Revista O Economista Nº 17 - Julho de 2009 - corecon - sp

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Destaque Eduardo Pereira Nunes Há 30 anos de olho no Brasil Quase 30 anos no IBGE, sendo os últimos seis na presidência da instituição, conferiram a Eduardo Pereira Nunes sabedoria para afirmar que o País melhorou, especialmente quanto à inclusão no mercado de trabalho, mas que a injustiça social ainda é continental Tão versátil quanto o povo brasileiro - a quem estuda há 29 anos, desde que ingressou como funcionário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - é o atual presidente da instituição, Eduardo Pereira Nunes. À frente do instituto desde 2003, o economista carioca formado pela Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro (UFRJ) soma experiências pelos variados setores em que passou. Dentre eles, os departamentos de Geografia e de Agropecuária (DEGEO e DEA- GRO), na Coordenação dos Censos Econômicos e na chefia do Departamento de Contas Nacionais. Nesta última posição antes de assumir a presidência, coordenou Gervásio Baptista/ABr o projeto que tornou possível o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) dos estados, conhecido como Sistema de Contas Regionais, e que vem sendo publicado anualmente em conjunto com as secretarias de planejamento de cada uma das unidades da federação. Palestrante comfirmado no XVIII Congresso Brasileiro de Economia (CBE 6 julho 2009
2009), Nunes falará sobre o Censo 2010 com enfoque para “Economia brasileira pós-estabilização e retomada do crescimento: a urgência do resgate da dívida social”. Em entrevista a O Economista ele adianta algumas questões. O Economista - Quem são os brasileiros? Eduardo Pereira Nunes - (risos) A resposta é apenas um retrato prévio, finalizado o Censo 2010 teremos dados mais concretos, mas podemos dizer que o “brasileiro” não é um grupamento social e antropológico único. Em nossa sociedade há alguns grupos marcantes em todas as regiões do País, relacionados à ocupação do território com ascendência tanto europeia, como africana e indígena. Esta última, do ponto de vista quantitativo, tem uma representação pequena: menos de um milhão em um universo de 190 milhões de habitantes. Há, também, um contingente enorme de pardos, que de maneira nenhuma podem ser associados ou confundidos somente com descendentes de negros. Eles correspondem a um grupo resultante da união de negros e brancos, brancos e índios, índios e negros, além da miscigenação com outras populações como os asiáticos. O Economista - Qual a relação de sua palestra com o CBE 2009? Nunes - Desde 2000, quando realizamos o último Censo, mantivemos a continuidade da estabilização da economia, inclusive com o controle da inflação. Por outro julho 2009 lado, fatores nacionais e internacionais colaboraram para que nossa economia acelerasse seu ritmo de crescimento. Paralelamente, o mercado de trabalho se sofisticou e absorveu mais pessoas com um nível de remuneração maior, o que resulta em melhores rendas. Isso nos posiciona entre as 10 maiores economias do mundo, mas quando falamos da distribuição dessa renda integramos a lista dos 70 piores. O Economista - Caminhamos para sermos um País mais justo? Nunes - Reduzimos a injustiça social medida pela concentração de renda, mas ela ainda é muito alta. Quanto à incorporação dessas pessoas, isso vem acontecendo há décadas, mesmo porque a população cresceu. Além disso, o ingresso de mais pessoas no mercado de trabalho tem duas características interessantes: a primeira é o crescimento mais do que proporcional de mulheres. A segunda é a exigência cada vez maior de qualificação e nível de instrução. Como disse anteriormente, há uma melhor remuneração, isso contribui para que a renda suba, porém, também contribui para a manutenção de certa disparidade de rendas entre os empregados no mercado de trabalho. O Economista - Quais outras novidades o Censo 2010 trará? Nunes - A taxa de crescimento da população vem caindo. Com mais pessoas envelhecendo, maior será o impacto econômico na previdência social. O Economista - Seremos um País idoso? Nunes - Diria que não será majoritariamente idoso, mas já é um País onde a longevidade da população está cada vez maior. Em alguns anos, o ritmo de crescimento do contingente de pessoas com mais de 60 anos será maior do que o de pessoas abaixo dos 15. Teremos mais indivíduos entrando na terceira idade do que nascendo. O Economista - Vamos nos aposentar mais tarde? Nunes - Provavelmente sim, mas quem pretende manter durante a aposentadoria o mesmo padrão que tinha em idade ativa irá trabalhar por mais tempo. Para que isso aconteça, no entanto, o sistema previdenciário precisa se adequar à nova realidade. Desde que foi criado, na década de 1940, no governo Getúlio Vargas, ele mudou pouco. O Economista - Essa população, no geral, ainda vive nas cidades ou está saindo das capitais? Nunes - Cerca de 85% da população brasileira vive em cidades. A urbanização é uma tendência irreversível. Há um dado importante da década atual que é a diminuição do ritmo de migração de pessoas de áreas rurais e pequenas cidades para centros urbanos, isso não quer dizer que as pessoas estejam fazendo o caminho contrário. De fato, o padrão de mobilidade e flutuação populacional em nosso território permanece, o que vai mudar daqui para frente é a velocidade com que isso acontece. 7
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