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Terras e Fatos - Portal da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

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4 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Na fase <strong>da</strong> formação social <strong>do</strong>s agrupamentos humanos, quan<strong>do</strong> o homem passou <strong>de</strong> pastor a<br />

agricultor, vamos encontrar a origem <strong>da</strong> sesmaria, palavra que aceitamos como corruptela <strong>de</strong> semear.<br />

To<strong>da</strong>via, muitos a consi<strong>de</strong>ram oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> sesma, a sexta parte, porque na sua origem as sesmarias<br />

pagavam <strong>de</strong> pensão a sexta parte <strong>do</strong>s frutos <strong>da</strong> terra. Nas organizações econômicas <strong>do</strong>s mais antigos<br />

povos, como incentivo ao trabalho <strong>do</strong> campo, as terras <strong>de</strong> sesmaria só eram <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s aos capazes <strong>de</strong><br />

cultivá-las. Em Portugal, na forma <strong>da</strong>s Or<strong>de</strong>nações Afonsinas (Liv. 4 – tít. 43), as sesmarias não tinham<br />

outra finali<strong>da</strong><strong>de</strong> senão a <strong>da</strong> cultura <strong>do</strong>s campos, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s pelas aventuras <strong>da</strong>s guerras. Dom Afonso<br />

II (1211/1223) mostrou-se sábio ao resolver a grave crise <strong>do</strong> seu reino, quan<strong>do</strong> atraiu o homem,<br />

novamente, ao trabalho agrícola, <strong>do</strong>an<strong>do</strong>-lhe terras <strong>de</strong> sesmaria. Primitivamente, só ao rei competia<br />

nomear os sesmeiros. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos esta competência foi sen<strong>do</strong> atribuí<strong>da</strong> aos Conselhos, <strong>de</strong><br />

forma que aos poucos o Esta<strong>do</strong> passou a intervir nos negócios concernentes às sesmarias até chegar a<br />

uma intervenção absoluta. Des<strong>de</strong> então, ficaram sujeitas à inspeção <strong>do</strong>s almoxarifes e criaram-se ônus<br />

aos <strong>do</strong>natários além <strong>do</strong> direito reserva<strong>do</strong> ao rei <strong>de</strong> exercer o <strong>do</strong>mínio iminente em benefício <strong>da</strong><br />

comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> públicas. No Brasil, terras <strong>de</strong> sesmaria foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos <strong>do</strong>natários <strong>da</strong>s<br />

capitanias, esqueci<strong>do</strong>s, porém, já estavam os seus princípios fun<strong>da</strong>mentais e <strong>da</strong>í a pouca ou nenhuma<br />

vantagem trazi<strong>da</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s <strong>do</strong>natarias. Com o governa<strong>do</strong>res, que foram pródigos<br />

conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> terras, o pouco que se provi<strong>de</strong>nciou teve caráter administrativo-judiciário, apenas. Muito<br />

tar<strong>de</strong>, no Brasil, procurou-se corrigir os erros e regulamentar com acerto sobre as sesmarias, e só em<br />

1795, pelo alvará <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> outubro, estabeleceu-se um novo regimento. Por fim, com o aban<strong>do</strong>no <strong>da</strong>s<br />

terras, que foram sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>s e povoa<strong>da</strong>s, extinguiram-se naturalmente as antigas sesmarias.<br />

Os atos administrativos pratica<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-as extintas, fun<strong>da</strong>mentaram-se na Or<strong>de</strong>m Régia <strong>de</strong> 16<br />

<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1662, e firma<strong>do</strong>s, portanto, na or<strong>de</strong>nação supressiva, revogável e intransferível por<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Além disto, o título <strong>da</strong> sesmaria obrigava o aproveitamento <strong>da</strong>s terras pela cultura,<br />

e queria nas mesmas a residência <strong>do</strong>s concessionários – o que muito pouco aconteceu no Brasil.<br />

<strong>Terras</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Extenso território, entre as capitanias <strong>de</strong> Porto Seguro e <strong>do</strong> Espírito Santo, ao norte, e a <strong>de</strong> São<br />

Vicente, ao sul, compreen<strong>de</strong>u a capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e nesse território, em cerca <strong>de</strong> mil<br />

quilômetros quadra<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> <strong>do</strong>nataria <strong>de</strong> Martim Afonso <strong>de</strong> Souza, está assente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, cuja fun<strong>da</strong>ção, em 1565, por Estácio <strong>de</strong> Sá, em nome <strong>do</strong> rei <strong>de</strong> Portugal, obe<strong>de</strong>ceu na<br />

or<strong>de</strong>m política e econômica ao processo histórico <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s portuguesas.<br />

À margem oci<strong>de</strong>ntal <strong>da</strong> baía <strong>de</strong> Guanabara espraiou-se a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, guarneci<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

montanhas, umas distancia<strong>da</strong>s e outras próximas, num conjunto alcantila<strong>do</strong> e encanta<strong>do</strong>r. A planície<br />

on<strong>de</strong> repousa, no seu aspecto primitivo, apresentava aci<strong>de</strong>ntes curiosos, com os extensos mangues, as<br />

gran<strong>de</strong>s e pequenas lagoas <strong>de</strong> águas <strong>do</strong>ces e salga<strong>da</strong>s, marnéis e terras enxutas cobertas <strong>de</strong> mata espessa.<br />

O litoral <strong>de</strong> recôncavos pitorescos e belas praias.<br />

As terras <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s à Câmara, em 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1565 e 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1567, constituíram os bens<br />

próprios <strong>do</strong> seu patrimônio e os bens <strong>do</strong> uso comum, regen<strong>do</strong>-se pelas regras (título 46, Livro 1º) <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>nação Manoelina. Das duas cita<strong>da</strong>s <strong>do</strong>ações <strong>de</strong>riva-se o direito <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao senhorio<br />

direto a uma gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. É certo, porém, que<br />

nesse mesmo chão se fez sentir o <strong>do</strong>mínio particular, por ocupação intrusa. Esse fato chegou a causar<br />

clamor público e levou o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a tomar enérgicas providências contra os intrusos, muitos<br />

<strong>do</strong>s quais se <strong>de</strong>cidiram a legalizar a situação. Também, ain<strong>da</strong> é certo a ausência até hoje <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong><br />

completo, consciencioso e perfeitamente <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>, que prove a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio particular<br />

no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. * No Parcelamento Ca<strong>da</strong>stral <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>, <strong>de</strong> 1914, está dito que é impossível<br />

conhecer, positivamente, <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio direto exerci<strong>do</strong> por instituições, nota<strong>da</strong>mente as religiosas, pela<br />

ausência <strong>de</strong> fontes <strong>do</strong>cumentárias que mereçam fé. Não se <strong>de</strong>ve ocultar, outrossim, que as contestações<br />

aos direitos <strong>do</strong>minicais <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> fizeram-se sentir mais constantes e fortes <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> incêndio<br />

<strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1790, e que os contestantes eram po<strong>de</strong>rosos e ricos,<br />

* Parece-me que Restier Gonçalves <strong>de</strong>sconhecia <strong>do</strong>is importantes trabalhos que tratam <strong>de</strong>ssa questão <strong>da</strong>s sesmarias e terras públicas: a) “Tombo <strong>da</strong>s<br />

terras municipais”, <strong>do</strong> verea<strong>do</strong>r Roberto Ha<strong>do</strong>ck Lobo, publica<strong>da</strong> em 1860; b) “A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e seu termo: ensaio urbanológico”, <strong>do</strong><br />

engenheiro João <strong>da</strong> Costa Ferreira, publica<strong>do</strong> em 1933. (N.C.)

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