Cláudia Lopes Nascimento Saito ( UNICENTRO).pdf - cchla
Cláudia Lopes Nascimento Saito ( UNICENTRO).pdf - cchla
Cláudia Lopes Nascimento Saito ( UNICENTRO).pdf - cchla
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
GÊNEROS TEXTUAIS E FERRAMENTAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO-<br />
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA<br />
<strong>Cláudia</strong> <strong>Lopes</strong> <strong>Nascimento</strong> <strong>Saito</strong> ( <strong>UNICENTRO</strong>)<br />
cln_saito@yahoo.com.br<br />
Introdução<br />
O objetivo deste texto 1 é o de apresentar uma síntese dos trabalhos desenvolvidos<br />
no projeto de pesquisa “Gêneros textuais e ferramentas didáticas para o ensinoaprendizagem<br />
de língua portuguesa, iniciado e concluído na Universidade Estadual de<br />
Londrina, no Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas. Com essa finalidade,<br />
apresentaremos detalhes de seu funcionamento, explicitaremos alguns resultados obtidos e,<br />
finalmente, faremos uma avaliação das contribuições da atividade coletiva de planejamento,<br />
produção de materiais didáticos e formação, procurando revelar o modo de organização das<br />
atividades pelas quais professores em formação inicial e contínua da rede pública de ensino,<br />
trabalharam em parceria com os pesquisadores articulados a esse projeto para a elaboração<br />
de sequências didáticas com base em gêneros textuais diversificados. Nessa perspectiva,<br />
apresentaremos as principais características do projeto e os questionamentos que<br />
impulsionaram o trabalho do grupo de pesquisadores a ele articulados.<br />
Planejado e desenvolvido sob a responsabilidade da Dra. Elvira <strong>Lopes</strong><br />
<strong>Nascimento</strong>, na UEL, no período de agosto de 2007 e concluído em dezembro de 2010, o<br />
Projeto articulou docente da Universidade Centro do Paraná (<strong>UNICENTRO</strong>) e da<br />
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), assim como doutorandos, mestrandos,<br />
graduandos em ICC e professores da rede pública de ensino, interessados em formação<br />
contínua.<br />
O foco principal do trabalho recaiu sobre o papel dos instrumentos denominados<br />
“modelo didático de gêneros” e “sequência didática” para o desenvolvimento do professor<br />
e de seu trabalho e a noção centralizadora das atividades foi a de gêneros do discurso<br />
(gêneros textuais, na perspectiva do ISD) bakhtiniana à luz da psicologia vygotskyana,<br />
desenvolvida em Schneuwly (1994) e Schneuwly & Dolz, (2004), articulada à proposta de<br />
Rabardel (1995; 1999) para a distinção das noções de artefato e instrumento.<br />
O objetivo geral do Projeto foi o de apresentar e discutir o papel que o ensino de<br />
gêneros textuais pode desempenhar no desenvolvimento dos alunos, assim como no<br />
desenvolvimento pessoal e profissional do professor, tanto no plano epistemológico quanto<br />
praxiológico. Embasados em um conjunto de autores brasileiros e estrangeiros, entre os<br />
quais destacamos: a) no Brasil: Soares (2006); Marcuschi (2008); Kleiman (2008); Rojo,<br />
(2009); b) pesquisadores da Unidade de Didática de Línguas da Universidade de Genebra<br />
que desenvolveram as idéias fundadoras sobre a questão do ensino-aprendizagem de<br />
gêneros para o desenvolvimento das capacidades de linguagem dos alunos: Schneuwly,<br />
1 A produção deste texto contou com a leitura e sugestões da Profa. Elvira <strong>Lopes</strong><br />
<strong>Nascimento</strong>, a quem transmito os meus agradecimentos.
(1994); Bronckart (1997; 2006; 2008); c) autores do quadro do interacionismo<br />
sociodiscursivo no Brasil, como: Machado (1997; 2004; 2007); Machado & Guimarães,<br />
(2009); Guimarães, Machado e Coutinho (2007); Cristovão & <strong>Nascimento</strong> (2011);<br />
<strong>Nascimento</strong> & <strong>Saito</strong>, 2010; d) autores filiados à Teoria Histórico-Cultural: Vygotsky (1984;<br />
1988; 1987) e à Teoria da Atividade Leontiev (1983; 2006).<br />
Para atingirmos os objetivos deste texto, apresentaremos: 1º. a análise do contexto<br />
de planejamento e desenvolvimento do projeto; 2º. o quadro teórico de referência; 3º a<br />
descrição das ferramentas didáticas elaboradas e das tarefas dos participantes; 4º. o quadro<br />
avaliativo geral do Projeto.<br />
1. O contexto de planejamento e desenvolvimento do projeto<br />
Ao afirmarem que “o gênero é um instrumento semiótico constituído por signos<br />
organizados de maneira regular, instrumento complexo que compreende níveis diferentes, o<br />
que faz dele um megainstrumento”, Dolz e Schneuwly (1998, p. 65) sintetizam as reflexões<br />
que norteiam questionamentos em torno do ensino/aprendizagem de línguas (materna e<br />
estrangeira), assim como a produção acadêmica do grupo de estudiosos que, debruçados no<br />
construto teórico do interacionismo sociodiscursivo (doravante ISD), tem desenvolvido<br />
suas pesquisas.<br />
O projeto de pesquisa “Gêneros Textuais e Ferramentas Didáticas para o Ensino-<br />
Aprendizagem de Língua Portuguesa” foi realizado na Universidade Estadual de Londrina,<br />
no curso de Letras Clássicas e Vernáculas e no Programa de Pós-Graduação em Estudos da<br />
Linguagem, na área de Linguagem e Educação e na linha de pesquisa Ensino/aprendizagem<br />
e formação do professor de língua portuguesa e outras linguagens. Importante salientar<br />
que o desenvolvimento dos trabalhos se tornou possível, porque o projeto contou com<br />
recursos do CNPQ - como agente financiador no Edital Universal, o que possibilitou os<br />
deslocamentos dos membros, a aquisição de equipamento, de materiais bibliográficos e de<br />
apoio.<br />
Os movimentos abrangeram diferentes focos: 1) nos instrumentos interpostos<br />
entre o professor e o objeto de seu trabalho; a avaliação de tais instrumentos e as funções<br />
que desempenham no trabalho docente; 2) no aluno, com a avaliação diagnóstica de suas<br />
capacidades na utilização dos instrumentos que auxiliam no desempenho de atividades<br />
sociais; 3) no professor formador, com o desenvolvimento de capacidades de elaboração de<br />
instrumentos para o trabalho com professores em formação; 4) foco na interação<br />
professor/instrumento/aluno, com a descrição, análise e reflexão sobre experiências<br />
didáticas voltadas para os letramentos (GONÇALVES, 2009).<br />
Tais enfoques se justificam pelo quadro problemático da educação brasileira, em<br />
que os métodos de ensino tradicionais encontram-se defasados, tanto em relação às<br />
demandas sociais quanto ao desenvolvimento das ciências da linguagem e das ciências da<br />
educação, acarretando um momento de crise na educação, que, para ser superada, exige<br />
novas transposições didáticas dos conhecimentos científicos a conhecimentos a serem<br />
ensinados.<br />
Para as discussões da base teórica e elaboração de ferramentas didáticas, foi<br />
desenvolvido um trabalho de formação inicial e contínua de professores formados em<br />
Letras, professores formados no curso de Pedagogia e em exercício em escolas municipais<br />
da região ( Ivaiporã, Londrina e Cambé), com reuniões semanais, num período de 24 meses,<br />
prorrogados por mais 12 meses.
A participação direta dos professores em exercício em todas as fases do processo<br />
se deve ao pressuposto de que qualquer projeto de intervenção educacional tenha que ser<br />
visto como um projeto em construção, cuja responsabilidade deve caber, em última<br />
instância, aos indivíduos diretamente nele envolvidos, que se tornam, dessa forma,<br />
verdadeiros agentes do processo. Nessa visão, coube aos pesquisadores colaboradores do<br />
projeto um papel pontual: organizar e mediar as discussões, fornecer subsídios teóricos e<br />
metodológicos para a busca de soluções e alternativas válidas para os problemas detectados<br />
no confronto entre as teorias e as práticas concretas de sala de aula, avaliar e colocar em<br />
discussão a pertinência e a adequação dos instrumentos para as transposições realizadas<br />
pelos professores.<br />
2. O quadro teórico de referência<br />
Retomando a idéia de Vygotsky de que o signo é um instrumento psicológico do<br />
sujeito, Schneuwly (1998) aprofunda essa metáfora para atingir a noção de gêneros textuais<br />
de Bakhtin, postulando que o gênero pode ser considerado um instrumento que fornece as<br />
bases da comunicação por permitir que os sujeitos ajam com a linguagem em diferentes<br />
situações.<br />
Schneuwly (2004) defende a idéia de que o ensino-aprendizagem dos gêneros<br />
daria condições para o desenvolvimento de operações de linguagem fundamentais para a<br />
produção de qualquer texto. Ou seja, para o autor, o ensino-aprendizagem de gêneros não<br />
levaria apenas ao domínio do gênero ensinado, mas ao desenvolvimento de diferentes<br />
capacidades de linguagem, o que faz dele um “megainstrumento” complexo e não um<br />
simples instrumento.<br />
Uma orientação didática decorrente das pesquisas dos autores genebrinos é a de<br />
que não se deve enfocar o ensino da leitura/produção de texto como um procedimento<br />
único e global, válido para qualquer texto, mas como um conjunto de aprendizagens<br />
específicas. Dados de análise (DOLZ, GAGNON, & DECÂNDIO, 2009), mostram que<br />
muitas das dificuldades dos alunos são específicas de um determinado gênero textual.<br />
Por essa razão, autores como Schneuwly & Dolz ( 2004; 2009) e Machado (2005)<br />
defendem que os gêneros que funcionam nas práticas sociais de linguagem passem a entrar<br />
no espaço escolar, numa continuidade entre o que é externo e interno à escola.<br />
Enquanto as orientações didáticas dos PCNs (1998) recomendam a adoção da<br />
diversidade textual em sala de aula como objeto de leitura e produção e concebem o<br />
processo de desenvolvimento do aprendiz não vinculado à aprendizagem do código da<br />
escrita em si, mas ao uso da linguagem nas práticas sociais e dos gêneros com funções<br />
sociais diferenciadas, o professor do ensino fundamental, sobretudo o das séries iniciais,<br />
durante sua formação inicial (no curso de Pedagogia ou outro), não tem tido acesso às<br />
abordagens teóricas e metodológicas nas quais se inserem essas discussões.<br />
O ensino de leitura e de produção - centrado nas ações de linguagem de um sujeito<br />
em um determinado contexto de produção, impulsionado para a ação (de linguagem) por<br />
razões, motivos e intenções, processo que envolve diferentes capacidades de linguagem<br />
(VYGOTSKY, 1987) e diferentes níveis de textualidade -, fatalmente se depara com um<br />
professor que enfrentará dificuldades, dada a sua tradição de ensinar a língua como um<br />
sistema de formas normativas, dissociada de seu conteúdo ideológico, situado e dialógico
(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1995). Trata-se, em suma, de uma mudança no paradigma do<br />
ensino/aprendizagem da leitura e da produção ainda não incorporado à formação dos<br />
profissionais egressos de muitos cursos de Letras, de Pedagogia e de Normal Superior.<br />
Conforme Machado (2009), quando Vygotsky fala em instrumento material ou<br />
simbólico não está se referindo simplesmente a um objeto pronto, mas a algo que é<br />
construído pelo sujeito e por ele utilizado para atingir o objetivo de sua ação. Para a autora,<br />
a construção do sujeito e de suas funções psíquicas se faz por meio das ações recíprocas<br />
entre os membros de um grupo e pela apropriação de objetos sociais criados pela cultura.<br />
Nesse sentido é que os autores filiados ao interacionismo sociodiscursivo<br />
defendem que o uso de um novo instrumento provocaria transformações tanto no ambiente<br />
físico e social em que se desenvolve a atividade instrumentada, quanto nos outros que<br />
interagem com o sujeito e também sobre o próprio sujeito, aumentando os seus<br />
conhecimentos sobre o mundo e desenvolvendo capacidades para o agir sobre o outro e<br />
para a regulação de seu próprio comportamento.<br />
Os pressupostos advindos do quadro epistemológico e teórico do interacionismo<br />
sociodiscursivo (BRONCKART, 2003; 2006; 2008), deram o seguinte encaminhamento às<br />
reflexões do grupo: 1) as características do trabalho do professor em sala de aula; 2) as<br />
prescrições que orientam o trabalho do professor nos vários níveis do sistema educacional;<br />
3) a transposição didática dos saberes de referência que pudessem fundamentar progressões<br />
curriculares de gêneros suscetíveis de serem trabalhados no ensino fundamental e médio; 4)<br />
a realização de análises e descrições de gêneros textuais que apontem possíveis<br />
regularidades; 5) a construção de objetivos para os três níveis de operações de linguagem<br />
adequados aos contextos de ensino-aprendizagem: a) de representação do contexto social;<br />
b) para a estruturação discursiva do texto; c) para a seleção de mecanismos de textualização<br />
e escolha de unidades linguísticas); 6) a construção de sequências didáticas que organizem<br />
a progressão em torno dos gêneros; 7) a mobilização, pelo professor, de gestos didáticos<br />
específicos (NASCIMENTO, 2009b) adequados à construção de um ambiente escolar para<br />
a aprendizagem dos conteúdos e o desenvolvimento de capacidades a eles relacionadas..<br />
2.1 O modelo didático: instrumento fundamental para o trabalho com gêneros<br />
textuais<br />
Partimos da construção dos modelos didáticos como o procedimento gerativo que<br />
irá fornecer objetos potenciais (DOLZ e SCHENUWLY, 2004) para o ensino a partir do<br />
qual se podem gerar sequências didáticas. “Potenciais”, porque cabe ao professor a seleção<br />
desses objetos de ensino, tendo em vista as capacidades dos alunos e os objetivos<br />
pretendidos (MACHADO & CRISTÓVÃO, 2006).<br />
Das pesquisas dos autores de Genebra surgiram as chamadas “sequências<br />
didáticas para o ensino de gêneros”, pelas quais um conjunto de atividades planificadas<br />
para uma classe de alunos específicos, com o objetivo de desenvolver três tipos de<br />
capacidades de linguagem (capacidades de ação, discursivas e linguístico-discursivas)<br />
envolvidas na produção e/ou leitura de textos, de acordo com o que postulam Dolz e<br />
Schneuwly (1998).
2.2 Sequências didáticas<br />
As sequências didáticas podem ser entendidas como uma unidade de trabalho<br />
escolar, no sentido de que propõem um conjunto de atividades que apresentam um número<br />
limitado e preciso de objetivos com a finalidade de “melhorar uma determinada prática de<br />
linguagem”.<br />
Para Schneuwly (2004), as ações de linguagem são mediadas por instrumentos<br />
específicos, socialmente elaborados, frutos das experiências das gerações precedentes,<br />
através dos quais se transmitem e se alargam as experiências possíveis. Essa forma de<br />
linguagem prescritiva (o gênero) permite a produção e a compreensão de textos, o que faz<br />
do gênero textual o instrumento que estabelece uma relação que é a base da atividade<br />
mediada por ele (BARROS & NASCIMENTO, 2007).<br />
Mesmo conscientes de que cada um de nós dispõe de um “rico repertório de<br />
gêneros“, não se pode ignorar o problema da adaptação do gênero à situação concreta.<br />
Assim, os “esquemas de utilização” do instrumento /gênero interessam particularmente ao<br />
professor que busca respostas aos questionamentos: Quais são os mecanismos dessa<br />
adaptação? Como apropriar-se desses mecanismos? Como desenvolver nos aprendizes<br />
esquemas para a utilização dos instrumentos nas situações sociais que vivenciam?<br />
Nesse sentido é que a aprendizagem dos esquemas de utilização do gênero<br />
representa a apropriação do instrumento em um processo que envolve diferentes momentos:<br />
a escolha de um gênero que possa ser articulado a representações do agente sobre o<br />
contexto de sua ação; a forma de tratamento do conteúdo temático dizível no texto; a forma<br />
de tratamento dos subsistemas que o constituem: o planejamento do texto, os tipos de<br />
discurso, a organização sequencial, a tessitura coesiva do texto, a regência das vozes que<br />
falam no texto, o tratamento das propriedades do sistema de escrita que diz respeito à<br />
ortografia, aos tipos de letra, à pontuação, à configuração na página etc.<br />
O primeiro esquema de utilização é o que articula o gênero à base de orientação<br />
da ação discursiva. Na sala de aula, a aprendizagem desse esquema funciona quando cada<br />
professor realiza o seu trabalho recorrendo a gestos específicos que considera adequado à<br />
atividade situada nas condições socio-históricas do sistema didático (NASCIMENTO,<br />
2011). Por se tratar de um trabalho que se caracteriza também pelo que apresenta de<br />
pessoal para realizá-lo o professor mobiliza suas capacidades (físicas, cognitivas,<br />
discursivas, afetivas etc) tendo em vista o objetivo de construir um contexto propício para a<br />
aprendizagem e desenvolvimento dos alunos (MACHADO et.al., 2009). E também porque<br />
é um trabalho mediado por ferramentas didáticas (SAUJAT, 2004), o professor se utiliza de<br />
instrumentos materiais e simbólicos (que antes da apropriação eram simples artefatos) com<br />
os quais vai gerenciar as aprendizagens e o desenvolvimento de capacidades. Assim, as<br />
atividades implicam tarefas (HILA, 2011) e gestos específicos que presentificam e<br />
significam o objeto social de referência para as aprendizagens (NASCIMENTO, 2011).<br />
Na ação situada do professor, um gênero de atividade (FAITA, 2004), está<br />
disponível, prefigurando as ações (discursivas) possíveis tais como: a atividade de conferir<br />
os exercícios feitos em casa é a condição para que haja a possibilidade de escolha do gênero<br />
“correção da tarefa de casa”; convencer o aluno a fazer esses exercícios é uma condição<br />
para que haja a possibilidade de escolha do gênero “sermão”; atividade de apresentar os<br />
dados de uma pesquisa é condição para que haja a possibilidade de escolha dos gêneros
“exposição oral”, “painel, “seminário”; a apresentação de um ponto de vista sobre uma<br />
questão polêmica é a condição para a materialização de uma “discussão oral” ou “debate”.<br />
São gêneros da atividade educacional presentes na sala de aula, que implicam diferentes<br />
planos para tomadas de decisão relacionadas a operações discursivas, linguísticodiscursivas<br />
e “transversais à produção escrita” (DOLZ et al, 2010) de um gênero de texto.<br />
Dados empíricos de observação de aulas em séries iniciais (NASCIMENTO,<br />
GONÇALVES; SAITO, 2009) corroboram a tese assumida pelo grupo de que a<br />
organização da progressão curricular a partir do enfoque dos gêneros textuais contribui para<br />
a conscientização sobre a necessidade de repensar o ensino e a aprendizagem da escrita nos<br />
níveis iniciais da escolaridade. Aprender a escrever, segundo a autora, é mais do que<br />
aprender a grafar sons; ou mesmo, mais do que aprender a simbolizar graficamente um<br />
universo sonoro já por si mesmo simbólico. Aprender a escrever é apropriar-se de novos<br />
modos do discurso (gêneros); modos de se relacionar com os interlocutores, modos de se<br />
relacionar com temas e significados, motivos para comunicar em novas situações. Nesse<br />
quadro, aprender a escrever implica uma nova inserção cultural.<br />
A construção de sequências didáticas para o ensino de gêneros implica aspectos<br />
relacionados à didática da ação e da intervenção (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004).<br />
Primeiro, porque são ligados aos modos de organizar os procedimentos didáticos para que<br />
se possa garantir o desenvolvimento das capacidades necessárias para as práticas de<br />
linguagem. Quanto a aspectos relacionados à didática da descrição e da explicação, esses<br />
dizem respeito à seleção do objeto a ser ensinado, ou seja, qual gênero ensinar. Essa<br />
duplicidade de aspetos levou os membros do grupo a assumirem os três princípios<br />
apontados por Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004) para a seleção dos objetos sociais de<br />
aprendizagem (gêneros): princípios de legitimidade, de pertinência e os efeitos de<br />
solidarização.<br />
Assim é que, em nossas pesquisas, levamos em conta o princípio de legitimidade,<br />
quando vinculamos a seleção do gênero a ser ensinado em sua relação com as necessidades<br />
próprias de um grupo específico. Por exemplo, indivíduos da zona rural enfrentam o<br />
desafio de ler (e produzir) receitas, folhetos explicativos, bulas, embalagens de produtos<br />
agrícolas, medicamentos para animais, adubos, caderneta de fiado, carteira de vacinação<br />
dos animais, registro da produção, calendário, contrato de trabalho, listas de tarefas no<br />
campo etc. (NASCIMENTO, 2009c). Operários da indústria e comércio devem ter<br />
capacidades para ler e compreender manuais de instrução, avisos, e-mails, formulários,<br />
recibos, boletos, contratos etc. Alunos do curso de Letras que participam de ações<br />
recorrentes (BAZERMAN, 2005) para as quais devem ter capacidades, como a produção de<br />
relatórios de estágio, plano de aula, requerimentos, ofícios, artigos científicos, exposição<br />
oral, relatório de evento, anotações em palestras, entre outros.<br />
Conforme Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004), o princípio de pertinência, diz<br />
respeito à didática da descrição e da explicação e, segundo os autores, está vinculado à<br />
escolha dos procedimentos e conteúdos adequados a cada contexto de ensino, em função<br />
das finalidades e dos objetivos escolares e também das capacidades dos alunos. Por<br />
exemplo, os integrantes do grupo trabalham na modelização didática do gênero para que<br />
este seja transposto para a escola, ou seja, para que possa ser “escolarizado” por meio de<br />
atividades articuladas a uma sequência didática.<br />
Para Hila (2011), quando o gênero “entra” na sala de aula o professor verifica quais<br />
são as capacidades que os aprendizes já desenvolveram naquele momento, o que já<br />
conquistou em etapas anteriores da vida escolar (nível de desenvolvimento real, para
Vygotsky (1987) e quais precisam ser desenvolvidas (na zona de desenvolvimento<br />
proximal) para a apropriação do gênero (o que implicará um nível de desenvolvimento<br />
mais avançado) em relação à leitura e à produção, tendo em vista elementos das três<br />
capacidades: de ação, discursivas e linguístico-discursivas.<br />
Os efeitos do princípio de solidarização estão vinculados à criação de um novo todo<br />
coerente, no qual os saberes integrados formam um sentido parcialmente novo, a partir do<br />
qual capacidades serão desenvolvidas. Nesse sentido, o principal desafio dos integrantes do<br />
projeto consiste em participar de atividades em grupos ou individuais e, ao mesmo tempo,<br />
sem perder de vista que tais atividades devem possibilitar o acesso, por diferentes meios, às<br />
noções e aos instrumentos de análise e reflexão sobre as características contextuais,<br />
discursivas e linguísticas do gênero.<br />
2.3 Metodologia e procedimentos<br />
Os trabalhos se desenvolveram pelo uso recorrente (em diferentes etapas do<br />
processo) de procedimentos e instrumentos: a) Grupos de estudo; b) Oficinas; c)<br />
Seminários; d) Planos de aula; e) Aulas-modelo; f) Sessões reflexivas; g) Diários realizados<br />
após intervenções formativas; h) Modelos didáticos; i) Sequências didáticas; j) Micro aulas<br />
para experimentação de sequências didáticas; l) Cursos de formação; m) Elaboração de<br />
handouts; n) Diários de bordo; o) Relatórios; p) Discussões de conteúdos específicos<br />
relacionados aos gêneros em foco; q) Registros de observação de aulas e descrição de<br />
gestos didáticos específicos; r) Preparação de comunicações em eventos científicos.<br />
Cada um desses procedimentos envolveu constantes feedbacks aos fundamentos<br />
teóricos e metodológicos implicados nas atividades, o que propiciou aos sujeitos<br />
envolvidos a internalização de conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades para a<br />
elaboração de modelos didáticos e planejamento de sequências didáticas, análise das<br />
oficinas desenvolvidas em sequências didáticas e feedebacks que resultaram da avaliação<br />
do processo.<br />
A população atendida pelo projeto envolveu professoras em exercício no ensino<br />
fundamental dos ciclos iniciais e finais e do ensino médio da Rede Pública de Ensino de<br />
Londrina e região, duas supervisoras de ensino da Rede Municipal de Ivaiporã- PR (tutoras<br />
do projeto de formação contínua proporcionado pelo CEFORTEC (Orientações Gerais,<br />
2004), alunos professores em formação inicial do curso de graduação em Letras Vernáculas<br />
e Clássicas e mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Estudos da<br />
Linguagem da Universidade Estadual de Londrina, assim como alunos das escolas em que<br />
as professoras participantes atuam.<br />
A participação, no decorrer dos três anos do projeto, deu-se da seguinte forma: as<br />
reuniões do projeto aconteceram uma vez por semana e nelas os membros envolvidos na<br />
pesquisa tiveram oportunidade de desenvolver o trabalho de forma colaborativa e coletiva.<br />
Neste espaço de colaboração, a opinião de todos era ouvida, analisada e aceita ou refutada<br />
pelo grupo.<br />
A construção dos modelos didáticos conduziu as pesquisas do grupo à análise de<br />
diversos textos dos gêneros em foco. Esse corpus foi descontruído e construído para<br />
levantamento de dados descritivos em todos os níveis apresentados na proposta para análise<br />
de textos de Bronckart (1997). Resultados desse trabalho se encontram disseminados em
publicações e comunicações em eventos da área, assim como em teses, dissertações e<br />
monografias de TCC.<br />
Com a internalização de conhecimentos teóricos e metodológicos, a prática foi se<br />
expandindo e novos elementos foram acrescentados no sentido de atingirmos também os<br />
gêneros multimodais (DIONÍSIO, 2006; SAITO, 2007) visando aos múltiplos letramentos,<br />
assim como as possibilidades abertas pela TV Multimídia disponibilizada pela SEED-PR<br />
(COELHO & SAITO, 2010), o que levou o grupo à busca de novas soluções e,<br />
consequentemente, ao uso de novas ferramentas tecnológicas para a realização do nosso<br />
trabalho. Nesse momento, foram cruciais os equipamentos adquiridos com o apoio<br />
financeiro do CNPQ: filmadora, datashow, gravadores, computador, amplificadores de som<br />
etc.<br />
Salientamos que o desafio de solucionar problemas e os constantes feedbacks para<br />
a reconstrução de nosso trabalho proporcionou momentos de tensão, conflitos e escolhas<br />
relacionadas ao trabalho colaborativo, constituindo Zonas de Desenvolvimento Potencial<br />
para os sujeitos envolvidos que oportunizaram o reconhecimento dos espaços criados para<br />
aprendizagem e desenvolvimento.<br />
A tabela a seguir apresenta uma síntese dos modelos didáticos construídos pelos<br />
membros do grupo e sequências didáticas planejadas a partir das dimensões ensináveis<br />
apontadas por esses modelos. Os dados não dão conta de detalhes relacionados aos<br />
contextos escolares de aplicação (ano/série), ao nível de escolaridade dos alunos (séries<br />
iniciais ou finais do fundamental, ensino médio ou EJA). Também não apresentam detalhes<br />
sobre o espaço geográfico de aplicação (zona rural ou urbana). Mas salientamos que<br />
durante os três anos de duração do projeto os pesquisadores colaboradores do grupo saíram<br />
do espaço circunscrito da universidade para construir, colaborativamente, conhecimento e<br />
desenvolvimento junto a professores e alunos em todos aqueles níveis da educação básica.<br />
Alguns desses modelos didáticos e respectivas sequências didáticas constituíram<br />
teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias, TCCs ou material pedagógico<br />
para o PDE-PR.<br />
Modelos didáticos dos<br />
gêneros:<br />
Adaptação literária para TV<br />
Artigo de opinião<br />
Blog<br />
Canção-rock<br />
Charge<br />
Carta de reclamação<br />
Conto humorístico infantil<br />
Sequências didáticas<br />
resultantes dos modelos<br />
didáticos<br />
• Artigo de opinião<br />
• Carta de reclamação<br />
• Conto humorístico infantil<br />
• Crítica de cinema<br />
• Charge<br />
Atividades e tarefas<br />
realizadas no período<br />
• Grupos de Estudo<br />
• Seminários<br />
• Cursos de formação;<br />
• Elaboração de<br />
handouts<br />
• Diários de<br />
observações<br />
• Discussão de textos
Crônica<br />
Crítica de Cinema.<br />
Editorial<br />
Entrevista<br />
Filme publicitário (VT)<br />
Histórias em quadrinhos<br />
Mangá<br />
Infográfico<br />
Lenda indígena<br />
Memória literária<br />
Notícia<br />
Parábola<br />
Poema<br />
Propaganda Institucional<br />
Propaganda Social<br />
Rap<br />
Reportagem<br />
Telejornal<br />
• Editorial<br />
• Entrevista<br />
• Histórias em quadrinhos<br />
• Notícias<br />
• Lendas indígenas<br />
• Memória literária<br />
• Poema<br />
• Propaganda social<br />
• Parábola<br />
• Reportagem<br />
• Telejornal<br />
teóricos<br />
• Discussão de<br />
conteúdos<br />
específicos<br />
relacionados aos<br />
gêneros<br />
• Elaboração de<br />
atividades para<br />
análise linguística<br />
• Micro aula para<br />
testagem de módulos<br />
das SDs<br />
• Relatório de<br />
observação de aulas<br />
• Descrição e<br />
Tabela 1. -Síntese das atividades desenvolvidas no período de 2007-2010<br />
tabulação dos gestos<br />
didáticos específicos<br />
para implementação<br />
de atividades<br />
• Dossiê de problemas<br />
• Elaboração de<br />
Grades de Avaliação<br />
da produção escrita<br />
• Preparação de<br />
comunicação em<br />
eventos científicos
2.4. Os resultados obtidos<br />
O trabalho planejado e aquele que foi efetivamente realizado, assim como os<br />
resultados obtidos foram constantemente divulgados em vários eventos e permitiram um<br />
novo olhar para o ensino e aprendizagem de língua portuguesa. A metodologia de ensino<br />
por sequências didáticas enfocadas nas práticas sociais com a linguagem nos levou a<br />
caminhar na direção do trabalho com a leitura, produção e análise linguística<br />
contextualizados em objetos sociais configurados em práticas discursivas pertencentes a<br />
gêneros textuais específicos. Em síntese, podemos apontar resultados nas seguintes ações:<br />
a) A construção de 20 modelos didáticos de gêneros que podem circular em um jornal<br />
impresso, com características contextuais e discursivas distintas, descritos a partir de todos os<br />
níveis de análise propostos por Bronckart (2003);<br />
b) A elaboração de 16 projetos/sequências didáticas a partir dos modelos didáticos já<br />
construídos.<br />
c) O conjunto de sequências didáticas elaboradas passou por um processo de avaliação, que<br />
obedeceu aos seguintes critérios: 1. As capacidades de ação que tais atividades<br />
desenvolveriam nos aprendizes; 2. As capacidades discursivas; 3. As capacidades linguísticodiscursivas<br />
relacionadas aos mecanismos de textualização e à gramática da língua.<br />
Os resultados dessas avaliações foram disseminados em eventos da área. Os<br />
integrantes do projeto participaram das seguintes modalidades de disseminações científicas<br />
no decorrer do período de 2007 a 2010 que podem ser conferidas no Currículo Lattes dos<br />
membros do projeto, totalizando:<br />
a) 02 livros publicados;<br />
b) 04 fascículos publicados (PDE/MEC);<br />
c) 57 artigos publicados em anais de eventos e revistas acadêmicas;<br />
d) Comunicações em eventos da área;<br />
e) Mesas-redonda;<br />
f) Grupos de Trabalho e Simpósios;<br />
g) Mini-cursos apresentados em eventos da área;<br />
h) Participação nas Comissões Avaliadoras da Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa<br />
(MEC/CENPEC) em 2008 e 2010;<br />
i) Cursos de formação de professores na Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa em 2009;<br />
j) 11 Monografias de conclusão de pesquisas de Iniciação Científica (CNPq/UEL);<br />
k) 08 Monografias de Especialização em Língua Portuguesa;<br />
l) 07 dissertações de mestrado defendidas no Programa de Pós-Graduação em Estudos da<br />
Linguagem e outras em andamento;<br />
m) 03 teses de doutorado defendidas e outras em andamento;<br />
n) Coordenação de simpósios em eventos na área;<br />
o) Cursos de extensão para formação de professores, ministrados na região de abrangência das<br />
atividades dos integrantes do Projeto: Cambé, Ivaiporã, Ibiporã, Londrina, Apucarana,<br />
Maringá, Marquinho, Rio Bonito do Iguaçu, Campo Magro, Toledo, Foz de Iguaçu,<br />
Umuarama;
p) Cursos de formação de professores na Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa em 2009;<br />
q) 05 Trabalhos de conclusão em cursos de Graduação (PIBIC/ ICC ) na UEL:<br />
Como se observam nas atividades e disseminações apontadas, os resultados têm<br />
sido amplamente divulgados pelos participantes, o que demonstra o seu desenvolvimento<br />
profissional, cognitivo, e pessoal, prova concreta de que o trabalho realizado de forma<br />
colaborativa contribui para a evolução dos membros a ele articulados, graças ao empenho<br />
de todos em fazer destas experiências exemplos práticos, tanto em suas escolas como na<br />
comunidade acadêmica. O processo permitiu que se desenvolvessem capacidades para<br />
produzir conhecimento científico, em um percurso em que a prática se voltou para a teoria,<br />
questionando-a, reformulando ou validando, para retornar à prática - o que constituiu um<br />
ciclo que implicou em construção de conhecimento e desenvolvimento.<br />
Os trabalhos disseminados enfatizam a importância do trabalho didático a ser<br />
enfocado em objetos sociais configurados em gêneros textuais emergentes de diferentes<br />
esferas, pois só assim o professor pode constituir contextos significativos para as práticas<br />
didáticas com a linguagem.<br />
Os professores da rede pública articulados ao projeto salientam a importância da<br />
parceira universidade – escola para formações contínuas que proporcionem ferramentas<br />
mediadoras para a implementação de práticas inovadoras. Os estudantes, professores em<br />
formação no curso de Letras salientam em seus diários e relatórios que o ensino organizado<br />
em torno de gêneros textuais parece possibilitar a materialização de objetivos educacionais<br />
para o ensino de língua portuguesa de maneira produtiva.<br />
Tanto a experiência relatada quanto os resultados obtidos e comentados pelos<br />
participantes em suas investigações procuraram demonstrar a validade da proposta de<br />
organização do ensino de língua portuguesa em torno de gêneros textuais, bem como a<br />
potencialidade de desenvolvimento que a produção de sequências didáticas propicia.<br />
As atividades que enfocaram a análise da linguagem como prática social, a<br />
seleção de textos como referências de esferas de atividades escolhidas e gêneros textuais<br />
adequados aos objetivos estabelecidos e a elaboração e a refacção de atividades em torno de<br />
um projeto de uso da linguagem exploraram o conceito de gênero como megainstrumento<br />
indispensável para a proposta de desenvolvimento de capacidades de linguagem<br />
(SCHNEUWLY E DOLZ, 2004; 2009), bem como proporcionaram espaço de<br />
aprendizagem e desenvolvimento de diferentes dimensões do trabalho do professor.<br />
Observamos que a participação no projeto despertou em nós pesquisadores e<br />
colaboradores do Grupo de Pesquisa, o interesse em melhorar a qualidade do material que<br />
pretendemos usar ou que já usamos em nossas aulas na universidade ou na educação básica,<br />
levando-nos também a perceber nossa carência em termos de conhecimento teórico para<br />
agirmos como produtores e pesquisadores de sequências didáticas.<br />
Considerações finais<br />
No quadro de desafios em que se busca a inovação nas práticas didáticas<br />
orientadas pelos fundamentos do interacionismo sociodiscursivo, acreditamos que as<br />
investigações desenvolvidas neste projeto propiciaram<br />
rupturas/desequilíbrios/reorganizações à medida que nos conduziram à apropriação de<br />
novos conhecimentos, novos materiais e novas práticas por eles requeridas. O trabalho de
construção de modelos didáticos e de elaboração de sequências didáticas foi marcado pela<br />
produção-aplicação-avaliação dos materiais produzidos, constituindo uma oportunidade<br />
diferenciada para todos os sujeitos envolvidos. Nós, professores formadores, os professores<br />
em formação no curso de Letras e PPGEL, assim como os professores em formação<br />
contínua da rede pública, adquirirmos referencial teórico-metodológico necessário à<br />
construção de sequências didáticas apropriadas a diferentes contextos educacionais,<br />
propiciando reflexão crítica constante acerca da nossa própria prática, do momento da<br />
elaboração à aplicação do material.<br />
Além disso, observamos que todos foram impulsionados a participar de eventos<br />
da área com comunicações e/ou publicações, aprofundando-se em seus estudos. Podemos<br />
dizer que o trabalho para as produções de modelos didáticos e sequências didáticas para a<br />
elaboração do nosso próprio material didático continuará a ser desenvolvido junto a<br />
professores da educação básica, uma vez que ensinar a leitura e a escrita com base nos<br />
gêneros textuais tem nos proporcionado novas descobertas sobre novas formas de se<br />
aprender e de se ensinar língua portuguesa.<br />
Os pesquisadores articulados ao grupo de pesquisa, pensam o enfoque dos gêneros em<br />
uma dupla possibilidade de abordagem: como instrumento semiótico que materializa e significa<br />
uma prática social e como instrumento a ser apropriado pelo aprendiz no processo de<br />
instrumentalização que sustenta e orienta a ação de um sujeito em uma prática social de<br />
referência (DOLZ et al, 2008). Visto assim, o gênero textual é tido como um andaime indispensável<br />
à construção do novo: novos textos visando novos interlocutores em novas situações de interação,<br />
novos objetos de ensino orientados por novas concepções e objetivos, novas práticas escolares que<br />
tomam as atividades de linguagem como meio de articulação entre as práticas sociais e os objetos<br />
escolares.<br />
Referências<br />
BAKHTIN, M./VOLOCHINOV. Marxismo e Filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec,<br />
1995.<br />
BARROS, E. M. D. ; NASCIMENTO, E L. Gêneros textuais e livro didático: da teoria à<br />
prática. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão/SC, v.7, n.2, p.241-270, maio/ago. 2007.<br />
BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e interação. Ângela Paiva Dionísio, e Judith<br />
C. Hoffnagel (orgs.). São Paulo: Cortez, 2005.<br />
BRONCKART, J.-P.Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo<br />
sociodiscursivo. Trad.Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1997.<br />
_____________. Gêneros textuais, tipos de discursos e operações psicolingüísticas. Revista<br />
Estudos da Linguagem. Belo Horizonte, v.11, n.1, jan/jun 2003, p. 48-69.<br />
_______. Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano. Org.s Anna Rachel<br />
Machado e Maria de Lourdes Meirelles Matêncio. Campinas: Mercado de Letras, 2006.
_____________O agir nos discursos: das concepções teóricas às concepções dos<br />
trabalhadores. Tradução de Anna Rachel Machado e Maria de Lourdes Meirelles Matêncio.<br />
São Paulo: Mercado de Letras, 2008.<br />
DOLZ, J; SCHNEUWLY, B. Pour um enseignement de l’oral.: initiation aux genres<br />
formels publics. Paris: ESF, 1998.<br />
_________; GAGNON, R. & DECÂNDIO, F.R Uma disciplina emergente: a didática das<br />
línguas. In: NASCIMENTO, E. L (Org.). Gêneros textuais: da didática das línguas aos<br />
objetos de ensino. São Carlos: Claraluz, 2009.<br />
DOLZ, J ;SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita: elementos<br />
para reflexões sobre uma experiência francófona. In: R.H. R. Rojo & G. S. Cordeiro (org.s<br />
trad.s.).Gêneros orais e escritos na escola. Tradução de trabalhos de Bernard Scneuwly &<br />
colaboradores, pp. 41-70. Campinas: Mercado de Letras, 2004.<br />
DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.;SCHNEUWLY, B. Seqüências didáticas para o oral e a<br />
escrita:apresentação de um procedimento. In: ROJO, R.; CORDEIRO, G. (orgs.). Gêneros<br />
orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.<br />
FAÏTA, D. Gêneros de discurso, gêneros de atividade, análise da atividade do professor. In:<br />
O ensino como trabalho. Uma abordagem discursiva. Londrina: EDUEL, 2004.<br />
GONÇALVES, A. V. Gêneros textuais e reescrita: uma proposta de intervenção interativa.<br />
2009. 344f. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa)- UNESP- Universidade<br />
Estadual Paulista, Araraquara, 2009.<br />
HILA, Claudia V. D. Ferramentas curso de formação e sequência didática: contribuições par<br />
ao processo de internalização no estágio de docência de Língua Portuguesa. Tese<br />
(Doutorado em Estudos da Linguagem) - Universidade Estadual de Londrina. Londrina,<br />
2011.<br />
LEONTIEV, A. Actividad, conciencia e personalidad. Havana: Editorial Pueblo y<br />
Educación, 1983.<br />
_____________. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da Psique Infantil. In:<br />
VIGOTSKI, L.S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e<br />
aprendizagem. 10. ed. São Paulo: Cone, 2006, p.59-83.<br />
KLEIMAN, A. Os estudos de letramento e a formação do professor de língua materna. In:<br />
KLEIMAN, A.; BALTAR, M. (Orgs.) Letramento e formação de professores. Linguagem<br />
em (Dis) curso. Vol 8, n.3, set/dez ,2008.<br />
MACHADO, A. R. A transposição do conhecimento científico para o contexto de ensino: a<br />
necessidade e as dificuldades. Conferência pronunciada no Seminário: Critérios de<br />
Avaliação de livros didáticos 6ª a 8ª séries. Brasília, 1997.
_______________. A perspectiva interacionista sociodiscursiva de Bronckart. In:<br />
MEURER, J.L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.) Gêneros: teorias, métodos,<br />
debates. São Paulo: Parábola, 2005.<br />
________________. Por uma concepção ampliada do trabalho do professor. In:<br />
GUIMARÃES, Ana Maria de Mattos; MACHADO, Anna Rachel; COUTINHO, Antónia<br />
(Orgs.). O interacionismo sociodiscursivo: questões epistemológicas e metodológicas.<br />
Campinas/SP: Mercado de Letras, 2007.<br />
_______________.Trabalho prescrito, planificado e realizado na formação de<br />
professores:primeiro olhar. In: MACHADO, A.R. e colaboradores. Linguagem e educação.<br />
O trabalho do professor em uma nova perspectiva. São Paulo: Mercado de Letras, 2009.<br />
p.79-101.<br />
________________; CRISTÓVÃO, V.L.L. A construção de modelos didáticos de<br />
gêneros: aportes e questionamentos para o ensino de gêneros. Linguagem em (Dis)<br />
curso. v.6, n.3, set./dez. Tubarão(SC): Ed.Unisul, 2006.<br />
MACHADO, A. R.; GUIMARÃES, A. M. de MATTOS. O interacionismo sociodiscursivo<br />
no Brasil. In: ABRTEU-TARDELLI, L.; CRISTOVÃO, V. L. L.(ORGS.) Linguagem e<br />
Educação: o ensino e aprendizagem de gêneros textuais. São Paulo: Mercado de Letras,<br />
2009.<br />
________________; LOUSADA, Eliane; BARALDI, Glaucimara; ABREU-TARDELLI,<br />
Lília S.; TOGNATO, Maria Izabel R. Relações entre linguagem e trabalho educacional:<br />
novas perspectivas e métodos no quadro do interacionismo sociodiscursivo. In:<br />
CRISTÓVÃO, V L; ABREU-TARDELLI, L.S. (orgs.) Linguagem e educação: o trabalho<br />
do professor em uma nova perspectiva. Campinas: Mercado das Letras, 2009.<br />
MARCUSCHI, L.A.Produção textual, análise de gêneros e compreensão.São<br />
Paulo:Parábola, 2008.<br />
NASCIMENTO, E.L. A dupla semiotização dos objetos de ensino-aprendizagem: dos<br />
gestos didáticos fundadores aos gestos didáticos específicos. Signum. Estudos da<br />
Linguagem. Revista do Programa de Pós-graduação em estudos da Linguagem.<br />
Universidade Estadual de Londrina. 2011. Prelo<br />
NASCIMENTO, E. L. Gêneros da atividade, gêneros textuais: repensando a interação em<br />
sala de aula. In: ____(Org.). Gêneros Textuais: da didática das línguas aos objetos de<br />
ensino. Editora Claraluz. 2009a.<br />
NASCIMENTO, E. L. (Org.). Gêneros textuais: da didática das línguas aos objetos<br />
escolares. São Carlos: Claraluz, 2009.<br />
______________. Gêneros escolares. Das práticas de linguagem aos processos de<br />
desenvolvimento humano. In: FERNANDES, Luiz Carlos. (Org.) Interação: práticas de<br />
linguagem. Londrina: EDUEL, 2009.b
_______________ (Org.) Gêneros textuais, ferramentas didáticas e formação de<br />
professores. Ponta Grossa (PR): Edit. UEPG /CEFORTEC, 2007.<br />
________________ .A apropriação de gêneros textuais: um processo de letramento. Ponta<br />
Grossa: Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2006.<br />
_________________; CRISTOVÃO, V. L. L. Gêneros textuais e ensino: contribuições do<br />
interacionismo sociodiscursivo.In: KARWOSKI, A .; GAYDESCKA, B; BRITO, K.<br />
(orgs.) Gêneros Textuais: Reflexões e Ensino. São Paulo: Parábola, 2011.<br />
_________________; SAITO, C. L. N. Os gêneros como instrumentos para o ensino e<br />
aprendizagem da leitura e da escrita. In MENEGASSI, R.J.; SANTOS, A. R.; RITTER, L.<br />
C. B. (ORGS.) Escrita e ensino. Maringá: EDUEM, p. 24-61, 2010.<br />
_______________; GONÇALVES, A. L; SAITO, C. L. N. Gêneros textuais e ferramentas<br />
didáticas para a formação contínua de professores de língua portuguesa. Signum. Estudos<br />
de Linguagem, p. 89-113, 2009.<br />
Orientações Gerais. Rede Nacional de formação Continuada de Professores de<br />
Educação Básica. Centros de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação. Ministério da<br />
Educação. Secretaria de Educação Básica. 2004.<br />
RABARDEL, P. Les hommes et lês technologies. Approche cognitive des instruments<br />
contemporains. Paris: Armand Colin, 1995.<br />
_______ . La langage comme instrument elements pour une théorie instrumentale élargie.<br />
In: CLOT, Y. (Ed.) Avec Vygotsky. Paris:La Dispute, 1999, p. 241-265.<br />
ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009.<br />
SAITO, C. L. N. Nas teias do sentido do Homem-Aranha II - um estudo do gênero<br />
discursivo “adaptação oficial de filme em quadrinhos”. Assis-SP, 2007. Tese (Doutorado<br />
em Filologia e Língua Portuguesa)-Universidade Estadual Paulista.<br />
SAUJAT, F. O trabalho do professor nas pesquisas em educação: um panorama. In:<br />
MACHADO, Anna Rachel (org.). O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva.<br />
Londrina: EDUEL, 2004.<br />
SCHNEUWLY, B. 2004. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e<br />
ontogenéticas. In: ___e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org.<br />
Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004, p. 71-91.<br />
SOARES, M. Concepções de linguagem e o ensino da língua portuguesa. In: Língua<br />
Portuguesa; história, perspectivas, ensino. São Paulo: EDUC, 2006, p. 53-71.
VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. Trad. De José Cipolla Neto et al.. São<br />
Paulo: Martins fontes, 1984.<br />
___________. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.<br />
___________ . Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.