Literatura brasileira e a expressão de nacionalidade
Literatura brasileira e a expressão de nacionalidade
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Diálogos Latinoamericanos<br />
No prólogo, aparecem <strong>de</strong> forma con<strong>de</strong>nsada as mesmas propostas já<br />
apresentadas no "Discurso" para a renovação da poesia <strong>brasileira</strong>: aspectos<br />
locais como estímulo da inspiração, pátria, presença do índio, <strong>expressão</strong> do<br />
gênio. Além <strong>de</strong>ssas quatro propostas para a constituição da poesia<br />
nacional, uma quinta aponta, ainda tímida, mas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong><br />
entre os intelectuais oitocentistas e, mais tar<strong>de</strong> também, entre os<br />
mo<strong>de</strong>rnistas: a criação <strong>de</strong> uma língua <strong>brasileira</strong>, para melhor expressar a<br />
nossa realida<strong>de</strong> física e social, assim como a alma nacional:<br />
Algumas palavras acharão neste Livro que nos Dicionários Portugueses<br />
se não encontram; mas as línguas vivas se enriquecem com o progresso da<br />
civilização, e das ciências, e uma nova idéia pe<strong>de</strong> um novo termo. (Magalhães<br />
[1836] in: Coutinho, 1980:41)<br />
Fundamental no <strong>de</strong>bate a respeito da constituição <strong>de</strong> uma literatura<br />
<strong>brasileira</strong> original, esse ponto estará presente na reflexão <strong>de</strong> poetas e<br />
críticos, tais como Gonçalves Dias, Santiago Ribeiro e outros, mostrandose<br />
central em José <strong>de</strong> Alencar, leitor atento <strong>de</strong> Gonçalves Magalhães.<br />
Conforme verificaremos, o i<strong>de</strong>ário alencariano para a literatura<br />
<strong>brasileira</strong> tem suas bases na leitura atenta e na crítica posteriormente<br />
formulada ao poema Confe<strong>de</strong>ração dos Tamoios, <strong>de</strong> Gonçalves Magalhães.<br />
Nesse sentido, o "Discurso" é um documento super bem sucedido,<br />
pois, ao encorajar o surgimento <strong>de</strong> novos poetas, confirmou a existência <strong>de</strong><br />
uma literatura <strong>brasileira</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da portuguesa, incentivou o<br />
estabelecimento <strong>de</strong> uma tradição através do estudo e da leitura dos<br />
antecessores, estimulando o surgimento da crítica e da historiografia<br />
literárias, além <strong>de</strong> fornecer rumos para a constituição tanto <strong>de</strong> nossa autoimagem<br />
literária como também nacional.<br />
IV<br />
No projeto <strong>de</strong> nacionalização <strong>de</strong> nossa literatura, a <strong>de</strong>fesa da<br />
existência <strong>de</strong> uma linguagem <strong>brasileira</strong> ocupou um papel crucial na obra <strong>de</strong><br />
José <strong>de</strong> Alencar. O esforço <strong>de</strong> traçar um projeto nacionalista para a<br />
produção literária e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma linguagem <strong>brasileira</strong> po<strong>de</strong> ser<br />
constatado em seus diversos ensaios críticos publicados em jornal, como é<br />
o caso da famosa polêmica sobre o poema <strong>de</strong> Gonçalves Magalhães, A<br />
Confe<strong>de</strong>ração dos Tamoios, como nos inúmeros prefácios, posfácios a<br />
seus romances on<strong>de</strong> discute com seus opositores e esclarece seus leitores<br />
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