Literatura brasileira e a expressão de nacionalidade
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Diálogos Latinoamericanos<br />
apresentarei em linhas gerais as indicações sobre o que <strong>de</strong>veria ser<br />
literatura <strong>brasileira</strong> dadas pelos autores estrangeiros mencionados.<br />
II<br />
Para Jamil Haddad, Scènes <strong>de</strong> la nature sous les tropiques et leur<br />
influence sur la poésie e Resumé <strong>de</strong> l’histoire littéraire du Portugal,<br />
suivi du Resumé <strong>de</strong> l’histoire littéraire du Brésil, <strong>de</strong> Ferdinand Denis,<br />
funcionariam como o “prefácio <strong>de</strong> Cromwell” do Romantismo<br />
brasileiro 3 . O ato <strong>de</strong> ter separado a literatura <strong>brasileira</strong> da portuguesa ao<br />
publicar o Resumé quatro anos apenas <strong>de</strong> existência política do País<br />
assegurou ao escritor francês menção diferenciada nas obras daqueles que<br />
preten<strong>de</strong>ram e ainda preten<strong>de</strong>m escrever sobre a literatura <strong>brasileira</strong>,<br />
traçando as suas origens 4 . Porém, o prestígio <strong>de</strong> Denis não se restringe<br />
apenas a este aspecto. Indo um pouco mais além da discussão a respeito<br />
<strong>de</strong> sua contribuição para a autonomia da literatura <strong>brasileira</strong> e sua<br />
influência sobre os nossos escritores românticos, Maria Helena Rouanet<br />
mostra que o bibliotecário/viajante francês está intimamente imbricado<br />
em todo o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um<br />
caráter <strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong> construído, como num jogo <strong>de</strong> espelhos, do Brasil<br />
para a Europa e <strong>de</strong> volta, em ricochete, da Europa para o Brasil (Rouanet,<br />
1991: 180).<br />
Quais os fatores eleitos por Ferdinand Denis que conformariam a<br />
imagem do País e, em conseqüência, o nosso caráter, fonte <strong>de</strong> inspiração<br />
para a constituição <strong>de</strong> uma literatura <strong>brasileira</strong> original?<br />
Seguindo os pressupostos estabelecidos por Mme. <strong>de</strong> Staël <strong>de</strong> que<br />
as instituições políticas e religiosas, os costumes exerceriam um papel<br />
consi<strong>de</strong>rável no processo <strong>de</strong> particularização das diversas literaturas<br />
nacionais (Staël, 1991: 54-59), os argumentos <strong>de</strong> Ferdinand Denis partem<br />
do princípio <strong>de</strong> que o Brasil, já sentindo “as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adotar<br />
instituições diferentes das que lhe havia imposto a Europa”, começaria<br />
perceber “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir beber inspirações poéticas a uma fonte que<br />
verda<strong>de</strong>iramente lhe pertence[ria]” (Denis, [1826], in: César, 1978: 36).<br />
Apesar <strong>de</strong> ter sido adotada no País uma língua européia, o poeta brasileiro<br />
<strong>de</strong>veria rejeitar a mitologia grega, exaustivamente usada nas artes do Velho<br />
Mundo, já que suas figuras não se harmonizariam nem com clima, nem<br />
com a natureza, nem ainda com as tradições locais. Para obter uma<br />
<strong>expressão</strong> original, o poeta do Novo Mundo <strong>de</strong>veria, portanto, abandonar<br />
os tradicionais mo<strong>de</strong>los europeus e eleger como seu guia a observação:<br />
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