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59. Leiria-Fatima_ed_45.pdf - Diocese Leiria-Fátima

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ANO XVI • NÚMERO 45 • JANEIRO / JUNHO • 2008<br />

• Destaque • Bispo diocesano ao encontro da realidade eclesial e social • pág. 77<br />

D. António Marto inicia<br />

Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong><br />

• Documentos • Um novo olhar pastoral • pág. 11<br />

Paróquia, Vigararia e Missão do Vigário<br />

• História • Saul António Gomes • pág. 153<br />

Capelas e ermidas na paróquia da Batalha em Setecentos<br />

• História • Ricardo Pessa de Oliveira • pág. 173<br />

As Relações de Entrada do Bispo de <strong>Leiria</strong> D. João Cosme da Cunha (1746)<br />

DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO


<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

Órgão Oficial da <strong>Diocese</strong><br />

ANO XVI • NÚMERO 45 • JANEIRO / JUNHO • 2008


Ficha Técnica|<br />

Director | Luís Inácio João<br />

Chefe de R<strong>ed</strong>acção | Luís Miguel Ferraz<br />

Administrador | Henrique Dias da Silva<br />

Conselho de R<strong>ed</strong>acção<br />

| Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,<br />

Manuel Melquíades, Saul Gomes<br />

Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz<br />

Propri<strong>ed</strong>ade/Editor | <strong>Diocese</strong> <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais<br />

S<strong>ed</strong>e<br />

Periodicidade | Semestral<br />

| Seminário Diocesano de <strong>Leiria</strong> • 2414-011 <strong>Leiria</strong><br />

Tel.: 244832760 • Fax: 244821102<br />

Correio Elec.: revista@leiria-fatima.pt<br />

Tiragem | 330 exemplares<br />

Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)<br />

Impressão | Gráfica de <strong>Leiria</strong><br />

Depósito Legal | 64587/93


Índice<br />

. <strong>ed</strong>itorial .<br />

Laicidade… ainda e sempre 5<br />

Documentos•••<br />

. decretos .<br />

Nomeação • Capelão do Santuário de <strong>Fátima</strong> 9<br />

Decreto • Remuneração do clero e funcionários 9<br />

Nomeação • Vigário Paroquial de Pataias e Alp<strong>ed</strong>riz 10<br />

. documentos pastorais .<br />

Um Novo Olhar Pastoral • Paróquia, Vigararia e Missão do Vigário 11<br />

Quaresma 2008 • Tempo de acolhimento da Ternura de Deus 17<br />

Nota Pastoral • Convite para o “Jubileu das vocações” 19<br />

Mensagem do Bispo às crianças da catequese • “Jesus é fonte de vida e de ternura” 20<br />

Nota pastoral • Processo de aceitação de Candidatos à Leccionação da Disciplina<br />

de Educação Moral e Religiosa Católica na <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> 21<br />

Mensagem aos pais e encarregados de <strong>ed</strong>ucação • Educação Moral e Religiosa Católica 22<br />

Nota pastoral •Critérios para a admissão e recondução de docentes<br />

de Educação Moral e Religiosa Católica na <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> 23<br />

. escritos episcopais .<br />

Homilia Dia Mundial da Paz • Onde bate hoje o coração da paz 27<br />

55º Dia Mundial dos Leprosos • Também os leprosos invocam a nossa Ternura 31<br />

Homilia na Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada • Cristo é tudo para vós, consagrados(as) 32<br />

M<strong>ed</strong>itações e homilias do Ano da Misericórdia do Senhor • Introdução ao livro “Graça e Misericórdia” 36<br />

Inauguração do Domus Carmeli – Padres Carmelitas Descalços – <strong>Fátima</strong> • Casa de Deus e Porta do Céu 38<br />

Exéquias do padre Manuel António Henriques • Um Pastor Terno e Generoso 41<br />

Mensagem • 75º aniversário do Jornal “A Voz do Domingo” 43<br />

Homilia da Missa Crismal • Servidores da Ternura e da Consolação de Deus 44<br />

Mensagem para a publicação anual da Cercilei • 24º Sarau de Actividades Corporais 49<br />

Abertura das XVI Jornadas de Direito Canónico • O Direito, a Caridade e a Comunhão Fraterna 50<br />

Mensagem de Abertura • Peregrinação de Maio a <strong>Fátima</strong> 53<br />

Intervenção nas Jornadas Pastorais da CEP • “Comunhão e Missão” 55<br />

. diversos .<br />

Comunicado do Conselho Pastoral • Reflexão sobre a Palavra de Deus 68<br />

Comunicado do Conselho Presbiteral • Escutar e acolher a Palavra de Deus 69<br />

Comunicado do Conselho Pastoral • Co-responsabilidade dos leigos 70<br />

Comunicado do Conselho Presbiteral • Professar, celebrar e viver a fé 71<br />

Resumo Geral das Contas - Ano de 2007 • Seminário Diocesano de <strong>Leiria</strong> 72<br />

Vida Eclesial•••<br />

. destaque .<br />

Bispo diocesano ao encontro da realidade eclesial e social • D. António em Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong> 77<br />

Já não se fazia há cerca de 30 anos…<br />

Entrevistas aos párocos<br />

Encerramento da Visita Pastoral à vigararia da Batalha • “Desejo paróquias fraternas e em r<strong>ed</strong>e”<br />

“Lectio Divina” preparou a visita pastoral<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 3


Índice<br />

. notícias .<br />

<strong>Diocese</strong> peregrina sob o signo da ternura • “Oh, quanto eu sonho… ver comunidades renovadas” 87<br />

Formação Permanente do Clero / Dia Mundial do Doente 90<br />

Retiro popular: Saborear a ternura de Deus 91<br />

Quinta-Feira Santa - Missa crismal - Óleo da consolação 92<br />

D. António Marto eleito vice-presidente da CEP / Primeira p<strong>ed</strong>ra da igreja dos Pousos 93<br />

Assembleia do Clero: o Sensus ecclesiae 94<br />

Padre Jorge Guarda: 25 anos de sacerdócio 95<br />

Padre Carlos Cabecinhas, Doutor em Liturgia / Movimentos na vigília de Pentecostes 96<br />

AMIGrante promoveu “Festa dos Povos” / D. António representa CEP na Alemanha 97<br />

<strong>Diocese</strong> celebra Corpo de Deus / Igreja ajuda a divulgar complemento solidário para idosos 98<br />

Falecimento • Padre Manuel Pereira Júnior 99<br />

Falecimento • Padre Manuel António Henriques 100<br />

. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

Mensagens de agradecimento a Nossa Senhora / Mais de 199 mil confissões em2007 101<br />

Abertura do processo de beatificação da Ir Lúcia 101<br />

Igreja da Ssma Trindade recebe Prémio Secil / II Encontro de Reitores de Santuários de Portugal 102<br />

VI Bênção do Ciclista / Guias-intérpretes estudam os Jesuítas 103<br />

Encontro de Hoteleiros e Responsáveis de Casas Religiosas 103<br />

Livro de “M<strong>ed</strong>itações do Ano da Misericórdia” / Padre Virgílio Antunes será o novo reitor 104<br />

“Via Lucis” na igreja da Santíssima Trindade 106<br />

. serviços e movimentos .<br />

Centro de Apoio ao Ensino Superior 107<br />

Centro de Formação e cultura 108<br />

Semana Nacional da Cáritas • Solidari<strong>ed</strong>ade na primeira linha 109<br />

Serviço Pastoral das Prisões • Nas prisões… “A Caminho de Emaús” 112<br />

Comissão Diocesana Justiça e Paz - Ciclo de Colóquios • “Direitos Humanos e Realidades Actuais” 113<br />

Serviço Diocesano de Catequese 116<br />

Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica e Música Sacra • Curso de música litúrgica 117<br />

Departamento do Património Cultural • Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 119<br />

Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil • Festival da Canção Jovem 120<br />

Conselho Diocesano da Família • Acção das famílias em favor das famílias 121<br />

Serviço de Animação Vocacional 123<br />

Espectáculo de solidari<strong>ed</strong>ade do grupo Ondjoyetu • Obrigado a todos! 128<br />

. entrevistas .<br />

Grupo Ondjoyetu - Entrevista a D. Ben<strong>ed</strong>ito Roberto • Geminação <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>/Sumbe 129<br />

Entrevista ao padre Augusto Pascoal • S. Romão e Guimarota em movimento 131<br />

Reflexões•••<br />

. teologia/pastoral .<br />

Do sofrimento à Páscoa • Histórias actuais da Paixão 135<br />

Para além das políticas / Um exemplo de “economia de comunhão” • Dignidade do trabalho 140<br />

Semana da Vida - À luz da Encíclica Spe Salvi de Bento XVI • Vida com Esperança 145<br />

Breves notas históricas • A Misericórdia de <strong>Leiria</strong> e o seu hospital 151<br />

. história .<br />

Saul António Gomes • Capelas e ermidas na Paróquia da Batalha em Setecentos 153<br />

Ricardo Pessa de Oliveira • As Relações de Entrada do Bispo de <strong>Leiria</strong> D João Cosme da Cunha (1746) 173<br />

4 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Laicidade… ainda e sempre<br />

Editorial<br />

No último Editorial, mencionámos a Laicidade como um caso de aplicação do respeito<br />

das liberdades fundamentais de pensamento, de expressão e de associação, designadamente,<br />

no cumprimento do dever de construção comum da vida social. Insistimos ainda<br />

na aplicabilidade do mesmo princípio a todos os âmbitos em que a pessoa, investindo<br />

a sua inteligência e decisão, desenvolve e explana a sua personalidade com ressonâncias<br />

na soci<strong>ed</strong>ade. A prioridade não está na religião, na política, na economia ou em qualquer<br />

outro âmbito, mas na pessoa enquanto sujeito pensante e responsável.<br />

Voltando à vida social e à coexistência do individual e do colectivo, deparamo-nos<br />

com a importância do princípio operativo da prevalência do verdadeiro bem comum.<br />

Entre as demais instâncias da soci<strong>ed</strong>ade civil, e não se limitando a expectante, a Igreja<br />

propõe o seu contributo, tanto na ordem da reflexão, como da prossecução prática do bem<br />

comum. Bastará consultar o índice temático do Compêndio da Doutrina Social da Igreja<br />

para se concluir que o ensinamento social católico tem aqui um dos seus núcleos que lhe<br />

confere uma impressionante aplicabilidade prática.<br />

Valerá a pena destacar alguns aspectos fundamentais desse ensinamento:<br />

- À luz de um humanismo integral e solidário, o bem pessoal e o bem comum não<br />

litigiam, antes se pressupõem e se exigem mutuamente. Orientado para a pessoa marcada<br />

pela vocação originária da comunhão, o bem comum é um dos gonzos, ou princípios<br />

permanentes da Doutrina Social da Igreja, a par da dignidade da pessoa humana, da<br />

subsidiari<strong>ed</strong>ade e da solidari<strong>ed</strong>ade, todos expressão da verdade inteira sobre o homem<br />

conhecida através da razão e da fé, e todos promanando do encontro da mensagem<br />

evangélica (…) com os problemas que emanam da vida em soci<strong>ed</strong>ade (n.º 160). Estes<br />

princípios, conexos e articulados (cf. n.º 162), são considerados primeiro e fundamental<br />

parâmetro de referência para a interpretação e o exame dos fenómenos sociais, necessários,<br />

porque, a partir deles, se podem apreender os critérios de discernimento e de<br />

orientação do agir social, em todos os âmbitos (n.º 161).<br />

- O bem comum caracteriza-se pela sua universalidade, dizendo respeito a todos, e<br />

pela integralidade do seu conteúdo, contemplando todos os aspectos humanos, com exigências<br />

estreitamente conexas com a promoção integral da pessoa e com os seus direitos<br />

fundamentais (n.º 166). Porque a pessoa não pode encontrar plena realização apenas em<br />

si mesma, prescindindo do seu ser “com” e “pelos” outros, nenhuma forma expressiva<br />

da sociabilidade — da família ao grupo social intermédio, à associação, à empresa de<br />

carácter económico, à cidade, à região, ao Estado, até à comunidade dos povos e das<br />

nações — pode evitar a interrogação sobre o próprio bem comum, que é constitutivo do<br />

seu significado e autêntica razão de ser da sua própria subsistência (n.º 165).<br />

- O bem comum é tarefa solidária e responsável de todos. Empenha todos os membros<br />

da soci<strong>ed</strong>ade: ninguém está escusado de colaborar, de acordo com as próprias possibilidades,<br />

na sua busca e no seu desenvolvimento (n.º 167). As suas exigências referem-se,<br />

antes de mais, ao empenho pela paz, à organização dos poderes do Estado, a uma sólida<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 5


Editorial<br />

ordem jurídica, à salvaguarda do ambiente, à prestação dos serviços essenciais às pessoas,<br />

alguns dos quais são, ao mesmo tempo, direitos do homem: alimentação, morada,<br />

trabalho, <strong>ed</strong>ucação e acesso à cultura, saúde, transportes, livre circulação das informações<br />

e tutela da liberdade religiosa. Não se há-de olvidar o contributo que cada nação<br />

tem o dever de dar (…) em vista do bem comum da humanidade inteira (n.º 166).<br />

- Mas a tarefa do bem comum está ainda conexa com o princípio da subsidiari<strong>ed</strong>ade:<br />

a sua promoção e realização incumbem não só às pessoas, individualmente, mas também<br />

ao Estado, pois que o bem comum é a razão de ser da autoridade política (n.º 168). O<br />

Estado deve garantir coesão, unidade e organização à soci<strong>ed</strong>ade civil da qual é expressão,<br />

de modo que o bem comum possa ser conseguido com o contributo de todos os<br />

cidadãos. O indivíduo humano, a família, os corpos intermédios não são capazes, por si<br />

próprios, de chegar ao seu pleno desenvolvimento; daí serem necessárias as instituições<br />

políticas (idem).<br />

Na cooperação de todos, o princípio da subsidiari<strong>ed</strong>ade aplica-se tanto no sentido<br />

positivo, como ajuda económica, institucional, legislativa oferecida às entidades sociais<br />

menores, como no sentido negativo, que impõe ao Estado abster-se de tudo o que, de facto,<br />

restrinja o espaço vital das células menores e essenciais da soci<strong>ed</strong>ade. Não se devem<br />

suplantar a sua iniciativa, liberdade e responsabilidade (n.º 186).<br />

Mesmo que diversas circunstâncias possam aconselhar que o Estado exerça uma<br />

função de suplência (…), esta suplência institucional não se deve prolongar e estender<br />

além do estritamente necessário, já que encontra justificação somente no carácter<br />

excepcional da situação. Em todo o caso, o bem comum (…) deverá continuar a ser o<br />

critério de discernimento acerca da aplicação do princípio de subsidiari<strong>ed</strong>ade (n.º 188).<br />

E nunca esquecer que uma consequência característica da subsidiari<strong>ed</strong>ade é a participação<br />

e que a participação, como indivíduo ou associado com outros, directamente ou<br />

por meio de representantes, (…) na vida cultural, económica, política e social da comunidade<br />

civil a que pertence (…) é um dever a ser conscientemente exercitado por todos,<br />

de modo responsável e em vista do bem comum (n.º 189).<br />

- A solicitude particular com os menos armados para a defesa dos seus direitos e legítimos<br />

interesses, dizia João XXIII (Pacem in terris), aprende-se directamente do próprio<br />

Jesus Cristo, que assim proc<strong>ed</strong>eu, e é um ditame, antes de mais, da justiça e da equidade.<br />

Esta solicitude aplica-se a toda a espécie de bens, por isso igualmente ao bem comum.<br />

E não sé dever apenas dos cristãos, por força do exemplo de Jesus, já que é elementar<br />

exigência da justiça a que ninguém pode eximir-se, desde os cidadãos ao Estado.<br />

Na Laicidade, afirmação prática dos direitos fundamentais de pensar, exprimir-se e<br />

associar-se, os cristãos apresentam-se conscientes da vocação de todos para a comunhão<br />

e acr<strong>ed</strong>itando em Jesus Cristo que, considerando-nos superiores a si mesmo, se pôs completamente<br />

ao serviço de todos (cf. Fl 2, 6-10). Esta sua inspiração peculiar só pode trazer<br />

vantagens à participação na tarefa, que é comum a crentes e não crentes, de garantir a<br />

todos o respeito dos seus direitos. Fazem parte do bem comum essencial os direitos de<br />

pensamento, expressão e associação, que são condição imprescindível à realização do<br />

mesmo.<br />

6 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Documentos<br />

. decretos . documentos pastorais .<br />

. escritos episcopais . diversos .


. decretos .<br />

Nomeação<br />

Capelão do Santuário de <strong>Fátima</strong><br />

António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, faz<br />

saber quanto segue:<br />

Sendo necessário prover ao cuidado pastoral dos fiéis que se deslocam ao Santuário<br />

de <strong>Fátima</strong>, e tendo obtido a devida anuência do Bispo de Valladolid, na Espanha,<br />

havemos por bem nomear o Rev. P. Ángel Antonio Alonso, presbítero da <strong>Diocese</strong><br />

de Valladolid, para as funções de Capelão do Santuário de <strong>Fátima</strong>. Exercerá o seu<br />

ministério sob a orientação do Revº Reitor do Santuário de <strong>Fátima</strong>, e com todos os<br />

poderes e deveres previstos no Código de Direito Canónico, tendo em conta o que é<br />

estabelecido nos cânones 564-566.<br />

Esta nomeação é válida pelo período de três anos.<br />

Documentos<br />

<strong>Leiria</strong>, 3 de Janeiro de 2008.<br />

† António Augusto dos Santos Marto<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

Decreto<br />

Remuneração do clero e funcionários<br />

António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, faz<br />

saber quanto segue:<br />

De acordo com os Artigos 67º, 68º e 69º do Regulamento da Administração de<br />

Bens da Igreja, a remuneração do Clero e funcionários dos serviços diocesanos terá<br />

um aumento de 3% neste ano de 2008.<br />

O salário mensal do Clero será no valor de 824,00 €.<br />

A mesma percentagem (3%) será aplicada à quantia correspondente ao alojamento<br />

daqueles que residem em casa da entidade patronal, passando a ser de 268,00 €.<br />

Estas alterações são aplicáveis a partir do mês de Janeiro de 2008.<br />

<strong>Leiria</strong>, 26 de Janeiro de 2008.<br />

† António Augusto dos Santos Marto<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 9


. decretos .<br />

Nomeação<br />

Vigário Paroquial de Pataias e Alp<strong>ed</strong>riz<br />

António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, faz<br />

saber quanto segue:<br />

Sendo necessário prover ao cuidado pastoral do Povo de Deus que nos foi confiado,<br />

e tendo obtido a devida anuência do Bispo de Marília, no Brasil, havemos<br />

por bem nomear Vigário Paroquial de Pataias e de Alp<strong>ed</strong>riz o Rev. P. Sérgio Luiz<br />

Roncon, que tomará posse durante o mês de Março.<br />

Exercerá o seu ministério em colaboração com o Revº Pároco, P. Virgílio do<br />

Rocio Francisco, e com todos os direitos e deveres previstos no Código de Direito<br />

Canónico, nomeadamente as faculdades consignadas no cânone 1111.<br />

Esta nomeação é válida pelo período de um ano.<br />

<strong>Leiria</strong>, 29 de Fevereiro de 2008.<br />

† António Augusto dos Santos Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

10 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Um Novo Olhar Pastoral:<br />

. documentos pastorais .<br />

Paróquia, Vigararia e Missão do Vigário<br />

1. A paróquia e a vigararia hoje: pastoral de comunhão<br />

A questão séria que se põe hoje à Igreja, às comunidades e a cada um de nós, é<br />

o anúncio e a transmissão da fé frente às mudanças culturais e às dificuldades e aos<br />

desafios que levantam: Como anunciar hoje Qual deve ser o fundamento da evangelização<br />

Que caminhos percorrer para que seja activa e fecunda Não podemos<br />

contentar-nos com uma religiosidade vaga, genérica e superficial que não resiste às<br />

transformações culturais, à mínima tempestade provocada por um Código da Vinci<br />

e outras ficções do género.<br />

João Paulo II, na Novo Millennio ineunte, indica algumas linhas programáticas<br />

que poderemos sintetizar em três palavras-chave:<br />

Contemplação: contemplar o rosto (mistério) de Cristo para ir ao coração da fé<br />

e caminhar na estrada da santidade. É o reconhecimento do primado de Deus, da Sua<br />

graça e do Seu amor na vida e pastoral da Igreja; o apelo à essência da fé e da vida<br />

cristã (Palavra, Eucaristia, iniciação à fé);<br />

Comunhão: descobrir o mistério de comunhão que habita e caracteriza a forma<br />

da existência cristã e da Igreja e se torna espiritualidade pessoal e comunitária e, por<br />

conseguinte, praxis (pessoal e pastoral) de comunhão;<br />

Missão: para ser testemunhas alegres e convictas e fermento evangélico no mundo,<br />

atentos à vida quotidiana das pessoas e à mudança cultural do nosso tempo.<br />

A vida cristã, a vida em Cristo deve projectar-se para uma experiência de vida<br />

trinitária, vida de comunhão, que configurará a Igreja como “casa e escola de comunhão”<br />

e, por conseguinte, uma pastoral de comunhão. Isto define o aspecto fundamental<br />

da evangelização, hoje: partir sempre da comunhão, não esquecendo que<br />

esta é, antes de mais, uma espiritualidade a cultivar, como pressuposto indispensável<br />

para a práxis pastoral.<br />

Tudo isto obriga a repensar a colocação da paróquia e sua acção pastoral.<br />

Documentos<br />

1.1. A paróquia e a evangelização do território<br />

A paróquia tem duas referências fundamentais: a igreja diocesana (da qual é uma<br />

célula) e o território (no qual torna a Igreja presente no meio das casas dos homens).<br />

O território deve ser entendido não só geograficamente, mas também antropologi-<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 11


. documentos pastorais .<br />

camente: as características humanas, sociais e culturais. Dada a mobilidade característica<br />

do nosso tempo, as pessoas vivem hoje em vários territórios, geográficos e<br />

culturais. Já não vivem, nem fazem a sua vida só no espaço e no ambiente da paróquia.<br />

As referências são múltiplas. Continua a ser verdade que a paróquia é a igreja<br />

presente no quotidiano das pessoas e das famílias, que as acompanha em todas as<br />

idades e etapas da vida. Todavia, não se pode mais concebê-la isolada e fechada em<br />

si mesma. Já o Pe. Congar, nos meados do século passado, escreveu um livro com<br />

um título muito significativo: Minha paróquia, vasto mundo!<br />

Uma pastoral de manutenção, voltada unicamente para a conservação da fé e<br />

assistência da comunidade, já não basta. É preciso uma pastoral evangelizadora e em<br />

todos os campos: ser capaz de criar e manter itinerários que aproximam as pessoas<br />

da fé, promovendo lugares de encontro com quantos andam à busca e com quem,<br />

mesmo sendo baptizado, sente o desejo de escolher de novo o evangelho como<br />

orientação de fundo da sua própria vida…<br />

1.2. Uma pastoral integrada<br />

Acabou o tempo da paróquia auto-suficiente que oferecia tudo para todos e respondia<br />

a todas as situações e a todos os problemas. Hoje isso é impossível. Todos<br />

devemos tomar consciência desta realidade.<br />

Em âmbitos da pastoral litúrgica, da formação na fé, da pastoral dos jovens, da<br />

família, caridade, cultura, saúde, etc., só se pode trabalhar juntos. São terrenos onde<br />

a paróquia tem necessidade e urgência de mover-se em colaboração com as paróquias<br />

vizinhas, no contexto da vigararia, investindo corajosamente numa pastoral<br />

de conjunto.<br />

Eis a razão pela qual é muito importante que as comunidades paroquiais colaborem<br />

cada vez mais, que haja uma colaboração e responsabilidade partilhada entre as<br />

comunidades. Não é bom que vivam lado a lado como ilhas. E não se trata apenas de<br />

uma colaboração meramente ocasional para uma determinada iniciativa, mas de um<br />

laço de colaboração duradoiro e programado. Isto é indispensável para a vitalidade<br />

das próprias comunidades.<br />

E não se pense que se trata de uma pura “política de crise” resultante da escassez<br />

do clero. É antes uma perspectiva que se abre para o futuro. Isto resulta da unidade<br />

da missão da Igreja (missão em comunhão) para que seja vivida na busca de todas<br />

aquelas colaborações que permitam realizar iniciativas que superam as possibilidades<br />

de cada paróquia. Daqui a necessidade de uma pastoral integrada, isto é, situada<br />

dentro de um agregado mais vasto na relação com as outras paróquias.<br />

Uma pastoral integrada põe em acção todas as energias de que o povo de Deus<br />

dispõe, valorizando-as na sua especificidade e, ao mesmo tempo, fazendo-as confluir<br />

em projectos comuns, pensados, definidos, programados e realizados em conjunto.<br />

Ela põe em r<strong>ed</strong>e os múltiplos recursos de que dispõe: humanos, espirituais, culturais,<br />

pastorais.<br />

12 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. documentos pastorais .<br />

Tudo isto exige uma nova valorização da vigararia que vai para além das relações<br />

funcionais ou convergência de interesses práticos. Deve ser valorizada sobretudo<br />

como centro de evangelização ou “unidade pastoral” (mesmo sem a formalidade<br />

jurídica do “in solidum”), como âmbito normal de comunhão eclesial pastoral, de<br />

discernimento pastoral, de integração de iniciativas e colaborações entre paróquias<br />

de uma área, – “paróquias em r<strong>ed</strong>e”, num esforço de pastoral de conjunto, em ordem<br />

a uma nova qualidade de evangelização. Uma r<strong>ed</strong>e de fraternidade ao serviço do<br />

Evangelho.<br />

Assim, será possível realizar também uma valorização das competências, um<br />

intercâmbio de dons e ministérios, uma partilha e poupança de recursos, um reequilíbrio<br />

dos encargos de trabalho.<br />

Mas isto requer o difícil trabalho em equipa! Trabalhar em equipa requer, por<br />

sua vez, uma espiritualidade e uma ascese, a começar pelo “pensar em equipa”: pôr<br />

em comum os diversos pontos de vista com transparência; ter o desejo de aprender<br />

com os outros; escuta interessada e sem preconceitos; estar consciente de que em<br />

equipa se vê e discerne a realidade com maior amplidão e profundidade; renunciar<br />

ao individualismo e à indisciplina.<br />

Além disto, é preciso tomar consciência de que o investimento pastoral na vigararia<br />

reverte numa “mais-valia” para cada paróquia.<br />

Documentos<br />

1.3. Estilo de pastoral integral<br />

Além da pastoral integrada, é necessária também uma pastoral integral que integra<br />

as várias dimensões (profética, litúrgica e sócio-caritativa com as diferentes<br />

subdivisões), os vários sujeitos e os vários ministérios da pastoral da comunidade;<br />

uma pastoral em diálogo (dentro da comunidade, ecuménico, inter-religioso, com os<br />

de convicções não religiosas, com a cultura…)<br />

Se acabou a época da paróquia auto-suficiente, acabou também o tempo do pároco<br />

auto-suficiente (faz-tudo), que pensa o seu ministério isolado.<br />

Os sacerdotes devem ver-se sempre no interior do presbitério, por um lado, e<br />

dentro da sinfonia dos ministérios na comunidade, por outro. O pároco deverá cuidar<br />

de promover carismas, vocações, ministérios a partir da corresponsabilidade. Não<br />

pode r<strong>ed</strong>uzir os fiéis leigos ao papel de meras tropas auxiliares. Há que passar da<br />

mera ajuda (= dar uma mão) à corresponsabilidade dentro de um projecto pastoral<br />

comum.<br />

Há pois uma tríade indivisível de elementos: comunhão, corresponsabilidade,<br />

colaboração, que desenham o rosto de comunidades que trabalham em conjunto.<br />

Estes três elementos configuram um estilo pastoral que valoriza cada recurso e cada<br />

sensibilidade, num clima de fraternidade e de diálogo, de franqueza na partilha e de<br />

humildade na busca do que corresponde ao bem de toda a comunidade; geram estilos<br />

de encontro e comunicação, através de relações interpessoais atentas a cada pessoa;<br />

e promovem relações maduras, capazes de escuta e de reciprocidade.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 13


. documentos pastorais .<br />

1.4. Conversão pastoral<br />

Trata-se de ver nesta perspectiva não uma mera estratégia humana de organização<br />

eclesiástica, de engenharia eclesial ou lotização de poderes ou tarefas, mas<br />

antes uma indicação que nos vem do Senhor através do discernimento da situação<br />

da Igreja hoje e nos p<strong>ed</strong>e uma verdadeira conversão pastoral. É um apelo à fé para<br />

enfrentar as dificuldades e procurar soluções juntos; um apelo a olhar com esperança<br />

o momento presente com as suas dificuldades e chances e a não ficar parados junto<br />

ao muro das lamentações! Estamos a atravessar uma “crise epocal” que normalmente<br />

dura décadas. Não temos receitas e soluções prontas para os novos desafios. Mas<br />

a Igreja, ao longo da história, já passou por muitas destas “crises epocais” e soube<br />

encontrar sempre novas formas de presença e de anúncio do Evangelho. Também<br />

nós temos de estar à altura da hora presente!<br />

Estou consciente de que só nesta base vos posso p<strong>ed</strong>ir uma atitude de conversão<br />

pastoral e o mais generoso contributo para a implementação desta orientação.<br />

Questões para um exame de consciência pastoral:<br />

Cuidamos da espiritualidade de comunhão entre nós e nas nossas comunidades<br />

Se há grupos, associações e movimentos na paróquia ou vigararia sabemos – e como<br />

o estamos a fazer – discernir, integrar e cuidar da valorização das suas competências<br />

Como cuidamos da intercomunicação dos diversos grupos específicos entre<br />

eles e com toda a comunidade e com a vigararia Sabemos como programar e animar<br />

tudo isto Estamos dispostos a pensar e a trabalhar em equipa Como criar o “espírito<br />

de vigararia” em todas as paróquias<br />

A este exame de consciência ajuda também o “decálogo do sacerdote” apresentado<br />

por um bispo alemão já falecido (D. Klaus Hemmerle, bispo de Achen, numa<br />

jornada de estudo da Conferência Episcopal Alemã.):<br />

1. É mais importante como eu vivo o sacerdócio, do que aquilo que faço enquanto<br />

sacerdote.<br />

2. É mais importante o que Cristo faz através de mim, do que aquilo que faço<br />

eu.<br />

3. É mais importante que eu viva a comunhão no presbitério, do que lançar-me<br />

até à exaustão sozinho no ministério.<br />

4. É mais importante o serviço da oração e da palavra, do que o das mesas.<br />

5. É mais importante seguir e ajudar a formar, espiritual e culturalmente, os colaboradores,<br />

do que fazer eu mesmo e sozinho o mais possível.<br />

6. É mais importante estar presente em poucos, mas centrais sectores de acção,<br />

com uma presença que irradie vida, do que estar em tudo à pressa ou a meias.<br />

7. É mais importante agir em comunhão com os colaboradores, do que sozinho,<br />

mesmo que me considere capaz; ou seja, é mais importante a comunhão do que a<br />

acção.<br />

14 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. documentos pastorais .<br />

8. É mais importante, porque mais fecunda, a cruz do que os resultados muitas<br />

vezes aparentes, fruto de talentos e esforços simplesmente humanos.<br />

9. É mais importante ter a alma aberta sobre o “todo” (comunidade, diocese,<br />

igreja universal, humanidade), do que fixada em interesses particulares, ainda que<br />

me pareçam importantes.<br />

10. É mais importante que a fé seja testemunhada a todos, do que satisfazer todos<br />

os p<strong>ed</strong>idos habituais.<br />

2. A missão do Vigário<br />

“O cargo de vigário reveste uma notável importância pastoral, enquanto colaborador<br />

próximo do Bispo na cura pastoral dos fiéis e solícito “irmão maior” dos<br />

sacerdotes da vigararia, sobretudo se estão doentes ou em situações difíceis.<br />

Compete-lhe promover e coordenar a actividade pastoral que as paróquias realizam<br />

em comum, velar (= cuidar com solicitude) para que os sacerdotes vivam de<br />

acordo com o seu estado e seja observada a disciplina paroquial, sobretudo litúrgica”<br />

(Directório para o ministério pastoral dos bispos, nº 218).<br />

A missão do vigário é, antes de tudo, pastoral e não só jurídico-administrativa.<br />

Inclui, em primeiro lugar, solicitude apostólica e fraternidade sacerdotal. O vigário é<br />

chamado a fomentar e coordenar a actividade pastoral comum e a animar a vida do<br />

presbitério local em comunhão. Em concreto e mais especificamente:<br />

Promover a união e fraternidade do clero (criar laços através da boa relação, da<br />

participação e convívio nas reuniões vicariais, do contacto pessoal, do passeio anual,<br />

da visita aos colegas, do apoio espiritual e material aos colegas doentes; cuidar da<br />

dignidade dos funerais daqueles que faleceram e da salvaguarda dos livros paroquiais,<br />

dinheiros da paróquia; etc.)<br />

Convocar e moderar as reuniões vicariais do clero (organizar e enviar a agenda,<br />

preparar com cuidado o momento de oração comunitária, promover a participação<br />

de todos, prestar atenção ao tempo para abordar os assuntos, nomear secretário para<br />

fazer a acta, etc.).<br />

Desenvolver a vida e o trabalho de equipa (distribuição de tarefas, cuidar da<br />

substituição de um padre em casos imprevistos, marcação conjugada de férias…).<br />

Ajudar o clero a conhecer e a aderir às propostas diocesanas, à participação na<br />

formação permanente, à avaliação periódica das propostas pastorais, à elaboração da<br />

nova contabilidade, de harmonia com o previsto na Concordata.<br />

Propor iniciativas comuns às paróquias da vigararia para o desenvolvimento do<br />

sentido de unidade pastoral, fomentar acções da pastoral especializada na vigararia<br />

(formação dos agentes da pastoral litúrgica, preparação do matrimónio, formação<br />

de catequistas e de ministérios, pastoral juvenil, pastoral sócio-caritativa, pastoral<br />

vocacional etc.).<br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 15


. documentos pastorais .<br />

Convocar, presidir e animar as jornadas vicariais (ou assembleias ou encontros<br />

vicariais).<br />

Representar a vigararia nas reuniões de vigários ou outras.<br />

Ser meio de comunicação entre as paróquias e a <strong>Diocese</strong> (dificuldades, doença<br />

ou morte de colegas ou seus familiares); concretamente, ser m<strong>ed</strong>iador, de primeira<br />

instância, nas dificuldades que possam surgir entre um pároco e os fiéis, ajudando a<br />

encontrar soluções.<br />

Tutelar e acompanhar a administração do património e dos bens eclesiásticos,<br />

aconselhando, quando se trate de obras, a consulta à Comissão de Arte Sacra. Promover<br />

a inventariação, e se for caso disso, o registo dos bens das paróquias.<br />

Zelar para que os livros paroquiais estejam em dia e os respectivos “extractos”<br />

entregues na Cúria.<br />

Concluindo:<br />

-Não há missão eficaz senão dentro de um estilo de comunhão.<br />

-Trabalhai menos. Trabalhai melhor. Trabalhai mais unidos. Rezai mais e mais<br />

unidos no mesmo Senhor Jesus!<br />

Tu, Senhor, tens confiança em nós, no teu povo, apesar das nossas fraquezas,<br />

fadigas e resistências. Vem com o teu Santo Espírito e conc<strong>ed</strong>e-nos a graça de acolher<br />

o teu apelo a uma maior colaboração, interacção e comunicação entre as nossas<br />

paróquias, para oferecer um testemunho cristão mais unido, mais eficaz, mais bem<br />

organizado e mais significativo no território onde somos chamados a anunciar o<br />

Evangelho.<br />

Conc<strong>ed</strong>e esta graça aos sacerdotes e aos fiéis leigos de colaborarem fraternamente<br />

para o bem do Teu povo; faz com que cada um acolha os grandes dons de graça e<br />

de alegria evangélica que brotam da comunhão dos corações!<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

16 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. documentos pastorais .<br />

Quaresma 2008<br />

Tempo de acolhimento<br />

da Ternura de Deus<br />

1. Quaresma de graça e de santidade<br />

“Eis agora o tempo favorável; eis o tempo da Salvação” (2 Cor 6, 1-2). A liturgia<br />

cristã propõe estas palavras do apóstolo S. Paulo para nos introduzir no caminho<br />

da Quaresma que nos prepara, pouco a pouco, ao longo de 40 dias, para celebrar a<br />

Páscoa da Ressurreição.<br />

Para muitos, falar de Quaresma evoca, im<strong>ed</strong>iatamente, um conjunto de sacrifícios,<br />

jejuns e penitências a praticar como se fosse um tempo de tristeza. No entanto,<br />

à luz das palavras do apóstolo, somos convidados a olhá-lo, sobretudo, como um<br />

tempo especial de graça salvífica. A Quaresma é, antes de mais, um dom a receber<br />

do que coisas a fazer, mesmo se estas também são necessárias.<br />

É o próprio Deus que convida a Sua Igreja a fazer um “retiro no deserto” com<br />

Cristo, durante quarenta dias. É Ele mesmo que cuida da Sua Igreja e a submete a<br />

uma cura de rejuvenescimento e embelezamento. Oferece-lhe uma terapia espiritual<br />

de purificação, renovação e santificação. Nesta linha, a Quaresma é um tempo forte,<br />

tempo propício para cada um se reencontrar consigo mesmo, interrogar-se sobre a<br />

qualidade da sua vida cristã, pôr ordem na própria vida e pôr a vida em ordem, sair<br />

da m<strong>ed</strong>iocridade e, assim, responder ao chamamento de Deus à santidade, quer dizer,<br />

a uma vida espiritual de qualidade, de filho de Deus.<br />

Documentos<br />

2. Quaresma da Ternura de Deus: um “retiro popular”<br />

Para nos abrirmos à acção de Deus e do Seu Espírito em nós e nos nossos corações<br />

o caminho da Quaresma é feito à maneira de um retiro espiritual, com tempos<br />

particulares de escuta da Palavra de Deus, de oração e m<strong>ed</strong>itação, de busca de reconciliação.<br />

Para concretizar esta p<strong>ed</strong>agogia da santidade, ousei lançar a proposta de, na Quaresma<br />

deste ano, se realizar na <strong>Diocese</strong> um grande “retiro popular”, isto é, acessível<br />

a todo o povo de Deus sobre o tema: “acolher, saborear e testemunhar a ternura de<br />

Deus”, em ordem a interiorizar a espiritualidade do acolhimento e da vocação, que<br />

constituem a temática do ano pastoral.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 17


. documentos pastorais .<br />

Com esta iniciativa queremos proporcionar a todos os fiéis a possibilidade de<br />

fazer um “retiro espiritual” na vida quotidiana, sem sair dos lugares e ocupações<br />

habituais, d<strong>ed</strong>icando determinados momentos a essa finalidade na própria casa, nas<br />

igrejas ou noutros locais, em grupos ou em assembleias.<br />

Para esse efeito já estão publicadas as m<strong>ed</strong>itações quaresmais sob a forma de<br />

leitura familiar e orante da Palavra de Deus (lectio divina), a partir de alguns textos<br />

bíblicos. Peço encarecidamente aos párocos e a todos os agentes pastorais nas paróquias<br />

o melhor empenho na sensibilização e na organização deste retiro.<br />

3. Quaresma de partilha fraterna<br />

Na p<strong>ed</strong>agogia da santidade, o caminho de conversão quaresmal inclui também<br />

um estilo sóbrio de vida – é este o sentido do jejum e da abstinência – e a partilha<br />

solícita com as necessidades do mundo e da Igreja, como testemunho da ternura de<br />

Deus e expressão do amor fraterno.<br />

Este aspecto concretiza-se na chamada “renúncia quaresmal” que cada fiel é chamado<br />

a fazer para partilhar os bens materiais com os mais necessitados.<br />

O produto desta renúncia, na nossa diocese, será destinado à diocese de Karanganda<br />

no Cazaquistão. Assim correspondemos ao p<strong>ed</strong>ido de ajuda dirigida pelo<br />

Bispo D. Atanásio quando aqui esteve na peregrinação de 13 de Outubro passado.<br />

A Igreja Católica no Cazaquistão é minoritária e pobre, com grandes dificuldades<br />

económicas para construir e manter as estruturas necessárias tais como o Seminário<br />

e um Santuário d<strong>ed</strong>icado a Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>.<br />

Maria, Mãe da Ternura e Estrela da Esperança, ilumine os nossos passos no caminho<br />

quaresmal para sermos cada vez mais discípulos fiéis de Jesus Cristo.<br />

<strong>Leiria</strong>, 4 de Fevereiro de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

18 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Nota Pastoral<br />

. documentos pastorais .<br />

Convite para o “Jubileu das vocações”<br />

Há momentos grandes na vida de todas as pessoas. Há festas importantes em<br />

cada família ou comunidade. São “marcos” – que deixam marcas – na história da<br />

vida pessoal, familiar e comunitária, que merecem e requerem ser evocados, celebrados,<br />

rezados e m<strong>ed</strong>itados à luz da fé, em Igreja.<br />

Na linguagem comum, usamos o termo “Jubileu” (dia de júbilo, de alegria) para<br />

comemorar os 25 ou 50 anos de um acontecimento significativo.<br />

Neste ano pastoral d<strong>ed</strong>icado a “saborear e ver como é bom o Senhor”, para<br />

sermos “testemunhas da ternura de Deus”, também nós como Igreja Diocesana de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> queremos celebrar, de um modo especial, o “Jubileu das Vocações”<br />

ao matrimónio, ao ministério sacerdotal e à especial consagração na vida religiosa<br />

ou na vida secular.<br />

Será um momento alto para reviver e reavivar o encanto e a frescura do primeiro<br />

“sim”, para celebrar o caminho percorrido e correspondido ao longo da vida, para<br />

agradecer a Deus os frutos que, através destas vocações, suscitou ao serviço da vida<br />

e do amor, e para renovar os compromissos vocacionais.<br />

Assim manifestar-se-á também a beleza das várias vocações que adornam a<br />

Igreja de Jesus e fazem dela um jardim florido com o esplendor dos mais variados<br />

dons e vocações.<br />

Convido, pois, todos e todas que neste ano perfazem 25, 50 ou 60 anos, de matrimónio,<br />

de sacerdócio e de vida consagrada a estarem no Santuário de <strong>Fátima</strong> no dia<br />

19 de Abril próximo, para celebrarmos todos juntos o “Jubileu das vocações”.<br />

Desde já, o meu agradecimento.<br />

Documentos<br />

<strong>Leiria</strong>, 19 de Fevereiro de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 19


. documentos pastorais .<br />

Mensagem do Bispo às crianças da catequese<br />

“Jesus é fonte de vida e de ternura”<br />

Neste dia da peregrinação da nossa <strong>Diocese</strong> a <strong>Fátima</strong>, ouvimos a história da amizade<br />

de Jesus e Lázaro. Uma amizade tão forte que se torna fonte de vida: «Eu sou<br />

a ressurreição e a vida. Quem acr<strong>ed</strong>ita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e<br />

todo aquele que vive e acr<strong>ed</strong>ita em Mim, nunca morrerá» (Jo 11, 25-26).<br />

Ao regressares à tua paróquia, levas contigo um fruto e umas folhas para pores na<br />

árvore que viste crescer ao longo desta Quaresma. Eles são sinal desta vida que Jesus<br />

quer partilhar também contigo! Também hoje, Jesus quer manifestar a sua ternura<br />

por cada um, quer continuar a ser fonte de esperança, de alegria, de Vida. Partilhando<br />

da sua amizade, encontramos o caminho de uma vida boa, bela e feliz!<br />

Procura ser amigo de Jesus! Ele é fonte de Vida e de ternura! E na tua vida darás<br />

também frutos de vida eterna!<br />

O teu amigo Bispo,<br />

† António Augusto dos Santos Marto<br />

[<strong>Fátima</strong>, 9 de Março de 2008]<br />

20 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Nota pastoral<br />

. documentos pastorais .<br />

Processo de aceitação de Candidatos à<br />

Leccionação da Disciplina de Educação Moral<br />

e Religiosa Católica na <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

Os candidatos à leccionação da Disciplina de EMRC nas Escolas Públicas e Privadas<br />

da área da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong> – <strong>Fátima</strong> devem proc<strong>ed</strong>er segundo as seguintes<br />

orientações:<br />

Entregar ao Serviço para Ensino da Igreja nas Escolas (SEIE) o Curriculum Vitae<br />

com indicação clara das habilitações que possui e do percurso religioso, e com referência<br />

também aos serviços pastorais e de apostolado prestados à Igreja paroquial ou<br />

diocesana, assim como vinculação a movimentos ou comunidades eclesiais.<br />

Em anexo ao currículo, apresentar uma carta de recomendação eclesiástica.<br />

Até 30 dias, após recepção da documentação indicada em 1 e 2, o candidato será<br />

informado, via e-mail, da aceitação ou exclusão da mesma.<br />

Se a candidatura for aceite, haverá marcação, por e-mail, de entrevista com o<br />

Coordenador do SEIE ou outra pessoa por ele indicada.<br />

Posteriormente será comunicada ao candidato a situação referente à sua candidatura.<br />

Cada candidatura é válida por um ano. No caso de o candidato a renovar, poderá<br />

eventualmente ser dispensado de nova entrevista.<br />

Documentos<br />

<strong>Leiria</strong>, 15 de Abril de 2008<br />

† António Augusto dos Santos Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 21


. documentos pastorais .<br />

Mensagem aos pais e encarregados de <strong>ed</strong>ucação<br />

Educação Moral e Religiosa Católica<br />

Caros pais e encarregados de <strong>ed</strong>ucação,<br />

Durante estes dias e semanas decorrem as matrículas para o próximo ano lectivo<br />

nas escolas do Ensino Básico e Secundário.<br />

Neste contexto, quero convidar-vos a reflectir sobre a importância da disciplina<br />

de Educação Moral e Religiosa Católica para a <strong>ed</strong>ucação dos vossos filhos e <strong>ed</strong>ucandos.<br />

Dentro do processo <strong>ed</strong>ucativo é de fundamental importância que todas as crianças,<br />

adolescentes e jovens recebam uma formação integral. Por isso, é-lhes oferecida<br />

a possibilidade de aprofundarem a dimensão religiosa do ser humano, à luz da mensagem<br />

cristã, para assim poderem orientar a sua vida de acordo com o seu sentido<br />

mais profundo.<br />

Nessa mesma linha, mais do que nunca, é urgente propor-lhes pontos de referência,<br />

assim como princípios e valores, que não os deixem à deriva, mas que lhes<br />

permitam definir a sua própria identidade à luz do Evangelho, e capacitá-los para<br />

fazer face aos múltiplos desafios que a soci<strong>ed</strong>ade lhes apresenta, e para colaborarem<br />

na construção de um Mundo mais autêntico, solidário e fraterno.<br />

Os novos programas de Educação Moral e Religiosa Católica, que entrarão em<br />

vigor neste próximo ano lectivo, são também uma nova possibilidade de renovação<br />

da disciplina para assim dar uma resposta mais adequada aos anseios e necessidades<br />

dos alunos.<br />

São os pais e encarregados de <strong>ed</strong>ucação, que, como primeiros responsáveis, devem<br />

escolher o tipo de <strong>ed</strong>ucação que querem para os seus filhos e <strong>ed</strong>ucandos e não<br />

devem nunca abdicar desta sua responsabilidade.<br />

Por isso, como Bispo, não quero deixar passar este momento, sem vos lembrar<br />

a importância desta disciplina e da respectiva matrícula dos vossos filhos e <strong>ed</strong>ucandos.<br />

<strong>Leiria</strong>, 3 de Junho de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

22 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. documentos pastorais .<br />

Nota pastoral<br />

Critérios para a admissão e recondução de<br />

docentes de Educação Moral e Religiosa<br />

Católica na <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

Documentos<br />

A. Preâmbulo<br />

A missão do professor de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) não se<br />

limita ao ensino propriamente dito, mas está indissociavelmente unida à sua vivência<br />

social, cultural, religiosa. Tem implicações na vida dos respectivos alunos, assim<br />

como no conjunto da comunidade escolar e eclesial.<br />

Tendo em conta a missão <strong>ed</strong>ucativa e evangelizadora do professor de EMRC e<br />

com a consciência da seri<strong>ed</strong>ade e importância deste serviço, que é ao mesmo tempo<br />

eclesial e civil, pretende-se neste documento apresentar os critérios que devem<br />

orientar a escolha de pessoas a propor como docentes de EMRC na <strong>Diocese</strong> de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />

Estas orientações aplicam-se à selecção de docentes de EMRC no ensino público,<br />

católico, privado e cooperativo, e os critérios indicados são aplicados tanto na<br />

admissão como na recondução de candidatos ao ensino de EMRC.<br />

As exigências aqui apresentadas baseiam-se no “Directório Geral para a Catequese”,<br />

da Congregação para o Clero, 1997 (Directório), e no documento da Conferência<br />

Episcopal Portuguesa, de 2006, intitulado “Educação Moral e Religiosa<br />

Católica. Um valioso contributo para a formação da personalidade” (CEP).<br />

B. Critérios<br />

A Conferência Episcopal Portuguesa determina que os docentes de EMRC, “propostos<br />

pelos Bispos diocesanos e nomeados pelo Ministério da Educação, devem ser<br />

criteriosamente escolhidos” (CEP, nº 5). As orientações qui apresentadas devem ser<br />

assumidas como critérios para a referida escolha.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 23


. documentos pastorais .<br />

1. PERFIL HUMANO<br />

A proposta de nomeação de professores de EMRC deve ter-se em conta o “equilíbrio<br />

e a maturidade humana” (CEP, 5) dos candidatos. Devem ter um comportamento<br />

sensato, uma personalidade equilibrada e maturidade adequada à missão a<br />

desempenhar, bem como “capacidade de relação e de integração escolar” (CEP, 5).<br />

O professor de EMRC deve ainda primar pela simpatia, delicadeza e pelo bom relacionamento<br />

com todos, capacidade de comunicar e de criar empatia, além de uma<br />

atitude construtiva na comunidade.<br />

2. PERFIL CRISTÃO<br />

O perfil cristão deve ser marcado pelo “testemunho de uma vida cristã coerente e<br />

comprometida eclesialmente” e pela “disposição para assumir as orientações diocesanas<br />

e nacionais neste domínio do ensino.” (CEP, 5). São elementos essenciais do<br />

perfil cristão do professor de EMRC as seguintes dimensões: a vivência da fé através<br />

da prática dos valores evangélicos da solidari<strong>ed</strong>ade, da convivência e da fraternidade<br />

universal; uma clara opção cristã de vida; um estado de vida consentâneo com as<br />

normas da Igreja; e a inserção e compromisso comunitários nomeadamente através<br />

da participação activa numa paróquia de referência ou a vinculação a um movimento<br />

eclesial.<br />

Este perfil deve ser atestado pelo pároco ou entidade equiparada, no momento da<br />

apresentação da candidatura ao ensino de EMRC e sempre que necessário.<br />

3. HABILITAÇÕES<br />

A admissão de pessoas à docência de EMRC deve “ter em conta as condições<br />

legais de qualificação científica e p<strong>ed</strong>agógica” (CEP, 5). “É necessário, portanto,<br />

que o ensino religioso escolar se mostre como uma disciplina escolar, com a mesma<br />

exigência de sistema e rigor que requerem as demais disciplinas. Deve apresentar a<br />

mensagem e o evento cristão com a mesma seri<strong>ed</strong>ade e profundidade com a qual as<br />

demais disciplinas apresentam seus ensinamentos” (Directório, 73).<br />

De acordo com o Decreto-Lei n.º 407/89, Art. 2º e o Despacho Normativo n.º 6-A<br />

/90, a habilitação normal para leccionar EMRC é a licenciatura ou curso superior em<br />

Ciências Religiosas ou Teologia. Conforme o referido Despacho, facultam também<br />

habilitação própria 60 créditos em disciplinas de Ciências Religiosas ou Teologia,<br />

frequentados em instituições autorizados para tal, acrescentados a outra licenciatura.<br />

Segundo o Art. 20º do Decreto-Lei n.º 407/89, são preferidos os candidatos com<br />

habilitação própria. Na falta dessa habilitação, será tida em conta a frequência de<br />

disciplinas em Ciências Religiosas ou Teologia, assim como o compromisso real e<br />

comprovado de progressão na aquisição de habilitação própria.<br />

24 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. documentos pastorais .<br />

4. CONHECIMENTOS<br />

A formação académica proporciona conhecimentos suficientes nos temas fundamentais,<br />

no entanto, o Serviço para o Ensino da Igreja nas Escolas (SEIE) pode verificar<br />

a consistência de conhecimentos específicos através de entrevista ou de outros<br />

meios adequados, sempre que os responsáveis diocesanos considerem necessário.<br />

Para além de um razoável conhecimento da cultura envolvente e das questões<br />

sociais actuais, é imprescindível um sólido conhecimento da doutrina da fé católica<br />

e do ensino moral da Igreja.<br />

5. COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA<br />

Os candidatos a professores de EMRC devem ter “o jeito e o gosto pela missão<br />

<strong>ed</strong>ucativa”, isto é, exige-se uma adequada competência p<strong>ed</strong>agógica. São características<br />

fundamentais desta competência: a capacidade de estabelecer objectivos<br />

p<strong>ed</strong>agógicos e de elaborar a correspondente planificação, a familiaridade com o programa<br />

oficial, a aptidão para seleccionar os conteúdos do programa de acordo com<br />

as necessidades p<strong>ed</strong>agógicas, desenvolvendo métodos e projectos adequados, além<br />

de uma atitude construtiva de colaboração na comunidade <strong>ed</strong>ucativa.<br />

Documentos<br />

6. FORMAÇÃO PERMANENTE<br />

Além da formação exigida por lei, a participação nos encontros e acções de formação<br />

organizadas pelo SEIE é parte essencial da formação permanente de todos<br />

os docentes de EMRC. Será valorizada também a participação noutras acções de<br />

formação de interesse reconhecido, nomeadamente de carácter p<strong>ed</strong>agógico.<br />

7. DESEMPENHO<br />

A avaliação de desempenho será feita através de relatórios anuais, de informações<br />

das escolas e de outros dados objectivos. Fazem parte de um bom desempenho:<br />

a assiduidade, o cumprimento global dos programas, a realização de estratégias de<br />

aula e actividades extra-curriculares motivadoras, a d<strong>ed</strong>icação à comunidade <strong>ed</strong>ucativa<br />

e ainda o empenho noutros projectos confiados pela escola.<br />

8. TEMPO DE SERVIÇO<br />

O tempo de serviço não será nunca um critério único, devendo ser relacionado<br />

com todos os outros critérios.<br />

Embora as propostas de nomeação de professores contratados tenham a duração<br />

de um ano (ou menos, no caso de substituição), os primeiros anos são considerados<br />

como um tempo de carácter especialmente probatório.<br />

Caso haja uma alteração significativa das situações ou circunstâncias que sejam<br />

relevantes na determinação do perfil exigido ao professor de EMRC, ou este apresente<br />

claramente um desempenho deficiente, o tempo de serviço não será tido em<br />

consideração na ponderação para recondução de candidatos.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 25


. documentos pastorais .<br />

9. VOLUNTARIADO EM ACTIVIDADES ECLESIAIS<br />

Será valorizada a participação voluntária em actividades da comunidade eclesial,<br />

tais como: catequese, escutismo, conselhos paroquiais, grupo coral, liturgia, projectos<br />

sócio-caritativos, associações de solidari<strong>ed</strong>ade e outras formas de voluntariado<br />

ou compromisso social e/ou eclesial.<br />

C. Aplicação dos critérios<br />

Todos os critérios expostos são fundamentais para a admissão e a continuidade<br />

de um professor de EMRC. Tendo sempre em conta o bem do professor, pretende-se,<br />

no entanto, que o benefício dos alunos e o desenvolvimento da disciplina de EMRC<br />

estejam acima dos interesses particulares, ainda que legítimos. Por isso, em cada situação,<br />

procurar-se-á a opção que pareça mais justa e que responda à conjugação de<br />

dois factores: características da escola e perfil geral do professor, à luz dos presentes<br />

critérios.<br />

“Compete aos responsáveis pela coordenação da EMRC, sobretudo no plano diocesano,<br />

acompanhar e apoiar os professores, promover a sua formação permanente<br />

e proc<strong>ed</strong>er à avaliação da qualidade da actividade docente.” (CEP, 5) Na <strong>Diocese</strong> de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, compete ao Director do SEIE, nomeado pelo Bispo Diocesano, aplicar<br />

estes critérios na selecção e proposta de pessoas para a docência de EMRC.<br />

<strong>Leiria</strong>, 23 de Junho de 2008.<br />

† António Augusto dos Santos Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

26 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Homilia Dia Mundial da Paz<br />

Onde bate hoje o coração da paz<br />

Paz do coração e paz civil: a bênção da paz<br />

Na porta de entrada deste novo ano de 2008, que hoje iniciamos em oração, está<br />

escrita uma bênção, referida na primeira leitura do livro dos Números: “Que o Senhor<br />

te abençoe e te guarde! Que o Senhor dirija para ti o olhar do Seu rosto e te dê<br />

a paz!” P<strong>ed</strong>imos, antes de mais, a paz do coração, sem a qual não há paz verdadeira<br />

e profunda; mas p<strong>ed</strong>imos também a paz civil que é a condição para a sobrevivência<br />

e a convivência da humanidade.<br />

Por sua vez, o Evangelho convida-nos a contemplar os pastores como representantes<br />

da humanidade, que vão à gruta de Belém receber a Paz de Deus anunciada<br />

pelos anjos aos homens por Ele amados. No presépio, o Filho de Deus, nos braços<br />

de sua mãe, une os homens ao seu r<strong>ed</strong>or e une-os entre si.<br />

S. Paulo, na segunda leitura, recorda-nos uma palavra decisiva e chave deste mistério:<br />

Pai – palavra típica da experiência cristã da nossa filiação e fraternidade: “Que<br />

vós sois filhos, prova-o o facto de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito<br />

do Seu Filho que clama: Abba, ó Pai”.<br />

No mistério do Natal de Cristo, em Belém, torna-se claro que Deus quer fazer<br />

dos homens uma família humana que seja uma comunidade de paz. É este precisamente<br />

o tema da mensagem do Papa Bento XVI para este dia mundial da paz.<br />

Documentos<br />

Onde bate hoje o coração da paz<br />

A paz não se r<strong>ed</strong>uz ao silêncio das armas. É uma cultura e um ambiente a construir,<br />

a trabalhar e cultivar, em cada dia, por todos nós. O tema proposto reveste-se<br />

pois de grande actualidade e particular relevância em tempos de crescente globalização,<br />

de riscos e crises globais, com efeitos de boomerang.<br />

Se a humanidade quer experimentar um futuro em dignidade e paz, deve reconhecer-se<br />

como família na sua múltipla unidade e no seu destino comum, deve<br />

reconhecer os valores comuns do viver uns com os outros. Para quem sabe ver a<br />

história com um olhar de síntese, são evidentes os sinais desta necessidade. É aqui,<br />

nesta necessidade, que bate hoje o coração da paz e que Bento XVI captou com genialidade<br />

ao propor este tema para nossa reflexão.<br />

Numa leitura singularmente original, ele desenvolve o empenhamento pela paz a<br />

partir da visão cristã da família, fundada no matrimónio, para depois alargar o olhar à humanidade<br />

inteira. Esta interacção entre a família e a paz constitui uma condição para uma<br />

abordagem cultural, social, política e ética dos complexos temas da paz no nosso tempo.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 27


. escritos episcopais .<br />

A família, casa e escola da paz<br />

Antes de mais, o Papa propõe o valor da família em si como centro de <strong>ed</strong>ucação<br />

para a paz, como casa e escola onde se respira, bebe e aprende a paz. Ilustra-o de<br />

um modo muito belo. Numa saudável vida familiar faz-se a experiência de todos os<br />

ingr<strong>ed</strong>ientes fundamentais da paz: a justiça e o amor nas relações entre irmãos e irmãs,<br />

a importância da lei e da autoridade dos pais, o serviço aos mais débeis que, em<br />

família, se tornam centro de interesse quando estão em dificuldade, a ajuda recíproca<br />

nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher, para fazer renúncias, para<br />

perdoar. “Por isso, a família é a primeira e insubstituível <strong>ed</strong>ucadora para a paz… É<br />

fundamento da soci<strong>ed</strong>ade também por isto: porque permite fazer experiências determinantes<br />

de paz…Onde é que poderia o ser humano em formação aprender melhor<br />

a apreciar o “sabor” genuíno da paz do que no “ninho” originário que a natureza lhe<br />

prepara”<br />

Eis a bondade e a beleza da família que sobressaem nestas experiências fundamentais.<br />

Elas fazem da família uma profecia para um mundo unido e pacificado. É aí<br />

que, desde pequenino, cada ser humano aprende o a-b-c da linguagem e a gramática<br />

(as regras primárias) do amor e da convivência pacífica que depois extravasam para<br />

a grande família humana. Por isso, na inflação das linguagens, a soci<strong>ed</strong>ade não pode<br />

perder este léxico e esta gramática “ que cada criança aprende dos gestos e olhares<br />

da mãe e do pai, antes mesmo das suas palavras”.<br />

Gostaria de ilustrar isto com um exemplo concreto. Li algures o episódio de um<br />

rapaz canadiano que, todos os dias, levava às costas o seu irmão paralítico para a<br />

escola. Certo dia, uma senhora preocupada perguntou-lhe: “Não é demasiado pesado<br />

este fardo para ti” E ele respondeu: “Não é um fardo; é meu irmão!”.<br />

Num mundo onde tudo se vende e tudo se compra, onde se tende a m<strong>ed</strong>ir o valor<br />

das relações humanas em termos de rendimento, utilidade e eficiência, a família<br />

aparece como uma reserva profética dos valores da gratuidade, da fraternidade, do<br />

acolhimento do outro, do diálogo, da solidari<strong>ed</strong>ade, do sentido do bem comum e da<br />

justiça.<br />

A mensagem papal é verdadeiramente uma provocação para o mundo e um desafio<br />

para a família. Ao propor a família como “primeira agência de paz” valoriza a<br />

sua presença na soci<strong>ed</strong>ade de uma maneira nova; por outro lado, convida-nos a ler<br />

a comunidade dos homens como grande família humana, não de modo idealista ou<br />

sentimental, mas realista e concreto.<br />

Para uma nova convivência mundial: a família das nações ou dos povos<br />

A linguagem familiar como léxico da paz não é só da esfera privada. Na era da<br />

globalização, entre tantas dificuldades, o mundo tem necessidade de pensar-se como<br />

família. Fazê-lo a partir da célula fundamental da soci<strong>ed</strong>ade internacional dá vida e<br />

conteúdo humanos à globalização.<br />

Para uma correcta relação entre os povos é pois necessário deixar-se inspirar<br />

28 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

pelo conceito de “família das nações” ou dos povos, já lançado por João Paulo II, na<br />

ONU, em 1995. O conceito de família, como vimos, evoca algo que vai mais para<br />

além das simples relações funcionais ou da mera convergência de interesses. Implica<br />

laços profundos de fraternidade, solidari<strong>ed</strong>ade, apoio recíproco, respeito sincero que<br />

devem guiar as relações entre os povos. Bento XVI esclarece: “É necessário saber<br />

dizer o “sim” pessoal a esta vocação que Deus inscreveu na nossa própria natureza.<br />

Não vivemos uns ao lado dos outros por acaso; todos estamos percorrendo um mesmo<br />

caminho como homens e, por isso, como irmãos e irmãs… Sem este fundamento<br />

transcendente, a soci<strong>ed</strong>ade é apenas uma agregação de vizinhos e não uma comunidade<br />

de irmãos e irmãs, chamados a formar uma grande família” (n. 6).<br />

Assumir esta perspectiva requer, de todos nós, um sentido profundo e cristão<br />

de pertença ao género humano. Recordo, a propósito, as palavras de um monge,<br />

conhecido escritor, Thomas Merton: “Cada homem é uma parte de mim, porque eu<br />

sou parte e membro do género humano. Cada cristão faz parte do meu próprio corpo,<br />

porque nós todos somos membros de Cristo” (Nenhum homem é uma ilha).<br />

Porém, a categoria de pertença parece cada vez mais estranha à cultura contemporânea,<br />

individualista e de interesses de parte. O sentido de pertença – quando existe<br />

– é fluido e a prazo. A pertença mútua gera deveres, laços, estabilidade, tradição;<br />

nada de mais contrário à cultura líquida da pós-modernidade.<br />

E todavia nada há de mais necessário numa soci<strong>ed</strong>ade tão dividida, ferida e conflitual<br />

do que a necessidade de atenção, de vínculos solidários, de ajuda recíproca,<br />

de amor e sentido de pertença, de um coração universal, para criar uma consciência<br />

colectiva de família universal em ordem à paz.<br />

Documentos<br />

A paz assume o nome de defesa do trabalho<br />

e de salvaguarda da solidari<strong>ed</strong>ade<br />

Um outro aspecto da mensagem que merece a nossa reflexão é a referência a<br />

uma economia de paz em analogia com a experiência familiar: “A família faz uma<br />

autêntica experiência de paz quando a ninguém falta o necessário e o património<br />

familiar – fruto do trabalho de alguns, da poupança de outros e da activa colaboração<br />

de todos – é bem gerido na solidari<strong>ed</strong>ade, sem excessos nem desperdícios” É uma referência<br />

singularmente sugestiva para o nosso tempo de globalização da economia.<br />

De facto, o panorama mundial modificou-se profundamente e é cada vez mais<br />

dominado pela globalização dos mercados, do capital financeiro especulativo (bolsístico<br />

e virtual) e das novas tecnologias, com novas chances e novos riscos.<br />

Em virtude de uma globalização desgovernada, sem o alicerce de valores éticos<br />

e espirituais compartilhados, assistimos a um aumento da pobreza, de desigualdades<br />

gritantes, de exclusão social de milhões de pessoas.<br />

O próprio trabalho torna-se cada vez mais um “bem escasso” e precário, com<br />

consequências dramáticas a nível pessoal e familiar. Neste contexto, a defesa da<br />

paz assume o nome de defesa do trabalho e da sua dignidade e de salvaguarda da<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 29


. escritos episcopais .<br />

solidari<strong>ed</strong>ade no bem comum que veja empenhados, com audácia criativa, todos os<br />

actores: Estado, empresários, sindicatos e cidadãos.<br />

Uma globalização dos mercados e capitais que se funde só no princípio do “mercado<br />

autoregulador” e na competitividade das diversas forças põe em risco o futuro<br />

dos jovens e das famílias e é um obstáculo à unidade do género humano. “É preciso<br />

ter na devida conta a exigência moral de fazer com que a organização económica<br />

não ob<strong>ed</strong>eça só às duras leis do lucro im<strong>ed</strong>iato que podem tornar-se desumanas” (n.<br />

10). Porque a soci<strong>ed</strong>ade é também família, não pode ser só mercado. O mercado não<br />

é tudo!<br />

E como não é só mercado, a comunidade humana também não pode ser um farwest<br />

sem lei (ou da lei do mais forte), como bem assinala o Papa, quando apela ao<br />

crescimento de uma cultura jurídica universal cujas normas estejam cada vez mais<br />

impregnadas de conteúdo profundamente humano.<br />

Mobilização global a favor do desarmamento e da desmilitarização<br />

Por fim, a mensagem papal fala das “densas sombras” que pairam sobre o futuro<br />

da humanidade, das tensões e conflitos crescentes. E recorda a África, o Médio<br />

Oriente e o aumento da corrida aos armamentos. Para compreender o estado actual<br />

desta corrida armamentista é bom ter presente que a despesa militar de 2006 foi<br />

de 1.204 biliões de dólares. Significa um aumento médio de 37% no decénio de<br />

1997-2006: a despesa mais alta até agora registada, mesmo em relação ao período<br />

da chamada “guerra fria”. Eis porque, face a este escândalo, o Papa faz um apelo<br />

do coração a uma mobilização global de todas as pessoas de boa vontade a favor de<br />

“uma eficaz desmilitarização, sobretudo das armas nucleares”.<br />

Estando atentos, é verdade que não podemos dizer que estamos no melhor dos<br />

mundos. Mas o Santo Padre oferece-nos uma calorosa mensagem de esperança<br />

apelando às melhores reservas espirituais e morais que existem nas famílias para<br />

testemunharmos uma maior consciência da unidade da grande família humana como<br />

alicerce e espiritualidade da paz no mundo.<br />

“Senhor Jesus, conc<strong>ed</strong>e-nos acolher a tua paz, conc<strong>ed</strong>e-nos fazê-la florescer<br />

sobre a terra e dar-lhe uma figura viva e irradiante nas nossas famílias e nas nossas<br />

comunidades. Faz com que em Ti nos r<strong>ed</strong>escubramos todos irmãos, todos filhos do<br />

mesmo Pai, para fazer da humanidade uma só grande família que saiba viver em paz,<br />

sob a protecção maternal de Maria, Rainha da paz. Ámen!”<br />

<strong>Leiria</strong>, 1 de Janeiro de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

30 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

55º Dia Mundial dos Leprosos<br />

Também os leprosos<br />

invocam a nossa Ternura<br />

No próximo dia 27 de Janeiro celebra-se o 55º Dia Mundial dos Leprosos.<br />

A Lepra é uma doença que afecta 10 milhões de pessoas, sobretudo em Angola,<br />

no Brasil e em Moçambique. É uma doença que pode ser tratada e prevenida. Só por<br />

carências económicas desumanas continua a fazer tantas vítimas.<br />

Os leprosos são nossos irmãos, “os mais pobres dos pobres” como dizia Raoul<br />

Follereau. Também eles invocam a nossa ternura que se exprima num gesto de solidari<strong>ed</strong>ade<br />

efectiva e generosa.<br />

Neste sentido uno-me à Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau que<br />

no dia 27 promove uma acção de recolha de ofertas a favor dos leprosos. Apelo às<br />

paróquias para que lhe dêem a melhor colaboração e aos fiéis a melhor generosidade.<br />

Documentos<br />

<strong>Leiria</strong> 21/01/2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 31


. escritos episcopais .<br />

Homilia na Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada<br />

Cristo é tudo para vós, consagrados (as)<br />

Minhas irmãs e meus irmãos<br />

na graça da fé e da vocação de especial consagração:<br />

Saúdo com muito afecto a todos e todas vós que formais esta singular assembleia,<br />

expressão da multiforme riqueza e beleza da vida consagrada na Igreja e no<br />

mundo.<br />

Convido-vos a fazer juntamente comigo uma m<strong>ed</strong>itação sobre a página evangélica<br />

que acabámos de escutar e que é a carta do Pai para nós, hoje e aqui, neste momento.<br />

Para melhor entendermos a sua mensagem devemos ter presente que ela se<br />

encontra no Evangelho de Marcos, conhecido como o “evangelho do catecúmeno”<br />

pela sua intencionalidade de preparar os catecúmenos para a fé em Jesus e para o<br />

baptismo. Além disso, Marcos apresenta-nos dois milagres entrosados um no outro,<br />

numa só narração. É um convite a interpretá-los e m<strong>ed</strong>itá-los em conjunto.<br />

Tendo isto como pano de fundo, faremos a nossa m<strong>ed</strong>itação à maneira de lectio<br />

divina, a partir de algumas frases-chave do texto.<br />

O desafio a crer mais e a crer melhor<br />

“Minha filha, a tua fé te salvou”; “Não temas, basta que tenhas fé” – diz Jesus,<br />

respectivamente, à mulher hemorraíssa e ao chefe da sinagoga.<br />

Tendo presente a intencionalidade do evangelho de Marcos, podemos dizer que<br />

a fé é a primeira palavra-chave. Quer ressaltar o significado e a importância da fé<br />

requerida ao catecúmeno para o baptismo.<br />

O primeiro passo do percurso da fé é a coragem de sair do meio da multidão e ir<br />

ter com Jesus tal como Jairo ou a ousadia de “tocar a orla do manto” como desejo<br />

e expressão de entrar em comunhão com Jesus e o seu poder salvífico. Muitos da<br />

multidão tocaram certamente Jesus em virtude do aperto, mas só esta mulher tocou<br />

o manto com fé.<br />

Se lermos os dois milagres em conjunto, vemos que Jesus felicita a mulher hemorraíssa<br />

pela audácia da sua fé e propõe-na ao chefe da sinagoga como modelo de<br />

atitude da fé que entra em comunhão com a pessoa do Salvador.<br />

Este primeiro aspecto ilumina o tempo presente da “crise de fé” que atravessa<br />

o ocidente e convida-nos a ir ao coração da fé que é Jesus Cristo. De facto, a actual<br />

crise de fé é uma crise acrisoladora, purificadora da nossa fé. Não é só negativa. A<br />

passagem dum cristianismo transmitido de geração em geração, por uma espécie de<br />

32 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

pertença passiva, a uma fé de opção livre, vivida como um percurso deliberado de<br />

adesão convicta e alegre, caracteriza hoje os países ocidentais, ontem chamados “de<br />

cristandade”.<br />

Na origem da fé cristã não está, antes de mais, a adesão a um conjunto de verdades<br />

ou preceitos, mas a adesão a uma Pessoa que se encontra como Pessoa viva<br />

e fonte de vida na nossa existência: Jesus Cristo descoberto nos evangelhos através<br />

dos cristãos. Aqui joga-se, a meu ver, o futuro do cristianismo no ocidente.<br />

Tudo isto representa um desafio para nós a crer mais (em profundidade) e a crer<br />

melhor (em qualidade), de modo particular aos homens e às mulheres que se consagraram<br />

de modo radical a Cristo. A Igreja e o mundo p<strong>ed</strong>em-vos que sejais, em<br />

primeiro lugar, homens e mulheres de fé viva, convicta, alegre, entusiasta, corajosa,<br />

irradiante que realize aquela expressão tão bela de Santo Ambrósio: “Cristo é tudo<br />

para nós”.<br />

Cristo é tudo para vós, consagrados (as): o sentido, a meta, a alegria de ser e de<br />

viver! Parafraseando o Cardeal Ratzinger: se não nos enamorarmos de Cristo, não<br />

valemos nada como consagrados.<br />

Mas como enamorarmo-nos de Cristo se não descobrimos a beleza da Sua ternura<br />

Documentos<br />

A Beleza da Ternura de Cristo que salva<br />

Contemplemos agora a beleza da ternura de Cristo que transparece nas suas palavras<br />

e nos seus gestos: “Minha filha…vai em paz”; “Pegou na mão da menina e<br />

disse-lhe: levanta-te”.<br />

A mulher hemorraíssa é anónima, identificada pelo (e com o) mal que a atormenta;<br />

sofre a solidão, o isolamento, a exclusão, a humilhação e o m<strong>ed</strong>o de ser considerada<br />

impura e não poder tocar os outros, a suprema humilhação de não poder ter vida<br />

familiar (casar e ter filhos) interpretada então como reprovação divina.<br />

Jesus pára, fá-la sair do anonimato da multidão, acolhe-a, dialoga com ela e dizlhe<br />

ternamente: “Minha filha…”, expressão cheia da ternura paterna, tal como Jairo<br />

apresenta a sua menina a Jesus: “a minha filha está doente…”. A mulher é curada e<br />

salva, reintegrada na comunidade dos filhos de Deus, na comunhão da família que<br />

se forma à volta de Jesus.<br />

A mesma ternura encontramos em relação à menina já morta: “pegou na mão<br />

da menina…”: o gesto e as palavras de Jesus são precisamente os dos pais que, de<br />

manhã, com toda a ternura despertam os filhos para um novo dia.<br />

O catecúmeno aprende assim que Jesus, no baptismo, nos levanta (ressuscita)<br />

para uma vida nova e que para Jesus não há situações incuráveis, desesperadas.<br />

Basta ter fé.<br />

Notemos ainda nesta narração um outro aspecto particular: a correspondência<br />

dos números. Doze anos de enfermidade e humilhação levava a mulher hemorraíssa;<br />

doze anos de vida tinha a menina. Se tivermos em conta que, na altura, aos doze<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 33


. escritos episcopais .<br />

anos a mulher era dada em casamento, então podemos arriscar uma interpretação<br />

simbólica. A mulher que sofre do fluxo de sangue representa a humanidade (e também<br />

a Igreja ou a comunidade) tornada estéril pelas suas enfermidades, pelos m<strong>ed</strong>os<br />

e bloqueios, pelas solidões…enfim, pelo pecado que a torna impura. Mas eis que<br />

quando tudo parece perdido, pode reencontrar a sua juventude, a sua vitalidade, a<br />

sua fecundidade, vida nova e horizontes novos, m<strong>ed</strong>iante a fé viva e vivificada pela<br />

ternura de Jesus.<br />

Cada família de consagrados é chamada a ser um raio da beleza e da ternura do<br />

rosto de Deus. S<strong>ed</strong>e testemunhas da Ternura de Deus. Vivei-a antes de mais na vossa<br />

própria comunidade. E levai-a no coração, nos olhos, nos lábios e nos gestos a este<br />

nosso mundo tão inóspito, árido, frio, egoísta e mercantilista que clama pelo calor da<br />

ternura em todas as relações e situações humanas.<br />

A Eucaristia, o Pão da Ternura que é Cristo<br />

É interessante notar que Jesus, após ter restituído a vida à menina, ordenou aos<br />

presentes para lhe darem de comer. Podemos ver aqui uma alusão ao milagre da<br />

multiplicação dos pães quando Jesus diz aos apóstolos: “dai-lhes vós de comer”. Por<br />

conseguinte, uma alusão à eucaristia.<br />

Por sua vez, comentando o tocar a orla do manto por parte da mulher enferma, S.<br />

P<strong>ed</strong>ro Crisólogo diz: “Esta mulher, mostrando-nos que há algo de muito grande na<br />

orla do manto, ensinou-nos o que vale o Corpo de Cristo. Escutem os cristãos que<br />

tocam cada dia o Corpo de Cristo, que m<strong>ed</strong>icina podem receber do mesmo Corpo, se<br />

uma mulher alcançou toda a saúde só ao tocar a orla do manto de Cristo”.<br />

O catecúmeno aprende assim que para ser cristão não basta ser baptizado, mas<br />

é preciso alimentar-se do Pão vivo, do Pão quotidiano da ternura que é Cristo em<br />

pessoa.<br />

Que seria, de facto, a Igreja sem a Eucaristia Seria como um museu cheio de<br />

coisas antigas, belas e preciosas, mas sem o tesouro vivo que é Aquele que lhe dá<br />

vida e dinamismo; seria como uma casa desolada sem a presença d’Aquele que a<br />

enche do calor da ternura e da comunhão; seria como uma viúva que relê com saudade<br />

as cartas do esposo defunto mas sem a proximidade e a ternura da sua presença<br />

amiga que a acompanhe e lhe dê a alegria e o sabor da comunhão esponsal.<br />

A Igreja vive da Eucaristia, isto é, de Cristo ressuscitado e vivo presente na<br />

eucaristia, do mistério da sua presença querida e do seu amor oferecido por nós e<br />

a nós em comunhão. Na celebração da Eucaristia, Jesus não nos deixou uma coisa.<br />

Deixou-se a si mesmo. A Eucaristia não é algo; é Alguém! Não é uma coisa, uma<br />

oração qualquer; é uma Pessoa viva com todo o seu mistério de amor. Por isso, ela é<br />

o coração da Igreja, o coração de cada comunidade. Tal como o coração, ela leva o<br />

sangue, a vida a todas as partes do Corpo de Cristo de que somos membros.<br />

Este é o mistério admirável, a maravilha das maravilhas da nossa fé que deve<br />

suscitar em nós deslumbramento, estupefacção. Caros consagrados (as), tende fé<br />

34 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

na Eucaristia! S<strong>ed</strong>e enamorados da Eucaristia! Que ela seja o alimento, a força e a<br />

inspiração quotidiana da vossa missão!<br />

Para terminar, desejo retomar o que o cardeal Ratzinger disse pouco antes de ser<br />

eleito Papa e aplicá-lo a vós consagrados, a modo de síntese, como voto e oração:<br />

“Aquilo de que temos sobretudo necessidade neste momento da história é de homens<br />

e de mulheres que através de uma fé iluminada e vivida, tornem Deus cr<strong>ed</strong>ível<br />

neste mundo. Temos necessidade de homens e mulheres que tenham o olhar voltado<br />

para Deus, aprendendo dele a verdadeira humanidade.<br />

Temos necessidade de homens e mulheres cuja inteligência seja iluminada pela<br />

luz de Deus e a quem Deus abra o coração, de modo que a sua inteligência possa<br />

falar à inteligência dos outros e o seu coração possa abrir o coração dos outros. Só<br />

através de homens e mulheres tocados por Deus, pode Deus voltar de novo para<br />

junto dos homens”.<br />

Assim seja para todos nós!<br />

Documentos<br />

<strong>Fátima</strong>, 5 de Fevereiro de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

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. escritos episcopais .<br />

M<strong>ed</strong>itações e homilias do Ano da Misericórdia do Senhor<br />

Introdução ao livro<br />

“Graça e Misericórdia”<br />

O ciclo das aparições ligadas à Mensagem de <strong>Fátima</strong> encerra com a última aparição<br />

de Nossa Senhora a Lúcia em Tuy, em 1929, e precisamente com uma visão<br />

extraordinária e deslumbrante. Trata-se da representação da Trindade na Cruz. Num<br />

só e único olhar abrange o mistério da Santíssima Trindade, o sacrifício r<strong>ed</strong>entor<br />

de Cristo, o sacrifício eucarístico e a presença e a participação singular de Maria<br />

sob a cruz no mistério da r<strong>ed</strong>enção do mundo. E a descrição da Irmã Lúcia termina<br />

do seguinte modo: “Sob o braço esquerdo [de Cristo na cruz], umas letras grandes,<br />

como se fossem de água cristalina que corresse para cima do altar, formavam estas<br />

palavras: Graça e Misericórdia”.<br />

“Graça e Misericórdia” – as duas grandes palavras que Lúcia leu como comentário<br />

à visão da Trindade, podem bem sintetizar toda a Mensagem de <strong>Fátima</strong> como<br />

manifestação do Deus compassivo que se inclina sobre o mundo do século XX então<br />

mergulhado no ódio e na guerra, e sobre o sofrimento humano de milhões de pessoas<br />

para lhes fazer sentir o poder da Sua misericórdia.<br />

Como afirmou João Paulo II: “Para além da misericórdia de Deus, não há outra<br />

força da esperança para os seres humanos” capaz de pôr limite ao poder do mal.<br />

A Divina Misericórdia pode mudar o mundo. É uma revolução de amor capaz de<br />

erradicar o mal e semear o bem. O Papa Bento XVI explica-o com a clareza e a<br />

profundidade que lhe são próprias: “Só a misericórdia de Deus encarnado em Jesus<br />

pode restabelecer o equilíbrio entre o mal e o bem, começando pelo pequeno mundo<br />

que é o coração do homem” (Angelus, 23.02.07).<br />

A misericórdia é um dos atributos mais belos do nosso Deus e tem um nome e<br />

um rosto: Jesus Cristo. Da sua contemplação brota a atitude de deslumbramento e<br />

assombro, como sobressai das palavras de Santa Catarina de Sena perante a “loucura”<br />

da misericórdia do Pai celeste:<br />

“Ó misericórdia que brota da tua divindade, Pai eterno, a qual governa com o teu<br />

poder o mundo inteiro!<br />

Na misericórdia fomos criados; na Tua misericórdia fomos recriados no sangue<br />

do Teu Filho. A tua misericórdia conserva-nos; a Tua misericórdia fez com o Teu<br />

Filho estendesse os seus braços no madeiro da cruz, lutando a morte com a vida e a<br />

vida com a morte. E então a vida derrotou a morte da nossa culpa e a morte da culpa<br />

tirou a vida corporal ao cordeiro imaculado.<br />

36 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Quem ficou vencido A morte. E qual foi a causa A Tua misericórdia”.<br />

E perante a loucura de amor do Verbo encarnado exclama:<br />

“Por misericórdia lavaste-nos no sangue; por misericórdia quiseste conversar<br />

com as tuas criaturas. Ó louco de amor! Não te bastou encarnar, mas também quiseste<br />

morrer!”<br />

A mensagem da Misericórdia Divina de que Maria se fez mensageira em <strong>Fátima</strong><br />

foi um apoio especial e fonte de fortaleza e esperança para a Igreja e para o mundo<br />

face aos dramas e às tragédias do século XX. Esta mensagem é hoje mais necessária<br />

do que nunca, como nos confirmam os acontecimentos mundiais de cada dia. Ela<br />

promove a paz no mundo, entre os povos e entre as religiões.<br />

Eis a razão porque o Santuário de <strong>Fátima</strong> comemorou os 90 anos das Aparições<br />

consagrando a ano de 2007 como “Ano da Misericórdia do Senhor”, com uma série<br />

de celebrações e iniciativas em ordem a r<strong>ed</strong>escobrir a beleza e a profundidade da Misericórdia<br />

Divina. Esta, por sua vez, ajuda a descobrir o verdadeiro rosto de Deus, o<br />

verdadeiro rosto do homem e da Igreja e também o verdadeiro rosto de Maria, como<br />

Mãe da Misericórdia.<br />

A presente obra oferece aos leitores as principais homilias e m<strong>ed</strong>itações que foram<br />

feitas ao longo do ano, no Santuário, com esta finalidade.<br />

“Salvé Rainha, Mãe da Misericórdia... Eia, pois, advogada nossa, esses vossos<br />

olhos misericordiosos a nós volvei!” – assim reza e canta o povo cristão. Que a Mãe<br />

de Deus volte os seus olhos misericordiosos para a humanidade aflita, tão necessitada<br />

da sua sab<strong>ed</strong>oria e da sua ajuda, e nos ajude a ser testemunhas do amor misericordioso!<br />

Misericórdia e Coragem, eis aquilo de que tanto precisam a Igreja e o mundo<br />

no momento presente!<br />

Documentos<br />

<strong>Leiria</strong>, 7 de Fevereiro de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

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. escritos episcopais .<br />

Inauguração do Domus Carmeli<br />

– Padres Carmelitas Descalços – <strong>Fátima</strong><br />

Casa de Deus e Porta do Céu<br />

Foi com íntima alegria que aceitei o convite para presidir à d<strong>ed</strong>icação desta igreja<br />

e assim poder associar-me à festa da família dos Carmelitas descalços, à qual me<br />

ligam grandes laços de afecto desde há muitos anos. Com esta alegria saúdo todos<br />

vós aqui presentes com muita estima e fraterno afecto.<br />

Celebramos esta d<strong>ed</strong>icação num dia muito significativo, este 13 de Fevereiro,<br />

dia de peregrinação em memória das aparições e de memória grata, junto do altar do<br />

Senhor, do terceiro aniversário da morte da Irmã Lúcia. Acontecimentos que são expressão<br />

da ligação particular dos Carmelitas à Mensagem e ao Santuário de <strong>Fátima</strong>.<br />

Em nome do Santuário, de todos os presentes e em meu nome pessoal dirijo-vos as<br />

mais vivas congratulações por esta nova casa “Domus Carmelli, <strong>Fatima</strong>e atrium”!<br />

Convosco quero fazer uma m<strong>ed</strong>itação deixando-nos inspirar pela Palavra de<br />

Deus que acabámos de escutar.<br />

1. Uma escada que chega ao céu<br />

A igreja que hoje d<strong>ed</strong>icamos ao Senhor é um lugar privilegiado onde nós, cristãos,<br />

podemos celebrar a presença de Deus, escutá-Lo e receber d´Ele a luz e a<br />

força para o nosso caminho, segundo a sua promessa perene feita a Jacob “Eu estou<br />

contigo”.<br />

É esta realidade que nos evoca a primeira leitura desta missa, que nos descreve<br />

a visão de Jacob, a quem apareceu uma escada erguida sobre a terra e que chega até<br />

ao céu, ao longo da qual os anjos subiam e desciam.<br />

Em cada igreja realiza-se a visão de Jacob: através da escada da nossa oração<br />

nós subimos até Deus e Deus desce até nós com os seus dons para estar e caminhar<br />

connosco. Eis porque cada igreja é definida como uma casa de Deus, tal como Jacob<br />

definiu o lugar em que Deus lhe falou: “É nada menos que a casa de Deus e a porta<br />

do céu”.<br />

Com esta visão de fé também nós entraremos muitas vezes neste templo, com a<br />

certeza de encontrar um espaço sagrado em que o Senhor virá até nós e nós poderemos<br />

aproximar-nos d´Ele, Caminho, Verdade e Vida. E então como o Salmo responsorial<br />

(Sl 94), poderemos cantar sempre no nosso coração tal como hoje “Vamos à<br />

presença do Senhor com cânticos de alegria”.<br />

38 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

2. O templo espiritual<br />

A segunda leitura lembra-nos, de seguida, que o templo material não é tudo: existe,<br />

com efeito, um outro lugar onde Deus pode e quer habitar, se nós lhe somos fiéis.<br />

Sim, Ele pode e quer habitar em nós se O acolhermos com amor. O nosso coração<br />

é o Seu templo preferido. Esta é a doutrina que o Apóstolo Paulo apresentava já há<br />

dois mil anos aos cristãos de Corinto: “Irmãos, vós sois o <strong>ed</strong>ifício de Deus... Não<br />

sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós... O templo<br />

de Deus é santo e vós sois esse templo”.<br />

Este grito do Apóstolo, simultaneamente de assombro (diante da grandeza deste<br />

mistério) e de imploração, ressoa hoje e aqui de novo, neste belo templo. Que este<br />

templo seja sempre símbolo de uma outra presença mística: a presença de Cristo<br />

no coração de cada cristão, “esse castelo ou morada interior” em cujo centro habita<br />

Deus, segundo a bela expressão de Santa Teresa de Jesus.<br />

Documentos<br />

3. O apelo do Evangelho:<br />

ser verdadeiros adoradores em espírito e verdade<br />

A liturgia da palavra apresenta-nos, por fim, um outro apelo de Jesus indicado,<br />

propositadamente, para esta celebração solene.<br />

Com efeito, no diálogo com a samaritana, Jesus revela a novidade extraordinária<br />

e inesperada do culto cristão: “Mulher, acr<strong>ed</strong>ita em mim… Vai chegar a hora – e já<br />

chegou – em que os verdadeiros adoradores de Deus hão-de adorar o Pai em espírito<br />

e verdade”. O culto a Deus não está mais ligado, indissoluvelmente, a um lugar concreto<br />

ou espaço físico, mas a um “espaço” novo, humano e divino ao mesmo tempo,<br />

que se identifica com o próprio Jesus, com a Sua “sacratíssima humanidade” e o Seu<br />

mistério. Os verdadeiros adoradores em espírito e verdade são os que acolhem o<br />

mistério do Amor eterno e santo do Pai “que amou tanto o mundo que lhe entregou<br />

o Seu Filho” e com Ele o Seu Espírito de Amor; os que acolhem a Sua Palavra e,<br />

animados pelo Espírito, vivem na santidade de vida quotidiana; os que comunicam<br />

e testemunham o Seu amor de reconciliação e unidade no coração do mundo, que<br />

derruba os muros de separação entre judeus e samaritanos, isto é, entre todas as<br />

pessoas e todos os povos.<br />

Neste sentido, Jesus ensina-nos que a casa de Deus deve ser também a casa dos<br />

homens na qual os filhos do mesmo Pai se reconhecem como irmãos e são enviados<br />

ao mundo para levarem a fraternidade em nome de Cristo.<br />

Um dia, entrando numa pequena igreja dos Alpes italianos, notei sobre o pórtico<br />

esta inscrição que me impressionou: “Aqui entra-se para amar a Deus; e daqui sai-se<br />

para amar os homens”.<br />

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. escritos episcopais .<br />

4. Uma mensagem actual<br />

Caros irmãos carmelitas: a igreja que hoje d<strong>ed</strong>icamos, coração da “Domus Carmelli,<br />

<strong>Fatima</strong>e atrium” é também símbolo da vossa missão aqui em <strong>Fátima</strong>.<br />

Na esteira dos vossos pais fundadores, Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz,<br />

sois chamados a oferecer aos peregrinos de <strong>Fátima</strong> a dimensão contemplativa e mística<br />

da fé, a experiência gozosa da Beleza de Deus que a Irmã Lúcia testemunhou<br />

nas suas memórias e na sua vida, “o pequeno caminho da santidade” proposto por<br />

Santa Teresinha de Lisieux como caminho simples e acessível a todos. Como v<strong>ed</strong>es,<br />

trata-se de uma mensagem de profunda actualidade.<br />

S<strong>ed</strong>e testemunhas eloquentes da unidade de mística e acção, de oração e apostolado,<br />

dum clima de serenidade e de alegria onde se experimenta a presença de Deus.<br />

Assim ireis ao encontro do homem contemporâneo tentado pelo cansaço, pela resignação,<br />

pela falta de confiança na bondade da vida e tão necessitado de interioridade<br />

e de esperança; e ajudareis a tornar <strong>Fátima</strong> um oásis espiritual.<br />

Que vos acompanhe e ilumine no vosso itinerário espiritual e na vossa missão<br />

a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Jesus, que vós invocais com o belo nome de<br />

Nossa Senhora do Carmo!<br />

<strong>Leiria</strong> 13 de Fevereiro de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

40 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Exéquias do padre Manuel António Henriques<br />

Um Pastor Terno e Generoso<br />

. escritos episcopais .<br />

O nosso caro padre Manuel Henriques, como peregrino para a casa eterna do<br />

Pai, realiza a sua última paragem nesta igreja paroquial de <strong>Fátima</strong>, onde durante 50<br />

anos exerceu d<strong>ed</strong>icadamente o seu ministério sacerdotal. Aqui hoje, recebe o adeus<br />

afectuoso, grato e comovido do seu povo e de quantos o estimam e dele se desp<strong>ed</strong>em<br />

para a sua última viagem.<br />

Neste momento, também nos unimos todos à dor dos seus familiares a quem quero<br />

exprimir em nome dos presentes, de toda a diocese e em nome pessoal, o sentido<br />

pesar pela perda de um familiar tão querido.<br />

As leituras da Palavra de Deus que escutámos iluminam o sentido desta desp<strong>ed</strong>ida<br />

em celebração eucarística, como expressão de acção de graças a Deus pelo dom<br />

do sacerdócio do Pe. Manuel Henriques e expressão do nosso sufrágio que o acompanha<br />

na comunhão dos santos, confiando-o à misericórdia do Senhor.<br />

A primeira leitura convida-nos a contemplar o rosto de Deus, como Deus da<br />

Aliança: o Deus próximo e solícito pela sorte dos seus filhos; o Deus compassivo<br />

que quer bem ao Seu povo errante, o guia, o acompanha e lhe infunde novo ânimo.<br />

De todos os modos possíveis e imaginários, o profeta Isaías repete, marcadamente,<br />

a certeza deste Amor de Deus pelo Seu povo e do socorro que lhe oferece.<br />

Para isso serve-se das imagens mais sugestivas e expressivas, belas e ternas, de Deus<br />

como pastor que guia e protege, como agricultor que restaura a terra, como médico<br />

que cura as feridas, para concluir com a esplêndida imagem de Deus como Mãe que<br />

não pode “esquecer-se da criança que amamenta e não ter carinho pelo fruto das suas<br />

entranhas”.<br />

O Seu amor, como diz o salmista, é ternura profunda, amor de entranhas. E o<br />

povo tem necessidade desta ternura, de ser consolado por este amor único e inigualável.<br />

Nesta luz vemos a luz e a beleza do dom do sacerdócio ministerial: os sacerdotes<br />

são chamados a serem testemunhas e servidores da ternura de Deus. A eles é confiada<br />

a missão de levarem o conforto, a consolação, a ternura, o perdão, a esperança de<br />

Deus às pessoas, às comunidades, ao mundo.<br />

A esta luz apraz-nos dar graças pelo testemunho sacerdotal do Pe. Manuel Henriques<br />

impregnado de ternura para com o seu povo e que se manifestou de vários modos,<br />

que aqui desejo sublinhar: o grande empenhamento na catequese das crianças e<br />

adolescentes, o cultivo da amizade a toda a gente, a grande capacidade para ouvir as<br />

pessoas e as encorajar, o acolhimento com bondade dos migrantes que chegavam à<br />

paróquia, a sua devoção terna a Nossa Senhora, Mãe da Ternura, e aos Pastorinhos,<br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 41


. escritos episcopais .<br />

a atenção especial às vocações sacerdotais. Ainda hoje estão vivos doze sacerdotes<br />

da paróquia de <strong>Fátima</strong> que, de algum modo, são fruto da sementeira do Pe. Manuel<br />

Henriques.<br />

O testemunho de ternura e apoio para com o seu povo estendeu-se numa dimensão<br />

cultural, como iniciador do Colégio de S. Miguel; fundador de uma rádio e do<br />

Centro Paroquial que depois se transformou no actual Centro Desportivo de <strong>Fátima</strong>;<br />

promotor da música na sua paróquia, especialmente entre os jovens, tendo mesmo<br />

criado um grupo musical.<br />

Foi um pastor terno e generoso. Foi um pai bom, capaz de amar muito. E, por<br />

isso, foi muito amado. Disso é prova a vossa presença tão numerosa aqui no último<br />

adeus, como testemunho da vossa gratidão: uma presença numerosa dentro e fora da<br />

igreja, a formar uma coroa de corações como quem lhe quer dar o último abraço.<br />

O Evangelho convida-nos a fixar os nossos olhos em Jesus Cristo. Contemplando-o<br />

como Filho eterno do Pai, o filho encarnado no mundo dos homens, encontramos<br />

as palavras e os gestos de conforto e esperança de que tanto necessitamos.<br />

Ele é o rosto visível do Pai. N´Ele habita a plenitude da divindade, do Amor e da<br />

Vida que vencem a morte: “como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, assim o<br />

Filho dá a vida a quem Ele quer”; “Quem ouve a minha Palavra e acr<strong>ed</strong>ita n´Aquele<br />

que me enviou, tem a vida eterna!”<br />

A Ressurreição do próprio Senhor Jesus é a revelação visível de que não fomos<br />

lançados na vida ao acaso, para cairmos no vazio do nada! É uma grande revelação:<br />

sabermos que aqueles que já partiram, partiram apenas! Que não se desfizeram no<br />

pó, mas continuam num outro âmbito, na luz de Deus, a olharem-nos com ternura e<br />

a seguirem as nossa pegadas de peregrinos neste mundo.<br />

Esta é também a grande esperança que Jesus nos oferece, que dá nova luz à nossa<br />

existência quotidiana, que nos sustém e sustenta na fadiga e no sofrimento de cada<br />

dia.<br />

Esta foi também a esperança que deu ao Pe. Manuel Henriques a força da perseverança<br />

ao longo de 54 anos de sacerdócio e que não lhe faltou nos dias do seu<br />

último sofrimento.<br />

Quem lhe esteve próximo, testemunha com quanta serenidade ele se ofereceu<br />

todo e ofereceu tudo ao Senhor pela sua Igreja, a exemplo dos beatos Pastorinhos<br />

Francisco e Jacinta, como escreveu na sua última carta ao bispo.<br />

Que a companhia terna e materna de Nossa Senhora juntamente com os Pastorinhos<br />

te introduzam, caro Pe. Manuel Henriques, na luz e na alegria da Páscoa<br />

eterna, junto do Senhor. Feliz Páscoa na eternidade do nosso Deus e Senhor é o que<br />

te desejamos!<br />

<strong>Leiria</strong>, 5 de Março de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

42 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Mensagem<br />

75º aniversário do Jornal<br />

“A Voz do Domingo”<br />

O nosso jornal diocesano “A Voz do Domingo” completa 75 anos de vida e de<br />

serviço à Igreja e à soci<strong>ed</strong>ade. É uma idade provecta que merece a nossa veneração.<br />

São as “Bodas de Diamante” que requerem ser celebradas com júbilo e em acção de<br />

graças.<br />

“A Voz do Domingo”, ao longo de todo este tempo, tem-se distinguido como<br />

órgão eclesial de comunicação ao serviço da pessoa humana, da cultura cívica e<br />

religiosa, do bem comum da soci<strong>ed</strong>ade, da divulgação do magistério da Igreja. À<br />

cultura da informação alia a cultura da sab<strong>ed</strong>oria para que aquela não se torne num<br />

mero acumular de informações e factos sem sentido.<br />

O seu 75º aniversário oferece-me a oportunidade para, em nome da <strong>Diocese</strong> e em<br />

meu nome pessoal, manifestar o reconhecimento grato ao seu Director e a todos os<br />

colaboradores e funcionários. E muitos parabéns!<br />

Documentos<br />

<strong>Leiria</strong>, 10 de Março de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 43


. escritos episcopais .<br />

Homilia da Missa Crismal<br />

Servidores da Ternura<br />

e da Consolação de Deus<br />

É uma hora de graça esta que nos é dado viver, juntos, na celebração da missa<br />

crismal, verdadeira festa da unidade da Igreja diocesana recolhida à volta do seu<br />

pastor. É um acontecimento de beleza e de ternura, de consolação e de alegria em<br />

que nos sentimos amados por Deus com um amor particular: aquele amor que nos<br />

alcançou e mudou as nossas vidas, fazendo de nós testemunhas humildes e enamoradas<br />

do Ressuscitado, ao serviço do nosso povo e de toda a família humana. Neste<br />

clima de beleza, de comunhão e alegria saúdo-vos, caros padres, com fraterna estima<br />

e sincera gratidão. Convosco saúdo jubilosamente e com gratidão o nosso estimado<br />

Vigário Geral, Pe. Jorge Guarda, que este ano celebra o dom de 25 anos de sacerdócio.<br />

Na Comunhão dos Santos recordo junto do Senhor os três irmãos sacerdotes que<br />

partiram para a casa eterna do Pai. E quero também enviar uma mensagem de afecto<br />

àqueles que deixaram de exercer o ministério.<br />

Uma hora histórica única, decisiva e preciosa<br />

Desejaria começar esta nossa reflexão confidenciando-vos as primeiras impressões<br />

da Visita Pastoral que iniciámos. Tive assim a oportunidade de entrar no interior<br />

das comunidades onde fui acolhido como irmão. Procurei sentir o pulsar da vivência<br />

da fé e da vida espiritual de cada comunidade que visitei. Constatei uma boa reserva<br />

de muitas energias ao serviço do anúncio e da construção do Reino de Deus.<br />

Recolhi entusiasmos, alegrias, expectativas e esperanças, como também cansaços,<br />

desalentos, temores, e até sofrimentos interiores relativos à indiferença ou à apostasia<br />

silenciosa de muitos. Mas, sobretudo, verifiquei em todos, sacerdotes e leigos,<br />

um enorme desejo de um salto de qualidade: na vitalidade da fé e da vida espiritual,<br />

no serviço comum de evangelização, na reconfiguração das comunidades cristãs em<br />

ordem a uma maior participação e corresponsabilidade, no desejo de ser uma Igreja<br />

viva de comunhão e missão, que não se quer deixar envelhecer e acomodar.<br />

Há um desejo de “transfiguração” do rosto da Igreja a fim de que a beleza e a<br />

ternura do rosto de Cristo resplandeçam em cada comunidade, nos modos e nos<br />

métodos que somos chamados a seguir para viver, testemunhar e comunicar a fé no<br />

novo contexto social e cultural.<br />

44 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

É preciso um caminho que nos envolva a todos, ministros e todo o povo de Deus,<br />

e leve ao centro e fundamento da experiência cristã. É preciso um regresso às fontes<br />

originárias de todo o impulso e ardor apostólicos, que nos leve a sair da rotina, da<br />

repetitividade monótona, do uso banal e consumista do tempo, conscientes de que<br />

“não há duas horas iguais: cada hora é única, a única conc<strong>ed</strong>ida naquele tempo, exclusiva<br />

e infinitamente preciosa” (Abraam Heschel).<br />

Também a hora histórica que nos é dado viver e em que somos chamados a<br />

exercer a nossa missão é única, decisiva e preciosa. É uma hora de “crise epocal”,<br />

um tempo de grave crise espiritual, moral e civil de fragmentação, de desencanto e<br />

desolação existencial que nos pode contagiar e abater o nosso ânimo.<br />

Mas Deus vem ao nosso encontro com o dom da consolação, que é outra face da<br />

ternura de Deus, como podemos verificar em toda a liturgia desta Missa Crismal.<br />

O óleo e o perfume da consolação<br />

O texto do profeta Isaías (61) é um verdadeiro canto da consolação e da esperança<br />

para o povo no tempo do exílio. Juntamente com o texto do Evangelho (Lc 4)<br />

é um compêndio de teologia do dom e da missão de consolação. O Servo, o Consagrado<br />

do Senhor é ungido “para anunciar a boa nova aos infelizes, curar os corações<br />

atribulados, consolar os tristes, levar aos aflitos de Sião uma coroa em vez de cinza,<br />

o óleo da alegria em vez do trajo de luto, cânticos de louvor em vez de um espírito<br />

abatido”.<br />

O Servo de Deus é o consolador que leva a confiança de Deus a um povo abatido<br />

que vive a experiência da desolação e do abandono. E Jesus, no Evangelho, identificando-se<br />

com este Servo, anuncia e torna presente a consolação divina aos pobres,<br />

prisioneiros, cegos, oprimidos e escravos. Ele é a Luz e a Consolação; é a presença<br />

da consolação no meio do seu povo; é a revelação visível, pessoal do eterno rosto<br />

consolador de Deus!<br />

O profeta Isaías para anunciar esta realidade superior às forças humanas serve-se<br />

de símbolos e imagens entre os quais se destaca o óleo. É uma imagem carregada de<br />

sentidos. Mas as suas várias significações (m<strong>ed</strong>icina, vigor, paz, alegria, consagração)<br />

podem sintetizar-se na consolação. É o perfume deste óleo da consolação que<br />

enche de solenidade a liturgia de hoje e dela parte para consolar, confortar inúmeras<br />

histórias de fé, de amor, de sofrimento, de entrega, de esperança e de vida, através<br />

dos sacramentos marcados pela unção: o baptismo, o crisma, a ordem e a unção dos<br />

enfermos.<br />

Portanto, a partir de Jesus consagrado com o “óleo do Espírito”, através de nós,<br />

bispos e presbíteros “participantes do ministério da salvação”, até todo o povo sacerdotal<br />

dos fiéis, o mistério da unção unido à Palavra, difunde um bálsamo de consolação,<br />

de conforto, de suavidade e ternura sobre toda a Igreja de Deus.<br />

Documentos<br />

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. escritos episcopais .<br />

A consolação da mente, do coração e da vida<br />

O nosso Deus é “Pai misericordioso e Deus de toda a consolação”. É seu atributo<br />

específico ser Consolador (cf. Is 52,1). A sua acção em nós é principalmente a de nos<br />

consolar e confortar. Ele quer a nossa paz, a nossa alegria, a nossa felicidade. Mas<br />

surge a interrogação: como é que o nosso Deus nos consola, nos assiste e infunde<br />

coragem<br />

Pensamos im<strong>ed</strong>iatamente no belíssimo hino de S. Paulo que podemos fazer nosso:<br />

“Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias<br />

e o Deus de toda a consolação! Ele nos consola em toda a nossa tribulação, para que<br />

também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação, m<strong>ed</strong>iante<br />

a consolação que nós mesmos recebemos de Deus.” (2 Cor1,3-4).<br />

É uma passagem muito bela e tocante. O apóstolo sente-se consolado, vive fortes<br />

experiências de consolação no meio das tribulações e aflições da sua vida apostólica.<br />

Isto vale também para a nossa acção pastoral.<br />

A situação de ser consolado por Deus é, na verdade, típica da vida cristã. Se o<br />

Senhor nos deixa passar através de provações, não deixa porém que nos falte consolação<br />

e conforto.<br />

A consolação divina é como uma mola poderosa para o nosso caminhar, para<br />

“voar” nos caminhos da santidade e da pastoral porque “dá asas aos pés”, segundo a<br />

expressão de Santo Inácio de Loyola. Em que consiste esta consolação<br />

Na linha da espiritualidade inaciana desejaria exprimir três modos típicos - que<br />

são três graças -, com que o Senhor nos consola no nosso tempo:<br />

1. A consolação da mente, hoje tão fragmentada e dispersa,<br />

sem pontos de referência<br />

É uma espécie de luz (iluminação) que nos oferece uma visão sintética, unitária<br />

e mística do admirável desígnio de Deus e da história da salvação, tal como aos discípulos<br />

de Emaús; um conhecimento íntimo que nos permite intuir, num único olhar,<br />

a riqueza, a harmonia, a coerência e a beleza dos conteúdos da fé; que nos conc<strong>ed</strong>e<br />

ver com claridade, a certeza, a confiança absoluta e a beleza da vocação, do carisma<br />

e da missão que nos são confiados; que nos dá a capacidade de ver e julgar, à luz de<br />

Deus, as realidades humanas e divinas e os sinais dos tempos.<br />

Quem recebe este dom compreende com que imenso amor Deus abraça o mundo<br />

e como a pequena história de cada um, com os seus acontecimentos mesmo dolorosos,<br />

tem significado e valor dentro da grande história da salvação.<br />

Isto é de grande importância para quem tem responsabilidades na Igreja, porque<br />

o ajuda a pensar em grande e a pensar positivo mesmo no meio de circunstâncias pequenas<br />

e mesquinhas. Por vezes, ainda sentimos a dificuldade em pensar numa visão<br />

grande e positiva. Sentimos que é mais cómodo encerrar-se em horizontes estreitos<br />

e mesquinhos e viver neles com amargura e lamentações. A consolação da mente<br />

mostra-nos que não é este o desígnio de Deus.<br />

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. escritos episcopais .<br />

2. A consolação do coração, hoje tão ferido, dividido e insatisfeito<br />

É a inclinação afectiva a crer no Evangelho, a confiar e a confiar-se ao mistério<br />

do infinito amor de Deus por cada um de nós, porque é bom e belo, dá paz interior e<br />

alegria. “É como um raio de felicidade de Cristo ressuscitado e glorioso que ilumina<br />

e aquece o coração” (C. Martini). É Deus que chega com a sua consolação à intimidade<br />

mais profunda da pessoa, ao seu coração, lugar dos sentimentos, dos afectos<br />

e das decisões profundas. E purifica o coração e a memória, reconcilia o próprio<br />

consigo mesmo e os seus limites, com os outros e com Deus; abre-o ao amor verdadeiro,<br />

puro e casto; liberta-o da impaciência, da frustração, da solidão, da desolação,<br />

do desespero. Dá serenidade e abre-o à esperança que não defrauda, mesmo nas<br />

circunstâncias mais difíceis. “Quem tem fé, nunca está só” (Bento XVI).<br />

3. Consolação da vida, hoje tão ameaçada pelo m<strong>ed</strong>o e pela insegurança<br />

É uma força interior que nos ajuda a prosseguir, com coragem e perseverança, no<br />

autêntico caminho da vida, mesmo quando está semeado de obstáculos ou quando<br />

tudo parece confuso e perdido. Sim, a presença do Senhor, a Sua companhia dá-nos<br />

uma força superior, humanamente inexplicável, que nos permite resistir nos dias<br />

mais difíceis, como tão bem expressa o salmista: “O Senhor está comigo; com Ele<br />

a meu lado, não vacilarei”! Ou então com o hino de Completas: “Se me envolve a<br />

noite escura e caminho sobre abismos de amargura, nada temo, porque a Luz está<br />

comigo”!<br />

Penso também na famosa parábola das “Pegadas na areia” tão elucidativa. No<br />

início, são quatro pegadas (as de Jesus e do amigo a seu lado). A um certo ponto ficam<br />

só as duas pegadas do amigo. Mas quando o amigo pergunta a Jesus onde estava<br />

nos momentos mais difíceis, ouve a resposta surpreendente: nessa altura, levava-te<br />

eu nos braços.<br />

Mesmo quando parece que somos abandonados por Deus, Ele continua a caminhar<br />

connosco, a levar-nos nos seus braços. Como é importante esta confiança no<br />

caminho da Igreja e na vida pastoral nos tempos mais difíceis!<br />

Esta consolação da vida traduz-se hoje na confiança na vida, na bondade e na<br />

beleza da vida, de que tanto precisa a nossa soci<strong>ed</strong>ade e a nossa cultura.<br />

Documentos<br />

S<strong>ed</strong>e servidores da ternura e da consolação de Deus<br />

Neste tempo difícil que vivemos, considero muito importantes estes três tipos de<br />

consolação para o nosso ministério e para as nossas comunidades. Hoje, o mundo<br />

está cheio de motivos que levam ao temor, ao m<strong>ed</strong>o, ao desencanto, à confusão e<br />

desorientação, à desolação, à angústia e à depressão. E as pessoas esperam, avidamente,<br />

dos sacerdotes o testemunho da consolação, do conforto.<br />

A própria vida cristã e pastoral está sob o signo da consolação e da ternura, porque<br />

está sob o signo do Amor eterno, santo e compassivo de Deus e do desejo de<br />

comunicá-lo aos outros.<br />

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. escritos episcopais .<br />

O Senhor, Pai de misericórdia, faz cair a consolação como bálsamo gota a gota.<br />

Também nós, com Ele, podemos fazer do mesmo modo, sem qualquer presunção. A<br />

nossa sincera participação nas fadigas e cansaços do nosso povo, nos sofrimentos da<br />

gente é garantia de que estamos com o Senhor; de que podemos servir o óleo da consolação<br />

porque, em primeiro lugar temos necessidade dele e o invocamos de Deus,<br />

particularmente neste dia, p<strong>ed</strong>indo-lhe que reavive o dom que está em nós.<br />

A Sagrada Escritura apresenta-nos figuras de curadores feridos, de consoladores<br />

aflitos, de médicos carregados com as doenças dos outros, de curadores de chagas<br />

chagados. À semelhança de S. Paulo que se considera consolado para consolar, s<strong>ed</strong>e<br />

servidores da ternura e da consolação de Deus!<br />

É o vosso serviço aos irmãos: ser aquele que acompanha, apoia, estimula, consola,<br />

dá motivações, indica metas justas, abre horizontes para infundir força e conduzir<br />

a Cristo, mostrando que a graça de Deus, a mão do Senhor nos acompanha.<br />

Significa também que devemos semear calma, sentido de objectividade, capacidade<br />

de olhar as coisas a partir do Alto e ao longe, promover em toda a situação a<br />

reconciliação, a conversão dos corações, o bem comum. Trata-se de uma sementeira<br />

paciente, perseverante e capaz de esperar os frutos quando Deus quiser. Vacklav<br />

Havel, grande escritor e homem político, exprimiu assim os sentimentos que nos<br />

devem animar no tempo da provação: “Eu queria fazer progr<strong>ed</strong>ir a história à maneira<br />

de uma criança que puxa uma planta para a fazer crescer mais depressa. Creio que<br />

é preciso aprender a esperar... Semear pacientemente o grão, regar assiduamente a<br />

terra que o cobre e conc<strong>ed</strong>er às plantas os seus tempos. Se os políticos e os cidadãos<br />

compreendessem que cada coisa, neste mundo, tem os seus tempos e que, para além<br />

do que se espera do mundo e da história, é importante saber o que o mundo e a<br />

história esperam, então a humanidade não acabaria tão mal como às vezes imaginamos...<br />

Não há nenhuma razão para ser impacientes, se se semeou e regou bem. Basta<br />

compreender que a nossa actividade não está privada de sentido. É uma actividade<br />

que tem sentido porque nasce da esperança e não do desespero, da fé e não da desconfiança,<br />

da humildade perante os tempos deste mundo e não do m<strong>ed</strong>o”.<br />

Ó Maria, Mãe da ternura e da consolação, interc<strong>ed</strong>e por nós para que nunca nos<br />

falte a consolação da mente, do coração e da vida, que sustenta a nossa fé, a nossa<br />

esperança, o nosso amor e o nosso ministério.<br />

Ámen!<br />

<strong>Leiria</strong>, 20 de Março de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

48 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Mensagem para a publicação anual da Cercilei<br />

24º Sarau de Actividades Corporais<br />

. escritos episcopais .<br />

Comemoramos este ano o sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos<br />

Direitos do Homem. É uma bela ocasião para tomarmos consciência e para reafirmar<br />

que toda a pessoa portadora de deficiência é sempre um sujeito plenamente humano<br />

com os direitos sagrados e invioláveis de cada pessoa humana. Por isso, as pessoas<br />

portadoras de deficiência devem ser ajudadas a participar na vida familiar e social<br />

em todas as dimensões e a todos os níveis acessíveis às suas possibilidades.<br />

Ao reconhecimento dos direitos deve corresponder o empenho sincero de todos<br />

para criar condições de vida, estruturas de apoio, tutelas jurídicas capazes de responder<br />

às necessidades e às dinâmicas de crescimento das pessoas portadoras de deficiência<br />

e daqueles que partilham a sua situação, a começar pelos seus familiares.<br />

Não se lhes pode negar o necessário apoio e a necessária protecção na difícil tarefa<br />

de enfrentar a vida. Mais do que outros, precisam de atenção, afecto, proximidade,<br />

compreensão e amor.<br />

À Cercilei e a todos quantos aí trabalham deixo expresso todo o meu reconhecimento<br />

e toda a minha estima pela exemplar d<strong>ed</strong>icação e pelo notável trabalho que<br />

desenvolvem, de que o 24º SARAU é testemunho.<br />

Um abraço amigo,<br />

Documentos<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

[14 de Abril de 2008]<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 49


. escritos episcopais .<br />

Abertura das XVI Jornadas de Direito Canónico<br />

O Direito, a Caridade<br />

e a Comunhão Fraterna<br />

Saúdo cordialmente todos os participantes nestas jornadas e agradeço ao Prof.<br />

Saturino o convite para presidir a esta sessão de abertura, o que me proporciona<br />

associar-me à comemoração dos vinte e cinco anos do novo Código de Direito Canónico.<br />

Que vos pode, a este respeito, dizer um bispo que não é um especialista em direito<br />

E no entanto, o bispo, como pastor da Igreja local, é talvez quem mais sente<br />

de perto, em concreto e ao vivo, a necessidade, o valor e o significado do Direito<br />

Canónico para a sua missão, para a vida das comunidades e dos fiéis. Por isso, num<br />

olhar pastoral e teológico, ofereço-vos uma breve reflexão sobre o direito, a caridade<br />

e a comunhão na Igreja, em dois pontos.<br />

O direito ao serviço da Igreja do amor<br />

O teólogo ortodoxo N. Afanassieff, no seu livro A Igreja do Santo Espírito, escrevia<br />

assim a propósito do ordenamento jurídico da Igreja: “O princípio da ordem e da<br />

organização na Igreja é o Espírito. A Igreja começa no Espírito. A Igreja vive graças<br />

ao Espírito e no Espírito. Os dons do Espírito não são dados por si mesmos, mas em<br />

vista de um ministério na Igreja para constituir o corpo da Igreja. O Espírito não é na<br />

Igreja um princípio de anarquia, mas de organização” 1 .<br />

Isto significa que as leis e as codificações de que a comunidade eclesial, na sua<br />

articulação ministerial, se dotou ao longo do tempo, nascem do mesmo princípio<br />

pelo qual é animado todo o fruto do Espírito, isto é, da caridade divina que o próprio<br />

Espírito derrama nos nossos corações; e estão finalizadas no mesmo objectivo em<br />

vista do qual todo o carisma e todo o serviço da comunhão são suscitados, ou seja,<br />

a utilidade comum, entendida como crescimento na unidade da comunhão e no testemunho<br />

do dom recebido. Neste sentido, pode-se dizer que o direito é, na Igreja,<br />

uma irradiação do dogma, uma concretização da fé no Deus Trindade, que é Amor:<br />

“Os cânones que regulam a vida da Igreja no seu ‘aspecto terreno’ são inseparáveis<br />

do dogma cristão; não se trata de estatutos jurídicos propriamente ditos, mas da<br />

aplicação dos dogmas da Igreja, da sua tradição revelada, a todos os campos da vida<br />

prática da soci<strong>ed</strong>ade cristã” 2 .<br />

50 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Na Igreja, o direito nasce, pois, do amor que vem do Alto, e serve a causa da<br />

salvação (salus animarum), cuja alma é o amor. Não há pois contraposição entre a<br />

Igreja do amor e a Igreja do direito como bem ilustra o Cardeal Ratzinger: “No nosso<br />

século tornou-se moda a contraposição entre a Igreja do direito e a Igreja do amor; o<br />

direito foi apresentado como o oposto do amor. Tal contraste pode certamente emergir<br />

na aplicação concreta do direito, mas elevar isto a princípio, perverte a essência<br />

do direito como também a essência do amor. (…) A eliminação do direito é desprezo<br />

do homem; onde não há direito não há liberdade” 3 .<br />

Também é extremamente elucidativa, a este propósito, a concepção de João<br />

Paulo II na Constituição Apostólica da promulgação do novo código: “O Código não<br />

tem de modo algum a finalidade de substituir a fé, a graça, os carismas e, sobretudo,<br />

a caridade dos fiéis na vida da Igreja. Ao contrário, o seu fim é sobretudo criar uma<br />

ordem na soci<strong>ed</strong>ade eclesial que, dando o primado ao amor, à graça e aos carismas,<br />

torne mais ágil contemporaneamente o seu desenvolvimento orgânico na vida da soci<strong>ed</strong>ade<br />

eclesial como também na vida das pessoas singulares que a ela pertencem” 4 .<br />

Por isso, se a codificação da disciplina da comunhão é tarefa e expressão do ministério<br />

da unidade na Igreja, ela envolve também na sua génese toda a comunidade dos<br />

crentes na vari<strong>ed</strong>ade das formas da sua vida e do seu pensamento.<br />

É precisamente a concepção da Igreja do amor que, partindo do único Corpo de<br />

Cristo dado a todos os comungantes na eucaristia, vê nela o ícone vivo da Trindade<br />

e vê a unidade e a diversidade articuladas numa espécie de ‘pericorese eclesiológica’,<br />

que permite superar a oposição entre instituição e carisma, evidenciando a sua<br />

raiz comum na acção do Ressuscitado e na do Espírito: de facto, na Ceia do Senhor<br />

tudo é “instituição” em ob<strong>ed</strong>iência ao mandato de Jesus e, ao mesmo tempo, tudo<br />

é “carisma”, porque realizado e vivificado pelo Espírito, que age na comunidade e<br />

nas suas articulações ministeriais, levando todos e cada um a convergir na tensão<br />

comum para a unidade, e tornando presente em todas as Igrejas particulares a única<br />

Igreja universal, a Catholica, que nelas se exprime e por elas é constituída como<br />

comunhão na caridade divina.<br />

Documentos<br />

A caridade, alma e finalidade do direito na Igreja<br />

Escreve Johann Adam Möhler: “Na vida da Igreja são possíveis dois extremos;<br />

e ambos se chamam egoísmo. Verificam-se, respectivamente, quando cada um ou<br />

quando um só pretendem ser tudo. Neste último caso, o vínculo da unidade é tão<br />

apertado e o amor tão sufocante que não se pode evitar extingui-lo; no primeiro caso,<br />

tudo é tão desconexo e frio, que se gela. Um destes egoísmos gera o outro. Mas nem<br />

um só nem cada um podem ser o todo. Só todos constituem o todo e só a união de<br />

todos forma um todo. Esta é a ideia da Igreja católica” 5 .<br />

Para vencer estas duas formas opostas de egoísmo com a força da caridade, a<br />

Igreja é ajudada pelo direito, que nasce do Amor e só nele está finalizado. Precisamente<br />

assim, a caridade oferece-se como a alma e a finalidade do direito na Igreja e<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 51


. escritos episcopais .<br />

compreende-se, mais uma vez, como o direito canónico nasce da urgência de tutelar<br />

e promover o exercício da caridade. Pelo mesmo motivo, não se deve hesitar em<br />

afirmar que ele só é rectamente exercido se a ânsia da caridade é a sua alma e a sua<br />

inspiração contínua.<br />

Resta-me desejar-vos umas jornadas profícuas que possam fazer brilhar o direito<br />

na Igreja como um reflexo da beleza da caridade e da Igreja do amor!<br />

<strong>Fátima</strong>, 24 de Abril de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

Notas<br />

1 N. Afanassief, L’Église du Saint Esprit, Paris 1975, 30.<br />

2 P. Evdokimov, La teologia mistica della Chiesa d’Oriente, Bologna 1967, 168.<br />

3 J. Ratzinger, Lectio doctoralis, in Per il diritto. Omaggio a Joseph Ratzinger e Sergio Cotta,<br />

Torino 2000, 13.<br />

4 João Paulo II, Constitución Apostólica Sacrae disciplinae leges, in Código de Derecho<br />

Canónico, BAC, Madrid 1983, 6-7.<br />

5 J. A. Möhler, L’unità nella Chiesa. Il principio del cattolicesimo nello spirito dei Padri della<br />

Chiesa dei primi tre secoli, Roma 1969, 292-293.<br />

52 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Mensagem de Abertura<br />

Peregrinação de Maio a <strong>Fátima</strong><br />

Salvé, Rainha, Mãe de Misericórdia!<br />

Vida, Doçura, Esperança nossa!<br />

Salvé!<br />

1. É uma exclamação que brota espontânea do coração do peregrino que chega<br />

à meta, a esta capelinha das aparições, e quer saudar do fundo do coração, efusivamente,<br />

a Virgem Mãe, a Mãe da Igreja, a Mãe espiritual da humanidade, a nossa<br />

Mãe. Por isso, em nome de todos os peregrinos, diante da imagem de Nossa Senhora<br />

de <strong>Fátima</strong>, repito a afectuosa saudação: Salvé, Rainha, Mãe de Misericórdia! Vida,<br />

Doçura, esperança nossa! Salvé!<br />

Saúdo com particular e fraterno afecto Sua Eminência, o Senhor Cardeal D. José<br />

Saraiva Martins, que se dignou aceitar tão amavelmente o convite para presidir a esta<br />

peregrinação aniversária do mês de Maio.<br />

A presença e a presidência de Vossa Eminência é para nós muito significativa e<br />

particularmente grata. Sabemos bem da sua ligação íntima e profunda a esta “história<br />

maravilhosa de <strong>Fátima</strong> que ainda não acabou” segundo a bela expressão de V.<br />

Eminência e de que tem sido arauto. Seja muito bem-vindo Senhor Cardeal e muito<br />

obrigado!<br />

Saúdo também, afectuosamente, os irmãos no episcopado, os sacerdotes e todos<br />

os peregrinos, que dos vários ângulos do país e do mundo acorreram a esta peregrinação.<br />

Documentos<br />

2. O peregrinar é uma viagem que se empreende pondo-se a caminho: não só<br />

pelas estradas do mundo, mas sobretudo pondo-se a caminho em direcção à parte<br />

mais profunda de si mesmo onde se encontra com o mistério de Deus. O peregrino<br />

é convidado a sair do “seu mundo” para ir ao encontro do Outro, a fazer caminho<br />

espiritual até à meta.<br />

Por isso, a peregrinação é uma “viagem santa”, uma experiência espiritual de<br />

oração, reconciliação, de busca de verdade e paz.<br />

Aqui em <strong>Fátima</strong>, experimentamos a bondade consoladora da Mãe: aqui, com<br />

Ela, encontramos Jesus Cristo, Deus connosco; aqui, Ela ensina-nos e ajuda-nos a<br />

pôr Deus no centro da realidade e da nossa vida pessoal a fim de viver na sua Luz e<br />

Verdade – “consagrados na Verdade” – e a pôr ordem e verdade nas nossas vidas.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 53


. escritos episcopais .<br />

O peregrino de <strong>Fátima</strong> traz consigo ânsias e anseios pessoais e íntimos e daqueles<br />

que lhe são queridos; mas traz também os problemas e os dramas do mundo. Ao<br />

Imaculado Coração da Mãe de Misericórdia queremos confiar em comunhão com o<br />

Santo Padre, a Igreja na China e os sofrimentos e as esperanças da humanidade na<br />

hora presente, particularmente no Darfur e na Birmânia.<br />

“Salvé, Rainha, Mãe de Misericórdia! Eia, pois, advogada nossa! Esses vossos<br />

olhos misericordiosos a nós volvei!” – assim reza e canta o povo cristão. Que a Mãe<br />

de Deus volte os seus olhos misericordiosos para a humanidade aflita, tão necessitada<br />

da sua sab<strong>ed</strong>oria e da sua protecção materna e nos ajude a viver na verdade e no<br />

amor fraterno, solidário e misericordioso.<br />

<strong>Leiria</strong>, 12 de Maio de 2008<br />

† António Marto,<br />

Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

54 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Intervenção nas Jornadas Pastorais da CEP – Critérios<br />

evangélicos e pastorais para a liderança e para a gestão de<br />

pessoas e administração dos bens ao serviço da Igreja<br />

“Comunhão e Missão”<br />

Feliz o administrador sábio, fiel e vigilante... (Lc 12, 42-48)<br />

Introdução<br />

“Comunhão e Missão” são os dois traços – intimamente ligados – do rosto da<br />

Igreja tal como Jesus a sonhou e quis e tal como a vem realizando no tempo e no<br />

espaço, com a luz e a força do Espírito Santo. Um rosto que Jesus e o Espírito confiam<br />

à responsabilidade de todos os membros da Igreja, chamados a escutar a voz<br />

do Espírito e a discernir os sinais dos tempos no seu caminho ao longo da história<br />

(cf. Apoc. 2,7).<br />

A Igreja existe no mundo para a missão: “Ide por todo o mundo e anunciai o<br />

Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). E Paulo VI específica: “Evangelizar é a<br />

graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. Ela existe para<br />

evangelizar...” (E.N. 14).<br />

Todavia, a condição, o conteúdo e o fruto da missão é a Comunhão. Assim, o<br />

caminho missionário da Igreja exige, concretiza-se e frutifica como caminho de comunhão.<br />

A comunhão define, pois, o quadro global e unitário, o horizonte da missão<br />

e da acção pastoral, o seu estilo e o seu método.<br />

Na reforma e renovação da Igreja promovidas pelo Concílio Vaticano II, olhando<br />

simultaneamente às suas origens, à sua essência e à sua missão pastoral no mundo<br />

contemporâneo, emergiu de novo e impôs-se a categoria da “comunhão”. Foi um<br />

vigoroso impulso renovador de ordem teológica, espiritual, canónica e pastoral, de<br />

modo a podermos dizer que a comunhão é a forma da existência, da vida e da missão<br />

da Igreja, tanto a nível da vivência como da instituição.<br />

O que significa, em concreto, esta comunhão<br />

A comunhão é uma realidade omniabrangente que inclui diferentes aspectos,<br />

místico-sacramental, comunitário e institucional:<br />

- a sua amplidão parte da unidade na fé, na esperança e no amor cristão, selados<br />

sacramentalmente pelo baptismo que cria a situação básica da comunhão: todos<br />

filhos de Deus, todos irmãos;<br />

- reforça-se pela participação na Eucaristia, essencialmente orientada à “unitas<br />

Ecclesiae” (Corpo de Comunhão), e refaz-se pelo sacramento da reconciliação com<br />

Deus e com a Igreja;<br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 55


. escritos episcopais .<br />

- traduz-se, comunitariamente, em relações de comunhão fraterna, no intercâmbio<br />

de dons oferecidos e recebidos em reciprocidade aberta e confiante e na “colecta”<br />

de bens para os necessitados e as necessidades da Igreja;<br />

- é visivelmente presidida e salvaguardada pelos que receberam o ministério<br />

apostólico.<br />

O seu sentido não é, pois, de um afecto vago, indefinido, mas de uma realidade<br />

simultaneamente espiritual e visível, relacional e orgânica que exige também uma<br />

fórmula jurídica e que, por sua vez, está animada pela caridade. Esta estrutura da<br />

comunhão eclesial deve ser tida em conta na organização da vida da Igreja. Deve<br />

manifestar-se nas diversas perspectivas da comunidade cristã, já que é a sua lei de<br />

fundo e profunda.<br />

À luz do que acabamos de dizer, compreende-se facilmente que a própria<br />

existência cristã, toda a vocação específica, os diferentes ministérios e carismas, as<br />

diversas acções através das quais a Igreja realiza a sua missão, a sua organização, os<br />

seus organismos pastorais, a gestão de recursos humanos e bens materiais levem o<br />

selo característico da comunhão com o Senhor e entre os discípulos.<br />

A comunhão eclesial é harmonia vital no funcionamento de todos os membros e<br />

sistemas do corpo. O contrário da comunhão que flui, seriam os apertos, as estenoses,<br />

as oclusões, as tromboses… como no corpo humano.<br />

A Carta Apostólica “Novo Millennio Ineunte” recorda, como tarefa pastoral<br />

para o futuro, a realização da comunhão: “Outro aspecto importante em que será<br />

necessário pôr decidido empenho programático, tanto no âmbito da Igreja universal<br />

como no das Igrejas particulares, é o da comunhão que incarna e manifesta a própria<br />

essência da Igreja” (n. 42).<br />

O bispo é o primeiro responsável pela vitalidade da comunhão na Igreja. O seu<br />

ministério não se r<strong>ed</strong>uz, de modo algum, a um simples moderador já que a autoridade<br />

recebida do Senhor inclui um aspecto jurisdicional e, por isso, deve promover<br />

a espiritualidade da comunhão, suscitar sempre formas de participação e dar vida a<br />

estruturas de comunhão.<br />

Como se traduz esta espiritualidade da comunhão na liderança, na organização,<br />

na gestão de recursos humanos e na economia da comunidade cristã Deixemo-nos<br />

iluminar e inspirar, antes de mais, por alguns ícones bíblicos.<br />

1. O ícone de Moisés, condutor e ecónomo do povo<br />

A Moisés, o Senhor confiou a tarefa da condução de um povo e da recomposição<br />

da sua unidade, que inclui, por sua vez, o serviço de ecónomo dos bens fundamentais<br />

(pão, água e carne) e o serviço da comunhão.<br />

“Isto leva-nos a considerar a personagem sobretudo como homem de acção.<br />

E, todavia, o que impressiona a uma primeira leitura é a abundância de textos que<br />

56 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

apresentam Moisés na atitude de se dirigir a Deus. A primeira coisa que salta à vista<br />

é a intensidade e a frequência da oração de Moisés... Ele poderia pensar: “se sou o<br />

homem de Deus, se tenho a sua promessa, se devo executar as ordens para as quais<br />

me prometeu a sua assistência, não tenho necessidade de me dirigir a Ele na oração.<br />

E como garantia tenho na mão o bastão capaz de realizar prodígios.”<br />

Ele poderia pensar que estava perfeitamente equipado com promessas e poderes<br />

e, portanto, dispensado da necessidade de recorrer a cada momento àquele que o envia.<br />

Mas não é assim. Apesar de todas estas garantias – missão, promessa, assistência,<br />

bastão – Moisés recorre constantemente a Deus quando se encontra frente a um<br />

problema ou dificuldade. Nestes momentos, ele levanta o olhar e o coração, ergue os<br />

braços e reza. Isto já é um grande ensinamento” (A. Schökel). É a consciência de que<br />

“se o Senhor não <strong>ed</strong>ifica a casa, em vão se afadigam os construtores”.<br />

1.1. A primeira forma de planificação religiosa: Ex 18, 13-26<br />

Deus porém <strong>ed</strong>uca-o na arte de conduzir o povo, enviando-lhe o sogro Jetro.<br />

Jetro mostra que Moisés não envolve suficientemente o povo e a comunidade nas<br />

diversas opções. Faz tudo sozinho. Jetro tem a preocupação pelo bem do povo e de<br />

Moisés. Verifica que está em perigo a gestão da comunidade como também o bemestar<br />

físico e psíquico de Moisés.<br />

Por isso, ousa propor-lhe uma série de conselhos práticos, linhas prioritárias com<br />

o fim de planificar a acção de governo e organizar as tarefas subsidiárias. No fundo<br />

é um convite a uma gestão mais correcta do poder.<br />

“Jetro encontra a solução para o problema de Moisés. Descobre a lei da subsidiari<strong>ed</strong>ade<br />

que partilha os encargos e as responsabilidades em vista de uma missão mais<br />

eficaz. O próprio Jetro ensina com o exemplo. Depois de ter dado o seu conselho,<br />

retira-se da cena. Realizada a missão, põe-se de parte e não se intromete nas coisas<br />

de Moisés. Como homem sábio, expôs a ideia e agora deixa que sejam os outros a<br />

favorecer a sua realização” (Prado Flores).<br />

Moisés aceita o conselho e escolhe colaboradores com as qualidades requeridas:<br />

capacidade, respeito sagrado de Deus, fidelidade, incorruptibilidade. Foi um<br />

momento importante na vida de Moisés: também ele devia aprender a governar. No<br />

início, na sua incompetência, julgava que tinha que fazer tudo. Depois, aprendeu a<br />

distribuir tarefas. Dele aprendemos o que ele mesmo teve que aprender na condução<br />

do povo ao fazer caminho com ele: a corresponsabilidade e a subsidiari<strong>ed</strong>ade.<br />

Documentos<br />

1.2. O “êxodo interior” e a humildade de Moisés: Num 11, 11-17.24-29<br />

Aprofundemos, um pouco mais, este momento na sua interioridade, no aspecto<br />

da conversão interior provocada em Moisés, à luz de Num. 11<br />

Moisés está realmente esgotado. Não tem outro remédio senão constatar a sua<br />

fragilidade, as suas debilidades. Vê-se obrigado a reconhecer amargamente: “Não sou<br />

o que pensava ser; é demasiado para mim; não posso mais”. Esta atitude deixa-nos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 57


. escritos episcopais .<br />

perplexos, a nós que prestamos um certo culto ao heroísmo ou ao protagonismo, ao<br />

individualismo e activismo do chefe. Mas a Bíblia, que é mais humana do que nós,<br />

apresenta-nos essa atitude mais que uma vez: vg. a atitude de Elias: “Senhor, faz que<br />

morra; não sou melhor que meus pais”. Pode acontecer a qualquer um de nós. É muito<br />

humano este aspecto de Moisés, mas é também, de algum modo, humilhante. Moisés<br />

tem que reconhecer que se julgava alguém capaz de tudo mas tem que render-se.<br />

Deus aceita. A crise de Moisés é uma crise útil e salvífica porque, no fundo, fá-lo<br />

tomar consciência de um “êxodo interior” que Deus lhe p<strong>ed</strong>e. Tal como nos suc<strong>ed</strong>e a<br />

nós quando nos metemos num assunto que julgamos dominar e depois damos conta<br />

que nos escapa e temos necessidade dos outros.<br />

É uma passagem a uma espécie de “passividade”: nem tudo depende de mim,<br />

não sou o único, tenho que descentralizar as coisas, tenho que buscar colaboração<br />

ainda que me custe… Nestas ocasiões, o Senhor quer purificar-nos de uma forma de<br />

orgulho.<br />

Este difícil “êxodo interior” de Moisés é o êxodo da sua auto-suficiência e autocomplacência<br />

– que até lhe tinha permitido fazer muitas coisas boas –, para uma<br />

participação (partilha) cordial do próprio peso com os outros. Moisés aceita dar este<br />

passo e, deste modo, cresce como homem, como crente e como líder (condutor do<br />

povo). De facto, Moisés convoca os anciãos, o Senhor desce sobre a nuvem, toma<br />

o seu Espírito e infunde-o sobre os 70 anciãos. Eis como Moisés realizou verdadeiramente<br />

um êxodo, se tornou livre, não sentiu ciúmes, nem sentiu ameaçada a sua<br />

autoridade pelos dons dos outros e reconheceu neles a acção do Espírito. E tomou<br />

consciência de que só assim estava à altura da sua responsabilidade de servir<br />

melhor e do melhor modo de poder servir. “Moisés era um homem humilde, mais<br />

humilde que algum homem sobre a face da terra” diz Num 12,3.<br />

O Novo Testamento explicita como o Espírito suscita e distribui vários dons,<br />

serviços e ministérios para a <strong>ed</strong>ificação e crescimento da Igreja que devem ser coordenados<br />

e articulados como os vários membros de um corpo. “É a partir d’Ele (Cristo)<br />

que o corpo inteiro coordenado e bem unido pela união de todas as articulações<br />

que o sustentam, segundo uma actividade repartida à m<strong>ed</strong>ida de cada um (membro)<br />

realiza o seu crescimento orgânico para se construir a si mesmo no amor” (Ef. 4,16;<br />

cf. 1 Cor 12; Rom 12, 3-8).<br />

A Igreja é um corpo organizado, estruturado, articulado; não é um campo de mortos<br />

nem de aventureiros espontâneos e anárquicos, nem uma empresa em auto-gestão.<br />

O Bispo e presbítero possuem o ministério da síntese (comunhão), mas não a<br />

síntese (o açambarcamento) dos ministérios. Compete-lhes suscitar e organizar a participação<br />

diversificada dos fiéis com os seus dons, serviços e ministérios, elencando as<br />

tarefas e confiando-as a alguns fiéis idóneos. A comunhão implica a partilha ou participação<br />

activa na vida da comunidade que é de todos, onde todos recebemos e damos de<br />

tal modo que “o bem de todos torna-se o bem de cada um e o bem de cada um torna-se<br />

o bem de todos” (ChFL 28). Inclui a participação e corresponsabilidade de todos.<br />

58 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Para que a comunhão construtora da comunidade se exerça realmente, de modo<br />

orgânico e articulado, deve ter expressão em organismos de participação onde se<br />

realiza a comunhão de intenções e projectos pastorais na diversidade dos dons: os<br />

diversos conselhos, cuja coordenação o Bispo ou o pároco devem promover. Estes<br />

órgãos de participação são uma etapa decisiva para configurar a Igreja comunhão.<br />

Isto faz parte da santidade dos cristãos, leigos, padres e bispos, como estilo de vida<br />

em comunhão.<br />

2. O ícone, por excelência, do líder:<br />

Jesus que lava os pés dos apóstolos<br />

Jesus introduziu no mundo um novo estilo de liderança em nítido contraste<br />

com o estilo dos líderes das nações. Ele mesmo se apresenta como modelo para<br />

aqueles a quem confia o encargo pastoral das comunidades. O ícone, por excelência,<br />

da autoridade na comunidade cristã é o “Lava-pés” dos apóstolos que sintetiza<br />

a experiência de Jesus como liderança de serviço: “Compreendeis o que eu vos<br />

fiz Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se<br />

eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns<br />

aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais<br />

também” (Jo 13, 13-15).<br />

Três imagens bíblicas exprimem este modelo do Mestre e Senhor:<br />

- o servo, numa perspectiva de serviço à graça de Deus e à comunidade, de apoio<br />

e de partilha de responsabilidades;<br />

- o pastor, em ordem à solicitude, à coragem e ao papel de guia;<br />

- o administrador, em ordem à afabilidade, à responsabilidade e à fidelidade.<br />

Documentos<br />

O líder como servo<br />

A verdadeira grandeza é o serviço. E não é por acaso que no Novo Testamento<br />

Jesus é o exemplo mais alto do Servo.<br />

As características da liderança como serviço podem sintetizar-se em: escuta,<br />

empatia, atenção e cuidado, persuasão, empenho no serviço e em fazer crescer os<br />

outros. O objectivo final: construir a comunidade fraterna.<br />

O líder como pastor<br />

O líder pastor, inspirando-se no bom Pastor, é convidado a cuidar do Rebanho do<br />

Senhor, não por obrigação, mas de bom grado, sem interesse pelos ganhos materiais:<br />

não só o dinheiro, mas também outros ganhos como o desejo de popularidade, de<br />

protagonismo ou de receber reconhecimentos, o pôr no centro a própria pessoa (o<br />

ego) afastam da missão de ser um pastor segundo o coração de Deus.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 59


. escritos episcopais .<br />

As características da liderança como pastor podem sintetizar-se em: “ conhecer<br />

as ovelhas”, os seus problemas, as suas necessidades e anseios através do contacto<br />

pessoal; guiar para objectivos claros e partilhados, promovendo a criatividade;<br />

procurar as ovelhas perdidas indo ao encontro dos que estão fora ou andam longe,<br />

ter competências específicas para motivar ou decidir. O maior problema de quem é<br />

chamado a guiar uma comunidade é a falta de capacidades directivas, de orientação<br />

e decisão. O objectivo final: cuidar e guiar.<br />

O líder como administrador<br />

Um líder, alem de servo e pastor, é chamado a ser administrador dos dons e talentos,<br />

e também da economia da comunidade.<br />

É interessante relevar como nas parábolas de Jesus os administradores aparecem<br />

muitas vezes associados a um conjunto de qualidades próprias: fidelidade, lealdade,<br />

honestidade, transparência, perspicácia nos negócios e capacidade de prover aos<br />

súbditos: “Feliz o administrador sábio e fiel” (Lc 12, 42-48)! No contexto da responsabilidade<br />

de quem gere os bens “como bons administradores”, a parábola dos<br />

talentos é significativamente clara.<br />

Os líderes das comunidades podem ser, todavia, administradores irresponsáveis.<br />

Por isso, a praxis de uma economia saudável e transparente da comunidade é uma<br />

m<strong>ed</strong>ida realista da saúde espiritual da mesma. Está em causa a prática da comunhão de<br />

bens. Subtrair-se a ela, é atentar à vida fraterna, como acontece com Ananias e Safira.<br />

Neste aspecto, os líderes são chamados a vigiar atentamente, para criar uma relação<br />

evangélica com o dinheiro, para responsabilizar as comunidades e os seus membros<br />

numa visão de fraternidade que leva à comunhão dos bens e dons espirituais e<br />

materiais. O objectivo final: a comunhão de bens.<br />

3. O ícone da Igreja dos Apóstolos<br />

Na Igreja apostólica encontramos duas experiências particularmente significativas<br />

e pertinentes para o nosso tema.<br />

3.1. A capacidade de delegar:<br />

metodologia adoptada pelos Apóstolos (Actos 6,1-2)<br />

Que fazer perante o serviço absorvente aos pobres e necessitados da comunidade<br />

Para os apóstolos foi ocasião de tomarem consciência de que era preciso delegar<br />

certas responsabilidades noutros, confiando neles, renunciar a ter todos os cordelinhos<br />

na mão.<br />

Uma questão de justiça distributiva (repartir os bens) abriu-lhes os olhos a uma<br />

evidência capital para aqueles que receberam a missão da autoridade: não podem<br />

fazer tudo.<br />

60 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

A sua prioridade é o serviço da Palavra e da oração. Quanto ao serviço social é<br />

preciso confiá-lo a pessoas que tenham o espírito mais livre e que tenham sentido<br />

prático.<br />

Se bem o discerniram, bem o executaram: eis então o novo ministério dos diáconos.<br />

3.2. A colecta a favor de Jerusalém (2 Cor 8 e 9): a organização material<br />

das comunidades e a espiritualidade da comunhão.<br />

1Cor 16, 1-4; Rom 15, 25-28: justifica o projecto com o motivo de fazer comunhão.<br />

2Cor 8, 10-21; 9, 6-14: comunhão e motivo de culto a Deus (v.12).<br />

Os capítulos 8 e 9 da Segunda Carta aos Coríntios constituem o texto mais longo<br />

da Igreja antiga no qual se fala de problemas financeiros e económicos. Encontramos<br />

aqui uma preciosa indicação sobre a organização material das igrejas paulinas e a<br />

sua solidari<strong>ed</strong>ade financeira. É interessante notar que também o Novo Testamento<br />

enfrenta esta temática com grande dignidade e, ao mesmo tempo, com grande eficácia.<br />

Em 2Cor 9 é citado um provérbio geral que se pode aplicar à generosidade com<br />

os pobres, à Igreja, às necessidades da caridade e do serviço de Deus: “Ficai sabendo:<br />

quem semeia pouco, também pouco recolherá; mas quem semeia com generosidade,<br />

com generosidade também recolherá” (v.6).<br />

Ao provérbio segue uma exortação: “Cada um dê conforme decidiu no seu coração,<br />

não com tristeza e à força, porque Deus ama quem dá com alegria” (v.7). É o<br />

convite a oferecer a sustentação à Igreja com a mesma alegria com que se vivem os<br />

outros aspectos da vida cristã.<br />

Uma alegria que é reforçada por uma perspectiva de confiança: “ Deus tem o poder<br />

de vos cumular de toda a espécie de graças para que, tendo sempre o necessário<br />

em tudo, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género” (v.8). Quer dizer, o<br />

Senhor é grande em generosidade com os que são generosos.<br />

E acrescenta uma promessa: “Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em<br />

alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa<br />

justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade<br />

que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus” (v.10-11)<br />

No cap. 8 acresce ainda um dado interessante de grande relevo, a transparência e<br />

a boa gestão em equipa: “Queremos, assim, evitar o risco de que alguém nos censure<br />

a respeito desta abundante colecta que é administrada por nós, porque nos esforçamos<br />

por fazer o bem não só diante do Senhor, mas também diante dos homens. Com<br />

eles enviámos também o nosso irmão…”. Trata-se, pois, da transparência na gestão<br />

de tal modo que nem sequer permita levantar suspeitas. Isto significa que “à mulher<br />

de César não lhe basta ser honesta; é preciso que apareça como tal”.<br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 61


. escritos episcopais .<br />

4. Gestão dos recursos humanos<br />

dentro duma pastoral integrada e integral<br />

À semelhança do que aconteceu a Moisés e aos Apóstolos que perante situações<br />

novas empreenderam nova planificação e nova metodologia, também nós hoje estamos<br />

perante uma nova situação caracterizada pelas mutações culturais, por novos<br />

desafios à missão, pela penúria de vocações de especial consagração, pela escassez<br />

de recursos humanos em certas comunidades, pelo surgir de novos movimentos e<br />

novas comunidades eclesiais, que requerem um novo olhar pastoral e uma nova gestão.<br />

Tudo isto veio pôr em evidência que acabou o tempo da paróquia e do pároco<br />

autosuficientes, que respondiam sozinhos a todas as situações e a todos os problemas.<br />

Isto exige uma reorganização e reconfiguração das comunidades cristãs através<br />

duma pastoral integrada e integral.<br />

Por pastoral integrada entendemos a integração da actividade pastoral da paróquia<br />

dentro de um agregado mais vasto da relação com as outras paróquias (na<br />

vigararia ou em unidades pastorais), numa pastoral de conjunto. Assim põem-se em<br />

r<strong>ed</strong>e os múltiplos recursos de que se dispõe nesse agregado: humanos, espirituais,<br />

culturais, pastorais. Torna possível realizar uma valorização de competências, um<br />

intercâmbio de dons e ministérios, uma partilha e poupança de recursos, um reequilíbrio<br />

de encargos de trabalho.<br />

A pastoral integral procura integrar os vários sujeitos (pessoas, grupos, movimentos)<br />

e os vários ministérios dentro dum projecto pastoral comum, valorizando<br />

cada recurso e cada sensibilidade, o específico de cada um.<br />

5. Bens eclesiásticos e finalidade evangelizadora<br />

Encorajados pelas indicações de S. Paulo, que pertencem à palavra inspirada de<br />

Deus, procuraremos exprimir também algumas reflexões sobre o significado dos<br />

bens da Igreja e sobre o Conselho para os Assuntos Económicos, ao qual é confiada<br />

a gestão dos bens da comunidade cristã.<br />

Na linha da grande reflexão conciliar, o Código de Direito Canónico, que procurou<br />

traduzi-la em disciplina concreta, enquadra a sempre delicada relação entre a<br />

Igreja e os bens temporais dentro da missão evangelizadora. O anúncio e o testemunho<br />

do Evangelho englobam também os bens temporais destinados a fazer crescer<br />

a fé professada, celebrada, vivida. Fica claro que os bens são somente instrumentos<br />

para a consecução dos fins espirituais da Igreja: o anúncio, a realização do culto<br />

divino, o exercício das obras de apostolado e caridade, especialmente dos mais necessitados,<br />

o honesto sustentamento do clero e quanto se refere à missão espiritual<br />

que Cristo lhe confiou.<br />

62 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Não é, certamente, conforme à natureza da Igreja uma busca do dinheiro e dos<br />

meios materiais como fim em si mesmo, uma procura finalizada à acumulação ou<br />

ao uso indiscriminado. Isto vale para cada comunidade. Não se trata de aumentar<br />

sem m<strong>ed</strong>ida as possibilidades concretas de uma paróquia, seja em relação aos<br />

meios financeiros, seja em relação às estruturas. Se uma comunidade tem meios em<br />

abundância, deve pensar – depois de ter provido às próprias necessidades – numa<br />

equitativa partilha de recursos com paróquias menos avantajadas: a comunhão dos<br />

bens entre as comunidades.<br />

O Evangelho condena sem meios termos uma acumulação de bens como fim em<br />

si mesmo e uma subjugação ao “mamona iniquitatis”; o dinheiro não é um ídolo a<br />

adorar e o afecto desordenado ao dinheiro é rotulado como demoníaco. Ao contrário,<br />

o dinheiro usado responsavelmente e em m<strong>ed</strong>ida equitativa ao serviço da missão da<br />

Igreja torna-se facto positivo e necessário. É preciso, pois, estar animados por uma<br />

atenta vigilância e uma sábia prudência, nunca perdendo de vista a radicalidade<br />

evangélica: “Bem aventurados os pobres de espírito (que o são no seu íntimo) porque<br />

deles é o Reino dos Céus”. Todavia devemos recordar que é parte da pobreza<br />

da Igreja o saber fazer um bom uso, correcto, transparente, responsável e solidário<br />

dos recursos que lhe são confiados e, por conseguinte, de uma gestão inteligente,<br />

racional e honesta dos mesmos.<br />

O tomar consciência do justo fundamento do direito da Igreja a possuir e utilizar<br />

bens materiais, económicos e financeiros, e as suas finalidades, pode fazer resplandecer<br />

melhor o verdadeiro rosto da Igreja e chamar os fiéis a partilhar os bens, inspirando-se<br />

no ideal evangélico incarnado pela comunidade apostólica primitiva (cf.<br />

Act 2, 44-45).<br />

Documentos<br />

5.1. Natureza do Conselho para os Assuntos Económicos<br />

O C.A.E. situa-se dentro da realidade da Igreja mistério de comunhão na qual se<br />

insere também a perspectiva da valorização do contributo dos fiéis leigos.<br />

Por isso, a constituição e o funcionamento efectivo do CAE são um sinal da vontade<br />

de acolhimento da comunhão na vida concreta de cada diocese ou paróquia.<br />

De facto, os fiéis não são chamados só a partilhar os bens necessários para a missão<br />

da Igreja, mas também à sua cuidadosa e transparente administração através da<br />

participação directa nos órgãos colegiais indicados pela normativa canónica.<br />

5.2. Características<br />

Se é esta a natureza do Conselho, quais as suas características<br />

Recordo sobretudo três: participação corresponsável, transparência e sentido<br />

eclesial, a observar com rigor.<br />

Todos nos damos conta de que a Igreja, no seu conjunto, se torna cr<strong>ed</strong>ível quando<br />

cada fiel participa corresponsavelmente e quando a administração dos bens é transparente<br />

e correcta. Esta transparência obtém-se graças também ao contributo profis-<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 63


. escritos episcopais .<br />

sional e competente dos leigos. É claro que a capacidade técnica e eficiente se deve<br />

conjugar com um forte sentido eclesial porque está ao serviço de uma comunidade<br />

cristã e não de um empresa privada.<br />

5.3 O bom funcionamento<br />

Do que foi dito, deriva o empenho dos membros do Conselho para os assuntos<br />

económicos a viver, por dentro, a vida da comunidade e a saber interpretá-la no<br />

âmbito de um território preciso e de uma história particular da paróquia, da Igreja<br />

diocesana e da Igreja universal.<br />

Gostaria de sublinhar ainda que um bom funcionamento do Conselho não pode<br />

depender exclusivamente dos mecanismos institucionais, mas exige por parte de<br />

todos os membros uma consciência profunda de comunhão eclesial, um estilo de<br />

comunicação fraterna e a convergência comum num projecto pastoral. Se uma boa<br />

presidência requer do bispo ou do pároco a disponibilidade para a escuta, a delicadeza<br />

no discernimento, a paciência na relação, todavia, na base, tem de estar a<br />

solicitude pelo bem comum da Igreja que requer em todos a aptidão para o diálogo,<br />

a argumentação das propostas e a familiaridade com o Evangelho e com a doutrina<br />

e a disciplina da Igreja.<br />

6. Três desafios para a gestão quotidiana de uma diocese<br />

Coloco-os em forma de questões:<br />

6.1. É possível utilizar para o bom governo de uma diocese os conceitos<br />

e os princípios gerais que valem para qualquer instituição<br />

produtora de bens e serviços<br />

É claro que as diferenças entre uma diocese e qualquer instituição produtiva<br />

são muito grandes. Basta ver que esta última actua num contexto de mercado, de<br />

competitividade e de lucro, enquanto a diocese actua numa perspectiva espiritual,<br />

sócio-caritativa, não lucrativa.<br />

Todavia, a natureza particular da visão espiritual da Igreja não imp<strong>ed</strong>e que se<br />

desenvolva na produção e prestação de serviços.<br />

Como também o facto de os serviços serem oferecidos num contexto que não é<br />

o do mercado (não lucrativo), nada tira ao carácter de organização de algum modo<br />

produtiva, própria da diocese e que requer racionalização.<br />

Há, pois, uma analogia entre o bom governo de uma diocese e o de uma instituição<br />

produtiva.<br />

64 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

6.2. Como conjugar qualidade, eficiência e rentabilidade económica<br />

no contexto da organização eclesiástica<br />

É possível numa diocese actuar, de modo harmónico, os valores de serviço, de<br />

eficiência, de gestão organizativa e de rentabilidade de gestão que constituem a raiz<br />

do bem estar (saúde) de uma organização produtiva<br />

É claro que a qualidade do serviço no âmbito da diocese não pode prescindir de<br />

uma eficiência nem de uma rentabilidade de gestão.<br />

É preciso, pois, que uma diocese adopte e adapte estes critérios à sua missão.<br />

Neste sentido, eficiência não quer dizer eficientismo, mas uso inteligente e criterioso<br />

dos recursos.<br />

Rentabilidade não significa enriquecimento e lucro como fim em si mesmo; mas<br />

realizar um equilíbrio económico-financeiro duradoiro que não exponha a vida da<br />

diocese a riscos prejudiciais para a sua missão e que seja funcional ao seu desenvolvimento.<br />

Há que desconfiar do eficientismo e do economicismo; mas também há que desconfiar<br />

de uma qualidade de serviço assente na cultura do desperdício, do desleixo,<br />

do descuido das exigências de uma economia saudável.<br />

Documentos<br />

6.3. Como promover, numa instituição eclesial, os valores da d<strong>ed</strong>icação,<br />

do profissionalismo e da criatividade que distinguem uma empresa<br />

O bom ou mau funcionamento da organização depende da capacidade de valorizar as<br />

pessoas, consentindo-lhes desenvolver as suas potencialidades ao serviço da missão.<br />

Isto pressupõe atitudes de grande respeito e confiança nas pessoas e nas suas capacidades,<br />

um contínuo empenho no terreno que requer um diálogo frequente com elas.<br />

Requer também o aprofundamento, a partilha e a interiorização da missão e das<br />

suas implicações no plano dos objectivos, meios, programas e comportamentos.<br />

E tudo isto requer ainda e sobretudo uma espiritualidade de comunhão e uma<br />

formação específica, como também disciplina, certo rigor, regras precisas.<br />

Se isto não acontece, o corpo da Igreja perde os seus traços e desfigura-se na<br />

m<strong>ed</strong>iocridade, na banalidade e no facilitismo do meio ambiente ou circundante.<br />

Sintetizando, a diocese configura-se também como uma organização produtiva<br />

de bens e serviços, que, em autonomia, se orienta para uma missão produtiva que lhe<br />

é própria e original.<br />

A sua organização requer que se vivam, por parte de todos os membros, os valores<br />

da qualidade do serviço, da eficiência da gestão e organização e da rentabilidade<br />

da gestão.<br />

Isto implica da parte de todos, a começar pelos vértices, d<strong>ed</strong>icação à missão,<br />

profissionalismo e criatividade.<br />

Por sua vez, tudo isto exige relações verdadeiras, autênticas, transparentes.<br />

E a alma de tudo, que há-de enformar a organização e a gestão, é a espiritualidade<br />

da comunhão.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 65


. escritos episcopais .<br />

7. Investir na formação<br />

A colaboração corresponsável não se improvisa. Exige uma formação específica<br />

para os leigos e presbíteros.<br />

Trata-se de uma formação que, por um lado, deve ser prévia ao serviço ou ministério<br />

concreto no âmbito pastoral e, por outro, nasce como exigência permanente (formação<br />

permanente) do próprio exercício concreto dos cargos na comunidade. Não só<br />

uma formação técnica, mas também humana (v.g. capacidade relacional) e espiritual.<br />

O investimento de recursos para a formação torna-se prioritário em relação a<br />

todo o outro investimento. As nossas paróquias ou dioceses, por vezes, são afectadas<br />

pelo “mal da p<strong>ed</strong>ra”. Gasta-se muito para os <strong>ed</strong>ifícios, as estruturas, etc. São coisas<br />

boas e necessárias; mas devemos recordar a importância fundamental da formação<br />

cultural, espiritual, ministerial dos leigos que requer investimentos próprios. O risco<br />

que se corre é ter boas estruturas, mas leigos não formados ou mal formados.<br />

Este aspecto deveria fazer parte do orçamento duma diocese e duma paróquia<br />

que deverão preocupar-se por formar uma comunidade adulta na fé, inteligente,<br />

pronta e preparada.<br />

8. O líder religioso hoje: desafios e atitudes<br />

Desejaria terminar com um breve apontamento sobre questões e atitudes de liderança<br />

na Igreja, hoje. Que tipo de problemas e desafios há que enfrentar cada dia na qualidade<br />

de líder de uma diocese ou paróquia E que atitudes são necessárias para os enfrentar<br />

Em primeiro lugar, há os problemas internos: de pessoal (colaboradores, vocações);<br />

programas e prioridades; administração e gestão, tensões nas comunidades.<br />

Cada um é chamado a encontrar o seu modo próprio, segundo a inspiração de<br />

Deus, a lei canónica, a tradição da Igreja e o bom senso, privilegiando o diálogo e<br />

ouvindo os órgãos próprios de conselho.<br />

Surgem também os problemas externos: as grandes questões da soci<strong>ed</strong>ade e da<br />

humanidade, problemas de ética pública, bioética, economia…<br />

Aqui há que olhar os problemas como pessoa de fé que encontra na revelação,<br />

no magistério e na teologia as palavras e os princípios de uma acção justa; olhá-los<br />

também com um olhar de compreensão e afecto para dar uma marca humana a questões<br />

tratadas por técnicos e políticos. Como líderes eclesiais temos que levar para o<br />

debate público a dimensão humana, ética e de fé sobre estes problemas.<br />

Este aspecto exige atenção e esforço contínuo para reservar tempo para a leitura,<br />

reflexão e diálogo com peritos.<br />

Temos ainda as questões específicas da fé, os problemas transcendentes: mistério<br />

de Deus, salvação, fé, esperança, caridade, reconciliação, vida eterna, etc.<br />

66 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. escritos episcopais .<br />

Estes não interessam muito à soci<strong>ed</strong>ade secularizada e m<strong>ed</strong>iatizada em que vivemos.<br />

Mas pertencem à essência dos seres humanos e à essência do nosso ministério.<br />

Qual então a atitude do líder religioso<br />

Deve ficar claro que estes temas constituem a nossa verdadeira e principal preocupação.<br />

Não os podemos ocultar ou silenciar. São temas vitais para a humanidade e<br />

deles dependem todas as outras questões.<br />

Por fim, algumas atitudes indispensáveis para um líder religioso hoje:<br />

1. Em primeiro lugar uma profunda comunicação com Deus e um forte espírito<br />

de oração. Com o crescimento das responsabilidades deve crescer também o tempo<br />

da escuta orante e do silêncio m<strong>ed</strong>itativo. A experiência da fé tem um peso muito<br />

forte na maneira de animar os colaboradores e as comunidades.<br />

2. Uma grande paz interior, fonte de serenidade e alegria, como recomenda S.<br />

Paulo: “Não vos deixeis angustiar por nada. Pelo contrário, em tudo, pela oração e<br />

pela prece apresentai os vossos p<strong>ed</strong>idos a Deus, em acção de graças. Então, a paz<br />

de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos<br />

pensamentos em Cristo Jesus” (Fil 4, 6-7).<br />

3. A convicção de ser testemunhas de uma grande esperança para o nosso tempo. É um<br />

tempo em que crescem, continuamente, solidão, frustração, perda de confiança na vida e<br />

na bondade da vida. A nossa tarefa é oferecer sentido e levar esperança e alegria cristãs.<br />

4. Um grande sentido de comunhão, de corresponsabilidade e colaboração como<br />

caminho para envolver a todos no projecto-Igreja e ajudar a resolver os problemas.<br />

Há que dar confiança e manifestar estima, apreço e consideração por quanto fazem<br />

os outros, motivá-los positivamente, criar um clima de comunhão e liberdade de<br />

expressão nos conselhos.<br />

5. A consciência de que o melhor investimento da Igreja, hoje, é em recursos humanos:<br />

a Igreja precisa de gente intelectual e espiritualmente muito bem preparada<br />

para a sua missão no mundo novo de hoje com desafios inéditos.<br />

6. Enfim, é útil ter um pouco de bom humor cristão, uma atitude serena que vem<br />

da fé e da esperança e que nos ajuda a relativizarmo-nos e a relativizar certos problemas.<br />

Estamos todos nas mãos de Deus, e portanto, estamos em boas mãos!<br />

E termino com uma citação de J. Adam Möhler a modo de síntese: “Na Igreja<br />

são possíveis dois extremos; e ambos se chamam egoísmos. Verificam-se, respectivamente,<br />

quando cada um ou quando um só pretendem ser tudo. Neste último caso,<br />

o vínculo da unidade é tão apertado e o amor tão sufocante que não se pode evitar<br />

extingui-lo; no primeiro caso, tudo é tão desconexo e frio que o gelo é insuportável.<br />

Um destes egoísmos gera o outro. Mas nem um só nem cada um podem ser o todo.<br />

Só todos constituem o todo e só a união de todos forma uma totalidade. É esta a ideia<br />

de Igreja Católica”.<br />

<strong>Leiria</strong>, 16 de Junho de 2008<br />

† António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 67


. diversos .<br />

Comunicado do Conselho Pastoral<br />

Reflexão sobre a Palavra de Deus<br />

Sob a presidência do Bispo D. António Marto reuniu-se, no dia 19 de Janeiro,<br />

no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, tendo<br />

como ponto principal da sua ordem de trabalhos a «Reflexão dos conselheiros sobre<br />

a valorização da Palavra de Deus em sintonia com a preparação para o sínodo dos<br />

Bispos sobre a ‘Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja».<br />

D. António Marto, num momento de oração e m<strong>ed</strong>itação, deu início aos trabalhos<br />

reflectindo – a partir de Tgo 1, 22-25) – sobre a necessidade de, mais do que ler e<br />

ouvir a Palavra de Deus, os cristãos a deverem praticar.<br />

Seguidamente, o Bispo diocesano fez uma breve comunicação aos conselheiros<br />

presentes intitulada “Um novo olhar pastoral: paróquia, vigararia e missão do vigário”,<br />

na qual apresentou as linhas orientadoras que pretende rejam as comunidades:<br />

paróquia e vigararia. Para D. António Marto há que rentabilizar os recursos humanos<br />

existentes nas diversas paróquias, não devendo estas serem vistas como comunidades<br />

isoladas. Assim, propõe uma nova valorização da vigararia, em que todas as<br />

paróquias desenvolvam uma pastoral de conjunto, trabalhando na espiritualidade da<br />

comunhão.<br />

Convidados a reflectir sobre a valorização da Palavra de Deus na vida da Igreja,<br />

os conselheiros concluíram que muito se tem feito a nível diocesano para que a Palavra<br />

de Deus seja valorizada, havendo, no entanto, ainda muito caminho a percorrer,<br />

pois são notórios o desconhecimento e a dificuldade de entendimento da Palavra de<br />

Deus entre os cristãos. Assim, pareceu importante para os conselheiros incentivar<br />

os fiéis leigos a ler a Bíblia, começando-se por valorizá-la nos diversos anos da catequese<br />

e implementando-se um trabalho mais sistemático ao nível da catequese de<br />

adultos. É preciso que os fiéis conheçam a Palavra de Deus, para que lhe possam dar<br />

valor, a leiam à luz da fé e a pratiquem.<br />

Concluindo os trabalhos, D. António Marto relembrou que a Igreja e a vida cristã<br />

nascem e vivem da Palavra de Deus que é portadora da Salvação. Alertou, ainda,<br />

para a necessidade de as comunidades cuidarem da proclamação da Palavra nas<br />

celebrações litúrgicas, devendo-se para isso investir na formação dos leitores. Finalmente,<br />

p<strong>ed</strong>iu empenho aos presentes para que se estimulem e motivem as diversas<br />

comunidades à participação no “retiro popular” a viver na Quaresma, tal como propusera<br />

na sua Carta Pastoral “Testemunhas da Ternura de Deus”.<br />

O Secretariado Permanente<br />

68 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. diversos .<br />

Comunicado do Conselho Presbiteral<br />

Escutar e acolher a Palavra de Deus<br />

Sob a presidência de D. António Marto, o Conselho Presbiteral da diocese de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> reuniu-se na manhã do dia 12 de Fevereiro, no Seminário Diocesano,<br />

para reflectir e avaliar o modo como a <strong>Diocese</strong> escuta e acolhe, contempla e proclama<br />

a Palavra de Deus, tendo em conta o próximo Ano Pastoral – que será d<strong>ed</strong>icado<br />

à estruturação dos diversos itinerários de formação cristã – e a sua feliz coincidência<br />

com o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e missão<br />

da Igreja, mais de quatro décadas após a publicação da constituição dogmática Dei<br />

Verbum (Palavra de Deus).<br />

Depois do canto dos Salmos, os Conselheiros ouviram o testemunho de dois dos<br />

seus membros – um que celebrou recentemente as bodas de ouro sacerdotais e outro<br />

que foi ordenado há três anos – sobre o lugar e a importância da Palavra de Deus<br />

na sua vida e ministério. Dos seus testemunhos se comprovou a grande evolução da<br />

Igreja Católica no contacto e relação com a Palavra de Deus, nestas últimas décadas,<br />

mas que precisa de ser continuada e aprofundada!<br />

Depois do intervalo, os restantes membros do Conselho partilharam expectativas,<br />

dificuldades e lacunas em relação à sua formação bíblica e à das Comunidades<br />

que lhe estão confiadas. Foram apresentadas diversas sugestões, convergindo todas<br />

elas no convite à mudança de mentalidade e conversão do coração para que todos, na<br />

Igreja Diocesana, se tornem “ouvintes, discípulos e servidores da Palavra”, segundo<br />

as palavras de D. António Marto.<br />

Por último, os conselheiros foram informados sobre o andamento dos diversos<br />

projectos inerentes à requalificação do <strong>ed</strong>ifício do Seminário, pensado para acolher<br />

a Comunidade do Seminário, uma Casa de Retiros/Formação, o Centro Pastoral<br />

Diocesano e uma Residência Sacerdotal.<br />

O Secretariado<br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 69


. diversos .<br />

Comunicado do Conselho Pastoral<br />

Co-responsabilidade dos leigos<br />

Na sequência da apresentação, feita pelo Bispo diocesano na sessão plenária de<br />

Janeiro, do documento “Um novo olhar pastoral: paróquia, vigararia e missão do<br />

vigário”, o Conselho Pastoral Diocesano, reunido no dia 12 de Abril, teve como<br />

ponto principal da sua agenda a reflexão sobre co-responsabilidade dos leigos na<br />

actividade pastoral, formação de Leigos e Diaconado Permanente.<br />

D. António Marto, num momento de oração e m<strong>ed</strong>itação, deu início aos trabalhos<br />

reflectindo – a partir de um excerto da I Epístola de São P<strong>ed</strong>ro (1 Pe 2, 4-5) – sobre<br />

a importância de todas as p<strong>ed</strong>ras vivas estarem presentes na construção da Igreja,<br />

realçando assim a co-responsabilidade de todos os seus membros.<br />

Seguidamente, o Bispo diocesano partilhou com os conselheiros presentes a<br />

experiência das visitas pastorais que já realizou na <strong>Diocese</strong>. Assim, salientou como<br />

aspectos positivos o entusiasmo e a alegria manifestados pela presença do Bispo<br />

nas comunidades. Consequência de algum cansaço e desalento manifestados pelos<br />

fiéis, afirmou que sentira um enorme desejo de mudança, para um cristianismo de<br />

qualidade, assente na vitalidade da fé e na vida espiritual. Para D. António Marto,<br />

é preciso fazer um caminho que envolva a todos, sendo necessária uma reorganização.<br />

E para que ela aconteça, urge vencer a resistência que tem sentido por parte<br />

de alguns padres e leigos à execução do documento “Um novo olhar pastoral”. Aos<br />

primeiros, falta reconhecer o papel específico dos leigos na vida da Igreja; ao povo,<br />

falta o sentido de pertencer à Igreja e o amor por ela.<br />

Convidados a reflectir sobre a concretização do referido documento, os conselheiros<br />

concluíram que a co-responsabilidade dos leigos é fundamental para o futuro,<br />

pois a vida da Igreja local tem de assentar na comunidade cristã e não no padre.<br />

No entanto, para que a reorganização se concretize é necessário que os leigos em<br />

primeiro lugar tomem consciência do que é pertencer à Igreja. No que diz respeito à<br />

formação de leigos, o Conselho reconheceu que muito tem sido feito nesse âmbito<br />

na <strong>Diocese</strong>. Assim, há que dar continuidade ao que existe, revendo e reorganizando<br />

para melhorar. Quanto ao Diaconado Permanente, os conselheiros foram da opinião<br />

que será importante a sua existência, mas antes de o implementar há que, em primeiro<br />

lugar, dá-lo a conhecer ao povo de Deus.<br />

Finalmente, em Semana de Oração pelas Vocações, o Conselho Pastoral Diocesano<br />

fez um voto no sentido de interpelar as comunidades cristãs que mostrem apreço<br />

por todas as vocações, mas especialmente pelos consagrados que se encontram<br />

ao seu serviço.<br />

O Secretariado Permanente<br />

70 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. diversos .<br />

Comunicado do Conselho Presbiteral<br />

Professar, celebrar e viver a fé<br />

O Conselho Presbiteral da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> reuniu-se sob a presidência<br />

do Sr. Bispo, D. António Marto, na manhã do dia 24 de Junho, no Seminário<br />

Diocesano, para avaliar o Ano Pastoral e perspectivar o próximo, integrando as<br />

grandes iniciativas da Igreja Católica, tanto a nível nacional como internacional,<br />

nomeadamente o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos sobre A Palavra de Deus na<br />

vida e missão da Igreja, a realizar em Outubro.<br />

Depois do canto dos Salmos, os Conselheiros passaram em revista os principais<br />

momentos deste Ano, d<strong>ed</strong>icado à consolidação dos dinamismos criados no primeiro<br />

biénio do Projecto Pastoral, intitulado A Vocação Pessoal é Dom e Missão. Além<br />

de salientarem a sua importância, referiram o bom acolhimento que as propostas<br />

lançadas (Carta Pastoral, Retiro Popular, Vigílias, Campanhas da Catequese...)<br />

tiveram junto das comunidades, suscitando novas oportunidades para acolher,<br />

saborear e testemunhar a ternura de Deus.<br />

Num segundo momento e após breve introdução de D. António Marto, os<br />

membros do Conselho, tendo em conta o previsto para o primeiro ano do segundo<br />

biénio do Projecto Pastoral, “Testemunhar Cristo, fonte de Esperança”, d<strong>ed</strong>icado ao<br />

aprofundamento da dimensão comunitária da fé, reflectiram sobre os caminhos a<br />

percorrer no próximo Ano Pastoral, que terá como objectivo cuidar da formação dos<br />

cristãos. Este cuidar, nas palavras de D. António, concretizar-se-á em três dimensões:<br />

a fé professada, a fé celebrada e a fé vivida.<br />

No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho acentuaram duas linhas de<br />

acção: por um lado, a formação cristã deverá levar à renovação dos dinamismos<br />

existentes e, por outro, promover a coragem de inovar, na fidelidade à Palavra de<br />

Deus e ao tempo que nos foi dado viver, segundo o exemplo de São Paulo.<br />

Também se foi sentindo que as propostas da Igreja, vindas dos âmbitos nacional<br />

e internacional, são uma ajuda preciosa para lançar e articular, com os diversos<br />

níveis de acção pastoral da <strong>Diocese</strong>, um itinerário de formação cristão que responda<br />

aos novos desafios, expressos numa diversidade cada vez maior de situações.<br />

Documentos<br />

O Secretariado<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 71


. diversos .<br />

Resumo Geral das Contas - Ano de 2007<br />

Seminário Diocesano de <strong>Leiria</strong><br />

RECEITAS<br />

FORMAÇÃO<br />

Mensalidades Tempo Prop<strong>ed</strong>eutico 89,209.40<br />

total 89,209.40<br />

RENDIMENTOS<br />

Rendimentos de Prédios Urbanos 12,511.20<br />

Ocupação de salas 3,616.00<br />

Juros de depósitos 13,336.25<br />

Rendimento de titulos 54,516.39<br />

total 83,979.84<br />

EVENTUAL<br />

Reembolso despesas de alimentação 3,548.72<br />

Contributo Serviços Diocesanos 254.00<br />

Reembvolso de Impostos 7,136.72<br />

Restituição de despesas 626.33<br />

total 11,565.77<br />

SECTOR AGRÍCOLA<br />

Venda de Choupos 25,682.72<br />

total 25,682.72<br />

DONATIVOS<br />

Ofertório Diocesano 52,114.75<br />

Benfeitores 14,372.38<br />

Legados 65.00<br />

Ofertórios das Missas 4,608.65<br />

total 71,160.78<br />

RECEITA INTERNA<br />

Receitas de Secretaria 3,172.10<br />

total 3,172.10<br />

TOTAL DA RECEITA 284,770.61<br />

72 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. diversos .<br />

DESPESAS<br />

REMUNERAÇÕES<br />

Professores 48,975.00<br />

Empregados 85,807.84<br />

Serviço Eventual -Seminário 1,500.00<br />

Serviço Eventual Quintas 16,291.44<br />

Outros custos 2,199.40<br />

total 154,773.68<br />

SEGURANÇA SOCIAL<br />

Segurança Social 12,379.12<br />

total 12,379.12<br />

SEGUROS<br />

Seguros Acidentes de Trabalho 2,453.55<br />

Outros seguros 970.52<br />

total 3,424.07<br />

IMPOSTOS<br />

Imp. Rodoviários 98.46<br />

Taxas 250.00<br />

IMI 1,617.25<br />

Juros e encargos 281.45<br />

total 2,247.16<br />

FORNECIMENTOS E SERVIÇOS EXTERNOS<br />

Electricidade Seminário 14,004.49<br />

Electricidade Algarve 108.23<br />

Electricidade Quintas 664.93<br />

Combustíveis 3,923.40<br />

Gás 10,600.21<br />

Água 7,996.06<br />

Ferramentas e Utensílios 1,660.71<br />

Livros, Revistas, Jornais 5,699.10<br />

Material exp<strong>ed</strong>iente 679.89<br />

Telefones 2,609.66<br />

Material de Higiene e limpeza 5,489.86<br />

Conservação e Reparação 21,793.31<br />

Outros fornecimentos diversos 1,915.54<br />

Honorários 726.00<br />

Deslocações e estadias 1,124.03<br />

total 78,995.42<br />

Documentos<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 73


. diversos .<br />

SEMINÁRIO MAIOR / ISET<br />

Mensalidades 32,890.00<br />

Propinas do ISET 10,281.00<br />

total 43,171.00<br />

CULTO<br />

Culto 70.81<br />

total 70.81<br />

FORMAÇÃO<br />

Despesas com Retiros 9,806.60<br />

total 9,806.60<br />

BENS DIVERSOS<br />

Géneros alimentícios 32,777.88<br />

total 32,777.88<br />

TOTAL DA DESPESA 337,648.74<br />

RESUMO DO ANO<br />

Receita 284,770.61<br />

Despesas 337,648.74<br />

saldo -52,878.13<br />

INVESTIMENTOS EM CURSO<br />

OBRAS NO SEMINÁRIO<br />

Contribuição da <strong>Diocese</strong> 48,973,89<br />

Encargo do Seminário 84,030,09<br />

total 133,003,98<br />

INVESTIMENTO NAS QUINTAS<br />

Serviços de Reflorestação 37,987,31<br />

total 37,987,31<br />

Nota: O saldo negativo apresentado nas contas de exploração do Seminário em 2007,<br />

deve-se às despesas fixas existentes com pessoal efectivo e formadores, mas também à<br />

ausência de legados durante o ano de 2007.<br />

<strong>Leiria</strong>, 31 de Dezembro de 2007<br />

O Ecónomo,<br />

Pe. P<strong>ed</strong>ro Miguel Ferreira Viva<br />

O Técnico Oficial de Contas,<br />

Vítor Manuel Joaquim<br />

74 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Vida Eclesial<br />

. destaque . notícias . Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

. serviços e movimentos . entrevistas .


. destaque .<br />

Bispo diocesano ao encontro da realidade eclesial e social<br />

D. António em Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong><br />

Por Luís Miguel Ferraz<br />

Na primeira entrevista pastoral que conc<strong>ed</strong>eu após a sua entrada na diocese de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, ao jornal O Mensageiro, D. António Marto referiu a sua intenção de<br />

efectuar uma visita pastoral a todas as paróquias. Ano e meio depois, deu o primeiro<br />

passo desse périplo, na vigararia da Batalha, mais concretamente, na paróquia do<br />

Juncal, no dia 31 de Janeiro. A chegada à meta está prevista para 2012.<br />

Segundo a carta de anúncio que enviou a todas as comunidades, D. António abraça<br />

esta tarefa como “um dever do Bispo, enquanto pai e pastor da porção do povo de Deus<br />

confiada à sua solicitude, para aprofundar o conhecimento, a estima e a ajuda recíproca”.<br />

E o espírito com que o faz é o de “anunciar o Evangelho e confirmar os irmãos na<br />

fé, como pai que se encontra com os filhos para os iluminar e encorajar, para promover<br />

a unidade e a comunhão em Cristo e na Igreja, e dar um novo impulso missionário”.<br />

P<strong>ed</strong>ro Jerónimo<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 77


. destaque .<br />

Nesse sentido, apontou quatro grandes objectivos: “encorajar em todos um renovado<br />

encontro com Cristo que leve a r<strong>ed</strong>escobrir a beleza e a alegria da fé e da vocação<br />

cristã; valorizar o sentido de co-responsabilidade do Povo de Deus, revitalizando<br />

os organismos de participação (conselho pastoral e conselho económico) e os ministérios<br />

nos vários sectores da pastoral; promover a comunhão eclesial, intensificando<br />

o diálogo, a colaboração e a partilha, para fortalecer a experiência da fraternidade<br />

cristã na paróquia, na vigararia e na diocese; e avivar em todos os fiéis cristãos a<br />

consciência da missão, para que o dom da fé irradie na soci<strong>ed</strong>ade actual”.<br />

Para atingir esses objectivos, é necessário mobilizar as comunidades, logo na<br />

preparação da visita, para “a análise e discernimento da situação da paróquia, à luz da<br />

fé”, sensibilizá-las para participarem nos actos agendados e motivar, ao mesmo tempo,<br />

para uma vida de oração mais intensa, nomeadamente pela “participação nos grupos<br />

ou assembleias para a leitura familiar e orante da Palavra de Deus (Lectio divina)”.<br />

Na visita, propriamente dita, cada paróquia programa as acções que acha mais<br />

oportunas, incluindo encontros com os diversos grupos da acção pastoral e outros<br />

representativos do tecido social local, para um diálogo com o prelado. E a terminar,<br />

uma celebração eucarística onde é administrado o sacramento do Crisma.<br />

Alguns frutos da visita pastoral serão colhidos no im<strong>ed</strong>iato, como sejam um conhecimento<br />

mais próximo entre o Bispo e as pessoas mais envolvidas na pastoral,<br />

melhor compreensão do múnus episcopal por parte dos fiéis e uma percepção mais<br />

objectiva da realidade eclesial e social das paróquias por parte do Pastor. Mas o fruto<br />

mais importante há-de frutificar a partir da semente lançada, se cada comunidade<br />

souber interiorizar as indicações que o Bispo lhe comunicar e promover, a partir<br />

delas, uma renovação consistente da sua vivência cristã e participação.<br />

Já não se fazia há cerca de 30 anos…<br />

A última visita pastoral de um Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> a todas as comunidades da<br />

diocese foi efectuada por D. Alberto Cosme do Amaral, entre 1976 e 1981. Durante<br />

estes cinco anos, o prelado promoveu encontros com crianças, jovens e adultos,<br />

visitou doentes, rezou e celebrou com as comunidades, informou-se sobre a realidade<br />

eclesial e social de todas as paróquias e exortou todos a caminharem na fé e na<br />

coerência de vida cristã.<br />

No comunicado que apresentou no encerramento desta visita, em Abril de 1981,<br />

no Santuário de <strong>Fátima</strong>, D. Alberto afirmava que “há muitos espaços pastorais que<br />

os nossos sacerdotes não podem cobrir porque são poucos, e débeis as suas capacidades<br />

de resposta, perante as necessidades cada vez mais prementes”, identificando<br />

a pastoral vocacional como a “absoluta prioridade” e p<strong>ed</strong>indo aos padres “que se<br />

d<strong>ed</strong>iquem ao ministério sacerdotal vinte e quatro horas por dia e deixem aos leigos<br />

tarefas que eles podem realizar, para que os sacerdotes tenham tempo, saúde e dispo-<br />

78 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. destaque .<br />

nibilidade para fazerem o que só eles podem fazer: ministério da Palavra e ministério<br />

dos Sacramentos”. Para tal, p<strong>ed</strong>ia também aos leigos “uma maior participação na<br />

missão salvadora da Igreja”.<br />

O documento contém ainda uma análise de cada um dos sectores da pastoral e<br />

indicações sobre o que fazer para os dinamizar.<br />

Na pastoral catequética, afirma que “muitos de nós ainda não ultrapassámos uma<br />

ideia de catequese quase infantil, para passarmos a pensar seriamente numa catequese<br />

que atinja todas as pessoas, a todos os níveis etários e em todos os espaços”,<br />

e que “há que arrancar, desde já, para a organização de uma catequese sistemática<br />

para adultos”.<br />

Na pastoral da juventude, alegra-se porque “se abriram já caminhos até agora<br />

não andados” e por ter encontrado uma “juventude generosa”, mas lamenta que “a<br />

maioria dos jovens estamos a perdê-la: uma primavera sem flores!”.<br />

D. Alberto vai referindo que “não podemos perder mais tempo neste campo<br />

imenso que é a pastoral familiar”, que “é pobre, muito pobre, a pastoral dos doentes<br />

e idosos”, que “na pastoral sacramental há muito que fazer, pois a maior parte dos<br />

nossos cristãos não cumpre, sequer, o preceito dominical”, e que “a pastoral não<br />

pode ignorar que a genuína comunidade cristã tem de ser uma comunidade de amor<br />

(…), um campo imenso que entregamos aos cuidados da Cáritas Diocesana”.<br />

Sem ser um quadro muito animador, em que “a seara se abre diante de nós a gritar<br />

as suas carências”, o prelado aponta, no entanto, para a esperança e apela ao trabalho<br />

de todos em prol de um programa pastoral comum, que resume em seis prioridades:<br />

“a pastoral específica das vocações de consagração; a pastoral familiar; a pastoral<br />

de evangelização na infância, adolescência, juventude e idade adulta; a pastoral dos<br />

sacramentos; a pastoral da caridade; e a formação apostólica dos leigos”.<br />

A terminar, D. Alberto afirmava que “bem desejaria que a Visita Pastoral não se<br />

encerrasse agora, mas fosse antes uma porta escancarada sobre a seara que espera<br />

por todos nós”, e apelava: “Vamos todos, mesmo todos, lançar-nos com fé e audácia<br />

na ingente tarefa de levar a toda a <strong>Diocese</strong> a salvação de Jesus Cristo”.<br />

Vida Eclesial<br />

Entrevistas aos párocos<br />

A visita à vigararia da Batalha ob<strong>ed</strong>eceu ao seguinte calendário: de 31 de Janeiro<br />

a 3 de Fevereiro na paróquia do Juncal, de 7 a 10 de Fevereiro na Calvaria, de 14 a<br />

17 de Fevereiro nas paróquias de S. Vicente e de Nossa Senhora dos Prazeres, Aljubarrota,<br />

de 21 a 24 de Fevereiro nas P<strong>ed</strong>reiras, de 27 de Fevereiro a 2 de Março na<br />

Batalha e de 13 a 16 de Março no Reguengo do Fetal.<br />

Para um conhecimento mais próximo do que significou esta visita, fizemos aos<br />

respectivos párocos uma pequena entrevista, que passamos a publicar. No caso do<br />

Juncal, publicamos as perguntas e respostas, mas para as paróquias seguintes ela-<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 79


. destaque .<br />

borámos uma lista padrão de perguntas, que enumeramos desde já e que apenas<br />

indicaremos pelos seus números junto às respostas obtidas:<br />

1 - Que pensa desta iniciativa do Bispo diocesano de fazer uma visita pastoral a<br />

todas as paróquias<br />

2 - Como se preparou a comunidade para receber o Bispo<br />

3 - Qual foi o critério na elaboração do programa<br />

4 - De forma geral, como correu a visita<br />

5 - Houve algum momento especial que queira destacar<br />

6 - Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto<br />

7 - Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral Foi já definida alguma<br />

prioridade pastoral ou tomada alguma decisão em ordem à renovação da<br />

dinâmica paroquial<br />

• Pároco do Juncal<br />

Como decorreu a visita episcopal ao Juncal<br />

Foi uma visita que contou com grande parte da população do Juncal – participaram<br />

mais de 150 pessoas. Quase todos os idosos compareceram e o encontro com<br />

os jovens foi muito positivo, tal como o encontro com as crianças do centro infantil.<br />

Foram momentos de grande alegria.<br />

Houve algum momento especial que queira destacar<br />

O encontro com os jovens da catequese foi maravilhoso. Tinham um programa<br />

especial para apresentar, que organizaram em conjunto com as catequistas. O encontro<br />

com as crianças do centro infantil também foi muito bonito.<br />

Quais as expectativas criadas com este encontro<br />

A visita foi anunciada de casa em casa e todos a desejavam. Foi sentida como o<br />

lançar da semente. Espera-se agora que germine e cresça. A ligação do povo ao seu<br />

Bispo é muito importante. Há com que um despertar e um novo ânimo.<br />

Qual foi a maior marca deixada por D. António<br />

A sua presença deixou uma marca de proximidade e veio abanar a monotonia.<br />

Foi como que uma sementeira. Não podemos continuar a ver o Bispo como uma<br />

pessoa distante. Aprendemos que ele quer estar cada vez mais próximo.<br />

Pároco de Aljubarrota<br />

1 - Ninguém pode amar o que não conhece. À maneira do Bom Pastor, é preciso<br />

conhecer as ovelhas e elas conhecerem-no. Aproximando-se delas, reconhecerão<br />

melhor a sua voz…<br />

2 – A comunidade foi sendo preparada de diversas formas. Pela leitura da carta<br />

do anúncio da Visita Pastoral nas seis assembleias eucarísticas (sábados e domin-<br />

80 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. destaque .<br />

gos), explicando durante várias semanas os quatro objectivos da visita. Pelo convite<br />

à oração intensa, sobretudo na adoração semanal do Santíssimo Sacramento, quer<br />

em Sagrado Lausperene, quer ao “Jesus escondido” no sacrário. E também nos cinco<br />

encontros semanais dos grupos que fizeram a Lectio Divina. Finalmente, com a<br />

publicação de 2000 desdobráveis a cores, com pequeno excerto da Carta Pastoral<br />

do Anúncio, com o programa e a oração proposta, que atingiu todas as famílias da<br />

comunidade das duas freguesias.<br />

3 – Na elaboração do programa houve a preocupação de atingir toda a vida da<br />

comunidade, desde as crianças até aos idosos, dos industriais de extracção e transformação<br />

de p<strong>ed</strong>ra aos da loiça, dos estudantes aos comerciantes…<br />

4 – A visita revelou-se profundamente positiva, pela aproximação do Bispo ao<br />

seu Povo: o contacto pessoal deixa mensagem viva. É preferível ir do que mandar<br />

recados.<br />

5 - Destaco a visita à Misericórdia, pela qual se principiou: a recepção pelos<br />

corpos gerentes – o prov<strong>ed</strong>or e demais mesários, as 160 crianças e suas canções de<br />

saudação, <strong>ed</strong>ucadoras e auxiliares, empregadas, os idosos do Centro de Dia, que o<br />

senhor Bispo cumprimentou um por um com uma palavrinha de conforto, e até os<br />

mais pequeninos da creche, com poucos meses de idade. Foi também especial o<br />

acolhimento feito pelas senhoras, no alpendre da igreja, ao saudarem o senhor Bispo<br />

com o antigo hino da <strong>Diocese</strong>: “Salvé, salve, Pastor venerando, que fiéis tradições<br />

reatais, vosso anel reverentes beijando, vos cantamos bem-vindo sejais”.<br />

Mas houve outros momentos importantes, como o encontro com os industriais,<br />

tanto pela mensagem que o Bispo lhes deixou como pelo convívio final, e a celebração<br />

da Santa Unção a cerca de 50 doentes e idosos, entre os quais se encontrava<br />

o pároco.<br />

6 - A mensagem ou marca especial deixada pelo senhor Bispo foi a descoberta<br />

mais profunda da ternura de Deus, que nos ama e nos quer fazer felizes, se nós também<br />

quisermos…<br />

7 - A maior consciência do lugar que cada um ocupa na Igreja e da missão que a<br />

cada um cabe cumprir permite acr<strong>ed</strong>itar que é possível revitalizar os movimentos e<br />

serviços já existentes: formação dos catequistas, actualmente 55 e 56 auxiliares nos<br />

seis centros de catequese; Apostolado da Oração com 40 zeladores e 950 associados;<br />

Associação da Sagrada Família com 11 zeladores e 250 associados; principalmente,<br />

o devido funcionamento dos Conselhos Pastoral e Económico.<br />

Vida Eclesial<br />

• Pároco da Calvaria e P<strong>ed</strong>reiras<br />

1 – Iniciativas como a visita pastoral fazem parte do ministério sacerdotal e episcopal<br />

de ir ao encontro de todos, homens e mulheres, no seu meio. É fundamental<br />

conhecer as preocupações e as alegrias que os habitam para que a nossa acção e a<br />

nossa palavra não sejam desajustadas. A visita foi uma oportunidade e uma Graça<br />

de Deus para as pessoas e para as comunidades, motivando-as a despertarem a sua<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 81


. destaque .<br />

fé, algo adormecida, a não se contentarem com o pouco que têm e a quererem mais<br />

para a paróquia.<br />

2 – A preparação não foi fácil sobretudo porque, estando há pouco tempo nas paróquias,<br />

não tenho deles um conhecimento suficiente. Dá que tenha começado pela<br />

criação de uma equipa para preparar e programar a visita. Depois veio a fase da divulgação<br />

com cartazes nos lugares públicos, a apresentação do programa nas folhas<br />

paroquiais, o anúncio feito nas Eucaristias e diversas reuniões. Nas P<strong>ed</strong>reiras, onde<br />

a visita foi um pouco mais tarde, houve tempo para distribuir folhetos informativos<br />

em todas as casas.<br />

3 - Não houve apenas um critério, mas várias linhas condutoras. Primeiro, procurámos<br />

que esta visita fosse um novo fôlego para as pessoas mais relacionadas com<br />

a Pastoral. Por isso, realizou-se, logo no primeiro dia, uma assembleia paroquial.<br />

Além disso, pensou-se num contacto entre D. António e o meio civil das paróquias.<br />

Assim, fora dos espaços paroquiais, D. António foi às escolas e às instituições de solidari<strong>ed</strong>ade<br />

social e encontrou-se com as autoridades civis. Terceira linha condutora,<br />

para criar laços entre movimentos, serviços e lugares das paróquias, promoveram-se<br />

encontros para toda a comunidade paroquial.<br />

4 – A visita correu muito bem. Todos elogiaram a proximidade de D. António,<br />

sempre atentos aos aspectos positivos da nossa realidade. Ele próprio disse, várias<br />

vezes, que não vinha criticar mas salientar o que está bem e dar algumas pistas sobre<br />

o que pode melhorar. A sua mensagem foi de um optimismo, contrariando a tendência<br />

generalizada.<br />

5 - Há muitos momentos a salientar, porque D. António imprimia sempre aos<br />

seus encontros novidade e frescura. Referirei especialmente as celebrações com os<br />

doentes e idosos a quem disse reconhecer nos seus rostos “os traços dos seus pais<br />

que já partiram para a eternidade”. Além dos idosos e doentes, também os funcionários<br />

e familiares que os acompanhavam se mostraram muito sensibilizados. Também<br />

gostaria de salientar o encontro com as crianças, que foi um momento de grande<br />

encanto e ternura.<br />

6 – De tudo o que nos disse salientarei ainda a sua mensagem nas celebrações do<br />

Crisma “Não tenham m<strong>ed</strong>o de abrir os corações a Cristo”. Penso que resume toda a<br />

visita pastoral. Não ter m<strong>ed</strong>o de Cristo significa querer conhecê-Lo e a necessidade<br />

de aprofundar o nosso relacionamento com Ele. Como afirmou D. António, o maior<br />

perigo para a fé é a ignorância religiosa. Não ter m<strong>ed</strong>o de abrir os corações a Cristo é<br />

também procurar descobrir a beleza de ser cristão e fazer parte de uma comunidade<br />

e saber assumir as responsabilidades que nos cabem pelo crescimento da mesma. E<br />

ainda, como D. António explicou aos crismados, é ser capaz de dar testemunho de<br />

uma vida com valores, diante de todos.<br />

7 – Quanto a expectativas, estamos ainda na fase de digerir o que foi a visita<br />

pastoral. Espero brevemente reunir os grupos que estiveram na preparação para<br />

definirmos prioridades. Entretanto, podemos já indicar o desejo de crescimento em<br />

82 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. destaque .<br />

quantidade e sobretudo em qualidade, que implica melhoria das acções pastorais<br />

desenvolvidas, em ordem ao amadurecimento da fé, não nos contentando apenas<br />

com o que já se vai fazendo. Um grande passo será a constituição de um conselho<br />

paroquial nas duas paróquias, pois os padres não podem nem deve fazer tudo, um<br />

conselho que pense e reflicta sobre a realidade paroquial e ajude a fazer as melhores<br />

opções. Em breve serão convocados os movimentos e serviços das duas paróquias<br />

para escolherem os seus representantes. Outra decisão é a maior atenção à pastoral<br />

juvenil, com criação e apoio de grupos de jovens e de um agrupamento de escuteiros<br />

que seja escola de fé e de humanidade, como dizia D. António. Esta maior atenção à<br />

juventude corresponde ao desejo manifesto das duas paróquias.<br />

• Pároco da Batalha<br />

1 - A visita pastoral do Sr. Bispo às paróquias da diocese é, no meu entender, de<br />

grande importância. Este contacto directo com grupos, pessoas e locais ajuda, certamente,<br />

o Bispo a adquirir um conhecimento mais exacto da realidade diocesana.<br />

Ficará assim em melhores condições de vir ao encontro das necessidades de todos.<br />

2 - Começámos a preparação com algumas reuniões do Conselho Pastoral Paroquial<br />

e o anúncio da Visita Pastoral a toda a paróquia. Logo depois, a comunidade<br />

foi convidada a rezar por esta intenção e formaram-se, em toda a paróquia, grupos<br />

de reflexão e oração com a Lectio divina, apoiados por temas vindos da diocese A<br />

presença e participação do Sr. Bispo em duas reuniões preparatórias, na vigararia,<br />

muito contribuiu para a consciencialização das pessoas. Na última semana de preparação,<br />

a vinda da Imagem Peregrina, de <strong>Fátima</strong>, proporcionou a todos uma reflexão<br />

sobre os pontos fundamentais da mensagem de <strong>Fátima</strong> e foi decisiva para dinamizar<br />

toda a paróquia.<br />

3 – Para a elaboração do programa, o Conselho Pastoral Paroquial estudou o documento<br />

do Sr. Bispo sobre a visita pastoral, olhou para a realidade da paróquia, o que<br />

permitiu levar ao Sr. Bispo os aspectos mais significativos da vida da comunidade.<br />

4 – A visita decorreu de modo muito positivo. Houve boa participação, muito<br />

interesse e parece-me que se conseguiu apresentar ao Sr. Bispo a realidade da paróquia,<br />

não só no campo religioso, mas também social, escolar, económico, cultural e<br />

recreativo.<br />

5 - Tenho dificuldade em destacar este ou aquele momento, esta ou aquela actividade.<br />

Mas sensibilizou-me especialmente o encontro muito personalizado do Sr.<br />

Bispo com cada um dos doentes do Centro Hospitalar de Nossa Senhora da Conceição,<br />

nas Brancas.<br />

6 - A maneira como o Sr. Bispo soube estar com todas as pessoas marcou muito a<br />

comunidade. E o seu “fraquinho” pelos “amiguitos e amiguitas” foi muito apreciado<br />

pelas crianças e contagiou os pais. Da mensagem saliento a necessária incrementação<br />

da formação cristã em todas as idades, a santificação do Dia do Senhor e o<br />

apreço pela família e vida familiar.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 83


. destaque .<br />

7 - Certamente que algo irá melhorar. Ainda sem adiantar algum aspecto, há que<br />

avaliar, em pormenor, toda esta actividade, olhar seriamente para a realidade paroquial<br />

e recordar as mensagens que o Bispo foi deixando nos sucessivos encontros.<br />

Algumas decisões irão ser tomadas, nomeadamente no campo da pastoral familiar.<br />

• Pároco do Reguengo do Fetal<br />

1 - É uma iniciativa muito proveitosa que estimula todos os que trabalham nas<br />

comunidades cristãs. Todos, padres e leigos, precisamos de nova motivação para<br />

viver melhor a fé, tantas vezes adormecida pelos problemas do dia-a-dia.<br />

2 - A preparação da visita pastoral foi longa. No início de Novembro começou-se<br />

a informar a comunidade. Depois de a informação chegar às famílias da paróquia,<br />

houve uma maior sensibilização dos grupos (movimentos e serviços), nomeadamente<br />

nos encontros que já se realizavam. Mais proximamente, formaram-se em cada<br />

lugar da paróquia grupos de Lectio divina, seguindo a proposta de D. António Marto<br />

como preparação mais específica da visita.<br />

3 - A elaboração do programa foi simples. Nos diversos grupos da paróquia, escutou-se<br />

a opinião das pessoas e, especialmente em reuniões do Conselho Económico<br />

Paroquial, definiu-se um programa que correspondesse à realidade da paróquia..<br />

4 - Na minha opinião, a Visita Pastoral correu muito bem. Houve entusiasmo e<br />

alegria, e foi um meio para trabalharmos em conjunto (comunidade paroquial) na<br />

concretização desta acção, que seria o ponto culminante e fecho da visita pastoral na<br />

vigararia da Batalha.<br />

5 – Se todos os momentos foram especiais, sobretudo pela presença do Sr. D.<br />

António, marcou-me, enquanto pároco, a sua forma de estar com cada pessoa, desde<br />

a mais nova à mais idosa, sempre próximo e amigoTodas as pessoas recordam esse<br />

aspecto. Posso, mesmo assim, referir três momentos significativos: a celebração da<br />

Eucaristia, no Centro Paroquial de Assistência, com os idosos; a Assembleia Paroquial;<br />

e os encontros com a catequese, continuados no almoço com as crianças e<br />

adolescentes.<br />

6 - Como disse, a grande marca que ficou foi a presença próxima do nosso Bispo.<br />

A mensagem principal retiro-a da Assembleia Paroquial: a verdadeira comunidade<br />

cristã tem de assentar em três alicerces: comunidade de fé, de oração e de fraternidade,<br />

nos quais radicam todos os seus movimentos e serviços. Outro aspecto em foco<br />

foi a nova situação de uma fé que, sendo cada vez menos herança e tradição, terá de<br />

ser cada vez mais opção consciente de cada um.<br />

7 - As expectativas são muitas. Principalmente, um novo impulso para formarmos<br />

comunidades que vivam melhor a comunhão. Como disse D. António, não vivermos<br />

como ilhas, mas em ‘r<strong>ed</strong>e’ uns com os outros, tanto na paróquia como na vigararia.<br />

Não será necessário criar muitas coisas novas. Para a comunidade do Reguengo do<br />

Fetal, o importante é cuidar melhor do que existe e dar-lhe novo fulgor e nova vida.<br />

Como prioridade, temos de constituir o Conselho Pastoral Paroquial.<br />

84 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. destaque .<br />

Encerramento da Visita Pastoral à vigararia da Batalha<br />

“Desejo paróquias fraternas e em r<strong>ed</strong>e”<br />

A 16 de Março, no pavilhão da associação de Alcaidaria, paróquia do Reguengo<br />

do Fetal, realizou-se o encerramento da visita pastoral do Bispo diocesano à vigararia<br />

da Batalha. Juntaram-se cerca de 600 fiéis de todas as paróquias num momento de<br />

celebração, convívio e partilha das experiências vividas nos últimos dois meses.<br />

Começou-se pela procissão que caracteriza a liturgia do Domingo de Ramos<br />

e seguiu-se a Missa, presidida por D. António Marto e concelebrada por todos os<br />

párocos da vigararia. Partindo das palavras de São Paulo à comunidade de Filipe (Fl<br />

1, 3-11), o Bispo diocesano referiu serem idênticos os seus sentimentos ao encerrar<br />

esta primeira etapa da visita pastoral: “A todos guardo no coração com muita amizade<br />

e gratidão. Senti-me acolhido como irmão, constatei a boa reserva de muitas<br />

energias de homens, mulheres, crianças e jovens de fé viva, d<strong>ed</strong>icação e criatividade<br />

ao anúncio do Evangelho. Verifiquei alegrias, expectativas, cansaços, desânimos, e<br />

um enorme desejo de salto de qualidade de fé”.<br />

P<strong>ed</strong>indo a todos “um esforço na reorganização das comunidades e mais co-responsabilidade<br />

para uma Igreja viva de comunhão e missão”, o prelado manifestou<br />

o desejo de “transfiguração do rosto da Igreja, de cada comunidade, para que nela<br />

resplandeça a beleza do rosto de Cristo”. Conscientes do “mistério do amor louco<br />

de Deus por nós”, apesar de todas as nossas infidelidades, como fora recordado no<br />

relato do Evangelho deste domingo, “devemos descobrir no mundo concreto em que<br />

vivemos as manifestações desse amor”. Este é o caminho para o referido “salto de<br />

qualidade”, que deverá envolver todo o Povo de Deus, sobretudo em três grandes<br />

linhas de acção.<br />

Em primeiro lugar, o regresso às fontes originais da nossa fé: “não nos devemos<br />

esquecer de que na origem da fé está o encontro com a pessoa viva de Jesus Cristo<br />

ressuscitado”. Joga-se aqui o futuro da fé, numa crise que atinge actualmente toda a<br />

Europa. Estamos a passar do cristianismo herdado para uma fé de opção consciente e<br />

de adesão livre, alegre e convicta à pessoa de Cristo. “É uma crise que pode ser puri-<br />

LMFerraz<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 85


. destaque .<br />

ficadora, porque nos desafia a crer mais e a crer melhor, a sermos homens e mulheres<br />

de fé viva, entusiasta, corajosa e assumida”. Por isso, é preciso “reformarmo-nos por<br />

dentro, acender o coração com a luz nova de Cristo, animar e trazer os cristãos que<br />

se afastaram ou se deixaram vencer pelo cansaço”.<br />

Depois, é necessário “reconfigurar a paróquia como casa de acolhimento e fraternidade,<br />

onde todos estão ao serviço dos outros, uns para os outros, uns com os<br />

outros”. Não podemos continuar a ver a paróquia como um supermercado ou uma<br />

estação de serviços religiosos, mas como espaço de comunhão e partilha, “onde todos<br />

se sentem em casa e de casa”. Nessa linha, é importante constituir ou revitalizar<br />

os órgãos de coordenação, como os conselhos económicos e pastorais paroquiais.<br />

Finalmente, torna-se fundamental “trabalhar em r<strong>ed</strong>e, na paróquia e na vigararia”.<br />

Se todos partilhamos a mesma fé, devemos também partilhar recursos humanos<br />

e técnicos, trabalhando projectos comuns, sobretudo em áreas pastorais como a pastoral<br />

juvenil, a catequese e o serviço sócio-caritativo.<br />

A terminar, o Bispo lançou o apelo que fez em cada paróquia: “Querida vigararia<br />

da Batalha, abre de par em par as portas do teu coração a Cristo. Não tenhas m<strong>ed</strong>o de<br />

Cristo. Renova na alegria a tua fé em Cristo, teu Senhor e Salvador. Dá testemunho<br />

do Evangelho”. Apelo que foi aplaudido com entusiasmo por toda a assembleia.<br />

No final, houve um lanche oferecido pelas pessoas da paróquia anfitriã, onde<br />

muitos dos presentes aproveitaram para passar o resto da tarde. Espera-se que este<br />

momento de união e confraternização venha a repetir-se e a dar frutos em outras iniciativas<br />

pastorais, tal como D. António Marto defendeu durante toda a sua visita.<br />

“Lectio Divina” preparou a visita pastoral<br />

Uma das iniciativas de preparação da visita pastoral foi a constituição de grupos<br />

para a “Lectio Divina”, como recomendava a carta pastoral sobre a visita, tendo em<br />

vista “um renovado encontro com Cristo, que lhes possibilite r<strong>ed</strong>escobrir a beleza e a<br />

alegria da fé e da vocação cristã”.<br />

O primeiro passo foi a formação de orientadores. Porque “é fazendo que se aprende<br />

a fazer”, cerca de 60 pessoas da vigararia, incluindo os párocos, reuniram-se várias vezes,<br />

sob a presidência do Bispo diocesano e com a ajuda do Vigário-geral da <strong>Diocese</strong>, e<br />

dum especialista em Bíblia, para fazerem a experiência de leitura, m<strong>ed</strong>itação e partilha<br />

de um texto bíblico, auxiliados por instrumentos preparados pela equipa diocesana de<br />

preparação das visitas. Os encontros serviram também para receberem indicações práticas<br />

sobre o proc<strong>ed</strong>imento nos grupos já formados ou a formar expressamente.<br />

A experiência alargou-se às comunidades, em pequenos grupos, num percurso de<br />

cinco temas, e viria a ser muito bem acolhida, como referiram alguns dos animadores:<br />

“é uma experiência nova para muita gente, que tem despertado o interesse, até em<br />

pessoas normalmente afastadas da vida religiosa da paróquia”.<br />

86 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. notícias .<br />

<strong>Diocese</strong> peregrina sob o signo da ternura<br />

“Oh, quanto eu sonho…<br />

ver comunidades renovadas”<br />

Por Luís Miguel Ferraz<br />

D. António Marto tem insistido na unidade da diocese como comunidade de vida<br />

cristã, atenta aos sinais da ternura de Deus, imbuída do espírito de comunhão e fraternidade<br />

e testemunha da alegria que brota da vivência do Evangelho.<br />

Desde 1931, um ano após a declaração de cr<strong>ed</strong>ibilidade das aparições por<br />

D. José Alves Correia da Silva, a peregrinação anual a <strong>Fátima</strong> vem<br />

cultivando e exprimindo essa unidade da Igreja diocesana. Depois da<br />

entrada de D. António, tem vindo a constituir-se em momento forte da<br />

comunicação e celebração da mensagem pastoral que aponta o projecto<br />

diocesano do ano.<br />

Se o visível corresponde a uma vivência efectiva da comunhão na<br />

<strong>Diocese</strong>, só Deus sabe, Ele a quem se confia o germinar da semente<br />

lançada. Olhando ao tamanho da diocese, a peregrinação reúne<br />

uma verdadeira multidão. Procurando cooperar com a acção do<br />

Espírito transformador, a organização empenha-se na máxima<br />

valorização dos aspectos celebrativo e catequético desta reunião<br />

da única Igreja diocesana que vê a diversidade dos seus membros<br />

congregada sob o amparo maternal de Maria.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 87


. notícias .<br />

Acolher a ternura<br />

A 77ª Peregrinação Diocesana, a 9 de Março, sob o lema “Testemunhas da Ternura<br />

de Deus”, iniciou-se com o acolhimento na igreja da Santíssima Trindade, pelas<br />

09h00. Aí se juntaram alguns milhares de peregrinos para a leitura orante da Palavra<br />

de Deus (Lectio divina), centrada na transfiguração de Jesus no monte Tabor.<br />

Neste primeiro acto, D. António Marto dava o tom a toda a peregrinação: subir<br />

ao monte e aí permanecer em contemplação “é para nós, hoje, o convite a escutar<br />

a Palavra de Deus e nela m<strong>ed</strong>itar”; ao descer, após o contacto com Cristo glorioso,<br />

abraçamos a missão de “testemunhar a beleza da vida cristã”.<br />

Da igreja da Santíssima Trindade, o cortejo, uno e multiforme, no colorido de<br />

bandeiras paroquiais, de outras comunidades e de movimentos, avançou em direcção<br />

ao altar principal do Santuário, para a grande Celebração Eucarística, e fez paragem<br />

na Capelinha para uma saudação a Nossa Senhora com os cânticos próprios e a<br />

recitação dos mistérios do Rosário. Prosseguiu depois, acompanhando a imagem<br />

da Senhora de <strong>Fátima</strong> até ao altar-mor. Laicado, religiosos e presbitério, a diocese<br />

constituiu-se Assembleia Eucarística, presidida pelo seu Bispo.<br />

Saborear e testemunhar<br />

À homilia, D. António exortou ao acolhimento da ternura de Deus, que há-de<br />

manifestar-se na “beleza da comunhão eclesial”.<br />

Partindo do Evangelho, exaltou a união dos irmãos Lázaro, Marta e Maria, que<br />

acolhiam Jesus, e exclamou em forma de apelo: “Quanto eu sonho, minha querida<br />

Igreja de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, ver comunidades cristãs como a casa de Betânia, uma Igreja<br />

que não seja vista como um supermercado religioso ou uma estação de serviço,<br />

mas como uma casa onde vivem uns para os outros, em amizade e comunhão”. E<br />

evocando a comoção de Jesus pelo seu amigo morto, insistiu: “Como sonho, minha<br />

querida Igreja de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, ver comunidades cristãs onde se exprime este afecto,<br />

esta compaixão, esta capacidade de partilhar as tristezas e as alegrias da vida,<br />

como expressão do poder do amor e da bondade de Deus”. Finalmente, lembrando a<br />

afirmação de Jesus, “Eu sou a ressurreição e a vida”, apelou à esperança e à alegria<br />

de uma vida nova em Jesus Cristo, como forma de triunfar sobre “o desencanto, o<br />

desânimo, a inércia e a lamentação da soci<strong>ed</strong>ade actual” e poder responder à “crise<br />

das famílias, da <strong>ed</strong>ucação, e da soci<strong>ed</strong>ade em que vivemos”.<br />

Ao concluir, de forma emocionada, deixou o seu último voto: “Oh, quanto eu<br />

sonho, minha querida Igreja de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, ver comunidades renovadas”. Atenta<br />

aos veementes apelos do seu pastor, a assembleia não pôde dispensar-se de um forte<br />

aplauso, como a comprometer-se no caminho de uma “vida espiritual de qualidade”,<br />

“ao serviço dos outros como expressão do amor de Deus”.<br />

88 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. notícias .<br />

Em forma de oratória<br />

O último acto da jornada, da parte da tarde, a execução da Oratória “<strong>Fátima</strong>, sinal<br />

de esperança para a humanidade”, levou à igreja da Santíssima Trindade cerca de 7<br />

mil pessoas.<br />

Trata-se de uma obra musical do padre António Cartageno, com um texto dos<br />

padres António Aparício e Paulo Quelhas, a partir das “Memórias” da Irmã Lúcia,<br />

estreada no encerramento das comemorações dos 90 anos das Aparições de <strong>Fátima</strong>.<br />

Num grandioso conjunto de 350 executantes (11 coros e a orquestra Filarmonia das<br />

Beiras), sob a direcção do maestro Mário Nascimento, sobressaem o brilho, a simplicidade<br />

e a ternura dos solistas mais pequenos que interpretam os três pastorinhos.<br />

Numa viajem pelos acontecimentos de 1917, a Oratória pretende “ser um grande<br />

momento de difusão da mensagem de <strong>Fátima</strong>”, segundo depoimento que o seu autor<br />

corrobora com um desejo: “Que as palavras e a música com que as revesti toquem<br />

realmente o coração das pessoas e as ajudem a encontrar-se com Deus”. Outra forma,<br />

concluímos, de dar corpo ao mote do programa pastoral, acolhendo a ternura de<br />

Deus, manifestada aos seus filhos, através de Maria, e testemunhada de forma bela e<br />

confiante na Vida que brota.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 89


. notícias .<br />

Formação Permanente do Clero<br />

A formação permanente do clero é uma exigência da fidelidade ao dom divino<br />

da ordenação sacerdotal porque condição indispensável para servir com maior<br />

competência e dinamismo aqueles a quem Deus envia os seus ministros, m<strong>ed</strong>iante<br />

as tarefas confiadas pelo Bispo. Com estas acções de estudo, reflexão e partilha, os<br />

padres procuram enriquecer-se e valorizar o seu ministério, nos domínios teológico,<br />

pastoral, espiritual e humano.<br />

No Seminário dos Missionários do Espírito Santo, em Silva, Barcelos, em dois<br />

turnos, para facilitar a participação e assegurar o serviço pastoral indispensável, de<br />

21 a 25 de Janeiro e de 28 de Janeiro a 1 de Fevereiro, o clero de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

debruçou-se sobre a “Existência cristã e organização da comunidade: ministério<br />

ordenado e presença dos leigos”.<br />

D. António Marto acompanhou os dois turnos com a sua presença de Pastor e<br />

amigo, e orientou uma lição introdutória sobre a recente visita “Ad limina” dos Bispos<br />

Portugueses e suas implicações na diocese.<br />

Depois de uma intervenção pontual sobre a “Dimensão sanante da fé”, pelo P.<br />

Dr. Nuno Almeida, de Viseu, o Padre Doutor Arnaldo Pinho, da diocese do Porto,<br />

professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica naquela cidade,<br />

desdobrando o tema central em várias lições sobre o lugar do episcopado, lugar<br />

do presbiterado e a função do diaconado na Igreja, fê-lo culminar na perspectiva<br />

da “prioridade dos valores da existência cristã sobre os valores da organização, no<br />

Vaticano II e no Sínodo Especial de 1985”. Uma Igreja cuja relevância se afirma na<br />

fidelidade à sua identidade, terá que fugir à centralização em si própria para aparecer<br />

como sinal e sacramento de Jesus Cristo, sob pena de não ser.<br />

O estudo e reflexão foram completados por momentos intensos de partilha pastoral<br />

e espiritual baseada na eclesiologia da comunhão na diversidade.<br />

Dia Mundial do Doente<br />

Depois de uma semana de visitas a quase todos os doentes, com as quais se quis<br />

dar cumprimento efectivo à mensagem do Papa que convidava a partilhar com os<br />

que sofrem sentimentos e gestos de solidari<strong>ed</strong>ade e de esperança, e a fim de proporcionar<br />

a preparação espiritual que cada um entendeu fazer, chegou o Dia Mundial<br />

do Doente, a 10 de Fevereiro, calendarizado no pleno de actividades da capelania<br />

hospitalar.<br />

Uma equipa de d<strong>ed</strong>icados voluntários colaborou na deslocação dos doentes que<br />

puderam e manifestaram o desejo de participar na missa celebrada por sua intenção.<br />

A assembleia, constituída pelos doentes, pelos fies que habitualmente ali participaram<br />

na missa dominical, a que se juntaram alguns profissionais da saúde e o grupo<br />

de voluntários, viveu um momento muito expressivo de fé e de solidari<strong>ed</strong>ade a que<br />

90 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. notícias .<br />

não foi indiferente a colaboração do grupo coral que, habitualmente, ali amima as<br />

celebrações.<br />

Toda a liturgia teve presente a ocorrência do dia instituído há dezasseis anos pelo<br />

saudoso papa João Paulo II, que tão profundamente doutrinou sobre o sofrimento<br />

que soube assumir de forma tão singular.<br />

Nesta mesma data, assinalou-se o 11º aniversário da visita que o Cardeal Fiorenzo<br />

Angelini efectuou ao Hospital de Santo André, como consta da lápide descerrada<br />

pelo próprio na capela, aquando da sua vinda a Portugal, em 1997, para presidir às<br />

comemorações que, nesse ano, decorreram em <strong>Fátima</strong>.<br />

Seguindo as orientações emanadas da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde<br />

e, com o intuito de concretizar a mensagem de Bento XVI, “estava doente e visitaste-me”,<br />

os Voluntários visitaram todos os doentes a quem entregaram uma prenda<br />

oferecida pela Liga dos Amigos do Hospital que a todos sensibilizou.<br />

Retiro popular: Saborear a ternura de Deus<br />

Dentro das várias actividades em que se vai concretizando o programa do ano<br />

pastoral, D. António Marto propôs um “retiro popular”, na Quaresma, para “saborear<br />

a ternura de Deus e cultivar a espiritualidade do acolhimento e da comunhão”. Os<br />

textos do guião foram disponibilizados em caderno e na Internet, depois de apresentados<br />

na formação do clero, em fins de Janeiro. Os próprios padres puderam fazer<br />

em primeira mão a experiência da fórmula proposta, a leitura orante da palavra de<br />

Deus.<br />

D. António Marto explica deste modo o conceito de “retiro popular”: “Os evangelhos<br />

contam que Jesus se retirava para o monte ou outros sítios fora das povoações,<br />

a fim de se d<strong>ed</strong>icar à oração e entrar na comunhão íntima com o Pai. E revelam-nos<br />

que Ele o fazia movido pelo Espírito. A esse exercício espiritual para escutar a Deus<br />

e falar-lhe, a Igreja chama fazer retiro. Há muitos cristãos que a isso d<strong>ed</strong>icam periodicamente<br />

algum tempo, retirando-se das suas ocupações e dos lugares habituais e<br />

indo para onde há silêncio e ambiente de recolhimento. Mas também se pode fazer<br />

um “retiro espiritual” na vida quotidiana, sem sair dos lugares e ocupações habituais,<br />

d<strong>ed</strong>icando determinados momentos a essa finalidade, na própria casa, nas igrejas ou<br />

noutros locais. Nesse sentido, ousei lançar a proposta de, na Quaresma deste ano, se<br />

realizar na <strong>Diocese</strong> um grande “retiro popular”, isto é, para todo o Povo de Deus”.<br />

Os destinatários são todas as pessoas que aceitem reunir-se em família, em grupo<br />

ou em assembleia, uma vez por semana, para ler, m<strong>ed</strong>itar e partilhar a Palavra de<br />

Deus segundo o método da “Lectio divina”. Depois, em casa, a sós ou com a família,<br />

cada uma pôde retomar a experiência da m<strong>ed</strong>itação, contemplação e oração diante<br />

de Deus.<br />

Sob o título “Acolher, saborear e testemunhar a ternura de Deus” a dinâmica incluía<br />

seis temas com outros tantos textos bíblicos, que ritmavam um itinerário de fé:<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 91


. notícias .<br />

começando pelo “encanto do primeiro acolhimento” de Deus ao homem e à mulher,<br />

criados «à sua imagem e semelhança», com a vocação ao amor inscrita em seus corações;<br />

seguia-se a revelação de que cada pessoa é “acolhida nas suas fragilidades”,<br />

por Deus, em Jesus Cristo, e chamada a converter-se e retomar ânimo; vinha depois<br />

o encontro com Jesus, que valoriza e sacia a s<strong>ed</strong>e de quem O procura e descobre<br />

“o dom de Deus”; o quarto tema, apontava a atitude de Maria, irmã de Marta, que<br />

escuta Jesus, como a do discípulo e da Igreja que acolhem a presença e a palavra do<br />

Senhor; depois, abordava-se o acolhimento fraterno, dentro e fora das comunidades<br />

cristãs; por fim, havia um convite a voltar o olhar para Maria, mãe de Jesus, por Ele<br />

dada aos seus discípulos como “mãe da ternura” e modelo do acolhimento e do sim<br />

à vocação.<br />

Estima-se que mais de 250 grupos ou assembleias, num total de 5 mil as pessoas,<br />

terão feito este retiro popular nas suas paróquias, como preparação para a Páscoa. A<br />

iniciativa interessou também pessoas e grupos de outras dioceses, que solicitaram<br />

centenas dos guiões de apoio. Animados quer pelos padres quer por leigos, os grupos<br />

reuniam-se em igrejas e capelas, mas também em casas de famílias, envolvendo pais<br />

e filhos na mesma experiência espiritual de contacto com a palavra de Deus.<br />

Entusiasmados com esta experiência, alguns continuaram este tipo de caminhada,<br />

aproveitando ocasiões especiais como a preparação para as festas dos padroeiros<br />

das suas comunidades.<br />

Quinta-Feira Santa - Missa crismal - Óleo da consolação<br />

O Dia do Sacerdócio e da Eucaristia tem a nível diocesano dois momentos litúrgicos<br />

fundamentais: a Ceia do Senhor, nas igreja cat<strong>ed</strong>ral e nas paróquias, e a chamada<br />

Missa crismal presidida pelo Bispo diocesano rodeado do seu Presbitério, durante<br />

a qual são benzidos os Óleos que serão usados em diversas ocasiões, ao longo do<br />

ano, sobretudo na administração dos sacramentos do Baptismo, da Confirmação, da<br />

Unção dos Enfermos e da Ordem. O Presbitério diocesano, que se dispersa para as<br />

múltiplas celebrações da Ceia do Senhor nas comunidades, tem na Missa crismal a<br />

manifestação por excelência da sua unidade.<br />

Como de costume, a presenças dos sacerdotes foi quase total na manhã da Quinta-Feira<br />

Santa, este ano a 20 de Março. Apesar da hora laboral, os fiéis leigos vieram<br />

também em grande número. D. António Marto ofereceu a todos uma m<strong>ed</strong>itação eivada<br />

de espiritualidade e sentido pastoral (ver texto integral na secção “Documentos”).<br />

Partindo de uma primeira leitura da visita pastoral que iniciou na diocese e tendo<br />

presentes as inquietações e esperanças dos fiéis, desenvolveu o tema “servidores da<br />

ternura e da consolação de Deus”, enquadrado pela forte simbologia dos Óleos santos<br />

e endereçado especialmente aos presbíteros. Consolados primeiro por Deus, que<br />

os envia a consolar os irmãos, os sacerdotes, apelou, devem proc<strong>ed</strong>er sem pressa,<br />

de forma serena e persistente, procurando consolar na mente, no coração e na vida,<br />

92 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. notícias .<br />

como se exprimia Santo Inácio, cooperando com a acção de Deus que chama os seus<br />

fiéis ao entendimento e ao amor, da sua proposta de Vida com Ele e com os irmãos.<br />

Na continuação da celebração, D. António, voltando-se para os fiéis leigos e religiosos,<br />

p<strong>ed</strong>iu-lhes com viva emoção, que rezassem pelos sacerdotes, por ele e pela<br />

sua acção de pastor desta Igreja diocesana.<br />

O Senhor não cessa de derramar o óleo da consolação e da alegria nos corações<br />

que se abrem à sua presença sempre fiel e constante.<br />

D. António Marto eleito vice-presidente da CEP<br />

Reunidos em <strong>Fátima</strong>, no final de Março de 2008, os bispos da Conferência Episcopal<br />

Portuguesa elegeram os seus órgãos representativos para o próximo triénio.<br />

Para o cargo de presidente foi reeleito o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga. Para<br />

vice-presidente foi eleito D. António Marto, bispo da nossa <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />

Primeira p<strong>ed</strong>ra da igreja dos Pousos<br />

D. António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> presidiu à celebração de bênção da<br />

primeira p<strong>ed</strong>ra da reconstrução e ampliação da igreja paroquial de Nossa Senhora do<br />

Desterro e respectivo Centro Pastoral, nos Pousos. A tarde de Domingo, 6 de Abril<br />

de 2008, ficará na memória de todos os presentes: para além do Bispo Diocesano,<br />

muito povo, e também amigos ilustres: vários sacerdotes, o vigário-geral, a presidente<br />

da Câmara de <strong>Leiria</strong>, o Governador Civil, os presidentes da Junta e da Assembleia<br />

de Freguesia e a autora do projecto, arquitecta Alexandra Cantante.<br />

Como o pároco teve oportunidade de afirmar, depois de 50 anos de expectativa,<br />

a nova igreja já existe no projecto; vai ter um espaço celebrativo para 500 pessoas<br />

e a primeira fase das obras começa no princípio de Maio, logo a seguir à festa do<br />

Senhor dos Aflitos; a empresa a quem vai ser adjudicada a obra terá 200 dias úteis<br />

para concluir a 1ª etapa; o Conselho Económico está imbuído de boa vontade e vai<br />

coordenar os trabalhos; dispõe neste momento de cerca de 200 mil euros, mas faltam<br />

ainda cerca de 500 mil; a obra é de todos e para todos.<br />

Nas suas várias intervenções, D. António exortou os presentes a levarem a bom<br />

termo a obra que ali se lançava, uma igreja com o seu centro pastoral, que será<br />

“espaço para onde as pessoas hão-de convergir, centro de unidade, de fraternidade,<br />

de cultura humana e espiritual” e simultaneamente “centro de irradiação de toda a<br />

experiência humana e espiritual que ali se há-de receber”.<br />

A Banda Filarmónica da SAMP acompanhou toda a celebração e no final houve<br />

um lanche com animação a cargo dos Pauliteiros do Vidigal.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 93


. notícias .<br />

Assembleia do Clero: o Sensus ecclesiae<br />

No dia 22 de Abril, reuniu-se em Assembleia-Geral o clero da diocese de <strong>Leiria</strong>-<br />

<strong>Fátima</strong>, sob a presidência do Bispo Diocesano.<br />

Dando continuidade à oração inicial, D. António Marto endereçou aos presentes<br />

uma importante m<strong>ed</strong>itação/mensagem. Depois de felicitar os sacerdotes pelo seu<br />

empenho e zelo apostólico, apelou a que nunca cessem de crescer no sentido de<br />

Igreja que há-de manifestar-se no seio do Presbitério e transbordar para toda a comunidade<br />

diocesana, e se empenhem cada vez mais na criação de um ambiente em<br />

que se respire comunhão na mesma vida cristã. Contra a “fé particular”, e “a ideia de<br />

que a minha paróquia é o meu quintal”, incentivou à criação de laços de fraternidade<br />

que façam da <strong>Diocese</strong> uma igreja particular embebida de um verdadeiro “Sensus<br />

ecclesiae”, segundo o espírito do Concilio Vaticano II que coloca na comunhão o<br />

centro de toda a pastoral e vida da Igreja. Deixando “uma organização centrada no<br />

pároco, como responsável e executor de toda a pastoral, precisamos de partir para<br />

uma organização eclesial baseada na co-responsabilidade e na comunhão”.<br />

Os trabalhos prosseguiram com uma análise da evolução demográfica do clero<br />

diocesano, de 1965 a 2007, pelo padre Luís Inácio João. Se naquele ano havia 128<br />

padres, em 2007 contavam-se apenas 108, numa evolução de média etária de 43,5<br />

anos para os 59,5 anos. Numa linha de prospecção, estima-se que em 2010 haja<br />

somente 88 sacerdotes com 61,8 anos, em média. Relacionados estes dados com o<br />

número de celebrações dominicais e locais, verifica-se que a diminuição de sacerdotes<br />

contrasta com o aumento das celebrações (342 em 1977, 378 em 2001, segundo<br />

o respectivos sensos) e com o aumento do número de locais de celebração (246 em<br />

1977, e 278 em 2001. Os dados observados, destacou ainda o sacerdote, apelam a<br />

uma preparação do futuro. A sobrecarga não conseguirá mais responder às necessidades.<br />

Outras m<strong>ed</strong>idas terão que ser pensadas e adoptadas com urgência.<br />

Seguiu-se a apresentação testemunhal de um trabalho paroquial na perspectiva<br />

de comunhão e co-responsabilidade, pelo padre Armindo Castelão, pároco de Nossas<br />

Senhora das Misericórdias, Ourém, e uma reflexão sobre a dimensão comunitária<br />

da acção pastoral, pelo padre Adelino Guarda.<br />

Em clima de abertura e diálogo, os sacerdotes reflectiram depois, em pequenos<br />

grupos, sobre duas questões fundamentais: “quais as prioridades, preocupações e objectivos<br />

da acção pastoral” e que aspectos do trabalho pastoral podem ser confiados<br />

a outros agentes da fé<br />

De tarde, um plenário permitiu verificar uma consciência assumida da necessidade<br />

de trabalhar em r<strong>ed</strong>e e co-responsabilidade, dando aos leigos um papel pastoral<br />

mais activo, para que a Igreja diocesana seja cada vez mais expressão viva de comunhão<br />

e unidade.<br />

A devido tempo, o ecónomo diocesano, padre Cristiano Saraiva, apresentou o<br />

relatório de contas da <strong>Diocese</strong>, relativo ao ano 2007 e chamou a atenção para a legis-<br />

94 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. notícias .<br />

lação fiscal após a recente revisão da Concordata.<br />

No final, D. António Marto voltou a exprimir a sua gratidão pelo esforço e d<strong>ed</strong>icação<br />

de todos e p<strong>ed</strong>iu que levassem para as suas comunidades o desafio de um cada<br />

vez maior “sensus ecclesiae”.<br />

Padre Jorge Guarda: 25 anos de sacerdócio<br />

“Dou graças a Deus pelo dom que me conc<strong>ed</strong>eu e pela ajuda, ao longo da vida,<br />

para o pôr a render ao serviço dos irmãos”, foi a mensagem do padre Jorge Faria<br />

Guarda, vigário-geral da <strong>Diocese</strong>, na celebração do 25º aniversário da sua ordenação<br />

sacerdotal, no passado 24 de Abril.<br />

A igreja do Seminário encheu-se de familiares e amigos, padres, religiosos e<br />

leigos, que quiseram associar-se na Eucaristia presidida pelo Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,<br />

D. António Marto e concelebrada também pelo Bispo emérito da <strong>Diocese</strong>, D.<br />

Serafim Ferreira e Silva.<br />

“É uma festa pessoal, porque o dom é pessoal, mas também festa da Igreja,<br />

porque lhe foi dada para o serviço da comunidade dos fiéis”, sublinhou D. António,<br />

na homilia durante a qual agradeceu ao padre Jorge “a colaboração d<strong>ed</strong>icada, leal e<br />

amiga no governo pastoral da <strong>Diocese</strong>”. Remetendo para o Evangelho do dia – “Eu<br />

sou a videira e vós os Meus ramos; como o Pai Me amou, também Eu vos amei;<br />

permanecei no Meu amor” – o prelado lembrou que “não existe Cristo sem nós e<br />

nós não existimos sem Cristo”, e salientou a importância da efeméride sacerdotal<br />

como “momento propício para ir de novo à raiz do compromisso assumido no dia da<br />

ordenação”. Essa relação de amor entre Deus que chama e o homem que responde<br />

“resulta em fonte de alegria, que vence o m<strong>ed</strong>o e as dificuldades e que é transformadora<br />

da vida, tornando-nos colaboradores da alegria de Deus para os nossos irmãos”,<br />

concluiu.<br />

Numa palavra final, o aniversariante exprimiu a sua gratidão a Deus pelo dom<br />

recebido e aos presentes pela demonstração de amizade. “Perante vós renovo o compromisso<br />

que assumi há 25 anos, com o mesmo lema que adoptei – «Tudo posso naquele<br />

que me dá força», afirmou, recordando os passos principais do seu percurso de<br />

vida sacerdotal, nas paróquias, no seminário, em experiências missionárias, na condução<br />

do Sínodo Diocesano e, nos últimos anos, como vigário-geral. “Sempre foi<br />

Cristo que me conduziu e nunca me senti só, pois muitas pessoas me acompanharam<br />

e ajudaram”, concluiu o padre Jorge, com o propósito de “continuar esta entrega,<br />

cada vez mais perfeita, a Deus e aos homens e mulheres com quem me cruzo”.<br />

No final, muitos dos presentes apresentaram os seus cumprimentos de amizade<br />

ao aniversariante, e seguiu-se um jantar de convívio, também no Seminário.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 95


. notícias .<br />

Padre Carlos Cabecinhas, Doutor em Liturgia<br />

No dia 8 de Maio, no Instituto de Liturgia do Ateneu de S. Anselmo, o padre Carlos<br />

Manuel P<strong>ed</strong>rosa Cabecinhas defendeu a sua tese de doutoramento: “A Ciência<br />

Litúrgica como disciplina universitária. Manuel de Azev<strong>ed</strong>o s.j. (1713-1796) e as<br />

primeiras cát<strong>ed</strong>ras de ciência litúrgica”. Obteve a classificação “summa cum laude<br />

probatus”.<br />

A tese trata das primeiras cát<strong>ed</strong>ras universitárias de Liturgia, que foram regidas e<br />

criadas por portugueses em Roma e em Coimbra, no século XVIII. O moderador foi<br />

o Doutor Ildebrando Scicolone o.s.b., professor do referido Instituto.<br />

O Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, D. António Marto, bem como o reitor do Seminário<br />

Maior de Coimbra e outros padres da <strong>Diocese</strong> deslocaram-se a Roma, para assistirem<br />

à defesa.<br />

Os membros do júri consideraram imprescindível a publicação deste trabalho,<br />

por se tratar de uma investigação inédita e de fundamental importância para a investigação<br />

posterior. Foram unânimes na afirmação de que a tese apresentada pelo<br />

novo Doutor se destaca significativamente do panorama geral das teses que anualmente<br />

são apresentadas nesta instituição académica e distinguiram o Doutor Carlos<br />

Cabecinhas como “um dos melhores alunos que já passaram por aquele instituto<br />

internacional”.<br />

Movimentos na vigília de Pentecostes<br />

“Os dons de Deus testemunham a ternura de Deus”. Com esta afirmação, a diocese<br />

de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> celebrou a vigília de Pentecostes, a 10 de Maio, com uma acção<br />

litúrgica presidida pelo seu Bispo, D. António Marto.<br />

Quatro dezenas de movimentos, associações, novas comunidades e outras obras<br />

apostólicas enchiam a Cat<strong>ed</strong>ral. Numa visão positiva e animadora, D. António Marto<br />

reconheceu que o Espírito Santo continua a surpreender-nos com os seus dons e<br />

a suscitar forças de renovação e de dinamismo evangelizador. Por isso, convidou<br />

todos a “saírem da caverna” dos seus m<strong>ed</strong>os, como o profeta Elias, para receberem<br />

a iluminação e consolação do Espírito de Deus e cooperarem com a sua acção, de<br />

modo a testemunharem a ternura de Deus aos homens e mulheres do nosso tempo.<br />

E exortou os diferentes movimentos e novas comunidades a darem as mãos, com<br />

verdadeiro sentido de Igreja, na comunhão e na missão que Cristo a todos confia.<br />

Preparada por representantes de muitos movimentos, associações e obras, a<br />

Vigília foi uma manifestação de unidade em torno do único Espírito, que distribui<br />

diversamente os seus carismas em proveito de todos sem excepção. Como frisou D.<br />

António, éramos como os Apóstolos reunidos no cenáculo; agora, em dia de Pentecostes,<br />

vivemos como eles a alegria do Espírito.<br />

96 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. notícias .<br />

Um dos momentos mais significativos foi a recepção do ícone da Virgem da<br />

Ternura que, colocado no centro de um enorme coração, foi sendo rodeado dos dons<br />

do Espírito Santo, trazidos pelos diversos movimentos como sinal dos seus carismas<br />

específicos. Sol, farol, poema de amor, Maria que se abriu totalmente ao Espírito<br />

divino, abraça a todos no seu carinho e ternura maternal.<br />

Os testemunhos de uma família de três filhos, de um jovem, de uma pessoa<br />

portadora de deficiência e de um ex-toxicodependente reforçaram ainda que todos,<br />

diferentes e únicos, são chamados a acolher o mesmo Amor de Deus.<br />

AMIGrante promoveu “Festa dos Povos”<br />

No dia 11 de Maio, Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes – <strong>Leiria</strong><br />

(Alto Comissariado para a Imigração) e a associação AMIGrante promoveram mais<br />

uma “Festa dos Povos”, encontro artístico e inter-cultural que anualmente anima a<br />

cidade. Segundo a organização, neste Ano Europeu do Diálogo Inter-cultural, o objectivo<br />

foi “promover a igualdade de oportunidades e comemorar a diferença, aquilo<br />

que nos torna verdadeiramente seres únicos, sem que, ao mesmo tempo, abdiquemos<br />

do repto de Fernando Pessoa: «Sê plural, como o universo»”.<br />

Pelas 15h00, no teatro Miguel Franco, Mercado de Sant’Ana, foi projectado o<br />

documentário “Djunta Mo” (juntar as mãos). De seguida, teve lugar um encontro<br />

inter-religioso, na igreja do Espírito Santo, sob o lema “Celebrar e facilitar a diversidade”.<br />

De regresso ao Mercado de Sant’Ana, o “Espectáculo InterCultural” trouxe<br />

cantares, danças, artesanato, artes plásticas, gastronomia, etc., de vários países.<br />

Vida Eclesial<br />

D. António representa CEP na Alemanha<br />

O “Katholikentag” (Assembleia dos Católicos) é uma espécie de grande congresso<br />

dos católicos alemães, que aborda temas de religião, teologia e espiritualidade,<br />

mas também questões sociais, éticas e políticas. O programa inclui mais de mil<br />

actividades: celebrações, colóquios, conferências, seminários, espectáculos, arte,<br />

oração, oficinas, concertos, m<strong>ed</strong>itação, exposições... Realiza-se de dois em dois<br />

anos e vai já na 97ª <strong>ed</strong>ição.<br />

Este ano, o Katholikentag realizou-se na cidade de Osnabrück, de 21 a 25 de<br />

Maio, e contou com mais de 20 mil participantes de todas as condições: eclesiásticos,<br />

leigos, representantes de movimentos e instituições católicas, bem da política e<br />

da soci<strong>ed</strong>ade. São também convidadas personalidades de outros países, como foi o<br />

caso do Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, D. António Marto, em representação da Conferência<br />

Episcopal Portuguesa.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 97


. notícias .<br />

<strong>Diocese</strong> celebra Corpo de Deus<br />

No dia 22 de Maio, celebrou-se a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, este<br />

ano enriquecida pela sintonia com a preparação do 49º Congresso Eucarístico Internacional<br />

sobre “Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo”.<br />

Em <strong>Leiria</strong>, as celebrações iniciaram-se com a Eucaristia, às 16h00, no jardim de<br />

Santo Agostinho, e prosseguiram com a solene procissão com o Santíssimo Sacramento<br />

para o adro da Sé.<br />

Na ausência do Bispo diocesano, a representar a Conferência Episcopal Portuguesa,<br />

na Alemanha, D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo emérito da <strong>Diocese</strong>, assumiu<br />

a presidência.<br />

Entre clero, religiosos e leigos, foi notória a participação de todas as paróquias<br />

que reuniram sobretudo ministros extraordinários da comunhão, acólitos, confrarias<br />

e irmandades do Santíssimo, e outros agentes pastorais mais activos. A vari<strong>ed</strong>ade<br />

soltava à vista no colorido das numerosas bandeiras. Como é tradição, quase todas<br />

as filarmónicas marcaram presença.<br />

Igreja ajuda a divulgar complemento solidário para idosos<br />

O Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> acolheu favoravelmente o p<strong>ed</strong>ido da Segurança Social<br />

de <strong>Leiria</strong> no sentido de a Igreja colaborar na divulgação do complemento solidário<br />

para idosos, com o qual o Estado Português ajuda, com uma prestação monetária e<br />

benefícios de saúde, as pessoas com mais de 65 anos, com reformas inferiores a 350<br />

euros e sem outros rendimentos.<br />

Com esta finalidade, o Director do Centro Distrital reuniu-se, no final de Junho,<br />

com os párocos e outras pessoas que prestam apoios sócio-caritativos nas paróquias,<br />

para programar acções de divulgação, com a deslocação de equipas da Segurança<br />

Social às várias paróquias, após as missas dominicais. Participaram nestas acções<br />

vários voluntários, nomeadamente membros das Conferências de São Vicente de<br />

Paulo e de outros serviços sociais paroquiais, bem como as Instituições Particulares<br />

de Solidari<strong>ed</strong>ade Social.<br />

98 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Falecimento<br />

Padre Manuel Pereira Júnior<br />

A 24 de Fevereiro, faleceu em sua<br />

casa, em <strong>Fátima</strong>, o Padre Manuel Pereira<br />

Júnior, de 79 anos, sacerdote da<br />

diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> que durante<br />

mais de quarenta anos serviu no Santuário<br />

de <strong>Fátima</strong> como capelão.<br />

Pertencia a uma família numerosa.<br />

Era filho de Manuel Pereira de Almeida<br />

e de Rosário de Jesus e nasceu em<br />

P<strong>ed</strong>erneira, <strong>Fátima</strong>, a 16.01.1929.<br />

Entrou para o Seminário de <strong>Leiria</strong><br />

em Outubro de 1942 e terminou<br />

o curso do Seminário, em Julho<br />

de 1953. Ordenado sacerdote em<br />

19.09.1953, um mês depois foi<br />

nomeado pároco de Carnide, onde<br />

se manteve até Junho de 1959, tendo sido obrigado a abandonar as responsabilidades<br />

paroquiais por motivos de saúde. Em Agosto de 1961, foi para<br />

o Santuário de <strong>Fátima</strong>, nomeado capelão e, mais tarde, também membro do<br />

Conselho de Administração. Manteve-se neste serviço do Santuário de Nossa<br />

Senhora até que doença o imp<strong>ed</strong>iu. Há poucos anos retirou-se para a sua casa,<br />

onde vivia com suas irmãs.<br />

Ao mesmo tempo que comunica a sua passagem deste sacerdote para a<br />

eternidade, a <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> agradece a Deus a vida, o exemplo,<br />

o testemunho de serenidade e confiança com que viveu o seu sofrimento, e o<br />

longo e zeloso ministério que desempenhou ao serviço da Igreja, a maior parte<br />

dos quais, em benefício dos peregrinos de <strong>Fátima</strong> e implora para ele a graça da<br />

comunhão plena com Deus, na eternidade. Aos familiares apresenta sentidas<br />

condolências e manifesta público reconhecimento e especial gratidão à irmã<br />

deste sacerdote que o acompanhou mais proximamente, assistindo-o de forma<br />

tão fiel, d<strong>ed</strong>icada e carinhosa durante a sua prolongada doença.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 99


Falecimento<br />

Padre Manuel António Henriques<br />

Faleceu, na madrugada do dia 4 de Março,<br />

no Hospital de Santo André, em <strong>Leiria</strong>, o<br />

Padre Manuel António Henriques, de 76 anos,<br />

sacerdote da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, que<br />

durante cinquenta anos foi pároco de <strong>Fátima</strong>,<br />

no concelho de Ourém. O seu corpo esteve<br />

em câmara ardente na igreja paroquial de<br />

<strong>Fátima</strong>, onde se celebraram as exéquias no<br />

dia seguinte, antes do seu funeral para o<br />

cemitério local.<br />

Pertencia a uma família de sete irmãos.<br />

Era filho de Maria Pereira e de Manuel António<br />

Henriques, nasceu em 07.10.1931, na<br />

Ladeira do Fárrio, na altura da freguesia da Freixianda. Entrou para o Seminário<br />

de <strong>Leiria</strong> em Outubro de 1943 e terminou o curso em Junho de 1954. Ordenado<br />

sacerdote em 11.07.1954, na basílica do Santuário de <strong>Fátima</strong>, começou o seu<br />

ministério como prefeito e professor do Seminário Diocesano, em <strong>Fátima</strong>. Em<br />

1.07.1957, assumiu a missão de pároco de <strong>Fátima</strong>, serviço que desempenhou até<br />

13 de Julho de 2007, data em que deixou tal tarefa por motivos de saúde. Em<br />

acumulação, foi ainda director do Colégio de São Miguel, em <strong>Fátima</strong>, de 1962 a<br />

1966, onde leccionou Religião, Português e Música, durante vários anos.<br />

Entre as características e méritos que revelou no seu ministério, destacam-se:<br />

o grande empenho na catequese, o cultivo da amizade e a grande capacidade para<br />

escutar a todos e acolher os migrantes que chegavam à paróquia. A sua devoção a<br />

Nossa Senhora e aos Pastorinhos era notável. Como obras mais marcantes da sua<br />

acção contam-se a reconstrução da igreja paroquial, a fundação de uma rádio e do<br />

Centro Paroquial, actual Centro Desportivo de <strong>Fátima</strong>. Foi o iniciador do Colégio<br />

de S. Miguel e incentivou muito a música na sua paróquia, especialmente entre os<br />

jovens, tendo mesmo criado um grupo musical.<br />

Ao mesmo tempo que comunica a sua passagem para a eternidade, a <strong>Diocese</strong><br />

de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> agradece a Deus a vida, o exemplo, a obra extraordinária e o<br />

testemunho de afabilidade, criatividade e zelo pastoral demonstrados pelo Padre<br />

Manuel Henriques ao serviço da Igreja na paróquia de <strong>Fátima</strong> e no Colégio de<br />

São Miguel. Implora para ele a graça da comunhão plena com Deus na eternidade.<br />

Aos familiares apresenta sentidas condolências e manifesta público reconhecimento<br />

e gratidão, particularmente à irmã e ao irmão que mais o acompanharam e<br />

ajudaram na vida, no ministério sacerdotal e, por último, na doença.<br />

100 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

Mensagens de agradecimento a Nossa Senhora<br />

Durante o ano de 2007, foram entregues ao Santuário de <strong>Fátima</strong> 210.133 mensagens<br />

d<strong>ed</strong>icadas a Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>. As mensagens chegam de diversas<br />

formas: via Internet, para o endereço de correio electrónico p<strong>ed</strong>idos@santuariofatima.pt,<br />

por correio, entregues nas recepções e outros locais de atendimento<br />

ao público do Santuário ou colocadas directamente na Capelinha das Aparições.<br />

Apenas as que são deixadas directamente na Capelinha não são lidas. As outras são<br />

entregues às religiosas responsáveis, que as levam até à Capelinha para que sejam<br />

colocadas junto da peanha onde está a imagem de Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>. Quando<br />

é solicitada ou quando se entende que a pessoa necessita de uma palavra é enviada<br />

uma mensagem resposta. Em termos de idiomas, a maioria das mensagens é escrita<br />

em Inglês, logo seguidas daquelas que são escritas em Português.<br />

Mais de 199 mil confissões em 2007<br />

<strong>Fátima</strong> é sempre mais procurada como lugar de encontro com a Misericórdia<br />

de Deus. “Sendo o tema do ano de 2007 «Deus é amor misericordioso», tivemos a<br />

oportunidade de constatar como a Mãe sabe orientar os Seus filhos para se encontrarem<br />

com a misericórdia de Deus no Sacramento da Reconciliação”, refere o padre<br />

Clemente Dotti, responsável por esta área do Santuário de <strong>Fátima</strong>.<br />

No ano de 2007, confessaram-se no Santuário de <strong>Fátima</strong> 199.333 pessoas, 9.016<br />

pessoas a mais do que no ano de 2006. Entre estas, 34.653 são de outras línguas,<br />

1.049 a mais do que no ano anterior. Os sacerdotes confessores, 190 ao longo do ano<br />

de 2007, desenvolveram um bom trabalho. Além de Portugal, vieram do Brasil, de<br />

Angola e de Moçambique, para a língua portuguesa; de Malta, Itália, Espanha e de<br />

outros países, para as restantes línguas.<br />

Vida Eclesial<br />

Abertura do processo de beatificação da Ir. Lúcia<br />

Foi recebido com alegria pelo Santuário o anúncio da abreviação do prazo para<br />

abertura do processo de beatificação da Irmã Lúcia, feito no início deste ano, no<br />

Convento de Santa Teresa, em Coimbra, pelo Cardeal D. José Saraiva Martins. Esta<br />

autorização especial conc<strong>ed</strong>ida pelo Papa Bento XVI “é mais um testemunho da profunda<br />

importância da Irmã Lúcia para a Igreja e para o mundo”, considerou o reitor do<br />

Santuário, monsenhor Luciano Guerra, adiantando que será também sinal de que “já<br />

houve testemunhas qualificadas que verificaram junto das entidades da Santa Sé acerca<br />

da devoção à Irmã Lúcia e do seu papel na difusão da mensagem de <strong>Fátima</strong>”.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 101


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

Igreja da Santíssima Trindade recebe Prémio Secil<br />

O Prémio Secil de Engenharia Civil 2007, promovido pela Secil – Companhia<br />

Geral de Cal e Cimento, SA e pela Ordem dos Engenheiros, foi atribuído à Igreja<br />

da Santíssima Trindade, em <strong>Fátima</strong>, com projecto de estrutura do Engenheiro José<br />

Fonseca da Mota Freitas, no âmbito da empresa de projectos ETEC Lda.<br />

II Encontro de Reitores de Santuários de Portugal<br />

Nos dias 14 e 15 de Janeiro de 2008 decorreu na Casa de Nossa Senhora do<br />

Carmo, no Santuário de <strong>Fátima</strong>, o II Encontro de Reitores de Santuários de Portugal.<br />

Participaram reitores ou responsáveis de 29 santuários de doze dioceses portuguesas,<br />

com o objectivo comum de reflectir sobre “a pastoral dos santuários em Portugal<br />

e a sua relação com a vivência da fé na Igreja”.<br />

Foram estas as principais conclusões:<br />

1 - A pastoral dos santuários tem uma importância cada vez maior na fé das pessoas<br />

e na vida da Igreja.<br />

2 – Com a criação de uma r<strong>ed</strong>e de santuários, os santuários de Portugal poderão<br />

servir melhor os fiéis e a própria Igreja:<br />

a) Em termos práticos, para a constituição desta r<strong>ed</strong>e, os reitores acordaram na<br />

criação da Associação de Santuários de Portugal, como entidade que estabelecerá laços<br />

de comunhão para uma pastoral em comum, que tenha em vista a reflexão sobre<br />

a evangelização e, também, sobre temas relacionados com os aspectos organizacionais<br />

e com os desafios que se colocam, no seu conjunto, aos santuários em Portugal.<br />

É propósito da Comissão criada para a constituição da Associação, estudar os Estatutos,<br />

a apresentar a todo o grupo de santuários, e o estabelecimento de contactos<br />

com os bispos das dioceses de Portugal e com a Conferência Episcopal Portuguesa,<br />

em ordem ao fortalecimento desta r<strong>ed</strong>e;<br />

b) Outro aspecto prático a desenvolver até ao próximo encontro é a criação da<br />

página oficial da Associação dos Santuários de Portugal na Internet, que se propõe<br />

ser um local privilegiado para os santuários portugueses se darem a conhecer. Nesta<br />

página, cada santuário, apresentará os principais aspectos que o identificam: localização,<br />

história e espiritualidade, fotografias e festas principais.<br />

3 – O III Encontro dos Santuários de Portugal ficou agendado para 12 e 13 de<br />

Janeiro de 2009, no Santuário de <strong>Fátima</strong>. De entre os vários propostos, os reitores<br />

escolheram “O Santuário como lugar de celebrações culturais”, como tema para o<br />

próximo encontro.<br />

102 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


VI Bênção do Ciclista<br />

. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

Numa organização da União de Ciclismo de <strong>Leiria</strong>, mais de cinco mil ciclistas,<br />

vindos um pouco de todo o Portugal Continental, peregrinaram a <strong>Fátima</strong>, a 27 de Janeiro<br />

de 2008, para a que foi a VI Bênção do Ciclista. Presidiu à celebração o Bispo<br />

Emérito de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, D. Serafim Ferreira e Silva, que saudando os presentes<br />

evidenciou o valor da modalidade desportiva, que permite o contacto com a natureza<br />

e também possibilita os momentos individuais de oração e de reflexão. No final da<br />

Eucaristia desta peregrinação, a que D. Serafim chamou também de “momento de<br />

compromisso e de promessa”, os ciclistas renovaram a consagração a Nossa Senhora<br />

de <strong>Fátima</strong>, e o mesmo prelado benzeu as bicicletas e sobretudo, como afirmou, as<br />

pessoas que as conduzem.<br />

Guias-intérpretes estudam os Jesuítas<br />

A 28 e 29 de Janeiro decorreu na Casa de Nossa Senhora do Carmo, no Santuário<br />

de <strong>Fátima</strong>, a 27ª <strong>ed</strong>ição do Encontro de Guias-Intérpretes, iniciativa de âmbito nacional<br />

e anual, organizada por uma comissão de guias e pelo Serviço de Peregrinos<br />

do Santuário.<br />

Teresa Torres, guia desde 1981, explica que o tema proposto, “Os Jesuítas”, vem<br />

ao encontro dos p<strong>ed</strong>idos feitos por colegas desde há muitos anos, “sendo muito importante<br />

no discurso de um guia, onde quer que ele se encontre em Portugal, e muito<br />

rico, polémico e interessante”. Os guias tinham já abordado em anos anteriores os<br />

Carmelitas, os Dominicanos e os Agostinhos. Este ano juntaram o 150º aniversário<br />

das aparições de Lurdes, Santo Inácio de Loyola e São Francisco Javier, como referências.<br />

O encontro reuniu uma centena de pessoas, o que, segundo a organização, justifica<br />

a continuidade da iniciativa. Teresa Torres sublinha, para além do trabalho efectuado,<br />

a amizade que se gera: “É uma ocasião de belos momentos de enriquecimento<br />

cultural, pessoal, profissional e espiritual, que favorece o convívio entre profissionais<br />

que, devido à natureza da sua profissão, raramente se encontram”.<br />

Vida Eclesial<br />

Encontro de Hoteleiros e Responsáveis de Casas Religiosas<br />

Conhecimento mútuo e aprofundamento de laços de amizade é o mote da realização<br />

anual do Encontro de Hoteleiros e Responsáveis de Casas Religiosas que<br />

acolhem peregrinos, uma organização do Santuário de <strong>Fátima</strong>, através do Serviço de<br />

Peregrinos, que tem contado com grande interesse e participação de todos.<br />

O encontro deste ano, na 30ª <strong>ed</strong>ição, realizou-se a 7 de Fevereiro, com a Eucaristia,<br />

na Capelinha das Aparições, e uma sessão de trabalho, na Casa de Nossa Se-<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 103


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

nhora das Dores, com a participação do reitor do Santuário, do presidente da Câmara<br />

Municipal de Ourém, do presidente da Junta de Freguesia de <strong>Fátima</strong>, do presidente<br />

da Soci<strong>ed</strong>ade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria, e do presidente da Região de<br />

Turismo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. No final, o momento de confraternização teve lugar em<br />

Boleiros, com um jantar oferecido pelo Complexo Turístico D. Nuno.<br />

Livro de “M<strong>ed</strong>itações do Ano da Misericórdia”<br />

De Outubro de 2006 a Outubro de 2007, viveu-se em <strong>Fátima</strong> o “Ano da Misericórdia<br />

do Senhor”, que deu enquadramento à preparação e celebração do 90º<br />

aniversário das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria. Nas palavras do Bispo<br />

da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, foi um ano em que se procurou “r<strong>ed</strong>escobrir a beleza e<br />

a profundidade da Misericórdia Divina”<br />

O livro “Graça e Misericórdia”, <strong>ed</strong>itado pelo Santuário de <strong>Fátima</strong> em Março de<br />

2008, perpetuará alguns dos muitos momentos de oração e de reflexão que tiveram<br />

lugar neste período. A publicação é enriquecida com outros textos, nomeadamente<br />

com as palavras que o Papa Bento XVI dirigiu aos peregrinos e ao Santuário de<br />

<strong>Fátima</strong> em datas mais significativas e por ocasião da nomeação dos seus Legados<br />

às celebrações de Maio e de Outubro de 2007. “O livro, recolhendo as m<strong>ed</strong>itações<br />

e as homilias dos presidentes das vigílias e das Peregrinações Aniversárias do Ano<br />

da Misericórdia do Senhor, oferece excelentes oportunidades para, no dizer da Irmã<br />

Lúcia, «saborear os segr<strong>ed</strong>os do amor de Deus» e «cantar as grandezas da sua misericórdia»”,<br />

explica o padre Armindo Janeiro, coordenador da <strong>ed</strong>ição.<br />

A propósito do título, D. António Marto recorda que “«Graça e Misericórdia» –<br />

as duas grandes palavras que Lúcia leu como comentário à visão da Trindade, podem<br />

bem sintetizar toda a Mensagem de <strong>Fátima</strong> como manifestação do Deus compassivo<br />

que se inclina sobre o mundo do século XX, então mergulhado no ódio e na guerra,<br />

e sobre o sofrimento humano de milhões de pessoas para lhes fazer sentir o poder da<br />

Sua misericórdia”. O prelado salienta ainda, no prefácio, que “a mensagem da Misericórdia<br />

Divina, de que Maria se fez mensageira em <strong>Fátima</strong>, foi um apoio especial<br />

e fonte de fortaleza e esperança para a Igreja e para o mundo face aos dramas e às<br />

tragédias do século XX. Esta mensagem é hoje mais necessária que nunca como nos<br />

confirmam os acontecimentos mundiais de cada dia. Ela promove a paz no mundo,<br />

entre os povos e entre as religiões”.<br />

Padre Virgílio Antunes será o novo reitor<br />

Terminado o mandato do actual reitor, monsenhor Luciano Guerra, o Bispo de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, D. António Marto, apresentou ao Conselho Nacional do Santuário de<br />

<strong>Fátima</strong> o nome do padre Virgílio do Nascimento Antunes para assumir esta função,<br />

104 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

cuja indigitação foi aprovada pela Assembleia Plenária da Conferência Episcopal<br />

Portuguesa, em Abril deste ano. O novo reitor tomará posse no início do próximo<br />

ano pastoral, para um mandato de cinco anos.<br />

Virgílio Antunes, de 46 anos de idade, é natural de São Mam<strong>ed</strong>e, paróquia da<br />

Batalha, e presbítero da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. Frequentou o Seminário Menor<br />

de <strong>Leiria</strong> e fez o Curso Filosófico-Teológico no Instituto Superior de Estudos Teológicos<br />

de Coimbra.<br />

Após ter completado os estudos, fez estágio pastoral nas paróquias de Marinha<br />

Grande e Milagres, em 1984 e 1985. Durante este tempo leccionou a disciplina de<br />

Educação Moral e Religiosa Católica na Escola Preparatória da Marinha Grande.<br />

Depois da ordenação sacerdotal, em 1985, prestou serviço pastoral nas paróquias<br />

da Barreira e Cortes, até 1992.<br />

De 1985 a 1992 foi formador no Seminário Diocesano de <strong>Leiria</strong>, membro do Secretariado<br />

Diocesano da Pastoral Vocacional e director do Pré-Seminário, tendo sido<br />

o responsável pela sua instituição e estruturação inicial, em 1988. Durante estes anos<br />

leccionou no ensino secundário as disciplinas de Religião, Português e História.<br />

De 1992 a 1996 realizou estudos de especialização em ciências bíblicas, no<br />

Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica de Jerusalém, e obteve o mestrado e<br />

licenciatura canónica em Exegese Bíblica. A sua investigação de especialização foi<br />

sobre o Evangelho de São Lucas.<br />

Regressado à diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, em 1996, foi nomeado reitor do Seminário<br />

Diocesano de <strong>Leiria</strong>, funções que desempenhou até 2005. Durante estes anos<br />

implementou e desenvolveu o “Ano Prop<strong>ed</strong>êutico” para candidatos ao sacerdócio<br />

de diversas dioceses do País e assumiu diversas tarefas no campo da formação de<br />

seminaristas em várias dioceses, através de cursos, conferências e retiros.<br />

Entre 1985 e 1992, escreveu para o Diário de <strong>Leiria</strong>, durante 70 <strong>ed</strong>ições, uma<br />

coluna semanal sobre a Palavra de Deus. No jornal A Voz do Domingo escreveu<br />

durante 30 <strong>ed</strong>ições um artigo sobre temática vocacional. De 2000 a 2005 foi director<br />

do jornal semanário O Mensageiro, onde publicava semanalmente a coluna <strong>ed</strong>itorial.<br />

Desde que se encontra ao serviço do Santuário de <strong>Fátima</strong>, tem colaborado regularmente<br />

no seu órgão oficial, A Voz da <strong>Fátima</strong>.<br />

Ao longo dos anos do seu ministério sacerdotal acompanhou continuamente equipas<br />

de casais, integrou o Conselho Pastoral Diocesano, o Conselho Económico, a Comissão<br />

para a Formação Permanente do Clero e foi secretário do Conselho Presbiteral.<br />

No campo académico, tem exercido funções docentes na área da teologia bíblica,<br />

da língua grega e da língua e cultura hebraicas. É docente, desde 1996, no Instituto<br />

Superior de Estudos Teológicos de Coimbra, onde integra a direcção. Exerce ainda<br />

funções de docência no Centro de Formação e Cultura de <strong>Leiria</strong>, no Seminário<br />

Diocesano de <strong>Leiria</strong> e, ocasionalmente, na Universidade Católica Portuguesa. Tem<br />

proferido diversas conferências na área da sua especialidade em cursos, seminários<br />

e jornadas.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 105


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .<br />

Colaborou na nova <strong>ed</strong>ição da Bíblia dos Capuchinhos, traduzindo do original<br />

grego e comentando a Carta aos Hebreus. Publicou alguns artigos de especialidade:<br />

“Jesus e o dom do Espírito” (Communio), “A Criação na Bíblia” (Dabar), “O Inferno<br />

na Mensagem de <strong>Fátima</strong>” (Publicações do CFC), “Seminário, casa e escola de<br />

comunhão” (Actas do Simpósio do Clero). Nos últimos anos tem elaborado os temas<br />

de estudo para o Boletim da Mensagem de <strong>Fátima</strong>.<br />

Actualmente, é docente universitário, Juiz do Tribunal Eclesiástico, desde o ano<br />

2000, delegado episcopal para o Diaconado Permanente, desde 2005, membro do<br />

Colégio de Consultores e Capelão no Santuário de <strong>Fátima</strong>, onde desempenha as funções<br />

de director do Serviço de Peregrinos e do Serviço de Alojamentos, e membro<br />

do Serviço de Ambiente e Construções, membro do Conselho de Administração e<br />

membro do Conselho de Gestão Financeira.<br />

“Via Lucis” na igreja da Santíssima Trindade<br />

No dia 2 de Junho foi inaugurada na zona da Reconciliação da igreja da Santíssima<br />

Trindade, em <strong>Fátima</strong>, uma “Via Lucis” (Caminho da Luz), composta por 14 quadros<br />

que representam o mistério do Ressuscitado, desde o momento da Ressurreição<br />

até ao envio dos discípulos e vinda do Espírito Santo.<br />

A obra foi oferecida pelo grupo católico de leigos de Itália, “Testemunhas do<br />

Ressuscitado”, e é da autoria do artista italiano, Vanni Rinaldi. Nascido em Soverato,<br />

no ano de 1937, este pintor, incisor, desenhador e ilustrador vive e trabalha em<br />

Roma, desde 1950, onde iniciou a sua carreira, em 1968, na “Biennale d’Arte”.<br />

A celebração teve início na basílica do Santuário de <strong>Fátima</strong>, com a Eucaristia<br />

presidida por D. António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, que apresentou a ressurreição<br />

de Jesus como “uma novidade humanamente impossível e a grande alegria do<br />

Evangelho, que veio mudar para sempre a humanidade, pois a partir dela é um novo<br />

tempo que começa para os homens”.<br />

106 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

Centro de Apoio ao Ensino Superior<br />

Peregrinação a Taizé: Voltaram felizes…<br />

Regressaram ao final da manhã de 24 de Março, segunda-feira de Páscoa, os 44<br />

participantes na Peregrinação a Taizé, organizada pelo Centro de Apoio ao Ensino<br />

Superior (CAES) e apoiada pela Pastoral Juvenil da <strong>Diocese</strong>. Tinham partido no sábado,<br />

15 de Março, depois da celebração de envio na igreja do Seminário de <strong>Leiria</strong>, e<br />

chegado a Taizé ao final da manhã de Domingo de Ramos, exaustos, mas carregados<br />

de expectativas: cerca de metade do grupo participava pela primeira vez.<br />

A vivência da semana foi ritmada pelos momentos fortes de oração (manhã, meio<br />

dia e noite), pela reflexão e partilha em grupo e pelo trabalho, pois todas as tarefas<br />

ligadas à gestão da vida comunitária, da preparação das refeições à limpeza e manutenção<br />

dos espaços, são garantidas pelo serviço voluntário dos participantes.<br />

No regresso, para lá do cansaço, fica a alegria que todos puderam experimentar<br />

ao longo da semana, a riqueza da vivência da fé junto a jovens de outras confissões<br />

e culturas, e as dinâmicas de oração e reflexão comunitária e pessoal.<br />

Vida Eclesial<br />

Bênção dos finalistas de 2008<br />

O aumento do número de finalistas nas Escolas Superiores de <strong>Leiria</strong>, decorrente<br />

da aplicação do processo de Bolonha, obrigou a organização a pensar em duas celebrações:<br />

a 17 de Março para a Escola Superior de Artes e Design, Escola Superior<br />

de Educação e Instituto Superior de Línguas e Administração; a 31 de Março para a<br />

Escola Superior de Saúde e Escola Superior de Tecnologia e Gestão.<br />

O espaço da Sé encheu-se pelas duas vezes com largas centenas de estudantes e<br />

seus familiares e amigos.<br />

D. António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, invocou a bênção de Deus para todos<br />

na esperança de virem a concretizar na vida pessoal e ao serviço da soci<strong>ed</strong>ade o que<br />

foram preparando durante a vida académica.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 107


. serviços e movimentos .<br />

Centro de Formação e cultura<br />

Início do segundo semestre<br />

No dia 11 de Fevereiro iniciou-se o 2º semestre no Centro de Formação e Cultura<br />

da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, com os novos cursos:<br />

No Seminário de <strong>Leiria</strong>, às segundas-feiras, das 19h00 às 21h00: Dom e Mistério.<br />

Itinerário para aprofundar a vocação e as vocações – Dr. Luís Miranda; 21h00 às<br />

23h00: Encontros com o P. António Vieira – Dra. Maria Augusta Mac<strong>ed</strong>o. Quartasfeiras<br />

das 21h00 às 23h00: Introdução à Ética Teológica com Doutor Vítor Coutinho.<br />

Quintas-feiras: das 21h00 às 23h00: Teologia Pastoral – Dr. Adelino Guarda<br />

Na paróquia de Ourém (Nª. Sr.ª da Pi<strong>ed</strong>ade), às segundas-feiras das 21h00 às<br />

23h00: O agir moral cristão - Doutor Vítor Coutinho.<br />

No Centro Paroquial da Marinha Grande às sextas-feiras das 21h00 às23h00:<br />

Nascer. Viver. Morrer... Introdução à Bioética - Doutor Vítor Coutinho.<br />

Escola Diocesana Razões da Esperança<br />

Recomeçou no dia 12 de Fevereiro o percurso académico da Escola Diocesana<br />

Razões da Esperança, com as disciplinas “Perspectivas do Novo Testamento” e<br />

“Deus e o Homem”, ministradas das 21h00 às 21h50. Das 22h00 às 23h00, funcionarão<br />

os grupos em separado, assim distribuídos: Curso Geral de Catequese, Curso<br />

de Iniciação, Curso de Coordenadores, Os ministérios na liturgia, A Palavra e o Tempo<br />

– Lectio divina do Evangelho do Domingo, Grupo do CNE, Grupo Missionário<br />

Ondjoyetu e Linguagens da Esperança – Leituras da Spes Salvi.<br />

108 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Semana Nacional da Cáritas<br />

Solidari<strong>ed</strong>ade na primeira linha<br />

Por Ambrósio Santos<br />

. serviços e movimentos .<br />

Pode sempre questionar-se o alcance prático de um dia ou semana de uma qualquer<br />

causa, sabendo-se que muitos destes dias são de im<strong>ed</strong>iato submergidos uns<br />

pelos outros, não escapando, na maior parte, a uma indiferença comum. O facto de<br />

não ser mensurável o que fica, não diminui a importância de, ao menos uma vez em<br />

cada ano, levar ao espaço público a proposta de um humanismo novo, alicerçado na<br />

justiça e na solidari<strong>ed</strong>ade, capaz de interpelar consciências, desafiar indiferenças e<br />

suscitar comportamentos e práticas que exprimam o reconhecimento da igual dignidade<br />

de todos os seres humanos.<br />

Parecem princípios e valores teóricos; mas ganham gritante visibilidade nos rostos<br />

de centenas de milhões de homens e mulheres, em todo o mundo e também ao<br />

pé de nós, se nos dispusermos a alargar o olhar para lá da estreiteza dos interesses<br />

e horizontes pessoais. Acentuam-se as desigualdades, acumulam-se nas mãos de<br />

poucos a riqueza produzida e continua a reproduzir-se sem descontinuidade uma<br />

pobreza endémica, com as maiores vítimas entre as pessoas idosas, as crianças sem<br />

futuro, os desempregados, os imigrantes explorados, as pessoas afectadas por desequilíbrios<br />

do foro psíquico, as famílias monoparentais, quantos e quantas a subsistir<br />

em condições de extrema precari<strong>ed</strong>ade.<br />

Não custa reconhecer que os sucessivos dias da Cáritas contribuem também,<br />

à sua m<strong>ed</strong>ida, para o desenvolvimento da consciência individual e colectiva destes<br />

problemas, e despertam para a solicitude activa, para com este cada vez mais<br />

alongado cortejo de empobrecidos e marginalizados. Estimulam para sentimentos<br />

e práticas de humanização solidária e fazem muitas pessoas abrirem-se em gestos<br />

de entreajuda, e reconhecerem-se também, individualmente ou em associação com<br />

outros, como parte da solução dos problemas.<br />

As acções que a Cáritas preparou, entre 16 e 24 do mês de Fevereiro, respondem<br />

a necessidades concretas, seja das famílias, dos cidadãos em geral ou das pessoas<br />

mais fragilizadas; mas também propõem a todos o descentramento dos interesses<br />

pessoais, convidando a abrir o coração e o olhar às necessidades de outros.<br />

A Cáritas não se assume como central de distribuição de bens materiais nem<br />

como solução para todos os problemas humanos. Mas também não pode entender-se<br />

apenas como gabinete de estudos, para elaboração de estatísticas ou diagnósticos,<br />

e levantamento de necessidades, por importantes que sejam. Porque os pobres têm<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 109


. serviços e movimentos .<br />

rosto e nome e são concretas as suas necessidades, não pode refugiar-se em idealismos<br />

estéreis ou em retórica inútil e vazia.<br />

Para se organizar, para promover e ser escola de valores, para realizar gestos<br />

concretos de ajuda nas necessidades maiores, a Cáritas não pode deixar de dispor de<br />

alguns bens materiais. É espaço de gratuidade voluntária, não pesando um cêntimo<br />

ao orçamento público. Por isso, todos os anos, por esta ocasião, leva às cidades, vilas<br />

e aldeias da diocese, o chamado “p<strong>ed</strong>itório público”, como proposta de partilha do<br />

que sobra ou porventura faz falta, para que a outros não falte tanto. E agradece a<br />

participação de todos e de cada um, bem como o acolhimento alegre e compreensivo<br />

com que vão continuar a ser recebidos os seus colaboradores/as. Diferentes na capacidade<br />

de repartir, sejamos iguais no mesmo afecto do coração.<br />

A partilha de bens constitui um exercício de cidadania activa de quem livremente<br />

se assume solidário com todos os membros da família humana. E para os discípulos<br />

de Jesus, como para todas as pessoas de boa vontade, constitui também uma fonte<br />

de bem-estar interior, como salienta Bento XVI na mensagem para esta Quaresma:<br />

“todas as vezes que, por amor de Deus, partilhamos os nossos bens com o próximo<br />

necessitado, experimentamos que a plenitude da vida provém do amor, e tudo nos<br />

retorna como bênção, sob a forma de paz, satisfação interior e alegria.<br />

No programa deste ano, realizou-se, no dia 16, no auditório do Instituto Português<br />

da Juventude, em <strong>Leiria</strong>, uma jornada de formação para cuidadores de doentes de<br />

Alzheimer. Com cerca de 200 participantes, visou proporcionar o desenvolvimento de<br />

competências dos cuidadores (nas famílias ou em instituições), por forma a conseguir<br />

que o façam com o máximo de eficácia para o bem estar dos doentes, e com o mínimo<br />

de desgaste para si próprios. No dia 17, o Dr. Luciano Guerra, reitor do Santuário de<br />

<strong>Fátima</strong>, proferiu uma conferência sobre o tema “Aceitar as diferenças – desafios da<br />

liberdade”. A conferência foi apresentada no XI Encontro Anual de colaboradores da<br />

Cáritas, no salão do Centro Paroquial Paulo VI, em <strong>Leiria</strong>, e destinou-se aos grupos paroquiais,<br />

voluntários e colaboradores da Cáritas, bem como às pessoas que desejaram<br />

melhorar o seu conhecimento e formação. E no dia 19 de Fevereiro, nos Bombeiros<br />

Municipais de <strong>Leiria</strong>, efectuou-se uma sessão de recolha de sangue.<br />

O p<strong>ed</strong>itório público decorreu de 21 a 24 de Fevereiro, nas ruas e nas superfícies<br />

comerciais. No dia 24 de Fevereiro, as comunidades cristãs da diocese destinaram<br />

à Caritas as ofertas dos fiéis durante as celebrações da missa dominical. Na cidade<br />

de <strong>Leiria</strong>, uma parte substancial destas ofertas foi endereçada ao Centro de Acolhimento<br />

de <strong>Leiria</strong>.<br />

Colégio de Monte R<strong>ed</strong>ondo ajuda Cáritas<br />

“Quando, por amor, se reparte com os necessitados, tudo nos retorna sob a forma<br />

de bênção, de satisfação interior, de alegria e de paz”. Esta frase da mensagem<br />

de Bento XVI para a Quaresma constitui uma versão erudita da expressão popular<br />

110 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

“quando se dá com uma mão, recebe-se com as duas”.<br />

Era legítima a satisfação do grupo de professores e estudantes do Colégio Dr.<br />

Luís Pereira da Costa, de Monte R<strong>ed</strong>ondo que, no dia 13 de Março, em representação<br />

de toda a comunidade <strong>ed</strong>ucativa, se deslocaram à s<strong>ed</strong>e da Cáritas, em <strong>Leiria</strong>.<br />

Na bagagem traziam a expressão de uma campanha de solidari<strong>ed</strong>ade desenvolvida<br />

naquele Colégio, um lote de equipamentos reveladores da apurada sensibilidade<br />

social que presidiu à sua selecção e cuja originalidade e oportunidade o presidente<br />

da Cáritas não deixou de salientar: as duas camas articuladas e a cadeira de rodas<br />

respondem a necessidades muito concretas dos actuais condicionalismos sociais e<br />

demográficos, acrescentando capacidade de resposta a tantas famílias que solicitam<br />

ajuda nesta área.<br />

Ambrósio Santos teve ainda palavras de agradecimento para toda a comunidade<br />

<strong>ed</strong>ucativa daquela escola, a quem felicitou também pela criteriosa orientação que<br />

imprimiu à campanha: “Embora devam ser sempre apreciadas as iniciativas que visem<br />

dinamizar as comunidades para a solidari<strong>ed</strong>ade para com os mais necessitados,<br />

é preciso fazê-lo também com racionalidade e inteligência, como foi o caso, para que<br />

os bens recolhidos correspondam às necessidades mais sentidas, numa soci<strong>ed</strong>ade em<br />

mudança permanente.”<br />

Como em tudo na vida, muitas vezes não chega a boa vontade. A solidari<strong>ed</strong>ade e<br />

a ajuda necessitam também de organização e acção esclarecida porque o bem também<br />

precisa de ser bem feito. Foi assim em Monte R<strong>ed</strong>ondo, com os mais novos.<br />

Estão de parabéns professores, estudantes, auxiliares e pais. Boas férias e uma santa<br />

Páscoa para todos.<br />

Vida Eclesial<br />

“Deus Caritas Est” em análise na vigararia da Batalha<br />

Cerca de quarenta pessoas da Vigaria da Batalha juntaram-se aos seus párocos, no<br />

salão paroquial do Juncal, nos dias 17 e 18 de Abril, para uma reflexão sobre a preciosa<br />

encíclica com que Bento XVI quis iniciar o seu pontificado: “Deus Caritas Est”.<br />

Numa organização conjunta daquela vigararia e da Cáritas Diocesana de <strong>Leiria</strong>, os<br />

dois encontros foram orientados por Carlos Neves, da Cáritas de Coimbra. A preparação<br />

humana e teológica do apresentador, a experiência pastoral de contacto diário com<br />

os grupos sócio-caritativos da sua diocese, aliados a uma capacidade de comunicação<br />

invulgar, abriram os participantes para a descoberta de um documento extraordinário<br />

que, não sendo fácil de digerir na sua profundidade, constitui uma enorme interpelação<br />

a toda a Igreja e merece uma atenção que ainda não encontrou.<br />

No final, os participantes exprimiram satisfação e os párocos destacaram a<br />

oportunidade da iniciativa e sugeriram a sua continuidade com aprofundamento de<br />

matérias que, de outro modo, ficarão esquecidas ou nunca chegarão a ser conhecidas<br />

e exploradas.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 111


. serviços e movimentos .<br />

Serviço Pastoral das Prisões<br />

Nas prisões… “A Caminho de Emaús”<br />

No domingo, 30 de Março de 2008, nos Estabelecimentos Prisionais de <strong>Leiria</strong>,<br />

celebrou-se a Festa da Páscoa que, além dos reclusos e seu Capelão, envolveu vários<br />

grupos de jovens e os visitadores, “Os Samaritanos”.<br />

De manhã, no Estabelecimento Prisional de <strong>Leiria</strong>, alguns reclusos participaram<br />

na Eucaristia presidida pelo Capelão e animada pelos Jovens das Colmeias.<br />

No final da celebração, Joaquim Carrasqueiro de Sousa, presidente da direcção<br />

de “Os Samaritanos”, orientou os vários grupos que iriam visitar os reclusos nos<br />

pavilhões: Grupo de Jovens das Colmeias, Grupo da JUFRA Franciscana de <strong>Leiria</strong>,<br />

Grupo Missionário Ondjoyetu, e Escuteiros da Marinha Grande, Maceira, Pataias,<br />

<strong>Fátima</strong> e Pousos.<br />

Após a saudação, uma explicação e alguns cânticos, a desconfiança desfazia-se<br />

e o responsável propunha um jogo: depois da leitura do episódio dos Discípulos de<br />

Emaús (Lc 24, 13-35), cada equipa responderia a cinco questões, com palavras, mímica<br />

e desenho. Uma resposta certa permitia avançar uma casa no tabuleiro colocado<br />

em cima da mesa, até chegar à meta. O prémio, mesmo que aplaudido, ficou para<br />

segundo plano e sobressaía a alegre surpresa dos discípulos que, na manhã de Páscoa,<br />

identificaram o Senhor ressuscitado. Como se afirmava num postal em banda<br />

desenhada, a mesma alegria estende-se a quantos acr<strong>ed</strong>itam. Por isso, as tradicionais<br />

amêndoas tiveram o sabor de jubiloso brinde.<br />

Depois da desp<strong>ed</strong>ida aos reclusos, os grupos não debandaram sem antes proc<strong>ed</strong>erem<br />

uma breve avaliação que se soldou pela grande satisfação dos sorrisos obtidos.<br />

De tarde, a mesma dinâmica iria repetir-se no Estabelecimento Prisional e Regional<br />

de <strong>Leiria</strong>, primeiro na zona feminina, e depois na masculina.<br />

Os voluntários sentiram, mais uma vez, que o amor vence todos os receios e que<br />

o Espírito do Senhor não cessa de impelir à partilha da alegre descoberta dos discípulos:<br />

“Ele ressuscitou verdadeiramente!”<br />

112 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

Comissão Diocesana Justiça e Paz - Ciclo de Colóquios<br />

“Direitos Humanos e Realidades Actuais”<br />

A Comissão Diocesana Justiça e Paz (CDJP) da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> iniciou em<br />

Janeiro de 2008 um ciclo de colóquios sobre o tema dos direitos fundamentais, em várias<br />

vertentes da soci<strong>ed</strong>ade portuguesa – e particularmente da nossa diocese –, detectando os<br />

seus principais problemas e ponderando soluções, à luz da Constituição de República, da<br />

Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Doutrina Social da Igreja.<br />

Os colóquios serão organizados ao longo de dois anos, contando com a colaboração<br />

de especialistas nos diversos domínios, nos planos nacional e local. Segundo<br />

Tomás Oliveira Dias, da CDJP, “a Constituição proclama na sua Parte I uma extensa<br />

enumeração dos direitos e deveres fundamentais e interessa averiguar, no essencial,<br />

em que m<strong>ed</strong>ida estão a ser respeitados; por sua vez, a Constituição remete expressamente<br />

para a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que defende a dignidade<br />

da pessoa humana em todos os aspectos e que, assim, há que ter também em conta;<br />

finalmente, a Doutrina Social da Igreja, sobretudo nas encíclicas dos últimos papas<br />

e nos diversos documentos do Concílio Vaticano II, tem tomado posições claras em<br />

matéria dos direitos humanos, denunciando situações atentatórias e chamando a<br />

atenção para a complementaridade dos direitos e deveres, constituindo um imenso<br />

repositório de estudos envolvendo o apontar de soluções para a problemática social<br />

do nosso tempo, que interessa ter presente”.<br />

Não ignorando a vastidão do tema dos direitos humanos, propuseram-se alguns<br />

que ajudassem a chamar a atenção dos cristãos – particularmente dos empenhados<br />

em temas de carácter social – e de todos os que estejam abertos ao aprofundamento<br />

das questões sociais em foco na soci<strong>ed</strong>ade portuguesa, para as seguintes questões:<br />

Pobreza e Direitos Humanos; Desemprego e Direito ao Trabalho; Solidari<strong>ed</strong>ade e<br />

Segurança Social; Direito à protecção e Saúde; Direito à Habitação, Ambiente e Qualidade<br />

de Vida; Estado e Direitos da Família; Direito à Educação, Cultura e Ciência;<br />

Liberdade Religiosa.<br />

Vida Eclesial<br />

1º colóquio<br />

O primeiro colóquio, com o tema “Direitos Humanos e Doutrina Social da Igreja”,<br />

realizou-se no dia 17 de Janeiro, no Seminário de <strong>Leiria</strong>, e teve como convidado<br />

o professor Marcelo Rebelo de Sousa.<br />

O orador elogiou o esforço diplomático da Igreja Católica na defesa dos direitos<br />

humanos e destacou também a atenção da hierarquia e de Bento XVI às mudanças<br />

sociais em Portugal. Lembrando o trabalho dos últimos Papas nas Nações Unidas,<br />

“envolvidos em todas as questões diplomáticas sensíveis”, recordou a posição da<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 113


. serviços e movimentos .<br />

Santa Sé no apoio à solução de problemas mundiais como os que atingem a África,<br />

o Médio Oriente, a Palestina ou a América Latina, muitas vezes em oposição aos<br />

Estados Unidos e os próprios países europeus, e destacou o papel da Doutrina Social<br />

da Igreja. No seu entender, a doutrina da Igreja choca as pessoas por falar do respeito<br />

dos direitos humanos não apenas na letra mas também no espírito e apostar em<br />

mudanças sociais a longo prazo. Lamentando a excessiva laicização da soci<strong>ed</strong>ade,<br />

que “prejudica a afirmação da liberdade religiosa de cada indivíduo na soci<strong>ed</strong>ade”,<br />

defendeu que “todo o cristão tem o direito de denunciar o que considera negativo<br />

na soci<strong>ed</strong>ade, mesmo que existam ‘modismos’ na soci<strong>ed</strong>ade ateia e na comunicação<br />

social, marcados pelo amoralismo e relativismo dos valores”.<br />

2º colóquio<br />

Realizado no dia 17 de Abril, sobre “Quem são os pobres hoje”, o segundo colóquio<br />

teve como convidados a Dra. Mavíldia Frazão, assistente social, e o Prof.<br />

Carlos Farinha Rodrigues, reconhecido especialista em matérias económicas e sociais,<br />

com referência especial ao problema da pobreza. A Dra. Mavíldia referiu-se à<br />

situação social da área da diocese, em termos de pobreza, enquanto o Prof. Carlos<br />

Farinha salientou, num conspecto nacional, que “um dos principais motores de desigualdade<br />

em Portugal continua a ser a desigualdade salarial”, não deixando, por<br />

isso, de denunciar o desmesurado aumento dos salários mais elevados que se tem<br />

verificado. Autor de diversos estudos publicados sobre a matéria, apontou ainda que<br />

“há uma forte discriminação a nível salarial devido ao nível <strong>ed</strong>ucacional”. E acrescentou<br />

que “Portugal só conseguirá r<strong>ed</strong>uzir a desigualdade e a pobreza, apostando<br />

fortemente na <strong>ed</strong>ucação”.<br />

3º colóquio<br />

O 3º colóquio deste ciclo, a 20 de Junho, versou sobre “Desemprego e Direito ao<br />

Trabalho”, assunto actual e candente na soci<strong>ed</strong>ade portuguesa, que toca a todos, trabalhadores,<br />

patrões e simples cidadãos. Apesar de uma pequena r<strong>ed</strong>ução, o desemprego<br />

mantém-se muito alto, atingindo mais de 400.000 portugueses, e torna-se dramático<br />

por ser para muitos igual a pobreza tanto do trabalhador como da sua família.<br />

A Doutrina Social da Igreja tem-se debruçado largamente sobre a matéria e classifica<br />

o desemprego como uma “verdadeira calamidade social”. A Constituição da<br />

República Portuguesa proclama a segurança no emprego, proíbe os desp<strong>ed</strong>imentos<br />

sem justa causa e afirma o direito de todos ao trabalho. Não obstante, o trabalho<br />

precário generaliza-se e adensam-se as preocupações sobre uma maior facilidade de<br />

desp<strong>ed</strong>imentos no novo Código do Trabalho.<br />

Para a explanação desta temática e tendo também em conta a situação na nossa<br />

região, e em particular da nossa diocese, foram convidados dois reputados especialistas:<br />

Dr. Acácio Catarino, sociólogo e especialista em matéria de emprego e<br />

formação profissional, que foi Secretário de Estado da População e Emprego e con-<br />

114 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

sultor do Presidente da República. Eduardo Silva, presidente da Junta da Freguesia<br />

de Gaeiras e membro da Assembleia Municipal de Óbidos, que foi Director de vários<br />

Centros de Emprego inclusive do de <strong>Leiria</strong>.<br />

O Dr. Acácio Catarino, deixou o seguinte resumo da sua intervenção:<br />

São várias as causas do desemprego. Entre as fundamentais, sobressaem três: o insuficiente<br />

crescimento económico; desajustamentos vários; e a conflitualidade permanente.<br />

Sendo insuficiente o crescimento económico, não se criam os empregos necessários para<br />

quem os procura. Os desajustamentos verificam-se a nível quantitativo e noutras dimensões,<br />

tais como: - entre o local de residência e o de trabalho; entre as profissões ou níveis de qualificação<br />

de quem procura emprego e os exigidos para os postos de trabalho disponíveis; entre<br />

as remunerações e outras condições de trabalho procuradas e as oferecidas; entre a vocação<br />

pessoal e as oportunidades de trabalho; entre a necessidade de trabalhar e a vontade de d<strong>ed</strong>icação<br />

a outros tipos de actividade... A conflitualidade permanente, visível ou oculta, aparece<br />

como causa do desemprego, na m<strong>ed</strong>ida em que acentua as divergências entre os trabalhadores<br />

e os empregadores, r<strong>ed</strong>uzindo a disponibilidade destes para oferecerem empregos e a<br />

daqueles para aceitarem os que vão surgindo.<br />

Verificam-se, pelos menos, cinco patamares de conflitualidade, visíveis ou invisíveis: - o<br />

primeiro, mais reconhecido como tal, traduz-se em manifestações contestatárias da insuficiência<br />

de empregos e da sua baixa qualidade; o segundo consiste no esforço empresarial de<br />

aumento da produtividade, com diminuição do número de postos de trabalho para o mesmo<br />

nível de produção; o terceiro reveste a forma de deslocalização de actividades produtivas<br />

para outros territórios, deixando no desemprego os respectivos trabalhadores; o quarto<br />

respeita a outros desp<strong>ed</strong>imentos; o quinto corresponde ao desinvestimento nas actividades<br />

económicas, transferindo-se os respectivos recursos para aplicações financeiras, porventura<br />

especulativas, que não geram emprego. Muitas vezes, esta conflitualidade parece resultar da<br />

evolução económica normal; no entanto, insere-se num processo histórico, algo hostil, de<br />

eliminação de postos de trabalho.<br />

Face a tal processo, as organizações representativas dos trabalhadores e outras entidades<br />

preocupadas com o desemprego têm, fundamentalmente, dois caminhos à sua frente: - ou<br />

a contestação sistemática ou a procura dos entendimentos possíveis. O primeiro caminho<br />

provoca a intensificação de comportamentos empresariais desfavoráveis ao emprego, sendo<br />

vistos os trabalhadores como inimigos; o segundo pode atenuar estes comportamentos e, porventura,<br />

contribuir para se desenvolverem hipóteses de criação sustentável de emprego. Pode<br />

também favorecer a sustentabilidade do crescimento económico e contribuir para a procura<br />

dos ajustamentos possíveis entre os trabalhadores e os postos de trabalho.<br />

Os defensores da contestação sistemática já deixaram, há muito, de atingir o<br />

seu suposto alvo prioritário - o «grande capital»; na verdade, este já se pôs a salvo<br />

de pressões laborais, especialmente pelo recurso à deslocação dos seus empreendimentos<br />

produtivos para países onde não exista contestação, ou transformando os<br />

seus activos em aplicações financeiras, altamente lucrativas, que funcionam com<br />

muito poucos, e até com nenhuns, postos de trabalho. Por tal motivo, dir-se-á que<br />

tudo aconselha à prática do diálogo social e da negociação colectiva, lutando pela<br />

viabilidade efectiva dos postos de trabalho, qualquer que seja o sistema económico<br />

existente ou idealizado.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 115


. serviços e movimentos .<br />

Serviço Diocesano de Catequese<br />

Encontro Interdiocesano de Catequistas<br />

“Como anunciar Jesus Cristo aos adolescentes” foi a questão central do<br />

Encontro Interdiocesano de Catequistas, que decorreu em <strong>Fátima</strong>, nos dias 2 e 3 de<br />

Fevereiro. O encontro reuniu catequistas das cinco dioceses da zona centro (<strong>Leiria</strong>-<br />

<strong>Fátima</strong>, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Santarém e Setúbal), que durante dois<br />

dias tiveram oportunidade de partilhar conhecimentos e experiências e reflectir e<br />

rezar em conjunto.<br />

Do programa salientamos a intervenção do padre Queirós (Vila Real) que<br />

apresentou globalmente os conteúdos e métodos dos catecismos da adolescência<br />

recentemente publicados, e a intervenção da Dra. Cristina Sá de Carvalho (UCP<br />

Lisboa) sobre os comportamentos religiosos da adolescência. Os trabalhos práticos<br />

de concretização de catequeses e o espaço de reflexão com uma mesa r<strong>ed</strong>onda sobre<br />

o perfil do catequista para a adolescência actual completaram o programa.<br />

Retiro diocesano de catequistas<br />

O Serviço Diocesano de Catequese propôs mais uma vez a realização de um<br />

retiro diocesano para catequistas. Realizou-se nos dias 22 a 24 de Fevereiro, no<br />

Centro Catequético de <strong>Fátima</strong>, e foi orientado pelo padre Gonçalo Diniz, que<br />

desenvolveu o tema “Testemunhas da Ternura de Deus”.<br />

Festa dos Ramos<br />

Ao longo das semanas da Quaresma, as crianças e adolescentes da catequese<br />

fizeram a campanha subordinada ao tema “A Árvore da Vida”. A construção da<br />

árvore não foi mais do que a construção ou desenvolvimento que cada um foi<br />

fazendo, servindo-se, para tal, dos dons que Deus coloca no seu caminho para que<br />

os acolha e faça crescer.<br />

Um dos momentos altos da campanha foi a Festa dos Ramos. Aí, as crianças<br />

da catequese apresentaram ao Senhor a caminhada feita, como agradecimento e<br />

compromisso. Todas as crianças e adolescentes dos vários centros de catequese foram<br />

convidados a “fazer festa com Jesus” e apresentarem a árvore que foram construindo<br />

na sua sala de catequese. A festa foi integrada nas celebrações comunitárias, porque<br />

toda a comunidade deve sentir os dons de Deus na sua vida e os deve acolher em si,<br />

de modo que se transforme em acção no mundo.<br />

116 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica e Música Sacra<br />

Curso de música litúrgica<br />

“Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha divina que é a vocação<br />

artística – de poeta, escritor, pintor, escultor, arquitecto, músico, actor... – adverte<br />

ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver<br />

para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade. (...) A Igreja precisa<br />

particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo, trabalhando<br />

com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas.”<br />

(João Paulo II, Carta aos Artistas).<br />

“Recomenda-se também, para formar os artistas, a criação de Escolas ou Academias<br />

de Arte Sacra e de Sagrada Liturgia.” (Vaticano II, Constituição sobre A<br />

Sagrada Liturgia, 127)<br />

É querendo dar uma resposta sólida a estes apelos e aos do nosso Bispo, D. António<br />

Marto, a sermos verdadeiras Testemunhas da Ternura de Deus, e ainda tentando<br />

responder às necessidades que se têm vindo a sentir por toda a <strong>Diocese</strong> que o Serviço<br />

Diocesano da Pastoral Litúrgica e Música Sacra (SDPLMS) tem estado a programar<br />

a criação de um curso de Música Litúrgica na Escola de Ministérios que possa dar<br />

apoio e formação àqueles que vão desempenhando, como sabem e podem, um dos<br />

ministérios mais importantes da vida litúrgica: o Ministério da Música.<br />

Neste sentido, no dia 3 de Maio, o SDPLMS promoveu um encontro para todos<br />

os que têm responsabilidades no Ministério da Música nas suas paróquias. O objectivo<br />

foi a partilha do que está a acontecer na vida musical litúrgica das paróquias,<br />

procurando detectar necessidades, disponibilidades e interesses a que possa responder<br />

uma formação mais específica.<br />

O Curso de Música Litúrgica propõe-se preparar litúrgica, espiritual e tecnicamente<br />

os agentes da música litúrgica, em sintonia com as orientações da Igreja, em<br />

três departamentos: cantores, directores de coros e organistas, cada um com as respectivas<br />

cadeiras de tronco comum e específicas.<br />

O Curso terá a duração de 3 anos e as condições gerais de admissão, nas variadas<br />

vertentes, são: a) prova de bom ouvido e boa voz, para todos e, sobretudo, para os<br />

Cantores; b) prova de formação musical, de média dificuldade, para todos; c) prova<br />

de domínio de teclado para os organistas; d) prova de capacidade de direcção para<br />

os directores de Coros; e) aceitação de regulamento do Curso que, por ser intensivo,<br />

implica trabalho, disciplina e amor à causa.<br />

Os Párocos, os Reitores ou Responsáveis das igrejas e os Superiores ou Superioras<br />

das Casas religiosas deverão apresentar à Direcção do Curso uma apresentação<br />

escrita dos candidatos, com o compromisso do seu acompanhamento e integração<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 117


. serviços e movimentos .<br />

pastoral.<br />

Haverá um número “clausus” de alunos: 40 Cantores, 30 Directores de Coros e<br />

30 Organistas.<br />

O Curso admitirá dois níveis: A e B cujos conteúdos e metodologia serão definidos<br />

pelos júris que fizerem as admissões dos candidatos.<br />

O número de professores será de 13: dois de formação musical; dois Direcção<br />

Coral; quatro de Órgão; dois de Canto; um de Liturgia; um de História da Salvação;<br />

e um de História da Música Sacra.<br />

Para que o Curso funcione bem, as condições logísticas serão alargadas, relativamente<br />

ao passado: mais departamentos, mais alunos, mais professores e mais<br />

cadeiras.<br />

Os anos lectivos iniciar-se-ão na segunda metade de Agosto de 2008, 2009 e<br />

2010, e terminarão na segunda metade de Agosto de 2011. No final do Curso será<br />

entregue um diploma.<br />

O ano lectivo terá um perfil próprio: uma sessão de 12 dias completos de trabalho<br />

intensivo, nos meses de Agosto, e duas sessões de trabalho com a duração de dois<br />

dias, por altura do Natal e Páscoa, de 2008 a 2011.<br />

A primeira sessão do próximo Curso começará no dia 18 de Agosto de 2008, às<br />

10h00, e terminará no dia 30 com o almoço. Haverá um intervalo no fim-de-semana<br />

desta sessão.<br />

118 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Departamento do Património Cultural<br />

. serviços e movimentos .<br />

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios<br />

Por Gonçalo Cardoso<br />

O ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios) elegeu como<br />

tema estruturante do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios de 2008 o tópico<br />

“Património Religioso e Espaços Sagrados” com o objectivo de contribuir para o<br />

reconhecimento, protecção e valorização dos <strong>ed</strong>ifícios e obras de arte religiosas,<br />

bem como de todos os espaços investidos de valor sagrado pelas respectivas comunidades<br />

humanas.<br />

A 18 de Abril, no Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, em <strong>Leiria</strong>, o Departamento<br />

do Património Cultural da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, aceitando o desafio<br />

do ICOMOS, promoveu um momento cultural com o objectivo de chamar a atenção<br />

para a importância do estudo e preservação dos Ex-votos existentes naquele santuário.<br />

A sessão abriu com um concerto de música coral da responsabilidade do grupo<br />

Adesba Chorus da Barreira, <strong>Leiria</strong>, regido pelo maestro Jorge Narciso e acompanhado<br />

ao órgão por Rita Pereira. Seguiu-se depois uma palestra do Padre Dr. Luciano<br />

Cristino que apresentou exemplos de alguns ex-votos, que narram milagres atribuídos<br />

à intercessão de Nossa Senhora da Encarnação. O orador salientou o contributo<br />

destes pequenos documentos para um estudo da época, em campos como o trajo, o<br />

mobiliário e a arquitectura, para além do seu significado religioso.<br />

A terminar, Rita Gameiro, autora de um trabalho de conservação e estudo de exvotos<br />

do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, no âmbito da sua licenciatura,<br />

prestou diversos esclarecimentos guindo os presentes ao interior da sala adstrita à<br />

igreja, onde se encontram expostos os referidos ex-votos.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 119


. serviços e movimentos .<br />

Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil<br />

Festival da Canção Jovem<br />

Normalmente, associa-se um festival da canção a um desfile de canções com<br />

proclamação de uma venc<strong>ed</strong>ora. O que o Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil<br />

realizou no passado dia 25 de Maio fugiu à regra sobretudo pela envolvência e o<br />

espírito de grupo que se foram estabelecendo entre os participantes.<br />

O dia nem começou muito bem. Num lapso, as condições climatéricas<br />

desfavoráveis obrigaram a abandonar o jardim de Santo Agostinho, e a recorrer ao<br />

Colégio da Cruz da Areia. Houve quem dissesse que a opção não tinha sido má, mas<br />

chegou para aflições e ficou o travo de um dia sem sol.<br />

Ainda se tomavam decisões e já os concorrentes se juntavam no seminário,<br />

desde as 9h30, não para ensaios e aquecimento das vozes e instrumentos, mas para<br />

um momento de convívio e oração. A animação da Eucaristia das 11h30, na igreja<br />

do seminário, coube a todos e, com apenas 20 minutos de ensaio, todos estiveram<br />

verdadeiramente à altura.<br />

Após um almoço bem saboreado e convivido, passou-se ao festival propriamente<br />

dito cujo início ia sendo retardado por infindáveis testes de som. O público<br />

impacientava-se mas a equipa de animação ia conseguiu que todos fossem antes<br />

sentindo a intensidade imprevista da preparação. O desfile das canções correu<br />

dentro da normalidade mas com surpreendente empatia de todos os concorrentes<br />

que não regateavam aplausos aos que se iam apresentando. Na segunda parte, depois<br />

da participação dos seminaristas das dioceses do centro, em ambiente de enorme<br />

expectativa, foram proclamados e aclamados os venc<strong>ed</strong>ores:<br />

1º lugar: Acolhe (Animachorus; paróquia das Cortes)<br />

2º lugar: Um grito de esperança (Paróquia de Albergaria do Doze)<br />

3º lugar: Em busca da tua ternura (Grupo JPJ; paróquia das Colmeias)<br />

Melhor letra: Um grito de esperança (Cândida Dias; paróquia de Alb. dos Doze)<br />

Melhor música: Um grito de esperança (Paróquia de Albergaria do Doze)<br />

Melhor interpretação: Acolhe (Animachorus; paróquia das Cortes)<br />

Prémio auditório: Acolhe (Animachorus; paróquia das Cortes)<br />

Prémio Ser: Acolhe (Animachorus; das Cortes)<br />

120 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Departamento de Pastoral Familiar<br />

Conselho Diocesano da Família<br />

. serviços e movimentos .<br />

Acção das famílias em favor das famílias<br />

O Departamento de Pastoral Familiar, com o seu Serviço de Pastoral da Família,<br />

sabendo que só pode cumprir a sua missão contando com a acção das famílias em<br />

favor das famílias, que define a autêntica pastoral familiar, tem procurado criar e<br />

desenvolver laços de união e co-responsabilidade, nomeadamente com os Delegados<br />

Paroquiais e os Movimentos. Mesmo não sendo perfeito, este esforço de partilha e<br />

entreajuda foi evidenciando que a aproximação às famílias e suas realidades implica<br />

formas ainda mais sólidas e constantes de cooperação aos níveis diocesano, vicarial<br />

e paroquial. Impunha-se um novo passo.<br />

Com a aprovação e incentivo do Senhor D. António Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong>,<br />

o Departamento proc<strong>ed</strong>eu à constituição do Conselho Diocesano da Família, no<br />

qual têm assento casais representantes das vigarias e dos movimentos, e que foram<br />

convidados a fazer o seu o seu compromisso na Eucaristia de encerramento do Dia<br />

Diocesano da Família, no dia 18 de Maio.<br />

O escasso número de Equipas Paroquiais de Pastoral Familiar e a sua<br />

representação vicarial exígua trazem algumas dificuldades à formação do Conselho<br />

Diocesano. Mesmo assim, decidiu-se não adiar o que se espera venha a ser um<br />

verdadeiro elemento de transformação e avanço. Tendo em conta estes factores,<br />

passam a representar o Conselho:<br />

- O Departamento da Pastoral Familiar da <strong>Diocese</strong> e seus órgãos, que, por<br />

inerência, assumirá a coordenação;<br />

- O Casal Responsável do CPM diocesano;<br />

- O Casal Responsável de cada um dos Sectores das ENS, na <strong>Diocese</strong>;<br />

- Uma representante do Instituto Secular das Cooperadoras da Família;<br />

- Casais representantes das vigararias, segundo o seguinte critério:<br />

- Cada vigararia em que não haja nenhuma Equipa Paroquial de Pastoral<br />

Familiar, será representada por um casal escolhido pelos Párocos e apresentado pelo<br />

respectivo Vigário;<br />

- Cada vigararia que tenha uma ou mais Equipas Paroquiais, será representada<br />

por todos os casais coordenadores dessas mesmas Equipas.<br />

Com este critério de representatividade, o Conselho Diocesano da Família é<br />

constituído por cerca de 20 casais, uma representante das Cooperadoras da Família<br />

e o sacerdote do Departamento Diocesano da Pastoral Familiar.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 121


. serviços e movimentos .<br />

A periodicidade das reuniões pautar-se-á pela necessidade de programação e<br />

avaliação das actividades de cada ano pastoral e dependerá, em muito, do próprio<br />

Conselho. Até que se r<strong>ed</strong>ijam normas estatutárias que deverão ter a aprovação do<br />

Bispo diocesano, a forma de funcionamento será proposta pelo Departamento<br />

Diocesano segundo os princípios usuais e no espírito que preside à instituição do<br />

Conselho.<br />

Dia Diocesano da Família<br />

Como forma de viver melhor a Semana da Vida, a diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> fez<br />

chegar às paróquias uma colectânea de textos, m<strong>ed</strong>itações e esquemas de oração<br />

para serem executadas ao nível paroquial ou mesmo familiar. Para o dia 18 foi<br />

marcado o Dia Diocesano da Família, que teve por tema “Família, Expressão da<br />

Ternura de Deus”. Como a família não é só o lugar privilegiado para vocações, mas<br />

é, ela própria, vocação para todos, acrescentámos ainda um subtítulo: “Acolher a<br />

Vocação na Família”. Planeou-se um painel com três aspectos principais: a família<br />

na intenção de Deus; a experiência familiar da convivência de vocações; o papel<br />

da família na pastoral vocacional. Foram oradores os padres Emanuel Matos<br />

Silva (Pastoral Vocacional <strong>Diocese</strong> Portalegre-Castelo Branco) e Luís Inácio João<br />

(Departamento de Pastoral Familiar <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>), bem como o casal Maria Artur e<br />

Ângelo Couto Soares (Pastoral Familiar <strong>Diocese</strong> do Porto).<br />

O Dia Diocesano, para além de ser um convite a reunir pessoas e famílias de<br />

toda a <strong>Diocese</strong>, numa tarde de descoberta, oração e empenhamento, ficou marcado<br />

pelo arranque do Conselho Diocesano da Família, cujos membros fizeram o seu<br />

compromisso na Eucaristia de encerramento dos trabalhos.<br />

122 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Serviço de Animação Vocacional<br />

. serviços e movimentos .<br />

Formação para animadores vocacionais<br />

O Serviço de Animação Vocacional da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> promoveu, no<br />

dia 9 de Fevereiro, no Seminário de <strong>Leiria</strong>, uma acção de formação para animadores<br />

vocacionais, destinada a sacerdotes, religiosos e leigos, sobretudo os que, nas vigararias<br />

e comunidades religiosas, assumem mais directamente o serviço das vocações.<br />

Esta preparação inscreveu-se no objectivo apontado por D. António Marto para<br />

este ano: “imprimir um novo ardor à pastoral vocacional, levando-a ao coração de<br />

cada comunidade cristã para que a sinta e assuma como elemento constitutivo da<br />

experiência de fé viva e como uma responsabilidade que a todos diz respeito”.<br />

Os 25 participantes, maioritariamente das vigararias de <strong>Fátima</strong>, Ourém e <strong>Leiria</strong>,<br />

partindo da lectio divina de Jo 1, 35-42, aprenderam a p<strong>ed</strong>agogia de Jesus no<br />

acompanhamento vocacional e partilharam experiências neste trabalho. Houve ainda<br />

tempo para uma reflexão sobre “Vocação e Vocações na Igreja”, e para a apresentação<br />

de alguns instrumentos úteis: um desdobrável sobre os animadores vocacionais<br />

e os grupos vocacionais, e outro de divulgação do Serviço de Animação Vocacional<br />

– para que serve, o que faz, como se organiza e quem o constitui.<br />

Na linha do Projecto Pastoral Diocesano, foram delineadas as seguintes normas:<br />

1. A nível das paróquias e das vigararias, devem formar-se equipas compostas<br />

por um sacerdote e outros animadores de adolescente e jovens.<br />

2. O objectivo das equipas é “imprimir novo ardor à pastoral vocacional, levando-a<br />

ao coração de cada comunidade cristã para que a sinta e assuma como elemento<br />

constitutivo da experiência de fé viva e como uma responsabilidade que a todos diz<br />

respeito”. As equipas deverão “animar e acompanhar vocacionalmente cada idade,<br />

desde o começo da iniciação cristã até aos anos da juventude madura, através de<br />

vários itinerários, sobretudo, os itinerários da fé”. Deverão ainda “investir energias<br />

precisas no itinerário da catequese, oferecendo uma leitura vocacional da vida”. Esta<br />

animação será feita em colaboração com a catequese, os crismandos, o Grupo Vocacional<br />

de Santo Agostinho, o Pré-Seminário ou Seminário em Família, nomeadamente<br />

através de retiros ou exercícios espirituais e a direcção ou orientação espiritual.<br />

Vida Eclesial<br />

Encontro de namorados<br />

Subordinado ao tema “A ternura de Deus no nosso amor”, teve lugar no dia 16 de<br />

Fevereiro, no Centro Pastoral da Barreira, um encontro para namorados, promovido<br />

pelo Serviço de Animação Vocacional e a paróquia da Barreira. A iniciativa visou<br />

“ajudar a descobrir o amor e o matrimónio como vocação”, ao encontro da exortação<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 123


. serviços e movimentos .<br />

de D. António Marto na sua carta pastoral para este ano, para que “cada fiel cristão<br />

acolha a vocação que recebe como dom da ternura de Deus, pois todas as vocações<br />

são um raio da beleza da ternura de Deus que quer encher o mundo”.<br />

O encontro contou com 14 pares provenientes de várias paróquias da <strong>Diocese</strong>, e<br />

desenrolou-se em três momentos distintos: uma reflexão do Dr. Luís Marques, médico<br />

psiquiatra, sobre a condição de namorados e o namoro como fase de descoberta<br />

e discernimento da vocação; um momento de oração com colaboração dos jovens da<br />

paróquia da Barreira; e, a terminar, a partilha de um simpático lanche.<br />

Grupo Vocacional Santo Agostinho<br />

Foi intenso o encontro dos jovens, rapazes e raparigas, que iniciaram a sua caminhada<br />

no Grupo Vocacional Santo Agostinho. A actividade decorreu na tarde de 2 de<br />

Março, em <strong>Fátima</strong> e constou da leitura orante do Evangelho, catequese vocacional,<br />

partilha de atitudes procura e discernimento da própria opção e projecto de vida,<br />

convívio e oração.<br />

Os trabalhos que serão continuados nos próximos seis meses, com encontros<br />

mensais e um retiro espiritual, tiveram a participação de jovens da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><br />

e também de Lisboa, todos já na vida profissional, e foram orientados<br />

por uma equipa dos serviços de animação vocacional e da pastoral juvenil. Tudo se<br />

passou na comunidade das Irmãs da Aliança de Santa Maria, que proporcionaram<br />

um bom acolhimento e precioso apoio. No fim, era visível a satisfação de todos pela<br />

experiência espiritual vivida.<br />

Este itinerário vocacional foi proposto aos jovens por D. António Marto com<br />

um apelo: “Dai um projecto belo à vossa vida”. E no seu convite, o nosso Bispo<br />

caracteriza a proposta como “uma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é:<br />

ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha<br />

do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um<br />

diz respeito.”<br />

A primeira experiência tivera lugar o ano passado, com 18 jovens, um dos quais<br />

agora integrado na equipa de apoio. No presente, procura-se melhorar o projecto<br />

e adequando-o às actuais circunstâncias dos jovens, nomeadamente às sua idades.<br />

Embora sem rigidez, destina-se aos que estão entre os 20 e os 30 anos. O grupo actualmente<br />

em caminha iniciou-se com 11 inscrições.<br />

Grande Oração Vocacional<br />

O mês de Abril foi inteiramente d<strong>ed</strong>icado à grande oração vocacional na <strong>Diocese</strong><br />

de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. As comunidades de vida consagrada comprometeram-se a reservar-lhe<br />

um tempo especial, cada uma no seu dia. As paróquias, nomeadamente na<br />

124 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

semana de 6 a 13, que terminou no Dia Mundial de Oração pelas Vocações, tomaram<br />

as suas próprias iniciativas. Nas vigararias de Porto de Mós e Marinha Grande, nos<br />

dias 11 e 18, respectivamente, houve vigílias com adolescentes e jovens, presididas<br />

por D. António Marto. No Santuário de <strong>Fátima</strong>, no dia 19, também sob a presidência<br />

do Bispo diocesano, realizou-se a celebração do jubileu das vocações, abrangendo<br />

sacerdotes, religiosos, religiosas e casais, nos 25, 50 ou 60 anos do seu compromisso.<br />

Tendo em conta o calendário divulgado, os catequistas de adolescentes, animadores<br />

de jovens, párocos e outros líderes de grupos ou movimentos foram convidados<br />

a contactar as várias comunidades de vida consagrada, para participarem nos<br />

momentos de oração por elas programados e muitas outras pessoas viriam a associar-se<br />

a esses momentos de oração. A diocese parecia corresponder ao ensinamento<br />

e recomendação do Pastor na sua Carta sobre a beleza e a alegria da vocação cristã:<br />

“Sabemos pela fé que toda a vocação é dom de Deus como aliás toda a vida e vitalidade<br />

da Igreja. Por isso, devemos implorar também este dom. É um compromisso<br />

que se deve estender a todo o povo de Deus e ser assumido por cada comunidade.<br />

Por este caminho passa o processo misterioso de toda a vocação apostólica. A vocação<br />

nasce da invocação, isto é, da oração. Esta, se inserida num caminho de fé, abre<br />

os corações a Deus, põe-nos à escuta e torna-os disponíveis a qualquer solicitação<br />

da graça. Feita a nível comunitário, cria o ambiente propício para qualquer semente<br />

que o Senhor aí queira semear. Assim, a cultura da oração gera também uma cultura<br />

vocacional. Faço, pois, um sentido apelo a toda a <strong>Diocese</strong> e a todas as comunidades<br />

e movimentos para dar vida a uma Grande Oração pelas Vocações: uma oração vivida<br />

com intensa confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente todos os<br />

membros do povo de Deus e a realizar com oportunas modalidades comunitárias, de<br />

modo programado e calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual”.<br />

Aceitaram este desafio (uma em cada dia do mês), as seguintes comunidades:<br />

Irmãs do Bom Pastor, Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de <strong>Fátima</strong>, Irmãs<br />

Clarissas, Servas de Maria Reparadoras, Sagrado Coração de Maria, Irmãzinhas da<br />

Assunção, Irmãs Escravas da Eucaristia e da Mãe de Deus, Fraternidade Franciscana<br />

da Divina Providência, Irmãs de S. José de Cluny, Filhas da Igreja, Irmãs Apresentação<br />

de Maria, Filhas de Santa Maria de Leuca, Missionárias Reparadoras do<br />

Sagrado Coração de Jesus, Servas de Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>, Irmãs Franciscanas<br />

de Nossa Senhora da Vitória, Padres Carmelitas Descalços, Irmãs da Virgem Maria<br />

do Monte Carmelo, Monfortinos, Soci<strong>ed</strong>ade Missionária da Boa Nova, Franciscanas<br />

Hospitaleiras da Imaculada Conceição, Padres Missionários da Consolata, Ordem<br />

dos Frades Menores Capuchinhos, Congregação Missionária do Verbo Divino,<br />

Dominicanas do Rosário Perpétuo, Padres Dominicanos, Padres Crúzios, Ordem<br />

Hospitaleira de S. João da Cruz, Irmãs da Santa Cruz, Padres Marianos, Comunidade<br />

Canção Nova, Missionários Claretianos, Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos<br />

Pobres e Ordem dos Frades Menores (Franciscanos).<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 125


. serviços e movimentos .<br />

Celebração do Jubileu das Vocações<br />

O Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> convidou os casais, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas<br />

e outros consagrados da <strong>Diocese</strong>, que, durante o ano de 2008, completam 25,<br />

50 e 60 anos da sua vocação, para uma celebração jubilar em comum, no Santuário<br />

de <strong>Fátima</strong>, no dia 19 de Abril. Quase uma centena de casais e 12 religiosas, religiosos<br />

e sacerdotes, participaram nesta festa da “beleza das vocações”. D. António fezlhes<br />

um apelo: serem testemunhas da alegria da sua vocação, com palavras e com a<br />

vida. E repetindo as palavras do relato da Anunciação, “a Deus nada é impossível”,<br />

afirmou que, para quem acr<strong>ed</strong>ita em Deus, não é impossível assumir com confiança o<br />

amor matrimonial ou fazer a entrega total de si mesmo no sacerdócio ou na vocação<br />

consagrada e manter-se fiel. “O testemunho pessoal e conjugal da graça divina fará<br />

irradiar a fé e a esperança, de tal modo que os jovens sejam também tocados pelos<br />

dons divinos e se tornem capazes de abraçar a própria vocação”.<br />

Na Eucaristia, que teve lugar na igreja da Santíssima Trindade, com a presença<br />

de muitos outros peregrinos, os jubilários renovaram os seus compromissos e deram<br />

graças a Deus pelo dom da vocação. Antes, num encontro de apresentação e testemunho,<br />

representantes das diferentes vocações falaram das suas experiências de vida e<br />

da gratidão a Deus pelo dom da vocação.<br />

Após a celebração, seguiu-se um almoço de confraternização juntamente a que se<br />

juntaram familiares e amigos. Cooperaram na organização os serviços diocesanos da<br />

pastoral familiar e da animação vocacional, a Fraternidade Sacerdotal e a Conf<strong>ed</strong>eração<br />

dos Institutos Religiosos na <strong>Diocese</strong>. Inserida no programa do presente ano pastoral d<strong>ed</strong>icado<br />

a saborear como o Senhor é bom e a experimentar e testemunhar a sua ternura, a<br />

celebração dos jubileus foi um hino à beleza das várias vocações que adornam a Igreja e<br />

fazem dela um jardim florido com o esplendor dos mais variados dons de Deus.<br />

Jovens em formação<br />

“Não venho vender um produto que não consumo”, afirmou o Padre Luís Maurício<br />

logo no início dos trabalhos. Na manhã de sábado, 26 de Abril, este missionário<br />

da Consolata apresentou a três dezenas de pessoas, dirigentes do Escutismo,<br />

animadores de jovens e catequistas, pistas sobre o PPV – Projecto Pessoal de Vida,<br />

numa acção organizada pelos Serviços de Animação Vocacional, da Catequese e do<br />

Escutismo da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />

Questionar os jovens, provocá-los com o próprio exemplo de vida foi o desafio<br />

que deixou a todos, recomendando a criatividade e a “linguagem do coração”, r<br />

desafiando a responder na primeira pessoa às perguntas sobre o que queremos, para<br />

onde estamos a ir e que valores mexem com a nossa vida”. Daí a importância de ter<br />

um PPV com metas e objectivos concretos nas dimensões humana, religiosa, vocacional,<br />

comunitária e de testemunho/empenhamento.<br />

126 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. serviços e movimentos .<br />

Não se pode definir o projecto pessoal sem a “vontade de tomar a sério a própria<br />

vida”, isto é, sem o anseio de verdade e a capacidade de análise, numa “infatigável procura<br />

de sentido”, “decididos a caminhar”. Só assim teremos animadores que testemunhem<br />

a beleza da vida cristã e procurem quem os ajude a discernir as coisas do Espírito”.<br />

O missionário argentino, de 35 anos, que, contrariando as expectativas da família,<br />

deixou o curso de m<strong>ed</strong>icina para se tornar padre e missionário, defendeu que, na vida<br />

louca que levamos, “devemos ser cristãos “loucos”, como os dos primeiros tempos, apaixonados<br />

por este Deus da Vida” e instrumentos do Seu plano. Assim, o PPV exige “ser<br />

confrontado com o silêncio infinito de Deus, lá onde o Espírito fala e a nossa liberdade se<br />

compromete perante o grito inexorável da alma: Senhor que queres que eu faça”.<br />

De tarde, já em Serro Ventoso, o padre Luís Maurício encontrou-se com cerca<br />

de 60 jovens escuteiros e falou-lhes da “bússola da vida”. Na actividade formativa,<br />

forneceu-lhes elementos para alinharem a própria bússola interior com Cristo, em<br />

ordem a descobrirem o caminho certo, o sentido das suas vidas, a própria vocação<br />

que leva ao crescimento e desenvolvimento da pessoa e ao desempenho de uma<br />

missão na Igreja e no mundo.<br />

Acompanhamento espiritual e vocacional pessoal<br />

A aproximação e o acolhimento, a escuta e a interrogação, o esclarecimento à luz<br />

da palavra de Deus e o abrir de horizontes, o consolar e o encorajar a pessoa a dar os<br />

próprios passos para o seu crescimento na vida cristã e clarificação vocacional são<br />

atitudes importantes no acompanhamento espiritual pessoal. Assim ensinou o bispo de<br />

<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, nesta acção de formação realizada a 27 de Junho passado, em <strong>Leiria</strong>.<br />

Partindo da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús, inspiradora de todo o<br />

acompanhamento espiritual, D. António Marto sublinhou a importância da ajuda pessoal<br />

para a resposta ao chamamento divino e defendeu que, na Igreja, é preciso maior<br />

disponibilidade para oferecer este serviço aos fiéis e, em especial, aos jovens. Disse<br />

ainda que poderão fazer este acompanhamento, além dos sacerdotes e dos religiosos,<br />

também as religiosas e mesmo os leigos com preparação e maturidade espiritual.<br />

A acção foi promovida pelo Serviço Diocesano de Animação Vocacional e teve<br />

a adesão de sessenta pessoas, entre sacerdotes, religiosas, leigos e mesmo jovens, o<br />

que surpreendeu positivamente os organizadores.<br />

Na partilha de experiências, foi evidenciada a procura crescente de ajuda por parte<br />

de jovens. Muitos concluíram cursos superiores, mas ainda não têm clarificado o rumo<br />

que pretendem seguir. O acompanhamento é, por vezes, pontual, dado por quem está<br />

próximo, quer em casa quer em grupos, movimentos e comunidades paroquiais. Mas há<br />

também os que p<strong>ed</strong>em um acompanhamento pessoal regular e mais prolongado a quem<br />

tem mais conhecimentos e experiência de vida cristã, nomeadamente os sacerdotes.<br />

Esta formação deverá ser continuada ao longo do próximo ano pastoral, integrada<br />

na escola diocesana “Razões da Esperança”.<br />

Vida Eclesial<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 127


. serviços e movimentos .<br />

Espectáculo de solidari<strong>ed</strong>ade do grupo Ondjoyetu<br />

Obrigado a todos!<br />

Por padre Vítor Mira<br />

Gratidão é a palavra que<br />

melhor exprime os sentimentos<br />

do Grupo Missionário Ondjoyetu,<br />

no balanço final do espectáculo<br />

do passado 29 de Março, no<br />

Centro Pastoral em <strong>Fátima</strong>. A<br />

quem agradecer primeiro Porque<br />

seria muito difícil estabelecer<br />

uma ordem, avançamos<br />

aleatoriamente..<br />

Quase dois mil espectadores...<br />

Um grande bem-haja a todos<br />

e a cada um. Juntos, valemos<br />

muito. Ao Santuário de<br />

<strong>Fátima</strong>, que sempre nos acolhe<br />

nestas iniciativas e aos seus<br />

colaboradores sempre disponíveis<br />

e solícitos. Aos Postos da Região de Turismo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> e seus colaboradores,<br />

às lojas, institutos missionários, paróquias, juntas de freguesia e pessoas individuais<br />

que divulgaram o espectáculo e venderam bilhetes. Às empresas patrocinadoras – só<br />

o seu apoio permitiu potenciar os lucros deste espectáculo. à comunicação social<br />

– jornais, revistas e rádios que levaram a notícia.<br />

Uma palavra de especial gratidão ao Roberto Leal, músicos, técnicos, equipa de<br />

apoio, grupo “Tocandar” pelo bom espectáculo que proporcionaram e pelo empenho<br />

que colocaram na sua realização e êxito.<br />

Agradecemos a todas as pessoas e antes de mais, a Deus que tocou os seus<br />

corações e permitiu a realização de um espectáculo que agradou à maioria.<br />

Depois de alguma espera por questões técnicas, pelo que p<strong>ed</strong>imos desculpa,<br />

houve um crescendo até ao final. Muitos nem queriam ir embora.<br />

O balanço é amplamente positivo. Foi mais um óptimo contributo para que o<br />

trabalho missionário do Grupo Ondjoyetu possa prosseguir. Mais uma vez, um<br />

grande obrigado a todos.<br />

128 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. entrevistas .<br />

Grupo Ondjoyetu - Entrevista a D. Ben<strong>ed</strong>ito Roberto<br />

Geminação <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>/Sumbe<br />

Por Cátia Biscaia<br />

Esteve entre nós D. Ben<strong>ed</strong>ito Roberto, bispo<br />

do Sumbe, diocese geminada com <strong>Leiria</strong>-<br />

<strong>Fátima</strong>. O Grupo Missionário Ondjoyetu, que<br />

tem em curso uma acção missionária naquela<br />

diocese angolana, aproveitou para lhe fazer<br />

algumas perguntas.<br />

Dois anos depois da geminação das duas<br />

<strong>Diocese</strong>s, quais foram as mudanças que<br />

sentiu<br />

Posso vê-las na presença permanente dos<br />

missionários de <strong>Leiria</strong> na <strong>Diocese</strong> do Sumbe,<br />

de que resultou necessariamente a construção<br />

da residência missionária e a criação de mais<br />

uma Missão, até então simples Centro Missionário<br />

de São José do Gungo.<br />

A história da <strong>Diocese</strong> do Sumbe mostra que a presença missionária e muito particularmente<br />

a “ad gentes”, é uma bênção para os povos evangelizados. Esta graça<br />

de que beneficia toda a <strong>Diocese</strong> do Sumbe, sente-a de modo especial o povo do<br />

Gungo.<br />

Vida Eclesial<br />

Em que sentido a geminação veio alterar as relações entre as duas comunidades<br />

O mútuo conhecimento das duas dioceses vai sendo cada vez mais forte. A<br />

experiência da presença de jovens na <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> e sobretudo a do<br />

movimento de <strong>Leiria</strong> para o Sumbe, ainda que incipiente e sem muito impacto na<br />

<strong>Diocese</strong> do Sumbe, é muito significativa. O trabalho da Comissão Mista, constituída<br />

para acompanhar o processo da geminação, vai certamente encontrar mais propostas<br />

para o desenvolvimento e a consolidação das bases lançadas há dois anos.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 129


. entrevistas .<br />

Considera que os missionários têm desempenhado um bom papel no acolhimento<br />

e bem-estar da população do Gungo<br />

Tenho ainda bem frescos os testemunhos dos delgados da Missão do Gungo na<br />

Assembleia Diocesana Anual de Pastoral do passado mês de Janeiro. Para eles os<br />

missionários são mestres em coisas não só grandes, mas também nas pequenas e<br />

simples, pois vivem e convivem com o povo. É verdade. A presença missionária de<br />

<strong>Leiria</strong> é uma bênção para os povos do Gungo. O que foi feito até agora, não obstante<br />

as dificuldades da falta de uma casa própria na s<strong>ed</strong>e da missão e apesar da via de<br />

comunicação para aquela localidade, pode ajudar-nos a adivinhar o muito que serão<br />

para o Gungo os missionários nessa Missão.<br />

Como tem sido a recepção dos missionários pela população<br />

Todos os missionários gozam de um carinho especial dos diocesanos do Sumbe.<br />

Graças à abertura aos valores do angolano, experiência que notei sobretudo nos últimos<br />

grupos, os missionários de <strong>Leiria</strong> são acolhidos como amigos e mestres em toda<br />

a <strong>Diocese</strong>. E melhor do que eu, são os próprios que o podem dizer.<br />

Como tem sido, na sua opinião, a adaptação dos missionários à <strong>Diocese</strong><br />

Alegra-me imenso constatar a capacidade de resistência dos nossos missionários<br />

às doenças tropicais, principalmente o paludismo. Aliado a isso, o seu espírito missionário<br />

facilita-lhes a adaptação a outros níveis: alimentação, convívio com todos<br />

os sacerdotes, irmãs e povo em geral.<br />

Tem tido algum “eco” de pessoas que estejam a acompanhar este processo de<br />

geminação<br />

A presença de <strong>Leiria</strong> na <strong>Diocese</strong> do Sumbe alegra todos os diocesanos como, da<br />

mesma forma, a de todos os missionários que trabalham nesta Igreja Particular. Mas<br />

está a custar compreender o que, como geminação de duas dioceses, seria também<br />

o impacto do Sumbe na <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. Mas, como afirmei mais acima,<br />

uma Comissão Mista está a trabalhar no sentido de a geminação responder às expectativas<br />

dos fiéis de ambas as <strong>Diocese</strong>s.<br />

Do seu ponto de vista quais serão os próximos passos a dar<br />

Acho que serão ditados pelas propostas da Comissão Mista sob a apreciação e<br />

aprovação dos dois Bispos. Mas seja bom dizer já que muito se pode vir a fazer.<br />

130 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. entrevistas .<br />

Entrevista ao padre Augusto Pascoal<br />

S. Romão e Guimarota em movimento<br />

Por Rui Ribeiro<br />

O crescimento demográfico e a expansão urbana da<br />

cidade não passam despercebidos. Depois da experiência<br />

bem suc<strong>ed</strong>ida da criação de paróquia da Cruz da Areia,<br />

outras zonas da cidade merecem a atenção dos responsáveis<br />

da pastoral vicarial e diocesana. Numa estratégia que<br />

passa pela definição da zona geográfica e o estudo das<br />

suas necessidades e características, vem-se reflectindo,<br />

há muito, sobre o aproveitamento e desenvolvimento de<br />

dinamismos comunitários que permitam a implantação<br />

de “novos centros de vida cristã”. A comunidade de S.<br />

Romão e Guimarota será, actualmente, a única em franca<br />

caminhada. Para sabermos o que já se faz e falta fazer, conversámos com o padre<br />

Augusto Ascenso Pascoal, responsável pastoral pela comunidade.<br />

Qual o estatuto da Comunidade Pastoral de São Romão e Guimarota<br />

Está tudo dito no próprio título: Comunidade Pastoral de São Romão e Guimarota.<br />

A figura canónica da “Comunidade Pastoral” é uma novidade do Código de 1982,<br />

que quis assim dar enquadramento jurídico a soluções pastorais diversificadas, fora<br />

do quadro tradicional da paróquia ou quase-paróquia.<br />

Segundo o cânone 516 §2, “onde certas comunidades não possam ser erectas em<br />

paróquias ou quase-paróquias”, o bispo deve providenciar de outro modo ao serviço<br />

pastoral dessas comunidades. Foi o que fez o Senhor Dom Serafim de Sousa Ferreira<br />

e Silva, ao tempo bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, por decreto de 21 de Novembro de 2004.<br />

Vida Eclesial<br />

Quais as razões que levaram à constituição desta comunidade<br />

A preocupação de aproximar os serviços pastorais das populações, que, como<br />

acontece geralmente nas zonas urbanas, dependem cada vez menos das estruturas de<br />

âmbito territorial, ligadas ao passado. Trata-se, por isso, de uma solução urgente que<br />

já foi proposta para outras zonas da cidade e arr<strong>ed</strong>ores, ocupadas por gente que nada<br />

tem a ver com as paróquias a que pertencem territorialmente.<br />

Quais os objectivos im<strong>ed</strong>iatos e de longo prazo<br />

O que se disse acima: aproximar os serviços pastorais das populações. Im<strong>ed</strong>iatamente,<br />

a paróquia, no sentido tradicional da palavra, não entra nesses objectivos,<br />

como força impulsionadora. Isso implica muita imaginação e iniciativas inovadoras,<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 131


. entrevistas .<br />

ainda que se tenha como referência a estrutura tradicional de uma paróquia; sobretudo<br />

porque a nível das instâncias decisórias, se torna difícil sair dessa estrutura.<br />

Actualmente, que estruturas e serviços funcionam na comunidade<br />

O previsto no decreto de criação, ainda que de forma muito incipiente. Temos a<br />

funcionar o Conselho Económico e em preparação o Conselho Pastoral. A catequese<br />

vai ter no próximo ano as dez etapas previstas a nível nacional. Está em formação<br />

um grupo de acção solidária, a fim de se iniciar a pastoral neste sector.<br />

Quais as maiores dificuldades que sente na formação da comunidade<br />

Em primeiro lugar, as dificuldades comuns, sobretudo ao nosso mundo ocidental,<br />

onde os cristãos se não defendem convenientemente do individualismo que domina<br />

todos os cidadãos, com a agravante de, no caso dos cristãos, terem perdido, se é que<br />

alguma vez a tiveram, a consciência de pertença a uma comunidade mais ampla,<br />

para a qual nasceram pelo Baptismo.<br />

Que infra-estruturas possui e quais os problemas que enfrenta neste sector<br />

Se quisermos acentuar a pobreza, diremos que, quanto a infra-estruturas, não<br />

temos nada. Se queremos realçar o positivo, dizemos que, apesar do seu carácter<br />

provisório e de não ser nossa a respectiva propri<strong>ed</strong>ade, temos um espaço que, bem<br />

aproveitado, vai servindo para a celebração bastante digna da Eucaristia e funcionamento<br />

desafogado da catequese da infância e da adolescência.<br />

Como define religiosa e socialmente esta zona da cidade<br />

Nada que a distinga das outras dos arr<strong>ed</strong>ores de <strong>Leiria</strong>. Há quem diga que se trata<br />

de comunidades que, apesar da riqueza individual dos seus membros, já perderam as<br />

virtudes da ruralidade e ainda não adquiriram as da urbanidade.<br />

Como se estabelece a ligação com as paróquias dos Pousos e <strong>Leiria</strong><br />

O decreto de criação da comunidade não prevê que, para já, se celebrem nela os<br />

sacramentos que, para além da Eucaristia, poderiam dar-lhe alguma visibilidade; ou<br />

seja, o Baptismo e o Matrimónio. Prevê, no entanto, que seja o responsável a preparar<br />

os respectivos candidatos. A nível da estrutura canónica, as coisas estão muito<br />

claras, ainda que pareça necessário modificá-la. Quanto ao seu funcionamento, como<br />

acontece com tudo, conta muito o modo como as pessoas vêem essa estrutura.<br />

Que apelo gostaria de deixar aos fiéis aqui residentes<br />

Apenas o que vale para toda a gente: na m<strong>ed</strong>ida em que procurarmos tomar consciência<br />

da nossa condição de pertença à comunidade crente e organizarmos a nossa<br />

vida de acordo com essa condição, não há problemas insolúveis no nosso relacionamento<br />

dentro da Igreja.<br />

132 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Reflexões<br />

. teologia/pastoral . história .


. teologia/pastoral .<br />

Do sofrimento à Páscoa<br />

Histórias actuais da Paixão<br />

Texto e fotos: Luís Miguel Ferraz<br />

Fomos visitar o Centro Hospitalar de Nossa Senhora da Conceição, na Batalha,<br />

onde estão internados cerca de 30 doentes, uns em recuperação, outros a receber<br />

tratamentos paliativos para doenças terminais. Estão ao cuidado de quatro médicos,<br />

nove enfermeiros e 15 auxiliares, para além de um grupo de voluntários.<br />

Adivinhávamos um pouco: haverá sempre quem se revolte, quem se resigne na<br />

amargura do seu fado e desista de lutar, e quem se agarre ao que pode, na esperança<br />

de uma solução que pode vir da m<strong>ed</strong>icina e até de uma intervenção divina. Quando<br />

nos aproximámos das pessoas concretas e as vimos e ouvimos, a nossa quadrícula<br />

revelou-se, de súbito, insuficiente e ridícula. Por mais que soubéssemos e imaginássemos,<br />

a realidade não deixou de nos surpreender.<br />

Deixamos os testemunhos tocantes de quem carrega hoje a sua cruz. Também<br />

não esquecemos aqueles cuja missão é serem “cireneus” procurando curar, minorar<br />

a dor e aliviar, nem que seja com um sorriso, o peso dessa cruz de cada um.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 135


. teologia/pastoral .<br />

Exemplos vivos<br />

Maria Alice Neves, de 63 anos, natural das Colmeias,<br />

foi a primeira a chegar a este novo hospital. Desde os 40<br />

anos de idade que se viu atingida pela doença, mas foram<br />

os últimos dez o seu “maior Calvário” na luta contra várias<br />

manifestações de cancro. Submeteu-se a diversas cirurgias<br />

e a múltiplos tratamentos, já esteve em situação crítica,<br />

ligada a uma máquina, sem conseguir ver, ouvir e falar. Recuperou<br />

algumas faculdades, mas continua acamada desde<br />

há quatro anos e quase não consegue mexer-se. Embora não Maria Alice Neves<br />

sinta grandes dores, sabe que o seu mal dificilmente terá<br />

solução. Conta com o apoio e carinho da família, mas nem esse é como desejaria,<br />

pois o marido também está acamado em casa, acompanhado pela filha.<br />

Ao falarmos com ela, a simpatia, o sorriso fácil e a boa disposição são quase<br />

desconcertantes. Apesar da caminhada de sofrimento que marca a sua vida, revela<br />

serenidade, paz e coragem para enfrentar cada novo dia. “Deus Nosso Senhor é que<br />

sabe, seja o que Deus quiser”, responde Alice quando lhe perguntamos como se<br />

sente ao pensar no futuro. Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes, mas não<br />

foram. Agora, encontrando na fé a sua força, diz-nos o que lhe resta: “Rezar todos<br />

os dias por mim, pelos outros doentes que aqui estão e pelos funcionários, que são<br />

muito nossos amigos e simpáticos”.<br />

Vítima de um AVC repentino e sem sintomas anteriores,<br />

no Natal dos seus 44 anos, Maria Rodrigues Marques,<br />

natural da Memória, rasga o sorriso para dizer que confia<br />

plenamente na recuperação e ainda quer “ir a <strong>Fátima</strong> a pé”,<br />

como prometeu a Nossa Senhora na hora de maior aflição.<br />

Está feliz por ter encontrado esta instituição, com pessoas<br />

tão boas a tratar dela, o que é “uma grande ajuda, depois de<br />

ter saído do Hospital de <strong>Leiria</strong> a chorar”. Com optimismo<br />

renovado e coragem para “voltar ao que era”, encara cada<br />

dia como uma nova luta para esse objectivo e sente que “já<br />

falta pouco... o braço esquerdo é que está mais preguiçoso”.<br />

Maria Marques<br />

Paula (nome fictício) não quer revelar o nome, nem o rosto, de aparência bem<br />

mais jovem do que a sua idade. “Fale antes das pessoas que encaram a vida com optimismo,<br />

porque assim é que devia ser e elas é que têm razão, mas eu não consigo”,<br />

confessa. Foi também apanhada por um AVC que lhe roubou a vitalidade, a energia<br />

corporal que cuidava com regularidade e a independência que sempre prezou.<br />

Mulher de fé, catequista quase toda a vida, ensinou aos filhos os valores cristãos e<br />

136 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

continua a acr<strong>ed</strong>itar neles e a rezar diariamente pela sua cura. “Agarro-me à fé para<br />

tentar superar esta limitação, tenho vontade de voltar a andar, mas a dor é mais forte<br />

e não consigo aceitar o que aconteceu”, lamenta-se, deitada na fisioterapia onde tenta<br />

a custo recuperar os movimentos perdidos. Tem o apoio da família, sobretudo dos<br />

filhos que lhe dizem que a querem ver de novo a andar, mas “às vezes acho que não<br />

vou conseguir”... e deixa escapar um lágrima de dor, de desgosto e de frustração.<br />

Depois, recompõe-se e começa a ginástica. Deixámos o nosso voto de coragem.<br />

“Vamos a ver..”, sorri.<br />

Com a mesma esperança vive Miguel José Bernardo,<br />

de 72 anos, residente nos Parceiros. Há dois meses em<br />

recuperação, confia na sua força de vontade, até porque o<br />

médico lhe deu essa pista de cura: “você é que tem de ser<br />

o seu médico”. Não sente dores, está a ser “bem tratado”,<br />

tem o apoio dos familiares “que não faltam aqui a dar-me<br />

força”, pelo que vê com optimismo o seu futuro fora do<br />

hospital. “A fé também ajuda a gente e vou à missa quando<br />

posso”, afirma.<br />

Miguel Bernardo<br />

Por uma luz libertadora<br />

Chega a hora do almoço. Olho em r<strong>ed</strong>or, antes de me desp<strong>ed</strong>ir dos muitos utentes<br />

que se passeiam com desenvoltura ou em cadeiras de rodas pelo amplo espaço de<br />

convívio, de cores alegres, cheio de luz e de transparência. Ainda cheira a novo, com<br />

brilho semelhante aos sorrisos de quem está por ali de serviço. “Isto é tão bom, que<br />

até vai dar pena sair de cá”, confessava uma doente. Sente-se que o ambiente, esse<br />

tratamento humano, é uma das peças fundamentais para o bem-estar da maioria dos<br />

internados.<br />

Mas nem todos revelam a mesma cara alegre; há rostos mais vincados e os que<br />

não conseguem esconder as marcas de uma vida já perto do fim, confinados a uma<br />

cama articulada. Sente-se que ali, como em lugares semelhantes ou em tantos lares<br />

pelo mundo fora, há quem viva hoje, na carne, a experiência viva da Paixão.<br />

E sente-se que o nosso dever de humanidade e, ainda mais, de cristãos é contribuir,<br />

ainda que com o gesto simples da mão que oferece um carinho, para que<br />

aqueles que estão mergulhados na escuridão possam vislumbrar um raio de luz. Para<br />

que, na m<strong>ed</strong>ida do humanamente possível, possam fazer o percurso vitorioso do<br />

sofrimento à Páscoa. Tal como Jesus, na hora da salvação: “Eu sou a ressurreição e<br />

a vida, quem acr<strong>ed</strong>ita em Mim terá a vida plena”.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 137


. teologia/pastoral .<br />

José Leite, director clínico do CHNSC<br />

“Todos precisamos de atenção e amor”<br />

Neste hospital, todos os que nele trabalham têm consciência<br />

da citação de Olivier Holmes (médico francês do século XVI):<br />

“O objectivo da M<strong>ed</strong>icina é curar às vezes, aliviar frequentemente,<br />

confortar sempre”. O doente é um ser humano, é uma<br />

pessoa, é um ser moral, é um ser com dignidade, não se m<strong>ed</strong>indo<br />

em termos económicos, mas estes devem estar ao serviço do<br />

doente, pois este é o valor supremo.<br />

A m<strong>ed</strong>icina contemporânea enfatiza a cura e o prolongamento da vida e depois,<br />

muitas vezes, negligencia o cuidado necessário ao fim da vida, abrindo caminho a uma<br />

quantidade de doentes, incapacitados, mal cuidados e em sofrimento, que aguardam o<br />

momento de morrer. É hoje exigida a utilização de tecnologia cara e nem sempre ajustada<br />

à situação do doente que, com o fim à vista, vai sendo submetido a tratamentos<br />

que o mantêm vivo durante algum tempo, normalmente com sofrimento, dor, solidão e<br />

angústia. Por estas razões, os exames complementares deverão ser apenas os estritamente<br />

necessários, perfeitamente claros e, se possível, sem aumentar a dor e ou o incómodo<br />

para o doente.<br />

Vivemos numa cultura e num tempo em que é suposto haver “um m<strong>ed</strong>icamento para<br />

cada sofrimento”, o que determina expectativas – quer dos doentes, quer dos familiares,<br />

quer dos médicos – de que em cada consulta ou visita médica deverá ser prescrito novo m<strong>ed</strong>icamento.<br />

Consequentemente, os médicos podem sentir dificuldades em impor limites.<br />

Nestes doentes, na maioria idosos, sofrendo de pelo menos cinco doenças e múltiplos<br />

m<strong>ed</strong>icamentos, com elevados custos para a sua mísera reforma, associados a interacções<br />

m<strong>ed</strong>icamentosas e ao aparecimento de complicações e outras doenças iatrogénicas<br />

[causadas pelos m<strong>ed</strong>icamentos]. Devemos ter o bom senso de tratar sempre a doença de<br />

maior risco ou que cause maior sofrimento, pois tratar tudo em simultâneo é impossível.<br />

Muitas das vezes, o que custa não é saber o que fazer, mas decidir o que fazer e não fazer,<br />

lembrando-nos sempre de que, em primeiro lugar, será não fazer mal – “primum non<br />

nocere”. Assim, os m<strong>ed</strong>icamentos prescritos deverão ser apenas os estritamente necessários,<br />

mas nunca nos devemos esquecer do tratamento adequado da dor. Prevenir e tratar<br />

a dor é um imperativo ético, uma condição inalienável dos cuidados de saúde, associada<br />

a uma diminuição das complicações clínicas e até da mortalidade.<br />

Todos precisamos de atenção, de amor e de uma interacção com os outros seres<br />

humanos, pois sem relacionamento não somos nada. Toda a equipa de saúde que nesta<br />

instituição trabalha sabe que tem sempre um remédio no bolso, disponível a qualquer<br />

hora e a qualquer momento – o seu sorriso.<br />

Como dizia Confúcio, “ama aquilo que fazes e não terás de trabalhar mais na vida”.<br />

E relembrando Madre Teresa de Calcutá, “a falta de amor é a maior das pobrezas”. Todos<br />

nós estamos imbuídos destes ideais, que em conjunto com entusiasmo, d<strong>ed</strong>icação e esforço,<br />

usamos para contribuir para o bem-estar físico, psíquico e social dos doentes que<br />

nos procuram.<br />

138 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

Graça Pereira, enfermeira chefe do CHNSC<br />

“Assistimos a verdadeiros milagres”<br />

A ciência evoluiu, a esperança de vida aumentou, a taxa<br />

de natalidade diminuiu, e a soci<strong>ed</strong>ade depara-se hoje com a<br />

incapacidade familiar de assistir duma forma contínua e capaz<br />

os seus progenitores.<br />

As Unidades de Cuidados Continuados (UCC) surgem<br />

precisamente com o objectivo de tratar e cuidar daqueles<br />

cujas capacidades estão diminuídas, quer pela velhice, quer<br />

por outras doenças que lhes possam ter retirado, temporariamente ou definitivamente, a<br />

capacidade de se cuidarem sem ajuda de outra pessoa. Importa salientar que na m<strong>ed</strong>icina,<br />

o grande objectivo é “tratar”, enquanto nos cuidados continuados a finalidade principal é<br />

“cuidar”, mesmo quando já é impossível “tratar”.<br />

O trabalho que fazemos nesta UCC do Centro Hospitalar Nossa Senhora da Conceição,<br />

integrada numa r<strong>ed</strong>e nacional, é sobretudo colaborar no dever da soci<strong>ed</strong>ade em<br />

apoiar no tratamento, na reabilitação ou manutenção da saúde, e garantir o bem-estar<br />

físico, psíquico e social a todos os doentes que aqui passam.<br />

Conscientes do sofrimento que envolve estes doentes e suas famílias, tentamos de<br />

uma forma digna e humana, em equipa multidisciplinar, recuperar as capacidades perdidas<br />

mesmo que já sejam pequenas. O nosso empenhamento, na m<strong>ed</strong>ida do possível, é<br />

devolver às pessoas o bem-estar, o alívio da dor e a sua recuperação.<br />

Embora ainda no início de uma caminhada de aperfeiçoamento na prestação de<br />

cuidados continuados, já fazem parte da história desta unidade algumas situações que<br />

ficarão para sempre na nossa memória e no nosso coração, quer pelo sucesso alcançado,<br />

quer pelas lições de vida que quase todos os doentes diariamente nos transmitem, pelo<br />

modo como enfrentam o seu contínuo sofrimento e pela coragem e alegria de viver que<br />

demonstram, tendo sempre esperança no amanhã.<br />

Lembro o exemplo de um doente que veio logo no início, tetraplégico após ter sofrido<br />

um tétano, sem capacidade para andar, para comer ou para falar, com poucas garantias<br />

de recuperação. A força que revelou, a esperança e a vontade de recuperar foi tão grande<br />

que, passados dois meses, saiu para sua casa a andar pelo próprio pé. Já nos visitou<br />

depois, cheio de alegria e grato pela experiência que aqui viveu. São estes verdadeiros<br />

“milagres”, de quem passa pelo calvário da dor e da doença e depois volta a conseguir ter<br />

uma vida nova, que nos dão alento para o trabalho que abraçamos diariamente. É essa a<br />

razão da “pequena” ajuda que lhes podemos oferecer.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 139


. teologia/pastoral .<br />

Dignidade do trabalho<br />

Sob este título genérico, publicamos os dois artigos seguintes, retirados<br />

de uma <strong>ed</strong>ição do Jornal O Mensageiro. São dois testemunhos de como o<br />

cristão é chamado a olhar para a questão da dignidade do trabalho.<br />

Para além das políticas<br />

Por José Dias da Silva<br />

À boleia das comemorações do 25 de Abril, o governo anunciou reformas liberalizantes<br />

dos contratos de trabalho, o que proporcionou um amplo debate público<br />

sobre o assunto. Importa lançar um olhar cristão sobre este sector da vida.<br />

Para lá das preocupações políticas e economicistas, o trabalho humano vale por<br />

si mesmo e merece ser considerado como espaço de humanização e co-criação. Pode<br />

dizer-se que a dignidade do trabalho decorre de duas fontes: da pessoa que trabalha e<br />

das características do próprio trabalho humano. Um dos princípios fundamentais da<br />

doutrina social da Igreja recorda que a dignidade do trabalho decorre da dignidade<br />

da pessoa que trabalha e não o contrário. João Paulo II insistia muito na prioridade<br />

absoluta da pessoa: “Embora seja verdade que o homem está destinado e é chamado<br />

ao trabalho, contudo, antes de mais nada o trabalho é ‘para o homem’ e não o homem<br />

‘para o trabalho’… (pelo) que cada trabalho se m<strong>ed</strong>e sobretudo pelo padrão<br />

da dignidade do sujeito do trabalho, isto é, da pessoa, do homem que o executa”.<br />

Até porque “em última análise, a finalidade do trabalho, de todo e qualquer trabalho<br />

realizado pelo homem - ainda que seja o trabalho do mais humilde ‘serviço’ ou o<br />

mais monótono na escala comum de apreciação ou o mais marginalizador - é sempre<br />

o próprio homem” (LE 6).<br />

Nunca é de mais insistir nisto, até porque a realidade é um contínuo desmentido<br />

desta prioridade da pessoa. Olhando à nossa volta o que vemos é a prioridade dada<br />

ao trabalho. As próprias pessoas sentem-se mais ou menos dignas conforme a “dignidade”<br />

do seu trabalho. Como se ser gestor fosse mais digno que varr<strong>ed</strong>or de ruas.<br />

Daí esta doença que ataca a soci<strong>ed</strong>ade portuguesa: a doutorite. O que os grupos de<br />

técnicos não têm feito para que os seus cursos sejam equiparados a universitários<br />

O que os pais não fazem para que os filhos sejam doutores E que desonra para a<br />

família se eles não o forem!<br />

Por outro lado, o trabalho, pelo facto de ser humano, tem características próprias<br />

que lhe conferem a dignidade de ser “um prolongamento da obra do Criador, um<br />

serviço aos irmãos e uma contribuição pessoal para o cumprimento do plano providencial<br />

na história” (GS 34). O trabalho é uma vocação, já que é a resposta mais<br />

adequada ao mandamento primeiro de Deus que, ao criar a terra para todos, a todos<br />

140 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

mandatou para a cultivar e guardar (Gn 2,15). Estes dois verbos têm na Bíblia uma<br />

forte ressonância religiosa: “só o cristianismo deu um sentido religioso ao trabalho<br />

e reconhece o valor espiritual do progresso técnico. Não há vocação mais religiosa<br />

que o trabalho” (João Paulo II aos jovens; Inglaterra; 1982). O trabalho é uma das<br />

formas privilegiadas para continuar a obra da criação, pois faz de cada pessoa um<br />

colaborador na acção divina, um verdadeiro criador: “Deus, que dotou o homem de<br />

inteligência, de imaginação e de sensibilidade, deu-lhe assim o meio para completar,<br />

de certo modo, a sua obra: seja artista ou artífice, empreend<strong>ed</strong>or, operário ou camponês,<br />

todo o trabalhador é um criador” (PP 27). Esta dimensão criadora de cada<br />

ser humano é uma das mais esquecidas. A pessoa não é vista nesta sua dimensão<br />

estrutural; caso contrário, não haveria tanto desemprego.<br />

O trabalho torna-nos também colaboradores de Deus na obra da r<strong>ed</strong>enção ao<br />

criar condições para uma melhor qualidade de vida, mais justa, mais fraterna, mais<br />

solidária, mais humana: “Tudo o que o homem faz para conseguir mais justiça, mais<br />

fraternidade e uma organização mais humana das relações sociais tem mais valor<br />

que os progressos técnicos. Porque estes podem fornecer a base material para a promoção<br />

humana, mas são impotentes, só por si, para a realizar” (GS 35).<br />

O trabalho é ainda o principal instrumento de libertação e, portanto, de desenvolvimento<br />

harmonioso da pessoa, de cada pessoa, porque é meio de subsistência mas<br />

também de desenvolvimento e progresso sociais: “O homem, ao trabalhar em qualquer<br />

tarefa no seu ‘banco’ de trabalho, pode facilmente cair na conta de que, pelo seu<br />

trabalho, entra na posse de um duplo património; ou seja, do património daquilo que<br />

é dado a todos os homens, sob a forma dos recursos da natureza, e do património daquilo<br />

que os outros que o prec<strong>ed</strong>eram já elaboraram, a partir da base de tais recursos,<br />

em primeiro lugar desenvolvendo a técnica, isto é, tornando realidade um conjunto<br />

de instrumentos de trabalho, cada vez mais aperfeiçoados” (LE 13).<br />

Deturpação do trabalho<br />

Muitas vezes, porém, o trabalho, em vez de ser um instrumento para reforçar a<br />

dignidade da pessoa e estar ao serviço do seu desenvolvimento integral, converte-se,<br />

antes, em ocasião de degradação, alienação e desumanização: “A alienação verifica-se<br />

também no trabalho, quando é organizado de modo a «maximizar» apenas os<br />

seus frutos e rendimentos, não se preocupando que o trabalhador, por meio de seu<br />

trabalho, se realize mais ou menos como homem, conforme cresça a sua participação<br />

numa autêntica comunidade humana solidária ou então cresça o seu isolamento num<br />

complexo de relações de exacerbada competição e de recíproco alheamento, no qual<br />

ele aparece considerado apenas como um meio e não como um fim” (CA 41). Mais, o<br />

homem não pode ser deixado de lado quando já não interessa, pois “uma soci<strong>ed</strong>ade,<br />

onde este direito seja sistematicamente negado, onde as m<strong>ed</strong>idas de política económica<br />

não consintam aos trabalhadores alcançarem níveis satisfatórios de ocupação,<br />

não pode conseguir nem a sua legitimação ética nem a paz social” (CA 43).<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 141


. teologia/pastoral .<br />

Um exemplo de “economia de comunhão”<br />

Por António Faria Lopes<br />

Faria & Irmão é uma empresa de cariz familiar fundada em 1957, situada em<br />

<strong>Leiria</strong>. Tem como objecto produzir formas de plástico (moldes) para calçado.<br />

Enquanto jovens, eu e o Acácio, meu irmão, conhecemos um grupo de jovens dos<br />

Focolares. Tinham, como característica, pôr tudo em comum, com toda a liberdade:<br />

as ideias, os conhecimentos, os bens, etc. Isto permitiu-nos descobrir a riqueza da<br />

complementaridade das diferenças, potenciar a tolerância, a unidade, o respeito pelo<br />

outro, a solidari<strong>ed</strong>ade.<br />

Ao entrar no mercado de trabalho, parecia óbvio dar continuidade a um tipo de<br />

vida que até ali nos havia fascinado. É certo que a realidade era outra mas o homem<br />

ao lado do homem mantinha-se. Este novo contexto implicava apenas algumas<br />

responsabilidades específicas que tinham a ver com a gestão de uma pequena<br />

empresa. É pacífico, para quem estuda a dinâmica das organizações, que os recursos<br />

humanos são muito importantes. Na “Economia de Comunhão” para além de serem<br />

importantes, são a razão de ser, são o centro de todas as decisões.<br />

Em 1987, quando comprámos os 50% ao nosso tio, foi espontâneo incluir na<br />

soci<strong>ed</strong>ade em igualdade de circunstâncias um outro irmão, embora estivesse ainda<br />

a estudar. Quando se trata de decidir, de delinear estratégias, obviamente que eu e<br />

o Acácio estamos quase sempre em sintonia. Todavia, esta proximidade não evita<br />

divergências, é apenas garantia de respeito e de saber ouvir.<br />

Com o tempo, um sonho que inicialmente era apenas partilhado por dois, foi<br />

s<strong>ed</strong>uzindo os outros dois. Os resultados justificavam a continuidade dos princípios.<br />

Faria & Irmão é motivo e resultado de um enorme esforço da sua administração<br />

e dos seus colaboradores a fim de continuar a ser um local em que, não obstante as<br />

dificuldades, se respire liberdade, criatividade, paz, trabalho, solidari<strong>ed</strong>ade, isto é,<br />

uma nova cultura.<br />

A experiência que tínhamos feito em jovens não só se mantinha mas até se<br />

consolidava.<br />

Não que houvesse grandes referências para a condução da empresa, mas a<br />

criatividade, a prudência e a vontade iam-lhe dando forma. Tratava-se de ouvir bem,<br />

de dar atenção a todos, clientes, colaboradores, fornec<strong>ed</strong>ores, etc.; de cumprir sempre<br />

as obrigações, o que nem sempre foi fácil; de cuidar que as relações estabelecidas<br />

fossem para além do meramente profissional, atentos a todas as dificuldades, com<br />

a certeza de que não seria nunca perda de tempo; de pagar salários justos sem olhar<br />

apenas ao desempenho, necessidades e capacidades da empresa; de manter os<br />

trabalhadores informados das estratégias, das transformações, dos objectivos, das<br />

preocupações. Aquando da aquisição de novos equipamentos, dar-lhes tranquilidade<br />

quanto à sua formação e segurança no emprego.<br />

142 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

No âmbito da Economia de Comunhão, os lucros deveriam orientar-se em três<br />

vertentes: uma parte para reinvestir, outra parte para os pobres e outra ainda para<br />

formar homens novos. O lucro vale não pela quantidade mas pela sua humanidade.<br />

Seria absurdo pôr em comum um lucro desumanizado.<br />

Como é que Faria & Irmão se organizou em função do projecto “Economia<br />

de Comunhão”: estimulando o respeito recíproco; estimulando um ambiente de<br />

família, de solidari<strong>ed</strong>ade e de entreajuda; cuidando do enquadramento legal de todos;<br />

promovendo a formação técnica; pagando salários justos e criando condições dignas<br />

de trabalho; pondo à disposição todas as ajudas e meios solicitados à empresa.<br />

Será que uma empresa gerida assim pode sobreviver<br />

Claro que vive, e mais, consegue proporcionar a outras mais dignidade.<br />

Paga impostos. Apoia organismos de solidari<strong>ed</strong>ade social, sobretudo os menos<br />

m<strong>ed</strong>iatizados, sempre com discrição. Apoia iniciativas de âmbito social e cultural,<br />

nomeadamente revistas, congressos e escolas que divulguem e formem a ”cultura<br />

do dar”. Está atenta à pobreza que nos está mais próxima, por exemplo através de<br />

emprego social que neste momento corresponde a 3 postos de trabalho sem qualquer<br />

apoio estatal. Participa e apoia projectos de solidari<strong>ed</strong>ade.<br />

Não pretendemos ser uma alternativa às empresas já existentes, procuramos<br />

apenas – humildemente - provar que é possível transformar as estruturas já existentes<br />

sem que se perca competitividade.<br />

É também verdade que a Economia de Comunhão não é um toque de magia, algo<br />

de paradisíaco. Há imensas dificuldades, quase desilusões, cansaço. Aí somos todos<br />

iguais. Porém há uma grande certeza: as soluções surgem sempre e, arrisco afirmar<br />

porque essa é a nossa experiência, surpreendem sempre de forma positiva.<br />

Uma particularidade de Economia de Comunhão é a alegria de participar num<br />

enorme projecto que vai muito para além do nosso mérito e capacidades pessoais. É<br />

sentir a presença daquele sócio que parece oculto mas que se sente, que sugere, que<br />

modera, que dá confiança, coragem, que ilumina e tempera as decisões, as iniciativas<br />

e as estratégias.<br />

Procuramos que tudo seja decidido por unanimidade. Sempre entre nós imperou<br />

o respeito pelas diferenças.<br />

Outra particularidade da nossa experiência é que advertimos, por várias<br />

circunstâncias que estão para além do nosso empenho, que alguém parece confiar<br />

em nós mais do que seria de supor.<br />

Há mais valias que seguramente não resultam do nosso mérito, que ocorrem<br />

e que (com normalidade) nos levam a dar continuidade àquele fluxo que vem não<br />

sabemos bem de onde, e que passa por nós para chegar aos seus destinatários de<br />

direito.<br />

É um movimento contabilístico de dever e haver que nos surpreende,<br />

verdadeiramente espectacular, que desfaz as nossas dúvidas e nos estimula a acr<strong>ed</strong>itar<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 143


. teologia/pastoral .<br />

cada vez mais na “providência”. Rapidamente dizemos: não tem acontecido nada<br />

porque não “demos” nada, está na hora de voltar a acr<strong>ed</strong>itar.<br />

Em Faria & Irmão, onde se procura gerir em função da economia de comunhão,<br />

deixa-se espaço para a intervenção de Deus, conta-se mesmo com ela. Experimentase<br />

que, após cada decisão - muitas delas tomadas em sentido contrário daquele que<br />

a prática comercial aconselha – Deus não deixa que falte aquele cêntuplo que Jesus<br />

prometeu: um lucro inesperado, uma oportunidade imprevista, a oferta de uma nova<br />

colaboração, a ideia para uma nova estratégia.<br />

144 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

Semana da Vida - À luz da Encíclica Spe Salvi de Bento XVI<br />

Vida com Esperança<br />

Sobre a “Vida com Esperança”, tema da Semana da Vida 2008 (11 A 18 DE<br />

Maio), o Departamento Nacional da Pastoral Familiar, órgão da Comissão<br />

Episcopal do Laicado e Família, publicou um texto introdutório que<br />

apresenta o fio condutor da Encíclica “Spe salvi” do Papa Bento XVI. Na<br />

perspectiva de vir a ser útil preparando uma leitura integral mais atenta,<br />

proporcionando um apanhado final das ideias fundamentais, ou possibilitando<br />

ao menos um resumo a quem nunca venha a contactar directamente<br />

com o texto, publicamos a referida introdução que é parte integrante da<br />

documentação distribuída para a celebração da Semana da Vida 2008.<br />

As expectativas e os níveis de confiança são temas recorrentes, cada vez mais<br />

abundantes, nas páginas informativas. Podemos reflectir muito sobre a questão,<br />

sem excluir indesmentíveis interesses. Ficaremos sempre em falta se esquecermos<br />

o desejo nativo e íntimo que relança a pessoa na busca do durável, do sólido e do<br />

eterno, mesmo numa soci<strong>ed</strong>ade concentrada no supérfluo e no im<strong>ed</strong>iato. A coragem<br />

de abraçar a vida todos os dias radica em anseios naturais, alguns manifestamente<br />

superiores às estritas possibilidades humanas.<br />

Após o referendo de 11 de Fevereiro de 2007, que abriu as portas à liberalização do<br />

aborto, a Conferência Episcopal Portuguesa apelou a uma resposta criativa e ousada,<br />

aos desafios de uma acentuada mutação cultural, marcada pela ausência de valores<br />

éticos fundamentais (cf. Nota Pastoral de 16/2/2007). Nesse novo contexto, a Semana<br />

da Vida – 2007 indicava a vocação fundamental de todos à felicidade construída na<br />

comunhão, e fortalecia os crentes na certeza de que os desejos humanos mais genuínos<br />

e profundos são também anseios de Deus. No mesmo contexto, a Comissão Episcopal<br />

do Laicado e Família propõe agora a Semana da Vida – 2008, d<strong>ed</strong>icada à Vida com<br />

Esperança, à luz da recente encíclica Spe Salvi do Papa Bento XVI.<br />

Fomos salvos na esperança fid<strong>ed</strong>igna, graças à qual podemos enfrentar o nosso<br />

tempo presente (SS 1). Bento XVI inicia assim a sua proposta de um entendimento<br />

da esperança baseado no testemunho bíblico e na fé da Igreja, ao contrário das pretensões<br />

do tempo moderno de encontrar esse entendimento longe de Deus.<br />

No fim da primeira parte da Encíclica, o Papa propõe um resumo da sua reflexão<br />

sobre a fisionomia da esperança cristã. Começando pela apresentação quase integral<br />

deste resumo, prosseguiremos ao mesmo ritmo, lendo e sintetizando a Encíclica e<br />

procurando manter o próprio texto, sempre que possível. A intenção é destacar os<br />

pontos principais, facilitar a sua apreensão e incentivar uma leitura integral.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 145


. teologia/pastoral .<br />

1. Das nossas esperanças à grande esperança<br />

O homem, na sucessão dos dias, tem muitas esperanças – menores ou maiores<br />

– distintas nos diversos períodos da sua vida. […] Quando estas esperanças se realizam,<br />

resulta com clareza que na realidade, isso não era a totalidade. O homem<br />

necessita de uma esperança que vá mais além. Vê-se que só algo de infinito lhe pode<br />

bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que ele alguma vez possa alcançar.<br />

[…] (30).<br />

Precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm<br />

a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas<br />

não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e<br />

nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir […]. Deus é o<br />

fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um<br />

rosto humano e que nos amou até ao fim: cada indivíduo e a humanidade no seu conjunto.<br />

O seu reino não é um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais<br />

chega; o seu reino está presente onde Ele é amado e onde o seu amor nos alcança.<br />

Somente o seu amor nos dá a possibilidade de perseverar com toda a sobri<strong>ed</strong>ade,<br />

dia após dia, sem perder o ardor da esperança, num mundo que, por sua natureza,<br />

é imperfeito. E, ao mesmo tempo, o seu amor é para nós a garantia de que existe<br />

aquilo que intuímos só vagamente e, contudo, no íntimo esperamos: a vida que é<br />

«verdadeiramente» vida (31).<br />

2. Jesus, Mestre e Pastor<br />

Lembrando duas imagens que os cristãos colocavam nos túmulos para afirmarem<br />

a vitória sobre a morte, o Papa apresenta Cristo como o filósofo – que ensinou a arte<br />

de ser rectamente homem, a arte de viver e de morrer – e como o pastor – que, mesmo<br />

na estrada da derradeira solidão, onde ninguém me pode acompanhar, caminha<br />

comigo, servindo-me de guia ao atravessá-la. Ele mesmo percorreu esta estrada,<br />

desceu ao reino da morte, venceu-a e voltou para nos acompanhar (6). Deus pode<br />

saciar o nosso desejo, propondo e dando-nos o que não conseguimos sozinhos. Aliás,<br />

Jesus não se limita a informar-nos sobre as realidades futuras: transforma e sustenta<br />

a nossa vida presente trazendo desde já para ela, em antecipação, algo da perfeição<br />

anunciada (cf. 6).<br />

3. Do amor humano ao amor incondicionado<br />

Entre as esperanças humanas, todas limitadas, Bento XVI destaca o amor. Frágil<br />

em si mesmo, este pode ser salvo por Deus que, tendo-nos amado e amando-nos<br />

ainda agora «até ao fim», é a nossa única grande esperança (26).<br />

Quando alguém experimenta um grande amor, conhece, um momento de «r<strong>ed</strong>enção»<br />

que dá um sentido novo à sua vida. Mesmo assim, o ser humano necessita do<br />

amor incondicionado e só está «r<strong>ed</strong>imido» quando exclamar: «Vivo na fé do Filho de<br />

Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim» (Gal 2,20), (26).<br />

146 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente a<br />

vida. Explicando que a vida plena e abundante (cf. Jo 10,10), consiste em conhecer<br />

o Pai e a Jesus Cristo que Ele enviou (cf. Jo 17,3), Jesus afirma que só há vida total<br />

na relação com Aquele que é fonte da vida, a própria Vida e o próprio Amor. Por isso,<br />

mesmo podendo ter muitas esperanças, quem não conhece Deus, no fundo está sem<br />

esperança (cf. Ef 2,12), (27).<br />

Mesmo indiciando “r<strong>ed</strong>enção” e com intuições de vida, o amor humano, na sua<br />

estrita dimensão, permanece frágil. Conduzindo-nos à necessidade intrínseca de o<br />

amor humano se entender no desígnio divino, Bento XVI coloca-nos na senda da<br />

Exortação Familiaris Consortio de João Paulo II: Jesus Cristo revela a verdade<br />

originária do matrimónio […] e, libertando o homem da dureza do seu coração,<br />

torna-o capaz de a realizar inteiramente. O seu Espírito infunde, doa um coração<br />

novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou (FC<br />

13). Somente na fé, (os esposos) podem descobrir e admirar com jubilosa gratidão<br />

a que dignidade Deus quis elevar o matrimónio e a família, constituindo-os sinal<br />

e o lugar da aliança de amor entre Deus e os homens, entre Jesus Cristo e a Igreja<br />

sua esposa (FC 51).<br />

4. «Lugares de aprendizagem e de exercício da esperança<br />

4.1. A oração como escola de esperança<br />

Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar<br />

com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há<br />

mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma<br />

expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se<br />

me encontro confinado numa extrema solidão... o orante jamais está totalmente só<br />

(32).<br />

Juntando o exemplo de Santo Agostinho, Bento XVI prossegue: O homem foi<br />

criado […] para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração<br />

é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser<br />

dilatado. Citando Agostinho: “Supõe que Deus queira encher-te de mel […]. Se tu,<br />

porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel O vaso, ou seja o coração, deve<br />

primeiro ser dilatado e depois limpo […]” (cf. In 1 Joannis 4,6: PL 35, 2008s). […]<br />

O homem neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não se<br />

torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. […] O modo correcto<br />

de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e […]<br />

aptos também para os homens (33).<br />

Reflexões<br />

4.2. Agir e sofrer, lugares de aprendizagem da esperança<br />

Sem a luz daquela esperança que não pode ser destruída por falências de alcance<br />

histórico, o esforço cansa-nos ou transforma-se em fanatismo. Só a certeza de que<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 147


. teologia/pastoral .<br />

a minha vida e a história estão conservadas no poder indestrutível do Amor e possuem,<br />

por isso, sentido e importância, dá coragem para continuar. O nosso agir não<br />

é indiferente a Deus e, portanto, também não o é para o desenrolar da história.<br />

Abertos ao ingresso de Deus, contribuímos para a salvação do mundo. Isto conserva<br />

um sentido, mesmo quando, aparentemente, não temos sucesso […] face à<br />

hegemonia de forças hostis. […] É a grande esperança apoiada nas promessas de<br />

Deus que […] nos dá coragem e orienta o nosso agir (35).<br />

Também o sofrimento faz parte da existência humana. […] Eliminá-lo completamente<br />

não está ao nosso alcance. Só Deus o poderia fazer: só um Deus que pessoalmente<br />

entra na história fazendo-Se homem e sofre nela. Sabendo da sua presença<br />

e do seu poder que «tira os pecados do mundo» (Jo 1,29), possuímos a esperança da<br />

cura do mundo, conscientes, embora, do seu ainda não cumprimento. Esta esperança<br />

dá-nos a coragem de nos colocarmos da parte do bem (36).<br />

Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a<br />

capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido<br />

através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor. Descendo ao mais atroz<br />

sofrimento, Ele ficou perto de quem sofre e transformou as trevas em luz. […] O<br />

sofrimento – sem deixar de o ser – torna-se, apesar de tudo, canto de louvor (37).<br />

A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento<br />

e com quem sofre. É cruel e desumana a soci<strong>ed</strong>ade que não aceita os que<br />

sofrem e não é capaz de assumir e partilhar os seus sofrimentos. Aceitar o outro que<br />

sofre significa, de facto, assumir de alguma forma o seu sofrimento, de tal modo que<br />

este se torna também meu. O sofrimento partilhado é penetrado pela luz do amor,<br />

como exprime a palavra latina con-solatio, consolação, sugerindo um estar-com na<br />

solidão, que então deixa der ser solidão.<br />

Mas, a capacidade de aceitar o sofrimento por amor do bem, da verdade e da<br />

justiça é também constitutiva da grandeza da humanidade, porque se o meu bem-estar<br />

é mais importante do que a verdade e a justiça, vigoram o mais forte, a violência<br />

e a mentira.<br />

Por fim, também o «sim» ao amor é fonte de sofrimento, porque o amor exige<br />

sempre expropriações do meu eu, nas quais me deixo podar e ferir.<br />

O amor não pode existir sem esta renúncia mesmo dolorosa a mim mesmo (38).<br />

O outro é suficientemente importante, para que por ele eu me torne uma pessoa que<br />

sofre Para mim, a verdade é tão importante que compensa o sofrimento A promessa<br />

do amor é assim tão grande que justifique o dom de mim mesmo O homem tem<br />

para Deus um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer<br />

com o homem. […] A partir de lá, propaga-se em todo o sofrimento a consolação do<br />

amor solidário de Deus. Surgiu assim a verdadeira grande esperança de que necessito<br />

para assumir antepor a verdade ao bem-estar, à carreira e à propri<strong>ed</strong>ade (39).<br />

Fazia parte duma forma de devoção […] a ideia de poder «oferecer» as pequenas<br />

canseiras da vida quotidiana […]. Que significa «oferecer» Estas pessoas<br />

148 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. teologia/pastoral .<br />

estavam convencidas de poderem inserir no grande com-padecer de Cristo as suas<br />

pequenas canseiras […]. Deveríamos talvez interrogar-nos se verdadeiramente isto<br />

não poderia voltar a ser uma perspectiva sensata também para nós (40).<br />

4.3. O Juízo como lugar de aprendizagem e de exercício da esperança<br />

«De novo há-de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos» (Cr<strong>ed</strong>o<br />

da Igreja). […] O ateísmo dos séculos XIX e XX protestou contra as injustiças do<br />

mundo e da história. […] Sem um Deus que crie justiça, essa tarefa caberá então ao<br />

homem. Ora, se diante do sofrimento deste mundo o protesto contra Deus é compreensível,<br />

a pretensão de a humanidade poder e dever fazer aquilo que nenhum Deus<br />

faz nem é capaz de fazer, é presunçosa e intrinsecamente não verdadeira. Desta<br />

pretensão resultaram as maiores crueldades e violações da justiça. Um mundo que<br />

deve criar a justiça por sua conta, é um mundo sem esperança. Nada nem ninguém<br />

responde pelo sofrimento dos séculos […] nem garante que o cinismo do poder não<br />

continue (42).<br />

Deus fez-Se uma «imagem» em Cristo que Se fez homem […] e revela a sua<br />

Face na figura do servo sofr<strong>ed</strong>or que partilha a condição do homem abandonado<br />

por Deus, tomando-a sobre si. Este sofr<strong>ed</strong>or inocente tornou-se esperança-certeza:<br />

Deus existe e sabe criar a justiça de um modo que nós não somos capazes de conceber<br />

mas que, pela fé, podemos intuir. Existe a ressurreição da carne. Existe uma<br />

justiça. Existe a «revogação» do sofrimento passado, a reparação que restabelece o<br />

direito. Por isso, a fé no Juízo final é, primariamente, e sobretudo esperança. Estou<br />

convencido de que a questão da justiça constitui o argumento essencial […] a favor<br />

da fé na vida eterna […] (43).<br />

Só Deus pode criar justiça. […] A imagem do Juízo final não é primariamente<br />

uma imagem aterradora, mas de esperança […]. Mas não é porventura também<br />

uma imagem assustadora Eu diria: é uma imagem que apela à responsabilidade.<br />

[…] Deus é justiça e cria justiça. […] Mas, na sua justiça, Ele é conjuntamente<br />

também graça […] que não exclui a justiça. Não é uma esponja que apaga tudo, de<br />

modo que tudo quanto se fez acabe por ter o mesmo valor […] (44).<br />

Com a morte, a opção de vida feita pelo homem torna-se definitiva e está diante<br />

do Juiz. A sua opção […] pode ter caracteres diversos. Pode haver pessoas que<br />

destruíram totalmente o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor […] Em<br />

tais indivíduos, não haveria nada de rem<strong>ed</strong>iável […]: é já isto que se indica com a<br />

palavra inferno. Por outro lado, podem existir pessoas puríssimas, que se deixaram<br />

penetrar inteiramente por Deus […] totalmente abertas ao próximo – pessoas […]<br />

cuja chegada a Deus apenas leva a cumprimento aquilo que já são (45). Mas, […]<br />

na maioria dos homens – como podemos supor – perdura […] uma derradeira abertura<br />

interior para a verdade, para o amor, para Deus. […] porém, aquela é sepultada<br />

sob repetidos compromissos com o mal: muita sujeira cobre a pureza que, apesar<br />

de tudo, […] continua presente na alma. O que acontece […] diante do Juiz<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 149


. teologia/pastoral .<br />

São Paulo, usando imagens […], dá-nos uma ideia da distinta repercussão do<br />

juízo de Deus sobre o homem, conforme as suas condições e afirma que a existência<br />

cristã está construída sobre um fundamento comum, Jesus Cristo, que não nos será<br />

tirado: «Se alguém <strong>ed</strong>ifica sobre este fundamento com ouro, prata, p<strong>ed</strong>ras preciosas,<br />

madeira, feno ou palha, a obra de cada um ficará patente, pois o dia do Senhor a fará<br />

conhecer. Pelo fogo será revelada e o fogo provará a obra de cada um […]» (1 Cor<br />

3,12-15). No texto torna-se evidente que a salvação dos homens pode acontecer sob<br />

distintas formas: algumas coisas <strong>ed</strong>ificadas podem queimar completamente; para alcançar<br />

a salvação, é preciso atravessar pessoalmente o «fogo» para se tornar definitivamente<br />

capaz de Deus e poder sentar-se à mesa do banquete nupcial eterno (46).<br />

Teólogos recentes são de parecer que o fogo que simultaneamente queima e salva<br />

é o próprio Cristo. […] As coisas <strong>ed</strong>ificadas durante a vida podem então revelar-se<br />

palha seca […] Porém, na dor deste encontro está a salvação. […] Uma dor feliz, em<br />

que o poder do seu amor nos penetra como chama, consentindo-nos no final sermos<br />

totalmente nós mesmos e, por isso mesmo, totalmente de Deus. […] O nosso modo<br />

de viver não é irrelevante, mas a nossa sujeira não nos mancha para sempre, se ao<br />

menos continuámos inclinados para Cristo, para a verdade e para o amor. No fim de<br />

contas, esta sujeira já foi queimada na Paixão de Cristo. […] O Juízo de Deus é esperança<br />

quer porque é justiça, quer porque é graça. […] A graça permite-nos esperar<br />

e caminhar cheios de confiança ao encontro do Juiz que conhecemos como nosso<br />

«advogado», parakletos (cf. 1 Jo 2,1).<br />

Que o amor possa chegar até ao além, […] constituiu uma convicção fundamental<br />

do cristianismo através dos séculos e ainda permanece uma experiência reconfortante.<br />

Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes queridos, […] um sinal<br />

de bondade, de gratidão ou mesmo de p<strong>ed</strong>ido de perdão […] Deveremos dar-nos<br />

conta de que nenhum homem é uma mónada fechada em si mesma. As nossas vidas<br />

estão em profunda comunhão […]. Deste modo, a minha intercessão pelo outro não é<br />

uma coisa que lhe é estranha. […] A minha oração por ele pode significar uma pequena<br />

etapa da sua purificação. Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me<br />

a mim mesmo Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que<br />

os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança (48).<br />

5. Maria, estrela da esperança<br />

Rumo à meta, a vida é como uma viagem no mar da história, com frequência<br />

enevoada e tempestuosa. Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre<br />

todas as trevas da história. Mas para chegar até Ele, precisamos também de luzes<br />

vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d’Ele. E quem mais do que Maria<br />

poderia ser para nós estrela de esperança O Santo Padre convidando-nos a uma<br />

longa e terna oração. Com ele rezamos: […] Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a<br />

crer, a esperar e a amar convosco […]. Estrela do Mar, brilhai sobre nós e guiai-nos<br />

no nosso caminho.<br />

150 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


Breves notas históricas<br />

. teologia/pastoral .<br />

A Misericórdia de <strong>Leiria</strong> e o seu hospital<br />

Por padre João Trindade<br />

No passado dia 7 de Junho, fez-se a celebração inaugural e implorou-se a bênção<br />

de Deus para o Hospital D. Manuel de Aguiar, para os doentes e para todos os que<br />

ali irão prestar serviço.<br />

Fundada no ano longínquo de 1544, tendo com o objectivo fundacional de prover<br />

às necessidades espirituais e temporais dos irmãos mais carenciados, a Santa Casa<br />

da Misericórdia de <strong>Leiria</strong>, inspirando-se em princípios evangélicos, começou desde<br />

logo a debruçar-se sobre a situação dos doentes da sua área de actuação.<br />

As doenças eram muitas, com destaque para a lepra, e as instituições humanitárias,<br />

de iniciativa privada ou por concertação entre pessoas da mesma profissão e condição<br />

social, mesmo se numerosas, não tinham condições nem dimensão.<br />

O bispo D. Martim Afonso Mexia (1605-1615) obteve autorização régia para que<br />

as muitas albergarias, gafarias e hospitais existentes na área da <strong>Diocese</strong> transferissem<br />

os seus fracos recursos para a Misericórdia e que esta assumisse o encargo de zelar<br />

por todos os doentes, solução já adoptada em Lisboa com o Hospital de Todos os<br />

Santos. E o bispo que lhe suc<strong>ed</strong>eu, D. Diniz de Mello (1627-1636), na qualidade de<br />

Prov<strong>ed</strong>or da instituição, promoveu a construção do primeiro hospital de <strong>Leiria</strong>, nas<br />

im<strong>ed</strong>iações da igreja da Misericórdia. O hospital da Misericórdia permaneceu nessa<br />

zona da judiaria, cerca de século e meio.<br />

D. Manuel de Aguiar, pouco depois de chegar a <strong>Leiria</strong>, em Agosto de 1790,<br />

visitando as várias instituições ligadas à Igreja, inventariou as necessidades<br />

existentes e traçou um plano de intervenção de acordo com a disponibilidade dos<br />

recursos. A construção dum novo hospital é então considerada prioritária por as<br />

condições em que os muitos doentes eram alojados não garantirem um mínimo de<br />

dignidade. Apoiado nos que compreendiam o alcance do seu sonho, D. Manuel de<br />

Aguiar decide que o mesmo seja implantado no Bairro dos Anjos, no local da capela<br />

que servia aquele núcleo citadino.<br />

O reconhecimento geral da necessidade e a mobilização dos esforços de muitos<br />

fizeram com que o nobre e majestoso <strong>ed</strong>ifício, iniciado em 1798, estivesse concluído<br />

e em condições de receber os primeiros doentes a 8 de Junho de 1800. O próprio<br />

Bispo, conduzindo a sua carruagem, colaborou no transporte dos doentes para o<br />

novo hospital da Misericórdia que os leirienses, com merecimento reconhecido,<br />

designaram, até hoje, com o nome do seu fundador, D. Manuel de Aguiar.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 151


. teologia/pastoral .<br />

Dois séculos volvidos, quantas histórias belas não podiam ser contadas pelos<br />

milhares de doentes, mendigos e desafortunados que ali recuperaram a saúde ou<br />

obtiveram o acompanhamento digno de seres humanos que se desp<strong>ed</strong>em da vida.<br />

Quantas mães ali deram à luz os seus filhos quando o saber e jeito das parteiras<br />

não garantiam o êxito em partos complicados! Quantos médicos, enfermeiros,<br />

empregados e capelães não lidaram com situações complicadas em que a vida e a<br />

morte dependiam da sua competência e zelo!<br />

Nem tudo foram rosas. Foram muitos os reveses ao longo de dois séculos. O<br />

estado de degradação a que o hospital se viu votado após a ocupação, na sequência<br />

da revolução de Abril de 1974, só teve paralelo nas invasões napoleónicas. Só<br />

faltaram os incêndios.<br />

Agora, que se encontra recuperado, equipado e, em parte, já activado, importa<br />

respeitar a sua bela história bissecular e secundar o ingente esforço que a sua<br />

restauração exigiu às Mesas Administrativas que se empenharam em tornar realidade<br />

o sonho de devolver à cidade, à diocese, ao distrito e por que não, ao país, este belo<br />

monumento.<br />

152 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Capelas e ermidas<br />

na Paróquia da Batalha em Setecentos<br />

Saul António Gomes<br />

(Universidade de Coimbra)<br />

1 — Ao aludir às ermidas existentes na freguesia religiosa da Batalha, meado<br />

do Século XVII, o ainda não identificado, pelo menos em definitivo, autor de O<br />

Couseiro ou Memórias do Bispado de <strong>Leiria</strong> 1 , preciosíssimo repertório da história<br />

eclesiástica da região leirenense, depois de descrever o majestoso Mosteiro de Santa<br />

Maria da Vitória, a Capela de Santa Maria-a-Velha, a Capela de Nossa Senhora da<br />

Vitória, erecta no Hospital do mesmo orago e a igreja matriz da vila, da invocação da<br />

Santa Cruz, passa a enunciar as demais ermidas existentes no termo paroquial.<br />

Para umas, dá-nos as datas de construção ou instituição, enquanto que, para<br />

outras, de maior antiguidade, tais dados lhe escaparam. Menciona, deste modo, as<br />

seguintes ermidas:<br />

— Nossa Senhora da Conceição das Brancas, “no mesmo sitio em que esteve<br />

outra, muito antiga e pequena”.<br />

— Santo Antão da Faniqueira, “antiquissima, devotos a fabricam, e a confraria<br />

que tem, posto que sem renda, o Santo é de vulto, tem retabulo, antigo, com<br />

figuras, tudo dourado.” 2<br />

— S. Bento da Cividade, antiga “mas já reformada e fabricada por devotos; tem<br />

sacristia e um alpendre á porta principal, que se fez no anno de 1582”.<br />

— Jesus da Golpilheira [em 1721 será referida como do Bom Jesus] com duas<br />

capelanias de missas, uma instituída por Diogo Frade (com 20 missas por<br />

ano) e outra por P<strong>ed</strong>ro Gomes 3 , “escrivão que foi da chancelaria do reino,<br />

que mandou fazer esta ermida” (com 50 missas anuais).<br />

— Santa Maria Madalena, “na estrada que vai para a Boutaca (…) a qual foi<br />

feita no anno de 1571 e dotada por pessoa particular”. Referida, em 1721,<br />

como ficando “aos Olivais”, erecta por “huma Fulana de Vivar”, nela celebrando<br />

missa e sermão todos os anos, a 22 de Julho, os frades dominicanos.<br />

— Nossa Senhora da Consolação [de Nossa Senhora da Esperança, em 1721], na<br />

Canoeira, com 15 missas de obrigação em cada ano, ao cuidado do morgado<br />

Mateus Trigueiro, que a instituiu e com cujas casas pegava 4 . Foi fundada por<br />

Rui Lopes Cea, cerca de 1550.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 153


. história .<br />

— S. João Baptista, abaixo da Canoeira, de que era administradora, cerca de<br />

1650, D. Maria de Sousa, do Arrabalde da Ponte de <strong>Leiria</strong>.<br />

— Santo António, no lugar de Bico-Sachos, “feita e dotada por um sacerdote<br />

chamado Jeronymo Ribeiro, no anno de 1625” 5 .<br />

— [Santo Antonio] da Rebolaria, “feita no anno de 1643 pelos moradores do<br />

mesmo lugar”.<br />

— S. Sebastião no lugar do Freixo [então Casal do Freixo] 6 .<br />

Uma relação devida a Manuel Cardoso de Mendonça, vigário da Batalha, datada<br />

de 17 de Maio de 1721 7 , acrescenta às enumeradas pelo autor de O Couseiro, as<br />

seguintes novas capelas:<br />

— Capela de S. Sebastião na Quinta de Manuel Correia, “mistica com as cazas”, instituída<br />

por Tomé Pereira de Mesquita, com obrigação de missa dominical somente.<br />

— Ermida da Quinta do Pinheiro da invocação de Nossa Senhora dos Anjos do<br />

Bom Sucesso, levantada pelos religiosos dominicanos em 1677 e reparada,<br />

cerca de 1713-1714, pelo enfiteuta da Quinta, Manuel da Costa Pereira.<br />

— Ermida de S. João na Quinta de Sebastião Soares Evangelho, “por elle modernamente<br />

<strong>ed</strong>ificada e elle a fabrica”. Em 1758, esta capela é dita da “Quinta<br />

de André Cardozo Moniz, da sidade de <strong>Leiria</strong>, de que hé administrador e<br />

está a capella separada das cazas da Quinta.” 8<br />

A relação do estado da freguesia, subscrita pelo Vigário Paulino da Silva e Carvalho,<br />

a 1 de Maio de 1758, confirma a r<strong>ed</strong>e de capelas batalhenses enunciada pelos<br />

seus antecessores, precisando a invocação de S. Gonçalo, para a Capela da Quinta<br />

da Várzea, dos padres dominicanos, bem como os administradores responsáveis por<br />

esses templos no seu tempo. De novo, refere-se a Capela de Nossa Senhora do Desterro,<br />

na Quinta do Sobrado, instituída e administrada pelo Pe. José dos Reis 9 . Não<br />

se menciona em nenhum destes apontamentos a pequenina ermida de Nossa Senhora<br />

do Caminho, levantada nas im<strong>ed</strong>iações da antiga cerca do Mosteiro.<br />

2 — Todas as anteriores ermidas e capelas pressupõem construções arquitectónicas<br />

de templos. No estabelecimento ou fundação dessas casas de oração estiveram<br />

tanto instituições eclesiásticas, quanto vontades individuais, enformadas numa vontade<br />

religiosa ou espiritual. Mas a fundação de “capelas” nem sempre obrigava à<br />

construção de um templo ou altar. Poderia resultar de um contrato ou compromisso,<br />

para celebração de missas por alma, entre um pi<strong>ed</strong>oso instituidor e um instituto religioso<br />

secular ou regular.<br />

Para garantir a sobrevivência destas “capelas por alma”, os instituidores afectavam<br />

ou dotavam fazenda e bens próprios, sempre com autorização legal, de cujos<br />

rendimentos deveria resultar o dinheiro necessário para a sustentação dessas mesmas<br />

154 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Igreja de Nossa Senhora da Conceição - Brancas (Foto LMFerraz)<br />

Reflexões<br />

Igreja do Bom Jesus - Golpilheira (Foto LMFerraz)<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 155


. história .<br />

capelas. Esses bens ficavam vinculados ou obrigados à garantia de realização do<br />

contrato estabelecido.<br />

É a este género de capelanias que se refere a relação elaborada pelo prov<strong>ed</strong>or da<br />

Comarca de <strong>Leiria</strong>, também no ano de 1721, quando enumera as capelas instituídas<br />

por particulares tais como:<br />

— Capela instituída por Luís Machado da Costa, em 7 de Dezembro de 1655, na<br />

Misericórdia da Batalha.<br />

— Capela instituída por Mateus Fernandes, de Alcanada, em 1 de Junho de<br />

1620, de que era administrador João dos Reis Neto.<br />

— Capela instituída por Isabel Vieira, do termo de Porto de Mós, chamada do Almoxarife,<br />

em 7 de Janeiro de 1674, de que era administrador João Vieira Leite.<br />

— Capela instituída por Francisco Leite Henriques, em 4 de Fevereiro de 1654,<br />

de que era administrador o mesmo.<br />

— Capela instituída por Fernando Alves, em 23 de Junho de 1618, de que era<br />

administrador José Henriques.<br />

— Capela instituída pelo Pe. Miguel Gonçalves, morador que fora nas Brancas, em<br />

8 de Outubro de 1671, da qual era administrador o citado José Henriques 10 .<br />

Não é referida, para a maior parte destas instituições, a igreja em que ficavam<br />

estabelecidas, mas cremos que seja a igreja de Santa Cruz da Batalha, matriz paroquial.<br />

Terá sido uma capela deste género que instituiu Duarte Boutaca, em 1587, da<br />

qual pouco mais sabemos do que a notícia genealógica que a refere e que associa esta<br />

luzida família à vila da Batalha:<br />

“Boutaca da Batalha.<br />

Felipe Boutaca Henriques e sua mulher Jeronima Boutaca: Padrão de 65<br />

330 [réis] na Caza da India por Bartolomeu Froes escrivam da Fazenda, 17 de<br />

Setembro 1566, filha de Bernardo Boutaca . Este lhe deyxou per titulo<br />

de 11 de Abril de 1571, irmã de Duarte Boutaca em que diz que teve a Jeronima<br />

em Maria Eytor que deixa h(erdeiro) e tutor a seu irmão delle tutor por nome Antão Boutaca e que a caza com hum Padrão dexa ao irmão o officio<br />

de Juiz da Alfandega … (). Diz que com seus irmaos aceitara a instituiçam<br />

da Capela que fez seu irmão Duarte Boutaca, escrita por Theodozio Mendes<br />

tabeliam de Leyria e o filho e a mulher venderão a Eytor Mendes, 30 de Julho<br />

1587. Notas de Miguel Alvarez.” 11<br />

Na Batalha dessa época pesavam, entre outras e para além dos Boutaca, as famílias<br />

dos Arruda e dos Seixas, entroncando todas elas na aristocracia dos mestres<br />

arquitectos, canteiros e oficiais das obras do estaleiro do claustro gótico ali <strong>ed</strong>ificado<br />

ao longo de mais de um século 12 .<br />

156 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

3 — A Capela de S. Sebastião, <strong>ed</strong>ificada junto às casas da Quinta de Manuel<br />

Correia, segundo a relação paroquial de 1721, não pode deixar de identificar-se com<br />

a ermida actualmente existente na conhecida Quinta do Fidalgo. Já aí estava como<br />

vemos, em 1721, devendo-se a sua instituição a Tomé Pereira de Mesquita, pai do<br />

citado Manuel Correia.<br />

Este Manuel Correia deverá identificar-se como sendo o Dr. Manuel Correia<br />

de Mesquita Barba, casado com D. Teodora Bernardina Marques de Almeida, os<br />

quais, por escritura de 18 de Maio de 1740, lavrada nas “suas casas de morada”,<br />

dotaram a referida capela com uma renda de cinco mil réis anuais. Nesta data, revela<br />

o documento que seguimos, eles propunham-se pela sua “devossam de <strong>ed</strong>ificarem<br />

a esta dita sua quinta huma capella do Martri [sic] Sam Sebastiam para o que tem<br />

recorrido ao Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Bispo de <strong>Leiria</strong> para mandar<br />

exeminar o citio e cons<strong>ed</strong>er licensa” 13 .<br />

Deve tratar-se da <strong>ed</strong>ificação ou beneficiação de um novo <strong>ed</strong>ifício uma vez que,<br />

como vimos, a capela existia já em 1721 e era da fundação paterna de Manuel Correia<br />

de Mesquita Barba. São poucos os dados de que dispomos para a história desta<br />

quinta e dos seus morgados. O nome completo da mulher do Dr. Manuel Correia era<br />

Teodora Bernardina de Almeida Pacheco e Arnizaut, filha do Capitão André Marques<br />

e de D. Isabel de Almeida, colonos que foram no Brasil, tratando-se na cidade<br />

da Baía, por 1765, a questão da herança deixada pelos mesmos. Uma sua irmã, de<br />

nome Maria, era “demente a natividade”, reclamando-se D. Teodora sua tutora e<br />

herdeira, posto que tivesse outros irmãos e irmãs 14 .<br />

Era herança apreciável, cujas partilhas e inventário mereceram interposição de<br />

apelação. D. Teodora e seu marido louvaram-se, em 13 de Fevereiro do ano de 1765,<br />

no Reverendo Dr. António da Costa Andrade, residente na Baía, para seu procurador<br />

ou, no imp<strong>ed</strong>imento deste, em José Pereira da Fonseca. Também as filhas do casal,<br />

D. Ana Isabel Antonina Barba de Vera Pimentel, D. Isabel Joana Rita Barba de Vera<br />

e Arnizaut e D. Teresa de Jesus Maria Barba Pacheco e Arnizaut, um dia depois,<br />

subscreveram idêntica procuração. Por ela relevam serem sobrinhas de Bernardino<br />

Marques de Almeida e Arnizaut, residente na Baía, o qual entregou dos legados que<br />

lhes cabiam, um milhão quinhentos e trinta e oito mil setecentos e cincoenta réis,<br />

quantia que as constituintes consideravam inferior à devida, pois que se “lhe não<br />

pagaram logo os ditos legados do muyto dinheyro que ficou por morte do dito seu<br />

avô na cidade de Lisboa”. Ao pai das requerentes ficaram dois mil cruzados, devendo-se-lhe<br />

“mayor quantia do legado” 15 .<br />

O Dr. Manuel Correia de Mesquita Barba tinha parentesco com os Mesquita<br />

Barba e/ou Barba Alardo, de <strong>Leiria</strong>. Já os Marques de Almeida e Arnizaut ou Vera<br />

e Arnizaut entroncam a sua genealogia noutras famílias, sobrepondo-se o apelido<br />

Arnizaut. Desta família fidalga, conhecemos alguns descendentes que permaneceram<br />

na Batalha. Data, de facto e a mero título ilustrativo, de 18 de Maio de 1792, o<br />

óbito de D. Rita Felicidade Perpétua Mesquita Barba, viúva do Dr. Manuel Marques<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 157


. história .<br />

Ribeiro e irmã do Dr. Carlos Barba Alardo, em cuja casa, ou seja, no solar da Quinta<br />

do Fidalgo, recebeu os últimos sacramentos e faleceu 16 .<br />

Uma outra capela batalhense, menos conhecida, era a do Menino Jesus ou Menino<br />

Deus. Era <strong>ed</strong>ifício anexo às casas do Capitão Agostinho António de Mendonça. A<br />

sua primeira mulher, D. Vicência Rosa da Mata, foi aí sepultada em 25 de Fevereiro<br />

de 1792. Deixou por suas herdeiras a D. Maria Rosa, sua prima, e a D. Vicência<br />

Clara, sua sobrinha 17 . Agostinho António de Mendonça casou, então, segunda vez,<br />

com D. Luísa do Amor Divino, da qual tivera três filhos, cuja legitimação impetrara<br />

junto de Sua Alteza Real.<br />

O Capitão Agostinho António de Mendonça não terá tido o melhor relacionamento<br />

com a sua primeira e legítima mulher, mas da leitura do seu testamento,<br />

com data de 11 de Janeiro de 1794, ressalta um grande enternecimento para com a<br />

segunda mulher e os filhos que com ela tivera. R<strong>ed</strong>igido com o auxílio do Pe. José<br />

Vieira Neto, coadjutor da vigararia, oferece um testemunho de original e elevada<br />

sensibilidade religiosa e espiritual. Nele determina querer ser enterrado, amortalhado<br />

no hábito de S. Domingos, “na minha Cappella intitulada do Menino Deos junto<br />

as cazas em que vivo” 18 . Foi efectivamente sepultado, em 31 de Agosto de 1796,<br />

“dentro da Cappella do Menino Jesus”, ficando por testamenteira sua filha mais<br />

velha, Luísa, como sua mãe, e principal auxiliadora do pai nos momentos de doença<br />

e achaques que sofria 19 .<br />

Pouco poderemos adiantar, de momento, sobre estes Mendonça, aparentemente<br />

de currículo militar, integrando a aristocracia batalhina em finais do Século XVIII.<br />

É possível que as “suas casas” sejam as do antigo solar que hoje se observa ao lado<br />

da igreja da Misericórdia, se bem que só novas e mais aprofundadas investigações o<br />

possam confirmar definitivamente.<br />

4 — A instituição de capelas, quer em forma e aparato arquitectónicos, quer<br />

como mero instituto pi<strong>ed</strong>oso, assumia, nessas centúrias da Época Moderna, tanto um<br />

manifesto de devoção espiritual, de crença e de fé, quanto se traduzia num acto de<br />

afirmação social 20 . Na Batalha como por toda a Europa católica tridentina e demais<br />

espaços imperiais afectos a Portugal ou a outros Estados 21 .<br />

Na cronologia dessas instituições verificamos, no caso batalhense que nos ocupa,<br />

tanto a tradição m<strong>ed</strong>ieva e pastoral crúzia (S. Bento da Cividade, Santo Antão,<br />

Santa Cruz), como também monárquica ou régia (Santa Maria da Vitória, orago do<br />

Mosteiro e da igreja de Santa Maria-a-Velha), quanto o florescimento das devoções<br />

novas próprias da experiência mendicante do fim da Idade Média (Bom Jesus da<br />

Golpilheira, Nossa Senhora do Ó de Bico-Sachos, Nossa Senhora da Conceição das<br />

Brancas, Santa Maria Madalena dos Olivais, Santo António da Rebolaria) ou de<br />

base sociológica mais moderna, nobiliárquica e laica - bem característica do Portugal<br />

dos Séculos XVII e XVIII e dos portugueses que se espalharam pelo império,<br />

com destaque para o Brasil, ao qual, como vimos, se encontravam ligadas famílias<br />

158 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

fidalgas batalhenses desse tempo -, intitulando devoções familiares ou individuais<br />

(Nossa Senhora da Consolação ou da Esperança (Canoeira), Nossa Senhora do<br />

Desterro (Quinta do Sobrado), S. João (Canoeira), S. Gonçalo (Quinta da Várzea),<br />

S. Sebastião (Quinta do Fidalgo e Casal do Freixo), Menino Jesus ou Menino Deus<br />

(Batalha)).<br />

Constituíram estas capelas, no passado, como referimos, a expressão de um sentimento<br />

religioso. Hoje esse sentido do sagrado permanece em muitas delas, ainda<br />

abertas ao culto, com maiores ou menores transformações arquitectónicas, ampliando-se<br />

o seu significado histórico pela dimensão cultural que assumem, tornando-se<br />

jóias preciosas do património monumental da Batalha.<br />

Doc. 1<br />

1740 MAIO, 18, Batalha — Escritura de doação que faz o Dr. Manuel Correia<br />

de Mesquita Barba e sua mulher, D. Teodora Bernardina Marques de Almeida, de<br />

cinco mil réis anuais para levantamento de uma capela do título de S. Sebastião, na<br />

Quinta que possuíam junto à Batalha.<br />

ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-E/20, fls. 47-48<br />

Escreptura de duaçam que fazem o Doutor Manoel Correa de Mesquita Barba e<br />

sua molher D. Theodora Bernardina Marques de Almeida de sinco mil reis em cada<br />

hum anno para fabrica de huma capella que [qu]erem <strong>ed</strong>eficar em huma sua quinta<br />

que tem junto a esta villa.<br />

Saibam quantos este publico instromento de duassam ou como em dereito milhor<br />

dizer se possa e força de direito tenha virem como no anno do nascimento de Nosso<br />

Senhor Jezus Christo de mil e setecentos e quarenta annos aos dezanove dias do mes<br />

de Maio do dito anno em esta villa de Nossa Senhora da Vitoria da Batalha // [Fl.<br />

47vº] da Batalha e cazas de morada do Doutor Manoel Correa de Mesquita Barba<br />

onde eu tabaliam do dito digo ao diante nomeado, sendo elle ahi prezente com sua<br />

molher Dona Theodora Bernardina Marques de Almeida pessoas conhessidas de<br />

mim tabaliam pellos quais foi dito em prezenssa das testemunhas no fim desta nota<br />

asignadas que elles tem devossam de <strong>ed</strong>ificarem a esta dita sua quinta huma capella<br />

ao Martri [sic] Sam Sebastiam para o que tem recorrido ao Excelentissimo e Reverendissimo<br />

Senhor Bispo de <strong>Leiria</strong> para mandar exeminar o citio e cons<strong>ed</strong>er licensa,<br />

e pera esta ter efeito doam pera a fabrica da dita capella a quantia de sinco mil reis<br />

de renda em cada hum anno no mais bem parado de suas terças pera o que já desde<br />

agora despoem delles nesta parte. E cazo antes de falecerem nam nomeem fazenda<br />

de competente rendimento pera pagamento dos ditos sinco mil reis cada anno ham<br />

por nomeada esta dita quinta na parte em que for nessessario tomando esta na de<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 159


. história .<br />

suas terças pera por ella se pagarem os ditos sinco mil reis cada anno pera a dita<br />

fabrica havendo lhe por posto o dito encargo, e querem que a todos os possuidores<br />

que forem della passe com o mesmo declarando que a dita quinta he livre de morgado<br />

nem pensam alguma // [Fl. 47vº] digo e livre declarando os ditos devadores que<br />

a dita quinta he livre de morgado nem pensam alguma e nesta boa fee a pessuem e<br />

o mesmo disseram as testemunhas abaixo assignadas. E eu tabaliam a dou por fé e<br />

por assim sempre o ouvir dizer e de como fizeram a dita duassam entre vivos a qual<br />

queriam tivesse sempre seu devido efeito pormetendo estar sempre por ella por si e<br />

seus herdeiros, assignaram aqui comigo tabaliam sendo testemunhas prezentes que<br />

assignaram com os duadores Joze Pereira Torino e Bento Luis das Neves, ambos<br />

moradores nesta dita villa e eu Felix Pereira tabaliam o escrevi.<br />

(Assinaturas)<br />

D. Theodora Bernardina Mesquita de Almeyda.<br />

Manoel Correa de Mesquita Barba.<br />

Jozeph Pereira Torino.<br />

Bento Luiz das Neves.<br />

160 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |<br />

Doc. 2<br />

1765 FEVEREIRO, 13, Batalha — Procuração feita por D. Teodora Bernardina<br />

de Almeida Pacheco e Arnizaut, mulher de Manuel Correia Mesquita Barba,<br />

residentes na Quinta do Fidalgo, Batalha, ao Reverendo Dr. António da Costa e Andrade,<br />

ou, em sua ausência, a José Pereira da Fonseca, para que a representassem<br />

na apelação interposta, na cidade da Baía, sobre a herança de seus pais, o Capitão<br />

André Marques e D. Isabel de Almeida.<br />

ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-F/19, fls. 20-21<br />

Procuraçam bastante que faz D. Theodora Bernardina de Almeyda Pacheco e<br />

Arnizaut moradora nesta sua Quinta do Fidalgo junto desta villa da Batalha ao Muito<br />

Reverendo Doutor Antonio da Costa e Andrade morador na cidade da Bahia.<br />

Saybam quantos este publico instromento de procuraçam bastante virem como<br />

no anno do nascimento de Nosso Senhor Jizus [sic] Crispo [sic] de mil setecentos<br />

e sesenta e sinco annos aos treze dias do mez de Fevereiro do dito anno em esta<br />

villa de Nossa Senhora da Vitoria da Batalha e Quinta chamada do Fidalgo // [Fl.<br />

20vº] do Fidalgo junto a dita villa aonde eu tabaliam vim sendo ahi prezente Donna<br />

Theodora Bernardina de Almeyda Pacheco e Arnizaut pessoa conhessida de mim<br />

tabaliam e das testemunhas ao diente nomiadas e assignadas de que dou minha fê<br />

ser a propria e por ella foy dito perante mim tabaliam e das mesmas testemunhas ao


. história .<br />

Fachada da igreja de São Sebastião - Quinta do Fidalgo, Batalha (Foto LMFerraz)<br />

Reflexões<br />

Interior da igreja de São Sebastião - Quinta do Fidalgo, Batalha (Foto LMFerraz)<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 161


. história .<br />

diente nomiadas e assignadas que ella por este instromento de procuraçam bastante<br />

fazia ordenava e constetuhia seu bastante procurador na cidade da Bahia ao Muyto<br />

Reverendo Doutor Antonio da Costa e Andrade para ratificar a appelaçam entreposta<br />

na dita cidade ou em outra qualquer parte ou juizo das partilhas feytas no inventario<br />

de seus pais o Capitam André Marquiz e Donna Izabel de Almeyda cujo inventario<br />

se fez na dita cidade da Bahia em o Juizo dos horfaos na qual se retificará ou em<br />

outro qualquer que competente for e dou puder ao dito digo for e pella sobr<strong>ed</strong>ita<br />

constetuhinte foy mais dito que dava poder ao dito seu procurador para seguir a dita<br />

apelaçam, que foy entreposta na sobr<strong>ed</strong>ita cidade da Bahia em seu nome e de seu<br />

marido Manoel Correya de Mesquita Barba, e requerer todo o seu direyto e justissa<br />

na dita cauza, apellar, agravar, embargar e tudo seguir emthe mayor alssada, vir com<br />

artigos de nova rezam, pondo acçois, libellos e todos os mais artigos por senugados<br />

e por qualquer rezão que lhe pertenssa ou possa pertencer tanto a respeito da dita<br />

heranssa como a respeito da seguranssa da que falava sua irmam Donna Maria que<br />

por cer demente a natividade lhe ha-de pertenser por sua morte ou a seus filhos e<br />

juntamente a seu irmam e hirmans e poderá nesta parte e pella que lhe toca requerer<br />

a inmenda das ditas partilhas e reformaçam dos seus her[r]os seguindo tudo athe<br />

mayor alssada e contra todos os seus dev<strong>ed</strong>ores por acçois quaisquer que for de<br />

direyto e tudo seguirem the mayor alssada que para tudo cobrar e dar quitasois lhe<br />

dá seu comprido puder e para puder dar de suspeitos quaisquer juizes e oficiais de<br />

justissa e se lo[u]var em ellles depois consentir e jurando em sua alma qualquer<br />

lissito juramento de calunia e com poder de sustebalecer desta os puderes que lhe<br />

parecer ficando sempre em seu vigor e em sua aubzensia ou emp<strong>ed</strong>imento nomeya<br />

em seu lugar para procura // [Fl. 21] procurador com os mesmos puderes de sustebalecer<br />

a Jozé Pereyra da Fonceca morador na dita cidade da Bahia e revoga todos os<br />

procuradores antes<strong>ed</strong>entes e assim o disse e outrogou e afirmou e me p<strong>ed</strong>iu a mim<br />

tabaliam de tudo lhe fizesse este instromento de procuraçam bastante que asseytou.<br />

E eu tabaliam tanto quanto em direito o devo e posso fazer assim em nome nome<br />

[sic] dos prezentes como dos aubzentes a que tocar possa por me cer destrebuhida<br />

aos treze dias do mez de Fevereyro do anno de sua contenuaçam e carregada no livro<br />

da da [sic] destrebuhiçam a folha cento e huma como me constou por hum bilhete do<br />

destrebuhidor do Juizo sendo testemunhas prezentes que aqui assignaram depois que<br />

esta lhes foy lida por mim tabaliam João da Silva que o escrevy.<br />

Manoel de Santo Antonio escudeyro da dita Senhora, e Francisco Carreyra, anbos<br />

desta dita villa.<br />

(Assinaturas)<br />

D. Theodora Bernardina de Almeida Pacheco e Arnizaut.<br />

Manoel de Santo Antonio.<br />

† Da testemunha Francisco Carreira.<br />

162 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Doc. 3<br />

1765 FEVEREIRO, 14, Batalha — Procuração feita por D. Ana Isabel Antonina<br />

Barba de Vera Pimentel, D. Isabel Joana Rita Barba de Vera e Arnizaut e D.<br />

Teresa de Jesus Maria Barba Pacheco e Arnizaut, filhas do Dr. Manuel Correia de<br />

Mesquita Barba, ao Reverendo Dr. António da Costa Andrade, morador na cidade<br />

da Baía, a fim de que as representasse no requerimento do pagamento dos legados<br />

e juros devidos de que eram herdeiras por falecimento do seu avô, o Capitão André<br />

Marques.<br />

ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-F/19, fls. 19-20<br />

Procuraçam que faz D. Anna Izabel Antonina Barba de Vera Pimentel, e D. Izabel<br />

Joanna Rita Barba de Vera e Arnizaut e Dona Thereza de Jezus Maria Barba Pacheco<br />

e Arnizaut todos moradores na Quinta do Fidalgo nesta villa cuja procuraçam<br />

fazem com autoridade de seus pais ao Muito Reverendo Doutor Antonio da Costa<br />

Andrade da cidade da Bahia.<br />

Fora.<br />

Saybam quantos este publico instromento de procuraçam bastante virem como<br />

no anno do nassimento de Nosso Senhor Jezus Crispo [sic] de mil e setecentos e<br />

sesenta e sinco annos aos catorze dias do mez de Fevereyro do dito, em esta villa de<br />

Nossa Senhora da Vitoria da Batalha e cazas de morada do Doutor Manoel Correya<br />

de Mesquita Barba aonde eu tabaliam ao diente nomeado vim chamado, ahi perante<br />

mim e das testemunhas ao diente nomiadas e assignadas foram prezentes a Senhora<br />

Donna Anna Izabel Antonina Barba de Vera e Arnizat [sic], e Donna Thereza de<br />

Jezus Maria Barba Pacheco e Arnizaut, pessoas conhecidas de mim tabaliam e das<br />

mesmas testemunhas de que dou minha fê serem as proprias filhas do Doutor Manoel<br />

Correya de Mesquita Barba e de sua mulher Donna Theodora Bernardina de<br />

Almeyda Pacheco e Arnizaut por ellas foy dito em minha prezenssa e das mesmas<br />

testemunhas que ellas com autoridade dos ditos seus pais por este instromento de<br />

procuraçam bastante faziam e hordenavam e constetuhiam seu bastante procurador<br />

na cidade da Bahia ao Reverendo Doutor Antonio da Costa e Andrade para que em<br />

seu nome possa ratificar hum protesto que fizeram no Juizo ordinario desta dita villa<br />

em que receberam huma quitaçam que em // [Fl. 19vº] que em seu nome deu [a]o<br />

Reverendo Padre Jozé Gonsalvez Machado na dita cidade da Bahia seu thio Bernardino<br />

Marquez de Almeyda e Arnizaut de parte da quanthia dos legados que lhe<br />

deichou seu avó o Cappitam Andre Marquiz em cujo protesto juntamente apelaram<br />

e assim lhe dam para o referido todo o poder ao dito procurador e juntamente para<br />

requerer todo o seu direyto e justissa na dita dependensia e em todas as mais que<br />

pertensam ou possam pertencer as ditas constituhintes apelando, agravando e tudo<br />

digo agravando, embargando e tudo seguindo athe mor alsada e juntamente para cobrar<br />

o resto que se lhes deve dos ditos legados tanto nos juros do prinsipal como do<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 163


. história .<br />

proprio porquanto a quanthia resebida de hum conto quinhentos e trinta e ouito [sic]<br />

mil setecentos e sincoenta reis há de cér descontada em primeyro lugar nos juros a<br />

sinco por cento desde o tempo que faleseu o dito nosso avó digo que faleseu o dito<br />

seu avó porque sem nenhuma justissa se lhe não pagaram logo os ditos legados do<br />

muyto dinheyro que ficou por morte do dito seu avó na cidade de Lisboa e o resto<br />

que subejou ficara por conta da prinsipal e deste se lhe há-de de pagar o dito juro<br />

emthe o dia em que ellas constetuhintes forem inteyra e cabalmente satisfeytas. E<br />

os dois mil cruzados que se pagaram ao dito seu pay os não aprovam no seu legado<br />

porque ao dito seu pay se deve mayor quanthia do legado e nesta conformidade e<br />

debaicho deste protesto dam puder ao dito seu procurador para a dita cobranssa e dár<br />

quitaçam publica e raza e requerer toda a sua justissa sumaria e ordinariamente pondo<br />

acçois e oferecendo libellos e vindo com todas as petissois e artigos nessessarios<br />

athe concluhir a dita cobranssa.<br />

E mais foy dito pellas ditas constetuhintes que tambem dam puder ao dito seu<br />

procurador para recuzar menistros e escrivais e outros ofessiais de justissa e nelles<br />

depois consentir e tambem para sustabalecer desta os puderes que lhe parecer<br />

ficando sempre em seu vigor e em segundo lugar na auzensia ou inp<strong>ed</strong>imento do<br />

dito seu procurador cons<strong>ed</strong>em os mesmos puderes assima // [Fl. 20] assima decllarados<br />

a Jozé Pereyra da Fonseca morador na dita cidade da Bahia. E pellas mesmas<br />

constituhintes foy dito que ellas revogam todos os procuradores antess<strong>ed</strong>entes, e<br />

aos que novamente fazem lhe dam a todos pudere de jurar em suas almas qualquer<br />

lisito juramento, e de calunia rezervando somente nova citaçam e assim o disseram<br />

e outorgarám e afirmaram e me p<strong>ed</strong>iram a mim tabaliam lhe fizesse este instromento<br />

de procurassam bastante que asseytaram e eu tabaliam tanto que em direyto o devo e<br />

posso fazer assim em nome dos prezentes como dos aubzentes a que tocar possa por<br />

me cer destrebuhida aos treze de Fevereyro do anno de sua contenuaçam e carregada<br />

no livro da destrebuhiçam a folhas cento e huma como me constou por hum bilhete<br />

do destrebuhidor do Juizo sendo testemunhas prezentes Manoel de Santantio digo de<br />

Santo Antonio, escudeyro das ditas constetuhintes e Francisco Carreyra, anbos desta<br />

dita villa que todos aqui assignaram depois que esta lhe foy lida por mim taballiam<br />

João da Silva que o escrevy.<br />

(Assinaturas)<br />

D. Anna Izabel Antonina Barba de Vera Pimentel.<br />

D. Izabel Joana Rita Barba de Vera e Arnizaut.<br />

D. Tereza de Jezus Maria Barba Pacheco e Arnizaut.<br />

Manoel de Santo Antonio.<br />

† Da testemunha Francisco Carreyra.<br />

164 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Doc. 4<br />

1795 SETEMBRO, 5, Batalha — Assento e cópia do testamento feito em 11 de<br />

Janeiro de 1794, Batalha, pelo Capitão Agostinho António de Mendonça, no qual,<br />

reconhecendo os filhos ilegítimos que tivera de D. Luísa Maria do Amor Divino, determinava<br />

querer ser sepultado, amortalhado no hábito de S. Domingos, na Capela<br />

do Menino Deus, anexa às casas em que habitava na vila da Batalha. Testamento<br />

validado pelo notário António de Magalhães Pinto Avelar, nessa mesma data, tendo<br />

sido aberto a 30 de Agosto de 1796, Batalha, dia do falecimento do testador.<br />

ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-G/22, fls. 14-17<br />

Testamento com que faleceo o Cappitam Agostinho Antonio de Mendonça lançado<br />

nesta nota.<br />

Em nome da Santissima Trindade Padre, Filho, Espirito Santo, amen.<br />

Eu Agostinho Antonio de Mendonça desta villa da Batalha m<strong>ed</strong>itando a certeza<br />

da morte e a incerteza da hora em que Deos será servido levar-me para si, para evitar<br />

as dezordens que podem suscitar-se depois da minha morte estando em meo perfeito<br />

juizo e intendimento de minha propria e livre vontade faço meu testamento da forma<br />

seguinte.<br />

Primeiramente dou graças a Deos todo poderoso por todos os beneficios que<br />

me fez pelo espaço de minha vida e a elle como criador entrego minha alma r<strong>ed</strong>emida<br />

com o preciozo sangue de Jezus Christo meu amantissimo Salvador e nas<br />

suas santissimas maos lha entrego. E lhe rogo pelos infinitos merecimentos de Seu<br />

Santissimo Filho, e pela Sua infinita mizericordia a queira rece // [Fl. 14vº] queira<br />

receber entre o numero de seos escolhidos, e para o mesmo fim imploro umilde e<br />

devotamente as pias preces e intercessão da Sempre Virgem Maria Santissima minha<br />

advogada, e de todos os Santos e Santas do Ceo.<br />

Em segundo lugar quero que o meu corpo seja sepultado na minha cappella<br />

intitulada do Menino Deos junto as cazas em que vivo, amortalhado no habito de<br />

São Domingos. E que no dia do meu enterro se me faça officio de corpo prezente. E<br />

sendo este emp<strong>ed</strong>ido no seguinte dia. E que me acompanhem a sepultura as irmandades<br />

que houver nesta villa e os clerigos que se poderem achar, a quem se dará a<br />

costumada esmola. E no dia do meu falecimento se dirão por minha alma as missas<br />

que se poderem dizer pelos clerigos desta freguezia e religiozos do Convento de<br />

esmola de cento e sincoenta reis. E se dará de esmola a cada hum dos pobres que se<br />

juntarem no dia do meu falecimento vinte reis.<br />

Determino que por minha alma se digão mais duzentas e sincoenta missas de<br />

esmola de cento e vinte reis cada huma, ditas todas dentro de hum anno depois do<br />

meu falecimento. E sincoenta missas de esmola de cem reis pelas almas de meos<br />

pays, ditas dentro do dito anno, onde a minha testamenteira as quizer mandar dizer.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 165


. história .<br />

E deixo de falhas cem reis.<br />

Nomeio por minha testamenteira a minha filha Luiza Angelica a quem rogo faça<br />

bem cumprir este meo testamento.<br />

Declaro eu testador que fui primeiramente cazado com Dona Vicencia Roza da<br />

Matta, da qual não tive filhos alguns nem ao prezente tenho ascendentes ou herdeiros<br />

necessarios, e que levando os herdeiros de minha mulher a metade dos bens do cazal,<br />

eu fiquei viuvo e passei a segundas nuptias com minha mulher existente Luiza Maria<br />

do Amor Divino, com a qual faço vida conjugal, e porque cazei com ella por carta de<br />

ametade he ella mieira nos bens que há no cazal, e sobrevivendo ella a mim testador<br />

quero com effeito que tire a miação dos bens do cazal. E quando haja algua duvida<br />

por se conciderar que coando cazou comigo testador tinha a idade de sincoenta annos<br />

ficando lhe salvos os bens que ella trouxe para o cazal que são mui poucos quero<br />

que leve a meação de todos os bens que eu testador levei para o mesmo matrimonio<br />

tanto por intender que lhe pertencem, e da mesma forma metade dos adquiridos,<br />

como porque eu testador a constituo minha // [Fl. 15] minha herdeira na metade de<br />

todos esses bens em ordem a tirar toda a duvida que houver a esse respeito.<br />

Declaro mais eu testador que na constancia do primeiro matrimonio tive tres<br />

filhos, a saber, Antonio, Luiza e Angelica, que os tive da dita minha existente mulher<br />

Luiza Maria do Amor Divino, aos quais reconheço e tenho reconhecido por meos<br />

filhos e supposto elles sejão de costo pussivel, eu testador tenho requerido a Sua<br />

Magestade a legitimação de Antonio e Luiza e supposto a não tenho ainda requerido<br />

de Angelica protesto de a requerer.<br />

Instituto eu testador estes tres meos filhos por meos universaes herdeiros em<br />

todos os meus bens havidos e por haver com a obrigação de cumprirem os legados<br />

deste meo testamento.<br />

A minha filha Luiza por mayoria nomeio dois prazos vitalicios de que sou emphiteuta<br />

hum foreiro a Collegiada de Santa Maria de Porto de Moz de que pago de<br />

foro dois alqueires de trigo e consta de duas terras huma aonde chamão a Cor<strong>ed</strong>ora<br />

e outra que chamão a Carboneira, o outro foreiro a Collegiada de São P<strong>ed</strong>ro é hum<br />

alqueire de trigo, e consta de huma propri<strong>ed</strong>ade onde chamão a Loureira, e estando<br />

as vidas findas lhe nomeio o dereito de p<strong>ed</strong>ir renovação aos dividos senhorios. A<br />

estes dois prazos se acham fazendas pegadas e unidas que são minhas livres estas<br />

fazendas misticas aos ditos prazos as deixo a dita minha filha Luiza por ser a que<br />

me trata e acode nas minhas molestias, digo, minha filha Luiza em mayoria de terça,<br />

isto pelo maior beneficio que devo a dita minha filha Luiza por ser a que me trata e<br />

acode nas minhas molestias.<br />

E sendo cazo que os ditos meos filhos tenhão algua empossibilidade para herdarem<br />

meos bens ou que não valha a instituição que nelles faço em tal cazo instituto<br />

por minha unica e universal herdeira a dita minha mulher Luiza Maria do Amor<br />

Divino para que ella seja senhora de todos os meus bens havidos e por haver de qualquer<br />

qualidade e natureza que sejão com obrigação de pagar todos os meos legados<br />

166 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

e dividas e de dar todos os alimentos necessarios aos ditos meos filhos conforme a<br />

seos estados e qualidade de minha pessoa, com cujos ali // [Fl. 15vº] alimentos penciono<br />

e ficão pencionados todos os meos bens havidos e por haver.<br />

Determino e he minha vontade que cazo alguma pessoa se oponha em todo ou<br />

em parte ao que determino neste meo testamento seja por isso excluido de meo<br />

herdeiro.<br />

Declaro que se neste meo testamento faltar alguma clauzula que seja essencialmente<br />

necessaria para sua inteira validade aqui a hei por expressa e declarada para<br />

sua maior validade.<br />

E por ser esta a minha ultima e derradeira vontade roguei o Padre Joze Vieira<br />

Neto desta villa que este a meo rogo fizesse, o qual assignei de meo proprio signal<br />

pelo ler depois de feito e achar estar em tudo conforme eu lho tinha mandado escrever,<br />

e por isso rogo as justiças a quem o seu cumprimento pertencer lhe deem inteiro<br />

cr<strong>ed</strong>ito e o fação em tudo cumprir como nelle se contem e declaro e por este mesmo<br />

revogo outra qualquer despozição ou testamento, c<strong>ed</strong>ula ou codicilo que antes deste<br />

tenha feito, pois só este quero que valha como minha ultima e derradeira vontade.<br />

Batalha des de Janeiro de mil e setecentos e noventa e quatro.<br />

Eu dito Padre Joze Vieira Neto cura coadjutor nesta freguezia que a rogo do dito<br />

testador o escrevy e assigney.<br />

O Cura coadjutor Joze Vieira Neto. Agostinho Antonio de Mendonça.<br />

Aprovação do prezente testamento.<br />

Anno do nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos e noventa<br />

e quatro annos aos onze dias do mes de Janeiro do dito anno nesta villa de Nossa<br />

Senhora da Vitoria da Batalha e cazas de morada do Cappitão Agostinho Antonio de<br />

Mendonça desta dita villa aonde eu tabelião ao diante nomeado e assignado vim a<br />

seu chamado sendo elle ahi perante mim prezente de pé e perfeita saude em seo perfeito<br />

juizo e entendimento segundo o parecer de mim tabelião e das testemunhas no<br />

fim deste auto nomeadas e assignadas segundo se via pelas perguntas que fazia e respostas<br />

que dava tudo com muito acerto, o qual reconhecido das mesmas testemunhas<br />

e de mim tabelião que de tudo dou minha fé. E logo pelo dito testador Agostinho<br />

Antonio de Mendonça me foi dado hum papel da sua mão á mi // [Fl. 16] á minha<br />

que eu tabelião lhe perguntei se era o seu testamento, ultima e derradeira vontade,<br />

e se queria que eu lho aprovasse, e por elle testador me foi respondido em prezença<br />

das mesmas testemunhas que era o seu testamento, ultima e derradeira vontade que<br />

a seu rogo tinha escripto o Reverendo Padre Joze Vieira Neto cura coadjutor na paroquial<br />

igreja desta villa que a seu rogo assignara com elle testador pelo ler e achar<br />

conforme lho tinha mandado escrever que me requeria que como publico tabelião<br />

lho aprovasse tanto quanto em Direito me hera permitido para sua inteira validade.<br />

O qual testamento eu tabelião abri e achei ser escrito pela letra do dito Reverendo<br />

Joze Vieira Neto em duas meias folhas de papel e hua lauda dentro no fim, da qual<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 167


. história .<br />

estava assignado o dito Padre Joze Vieira Neto e o testador cujo signal eu tabelião<br />

reconheço de que dou fé, sem que na dita escripta houvesse emenda, borrão ou entrelinha<br />

que possa cauzar duvida, cujo testamento eu tabelião passei pela vista sem que<br />

tomasse conhecimento do que nelle se contem em a sobr<strong>ed</strong>ita forma em que o achei<br />

lho aprovo e hei por aprovado tanto quanto em Direito me he permitido como a publico<br />

tabelião. Dizendo o testador que por este revogava outro qualquer testamento,<br />

c<strong>ed</strong>ula ou codicilo que antes deste tivesse feito pois só este queria que valesse como<br />

testamento, ultima e derradeira vontade ou pella forma que em Direito melhor lugar<br />

tiver. E que rogava as justiças a quem o conhecimento delle pertencer lhe dessem<br />

inteiro cumprimento.<br />

O qual testamento eu tabelião depois de aprovado e assignado numerei e rubriquei<br />

com a minha rubrica que dis: Magalhaens, juntamente com esta approvação,<br />

e o cozi e lacrei com linha branca e sinco pingos de lacre encarnado por banda e<br />

nesta forma o entreguei ao dito testador. E a tudo forão testemunhas prezentes Joze<br />

Ferreira de Azev<strong>ed</strong>o çapateiro desta villa, Manoel Joaquim ferreiro da mesma villa,<br />

Silverio da Silva çapateiro e Manoel Henriques Moreira // [Fl. 16vº] Moreira sangrador,<br />

e Joze Vieira Neto cura coadjutor desta freguezia todos desta villa, e Francisco<br />

Joze trabalhador do lugar de Sam Jorge e Joaquim Pereyra solteiro do lugar do Tojal<br />

e ambos do termo de Porto de Moz, que todos aqui assignarão com o dito testador<br />

depois que este lhes foi lido e declarado por mim tabelião Antonio de Magalhaens<br />

Pinto Avellar que o escrevi e em publico e razo assigney.<br />

Lugar do signal publico em testemunho da verdade.<br />

Antonio de Magalhaens Pinto Avellar. Agostinho Antonio de Mendonça. O Padre<br />

Joze Vieira Neto. Joze Ferreyra. Manoel Henriques Moreira. Manoel Joaquim. Da<br />

testemunha Francisco Joze hua cruz. Da testemunha Silverio da Silva hua cruz. Da<br />

testemunha Joaquim Pereira hua cruz.<br />

Auto de abertura.<br />

Anno do nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e setecentos e noventa<br />

e seis aos trinta dias do mes de Agosto nesta villa de Nossa Senhora da Vitoria da<br />

Batalha e cazas onde no dia de hoje faleceo o Cappitão Agostinho Antonio de Mendonça<br />

onde eu escrivão ao diante nomeado vim em companhia do juiz ordinario desta<br />

mesma villa o Alferes Manoel Vieyra de Azev<strong>ed</strong>o, e ahi antes de ser levado o corpo<br />

á sepultura pela viuva que delle ficou Dona Luiza do Amor Divino foi aprezentado<br />

ao dito juiz na prezença das testemunhas ao, digo, testemunhas abaixo nomeadas<br />

e assignadas o prezente testamento, o qual se achava cozido com linhas brancas e<br />

lacrado com sinco pingos de lacre vermelho, e sendo por elle aberto e por mim lido e<br />

examinado na prezença das referidas testemunhas o achei em tudo conforme ao que<br />

se declara no auto de approvação retro do que dou minha fé, e o assinei.<br />

E para tudo constar o dito juis mandou fazer este auto em que assignou com as<br />

testemunhas que forão prezentes Antonio de Magalhaens Pinto Avellar e o Doutor<br />

168 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Manoel Inacio dos Santos Alves Justo ambos desta villa e eu Luis Antonio Bello dos<br />

Reis o escrevi e com os ditos assigney, Luis Antonio Bello dos Reis. Vieira. Manoel<br />

Ignacio dos Santos Alves Justo. Antonio de Magalhaens Pinto Avellar.<br />

Titulo do testamento:<br />

Testamen // [Fl. 17] testamento do Senhor Cappitão Agostinho Antonio de Mendonça<br />

da villa da Batalha aprovado em onze de Janeiro de mil e setecentos e noventa<br />

e quatro.<br />

E não continha mais o testamento original com que faleceo o Capptião Agostinho<br />

Antonio de Mendonça, o qual a requerimento da pessoa que mo aprezentou aqui<br />

lancei neste meo livro de notas e bem e fielmente vay aqui transcripto e copiado sem<br />

que leve couza que duvida faça, e havendo-a ao proprio me reporto na mão da pessoa<br />

que o aprezentou, a quem o tornei a entregar, e de como o recebeo aqui assigney digo<br />

assignou, e com o proprio o conferi e concertei nesta villa da Batalha aos sete dias<br />

do mes de Setembro de mil e setecentos e noventa e seis. E eu Luis Antonio Bello<br />

dos Reis tabelião proprietario nesta dita villa que o escrevy, consertey e assigney em<br />

publico e razo.<br />

(Assinaturas)<br />

Concertado por mim tabeliam: Luiz Antonio Bello dos Reis.<br />

(Sinal) Em testemunho de verdade. Luiz Antonio Bello dos Reis.<br />

Recebi o proprio.<br />

Antonio de Magalhaens Pinto Avellar.<br />

Doc. 5<br />

1792 FEVEREIRO, 25, Batalha — Registo de óbito de D. Vicência Rosa da<br />

Mata, casada que era com o Capitão Agostinho António de Mendonça, sepultada na<br />

capela do Menino Jesus, anexa às casas em que vivia, na mesma vila da Batalha.<br />

Arquivo Paroquial da Batalha — Livro dos Óbitos da Freguesia de Santa Cruz<br />

da Batalha (1792-1822), fl. 2.<br />

Reflexões<br />

Villa. D. Vicencia Roza<br />

200$000<br />

4$000<br />

6$000<br />

210$000 de missas.<br />

Satisfeyto na Prov<strong>ed</strong>oria por sentença.<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 169


. história .<br />

Aos vinte e sinco dias do mez de Fevereyro do anno do mil setecentos noventa<br />

e dois na Cappella do Menino Jesus contigua às cazas desta mesma defunta, nesta<br />

villa, foy sepultado o corpo de Dona Vicencia Roza da Matta cazada com o Capitão<br />

Agostinho Antonio de Mendonça, desta villa e freguezia de Sancta Cruz. Recebeo<br />

os Sacramentos da Penitencia, Sacro Viatico e Unção. Fez testamento em que determina<br />

se dissessem duzentos mil reis de missas por sua alma; e dissessem mais<br />

quarenta missas pellas almas de seus pays, e secenta missas mais de tenção; e todas<br />

estas missas de esmolla de tostão; intrando as missas, que se dissessem no dia do<br />

seu interro, no mesmo numero de duzentos mil reis. São obrigadas suas herdeyras<br />

D. Maria Roza, prima, e D. Vicencia Clara, sobrinha; e nomeou-me testamenteyro.<br />

Falhou secenta reis. E para constar fiz este assento que assigney.<br />

(Assinatura) O Vigario Manoel de Oliveyra Soarez.<br />

.<br />

Doc. 6<br />

1796 AGOSTO, 31, Batalha — Registo de óbito do Capitão Agostinho António<br />

de Mendonça, sepultado na capela do Menino Jesus, anexa às casas em que vivia,<br />

na vila da Batalha.<br />

Arquivo Paroquial da Batalha — Livro dos Óbitos da Freguesia de Santa Cruz<br />

da Batalha (1792-1822), fl. 23.<br />

Villa. O Capitão Agostinho Antonio de Mendonça. Testamento.<br />

Aos trinta e hum dias do mez de Agosto do anno de mil setecentos noventa e<br />

seis, dentro da Cappella do Menino Jesus, junto às cazas do Capitão Agostinho Antonio<br />

de Mendonça, desta villa, foy sepultado o corpo do mesmo Capitão Agostinho<br />

Antonio, cazado, que foy ultimamente com Luiza Maria do Amor Divino; recebeo<br />

os Sacramentos da Penitencia, Sacro Viatico e Unção. Fez testamento de que deve<br />

dar conta a mesma sua mulher e filhos, digo, sua filha Luiza. E para constar fiz este<br />

assento que assigney.<br />

(Assinatura) O Vigario Manoel de Oliveira Soarez.<br />

170 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Notas<br />

1<br />

Teve esta obra a sua primeira <strong>ed</strong>ição em Braga, na Tipografia Lusitana, 1868. Foi feita uma<br />

nova <strong>ed</strong>ição, em 1898, em <strong>Leiria</strong>, recomendável sobre aquela por apresentar bom número<br />

de elementos para a história do Bispado de <strong>Leiria</strong> depois de 1650 e, em especial, para o<br />

período oitocentista. Em 1980, a benemérita acção do Jornal O Mensageiro proc<strong>ed</strong>eu a uma<br />

nova <strong>ed</strong>ição, conforme à de 1868, desta obra. O historiador João Madeira Martins atribui ao<br />

Pe. Dr. Simão da Rosa Guerra, provisor do Bispado de <strong>Leiria</strong>, em Seiscentos, a responsabilidade<br />

da autoria deste livro. O mesmo autor cita documento de 15 de Junho de 1615, em<br />

que o governador do Bispado, por D. Denis de Melo, era o Licenciado João Galvão Botelho,<br />

mestre-escola da Sé de <strong>Leiria</strong>, no que se deve confrontar o Capº 148º de O Couseiro: “Foi<br />

sé vacante, como fica dicto no capitulo 142, ate aos dez dias de setembro de 1636, no qual<br />

se tomou posse por D. P<strong>ed</strong>ro Barbosa d’Eça (…). E isto sei [refere o autor da obra em causa<br />

ao expor o conflito que houve entre D. Afonso Mexia e o novo Ordinário da cidade] com<br />

tanta clareza e miudeza, porque fui n’esta causa arbitro de ambos os dous prelados.” (Vd.<br />

O Couseiro, Capº 148º, p. 211 e, na <strong>ed</strong>ição de 1898, pp. 293-294; João Madeira Martins, Antiguidades<br />

de Minde, 1º vol., Odivelas, 1988, [Ed. do Autor], pp. 123-124 e artigo do mesmo<br />

autor <strong>ed</strong>itado no Jornal A Voz do Domingo, de 23 de Julho de 2000). Com D. Denis de Melo,<br />

anote-se como elemento para a história do clero leiriense desta época, seguiu, para a <strong>Diocese</strong><br />

da Guarda, o Dr. Pe. Álvaro Martins Pereira, cónego na doutoral de Cânones da Sé de <strong>Leiria</strong><br />

e provisor e vigário geral no espiritual e temporal na cidade da Guarda, que nos surge a julgar<br />

causa desfavorável ao Pe. Francisco Rodrigues, em Castelo Branco, a 30 de Agosto de 1639.<br />

(Arquivo da Misericórdia de Castelo Branco — Caixa 4, Pasta 2, Doc. 59).<br />

2<br />

Refere-se seguramente ao bem conhecido retábulo gótico já então existente nesta capela,<br />

o qual se é diferente de outro ou outros que existiram nos altares do Mosteiro da Batalha,<br />

sobretudo na Capela do Fundador, dos quais nos chegam descrições, já oitocentistas, que<br />

permitem estabelecer a diferença.<br />

3<br />

Deve tratar-se do escrivão Pêro Gomes, ao serviço da chancelaria régia de D. Manuel I, o<br />

qual subscreve alguns diplomas régios relativos ao Mosteiro e aos vizinhos da Batalha, pelo<br />

menos entre 1513 e 1519. (Vd. S. A. Gomes, Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e<br />

da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII), Vol. III, (1501-1519), Lisboa, Ippar, 2004, Docs.<br />

634, 695, 697 e 726),<br />

4<br />

Este morgado instituiu também capela privativa no Convento de S. Francisco de <strong>Leiria</strong>, conforme<br />

recorda O Couseiro: “Abaixo desta [Capela de Nossa Senhora da Conceição], está outra<br />

capella, juncto das grades da egreja, da invocação de Santo Antonio, instituida por Matheus<br />

Trigueiro, desta cidade, com obrigação d’alampada sempre acceza, missa quotidiana e duas<br />

cantadas cada anno, uma dellas pelos Santos, offertada com tres alqueires de trigo e um<br />

cantaro de vinho; dão aos padres 17$000 reis em dinheiro e quatro alqueires d’azeite, para<br />

a alampada; ficou obrigada toda a fazenda do dicto Matheus Trigueiro, assim de <strong>Leiria</strong><br />

como de fóra della, excepto a da Canoeira, onde instituiu outra capella, que annexou ás<br />

suas casas, da rua Direita; consta tudo da cópia do seu testamento, no livro das verbas do<br />

bispado, fl. 51.” (O Couseiro, Capº 55º, p. 85).<br />

5<br />

Na relação das ermidas da freguesia de 1721, que anotaremos de seguida, esta ermida tem<br />

a invocação de Nossa Senhoria do Ó, referindo-se ter sido erecta em 1623 e não em 1625.<br />

Poderá haver lapso em O Couseiro, cuja tradição textual e crítica, em boa verdade, nunca<br />

foi estabelecida.<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 171


. história .<br />

6<br />

O Couseiro…, Capº 66º, pp. 95-96.<br />

7<br />

Publicada mais recentemente por mim no livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas.<br />

3. Batalha, Viseu, Centro de História da Soci<strong>ed</strong>ade e da Cultura e Palimage, 2005, pp.<br />

45-51<br />

8<br />

S. A. Gomes, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, p. 69.<br />

9<br />

S. A. Gomes, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, pp. 69-71.<br />

10<br />

S. A. Gomes, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, p. 55.<br />

11<br />

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra — Códices de “D. Flamínio de Sousa”, Tomo<br />

1, fl. 231vº.<br />

12<br />

Vd. Gonçalo d’Aguiar Cabral, A propósito de umas p<strong>ed</strong>ras tumulares da vila da Batalha,<br />

Lisboa, 1982. A elite ou aristocracia batalhina na primeira metade de Quinhentos pode observar-se<br />

a partir do meu estudo introdutório na obra O Livro do Compromisso da Confraria<br />

e Hospital de Santa Maria da Vitória da Batalha (1427-1544), <strong>Leiria</strong>, Magno, 2002.<br />

13<br />

Vd. Doc. 1, em apêndice.<br />

14<br />

Vd. Doc. 2, em apêndice.<br />

15<br />

Vd. Doc. 3, em apêndice.<br />

16<br />

“Aos dezoito dias do mez de Mayo do anno de mil setecentos noventa e dois dentro desta<br />

igreja parochial de Sancta Cruz da villa da Batalha foy sepultado o corpo de Dona Ritta<br />

Felicidade Perpetua Mesquita Barba veuva do Doutor Manoel Marques Ribeyro, que falesceo<br />

em caza de seu irmão o Doutor Carlos Barba Alardo desta villa; recebeo os Sacramentos<br />

da Penitencia, Sacro Viatico e Unção. E para constar fiz este assento que assiney. . (Ass.) O Vigario Manoel de Oliveira Soares. [À margem] Villa. D. Ritta Felicidade<br />

Perpetua, viuva. Em 4 de Abril de 1803 passey a primeyra certidão por despacho a Carlos<br />

Barba Ribeyro de Souza de <strong>Leiria</strong>. (Ass.) Soares.” (Arquivo Paroquial da Batalha — Livro<br />

dos Óbitos da Freguesia de Santa Cruz da Batalha (1792-1822), fl. 2vº).<br />

17<br />

Vd. Doc. 5, em apêndice.<br />

18<br />

Vd. Doc. 4, em apêndice.<br />

19<br />

Vd. Docs. 4 e 6, em apêndice.<br />

20<br />

Cf. Nuno Gonçalo Monteiro, “17 th and 18 th century Portuguese nobilities in the European<br />

conetx: a historiographical review”, in e-JPH, Vol. 1, Summer 2003, pp. 1-15.<br />

21<br />

Cf. Isabel dos Guimarães Sá, “Catholic charity in perspective: the social life of devotion in<br />

Portugal and its Empire (1450-1700)”, in e-JPH, Vol. 2, Nº 1, Summer 2004, pp. 1-19.<br />

172 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

As Relações de Entrada do Bispo de <strong>Leiria</strong><br />

D. João Cosme da Cunha (1746)<br />

Ricardo Pessa de Oliveira<br />

(Mestre em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)<br />

O texto que agora se publica pretende estudar e dar a conhecer duas relações da<br />

entrada pública de D. João Cosme da Cunha, cujo nome religioso era João de Nossa<br />

Senhora da Porta, na cidade de <strong>Leiria</strong>. Este tipo de documento não é único. Na<br />

verdade, a narração destas cerimónias foi bastante comum na primeira metade do<br />

século XVIII. Não obstante, não temos conhecimento de nenhuma memória, relação<br />

ou notícia referente a <strong>Leiria</strong>. Como tal consideramos relevante a sua publicação para<br />

a história da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>.<br />

1. D. João Cosme da Cunha nasceu em Lisboa a 28 de Setembro de 1715. Foi o<br />

terceiro filho de Manuel Carlos da Távora e Silveira, 4.º conde de S. Vicente, e de D.<br />

Isabel de Noronha. Aos 16 anos de idade viajou para Coimbra. Nesta cidade obteve<br />

uma beca de porcionista no Sacro Pontifício e Real Colégio de São P<strong>ed</strong>ro, tendo alcançado<br />

o grau de doutor em Leis a 11 de Julho de 1737. Concluído o percurso académico<br />

pretendeu servir a Inquisição de Coimbra na qualidade de deputado. As suas<br />

diligências foram aprovadas a 3 de Dezembro de 1737. Iniciava desta forma a actividade<br />

na instituição a que, mais tarde, havia de presidir. Em Maio do ano seguinte,<br />

ingressou na congregação dos cónegos regrantes de Santo Agostinho. Recebeu o<br />

hábito das mãos de D. Miguel da Anunciação, futuro bispo de Coimbra 1 . Professou<br />

no ano seguinte com o nome de D. João de Nossa Senhora da Porta, razão pela qual<br />

mais tarde viria a ser apelidado de Cardeal Otomano 2 . Regressou a Lisboa no ano<br />

de 1742, ficando a assistir no mosteiro de São Vicente de Fora. De 1746 a 1760 foi<br />

bispo de <strong>Leiria</strong>. Neste último ano suc<strong>ed</strong>eu a frei Miguel de Távora no arcebispado<br />

de Évora. Em 1770, foi nomeado inquisidor geral por D. José I e criado cardeal por<br />

Clemente XIV. Foi ainda Conselheiro de Estado e presidente da Casa da Suplicação<br />

(1760), presidente da Real Mesa Censória (1768), inspector da Junta de Providência<br />

Literária (1770) e ministro assistente ao Despacho (1772). Faleceu a 31 de Janeiro<br />

de 1783, em Lisboa, no palácio da Inquisição, ao Rossio 3 .<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 173


. história .<br />

2. O calendário festivo compreendia cerimónias previstas que se repetiam ao<br />

longo dos anos, quase sempre ligadas ao ano litúrgico, e cerimónias excepcionais<br />

promovidas pelas autoridades para celebrar acontecimentos específicos 4 . Disso são<br />

exemplo o nascimento, casamento e morte de membros da família real. As entradas<br />

régias, as chegadas dos monarcas a uma localidade em ocasião especial, quase<br />

sempre o casamento, constituíam igualmente momentos de festejo 5 . As cerimónias<br />

de entrada não foram de uso exclusivo dos monarcas, ou dos seus representantes.<br />

Foram igualmente protagonizadas pelas figuras cimeiras da Igreja, como o Papa e os<br />

cardeais 6 . Também os prelados diocesanos fizeram uso destas cerimónias. Estas traduziram-se<br />

em momentos de grande importância servindo fundamentalmente como<br />

meio de estes afirmarem a sua autoridade nos respectivos bispados 7 .<br />

José P<strong>ed</strong>ro Paiva ao analisar um conjunto de relações de entradas de bispos nas<br />

suas dioceses, ocorridas nos anos 40 e 50 do século XVIII, apresentou uma morfologia<br />

do ritual compreendendo seis núcleos principais: preparação da entrada antes da<br />

vinda do prelado; actos de recepção do bispo pelas várias entidades da cidade, ainda<br />

fora das portas das muralhas que delimitavam a zona urbana; encontro da comitiva<br />

que havia ido esperar o prelado fora de portas, com os que a aguardavam à porta da<br />

cidade; cortejo desde a porta da cidade até à sé cat<strong>ed</strong>ral; cerimónia religiosa ocorrida<br />

no interior da Sé; festejos após a saída do bispo da cat<strong>ed</strong>ral – cerimónia profana 8 .<br />

3. A 18 de Novembro de 1745, D. João de Nossa Senhora da Porta foi nomeado,<br />

por D. João V, coadjutor e futuro sucessor da diocese de <strong>Leiria</strong>. Foi confirmado com<br />

o título de Olímpia, por Bento XIV, a 29 de Março de 1746. Contudo, em virtude<br />

do falecimento de D. Álvaro de Abranches, não chegou a entrar na diocese naquela<br />

condição. No momento em que o cabido tomou conhecimento da nomeação régia<br />

incumbiu o doutor Alexandre de Almeida Pacheco de ir a Lisboa, ao mosteiro de<br />

São Vicente de Fora, cumprimentar o novo prelado. Este foi sagrado por D. Tomás<br />

de Almeida, na Patriarcal, a 29 de Junho de 1746 9 . Depois de sagrado o bispo “deve<br />

o mais depressa que lhe for possivel hir a sua Igreja a tomar posse della, & receber<br />

o Officio que se lhe cometeu na sagração […]” 10 . O novo bispo tomou posse por<br />

procuração a 23 de Junho de 1746 11 . A sua entrada solene em <strong>Leiria</strong> realizou-se a 5<br />

de Outubro desse mesmo ano.<br />

O cerimonial de entrada teve início no momento em que D. João de Nossa Senhora<br />

da Porta partiu de Lisboa com destino a <strong>Leiria</strong>. Toda uma comunidade trabalhava<br />

em prol de um objectivo comum: proporcionar uma recepção digna ao prelado.<br />

Estradas, praças e fachadas eram arranjadas e decoradas. De igual forma a cat<strong>ed</strong>ral,<br />

onde teria lugar uma das partes cruciais da entrada solene, era preparada com o intuito<br />

de se tornar apta para a cerimónia. Para o efeito o novo bispo enviou à sua diocese<br />

um arquitecto leigo da congregação dos cónegos regrantes de Santo Agostinho 12 . A 2<br />

de Outubro de 1746, tudo se encontrava minuciosamente preparado 13 .<br />

174 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

4. O termo relação surge por norma associado a um impresso separado. No entanto,<br />

as duas relações que ora publicamos encontram-se incorporadas em dois periódicos<br />

de setecentos. A primeira, divulgada no Mercúrio de Lisboa, jornal manuscrito<br />

da autoria de Luís Montês Mattoso, intitula-se Relaçam da Entrada publica, e<br />

solemne, que o Excelentissimo, e Reverendissimo Senhor D. Joam Cosme de Tavora,<br />

Bispo de Leyria, fez na mesma Cidade. A segunda, publicada na Gazeta de Lisboa,<br />

jornal impresso, cujo r<strong>ed</strong>actor era José Freire Montarroio, não possui qualquer título.<br />

São dois textos que se complementam. A primeira relação, mais extensa e completa,<br />

circulou dez dias após a cerimónia, ou seja, no dia 15 de Outubro. A segunda, compreendendo<br />

três páginas, apenas foi dada à estampa no dia 1 de Novembro, portanto<br />

quase um mês depois da entrada do bispo.<br />

Um dos momentos altos do ritual consistia no encontro da comitiva que havia ido<br />

esperar o prelado a alguma distância da cidade com as entidades que a aguardavam<br />

às portas da mesma. Neste ponto, terceiro na morfologia apresentada por José P<strong>ed</strong>ro<br />

Paiva, era proferido um discurso de boas vindas, o qual estava por norma a cargo do<br />

vereador mais velho, no caso Gregório Sernache de Noronha, e proc<strong>ed</strong>ia-se à entrega<br />

das chaves da cidade. A importância deste núcleo era tal que o autor da primeira<br />

relação publicou na íntegra o breve discurso do vereador. A entrega das chaves era<br />

uma cerimónia repleta de simbolismo e de duplo significado, pois estas abriam não<br />

só as portas de <strong>Leiria</strong>, mas também os corações dos diocesanos 14 .<br />

O cavalo e o pálio são dois elementos destacados nas relações de entrada. Ambos<br />

asseguravam ao prelado a visibilidade pretendida, evidenciando-se ainda mais das<br />

restantes entidades que formavam o cortejo. Instrumentos de afirmação do poder<br />

episcopal foram tidos por largo período como exclusivos dos monarcas, o que chegou<br />

a originar alguns atritos. O efeito da altura era ainda assegurado e reafirmado<br />

pela posição em que se encontrava a cadeira episcopal. Esta estava colocada sobre<br />

um estrado sendo apenas acessível por intermédio de degraus.<br />

Os elementos de arte efémera estão igualmente presentes nas relações da cerimónia.<br />

A cidade, palco da representação de poder, alterava a sua fisionomia habitual.<br />

Templos, altares e arcos triunfais, estes envergando normalmente as armas do antístite,<br />

eram erguidos nas principais praças e artérias por onde passariam os cortejos. Em<br />

Outubro de 1746, na cidade de <strong>Leiria</strong>, destacaram-se os arcos construídos na entrada<br />

da praça, por ordem do brigadeiro P<strong>ed</strong>ro de Sousa. Os autores realçaram igualmente<br />

os enfeites que embelezavam as habitações, nomeadamente os adornos colocados<br />

nos frontispícios das casas do brigadeiro P<strong>ed</strong>ro de Sousa Castelo-Branco, de Miguel<br />

Luís da Silva de Ataíde e Costa, e de Alberto Homem Spínola de Vasconcelos.<br />

Terminada a parte sagrada da cerimónia tinha inicio a fase dita profana. O bispo<br />

raramente participava nestes festejos, preferindo recolher-se ao paço episcopal.<br />

Eram inúmeras as actividades culturais que decorriam pela cidade tendo por pano<br />

de fundo a entrada episcopal. Os festejos podiam ser preenchidos com luminárias,<br />

fogo-de-artifício, danças, touros, simulações de duelos, ou pequenas batalhas, outei-<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 175


. história .<br />

ros, representações teatrais e banquetes, que seguramente muito contribuíam para a<br />

grande adesão popular a estes actos 15 . Em <strong>Leiria</strong> apenas existe registo de luminárias<br />

e repiques de sinos. A primeira relação menciona que “chegando á porta [do paço]<br />

lançou a bênção a todos e se recolheu em paz, seguindo-se de noyte e nas duas seguintes<br />

luminarias e repiques em todas as igrejas em obzequio de Sua Excelencia” 16 .<br />

A segunda apenas acrescenta que se trataram de “iluminações engenhosas” 17 . Ainda<br />

assim não excluímos a possibilidade da ocorrência de outras actividades nomeadamente<br />

o recitar de poesia laudatória em homenagem a D. João de Nossa Senhora da<br />

Porta.<br />

Estes textos fazem sair do anonimato uma série de figuras locais, destacando os<br />

que desempenhavam tarefas de relevo no decorrer da cerimónia. Tal é o caso daqueles<br />

que seguravam no fiador, na cauda ou no pálio. Concomitantemente, atribuem<br />

grande importância à ordem em que seguiam as diferentes entidades nas procissões.<br />

As cerimónias de entrada encontravam-se fortemente codificadas sendo que todos<br />

os gestos, palavras, lugares ocupados e forma dos assentos assumiam uma enorme<br />

importância. Era um momento ímpar na vida da diocese em que a principal mensagem<br />

que se pretendia transmitir era a de superioridade dos bispos, relegando para<br />

segundo plano o clero local e os restantes órgãos do poder civil.<br />

Apêndice<br />

Documento 1<br />

1746, Outubro, 15, Lisboa – Relação manuscrita da entrada pública de D. João<br />

Cosme da Cunha em <strong>Leiria</strong>.<br />

Évora, Biblioteca Pública de Évora, cod. CIV/I-16 d., fls. 248-253v. [Mercúrio<br />

de Lisboa, n.º 42, de 15 de Outubro de 1746].<br />

/fl. 248/ Relaçam da Entrada publica, e solemne, que o Excelentissimo e Reverendissimo<br />

Senhor D. Joam Cosme de Tavora, Bispo de Leyria, fez na mesma<br />

Cidade.<br />

176 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

Ainda o excelentissimo e reverendissimo bispo de Leyria D. Alvaro de Abranches<br />

(hum dos mais perfeytos Prelados que teve não somente aquella diocese mas<br />

taobem este Reyno) era vivo; porem tão carregado de annos, porque passava de 84;<br />

e cheyo de achaques que contrahira na laborioza vigilancia das suas ovelhas, que se<br />

achava entrevado e sem os alentos que sam precizos em hum pastor para apascentar<br />

o seu rebanho, quando a Magestade do nosso Augustissimo Monarca, D. João V, que<br />

Deos guarde, foy servido nomear para bispo coadjuctor, e futuro succesor da mesma<br />

diocese em 18 de Novembro de 1745 ao excelentissimo e reverendissimo senhor D.<br />

João Cosme de Tavora filho dos illustrissimos e excelentissimos condes de S. Vicente,<br />

Manoel Carlos da Cunha e Tavora e D. Izabel de Noronha, o qual sendo porcionista<br />

do real collegio de S. P<strong>ed</strong>ro de Coimbra, doutor em leys, /fl. 248v./ deputado<br />

do Santo officio da mesma cidade, e oppozitor às cadeyras, entrou na santa e reformada<br />

Congregação dos Conegos Regrantes de S. Agostinho no mosteyro de S. Cruz<br />

de Coimbra em o mez de mayo de 1738. Falleceu o excelentissimo D. Alvaro de<br />

Abranches em 5 de Abril de 1746, e ficou o excelentissimo e reverendissimo senhor<br />

D. Joam Cosme de Tavora sendo o decimo septimo prelado de Leyria, e como tal foy<br />

sagrado na Sancta Igreja de Lisboa em 29 de Junho, dia dos Principes dos Apostolos,<br />

S. P<strong>ed</strong>ro e S. Paulo, pello excelentissimo e reverendissimo senhor Cardeal Patriarca<br />

Dom Thomaz de Almeyda, sendo assistentes os excelentissimos e reverendissimos<br />

arcebispo de Lac<strong>ed</strong>emonia, D. José Dantas Barboza e o bispo que acabara do Rio de<br />

Janeyro D. frei João da Cruz.<br />

Preparou-se Sua Excelencia para hir dar principio ao governo da sua diocese,<br />

nomeando logo para provizor della ao M. R. Joze Ferreyra Xavier, conego doutoral<br />

da insigne, e real collegiada de Santa Maria de Alcassova de Santarém. Sahiu de Lisboa<br />

a 26 de Setembro, dia em que El Rey nosso Senhor fez jornada para a villa das<br />

Caldas a aproveitar se do rem<strong>ed</strong>io dos seos banhos e demorando-se Sua Excelencia<br />

ali com a corte oyto dias, partiu para Leyria na manhãa de terça-feira 4 de Outubro,<br />

acompanhado do reverendissimo reformador frey Gaspar da Encarnaçam seu thio,<br />

dos dous reverendissimos pupilos, o senhor Dom Antonio e o senhor Dom Gaspar,<br />

do padre D. Joam de Jezus Maria e do padre D. Manoel da Conceiçam conegos Regrantes<br />

/fl. 249/ e este ultimo mestre de ceremonias do Real mosteyro de S. Vicente<br />

de Fora. Foy jantar a Patayas, primeyro lugar do seu bispado. Pelas 4 horas da tarde<br />

chegou aos Fornos da Cal huma Legoa distante de Leyria, onde o esperavão o seu<br />

provisor e o seu vigario geral, com o juizo eccleziastico, e comprimentando a Sua<br />

Excelencia aos reverendissimos e mais padres que o acompanhavam, se pozeram<br />

junto da sua carroagem esperando as suas ordens, e recebendo Sua Excelencia os<br />

comprimentos do prelado do convento dos Eremitas de S. Agostinho, do vigario e<br />

do procurador do mosteyro das Religiozas Dominicas, mandou embarcar os seos<br />

ministros nas carroagens em que tinham hido e proceguio a jornada.<br />

Chegando ao lugar de Parceyros meya legoa de distancia da cidade, esperavam<br />

a Sua Excelencia o doutor prov<strong>ed</strong>or da comarca, Affonso da Sylva, e Carvalho, o<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 177


. história .<br />

doutor juiz de fora Luiz Estanislau da Sylva, o brigadeiro P<strong>ed</strong>ro de Souza de Castello<br />

Branco, com os seos tres filhos (o morgado, hum religiozo Augustiniano e outro<br />

estudante) Martim Barba Correa Alardo, Miguel Luiz da Sylva e Atayde, Andre<br />

Cardozo Moniz Evangelho, e o arc<strong>ed</strong>iago da Sé todos em seges à boleya. Beijando<br />

as mãos a Sua Excelencia e comprimentando aos mais, o seguiram athe à capela de<br />

Nossa Senhora da Encarnação, junto da cidade, onde chegou pelas cinco horas e<br />

meya. /fl. 249v./ Naquelle sitio se achavão esperando os guardiaens dos conventos<br />

dos religiozos de S. Francisco e dos Arrabidos, alguma nobreza e bastante povo.<br />

Dezembarcando-se Sua Excelencia com toda a sua cometiva se encaminhou para a<br />

porta principal da igreja onde recebendo o aspersorio tomou agoa benta e a lançou<br />

nos mais: foy à capela mor fazer oraçam e se recolheu ás cazas contiguas que lhe<br />

estavam preparadas para a hosp<strong>ed</strong>agem: ali foi outra vez comprimentado por todos<br />

os eccleziasticos regulares e seculares e ultimamente deu as ordens precizas aos seos<br />

ministros e ficou descançando.<br />

Na quarta feira pela manhaã tornarão os mesmos ministros assim eccleziasticos,<br />

como regulares e seculares, e varios religiozos e pessoas seculares a saber de Sua<br />

Excelencia e comprimentalo, concorrendo tambem os superiores dos religiozos de<br />

S. Domingos da villa da Batalha e dos Eremitas Descalços de S. Agostinho de Porto<br />

de Mós que governavam na auzencia dos seos priores, acompanhados de muytos<br />

religiozos seos subditos. A todos Sua Excelencia correspondeu com demonstraçoens<br />

de benignidade, executando o mesmo com a nobreza que lhe foi dar as boas vindas.<br />

O cabido nomeou para hirem na mesma manhaã comprimentar a Sua Excelencia<br />

ao chantre João Manoel Correa de Lacerda e ao conego Antonio Soares da Costa,<br />

que forão pelas 8 horas em hum coche executar esta deligencia /fl. 250/ da parte do<br />

mesmo cabido. Sua Excelencia os recebeu com a afabilidade de pastor, sem faltar á<br />

innata docilidade do seu genio nem á precioza gravidade do seu caracter.<br />

Durarão os comprimentos athe ao meyo dia e se dispoz a entrada solemne até<br />

ás duas horas da tarde. Da huma para as duas se preparou a procissam na cath<strong>ed</strong>ral,<br />

juntando-se nella (segundo o <strong>ed</strong>ital) o clero, a communidade dos religiozos de S.<br />

Francisco, hindo debaixo da sua cruz (por ser a que naquella cidade acompanha so<br />

as procissoens) todos os mais religiozos assim Augustinianos e Arrabidos da cidade<br />

como os Dominicos da Batalha e Agostinhos Descalços de Porto de Mós compondo-se<br />

a communidade regular de mais de outenta religiozos e as confrarias assim de<br />

dentro como de fora da cidade que custumam acompanhar a procissam do Corpo de<br />

Deos.<br />

Emquanto na cath<strong>ed</strong>ral se preparava a procissam sahiu Sua Excelencia das cazas<br />

em que estava alojado, entrou na igreja de Nossa Senhora da Encarnação, fez oração<br />

pouco antes das duas horas, tomou a capa e veyo até a porta servindo-lhe de caudatario<br />

P<strong>ed</strong>ro de Souza de Castello Branco, a quem havia feyto a honra de o mandar<br />

convidar pelo seu provisor dous dias antes para este ministerio. Montou a cavalo<br />

em huma mulla que estava preparada com /fl. 250v/ jaezes roxos, manto da mesma<br />

178 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

cor, com estribos e freyos dourados; e pondo-lhe o mestre de ceremonias na cabeça<br />

o capello da capa magna e em cima o chapeu pontifical forrado de verde com cordoens<br />

e borlas da mesma cor, caminhou com gravidade prec<strong>ed</strong>ido de quatro pagens,<br />

dous capellaens, o mestre de ceremonias, quatro conegos deputados pelo cabido para<br />

conductores de Sua Excelencia Rafael Barreto, o doutor Antonio Joaquim Torram,<br />

Antonio Soares da Costa e Patricio Pereyra, e alguma nobreza que por obzequio<br />

o foy acompanhar hindo atraz de Sua Excelencia montado tambem a cavalo o seu<br />

caudatario P<strong>ed</strong>ro de Souza Castello Branco.<br />

Chegou Sua Excelencia á igreja do Espirito Santo a tempo que tambem chegava<br />

a procissão, emquanto o cabido se acomodou na bancada que nella se lhe tinha preparado,<br />

se apeou demorando-se fora algum espaço. Entrou e depois de fazer oração<br />

subiu ao trono e se assentou na cadeyra debaixo de hum docel de damasco branco<br />

que se havia colocado junto ao arco da capella mor da parte do Evangelho, tomando<br />

os da familia de Sua Excelencia cotas, lhe tirarão a capa magna e foram dando<br />

por boa ordem os paramentos pontificaes que se achavam preparados sobre o altar.<br />

Serviu de diaconos os assistentes de Sua Excelencia o conego Antonio da Costa á<br />

mam direyta /fl. 251/ e o conego Antonio Joaquim Torram á esquerda, os quaes lhe<br />

administrarão os ornamentos que eram preciozos. Revestido de pontifical com alva,<br />

estolla, cruz, anel tomou a capa pluvial com as suas armas bordadas de ouro e verde<br />

nas partes inferiores da banda de diante, se assentou hum pouco depois de tomar a<br />

mithra emquanto se ordenava a procissam que a este tempo hia ja voltando para a<br />

cidade na mesma forma com que viera da cath<strong>ed</strong>ral pela maneyra seguinte.<br />

Hia diante o estandarte do senado da camara com as armas da cidade levado por<br />

Alvaro de Brito Evangelho pegando da borla da parte direyta seu irmão Sebastiam<br />

Soares Evangelho e na parte esquerda Francisco de Souza Castello Branco, fidalgos<br />

da Caza de Sua Magestade, seguindo a cada hum delles seos criados de pe, seguia-se<br />

huma aparatoza cometiva com muyto luzimento composta de setenta pessoas montadas<br />

a cavallo, cobrindo este corpo no lugar dos fidalgos da Caza Real Andre Cardozo<br />

Moniz Evangelho com dous cavallos á mam com seos telizes e criados. Em terceyro<br />

lugar o magistrado em que hia o doutor prov<strong>ed</strong>or da comarca com os officiaes da sua<br />

jurisdição e os do juizo geral: dous almotacez, com as suas varas, o juiz do povo e<br />

mister /fl. 251v/ tambem com varas. Seguia-se o guiam da irmandade do Santissimo<br />

Coraçam de Jezus cujos irmãos levão m<strong>ed</strong>alhas do mesmo coraçam pendentes ao<br />

pescoço em fitas vermelhas. A irmandade de Nossa Senhora do Rosario com seu<br />

guiam, metendo-se na procissam junto da igreja do Espirito Santo. As confrarias<br />

do Santissimo Sacramento em dous corpos, debaixo de duas cruzes, compostas de<br />

mais de duzentos e cincoenta irmãos. A communidade dos religiozos de S. Francisco<br />

com os de mais conventos da cidade e de fora della, como fica dito. O clero em dous<br />

corpos, prec<strong>ed</strong>idos de duas cruzes em numero de mais de duzentos eccleziasticos. O<br />

juizo ecclesiastico composto de dous solicitadores, quatro escrivaens do auditorio,<br />

o da camara, o promotor com o vigario geral á mam esquerda e o provizor á direyta<br />

Reflexões<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 179


. história .<br />

com varas brancas, cada hum nos habitos de seu estado e caracter. Seguia-se a cruz<br />

capitular com dous ceriaes levados por dous meninos do coro, vestidos de opas e<br />

barretes vermelhos: os musicos, quatro meninos de coro mais, e o cabido composto<br />

de beneficiados e meyos conegos e dos conegos a que prezidia o chantre com a sua<br />

vara de regencia; os dous cantores no meyo do cabido que erão o sub chantre da Sé e<br />

o beneficiado Joze Ferraz, os quaes levantavão os Psalmos /fl. 252/, o cabido cantava<br />

hum ramo e os muzicos outro. Em ultimo lugar hia Sua Excelencia montado em hum<br />

cavallo branco, ajaezado de s<strong>ed</strong>a branca com os arreyos dourados, o qual, como o<br />

de Alexandre, parece que reconheceu a Sua Excelencia pela quietação com que o<br />

esperava quando sahiu da igreja do Espirito Santo para montar com o caudatario<br />

P<strong>ed</strong>ro de Souza Castello Branco, tomando ali obridam [sic] Miguel Luiz da Sylva e<br />

Atayde a quem tambem Sua Excelencia tinha mandado convidar para este honorifico<br />

emprego pelo seu provisor: de traz se seguia a mulla em que tinha feyto a primeyra<br />

cavalgata, segundo o modo mais moderno de Roma porque os ceremoniaes lhe asignam<br />

o lugar deante da familia. Mostrava-se Sua Excelencia igualmente magestozo<br />

que amavel e dando o cavallo pouco mais de cinco passos sahiu da porta que ali se<br />

tinha formado e chegando ao lugar em que o senado da camara o esperava em hum<br />

teatro bem ordenado com mais alguns vereadores dos annos passados para levarem<br />

as varas do paleo, lhe fez o vereador mais velho Gregorio Sernache de Noronha a<br />

falla seguinte:<br />

“Excelentissimo e reverendissimo senhor<br />

Bem podia a fortuna ter nomeado outro sugeyto, que cheyo de erudiçam<br />

melhor expozesse /fl. 252v/ a Vossa Excelencia os alvoroços com que o recebem<br />

os coraçoens de todos os seos subditos. Seguro a Vossa Excelencia que nam encontrará<br />

neste Bispado peyto, que nam seja hum Altar, em que veja sacrificado o<br />

amor à Sua Illustrissima Pessoa. Entre Vossa Excelencia a governar feliz, e não<br />

sinta pezar-lhe na cabeça a mithra, nem cancar-lhe o braço o bago, e, se illustrado,<br />

e discreto entendimento do nosso Monarca, que Deus nos guarde, elegeu<br />

a Vossa Excelencia nosso Bispo; para que esta felecidade se nos dilate, queyra o<br />

Ceo, que neste Bispado viva Vossa Excelencia Nestorios annos”.<br />

Acabada a pratica continuou Sua Excelencia o caminho unindo de sorte o magestozo<br />

com o grato pelo meyo das duas alas que formavam as ordenanças desde a<br />

porta em que foy servido athe à Sé por todas as ruas da ci[d]ade que fez que os olhos<br />

para dezempenho dos vivas, fizessem juntamente todas as suas operaçoens unindo<br />

o ver com o chorar, milagre que só sabe fazer quando he o mais crescido. Antes de<br />

Sua Excelencia partir descerão do theatro o juiz de fora e vereadores e pegaram nas<br />

primeyras varas do paleo o mesmo juiz e vereador mais velho, nas segundas Carlos<br />

Cardozo Moniz de Castello Branco, fidalgo da Caza Real segundo vereador e Tho-<br />

180 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

maz da Mota Sarmento vereador do anno passado; nas terceyras Alberto /fl. 253/ Homem<br />

de Espinola e Vasconcellos vereador do anno passado, e Martim Barba Correa<br />

Alardo por seu filho Joam Pereyra da Sylva terceyro vereador: nas quartas Manoel<br />

Correya de Mesquita, procurador do concelho e Venancio Vieyra da Sylva, escrivão<br />

da camara, os quaes chegando à capela de Nossa Senhora da Graça forão rendidos<br />

por outros oyto cavalleyros que ahi se achavão para isso esperando, e elles partirão<br />

em dous coches para a Sé, onde tornarão a pegar nas varas. Tudo foy com muyto boa<br />

ordem, sezudeza [sic] e modestia pelas ruas que se achavam ornadas com bastante<br />

asseyo no que se distinguirão as frontarias das cazas de P<strong>ed</strong>ro de Souza de Castello<br />

Branco, mandando fabricar junto dellas hum arco com as armas de Sua Excelencia<br />

no remate; a de Miguel Luiz que seguiu a mesma idea, a de Alberto Homem e de<br />

outros cavalheros.<br />

Chegando Sua Excelencia ao adro se apeou e sobindo os degraos delle estava<br />

dentro hũa alcatifa com genuflectorio de tella branca em que ajoelhou, beijando a<br />

cruz que lhe offereceu o chantre revestido com capa pluvial, e recebendo o aspersorio<br />

tomou agoa benta, lançou incenso no thuribulo e foi incensado pelo mesmo<br />

chantre. Encaminhou se para a capella do Santissimo Sacramento onde fazendo breve<br />

oração passou à capella mor na qual feytas as ceremonias custumadas e ditas pelo<br />

chantre as oraçoens subiu Sua Excelencia ao trono debaixo do docel, onde o cabido<br />

por sua ordem lhe beijou a mam e depois publicou o mesmo chantre pela tabella as<br />

indulgencias. /fl. 253v/ Ultimamente tirados a Sua Excelencia os ornamentos pontificais<br />

e tomando outra vez a capa magna e barrete partiu a pé para o seu paço pontifical<br />

acompanhado de todas as irmandades, clero, camera e nobreza. Chegando á porta<br />

lançou a bênção a todos e se recolheu em paz, seguindo-se de noyte e nas duas seguintes<br />

luminarias e repiques em todas as igrejas em obzequio de Sua Excelencia.<br />

Documento 2<br />

1746, Novembro, 1, Lisboa – Relação impressa da entrada pública de D. João<br />

Cosme da Cunha em <strong>Leiria</strong>.<br />

Gazeta de Lisboa, n.º 44, de 1 de Novembro de 1746.<br />

Reflexões<br />

/p. 869/ Portugal. <strong>Leiria</strong> 8 de Outubro.<br />

O Excelentissimo e Reverendissimo Senhor D. Joam de Nossa Senhora da<br />

Porta, bispo desta diocesi que já havia tomado posse do bispado em 23 de Junho<br />

deste anno, fez a sua entrada pûblica nesta cidade no dia 5 do corrente, havendo<br />

sido esperado pelas justiças e nobreza della no lugar dos Parceiros, que dista daqui<br />

meya légua, até a igreja da Encarnaçam, onde se alojou aquella noite nas casas, que<br />

se lhe tinham prevenido, e ali concorreu em procissam numerosa, e bem ordenada,<br />

o cabido, nobreza, comunidades e confrarias ostentando muito luzimento. Montava<br />

| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 181


. história .<br />

Sua Excelencia hum cavalo branco com arreyos da mesma cor e fivelões dourados,<br />

como eram os estribos, revestido pontificalmente com alva, e estola, cruz, anel e<br />

capa pluvial, pegando no fiador Miguel Luiz da Silva de Ataide e Costa, e na cauda<br />

o brigadeiro P<strong>ed</strong>ro de Souza de Castelo-Branco, ambos fidalgos bem conhecidos /p.<br />

870/ montados em formosos cavalos ricamente ajaezados, com outros á destra. Foy<br />

recebido á porta da cidade pelo senado da camera e ali lhe fez huma fala em nome de<br />

todos os moradores Gregorio Sernache de Noronha, fidalgo da Casa de Sua Magestade,<br />

como vereador mais velho. O estandarte do senado da camera era levado por<br />

Alvaro de Brito e Vasconcelos, cavaleiro da Ordem de Maltha, que o senado elegeu<br />

para fazer a funçam de seu alferes mor: pegando na borla da parte direita Sebastiam<br />

Soares de Souza Evangelho, seu irmam, e na da esquerda Francisco de Souza de<br />

Castelo-Branco, filho do brigadeiro P<strong>ed</strong>ro de Souza, todos montados em formosos<br />

cavalos com riquissimos arreyos, levando outros cavalos á mam, cobertos de telizes<br />

ricos, com as armas das suas familias. Diante de Sua Excelencia hia o arc<strong>ed</strong>iago<br />

com o bago na mam, e chegando ao adro da Sé se apeou Sua Excelencia e subindo<br />

os degraos, ajoelhou sobre hum genuflexorio coberto de tela branca sobre huma<br />

boa alcatifa; e beijando a cruz, que lhe ofereceu o chantre, revestido com capa de<br />

asperges, tomou agua benta, lançou incenso em hum tribulo, com que foy incensado<br />

pelo mesmo chantre, e debaixo do mesmo palio (como vinha desde que entrou na<br />

cidade, em que pegavam nas primeiras varas o juiz de fora Luiz Stanisláo da Silva, e<br />

o vereador mais velho Gregorio Sernache de Noronha, nas segundas Carlos Cardozo<br />

Muniz de Castelo Branco, fidalgo da Casa Real, e Thomás da Motta Sarmento, nas<br />

terceiras Alberto Homem Spinola de Vasconcelos e Martim Barba Correa Alardo,<br />

por seu filho Joam Pereira da Silva, terceiro vereador, e nas ultimas Manuel Correa<br />

de Mesquita, procurador do concelho, e Venancio Vieira da Silva, escrivam da camera)<br />

caminhou para a capela do Santissimo Sacramento, e fazendo alî breve oraçam,<br />

passou á capela mór, onde feitas as ceremónias costumadas se assentou no trono que<br />

lhe estava preparado debaixo de hum docel, onde o cabido por sua ordem lhe /p.<br />

871/ beijou a mam. Publicadas as indulgencias pelo mesmo chantre, despiram a Sua<br />

Excelencia os ornamentos pontificaes, e tomando a capa magna e barrete partiu para<br />

o palacio episcopal, acompanhado de todas as irmandades, clero, camera e nobreza,<br />

e chegando á porta se recolheu, desp<strong>ed</strong>indo-se de todo o acompanhamento com lhe<br />

lançar a sua bençam.<br />

A cidade estava magnifica e primorosamente armada, distinguindo-se nos adornos<br />

os frontispicios das casas do brigadeiro P<strong>ed</strong>ro de Souza Castelo-Branco, as de<br />

Miguel Luiz da Silva de Ataide e Costa, e as de Alberto Homem Spinola de Vasconcelos.<br />

Na entrada da praça se tinha erigido hum arco por ordem do brigadeiro<br />

P<strong>ed</strong>ro de Souza, a que serviam de remate as armas do prelado, e no fim della outro<br />

em correspondencia. Houve 3 noites de luminárias e iluminações engenhosas, e em<br />

todas os repiques festivos de todas as igrejas.<br />

Este prelado se chamava no século D. Joam Cosme de Tavora, he filho dos<br />

182 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |


. história .<br />

ilustrissimos e excelentissimos senhores condes de S. Vicente Manuel Carlos da<br />

Cunha e Tavora, e Dona Isabel de Noronha, e sendo porcionista do Real colegio de<br />

S. P<strong>ed</strong>ro de Coimbra, doutor em leys, deputado do Santo Oficio da mesma cidade e<br />

opositor ás cadeiras, desprezou todas as esperanças do século no mez de Mayo de<br />

1738, professando a santa reforma da Congregaçam dos conegos regrantes de Santo<br />

Agostinho, donde o merecimento das suas virtudes, e letras o elegeu para prelado<br />

desta diocesi.<br />

Notas<br />

1<br />

José Maria Latino Coelho, História Política e Militar de Portugal desde os fins do XVIII<br />

século até 1814, tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874. p. 214.<br />

2<br />

Cf. José Maria Latino Coelho, História Política […], p. 214; Afonso Zúquete, <strong>Leiria</strong>: Subsídios<br />

para a História da Sua <strong>Diocese</strong>, <strong>Leiria</strong>, Gráfica, 1943, p. 227.<br />

3<br />

Sobre esta figura cf. Ricardo Pessa de Oliveira, Uma Vida no Santo Ofício: o Inquisidor<br />

Geral D. João Cosme da Cunha, Lisboa, Dissertação de Mestrado em História Moderna<br />

apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2007, exemplar mimeografado.<br />

Existem ainda estudos anteriores de carácter geral. De entre estes, cf. principalmente<br />

José de Castro, O Cardial Nacional, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1943, pp. 269-<br />

296; Afonso Zúquete, <strong>Leiria</strong>: Subsídios […], pp. 225-243; Fortunato de Almeida, História<br />

da Igreja em Portugal, nova <strong>ed</strong>ição preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto,<br />

Lisboa, Civilização, 1968, p. 636, vol. III, Porto, Lisboa, Civilização, 1970, pp. 531-532;<br />

José P<strong>ed</strong>ro Paiva, Os Bispos de Portugal e do Império (1495-1777), Coimbra, Imprensa da<br />

Universidade de Coimbra, 2006, pp. 544-545.<br />

4<br />

Cf. Maria de <strong>Fátima</strong> Reis, Santarém no Tempo de D. João V, Administração, Soci<strong>ed</strong>ade e<br />

Cultura, Lisboa, Edições Colibri, 2005, pp. 152-268. Retomamos aqui parte do que escrevemos<br />

in Ricardo Pessa de Oliveira, “Encenação de Poder: A entrada pública de D. João<br />

Cosme da Cunha em <strong>Leiria</strong> (1746)”, Turres Veteras – X, (História do Sagrado e do Profano),<br />

coordenação de Carlos Guardado da Silva, Lisboa, Edições Colibri, Torres V<strong>ed</strong>ras, Câmara<br />

Municipal de Torres V<strong>ed</strong>ras, Universidade de Lisboa, 2008, pp. 187-199.<br />

5<br />

Cf. Ana Maria Alves, As Entradas Régias Portuguesas: uma Visão de Conjunto, Lisboa,<br />

Livros Horizonte, [s.d.].<br />

6<br />

José P<strong>ed</strong>ro Paiva, “Etiqueta e Cerimónias públicas na esfera da Igreja (séculos XVII-XVIII)”,<br />

Festa cultura e sociabilidade na América Portuguesa, direcção de Istuán Jancsó e de Íris<br />

Kantor, vol. I, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2001, p. 79.<br />

Reflexões<br />

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. história .<br />

7<br />

Sobre as entradas episcopais cf. José Manuel Alves T<strong>ed</strong>im, “Entrada triunfal de D. José de<br />

Bragança na sé primacial de Braga”, IX Centenário da D<strong>ed</strong>icação de Sé de Braga. Congresso<br />

Internacional. Actas, vol. II / 2, Braga, Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de<br />

Teologia, Cabido Metropolitano e Primacial de Braga, 1990, pp. 413-420; José P<strong>ed</strong>ro Paiva,<br />

“O Cerimonial da Entrada dos Bispos nas suas dioceses uma encenação de poder (1741-<br />

1757)”, Revista de História das Ideias, vol. 15, Coimbra, 1993, pp. 117-146; Idem, “Etiqueta<br />

e Cerimónias públicas […]”, pp. 76-94; Martin Elbel, “Bishop’s Secular Entry: Power and<br />

representation in Inauguration Ceremonies of the Eighteenth-Century Bishops of Olomouc”,<br />

Religious Ceremonials and images: power and social meanings (1400-1750), direcção de José<br />

P<strong>ed</strong>ro Paiva, Centro de História da Soci<strong>ed</strong>ade e da Cultura, European Science Foundation,<br />

Coimbra, 2002, pp. 47-60; Maria Manuela de Campos Milheiro, Braga: a cidade e a festa no<br />

séc. XVIII, Guimarães, NEPS, 2003; Luís Alexandre Rodrigues, “Os Poderes em Presença.<br />

A Entrada Pública de D. Diogo Marques Mourato em Miranda do Douro”, Brigantia, vol.<br />

XXIV, n.º 1-2 e 3-4, Bragança, 2005, pp. 161-183; Ricardo Pessa de Oliveira, “Encenação<br />

de Poder: A entrada pública […]”, pp. 187-199.<br />

8<br />

José P<strong>ed</strong>ro Paiva, “O Cerimonial da Entrada […]”, pp. 124-134; José P<strong>ed</strong>ro Paiva, “Etiqueta<br />

e Cerimónias […]”, pp. 81-84.<br />

9<br />

Évora, Biblioteca Pública de Évora (B.P.E.), cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 27, de<br />

2 de Julho de 1746]; Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), cod. 49, fl. 126.<br />

10<br />

Lucas D’Andrade, Acçoens Episcopaes, tiradas do Pontifical Romano, & Ceremonial dos<br />

Bispos, com hum breve comp<strong>ed</strong>io dos poderes, & Privilegios dos Bispos, Lisboa, Oficina<br />

de João da Costa, 1671, p. 74.<br />

11<br />

Lisboa, BNP, cod. 49, fl. 125v.<br />

12<br />

Évora, B.P.E, cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 32, de 6 de Agosto de 1746].<br />

13<br />

Évora, B.P.E, cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 41, de 8 de Outubro de 1746].<br />

14<br />

Luís Alexandre Rodrigues, “Os Poderes em Presença […]”, p. 169.<br />

15<br />

José P<strong>ed</strong>ro Paiva, “Etiqueta e Cerimónias […]”, p. 84; Maria Manuela de Campos Milheiro,<br />

Braga […], pp. 327-466.<br />

16<br />

Évora, B.P.E., cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 42, de 15 de Outubro de 1746].<br />

17<br />

Gazeta de Lisboa, n.º 44, de 1 de Novembro de 1746.<br />

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