O drible, uma experiência fenomenal -_Eduardo Nazareth - Sociofilo
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Segundo Caderno – 2012<br />
mente, de outro lado, requer um constante esforço, no curso da<br />
própria ação, de ler no corpo do outro para além de suas simulações,<br />
suas reais intenções, em síntese com a própria ação sob a<br />
lógica da jogada.<br />
A dissimulação comum ao jogar, a do <strong>drible</strong>, a de fingir<br />
reduzir a velocidade e de repente acelerar, ou simular ir para<br />
um lugar e repentinamente ir para outro, é aquela que se desdobram<br />
dentro das regras. E essa mesma atitude é parte do jogar<br />
de boa fé. Essa atitude – em si mesma, resultado de <strong>uma</strong><br />
habilidade e de <strong>uma</strong> disposição corporal no jogo –, entretanto,<br />
pode ser utilizada para fins escusos, desonestos, frustrando a<br />
confiança dos demais jogadores, tangenciando a trapaça, a malandragem,<br />
o desejo de aproveitar-se da boa fé do oponente,<br />
gerando conflitos 18 , desconfiança, sensação de injustiça, caso<br />
não encontrem punição e compensação.<br />
Realizando esses atos, visando se aproveitar da boa fé dos<br />
jogadores e dos árbitros, enquanto finge agir normalmente de<br />
modo a que o jogo prossiga, o jogador, n<strong>uma</strong> atitude cínica e<br />
em desacordo com valores morais compartilhados, ao realizar<br />
essas ações, e acaso estas se tornem frequentes e por alg<strong>uma</strong><br />
razão não encontrem reação coletiva de reprovação – sejam elas<br />
de punição da regra ou do repúdio da comunidade – podem<br />
enfraquecem essa regra baseada na confiança (Garfinkel, 1963)<br />
que os demais depositam no seu vigor, criando-se outras moralmente<br />
mais flexíveis em seu lugar, que contenham alguns<br />
limites mais amplos, comportando algum grau de malandragem,<br />
ao menos até que novas regras entendidas como moralmente<br />
fortes (Durkheim, 1999) se consolidem novamente.<br />
18 Sobre conflitos que suscitam processos de normalização de disparidades em<br />
relação aos eventos esperados, considerados normais, em face da desconfiança<br />
gerada circunstancialmente entre membros de boa fé, ver Garfinkel (1963).<br />
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