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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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Se São Paulo ganhar essa partida (como pensei nitidamente nisso!) eu serei<br />

brasileiro para ajudar São Paulo a tornar o Brasil brasileiro. Para lancetar-lhe<br />

este quisto do regionalismo pesteado robustecido pelos negrói<strong>de</strong>s da<br />

politicalha profissional. Intriga com a qual sustentou a <strong>de</strong>sunião <strong>de</strong> <strong>um</strong> povo<br />

ingênuo, a fim <strong>de</strong> melhor aproveitar-se da seiva boa em benefício dos<br />

corrilhos.<br />

Se São Paulo per<strong>de</strong>r (nitidamente começava a pensar também...) então eu<br />

serei paulista, só paulista e combaterei contra o Brasil por São Paulo.<br />

(DUARTE, 1974, p. 302-303)<br />

Os interesses paulistas e nacionais foram muitas vezes entrecruzados. São Paulo<br />

representava-se como o cerne da história e do progresso nacional, o conquistador das<br />

riquezas, o propagador da civilida<strong>de</strong>, o gran<strong>de</strong> pensador e empreen<strong>de</strong>dor e o pioneiro que<br />

guiaria o Brasil. É assim que po<strong>de</strong> ser entendido o sentido <strong>de</strong> “ajudar São Paulo a tornar o<br />

Brasil brasileiro”, que lido fora do contexto do imaginário <strong>constitucionalista</strong> pareceria<br />

ambíguo e abstrato. Se houvesse como <strong>de</strong>sassociar a parte do todo, po<strong>de</strong>-se dizer que nessa<br />

citação <strong>de</strong> Paulo Duarte a impressão é que o exercício da paulistanida<strong>de</strong> é colocado acima da<br />

brasilida<strong>de</strong>.<br />

Os memorialistas e a historiografia não negam que havia interesses “contra-<br />

revolucionários” e “separatistas” entre os paulistas. A força <strong>de</strong>ssas acusações foi tamanha que<br />

os historiadores empenharam-se durante anos para refutar que estes sejam os princípios<br />

primordiais do movimento <strong>de</strong> 1932. O que realmente merece ênfase são as dimensões da<br />

agregação popular em torno <strong>de</strong> sentimentos patrióticos e regionalistas <strong>de</strong> estímulo ao<br />

compromisso cívico, e também militar, em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> que o bem do Brasil perpassava pelo<br />

retorno do país à legalida<strong>de</strong> e ao respeito pela <strong>de</strong>mocracia.<br />

Que as elites <strong>de</strong> São Paulo queriam <strong>de</strong> volta o po<strong>de</strong>r que haviam tido por<br />

mais <strong>de</strong> trinta anos, parece claro. Mas a profunda e entusiasmada<br />

participação popular aponta para outras motivações. O povo não foi às ruas e<br />

os jovens não foram à luta simplesmente para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses da<br />

oligarquia. Também não tinham como objetivo central o separatismo,<br />

embora isso estivesse na mente <strong>de</strong> muitas li<strong>de</strong>ranças. Havia alg<strong>um</strong>a coisa a<br />

mais que mobilizava as massas e empolgava os jovens: a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

<strong>de</strong>mocracia mo<strong>de</strong>rna e urbana, sem tiranos, com respeito às leis e repúdio<br />

aos golpes políticos ou militares como solução para os conflitos sociais.<br />

(FEIJÓ; GERTEL, 1998, p. 45)<br />

A população <strong>de</strong>monstrava o <strong>de</strong>scontentamento com o histórico <strong>de</strong> golpes e governos<br />

que efetivavam o po<strong>de</strong>r para além do direito e não visavam o bem da maioria dos que lhes<br />

estavam submetidos, mas apenas nas vantagens particulares do pequeno círculo que os<br />

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