Dificuldades Da Língua Portuguesa - Academia Brasileira de Letras
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M. Said Ali<br />
“População. Os nossos bons escriptores dizião com melhor<br />
analogia povoação; comtudo não reprovamos população,quetem<br />
a seu favor o uso frequente, e algumas boas autorida<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas.<br />
“Côrte. Por conselho, tribunal, relação he gallicismo que se não<br />
<strong>de</strong>ve admittir em portuguez.”<br />
“Rutina ou rotina. He galicismo <strong>de</strong>snecessario, e porém mui<br />
vulgarmente usado...” E o autor propõe que em seu lugar se diga<br />
trilha, usança, etc.<br />
“Bello sexo (beau sexe). Não reprovamos absolutamente esta expressão,<br />
empregada para significar o sexo formoso, osexo feminino<br />
ou as mulheres: mas somos <strong>de</strong> parecer que se <strong>de</strong>ve usar com mo<strong>de</strong>ração,<br />
a fim <strong>de</strong> evitar afecção, e resabio <strong>de</strong> gallicismo.”<br />
A posterida<strong>de</strong> não se conformou com o conselho do bom do fra<strong>de</strong>.<br />
O Glossário não menciona, talvez por não terem nesse tempo curso<br />
em Portugal, muitíssimas dicções novas que fizeram fortuna e são<br />
hoje parte integrante do léxico <strong>de</strong> todas as nações civilizadas. Assim,<br />
por exemplo: internacional (ingl. international) cunhado por Bentham<br />
em 1780, e admitido pela <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> francesa em 1878; nacionalizar, nacionalida<strong>de</strong>,<br />
organismo, organização, organizador, reorganizar, reorganização, civilização,<br />
civilizador.<br />
As i<strong>de</strong>ias mo<strong>de</strong>rnas reclamam novos vocábulos para a sua expressão,<br />
e é <strong>de</strong> todo impossível escrever um capítulo sobre hodiernas instituições<br />
sociais ou políticas sem recheá-lo <strong>de</strong> neologismos creados ou<br />
vulgarizados nestes últimos cem anos. Os clássicos portugueses, se<br />
hoje ressuscitassem, precisariam, para enten<strong>de</strong>r-nos, do auxílio <strong>de</strong> um<br />
elucidário <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> palavras.<br />
Toleram os puristas, quando muito, algumas novida<strong>de</strong>s recentes,<br />
mas em geral enten<strong>de</strong>m que se <strong>de</strong>ve restabelecer o antigo bom uso.<br />
Muitas vezes, em troca <strong>de</strong> um estrangeirismo ou <strong>de</strong> um termo <strong>de</strong> legi-