13.04.2013 Views

Historia das estatisticas brasileiras v04 - Biblioteca - IBGE

Historia das estatisticas brasileiras v04 - Biblioteca - IBGE

Historia das estatisticas brasileiras v04 - Biblioteca - IBGE

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

´<br />

<strong>Historia</strong> <strong>das</strong><br />

´<br />

Estatisticas<br />

Brasileiras<br />

com decisões e ações. Conheci, desse modo, quase todos os presidentes pelo nome<br />

completo, pelo primeiro nome, ou somente pelo sobrenome: Isaac, Jessé Montello,<br />

Bacha, Edson, Eurico, Simon e Besserman. Nunca perguntei o por que dessas escolhas<br />

denominativas. Fui assolado por uma série de siglas como ENDEF, PNAD, POF e<br />

ENCE que me perseguiam, assim como conheci localidades do Rio de Janeiro (Rua<br />

Equador, Av. Franklin Roosevelt, Av. Beira Mar, Mangueira). Me lembro também <strong>das</strong><br />

greves, <strong>das</strong> ameaças de demissão dos temporários, depois dos não-estáveis, e as crises<br />

políticas da instituição. Déca<strong>das</strong> depois, no ofício de cientista social, conheci pessoalmente<br />

alguns desses personagens – como professores, colegas ou amigos de amigos,<br />

mas continuei um pouco marcado por esses fragmentos. Como escreveu Torquato<br />

Neto, é a memória que suja a história, que enferruja o que passou....<br />

O debate em torno do problema da memória vem se constituindo, nos últimos<br />

anos, em foco privilegiado de atenção, seja do ponto de vista <strong>das</strong> ciências biológicas,<br />

seja <strong>das</strong> ciências humanas. Apesar disso, o campo de problemas a descoberto<br />

é, ainda, muito vasto. Em geral, a caracterização mais corrente de memória é como<br />

um mecanismo de registro e retenção, de depósito de informações, conhecimento,<br />

experiências. Com facilidade se passa para os produtos objetivos desse mecanismo. A<br />

memória aparece, então, como algo concreto, defi nido, cuja produção e acabamento<br />

se realizaram no passado e que se transporta para o presente. Ou ainda, que a memória<br />

corre o risco de se desgastar e por isso é que precisa ser preservada, mas também<br />

restaurada na sua integridade original. E que ela é vítima do esquecimento, pela ocultação,<br />

enreda-se em caminhos que não conduzem ao presente; portanto, tem que ser<br />

ativamente resgatada.<br />

No entanto, nem a memória pode ser confundida com seus vetores e referências<br />

objetivas, nem há como considerar que sua substância é redutível a um pacote<br />

de recordações, já previsto e acabado. Ao inverso, ela é um processo permanente de<br />

construção e reconstrução, um trabalho, como apontou Ecléa Bosi. 1 O esforço com<br />

que costumam investir grupos e sociedades para fi xá-la e assegurar-lhe estabilidade é,<br />

por si, indício de seu caráter fl uido e mutável. A memória de grupos e coletividades se<br />

organiza, reorganiza, adquire estrutura e se refaz, num processo constante, de feição<br />

adaptativa. A tradição – memória exteriorizada como modelo – nunca se refere a um<br />

corpo consolidado de crenças, normas, valores, referências defi ni<strong>das</strong> na sua origem<br />

passada, mas está sujeita permanentemente à dinâmica social. 2<br />

Muitas vezes, num uso mais comum, a memória aparece como enraizada no<br />

passado. Como aponta Meneses, a memória enquanto processo subordinado à dinâmica<br />

social desautoriza, seja a idéia de construção no passado, seja a de uma função<br />

de almoxarifado desse passado. 3 A elaboração da memória se dá no presente e para<br />

responder a solicitações do presente. É do presente sim, que a rememoração recebe<br />

1 Bosi, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1971.<br />

2<br />

3<br />

Hobsbawn, Eric; Ranger, Terence (Org.). A invenção <strong>das</strong> tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.<br />

Meneses, Ulpiano T. Bezerra. A história, cativa da memória? Para um mapeamento da memória no campo <strong>das</strong> Ciências Sociais. Revista<br />

do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 34, p. 9-24, 1992..<br />

Prefácio<br />

Estatísticas formaliza<strong>das</strong> (c.1972–2002)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!