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Literatura brasileira e a expressão de nacionalidade

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Diálogos Latinoamericanos<br />

nacional", como afirma no posfácio 7 . No que concerne ao uso <strong>de</strong> termos<br />

indígenas há, portanto, certa concordância entre Alencar e os outros poetas<br />

indianistas. Entretanto, se a utilização da língua bárbara era fundamental na<br />

tradução da vida e do pensamento dos autóctones brasileiros, por outro<br />

lado não po<strong>de</strong>ria prejudicar o entendimento da obra, nem quebrar a<br />

harmonia da língua portuguesa, <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> estilo apontados ora<br />

severamente, como na crítica à Confe<strong>de</strong>ração dos Tamoios 8 , ora <strong>de</strong> forma<br />

complacente, como na referência ao poeta Gonçalves Dias, no próprio<br />

posfácio. Para resolver esse entrave <strong>de</strong> estilo, José Alencar então<br />

abandonou o verso heróico e experimentou a prosa como forma <strong>de</strong><br />

<strong>expressão</strong>:<br />

Em um <strong>de</strong>sses volveres do espírito à obra começada, lembrou-me <strong>de</strong><br />

fazer uma experiência em prosa. O verso pela sua dignida<strong>de</strong> nobreza não<br />

comporta certa flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>expressão</strong>, que entretanto não vai mal à prosa a<br />

mais elevada. A elasticida<strong>de</strong> da frase permitiria então que se empregassem com<br />

mais clareza as imagens indígenas, <strong>de</strong> modo a não passarem <strong>de</strong>spercebidas.<br />

Por outro lado conhecer-se-ia o efeito que havia <strong>de</strong> ter o verso pelo efeito que<br />

tivesse a prosa. (Alencar , 1975:61)<br />

Com a prosa poética <strong>de</strong> Iracema, e <strong>de</strong> seus outros romances indianistas,<br />

o escritor cearense preenche a lacuna existente na literatura<br />

<strong>brasileira</strong>, oferecendo-lhe o prometido "gran<strong>de</strong> poema nacional sem ruído<br />

nem aparato, como mo<strong>de</strong>sto fruto <strong>de</strong> suas vigílias"; e, a partir daí, fixa<br />

também o rumo <strong>de</strong> uma tradição voltada para a pesquisa <strong>de</strong> uma linguagem<br />

<strong>brasileira</strong>, diferenciada do Português falado em Portugal, como atesta<br />

Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, no ensaio "O movimento mo<strong>de</strong>rnista”, <strong>de</strong>poimento<br />

comemorativo dos 20 anos da Semana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna (Andra<strong>de</strong>,<br />

1974:247). Tal <strong>de</strong>ferimento que lhe foi conferido <strong>de</strong>veu-se, sobretudo, à<br />

coerência e abrangência com que <strong>de</strong>senvolveu suas idéias a respeito <strong>de</strong><br />

língua e linguagem, como veremos a seguir.<br />

Essa preocupação com uma linguagem <strong>brasileira</strong> enquanto <strong>expressão</strong><br />

do falar do povo brasileiro e, em conseqüência, da literatura<br />

nacional, como tem sido mostrado, tem seu início com Gonçalves Magalhães<br />

e está intimamente ligada ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se criar uma literatura<br />

<strong>brasileira</strong> e <strong>de</strong> se <strong>de</strong>linear uma auto-imagem enquanto povo e nação. O<br />

esforço <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Alencar nesse sentido <strong>de</strong>ve ser lido como um <strong>de</strong>sdobramento<br />

<strong>de</strong> um empenho inaugurado na geração anterior. A diferença<br />

entre Alencar e seus antecessores se dá em dois aspectos observáveis. Por<br />

um lado, essa preocupação não se encontra presente apenas em sua obra<br />

indianista ou regionalista. Em seus romances urbanos, ela surge<br />

combatendo a <strong>de</strong>fesa dos puristas contra a assimilação e criação <strong>de</strong> termos<br />

estranhos à língua portuguesa e, nos rastros <strong>de</strong> Gonçalves Dias 9 , coloca<br />

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