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O drible, uma experiência fenomenal -_Eduardo Nazareth - Sociofilo

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Segundo Caderno – 2012<br />

Tudo supõe <strong>uma</strong> relação não problemática entre intenção consciente<br />

e capacidade corporal de expressão dessa intenção.<br />

Agindo desse modo, Pelé induziu a protensão natural de<br />

Mazurkiewicz neste sentido, até que o goleiro se tornasse impedido,<br />

desconcertado e dividido, de reajustar sua posição assim<br />

que notasse o que realmente Pelé estava fazendo. O gesto<br />

desconcertado de Mazurkiewicz, esticando a perna esquerda<br />

para tocar a bola que já passava por ele em continuidade com o<br />

movimento de desequilíbrio diante da percepção do inesperado,<br />

seguido da tentativa de segurar Pelé com a mão direita, denuncia<br />

esse fato. O goleiro tenta impedir de qualquer maneira o<br />

gol ou a continuidade do lance. Mas no instante adiante percebe<br />

que não há mais o que fazer. Pelé então reassume a tarefa de<br />

retomar a bola para a conclusão ao gol sem goleiro, mas a bola<br />

não entra.<br />

Todos foram pegos de surpresa porque a solução encontrada<br />

por Pelé foi realmente <strong>uma</strong> ação inesperada, incomum.<br />

Ao invés de <strong>uma</strong> ação ativa em que confirma seu protagonismo<br />

ativo no lance, como faria qualquer atacante, Pelé assusta perdendo<br />

o controle da bola, pondo em risco sua chance, permitindo<br />

que ela passe diante do goleiro. Na realidade pôs em risco a<br />

oportunidade, e, se Mazurkiewicz tivesse um pouco mais próximo<br />

da trajetória da bola, ele poderia esticar a perna e talvez<br />

tocá-la, retirando-a da angulação em que Pelé pudesse alcançála<br />

para a conclusão a gol. Foi tudo preciso, proporcional, harmônico,<br />

ajustado. Mas, ao que parece, ele tinha total certeza,<br />

como o goleiro, assim como qualquer membro da comunidade<br />

de praticantes do seu tempo, que aquele lance prosseguiria<br />

dentro de um conjunto de possibilidades que excluía totalmente<br />

aquela – nisso consiste a habilidade e o brilho do atacante.<br />

Ambos agiram de acordo com a iminência imaginada de<br />

um lance dentro dos limites do possível, que em algum ponto<br />

coincidia, e portanto integrando a ambos, intersubjetivamente,<br />

em um mesmo segmento espaço-temporal dentro do jogo, ab-<br />

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