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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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o paulista como <strong>um</strong> povo singular que tinha como principal característica o<br />

empreen<strong>de</strong>dorismo, visto o <strong>de</strong>senvolvimento e a consolidação do café no oeste da província.<br />

Segundo este discurso, os "brasileiros" seriam caracterizados pela submissão<br />

e <strong>de</strong>pendência frente ao governo, pela falta <strong>de</strong> iniciativa, indolência e<br />

preguiça. Já os paulistas seriam marcados pelo <strong>de</strong>senvolvido "espírito<br />

empreen<strong>de</strong>dor", pela iniciativa, tenacida<strong>de</strong>, energia e in<strong>de</strong>pendência perante<br />

o governo. Disso concluía-se que o paulista era <strong>um</strong>a "exceção" no conjunto<br />

do império e o rápido crescimento da província e sua participação no<br />

movimento republicano, <strong>de</strong>vido única e exclusivamente ao espírito<br />

empreen<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> seus filhos, comprovaria tal fato. (FERRETI e<br />

CAPELATO, 1999, p. 5)<br />

Ferreti e Capelato <strong>de</strong>monstraram que tais grupos paulistas buscavam representar a<br />

superiorida<strong>de</strong> do estado no conjunto do Brasil, além <strong>de</strong> marcarem com clareza a<br />

excepcionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, aproximando-se do norte americano. O auge das discussões<br />

foi dos anos 1920 e início dos anos <strong>de</strong> 1930, quando a temática passou a ser discutida nos<br />

diversos veículos <strong>de</strong> comunicação. Nesse contexto, o levante <strong>de</strong> 1932 marcou mais <strong>um</strong> surto<br />

<strong>de</strong> paulistanismo.<br />

Segundo Maria Helena Capelato (1989), o jornalista paulista Ama<strong>de</strong>u Amaral referiu-<br />

se ao “imperialismo benéfico <strong>de</strong> São Paulo”, que justificava o papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança que esse<br />

estado <strong>de</strong>veria ass<strong>um</strong>ir na grandiosa obra <strong>de</strong> transformação do Brasil em <strong>um</strong>a potência. A<br />

<strong>de</strong>finição do Estado <strong>de</strong> São Paulo como a “locomotiva que puxa os vagões vazios” é<br />

ressaltada em vários estudos econômicos e sobre a dinâmica industrial.<br />

Para continuar sendo a “locomotiva” do Brasil e, naquele momento, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o país da<br />

ditadura varguista, os paulistas tinham consciência <strong>de</strong> que o estado necessitava <strong>de</strong> “trilhos”<br />

fortes. Durante os primeiros anos da década <strong>de</strong> 1930, os paulistas tentaram agregar os outros<br />

estados à campanha <strong>constitucionalista</strong>. Contudo, o apoio conseguido nessas regiões não foi<br />

oficial, restringindo-se a alguns lí<strong>de</strong>res isolados em Minas, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e no Mato-<br />

Grosso. A falta <strong>de</strong> apoio, especificamente <strong>de</strong> Minas Gerais, ressentiu os paulistas, pois, até<br />

então, a integração entre os dois estados era estendida do campo econômico ao político.<br />

Minas e São Paulo eram os “dois irmãos” da política Café com Leite; foram aliados na<br />

Aliança Liberal, que incluiu o Partido Republicano Mineiro e o Partido Democrático. O<br />

estado <strong>de</strong> Minas Gerais era o vizinho com que os paulistas esperaram contar até o último<br />

instante em 1932. Contudo, o passado <strong>de</strong> integração ficou para trás, pois o momento colocava<br />

antigos aliados em lados contrários. Paulo Duarte (1947, p. 302) comenta com pesar a<br />

separação dos antigos companheiros <strong>de</strong> luta: “O mineiro, este era da família. Vizinho amável,<br />

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