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Historia das estatisticas brasileiras v04 - Biblioteca - IBGE

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<strong>Historia</strong> <strong>das</strong><br />

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Estatisticas<br />

Brasileiras<br />

Neste sentido, a administração Kerstenetzky implementou no <strong>IBGE</strong> – e con-<br />

solidou nas agências de governo do País – o que Michel Foucault chama de um novo<br />

papel do intelectual. O “intelectual universal”, livre pensador e grande escritor, portador<br />

individual de uma mensagem de alcance universal e de valores em que todos<br />

podem se reconhecer, tão bem representado na geração de intelectuais da Era Vargas,<br />

cede lugar gradualmente ao “intelectual específi co”, a partir da Segunda Guerra<br />

Mundial. Este último desempenharia um papel de cientista perito, ao deter um saber<br />

técnico sobre um determinado objeto, com base no aprofundamento da relação entre<br />

técnica e ciência, que contaria com o megafi nanciamento do aparelho de Estado<br />

após a segunda grande guerra (FOUCAULT, 2000, p. 10-13).<br />

Com a consagração do “intelectual específi co” nos anos 1970, o <strong>IBGE</strong> viu<br />

aumentar o espaço entre os níveis da cadeia de produção estatística. Sociólogos e<br />

antropólogos, especialmente, eram profi ssões particularmente novas na Casa, e com<br />

uma função estritamente técnica: responder pela análise <strong>das</strong> categorias estatísticas,<br />

infl uindo em sua terminologia e delimitação conceitual e operacional, visando ao<br />

aprimoramento da precisão da pesquisa. Investigações qualitativas, de que o Estudo<br />

<strong>das</strong> informações não estrutura<strong>das</strong> do ENDEF é o melhor exemplo, também seriam<br />

leva<strong>das</strong> a cabo e orienta<strong>das</strong> por novas equipes de cientistas sociais, com o fi to de melhor<br />

prover as pesquisas primárias.<br />

O <strong>IBGE</strong> reformou suas linhas de trabalho às custas do ofício técnico, de<br />

pequenos astros em uma grande constelação que era, quando muito, orquestrada<br />

pelo seu presidente, também ele um técnico. Brilhante (ou quase) como a dos mestres<br />

fundadores, a gestão da reestruturação, no entanto, dela diferia radicalmente, ao<br />

menos quanto à inserção do profi ssional e ao modelo de investigação social que lhe<br />

inspiravam.<br />

Um modelo de investigação social para o novo <strong>IBGE</strong> deveria fi ncar raízes na<br />

tecnocracia informacional, que então nascia. Assumindo o papel de agente facilitador<br />

da inversão de capitais, o Estado demandava indicadores econômicos, para avaliar a<br />

performance de seus planos de metas e para orientar políticas econômicas. Corolário<br />

deste papel de fomentador da expansão econômica, ao Estado cabia, na associação<br />

ao capital monopolista, impulsionar o desenvolvimento de regiões estratégicas, tido<br />

como suporte às inversões de capital, criar uma estrutura adequada à produção, subordinada<br />

ao padrão de concentração oligopolítica. Esta tarefa a que o Estado se<br />

lançava, no entanto, não incluía o saneamento efetivo de problemas sociais ou a diminuição<br />

<strong>das</strong> disparidades regionais, mesmo que expressamente se dissesse o contrário.<br />

Como ilustração <strong>das</strong> prioridades da agenda de governo, temos a legenda de autoria<br />

do general-presidente Emílio Médici: “O povo vai mal, mas o Brasil vai bem”.<br />

Correndo por fora, o <strong>IBGE</strong> da refundação quis saber sobre o Brasil e sobre<br />

o seu povo. Ao modernizar sua pesquisa estatística e ao renovar e ampliar a competência<br />

técnica de seu quadro de pessoal, o novo Instituto pôde atender à demanda que<br />

se lhe impunha há tempos. A diversifi cação <strong>das</strong> estatísticas econômicas e deriva<strong>das</strong>,<br />

base para o novo planejamento, fora alcançada. Já era então possível saber se o Brasil<br />

O inventário do passado: Isaac Kerstenetzky e a refundação da memória do <strong>IBGE</strong><br />

Estatísticas formaliza<strong>das</strong> (c.1972–2002)

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