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NAvIOS DA vERGONhA

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Os armadores europeus estão actualizados. Quem não se recorda de Aristide<br />

Onassis, o riquíssimo armador grego, proprietário de frotas matriculadas em Chipre<br />

ou na Libéria. Para criar uma “sociedade de papel” num Estado de conveniência, basta<br />

enviar dois telefaxes. Nem é mesmo necessário investir capitais. No caso de situações<br />

contenciosas, um juiz, se for necessário chegar até aí, só consegue apanhar o vento!<br />

Em 976, os armadores da Alemanha Federal, para quebrarem a grande greve dos<br />

marinheiros, registam 40% da sua frota arvorando pavilhão cipriota. Os Estados Unidos,<br />

onde os navios eram matriculados (desde a Proibição) no Panamá, dotam-se de um novo<br />

lugar de matrícula, em 956: a Libéria. Ao tribunal deste país devastado por guerras<br />

intestinas, é inútil pedir o endereço onde se pode matricular um navio. A formalidade<br />

efectua-se nos Estados Unidos, Reston, na Virgínia. Ficção de um registo de um Estado,<br />

enquanto se trata apenas de um acto privado 2 . Na Libéria, que não assinou nenhuma<br />

convenção internacional do trabalho, as tripulações encontram-se à mercê do armador.<br />

Forçadas e flutuantes. Os proprietários da Grã-Bretanha preferem matricular as suas<br />

frotas na Ilha de Man, ou mesmo nas Bahamas, onde o direito de greve não existe e onde<br />

as actividades sindicais são proibidas.<br />

Todos os países europeus utilizam o pavilhão de conveniência. Uns directamente,<br />

como a Alemanha, a Dinamarca, a Noruega, a Itália, criando um registo internacional:<br />

“uma europeização do pavilhão de conveniência”. Outros países da União Europeia, entre<br />

os quais a França, escolheram uma solução híbrida de abrirem um registo de matrícula<br />

num território ultramarino para escapar ao direito nacional. A Espanha regista os seus<br />

barcos nas Canárias, Portugal na Madeira. E a França? A França escolhe Kerguelen. Em<br />

986, dota-se de uma matrícula Kerguelen! Com o nome deste arquipélago francês da<br />

Antárctica. Um território sem habitantes, juridicamente autónomo, totalmente gerido<br />

a partir de Paris. Apareceram outros registos “franceses”, a Polinésia e a Nova Caledónia<br />

e, mais recentemente, Wallis-et-Futuna. Baptizaram-se estes pavilhões de “Kerguelen”,<br />

bis ou TAAF. Se se compara a situação dos marinheiros quase escravos do pavilhão de<br />

2 Como sublinha o Le Monde Diplomatique, “Símbolo desta pura ficção jurídica, a frota da Libéria – atingida pela<br />

guerra civil – é, completamente, gerida por uma grande sociedade americana de Virgínia, e existe um acordo entre<br />

Monróvia eWashington que prevê que em caso de crise todos os navios liberianos pertencentes a interesses americanos<br />

podem ser imediatamente repatriados sob pavilhão dos Estados Unidos”. Le Monde Diplomatique, Ces espaces hors la<br />

loi du transport maritime, Fevereiro de 2000.<br />

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