Infante Dom Henrique, o Navegador Fundador da Escola <strong>de</strong> Sagres Miniatura do manuscrito português “Crônica da Conquista da Guiné” (Bib. Nationale <strong>de</strong> Paris, seção <strong>de</strong> Manuscritos) O sigilo nos Descobrimentos 115
João <strong>de</strong> Scantimburgo russos trabalham em regime <strong>de</strong> rigorosa clausura. Segregados do meio social, pertencem a um mundo à parte, a fim <strong>de</strong> que não só se <strong>de</strong>diquem plenamente aos fins para os quais foram recrutados, como, também, não transmitam, ou não tenham a fraqueza <strong>de</strong> transmitir a ninguém, os segredos <strong>de</strong> que são portadores. É a política do sigilo, levada ao extremo. Enquanto isso os americanos confiam na consciência <strong>de</strong> seus cientistas, e, como sabemos, já foram várias vezes traídos. Impressionamo-nos que sejam punidos com a morte os que violaram o sigilo das <strong>de</strong>scobertas científicas a que se ligaram, ou foram presos. Mas, as razões <strong>de</strong> Estado são implacáveis, e a política do sigilo é a cinta <strong>de</strong> proteção atrás da qual guardam as nações os seus êxitos científicos. Executam-se hoje cientistas traidores, como antes e <strong>de</strong>pois do Infante Dom Henrique. No século XV, confinavam-se pilotos, os guias das caravelas; hoje confinam-se cientistas, os guias dos engenhos que afuroam os espaços. Po<strong>de</strong>-se afirmar, diz Jayme Cortesão, “que Dom Manuel e Dom João III não foram os inventores da tática <strong>de</strong> confinar os pilotos ao serviço próprio”. “Garcia <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>, o melhor informado dos cronistas, neste particular”, acentua Jayme Cortesão, “mais uma vez nos põe no rasto <strong>de</strong>ssa prática e dos meios utilizados por aquele monarca, para impedir que os pilotos portugueses se evadissem para o estrangeiro e, com eles, o segredo da náutica e da nova geografia econômica”. A esse respeito, Garcia <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> nos conta, na sua Crônica <strong>de</strong> Dom João II, uma história que po<strong>de</strong>ria ser narrada a respeito da União Soviética em nossos dias. “Um piloto e dois marinheiros fugiram para Castela, com dinheiro da Mina, furtado, e com a tenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>sservirem a el-Rei, que tanto que o soube teve tal maneira que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Castela os houve à mão. E trazendo-lhes todos, foi sabido das irmanda<strong>de</strong>s que por muitas partes espalhados vieram após eles. E os que os traziam, sentindo os que vinham e vendo que não podiam trazer todos sem muito risco e suas pessoas se embrenharam numa gran<strong>de</strong> mata e mataram os cavalos para não rincharem, e aos dois marinheiros cortaram as cabeças, que trouxeram, e ao piloto, <strong>de</strong>pois da terra segura e as irmanda<strong>de</strong>s idas, trouxeram andando <strong>de</strong> noite com anzolos na boca, por não falar e vieram com ele a Évora, on<strong>de</strong> 116