Prosa 1 - Academia Brasileira de Letras
Prosa 1 - Academia Brasileira de Letras
Prosa 1 - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O sigilo nos Descobrimentos<br />
mo-nos agora aptos a compreen<strong>de</strong>r”, diz Jayme Cortesão, “no seu oculto significado,<br />
os respectivos erros <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> dos lugares <strong>de</strong> África, cuidadosamente<br />
consignados, por um dos Colombos, nas suas notas, como resultado <strong>de</strong> observação<br />
da altura do Sol ao meio-dia, pelos portugueses.” O Príncipe Perfeito<br />
enganara Colombo, no que fizera muito bem. É provável que hoje, americanos,<br />
ingleses, franceses, russos e alemães, tenham sido, também, enganados, e<br />
continuem se enganando uns aos outros. O esforço que os portugueses haviam<br />
feito, o custo elevado das pesquisas, com todas as dificulda<strong>de</strong>s do tempo, os<br />
progressos que haviam sido feitos, não <strong>de</strong>veriam ser malbaratados, notadamente<br />
na época em que os <strong>de</strong>scobrimentos garantiam a posse da terra.<br />
De todas essas consi<strong>de</strong>rações, verifica-se que Portugal seguiu uma política<br />
nacional <strong>de</strong> sigilo nos <strong>de</strong>scobrimentos, sonegando todas as informações que<br />
pu<strong>de</strong>ssem revelar aos castelhanos e aragoneses, súditos dos reis católicos, aos<br />
genoveses e venezianos, as informações que possuíam, os estudos que haviam<br />
feito, as pesquisas a que haviam chegado sobre as rotas marítimas, as terras das<br />
quais se imaginava virem a ter notícia. Era preciso <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses da nação<br />
portuguesa, <strong>de</strong> seu povo, <strong>de</strong> sua história e <strong>de</strong> sua vocação marítima e <strong>de</strong>scobridora.<br />
Vários historiadores não estão <strong>de</strong> acordo quanto à intensida<strong>de</strong> e constância<br />
da política do sigilo na era dos <strong>de</strong>scobrimentos. Não se vê, com igual medida<br />
<strong>de</strong> julgamento a importância do sigilo. O historiador Damião Peres não concorda,<br />
totalmente, com Jayme Cortesão, que foi o mais afirmativo <strong>de</strong>fensor da<br />
tese do sigilo nos <strong>de</strong>scobrimentos: “Em Portugal, as esferas governativas esforçaram-se<br />
por manter secretos os progressos da ciência astronaútica, o exato<br />
traçado das vias marítimas e o mundo <strong>de</strong> pormenores da navegação com que<br />
cada piloto, aumentando o seu saber pessoal, enriquecia simultaneamente o<br />
valor da classe. A extensão e intensida<strong>de</strong> das providências dirigidas a um tal<br />
fim são objeto <strong>de</strong> controvérsias, entre os autores que <strong>de</strong>ssa ‘política do sigilo’<br />
se têm ocupado. Jayme Cortesão, por exemplo, crê-a intensamente praticada já<br />
nos tempos do Infante Dom Henrique, e conta entre os reflexos <strong>de</strong>la certas<br />
anomalias perceptíveis, nos relatos das crônicas relativos à expansão ultramari-<br />
123