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Cláudia Lopes Nascimento Saito ( UNICENTRO).pdf - cchla

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GÊNEROS TEXTUAIS E FERRAMENTAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO-<br />

APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA<br />

<strong>Cláudia</strong> <strong>Lopes</strong> <strong>Nascimento</strong> <strong>Saito</strong> ( <strong>UNICENTRO</strong>)<br />

cln_saito@yahoo.com.br<br />

Introdução<br />

O objetivo deste texto 1 é o de apresentar uma síntese dos trabalhos desenvolvidos<br />

no projeto de pesquisa “Gêneros textuais e ferramentas didáticas para o ensinoaprendizagem<br />

de língua portuguesa, iniciado e concluído na Universidade Estadual de<br />

Londrina, no Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas. Com essa finalidade,<br />

apresentaremos detalhes de seu funcionamento, explicitaremos alguns resultados obtidos e,<br />

finalmente, faremos uma avaliação das contribuições da atividade coletiva de planejamento,<br />

produção de materiais didáticos e formação, procurando revelar o modo de organização das<br />

atividades pelas quais professores em formação inicial e contínua da rede pública de ensino,<br />

trabalharam em parceria com os pesquisadores articulados a esse projeto para a elaboração<br />

de sequências didáticas com base em gêneros textuais diversificados. Nessa perspectiva,<br />

apresentaremos as principais características do projeto e os questionamentos que<br />

impulsionaram o trabalho do grupo de pesquisadores a ele articulados.<br />

Planejado e desenvolvido sob a responsabilidade da Dra. Elvira <strong>Lopes</strong><br />

<strong>Nascimento</strong>, na UEL, no período de agosto de 2007 e concluído em dezembro de 2010, o<br />

Projeto articulou docente da Universidade Centro do Paraná (<strong>UNICENTRO</strong>) e da<br />

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), assim como doutorandos, mestrandos,<br />

graduandos em ICC e professores da rede pública de ensino, interessados em formação<br />

contínua.<br />

O foco principal do trabalho recaiu sobre o papel dos instrumentos denominados<br />

“modelo didático de gêneros” e “sequência didática” para o desenvolvimento do professor<br />

e de seu trabalho e a noção centralizadora das atividades foi a de gêneros do discurso<br />

(gêneros textuais, na perspectiva do ISD) bakhtiniana à luz da psicologia vygotskyana,<br />

desenvolvida em Schneuwly (1994) e Schneuwly & Dolz, (2004), articulada à proposta de<br />

Rabardel (1995; 1999) para a distinção das noções de artefato e instrumento.<br />

O objetivo geral do Projeto foi o de apresentar e discutir o papel que o ensino de<br />

gêneros textuais pode desempenhar no desenvolvimento dos alunos, assim como no<br />

desenvolvimento pessoal e profissional do professor, tanto no plano epistemológico quanto<br />

praxiológico. Embasados em um conjunto de autores brasileiros e estrangeiros, entre os<br />

quais destacamos: a) no Brasil: Soares (2006); Marcuschi (2008); Kleiman (2008); Rojo,<br />

(2009); b) pesquisadores da Unidade de Didática de Línguas da Universidade de Genebra<br />

que desenvolveram as idéias fundadoras sobre a questão do ensino-aprendizagem de<br />

gêneros para o desenvolvimento das capacidades de linguagem dos alunos: Schneuwly,<br />

1 A produção deste texto contou com a leitura e sugestões da Profa. Elvira <strong>Lopes</strong><br />

<strong>Nascimento</strong>, a quem transmito os meus agradecimentos.


(1994); Bronckart (1997; 2006; 2008); c) autores do quadro do interacionismo<br />

sociodiscursivo no Brasil, como: Machado (1997; 2004; 2007); Machado & Guimarães,<br />

(2009); Guimarães, Machado e Coutinho (2007); Cristovão & <strong>Nascimento</strong> (2011);<br />

<strong>Nascimento</strong> & <strong>Saito</strong>, 2010; d) autores filiados à Teoria Histórico-Cultural: Vygotsky (1984;<br />

1988; 1987) e à Teoria da Atividade Leontiev (1983; 2006).<br />

Para atingirmos os objetivos deste texto, apresentaremos: 1º. a análise do contexto<br />

de planejamento e desenvolvimento do projeto; 2º. o quadro teórico de referência; 3º a<br />

descrição das ferramentas didáticas elaboradas e das tarefas dos participantes; 4º. o quadro<br />

avaliativo geral do Projeto.<br />

1. O contexto de planejamento e desenvolvimento do projeto<br />

Ao afirmarem que “o gênero é um instrumento semiótico constituído por signos<br />

organizados de maneira regular, instrumento complexo que compreende níveis diferentes, o<br />

que faz dele um megainstrumento”, Dolz e Schneuwly (1998, p. 65) sintetizam as reflexões<br />

que norteiam questionamentos em torno do ensino/aprendizagem de línguas (materna e<br />

estrangeira), assim como a produção acadêmica do grupo de estudiosos que, debruçados no<br />

construto teórico do interacionismo sociodiscursivo (doravante ISD), tem desenvolvido<br />

suas pesquisas.<br />

O projeto de pesquisa “Gêneros Textuais e Ferramentas Didáticas para o Ensino-<br />

Aprendizagem de Língua Portuguesa” foi realizado na Universidade Estadual de Londrina,<br />

no curso de Letras Clássicas e Vernáculas e no Programa de Pós-Graduação em Estudos da<br />

Linguagem, na área de Linguagem e Educação e na linha de pesquisa Ensino/aprendizagem<br />

e formação do professor de língua portuguesa e outras linguagens. Importante salientar<br />

que o desenvolvimento dos trabalhos se tornou possível, porque o projeto contou com<br />

recursos do CNPQ - como agente financiador no Edital Universal, o que possibilitou os<br />

deslocamentos dos membros, a aquisição de equipamento, de materiais bibliográficos e de<br />

apoio.<br />

Os movimentos abrangeram diferentes focos: 1) nos instrumentos interpostos<br />

entre o professor e o objeto de seu trabalho; a avaliação de tais instrumentos e as funções<br />

que desempenham no trabalho docente; 2) no aluno, com a avaliação diagnóstica de suas<br />

capacidades na utilização dos instrumentos que auxiliam no desempenho de atividades<br />

sociais; 3) no professor formador, com o desenvolvimento de capacidades de elaboração de<br />

instrumentos para o trabalho com professores em formação; 4) foco na interação<br />

professor/instrumento/aluno, com a descrição, análise e reflexão sobre experiências<br />

didáticas voltadas para os letramentos (GONÇALVES, 2009).<br />

Tais enfoques se justificam pelo quadro problemático da educação brasileira, em<br />

que os métodos de ensino tradicionais encontram-se defasados, tanto em relação às<br />

demandas sociais quanto ao desenvolvimento das ciências da linguagem e das ciências da<br />

educação, acarretando um momento de crise na educação, que, para ser superada, exige<br />

novas transposições didáticas dos conhecimentos científicos a conhecimentos a serem<br />

ensinados.<br />

Para as discussões da base teórica e elaboração de ferramentas didáticas, foi<br />

desenvolvido um trabalho de formação inicial e contínua de professores formados em<br />

Letras, professores formados no curso de Pedagogia e em exercício em escolas municipais<br />

da região ( Ivaiporã, Londrina e Cambé), com reuniões semanais, num período de 24 meses,<br />

prorrogados por mais 12 meses.


A participação direta dos professores em exercício em todas as fases do processo<br />

se deve ao pressuposto de que qualquer projeto de intervenção educacional tenha que ser<br />

visto como um projeto em construção, cuja responsabilidade deve caber, em última<br />

instância, aos indivíduos diretamente nele envolvidos, que se tornam, dessa forma,<br />

verdadeiros agentes do processo. Nessa visão, coube aos pesquisadores colaboradores do<br />

projeto um papel pontual: organizar e mediar as discussões, fornecer subsídios teóricos e<br />

metodológicos para a busca de soluções e alternativas válidas para os problemas detectados<br />

no confronto entre as teorias e as práticas concretas de sala de aula, avaliar e colocar em<br />

discussão a pertinência e a adequação dos instrumentos para as transposições realizadas<br />

pelos professores.<br />

2. O quadro teórico de referência<br />

Retomando a idéia de Vygotsky de que o signo é um instrumento psicológico do<br />

sujeito, Schneuwly (1998) aprofunda essa metáfora para atingir a noção de gêneros textuais<br />

de Bakhtin, postulando que o gênero pode ser considerado um instrumento que fornece as<br />

bases da comunicação por permitir que os sujeitos ajam com a linguagem em diferentes<br />

situações.<br />

Schneuwly (2004) defende a idéia de que o ensino-aprendizagem dos gêneros<br />

daria condições para o desenvolvimento de operações de linguagem fundamentais para a<br />

produção de qualquer texto. Ou seja, para o autor, o ensino-aprendizagem de gêneros não<br />

levaria apenas ao domínio do gênero ensinado, mas ao desenvolvimento de diferentes<br />

capacidades de linguagem, o que faz dele um “megainstrumento” complexo e não um<br />

simples instrumento.<br />

Uma orientação didática decorrente das pesquisas dos autores genebrinos é a de<br />

que não se deve enfocar o ensino da leitura/produção de texto como um procedimento<br />

único e global, válido para qualquer texto, mas como um conjunto de aprendizagens<br />

específicas. Dados de análise (DOLZ, GAGNON, & DECÂNDIO, 2009), mostram que<br />

muitas das dificuldades dos alunos são específicas de um determinado gênero textual.<br />

Por essa razão, autores como Schneuwly & Dolz ( 2004; 2009) e Machado (2005)<br />

defendem que os gêneros que funcionam nas práticas sociais de linguagem passem a entrar<br />

no espaço escolar, numa continuidade entre o que é externo e interno à escola.<br />

Enquanto as orientações didáticas dos PCNs (1998) recomendam a adoção da<br />

diversidade textual em sala de aula como objeto de leitura e produção e concebem o<br />

processo de desenvolvimento do aprendiz não vinculado à aprendizagem do código da<br />

escrita em si, mas ao uso da linguagem nas práticas sociais e dos gêneros com funções<br />

sociais diferenciadas, o professor do ensino fundamental, sobretudo o das séries iniciais,<br />

durante sua formação inicial (no curso de Pedagogia ou outro), não tem tido acesso às<br />

abordagens teóricas e metodológicas nas quais se inserem essas discussões.<br />

O ensino de leitura e de produção - centrado nas ações de linguagem de um sujeito<br />

em um determinado contexto de produção, impulsionado para a ação (de linguagem) por<br />

razões, motivos e intenções, processo que envolve diferentes capacidades de linguagem<br />

(VYGOTSKY, 1987) e diferentes níveis de textualidade -, fatalmente se depara com um<br />

professor que enfrentará dificuldades, dada a sua tradição de ensinar a língua como um<br />

sistema de formas normativas, dissociada de seu conteúdo ideológico, situado e dialógico


(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1995). Trata-se, em suma, de uma mudança no paradigma do<br />

ensino/aprendizagem da leitura e da produção ainda não incorporado à formação dos<br />

profissionais egressos de muitos cursos de Letras, de Pedagogia e de Normal Superior.<br />

Conforme Machado (2009), quando Vygotsky fala em instrumento material ou<br />

simbólico não está se referindo simplesmente a um objeto pronto, mas a algo que é<br />

construído pelo sujeito e por ele utilizado para atingir o objetivo de sua ação. Para a autora,<br />

a construção do sujeito e de suas funções psíquicas se faz por meio das ações recíprocas<br />

entre os membros de um grupo e pela apropriação de objetos sociais criados pela cultura.<br />

Nesse sentido é que os autores filiados ao interacionismo sociodiscursivo<br />

defendem que o uso de um novo instrumento provocaria transformações tanto no ambiente<br />

físico e social em que se desenvolve a atividade instrumentada, quanto nos outros que<br />

interagem com o sujeito e também sobre o próprio sujeito, aumentando os seus<br />

conhecimentos sobre o mundo e desenvolvendo capacidades para o agir sobre o outro e<br />

para a regulação de seu próprio comportamento.<br />

Os pressupostos advindos do quadro epistemológico e teórico do interacionismo<br />

sociodiscursivo (BRONCKART, 2003; 2006; 2008), deram o seguinte encaminhamento às<br />

reflexões do grupo: 1) as características do trabalho do professor em sala de aula; 2) as<br />

prescrições que orientam o trabalho do professor nos vários níveis do sistema educacional;<br />

3) a transposição didática dos saberes de referência que pudessem fundamentar progressões<br />

curriculares de gêneros suscetíveis de serem trabalhados no ensino fundamental e médio; 4)<br />

a realização de análises e descrições de gêneros textuais que apontem possíveis<br />

regularidades; 5) a construção de objetivos para os três níveis de operações de linguagem<br />

adequados aos contextos de ensino-aprendizagem: a) de representação do contexto social;<br />

b) para a estruturação discursiva do texto; c) para a seleção de mecanismos de textualização<br />

e escolha de unidades linguísticas); 6) a construção de sequências didáticas que organizem<br />

a progressão em torno dos gêneros; 7) a mobilização, pelo professor, de gestos didáticos<br />

específicos (NASCIMENTO, 2009b) adequados à construção de um ambiente escolar para<br />

a aprendizagem dos conteúdos e o desenvolvimento de capacidades a eles relacionadas..<br />

2.1 O modelo didático: instrumento fundamental para o trabalho com gêneros<br />

textuais<br />

Partimos da construção dos modelos didáticos como o procedimento gerativo que<br />

irá fornecer objetos potenciais (DOLZ e SCHENUWLY, 2004) para o ensino a partir do<br />

qual se podem gerar sequências didáticas. “Potenciais”, porque cabe ao professor a seleção<br />

desses objetos de ensino, tendo em vista as capacidades dos alunos e os objetivos<br />

pretendidos (MACHADO & CRISTÓVÃO, 2006).<br />

Das pesquisas dos autores de Genebra surgiram as chamadas “sequências<br />

didáticas para o ensino de gêneros”, pelas quais um conjunto de atividades planificadas<br />

para uma classe de alunos específicos, com o objetivo de desenvolver três tipos de<br />

capacidades de linguagem (capacidades de ação, discursivas e linguístico-discursivas)<br />

envolvidas na produção e/ou leitura de textos, de acordo com o que postulam Dolz e<br />

Schneuwly (1998).


2.2 Sequências didáticas<br />

As sequências didáticas podem ser entendidas como uma unidade de trabalho<br />

escolar, no sentido de que propõem um conjunto de atividades que apresentam um número<br />

limitado e preciso de objetivos com a finalidade de “melhorar uma determinada prática de<br />

linguagem”.<br />

Para Schneuwly (2004), as ações de linguagem são mediadas por instrumentos<br />

específicos, socialmente elaborados, frutos das experiências das gerações precedentes,<br />

através dos quais se transmitem e se alargam as experiências possíveis. Essa forma de<br />

linguagem prescritiva (o gênero) permite a produção e a compreensão de textos, o que faz<br />

do gênero textual o instrumento que estabelece uma relação que é a base da atividade<br />

mediada por ele (BARROS & NASCIMENTO, 2007).<br />

Mesmo conscientes de que cada um de nós dispõe de um “rico repertório de<br />

gêneros“, não se pode ignorar o problema da adaptação do gênero à situação concreta.<br />

Assim, os “esquemas de utilização” do instrumento /gênero interessam particularmente ao<br />

professor que busca respostas aos questionamentos: Quais são os mecanismos dessa<br />

adaptação? Como apropriar-se desses mecanismos? Como desenvolver nos aprendizes<br />

esquemas para a utilização dos instrumentos nas situações sociais que vivenciam?<br />

Nesse sentido é que a aprendizagem dos esquemas de utilização do gênero<br />

representa a apropriação do instrumento em um processo que envolve diferentes momentos:<br />

a escolha de um gênero que possa ser articulado a representações do agente sobre o<br />

contexto de sua ação; a forma de tratamento do conteúdo temático dizível no texto; a forma<br />

de tratamento dos subsistemas que o constituem: o planejamento do texto, os tipos de<br />

discurso, a organização sequencial, a tessitura coesiva do texto, a regência das vozes que<br />

falam no texto, o tratamento das propriedades do sistema de escrita que diz respeito à<br />

ortografia, aos tipos de letra, à pontuação, à configuração na página etc.<br />

O primeiro esquema de utilização é o que articula o gênero à base de orientação<br />

da ação discursiva. Na sala de aula, a aprendizagem desse esquema funciona quando cada<br />

professor realiza o seu trabalho recorrendo a gestos específicos que considera adequado à<br />

atividade situada nas condições socio-históricas do sistema didático (NASCIMENTO,<br />

2011). Por se tratar de um trabalho que se caracteriza também pelo que apresenta de<br />

pessoal para realizá-lo o professor mobiliza suas capacidades (físicas, cognitivas,<br />

discursivas, afetivas etc) tendo em vista o objetivo de construir um contexto propício para a<br />

aprendizagem e desenvolvimento dos alunos (MACHADO et.al., 2009). E também porque<br />

é um trabalho mediado por ferramentas didáticas (SAUJAT, 2004), o professor se utiliza de<br />

instrumentos materiais e simbólicos (que antes da apropriação eram simples artefatos) com<br />

os quais vai gerenciar as aprendizagens e o desenvolvimento de capacidades. Assim, as<br />

atividades implicam tarefas (HILA, 2011) e gestos específicos que presentificam e<br />

significam o objeto social de referência para as aprendizagens (NASCIMENTO, 2011).<br />

Na ação situada do professor, um gênero de atividade (FAITA, 2004), está<br />

disponível, prefigurando as ações (discursivas) possíveis tais como: a atividade de conferir<br />

os exercícios feitos em casa é a condição para que haja a possibilidade de escolha do gênero<br />

“correção da tarefa de casa”; convencer o aluno a fazer esses exercícios é uma condição<br />

para que haja a possibilidade de escolha do gênero “sermão”; atividade de apresentar os<br />

dados de uma pesquisa é condição para que haja a possibilidade de escolha dos gêneros


“exposição oral”, “painel, “seminário”; a apresentação de um ponto de vista sobre uma<br />

questão polêmica é a condição para a materialização de uma “discussão oral” ou “debate”.<br />

São gêneros da atividade educacional presentes na sala de aula, que implicam diferentes<br />

planos para tomadas de decisão relacionadas a operações discursivas, linguísticodiscursivas<br />

e “transversais à produção escrita” (DOLZ et al, 2010) de um gênero de texto.<br />

Dados empíricos de observação de aulas em séries iniciais (NASCIMENTO,<br />

GONÇALVES; SAITO, 2009) corroboram a tese assumida pelo grupo de que a<br />

organização da progressão curricular a partir do enfoque dos gêneros textuais contribui para<br />

a conscientização sobre a necessidade de repensar o ensino e a aprendizagem da escrita nos<br />

níveis iniciais da escolaridade. Aprender a escrever, segundo a autora, é mais do que<br />

aprender a grafar sons; ou mesmo, mais do que aprender a simbolizar graficamente um<br />

universo sonoro já por si mesmo simbólico. Aprender a escrever é apropriar-se de novos<br />

modos do discurso (gêneros); modos de se relacionar com os interlocutores, modos de se<br />

relacionar com temas e significados, motivos para comunicar em novas situações. Nesse<br />

quadro, aprender a escrever implica uma nova inserção cultural.<br />

A construção de sequências didáticas para o ensino de gêneros implica aspectos<br />

relacionados à didática da ação e da intervenção (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004).<br />

Primeiro, porque são ligados aos modos de organizar os procedimentos didáticos para que<br />

se possa garantir o desenvolvimento das capacidades necessárias para as práticas de<br />

linguagem. Quanto a aspectos relacionados à didática da descrição e da explicação, esses<br />

dizem respeito à seleção do objeto a ser ensinado, ou seja, qual gênero ensinar. Essa<br />

duplicidade de aspetos levou os membros do grupo a assumirem os três princípios<br />

apontados por Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004) para a seleção dos objetos sociais de<br />

aprendizagem (gêneros): princípios de legitimidade, de pertinência e os efeitos de<br />

solidarização.<br />

Assim é que, em nossas pesquisas, levamos em conta o princípio de legitimidade,<br />

quando vinculamos a seleção do gênero a ser ensinado em sua relação com as necessidades<br />

próprias de um grupo específico. Por exemplo, indivíduos da zona rural enfrentam o<br />

desafio de ler (e produzir) receitas, folhetos explicativos, bulas, embalagens de produtos<br />

agrícolas, medicamentos para animais, adubos, caderneta de fiado, carteira de vacinação<br />

dos animais, registro da produção, calendário, contrato de trabalho, listas de tarefas no<br />

campo etc. (NASCIMENTO, 2009c). Operários da indústria e comércio devem ter<br />

capacidades para ler e compreender manuais de instrução, avisos, e-mails, formulários,<br />

recibos, boletos, contratos etc. Alunos do curso de Letras que participam de ações<br />

recorrentes (BAZERMAN, 2005) para as quais devem ter capacidades, como a produção de<br />

relatórios de estágio, plano de aula, requerimentos, ofícios, artigos científicos, exposição<br />

oral, relatório de evento, anotações em palestras, entre outros.<br />

Conforme Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004), o princípio de pertinência, diz<br />

respeito à didática da descrição e da explicação e, segundo os autores, está vinculado à<br />

escolha dos procedimentos e conteúdos adequados a cada contexto de ensino, em função<br />

das finalidades e dos objetivos escolares e também das capacidades dos alunos. Por<br />

exemplo, os integrantes do grupo trabalham na modelização didática do gênero para que<br />

este seja transposto para a escola, ou seja, para que possa ser “escolarizado” por meio de<br />

atividades articuladas a uma sequência didática.<br />

Para Hila (2011), quando o gênero “entra” na sala de aula o professor verifica quais<br />

são as capacidades que os aprendizes já desenvolveram naquele momento, o que já<br />

conquistou em etapas anteriores da vida escolar (nível de desenvolvimento real, para


Vygotsky (1987) e quais precisam ser desenvolvidas (na zona de desenvolvimento<br />

proximal) para a apropriação do gênero (o que implicará um nível de desenvolvimento<br />

mais avançado) em relação à leitura e à produção, tendo em vista elementos das três<br />

capacidades: de ação, discursivas e linguístico-discursivas.<br />

Os efeitos do princípio de solidarização estão vinculados à criação de um novo todo<br />

coerente, no qual os saberes integrados formam um sentido parcialmente novo, a partir do<br />

qual capacidades serão desenvolvidas. Nesse sentido, o principal desafio dos integrantes do<br />

projeto consiste em participar de atividades em grupos ou individuais e, ao mesmo tempo,<br />

sem perder de vista que tais atividades devem possibilitar o acesso, por diferentes meios, às<br />

noções e aos instrumentos de análise e reflexão sobre as características contextuais,<br />

discursivas e linguísticas do gênero.<br />

2.3 Metodologia e procedimentos<br />

Os trabalhos se desenvolveram pelo uso recorrente (em diferentes etapas do<br />

processo) de procedimentos e instrumentos: a) Grupos de estudo; b) Oficinas; c)<br />

Seminários; d) Planos de aula; e) Aulas-modelo; f) Sessões reflexivas; g) Diários realizados<br />

após intervenções formativas; h) Modelos didáticos; i) Sequências didáticas; j) Micro aulas<br />

para experimentação de sequências didáticas; l) Cursos de formação; m) Elaboração de<br />

handouts; n) Diários de bordo; o) Relatórios; p) Discussões de conteúdos específicos<br />

relacionados aos gêneros em foco; q) Registros de observação de aulas e descrição de<br />

gestos didáticos específicos; r) Preparação de comunicações em eventos científicos.<br />

Cada um desses procedimentos envolveu constantes feedbacks aos fundamentos<br />

teóricos e metodológicos implicados nas atividades, o que propiciou aos sujeitos<br />

envolvidos a internalização de conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades para a<br />

elaboração de modelos didáticos e planejamento de sequências didáticas, análise das<br />

oficinas desenvolvidas em sequências didáticas e feedebacks que resultaram da avaliação<br />

do processo.<br />

A população atendida pelo projeto envolveu professoras em exercício no ensino<br />

fundamental dos ciclos iniciais e finais e do ensino médio da Rede Pública de Ensino de<br />

Londrina e região, duas supervisoras de ensino da Rede Municipal de Ivaiporã- PR (tutoras<br />

do projeto de formação contínua proporcionado pelo CEFORTEC (Orientações Gerais,<br />

2004), alunos professores em formação inicial do curso de graduação em Letras Vernáculas<br />

e Clássicas e mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Estudos da<br />

Linguagem da Universidade Estadual de Londrina, assim como alunos das escolas em que<br />

as professoras participantes atuam.<br />

A participação, no decorrer dos três anos do projeto, deu-se da seguinte forma: as<br />

reuniões do projeto aconteceram uma vez por semana e nelas os membros envolvidos na<br />

pesquisa tiveram oportunidade de desenvolver o trabalho de forma colaborativa e coletiva.<br />

Neste espaço de colaboração, a opinião de todos era ouvida, analisada e aceita ou refutada<br />

pelo grupo.<br />

A construção dos modelos didáticos conduziu as pesquisas do grupo à análise de<br />

diversos textos dos gêneros em foco. Esse corpus foi descontruído e construído para<br />

levantamento de dados descritivos em todos os níveis apresentados na proposta para análise<br />

de textos de Bronckart (1997). Resultados desse trabalho se encontram disseminados em


publicações e comunicações em eventos da área, assim como em teses, dissertações e<br />

monografias de TCC.<br />

Com a internalização de conhecimentos teóricos e metodológicos, a prática foi se<br />

expandindo e novos elementos foram acrescentados no sentido de atingirmos também os<br />

gêneros multimodais (DIONÍSIO, 2006; SAITO, 2007) visando aos múltiplos letramentos,<br />

assim como as possibilidades abertas pela TV Multimídia disponibilizada pela SEED-PR<br />

(COELHO & SAITO, 2010), o que levou o grupo à busca de novas soluções e,<br />

consequentemente, ao uso de novas ferramentas tecnológicas para a realização do nosso<br />

trabalho. Nesse momento, foram cruciais os equipamentos adquiridos com o apoio<br />

financeiro do CNPQ: filmadora, datashow, gravadores, computador, amplificadores de som<br />

etc.<br />

Salientamos que o desafio de solucionar problemas e os constantes feedbacks para<br />

a reconstrução de nosso trabalho proporcionou momentos de tensão, conflitos e escolhas<br />

relacionadas ao trabalho colaborativo, constituindo Zonas de Desenvolvimento Potencial<br />

para os sujeitos envolvidos que oportunizaram o reconhecimento dos espaços criados para<br />

aprendizagem e desenvolvimento.<br />

A tabela a seguir apresenta uma síntese dos modelos didáticos construídos pelos<br />

membros do grupo e sequências didáticas planejadas a partir das dimensões ensináveis<br />

apontadas por esses modelos. Os dados não dão conta de detalhes relacionados aos<br />

contextos escolares de aplicação (ano/série), ao nível de escolaridade dos alunos (séries<br />

iniciais ou finais do fundamental, ensino médio ou EJA). Também não apresentam detalhes<br />

sobre o espaço geográfico de aplicação (zona rural ou urbana). Mas salientamos que<br />

durante os três anos de duração do projeto os pesquisadores colaboradores do grupo saíram<br />

do espaço circunscrito da universidade para construir, colaborativamente, conhecimento e<br />

desenvolvimento junto a professores e alunos em todos aqueles níveis da educação básica.<br />

Alguns desses modelos didáticos e respectivas sequências didáticas constituíram<br />

teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias, TCCs ou material pedagógico<br />

para o PDE-PR.<br />

Modelos didáticos dos<br />

gêneros:<br />

Adaptação literária para TV<br />

Artigo de opinião<br />

Blog<br />

Canção-rock<br />

Charge<br />

Carta de reclamação<br />

Conto humorístico infantil<br />

Sequências didáticas<br />

resultantes dos modelos<br />

didáticos<br />

• Artigo de opinião<br />

• Carta de reclamação<br />

• Conto humorístico infantil<br />

• Crítica de cinema<br />

• Charge<br />

Atividades e tarefas<br />

realizadas no período<br />

• Grupos de Estudo<br />

• Seminários<br />

• Cursos de formação;<br />

• Elaboração de<br />

handouts<br />

• Diários de<br />

observações<br />

• Discussão de textos


Crônica<br />

Crítica de Cinema.<br />

Editorial<br />

Entrevista<br />

Filme publicitário (VT)<br />

Histórias em quadrinhos<br />

Mangá<br />

Infográfico<br />

Lenda indígena<br />

Memória literária<br />

Notícia<br />

Parábola<br />

Poema<br />

Propaganda Institucional<br />

Propaganda Social<br />

Rap<br />

Reportagem<br />

Telejornal<br />

• Editorial<br />

• Entrevista<br />

• Histórias em quadrinhos<br />

• Notícias<br />

• Lendas indígenas<br />

• Memória literária<br />

• Poema<br />

• Propaganda social<br />

• Parábola<br />

• Reportagem<br />

• Telejornal<br />

teóricos<br />

• Discussão de<br />

conteúdos<br />

específicos<br />

relacionados aos<br />

gêneros<br />

• Elaboração de<br />

atividades para<br />

análise linguística<br />

• Micro aula para<br />

testagem de módulos<br />

das SDs<br />

• Relatório de<br />

observação de aulas<br />

• Descrição e<br />

Tabela 1. -Síntese das atividades desenvolvidas no período de 2007-2010<br />

tabulação dos gestos<br />

didáticos específicos<br />

para implementação<br />

de atividades<br />

• Dossiê de problemas<br />

• Elaboração de<br />

Grades de Avaliação<br />

da produção escrita<br />

• Preparação de<br />

comunicação em<br />

eventos científicos


2.4. Os resultados obtidos<br />

O trabalho planejado e aquele que foi efetivamente realizado, assim como os<br />

resultados obtidos foram constantemente divulgados em vários eventos e permitiram um<br />

novo olhar para o ensino e aprendizagem de língua portuguesa. A metodologia de ensino<br />

por sequências didáticas enfocadas nas práticas sociais com a linguagem nos levou a<br />

caminhar na direção do trabalho com a leitura, produção e análise linguística<br />

contextualizados em objetos sociais configurados em práticas discursivas pertencentes a<br />

gêneros textuais específicos. Em síntese, podemos apontar resultados nas seguintes ações:<br />

a) A construção de 20 modelos didáticos de gêneros que podem circular em um jornal<br />

impresso, com características contextuais e discursivas distintas, descritos a partir de todos os<br />

níveis de análise propostos por Bronckart (2003);<br />

b) A elaboração de 16 projetos/sequências didáticas a partir dos modelos didáticos já<br />

construídos.<br />

c) O conjunto de sequências didáticas elaboradas passou por um processo de avaliação, que<br />

obedeceu aos seguintes critérios: 1. As capacidades de ação que tais atividades<br />

desenvolveriam nos aprendizes; 2. As capacidades discursivas; 3. As capacidades linguísticodiscursivas<br />

relacionadas aos mecanismos de textualização e à gramática da língua.<br />

Os resultados dessas avaliações foram disseminados em eventos da área. Os<br />

integrantes do projeto participaram das seguintes modalidades de disseminações científicas<br />

no decorrer do período de 2007 a 2010 que podem ser conferidas no Currículo Lattes dos<br />

membros do projeto, totalizando:<br />

a) 02 livros publicados;<br />

b) 04 fascículos publicados (PDE/MEC);<br />

c) 57 artigos publicados em anais de eventos e revistas acadêmicas;<br />

d) Comunicações em eventos da área;<br />

e) Mesas-redonda;<br />

f) Grupos de Trabalho e Simpósios;<br />

g) Mini-cursos apresentados em eventos da área;<br />

h) Participação nas Comissões Avaliadoras da Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa<br />

(MEC/CENPEC) em 2008 e 2010;<br />

i) Cursos de formação de professores na Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa em 2009;<br />

j) 11 Monografias de conclusão de pesquisas de Iniciação Científica (CNPq/UEL);<br />

k) 08 Monografias de Especialização em Língua Portuguesa;<br />

l) 07 dissertações de mestrado defendidas no Programa de Pós-Graduação em Estudos da<br />

Linguagem e outras em andamento;<br />

m) 03 teses de doutorado defendidas e outras em andamento;<br />

n) Coordenação de simpósios em eventos na área;<br />

o) Cursos de extensão para formação de professores, ministrados na região de abrangência das<br />

atividades dos integrantes do Projeto: Cambé, Ivaiporã, Ibiporã, Londrina, Apucarana,<br />

Maringá, Marquinho, Rio Bonito do Iguaçu, Campo Magro, Toledo, Foz de Iguaçu,<br />

Umuarama;


p) Cursos de formação de professores na Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa em 2009;<br />

q) 05 Trabalhos de conclusão em cursos de Graduação (PIBIC/ ICC ) na UEL:<br />

Como se observam nas atividades e disseminações apontadas, os resultados têm<br />

sido amplamente divulgados pelos participantes, o que demonstra o seu desenvolvimento<br />

profissional, cognitivo, e pessoal, prova concreta de que o trabalho realizado de forma<br />

colaborativa contribui para a evolução dos membros a ele articulados, graças ao empenho<br />

de todos em fazer destas experiências exemplos práticos, tanto em suas escolas como na<br />

comunidade acadêmica. O processo permitiu que se desenvolvessem capacidades para<br />

produzir conhecimento científico, em um percurso em que a prática se voltou para a teoria,<br />

questionando-a, reformulando ou validando, para retornar à prática - o que constituiu um<br />

ciclo que implicou em construção de conhecimento e desenvolvimento.<br />

Os trabalhos disseminados enfatizam a importância do trabalho didático a ser<br />

enfocado em objetos sociais configurados em gêneros textuais emergentes de diferentes<br />

esferas, pois só assim o professor pode constituir contextos significativos para as práticas<br />

didáticas com a linguagem.<br />

Os professores da rede pública articulados ao projeto salientam a importância da<br />

parceira universidade – escola para formações contínuas que proporcionem ferramentas<br />

mediadoras para a implementação de práticas inovadoras. Os estudantes, professores em<br />

formação no curso de Letras salientam em seus diários e relatórios que o ensino organizado<br />

em torno de gêneros textuais parece possibilitar a materialização de objetivos educacionais<br />

para o ensino de língua portuguesa de maneira produtiva.<br />

Tanto a experiência relatada quanto os resultados obtidos e comentados pelos<br />

participantes em suas investigações procuraram demonstrar a validade da proposta de<br />

organização do ensino de língua portuguesa em torno de gêneros textuais, bem como a<br />

potencialidade de desenvolvimento que a produção de sequências didáticas propicia.<br />

As atividades que enfocaram a análise da linguagem como prática social, a<br />

seleção de textos como referências de esferas de atividades escolhidas e gêneros textuais<br />

adequados aos objetivos estabelecidos e a elaboração e a refacção de atividades em torno de<br />

um projeto de uso da linguagem exploraram o conceito de gênero como megainstrumento<br />

indispensável para a proposta de desenvolvimento de capacidades de linguagem<br />

(SCHNEUWLY E DOLZ, 2004; 2009), bem como proporcionaram espaço de<br />

aprendizagem e desenvolvimento de diferentes dimensões do trabalho do professor.<br />

Observamos que a participação no projeto despertou em nós pesquisadores e<br />

colaboradores do Grupo de Pesquisa, o interesse em melhorar a qualidade do material que<br />

pretendemos usar ou que já usamos em nossas aulas na universidade ou na educação básica,<br />

levando-nos também a perceber nossa carência em termos de conhecimento teórico para<br />

agirmos como produtores e pesquisadores de sequências didáticas.<br />

Considerações finais<br />

No quadro de desafios em que se busca a inovação nas práticas didáticas<br />

orientadas pelos fundamentos do interacionismo sociodiscursivo, acreditamos que as<br />

investigações desenvolvidas neste projeto propiciaram<br />

rupturas/desequilíbrios/reorganizações à medida que nos conduziram à apropriação de<br />

novos conhecimentos, novos materiais e novas práticas por eles requeridas. O trabalho de


construção de modelos didáticos e de elaboração de sequências didáticas foi marcado pela<br />

produção-aplicação-avaliação dos materiais produzidos, constituindo uma oportunidade<br />

diferenciada para todos os sujeitos envolvidos. Nós, professores formadores, os professores<br />

em formação no curso de Letras e PPGEL, assim como os professores em formação<br />

contínua da rede pública, adquirirmos referencial teórico-metodológico necessário à<br />

construção de sequências didáticas apropriadas a diferentes contextos educacionais,<br />

propiciando reflexão crítica constante acerca da nossa própria prática, do momento da<br />

elaboração à aplicação do material.<br />

Além disso, observamos que todos foram impulsionados a participar de eventos<br />

da área com comunicações e/ou publicações, aprofundando-se em seus estudos. Podemos<br />

dizer que o trabalho para as produções de modelos didáticos e sequências didáticas para a<br />

elaboração do nosso próprio material didático continuará a ser desenvolvido junto a<br />

professores da educação básica, uma vez que ensinar a leitura e a escrita com base nos<br />

gêneros textuais tem nos proporcionado novas descobertas sobre novas formas de se<br />

aprender e de se ensinar língua portuguesa.<br />

Os pesquisadores articulados ao grupo de pesquisa, pensam o enfoque dos gêneros em<br />

uma dupla possibilidade de abordagem: como instrumento semiótico que materializa e significa<br />

uma prática social e como instrumento a ser apropriado pelo aprendiz no processo de<br />

instrumentalização que sustenta e orienta a ação de um sujeito em uma prática social de<br />

referência (DOLZ et al, 2008). Visto assim, o gênero textual é tido como um andaime indispensável<br />

à construção do novo: novos textos visando novos interlocutores em novas situações de interação,<br />

novos objetos de ensino orientados por novas concepções e objetivos, novas práticas escolares que<br />

tomam as atividades de linguagem como meio de articulação entre as práticas sociais e os objetos<br />

escolares.<br />

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