muito este sentido da pureza, por exemplo,<br />
<strong>na</strong> forma como aconselhava a prima a não andar com certo grupo <strong>de</strong> colegas,<br />
para não apren<strong>de</strong>r a dizer palavras feias, pois “<strong>Jesus</strong> fica triste”. As nossas<br />
crianças têm muito a apren<strong>de</strong>r com ele, por exemplo, no uso da internet, que<br />
é uma coisa maravilhosa mas com alguns perigos, on<strong>de</strong> tantas imagens, <strong>de</strong>formando<br />
o nosso olhar, po<strong>de</strong>m levar-nos a <strong>ver</strong> a vida com malícia.<br />
Outra característica fundamental do Francisco é a humilda<strong>de</strong>. Nas aparições,<br />
a Lúcia via, ouvia e falava, a Jacinta via e ouvia, e o Francisco só via.<br />
Ele nunca se queixou, nunca se sentiu diminuído, nunca disse “coitadinho <strong>de</strong><br />
mim, porque só vejo”, assumiu o que era, assumiu os seus limites. No nosso<br />
tempo <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>, em que cada criança tem que ser melhor que a<br />
outra, mais inteligente, mais bonita, mais rica, mais po<strong>de</strong>rosa, sem direito a<br />
medos ou fraquezas… o Francisco, com o seu jeito humil<strong>de</strong>, ensi<strong>na</strong> muito às<br />
crianças <strong>de</strong> hoje.<br />
Sendo uma criança absolutamente normal, o Francisco transformou-se<br />
numa criança especial que todas as crianças normais, <strong>de</strong>ste tempo, po<strong>de</strong>m<br />
perfeitamente imitar.<br />
Dadas essas características, o Francisco po<strong>de</strong> também inspirar os adultos?<br />
Muito. Era criança mas tinha uma infância madura. Com a vivência da<br />
mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser criança. Apreciava a companhia da<br />
prima e da irmã, gostava do carinho do pai e da mãe.<br />
Com o Francisco, os adultos po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, apren<strong>de</strong>r a prudência e a<br />
sensibilida<strong>de</strong> que ele <strong>de</strong>monstra. Recordo o conselho à Lúcia para não voltar<br />
da escola com certos amigos, ir um “bocadinho para o pé <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> escondido<br />
e <strong>de</strong>pois vir sozinha para casa”. Quantos pais, <strong>na</strong> educação dos filhos, po<strong>de</strong>m<br />
apren<strong>de</strong>r com esta prudência do Francisco!<br />
Há outras características inspiradoras para os adultos: a sua luci<strong>de</strong>z, a sua<br />
consciência recta, o seu amor à <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, que o seu pai, “Ti Marto”, frequentemente<br />
confirmava. A rectidão da consciência é importantíssima, num mundo<br />
que relativiza a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> e tudo.<br />
No pequeno Francisco salientava-se o sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e a insistência<br />
<strong>na</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos compromissos. Tinha-lhe sido confiada, <strong>de</strong> forma<br />
especial, a missão <strong>de</strong> rezar muitos terços, num apelo à sua dimensão con-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 141<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
templativa. Nunca abriu mão daquilo a que se tinha comprometido. Num<br />
socieda<strong>de</strong> light, em que as pessoas se comprometem tão pouco, ao nível da<br />
profissão, do trabalho, das relações familiares, o Francisco po<strong>de</strong> ajudar muito<br />
no sentido da responsabilida<strong>de</strong> e do compromisso.<br />
Normalmente, associa-se ao Francisco a imagem do contemplativo. Pelo<br />
que diz, ele po<strong>de</strong>rá ser mo<strong>de</strong>lo não ape<strong>na</strong>s para pessoas com o gosto da<br />
contemplação. Sê-lo-á também para quem tem uma vocação mais “activa”<br />
<strong>na</strong> Igreja e no mundo…<br />
Claro que sim. Como diz a Sacrossantum Concilium, a Igreja é simultaneamente<br />
missionária e contemplativa. Tem as duas dimensões, como cada<br />
um <strong>de</strong> nós, a activa e a contemplativa. Mas a contemplação é, <strong>de</strong> facto, o fim<br />
da nossa vida, a união com Deus. O Francisco, vivendo esta dimensão contemplativa<br />
<strong>de</strong> uma forma especial, é um alerta para nós e lembra que isto da<br />
contemplação e da dimensão espiritual da vida é para todos. É um apelo a não<br />
esquecermos esta dimensão <strong>de</strong> união com Deus, do fim da nossa vida para o<br />
qual existimos, que é o estar com Cristo.<br />
Em relação à mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, qual o conteúdo que o Francisco<br />
encarnou mais intensamente?<br />
Antes <strong>de</strong> mais, o Francisco era um apaixo<strong>na</strong>do pela beleza. Ele tem uma<br />
frase muito interessante a este propósito: “Gostei muito <strong>de</strong> <strong>ver</strong> o Anjo, mas<br />
gostei ainda mais <strong>de</strong> Nossa Senhora. Do que gostei mais foi <strong>de</strong> <strong>ver</strong> a Nosso<br />
Senhor <strong>na</strong>quela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito”. O Francisco<br />
consegue perceber esta gradação: o Anjo é bonito, Nossa Senhora é mais,<br />
mas mesmo mais bonito é Nosso Senhor.<br />
Depois, vive uma espiritualida<strong>de</strong> reparadora: manifesta uma vonta<strong>de</strong> intensa<br />
<strong>de</strong> consolar a Deus, o “<strong>Jesus</strong> Escondido”. Tem um gran<strong>de</strong> sentido <strong>de</strong><br />
compaixão. Como viveu tudo isto? Pela adoração eucarística. Passava horas<br />
diante <strong>de</strong> “<strong>Jesus</strong> Escondido”. Nunca saberemos a que grau <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> com<br />
<strong>Jesus</strong> o Francisco ace<strong>de</strong>u. Há o caso <strong>de</strong> uma senhora que pe<strong>de</strong> uma graça<br />
para um filho acusado <strong>de</strong> um crime falso. O Francisco vai rezar e no fim diz<br />
à Lúcia: “Diz à tua Teresa que daqui a poucos dias ele vem para casa”. Como<br />
é que uma criança passa uma manhã com <strong>Jesus</strong> escondido e tem a certeza<br />
absoluta <strong>de</strong> conseguir uma graça?<br />
Também não po<strong>de</strong>mos esquecer o seu amor ao Rosário. Nossa Senhora<br />
disse-lhe que tinha <strong>de</strong> rezar muitos terços, e ele diz: “Ó minha Nossa Senhora,<br />
terços rezo tantos quantos tu quiseres”.<br />
142 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
Em que medida a experiência e o testemunho do Francisco Marto po<strong>de</strong>m<br />
ser estímulo para a fé cristã?<br />
O que é pedido aos Pastorinhos insere-os <strong>na</strong> tradição e vida da Igreja. A<br />
sua experiência mostra que até uma criança, num curto espaço <strong>de</strong> tempo, dois<br />
ou três anos, consegue vi<strong>ver</strong> <strong>de</strong> modo intenso e profundo o mistério da Eucaristia.<br />
No caso do Francisco, é especialmente visível o amor aos pecadores,<br />
com os quais se sentia solidário e unido oferecendo sacrifícios por eles.<br />
É para nós um estímulo. Se uma criança o fez, também eu o posso fazer.<br />
São coisas simples e conhecidas. Se fosse algo <strong>de</strong> extraordinário po<strong>de</strong>ria<br />
<strong>de</strong>sculpar-me dizendo “não sou capaz, não é para mim”.<br />
Como médica e trabalhando com pessoas que sofrem, acha que o modo<br />
como o Francisco encarou a doença e a dor também é mo<strong>de</strong>lo para nós?<br />
O que me chama a atenção nos doentes é a forma como cada um vive a<br />
sua doença. A atitu<strong>de</strong> do Francisco não é tanto o “porquê a mim?”, mas o<br />
“para quê?”, o “que posso fazer, com esta circunstância?”<br />
O Francisco conseguiu encontrar um sentido que enchia <strong>de</strong> alegria a sua<br />
doença. Vivia para consolar a Deus e Nossa Senhora, para con<strong>ver</strong>ter os pecadores.<br />
Desta forma, fez da fase fi<strong>na</strong>l da sua vida um dom, incluindo a sua<br />
doença. Encarando a doença <strong>de</strong> um modo ajustado, sofrendo com paciência<br />
e “resig<strong>na</strong>ção activa”, não como “coitadinho <strong>de</strong> mim”, integrou a doença <strong>na</strong><br />
sua vida, com todo o seu carácter e as suas capacida<strong>de</strong>s. Há quem sofra <strong>de</strong><br />
forma zangada e revoltada, e há quem sofra <strong>de</strong> forma paciente, sem se <strong>de</strong>ixar<br />
domi<strong>na</strong>r e escravizar pela doença, assumindo-a com <strong>de</strong>cisão, vivendo-a<br />
como um acontecimento da vida.<br />
Essa maturida<strong>de</strong> e até austerida<strong>de</strong> do Francisco são normais numa<br />
criança? Hoje não será visto como sintoma <strong>de</strong> patologia?<br />
Não! Há crianças que sofrem com muito amor, com muito sentido <strong>de</strong><br />
entrega. Não serão comparáveis ao sentido do Francisco, que teve uma experiência<br />
única. Mas também ele cumpriu tudo o que havia a cumprir, não<br />
fazendo <strong>na</strong>da <strong>de</strong> extraordinário mesmo durante a doença.<br />
Quais as suas expectativas para este Congresso?<br />
Estou muito entusiasmada e muito expectante. Será uma excelente oportunida<strong>de</strong><br />
para reflectirmos sobre a perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> huma<strong>na</strong> do Francisco, sobre<br />
a transformação que a vivência da mensagem <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> operou nele como<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 143<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
menino e, <strong>de</strong>pois, como morreu. Po<strong>de</strong> ser um momento excelente <strong>de</strong> enriquecimento<br />
para todos nós e espero que muitos possam aproveitar. Ao falar<br />
<strong>de</strong>sta criança, o congresso recordará um mo<strong>de</strong>lo que tanto po<strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>r. O<br />
Francisco é um talento que Deus confiou ao nosso mundo!<br />
P. Emanuel Silva, mo<strong>de</strong>rador num dos painéis<br />
“Todos po<strong>de</strong>mos ser crianças”<br />
Justifica-se um congresso sobre o Pastorinho<br />
Francisco Marto?<br />
Francisco Marto é uma figura extremamente<br />
rica que, por isso mesmo, <strong>de</strong>sperta interrogações<br />
e <strong>de</strong>safios nos mais di<strong>ver</strong>sos quadrantes. É impossível<br />
seguir <strong>de</strong> perto a sua história sem se <strong>de</strong>ixar<br />
interrogar. Des<strong>de</strong> o contexto existencial dos seus<br />
nove anos à sua perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> e temperamento, e<br />
admirando a sua fé, <strong>de</strong>ixamo-nos cativar pelas expressões<br />
do seu amor e total entrega a Deus pelas<br />
mãos <strong>de</strong> Maria. É impossível acompanhar o seu percurso sem que, da sua<br />
infância feita “oferta agradável a Deus”, surjam interrogações e implicações<br />
em todos os tempos e a muitos níveis.<br />
Essa multiplicida<strong>de</strong> das interrogações e implicações que o Francisco <strong>de</strong>sperta,<br />
justifica inteiramente um Congresso. O diálogo entre os di<strong>ver</strong>sos âmbitos<br />
do saber permitirá maior aprofundamento da riqueza interior daquele<br />
que alguém disse ter “um ar <strong>de</strong>sempe<strong>na</strong>do quando respondia às perguntas”.<br />
Efectivamente, o Francisco <strong>de</strong>ixa-se “interrogar” e o seu ar “<strong>de</strong>sempe<strong>na</strong>do”<br />
acaba por levantar interrogações sobre a sua pessoa e as <strong>de</strong>mais crianças.<br />
Que nos diz Francisco Marto sobre a espiritualida<strong>de</strong> das crianças?<br />
Diz-nos “espontaneida<strong>de</strong>”, “autenticida<strong>de</strong>” e “confiança”! Se colocarmos<br />
uma criança e um adulto diante <strong>de</strong> uma casa gran<strong>de</strong>, esteticamente impressio<strong>na</strong>nte,<br />
colheremos reacções diferentes. O adulto olhará ao preço - “É muito<br />
cara!”- e a criança, por seu lado, referirá a sua beleza - “Que bonita!”. Talvez<br />
porque os adultos, diz um poeta, já não têm tempo para dar <strong>de</strong> comer aos<br />
pássaros. A simples observação <strong>de</strong>monstra que as crianças têm uma incrível<br />
facilida<strong>de</strong> em passar do mundo material e físico à “experiência” do Sobre<strong>na</strong>-<br />
144 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
tural. Mais do que isso, falam-nos <strong>de</strong>ssa experiência com uma proximida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconcertante e uma convicção e <strong>de</strong>senvoltura cativantes.<br />
É evi<strong>de</strong>nte que se tor<strong>na</strong> necessário, e a educação, para o bem e para o<br />
mal, também o promove, passar da “metafísica ape<strong>na</strong>s pessoal” para a “física<br />
uni<strong>ver</strong>sal”. Mas a passagem não <strong>de</strong>ve ser tão rápida que impeça <strong>de</strong> reparar no<br />
essencial, já que, à priori, não tem <strong>de</strong> existir contradição nem oposição entre<br />
a metafísica pessoal e a física uni<strong>ver</strong>sal. A espiritualida<strong>de</strong> radica no mais<br />
profundo do ser e é, quase podíamos dizer, como o “rir” e a “linguagem”, um<br />
dado humano fundamental.<br />
Sobre a espiritualida<strong>de</strong> das crianças, Francisco dir-nos-á seguramente<br />
que é necessário crescer (“fazer-se um homem” como costuma dizer-se em<br />
linguagem <strong>de</strong> “adultos”) sem per<strong>de</strong>r o que dá sentido à vida. A história das<br />
aparições e a vida <strong>de</strong> Francisco falam-nos <strong>de</strong> uma criança pacífica, dócil,<br />
bondosa, con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, com sentido <strong>de</strong> humor, brincalhão, <strong>de</strong> fácil relação<br />
e amiza<strong>de</strong>, atento e perspicaz, reservado, <strong>de</strong>stemido, contemplativo, sincero,<br />
transparente, <strong>de</strong>licado, paciente. Tantas coisas boas que, <strong>na</strong>turalmente,<br />
po<strong>de</strong>m ser alvo <strong>de</strong> pedagogias <strong>de</strong> forma a fazerem-se realida<strong>de</strong> existencial.<br />
Nessas atitu<strong>de</strong>s estão todas as linhas com que se “<strong>de</strong>senha” e faz um Homem.<br />
Esta criança po<strong>de</strong> inspirar uma espiritualida<strong>de</strong> cristã adulta?<br />
Se não vos tor<strong>na</strong>r<strong>de</strong>s crianças não entrareis no Reino … (Mc 10, 15). As<br />
palavras <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> não <strong>de</strong>ixam lugar a dúvidas. Mas não são, <strong>de</strong> todo, um convite<br />
ao infantilismo ou à imaturida<strong>de</strong>. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inspiração <strong>de</strong> uma<br />
espiritualida<strong>de</strong> cristã adulta <strong>na</strong> criança que é o Francisco, surge precisamente<br />
das qualida<strong>de</strong>s da infância <strong>de</strong> Francisco e <strong>de</strong> todas as crianças. A maturida<strong>de</strong><br />
cristã faz do adulto não ape<strong>na</strong>s uma “pessoa gran<strong>de</strong>” mas sobretudo uma<br />
“pessoa crescida e a crescer”, sem significar acrescentar anos à vida, mas,<br />
antes, acrescentar vida aos anos. Espontaneida<strong>de</strong>, autenticida<strong>de</strong> e confiança<br />
são notas, entre muitas outras, que testemunham em Francisco marcos incontornáveis<br />
<strong>de</strong> uma espiritualida<strong>de</strong> cristã adulta.<br />
<strong>Jesus</strong> é o mesmo ontem, hoje e sempre. Mas, porque o homem muda e<br />
a história se altera, é necessário transfigurar a infância para se ser cristão<br />
adulto. Para além <strong>de</strong> todas as mudanças e alterações, o <strong>de</strong>safio permanece o<br />
mesmo – amar a Deus e aos irmãos – <strong>de</strong>safio a passar permanentemente para<br />
Aquele que não passa. Isso é possível em todas as culturas e enquadramentos.<br />
“Ser criança”, no apelo <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, é experiência <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> e maturida<strong>de</strong><br />
cristã, expressão do homem “à estatura <strong>de</strong> Cristo”, confiante, autêntico e espontâneo.<br />
Não se trata, portanto, <strong>de</strong> construir “homens infantis”, mas <strong>de</strong> re-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 145<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
parar nos di<strong>na</strong>mismos da maturida<strong>de</strong> cristã como expressões <strong>de</strong> uma infância<br />
transfigurada que se manifesta e age <strong>na</strong> base da simplicida<strong>de</strong>, da alegria, da<br />
espontaneida<strong>de</strong> e, sobretudo, da confiança filial.<br />
Que aspectos da experiência <strong>de</strong> Francisco Marto parecem mais interessantes<br />
para um aprofundamento teológico?<br />
O amor a Deus e a confiança nos caminhos que nos indica para chegarmos<br />
até Ele. A história do Francisco fala-nos <strong>de</strong> uma criança pacífica, dócil,<br />
bondosa, con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, com sentido <strong>de</strong> humor, brincalhão, <strong>de</strong> fácil relação<br />
e amiza<strong>de</strong>, atento e perspicaz, reservado, <strong>de</strong>stemido, contemplativo, sincero,<br />
transparente, <strong>de</strong>licado, paciente.<br />
Nas Memórias em que é <strong>na</strong>rrada a sua vida, que mereceram já um estudo<br />
crítico superiormente elaborado, nunca <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> impressio<strong>na</strong>r a confiança<br />
absoluta do Francisco em Deus e a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relativizar o que consi<strong>de</strong>rava<br />
“coisas sem importância”. O seu amor e entrega a “<strong>Jesus</strong> escondido”<br />
são impressio<strong>na</strong>ntes. Como se tor<strong>na</strong> assim uma criança <strong>de</strong> nove anos, ao ponto<br />
<strong>de</strong> ser <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira “oferenda agradável a Deus”? O amor e a dispersão são<br />
experiências <strong>de</strong> sentido contrário. O amor unifica sempre e, embora não limite<br />
a extensão, valoriza sobretudo a intensida<strong>de</strong> (não muitas coisas ao mesmo<br />
tempo, mas as mais importantes). O amor a Deus e o amor <strong>de</strong> Deus, <strong>na</strong>s suas<br />
possibilida<strong>de</strong>s e caminhos, parecem-me aspectos teológicos a <strong>de</strong>senvol<strong>ver</strong>,<br />
juntamente com o facto <strong>de</strong> se apren<strong>de</strong>r a amar a Deus <strong>de</strong>ixando que Deus<br />
nos ame.<br />
A partir do Francisco po<strong>de</strong>mos falar das crianças <strong>na</strong> Igreja. Em que medida<br />
po<strong>de</strong>rão constituir um <strong>de</strong>safio à vida eclesial?<br />
Na medida da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> optimismo metafísico e, ao mesmo tempo,<br />
<strong>de</strong> pungente realismo histórico.<br />
A vida eclesial necessita <strong>de</strong> se refontalizar constantemente em <strong>Jesus</strong> Cristo<br />
e <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong> apostólica. Se não o faz <strong>de</strong>ixa-se cair no “politicamente<br />
correcto” e acaba sempre limitada <strong>na</strong> sua missão. A espontaneida<strong>de</strong> da criança<br />
é uma constante. Faz lembrar a história da mãe que, saindo com o filho<br />
pequeno para visitar a tia, o preveniu para não dizer que a tia estava gorda.<br />
Mas, em casa da tia, o miúdo só podia ser espontâneo: “Tia, a mãe disse que<br />
eu não dissesse que estás gorda!”.<br />
Esta espontaneida<strong>de</strong>, usada não para proveito próprio mas como acesso<br />
à realida<strong>de</strong>, evoca a vida da Igreja, <strong>na</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e missão, como serviço<br />
da salvação aos homens <strong>de</strong> hoje, experiência e expressão <strong>de</strong> comunhão, e<br />
146 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
anúncio <strong>de</strong> Cristo para toda a humanida<strong>de</strong>. A Igreja é, por <strong>de</strong>finição, um Povo<br />
novo. Dizê-lo com <strong>de</strong>svelo e <strong>na</strong>turalida<strong>de</strong>, sem se ren<strong>de</strong>r a ambientes e modas,<br />
é dom do Espírito que nos amadurece e cativa outros para comungarem<br />
connosco. Estes foram sempre os caminhos da Igreja. É enquanto anuncia<br />
que <strong>de</strong>nuncia. Po<strong>de</strong> falar da sua missão com alegria e entusiasmo porque,<br />
sabendo em Quem põe a sua confiança, tem muito para dar ao mundo.<br />
Porquê o conceito <strong>de</strong> “dom” para falar <strong>de</strong> uma criança e da sua experiência<br />
religiosa?<br />
Dom é o que melhor traduz a gratuida<strong>de</strong>, o prazer (mesmo que exija esforço)<br />
e a liberda<strong>de</strong> que a criança coloca como “exigência” em tudo o que faz.<br />
Aquilo que resistir às exigências <strong>de</strong> gratuida<strong>de</strong>, prazer (ser feito com prazer<br />
que é diferente <strong>de</strong> ser feito para dar prazer) e liberda<strong>de</strong> obtém da criança a<br />
colaboração e o empenho.<br />
A experiência religiosa também é <strong>de</strong> gratuida<strong>de</strong> total, <strong>na</strong> relação pessoal<br />
com o Mistério <strong>de</strong> Deus que não possuímos, que nos relativiza e que, ao mesmo<br />
tempo, nos sustenta.<br />
Só existe autêntico amor quando a pessoa se dispõe à abertura aos outros,<br />
como Cristo. Amar é dar a vida em gratuida<strong>de</strong>, querendo que o outro seja por<br />
si mesmo e não por <strong>de</strong>pendência do que pensamos ou <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>mos. O Cristianismo<br />
parte precisamente da experiência <strong>de</strong> que “Deus ama” cada homem<br />
e cada mulher. E o amor é o que há <strong>de</strong> mais real em Deus. Aliás, a mensagem<br />
fundamental <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> é que Deus é amor. É <strong>de</strong>cisivo para o homem sabê-lo<br />
para também po<strong>de</strong>r amar a Deus: quem não faz a experiência <strong>de</strong> ser amado<br />
não sabe nem apren<strong>de</strong> a amar.<br />
Falar do conhecimento <strong>de</strong> Deus como Amor é, portanto, reflectir um conhecimento<br />
que só se realiza por relação e no horizonte <strong>de</strong> uma liberda<strong>de</strong> interpelada.<br />
De facto, a História da Salvação po<strong>de</strong> ser lida à luz <strong>de</strong>sta gramática<br />
do amor para dizer Deus. Amar é vi<strong>ver</strong> para o outro (dom) e é vi<strong>ver</strong> do outro<br />
e pelo outro (acolhimento). O amor supõe a alterida<strong>de</strong>. Francisco <strong>de</strong>scobriu<br />
Deus e entregou-se-Lhe totalmente. Nada melhor que o conceito <strong>de</strong> “dom”<br />
para expressar essa entrega! Na sua vida, com a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Deus, o amor<br />
tor<strong>na</strong>-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, como<br />
diz o Santo Padre, Bento XVI, não busca a imersão no inebriamento da felicida<strong>de</strong>;<br />
procura, ao invés, o bem do amado: tor<strong>na</strong>-se renúncia, está disposto<br />
ao sacrifício, procura-o até (DCE 6). É dom.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 147<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
Entrevista a D. A<strong>na</strong>cleto Gonçalves Oliveira<br />
“S. Paulo tor<strong>na</strong>r-se-á<br />
uma figura mais popular”<br />
A Agência ECCLESIA foi<br />
ao encontro <strong>de</strong> D. A<strong>na</strong>cleto<br />
Oliveira, Bispo Auxiliar <strong>de</strong><br />
Lisboa e responsável pelo itinerário<br />
catequético proposto<br />
pela Conferência Episcopal<br />
Portuguesa, para falar do balanço<br />
das 52 sema<strong>na</strong>s e das<br />
perspectivas que se abrem<br />
após a celebração do Ano<br />
Paulino.<br />
Este ano, S. Paulo foi o guia<br />
espiritual da Igreja?<br />
Para muitos cristãos foi e<br />
para a Igreja, em geral, também.<br />
Fizeram-se muitas coisas<br />
e tenho a impressão que<br />
foi um ano marcado por esta<br />
figura da Igreja.<br />
Que pontos <strong>de</strong>stacaria neste Ano Paulino?<br />
É muito difícil dizer, porque não temos nenhum levantamento <strong>de</strong> tudo<br />
o que se fez. Sabemos que se realizaram muitas iniciativas e activida<strong>de</strong>s:<br />
a nível inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, diocesano, paroquial e pessoal. No entanto,<br />
<strong>de</strong>stacaria, a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, a peregri<strong>na</strong>ção ao Santuário <strong>Fátima</strong>, <strong>na</strong> Festa da<br />
con<strong>ver</strong>são <strong>de</strong> S. Paulo. Apesar das condições climatéricas, teve uma afluência<br />
muito gran<strong>de</strong>, sobretudo da diocese <strong>de</strong> Lisboa. Nas dioceses realizaram-se<br />
também imensas activida<strong>de</strong>s e alguns movimentos, nomeadamente o Escutis-<br />
148 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
mo e os Cursos <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong>, também concretizaram di<strong>ver</strong>sas iniciativas.<br />
Alguns <strong>de</strong>stes têm como patrono S. Paulo. O Secretariado Nacio<strong>na</strong>l da Educação<br />
Cristã também promoveu catequeses.<br />
Neste Ano Paulino suponho que o mais proveitoso foi o confronto pessoal<br />
e em pequenos grupos que muitos cristãos fizeram com os escritos <strong>de</strong> S.<br />
Paulo. Esta figura da Igreja oferece-nos caminhos únicos para o encontro com<br />
Cristo. Por isso, a dimensão pessoal é fundamental.<br />
Se S. Paulo foi um autêntico GPS 1 , o livro «Um ano a caminhar com S.<br />
Paulo» da sua autoria foi um excelente auxílio?<br />
Penso que sim, mas não tenho números. Não sei qual foi a tiragem e muito<br />
menos a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> livros vendidos e, o mais importante, aqueles que se<br />
leram. Os ecos que me chegaram <strong>de</strong> di<strong>ver</strong>sos pontos do país são muito positivos.<br />
Pu<strong>de</strong> partilhar os conhecimentos sobre S. Paulo que fui adquirindo ao<br />
longo da minha vida.<br />
Depois <strong>de</strong>ste Ano Paulino, S. Paulo tor<strong>na</strong>r-se-á padroeiro <strong>de</strong> paróquias<br />
<strong>na</strong>scentes?<br />
Acredito. Não só <strong>de</strong> igrejas, mas também <strong>de</strong> outras casas e instituições.<br />
Este acontecimento provocou <strong>de</strong>scobertas. Lentamente, S. Paulo tor<strong>na</strong>r-se-á<br />
uma figura mais popular.<br />
Com a celebração dos 2000 anos do <strong>na</strong>scimento <strong>de</strong> Paulo, os cristãos<br />
ficaram também mais ricos geograficamente com as peregri<strong>na</strong>ções aos locais<br />
Paulinos. Esta activida<strong>de</strong> foi muito «explorada» e com resultados interessantes.<br />
Mais do que os lugares que as pessoas visitam - participei em duas<br />
peregri<strong>na</strong>ções aos lugares Paulinos - foi a ocasião que ti<strong>ver</strong>am para ir lendo e<br />
ouvindo textos <strong>de</strong> S. Paulo ou sobre S. Paulo. Notei interesse <strong>na</strong>s pessoas <strong>de</strong><br />
conhecer o que S. Paulo nos <strong>de</strong>ixou. Quanto mais conheciam, mais queriam<br />
conhecer.<br />
Depois <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>dicado a S. Paulo, Bento XVI proclamou o Ano Sacerdotal.<br />
S. Paulo é o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sacerdote?<br />
Paulo foi um apóstolo. Ele próprio, uma vez ou outra, se apresenta com<br />
«essa roupa» <strong>de</strong> sacerdote. Recordo a Carta aos Romanos, no capítulo 15,<br />
que fala da sua activida<strong>de</strong> junto dos gentios com uma linguagem tipicamente<br />
sacerdotal. Ele continua a ser um mo<strong>de</strong>lo para todos os homens.<br />
1 GPS: Global positioning system: Sistema <strong>de</strong> Navegação pró Satélite.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 149<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
Mas S. Paulo é muito diferente do Santo Cura d´Ars. (João Maria Vianney)<br />
que era um simples padre da al<strong>de</strong>ia. Duas formas diferentes <strong>de</strong><br />
evangelizar?<br />
Claro, mas complementares. Não po<strong>de</strong>mos esquecer que S. Paulo andava<br />
pelo mundo, mas procurou manter sempre um contacto pessoal <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s.<br />
A missão que ele recebeu <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Cristo obrigava-o a caminhar.<br />
Segundo os «Actos dos Apóstolos», ele passou 18 meses em Corinto e três<br />
anos em Éfeso. Nesses sítios, S. Paulo <strong>de</strong>dicava-se totalmente àquilo que,<br />
<strong>na</strong> linguagem <strong>de</strong> hoje, é específico <strong>de</strong> um sacerdote. Neste sentido há uma<br />
afinida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> com S. João Maria Vianney. Sem esquecer o amor<br />
profundo por <strong>Jesus</strong> Cristo.<br />
A luz pauli<strong>na</strong> <strong>de</strong>ixou marcas <strong>na</strong> Igreja portuguesa?<br />
Veremos, mas confesso que houve um interesse redobrado. Fiquei impressio<strong>na</strong>do<br />
com o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas que têm participado, <strong>na</strong> região<br />
Oeste do Patriarcado, em encontros periódicos. Noto que S. Paulo está a ilumi<strong>na</strong>r<br />
muita gente. Quando nos <strong>de</strong>ixamos envol<strong>ver</strong> por ele, já não conseguimos<br />
largá-lo.<br />
Nota-se que tem uma paixão pauli<strong>na</strong>. Irá sentir sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pois do encerramento<br />
<strong>de</strong>ste ano Paulino?<br />
Não ficarei com sauda<strong>de</strong>s porque irei continuar a aprofundar os textos<br />
<strong>de</strong> S. Paulo. Mais do que sauda<strong>de</strong>s, ficarei com maior entusiasmo para me<br />
<strong>de</strong>dicar ao estudo daquilo que nos <strong>de</strong>ixou.<br />
150 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Entrevista ao padre Gonçalo Diniz<br />
. entrevistas .<br />
Aulas <strong>de</strong> Educação Moral e Religiosa<br />
Católica: Uma opção cheia <strong>de</strong> sentido!<br />
Por Rui Ribeiro<br />
Prestes a termi<strong>na</strong>r um ano escolar<br />
e em período <strong>de</strong> matrículas para o próximo,<br />
é ocasião para reflectir sobre as<br />
políticas go<strong>ver</strong><strong>na</strong>tivas que influenciam<br />
em muito as áreas <strong>de</strong> “escolha” dos alunos.<br />
No caso da discipli<strong>na</strong> <strong>de</strong> Educação<br />
Moral e Religiosa Católica (EMRC),<br />
reparamos em algumas situações <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svantagem nos programas escolares,<br />
<strong>na</strong>s dificulda<strong>de</strong>s levantadas a alunos e<br />
professores, e <strong>na</strong> forma como é apresentada.<br />
Recordando a preocupação<br />
manifestada pelos bispos, procurámos<br />
o responsável diocesano por este sector,<br />
padre Gonçalo Diniz, e registámos as<br />
suas respostas.<br />
Qual a situação da discipli<strong>na</strong> <strong>de</strong> EMRC <strong>na</strong> nossa diocese? Há alunos?<br />
Há Professores?<br />
Não é fácil apresentar uma visão sintética e objectiva. Nos últimos anos,<br />
tem-se registado diminuição <strong>de</strong> alunos em algumas escolas, mas noutras tem<br />
havido aumento.<br />
Infelizmente, não há, <strong>na</strong> nossa diocese, gran<strong>de</strong> tradição da discipli<strong>na</strong> no Iº<br />
Ciclo (do 1º ao 4º ano). A isto juntaram-se, nos últimos anos, alterações curriculares<br />
que quase impossibilitaram a existência <strong>de</strong>sta discipli<strong>na</strong> nessa etapa.<br />
Temos também assistido a uma diminuição das turmas em algumas escolas<br />
do ensino secundário público, sobretudo por a discipli<strong>na</strong> ter passado a dois<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 151<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
blocos sema<strong>na</strong>is seguidos. É certo que esta alteração permite <strong>de</strong>senvol<strong>ver</strong><br />
outro tipo <strong>de</strong> projectos e abre para novas possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas, mas,<br />
por outro, complica a participação dos alunos. Por tudo isto, a gran<strong>de</strong> maioria<br />
dos alunos são do IIº e IIIº Ciclos (do 5º ao 9º ano). Dentro <strong>de</strong>sta faixa etária,<br />
enquanto numas escolas o contexto social e outros factores ligados ao nível<br />
da vivência eclesial têm levado à redução do número <strong>de</strong> turmas, noutras,<br />
tradicio<strong>na</strong>lmente com menos inscritos, esse número tem aumentado. Neste<br />
caso, é notório o contributo empenhado dos professores da discipli<strong>na</strong>, muitas<br />
vezes <strong>de</strong>senvolvendo um papel quase heróico, no meio <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s institucio<strong>na</strong>is,<br />
sociais, etc.<br />
Temos actualmente 61 professores <strong>de</strong> EMRC, distribuídos pelas escolas<br />
do ensino público, privado e cooperativo e pelos colégios católicos, com cargas<br />
horárias distintas, todos fazendo gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong> adaptação da discipli<strong>na</strong><br />
aos <strong>de</strong>safios actuais, apostando <strong>na</strong> formação pessoal, imprescindível a uma<br />
acção educativa eficaz.<br />
No início <strong>de</strong>ste ano lectivo entrou em vigor um novo programa para a<br />
discipli<strong>na</strong>, com novos manuais, por ora para o 1º, 5º e 7º anos e Secundário,<br />
e, no próximo ano, para o 2º, 6º e 8º anos. A introdução <strong>de</strong>stes novos manuais<br />
tem sido muito apreciada pelos alunos e pelos professores, pois têm, <strong>de</strong> facto,<br />
muito bom nível. Muitos professores doutras discipli<strong>na</strong>s têm louvado a sua<br />
qualida<strong>de</strong>. Esperamos que também este facto se trará novo entusiasmo.<br />
Qual o enquadramento legal actual das aulas da EMRC?<br />
No ensino público, a EMRC integra o currículo dos alunos do básico e<br />
secundário, como discipli<strong>na</strong> facultativa. Os estabelecimentos são obrigados<br />
a oferecer a discipli<strong>na</strong> e <strong>de</strong>vem facilitar para que todos os alunos a possam<br />
frequentar. Nos colégios católicos, é <strong>de</strong> carácter obrigatório, assim como <strong>na</strong><br />
maioria das escolas do ensino privado ou cooperativo, embora aqui haja algumas<br />
excepções.<br />
Qual o papel das aulas <strong>de</strong> EMRC no quadro do ensino publico?<br />
Na nossa opinião, a discipli<strong>na</strong> <strong>de</strong> EMRC tem um papel fundamental <strong>na</strong><br />
educação integral. A educação das crianças, adolescentes e jovens não se<br />
po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar completa e integral sem a dimensão religiosa, transcen<strong>de</strong>ntal,<br />
e a educação para os valores. As diferentes dimensões do ser humano têm<br />
que ser contempladas e integradas no processo educativo. É, pois, essencial<br />
um espaço on<strong>de</strong> seja trabalhada a dimensão transcen<strong>de</strong>nte, o sentido religioso<br />
e sagrado, ao mesmo tempo que se <strong>de</strong>senvolve a capacida<strong>de</strong> moral da pessoa.<br />
152 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
Até numa perspectiva <strong>de</strong> compreensão da nossa cultura e da socieda<strong>de</strong> actual,<br />
é fundamental perceber a dimensão religiosa como parte integrante e <strong>de</strong>cisiva<br />
do nosso património cultural e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
O programa concretizado nos novos manuais <strong>de</strong>senvolve muito a interdiscipli<strong>na</strong>rida<strong>de</strong>,<br />
em trabalho coor<strong>de</strong><strong>na</strong>do e até conjunto com outras discipli<strong>na</strong>s<br />
curriculares. Deste modo, <strong>de</strong>senvolvendo a integração dos diferentes âmbitos<br />
educacio<strong>na</strong>is inter-relacio<strong>na</strong>dos, ajudam-se os alunos a crescerem com uma<br />
visão mais integral das realida<strong>de</strong>s e valoriza-se o contributo da discipli<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />
EMRC como uma peça absolutamente fundamental.<br />
Gostava <strong>de</strong> realçar ainda o papel que, em muitos casos, os nossos professores<br />
assumem no interior das escolas. Com muita frequência, os professores<br />
<strong>de</strong> EMRC, <strong>de</strong>vido à sua formação, ao seu modo <strong>de</strong> estar e à especificida<strong>de</strong><br />
da discipli<strong>na</strong>, assumem a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>de</strong> vários projectos e iniciativas escolares,<br />
como <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iros di<strong>na</strong>mizadores da vida da escola. A eles recorrem<br />
muitos colegas <strong>de</strong> outras áreas, em vários âmbitos. Deste modo, prestam um<br />
serviço que vai muito para além da sala <strong>de</strong> aula. Este é também um dos aspectos<br />
importantes do papel da discipli<strong>na</strong> <strong>de</strong> EMRC <strong>na</strong>s escolas.<br />
Quais os motivos da pouca a<strong>de</strong>são dos alunos?<br />
Não consi<strong>de</strong>ro que a a<strong>de</strong>são seja tão pouca como a pergunta po<strong>de</strong> sugerir.<br />
Há dificulda<strong>de</strong>s e temos que ter em conta que nem sempre encontramos a boa<br />
vonta<strong>de</strong> que seria <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar por parte das escolas, o que leva a dificulda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> inscrição <strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> ou a horários que pe<strong>na</strong>lizam quem tem Religião e<br />
Moral, etc. Às vezes também há ignorância sobre o que é a discipli<strong>na</strong>. Nesse<br />
campo, há muito trabalho a fazer, que requer um contributo muito importante<br />
dos outros agentes eclesiais (Sacerdotes, catequistas, animadores juvenis,<br />
etc.).<br />
Afi<strong>na</strong>l, quais os procedimentos necessários para uma a inscrição?<br />
No momento das matrículas, a pessoa tem que assi<strong>na</strong>lar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se<br />
inscre<strong>ver</strong> <strong>na</strong> discipli<strong>na</strong>. Não é muito frequente os serviços administrativos<br />
tentarem <strong>de</strong>mo<strong>ver</strong> os encarregados <strong>de</strong> educação, alegando que, inscrevendose,<br />
o aluno terá um horário pior, etc., mas, infelizmente, há registo <strong>de</strong> alguns<br />
casos. Por isso, é importante que os pais, ou encarregados <strong>de</strong> educação, afirmem<br />
o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que o filho, ou o educando, tenha a discipli<strong>na</strong>, e saibam<br />
que não será prejudicado por isso. Se forem confrontados com as situações<br />
mencio<strong>na</strong>das, <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>nunciá-las e não <strong>de</strong>sistir da matrícula.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 153<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
Há algum acompanhamento proposto pela diocese para os jovens que se<br />
inscrevem nesta discipli<strong>na</strong>?<br />
O acompanhamento dos alunos é feito, regra geral, pelos professores que<br />
estão colocados em cada escola. Para qualquer coisa que precisem, po<strong>de</strong>m<br />
sempre entrar em contacto com o Serviço Diocesano para o Ensino da Igreja<br />
<strong>na</strong>s Escola (s<strong>de</strong>ie1@hotmail.com), que os aten<strong>de</strong>rá o melhor possível. Além<br />
disso, estamos a pensar <strong>na</strong> organização <strong>de</strong> um encontro entre os alunos, diocesano<br />
ou por zo<strong>na</strong>s, com o objectivo principal <strong>de</strong> se conhecerem e po<strong>de</strong>rem<br />
partilhar experiências no âmbito da discipli<strong>na</strong>.<br />
Dados estatísticos da matrícula<br />
em EMRC <strong>na</strong> <strong>Diocese</strong><br />
Ensino público - 2009/2010<br />
Ano Alunos matriculados Alunos em EMRC %<br />
5º ano 2072 1708 82%<br />
6º ano 2272 1823 80%<br />
Total 2º ciclo 4344 3531 81%<br />
7º ano 2263 1435 63%<br />
8º ano 2095 1277 61%<br />
9º ano 1767 928 53%<br />
Total 3º ciclo 6125 3640 59%<br />
Total E. basico 10469 7171 68%<br />
10º ano 1846 203 11%<br />
11º ano 1472 60 4%<br />
12º ano 1701 61 4%<br />
T. Secundário 5019 324 6%<br />
Total geral 15488 7495 48%<br />
154 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
Entrevista ao Reitor, padre Manuel Armindo Janeiro<br />
O Seminário em Obras<br />
Entrevista <strong>de</strong> Rui Ribeiro<br />
Entre os maiores investimentos estruturais<br />
da diocese <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />
nos últimos anos, as obras do Seminário<br />
Diocesano são um projecto que visa<br />
uma adaptação em funcio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> e<br />
conforto para os semi<strong>na</strong>ristas e padres<br />
resi<strong>de</strong>ntes, e a a<strong>de</strong>quação do espaço às<br />
muitas funções pastorais que há muito<br />
ali se vêm <strong>de</strong>senvolvendo. Ao mesmo<br />
tempo, possibilitará acções <strong>de</strong> formação<br />
e espiritualida<strong>de</strong> – retiros, seminários,<br />
congressos… com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
oferecer uma estadia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
Numa entrevista a O Mensageiro, o<br />
Reitor do Seminário, padre Manuel Armindo<br />
Janeiro, referiu alguns <strong>de</strong>talhes do projecto e, sobretudo, sublinhou os<br />
objectivos do mesmo e as perspectivas <strong>de</strong> fi<strong>na</strong>nciamento e rendibilida<strong>de</strong> tanto<br />
económica como pastoral. Tratando-se <strong>de</strong> um Seminário, não pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
relacio<strong>na</strong>r este investimento com os esforços e orientações da pastoral vocacio<strong>na</strong>l<br />
diocesa<strong>na</strong>.<br />
Quais as principais razões para a realização das obras?<br />
Po<strong>de</strong>mos falar <strong>de</strong> duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> razões: uma que diz respeito ao próprio<br />
edifício – conservação e introdução <strong>de</strong> melhorias – e outra às suas funções<br />
futuras <strong>de</strong> Seminário, Casa <strong>de</strong> Retiros/Formação, Centro Pastoral e Residência<br />
Sacerdotal. Mesmo que algumas <strong>de</strong>stas valências já funcionem agora,<br />
todas elas requerem melhores condições. Para além da vida normal da casa,<br />
por mês realizam-se <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s e passam, em formação e outras<br />
iniciativas, mais <strong>de</strong> mil pessoas. Quase meio século após a sua construção,<br />
sem que se tenham registado gran<strong>de</strong>s intervenções, impõe-se uma adaptação.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 155<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
E <strong>de</strong> que forma será rentabilizado o investimento?<br />
Tendo em conta a missão da Igreja, <strong>na</strong> qual se integram os serviços que<br />
hão-<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>r neste edifício, o investimento não po<strong>de</strong> ser visto ape<strong>na</strong>s em<br />
termos economicistas, ainda que tenhamos que pensar no problema da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />
É a pensar nesta que estamos a consi<strong>de</strong>rar as mais-valias das<br />
energias renováveis, a racio<strong>na</strong>lização <strong>de</strong> consumos através da gestão centralizada<br />
e a abertura dos espaços a iniciativas não ape<strong>na</strong>s eclesiais mas também<br />
civis, sociais e culturais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não contradigam os fins da Instituição. E<br />
não esqueceremos os ofertórios diocesanos e os do<strong>na</strong>tivos <strong>de</strong> pessoas e instituições<br />
que em muito ajudam o difícil equilíbrio fi<strong>na</strong>nceiro do Seminário.<br />
Em traços gerais, que alterações contempla o projecto?<br />
No exterior do edifício, as obras visam a conservação – mudança <strong>de</strong> telhados<br />
e janelas, e pintura. Quanto ao interior, juntamente com a necessária<br />
substituição das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> águas, esgotos, telefones e electricida<strong>de</strong>, melhoramse<br />
as condições <strong>de</strong> habitabilida<strong>de</strong> – climatização, segurança, acessibilida<strong>de</strong>s,<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados – e procura-se apurar a linha estética do edifício.<br />
Embora não possamos fazer <strong>de</strong> uma assentada tudo o que é necessário,<br />
dada a dimensão do edifício –cerca <strong>de</strong> 20.000 m2 – e os nossos limites fi<strong>na</strong>nceiros,<br />
queremos dotar o edifício dos meios indispensáveis para respon<strong>de</strong>r às<br />
exigências da vida da <strong>Diocese</strong> <strong>na</strong>s próximas décadas.<br />
Os custos são fi<strong>na</strong>nciadas por que entida<strong>de</strong>s?<br />
Pelo Seminário, pela <strong>Diocese</strong>, pelas Comunida<strong>de</strong>s paroquiais e pelos do<strong>na</strong>tivos<br />
<strong>de</strong> instituições e pessoas <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>. Nem o Seminário nem a<br />
<strong>Diocese</strong> estão em condições <strong>de</strong> suportar sozinhos tais encargos. Como dizia<br />
o Senhor D. António Marto <strong>na</strong> sua nota pastoral, “O nosso Seminário precisa<br />
<strong>de</strong> ajuda!”. Já começámos a sensibilizar as comunida<strong>de</strong>s cristãs e pessoas <strong>de</strong><br />
boa vonta<strong>de</strong> para a importância <strong>de</strong>ste projecto. A motivação, como referia o<br />
nosso Bispo, está no facto <strong>de</strong> o Seminário ser uma “casa no coração da <strong>Diocese</strong><br />
e ao serviço <strong>de</strong> toda a <strong>Diocese</strong>”. Por isso, está ao serviço <strong>de</strong> todos e por<br />
todos <strong>de</strong>ve ser ajudado.<br />
Que propostas e <strong>de</strong>safios estão a ser lançados à <strong>Diocese</strong> para que se sinta<br />
envolvida?<br />
Em primeiro lugar, importa levar o apelo do Senhor Bispo a toda a <strong>Diocese</strong><br />
e, em especial, aos párocos para que “sensibilizem e di<strong>na</strong>mizem as comunida<strong>de</strong>s<br />
e os centros <strong>de</strong> culto para uma causa que é <strong>de</strong> todos”. Na sequência<br />
156 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. entrevistas .<br />
<strong>de</strong>ste apelo, já está em curso uma campanha <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong> fundos em toda<br />
a <strong>Diocese</strong>. Elaborámos e distribuímos pelas paróquias cartazes e <strong>de</strong>sdobráveis<br />
com o referido apelo e com uma explicação sobre o futuro do edifício e<br />
uma proposta para angariação <strong>de</strong> fundos <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>da “Uma iniciativa em cada<br />
centro <strong>de</strong> culto”. Estamos também a estudar formas <strong>de</strong> contactar e interessar<br />
neste projecto todos os meios económicos da área geográfica da <strong>Diocese</strong>.<br />
O nosso bispo tem alertado para os tempos que se adivinham difíceis em<br />
termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>na</strong>ções. Até que ponto as obras po<strong>de</strong>m ajudar a ultrapassar<br />
esta crise?<br />
Po<strong>de</strong>m ajudar directa e indirectamente. Permitem falar da vocação sacerdotal,<br />
razão pela qual se construiu esta casa. Embora sem os números do<br />
passado, é preciso continuar a acreditar que Deus continua a chamar para<br />
o sacerdócio e que continua a ha<strong>ver</strong> jovens generosos. Por outro lado, as<br />
obras permitirão criar <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s cristãs um ambiente favorável, com<br />
oportunida<strong>de</strong>s para rezar pelas vocações e partilhar expectativas. Às gerações<br />
mais jovens não <strong>de</strong>ixaremos <strong>de</strong> dizer que Deus tem para cada ser humano um<br />
projecto belíssimo e que, com Ele, a vida huma<strong>na</strong> tem sentido e futuro!<br />
Po<strong>de</strong>rá cada diocese continuar a ter o seu próprio espaço <strong>de</strong> formação<br />
sacerdotal? Que se projecta, neste aspecto, para a nossa <strong>Diocese</strong>?<br />
No percurso da formação sacerdotal há etapas que <strong>de</strong>vem ser vividas <strong>na</strong><br />
<strong>Diocese</strong> e outras que <strong>de</strong><strong>ver</strong>ão ser assumidas em projectos inter-diocesanos.<br />
No primeiro caso estão o Pré-Seminário e o Seminário Menor (do 10.º ao<br />
12º anos). No âmbito do Pré-Seminário, no ano passado, fizeram-se encontros<br />
com 45 adolescentes e jovens. Quanto ao Seminário Menor, ainda não<br />
reabriu <strong>na</strong> nossa <strong>Diocese</strong> porque o número <strong>de</strong> interessados ainda tem sido<br />
insuficiente.<br />
No segundo caso estão as etapas do Ano Propedêutico, a funcio<strong>na</strong>r no<br />
nosso Seminário, e do Seminário Maior. Pelas suas exigências, as <strong>Diocese</strong>s<br />
<strong>de</strong>cidiram investir em projectos comuns e a tendência vai no sentido do reforço<br />
<strong>de</strong>ssa cooperação.<br />
Com o realismo dos tempos difíceis que atravessamos, acredita que é<br />
possível seguir em frente? E que <strong>de</strong>safios ou propostas lança para conseguir<br />
isso?<br />
Os tempos são muito difíceis, é certo, mas como acreditamos que este<br />
projecto é necessário à vida da <strong>Diocese</strong> – é mesmo o seu projecto-âncora! –<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 157<br />
Vida Eclesial
. entrevistas .<br />
só nos resta procurar uma estratégia a<strong>de</strong>quada aos tempos em que vivemos.<br />
Como propõe o nosso Bispo, esta consiste em envol<strong>ver</strong>, <strong>na</strong> medida do possível,<br />
as comunida<strong>de</strong>s cristãs e todas as pessoas <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, neste caso<br />
<strong>na</strong> angariação <strong>de</strong> fundos. O pouco <strong>de</strong> muitos há-<strong>de</strong> permitir chegar a bom<br />
porto. Para isso, contamos com o empenhamento dos párocos, a criativida<strong>de</strong><br />
e iniciativa das Comissões das igrejas e capelas da <strong>Diocese</strong> e a boa vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos. Se não pu<strong>de</strong>rmos ir mais <strong>de</strong>pressa, abrandaremos o ritmo, mas não<br />
vamos parar... Assim Deus nos aju<strong>de</strong>!<br />
Um último apelo...<br />
O esforço fi<strong>na</strong>nceiro do Seminário e da <strong>Diocese</strong> vai ser muito gran<strong>de</strong> mas<br />
não chega. Precisamos da ajuda <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s cristãs e <strong>de</strong> cada um<br />
dos seus membros. Sugerimos que, em cada comunida<strong>de</strong>, enquanto durarem<br />
as obras, se organize, anualmente, uma festa <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong> fundos. Para<br />
esta festa propomos: um tempo <strong>de</strong> oração pelas vocações, em especial para<br />
o sacerdócio, e um convívio cuja receita re<strong>ver</strong>ta a favor das obras do nosso<br />
Seminário.<br />
158 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Reflexões<br />
. teologia / pastoral . história .
. teologia / pastoral .<br />
26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009<br />
Canonização <strong>de</strong> Nuno Álvares Pereira<br />
O Consistório do dia 21 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> 2009, no Vaticano, aprovou a<br />
canonização <strong>de</strong> <strong>de</strong>z novos Santos da Igreja Católica, entre os quais D. Nuno<br />
Álvares Pereira. Este é um acto formal em que o Papa pe<strong>de</strong> o parecer <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> Car<strong>de</strong>ais sobre as causas, sendo que os mesmos já respon<strong>de</strong>ram<br />
antes do Consistório se concordam ou não com a canonização.<br />
A data <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> Abril do mesmo ano foi a escolhida para celebração do<br />
novo Santo português, bem como para Arcangelo Tadini (Itália), Ber<strong>na</strong>rdo Tolomei<br />
(Itália), Gertru<strong>de</strong> Comensoli (Itália) e Cateri<strong>na</strong> Volpicelli (Itália). Os outros<br />
cinco serão canonizados a 11 <strong>de</strong> Outubro: Jozef Damian <strong>de</strong> Veuster (Bélgica),<br />
Francisco Coll y Guitart (Espanha), Rafael Arnáiz Baron (Espanha),<br />
Zygmunt Szczesny Felinski (Polónia) e Marie <strong>de</strong> la Croix Jugan (França).<br />
O homem que conduziu este processo no Vaticano, Car<strong>de</strong>al José Saraiva<br />
Martins, adiantou à Agência Ecclesia que “<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tanto tempo e tantos<br />
anos chegou ao seu termo a causa <strong>de</strong> canonização <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> figura da hagiografia<br />
portuguesa, um dia histórico”. O prefeito emérito da Congregação<br />
para as Causas dos Santos revelou “um sentimento <strong>de</strong><br />
gratidão a Deus pelo privilégio que me <strong>de</strong>u por po<strong>de</strong>r<br />
concluir praticamente o processo <strong>de</strong> canonização do<br />
Beato Nuno Alvares Pereira, um dom <strong>de</strong> Deus à<br />
Igreja portuguesa, que todos os portugueses <strong>de</strong>vemos<br />
agra<strong>de</strong>cer”.<br />
Assim, com a Praça <strong>de</strong> S. Pedro, no Vaticano,<br />
completamente cheia, <strong>de</strong>pois da apresentação<br />
<strong>de</strong> uma breve biografia dos novos<br />
santos pelo Prefeito da Congregação<br />
para as Causas dos Santos, D. Angelo<br />
Amato, acompanhado pelos<br />
postuladores das causas, pediu que<br />
os cinco beatos sejam inscritos no<br />
“álbum dos Santos” e “como tal<br />
sejam invocados por todos os cristãos”.<br />
Após a ladainha, Bento XVI<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 161<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
canonizou os cinco beatos, cujas relíquias foram levadas para junto do altar,<br />
enquanto os presentes batiam palmas e ace<strong>na</strong>vam ban<strong>de</strong>iras.<br />
O prefeito da Congregação para as Causas dos Santos pediu também que<br />
seja redigida a Carta Apostólica a respeito das canonizações, ao que Bento<br />
XVI respon<strong>de</strong>u: “Decernimus”, ou seja, “or<strong>de</strong><strong>na</strong>mo-lo”.<br />
Na homilia da cerimónia, Bento XVI <strong>de</strong>stacou algumas características <strong>de</strong><br />
S. Nuno <strong>de</strong> Santa Maria, como “uma intensa vida <strong>de</strong> oração e absoluta confiança<br />
no auxílio divino”. E adiantou: “Embora fosse um óptimo militar e um<br />
gran<strong>de</strong> chefe, nunca <strong>de</strong>ixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema<br />
que vem <strong>de</strong> Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção <strong>de</strong><br />
Deus <strong>na</strong> sua vida, imitando Nossa Senhora, <strong>de</strong> Quem era <strong>de</strong>votíssimo e a<br />
Quem atribuía publicamente as suas vitórias”.<br />
No fi<strong>na</strong>l da sua vida, o «Santo Con<strong>de</strong>stável» retirou-se para o convento do<br />
Carmo, em Lisboa, mandado construir por ele. “Sinto-me feliz por apontar à<br />
Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida <strong>de</strong><br />
fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a<br />
prova <strong>de</strong> que em qualquer situação, mesmo <strong>de</strong> carácter militar e bélica, é possível<br />
actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã” – disse o Papa.<br />
No fi<strong>na</strong>l da celebração, Bento XVI agra<strong>de</strong>ceu à comunida<strong>de</strong> portuguesa<br />
presente <strong>na</strong> praça <strong>de</strong> S. Pedro: “Dirijo a minha saudação grata e <strong>de</strong>ferente<br />
à <strong>de</strong>legação oficial <strong>de</strong> Portugal e aos Bispos vindos para a canonização <strong>de</strong><br />
Frei Nuno <strong>de</strong> Santa Maria, com todos os seus compatriotas que guardam no<br />
coração o testemunho do «Santo Con<strong>de</strong>stável»: <strong>de</strong>ste modo lhe chamavam já<br />
os pobres do seu tempo, vendo o sentido <strong>de</strong> compaixão e o <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong><br />
quem <strong>de</strong>u os seus bens aos mais <strong>de</strong>sfavorecidos. (...) Deixou-nos assim uma<br />
nobre lição <strong>de</strong> renúncia e partilha, sem as quais será impossível chegar àquela<br />
igualda<strong>de</strong> frater<strong>na</strong> característica duma socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, que reconhece e<br />
trata a todos como membros da mesma e única família huma<strong>na</strong>. Em particular<br />
saúdo os Carmelitas, a quem um dia se pren<strong>de</strong>u o olhar e o coração <strong>de</strong>ste militar<br />
crente, vendo neles o hábito da Santíssima Virgem e no qual <strong>de</strong>pois ele<br />
próprio se amortalhou. Ao <strong>de</strong>sejar a abundância dos dons do Céu para todos<br />
os peregrinos e <strong>de</strong>votos <strong>de</strong> São Nuno, <strong>de</strong>ixo-lhes este apelo: «Consi<strong>de</strong>rai o<br />
êxito da sua carreira e imitai a sua fé» (Heb 13, 7)”.<br />
Biografia<br />
Nuno Alvares Pereira <strong>na</strong>sceu em 1360 e faleceu em 1431. Filho <strong>de</strong> D.<br />
Álvaro Gonçalves Pereira, entrou aos 13 anos <strong>na</strong> corte <strong>de</strong> D. Fer<strong>na</strong>ndo (rei<br />
<strong>de</strong> 1367 a 1383) como pajem da rainha D. Leonor <strong>de</strong> Teles. Destacando-se<br />
162 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
logo em jovem num ataque dos castelhanos a Lisboa, foi armado cavaleiro.<br />
Aspirava à vida virgi<strong>na</strong>l, mas as necessida<strong>de</strong>s do mundo impuseram-lhe que<br />
se casasse a 15 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1376 com uma viúva, D. Leonor <strong>de</strong> Alvim, <strong>de</strong><br />
quem teve a sua filha D. Beatriz. A morte do rei criou a perigosa crise dinástica,<br />
com a possibilida<strong>de</strong> da coroação <strong>de</strong> D. João <strong>de</strong> Castela (rei <strong>de</strong> 1379<br />
a 1390) como rei <strong>de</strong> Portugal. Um partido <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista reuniu-se à volta do<br />
mestre da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Avis, D. João, irmão do rei D. Fer<strong>na</strong>ndo, que o povo<br />
<strong>de</strong> Lisboa elevou a Regedor e Defensor do Reino. D. Nuno é chamado pelo<br />
Mestre para o Conselho <strong>de</strong> Go<strong>ver</strong>no.<br />
Em breve lhe foi entregue o perigoso cargo <strong>de</strong> fronteiro <strong>de</strong> entre Tejo e<br />
Guadia<strong>na</strong>, por on<strong>de</strong> passariam as operações militares <strong>de</strong>cisivas. Usando tácticas<br />
inspiradas <strong>na</strong>s britânicas da Guerra dos Cem Anos, o fronteiro venceu<br />
os Castelhanos a 6 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1384, em Atoleiros. Na batalha, Nuno Álvares<br />
Pereira conseguiu, com um bando <strong>de</strong> camponeses, <strong>de</strong>rrotar um forte corpo <strong>de</strong><br />
cavalaria castelha<strong>na</strong>. Esse facto influiu no <strong>de</strong>sfecho da guerra, porque mostrou<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma resistência apoiada <strong>na</strong>s forças populares. A partir<br />
da vitória dos Atoleiros, Nuno Álvares, que tinha sido recebido com gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconfiança pelos Alentejanos, transformou-se num herói popular e conseguiu<br />
mobilizar toda a força da revolta camponesa para a <strong>de</strong>fesa da causa do<br />
Mestre <strong>de</strong> Avis. Precisamente um ano <strong>de</strong>pois, este foi aclamado rei D. João I<br />
(rei <strong>de</strong> 1385 a 1433) em Coimbra e no dia seguinte D. Nuno foi nomeado o<br />
Con<strong>de</strong>stável do Reino. Conquistou o Minho para a causa e, <strong>de</strong>pois da vitória<br />
<strong>de</strong> Trancoso em Maio ou Junho, cortou a arrojada avançada castelha<strong>na</strong> com<br />
a memorável Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota, a 14 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1385. As forças portuguesas,<br />
dispostas em quadrado, aguentaram com firmeza o assalto da cavalaria<br />
feudal e infligiram-lhe uma <strong>de</strong>rrota que teve consequências políticas<br />
<strong>de</strong>finitivas. A realeza do Mestre e a in<strong>de</strong>pendência portuguesa foram a partir<br />
<strong>de</strong> então factos irre<strong>ver</strong>síveis. A guerra arrastou-se por alguns anos, limitada a<br />
campanhas fronteiriças <strong>de</strong> peque<strong>na</strong> en<strong>ver</strong>gadura; o mais conhecido episódio<br />
é o do combate <strong>de</strong> Val<strong>ver</strong><strong>de</strong>, vencido por Nuno Álvares <strong>na</strong> região <strong>de</strong> Mérida.<br />
A paz veio a ser assi<strong>na</strong>da em 1411.<br />
A seguir à crise <strong>de</strong> 1383-85, o Con<strong>de</strong>stável ficara dono <strong>de</strong> quase meio<br />
país. Quando se estabeleceu a paz, quis entregar uma parte do que recebera<br />
aos que mais o tinham ajudado, fazendo-os seus vassalos. O rei não o permitiu<br />
e fez recolher ao património da coroa as terras doadas. Depois negociou<br />
o casamento <strong>de</strong> um seu filho bastardo com a filha única <strong>de</strong> Nuno Álvares; a<br />
imensa fortu<strong>na</strong> do herói voltou assim ao controlo da coroa e foi origem da<br />
Casa <strong>de</strong> Bragança.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 163<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
Assegurado o reino, Nuno Álvares começou a <strong>de</strong>dicar-se a outras obras.<br />
Mandou construir a Capela <strong>de</strong> São Jorge <strong>de</strong> Aljubarrota em Outubro <strong>de</strong> 1388<br />
e o Convento do Carmo em Lisboa, termi<strong>na</strong>do em Julho <strong>de</strong> 1389, on<strong>de</strong> entraram<br />
em 1397 os Fra<strong>de</strong>s Carmelitas. Dedicou em Vila Viçosa uma capela à<br />
Virgem para a qual mandou vir <strong>de</strong> Inglaterra uma imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Conceição que, 250 anos <strong>de</strong>pois, seria proclamada Rainha <strong>de</strong> Portugal.<br />
A morte da filha, D. Beatriz, em 1414, cortou o último laço com o mundo, e<br />
abriu o <strong>de</strong>sejo da clausura. Ainda participou <strong>na</strong> expedição a Ceuta <strong>de</strong> 1415,<br />
primeiro passo da gesta ultramari<strong>na</strong> portuguesa, on<strong>de</strong> o seu valor ficou <strong>de</strong><br />
novo marcado. Mas em breve olharia para outras fronteiras. Em 1422, distribuiu<br />
os títulos e proprieda<strong>de</strong>s pelos netos, e a 15 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1423, festa da<br />
Assunção, ani<strong>ver</strong>sário do seu casamento e dia seguinte ao da Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota,<br />
professou no Convento do Carmo. Frei Nuno <strong>de</strong> Santa Maria foi um<br />
humil<strong>de</strong> fra<strong>de</strong>, que viveu em oração, penitência e carida<strong>de</strong>, pedindo esmola<br />
pelas casas durante mais <strong>de</strong> sete anos. Morreu <strong>na</strong> sua pobre cela, ro<strong>de</strong>ado do<br />
rei e dos príncipes.<br />
Trabalhos levados a cabo pelos Car<strong>de</strong>ais Patriarcas <strong>de</strong> Lisboa D. José III<br />
(1883-1907) e D. António I (1907-1929), secundados pela Or<strong>de</strong>m do Carmo,<br />
culmi<strong>na</strong>ram com o Decreto <strong>de</strong> Beatificação da Congregação dos Ritos “Clementissimus<br />
Deus” <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1918, ratificado e aprovado pelo Papa<br />
Bento XV em 23 do mesmo mês e ano. Padroeiro secundário do Patriarcado<br />
<strong>de</strong> Lisboa, a sua Memória (Festa <strong>na</strong> Or<strong>de</strong>m Carmelita, <strong>na</strong> Or<strong>de</strong>m dos Carmelitas<br />
Descalços e <strong>na</strong> Socieda<strong>de</strong> Missionária da Boa Nova) é liturgicamente<br />
assi<strong>na</strong>lada a 6 <strong>de</strong> Novembro.<br />
O processo <strong>de</strong> canonização foi reaberto no dia 13 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2004, <strong>na</strong>s<br />
ruí<strong>na</strong>s do Convento do Carmo, em Lisboa, com a sessão solene presidida por<br />
D. José Policarpo. A cura milagrosa reconhecida pelo Vaticano foi relatada<br />
por Guilhermi<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, uma sexagenária <strong>na</strong>tural <strong>de</strong> Vila Franca <strong>de</strong> Xira,<br />
que sofreu lesões no olho esquerdo por ter sido atingida com salpicos <strong>de</strong> óleo<br />
a fer<strong>ver</strong> quando estava a fritar peixe. A cura <strong>de</strong> Guilhermi<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ter pedido a intervenção do Santo Con<strong>de</strong>stável, foi observada por di<strong>ver</strong>sos<br />
médicos em Portugal e foi a<strong>na</strong>lisada por uma equipa <strong>de</strong> cinco médicos e teólogos<br />
em Roma, que a consi<strong>de</strong>raram miraculosa.<br />
A história <strong>de</strong>ste processo já po<strong>de</strong>ria ter conhecido o seu epílogo quando,<br />
em 1947, o papa Pio XII se manifestou interessado em canonizar o Beato português<br />
por <strong>de</strong>creto. O estado <strong>de</strong> uma Europa <strong>de</strong>struída pela II Guerra Mundial<br />
fez, porém, com que a Igreja portuguesa recusasse este motivo <strong>de</strong> festa.<br />
164 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Por que D. Nuno escolheu os Carmelitas?<br />
Por Manuel Maria Wermers, Escapulário do Carmo<br />
. teologia / pastoral.<br />
Durante mais <strong>de</strong> um século, o convento <strong>de</strong> Moura continuou a ser o único<br />
que os Carmelitas possuíam em terras lusita<strong>na</strong>s, até à intervenção do imortal<br />
Con<strong>de</strong>stável D. Nuno Álvares Pereira, o instrumento por Deus escolhido para<br />
dar nova vida a Portugal e ao Carmo português.<br />
As glórias e gran<strong>de</strong>zas conquistadas nos campos <strong>de</strong> Aljubarrota e Val<strong>ver</strong><strong>de</strong>,<br />
realizando a libertação da sua Pátria estremecida, Nuno as <strong>de</strong>pôs humil<strong>de</strong>mente<br />
aos pés da Virgem, orando pelo <strong>de</strong>sapego a libertação da sua própria<br />
alma. Num poema <strong>de</strong> pedra e granito externou a sua gratidão para com Nossa<br />
Senhora, construindo em sua honra uma magnífica igreja gótica e um mosteiro<br />
para os religiosos que seriam chamados para o culto divino. A igreja <strong>de</strong>via<br />
ser a mais bela e espaçosa <strong>de</strong> toda a Corte. E Nuno conseguiu realizar o seu<br />
piedoso sonho.<br />
A primeira pedra foi lançada em 1389, no mês <strong>de</strong> Julho, e alguns anos<br />
mais tar<strong>de</strong> as obras estavam tão adiantadas que o Con<strong>de</strong>stável podia revelar<br />
a segunda parte do seu grandioso projecto: a escolha dos religiosos que haviam<br />
<strong>de</strong> cantar os louvores da Virgem Maria em tão monumental igreja: os<br />
Carmelitas <strong>de</strong> Moura.<br />
Nos meados do último <strong>de</strong>cénio do século XIV, dirige uma carta, “encantadora<br />
<strong>de</strong> forma, <strong>de</strong> estilo e <strong>de</strong> espírito português”, ao Vigário Geral Dr. Frei<br />
Afonso <strong>de</strong> Alfama, então Prior <strong>de</strong> Moura, comunicando-lhe a sua resolução<br />
<strong>de</strong> i<strong>na</strong>ugurar a igreja e o mosteiro e, referindo-se a entendimentos anteriores,<br />
pe<strong>de</strong> que sejam agora enviados os fra<strong>de</strong>s que haviam <strong>de</strong> morar no novo convento.<br />
Eis o teor da carta, transmitida por Pereira e <strong>na</strong> nossa acomodação:<br />
“Ao mui honrado Frei Afonso <strong>de</strong> Alfama, Vigário Geral do Mosteiro <strong>de</strong><br />
Santa Maria <strong>de</strong> Moura; Salvé Deus!<br />
Antes <strong>de</strong> tudo beijo o vosso santo escapulário, dom extremado da Mãe <strong>de</strong><br />
Deus, que o trouxe do Céu, para a <strong>de</strong>fesa dos seus fra<strong>de</strong>s, pela muita afeição<br />
que lhes <strong>de</strong>via <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua vida; e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então aprouve-lhe que não fosseis<br />
mais ofendidos pelos maus <strong>na</strong>s terras on<strong>de</strong> estáveis. Tudo isto merecestes<br />
pela vossa vida exemplar que agrada à bendita Mãe do Carmo. Sabei que<br />
por ora vos rogo e peço aquilo <strong>de</strong> que vos já falei e que é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> serviço<br />
para Deus e sua santa Mãe, que me fizeram gran<strong>de</strong>s graças e favores. E por<br />
tudo que recebi estou fazendo este mosteiro para Maria Santíssima, o qual,<br />
graças a Deus, vai bem adiantado, com os bens que o mesmo Senhor me <strong>de</strong>u.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 165<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
E como quer que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>de</strong>terminei que nele estivessem fra<strong>de</strong>s, ou<br />
freiras do meu agrado, o que, segundo creio, já vos contei, agora vos peço e<br />
rogo, como mercê, que venhais para maior serviço <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> sua Mãe, que<br />
do alto estarão olhando para tudo que em sua glória fizer<strong>de</strong>s. Além disso vos<br />
rogo que o Dr. Frei Gomes, que boa e merecida fama tem, venha como prior<br />
dos outros fra<strong>de</strong>s, pois que assim agrada a meu Rei e Senhor, que me falou<br />
<strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>, quanto a este mosteiro, combi<strong>na</strong>r em tudo comigo e <strong>de</strong><br />
auxiliar-me conforme a minha intenção.<br />
E po<strong>de</strong>reis trazer os fra<strong>de</strong>s, até ao número que antes vos disse, e que sejam<br />
bons, portugueses fiéis à Pátria, do modo que vos parecer melhor, pois sois o<br />
Superior <strong>de</strong>les <strong>na</strong> Religião.<br />
E como, segundo a vossa lei, não comeis carnes e ten<strong>de</strong>s jejuns muito<br />
prolongados, não achareis aqui falta <strong>de</strong> provisão, porque ficará aos meus cuidados<br />
dar-vos comida e roupa suficientes, pois do que é meu, e do que Deus<br />
e o Rei meu Senhor me <strong>de</strong>ram, posso fazer mercê, e isto é tor<strong>na</strong>r a ele o que<br />
antes me conce<strong>de</strong>u.<br />
E por circunstância alguma <strong>de</strong>ixai <strong>de</strong> vir imediatamente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meu<br />
pedido, para fazer<strong>de</strong>s todos os serviços sacerdotais para o tempo que esti<strong>ver</strong><strong>de</strong>s<br />
aqui neste mosteiro encarregados da sua cura espiritual, pois ha<strong>ver</strong>á<br />
bastante lugar para fazer<strong>de</strong>s a vossa oração e on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>is vi<strong>ver</strong> retirados no<br />
silêncio da vossa regra, que vos como corre a fama, <strong>de</strong>ram tão gran<strong>de</strong>s merecimentos<br />
diante <strong>de</strong> Deus. E por ora não tenho mais que dizer.”<br />
Poucos dias <strong>de</strong>pois, no início do mês <strong>de</strong> Agosto, Nuno Álvares Pereira fez<br />
mais outra doação, a última que podia fazer: a doação <strong>de</strong> si mesmo, entrando<br />
para a Or<strong>de</strong>m, como humil<strong>de</strong> Irmão leigo ou semi-frater, a fim <strong>de</strong> consumar a<br />
sua obra principal: a santificação da sua própria alma. Durante pouco menos<br />
<strong>de</strong> 8 anos havia <strong>de</strong> edificar a todos por sua profunda humilda<strong>de</strong> e pieda<strong>de</strong>.<br />
Faleceu no 1º <strong>de</strong> Abril, provavelmente <strong>de</strong> 1431, no meio <strong>de</strong> seus irmãos <strong>de</strong>solados,<br />
e pranteado por todo o Portugal. (Escapulário do Carmo, Outubro,<br />
1956, pp. 10-12).<br />
166 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
D. Nuno Álvares Pereira: Glória, Honra e Exemplo<br />
Por Saul António Gomes<br />
Gran<strong>de</strong> mistério é a história que só no tempo longo e secular se confirma<br />
como suce<strong>de</strong>, nos dias felizes em que nos é dado vi<strong>ver</strong>, com a vida e a memória<br />
<strong>de</strong> D. Nuno Álvares Pereira, Con<strong>de</strong>stável do exércitos portugueses que,<br />
nos campos <strong>de</strong>ntre Aljubarrota e Porto <strong>de</strong> Mós, no distante dia 14 <strong>de</strong> Agosto<br />
<strong>de</strong> 1385, <strong>de</strong>stroçaram o orgulho castelhano e asseguraram novo rei, nova di<strong>na</strong>stia<br />
e uma nova Era nos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Portugal no Mundo.<br />
D. Nuno Álvares Pereira <strong>na</strong>sceu, segundo asse<strong>ver</strong>am velhas crónicas, em<br />
24 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1360, dia <strong>de</strong> S. João Baptista. No <strong>na</strong>scimento certo astrólogo,<br />
profissão benquista nesses séculos, prognosticou ao recém-<strong>na</strong>scido um<br />
<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> excepção. Nuno fez-se notar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo pela sua argúcia e comportamento.<br />
Seu pai, Dom Prior do Crato, levou-o com o irmão mais velho à<br />
intimida<strong>de</strong> da cúria régia <strong>de</strong> D. Fer<strong>na</strong>ndo.<br />
Não foi o Con<strong>de</strong>stável, nos dias da sua vida militar e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> cortesão<br />
e senhor, homem <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>s. Pelo contrário. Os historiadores sabem bem<br />
que o herói da Real Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota não conhecia limites em matéria<br />
<strong>de</strong> património, <strong>de</strong> benefícios e <strong>de</strong> privilégios. Exigia-os mesmo do seu<br />
soberano rei e fê-lo, até, em <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do momento, no extremo da ameaça<br />
presente a D. João I <strong>de</strong> se <strong>de</strong>s<strong>na</strong>turalizar da pátria que tanto servira.<br />
Mas não é o senhor <strong>de</strong> guerras e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e faustosos palácios e invejáveis<br />
mordomias que, agora, tantos séculos passados sobre a sua morte e vida,<br />
a Igreja Católica confirma no altar dos mais veneráveis exemplos <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>.<br />
É antes o <strong>de</strong> Fr. Nuno <strong>de</strong> Santa Maria, o fiel que, <strong>na</strong> recepção do hábito do<br />
Carmelo, assumiu uma nova aliança com o Deus em que tanto confiara e que<br />
tão profeticamente lhe marcara a vida e o poupara <strong>de</strong> perigos e da iminência<br />
da morte nos campos <strong>de</strong> batalha.<br />
Aos 62 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, no ano <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong> 1422, <strong>de</strong> facto, recolheu-se<br />
D. Nuno Álvares Pereira ao Convento do Carmo <strong>de</strong> Lisboa, que ele mesmo<br />
erguera anos antes, para, renunciando às glórias e às honras temporais com<br />
que o <strong>de</strong>stino tanto o brindara tão generosamente, se entregar às asceses mais<br />
rigorosas do convívio espiritual dos pobres fra<strong>de</strong>s carmelitas. Na renúncia<br />
às riquezas do mundo, Fr. Nuno traçava para ele próprio a batalha última da<br />
sua vida, procurando, pelo preço da renúncia radical ao Mundo e ao conforto<br />
dos bens materiais, a Verda<strong>de</strong> última que a morte <strong>de</strong> todo o homem encerra.<br />
A 1 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1431, justamente em Domingo <strong>de</strong> Páscoa, Fr. Nuno <strong>de</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 167<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
Santa Maria, com 71 anos incompletos, fechava os olhos para os dias e os<br />
trabalhos mundanos e abria-os, à luz da Fé e da doutri<strong>na</strong> eclesial, para os<br />
<strong>ver</strong><strong>de</strong>s prados do Bom-Pastor e para a ceia eter<strong>na</strong> com o Filho do Homem.<br />
A sua biografia <strong>de</strong> general dos exércitos e <strong>de</strong> senhor feudal não escon<strong>de</strong> uma<br />
perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> indómita e irascível, homem que era <strong>de</strong> excepcio<strong>na</strong>l carisma e<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mando, frequentemente, até, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>stratar família e criadagem<br />
<strong>de</strong> modo humilhante e sem pingo <strong>de</strong> ternura.<br />
Dele bem po<strong>de</strong>remos escre<strong>ver</strong>, como o proclamaram os profetas dos reis<br />
<strong>de</strong> Israel, que o Senhor o coroou <strong>de</strong> glória e <strong>de</strong> honra. Fr. Nuno <strong>de</strong> Santa<br />
Maria faleceu em odor <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>. Teve, entre os filhos <strong>de</strong> D. João I, os<br />
seus mais fervorosos admiradores a começar por D. Duarte, que imagi<strong>na</strong>mos,<br />
<strong>na</strong> distância virtual <strong>de</strong> tanto tempo passado, presente <strong>na</strong>s exéquias <strong>de</strong><br />
Fr. Nuno, lá <strong>na</strong> igreja quase batalhi<strong>na</strong> do Convento do Carmo, nela escutando<br />
a pregação <strong>de</strong> Mestre Francisco, para cujo sermão, aliás, lhe <strong>de</strong>ra os temas<br />
que <strong>de</strong>sejava <strong>ver</strong> proclamados do púlpito. Em 21 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1437, o Rei<br />
Eloquente escrevia ao influente Aba<strong>de</strong> D. Gomes, <strong>de</strong> Florença, falando-lhe<br />
da canonização do “Santo Con<strong>de</strong>stável”, sendo que o Papa Eugénio IV, por<br />
esses dias, mandara organizar o respectivo processo.<br />
Também o Infante D. Pedro, caído em Alfarrobeira (†1449), mostrou<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>voção por S. Nuno, atribuindo-se-lhe a responsabilida<strong>de</strong> da redacção<br />
da oração litúrgica própria: “Norma principum, exemplar dominorum,<br />
speculum a<strong>na</strong>choretarum es, beate Nune. Tu securus et fortis in proelio, tu<br />
humilis et pius in victoria, tu justus et misericors in pace, tu oboediens et<br />
<strong>de</strong>votus in claustro…” (“Esteio dos príncipes, exemplo dos senhores, espelho<br />
<strong>de</strong> monges és tu S. Nuno. Tu, seguro e forte no combate, tu, humil<strong>de</strong> e<br />
piedoso <strong>na</strong> vitória, tu, justo e misericordioso <strong>na</strong> paz, tu, obediente e <strong>de</strong>voto<br />
no claustro”).<br />
Nos anos imediatos ao seu passamento, os fra<strong>de</strong>s carmelitas <strong>de</strong> Lisboa coligiram<br />
várias cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> milagres, tendo cabido ao famoso cronista Gomes<br />
Eanes <strong>de</strong> Zurara (†1474) redigir uma <strong>na</strong>rrativa <strong>de</strong> 221 <strong>de</strong>les, <strong>na</strong> maior parte<br />
ocorridos no rei<strong>na</strong>do <strong>de</strong> D. Afonso V (†1481). Nalguns Breviários carmelitas<br />
do Século XV regista-se a festa, a 1 <strong>de</strong> Abril, <strong>de</strong> “Nonii comitis confessoris”<br />
(Do Confessor Con<strong>de</strong> Nuno), si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>ntro da Or<strong>de</strong>m, colhia <strong>de</strong>voções<br />
e culto. Dessa mesma Centúria é o testemunho do Chantre <strong>de</strong> Évora, Martim<br />
Vasques, que fora criado da casa <strong>de</strong> D. Nuno e protegido da Casa <strong>de</strong> Bragança,<br />
chamando-lhe, em testamento <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1470, “Con<strong>de</strong> Santo”.<br />
A veneração ao Santo Con<strong>de</strong>stável manter-se-á entre os Portugueses <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
então, posto que nem sempre com a visibilida<strong>de</strong> pública e o reconheci-<br />
168 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
mento canónico <strong>de</strong>sejáveis. Mas esta é matéria que aguarda ainda uma ingente<br />
investigação histórica, assim como seria <strong>de</strong>sejável que se promovesse uma<br />
nova biografia, com amplo rigor histórico, sobre D. Nuno Álvares Pereira.<br />
A 15 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1918, o Papa Bento XV, pelo <strong>de</strong>creto Clementissimus<br />
Deus, reconheceu o Beato Nuno e consentiu-lhe culto oficial, assim incrementando<br />
a <strong>de</strong>voção católica ao Santo Con<strong>de</strong>stável. Agora, é o novo Sumo<br />
Pontífice, Bento XVI, que fecha o círculo do processo, <strong>de</strong>clarando-o canonicamente<br />
digno <strong>de</strong> culto em todo o orbe católico. Gran<strong>de</strong>s, intemporais e<br />
misteriosos são, <strong>na</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, os <strong>de</strong>sígnios do Senhor, para os que crêem, ou<br />
do <strong>de</strong>stino, para os que duvidam, todavia, sempre o tempo e o seu <strong>de</strong>vir sem<br />
tempo tecendo as malhas <strong>de</strong> uma vida exemplar que em 1385, há precisamente<br />
624 anos, pisando campos próximos <strong>de</strong> Aljubarrota, se consagrou herói <strong>de</strong><br />
uma Nação e senhor das terras alto-estremenhas <strong>de</strong> Ourém e <strong>de</strong> Porto <strong>de</strong> Mós.<br />
Grupo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>na</strong> canonização <strong>de</strong> D. Nuno, no Vaticano<br />
“Um dia memorável!”<br />
Por A<strong>na</strong> Isabel Lopes<br />
A expectativa foi muita, mas às 04h00 da madrugada do dia 25 <strong>de</strong> Abril<br />
o encontro estava marcado: todos ao aeroporto da Portela para partirmos em<br />
direcção a Roma.<br />
Logo ali começou a festa <strong>de</strong> conhecer ou reencontrar tantos outros irmãos<br />
escutas. Devo acrescentar que a nossa Região <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, era uma das mais representadas,<br />
graças aos 24 elementos do Agrupamento em formação <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora das Misericórdias (Ourém) e à equipa <strong>de</strong> caminheiros do Agrupamento<br />
762 - Maceira, vencedores do concurso lançado pela Junta Central.<br />
A viagem até Roma, para alguns a primeira vez <strong>de</strong> avião, foi um momento<br />
<strong>de</strong> partilha <strong>de</strong> sentimentos por estarmos todos juntos prestes a assistir a<br />
um momento histórico em que celebramos o nosso Patrono: Nuno <strong>de</strong> Santa<br />
Maria.<br />
A chegada a Roma foi marcada por um momento simbólico – paragem,<br />
oração e visita da Basílica <strong>de</strong> S. Paulo – momento <strong>de</strong> celebrar o ano Paulino<br />
que vivemos.<br />
Podíamos aqui falar da nossa visita por Roma nessa tar<strong>de</strong>, mas foram<br />
tantas as imagens que ficaram que é difícil – é sem dúvida a Cida<strong>de</strong> Eter<strong>na</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 169<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
que merece uma visita mais <strong>de</strong>morada; nem esquecemos a moeda <strong>na</strong> fonte di<br />
Trevi, para <strong>de</strong>sejarmos lá voltar.<br />
À noite fomos todos à vigília presidida pelo Car<strong>de</strong>al Patriarca <strong>de</strong> Lisboa<br />
<strong>na</strong> igreja <strong>de</strong> Santo António dos Portugueses. Mais um momento <strong>de</strong> partilha,<br />
numa igreja cheia por <strong>de</strong>ntro e á volta; partilha com outros portugueses que<br />
questio<strong>na</strong>vam a presença <strong>de</strong> tantos escuteiros, porque <strong>de</strong>sconheciam que S.<br />
Nuno era o nosso patrono. Mais um passeio pelas praças ilumi<strong>na</strong>das da noite<br />
roma<strong>na</strong> antes <strong>de</strong> voltar até ao albergue dos Escuteiros.<br />
A noite foi curta, mas o momento que se aproximava era o mais importante,<br />
aquele que nos tinha levado até Roma. Fomos até à Praça <strong>de</strong> S. Pedro,<br />
entrámos para os nossos lugares e… começou a celebração da canonização.<br />
Agora já era S. Nuno <strong>de</strong> Santa Maria, cuja vida tão bem nos serve <strong>de</strong> exemplo,<br />
como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a Deus, mas também à Pátria.<br />
Este momento solene em que o nosso Patrono viu reconhecida a sua vida e as<br />
suas virtu<strong>de</strong>s valeu a presença, as poucas horas <strong>de</strong> sono e o cansaço no resto<br />
da sema<strong>na</strong>. São momentos únicos <strong>na</strong> vida que queremos partilhar com quem<br />
não pô<strong>de</strong> ir connosco.<br />
À saída, a foto <strong>de</strong> grupo, que nos mostra no local mais importante no dia<br />
26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009. Depois, foi correr para <strong>ver</strong> mais algumas coisas e fazer<br />
as últimas compras <strong>de</strong> lembranças.<br />
Foram menos <strong>de</strong> 48 horas, mas tão vividas e com tantas experiências, que<br />
alguém dizia, <strong>na</strong> viagem <strong>de</strong> volta: “não parece que só viemos ontem!”<br />
Quisemos partilhar com todos a alegria <strong>de</strong> ter participado neste momento<br />
solene que reconheceu o valor do Homem, agora São Nuno <strong>de</strong> Santa Maria,<br />
que é um dos guias no CNE.<br />
170 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
I Congresso Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Antigos Semi<strong>na</strong>ristas<br />
Mais <strong>de</strong> 67 mil portugueses<br />
<strong>de</strong>vem formação aos seminários<br />
Decorreu <strong>de</strong> 24 a 26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009, no Centro Pastoral Paulo VI, em<br />
<strong>Fátima</strong>, o I Congresso <strong>de</strong> Antigos Alunos dos Seminários <strong>de</strong> Portugal. Participaram<br />
312 antigos semi<strong>na</strong>ristas e seus familiares, tendo estado representados<br />
18 seminários diocesanos e 20 institutos religiosos. Dois dos participantes<br />
frequentaram o Seminário <strong>de</strong> Praia/Cabo Ver<strong>de</strong>, um o Seminário <strong>de</strong> Badajoz/<br />
Espanha e outro o Seminário Nova Lisboa/Guiné.<br />
A Comissão Organizadora foi constituída pelo Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, as<br />
associações <strong>de</strong> antigos alunos dos seminários <strong>de</strong> Braga/Via<strong>na</strong> do Castelo,<br />
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> e Vila Real, as associações dos antigos alunos dos seminários<br />
Espiritanos, Franciscanos, Maristas e Salesianos, a Confe<strong>de</strong>ração Portuguesa<br />
dos Alunos do Ensino Católico (COPAAEC), com a colaboração <strong>de</strong> todos os<br />
seminários <strong>de</strong> Portugal.<br />
D. António Marto disse, no <strong>de</strong>correr do Congresso, que esta foi uma<br />
oportunida<strong>de</strong> para home<strong>na</strong>gear uma instituição que “contribuiu para formar<br />
pastores para o Povo <strong>de</strong> Deus” e ofereceu à socieda<strong>de</strong> “gente com as mais<br />
di<strong>ver</strong>sas competências”, em di<strong>ver</strong>sos âmbitos.<br />
Para este responsável, o seminário não falha quando não forma padres,<br />
porque “forma homens, cidadãos, forma padres”. Quem por ali passa leva<br />
consigo um importante “capital humano e espiritual”.<br />
Números<br />
No âmbito do programa do I Congresso <strong>de</strong> Antigos Alunos dos Seminários<br />
<strong>de</strong> Portugal, foram apresentados os resultados <strong>de</strong> um inquérito levado a<br />
cabo pelo Centro <strong>de</strong> Estudos e Sondagens <strong>de</strong> Opinião (CESOP) da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong><br />
Católica.<br />
De 2000 a 2006, o número <strong>de</strong> sacerdotes diocesanos baixou <strong>de</strong> 3159 para<br />
2894 (menos 8,4%), enquanto que o clero religioso manteve praticamente o<br />
mesmo número. A situação <strong>de</strong> 2006 mostrava ainda que por cada dois padres<br />
que morrem (nesse ano foram 80), ape<strong>na</strong>s um é or<strong>de</strong><strong>na</strong>do (37 novos sacer-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 171<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
dotes). Os semi<strong>na</strong>ristas <strong>de</strong> filosofia e teologia também são menos, segundo<br />
os últimos dados disponíveis: <strong>de</strong> 547, entre diocesanos e religiosos, em 2000<br />
passou-se para 475 em 2006.<br />
Apesar <strong>de</strong>sta quebra no número <strong>de</strong> padres, a maioria das 4366 paróquias<br />
estão confiadas à administração sacerdotal e ape<strong>na</strong>s 20 paróquias são administradas<br />
pastoralmente por diáconos, religiosas e leigos.<br />
Importa perceber se, à falta <strong>de</strong> padres para todas as paróquias, se <strong>de</strong>ve<br />
respon<strong>de</strong>r um aumento das “outras vocações”, com re<strong>de</strong>finições do papel a<br />
<strong>de</strong>sempenhar, por exemplo, pelas mulheres ou pelos homens casados <strong>na</strong> li<strong>de</strong>rança<br />
das comunida<strong>de</strong>s católicas. Uma figura recuperada pelo II Concílio<br />
do Vaticano, a do diácono permanente, ainda está por <strong>de</strong>finir <strong>de</strong> forma conveniente,<br />
em muitos casos, junto das próprias comunida<strong>de</strong>s a cujo serviço se<br />
<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>.<br />
Números revelados neste congresso mostram que cerca <strong>de</strong> 19% dos candidatos<br />
ao sacerdócio que entram nos seminários chegam efectivamente até<br />
ao fi<strong>na</strong>l do percurso, no caso das várias dioceses, e 11% no caso das congregações<br />
religiosas consultadas.<br />
Sobre o papel dos seminários <strong>na</strong> vida da socieda<strong>de</strong> actual, 78% dos padres<br />
e 44% dos leigos sublinham a importância do trabalho que <strong>de</strong>senvolvem estas<br />
instituições para o discernimento vocacio<strong>na</strong>l dos semi<strong>na</strong>ristas, e, em segundos<br />
níveis, é também reconhecido como factor <strong>de</strong> relevo o facto <strong>de</strong> os seminários<br />
proporcio<strong>na</strong>rem a <strong>de</strong>scoberta do sentido do outro e da missão da Igreja<br />
e possibilitarem o <strong>de</strong>senvolvimento crítico e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização.<br />
Em relação aos inquiridos que seguiram o sacerdócio, 81% realçam como<br />
aspectos positivos da sua experiência no seminário a camaradagem, a amiza<strong>de</strong><br />
e a vida em comunida<strong>de</strong> e também possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discernimento e<br />
crescimento da fé e da vocação. Como aspectos negativos 32% falam da discipli<strong>na</strong>,<br />
da austerida<strong>de</strong> e do rigor.<br />
Quanto aos leigos, e em relação aos aspectos negativos, 21% falam do<br />
isolamento, 18% da discipli<strong>na</strong> e austerida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> forma positiva sublinha a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudo e do ensino.<br />
Os leigos antigos semi<strong>na</strong>ristas inquiridos são professores (19%), gestores<br />
ou empresários (13%), advogados, juízes, magistrados, procuradores (total<br />
<strong>de</strong> 10% nesta profissões <strong>na</strong> área do Direito) e, entre outras profissões menos<br />
representadas, bancários (9%).<br />
Chamados a reflectir sobre aquilo que pensam da actual organização da<br />
Igreja, 47% dos leigos e 32% dos padres consi<strong>de</strong>ram-<strong>na</strong> “<strong>de</strong>masiado centralista”<br />
e 36% i<strong>na</strong><strong>de</strong>quada às realida<strong>de</strong>s do mundo contemporâneo.<br />
172 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Conclusões<br />
. teologia / pastoral.<br />
1 – Este Congresso teve gran<strong>de</strong> participação e interesse. Conseguiu um<br />
êxito assi<strong>na</strong>lável que a todos <strong>de</strong>safiou e interpelou.<br />
2 – Para os participantes, o resultado mais palpável e imediato foi o enriquecimento<br />
pessoal que proporcionou, pelas vivências huma<strong>na</strong>s e espirituais<br />
e, sobretudo, pela relação interpessoal.<br />
3 – Muitos antigos alunos dos seminários são <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> formação e<br />
capacida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>rão contribuir para dar resposta ao <strong>de</strong>safio premente da<br />
nova evangelização.<br />
4 – Mais <strong>de</strong> 67 mil cidadãos <strong>de</strong>ste país <strong>de</strong>vem a sua formação básica aos<br />
Seminários. Através dos Seminários, a Igreja <strong>de</strong>u um contributo significativo<br />
à formação cívica e cristã <strong>de</strong> muitos jovens.<br />
5 – O Inquérito realizado pela UCP e os numerosos testemunhos apresentados<br />
evi<strong>de</strong>nciaram, <strong>de</strong> modo eloquente, que os Seminários <strong>de</strong>sempenharam<br />
um papel relevante <strong>na</strong> instrução e formação cívica e cristã.<br />
6- Foi sugerido que as Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong>s públicas e a Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica<br />
incentivassem a realização <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> investigação para aferir o papel<br />
dos antigos alunos <strong>na</strong> cultura em geral e, sobretudo <strong>na</strong> literatura, música,<br />
história e acção social.<br />
7 - Foram dados contributos para <strong>de</strong>finir os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Seminário que<br />
dêem resposta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar sacerdotes com uma nova cultura <strong>de</strong><br />
vocação, realmente missionários e evangelizadores, preparados para, nesta<br />
cultura pós mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, se reencontrarem consigo mesmos e se abrirem ao seu<br />
semelhante e ao Amor <strong>de</strong> Deus.<br />
8 – Na socieda<strong>de</strong> fragmentada, sem consensos éticos básicos, mi<strong>na</strong>da pela<br />
cultura do vazio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais e <strong>de</strong> valores, os Seminários <strong>de</strong>vem ser escolas on<strong>de</strong><br />
se apren<strong>de</strong> com rigor e profundida<strong>de</strong>, com vista a po<strong>de</strong>r servir com <strong>de</strong>dicação,<br />
perse<strong>ver</strong>ança e mostrar os valores do humanismo cristão.<br />
9 - Neste Congresso fizemos memória das nossas origens e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
para nos apoiarmos <strong>na</strong>quilo que vivemos e po<strong>de</strong>rmos continuar a avançar<br />
com esperança.<br />
<strong>Fátima</strong>, lugar on<strong>de</strong> nos reunimos, aproximou-nos do Beato Francisco<br />
Marto e <strong>de</strong> N.ª S.ª do Rosário, faróis <strong>de</strong> esperança.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 173<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
10 – O Seminário proporcionou-nos formação sólida e aptidões em muitas<br />
áreas do saber. Comparável a um ‘sistema operativo’ informático que activa<br />
muitas ferramentas. Marca quem por lá passou e ajuda a ‘estar em re<strong>de</strong>’.<br />
Esta preparação <strong>de</strong>u-nos competências em variados contextos profissio<strong>na</strong>is<br />
e sociais: capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cultivar o pensamento, expressar opiniões e <strong>de</strong><br />
vi<strong>ver</strong> em grupo.<br />
11 – A missão <strong>de</strong> ser fermento implica ser activo, comprometido, formação<br />
cuidada e espírito <strong>de</strong> iniciativa.<br />
12 – A vocação é a razão sublime que nos leva à união com Deus. Re<strong>de</strong>scobre-se<br />
todos os dias, com ânimo e perse<strong>ver</strong>ança. Realiza-se através da<br />
busca contínua, da acção atenta ao amor criador <strong>de</strong> Deus e à vivência da<br />
fraternida<strong>de</strong> uni<strong>ver</strong>sal.<br />
13 - Existe um sentimento generalizado para que seja dada alguma sequência<br />
ao Congresso através <strong>de</strong> acções que se venham a organizar no futuro.<br />
14 – Valores cristãos…<br />
Vivemos numa socieda<strong>de</strong> com assi<strong>na</strong>lável progresso material e tecnológico,<br />
mas com ari<strong>de</strong>z espiritual e marcado relativismo ético…<br />
Quatro aspectos da vivência cristã, como fermento nesta socieda<strong>de</strong>: Conjugar<br />
a<strong>de</strong>quadamente o ser e o ter; Vi<strong>ver</strong>, com sentido <strong>de</strong> serviço, a carida<strong>de</strong>;<br />
Comprometer-se <strong>na</strong> exemplarida<strong>de</strong>; Ser faróis <strong>de</strong> esperança.<br />
15 – Foi expresso um voto <strong>de</strong> congratulação pela canonização do Beato<br />
Nuno Álvares Pereira.<br />
16 – Os congressistas manifestaram viva gratidão ao Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong><br />
por todo o apoio a este I Congresso Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Antigos Alunos dos Seminários.<br />
174 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |<br />
<strong>Fátima</strong>, 26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009
O papel dos mosteiros <strong>de</strong> vida consagrada<br />
. teologia / pastoral.<br />
Uma presença orante no ano sacerdotal<br />
Pela Irmãs Clarissas <strong>de</strong> Monte Real<br />
Os Mosteiros <strong>de</strong> Vida Contemplativa oferecem-se-nos como “oásis” nos<br />
quais o homem, peregrino sobre a terra, po<strong>de</strong> atingir melhor as <strong>na</strong>scentes do<br />
Espírito e repousar ao longo do caminho (Bento XVI).<br />
No dia 19 <strong>de</strong> Junho, Solenida<strong>de</strong> do Sagrado Coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>, iniciou-se<br />
o ANO SACERDOTAL. Toda a Igreja está em festa, porque os seus ministros,<br />
os Sacerdotes, vivem este “Ano da Graça” que lhes é oferecida.<br />
Também nós, Irmãs Clarissas, Religiosas <strong>de</strong> Vida Contemplativa, como “sentinelas<br />
vigilantes no alto do monte” (VC. 59), queremos tomar parte nesta profunda<br />
e íntima alegria espiritual que inva<strong>de</strong> o coração e a vida <strong>de</strong> cada Sacerdote,<br />
vi<strong>ver</strong> intensamente este momento <strong>de</strong> graça e “alegrarmo-nos com aqueles que<br />
se alegram”. Ao sentirmo-nos pedras vivas da Igreja, pela nossa forma <strong>de</strong> vida,<br />
estamos atentas e empenhadas em oferecer cada dia no altar da consagração da<br />
nossa vida, orações e sacrifícios pelos nossos Irmãos, os Sacerdotes.<br />
À nossa memória ainda ecoa o apelo veemente do Car<strong>de</strong>al Cláudio Hummes,<br />
Prefeito da Congregação para o Clero, lançado a toda a Igreja:<br />
“São <strong>de</strong><strong>ver</strong>as muitas as coisas a fazer pelo <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro bem do Clero e pela<br />
fecundida<strong>de</strong> do ministério pastoral no mundo <strong>de</strong> hoje. A consciência <strong>de</strong> que o<br />
agir realiza o ser e <strong>de</strong> que a alma <strong>de</strong> cada apostolado é a intimida<strong>de</strong> divi<strong>na</strong> nos<br />
levou a promo<strong>ver</strong>, com urgência, precisamente uma gran<strong>de</strong> adoração eucarística,<br />
se possível perpétua. (…) Propusemos aos Bispos que promovam <strong>na</strong>s<br />
dioceses autênticos “cenáculos eucarísticos”, nos quais consagrados e leigos<br />
se <strong>de</strong>diquem, unidos entre si e em espírito <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>ira comunhão, à oração<br />
sob forma <strong>de</strong> adoração eucarística continuada”.<br />
Nós, Irmãs Clarissas do Desagravo, temos esperança <strong>de</strong> que esta chama<br />
viva “cenáculos eucarísticos” incen<strong>de</strong>ie os corações dos fiéis e se torne realida<strong>de</strong><br />
<strong>na</strong>s nossas comunida<strong>de</strong>s cristãs. Como tudo seria diferente se o Santíssimo<br />
Sacramento tivesse primazia no dia-a-dia dos cristãos. Cumprir-se-ia<br />
a profecia <strong>de</strong> Isaías: “Toda a ravi<strong>na</strong> será preenchida; todo o monte e coli<strong>na</strong><br />
serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tor<strong>na</strong>rse-ão<br />
planos” (Is, 3-5). “Cenáculos eucarísticos”! Uma realida<strong>de</strong> que nos é<br />
tão querida, tão familiar! Ela constitui para nós o “Tesouro escondido”, a<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 175<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
“Pérola” mais preciosa. É o centro da nossa vida quotidia<strong>na</strong>, a razão do nosso<br />
ser Clarissas do Desagravo.<br />
Des<strong>de</strong> o seu <strong>na</strong>scimento em 1965, o nosso Mosteiro é um <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro “cenáculo<br />
eucarístico”, on<strong>de</strong> a chama da oração pelos Sacerdotes ar<strong>de</strong> incessantemente<br />
diante do Santíssimo Sacramento, solenemente exposto dia e noite.<br />
Sim, dia e noite uma Irmã permanece diante do Santíssimo em adoração e<br />
oração por todo o mundo, mas especialmente pedindo pelos Sacerdotes. Po<strong>de</strong>rá<br />
parecer uma loucura para muitos, mas motivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> e<br />
ple<strong>na</strong> realização para quem o experimenta, para quem um dia sentiu o forte<br />
apelo à radicalida<strong>de</strong> por amor a Cristo e ao seu Evangelho. De facto o amor<br />
não se explica, o amor vive-se. E “não há maior prova <strong>de</strong> amor do que dar a<br />
vida pelos seus amigos”.<br />
A Fundadora <strong>de</strong>ste Mosteiro, a Madre Maria Teresa do Menino <strong>Jesus</strong>, tinha<br />
gran<strong>de</strong> amor, estima, respeito e carinho especial pelos Sacerdotes, que ela<br />
<strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>va “fiéis administradores dos Mistérios <strong>de</strong> Deus”. Por eles, diária e<br />
comunitariamente, elevava a Deus uma oração especial. Por isso as Irmãs <strong>de</strong>ste<br />
Mosteiro “orgulham-se” <strong>de</strong> tão nobre e sublime herança, recebida <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong><br />
mulher profundamente eucarística e profundamente sacerdotal, e continuam<strong>na</strong><br />
ainda hoje. Quando as Irmãs se substituem, <strong>de</strong> hora em hora <strong>na</strong> adoração,<br />
durante a noite, rezam uma oração especial pelos Sacerdotes. Verda<strong>de</strong>iramente<br />
grandiosa é a sua vocação! Só eles nos po<strong>de</strong>m dar o Pão Vivo <strong>de</strong>scido do Céu,<br />
missão que nem os próprios Anjos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar.<br />
Des<strong>de</strong> há 800 anos que sentimos o clamoroso apelo da nossa Fundadora,<br />
Santa Clara <strong>de</strong> Assis, a Santa Inês <strong>de</strong> Praga: “Consi<strong>de</strong>ro-te colaboradora do<br />
próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis dos Seu Corpo”.<br />
Este gran<strong>de</strong> amor eclesial continua a invadir, hoje, os nossos corações<br />
e as nossas vidas. Na retaguarda do silêncio do nosso Mosteiro, <strong>na</strong> loucura<br />
e aparente inutilida<strong>de</strong> das nossas vidas, queremos ser seiva viva, fecunda e<br />
abundante da grandiosa “Árvore”, por <strong>Jesus</strong> plantada, no meio dos homens,<br />
que é a sua Igreja.<br />
Em qualquer corpo que tem vida, os órgãos mais importantes são também<br />
os mais frágeis. Porém são vitais para o bom funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> todo o organismo.<br />
O mesmo acontece com este Corpo tão belo, tão nobre, tão santo, mas<br />
também tão <strong>de</strong>licado que é a Igreja <strong>de</strong> Cristo. Os seus ministros, os Sacerdotes,<br />
são as colu<strong>na</strong>s firmes, mas ao mesmo tempo frágeis, <strong>de</strong>sta Igreja viva. Eles trazem<br />
o sagrado tesouro do seu ministério em “vasos <strong>de</strong> argila”, para que o po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> Deus neles se revele. De gran<strong>de</strong> beleza é esta expressão que <strong>Jesus</strong> <strong>de</strong>dica aos<br />
Seus Sacerdotes: “Eles estão no mundo mas não são do mundo”.<br />
176 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
Conscientes <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, como Clarissas do Desagravo, queremos<br />
continuar a ser um suporte dos <strong>de</strong>licados e imprescindíveis membros da nossa<br />
Mãe, a Santa Igreja, que são os Sacerdotes – não nós mas a graça <strong>de</strong> Deus<br />
que nos habita. Reafirmamos, portanto o nosso compromisso <strong>de</strong>, escondidas<br />
com Cristo, elevarmos para Deus no silêncio <strong>de</strong>ste “cenáculo eucarístico”,<br />
que é o claustro, a nossa oração pelo nosso Bispo, pelos seus mais directos<br />
colaboradores, os Sacerdotes, os semi<strong>na</strong>ristas e seus formadores. Suplicamos,<br />
assim, a fecundida<strong>de</strong> e bênçãos divi<strong>na</strong>s para todas as activida<strong>de</strong>s pastorais<br />
dos Sacerdotes que, com tanto heroísmo, <strong>de</strong>dicação e entrega <strong>de</strong>senvolvem<br />
<strong>na</strong>s respectivas paróquias ou em outros sectores da vida diocesa<strong>na</strong>.<br />
Sentimo-nos pequeníssimas ante a gran<strong>de</strong>za e o valor inestimável <strong>de</strong>ste<br />
maravilhoso dom que é a vocação sacerdotal concedida por Deus à sua Igreja.<br />
Mas, como o amor é mais forte do que a morte e não tem fronteiras, temos à<br />
nossa disposição a fonte inesgotável da graça e do amor que é a presença <strong>de</strong><br />
<strong>Jesus</strong> <strong>na</strong> Eucaristia, Ma<strong>na</strong>ncial <strong>de</strong> todas as graças, Fonte inesgotável, Verda<strong>de</strong>iro<br />
Pão do Céu. D’Ele po<strong>de</strong>mos colher os maiores dons e oferecer-Lhos a<br />
favor dos Sacerdotes do mundo inteiro.<br />
Queremos sentir, caminhar e vi<strong>ver</strong> <strong>na</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à nossa vocação sempre<br />
ao ritmo e em sintonia com o pulsar da nossa Mãe a Santa Igreja. Sob a acção<br />
e a graça <strong>de</strong> Deus queremos dizer aos Sacerdotes: Contem com a nossa oração,<br />
com a nossa presença orante, dia e noite.<br />
Para melhor vi<strong>ver</strong>mos este feliz evento, no próximo dia 2 <strong>de</strong> Julho, primeira<br />
Quinta-feira do mês, teremos aqui, <strong>na</strong> igreja do Mosteiro, às 21h00,<br />
uma Vigília <strong>de</strong> Oração pelos Sacerdotes para a qual convidamos todas as pessoas<br />
que pu<strong>de</strong>rem e queiram associar-se ao louvor, súplica e acção <strong>de</strong> graças<br />
pelos mesmos Sacerdotes.<br />
Tudo é graça!<br />
Na nossa vida tudo é graça! Verda<strong>de</strong>iramente “em Deus vivemos, nos movemos<br />
e existimos” como afirma o Apóstolo S. Paulo no areópago <strong>de</strong> Ate<strong>na</strong>s.<br />
Verda<strong>de</strong>iramente Deus não se cansa <strong>de</strong> cumular os seus filhos com a abundância<br />
dos seus dons. Para <strong>ver</strong> esta realida<strong>de</strong> basta não andarmos distraídos.<br />
Acabámos <strong>de</strong> vi<strong>ver</strong> uma forte experiência <strong>de</strong> amor, fé e esperança, sob o<br />
olhar atento do gran<strong>de</strong> apóstolo, S. Paulo. Um caminho <strong>de</strong> vida iniciado há<br />
2000 anos e que se vai abrindo e prolongando, dia após dia, em cada pági<strong>na</strong><br />
da história da humanida<strong>de</strong>. A profunda experiência <strong>de</strong> amor a Cristo e à causa<br />
do Evangelho vivida por Paulo continua a contagiar corações jovens e menos<br />
jovens que hoje se lançam corajosa e ousadamente <strong>na</strong> divi<strong>na</strong> aventura <strong>de</strong><br />
anunciar Cristo e “Cristo Crucificado”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 177<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
S. Paulo surge <strong>na</strong> primitiva Igreja como figura singular <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza espiritual:<br />
<strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro apaixo<strong>na</strong>do por Cristo, ousado profeta das gentes, ardoroso<br />
apóstolo do Evangelho, <strong>de</strong>stemido soldado, pioneiro da carida<strong>de</strong>. Esta mesma herança,<br />
este mesmo <strong>de</strong>safio nos é lançado a nós, cristãos do 3º milénio, pela santa<br />
Igreja, nossa Mãe, sempre solícita pelo bem dos seus filhos. Por isso antes <strong>de</strong><br />
termi<strong>na</strong>r o Ano Paulino abriu-nos as portas para um outro gran<strong>de</strong> acontecimento:<br />
o Ano da Graça, inteiramente <strong>de</strong>dicado aos Sacerdotes. Dois acontecimentos, duas<br />
realida<strong>de</strong>s tão intimamente unidas <strong>na</strong> mesma origem, origem que tem um rosto,<br />
um nome, uma presença viva e vivificadora, <strong>Jesus</strong> Cristo!<br />
Apesar <strong>de</strong> tantos “contra” <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong> em que rei<strong>na</strong> o individualismo, o consumismo,<br />
o niilismo, o ateísmo, o hedonismo e tantos outros “ismos”, que teimam<br />
ocultar o rosto <strong>de</strong> Deus e asfixiar a sua presença no coração e <strong>na</strong>s consciências, o<br />
mesmo Deus, que escreve sempre direito <strong>na</strong>s curvas dos caminhos dos homens,<br />
tem sempre a última palavra como Senhor da história. E Ele, mais uma vez, aí está<br />
como eter<strong>na</strong> novida<strong>de</strong> a convidar os fiéis e também a nós, Irmãs <strong>de</strong> vida claustral,<br />
a re<strong>de</strong>scobrir o valor inestimável do Sacerdote e o dom inefável da sua vocação.<br />
Em cada sacerdote vive um Paulo <strong>de</strong> Tarso que, dia após dia, vai dando a<br />
vida pela causa do Evangelho no meio do povo <strong>de</strong> Deus. Como “grão <strong>de</strong> trigo<br />
que cai à terra e morre” o Sacerdote vai produzindo frutos <strong>de</strong> vida eter<strong>na</strong>.<br />
O gran<strong>de</strong> Apóstolo não só quis oferecer a sua vida por Cristo e ser um<br />
exemplo vivo para todos os Sacerdotes mas também quis dirigir-lhes 12 cartas,<br />
cartas que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há 2000 anos, vêm forjando plêia<strong>de</strong>s <strong>de</strong> santos. Cartas que há<br />
2000 anos tinham um <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>tário colectivo mas hoje, e neste ano em especial,<br />
são dirigidas a uma pessoa singular com um rosto e um nome: o Sacerdote. De<br />
gran<strong>de</strong> beleza e profundida<strong>de</strong> espiritual são estas palavras que, afi<strong>na</strong>l, se vão<br />
repetindo <strong>na</strong>s di<strong>ver</strong>sas cartas e epístolas: “Paulo, por vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus (…) a<br />
todos os Sacerdotes da Igreja <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> Cristo espalhada por todo o mundo, a<br />
vós graça e paz. Bendito seja Deus que do alto dos Céus vos abençoou com<br />
toda a espécie <strong>de</strong> bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele vos escolheu<br />
antes da criação do mundo para ser<strong>de</strong>s irrepreensíveis e imaculados diante dos<br />
seus olhos” (Ef.1,1-4). E assim po<strong>de</strong>rá ser lida e meditada esta exortação <strong>de</strong><br />
forma muito pessoal. Nesta perspectiva S. Paulo continua a ser para todos um<br />
caminho-luz, caminho <strong>de</strong> vida. Paulo não morreu, continua vivo, ardoroso e<br />
ousado em cada Sacerdote que vive com fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e amor a sua vocação.<br />
Ano Paulino e Ano Sacerdotal, dois acontecimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> riqueza<br />
para toda a Igreja e forte <strong>de</strong>safio para nós Irmãs <strong>de</strong> vida contemplativa a continuarmos<br />
a ser no silêncio do Mosteiro uma presença orante, um apoio ao<br />
Sacerdote em favor <strong>de</strong> cada cristão, no Coração da Igreja nossa Mãe.<br />
178 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Padre Carlos da Silva<br />
A<strong>de</strong>us ao Mestre <strong>de</strong> todos nós<br />
Por Padre Pedro Viva<br />
. teologia / pastoral.<br />
Foi com tristeza que fomos surpreendidos pelo falecimento o Cónego<br />
Carlos da Silva, ao fi<strong>na</strong>l da tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> segunda-feira, dia 16 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro. Encontrava-se<br />
<strong>na</strong> Casa do Clero da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, em <strong>Fátima</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004,<br />
ano em que o agravamento do seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> fez que <strong>de</strong>ixasse o Seminário<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> on<strong>de</strong> viveu praticamente toda a sua vida e se <strong>de</strong>dicou à formação<br />
<strong>de</strong> cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> jovens semi<strong>na</strong>ristas e à música, uma das suas gran<strong>de</strong>s paixões.<br />
O seu corpo veio para a Igreja do Seminário, no dia seguinte, on<strong>de</strong> ficou em<br />
câmara ar<strong>de</strong>nte. Na manhã <strong>de</strong> quarta-feira celebrou-se a missa exequial <strong>na</strong> Sé<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e os seus restos mortais seguiram para Min<strong>de</strong>, sua terra <strong>na</strong>tal, como<br />
era seu <strong>de</strong>sejo.<br />
O Sr. Dr. Carlos, como era conhecido,<br />
<strong>na</strong>sceu a 5 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1928 <strong>na</strong> Vila <strong>de</strong><br />
Min<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> cedo, <strong>na</strong> sua casa, on<strong>de</strong> se<br />
respirava música, mostrava-se promissor <strong>na</strong><br />
arte musical. Inspiração não lhe faltaria, no<br />
meio da beleza da Serra d’Aire. O seu pai,<br />
alfaiate <strong>de</strong> profissão, foi músico e regente da<br />
Banda Filarmónica <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>. Aos oito anos,<br />
o pequeno “Carlitos” experimentava o flautim<br />
<strong>na</strong> Escola <strong>de</strong> Música da Filarmónica e<br />
ensaiava os primeiros trechos compostos por<br />
si: «Músicas que <strong>de</strong>dicava à minha mãe, à<br />
minha irmã, à minha família. No fundo já<br />
nessa altura tentava expressar o Amor que<br />
tinha pelos outros através da música, refere<br />
anos mais tar<strong>de</strong> numa entrevista ao Jor<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>.<br />
Em 1939, com onze anos, entra no Seminário<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> para os estudos que viria<br />
a concluir em 1950. Nos anos seguintes, <strong>de</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 179<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
50 a 54, o Sr. Bispo, D. José Alves Correia da Silva, que lhe notou o talento,<br />
envia-o, juntamente com o P. António <strong>de</strong> Oliveira Gregório, para a Cida<strong>de</strong><br />
Eter<strong>na</strong>, para frequentar o Instituto Pontifício <strong>de</strong> Música Sacra, on<strong>de</strong> viria a<br />
licenciar-se em Canto Gregoriano e a fazer especializações <strong>de</strong> Órgão e Piano.<br />
Foi or<strong>de</strong><strong>na</strong>do sacerdote, em <strong>Leiria</strong>, a 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1951. Quando se preparava<br />
para iniciar o Mestrado, em Roma, foi chamado a regressar à <strong>Diocese</strong><br />
para assumir o ensino da música no Seminário, <strong>de</strong>vido à nomeação do Sr.<br />
Padre João Venâncio para Bispo Auxiliar do Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
Dedicou toda a sua vida, ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> quatro décadas, à formação<br />
<strong>de</strong> padres e leigos no campo da liturgia e <strong>de</strong>senvolveu um trabalho notável <strong>na</strong><br />
composição e educação para a música litúrgica, discipli<strong>na</strong> que ajudou a renovar<br />
em Portugal, com mais <strong>de</strong> 500 peças da sua autoria, muitas <strong>de</strong>las cantadas<br />
por todo o país e no estrangeiro. Publicadas quase todas <strong>na</strong> colectânea “Orar<br />
Cantando”, <strong>de</strong> melodia simples, as suas músicas têm como horizonte <strong>Jesus</strong><br />
Cristo e sua Mãe, Nossa Senhora do Rosário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong>, <strong>de</strong> quem era <strong>de</strong>voto.<br />
Era <strong>na</strong>s assembleias do Santuário <strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> que encontrava, muitas vezes, a<br />
sua inspiração.<br />
A sua preocupação era rezar e pôr o Povo <strong>de</strong> Deus a rezar: “sempre que<br />
componho cânticos religiosos, quer por iniciativa própria quer por encomenda,<br />
tenho a intenção primordial <strong>de</strong> fazer rezar quem os cante, procurando<br />
valorizar cristãmente os textos, tor<strong>na</strong>ndo-os mais expressivos e penetrantes,<br />
facilitando <strong>de</strong>ste modo a minha oração pessoal e a oração dos outros, mesmo<br />
das pessoas mais simples e dos coros e das comunida<strong>de</strong>s menos preparadas<br />
musicalmente”. Compunha <strong>de</strong> forma simples para ajudar o povo a “alimentar<br />
a fé, a esperança e o amor divino, ajudando-o a entrar em contacto mais<br />
íntimo e feliz com Deus”, como escreveu <strong>na</strong> introdução à obra já citada. O<br />
Padre Carlos soube colocar o seu talento ao serviço da qualida<strong>de</strong> e beleza da<br />
oração do Povo <strong>de</strong> Deus, em ple<strong>na</strong> e criativa sintonia com as <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções<br />
ema<strong>na</strong>das do II Concílio Vaticano.<br />
O seu ministério <strong>de</strong>dicou-o quase em exclusivo ao Seminário, on<strong>de</strong> foi<br />
professor <strong>de</strong> Música e outras discipli<strong>na</strong>s como História e Liturgia. Durante<br />
anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, foi ainda responsável pelo Serviço <strong>de</strong> Música do Santuário<br />
<strong>de</strong> <strong>Fátima</strong> e das suas Celebrações Ani<strong>ver</strong>sarias. É nesta altura que começa o<br />
seu período mais criativo. De 1955 a 2004 foi Director do Coro da Catedral<br />
da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Foi também Director diocesano da Obra Pontifícia da Propagação<br />
da Fé, professor <strong>de</strong> Religião e Moral no Liceu <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, professor<br />
<strong>de</strong> música e canto coral <strong>na</strong> Escola <strong>de</strong> Formação Social Rural, encarregado do<br />
Movimento <strong>de</strong> Casais e capelão em três comunida<strong>de</strong>s (Ja<strong>na</strong>rdo, Pinheiros e<br />
180 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
Quinta da Matinha) da Paróquia dos Marrazes. Em 13 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1976 foi<br />
nomeado Cónego Capitular da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
Juntamente com o Sr. Cónego Rosa, amigo fiel <strong>de</strong> uma vida inteira e seu<br />
professor, o Dr. Carlos foi gran<strong>de</strong> impulsio<strong>na</strong>dor da compra do gran<strong>de</strong> órgão<br />
<strong>de</strong> tubos da Sé. Para marcar a ocasião solene <strong>de</strong> i<strong>na</strong>uguração do novo órgão,<br />
o padre Carlos Silva compôs a música para o «Salmo Responsorial» que em<br />
boa parte resume a força que o faz amar a música: «Cantai ao Senhor um<br />
cântico novo, cantai ao Senhor porque é bom cantar! Cantai ao Senhor com<br />
arte e com alma, é digno e justo celebrar o Seu louvor!».<br />
Por ocasião do seu Jubileu Sacerdotal, em 2001, foi justamente home<strong>na</strong>geado,<br />
entre outras entida<strong>de</strong>s, pela <strong>Diocese</strong>, a Rádio 94FM e o Secretariado<br />
Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Liturgia <strong>na</strong> Sema<strong>na</strong> Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Liturgia.<br />
Homem gran<strong>de</strong> em corpo pequeno, muito vivo e expressivo, voz sonora<br />
e entusiasta, rara sensibilida<strong>de</strong> em captar a alma do povo, sacerdote íntegro e<br />
<strong>de</strong>dicado, mestre <strong>de</strong> cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> jovens que o ti<strong>ver</strong>am como referência, abraçou<br />
com fé os seus últimos anos marcados pelo sofrimento <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r fazer<br />
uma das coisas <strong>de</strong> que mais gostava: cantar. No céu, juntando a sua voz à dos<br />
anjos e santos, canta agora eter<strong>na</strong>mente as maravilhas <strong>de</strong> Deus.<br />
Homens como o Dr. Carlos, não morrem. A sua vida foi fecunda, foi semente<br />
que <strong>de</strong>u fruto. É luzeiro no firmamento e a sua memória perdurará<br />
<strong>na</strong>queles que louvarão a Deus com a sua oração e a sua música. Que junto <strong>de</strong><br />
Deus <strong>de</strong>scanse e interceda pela nossa <strong>Diocese</strong> e pelo seu querido Seminário.<br />
Em discurso directo...<br />
Em Outubro <strong>de</strong> 2001, por ocasião dos seus 50 anos <strong>de</strong> sacerdócio, o padre<br />
Carlos Silva conce<strong>de</strong>u uma entrevista a O Mensageiro, publicada em 18 <strong>de</strong><br />
Outubro <strong>de</strong> 2001, da qual transcrevemos as seguintes passagens.<br />
“Os momentos que recordo com mais intensida<strong>de</strong> estão relacio<strong>na</strong>dos<br />
com as gran<strong>de</strong>s celebrações litúrgicas, por exemplo, <strong>na</strong>s peregri<strong>na</strong>ções<br />
em <strong>Fátima</strong> ou <strong>na</strong>s or<strong>de</strong><strong>na</strong>ções sacerdotais e festas do Corpo <strong>de</strong> Deus, em<br />
<strong>Leiria</strong>. A própria Eucaristia é, por si só, suficiente para encher e justificar<br />
a minha vocação sacerdotal. E não há <strong>na</strong>da mais entusiasmante para<br />
mim que uma gran<strong>de</strong> assembleia a cantar e a louvar a Deus. Por exemplo,<br />
<strong>na</strong> celebração <strong>de</strong> Sexta-Feira Santa, <strong>na</strong> Sé, quando se canta o meu<br />
cântico “O Senhor salvou-me”, raramente consigo evitar as lágrimas <strong>de</strong><br />
emoção”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 181<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
“Quando componho exprimo os meus sentimentos religiosos, <strong>de</strong><br />
oração, amor e acção <strong>de</strong> graças. Num segundo momento, ofereço os<br />
meus cânticos para dar resposta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer o Povo <strong>de</strong> Deus<br />
cantar, com arte e beleza, <strong>de</strong> uma forma enriquecedora para a sua fé.”<br />
“A Igreja está aberta a todos os tipos <strong>de</strong> música, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja expressão<br />
<strong>de</strong> oração e não ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong> festa”. Não há nenhum ritmo nem<br />
nenhum instrumento excluídos, mas há que evitar ritmos ou instrumentos<br />
que evoquem mais o profano do que o sagrado. Misturar a liturgia<br />
com expressões como o fado ou folclore, por exemplo, não dignifica a<br />
celebração nem ajuda as pessoas a rezar”.<br />
“Para que a celebração litúrgica se renove é necessário apostar <strong>na</strong><br />
preparação do presi<strong>de</strong>nte da assembleia, dos leitores, dos acólitos, dos<br />
cantores. Para tal, é essencial uma catequização mais profunda sobre os<br />
sacramentos, em especial a eucaristia”.<br />
“Tenho pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> não ter conseguido ajudar a criar uma escola diocesa<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong> ministérios laicais, entre eles, <strong>de</strong> solistas, coristas e regentes <strong>de</strong><br />
coros. Mas eu voltaria sempre a en<strong>ver</strong>edar por este caminho <strong>de</strong> entrega<br />
à Igreja, pela promoção do canto dos louvores divinos entre o Povo <strong>de</strong><br />
Deus”.<br />
“Procurei sempre levar a Cristo todos aqueles a quem Ele me enviou,<br />
como Seu representante e ministro; ajudá-los a adorar e louvar, a agra<strong>de</strong>cer<br />
e reparar, e a invocar e imitar, comigo”.<br />
182 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. teologia / pastoral.<br />
A Igreja da Misericórdia – Que futuro?<br />
Por Padre João Trinda<strong>de</strong><br />
A igreja da Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, iniciada no séc. XVII e melhorada nos<br />
seguintes, é parte integrante do núcleo <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>do por “centro histórico da cida<strong>de</strong>”.<br />
Foi lugar <strong>de</strong> culto não só para os doentes que <strong>de</strong>mandavam o hospital<br />
que lhe estava anexo, como também para a população que a envolvia, especialmente<br />
para quem, pelos horários do culto ali em vigor, podia harmonizar<br />
o ritmo da vida cristã com as obrigações domésticas ou profissio<strong>na</strong>is.<br />
Ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois séculos o vetusto templo serviu também <strong>de</strong> igreja<br />
funerária para a celebração <strong>de</strong> exéquias pelos irmãos da confraria e pelos<br />
que faleciam no hospital.<br />
Com a construção da capela mortuária, junto a Santo Agostinho, a igreja<br />
da Misericórdia <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar aberta ao culto, aten<strong>de</strong>ndo a que as outras<br />
igrejas bastavam para a população citadi<strong>na</strong> e a capela do lar <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Encar<strong>na</strong>ção era suficiente para satisfazer as obrigações espirituais a<br />
que a Irmanda<strong>de</strong>, por força dos<br />
estatutos, está obrigada.<br />
Na tentativa <strong>de</strong> evitar a <strong>de</strong>terioração<br />
que o encerramento<br />
do templo estava a provocar,<br />
e com o intuito <strong>de</strong> o recuperar<br />
para fins compatíveis com<br />
a dignida<strong>de</strong> da sua história,<br />
a Mesa Administrativa mandou<br />
elaborar um projecto <strong>de</strong><br />
restauro para se candidatar a<br />
subsídios comunitários. Não<br />
obstante o interesse histórico<br />
e os pareceres favoráveis das<br />
entida<strong>de</strong>s chamadas a <strong>de</strong>por, a<br />
candidatura não foi aceite.<br />
A Administração da Santa<br />
Casa da Misericórdia saída das<br />
eleições <strong>de</strong> 1999, preocupada<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 183<br />
Reflexões
. teologia / pastoral .<br />
com a situação e consciente da inevitável <strong>de</strong>gradação, celebrou com a Câmara<br />
Municipal um protocolo através do qual ce<strong>de</strong>u aquele espaço para fins<br />
culturais, <strong>de</strong> acordo com as condições no mesmo consig<strong>na</strong>das. Com o aparecimento<br />
<strong>de</strong> outros equipamentos sociais em melhores condições e a pon<strong>de</strong>ração<br />
dos encargos para a manutenção do imóvel, a Autarquia <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> estar<br />
interessada e o templo regressou ao seu silêncio.<br />
Não dispondo a Mesa Administrativa dos meios fi<strong>na</strong>nceiros que permitam<br />
assumir o restauro da igreja – o que é compreensível tendo em conta os<br />
elevados encargos assumidos com o conjunto <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> vulto realizadas<br />
– resta-nos esperar que surja alguma oportunida<strong>de</strong> dig<strong>na</strong> e satisfatória que<br />
permita evitar que a cida<strong>de</strong> venha a per<strong>de</strong>r mais este elemento do seu já tão<br />
pobre património arquitectónico.<br />
Ninguém está interessado que se repita o que aconteceu ao convento dos<br />
Capuchos ou o que esteve para acontecer à secular igreja <strong>de</strong> São Francisco.<br />
Estamos certos que a instituição proprietária e a <strong>Diocese</strong> não <strong>de</strong>ixarão<br />
<strong>de</strong> fazer tudo o que esti<strong>ver</strong> ao seu alcance para evitar a <strong>de</strong>rrocada do templo.<br />
Confiamos, outrossim, que a reabilitação do centro histórico e da beira-rio<br />
em curso, que, no que está realizado, já tanto contribuíram para melhorar a<br />
vida <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> e embelezar os espaços públicos, estimule a Autarquia a tudo<br />
fazer para apoiar todas as iniciativas válidas que venham a surgir para salvar<br />
e restaurar a centenária igreja da Misericórdia.<br />
184 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros:<br />
elementos documentais<br />
sobre o seu episcopado leiriense<br />
Saul António Gomes<br />
Tanto a criação da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, em 1545, quanto a nomeação para<br />
seu primeiro antistite <strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, que presidiu aos <strong>de</strong>stinos do<br />
Bispado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então e até ao momento em que renunciará 1 — posto que a<br />
sua renúncia à mitra leiriense não tenha significado perda <strong>de</strong> interesse pelos<br />
<strong>de</strong>stinos futuros mais imediatos do mesmo —, constituem actos <strong>de</strong> relevante<br />
significado <strong>na</strong> história da Igreja em Portugal 2 .<br />
Em primeiro, porque a institucio<strong>na</strong>lização da nova <strong>Diocese</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo<br />
pela sua área geográfica muito mo<strong>de</strong>sta, que fazia <strong>de</strong>la a mais peque<strong>na</strong> do<br />
país, introduzia uma mudança nos consagrados paradigmas institucio<strong>na</strong>is das<br />
velhas dioceses que se caracterizavam por termos espacialmente muito extensos.<br />
Assumia, também, ineditismo ao reconfigurar em mitra episcopal um<br />
priorado <strong>de</strong> jurisdição monástica, no caso crúzia, abrangido pelo estatuto <strong>de</strong><br />
1 A data do fim do episcopado <strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros é geralmente apontada ao ano <strong>de</strong> 1556.<br />
Mas segundo Afonso Zúquete e também José Pedro Paiva, o fim do episcopado leiriense <strong>de</strong>ste<br />
prelado caiu no ano <strong>de</strong> 1553. Vd. PAIVA, José Pedro – Os Bispos <strong>de</strong> Portugal e do Império.<br />
1495-1777, Coimbra, Imprensa da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong>, 2006, p. 581.<br />
2 Sobre a história da <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, em geral, veja-se: SOUTOMAIOR, Caetano José da<br />
Silva – “Catálogo dos bispos <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>”, in Colleçam dos documentos, estatutos e memorias<br />
da Aca<strong>de</strong>mia Real da Historia Portugueza, Lisboa, Ofici<strong>na</strong> <strong>de</strong> Poascoal da Silva, 1722, cap. I;<br />
CRISTINO, Luciano Coelho – “A <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>”, in Catedral <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. História<br />
e Arte (Coord. Virgolino Ferreira Jorge), <strong>Leiria</strong>, <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, 2005, pp. 47-82.<br />
GOMES, S. A. - “<strong>Leiria</strong> (<strong>Diocese</strong> <strong>de</strong>)”, in Dicionário <strong>de</strong> História Religiosa <strong>de</strong> Portugal, vol.<br />
3, Lisboa, Círculo <strong>de</strong> Leitores, 2000, pp. 74-81; ZÚQUETE, Afonso – <strong>Leiria</strong>. Subsídios para<br />
a História da sua <strong>Diocese</strong>, <strong>Leiria</strong>, Gráfica <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 1943. De registar os vários contributos<br />
para a história diocesa<strong>na</strong> leiriense recolhidos no número especial do Boletim <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, 3<br />
(8), Maio-Agosto, 1995.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 185<br />
Reflexões
. história .<br />
nullius dioecesis 3 .<br />
Em segundo lugar, porque o prelado provido em <strong>Leiria</strong>, D. Frei Brás <strong>de</strong><br />
Barros, era uma figura <strong>de</strong> prestígio intelectual, professo da austera e rigorosa<br />
Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Jerónimo, doutor por Lovai<strong>na</strong>, reformador do Mosteiro <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz <strong>de</strong> Coimbra 4 , tradutor e autor <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> 5 , epistológrafo<br />
<strong>de</strong> excepção 6 , muito próximo e benquisto <strong>de</strong> D. João III e, ao que se julga,<br />
confessor real ou, pelo menos, da rainha D. Catari<strong>na</strong>.Trata-se, assim, <strong>de</strong> uma<br />
figura <strong>de</strong> intelectual católico, e <strong>de</strong> homem da Igreja pré-tri<strong>de</strong>nti<strong>na</strong> portuguesa,<br />
que, mau grado as suas origens familiares no seio da mo<strong>de</strong>sta nobreza bracarense<br />
7 , atinge o episcopado sobretudo por mérito e não por razões <strong>de</strong> favor<br />
3 Veja-se, sobre este mesmo Priorado <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, também chamado, no ocaso da<br />
Ida<strong>de</strong> Média, <strong>de</strong> Vigararia <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e das vilas da Vitória e <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s, alguns dos meus estudos<br />
nomeadamente: “Organização Paroquial e Jurisdição Eclesiástica no Priorado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> nos<br />
Séculos XII a XV”, in Lusitania Sacra, Revista do Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> História Religiosa da<br />
Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Católica Portuguesa, Tomo IV, 2ª Série, Lisboa, 1992, pp. 163-310; IDEM - “A<br />
População e o Povoamento <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> do Século XII ao XVI”, in <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, Órgão Oficial<br />
da <strong>Diocese</strong>, Ano III, Nº 8, Número especial - 450º Ani<strong>ver</strong>sário da <strong>Diocese</strong> e Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
Maio-Agosto 1995, pp. 225-317; IDEM - “O Priorado Crúzio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> do<br />
Século XII à Criação da <strong>Diocese</strong>”, in Catedral <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. História e Arte (Coord. Virgolino<br />
Ferreira Jorge), <strong>Leiria</strong>, <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, 2005, pp. 13-38; IDEM - Introdução à História<br />
do Castelo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, (2ª edição revista e ampliada), <strong>Leiria</strong>, Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
2004, pp. 151 e seguintes; IDEM - “ ‘O ano do trigo sujo’: as rendas do Mosteiro <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz <strong>de</strong> Coimbra no Priorado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>na</strong>s vésperas da criação do Bispado (1541-1545)”, in<br />
<strong>Leiria</strong> - <strong>Fátima</strong>. Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>, Ano XII, Nº 34, Janeiro-Abril 2004, pp. 115-159;<br />
IDEM - “A Capela <strong>de</strong> S. Simão <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>”, in <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>, Ano<br />
XV, Nº 43, Janeiro/ <strong>de</strong> 2007, pp. 125-160; IDEM - “O Património Crúzio em <strong>Leiria</strong> nos inícios<br />
do Século XV — Elementos para o seu estudo”, in <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>,<br />
Ano XV, Nº 44, Julho-Dezembro 2007, <strong>Leiria</strong>, pp. 309-344.<br />
4 SANTOS, Cândido dos – “De reformador dos estudos a bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> ou o itinerário <strong>de</strong> um<br />
contemplativo: D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros”, in Revista da Uni<strong>ver</strong>sidad e <strong>de</strong> Coimbra, Vol. XXXVI<br />
(1991), pp. 317-326.<br />
5 Deve-se-lhe a tradução da obra lati<strong>na</strong> do franciscano alemão Fr. Henrique Hárphio, saída em<br />
português com o título Espelho da perfeiçam em lingoa portuguesa, Coimbra, 1533. Pertencelhe,<br />
também, a responsabilida<strong>de</strong> intelectual pelo Livro das Constituiçõens e costumes que se<br />
guardam em o Mosteiro <strong>de</strong> Sancta Cruz dos Conegos regrantes da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Nosso Padre<br />
Sancto ória da sua <strong>Diocese</strong>, <strong>Leiria</strong>, Gráfica <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 1943, p. 133).<br />
6 BRANDÃO, Mário – Cartas <strong>de</strong> Frei Brás <strong>de</strong> Braga para os priores do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
<strong>de</strong> Coimbra, Coimbra, Imprensa Académica, 1937.<br />
7 Peque<strong>na</strong> fidalguia minhota mas, nem por isso, <strong>de</strong>ixou Brás <strong>de</strong> Barros <strong>de</strong> seguir um eprcurso<br />
cortesão quando jovem. Segundo D. Gabriel <strong>de</strong> Santa Maria, memorialista crúzio do século<br />
XVI, que lhe traça uma breve biografia, D. Brás <strong>de</strong> Barros foi criado <strong>na</strong> corte régia, servindo<br />
<strong>na</strong> casa da rainha D. Leonor, mulher <strong>de</strong>l-rei D. João II. Lutou em África antes <strong>de</strong> ingressar <strong>na</strong><br />
vida religiosa. (Vd. Doc., 15 <strong>de</strong>ste artigo).<br />
186 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
<strong>de</strong> <strong>na</strong>scimento 8 .<br />
Na cátedra da Sé leiriense, aliás, sentar-se-ão durante toda a restante Centúria<br />
quinhentista bispos <strong>de</strong> elevada craveira intelectual. Des<strong>de</strong> logo o sucessor<br />
<strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, o eremita agostiniano D. Frei Gaspar do Casal<br />
(1557 a 1579) e D. António Pinheiro (1579-1582), pregadores e confessores<br />
reais e autores <strong>de</strong> obra espiritual, eclesiológica e teológica. E não menos relevante<br />
foi, não tanto no campo das Letras, mas no do exercício do po<strong>de</strong>r político,<br />
o último bispo leiriense <strong>de</strong>sse século, D. Pedro <strong>de</strong> Castilho (1583-1604).<br />
Não <strong>de</strong>sejou D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, <strong>de</strong> início, as responsabilida<strong>de</strong>s episcopais<br />
posto que as tenha acabado por aceitar. Em carta dirigida ao rei D.<br />
João III, que lhe <strong>de</strong>vemos atribuir, e que nos chega fragmentada, encontramos<br />
testemunhado, justamente, esse primeiro sentido <strong>de</strong> recusa da sua proposição<br />
para bispo leiriense:<br />
“Senhor. Per Amtonio Cordovil recebi a carta (…) todo o mais<br />
que per palavra me disse (…) a soma da portaria he que vossa alteza<br />
me faz mercê do Bispado <strong>de</strong> Leirea que ora novamente hor<strong>de</strong>nou (…)<br />
pemsões, por ho que beijo as mãos <strong>de</strong> vossa alteza. Me (…) por essa<br />
mercee a qual tamto a mim he mais graciosa porque he vonta<strong>de</strong> e<br />
comtemtamemto com que vossa alteza (…) que ma faz. E porem porque<br />
em este neguocio (…) vai muito a alem <strong>de</strong> interesse, nom posso<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> comfessar a infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha miséria porque, senhor,<br />
lhe diguo em <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> que se me esta mercê sem estas pemssões me<br />
alcançara há coatro ou cimquo anos, e eu a emgeitasse, ti<strong>ver</strong>a sempre<br />
que ofemdia a Nosso Senhor gram<strong>de</strong>memte, e tambem a vossa alteza,<br />
mas aguora que me acho já velho e muito doemte e mais em cousa<br />
tam nova e careguado <strong>de</strong> obriguaçam tenho por certo que offem<strong>de</strong>ria<br />
muito mais a Deus e a vossa alteza em aceitar, por ho que peço prostrado<br />
aos pees <strong>de</strong> vossa alteza aja por bem escusar me <strong>de</strong>ste t[rabalho<br />
8 D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros <strong>na</strong>sceu <strong>de</strong> pai e mãe solteiros, pelo que, antes <strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>na</strong>do sacerdote,<br />
recebeu dispensa super <strong>de</strong>fectum <strong>na</strong>talis. Vd. C. EUBEL – Hierarchia Catholica Medii et<br />
recentioris Aevi…, Vol. III. Saeculum XVI ab anno 1503 complectens, Munster, 1923, p. 224;<br />
PAIVA, José Pedro – Os Bispos <strong>de</strong> Portugal e do Império. 1495-1777, cit., p. 312; SANTOS,<br />
Cândido dos – “De reformador dos estudos a bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> ou o itinerário <strong>de</strong> um contemplativo:<br />
D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros”, cit., pp. 317-326; ZÚQUETE, Afonso – <strong>Leiria</strong>…, pp. 125-134;<br />
MATOS, Alfredo <strong>de</strong> – D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, D. João III e a construção da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
<strong>Leiria</strong>, Gráfica <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, 1957; CARDOSO, A. Brito – “Barros, D. Fr. Brás <strong>de</strong>”, in Dicionário<br />
<strong>de</strong> História da Igreja em Portugal, Vol. 2, Lisboa, 1983, pp. 221-223.<br />
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Reflexões
. história .<br />
(?)] e jumtamente com isto dar me a sua graça pera <strong>de</strong> (…) este em<br />
que estou e em que já acabei o tempo que (…) me or<strong>de</strong>nou e em que<br />
há <strong>de</strong>zoito anos que sirvo (…) e roguarei por vida e sau<strong>de</strong> <strong>de</strong> vossa<br />
alteza. De (…) em tres dias <strong>de</strong> Janeiro.” 9<br />
D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, contudo, aceitou o sólio episcopal da cida<strong>de</strong> do<br />
Lis. Data <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1545 a bula do papa Paulo III nomeando-o prelado<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (Doc. 1 - C). No dia 28 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1545, o ex-reformador dos<br />
cónegos regulares <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra toma posse do Bispado e recebe<br />
o juramento <strong>de</strong> obediência dos curas das igrejas locais (Doc. 1 – A e D). Nos<br />
meses mais imediatos, proce<strong>de</strong>u-se ao apuramento das contas e dívidas dos<br />
ren<strong>de</strong>iros do extinto Priorado 10 e <strong>de</strong>lineou-se, ao longo do ano <strong>de</strong> 1546, o<br />
projecto <strong>de</strong> renovação urbanística da praça <strong>de</strong> S. Martinho 11 .<br />
No dia 24 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1546, <strong>de</strong> Santarém, D. João III, usando dos<br />
po<strong>de</strong>res que lhe eram próprios, assinou a carta <strong>de</strong> instituição do cabido leiriense.<br />
Só um ano <strong>de</strong>pois, a 14 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1547, é que esta carta viria a ser<br />
expedida da chancelaria real. Aguardara todo esse tempo que fosse levantada.<br />
As razões <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>longa não são claras, mas talvez se prendam, por hipótese,<br />
com eventuais problemas <strong>de</strong> administração diocesa<strong>na</strong>. O entusiasmo dos momentos<br />
iniciais da criação do Bispado parece ter esmorecido durante quase<br />
dois anos. Na <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, só após a expedição da carta real citada, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 14<br />
<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1547, como vimos, é que, <strong>de</strong> novo, se assistirá a uma activida<strong>de</strong><br />
quase febril <strong>de</strong> legislação e institucio<strong>na</strong>lização da hierarquia própria da<br />
clerezia diocesa<strong>na</strong>.<br />
Datam <strong>de</strong> 1548 e 1549 as primeiras composições ou acordos legais estabelecidos<br />
entre o bispo e o cabido leiriense com vista à organização institucio<strong>na</strong>l<br />
da vida diocesa<strong>na</strong>. A 11 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1548, prelado e cabido acertavam-se<br />
quanto à (re)distribuição e colecta <strong>de</strong> rendas no Bispado (Doc. 2), matéria<br />
que exigiu a anuência e ratificação particulares, com data <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Junho e 2<br />
9 Direcção Geral <strong>de</strong> Arquivos – Torre do Tombo (doravante citado por TT) – Fragmentos, Caixa<br />
1, Maço 2, Nº 59. Este documento, como a maioria dos diplomas que aqui publicamos, foramme<br />
disponibilizados pelo Dr. Pedro Pinto, investigador do Centro <strong>de</strong> Estudos Históricos da<br />
Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa, ao qual prestamos o preito da nossa gratidão. A carta fragmentada<br />
aqui citada foi, aliás, por ele inicialmente transcrita.<br />
10 TT — Corpo Cronológico, Parte 2, Maço 210, Doc. 65.<br />
11 GOMES, S. A. - “A Praça <strong>de</strong> S. Martinho <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> do Século XII a 1546”, in Mundo da Arte,<br />
II Série, nº14, Janeiro - Março, 1990, pp. 57-78.<br />
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. história .<br />
<strong>de</strong> Julho <strong>de</strong>sse ano, respectivamente, dos cónegos Licenciado Luís Machado,<br />
tesoureiro da Sé (Doc. 3), e Lopo <strong>de</strong> Barros, <strong>de</strong>ão da mesma catedral (Doc. 4).<br />
Data <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong>ste ano <strong>de</strong> 1548 uma carta do bispo, en<strong>de</strong>reçada a<br />
el-rei, <strong>na</strong> qual lhe refere os progressos alcançados em matéria <strong>de</strong> organização<br />
do cabido, o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a visitação geral da cida<strong>de</strong> e a urgência<br />
da construção <strong>de</strong> uma nova catedral:<br />
“Senhor. Eu parti <strong>de</strong> Sancta Cruz segunda feira <strong>de</strong>pois da festa da<br />
Trinda<strong>de</strong> e cheguei a esta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> ao presente estou, fazendo em<br />
este officio que me Vossa Alteza tem encomendado o que posso. E ja tenho<br />
entregue ao cabido as rendas que foram applicadas pera as dignida<strong>de</strong>s<br />
e as outras que se aviam <strong>de</strong> apartar pera comprimento do que am d’a<strong>ver</strong><br />
os coneguos e as mais pesoas que servirem a Igreja. E aguora, prazendo<br />
a Nosso Senhor, queria enten<strong>de</strong>r em a visitaçam geral <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> que<br />
inda nom fiz por alguuns boons respeitos que vossa alteza saberá em seu<br />
tempo. Queria tambem se a Deos aprouvese fundar esta See e pera ello<br />
estou ja aparelhado com quatro ou cinquo for<strong>na</strong>das <strong>de</strong> cal, o que nom<br />
posso fazer sem a<strong>ver</strong> reposta <strong>de</strong> vossa alteza, do que lhe tenho scrito sobre<br />
estes sitios. Porque vossa alteza me screveo que mandaria caa huum<br />
official pera os <strong>ver</strong> como lhe tenho pedido. Aguora, senhor, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
isto scre<strong>ver</strong> me tenho mais informado e practicado com as pessoas da<br />
terra e com outras. E todavia mais se afirmam ja ou quasi todos que sera<br />
milhor a See no sitio <strong>de</strong> baixo on<strong>de</strong> a vossa alteza tem enligida. E a my<br />
mo parece aguora. Vossa alteza, por amor <strong>de</strong> Nosso Senhor, me man<strong>de</strong><br />
dizer o que há por seu serviço que faça porque se vai muito o tempo. E se<br />
nom principiar os fundamentos <strong>de</strong>sta igreja este Verão, será necessario<br />
esperar o outro.” 12<br />
As <strong>de</strong>spesas efectuadas por D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, entre 28 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong><br />
1545 e 27 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1548, <strong>de</strong>monstram os investimentos efectuados em<br />
“cousas do pontifical e em as casas do nosso apousento”, e ainda <strong>na</strong> fábrica<br />
da Sé, como, aspecto da maior relevância, em “esmolas e charida<strong>de</strong>s que se<br />
fizeram asy a parentes pobres como a outros pobres alem do pão que se <strong>de</strong>u<br />
em grão” 13 . O fi<strong>na</strong>nciamento da construção da nova catedral, “que se ora haa<br />
<strong>de</strong> fazer”, foi alvo <strong>de</strong> acordo entre o prelado e o cabido lavrado a 1 <strong>de</strong> Setem-<br />
12 TT — Corpo Cronológico, Parte 1, Maço 80, Doc. 124.<br />
13 TT — Corpo Cronológico, Parte 2, Maço 240, Doc. 35.<br />
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Reflexões
. história .<br />
bro <strong>de</strong> 1548 14 . Enquanto isso, D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros obtinha, <strong>de</strong> D. João III,<br />
e certamente com o fito <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a melhoramentos arquitectónicos nesse<br />
espaço, a confirmação da proprieda<strong>de</strong> sobre as casas anexas à igreja <strong>de</strong> Santa<br />
Maria da Pe<strong>na</strong>, no castelo, a qual, então, servia <strong>de</strong> Sé 15 .<br />
Em Agosto <strong>de</strong> 1548, D. Brás <strong>de</strong> Barros aprovou, com o assentimento da<br />
clerezia diocesa<strong>na</strong>, os primeiros estatutos capitulares, sobre a forma <strong>de</strong> juramento<br />
das dignida<strong>de</strong>s e cónegos, o primeiro, e sobre as condições <strong>de</strong> formação<br />
prévia dos candidatos a lugares no cabido (Doc. 5). Depois, a 26 <strong>de</strong> Janeiro<br />
<strong>de</strong> 1549, aprovaram-se alguns novos capítulos estatutários que obrigavam<br />
os clérigos da Sé a saberem ao menos Gramática, reiteravam o número das<br />
dignida<strong>de</strong>s, dos cónegos, meios cónegos, quartanários e beneficiados, no máximo<br />
<strong>de</strong> 30, as suas precedências e or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção a seguir <strong>na</strong> administração dos<br />
sacramentos aos diocesanos leirienses. São particularmente minuciosos os<br />
capítulos relativos ao silêncio que se havia <strong>de</strong> guardar no coro da catedral,<br />
aquando da celebração dos ofícios, e ao apontador das faltas e das ausências<br />
dos eclesiásticos com lugar no mesmo (Doc. 5).<br />
Data <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1549, a confirmação, pelo núncio apostólico, o<br />
arcebispo D. João do Monte Policiano, dos Estatutos da Sé (Doc. 7 – E) 16 .<br />
Desse mesmo ano data a impressão das Constituições do Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
<strong>de</strong> que D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros trazia um exemplar consigo, autenticado pela<br />
sua própria assi<strong>na</strong>tura (Doc. 7 – F) 17 .<br />
A correspondência mantida por D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros com os priores<br />
do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra, ainda pelos anos <strong>de</strong> 1548 e 1549,<br />
<strong>de</strong>monstra que o antistite leiriense nunca se alheou <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iramente dos <strong>de</strong>stinos<br />
<strong>de</strong>ste instituto monástico em cuja reforma, aliás, ocupara largos anos<br />
da sua vida 18 . Em 24 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1548, D. Frei Brás, então em <strong>Leiria</strong>, diligenciava<br />
a impressão <strong>de</strong> um livro nos prelos crúzios 19 , mostrando-se, <strong>na</strong>s<br />
sema<strong>na</strong>s seguintes, preocupado com a recepção a prestar ao Car<strong>de</strong>al Infante,<br />
14 TT — Corpo Cronológico, Parte 1, Maço 81, Doc. 33.<br />
15 TT — Chancelaria <strong>de</strong> D. João III, Livro 60, fls. 88v-89.<br />
16 Um manuscrito com os Estatutos da See <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, <strong>de</strong> 1549, encontra-se no Arquivo do Paço<br />
Espiscopal <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Vem referido e citado por CRISTINO, Luciano Coelho - “A <strong>Diocese</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>”, in Catedral <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. História e Arte (Coord. Virgolino Ferreira Jorge), <strong>Leiria</strong>,<br />
<strong>Diocese</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, 2005, pp. 47-82, nota 25.<br />
17 Um exemplar <strong>de</strong>sta edição po<strong>de</strong> consultar-se <strong>na</strong> Biblioteca Geral da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra<br />
- R-11-2.<br />
18 BRANDÃO, Mário – Cartas…, pp. 110 e seguintes.<br />
19 BRANDÃO, Mário – Cartas…, Doc. LX.<br />
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. história .<br />
que <strong>de</strong><strong>ver</strong>ia passar por <strong>Leiria</strong> em viagem para Coimbra 20 . A 12 <strong>de</strong> Agosto<br />
seguinte, o bispo referia estar “aguora muito occupado em a visitaçam geral<br />
<strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>” 21 .<br />
A 5 <strong>de</strong> Setembro imediato, D. Brás <strong>de</strong> Barros revela estar <strong>de</strong> partida para<br />
Lisboa, cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o encontraremos ainda em Outubro e Novembro 22 . A 21<br />
<strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong>sse ano <strong>de</strong> 1548, contudo, <strong>de</strong> novo em <strong>Leiria</strong>, escreve carta<br />
ao prior <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra, registando a passagem pela cida<strong>de</strong> do<br />
cónego regular D. Teotónio, lamentando-se, ainda, das suas indisposições e<br />
do “mal tratado do ouvido”. Doença, ao que sabemos, efectivamente grave,<br />
porquanto, ainda a 9 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1549, se lhe refere, dizendo andar “em<br />
meãa disposição inda que ando entouquado como soya do ouvido” 23 . Nesta<br />
mesma carta, o prelado leiriense recomenda aos crúzios o cónego leiriense,<br />
Gonçalo <strong>de</strong> Sea, capelão do Duque, “homem discreto e muito <strong>de</strong> bem”, o qual<br />
<strong>de</strong><strong>ver</strong>ia recolher-se algum tempo entre aqueles conventuais 24 .<br />
Há pouca informação acerca da actuação e presença <strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong><br />
Barros, em <strong>Leiria</strong>, nos meses seguintes. Em 15 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1551, em carta<br />
que dirigiu ao rei, assi<strong>na</strong>la a chegada a <strong>Leiria</strong> <strong>de</strong> Afonso Álvares, o arquitecto<br />
que virá a assi<strong>na</strong>r a traça da nova catedral. O bispo queixa-se <strong>de</strong> se “nom <strong>ver</strong><br />
com ida<strong>de</strong> e forças” para, ele mesmo, “andar com a padiola e cesto servindo<br />
a Deus e a vossa alteza em esta obra” 25 .<br />
O entusiasmo do primeiro bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, contudo, esmorecerá. É possível,<br />
como se referiu, que tenha renunciado ao Bispado em 1553. A aceitação<br />
da renúncia pela Santa Sé, contudo, <strong>de</strong>morará. A 13 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1556, o rei<br />
expediu carta missiva a D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, dando-lhe notícia da aceitação,<br />
pelo consistório pontifício, da sua renúncia ao Bispado, bem como da<br />
morte do bispo que estava proposto para lhe suce<strong>de</strong>r, D. Sancho <strong>de</strong> Noronha,<br />
pelo que a Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> voltava a entrar em vacância 26 .<br />
Ainda em Julho <strong>de</strong> 1556, D. João III incumbiu Álvaro Botelho do ofício<br />
<strong>de</strong> recebedor das rendas do Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 27 , ao mesmo tempo em que<br />
apresentou, para provedor da <strong>Diocese</strong>, ao Doutor Manuel <strong>de</strong> Almada, do De-<br />
20 BRANDÃO, Mário – Cartas…, Doc. LXI a LXIII. (Cartas <strong>de</strong> 6, 11 e 15 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1548).<br />
21 BRANDÃO, Mário – Cartas…, Doc. LXV.<br />
22 BRANDÃO, Mário – Cartas…, Docs. LXVII a LXIX.<br />
23 BRANDÃO, Mário – Cartas…, Docs. LXX e LXXI.<br />
24 BRANDÃO, Mário – Cartas…, Doc. LXXI.<br />
25 TT — Corpo Cronológico, Parte 1, Maço 86, Doc. 90.<br />
26 TT — Colecção <strong>de</strong> S. Vicente, Livro 9, fl. 243.<br />
27 TT — Colecção <strong>de</strong> S. Vicente, Livro 9, fl. 140.<br />
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Reflexões
. história .<br />
sembargo Régio 28 . Uma carta régia <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1556, manifesta o<br />
<strong>de</strong>sagrado <strong>de</strong> D. João III pelas “diferenças” do cabido leiriense com o seu<br />
ex-prelado 29 , situação que se resol<strong>ver</strong>á somente em 1558, em momento, pois,<br />
posterior ao falecimento do mo<strong>na</strong>rca Piedoso, assim se <strong>de</strong>monstrando que o<br />
velho prelado leiriense mantinha, <strong>na</strong> corte da rainha viúva D. Catari<strong>na</strong> elevado<br />
valimento e eficaz protecção real. Data <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong>ste ano <strong>de</strong> 1558,<br />
efectivamente, nova carta régia, dirigida a D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, <strong>na</strong> qual se<br />
garantia estarem sa<strong>na</strong>das todas as inquietações e <strong>de</strong>mandas, entretanto renovadas<br />
contra ele, pelos capitulares <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 30 .<br />
Por uma bula <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1557, o papa Paulo IV, confirmando<br />
a aceitação da renúncia ao Bispado que D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros fizera anos<br />
antes, e a nomeação para o mesmo do novo prelado, D. Frei Gaspar do Casal,<br />
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong> que D. Brás continuasse a po<strong>de</strong>r usar e a subscre<strong>ver</strong>-se com o título<br />
<strong>de</strong> “bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>”, estabelecendo-lhe, ainda, uma pensão anual vitalícia,<br />
<strong>na</strong>s rendas da mesa episcopal leiriense, no valor <strong>de</strong> 500 ducados <strong>de</strong> ouro 31 .<br />
A cobrança <strong>de</strong>sta pensão não terá sido pacífica. Em 1558, D. Frei Brás<br />
<strong>de</strong> Barros ro<strong>de</strong>ava-se <strong>de</strong> cautelas forenses, mandando fazer cópias autênticas<br />
da documentação por ele subscrita e ratificada enquanto prelado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 32 .<br />
Acautelados os seus direitos e interesses 33 , D. Brás <strong>de</strong> Barros passa a fundar<br />
uma série <strong>de</strong> capelas <strong>de</strong> missas, por alma dos reis <strong>de</strong> Portugal, D. João III, D.<br />
Catari<strong>na</strong> e D. Sebastião, e dos que suce<strong>de</strong>ssem a este, bem como por intenção<br />
sua e das almas <strong>de</strong> seu pai e <strong>de</strong> sua mãe, nos principais mosteiros hieronomitas<br />
da Estremadura portuguesa 34 . Nestas fundações pias, fica bem patente não<br />
só a quase exclusiva <strong>de</strong>voção do primeiro bispo leiriense a Cristo, como o seu<br />
grato reconhecimento aos mencio<strong>na</strong>dos mo<strong>na</strong>rcas que, <strong>de</strong> forma incansável,<br />
D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros louva nesses actos.<br />
Dele nos chega, ainda, o testamento, redigido em 22 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1561 35 ,<br />
residindo então no Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>, em Sintra, on<strong>de</strong>,<br />
aliás, faleceria uma sema<strong>na</strong> mais tar<strong>de</strong> 36 . Transparece <strong>na</strong> última vonta<strong>de</strong> tes-<br />
28 TT — Colecção <strong>de</strong> S. Vicente, Livro 9, fl. 154.<br />
29 TT — Colecção <strong>de</strong> S. Vicente, Livro 9, fls. 71-72.<br />
30 TT — Colecção <strong>de</strong> S. Vicente, Livro 10, fl. 397.<br />
31 Veja-se o Doc. 7, <strong>de</strong>ste artigo.<br />
32 Vd. Doc. 9, em apêndice.<br />
33 Vd. Doc. 8, em apêndice.<br />
34 Docs. 6, 10, 11, 12 e 13, em apêndice.<br />
35 Doc. 14, em apêndice.<br />
36 Doc. 15, em apêndice.<br />
192 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
tamentária do prelado um sentimento religioso próprio <strong>de</strong> um fra<strong>de</strong> ascético<br />
e <strong>de</strong> vocação eminentemente mística, preocupado em garantir todos os meios<br />
para que os encargos piedosos que instituíra fossem efectivamente concretizados.<br />
Dos legados que <strong>de</strong>ixou, registemos a doação <strong>de</strong> 30 <strong>cruz</strong>ados <strong>de</strong> esmola<br />
ao Mosteiro da Madre <strong>de</strong> Deus, on<strong>de</strong> se encontrava professa a sua irmã<br />
Soror Inês da Ressurreição, dando nota, uma vez mais, da a<strong>de</strong>são da sua família<br />
aos mo<strong>de</strong>los espirituais marcadamente mendicantes e contemplativos.<br />
Publicamos, aqui, e no seguimento <strong>de</strong> um labor que vimos prosseguindo<br />
<strong>de</strong> divulgação e edição das fontes documentais mais antigas relativas à <strong>Diocese</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> 37 , um conjunto <strong>de</strong> documentos que pertenceram, <strong>na</strong> sua<br />
maior parte, ao arquivo pessoal <strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros. Acompanharamno<br />
até à hora da morte e permaneceriam durante séculos no arcaz do Mosteiro<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>, <strong>de</strong> Sintra, até que, no século XIX, foram <strong>de</strong>positados<br />
no Arquivo Nacio<strong>na</strong>l da Torre do Tombo. Outros documentos há, neste<br />
fundo arquivístico, que interessam à história leiriense e à acção daquele que<br />
foi o primeiro bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> nesta veneranda <strong>Diocese</strong>. A sua publicação,<br />
contudo, aguardará novo e mais oportuno momento.<br />
37 GOMES, S. A. – “Algumas Empreitadas Artísticas <strong>na</strong> Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>de</strong> Setecentos”, in <strong>Leiria</strong>-<br />
<strong>Fátima</strong>. Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>, Ano III, Nº 7, Janº-Abril 1995, pp. 61-76; IDEM - “Ofici<strong>na</strong>s<br />
Artísticas no Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> nos Séculos XV a XVIII”, in Actas do VI Simpósio Luso-<br />
Espanhol <strong>de</strong> História da Arte - Ofici<strong>na</strong>s Regio<strong>na</strong>is, Viseu - 1991, Tomar, Escola Superior <strong>de</strong><br />
Tecnologia e Gestão <strong>de</strong> Tomar, 1996, pp. 237-330; IDEM - “Elementos para a História do<br />
Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> nos Séculos XVII e XVIII”, in <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>,<br />
Ano XII, Nº 36, Setembro-Dezembro 2004, pp. 333-360; IDEM - Notícias e Memórias Paroquiais<br />
Setecentistas. 8. <strong>Leiria</strong>, Viseu, Palimage e Centro <strong>de</strong> História da Socieda<strong>de</strong> e da Cultura<br />
da Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, 2009; IDEM - “Capelas e Ermidas <strong>na</strong> Paróquia da Batalha em<br />
Setecentos”, in <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong>, Ano XVI, Nº 45, Janeiro-Junho<br />
2008, pp. 153-172.<br />
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Reflexões
. história .<br />
DOCUMENTOS 38<br />
Doc. 1<br />
1545 AGOSTO, 1, <strong>Leiria</strong> — Pública-forma do auto da tomada <strong>de</strong> posse do Bispado<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, por parte <strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, nela se inserindo os seguintes<br />
actos:<br />
A) 1545 JULHO, 28, <strong>Leiria</strong> — Auto <strong>de</strong> posse do Bispado pelo mencio<strong>na</strong>do Bispo.<br />
B) 1545 JUNHO, 13, Évora — Carta <strong>de</strong> D. João III conce<strong>de</strong>ndo o estatuto <strong>de</strong><br />
cida<strong>de</strong> a <strong>Leiria</strong>.<br />
C) 1545 MAIO, 31, Roma — Breve do papa Paulo III <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>ndo D. Fr. Brás <strong>de</strong><br />
Barros para primeiro bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
D) 1545 JULHO, 28, <strong>Leiria</strong> — Obediência dos curas <strong>de</strong> S. Miguel <strong>de</strong> Colmeias,<br />
S. Cristóvão da Caranguejeira, S. Simão <strong>de</strong> Vila Galega (Litém), Santa Maria <strong>de</strong><br />
Vermoil e S. João <strong>de</strong> Espite ao novo Prelado.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, 7, documento com as numerações<br />
antigas: “M.º 5, Doc. 84” e “Nº 637”.<br />
Jhesus.<br />
Instrumento da posse do Bispado <strong>de</strong>sta nobre cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> o qual eu Diogo<br />
Ferr<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z cleriguo <strong>de</strong> misa e beneficiado <strong>na</strong> Igreja cathedral <strong>de</strong> Sancta Maria da<br />
Pe<strong>na</strong> da dita cida<strong>de</strong> e notayro appostolico pasey ao muito re<strong>ver</strong>endo e muyto magnifico<br />
senhor o senhor Dom Frey Brras <strong>de</strong> Barros bispo <strong>de</strong>lla.<br />
38 Principais critérios <strong>de</strong> transcrição e <strong>de</strong> edição seguidos:<br />
1) Transcrição do documento em linha contínua.<br />
2) Respeito pela ortografia do texto origi<strong>na</strong>l, mas normalizando o emprego <strong>de</strong> maiúsculas e<br />
minúsculas, separando as palavras in<strong>de</strong>vidamente unidas no origi<strong>na</strong>l e reunindo as sílabas<br />
ou letras <strong>de</strong> uma mesma palavra que se encontrassem separadas. Estabeleceu-se, para maior<br />
inteligibilida<strong>de</strong> do texto, alguma pontuação nomeadamente períodos e parágrafos.<br />
3) Desenvolvem-se as abreviaturas, sem assi<strong>na</strong>lar as letras restituídas, mantendo-se a forma<br />
dos numerais.<br />
4) Colocação entre parênteses rectos <strong>de</strong> tudo o que tenha sido interpretado ou acrescentado ao<br />
texto origi<strong>na</strong>l, e da palavra [sic ] a seguir aos erros do próprio texto.<br />
5) Colocou-se entre < > palavras ou linhas sobrescritas ou entrelinhadas.<br />
6) Remete-se para nota <strong>de</strong> rodapé todas as indicações pertinentes que aju<strong>de</strong>m à leitura do<br />
documento.<br />
7) As dúvidas <strong>de</strong> leitura assi<strong>na</strong>lam-se por (?).<br />
Quanto a critérios <strong>de</strong> edição, optou-se por fazer sumários concisos dos teores documentais,<br />
introduzidos por data crónica (ano, mês e dia) e tópica (local). No fim assi<strong>na</strong>la-se a cota documental.<br />
Quando útil, introduzem-se observações pertinentes ao quadro da tradição diplomática.<br />
194 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
[A]<br />
In nomine Dei nostri Patris et Filii et Spiritus Sancti. Amen.<br />
Saibam quantos este publico instrumento virem que no anno do Nascimento <strong>de</strong><br />
Noso Sennhor Jhesu Christo <strong>de</strong> mil e quinhemtos e corenta e cinquo annos, aos xxbiijº<br />
dias do mes <strong>de</strong> Julho do sobredito anno em esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>na</strong> igreja <strong>de</strong> Nosa<br />
Sennhora da Pe<strong>na</strong> matriz <strong>de</strong>lla que ora polo Sancto Padre he erguida em cathedral,<br />
sendo em ella presente o muito re<strong>ver</strong>endo e muito magnifico sennhor o Sennhor Dom<br />
Frey Bras <strong>de</strong> Barros da Or<strong>de</strong>m do bem aventurado Sam Jeronimo electo em bispo<br />
da dita cida<strong>de</strong>. E sendo outrosy presente o muito virtuoso padre Dom Dioguo Diãz<br />
coneguo professo do Mosteiro <strong>de</strong> Sancta Cruz da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra vigairo geral no<br />
spiritual e temporal da dita cida<strong>de</strong> e sua jurdiçam pello dito Mosteiro conegos e convento<br />
<strong>de</strong>lle vagante do prior ct. E bem asy sendo presentes os beneficiados e cabido da<br />
dita igreja e toda a outra clerezia das igrejas da dita cida<strong>de</strong>. E sendo outrosi presentes<br />
os muito honrados sennhores o Bacharel Andre Pirez juiz <strong>de</strong> fora da dita cida<strong>de</strong> com<br />
alçada por el Rey noso sennhor, e bem asi Ruy Leytam e Alvaro Botelho Cal<strong>de</strong>ira e<br />
Ruy Lopez Sea <strong>ver</strong>eadores e Gaspar Diaz Amo procurador da dita cida<strong>de</strong>. E sendo<br />
presentes Diogo Botelho fidalguo da casa <strong>de</strong>l Rey noso Sennhor e Dioguo Botelho<br />
Cal<strong>de</strong>ira e Alvaro da Silva e Gualiote Pereira e Dioguo Ferr<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z Neto e Dioguo<br />
Lopez Sea e outros muitos cavaleiros escu<strong>de</strong>iros e homens bons que soem andar nos<br />
pelouros e go<strong>ver</strong><strong>na</strong>mça da dita cida<strong>de</strong> e gram parte do outro povo todos chamados e<br />
juntos pera ho auto abaixo <strong>de</strong>clarado.<br />
Loguo ahi por mandado do dito Sennhor Electo foy dado huuã carta <strong>de</strong>l Rey noso<br />
sennhor a Mestre Fer<strong>na</strong>mdo // [Fl. 1vº] tabaliam do judicial <strong>na</strong> dita cida<strong>de</strong> e lhe foy<br />
requerido que a lese em alta e inteligivel voz aos sobreditos clerizia e fidalgos e cavaleiros<br />
e escu<strong>de</strong>iros e povo. E elle a leo cujo theor he o seguinte.<br />
Dioguo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z cleriguo <strong>de</strong> misa e beneficiado <strong>na</strong> dita igreja <strong>de</strong> Nosa Senhora<br />
da Pe<strong>na</strong> da dita cida<strong>de</strong> e notairo appostollico que esto escprivy:<br />
[B]<br />
Dom Joham per graça <strong>de</strong> Deus Rey <strong>de</strong> Portugual e dos Algarves daquem e dalem<br />
mar em Afriqua, Sennhor <strong>de</strong> Guine e da conquista, <strong>na</strong>veguação e comercio <strong>de</strong> Ethiopia,<br />
Arabia, Persia e da In<strong>de</strong>a ctª<br />
A quantos esta minha carta virem faço saber que eu pedi ao Santo Padre que quisese<br />
criar e alevantar em See catheral a igreja <strong>de</strong> Nosa Sennhora da villa <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e<br />
apartar a dita villa <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e seu termo da jurdição do Priorado moor do Mosteiro <strong>de</strong><br />
Sancta Cruz <strong>de</strong> Coimbra que <strong>na</strong> dita villa e seu termo tinha jurdição episcopal e asi do<br />
Bispado <strong>de</strong> Coimbra e fazer da dita villa e seu termo bispado. Por me asi parecer ser<br />
serviço <strong>de</strong> Deus e que convinha ao bom go<strong>ver</strong>no da clerizia e povo da dita villa e seu<br />
termo. E a sua sanctida<strong>de</strong> aprouve <strong>de</strong> ho asi comce<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> criar e alevantar em see<br />
cathedral a dita igreja <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e fazer o dito bispado como per mim lhe foy pedido.<br />
E querendo eu fazer graça e mercee ha dita villa <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> asi pelos ditos respectos<br />
como por seus mericimentos e serviços que a mym e aos Reis meus antecessores tem<br />
feitos e espero que ao diante fação, <strong>de</strong> meu propio moto e livre vonta<strong>de</strong> me apraz <strong>de</strong><br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 195<br />
Reflexões
. história .<br />
acrecentar e alevantar a dita villa <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> em dignida<strong>de</strong> e honra e a faço cida<strong>de</strong> e lhe<br />
comcedo todas as honrras privilegios e liberda<strong>de</strong>s que per direito ella como cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ve ter e tem as outras cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> meus regnos e sennhorios. E por esta mando a<br />
todas minhas justiças que daqui por diante a tenham e ajam por cida<strong>de</strong> e por tal a nomeem<br />
e lhe // [Fl. 2] aguar<strong>de</strong>m todalas honras privilegios e liberda<strong>de</strong>s que as cida<strong>de</strong>s<br />
per direito e minhas or<strong>de</strong><strong>na</strong>ções tem asi e do modo que lhe pertemçem e as tem as<br />
outras cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> meus Regnos e Senhorios.<br />
Dada em a cida<strong>de</strong> d’Evora a xiijº dias do mes <strong>de</strong> Junho. Antonio Ferraz a fez.<br />
Anno do Nascimento <strong>de</strong> Noso Senhor Jhesu Christo <strong>de</strong> mil e quinhentos e corenta e<br />
cinquo.<br />
A qual trazia huma sobescprição que diz asy:<br />
Carta per que Vossa Alteza faz cida<strong>de</strong> a villa <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
A quall carta era escprita em purgaminho e asig<strong>na</strong>da segundo parecia por el Rey<br />
noso sennhor e a trela<strong>de</strong>y da propia e comcertey. Diogo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z notairo appostolico<br />
que ho escprivy.<br />
E lida e pobricada a dita carta per o dito tabalião como dito he foy outrosy per<br />
mandado do dito sennhor dado a mym notairo appostolico abaixo nomeado hum breve<br />
do noso muy Sancto Padre papa Paulo terceiro ora <strong>na</strong> Igreja <strong>de</strong> Deus presi<strong>de</strong>nte e me<br />
foy outrosi requerido que o lese aos sobreditos clerizia e povo. E eu notayro o ly em<br />
alta e inteligivel voz e seu theor he o seguinte.<br />
Dioguo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z notairo appostolico que ho escprivy:<br />
[C]<br />
Paulus papa tertius. Dilecte fili salutem et appostolicam benedictionem.<br />
Cum nos super oppidum <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> olim Colimbriensis diocesis in ciuitatem et ecclesiam<br />
beate Marie dicti oppidi in cathedralem sub inuocatione eius<strong>de</strong>m beate Marie<br />
certis tunc expressis modo et forma <strong>de</strong> factum nostrorum consilio appostolica auctoritate<br />
erexerimus et instituerimus ac illi sic erecte et institute tunc a primeua erectione<br />
huiusmodi vaccanti <strong>de</strong> perso<strong>na</strong> tui et tunc fratris sancti Hieronimi secundum instituta<br />
sancti Augustini ordinem predictum expresse professi nobis et eis<strong>de</strong>m fratribus obtuorum<br />
exigentiam meritorum accepta <strong>de</strong> simili consilio dicta auctoritate proui<strong>de</strong>rimus.<br />
Teque proquo charissimus in Christo filius noster Joannes // [Fl. 2vº] Portugaliae et<br />
Algarbiorum rex ilustris nobis super hoc per suas literas humiliter supplicauit illi in<br />
episcopum prefecerimus et pastorem curam et administrationem ipsius ecclesie Leirenensis<br />
tibi in spiritualibus et temporalibus ple<strong>na</strong>rie committendo. Nos ne interim dum<br />
litere appostolice super erectione et institutione ac prouissione et prefectione predictis<br />
expediuntur dicta eccllesia Liriensis 39 in eis<strong>de</strong>m spiritualibus uel temporalibus aliqua<br />
<strong>de</strong>trimenta subtineat proui<strong>de</strong>re ac commoditatibus tuis impremissis consulere uolentes<br />
tibi ut vigore presentium possessionem seu quasi regiminis et administrationis ecclesie<br />
Leiriensis apprehen<strong>de</strong>re ac illius mense episcopalis fructus reditus et prouentus<br />
39 Sic.<br />
196 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
exigere libere et licite valeas in omnibus et per omnia perin<strong>de</strong> ac si super erectione<br />
institutione prouissione et prefectione huiusmodi litere appostolice predicte expedite<br />
fuissent ea<strong>de</strong>m auctoritate tenore presentium <strong>de</strong> speciali gratia indulgemus. Mandantes<br />
dilectis filis capitulo et vassalis eius<strong>de</strong>m ecclesie Liriensis ac clero et populo<br />
ciuitatis et diocesis Liriensis ut tibi tanque patri et pastori animarum suarum humiliter<br />
intendant et tua salubria mandata suscipiant et eficaciter adimpleant. Ipsique vassali<br />
consueta seruitia et iura tibi ab eis <strong>de</strong>bita integre exhibeat. Alioquin sententiam siue<br />
pe<strong>na</strong>m quam rite tuleris seu statueris in rebelles ratam habebimus et faciemus auctore<br />
Domino usque ad satisfactionem condig<strong>na</strong>m inuiolabiliter obseruari non obstantibus<br />
felicis recordationis Bonifacii pape octaui pre<strong>de</strong>cessoris nostri que incipit In uincte<br />
ac aliis constitutionibus et ordi<strong>na</strong>tionibus appostolicis eceterisque contraris quibuscumque<br />
uolumus autem pro infra sex menses a data presentium conputando literas<br />
appostolicas super erectione institutione prouissione et prefectione predutis sub plumbo<br />
in totum expedire et iura camere appostolice ac aliis sex mensibus // [Fl. 3] elapsis<br />
erectio institutio prouisio et prefectio prefacte nulle sint et cetª censeatur eo ipso.<br />
Datum Rome apud Sanctum Petrum sub annullo piscatoris die ultima Maii. D.<br />
XXXV. Pontificatus nostri anno un<strong>de</strong>cimo.<br />
E lido asy per mim o dito breve logo pello dito sennhor foy dito aos sobreditos que<br />
elle vinha a tomar posse da administração do Bispado da dita cida<strong>de</strong> da maneira que se<br />
continha no dito breve e que portanto lhes requeria da parte do dito Santo Padre e <strong>de</strong>l<br />
Rey noso sennhor que lha <strong>de</strong>sem segundo continemçia do dito breve e que requeria a<br />
mim notayro e ao sobredito tabalião que <strong>de</strong> todo o que pasase acerqua do auto da dita<br />
pose lhe <strong>de</strong>semos cada hum seu instrumento publico e os que mais lhe comprisem <strong>de</strong><br />
hum theor.<br />
E logo o dito sennhor electo se sayo fora da dita igreja e os sobreditos vigairo e<br />
clerizia com sua <strong>cruz</strong> alevantada em procisão e forão receber a porta <strong>de</strong>lla e o levaram<br />
asi em procisão cantando o cantico do Te Deum laudamus, ate ho altar moor da<br />
dita igreja. E acabado o dito cantico e dita a oraçam pello vigairo foy levado ao altar<br />
e lhe foy pollo dito vigairo dado hum turibulo com lume e incensso pera oferecer<br />
e incenssar o dito altar e <strong>cruz</strong> em sig<strong>na</strong>l da entregua da posse.<br />
E logo o levarão ha sentar em huã ca<strong>de</strong>ira que se ahi pos no meyo da dita capela<br />
coberta e or<strong>na</strong>mentada como convem ha dignida<strong>de</strong> episcopal cuja posse tomava e<br />
asentado se pos em giolhos diante <strong>de</strong>lle o dito vigairo e lhe entregou as chaves da dita<br />
igreja e asi avara e, sig<strong>na</strong>l da entregua da jurisdição eclesiastica no spiritual e temporal<br />
que tinha do prior moor do mosteiro <strong>de</strong> Sancta Cruz <strong>de</strong> Coimbra a que dantes pertemcia<br />
dizendo: — Que obe<strong>de</strong>cendo elle aos mandados appostolicos elle lhe entregava<br />
e dava posse da dita igreja e jurisdição sobredita e lhe prometia obediemcia asy e da<br />
maneira que a elle prometera ao prior moor do dito mosteiro <strong>de</strong> Sancta Cruz quando<br />
o pro<strong>ver</strong>a da ditã vigairaria e lhe cometera a dita juris // [Fl. 3vº] diçam como elle <strong>de</strong><br />
direito po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve prometer e manter.<br />
E o dito Sennhor tomou a ditã vara e chaves e <strong>de</strong> sua mão lhas tornou a entreguar<br />
e cometer a jurisdição como a seu vigario geral no bispado da dita cida<strong>de</strong> pera a ter<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 197<br />
Reflexões
. história .<br />
como a tinha emquanto elle nom or<strong>de</strong><strong>na</strong>sse outra cousa. E loguo todolos curas beneficiados<br />
e cleriguos vierão hum e hum a dar lhe a obediemcia em giolhos beyjando lhe a<br />
mão com a seu prelado e supperior e outro tanto fezerão os oficiães, scilicet, Francisco<br />
Ferreira meyrinho e prometor e procurador do ecclesiastico, o qual lhe entregou a<br />
vara e pella semelhante maneira a tornou a receber da sua mão. E bem asy Pedre Anes<br />
notairo e Francisco Caçapo escprivães do auditorio ecclesiastico. E Alvaro Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z<br />
contador e emqueredor do dito auditorio.<br />
E dada a obediencia polos sobreditos como dito he se vierão ha dita capela o juiz<br />
e <strong>ver</strong>eadores e procurador do concelho acima nomeados e per Ruy Leytão <strong>ver</strong>eador<br />
mais velho foy dito que elle em nome do juiz e <strong>ver</strong>eadores que eram da dita cida<strong>de</strong><br />
e em nome do povo <strong>de</strong>la em comprimento do mandado do Sancto Padre e <strong>de</strong>l Rey<br />
noso senhor como obedientes filhos e vassalos recebiam sua senhoria por seu prelado<br />
e prometião <strong>de</strong> o conhecer e reconhecer por tal daquy em diante asy e da maneira que<br />
ate o presente Reconhecerão o prior moor do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra <strong>de</strong><br />
cuja jurdição o Santo Padre os ora <strong>de</strong>sobrigou e absolveo.<br />
E pellos auctos acima ditos ou<strong>ver</strong>ão huns e outros por dada inteiramente a posse<br />
do dito bispado novamente erguydo e criado ao dito sennhor e <strong>de</strong> toda sua jurisdição<br />
e direitos asi e da maneira que se conthem no breve do Sancto Padre cuja substamcia<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lido lhe foy <strong>de</strong>clarado em lingoagem pera os que não entendião latim. E<br />
o dito senhor electo se ouve por envestido <strong>na</strong> dita posse pellos sobredictos auctos e<br />
Requereo a mym notairo appostolico e ao dito tabeliam que lhe passasse // [Fl. 4] mos<br />
cada hum seu instrumento.<br />
Testimunhas que ao todo forão presentes roguados e requeridos: Dioguo Botelho<br />
fidalguo e Dioguo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z Neto e Gualiote Pereira e Alvaro da Silva fidalgos moradores<br />
<strong>na</strong> dita cida<strong>de</strong>.<br />
E eu Diogo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z notairo appostolico que ho scprivy.<br />
[D]<br />
E loguo no dito dia xxbiijº dias <strong>de</strong> Julho do dito anno <strong>de</strong> mil e b c e corenta e cinquo<br />
annos nesta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>na</strong> cerqua <strong>de</strong>lla <strong>na</strong>s pousadas on<strong>de</strong> pousa Sua Senhoria<br />
perante elle logo hi forão presentes Joham Alvarez <strong>de</strong> Lemos conego dos antigos do<br />
Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz e cura que he das Colmeas da igreja <strong>de</strong> Sam Miguel. E bem<br />
asi Sistus da Cunha capelão <strong>de</strong> Sam Christovão da Cranguegeira. E Dioguo Alvarez<br />
cura da igreja <strong>de</strong> Sancta Maria da Vermoil. E Antonio Gonçalvez cura da igreja <strong>de</strong><br />
Sam Simão <strong>de</strong> Villa Gualegua. E Gaspar Doayros cura <strong>de</strong> Sam Joham d’Espite, todo<br />
termo da dita cida<strong>de</strong>. E per todos elles e cada hum per sy foy dito que eles eram<br />
curas das sobreditas igrejas que ate o presente forão do Bispado <strong>de</strong> Coimbra e estavão<br />
postos ao presente pollo Cabido a see vagante, que ora vinhão prometer obediemçia<br />
a Sua Senhoria como curas das ditas igrejas e se asentarão diante <strong>de</strong>lle em giolhos e<br />
lhes entregarão suas cartas <strong>de</strong> cura em sig<strong>na</strong>l <strong>de</strong> pose das ditas igrejas. E diseram que<br />
elles prometião ao dito sennhor obediemcia asy e da maneira que a tinhão prometida<br />
ao bispo da dita cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra e ao seu cabido, ora a see vagante. E o dito senhor<br />
lhe tomou as ditas cartas e lhes tornou a cometer a cada hum a cura da igreja que tinha<br />
198 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
emquanto elle nom mandase outra cousa. E por estas cousas ouve por tomada a posse<br />
das ditas igrejas e as ouve por emcorporadas e unidas ao Bispado <strong>de</strong>sta dita cida<strong>de</strong><br />
a que o Santo Padre as emcorporara e unira e requereo a mym notayro que <strong>de</strong>llo lhe<br />
passasse este instrumento com o mais acima contheudo.<br />
O qual instrumento eu Dioguo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z cleriguo <strong>de</strong> misa e beneficiado <strong>na</strong> igreja<br />
cathedral <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong>sta dicta cida<strong>de</strong> e notayro appostolico Auctoritate<br />
appostolica pasey a sua Re<strong>ver</strong>endissima Sennhoria a seu requirimento. O qual<br />
vay // [Fl. 4] escrito em sete laudas todas <strong>de</strong> huma letra escriptas per mym por a todas<br />
estas cousas ser presente, roguado e requerido pera fazer este auto da posse don<strong>de</strong> tirey<br />
este instrumento por ho auto propio ficar em meu po<strong>de</strong>r. O qual vay sem borradura<br />
nem vicio sospeitoso antes carecente <strong>de</strong> todo vicio que sospeita faça. O qual pasey e<br />
acabey ao dito Sennhor o primeiro dia do mes d’Agosto do dito anno <strong>de</strong> 1545. E vay<br />
comcertado com o proprio com o padre vigairo. Em o qual meu publico sig<strong>na</strong>l fiz que<br />
tal he (si<strong>na</strong>l).<br />
Pagou nichil.<br />
Doc. 2<br />
1548 JUNHO, 11, <strong>Leiria</strong>, Igreja <strong>de</strong> S. Pedro — D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros e o cabido<br />
da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> estabelecem entre si acordo <strong>de</strong> troca das rendas das ermidas e<br />
igrejas curadas do Bispado, ficando ao cabido meta<strong>de</strong> das ofertas da mesa episcopal<br />
em todas as ermidas, excepto a <strong>de</strong> Nossa Senhora do Fetal, reservada ao prelado,<br />
recebendo, o dito bispo, por seu lado, a meta<strong>de</strong> das ofertas capitulares <strong>na</strong>s igrejas<br />
curadas fora da cida<strong>de</strong>. Mais se concordaram, para cumprimento das 46 rações estabelecidas<br />
<strong>na</strong> instituição do Bispado, a que faltavam três, em obtê-las das rendas da<br />
terça episcopal <strong>de</strong> S. Simão <strong>de</strong> Espite e outras mais, da mesma mesa, nomeadamente<br />
meta<strong>de</strong> da renda dos ani<strong>ver</strong>sários, falhas e portas das igrejas do corpo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Todas<br />
estas rações só seriam pagas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os beneficiados servissem efectivamente<br />
os seus ofícios.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com as<br />
numerações antigas: “Mº 5, Nº 75” e “Nº 620”.<br />
Saibham quantos este instromento d’escambo e entregua e consentimento virem<br />
que no anno do Nascimento <strong>de</strong> Nosso Senhor Jhesuu Christo <strong>de</strong> mil e quinhentos e<br />
quarenta e oito em os onze dias do mes <strong>de</strong> Junho do ditõ anno em a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong><br />
e egreja <strong>de</strong> Sam Pedro da cerqua <strong>de</strong>la, on<strong>de</strong> ora he a resi<strong>de</strong>ncia do cabido da ditã<br />
cida<strong>de</strong>, estando ahi presentes o muito re<strong>ver</strong>endo e catholico senhor o senhor Dom<br />
Bras <strong>de</strong> Barros per merce <strong>de</strong> Deos e da Sancta Igreja <strong>de</strong> Roma bispo da ditã cida<strong>de</strong> e<br />
do conselho <strong>de</strong>l Rei nosso senhor e os muito egregios e religiosos padres dignida<strong>de</strong>s<br />
coneguos e cabido da ditã See, scilicet, Christovão Pereira arcediaguo em ella e Yoão<br />
Lopez e Dioguo d’Azambuja, Guaspar Neto, Vicente Leitam e Eitor Rodriguez e Sebastiam<br />
Ferreyra coneguos em a ditã See, e bem assi Pedre Anes Cerqua e Yoão Diaz<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 199<br />
Reflexões
. história .<br />
e Miguel Luis, Guaspar Antunez, Yoam Alvarez, Joam d’Evora, Dioguo Rodriguez,<br />
Sebastiam Gonçalvez, Pero Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z, Francisco Pirez, Guaspar Rodriguez, Joam<br />
Pirez d’Amor, Gregorio Couceiro, Fer<strong>na</strong>m <strong>de</strong> Leirea, Alvaro Lopez, Dioguo Diãz,<br />
Christovão Jorge, todos beneficiados antiguos da igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong><br />
da ditã cida<strong>de</strong>, em cabido e cabido fazendo per som <strong>de</strong> campãa tangida segundo seu<br />
boom custume.<br />
E loguo per elles juntamente foi ditõ em presença <strong>de</strong> mym notairo e das testemunhas<br />
abaixo nomeadas que querendo elles por serviço <strong>de</strong> Nosso Senhor paz e concordia<br />
<strong>de</strong> todos evitar a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m que se faz per os ren<strong>de</strong>iros em arrequadação das offertas<br />
que se partem per meo entre elle senhor bispo e o dicto cabido e beneficiados em as<br />
hermidas e igrejas curadas <strong>de</strong>ste bispado am por bem d’escambar como <strong>de</strong> feito loguo<br />
escambaram <strong>de</strong> dia <strong>de</strong> Sam Joam Baptista que ora vem este presente anno pera todo<br />
sempre as ditas ofertas per a maneira seguynte, scilicet, que o dito senhor bispo solta e<br />
da como <strong>de</strong> feito soltou e <strong>de</strong>u ao ditõ cabido e beneficiados a meta<strong>de</strong> das offertas que<br />
elle tem e pertencem a sua mesa episcopal em todas as hermidas que estam fundadas<br />
e ao diante se fundarem em esta cida<strong>de</strong> e limite em que o prior moor <strong>de</strong> Sancta Cruz<br />
da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra tinha jurisdição epicopal, escepto Nossa Senhora do // [Fl. 1v]<br />
Fetal que ha <strong>de</strong> fiquar toda com o ditõ senhor bispo e seus socessores. A qual meta<strong>de</strong><br />
das ditas ofertas com a outra meta<strong>de</strong> que elle cabido e beneficiados ja levavam em as<br />
ditãs hermidas se applicara <strong>de</strong>ste ditõ dia <strong>de</strong> Sam Joam Baptista que em boa ora vira<br />
em diante pera sempre a sua mesa capitular e beneficiados em sua vida.<br />
As quaes offertas lhe assi <strong>de</strong>u e scambou per outra meta<strong>de</strong> das offertas que elle<br />
cabido e beneficiados tem em todas as igrejas curadas que ora sam fundadas e ao<br />
diante se fundarem fora da dita cida<strong>de</strong> em o ditõ limite. As quaes com outra ameta<strong>de</strong><br />
que o ditõ senhor bispo tem <strong>na</strong>s ditas igrejas curadas que ora sam fundadas e ao diante<br />
se fundarem elle ditõ senhor bispo e seus successores levem do ditõ dia <strong>de</strong> Sam Joam<br />
pera sempre e man<strong>de</strong>m arrequadar inteiramente pera a sua mesa pontifical, sem elles<br />
cabido e beneficiados enten<strong>de</strong>rem em ellas nem em pouquo nem em muyto.<br />
E elles ditõ cabido e beneficiados levem inteiramente do ditõ dia <strong>de</strong> Sam Joam em<br />
diante pera sempre toda a renda <strong>de</strong> todas as hermidas fundadas e que ao diante se fundarem<br />
40 em o ditõ limite como ditõ he, sem elle ditõ senhor bispo e seus socessores<br />
nem seus officiães enten<strong>de</strong>rem em ellas nem em pouquo nem em muyto.<br />
O que todos ou<strong>ver</strong>am por bem, afirmaram e consentiram, aprovaram e ou<strong>ver</strong>am<br />
por feito o ditõ scambo do ditõ dia pera sempre. E o ditõ senhor bispo ouve o ditõ<br />
cabido e beneficiados por a parte que lhe cabe em sua vida por metidos em posse<br />
das offertas das ditas hermidas inteiramente. E os ditõs cabido e beneficiados outrosi<br />
ou<strong>ver</strong>am o ditõ senhor bispo e seus socessores por metidos em posse das offertas das<br />
ditas igrejas curadas que ora sam fundadas e ao diante se fundarem asy e da maneira<br />
que acima he ditõ. E porque <strong>de</strong> todo a huuns e outros aprouve e acceptaram este scambo<br />
cada huum por a parte que lhe cabia se obrigaram a o fazer sempre boom e valioso<br />
como em elle he contheudo.<br />
40 Riscou: “como ditõ he”.<br />
200 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
E alem <strong>de</strong>sto per o ditõ senhor bispo foi dito que em a instituição que per comissão<br />
do Sancto Padre per elle // [Fl. 2v] fora feita com comselho <strong>de</strong>l Rei nosso senhor<br />
sobre as cousas toquantes ao cabido da ditã See, entre outras fora provido que pera se<br />
encherem as quarenta e seis reções com as duas dos priostes que neste numero entram<br />
<strong>de</strong> que se ha <strong>de</strong> fazer repartição das rendas do cabido entre as trinta e seis pesoas que<br />
estam instituidas pera o serviço da ditã See per vacação dos beneficiados, elle, por<br />
faltarem tres reções, as entreguase pera renda da terça <strong>de</strong> Sam Simão que foi do bispo<br />
<strong>de</strong> Coimbra, e per outra renda <strong>de</strong> sua mesa episcopal.<br />
Por a qual razão elle ora dava e apartava como <strong>de</strong> feito <strong>de</strong>u e apartou pera comprimento<br />
das ditãs tres reções <strong>de</strong> dia <strong>de</strong> Sam Joam Baptista que ora vem em este presente<br />
anno pera todo sempre a renda da ditã terça <strong>de</strong> Sam Simão sem custos alguuns,<br />
excepto os <strong>de</strong> sua arrequadaçam e carretos 41 mais toda a meta<strong>de</strong> que elle bispo tem e<br />
pertence a sua mesa pontifical da renda dos anni<strong>ver</strong>sarios e falhas e portas das igrejas<br />
do corpo da ditã cida<strong>de</strong>, scilicet, da See ou doutra qualquer igreja on<strong>de</strong> residir da<br />
maneira que as elle e seus amtecessores tee ora possuiram. Com tal entendimento<br />
porem que o cura da See ou da igreja em que residir o cabido e beneficiados em as<br />
distribuições que se fizerem entre o cabido e beneficiados <strong>de</strong> todas as offertas que<br />
vierem a ditã See ou a igreja on<strong>de</strong> residir o cabido em que for presente com o <strong>de</strong>funto<br />
soomente aja sempre huuã reção como cada huum dos beneficiados, alem do vinho e<br />
obrada que ora levam os curas.<br />
As quaes rendas per a avaliação que foi feita per louvados se acharam que mui<br />
bem podiam suprir as ditãs tres reções, as quaes o ditõ senhor bispo ouve por entregues<br />
per as ditãs rendas ao dito cabido e beneficiados. E per <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste instrumento<br />
os ouve por metidos em posse <strong>de</strong>las do dito dia <strong>de</strong> Sam Joam pera sempre como dito<br />
he. E o dito cabido e beneficiados consentiram em o sobredito e foram <strong>de</strong> todo contentes<br />
e acceptaram assy // [Fl. 2v] as ditãs rendas por as ditas tres reções, e prometeram<br />
que <strong>de</strong>s o ditõ dia <strong>de</strong> Sam Joam Baptista primeiro que em boa ora vem fazerem a<br />
repartição <strong>de</strong> quarenta e seis reções com as duas dos priorstes per a guisa que em a<br />
dita instituição se contem.<br />
E asy prometeram <strong>de</strong> dar do ditõ dia em diante huma reçam a cada coneguo que<br />
foi beneficiado. E a cada huum dos beneficiados antigos outra asi e da maneira que<br />
a sempre ou<strong>ver</strong>am. E <strong>de</strong>pois assy das ditãs tres reções acrescentadas e das vacantes<br />
como dos coneguos e beneficiados e dignida<strong>de</strong>s absentes, dar as dignida<strong>de</strong>s que foram<br />
presentes e interressentes duas reções. E <strong>de</strong>shi aos moços do choro e officiães da<br />
igreja e quarte<strong>na</strong>rios o que lhes vem per a ditã instituição.<br />
E ultimo aos coneguos dar outra reçam que em a ditã instituição lhe he dada,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> os sobreditos dignida<strong>de</strong>s, moços do choro, officiães da igreja e quarte<strong>na</strong>rios<br />
serem cheos, nom prejudicando em esta repartyição aos fructos dos beneficiados<br />
antiguos, nem ao que entre elles cabido e beneficiados antiguos esta <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do per<br />
huum contracto e amigavel composição que entre elles he feito.<br />
41 Sublinhou as linhas que se seguem até “scilicet”. Na margem esquerda da pági<strong>na</strong> lê-se: “Renda<br />
que o bispo apartou da sua mesa para o cabido.”<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 201<br />
Reflexões
. história .<br />
Porem as ditas repartições nom se faram entre os ditõs dignida<strong>de</strong>s, coneguos,<br />
beneficiados, quarte<strong>na</strong>rios, moços <strong>de</strong> choro e officiães salvo per os presentes e interessentes<br />
e que cumprirem suas obriguações, porque os que nom forem presentes e<br />
interessentes seram multados pro rata em os fructos <strong>de</strong> seus beneficios ou em a valia<br />
<strong>de</strong>les, pera o que se fará honesta avaliação <strong>de</strong> cinquo em cinquo annos per aqueles<br />
que o cabido e beneficiados o commeterem per seu juramento, como per huã provisão<br />
si<strong>na</strong>da per o ditõ senhor bispo esta sentado.<br />
42 E bem assi ouve o ditõ senhor por entregues aas dignida<strong>de</strong>s e cabido soomente<br />
as rendas das terças das igrejas <strong>de</strong> Spite, Cranguejeira e Colmeas que soya levar o<br />
bispo <strong>de</strong> Coimbra e Sua Sanctida<strong>de</strong> appostolica a mesa do ditõ cabido, e aguora per<br />
elle senhor bispo com conselho <strong>de</strong>l Rei nosso senhor, a que sua sanctida<strong>de</strong> o cometeo,<br />
foram applicadas com nome <strong>de</strong> prestemos as cinquo dignida<strong>de</strong>s soomente, as quaes<br />
remdas // [Fl. 3] que eles ham <strong>de</strong> ganhar como os conegos e beneficiados tambem am<br />
<strong>de</strong> ganhar toda sua renda sendo presentes e interessentes como acima ditõ he.<br />
As quães rendas das ditãs tres terças assi applicadas as ditãs cinquo dignida<strong>de</strong>s<br />
elles ditõs dignida<strong>de</strong>s am <strong>de</strong> levar sendo presentes e interessentes como ditõ he, alem<br />
das duas reções que lhes am <strong>de</strong> ser satisfeitas per as sobreditãs reções que se ora<br />
acrescentaram ou per as que vaguarem ou per os que forem absentes como acima he<br />
<strong>de</strong>larado.<br />
E estes tee todo o numero das trinta e seis pessoas que am <strong>de</strong> servir em a Igreja ser<br />
cheo como mais compridamente em a instituição se conthem. E cheo o ditõ numero<br />
o que remanecer dos absentes e nom interessentes, 43 provido que a Igreja nom pa<strong>de</strong>ça<br />
<strong>de</strong>trimento das pesoas que a am <strong>de</strong> servir como se conthem em a instituição, se repartiraa<br />
pro rata per os dignida<strong>de</strong>s, coneguos, meos conegos, quarte<strong>na</strong>rios, moços <strong>de</strong><br />
choro e officiães interessentes.<br />
As quães rendas as ditãs dignida<strong>de</strong>s e cabido acceptaram em si e consentiram em<br />
esta entregua e em o contheudo acima. E se ou<strong>ver</strong>am por entreges e empossados <strong>de</strong>las<br />
do ditõ dia <strong>de</strong> Sam Joam pera sempre. E o ditõ senhor bispo e dignida<strong>de</strong>s e cabido e<br />
asy beneficiados prometeram <strong>de</strong> todo em este escambo entregua e consentimento ter,<br />
manter e cumprir segundo que a cada huum toqua e em a parte que a cada huum cabe<br />
sob obrigaçam <strong>de</strong> seus beens rendas e fasenda que pera ello cada huum per si e todos<br />
juntamente obriguaram.<br />
44 E assy o ditõ senhor bispo por si e seus socessores como os ditos dignida<strong>de</strong>s coneguos<br />
e cabido juraram aos Sanctos Evangelhos per suas mãos toquados em presença<br />
<strong>de</strong> my[m] notairo e testemunhas <strong>de</strong> todo cumprirem como aqui he <strong>de</strong>clarado dito e<br />
consentido per elles segundo o que a cada huum toqua. E <strong>de</strong> nom serem em dito nem<br />
feito nem em consentimento nem conselhos <strong>de</strong> se quebrar o acima dito e consentido<br />
sob pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> fiquarem infames e perjuros e pagarem duzentos // [Fl. 3v] <strong>cruz</strong>ados<br />
d’ouro a meta<strong>de</strong> pera a camara apostolica e a outra pera quem os acusar. E por tanto<br />
42 Na margem esquerda: “Nota”.<br />
43 Linhas sublinhadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aqui e até: “conthem em a instituição”.<br />
44 Na margem esquerda: “Nota”.<br />
202 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
mandaram e outorgaram ser feito este instrumento em esta nota e <strong>de</strong>la dar huum e<br />
quantos forem necessarios e as partes a que toquar quiserem.<br />
Testemunhas que eram presentes: Yoam <strong>de</strong> Figueiró clerigo <strong>de</strong> missa morador em<br />
a ditã cida<strong>de</strong>, e o Bacharel Antonio Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z cappellão do ditõ senhor bispo, e Yoam<br />
Monteiro clerigo <strong>de</strong> missa outrosi morador em a ditã cida<strong>de</strong>.<br />
E eu Fer<strong>na</strong>m Danta cleriguo <strong>de</strong> myssa <strong>na</strong>tural da dita cida<strong>de</strong> notairo apostolico<br />
apostolica auctoritate que a todo com as ditas testemunhas presente fuy e em minha<br />
nota tomei, don<strong>de</strong> estre transunto bem e fielmente tirei com o<br />
riscado que dizia como dito he, e aqui <strong>de</strong> meu publico si<strong>na</strong>l sinei que tal he, em ho ditõ<br />
dia, mes e anno ut supra. Roguado e requerido. (Si<strong>na</strong>l).<br />
(Assi<strong>na</strong>tura)<br />
Ferdi<strong>na</strong>ndus Danta notarius apostolicus.<br />
Nom duvi<strong>de</strong>m <strong>na</strong> entrelinha que diz pera o senhor bispo que eu notairo a fiz e<br />
portanto sinei aqui <strong>de</strong> meu si<strong>na</strong>l raso.<br />
(Assi<strong>na</strong>tura)<br />
Fer<strong>na</strong>m Danta.<br />
Doc. 3<br />
1548 JUNHO, 20, <strong>Leiria</strong>, Casa Episcopal — O Licenciado Luís Machado, tesoureiro<br />
da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, aprova e ratifica o contrato estabelecido por D. Frei Brás <strong>de</strong><br />
Barros com o Cabido da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> sobre a repartição das rendas das ofertas das<br />
ermidas e igrejas do Bispado.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com as<br />
numerações antigas: “Mº 5, Nº 76” e “Nº 631”.<br />
Saibham quantos este instrumento <strong>de</strong> aprovação, outorgua e ratefiquação <strong>de</strong> contracto<br />
d’escambo entrega e consentimento virem como no anno do <strong>na</strong>scimento <strong>de</strong><br />
Nosso Senhor Jhesuu Christo <strong>de</strong> mil e quinhentos e quarenta e oito em os xx dias<br />
do mes <strong>de</strong> Junho do ditõ anno em a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e casas do muito re<strong>ver</strong>endo e<br />
catholico senhor, o senhor Dom Bras <strong>de</strong> Barros bispo da dita cida<strong>de</strong>, estando presente<br />
o ditõ senhor e outrosi o Licenciado Luis Machado, thesoureiro <strong>na</strong> See da ditã cida<strong>de</strong>,<br />
em presença <strong>de</strong> mym notairo e das testemunhas ao diante nomeadas per o ditõ Luis<br />
Machado foi ditõ ao senhor bispo que a sua noticia viera que em os onze dias do ditõ<br />
mes se fizera huum contracto <strong>de</strong> scambo, entregua e consentimento entre sua senhoria<br />
e seu cabido sobre certas cousas que em o ditõ contracto atras proxime scrito mais<br />
largamente se contem. E por elle ao ditõ tempo ser absente ao fazer do ditõ contracto<br />
pedira a sua senhoria lho mandase mostrar e ler. E loguo o ditõ senhor bispo mandou<br />
a my notairo que lho lesse e lho li <strong>de</strong> <strong>ver</strong>bo ad <strong>ver</strong>bum em presença das testemunhas<br />
abaixo scriptas. E lido por elle Luis Machado foi ditõ que elle como parte que he em<br />
o ditõ cabido por ser thesoureyro <strong>na</strong> ditã See, por sentir o ditõ contracta ser feito em<br />
proveito da ditã See e cabido elle por sua parte o aprovava, outorguava e ratefiquava<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 203<br />
Reflexões
. história .<br />
e em todo e per todo o avia por firme e valioso, rato, grato <strong>de</strong>ste dia pera todo sempre.<br />
E consentia em todo o em elle contheudo. E jurou aos Sanctos Evangelhos per sua<br />
mão toquados <strong>de</strong> em todo cumprir e manter o ditõ contracto sob as pe<strong>na</strong>s em elle contheudas<br />
pera o que obrigou seus beens, rendas e fazenda. // [Fl. 1v] Em testemunho do<br />
qual mandou fazer este presente instrumento nesta nota e <strong>de</strong>lla pasar os instrumentos<br />
necessarios.<br />
Testemunhas que eram presentes: Francisco <strong>de</strong> Sam Migel e Yoam <strong>de</strong> Figueiro<br />
capellaes do dito senhor e quarta<strong>na</strong>rios em a ditã See. E eu Fer<strong>na</strong>m Danta clerigo <strong>de</strong><br />
missa, <strong>na</strong>tural da ditã cida<strong>de</strong>, notairo apostolico apostolica auctoritate que a tudo com<br />
as ditãs testemunhas presente fuy e em minha nota tomey don<strong>de</strong> este transunto bem e<br />
fielmente tirei e em elle <strong>de</strong> meu publico si<strong>na</strong>l sinei que tal he. (Si<strong>na</strong>l). Dia, mes e anno<br />
ut supra. Rogado e requerido.<br />
(Assi<strong>na</strong>tura)<br />
Ferdi<strong>na</strong>ndus Danta notarius apostolicus.<br />
Doc. 4<br />
1548 JULHO, 21, <strong>Leiria</strong>, Casa Episcopal — Lopo <strong>de</strong> Barros, <strong>de</strong>ão da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
aprova e ratifica o contrato estabelecido por D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros com o Cabido<br />
da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> sobre a repartição das rendas das ofertas das ermidas e igrejas<br />
do Bispado.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com a<br />
numeração antiga: “Mº 5, Nº 77”.<br />
Saibham quantos este intrumento <strong>de</strong> aprovação, outorgua e rateficaçam <strong>de</strong> huum<br />
contracto <strong>de</strong> scambo entregua e consentimento virem que no anno do <strong>na</strong>scimento <strong>de</strong><br />
Nosso senhor Jhesuu Christo <strong>de</strong> mil e quinhentos e quarenta e oito em os xxj dias do<br />
mes <strong>de</strong> Julho do dito anno em a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e casas do muito re<strong>ver</strong>endo e catolico<br />
senhor o senhor Dom Bras <strong>de</strong> Barros bispo da ditã cida<strong>de</strong> e do conselho <strong>de</strong>l Rei<br />
nosso senhor hi era presente // [Fl. 2] o Licenciado Lopo <strong>de</strong> Baros dayam em a See da<br />
dita cida<strong>de</strong> e disse perante my notairo e testemunhas abaixo scritas que a sua noticia<br />
viera que em os xj dias do mes <strong>de</strong> Junho passado <strong>de</strong>ste presente anno se fizera huum<br />
contracto <strong>de</strong> scambo, entregua e consentimento entre o ditõ senhor bispo e seu cabido<br />
sobre certas cousas que em o dito contracto atras proxime scrito se contem. O qual<br />
contracto o dito senhor bispo ja lhe mostrara e elle per si lera <strong>de</strong> <strong>ver</strong>bo ad <strong>ver</strong>bum e por<br />
sentir ser proveito do dito cabido e See, elle como cabeça que era <strong>de</strong>le por ser dayam<br />
avia o dito contracto por bom, firme e valioso, rato, grato <strong>de</strong>ste dia pera todo sempre e<br />
o outorguava, approvava e ratifiquava e consentia em todo o em elle conteudo. E jurou<br />
aos Sanctos Evangelhos per suas maos tomados em presença <strong>de</strong> my notairo e testemunhas<br />
<strong>de</strong> em todo manter e cumprir o dito contracto sob as pe<strong>na</strong>s em ello conteudas<br />
pera o que obrigou seu beens, rendas e fazenda. Em testemunho do qual mandou fazer<br />
este instrumento em esta nota e <strong>de</strong>la dar huum e quantos fossem necessarios.<br />
204 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
Testemunhas que eram presentes: Christovão Pereira, arcediaguo em a dita See<br />
e Afonso Barroso, criado do dito senhor bispo. E eu Fer<strong>na</strong>m Danta clerigo leiriensis<br />
notairo apostolico apostolica auctoritate que a todo com as ditas testemunhas presente<br />
fuy e ouvy e em a ditã nota tomey don<strong>de</strong> este instrumento bem e fielmente tyrei e<br />
em elle <strong>de</strong> meu pubrico si<strong>na</strong>l screvi que tal he. Dia mes e anno ut supra. Roguado e<br />
requerido. // [Fl. 2v]<br />
E cabido, em que conce<strong>de</strong>o sua senhoria a meta<strong>de</strong> das offertas e dotou os frutos<br />
das tres rações que faltavam e do modo como se ham <strong>de</strong> repartir.<br />
Doc. 5<br />
1548 AGOSTO, 19, <strong>Leiria</strong> -1549 JANEIRO, 26, <strong>Leiria</strong>, Casa Episcopal — Estatutos<br />
do Cabido da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> aprovados pelo bispo D. Brás <strong>de</strong> Barros e pelas<br />
dignida<strong>de</strong>s e cónegos capitulares da mesma Sé.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com as<br />
numerações antigas: “M. 5. Nº 85” e “Nº 628”.<br />
Estatuto prymeiro <strong>de</strong> como <strong>de</strong>ve jurar, veer e ler todos os estatutos todo o dignida<strong>de</strong><br />
coneguo ou beneficiado que novamente começar servir seu beneficio e a forma<br />
do juramento.<br />
Primeiramente statuimos e or<strong>de</strong><strong>na</strong>mos que daqui em diamte aja esta See e igreja<br />
cathedrall <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> dous livros emca<strong>de</strong>r<strong>na</strong>dos<br />
com as folhas comtadas e hem hum <strong>de</strong>lles estarão escritos todos os statutos <strong>de</strong>lla, e em<br />
outro os juramentos. E quallquer dignida<strong>de</strong>, coneguo, meo coneguo e quarta<strong>na</strong>yro que<br />
<strong>de</strong> novo em esta igreja for provido dallguum beneficio e novamente a ella vier pera o<br />
servir antes que seja escryto no livro das taboas do cabido pera po<strong>de</strong>r ser comtado, vemcer<br />
e receber os fructos, reditos, provemtus das <strong>de</strong>stribuições cotidia<strong>na</strong>s e quaequer<br />
emollomentos <strong>de</strong> seu benefficio seraa obriguado a veer e leer todos os estatutos da<br />
igreja imffra escrytos pera que tenha <strong>de</strong>lles noticia e saiba as cousas a que he theudo<br />
e obrigado e nom posa pretem<strong>de</strong>r ignoramcia.<br />
E <strong>de</strong>pois que asi ti<strong>ver</strong> vistos e lidos os ditos estatutos seraa obriguado jurar tocamdo<br />
co[r]porallmente os Samtos Avangelhos <strong>na</strong>s mãos do dayão, ou <strong>de</strong> quallquer<br />
presi<strong>de</strong>mte que emtão for no cabido, <strong>de</strong> ter, comprir e guardar os ditos estatutos asi<br />
e da maneira que se nelles comtem e <strong>na</strong> forma abaixo scripta segumdo os presemtes<br />
outrosy jurarão. O quall juramento se tomara e fara <strong>na</strong> casa do cabido e em dia que se<br />
fizer cabido e não em outro lugar nem em outro dia.<br />
E este[s] estatutos com todos os que ao diamte se fizerem que forem asi<strong>na</strong>dos por<br />
o cabido foram feytos d’acordo e comsemtimento <strong>de</strong>lle cabido e per o muyto catholico<br />
senhor Dom Bras <strong>de</strong> Barros noso prellado e primeiro bispo <strong>de</strong>sta See <strong>de</strong> Nosa Se-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 205<br />
Reflexões
. história .<br />
nhora da Pe<strong>na</strong>. E porem todos os estatutos que asi forem feitos se elle vir que compre<br />
serão emmendados 45 em comselho <strong>de</strong>ll Rey noso senhor per elle ditõ senhor bispo<br />
alias os ditos estatutos não terão vigor e serão nullius momenti.<br />
Doc. 5, fl. 1v: pormenor das assi<strong>na</strong>turas autografas.<br />
E per a dita maneira se obrigarão a o comprir como ditõ hee sub pe<strong>na</strong> prestiti juramenti<br />
comtheudo em suas comffirmações e sob // [Fl. 1v] as mais pe<strong>na</strong>s comtheudas<br />
em o comtrato que com ho dito bispo tem feyto.<br />
Fer<strong>na</strong>m Danta cleriguo leiriensis notairo apostolico apostolica auctoritate que a<br />
tudo fuy presente e este estatuto fiz scre<strong>ver</strong> com o riscado que diz comfirmados e sobesprevi.<br />
E o dito senhor bispo ouve 46 por confirmado e mandou que daqui em diante<br />
se cumprisse e afirmou que sua alteza o a<strong>ver</strong>ia asy por bem.<br />
E si<strong>na</strong>ram todos em os 19 dias do mes <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong>r 1548.<br />
Nom duvi<strong>de</strong>m em o riscado que diz este statuto. Fer<strong>na</strong>m Danta o screvy.<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
O Bispo <strong>de</strong> Leirea.<br />
Luis Machado.<br />
Yoam Lopez.<br />
Dioguo d’Azambuja.<br />
Gaspar Nepto da Costa.<br />
Eitor Rodriguez.<br />
45 Riscado: “e comffirmados”.<br />
46 Riscado: “este statuto”.<br />
206 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Christovam Pereira, Arcediago <strong>de</strong> Leirea.<br />
Sebastiam Ferreira.<br />
. história .<br />
† Forma do juramento.<br />
Em os tamtos dias <strong>de</strong> tall mêes <strong>de</strong> tal anno dise e <strong>de</strong>clarou foam dinida<strong>de</strong> tall<br />
coneguo meo coneguo ou quarta<strong>na</strong>rio <strong>de</strong>sta See <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> que elle vira, lera e emtem<strong>de</strong>ra<br />
os statutos <strong>de</strong>lla, a quall ora novamente era vimdo. E polo juramento dos Samtos<br />
Avamgelhos, que por sua mão toquou em mãos do dayão ou <strong>de</strong> foam presi<strong>de</strong>mte, prometeo<br />
<strong>de</strong> guardar e cumprir os estatutos asy e da maneira que se nelles e cada huum<br />
<strong>de</strong>lles comthem. E prometeo <strong>de</strong> os dar a sua <strong>de</strong>vida execução. Testemunhas que erão<br />
presemtes, foam.<br />
O quall juramento que cada huum fizer se escre<strong>ver</strong>a por huum escryvão do cabido<br />
em o dito livro dos juramentos e asi<strong>na</strong>rão em elle aquelle que jurar e quem <strong>de</strong>r o tall<br />
juramento e asi as testemunhas que em elle se nomearem.<br />
Estatuto segundo que nenhuum beneficiado em esta See que não for <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns<br />
sacras e souber camtar seja comtado em mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da remda <strong>de</strong> seu beneficyo.<br />
Item por serviço <strong>de</strong> Noso Senhor e proveito <strong>de</strong>sta Igreja e See <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e por<br />
evitar as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ens e escandallos que saem <strong>de</strong> alguns beneficiados em muitas igrejas<br />
por causa <strong>de</strong> se não hor<strong>de</strong><strong>na</strong>rem <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ens sacras nem saberem camtar, hor<strong>de</strong><strong>na</strong>mos<br />
e statuimos que o custume que <strong>de</strong> amtiguo se guardou em esta Igreja tee o presemte<br />
acerqua das ditas hor<strong>de</strong>ens sacras e camtar se guar<strong>de</strong> daqui em diamte pera sempre,<br />
scilicet, que nenhuma dignida<strong>de</strong>, coneguo ou beneficiado que em o collego [sic] <strong>de</strong>sta<br />
Igreja for provido tee seer or<strong>de</strong><strong>na</strong>do d’or<strong>de</strong>ens sacras e saber camtar não seja comtado<br />
em mais que em a meta<strong>de</strong> da remda <strong>de</strong> seu beneficio. E semdo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>es sacras // [Fl.<br />
2v] e achado por o prellado suficiemte em o camto a<strong>ver</strong>a todo por imteiro.<br />
E porem quanto ao camto não ha<strong>ver</strong>a lugar em os letrados que estudarem em<br />
a Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra em teeologia e canones e que for certo que em as ditãs<br />
facullda<strong>de</strong>s tem homze ou doze annos annos [sic] d’estudo em a ditã Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong><br />
porque aos taes basta saberem dizer mysa cantada e vamgelho e epistolla e psallmear<br />
das ca<strong>de</strong>iras com os outros. E posto que as dignida<strong>de</strong>s que ao presente são ajão comprido<br />
parte do ditõ tempo em outros estudos guozarão da ditã liberda<strong>de</strong> como se todo<br />
ho comprirão em a dita Uni<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. E todo ho sobredito estatuto 47 feito<br />
por o senhor bispo d’acordo e comsemtimento do cabido e prometerão elle cabido <strong>de</strong><br />
guardar e comprir sob pe<strong>na</strong> prestiti juramenti em suas comfirmaçoes comtheudo como<br />
em o stauto atras dito hee.<br />
Fer<strong>na</strong>m Danta clerigo leiriensis notairo apostolico apostolica auctoritate que a<br />
tudo foy presente e este estatuto fiz escre<strong>ver</strong> e sobescrivy.<br />
E o ditõ senhor bispo o ouve por confirmado e mandou que se comprise sob as<br />
pe<strong>na</strong>s em o statuto atras e em este contheudas e todos si<strong>na</strong>ram aqui. Oje xix dias do<br />
mes d’Agosto <strong>de</strong> 1548.<br />
47 Riscao: “foi”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 207<br />
Reflexões
. história .<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
O Bispo <strong>de</strong> Leirea.<br />
Luis Machado.<br />
Yoam Lopez.<br />
Dioguo d’Azambuja.<br />
Gaspar Nepto da Costa.<br />
Sebastiam Ferreira.<br />
Eitor Rodriguez. // [Fl. 3]<br />
Doc. 5, fl. 2v: pormenor das assi<strong>na</strong>turas autografas.<br />
Que nenhuum beneficiado seja comtado em mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> ate saber ao menos<br />
gramatiqua, estatuto terceiro.<br />
Item ema<strong>de</strong>mdo ao estatuto sobredito, constiuiçoes e or<strong>de</strong><strong>na</strong>çoes d’acordo e comsemtimento<br />
do ditõ cabido que nenhuum beneficiado em esta Igreja <strong>de</strong> qualquer calida<strong>de</strong><br />
e preminencia que seja se comtem em mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da remda <strong>de</strong> seu beneficio<br />
salvo <strong>de</strong>pois que per certidão do prelado for notoryo ao cabido e priostes como o tall<br />
(prece<strong>de</strong>ndo o exame necesario) foy achado suficiente em emtem<strong>de</strong>r latim em modo<br />
que ao menos gramaticalmente construir ho que se lee em a Igreja.<br />
Do numero das dignida<strong>de</strong>s, conegos, meos conegos, quarta<strong>na</strong>rios e da maneira<br />
<strong>de</strong> prece<strong>de</strong>r e não ter dous beneficios e dos que tem voz em cabido, estatuto quarto.<br />
Item porque em esta instituição que autoritate apostolica <strong>de</strong> comselho <strong>de</strong>ll Rey<br />
noso senhor fezemos em o principio <strong>de</strong> nossa pormoção que esta aceptada per 48 o<br />
cabido foy provido que em a dytã Igreja ouvesse trymta beneficiados, scilicet, cimquo<br />
dignida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>z conegos, <strong>de</strong>z meos conegos e cinquo quarta<strong>na</strong>rios e aas dignida<strong>de</strong>s<br />
soomente forão asy<strong>na</strong>das prece<strong>de</strong>mcias emtre huuns e os outros estatuimos e or<strong>de</strong><strong>na</strong>mos<br />
d’acordo e comsemtimento do ditõ cabido que emtre os conegos precedão as<br />
48 Na margem esquerda: “Aqui esta a primeira constituição”.<br />
208 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
hor<strong>de</strong>ens humas as outras, os presbiteros aos diaconos e os diaconos aos subdiaconos<br />
e os subdiaconos aos clerigos. E porem emtre os <strong>de</strong> huma mesma hor<strong>de</strong>m prece<strong>de</strong>rão<br />
os mais amtigos em a Igreja e per o ditõ modo se guardarão as prece<strong>de</strong>mcias emtre os<br />
meos conegos e quarta<strong>na</strong>rios.<br />
E bem asy porquanto a Igreja he pobre <strong>de</strong> menistros or<strong>de</strong><strong>na</strong>mos <strong>de</strong> comselho //<br />
[Fl. 3v] <strong>de</strong> sua alteza e acordo e comsemtimento do dito cabido que nemhuma dignida<strong>de</strong>,<br />
coneguo ou quallquer outro beneficiado possa ter dous beneficios em a ditã<br />
Igreja mas com huum soo tão somente se comtemtarão como ora tem.<br />
E as ditas dinida<strong>de</strong>s e conegos terão tão somente voz em cabido e porem <strong>de</strong>sfalecemdo<br />
alguum coneguo ou conegos emtrarão e terão voz em cabido outros tamtos<br />
mais coneguos quantos forem os que em elle falecerem<br />
Da hor<strong>de</strong>m por que am <strong>de</strong> administrar os sanctos sacramentos.<br />
Item posto que em a instituição <strong>de</strong>sta Igreja seja cauto que o cura acompanhado<br />
dos meos coneguos e quarta<strong>na</strong>rios administraram 49 os samtos sacramentos da cumunhão<br />
e unção aos emffermos, e as dinida<strong>de</strong>s conegos e meos conegos cumffesarão<br />
per or<strong>de</strong><strong>na</strong>mça do bispo, nos d’acordo e comsemtimento do ditõ cabido, <strong>de</strong>claramdo<br />
e ema<strong>de</strong>mdo mais em favor da ditã instituiçam, hor<strong>de</strong><strong>na</strong>mos e instituimos que quando<br />
os taes sacramentos, scilicet, da samta comunhão e unção se levarem aos emfermos<br />
que este<strong>ver</strong>em em a cida<strong>de</strong> ou 50 que sejão os curas que<br />
os levarem acompanhados ao menos <strong>de</strong> quatro beneficiados e <strong>de</strong> huum moço do coro.<br />
E a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes quatro seram das dinida<strong>de</strong>s e conegos. E a outra meta<strong>de</strong> sera dos<br />
meos conegos e quarta<strong>na</strong>rios. E pera esto serão todos asy or<strong>de</strong><strong>na</strong>dos per soma<strong>na</strong> que<br />
jamais posa a<strong>ver</strong> falta.<br />
E queremos e mandamos que quando os taes sacramentos se hou<strong>ver</strong>em // [Fl. 4] <strong>de</strong><br />
administrar aos freigeses sejão feitos per mandado do cura dous sy<strong>na</strong>es com ho syno<br />
aos quães se ajumtarão os ditõs menistros e não vimdo elles com <strong>de</strong>ligemcia a igreja<br />
dom<strong>de</strong> os tais sacramentos hou<strong>ver</strong>em <strong>de</strong> sair ou não enviando outros por sy (temdo alguma<br />
ocupação) com<strong>de</strong><strong>na</strong>mo los e avemo los por com<strong>de</strong><strong>na</strong>dos em duzentos reais pera<br />
as obras da See e meirynho. E alem diso serão os taes ou cada huum <strong>de</strong>lles apomtados<br />
toda huma soma<strong>na</strong> que forem imteresemtes como se não o fosem. 51<br />
E quanto aos que per a instituição são hor<strong>de</strong><strong>na</strong>dos pera comfesar per hor<strong>de</strong><strong>na</strong>mça<br />
do prellado e que forem achados negligentes serão pe<strong>na</strong>dos a alvidrio do ditõ prelado.<br />
E a este serviço <strong>de</strong> Deus emquanto hy não hou<strong>ver</strong> meos coneguos suprirão os beneficiados<br />
amtigos em seu lugar e se casso for que o emfermo não este em a cida<strong>de</strong> ou 52<br />
a villa como acima dito he em tal casso os ditos sacramentos<br />
serão acompanhados e se fara como ao prellado ou ao que seu po<strong>de</strong>r ti<strong>ver</strong> parecer<br />
que se comodamente po<strong>de</strong> bem fazer.<br />
49 Na margem esquerda: “Constituição”.<br />
50 Riscado: “perto <strong>de</strong>lla”.<br />
51 Escrito <strong>na</strong> margem esquerda: “Or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção”.<br />
52 Riscado: “perto”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 209<br />
Reflexões
. história .<br />
Do silemcio que se ha <strong>de</strong> guardar em o coro.<br />
Item perque em o choro segumdo colhemos da doutri<strong>na</strong> dos samtos padres he<br />
lugar on<strong>de</strong> se não <strong>de</strong>ve fazer outra coussa salvo aquelo pera que foi feito hor<strong>de</strong><strong>na</strong>mos<br />
e estaballecemos d’acordo e comsemtimento do cabido que em todo tempo em o dito<br />
coro se guar<strong>de</strong> sumo silemcio exceito ho presi<strong>de</strong>mte hou aqueles // [Fl. 4v] que por<br />
rezão <strong>de</strong> seus officios mandão fazer alguma coussa necesaria ao officio <strong>de</strong>vino e que<br />
se não po<strong>de</strong> escusar.<br />
E o mesmo se emtem<strong>de</strong>ra em os que pe<strong>de</strong>m licemça ao apomtador pera dizer misa<br />
em a propia igreja ou pera as necesida<strong>de</strong>s corporaes ho que todo se dira com pouquas<br />
palavras e a baixa voz. E os que o comtrairo fizerem serão apomtados per o apomtador<br />
e per<strong>de</strong>rão por cada vez dous reais pera as obras do ditõ coro.<br />
E porem se alguum em huum dia lhe forem postos mais <strong>de</strong> dous pomtos pagarão<br />
mais alem do sobreditõ <strong>de</strong>z reais. E o apomtador cada vez que apomtar sem dizer<br />
coussa alguma fara sy<strong>na</strong>ll com a mão em as ca<strong>de</strong>iras ou estamte que amte ellas<br />
esta <strong>de</strong> guissa que possa ser ouvido dos que falam. E emcaregamos as comciencias<br />
dos apomtadores que pospoemdo todo odio amor e temor sejão muyto solicitos em<br />
apomtar aos quebrantadores <strong>de</strong>ste estatuto.<br />
Dos apomtadores do coro, estatuto.<br />
Item porquanto as remdas aplicadas ao cabido <strong>de</strong>sta Igreja todas se hão <strong>de</strong> ganhar<br />
dos imteresemtes per <strong>de</strong>stribuições cotidia<strong>na</strong>s, hor<strong>de</strong><strong>na</strong>mos e constituimos d’acordo<br />
e comsemtymento <strong>de</strong> todo o cabido que cada anno, em a fim <strong>de</strong> Junho, sejão feitos<br />
dous apomtadores per o cabido, comfirmados 53 do prellado. Dos quaes apomtadores<br />
ho primeiro se diz // [Fl. 5] apomtador e o segumdo sobreapomtador do prymeiro.<br />
He apomtar geralmente asy todos os que faltarem as oras e aos que se vão <strong>de</strong>llas<br />
amte que se acabem, como todo os interesemtes e bem asi apomtar aos que não guardam<br />
silemcio em o coro per o modo que em seu estatuto se diz.<br />
He bem asy apomtar aos que o 54 prellado ou presi<strong>de</strong>mte ou quallquer estatuto<br />
mandar multar das quães multas, aimda que sejão postas per o apomtador ou mandadas<br />
poer por os presi<strong>de</strong>mtes, ningem po<strong>de</strong>ra conhecer <strong>de</strong>llas nem rellaxa las (quando<br />
algum se semtir agravado) salvo o prelado ou quem seu 55 ti<strong>ver</strong> pera o qual<br />
conhecimento ho apomtador <strong>de</strong> quatro em quatro meses, como ora se custuma, apresemtara<br />
a multa ao ditõ prelado ou em sua ausemcia a quem seu 56 ti<strong>ver</strong>.<br />
Do segumdo apomtador he apomtar por o ditõ modo ao apomtador.<br />
Os quães apomtadores ambos serão elleitos dos mais abilles, scilicet, dignida<strong>de</strong>s<br />
conegos ou meos conegos e <strong>de</strong> boas comciemcias e dos mais comtinos em o coro, aos<br />
quaes em presemça do prelado sera dado juramento que bem e fiellmente fação seu<br />
oficio e cada dia, amte <strong>de</strong> se lamçarem, escre<strong>ver</strong>em em seu livro <strong>de</strong>claradamente as<br />
53 Palavra corrigida aparentemente <strong>de</strong> “acordo”.<br />
54 Riscadas, em entrelinha, algumas letras.<br />
55 Riscado: “lugar”.<br />
56 Riscado: “lugar”.<br />
210 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
multas e pe<strong>na</strong>s e a<strong>ver</strong>ão ambos por seu trabalho cimquo <strong>cruz</strong>ados cada anno dos quaes<br />
quatro a<strong>ver</strong>a ho apomtador e huum o sobreapomtador.<br />
E os ditõs apomtadores serão avisados que jamais o coro fique // [Fl. 6] sem<br />
apomtadores e quando elles ti<strong>ver</strong>em alguma necesida<strong>de</strong> que não posão ser presemtes<br />
cometerão suas vezes allgumas que estem em ho coro aos quaes sub pe<strong>na</strong> instituti<br />
juramenti mandamos que fiellemente apomtem como se fosem propios apomtadores.<br />
E queremos que se alguum ou alguuns refertarem aos apomtadores hou lhes <strong>de</strong>rem<br />
alguma torvação sobre seus officios que pagem por cada vez dozemtos reais pera<br />
as obras da See e meirynho, mas os que alguum agravo semtyrem po<strong>de</strong> lo am aleguar<br />
amte o prellado como ditõ hee.<br />
E pera as mesmas obras e meirynho serão as pe<strong>na</strong>s que forem postas pello prelado<br />
ou presi<strong>de</strong>nte ou que se ou<strong>ver</strong>em <strong>de</strong> pagar per virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer estatuto. E se,<br />
como acima dito he, o apomtator tendo alguuma occupação per que nom possa estar<br />
presente em o choro nom <strong>de</strong>ixar encomendado o livro ou taboa dos pontos a outrem<br />
pagara pera as obras da See e meirinho duzentos reais.<br />
E eu Fer<strong>na</strong>m Danta clerigo lieiriensis notairo apostolico apostolica auctoritate<br />
que a tudo fuy presemte e estes cinquo estatutos atras fis scre<strong>ver</strong> com as emtrelinhas e<br />
corregidos que dizem, em modo que ao menos saiba, e nos dous riscados que <strong>de</strong>ziam<br />
perto <strong>de</strong>la, e por cima em lugares contiguos a ella. E on<strong>de</strong> dizia lugar, lugar, e por<br />
cima em ambas as partes po<strong>de</strong>r, po<strong>de</strong>r. E os sobrescrevi e si<strong>na</strong>rão aqui os senhroes dayam, conegos e cabido.<br />
Em cabido e cabido fazemdo em casa do senhor bispo, em os xxbj dias do mes <strong>de</strong><br />
Janeiro <strong>de</strong> 1549.<br />
E os sobreditos dayam e conegos juraram aos Sanctos Evangelhos per suas mãos<br />
toquados <strong>de</strong> guardar os sobreditõs estatutos.<br />
E eu sobredito Fer<strong>na</strong>m // [Fl. 5v] Danta notairo apostolico o sobscrevi com a entrelinha<br />
que diz com o senhor bispo, rogado e requerido.<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
O Bispo <strong>de</strong> Leirea.<br />
Lopo <strong>de</strong> Barros, daião.<br />
Christovão Pereira, Arcediago <strong>de</strong> Leirea.<br />
Yoam Lopez.<br />
Guaspar Nepto da Costa.<br />
Eitor Rodriguez.<br />
Sebastiam Ferreira.<br />
Dioguo d’Azambuja. // [Fl. 6]<br />
Estatutos da See da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> feytos per o muyto chatolico senhor Dom<br />
Bras <strong>de</strong> Barros, primeiro bispo em ella e <strong>de</strong> acordo e comsemtimento <strong>de</strong> todo seu<br />
cabydo.<br />
Estatutos, Ma<strong>de</strong>ira. Começo dos estatutos que se fizerão <strong>de</strong>ra<strong>de</strong>iro.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 211<br />
Reflexões
. história .<br />
Doc. 5, fl. 5v: pormenor das assi<strong>na</strong>turas autógrafas.<br />
Doc. 6<br />
1557 FEVEREIRO, 6, Alenquer (Mosteiro do Mato) – D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros<br />
estabelece, no Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Vale Benfeito (Óbidos), uma capela <strong>de</strong><br />
seis missas em cada sema<strong>na</strong>, por intenção dos mo<strong>na</strong>rcas D. João III e sua mulher, D.<br />
Catari<strong>na</strong>, e do príncipe D. Sebastião, bem como por ele instituidor e seus pais, para<br />
cuja satisfação entrega ao Mosteiro 241 mil reais. Por <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro<br />
<strong>de</strong> 1560, os padres conventuais <strong>de</strong> Vale Benfeito rectificam o valor do dinheiro efectivamente<br />
entregue para sustento da capela, somando, <strong>na</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, 250 mil reais.<br />
TT – Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com a numeração<br />
antiga: “Nº 664”. Igual documento com as numerações antigas: “Mº 5, Nº<br />
31” e “Nº 662”.<br />
Em nome <strong>de</strong> Deus, amem.<br />
Saibhão quantos este pubriquuo instromemto <strong>de</strong> instituyção <strong>de</strong> misas e capella<br />
virem quue no anno do Nacimento <strong>de</strong> Nosso Sennhor Jhesu Christo <strong>de</strong> mill e quinhemtos<br />
e cimcoenta e sete annos aos seis dias do mes <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro quue em ho Mosteiro<br />
do Mato situado no termo da villã d’Allemquuer Diocexis do Arcebispado <strong>de</strong> Lixboa<br />
da Or<strong>de</strong>m do glorioso padre Sam Jeronimo em a cassa hou cella hom<strong>de</strong> hora poussa<br />
ho sennhor bispo Dom Bras <strong>de</strong> Barros fra<strong>de</strong> da ditã Or<strong>de</strong>m primeiro quue foy da cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, estamdo elle ahi presemte e asy ho Padre Frey Sabastiam prior do Mos-<br />
212 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
teiro <strong>de</strong> Nossa Sennhora da Comceição <strong>de</strong> Vall Bemfeito da ditã Hor<strong>de</strong>m e Diocixis.<br />
E loguo pellõ ditõ bispo foy ditõ em presença <strong>de</strong> mym tabeliam e testemunhas ao<br />
diamte nomeadas quue elle em louvor e por serviço <strong>de</strong> Nosso Sennhor instituya hora<br />
em ho ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Vall Bemfeyto como <strong>de</strong> feytõ loguo instituyo huma capella <strong>de</strong><br />
missas pera sempre comvem a saber cada dia huma missa da festa ou feria corremte.<br />
E porem porquue he cousa grave e onerosa a<strong>ver</strong> hum sacerdote ou aquelles que<br />
has ditãs missas diserem <strong>de</strong> dizer // [Fl. 1v] missa cada dia, queria quue por ho ditõ<br />
capellã[o] e missas cotidia<strong>na</strong>s não se disesem mais <strong>de</strong> seis misas cada soma<strong>na</strong> por<br />
hum sacerdote hou por aquelles a quuem forem emcomemdadas.<br />
E porquue ho ditõ bispo constituinte se acha ser em muyta obriguaçam a el rey<br />
Dom Joam terceiro <strong>de</strong>ste nome noso sennhor e a rainha Do<strong>na</strong> Cateri<strong>na</strong> suua molher<br />
nossa sennhora, e isto pellas homrras e merces quue <strong>de</strong>lles tem recebydo e pello bem<br />
quue fazem as casas do nosso padre Sam Jeronymo, dise quue das ditãs seis missas<br />
quue se em ho ditõ Mosteiro ham <strong>de</strong> dizer cada soma<strong>na</strong> pera sempre ha primeira se<br />
digua pelo ditõ rey nosso sennhor, a segumda pela raynha nossa sennhora e a terceyra<br />
pelo primcepe Dom Sabastiam seu neto e por todos hos reis seus sobcesores em este<br />
reyno <strong>de</strong> Purtuguall.<br />
E as outras tres missas se diram por elle bispo e por seu pay e may que jazem <strong>na</strong><br />
sua capellã da imvocaçãm <strong>de</strong> Nossa Sennhora do Rossayro quue estaa em a crasta da<br />
See <strong>de</strong> Bragua // [Fl. 2] e por aquuelles quue elle bispo he teudo e obriguado.<br />
E porque he necesario quue aquuelles que servem ao alltar vivam <strong>de</strong>lle disse quue<br />
fazia esmola ha ditã cassa e Mosteiro <strong>de</strong> Vall Bemffeito <strong>de</strong> dozemtos e coremta e<br />
hum mill reais, os quuais emtreguouu loguuo em dinheiro <strong>de</strong> comtado peramte mym<br />
tabeliam e testemunhas ao ditõ Padre Frei Sabastiam prior do ditõ Mosteyro <strong>de</strong> Vall<br />
Bemfeytõ pera comprar em fazemda. Hos quuais dinheiros <strong>de</strong>yxa em allma e comciemcia<br />
<strong>de</strong>lle e padres do ditõ Mosteiro comvem a saber <strong>de</strong> todos jumtos e cada hum<br />
por sy pera quue se não possam guastar nem tomar emprestados somemte estarem em<br />
ha arquua dos ditõ convemto hou em a arquua do comvemto do Mosteyro <strong>de</strong> Bellem<br />
ate se comprar ha ditã fazemda hou allgum juro <strong>de</strong> sua allteza pera sostemtação da<br />
ditã capellã, o quue a<strong>ver</strong>a efeytõ <strong>de</strong>ste mes <strong>de</strong> Janeyro quue hora passou ha hum<br />
anno sallvo se elle bispo <strong>de</strong>r mais allgum tempo. E não se fazemdo como ditõ he se<br />
emtreguara toda // [Fl. 2v] ha ditã fazemda hou dinheiro a elle ditõ bispo semdo vivo<br />
e semdo <strong>de</strong>fumto se emtreguara ha Mysericordia <strong>de</strong> Lixboa pelo modo que abayxo<br />
vay <strong>de</strong>clarado com sua obrigação.<br />
E allem do sobreditõ dise ho ditõ bispo quue porquamto suua temçam hera quue<br />
por rezam da ditã capellã e misas ho ditõ Mosteiro e comvemto <strong>de</strong>lle não recebese<br />
allguma torvaçam hou menoscabo asy hem ho stpritual como temporall quue a elle<br />
aprazia como <strong>de</strong> feytõ aprouve que quamdo quuer quue ao sobreditõ comvemto prou<strong>ver</strong><br />
possa <strong>de</strong>ixar ha ditã capellã. E quuamto aos dozemtos e coremta e hum mil reais<br />
hos emtreguarão ha Mysericordia <strong>de</strong> Lixboa comvem a saber ao provedor e irmãos<br />
hou has propiada<strong>de</strong>s quue pello ditõ dinheiro forem compradas com as stprituras das<br />
compras. E por este instromemto pe<strong>de</strong> por amor <strong>de</strong> Nosso Sennhor ao ditõ provedor e<br />
irmãos da Samta Mysericordia quue tomando primeiro cem <strong>cruz</strong>ados pera hos // [Fl.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 213<br />
Reflexões
. história .<br />
3] guastos da ditã casa lhe man<strong>de</strong>m dizer o mais por quue se vem<strong>de</strong>rem has ditãs propiada<strong>de</strong>s<br />
he ho mais quue remanecer dos ditõs dozemtos e coremta e hum mill reais<br />
em missas rezadas por hos Mosteyros quue lhes bem parecer e isto pellas pessoas e<br />
imtemção acima <strong>de</strong>claradas.<br />
E loguuo elle bispo constituimte pidio ao ditõ prior <strong>de</strong> Vall Bemfeytõ quue elle<br />
em seu nome e do ditõ Comvemto como seu procurador quue he abastamte segundo<br />
loguuo mostrou por sua procuração que ao diamte vay trelladada quue avemdo respeyto<br />
ha ditã instituiçam ser feytã em louvor <strong>de</strong> Nosso Sennhor e tamta parte <strong>de</strong>stes<br />
sacreficios serem oferecidos pellas vidas, sau<strong>de</strong> e sallvação dos Reis <strong>de</strong> Purtugual<br />
ouvese por bem em seu nome e dos padres do ditõ comvemto ausemtes <strong>de</strong> a aceytar.<br />
E por sy e pellõ ditõ comvemto e padres quue hora sam e ao diamte forem prometer<br />
pera sempre <strong>de</strong> ha guardar asy e da maneyra quue em ella he comtheudo.<br />
E loguo o ditõ padre // [Fl. 3v] prior e procurador em seu nome e padres capitolares<br />
do ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Vall Bemfeytõ por <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suua procuração, disse quue elle<br />
via e ouvia ha ditã instituyção quue lhe por mym tabeliam hem presemça das testemunhas<br />
foy lida e <strong>de</strong>clarada e quue elle em nome do ditõ comvemto ha haceytava asi e<br />
da maneira quue se em ella comtinha e prometia como <strong>de</strong> feytõ loguo prometeo por sy<br />
e por todos hos padres do ditõ Mosteyro quue hora sam e quue ao diamte forem <strong>de</strong> se<br />
dizerem as ditãs missas e se comprir ho mais acima ditõ hobriguamdo pera ello todos<br />
hos beens do ditõ Mosteyro. E quue avia por renunciadas todas e quaisquuer graças<br />
hou privylegios jerais hou espiciais que comtra ho sobreditõ fosem hou se posam<br />
alleguar em seu favor e <strong>de</strong> seu Mosteyro.<br />
E asy em seu nome e do ditõ comvemto avia por bem quue ho ditõ bispo possa<br />
por letreiro em pedra hou em ho luguar quue bem parcer do Mosteyro em quue se<br />
comtenha // [Fl. 4] ho sumario <strong>de</strong>sta insttiuição e mais quee semdo caso quue elle<br />
bispo se quueyra sepultar no ditõ Mosteyro <strong>de</strong> Vall Bemfeytõ quue ho posa fazer em<br />
ha crausta como elle pe<strong>de</strong> e em testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> mandaram aquy trelladar a<br />
procuração que he a seguinte:<br />
Sejam certos hos quue esta carta <strong>de</strong> procuração virem em como nos hos rellegiosos<br />
abayxo nomeados e asy<strong>na</strong>dos comvemtuais do Mosteyro <strong>de</strong> Nossa Sennhora da<br />
Comceyçam <strong>de</strong> Vall Bemfeytõ da Or<strong>de</strong>m do bemavemturado padre noso Sam Jeronymo<br />
da Diocixis <strong>de</strong> Lixboa fazemos he instituimos por nosso suficiemte e avomdoso<br />
procurador ao Padre Frey Sabastião prior nosso do ditõ Mosteiro quue elle em nome<br />
seu e nosso e <strong>de</strong> toda ha casa possa aceytar huma capella <strong>de</strong> missas que ho sennhor<br />
bispo Dom Bras quue foy <strong>de</strong> Leyria quer hora instytuir e or<strong>de</strong><strong>na</strong>r no ditõ Mosteiro<br />
da maneyra e com has comdiçois doutra semelhamte capellã quue ho ditõ bispo fez<br />
no Mosteiro do Mato da ditã Or<strong>de</strong>m e Diocixis e com quaisquuer outras quue ao ditõ<br />
padre prior bem parecer pera ho quall possa obriguar ha ditã casa e Mosteiro <strong>de</strong> Val<br />
Bemfeitõ // [Fl. 4v] e aos rellegiosos <strong>de</strong>lle presemtes e futuros a dizerem a ditã capela<br />
pera sempre, o quue prometemos <strong>de</strong> ter todo por bom, firme e vallioso, e <strong>de</strong> asy ho<br />
comprirmos e mantermos pera sempre todo ho quue ho ditõ padre prior he procurador<br />
asi fezer e asemtar com ho ditõ sennhor bispo. E queremos e nos praz quee se pera ho<br />
sobreditõ po<strong>de</strong>r vir [a] melhor aefeitõ aquy forem necesarias <strong>de</strong> se porem allguumas<br />
214 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
crausullas comforme a <strong>de</strong>reyto nos has avemos aquy por postas e supridas tais e quuamtas<br />
forem necesarias. E iso mesmo quueremos e nos apraz quue a esta seja dada<br />
tamta fee e autoryda<strong>de</strong> e seja <strong>de</strong> tamto vallor como se fose feitã por mão <strong>de</strong> notairo<br />
pubriquo e por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> asy<strong>na</strong>mos aquuy todos e ha asellamos com ho sello comvemtuall<br />
do ditõ Mosteiro.<br />
Feitã a tres dias <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eyro <strong>de</strong> mill e quynhemtos e cimcoenta e sete annos. Frey<br />
Fer<strong>na</strong>mdo viguairo, Frey Joam d’Evora, Frey Bras, Frey Dioguo.<br />
E em testemunho <strong>de</strong> asy tudo passar // [Fl. 5] <strong>na</strong> vedra<strong>de</strong> ho ditõ sennhor bispo<br />
he prior mandarão fazer esta nota e dar <strong>de</strong>lla has partes hum e quantos instrumentos<br />
pidirem. Testemunhas que ha ello forão presemtes hos Padres Frei Balltesar e Frey<br />
Ambrosio comvemtuais do ditõ Mosteyro do Mato e ho Padre Frey Bras da Costa<br />
comvemtuall do Mosteiro da Costa da ditã Hor<strong>de</strong>m que todos asy<strong>na</strong>rão com hos ditõs<br />
sennhor bispo e prior.<br />
E eu Pero Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z tabeliam que ho stprevy.<br />
Este estromento <strong>de</strong> imstytuiçam eu sobreditõ Pero Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z publico tabeliam<br />
das notas nesta ditã vylla d’Allamquer e seu termo por el Rey noso senhor bem e<br />
fyellmente fiz tyrar pera o ditõ senhor bispo e concertey e sobesprevy por autorida<strong>de</strong><br />
do ditõ senhor que pera yso tenho e asyney e com a nota que em meu po<strong>de</strong>r fyqua<br />
concertey e aquy <strong>de</strong> meu publico sy<strong>na</strong>ll asyney que tall he.<br />
(Si<strong>na</strong>l do notário). Pagou com nota, caminho e estrebuyção dozentos e cimquenta<br />
reais. // [Fl. 5v]<br />
† O Padre Frei Pedro Barbudo prior do Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Comceição<br />
<strong>de</strong> Val Bemfeito da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Noso Padre Sam Jeronimo e o Padre Frei Damião vigairo<br />
e o Padre Frei Sebastião e o Padre Frei Joam d’Evora e os outros padres e convento<br />
aos que a presente <strong>de</strong>claração virem sau<strong>de</strong> em Noso Senhor Jesu Cristo.<br />
Fazemos saber que vimos a instituição atras escrita e por acharmos estar errada<br />
enquanto diz que o bispo Dom Bras <strong>de</strong> Barros <strong>de</strong>u dozentos e corenta e hum mil reais<br />
pera se dizer a capela como en a dita instituição atras 57 escrita esta dito, nos <strong>de</strong>claramos<br />
e dizemos que a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> he que o dito bispo noso irmão <strong>de</strong>u pera a dita capela<br />
dozentos e cimcoenta mil reais <strong>de</strong> que se comprou os vimte mil reais <strong>de</strong> juro cada<br />
ano. E outros tantos <strong>de</strong>u pela primeira capela que antes <strong>de</strong>sta segunda en a dita casa<br />
tinha instituida. E por todo ser <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> fizemos aqui em as costas <strong>de</strong>sta instituição esta<br />
<strong>de</strong>claração e asi<strong>na</strong>mos <strong>de</strong> nosos si<strong>na</strong>is.<br />
Em oito dias <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> mil e quinhentos e sesenta annos.<br />
E eu Frei Fillippe professo do dito Mosteiro que esto escrevi e asiney.<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
Frey Pedro Barbudo prior.<br />
Frey Damyão <strong>de</strong> Guymarães.<br />
Frei Joam d’Evora.<br />
Frey Sebatsiam.<br />
Frei Dioguo.<br />
57 Riscada a palavra: “estaa”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 215<br />
Reflexões
. história .<br />
Doc. 7<br />
1557 DEZEMBRO, 20, Roma — Bula do papa Paulo IV, dirigido a D. Brás <strong>de</strong><br />
Barros, pela qual, <strong>ver</strong>ificada a renúncia que este fizera ao Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e a sua<br />
condição <strong>de</strong> professo da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Jerónimo, lhe permite que continue a <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>rse<br />
e subscre<strong>ver</strong>-se como“Bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>”, e estabelecendo-lhe, ainda, uma pensão<br />
anua vitalícial, <strong>na</strong>s rendas da mesa episcopal <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, no valor <strong>de</strong> 500 ducados <strong>de</strong><br />
ouro.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com as<br />
numerações antigas: “Mº 5, Nº 73”, “Mº 5, Nº 40” e “Nº 633”. Com bula <strong>de</strong> chumbo<br />
pen<strong>de</strong>nte.<br />
Obs.: documento <strong>de</strong>lido <strong>na</strong>lgumas linhas.<br />
Paulus episcopus servus servorum Dei. Venerabili fratri Blasio Episcopo Leiriensi.<br />
Salutem et apostolicam benedictionem.<br />
Per partem tuam nobis et apostolice sedi <strong>de</strong>votam tuis exigentibus meritie pater<strong>na</strong><br />
benevolentia prosequentes illa tibi favorabiliter concedimus que tuis commoditatibus<br />
fore conspicimus opportu<strong>na</strong>. Cum itaque horis tu regimini et administrationi ecclesie<br />
Leiriensis cum tunc preeras in manibus nostris sponte et libere cesseris nosque cessionem<br />
huiusmodi admittentis ei<strong>de</strong>m ecclesie tunc per cessionem ean<strong>de</strong>m pastoris<br />
solatio <strong>de</strong>stitute <strong>de</strong> perso<strong>na</strong> venerabilis fratris nostri Gaspario episcopi Leriensi nobis<br />
et fratribus nostris ob suorum existemtiam meritorum accepta <strong>de</strong> fratrum eorun<strong>de</strong>m<br />
consilio apostolica auctoritate duxerimus provi<strong>de</strong>ndum proficiendo eum illi in episcopum<br />
et pastorem prout in nostris in<strong>de</strong> confectis litteris plenius continetur. Nos tibi qui<br />
ordinem sancti Hieronimi expresse professus existis ne excessione huiusmodi nimium<br />
dispendia patiaris sed ut statum tuum iuxta pontificalis dignitatis exigentiam <strong>de</strong>cernis<br />
tenere valeas <strong>de</strong> alicuius subventionis auxilio provi<strong>de</strong>re ac premissorum meritorum<br />
tuorum intuitum specialem gratiam facere volentes teque a quibusvis excomunionis<br />
suspensionis et interdicto aliique ecclesiasticis sententiis censuris et penis a iure vel ab<br />
homine quavis occasione vel causa latis siquibus quomodolibet tunc datus existis ad<br />
effectum presentium dumtaxat consequentem harum serie absolventes et absolutam<br />
fore censentes.<br />
Motu proprio non ad tuam vel alterius nobis pro te super hoc oblate petitionis<br />
instantiam sed <strong>de</strong> nostra mera liberalitate tibi nomen et <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>tionem episcopi<br />
Leiriensi ita ut quoad vixeris te episcopum Leiriensem <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>re et inscribere<br />
ac ab aliis <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ri et inscribi possis. Necnom pensionem anuam quingentorum<br />
ducatorum auri cruciatorum nuncupatorum monete in regno Portugallie cursum habentis<br />
super mense episcopalis Leriensis fructibus redditibus et proventibus quorum<br />
medietatem ipsa et alia etiam annuam centum et quinquaginta ducatorum similium<br />
quam officio inquisitionis heretice pravitatis in dicto et Algarbiorum regnis ad certum<br />
tempus ac aliis certis moro et feura tunc expressis necnon alioque subsidio munera (?)<br />
pensiones aliorum quingentium ducatorum etiam similium super fructibus et proventibus<br />
predictis quem ex certis causis etiam tunc expressis fabrice dicte ecclesie etiam<br />
216 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
Doc. 7<br />
. história .<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 217<br />
Reflexões
. história .<br />
ad certum tempus tunc expressum etiam hodie <strong>de</strong> simili consilio ea<strong>de</strong>m auctoritate<br />
reservauimus concessimus et assig<strong>na</strong>uimus et accepimus non excedunt tibi quoad vixeris<br />
vel procuratori tuo ad hoc a te speciale mandatum habenti per dictum Gasparem<br />
episcopum cuius ad hoc expressus accedit assensus et successores suos dicte ecclesie<br />
presules seu administratores pro tempore existentes annis singulis pro u<strong>na</strong> vi<strong>de</strong>licet in<br />
domini nostri Jesu Christi et altera medietatibus pensionis huiusmodi in beati Joannis<br />
Baptiste <strong>na</strong>tivitatum festivitatibus in civitate Ulixbonense integre persolvendam et per<br />
te quoad vixeris percipiendam exigendam et levandam prefata auctoritate tenore presentium<br />
reservamus concedimus ac constituimus et assig<strong>na</strong>mus, <strong>de</strong>cernentes Gasparem<br />
episcopum et successores prefatos ad integram solutionem dictam pensionis tibi<br />
reservate tibi faciendam iuxta reservationis constitutionis et assig<strong>na</strong>tionis predictarum<br />
tenorem fore efficaciter obligatos.<br />
Ac volentes et ea<strong>de</strong>m auctoritatem predictam per eum tunc <strong>de</strong>bitam non persol<strong>ver</strong>it<br />
cum effectu lapsis diebus eos<strong>de</strong>m ingressus ecclesie interdictus existat et donec<br />
tibi vel dicto procuratori <strong>de</strong> pensione huiusmodi per eum tunc <strong>de</strong>bita integre satisffactum<br />
aut aliis tecum vel cum dicto procuratori <strong>de</strong>super amicabiliter concordatum fuerit<br />
preterquam in mortis articulis constitutus interdicti huiusmodi relaxationis beneficium<br />
nequeat obtinere. Si <strong>ver</strong>o per sex menses dictos triginta dies immediate sequentes vel<br />
huiusmodi interdicto animo quod absit permanserit indurato ex tunc effluxis mensibus<br />
eis<strong>de</strong>m a regimine et administratione dicte ecclesie suspensus existat eo ipso. Non<br />
obstantibus institutionibus et ordi<strong>na</strong>tionibus apostolicas ac ipsius ecclesie iuramento<br />
confirmatione apostolica vel quamvis firmitatem alia roboratum etiam aduxis et<br />
consuetudinibus contrariis quibuscumque vel ut si Gaspari episcopo et successoribus<br />
prefatis vel quibusuis aliis communiter vel divisim a predicta sit se<strong>de</strong> indultum quod<br />
ad prestationem vel solutionem pensionis alicuius minime teneantur et ad id compelli<br />
non possint per litteras apostolicas non facientes ple<strong>na</strong>m et expressam ac <strong>de</strong> <strong>ver</strong>bo<br />
ad <strong>ver</strong>bum <strong>de</strong> indulto huiusmodi mentionem. Et qualibet alia dicte sedis indulgentia<br />
generali vel speciali cuiuscumque tenoris existat per quam presentibus non expressam<br />
vel totaliter non insertam effectus huiusmodi gratie impendium valeat quomodolibet<br />
vel differim et <strong>de</strong> qua cuiusque toto tenore habenda sit in nostris litteris incutis specialis.<br />
Nulli ergo omnino hominum liceat hanc pagi<strong>na</strong>m nostre absolutionis reseruationis<br />
concessionis constitutionis assig<strong>na</strong>tionis <strong>de</strong>creti voluntatis et statuti infringere vel ei<br />
ausu temerario contraire. Si quis autem hoc attemptare presumpserit indig<strong>na</strong>tionem<br />
omnipotentis Dei ac beatorum Petri et Pauli apostolorum eius se nouerit incursurum.<br />
Datum Rome apud Sanctum Petrum. Anno Incar<strong>na</strong>tionis Dominice millesimo<br />
quingentesimo quinquagesimo septimo. Tercio<strong>de</strong>cimo kalendas januarum. Pontificatus<br />
nostri anno tercio.<br />
218 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
Doc. 8<br />
1558 AGOSTO, 30, Lisboa – Notícia do mandado real para que se informasse D.<br />
Brás <strong>de</strong> Barros, bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, <strong>de</strong> que estavam sa<strong>na</strong>das as inquietações e <strong>de</strong>mandas<br />
levantadas pelo Cabido da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> contra ele.<br />
TT – Colecção <strong>de</strong> S. Vicente, Livro 10, fl. 397<br />
Manda el Rey nosso senhor que se faça carta pera Dom Bras <strong>de</strong> Barros, bispo<br />
<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, em que lhe sua alteza escreva que vio sua carta sobre a inquietação que o<br />
cabido <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> lhe dava <strong>na</strong> renovação das <strong>de</strong>mandas e duvidas que lhe mo<strong>ver</strong>am. E<br />
porque em tudo <strong>de</strong>seja sua quietação e folgua <strong>de</strong> elle estar consolado, o mandou estranhar<br />
ao dito cabido. O qual se lhe mandou <strong>de</strong>sculpar por <strong>na</strong>m capitullar e lhe escre<strong>ver</strong><br />
que em tudo se conformaria com o que lhe sua alteza encomendace e que não fallaria<br />
mays em as ditas duvidas. O que lhe sua alteza por outra sua carta agar<strong>de</strong>ceo e assi lho<br />
tornou a encomendar. E tem por certo que se lhe não dará mays sobre as ditas dividas<br />
<strong>de</strong>sconsolação nem inquietação alguma. E que lho quis a elle escre<strong>ver</strong> pera que visse<br />
a vonta<strong>de</strong> com que sua alteza a isso acudio e pera que estivesse o dito caso quieto e<br />
seguro e se po<strong>de</strong>sse milhor encomendar a Deus e olhar por sua saú<strong>de</strong>.<br />
Em Lixboa a 30 d’Agosto <strong>de</strong> 1558.<br />
(Assi<strong>na</strong>tura) António Pinheiro.<br />
Doc. 9<br />
1558 NOVEMBRO, 22, Óbidos, igreja <strong>de</strong> Santa Maria — Traslado autêntico,<br />
pelo notário apostólico António Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> Óbidos, dos seguitnes documentos:<br />
A) Petição apresentada, pelo procurador <strong>de</strong> D. Brás <strong>de</strong> Barros, ao vigário <strong>de</strong><br />
Óbidos, e <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong>ste, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1558, Óbidos, para que lhe mandasse<br />
dar cópia autêntica <strong>de</strong> documentos em posse do dito bispo e relativos à instituição<br />
do Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
B) Procuração <strong>de</strong> D. Brás <strong>de</strong> Barros feita a Fr. Paulo, prior do Convento <strong>de</strong> Vale<br />
Benfeito, <strong>de</strong> Óbidos, para o representar <strong>na</strong> recolha das rendas ou pensão a que tinha<br />
direito no Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, em 16 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1558, sem local.<br />
C) Carta do rei D. João III formalizando a instituição do Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> e estabelecendo-lhe<br />
o respectivo quadro <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>s, cónegos e <strong>de</strong>mais corpo capitular,<br />
datada <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1546, Santarém, com novo <strong>de</strong>spacho real, remetendo-a à<br />
Chancelaria, datado <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1547, Lisboa.<br />
D) Traslado <strong>de</strong> <strong>ver</strong>bas e capítulos dos estatutos da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
E) Confirmação, por D. João [do Monte Policiano], núncio apostólico, dos estatutos<br />
da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, lavrada em 21 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1549, Lisboa.<br />
F) Traslado da constituição oitava das Constituições do Bispado <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, já<br />
então impressas em livro <strong>de</strong> letra <strong>de</strong> forma.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, Documento com a<br />
numeração antiga: “Mº 5, Nº 86. Nº 629” e, no fl. 12v: “Mº 5, Nº 92. 1557”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 219<br />
Reflexões
. história .<br />
Trelado da instytuição e ereyção do bispado da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, See <strong>de</strong>la que foy<br />
feita per el Rey Dom Joham terceyro que santa gloria ajaa.<br />
Anno do Nacimento do Noso Senhor Jhesu Christo <strong>de</strong> mill e quynhentos e cynquoenta<br />
e oyto annos, aos vynte e dous dyas do mes <strong>de</strong> Novembro, <strong>na</strong> villa d’Obidos,<br />
<strong>na</strong> igreja <strong>de</strong> Santa Maria, sendo hy presente ho muito honrado Jorge Soarez beneficiado<br />
<strong>na</strong>s igrejas da ditã vyla e vigairo nela e seu aciprestado pello ilustre e muito re<strong>ver</strong>endissimo<br />
senhor ho senhor Dom Fer<strong>na</strong>ndo, arcebispo <strong>de</strong> Lixbõa, do conselho <strong>de</strong>l<br />
Rey noso senhor. Em presença do ditõ vigairo e <strong>de</strong> mym Antonio Ferr<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z esprivão<br />
e notayro apostolyco loguo hy pareceo o Padre Frey Paulo prior do Mosteyro <strong>de</strong> Valle<br />
Bemfeito da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Sam Jheronymo, termo da ditã villa, e apresentou ao ditõ<br />
vigairo huma pytyção per esprito da qual ho treslado <strong>de</strong> <strong>ver</strong>bo a <strong>ver</strong>bo he o seguynte:<br />
[A]<br />
Senhor. Dyz o pryor do Moesteiro <strong>de</strong> Valle Bemfeyto da Or<strong>de</strong>m do Padre Sam<br />
Jeronimo, termo <strong>de</strong>sta vila, que ele como procurador que he <strong>de</strong> Dom Brãs <strong>de</strong> Barros,<br />
bispo <strong>de</strong> Leyria, como consta pela procuração que apresenta, tem necesyda<strong>de</strong> pera<br />
arrequadação <strong>de</strong> suas dividas e fazenda do trelado em pubrico da instituyção e or<strong>de</strong><strong>na</strong>nça<br />
da See do ditõ bispado feyta per elle primeyro bispo, com conselho <strong>de</strong>ll Rey<br />
que santa // [Fl. 1v] gloria aja. E asy <strong>de</strong> certas <strong>ver</strong>bas e capytollos dos estatutos e das<br />
constituyções da ditã See a qual instytuyção e estatutos e constytuyções aquy apresenta<br />
por estarem ainda em po<strong>de</strong>r do ditõ bispo.<br />
Pe<strong>de</strong> a vosa merce que queyra mandar a hum esprivão dante sy ou notayro apostolyco<br />
que lhe <strong>de</strong>e o trelado da ditã instytuyção e dos estatutos e constituyções as<br />
<strong>ver</strong>bas que <strong>na</strong> ditã instytuyção falão. E bem asy <strong>de</strong> o trelado da comysão que pera emprazar<br />
foy feita ao vigairo Dioguo Diãz e dos prazos que com ela fez. E do prazo que<br />
foy feito a Rodriguo Anes morador no Reguenguo da Mageuija do casal do Perulhal<br />
que he treladado per elle vigairo em o livro dos prazos e foy feito pelo convento <strong>de</strong><br />
Santa Cruz ante <strong>de</strong> a igreja <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> ser alevantada em See catredal e<br />
ser a vila <strong>de</strong> Leyria feyta bispado. E asy <strong>de</strong>e fee da confyrmaçao do nuncio dos ditos<br />
estatutos como neles se contem no que recebera merce e justiça.<br />
E apresentada asy a ditã pytição como ditõ he e vista pello ditõ Jorge Soãrez vigairo<br />
pos nela o <strong>de</strong>spacho seguynte:<br />
Mando ha Antonio Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z notayro apostolyco e esprivão dante mym que pase<br />
todos os trellados dos purgamynhos e papes que o sopricante em esta pytição atras<br />
requere, em maneyra que fação imteyra fee. E isto com brevida<strong>de</strong>.<br />
Oje vinte e dous <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1558. Jorge Soãrez.<br />
Ho qual <strong>de</strong>spacho loguo foy pobricado pello dito vygairo e mandou a mym esprivão<br />
e notairo apostolyco que asy ho comprise e treladase todos os ditos papes<br />
interpoendo pera ello sua autorida<strong>de</strong> ordi<strong>na</strong>rya quanto com dirreito <strong>de</strong>via. E os ditos<br />
treslados fosem concertados com elle vygairo. // [Fl. 2] E o dito Frey Paulo prior <strong>de</strong>u<br />
loguo e entreguou a mim ditõ Antonio Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z esprivão e notairo os ditos papes que<br />
avyam <strong>de</strong> ser treladados e os trela<strong>de</strong>y e sam os seguyntes.<br />
Antonio Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z esprivão e notairo que ho esprevy.<br />
220 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
[B]<br />
Trelado da procuração.<br />
Dom Bras <strong>de</strong> Barros bispo <strong>de</strong> Leyria. Aos que a presente procuração virem sau<strong>de</strong><br />
em Noso Senhor Jhesu Christo. Fazemos saber que <strong>de</strong>vendo nos o senhor bispo <strong>de</strong><br />
Leyria, Dom Guaspar do Casal, certa divida como consta per seu conhecimento e<br />
asy tendo nos duzentos mil reais cada anno <strong>de</strong> pensão em as rendas e fruytos do dito<br />
bispado que o ditõ senhor nos he obriguado a paguar e corem este ano <strong>de</strong> Natal pasado<br />
pera diante como consta pella bulla e faculda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>lo temos do Santo Padre.<br />
E alem do sobredyto outras dividas que nos <strong>de</strong>vem, scilicet, o Lecenceado Alvoro<br />
Rodryguez morador em Lixbõa e seu praceyro e outros ren<strong>de</strong>yros rameyros que este<br />
anno que se acabou per Sam Joham este pasado <strong>de</strong> mil e quynhentos e cynquoenta e<br />
oyto forão ren<strong>de</strong>yros do bispado e nos sam obriguados a paguar parte da ditã renda ate<br />
Nossa Senhora <strong>de</strong> Setembro que em boa vira.<br />
Por a qual rezão confyando nos da virtu<strong>de</strong> do Padre Frey Paullo e <strong>de</strong> suas letras<br />
prior <strong>de</strong>ste Mosteyro <strong>de</strong> Val Bemfeyto da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> noso padre Sam Jheronymo pera<br />
todo ho que toca a recadação das ditãs dividas ho fazemos noso procurador abastante<br />
em ho milhor modo e maneyra que o nos po<strong>de</strong>mos fazer e o elle po<strong>de</strong> ser, pera que<br />
ele posa // [Fl. 2v] requerer as ditas dividas aos ditõs <strong>de</strong>vedores e estar com elles a<br />
conta se necesario for, e receber todo o dinheyro e dar quytações ou conhecimentos<br />
do que asy receber.<br />
E bem asy ho fazemos noso procurador e lhe damos po<strong>de</strong>r pera que em noso nome<br />
posa pedir a quaesquer juyzes e justiças asy eclesyasticas como seculares o trelado<br />
<strong>de</strong> quaesquer esprituras ou estatutos ou instytuyção do Bispado <strong>de</strong> Leyria ou outras<br />
quaesquer <strong>ver</strong>bas <strong>de</strong>les. E isto em pubrica forma pera milhor arecadação das nosas<br />
dividas ou pera ho mays que nos for necesario. E fazer todo ho mays que comprir pera<br />
a recadação da ditã fazenda. E queremos que se aquy falta alguma clasula ou clausulas<br />
que se requeyrão <strong>de</strong> dirreito, nollas [sic] avemos aquy por expresas como se <strong>de</strong> <strong>ver</strong>bo<br />
a <strong>ver</strong>bum fosem expresas e insertas. E pedimos por merce a quaesquer justiças asy<br />
eclesyasticas como seculares que ajaam por noso procurador ao padre sobredito.<br />
E tambem lhe damos po<strong>de</strong>r pera sostaballecer outro procurador ou procuradores<br />
com o po<strong>de</strong>r limitado pera procurar a ditã fazenda ou parte <strong>de</strong>la se necesario for e os<br />
revocar quando comprir fycando senpre acerqua <strong>de</strong>lle o oficio <strong>de</strong> nosso procurador<br />
como ditõ he. E asy lhe damos po<strong>de</strong>r pera sostabelecer por nosso procurador ao lecenciado<br />
Alvoro Rodryguez, morador em Lyxbõa, pera arrecadar dos ditõs ren<strong>de</strong>yros<br />
rameyros todo ho que nos <strong>de</strong>vem. E por o trabalho do ditõ lecenceado e seu sostabelecido<br />
procurador pera o que lhe damos po<strong>de</strong>r pera sostabelecer se comprir lhe damos<br />
doze mill reais. E o ditõ lecenceado fara obriguação <strong>de</strong> nos entreguar toda a divida<br />
que hos ditos ren<strong>de</strong>yros rameyros <strong>de</strong>vem // [Fl. 3] ate o primeyro dua <strong>de</strong> Natal que<br />
em bora vinra.<br />
E em fee e testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> mandamos fazer esta procuração per nos asy<strong>na</strong>da<br />
e aselada com o sello que serve ante nos, em <strong>de</strong>zaseys dias do mes d’Aguosto.<br />
Antonio Almeyda o fez per noso mandado. Anno <strong>de</strong> mil e quynhentos e cynquoenta<br />
e oyto.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 221<br />
Reflexões
. história .<br />
A qual procuração ao pee he asy<strong>na</strong>da <strong>de</strong> hum sy<strong>na</strong>l que diz Dom Bras <strong>de</strong> Barros,<br />
bispo <strong>de</strong> Leyria, e aselada com hum selo <strong>de</strong> cera <strong>ver</strong>melha com suas armas.<br />
[C]<br />
Trellado da instytuyção e ereyção do bispado da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyria.<br />
Dom Joham per graça <strong>de</strong> Deus rey <strong>de</strong> Portugual e dos Algarves, daaquem e dalem<br />
maar em Africa, senhor <strong>de</strong> Guyne e da conquysta, <strong>na</strong>veguação e comercio <strong>de</strong> Ethiopia,<br />
Arabia, Persya e da India. A quantos esta mynha carta virem faço saber que eu por<br />
serviço <strong>de</strong> Deus e bem da clerizia e povo da cida<strong>de</strong> e Bispado que ora he <strong>de</strong> Leyria,<br />
supliquey ao Santo Padre Paullo terceyro ora <strong>na</strong> Igreja <strong>de</strong> Deus presy<strong>de</strong>nte que quysese<br />
<strong>de</strong>smembrar e apartar a dita cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyria com seu termo e com suas igrejas,<br />
moesteyros, clerizia e povo e com hos <strong>de</strong>reytos, rendas e jurdição epyscopal do Priorado<br />
moor do Moesteyro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coinbra da Or<strong>de</strong>m dos coneguos regulares<br />
<strong>de</strong> Santo Aguostinho que o ditõ Priorado moor <strong>na</strong> ditã cida<strong>de</strong> e seu termo tynha.<br />
E asy quysese isemtar e apartar do Bispado <strong>de</strong> Coinbra //[Fl. 3v] has igrejas do<br />
termo da ditã cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyria em que ho Bispado da ditã cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coinbra tynha<br />
jurdição epyscopal e levava as colheytas por rezão da vysytação. E asy as terças das<br />
igrejas <strong>de</strong> Sam Miguel das Colmeas, Sam Joham d’Ispite, Sam Christovão da Cranguejeyra<br />
e <strong>de</strong> Sam Symão que ao ditõ bispado <strong>de</strong> Coinbra pertenciam.<br />
E asy lhe sopliquey que alevantase e criase em Igreja cathedral e epyscopal a<br />
igreja <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> da ditã cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyria e lhe <strong>de</strong>se por bispado e<br />
diocese a ditã cida<strong>de</strong> com seu termo e com suas igrejas, moesteyros e clerizia e povo.<br />
E aplicase ao 58 bispo que <strong>de</strong>la fose a jurisdição diocesyma [sic] e epyscopal, <strong>de</strong>reytos<br />
e rendas que no ditõ Priorado e Moesteyro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coinbra <strong>na</strong> ditã cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Leyria e seu termo pertenciam. E asy a jurisdição epyscopal que ao ditõ bispo <strong>de</strong><br />
Coinbra pertencia <strong>na</strong>s ditãs igrejas.<br />
E o Santo Padre a minha instancia e suplicação ouve por bem <strong>de</strong> criar e alevantar<br />
a dita igreja <strong>de</strong> Santa Maria da Pe<strong>na</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyria em Igreja cathedral e<br />
epyscopal e lhe <strong>de</strong>u por diocesy e bispado a ditã cida<strong>de</strong> e seu termo com suas igrejas,<br />
moesteyros, clerizia e povo. E <strong>de</strong>smembrou e apartou a ditã cida<strong>de</strong> e seu termo com<br />
todas has igrejas, moesteyros, clerizia e povo e as suprimio e isentou da superioritate<br />
e jurdição quanto aa ley diocesa<strong>na</strong> que nelas tinhão o prior moor <strong>de</strong> Santa Cruz e o<br />
bispo <strong>de</strong> Coinbra.<br />
E asy quanto aa ley metropolyta<strong>na</strong> da jurisdição que em alguma igrejas // [Fl. 4]<br />
do ditõ termo tinha o arcebispo <strong>de</strong> Bragua e someteo o ditõ Bispado <strong>de</strong> Leyria a ditã<br />
ley metropolyta<strong>na</strong> ao Arcebispado <strong>de</strong> Lixbõa.<br />
E conce<strong>de</strong>o e aplycou ao bispo que pelo tenpo fose da ditã cida<strong>de</strong> e bispado <strong>de</strong><br />
Leyria e jurisdição diocesa<strong>na</strong> e epyscopal que <strong>na</strong> ditã cida<strong>de</strong> e seu termo e luguares,<br />
igrejas, moesteyros, clerizia e povo <strong>de</strong>les tinhão o prior moor <strong>de</strong> Santa Cruiiz, ho bispo<br />
<strong>de</strong> Coinbra. E asy lhe aplicou e conce<strong>de</strong>o todas as rendas que <strong>na</strong> ditã cida<strong>de</strong> e seu<br />
termo e igrejas, clerizia e povo tinha o ditõ prior moor <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
58 Corrigidas as palavras: “bispo que”.<br />
222 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
E suprimio e extinguyo a viguararia e todos os beneficios que <strong>na</strong> dita igreja <strong>de</strong><br />
Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> avia sem prejuyzo das pesoas que os ora tynhão como mays<br />
larguamente <strong>na</strong>s bullas e provisões apostolycas he conteudo.<br />
E a minha apresentação proveo o Santo Padre novamente do ditõ Bispado <strong>de</strong><br />
Leyria a Dom Frey Bras <strong>de</strong> Barros.<br />
E instituyo sua santida<strong>de</strong> que <strong>na</strong> ditã Igreja cathedral <strong>de</strong> Leyria ouvese pera senpre<br />
duas dinida<strong>de</strong>s e quatro conesyas e outras tantas prebendas que se chamasem dos<br />
graduados convem, a saber huma dinyda<strong>de</strong> e duas conesyas com duas prebendas pera<br />
mestres ou alias graduados em teologya e outra dinida<strong>de</strong> e duas conezyas e outras<br />
tantas prebendas pera doutores ou alias graduados em dirreito canoniquo que pelo<br />
tempo se promo<strong>ver</strong>em e graduarem nos ditõs graos <strong>na</strong> Uni<strong>ver</strong>syda<strong>de</strong> jeral <strong>de</strong> Coinbra.<br />
E <strong>na</strong>m avendo theologuos graduados <strong>na</strong> ditã Uni<strong>ver</strong>syda<strong>de</strong> pera mestres em artes em<br />
ela graduados.<br />
Os quaes dinyda<strong>de</strong>s e conisyas com suas prebendas ho // [Fl. 4v] Santo Padre<br />
or<strong>de</strong><strong>na</strong> e manda que se <strong>de</strong>m aos ditõs graduados e <strong>na</strong>m a outras pesoas por autorida<strong>de</strong><br />
ordi<strong>na</strong>ria do ditõ bispo <strong>de</strong> Leyria, que ora he e pello tenpo for, com meu conselho e<br />
dos reys <strong>de</strong> Portugual que pello tenpo forem, nos modos e formas que com meu conselho<br />
por o ditõ bispo for instituydo e or<strong>de</strong><strong>na</strong>do. E que se nom posão pro<strong>ver</strong> per outra<br />
autorida<strong>de</strong> posto que seja apostolyca.<br />
E asy conce<strong>de</strong>o e <strong>de</strong>u po<strong>de</strong>r ao ditõ bispo que com meu conselho e consentymento<br />
criase e instituyse outras dinyda<strong>de</strong>s, conesyas, prebendas e beneficios eclesyasticos<br />
com cura e sem cura que lhe parecesem necesarias e convinientes pera o culto divino<br />
e serviço da dita igreja cathredal <strong>de</strong> Leyria pera os mo<strong>de</strong>rnos viguayro e beneficiados<br />
que hos ora tem e pera has mays pesoas que ao ditõ bispo parecer.<br />
E aplicou e anexou o Santo Padre pera senpre a mesa capitolar da ditã Igreja <strong>de</strong><br />
Leyria as rendas e frutos da viguayraria perpetua da ditã igreja <strong>de</strong> Nosa Senhora da<br />
Pe<strong>na</strong> e asy dos outros beneficios <strong>de</strong>la. E asy aplicou e anexou a ditã mesa capitular<br />
os frutos e rendas das terças <strong>de</strong> Sam Miguel das Colmeas, Sam Joham d’Ispite, Sam<br />
Christovão da Crangueyjeyra e Sam Symão que soya levar o bispo <strong>de</strong> Coinbra. E iso<br />
mesmo aplicou ha ditã mesa capitular as colheytas que soya levar o ditõ bispo <strong>de</strong><br />
Coinbra <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyria e <strong>na</strong>s igrejas do termo da ditã cida<strong>de</strong> que eram da sua<br />
visytação como mays larguamente <strong>na</strong>s ditãs bulas apostolycas he or<strong>de</strong><strong>na</strong>do e <strong>de</strong>clarado.<br />
// [Fl. 5]<br />
Per <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> e autorida<strong>de</strong> das quaes ho ditõ bispo <strong>de</strong> meu conselho e consentimento<br />
criou, instituyo, or<strong>de</strong>nou novamente <strong>na</strong> ditã Igreja cathredal <strong>de</strong> Leyria as dinyda<strong>de</strong>s,<br />
conysyas, prebendas, beneficios e oficios seguyntes convem a saber:<br />
Hum adayado e este sera a dinyda<strong>de</strong> que o samto padre instytuyo e or<strong>de</strong>nou pera<br />
os graduados em dirreito canonyquo e se dara por ele bispo e pellos bispos que pello<br />
tempo forem por autorida<strong>de</strong> ordi<strong>na</strong>ria com meu conselho e <strong>de</strong> meus socesores reys <strong>de</strong><br />
Portugual. E <strong>na</strong>m em outra maneyra segundo forma da bula.<br />
Item hum chantrado.<br />
Item huma tesouraria.<br />
Item hum mestre escolado e este sera pera senpre a dinida<strong>de</strong> pera hum dos gradu-<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 223<br />
Reflexões
. história .<br />
ados em theologya ou em artes graduados <strong>na</strong> ditã Uni<strong>ver</strong>syda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coinbra. E <strong>na</strong>m se<br />
po<strong>de</strong>ra dar a outras pesoas e see pro<strong>ver</strong>a per o ditõ bispo e seus socesores por autorida<strong>de</strong><br />
ordi<strong>na</strong>ria <strong>de</strong> meu conselho e dos reys meus socesores como <strong>na</strong> ditã bulla se contem.<br />
Item hum arcediaguado o qual se chamara da cida<strong>de</strong> e <strong>na</strong>m tera jurisdição alguma<br />
posto que <strong>de</strong> direito a tenha avendo respeyto ao custume doutras Igrejas cathedraes<br />
do Reyno.<br />
Item foy mays <strong>de</strong>clarado pelo ditõ bispo com meu conselho e consentymento que<br />
criava e instituya <strong>de</strong>z coneguos e <strong>de</strong>z meos coneguos e cynquo quarte<strong>na</strong>yros, quatro<br />
moços do coro e hum porteiro da maça e hum guarda da igreja.<br />
Item as dinyda<strong>de</strong>s a<strong>ver</strong>am duas reções em a repartição comum e mays <strong>de</strong> // [Fl.<br />
5v] prestimos o que lhe vier igualmente das tres terças das igrejas <strong>de</strong> Sam Miguel das<br />
Colmeas e Sam Joham d’Ispite e Sam Christovão da Crangueyjeyra que soya levar ho<br />
bispo <strong>de</strong> Coinbra que sua santida<strong>de</strong> aplicou a mesa capytular <strong>de</strong> Leyria. E <strong>na</strong> repartição<br />
<strong>de</strong>stas tres terças <strong>na</strong>m entrarão senão has dinyda<strong>de</strong>s.<br />
Os <strong>de</strong>z coneguos a<strong>ver</strong>ão duas reções cada hum <strong>na</strong> repartição comum.<br />
Os meos coneguos huma reção cada hum como ora tynhão os beneficiados.<br />
Os cynquo quarte<strong>na</strong>yros a<strong>ver</strong>ão mea reção cada hum.<br />
Os quatro moços do coro a<strong>ver</strong>ão cada hum a meta<strong>de</strong> do que leva hum quarte<strong>na</strong>rio.<br />
O porteyro da maça outro tanto como hum moço do coro.<br />
E o guarda da igreja levara outro tanto.<br />
E a<strong>ver</strong>a dous priostes que levarão duas reções como te quy levarão cada hum sua<br />
salvo querendo o cabido meter has ditãs duas reções em sua repartição e arrecadar a<br />
ditã renda per outra via.<br />
E porque as reções que fazem os beneficiados ao presente <strong>na</strong>m sam mays <strong>de</strong> corenta<br />
e tres e pela repartição acima feita se requerem corenta e seys, as tres que fallecem<br />
se farão da terça <strong>de</strong> Sam Symão que iso mesmo soya levar o bispo <strong>de</strong> Coinbra<br />
e sua santida<strong>de</strong> aplicou a mesa capitullar <strong>de</strong> Leyria. E o que mays faltar quer o ditõ<br />
prelado perfazer doutra renda <strong>de</strong> sua mesa.<br />
Item porque sua santida<strong>de</strong>, posto que extyngua os beneficios <strong>de</strong> Nosa Senhora da<br />
Pe<strong>na</strong>, a por bem que dos beneficiados da dita igreja se // [Fl. 6] provejam aquelles que<br />
a mym e ao bispo parecerem mays idonios das conisyas que se novamente criarem,<br />
e aos que <strong>na</strong>m forem providos em coneguos se <strong>na</strong>m faça 59 prejuyzo em os frutos dos<br />
beneficios que ora tem, se não po<strong>de</strong>riam ao presente criar as quatro conisyas com suas<br />
prebendas pera os graduados por hos ditõs beneficiados serem corenta e <strong>na</strong>m a<strong>ver</strong> com<br />
que as satysfazer, senão com has ditãs conesyas que se novamente criarão, e com hos<br />
que <strong>na</strong>m forem providos lhe ficarem os fruytos <strong>de</strong> seus beneficios.<br />
E porem or<strong>de</strong>nou ele bispo <strong>de</strong> meu conselho e consentimento que as primeyras<br />
conesyas que vaguarem sejão pera os ditõs graduados. E tanto que alguma vaguar ele<br />
bispo mo fara saber pera <strong>de</strong> meu conselho a pro<strong>ver</strong> a algum dos ditos graduados ate se<br />
pro<strong>ver</strong>em as ditãs quatro conesyas. E <strong>de</strong>spoys que huma vez forem providas aos ditõs<br />
graduados vaguando polo tenpo as ditãs conesyas senpre serão providas pollo dito<br />
59 Palavra corrigida <strong>de</strong>: “façam”.<br />
224 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
bispo <strong>de</strong> meu conselho a graduados theologuos ou canonistas sem se porem pro<strong>ver</strong><br />
outras pesoas conforme a bula.<br />
Item se or<strong>de</strong>nou por ho ditõ bispo <strong>de</strong> meu conselho e consentymento que soo as<br />
dinida<strong>de</strong>s e coneguos que se ora novamente pro<strong>ver</strong>em e polo tenpo forem fação // [Fl.<br />
6v] cabido e <strong>na</strong>m os meos coneguos nem quarte<strong>na</strong>rios nem beneficiados que ora sam.<br />
E porem os ditos beneficiados que ora sam e <strong>na</strong>m forem providos <strong>de</strong> conesyas<br />
a<strong>ver</strong>ão suas reções em suas vidas como as ora tem enquanto os ditõs beneficios que<br />
asy tem <strong>na</strong>m vaguarem porque vaguando em quallquer modo ficão extintos e supresos<br />
segundo forma da bulla.<br />
E porem elles beneficiados serviram <strong>na</strong> igreja como e da maneyra que ate quy<br />
serviram.<br />
Item porque ao presente <strong>na</strong>m a<strong>ver</strong> don<strong>de</strong> se provejam as dinyda<strong>de</strong>s que se novamente<br />
criarão das duas reções que ham d’a<strong>ver</strong> e os prestemos que lhe vem das tres<br />
terças he cousa pouca or<strong>de</strong>nou ho ditõ bispo <strong>de</strong> meu conselho que asy como forem<br />
vaguando as reções se aplicem as rendas <strong>de</strong>las as dinida<strong>de</strong>s e se repartam antre elas<br />
igualmente sem se aplicar mays a huma que a outra tee serem cada huma dynida<strong>de</strong> as<br />
duas reções que ha d’a<strong>ver</strong>. Iso mesmo as reções dos absentes ce<strong>de</strong>ram em favor das<br />
dynida<strong>de</strong>s tee a<strong>ver</strong>em has ditãs duas reções cada hum.<br />
E <strong>de</strong>spoys <strong>de</strong> as dinida<strong>de</strong>s terem ha ditã renda inteyramente se aplicara a renda das<br />
reções que primeyro vaguarem aos dous oficiaes, scilciet, porteiro e guarda e moços<br />
do coro. E <strong>de</strong>s hy aos quarte<strong>na</strong>rios. E tanto que os oficiaes moços do coro e quarte<strong>na</strong>rios<br />
te<strong>ver</strong>em a renda que ham d’a<strong>ver</strong> per esta instituyção todas has mays rações que<br />
vaguarem ce<strong>de</strong>ram // [Fl. 7] em favor dos coneguos e se repartirão entre elles igualmente<br />
tee a<strong>ver</strong> cada huum suas duas reções.<br />
E cheos os coneguos as <strong>de</strong>z reções que ficarem se constytuyrão em meas conesyas<br />
e <strong>de</strong>sta maneyra fica cheo o numero <strong>de</strong> trinta e seys pesoas que a d’a<strong>ver</strong> <strong>na</strong> ditã Igreja<br />
segundo consta pola creação que acima fica feyta. E ficão repartidas por estas trinta<br />
e seys pesoas as corenta e seys reções que se ham <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> toda a renda do cabido<br />
com a<strong>ver</strong> cada hum o que a d’a<strong>ver</strong>.<br />
E porem vaguando alguma conesya loguo se pro<strong>ver</strong>a com a mesma reção que te<strong>ver</strong><br />
sem ce<strong>de</strong>r a tall reção em favor das dinida<strong>de</strong>s ainda que estem por encher. E porem<br />
o coneguo que asy for provido esperara pela outra reção que ha d’a<strong>ver</strong> como esperaria<br />
o coneguo em cujo luguar soce<strong>de</strong>o.<br />
E porque o terço que levavão os beneficiados <strong>de</strong> Nosa Senhor[a] da Pe<strong>na</strong> das rendas<br />
<strong>de</strong> Leyria e seus termos e que ora ham <strong>de</strong> levar as dinida<strong>de</strong>s e coneguos foy dado<br />
aos ditõs beneficiados por servirem a Igreja no espritual e eram obriguados a confesar<br />
e administrar os sacramentos se or<strong>de</strong>nou per o ditõ bispo, com meu conselho, que as<br />
dinida<strong>de</strong>s e coneguos e meos coneguos serão obriguados a curar convem a saber a<br />
confesar <strong>na</strong> Coresma e nos outros tenpos quando lhe for mandado per o bispo ou seu<br />
vigairo. E quanto aos mays sacramentos da unção, dar e levar o Santisymo Sacramento<br />
e fazer casamentos e bautizar, o cura os administrara. E os meos coneguos e quarte<br />
// [Fl. 7v] <strong>na</strong>rios o acompanharão. E iso mesmo os meos coneguos e quarte<strong>na</strong>rios irão<br />
pellos <strong>de</strong>funtos e os trarão a porta da igreja e os receberão as dinida<strong>de</strong>s e coneguos.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 225<br />
Reflexões
. história .<br />
Item o mestre escola ensy<strong>na</strong>ra aos cleriguos e pobres gramatica e isto por or<strong>de</strong><strong>na</strong>nça<br />
do bispo e em os tenpos e oras que lhe ele or<strong>de</strong><strong>na</strong>r. E ensy<strong>na</strong>ndo por sy <strong>na</strong>m sera<br />
obriguado ao coro senão aos domynguos e dias santos que <strong>na</strong>m ensy<strong>na</strong>r.<br />
E iso mesmo as dinida<strong>de</strong>s ou coneguos que preguarem per or<strong>de</strong><strong>na</strong>nça do ditõ bispo<br />
<strong>na</strong>m serão obriguados ao coro a soma<strong>na</strong> que estudarem pera preguar.<br />
Item os absentes <strong>na</strong>m vencerão cousa alguma antes seram <strong>de</strong>scontados em as<br />
rendas <strong>de</strong> seus beneficios sem porem poer iconomos. E das rendas e suas reções se<br />
soprirão as dinida<strong>de</strong>s ou os que este<strong>ver</strong>em por satysfazer conforme ao modo que acima<br />
fica <strong>de</strong>clarado.<br />
E sendo tudo cheo no numero que a d’a<strong>ver</strong> <strong>na</strong> ditã igreja se partirão por os presentes<br />
ou se poerão por o bispo pesoas que suprão a falta dos absentes se a Igreja<br />
pa<strong>de</strong>cer <strong>de</strong>trimento no serviço do culto divino conforme ao que parecer ao ditõ bispo.<br />
E aos que asy ho ditõ bispo poser em luguar dos absentes dara o salayro que lhe bem<br />
parecer dos ditõs beneficios dos absentes e se alguma cousa remanecer se partira pelos<br />
presentes.<br />
E porque ate ora as rendas dos beneficios da ditã Igreja senpre foram aplicadas a<br />
<strong>de</strong>stribuyções // [Fl. 8] cotidia<strong>na</strong>s por o que os presentes que <strong>na</strong>m foram interesentes<br />
serão <strong>de</strong>scontados em toda a renda <strong>de</strong> seus beneficios conforme a constituyção <strong>de</strong><br />
Dom Pedro bispo da Guarda que foy comendatario <strong>de</strong> Santa Cruz. E este <strong>de</strong>sconto se<br />
fara per oras no que for or<strong>de</strong><strong>na</strong>do que se vença em cada huma das ditãs oras. E os que<br />
<strong>na</strong>m forem a algumas oras <strong>na</strong>m <strong>de</strong>yxarão <strong>de</strong> ser contados <strong>na</strong>s outras oras a que forem<br />
presentes nem nos beneses em que iso mesmo forem presentes senão soomente <strong>na</strong>s<br />
oras em que <strong>na</strong>m foram presentes serão <strong>de</strong>scontados.<br />
Item <strong>na</strong> dita bula e letras da criação e ereyção se contem que a viguayria da ditã<br />
Igreja era peque<strong>na</strong> e se aplicão as rendas e beneses <strong>de</strong>la a mesa do cabido, o que<br />
foy por ao Santo Padre <strong>na</strong>m ser dada informação do que era <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>. He porque os<br />
viguayros sempre forão postos e removiveis assuptum do prior moor do Mosteyro <strong>de</strong><br />
Santa Cruz e os beneses e rendas <strong>de</strong> que se sostentavão pertenciam ao ditõ Priorado<br />
pollo que por o Santo Padre conce<strong>de</strong>r e aplicar a mesa epyscopal do Bispado <strong>de</strong> Leyria<br />
todos os beneses e rendas e <strong>de</strong>reytos que pertenciam ao ditõ Priorado <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
os beneses e rendas que os viguayros tee ora traziam e levavão pertencem a mesa<br />
epyscopal do ditõ bispo <strong>de</strong> Leyria e <strong>na</strong>m po<strong>de</strong>m pertencer a mesa do cabido posto que<br />
<strong>na</strong> bula venhão a ditã mesa do cabido aplicados per não boa enformação. E por o ditõ<br />
bispo po<strong>de</strong>r levar os ditõs beneses e rendas por lhe pertenserem como ditõ he por tyrar<br />
duvidas man<strong>de</strong>y fazer esta <strong>de</strong>claração.<br />
Item porque // [Fl. 8v] entre os beneses que sua santida<strong>de</strong> aplica ao ditõ cabido<br />
<strong>de</strong> Leyria sam as colheytas que o bispo <strong>de</strong> Coinbra tynha em Leyria por fazer os<br />
oficios pontificaes <strong>na</strong>s cynquo igrejas que soyam ser do Bispado e Coinbra, as quaes<br />
colheytas levava por as visytar, e o prior moor <strong>de</strong> Santa Cruz as paguava por ser prior<br />
das ditãs cynquo igrejas. E porque o bispo <strong>de</strong> Leyria fiqua prelado em Leyria e <strong>na</strong>s<br />
ditãs cynquo igrejas e a <strong>de</strong> servir os encarguos <strong>de</strong> visytar como visytava o bispo <strong>de</strong><br />
Coinbra. E iso mesmo fiqua prior e prelado asy em Leyria como <strong>na</strong>s cynquo igrejas<br />
parece gran<strong>de</strong> inconveniente que como bispo visyte e mays pague as colheytas que<br />
226 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
soya a paguar o prior moor ao seu mesmo cabido sendo a colheyta dirreito que se ha<br />
<strong>de</strong> dar ao visytador, o que he contra dirreito e rezão. E parece que sua santida<strong>de</strong> não<br />
teve <strong>de</strong>lo inteyra enformação e sobre o caso lhe tenho suplicado que asy o queyra<br />
conce<strong>de</strong>r como acima ditõ he. E portanto o cabido <strong>na</strong>m a<strong>ver</strong>a has ditãs colheytas.<br />
Item porque a igreja <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong>, que he a cabeça, esta em huma<br />
rocha muy alta hon<strong>de</strong> esta o castello rocheyro da cida<strong>de</strong> e o povo não po<strong>de</strong> hyr comodamente<br />
a ela como por experiencia se vee. E tambem por ser peque<strong>na</strong> não he<br />
capaz <strong>de</strong> todo o povo po<strong>de</strong>r ouvyr nela os oficios divynos he necesario fazer se igreja<br />
convinyente e em luguar on<strong>de</strong> comodamente e com menos opresam posa hyr ouvyr o<br />
povo os oficios <strong>de</strong>vinos. Consyradas bem todas as rezões e inconvynientes se or<strong>de</strong><strong>na</strong>r<br />
que ajaa huma // [Fl. 9] soo freguesya e pera iso se faça huma igreja gran<strong>de</strong> e nobre, a<br />
qual se fara em bayxo on<strong>de</strong> chamão a Or<strong>de</strong>m em meo danbas as povoações pera que<br />
asy os da Varzea como os da Ponte posam hyr a ella.<br />
E porque ha ditã See, por ser e<strong>de</strong>ficio nobre, se posa fazer com muyta perfeyção<br />
e ao diante asy ela como has outras igrejas a que o bispo he obriguado a fabriqua<br />
posam ser bem repayradas, <strong>de</strong> meu conselho e consentymento o ditõ bispo or<strong>de</strong>nou<br />
que pera a ditã fabriqua ouvese renda apartada e que pera o feitõ do sobreditõ queria<br />
dar e apartar da See rendas <strong>de</strong> sua mesa epyscopal. Rendas que pouco mays ou menos<br />
valesem duzentos mil reais.<br />
A qual renda ele nomearia e asy<strong>na</strong>ria as propyeda<strong>de</strong>s em que asy lha dava e apartava<br />
com tal intendimento que a ditã renda que asy for apartada se empraze e arren<strong>de</strong><br />
per o bispo e duas dinida<strong>de</strong>s abayxo ditas e se meta em huma arqua com tres fechaduras,<br />
das quaes huma chave tera o bispo ou quem ele manda. E outra tera o chantre<br />
e outra o tesoureyro e dahy em presença das tres poesoas que estas chaves ham <strong>de</strong> ter<br />
per mandado do bispo se paguarão os oficiaes e acheguas ou todas as outras cousas<br />
<strong>de</strong> or<strong>na</strong>mentos que forem necesarios a fabriqua da ditã See e igrejas sobreditãs. E sua<br />
santida<strong>de</strong> ho confyrmou asy como ditõ he, coo as pe<strong>na</strong>s que poera ao bispo e dinyda<strong>de</strong>s<br />
// [Fl. 9v] sobreditas que o contrayro fyzerem.<br />
E porque todo ho acima ditõ foy feito, or<strong>de</strong><strong>na</strong>do e instytuydo pollo ditõ bispo<br />
Dom Frey Bras <strong>de</strong> Barros, com meu conselho e consentimento, segundo forma da ditã<br />
bulla do Santo Padre, man<strong>de</strong>y pasar esta minha carta asy<strong>na</strong>da per mim e aselada do<br />
meu sello <strong>de</strong> chumbo.<br />
Dada em a villa <strong>de</strong> Santarem, a vinte e quatro dias do mes <strong>de</strong> Outubro. Joham <strong>de</strong><br />
Seyxas a fez. Anno do Nacimento <strong>de</strong> Noso Senhor Jhesu Christo <strong>de</strong> mill e quynhentos<br />
e quorenta e seys. Manuell da Costa a fez espre<strong>ver</strong>.<br />
A qual carta ao pee he asy<strong>na</strong>da <strong>de</strong> hum sy<strong>na</strong>l que dyz ell Rey e loguo tem abayxo<br />
huma sobescrição que dyz asy:<br />
Ey por bem que esta carta pase pella chancellaria posto que seja pasado o tenpo<br />
em que avia <strong>de</strong> pasar e paguara a chancellaria syngela soomente.<br />
Em Lixbõa, a xiiij d’Outubro <strong>de</strong> j — b c Rbij.<br />
E ao pee asy<strong>na</strong>da com as guardas do sy<strong>na</strong>l sobreditõ <strong>de</strong>ll Rey.<br />
A qual instituyção he esprita em purgaminho e sam, sem ter nenhuma cousa que<br />
faça duvida e com huum sello <strong>de</strong> chumbo pen<strong>de</strong>nte per cordão branquo e azull diguo<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 227<br />
Reflexões
. história .<br />
<strong>ver</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seda <strong>de</strong> retroz, no qual sello pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> chumbo estão fixas as armas e sy<strong>na</strong>is<br />
<strong>de</strong>ll Rey. E <strong>na</strong>s costas asyllada e pasada pella chancellaria e diz que pasou a vinte<br />
dias <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> mill e quynhentos e quorenta e sete annos. E hum sy<strong>na</strong>l que dyz:<br />
Pero Guomez. E mays abayxo diz: E aos oficiaes setecentos e vinte reais. E do cordão<br />
sesenta reais. E outra postilha dyz: Recebida <strong>na</strong> chancellaria. E mays abayxo hum sy<strong>na</strong>ll<br />
que diz: Petrus. E era pasada e autorizada e asy<strong>na</strong>da pellas pesoas da chancellaria<br />
segundo se todo nella contynha. E tudo eu ditõ Antonio Ferr<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z esprivão e notairo<br />
apostolyco trella<strong>de</strong>y da ditã propia instituyção que pera iso me foy dada, // [Fl. 10]<br />
[D]<br />
Trelado das <strong>ver</strong>bas e capytollos dos estatutos da ditã See e Bispado <strong>de</strong> Leyria que<br />
o ditõ prior pedio.<br />
Verba do primeyro capytolo.<br />
Loguo per o ditõ senhor bispo e o ditõ cabido foy ditõ que era <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> que por<br />
a Igreja da ditã cida<strong>de</strong> ser ora novamente levantada em cathedral por o Santo Padre<br />
Paulo papa terceyro noso senhor e ser feito bispo <strong>de</strong>la, dignida<strong>de</strong>s, coneguos he outros<br />
beneficiados como mays larguamente constava per a instytuyção que per o ditõ bispo<br />
com conselho <strong>de</strong>ll Rey noso senhor a quem sua santida<strong>de</strong> o cometeo he feita e por<br />
a<strong>ver</strong> necesida<strong>de</strong> pera boom regymento da dita igreja e cabido <strong>de</strong> se fazerem novos<br />
estatutos como tem todas as sees cathedraes ele ditõ senhor bispo d’acordo e consentimento<br />
do dito cabido fyzera os estatutos infra espritos.<br />
Verba do segundo capitolo.<br />
Item porque em a instytuyção que authoritate apostolyca <strong>de</strong> conselho <strong>de</strong>ll Rey<br />
meu senhor fyzemos em o principyo <strong>de</strong> nosa promoção que esta aceytada por o cabido<br />
foy provido que em a dita igreja ouvese trinta beneficiados, scilicet, cynquo dinida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong>z coneguos, <strong>de</strong>z meos coneguos e cynquo quarte<strong>na</strong>yros. E as dinyda<strong>de</strong>s soomente<br />
foram sy<strong>na</strong>das prece<strong>de</strong>ncias entre huns e outros, estatuymos e or<strong>de</strong><strong>na</strong>mos d’acordo e<br />
consentymento do ditõ cabido que entre os coneguos precedão as or<strong>de</strong>ens humas as<br />
outras, scilicet, os presbiteros aos diaconos e os diaconos aos subdiaconos e os subdiaconos<br />
aos cleriguo. E porem entre os <strong>de</strong> huma mesma or<strong>de</strong>m prece<strong>de</strong>rão os mays<br />
antiguos em // [Fl. 10v] a igreja. E per o ditõ modo se guardaram as prece<strong>de</strong>ncias entre<br />
os meos coneguos e quarta<strong>na</strong>yros.<br />
Verba do nono capitolo.<br />
Item posto que em a instytuyção <strong>de</strong>sta Igreja seja cauto que o cura acompanhado<br />
dos meos coneguos e quarta<strong>na</strong>yros administrara os sanctos sacramentos da comunhão<br />
e hunçam dos enfermos. E as dinida<strong>de</strong>s coneguos e meos conegos confesarão per or<strong>de</strong><strong>na</strong>nça<br />
do bispo, nos d’acordo e consentimento do ditõ cabido <strong>de</strong>clarando e ema<strong>de</strong>ndo<br />
mays em favor da ditã intytuyção or<strong>de</strong><strong>na</strong>mos e instituymos que quando os taes sacramentos,<br />
scilicet, da sancta cumunhão e hunção se levarem aos enfermos que esti<strong>ver</strong>em<br />
em a cida<strong>de</strong> ou em luguares contiguos a ela sejam os curas que os levarem acompanhados<br />
ao menos <strong>de</strong> quatro beneficiados e <strong>de</strong> hum moço do coro. E a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes quatro<br />
228 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
serão das dinida<strong>de</strong>s e coneguos e a outra meta<strong>de</strong> sera dos meos coneguos e quarta<strong>na</strong>yros<br />
e pera esto serão todos asy or<strong>de</strong><strong>na</strong>dos per soma<strong>na</strong>s que jaamays posa a<strong>ver</strong> falta.<br />
Verba do capitolo xbiij.<br />
E loguo per elles dinida<strong>de</strong>s e coneguos foy ditõ que elles consentiam e aceptavam<br />
a instytuyção que autoritate apostolyca per o ditõ senhor bispo seu prelado fora feyta<br />
com conselho <strong>de</strong>ll Rey noso senhor.<br />
As quaes <strong>ver</strong>bas e capitolos que asy foram asy<strong>na</strong>dos e nomeados pello ditõ Frey<br />
Paulo prior do ditõ Moesteyro <strong>de</strong> Val Bemfeito procurador do ditõ senhor Dom Bras<br />
<strong>de</strong> Barros bispo. Eu ditõ Antonio Ferr<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z esprivão e notairo apostolyco trella<strong>de</strong>y<br />
do propio livro dos estatutos da dita See e bispado que me foy dado ho quall era autorizado<br />
e feito em pubrico em hum livro em purguaminho e nele era ha confyrmação<br />
do nuncio que se adiante segue. // [Fl. 11]<br />
[E]<br />
Trelado da confirmação do nuncio.<br />
Johannes Dei et apostolice sedis gratia archiepiscopis Sipontinus. In Regno Portugalie<br />
eius<strong>de</strong>m sedis cum pietate legati <strong>de</strong> latere nuntius. Ad perpetuam rei memoriam.<br />
Exposcit <strong>de</strong>bitum nobis, ab apostolica se<strong>de</strong> iniunctum, ut ea que pro administratione<br />
regimen et guberno cathedralium ecclesiarum intra limites nostre legationis consistentium<br />
facta fuisse dicuntur cum <strong>de</strong> nobis petitur apostolico munimine fulciamus,<br />
exhibita siquy<strong>de</strong>m nobis nuper pro parte infrascriptorum re<strong>ver</strong>endi in Christo patris<br />
mo<strong>de</strong>rni episcopi, et dilectorum in Christo capituli leirensi, petitio continebat quod<br />
alias pro bono regimine ecclesie Leirienses et allius capituli ipsi in unum congregati<br />
quedam statuta et seu ordi<strong>na</strong>tiones edi<strong>de</strong>runt quorum tenor requiritur et est tallis. Cum<br />
autem ea<strong>de</strong>m petitio subingebat ea formis subsistant que apostolico munimine roborantur,<br />
pro parte eorun<strong>de</strong>m episcopi et capituli nobis humiliter supplicatum extetit ut<br />
sibi in premissis opportune proui<strong>de</strong>re <strong>de</strong> benignitate apostolica dig<strong>na</strong>remur.<br />
Nos igitur qui ad infra scripta sufficienti facultate suffulti sumus huiusmodi supplicationibus<br />
incli<strong>na</strong>ti premissa omnia et singula statuta et seu ordi<strong>na</strong>tiones et alia in<br />
prescripto et inserto instrumento contenta sacris canonibus non contraria apostolica<br />
auctoritate qua fungimur in hac parte tenorem presentium approbamus et confirmamus,<br />
supplentes omnes et singulas tam iuris quam facti <strong>de</strong>fectus, siqui forsam interuenerint<br />
in eas<strong>de</strong>m; non obstantibus premissis ac constitutionibus et ordi<strong>na</strong>tionibus, tam<br />
sinodalibus quam apostolicis, necnon dicte ecclesie etiam iuramento confirmationis<br />
apostolica uel quauis firmitatem alia roboratis statutis et consuetudinibus ceterisque<br />
contrariis quibuscumque.<br />
In quorum fi<strong>de</strong>m has presentes literas manu nostra propria subscriptas fieri nostrique<br />
sigilli quod in talibus utimur impressione communiri iussimus.<br />
Datum in edibus nostre solite presi<strong>de</strong>ntie prope et extra muros Ulixbonensis.<br />
Anno Incar<strong>na</strong>tione Domini millesimo quingentesimo quadragesimo nono. Kalendas<br />
Junii. Pontificatus santissimi domini nostri Pauli diui<strong>na</strong> proui<strong>de</strong>ntia pape tercii anno<br />
quinto<strong>de</strong>cimo.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 229<br />
Reflexões
. história .<br />
A qual confir // [Fl. 11v] mação esta esprita da maneira que ditõ he no ditõ livro<br />
dos estatutos da ditã See <strong>de</strong> Leyria, e ao pee asy<strong>na</strong>da <strong>de</strong> hum sy<strong>na</strong>l que diz Joannes<br />
archiepiscopus Sipontinus nuncius apostolycus. E outro sy<strong>na</strong>l mays que diz Joanis<br />
Quyncius abbreviator. E sellada <strong>de</strong> hum selete <strong>de</strong> cera <strong>ver</strong>melha empreso nelle suas<br />
armas do dito nuncio.<br />
[F]<br />
Trelado da constytuyção oytava que outrosy pedirão o ditõ procurador do ditõ<br />
senhor bispo que he a seguynte.<br />
Quando se po<strong>de</strong>ra usar das constituyções do metropolitano, constituyção biij.<br />
Estabelecemos e mandamos que aquellas cousas que per estas constytuyções <strong>na</strong>m<br />
forem providas asy quomo ao procesar dos feitos aa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> juyzo como em o mays<br />
ho noso provysor e vygairo usem e julguem pellas constituyções do muito ilustre e<br />
re<strong>ver</strong>endisymo senhor arcebispo <strong>de</strong> Lixbõa nosso metropolytano.<br />
E bem asy mandamos que se acontecer em alguma parte estas constituyções <strong>na</strong>m<br />
conformarem com hos estatutos e instituyção <strong>de</strong> nosa Igreja que em tal caso se guar<strong>de</strong>m<br />
os ditõs estatutos e instytuyção.<br />
A qual constituyção e capytolo esta no Livro das Constituyções do ditõ Bispado <strong>de</strong><br />
Leyria, o qual livro he em letra <strong>de</strong> forma enca<strong>de</strong>r<strong>na</strong>do e autorizado e asy<strong>na</strong>do pelo ditõ<br />
senhor Dom Bras <strong>de</strong> Baros, bispo que as fez e foram pobricadas no cabido e casa em que<br />
se fez, <strong>na</strong> ditã Se <strong>de</strong> Leyria, e aceytadas pellas dinida<strong>de</strong>s e coneguos e clerezia segundo<br />
no fim <strong>de</strong>llas esta, per termos, dizendo que antes que fosem emprimidas o dito senhor<br />
bispo as praticara e mostrara e as aceytarão então e as aceytavão como ditõ tynhão.<br />
A qual instituyção e procuração e <strong>ver</strong>bas <strong>de</strong> capitollos dos estatutos e confirmação<br />
do nuncio e capitolo <strong>de</strong> constituyção todo acima conteudo eu Antonio Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z, cleriguo<br />
notairo apos // [Fl. 12] tolyquo autoritate apostolyca e esprivão ante o vygairo<br />
em esta villa d’Obidos e seu aciprestado pello ilustre e muito re<strong>ver</strong>endissimo senhor<br />
ho senhor Dom Fer<strong>na</strong>ndo arcebispo <strong>de</strong> Lixbõa, trela<strong>de</strong>y bem e fyellmente da propia<br />
instytuyção e Livro d’Estatutos em o qual esta a ditã propia confirmação do nuncio<br />
e do propio Livro das Constituyções tudo do ditõ Bispado e See da ditã cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Leyria. E da propia procuração que tudo me foy dado pera por elas pasar este treslado<br />
que com hos ditõs propios concertey e com ho ditõ Jorge Soãrez vigairo da vara <strong>na</strong><br />
dita vila pelo ditõ senhor arcebispo <strong>de</strong> Lixbõa.<br />
E vay este treslado esprito em doze meas folhas <strong>de</strong> papel com esta em que asynou<br />
ho ditõ vigairo. E eu ditõ notairo <strong>de</strong> meu sy<strong>na</strong>ll pubrico que tal he, roguado e requerido.<br />
E diguo eu notairo e dou minha fee os estatutos conteudos no ditõ livro da ditã<br />
See e Bispado <strong>de</strong> Leyria sam confirmados pello ditõ Nuncio que sinou, jurados pellos<br />
ditõs dinida<strong>de</strong>s e coneguos e clerizia da ditã See <strong>de</strong> Leyria segundo nelles se contem<br />
em no ditõ livro que he em pubriquo.<br />
(Assi<strong>na</strong>tura)<br />
Concertado comiguo: Jorge Soarez.<br />
230 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
(Si<strong>na</strong>l do notário com a inscrição em filactério: A(ntonius). Fer(<strong>na</strong>ndi). N(otarius).<br />
Ap(ostolica). Aut(oritate) ) . // [Fl. 12v]<br />
Trellado da instituição e ereição do Bispado <strong>de</strong> Leirea e See <strong>de</strong>lla que foy feito per<br />
el Rey Dom Joam terceiro que aja gloria.<br />
Do senhor bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
Doc. 10<br />
1558 NOVEMBRO, 24, Óbidos, Convento <strong>de</strong> Vale Benfeito – D. Frei Brás <strong>de</strong><br />
Barros institui uma capela <strong>de</strong> seis missas sema<strong>na</strong>is, no Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>longa, da<br />
Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Jerónimo, para a qual faz dotação <strong>de</strong> 250 mil reais. Três <strong>de</strong>ssas missas<br />
seriam celebradas por intenção <strong>de</strong> D. João III, D. Catari<strong>na</strong> e D. Sebastião, e as restantes<br />
pelo instituidor e seus pais.<br />
TT – Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, documento com as numerações<br />
antigas: “Mº 5, Nº 95” e “Nº 659”.<br />
Em nome <strong>de</strong> Deus amen.<br />
Saibhão quantos este intromento <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> misas e capella virem que no<br />
anno do Nacimento <strong>de</strong> Nosso Senhor Jhesuu Christo <strong>de</strong> mill e quynhemtos e cimcoenta<br />
e oito annos aos vimte e quoatro dias do mês <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong>mtro no Mosteiro<br />
da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Sam Geronimo da vocação <strong>de</strong> Nosa Senhora da Comceição setuado em<br />
Vall Bemffeito termo da nobre villa d’Obidos, <strong>de</strong> Dioxesis do Arcebispado <strong>de</strong> Lixbõa,<br />
em a cassa ou cella hom<strong>de</strong> ora poussa ho senhor bispo Dom Bras <strong>de</strong> Barros fra<strong>de</strong> da<br />
dita Or<strong>de</strong>m primeiro bispo que foy da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> ct, estamdo elle hy presente e<br />
asy ho Padre Frey Manoell do Castello <strong>de</strong> Vi<strong>de</strong> prior do Mosteiro da Pe<strong>na</strong>llomga da<br />
dita Ordim e Dioxesis.<br />
E loguo pello dito bispo foy dito em presença <strong>de</strong> mim taballiam e testemunhas ao<br />
diamte nomeadas que elle em louvor e por serviço <strong>de</strong> Nosso Senhor institoira ora em<br />
ho dito Mosteiro da Pe<strong>na</strong>llomga, como <strong>de</strong> feito loguo institoio, huma capella <strong>de</strong> misas<br />
pera sempra, scilicet, cada dia huma misa da festa ou feria correntes ou <strong>de</strong> que ho<br />
sacerdote que a diser mães <strong>de</strong>vação te<strong>ver</strong>. E porem porque he cousa grave e onerosa<br />
ha<strong>ver</strong> hum sacerdote ou aquelles que as ditas misas // [Fl. 1v] diserem <strong>de</strong> dizer misa<br />
cada dia queria que pella dita capella e misas cotedia<strong>na</strong>s não se disesem mais <strong>de</strong> seis<br />
misas cada soma<strong>na</strong> por hum sacerdote ou por aquelles a quem forem emcomendadas.<br />
E porque o dito bispo constetoimte se acha ser em muita obrigação a el rey Dom<br />
Joam terceiro <strong>de</strong>ste nome, que samta glloria aja, e a rainha Do<strong>na</strong> Cateri<strong>na</strong> sua molher<br />
nosa senhora, e isto pellas honras e mercês que <strong>de</strong>lles tem recebido, e por ho bem que<br />
fazem as cassas <strong>de</strong> nosso padre Sam Geronimo, dise que das ditas seis misas que se<br />
em ho dito Mosteiro am <strong>de</strong> dizer cada soma<strong>na</strong> pera sempre ha primeira diga pello dito<br />
rey Dom Joam e a segumda pella dita rainha Do<strong>na</strong> Catari<strong>na</strong> nosa senhora e a terceira<br />
por ell rey nosso senhor Dom Sabastiam seu neto. E asi por cada hum dos reis seus<br />
subcesores que neste reino <strong>de</strong> Portugall rei<strong>na</strong>rem.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 231<br />
Reflexões
. história .<br />
E as outras tres misas se dirão por elle bispo e por seu pay e mãy que jazem em a<br />
sua capella da imvocação <strong>de</strong> Nosa Senhora do Rosairo que esta em a crasta da See da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bragua. E por aquelles que elle bispo he teudo e obrygado.<br />
E porque he necesario que aquelles que servem ao // [Fl. 2] alltar vivão <strong>de</strong>lle, dise<br />
que fazia esmolla a dita e Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llonga <strong>de</strong> duzemtos e cimcoenta<br />
mill reais 60 , os quais emtregou loguo em dinheiro <strong>de</strong> contado peramte mim taballião<br />
e testemunhas ao dito Padre Frei Manoell prior do dito Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llonga pera<br />
comprar em fazemda ou juro. Os quais dinheiros <strong>de</strong>ixa em alma e comciencia <strong>de</strong>lle e<br />
padres do dito Mosteiro, scilicet, <strong>de</strong> todos juntos e cada hum per sy pera que se não<br />
posão gaastar nem tomar emprestados somente estarem em arqua do ditõ comvemto<br />
ou em arqua do comvemto do Mosteiro <strong>de</strong> Bellem ate se comprar a dita fazemda ou<br />
juro <strong>de</strong> Sua Allteza pera sostemtação da dita capella, ho que a<strong>ver</strong>a iffeito <strong>de</strong>ste mês<br />
<strong>de</strong> Janeiro que em bora vira a hum anno salvo se elle bispo <strong>de</strong>r mais allgum tempo.<br />
E não se fazemdo como ditõ he se emtregue toda a ditã fazemda ou dinheiro a elle<br />
dito bispo semdo vivo e semdo <strong>de</strong>ffumto se emtregue ha Misericordia <strong>de</strong> Lixboa pello<br />
modo que abaixo vai <strong>de</strong>cllarado com sua obrigação.<br />
E allem do sobredito dise ho dito bispo que porquoanto sua temção era que por<br />
rezão da dita capella e misas ho dito Mosteiro e comvemto <strong>de</strong>lle // [Fl. 2v] não recebese<br />
allguma torvação ou menoscabo asi em ho esprituall como temporall que a<br />
elle lhe aprazia como <strong>de</strong> feito aprouve que quoando quer que ao sobredito comvemto<br />
aprou<strong>ver</strong> posa <strong>de</strong>ixar a dita capella. E quoamto aos duzemtos e cimcoenta mill reais os<br />
entregaram a Misericordia <strong>de</strong> Lixboa, scilicet, ao provedor e irmãos. Ou as propriada<strong>de</strong>s<br />
que pello dito dinheiro forem compradas ou ho padram <strong>de</strong> juro com as escrituras<br />
ou ho padrão <strong>de</strong> juro das compras.<br />
E por este instromento pe<strong>de</strong> por amor <strong>de</strong> Nosso Senhor ao dito provedor e irmãos<br />
da dita Misericordia que tomando primeiro cem <strong>cruz</strong>ados pera os gastos da dita casa<br />
lhe man<strong>de</strong>m dizer ho mais por que se vem<strong>de</strong>rem as ditas propiada<strong>de</strong>s ou juro e o mais<br />
que remanecer dos ditos duzemtos e cimcoenta mill reais em misas rezadas pellos<br />
mosteiros que lhes bem parecer. E isto pellas pesoas e temção acima <strong>de</strong>claradas.<br />
E loguo elle bispo constetoimte pedio ao dito prior <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llongua que elle em<br />
seu nome e do dito comvemto como seu procurador que he abastamte segumdo loguo<br />
mostrou per sua procuração que ao diamte vai trelladada que avemdo respeito a dita<br />
insti // [Fl. 3] toição ser feita em louvor <strong>de</strong> Nosso Senhor e tamta parte <strong>de</strong>stes sacrafficios<br />
serem hofferecidos por as vidas, sau<strong>de</strong> e sallvaçam dos Reis <strong>de</strong> Purtuguall ouvese<br />
por bem em seu nome e dos padres do dito comvemto ausentes lhe aceitar e por si e<br />
pello dito comvemto e padres que ora sam e ao diamte forem prometer pera sempre <strong>de</strong><br />
a goardar asy e da maneira que em ella he comtiudo.<br />
E loguo ho dito prior e procurador em seu nome e padres capitollares do ditõ<br />
Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llomga per <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua procuração dise que elle 61 via e ouvia a<br />
dita institoição que lhe per mim tabeliam em presemça das testemunhas foy lida e <strong>de</strong>-<br />
60 Na margem esquerda da pági<strong>na</strong>: “25000”.<br />
61 Corrigido <strong>de</strong> “avia”.<br />
232 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
cllarada. E que elle em nome do dito comvemto haceitava asy e da maneyra que nella<br />
se comtinha e prometia como <strong>de</strong> feito loguo prometeo por sy e por todos os padres<br />
do dito Mosteiro que ora sam e que ao diamte forem <strong>de</strong> se dizerem as ditãs misas e se<br />
comprir ho mais acima dito, hobrigamdo pera ello todos os beens do dito Mosteiro. E<br />
que avia por arrenunciados todas e quoaisquer graças ou pervillegios gerais ou especiais<br />
que comtra ho sobredito fose ou se posa allegar em seu favor e <strong>de</strong> seu Mosteiro<br />
asy em // [Fl. 3v] seu nome e do dito comnvemto.<br />
[E] avia por bem que ho dito bispo posa por letereyro em pedra em ho luguar que<br />
bem parecer do Mosteiro em que se comtenha ho sumario <strong>de</strong>sta institoição e mais que<br />
semdo caso que elle bispo se queira sepulltar no ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llongua que ho<br />
posa fazer em ha cllaustralla como elle pe<strong>de</strong>.<br />
E em testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> mandaram aqui trelladar a procuração que he a seguimte:<br />
Sejam certos os que esta procuração virem em como nos os rellegiosos comvemtuãis<br />
do Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llongua da Or<strong>de</strong>m do bemavemturado nosso padre Sam<br />
Geronimo, da Dioxesis <strong>de</strong> Lixboa, fazemos e institoimos por nosso soficiente e<br />
avomdoso procurador ao Padre Frei Manoell <strong>de</strong> Castello da Vi<strong>de</strong> prior noso do dito<br />
Mosteiro que elle sem eu nome e nosso e <strong>de</strong> toda a casa posa aceitar huma capella<br />
<strong>de</strong> misas que ho senhor bispo Dom Bras primeiro bispo que foi <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> nosso fra<strong>de</strong><br />
quer ora instetoir e or<strong>de</strong><strong>na</strong>r no dito Mosteiro da maneira e com as comdições doutra<br />
semelhamte capella que ho dito bispo fez em ho Mosteiro <strong>de</strong> Vall Bemffeito, da Or<strong>de</strong>m<br />
e Dioxesis sobredita, e com quoaisquer // [Fl. 4] outras que ao dito padre prior<br />
bem parecer pera a quoall posa obriguar a dita casa e Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llomgua e aos<br />
rellegiosos <strong>de</strong>lle presemtes e futuros a dizerem a dita capella pera sempre. Ho que<br />
prometemos <strong>de</strong> ter todo por bem, firme e vallioso e asi comprirmos e mantermos pera<br />
sempre todo ho que ho dito padre prior e procurador asi fezer e asemtar com ho senhor<br />
bispo. E queremos e nos apraz que se pera ho sobredito po<strong>de</strong>r vir a melhor iffeito aqui<br />
forem neceçarias <strong>de</strong> se porem allgumas cllausollas conffforme a direito nos as avemos<br />
aqui por postas e sopridas tais e quoantas forem necesarias. E isso mesmo queremos<br />
e nos apraz que a esta seja dada tamta fee e autorida<strong>de</strong> e seja <strong>de</strong> tamto vallor como<br />
se fose feita per mão <strong>de</strong> tabeliam publico e notairo. E por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> asi<strong>na</strong>mos aqui e<br />
asellamos com ho sello comvemtuall do dito Mosteiro.<br />
Feito oje quoatro dias do mes <strong>de</strong> Novembro da era <strong>de</strong> mill e quinhemtos e cimoemta<br />
e oito annos.<br />
A quoall estaa ao pee asi<strong>na</strong>da, scilicet, por Frei Ber<strong>na</strong>lldo <strong>de</strong> Lixboa e Frei Fer<strong>na</strong>ndo<br />
d’Ollivença e Frei Roque e estava asellada com ho dito sello do dito comvemto<br />
segundo // [Fl. 4v] parecia ct.<br />
Por <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> da quoall procuração ho dito padre prior e procurador em seu nome<br />
e dos ditos padres dise que aceitava a dita capella como dito he. E em testemunho <strong>de</strong><br />
tudo asy pasar <strong>na</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> ho dito senhor bispo e o dito prior mandaram fazer esta nota<br />
e dar <strong>de</strong>lla as partes hum e quoantos estromentos pedisem.<br />
Que foi feita e outorgada no dito Mosteiro aos dia, mes era sobredita. Testemunhas<br />
que rpesemtes forão Joam Ferr<strong>na</strong>n<strong>de</strong>z barbeiro <strong>na</strong> dita villa d’Obidos morador e Dioguo<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 233<br />
Reflexões
. história .<br />
Ortis familliar do dito Mosteiro <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llomgua e Christovão Cubia familliar do dito<br />
Mosteiro <strong>de</strong> Valle Bemffeito. E asi o Padre Frei Paullo prior do dito Mosteiro ct.<br />
O quoall dinheiro <strong>de</strong>cllaro que recebeo ho dito prior <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>llomgua em ouro cimcoenta<br />
mill reais em moedas <strong>de</strong> Sam Visemtes e em tostões cemto e trimta mill reais<br />
e <strong>de</strong> quoatro vimteens quorenta, vimteens trimta que fez soma dos ditos duzemtos e<br />
cimcoenta mill reais ct.<br />
O quoall instromento <strong>de</strong> instituição eu Joam da Pe<strong>na</strong> publico taballiam do ju<strong>de</strong>ciall<br />
e notas por ell Rei nosso senhor <strong>na</strong> dita villa d’Obidos e seus termos dou fee 62 fazer<br />
em minha nota hon<strong>de</strong> jaz outorgado e <strong>de</strong>lla tirei este pera ho dito senhor bispo por<br />
mo pedir pera sua goarda e quoantos mais // [Fl. 5] lhe comprisem bem e fiellmente e<br />
escrevi <strong>de</strong> meu publico si<strong>na</strong>ll que tal lhe, aos vimte <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> mill e quinhemtos<br />
e cincoenta e oito annos.<br />
Com amtrellinha que diz casa e coregido que diz fee que se fez todo por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>.<br />
(Si<strong>na</strong>l do notário). Pagou <strong>de</strong>ste oitemta reais – lxxx reais.<br />
Doc. 11<br />
1559 MARÇO, 31, Óbidos, Convento <strong>de</strong> Vale Benfeito — D. Fr. Brás <strong>de</strong> Barros,<br />
bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, institui, no Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>, <strong>de</strong> Sintra, uma capela<br />
em que se celebrem missas por alma <strong>de</strong> D. João III, D. Catari<strong>na</strong> e D. Sebastião,<br />
e <strong>de</strong>mais reis que lhe suce<strong>de</strong>rem, bem como por alma <strong>de</strong> seus pais e sua. Contrata,<br />
ainda, a sua sepultura junto ao capítulo do dito Mosteiro.<br />
TT — Gaveta 10, Mº 5, Doc. 15.<br />
Em nome <strong>de</strong> Deus amen. Saybhão quantos este instromento <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> misas<br />
e capella virem que no anno do Nacimento <strong>de</strong> Noso Senhor Jhesu Christo <strong>de</strong> mil<br />
e quynhentos e cyncoenta e nove annos aos trinta e hum dias do mes <strong>de</strong> Março em ho<br />
Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Comceyção <strong>de</strong> Vale Bemffeito situado no termo da nobre<br />
villa d’Obidos, Diocesis do Arcebispado <strong>de</strong> Lixboa, da Or<strong>de</strong>m do grorioso padre<br />
Sam Geronimo em a cassa ou cella 63 hon<strong>de</strong> ora poussa ho senhor bispo Dom Bras <strong>de</strong><br />
Barros, fra<strong>de</strong> da ditã Or<strong>de</strong>m, primeiro bispo que foi da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, estamte elle<br />
presente e asy ho Padre Frei Geronimo prior do Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> da<br />
dita Or<strong>de</strong>m e Diocesis, loguo pello ditõ bispo foi dito em presença <strong>de</strong> mim taballiam<br />
e testemunhas ao diante nomeadas que elle em louvor e por serviço <strong>de</strong> Noso Senhor<br />
instituira em ho dito Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong>, como <strong>de</strong> feito loguo instituio,<br />
huma capella <strong>de</strong> misas pera sempre, misa <strong>de</strong> festa ou feriam coremte ou <strong>de</strong> que ho<br />
sacerdote que a diser mais <strong>de</strong>vação te<strong>ver</strong>. E porem porque he coussa grave e onerosa<br />
a<strong>ver</strong> hum sacerdote ou aquelles que as ditas misas diserem <strong>de</strong> dizerem misa cada diã<br />
que //[Fl. 1v] riã que pella ditã capella e misas cotedia<strong>na</strong>s não se disese mais <strong>de</strong> seis<br />
62 Corrigido.<br />
63 Palavra emendada.<br />
234 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
misas cada soma<strong>na</strong> por hum sacerdote ou por aquelles a quem forem comendadas.<br />
E porque ho ditõ bispo constituinte se achasse em muita hobrigação a ell Rei Dom<br />
Joam terceiro <strong>de</strong>ste nome, que santa gloria aja, e a rainha Do<strong>na</strong> Catari<strong>na</strong> sua molher<br />
nosa senhora, isto pellas honras e merces que <strong>de</strong>lles tem recebido por ho bem que<br />
fazem as casas do Padre Sam Geronimo, dise que das ditãs seis misas que se em ho<br />
ditõ Mosteiro am <strong>de</strong> dizer cada soma<strong>na</strong> pera sempre a primeira se digua pello ditõ rei<br />
Dom Joam, a segunda pella ditã rainha Do<strong>na</strong> Catari<strong>na</strong> nosa senhora e a terceira por ell<br />
rei Dom Sabastiam noso senhor seu neto. E <strong>de</strong>si por cada hum dos reis seus sucesores<br />
<strong>de</strong> maneira que sempre a ditã misa terceira se dira pello rei vivo que em estes reynos<br />
<strong>de</strong> Purtugall rei<strong>na</strong>rem.<br />
E as outras tres misas se dirão por elle bispo e por seu pay e may que fazem em a<br />
sua capella da imvocação <strong>de</strong> Nosa Senhora do Rosairo que esta em a crasta da See <strong>de</strong><br />
Braga. E por aquelles que elle bispo he teudo e ho // [Fl. 2] brigado.<br />
E porque he necesario que aquelles que servem ao alltar vivão <strong>de</strong>lle, dise que fazia<br />
esmolla a ditã casa e Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> duzemtos e cimquenta mill<br />
reais, os quoais emtregou loguo em dinheiro <strong>de</strong> comtado peramte mim taballiam e testemunhas<br />
ao Padre Frey Giro Gironimo [sic] prior do ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora<br />
da Penha pera comprar fazemdas. Os quais da e <strong>de</strong>yxa em sua allma e comciencia<br />
<strong>de</strong>lle prior ou priores e padres do ditõ Mosteiro sendo todos juntos e cada hum per<br />
sy pera que se nunca possão gastar nem tomar emprestados sobmente estarem em [a]<br />
arqua do ditõ comvemto ou em ha arqua do comvemto do Mosteiro <strong>de</strong> Bellem ate se<br />
comprar a dyta fazemda ou algum juro a Sua Alteza para substentação da ditã capella.<br />
Ho que a<strong>ver</strong>a effeito <strong>de</strong>ste mes <strong>de</strong> Janeiro pasado a hum anno salvo se elle bispo<br />
<strong>de</strong>r mais allgum tempo e não se fazendo como ditõ he emtregar se ha toda a ditã<br />
fazenda ou dinheiro a elle ditõ bispo sendo vivo e semdo <strong>de</strong>ffumto se emtreguara a<br />
Misericordia <strong>de</strong> Lixboa pello modo que ao diamte vay <strong>de</strong>cla // [Fl. 2v] <strong>de</strong>cllarado.<br />
E allem do sobreditõ dise ho ditõ bispo que porquanto sua temção era que por<br />
rezão da ditã capella e misas ho ditõ Mosteiro e comvemto <strong>de</strong>lle não recebese allguma<br />
torvação ou menoscabo asy ho esprituall como temporall que a elle lhe aprazia<br />
como <strong>de</strong> feito aprouve que quando quer que ao sobreditõ comvemto aprou<strong>ver</strong> posão<br />
<strong>de</strong>ixar a dita capella. E quanto aos duzentos e cymcoenta mil reais os emtregarão a<br />
Misericordia <strong>de</strong> Lixboa, scilicet, ao provedor e irmãos com as propiada<strong>de</strong>s que pello<br />
ditõ dinheiro forem compradas ou ho padrão <strong>de</strong> juro com as escrituras ou ho padrão<br />
<strong>de</strong> juro das compras.<br />
E por este instromento pe<strong>de</strong> por amor <strong>de</strong> Noso Senhor ao ditõ provedor e irmãos<br />
da ditã Misericordia que, tomando primeiro cem <strong>cruz</strong>ados pera os gastos da dita, loguo<br />
lhe man<strong>de</strong>m dizer ho mais por que se vem<strong>de</strong>rem as ditãs propieda<strong>de</strong>s ou juro ou 64 ho<br />
mais que remanecer dos ditõs duzentos e cincoenta mil reais em misas rezadas pellos<br />
mosteiros que lhes bem parecer. E esto pellas pesoas e temção acima <strong>de</strong>cllaradas.<br />
E loguo elle bispo constitointe pedio ao ditõ // [Fl. 3] prior <strong>de</strong> Nosa Senhora da<br />
Pe<strong>na</strong> que elle em seu nome e do dytõ comvemto como seu procurador que he abastan-<br />
64 Traçado “ou”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 235<br />
Reflexões
. história .<br />
te segumdo loguo mostrou por sua procuração, que ao diamte vai treslladada, que avemdo<br />
respeito a ditã instituição ser feita em louvor <strong>de</strong> Noso Senhor e tamta parte <strong>de</strong>stes<br />
sacrafficios serem hofferecidos por as vidas, sau<strong>de</strong> e sallvaçam dos reis <strong>de</strong> Purtugall,<br />
ouvese por bem em seu nome e dos padres do ditõ comvemto ausemtes <strong>de</strong> aceitar e<br />
por sy e pello ditõ comvemto e padres que ora sam e ao diamte forem prometer pera<br />
sempre <strong>de</strong> logo a dar asy e da maneira que em elle he comteudo.<br />
E logo ho ditõ padre prior e procurador dise em nome dos padres capitollares do<br />
ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> per <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua procuração dise que elle<br />
viu e ouviu a ditã instituição que lhe per mim taballiam em presemça das testemunhas<br />
foy lida e <strong>de</strong>cllarada. E que elle em nome do ditõ comvemto aceitava asy e da maneira<br />
que em ella se comtem e prometia como <strong>de</strong> feito loguo prometeo por sy e por todos<br />
os padres do ditõ Mosteiro que ora sam e ao diamte forem <strong>de</strong> se dizerem // [Fl. 3v] as<br />
ditãs misas e se cumprir ho mais acima ditõ hobriguando pera ello todos os beens do<br />
ditõ Mosteiro. E que avia por arrenunciadas todas e quoaisquer graças ou previllegios<br />
gerães ou especiães que comtra ho sobreditõ fosem ou se possão alleguar em seu favor<br />
e <strong>de</strong> seu Mosteiro. E asy em seu nome e do ditõ comvemto a<strong>ver</strong> por bem ate ho ditõ<br />
bispo posa mandar por litereiro em que se comtenha ho sumario <strong>de</strong>sta instituição ho<br />
quoall litreiro he ho seguimte:<br />
Por allma <strong>de</strong>ll rei Dom Joam terceiro <strong>de</strong>ste nome que samta gloria aja se diz pera<br />
sempre em este Mosteiro huma misa cada soma<strong>na</strong> e pella raynha Do<strong>na</strong> Catari<strong>na</strong> sua<br />
molher nosa senhroa se diz outra e outra por ell rei Dom Sabastiam seu neto nosso<br />
senhor e por todos os reis <strong>de</strong>stes reinos com tall imtemdimento que esta se dira sempre<br />
por ho rei que em elles rey<strong>na</strong>r. E tudo ho sobreditõ em ho rotolo acima mandou<br />
dizer e instituiu ho primeyro bispo <strong>de</strong> Leyria Dom Bras <strong>de</strong> Barros fra<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta Or<strong>de</strong>m<br />
e profeso <strong>de</strong>sta casa que aquy jaz. E outras tres mandou dizer por sy e por seu pay e<br />
may e por os que he teudo e hobriguado. E asy serão seis cada soma<strong>na</strong> pera // [Fl. 4]<br />
sempre. 65 E <strong>de</strong>ixou ha casa per hum padrão <strong>de</strong> juro vinte mill reais cada anno. 1559.<br />
E porque ho ditõ litireiro da primeyra fegura da estrella ate a segumda fegura <strong>de</strong><br />
que falla das misas e dos reis sera a custa <strong>de</strong>lle bispo em pedra sobre ho arquo do<br />
capitollo. E a outra parte que falla em ho bispo e seu pay e may porem em pedra rasa<br />
com ho ladrilho que elle mandar lamçar sobre sua sepultura. A quall sepulltura ha<br />
por bem ho ditõ padre prior da Pe<strong>na</strong> em seu nome e dos ditõs padres que sam em a<br />
casa <strong>de</strong>ffromte do alltar <strong>de</strong> Nosa Senhora que esta asim ho ditõ capitollo e sera a ditã<br />
sepulltura pera sempre pera elle bispo soo sem outra pessoa nella se emterrar.<br />
E em testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> mandarão aquy trelladar a ditã procuraçam que he<br />
a seguinte:<br />
Sejão certos os que esta carta <strong>de</strong> procuraçam virem como nos os padres relligiosos<br />
abayxo nomeados e asi<strong>na</strong>dos convemtuais do Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong><br />
da Or<strong>de</strong>m do bem avemturado padre nosso Sam Geronymo da Diocesis <strong>de</strong> Lixboa<br />
fazemos e instituimos por nosso sofficiente e avomdoso procurador ao Padre Frey<br />
Gironimo prior noso do ditõ Mosteiro que // [Fl. 4v] que elle em nome seu e noso e<br />
65 Riscado: “e <strong>de</strong>i”.<br />
236 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
dito comvemto possa aceitar huma capella <strong>de</strong> misas que ho senhor bispo Dom Bras,<br />
que foi <strong>de</strong> Leyria, quiser ou instituir e or<strong>de</strong><strong>na</strong>r no ditõ Mosteiro da maneira e com as<br />
condiçõis doutra semelhante capella 66 que ho ditõ bispo fez em ho Mosteiro do Mato<br />
da ditã Or<strong>de</strong>m e Diocesis Ulixbonensis. E quaisquer outras que ao ditõ padre prior<br />
bem parecer pera ho que elle posa hobriguar a ditã casa e Mosteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora<br />
da Pe<strong>na</strong> e aos relligiosos presemtes e futuros a dizerem a ditã capella pera sempre.<br />
Ho que prometeram <strong>de</strong> a<strong>ver</strong> todo por bom e firme vallyoso e <strong>de</strong> asy ho comprirmos<br />
e mantermos pera sempre todo ho que ho ditõ padre prior e procurador asy fizer e<br />
asemtar com ho ditõ senhor bispo. E queremos e nos apraz que se pera ho sobredito<br />
po<strong>de</strong>r valer a mylhor aqui som necesarias <strong>de</strong> se poerem allgumas clasullas confforme<br />
ao direito nos as avemos aqui por postas e sopridas tais e quoantas forem necesarias.<br />
E iso mesmo queremos e nos praz que a esta seja dada tamta fee e autorida<strong>de</strong> e sera <strong>de</strong><br />
tamto valor como se fose feita per mão <strong>de</strong> notario publico. E por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> asy<strong>na</strong>mos<br />
aquy todos, scilicet, ho Padre Frey Ge // [Fl. 5] ronimo prior e procurador que ora he<br />
do ditõ Mosteiro e o Padre Frey Joam <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong>macor vigairo e o Padre Frey Joam <strong>de</strong><br />
Coimbra e o Padre Frey Amdre e o Padre Frey Ber<strong>na</strong>be e Frey Amtonio e Frey Joam<br />
<strong>de</strong> Ribaffria e Frey Amdre da Povoa e Frey Dioguo e Frey Jacobo e Frey Allvaro<br />
comselliarios. E com ho sello conventuall do dito Mosteiro, em vimte e outo dias <strong>de</strong><br />
Março <strong>de</strong> mill e quynhentos e cincoenta e nove annos.<br />
A quall procuração estava asy<strong>na</strong>da ao pee segundo parecia pellos ditõs padres nomeados<br />
nella e asellada. E por <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong> da quoall ho ditõ padre prior aceitou a ditã capella<br />
como ditõ he. E em testemunho e fee <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> ho ditõ senhor [bispo] mandou<br />
e outorgou asy ser feito este instrumento <strong>de</strong> instituyçam e pedio <strong>de</strong>sta nota quantos<br />
<strong>de</strong>sta nota lhe cumpryrem que foy feito e outorgado no ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Vall Bemffeito<br />
e asi da maneira sobreditã.<br />
Testemunhas que presemtes forão ho Padre Frey Paullo prior do ditõ Mosteiro e<br />
o Padre Frey Damiam vigairo nelle. O quoall dinheiro recebeo ho ditõ padre prior em<br />
tostões, meos e moedas <strong>de</strong> quoatro vymteis, vimteis meos, pardaos d’ouro todo da<br />
moeda ora corremte d’ouro e prata que fez a ditã soma dos ditõs duzemtos e // [Fl. 5v]<br />
cynqoenta mill reais. Testemunhas ho Padre Frey Amtonio da Mercea<strong>na</strong>. E asi<strong>na</strong>ram<br />
todos com ho ditõ bispo.<br />
Em o quaoal instrumento <strong>de</strong> instituyção eu Joam <strong>de</strong> Pe<strong>na</strong> publico taballião do<br />
judiciall e notas por ell Rei noso senhor <strong>na</strong> ditã villa d’Obidos e seus termos dou fee a<br />
notar em minha nota hom<strong>de</strong> jaaz outorgado e <strong>de</strong>lle tirey este pera ho ditõ Mosteiro da<br />
Pe<strong>na</strong> per mandado do ditõ bispo bem e fiellmente e asynei <strong>de</strong> meu publico sy<strong>na</strong>ll que<br />
tall he. E com os riscados que dizem como e amtrellinha que diz fiz e coregido que diz<br />
todo e este riscado que se fez todo por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>.<br />
(Si<strong>na</strong>l do notário). Pagou com nota duzentos e quarenta reais. - ij c R reais.<br />
[Sobrescrito]<br />
† Instituiçam do senhor bispo <strong>de</strong> Leyria Dom Bras da capella que fez no Mosteiro<br />
<strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong>.<br />
66 Corrigido <strong>de</strong>: “doutras semelhantes capellas”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 237<br />
Reflexões
. história .<br />
Doc. 12<br />
1559 JUNHO, 14, Sintra (Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>) — D. Frei Brás <strong>de</strong><br />
Barros institui uma segunda capela <strong>de</strong> seis missas por sema<strong>na</strong>, no Mosteiro <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Conceição <strong>de</strong> Vale Benfeito (Óbidos), por sua alma, dotando-a com<br />
241 mil reais. Deste dote comprou-se fazenda <strong>de</strong> rendimento <strong>na</strong> Ribeira <strong>de</strong> Peniche.<br />
Por <strong>de</strong>claração dos fra<strong>de</strong>s covnentuais <strong>de</strong>sse Mosteiro, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> 1560,<br />
<strong>de</strong>clara-se que a soma <strong>de</strong> dinheiro efectivamente entregue se cifrou em 250 mil reais.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, documento com as<br />
numerações antigas: “Mº 5, Nº 93” e “Nº 663”. Documento igual, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do ao bispo<br />
D. Brás <strong>de</strong> Barros, no mesmo maço, com as numerações antigas: “Mº 5, Nº 94” e “Nº<br />
661”.<br />
Em nome <strong>de</strong> Deus amem.<br />
Saybhão os que este estromento <strong>de</strong> instituyção <strong>de</strong> misas e capella vyrem que no<br />
anno do Nascymento <strong>de</strong> Noso Senhor Jhesuu Christo <strong>de</strong> mil b c e cymquoemta e nove<br />
annos xiiij dias do mes <strong>de</strong> Junho em o Moesteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> sytuado<br />
em o termo da villa <strong>de</strong> Symtra, Diocesys do Arcebispado <strong>de</strong> Lixboa, da Or<strong>de</strong>m do glorioso<br />
padre São Geronymo em a casa da enfermarya do ditõ Moesteiro estamdo ahy<br />
presemte o senhor bispo Dom Bras <strong>de</strong> Barros fra<strong>de</strong> da ditã Or<strong>de</strong>m, primeiro que foy<br />
da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyrya, e asy estando presente o Padre Frey Demeyão vigairo do Moesteiro<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Comcepção <strong>de</strong> Vall Bemfecto da ditã Or<strong>de</strong>m e Diocesys.<br />
E loguo pelo ditõ bispo foy ditõ em presemça <strong>de</strong> mym tabalyão e testemunhas ao<br />
diamte nomeadas que elle em louvor e por serviço <strong>de</strong> Noso Senhor instituye ora em o<br />
ditõ Moesteyro <strong>de</strong> Vall Benfecto como <strong>de</strong> fecto loguo instituyo huma capella <strong>de</strong> misas<br />
pera sempre, scilicet, cada dia huma mysa da festa ou ferea corrente. E porem porque<br />
he cousa grave e onerosa a<strong>ver</strong> huum sacerdote ou aquelles que as ditãs // [Fl.1v] mysas<br />
diserem <strong>de</strong> dyzer misa cada dia, querya que, por a ditã capella e misas cotydya<strong>na</strong>s,<br />
nom se disesem mais <strong>de</strong> seys misas cada soma<strong>na</strong> per hum sacerdote ou por aquelles a<br />
quem forem emcomendadas. As quaes mysas se dyrom por sua senhorya e por todos<br />
aquelles que ele hee obrigado encomendar a Deus.<br />
E porque he necesaryo que aquelles que servem ao alltar vivam <strong>de</strong>lle disse que fazya<br />
esmolla a ditã casa e Moesteiro <strong>de</strong> Vall Bemfecto <strong>de</strong> duzemtos e quorenta e huum<br />
mil reais, os quaes entreguou ao Padre Frey Paullo prioll do ditõ Moesteiro <strong>de</strong> Vall<br />
Bemfecto segundo pelo ditõ Frey Demeyam vigairo do ditõ Mosteiro <strong>de</strong> Vall Bemfecto<br />
foy ditõ e comfesado que os recebera pera comprarem em fazenda que rem<strong>de</strong>se ao<br />
ditõ Moesteiro como <strong>de</strong> fecto comprarom e juro <strong>de</strong>l Rey noso senhor vymte mill reais<br />
<strong>de</strong> herda<strong>de</strong> e juro pera sempre <strong>na</strong> Ribeyra <strong>de</strong> Peniche, segundo loguo hy constou. E<br />
apresentarom huum padrão da ditã temça e juro <strong>de</strong> sua allteza sprito em purgamynho<br />
com seu sello pen<strong>de</strong>mte <strong>de</strong> chumbo em cordão <strong>de</strong> retroz <strong>ver</strong><strong>de</strong> e branco. O quall juro<br />
o ditõ senhor bispo disse que dava e <strong>de</strong> fecto <strong>de</strong>u pera sostemtação da // [Fl. 2] ditã capella,<br />
a qual capella e misas se começarão a dyzer do primeyro dia do mes <strong>de</strong> Janeyro<br />
este passado da presemte era por dyamte.<br />
238 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
E alem do sobreditõ dise o ditõ senhor bispo que porquamto sua tenção era que<br />
por rezão da ditã capella e misa ho ditõ Moesteiro e comvemto <strong>de</strong>lle nom recebese<br />
alguma trovação ou menoscabo asy em o esprituall como temporall que a ele aprazya<br />
como <strong>de</strong> fecto aprouve que quamdo quer que ao ditõ comvento apro<strong>ver</strong> posa <strong>de</strong>yxar a<br />
ditã capella. E quamto aos duzemtos e quoremta e huum myll reais os emtreguarom a<br />
Misericordia <strong>de</strong> Lixboa, scilicet, ao provedor e irmãos ou a ditã temça <strong>de</strong> juro que pelo<br />
ditõ dinheiro foy comprada como ditõ hee com a espritura e padrão da ditã compra.<br />
E por este estromento pe<strong>de</strong> por amor <strong>de</strong> Noso Senhor ao ditõ provedor e irmãos<br />
da ditã Mysericordia que tomando primeiro cem <strong>cruz</strong>ados pera os guastos da 67 ditã<br />
casa lhe man<strong>de</strong>m dyzer o mays por que se vem<strong>de</strong>r a ditã tença ou juro ou o mays que<br />
remanecer dos ditõs duzentos e corenta e huum myl reais em misas rezadas pelos<br />
moesteiros que lhes bem parecer. E isto pella emtemção asyma <strong>de</strong>crarada.<br />
E loguo elle senhor bispo constituymte pedio ao ditõ // [Fl. 2v] viguayro <strong>de</strong> Vall<br />
Bemfecto que elle em seu nome e do ditõ comvemto como seu procurador que he<br />
abastamte seguundo loguo ahy amostrou por sua procuraçom que ao diamte vay<br />
trelladada, que avendo respecto a ditã instituyção ser fecta em louvor <strong>de</strong> Noso Senhor<br />
e proll do ditõ comvemto ouvese por bem em seu nome e dos padres 68 do ditõ comvemto<br />
absemtes <strong>de</strong> aceptar por sy e pelo ditõ comvemto e padres que ora são e ao diante<br />
forem prometer pera sempre <strong>de</strong> aguardar asy e da maneira que em elle he comteudo.<br />
E loguo ho ditõ padre vigayro e procurador em seu nome e dos padres capytollares<br />
do ditõ Moesteiro <strong>de</strong> Vall Bemfecto por vyrtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua procuraçam dise que elle avya<br />
e ouvya a dytã instituyção que lhe por mym tabalyão em presemça das testemunhas<br />
foy lyda e <strong>de</strong>crarada. E que elle em nome do ditõ comvemto ha aceptava asy e da<br />
maneira que em ella se comtynha. E prometya como <strong>de</strong> fecto loguo prometeo por sy<br />
e por todos os padres do ditõ Moesteiro que ora são e ao diamte forem <strong>de</strong> se dyzerem<br />
as dytas misas e se comprir o mays asyma ditõ obryguando pera ello todos os bens do<br />
ditõ Moesteyro. E que avya por renucyadas todas e quaesquer graças ou previlegios<br />
gerais ou especyais // [Fl. 3] que comtra o sobredytõ fosem ou se posão aleguar em<br />
seu favor e <strong>de</strong> seu Moesteyro.<br />
E asy em seu nome e do ditõ comvemto avya por bem que ho ditõ senhor bispo<br />
possa poor lytereyro em pedra em luguar que bem parecer do Moesteiro em que se<br />
comtenha o sumaryo da ditã instituyção. O quall lytyreyro ja esta fecto e asemtado <strong>na</strong><br />
cllaustra primcipall do ditõ Moesteiro om<strong>de</strong> por sua senhorya foy or<strong>de</strong><strong>na</strong>do e mandado<br />
que se posese. E mais que sendo caso que elle senhor bispo se queyra sepulltar<br />
no ditõ Moesteiro <strong>de</strong> Vall Bemfecto que ho posa fazer em a claustra como elle pe<strong>de</strong>.<br />
E em testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> mandarom aquy trelladar a procuraçam que he a<br />
seguymte:<br />
Seyão sertos os que esta carta <strong>de</strong> procuração vyrem como nos o Padre Frey Paullo<br />
prioll e os relegiosos abayxo nomeados e asig<strong>na</strong>dos comvemtoais do Moesteiro <strong>de</strong><br />
67 Emendou: “da”.<br />
68 Riscado: “comv”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 239<br />
Reflexões
. história .<br />
Nosa Senhora da Comcepção <strong>de</strong> Vall Bemfecto da Or<strong>de</strong>m do bemavemturado padre<br />
noso São Geronymo, da Dyocesys <strong>de</strong> Lixboa, fazemos e instituimos por noso sobfecyemte<br />
e avomdoso procurador ao Padre Frey Demeyão vigairo do ditõ Moesteiro<br />
que elle em nome seu e noso e <strong>de</strong> toda a casa posa aceptar huuã capella <strong>de</strong> mysas que<br />
o senhor bispo Dom Bras asi ora [quer] // [Fl. 3v] instituyr e or<strong>de</strong><strong>na</strong>r no ditõ Moesteiro<br />
da maneyra e com as comdições doutra semelhante capella que ho ditõ bispo fez em<br />
o Moesteiro do Mato da ditã Or<strong>de</strong>m e Diocesys e com quaesquer outras que ao ditõ<br />
padre vyguayro bem parecerem pera o quall posa obryguar a ditã casa e Moesteyro<br />
<strong>de</strong> Vall Bemfecto e aos relligiosos presemtes e futuros a dyzerem a dytã capella pera<br />
sempre. E que prometemos <strong>de</strong> ter todo por boom e fyrme e vallyoso e <strong>de</strong> asy ho comprirmos<br />
e mamtermos pera sempre todo ho que ho ditõ padre vyguayro e procurador<br />
asy fyzer e asemtar com ho ditõ senhor bispo.<br />
E queremos e nos apraz que se pera ho sobreditõ po<strong>de</strong>r vyr a mylhor efectõ aquy<br />
forem necesaryos <strong>de</strong> se poerem allguumas crausollas comforme ao dyreyto nos as<br />
avemos aquy por postas e sobpridas taes e quamtas forem necesaryas. E iso mesmo<br />
queremos e nos apraz que a esta seya dado tamto vallor como se fose feyta por mãao<br />
<strong>de</strong> notayro publico e por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> asy // [Fl. 4] asy<strong>na</strong>mos aquy todos e asellamos com<br />
ho sello comvemtuall do ditõ Moesteyro, aos vymte e seys dias do mes <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong><br />
myll e quynhemtos e cymquemta e nove annos.<br />
Frey Paillo prioll, Frey Demeyão vygairo, Frey Yoam d’Evora, Frey Dioguo, Frey<br />
Ber<strong>na</strong>ldo d’Allcobaça.<br />
Em testemunho <strong>de</strong> todo asy pasar <strong>na</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>, o ditõ senhor bispo e procurador<br />
mandarom fazer esta nota e daar <strong>de</strong>lla as partes huum e quamtos estromentos pedyrem.<br />
Testemunhas que a ello forom presemtes o Padre Frey Francysco <strong>de</strong> Barcellos<br />
viguayro do dytõ Moesteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> e Frey Amtonyo <strong>de</strong> Guymarães<br />
profeso do Moesteiro da Costa da ditã Or<strong>de</strong>m e Frey Dioguo convymtuall do ditõ<br />
Moesteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong>.<br />
E alem do sobreditõ disse o senhor bispo que em o ditõ Moesteiro lhe <strong>de</strong>zyam<br />
outra capella pellas pessoas comteudas <strong>na</strong> instituição da mesma capella e por esta<br />
maneyrã são duas capellas que pera sempre lhe ham <strong>de</strong> dyzer. Testemunhas as sobredytas.<br />
// [Fl. 4v] Guaspar Borralho tabalyão o esprevy.<br />
Dom Bras <strong>de</strong> Barros bispo <strong>de</strong> Leyrea, Frey Franncysco <strong>de</strong> Barcellos, Frey Demeyão<br />
vygairo, Frey Dioguo, Frey Amtonyo.<br />
69 Eu Gaspar Boralho moso da camara <strong>de</strong>ll Rey noso senhor publico tabeliam das<br />
notas e judicyall por sual allteza em a dita villa <strong>de</strong> Syntra e seu termo que este estormento<br />
<strong>de</strong> instituiçom em meu lyvro <strong>de</strong> notas notey e nele bem he fyellmente asim<br />
esprevy fyz trelladar e da nota tyrar per a casa da Misericordia por o pedyr o senhor<br />
bispo pera iso e com o proprio consertey e coregy no mall esprito que diz da dita,<br />
costituinte, e o riscado que dizia, comv., que se fez por <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> e sobesprevy e aquy<br />
meu publico sy<strong>na</strong>l fiz que tal he.<br />
(Si<strong>na</strong>l do notário) Pagou <strong>de</strong>ste Lxxx reais. // [Fl. 5]<br />
69 Por letra diferente.<br />
240 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
† O Padre Frei Pedro Barbudo prior do Moesteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Conceição<br />
<strong>de</strong> Val Benfeito da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> noso padre São Hieronimo e o Padre Frei Damião<br />
vigairo e o Padre Frey Sebastiam e o Padre Frei Joam d’Evora e os outros padres e<br />
convento aos que a presente <strong>de</strong>claração virem, sau<strong>de</strong> em Noso Senhor Jesu Christo.<br />
Fazemos saber que vimos a instituição atras escrita e por acharmos estar errada<br />
enquanto diz que o bispo Dom Bras <strong>de</strong> Barros <strong>de</strong>u duzentos e corenta e hum mil reais<br />
pera se dizer a capela como en a dita instituição atras escrita esta dito, nos <strong>de</strong>claramos<br />
e dizemos que a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> he que o dito bispo noso irmão <strong>de</strong>u pera a dita capela duzentos<br />
70 mil reais <strong>de</strong> que se conprarão os vinte mil reais <strong>de</strong> juro cada<br />
ano. E outros tantos <strong>de</strong>u pela primeira capela que antes <strong>de</strong>sta segunda en’a dita casa<br />
tinha instituida. E por todo ser <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> fizemos aqui en as costas <strong>de</strong>sta instituição esta<br />
<strong>de</strong>claração e asi<strong>na</strong>mos <strong>de</strong> nosos si<strong>na</strong>es.<br />
Em oito dias <strong>de</strong> Fe<strong>ver</strong>eiro <strong>de</strong> mil e quinhentos e sesenta anos.<br />
E eu Frey Filippe professo do dito Mosteiro que esto escrevi e asiney.<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
Frey Pedro Barbudo prior.<br />
Frey Damyão <strong>de</strong> Guymarães.<br />
Frei Joam d’Evora.<br />
Frey Sebastiam.<br />
Frei Dioguo. // [Fl. 5v]<br />
Pera a Misericordia da cyda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lyxboa.<br />
Estromento da capella <strong>de</strong> Vall Bemfeito. Segunda.<br />
Doc. 13<br />
1559 AGOSTO, 21, Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra — D. Frei Brás<br />
<strong>de</strong> Barros, primeiro bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, institui, no Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>,<br />
<strong>de</strong> Sintra, uma capela <strong>de</strong> seis missas em cada sema<strong>na</strong>, por sua alma e em louvor <strong>de</strong><br />
Nosso Senhor, para o que lhe faz dotação <strong>de</strong> 250 mil reais.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, Documento com a<br />
numeração antiga: “Mº 5, Nº 88. Nº 657”. Instrumento igual, mas do Mosteiro, no<br />
mesmo maço, com a numeração antiga: “Mº 5, Nº 89. — Nº 658” .<br />
Em nome <strong>de</strong> Deus, amen. Saibhão os que este estromento <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> mysas<br />
e capella vyrem que no anno do Nasymento <strong>de</strong> Noso Senhor Jhesuu Christo <strong>de</strong> myll<br />
e quynhemtos e cymquoemta e nove annos vymte e huum dias do mes <strong>de</strong> Aguosto<br />
em ho Moesteiro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong> sytuado em o termo da villa <strong>de</strong> Symtra,<br />
Diocesys do Arcebispado <strong>de</strong> Lixboa, da Or<strong>de</strong>m do glorioso padre Sam Geronymo em<br />
a casa da emfermarya do dito Moesteiro, estamdo ahy presemte o senhor bispo Dom<br />
70 Riscado: “e corenta”.<br />
| 47 • LEIRIA-FÁTIMA | 241<br />
Reflexões
. história .<br />
Bras <strong>de</strong> Barros fra<strong>de</strong> da dita Or<strong>de</strong>m, primeiro bispo que foy da cyda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leyrea, e<br />
asy estando presemtes o padre 71 prioll e os padres capitullares do dito Moesteiro, scilicet,<br />
Frey Geronymo <strong>de</strong> São Yoão prioll e o Padre Frey Amdre <strong>de</strong> Symtra e o Padre<br />
Frey Ber<strong>na</strong>be e o Padre Frey Antonyo da Mercea<strong>na</strong> e o Padre Frey Pedro <strong>de</strong> Ribafrya<br />
e Frey Amdre da Pomte e Frey Dieguo e Frey Allvaro, loguo por o dito senhor bispo<br />
foi dito em presemça <strong>de</strong> mym tabalyão e testemunhas ao diamte nomeadas que elle,<br />
por serviço e em louvor <strong>de</strong> Noso Senhor, instituya ora em o dito Moesteiro <strong>de</strong> Nosa<br />
Senhora como <strong>de</strong> feito loguo instituyo pera sempre huuma capella // [Fl. 1v] <strong>de</strong> mysas,<br />
as quaes se dyrão da festa ou ferya ocorrente ou se dyrom <strong>de</strong> quem o sacerdote que as<br />
dyser mays <strong>de</strong>vação ty<strong>ver</strong>.<br />
E porem que era cousa grave e onerosa a<strong>ver</strong> huum sacerdote <strong>de</strong> ser obryguado <strong>de</strong><br />
dyzer mysa cada dya e querya que por a ditã capella nom se dissesem mais <strong>de</strong> seys<br />
mysas cada soma<strong>na</strong> por huum sacerdote ou por aqueles a quem forem emcomendadas.<br />
As quais mysas se dyrom pera sempre em louvor <strong>de</strong> Noso Senhor e por a alma do dito<br />
bispo.<br />
E porque era necesaryo que aquelles que servem no alltar vyvam <strong>de</strong>lle dyse que<br />
fazya esmolla ao dito Moesteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> duzemtos e cynquoemta mill reais<br />
pera mercarem fazenda que ren<strong>de</strong>se ao dito Moesteiro ou temça <strong>de</strong> juro e herda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ll Rey noso senhor, que ren<strong>de</strong>se pera sempre. Per a qual fazenda ou juro comprando-se<br />
o dito bispo disse que dava e <strong>de</strong> fecto <strong>de</strong>u ao dito Moestreiro pera sostemtação<br />
da ditã capella pera sempre.<br />
As quaes misas se começarão a dyzer tamto que se emtreguar os ditos duzemtos e<br />
duzentos [sic] e cymquoenta mill reais ao officyall <strong>de</strong> sua allteza pera el hor<strong>de</strong><strong>na</strong>do. E<br />
alem do sobredito dise ho dito bispo que porquamto sua temção era que por rezom //<br />
[Fl. 2] da dita capella e misas o ditõ Moesteiro e comvento <strong>de</strong>lle nom recebesem allguuma<br />
torvação ou meoscabo asy em o esprituall como temporall que a elle aprazya<br />
como <strong>de</strong> fecto aprouve que quando quer que ao ditõ convemto aprou<strong>ver</strong> posa <strong>de</strong>yxar<br />
a ditã capella. E quamto aos duzemtos e cymquoemta myll reais os emtreguaria a Mysericordia<br />
<strong>de</strong> Lixboa, scilicet, ao provedor e irmãos ou a dita tença <strong>de</strong> juro ou fazenda<br />
que pelo ditõ dinheirro for comprada como ditõ he e com todas as esprituras e padrão<br />
da ditã compra. E por este estromento pe<strong>de</strong> ho ditõ bispo por amor <strong>de</strong> Nosso Senhor<br />
ao ditõ provedor e irmãos da ditã Mysericordia que tomamdo primeiro cem <strong>cruz</strong>ados<br />
pera os guastos da ditã casa lhe man<strong>de</strong>m dyzer o mais por que se vem<strong>de</strong>r a ditã tença<br />
ou juro ou o mais que remanecer dos duzemtos e cymquoemta mill reais em mysas<br />
rezadas pelos moesteiros que lhes bem parecer e isto pela tenção acyma <strong>de</strong>crarada.<br />
E loguo elle bispo constituymte pedio ao dyto prioll e comvemto do dito Moesteiro<br />
que avemdo respecto a ditã instituyção ser fecta em louvor e serviço <strong>de</strong> Nosso<br />
Senhor e prol do // [Fl. 2v] comvemto ouvesem por bem em seu nome e dos religiosos<br />
futuros <strong>de</strong> aceptar per sy e pellos que ao dyante forem prometer <strong>de</strong> aguardar pera<br />
sempre asy e da maneira que em ella he comteudo. E loguo ho ditõ prioll e comvemto<br />
em seu nome e dos futuros dyserom que elles vyam e ouvyão a ditã instituyção que<br />
71 Riscou: “frey”.<br />
242 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
lhe per mym tabalyão em presemça das testemunhas foy lyda e <strong>de</strong>crarada e que elles<br />
aceptavão a ditã capella asy e da maneira que nesta instituyção se comtinha. E prometião<br />
como <strong>de</strong> fecto logo prometerom per sy e per todos os padres do dytõ Moesteiro<br />
que ora são e ao dyamte forem <strong>de</strong> se dyzerem as dytas mysas e comprir o mays acyma<br />
dyto, hobryguamdo pera ello os beens do dytõ Moesteiro.<br />
E que avyão por arrenuncyadas todas e quaesquer graças geraes ou especyães<br />
presemtes ou futuras que comtra ho sobreditõ fosem ou se posam aleguar em seu favor<br />
e <strong>de</strong> seu Moesteiro. E asy avyam por beem que ho ditõ bispo posa e<strong>na</strong><strong>de</strong>r lytereyro<br />
ao da outra capella que ja tem instituyda em ho ditõ Moesteiro em que se comtenha o<br />
sumaryo da instituição <strong>de</strong>sta segunda capella.<br />
E logo em presença <strong>de</strong> mym // [Fl. 2v] <strong>de</strong> mym taballyão e testemunhas o dito<br />
bispo mandou entreguar ao ditõ prioll e comvemto em ouro e em prata os ditos duzemtos<br />
e cymquoenta myll reais em dinheiro <strong>de</strong> comtado. E em testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong><br />
o dito bispo e padre prioll e convemto do ditõ Moesteiro mandarom fazer esta nota e<br />
dar <strong>de</strong>lla as partes huum e quamtos estromemtos pedyrem.<br />
Testemunhas que presemtes forom: Frey Manoell e Frey Domynguos padres do<br />
ditõ Moesteyro e Pedro Afonsso homem <strong>de</strong> casa e eu Guaspar Borralho tabalyão em<br />
a dita villa a esprevy.<br />
72 Eu Guaspar Boralho moso da camara <strong>de</strong>l Rey noso senhor e publico tabeliam<br />
das notas e judicyal por sua alteza em ha dita vylla <strong>de</strong> Syntra e seu termo que este<br />
estromento <strong>de</strong> instituiçom em meu lyvro <strong>de</strong> notas notey e <strong>de</strong>lle bem he fyellmente a<br />
fiz trelladar pera o dito senhor bispo e o consertey com o ryscado que dizia frey e nom<br />
faça duvyda on<strong>de</strong> diz duas vezes duzentos porque ha <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> diz duzentos e L ta mill<br />
reais e o sobesprevy e aquy meu publico sy<strong>na</strong>ll fiz que tal he. (Si<strong>na</strong>l).<br />
Pago <strong>de</strong>sta com nota e ida duzentos e vinte reais. // [Fl. 3]<br />
Pera o senhor bispo.<br />
† Instituição da capella <strong>de</strong> Nossa Senhora da Penma, polla alma do bispo somente.<br />
Outra como esta anda no cartorio. 1559.<br />
Doc. 14<br />
1561 MARÇO, 22, Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra — Testamento<br />
<strong>de</strong> D. Fr. Brás <strong>de</strong> Barros, bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. Com aprovação e validação, do mesmo,<br />
datadas <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Março e 1 <strong>de</strong> Abril do mesmo ano.<br />
TT — Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> Sintra, Mº 7, doc. com a cota antiga:<br />
“Mº 5, Nº 87. — Nº 656.”<br />
B) Cópia quinhentista só do testamento: BNP — Manuscritos, Cod. 28, Nº 99,<br />
fls. 91-93.<br />
72 Des<strong>de</strong> aqui, o assento foi lançado por mão do próprio Gaspar Borralho.<br />
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Reflexões
. história .<br />
In nomine sancte et indiuiduae Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti, amen.<br />
Frei Bras <strong>de</strong> Barros, fra<strong>de</strong> da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nosso padre São Hieronimo, per merce <strong>de</strong><br />
Deus, e da Sancta Madre Igreja <strong>de</strong> Roma, bispo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, , estando em todo meu entendimento e rezão que ho Senhor<br />
Deus me <strong>de</strong>u, e temendo a ora da morte, <strong>de</strong>claro minha ultima vonta<strong>de</strong> e faço meu<br />
testamento, per a maneira seguinte:<br />
Item primeiramente porque a fee he fundamento <strong>de</strong> todas as <strong>ver</strong>tu<strong>de</strong>s, e sem fee<br />
imposivel he aprazer a Deus, diguo que eu creo em Deus todo po<strong>de</strong>roso, Padre, Filho<br />
e Spiritu Sancto, trino em pressoas, e hum em essencia, assi em tam inteiramente<br />
como se contem em os tres simbolos, scilicet, em ho dos apostolos, e em ho do concilio<br />
<strong>de</strong> Nice<strong>na</strong>, e <strong>de</strong> Ata<strong>na</strong>sio. E em esta sancta fé, assi como a sancta madre igreja<br />
catholica cre e confessa, vivo, e protesto <strong>de</strong> vi<strong>ver</strong> em mãos <strong>de</strong>ste Senhor. E peço a<br />
gloriosa Virgem Maria sua madre, e a nosso Padre São Hieronimo, e a toda a corte<br />
celestial rogue por mim peccador.<br />
Item mando que quando Nosso Senhor for servido que eu passe da vida presente,<br />
meu corpo seja enterrado em a claustra <strong>de</strong>ste Mosteiro, que se diz <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Pe<strong>na</strong>, em o luguar que os padres me tem dado, ante o capitolo. Em o qual mosteiro<br />
ora estou recolhido, porque tenho renunciado o Bispado por minha fraqueza e velhice<br />
e outras enfermida<strong>de</strong>s.<br />
Item mando que em o dia <strong>de</strong> minha sepultura, me diguam conventualmente huma<br />
missa rezada, e assi me dirão ho officio dos fi<strong>na</strong>dos, e enterramento, tudo rezado. E ha<br />
oferta offereceram somente huma tocha acesa. E alem do sobredito, me dirão mais no<br />
dito dia da sepultura, ou quanto mais em breve po<strong>de</strong>r ser, doze missas rezadas. // [Fl.<br />
1v] E por a sobredita maneira, me farão com a mesma offerta ao septimo dia, e mes e<br />
anno. E quanto ao tanger dos sinos, não me tangerão mais, nem farão mais si<strong>na</strong>is com<br />
elles, do que acustumão fazer por qualquer religioso <strong>de</strong>funto. E o mesmo se fara em<br />
a mais pompa funeral.<br />
Item mando que ao dito Mosteiro on<strong>de</strong> meu corpo sera sepultado, que por trabalho<br />
dos ditos officios, assi como da sepultura e dos outros tres, se <strong>de</strong> d’esmola por cada<br />
hum officio, com as tochas, <strong>de</strong>z <strong>cruz</strong>ados.<br />
Item <strong>de</strong>ixo por meus testamenteiros ao Re<strong>ver</strong>endo Padre Frei Bras d’Olivença,<br />
provincial que ora he <strong>de</strong>sta Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nosso Padre Sam Hieronimo, estando o dito<br />
padre em estas tres casas, scilicet, Bethlem, Pe<strong>na</strong>longua e Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>. E<br />
sendo ausente <strong>de</strong>stas tres casas ficara por meu testamenteiro ho padre que em esta casa<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong> for prior. E a elles peço por amor <strong>de</strong> Nosso Senhor queirão<br />
aceitar ho dito trabalho, como em suas re<strong>ver</strong>encias confio, e eu tenho que faria se per<br />
elles (salva a obediencia <strong>de</strong> todos) me fosse encomendado, porque pera o po<strong>de</strong>rem fazer<br />
e aceitar, eu tenho licença do padre provincial, e padres do capitolo privado, como<br />
se <strong>ver</strong>a por seu <strong>de</strong>spacho que esta em as costas <strong>de</strong> nossa petição, a qual se achara em<br />
o nosso scritorio e almario, que esta fechado, ha mão esquerda, abrindo-se o scritorio.<br />
Item <strong>de</strong>claro que tenho pago a todos meus criados e a todos aqueles que me ajudarão<br />
em o dito officio <strong>de</strong> bispo. E a Antonio d’Almeida que comiguo rezava <strong>de</strong>ixo<br />
os corenta mil reais que lhe tenho dado, e apartado ha dias em ha arca do convento<br />
244 | LEIRIA-FÁTIMA • 47 |
. história .<br />
<strong>de</strong>ste Moesteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>. E se os que tenho por soldada não forem<br />
paguos, mando que se paguem.<br />
Item as dinida<strong>de</strong>s e cabido da Sé <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, a quem // [Fl. 2] eu procurei tanto bem,<br />
me <strong>de</strong>mandarão ha certos annos, por certas rendas contiudas em ha instituição da Igreja,<br />
que por mandado do Sancto Padre com conselho e parecer <strong>de</strong> el Rei Dom João meu<br />
senhor que sancta gloria aja, mandou que fizese, diguo que se caso for, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
minha morte elles ou alguns <strong>de</strong>lles, quiserem tor<strong>na</strong>r ha <strong>de</strong>manda ou mo<strong>ver</strong> outra <strong>de</strong>manda,<br />
por me auxar, porque a <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> he e assi ho certeficio por a ora em que ei-<strong>de</strong><br />
estar em aquelle dia ultimo, e por todo o mais que eu posso como religioso e bispo,<br />
que assi por o que esta manifesto em direito, e por conselho <strong>de</strong> bons letrados, que eu<br />
não lhes <strong>de</strong>vo <strong>na</strong>da, como todo se <strong>ver</strong>a por os passes que estão em ho nosso scritorio.<br />
E porem em tal caso diguo, que se caso for, as dinida<strong>de</strong>s, ou cabido ou qualquer <strong>de</strong>les<br />
particular da dita Sé, ou outra alguma pessoa quiser fazer <strong>de</strong>manda que toque ou possa<br />
tocar, ou ser em perjuizo das capelas que tenho feitas e instituidas em os moesteiros<br />
<strong>de</strong>sta Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nosso Padre São Hieronimo, ou doutras esmolas, que peço por amor<br />
<strong>de</strong> Nosso Senhor ao padre provincial e padres priores da dita Or<strong>de</strong>m, que a custa das<br />
ditas capellas, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> dizer as missas que lhe bem parecer, <strong>de</strong>fendam as instituições<br />
das ditas capellas. E do mais quanto direito po<strong>de</strong>r ser, porque eu nunqua <strong>de</strong>sejei<br />
tomar ho do cabido, mas fazer-lhe bem. E todo o sobredito se fara, tambem se alguum<br />
ou alguuns quiserem <strong>de</strong>mandar alguum serviço, porque a todos tenho paguo, salvo se<br />
fosse alguum que tivesse por soldada.<br />
Item <strong>de</strong>claro que eu tenho bula do Sancto Padre que me passou o seu nuncio Pomponio<br />
Zambicario, per o po<strong>de</strong>r que pera ello tinham pera testar ate mil e quinhentos<br />
<strong>cruz</strong>ados. A qual bula se achara em o dito nosso scritorio // [Fl. 2v] em o dito almario.<br />
E com ella se achara ho trelado em pubrico do breve, por on<strong>de</strong> o Sancto Padre conce<strong>de</strong>o<br />
ao dito nuncio a sobredita faculda<strong>de</strong>. E por tanto essa pobreza <strong>de</strong> fato que me<br />
for achada, per qualquer modo que seja, <strong>de</strong>ixo toda ao Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Pe<strong>na</strong>, don<strong>de</strong> são professo.<br />
Item <strong>de</strong>ixo ao Moesteiro da Madre <strong>de</strong> Deus on<strong>de</strong> está minha irmam Soror Ines da<br />
Resurreição, trinta <strong>cruz</strong>ados d’esmola.<br />
Item mando que o dinheiro que se achar, e assi o que por boa conta me for <strong>de</strong>vido<br />
da minha pensão, que tirados os legados que mando paguar, se guaste em o cerco da<br />
dita casa <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>, se ainda não for acabado, ou em as ermidas, que<br />
<strong>de</strong>ntro nelle ham <strong>de</strong> estar. E se tudo for acabado, <strong>de</strong>ixo qualquer cousa que me for<br />
achado em dinheiro, ao dito Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pe<strong>na</strong>, <strong>de</strong> esmola.<br />
Item porque <strong>de</strong>pois dos testamentos feitos e cerrados, lembrão algumas cousas,<br />
diguo que meus testamenteiros paguarão qualquer cousa que acharem que mando<br />
paguar, ou fazer, ou dar em esmola, por meu mandado e asi<strong>na</strong>do per mim, ho qual<br />
asi<strong>na</strong>do tera tanto viguor e força como se fosse clausula inserta e posta em este meu<br />
testamento, sem embarguo <strong>de</strong> ser contrairo ha alguma clausula, ou clausulas do dito<br />
testamento, ou as <strong>de</strong>roguar, porque assi quero e he minha ultima vonta<strong>de</strong> que valha.<br />
E todo o sobredito se comprira, e fara, e neguoceara a custa da fazenda que me for<br />
achada por meu falecimento, sem embarguo do sobredito.<br />
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Reflexões
. história .<br />
Item por o sobredito ei por findo e acabado este meu testamento, e <strong>de</strong>roguado outro<br />
qualquer que ante este aja // [Fl. 3] feito. E peço por amor <strong>de</strong> Nosso Senhor a meus<br />
testamenteiros que assi ho cumpram. E por certeza <strong>de</strong> todo assinei este <strong>de</strong> minha mão,<br />
e aselei com ho sello que serve ante mim.<br />
Em vinte e dous dias <strong>de</strong> Março. Testemunhas que presentes forão o Padre Frei<br />
Jeronimo <strong>de</strong> Lixboa, e o Padre Frei Bar<strong>na</strong>be e o Padre Frei Andre da Ponte. Frei Cosmo<br />
<strong>de</strong> Lixboa o fez escre<strong>ver</strong> por mandado do dito Bispo, anno <strong>de</strong> mil e quinhentos e<br />
sesenta e huum.<br />
Não faça duvida a antrelinha que diz e do conselho <strong>de</strong>l Rei nosso senhor.<br />
Item ao assi<strong>na</strong>r <strong>de</strong>ste testamento não se achou presente ho Padre Frei Hieronimo<br />
<strong>de</strong> Lixbõa, por ser ausente e não assinou, mas assinou o Padre Frei Antonio da Mercea<strong>na</strong>,<br />
sãocristão da dita casa.<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
Dom Bras <strong>de</strong> Barros, bispo <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />
Frei Barnbabe.<br />
Frei Andre da Ponte.<br />
Frei Cosmo <strong>de</strong> Lixboa.<br />
(Vestígios do sinete)<br />
Saybam quamtos este estromento d’aprovaçam vyrem que no ano do <strong>na</strong>symento<br />
<strong>de</strong> Nosso Senhor Jhesu Christo <strong>de</strong> myll e quynhemtos e sesemta e huum anos, haos<br />
vymte quatro dias // [Fl. 3v] do mes <strong>de</strong> Marso em ho Moesteyro <strong>de</strong> Nosa Senhora da<br />
Pe<strong>na</strong>, junto da vyla <strong>de</strong> Syntra, em has quasas do dito Moesteyro, jazemdo <strong>de</strong>ytado<br />
doemte em huma cama Dom Bras <strong>de</strong> Barros, byspo <strong>de</strong> Leyria, do conselho <strong>de</strong>l Rey<br />
noso senhor, logo por ele da sua mão ha mynha, presemtes testemunhas ao dyamte,<br />
nomeadas <strong>de</strong>u ha mym tabeliam hesta cedola <strong>de</strong> testamento hatras espryta feyta por<br />
ho Padre Frey Cosmo, fra<strong>de</strong> profeso da dita casa, espryta em duas laudas digo em<br />
quatro laudas <strong>de</strong> papel e meia hasy<strong>na</strong>da por ho dito byspo e ao pe haselada do seu<br />
sello que serve peramte elle. E tambem estava asy<strong>na</strong>da por ho Padre Frey Ber<strong>na</strong>be e<br />
Frey Amtonyo samcrystam e Frey Amdre da Pomte e Frey Cosmo todos padres da<br />
dita casa. E digo que esta asy<strong>na</strong>da e feyta por hos ditos padres segumdo ao pareser <strong>de</strong><br />
mym tabeliam. E ho tido byspo estava em todo seu syso e emtemdymento segumdo ao<br />
pareser <strong>de</strong> mym tabeliam e das testemunhas ao diamte no // [Fl. 4] meadas. E logo por<br />
elle foy dyto que havya ha dita sedola <strong>de</strong> testamento por firme e valyosa. E queria e<br />
mandava que em todo se compryse e goardase como se nella continha porque esta era<br />
ha sua hulltima e <strong>de</strong>ra<strong>de</strong>yra vomta<strong>de</strong>. E que ha havya por seu <strong>ver</strong>da<strong>de</strong>yro testamento.<br />
E por ela quebrava todos outros testamentos, sedolas, quou<strong>de</strong>sylhos que amtes <strong>de</strong>lla<br />
tyvese feytos. E que esta so valha. E em testemunho <strong>de</strong> <strong>ver</strong>da<strong>de</strong> hasym ho outorgou e<br />
mandou ser feito este estromento <strong>de</strong> haprovasam.<br />
Testemunhas que forão presentes: Frey Amdre da Pomte, e Frey Diogo <strong>de</strong> Lysboa,<br />
e Frey Alvoro d’Olivemsa, e Frey Diogo proffeso da dita casa, e Frey Cosmo, e Frey<br />
Hylario, e Frey Joam <strong>de</strong> Syqueyra prior da dita casa, a que ho dito bispo rogou que<br />
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. história .<br />
por ele asy<strong>na</strong>se por não po<strong>de</strong>r hasi<strong>na</strong>r e como testemunha. E eu Belchior Alvarez publico<br />
tabeliam das notas e judysyall por ell Rey noso // [Fl. 4v] senhor em esta vylla<br />
<strong>de</strong> Symtra e seu termo que este estromento <strong>de</strong> testamento esprevy dygo d’aprovasam<br />
escrevy e aquy meu publico sy<strong>na</strong>ll fyz que tal he como se segue. (Si<strong>na</strong>l). Pagou nihil.<br />
(Assi<strong>na</strong>turas)<br />
Frey Joam <strong>de</strong> Sequeira, prior.<br />
Frei Andre da Ponte.<br />
Frey Alvaro d’Olivença<br />
Frey Diogo.<br />
Frey Diogo <strong>de</strong> Lysboa.<br />
Frei Yllario.<br />
Frei Cosmo <strong>de</strong> Lixboa.<br />
Cumpra-se – Giraldo D’Almeida. // [Fl. 5]<br />
Ano do Nasymento <strong>de</strong> Noso Senhor Jhseu Christo <strong>de</strong> myll e quynhenmtos e sesemta<br />
e hum anos, ao prymeyro dya do mes d’Abril, em ha vylla <strong>de</strong> Symtra, em has<br />
pousadas do Lesemseado Gyralldo d’Almeyda juiz <strong>de</strong> fora com alsada por el Rey<br />
noso senhor em ha dita vyla e seu termo peramte ele pareseo Frey Amtonio samcristão<br />
do Moesteyro <strong>de</strong> Nosa Senhora da Pe<strong>na</strong>. E logo por ele foy dado ao dito juiz ho testamento<br />
hatras conteudo, ho qual vinha serado e aselado com os sy<strong>na</strong>is do dito byspo<br />
testador que eu tabeliam vy. E logo ele juiz abryo e leo e visto e aberto mandou que se<br />
compryse como se nele contynha segumdo logo por por seu <strong>de</strong>spacho que hatras fyqa.<br />
E eu Belchyor Alvarez tabeliam que hesto esprevy.<br />
Pagou nihil.<br />
Doc. 14: Pormenor das assi<strong>na</strong>turas do fólio 3.<br />
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Reflexões
. história .<br />
Doc. 15<br />
[1561 MARÇO, 31, Coimbra] – Registo da morte <strong>de</strong> D. Frei Brás <strong>de</strong> Barros, da<br />
autoria <strong>de</strong> D. Frei Gabriel <strong>de</strong> Santa Maria, cónego do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong><br />
Coimbra.<br />
TT – Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra, Maço <strong>de</strong> Livros Nº 3, Livro 8, fl. não numerado.<br />
Publ.: AZEVEDO, Pedro <strong>de</strong> – “Rol dos Cónegos Regrantes <strong>de</strong> Santo Agostinho<br />
<strong>de</strong> D. Gabriel <strong>de</strong> S. Maria”, in Boletim da 2ª Classe da Aca<strong>de</strong>mia das Sciencias <strong>de</strong><br />
Lisboa, Vol. XI, 1916-1917, pp. 105 e seguintes.<br />
1561 – Março, 31. D. Brás <strong>de</strong> Barros.<br />
Fidalgo dos Barros <strong>de</strong> Braga, criado <strong>na</strong> corte e sabia muito bem a policia cortesã<br />
daquelle tempo, que foi a mais perfeita que se podia, como se uzava <strong>na</strong> casa da rainha<br />
Do<strong>na</strong> Lianor , molher que foi <strong>de</strong>l rei Dom João 2º. Tambem foi<br />
exercitado em as armas em Africa, e sabia muito bem o uso solda<strong>de</strong>sco, e tudo isto<br />
pos <strong>de</strong> parte, e se entregou a Deus. E soube a discipli<strong>na</strong> monástica religiosa que como<br />
digo em toda a sua Or<strong>de</strong>m foi escolhido e achado idóneo pera esta tam gran<strong>de</strong> obra,<br />
e aperfeiçoou tanto. Foi o 1º bispo <strong>de</strong> Leyrea que até então era <strong>de</strong>ste Mosteiro com<br />
suas rendas.<br />
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