12.04.2013 Views

Dificuldades Da Língua Portuguesa - Academia Brasileira de Letras

Dificuldades Da Língua Portuguesa - Academia Brasileira de Letras

Dificuldades Da Língua Portuguesa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Dificulda<strong>de</strong>s</strong> da <strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong> 21<br />

se possa fazer outro jogo, não se percebe muito bem o mecanismo do<br />

critério na sua aplicação prática. Entre outros exemplos comprovativos<br />

<strong>de</strong> Herculano, cita o autor da Réplica o seguinte:<br />

“Juras?, perguntou <strong>de</strong> novo Beatriz.<br />

Juro. Mas o que juro eu?”<br />

Pela regra, o que se acharia subentendido por estar mencionado anteriormente,<br />

é o verbo jurar. Mas não há maneira <strong>de</strong> encaixar mais uma<br />

vez este verbo na interrogação. Logo, o critério falha; e tanto assim,<br />

que R. Barbosa, adiantando-se à perspicácia do leitor, explica a dificulda<strong>de</strong><br />

por este modo:<br />

“Correspon<strong>de</strong>ndo a” “Juro. Mas sei o que juro eu?<br />

Sei eu o que juro?” Dir-me-ás o que juro eu?”<br />

Ora, se po<strong>de</strong>mos no nosso íntimo pedir socorro aos verbos saber, dizer,<br />

que não figuram no discurso, os mesmos santos nos hão <strong>de</strong> valer<br />

em outros apertos também; e tanto é correto o que juro eu? <strong>de</strong> um Herculano<br />

como o é o que queres tu? o que é isto? do escritor mais <strong>de</strong>scuidado.<br />

Subentenda-se sempre e teremos [Dir-me-ás] o que queres tu? [Sabes] o que é<br />

isto? E assim caminharemos sem parar.<br />

É isto exatamente o que confirma R. Barbosa quando completa a<br />

sua explicação “é, elipticamente, a mesma redacção não elliptica<br />

noutras frases” com um punhado <strong>de</strong> interrogações iniciadas pelo<br />

verbo saber claro.<br />

Em resumo, a doutrina Figueiredo-Barbosa <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r-se assim:<br />

O erro não está na maneira <strong>de</strong> exprimir, mas tão-somente no<br />

modo <strong>de</strong> analisar. A interrogação – o que tens? – está certa, quando interpretada<br />

como oração <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma principal oculta; está errada,<br />

se a consi<strong>de</strong>rarmos a própria oração principal.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!