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Terras e Fatos - Portal da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

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C I DA D E D E S Ã O S E B A S T I Ã O D O R I O D E J A N E I RO<br />

T E R R A S E F A T O S


P R E F E I T U R A D A CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

Cesar Maia<br />

S E C R E TA R I A M U N I C I PA L DAS CULT U R A S<br />

R i c a r<strong>do</strong> Macieira<br />

ARQUIVO GERAL D A CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

Antonio Carlos Austregésilo <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong><br />

DIVISÃO DE P E S Q U I S A<br />

Sandra Hort a<br />

CONSELHO EDITO R I A L<br />

Antonio Carlos Austregésilo <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong> (pre s i d e n t e )<br />

Afonso Carlos Marques <strong>do</strong>s Santos (in memoriam)<br />

André Luiz Vieira <strong>de</strong> Campos<br />

Antonio To rre s<br />

Carlos Lessa<br />

Eliana Rezen<strong>de</strong> Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça<br />

Franco Paulino<br />

Jaime Larry Benchimol<br />

Lana Lage <strong>da</strong> Gama Lima<br />

Luciano Raposo <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Figueire d o<br />

Maurício Abre u<br />

P e d ro Lessa<br />

Sandra Hort a<br />

Vera Lins


C I DA D E D E S Ã O S E B A S T I Ã O D O R I O D E J A N E I RO<br />

T E R R A S E F A T O S<br />

A u r e l i a n o R e s t i e r G o n ç a l v e s<br />

E d i ç ã o c o m e m o r a t i v a d o s 11 0 a n o s d o<br />

A r q u i v o G e r a l d a C i d a d e d o R i o d e J a n e i ro<br />

2 0 0 4<br />

P R E F E I T U R A D A CIDADE DO RIO JANEIRO<br />

S E C R E TA R I A DAS CULT U R A S<br />

ARQUIVO GERAL D A CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

DIVISÃO DE PESQUISA


COLEÇÃO MEMÓRIA C A R I O C A<br />

VOLUME 04<br />

© 2004 by Aureliano Restier Gonçalves<br />

D i reitos <strong>de</strong>sta edição re s e r va<strong>do</strong>s ao Arquivo Geral <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>da</strong> Secretaria Municipal <strong>da</strong>s Culturas.<br />

P roibi<strong>da</strong> a re p rodução, total ou parcial, e por qualquer meio, sem expressa autorização.<br />

Printed in Brasil – Impresso no Brasil<br />

ISBN: ??????????<br />

O rganização e edição<br />

Sandra Hort a<br />

C o - o rg a n i z a d o re s<br />

Ana Lucia Eppinghaus Bulcão<br />

A l b e rto Taveira<br />

Eulalia Junqueira<br />

Maria Celia Fern a n d e s<br />

A p re s e n t a ç ã o<br />

N i reu Cavalcanti<br />

P reparação <strong>do</strong>s textos<br />

Sandra Hort a<br />

Paulo Roberto Araújo <strong>do</strong>s Santos<br />

Glossário, quadro <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros e notas históricas<br />

A l b e rto Ta v e i r a<br />

Eulalia Junqueira<br />

Maria Celia Fern a n d e s<br />

Biografia <strong>do</strong> autor<br />

Ana Lucia Eppinghaus Bulcão<br />

Transcrição paleográfica <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />

Gracil<strong>da</strong> Alves<br />

O rganização <strong>da</strong> bibliografia<br />

Elza Elena Pinheiro <strong>do</strong>s Santos<br />

Ficha c atalográ fica<br />

R e p rodução fotográfica <strong>da</strong>s imagens<br />

M a rco Bellandi<br />

Estagiários <strong>do</strong> laboratório <strong>de</strong> fotografia<br />

João Barbosa, Fabrine Mazelli, Ronald Nunes<br />

Digitalização <strong>da</strong>s imagens<br />

Carlos Henrique Bern a rd o<br />

Revisão <strong>de</strong> texto<br />

André Te l l e s<br />

P rojeto gráfico e tratamento <strong>de</strong> imagens<br />

6D Estúdio : Beto Mart i n s<br />

C o l a b o r a d o re s<br />

Domícia Gomes<br />

Clei<strong>de</strong> Ferraz Frazão<br />

Junia Gomes <strong>da</strong> Costa Guimarães e Silva<br />

E rcília Severina Men<strong>do</strong>nça<br />

Regina Vilma Guilliod<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia <strong>de</strong> Mattos<br />

Rogério Rodriguez Fernan<strong>de</strong>z Filho<br />

Rosa Maria Dias<br />

Sonia Maria Magalhães Neto<br />

C o n s u l t o r i a<br />

Diva Graciosa<br />

Gonçalves, Aureliano Restier, 1881-1967 G635<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: terras e fatos / Aureliano Restier Gonçalves. – <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>:<br />

Secretaria Municipal <strong>da</strong>s Culturas, Arquivo Geral <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 2004.<br />

404p., il. – (Coleção Memória Carioca, vol.4)<br />

1. Aforamento – <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>(RJ). 2. <strong>Terras</strong> públicas – <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>(RJ). 3. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>(RJ) – História.<br />

I. Arquivo Geral <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. II.Título. III. Série.<br />

CDD 346.044<br />

CDU 333.1(815.41)<br />

ARQUIVO GERAL D A CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

Rua Amoroso Lima, 15, Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova.<br />

2 0 2 11-120 – <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – RJ<br />

Telefax: (21) 2273-4582 / 2273-3141<br />

E-mail – arquivog@pcrj.rj.gov. b r<br />

Site: www. r i o . r j . g o v. / a r q u i v o


s/a, s/d. Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma.


Augusto Malta, s/d. Paço Municipal.


Se pensarmos na herança e nas tradições que formam e conformam o espírito e o ser carioca,<br />

estaremos falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um patrimônio que nos singulariza mas, ao mesmo tempo, nos torna<br />

parte integrante <strong>da</strong> Nação brasileira. Patrimônio que foi construí<strong>do</strong>, preserva<strong>do</strong> e lega<strong>do</strong>,<br />

através <strong>do</strong>s séculos, às gerações subseqüentes e que nos permite saber hoje quem somos, a<br />

partir <strong>do</strong> conhecimento que acumulamos <strong>do</strong> que já fomos no passa<strong>do</strong>.<br />

No entanto, esse conhecimento seria impossível se homens e mulheres <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os tempos<br />

não se tivessem preocupa<strong>do</strong> em guar<strong>da</strong>r, cui<strong>da</strong>r e conservar para o futuro parte <strong>do</strong> que foi<br />

cria<strong>do</strong>, ergui<strong>do</strong> e <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelas populações que viveram no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />

fun<strong>da</strong>ção, por Estácio <strong>de</strong> Sá, em 1565, até os dias atuais.<br />

Lutan<strong>do</strong> primeiro para conquistar a terra, nela fixar-se e sobreviver, posteriormente para vêla<br />

crescer e prosperar, os cariocas foram edifican<strong>do</strong> um significativo patrimônio, <strong>do</strong> qual,<br />

apesar <strong>do</strong> esforço <strong>de</strong> muitos abnega<strong>do</strong>s, muito se per<strong>de</strong>u <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às invasões estrangeiras, a<br />

incêndios aci<strong>de</strong>ntais e criminosos, a intervenções urbanísticas <strong>de</strong>sastrosas e mesmo à incúria,<br />

in<strong>do</strong>lência ou <strong>de</strong>scaso <strong>de</strong> seus administra<strong>do</strong>res e <strong>de</strong> seus ci<strong>da</strong>dãos.<br />

Atualmente, existe maior conscientização sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se preservar os símbolos,<br />

os valores e os bens culturais <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

E por compartilhar a noção <strong>de</strong> que o inventário <strong>da</strong>s fontes <strong>do</strong>cumentais produzi<strong>da</strong>s pela<br />

administração pública constitui uma iniciativa <strong>da</strong> maior importância não só para preencher<br />

lacunas na nossa História, mas também para fornecer ao gestor público instrumentos e<br />

informações que o aju<strong>de</strong>m a planejar e <strong>de</strong>finir políticas para a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, é que nos<br />

preocupamos em <strong>do</strong>tar o Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mecanismos que possibilitam i<strong>de</strong>ntificar e<br />

recolher os <strong>do</strong>cumentos gera<strong>do</strong>s pelos órgãos municipais e <strong>da</strong>r um tratamento condigno a seu<br />

acervo.<br />

A lei 3404, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2002, que instituiu a “Política Municipal <strong>de</strong> Arquivos Públicos<br />

e Priva<strong>do</strong>s” e o <strong>de</strong>creto nº 20.113, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2001, que criou o “Sistema <strong>de</strong> Memória<br />

<strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>” conferiram ao órgão prerrogativas que o capacitam a orientar, coor<strong>de</strong>nar e<br />

executar uma política abrangente <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong>cumental e, conseqüentemente, <strong>de</strong><br />

manutenção <strong>da</strong> memória.<br />

As <strong>da</strong>tas comemorativas constituem excelente oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>de</strong>spertar a atenção <strong>do</strong><br />

ci<strong>da</strong>dão e <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>res sobre o fato ou acontecimento que está sen<strong>do</strong> celebra<strong>do</strong>.<br />

Assim, a publicação <strong>de</strong>ste livro, nas comemorações <strong>do</strong>s 110 anos <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, constitui um atesta<strong>do</strong> <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> pesquisa, <strong>do</strong> acesso e divulgação <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>cumentos para a análise, interpretação e compreensão <strong>do</strong> nosso passa<strong>do</strong>.<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong>, mais <strong>do</strong> que um título que<br />

enriquece a literatura especializa<strong>da</strong> sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, é um tributo que se presta a um antigo<br />

funcionário <strong>do</strong>s quadros <strong>da</strong> instituição, Aureliano Restier Gonçalves, pesquisa<strong>do</strong>r obstina<strong>do</strong><br />

e apaixona<strong>do</strong> pelo <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

CESAR MAIA<br />

P refeito <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>


Augusto Malta, 31/8/1920. Morro <strong>do</strong> Castelo.


Esta edição comemorativa <strong>do</strong>s 110 anos <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> vem aten<strong>de</strong>r a uma<br />

reivindicação antiga <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res e estudiosos <strong>da</strong> história <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Obra que<br />

<strong>de</strong>screve a trajetória <strong>do</strong>s principais e mais tradicionais logra<strong>do</strong>uros <strong>de</strong> nossa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a sua abertura até a época em que o livro foi escrito (1949/1964); os diferentes nomes que<br />

essas ruas adquiriram com o passar <strong>do</strong>s séculos; a origem, muitas vezes curiosa, <strong>de</strong>ssas<br />

<strong>de</strong>nominações; as querelas que se estabeleceram entre a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que reivindicava o<br />

senhorio <strong>da</strong>s terras, e os posseiros; os instrumentos legais e as artimanhas <strong>de</strong> to<strong>da</strong> sorte que<br />

acabavam por garantir aos legítimos <strong>do</strong>nos ou aos usurpa<strong>do</strong>res a posse <strong>do</strong>s terrenos.<br />

Minuciosa <strong>de</strong>scrição elabora<strong>da</strong> durante 15 anos, presta um serviço inestimável àqueles que<br />

buscam explicar como a nossa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> surgiu, cresceu e se expandiu.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong>ria haver melhor escolha para comemorar uma <strong>da</strong>ta tão auspiciosa<br />

<strong>do</strong> que a publicação <strong>de</strong> um livro escrito por um funcionário <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> o<br />

zelo <strong>de</strong> um servi<strong>do</strong>r não só com a <strong>do</strong>cumentação que estava sob seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, procuran<strong>do</strong><br />

reunir e sistematizar <strong>da</strong><strong>do</strong>s que po<strong>de</strong>riam per<strong>de</strong>r-se com o passar <strong>do</strong> tempo, como a vocação<br />

<strong>de</strong> investiga<strong>do</strong>r criterioso e atento – ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro garimpeiro em busca <strong>da</strong>s gemas preciosas –,<br />

que resultou neste belo livro.<br />

E não por acaso, mas por ter freqüenta<strong>do</strong> muitos arquivos, Aureliano Restier Gonçalves faz,<br />

no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> narrativa, inúmeras referências às dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se antepunham ao trabalho<br />

<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, empecilhos coloca<strong>do</strong>s por aten<strong>de</strong>ntes pouco atenciosos, que o impediam <strong>de</strong><br />

consultar os <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> que necessitava para corroborar suas análises, o <strong>de</strong>saparecimento<br />

<strong>de</strong> séries <strong>do</strong>cumentais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor ou mesmo o esta<strong>do</strong> lamentável em que se encontravam<br />

muitas <strong>da</strong>s fontes consulta<strong>da</strong>s, tornan<strong>do</strong> impossível <strong>de</strong>cifrar o que ali <strong>de</strong>ixaram escrito os<br />

nossos antepassa<strong>do</strong>s.<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong> é uma obra que não po<strong>de</strong><br />

faltar na estante <strong>do</strong>s aficciona<strong>do</strong>s pela história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> gente carioca, mas traz também<br />

uma inegável lição para to<strong>do</strong>s os que se preocupam com a preservação <strong>da</strong> memória: a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> vital <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong>s arquivos públicos e <strong>do</strong>s seus acervos, torná-los acessíveis a<br />

to<strong>do</strong>s, sem nenhuma espécie <strong>de</strong> interdito, tornan<strong>do</strong> transparentes os atos <strong>da</strong> administração<br />

pública e facilitan<strong>do</strong> ao ci<strong>da</strong>dão a comprovação <strong>de</strong> seus direitos.<br />

Temos trabalha<strong>do</strong> com afinco para que o Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> preencha esses requisitos e seja<br />

ca<strong>da</strong> vez mais o Arquivo <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão carioca, cumprin<strong>do</strong> a sua missão <strong>de</strong> colocar ao alcance<br />

<strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte, <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, <strong>do</strong>s amantes <strong>da</strong>s coisas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> material <strong>de</strong> referência para<br />

estu<strong>do</strong>, para simples <strong>de</strong>leite ou, quem sabe, um estímulo para a formação <strong>de</strong> futuros<br />

historia<strong>do</strong>res e arquivistas que, como Restier Gonçalves, não <strong>de</strong>ixarão que a memória se<br />

esvaneça nos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> armários e gavetas.<br />

RICARDO MACIEIRA<br />

S e c retário Municipal <strong>da</strong>s Culturas


P R E F Á C I O<br />

Em boa hora, o Arquivo Geral <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> publica o original manuscrito <strong>de</strong><br />

Aureliano Restier Gonçalves – antigo funcionário <strong>de</strong>ssa instituição –, guar<strong>da</strong><strong>do</strong>, como jóia<br />

que é, no cofre, e <strong>de</strong> acesso muito restrito à consulta. Com essa publicação, o AGCRJ retoma<br />

a prática <strong>de</strong> seus antigos dirigentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratizar seu acervo, incentiva seus funcionários<br />

à produção <strong>de</strong> textos sobre a <strong>do</strong>cumentação <strong>da</strong> instituição, e contribui para a pesquisa sobre<br />

a história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Feliz iniciativa toma<strong>da</strong> bem no ano <strong>de</strong> comemorações <strong>de</strong> 110 anos <strong>de</strong><br />

existência <strong>do</strong> AGCRJ. Iniciativa que vem se somar à <strong>do</strong> prefeito Alaor Prata (16/11/1922 a<br />

1 5 / 11/1926), pois foi em seu governo que, em 1925, se publicou o trabalho <strong>de</strong> Restier<br />

Gonçalves intitula<strong>do</strong> Índices e Extratos <strong>do</strong> A rchivo Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

A presente obra, que Restier Gonçalves nomeou Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

– <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong> e que <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1949, foi escrita em sete ca<strong>de</strong>rnos; talvez por isso tenha si<strong>do</strong><br />

concluí<strong>da</strong> pelo próprio autor em outra <strong>da</strong>ta: 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1963. Provavelmente planejava<br />

ele publicá-la em 1949, mas não concretizou seu sonho, felizmente realiza<strong>do</strong>, com atraso <strong>de</strong><br />

54 anos. Portanto, <strong>de</strong>vemos ler essa obra <strong>de</strong> Restier Gonçalves contextualiza<strong>da</strong> em seu<br />

tempo, relevan<strong>do</strong> as limitações, fruto <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que o <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> funcionário público<br />

<strong>de</strong>ve ter enfrenta<strong>do</strong> para produzi-la.<br />

Para esse seu novo trabalho, o autor utiliza fartamente a <strong>do</strong>cumentação que usou no anterior,<br />

acrescentan<strong>do</strong>-lhe muitas outras e avançan<strong>do</strong> na proposta <strong>do</strong> texto. Agora não se trata<br />

simplesmente <strong>de</strong> um “extrato” <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos; é um texto <strong>de</strong> historia<strong>do</strong>r-cronista sobre a<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. “Historia<strong>do</strong>r” forma<strong>do</strong> na pesquisa <strong>do</strong>cumental primária que<br />

compilou, analisou e que também encontrou em muitos outros arquivos que não apenas o <strong>do</strong><br />

AGCRJ on<strong>de</strong> era servi<strong>do</strong>r responsável pela organização <strong>do</strong> acervo. Quem hoje for pesquisar<br />

no AGCRJ irá encontrar a assinatura <strong>de</strong> Restier Gonçalves em inúmeros <strong>do</strong>cumentos<br />

cataloga<strong>do</strong>s por ele.<br />

Portanto, a sua “História” é calca<strong>da</strong> nas pesquisas realiza<strong>da</strong>s, principalmente, no A r q u i v o<br />

Nacional, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na Biblioteca Nacional, no<br />

Arquivo Judiciário, e na leitura <strong>do</strong>s principais autores que trataram <strong>da</strong> história brasileira e<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>, em especial Oliveira Lima, Francisco A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen, Max Fleiuss,<br />

Gastão Cruls, Cônego Pinheiro, Simão <strong>de</strong> Vasconcelos, Roberto Southy, Luiz Gonçalves<br />

<strong>do</strong>s Santos (Padre Perereca), Baltazar <strong>da</strong> Silva Lisboa, Vieira Fazen<strong>da</strong>, Noronha Santos,<br />

José <strong>de</strong> Souza Azeve<strong>do</strong> Pizarro e Araújo, este, entre to<strong>do</strong>s, o mais cita<strong>do</strong> (M e m ó r i a s<br />

históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>) .<br />

Restier Gonçalves limitou espacialmente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>, sobre a qual iria tratar em sua<br />

história, principalmente, à área central, expandin<strong>do</strong>-a para os atuais bairros <strong>do</strong> Catumbi,<br />

Estácio, Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, Saú<strong>de</strong> e Gamboa, e para a direção Sul aos bairros <strong>da</strong> Lapa, Santa<br />

Tereza, Glória, Catete, Flamengo, Laranjeiras, Cosme Velho, Botafogo, Humaitá, Lagoa<br />

Rodrigo <strong>de</strong> Freitas e Copacabana. Em geral a<strong>do</strong>ta um esquema: para to<strong>do</strong>s os bairros traça<br />

um breve histórico, estu<strong>da</strong> os respectivos logra<strong>do</strong>uros levantan<strong>do</strong> minuciosamente os<br />

imóveis <strong>da</strong> área e seus proprietários. O autor faz ain<strong>da</strong> estu<strong>do</strong>s gerais sobre a história <strong>da</strong><br />

região <strong>da</strong> Guanabara anterior à fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> e sobre a ocupação <strong>do</strong>s franceses<br />

<strong>da</strong> França Antártica e as ações luso-brasileiras para expulsá-los <strong>da</strong> região. Discorre com certa<br />

<strong>de</strong>senvoltura sobre a questão <strong>da</strong>s sesmarias (legislação e sua aplicação no caso <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>), sobre os terrenos <strong>de</strong> Marinhas e sobre a história <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> iluminação<br />

pública na urbe carioca.


É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que falta à obra <strong>de</strong> Restier Gonçalves melhor sistematização e a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> regras<br />

apropria<strong>da</strong>s à escrita <strong>de</strong> história urbana. Cabe ao leitor reconhecer o valor <strong>de</strong>ste trabalho<br />

sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, aproveitar as volumosas e varia<strong>da</strong>s informações inéditas que soube incorporar<br />

a seu estu<strong>do</strong>. Nele, o leitor encontrará, além <strong>do</strong> histórico <strong>de</strong> muitos imóveis importantes <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como o <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Seco, <strong>do</strong> prédio <strong>do</strong> antigo Arquivo Nacional<br />

e <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais que formam o quadrilátero <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, uma crítica <strong>do</strong> autor à<br />

arquitetura <strong>do</strong> atual Palácio Duque <strong>de</strong> Caxias (prédio tomba<strong>do</strong>).<br />

Enfim, a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong> permanecerá uma<br />

fonte indispensável a to<strong>do</strong> aquele que se interessa pelo estu<strong>do</strong> histórico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Portanto, as “Notas” que faço, ao longo <strong>do</strong> texto, visam apenas a aju<strong>da</strong>r o leitor a<br />

melhor entendê-lo.<br />

NIREU CAVA L C A N T I (<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2003)<br />

P rofessor e arquiteto – Escola <strong>de</strong> A rquitetura e Urbanismo <strong>da</strong> UFF<br />

Imagem 11 – s/a, s/d. Praça José <strong>de</strong> Alencar.<br />

Além <strong>do</strong> monumento ao escritor, <strong>de</strong>staca-se o Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros, já <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>, on<strong>de</strong><br />

residiram ou se hospe<strong>da</strong>ram várias personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s importantes, inclusive o sena<strong>do</strong>r gaúcho,<br />

Pinheiro Macha<strong>do</strong>, assassina<strong>do</strong> no saguão <strong>do</strong> prédio.


N O TA S D O E D I TO R<br />

Publicar este livro significa concretizar um antigo anseio <strong>do</strong>s funcionários <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, por inúmeras razões. Há muito tempo, os manuscritos originais encontravam-se<br />

encerra<strong>do</strong>s no cofre <strong>da</strong> instituição, fato que, se lhes conferia o estatuto <strong>de</strong> obra rara, dificultava<br />

que pesquisa<strong>do</strong>res, estu<strong>da</strong>ntes e interessa<strong>do</strong>s na história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> tivessem<br />

acesso às informações preciosas, amealha<strong>da</strong>s por Aureliano Restier Gonçalves ao longo <strong>de</strong> uma<br />

vi<strong>da</strong> totalmente <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à pesquisa.<br />

Esta obra resulta <strong>de</strong> meticulosas investigações em acervos <strong>do</strong>cumentais <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>mais instituições afins, sedia<strong>da</strong>s no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Trata-se <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> um antigo<br />

funcionário público <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e, como tal, representa a luta cotidiana <strong>de</strong> quantos<br />

li<strong>da</strong>m com a preservação <strong>da</strong> memória no país, sob condições adversas já por <strong>de</strong>mais conheci<strong>da</strong>s<br />

e divulga<strong>da</strong>s. Se, por um la<strong>do</strong>, os obstáculos, muitas vezes, acarretam per<strong>da</strong>s lastimáveis, por<br />

outro, constituem <strong>de</strong>safios que acabam por revelar o espírito empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r e criativo <strong>de</strong><br />

administra<strong>do</strong>res, especialistas, intelectuais e técnicos, quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> restaurar, resguar<strong>da</strong>r e<br />

proteger o nosso patrimônio.<br />

A edição <strong>de</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong> constitui, portanto,<br />

uma vitória <strong>do</strong> quadro funcional <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um esforço coletivo,<br />

m u l t i d i s c i p l i n a r, <strong>da</strong> reunião <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> conhecimentos específicos, advin<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

formação acadêmica e técnica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um; <strong>de</strong> muita paixão e persistência para que esse lega<strong>do</strong><br />

não se per<strong>de</strong>sse ou permanecesse recluso e pu<strong>de</strong>sse chegar a um público mais amplo,<br />

encontran<strong>do</strong> seu lugar nas bibliotecas e nas livrarias, ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mais qualifica<strong>da</strong>s análises que<br />

engran<strong>de</strong>cem a literatura especializa<strong>da</strong> sobre o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

A oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para o tratamento <strong>do</strong>s originais com vistas à publicação veio no bojo <strong>da</strong>s<br />

comemorações <strong>do</strong>s 110 anos <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, ao iniciarmos a tarefa <strong>de</strong> digitar os<br />

sete ca<strong>de</strong>rnos manuscritos, nos <strong>de</strong>paramos com a gran<strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trazer a público<br />

uma obra seminal no senti<strong>do</strong> <strong>da</strong>s informações que contém. A partir <strong>de</strong>ssa constatação, seguiramse<br />

as discussões <strong>de</strong> como apresentá-la, tiran<strong>do</strong> o melhor parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>. Chegamos à<br />

conclusão <strong>de</strong> que seriam necessárias algumas pequenas intervenções, exigências <strong>da</strong>s técnicas<br />

contemporâneas <strong>de</strong> editoração. Acréscimos também <strong>de</strong>veriam ser introduzi<strong>do</strong>s para auxiliar<br />

estu<strong>da</strong>ntes e pesquisa<strong>do</strong>res iniciantes, a quem a obra é também dirigi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>mocratizan<strong>do</strong> o seu<br />

acesso. Obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> ao princípio <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> aos manuscritos, fizemos algumas pequenas<br />

alterações, sempre com o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> não <strong>de</strong>scaracterizar o texto, e que consi<strong>de</strong>ramos importante<br />

e s c l a r e c e r.<br />

De forma a tornar a leitura mais agradável, <strong>da</strong>r uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao relato e tornar eficiente a<br />

absorção <strong>do</strong>s conhecimentos difundi<strong>do</strong>s, transformamos em notas, sempre que possível, trechos<br />

biográficos os quais, <strong>do</strong> nosso ponto <strong>de</strong> vista, seccionavam o texto, dispersan<strong>do</strong> a atenção <strong>do</strong><br />

principal, e cujo <strong>de</strong>slocamento no corpo <strong>do</strong> livro não compromete o fio condutor <strong>da</strong> narrativa.<br />

Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>mos seguimento à proposta <strong>do</strong> próprio autor, que colocou em notas finais a maior<br />

parte <strong>da</strong>s biografias <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s cita<strong>da</strong>s no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> seu estu<strong>do</strong>, já que elas têm o papel<br />

<strong>de</strong> ilustrar o leitor, informan<strong>do</strong>-o sobre a vi<strong>da</strong> e obra <strong>de</strong> vultos <strong>da</strong> nossa história, mas não são<br />

imprescindíveis para o entendimento <strong>do</strong> tema.<br />

Atualizamos, em notas <strong>de</strong> pé-<strong>de</strong>-página, <strong>de</strong>nominações <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros e localizações <strong>de</strong><br />

instituições. Também aparecem em notas <strong>de</strong> pé-<strong>de</strong>-página, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s com as iniciais N.C., os<br />

comentários <strong>do</strong> prefacia<strong>do</strong>r, professor Nireu Cavalcanti, convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para apresentar este trabalho<br />

por ser exímio pesquisa<strong>do</strong>r e notório conhece<strong>do</strong>r <strong>da</strong> formação, evolução e expansão <strong>da</strong>s terras<br />

cariocas.<br />

Dentre as fotografias seleciona<strong>da</strong>s por Restier para ilustrar o livro, optamos por não incluir<br />

aquelas já veicula<strong>da</strong>s em outras publicações, portanto já muito contempla<strong>da</strong>s e conheci<strong>da</strong>s, <strong>de</strong><br />

maneira a <strong>de</strong>stacar a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ntre as que permaneceram.


Concomitantemente, selecionamos outras pertencentes ao acervo <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, para<br />

assegurar a distribuição equitativa <strong>da</strong>s imagens, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os assuntos menciona<strong>do</strong>s, uma<br />

vez que Restier privilegiou alguns temas e regiões com um número bem maior <strong>de</strong> ilustrações.<br />

Foram manti<strong>do</strong>s alguns <strong>do</strong>s croquis – encomen<strong>da</strong><strong>do</strong>s pelo autor ou elabora<strong>do</strong>s por ele para<br />

figurar no livro – <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> submeti<strong>do</strong>s a técnicas <strong>de</strong> higienização e restauração <strong>da</strong><strong>da</strong>s as<br />

condições precárias em que se encontravam –, pois os consi<strong>de</strong>ramos indispensáveis pelo<br />

ineditismo <strong>da</strong>s informações que contêm.<br />

Restier Gonçalves selecionou alguns <strong>do</strong>cumentos para ilustrar pendências com relação a<br />

heranças, pagamentos <strong>de</strong> foros e laudêmios e direitos <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, provi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> cópias<br />

cuja autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> foi atesta<strong>da</strong> por arquivistas. Nesse caso, mantivemos a ortografia <strong>da</strong> época,<br />

seguin<strong>do</strong> as normas <strong>da</strong> paleografia, e colocamos esses <strong>do</strong>cumentos nos apêndices. Serão <strong>de</strong><br />

muita utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para os que ain<strong>da</strong> não tiveram a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consultar fontes primárias e<br />

para os que se <strong>de</strong>dicam aos estu<strong>do</strong>s paleográficos. Também mantivemos a forma gráfica<br />

utiliza<strong>da</strong> pelo autor para expressar numerais e valores monetários.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista que esse livro foi inicia<strong>do</strong> na déca<strong>da</strong> 1940 e que Restier Gonçalves usou<br />

inúmeros termos extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos a que teve acesso, inclusive <strong>de</strong> origem jurídica,<br />

muitos atualmente em <strong>de</strong>suso ou emprega<strong>do</strong>s com outro significa<strong>do</strong>, elaboramos um Glossário<br />

para <strong>de</strong>finir a terminologia emprega<strong>da</strong>. O mesmo critério usamos com relação a instituições hoje<br />

extintas, existentes nos perío<strong>do</strong>s colonial e imperial, conceituan<strong>do</strong>-as nas Notas Históricas,<br />

segun<strong>do</strong> sua natureza, atribuições e alcance na época. Titulares e nobres <strong>do</strong> Brasil Colônia e <strong>do</strong><br />

Brasil Império, figuras <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na República, apenas menciona<strong>do</strong>s, foram incluí<strong>do</strong>s nas<br />

Notas Biográficas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a proposta original <strong>de</strong> Restier Gonçalves <strong>de</strong> apresentar<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que sobressaíram no cenário social, político e cultural brasileiro.<br />

Utilizan<strong>do</strong>-nos <strong>da</strong> mesma estratégia <strong>do</strong> autor, introduzimos o leitor nos meandros <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong><br />

priva<strong>da</strong> – embora muito não se tenha consegui<strong>do</strong> saber sobre ela –, e <strong>da</strong> sua trajetória<br />

profissional. Sem dúvi<strong>da</strong>, Aureliano Restier Gonçalves, no início mo<strong>de</strong>sto amanuense e,<br />

posteriormente, pesquisa<strong>do</strong>r e arquivista, mas sempre funcionário público mo<strong>de</strong>lo, é um org u l h o<br />

para a categoria, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> <strong>do</strong> que é capaz um profissional quan<strong>do</strong> imbuí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s melhores<br />

propósitos, extrapolan<strong>do</strong> suas obrigações rotineiras para concretizar seu objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar para<br />

a posteri<strong>da</strong><strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> peso.<br />

A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> tratar exaustivamente <strong>da</strong>s ruas <strong>do</strong> Centro <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>de</strong> alguns bairros <strong>da</strong><br />

Zona Sul – <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-nos <strong>da</strong>ta aproxima<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua abertura, nomean<strong>do</strong> os proprietários anteriores<br />

<strong>do</strong>s terrenos por on<strong>de</strong> foram assenta<strong>da</strong>s e as distintas <strong>de</strong>nominações que receberam –, algumas<br />

vias, travessas, becos e elementos <strong>da</strong> topografia carioca mereceram, por parte <strong>do</strong> autor, apenas<br />

referências, sem <strong>de</strong>talhamento, motivo pelo qual organizamos o Quadro <strong>de</strong> Logra<strong>do</strong>uros,<br />

<strong>de</strong>screven<strong>do</strong> sua localização e as diferentes nomenclaturas através <strong>do</strong>s tempos.<br />

Na transcrição <strong>da</strong>s informações reuni<strong>da</strong>s para os ca<strong>de</strong>rnos, Restier, por distração ou cansaço,<br />

omitiu algumas palavras que acrescentamos, colocan<strong>do</strong>-as entre parênteses, para <strong>de</strong>stacar sua<br />

inclusão. A bibliografia a que recorreu para escrever esta obra – livros e periódicos – foi por ele<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> somente por título e autor, exigin<strong>do</strong> consulta ao acervo bibliográfico <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a incluir editora, <strong>da</strong>ta e local <strong>de</strong> edição, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as normas prescritas<br />

pela A B N T, que a<strong>do</strong>tamos. Os títulos utiliza<strong>do</strong>s para consulta pelas equipes <strong>de</strong> editoração e<br />

pequisa, assim como as obras e artigos já publica<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Restier, encontram-se<br />

relaciona<strong>do</strong>s na Bibliografia.<br />

To<strong>da</strong>s essas medi<strong>da</strong>s foram efetua<strong>da</strong>s visan<strong>do</strong> a facilitar a leitura, <strong>de</strong>spertan<strong>do</strong> no leitor iniciante<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> prosseguir, evitan<strong>do</strong> obstáculos que possam <strong>de</strong>sestimulá-lo, e fornecen<strong>do</strong> aos<br />

estu<strong>da</strong>ntes material <strong>de</strong> consulta obrigatória, caso almejem enten<strong>de</strong>r o contexto temporal e<br />

espacial analisa<strong>do</strong>. Quanto aos pesquisa<strong>do</strong>res familiariza<strong>do</strong>s com esse universo, procuramos<br />

repassar na íntegra o objetivo <strong>de</strong> Restier ao escrever este livro, ou seja, <strong>da</strong>r conta, na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

sua formação, <strong>do</strong> seu potencial e <strong>do</strong>s recursos disponíveis, <strong>da</strong> evolução <strong>do</strong> patrimônio territorial<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, através <strong>da</strong> leitura exaustiva <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos. Esses cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s


editoriais absolutamente não <strong>de</strong>smerecem o trabalho, pelo contrário, <strong>de</strong>stacam a sua importância<br />

como obra <strong>de</strong> referência para estudiosos <strong>de</strong> um assunto que até hoje é polêmico, que <strong>de</strong>spertou<br />

e ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>sperta controvérsias, merecen<strong>do</strong> ter prosseguimento e <strong>da</strong>r origem a novas dissertações<br />

e teses <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>.<br />

Convém frisar que, até a conclusão <strong>de</strong>ssa obra, inicia<strong>da</strong> em 1947 e termina<strong>da</strong> em 1963 ou 1964<br />

–, já que o autor cita, em momentos distintos, as duas <strong>da</strong>tas como sen<strong>do</strong> os <strong>da</strong> sua finalização –,<br />

algumas <strong>da</strong>s principais fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>do</strong> município eram obti<strong>da</strong>s por meio <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong><br />

foros e laudêmios e <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção com a Décima Urbana, atual IPTU. O Imposto sobre Serviço<br />

(ISS), exclusivamente municipal, só foi cria<strong>do</strong> nos fins <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, <strong>da</strong>í a importância –<br />

aliás até hoje – <strong>do</strong> recebimento <strong>da</strong>queles impostos, justifican<strong>do</strong> a preocupação e as críticas <strong>de</strong><br />

Restier Gonçalves às usurpações <strong>de</strong> terras municipais e às invasões, que representaram sérias<br />

per<strong>da</strong>s para os cofres municipais e, indiretamente, para to<strong>da</strong> a população carioca.<br />

Este livro consiste, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma narrativa na qual os fatos, extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos,<br />

são enca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s cronologicamente e dispostos espacialmente, sem problematização, sem<br />

formulação <strong>de</strong> hipóteses ou cotejo <strong>de</strong> interpretações, que seriam espera<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um profissional<br />

<strong>do</strong> ramo. Desven<strong>da</strong>r a lógica interna <strong>de</strong> um <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s perguntas que lhe fazemos,<br />

<strong>da</strong> problemática que propomos e <strong>do</strong> instrumental científico que empregamos.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, e nem podia ser <strong>de</strong> outra forma, esta pesquisa não foi empreendi<strong>da</strong> com o rigor<br />

teórico-meto<strong>do</strong>lógico exigi<strong>do</strong> <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r, até porque Restier Gonçalves não o era. Porém,<br />

seus méritos são indiscutíveis, revelan<strong>do</strong>-se na pertinácia <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r que não se contenta<br />

com os ensaios <strong>de</strong> gabinete e busca, qual explora<strong>do</strong>r incansável, o seu tesouro no campo <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, se “a História é a disciplina <strong>do</strong> contexto e <strong>do</strong> processo”, como afirma E.P.<br />

Thompson, a não inserção <strong>do</strong>s acontecimentos em um quadro maior – fruto <strong>da</strong> articulação entre<br />

as condições sociais, econômicas, políticas, institucionais e mentais <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> situa<strong>da</strong><br />

em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tempo histórico –, atentan<strong>do</strong>-se para suas recíprocas articulações e<br />

correlações, acarretou distorções.<br />

Se Restier Gonçalves jamais teve a velei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> agir como historia<strong>do</strong>r ao abor<strong>da</strong>r o seu objeto,<br />

sua análise resulta compartimenta<strong>da</strong> e <strong>de</strong> certa forma maniqueísta, pois focaliza somente os<br />

proprietários, sejam eles foreiros ou posseiros, como se a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira fosse homogênea,<br />

sem relações <strong>de</strong> classe e conflitos, a não ser os estabeleci<strong>do</strong>s entre os <strong>do</strong>nos <strong>de</strong> terras e a<br />

administração pública. Os escravos – submeti<strong>do</strong>s ao trabalho compulsório – são menciona<strong>do</strong>s<br />

apenas quan<strong>do</strong> se refere a testamentos e heranças que arrolam, entre os bens imóveis a serem<br />

lega<strong>do</strong>s, os semoventes, empali<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> hierarquiza<strong>da</strong> e<br />

exclu<strong>de</strong>nte, cuja produção e reprodução baseavam-se, quase que exclusivamente, no instituto <strong>da</strong><br />

e s c r a v i d ã o .<br />

Outra questão assenta na transposição <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los construí<strong>do</strong>s para explicar formações sociais<br />

situa<strong>da</strong>s em outro tempo e lugar, como é o caso <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> feu<strong>da</strong>lismo utiliza<strong>do</strong> por Restier<br />

quan<strong>do</strong> se refere à <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> terras e às obrigações que <strong>de</strong>las <strong>de</strong>corriam na época colonial,<br />

refletin<strong>do</strong> uma generalização que não encontra respal<strong>do</strong> nas instituições a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s no Brasil para<br />

garantir a ocupação e a exploração <strong>da</strong>s novas terras e para reforçar os laços <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> ao<br />

reino e ao monarca.<br />

Voltamos a reafirmar que essas lacunas não diminuem o brilho <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> Restier<br />

Gonçalves. Apesar <strong>da</strong>s limitações, os atributos <strong>de</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

– <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong> são inquestionáveis. Reúne e sistematiza informações sobre o patrimônio<br />

imobiliário <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, reconstituin<strong>do</strong> sua trajetória <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>do</strong>ação por Estácio <strong>de</strong> Sá <strong>de</strong> duas<br />

sesmarias, uma para a instalação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1565, e outra aos jesuítas,<br />

passan<strong>do</strong> pelas lutas entre estes e a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> – ocorri<strong>da</strong>s por dúvi<strong>da</strong>s com relação aos<br />

limites entre as terras foreiras à Câmara e as <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s aos padres <strong>da</strong> Companhia –, e pelas<br />

principais querelas estabeleci<strong>da</strong>s entre a Câmara Municipal e os que se apossavam <strong>do</strong>s terrenos


municipais recusan<strong>do</strong>-se a aceitar o <strong>do</strong>mínio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. As análises <strong>do</strong> autor<br />

esten<strong>de</strong>m-se até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, referin<strong>do</strong>-se sempre às artimanhas <strong>de</strong> to<strong>da</strong> sorte <strong>de</strong> que<br />

lançavam mão os pretensos <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s terrenos, alertan<strong>do</strong> para o progressivo encolhimento <strong>do</strong><br />

patrimônio público ao longo <strong>do</strong>s séculos.<br />

Eis o principal motivo <strong>do</strong> enfoque <strong>da</strong><strong>do</strong> ao que Restier consi<strong>de</strong>rou “chão carioca” – terras<br />

afora<strong>da</strong>s à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> por ocasião <strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>ção – fato que explica porque restringiu-se<br />

a analisar o Centro e alguns bairros <strong>da</strong> Zona Sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, excluin<strong>do</strong> a Zona Norte e os<br />

subúrbios, situa<strong>do</strong>s para além <strong>de</strong>ssas “fronteiras” iniciais e cuja ocupação só passou a a<strong>de</strong>nsarse<br />

com a criação <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Pedro II, <strong>de</strong>pois Central <strong>do</strong> Brasil.<br />

Além disso, o tratamento preferencial <strong>da</strong><strong>do</strong> às questões <strong>de</strong> distribuição e posse <strong>de</strong> terras não<br />

excluiu uma abor<strong>da</strong>gem pitoresca <strong>do</strong>s fatos ocorri<strong>do</strong>s no nosso passa<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong>s<br />

principais famílias responsáveis pela construção e expansão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, com suas chácaras, casas<br />

resi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong>mais bens imóveis que possuíam nas terras foreiras ao município, bem como o<br />

relato <strong>da</strong>s profissões e artes que exerciam constituem fonte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor para os que se<br />

<strong>de</strong>dicam aos estu<strong>do</strong>s genealógicos. Além disso, o autor fornece inúmeros <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre<br />

cor<strong>de</strong>amento, evolução e nomenclatura <strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>uros, sobre a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> terrenos para a<br />

formação <strong>de</strong> rossios e loteamentos. Define os terrenos acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> marinha, os encrava<strong>do</strong>s, os<br />

salga<strong>do</strong>s e sapais, as terras enxutas e alaga<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>ten<strong>do</strong>-se na luta <strong>da</strong> população e <strong>do</strong>s<br />

administra<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> para conquistá-los e torná-los habitáveis e combater as<br />

epi<strong>de</strong>mias resultantes <strong>de</strong> clima e situação geográfica <strong>de</strong>sfavoráveis. Tu<strong>do</strong> isso entremea<strong>do</strong> por<br />

relatos <strong>de</strong> aspectos prosaicos <strong>do</strong> cotidiano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e sobre os personagens que fizeram parte<br />

<strong>da</strong> nossa história.<br />

Aureliano discorre, ain<strong>da</strong>, sobre os locais <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a ca<strong>da</strong> tipo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional,<br />

explican<strong>do</strong> as causas <strong>de</strong>ssa tendência <strong>de</strong> se aglutinarem trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> ofício em<br />

certas áreas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como é o caso <strong>do</strong>s ourives. Descreve as mais afama<strong>da</strong>s lojas, os<br />

restaurantes e teatros freqüenta<strong>do</strong>s pelos habitantes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, as festas populares, as<br />

<strong>da</strong>nças mais difundi<strong>da</strong>s, os meios <strong>de</strong> transportes existentes, ou seja, traça um painel dinâmico e<br />

curioso <strong>do</strong>s hábitos e costumes <strong>da</strong> gente carioca.<br />

Entregamos, portanto, ao público ávi<strong>do</strong> <strong>de</strong> informações sobre o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

aventura <strong>de</strong> Restier Gonçalves no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos e que passa a integrar a C o l e ç ã o<br />

Memória Carioca, reunião <strong>de</strong> títulos imprescindíveis para quem <strong>de</strong>seja conhecer a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a<br />

partir <strong>de</strong> vários ângulos e sob distintos aspectos, que a plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> etnias, cre<strong>do</strong>s, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

econômicas, culturas e paisagens permite.<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong> é obra <strong>de</strong> um hábil<br />

artesão, incansável na busca <strong>da</strong> peça que faltava para compor um imenso quebra-cabeças.<br />

M e rgulha<strong>do</strong> em um cipoal <strong>de</strong> papéis, imagens e mapas, nem sempre organiza<strong>do</strong>s e fáceis <strong>de</strong><br />

l o c a l i z a r, Restier saiu-se vitorioso <strong>da</strong> espinhosa missão que se atribuiu: traçar o relato mais<br />

fi<strong>de</strong>digno possível <strong>da</strong>s batalhas trava<strong>da</strong>s pela posse e usufruto <strong>do</strong> “chão carioca”, nas quais se<br />

envolveram os mais diferentes personagens, numa empreita<strong>da</strong>, muitas vezes, <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

d i s c u t í v e l .<br />

S A N D R A H O RTA<br />

D i retora <strong>de</strong> Pesquisa – A G C R J


Retrato <strong>de</strong> Aureliano Restier Gonçalves


U M P E R F I L D E A U R E L I A N O R E S T I E R G O N Ç A LV E S<br />

A incumbência <strong>de</strong> apresentar aos leitores um antigo funcionário <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> constituiu uma tarefa instigante e gratificante. É bom lembrar que mesmo<br />

conviven<strong>do</strong> diariamente com uma pessoa ela nos surpreen<strong>de</strong>.<br />

Aureliano foi um brasileiro comum e a História <strong>de</strong>sconhece os homens comuns,<br />

permanecen<strong>do</strong> estes, assim, anônimos, sem História. A maioria <strong>do</strong>s biógrafos reclama<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s enfrenta<strong>da</strong>s para <strong>de</strong>screver seus personagens, porém exaltam o<br />

fascínio que a tarefa proporciona.<br />

Filho <strong>de</strong> Joaquim Pedro Gonçalves e Carolina Maria Restier Gonçalves,<br />

Aureliano nasceu a 8 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1881 no então distrito <strong>de</strong> Barra <strong>do</strong> Piraí, on<strong>de</strong> cursou<br />

o primário na primeira escola <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, emancipa<strong>da</strong> <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Piraí em 1890.<br />

Foi um autodi<strong>da</strong>ta. Graças ao seu esforço e à sua <strong>de</strong>dicação, progrediu no<br />

funcionalismo ao mesmo tempo em que se transformaava em um estudioso <strong>da</strong> História<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Tornou-se um <strong>de</strong> seus memorialistas, narran<strong>do</strong> ao que<br />

assistiu e o que lhe contaram, pois, além <strong>de</strong> familiares e amigos, entre seus<br />

contemporâneos contavam-se os mais <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s cronistas e memorialistas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>: Vieira Fazen<strong>da</strong>, Ferreira Rosa, Mello Morais Filho, Max Fleiuss, Luiz<br />

Edmun<strong>do</strong>, João <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>, Noronha Santos. Este foi seu colega e chefe no Arquivo <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Uma convivência muito rica, já que to<strong>do</strong>s eram homens <strong>do</strong> século<br />

XIX que tinham assisti<strong>do</strong> e participa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças políticas, econômicas, sociais e<br />

urbanistas <strong>da</strong> vira<strong>da</strong> <strong>do</strong> século XX na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Entre 1904 e 1909 trabalhou na administração municipal como extranumerário,<br />

exercen<strong>do</strong> a função <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> escrita, lota<strong>do</strong> na Diretoria Geral <strong>de</strong> Obras e Vi a ç ã o .<br />

Sen<strong>do</strong> extranumerário, só recebia quan<strong>do</strong> realizava alguma tarefa; contu<strong>do</strong>, o tempo <strong>de</strong><br />

serviço contava como o <strong>de</strong> qualquer funcionário efetivamente contrata<strong>do</strong>. Em outubro<br />

<strong>de</strong> 1909, a Diretoria teve amplia<strong>do</strong> seu quadro funcional com a nomeação <strong>de</strong> quatorze<br />

amanuenses, entre eles Aureliano, então com 28 anos. 1<br />

Hoje poucos conhecem o termo, que dirá a função que o amanuense exercia.<br />

Essa <strong>de</strong>sapareceu <strong>do</strong> Serviço Público com a introdução <strong>da</strong> máquina <strong>de</strong> escrever e <strong>da</strong><br />

fotocópia. O amanuense se responsabilizava pela escrita <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos<br />

necessários ao serviço. Tu<strong>do</strong> era manuscrito. O aparecimento <strong>do</strong> <strong>da</strong>tilógrafo não o fez<br />

<strong>de</strong>saparecer <strong>de</strong> imediato, já que inúmeros <strong>do</strong>cumentos por sua tipici<strong>da</strong><strong>de</strong> ou caráter<br />

sigiloso continuaram a ser manuscritos. Quem <strong>de</strong>sconhece o acervo <strong>do</strong>cumental<br />

manuscrito existente nos cartórios e nos arquivos e convive cotidianamente com xerox,<br />

fax, computa<strong>do</strong>r e internet dificilmente avalia a importância <strong>do</strong>s amanuenses e o<br />

volume <strong>de</strong> sua contribuição.<br />

O amanuense situava-se na posição inferior na hierarquia <strong>do</strong> funcionalismo. A<br />

subalterni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> cargo atraiu a verve <strong>do</strong>s escritores <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, e mesmo <strong>do</strong><br />

século XIX, motivan<strong>do</strong>-os na produção <strong>de</strong> vários textos. Ciro <strong>do</strong>s Anjos <strong>de</strong>stacou-se<br />

com sua obra O amanuense Belmiro. Arthur Azeve<strong>do</strong> escreveu vários contos usan<strong>do</strong>os<br />

como tema central. Em De cima para baixo, satiriza a burocracia <strong>do</strong> Serviço<br />

Público, ao mesmo tempo em que ressalta a relevância <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> amanuense,<br />

apesar <strong>de</strong> sujeitos aos man<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s superiores. Alguns <strong>do</strong>s "colegas"<br />

amanuenses foram: Cruz e Souza na Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Central <strong>do</strong> Brasil, Luiz Gama na<br />

Secretaria <strong>de</strong> Polícia, Lima Barreto, Orestes Barbosa.<br />

Aureliano exerceu a função na Diretoria <strong>de</strong> Obras ao longo <strong>de</strong> quase vinte anos,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> promovi<strong>do</strong> a 2º oficial em 1919, o que resultou na escala<strong>da</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>grau


na hierarquia funcional, 2 contu<strong>do</strong>, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s continuaram semelhantes.<br />

As Diretorias <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> funcionavam no Paço Municipal na praça <strong>da</strong><br />

República nº 140; certamente, esta proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> facilitava a troca <strong>de</strong> informações entre<br />

elas; por isso suponho que a transferência <strong>de</strong> Aureliano para a Diretoria <strong>de</strong> Estatística<br />

e Arquivo, ocorri<strong>da</strong> em 1924, se <strong>de</strong>u <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao reconhecimento pelos superiores <strong>do</strong> seu<br />

empenho e <strong>do</strong> seu interesse pela pesquisa <strong>do</strong>cumental, visto que, em 1925, ano<br />

seguinte a nomeação <strong>de</strong> sua transferência, 3 foi reinicia<strong>da</strong> a publicação <strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, interrompi<strong>da</strong> há trinta anos, com um trabalho <strong>de</strong>le – Extratos e<br />

manuscritos sobre aforamentos. No ano seguinte novo número foi lança<strong>do</strong> com mais<br />

um texto sobre aforamento, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao anterior, também <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong><br />

Aureliano. Em 1929, foram publica<strong>do</strong>s pelo Arquivo, também <strong>de</strong> sua lavra: Extratos e<br />

manuscritos sobre vacina, uma coletânea <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos sobre a vacina contra a<br />

varíola, e outro sobre aforamentos, continuação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is edita<strong>do</strong>s anteriormente.<br />

Em 1934, a promoção, a 1º oficial, 4 e, em 1935, a mais importante, ao cargo <strong>de</strong><br />

chefe <strong>de</strong> seção, apesar <strong>de</strong> ser em caráter <strong>de</strong> interini<strong>da</strong><strong>de</strong>. 5 Em 1937, foi nomea<strong>do</strong> chefe<br />

<strong>de</strong> seção, chefia que correspon<strong>de</strong> à atual Diretoria <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. 6<br />

A aposenta<strong>do</strong>ria, em 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1948, não o afastou <strong>da</strong>s pesquisas, nem <strong>da</strong><br />

produção <strong>de</strong> textos. Ao longo <strong>do</strong>s anos prosseguiu seus estu<strong>do</strong>s, suas pesquisas e<br />

redigiu vários artigos e coletâneas <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos, alguns publica<strong>do</strong>s na Revista <strong>do</strong><br />

Arquivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, quan<strong>do</strong> esta voltou a ser relança<strong>da</strong> em 1950: “Carnes<br />

ver<strong>de</strong>s em São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – 1500/1900”; “Paço Municipal <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>”; “A governança <strong>de</strong> Luiz Vahia Monteiro – cartas recebi<strong>da</strong>s e<br />

expedi<strong>da</strong>s”.<br />

Aureliano empenhou quinze anos na elaboração <strong>do</strong> livro Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – <strong>Terras</strong> e <strong>Fatos</strong>, que se constitui na obra <strong>de</strong> um<br />

memorialista. Assistiu ain<strong>da</strong> menino à Abolição <strong>da</strong> Escravatura, à Proclamação <strong>da</strong><br />

República, à Revolta <strong>da</strong> Arma<strong>da</strong>. Na juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus vinte anos conviveu com a<br />

Revolta <strong>da</strong> Vacina, quan<strong>do</strong> começava sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> extranumerário. Presenciou as<br />

transformações urbanas produzi<strong>da</strong>s pela <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, como a<br />

abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Central, <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Beira Mar, a transferência <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sembarque <strong>do</strong>s viajantes que aportavam na praça Quinze para o píer <strong>da</strong> praça Mauá,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à construção <strong>do</strong> porto <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Provavelmente acompanhou a<br />

construção <strong>do</strong> aeroporto Santos Dumont na ponta <strong>do</strong> Calabouço; ao <strong>de</strong>smonte <strong>do</strong> morro<br />

<strong>do</strong> Castelo; ao nascimento <strong>da</strong> Cinelândia . Conviveu com a construção <strong>da</strong> Esplana<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Castelo, atual aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Antonio Carlos, com seus ministérios <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, <strong>do</strong><br />

Trabalho, <strong>da</strong> Educação, visto que <strong>de</strong>sembarcava na praça Quinze, quan<strong>do</strong> vinha <strong>de</strong><br />

Niterói, on<strong>de</strong> morava, e, obrigatoriamente, tinha que passar pelo canteiro <strong>de</strong> obras que<br />

ficava praticamente ao la<strong>do</strong>. Foi contemporâneo <strong>do</strong> <strong>de</strong>saparecimento <strong>do</strong> Convento <strong>da</strong><br />

Aju<strong>da</strong>. Deve ter si<strong>do</strong> impossível ter <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> presenciar a <strong>de</strong>molição <strong>da</strong>s igrejas <strong>de</strong><br />

São Domingos e <strong>de</strong> São Pedro <strong>do</strong>s Clérigos, assim como <strong>do</strong> Paço Municipal, on<strong>de</strong><br />

trabalhava há mais <strong>de</strong> trinta anos, para a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Va rg a s .<br />

Por força <strong>do</strong>s "melhoramentos" urbanos o Arquivo mu<strong>do</strong>u-se para o prédio <strong>de</strong><br />

número onze <strong>da</strong> rua Santa Luzia. Tal fato <strong>de</strong>ve ter preocupa<strong>do</strong> Aureliano, visto que<br />

<strong>de</strong>fendia há anos a instalação <strong>do</strong> Arquivo em uma se<strong>de</strong> própria com condições<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para a preservação <strong>da</strong> <strong>do</strong>cumentação e ao trabalho <strong>de</strong> pesquisa. 7<br />

Este livro resulta, principalmente, <strong>do</strong> amor e <strong>de</strong>dicação <strong>da</strong> filha <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />

Aureliano, Neir Elisa Senna Gual<strong>da</strong> Dantas, que <strong>do</strong>ou seus trabalhos ao Arquivo <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para compor uma coleção <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a seu pai.<br />

A a<strong>do</strong>ção permitiu que Aureliano conhecesse as alegrias <strong>de</strong> ser pai e <strong>de</strong> ser avô<br />

<strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> José, Maria Elisa e Claudia Márcia, filhos <strong>de</strong> Neir e Fernan<strong>do</strong> Gual<strong>da</strong>


Dantas, que, até hoje, lembram com carinho <strong>do</strong> avô. Contam que era metódico, sempre<br />

estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e escreven<strong>do</strong>, muito cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so com a apresentação. Portava sempre terno,<br />

chapéu e bengala, mesmo quan<strong>do</strong> saía para pequenos passeios perto <strong>de</strong> casa.<br />

Aureliano faleceu a 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1967 aos 86 anos, três anos após ter<br />

concluí<strong>do</strong> seu manuscrito sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Foi sepulta<strong>do</strong> no cemitério<br />

<strong>de</strong> Maruí em Niteroi, ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> residiu ao longo <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>.<br />

Seu livro vem trazer ao público importantes revelações sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

focalizan<strong>do</strong> essencialmente a formação <strong>do</strong>s principais logra<strong>do</strong>uros cariocas, além <strong>de</strong><br />

nos permitir ter contato com <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentais que, dificilmente, po<strong>de</strong>rão ser<br />

localiza<strong>do</strong>s em arquivo ou cartório, visto que não <strong>de</strong>vem mais existir. Ele mesmo alerta<br />

para o precário esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> muitos <strong>do</strong>s que consultou. Teve sempre o<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> ilustrar seus textos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>de</strong> 1929 sobre aforamentos, o que não<br />

conformava uma prática muito usual nas publicações. Esta edição fornecerá imagens,<br />

muitas inéditas, sobre locais, lamentavelmente, <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong>s. Sua obra como to<strong>da</strong><br />

realização humana tem imperfeições, uma <strong>de</strong>las diz respeito à prodigali<strong>da</strong><strong>de</strong> com que<br />

emprega o adjetivo “rico”, já que a concepção <strong>de</strong> riqueza varia muito <strong>de</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

com a época e o meio. “Ricaço” e “milionário” apresentam-se <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong>s, fora <strong>do</strong><br />

contexto. Outro engano relaciona-se ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> enfatizar o progresso material <strong>de</strong> um<br />

mora<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> explica que possui uma "casa nobre" sem <strong>da</strong>r qualquer<br />

indicação <strong>do</strong> que venha a ser, impossibilitan<strong>do</strong> ao leitor visualizar a "casa nobre" que<br />

e l o g i a .<br />

Concor<strong>do</strong> com Duby, famoso medievalista francês, quan<strong>do</strong> valoriza as<br />

narrativas como inesgotáveis reservas <strong>de</strong> material acerca <strong>da</strong>s mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>da</strong>s<br />

i<strong>de</strong>ologias, e quanto ao máximo aproveitamento <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> historia<strong>do</strong>res que nos<br />

prece<strong>de</strong>ram, pois fornecem contribuições valiosas sobre a época e o meio em que<br />

viveram; é <strong>de</strong>ssa maneira que <strong>de</strong>vemos receber e ler a obra <strong>de</strong> Aureliano Restier<br />

Gonçalves: como um testemunho único <strong>de</strong> um tempo e <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que já não se<br />

po<strong>de</strong> encontrar mais.<br />

.<br />

Ana Lucia Eppinghaus Bulcão<br />

(Doutora em História; Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> A G C R J )<br />

Ana Lucia Eppinghaus Bulcão<br />

Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> A G C R J


1 – Boletim <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1909.<br />

N O TA S<br />

2 – Boletim <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1909; Boletim <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1928: <strong>de</strong>creto nº 2.770 dá<br />

outra <strong>de</strong>nominação ao amanuense, que passa a ser <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> como 3º oficial.<br />

3 – Boletim <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1924, p.267.<br />

4 – Boletim <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1934.<br />

5 – Códice 51.1.83A.<br />

6 – Boletim <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1937.<br />

7 – Códice 51.1.83A.


Imagem 48. Augusto Malta, s/d.<br />

Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma<br />

O novo aspecto <strong>da</strong> rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> alinhamento e ligação com a aveni<strong>da</strong> Marechal Floriano.


S u m á r i o


P re f á c i o. Página. xx<br />

Notas <strong>do</strong> Editor. Página. xx<br />

Um perfil <strong>de</strong> A u reliano Restier G o n ç a l v e s . Página. xx<br />

E x ó r d i o . Página 36<br />

Capítulo I<br />

CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO<br />

TERRAS E FATO S<br />

Conquista e Fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Página 40<br />

Baía <strong>de</strong> Guanabara. Página 41<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> Villegaignon. Página 41<br />

Desbarato <strong>da</strong> Colônia. Página 42<br />

Estácio <strong>de</strong> Sá – Combate <strong>de</strong> Uruçumirim. Página 42<br />

Capítulo II<br />

S e s m a r i a s. Página 47<br />

<strong>Terras</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Página 48<br />

Sesmarias <strong>de</strong> Sobejos.Página 49<br />

Capítulo III<br />

M a r i n h a s. Página 51<br />

Capítulo IV<br />

B o t a f o g o. Página 55<br />

Terrras <strong>de</strong> Botafogo. Página 56<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – Jardins Particulares Página. 62<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1856. Página 62<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1857/1908. Página 62<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1857/1908. Página 63


Capítulo V<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1858/1908. Página 63<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1865/1930. Página 63<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1873/1911. Página 63<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1898/1927. Página 64<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1906/1907. Página 64<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1910/1919. Página 64<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1917/1925. Página 64<br />

Rua São Clemente – 1819/1858. Página 64<br />

Rua São Clemente – 1820/1854. Página 65<br />

Rua São Clemente – 1856/1858. Página 65<br />

Rua São Clemente – 1857. Página 65<br />

Caminho Velho <strong>de</strong> Botafogo. Página 66<br />

Caminho Novo <strong>de</strong> Botafogo. Página 66<br />

Rua Paissandu – 1858. Página 67<br />

C o p a c a b a n a. Página 68<br />

Lugar <strong>da</strong> Copacabana – 1818/1895. Página 70<br />

Lugar <strong>da</strong> Copacabana – 1844. Página 70<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Copacabana – 1808/1847. Página 70<br />

Rua <strong>de</strong> Copacabana – 1860. Página 71<br />

Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. Página 71<br />

Capítulo V I<br />

Cosme Ve l h o. Página 74<br />

Quinta <strong>de</strong> Cosme Velho. Página 75<br />

Lugar <strong>do</strong> Cosme Velho – 1806/1844. Página 76<br />

Lugar <strong>do</strong> Cosme Velho – 1809/1882. Página 76<br />

Lugar <strong>do</strong> Cosme Velho – 1823/1851. Página 77<br />

Lugar <strong>do</strong> Cosme Velho – 1825/1846. Página 77<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1826/1847. Página 77<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1830. Página 79<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1835/1860. Página 79<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1836-1849. Página 80<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1836/1866. Página 81<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1836/1870. Página 81<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1838/1872. Página 81<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1841/1843. Página 82<br />

Rua Cosme Velho – 1854/1855. Página 82<br />

Rua Cosme Velho – 1855. Página 82


Capítulo V I I<br />

L a r a n j e i r a s. Página 83<br />

Chácara <strong>de</strong> Ana Rodrigues. Página 84<br />

Chácara <strong>do</strong> Areal. Página 85<br />

Chácara <strong>do</strong> Velasco. Página 86<br />

Chácara <strong>do</strong> Hermogêneo. Página 87<br />

Chácara <strong>do</strong> Ramos. Página 87<br />

A Ilhota. Página 87<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – Beco <strong>do</strong> Miran<strong>da</strong> – 1908/1837. Página 88<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1822/1870. Página 88<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1845/1847. Página 90<br />

Rua <strong>da</strong>sLaranjeiras – 1853/1876. Página 90<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1860. Página 90<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1862. Página 90<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1862. Página 92<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1863/1872. Página 92<br />

Sítio <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1823/1845. Página 92<br />

Capítulo V I I I<br />

C a t e t e. Página 94<br />

Chácara <strong>da</strong> Ponte <strong>do</strong> Catete. Página 100<br />

Chácara <strong>do</strong> Desembarg a d o r. Página 100<br />

Chácara <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. Página 102<br />

Chácara <strong>da</strong> Sacramento. Página 102<br />

Chácara <strong>do</strong> Asséca. Página 103<br />

Chácara <strong>do</strong> Lisboa. Página 104<br />

Chácara <strong>do</strong> Pedreira. Página 105<br />

Chácara <strong>do</strong> Cônsul. Página 107<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catete – 1784/1838. Página 107<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1796/1846. Página 107<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1808/1843. Página 109<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1816/1831. Página 109<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1818/1844. Página 109<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1818/1854. Página 110<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1823/1843. Página 110<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1845/1864. Página 111<br />

L a rgo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – 1829/1857. Página 111<br />

L a rgo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – 1856/1872. Página 112<br />

L a rgo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – 1871. Página 112<br />

Capítulo IX<br />

Glória e Lapa. Página 114<br />

Rua Santa Cristina – 1854. Página 116


Capítulo X<br />

Praia <strong>da</strong> Glória -1857/1859. Página 116<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1831/1843. Página 119<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1844. Página 119<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1845. Página 120<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1846/1850. Página 120<br />

Rua Dona Luiza – 1842/1851. Página 120<br />

Rua Dona Luiza – 1851/1855. Página 122<br />

Rua Dona Luiza – 1854. Página 122<br />

Rua Dona Luiza – 1854. Página 122<br />

Rua Dona Luiza – 1858. Página 123<br />

Rua Dona Luiza – 1861/1903. Página 123<br />

Rua Dona Luiza – 1862. Página 123<br />

Rua Dona Luiza – 1864/1865. Página 123<br />

Rua Dona Luiza – 1866. Página 123<br />

Rua Dona Luiza – 1871/1872. Página 124<br />

Praia <strong>da</strong> Lapa. Página 124<br />

Rua <strong>da</strong> Lapa – 1839/1865. Página 125<br />

Rua <strong>da</strong> Lapa – 1842/1860. Página 125<br />

Rua <strong>da</strong> Lapa – 1844/1892. Página 125<br />

Rua Nossa Senhora <strong>do</strong> Desterro – 1840/1847. Página 126<br />

Travessa <strong>do</strong> Desterro – 1868. Página 126<br />

A j u d a. Página 127<br />

Chácara <strong>da</strong> Floresta. Página 132<br />

Convento <strong>da</strong> A j u d a. Página 132<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1787/1826. Página 135<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1815. Página 135<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1818-/1856. Página 135<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1826. Página 136<br />

Rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha . Página 136<br />

Beco <strong>do</strong> Propósito. Página 139<br />

Capítulo XI<br />

M i s e r i c ó rd i a. Página 149<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1774/1828. Página 151<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1790. Página 151<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1792/1835. Página 152<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1810/1827. Página 152<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1834/1836. Página 152<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1867. Página 153<br />

L a rgo <strong>da</strong> Misericórdia – 1861. Página 153<br />

Travessa <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste – 1819/1869. Página 156<br />

Travessa <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste – 1853/1854. Página 156<br />

Beco <strong>da</strong> Fi<strong>da</strong>lga – 1650/1860. Página 156


Beco <strong>do</strong>s Ferreiros – 1810/1830. Página 157<br />

Beco <strong>do</strong>s Ferreiros – 1818/1833. Página 158<br />

Beco <strong>do</strong>s Ferreiros – 1819/1843. Página 158<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel. Página 159<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel – 1816/1856. Página 159<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel – 1830/1840. Página 159<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel – 1833/1869. Página 159<br />

L a rgo <strong>da</strong> A s s e m b l é i a. Página 160<br />

Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia. Página 160<br />

Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia – 1782/1853. Página 161<br />

Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia – 1824/1863. Página 162<br />

Capítulo XII<br />

B a i rro Comerc i a l. Página 163<br />

Rossio <strong>do</strong> Carmo. Página 166<br />

Ribeira <strong>do</strong> Mar. Página 166<br />

Rua Direita. Página 167<br />

Arco <strong>do</strong> Te l e s. Página 171<br />

Beco ou Travessa <strong>do</strong>s A d e l o s. Página 171<br />

Rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Página 172<br />

Rua Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Página 176<br />

Rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>. Página 176<br />

Rua <strong>de</strong> São Bento. Página 177<br />

Ruas Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma e Teófilo Otoni. Página 177<br />

Rua <strong>do</strong>s Ourives. Página 180<br />

Rua <strong>do</strong> Cano. Página 181<br />

Capítulo XIII<br />

Litoral Norte ou Recôncavo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Página 182<br />

P r a i n h a. Página 183<br />

Rua <strong>do</strong> Aljube – 1779/1837. Página 184<br />

Rua <strong>da</strong> Prainha – 1826/1848. Página 185<br />

Sítio <strong>da</strong> Prainha – 1810/1902. Página 185<br />

Sítio <strong>da</strong> Prainha – 1817/1877. Página 186<br />

Rua São Francisco <strong>da</strong> Prainha – 1834. Página 186<br />

Saú<strong>de</strong> – Valongo – Gamboa. Página 186<br />

Praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> – 1821/1850. Página 187<br />

Praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> – 1840/1856. Página 189<br />

Va l o n g o. Página 189<br />

Quinta <strong>do</strong> Livramento. Página 190<br />

Quinta <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus. Página 190<br />

Gamboa ou Camboa. Página 192<br />

O Forno Gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cal. Página 194


Capítulo XIV<br />

São Domingos. Página 195<br />

L a rgo <strong>do</strong> Rosário – 1705/1840. Página 198<br />

O Jogo <strong>da</strong> Bola. Página 198<br />

A D a n ç a. Página 199<br />

L a rgo <strong>do</strong> Rosário – 1813/1830. Página 200<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1785/1840. Página 200<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1808/1844. Página 200<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1808/1850. Página 201<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1844. Página 201<br />

Chácara <strong>da</strong> Conceição. Página 202<br />

Chácara <strong>da</strong> Mitra. Página 202<br />

L a rgo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula – 1725/1841. Página 203<br />

L a rgo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula – 1747/1860. Página 204<br />

L a rgo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula. Página 204<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1721/1782. Página 207<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1818/1846. Página 207<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1855. Página 207<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1861/1872. Página 207<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa. Página 208<br />

Rua <strong>do</strong> Sacramento – 1798/1859. Página 209<br />

Rua <strong>do</strong> Sacramento – 1803/1859. Página 209<br />

Campo <strong>de</strong> São Domingos – 1714. Página 215<br />

L a rgo <strong>de</strong> São Domingos – 1849/1870. Página 217<br />

L a rgo <strong>de</strong> São Domingos – 1884. Página 217<br />

Rua <strong>de</strong> São Joaquim – 1827/1877. Página 218<br />

Rua <strong>de</strong> São Joaquim – 1827. Página 218<br />

Rua <strong>de</strong> São Joaquim. Página 219<br />

Chácara <strong>do</strong> Coqueiro. Página 219<br />

Igreja <strong>de</strong> São Joaquim. Página 220<br />

Rua São Jorge – 1820/1852. Página 220<br />

Rua São Jorge – 1856. Página 221<br />

Rua São Jorge – 1860. Página 221<br />

Igreja <strong>de</strong> São Jorg e. Página 221<br />

Rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res – 1787. Página 222<br />

Rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res – 1808/1856. Página 222<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1762/1840. Página 222<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1799/1854. Página 223<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1801/1858. Página 223<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1803/1855. Página 223<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1804/1839. Página 223<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1805/1830. Página 224<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1806/1848. Página 224<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1806/1858. Página 224<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1808/1856. Página 225<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1810/1843. Página 225<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1811 / 1 8 5 0. Página 225<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1811 / 1 8 5 2. Página 226<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1813/1836. Página 226


Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1816/1858. Página 226<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1818/1841. Página 227<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1818/1846. Página 227<br />

Rua <strong>da</strong> Alfên<strong>de</strong>ga – 1819/1834. Página 227<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1820/1840. Página 228<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1822/1844. Página 228<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1823/1836. Página 229<br />

Rua <strong>da</strong> Alfãn<strong>de</strong>ga – 1825/1834. Página 229<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1826/1849. Página 229<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1829/1852. Página 229<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1830/1848. Página 230<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1835/1848. Página 230<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1836/1850. Página 231<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1836/1837. Página 231<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1836/1840. Página 231<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1843. Página 231<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1844. Página 232<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1841/1844. Página 232<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1845. Página 232<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1856. Página 232<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1858. Página 233<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1859. Página 234<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1859. Página 234<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1860. Página 234<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1865. Página 234<br />

Rua <strong>da</strong> A l f â n d e g a. Página 234<br />

Rua Senhor Bom Jesus – 1782. Página 237<br />

Rua <strong>do</strong> Sabão – 1830/1859. Página 238<br />

Rua São Pedro – 1820/1874. Página 238<br />

Rua São Pedro – 1830/1845. Página 238<br />

Rua São Pedro – 1833/1843. Página 239<br />

Rua São Pedro – 1846/1851. Página 239<br />

Rua São Pedro – 1862. Página 239<br />

Rua São Pedro. Página 239<br />

Rua <strong>da</strong> Carioca – 1877/1879. Página 240<br />

Rua <strong>da</strong> Carioca Página 242<br />

Chácara <strong>de</strong> São Domingos. Página 243<br />

L a rgo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1807/1873. Página 244<br />

L a rgo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1813/1842. Página 245<br />

L a rgo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1822/1845. Página 245<br />

L a rgo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1836. Página 245<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1806/1807. Página 246<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1859. Página 246<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1859. Página 246<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1892. Página 247<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1892. Página 247<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1892. Página 247<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1808/1892. Página 248<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1811 / 1 8 2 0. Página 248<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1817/1859. Página 249<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1840. Página 249


Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1856/1867. Página 249<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha. Página 249<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos. Página 250<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1877. Página 250<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1878. Página 250<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1893. Página 250<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1893. Página 250<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1893. Página 251<br />

Campo <strong>de</strong> Santana. Página 251<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1759/1878. Página 254<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1806/1858. Página 254<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1807/1858. Página 254<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1807/1858. Página 255<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1809. Página 255<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1816. Página 255<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1817/1866. Página 255<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1817/1878. Página 256<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oci<strong>de</strong>ntal – 1789/1893. Página 256<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oci<strong>de</strong>ntal – 1809-1880. Página 258<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Norte – 1811 / 1 8 5 8. Página 259<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1819/1848. Página 261<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1827/1872. Página 262<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1832/1859. Página 262<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1859. Página 262<br />

Rua <strong>do</strong> Areal – 1825/1880. Página 262<br />

Rua <strong>do</strong> Areal – 1830. Página 263<br />

Rua <strong>do</strong> A r e a l. Página 263<br />

Capítulo XV<br />

M a t a c a v a l o s. Página 264<br />

Chácara <strong>do</strong> Caetano. Página 266<br />

Chácara <strong>do</strong> Silva Manoel. Página 266<br />

Chácara <strong>do</strong> Padre Leite – 1817/1844. Página 267<br />

Caminho <strong>de</strong> Matacavalos – 1816/1908. Página 267<br />

Caminho <strong>de</strong> Matacavalos – 1817/1844. Página 269<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Matacavalos – 1818/1845. Página 269<br />

Rua Matacavalos – 1819/1912. Página 270<br />

Rua Matacavalos – 1820/1850. Página 270<br />

Rua Matacavalos – 1830/1883. Página 270<br />

Rua Matacavalos – 1836/1844. Página 271<br />

Rua Matacavalos – 1839/1843. Página 271<br />

Rua Matacavalos – 1840/1849. Página 271<br />

Rua Matacavalos – 1843/1845. Página 272<br />

Rua Matacavalos – 1843/1853. Página 272<br />

Rua Matacavalos – 1845. Página 272<br />

Rua Matacavalos – 1845. Página 272<br />

Rua Matacavalos – 1845/1847. Página 272<br />

Rua Matacavalos – 1845/1859. Página 273


Rua Matacavalos – 1845/1868. Página 273<br />

Rua Matacavalos – 1845/1870. Página 273<br />

Rua Matacavalos – 1847. Página 274<br />

Rua Matacavalos – 1847/1848. Página 274<br />

Rua Matacavalos – 1847/1869. Página 274<br />

Rua Matacavalos – 1848/1855. Página 274<br />

Rua Matacavalos – 1853/1865. Página 275<br />

Rua Matacavalos – 1855/1856. Página 275<br />

Rua Matacavalos – 1855/1861. Página 275<br />

Rua Matacavalos – 1857/1858. Página 275<br />

Rua Matacavalos – 1860. Página 276<br />

Rua Matacavalos – 1860/1861. Página 276<br />

Rua Matacavalos – 1862. Página 276<br />

Rua Matacavalos – 1862/1863. Página 276<br />

Rua Matacavalos – 1864/1865. Página 276<br />

Rua Mauá. Página 277<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1860. Página 277<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1861/1873. Página 277<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1861. Página 277<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1862/1886. Página 277<br />

Rua Dona Josefa – 1854. Página 278<br />

Rua Dona Josefa – 1855/1857. Página 278<br />

Rua Dona Josefa – 1855/1857. Página 278<br />

Rua Dona Josefa – 1857. Página 278<br />

Rua Paula Matos – 1857. Página 278<br />

Rua Paula Matos – 1858/1865. Página 279<br />

Rua Paula Matos – 1869. Página 279<br />

Rua <strong>do</strong> Riachuelo – 1879/1880. Página 279<br />

Rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> – 1823/1837. Página 279<br />

Rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> – 1840. Página 279<br />

Pantanal <strong>do</strong> Pedro Dias. Página 281<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1810/1867. Página 283<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1812/1825. Página 283<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1844/1859. Página 284<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846/1872. Página 284<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846. Página 284<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846/1848. Página 284<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846/1860. Página 285<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>. Página 285<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1861. Página 285<br />

Chácara <strong>do</strong> Desterro. Página 286<br />

Chácara <strong>da</strong> Alagoinha. Página 286<br />

Capítulo XVI<br />

Catumbi, Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova e A d j a c ê n c i a s. Página 291<br />

C a t u m b i. Página 292<br />

Terreno <strong>do</strong> Papa-couves. Página 293<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Página 294


Adjacências – Mangues. Página 294<br />

Chácara <strong>do</strong> Capueruçu. Página 296<br />

Chácara <strong>do</strong> Machadinho. Página 296<br />

O Canal <strong>do</strong> Mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Página 297<br />

Campo <strong>de</strong> Marte. Página 301<br />

Arraial <strong>de</strong> Mataporcos. Página 302<br />

E s c r a v o s. Página 302<br />

P r o g r e d i m e n t o. Página 302<br />

Chácara <strong>de</strong> Mataporcos. Página 302<br />

Mangue <strong>de</strong> São Diogo. Página 303<br />

Pedreira <strong>de</strong> São Diogo. Página 304<br />

Praia Formosa. Página 304<br />

São Diogo. Página 305<br />

Iluminação Pública. Página 306<br />

Questões sobre Te r r e n o s. Página 307<br />

Patrimônio Territorial <strong>da</strong> Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Página 307<br />

N o t a s . Página 310<br />

A p ê n d i c e s. Página 328<br />

B i b l i o g r a f i a . Página 339<br />

Obras <strong>do</strong> autor. Página 340<br />

Bibliografia cita<strong>da</strong> pelo autor. Página 340<br />

Bibliografia utiliza<strong>da</strong> para esta edição. Página 343<br />

G l o s s á r i o. Página 348<br />

Q u a d ro <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uro s. Página 359<br />

Notas históricas. Página 371<br />

Notas biográficas. Página 392<br />

Ao Leitor,<br />

No fato, na pesquisa e no <strong>do</strong>cumento fun<strong>da</strong>menta-se a História. O fato obriga o raciocínio e a reflexão<br />

que <strong>de</strong>terminam a pesquisa e o estu<strong>do</strong> minucioso <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos. Assim orientou-se este nosso mo<strong>de</strong>sto<br />

trabalho. Em verifican<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>cumentação guar<strong>da</strong><strong>da</strong> nos nossos arquivos, conseguimos reviver<br />

aspectos e fatos <strong>do</strong> antigo passa<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e em cuja interpretação<br />

pusemos to<strong>da</strong> a probi<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica. Outro valor não traz este livro.<br />

À memória <strong>do</strong>s meus pais e <strong>do</strong>s meus irmãos.


Ex ó rdi o


E X Ó R D I O | 3 7<br />

Aos <strong>de</strong>stinos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> abriram-se novos caminhos e rasgaram-se mais vastos horizontes,<br />

com a <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong> pólvora, <strong>da</strong> bússola e <strong>da</strong> imprensa. Esses três notáveis acontecimentos operaram<br />

radical transformação <strong>do</strong>s costumes e idéias <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média, realçan<strong>do</strong> o século XV na história <strong>da</strong><br />

civilização. Livre <strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias que o acorrentavam aos escolásticos princípios <strong>do</strong>utrinários medievais, o<br />

espírito humano pô<strong>de</strong> criar e propagar novas e adianta<strong>da</strong>s <strong>do</strong>utrinas e estabelecer outras fontes <strong>de</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais produtivas que serviram <strong>de</strong> alicerce à civilização mo<strong>de</strong>rna. O homem, <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o<br />

segre<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mares, nunca <strong>da</strong>ntes navega<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>scobriu outras terras – que conquistou; <strong>de</strong>senvolveu o<br />

comércio, as indústrias e as artes, e espalhou o progresso, abrin<strong>do</strong> a luta <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> contra o<br />

<strong>de</strong>spotismo e <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> contra o privilégio; que é, em resumo, a história <strong>da</strong> civilização, no dizer <strong>de</strong><br />

Oliveira Lima.<br />

Além <strong>de</strong> outras causas, o espírito <strong>de</strong> aventura <strong>da</strong> época, a propagan<strong>da</strong> religiosa e as circunstâncias<br />

comerciais atuaram gran<strong>de</strong>mente para as <strong>de</strong>scobertas geográficas <strong>do</strong> século XV. Em Sagres, a su<strong>do</strong>este<br />

<strong>de</strong> Portugal, montou-se um pequeno observatório astronômico, on<strong>de</strong> se praticaram os estu<strong>do</strong>s que<br />

<strong>de</strong>terminaram a conquista <strong>do</strong>s mares, abrin<strong>do</strong>-se o chama<strong>do</strong> caminho para as Índias. O genovês<br />

Cristóvão Colon ou Colombo, a 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1492, valen<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s roteiros conheci<strong>do</strong>s, mostrou à<br />

Europa um novo continente, a América. Seis anos <strong>de</strong>pois, a 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1498, Vasco <strong>da</strong> Gama aportou<br />

à Índia. Finalmente, a 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1500, à luz <strong>da</strong> civilização, surgiu uma nova terra: o precioso acha<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> navegante lusitano Pedro Álvares Cabral, o qual ia por capitão-mor <strong>de</strong> uma arma<strong>da</strong> portuguesa que<br />

navegava para as Índias, ao tempo <strong>do</strong> venturoso rei <strong>do</strong>m Manoel I. “E a terra que, surgin<strong>do</strong> <strong>de</strong> relance<br />

no Oceano, se abstraíra a to<strong>do</strong>s os cálculos e previsões, seqüestrava to<strong>da</strong>s as atenções e a que se atribuía<br />

diversas conjecturas, era o Brasil: e essa terra que ao longe se <strong>de</strong>senhava ao oci<strong>de</strong>ntal e que um dia,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ro<strong>da</strong><strong>do</strong>s três séculos <strong>de</strong> escravidão e ignomínia, seria uma portentosa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, avultan<strong>do</strong>, e<br />

muito, as <strong>de</strong>mais que se assentam no hemiciclo <strong>da</strong> América, era o país <strong>da</strong> Vera Cruz, duramente<br />

conquista<strong>do</strong> ao gentilismo, por aqueles que, arrojan<strong>do</strong>-se cavalheiros à África e Ásia a quebrar lanças <strong>de</strong><br />

paladinos, correriam <strong>de</strong> aventuras à essa terra a ceifar vi<strong>da</strong>s, com o ardimento <strong>da</strong> cobiça...” * Logo a Elrei,<br />

o Venturoso, man<strong>do</strong>u-se a nova <strong>do</strong> achamento <strong>da</strong> terra, em tal maneira graciosa, que queren<strong>do</strong>-a<br />

aproveitar, <strong>da</strong>r-se-á nela tu<strong>do</strong>, por bem <strong>da</strong>s águas que tem. Não tar<strong>do</strong>u a ganância <strong>do</strong>s aventureiros a<br />

assentar ten<strong>da</strong>s nas virgens terras, à cata <strong>de</strong> lendários tesouros, e pelos nossos mares a velejar corsários<br />

para a prática <strong>do</strong> comércio clan<strong>de</strong>stino <strong>do</strong> pau-brasil: imirapiranga ou pau vermelho. A frota <strong>de</strong> Pedro<br />

Álvares Cabral permaneceu até o último <strong>de</strong> abril em observações à terra <strong>de</strong>scoberta, julga<strong>da</strong> ilha. Na<br />

sexta-feira, primeiro <strong>de</strong> maio, <strong>de</strong>sembarcou to<strong>da</strong> a gente <strong>da</strong> expedição e assistiu missa canta<strong>da</strong> à face <strong>da</strong><br />

Cruz, ergui<strong>da</strong> como padrão <strong>da</strong> soberania <strong>de</strong> Portugal sobre a terra que seria o berço <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No dia seguinte, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> à solidão <strong>da</strong>s selvas misteriosas <strong>do</strong>is infelizes <strong>de</strong>gre<strong>da</strong><strong>do</strong>s, partiu a<br />

esquadra para o seu <strong>de</strong>stino, rumo sueste, exceção <strong>do</strong> navio <strong>de</strong> André Gonçalves que voltou à Europa,<br />

levan<strong>do</strong> a boa nova <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta. São duvi<strong>do</strong>sas, varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> autor para autor, as notícias relativas às<br />

primeiras expedições portuguesas ao Brasil. Historia<strong>do</strong>res abaliza<strong>do</strong>s dão, pelo menos como prováveis,<br />

a vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> duas frotas logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conheci<strong>do</strong> o feito <strong>de</strong> Cabral. A primeira <strong>de</strong>ixou as águas<br />

portuguesas, em maio <strong>de</strong> 1501, sob o coman<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manoel Nuno, favorito <strong>do</strong> rei, e trazen<strong>do</strong> por<br />

piloto o cosmógrafo Américo Vespucci: veio avistar terra a 16 <strong>de</strong> agosto <strong>da</strong>quele precita<strong>do</strong> ano, nas<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> um cabo que ficou <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Roque, por ser esse o dia <strong>do</strong> santo, e<br />

prosseguin<strong>do</strong> a sua <strong>de</strong>rrota foi avistan<strong>do</strong> outros pontos <strong>da</strong> costa, batizan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s, e passou à barra <strong>da</strong><br />

nossa famosa baía, a 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1502, a qual ti<strong>da</strong> por foz <strong>de</strong> rio, recebeu o nome <strong>de</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Chegou a São Vicente no dia 22 <strong>do</strong> mesmo mês e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alcançar a boca <strong>do</strong> rio que chamou <strong>da</strong> Prata,<br />

voltou a Portugal. O afama<strong>do</strong> navega<strong>do</strong>r Gonçalo Coelho dirigiu a segun<strong>da</strong> expedição, que saiu <strong>de</strong><br />

Lisboa em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1503 e na qual veio, <strong>de</strong> novo, Américo Vespucci, no coman<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma caravela,<br />

que se afastou, e mais uma outra <strong>da</strong> frota expedicionária, quan<strong>do</strong> a capitânia naufragou por bater em um<br />

pene<strong>do</strong>. Esses <strong>do</strong>is navios arribaram à Bahia, foram a Cabo Frio e <strong>da</strong>í voltaram para Portugal, on<strong>de</strong>, em<br />

Lisboa, já se encontrava, a 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1504, Gonçalo Coelho, que se transportara para outra<br />

caravela, conduziu a frota rumo sul até o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcou, e fez levantar alojamento<br />

para <strong>de</strong>scanso, junto a um rio, que se supõe tenha si<strong>do</strong> o Carioca, 1 Cari-oca ou casa <strong>de</strong> pedra, ** diz<br />

Varnhagen. Depois <strong>de</strong> várias explorações, fez-se <strong>de</strong> volta ao reino, on<strong>de</strong> chegou em 1506.<br />

* José Joaquim Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oliveira – Revista <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo 18. (N.A.)<br />

** A “Casa <strong>de</strong> Pedra” só foi construí<strong>da</strong> em agosto <strong>de</strong> 1531, na atual praia <strong>do</strong> Flamengo, perto <strong>do</strong> Morro <strong>da</strong> Viúva, pela expedição <strong>de</strong> Martim Afonso<br />

<strong>de</strong> Souza e seu irmão Pero Lopes <strong>de</strong> Souza. (Nota N.C.)


3 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

A principio, as informações sobre o Brasil eram <strong>de</strong>sencontra<strong>da</strong>s e duvi<strong>do</strong>sas. Por esse motivo ou<br />

porque lhe interessassem mais as Índias, o certo é que Portugal, durante trinta anos, <strong>de</strong>ixou a sua colônia<br />

<strong>da</strong> América entregue à sanha <strong>de</strong> corsários e <strong>de</strong> aventureiros. Entretanto, os franceses, que começaram a<br />

freqüentar o Brasil, foram angarian<strong>do</strong> a amiza<strong>de</strong> <strong>do</strong>s seus naturais e com os quais entraram a comerciar,<br />

e <strong>do</strong> recôncavo <strong>de</strong> Cabo Frio fizeram o reduto para as suas naus. Portugal reclamou providências à<br />

França, em 1516, mas, a <strong>de</strong>speito <strong>da</strong> reclamação, maior foi sen<strong>do</strong> o trato <strong>do</strong> comércio <strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>res<br />

franceses. Em 1526, <strong>do</strong>m João III <strong>de</strong>terminou a vin<strong>da</strong> <strong>da</strong> flotilha guar<strong>da</strong>-costas <strong>de</strong> Cristóvão Jacques,<br />

que usou <strong>de</strong> bastante represália sobre as naus francesas. Ao chegar a Portugal, Cristóvão Jacques logo<br />

procurou convencer ao rei <strong>do</strong>m João III <strong>da</strong>s vantagens <strong>da</strong> divisão <strong>do</strong> Brasil em capitanias e teve a<br />

circundá-lo nessa idéia o professor Diogo <strong>de</strong> Gouvêa, ilustre português resi<strong>de</strong>nte em Paris, on<strong>de</strong> dirigia<br />

o colégio Santa Bárbara. A 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1530, fez-se <strong>de</strong> vela <strong>do</strong> Tejo a arma<strong>da</strong> <strong>de</strong> Martim Afonso<br />

<strong>de</strong> Souza, gran<strong>de</strong> vali<strong>do</strong> <strong>do</strong> rei e alcai<strong>de</strong>-mor <strong>de</strong> Bragança. A Pero Lopes <strong>de</strong> Souza, irmão <strong>de</strong> Martim<br />

Afonso e coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> caravela Rosa, <strong>de</strong>ve-se o famoso diário <strong>de</strong>ssa expedição – que avistou terra<br />

brasileira, a 31 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1531, na altura <strong>do</strong> cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, e logo começou a perseguir as<br />

naus francesas, apresan<strong>do</strong> algumas. Ancorou à Bahia em 13 <strong>de</strong> março e a 30 <strong>de</strong> abril ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele ano,<br />

aos olhos <strong>de</strong>slumbra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sua tripulação, <strong>de</strong>scortinou a baía <strong>de</strong> Guanapará ou Guanabara: maravilha<br />

que a Providência traçou neste contorno <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Até agosto <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano, refazen<strong>do</strong> forças e<br />

proven<strong>do</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, esteve Martim Afonso no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, partin<strong>do</strong> a 31 <strong>do</strong> dito mês para<br />

Cananéa, on<strong>de</strong> permaneceu mais <strong>de</strong> quarenta dias – sempre sob um sol encoberto. De volta <strong>do</strong> rio <strong>da</strong><br />

Prata, entrou no porto <strong>de</strong> São Vicente, a 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1532, e aí, on<strong>de</strong> encontrou o celebre João<br />

Ramalho, Martim Afonso, pela ameni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> clima, o pitoresco <strong>da</strong> paragem e outras boas condições<br />

naturais, <strong>de</strong>cidiu-se a estabelecer uma colônia, no que empregou to<strong>do</strong> o zelo e to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os<br />

po<strong>de</strong>res que trazia permitiram ain<strong>da</strong> mais a Martim Afonso tomar posse, em nome <strong>do</strong> rei <strong>de</strong> Portugal,<br />

<strong>da</strong>s terras pelas quais fosse passan<strong>do</strong>, levantan<strong>do</strong> os padrões, e concedê-las por sesmarias a quem as<br />

quisesse, pu<strong>de</strong>sse e soubesse aproveitá-las; dispor <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral sobre a administração, sobre a justiça<br />

e a prover, enfim, sobre to<strong>do</strong>s os negócios <strong>da</strong> governança em terra e mar. Ao regressar à Europa, em<br />

1535, o ilustre fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Vicente já conhecia <strong>da</strong> divisão <strong>do</strong> Brasil em capitanias hereditárias.<br />

Os acor<strong>do</strong>s que resultaram <strong>da</strong>s negociações diplomáticas entre Portugal e a França, sobre a<br />

navegação para o Brasil, muito pouca vantagem trouxeram aos interesses <strong>do</strong> comércio e <strong>da</strong> política<br />

colonial <strong>do</strong> reino português. Não per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> vistas o nosso país, a França, secretamente, continuou a<br />

dispensar proteção aos seus arma<strong>do</strong>res, sempre em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> comercial <strong>do</strong> pau-brasil e outras ma<strong>de</strong>iras<br />

raras. O que a este propósito relatou Pero Lopes em Lisboa, apressou a divisão <strong>do</strong> Brasil em diferentes<br />

quinhões, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s àqueles que se mostrassem aptos a promover o cultivo <strong>da</strong>s terras, o seu povoamento e<br />

segurança. Aos <strong>do</strong>natários, além <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> juros e her<strong>da</strong><strong>de</strong>, o rei garantiu-lhes o <strong>do</strong> título e man<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>s suas terras, e obriga<strong>do</strong>s apenas a preito e homenagem à Coroa. Arreme<strong>do</strong>s <strong>de</strong> feu<strong>da</strong>lismo foi essa<br />

colonização, opera<strong>da</strong> <strong>de</strong>sastrosamente. Porque, se na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, para o povoamento <strong>do</strong> nosso pátrio solo,<br />

veio gente boa e honra<strong>da</strong>, também não é menos ver<strong>da</strong><strong>de</strong> a vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> muita gente ruim, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se<br />

o Brasil um couto e homizio on<strong>de</strong> ninguém seria persegui<strong>do</strong>, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> crimes e <strong>de</strong> <strong>de</strong>litos<br />

anteriores.<br />

Ao tempo <strong>de</strong>ssa primeira divisão não havia ain<strong>da</strong> seguro conhecimento corográfico <strong>do</strong> Brasil,<br />

explora<strong>do</strong> apenas em uma estrita faixa <strong>do</strong> seu litoral, o que contribuiu, além <strong>de</strong> outras causas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

material e moral, para a imediata <strong>de</strong>cadência <strong>da</strong>s <strong>do</strong>natarias. No ano <strong>de</strong> 1548, Luiz <strong>de</strong> Góes, * em carta,<br />

apelou para o rei, dizen<strong>do</strong>: “... se com tempo e brevi<strong>da</strong><strong>de</strong> Vossa Alteza não socorrer estas capitanias e<br />

costa <strong>do</strong> Brasil, ain<strong>da</strong> que nós percamos as vi<strong>da</strong>s e fazen<strong>da</strong>s, Vossa Alteza per<strong>de</strong>rá a terra.” Não pa<strong>de</strong>ce<br />

dúvi<strong>da</strong> que <strong>do</strong>m João III, instituin<strong>do</strong> as capitanias hereditárias, procurou diligenciar em beneficio <strong>da</strong><br />

extensa terra entregue pela fortuna a Portugal; mas, pelas razões já expendi<strong>da</strong>s, prova<strong>do</strong> está o <strong>de</strong>sacerto<br />

<strong>de</strong>ssa medi<strong>da</strong>, prontamente, aliás, corrigi<strong>da</strong> pelo solícito soberano. Estabeleceu-se, então, um governo<br />

<strong>de</strong> centralização administrativa e política que, em nome <strong>do</strong> rei, ministrasse a justiça e aten<strong>de</strong>sse a to<strong>do</strong>s<br />

os negócios <strong>do</strong> serviço real e ao bem <strong>da</strong>s partes. Tomé <strong>de</strong> Souza, escolhi<strong>do</strong> para primeiro governa<strong>do</strong>r<br />

geral <strong>do</strong> Brasil, pelas suas reconheci<strong>da</strong>s quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r operoso e <strong>de</strong> homem enérgico e<br />

nobre, chegou à Bahia em 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1549. A uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> governo que se implantou no nosso país,<br />

em 1549, encontrou fortes obstáculos a vencer. Além <strong>da</strong> vastidão <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> território, <strong>da</strong><br />

* Luiz <strong>de</strong> Góes <strong>da</strong> Silveira, irmão <strong>de</strong> Pero <strong>de</strong> Góes <strong>da</strong> Silveira, <strong>do</strong>natário este <strong>da</strong> capitania <strong>da</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul (N.A.)


E X Ó R D I O | 3 9<br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> seu clima e <strong>da</strong> <strong>do</strong>s costumes <strong>da</strong> sua gente, houve, outrossim, a inobservância <strong>do</strong>s capitães<br />

e proprietários <strong>da</strong>s antigas capitanias às or<strong>de</strong>ns <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r central.<br />

Tomé <strong>de</strong> Souza, fazen<strong>do</strong> o reconhecimento <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong>s capitanias para colonizá-las e <strong>de</strong>fendêlas<br />

contra as incursões <strong>de</strong> inimigos, usou méto<strong>do</strong>s discricionários que acumularam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s à<br />

governança <strong>do</strong> seu sucessor – Duarte <strong>da</strong> Costa. Esse segun<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, na sua agita<strong>da</strong> administração,<br />

teve a luta com os índios subleva<strong>do</strong>s contra os portugueses, as <strong>de</strong>savenças com o bispo e a invasão<br />

francesa, a que não po<strong>de</strong> opor resistência por falta <strong>de</strong> elementos. Mem <strong>de</strong> Sá, terceiro governa<strong>do</strong>r geral<br />

(1557/1573) reprimiu os <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s, apaziguou o gentio, fun<strong>do</strong>u povoa<strong>do</strong>s, e expulsan<strong>do</strong>, em 1567, os<br />

franceses <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, assegurou a soberania <strong>de</strong> Portugal na terra carioca, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou consoli<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a obra <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, cuja história é o objeto <strong>do</strong> nosso livro.<br />

Indubitavelmente, ingente obra foi a <strong>da</strong> integri<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> território brasileiro que nos legaram os<br />

nossos maiores, e mantê-la, mesmo a custo <strong>de</strong> sacrifícios, é trabalhar pela gran<strong>de</strong>za <strong>do</strong> Brasil. O notável<br />

historia<strong>do</strong>r cônego Fernan<strong>de</strong>s Pinheiro <strong>de</strong>u tal magnitu<strong>de</strong> à uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Brasil, que a consi<strong>de</strong>rou obra <strong>de</strong><br />

Deus e não <strong>do</strong>s homens. E se assim, <strong>de</strong> fato, parece ser, que neste século <strong>de</strong> graves perturbações morais,<br />

políticas e sociais, o <strong>de</strong>lica<strong>do</strong> conceito <strong>da</strong>quele nosso ilustre patrício viva sempre como sentimento<br />

unânime <strong>do</strong>s brasileiros.


C A P Í T U L O I<br />

Conquista e Fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Ja n e i ro


Baía <strong>de</strong> Guanabara<br />

A frota portuguesa <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manoel Nuno e pilota<strong>da</strong> por Américo Vespucci, que fazia<br />

o reconhecimento <strong>da</strong> costa <strong>de</strong>ssa parte <strong>da</strong>s Américas, <strong>de</strong>scobriu, a 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1502, a baía <strong>de</strong><br />

Guanapará ou Guanabara – seio <strong>do</strong> mar – a qual, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um erro cosmográfico, foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> um rio<br />

que recebeu o nome <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, pelo mês <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta. Alguns historia<strong>do</strong>res emprestam o sucesso a<br />

André Gonçalves e outros a Gonçalo Coelho. O viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Seguro – Francisco A<strong>do</strong>lfo Varnhagen<br />

– quan<strong>do</strong> alu<strong>de</strong> a esse arroja<strong>do</strong> navegante – Gonçalo Coelho – diz: “... segun<strong>do</strong> revelações <strong>de</strong>duzi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

antigos portulanos, se recolhera na<strong>da</strong> menos que à baía <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e assentara em terra um<br />

arraial.” Quan<strong>do</strong> em viagem <strong>de</strong> inspeção à costa sul, Tomé <strong>de</strong> Souza, primeiro governa<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong><br />

Brasil, visitou a Guanabara e ven<strong>do</strong>-a ficou entusiasma<strong>do</strong>, e, em carta ao rei <strong>de</strong>screveu as magníficas<br />

condições naturais <strong>da</strong> nossa bela baía e lembrou o aproveitamento <strong>da</strong> terra, povoan<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> gente boa e<br />

honra<strong>da</strong>, porque nesta costa não há rio em que entrem franceses senão neste. Portugal se mostrou<br />

indiferente a essa sensata pon<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> esqueci<strong>do</strong>. Entretanto, os arma<strong>do</strong>res<br />

franceses, nas contínuas entra<strong>da</strong>s no nosso porto, conseguiram cativar a confiança <strong>do</strong>s indígenas e com<br />

eles começaram a comerciar o pau-brasil – ibirapitanga –, o gengibre, a hortelã-pimenta e outros<br />

produtos <strong>da</strong> nossa rica flora.<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> Villegaignon<br />

C A P Í T U L O I | 4 1<br />

As monarquias sucedâneas <strong>da</strong>s baronias feu<strong>da</strong>is procuraram dilatar os seus <strong>do</strong>mínios com as<br />

guerras <strong>de</strong> conquistas, as aventuras coloniais e as alianças matrimoniais entre as casas reinantes. Durante<br />

um largo perío<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>stino <strong>da</strong> Europa esteve à mercê <strong>de</strong>ssa política – que se prestou bastante aos planos<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>is po<strong>de</strong>rosos rivais: Carlos V <strong>da</strong> Espanha, ambicionan<strong>do</strong> a soberania universal, e Francisco I <strong>da</strong><br />

França, levantan<strong>do</strong>-se contra aquele au<strong>da</strong>cioso monarca. À essa rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> o mun<strong>do</strong> espiritual <strong>da</strong> época<br />

<strong>de</strong>u mais instigação, abrin<strong>do</strong> a luta religiosa. Lutero, fra<strong>de</strong> <strong>do</strong>minicano <strong>da</strong> Alemanha, tornan<strong>do</strong> público<br />

o seu protesto contra o papa<strong>do</strong> e queiman<strong>do</strong> em praça pública a bula <strong>da</strong> sua con<strong>de</strong>nação, trouxe a<br />

Reforma, cisma religioso <strong>de</strong> graves conseqüências políticas. Circunstâncias <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong>s ditos fatos<br />

forçaram a França a aban<strong>do</strong>nar as suas empresas <strong>de</strong> colonização, para melhor cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong>s seus interesses<br />

na Europa. Não pa<strong>de</strong>ce dúvi<strong>da</strong> que, nas suas <strong>de</strong>rrotas pelos mares <strong>da</strong> América, os corsários franceses<br />

fizeram-se os mais au<strong>da</strong>zes freqüenta<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s costas <strong>do</strong> Brasil, e que foram os primeiros noticiaristas<br />

<strong>do</strong> nosso país no Velho Mun<strong>do</strong>. Os seus razoa<strong>do</strong>s influíram bastante sobre os homens e empresas que<br />

buscavam aventuras, trazen<strong>do</strong>-os às nossas plagas. Sob tal influência, organizou-se a expedição <strong>de</strong><br />

Nicolau Durand <strong>de</strong> Villegaignon. Quan<strong>do</strong> esse notável marujo planeou a França Antártica, a sua pátria,<br />

sob o governo maquiavélico <strong>de</strong> Henrique II, joguete <strong>de</strong> mulheres e <strong>de</strong> parti<strong>do</strong>s políticos, estava às portas<br />

<strong>da</strong> guerra civil, a que <strong>de</strong>ram causa as perseguições religiosas <strong>da</strong>s câmaras ar<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Paris.<br />

Oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> teve, então, Villegaignon <strong>de</strong> levar avante o seu projeto <strong>de</strong> estabelecer no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

uma colônia francesa, conseguin<strong>do</strong>, como conseguiu, o assentimento <strong>do</strong> almirante Gaspar <strong>de</strong> Coligny,<br />

juiz supremo <strong>do</strong>s negócios náuticos <strong>da</strong> França, gran<strong>de</strong> amigo <strong>do</strong> rei e chefe <strong>do</strong>s huguenotes. Nessa<br />

ocasião, Coligny fazia empenho por conseguir um asilo seguro, fora <strong>da</strong> Europa, para os seus<br />

correligionários. Villegaignon soube aproveitar-se <strong>de</strong>ssa circunstância para convencer o almirante e<br />

obter a sua proteção. Também, com habili<strong>da</strong><strong>de</strong>, Villegaignon fez-se protegi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s católicos, garantin<strong>do</strong>se,<br />

assim, contra qualquer eventuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> luta religiosa que ameaçava a França. Afinal, com <strong>do</strong>is<br />

navios bem artilha<strong>do</strong>s e municiona<strong>do</strong>s e carregan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os aprestos à construção <strong>de</strong> um forte, formouse<br />

a expedição que, a 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1555, <strong>de</strong>ixou o porto <strong>do</strong> Havre rumo ao <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong><br />

ancorou a 10 <strong>de</strong> novembro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano. Feito o reconhecimento <strong>da</strong> baía, Villegaignon escolheu a<br />

pequena ilha <strong>de</strong> Serigipe – atual Villegaignon, para a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo <strong>da</strong> colônia, em cujo arranjo e<br />

<strong>de</strong>fesa ele <strong>de</strong>monstrou o propósito <strong>de</strong> obra dura<strong>do</strong>ura, obra que, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, causou entusiasmo, teceu<br />

esperanças e moveu o tráfego mercantil no porto <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.


4 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Desbarato <strong>da</strong> Colônia<br />

Villegaignon, sem meditar as conseqüências, pôs em ventura os amigos, os emigra<strong>do</strong>s<br />

voluntários, os mercenários e os con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s que o acompanharam ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> a to<strong>da</strong> essa<br />

gente o <strong>de</strong>stino reservou uma existência bem diversa <strong>da</strong> que sonhara cheia <strong>de</strong> conforto e tranqüili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

próspera e rica. Em menos <strong>de</strong> um ano, o clima e as privações amoleceram o ânimo; a continência e a<br />

severa disciplina criaram a rebeldia e por fim as <strong>de</strong>savenças religiosas. Embora ilustra<strong>do</strong>, Villegaignon<br />

não possuía quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r e pensou vencer com a tirania, fazen<strong>do</strong>-se, assim, odia<strong>do</strong>. A<br />

fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> seu caráter levou-o a fomentar a luta religiosa entre os colonos e procurou tirar vantagens<br />

<strong>de</strong>ssa situação, <strong>de</strong>claran<strong>do</strong>-se sincero calvinista, como havia si<strong>do</strong> fervoroso católico. Acabou, afinal, diz<br />

Gaffarel, odia<strong>do</strong> pelos protestantes e <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong> pelos católicos. Preven<strong>do</strong> o malogra<strong>do</strong> e próximo fim<br />

<strong>da</strong> colônia, preferiu aban<strong>do</strong>ná-la, embarcan<strong>do</strong> para a Europa em 1558. A tática guerreira <strong>de</strong> Nicolau<br />

Durand <strong>de</strong> Villegaignon e a sua bravura impuseram sempre receios ao inimigo, para um ataque <strong>de</strong><br />

ofensiva. A parti<strong>da</strong>, portanto, <strong>do</strong> cavaleiro <strong>de</strong> Malta e vice-almirante <strong>de</strong> Bretanha, fez romper logo as<br />

hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s forças portuguesas contra o estabelecimento francês, cujo governo ficara entregue a<br />

Bois le Comte, outro tirano que não teve o bom entendimento <strong>de</strong> aliar os elementos valiosos ain<strong>da</strong><br />

existentes na Colônia e com os quais teria podi<strong>do</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua segurança. A 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1560,<br />

<strong>de</strong>ram os portugueses o ataque <strong>de</strong>cisivo que lhes trouxe a vitória, após <strong>do</strong>is dias e três noites <strong>de</strong> luta<br />

heróica. Assedia<strong>do</strong>s, sem água e sem munições, os franceses e os indígenas aban<strong>do</strong>naram a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>la aos<br />

lusitanos. Logo a seguir, man<strong>do</strong>u Mem <strong>de</strong> Sá arrasá-la e que o mesmo se proce<strong>de</strong>sse no continente, on<strong>de</strong><br />

o fogo <strong>de</strong>struiu to<strong>da</strong> a próspera Colônia. Em carta a Catarina <strong>da</strong> Áustria, regente <strong>de</strong> Portugal, Mem <strong>de</strong><br />

Sá, prestan<strong>do</strong> contas <strong>do</strong> seu feito, lembrou à dita soberana o povoamento <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Estácio <strong>de</strong> Sá – Combate <strong>de</strong> Uruçumirim<br />

Os franceses voltaram a ocupar o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> levantaram novas fortificações em<br />

Uruçumirim – <strong>de</strong>pois praia <strong>do</strong> Flamengo, junto à agua<strong>da</strong> <strong>da</strong> Carioca e na ilha <strong>de</strong> Maracaiá – chefe<br />

indígena. Essa ilha é a atual Governa<strong>do</strong>r. Por to<strong>da</strong> a costa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Espírito Santo até São Vicente, os<br />

franceses instigaram os indígenas contra os portugueses, cujas feitorias foram <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s pelas legiões<br />

guerreiras <strong>do</strong>s índios tamoios. São Vicente escapou à <strong>de</strong>struição, porque a tempo <strong>de</strong> um armistício<br />

chegaram os jesuítas Manoel <strong>da</strong> Nóbrega e José <strong>de</strong> Anchieta que negociaram a paz entre os beligerantes,<br />

firma<strong>da</strong> na al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Iperoig on<strong>de</strong> aqueles religiosos tinham <strong>de</strong>sembarca<strong>do</strong>, a 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1563, e foram<br />

hóspe<strong>de</strong>s <strong>do</strong> cacique Caoquira. Entretanto, porque parecesse favorável a ocasião <strong>de</strong> povoar o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, senhorean<strong>do</strong> a terra com a completa expulsão <strong>do</strong>s franceses, Portugal man<strong>do</strong>u Estácio <strong>de</strong> Sá,<br />

por capitão <strong>de</strong> efeito, com duas naus <strong>de</strong> guerra, que chegaram à Bahia em 1563, on<strong>de</strong> o governa<strong>do</strong>r geral,<br />

ven<strong>do</strong>-se com tão hábil capitão e socorro, agregou a ele os navios <strong>da</strong> costa e alguma gente militar, aviou<br />

a frota com a maior presteza que pô<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>spediu no começo <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1564. O regimento <strong>da</strong><br />

expedição man<strong>da</strong>va que o capitão <strong>de</strong>man<strong>da</strong>sse a barra <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e nela entrasse ao som <strong>de</strong><br />

guerra, observasse as disposições <strong>do</strong> inimigo e, se contasse com a vitória, procurasse tirá-lo ao mar alto<br />

e aí rompesse com ele. Para diligenciar auxílios à empresa, veio <strong>da</strong> Bahia com Estácio <strong>de</strong> Sá o ouvi<strong>do</strong>r<br />

Brás Fragoso, e no Espírito Santo embarcou o capitão prove<strong>do</strong>r Belchior <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, e aliaram-se à<br />

frota, com as suas velozes canoas, os índios temiminós, sob a direção <strong>do</strong> seu valente cacique o famoso<br />

Araribóia. Em chegan<strong>do</strong> à Guanabara, nos primeiros dias <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1564, a expedição<br />

conquista<strong>do</strong>ra, logo à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> barra, fez a tomadia <strong>de</strong> uma nau francesa que carregava carne, pão e<br />

vinho e cuja tripulação se pôs em fuga para a terra. O profun<strong>do</strong> antagonismo <strong>da</strong>s duas raças não podia<br />

permitir entre o branco europeu e os livres filhos <strong>da</strong> América uma paz dura<strong>do</strong>ura e esse foi o principal,<br />

se não único, embaraço à conservação <strong>do</strong> trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Iperoig, que Estácio <strong>de</strong> Sá já encontrou rompi<strong>do</strong> ao<br />

chegar ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> os seus batéis foram recebi<strong>do</strong>s a flechas pelos tamoios. Em tais<br />

circunstâncias, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o regimento <strong>da</strong> expedição to<strong>do</strong> o zelo pela paz com o gentio e a audiência <strong>do</strong><br />

padre Nóbrega nas ocasiões difíceis, resolveu Estácio <strong>de</strong> Sá pedir a presença <strong>do</strong> notável jesuíta no <strong>Rio</strong>


C A P Í T U L O I | 4 3<br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> ligeira embarcação para conduzi-lo. Em expectativa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> trinta dias esteve<br />

a expedição, fazen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> vela, afinal, em <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> São Vicente. Porém, os ventos <strong>de</strong>sfavoráveis<br />

fizeram-na retroce<strong>de</strong>r ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> veio encontrar os jesuítas Nóbrega e Anchieta, chega<strong>do</strong>s<br />

à meia noite <strong>da</strong> sexta feira santa <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1564. * No dia seguinte à volta <strong>da</strong> expedição,<br />

Domingo <strong>da</strong> Páscoa, após a missa solene na ilha <strong>de</strong> Villegaignon, combinaram os jesuítas com o capitãomor<br />

a parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> expedição para São Vicente em busca <strong>de</strong> reforços. Pela segun<strong>da</strong> vez, diz Varnhagen, a<br />

capitania <strong>de</strong> São Vicente se prestava, mais <strong>do</strong> que lhe permitiam as suas forças, para o Brasil não ser<br />

dilacera<strong>do</strong>. Armaram-se to<strong>da</strong>s as canoas prestáveis, juntou-se o mantimento para o sustento durante três<br />

meses e reuniu-se quanta gente pu<strong>de</strong>sse combater. A expedição, reforça<strong>da</strong>, ficou composta <strong>de</strong> seis naus<br />

gran<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> várias embarcações pequenas e <strong>de</strong> muitas canoas <strong>de</strong> índios temiminós. Segun<strong>do</strong> o padre<br />

Anchieta a nau capitânia saiu na dianteira, zarpan<strong>do</strong> <strong>do</strong> porto a 22 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1565, para chegar no<br />

mesmo dia à ilha <strong>de</strong> São Sebastião, on<strong>de</strong> aguar<strong>do</strong>u a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> frota, que dias <strong>de</strong>pois começou a<br />

navegar rumo ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em cujo porto, à entra<strong>da</strong> e com o cansaço e o constrangimento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s,<br />

escreve o mesmo Anchieta, teve que esperar a capitânia, só apareci<strong>da</strong> a 28 <strong>de</strong> fevereiro, vin<strong>da</strong> <strong>da</strong> ilha<br />

Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sarvora<strong>da</strong>, fora arribar. No dia seguinte, 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1565, or<strong>de</strong>nou Estácio <strong>de</strong> Sá o<br />

<strong>de</strong>sembarque – que se fez toman<strong>do</strong> terra junto a um pene<strong>do</strong> altíssimo e outra penedia que por outro la<strong>do</strong><br />

cercava, com que ficava em parte <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong>, e, nesse lugar <strong>de</strong> abriga<strong>do</strong> porto e matas ao re<strong>do</strong>r, Estácio<br />

<strong>de</strong> Sá lançou os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a que chamou <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, honran<strong>do</strong> ao<br />

rei <strong>de</strong> Portugal – <strong>do</strong>m Sebastião. Varnhagen, com o qual estamos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>, tem o dito local como sen<strong>do</strong><br />

a praia Vermelha e o berço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. ** Entretanto, uma corrente contrária, cuja opinião<br />

está oficialmente aceita, põe o berço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> entre o morro <strong>de</strong> São João – antigo Cara <strong>de</strong> Cão – e o <strong>do</strong><br />

Pão <strong>de</strong> Açúcar. E assim é que nesse lugar, a 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1916, levantou-se um padrão comemorativo.<br />

Há na história <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> enganos oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma visão superficial <strong>do</strong>s acontecimentos e pelo<br />

pouco interesse que ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>spertam as pesquisas históricas. O local <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> se nos afigura um <strong>de</strong>sses enganos. A chama<strong>da</strong> várzea <strong>de</strong> São João era estreita faixa <strong>de</strong> terra entre<br />

<strong>do</strong>is mares encrespa<strong>do</strong>s e sem porto abriga<strong>do</strong>, por conseguinte, não permitin<strong>do</strong> segura ancoragem e nem<br />

fácil <strong>de</strong>sembarque. Como tática <strong>de</strong> guerra, inconcebível também, porque estaria a expedição por alvo <strong>do</strong><br />

inimigo. Tampouco o interesse econômico, político e social po<strong>de</strong>ria ter leva<strong>do</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá a<br />

<strong>de</strong>sembarcar no istmo <strong>do</strong> Cara <strong>de</strong> Cão. Consi<strong>de</strong>remos agora sobre a praia Vermelha. Em voltan<strong>do</strong> <strong>de</strong> São<br />

Vicente, Estácio <strong>de</strong> Sá (2) ancorou a sua frota no porto <strong>de</strong> Martim Afonso, já bem conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

navegantes pelo abrigo que oferecia, e <strong>de</strong>sembarcou na praia <strong>de</strong> areias avermelha<strong>da</strong>s, entre um pene<strong>do</strong><br />

altíssimo – o Pão <strong>de</strong> Açúcar – e outra penedia – que são pene<strong>do</strong>s juntos pejan<strong>do</strong> o lugar: Urca, Babilônia,<br />

Pasma<strong>do</strong> e São João Batista. To<strong>do</strong>s esses morros, cobertos e ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mata, foram o baluarte natural<br />

que Estácio <strong>de</strong> Sá encontrou para guar<strong>da</strong>r-se durante <strong>do</strong>is anos fora <strong>da</strong>s vistas <strong>do</strong> inimigo, acampa<strong>do</strong> no<br />

Uruçumirim – praia <strong>do</strong> Flamengo. Por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>ssa forte cortina o primeiro capitão-mor <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> pôs o berço <strong>da</strong> Sebastianópolis e pô<strong>de</strong>, sem perigo, balizar a terra que pisara e que os seus foram<br />

penetran<strong>do</strong>, abrin<strong>do</strong> caminhos até o Socopenapã, no oceano bravo. E <strong>de</strong>sses caminhos são vestígios as<br />

ruas General Severiano – primitivamente, caminho <strong>da</strong> Azinhaga, Passagem, Mariana, General Poli<strong>do</strong>ro<br />

e Real Gran<strong>de</strong>za e as la<strong>de</strong>iras <strong>do</strong> Leme e <strong>do</strong> Barroso. O porto <strong>de</strong> Martim Afonso, assim conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1531, quan<strong>do</strong> aí ancorou a frota <strong>da</strong> expedição coloniza<strong>do</strong>ra, chefia<strong>da</strong> por Martim Afonso <strong>de</strong> Souza – o<br />

sábio e pru<strong>de</strong>nte, no dizer <strong>de</strong> Luiz <strong>de</strong> Camões, era muito movimenta<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong>-se por ele, em larga<br />

escala, um comércio clan<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e especiarias. Ain<strong>da</strong> no século XIX, na praia Vermelha, no<br />

lugar <strong>do</strong> porto, era feito o contraban<strong>do</strong> <strong>de</strong> bebi<strong>da</strong>s. *** Depois <strong>da</strong> <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata, os expedicionários<br />

<strong>da</strong> frota <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá acharam água <strong>de</strong> lagoa, mas tão grossa e nociva, escreve o erudito Simão <strong>de</strong><br />

Vasconcelos, “que recearam causasse <strong>do</strong>enças aos sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s.” José Alonso e Pedro Martins Namora<strong>do</strong><br />

tomaram a sua conta fazer uma cacimba <strong>da</strong> qual beberam boa água <strong>do</strong>ce. As águas perenes <strong>da</strong>s<br />

montanhas formavam as encharca<strong>da</strong>s ou lagoas por to<strong>da</strong> a planície <strong>de</strong> Botafogo. Forte tranqueira foi<br />

levanta<strong>da</strong> pela gente <strong>da</strong> expedição, construí<strong>da</strong>s cabanas à maneira selvagem; levanta<strong>da</strong> a capela <strong>do</strong><br />

padroeiro, e até um raio <strong>de</strong> seis léguas para ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong>, marca<strong>do</strong> foi o termo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – que recebeu por<br />

armas um molho <strong>de</strong> flechas. Estácio <strong>de</strong> Sá nomeou as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e conce<strong>de</strong>u muitas terras aos<br />

principais e aptos <strong>da</strong> expedição, e nas quais logo começaram as plantações. Enfim, na administração<br />

* Anais <strong>da</strong> Biblioteca Nacional, 02/1877 (N.A.)<br />

** Os <strong>do</strong>cumentos <strong>da</strong> época, principalmente a narrativa <strong>do</strong> padre José <strong>de</strong> Anchieta, afirmam que a frota entrou na baía <strong>de</strong> Guanabara e que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no sopé <strong>do</strong> morro Cara <strong>de</strong> Cão. (N.C.)<br />

*** Vi<strong>de</strong> neste livro o capitulo sobre o bairro <strong>de</strong> Botafogo. (N.A.)


4 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

civil, na justiça, nos costumes e em tu<strong>do</strong> que praticou, o capitão-mor procurou dispor <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a garantir<br />

a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colônia, on<strong>de</strong> se manteve por <strong>do</strong>is anos em <strong>de</strong>fensiva, até que, em chegan<strong>do</strong> Mem <strong>de</strong><br />

Sá, a 18 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1567, com muita tropa, pô<strong>de</strong> enfrentar o inimigo em Uruçumirim, on<strong>de</strong> se travou<br />

o <strong>de</strong>cisivo e terrível combate <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1567 – dia <strong>de</strong> São Sebastião, padroeiro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Vitoriosos foram os portugueses, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mortífera peleja que fez tremer a terra na contingência <strong>de</strong><br />

quem havia <strong>de</strong> possuí-la. * No Instrumento <strong>do</strong>s seus serviços, a propósito <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> ilha <strong>de</strong> Maracaiá<br />

– Governa<strong>do</strong>r, atualmente –, Mem <strong>de</strong> Sá diz o seguinte: “Daí a poucos dias man<strong>de</strong>i <strong>da</strong>r em outra<br />

fortaleza <strong>do</strong> Paranapocu, on<strong>de</strong> havia mais <strong>de</strong> mil homens <strong>de</strong> guerra e muita artilharia e três dias a<br />

combateram continuamente, até que entraram com muito trabalho e maior riscos e mortes <strong>de</strong> alguns<br />

brancos e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem esforça<strong>da</strong>mente se ren<strong>de</strong>ram e foram to<strong>do</strong>s cativos, e estan<strong>do</strong> prestes<br />

para ir a outra fortaleza mais forte em que estavam muitos franceses, não ousaram esperar e <strong>de</strong>ixaram a<br />

fortaleza, a qual tinha três cercas fortíssimas, muitos baluartes e casas-fortes, e logo me vieram pedir<br />

pazes e lhas outorguei, sob ficarem vassalos <strong>de</strong> sua alteza.”<br />

Sobre a conquista <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pelas forças portuguesas, em 1567, escreve Roberto Southey:<br />

“Jamais guerra em que tão pequenos esforços se fizessem e tão poucas forças se empregassem <strong>de</strong> parte<br />

a parte foi tão fértil <strong>de</strong> importantes conseqüências. A Corte <strong>de</strong> França an<strong>da</strong>va por <strong>de</strong>mais ocupa<strong>da</strong> em<br />

queimar e truci<strong>da</strong>r huguenotes para po<strong>de</strong>r pensar no Brasil; e Coligny ven<strong>do</strong> abortar os seus projetos pela<br />

vil tradição <strong>de</strong> Villegaignon, já não atendia a Colônia. O dia <strong>de</strong> emigrar já era passa<strong>do</strong> e os que <strong>de</strong>viam<br />

colonizar o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, empunhavam armas contra um inimigo sanguinário e implacável na <strong>de</strong>fensão<br />

<strong>de</strong> quanto é caro ao homem. Portugal estava tão <strong>de</strong>satento como a França. A morte <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João III fora<br />

para o Brasil irremediável per<strong>da</strong>; porquanto, posto que a rainha regente algum tempo seguisse as<br />

pega<strong>da</strong>s <strong>do</strong> fina<strong>do</strong> monarca, era com menos zelo e diminuí<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r; e quan<strong>do</strong> se viu força<strong>da</strong> a resignar<br />

a administração nas mãos <strong>do</strong> car<strong>de</strong>al <strong>do</strong>m Henrique, revelou este a mesma falta total <strong>de</strong> resolução e<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que mais tar<strong>de</strong> manifestou no seu curto e triste reina<strong>do</strong>. Tivesse si<strong>do</strong> Mem <strong>de</strong> Sá menos<br />

enérgico no cumprimento <strong>do</strong>s seus <strong>de</strong>veres, ou Nóbrega menos hábil e menos incansável, e esta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

que é hoje a capital <strong>do</strong> Brasil, seria francesa agora.”<br />

Antigos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>res <strong>de</strong> quase to<strong>da</strong> a costa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Bahia até São Vicente, os tamoios não<br />

quiseram permanecer na terra em que foram venci<strong>do</strong>s, e penetran<strong>do</strong> o sertão em direção ao norte, diz<br />

Joaquim Norberto, seguiram as mesmas vere<strong>da</strong>s por on<strong>de</strong> tinham trilha<strong>do</strong> os seus antepassa<strong>do</strong>s, e nessa<br />

triste retira<strong>da</strong> <strong>de</strong>ixaram-se guiar pelos tobixáras, que seguiam os pajés ao sussurro misterioso <strong>do</strong> maracá.<br />

Em conseqüência <strong>do</strong>s ferimentos que recebera no combate <strong>de</strong> Uruçumirim, Estácio <strong>de</strong> Sá veio a falecer<br />

um mês <strong>de</strong>pois, em 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1567, sen<strong>do</strong> o seu corpo sepulta<strong>do</strong> no próprio al<strong>de</strong>amento – a que<br />

muito mais tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>nominou Vila Velha, 2 e <strong>da</strong>í leva<strong>do</strong> para o morro <strong>do</strong> Castelo. Agora, arrasa<strong>da</strong> a<br />

tradicional colina, os restos mortais <strong>do</strong> fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

<strong>de</strong>scansam em condigno jazigo na suntuosa basílica <strong>de</strong> São Sebastião, à rua Ha<strong>do</strong>ck Lobo. Termina<strong>da</strong> a<br />

luta e assegura<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio português sobre a terra carioca, Mem <strong>de</strong> Sá transferiu o solar primitivo <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para outro local mais conveniente à beira mar, olhan<strong>do</strong> o oriente e on<strong>de</strong> havia um outeiro coberto<br />

<strong>de</strong> espessa mata que a custo e trabalho se <strong>de</strong>rrubou. No alto <strong>de</strong>sse monte, chama<strong>do</strong> <strong>do</strong> Descanso, a<br />

princípio, e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Castelo, levantou-se a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>la bem cerca<strong>da</strong> e fortifica<strong>da</strong>. Construíram-se a igreja,<br />

a casa <strong>do</strong>s jesuítas, a Casa <strong>do</strong> Conselho ou Câmara, sobra<strong>da</strong><strong>da</strong>, telha<strong>da</strong> e gran<strong>de</strong>, a ca<strong>de</strong>ia, os armazéns<br />

<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Real, com varan<strong>da</strong>s, e as casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> particulares. Depois <strong>de</strong>ssas e outras providências,<br />

Mem <strong>de</strong> Sá voltou à Bahia. Indiscutivelmente, a ação militar <strong>de</strong> Mem <strong>de</strong> Sá e os atos que praticou, com<br />

a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> governa<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong>ram-lhe certa projeção nos acontecimentos <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – mas nunca o título <strong>de</strong> fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r. A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> veio a ser a capital <strong>da</strong> capitania <strong>de</strong>ste mesmo nome, capitania que abrangeu extenso território<br />

entre as capitanias <strong>de</strong> Porto Seguro e <strong>do</strong> Espírito Santo ao norte, e a <strong>de</strong> São Vicente, ao sul.<br />

* Rocha Pitta, História <strong>da</strong> América Portuguesa. (N.A.)


Augusto Malta, 15/1/1922. Lápi<strong>de</strong> que cobria a urna <strong>do</strong> túmulo <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá.


4 6 | C A P Í T U L O<br />

Augusto Malta, 15/1/1922. Abertura <strong>do</strong> túmulo <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá.<br />

Augusto Malta, 20/1/1922. Trasla<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s restos mortais <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá – prefeito Carlos Sampaio e autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s à frente <strong>do</strong> préstito.


C A P Í T U L O I I<br />

Se s m a r i a s


4 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Na fase <strong>da</strong> formação social <strong>do</strong>s agrupamentos humanos, quan<strong>do</strong> o homem passou <strong>de</strong> pastor a<br />

agricultor, vamos encontrar a origem <strong>da</strong> sesmaria, palavra que aceitamos como corruptela <strong>de</strong> semear.<br />

To<strong>da</strong>via, muitos a consi<strong>de</strong>ram oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> sesma, a sexta parte, porque na sua origem as sesmarias<br />

pagavam <strong>de</strong> pensão a sexta parte <strong>do</strong>s frutos <strong>da</strong> terra. Nas organizações econômicas <strong>do</strong>s mais antigos<br />

povos, como incentivo ao trabalho <strong>do</strong> campo, as terras <strong>de</strong> sesmaria só eram <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s aos capazes <strong>de</strong><br />

cultivá-las. Em Portugal, na forma <strong>da</strong>s Or<strong>de</strong>nações Afonsinas (Liv. 4 – tít. 43), as sesmarias não tinham<br />

outra finali<strong>da</strong><strong>de</strong> senão a <strong>da</strong> cultura <strong>do</strong>s campos, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s pelas aventuras <strong>da</strong>s guerras. Dom Afonso<br />

II (1211/1223) mostrou-se sábio ao resolver a grave crise <strong>do</strong> seu reino, quan<strong>do</strong> atraiu o homem,<br />

novamente, ao trabalho agrícola, <strong>do</strong>an<strong>do</strong>-lhe terras <strong>de</strong> sesmaria. Primitivamente, só ao rei competia<br />

nomear os sesmeiros. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos esta competência foi sen<strong>do</strong> atribuí<strong>da</strong> aos Conselhos, <strong>de</strong><br />

forma que aos poucos o Esta<strong>do</strong> passou a intervir nos negócios concernentes às sesmarias até chegar a<br />

uma intervenção absoluta. Des<strong>de</strong> então, ficaram sujeitas à inspeção <strong>do</strong>s almoxarifes e criaram-se ônus<br />

aos <strong>do</strong>natários além <strong>do</strong> direito reserva<strong>do</strong> ao rei <strong>de</strong> exercer o <strong>do</strong>mínio iminente em benefício <strong>da</strong><br />

comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> públicas. No Brasil, terras <strong>de</strong> sesmaria foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos <strong>do</strong>natários <strong>da</strong>s<br />

capitanias, esqueci<strong>do</strong>s, porém, já estavam os seus princípios fun<strong>da</strong>mentais e <strong>da</strong>í a pouca ou nenhuma<br />

vantagem trazi<strong>da</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s <strong>do</strong>natarias. Com o governa<strong>do</strong>res, que foram pródigos<br />

conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> terras, o pouco que se provi<strong>de</strong>nciou teve caráter administrativo-judiciário, apenas. Muito<br />

tar<strong>de</strong>, no Brasil, procurou-se corrigir os erros e regulamentar com acerto sobre as sesmarias, e só em<br />

1795, pelo alvará <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> outubro, estabeleceu-se um novo regimento. Por fim, com o aban<strong>do</strong>no <strong>da</strong>s<br />

terras, que foram sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>s e povoa<strong>da</strong>s, extinguiram-se naturalmente as antigas sesmarias.<br />

Os atos administrativos pratica<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-as extintas, fun<strong>da</strong>mentaram-se na Or<strong>de</strong>m Régia <strong>de</strong> 16<br />

<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1662, e firma<strong>do</strong>s, portanto, na or<strong>de</strong>nação supressiva, revogável e intransferível por<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Além disto, o título <strong>da</strong> sesmaria obrigava o aproveitamento <strong>da</strong>s terras pela cultura,<br />

e queria nas mesmas a residência <strong>do</strong>s concessionários – o que muito pouco aconteceu no Brasil.<br />

<strong>Terras</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Extenso território, entre as capitanias <strong>de</strong> Porto Seguro e <strong>do</strong> Espírito Santo, ao norte, e a <strong>de</strong> São<br />

Vicente, ao sul, compreen<strong>de</strong>u a capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e nesse território, em cerca <strong>de</strong> mil<br />

quilômetros quadra<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> <strong>do</strong>nataria <strong>de</strong> Martim Afonso <strong>de</strong> Souza, está assente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, cuja fun<strong>da</strong>ção, em 1565, por Estácio <strong>de</strong> Sá, em nome <strong>do</strong> rei <strong>de</strong> Portugal, obe<strong>de</strong>ceu na<br />

or<strong>de</strong>m política e econômica ao processo histórico <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s portuguesas.<br />

À margem oci<strong>de</strong>ntal <strong>da</strong> baía <strong>de</strong> Guanabara espraiou-se a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, guarneci<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

montanhas, umas distancia<strong>da</strong>s e outras próximas, num conjunto alcantila<strong>do</strong> e encanta<strong>do</strong>r. A planície<br />

on<strong>de</strong> repousa, no seu aspecto primitivo, apresentava aci<strong>de</strong>ntes curiosos, com os extensos mangues, as<br />

gran<strong>de</strong>s e pequenas lagoas <strong>de</strong> águas <strong>do</strong>ces e salga<strong>da</strong>s, marnéis e terras enxutas cobertas <strong>de</strong> mata espessa.<br />

O litoral <strong>de</strong> recôncavos pitorescos e belas praias.<br />

As terras <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s à Câmara, em 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1565 e 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1567, constituíram os bens<br />

próprios <strong>do</strong> seu patrimônio e os bens <strong>do</strong> uso comum, regen<strong>do</strong>-se pelas regras (título 46, Livro 1º) <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>nação Manoelina. Das duas cita<strong>da</strong>s <strong>do</strong>ações <strong>de</strong>riva-se o direito <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao senhorio<br />

direto a uma gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. É certo, porém, que<br />

nesse mesmo chão se fez sentir o <strong>do</strong>mínio particular, por ocupação intrusa. Esse fato chegou a causar<br />

clamor público e levou o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a tomar enérgicas providências contra os intrusos, muitos<br />

<strong>do</strong>s quais se <strong>de</strong>cidiram a legalizar a situação. Também, ain<strong>da</strong> é certo a ausência até hoje <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong><br />

completo, consciencioso e perfeitamente <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>, que prove a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio particular<br />

no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. * No Parcelamento Ca<strong>da</strong>stral <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>, <strong>de</strong> 1914, está dito que é impossível<br />

conhecer, positivamente, <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio direto exerci<strong>do</strong> por instituições, nota<strong>da</strong>mente as religiosas, pela<br />

ausência <strong>de</strong> fontes <strong>do</strong>cumentárias que mereçam fé. Não se <strong>de</strong>ve ocultar, outrossim, que as contestações<br />

aos direitos <strong>do</strong>minicais <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> fizeram-se sentir mais constantes e fortes <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> incêndio<br />

<strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1790, e que os contestantes eram po<strong>de</strong>rosos e ricos,<br />

* Parece-me que Restier Gonçalves <strong>de</strong>sconhecia <strong>do</strong>is importantes trabalhos que tratam <strong>de</strong>ssa questão <strong>da</strong>s sesmarias e terras públicas: a) “Tombo <strong>da</strong>s<br />

terras municipais”, <strong>do</strong> verea<strong>do</strong>r Roberto Ha<strong>do</strong>ck Lobo, publica<strong>da</strong> em 1860; b) “A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e seu termo: ensaio urbanológico”, <strong>do</strong><br />

engenheiro João <strong>da</strong> Costa Ferreira, publica<strong>do</strong> em 1933. (N.C.)


haven<strong>do</strong> para eles prontos recursos <strong>de</strong> sofisma<strong>da</strong> jurisprudência, levanta<strong>da</strong> pela advocacia ladina <strong>da</strong><br />

época.<br />

Quanto à vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s duas precita<strong>da</strong>s sesmarias não <strong>de</strong>ve pa<strong>de</strong>cer dúvi<strong>da</strong>, à vista <strong>da</strong> interpretação<br />

histórica. São concessões legítimas que guar<strong>da</strong>m a mesma origem enfitêutica. A sesmaria concedi<strong>da</strong> por<br />

Estácio <strong>de</strong> Sá traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1565 e compreen<strong>de</strong> uma légua e meia <strong>de</strong> terra, “a começar<br />

<strong>da</strong> casa <strong>de</strong> pedra ao longo <strong>da</strong> baía até on<strong>de</strong> se acabar, e para o sertão o mesmo e que virá sair à costa <strong>do</strong><br />

mar brabo e Gávea...” “No dia 24 <strong>do</strong> mesmo mês e ano, junto à foz <strong>do</strong> rio Carioca, a Câmara foi emiti<strong>da</strong><br />

na posse pública e solene <strong>de</strong>ssa <strong>do</strong>ação, na pessoa <strong>do</strong> seu procura<strong>do</strong>r João Prosse.” * No ano <strong>de</strong> 1567,<br />

Mem <strong>de</strong> Sá confirmou e ampliou a sesmaria estaciana, alteran<strong>do</strong>-lhe, porém, o rumo, a fim <strong>de</strong> favorecer<br />

os primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, colocan<strong>do</strong>-os fora <strong>do</strong>s limites <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e livres, portanto, <strong>do</strong> pagamento <strong>de</strong> foros.<br />

Porfia<strong>da</strong> luta, a <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, pela posse <strong>da</strong>s suas sesmarias. Não só com os<br />

jesuítas, vence<strong>do</strong>res no pleito que levantaram contra o rumo <strong>da</strong> sesmaria municipal, e também com<br />

particulares intrusos. Afinal, sobre <strong>de</strong>cidir-se em <strong>de</strong>finitivo a respeito <strong>da</strong> <strong>de</strong>marcação <strong>da</strong>s suas sesmarias<br />

e <strong>do</strong> tombamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus bens, a Câmara man<strong>do</strong>u um procura<strong>do</strong>r a Lisboa, em 1642.<br />

Diligentemente operan<strong>do</strong>, esse emissário conseguiu <strong>do</strong> rei <strong>do</strong>m João IV a carta régia, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />

1643, que or<strong>de</strong>nou a <strong>de</strong>marcação e tombo <strong>da</strong>s terras e <strong>de</strong>mais bens <strong>da</strong> Câmara. Mas, os embaraços<br />

surgi<strong>do</strong>s, principalmente aqueles trazi<strong>do</strong>s pelos jesuítas, obstaram a execução <strong>do</strong> man<strong>da</strong><strong>do</strong> régio. Tentou<br />

cumpri-lo o ouvi<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Comarca, Manoel Dias Raposo, em 1667, expedin<strong>do</strong> atos enérgicos <strong>de</strong>fensores<br />

<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m social, <strong>do</strong> direito e <strong>da</strong> lei. Porém, <strong>da</strong> campanha inglória movi<strong>da</strong> pelos jesuítas, resultou-lhe<br />

terrível perseguição, confiscação <strong>de</strong> bens e encarceramento. Mais tar<strong>de</strong>, outras diligências junto ao<br />

governo <strong>de</strong> Portugal motivaram a Provisão Régia <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1712 – que man<strong>do</strong>u se medissem as<br />

terras <strong>da</strong> Câmara. Somente, quarenta e um anos <strong>de</strong>pois, em 1753, <strong>de</strong>u-se começo à medição, que durou<br />

cerca <strong>de</strong> um ano. Concluí<strong>da</strong>, seguiu-se logo o processo <strong>do</strong> seu julgamento e respectiva sentença a 20 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1755. Os limites <strong>de</strong>ssa sesmaria, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a dita medição, ficaram marca<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

maneira seguinte:<br />

Testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> Frente – Um rumo direto partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Flamengo e alcançan<strong>do</strong> o morro <strong>da</strong><br />

Conceição, no local <strong>da</strong> antiga fortaleza então ali existente, com pontos <strong>de</strong> referência na igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Efigênia, à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga. Outro rumo direito partin<strong>do</strong> também <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Flamengo e até alcançar<br />

o outeiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Copacabana, com referências nos morros <strong>da</strong> Viúva e <strong>da</strong> Babilônia.<br />

Testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> Fun<strong>do</strong>s – Seguiu-se a linha por diferentes rumos: <strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Conceição à rua <strong>da</strong><br />

Harmonia e <strong>da</strong>í à ilha <strong>do</strong>s Melões – <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> com os aterros sobre o mar – na praia <strong>do</strong>s Lázaros, em<br />

São Cristóvão. Da dita ilha, voltan<strong>do</strong>, veio costean<strong>do</strong> o morro <strong>de</strong> São Diogo até alcançar a embocadura<br />

<strong>do</strong> rio Catumbi, e atravessan<strong>do</strong> o mangue seguiu até a nascente <strong>do</strong> dito rio, na chácara <strong>da</strong> família Navarro<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, e, finalmente, <strong>da</strong> nascente à pedra <strong>do</strong> Bispo, na chácara <strong>de</strong> Bernar<strong>do</strong> Joaquim <strong>de</strong> Souza.<br />

Sesmaria <strong>de</strong> Sobejos<br />

Em 1667, a Câmara verifican<strong>do</strong> que entre o rumo <strong>da</strong> testa<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua sesmaria e o mar existiam<br />

terrenos <strong>de</strong>volutos e livres <strong>de</strong> foro, conseguiu <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> capitania, Dom Pedro Mascarenhas, a<br />

concessão <strong>de</strong>sses terrenos, por Provisão <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> maio <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1667. Essa concessão,<br />

conheci<strong>da</strong> por sesmaria <strong>de</strong> sobejos, compreen<strong>de</strong>u uma extensa área extramuros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a Carioca<br />

e o outeiro <strong>da</strong> Conceição. Alagadiça bastante, foi sen<strong>do</strong> aterra<strong>da</strong> e retalha<strong>da</strong> para a formação <strong>de</strong> rossios<br />

e construção <strong>da</strong> casaria. A sua frente era na travessa <strong>da</strong> Vala Gran<strong>de</strong> – atual rua Uruguaiana, e o fun<strong>do</strong>,<br />

bem irregular, estendia-se pouco além <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Conceição. Impropriamente, nessa sesmaria, procurase<br />

incluir a parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> antiga, entre a rua Uruguaiana e a Primeiro <strong>de</strong> Março. Nunca <strong>de</strong>marca<strong>da</strong>, a<br />

sesmaria <strong>de</strong> sobejos tornou-se litigiosa, não ten<strong>do</strong> o alvará régio <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1821, em absoluto,<br />

modifica<strong>do</strong> esta situação. Aqueles que a contestam trazem sempre os argumentos seguintes: a)<br />

continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ou não <strong>da</strong> área <strong>da</strong> sesmaria; b) legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ocupação <strong>de</strong>ssa área por particulares<br />

anteriormente à concessão; c) situação real <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s sobejos ao ser concedi<strong>da</strong> a sesmaria, em maio<br />

* Título <strong>de</strong> Concessão <strong>de</strong> Sesmaria, 1565, Arquivo Municipal. (N.A.)<br />

C A P Í T U L O I I | 4 9


5 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

<strong>de</strong> 1667; d) extensão e localização <strong>do</strong>s sobejos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se consi<strong>de</strong>re não contínua a área <strong>da</strong><br />

sesmaria. Com respeito a esses pontos, o esta<strong>do</strong> histórico <strong>da</strong> sesmaria <strong>de</strong> sobejos, seguramente<br />

averigua<strong>do</strong>, obriga a reconhecer que, em 1567, Mem <strong>de</strong> Sá, confirman<strong>do</strong> e amplian<strong>do</strong> a sesmaria <strong>de</strong><br />

1565, alterou o seu rumo no propósito <strong>de</strong> favorecer os primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

colocan<strong>do</strong>-os fora <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios <strong>da</strong> Câmara e portanto livres <strong>de</strong> foro. Foi um incentivo ao<br />

povoamento <strong>da</strong> incipiente ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Que o segun<strong>do</strong> capitão-mor, Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá, por sua vez, <strong>de</strong>u<br />

elastici<strong>da</strong><strong>de</strong> aos favores <strong>do</strong> seu tio Mem <strong>de</strong> Sá, permitin<strong>do</strong> o direito <strong>de</strong> edificação sem outro ônus <strong>do</strong> que<br />

o livre arbítrio <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um. Que em 1667 a Câmara <strong>de</strong>ixou claro reconhecer a existência, fora <strong>do</strong>s limites<br />

<strong>da</strong> sua sesmaria, <strong>de</strong> terras livres já ocupa<strong>da</strong>s, com sobejos ou encrava<strong>do</strong>s e os quais lhe foram então<br />

concedi<strong>do</strong>s. Que a ocupação <strong>de</strong>ssas terras alodiais se fizera por efeito <strong>de</strong> concessões <strong>do</strong>s primeiros<br />

governa<strong>do</strong>res – ou mesmo sem qualquer título, vin<strong>do</strong> os ocupantes a gozar <strong>do</strong> direito <strong>do</strong> primi capientis.<br />

Nesse mesmo campo histórico ain<strong>da</strong> temos a carta <strong>da</strong> Câmara ao rei <strong>de</strong> Portugal, em 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1730, pela qual se vê que entre as atuais ruas Primeiro <strong>de</strong> Março e Uruguaiana bem poucos os terrenos<br />

sobre os quais a Câmara podia exercer o senhorio direto. O já cita<strong>do</strong> alvará <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1821<br />

garantiu aos posseiros <strong>de</strong> terrenos na <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> sua expedição to<strong>do</strong>s os direitos antigos, e é em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse alvará que a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> não tem outros direitos na sesmaria <strong>de</strong> sobejos, senão aqueles que lhe<br />

foram conserva<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s pelo dito alvará. Assim sen<strong>do</strong>, pouco acerta<strong>do</strong>, na<strong>da</strong> prático e nem<br />

mesmo jurídico, modifica-se a situação que usufruem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> séculos, por seus antecessores, os atuais<br />

proprietários.


C A P Í T U L O I I I<br />

M a r i n h a s


5 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Marinha é o lugar <strong>da</strong> praia on<strong>de</strong> a água se junta, cristalizan<strong>do</strong>-se em sal – segun<strong>do</strong> a antiga<br />

<strong>de</strong>finição <strong>do</strong> notável filólogo frei Domingos Vieira. Entre os direitos reais figuravam as ren<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s marinhas <strong>de</strong> sal que os antigos reis, por usança <strong>de</strong> longo tempo, acostumavam <strong>de</strong> haver e<br />

l e v a r. * Mo<strong>de</strong>rnamente, marinhas são as terras banha<strong>da</strong>s pelo mar ou pelos rios navegáveis na respectiva<br />

foz e à distância <strong>de</strong> 33m <strong>do</strong> ponto a que atinge o preamar médio. ** O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>spreocupou-se muito <strong>do</strong><br />

seu <strong>do</strong>mínio sobre as marinhas e somente no século XVIII, pelas aperturas <strong>do</strong> Erário Real, começou a<br />

cui<strong>da</strong>r com interesse <strong>de</strong>ssa fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, dispon<strong>do</strong> medi<strong>da</strong>s que melhor assegurassem os direitos <strong>da</strong><br />

Coroa sobre esse patrimônio e que tornassem eficaz a arreca<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s rendimentos por ele produzi<strong>do</strong>.<br />

Por ser contrário à economia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, à reserva e à monopolização <strong>de</strong>ssas marinhas pela Coroa, na<br />

forma <strong>do</strong> disposto pelo Foral <strong>do</strong> Reino <strong>de</strong> Portugal, o governo português veio a resolver, afinal, a<br />

supressão <strong>da</strong> regalia, e a concessão <strong>da</strong>s marinhas, por emprazamento e aforamento, às pessoas abona<strong>da</strong>s<br />

que as aproveitassem <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente. É assim que o alvará <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1769 dispôs com respeito aos<br />

salga<strong>do</strong>s e sapais <strong>de</strong> Távora, no reino <strong>do</strong> Algarve. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, dizia-se marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> to<strong>do</strong> o<br />

litoral <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Santa Luzia até São Bento. Uma valiosa parte <strong>de</strong>ssa marinha, que correspon<strong>de</strong> à quadra<br />

entre as ruas Primeiro <strong>de</strong> Março, Rosário, Merca<strong>do</strong> e travessa <strong>do</strong> Tinoco, a Câmara aforou a Salva<strong>do</strong>r<br />

Corrêa <strong>de</strong> Sá e Benavi<strong>de</strong>s, *** o qual levantou, aí, a Casa <strong>da</strong> Balança para a pesagem, <strong>de</strong>pósito e embarque<br />

<strong>da</strong>s caixas <strong>de</strong> açúcar (1637/1643). Mais tar<strong>de</strong>, serviu <strong>de</strong> trapiche <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong>, em 1710, se refugiou<br />

Duclerc, chefe <strong>da</strong> primeira invasão francesa no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> os holan<strong>de</strong>ses, em 1614, invadiram o norte <strong>do</strong> Brasil, o governo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

acautelan<strong>do</strong>-se, reforçou a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> Guanabara e projetou, então, uma fortaleza sobre uma lage à sua<br />

entra<strong>da</strong>. Para o custeio <strong>de</strong>ssa obra – fortaleza <strong>da</strong> Lage – recorreu-se ao povo por subscrições, e fez-se a<br />

ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s terrenos <strong>da</strong> marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>volutos e na forma <strong>do</strong> <strong>de</strong>libera<strong>do</strong> em vereança <strong>da</strong><br />

Câmara, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1646.<br />

Pela ocupação <strong>de</strong>ssa cita<strong>da</strong> marinha já questionavam a Câmara e a Fazen<strong>da</strong> Real, no fim <strong>do</strong> século<br />

XVII. O governo <strong>da</strong> Metrópole, para o qual recorriam os questionantes, man<strong>da</strong>va dissesse o governa<strong>do</strong>r,<br />

com segurança, sobre o que pensasse <strong>do</strong> assunto. **** Em 1726, como se esperava, pela sua animosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

contra os verea<strong>do</strong>res, o governa<strong>do</strong>r, respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao rei, sobre se entre o mar e as novas edificações<br />

<strong>de</strong>veriam mediar marinhas e que quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>, disse o seguinte: “... que o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, aforan<strong>do</strong><br />

para a parte <strong>do</strong> mar, não <strong>de</strong>clarou a medição certa <strong>do</strong> chãos que aforava, e somente <strong>de</strong>terminou a largura<br />

e o fun<strong>do</strong> que ocupavam <strong>da</strong> rua Direita até o mar, aon<strong>de</strong> chegan<strong>do</strong> os primeiros e paran<strong>do</strong> neles as areias,<br />

se originava nova praia, na qual foram os foreiros acrescentan<strong>do</strong> os edifícios, e dizem que com este título<br />

lhes pertence tu<strong>do</strong> quanto largou o mar.” Em reposta, a Or<strong>de</strong>m Régia <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1726<br />

proibiu, sob rigorosas penali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a ocupação <strong>da</strong>s praias até o Valongo. Mas, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m,<br />

o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara continuou aforan<strong>do</strong> terrenos <strong>de</strong> marinhas. Em novembro <strong>de</strong> 1790, foram susta<strong>do</strong>s<br />

esses aforamentos, por força <strong>de</strong> um aviso <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 3 <strong>do</strong>s precita<strong>do</strong>s mês<br />

e ano. O Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara levou recurso ao Tribunal <strong>do</strong> Conselho Ultramarino, o qual, ouvin<strong>do</strong> a<br />

Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, confirmou a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> vice-rei, por serem as marinhas <strong>da</strong> inspeção <strong>da</strong><br />

Prove<strong>do</strong>ria Real. Ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, porém, a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Tribunal garantiu a recepção <strong>do</strong>s<br />

respectivos foros e laudêmios. Posteriormente, a velha questão sobre o que <strong>de</strong>veriam ser marinhas, foi<br />

como que dirimi<strong>da</strong> pelos avisos <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1818, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1826, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1827 e <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1832, os quais <strong>de</strong>finiram marinhas o espaço <strong>de</strong> terra compreendi<strong>do</strong> em 15<br />

braças entre a terra firme e o bater <strong>do</strong> mar em marés vivas. Com respeito a terrenos <strong>de</strong> marinhas sem<br />

títulos e já ocupa<strong>do</strong>s por edificações, man<strong>do</strong>u o aviso <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1830 que se processe contra os<br />

proprietários <strong>de</strong>ssas edificações, obrigan<strong>do</strong>-os ao cumprimento <strong>da</strong>s disposições <strong>do</strong>s artigos 42 e 43 <strong>da</strong><br />

lei <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> outubro. Essas questões sobre a posse e o uso <strong>da</strong>s marinhas e sobre a sua administração pelas<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>terminaram o que prescreve o art. 51 § 14, cap. IV, <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1831, origem <strong>da</strong> legislação em vigor sobre as nossas marinhas. A lei <strong>de</strong> 1831 entregou às Câmaras<br />

Municipais <strong>do</strong> Império os terrenos <strong>de</strong> marinhas reclama<strong>do</strong>s para logra<strong>do</strong>uros públicos, e também <strong>de</strong>u<br />

po<strong>de</strong>res ao ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, na Corte, e os presi<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s Conselhos, nas províncias, para julgar<br />

<strong>da</strong>s concessões e aforar a particulares aqueles <strong>de</strong> tais terrenos que julgassem convenientes e segun<strong>do</strong> o<br />

maior interesse <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Pública. Somente a 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1832 foram conheci<strong>da</strong>s as instruções<br />

referentes à lei <strong>de</strong> 1831.<br />

* Or<strong>de</strong>nações – Livros I, II e IV – Tomos 1, 26 e 62. (N.A.).<br />

** Aviso <strong>de</strong> n. 373, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1833. (N.A.)<br />

*** Na maioria <strong>do</strong>s textos aparece como Benevi<strong>de</strong>s. (N.E.)<br />

**** Or<strong>de</strong>ns Régias, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1710 e 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1725. (N.A.)


No município <strong>da</strong> Corte a medição <strong>da</strong>s marinhas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à utili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública ficou a cargo<br />

<strong>da</strong> Inspetoria <strong>de</strong> Obras <strong>do</strong> Império, haven<strong>do</strong> porém o entendimento direto entre a Ilustríssima<br />

Câmara e o Ministério <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, na forma prevista pela portaria <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1831.<br />

Ain<strong>da</strong> em outubro <strong>de</strong> 1832, reclamava a Ilustríssima Câmara <strong>do</strong> Governo Geral a entrega <strong>do</strong>s<br />

terrenos que pedira no interesse público. Questões surgiram, crian<strong>do</strong>-se um cipoal <strong>de</strong> opiniões e<br />

<strong>do</strong>utrinas que dificultaram a posse <strong>de</strong>sses terrenos e <strong>do</strong>s encrava<strong>do</strong>s pela municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> a <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1832, e na forma <strong>do</strong><br />

parecer <strong>da</strong> respectiva comissão, <strong>da</strong> qual foi relator o verea<strong>do</strong>r Joaquim José Pereira <strong>de</strong> Faro,<br />

futuro primeiro barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Bonito, as chama<strong>da</strong>s reservas <strong>de</strong> marinhas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à servidão<br />

pública compreendiam áreas extensas no litoral <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. É assim que foram reserva<strong>da</strong>s, na praia<br />

<strong>do</strong>s Mineiros, 612,5 braças quadra<strong>da</strong>s entre o edifício <strong>do</strong> Consula<strong>do</strong> – Alfân<strong>de</strong>ga – à direita, e o<br />

Arsenal <strong>de</strong> Marinha, à esquer<strong>da</strong>, confrontan<strong>do</strong> pela frente com as casas situa<strong>da</strong>s entre as ruas <strong>da</strong>s<br />

Violas – <strong>de</strong>pois Teófilo Otoni, e <strong>do</strong>s Pesca<strong>do</strong>res – atual Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma. Na praia <strong>do</strong> Peixe<br />

– rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s nossos dias – 1.260 braças quadra<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s quais se aproveitaram como<br />

logra<strong>do</strong>uro público apenas 787,5 braças, entre a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r e o largo <strong>do</strong> Paço – agora, praça<br />

Quinze <strong>de</strong> Novembro, junto ao tanque bebe<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> animais que ficava entre o terreno <strong>da</strong><br />

Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Cruz <strong>do</strong>s Militares, à esquer<strong>da</strong>, e aquele dito largo à direita, e com frente às bancas<br />

<strong>do</strong> peixe. Na Prainha, 345 palmos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o trapiche <strong>do</strong> Sal, <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Nacional, até o<br />

C A P Í T U L O I I I | 5 3<br />

Augusto Malta, 1904 – Praia <strong>de</strong> Botafogo (obras <strong>de</strong> alargamento e construção <strong>de</strong> um dique para contenção <strong>da</strong>s marés na parte sul <strong>da</strong> praia). Obras<br />

<strong>de</strong> melhoramentos na praia <strong>de</strong> Botafogo, com a aveni<strong>da</strong> Beira-mar, antes <strong>de</strong> seu ajardinamento, notan<strong>do</strong>-se as belas residências que <strong>de</strong>ram fama<br />

ao bairro; à direita, o campanário <strong>da</strong> igreja Imacula<strong>da</strong> Conceição, inaugura<strong>da</strong> em 1892, serve como ponto <strong>de</strong> referência.


5 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

pertencente a Francisco Antônio <strong>de</strong> Oliveira Bastos, e mais 225 palmos pelo la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Forca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a casa<br />

<strong>de</strong> Antônio Fernan<strong>de</strong>s Pereira até o trapiche <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> Bastos. Esse terreno <strong>de</strong> 225 palmos era ocupa<strong>do</strong><br />

pelas barracas <strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> barcos <strong>de</strong> pesca <strong>do</strong> comércio <strong>de</strong> costa – cabotagem. Ele não estava<br />

compreendi<strong>do</strong> pelo plano, já aprova<strong>do</strong> pelo governo, para a formação <strong>de</strong> um rossio e merca<strong>do</strong> na<br />

Prainha, em frente aos antigos quartéis <strong>da</strong> Polícia. Pela sua localização era o ponto que se oferecia mais<br />

próprio para o ancora<strong>do</strong>uro <strong>do</strong>s barcos provin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Iguaçu e Pavuna com carregamento <strong>de</strong> café e<br />

também <strong>do</strong>s que provinham <strong>de</strong> outros mais portos <strong>do</strong> Recôncavo, trazen<strong>do</strong> os gêneros necessários à<br />

avulta<strong>da</strong> população <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ain<strong>da</strong> reservas <strong>de</strong> Marinhas eram no Valongo – atual rua Camerino, 250<br />

palmos para aumentar a largura <strong>da</strong> rampa, porque crescia dia a dia o número <strong>da</strong>s embarcações que ali<br />

aportavam com mantimentos, frutas, ma<strong>de</strong>iras, cal e tijolo. Também no litoral oeste <strong>da</strong> baía existiram<br />

reservas, cerca <strong>de</strong> 102 braças <strong>de</strong> extensão, com diferentes larguras. Há na <strong>do</strong>cumentação <strong>do</strong>s reserva<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> marinhas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s curiosas que interessam, e bastante, à história <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, quanto à<br />

transformação material <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e nota<strong>da</strong>mente em relação ao aspecto físico <strong>do</strong> seu primitivo litoral.<br />

Sensíveis foram as transformações opera<strong>da</strong>s pela natureza e pela mão <strong>do</strong> homem. As aluviões marinhas<br />

que se formaram pela costa dizem bastante <strong>do</strong> que foi o recuo <strong>do</strong> mar num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong><br />

século. É certo, pois, que a maior parte <strong>do</strong> solo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na antiga faixa litorânea, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Botafogo até<br />

o Caju, não tem outra origem. Por força <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1834, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> tornou-se<br />

usufrutuária <strong>do</strong>s rendimentos <strong>do</strong>s foros <strong>de</strong> marinha, na compreensão <strong>do</strong> seu município, inclusive os <strong>do</strong><br />

mangue vizinho à Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. As leis recentes sobre a organização municipal <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

tiraram essas vantagens. As questões <strong>de</strong> posse intrusa <strong>de</strong> marinhas e as sobre o comisso foram muitas e<br />

complica<strong>da</strong>s, forman<strong>do</strong> um aglomera<strong>do</strong> <strong>de</strong> opiniões e pareceres, divergências curiosas e diferentes<br />

<strong>de</strong>cisões – embora idênticos os casos julga<strong>do</strong>s. Ninguém melhor <strong>do</strong> que Luiz Antônio Navarro <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, como profun<strong>do</strong> conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> assunto, pelo que relatou na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> diretor <strong>do</strong> Patrimônio<br />

Municipal, para confirmar o que escrevemos. Interessantes os comentários, infelizmente esparsos,<br />

acerca <strong>da</strong>s Instruções <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1889. Essas Instruções e to<strong>da</strong>s<br />

que se seguiram até o ano <strong>de</strong> 1900, foram revoga<strong>da</strong>s pela lei 741, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1900, que<br />

reconheceu o direito <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral aos favores <strong>da</strong> lei 3.348, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1887, em to<strong>da</strong> a<br />

sua plenitu<strong>de</strong>. Finalmente, <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que se praticou em relação às marinhas, acresci<strong>do</strong>s e mangues,<br />

resultou o regime híbri<strong>do</strong> a que foram subordina<strong>do</strong>s esses terrenos no município <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, aliás,<br />

sem motivo plausível. A municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> capital <strong>do</strong> Brasil, conseqüentemente, podia aforá-los, mas<br />

sempre na <strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> autorização <strong>do</strong> governo geral; usufruía, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, os seus foros e laudêmios,<br />

sem ter, porém, sobre esses terrenos o direito <strong>de</strong> opção e prelação.


C A P Í T U L O I V<br />

Bo t a f og o


5 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Os primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em face <strong>do</strong>s aci<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> solo que conquistavam,<br />

assaz <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> para eles, foram se localizan<strong>do</strong> on<strong>de</strong> mais prontos se mostrassem os meios <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

e <strong>de</strong> segurança. Assim, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> evoluiu aos saltos, entre colinas e por diferentes pontos, mais ou menos<br />

distancia<strong>do</strong>s uns <strong>do</strong>s outros. De permeio, ficaram lugares que, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos e por <strong>de</strong>terminantes<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica, política, social e mesmo religiosa, se tornaram bem povoa<strong>do</strong>s e evoluíram <strong>de</strong><br />

maneira a suplantar as primeiras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s vizinhas, muitas <strong>da</strong>s quais caíram em completa <strong>de</strong>cadência.<br />

Nesses povoa<strong>do</strong>s, têm a sua origem os bairros <strong>da</strong> antiga ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. E<br />

são esses os bairros que, ao impulso constante <strong>da</strong> evolução <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, formam nos nossos dias<br />

centros populosos <strong>de</strong> adianta<strong>do</strong> comércio e <strong>de</strong> continua<strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nas suas ramificações, a serra<br />

<strong>do</strong> Corcova<strong>do</strong> forma ao sul extenso vale, no qual está assente o velho bairro <strong>de</strong> Botafogo. 3 Na antiga<br />

praia <strong>de</strong> Socopenapan – praia <strong>do</strong>s socós, atual Copacabana, abria-se a garganta <strong>do</strong> vale, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s brejos<br />

e restingas que <strong>de</strong>sapareceram em conseqüência <strong>do</strong>s arruamentos e <strong>da</strong>s edificações que se fizeram. A<br />

bor<strong>da</strong> <strong>do</strong> vale era a praia <strong>de</strong> Botafogo, em curva longa e bem reentrante e fecha<strong>da</strong> nos extremos pelo<br />

morro <strong>da</strong> Viúva, à esquer<strong>da</strong> e o <strong>do</strong> Matias à direita. Entre o Pasma<strong>do</strong> e a Urca, a praia <strong>de</strong> areias<br />

avermelha<strong>da</strong>s <strong>do</strong> porto abriga<strong>do</strong>, no qual <strong>de</strong>sembarcou * Martim Afonso <strong>de</strong> Souza, em 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1531, e também o primeiro capitão-mor <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Estácio <strong>de</strong> Sá, em março <strong>de</strong> 1565. To<strong>do</strong> esse<br />

aspecto transformou-se no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, pelos aterros sobre o mar, cortes <strong>de</strong> morros e outras causas.<br />

No vale <strong>de</strong> Botafogo, localizaram-se os expedicionários portugueses <strong>de</strong> 1565, os quais lograram terras<br />

nesse pitoresco sítio. Abriram-se caminhos, levantaram-se engenhos e olarias e as terras cobriram-se <strong>de</strong><br />

granjearias, que prosperaram bastante e <strong>de</strong>ram origem às famosas quintas e chácaras <strong>do</strong> século XVIII.<br />

Senhores <strong>de</strong> engenho e oleiros enriqueceram e os seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, <strong>do</strong>nos <strong>de</strong> sóli<strong>da</strong>s fortunas, educa<strong>do</strong>s<br />

e instruí<strong>do</strong>s, criaram uma existência mais sociável e <strong>de</strong> mais conforto material. Alguns, já fi<strong>da</strong>lgos,<br />

instalaram-se principescamente em residências construí<strong>da</strong>s à beira <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> Botafogo, antiga João <strong>de</strong><br />

Souza. E foi essa <strong>de</strong>scendência <strong>de</strong> obreiros <strong>do</strong> campo que fez o fausto <strong>da</strong> corte <strong>do</strong>s vice-reis <strong>do</strong> Brasil e<br />

também <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>scendência saíram nobres ilustres, que engran<strong>de</strong>ceram o reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Dom Pedro II.<br />

<strong>Terras</strong> <strong>de</strong> Botafogo<br />

As terras <strong>de</strong> Botafogo são foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Apontam-se exceções, em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alega<strong>do</strong>s direitos bem pouco averigua<strong>do</strong>s. Para favorecer o progresso <strong>do</strong> lugar, a Câmara, logo<br />

no começo <strong>do</strong> século XVII, proce<strong>de</strong>u à <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong>s terras, mesmo <strong>da</strong>quelas já afora<strong>da</strong>s. Um <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>smembramentos <strong>de</strong>u origem à quinta <strong>de</strong> São Clemente, que pertenceu ao padre Clemente Martins <strong>de</strong><br />

Matos, até 1702. 4 Quan<strong>do</strong> esse sacer<strong>do</strong>te faleceu, a 8 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> dito ano, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, sua terra<br />

natal, já a quinta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1675, estava <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> na parte sul, por on<strong>de</strong> corria antiquíssimo caminho,<br />

origem <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Berquó – atual General Poli<strong>do</strong>ro. O restante <strong>da</strong> quinta veio a pertencer a Pedro<br />

Fernan<strong>de</strong>s Braga e à sua mulher Bárbara Xavier <strong>de</strong> Carvalho e <strong>de</strong>smembrou-se por completo na partilha<br />

entre os filhos e her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>sse casal. O ricaço oleiro Francisco <strong>de</strong> Araújo Pereira adquiriu importante<br />

porção aos referi<strong>do</strong>s her<strong>de</strong>iros, no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Clemente, e que se estendia até o morro<br />

<strong>do</strong> Pasma<strong>do</strong>, com fun<strong>do</strong>s na lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. Essa porção veio a constituir a fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Olaria,<br />

que pertenceu mais tar<strong>de</strong> ao negociante Joaquim Marques Batista <strong>de</strong> Leão – o velho, administra<strong>do</strong>r e<br />

inventariante, <strong>do</strong>s avulta<strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pelo rico oleiro. O capitão Araújo Pereira fez <strong>do</strong>ações <strong>de</strong><br />

terras <strong>da</strong> sua fazen<strong>da</strong> a sobrinhos seus, sen<strong>do</strong> sessenta braças a João José <strong>da</strong> Fonseca Costa, por escritura<br />

<strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1814; cinqüenta e uma ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s à Joaquina Tomásia <strong>da</strong> Fonseca Costa Ramos;<br />

e ao coronel Manoel Antônio <strong>da</strong> Fonseca Costa e esposa, Maria Balbina <strong>da</strong> Costa Barros Fonseca, foi<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong> o sítio <strong>do</strong> Grotó, em terras <strong>da</strong> mesma fazen<strong>da</strong> na estra<strong>da</strong> geral – hoje, rua Humaitá – e on<strong>de</strong><br />

também tinham frente as sessenta braças <strong>de</strong> João José <strong>da</strong> Fonseca Costa, o qual levantou nas mesmas<br />

magnífica viven<strong>da</strong>, que, por sua morte, passou a um seu filho menor <strong>de</strong> nome João Francisco, tutela<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> sua mãe, Luiza Benedita <strong>da</strong> Cunha Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. É interessante dizer que o barão <strong>da</strong> Gávea, um vulto<br />

notável <strong>do</strong> Império, era filho <strong>de</strong> João José <strong>da</strong> Fonseca Costa e Luiza Benedita <strong>da</strong> Cunha Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. As<br />

<strong>do</strong>ações precita<strong>da</strong>s motivaram <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s em juízo, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> morte <strong>do</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r, suscita<strong>da</strong>s pelo já cita<strong>do</strong><br />

* Como já explicamos, a famosa “Casa <strong>de</strong> Pedra” foi construí<strong>da</strong> na praia <strong>do</strong> Flamengo, em 1531. (N.C.)


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administra<strong>do</strong>r Batista <strong>de</strong> Leão com o intuito <strong>de</strong> anulá-las, principalmente quanto à <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong> Grotó.<br />

Afinal, as terras <strong>da</strong> Olaria retalharam-se para abertura <strong>de</strong> ruas e para a construção <strong>do</strong> casario, viven<strong>do</strong><br />

ain<strong>da</strong> o velho Marques <strong>de</strong> Leão, <strong>de</strong> quem se fizera mentor Luiz Alves <strong>da</strong> Silva Porto, homem ladino que<br />

adquiriu gran<strong>de</strong> fortuna no artifício e engenho <strong>do</strong>s seus negócios. É assim que, na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

prédios e terrenos <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s por Marques <strong>de</strong> Leão aos seus filhos, Antônio, Joaquim e Maria, vieram a<br />

ser hipoteca<strong>do</strong>s ao referi<strong>do</strong> procura<strong>do</strong>r, o qual em juízo moveu ação <strong>de</strong> penhora, que lhe <strong>de</strong>u ganho <strong>de</strong><br />

causa, com a adjudicação obti<strong>da</strong>. E foi, ain<strong>da</strong>, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão referi<strong>da</strong>, uma gran<strong>de</strong> vantagem<br />

consegui<strong>da</strong> por Silva Porto o aforamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os terrenos adjudica<strong>do</strong>s, que lhe conce<strong>de</strong>u a<br />

Ilustríssima Câmara, em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1834. Por morte <strong>de</strong> Silva Porto e <strong>da</strong> sua mulher, os terrenos<br />

passaram aos sete filhos <strong>do</strong> casal, to<strong>do</strong>s com os seus títulos <strong>de</strong> aforamentos registra<strong>do</strong>s no antigo Tombo<br />

<strong>da</strong>s <strong>Terras</strong> Municipais <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1885. Eduar<strong>do</strong> Alves <strong>da</strong><br />

Silva Porto, por sucessão <strong>do</strong>s seus irmãos, ten<strong>do</strong> fica<strong>do</strong> único possui<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s terrenos, propôs à<br />

<strong>Prefeitura</strong>, em 1931, comprar o <strong>do</strong>mínio direto <strong>do</strong>s mesmos. Não pô<strong>de</strong>, porém, a proposta ser aceita,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à situação política <strong>do</strong> momento.<br />

Em terras <strong>de</strong> Botafogo plantaram-se extensas chácaras, to<strong>da</strong>s foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A que<br />

pertenceu ao <strong>de</strong>ão <strong>da</strong> Sé, Gaspar Gonçalves <strong>de</strong> Araújo, 5 veio a ser compra<strong>da</strong>, em 1754, pela quantia <strong>de</strong><br />

três mil e quinhentos cruza<strong>do</strong>s, por Antônia Maria Pizarro, que tirou carta <strong>de</strong> aforamento, em 12 <strong>de</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1755. Essa chácara media duzentas braças <strong>de</strong> frente pela praia <strong>de</strong> Botafogo, entre a quinta <strong>de</strong> São<br />

Clemente, à esquer<strong>da</strong>, e as terras <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Souza Andra<strong>de</strong>, à direita. Por morte <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> senhora,<br />

ficou <strong>do</strong>na <strong>da</strong> chácara uma sua filha <strong>de</strong> nome Ana Clara Xavier Pizarro, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara<br />

conce<strong>de</strong>u um novo título <strong>de</strong> aforamento, em 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1790.<br />

Na memória sobre o bispo Gua<strong>da</strong>lupe * escreve o magistral José Joaquim Pinheiro sobre o <strong>de</strong>ão<br />

Gaspar, o seguinte: “... sapientíssimo varão, certamente digno <strong>de</strong> século mais fulgente e glória<br />

perdurável...”. Continuemos, porém, com a notícia <strong>da</strong>s chácaras <strong>do</strong> velho bairro <strong>de</strong> Botafogo. Além <strong>da</strong><br />

chácara <strong>do</strong> Deão, já noticia<strong>da</strong>, mais três existiram – extensas e bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s: a chácara <strong>do</strong> Cura <strong>da</strong> Sé,<br />

a chácara <strong>do</strong> Licencia<strong>do</strong> e a chácara <strong>do</strong> Secretário. A <strong>do</strong> Cura <strong>da</strong> Sé era constituí<strong>da</strong> por duas chácaras<br />

místicas que pertenceram à Teresa Ferreira <strong>de</strong> Carvalho e <strong>de</strong>pois a seu filho e her<strong>de</strong>iro monsenhor<br />

Antônio Rodrigues <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, cura <strong>da</strong> Sé <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Era situa<strong>da</strong> no caminho para a Copacabana<br />

e aparece afora<strong>da</strong>, em 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1792, a monsenhor Miran<strong>da</strong>, 6 figura <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>do</strong> clero pelas<br />

posições que ocupou. A chácara <strong>do</strong> Licencia<strong>do</strong>, assim chama<strong>da</strong> por pertencer ao licencia<strong>do</strong> – bacharel<br />

em leis – Bernar<strong>do</strong> José Tavares, ficava entre a <strong>do</strong> Secretário, a nor<strong>de</strong>ste, e a <strong>do</strong> Brocó, a su<strong>do</strong>este. O<br />

Título <strong>do</strong> Aforamento <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong>ssa chácara traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1794, em nome <strong>do</strong><br />

bacharel Tavares. Finalmente, a chácara <strong>do</strong> Secretário, na paragem <strong>de</strong> Botafogo, entre a olaria <strong>do</strong> capitão<br />

Francisco <strong>de</strong> Araújo Pereira e a chácara <strong>do</strong> licencia<strong>do</strong> Tavares, e com frente à praia Vermelha. Pertenceu<br />

também à Bernar<strong>da</strong> Maria <strong>de</strong> Castro até o ano <strong>de</strong> 1807, quan<strong>do</strong> foi vendi<strong>da</strong> a Manoel José Francisco<br />

Guimarães que, durante vinte e um anos, permaneceu intruso na posse <strong>da</strong> chácara, e somente veio a<br />

legalizar a situação força<strong>do</strong> por uma <strong>de</strong>núncia leva<strong>da</strong> à Ilustríssima Câmara, em 1827. Ultima<strong>do</strong> o<br />

processo <strong>da</strong> legalização, recebeu, então, Francisco Guimarães o seu título <strong>de</strong> foreiro, a 17 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1828. Ain<strong>da</strong> foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> é a porção <strong>do</strong> vale <strong>de</strong> Botafogo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> São<br />

Clemente até as Laranjeiras e o Catete. Dos primitivos foreiros nessa região interessa conhecer apenas<br />

Sebastião Gonçalves e Miguel <strong>da</strong> Silva. O primeiro muito operou para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> lugar,<br />

enxugan<strong>do</strong> pântanos e abrin<strong>do</strong> vias públicas. A rua Sena<strong>do</strong>r Vergueiro é o antigo Caminho Velho <strong>de</strong><br />

Botafogo, aberto por Sebastião Gonçalves pela encosta <strong>da</strong> pedreira, nos alaga<strong>do</strong>s que enxugou. Miguel<br />

<strong>da</strong> Silva foi possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> terras beneficia<strong>da</strong>s que ven<strong>de</strong>u aos religiosos <strong>de</strong> São Bento e aos quais foram<br />

afora<strong>da</strong>s pela Câmara, em 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1681, à razão <strong>de</strong> quatrocentos réis anuais. Essas terras, à<br />

margem direita <strong>do</strong> rio Carioca, foram possuí<strong>da</strong>s, remotamente, por João Fagun<strong>de</strong>s Paris e sua mulher<br />

Petronilha Fagun<strong>de</strong>s, que as beneficiaram bastante e as ven<strong>de</strong>ram ao oleiro João Rodrigues, por escritura<br />

pública <strong>do</strong> notário Pedro <strong>da</strong> Costa, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1646. Por fim, Miguel <strong>da</strong> Silva, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

genro <strong>do</strong> oleiro Rodrigues ficou <strong>de</strong> posse <strong>da</strong>s terras em apreço. Também, nas nossas pesquisas pelos<br />

arquivos públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>scobrimos que os fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Bento, para benefício <strong>da</strong> religião,<br />

pediram, em 1618, à Câmara, por aforamento, vinte braças <strong>de</strong> pedreira ao pé <strong>da</strong> foz <strong>do</strong> rio Carioca –<br />

local <strong>do</strong> edifício <strong>do</strong> antigo e famoso Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros. ** Esse aforamento foi concedi<strong>do</strong> por<br />

* Memórias <strong>do</strong>s Prela<strong>do</strong>s e Bispos <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – Arquivo <strong>do</strong> Cabi<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. (N.A.)<br />

** Restier Gonçalves enganou-se ao confundir a sesmaria <strong>do</strong>s beneditinos com o terreno on<strong>de</strong> foi construí<strong>do</strong> o Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros. Ficavam em<br />

lugares distintos: o prédio <strong>do</strong> hotel localizava-se na esquina <strong>da</strong> atual rua Barão <strong>de</strong> Flamengo com a praça José <strong>de</strong> Alencar, e o terreno <strong>do</strong> mosteiro <strong>de</strong><br />

São Bento começava na travessa <strong>do</strong>s Tamoios e se estendia até a praia <strong>de</strong> Botafogo. (N.C.)


Praça José <strong>de</strong> Alencar, ruas Sena<strong>do</strong>r Vergueiro e Marquês <strong>de</strong> Abrantes, segun<strong>do</strong> levantamento <strong>do</strong> ca<strong>da</strong>stro <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>de</strong> 1894.


Colégio Imacula<strong>da</strong> Conceição.


6 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

<strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1618, pelo tempo <strong>de</strong> vinte anos e à razão <strong>de</strong> duzentos réis<br />

anuais. Não obstante, quan<strong>do</strong> a Câmara, por edital <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1790, convi<strong>do</strong>u os seus foreiros<br />

a apresentar os títulos <strong>do</strong>s aforamentos para um novo registro, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> terem si<strong>do</strong> queima<strong>do</strong>s os<br />

respectivos originais no incêndio <strong>do</strong> Arquivo <strong>da</strong> Câmara, em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1790, os ditos religiosos não<br />

aten<strong>de</strong>ram ao convite e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, começaram a questionar com a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, negan<strong>do</strong> a esta os<br />

direitos <strong>de</strong> senhorio direto sobre os terrenos <strong>de</strong> que estavam <strong>de</strong> posse em Botafogo. Questão que teve o<br />

seu remate somente em 1928, com a <strong>de</strong>cisão arbitral <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> outubro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1928 –<br />

<strong>de</strong>cisão que sempre se nos afigurou estranhável, em face <strong>do</strong>s fatos históricos que passamos a narrar.<br />

No começo <strong>do</strong> século XIX, com as <strong>de</strong>smembrações <strong>da</strong>s antigas e extensas chácaras <strong>de</strong> Botafogo<br />

e <strong>do</strong> Catete, verificaram-se os limites <strong>da</strong>s terras afora<strong>da</strong>s ao fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Bento como situa<strong>da</strong>s entre<br />

essas chácaras, que eram também foreiras ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Uma <strong>de</strong>ssas chácaras pertenceu ao<br />

sargento-mor Antônio José <strong>de</strong> Brito, que a <strong>de</strong>smembrou em parte, para ven<strong>de</strong>r e reservar, como reservou,<br />

maior porção, vendi<strong>da</strong> mais tar<strong>de</strong>, em 1859, pelos seus her<strong>de</strong>iros. Por ocasião <strong>de</strong>ssa ven<strong>da</strong> aos fra<strong>de</strong>s<br />

questionaram o laudêmio que a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> recebeu e embargaram a ven<strong>da</strong>. Mas per<strong>de</strong>ram a questão,<br />

por bem fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> sentença, favorável à Ilustríssima Câmara, <strong>do</strong> juiz municipal <strong>da</strong> 3ª Vara Cível <strong>da</strong><br />

Corte, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1859. Bem curiosos os autos <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, os quais conseguimos examinar,<br />

em 1924, num <strong>do</strong>s arquivos forenses, então à rua <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s. Instruin<strong>do</strong> esses autos, vimos a carta <strong>de</strong><br />

aforamento <strong>de</strong> terras e roças à praia <strong>de</strong> Botafogo, concedi<strong>da</strong> pela Câmara aos “fra<strong>de</strong>s beneditinos <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>”, a 22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1681; razões apresenta<strong>da</strong>s pelos ditos religiosos para a justificação <strong>do</strong><br />

embargo; comprovantes <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> foros <strong>de</strong> terrenos em Botafogo, pelo mosteiro <strong>de</strong> São Bento à<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e uma carta <strong>do</strong> superior <strong>da</strong> Casa Conventual <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, o notável monge frei<br />

José Policarpo <strong>de</strong> Santa Ana Gertru<strong>de</strong>s, sobre a remissão <strong>de</strong> foro <strong>do</strong> terreno à praia <strong>de</strong> Botafogo, canto<br />

<strong>do</strong> Caminho Novo – rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes, ocupa<strong>do</strong> pelo palacete <strong>da</strong> rainha Carlota Joaquina. Essa<br />

carta é <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1835 e nela está dito, por frei Policarpo, que a “religião não podia remir o que não era<br />

seu, pois o mosteiro era apenas enfiteuta <strong>da</strong> Câmara, e como tal isso não lhe era permiti<strong>do</strong>.” O Palacete,<br />

por morte <strong>da</strong> rainha, passou a seu filho – o impera<strong>do</strong>r Dom Pedro I, e por fim [foi] adquiri<strong>do</strong> pelo<br />

marquês <strong>de</strong> Abrantes.<br />

Um outro esbulho <strong>do</strong> patrimônio territorial <strong>do</strong> município praticou-se em terras <strong>do</strong> oleiro José Luiz<br />

<strong>da</strong> Mota, que as comprara aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Pedro Fernan<strong>de</strong>s Braga. Desmembração <strong>da</strong> quinta <strong>de</strong> São<br />

Clemente, que era foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, as terras <strong>de</strong> José Luiz <strong>da</strong> Mota estavam, pois, obriga<strong>da</strong>s a<br />

foro, que ele, posseiro Mota, sempre pagou, seguin<strong>do</strong> o procedimento <strong>do</strong>s posseiros seus antecessores.<br />

Elas tinham frente na praia <strong>de</strong> Botafogo, entre o Caminho <strong>do</strong> Carro, atual rua São Clemente, e o riacho<br />

Banana Podre, e os seus fun<strong>do</strong>s alcançavam as vertentes <strong>da</strong> serra. O riacho corria tortuoso até a praia <strong>de</strong><br />

Botafogo, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>saguava a pouca distância <strong>do</strong> local em que, nos nossos dias, se encontra a capela <strong>do</strong><br />

colégio <strong>da</strong> Imacula<strong>da</strong> Conceição. As terras <strong>do</strong> oleiro Mota, em várzea, com lugares arenosos e terrenos<br />

<strong>de</strong> argila, eram ótimas para qualquer cultura, e o referi<strong>do</strong> posseiro soube aproveitá-las, plantan<strong>do</strong> uma<br />

boa e extensa chácara, já pertencen<strong>do</strong>, em 1804, ao licencia<strong>do</strong> José Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> – mais tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O licencia<strong>do</strong> ou bacharel Figueire<strong>do</strong> contestou sempre o<br />

senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o chão <strong>da</strong> sua chácara e, retalhan<strong>do</strong>-a em parte, negociou a<br />

ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s retalhos como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> bens alodiais, e à revelia <strong>da</strong> administração municipal assim foram<br />

feitas to<strong>da</strong>s as ven<strong>da</strong>s e transmissões até 1832. Em sessão <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>do</strong> dito ano, a Ilustríssima<br />

Câmara, <strong>de</strong>nuncia<strong>da</strong> a irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong> que vinha <strong>de</strong> cometer o dr. Figueire<strong>do</strong>, <strong>de</strong>liberou chamá-lo a juízo<br />

para prestar contas <strong>do</strong>s laudêmios, in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente por ele recebi<strong>do</strong>s. No começo, a questão teve rápi<strong>do</strong><br />

an<strong>da</strong>mento e foi discuti<strong>da</strong> fortemente. Mas a posição social e a força política <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> abafaram-na e<br />

fizeram-na esqueci<strong>da</strong>. Em 1844, encontramos <strong>de</strong> novo a Ilustríssima Câmara a discutir com o dr.<br />

Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> por causa <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> que ele fizera <strong>de</strong> mais uma porção <strong>da</strong> chácara questiona<strong>da</strong>,<br />

sem a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> permissão <strong>do</strong> senhorio direto, que era municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Foi compra<strong>do</strong>r o dr. Estácio Goulart<br />

Pereira que entrou também em litígio com a Câmara Municipal. Por ocasião <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> querela, a<br />

Ilustríssima Câmara, na representação que levou ao governo imperial, assumiu uma atitu<strong>de</strong> bastante<br />

enérgica ao expor os fatos, mostran<strong>do</strong> a cavilação <strong>do</strong>s seus agentes. Porém, mais uma vez, acomo<strong>do</strong>use<br />

o caso. Em 1850, interessa<strong>do</strong> em cortar o resto <strong>da</strong> chácara para abrir ruas e ven<strong>de</strong>r terrenos, o<br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Figueire<strong>do</strong> procurou, pacificamente, um entendimento com a Ilustríssima Câmara,


C A P Í T U L O I V | 6 1<br />

propon<strong>do</strong>-lhe a compra <strong>do</strong> senhorio direto <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> chácara. Entretanto, com a morte <strong>do</strong> proponente,<br />

as negociações suspen<strong>de</strong>ram-se, e somente em junho <strong>de</strong> 1854 foram ultima<strong>da</strong>s com o viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Olin<strong>da</strong>, sogro <strong>do</strong> fina<strong>do</strong>, representan<strong>do</strong> os <strong>de</strong>mais her<strong>de</strong>iros. Levou-se a efeito a remissão <strong>do</strong>s foros por<br />

três apólices <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pública, <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis ca<strong>da</strong> uma.<br />

Vem a propósito recor<strong>da</strong>r que, em 1916, quan<strong>do</strong> prefeito <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, o dr. Antônio<br />

Augusto <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Sodré dirigiu mensagem ao Conselho Municipal sobre reunir-se os foros e<br />

consoli<strong>da</strong>r-se o <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os terrenos <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s em enfiteuse. O produto <strong>do</strong> resgate<br />

seria aplica<strong>do</strong> em construção <strong>de</strong> prédios escolares. Sobre essa mensagem, o eminente Epitácio Pessoa<br />

opôs um juízo – que é uma página <strong>de</strong> Direito bem importante e consta publica<strong>do</strong> no O Imparcial, <strong>de</strong> 29<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1916.<br />

Em voltan<strong>do</strong> à nossa narrativa, temos a dizer que nas exceções a que anteriormente aludimos, está<br />

incluí<strong>da</strong> a várzea ou areal <strong>da</strong> praia Vermelha e também o outeiro <strong>do</strong> fim <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> Botafogo, cujas terras<br />

foram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s livres pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em 1787, ten<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração o parecer <strong>do</strong> seu<br />

procura<strong>do</strong>r. Um oleiro chama<strong>do</strong> Antão Cosme ocupou e senhoreou essas terras durante anos e sem título<br />

que justificasse a ocupação. Levantou casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> coberta <strong>de</strong> telha, olaria, engenho, senzala, casas<br />

<strong>de</strong> sapê para colonos e outras benfeitorias. Ao fin<strong>da</strong>r o século XVII, já as terras estavam corta<strong>da</strong>s,<br />

constituin<strong>do</strong> duas chácaras místicas <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Outeiro, uma, e a outra <strong>do</strong> Areal, por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong><br />

primeira. A <strong>do</strong> Outeiro compreendia to<strong>da</strong> a área limita<strong>da</strong> agora pelas ruas <strong>da</strong> Passagem, antiga<br />

Copacabana, General Severiano, antiga Hospício <strong>de</strong> Dom Pedro II e, primitivamente, Caminho <strong>da</strong><br />

Azinhaga, e a rua João Faro, outrora Barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Bonito e, em época mais afasta<strong>da</strong>, Guapimirim.<br />

Confinava <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> com a chácara <strong>do</strong> Secretário e nos fun<strong>do</strong>s com a <strong>do</strong> Areal e nos seus limites estava<br />

compreendi<strong>do</strong> o outeiro ou colina – chama<strong>do</strong> mais tar<strong>de</strong> morro <strong>do</strong> Matias. A chácara <strong>do</strong> Outeiro<br />

pertenceu a Luiz Teixeira <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> e pela viúva <strong>de</strong>sse proprietário vendi<strong>da</strong> a Antônio Soares, em<br />

21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1734. Foram também <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> chácara em apreço Luiz <strong>de</strong> Freitas Serrão, Francisco<br />

Gomes Casa<strong>do</strong> e Pedro Gonçalves <strong>do</strong>s Santos Piteiro, que a tornou maior pela anexação <strong>de</strong> uma parte<br />

<strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Areal, que comprara. Piteiro dividiu a chácara em duas porções iguais, para constituir uma<br />

o <strong>do</strong>te <strong>de</strong> sacerdócio <strong>do</strong> seu filho Bruno <strong>do</strong>s Santos Piteiro. Por morte <strong>do</strong>s seus pais e <strong>da</strong> sua irmã Helena<br />

<strong>do</strong>s Santos Piteiro, o padre Bruno Piteiro ficou sen<strong>do</strong> o único <strong>do</strong>no <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Outeiro, vendi<strong>da</strong> por<br />

ele, em 18 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1787, a Manoel Francisco <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça e à sua mulher, Maria Nazareth Teles<br />

<strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça. Sobre essa ven<strong>da</strong> suscitaram-se dúvi<strong>da</strong>s que <strong>de</strong>terminaram uma nova escritura, em 18 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1789, ratifican<strong>do</strong> a primeira. Um outro padre, Luiz Corrêa Brandão, veio a possuir a chácara<br />

<strong>do</strong> Outeiro, por compra ao casal Men<strong>do</strong>nça. Por fim, vendi<strong>da</strong> a Matias Francisco Marques, negociante<br />

à praia <strong>do</strong>m Manoel, a importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> passou a ser conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong> Matias e a colina<br />

– morro <strong>do</strong> Matias. O padre Bruno Piteiro era natural <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e residia na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Porto, em<br />

Portugal. Joaquim José <strong>de</strong> Barros, seu procura<strong>do</strong>r no Brasil, recebeu <strong>de</strong>le uma carta, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 1781, sobre a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> chácara em apreço e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus haveres no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com<br />

lucros compensa<strong>do</strong>res, a fim <strong>de</strong> que melhor pu<strong>de</strong>sse se estabelecer em Portugal. A carta foi suspeita<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> falsa e somente aceita e cumpri<strong>da</strong>s as suas <strong>de</strong>terminações, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> confirma<strong>da</strong>, sob juramento in<br />

verbo sacer<strong>do</strong>tis, por frei Estevão <strong>da</strong> Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, carmelitano, resi<strong>de</strong>nte no convento <strong>do</strong> Carmo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> e irmão <strong>do</strong> padre Bruno Piteiro. Como <strong>de</strong>ixamos dito no começo, por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Outeiro estava a <strong>do</strong> Areal, adquiri<strong>da</strong> por Manoel Antunes <strong>da</strong> Silva, em 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1702. Era bem<br />

localiza<strong>da</strong> e banha<strong>da</strong> por um riacho que <strong>de</strong>saguava na praia Vermelha e pelo qual navegavam barcos,<br />

emprega<strong>do</strong>s no transporte <strong>de</strong> bebi<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>scarrega<strong>da</strong>s no porto <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> Chácara, junto a olaria <strong>de</strong><br />

Pedro Ferreira <strong>de</strong> Barros, com socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nesse comércio clan<strong>de</strong>stino e muito ren<strong>do</strong>so. Em morren<strong>do</strong><br />

Antunes <strong>da</strong> Silva, a sua viúva logo <strong>de</strong>smembrou <strong>da</strong> chácara uma extensa e larga faixa banha<strong>da</strong> pelo<br />

riacho e na qual estava compreendi<strong>do</strong> o porto <strong>da</strong> chácara. Essa <strong>de</strong>smembração foi vendi<strong>da</strong>, a 31 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1731, a dinheiro <strong>de</strong> conta<strong>do</strong> – dinheiro à vista – por cem mil réis fortes em moe<strong>da</strong> ouro. Não<br />

conseguimos <strong>de</strong>scobrir o nome <strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r, pois que a escritura <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> estava estraga<strong>da</strong> bastante<br />

pela traça e também quase to<strong>da</strong> a <strong>do</strong>cumentação relativa à chácara <strong>do</strong> Areal.


6 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo<br />

Te r renos <strong>do</strong>s Jardins Part i c u l a re s<br />

Depois <strong>de</strong> um largo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> esquecimento, a velha questão <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> jardins, à frente <strong>da</strong>s<br />

casas à praia <strong>de</strong> Botafogo, voltou a ser lembra<strong>da</strong> em 1839, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> melhoramentos <strong>de</strong>sse<br />

logra<strong>do</strong>uro, em cujo plano ela foi cogita<strong>da</strong> para a uniformização <strong>de</strong>sses jardins, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se-lhes<br />

alinhamento conveniente. Um <strong>de</strong>creto <strong>do</strong> governo imperial, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1839, autorizou a<br />

organização <strong>da</strong> Companhia Melhoramentos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Praia <strong>de</strong> Botafogo. Logo no ano seguinte,<br />

foram inicia<strong>do</strong>s os seus trabalhos sob a direção <strong>do</strong> abaliza<strong>do</strong> engenheiro Pedro Alcântara Belegard. Pelo<br />

plano Belegard, submeti<strong>do</strong> à Ilustríssima Câmara e por ela discuti<strong>do</strong> e aprova<strong>do</strong>, uma rua <strong>de</strong> sessenta<br />

palmos <strong>de</strong> largura seria forma<strong>da</strong> ao longo <strong>da</strong> praia, obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> à sua curva, reservan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>ze palmos<br />

<strong>de</strong> terreno em seguimento às casas, na frente <strong>de</strong>las, para servidão privativa <strong>do</strong>s seus mora<strong>do</strong>res, a fim <strong>de</strong><br />

cessar a velha usança <strong>de</strong> ocupar-se servidões públicas para recreio <strong>de</strong> particulares, com privança <strong>do</strong> gozo<br />

comum. Belos tempos... É certo que os protestos surgiram logo e que fortes embaraços foram levanta<strong>do</strong>s<br />

à execução <strong>do</strong> dito plano. Daí encontrar-se a Ilustríssima Câmara, ain<strong>da</strong> em 1846, diligencian<strong>do</strong> sobre a<br />

questão, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a conciliarem-se os interesses em jogo, sem prejuízo à causa pública. Afinal, agin<strong>do</strong><br />

em <strong>de</strong>finitivo e com energia, a Câmara <strong>de</strong>liberou, em 3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1846, fossem <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong>s gra<strong>de</strong>s<br />

e cercas que fechassem antigos jardins e manteve a concessão <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze palmos para a feitura <strong>de</strong> novos.<br />

Essa <strong>de</strong>liberação proibiu as cercas e estabeleceu um risco para o fechamento <strong>do</strong>s jardins com gradil <strong>de</strong><br />

ferro sobre muralha <strong>de</strong> cantaria. Mais uma vez, porém, na história <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> os célebres<br />

man<strong>da</strong><strong>do</strong>s proibitórios e <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> posse aparecem crian<strong>do</strong> obstáculos ao embelezamento e<br />

saneamento <strong>da</strong> metrópole <strong>do</strong> Brasil. Dez anos mais tar<strong>de</strong>, volta a ser <strong>de</strong>bati<strong>da</strong> a questão <strong>do</strong>s jardins, em<br />

presença <strong>de</strong> um pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> conceitua<strong>do</strong> professor inglês Tomás J. Hitchings para ajardinar a frente <strong>do</strong><br />

prédio nº 40, à praia <strong>de</strong> Botafogo, e no qual funcionava o seu afama<strong>do</strong> colégio. Em sessão <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1857, a Ilustríssima Câmara <strong>de</strong>liberou conce<strong>de</strong>r a licença, obrigan<strong>do</strong>-se o peticionário a<br />

assinar um termo <strong>de</strong> posse precária <strong>do</strong> terreno para o jardim. Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa concessão, vieram<br />

pedi<strong>do</strong>s idênticos, levan<strong>do</strong> a Câmara a <strong>de</strong>liberar <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> geral, em 17 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong><br />

1857. Esta <strong>de</strong>liberação estatuiu que os terrenos seriam concedi<strong>do</strong>s sempre a título precário e para o uso<br />

único e exclusivo <strong>de</strong> jardins.<br />

A seguir e pelos logra<strong>do</strong>uros em que estão situa<strong>do</strong>s registraremos alguns terrenos <strong>do</strong> bairro <strong>de</strong><br />

Botafogo. Assim também em relação aos <strong>de</strong>mais bairros <strong>de</strong> que tratarmos, faremos esses registros. São<br />

achegas <strong>de</strong> interesse à história <strong>do</strong> patrimônio territorial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1856<br />

Terreno <strong>de</strong> 45m <strong>de</strong> frente por 65m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, ocupa<strong>do</strong>, em 1856, por um gran<strong>de</strong> prédio, estilo<br />

palacete, e extensa chácara, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> professor Tomás Price Hitching e on<strong>de</strong> funcionava o colégio<br />

<strong>de</strong>sse afama<strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r. Hitching obteve a posse precária <strong>do</strong> terreno para o jardim à frente <strong>do</strong> prédio,<br />

que se <strong>de</strong>moliu para <strong>da</strong>r lugar à construção <strong>do</strong> Palácio Grandmasson.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1857/1908<br />

Terreno <strong>de</strong> 20m <strong>de</strong> frente ocupa<strong>do</strong> por um prédio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is pavimentos, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Manoel<br />

Gomes Pereira. Esse proprietário obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, em 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1857, a licença para<br />

jardim à frente <strong>do</strong> seu prédio, então nº 174, com a posse precária <strong>do</strong> terreno necessário e sob a condição<br />

<strong>de</strong> abrir mão <strong>do</strong> mesmo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> questão e <strong>de</strong> qualquer in<strong>de</strong>nização, logo que a Ilustríssima<br />

Câmara, por utili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública, assim o exigisse. O dito prédio aparece, em 1875, com o nº 204, que<br />

conservou até 1908, quan<strong>do</strong> passou a ter o nº 384. Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação, o imóvel, em 1896, passou a<br />

ser proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Isi<strong>do</strong>ra Mota Muniz Barreto.


Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1857/1908<br />

C A P Í T U L O I V | 6 3<br />

Terreno <strong>de</strong> 15m <strong>de</strong> frente, com <strong>do</strong>is prédios construí<strong>do</strong>s, em 1857, por Felipe José Gonçalves.<br />

Esse proprietário ajardinou a frente <strong>do</strong>s prédios, em 1859, ocupan<strong>do</strong> para este fim um terreno <strong>de</strong> 15m,<br />

10 <strong>de</strong> frente por 11m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Em 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1869, Felipe José Gonçalves ven<strong>de</strong>u os prédios a<br />

Antônio Bernar<strong>do</strong> Teixeira <strong>da</strong> Cunha Carneiro. Em falecen<strong>do</strong> Cunha Carneiro, homem endinheira<strong>do</strong>, os<br />

imóveis em apreço passaram à sua filha e her<strong>de</strong>ira Marina Ribeiro Carneiro <strong>de</strong> Assis, que os transferiu<br />

a João Rodrigues Teixeira Júnior, por ven<strong>da</strong>. Até 1908, os prédios tiveram os nºs 88 e 90 e <strong>de</strong>pois os nºs<br />

402 e 404.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1858/1908<br />

Terreno <strong>de</strong> 98m <strong>de</strong> frente ocupa<strong>do</strong> pelos estabelecimentos <strong>da</strong> Associação <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paula<br />

– Colégio <strong>da</strong> Imacula<strong>da</strong> Conceição, Igreja <strong>da</strong> Conceição e Pensionato. O prédio em que funciona o<br />

colégio foi mo<strong>de</strong>rniza<strong>do</strong> e aumenta<strong>do</strong>. Tinha <strong>do</strong>is pavimentos, à frente <strong>da</strong> rua, com testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> 27m,<br />

quan<strong>do</strong> foi arremata<strong>do</strong> pela Associação <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paula, a 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1858. A igreja é<br />

afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua cerca <strong>de</strong> 36m e fica entre o edifício <strong>do</strong> colégio e o <strong>do</strong> pensionato, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a senhoras.<br />

O prédio <strong>do</strong> pensionato é <strong>de</strong> antiga construção, com três pavimentos, afasta<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua e num terreno <strong>de</strong><br />

32m <strong>de</strong> frente. Foi <strong>do</strong>a<strong>do</strong> à Associação, em 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1900, tem uma acentua<strong>da</strong> obliqüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong><br />

esquer<strong>da</strong> para a direita, buscan<strong>do</strong> a linha <strong>do</strong> alinhamento <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pelo prédio à direita. Em 1875, a<br />

Ilustríssima Câmara permitiu o ajardinamento à frente <strong>do</strong> prédio, na forma <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1857. O prédio <strong>do</strong> colégio teve o nº 36 e o <strong>do</strong> pensionato o nº 34. Em 1908, na revisão <strong>da</strong> numeração<br />

predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, eles receberam o nº 266.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1865/1930<br />

Terreno <strong>de</strong> 22m <strong>de</strong> frente ocupa<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is antigos prédios térreos, os quais aparecem em 1865<br />

no Rol <strong>da</strong>s Décimas, com os nºs 60 e 60A, sen<strong>do</strong> o 60 proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> dr. A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Carvalho Melo<br />

Matos e nele funcionou por muitos anos uma taberna com comi<strong>da</strong>s, famosa nos anais <strong>da</strong> polícia e muito<br />

freqüenta<strong>da</strong> à noite pela boemia <strong>da</strong> época. Nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> 60A, havia um cortiço <strong>de</strong> vinte e <strong>do</strong>is quartos<br />

para solteiros, sempre aluga<strong>do</strong>s e na quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong> a moços portugueses <strong>do</strong> comércio. Esses prédios<br />

foram compra<strong>do</strong>s, em 1884, por José Bitencourt <strong>de</strong> Souza e por ele <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>s, para a construção <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, à frente <strong>do</strong>s quais foi feito jardim, em terreno concedi<strong>do</strong> pela Ilustríssima Câmara a<br />

título precário, segun<strong>do</strong> o termo assina<strong>do</strong> pelo concessionário, em 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1884. Mas, foram os<br />

imóveis compra<strong>do</strong>s por Edgard Mége, que os transformou em um só prédio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is pavimentos e que<br />

tomou o nº 360. Em 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1921, Mége comprou à <strong>Prefeitura</strong> a área <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s jardins <strong>do</strong>s<br />

antigos prédios, por 8:000$000. Posteriormente, isto é, em 1930, o prédio 360 aparece no lançamento<br />

<strong>do</strong> imposto predial em nome <strong>de</strong> Eulálio Pouman.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1873/1911<br />

Terreno <strong>de</strong> 8,70m <strong>de</strong> frente por 67,30m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com um prédio que pertenceu a Domingos José<br />

Bernar<strong>de</strong>s até 1873, quan<strong>do</strong> foi compra<strong>do</strong> pelo barão <strong>de</strong> Tefé, para servir, como serviu, <strong>de</strong> sua residência.<br />

Em 23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1911, encontramos o referi<strong>do</strong> titular ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o prédio a Guiomar Maria <strong>de</strong> Sá<br />

Fontes. Mo<strong>de</strong>rnamente, o prédio aparece com o nº 360. Quanto ao número antigo não conseguimos<br />

conhecer.


6 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1898/1927<br />

Terreno <strong>de</strong> 12m <strong>de</strong> frente, por 120m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com um gran<strong>de</strong> prédio no interior. Em 1898 e<br />

ten<strong>do</strong>, então, o nº 180, o prédio passou a ser proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> dr. Francisco Leite Bitencourt Sampaio, em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança. O dr. Bitencourt Sampaio, advoga<strong>do</strong> <strong>de</strong> fama, homem culto e <strong>de</strong> fino trato, fixou<br />

residência nesse prédio, totalmente reforma<strong>do</strong> e bem mo<strong>de</strong>rniza<strong>do</strong>, em 1927, ten<strong>do</strong> nessa ocasião o nº<br />

350.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1906/1907<br />

Terreno <strong>de</strong> 22m <strong>de</strong> frente, com três prédios, nºs 194, 196 e 198, pertencentes a João <strong>de</strong> Souza<br />

Lage, Constant A<strong>de</strong>t e Severino Taulow Wolhner, respectivamente. Em 1906, o <strong>de</strong> nº 194 foi vendi<strong>do</strong> ao<br />

dr. Antônio Azere<strong>do</strong>, a quem também, em 1907, foram vendi<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is outros, e logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>s<br />

to<strong>do</strong>s os três. No terreno levantou-se, então, um único prédio, estilo palacete, que recebeu o nº 366 e<br />

passou a ser a residência <strong>do</strong> dr. Azere<strong>do</strong> – político <strong>de</strong> relevo, sena<strong>do</strong>r por Mato Grosso e durante anos<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> República.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1910/1919<br />

Terreno <strong>de</strong> 18m <strong>de</strong> frente, ocupa<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is prédios antigos <strong>de</strong> nºs 242 e 244 pertencentes a<br />

Fre<strong>de</strong>rico Durval e à baronesa <strong>de</strong> Uruguaiana, respectivamente. Em 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1910, o dr. Carlos<br />

César <strong>de</strong> Oliveira Sampaio comprou o <strong>de</strong> nº 242 aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Durval e, a 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1919,<br />

adquiriu aos her<strong>de</strong>iros <strong>da</strong>quela titular o <strong>de</strong> nº 244. O dr. Carlos Sampaio transformou em um só os <strong>do</strong>is<br />

antigos prédios e nele fixou residência. Posteriormente, <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> prédio 244 foi <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> uma<br />

porção <strong>de</strong> 5m <strong>de</strong> frente por 65m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e nessa <strong>de</strong>smembração foi construí<strong>do</strong> um prédio que recebeu<br />

o nº 244A. O ilustre dr. Carlos César <strong>de</strong> Oliveira Sampaio foi o operoso prefeito que tornou Maravilhosa<br />

a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> para as festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> primeiro centenário <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, a 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1922.<br />

Praia <strong>de</strong> Botafogo – 1917/1925<br />

Terreno <strong>de</strong> 14m <strong>de</strong> frente; ain<strong>da</strong> por construir no ano <strong>de</strong> 1917. No ano seguinte, Luiz Rebelo<br />

Martins Vieira, que havia adquiri<strong>do</strong> o terreno, nele construiu um bom prédio que recebeu o nº 284 e que<br />

foi vendi<strong>do</strong> por Vieira a Manoel Pinto Torres Neves, em 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1925.<br />

Rua São Clemente – 1819/1858<br />

Terreno <strong>de</strong> 35 braças <strong>de</strong> frente, com casa resi<strong>de</strong>ncial e chácara que pertenceram a Manoel Moreira<br />

Lírio até o ano <strong>de</strong> 1819, quan<strong>do</strong> passaram a pertencer a Manoel José <strong>da</strong> Silva Ribeiro, segun<strong>do</strong> o<br />

Arrolamento <strong>da</strong>s Décimas. Em 1835, com o nº 73, foram vendi<strong>da</strong>s, casa e chácara, por 7:900$, pelos<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Silva Ribeiro a Antônio <strong>da</strong> Costa Guimarães. A conformação <strong>da</strong> chácara, que era extensa,<br />

veio sen<strong>do</strong> bastante altera<strong>da</strong> no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, pelos cortes que se faziam nas suas quatro faces, para<br />

abertura <strong>de</strong> vias públicas e para edificações. De sorte que, em 1858, já estava bem pequena, tinha o nº<br />

102 e era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> viúva <strong>de</strong> Costa Guimarães. Vizinha à chácara <strong>de</strong> Moreira Lírio ficava outra


C A P Í T U L O I V | 6 5<br />

importante chácara, <strong>de</strong> 30 braças <strong>de</strong> frente e magnífica residência. Era foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

pertenceu a Sebastião Luiz Viana e <strong>de</strong>pois a <strong>do</strong>m Marcos <strong>de</strong> Noronha Brito, 8º con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos, que a<br />

comprou por 8:600$. Em 1831, os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>sse titular, representa<strong>do</strong>s no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> por Joaquim<br />

<strong>de</strong> Cerqueira Soares, ven<strong>de</strong>ram-na pela quantia <strong>de</strong> 13:016$440, paga na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, em moe<strong>da</strong><br />

portuguesa. Foi compra<strong>do</strong>r Francisco Ferreira Sampaio, brasileiro ricaço, mora<strong>do</strong>r na ilha <strong>da</strong>s Cobras,<br />

on<strong>de</strong> explorava a indústria <strong>da</strong> pesca e a <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> barcos. Em 1846, a sua viúva, Joaquina<br />

Engrácia Sampaio, pediu e obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa e chácara,<br />

então com o nº 86. O con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos foi o último vice-rei <strong>do</strong> Brasil e no seu governo, 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1806 a 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1808, <strong>de</strong>u provas <strong>de</strong> um zelo ativíssimo, uma prudência consuma<strong>da</strong> e uma<br />

probi<strong>da</strong><strong>de</strong> superior a to<strong>da</strong> expressão: diz Alexandre Katzinger na sua Resenha Histórica <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Sebastião. O con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos faleceu em Portugal, a 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1828. Sobre Manoel Moreira Lírio<br />

<strong>da</strong>mos ligeira notícia no capítulo concernente ao bairro <strong>do</strong> Catete. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Lírio é uma<br />

personagem bem digna <strong>de</strong> ser memora<strong>da</strong>, como ensinamento ao presente.<br />

Rua São Clemente – 1820/1854<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente e cujo <strong>do</strong>mínio útil o seu possui<strong>do</strong>r, sargento-mor Sebastião Luiz<br />

Viana, transferiu por ven<strong>da</strong>, em 1820, a Joaquim José <strong>da</strong> Cruz Secco e pela quantia <strong>de</strong> 1:740$. Luiz<br />

Viana era gran<strong>de</strong> proprietário e, além <strong>da</strong> chácara que ven<strong>de</strong>u ao con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos, tinha outras<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s no bairro <strong>de</strong> Botafogo. Cruz Secco, que residia no <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, man<strong>do</strong>u edificar no<br />

terreno em apreço um sóli<strong>do</strong> prédio que ven<strong>de</strong>u por sete contos <strong>de</strong> réis – 7:000$ – a Antônio Dias<br />

Peixoto, em 1830. Peixoto, outro rico <strong>do</strong>no <strong>de</strong> terras em Botafogo, Gávea e Laranjeiras, ven<strong>de</strong>u o prédio,<br />

com cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara, por 9:000$, em 1838, a Higino José <strong>do</strong>s Santos. Em 1854, término <strong>da</strong>s nossas<br />

pesquisas sobre o dito imóvel, encontramo-lo já registra<strong>do</strong> no nome <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Oliveira Martins,<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra que fizera a Maria Helena <strong>de</strong> Araújo Sampaio, viúva <strong>de</strong> Higino José <strong>do</strong>s Santos,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 23:000$. O registro que consultamos reza ain<strong>da</strong> ter o prédio o nº 88 e que o compra<strong>do</strong>r<br />

havia afora<strong>do</strong> o terreno – isto é, obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o aforamento <strong>do</strong> terreno no mesmo ano<br />

<strong>de</strong> 1854.<br />

Rua São Clemente – 1856/1858<br />

Terreno <strong>de</strong> 52 braças por 30 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, à rua <strong>de</strong> São Clemente, no lugar chama<strong>do</strong> Barreira, e<br />

afora<strong>do</strong> ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel José Bessa. Em 1856, o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Bessa transferiu por 11:000$ o<br />

<strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno a João Henrique Soares e a Ladislau Dias José <strong>do</strong>s Reis, os quais obtiveram em<br />

comum o aforamento <strong>do</strong> terreno, que lotearam para ven<strong>de</strong>r. Em 1858, já estavam vendi<strong>do</strong>s quase to<strong>do</strong>s<br />

os lotes e edifica<strong>do</strong>s. A Barreira, lugar inóspito, transformou-se em um sítio salubre e aprazível.<br />

Rua São Clemente – 1857<br />

Terreno <strong>de</strong> 100 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>de</strong> São Clemente e fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> igual testa<strong>da</strong> na rua <strong>de</strong> São<br />

Joaquim, atual Voluntários <strong>da</strong> Pátria. Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> lega<strong>do</strong>, Joaquina Tomásia <strong>da</strong> Fonseca Costa Ramos<br />

possuiu 51 braças <strong>de</strong>sse terreno, cujo restante ficou sob a posse <strong>de</strong> Joaquim Marques Batista <strong>de</strong> Leão,<br />

por adjudicação. To<strong>do</strong> o terreno era ocupa<strong>do</strong> por três chácaras com boas casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, nºs 109, 111<br />

e 113 <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Clemente. Em 1857, foram vendi<strong>da</strong>s pelo seu proprietário Hermenegil<strong>do</strong> Xavier <strong>de</strong><br />

Moraes a Antônio Pereira Ribeiro Guimarães, o qual, obten<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ilistríssima Câmara o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno, retalhou as chácaras, abriu ruas, ven<strong>de</strong>u porções <strong>do</strong> terreno e edificou no restante. E assim, com<br />

os cortes <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s chácaras que bor<strong>da</strong>vam o antigo Caminho <strong>do</strong> Carro, formou-se o arrabal<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Clemente.


6 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Caminho Velho <strong>de</strong> Botafogo<br />

Por muitos anos, o acesso mais rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Botafogo ao Catete foi o Caminho Velho, que somente<br />

em 1620 começou a ser cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente, sen<strong>do</strong> aterra<strong>do</strong>, empedra<strong>do</strong> e corri<strong>do</strong> <strong>de</strong> sarjetas. Nessa<br />

ocasião, reformou-se a ponte <strong>do</strong> Salema, também dita <strong>do</strong> Leripe, na foz <strong>do</strong> rio Carioca. A ponte foi<br />

levanta<strong>da</strong> na administração <strong>do</strong> quarto governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – Antônio Salema (1577/1578) para<br />

passagem cômo<strong>da</strong> <strong>do</strong> povo. Era to<strong>da</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira forte <strong>do</strong> Brasil e, próxima à mesma, fez-se uma pequena<br />

represa para bebe<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> animais <strong>da</strong>s tropas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias. A 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1866, o Caminho<br />

Velho <strong>de</strong> Botafogo recebeu a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua Sena<strong>do</strong>r Vergueiro. 7<br />

Caminho Novo <strong>de</strong> Botafogo<br />

Datam <strong>de</strong> 1792 as primeiras tentativas para a abertura <strong>de</strong> uma via pública em direção reta à praia<br />

<strong>de</strong> Botafogo, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Catete. Mas, pelas <strong>de</strong>sapropriações que se <strong>de</strong>veriam fazer, a obra<br />

fazia-se dispendiosa. Afinal, em 1796, pô<strong>de</strong> o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara realizá-la, abrin<strong>do</strong> o Caminho Novo<br />

ou rua <strong>de</strong> Botafogo. Em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1866, essa<br />

via pública passou a <strong>de</strong>nominar-se rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes, em homenagem a Miguel Calmon <strong>de</strong> Pin<br />

e Almei<strong>da</strong>, marquês <strong>de</strong> Abrantes. 8<br />

Na rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes está a capela <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que foi privativa <strong>da</strong><br />

família <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Silva e hoje sob os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> colônia inglesa católica, para celebração pública<br />

<strong>do</strong>s atos religiosos. Também na rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes muitos são os terrenos reconheci<strong>do</strong>s foreiros<br />

à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, mansa e pacificamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> remota época. Do la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

rua são os terrenos que se aforaram aos religiosos <strong>de</strong> São Bento, a 22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1681, e cuja<br />

testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente <strong>de</strong>marcou-se pelo então Caminho Velho. Ain<strong>da</strong> no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, são os terrenos<br />

afora<strong>do</strong>s a José Miguel <strong>de</strong> Faria, a 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1785. Do la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua, são os terreiros <strong>da</strong> extensa<br />

chácara <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel Gue<strong>de</strong>s Pinto, com origem em <strong>do</strong>is prazos distintos adquiri<strong>do</strong>s pelo<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r à Mariana Teresa <strong>do</strong> Nascimento, um, e o outro a Paulino Nunes <strong>de</strong> Souza, que os<br />

possuíram por sucessão <strong>de</strong> antigos foreiros <strong>da</strong> Câmara. Em morren<strong>do</strong> Gue<strong>de</strong>s Pinto, fez-se a partilha <strong>da</strong><br />

chácara, caben<strong>do</strong> a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, com a boa casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, à viúva Maria Eugênia Gue<strong>de</strong>s Pinto. Em<br />

1831, começou, e por bom preço, a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara, ven<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong> to<strong>da</strong><br />

ela com o reconhecimento <strong>do</strong>s direitos senhoriais <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A principal entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Gue<strong>de</strong>s era pelo Caminho Novo <strong>de</strong> Botafogo, para o acesso até o sopé <strong>da</strong> montanha, on<strong>de</strong> ficava a casa<br />

resi<strong>de</strong>ncial – ocupa<strong>da</strong>, em 1857, pelo notável brasileiro Joaquim José Rodrigues Torres, viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Itaboraí. Um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s adquirentes <strong>de</strong> terrenos <strong>da</strong> chácara em apreço foi o conselheiro Joaquim<br />

Pereira <strong>de</strong> Faria – que foi riquíssimo. Ele adquiriu por 80:000$ um terreno <strong>de</strong> 59 braças – ou 129,80m<br />

– <strong>de</strong> frente pelo Caminho Novo <strong>de</strong> Botafogo e também alguns prédios, por alto preço, no mesmo<br />

logra<strong>do</strong>uro. Outro compra<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> Gue<strong>de</strong>s Pinto foi o conceitua<strong>do</strong> corretor João Carlos<br />

Palhares, que adquiriu extensa área com frente à rua então dita <strong>de</strong> Santa Teresa e <strong>de</strong>pois chama<strong>da</strong><br />

Paissandu. Dos prédios compra<strong>do</strong>s pelo conselheiro Faria, <strong>do</strong>is foram vendi<strong>do</strong>s, por 60:000$, ao dr.<br />

Manoel Jacinto Nogueira <strong>da</strong> Gama, que os ven<strong>de</strong>u, <strong>de</strong>pois, em 1891, a Josefina Rodrigues Braga, por<br />

150:000$. Esses prédios tiveram os nºs 2 e 4 e <strong>de</strong>pois 12 e 14 <strong>da</strong> rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes. Luiz <strong>da</strong><br />

Rocha Miran<strong>da</strong>, ricaço também, comprou ao conselheiro Faria um terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente no qual<br />

construiu um prédio, vendi<strong>do</strong> em 1881 por 25:000$ a Ana Leocádia Moreira <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>. Esse prédio,<br />

então nº 6 <strong>da</strong> rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes, ficava na segun<strong>da</strong> quina, à mão direita, <strong>de</strong>ssa dita rua com a Neri<br />

Ferreira, caminhan<strong>do</strong> para a praia <strong>de</strong> Botafogo. Compra<strong>do</strong>s ao conselheiro Faria são ain<strong>da</strong> um terreno<br />

<strong>de</strong> 5 braças <strong>de</strong> frente por 31 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e outro <strong>de</strong> 11m <strong>de</strong> frente por 81,4m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Do primeiro<br />

foi compra<strong>do</strong>r o dr. Antônio Castro Lopes, que construiu um prédio para a sua residência e que recebeu<br />

o nº 8 <strong>da</strong> rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes. Comprou o <strong>de</strong> 11m <strong>de</strong> frente o dr. Nogueira <strong>da</strong> Gama, que o ven<strong>de</strong>u<br />

ao afama<strong>do</strong> médico barão <strong>de</strong> Pedro Afonso. Nesse terreno, foi construí<strong>do</strong> um bom prédio, nº 10 <strong>da</strong><br />

precita<strong>da</strong> rua e vendi<strong>do</strong>, em 1891, por 80:000$, ao notável brasileiro André Gustavo Paulo <strong>de</strong> Frontin,<br />

que no mesmo fixou sua residência. A rua Neri Ferreira foi aberta em 1875, com o nome <strong>de</strong> São<br />

Salva<strong>do</strong>r.


Rua Paissandu – 1858<br />

C A P Í T U L O I V | 6 7<br />

Terreno <strong>de</strong> 30 braças <strong>de</strong> frente pela rua Paissandu, antiga Santa Teresa, afora<strong>do</strong> a Antônio Carlos<br />

<strong>da</strong> Bechart, que o comprara à viúva Maria Eugênia Gue<strong>de</strong>s Pinto, em 1858. Em 1865, já aparece esse<br />

terreno edifica<strong>do</strong> e com cinco braças <strong>de</strong> menos. Não conseguimos <strong>de</strong>scobrir o motivo <strong>de</strong>sse corte.<br />

Do la<strong>do</strong> sul, e numa extensão <strong>de</strong> 212 braças, a rua Paissandu formou-se <strong>de</strong> terrenos tira<strong>do</strong>s à<br />

chácara <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel Gue<strong>de</strong>s Pinto e com o dito fim <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s por José Gue<strong>de</strong>s Pinto e Manoel<br />

Gue<strong>de</strong>s Pinto Júnior, filhos e her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> titular. Também, José Macha<strong>do</strong> Coelho tirou <strong>da</strong> sua<br />

chácara 108 braças para a formação <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> rua, que se abriu numa extensão <strong>de</strong> 320 braças e com a<br />

largura <strong>de</strong> 60 palmos. Aceita pela Ilustríssima Câmara, foi entregue à servidão pública a 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1853, com o nome <strong>de</strong> Santa Teresa. Em 1876, e pelos terrenos que lhe pertenciam, a princesa Isabel,<br />

então na sua segun<strong>da</strong> regência <strong>do</strong> Império – 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1876 a 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1877 – fez<br />

esten<strong>de</strong>r a rua até a chácara <strong>do</strong> Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros.<br />

O prolongamento até o mar implicava o corte <strong>de</strong>ssa chácara, cujo proprietário levantou forte<br />

oposição, questionan<strong>do</strong>. Afinal, submeteu-se, obriga<strong>do</strong> à <strong>de</strong>sapropriação <strong>do</strong>s terrenos que fossem<br />

necessários ao prolongamento <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro, por utili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública. A 2 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1865, passou a<br />

chamar-se Paissandu, memoran<strong>do</strong> um feito <strong>da</strong> guerra com o Paraguai, logo nos primeiros encontros em<br />

que o Exército Brasileiro, sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> general João Propício Mena Barreto, tomou <strong>de</strong> assalto a<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Paissandu, a 2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1865.<br />

No rol <strong>do</strong>s foreiros <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> figura o con<strong>de</strong> d’Eu com a posse <strong>de</strong><br />

vastos terrenos à rua Paissandu e <strong>do</strong>s quais, a seu pedi<strong>do</strong>, lhe foi concedi<strong>da</strong> pela Ilustríssima Câmara a<br />

respectiva carta <strong>de</strong> aforamento, a 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1866. Previamente, provou o con<strong>de</strong> d’Eu 9 a aquisição <strong>do</strong>s<br />

terrenos por compra que fizera a José Macha<strong>do</strong> Coelho. Os terrenos constituíam <strong>do</strong>is lotes distintos,<br />

sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong> 107 braças <strong>de</strong> frente, pelo la<strong>do</strong> par <strong>da</strong> rua Paissandu, canto com a rua Guanabara. A testa<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, na rua <strong>do</strong> Roso, tinha as mesmas 107 braças e a extensão <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s era <strong>de</strong> 490<br />

palmos. À direita, confinava com terrenos <strong>de</strong> Macha<strong>do</strong> Coelho e, à esquer<strong>da</strong>, com os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> José<br />

Maria Velho <strong>da</strong> Silva. O outro lote era <strong>de</strong> 990 palmos <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> ímpar <strong>da</strong> rua Paissandu,<br />

corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s até a raiz <strong>da</strong> pedreira <strong>da</strong> Guanabara, numa extensão <strong>de</strong> 730 palmos.


C A P Í T U L O V<br />

C o p a c a b a n a


C A P Í T U L O V | 6 9<br />

Na costa sul <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, o mar, ao afastar-se naturalmente <strong>da</strong>s encostas <strong>da</strong>s montanhas, foi<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> extensa planície arenosa. Homens <strong>de</strong>stemi<strong>do</strong>s <strong>da</strong> expedição <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá, afeitos à vi<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

oceano, localizaram-se nessa região a que os indígenas chamavam costa <strong>do</strong> mar bravo ou também<br />

Socopenapã – lugar on<strong>de</strong> moram os socós, aves aquáticas muito abun<strong>da</strong>ntes em quase to<strong>do</strong> o nosso<br />

litoral. Por entre dunas e pitangueiras, esses homens, que se entregaram à pesca, foram levantan<strong>do</strong> casas<br />

<strong>de</strong> taipa <strong>de</strong> mão, cobertas <strong>de</strong> palmas, e também foram abrin<strong>do</strong> trilhas <strong>de</strong> comunicações para a praia<br />

Vermelha e para Botafogo, galgan<strong>do</strong> os morros. E assim lançaram-se os alicerces <strong>de</strong> Copacabana 10 que<br />

é hoje, o bairro <strong>de</strong> elegante e rica gente e on<strong>de</strong> a vi<strong>da</strong> espelha to<strong>do</strong>s os seus prazeres e vícios. Há<br />

luxuosos palácios, gran<strong>de</strong>s hotéis, bem monta<strong>do</strong>s estabelecimentos comerciais, teatros e outras casas <strong>de</strong><br />

diversões <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o gênero. É realmente, por tu<strong>do</strong> isto, o lugar mais procura<strong>do</strong> pelos turistas.<br />

Segun<strong>do</strong> a compreensão <strong>do</strong> século XVIII, a praia <strong>de</strong> Copacabana, também chama<strong>da</strong><br />

Socopenapan, formava <strong>do</strong>is trechos distintos a que <strong>da</strong>vam os nomes <strong>de</strong> praia <strong>do</strong> Leme e praia <strong>de</strong><br />

Copacabana cujos extremos eram o morro <strong>da</strong> Babilônia, à esquer<strong>da</strong>, e o outeiro <strong>de</strong> N.S. <strong>de</strong> Copacabana,<br />

à direita. Sen<strong>do</strong> que a baliza <strong>de</strong> separação entre os <strong>do</strong>is trechos era um pequeno morro <strong>de</strong> pedra viva,<br />

on<strong>de</strong> está a atual praça Serze<strong>de</strong>lo Corrêa. A rua <strong>de</strong> Copacabana lembra essa primitiva praia. Dois<br />

caminhos, <strong>de</strong> remota antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong>vam-lhe comunicação com Botafogo e com a praia Vermelha.<br />

Depois <strong>de</strong> 1850, abriu-se um outro que servia <strong>de</strong> saí<strong>da</strong> à antiga fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Rodrigo <strong>de</strong> Freitas e<br />

atravessava <strong>de</strong> la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> as terras <strong>de</strong> José Miguel <strong>de</strong> Barros, in<strong>do</strong>, por fim, servir <strong>de</strong> prolongamento <strong>da</strong><br />

rua Velha <strong>da</strong> Real Gran<strong>de</strong>za até a praia. Também antiga era a travessa <strong>da</strong> praia Fun<strong>da</strong> que fazia a<br />

comunicação entre a praia <strong>de</strong> Copacabana e a <strong>do</strong> Arpoa<strong>do</strong>r.<br />

Foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> são os terrenos <strong>de</strong><br />

Copacabana, porque estão compreendi<strong>do</strong>s na área <strong>da</strong> sua sesmaria. Entretanto, um aventureiro <strong>de</strong> nome<br />

Joaquim José Suzano, posseiro intruso <strong>de</strong> terrenos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o morro <strong>da</strong> Babilônia até encontrar a fazen<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> Socopenapan, nunca se dispôs a reconhecer o senhorio direto <strong>do</strong> município sobre os terrenos <strong>de</strong> que<br />

estava <strong>de</strong> posse ilegítima e que vendia como alodiais. Daí consi<strong>de</strong>rar-se, ain<strong>da</strong> hoje, terrenos próprios<br />

to<strong>do</strong>s aqueles que constituem o bairro <strong>do</strong> Leme, propriamente dito, e os que se lhes seguem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Leme até a <strong>do</strong>s Tabajaras. Por muitos anos moveram-se nos tribunais complica<strong>da</strong>s questões<br />

relativas à posse <strong>de</strong> terrenos em Copacabana. Pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1870, apareceram os protestos contra<br />

Alexandre Wagner, o qual sofreu embargos pelos arruamentos que, então, estava fazen<strong>do</strong> em vasta área<br />

por ele ocupa<strong>da</strong>, entre a rua <strong>da</strong> Passagem e Copacabana. Mas, <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong>s os embargos, Wagner loteou<br />

terrenos nas margens <strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>uros que abriu, construin<strong>do</strong> em alguns e ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os <strong>de</strong>mais. Esse<br />

Alexandre Wagner (que se presume seja parente <strong>de</strong> Wagner, o gran<strong>de</strong> compositor alemão), na obra que<br />

executou em Copacabana, gran<strong>de</strong> serviço prestou à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>do</strong>tan<strong>do</strong>a<br />

<strong>de</strong> um novo bairro à beira-mar e que é hoje o seu orgulho. To<strong>da</strong> a obra executa<strong>da</strong> por Wagner foi aceita<br />

pela Ilustríssima Câmara, em sessão <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1874. Um <strong>do</strong>s embargantes, <strong>de</strong> nome Manoel<br />

Pereira <strong>da</strong> Silva, <strong>do</strong>no <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong> Inhangá, não se conformou com as <strong>de</strong>cisões favoráveis ao embarga<strong>do</strong><br />

e in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente trancou à servidão pública o prolongamento <strong>da</strong> rua Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos,<br />

levantan<strong>do</strong> cerca e plantan<strong>do</strong> bananeiras. Porém, logo que conhece<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> ato abusivo <strong>de</strong> Pereira <strong>da</strong><br />

Silva, a Ilustríssima Câmara man<strong>do</strong>u <strong>de</strong>rrubar tu<strong>do</strong> pelos seus guar<strong>da</strong>s. Afinal, ven<strong>do</strong> perdi<strong>da</strong> a sua<br />

causa, o rixoso indivíduo procurou amigavelmente acor<strong>do</strong> com a Ilustríssima Câmara, em 1877, o que<br />

foi feito sem prejuízo ao público. Em 1895, encontramos Pereira <strong>da</strong> Silva a questionar sobre terrenos <strong>de</strong><br />

seu sítio e <strong>de</strong>sta vez com a Empresa <strong>de</strong> Construções Civis, a qual viu-se envolvi<strong>da</strong> em outras mais<br />

querelas com possui<strong>do</strong>res <strong>de</strong> terrenos em Copacabana. Ain<strong>da</strong> em 1895, a dita empresa, procuran<strong>do</strong> por<br />

termo a essas questões, insistia com a <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, pelo aforamento <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong><br />

terrenos <strong>da</strong> antiga fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Socopenapan, e área que ela, empresa, possuíra na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sucessora<br />

<strong>da</strong> Companhia Esperança, adquirente <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1844, por seu presi<strong>de</strong>nte<br />

Carlos Le Blon. Em 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1895, há um <strong>de</strong>spacho <strong>do</strong> prefeito sobre essa pretensão, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

que a Empresa <strong>de</strong> Construções Civis aguar<strong>da</strong>sse a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Judiciário a respeito <strong>do</strong>s litígios<br />

existentes. Posteriormente, acor<strong>do</strong>s entre a querela<strong>da</strong> e alguns <strong>do</strong>s querelantes criaram maior confusão<br />

sobre os terrenos <strong>de</strong> Copacabana e a respeito <strong>do</strong>s quais ain<strong>da</strong> há questões.


7 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

L u g a r <strong>da</strong> Copacabana – 1818/1895<br />

Terreno <strong>de</strong> vastíssima extensão, pedregoso bastante em uma parte, à beira-mar, maninho na sua<br />

maior porção com altas dunas e pitangueiras nas encostas <strong>da</strong> montanha. Em 1818, ain<strong>da</strong> estava ocupa<strong>do</strong><br />

por um estabelecimento <strong>de</strong> pescaria, que existia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>do</strong> século XVIII, com casa resi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong> pedra e cal, uma capela sob a invocação <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Copacabana, um poço <strong>de</strong> água potável,<br />

to<strong>do</strong> <strong>de</strong> cantaria e coberto <strong>de</strong> telha, e diversas outras servidões. Tu<strong>do</strong> isso pertencia a Manoel <strong>de</strong> Santos<br />

Passos, que era foreiro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara pela posse <strong>do</strong> terreno. Por morte <strong>de</strong> Santos Passos, her<strong>do</strong>u<br />

to<strong>da</strong>s as precita<strong>da</strong>s benfeitorias o capitão Antônio <strong>da</strong> Costa Passos, sobrinho <strong>do</strong> fina<strong>do</strong>. A esse her<strong>de</strong>iro,<br />

foram elas compra<strong>da</strong>s por Luiz Pereira <strong>de</strong> Lima, com licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1819. Os her<strong>de</strong>iros e sucessores <strong>de</strong> Pereira <strong>de</strong> Lima na posse <strong>do</strong> estabelecimento <strong>de</strong> pescaria, casa <strong>de</strong><br />

mora<strong>da</strong>, capela e <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>mais serventias, foram Inácio <strong>da</strong> Silva Melo e sua mulher, Ana Venância<br />

Bernardina <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Melo, seguin<strong>do</strong>-se a sucessão diretamente aos filhos <strong>do</strong> dito casal: Francisco <strong>da</strong><br />

Silva Melo e Carlota Joaquina <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Gonzaga, casa<strong>da</strong> com Francisco <strong>do</strong> Nascimento <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong><br />

Gonzaga, os quais fizeram prosperar novamente a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que, além <strong>de</strong> outras benfeitorias, foi<br />

acresci<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma casa apropria<strong>da</strong> a romeiros, levanta<strong>da</strong> próximo à capela. Des<strong>de</strong> essa época, ficou a<br />

mora<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Melos sen<strong>do</strong> chama<strong>da</strong> – fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Socopenapan, com muita plantação, principalmente a<br />

<strong>de</strong> mandioca para o fabrico <strong>de</strong> farinha, em engenho próprio <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>. Essa fabricação <strong>de</strong> farinha<br />

<strong>de</strong>stinava-se à ven<strong>da</strong> pública, que era feita em larga escala. Por escritura <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1843, <strong>do</strong><br />

tabelião João Nepomuceno Cantalice (livro 192, fls. 9), foi a fazen<strong>da</strong> vendi<strong>da</strong> a Bernardino José Ribeiro,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 4:300$. Ribeiro tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> a 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1844<br />

e, neste mesmo ano, escritura <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, <strong>do</strong> tabelião João Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, ven<strong>de</strong>u a sua<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> pela quantia <strong>de</strong> 6:400$ a Carlos Le Blon, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> este <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Companhia<br />

Esperança, empresa que se liqui<strong>do</strong>u e teve como sucessora a Construções Civis. Da referi<strong>da</strong> ven<strong>da</strong> foi<br />

excluí<strong>da</strong> a capela, já sob a posse <strong>da</strong> Mitra <strong>da</strong> Diocese <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Os limites <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

Socopenapan, ao ser compra<strong>da</strong> por Le Blon, eram os seguintes: pela frente, a praia <strong>de</strong> Copacabana; ao<br />

fun<strong>do</strong> com as terras <strong>da</strong> antiga fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Rodrigo <strong>de</strong> Freitas; ao norte, as terras <strong>do</strong> Cantagalo, e ao sul,<br />

o oceano.<br />

L u g a r <strong>da</strong> Copacabana – 1844<br />

Terreno <strong>de</strong> marinhas, com 127 braças – cerca <strong>de</strong> 280m <strong>de</strong> extensão pela praia fronteira ao sítio <strong>do</strong><br />

Cantagalo, no lugar chama<strong>do</strong> Copacabana. Esse sítio era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Domingos José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, o<br />

qual pediu e obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o aforamento <strong>de</strong>ssas marinhas, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1844. O terreno em apreço entestava com o mar grosso e era invadi<strong>do</strong> e alaga<strong>do</strong><br />

diariamente na cheia <strong>da</strong> maré. Foi esse terreno consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong>voluto para ser afora<strong>do</strong> a José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong><br />

e o seu aforamento obe<strong>de</strong>ceu aos dispositivos <strong>do</strong> aviso <strong>do</strong> Tesouro Nacional, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1836,<br />

aditamento <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1831 e instruções <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1832 e mais o que<br />

dispôs a lei <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1834. Domingos José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> era muito rico, possuin<strong>do</strong> prédios urbanos,<br />

terras lavra<strong>da</strong>s nos arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na Zona Norte e em Copacabana, on<strong>de</strong> além <strong>do</strong> Cantagalo,<br />

possuía uma outra importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> chama<strong>da</strong> sítio <strong>da</strong> Lagoa, em terras <strong>da</strong> antiga fábrica <strong>de</strong><br />

pólvora, pertencentes ao <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> Nação.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Copacabana – 1808/1847<br />

Terreno <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> frente e <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, e cuja medição precisa nunca se fez, por dúvi<strong>da</strong>s<br />

surgi<strong>da</strong>s. A primeira tentativa para o levantamento oficial <strong>de</strong>sse terreno foi em 1808, quan<strong>do</strong> já havia<br />

anos era ocupa<strong>do</strong> por uma chácara com boa casa resi<strong>de</strong>ncial pertencente a Joana Bernar<strong>da</strong> Mansa <strong>de</strong><br />

Castro. No dito ano <strong>de</strong> 1808, aparece Joana Bernar<strong>da</strong> ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a casa e chácara ao casal José Fernan<strong>de</strong>s<br />

Guimarães e Teresa Jesus Guimarães. A esses compra<strong>do</strong>res é certo ter o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara concedi<strong>do</strong> o


C A P Í T U L O V | 7 1<br />

aforamento <strong>do</strong> terreno. Ain<strong>da</strong> é certo, porém, que, posteriormente, as <strong>de</strong>smembrações <strong>do</strong> terreno e os<br />

arren<strong>da</strong>mentos foram feitos à revelia <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, senhorio direto, e quan<strong>do</strong> ela procurou<br />

reivindicar os seus direitos senhoriais sobre as <strong>de</strong>smembrações havi<strong>da</strong>s, esses direitos foram<br />

<strong>de</strong>spreza<strong>do</strong>s por prescritos, e os arren<strong>da</strong>tários tiveram a seu favor o usucapião. Por sua vez, o filho e<br />

her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> casal, José Fernan<strong>de</strong>s Guimarães Júnior, ten<strong>do</strong> consegui<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara<br />

o título <strong>de</strong> foreiro, em 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1846, foi a juízo para reivindicar direitos <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio útil. Mas,<br />

em face <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão judicial em favor <strong>do</strong>s arren<strong>da</strong>tários antigos, a Ilustríssima Câmara modificou a<br />

concessão <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1846, expedin<strong>do</strong> um novo título em 5 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1847 nos termos <strong>do</strong> qual<br />

foi concedi<strong>do</strong> o aforamento a José Fernan<strong>de</strong>s Guimarães Júnior.<br />

Rua <strong>de</strong> Copacabana – 1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 79 braças, forman<strong>do</strong> ângulo reto na junção <strong>da</strong>s ruas Copacabana e Dom Pedro II. Era<br />

<strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> antiga fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Vigário Geral que ocupava to<strong>da</strong> a várzea entre os morros <strong>do</strong><br />

Suzano, Urca e Leme. Dessa fazen<strong>da</strong> saíram os terrenos <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s à Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> e ao impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II. Os <strong>do</strong> monarca, por sua <strong>de</strong>terminação, foram incorpora<strong>do</strong>s aos<br />

próprios <strong>da</strong> Nação. O terreno motivo <strong>de</strong>stas notas estava compreendi<strong>do</strong> na <strong>do</strong>ação à Santa Casa e foi por<br />

ela vendi<strong>do</strong> a José Carvalho <strong>de</strong> Souza Figueire<strong>do</strong>. Para essa ven<strong>da</strong> a Ilustríssima Câmara, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno, conce<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> permissão, em 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1860. A rua <strong>de</strong><br />

Copacabana tem hoje o nome <strong>de</strong> Passagem. O <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>de</strong>ve ao insigne Paulo <strong>de</strong> Frontin a<br />

iniciativa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s melhoramentos. Copacabana, Ipanema e o Leblon tiveram <strong>do</strong> ilustre engenheiro<br />

brasileiro, quan<strong>do</strong> prefeito, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s especiais.<br />

Lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Fre i t a s<br />

A lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas chamou-se, primitivamente, lagoa <strong>de</strong> Socopenapan, Socóapenapan e<br />

ain<strong>da</strong> Sapopenipã, que quer dizer raízes chatas, e pelas suas margens viviam em ban<strong>do</strong>s os Soo-cós: aves<br />

aquáticas <strong>da</strong> família <strong>da</strong>s pernaltas. A lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas foi compreendi<strong>da</strong> na concessão <strong>de</strong> terras<br />

feita a Diogo <strong>de</strong> Amorim Soares, em 1598, pelo operoso governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Francisco <strong>de</strong><br />

Men<strong>do</strong>nça Vasconcelos. Depois, a lagoa, plantações, engenho, olaria, casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e outras mais<br />

serventias e utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, com as quais Amorim havia beneficia<strong>do</strong> as terras, foram por ele <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s ao seu<br />

genro Sebastião Fagun<strong>de</strong>s Varela. Cientifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> que as terras eram foreiras à Câmara, Fagun<strong>de</strong>s Varela<br />

tirou a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>s mesmas, a 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1606. Aos sucessores <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s foi a<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> distrito <strong>da</strong> Lagoa compra<strong>da</strong> pelo fi<strong>da</strong>lgo português <strong>do</strong>m Rodrigo <strong>de</strong> Freitas Castro, que<br />

a melhorou bastante com as obras feitas no engenho, na olaria e em outras <strong>de</strong>pendências. * Construiu uma<br />

nova casa para a sua residência e nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s levantou casa para os colonos. Reconstruiu a capela<br />

para o culto público a Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição <strong>da</strong> Lagoa. Com esses e outros empreendimentos,<br />

<strong>do</strong>m Rodrigo insuflou vi<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> aquela região amena e pitoresca. Cansa<strong>do</strong> e velho, voltou para<br />

Portugal e ali faleceu, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scendência no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Na posse <strong>da</strong> importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

com a morte <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Rodrigo, foi investi<strong>do</strong> o seu filho <strong>do</strong>m João <strong>de</strong> Freitas Castro, casa<strong>do</strong> com Maria<br />

<strong>de</strong> Melo Pereira Sampaio e faleci<strong>do</strong> viúvo, em 1779, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong>s seus bens o seu filho <strong>do</strong>m<br />

Rodrigo <strong>de</strong> Freitas Melo e Castro, casa<strong>do</strong> com Josefa Margari<strong>da</strong> Leonor Car<strong>do</strong>so <strong>de</strong> Menezes Castro.<br />

Dom Rodrigo faleceu viúvo, a 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1803, e as filhas <strong>do</strong> casal Maria <strong>do</strong> Ó <strong>de</strong> Freitas <strong>de</strong><br />

Melo e Castro e Maria Leonor <strong>de</strong> Freitas <strong>de</strong> Melo e Castro ficaram <strong>de</strong> posse <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> qual, por<br />

fim e em compra amigável à sua irmã, Maria Leonor, ficou sen<strong>do</strong> a única <strong>do</strong>na. Pelo <strong>de</strong>creto real, <strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1808, o engenho, a olaria e mais estabelecimentos, to<strong>da</strong>s as terras e a lagoa passaram a<br />

* Primeiramente, <strong>de</strong>vemos retificar o título <strong>de</strong> “<strong>do</strong>m”, atribuí<strong>do</strong> pelo autor a Rodrigo <strong>de</strong> Freitas Castro, que nunca o teve. Em segun<strong>do</strong> lugar, Rodrigo<br />

<strong>de</strong> Freitas não comprou o engenho; recebeu-o <strong>de</strong> <strong>do</strong>te para se casar com a neta <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s Varela, <strong>de</strong> nome Petronilha Fagun<strong>de</strong>s, em 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1702. O novo casal proprietário ven<strong>de</strong>u o engenho Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição <strong>da</strong> Lagoa, em 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1711, ao dr. Manoel Correia Vasques.<br />

Portanto, Rodrigues <strong>de</strong> Freitas usufruiu <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> durante nove anos, tempo curto <strong>de</strong>mais para fazer as obras cita<strong>da</strong>s por Restier Gonçalves.<br />

Aliás, o nome <strong>da</strong> região <strong>de</strong>veria ser “lagoa <strong>do</strong>s Fagun<strong>de</strong>s”. (N.C.)


7 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Augusto Malta, 2/1/1919 – Copacabana.<br />

Augusto Malta, 2/1/1919 – Leme.


C A P Í T U L O V | 7 3<br />

pertencer à Nação. Mas, pelas dúvi<strong>da</strong>s que surgiram, a <strong>de</strong>sapropriação só em 1827 foi ultima<strong>da</strong>,<br />

receben<strong>do</strong> a proprietária, como in<strong>de</strong>nização, a quantia <strong>de</strong> quarenta e <strong>do</strong>is contos cento e noventa e três<br />

e quatrocentos e trinta réis. O engenho <strong>do</strong> Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, que compreendia também a lagoa, ocupava<br />

to<strong>da</strong> a região <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o antigo forte <strong>de</strong> São Clemente até o morro <strong>do</strong>s Dois Irmãos e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a praia até as<br />

vertentes, como assinala a planta <strong>do</strong> capitão Cony, a qual serviu <strong>de</strong> base para as medições <strong>de</strong> 1844 e <strong>de</strong><br />

1868. Foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, à razão <strong>de</strong> seis mil réis anuais, as terras foram remi<strong>da</strong>s pelo governo<br />

<strong>do</strong> Império, por cinqüenta apólices <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pública <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis ca<strong>da</strong> uma. Lavrou-se a<br />

respectiva escritura, a 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1869, na forma <strong>do</strong> artigo 14, <strong>da</strong> lei 1245, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1865. Logo <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> <strong>de</strong>creto real <strong>da</strong> <strong>de</strong>sapropriação, uma fábrica <strong>de</strong> pólvora e uma gran<strong>de</strong><br />

oficina <strong>de</strong> armas foram instala<strong>da</strong>s nos antigos edifícios <strong>do</strong>s Rodrigos <strong>de</strong> Freitas.<br />

É interessante saber que, em 1932, o Conselho Florestal <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral teve a triste idéia <strong>de</strong><br />

propor à <strong>Prefeitura</strong>, pelo ofício 729 <strong>de</strong> maio <strong>da</strong>quele ano, a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> nome <strong>da</strong> lagoa – “por não ter<br />

significação histórica” [sic] para o <strong>de</strong> lagoa <strong>da</strong>s Garças. Felizmente, a Diretoria <strong>de</strong> Matas e Jardins,<br />

manifestou-se contrária à absur<strong>da</strong> proposta.<br />

Em tempos antigos, longa era a caminha<strong>da</strong> para ir à então lagoa <strong>de</strong> Socopenapan. Partia-se <strong>de</strong><br />

Botafogo e contornava-se o morro <strong>do</strong> Secretário para alcançar um estreito caminho, que era bem alaga<strong>do</strong><br />

em alguns pontos e tinha o mesmo seguimento <strong>da</strong>s atuais ruas <strong>da</strong> Passagem e General Poli<strong>do</strong>ro.<br />

Posteriormente, com as retificações e arruamentos que se fizeram, o trajeto passou a ser feito pelo<br />

Caminho <strong>do</strong> Carro – hoje rua São Clemente.<br />

Pesca<strong>do</strong>res já habitavam em <strong>de</strong>rre<strong>do</strong>r <strong>da</strong> lagoa <strong>de</strong> Socopenapan no começo <strong>do</strong> século XVII.<br />

Foram eles os primeiros a praticar, periodicamente, a abertura <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> ligação <strong>do</strong> mar com a<br />

lagoa, para facilitar a entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> peixe na época <strong>da</strong> <strong>de</strong>sova, feita, como se sabe, nos remansos seguros<br />

<strong>da</strong> costa. Nesse trabalho <strong>de</strong> quase <strong>do</strong>is séculos e sem outra preocupação senão a <strong>de</strong> favorecer a sua<br />

indústria, os pesca<strong>do</strong>res iam reduzin<strong>do</strong> os ares malignos que as águas mortas <strong>da</strong> lagoa espalhavam. Por<br />

fim, houve o <strong>de</strong>spovoamento em conseqüência <strong>da</strong>s febres pestilentas que assolaram a pitoresca região,<br />

sob a forma epidêmica grave. A <strong>de</strong> 1779 foi horrível, porque matava ou inutilizava pela paralisia. Des<strong>de</strong><br />

então, pouco se cui<strong>do</strong>u <strong>da</strong> famosa lagoa. As algas cobriram-na e a morte a ro<strong>de</strong>ou. Em 1837, fizeram-se<br />

ligeiros trabalhos <strong>de</strong> saneamento e nessa ocasião começou o corte <strong>da</strong> lendária Pedra Santa que se erguia<br />

muito inclina<strong>da</strong> sobre a estra<strong>da</strong> à margem <strong>da</strong> lagoa. O corte esteve a cargo <strong>do</strong> padre Manoel Gomes<br />

Souto, por empreita<strong>da</strong>. Ao fim <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos, o empreiteiro pediu à Ilustríssima Câmara um auxílio em<br />

dinheiro, alegan<strong>do</strong> já ter gasto mais <strong>de</strong> 10 barris <strong>de</strong> pólvora e também muito maior importância <strong>do</strong> que<br />

a <strong>do</strong> seu contrato, que era <strong>de</strong> duzentos mil réis. A Câmara negou o auxílio e administrativamente<br />

terminou o serviço.<br />

Em 1880, o barão <strong>de</strong> Teffé, então capitão <strong>de</strong> mar e guerra e diretor <strong>da</strong> Repartição Hidrográfica <strong>da</strong><br />

Marinha, apresentou estu<strong>do</strong> e plano ao Ministério <strong>do</strong> Império, que os solicitara, a respeito <strong>de</strong> obras para<br />

um saneamento <strong>de</strong>finitivo <strong>da</strong> lagoa. To<strong>do</strong> o trabalho <strong>do</strong> ilustre engenheiro naval, que faleceu com mais<br />

<strong>de</strong> 90 anos no posto <strong>de</strong> almirante reforma<strong>do</strong>, aparece claramente <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> em relatório seu, <strong>de</strong> 27<br />

<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1880. Acompanha o relatório uma curiosa planta <strong>da</strong>s margens <strong>da</strong> lagoa, levanta<strong>da</strong> por<br />

Teffé com a colaboração <strong>do</strong> então capitão-tenente Francisco Calheiros <strong>da</strong> Graça, que também morreu<br />

i<strong>do</strong>so e almirante. Em 1883 e em 1887, novas tentativas e outros planos para o saneamento <strong>da</strong> lagoa,<br />

com o contrato <strong>de</strong> J. Belissine & C.º Na<strong>da</strong> se fez e os anos rolaram sobre esses e outros muitos fatos em<br />

relação à lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. Por ela, realmente se interessou, quan<strong>do</strong> prefeito (1920/1922), Carlos<br />

César <strong>de</strong> Oliveira Sampaio, um <strong>do</strong>s mais brilhantes administra<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, pela sua<br />

operosi<strong>da</strong><strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte, alia<strong>da</strong> à sua alta competência <strong>de</strong> engenheiro e <strong>de</strong> intelectual, no que <strong>de</strong>u<br />

provas em muitas <strong>da</strong>s suas realizações. Citaremos as obras <strong>da</strong> lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, planea<strong>da</strong>s por<br />

técnicos <strong>da</strong> escolha <strong>de</strong> Carlos Sampaio e plano que obe<strong>de</strong>ceu, em linhas gerais, idéias <strong>do</strong> precita<strong>do</strong><br />

ilustre prefeito. Assim, cui<strong>da</strong>n<strong>do</strong> ele <strong>da</strong> questão capital, que era o saneamento <strong>da</strong> lagoa, não <strong>de</strong>scurou,<br />

to<strong>da</strong>via, <strong>da</strong> parte estética, e, sem quebrar os encantos naturais <strong>da</strong>quele recanto, transformou-o <strong>de</strong> forma<br />

a torná-lo uma <strong>da</strong>s maravilhas <strong>da</strong> capital <strong>do</strong> Brasil.


C A P Í T U L O V I<br />

Cosme Ve l h o


Cosme Velho era o lugar alto <strong>da</strong> Carioca Velha ou Paragem <strong>da</strong>s Laranjeiras, topan<strong>do</strong> com a serra<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> mata espessa. Foi <strong>de</strong> to<strong>do</strong> <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong> no século XVII, * pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s granjas –<br />

terras incultas que, pelas laboriosas mãos <strong>de</strong> Cosme Velho Pereira, se cobriram <strong>de</strong> bananeiras, canaviais<br />

e laranjeiras – e <strong>da</strong>í o batismo <strong>do</strong> bairro com o nome <strong>de</strong> Cosme Velho, on<strong>de</strong> o antigo obreiro <strong>do</strong> seu<br />

progresso passou quase to<strong>da</strong> sua existência, insuflan<strong>do</strong> trabalho e prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ao correr jubiloso os<br />

seus pomares, Cosme Velho Pereira antevia, por certo, <strong>do</strong> alto <strong>da</strong> sua quinta, o grandioso futuro<br />

reserva<strong>do</strong> à heróica e leal ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Quinta <strong>de</strong> Cosme Ve l h o<br />

C A P Í T U L O V I | 7 5<br />

A quinta <strong>de</strong> Cosme Velho Pereira media 418 braças <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> pública, com fun<strong>do</strong>s até<br />

o alto <strong>da</strong> montanha, no caminho <strong>da</strong> serra por on<strong>de</strong> corriam os canos <strong>da</strong> Carioca, no lugar <strong>da</strong> caixa d’água<br />

<strong>de</strong>sses canos. A estra<strong>da</strong> é hoje rua Cosme Velho e o lugar <strong>da</strong> caixa, o Silvestre. As terras <strong>da</strong> quinta<br />

constituíam uma <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong>s que foram ocupa<strong>da</strong>s pelo engenho e pela olaria <strong>de</strong> Cristóvão<br />

Monteiro (1566/1610). ** Por morte <strong>de</strong>sse oleiro, que foi ouvi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a sua viúva,<br />

conheci<strong>da</strong> por marquesa Ferreira, ven<strong>de</strong>u as terras e benfeitorias, em agosto <strong>de</strong> 1610, a uma ricaça <strong>de</strong><br />

nome Maria Soares, a qual levou a efeito a <strong>de</strong>smembramento completa <strong>da</strong>s terras para a ven<strong>da</strong>. No<br />

começo <strong>do</strong> século XVIII, Cosme Velho Pereira já aparece <strong>do</strong>no <strong>da</strong> quinta em apreço, a qual, na sua<br />

primitiva situação, apresentava aci<strong>de</strong>ntes geográficos curiosos e limitava-se <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, ban<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

ou <strong>do</strong> norte, com o dr. João <strong>da</strong> Mota Leite, e <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>, sul, com Antônio Rodrigues <strong>de</strong> Freitas. *** A<br />

pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cosme Velho, man<strong>do</strong>u a Câmara <strong>de</strong>marcar a quinta em 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1727, e na mesma<br />

<strong>da</strong>ta conce<strong>de</strong>u ao peticionário a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>s terras por ela – quinta – ocupa<strong>da</strong>s. Por três vi<strong>da</strong>s<br />

e ao foro anual <strong>de</strong> <strong>do</strong>is mil e duzentos réis fez-se a dita concessão. Com a morte <strong>de</strong> Cosme Velho, a<br />

quinta passou ao filho e her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong> fina<strong>do</strong>, dr. José Velho Pereira, a quem coube o aforamento em<br />

segun<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, por carta <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1760. Logo <strong>de</strong>pois, o dr. Velho Pereira e sua mulher, Teresa<br />

Leonor Gertru<strong>de</strong>s Pereira, ven<strong>de</strong>ram a quinta a João <strong>da</strong> Cunha Neves, ao qual o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara<br />

conce<strong>de</strong>u nova carta <strong>de</strong> aforamento correspon<strong>de</strong>nte à terceira vi<strong>da</strong>. Em 1778, guar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> as<br />

mesmas linhas divisórias, a quinta <strong>de</strong> Cosme Velho passou a um novo <strong>do</strong>no, Manoel <strong>da</strong> Cunha Neves,<br />

por sucessão hereditária, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> único irmão, her<strong>de</strong>iro e sócio <strong>de</strong> João <strong>da</strong> Cunha Neves. No<br />

mesmo ano <strong>de</strong> 1778, por escritura <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, Manoel <strong>da</strong> Cunha Neves fez <strong>do</strong>ação <strong>da</strong> quinta aos<br />

filhos <strong>da</strong> sua sobrinha Joaquina Rosa <strong>da</strong> Silva, casa<strong>da</strong> com Luiz Francisco <strong>da</strong> Silva, sob condição <strong>de</strong><br />

usufruto para o referi<strong>do</strong> casal. Foi um presente real <strong>de</strong> festas <strong>de</strong>sse bom tio. Por morte <strong>do</strong>s usufrutuários<br />

e para a partilha proce<strong>de</strong>u-se à <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> quinta, leva<strong>da</strong> a efeito a 2 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1822. A<br />

divisão compreen<strong>de</strong>u a parte <strong>da</strong> quinta que estava <strong>de</strong>sembaraça<strong>da</strong>, que era <strong>de</strong> 366 braças <strong>de</strong> frente, pois<br />

que a outra parte, <strong>de</strong> 52 braças <strong>de</strong> frente, estava em litígio com o confinante João <strong>da</strong> Costa Freitas, e<br />

assim ficou reserva<strong>da</strong> em comum aos <strong>do</strong>natários até a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> pleito.<br />

Em 1836, afinal, <strong>de</strong>cidiu-se o litígio e contra Costa Freitas. No mesmo ano <strong>de</strong> 1836, as ditas 52<br />

braças foram vendi<strong>da</strong>s a Joaquim Luiz <strong>da</strong> Silva Souto, o boticário. A partilha a que aludimos<br />

anteriormente <strong>de</strong>u 9.5 braças <strong>de</strong> frente, por extenso fun<strong>do</strong>, a ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>natários, que foram Carlos<br />

Francisco <strong>da</strong> Silva, Justina Carolina <strong>da</strong> Silva, Ana Matil<strong>de</strong> <strong>da</strong> Silva e Mariana Delfina <strong>da</strong> Silva. Mariana<br />

não <strong>de</strong>morou em ven<strong>de</strong>r o seu quinhão e <strong>de</strong> uma só vez to<strong>do</strong> ele, por 2:800$, ao já referi<strong>do</strong> boticário<br />

Silva Souto, que comprara a parte litigiosa, como <strong>de</strong>ixamos dito antes. Joaquim Luiz <strong>da</strong> Silva Souto<br />

loteou os terrenos que comprara, construiu sete prédios e formou, entre estes prédios e o rio, um<br />

logra<strong>do</strong>uro público a que se <strong>de</strong>u a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> largo <strong>do</strong> Boticário. Silva Souto teve fortuna e foi<br />

estabeleci<strong>do</strong> com botica à rua Direita, agora Primeiro <strong>de</strong> Março. Em voltan<strong>do</strong> a falar <strong>do</strong>s <strong>do</strong>natários,<br />

diremos que o <strong>de</strong> nome Carlos Francisco <strong>da</strong> Silva, <strong>da</strong>s suas 9.5 braças, reservou 45 <strong>de</strong> frente por 50 <strong>de</strong><br />

fun<strong>do</strong> e aí construiu uma boa casa resi<strong>de</strong>ncial com chácara para servir-lhe <strong>de</strong> moradia, como serviu, e<br />

que <strong>de</strong>pois ven<strong>de</strong>u a Manoel Veloso Tavares. Em 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1831, encontramos Veloso Tavares<br />

* Cosme Velho Pereira só adquiriu sua chácara no primeiro quartel <strong>do</strong> século XVIII. O próprio autor <strong>da</strong>ta a <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong>ssa chácara: 17 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1727. (N.C.)<br />

** Cristóvão Monteiro faleceu antes <strong>de</strong> 1590 pois, nesse ano, sua viúva marquesa Ferreira <strong>do</strong>ou as terras que her<strong>da</strong>ra (atual bairro <strong>de</strong> Santa Cruz e<br />

outras áreas) aos jesuítas e voltou com sua família para São Vicente, em São Paulo. (N.C.)<br />

*** Autos <strong>de</strong> Medições e Demarcações <strong>de</strong> <strong>Terras</strong> – Arquivo Municipal. (N.A.)


7 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a casa e a chácara a Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá, a quem a Câmara Municipal, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 30<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>da</strong>quele dito ano, conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa e chácara. Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá,<br />

<strong>de</strong> tradicional e ilustre família, homem inteligente e letra<strong>do</strong>, foi, porém, um <strong>de</strong>svia<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong>, pelas ações<br />

que praticou. É assim que encontramo-lo às voltas com a justiça, em 1838, quan<strong>do</strong>, falhan<strong>do</strong> a sua<br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong> criminosa, não pô<strong>de</strong> evitar as conseqüências <strong>de</strong> um ato que praticara e que se fez público com<br />

escân<strong>da</strong>lo. Salva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Sá havia hipoteca<strong>do</strong> a sua casa e chácara e por essa hipoteca vem a ser executa<strong>do</strong>.<br />

A <strong>de</strong>speito disto e conseguin<strong>do</strong> <strong>de</strong>scaminhar os autos <strong>da</strong> penhora, ven<strong>de</strong>u-as por 2:000$ ao cônego<br />

Francisco <strong>do</strong>s Santos Moreira, em 8 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1838. A patifaria foi <strong>de</strong>scoberta, os autos <strong>da</strong> penhora<br />

encontra<strong>do</strong>s e esta executa<strong>da</strong>, anulan<strong>do</strong>-se a ven<strong>da</strong>. Salva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Sá foi chama<strong>do</strong> a juízo como criminoso.<br />

Por fim, fazen<strong>do</strong> um acor<strong>do</strong> com o exeqüente e per<strong>do</strong>a<strong>do</strong> pelo cônego Moreira, Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá<br />

livrou-se <strong>da</strong> culpa e arquivou-se o processo.<br />

Em 1843, a casa, com a chácara, foi vendi<strong>da</strong> a Francisco Coelho <strong>de</strong> Oliveira. Em 1846, em praça<br />

<strong>de</strong> ausentes aparecem casa e chácara, com o nº 45 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cosme Velho, arremata<strong>da</strong>s pela quantia <strong>de</strong><br />

5:700$, por Manoel José Fernan<strong>de</strong>s a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno,<br />

em 26 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1847, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> atento exame <strong>da</strong> situação <strong>do</strong> imóvel perante a Justiça.<br />

L u g a r <strong>do</strong> Cosme Velho – 1806/1844<br />

Terreno <strong>de</strong> 180 braças <strong>de</strong> frente, por um caminho agreste ou estra<strong>da</strong> pública, no lugar chama<strong>do</strong><br />

Cosme Velho, e cujos fun<strong>do</strong>s iam ao mais alto <strong>da</strong> serra e águas vertentes para São Clemente. Esse<br />

terreno, ain<strong>da</strong> em 1806, é encontra<strong>do</strong> como pertencen<strong>do</strong> ao tenente miliciano José <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Santos e,<br />

no dito ano, por escritura <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> agosto, vendi<strong>do</strong> pela quantia <strong>de</strong> cinco mil cruza<strong>do</strong>s ao casal <strong>do</strong> capitão<br />

Joaquim Gonçalves <strong>do</strong>s Santos. Esse casal era riquíssimo, possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais nos sertões<br />

<strong>da</strong> antiga capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, margem <strong>do</strong> rio Paraíba, com escravos em gran<strong>de</strong> número. O casal<br />

Gonçalves <strong>do</strong> Santos beneficiou bastante o terreno que comprou, construin<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> casa para a sua<br />

residência, ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> arborização especial. Afinal, por ajuste particular, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1812, foi feita<br />

a promessa <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> magnífica proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo dito casal ao capitão-mor Manoel José <strong>de</strong> Souza.<br />

Consumou-se a ven<strong>da</strong> por escritura pública, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1814. Nas transferências, por compra<br />

e ven<strong>da</strong>, que se fizeram <strong>da</strong>s cita<strong>da</strong>s benfeitorias, era incluí<strong>do</strong> o terreno sempre como livre <strong>de</strong> foro. Em<br />

1814, houve quem <strong>de</strong>nunciasse o fato às autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s competentes <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, mas, por<br />

motivos que ficaram ocultos, nenhuma providência foi toma<strong>da</strong>. Somente trinta anos <strong>de</strong>pois, o capitãomor<br />

Manoel José <strong>de</strong> Souza, já bem i<strong>do</strong>so e enfraqueci<strong>da</strong> a sua influência, viu-se obriga<strong>do</strong> a reconhecer<br />

o senhorio <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o chão <strong>da</strong> sua casa e chácara e a pagar os foros em atraso, evitan<strong>do</strong><br />

assim a praça <strong>de</strong> comisso com que fora ameaça<strong>do</strong>. Em 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1844, legalizou-se a situação <strong>do</strong>s<br />

imóveis, tiran<strong>do</strong> o capitão-mor a respectiva carta <strong>de</strong> aforamento.<br />

L u g a r <strong>do</strong> Cosme Velho – 1809/1882<br />

Terreno <strong>de</strong> 286 braças <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> pública no lugar chama<strong>do</strong> Cosme Velho cujos fun<strong>do</strong>s<br />

se estendiam além <strong>de</strong> 50 braças pelo morro <strong>de</strong> São Clemente acima. No Cosme Velho, extensas terras<br />

montanhosas e em mata virgem foram possuí<strong>da</strong>s por Bernar<strong>do</strong> Francisco <strong>de</strong> Moura. A sua viúva, Maria<br />

Rosa <strong>de</strong> São Francisco, transferiu to<strong>da</strong>s por ven<strong>da</strong> e pela quantia <strong>de</strong> seis mil cruza<strong>do</strong>s, ao capitão<br />

Joaquim Gonçalves <strong>do</strong>s Santos, em 2 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1809. O capitão Gonçalves <strong>do</strong>s Santos, <strong>de</strong> quem já<br />

falamos, man<strong>do</strong>u proce<strong>de</strong>r o levantamento geral <strong>da</strong>s terras e as dividiu em duas porções iguais, que<br />

ven<strong>de</strong>u uma ao capitão-mor Manoel José <strong>de</strong> Souza, também já nosso conheci<strong>do</strong>, e a outra ao padre<br />

Antônio Benedito José <strong>de</strong> Souza. Da porção <strong>do</strong> capitão-mor Souza saiu o terreno objeto <strong>de</strong>stas notas e<br />

que foi vendi<strong>do</strong>, em 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1824 a Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, já possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> outros<br />

terrenos compra<strong>do</strong>s ao padre Benedito <strong>de</strong> Souza, a 6 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1816. Aliás, o padre Benedito


<strong>de</strong>sfez-se <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a porção que comprara, com a ven<strong>da</strong> feita a Domingos <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> e mais duas outras,<br />

sen<strong>do</strong> uma ao conselheiro Luiz Moutinho Alvares <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, e a outra ao inglês Henrique<br />

Chamberlain. É interessante recor<strong>da</strong>r que Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> tinha-se na conta <strong>de</strong> sátrapa.<br />

Daí, os atos <strong>de</strong> força e <strong>de</strong> ilegali<strong>da</strong><strong>de</strong> que praticou com respeito às terras <strong>de</strong> que era apenas posseiro.<br />

Afinal, acabou processa<strong>do</strong> e con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> às penas máximas (prisão, multa e confisco) <strong>da</strong> lei, pelo juízo<br />

privativo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. No terreno vendi<strong>do</strong> pelo padre Benedito <strong>de</strong> Souza ao inglês Henrique<br />

Chamberlain, a 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1816, foi edifica<strong>da</strong> boa casa resi<strong>de</strong>ncial entre arborização<br />

seleciona<strong>da</strong>, na maioria árvores frutíferas. Essa magnífica residência pertenceu a mais <strong>do</strong>is ingleses –<br />

Guilherme Young, por compra a Chamberlain, e a Jorge Britain, que a comprou a Young, em 23 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1822. Agostinho José Inácio <strong>da</strong> Costa Figueire<strong>do</strong>, genro <strong>de</strong> Silvestre Pires Chaves e vizinho<br />

<strong>de</strong> Britain, tornou-se o proprietário <strong>da</strong> bela mora<strong>da</strong>, conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong> Inglês. Dessa chácara<br />

saíram os terrenos que entraram na formação <strong>de</strong> uma outra boa viven<strong>da</strong> – a famosa chácara <strong>do</strong> Tumba,<br />

cuja situação, em 1882, está bem <strong>de</strong>linea<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senho que ilustra estas notas.<br />

L u g a r <strong>do</strong> Cosme Velho – 1823/1851<br />

Terreno <strong>de</strong> 36 braças <strong>de</strong> frente por 317 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, possuí<strong>do</strong> por Justina Carolina <strong>da</strong> Silva, e<br />

a ela compra<strong>do</strong> por Antônio Rodrigues Soares <strong>de</strong> Luna, em 23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1823, pela quantia <strong>de</strong><br />

1:080$. Soares <strong>de</strong> Lima beneficiou o terreno construin<strong>do</strong> casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> confortável e plantan<strong>do</strong> boa<br />

chácara, que não <strong>de</strong>morou em ser inutiliza<strong>da</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>smembramento que se fez em duas porções<br />

diferentes: uma <strong>de</strong> 16 braças <strong>de</strong> frente, vendi<strong>da</strong> a Antônio Joaquim Álvaro <strong>da</strong> Silva, e a outra <strong>de</strong> 20<br />

braças, vendi<strong>da</strong> a José Gomes Moreira <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>. Devi<strong>do</strong> ao estrago causa<strong>do</strong> no livro <strong>de</strong> escrituras pela<br />

traça, não nos foi possível precisar o dia <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s cita<strong>da</strong>s porções <strong>de</strong> terreno, sen<strong>do</strong> certo, porém,<br />

que se fizeram no mês <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1851.<br />

L u g a r <strong>do</strong> Cosme Velho – 1825/1846<br />

Terreno <strong>de</strong> 23 braças <strong>de</strong> frente por 30 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, possuí<strong>do</strong> por Ana Matil<strong>de</strong> <strong>da</strong> Silva e pela<br />

dita posseira, vendi<strong>do</strong> em 1825 a José Botelho <strong>de</strong> Siqueira. Nesse terreno, Botelho construiu casa <strong>de</strong><br />

mora<strong>da</strong> com chácara, lança<strong>da</strong> em 1846, no Tombamento Municipal, com o nº 30 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cosme Velho<br />

e em nome <strong>de</strong> Bernar<strong>do</strong> Botelho, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> filho e her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> José Botelho <strong>de</strong> Siqueira.<br />

Ain<strong>da</strong> no dito ano <strong>de</strong> 1846, verificamos a existência <strong>de</strong> anotações sobre o imóvel em causa, porém, elas<br />

se apresentam lacônicas, como em geral to<strong>da</strong>s que dizem respeito às transferências <strong>de</strong> prédios. É assim<br />

que no livro competente – “Lançamento <strong>da</strong>s Décimas para o ano <strong>de</strong> 1846” – apenas consta: “Chácara<br />

30, rua <strong>do</strong> Cosme Velho, João Tavares, por compra e pela quantia <strong>de</strong> 10:000$”. O que <strong>de</strong>ixa crer ter si<strong>do</strong><br />

Tavares apenas compra<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s benfeitorias, ten<strong>do</strong> o terreno fica<strong>do</strong> sob o <strong>do</strong>mínio útil <strong>de</strong> Bernar<strong>do</strong><br />

Botelho, segun<strong>do</strong> o Registro <strong>do</strong> Tombamento, em 1846.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1826/1847<br />

C A P Í T U L O V I | 7 7<br />

Terreno <strong>de</strong> extensa frente pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho, no ponto em que ela se bifurcava,<br />

forman<strong>do</strong> <strong>do</strong>is caminhos: um para o Regelo e o <strong>do</strong> Corcova<strong>do</strong>. A respeito <strong>de</strong>sse terreno, não<br />

encontramos provas <strong>do</strong> seu levantamento nas fontes a que recorremos e bem assim quanto ao caminho<br />

para o Regelo, sobre o qual são lacônicas e duvi<strong>do</strong>sas as referências que se lhe fazem, posteriormente<br />

ao ano <strong>de</strong> 1826. Quer nos parecer que esse caminho <strong>de</strong>sapareceu em conseqüência <strong>da</strong>s <strong>de</strong>smembrações<br />

<strong>da</strong>s chácaras a que prestava servidão, para os la<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Santa Teresa. O terreno foi compra<strong>do</strong> por Jorge<br />

Britain ao capitão-mor Manoel José <strong>de</strong> Souza, a 2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1826, e afora<strong>do</strong> ao dito compra<strong>do</strong>r, a 19<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1828. Ao tempo <strong>de</strong>ste aforamento, Jorge Britain era ain<strong>da</strong> cônsul geral <strong>da</strong> Inglaterra e


7 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

negociante no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> residia em gran<strong>de</strong> e cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara com entra<strong>da</strong> pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Cosme Velho e que ocupava quase to<strong>do</strong> o morro <strong>do</strong> Inglês, no alto <strong>do</strong> qual ficava a residência <strong>do</strong><br />

conceitua<strong>do</strong> cônsul. A chácara e também a casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> foram <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s por Britain a uma senhora <strong>de</strong><br />

suas relações e gran<strong>de</strong> estima, <strong>de</strong> nome Marcelina Rosa <strong>da</strong> Porciúncula. Ao falecer, o bom cônsul Britain<br />

<strong>de</strong>via avulta<strong>da</strong> quantia à “Casa Britain, Wilhenson & Broconel”, <strong>de</strong> Schefeld, no con<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> York, e para<br />

pagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> foram à praça os seus bens. Num gesto altruísta e <strong>de</strong> gratidão ao seu fina<strong>do</strong> amigo<br />

e benfeitor, a senhora Porciúncula pôs também à praça a chácara e casa que lhe haviam si<strong>do</strong> <strong>do</strong>a<strong>da</strong>s e<br />

on<strong>de</strong> residia, para com o produto <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> auxiliar a liqui<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s compromissos <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s por Britain<br />

– a quem chamavam o bom cônsul – Agostinho José Inácio <strong>da</strong> Costa Figueire<strong>do</strong> adquiriu a magnífica<br />

mora<strong>da</strong>.<br />

Chácara <strong>do</strong>s Tumbas.


Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1830<br />

Terreno <strong>de</strong> 50 braças <strong>de</strong> frente por perto <strong>de</strong> 70 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Esse terreno afora<strong>do</strong> a Antônio<br />

Peixoto <strong>do</strong> Vale, em 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1830, estava nessa época ocupa<strong>do</strong> por uma cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara bem<br />

arboriza<strong>da</strong> e várias casas resi<strong>de</strong>nciais, forman<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> o conjunto, uma pitoresca vila <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> vila<br />

<strong>do</strong> Peixoto, por pertencer a Antônio Peixoto <strong>do</strong> Vale, que a comprara a João <strong>da</strong> Costa Freitas, em esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> quase completa ruína e a reconstruiu com esmero. A vila <strong>do</strong> Peixoto <strong>da</strong>va uma boa ren<strong>da</strong> ao seu<br />

proprietário. A compra foi feita por um conto <strong>de</strong> réis em moe<strong>da</strong> prata – em gran<strong>de</strong> giro nesse memorável<br />

ano <strong>de</strong> 1830. A moe<strong>da</strong> prata prestava-se a uma série <strong>de</strong> especulações, em conseqüência <strong>de</strong> oscilar<br />

constantemente o seu valor, estipula<strong>do</strong> pelo câmbio <strong>do</strong> dia. Nas ven<strong>da</strong>s <strong>de</strong> prédios, enorme as<br />

especulações, com prejuízo à ren<strong>da</strong> municipal <strong>da</strong> quarentena a que estavam obriga<strong>da</strong>s essas ven<strong>da</strong>s, visto<br />

que gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> chão em que está assente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> é foreira à<br />

sua municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Ilustríssima Câmara, acautelan<strong>do</strong>-se, <strong>de</strong>senvolveu atila<strong>da</strong> fiscalização, que<br />

dificultou bastante a maroteira. Antônio Peixoto <strong>do</strong> Vale era possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> vastos terrenos à margem<br />

esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> rio Carioca, com fun<strong>do</strong>s na estra<strong>da</strong> que ia para o Corcova<strong>do</strong> e na quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

compra<strong>do</strong>s ao conselheiro Luiz Moutinho Alvares <strong>de</strong> Lima. Na porção adquiri<strong>da</strong> a esse titular estavam<br />

compreendi<strong>do</strong>s três antigos engenhos <strong>de</strong> farinha, em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ruína e que se incluíram na ven<strong>da</strong>,<br />

realiza<strong>da</strong> em 1830, por 1:100$. Peixoto <strong>do</strong> Vale concorreu muito para o progresso <strong>do</strong> Cosme Velho,<br />

<strong>de</strong>smembran<strong>do</strong> as terras que possuía para abrir vias públicas e levantar bons prédios. Depois <strong>de</strong> 1834,<br />

esse bairro começou a crescer com rapi<strong>de</strong>z.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1835/1860<br />

C A P Í T U L O V I | 7 9<br />

Terreno <strong>de</strong> 62 braças <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho e que se estendia até as nascentes <strong>do</strong><br />

rio Compri<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> aí coberto <strong>de</strong> espessa mata. Esse seguimento <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s fazia quase to<strong>do</strong><br />

em reta. Além <strong>de</strong> outras benfeitorias, existiam nesse terreno três antigas casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, com entra<strong>da</strong>s<br />

pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho nºs 72, 72A e 88A, e proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> marechal-<strong>de</strong>-campo Joaquim Alberto<br />

<strong>de</strong> Souza <strong>da</strong> Silveira, que era também o posseiro <strong>do</strong> terreno. Esse militar tinha mais proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e<br />

valiosas, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em outros lugares <strong>do</strong> Brasil e em Portugal. Residia no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a<br />

princípio no Cosme Velho e por fim na Lapa. Ficou viúvo em 1835, com uma filha <strong>de</strong> nome Maria José<br />

<strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça <strong>da</strong> Silveira, a qual veio a casar-se, em 1844, com Jorge Firmo Loureiro. O marechal<br />

Silveira, por morte <strong>da</strong> sua mulher, não fez, como era obriga<strong>do</strong>, o inventário <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong> casal, para a<br />

entrega <strong>da</strong> legítima materna à referi<strong>da</strong> filha. Daí, complicações que surgiram e que tornaram <strong>de</strong>mora<strong>do</strong><br />

o inventário e mais dispendioso. A partilha fez-se amigavelmente por escritura pública <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1857 e lavra<strong>da</strong> pelo tabelião Pedro José <strong>de</strong> Castro, na residência <strong>do</strong> marechal, à rua <strong>da</strong> Lapa, 29, com<br />

a presença <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s e <strong>da</strong>s testemunhas Sabino Inácio <strong>da</strong> Silva e Francisco Tomás <strong>de</strong> Aquino. O<br />

marechal Silveira reservou para ele nove escravos: cinco operários ao ganho e quatro para serviços<br />

<strong>do</strong>mésticos e estes foram a mucama Justina, com 25 anos; a cozinheira Eulália, <strong>de</strong> 35 anos; o pa<strong>de</strong>iro,<br />

mulher, <strong>de</strong> nome Maria, <strong>de</strong> 33 anos, e o cocheiro Manoel, <strong>de</strong> 40 anos. Também ficou reserva<strong>do</strong> para o<br />

marechal a sua antiga residência à rua <strong>do</strong> Cosme Velho, 72, no largo <strong>do</strong> Boticário. Maria José ficaram<br />

pertencen<strong>do</strong> os prédios 72A e 88A <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cosme Velho; a fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Conceição, em Pati <strong>de</strong> Alferes,<br />

na província fluminense; a quinta <strong>de</strong> Castelões e a <strong>do</strong> Casal <strong>do</strong> Assento, na freguesia <strong>do</strong> Guimarães, em<br />

Portugal; 46 escravos e outros bens móveis, semoventes e imóveis no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A partilha foi<br />

julga<strong>da</strong> por sentença <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1857, <strong>do</strong> juiz municipal <strong>da</strong> 1ª Vara Cível <strong>da</strong> Corte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, escrivão Hipólito Cândi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis Araújo.<br />

O croqui que apresentamos é curioso e <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1860, quan<strong>do</strong> se fez necessário conhecer-se<br />

precisamente os limites <strong>do</strong> vasto terreno possuí<strong>do</strong> pelo marechal Silveira e a ele afora<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong><br />

1846. A casa em que havia residi<strong>do</strong> esse militar figura como nº 72, ten<strong>do</strong> entra<strong>da</strong> pelo largo <strong>do</strong> Boticário.<br />

Maria José, fican<strong>do</strong> viúva <strong>de</strong> Firmo Loureiro, que era rico, casou-se com João Antônio Martins Tinoco,<br />

também endinheira<strong>do</strong>.


8 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1836/1849<br />

Terreno <strong>de</strong> 60 braças <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho. Foi compra<strong>do</strong>, em 1836, pelo<br />

sargento-mor e boticário Joaquim Luiz <strong>da</strong> Silva Souto a Carlos Francisco <strong>da</strong> Silva e irmãs, últimos <strong>do</strong>nos<br />

<strong>da</strong> quinta <strong>do</strong> Cosme Velho, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>natários <strong>de</strong> Manoel <strong>da</strong> Cunha Neves. Silva Souto, em<br />

seguimento <strong>de</strong>sse terreno, possuía outro também <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> quinta, com 9,5 braças <strong>de</strong><br />

frente e que comprou Mariana Delfina, um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>natários aludi<strong>do</strong>s. Dos terrenos <strong>de</strong> Silva Souto saíram<br />

as vinte braças que a sua viúva, Maria Rita <strong>da</strong> Silva Souto, ven<strong>de</strong>u, em 1846, a Manoel Coelho Moura,<br />

a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>da</strong>s ditas vinte braças, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1846. Na parte mais alta <strong>do</strong> terreno que comprou, Moura edificou uma confortável<br />

casa resi<strong>de</strong>ncial a que se ascendia por íngreme la<strong>de</strong>ira, começan<strong>do</strong> <strong>da</strong> fonte férrea. Foi aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a esta<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso que a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u vários favores a Coelho Moura, facilitan<strong>do</strong>lhe<br />

a construção <strong>da</strong> pitoresca viven<strong>da</strong>, que alcançou o começo <strong>do</strong> atual século. Por escritura <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1849, e pela quantia <strong>de</strong> 9:250$, a casa em apreço foi vendi<strong>da</strong> a Francisco Ribeiro <strong>de</strong> Moura.<br />

Curioso croqui <strong>do</strong> local <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> marechal Silveira no Cosme Velho.


Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1836/1866<br />

Terreno <strong>de</strong> 87,5 braças <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho, no trecho que se chamou <strong>de</strong><br />

caminho <strong>do</strong> Peixoto. Esse terreno, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>, em 1836, <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong>s Moinhos, aparece em<br />

1844 como ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> compra<strong>do</strong> por Antônio Peixoto <strong>do</strong> Vale, pela quantia <strong>de</strong> 1:600$, Rosa Maria <strong>do</strong><br />

Nascimento, viúva e her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> João <strong>da</strong> Costa Freitas, antigo <strong>do</strong>no <strong>da</strong> dita chácara. Era nesse a chama<strong>da</strong><br />

Fortaleza: casa resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> sóli<strong>da</strong> construção <strong>de</strong> pedra e cal, aparentan<strong>do</strong> fortaleza medieval e na qual<br />

residiu Peixoto <strong>do</strong> Vale. Em 1866, foi vendi<strong>da</strong> pela viúva Peixoto <strong>do</strong> Vale, Bernardina Clara, já casa<strong>da</strong><br />

com José Antônio Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong>s Santos, quem, por cabeça <strong>de</strong> casal, aparece em quase to<strong>da</strong>s as transações<br />

<strong>de</strong> bens <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> senhora. Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong>s Santos foi um mari<strong>do</strong> liqui<strong>da</strong>tário. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> ele aparece<br />

liqui<strong>da</strong>n<strong>do</strong> quase to<strong>do</strong>s os bens <strong>da</strong> rica viúva. Era casa<strong>do</strong> pelo regime <strong>de</strong> comunhão <strong>de</strong> bens, ele que<br />

pouco tinha, como <strong>de</strong>ixa crer a <strong>do</strong>cumentação que, atentamente, examinamos. A Fortaleza foi compra<strong>da</strong><br />

por José Borges <strong>da</strong> Costa, gran<strong>de</strong> proprietário no Cosme Velho, on<strong>de</strong> possuiu para mais <strong>de</strong> vinte prédios.<br />

Deixou fortuna e <strong>de</strong>scendência distinta no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e em Niterói. Os seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes,<br />

<strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>s em Niterói, ao fim <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, já estavam pobres. O ricaço Borges, que era homem<br />

seguro nos negócios que fazia e um tanto avarento, possuiu na antiga estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho, além <strong>da</strong><br />

Fortaleza, nº 73 e <strong>da</strong> chácara, nº 75, os bons prédios nºs 63E, 63F, 63G, 63H, 65A a 65E e <strong>do</strong> la<strong>do</strong> par,<br />

para mais <strong>de</strong> seis. Quan<strong>do</strong> vendia os prédios, retinha sempre o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno, fican<strong>do</strong> assim o<br />

compra<strong>do</strong>r obriga<strong>do</strong> a pagar-lhe o foro <strong>do</strong> terreno e também o laudêmio, no caso <strong>de</strong> transferência. As<br />

ven<strong>da</strong>s que fazia eram concernentes às benfeitorias, apenas. Criou um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro feu<strong>do</strong>. Encontramos,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>da</strong> sua morte, antigos feu<strong>da</strong>tários seus a questionar em juízo para reivindicação <strong>de</strong> direitos sobre<br />

a posse útil <strong>de</strong> terrenos, pretendi<strong>da</strong> pelos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Borges <strong>da</strong> Costa.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1836/1870<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente, por 67 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, alcançan<strong>do</strong> o aqueduto que abastecia o<br />

chafariz <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. Ana Matil<strong>de</strong> <strong>da</strong> Silva e Sá, possui<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> terreno, efetuou a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

mesmo ao tabelião José Pires Garcia, em 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1836. Na parte mais eleva<strong>da</strong> <strong>do</strong> terreno, Pires<br />

Garcia fez construir uma boa casa resi<strong>de</strong>ncial, com chácara, e aí residiu até o ano <strong>de</strong> 1845, quan<strong>do</strong>, a 7<br />

<strong>de</strong> maio, ven<strong>de</strong>u por <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis, casa e chácara, a José Carvalho Pinto, a quem foram compra<strong>da</strong>s<br />

por 25:000 réis, em 1870, pelo negociante Deocleciano Bruce. Na ocasião <strong>de</strong>ssa compra, o imóvel figura<br />

no Registro <strong>da</strong>s Décimas com o nº 22 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cosme Velho. Quanto ao aforamento <strong>do</strong> terreno, o<br />

Tombo Municipal registra como foreiro, até 1841, Ana Matil<strong>de</strong> <strong>da</strong> Silva e Sá e em débito. Somente no<br />

dito ano <strong>de</strong> 1841, Pires Garcia pediu o aforamento <strong>do</strong> chão em que estava assente a sua casa e chácara.<br />

Por carta <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> outubro, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1841, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u-lhe o aforamento, mediante<br />

prévio pagamento <strong>do</strong>s foros em atraso.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1838/1872<br />

C A P Í T U L O V I | 8 1<br />

Terreno <strong>de</strong> 100 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> pela margem <strong>do</strong> rio Carioca e corta<strong>do</strong> pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme<br />

Velho, ten<strong>do</strong> 80 braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Em conseqüência <strong>de</strong> corte, o aforamento compreen<strong>de</strong>u um la<strong>do</strong> e outro<br />

<strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho e ain<strong>da</strong> pelo caminho <strong>do</strong> Inglês, on<strong>de</strong> também fazia outra frente. Esse terreno<br />

foi lega<strong>do</strong> ao padre Manoel <strong>de</strong> Queiroz Paiva * pelo antigo posseiro Domingos Alves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> e, em<br />

1838, vendi<strong>do</strong> pelo dito sacer<strong>do</strong>te, por 4:000$, ao barão <strong>da</strong> Glória, Antônio José Leite Guimarães. O<br />

barão, compran<strong>do</strong> o terreno, to<strong>do</strong> ele montanhoso, ain<strong>da</strong> muito agreste e fecha<strong>do</strong> por cerca viva, logo o<br />

dividiu e construiu vários prédios, <strong>do</strong>s quais cinco no la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, vendi<strong>do</strong>s pelo<br />

mesmo titular, em 1863, a José Borges <strong>da</strong> Costa, a quem pertenciam ain<strong>da</strong> em 1870 e figuravam no Rol<br />

<strong>da</strong>s Décimas com os nºs 50, 52, 54, 56 e 58.<br />

* O padre Queiroz Paiva era entea<strong>do</strong> <strong>de</strong> Domingos Alves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>. (N.C.)


8 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho – 1841/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 38 braças <strong>de</strong> frente por 60 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, logo abaixo <strong>da</strong> caixa d’água, com casa <strong>de</strong><br />

mora<strong>da</strong> e chácara, pertencentes ao conselheiro Luiz Moutinho Alvares <strong>de</strong> Lima, que as ven<strong>de</strong>u em 1841,<br />

por 2:000$, a Joaquim Manoel Silva Castro. Em pior esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> as comprara, Silva Castro<br />

ven<strong>de</strong>u a casa e chácara, por 2:500$, a Agostinho José Inácio, em 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1843. No mesmo<br />

ano <strong>de</strong> 1843, José Inácio, que reformou a casa e cui<strong>do</strong>u <strong>da</strong> chácara, conseguiu <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o<br />

aforamento <strong>do</strong> terreno, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> outubro.<br />

Rua Cosme Velho – 1854/1855<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Cosme Velho, no largo <strong>do</strong> Boticário, por 48 ditas e 9<br />

palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com uma casa térrea nº 64, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jerônimo Jacinto <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, que a<br />

comprou, em 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1854, à viúva e filhos <strong>do</strong> boticário Joaquim Luiz <strong>da</strong> Silva Souto, pela quantia<br />

2:300$. No Tombo Municipal aparece esse terreno afora<strong>do</strong> a Jerônimo Jacinto <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, por carta <strong>de</strong><br />

2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1855. Em 1854, fomos encontrar a viúva Souto, Maria Rita <strong>da</strong> Silva Souto, já residin<strong>do</strong> na<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Niterói, em companhia <strong>de</strong> uma filha <strong>de</strong> nome Maria <strong>da</strong> Silva Souto Carneiro, casa<strong>da</strong> com<br />

Manoel Rodrigues Carneiro, mas separa<strong>da</strong> <strong>de</strong>le – que residia em Lisboa. Como dissemos, o largo <strong>do</strong><br />

Boticário formou-se <strong>de</strong> terrenos tira<strong>do</strong>s à chácara <strong>do</strong> Souto, <strong>da</strong> qual saíram também os terrenos para o<br />

alargamento <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho. Um riacho <strong>de</strong> águas cristalinas, com nascente na chácara <strong>do</strong>s<br />

Moinhos, atravessava a <strong>do</strong> Souto, afluin<strong>do</strong> as suas águas para o rio Carioca, logo abaixo <strong>da</strong> paragem <strong>da</strong>s<br />

águas férreas. A chácara <strong>do</strong>s Moinhos * e a <strong>do</strong> Souto formaram-se <strong>de</strong> terras <strong>da</strong> quinta <strong>de</strong> Cosme Velho<br />

Pereira.<br />

Rua Cosme Velho – 1855<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente por 28 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong>s Moinhos, <strong>da</strong><br />

qual era o <strong>do</strong>no João <strong>da</strong> Costa Freitas, passan<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois à sua viúva her<strong>de</strong>ira Rosa Maria <strong>do</strong> Nascimento.<br />

Essa senhora tinha um filho <strong>de</strong> nome João Manoel Men<strong>de</strong>s, posseiro que foi <strong>do</strong> terreno objeto <strong>de</strong>stas<br />

notas, até 1855, ano em que, a 11 <strong>de</strong> julho, se fez a transferência <strong>do</strong> imóvel em causa para Patrício<br />

Ricar<strong>do</strong> Freire. Nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> terreno, com águas limpas, corria o rio <strong>da</strong>s Caboclas e por que se<br />

prestasse à lavagem <strong>de</strong> roupa, para esse trecho <strong>do</strong> rio, que outro não era senão o lendário Carioca,<br />

afluíam lava<strong>de</strong>iras em ban<strong>do</strong>s álacres, e quase to<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cor acobrea<strong>da</strong>. Daí a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rio <strong>da</strong>s<br />

Caboclas.<br />

* Restier Gonçalves, no verbete seguinte (rua Cosme Velho – 1855) se contradiz com relação à posição <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong>s Moinhos, afirman<strong>do</strong> que<br />

pertencia a João <strong>da</strong> Costa Freitas. (N.C.)


C A P Í T U L O V I I<br />

La ra n j e i ra s


8 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

São <strong>do</strong> século XVII as primeiras concessões <strong>de</strong> terras feitas pela Câmara no estreito vale forma<strong>do</strong><br />

pelo rio Carioca, com espessa mata coroan<strong>do</strong> os montes. Os concessionários <strong>de</strong>ssas terras montaram<br />

engenhos * e olarias que prosperaram rapi<strong>da</strong>mente. Depois, nos retalhos <strong>da</strong>s antigas quintas, levantaramse<br />

granjas ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s <strong>de</strong> laranjais. Em linhas gerais, eis a formação <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong>s Laranjeiras, on<strong>de</strong> no<br />

século XVIII os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s antigos oleiros, <strong>do</strong>s senhores <strong>de</strong> engenhos e <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res<br />

ostentavam, orgulhosos, os brasões encima<strong>do</strong>s nos portões acastela<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s suas mora<strong>da</strong>s principescas.<br />

Os sucessos políticos <strong>da</strong> Europa, no começo <strong>do</strong> século XIX, tiveram transcen<strong>de</strong>nte significação<br />

no Brasil. E assinala<strong>do</strong> está <strong>de</strong> principal importância a transmigração <strong>da</strong> Família Real Portuguesa para<br />

o nosso país, que se fez se<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> reino <strong>de</strong> Portugal. Naturalmente, o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 11 sen<strong>do</strong><br />

a Corte, centralizan<strong>do</strong> a administração pública e o comércio, teve um gran<strong>de</strong> avanço na sua vi<strong>da</strong> social<br />

e radicais foram as transformações materiais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>do</strong>s costumes <strong>do</strong>s seus habitantes. Melhoraramse<br />

os serviços <strong>da</strong> limpeza urbana e criaram-se novos códigos <strong>de</strong> posturas sobre higiene <strong>do</strong>miciliar, com<br />

planos para as construções <strong>da</strong>s casas, suas disposições internas, ventilação e também sua feição<br />

arquitetural, com preocupações relativas à uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong> e elegância <strong>da</strong>s facha<strong>da</strong>s. Os bairros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> receberam melhoramentos e, <strong>de</strong> preferência, o <strong>da</strong>s Laranjeiras que<br />

se classificou no Rol <strong>da</strong>s Décimas, como lugar notável para receber <strong>da</strong> administração pública, como<br />

recebeu, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s especiais. Os proprietários e mora<strong>do</strong>res nas Laranjeiras foram convoca<strong>do</strong>s para<br />

prestar o apoio necessário – quer em dinheiro, quer em materiais – para a execução <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> viação<br />

e saneamento indispensáveis ao bairro <strong>da</strong>s Laranjeiras que merecera, <strong>de</strong> Sua Alteza Sereníssima, a<br />

princesa Carlota Joaquina, esposa <strong>do</strong> Regente, ser escolhi<strong>do</strong> para a sua residência <strong>de</strong> recreação. Na<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, Carlota Joaquina adquiriu em Laranjeiras uma gran<strong>de</strong> e sóli<strong>da</strong> casa com extensa chácara, que<br />

foram a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> conveniente à residência <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>ma <strong>de</strong> tão alta linhagem. Abriram-se<br />

alame<strong>da</strong>s pela chácara, cuja arborização foi acresci<strong>da</strong> <strong>de</strong> espécies raras e levantou-se um mirante. As<br />

obras foram entregues aos melhores operários <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e tiveram a direta fiscalização técnica<br />

<strong>do</strong> arquiteto <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e a administrativa <strong>da</strong> Intendência Geral <strong>da</strong> Polícia. Na sua residência,<br />

em Laranjeiras, Carlota Joaquina, a futura rainha <strong>de</strong> Portugal, Brasil e Algarve, aninhou em carícias e<br />

prazeres os seus áulicos afeiçoa<strong>do</strong>s e viveu, talvez, os dias mais felizes <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> mulher e <strong>de</strong> rainha<br />

– <strong>de</strong>pois tão atribula<strong>da</strong>. Laranjeiras fez-se, assim, o bairro notável e chique <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

– capital <strong>de</strong> fato <strong>do</strong> reino <strong>de</strong> Portugal, Brasil e Algarve, e a casa <strong>do</strong> mirante ou quinta <strong>da</strong> rainha o ponto<br />

<strong>de</strong> reunião <strong>da</strong> fi<strong>da</strong>lguia alegre <strong>da</strong> Corte e o ferve<strong>do</strong>uro <strong>do</strong>s enre<strong>do</strong>s políticos <strong>da</strong> astuta rainha Carlota<br />

Joaquina.<br />

Com a volta <strong>da</strong> Família Real para Portugal, a 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1821, uma vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> feição claustral<br />

envolveu os antigos solares e Laranjeiras tornou à quietação <strong>do</strong>s seus primitivos tempos. Hoje, o bairro<br />

<strong>da</strong>s Laranjeiras está completamente transfigura<strong>do</strong>, açoita<strong>do</strong> como tem si<strong>do</strong> também pelo ven<strong>da</strong>val <strong>de</strong><br />

transformações exóticas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Têm <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong> os antigos<br />

solares e as belas chácaras, <strong>de</strong> algumas <strong>da</strong>s quais <strong>da</strong>mos notas a seguir. Surgem os edifícios <strong>de</strong><br />

apartamentos – monstruosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em cimento arma<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> se aglomeram famílias endinheira<strong>da</strong>s e on<strong>de</strong><br />

o ar e a luz são artificiais e a vi<strong>da</strong> passa sombria, sem se ver o céu... – este céu tão belo <strong>da</strong> terra<br />

Carioca!...<br />

Chácara <strong>de</strong> Ana Rodrigues<br />

Importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola no sítio <strong>da</strong>s Laranjeiras, com engenho <strong>de</strong> farinha e olaria.<br />

Ocupava terras foreiras à Câmara, <strong>de</strong> 193 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente e extenso fun<strong>do</strong>. Pertencia a Ana<br />

Rodrigues, a quem as terras estavam afora<strong>da</strong>s por título <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1715. Não conseguimos<br />

constatar se Ana Rodrigues era solteira ou viúva, sen<strong>do</strong> certo, porém, que tinha um filho <strong>de</strong> nome Cosme<br />

Gonçalves <strong>da</strong> Cunha, ao qual a Câmara conce<strong>de</strong>u um novo título <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>s terras, em <strong>da</strong>ta <strong>de</strong><br />

10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1730. A 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1763, o título <strong>de</strong> Cosme Gonçalves <strong>da</strong> Cunha aparece transferi<strong>do</strong><br />

para uma sua filha <strong>de</strong> nome Maria <strong>da</strong> Cunha. Já na época <strong>de</strong>ssa transferência era <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no o esta<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> chácara e estabelecimentos fabris a ela anexos. Brígi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Jesus, sucessora <strong>de</strong> Maria <strong>da</strong> Cunha, <strong>de</strong>u<br />

* É importante ressaltar que os “engenhos” cita<strong>do</strong>s pelo autor, para essa região, não eram volta<strong>do</strong>s para a produção <strong>de</strong> açúcar, mas sim para produção<br />

<strong>de</strong> farinha ou <strong>de</strong>scascar arroz. (N.C.)


C A P Í T U L O V I I | 8 5<br />

início ao <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> chácara, que se dividira em duas porções, por ter si<strong>do</strong> corta<strong>da</strong><br />

pelo novo caminho ou estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras. Em testamento, Brígi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Jesus legou o restante <strong>da</strong>s<br />

terras e benfeitorias existentes à margem direita <strong>da</strong> dita estra<strong>da</strong> à sua sobrinha Maria Luisa <strong>da</strong> Silva, com<br />

o usufruto até a morte ao pai <strong>da</strong> legatária – Joaquim José Xavier, irmão <strong>da</strong> testa<strong>do</strong>ra. A parte <strong>da</strong> chácara<br />

à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> foi vendi<strong>da</strong>, em 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1814, pelos sucessores <strong>de</strong> Brígi<strong>da</strong>, ao tenente-coronel<br />

Joaquim Ribeiro <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. Essa parte ou porção veio a formar uma outra posse que o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara aforou, por 1.280 réis anuais, à Maria Teresa <strong>da</strong> Silva Ribeiro, viúva <strong>do</strong> dito tenente-coronel.<br />

Quanto à parte lega<strong>da</strong> a Maria Luisa <strong>da</strong> Silva veio a ser vendi<strong>da</strong> por essa senhora, já viúva <strong>de</strong> Antônio<br />

Luiz <strong>de</strong> Melo, em fevereiro <strong>de</strong> 1837, e pela quantia <strong>de</strong> 17:955$, a Domingos Carvalho <strong>de</strong> Sá. Nessa<br />

parte, estava a casa em que residira Ana Rodrigues, situa<strong>da</strong> bem ao alto <strong>do</strong> morro. Ao tempo <strong>de</strong>ssa<br />

ven<strong>da</strong>, a testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente <strong>da</strong>s terras era ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> 193 braças, visto que os <strong>de</strong>smembramentos pratica<strong>da</strong>s<br />

no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos compreen<strong>de</strong>ram apenas os fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s terras. É assim que, no levantamento <strong>de</strong><br />

1837, está dito: “... terras <strong>de</strong> 193 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras.” Domingos<br />

Carvalho <strong>de</strong> Sá obteve o aforamento <strong>da</strong>s terras, a 7 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1837, ao foro anual <strong>de</strong> 4.160 réis,<br />

dividiu-as, ocupou uma parte com a construção <strong>de</strong> uma boa casa e chácara para a sua residência e abriu<br />

uma rua que ain<strong>da</strong> conserva o seu nome – Carvalho <strong>de</strong> Sá. Por sua morte, a casa e chácara em que<br />

residira, à rua <strong>da</strong>s Laranjeiras nº 2, foram à praça em 1849 e arremata<strong>da</strong>s por João Antônio <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 18:610$000.<br />

Chácara <strong>do</strong> A re a l<br />

No alto <strong>da</strong>s Laranjeiras, lugar <strong>do</strong> Areal, à mão direita, subin<strong>do</strong> a estra<strong>da</strong>, ficava a chácara <strong>do</strong><br />

Areal, assente em terras foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e cuja extensão <strong>de</strong> frente era <strong>de</strong> 872 braças.<br />

Compreendiam-se nessa chácara uma boa casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, plantações <strong>de</strong> bananeiras, café, mandioca,<br />

mata <strong>de</strong> lenha, forno <strong>de</strong> cozer farinha, olaria, cocheiras e outras benfeitorias que pertenceram to<strong>da</strong>s a<br />

Antônio Vilela Macha<strong>do</strong> até começo <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1802, quan<strong>do</strong> foram vendi<strong>da</strong>s a Antônio Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />

Torre, antigo oleiro rico e posseiro <strong>de</strong> terras e matas na Carioca Gran<strong>de</strong>. Já na ocasião <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>, a<br />

extensão <strong>de</strong> frente <strong>da</strong> chácara havia diminuí<strong>do</strong> e <strong>de</strong> muito, segun<strong>do</strong> o respectivo registro <strong>do</strong> Tombo<br />

Municipal que reza: “... terras <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Areal <strong>de</strong> 218 braças <strong>de</strong> frente, com fun<strong>do</strong>s no cume <strong>da</strong> serra,<br />

afora<strong>da</strong>s a Antônio Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Torre, por compra que fizera a Antônio Vilela Macha<strong>do</strong>, etc..” O<br />

aforamento foi concedi<strong>do</strong> por <strong>de</strong>spacho, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1802, sen<strong>do</strong> o foro arbitra<strong>do</strong> em sete mil réis<br />

anuais. Em 8 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1822, encontramos Torre <strong>de</strong>smembran<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua posse, com licença <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, um terreno <strong>de</strong> 24 braças <strong>de</strong> frente por 45.5 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, para <strong>do</strong>ar, como <strong>do</strong>ou, ao<br />

seu filho Manoel Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Torre. Desse terreno saíram <strong>de</strong>z braças, que Manoel ven<strong>de</strong>u em 1824 a<br />

Luiz Joaquim <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, oficial aju<strong>da</strong>nte <strong>do</strong> 2º batalhão <strong>de</strong> linha <strong>do</strong> Regimento Sexto. Esse militar<br />

conseguiu <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a diminuição <strong>do</strong> foro <strong>do</strong> terreno para 4.500 réis, com argumentos sobre<br />

se tratar <strong>de</strong> pequena porção <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma outra também <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>, e que<br />

comprara para edificar a sua mora<strong>da</strong> própria. Almei<strong>da</strong> construiu a casa, que pouco <strong>de</strong>pois ven<strong>de</strong>u a<br />

Custódia Angélica <strong>da</strong> Luz. Apuramos que a dita casa aparece lança<strong>da</strong> nas Plantas <strong>da</strong>s Décimas, <strong>do</strong> ano<br />

<strong>de</strong> 1870, em nome <strong>de</strong> Luiz Cipriano Pinheiro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, à rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, com o nº 110 e que no<br />

começo <strong>do</strong> presente século foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>. Manoel Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Torre, que era casa<strong>do</strong> com Generosa<br />

Maria <strong>do</strong> Amor Divino, her<strong>da</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu pai a chácara <strong>do</strong> Areal, <strong>de</strong>u começo ao seu <strong>de</strong>smembramento,<br />

completa<strong>do</strong> por morte <strong>da</strong> sua esposa, para entregar a legítima materna ao filho único <strong>do</strong> casal – Luiz<br />

Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Torre. Foi a esse Torre a quem a Ilustríssima Câmara comprou, por um conto e noventa<br />

mil réis, em 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1838, um vasto terreno coberto <strong>de</strong> mata no alto <strong>da</strong> serra, on<strong>de</strong> chamam<br />

Silvestre. Luiz Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Torre residiu em casa que construiu, com chácara <strong>de</strong> 87 braças <strong>de</strong> frente,<br />

no Segun<strong>do</strong> Dois Irmãos e volta<strong>da</strong> para as Laranjeiras. Essa ótima moradia Torre ven<strong>de</strong>u por bom<br />

dinheiro <strong>de</strong> conta<strong>do</strong> – dinheiro à vista – ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Antônio José Afonso Guimarães, o qual tirou<br />

carta <strong>de</strong> aforamento a 23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1845. A título <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, terminan<strong>do</strong> estas notas, <strong>de</strong>ixamos<br />

dito, aqui, que os antigos prédios <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, <strong>de</strong> nºs 66 a 136, numeração <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1873,<br />

ocupavam terreno <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Areal.


8 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Chácara <strong>do</strong> Ve l a s c o<br />

A chácara <strong>do</strong> Velasco, que existia ain<strong>da</strong> no começo <strong>do</strong> século XIX, ficava pouco acima <strong>do</strong> largo<br />

<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – como, aliás, continua a ser chama<strong>do</strong> e bem conheci<strong>do</strong> esse logra<strong>do</strong>uro, embora a<br />

<strong>de</strong>nominação oficial que traz <strong>de</strong> praça Duque <strong>de</strong> Caxias. A chácara ocupava terrenos encharca<strong>do</strong>s,<br />

arenosos e sobrepostos, ten<strong>do</strong> frente na estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras e fun<strong>do</strong>s no cume <strong>do</strong> pene<strong>do</strong> <strong>de</strong> Dona<br />

Marta. Pertenceu ao sargento-mor Gregório Pereira <strong>de</strong> Lima e <strong>de</strong>pois ao seu her<strong>de</strong>iro, capitão Antônio<br />

Pereira <strong>de</strong> Lima Velasco. O capitão Lima Velasco faleceu viúvo, a 25 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1810, e <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>do</strong> seu único casamento três filhos já maiores: Antônio Joaquim Pereira Velasco, Maria Rosa Velasco,<br />

casa<strong>da</strong> com o tenente Antônio Delga<strong>do</strong>, e Beatriz Pereira Velasco, que se casou com João Muniz <strong>da</strong><br />

Silva. Por convenção amigável entre esses irmãos e cunha<strong>do</strong>s, confirma<strong>da</strong> pelo juiz <strong>de</strong> órfãos, em 1811,<br />

ao her<strong>de</strong>iro varão ficou pertencen<strong>do</strong> a casa resi<strong>de</strong>ncial <strong>da</strong> família Velasco, com to<strong>da</strong> a sua chácara. Em<br />

1839, cortou-se a chácara para a abertura <strong>de</strong> uma rua, que é hoje a Pereira <strong>da</strong> Silva, antiga Nova <strong>da</strong>s<br />

Laranjeiras e, primitivamente, <strong>do</strong> Velasco. Foi aberta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o portão <strong>da</strong> chácara até os seus fun<strong>do</strong>s, com<br />

a largura <strong>de</strong> 30 palmos e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> rio, que acompanhou fazen<strong>do</strong> curvas, tomou o rumo 86º su<strong>do</strong>este até<br />

o seu final no alto <strong>da</strong> montanha. Em 1842, foi alarga<strong>da</strong>, <strong>de</strong>saparecen<strong>do</strong> as curvas.<br />

Augusto Malta, s/d – largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. O fluxo <strong>de</strong> pessoas e veículos no largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> já era gran<strong>de</strong> no início <strong>do</strong> século XX, mostran<strong>do</strong><br />

sua importância como centro comercial e <strong>de</strong> lazer, mas hoje sua aparência mu<strong>do</strong>u e a tradicional Casa <strong>do</strong> Barbosa, à direita, foi substituí<strong>da</strong> por<br />

mo<strong>de</strong>rnas galerias repletas <strong>de</strong> lojas.


Chácara <strong>do</strong> Hermogêneo<br />

C A P Í T U L O I V | 8 7<br />

A chácara <strong>do</strong> Hermogêneo, à esquer<strong>da</strong>, subin<strong>do</strong> a estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras, ocupava uma frente <strong>de</strong><br />

150 braças, com boa casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>. Pertenceu a Hermogêneo Pereira <strong>da</strong> Silva. O seu terreno foi<br />

<strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>de</strong> maior porção <strong>de</strong> 300 braças, possuí<strong>da</strong> por Antônio <strong>da</strong> Fonseca Lima, a quem<br />

Hermogêneo comprou as 150 braças, em 1816, e, neste mesmo ano, pediu e obteve <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara a competente carta <strong>de</strong> aforamento. Por morte <strong>do</strong> velho Hermogêneo, os seus <strong>do</strong>is filhos, o dr.<br />

Hermogêneo Pereira <strong>da</strong> Silva, casa<strong>do</strong> com Cândi<strong>da</strong> Tibre Pereira <strong>da</strong> Silva, e Francisco Pereira <strong>da</strong> Silva,<br />

concor<strong>da</strong>ram na posse em comum <strong>da</strong> casa e chácara, então com o nº 91, e pediram um novo título <strong>de</strong><br />

aforamento, concedi<strong>do</strong> a 11 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1854. Em 1858, com o falecimento <strong>do</strong> dr. Hermogêneo,<br />

médico <strong>de</strong> bastante clínica e muito conceitua<strong>do</strong>, a sua viúva ven<strong>de</strong>u a parte <strong>da</strong> chácara, que pertencia ao<br />

casal, ao cunha<strong>do</strong>. Francisco Pereira <strong>da</strong> Silva dividiu a chácara, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> uma parte. Em novembro <strong>de</strong><br />

1872, encontramos os restos <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Hermogêneo, com a velha casa resi<strong>de</strong>ncial <strong>da</strong> família,<br />

vendi<strong>do</strong>s à Companhia Economia <strong>de</strong> Lavan<strong>da</strong>ria a Vapor por 62:460$, aparecen<strong>do</strong> como ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra<br />

Gertru<strong>de</strong>s Carlota <strong>do</strong> Vale Silva, casa<strong>da</strong> com José Corrêa <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça. Por ocasião <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> ven<strong>da</strong>,<br />

a antiga chácara tinha o nº 143.<br />

Chácara <strong>do</strong> Ramos<br />

Importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> em 1828, ten<strong>do</strong> uma frente <strong>de</strong> 46 braças pela estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Laranjeiras, com o nº 93. Pertenceu a João Men<strong>de</strong>s Ferreira Ramos e por sua morte vendi<strong>da</strong> em praça,<br />

sen<strong>do</strong> adquiri<strong>da</strong> pelo cirurgião-mor Antônio José Ramos, por 14:437$500. A viúva <strong>do</strong> cirurgião, Maria<br />

Benvin<strong>da</strong> Pinto Ramos, <strong>de</strong>smembrou to<strong>da</strong> a chácara, forman<strong>do</strong> diferentes lotes <strong>de</strong> terreno, vendi<strong>do</strong>s<br />

to<strong>do</strong>s. Em 1851, na<strong>da</strong> mais restava <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Ramos. Um lote, <strong>de</strong> 30 braças <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s, foi<br />

compra<strong>do</strong> pelo marechal Francisco José <strong>de</strong> Souza Soares <strong>de</strong> Andréa, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong><br />

terreno, em 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1852. O marechal Andréa construiu boa casa, com chácara, on<strong>de</strong> passou a<br />

residir. Em morren<strong>do</strong> o marechal, seu filho José <strong>de</strong> Vitória Soares <strong>de</strong> Andréa ven<strong>de</strong>u casa e chácara,<br />

então nº 147 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r João Pedro <strong>da</strong> Veiga, no ano <strong>de</strong> 1859, pela quantia<br />

<strong>de</strong> 50:000 réis.<br />

Francisco José <strong>de</strong> Souza Soares <strong>de</strong> Andréa, marechal <strong>do</strong> Exército Brasileiro, gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Império,<br />

agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Caçapava, nasceu em Lisboa, a 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1781, e faleceu a 2<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1858, na vila <strong>de</strong> São José <strong>do</strong> Norte, no Brasil. Os seus feitos militares no nosso país<br />

fizeram-no notável. Governou várias províncias <strong>do</strong> Brasil e na <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, nomea<strong>do</strong> em 1848,<br />

quan<strong>do</strong> iminente a guerra com o caudilho Rozas <strong>da</strong> Argentina, Soares <strong>de</strong> Andréa revelou-se hábil homem<br />

<strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>de</strong>u provas <strong>da</strong> sua alta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> nas providências que tomou, preparan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong><br />

Brasil. Como engenheiro, a sua gran<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong>ixou prova<strong>da</strong> nas obras <strong>de</strong> importância que dirigiu,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1847 a 1852. Fez estu<strong>do</strong>s e planos sobre melhoramentos para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, encaran<strong>do</strong> sempre<br />

a sua situação geográfica privilegia<strong>da</strong> e o futuro grandioso reserva<strong>do</strong> à capital <strong>do</strong> Brasil e com previsões<br />

seguras, que são hoje reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sobre o seu urbanismo, meios <strong>de</strong> transportes, bairros e habitações <strong>de</strong><br />

operários, zonas comercial, industrial, portuária e resi<strong>de</strong>ncial. Cogitou, ain<strong>da</strong>, <strong>do</strong>s problemas <strong>da</strong><br />

expansão econômica, intelectual e moral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. To<strong>do</strong> esse estu<strong>do</strong>, feito a pedi<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara, foi entregue a essa Assembléia Municipal, em dias <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1854. Soares <strong>de</strong><br />

Andréa faleceu aos 76 anos, quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> prestava o valioso concurso <strong>da</strong> sua brilhante capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> na<br />

elaboração <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Amiza<strong>de</strong> <strong>do</strong> Brasil com o Uruguai.<br />

A I l h o t a<br />

A Ilhota era uma antiga chácara, em terras foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e cujos<br />

títulos originais <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>tam <strong>do</strong> mea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVIII. Estreita e longa faixa <strong>de</strong> terra banha<strong>da</strong><br />

ao norte pelo rio Carioca e ao sul por uma vala, que <strong>de</strong>sapareceu em 1814. Por ocasião <strong>do</strong>s aguaceiros,<br />

chuvas fortes que, em regra, iam <strong>de</strong> janeiro a começo <strong>de</strong> março, o rio e a vala transbor<strong>da</strong>vam, ilhan<strong>do</strong> a


8 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

chácara durante muito tempo, <strong>da</strong>í a <strong>de</strong>nominação – chácara <strong>da</strong> Ilhota. Pertenceu ao capitão Tomás José<br />

Gusmão e à sua mulher Francisca <strong>de</strong> Paula e a esse casal foi compra<strong>da</strong> pelo capitão José Antônio Lisboa.<br />

Em morren<strong>do</strong> Lisboa, a Ilhota passou a um filho <strong>do</strong> fina<strong>do</strong>, <strong>de</strong> nome José Antônio Lisboa Júnior, 12 casa<strong>do</strong><br />

com Maria Eufrásia Lisboa. Com Lisboa Júnior a Ilustríssima Câmara viu-se obriga<strong>da</strong> a questionar em<br />

juízo sobre terrenos <strong>da</strong> chácara necessários ao alargamento <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras. A Câmara teve ganho<br />

<strong>de</strong> causa, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim <strong>de</strong>sapropriar, em benefício à servidão pública, uma faixa <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong> 106<br />

braças – 233 m <strong>de</strong> compri<strong>do</strong> por 60 palmos – 12 m <strong>de</strong> larga. Foi <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> a cerca viva que fechava a<br />

chácara, sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong> pelo corte fron<strong>do</strong>so jequitibá, que ornava a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> chácara. A <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>ssa árvore, conheci<strong>da</strong> por Pau Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u origem a uma canção popular, canta<strong>da</strong> com música<br />

sentimental, segun<strong>do</strong> narra o historia<strong>do</strong>r Melo Morais.<br />

Nos <strong>de</strong>smembramentos <strong>da</strong> Ilhota foram sen<strong>do</strong> forma<strong>da</strong>s novas chácaras, <strong>de</strong>ntre as quais cinco,<br />

com os nºs 61, 61A, 63, 65 e 67, ain<strong>da</strong> existiam em 1865 e bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s. A <strong>de</strong> nº 67 era a melhor pelo<br />

trato e mais extensa. Tinha 40 braças <strong>de</strong> frente por 70 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e pertenceu ao chefe <strong>de</strong> esquadra Joaquim<br />

Marques Lisboa, servin<strong>do</strong>-lhe <strong>de</strong> residência. Veio a ser dividi<strong>da</strong> em duas porções iguais vendi<strong>da</strong>s, uma<br />

a José Pereira <strong>de</strong> Mesquita, por 10:000$, e a outra, pela mesma quantia, a Alexandre Balmat. Essas duas<br />

chácaras foram vendi<strong>da</strong>s a Henrique Ferreira Moutinho e por ele <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>s para levantar prédios,<br />

como levantou, e bons, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1865. Ferreira Moutinho <strong>do</strong>tou o bairro <strong>da</strong>s Laranjeiras, on<strong>de</strong> foi<br />

gran<strong>de</strong> proprietário, <strong>de</strong> úteis melhoramentos, entre os quais a abertura <strong>da</strong> rua Moutinho. A Ilustríssima<br />

Câmara, em 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1875, <strong>de</strong>u a essa rua o nome <strong>de</strong> Car<strong>do</strong>so Júnior. Houve forte censura a esse<br />

ato <strong>da</strong> Câmara, que, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não teve fun<strong>da</strong>mento razoável. Ain<strong>da</strong> foi Moutinho quem, no intuito <strong>de</strong><br />

melhorar, pediu e obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, em 1862, a licença para fazer o <strong>de</strong>svio <strong>do</strong> rio Carioca,<br />

levan<strong>do</strong>-o a correr mais à frente <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – ou melhor dito, avançan<strong>do</strong>-o para esse<br />

logra<strong>do</strong>uro cerca <strong>de</strong> 60 palmos, com a redução <strong>de</strong> 20 palmos no leito <strong>do</strong> rio. Desse <strong>de</strong>svio resultou, entre<br />

o rio e a rua, uma faixa <strong>de</strong> terreno cujo <strong>do</strong>mínio ficou pertencen<strong>do</strong> à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na forma <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

judicial <strong>da</strong><strong>da</strong> ao pleito havi<strong>do</strong> com alguns proprietários <strong>de</strong> prédios fronteiros à mesma faixa. Entre as<br />

ruas Ipiranga e Guanabara, atual Pinheiro Macha<strong>do</strong>, com as obras que se fizeram por ocasião <strong>do</strong> <strong>de</strong>svio<br />

<strong>do</strong> rio, formou-se um pequeno largo no qual se colocou um chafariz, * e que recebeu arborização – como<br />

também as margens <strong>do</strong> rio foram arboriza<strong>da</strong>s.<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – Beco <strong>do</strong> Miran<strong>da</strong> – 1809/1837<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong>s Laranjeiras e igual largura nos fun<strong>do</strong>s. Ficava entre a<br />

casa e chácara nº 8 à esquer<strong>da</strong>, e a casa e chácara nº 10, à direita, pertencen<strong>do</strong> a <strong>de</strong> nº 8 ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r<br />

Manoel Gomes Ferreira e a <strong>de</strong> nº 10 ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco Teixeira <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

retalha<strong>da</strong>s as terras <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s e primitivas chácaras e feitas as novas divisas, foram sobejan<strong>do</strong> faixas<br />

estreitas <strong>de</strong> terrenos entre os retalhos. Desses retalhos ou encrava<strong>do</strong>s veio a origem <strong>do</strong>s becos sem saí<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> velha Sebastianópolis. Assim aconteceu em Laranjeiras e nos <strong>de</strong>mais bairros <strong>da</strong> antiga ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />

terreno em apreço é um <strong>de</strong>sses encrava<strong>do</strong>s, já existentes em 1809, e que se fechou nos fun<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> se<br />

colocou um chafariz, para uso <strong>do</strong> público, aproveitan<strong>do</strong>-se uma nascente <strong>de</strong> boa água potável ali<br />

existente. A esse logra<strong>do</strong>uro chamou o povo beco <strong>do</strong> Miran<strong>da</strong>. Depois <strong>de</strong> 1837, seca a nascente e retira<strong>do</strong><br />

o chafariz, ficou o beco em aban<strong>do</strong>no, cobrin<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> mato e passan<strong>do</strong> a escon<strong>de</strong>rijo <strong>de</strong> malandros.<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1822/1870<br />

Terreno <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60 braças pela rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, canto <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> fazia<br />

outra frente <strong>de</strong> 37 braças. Constituía um <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> antiga chácara <strong>da</strong> rainha Carlota Joaquina.<br />

Em 1822, foi arremata<strong>do</strong> em praça por Antônio José <strong>de</strong> Castro, o qual edificou no dito terreno três<br />

mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas, que receberam no Lançamento <strong>da</strong>s Décimas os nºs 27, 29 e 31. Em 1835, a viúva <strong>do</strong><br />

referi<strong>do</strong> proprietário, Leonar<strong>da</strong> Angélica <strong>de</strong> Castro, <strong>de</strong>smembrou <strong>da</strong> chácara nº 31, on<strong>de</strong> residia, uma<br />

porção <strong>de</strong> terreno com uma capelinha, que ven<strong>de</strong>u, em 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1831, à Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Sacramento<br />

* O cita<strong>do</strong> chafariz situava-se em outro local, em frente à rua Leite Leal, on<strong>de</strong> se encontravam as “Casas Casa<strong>da</strong>s”. (N.C.)


C A P Í T U L O V I I | 8 9<br />

<strong>da</strong> Freguesia <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Glória. Em 1870, a 5 <strong>de</strong> maio, encontramos a dita corporação religiosa<br />

transferin<strong>do</strong> o terreno e a capelinha, por ven<strong>da</strong>, a José Batista Martins <strong>de</strong> Souza Castelões. Em 1847, a<br />

viúva Castro ven<strong>de</strong>u a casa e o resto <strong>da</strong> chácara nº 31, por 12:500$, a Júlio Ferreira Pinto. As casas 27<br />

e 29, <strong>de</strong>pois 1 e 3, já em 1858 pertenciam a João Paulo Cor<strong>de</strong>iro, fabricante <strong>do</strong> afama<strong>do</strong> rapé Cor<strong>de</strong>iro.<br />

A casa <strong>de</strong> nº 31, <strong>de</strong>pois 5, por morte <strong>de</strong> Júlio Ferreira, passou ao seu genro João Men<strong>de</strong>s Osório, que a<br />

ven<strong>de</strong>u, em 1869, a Francisco <strong>de</strong> Matos Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Augusto Malta, 29/7/1906 – rua <strong>da</strong>s Laranjeiras. O prédio, à esquer<strong>da</strong>, na esquina <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras com a rua Soares Cabral, permanece<br />

como lembrança <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>; as outras residências foram substituí<strong>da</strong>s por edifícios <strong>de</strong> apartamentos e o rio Carioca, também conheci<strong>do</strong> nesse<br />

trecho como <strong>da</strong>s Caboclas, não corre mais a céu aberto.


9 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1845/1847<br />

Terreno <strong>de</strong> 35 braças <strong>de</strong> frente, ocupa<strong>do</strong> pela casa e chácara nº 14, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1845, <strong>de</strong><br />

her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Manoel Pereira <strong>da</strong> Silva e por eles vendi<strong>da</strong>s pela quantia <strong>de</strong> 29:400$, em 15 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>da</strong>quele precita<strong>do</strong> ano, ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Antônio José <strong>de</strong> Mesquita, a quem a Ilustríssima Câmara<br />

conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno em apreço, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> novembro, ain<strong>da</strong> no mesmo ano <strong>de</strong><br />

1845. Em 1847, já faleci<strong>do</strong> o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Mesquita, foram à praça os seus bens, inclusive a casa e a<br />

chácara <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, arremata<strong>da</strong>s pela quantia <strong>de</strong> 23:000$ por Francisco José Pacheco.<br />

Verifica<strong>da</strong> a arrematação pela Ilustríssima Câmara, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno e acha<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> conforme, conce<strong>de</strong>u a dita Câmara, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> arrematante, o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aforamento, por Título <strong>de</strong><br />

12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1847.<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1853/1876<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente vendi<strong>do</strong> por Pedro <strong>de</strong> Alcântara Lisboa a Antônio Joaquim Ribeiro<br />

<strong>de</strong> Carvalho, pela quantia <strong>de</strong> 1:800$. Ribeiro <strong>de</strong> Carvalho ven<strong>de</strong>u o terreno a Sérvulo Barreto, que<br />

construiu um sóli<strong>do</strong> prédio, lança<strong>do</strong> pela primeira vez no Rol <strong>da</strong>s Décimas em 1853. Sérvulo ven<strong>de</strong>u o<br />

prédio, em julho <strong>de</strong> 1860, a Joaquim <strong>de</strong> Souza Silva e Melo. Segun<strong>do</strong> o Arrolamento para as Décimas<br />

<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1876, o prédio <strong>de</strong> que tratamos veio a ser, logo no ano seguinte, 1861, vendi<strong>do</strong> por Silva e<br />

Melo a Zeferino Ferreira <strong>de</strong> Faria, a quem foi compra<strong>do</strong> pelo comerciante Guilherme <strong>de</strong> Lara Tuper, em<br />

9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1863 e, ain<strong>da</strong> em 1876 pertencia a Tuper, figuran<strong>do</strong>, então, com o nº 115 no Lançamento<br />

<strong>da</strong>s Décimas.<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 49 braças e 5 palmos <strong>de</strong> frente pela ruas <strong>da</strong>s Laranjeiras e 31.5 ditas pela rua <strong>da</strong><br />

Guanabara. No cruzamento <strong>de</strong>ssas duas ruas à direita e em ambas corren<strong>do</strong> testa<strong>da</strong> em reta, esse terreno<br />

constituía um <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> chácara <strong>do</strong> Roso, que pertenceu a Domingos Francisco <strong>de</strong><br />

Araújo Roso, e na partilha <strong>da</strong> chácara entre os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Roso, coube à sua filha Leonor Alves <strong>de</strong><br />

Castro Roso Torres, casa<strong>da</strong> com Antônio Dias Torres. Na mesma partilha relaciona-se mais um terreno<br />

<strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> dita chácara e ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> frente 526 palmos e <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> 116 ditos. Esse segun<strong>do</strong> cita<strong>do</strong><br />

terreno (coube) a uma outra filha <strong>de</strong> Domingos Roso <strong>de</strong> nome Tomásia Francisca <strong>de</strong> Araújo Roso<br />

Figueire<strong>do</strong>, casa<strong>da</strong> com o dr. Vicente Pereira Figueire<strong>do</strong>. Nesse segun<strong>do</strong> terreno existiu uma boa casa<br />

resi<strong>de</strong>ncial, com chácara, que em 1860 já pertencia à filha <strong>do</strong> dito casal – Maria Leonor <strong>de</strong> Castro Roso<br />

Figueire<strong>do</strong> Barros, casa<strong>da</strong> com o dr. Antônio Lobo Pereira <strong>de</strong> Cal<strong>da</strong>s Barros. Domingos Francisco <strong>de</strong><br />

Araújo Roso foi figura <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>staque no alto comércio e na política <strong>da</strong> Corte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> verea<strong>do</strong>r.<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1862<br />

Terreno <strong>de</strong> 50 palmos <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong> Moutinho.<br />

Diogo Andrew foi possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong>sse terreno por compra a Henrique Ferreira Moutinho. A Ilustríssima<br />

Câmara, no título <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong>sse terreno a Andrew, fez compreen<strong>de</strong>r também outros terrenos<br />

possuí<strong>do</strong>s pelo mesmo Andrew na rua Moutinho, visto terem to<strong>do</strong>s uma só origem enfitêutica. Os<br />

terrenos <strong>da</strong> rua Moutinho tinham <strong>de</strong> frente 360 palmos por 220 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. A Ilustríssima Câmara,<br />

assim <strong>de</strong>liberan<strong>do</strong>, procurava evitar as usurpações <strong>de</strong> terrenos <strong>do</strong> patrimônio territorial <strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e em regra pratica<strong>do</strong>s pelos ricos proprietários, mancomuna<strong>do</strong>s a políticos sem


escrúpulos. Daí as constantes ações surgi<strong>da</strong>s nos tribunais na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> pretensos direitos. No que<br />

concerne a terrenos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à servidão pública, as usurpações se praticavam por to<strong>do</strong> o município <strong>da</strong><br />

Corte. Em Laranjeiras tornaram-se escan<strong>da</strong>losas. Assim é que, em uma sessão <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara,<br />

<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1831, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>clarava o verea<strong>do</strong>r João Silveira <strong>do</strong> Pilar: “... que a Câmara pusesse em<br />

execução medi<strong>da</strong>s coercivas contra usurpa<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s vias públicas, em Laranjeiras.” Gran<strong>de</strong>s foram os<br />

prejuízos econômicos <strong>da</strong> nossa antiga e principal municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> com essas polêmicas, que, além disso,<br />

retar<strong>da</strong>ram o progresso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

A antiga rua <strong>da</strong>s Laranjeiras começava no campo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – hoje praça Duque <strong>de</strong> Caxias – e<br />

terminava no Areal. * To<strong>da</strong>s as terras <strong>da</strong>s Laranjeiras, Cosme Velho e Vargem <strong>do</strong> Corcova<strong>do</strong>, como já<br />

<strong>de</strong>ixamos prova<strong>do</strong>, são foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

To<strong>do</strong> esse extenso vale dividiu-se em gran<strong>de</strong>s aforamentos, <strong>do</strong>s quais o menor tinha <strong>de</strong> testa<strong>da</strong><br />

100 braças, e o maior 600 ditas. As testa<strong>da</strong>s eram conta<strong>da</strong>s pelas margens <strong>do</strong> rio Carioca. Nessa gran<strong>de</strong><br />

área foreira, os terrenos baixos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Flamengo até a atual rua Pinheiro Macha<strong>do</strong>, – antiga Guanabara,<br />

constituíam um vasto campo – parte em charco ou brejal e parte arenosa – no qual floresceram roças <strong>de</strong><br />

cereais. Nas terras eleva<strong>da</strong>s ficavam as gran<strong>de</strong>s chácaras e pomares, cujos vestígios ain<strong>da</strong> se notavam no<br />

século XIX.<br />

* Como o areal ficava na altura <strong>da</strong> atual praça David Ben Gurion, a rua <strong>da</strong>s Laranjeiras não po<strong>de</strong>ria terminar nesse ponto. (N.C.)<br />

C A P Í T U L O V I I | 9 1<br />

Augusto Malta, 8/5/1914 – Rua <strong>da</strong> Guanabara, atual rua Pinheiro Macha<strong>do</strong>. As obras <strong>de</strong> engenharia para o prolongamento <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Guanabara,<br />

em Laranjeiras, até a rua Farani, em Botafogo, tiveram início durante a administração <strong>do</strong> prefeito Serze<strong>de</strong>lo Correia, e o logra<strong>do</strong>uro foi entregue<br />

ao tráfego, em 1917, pelo prefeito Amaro Cavalcanti.


9 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1862<br />

Terreno bem irregular à rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong> Moutinho em uma extensão<br />

<strong>de</strong> 570 palmos pelo la<strong>do</strong> direito e <strong>de</strong> 446 dito pelo esquer<strong>do</strong>. Por ocasião <strong>do</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno a<br />

Zeferino Ferreira <strong>de</strong> Faria, fato ocorri<strong>do</strong> a 5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1862, o piloto agrimensor municipal, Agostinho<br />

Nunes Montez Júnior, ao prestar a sua informação à Ilustríssima Câmara diz: “... terreno com a forma<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>cágono irregular, com a testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> ímpar <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, medin<strong>do</strong> 174<br />

palmos em duas porções, sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong> 104 palmos e a outra <strong>de</strong> 70. A testa<strong>da</strong> <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s media 550<br />

palmos pelo caminho <strong>do</strong> Moutinho.” Nesse terreno existiu um prédio que teve o nº 61B e que pertenceu<br />

a Joaquim <strong>de</strong> Souza <strong>da</strong> Silva Melo, a quem foi compra<strong>do</strong> por Zeferino Ferreira <strong>de</strong> Faria. Aliás, Zeferino<br />

aparece no Tombo Municipal como compra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio útil <strong>de</strong> três terrenos foreiros à<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na rua <strong>da</strong>s Laranjeiras. Compra feita, segun<strong>do</strong> o mesmo Tombo, a Joaquim <strong>de</strong> Souza <strong>da</strong><br />

Silva Melo pela quantia <strong>de</strong> 16:500$ e com a licença <strong>da</strong> Ilustíssima Câmara, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1861. Pela planta que conseguimos <strong>de</strong>itar vistas, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1860, esses três terrenos foram<br />

<strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maior porção tira<strong>da</strong> à chácara <strong>do</strong>s Lisboa.<br />

Rua <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1863/1872<br />

Terreno <strong>de</strong> 42 braças <strong>de</strong> frente por 40 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, até o rio <strong>da</strong>s Laranjeiras. Com licença <strong>da</strong> Câmara<br />

Municipal, expedi<strong>da</strong> a 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1863, esse terreno foi compra<strong>do</strong> pelo viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souto, notável e<br />

riquíssimo banqueiro <strong>da</strong> época, a José Bernar<strong>do</strong> Gomes por 20:000$. O terreno foi to<strong>do</strong> fecha<strong>do</strong> por um<br />

muro <strong>de</strong> pedra e cal. No interior, fizeram uma casa resi<strong>de</strong>ncial e uma habitação coletiva, constituí<strong>da</strong> por<br />

pequenos quartos. No Rol <strong>da</strong>s Décimas, figurou o imóvel com o nº 47A durante mais <strong>de</strong> cinco anos e<br />

<strong>de</strong>pois com o nº 31 até 1872. O viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souto era sócio solidário <strong>da</strong> casa bancária <strong>de</strong> Antônio José<br />

Alves Souto & Cia., <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, à rua Direita. A falência <strong>do</strong> dito estabelecimento levou à praça<br />

os bens <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> titular. É assim que a 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1865, a Ilustríssima Câmara concedia licença à<br />

comissão liqui<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> massa fali<strong>da</strong> <strong>de</strong> Souto & Cia. para ven<strong>de</strong>r o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno e também<br />

to<strong>da</strong>s as benfeitorias nele existentes, por 16:000$, a José Martins <strong>de</strong> Oliveira. Ao referi<strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r,<br />

cujo prenome é Francisco José, foi concedi<strong>do</strong> a carta <strong>de</strong> aforamento, em 14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1865. A<br />

falência <strong>da</strong> casa bancária Souto & Cia. causou escân<strong>da</strong>lo social e provocou gran<strong>de</strong> abalo financeiro. *<br />

Roberto Grei foi o leiloeiro que funcionou na praça <strong>do</strong>s bens penhora<strong>do</strong>s ao viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souto. Em<br />

1872, Francisco José Martins <strong>de</strong> Oliveira já era faleci<strong>do</strong> e a 13 <strong>de</strong> março <strong>do</strong> dito ano a Ilustríssima<br />

Câmara concedia licença a Paulo José Batista e João Rodrigues Pedreira para efetivarem a arrematação,<br />

que fizeram em praça <strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> direito <strong>da</strong> 3ª Vara <strong>da</strong> Corte, <strong>de</strong> um terreno com casas à rua <strong>da</strong>s<br />

Laranjeiras 31, antigo 47A, pertencentes ao espólio <strong>de</strong> Francisco José Martins <strong>de</strong> Oliveira.<br />

Sítio <strong>da</strong>s Laranjeiras – 1823/1845<br />

Terreno <strong>de</strong> 14 braças ** – 8,8 m, com fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> [...] braças, até o rio <strong>da</strong>s Laranjeiras.<br />

Confinava, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, com as terras <strong>do</strong> fina<strong>do</strong> Joaquim Ribeiro <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> e, <strong>do</strong> outro, com as que<br />

pertenciam a Joaquim José Pereira <strong>do</strong>s Santos. Dos Registros <strong>de</strong> Aforamentos pratica<strong>do</strong>s pela<br />

Ilustríssima Câmara, em maio <strong>de</strong> 1838, consta ter si<strong>do</strong> concedi<strong>do</strong> a João Fernan<strong>de</strong>s Lopes o <strong>do</strong>mínio útil<br />

<strong>de</strong>sse terreno, a 30 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1838, ao foro anual <strong>de</strong> 4.500. Era um <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> antiga quinta<br />

<strong>da</strong> rainha e estava ocupa<strong>do</strong> por uma boa casa <strong>de</strong> viven<strong>da</strong> e outras benfeitorias arremata<strong>da</strong>s em praça por<br />

João Neto Carneiro Leme, em 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1823, e a ele compra<strong>da</strong>s com licença <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1830, por João Fernan<strong>de</strong>s Lopes, pela quantia <strong>de</strong> 4:000$. Pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

obter o aforamento <strong>do</strong> terreno, em maio <strong>de</strong> 1838, como dissemos, Lopes ven<strong>de</strong>u a sua posse por 8:000$<br />

a Manoel Luiz Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, que a melhorou com as obras que executou na casa e <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>pendências.<br />

* Dela – falência – tratamos no Cap. XII – Bairro Comercial. (N.A.)<br />

** Uma braça equivale a 2,20m; logo, 14 braças, correspon<strong>de</strong>m a 30,80m. (N.C.)


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Em 1847, esse imóvel aparece no Rol <strong>da</strong>s Décimas com a inscrição: “rua <strong>da</strong>s Laranjeiras nº 45 – casa<br />

<strong>de</strong> viven<strong>da</strong> nobre, <strong>de</strong> Manoel José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, por compra a Manoel Luiz Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, pela quantia <strong>de</strong><br />

12:000$”. Pela <strong>do</strong>cumentação que examinamos, ficamos propensos a aceitar como ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> a casa<br />

precita<strong>da</strong> aquela em que residiu a rainha Carlota Joaquina. José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, sempre que se referia à sua<br />

residência, dizia com ênfase – casa em que residiu a rainha <strong>de</strong> Portugal. *<br />

Dona Carlota Joaquina, rainha <strong>de</strong> Portugal e <strong>do</strong> Brasil, nunca pagou foro à Câmara pela ocupação<br />

<strong>da</strong>s terras que constituíram a sua quinta. Posteriormente, as <strong>de</strong>smembrações <strong>de</strong>ssas terras ficaram<br />

obriga<strong>da</strong>s a foro, arbitra<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara em 4$800 o máximo e o mínimo em 2$000 anuais.<br />

“Carlota Joaquina, na<strong>da</strong> econômica, gastava largamente. Para aten<strong>de</strong>r ao gran<strong>de</strong> dispêndio <strong>da</strong> sua casa,<br />

lançou mãos <strong>de</strong> avulta<strong>do</strong>s empréstimos. Ao <strong>de</strong>ixar o nosso país, em abril <strong>de</strong> 1821, a mãe <strong>do</strong> primeiro<br />

impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil estava bastante endivi<strong>da</strong><strong>da</strong> e sob hipoteca gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s seus bens. Logo que<br />

partiu a Família Real, os cre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> rainha pediram ao governo o arrolamento e avaliação <strong>do</strong>s bens<br />

pertencentes à S.M. a rainha <strong>de</strong> Portugal na província <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Or<strong>de</strong>nou o príncipe regente, em<br />

maio <strong>de</strong> 1822, que se proce<strong>de</strong>sse na forma <strong>da</strong> lei e como fosse <strong>de</strong> justiça, e <strong>de</strong>u po<strong>de</strong>res especiais ao<br />

Banco <strong>do</strong> Brasil para agir, como principal cre<strong>do</strong>r. O processo correu pelo juízo privativo <strong>do</strong> mesmo<br />

banco (<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r José Navarro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e escrivão José Rodrigues <strong>da</strong> Costa). À execução <strong>da</strong>s<br />

diligências, opôs embaraços o administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s bens régios, padre José <strong>de</strong> Carvalho e Souza, o qual, à<br />

vista <strong>de</strong> reclamação <strong>da</strong> Junta <strong>do</strong> Banco, foi notifica<strong>do</strong> judicialmente, em 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1822, para<br />

entregar no prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias peremptórios, sob pena <strong>de</strong> seqüestro imediato, to<strong>do</strong>s os bens móveis,<br />

imóveis e semoventes, <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente relaciona<strong>do</strong>s. Intimou-se, também, o mesmo administra<strong>do</strong>r a prestar<br />

contas <strong>de</strong> sua administração e a pagar <strong>de</strong> sua fazen<strong>da</strong> qualquer alcance que se mostrasse. À revelia <strong>do</strong><br />

cônego Carvalho e Souza correu to<strong>do</strong> o processo. Em 26 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1823, o próprio impera<strong>do</strong>r<br />

autorizou a Junta <strong>do</strong> Banco a ultimar a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s bens pela maneira que melhor enten<strong>de</strong>sse.<br />

Finalmente, a 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1823, em frente à se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil, à rua Direita – atual<br />

Primeiro <strong>de</strong> Março, Alexandre José Rodrigues, porteiro <strong>do</strong>s Auditórios <strong>da</strong> Corte e privativo <strong>do</strong>s leilões<br />

<strong>do</strong> comércio e casa fali<strong>da</strong>s, proce<strong>de</strong>u, solenemente, à praça <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong> S.M. a rainha <strong>de</strong> Portugal,<br />

constantes <strong>de</strong> uma quinta, com 200 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> por 60 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, conten<strong>do</strong> casa que servia <strong>de</strong><br />

palácio e seus pertences, cocheiras, casa <strong>da</strong> cria<strong>da</strong>gem e arvore<strong>do</strong>s <strong>de</strong> espécies, nas Laranjeiras; engenho<br />

em Inhaúma, com suas terras, medin<strong>do</strong> 1.000 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong>, por outras tantas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, suas<br />

plantações e utensílios <strong>de</strong> lavoura, ga<strong>do</strong> e casas <strong>de</strong> engenho, e seus escravos, em nº <strong>de</strong> 70, entre homens<br />

e mulheres.<br />

* No verbete “Laranjeiras, 1822-1870”, Restier Gonçalves discorre sobre o terreno que continha a capela que pertencia à rainha Carlota Joaquina,<br />

localiza<strong>da</strong> no trecho <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, on<strong>de</strong> se situa o colégio Franco Brasileiro. (NC)


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C a te te


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s/a, s/d – praça José <strong>de</strong> Alencar. Além <strong>do</strong> monumento ao escritor, <strong>de</strong>staca-se o Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros, já <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> residiram ou se<br />

hospe<strong>da</strong>ram várias personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s importantes, inclusive o sena<strong>do</strong>r gaúcho Pinheiro Macha<strong>do</strong>, assassina<strong>do</strong> no saguão <strong>do</strong> prédio.


9 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rápi<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> sítio Carioca, que compreendia to<strong>da</strong> a região em que vieram a<br />

formar-se os bairros <strong>de</strong> Botafogo, * Laranjeiras, Catete e adjacências. Carioca, vocábulo indígena,<br />

significan<strong>do</strong> casa <strong>do</strong> branco, vem <strong>de</strong> carib ou cari, homem branco, e ca, casa. Os portugueses chamaram<br />

Carioca ao rio <strong>de</strong> águas abun<strong>da</strong>ntes e puras que os abastecia. Segun<strong>do</strong> uma len<strong>da</strong> indígena, as águas<br />

<strong>de</strong>sse rio serviam para embelezar as mulheres e fazer melodiosas as vozes <strong>do</strong>s cantores enamora<strong>do</strong>s.<br />

Alguns autores <strong>de</strong> nomea<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntre os quais se <strong>de</strong>staca Pires <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, dizem que, nas vertentes <strong>da</strong><br />

serra <strong>do</strong> Corcova<strong>do</strong>, existia uma próspera al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> índios guerreiros chama<strong>do</strong>s cariós ou carijós – fato<br />

ao qual emprestam a origem <strong>do</strong> nome <strong>da</strong><strong>do</strong> ao rio. Depois <strong>de</strong> que<strong>da</strong>s e saltos, serpentean<strong>do</strong> pela serra e<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a nascente banhan<strong>do</strong> região amena e agreste, o rio Carioca <strong>de</strong>rramava as suas águas forman<strong>do</strong><br />

fun<strong>da</strong> e gran<strong>de</strong> lagoa que foi sen<strong>do</strong> aterra<strong>da</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem a vastíssimo campo, cujos vestígios tem-se<br />

ain<strong>da</strong> nas atuais praças José <strong>de</strong> Alencar e Duque <strong>de</strong> Caxias – antigo largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. No local on<strong>de</strong><br />

se encontra o edifício <strong>do</strong> antigo Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros, na praça José <strong>de</strong> Alencar, e que era, então, praia,<br />

<strong>de</strong>saguava o Carioca e aí, próximo à foz, o governa<strong>do</strong>r Antônio Salema (1577/1578) man<strong>do</strong>u levantar<br />

uma ponte para melhor cômo<strong>do</strong> e segurança <strong>do</strong> povo que ali ia fazer a sua agua<strong>da</strong>.<br />

Nos primeiros aforamentos pratica<strong>do</strong>s no sítio <strong>da</strong> Carioca incluem-se o <strong>de</strong> uma vasta área, entre<br />

as vertentes <strong>do</strong>s montes e a praia, com charnecas e mato. Foram posseiros <strong>de</strong> terrenos nessa região, dita<br />

<strong>do</strong> mato <strong>de</strong>nso ou Catete, entre outros, Antônio Calheiros, 1568; Cristóvão Monteiro, que foi ouvi<strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />

Comarca, e Cristóvão Men<strong>de</strong>s, 1609; Ama<strong>do</strong>r Jorge, em 1610 – para citar apenas os mais antigos e<br />

maiores possui<strong>do</strong>res. Esses terrenos prestaram-se, principalmente, para a cultura <strong>do</strong> arroz. A região<br />

progrediu e é certo que, em menos <strong>de</strong> um século, já a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> possuía<br />

no antigo mato <strong>de</strong>nso um bairro bastante próspero a que chamavam – subúrbio <strong>do</strong> Catete, cuja<br />

comunicação com a parte urbana se fazia por mar, visto ser mais rápi<strong>da</strong> e menos perigosa. Por terra,<br />

caminhava-se pela praia, por on<strong>de</strong> agora corre a rua <strong>do</strong> Catete, galgava-se a montanha a custo ou<br />

trilhava-se pela sua encosta, com perigos; beirava-se a lagoa <strong>do</strong> Desterro – entre os morros <strong>de</strong> Santa<br />

Teresa e Santo Antônio – e <strong>de</strong>pois a <strong>do</strong> Boqueirão – local <strong>do</strong> Passeio Público e <strong>da</strong>í, para chegar à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

seguia-se pelo campo alaga<strong>do</strong> <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> ou pela Misericórdia, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> galgar o morro <strong>do</strong> Vintém, que<br />

era uma aba <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo – e assim chama<strong>da</strong> em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> pedágio <strong>de</strong> vinte réis que se pagava<br />

para transitá-la.<br />

Os ricaços <strong>do</strong> Catete tinham força política e <strong>da</strong>í as vantagens <strong>da</strong><strong>da</strong>s a esse bairro, favorecen<strong>do</strong> o<br />

seu rápi<strong>do</strong> progresso. Em chegan<strong>do</strong> a Família Real portuguesa, em 1808, o Catete passou a ter ain<strong>da</strong><br />

maiores cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Fizeram-se sóli<strong>do</strong>s aterros e melhores nivelamentos, que<br />

<strong>de</strong>ram pronto escoamento às águas para o mar e nessa direção abriram-se valas <strong>de</strong> cinco palmos <strong>de</strong><br />

largura, empedra<strong>da</strong>s e cobertas com laje<strong>do</strong>s. Arruamentos perfeitos e novas calça<strong>da</strong>s permitiram trânsito<br />

cômo<strong>do</strong> às carruagens. Os prédios foram reconstruí<strong>do</strong>s, para o al<strong>de</strong>amento <strong>da</strong>s soleiras, que ficaram com<br />

mais um palmo. Levantaram-se sobra<strong>do</strong>s em quase to<strong>do</strong>s, e nas facha<strong>da</strong>s os legítimos azulejos<br />

portugueses e a cantaria artisticamente trabalha<strong>da</strong>. Nos tetos e nos ornatos o genuíno estuque. A<br />

execução <strong>de</strong> qualquer obra passou a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um exame meticuloso pelos técnicos <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> este a licença somente se a obra estivesse <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o risco <strong>do</strong> arquiteto <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a cumprir-se as regras <strong>da</strong> arte, <strong>da</strong> beleza e <strong>do</strong> conforto que a situação <strong>de</strong> nobreza e <strong>de</strong><br />

importância social <strong>de</strong>sse subúrbio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>via obrigar.<br />

Gran<strong>de</strong>s fi<strong>da</strong>lgos e ricos negociantes tiveram residência no Catete e na estra<strong>da</strong> ou rua <strong>de</strong>sse nome<br />

residiu a famosa duquesa viúva <strong>de</strong> Ca<strong>da</strong>val, em gran<strong>de</strong> chácara compra<strong>da</strong> ao rico negociante e sargentomor<br />

Matias José Pinto Pereira Osório, e <strong>de</strong>pois vendi<strong>da</strong> pela duquesa ao marquês <strong>de</strong> Jundiaí o qual, em<br />

1827, fixou residência na mesma chácara, com fausto nababesco. Por morte <strong>do</strong> marquês, foi o antigo<br />

solar leva<strong>do</strong> à praça, em março <strong>de</strong> 1838, e arremata<strong>do</strong> pela riquíssima viúva Carolina Fausta Pinto<br />

Ferreira. Essa senhora, figura <strong>de</strong> realce na alta socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, em primeiras núpcias foi casa<strong>da</strong> com o<br />

negociante Antônio José <strong>da</strong> Costa Ferreira e <strong>de</strong>pois com o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco João Sóler. O terreno<br />

que foi ocupa<strong>do</strong> pelo solar Ca<strong>da</strong>val é foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, sen<strong>do</strong> o seu último<br />

aforamento <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1858. Já nessa ocasião, [era] bem outra a feição <strong>da</strong> antiga e<br />

nobre mora<strong>da</strong>. O seu magnífico parque corta<strong>do</strong> e o próprio palacete bastante modifica<strong>do</strong>, figuran<strong>do</strong>,<br />

então, no Rol <strong>da</strong>s Décimas, com o nº 140 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Catete. Nos terrenos tira<strong>do</strong>s ao parque, Joaquim<br />

Valeiro Tavares, burguês bem rico, que os comprara, construiu casas <strong>de</strong> feição mo<strong>de</strong>sta para aluguel. Por<br />

* Restier Gonçalves confundiu “caminho <strong>de</strong> Botafogo (Novo e Velho)”, isto é, as ruas Sena<strong>do</strong>r Vergueiro e Marquês <strong>de</strong> Abrantes, como pertencentes<br />

ao bairro <strong>de</strong> Botafogo. Os bairros atuais compreendi<strong>do</strong>s na antiga região <strong>da</strong> Carioca são: Glória, Catete, Flamengo, Laranjeiras e Cosme Velho. (N.C.)


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Augusto Malta, s/d – Vista parcial <strong>da</strong> Lapa (tira<strong>da</strong> <strong>da</strong> viven<strong>da</strong> <strong>do</strong> dr. A. Burnier). Em primeiro plano, a Lapa com seus sobra<strong>do</strong>s antigos,<br />

<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se a aveni<strong>da</strong> Beira-mar, recém-aberta, a vegetação exuberante <strong>do</strong> Passeio Público, o Palácio Monroe e, ao fun<strong>do</strong>, o morro <strong>do</strong> Castelo,<br />

nessa época ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> apenas a encosta próxima ao prédio <strong>da</strong> Biblioteca Nacional.<br />

Augusto Malta, 24/1/1906 – Rua <strong>do</strong> Catete (calçamento). Muitos sobra<strong>do</strong>s na rua <strong>do</strong> Catete, bem como a escola Rodrigues Alves, que se vê ao<br />

fun<strong>do</strong>, foram <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>s durante as obras <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> metrô: o Palácio <strong>do</strong> Catete foi preserva<strong>do</strong>, mas as estátuas <strong>da</strong>s Fon<strong>de</strong>ries du Val d´Osne<br />

foram substituí<strong>da</strong>s por águias.


s/a, s/d – Igreja N.S. <strong>da</strong> Glória – largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. A pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Glória foi lança<strong>da</strong> em 1842, na presença<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>m. Pedro II, e a construção <strong>da</strong> suntuosa igreja em estilo neoclássico, que guar<strong>da</strong> semelhanças com a Ma<strong>de</strong>leine <strong>de</strong> Paris, terminou em 1872.


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morte <strong>de</strong> Valério, a gran<strong>de</strong> fortuna que <strong>de</strong>ixou coube à sua filha, Joana <strong>do</strong>s Prazeres Tavares du Bergier,<br />

casa<strong>da</strong> com o francês Charles du Bergier. Infeliz no casamento, ma<strong>da</strong>me du Bergier – como era chama<strong>da</strong><br />

– <strong>de</strong>squitou-se por sentença judicial, <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1859, e logo teve a posse absoluta e a livre direção<br />

<strong>do</strong>s seus avulta<strong>do</strong>s bens, <strong>do</strong>s quais uma terça parte, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> sentença <strong>do</strong> <strong>de</strong>squite, foi entregue ao<br />

seu mari<strong>do</strong>, que muito <strong>de</strong>pressa a dissipou. Ao tempo <strong>de</strong>sses fatos, ma<strong>da</strong>me du Bergier residia à rua <strong>do</strong><br />

Catete n.º 150, em bom prédio <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco João Sóler foi quem primeiro cortou o parque <strong>do</strong> antigo solar, para abrir<br />

a rua <strong>do</strong> Infante, em 1858. Essa rua chamou-se <strong>de</strong>pois, em 1874 – Dois <strong>de</strong> Dezembro: <strong>da</strong>ta natalícia <strong>do</strong><br />

impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, Dom Pedro II, que nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1825, no Palácio<br />

<strong>da</strong> quinta <strong>da</strong> Boa Vista, em São Cristóvão.<br />

Na rua <strong>do</strong> Catete fica o Palácio <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República. É uma construção leva<strong>da</strong> a efeito<br />

pelo con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova Friburgo para a sua residência <strong>de</strong> inverno. O Palácio <strong>do</strong> Catete, como é conheci<strong>do</strong>,<br />

sofreu modificações externas e internas, quan<strong>do</strong> adquiri<strong>do</strong> pela Nação, mesmo assim carece <strong>de</strong><br />

importância arquitetural. Internamente, há raras preciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>corações <strong>de</strong> fino gosto artístico. Ficalhe<br />

ao fun<strong>do</strong> um belo e extenso parque.<br />

O bairro <strong>do</strong> Catete compreen<strong>de</strong>-se na freguesia <strong>da</strong> Glória, cuja igreja matriz, que é um templo<br />

majestoso e artístico, está no la<strong>do</strong> oci<strong>de</strong>ntal <strong>da</strong> praça que se chamou <strong>da</strong> Glória, agora Duque <strong>de</strong> Caxias,<br />

e antigamente largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – <strong>de</strong>nominação, aliás, ain<strong>da</strong> conserva<strong>da</strong> pela voz <strong>do</strong> povo – que é a voz<br />

<strong>da</strong> tradição que não morre.<br />

Em tempos bem remotos, esse logra<strong>do</strong>uro, muito mais extenso que era, chamou-se campo <strong>da</strong>s<br />

Boitangas, <strong>da</strong>s Pitangueiras, <strong>do</strong> Catete e por último campo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – pelo fato, diz Melo Morais,<br />

<strong>de</strong> existir um macha<strong>do</strong> suspenso à porta <strong>de</strong> açougue muito afreguesa<strong>do</strong> e sito no dito logra<strong>do</strong>uro. * Não<br />

conseguimos encontrar algo <strong>de</strong> confirmação ao que diz Melo Morais – aliás cronista carioca <strong>de</strong> muito<br />

mérito. Constatamos que em códices <strong>da</strong> primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII já aparece a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

campo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> e cuja origem, não pa<strong>de</strong>ce dúvi<strong>da</strong>, pren<strong>de</strong>-se ao fato <strong>de</strong> existir no lugar um rico<br />

oleiro <strong>de</strong> nome – André Nogueira Macha<strong>do</strong>. Era homem muito conceitua<strong>do</strong> e possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, situa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma e <strong>de</strong> outra ban<strong>da</strong> <strong>do</strong> antigo campo <strong>do</strong> Catete, e que se diz hoje <strong>do</strong><br />

Macha<strong>do</strong>. ** – O nome Boitanga aparece em vários Autos <strong>de</strong> Vistorias, nos primeiros anos <strong>do</strong> século<br />

XVII. É <strong>do</strong> linguajar africano, significan<strong>do</strong> cobra: boi-cobra, e tanga, <strong>de</strong> tangar, que enrola. Entre os<br />

autos cita<strong>do</strong>s, alguns <strong>de</strong> difícil leitura e outros estraga<strong>do</strong>s pela traça, figuram os <strong>da</strong>s terras afora<strong>da</strong>s, em<br />

1628, ao padre Cosme Ramos <strong>de</strong> Morais, mestre <strong>da</strong> capela <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e também capelão <strong>da</strong> Misericórdia,<br />

por nomeação <strong>do</strong> prove<strong>do</strong>r Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá e Benavi<strong>de</strong>s, em 25 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1622. O padre<br />

Cosme, aproveitan<strong>do</strong> os alagadiços <strong>da</strong>s suas terras, <strong>de</strong>senvolveu gran<strong>de</strong> plantação <strong>de</strong> arroz, cui<strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

negros <strong>de</strong> Guiné. Foram eles que <strong>de</strong>nominaram o logra<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> campo <strong>da</strong>s Boitangas, pela existência<br />

<strong>de</strong> cobras nos alaga<strong>do</strong>s. No Brasil, aliás, pelas margens <strong>do</strong>s rios e nos alaga<strong>do</strong>s, vivem diferentes<br />

espécies <strong>de</strong>sse ofidiano e que se chamam – boipeba, boisurana, boibi, etc.<br />

O nome que traz agora o antigo largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1869, em homenagem<br />

ao famoso guerreiro brasileiro marechal Luiz Alves <strong>de</strong> Lima e Silva, que foi um espírito conserva<strong>do</strong>r e<br />

disciplina<strong>do</strong> e um <strong>de</strong>vota<strong>do</strong> à monarquia e ao trono, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> agracia<strong>do</strong> com o alto título <strong>de</strong> duque <strong>de</strong><br />

Caxias.<br />

Nessa praça, a 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1899, levantou-se a estátua <strong>de</strong> Caxias em ato solene, com a<br />

presença <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República – Manoel Ferraz Campos Sales, e <strong>do</strong> general Rosa, presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><br />

Argentina, em visita ao Brasil. Recentemente, por força <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino, a estátua <strong>de</strong> Caxias – o braço forte<br />

em apoio <strong>do</strong> trono, no dizer <strong>de</strong> Max Fleiuss, veio a ser mu<strong>da</strong><strong>da</strong> para a praça <strong>da</strong> República, próximo ao<br />

Monumento <strong>da</strong> República, no qual avulta a figura <strong>de</strong> Benjamin Constant Botelho <strong>de</strong> Magalhães, espírito<br />

ultra liberal e que foi a força intelectual <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> republicana nos últimos tempos. ***<br />

* Essa versão <strong>do</strong> nome “largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>”, <strong>da</strong><strong>da</strong> por Melo Morais é equivoca<strong>da</strong>. O nome advém <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s proprietários, André Nogueira Macha<strong>do</strong>,<br />

adquirente <strong>de</strong> chácara no local em 1716. Essa sua chácara é que veio a ser proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> rainha Carlota Joaquina. (N.C.)<br />

** Autos <strong>de</strong> Vistorias <strong>de</strong> <strong>Terras</strong> – 1740/1760 – Arquivo Municipal. (N.A.)<br />

*** Atualmente este monumento está situa<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana. (N.E.)


1 0 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Chácara <strong>da</strong> Ponte <strong>do</strong> Catete<br />

No começo <strong>de</strong> outubro <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1760, Miguel José <strong>de</strong> Faria compareceu, em pessoa, ao Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> para pedir, como pediu, um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> terra entre a fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong>s religiosos<br />

<strong>de</strong> São Bento e a estra<strong>da</strong> pública que ia ter a Botafogo, e que se lhe <strong>de</strong>sse essa terra por aforamento, em<br />

fateusim perpétuo e <strong>da</strong> maneira inculta em que se achava. O Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>feriu, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o<br />

aforamento por três vi<strong>da</strong>s e ao foro anual <strong>de</strong> 320 réis, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1760. Esse<br />

aforamento foi registra<strong>do</strong> no livro 12, fls. 28v, conforme anotação feita nos respectivos autos. Na<br />

restauração <strong>do</strong>s livros <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao incêndio <strong>do</strong> seu Arquivo, em 1790, o título <strong>do</strong><br />

cita<strong>do</strong> aforamento aparece registra<strong>do</strong> no livro 2, fls. 237. Em morren<strong>do</strong> o foreiro Faria, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara man<strong>do</strong>u transpassar o aforamento a um filho <strong>do</strong> fina<strong>do</strong>, <strong>de</strong> nome João José <strong>de</strong> Faria, e <strong>de</strong>pois à<br />

viúva <strong>de</strong>ste, Vitorina Maria <strong>da</strong> Conceição, e <strong>de</strong>ssa senhora a um seu filho natural <strong>de</strong> nome João, ain<strong>da</strong><br />

menor. Em juízo, apresentou-se Antônio José Corrêa e provou com <strong>do</strong>cumentos ser o pai <strong>do</strong> menor e<br />

nesta quali<strong>da</strong><strong>de</strong> ven<strong>de</strong>u a chácara <strong>da</strong> Ponte <strong>do</strong> Catete ao <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Luiz José <strong>de</strong> Carvalho e Melo,<br />

futuro viscon<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cachoeira, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara man<strong>do</strong>u <strong>da</strong>r um novo título <strong>de</strong> aforamento,<br />

por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1808. A filha <strong>do</strong> dito titular – Carlota Cecília Carvalho e Melo, com<br />

licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, ven<strong>de</strong>u a chácara por vinte contos <strong>de</strong> réis a José Ribeiro Monteiro, em<br />

19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1832. Suce<strong>de</strong>u a Monteiro, um seu filho, João Ribeiro Monteiro, o qual aparece o<br />

Rol <strong>do</strong>s Foreiros <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1850, como sucessor <strong>de</strong> seu pai, pela<br />

posse <strong>de</strong> uma chácara no largo <strong>do</strong> Catete, junto à ponte, on<strong>de</strong> fazia frente, entre os caminhos Velho e<br />

Novo <strong>de</strong> Botafogo, <strong>de</strong>itan<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s para a travessa <strong>do</strong> Gue<strong>de</strong>s. Esses <strong>do</strong>is caminhos são hoje as ruas<br />

Sena<strong>do</strong>r Vergueiro e marquês <strong>de</strong> Abrantes, respectivamente a praça José <strong>de</strong> Alencar e a travessa <strong>do</strong>s<br />

Tamoios. Entregue ao aban<strong>do</strong>no, a velha chácara veio a ser vendi<strong>da</strong> por 8:000$, em 1856.<br />

Bem difíceis <strong>de</strong> ler-se, pelo cursivo e pelos estragos, são os códices <strong>da</strong> primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século<br />

XVII, que dizem respeito aos baldios <strong>do</strong> Conselho. Trazem eles narrativas valiosas que <strong>de</strong>smentem<br />

muita coisa que an<strong>da</strong> por aí escrita com visos <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>do</strong> século XVII. Os<br />

baldios, por inaproveitáveis, pelos perigosos lo<strong>da</strong>çais que os cobriram, estiveram largos anos<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s e esqueci<strong>do</strong>s pela Câmara. Horticultores reinóis foram ocupan<strong>do</strong> esses baldios e afoitos<br />

entregaram-se ao árduo trabalho <strong>de</strong> enxugá-los para plantar, como plantaram, hortas e chácaras. Assim<br />

aconteceu com os baldios <strong>da</strong>s margens <strong>do</strong> rio Carioca, no Catete. E os terrenos artificiais que aí se<br />

formaram são aqueles que, por to<strong>do</strong> o século XVIII, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> procurou reivindicar, num esforço<br />

<strong>de</strong> legalização amigável, <strong>da</strong> posse intrusa que <strong>do</strong>s ditos terrenos se fizera. Sem a menor dúvi<strong>da</strong>, a<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> tem o senhorio direto <strong>de</strong>sses terrenos artificiais, porque estão incluí<strong>do</strong>s na área <strong>da</strong><br />

sesmaria que lhe foi concedi<strong>da</strong>, em 1565, por Estácio <strong>de</strong> Sá e amplia<strong>da</strong> e confirma<strong>da</strong>, em 1567, pelo<br />

governa<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong> Brasil – Mem <strong>de</strong> Sá. Mas, por culpa <strong>do</strong> próprio senhorio – a Câmara, – que foi<br />

displicente, no Catete, como em muitos lugares <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, os intrusos foram ampara<strong>do</strong>s pela força <strong>do</strong><br />

Direito, em face <strong>da</strong> situação jurídica favorável que para eles se criara, pela mansa e pacífica posse que<br />

<strong>de</strong>sfrutavam havia anos e muitos.<br />

Chácara <strong>do</strong> Desembarga<strong>do</strong>r<br />

À margem direita <strong>do</strong> rio Carioca existia ain<strong>da</strong>, em 1750, viçosa <strong>de</strong> arvore<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> frutas e regalos,<br />

uma extensa chácara, com boa casa <strong>de</strong> viven<strong>da</strong>, chama<strong>da</strong> pelo vulgo <strong>de</strong> chácara <strong>do</strong> Desembarga<strong>do</strong>r,<br />

porque pertencia e nela morava o <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r João Tavares <strong>de</strong> Abreu – homem <strong>de</strong> muito respeito. A<br />

esse magistra<strong>do</strong> foi a chácara compra<strong>da</strong>, <strong>de</strong> meias, pelo capitão José <strong>do</strong>s Santos Rebelo e Teotonio José<br />

<strong>de</strong> Sá. Em comum acor<strong>do</strong>, a 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1789, os ditos compra<strong>do</strong>res ven<strong>de</strong>ram a chácara a João<br />

Gonçalves, casa<strong>do</strong> com Joaquina Rosa <strong>da</strong> Conceição. Essa senhora, enviuvan<strong>do</strong>, veio a contrair<br />

segun<strong>da</strong>s núpcias com Manoel <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, gran<strong>de</strong> ricaço <strong>da</strong> época, possuin<strong>do</strong> valiosas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

urbanas no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e outras fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> na mercancia <strong>de</strong> gêneros alimentícios. A chácara <strong>do</strong><br />

Desembarga<strong>do</strong>r confinava com a chácara <strong>do</strong> capitão Manoel Pinheiro Guimarães, e tinham por divisa<br />

natural uma antiga vala. Pinheiro Guimarães era bem egoísta e manhoso no trato <strong>de</strong> negócios, quan<strong>do</strong>


em jogo os seus interesses, e gozava <strong>de</strong> influência nos meios políticos e administrativos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. É<br />

assim que conseguiu <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a licença para <strong>de</strong>rivar o rio Carioca, levan<strong>do</strong>-o à referi<strong>da</strong><br />

vala, que era forma<strong>da</strong> pelos esperdícios <strong>da</strong>s águas caí<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s nascentes na serra <strong>da</strong> Carioca. A vala corria<br />

paralela ao rio e cortava terras sobrepostas e férteis <strong>do</strong> arrabal<strong>de</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras, vin<strong>do</strong> morrer na praia,<br />

on<strong>de</strong> nos nossos dias é a praça José <strong>de</strong> Alencar. Na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII, já estava muita<br />

diminuí<strong>da</strong> <strong>do</strong> seu leito e mais fun<strong>da</strong> e serpenteava por entre chácaras carregan<strong>do</strong> imundícies e<br />

<strong>de</strong>spejan<strong>do</strong> as suas águas nos encharca<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pedreira, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> atravessar o caminho Velho <strong>de</strong><br />

Botafogo – atual rua Sena<strong>do</strong>r Vergueiro. Também, interessante citar o gran<strong>de</strong> alagadiço que se formava<br />

entre o Catete e Botafogo com as chuvas torrenciais <strong>do</strong> verão. Durante meses ficavam os mora<strong>do</strong>res<br />

como que insula<strong>do</strong>s e priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trânsito. Somente no mea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVIII <strong>de</strong>u-se início a uma obra<br />

perfeita <strong>de</strong> enxugamento <strong>de</strong>ssa região, obrigan<strong>do</strong>-se aos proprietários a enxugar os terrenos <strong>do</strong>s quintais<br />

<strong>da</strong>s suas casas, <strong>da</strong>s suas chácaras e <strong>da</strong>s suas hortas e a limpar as valas. Aos insubmissos era aplica<strong>da</strong> a<br />

pena <strong>de</strong> multa e prisão. Um século <strong>de</strong>pois, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Família Real portuguesa ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, o largo <strong>da</strong> ponte <strong>do</strong> Catete e suas adjacências foram melhora<strong>do</strong>s a bem <strong>do</strong> público e <strong>do</strong> bom<br />

nome <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que hospe<strong>da</strong>va Sua Majesta<strong>de</strong> Real Fi<strong>de</strong>líssima.<br />

Voltemos à chácara <strong>do</strong> Desembarga<strong>do</strong>r, cujos <strong>do</strong>nos, em 1829, eram Antônio Vieira Pereira e Ana<br />

<strong>do</strong> Espírito Santo, her<strong>de</strong>iros que foram <strong>da</strong> antiga proprietária, já cita<strong>da</strong>, Joaquina Rosa <strong>da</strong> Conceição. A<br />

esses ditos her<strong>de</strong>iros foi a chácara compra<strong>da</strong>, a 19 <strong>de</strong> agosto <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1829, pelo conselheiro<br />

Cláudio José <strong>da</strong> Costa Pereira, a quem a Ilustríssima Câmara expediu nova carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> chão<br />

<strong>da</strong> chácara e <strong>da</strong> casa <strong>de</strong> viven<strong>da</strong>, em 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1829. O conselheiro Cláudio <strong>da</strong> Costa, possui<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, pelos azares <strong>da</strong> sorte, veio a ficar pobre. Magistra<strong>do</strong>, ministro <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Justiça,<br />

membro <strong>do</strong> Conselho <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r e figura <strong>de</strong> bastante relevo na Corte, tinha vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s gastos<br />

para aten<strong>de</strong>r a to<strong>da</strong> essa representação. Em março <strong>de</strong> 1831, Cláudio José <strong>da</strong> Costa Pereira e a sua ilustre<br />

esposa Maria Velho <strong>da</strong> Costa Pereira viram-se constrangi<strong>do</strong>s a comparecer em juízo para outorga <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res <strong>do</strong>s conselheiros Pedro <strong>de</strong> Araújo Lima, mais tar<strong>de</strong> marquês <strong>de</strong> Olin<strong>da</strong> e regente <strong>do</strong> Império <strong>do</strong><br />

Brasil, Francisco Alberto Teixeira <strong>de</strong> Aragão, íntegro magistra<strong>do</strong> e sexto inten<strong>de</strong>nte geral <strong>de</strong> Polícia <strong>da</strong><br />

Corte, e ao ilustra<strong>do</strong> causídico dr. Bernar<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, para in solidum disporem com os<br />

cre<strong>do</strong>res sobre a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong> casal e bens que já estavam sujeitos à administração <strong>de</strong> Joaquim José<br />

Pereira <strong>de</strong> Faro, primeiro barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Bonito, e <strong>do</strong> padre José Manoel Bessa. Ultima<strong>da</strong> a concor<strong>da</strong>ta<br />

<strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>res, realizou-se a praça <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os bens <strong>do</strong> casal, a 26 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1832, com to<strong>da</strong> aquela<br />

<strong>de</strong>tração que sofrem os gran<strong>de</strong>s e os po<strong>de</strong>rosos quan<strong>do</strong> caem.<br />

A chácara <strong>do</strong> Desembarga<strong>do</strong>r foi entregue a Manoel Veloso Rebelo por 15:710$ e também um<br />

gran<strong>de</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> à rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>, canto com a <strong>do</strong> Hospício, pela quantia <strong>de</strong> 25:000$. Veloso<br />

Ribeiro, o maior cre<strong>do</strong>r <strong>do</strong> casal Costa Pereira e o mais intransigente, residia no dito prédio. Foram<br />

muitos os prédios no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, quase to<strong>do</strong>s no bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> e <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, que figuravam nesta<br />

espetacular praça <strong>de</strong> penhora, e também figuraram importantes proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas na província <strong>da</strong><br />

Bahia, entre as quais um gran<strong>de</strong> engenho na vila <strong>de</strong> Valença, comarca <strong>de</strong> Ilhéus, com extensas terras<br />

cultiva<strong>da</strong>s, principalmente a cultura <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, cuja produção era fabulosa – conforme<br />

arrolamentos junto aos Autos <strong>da</strong> Penhora, que encontramos em 1923, já muito estraga<strong>do</strong>s e<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s, num <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> papéis <strong>do</strong> antigo Fórum, à rua <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s. Nas pesquisas que levamos<br />

por diante, embora as gran<strong>de</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s cria<strong>da</strong>s, a manifesta má vonta<strong>de</strong> e até ofensas, tivemos a sorte<br />

<strong>de</strong> novamente encontrar a chácara <strong>do</strong> Desembarga<strong>do</strong>r, no ano <strong>de</strong> 1844, vendi<strong>da</strong> por 10:000$ a Bernar<strong>do</strong><br />

José <strong>da</strong> Cunha, pelo barão <strong>do</strong> An<strong>da</strong>raí – Militão Máximo <strong>de</strong> Souza, que a comprara por 8:000$ ao<br />

precita<strong>do</strong> Manoel Veloso Rebelo, compra para a qual houve alvará <strong>de</strong> licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara,<br />

<strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1837, segun<strong>do</strong> as anotações lança<strong>da</strong>s à margem <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong> Cobrança <strong>de</strong><br />

Sisa, em 1844, no Tesouro Nacional. Foi Bernar<strong>do</strong> José <strong>da</strong> Cunha quem terminou as obras <strong>do</strong> gran<strong>de</strong><br />

palacete <strong>da</strong> chácara, inicia<strong>da</strong>s em 1829 pelo conselheiro Cláudio <strong>da</strong> Costa, e paralisa<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1831,<br />

por embargos <strong>de</strong> cre<strong>do</strong>res. Prédio <strong>de</strong> linhas elegantes, com três artísticos portões <strong>de</strong> ferro no an<strong>da</strong>r térreo<br />

para ingresso, saca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cantaria trabalha<strong>da</strong> nas porta<strong>da</strong>s <strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> em nº <strong>de</strong> nove e <strong>de</strong>zenove janelas<br />

nas faces laterais. Posteriormente, sofreu modificações com acréscimos e outras obras <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação a<br />

um hotel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m que aí foi instala<strong>do</strong>, luxuosamente, com o nome <strong>de</strong> Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros.<br />

Nesse estabelecimento, que teve fama e chegou aos nossos dias, * hospe<strong>da</strong>vam-se chefes <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

* O Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros foi <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>. (N.A.)<br />

C A P Í T U L O V I I I | 1 0 1


1 0 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

príncipes, gran<strong>de</strong>s atores e atrizes, homens ilustres e os nababos em visita ao nosso país, até o começo<br />

<strong>do</strong> atual século, quan<strong>do</strong> começaram a surgir os chama<strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s e mo<strong>de</strong>rnos hotéis no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

O Hotel <strong>do</strong>s Estrangeiros foi sen<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong> e caiu em <strong>de</strong>cadência. Mas <strong>da</strong> sua existência faustosa, com<br />

dias <strong>de</strong> glórias, ele <strong>de</strong>ixou para a história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> achegas bem<br />

interessantes nos fatos ali aconteci<strong>do</strong>s e atinentes à política, às finanças, às artes, às ciências, às letras,<br />

ao alto mun<strong>da</strong>nismo, à vi<strong>da</strong> social <strong>da</strong> Sebastianópolis, enfim. E ao término <strong>de</strong>stas notas recor<strong>da</strong>mos que<br />

o conselheiro Cláudio José <strong>da</strong> Costa Pereira foi quem ce<strong>de</strong>u, sem qualquer in<strong>de</strong>nização, uma larga faixa<br />

<strong>de</strong> terreno <strong>da</strong> sua chácara, em to<strong>da</strong> a extensão <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s, pelo rio Carioca abaixo até o mar, para<br />

a abertura <strong>da</strong> rua que traz hoje o nome <strong>de</strong> Barão <strong>do</strong> Flamengo.<br />

Chácara <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong><br />

Como <strong>de</strong>ixamos dito anteriormente neste capítulo, na narrativa sobre o campo <strong>do</strong> Catete, o padre<br />

Cosme Ramos <strong>de</strong> Morais tinha gran<strong>de</strong> lavoura <strong>de</strong> arroz e um engenho <strong>de</strong> beneficiar cereais na sua quinta<br />

ou chácara <strong>do</strong> Catete. Essa importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> veio a pertencer a João Corrêa Ximenes, conceitua<strong>do</strong><br />

senhor <strong>de</strong> engenho em São João <strong>de</strong> Meriti. Ao tempo <strong>do</strong>s fatos a narrar, a intolerância religiosa fazia-se<br />

excessivamente. Ser cristão novo era crime imper<strong>do</strong>ável e castiga<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> bárbaro pelo Tribunal <strong>da</strong><br />

Inquisição. Ain<strong>da</strong> no século XVIII, em Portugal, a perseguição religiosa encarcerava muita gente pelo<br />

chama<strong>do</strong> crime <strong>de</strong> heresia. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, eram muitos os cristãos novos no nº <strong>do</strong>s quais estavam o<br />

referi<strong>do</strong> João Corrêa Ximenes e o seu irmão José Corrêa Ximenes, este, homem inteligente, com<br />

instrução, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> notário público e mor<strong>do</strong>mo <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s por eleição, na Santa Casa <strong>da</strong><br />

Misericórdia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, durante a prove<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> coronel Francisco <strong>de</strong> Moura Fogaça. Os irmãos<br />

Ximenes foram con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s por heresia e man<strong>da</strong><strong>do</strong>s para os cárceres <strong>de</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> acabaram os seus<br />

dias. Na confiscação <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong> João Corrêa Ximenes entrou a quinta <strong>do</strong> Catete e, na praça realiza<strong>da</strong><br />

em 1713, ela foi arremata<strong>da</strong> pelo alferes André Nogueira Macha<strong>do</strong>, homem <strong>de</strong> conceito e rico. Des<strong>de</strong><br />

então, a quinta passou a ser chama<strong>da</strong> – chácara <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. Pela petição <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1716,<br />

dirigi<strong>da</strong> ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, o alferes Macha<strong>do</strong>, <strong>de</strong>claran<strong>do</strong>-se possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma chácara no Catete,<br />

que pertencera a João Corrêa Ximenes, a quem fora confisca<strong>da</strong>, obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno por ela<br />

ocupa<strong>da</strong> em fateusim perpétuo e ao foro anual <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze tostões, guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s para os fins <strong>de</strong> direito e posse<br />

as confrontações <strong>do</strong> aforamento que era o <strong>do</strong> padre Cosme Ramos <strong>de</strong> Morais, concedi<strong>do</strong> em 10 <strong>de</strong> junho<br />

<strong>de</strong> 1628. Pelas ditas confrontações, a chácara tinha cem braças na testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente e duzentas ditas na<br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s e ficava entre terras ocupa<strong>da</strong>s pelos religiosos <strong>de</strong> São Bento e por outros, à direita, e pelas<br />

possuí<strong>da</strong>s por Nicolau <strong>da</strong> Fonseca e Antônio Martins <strong>de</strong> Brito, na outra ban<strong>da</strong> – la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>. Em 1778,<br />

já estava em aban<strong>do</strong>no, corta<strong>da</strong> por caminhos e ocupa<strong>da</strong> por intrusos e nesse esta<strong>do</strong> foi vendi<strong>da</strong> pela<br />

quantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil cruza<strong>do</strong>s ao capitão Manoel Ribeiro Guimarães, em 4 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1778. Foram<br />

os ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res Maria Josefa Nogueira Macha<strong>do</strong> e irmãs, que eram filhas <strong>do</strong> alferes André Nogueira<br />

Macha<strong>do</strong>. *<br />

Chácara <strong>da</strong> Sacramento<br />

Ain<strong>da</strong> existia no começo <strong>do</strong> século XIX a chácara <strong>da</strong> Sacramento, assim chama<strong>da</strong> por pertencer<br />

a Ana Maria <strong>do</strong> Sacramento. Por ocasião <strong>da</strong>s obras <strong>do</strong> cor<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>finitivo e regular <strong>de</strong> uma via<br />

pública – atual rua <strong>do</strong> Catete – beiran<strong>do</strong> a praia velha – governança <strong>de</strong> Luiz Vasconcelos e Souza –<br />

1779/1790 – <strong>de</strong>smembrou-se por completo a antiquíssima quinta <strong>do</strong> Catete e <strong>de</strong>la saíram terras para a<br />

formação <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Sacramento. Em 1806, já diminuí<strong>da</strong>, com melhor casa resi<strong>de</strong>ncial, a chácara<br />

tinha uma frente <strong>de</strong> 23 braças, a começar <strong>da</strong>s terras livres <strong>do</strong> dr. Manoel <strong>de</strong> Jesus Val<strong>de</strong>taro, à mão<br />

esquer<strong>da</strong> subin<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por questão <strong>de</strong> divisa, Ana Sacramento querelou anos em juízo com o<br />

* Restier Gonçalves não se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que parte <strong>de</strong>ssa chácara, adquiri<strong>da</strong> por Antonio José <strong>da</strong> Silva, é a mesma que também foi adquiri<strong>da</strong> pela<br />

rainha Carlota Joaquina e que o autor <strong>de</strong>screve no verbete : “Chácara <strong>do</strong> Lisboa”. (N.C.)


heréo * confinante Manoel Pinheiro Guimarães, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> uma chácara à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> querelante. Afinal,<br />

em 1806, houve um acor<strong>do</strong> e Ana <strong>do</strong> Sacramento, na forma <strong>da</strong> sentença <strong>do</strong> juiz <strong>da</strong>s Deman<strong>da</strong>s, saiu<br />

ganhan<strong>do</strong>, com a posse <strong>de</strong> algumas braças a mais e <strong>da</strong>s quais obteve o aforamento pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, em 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1806. Mais tar<strong>de</strong>, a referi<strong>da</strong> senhora ven<strong>de</strong>u a chácara ao casal conselheiro<br />

José Joaquim <strong>de</strong> Souza Lobato e Clementina <strong>de</strong> Araújo Albuquerque Lobato. Esse novos <strong>do</strong>nos <strong>da</strong><br />

chácara <strong>da</strong> Sacramento melhoraram-na bastante, e, entre as obras executa<strong>da</strong>s, a <strong>da</strong> retificação <strong>da</strong> testa<strong>da</strong><br />

foi muito vantajosa à perspectiva <strong>da</strong> chácara. Para regulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi adquiri<strong>da</strong>, aos her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> dr.<br />

Val<strong>de</strong>taro, uma tira <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> 13,5 braças <strong>de</strong> larga nos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara, à praia <strong>do</strong> Flamengo, e que<br />

ficou sen<strong>do</strong> a porção alodial ou livre <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Sacramento. Em 5 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1825, o casal Souza<br />

Lobato, já residin<strong>do</strong> em Lisboa, ven<strong>de</strong>u a sua importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> por 18.500$ ao ricaço Gonçalo<br />

Germano <strong>de</strong> Araújo Souza, resi<strong>de</strong>nte no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, à rua <strong>da</strong>s Mangueiras – atual viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Maranguape. Para edificar, como edificou, sóli<strong>do</strong>s prédios resi<strong>de</strong>nciais, com frente no Flamengo,<br />

Gonçalo Germano <strong>de</strong>smembrou a chácara na parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Afinal, a chácara <strong>da</strong> Sacramento, então<br />

com o nº 183 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Catete, veio a ser vendi<strong>da</strong> em 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1848, por 45:000.00, pelos filhos<br />

<strong>de</strong> Gonçalo Germano, ao viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Miraguaia – Bernar<strong>do</strong> Pinto Gonçalves <strong>da</strong> Silva, o qual na mesma<br />

chácara teve residência. A chácara <strong>da</strong> Sacramento ficava entre os terrenos <strong>do</strong> Val<strong>de</strong>taro – local <strong>do</strong> Palácio<br />

presi<strong>de</strong>ncial <strong>do</strong> Catete – e terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Pinheiro Guimarães, on<strong>de</strong> corre a rua Corrêa Dutra.<br />

Chácara <strong>do</strong> A s s é c a<br />

C A P Í T U L O V I I I | 1 0 3<br />

Em 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1816, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio<br />

direto, conce<strong>de</strong>u a licença que lhe solicitara o capitão Manoel Pinheiro Guimarães para a ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> um<br />

terreno a Brown Watson & cia, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r. O terreno<br />

vendi<strong>do</strong> tinha 35 braças e 9 palmos <strong>de</strong> frente pelo Flamengo, 28 braças e 8 palmos <strong>de</strong> compri<strong>do</strong> pelo<br />

la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> e pelo direito 31 braças e 8 palmos. Fica entre <strong>do</strong>is caminhos que subiam <strong>do</strong> mar para o<br />

alto <strong>do</strong> Catete e que mais tar<strong>de</strong> serviram <strong>de</strong> risco para abertura <strong>de</strong> duas ruas: o <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>, para a <strong>do</strong><br />

Infante, <strong>de</strong>pois – Dois <strong>de</strong> Dezembro e hoje – Cristóvão Colombo, ** e o <strong>da</strong> direita, para a rua <strong>do</strong> Pinheiro,<br />

agora Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis. Brown Watson & cia construíram nesse terreno uma boa casa resi<strong>de</strong>ncial, com<br />

chácara e outras benfeitorias, tu<strong>do</strong> em puro estilo inglês. Essa pitoresca viven<strong>da</strong> veio a ser cobiça<strong>da</strong> pela<br />

rainha Carlota Joaquina, num passeio matinal que fazia pela praia <strong>do</strong> Flamengo, em um dia <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1817. A soberana man<strong>do</strong>u convocar imediatamente os proprietários <strong>da</strong> casa e propor-lhes a compra, pois<br />

que a situação <strong>da</strong> mesma era muito propícia à saú<strong>de</strong> (<strong>de</strong>) sua majesta<strong>de</strong>, que para tanto se dispunha a <strong>da</strong>r<br />

vinte contos <strong>de</strong> réis, com o pagamento em Lisboa. Contraria<strong>do</strong>s, embora, como <strong>de</strong>ixa transparecer a<br />

representação que fizeram ao serem convoca<strong>do</strong>s, Brown, Watson & Cia. <strong>de</strong>claram “que em presença <strong>de</strong><br />

tal compra<strong>do</strong>r largavam a sua boa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> à S. M. em prova <strong>de</strong> respeito e submissão com a franca<br />

bizarria <strong>de</strong> não quererem por ela senão o seu custo, sem câmbio <strong>de</strong> dinheiro e nem juros <strong>de</strong> mora”. Por<br />

sua vez, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, para evitar <strong>de</strong>longas à compra, abriu mão <strong>do</strong> laudêmio, em vereança <strong>de</strong><br />

15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1817, pela alta consi<strong>de</strong>ração e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> respeito à augusta senhora rainha. Porém, com<br />

espanto geral, Carlota Joaquina <strong>de</strong>sistiu <strong>da</strong> compra, queren<strong>do</strong>, apenas, não se fizesse bulício e nem <strong>da</strong>no<br />

houvesse por isso. Sabia-se, entretanto, <strong>do</strong>s consi<strong>de</strong>ráveis compromissos <strong>de</strong> dinheiro assumi<strong>do</strong>s pela<br />

rainha no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e que na capital portuguesa pouco crédito lhe restava. Circunstâncias prováveis<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>sistência – ou, segun<strong>do</strong> os cochichos sobre o fato, algum estratagema <strong>do</strong> rei <strong>do</strong>m João VI,<br />

empregan<strong>do</strong> a sua manhosa diplomacia para resolver, como <strong>de</strong> costume e sem escân<strong>da</strong>los, as levian<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong> sua esposa. Por fim, a bela viven<strong>da</strong> <strong>do</strong> Flamengo veio a pertencer ao viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Asséca que aí residiu<br />

por algum tempo. Na chácara <strong>do</strong> Asséca, em brilhantes recepções, reuniam-se a mais alta aristocracia e<br />

os expoentes <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

* Heréo: Senhor, proprietário. “Assim nas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s se citam os heréos confinantes” – Antônio Morais e Silva – Dicionário <strong>da</strong> Língua Portuguesa –<br />

ed. <strong>de</strong> 1878. (N.A.)<br />

** A rua voltou a <strong>de</strong>nominar-se Dois <strong>de</strong> Dezembro, nome que mantém até hoje. (N.E.)


1 0 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Chácara <strong>do</strong> Lisboa<br />

O trato comercial e as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas foram os esforços <strong>do</strong>s primeiros governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Com esse fim, abriram-se estra<strong>da</strong>s e fizeram-se largas concessões <strong>de</strong> terras. Os sertões <strong>da</strong><br />

capitania ligaram-se à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, na qual se formaram vastos rossios, a<br />

fim <strong>de</strong> mais útil e pronto se fizesse o convívio <strong>do</strong> povo e melhor se operassem os negócios.<br />

Abusivamente, esses rossios foram sen<strong>do</strong> usurpa<strong>do</strong>s pelos proprietários circunvizinhos, os quais iam<br />

avançan<strong>do</strong> sobre os terrenos <strong>de</strong> servidão pública, quan<strong>do</strong> levantavam as suas casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>. Esse<br />

proce<strong>de</strong>r abusivo era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> grave infração pelas Or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> reino. É certo, também, que a<br />

Câmara conseguiu reivindicar muitos <strong>do</strong>s terrenos nos usurpa<strong>do</strong>s: uns, por acor<strong>do</strong> amigável e outros, por<br />

sentença con<strong>de</strong>natória. No campo ou rossio <strong>do</strong> Catete, as usurpações atingiram o máximo <strong>do</strong> escân<strong>da</strong>lo<br />

público, chegan<strong>do</strong> a causar motim. A Câmara levou os fatos ao conhecimento <strong>do</strong> rei <strong>de</strong> Portugal, e <strong>da</strong>í<br />

a Or<strong>de</strong>m Régia <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1745, que <strong>de</strong>terminou o <strong>de</strong>spejo sumário <strong>do</strong>s ocupantes <strong>do</strong>s<br />

terrenos e a revisão geral <strong>do</strong>s aforamentos concedi<strong>do</strong>s no sítio <strong>do</strong> Catete, em 1742, <strong>de</strong> forma a proce<strong>de</strong>rse<br />

com acerto e segurança, anulan<strong>do</strong>-se por completo aqueles encontra<strong>do</strong>s sem os títulos próprios,<br />

legalmente expedi<strong>do</strong>s. No Catete, a anulação <strong>de</strong> maior vulto foi feita a Antônio José <strong>da</strong> Silva, cuja<br />

chácara, <strong>de</strong> 50 braças <strong>de</strong> frente por 60 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, era usurpa<strong>da</strong> ao rossio <strong>do</strong> Catete. Essa chácara, junto à<br />

ponte gran<strong>de</strong>, ocupava terras foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> em 6.800 réis anuais e era banha<strong>da</strong> pelo rio<br />

Carioca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua <strong>da</strong>s Laranjeiras até a dita ponte. Corta<strong>da</strong> a parte usurpa<strong>da</strong>, a (chácara) começou a<br />

ser retalha<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>na a viúva <strong>de</strong> Antônio José <strong>da</strong> Silva. Essa senhora, <strong>de</strong> nome Úrsula Maria <strong>do</strong> Bom<br />

Sucesso, veio a casar-se com Venancio José Lisboa, outro ricaço <strong>do</strong> Catete e Laranjeiras, on<strong>de</strong> possuía<br />

extensos terrenos foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Lisboa, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casa<strong>do</strong>, alegou direitos <strong>de</strong><br />

adjudicação e a sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cabeça <strong>do</strong> casal, procuran<strong>do</strong> conseguir, como conseguiu, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1809, que to<strong>do</strong> o terreno <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> sua esposa e os<br />

adjacentes, baldios ou não, fossem afora<strong>do</strong>s em seu nome. Des<strong>de</strong> essa época, ficou sen<strong>do</strong> chama<strong>da</strong><br />

chácara <strong>do</strong> Lisboa. No correr <strong>do</strong>s anos, com os <strong>de</strong>smembramentos pratica<strong>do</strong>s, novos aforamentos se<br />

fizeram <strong>de</strong> porções e foros diferentes, sen<strong>do</strong> o maior foro <strong>de</strong> oito mil réis anuais. Por <strong>do</strong>ze contos <strong>de</strong> réis<br />

o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Fernan<strong>do</strong> Carneiro Leão adquiriu uma porção ao sul <strong>do</strong> rio Carioca, com frente <strong>de</strong> 19<br />

braças pela rua <strong>do</strong> Catete, junto a ponte gran<strong>de</strong>, por <strong>de</strong>z ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Carneiro Leão, que <strong>de</strong>pois foi<br />

barão e con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> São José, pediu ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e <strong>de</strong>le obteve, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 11<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1815, o aforamento <strong>da</strong> porção <strong>do</strong> terreno que comprara e no qual construiu boa casa para<br />

a sua residência, com extensa chácara, começa<strong>da</strong> a <strong>de</strong>smembrar-se em 1855. A chácara <strong>de</strong> Carneiro<br />

confinava, à direita, com o mirante <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Lisboa e com as casas <strong>de</strong> aluguel <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

coronel Manoel Ribeiro Guimarães, e à esquer<strong>da</strong>, la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – expressão <strong>da</strong> época, usa<strong>da</strong> no<br />

<strong>do</strong>cumento examina<strong>do</strong> -, com a casa <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>de</strong> Joaquim Ribeiro <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> e com<br />

o rossio <strong>do</strong> Catete. Nos fun<strong>do</strong>s, la<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras, com a chácara <strong>de</strong> Domingos Francisco <strong>de</strong> Araújo<br />

Roso. O rio Carioca atravessava pela chácara <strong>de</strong> Carneiro Leão e também pela <strong>do</strong> Lisboa. Sobre a<br />

servidão <strong>da</strong>s águas <strong>do</strong> rio, ain<strong>da</strong> abun<strong>da</strong>ntes e limpas, houve um acor<strong>do</strong> entre os <strong>do</strong>is proprietários,<br />

obrigan<strong>do</strong>-se Carneiro Leão a não criar estorvo à <strong>de</strong>rivação canaliza<strong>da</strong> <strong>do</strong> dito rio para a Casa <strong>de</strong> Banhos<br />

situa<strong>da</strong> à rua <strong>do</strong> Catete e proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Venancio Lisboa. Como dissemos, em 1855, foi inicia<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara Carneiro Leão e quase to<strong>do</strong>s os terrenos foram adquiri<strong>do</strong>s pelo Banco<br />

Alemão, dirigi<strong>do</strong> por A<strong>do</strong>lfo Klingel<strong>do</strong>efer. Esse estabelecimento ofereceu à Ilustríssima Câmara o<br />

terreno necessário para a abertura <strong>de</strong> uma rua e que se abriu, em 1875, com o nome <strong>de</strong> São Salva<strong>do</strong>r,<br />

<strong>de</strong>pois chama<strong>da</strong> Neri Ferreira e voltan<strong>do</strong>, ultimamente, à antiga nominação. Com a testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente para<br />

essa rua ficaram os terrenos compra<strong>do</strong>s, por João Antônio Ferreira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, ao Banco Alemão, já em<br />

liqui<strong>da</strong>ção no ano <strong>de</strong> 1881. Por esses terrenos abriu-se também uma rua, a qual <strong>de</strong>ram o nome <strong>de</strong><br />

Concórdia, substituí<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois pelo <strong>de</strong> Ferreira e por fim Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Baependi, ain<strong>da</strong> conserva<strong>do</strong>.<br />

Voltemos à chácara <strong>do</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> encontramos a construção, inicia<strong>da</strong> em 1813, <strong>do</strong> palacete que serviu<br />

<strong>de</strong> residência durante alguns anos à família Lisboa – por muitos títulos ilustre. Ficava à frente <strong>da</strong> rua <strong>do</strong><br />

Catete, canto <strong>do</strong> largo <strong>de</strong>ste mesmo nome. Tinha, na dita rua, um alto portão <strong>de</strong> ferro <strong>da</strong>n<strong>do</strong> acesso a um<br />

pátio arboriza<strong>do</strong>, que ficava à entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> palacete, à esquer<strong>da</strong>. To<strong>do</strong>s os antigos prédios que se seguiam<br />

ao muro <strong>do</strong> pátio – ou área <strong>de</strong>scoberta – e até o canto <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, foram construí<strong>do</strong>s por<br />

Venâncio José Lisboa. 13


Vamos fechar a nossa ligeira notícia sobre a chácara <strong>do</strong> Lisboa com a recor<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> um fato bem<br />

triste ocorri<strong>do</strong> no antigo rossio <strong>do</strong> Catete, no <strong>do</strong>mingo, 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820, às 11h <strong>da</strong> noite. Naquele<br />

dia e horas cita<strong>do</strong>s, no rossio <strong>do</strong> Catete, ao apear-se <strong>da</strong> carruagem à porta <strong>da</strong> sua residência, em<br />

companhia <strong>de</strong> duas filhas e regressan<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma soleni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> rosário, foi assassina<strong>da</strong> a tiro <strong>de</strong> arcabuz<br />

Gertru<strong>de</strong>s Petra Carneiro Leão, nobre esposa <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Carneiro Leão. Pela hora adianta<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite,<br />

o assassino pô<strong>de</strong> escapar sem ser visto, e nem <strong>de</strong>scoberto foi, embora diligências <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s pelo<br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r José Albano Fragoso, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> juízo Especial <strong>do</strong> Paço. Horrível<br />

mistério envolveu esse crime. Noronha Santos, erudito cronista carioca, dá como indigita<strong>do</strong> autor <strong>do</strong><br />

crime um celera<strong>do</strong> <strong>de</strong> nome Jerônimo Inácio <strong>da</strong> Costa e <strong>de</strong> alcunha “o Orelha”, a man<strong>do</strong> <strong>da</strong> rainha<br />

Carlota Joaquina, por ciúmes, pois que era amante <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> <strong>da</strong> vítima. Fernan<strong>do</strong> José Carneiro Leão<br />

nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 30 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1782, e faleceu em Niterói, a 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1832. Era filho<br />

<strong>do</strong> riquíssimo negociante Braz Carneiro Leão e <strong>de</strong> Ana Francisca Rosa Maciel <strong>da</strong> Costa. A princípio,<br />

<strong>de</strong>dicou-se ao comércio e dirigiu, por morte <strong>do</strong> seu pai, a casa comercial, que girou sob o nome Carneiro<br />

Leão, Viúva & Filhos. Forte e conceitua<strong>da</strong> bastante era essa casa comercial atacadista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo <strong>do</strong><br />

velho Braz Carneiro Leão. Ficava à rua Direita, agora Primeiro <strong>de</strong> Março, para os la<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Bento,<br />

com <strong>de</strong>pósitos na Prainha e na Saú<strong>de</strong>. As merca<strong>do</strong>rias – fazen<strong>da</strong>s, gêneros, etc.– que importava e<br />

também as que exportava – café, farinha e outros produtos <strong>do</strong> país – eram carrega<strong>da</strong>s em navios <strong>de</strong><br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mesma casa comercial.<br />

Fernan<strong>do</strong> Carneiro Leão <strong>de</strong>ixou o comércio e ingressou no Exército fazen<strong>do</strong> parte <strong>da</strong> 2ª linha e<br />

passou para a primeira no posto <strong>de</strong> coronel <strong>de</strong> cavalaria, por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1828, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

promovi<strong>do</strong> a briga<strong>de</strong>iro, a 12 <strong>de</strong> outubro <strong>do</strong> mesmo ano. Coman<strong>do</strong>u a guar<strong>da</strong> <strong>de</strong> honra <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r<br />

Dom Pedro I. Foi agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> São José, a 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1825,<br />

e no ano seguinte eleva<strong>do</strong> a con<strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo título. A viúva <strong>de</strong> Braz Carneiro Leão foi agracia<strong>da</strong> com<br />

o título <strong>de</strong> baronesa <strong>de</strong> Goitacazes e faleceu bem i<strong>do</strong>sa, a 12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1832, na sua suntuosa<br />

residência na Glória. No Palacete Goitacazes funcionou o Ministério <strong>do</strong>s Estrangeiros, no regime<br />

monárquico, e foi <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>, não há muitos anos, para <strong>da</strong>r lugar à construção <strong>do</strong> Palácio São Joaquim,<br />

residência <strong>do</strong> car<strong>de</strong>al arcebispo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O Palacete <strong>do</strong> rossio <strong>do</strong> Catete veio a pertencer à<br />

Guilhermina A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza Coutinho, marquesa <strong>de</strong> Maceió, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> no começo <strong>de</strong>ste<br />

século.<br />

Chácara <strong>da</strong> Pedre i r a<br />

C A P Í T U L O V I I I | 1 0 5<br />

Ain<strong>da</strong> no princípio <strong>do</strong> século XVII, Felipe Coutinho Carneiro aparece <strong>do</strong>no <strong>de</strong> três prósperas<br />

olarias no sítio <strong>da</strong> Carioca e em terras foreiras à Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Francisca Pereira, mulher <strong>de</strong><br />

haveres, que suce<strong>de</strong>u a Felipe Carneiro na posse <strong>da</strong>s olarias, foi ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> uma por uma com to<strong>da</strong>s as<br />

servidões e terras respectivas. Foram compra<strong>do</strong>res: Miguel <strong>de</strong> Freitas Ribeiro, Francisco Rodrigues <strong>da</strong><br />

Paz e o licencia<strong>do</strong> bacharel – Jerônimo Coelho <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> este, por escritura <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1692, <strong>do</strong> notário Manoel <strong>de</strong> Oliveira Couto, compra<strong>do</strong> a olaria <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Freitas Ribeiro, com boa<br />

casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> pomar, na parte alta, on<strong>de</strong> ficavam também uma gran<strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong> telhas, e<br />

na parte baixa, horta e curral <strong>de</strong> bois. Essa parte baixa era to<strong>da</strong> um brejal. A 12 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1715, e<br />

por quatro mil cruza<strong>do</strong>s, o licencia<strong>do</strong> Andra<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>u as suas duas olarias e to<strong>da</strong>s as benfeitorias a<br />

Caetano <strong>da</strong> Costa Coelho. Por <strong>de</strong>liberação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, as terras, cultiva<strong>da</strong>s ou não,<br />

compreendi<strong>da</strong>s na dita ven<strong>da</strong>, passaram a constituir uma só enfiteuse com o foro anual <strong>de</strong> quatro mil<br />

réis. As benfeitorias que, então, se relacionaram foram roças <strong>de</strong> mandioca, milho e café, * fornos <strong>de</strong> coser,<br />

louça <strong>do</strong> país – panelas <strong>de</strong> barro, potes e outros utensílios – telhas e as mora<strong>da</strong>s nobres ou não. A testa<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>sse novo aforamento era bem extensa e corria pela estra<strong>da</strong> dita <strong>da</strong> Carioca, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> ruas <strong>da</strong><br />

Glória e <strong>do</strong> Catete, entre as terras que mais tar<strong>de</strong> pertenceram ao reveren<strong>do</strong> dr. Cláudio Grurgel <strong>do</strong><br />

Amaral e as <strong>de</strong> José Rodrigues Gomes. Caetano <strong>da</strong> Costa Coelho, que era casa<strong>do</strong> com Maria Viegas <strong>de</strong><br />

Abreu, <strong>de</strong>smembrou <strong>da</strong>s terras que possuía duas porções <strong>de</strong> 1/3 ca<strong>da</strong> uma para formar os <strong>do</strong>tes <strong>de</strong><br />

núpcias <strong>da</strong>s duas filhas <strong>do</strong> seu casal: Inácia Viegas <strong>de</strong> Souza, que casou com Carlos Monteiro <strong>da</strong> Silva,<br />

* Não é possível ter existi<strong>do</strong> plantação <strong>de</strong> café no ano cita<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1715, pois seu cultivo, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, se dá a partir <strong>de</strong> 1760, com as primeiras<br />

sementes trazi<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Maranhão pelo <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r João Alberto Castelo Branco. (N.C.)


1 0 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

e Isabel Correia, casa<strong>da</strong> com Manoel Veloso <strong>de</strong> Carvalho. Costa Coelho, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> possuir fortuna e <strong>de</strong><br />

movimentar diferentes empreendimentos, viu-se endivi<strong>da</strong><strong>do</strong> e bem pobre. Para liqui<strong>da</strong>r as suas dívi<strong>da</strong>s,<br />

num montante superior a quinze mil cruza<strong>do</strong>s fortes, pôs em praça to<strong>do</strong>s os seus bens móveis, imóveis<br />

e semoventes. Figurou nessa praça a chácara <strong>da</strong> Pedreira, no bairro <strong>da</strong> Glória, à mão direita, caminhan<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para o Catete, inclusive as gran<strong>de</strong>s pedreiras, <strong>da</strong>s quais se extraíam pedras <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Assim, rezam os pregões <strong>da</strong> praça realiza<strong>da</strong> em dias <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1780.<br />

Devi<strong>do</strong> ao estrago <strong>do</strong>s autos <strong>da</strong> praça, não foi possível precisar o dia. O capitão Felix <strong>de</strong> Souza Castro,<br />

um <strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> casal Costa Coelho, arrematou a chácara <strong>da</strong> Pedreira, <strong>da</strong> qual, como dissemos,<br />

saíram <strong>do</strong>is terços para os <strong>do</strong>tes <strong>de</strong> Ignácia e Isabel Viegas <strong>de</strong> Souza. As duas senhoras beneficiaram<br />

bastante os seus terrenos com casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e pomar. Pelo título <strong>de</strong> aforamento, que traz a <strong>da</strong>[ta] <strong>de</strong><br />

28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1787, a chácara <strong>de</strong> Inácia Viegas <strong>de</strong> Souza tinha frente na estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catete, numa<br />

extensão <strong>de</strong> 34.5 braças e fun<strong>do</strong>s no mais alto <strong>da</strong> montanha, on<strong>de</strong> acusava uma largura <strong>de</strong> 185 braças na<br />

direção <strong>de</strong> su<strong>do</strong>este. Em 1799, viúva havia mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos e completamente cega, Ignácia Viegas<br />

entabulou negociações para a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua chácara com o padre Antônio Gonçalves Marinho, chegan<strong>do</strong><br />

a ser lavra<strong>da</strong> a respectiva escritura pelo notário Antônio Teixeira <strong>de</strong> Carvalho e na residência <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r<br />

Corrêa Alves Quintanilha. O compra<strong>do</strong>r ficou empraza<strong>do</strong> a apresentar a certidão <strong>da</strong> sentença <strong>de</strong><br />

ratificação <strong>da</strong> posse <strong>da</strong> chácara proferi<strong>da</strong> pelo Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Lisboa. Cinco anos <strong>de</strong>correram sem<br />

que o dito <strong>do</strong>cumento fosse apresenta<strong>do</strong>. Afinal, nos primeiros dias <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1806, Salva<strong>do</strong>r<br />

Quintanilha, levan<strong>do</strong> ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a <strong>de</strong>nuncia <strong>da</strong> transação havi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>clarou-se <strong>do</strong>no <strong>da</strong><br />

chácara. Nas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s, cavilosas quase to<strong>da</strong>s, que se criaram pela posse <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Pedreira, são<br />

lamentáveis e mesmo vergonhosos os conluios havi<strong>do</strong>s em torno <strong>da</strong> dita cega rica. Muito há para<br />

escrever sobre este fato e também sobre outros – em relação às fortunas e heranças no passa<strong>do</strong>. É farta<br />

e curiosa a <strong>do</strong>cumentação encontra<strong>da</strong> nos arquivos forenses. Na <strong>de</strong>núncia que fez, Salva<strong>do</strong>r Quintanilha<br />

é categórico ao <strong>de</strong>clarar-se <strong>do</strong>no <strong>da</strong> chácara, porque, disse ele – “para a sua pessoa e com o seu dinheiro<br />

havia si<strong>do</strong> compra<strong>da</strong> a chácara, e o padre Marinho interviera apenas com a sua diligência.” Esse<br />

sacer<strong>do</strong>te era pessoa <strong>de</strong> confiança e <strong>de</strong> estima <strong>da</strong> senhora Viegas, a cega. Em vereança <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1806, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>cidiu favoravelmente a Quintanilha, investi<strong>do</strong> logo na posse <strong>da</strong> chácara,<br />

que começou a ser <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> em vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> posseiro, para a abertura <strong>da</strong> rua<br />

Quintanilha, atual Bento Lisboa. Fez-se o <strong>de</strong>smembramento completo quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> partilha entre her<strong>de</strong>iros<br />

<strong>de</strong> Delfina Benedita Quintanilha, que se havia casa<strong>do</strong> com o seu cunha<strong>do</strong>, João José <strong>de</strong> Souza<br />

Quintanilha, pouco <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r Quintanilha, seu primeiro mari<strong>do</strong>. Os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong><br />

Delfina foram Tertuliano, Procópio, Ubaldina, Rosa e Rufina – filhos <strong>do</strong> primeiro casal <strong>da</strong> precita<strong>da</strong><br />

senhora. Também her<strong>de</strong>iro foi o segun<strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, ao qual coube <strong>da</strong> chácara três partes, por ele vendi<strong>da</strong>s<br />

em 1856 a Rego & Barros, pela quantia <strong>de</strong> 140:000$. Em terras <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Pedreira abriu-se a rua<br />

Pedro Américo, 14 e existiu um poço <strong>de</strong> muita boa água e ti<strong>da</strong> como medicinal. O poço ficava na encosta<br />

<strong>do</strong> morro e foi entregue à servidão pública, em 1810, por <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Levantou-se<br />

uma fonte em cantaria, com torneiras <strong>de</strong> bronze. Facilitan<strong>do</strong> o acesso ao local, foi aberto um beco sem<br />

saí<strong>da</strong>. Em 1838, embora com fartura ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> boa água, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s estavam pela administração<br />

pública o beco e a fonte, esta arruina<strong>da</strong> e o mato cobrin<strong>do</strong> o beco. Escon<strong>de</strong>rijo <strong>de</strong> malfeitores, só<br />

<strong>de</strong>stemi<strong>do</strong>s ali penetravam. Francisco <strong>de</strong> Paula Brito Rosa e Alexandrino <strong>de</strong> Barros Monteiro, mora<strong>do</strong>res<br />

e proprietários nas vizinhanças, vinham disputan<strong>do</strong> a posse <strong>da</strong> fala<strong>da</strong> nascente, até que a Ilustríssima<br />

Câmara, em 1841, intervin<strong>do</strong>, <strong>de</strong>liberou a 5 <strong>de</strong> maio <strong>do</strong> dito ano investir-se na posse <strong>do</strong> poço, porque ex<br />

– vi legis, as nascentes são bens próprios <strong>do</strong>s municípios. Afinal, beco e poço <strong>de</strong>sapareceram em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> prolongamento <strong>da</strong> rua Pedro Américo, morro acima.<br />

A partilha <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong> casal <strong>do</strong> velho Salva<strong>do</strong>r Quintanilha ultimou-se a 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1828.<br />

Dois anos <strong>de</strong>pois, gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> herança estava sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sbarata<strong>da</strong> em hipotecas e outros negócios<br />

ruinosos. O mais exigente e o maior cre<strong>do</strong>r hipotecário foi Joaquim Coelho Messe<strong>de</strong>r que recusou a<br />

concor<strong>da</strong>ta, levan<strong>do</strong> a efeito a penhora executiva contra Ubaldina Alves Quintanilha Pereira <strong>do</strong> Lago e<br />

seu mari<strong>do</strong> Lucídio Cândi<strong>do</strong> José Pereira <strong>do</strong> Lago. Os outros her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Quintanilha também tu<strong>do</strong><br />

per<strong>de</strong>ram. É certo que muitas <strong>da</strong>s antigas famílias burguesas que, nos fins <strong>do</strong> século XVIII – o século<br />

<strong>do</strong>s vice-reis –, já constituíam a aristocracia <strong>do</strong> dinheiro na capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, foram<br />

<strong>de</strong>saparecen<strong>do</strong> como que <strong>de</strong>vora<strong>da</strong>s pelo luxo em que viviam, gastan<strong>do</strong>, por orgulho e fausto, rios <strong>de</strong><br />

dinheiro em suntuosas festas e outras exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong>s supérfluas. A distinta família Salva<strong>do</strong>r Quintanilha<br />

foi vítima <strong>de</strong>ste mal.


Chácara <strong>do</strong> Cônsul<br />

No fim <strong>do</strong> século XVIII, ao <strong>de</strong>frontar o outeiro <strong>da</strong> Glória, à mão direita, subin<strong>do</strong> a estra<strong>da</strong> para o<br />

Catete, uma gran<strong>de</strong> chácara que aí existia e pertencente a Inácio Miguel Pinto Campelo, ain<strong>da</strong> chamava<br />

a atenção <strong>do</strong> transeunte pela sua luxuriante arborização, rico pomar e confortável casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>. Em<br />

1811, foi compra<strong>da</strong> pelo conselheiro Manoel Velho <strong>da</strong> Silva, para na mesma residir, como residiu até a<br />

morte. Velho <strong>da</strong> Silva, em 1812, fez obras na sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, mo<strong>de</strong>rnizan<strong>do</strong> a casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e pon<strong>do</strong><br />

um trato mais aperfeiçoa<strong>do</strong> na chácara. Em morren<strong>do</strong> o conselheiro, a sua viúva – Maria Rita <strong>da</strong> Rocha<br />

Pinto Velho <strong>da</strong> Silva – ven<strong>de</strong>u a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> por 10:000$ ao inglês Guilherme Young, em 7 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1819. O novo proprietário, adquiriu, por compra, aos Quintanilhas, mais terreno nos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

chácara e assim pô<strong>de</strong> estendê-la até o alto <strong>da</strong> montanha, alcançan<strong>do</strong> a enorme pedreira <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária,<br />

assim <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> por ter si<strong>do</strong> extraí<strong>da</strong> <strong>de</strong>la a pedra necessária à construção <strong>da</strong> nova igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong><br />

Can<strong>de</strong>lária, cuja pedra fun<strong>da</strong>mental foi coloca<strong>da</strong> em 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1775, duran<strong>do</strong> as obras até 1811.<br />

Neste dito ano, a 8 <strong>de</strong> setembro, foi benzi<strong>do</strong> o templo e no dia seguinte, 9 <strong>de</strong> setembro, realiza<strong>do</strong> solene<br />

pontifical, com a assistência <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI e <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a Família Real.<br />

Guilherme Young, que era <strong>do</strong> alto comércio <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> exerceu o cargo <strong>de</strong> cônsul –<br />

geral <strong>da</strong> Inglaterra, ao tempo <strong>do</strong> rei <strong>do</strong>m João VI, passou a residir na chácara que comprara e que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

essa época ficou chama<strong>da</strong> – chácara <strong>do</strong> Cônsul. Em 1838, ele a ven<strong>de</strong>u a José Antônio Alves <strong>de</strong><br />

Carvalho, por 48:000$. Carvalho pediu e obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> chácara, em 30 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 1847, com larga discussão havi<strong>da</strong> na Ilustríssima Câmara sobre se conce<strong>de</strong>r ou não esse aforamento.<br />

A chácara <strong>do</strong> Cônsul, ain<strong>da</strong> em 1850, figura <strong>do</strong> Rol <strong>da</strong>s Décimas, com o nº138 pela rua <strong>do</strong> Catete.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catete – 1784/1838<br />

Terreno <strong>de</strong> 12,5 braças <strong>de</strong> frente pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catete, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>de</strong> maior porção afora<strong>da</strong> a<br />

João <strong>da</strong> Cunha Barbosa, que era gran<strong>de</strong> proprietário no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, na zona urbana, residin<strong>do</strong> em<br />

casa própria à rua <strong>da</strong>s Violas – hoje, Teófilo Otoni. Já em 1784, Cunha Barbosa aparece foreiro <strong>da</strong><br />

Câmara pela posse <strong>de</strong> vastos terrenos no sítio <strong>do</strong> Catete, adquiri<strong>do</strong>s ao capitão Domingos Luiz<br />

Cerqueira. O terreno em apreço veio a ser vendi<strong>do</strong> por Cunha Barbosa, em 1816, a Maria Joaquina Rosa,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 200$000. Para essa ven<strong>da</strong> prece<strong>de</strong>u licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, expedi<strong>da</strong> a 10 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1816. Joaquina Rosa, também proprietária <strong>de</strong> prédios urbanos e <strong>do</strong>na <strong>de</strong> fortuna, era solteirona<br />

e residia em boa casa <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, à rua <strong>do</strong> Carmo. Somente em 1827, foi o terreno registra<strong>do</strong> no<br />

Tombamento Municipal em nome <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> senhora e já ocupa<strong>do</strong> por uma boa casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, com<br />

chácara. O aforamento fez-se com multa <strong>de</strong> mora a 14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1827, fican<strong>do</strong> estipula<strong>do</strong> o foro<br />

anual <strong>de</strong> 2.500 réis. Ao mesmo terreno, foram acresci<strong>da</strong>s mais três braças para o aumento <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong><br />

Joaquina Rosa e que as comprou ao seu vizinho, José Dias <strong>da</strong> Silva Guimarães. A chácara <strong>de</strong> Joaquina<br />

Rosa era situa<strong>da</strong> à direita <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> [Catete], subin<strong>do</strong>, junto à ponte, com o nº 108. A rica proprietária<br />

faleceu em 1837 e o inventário <strong>do</strong>s seus bens foi processa<strong>do</strong> no cartório <strong>de</strong> Francisco Luiz <strong>da</strong> Silva e<br />

ultima<strong>do</strong> a 21 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1838. O principal her<strong>de</strong>iro foi Alexandre Ferreira Prata, genro <strong>da</strong> inventaria<strong>da</strong><br />

e a ele coube a chácara <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong>, vendi<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois a Francisco Julio Xavier.<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1796/1846<br />

C A P Í T U L O V I I I | 1 0 7<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Catete, por 12 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara<br />

<strong>de</strong> Antônio José <strong>da</strong> Silva – antiga chácara <strong>do</strong> Lisboa, <strong>da</strong> qual já tratamos. Em 1796, esse terreno foi<br />

compra<strong>do</strong> por José Dias <strong>de</strong> Oliveira e sua mulher Ana Teo<strong>do</strong>ra Mascarenhas. Esse casal construiu no<br />

terreno pequenas casas <strong>de</strong> aluguel, em forma <strong>de</strong> vila. Já em 1825, era <strong>do</strong>na <strong>de</strong>ssas casas, em número <strong>de</strong><br />

8 – 4 <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> – uma filha <strong>da</strong>quele precita<strong>do</strong> casal, <strong>de</strong> nome Joaquina Rosa Mascarenhas, a quem<br />

foram compra<strong>da</strong>s por Nicolau Henrique Soares. Em 1846, Soares era senhor <strong>de</strong> regular fortuna e


s/a, déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1820 – Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catete.


C A P Í T U L O V I I I | 1 0 9<br />

levantou em substituição <strong>da</strong>s velhas casas um sóli<strong>do</strong> prédio que recebeu o nº 188. Faleceu Soares no<br />

mesmo ano <strong>de</strong> 1816, no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> viúvo <strong>de</strong> Luiza Maria <strong>da</strong> Silva Soares, e os seus filhos e cunha<strong>do</strong>s<br />

foram os her<strong>de</strong>iros <strong>da</strong> fortuna. O prédio 188 veio a ser vendi<strong>do</strong> a José Fortunato <strong>da</strong> Cunha.<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1808/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 15.5 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Catete, com fun<strong>do</strong>s na praia, on<strong>de</strong> terminava com a<br />

largura <strong>de</strong> apenas 1 braça. Por escritura <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1808, o capitão Manoel Pinheiro<br />

Guimarães ven<strong>de</strong>u esse terreno e as benfeitorias nele existentes ao tenente miliciano José Antônio <strong>de</strong><br />

Oliveira Guimarães e à sua mulher Rosaura Delfina <strong>de</strong> Vasconcelos Guimarães. A ven<strong>da</strong> foi feita por<br />

cinco mil cruza<strong>do</strong>s e os compra<strong>do</strong>res beneficiaram o terreno, construin<strong>do</strong> uma boa casa nobre e<br />

plantan<strong>do</strong> árvores raras. Formou-se, assim, na rua <strong>do</strong> Catete, mais uma bela e pitoresca viven<strong>da</strong>, entre a<br />

<strong>de</strong> Ana Maria <strong>do</strong> Sacramento e a <strong>do</strong> capitão Bento Luiz <strong>de</strong> Oliveira Braga. O tenente José Antônio e sua<br />

mulher firmaram um acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> composição amigável <strong>do</strong>s limites <strong>da</strong>s suas chácaras, por escrituras <strong>de</strong> 29<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1812, <strong>do</strong> tabelião Manoel Marques Perdigão. Somente em 1827, o casal Oliveira Guimarães<br />

procurou obter <strong>da</strong> Câmara Municipal o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> chácara, o que lhe foi concedi<strong>do</strong> por<br />

<strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1827, e, nessa época, outros eram os confinantes <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> miliciano<br />

José Antônio. É assim que, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, confinava com o notável José Clemente Pereira e, <strong>do</strong> outro, com<br />

Gonçalo Germano <strong>de</strong> Araújo Souza. Por morte <strong>do</strong> tenente José Antônio passou a chácara à sua viúva e<br />

falecen<strong>do</strong> ela, à filha <strong>do</strong> casal, Alexandrina Severa <strong>de</strong> Oliveira Viana, casa<strong>da</strong> com Francisco Eduar<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Oliveira Alves Viana. Em março <strong>de</strong> 1843, esse casal ven<strong>de</strong>u a chácara ao viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Miraguaia –<br />

Bernar<strong>do</strong> Pinto Gonçalves <strong>da</strong> Silva, <strong>do</strong>no também que foi <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Sacramento, * por compra aos<br />

filhos <strong>de</strong> Gonçalo Germano. José Clemente Pereira foi um <strong>do</strong>s mais ar<strong>de</strong>ntes propagandistas <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência, merece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> to<strong>da</strong> homenagem <strong>do</strong>s brasileiros.<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1816/1831<br />

Terreno <strong>de</strong> 26 braças, pela rua <strong>do</strong> Catete, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s até a rua que estava sen<strong>do</strong> aberta pela<br />

chácara <strong>do</strong> Quintanilha. Esse terreno, <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r Alves Corrêa<br />

Quintanilha – chácara <strong>da</strong> Pedreira – foi compra<strong>do</strong> em 1816 pelo sargento-mor João José Dias Moreira,<br />

que edificou uma boa casa resi<strong>de</strong>ncial com chácara e mais seis casas para alugar. Em maio <strong>de</strong> 1819, o<br />

referi<strong>do</strong> sargento-mor ven<strong>de</strong>u essas suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, por 14:000$, a Gregório Pinto Ramos.<br />

Posteriormente a 1829, aparecem as ditas como pertencen<strong>do</strong> a Bernar<strong>do</strong> Pinto Gonçalves <strong>da</strong> Silva,<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Miraguaia. Esse titular, que era milionário, tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno em apreço,<br />

a 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1831, por ter compra<strong>do</strong> as casas, no mesmo existentes, aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Gregório<br />

Francisco Ramos.<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1818/1844<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Catete, dividi<strong>do</strong> em três lotes, sen<strong>do</strong> iguais os <strong>de</strong> nºs.<br />

1 e 2. Era posseiro <strong>do</strong> terreno o construtor e empreiteiro <strong>de</strong> obras públicas Alexandre José Pereira <strong>da</strong><br />

Fonseca. No lote 1, construiu-se um confortável e sóli<strong>do</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com pátio olhan<strong>do</strong> para o<br />

largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>,- prédio esse que Pereira <strong>da</strong> Fonseca ven<strong>de</strong>u a Antônio Neves, a quem a Ilustríssima<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> prédio compra<strong>do</strong>, por carta <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1844.<br />

Alexandre José Pereira <strong>da</strong> Fonseca era hábil artista – mestre pedreiro e proprietário <strong>de</strong> uma fábrica <strong>de</strong><br />

ladrilhos e <strong>de</strong> tijolos <strong>de</strong> mármore para pavimentação <strong>de</strong> edifícios. Nas suas oficinas, no Catete, foram<br />

* Vi<strong>de</strong> notícia sobre essa chácara no capítulo VII. (N.A.)


1 1 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

fabrica<strong>do</strong>s os tijolos <strong>de</strong> mármore azul e branco com os quais se pavimentou o an<strong>da</strong>r térreo <strong>do</strong> edifício<br />

<strong>do</strong> primeiro paço municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O mestre pedreiro Alexandre<br />

se fez rico pela sua gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> artística. Possuía bons prédios nas Laranjeiras e Catete, e residia<br />

em casa nobre <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, por ele mesmo projeta<strong>da</strong> e construí<strong>da</strong>, à rua <strong>do</strong> Catete, canto <strong>do</strong> largo<br />

<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, na face em direção à Laranjeiras.<br />

“Em vereança <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1816, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, fez-se ouvir o verea<strong>do</strong>r mais velho, Francisco <strong>de</strong> Souza <strong>de</strong> Oliveira, influência política,<br />

homem operoso, muito acata<strong>do</strong> pelos seus pares e bastante conceitua<strong>do</strong> no meio comercial. Nas poucas<br />

palavras proferi<strong>da</strong>s, levantan<strong>do</strong> a idéia <strong>da</strong> edificação <strong>de</strong> uma casa apropria<strong>da</strong> à se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, o verea<strong>do</strong>r Souza <strong>de</strong> Oliveira logo convenceu a assembléia, a qual, unanimemente, aprovou a<br />

proposta apresenta<strong>da</strong>, por consi<strong>de</strong>rá-la patriótica. Fez-se <strong>da</strong> mesma um registro especial e man<strong>do</strong>u-se<br />

arquivar o original com a maior segurança possível. Porém, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>,<br />

houve o <strong>de</strong>scaminho <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, nunca mais encontra<strong>do</strong>. Na mesma vereança <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1816,<br />

o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>liberou, ain<strong>da</strong>, sobre consi<strong>de</strong>rar-se matéria relevante a escolha <strong>do</strong> local para o<br />

paço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, obran<strong>do</strong>-se com urgência neste particular e também sobre um plano para a edificação,<br />

com relatório minucioso e que, finalmente fosse a estu<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so <strong>do</strong>s componentes <strong>da</strong> administração,<br />

para então ser leva<strong>do</strong> à presença <strong>do</strong> rei – a quem se suplicaria a graça <strong>da</strong> aprovação.” *<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1818/1854<br />

Terreno <strong>de</strong> 13 braças <strong>de</strong> frente por 76 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, entre a chácara <strong>do</strong> padre Pedro Nolasco Marinho<br />

e a <strong>do</strong> capitão Manoel Pinheiro Guimarães. Até 1818, esse terreno pertenceu ao sargento-mor Manoel<br />

Moreira Lírio e no dito ano Lírio ven<strong>de</strong>u o imóvel em apreço a Francisco Antônio Michelis, com a<br />

<strong>de</strong>vi<strong>da</strong> licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em 26 <strong>de</strong> setembro, pela quantia <strong>de</strong> 2:820$. Sóli<strong>da</strong> casa<br />

assobra<strong>da</strong><strong>da</strong> com bela aparência, foi construí<strong>da</strong> no terreno por Michelis e a quem foi compra<strong>da</strong> pelo<br />

coronel Domingos José Teixeira, em 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1822. No Arrolamento <strong>da</strong>s Décimas, para o ano <strong>de</strong><br />

1847, figura a casa com o nº 191, em bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação e vendi<strong>da</strong> pelos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Domingos<br />

José Teixeira, por 28:000$, a Manoel Pinto <strong>da</strong> Fonseca. Em casa <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, contígua a <strong>de</strong><br />

Michelis, morava José Clemente Pereira por ocasião <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, a 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1822. José Clemente, um <strong>do</strong>s mais ar<strong>do</strong>rosos propagandistas <strong>da</strong> nossa In<strong>de</strong>pendência política, nasceu em<br />

Portugal e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1854, com relevantes serviços presta<strong>do</strong>s ao<br />

Brasil. Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, ministro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>, gran<strong>de</strong><br />

prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia Fluminense, José Clemente Pereira nestas, como em muitas<br />

outras funções que <strong>de</strong>sempenhou, <strong>de</strong>ixou provas <strong>da</strong> sua vasta cultura, brilhante inteligência, vonta<strong>de</strong> e<br />

firmeza <strong>de</strong> opiniões.<br />

Rua <strong>do</strong> Catete – 1823/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> pela rua <strong>do</strong> Catete, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pelo largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, em<br />

direção à rua <strong>da</strong>s Laranjeiras e numa reta <strong>de</strong> 16 braças. A princípio ocupa<strong>do</strong> por quatro casas térreas, <strong>de</strong><br />

nºs 50 a 56, arremata<strong>da</strong>s pelo ricaço mestre-pedreiro, Alexandre José Pereira <strong>da</strong> Fonseca, ** na praça <strong>do</strong>s<br />

bens penhora<strong>do</strong>s à rainha Carlota Joaquina, esposa <strong>do</strong> rei <strong>do</strong>m João VI, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s acontecimentos<br />

políticos que <strong>de</strong>terminaram a volta <strong>do</strong>s soberanos a Portugal, a 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1821. Pereira <strong>da</strong> Fonseca<br />

transformou as ditas casas em uma só, térrea e apalaceta<strong>da</strong>, com cocheiras e <strong>de</strong>pendência para<br />

cria<strong>da</strong>gem, e que ven<strong>de</strong>u, em 1841, por 12:000$, ao dr. José Ewbanck, o qual na mesma fixou residência.<br />

O dr. Ewbanck pediu e obteve o aforamento <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> sua casa, em 1º <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1843. Era situa<strong>da</strong><br />

no canto <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, à direita <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Catete, por on<strong>de</strong> tinha o nº 156, ain<strong>da</strong> em 1843.<br />

* “Paço Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>” – <strong>de</strong> Aureliano Restier Gonçalves, Revista <strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, vol.<br />

4, pgs. 27 a 69,1953. (N.A.)<br />

** No verbete “rua <strong>do</strong> Catete, 1818/1844”, Restier Gonçalves trata mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sse mesmo pedreiro Alexandre José Pereira <strong>da</strong> Fonseca.<br />

(N.C.)


Rua <strong>do</strong> Catete – 1845/1864<br />

C A P Í T U L O V I I I | 1 1 1<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Catete, canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Infante – hoje, Dois <strong>de</strong><br />

Dezembro,— por on<strong>de</strong> corria fun<strong>do</strong>s numa extensão <strong>de</strong> 80 braças. Esse terreno aparece afora<strong>do</strong> a<br />

Manoel Francisco Lírio, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1845, e já ocupa<strong>do</strong> por quatro prédios com os nºs 189 a<br />

195, <strong>de</strong>pois mu<strong>da</strong><strong>do</strong>s para 199 a 205, e como pertencentes ao dito foreiro, que os her<strong>da</strong>ra <strong>do</strong> seu pai –<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel Moreira Lírio. O prédio 199, antigo 189, ficava no segun<strong>do</strong> canto, à esquer<strong>da</strong>, no<br />

cruzamento <strong>da</strong>s duas precita<strong>da</strong>s ruas. Em 1855, esses quatro prédios pertenciam ao negociante francês<br />

Jean Mentigni, por compra que fizera a outro francês <strong>de</strong> nome Ga<strong>de</strong>l Redignain. Mentigni faliu, em<br />

1864, e to<strong>da</strong>s as suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram entregues ao Banco Hipotecário, para a liqui<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> fali<strong>do</strong> com o cita<strong>do</strong> estabelecimento. Os prédios <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Catete, o banco ven<strong>de</strong>u a Francisco José<br />

Martins <strong>de</strong> Oliveira. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel Moreira Lírio, cita<strong>do</strong> no começo <strong>de</strong>stas notas, é pessoa que<br />

merece ser recor<strong>da</strong><strong>da</strong>, por ter si<strong>do</strong> figura <strong>de</strong> escol no passa<strong>do</strong> carioca. Serve <strong>de</strong> exemplo à atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> tão<br />

vazia <strong>de</strong> valores morais, que <strong>de</strong>saparecem, dia a dia, pelo abastar<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> caráter, pela ignorância e<br />

pela corrupção. Coronel <strong>de</strong> Milícias, comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e rico, Manoel<br />

Moreira Lírio, caráter nobre, convicções firmes, enérgico nas ações, foi por isto mesmo o homem capaz,<br />

na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia 1825/1826 <strong>de</strong> colocar-se, <strong>de</strong>sasombra<strong>da</strong>mente,<br />

à frente <strong>do</strong> movimento, parti<strong>do</strong> <strong>da</strong>quela dita instituição, com o fim <strong>de</strong> ser obti<strong>do</strong> o perdão, não<br />

consegui<strong>do</strong>, <strong>de</strong> João Ratcliff, Joaquim <strong>da</strong> Silva Loureiro e João Metrovich, implica<strong>do</strong>s na chama<strong>da</strong><br />

Confe<strong>de</strong>ração <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r, e que após o fracasso <strong>da</strong> revolução, em 1824, foram con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s e trazi<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> Pernambuco para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> a 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1825, numa quinta-feira, pela manhã,<br />

sofreram a pena <strong>do</strong> patíbulo, no largo <strong>da</strong> Prainha – atual praça Mauá – porque pensassem num Brasil<br />

mais livre e realmente <strong>de</strong>mocrata.<br />

Largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – 1829/1857<br />

Terreno <strong>de</strong> 18 braças <strong>de</strong> frente pelo largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, fazen<strong>do</strong> outra<br />

frente menor pela rua <strong>do</strong> Catete. Pertenceu a Alexandre José Pereira <strong>da</strong> Fonseca, por compra, em 1829,<br />

a José Antônio <strong>de</strong> Freitas Amaral. Nesse terreno, <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara que pertencera à rainha<br />

Carlota Joaquina, Alexandre José construiu cinco prédios pelo largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, por on<strong>de</strong> receberam<br />

os nºs 3, 5, 7, 9 e 11, que foram vendi<strong>do</strong>s pelo dito proprietário. Também vendi<strong>do</strong>s foram, por Alexandre<br />

José, os <strong>do</strong>is prédios que construíra juntamente com os primeiros precita<strong>do</strong>s e com frentes à rua <strong>do</strong><br />

Catete, nºs 156 e 158. O compra<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s prédios nºs 3 e 156 foi o dr. José Ewbanck, em 1843; o prédio<br />

5, e o 158, foram compra<strong>do</strong>s por Domingos <strong>de</strong> Sá Pereira, em 1845; o <strong>de</strong> nº 7 foi à praça, em 1846, e<br />

arremata<strong>do</strong> por Felipe <strong>de</strong> Barros Corrêa. Os <strong>de</strong> nºs 9 e 11, em morren<strong>do</strong> Pereira <strong>da</strong> Fonseca, ficaram<br />

pertencen<strong>do</strong> à sua viúva Carolina Rosa <strong>de</strong> Jesus. Por morte <strong>do</strong> dr. Ewbanck, o prédio 156, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong><br />

Catete, foi vendi<strong>do</strong> pela viúva, a qual não se <strong>de</strong>sfez <strong>do</strong> <strong>de</strong> nº 3 <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> e nele fixou<br />

residência. Domingos <strong>de</strong> Sá Pereira, em 1857, ven<strong>de</strong>u o prédio nº 5 <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, por 26:000$,<br />

ao dr. Inácio Francisco Silveira <strong>da</strong> Mota, e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1855, <strong>de</strong>sfizera-se <strong>do</strong> <strong>de</strong> nº 158, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Catete,<br />

trocan<strong>do</strong>-o por uma chácara à rua Carvalho <strong>de</strong> Sá, 14, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitorino <strong>de</strong> Sá Passos. Quanto ao<br />

prédio 7, <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, pequeno, térreo e com sótão, verificamos que ain<strong>da</strong> existia, bem<br />

conserva<strong>do</strong>, a 1º <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1846, dia <strong>de</strong> To<strong>do</strong>s os Santos, <strong>do</strong>mingo, quan<strong>do</strong> às 11.5 <strong>da</strong> manhã, sob<br />

um sol abrasa<strong>do</strong>r, estava sen<strong>do</strong> vendi<strong>do</strong> em leilão público e foi compra<strong>do</strong> por Felipe <strong>de</strong> Barros Corrêa,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 9:750$.<br />

Como já dissemos, Alexandre José Pereira <strong>da</strong> Fonseca era um fino artista em trabalhos <strong>de</strong> cantaria<br />

e fez-se gran<strong>de</strong> industrial na sua arte, enriquecen<strong>do</strong> bastante. Ladino e muito reserva<strong>do</strong> no arranjo <strong>do</strong>s<br />

seus negócios e hábil no trato com os homens, Pereira <strong>da</strong> Fonseca ganhou fortuna e conseguia prestígio.


1 1 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – 1856/1872<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Maria Inês <strong>da</strong> Cunha Marques <strong>de</strong> Sá<br />

e pela dita senhora vendi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Joaquim Inácio <strong>da</strong> Costa Miran<strong>da</strong>, que tirou carta <strong>de</strong><br />

aforamento <strong>do</strong> terreno, a 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1850, e construiu no mesmo casa nobre, <strong>de</strong> beira<strong>da</strong>s<br />

portuguesas, pátios laterais, boa chácara e aí fixou residência. Teve o nº 8 <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, em<br />

1872, e já nesse ano era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> general João <strong>de</strong> Souza <strong>da</strong> Fonseca Costa, por compra aos<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Costa Miran<strong>da</strong>. Quan<strong>do</strong> o precita<strong>do</strong> militar, a 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1872, obteve o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno, a chácara nele planta<strong>da</strong> tinha, à direita, o edifício <strong>da</strong> Escola <strong>da</strong> Glória, e, à esquer<strong>da</strong>, as casas <strong>de</strong><br />

Joana <strong>do</strong>s Prazeres Tavares e Eugenio Remoud.<br />

Largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> – 1871<br />

Terreno <strong>de</strong> 18 braças <strong>de</strong> frente por 24 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, pertencente ao dr. José Marques <strong>de</strong> Sá e<br />

irmãos e aos quais foi compra<strong>do</strong>, em janeiro <strong>de</strong> 1871, pelo Governo Imperial para a edificação <strong>de</strong> um<br />

prédio apropria<strong>do</strong> a uma escola <strong>de</strong> ensino primário. Esse prédio construiu-se espaçoso, <strong>de</strong> cantaria e boa<br />

feição arquitetural e nele instalou-se a Escola <strong>da</strong> Glória. O terreno sen<strong>do</strong> foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a ven<strong>da</strong> fez-se com a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, pelo alvará <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />

1871. Foi avalia<strong>do</strong> à razão <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis a braça, pagan<strong>do</strong> o governo sob essa base e obrigan<strong>do</strong>se<br />

ao foro anual <strong>de</strong> mil e seiscentos réis. Posteriormente, para aumentar o prédio e fazer um parque, a<br />

Fazen<strong>da</strong> Nacional comprou mais quatro braças <strong>de</strong> terreno a Eugenia Ca<strong>de</strong>ac, por nove contos <strong>de</strong> réis.<br />

Em terminan<strong>do</strong> este capítulo VIII, como complemento às notas sobre o largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>,<br />

diremos que nesse logra<strong>do</strong>uro, no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, começo <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras e olhan<strong>do</strong> o nascente,<br />

havia, <strong>de</strong> remotos tempos, uma capela <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao culto <strong>de</strong> Maria Santíssima e fizera parte <strong>da</strong> quinta<br />

<strong>do</strong> padre Cosme Ramos <strong>de</strong> Morais, cura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O retalhamento <strong>da</strong> quinta, em conseqüência <strong>da</strong><br />

abertura <strong>de</strong> vias públicas <strong>de</strong> comunicações e <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> casaria pela extensa planície, isolou a<br />

capela e o chão ao re<strong>do</strong>r, que necessário fosse à sua servidão. Em 1720, a Câmara consi<strong>de</strong>rou <strong>de</strong>voluto<br />

esse chão e assim permaneceu cento e <strong>do</strong>is anos, sen<strong>do</strong> afinal incluí<strong>do</strong> no aforamento concedi<strong>do</strong> a<br />

Antônio José <strong>de</strong> Castro, em 1822, juntamente com a capela, que foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma benfeitoria para<br />

proveito <strong>do</strong> dito foreiro José <strong>de</strong> Castro e pelo mesmo anexa<strong>da</strong> à chácara nº 31 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras.<br />

Até 1808, a capela, motivo <strong>de</strong> len<strong>da</strong>s e superstições, esteve ao aban<strong>do</strong>no. No dito ano, foi restaura<strong>da</strong> por<br />

or<strong>de</strong>m e às expensas <strong>da</strong> princesa Carlota Joaquina, esposa <strong>do</strong> príncipe regente <strong>do</strong>m João, <strong>de</strong>pois rei sexto<br />

<strong>de</strong>ste nome. Fazia <strong>do</strong>na Carlota Joaquina o seu retiro espiritual nessa capela, na qual era celebra<strong>da</strong> missa<br />

às primeiras horas <strong>da</strong> manhã, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mingos, assisti<strong>da</strong> apenas pela precita<strong>da</strong> princesa, que foi<br />

rainha <strong>de</strong> Portugal e <strong>do</strong> Brasil, e por pessoas <strong>de</strong> muita sua intimi<strong>da</strong><strong>de</strong> e tu<strong>do</strong> sem cerimonial. Com o<br />

regresso à Europa <strong>da</strong> família real, em 1821, esqueci<strong>da</strong> ficou a capela <strong>da</strong> rainha. Em 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1835,<br />

a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u licença para ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> capela à Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento <strong>da</strong><br />

Freguesia <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Glória, para a sua se<strong>de</strong>. * O atual templo, que é a igreja matriz <strong>da</strong> dita freguesia,<br />

começou a ser construí<strong>do</strong> em 1842, no la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, ten<strong>do</strong> frente volta<strong>da</strong> para o<br />

largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. Está assente em terreno cedi<strong>do</strong> pela municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Francisco<br />

Marques Lisboa, <strong>do</strong>no e mora<strong>do</strong>r em uma chácara próxima ao local <strong>da</strong> futura igreja e com frente também<br />

para o dito largo, protestou contra a cessão <strong>do</strong> terreno, alegan<strong>do</strong> a privação que se ia fazer ao público <strong>da</strong><br />

sua comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> locomover-se facilmente. Esse protesto causou péssima impressão e, em juízo, os<br />

embargos opostos por Lisboa foram <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong>s. Afinal, uma conciliação entre as partes litigantes <strong>de</strong>u<br />

origem a uma convenção aprova<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>creto imperial <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1840. Mas, com espanto geral<br />

e comentários <strong>de</strong> to<strong>da</strong> espécie, Eufrásia Joaquina <strong>de</strong> Lima Lisboa, esposa <strong>de</strong> Francisco Marques Lisboa,<br />

aparece nos tribunais pleitean<strong>do</strong> a nuli<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> convênio, porque ele envolvia bens <strong>de</strong> raízes e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

<strong>da</strong> sua outorga, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mulher não divorcia<strong>da</strong> e nem <strong>de</strong>squita<strong>da</strong> <strong>do</strong> dito marques Lisboa. Foi<br />

sabi<strong>do</strong> que sérias questões íntimas <strong>do</strong> casal <strong>de</strong>terminaram a atitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> senhora, que conseguiu<br />

ganho <strong>de</strong> causa. Em 1842, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à interferência <strong>de</strong> pessoas amigas <strong>do</strong> casal, houve um acor<strong>do</strong> que<br />

permitiu fosse a igreja levanta<strong>da</strong> no local cedi<strong>do</strong> pela municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

* É importante <strong>de</strong>stacar que a irman<strong>da</strong><strong>de</strong> não construiu a igreja matriz hoje existente no terreno <strong>de</strong>ssa capela, como po<strong>de</strong> parecer pela re<strong>da</strong>ção que lhe foi<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>; ao contrário, a irman<strong>da</strong><strong>de</strong> ven<strong>de</strong>u-a a José Batista Martins <strong>de</strong> Souza Castelões. (ver verbete “rua <strong>da</strong>s Laranjeiras, 1822/1870”). (N.C.)


s/a, s/d – Passadiço entre as praias <strong>do</strong> Flamengo e <strong>do</strong> Russel, em imagem esteroscópica.<br />

C A P Í T U L O V I I I | 1 1 3


C A P Í T U L O I X<br />

Glória e La p a


C A P Í T U L O I X | 1 1 5<br />

A Glória e a Lapa – <strong>do</strong>is importantes bairros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A<br />

Glória, resi<strong>de</strong>ncial, nobre e austera, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua primeira i<strong>da</strong><strong>de</strong>, fim <strong>do</strong> século XVII. O atual século,<br />

inova<strong>do</strong>r <strong>de</strong> costumes, <strong>do</strong>utrinas e leis extravagantes, mu<strong>do</strong>u-lhe por completo a feição. A Lapa, nasci<strong>da</strong><br />

muito <strong>de</strong>pois, sempre popular. Tem vi<strong>da</strong> noturna anima<strong>da</strong>, com entra<strong>da</strong> chique, que é a Cinelândia.<br />

No começo <strong>do</strong> século XVII, acentuou-se o interesse pela lavoura, aproveita<strong>da</strong>s que foram as<br />

terras <strong>da</strong>s primitivas sesmarias que se mostrassem aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s e incultas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim serem<br />

toma<strong>da</strong>s, como foram, e dividi<strong>da</strong>s. Entre essas terras estavam as <strong>da</strong> sesmaria <strong>de</strong> João Lopes, que<br />

compreendia terras em morro com mata bravia e nascentes abun<strong>da</strong>ntes ao longo <strong>da</strong> costa, para o la<strong>do</strong><br />

sul, na Carioca. O sesmeiro, que a princípio as aproveitara, foi aos poucos <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-as ao aban<strong>do</strong>no,<br />

facilitan<strong>do</strong> a intrusão com vantagens. Assim, aconteceu com muitas outras sesmarias. A sesmaria <strong>de</strong> João<br />

Lopes, em 1603, foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> nula e dividi<strong>da</strong> em três porções, as quais foram postas em almoe<strong>da</strong> –<br />

ven<strong>da</strong> em leilão. Interessam-nos apenas duas: a que constituiu a chácara <strong>da</strong> Glória e a que formou a<br />

chácara <strong>da</strong>s Mangueiras. Em sua origem, a chácara <strong>da</strong> Glória era extensa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola com<br />

frente à beira-mar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Catete, on<strong>de</strong> fica a rua <strong>do</strong>mCarlos I, antiga Santo Amaro, até a Lapa, na rua<br />

Joaquim Silva. Em 1750, já estava <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>, e o que sobrou ficou com o antigo <strong>do</strong>no, Joaquim<br />

Martins <strong>de</strong> Brito. Das <strong>de</strong>smembrações, uma era em quadra e corria frente pela então estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catete,<br />

numa extensão que correspon<strong>de</strong>, hoje, ao trecho <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Catete, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>de</strong> <strong>do</strong>mCarlos I e até o local<br />

<strong>do</strong> Palácio arquiepiscopal. Esse <strong>de</strong>smembramento foi adquiri<strong>da</strong> por Amaro Velho <strong>da</strong> Silva e, já em 1659,<br />

era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> livre <strong>de</strong> foro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Um outoa <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Glória,<br />

francamente foreira, veio a pertencer ao capitão Antônio <strong>de</strong> Araújo Pereira, que pagava quatro mil réis<br />

<strong>de</strong> foro, anualmente. A porção <strong>de</strong> Araújo Pereira tinha fun<strong>do</strong>s nos antigos canos <strong>da</strong> Carioca e frente no<br />

caminho <strong>da</strong> Glória, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> nos nossos dias à linha <strong>da</strong>s edificações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua Cândi<strong>do</strong> Men<strong>de</strong>s<br />

até a <strong>da</strong> Lapa, no cruzamento com a Joaquim Silva. Em falecen<strong>do</strong> Joaquim Martins <strong>de</strong> Brito, os seus<br />

her<strong>de</strong>iros, em 1792, levaram à praça a parte que restava <strong>da</strong> antiga chácara <strong>da</strong> Glória, parte essa<br />

reconheci<strong>da</strong> foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e cuja frente correspon<strong>de</strong> agora à extensão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua Benjamin<br />

Constant até a Cândi<strong>do</strong> Men<strong>de</strong>s, compreendi<strong>da</strong>s essas duas ruas. O arrematante <strong>de</strong>ssa parte <strong>da</strong> chácara<br />

<strong>da</strong> Glória foi o coronel José Bento <strong>da</strong> Silva, sucedi<strong>do</strong> por sua filha Luisa Clemente <strong>da</strong> Silva Couto.<br />

Quanto à parte <strong>do</strong> capitão Araújo Pereira, passou ao seu filho Francisco <strong>de</strong> Araújo Pereira e ao seu<br />

sobrinho briga<strong>de</strong>iro Manoel Alves <strong>da</strong> Fonseca Costa. O que coube a Francisco <strong>de</strong> Araújo Pereira,<br />

incluí<strong>do</strong> o palacete <strong>da</strong> sua residência no cais <strong>da</strong> Glória nº 56, os seus her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram, em 1845, ao<br />

dr. Cassiano Esperidião <strong>de</strong> Melo Matos.<br />

Também extensa era a chácara <strong>da</strong>s Mangueiras, porém menor que a <strong>da</strong> Glória e <strong>de</strong> irregular<br />

contorno. Tinha a frente olhan<strong>do</strong> o mar e os fun<strong>do</strong>s alcançan<strong>do</strong> o alto <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Desterro – agora<br />

Santa Teresa, por on<strong>de</strong> passa a rua <strong>do</strong> Curvelo. A um trecho <strong>da</strong> testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente, ao tempo com forte<br />

<strong>de</strong>clivi<strong>da</strong><strong>de</strong> para o batente <strong>do</strong> mar, correspon<strong>de</strong> to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Lapa <strong>de</strong> agora, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu<br />

começo no largo <strong>do</strong> mesmo nome até a rua Joaquim Silva. Nesse dito trecho, a costa era <strong>de</strong> praia arenosa,<br />

coberta <strong>de</strong> conchas e mariscos e ia terminar em ponta rochosa, saliente bastante e on<strong>de</strong>, em 1751, foi<br />

levanta<strong>da</strong> a capela e o seminário <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Lapa, atualmente igreja e convento <strong>da</strong>s Carmelitas. A ponta<br />

<strong>da</strong> Lapa e a ponta <strong>do</strong> Cafôfo – <strong>de</strong>pois – Calabouço eram os extremos <strong>do</strong> saco ou boqueirão <strong>da</strong> Carioca,<br />

on<strong>de</strong> ficava a infecta lagoa <strong>do</strong> Boqueirão, aterra<strong>da</strong> no governo <strong>do</strong> vice-rei Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza,<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Figueiró (1779/1790). Para o aterro <strong>de</strong>ssa lagoa fez-se o <strong>de</strong>smonte <strong>do</strong> morro <strong>da</strong>s Mangueiras,<br />

que ficava entre o morro <strong>do</strong> Desterro – atual Santa Teresa, o <strong>de</strong> Santo Antônio e o campo <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Esse<br />

morro fazia parte <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong>s Mangueiras, banha<strong>do</strong> pela lagoa <strong>do</strong> Desterro, no local <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />

praça <strong>do</strong>s Arcos. A precita<strong>da</strong> chácara pertenceu, por muitos anos, ao capitão Antônio Rebelo Pereira,<br />

homem rico e pie<strong>do</strong>so. Para a edificação <strong>de</strong> um Seminário e respectiva capela, Rebelo <strong>do</strong>ou ao bispa<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> um terreno que <strong>de</strong>smembrou <strong>da</strong> sua chácara, na parte <strong>da</strong> praia bem junto à chama<strong>da</strong><br />

ponta <strong>da</strong> Lapa, chapa <strong>de</strong> pedra fura<strong>da</strong> que se estendia ao mar. Esse Seminário e também a capela, ficaram<br />

conheci<strong>do</strong>s por capela e seminário <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong> Desterro, e são hoje, aumenta<strong>do</strong>s e<br />

melhora<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s Carmelitas, os quais ali têm instala<strong>do</strong> o seu convento. Em 1750, por escritura <strong>de</strong><br />

16 <strong>de</strong> novembro, <strong>do</strong> notário Manoel <strong>da</strong> Silva Coutinho, o capitão Antônio Rebelo Pereira ven<strong>de</strong>u a sua<br />

chácara ao con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boba<strong>de</strong>la, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, então governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em terras<br />

<strong>da</strong> chácara <strong>da</strong>s Mangueiras foram abertas as ruas <strong>da</strong> Lapa, Santa Teresa – atual Joaquim Silva – e<br />

Mangueiras – agora viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maranguape. To<strong>do</strong> o chão <strong>da</strong> chácara era foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a


1 1 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

quatro mil réis por ano. Mas o governa<strong>do</strong>r Gomes Freire, queren<strong>do</strong> <strong>do</strong>ar parte <strong>da</strong> chácara às religiosas<br />

<strong>de</strong> Santa Teresa, conseguiu <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a troca <strong>do</strong> foro, que pagava pelo dito chão, por um<br />

outro equivalente e que se impôs a uma outra boa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gomes Freire, situa<strong>da</strong> à rua <strong>do</strong> Cano<br />

– hoje Sete <strong>de</strong> Setembro.<br />

Rua Santa Cristina – 1854<br />

Terreno <strong>de</strong> 13 braças <strong>de</strong> frente pela rua Santa Cristina e igual largura nos fun<strong>do</strong>s, à rua Santo<br />

Amaro. De um la<strong>do</strong>, confinava com o capitão Jorge Castrioto e <strong>do</strong> outro com Domingos Batista. Em<br />

1854, foi compra<strong>do</strong> por Jacques Bur<strong>da</strong>let e a ele afora<strong>do</strong>, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> novembro <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1854. Esse terreno constituía um <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara<br />

<strong>do</strong> conselheiro José Maria Velho <strong>da</strong> Silva, pela qual abriram-se as ruas Santa Cristina, Santo Amaro e<br />

Santa Isabel – esta, atualmente, chama<strong>da</strong> Benjamin Constant.<br />

Praia <strong>da</strong> Glória – 1857/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> marinha <strong>de</strong> 33 braças <strong>de</strong> frente, por 5 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, afora<strong>do</strong> a Ana Joaquina Cajueiro,<br />

a 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1859. Esse terreno era parte <strong>da</strong>s marinhas concedi<strong>da</strong>s pela Ilustríssima Câmara em<br />

aforamento perpétuo ao dr. Inácio <strong>de</strong> Barros Vieira Cajueiro, diretor gerente <strong>da</strong> Companhia Construtora<br />

<strong>de</strong> Merca<strong>do</strong>s e Cais, concessionária <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um cais e <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> na praia <strong>da</strong> Glória. A<br />

petição <strong>do</strong> dr. Cajueiro relativa à concessão <strong>de</strong>ssas marinhas traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1857, e o<br />

<strong>de</strong>spacho <strong>da</strong> Câmara, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-as, só verificou-se a 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1858, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a estu<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>bates<br />

que se alongaram. Pouco <strong>de</strong>pois, faleceu o dr. Cajueiro e logo a sua viúva, Ana Joaquina Cajueiro,<br />

liqui<strong>do</strong>u negócios com a precita<strong>da</strong> Companhia e iniciou o processo <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>s marinhas. Com<br />

brevi<strong>da</strong><strong>de</strong> correu o julgamento, pois que, inicia<strong>do</strong> a 23 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1859, em 13 <strong>de</strong> junho <strong>do</strong> mesmo ano<br />

<strong>da</strong>va-se a sentença final, em favor <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> senhora.<br />

Já ao tempo <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> vice-rei marquês <strong>do</strong> Lavradio (1769/1779), o rossio <strong>da</strong> Glória, então<br />

beiran<strong>do</strong> o mar, era local <strong>de</strong> feira, por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> vice-rei, em 1771. Aves, hortaliças, gêneros<br />

alimentícios, louça <strong>do</strong> país e muitos outros artigos <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s eram postos à ven<strong>da</strong> na feira <strong>da</strong> Glória,<br />

que funcionava sob a severa vigilância <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Almotaçaria, 15) implacáveis com os chatins –<br />

merca<strong>do</strong>res que roubavam no peso e especulavam nos preços, elevan<strong>do</strong>-os gananciosamente. Os chatins,<br />

na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, tubarões, eram presos, multa<strong>do</strong>s, açoita<strong>do</strong>s e con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s ao <strong>de</strong>gre<strong>do</strong> perpétuo e mesmo<br />

ao patíbulo, quan<strong>do</strong> reinci<strong>de</strong>ntes. O marquês <strong>do</strong> Lavradio fez construir barracas <strong>de</strong> alojamento para os<br />

merca<strong>do</strong>res, abrigo para as tropas <strong>da</strong> merca<strong>do</strong>ria, trazi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s sertões <strong>da</strong> capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Man<strong>do</strong>u levantar uma ponte sobre o riacho Catete e uma rampa para a <strong>de</strong>sci<strong>da</strong> <strong>do</strong>s animais até o riacho,<br />

que era um braço d’água <strong>do</strong> rio Carioca, <strong>de</strong>saguan<strong>do</strong> a cinco metros <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> ponte, entre muralha. Por<br />

sua vez, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, colaboran<strong>do</strong> com o vice-rei, man<strong>do</strong>u fazer um outro cais na praia <strong>da</strong><br />

Glória, calçamento aperfeiçoa<strong>do</strong> e um chafariz abasteci<strong>do</strong> com a boa água <strong>de</strong> uma nascente havi<strong>da</strong> na<br />

rocha, à beira <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> que ia para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – atualmente, rua <strong>da</strong> Glória. O governo <strong>do</strong> marquês <strong>do</strong><br />

Lavradio não <strong>de</strong>ve ser esqueci<strong>do</strong>, como coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>de</strong> elementos para o progresso material e moral <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Reformou costumes, atrain<strong>do</strong> o povo a um convívio, pelas<br />

diversões que lhe proporcionou. “Constante na pie<strong>da</strong><strong>de</strong>, nem as leis o fizeram rigoroso, nem a espa<strong>da</strong><br />

sanguinolento, e sabiamente unia o po<strong>de</strong>r com a ternura e a justiça com a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>”, é o que nos diz<br />

<strong>de</strong> Lavradio o erudito monsenhor Pizarro e Araújo, nas suas Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O<br />

sucessor <strong>do</strong> marquês <strong>do</strong> Lavradio, Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza, fez cessar a feira – pelos malefícios que<br />

trazia à limpeza <strong>do</strong> lugar, ti<strong>do</strong> entre os lugares nobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s que se<br />

dispensavam ao bairro <strong>da</strong> Glória foram sen<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> mesmo à escassez <strong>de</strong> numerário nos<br />

cofres <strong>do</strong> município. Somente em 1844, encontramos a administração municipal a cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong><br />

Glória, aproveitan<strong>do</strong> o reforço havi<strong>do</strong> na <strong>do</strong>tação orçamentária para melhoramentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Das


s/a, 1901 – Praia <strong>do</strong> Russel. Ao fun<strong>do</strong> a igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Glória <strong>do</strong> Outeiro.<br />

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1 1 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Augusto Malta, s/d —Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maranguape, toma<strong>da</strong> <strong>do</strong> Gran<strong>de</strong> Hotel. A rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maranguape foi conheci<strong>da</strong> como rua <strong>da</strong>s<br />

Mangueiras, por ter si<strong>do</strong> aberta na outrora chácara <strong>da</strong>s Mangueiras, on<strong>de</strong> existia um morro, arrasa<strong>do</strong> no governo <strong>do</strong> vice-rei d. Luis <strong>de</strong><br />

Vasconcelos, para aterrar a lagoa <strong>do</strong> Boqueirão e construir o Passeio Público.


obras realiza<strong>da</strong>s, as <strong>de</strong> vulto e realmente úteis foram o aumento <strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Glória, como conseqüência<br />

<strong>do</strong> que se ganhou ao mar em uma extensa e larga faixa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e sóli<strong>do</strong> aterro; a construção <strong>de</strong> forte<br />

cais <strong>de</strong> pedra e cal, ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> essa faixa, que corria em curva natural, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o largo <strong>da</strong> Glória até<br />

a Lapa; o capeamento <strong>do</strong> riacho Catete e o <strong>de</strong> uma vala <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong><br />

rua <strong>do</strong> Catete e que corria pelos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s casas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>. O vaza<strong>do</strong>uro <strong>de</strong>ssas águas<br />

foi feito no mar. O riacho Catete, braço <strong>do</strong> rio Carioca, vin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Laranjeiras, seguia até a rua Princesa<br />

<strong>do</strong> Catete, atual Tavares Bastos, e <strong>da</strong>í caía em direção ao mar, pouco abaixo <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro por muitos<br />

anos chama<strong>do</strong> beco <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>, e como tal reconheci<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>creto municipal nº 1.165, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1917. Por ocasião <strong>do</strong>s ditos melhoramentos, também a fontinha <strong>da</strong> Glória foi restaura<strong>da</strong>, construin<strong>do</strong>se<br />

<strong>de</strong> pedra e cal as suas pare<strong>de</strong>s e a sua cobertura, e levantou-se <strong>de</strong> cantaria a ponte sobre o trecho<br />

<strong>de</strong>scoberto <strong>do</strong> rio Catete. É ain<strong>da</strong> interessante <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r o gran<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> Glória, arreme<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

pátio <strong>do</strong>s Milagres <strong>de</strong> Paris, a que foi transforma<strong>do</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1893. Na forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara, no ano <strong>de</strong> 1855, o edifício para o merca<strong>do</strong> começou a ser construí<strong>do</strong> à beira-mar,<br />

no largo <strong>da</strong> Glória, com sóli<strong>do</strong> cais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, esca<strong>da</strong>ria e rampas, sen<strong>do</strong> a obra por empreita<strong>da</strong> <strong>do</strong> dr.<br />

Inácio Cajueiro. A inauguração foi em 1858, e, em 1870, já eram péssimas as suas condições <strong>de</strong><br />

estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> higiene. Mas um man<strong>da</strong><strong>do</strong> judicial mantinha o seu funcionamento. Em 1874, uma leva<br />

<strong>de</strong> imigrantes alemães foi abriga<strong>da</strong> nos alojamentos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e aí quase to<strong>da</strong> vitima<strong>da</strong> pela febre<br />

amarela. Em 1893, revolta<strong>da</strong> a Arma<strong>da</strong> Nacional na Guanabara, <strong>de</strong>creta<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sítio, suspensas<br />

pois as garantias constitucionais, pô<strong>de</strong> o prefeito Henrique Vala<strong>da</strong>res fechar o famoso merca<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Glória, fato ocorri<strong>do</strong> no dia 19 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1893. Des<strong>de</strong> então, ficou sen<strong>do</strong> o abrigo <strong>de</strong><br />

famílias pobres, <strong>de</strong> miseráveis e <strong>de</strong> malandros perigosos – um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro pátio <strong>do</strong>s Milagres. Afinal, em<br />

junho <strong>de</strong> 1904, caiu a temi<strong>da</strong> praça, na administração <strong>do</strong> emérito prefeito Francisco Pereira Passos –<br />

venci<strong>do</strong>s os elementos contrários à sua ação construtora <strong>de</strong> costumes aperfeiçoa<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> embelezamento<br />

material <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1831/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 108 palmos <strong>de</strong> frente e muito escasso <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, na encosta <strong>da</strong> rocha e à esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

chafariz ali coloca<strong>do</strong>, em 1772, no governo <strong>do</strong> vice-rei marquês <strong>do</strong> Lavradio. Ain<strong>da</strong> em 1831, esse<br />

chafariz jorrava água – e <strong>da</strong> boa – para abastecer o povo <strong>da</strong> freguesia <strong>da</strong> Glória, como abastecia e com<br />

abundância. Foi justamente nesse memorável ano <strong>de</strong> 1831, <strong>da</strong> abdicação <strong>de</strong> Dom Pedro I e <strong>do</strong><br />

fortalecimento <strong>da</strong> nossa nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que o governo <strong>da</strong> Regência <strong>do</strong> Império, na sua política <strong>de</strong><br />

reconstrução geral, cui<strong>do</strong>u <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pronto às mais indispensáveis necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas, entre as<br />

quais a <strong>do</strong> abastecimento <strong>de</strong> água à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. To<strong>do</strong>s os chafarizes, as fontes e as bicas foram trata<strong>do</strong>s<br />

convenientemente para a fartura <strong>da</strong> água à população. No terreno, objeto <strong>de</strong>stas notas, existiam duas<br />

casas térreas compra<strong>da</strong>s por Francisco Esteves <strong>de</strong> Lima, em 26 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1831, ao antigo<br />

proprietário <strong>do</strong>s ditos imóveis – João Taylor, por cabeça <strong>de</strong> sua mulher, Maria Teresa Amália Alves <strong>da</strong><br />

Costa Taylor, que foi possui<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> vários prédios nos bairros <strong>da</strong> Glória e Lapa. O casal João Taylor<br />

residia, em 1831, à rua Matacavalos, atual Riachuelo, em casa própria. Em 1843, Esteves <strong>de</strong> Lima<br />

ven<strong>de</strong>u as casas, então com os nºs 48 e 50, a Águe<strong>da</strong> Maria <strong>de</strong> Avelar Brotéro, proprietária também <strong>do</strong>s<br />

prédios 22, 24 e 26 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Glória.<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1844<br />

C A P Í T U L O I X | 1 1 9<br />

Terreno <strong>da</strong>s casas 4 a 10 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Glória, afora<strong>do</strong> ao chefe <strong>de</strong> esquadra João Taylor, 16 na<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tutor <strong>do</strong>s seus filhos menores, aos quais pertenciam os prédios precita<strong>do</strong>s, por legítima<br />

materna.


1 2 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1845<br />

Terreno <strong>de</strong> 31 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Glória por 400 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e largura máxima <strong>de</strong> 219<br />

braças, confinan<strong>do</strong> com o caminho público <strong>do</strong> aqueduto – <strong>de</strong>pois rua Curvelo, que é, hoje, a Joaquim<br />

Murtinho. No Tombo Municipal <strong>de</strong> 1845, esse terreno está afora<strong>do</strong> ao sena<strong>do</strong>r Cassiano Esperidião <strong>de</strong><br />

Melo Matos, com a prova <strong>da</strong> sua aquisição aos her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> capitão Francisco <strong>de</strong> Araújo Pereira. Bem<br />

irregular, montanhoso em parte, o terreno formava uma pequena várzea por uma continua<strong>da</strong> vertente,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as terras <strong>de</strong> Amaro Velho <strong>da</strong> Silva até o morro <strong>de</strong> Santa Teresa. Escrituras, formais <strong>de</strong> partilhas e<br />

registros <strong>do</strong> Tombamento Municipal, que consultamos sobre esse terreno, provam que uma vala,<br />

chama<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cajá, dividia o terreno a uma distância <strong>de</strong> cem metros <strong>da</strong> frente <strong>do</strong> mesmo terreno. A vala<br />

era forma<strong>da</strong> pelas águas <strong>de</strong>sci<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s morros adjacentes e corria em diagonal e em rumo contrário ao <strong>da</strong><br />

sesmaria municipal. É <strong>de</strong>ssa divergência <strong>de</strong> rumo as questões que se suscitaram entre a Ilustríssima<br />

Câmara e os posseiros <strong>do</strong> terreno, os quais consi<strong>de</strong>ravam a vala um limite natural, separan<strong>do</strong> os terrenos<br />

foreiros <strong>do</strong>s alodiais, que se compreendiam entre a vala e a rua <strong>da</strong> Glória, na extensão <strong>de</strong> cem metros,<br />

como ficou dito. Afinal, uma vistoria judicial, em 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1854, aceitou o referi<strong>do</strong> limite, com<br />

ressalvas futuras para os interesses <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Glória,<br />

<strong>da</strong> qual, o que está em apreço nestas notas fazia parte, Inocêncio <strong>da</strong> Rocha Maciel, autor <strong>do</strong> tombamento<br />

municipal, contesta a alodiali<strong>da</strong><strong>de</strong> pretendi<strong>da</strong> pelo sena<strong>do</strong>r Cassiano para uma parte <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> antiga<br />

chácara <strong>da</strong> Glória e diz ain<strong>da</strong> que o mesmo sena<strong>do</strong>r iludiu a Ilustríssima Câmara, on<strong>de</strong> a sua força<br />

política e a sua habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> magistra<strong>do</strong> somente não conseguiram convencer ao verea<strong>do</strong>r Santos<br />

Rodrigues, único a votar contra aquele sena<strong>do</strong>r. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a <strong>do</strong>cumentação que examinamos sobre o<br />

fato confirma a apreciação <strong>de</strong> Inocêncio Maciel. O sena<strong>do</strong>r não se apresentou à Ilustríssima Câmara<br />

muni<strong>do</strong> <strong>de</strong> provas jurídicas que <strong>de</strong>struíssem os direitos senhoriais <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, apenas procurou<br />

acomo<strong>da</strong>r os seus próprios. É assim que não há contestação <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> senhorio direto <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara sobre to<strong>do</strong> o terreno que ele, Cassiano, comprara aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Araújo Pereira e<br />

não contestou pela ausência <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumento bastante que <strong>de</strong>struísse esse senhorio. O sena<strong>do</strong>r Cassiano<br />

ain<strong>da</strong> dispôs-se a pagar, como pagou, o laudêmio <strong>de</strong> seiscentos mil réis, concernente à parte reconheci<strong>da</strong><br />

foreira e reservou-se para, <strong>de</strong> futuro, satisfazer o restante <strong>do</strong> laudêmio, na forma <strong>do</strong> que se viesse a<br />

<strong>de</strong>cidir. Essa <strong>de</strong>cisão nunca se <strong>de</strong>u, porém.<br />

Rua <strong>da</strong> Glória – 1846/1850<br />

Terreno <strong>de</strong> 36 braças <strong>de</strong> frente com <strong>de</strong>zoito prédios, 12 a 46, que pertenceram a Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Men<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Fonseca Costa e <strong>de</strong>pois às suas filhas e her<strong>de</strong>iras – Maria Ursulina Alves Horta, casa<strong>da</strong> com<br />

o conselheiro José Joaquim <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong> Horta, e Maria Teresa Amália Alves <strong>da</strong> Costa Taylor, casa<strong>da</strong> com<br />

o oficial <strong>da</strong> Marinha João Taylor. Em 1846, encontramos a senhora Alves Horta já viúva e ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong>is<br />

prédios à rua <strong>da</strong> Glória nºs 44 e 46, que her<strong>da</strong>ra <strong>de</strong> sua mãe, a Antônio <strong>de</strong> Azerê<strong>do</strong> Coutinho. Por sua<br />

vez, no testamento <strong>da</strong> senhora Taylor, já faleci<strong>da</strong> em 1844, aparecem os prédios 12 e 14 <strong>da</strong> dita rua,<br />

lega<strong>do</strong>s à Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong> Taylor Risshopp, casa<strong>da</strong> com o inglês Eduar<strong>do</strong> Cecil Risshopp e filha <strong>da</strong><br />

testa<strong>do</strong>ra. O casal Risshopp, que residia em Londres, ven<strong>de</strong>u os prédios lega<strong>do</strong>s a Manoel Joaquim<br />

Teixeira, em 1850.<br />

Rua Dona Luiza – 1842/1851<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Luiza, no alto <strong>do</strong> morro, local, então, quase<br />

intransitável. O corte <strong>da</strong> importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>da</strong> Dona Luiza, começou <strong>de</strong>pois<br />

<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1842, e pela parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Dos <strong>de</strong>smembramentos que se fizeram é o terreno em apreço<br />

uma <strong>de</strong>las. Foi compra<strong>do</strong> pelo dr. José Francisco Xavier Sigaud para edificar, como edificou, uma casa<br />

para a sua residência. Médico <strong>da</strong> casa imperial e notável, o dr. José Francisco Xavier Sigaud era um


C A P Í T U L O I X | 1 2 1<br />

<strong>de</strong>vota<strong>do</strong> aos cegos. Ao jovem cego brasileiro, José Alves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, educa<strong>do</strong> em Paris, <strong>de</strong>ve-se a<br />

criação <strong>da</strong> primeira casa <strong>do</strong>s cegos no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, para abrigar e instruir os cegos <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s.<br />

Essa instituição teve o gran<strong>de</strong> apoio <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II e é assim que, a 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1854, sen<strong>do</strong> ministro <strong>do</strong> Império Luiz Pedreira <strong>do</strong> Couto Ferraz, barão <strong>do</strong> Bom Retiro, foi baixa<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> criação <strong>do</strong> Imperial Instituto <strong>do</strong>s Meninos Cegos, cuja primeira se<strong>de</strong> se localizou na chácara<br />

<strong>do</strong>s Coqueiros, no morro <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, próximo à praia <strong>do</strong> Lazareto, com inauguração a 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1854. O substituto <strong>de</strong> Sigaud, faleci<strong>do</strong> em 1856, foi o dr. Cláudio Luiz <strong>da</strong> Costa, o qual faleceu em 1869.<br />

Assumiu, então, a direção <strong>da</strong> Casa <strong>do</strong>s Cegos Benjamin Constant Botelho <strong>de</strong> Magalhães, até 1889. Foi<br />

um benemérito dirigin<strong>do</strong> a instituição, crian<strong>do</strong> obra <strong>de</strong> assistência social aos cegos <strong>de</strong>svali<strong>do</strong>s. Pelo<br />

<strong>de</strong>creto nº 1.220, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1891, passou o estabelecimento a chamar-se Instituto Benjamin<br />

Constant. 17<br />

Augusto Malta, 1903 – Glória. Panorama <strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Glória, ven<strong>do</strong>-se o prédio <strong>do</strong> antigo merca<strong>do</strong> em frente ao monumento ao Descobrimento<br />

<strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Ro<strong>do</strong>lfo Bernar<strong>de</strong>lli, o outeiro e a chaminé <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Saneamento City Improuvements, entre o cais <strong>da</strong> Glória e<br />

a praia <strong>do</strong> Russel.


1 2 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua Dona Luiza – 1851/1855<br />

Terreno <strong>de</strong> 249 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Luiza e que se estendia até as vertentes, na direção<br />

sul. Constituía esse terreno um <strong>do</strong>s muitos e gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>smembramentos <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> <strong>do</strong>na Luiza<br />

Clementina <strong>da</strong> Silva Couto. Na partilha <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pela referi<strong>da</strong> senhora, o terreno em causa<br />

coube à sua neta, Luiza Teodóra <strong>da</strong> Silva Torres e Alvim, casa<strong>da</strong> com Francisco Cor<strong>de</strong>iro <strong>da</strong> Silva Torres<br />

e Alvim. Esse casal, então resi<strong>de</strong>nte em Niterói, ven<strong>de</strong>u o terreno ao conselheiro José Maria Velho <strong>da</strong><br />

Silva, por vinte e cinco contos <strong>de</strong> réis, conforme a escritura <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1851, em notas <strong>do</strong> tabelião João<br />

Marques Perdigão. Embora adquirisse o terreno como alodial, o conselheiro Velho <strong>da</strong> Silva vin<strong>do</strong> a saber<br />

<strong>da</strong> inver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>claração <strong>do</strong>s ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res, <strong>de</strong>nunciou a compra que fizera, prontifican<strong>do</strong>-se a<br />

reconhecer o senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, para segurança e certeza <strong>do</strong> seu direito <strong>de</strong><br />

posse <strong>do</strong> terreno, se lhe <strong>de</strong>sse a competente carta <strong>de</strong> aforamento, requeri<strong>da</strong> a 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1851, o<br />

que se lhe conce<strong>de</strong>u com a expedição <strong>da</strong> carta, a 4 <strong>do</strong> mesmo mês e ano precita<strong>do</strong>s. Em 1854, o referi<strong>do</strong><br />

conselheiro <strong>de</strong>smembrou <strong>do</strong> terreno uma porção <strong>de</strong> 12.5 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Luia, com<br />

fun<strong>do</strong>s na então rua Santa Isabel – atual Benjamin Constant, que foi vendi<strong>da</strong> por <strong>do</strong>is contos <strong>de</strong> réis –<br />

2:000$ a Estevãm Sabatier, com carta <strong>de</strong> aforamento, em 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1855. Outras<br />

<strong>de</strong>smembrações fizeram-se <strong>da</strong> extensa chácara, quase to<strong>da</strong>s sem o conhecimento <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Daí<br />

inumeros os terrenos ti<strong>do</strong>s como alodiais, na antiga rua Dona Luiza e também na Benjamin Constant.<br />

Rua Dona Luiza – 1854<br />

Terreno <strong>de</strong> duas frentes, uma pela rua Dona Luiza, <strong>de</strong> 15 braças e a outra <strong>de</strong> 36 ditas pela rua<br />

Santa Cristina. To<strong>do</strong> ele muito irregular e montanhoso, alargan<strong>do</strong> em vários trechos e estreitan<strong>do</strong> em<br />

outros e assim até terminar na pedreira <strong>da</strong> Glória, corren<strong>do</strong> sempre entre os terrenos <strong>do</strong> conselheiro José<br />

Maria Velho <strong>da</strong> Silva e os canos <strong>da</strong> Carioca, on<strong>de</strong> ficava a chácara <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Cunha Magalhães. O<br />

terreno em apreço foi <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Dona Luiza, posto em praça em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1854,<br />

e arremata<strong>do</strong> pelo dr. Francisco Ribeiro <strong>da</strong> Silva Queiroz, por 2:120$. O dr. Silva Queiroz, advoga<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

fama nos auditórios <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, obteve, por carta <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1854, o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno e nele, logo a seguir, iniciou a construção <strong>de</strong> um sóli<strong>do</strong> e confortável prédio, no qual fixou a sua<br />

residência.<br />

Rua Dona Luiza – 1854<br />

Terreno <strong>de</strong> 16 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Luiza. Em nesga, <strong>de</strong>sci<strong>da</strong>s e subi<strong>da</strong>s, estreitan<strong>do</strong> e<br />

alargan<strong>do</strong> na sua direção para a rua Santa Cristina, on<strong>de</strong> fazia uma frente <strong>de</strong> 8 braças, esse terreno foi<br />

compra<strong>do</strong> ao conselheiro Velho <strong>da</strong> Silva, no começo <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1854, por Felici<strong>da</strong><strong>de</strong> Hautefeuille,<br />

com carta <strong>de</strong> aforamento a 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1854. Em 1864, a referi<strong>da</strong> senhora já havia faleci<strong>do</strong> e o<br />

liqui<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> sua herança aparece em juízo, pedin<strong>do</strong> permissão para efetuar a ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s<br />

pela fina<strong>da</strong>. Foi liqui<strong>da</strong>nte João Ricar<strong>do</strong>, mora<strong>do</strong>r à rua São Jorge, 31. O <strong>de</strong>creto Municipal nº 1.599, <strong>de</strong><br />

6 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1921, <strong>de</strong>u à essa antiga rua a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Le<strong>do</strong> – sobrenome <strong>de</strong> Joaquim<br />

Gonçalves Le<strong>do</strong>, 18 propagandista ar<strong>do</strong>roso <strong>da</strong> nossa in<strong>de</strong>pendência política. O <strong>de</strong>creto municipal nº<br />

5.624, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1935, anulan<strong>do</strong> o anterior dito, conce<strong>de</strong>u ao logra<strong>do</strong>uro a nominação <strong>de</strong> –<br />

rua Gonçalves Le<strong>do</strong>, que ain<strong>da</strong> conserva. O nome primitivo provinha <strong>de</strong> uma capela consagra<strong>da</strong> a São<br />

Jorge, ereta com provisão <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1753, em terras <strong>de</strong> Pedro Coelho, concedi<strong>da</strong>s à irman<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> mesmo Santo. Segun<strong>do</strong> o monsenhor Pizarro e Araújo – Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – o<br />

culto a São Jorge teve começo na antiga igreja <strong>do</strong> Parto, em altar aí levanta<strong>do</strong> pelos seus <strong>de</strong>votos, por<br />

provisão <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1747. A antiga capela veio a ser <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> em 1854, e ficava na esquina<br />

<strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Jorge com a <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – atual Luiz <strong>de</strong> Camões.


Rua Dona Luiza – 1858<br />

C A P Í T U L O I X | 1 2 3<br />

Terreno <strong>de</strong> 25 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Luiza, ao término <strong>de</strong>sse logra<strong>do</strong>uro no morro <strong>de</strong><br />

Santa Teresa. Corria fun<strong>do</strong>s em linhas paralelas até a chácara <strong>do</strong> dr. Francisco Ribeiro <strong>da</strong> Silva Queiroz.<br />

Em 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1858, aparece o terreno afora<strong>do</strong> ao negociante João Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Hasenclever, em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> compra que fizera <strong>do</strong> dito imóvel a Inácia Clementina <strong>da</strong> Silva Marques, viúva <strong>do</strong> tenente<br />

Luiz José Marques e filha única e her<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> rica senhora Luiza Clementina <strong>da</strong> Silva Couto, <strong>do</strong>na <strong>da</strong><br />

chácara Dona Luiza.<br />

Rua Dona Luiza – 1861/1903<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Luiza. Desmembração <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Cassiano, foi<br />

vendi<strong>do</strong>, a 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1861, a Antônio Alexandre Olegário, por Amália Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Melo Matos,<br />

<strong>do</strong>na <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Cassiano. O compra<strong>do</strong>r levantou no terreno um telheiro para fins<br />

industriais, que mais tar<strong>de</strong> foi transforma<strong>do</strong> em casa resi<strong>de</strong>ncial. Em 1868, Olegário ven<strong>de</strong>u a casa e<br />

outras benfeitorias, por 6:000$, a Magalhães & Monteiro. Em 1870, aparecem esses imóveis vendi<strong>do</strong>s a<br />

Antônio Joaquim Carvalho Lima. No ano seguinte, 1871, Lima os transferiu, por ven<strong>da</strong> e pela mesma<br />

quantia <strong>de</strong> 6:000$ a Feliciano José Henriques. No registro <strong>de</strong>ssa última transação <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> e feito na<br />

Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, consta anota<strong>do</strong>: “... uma casa antiga à frente <strong>da</strong> rua Dona Luiza nº 16,<br />

por 6:000$...” Em 1903, to<strong>do</strong> o aspecto primitivo <strong>do</strong> trecho <strong>da</strong> rua Dona Luiza, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nº 16, antigo 2,<br />

até o canto <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Glória já se havia modifica<strong>do</strong> completamente, na<strong>da</strong> mais existin<strong>do</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>,<br />

como na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> bem pouco há <strong>do</strong> que havia em 1903, nota<strong>da</strong>mente quanto à feição <strong>da</strong> casaria.<br />

Rua Dona Luiza – 1862<br />

Terreno <strong>de</strong> 5.5 braças <strong>de</strong> frente com uma casa alta <strong>de</strong> pedra e cal e <strong>de</strong> porão habitável nos fun<strong>do</strong>s, à<br />

rua Dona Luiza nº 11, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Teófilo Sorél, faleci<strong>do</strong> na França, em 1862. No dito ano, o cônsul<br />

francês no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Marcel Taunais, autoriza<strong>do</strong> pela viúva Sorél, Elisabeth Servais, ven<strong>de</strong>u o dito<br />

prédio ao riquíssimo negociante Bernar<strong>do</strong> Ribeiro <strong>da</strong> Cunha, estabeleci<strong>do</strong> e resi<strong>de</strong>nte à rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, 80.<br />

Rua Dona Luiza – 1864/1865<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente com um prédio <strong>de</strong> pedra e cal nº 4, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>de</strong><br />

Emílio Wilig e sua mulher Rosa Wilig. Por dívi<strong>da</strong>, esse casal, que outros bens não possuía, sofreu<br />

penhora pelo cre<strong>do</strong>r, que era o ricaço comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Mariano Procópio Teixeira Lage. Como sempre,<br />

ganancioso e inexorável em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> dinheiro, Mariano Procópio na<strong>da</strong> conce<strong>de</strong>u ao pobre casal<br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r e levou a efeito a execução. O prédio foi adjudica<strong>do</strong> ao exeqüente, por 25:000$, inferior à<br />

dívi<strong>da</strong>. Por ocasião <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> adjudicação, em agosto <strong>de</strong> 1864, o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Mariano Procópio<br />

negou-se a reconhecer o senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o terreno <strong>do</strong> prédio adjudica<strong>do</strong> e não<br />

pagou o laudêmio. Mas, no ano seguinte, por maior interesse, reconheceu o senhorio e pagou o laudêmio<br />

na importância <strong>de</strong> 700$000, em março <strong>de</strong> 1865. Segun<strong>do</strong> fez constar, fazia o pagamento para evitar<br />

maior dispêndio em questão judiciária.<br />

Rua Dona Luiza – 1866<br />

Terreno <strong>de</strong> 23 braças e 9 palmos por 23 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, até a rua <strong>de</strong> Santa Isabel, atual Benjamin<br />

Constant, on<strong>de</strong> media 8 braças <strong>de</strong> largura. Pela frente <strong>da</strong> rua Dona Luiza, era ocupa<strong>do</strong> por uma casa alta<br />

<strong>de</strong> pedra e cal e porão habitável. Na rua <strong>de</strong> Santa Isabel, era fecha<strong>do</strong> por alto e grosso muro, também <strong>de</strong>


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pedra e cal, com portão <strong>de</strong> ferro e sen<strong>do</strong> o terreno, nessa parte, to<strong>do</strong> planta<strong>do</strong>. Em outubro <strong>de</strong> 1866,<br />

Manoel José Rodrigues Torres, então, proprietário <strong>do</strong> imóvel, ven<strong>de</strong>u-o a Felix Tribouilet. Essa ven<strong>da</strong>,<br />

como muitas outras na rua Dona Luiza, foi feita sem audiência <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara. Ain<strong>da</strong> em 1870,<br />

nos registros <strong>do</strong> Tombamento Municipal, aparece Rodrigues Torres como foreiro <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> pela<br />

posse <strong>do</strong> terreno e quites <strong>do</strong> foro. Circunstância que <strong>de</strong>ixa prova<strong>da</strong> ter si<strong>do</strong> a transação efetua<strong>da</strong> à revelia<br />

<strong>da</strong> Ilustríssima Câmara.<br />

Rua Dona Luiza – 1871/1872<br />

Terreno <strong>de</strong> 28,60 m <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua Dona Luiza, por 66 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, na base<br />

<strong>da</strong> montanha on<strong>de</strong> terminava em ângulo agu<strong>do</strong>. Desmembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Cassiano e vendi<strong>do</strong>, em<br />

1871, como alodial ao dr. Manoel <strong>de</strong> Melo Franco, o qual, vin<strong>do</strong> a saber que o terreno era foreiro à<br />

Ilustríssima Câmara, logo <strong>de</strong>nunciou a espécie <strong>da</strong> compra que fizera, pagou o laudêmio <strong>da</strong> mesma e<br />

obrigou-se ao foro anual <strong>de</strong> oitocentos réis, a contar <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong> senhorio <strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na forma <strong>do</strong> disposto pela <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1867. A carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> dr. Melo Franco traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1872.<br />

Praia <strong>da</strong> Lapa<br />

Somente em 1835 foi começa<strong>da</strong>, com real interesse, a execução <strong>de</strong> um plano para melhorar a faixa<br />

litorânea <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o boqueirão <strong>do</strong> Passeio até o saco <strong>da</strong> Glória, compreendi<strong>do</strong> este. O objetivo<br />

<strong>do</strong> plano era levantar resistência à ação <strong>de</strong>strui<strong>do</strong>ra <strong>da</strong>s ressacas que, no precita<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1835, tiveram<br />

efeitos <strong>da</strong>nosos em to<strong>da</strong> a baía <strong>de</strong> Guanabara, mesmo nos seus recôncavos distancia<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s correntes<br />

marítimas. Nos litorais <strong>da</strong> Lapa e <strong>da</strong> Glória, a <strong>de</strong>struição foi completa. Ruíram os paredões que fechavam<br />

os quintais <strong>da</strong>s casas com frentes à rua <strong>da</strong> Lapa, invadi<strong>do</strong>s pelo mar. On<strong>de</strong> começava a estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Glória,<br />

ao fim <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Lapa, o mar, subin<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z metros, cobriam to<strong>da</strong> a arenosa e larga restinga aí<br />

existente e penetran<strong>do</strong> terra a <strong>de</strong>ntro atingiu a casaria <strong>da</strong> encosta <strong>da</strong> montanha, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o<br />

rossio, acima <strong>da</strong> restinga. Nesse rossio fazia-se o <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias, materiais diversos e<br />

outras utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o consumo <strong>do</strong>s bairros <strong>da</strong> Lapa e <strong>da</strong> Glória que se transportavam por via marítima,<br />

visto ser mais cômo<strong>do</strong> e rápi<strong>do</strong>. Em 1857, o <strong>de</strong>creto Imperial 2062, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, dispôs sobre a<br />

execução <strong>de</strong> obras na faixa litorânea <strong>da</strong> Lapa e <strong>da</strong> Glória. Foram inicia<strong>da</strong>s em janeiro <strong>de</strong> 1858, por<br />

contrato celebra<strong>do</strong> com o engenheiro Inácio Vieira Cajueiro, e terminaram em abril <strong>de</strong> 1861, sen<strong>do</strong> o seu<br />

custo <strong>de</strong> oitocentos contos <strong>de</strong> réis. O que se fez melhorou bastante esse litoral, embelezan<strong>do</strong>-o e <strong>da</strong>n<strong>do</strong>lhe<br />

maior resistência às investi<strong>da</strong>s periódicas <strong>do</strong> salso argento. Destacam-se nessas obras, segun<strong>do</strong> a<br />

planta existente no Arquivo Nacional, um cais em curva e numa extensão <strong>de</strong> 638 metros, sobre muralha<br />

<strong>de</strong> bastante profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mais <strong>de</strong> um metro acima <strong>da</strong> água, uma rua <strong>de</strong> setenta palmos <strong>de</strong> largura,<br />

acompanhan<strong>do</strong> o cais; um grosso paredão, na parte alta <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Glória, com peitoril <strong>de</strong> balaustra<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>bruçan<strong>do</strong> sobre a nova rua à beira-mar e ten<strong>do</strong> esca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acesso, tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedra. Nesse trecho <strong>da</strong> rua<br />

<strong>da</strong> Glória, para passeio e refrigério <strong>do</strong> povo, plantaram-se árvores <strong>de</strong> copa. No chama<strong>do</strong> campo <strong>do</strong>s<br />

Fra<strong>de</strong>s, na praia Mar <strong>de</strong> Espanha, fronteira ao Passeio Público, colocou-se um chafariz. Como fiscal <strong>do</strong><br />

governo funcionou o engenheiro inglês Charles Neate, <strong>de</strong> cuja fiscalização há circunstancia<strong>do</strong> relatório,<br />

apresenta<strong>do</strong> em 1861. Interessante e valioso <strong>do</strong>cumento que faz parte <strong>da</strong> Coleção Olin<strong>da</strong>, <strong>do</strong> Instituto<br />

Histórico e Geográfico Brasileiro, on<strong>de</strong> o examinamos e mais outros que constituem preciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

históricas e que nos foram faculta<strong>do</strong>s pelo sau<strong>do</strong>so secretário <strong>do</strong> Instituto, o ilustre Max Fleuiss.<br />

O dr. Cajueiro faleceu antes <strong>do</strong> término <strong>da</strong>s obras, ten<strong>do</strong> assumi<strong>do</strong> a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sua<br />

execução o conselheiro João Vieira Cansanção <strong>de</strong> Sinimbú, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> representante <strong>da</strong> viúva e<br />

filhos <strong>do</strong> contratante, <strong>de</strong> quem o conselheiro era irmão materno.<br />

As Freiras <strong>de</strong> Santa Teresa são usufrutuárias <strong>do</strong>s rendimentos <strong>da</strong>s antigas marinhas e acresci<strong>do</strong>s<br />

na Lapa, numa extensão <strong>de</strong> perto <strong>de</strong> 180 metros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a travessa <strong>do</strong>s Carmelitas, no antigo campo <strong>do</strong>s<br />

Fra<strong>de</strong>s – atualmente, local on<strong>de</strong> está o Silogeu, e até on<strong>de</strong> existiu o prédio que, em 1855, ain<strong>da</strong> era<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>do</strong> eminente médico brasileiro dr. Francisco <strong>de</strong> Paula Cândi<strong>do</strong>. 19 Esse prédio,


C A P Í T U L O I X | 1 2 5<br />

com frente à rua <strong>da</strong> Lapa, nº 101, e também os contíguos, 97 e 99, <strong>de</strong>sapareceram, recentemente,<br />

levantan<strong>do</strong>-se no local um edifício para apartamentos <strong>de</strong> aluguel.<br />

Por ocasião <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> cais na praia <strong>da</strong> Lapa, proprietários <strong>de</strong> prédios nesse logra<strong>do</strong>uro e<br />

na rua <strong>do</strong> mesmo nome protestaram contra a pretensão <strong>da</strong>s religiosas <strong>de</strong> Santa Teresa aos acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

marinhas, que resultaram <strong>do</strong> aterro feito sobre o mar, para formação <strong>da</strong> nova rua <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> Lapa. Ain<strong>da</strong><br />

em 1862, discutia-se a respeito, como se confirma pela consulta feita, pelo Ministério <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, às<br />

ditas freiras. O Ministério consultou se era permiti<strong>do</strong> às religiosas bens <strong>de</strong> raiz e até que importância, e<br />

a resposta foi afirmativa, e até duzentos contos <strong>de</strong> réis – que representava soma fabulosa naquele tempo.<br />

Sobre as marinhas <strong>da</strong> Glória e <strong>da</strong> Lapa, farta a <strong>do</strong>cumentação ain<strong>da</strong> encontra<strong>da</strong> no Arquivo <strong>do</strong> Tesouro<br />

Nacional, em 1923. Na sua maior parte, os maços que nos foram faculta<strong>do</strong>s traziam plantas, algumas <strong>da</strong>s<br />

quais interessantes – como conhecimento seguro <strong>da</strong> antiga topologia litorânea <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Lapa – 1839/1865<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente com seis casas nºs 72 a 82, casas que ain<strong>da</strong> existiam em 1865,<br />

quan<strong>do</strong> mais uma vez foram reforma<strong>da</strong>s. Eram <strong>de</strong> pedra e cal, assobra<strong>da</strong><strong>da</strong>s, soleiras altas <strong>de</strong> pedra e<br />

também as porta<strong>da</strong>s. Na <strong>de</strong> nº 82, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a comércio, com duas portas, funcionava uma taverna com<br />

comi<strong>da</strong>. Estabelecimentos esses muito em voga naquele tempo, sen<strong>do</strong> que muitos <strong>de</strong>les, na conformi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> bairro em que se instalavam, primavam pela limpeza e pela cozinha – que era <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m e com<br />

muita e fina freguesia. Os vinhos eram puros e genuínos, portugueses e tira<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s pipas à vista <strong>do</strong><br />

freguês. O prédio 82 foi vendi<strong>do</strong> pela sua proprietária, Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Costa, em 29 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1839, a Francisco José <strong>de</strong> Brito, por 1:200$. O novo proprietário melhorou o dito prédio com as obras<br />

que nele executou e conseguiu, a 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1840, o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> mesmo prédio 82,<br />

terreno que media 2 braças <strong>de</strong> frente por 108 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> 7 <strong>do</strong> quintal. Também, <strong>da</strong> mesma<br />

Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Costa, viúva <strong>do</strong> briga<strong>de</strong>iro Manoel Alves <strong>da</strong> Fonseca Costa, eram os prédios<br />

72 a 80, por ela, proprietária, vendi<strong>do</strong>s a 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1839, pela quantia <strong>de</strong> 6:000$, a Joaquim Maria<br />

Pereira Fontes, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s prédios 72 a 80, em 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1841. O terreno media 10 braças <strong>de</strong> frente por 108 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> 10 palmos <strong>de</strong> quintal.<br />

Rua <strong>da</strong> Lapa – 1842/1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças e 2 palmos <strong>de</strong> frente por 108 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com duas casas térreas, nºs 102<br />

e 104, que pertenceram a Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Fonseca Costa e que foram à praça, no começo <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1842. A <strong>de</strong> nº 102 foi arremata<strong>da</strong> por João Ferreira <strong>do</strong>s (Santos) Car<strong>do</strong>so, pela quantia <strong>de</strong><br />

1:603$, e a <strong>de</strong> nº 104, por Isi<strong>do</strong>ro Joaquim Pereira e pelo preço <strong>de</strong> 1:500$. Santos Car<strong>do</strong>so teve título <strong>de</strong><br />

foreiro <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa que arrematou, em 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1845, e no respectivo registro está o terreno<br />

lança<strong>do</strong> com 2 braças e 2 palmos <strong>de</strong> frente por 108 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. O título <strong>de</strong> Isi<strong>do</strong>ro é <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1843, mas não conseguimos ter provas <strong>do</strong> seu registro nos livros <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Lapa – 1844/1892<br />

Terreno <strong>de</strong> 7 braças e 6 palmos <strong>de</strong> frente, terminan<strong>do</strong> vela latina na encosta <strong>do</strong> morro – em rocha<br />

<strong>da</strong> qual brotava boa água potável. Em 1844, era ocupa<strong>do</strong> por boa casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e chácara, residência<br />

por anos <strong>da</strong> família Fonseca Costa. No dito ano, pertenciam, casa e chácara, em partes iguais, a Maria<br />

Corsina e a Maria Corina, filhas e her<strong>de</strong>iras <strong>do</strong> casal briga<strong>de</strong>iro Manoel Alves <strong>da</strong> Fonseca Costa e Maria<br />

<strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Fonseca Costa. As ditas her<strong>de</strong>iras obtiveram <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, por<br />

<strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1844, o título <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno em comum. Em 1892, então nº 88<br />

e já sem a chácara, pertencia a Francisco <strong>de</strong> Oliveira <strong>da</strong> Silva Gerber, a quem foi compra<strong>da</strong> por Livia<br />

Avelar Napoleão <strong>do</strong>s Santos, pela quantia <strong>de</strong> 35:000$.


1 2 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua Nossa Senhora <strong>do</strong> Desterro – 1840/1847<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente, que <strong>de</strong>itava para uma grota fun<strong>da</strong> e coberta <strong>de</strong> mata <strong>de</strong> espinha.<br />

De frente a fun<strong>do</strong>s, morro acima, até a rua N.S. <strong>do</strong> Desterro, nº 15, por cima <strong>do</strong> aqueduto <strong>da</strong> Carioca,<br />

adiante <strong>do</strong>s primeiros Dois Irmãos, o terreno media exato 28 braças. Desmembramento <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong><br />

Dona Luiza, na parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, o terreno esteve por algum tempo arren<strong>da</strong><strong>do</strong> a Alexandre José Maciel<br />

<strong>da</strong> Costa, mediante a mensali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sete mil réis. Para fins industriais, o arren<strong>da</strong>tário levantou um<br />

barracão no interior <strong>do</strong> terreno e fechou to<strong>do</strong> este com estacas. A carpintaria e a cor<strong>do</strong>aria eram as<br />

indústrias explora<strong>da</strong>s por Maciel Costa na sua oficina. A 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1840, aparece Alexandre José<br />

Maciel <strong>da</strong> Costa na Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, pagan<strong>do</strong> o imposto <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> barracão, pela<br />

quantia <strong>de</strong> 300$000 a João José <strong>da</strong> Silva Pinto. Denuncia<strong>da</strong> à Ilustríssima Câmara, tempos <strong>de</strong>pois à<br />

referi<strong>da</strong> ven<strong>da</strong>, foram o compra<strong>do</strong>r e o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r intima<strong>do</strong>s a legalizar a transação feita, sob pena <strong>de</strong> ação<br />

forense <strong>de</strong> confiscação.<br />

Abriu-se a <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, pela negação <strong>do</strong>s infratores. A 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1846, saiu a sentença<br />

favorável à Ilustríssima Câmara e sem a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recurso pelos infratores. Tal <strong>de</strong>cisão veio assegurar<br />

os direitos senhoriais <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> não só sobre o terreno em que estava assente o barracão, mas<br />

também sobre o to<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual ele terreno era parte.<br />

Travessa <strong>do</strong> Desterro – 1868<br />

Terreno <strong>de</strong> pequena dimensão, triangular e situa<strong>do</strong> ao fim <strong>da</strong> travessa <strong>do</strong> Desterro, atual rua<br />

Morais e Vale, com a frente para um pequeno largo, existente ao tempo, no extremo <strong>da</strong> rua Velha <strong>de</strong><br />

Santa Teresa – agora Joaquim Silva, no la<strong>do</strong> par. Esse pequeno largo era ain<strong>da</strong> vestígio <strong>da</strong> arenosa e clara<br />

praia chama<strong>da</strong> Mar <strong>de</strong> Espanha. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, com os aterros que se fizeram sobre o mar,<br />

acresceram a essa praia marinhas artificiais que favoreceram a construção <strong>da</strong> muralha <strong>da</strong> Glória. Em<br />

1868, o proprietário <strong>do</strong> prédio 42 <strong>da</strong> travessa <strong>do</strong> Desterro, Manoel José <strong>de</strong> Oliveira Passos, requereu à<br />

Ilustríssima Câmara e <strong>de</strong>la obteve a licença para fechar o pequeno terreno com muro. Inicia<strong>da</strong> já estava,<br />

quan<strong>do</strong> o proprietário <strong>do</strong> nº 39, <strong>da</strong> mesma travessa, dr. Luiz Francisco <strong>da</strong> Silva, compareceu em juízo,<br />

para protesto e embargo, apresentan<strong>do</strong> provas <strong>de</strong> pertencer-lhe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1817, o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> mesmo<br />

terreno. A Ilustríssima Câmara, logo conheci<strong>da</strong> a <strong>de</strong>cisão judicial favorável ao embargante, fez nula a<br />

licença <strong>da</strong><strong>da</strong> a Oliveira Passos e investiu o dr. Francisco <strong>da</strong> Silva na posse <strong>do</strong> terreno, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe a carta<br />

<strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> mesmo, a 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1868.<br />

Desterro era a nominação primitiva <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Lapa, entre os morros agora chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Santa<br />

Teresa e <strong>de</strong> Santo Antônio e a lagoa dita <strong>do</strong> Desterro, a qual começou a ser aterra<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1641,<br />

quan<strong>do</strong> inicia<strong>da</strong>s as edificações nas suas margens. Em Autos <strong>de</strong> Vistorias <strong>da</strong>s <strong>Terras</strong> <strong>do</strong> Conselho, na<br />

Carioca, (1610/1620) há referências a essa lagoa, que ficava abaixo <strong>de</strong> um outeiro, o atual morro <strong>de</strong><br />

Santa Teresa. Também, na medição <strong>da</strong> sesmaria municipal, em 1667, faz-se alusão à dita lagoa. No<br />

outeiro, <strong>de</strong> tempos remotíssimos, estabelecera-se Antônio Gomes <strong>do</strong> Desterro, levantan<strong>do</strong> uma ermi<strong>da</strong><br />

que consagrou à Sagra<strong>da</strong> Família, e <strong>do</strong> Desterro ficaram chama<strong>do</strong>s o morro, a lagoa e várzea, como<br />

rezam os já cita<strong>do</strong>s autos <strong>de</strong> vistorias. A rua Nossa Senhora <strong>do</strong> Desterro passou a chamar-se Santa Teresa<br />

e atualmente traz o nome <strong>de</strong> Joaquim Silva. (20)


C A P Í T U L O X<br />

Aj u d a


1 2 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

O bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> formou-se sobre uma planície palu<strong>do</strong>sa, alaga<strong>da</strong> constantemente pelas lagoas<br />

<strong>do</strong> Boqueirão, <strong>do</strong> Desterro e <strong>do</strong> Curtume. No começo <strong>do</strong> século XVII, já estava ocupa<strong>da</strong> por gran<strong>de</strong>s<br />

chácaras, que foram sen<strong>do</strong> corta<strong>da</strong>s no interesse <strong>do</strong> bem público, por or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Câmara, para a abertura<br />

<strong>de</strong> vias públicas e construção <strong>da</strong> casaria. Assim nasceu mais um bairro na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mar e até a Carioca, na cerca <strong>do</strong>s Franciscanos. A esse bairro, Gomes Freire <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, no seu operoso governo (1733/1762) prestou especiais cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, melhoran<strong>do</strong>-o bastante.<br />

As terras <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> compreen<strong>de</strong>ram-se em duas sesmarias, sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong> 1574,<br />

concedi<strong>da</strong> a Crispim <strong>da</strong> Cunha Ferreira, e a outra, <strong>de</strong> 1595, concessão a Lopo Gonçalves Carneiro. A <strong>de</strong><br />

Crispim, uma <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> terra baixa no boqueirão <strong>da</strong> Carioca, passou a frei Crispim <strong>da</strong> Cunha, filho <strong>do</strong> dito<br />

sesmeiro e foi por esse religioso <strong>do</strong>a<strong>da</strong> ao convento <strong>do</strong> Carmo. Por escritura pública <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1653, o bispo <strong>do</strong>m Antônio <strong>do</strong> Desterro comprou as terras <strong>de</strong>ssa sesmaria à Or<strong>de</strong>m Carmelitana. A<br />

sesmaria <strong>de</strong> Lopo Carneiro era uma terra <strong>de</strong> salga<strong>do</strong>, contígua à primeira cita<strong>da</strong> sesmaria. Em junho <strong>de</strong><br />

1721, o que, em terras <strong>de</strong>la restava, veio a ser possuí<strong>do</strong> pelo padre João Caminha e <strong>de</strong> quem, por compra,<br />

passou a Sebastião Men<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Rosário, sucedi<strong>do</strong> por sua filha Mariana Rosa <strong>da</strong> Silva. Uma gran<strong>de</strong> área<br />

<strong>de</strong>sses terrenos alodiais veio a pertencer ao dr. Manoel Bernar<strong>de</strong>s Pereira <strong>da</strong> Veiga, sen<strong>do</strong> parte em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra e parte provin<strong>da</strong> <strong>da</strong> herança paterna. Os terrenos <strong>do</strong> dr. Bernar<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Veiga ficavam<br />

fronteiros ao convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> e foram ocupa<strong>do</strong>s por pequenas casas <strong>de</strong> aluguel e pela casa nobre <strong>de</strong><br />

residência <strong>da</strong> família Pereira <strong>da</strong> Veiga. Em 1832, novas edificações fizeram-se nesses terrenos alodiais<br />

e quase to<strong>da</strong>s elas chegaram aos nossos dias. Edificaram-se prédios <strong>de</strong> pedra e cal, com loja para<br />

comércio e sobra<strong>do</strong> para residência familiar, e que se alugavam a preço alto, mensalmente ou por<br />

trimestre venci<strong>do</strong>, com fiança. No bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, uma confortável casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> já<br />

produzia, em 1832, um rendimento mensal <strong>de</strong> quarenta a cinqüenta mil réis.<br />

Ain<strong>da</strong> no dito ano <strong>de</strong> 1832, na área que pertencera ao dr. Bernar<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Veiga e próximo à casa <strong>de</strong><br />

José Luiz <strong>da</strong> Mota, era baldio o terreno, então, próprio <strong>da</strong> Nação, que os britânicos tinham compra<strong>do</strong> ao<br />

dr. Bernar<strong>de</strong>s para a construção <strong>da</strong> capela <strong>da</strong> sua religião. Porém, evitan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>frontassem uma casa<br />

religiosa católica e um templo protestante, o rei <strong>do</strong>m João VI, diplomaticamente, conseguiu a compra <strong>do</strong><br />

dito terreno aos ingleses e <strong>do</strong>ou-lhes um outro à rua <strong>do</strong>s Barbonos, atual Evaristo <strong>da</strong> Veiga, on<strong>de</strong> se<br />

levantou uma capela anglicana, recentemente <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>. A 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1820, com uma garrafa<br />

conten<strong>do</strong> gazetas inglesas e moe<strong>da</strong>s <strong>da</strong> época, foi lança<strong>da</strong> a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> capela, com<br />

to<strong>da</strong>s as cerimônias <strong>do</strong> ritual anglicano. O sal<strong>do</strong> <strong>da</strong> quantia, que se <strong>de</strong>stinou à construção <strong>da</strong> pequena<br />

igreja, foi emprega<strong>do</strong> na obra <strong>de</strong> um cemitério – o cemitério <strong>do</strong>s Ingleses, na Gamboa, e ain<strong>da</strong> existente.<br />

É interessante dizer que a capela anglicana foi assente on<strong>de</strong> havia si<strong>do</strong> o pátio <strong>da</strong> antiga residência<br />

particular <strong>do</strong> bispo <strong>do</strong>m José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco, primeiro e único prela<strong>do</strong><br />

brasileiro que governou a diocese fluminense ao tempo <strong>da</strong> colônia.<br />

O dr. Manoel Bernan<strong>de</strong>s Pereira <strong>da</strong> Veiga era filho <strong>do</strong> cirurgião <strong>da</strong> arma<strong>da</strong> portuguesa – Felix<br />

Bernar<strong>de</strong>s Pereira <strong>da</strong> Veiga e <strong>de</strong> Isabel Joaquina Rosa. 21 Uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s chácaras no campo <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong><br />

pertenceu a João Soares <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong> e, por comisso, foi leva<strong>da</strong> à praça e arremata<strong>da</strong> pelo padre Inácio<br />

<strong>de</strong> Oliveira Volgas ao foro anual <strong>de</strong> mil réis, com a obrigação <strong>de</strong>, aos poucos, proce<strong>de</strong>r ao entulho <strong>da</strong><br />

lagoa <strong>do</strong> Boqueirão que ficava <strong>de</strong> permeio nessa chácara e servia <strong>de</strong> centro e fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus la<strong>do</strong>s. A<br />

chácara tinha 140 braças <strong>de</strong> frente, à beira-mar, pela entra<strong>da</strong> que ia para Nossa Senhora <strong>da</strong> Glória, e<br />

corria fun<strong>do</strong>s em linha reta <strong>de</strong> 102 braças até os arcos <strong>da</strong> Carioca Velha – hoje, rua Evaristo <strong>da</strong> Veiga, 22<br />

on<strong>de</strong> ficava a caixa d’água pública, <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Em 4 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1739, o padre Volgas ven<strong>de</strong>u a chácara ao padre José Men<strong>de</strong>s Leão. Uma gran<strong>de</strong> porção<br />

<strong>de</strong>ssa chácara, junto <strong>do</strong>s terrenos <strong>do</strong> tenente-general Pedro <strong>de</strong> Azambuja, foi vendi<strong>da</strong> a Diogo <strong>de</strong> Lima<br />

Cerqueira, com quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara questionou em juízo, pela <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> terrenos<br />

necessários à servidão pública. Em agosto <strong>de</strong> 1772, ain<strong>da</strong> estava por <strong>de</strong>cidir a <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, mas os terrenos<br />

já estavam ocupa<strong>do</strong>s pela Câmara. No bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, um outro ricaço era Manoel <strong>de</strong> Carvalho Ferreira,<br />

homem bom <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, com influência bastante no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios e na política. Faleceu em 1772,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> duas filhas, Tereza Luiza <strong>de</strong> São José e Isabel Joaquina <strong>da</strong> Conceição, educan<strong>da</strong>s no convento<br />

<strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Em benefício <strong>do</strong> inventário <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s por seu pai, elas ven<strong>de</strong>ram to<strong>da</strong>s as casas térreas<br />

à rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> e que pertenciam ao inventaria<strong>do</strong>. Essas casas, como ficou dito, eram situa<strong>da</strong>s à rua <strong>da</strong><br />

Aju<strong>da</strong>, com fun<strong>do</strong>s na <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boba<strong>de</strong>la – atual aveni<strong>da</strong> Treze <strong>de</strong> Maio, canto <strong>do</strong> beco Manoel <strong>de</strong><br />

Carvalho. A escritura <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong>sses imóveis foi lavra<strong>da</strong>, a 26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1776, pelo notário


C A P Í T U L O X | 1 2 9<br />

público Domingos Coelho Brandão, no referi<strong>do</strong> Convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> o notário se pôs na parte<br />

externa <strong>do</strong> pátio para ouvir as ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ras, as quais se achavam no interior junto às gra<strong>de</strong>s e por suas<br />

vozes, apenas, fizeram-se presentes ao ato, ao qual também compareceu o testamenteiro, padre <strong>do</strong>utor<br />

José Rodrigues <strong>de</strong> Carvalho.<br />

O bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> assim se fez chama<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se levantou na várzea a ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, já existente em 1600. Ficava on<strong>de</strong>, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, está o suntuoso Palácio <strong>da</strong> Câmara<br />

Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, na praça Floriano Peixoto, antiga Ferreira<br />

Viana e, primitivamente, largo <strong>da</strong> Mãe <strong>do</strong> Bispo. 23 Próximo à ermi<strong>da</strong>, em 1710, uma companhia <strong>do</strong><br />

invasor francês foi <strong>de</strong>sbarata<strong>da</strong> pelas baterias <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo. A pequena capela <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1749, para permitir a edificação <strong>da</strong> casa conventual <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> às religiosas <strong>de</strong><br />

Santa Clara, casa que ficou conheci<strong>da</strong> por convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>.<br />

Na face <strong>da</strong> via pública, que ia para a Carioca Velha – hoje, rua Evaristo <strong>da</strong> Veiga, e fronteira à<br />

referi<strong>da</strong> ermi<strong>da</strong> – ficava a mora<strong>da</strong> nobre <strong>do</strong> coronel Mascarenhas, pai <strong>do</strong> bispo <strong>do</strong>m José Joaquim<br />

Justiniano Mascarenhas Castelo Branco. O fato <strong>de</strong> aí residirem os pais <strong>do</strong> ilustre prela<strong>do</strong> <strong>de</strong>u origem à<br />

nominação Mãe <strong>do</strong> Bispo para o largo on<strong>de</strong> ficava a casa. Era gran<strong>de</strong> e sóli<strong>da</strong>, <strong>de</strong> alpendres e pátios, com<br />

a frente volta<strong>da</strong> para o precita<strong>do</strong> largo.<br />

Largo <strong>da</strong> Mãe <strong>do</strong> Bispo.


1 3 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

s/a, s/d – Cartão-postal – Conselho Municipal.<br />

Augusto Malta, s/d – Teatro Municipal.


Quan<strong>do</strong> o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, no fim <strong>do</strong> século XVIII (1796) projetou melhorar o litoral leste <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, cujo aspecto era <strong>de</strong>plorável, man<strong>do</strong>u reservar um vasto terreno em frente ao convento <strong>da</strong><br />

Aju<strong>da</strong> para um rossio que servisse <strong>de</strong> recreio ao povo <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, lugar nobre <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. * Mas<br />

os anos passaram e na<strong>da</strong> se fez. O litoral leste continuou com a mesma fisionomia <strong>de</strong> completo<br />

aban<strong>do</strong>no, com os velhos barracões, telheiros, ten<strong>da</strong>is e cerca<strong>do</strong>s, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se mar a<strong>de</strong>ntro e a longa<br />

distância. A praia, <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> lixo. No terreno que se <strong>de</strong>stinara a rossio veio a ser instala<strong>da</strong> uma escola<br />

veterinária, ten<strong>do</strong> anexo um hospital, sob a direção, ambos os estabelecimentos, <strong>do</strong> alemão Martinho<br />

Perestebile. A partir <strong>de</strong> 1832, foi o terreno ocupa<strong>do</strong> por um curral <strong>de</strong> porcos pertencente ao ricaço Inácio<br />

Aleixo, fazen<strong>de</strong>iro e cria<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> bovino e suíno em Magépe. Martinho Perestebile, homem<br />

inteligente e veterinário competente, era protegi<strong>do</strong> <strong>da</strong> imperatriz Leopoldina, ten<strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> sem<br />

completar a sua obra e <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> eleva<strong>da</strong> quantia que tomara <strong>de</strong> empréstimo ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Pereira <strong>de</strong><br />

Abreu, por interferência <strong>da</strong>quela soberana. Ain<strong>da</strong> em 1835, encontramos o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Abreu<br />

questionan<strong>do</strong> em juízo para reaver a posse <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> antigo hospital veterinário,<br />

dizen<strong>do</strong>-se ampara<strong>do</strong> pelo dispositivo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto imperial, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1824. Pláci<strong>do</strong><br />

* Registros <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara – 1730/1805 – Arquivo Municipal. (N.A)<br />

Augusto Malta – 26/10/1911 – Convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Ocupava to<strong>da</strong> área on<strong>de</strong> está situa<strong>da</strong> a Cinelândia.<br />

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1 3 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Antônio Pereira <strong>de</strong> Abreu, amigo <strong>de</strong>vota<strong>do</strong> <strong>de</strong> Dom Pedro I, recebeu, <strong>de</strong> justiça aliás, gran<strong>de</strong>s benefícios<br />

e honrarias <strong>do</strong> nosso primeiro impera<strong>do</strong>r, que o fez seu principal vali<strong>do</strong> na Corte. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Pereira<br />

<strong>de</strong> Abreu mereceu sempre a consi<strong>de</strong>ração e a estima <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e foi um <strong>do</strong>s poucos palacianos a gozar <strong>da</strong><br />

amiza<strong>de</strong> e <strong>da</strong> privança <strong>da</strong> digna e ilustre princesa Leopoldina, nossa primeira imperatriz.<br />

Foi o bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s mais importantes <strong>da</strong> velha ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, quer pelo seu comércio, quase to<strong>do</strong> ele francês, quer pela sua casaria e ain<strong>da</strong> pela riqueza,<br />

costumes e trato <strong>do</strong>s seus mora<strong>do</strong>res. Eram na rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 24 a principal <strong>do</strong> bairro, as melhores e bem<br />

freqüenta<strong>da</strong>s casas <strong>de</strong> diversões, para a vi<strong>da</strong> noturna elegante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

século XIX. Casas <strong>de</strong> comestíveis, ateliers, oficinas, hotéis e armazéns atraíam muita clientela. Nas<br />

festas <strong>do</strong>s esponsais <strong>de</strong> Pedro II, a rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> <strong>de</strong>u a nota <strong>de</strong> brilho, pelo bom gosto e originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

ornamentação, man<strong>da</strong><strong>da</strong> fazer pela colônia francesa e sob a orientação <strong>do</strong> afama<strong>do</strong> Manoel Fabrégas. Na<br />

rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, além <strong>de</strong> Fabrégas, com casa <strong>de</strong> ornamentações, foram estabeleci<strong>do</strong>s ma<strong>da</strong>me Morel,<br />

modista; o cabeleireiro Vilhard; viúva Reinée, calça<strong>do</strong>s para senhoras; o afama<strong>do</strong> alfaiate Sarti; o<br />

entalha<strong>do</strong>r Durberdieu; Jean Nicolau, cutileiro; Haugaute, fazen<strong>da</strong>s francesas para homens; mestre Vitor<br />

Larré, artífice <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> engenho nas artes; e o notável <strong>de</strong>senhista grava<strong>do</strong>r e retratista Luiz Alexis<br />

Boulanger, autor <strong>do</strong> interessante Anuário Brasileiro, <strong>de</strong> 1861. Boulanger foi professor <strong>do</strong>s príncipes <strong>da</strong><br />

Casa Imperial <strong>do</strong> Brasil. Numa mo<strong>de</strong>sta casa <strong>de</strong> porta e janela, ao fim <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> frente<br />

para o largo <strong>do</strong> mesmo nome, morava o popular Jean Bullöös, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> um tilbury, que ele mesmo guiava<br />

e sempre <strong>de</strong> bom humor. Jean era o tipo perfeito <strong>de</strong> cocher <strong>de</strong> Paris: chistoso e cortês. O seu carro<br />

estacionava próximo à sua casa, pela manhã e à tar<strong>de</strong> no Carcelér. * Na rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, a 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1866, inaugurou-se o Teatro Phoenix, com uma companhia francesa <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Em 1872, passou <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> Jacinto Heler, provecto ator que nesse teatro marcou fase brilhante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> palco. Ain<strong>da</strong><br />

no bairro <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, no largo <strong>do</strong> mesmo nome e canto <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> Santa Luzia, é <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r a primeira<br />

se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amante <strong>da</strong> Instrução que aí se instalou em 1847 e manteve uma escola mista, bem<br />

freqüenta<strong>da</strong>, <strong>de</strong> ensino primário. No mesmo prédio, que era <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, às quartas-feiras, <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> tar<strong>de</strong><br />

às 9 <strong>da</strong> noite, reunia-se a diretoria <strong>de</strong>ssa benemérita instituição. 25<br />

Chácara <strong>da</strong> Flore s t a<br />

Era na rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> o velho solar <strong>do</strong>s França e Leite, conheci<strong>do</strong> por chácara <strong>da</strong> Floresta, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

à arborização abun<strong>da</strong>nte e seleciona<strong>da</strong> que ostentava e que fazia <strong>da</strong> mora<strong>da</strong> solarenga um ameno sítio <strong>de</strong><br />

magnífico efeito. Brilharam os salões <strong>da</strong> família França e Leite, com a elite <strong>da</strong> aristocracia e <strong>da</strong><br />

intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época. Ain<strong>da</strong> em vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> velho França e Leite, as <strong>de</strong>pendências <strong>da</strong> cria<strong>da</strong>gem e as<br />

cavalariças foram arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s a Manoel José Rodrigues <strong>da</strong> Costa e foi quem as transformou em pequenas<br />

casas <strong>de</strong> aluguel. Depois <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> França e Leite, os seus her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram a nobre mora<strong>da</strong> aos<br />

padres Antônio e José Men<strong>de</strong>s Paiva, por escritura <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1867, e pela quantia <strong>de</strong><br />

noventa contos <strong>de</strong> réis. Por fim, acabou transforma<strong>da</strong> em casa <strong>de</strong> cômo<strong>do</strong>s baratos, e, ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> pobreza<br />

honesta e virtuosa, a malandragem e o vício... Ain<strong>da</strong> no começo <strong>de</strong>ste século outro não era o cenário <strong>da</strong><br />

tradicional chácara <strong>da</strong> Floresta, <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> em conseqüência <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Central – agora,<br />

<strong>Rio</strong> Branco.<br />

Convento <strong>da</strong> A j u d a<br />

Muito antes <strong>de</strong> ser fun<strong>da</strong><strong>do</strong> o Convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, já existia no começo <strong>do</strong> caminho <strong>do</strong>s arcos <strong>da</strong><br />

Carioca – atual rua Evaristo <strong>da</strong> Veiga,— uma ermi<strong>da</strong> <strong>do</strong> orago à Nossa Senhora <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Esta tosca<br />

capelinha veio a ser restaura<strong>da</strong> em 1607, para abrigar os fra<strong>de</strong>s capuchos, recém-chega<strong>do</strong>s ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Pernambuco on<strong>de</strong> tinha se<strong>de</strong> no Brasil a Corporação Capucha. Vieram apenas <strong>do</strong>is<br />

religiosos – frei Antônio <strong>da</strong>s Chagas e frei Antônio <strong>do</strong>s Mártires, que <strong>de</strong>sembarcaram no dia 22 <strong>de</strong><br />

* Ver capítulo sobre o Carcelér. (N..A.)


s/a, s/d – Palácio Monroe.


s/a, 1911 – Aveni<strong>da</strong> <strong>Rio</strong> Branco, trecho final.


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outubro <strong>de</strong> 1606, e abrigaram-se na ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Santa Luzia, na praia <strong>do</strong> mesmo nome, até o ano seguinte,<br />

em que ocuparam a capela <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, com outros mais, chega<strong>do</strong>s a 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1607, e entre os<br />

quais estava o erudito frei Vicente <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r, autor <strong>de</strong> uma história sobre o Brasil – aliás valiosíssima.<br />

Ao tempo <strong>da</strong> prelazia <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Souza Alma<strong>da</strong> (1658/1670) cogitou-se <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> convento <strong>da</strong><br />

Aju<strong>da</strong>, mostran<strong>do</strong>-se o ilustre prela<strong>do</strong> muito interessa<strong>do</strong>. Porém, obra dispendiosa, anos <strong>de</strong>correram sem<br />

que fosse possível iniciá-la. Afinal, em 1741, intervin<strong>do</strong> a Câmara, ficou assenta<strong>do</strong> seguramente <strong>da</strong>r-selhe<br />

começo e o auxílio <strong>do</strong> erário público. A primeira pedra foi lança<strong>da</strong> em 1745. O breve, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1748, <strong>de</strong>liberou sobre a admissão <strong>de</strong> religiosos ao novicia<strong>do</strong>, começa<strong>do</strong> a 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1750,<br />

sob as regras <strong>de</strong> Santa Clara. A 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1751, foi eleita superiora madre Maria Leonor <strong>do</strong><br />

Nascimento. Falam as crônicas <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong>s vice-reis sobre os festejos populares, com as famosas<br />

Canta<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s Reis, que se realizavam no pátio <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> era levanta<strong>do</strong> o mais belo e maior presépio<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1787/1826<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> e fun<strong>do</strong>s no largo <strong>da</strong> Carioca, com duas sóli<strong>da</strong>s<br />

casas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> <strong>de</strong> frente para a dita rua, com saca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ferro. José Dias <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, homem rico,<br />

comprou essas casas por 4:000$, sen<strong>do</strong> uma a 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1787, e a outra a 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

mesmo ano. Miran<strong>da</strong>, que possuía proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s urbanas e rurais valiosas, era casa<strong>do</strong> com Eufrásia<br />

Joaquina <strong>da</strong> Silva, que ficou riquíssima por morte <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong> e residia em casa própria à rua <strong>da</strong><br />

Misericórdia, à mão direita, in<strong>do</strong> para Santa Luzia. Era <strong>de</strong> <strong>do</strong>is sobra<strong>do</strong>s e pouco adiante <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São<br />

José. Em 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1826, a referi<strong>da</strong> senhora ven<strong>de</strong>u as suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> <strong>de</strong> casas <strong>da</strong><br />

rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> por 9:000$, a João Lopes Teixeira, que era freta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> embarcações e ativo homem <strong>de</strong><br />

negócios no mar e em terra. Residia na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, no beco <strong>do</strong>s Cachorros 26 – <strong>de</strong>pois travessa <strong>de</strong> Santa Rita.<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1815<br />

Terreno <strong>de</strong> 2 braças <strong>de</strong> frente por 17 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com uma casa térrea nº 38, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

alferes João <strong>do</strong>s Santos Cor<strong>de</strong>iro, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1815.<br />

Cor<strong>de</strong>iro comprou essa casa a Antônio Joaquim Pereira Velasco e a João Muniz <strong>da</strong> Silva. Homens ricos<br />

<strong>do</strong> bairro <strong>da</strong>s Laranjeiras. João Muniz era her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> sua mulher, irmã <strong>de</strong> Velasco, filho <strong>de</strong> Antônio<br />

Pereira <strong>de</strong> Lima Velasco e <strong>de</strong> Paula Rangel <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Velasco. Esse casal era possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

fortuna, com proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> vulto no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – século XVIII – entre as quais a gran<strong>de</strong> chácara<br />

<strong>da</strong> paragem <strong>da</strong>s Laranjeiras, <strong>da</strong> qual há notícia neste livro. O quintal <strong>da</strong> casa nº 38 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> <strong>da</strong>va<br />

saí<strong>da</strong> para o beco Manoel <strong>de</strong> Carvalho, por um largo portão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1818/1856<br />

Terreno <strong>de</strong> 2 braças <strong>de</strong> frente e pouco fun<strong>do</strong>, com uma casa nº 51, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> padre Feliciano<br />

José <strong>do</strong>s Santos Maia, a quem o terreno estava afora<strong>do</strong> por título <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1818, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

compra que fizera o dito padre <strong>da</strong> casa a Antônio Manoel Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Carvalho e pela quantia <strong>de</strong><br />

1:000$. Em 1856, já o imóvel em apreço pertencia a uma her<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> padre Feliciano, <strong>de</strong> nome Carolina<br />

Teriana Rangel. A essa senhora novo título <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno foi concedi<strong>do</strong>, em 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1856.


1 3 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> – 1826<br />

Terreno <strong>de</strong> 2.5 braças <strong>de</strong> frente com sóli<strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que havia si<strong>do</strong> <strong>do</strong> padre<br />

João <strong>da</strong> Silveira Gulart, possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> outros prédios urbanos no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, os quais foram <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s,<br />

em testamento, ao seu sobrinho capitão José <strong>da</strong> Silveira Gulart que era homem bem rico ao falecer,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> por testamento, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1826, to<strong>da</strong> a sua fortuna também a sobrinhos seus; o<br />

briga<strong>de</strong>iro José Custódio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Bessa, João Anastácio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Bessa e Luiza Caetana <strong>de</strong><br />

Almei<strong>da</strong> Bessa.<br />

Rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha<br />

A rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha, com o mesmo seguimento <strong>da</strong> atual aveni<strong>da</strong> Treze <strong>de</strong> Maio, foi cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong><br />

entre os anos <strong>de</strong> 1735 e 1737, quan<strong>do</strong> se fez o enxugamento <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, ao tempo <strong>da</strong> governança<br />

<strong>de</strong> Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Esse governa<strong>do</strong>r prestou gran<strong>de</strong> auxílio à obra <strong>da</strong> abertura <strong>de</strong>ssa rua, na<br />

qual as edificações obe<strong>de</strong>ceram às novas especificações <strong>da</strong>s posturas cria<strong>da</strong>s pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara,<br />

em 1736, sen<strong>do</strong> que as facha<strong>da</strong>s estavam sujeitas à censura <strong>do</strong> arquiteto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por sua vez, as<br />

Augusto Malta, 26/10/1911 – Convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Pátio <strong>da</strong>s festas, on<strong>de</strong> o povo antigo reunia-se e festejava a véspera <strong>de</strong> Reis, com cantos e<br />

<strong>da</strong>nças.


Augusto Malta, 26/10/1911 – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Face <strong>do</strong>s coros <strong>da</strong>s freiras e <strong>da</strong>s servas.


1 3 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

acomo<strong>da</strong>ções internas <strong>da</strong>s casas, com essas novas posturas, receberam mais luz, elevan<strong>do</strong>-se o pé direito<br />

e empregan<strong>do</strong>-se as clarabóias suspensas, que ventilavam melhor as casas. * – Essas e outras<br />

especificações tornaram realmente mais confortáveis e higiênicas as mora<strong>da</strong>s <strong>da</strong> velha Sebastianópolis.<br />

O primeiro nome <strong>da</strong> rua foi con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boba<strong>de</strong>la – título com o qual foi agracia<strong>do</strong> o governa<strong>do</strong>r Gomes<br />

Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Mais tar<strong>de</strong>, veio a rua a ter a nominação <strong>de</strong> Guar<strong>da</strong> Velha, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à guar<strong>da</strong> <strong>de</strong> polícia<br />

que existiu, por muitos anos, no canto <strong>da</strong> rua, junto ao chafariz <strong>da</strong> Carioca e <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a controlar a<br />

distribuição <strong>da</strong> água, evitan<strong>do</strong> distúrbios, principalmente entre os escravos ao ganho. O atual nome Treze<br />

<strong>de</strong> Maio recor<strong>da</strong> o Dia <strong>da</strong> Abolição, 27 no ano <strong>de</strong> 1888, com a assinatura <strong>da</strong> intitula<strong>da</strong> Lei Áurea, pela<br />

princesa Isabel <strong>de</strong> Bragança e Orleans, con<strong>de</strong>ssa d’Eu, então na Regência <strong>do</strong> Império <strong>do</strong> Brasil. Quer <strong>de</strong><br />

um, quer <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro em apreço, os terrenos são foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> e são terrenos artificiais por serem oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> aterro <strong>do</strong>s extensos encharca<strong>do</strong>s que cobriam<br />

essa região vizinha à antiga lagoa <strong>do</strong> Curtume, também chama<strong>da</strong> Santo Antônio. Por questões suscita<strong>da</strong>s<br />

sobre a posse legítima <strong>de</strong>sses artificiais, os prédios, que foram sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s na rua <strong>do</strong> Boba<strong>de</strong>la,<br />

iam <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> permeio faixas <strong>de</strong>sses terrenos questiona<strong>do</strong>s, as quais formaram os chama<strong>do</strong>s<br />

corre<strong>do</strong>res mura<strong>do</strong>s, que eram <strong>de</strong> serventia priva<strong>da</strong> e que retar<strong>da</strong>ram <strong>de</strong> muito as edificações. É assim<br />

que, em 1808, por ocasião <strong>do</strong> primeiro lançamento <strong>da</strong>s décimas <strong>do</strong>s prédios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a rua <strong>do</strong> Boba<strong>de</strong>la aparece como sen<strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> reduzi<strong>do</strong> nº <strong>de</strong> casas. A obra<br />

<strong>do</strong> enxugamento <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, inicia<strong>da</strong> por Gomes Freire, ficou por completar, restan<strong>do</strong> a parte<br />

compreendi<strong>da</strong> entre os fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> capitão João Mascarenhas Castelo Branco e pelos quintais<br />

<strong>da</strong>s casas <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Barbonos, limítrofes à mesma chácara, situa<strong>da</strong> à rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha, canto com a<br />

<strong>do</strong>s Barbonos, à direita. Essa parte só foi sanea<strong>da</strong> aos poucos pelos proprietários, na valorização <strong>do</strong>s<br />

terrenos, para vendê-los ou apropriá-los às construções.<br />

Des<strong>de</strong> 1893, sen<strong>do</strong> prefeito <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> Cândi<strong>do</strong> Barata Ribeiro, notável homem <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

vinham sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong>s planos para o alargamento e o prolongamento <strong>da</strong> rua Treze <strong>de</strong> Maio até o mar,<br />

planos que, em linhas gerais, eram iguais aos <strong>de</strong> 1886 a 1888, man<strong>da</strong><strong>do</strong>s organizar pela Ilustríssima<br />

Câmara. Lamentavelmente, o progresso material <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> retar<strong>do</strong>use<br />

pelas dissensões políticas entre a Ilustríssima Câmara e o governo imperial. Na gran<strong>de</strong> fase <strong>da</strong><br />

evolução <strong>da</strong> metrópole brasileira, que celebrizou a administração <strong>do</strong> prefeito Pereira Passos, a rua Treze<br />

<strong>de</strong> Maio foi alarga<strong>da</strong> e melhora<strong>da</strong> a feição arquitetural <strong>da</strong>s casas. O prefeito Henrique Dosdworth, outro<br />

administra<strong>do</strong>r atento ao progresso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, melhoran<strong>do</strong> bastante o trecho entre o largo <strong>da</strong> Carioca e a<br />

rua Evaristo <strong>da</strong> Veiga, <strong>de</strong>u maior largura à rua Treze <strong>de</strong> Maio – hoje aveni<strong>da</strong> <strong>do</strong> mesmo nome. O<br />

alargamento fez-se pela face <strong>do</strong>s prédios antigos, entre os quais o <strong>do</strong> tradicional teatro Lírico, o <strong>da</strong><br />

Imprensa Nacional – aliás, <strong>de</strong> bastante estilo – e a capela anglicana.<br />

Os terrenos que se formaram com aterro <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> foram concedi<strong>do</strong>s a particulares, pelo<br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Essas concessões obe<strong>de</strong>ceram ao critério <strong>da</strong> enfiteuses, fican<strong>do</strong> o concessionário<br />

condiciona<strong>do</strong> a logo construir. Desses emprazamentos, o maior foi o <strong>do</strong> capitão João Mascarenhas<br />

Castelo Branco, cujos her<strong>de</strong>iros ou sucessores operaram o <strong>de</strong>smembramento <strong>do</strong> terreno empraza<strong>do</strong> em<br />

porções diferentes. O título <strong>do</strong> capitão Mascarenhas traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1740 e <strong>do</strong> histórico<br />

<strong>do</strong> aforamento concedi<strong>do</strong> ao dito militar consta a existência <strong>de</strong> um terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente por 30<br />

ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e que, por se achar aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, foi <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> em comisso pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em<br />

1815, e leva<strong>do</strong> à praça, a 2 <strong>de</strong> fevereiro <strong>do</strong> dito ano, sen<strong>do</strong> arremata<strong>do</strong> por José Joaquim Ferreira. Esse<br />

arrematante construiu no terreno quatro prédios, que receberam os números 6, 8, 10 e 12 pela rua <strong>da</strong><br />

Guar<strong>da</strong> Velha, e que vieram a ser vendi<strong>do</strong>s a Luiz Antônio <strong>da</strong> Silva e por esse proprietário, radicalmente<br />

reforma<strong>do</strong>s. É o mesmo precita<strong>do</strong> histórico que nos relata as questões entre her<strong>de</strong>iros ou sucessores <strong>do</strong><br />

capitão Mascarenhas e os proprietários <strong>de</strong> prédios que ocupavam os terrenos compreendi<strong>do</strong>s no<br />

aforamento <strong>do</strong> mesmo Mascarenhas, em 1740. Uma <strong>da</strong>s causas <strong>de</strong>ssas querelas, se não a principal e<br />

única, foram as irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s cometi<strong>da</strong>s nos processos <strong>da</strong>s transmissões <strong>do</strong>s antigos prazos e feitas<br />

quase to<strong>da</strong>s à revelia <strong>do</strong> senhorio direto – que era e é a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Ain<strong>da</strong> em<br />

1830, questionavam Luiz Antônio <strong>da</strong> Silva e o sena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império Jacinto Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça,<br />

segun<strong>do</strong> mari<strong>do</strong> <strong>de</strong> Francisca <strong>de</strong> Paula Liz <strong>de</strong> Castelo Branco, viúva <strong>do</strong> capitão José Tomás Gusmão. A<br />

referi<strong>da</strong> senhora era filha <strong>do</strong> coronel Inácio <strong>de</strong> Lemos Mascarenhas, irmão <strong>do</strong> bispo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> –<br />

<strong>do</strong>m José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco. 28 Francisca <strong>de</strong> Paula tinha uma irmã <strong>de</strong> nome<br />

Ana <strong>de</strong> Lemos Mascarenhas, a quem o dito prela<strong>do</strong>, por escritura <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1801, fez as<br />

* Registro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara – 1730/1740 – Arquivo Municipal. (N.A.)


seguintes <strong>do</strong>ações: casas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> à rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha, canto <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, à mão direita, in<strong>do</strong> para a<br />

Lapa <strong>do</strong> Desterro; casas térreas, em seguimento às precita<strong>da</strong>s na mesma rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha; a fazen<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> Capão e a quinta <strong>de</strong> Santana, no distrito <strong>de</strong> Inhaúma, e também as terras anexas à dita quinta, e<br />

compra<strong>da</strong>s pelo bispo, a 12 e 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1795 e a 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1796. Falecen<strong>do</strong> a <strong>do</strong>natária,<br />

os bens que <strong>de</strong>ixou e que os possuía em fi<strong>de</strong>i comisso seguiram a sucessão estipula<strong>da</strong> na <strong>do</strong>ação.<br />

Beco <strong>do</strong> Pro p ó s i t o<br />

O beco <strong>do</strong> Propósito foi cor<strong>de</strong>a<strong>do</strong> como convinha às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> povo ao tempo <strong>do</strong> governo<br />

<strong>de</strong> Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (1733/1763) 29 . A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>de</strong>ve bastante<br />

a Gomes Freire, no que esse ilustre governa<strong>do</strong>r i<strong>de</strong>alizou e realizou para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>la – quer<br />

material, quer moral e intelectualmente. Foi ele o fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>do</strong>s Seletos, 30 centro que se<br />

tornou <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong> fluminense <strong>da</strong> época.<br />

Fez-se o seu cor<strong>de</strong>amento pelo aterra<strong>do</strong> <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, que se formou sobre os paus <strong>de</strong> uma infecta<br />

lagoa chama<strong>da</strong> <strong>do</strong> Curtume, por ficar próxima e <strong>de</strong> serventia <strong>do</strong> curtume <strong>de</strong> Filipe Fernan<strong>de</strong>s, nas<br />

Augusto Malta, 26/10/1911 – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Terraço on<strong>de</strong> as freiras faziam recreio.<br />

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proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> local on<strong>de</strong> existiu o edifício <strong>da</strong> Imprensa Nacional – Treze <strong>de</strong> Maio, canto largo <strong>da</strong><br />

Carioca. Esse bonito edifício foi recém <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>.<br />

Com o estabelecimento <strong>da</strong> Casa Conventual <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>do</strong>s Franciscanos, no morro<br />

próximo à lagoa, esta, o morro e a região ao re<strong>do</strong>r passaram a chamar-se <strong>de</strong> Santo Antônio. A vin<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>sses religiosos para esse local levou a administração pública a cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong> mesmo, sanean<strong>do</strong> a várzea<br />

alagadiça e palustre a que os coevos <strong>da</strong>vam a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> várzea <strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s.<br />

No beco <strong>do</strong> Propósito <strong>do</strong>is terrenos, apenas, conseguimos positivar com títulos <strong>de</strong> foreiros à<br />

Câmara Municipal e no ano <strong>de</strong> 1845. Um, que media 36 palmos <strong>de</strong> frente por 73 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com três casas<br />

térreas <strong>de</strong> números 13, 15, 17 e que eram casas baixas, <strong>de</strong> rótula, porta e janela, e <strong>da</strong>s primeiras<br />

edificações <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> beco. Tinham sala <strong>de</strong> visita, duas alcovas, sala <strong>de</strong> jantar, <strong>de</strong>spensa e cozinha.<br />

Ain<strong>da</strong> em 1880, guar<strong>da</strong>vam a mesma feição e estavam bem conserva<strong>da</strong>s, segun<strong>do</strong> o Arrolamento <strong>da</strong>s<br />

Décimas para cobrança. Até 1845, pertenceram a Guilhermina Pedreira <strong>de</strong> Magalhães Castro, casa<strong>da</strong><br />

com o dr. José Antônio <strong>de</strong> Magalhães Castro. No dito ano <strong>de</strong> 1845, o casal precita<strong>do</strong> ven<strong>de</strong>u a casa 13<br />

a Joaquim Moreira, por 1:533$300, e as <strong>de</strong> números 15 e 17, a João Antônio Manoel <strong>do</strong> Lago, pela<br />

quantia <strong>de</strong> 3:066$600. Esses <strong>do</strong>is compra<strong>do</strong>res adquiriram, também, o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong>s casas<br />

que compraram e pelo que pediram e obtiveram o respectivo aforamento – Joaquim a 15 e João Antônio<br />

a 16 <strong>de</strong> junho, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1845. O outro terreno afora<strong>do</strong> pela Câmara media 8 braças e 8 palmos <strong>de</strong> frente<br />

por 73 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com quatro casas <strong>de</strong> números 1 a 7, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Guilhermina Amália <strong>de</strong><br />

Lima Corrêa <strong>do</strong> Couto Ferraz, casa<strong>da</strong> com o <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Luiz Pedreira <strong>do</strong> Couto Ferraz e filha <strong>do</strong><br />

briga<strong>de</strong>iro Antônio Corrêa <strong>da</strong> Costa e <strong>de</strong> Josefa Polucena <strong>de</strong> Lima Corrêa. O casal Couto Ferraz <strong>de</strong>ixou<br />

seis filhos: Guilhermina, Josefa Carolina, Maria Romana, Umbelina A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, João e Luiz Pedreira <strong>do</strong><br />

Couto Ferraz Junior – que foi viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> Bom Retiro. 31<br />

Augusto Malta, 26/10/1911 – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Chácara.


Augusto Malta, s/d – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, sacristia <strong>da</strong> capela.<br />

Augusto Malta, 26/10/1911 – Convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Demoli<strong>do</strong> em 1920, ocupava to<strong>da</strong> a área hoje <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Cinelândia.<br />

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Augusto Malta, 26/10/1911 – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, oratório <strong>da</strong> Sala <strong>da</strong> Porteira.


Augusto Malta, 26/10/1911 – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, fonte <strong>da</strong>s Saracuras.<br />

s/a, s/d – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, pátio central.<br />

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1 4 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Augusto Malta, 26/10/1911 – Interior <strong>do</strong> convento <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, altar <strong>da</strong>s religiosas.


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Juan Gutierrez, s/d – Antiga rua <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Velha. Depois <strong>da</strong> lei Áurea (1888), rua Treze <strong>de</strong> Maio, atualmente aveni<strong>da</strong> Treze <strong>de</strong> Maio, começa no<br />

largo <strong>da</strong> Carioca.


1 4 6 | T E R R A S E FAT O S


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Augusto Malta, 30/05/1913. Desembarque <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> prefeito Pereira Passos no Arsenal <strong>de</strong> Marinha <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Foi prefeito <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1902 a 16 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1906. Viajava a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Araguaia quan<strong>do</strong> repentinamente faleceu, na noite <strong>de</strong> 1º para<br />

2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1913. Seu corpo foi embalsama<strong>do</strong> em Tenerife, leva<strong>do</strong> a Lisboa e <strong>da</strong>í transporta<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Cap. Finisterre para o Brasil.


1 4 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

s/a, s/d – Antigo Arsenal <strong>de</strong> Guerra.


C A P Í T U L O X I<br />

M i ser i c ó rdi a


1 5 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rápi<strong>do</strong> foi o povoamento <strong>do</strong> litoral vizinho ao morro <strong>do</strong> Descanso, que <strong>de</strong>pois se chamou <strong>do</strong><br />

Castelo, no qual se assentou o governo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1567.<br />

Levantou-se a casaria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Piaçaba, atualmente Santa Luzia, até o outeiro <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Brito – hoje<br />

morro <strong>de</strong> São Bento, e formou-se uma rua à beira-mar para servidão <strong>do</strong> povo e a que se <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong><br />

Misericórdia. Esta <strong>de</strong>nominação esten<strong>de</strong>u-se a to<strong>do</strong> o bairro, on<strong>de</strong> assistiam nobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> conta<strong>do</strong>s<br />

por mercê <strong>de</strong> el rei. Por mais <strong>de</strong> século, o bairro <strong>da</strong> Misericórdia foi o empório <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e<br />

residência <strong>da</strong> nobreza, <strong>do</strong>s senhores <strong>de</strong> engenho, <strong>do</strong>s ricaços homens <strong>de</strong> negócio, <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>res, <strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> navios e <strong>da</strong> gente <strong>da</strong> governança. Ao * começar o século XVII, a Câmara<br />

já se encontrava instala<strong>da</strong> à praia <strong>da</strong> Misericórdia, junto à ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> São José, em local on<strong>de</strong> melhor<br />

cômo<strong>do</strong> oferecia ao povo para o trato <strong>do</strong>s negócios <strong>do</strong> seu interesse e on<strong>de</strong> também mais seguro era o<br />

<strong>de</strong>sembarque <strong>do</strong>s mantimentos e mais pronto para o arranjamento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nos baixos <strong>da</strong> Casa<br />

<strong>do</strong> Conselho ou Câmara, instalou-se a ca<strong>de</strong>ia pública e o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> materiais ficou nos fun<strong>do</strong>s – que<br />

olhavam o mar. Tira<strong>de</strong>ntes, o mártir <strong>da</strong> nossa In<strong>de</strong>pendência política, esteve preso nessa ca<strong>de</strong>ia e <strong>da</strong>í saiu<br />

para ser enforca<strong>do</strong>, a 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1792. Anos <strong>de</strong>pois, já bem <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>, foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> a velha casa e<br />

outra levanta<strong>da</strong> no mesmo local. Consumiram-se avulta<strong>da</strong>s quantias na sua construção, que levou anos.<br />

Esse sóli<strong>do</strong> e gran<strong>de</strong> edifício, que alcançou os nossos dias, tornou-se próprio nacional e até ser <strong>de</strong>moli<strong>do</strong><br />

serviu <strong>de</strong> se<strong>de</strong> à Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s. Em substituição ao antigo casarão e para o mesmo fim, foi<br />

levanta<strong>do</strong> no mesmo local suntuoso edifício, mais amplia<strong>do</strong>, porém. É o Palácio Tira<strong>de</strong>ntes.<br />

Quan<strong>do</strong> a casa <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong>s Verea<strong>do</strong>res incorporou-se aos próprios <strong>da</strong> Nação já havia perdi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> muito <strong>do</strong> seu primitivo aspecto, pelas transformações sofri<strong>da</strong>s no passar <strong>do</strong>s anos. Para aformoseá-la,<br />

o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara man<strong>do</strong>u executar, em 1803, obras <strong>de</strong> vulto, as quais estiveram a cargo <strong>de</strong> Francisco<br />

Xavier <strong>de</strong> Matos Pimentel, empreiteiro construtor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> nomea<strong>da</strong> na época.<br />

Cerca <strong>de</strong> quarenta anos os edis cariocas an<strong>da</strong>ram em peregrinação, alugan<strong>do</strong> casas para fazer as<br />

vereanças. Assim é que, em 1759, num requinte <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração à Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, os<br />

verea<strong>do</strong>res ce<strong>de</strong>ram sua Casa ao dito Tribunal, o qual, fun<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo governa<strong>do</strong>r Gomes Freire <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, a 16 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1751, ain<strong>da</strong> aguar<strong>da</strong>va, em 1759, uma se<strong>de</strong> condigna. Novamente, com a<br />

chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Família Real portuguesa em 1808, os verea<strong>do</strong>res, cedi<strong>do</strong> o Paço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> à régia comitiva,<br />

foram obriga<strong>do</strong>s a peregrinar até 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1825, dia em que se instalou a Câmara em sua nova se<strong>de</strong><br />

própria, no então campo <strong>de</strong> Santana.<br />

A topografia <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Misericórdia veio sen<strong>do</strong> bem altera<strong>da</strong> no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos,<br />

principalmente <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s aterros sobre o mar <strong>do</strong> seu litoral, aterros que lhe tiraram logo a sua primitiva<br />

feição: bor<strong>da</strong> <strong>de</strong> curvas reentrantes e pontas. Nos nossos dias, a transformação fez-se radical. Os<br />

primeiros aterros favoreceram as concessões <strong>de</strong> marinhas para utili<strong>da</strong><strong>de</strong> priva<strong>da</strong>, no intuito <strong>de</strong> fomentar<br />

o comércio <strong>de</strong> frutas, 32 hortaliças, louça <strong>do</strong> país, ma<strong>de</strong>iras e outros artigos <strong>de</strong> consumo.<br />

É assim que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Calabouço 33 até a praia <strong>do</strong> Peixe, em barracas apropria<strong>da</strong>s, se improvisou,<br />

e bem <strong>de</strong>pressa, um movimenta<strong>do</strong> comércio 34 Depois <strong>de</strong> 1780, aterrou-se ain<strong>da</strong> mais sobre o mar, <strong>de</strong><br />

forma que em 1832 as antigas concessões já estavam bem distancia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s 15 braças previstas nas<br />

Or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> Reino. Dom João VI foi pródigo nas concessões <strong>de</strong> marinhas nesse litoral, benefician<strong>do</strong><br />

os seus serviçais, entre os quais figuram como os mais aquinhoa<strong>do</strong>s: Francisco Raposo, cocheiro <strong>do</strong> rei;<br />

Paulino Antônio, moço estribeiro, e Manoel <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, o famoso Cascata, guar<strong>da</strong>-costas <strong>do</strong> rei. Esses<br />

indivíduos tornaram-se ricaços.<br />

A Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia 35 <strong>de</strong>u o nome ao bairro. Nasci<strong>da</strong> <strong>do</strong> amor ao próximo e <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

diz um escritor, essa instituição foi cria<strong>da</strong> em Portugal, no século XV, por frei Miguel Contreiras, sob o<br />

patrocínio <strong>da</strong> rainha <strong>do</strong>na Leonor. Em 1498, instalou-se em Lisboa a primeira Santa Casa <strong>da</strong><br />

Misericórdia, e a <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> teve o seu princípio em 1582, como escreve frei Agostinho <strong>de</strong> Santa<br />

Maria na sua valiosa obra o Santuário mariano, volume X. Diz o erudito monge que, pelo ano <strong>de</strong> 1582,<br />

acossa<strong>da</strong> <strong>de</strong> temporais e <strong>de</strong> aflições, arribou no porto <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> uma gran<strong>de</strong> esquadra espanhola,<br />

que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>va o estreito <strong>de</strong> Magalhães. Além <strong>da</strong>s tormentas, teve a arma<strong>da</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> tripulação,<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> três mil homens, acometi<strong>da</strong> <strong>de</strong> grave moléstia. O gran<strong>de</strong> missionário Anchieta, que se achava<br />

<strong>de</strong> visita ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, tomou to<strong>do</strong>s os enfermos <strong>da</strong> esquadra por sua conta, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> traça como se<br />

lhes assinasse uma casa, on<strong>de</strong> foram assisti<strong>do</strong>s e cura<strong>do</strong>s. Esse fato <strong>de</strong>u origem à nossa Santa Casa <strong>de</strong><br />

Misericórdia, cujos serviços têm si<strong>do</strong> valiosíssimos à pobreza, à ciência médica e à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral,<br />

na sua quatro vezes secular existência. O velho bairro <strong>da</strong> Misericórdia ocupava to<strong>do</strong> ele chão foreiro à<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e nos limites <strong>do</strong> que nos foi possível ler e i<strong>de</strong>ntificar, <strong>da</strong>mos a seguir<br />

notícia ligeira <strong>de</strong> alguns aforamentos, pelos logra<strong>do</strong>uros.<br />

* No Livro <strong>de</strong> Vereança, <strong>de</strong> 1635 a 1650, consta o auto <strong>do</strong> acor<strong>da</strong>m que se fez no Conselho <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> Câmara para a várzea, junto à<br />

ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> São José. (N.A.)


Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1 7 7 4 / 1 8 2 8<br />

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Terreno <strong>de</strong> 4 braças e meia, ocupa<strong>do</strong> pelo prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> numero 63, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Caetano<br />

Pereira Car<strong>do</strong>so, e por ele vendi<strong>do</strong> a Maria Francisca <strong>da</strong> Encarnação, viúva <strong>de</strong> Francisco Antônio <strong>de</strong><br />

Souza, por escritura <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1774. Em 1804, o prédio em causa aparece registra<strong>do</strong> no<br />

Tombamento <strong>da</strong> Câmara, em nome <strong>do</strong> tenente <strong>de</strong> milícias Antônio Barbosa, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra feita<br />

a 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1803, estan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> por aten<strong>de</strong>r o aforamento <strong>do</strong> terreno, segun<strong>do</strong> o dito registro.<br />

De sucessão em sucessão, o prédio veio a pertencer a Manoel Nascentes Pinto, a quem havia si<strong>do</strong><br />

vendi<strong>do</strong> pela quantia <strong>de</strong> 8:000$, em 1828, por José Maria Noronha Feital, com carta <strong>de</strong> aforamento, em<br />

4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1827. O aforamento <strong>de</strong> Nascentes <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1828. Esclarecemos que o nº <strong>do</strong><br />

prédio <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1810, por ocasião <strong>da</strong> numeração predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1 7 9 0<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Misericórdia e fun<strong>do</strong>s no beco <strong>do</strong>s Ferreiros, com a<br />

largura <strong>de</strong> 4 braças. Era ocupa<strong>do</strong> por duas casas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> volta<strong>da</strong>s para a dita rua e pertencentes a<br />

Planta <strong>do</strong> Bairro <strong>da</strong> Misericórdia.


1 5 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Joaquim Pedro Corrêa <strong>do</strong>s Reis Allan, que as comprara no começo <strong>de</strong> 1790, conforme a <strong>de</strong>claração que<br />

fez ao pedir o aforamento <strong>do</strong> terreno ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, que <strong>de</strong>spachou a 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong><br />

precita<strong>do</strong> ano conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o aforamento à razão <strong>de</strong> novecentos e vinte réis anuais.<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1 7 9 2 / 1 8 3 5<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente, com uma casa térrea, afora<strong>do</strong> a João Tomás Curvelo, proprietário<br />

<strong>da</strong> casa. A filha e her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Tomás Curvelo, <strong>de</strong> nome Josefa Maria <strong>de</strong> Jesus, obteve, em 1817, <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a licença para ven<strong>de</strong>r, como ven<strong>de</strong>u, a casa, então com nº 71, pela quantia <strong>de</strong> 1:600$,<br />

a João Ricar<strong>do</strong> Fajar<strong>do</strong> Perdigão. Em 1835, Fajar<strong>do</strong> Perdigão pediu e obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara a<br />

licença para a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa e também <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno, tu<strong>do</strong> por 1.200$, a Inácia <strong>de</strong> Oliveira<br />

Barra<strong>da</strong>s. Nessa época a casa já estava bastante arruina<strong>da</strong>. *<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1 8 1 0 / 1 8 2 7<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Misericórdia e fun<strong>do</strong>s à praia <strong>do</strong>m Manoel, com a<br />

mesma testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> 4 braças. Esse terreno está lança<strong>do</strong> no Tombamento Municipal, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1810, em<br />

nome <strong>de</strong> Antônio José <strong>de</strong> Moura, com carta <strong>de</strong> aforamento, a 9 <strong>de</strong> maio <strong>do</strong> dito ano. Estava ocupa<strong>do</strong> por<br />

duas casas, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> mesmo Moura. Uma térrea, nº 95, e a outra <strong>de</strong> loja e sobra<strong>do</strong>, números 97<br />

e 99 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Misericórdia. Ricaço e viúvo <strong>de</strong> Escolástica Marques <strong>de</strong> Souza, Antônio José <strong>de</strong> Moura,<br />

não ten<strong>do</strong> her<strong>de</strong>iros obriga<strong>do</strong>s, dispôs em testamento <strong>da</strong> sua fortuna em favor <strong>da</strong> sua sobrinha Joaquina<br />

Escolástica <strong>de</strong> Souza Prates, e na sua falta seriam contempla<strong>do</strong>s os filhos <strong>de</strong>ssa senhora <strong>de</strong> nomes<br />

Antônio, José e Escolástica, menores ao tempo <strong>do</strong> testamento, em 1812. O testa<strong>do</strong>r condicionou que<br />

exclusivamente à her<strong>de</strong>ira competia a administração <strong>da</strong> herança e sem qualquer interferência <strong>do</strong> seu<br />

mari<strong>do</strong>, José Joaquim <strong>de</strong> Gouveia. No caso <strong>de</strong> agravo, <strong>da</strong>r-se-ia a transferência <strong>do</strong>s bens para o Juiza<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Órfãos que os administraria em proveito <strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s menores. A 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1812, Joaquina<br />

Escolástica, que residia na mesma rua <strong>da</strong> Misericórdia, próximo ao Guin<strong>da</strong>ste, compareceu ao juízo <strong>do</strong><br />

Resíduo Eclesiástico e <strong>de</strong>clarou aceitar o testamento <strong>do</strong> seu tio e cumpri-lo fielmente e pelo que se<br />

dispôs a assinar, como assinou, um termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração, juramento e promessa. Em 3 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1827,<br />

Joaquina Escolástica <strong>de</strong> Souza Prates, já <strong>de</strong> posse e em plena administração <strong>da</strong> herança, obteve <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara o aforamento <strong>do</strong> terreno em apreço, à razão <strong>de</strong> três mil réis ao ano.<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1834/1836<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Misericórdia, canto <strong>do</strong> beco <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste, por on<strong>de</strong><br />

corria fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 4 braças. Estava ocupa<strong>do</strong> por duas pequenas casas térreas <strong>de</strong> porta e janela. Uma tinha<br />

o nº 109, fazia canto no dito beco, pertencia a Antônio José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> e por ele vendi<strong>da</strong> em janeiro <strong>de</strong><br />

1836, pela quantia <strong>de</strong> 500$000, a Manoel José Lopes Neves. A outra tinha o nº 111, pertencia a Manoel<br />

Lopes <strong>de</strong> Castro, a quem foi compra<strong>da</strong> pelo dito Manoel José Lopes Neves, por 600$000, com licença<br />

<strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1834. Por <strong>de</strong>liberação ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, cuja<br />

<strong>da</strong>ta não conseguimos precisar, o terreno, quanto ao aforamento, estava dividi<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is prazos e ca<strong>da</strong><br />

um segun<strong>do</strong> a área <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s casas, ou seja, 2 braças <strong>de</strong> frente por 4 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Antônio José<br />

<strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> era foreiro <strong>da</strong> porção correspon<strong>de</strong>nte à sua casa e Manoel Lopes <strong>de</strong> Castro <strong>da</strong> ocupa<strong>da</strong> pela<br />

casa 111 a ele, Manoel, pertencente. O foro estipula<strong>do</strong> era <strong>de</strong> <strong>do</strong>is mil réis anuais para ca<strong>da</strong> porção. Essas<br />

duas casas eram <strong>da</strong>s primeiras edificações <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Misericórdia.<br />

Os padres jesuítas, para a facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> acesso <strong>do</strong> material <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> às obras que executavam no<br />

alto <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo e também para aten<strong>de</strong>r a outros fins úteis, montaram um eleva<strong>do</strong>r – espécie <strong>de</strong><br />

* Como rezam os Autos <strong>de</strong> Vistorias – Arquivo Municipal. (N.A.)


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guin<strong>da</strong>ste – na encosta <strong>do</strong> morro. O caminho transita<strong>do</strong> pelos trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a praia até o aparelho<br />

tornou-se <strong>de</strong> servidão pública, com <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> travessa <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste, mo<strong>de</strong>rnamente, rua Costa<br />

Velho.<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia – 1867<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças e 7 palmos <strong>de</strong> frente por 15 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e afora<strong>do</strong> a 30 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1867,<br />

por <strong>do</strong>is mil e cem réis anuais, a Manoel José Cabral. Ocupava o terreno um sóli<strong>do</strong> e vistoso prédio <strong>de</strong><br />

sobra<strong>do</strong> nº 57, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> dito foreiro e por ele compra<strong>do</strong> a Antônio José <strong>de</strong> Gouveia, por onze<br />

contos <strong>de</strong> réis.<br />

Largo <strong>da</strong> Misericórdia – 1861<br />

Terreno <strong>de</strong> 28 palmos <strong>de</strong> frente por 64 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e afora<strong>do</strong> a Pedro José Fernan<strong>de</strong>s, em 25<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1861, por trezentos e vinte réis anuais. Era ocupa<strong>do</strong> por uma casa, <strong>de</strong> nº 5, pertencente ao<br />

Planta <strong>da</strong> Misericórdia – largo <strong>do</strong> Moura.


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Reprodução <strong>de</strong> Augusto Malta, 1841 – Morro <strong>do</strong> Castelo, igreja <strong>de</strong> São Sebastião.<br />

Igreja <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> Castelo matriz <strong>da</strong> paróquia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (1567), assento <strong>da</strong> catedral <strong>do</strong> bispa<strong>do</strong> (1676/1734). Foi construí<strong>da</strong> por<br />

Mem <strong>de</strong> Sá (1567/1583), e completamente reconstruí<strong>da</strong>, na parte interior, no governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> (1790/1801).


Augusto Malta, 1/3/1921 – Interior <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> São Sebastião, no morro <strong>do</strong> Castelo.


1 5 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

dito foreiro, por compra que fizera em praça <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s por Francisco <strong>de</strong> Oliveira Tavares Fortes.<br />

A casa 5 ficava entre as casas <strong>da</strong>s recolhi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Misericórdia, à direita, e a casa que pertencia aos<br />

expostos, à esquer<strong>da</strong>.<br />

Travessa <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste – 1819/1869<br />

Terreno <strong>de</strong> 17 palmos <strong>de</strong> frente por 5 braças e 4 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com uma sóli<strong>da</strong> e gran<strong>de</strong> casa<br />

<strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> feição nobre e ten<strong>do</strong> águas furta<strong>da</strong>s. Esse terreno aparece afora<strong>do</strong>, em 1819, ao rico<br />

proprietário coronel Antônio Ferreira <strong>da</strong> Rocha; em 1836, a Manoel Rodrigues <strong>de</strong> Faria; em 1858, a Luiz<br />

Manoel Viana, e em 1869 à Ana Teresa Luiza Viana, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> viúva e sucessora <strong>do</strong> último<br />

precita<strong>do</strong> foreiro. O coronel Antônio Ferreira <strong>da</strong> Rocha, que foi prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia,<br />

<strong>de</strong> 1813 a 1814, obteve <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1819, a licença para ven<strong>de</strong>r, como ven<strong>de</strong>u,<br />

a precita<strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> ao capitão João Baptista <strong>da</strong> Silva Júnior, a quem veio a ser compra<strong>da</strong>, em<br />

maio <strong>de</strong> 1836, por Manoel Rodrigues <strong>de</strong> Faria e <strong>de</strong>ste passou, por ven<strong>da</strong> em 1857, a Luiz Manoel Viana.<br />

O foro <strong>do</strong> terreno era <strong>de</strong> <strong>do</strong>is mil réis anuais.<br />

Travessa <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste – 1 8 5 3 / 1 8 5 4<br />

Terreno <strong>de</strong> 19 palmos <strong>de</strong> frente, afora<strong>do</strong> a Antônio José <strong>da</strong> Silveira Sarmento. Era ocupa<strong>do</strong> pela<br />

casa térrea nº 4, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo Sarmento, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>do</strong> seu padrinho – José Antônio<br />

Coelho –, <strong>de</strong> quem, aliás, her<strong>do</strong>u uma gran<strong>de</strong> fortuna. Drama íntimo <strong>de</strong> família, cujas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>vemos silenciar, fez com que Sarmento usasse o nome <strong>de</strong> Antônio José Francisco até o ano <strong>de</strong> 1853,<br />

quan<strong>do</strong> passou a chamar-se Antônio José <strong>da</strong> Silveira Sarmento, por força <strong>de</strong> sentença judicial a seu favor<br />

na <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, com passagens chocantes, que se levantou nos tribunais <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Era o nome que<br />

lhe cabia <strong>de</strong> direito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o berço, por seu nascimento.<br />

Beco <strong>da</strong> Fi<strong>da</strong>lga – 1650/1860<br />

As aluviões marinhas <strong>de</strong>ram origens aos terrenos <strong>do</strong> litoral <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

Santa Luzia até São Bento. Por esses terrenos, logo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> <strong>de</strong>finitiva fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Sebastianópolis,<br />

em 1567, foram sen<strong>do</strong> abertas vias <strong>de</strong> servidão pública. Uma <strong>de</strong>ssas vias públicas e <strong>de</strong> importância, foi<br />

o beco <strong>da</strong> Fi<strong>da</strong>lga. Também, por esses terrenos foram marca<strong>da</strong>s as testa<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s aforamentos pratica<strong>do</strong>s<br />

pela Câmara nesse litoral. Os logra<strong>do</strong>uros que se abriram e a casaria que se levantou acabaram por fechar<br />

a velha rua, que ia <strong>do</strong> porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para a Misericórdia. Aforamentos bem extensos os primeiros que<br />

se fizeram e que não <strong>de</strong>moraram, por força <strong>do</strong> crescimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a <strong>de</strong>smembrar-se em proveito <strong>de</strong><br />

novas ruas e casas. O aforamento concedi<strong>do</strong> a Gonçalo Ferreira, em 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1650, <strong>de</strong>u-nos<br />

elementos precisos pelos quais chegamos às nossas ditas conclusões. Gonçalo Ferreira era rico homem<br />

<strong>de</strong> negócio, com engenhos no sertão <strong>da</strong> capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e armazéns no antigo caminho para<br />

São Francisco – atualmente, rua <strong>da</strong> Assembléia, on<strong>de</strong> morava. Ele aforou, para construir no beco <strong>da</strong><br />

Fi<strong>da</strong>lga, cerca <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong>, in<strong>do</strong> para a Misericórdia e com to<strong>do</strong> o comprimento ou fun<strong>do</strong>s até<br />

o mar. Pois bem, esse comprimento, que terminava na praia <strong>do</strong>m Manoel – hoje, rua <strong>do</strong> mesmo nome,<br />

formava a frente <strong>de</strong> quatro braças pelo dito beco em que as casas foram levanta<strong>da</strong>s. Ain<strong>da</strong> no século<br />

XVII, outro aforamento, concedi<strong>do</strong> ao dr. Miguel Rangel <strong>de</strong> Souza Coutinho, figura <strong>de</strong> relevo na época,<br />

nos abriu caminho para pesquisas mais remotas sobre a faixa litorânea <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Misericórdia, as<br />

quais nos <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>ram curiosos aspectos bem primitivos <strong>de</strong>ssa mesma faixa, na qual, em muito menos<br />

<strong>de</strong> um século <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a mão <strong>do</strong> homem e a própria natureza atuaram modifican<strong>do</strong>lhe<br />

profun<strong>da</strong>mente a feição. O aforamento <strong>de</strong> Souza Coutinho, com fun<strong>do</strong>s na praia, <strong>de</strong>smembrou-se em<br />

vários prazos, arrua<strong>do</strong>s pelo la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> beco <strong>da</strong> Fi<strong>da</strong>lga. Um <strong>do</strong>s prazos foi adquiri<strong>do</strong> por<br />

Domingos Rodrigues, o qual construiu três prédios no começo <strong>do</strong> beco, la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> ou ímpar, subin<strong>do</strong>


C A P Í T U L O X I | 1 5 7<br />

<strong>da</strong> praia para a rua <strong>da</strong> Misericórdia. Esses prédios receberam os números 1, 3 e 5. Os <strong>de</strong> números 1 e 3,<br />

Rodrigues ven<strong>de</strong>u a Lourenço Varela, e o 5, por morte <strong>do</strong> dito proprietário, passou à sua viúva, Maria<br />

<strong>da</strong> Lapa. Em falecen<strong>do</strong> a referi<strong>da</strong> senhora, ao seu genro coube o prédio 5, que era <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> e veio, por<br />

fim, a pertencer a João <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Brito, pela execução que moveu contra José Corrêa, genro e her<strong>de</strong>iro<br />

<strong>da</strong> viúva Lapa. Ain<strong>da</strong> bem conserva<strong>do</strong> em 1860, o prédio 5 pertencia a Almei<strong>da</strong> Brito.<br />

Beco <strong>do</strong>s Ferre i ros – 1810/1830<br />

Terreno <strong>de</strong> 2 braças e 5 palmos <strong>de</strong> frente, afora<strong>do</strong> ao dr. José <strong>de</strong> França Miran<strong>da</strong>, ocupa<strong>do</strong> por<br />

uma casa térrea, <strong>da</strong>s antigas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> foreiro. Por morte <strong>do</strong> dr. França Miran<strong>da</strong><br />

passou à sua viúva Antônia <strong>de</strong> Moraes e Silva. A 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1810, a dita viúva ven<strong>de</strong>u a casa pela<br />

quantia <strong>de</strong> 800$000, inclusive o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno. O compra<strong>do</strong>r, Domingos <strong>da</strong> Silva Valente,<br />

Morro <strong>do</strong> Castelo e arre<strong>do</strong>res.


1 5 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

reformou a casa, levantan<strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong> outros melhoramentos. Esse novo prédio, por morte <strong>de</strong><br />

Valente, passou a uma sua filha natural <strong>de</strong> nome Dorotéa Rosa <strong>de</strong> Jesus, casa<strong>da</strong> com João Rodrigues <strong>da</strong><br />

Rosa, a quem a Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno em apreço, a 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1830, concessão<br />

que obteve por cabeça <strong>de</strong> sua mulher. Domingos <strong>da</strong> Silva Valente, português <strong>de</strong> nascimento e exímio<br />

carpinteiro, foi estabeleci<strong>do</strong> durante anos segui<strong>do</strong>s à praia <strong>do</strong> Peixe, atual rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> e aí fez-se<br />

estima<strong>do</strong> e ganhou fortuna com sua laboriosa profissão. O carpinteiro Valente era pessoa <strong>de</strong> muito<br />

conceito entre as <strong>da</strong> sua classe, que o consi<strong>de</strong>ravam gran<strong>de</strong> mestre no ofício. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong><br />

faleceu, <strong>de</strong>ixou prédios, escravos e cinqüenta mil cruza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito. O inventário <strong>do</strong>s seus bens foi<br />

<strong>de</strong>mora<strong>do</strong>, pelos embaraços cria<strong>do</strong>s à partilha <strong>do</strong>s mesmos, sen<strong>do</strong>, afinal, ultima<strong>do</strong> em 1820, por<br />

sentença judicial, sen<strong>do</strong> juiz julga<strong>do</strong>r o notável e íntegro ouvi<strong>do</strong>r Nicolau Siqueira <strong>de</strong> Queiroz. O estrago<br />

causa<strong>do</strong> pela traça em algumas folhas <strong>do</strong>s autos, e nas quais, justamente, <strong>de</strong>viam constar mês e dia <strong>da</strong><br />

sentença, não nos permitiu conhecê-los. A viúva <strong>do</strong> rico carpinteiro, Úrsula Maria <strong>da</strong>s Virgens Valente,<br />

her<strong>do</strong>u meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> fortuna – mais <strong>de</strong> cento e cinqüenta mil cruza<strong>do</strong>s. Logo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> partilha a dita<br />

senhora comprou, no caminho <strong>de</strong> São Clemente, uma extensa e cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara, com casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong><br />

nobre. A compra foi feita a Maria Teresa <strong>de</strong> Jesus Viana, viúva <strong>de</strong> Sebastião Luiz Viana. A chácara e<br />

residência <strong>da</strong> viúva Valente ficava entre a <strong>de</strong> Antonio Dias Peixoto e a <strong>de</strong> Vicente Ferreira Sampaio. Por<br />

morte <strong>de</strong> Úrsula Maria <strong>da</strong>s Virgens Valente, a chácara e casa coube à sua filha Antônia <strong>da</strong>s Virgens<br />

Valente Fontes, casa<strong>da</strong> com o negociante Custódio Car<strong>do</strong>so Fontes, <strong>de</strong> ilustre família carioca. Esse casal<br />

ven<strong>de</strong>u a chácara, em 1838, a Joaquim José <strong>de</strong> Castro Araújo.<br />

Beco <strong>do</strong>s Ferre i ros – 1818/1833<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente pelo beco <strong>do</strong>s Ferreiros, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s até a praia <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manoel,<br />

on<strong>de</strong> fazia outra frente <strong>de</strong> 3 braças. Era ocupa<strong>do</strong> por um prédio com duas faces ou frentes, sen<strong>do</strong> uma<br />

no beco, on<strong>de</strong> figurava com o nº 36 e a outra, sem nº, volta<strong>da</strong> para a praia e apresentava <strong>do</strong>is sobra<strong>do</strong>s<br />

em ambas as faces. Esse prédio era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Inácio Pereira e, por sua morte, passou à sua<br />

viúva, Maria Joaquina <strong>de</strong> Jesus, e ao filho <strong>do</strong> casal, José Inácio Pereira. Esses her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram o<br />

imóvel em apreço, em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1833, pela quantia <strong>de</strong> 7:000$, a Francisco Pereira <strong>da</strong> Costa Vieira,<br />

a quem, logo no mês seguinte, por <strong>de</strong>spacho <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> dia 27, foi concedi<strong>do</strong> o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno. Costa Vieira era próspero lavra<strong>do</strong>r em Bacachá, distrito <strong>de</strong> Cabo Frio, on<strong>de</strong> residia. Ele possuía<br />

uma frota <strong>de</strong> bons barcos e faluas para o transporte <strong>do</strong>s produtos <strong>de</strong> sua fazen<strong>da</strong>. Também rico era José<br />

Inácio Pereira, o velho. Pelo Rol <strong>da</strong>s Décimas <strong>de</strong> 1818 e pelo Tombo <strong>do</strong>s Foreiros <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara,<br />

no mesmo ano <strong>de</strong> 1818, ele aparece possuin<strong>do</strong> prédios e terrenos nos principais logra<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> bairro<br />

<strong>da</strong> Misericórdia.<br />

Beco <strong>do</strong>s Ferre i ros – 1819/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 2 e meia braças <strong>de</strong> frente com uma casa térrea nº 7, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> sargento-mor João<br />

Rabelo <strong>de</strong> Vasconcelos, casa<strong>do</strong> com Maria Benedita <strong>de</strong> Molina Vasconcelos. A casa tinha pertenci<strong>do</strong>, no<br />

século XVIII, ao padre Joaquim José <strong>de</strong> Velasques e por ele lega<strong>da</strong> ao seu sobrinho, o precita<strong>do</strong><br />

sargento-mor, que era filho <strong>do</strong> tenente-general José <strong>de</strong> Oliveira <strong>de</strong> Vasconcelos, ain<strong>da</strong> menor, por<br />

ocasião. Por escritura pública <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1819 e pela quantia <strong>de</strong> 1:200, o casal João Rabelo<br />

ven<strong>de</strong> a casa nº 7 <strong>do</strong> beco <strong>do</strong>s Ferreiros ao rico carpinteiro Domingos <strong>da</strong> Silva Valente. Por morte <strong>de</strong><br />

Valente, passou à sua viúva Úrsula Maria <strong>da</strong>s Virgens e <strong>de</strong>pois à filha <strong>do</strong> casal, casa<strong>da</strong> com o negociante<br />

Custódio Car<strong>do</strong>so Fontes, a quem por cabeça <strong>de</strong> sua mulher, o terreno foi afora<strong>do</strong> em 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1843. Na ocasião <strong>de</strong>sse aforamento, a antiga casa 7 já figurava com o nº 17.


Praia <strong>de</strong> Dom Manoel<br />

C A P Í T U L O X I | 1 5 9<br />

Com a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>da</strong> sua Câmara, as praias<br />

passaram a constituir marinhas <strong>do</strong> município, como fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para a formação <strong>do</strong> seu patrimônio.<br />

As <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manoel foram arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s a merca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> louça <strong>do</strong> país e <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras. Era um<br />

comércio movimenta<strong>do</strong> e ren<strong>do</strong>so, em barracas bem à beira-mar. Muitas <strong>de</strong>ssas barracas, sóli<strong>da</strong>s,<br />

cobertas <strong>de</strong> telhas e confortáveis, serviam <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> às famílias <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>res. No plano <strong>de</strong> obras para<br />

o saneamento <strong>do</strong> litoral <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e na forma <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em 1821, as barracas<br />

<strong>da</strong> praia <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manoel foram con<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s a <strong>de</strong>saparecer. Pelos editais publica<strong>do</strong>s, em cumprimento ao<br />

<strong>de</strong>libera<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, na vereança <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1821, houve um prazo <strong>de</strong> oito dias para<br />

<strong>de</strong>molição <strong>da</strong>s mesmas, sem querelas ou pretextos para adiamento. Os fatos <strong>de</strong>monstram o contrário,<br />

pois, em 1831, algumas permaneciam, ain<strong>da</strong>, ampara<strong>da</strong>s pelos man<strong>da</strong><strong>do</strong>s judiciais.<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel – 1816/1856<br />

Terreno <strong>de</strong> 27 palmos <strong>de</strong> frente por 89 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e estava ocupa<strong>do</strong> por uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>,<br />

<strong>da</strong>s antigas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, com balcões e gelosias. Em 1816, já pertencia a Joaquim Gonçalves <strong>do</strong>s Santos,<br />

a quem foi compra<strong>da</strong> por Nicolau Pereira <strong>da</strong> Costa, casa<strong>do</strong> com Laura Delfina Ferreira e ten<strong>do</strong> <strong>do</strong>is<br />

filhos <strong>de</strong>sse seu casal: Claudio e Luiz. Em morren<strong>do</strong> Nicolau, a sua viúva casou-se com Agostinho José<br />

Gaspar, o qual comprou a casa ao seu entea<strong>do</strong> Claudio, a quem o imóvel ficara pertencen<strong>do</strong> por morte<br />

<strong>do</strong> pai. Laura Delfina faleceu viúva <strong>de</strong> Agostinho e, na partilha <strong>do</strong>s bens, a casa <strong>da</strong> praia Dom Manoel<br />

tocou ao filho <strong>do</strong> seu segun<strong>do</strong> casamento – padre Luiz Pereira <strong>da</strong> Costa, que a ven<strong>de</strong>u, em 1855, pela<br />

quantia <strong>de</strong> 3.000$000 a José Macha<strong>do</strong> Ferreira, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 29 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1856. Na ocasião <strong>de</strong>ssa última ven<strong>da</strong> já a casa estava por completo modifica<strong>da</strong>.<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel – 1830/1840<br />

Terreno <strong>de</strong> 54 palmos <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar e 53 ditos pela parte <strong>da</strong> terra, on<strong>de</strong> confinava<br />

com o beco <strong>do</strong> Cotovelo, à direita, e à esquer<strong>da</strong> com a casa <strong>de</strong> Antonio José <strong>de</strong> Brito. Esse terreno, pela<br />

frente <strong>do</strong> dito beco, estava fecha<strong>do</strong> por um paredão, com porta e janela, e no interior havia um barracão<br />

que servia <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras <strong>da</strong> casa comercial <strong>de</strong> Manoel Gonçalves Ferreira, à rua <strong>da</strong><br />

Misericórdia. Gonçalves Ferreira, que obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno pela provisão <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1830, em 1840, já era faleci<strong>do</strong> e os seus her<strong>de</strong>iros e sucessores mantiveram a posse <strong>do</strong> terreno,<br />

<strong>de</strong>moliram o barracão e o paredão e levantaram uma mora<strong>da</strong> <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>.<br />

Praia <strong>de</strong> Dom Manoel – 1833/1869<br />

Terreno <strong>de</strong> 35 palmos <strong>de</strong> frente por 100 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e já afora<strong>do</strong>, em 1833, ao ricaço Francisco<br />

Pereira <strong>da</strong> Costa Vieira. Estava ocupa<strong>do</strong> por sóli<strong>do</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, nº 7, com facha<strong>da</strong> revesti<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

azulejos portugueses, porta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cantaria e janelas <strong>de</strong> saca<strong>da</strong>s. O prédio era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Costa Vieira<br />

e, por morte <strong>de</strong>sse proprietário, passou à sua filha Ana Custódia Pereira <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Bastos, casa<strong>da</strong> com<br />

o negociante Joaquim José <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Bastos, outro ricaço <strong>do</strong>no <strong>de</strong> armazém. A 5 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1867,<br />

por cabeça <strong>de</strong> casal, Bastos obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno.


1 6 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Largo <strong>da</strong> A s s e m b l é i a<br />

O largo <strong>da</strong> Assembléia, que <strong>de</strong>sapareceu no começo <strong>do</strong> século corrente, * inclui-se entre os<br />

remotos logra<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Misericórdia. Os aterros que se fizeram no século XVII, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Santa<br />

Luzia até São Bento, favoreceram a abertura <strong>de</strong> vias públicas nessa orla marítima. Ao longo <strong>de</strong>sse<br />

aterra<strong>do</strong>, levantaram-se paredões – cais – a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s ao embarque e ao <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias e<br />

também <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>ssem à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para o trato <strong>de</strong> negócios, e <strong>de</strong>ixou-se um gran<strong>de</strong> terreiro<br />

on<strong>de</strong> o povo pu<strong>de</strong>sse se reunir para refrigério e divertimentos.<br />

Nesse lugar levantou-se a polé – espécie <strong>de</strong> forca, na qual os criminosos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>viam receber<br />

castigos. Dai o nome <strong>de</strong> terreiro <strong>da</strong> Polé; <strong>de</strong>pois praça <strong>do</strong> Carmo; terreiro <strong>do</strong> Paço, em 1743, e, bem<br />

diminuí<strong>do</strong> na sua extensão, largo <strong>do</strong> Paço, até a Proclamação <strong>da</strong> República, em 1889, por fim, e ain<strong>da</strong><br />

hoje, praça Quinze <strong>de</strong> Novembro.<br />

Com a construção <strong>da</strong> Casa ou Paço <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res, em 1743, atualmente Repartição Geral <strong>do</strong>s<br />

Telégrafos, ** formou-se entre esse edifício e a rua <strong>de</strong> São José um pequeno largo, ao qual se chamou <strong>da</strong><br />

Ca<strong>de</strong>ia. O Paço <strong>da</strong>va fun<strong>do</strong>s para o la<strong>do</strong> oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> largo, que, a partir <strong>de</strong> 1823, passou a ter o nome<br />

<strong>de</strong> Assembléia. Estava incluí<strong>do</strong> entre os lugares distintos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e, em 1859, recebeu calçamento à<br />

ma<strong>de</strong>ira, sistema aperfeiçoa<strong>do</strong> introduzi<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> no precita<strong>do</strong> ano. Quanto aos aforamentos<br />

possivelmente pratica<strong>do</strong>s nesse logra<strong>do</strong>uro pela Câmara, apenas um nos foi <strong>da</strong><strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificar e esse diz<br />

respeito a um terreno em paralelogramo, com frente <strong>de</strong> 21 palmos pelo la<strong>do</strong> sul <strong>do</strong> dito largo, por 50<br />

ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Já em 1840, o terreno aparece afora<strong>do</strong> a João Ferreira <strong>da</strong> Costa e vai aparecen<strong>do</strong> lança<strong>do</strong><br />

em seu nome até 1859, quan<strong>do</strong> se fez a transferência <strong>do</strong> terreno e <strong>da</strong> pequena casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nele<br />

existente para o nome <strong>do</strong> dr. José Ricar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sá Rego que os comprara, pela quantia <strong>de</strong> 7:000$, a<br />

Ferreira <strong>da</strong> Costa e sua mulher Maria Leopoldina <strong>da</strong> Costa. Por carta <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1859, a Câmara<br />

conce<strong>de</strong>u ao dr. José Ricar<strong>do</strong>, e a seu pedi<strong>do</strong>, um novo aforamento. Em maio <strong>de</strong> 1868, ten<strong>do</strong> então o nº<br />

9, a casa, completamente reforma<strong>da</strong>, foi vendi<strong>da</strong> pela viúva Sá Rego – Francisca Rocha <strong>de</strong> Sá Rego –<br />

ao advoga<strong>do</strong> Francisco Ribeiro <strong>da</strong> Silva Queiroz. Uma filha <strong>de</strong>sse causídico, casa<strong>da</strong> com o dr. Cesário<br />

Augusto <strong>de</strong> Melo, veio a ven<strong>de</strong>r a casa nº 9 <strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Assembléia – antigo <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia.<br />

Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia<br />

Antiqüíssimo caminho in<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar para o sertão, aberto pelos primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: eis a origem <strong>da</strong> atual rua <strong>da</strong> Assembléia, antiga <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia. Difere muito<br />

hoje <strong>do</strong> que era na sua formação. A princípio, reta <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> 40 palmos, que partia <strong>da</strong> praia para<br />

o alto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, terminan<strong>do</strong> no local <strong>da</strong> atual rua <strong>do</strong> Carmo, que era a subi<strong>da</strong> para o morro em que estava<br />

assente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, morro que se chamou <strong>do</strong> Descanso e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />

Castelo, arrasa<strong>do</strong> em nossos dias. Era estaca<strong>da</strong> lateralmente para servir <strong>de</strong> passagem segura ao ga<strong>do</strong> e<br />

aos mantimentos <strong>de</strong>sembarca<strong>do</strong>s na ponte levanta<strong>da</strong> na panca<strong>da</strong> <strong>do</strong> mar, em frente ao caminho em<br />

apreço. Em 1609, essa via pública foi cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a aten<strong>de</strong>r convenientemente o cômo<strong>do</strong> público,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu começo até a Carioca. Nessa ocasião já existiam, <strong>de</strong> pedra e cal, casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e <strong>de</strong><br />

comércio <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> gêneros <strong>do</strong> país. Entre as boas casas <strong>da</strong> época incluíam-se as pertencentes ao rico<br />

pasteleiro Manoel Ribeiro, que residia na que ficava junto ao muro <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Carmo, na travessa <strong>do</strong><br />

Açougue Gran<strong>de</strong>, atual rua <strong>do</strong> Carmo, como <strong>de</strong>ixa crer a arruação concedi<strong>da</strong>, em 1610, ao sargento-mor<br />

Francisco <strong>de</strong> Azere<strong>do</strong> Coutinho, para construir casas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> na nova rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia. O açougue 36<br />

gran<strong>de</strong> pertencia à Câmara e era <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à ven<strong>da</strong> pública <strong>da</strong> carne <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, que no mesmo açougue se<br />

abatia. Ficava no cruzamento <strong>da</strong> dita travessa com um beco que se chamou <strong>do</strong> Açougue, <strong>de</strong>pois rua <strong>do</strong><br />

Cotovelo, substituí<strong>do</strong> para o <strong>de</strong> Vieira Fazen<strong>da</strong>. Recentemente, transforma<strong>da</strong> essa antiga via pública em<br />

aveni<strong>da</strong> <strong>de</strong>u-se-lhe outro patrono – Erasmo Braga. Fato esse lamenta<strong>do</strong> pela imprensa, bastan<strong>do</strong> dizer<br />

que Vieira Fazen<strong>da</strong>, o maior cronista carioca e ilustre por muitos títulos, nasceu no beco <strong>do</strong> Cotovelo,<br />

em casa própria <strong>do</strong>s seus pais.<br />

* O autor se refere ao século XX. (N.E.)<br />

** Reforma<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as linhas arquitetônicas originais, hoje abriga o centro cultural Paço Imperial. (N.E.)


Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia – 1782/1853<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia e corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 8 braças pela <strong>do</strong> Carmo.<br />

Estava afora<strong>do</strong> havia anos a José Moreira Ramos, o qual possuía no mesmo terreno uma mora<strong>da</strong> <strong>de</strong> casa<br />

<strong>de</strong> duas porta<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s antigas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e, por ele Ramos, vendi<strong>da</strong> a Manoel José <strong>da</strong> Fonseca, pela<br />

quantia <strong>de</strong> quatrocentos cruza<strong>do</strong>s, em 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1782. Por morte <strong>de</strong> Fonseca passou a casa aos<br />

seus filhos Romana Maria <strong>da</strong> Cruz Fonseca Sardinha, casa<strong>da</strong> com José Freire Sardinha, e Cleto<br />

Marcelino José <strong>da</strong> Fonseca, este com uma terça e aquela com duas. A parte <strong>da</strong> filha foi vendi<strong>da</strong>, em 29<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1811, a João Cor<strong>de</strong>iro <strong>do</strong>s Santos, o qual, somente oito anos <strong>de</strong>pois, conseguiu <strong>de</strong> Cleto<br />

Marcelino a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua terça, que se realizou a 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1819. João Cor<strong>de</strong>iro transformou a velha<br />

casa em sóli<strong>do</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, que foi vendi<strong>do</strong> pela sua viúva, Joana Maria <strong>de</strong> Jesus Cor<strong>de</strong>iro, em<br />

1853, por 18.000$, ao francês Nicolau Adrien Marie, ten<strong>do</strong> o prédio, nessa ocasião, o nº 121. Respeitável<br />

e rica era a família Cruz Fonseca e a ela uniu-se a Freire Sardinha, também rica e conceitua<strong>da</strong>. Cleto<br />

Marcelino José <strong>da</strong> Fonseca foi rico homem <strong>de</strong> negócio e amoroso <strong>da</strong>s tradições. De operosa inteligência<br />

e muito tino comercial, concorreu bastante para elevar o nível <strong>do</strong> comércio e industrial <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Com respeito às tradições, nota<strong>da</strong>mente quanto à arte arquitetural, ele teve atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forte<br />

<strong>de</strong>fesa à conservação <strong>da</strong> obra <strong>do</strong> nosso passa<strong>do</strong>: costumava assim dizer.<br />

s/a, s/d – Orla marítima. De São Bento à praça Quinze, ven<strong>do</strong>-se a ilha <strong>da</strong>s Cobras e a ilha Fiscal.<br />

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1 6 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Augusto Malta, 31/8/1920 – Morro <strong>do</strong> Castelo.<br />

Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia – 1824/1863<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças e meia <strong>de</strong> frente à rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia e já afora<strong>do</strong> em 1824 a Ana Josefa <strong>de</strong><br />

Nazareth Lacer<strong>da</strong>, proprietária <strong>da</strong> casa térrea, bem antiga, existente no terreno. Em 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1825,<br />

aparece a mesma senhora ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a casa a Luiz Gonçalves <strong>da</strong> Silva e à sua mulher, Maria Joaquina<br />

Pereira <strong>da</strong> Silva. O casal Silva, que vivia principescamente, gastou eleva<strong>da</strong> soma na reconstrução <strong>da</strong><br />

velha casa, transforma<strong>da</strong> em sóli<strong>do</strong> prédio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is sobra<strong>do</strong>s, com vastas acomo<strong>da</strong>ções e feição <strong>de</strong> casa<br />

nobre, como ao tempo classificavam-se as casas <strong>de</strong> aspecto exterior fora <strong>do</strong> padrão corriqueiro e que no<br />

interior mostrassem <strong>de</strong>corações, bom gosto no forro ou na pintura <strong>do</strong> teto e <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s e o conforto<br />

necessário, fugin<strong>do</strong> assim às acanha<strong>da</strong>s e sombrias casas primitivas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – mora<strong>da</strong>s essas, dizemos<br />

nós, que estão ressurgin<strong>do</strong>, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, nos famosos edifícios <strong>de</strong> apartamentos, que se constroem por<br />

to<strong>da</strong> a <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Mas, voltemos ao encontro <strong>do</strong> casal Silva, que, <strong>de</strong> to<strong>do</strong> arruina<strong>do</strong>, foi obriga<strong>do</strong> a<br />

ven<strong>de</strong>r, no começo <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1835, a sua importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia, nº 101, por 10:000$,<br />

ao negociante Diogo Belchear, cre<strong>do</strong>r hipotecário bem exigente <strong>do</strong> casal. Belchear fez-se logo foreiro<br />

<strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> prédio, tiran<strong>do</strong> a carta <strong>de</strong> aforamento em 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1835. Em março <strong>de</strong> 1838, ele<br />

ven<strong>de</strong>u o prédio e bem assim o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno, por 20:000$, a José Bento <strong>de</strong> Araújo Barbosa,<br />

ricaço e bem conceitua<strong>do</strong>. Era político <strong>de</strong> atuação, ten<strong>do</strong> exerci<strong>do</strong> cargos públicos <strong>de</strong> importância e<br />

trazia a patente <strong>de</strong> capitão honorário. Em 21 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1863, encontramos o famoso e rico joalheiro<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Domingos Farani adquirin<strong>do</strong> o prédio em apreço, pela quantia <strong>de</strong> 22:000$.


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Ba i r ro Comerc i a l


1 6 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

O povoa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>scen<strong>do</strong> <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo para a várzea, aí abriu canais para<br />

enxugar os aguaçais e brejos; formou uma passagem bem à beira-mar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dito morro até o <strong>de</strong> São<br />

Bento, e <strong>de</strong>ssa passagem na direção <strong>do</strong> interior <strong>da</strong> terra que procurava <strong>de</strong>sbravar, foi abrin<strong>do</strong> caminhos,<br />

estreitos e retos alguns, até encontrar o fosso – rua Uruguaiana – que corria <strong>do</strong> norte para o sul e on<strong>de</strong><br />

parou o <strong>de</strong>sbravamento. Levantou-se a casaria, <strong>de</strong>senvolveram-se as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e criou-se um centro<br />

urbano <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> comercial, on<strong>de</strong> se alicerçaram a gran<strong>de</strong>za e a prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

O bairro comercial <strong>de</strong> que vamos tratar compreen<strong>de</strong> a parte <strong>da</strong> antiga Sebastianópolis entre aquela<br />

precita<strong>da</strong> faixa marítima e a rua Uruguaiana, por on<strong>de</strong> corria o fosso. Essa faixa marítima, em menos <strong>de</strong><br />

um século, sofreu tal transformação que tornou impossível reconstituir-se com exatidão os primitivos<br />

aspectos <strong>de</strong>sse litoral arenoso, cheio <strong>de</strong> sambaquis e, periodicamente, mostran<strong>do</strong> à flor <strong>do</strong> mar agu<strong>da</strong>s<br />

vigias que <strong>de</strong>sapareceram ou por força <strong>da</strong> mão <strong>do</strong> homem ou <strong>da</strong> natureza. Na faixa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Santa Luzia<br />

até São Bento, que constituiu a chama<strong>da</strong> marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, acresceram terrenos <strong>de</strong> extensa largura, que<br />

são os acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa antiga marinha e os acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acresci<strong>do</strong>s, e aí abriram-se novas vias públicas<br />

e levantou-se a casaria, como esclareceremos <strong>de</strong>pois. Esses terrenos motivaram <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s entre a<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e os posseiros ou arren<strong>da</strong>tários <strong>do</strong>s terrenos. A advocacia administrativa e a chicana<br />

alimentavam essas questões, nota<strong>da</strong>mente quan<strong>do</strong> se tratava <strong>de</strong> algum beneficia<strong>do</strong> <strong>da</strong>s famosas cartas <strong>de</strong><br />

mercê <strong>do</strong> príncipe regente, <strong>de</strong>pois rei <strong>do</strong>m João VI. É certo que mais tar<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> outras eram as leis,<br />

os porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sses títulos viram-se em apuros na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong>s suas posses, porque faltavam às ditas<br />

cartas <strong>de</strong> mercê formali<strong>da</strong><strong>de</strong>s jurídicas e assim foram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s precárias. Para a prova temos a<br />

Litoral <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga.


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questão com os her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> monsenhor Antonio Pires <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, gran<strong>de</strong> proprietário no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> e notável figura <strong>do</strong> clero. O her<strong>de</strong>iro direto foi um sobrinho <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> sacer<strong>do</strong>te, <strong>de</strong> nome<br />

André Pires <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, o qual, num terreno <strong>de</strong> acresci<strong>do</strong>s com frente para a praia <strong>do</strong> Peixe, levantou<br />

um gran<strong>de</strong> trapiche, no ano <strong>de</strong> 1826. Nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trapiche veio a formar-se, naturalmente, um terreno<br />

acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong> acresci<strong>do</strong>s, e <strong>de</strong>le julgaram-se <strong>do</strong>nos her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> monsenhor Miran<strong>da</strong> e <strong>de</strong> Andrea Pires<br />

<strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, a ponto <strong>de</strong> o ven<strong>de</strong>rem a José Antonio Alves <strong>de</strong> Carvalho. A ven<strong>da</strong> <strong>de</strong>sse terreno foi patifaria<br />

grossa patrocina<strong>da</strong> pelos advoga<strong>do</strong>s João e Francisco Barroso – ditos irmãos ladinos. A Ilustríssima<br />

Câmara recorreu aos tribunais, mas, nessa questão, a Justiça, talvez, por ser cega, não visse o justo e pôs<br />

na mão <strong>do</strong> velhaco a palma <strong>da</strong> vitória. Um outro beneficia<strong>do</strong> com carta <strong>de</strong> mercê foi João Antonio Vigier,<br />

cria<strong>do</strong> <strong>de</strong> quarto <strong>da</strong> rainha <strong>do</strong>na Maria I e muito <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> à <strong>de</strong>sditosa soberana – louca havia anos. Essa<br />

<strong>de</strong>dicação valeu-lhe a estima <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João e uma carta <strong>de</strong> mercê <strong>de</strong> um terreno à praia <strong>do</strong> Peixe, em 1814,<br />

concedi<strong>da</strong> para um melhor arranjo <strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong> e em troca <strong>do</strong> ofício <strong>de</strong> tabelião <strong>de</strong> Alagoas, <strong>do</strong> qual<br />

<strong>de</strong>clinara o fiel servo, por ser <strong>de</strong> muita honraria. A entrega <strong>da</strong> carta <strong>de</strong> mercê foi solene, na Sala <strong>da</strong>s<br />

Tochas <strong>do</strong> Palácio Real e presidi<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r inten<strong>de</strong>nte geral <strong>de</strong> polícia, cargo <strong>de</strong> alta<br />

importância administrativa e política, exerci<strong>do</strong> na ocasião pelo íntegro magistra<strong>do</strong> Paulo Fernan<strong>de</strong>s<br />

Viana, que prestou relevantes serviços ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, material e moralmente.Vigier viu-se também<br />

Praia <strong>do</strong> Peixe.


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em apuros <strong>de</strong>pois, para conservar a sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, conseguin<strong>do</strong> afinal, em maio <strong>de</strong> 1840, a revali<strong>da</strong>ção<br />

<strong>da</strong> sua carta <strong>de</strong> mercê, por ato <strong>do</strong> governo imperial.<br />

Dos logra<strong>do</strong>uros que se formaram pelos acresci<strong>do</strong>s à antiga marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na faixa que<br />

interessa a este capítulo, <strong>da</strong>mos a conhecer como principais o rossio <strong>do</strong> Carmo, a ribeira <strong>do</strong> Mar, a rua<br />

Direita e algo diremos <strong>de</strong>les, como também por curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>do</strong> arco <strong>do</strong> Teles e <strong>do</strong> beco <strong>do</strong>s A<strong>de</strong>los.<br />

Rossio <strong>do</strong> Carmo<br />

Data <strong>do</strong> século XVII, o primeiro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, para o uso e o<br />

recreio <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong>la. O historia<strong>do</strong>r Pizarro e Araújo, quem <strong>de</strong>screveu esse rossio minuciosamente,<br />

o consi<strong>de</strong>ra o mais belo entre os <strong>de</strong>mais que se formaram <strong>de</strong>pois e lhe dá o cumprimento <strong>de</strong> 74 braças e<br />

a largura <strong>de</strong> 40 ditas, com prédios <strong>de</strong> feição nobre. Em 1680, uma provisão régia proibiu edificações pela<br />

ribeira <strong>do</strong> Mar e pela várzea <strong>do</strong> Carmo e <strong>de</strong>terminou a construção conveniente <strong>de</strong> um rossio, com seguro<br />

<strong>de</strong>sembarque às pessoas que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>vam, constantemente, o porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. São <strong>de</strong>ssa época as<br />

primeiras tabernas e outras casas para o comércio <strong>de</strong> bebi<strong>da</strong>s e comestíveis, to<strong>da</strong>s bem afreguesa<strong>da</strong>s. No<br />

pru<strong>de</strong>nte e operoso governo <strong>do</strong> vice-rei Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza, o antigo rossio <strong>do</strong> Carmo veio a<br />

ser radicalmente modifica<strong>do</strong> para melhor. Teve maior largura, sóli<strong>do</strong> calçamento e cais <strong>de</strong> pedra lavra<strong>da</strong><br />

com assentos e peitoris <strong>de</strong> cantaria. Esse cais <strong>de</strong>moliu-se sessenta anos <strong>de</strong>pois, para fazer-se outro sobre<br />

o mar, inaugura<strong>do</strong>, em 1842, festivamente.<br />

No perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1849 a 1852, com as aventuras às minas <strong>da</strong> Califórnia, o então largo <strong>do</strong> Paço foi<br />

um aglomera<strong>do</strong> cosmopolita, on<strong>de</strong> o ouro era o soberano absoluto, que comprava e escravizava tu<strong>do</strong>...<br />

Nessa Babel formigava gente <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Os prazeres nos mais feios vícios e os<br />

sofrimentos nos maiores males morais e físicos fizeram-se pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, trazi<strong>do</strong>s pelos aventureiros que<br />

aportavam no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O antigo largo <strong>do</strong> Paço, atual praça Quinze <strong>de</strong> Novembro, pela sua<br />

situação à beira-mar, olhan<strong>do</strong> o oriente, oferece <strong>de</strong>scortino interessante e pitoresco e é ain<strong>da</strong> aprazível<br />

logra<strong>do</strong>uro.<br />

Ribeira <strong>do</strong> Mar<br />

Em menos <strong>de</strong> um século, artificial e naturalmente, pela antiga praia ou marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

acresceram terrenos, forman<strong>do</strong>-se uma nova praia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Misericórdia até São Bento. A um trecho<br />

<strong>de</strong>sse novo logra<strong>do</strong>uro o povo chamou ribeira <strong>do</strong> Mar e era aí o lugar <strong>da</strong> feira, on<strong>de</strong> se ajuntavam os<br />

merca<strong>do</strong>res e acudia to<strong>da</strong> a gente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>do</strong> Recôncavo para comprar e ven<strong>de</strong>r. Na ribeira <strong>do</strong> Mar<br />

concorriam os homens <strong>de</strong> negócios <strong>da</strong> capitania e os ci<strong>da</strong>dãos ricos para assentar os seus tratos. Na<br />

ribeira ficavam as bancas <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong> e as <strong>da</strong>s hortaliças, as barracas <strong>do</strong>s estrangeiros, <strong>do</strong>s moleiros, <strong>do</strong>s<br />

oleiros: as tanoarias e as ten<strong>da</strong>s <strong>de</strong> víveres e <strong>de</strong> licores. Enfim, a ribeira <strong>do</strong> Mar ou praia <strong>do</strong> Peixe, como<br />

se chamou <strong>de</strong>pois, era o merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> também existiam os chatins, assim chama<strong>do</strong>s os<br />

negociantes gananciosos e sem escrúpulos que se entregavam a conluios com os atravessa<strong>do</strong>res,<br />

procuran<strong>do</strong> obter lucros excessivos na mercancia <strong>do</strong>s gêneros <strong>de</strong> consumo, principalmente o açúcar, o<br />

azeite e o peixe. Era o câmbio negro <strong>da</strong> época. Quan<strong>do</strong> apanha<strong>do</strong>s em flagrante, os chatins sofriam a<br />

pena <strong>do</strong> chicote na polé. Na ribeira <strong>do</strong> Mar não faltavam charlatães, apregoan<strong>do</strong> em alta voz drogas <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong> espécie para curas maravilhosas e uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> quinquilharias. O azeite era o artigo <strong>de</strong> maior<br />

procura, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> açúcar. O mais forte merca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> azeite foi Gonçalo Gonçalves. 37 O seu gran<strong>de</strong><br />

estanque ficava à mão direita, in<strong>do</strong> para São Bento, a poucos passos <strong>da</strong> panca<strong>da</strong> <strong>do</strong> mar. Por muitos anos,<br />

chamou-se passagem <strong>de</strong> Gonçalo Gonçalves o logra<strong>do</strong>uro on<strong>de</strong> estava localiza<strong>do</strong> o estanque. Essa<br />

pequena via pública entrou na formação <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sabão, <strong>de</strong>pois General Câmara, trecho <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

Can<strong>de</strong>lária até a rua Primeiro <strong>de</strong> Março.<br />

Os chãos <strong>de</strong>volutos, acresci<strong>do</strong>s à antiga marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na velha praia <strong>da</strong> ribeira, começaram<br />

a ser afora<strong>do</strong>s pela Câmara <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1682. Esses aforamentos foram fechan<strong>do</strong> a dita praia pelo la<strong>do</strong> <strong>do</strong>


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mar e <strong>de</strong>ram origem a novos acresci<strong>do</strong>s e a um outro logra<strong>do</strong>uro público, ao qual o povo chamou – praia<br />

<strong>da</strong>s Marinhas Novas ou rua Fresca. Assim no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos a antiga ribeira foi per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o seu<br />

primitivo aspecto. Com a construção <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Municipal, inicia<strong>da</strong> em 1834, e termina<strong>da</strong> em 1841, a<br />

antiga rua <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Peixe passou a chamar-se rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>, nome este que se confirmou<br />

oficialmente por ato <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1849, e ain<strong>da</strong> se conserva. A<br />

inauguração <strong>de</strong> um novo merca<strong>do</strong> à praia Dom Manoel, a 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1909, fez <strong>de</strong>saparecer a<br />

tradicional praça <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Peixe, teatro <strong>de</strong> antigos e curiosos costumes <strong>da</strong> velha Sebastianópolis.<br />

Rua Dire i t a<br />

Embora fazen<strong>do</strong> curva, chamou-se rua Direita até 1870, quan<strong>do</strong> recebeu o nome <strong>de</strong> Primeiro <strong>de</strong><br />

Março, que recor<strong>da</strong> a terminação <strong>da</strong> guerra com o Paraguai, a 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1870, após cinco anos <strong>de</strong><br />

sangrenta luta e durante os quais a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> se mostrou mais uma vez<br />

heróica e leal, pelo <strong>de</strong>no<strong>do</strong> e patriotismo <strong>do</strong> seu povo.<br />

Segun<strong>do</strong> a jurisprudência <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, os terrenos que entraram na formação<br />

<strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua precita<strong>da</strong> estão na área <strong>da</strong> <strong>de</strong>canta<strong>da</strong> sesmaria <strong>de</strong> Sobejos, nunca <strong>de</strong>marca<strong>da</strong> e<br />

sempre litigiosa. Mas, essa interpretação, que se nos afigura presumi<strong>da</strong>, tem contra ela e com bastante<br />

s/a, s/d – Praça Quinze <strong>de</strong> Novembro. – O monumental chafariz <strong>de</strong> ferro está agora na praça Monroe, mas o chafariz em cantaria <strong>de</strong> Mestre<br />

Valentim, o Paço Imperial, o prédio que abrigou o convento <strong>do</strong> Carmo e a igreja N.S. <strong>do</strong> Carmo são relíquias que relembram o passa<strong>do</strong> <strong>da</strong> praça<br />

Quinze <strong>de</strong> Novembro.


s/a, s/d – Rua Primeiro <strong>de</strong> Março, canto com a rua Sete <strong>de</strong> Setembro. Aspecto antigo <strong>da</strong> facha<strong>da</strong> <strong>da</strong> torre <strong>da</strong> catedral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, no século.<br />

XIX. Sobre a torre o famoso galo que girava, constante e horizontalmente, sob a ação <strong>do</strong> vento, indican<strong>do</strong> com o bico o norte, o sul, o oci<strong>de</strong>nte<br />

e o nascente.


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força, o esta<strong>do</strong> histórico <strong>da</strong> mesma sesmaria, cuja concessão, em 1667, já encontrou to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong><br />

esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> então rua Direita edifica<strong>do</strong> e portanto sem sobejos ou encrava<strong>do</strong>s. O dito la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> era<br />

o seguimento <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao tempo <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>sta, praia que, sinuosa se estendia <strong>da</strong> Piaçaba<br />

– hoje Santa Luzia – ao braço <strong>do</strong> salga<strong>do</strong> mar, por on<strong>de</strong> em nossos dias corre a rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma.<br />

O povoa<strong>do</strong>r, ocupan<strong>do</strong> a várzea <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi levantan<strong>do</strong> a casaria, <strong>de</strong> preferência à beira-mar e volta<strong>da</strong><br />

para o nascente, sen<strong>do</strong> que essa ocupação se fez, sem ônus ou obrigações <strong>de</strong> qualquer espécie. O la<strong>do</strong><br />

direito, formou-se <strong>de</strong> terrenos artificiais oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> aterros, acresci<strong>do</strong>s à antiga marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

indiscutivelmente é foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com exceção apenas <strong>da</strong> área concedi<strong>da</strong> às irman<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

São Pedro Gonçalves e <strong>da</strong> Cruz <strong>do</strong>s Militares, em 12 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1716, pelo governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> – Francisco <strong>de</strong> Távora. Essa concessão, que se confirmou pelo alvará régio <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1722, garantiu, <strong>de</strong> futuro, o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> área concedi<strong>da</strong> e também dirimiu dúvi<strong>da</strong>s e questões com os<br />

posseiros vizinhos. Nessa área, compreendi<strong>da</strong> hoje pelas ruas Primeiro <strong>de</strong> Março, antiga Direita,<br />

Ouvi<strong>do</strong>r e Merca<strong>do</strong>, antiga praia <strong>do</strong> Peixe, construíram-se a igreja <strong>da</strong> Cruz <strong>do</strong>s Militares e casas <strong>de</strong><br />

aluguel. Uma <strong>de</strong>ssas casas, a pega<strong>da</strong> à igreja, estava assente sobre a muralha e os arcos <strong>do</strong> antigo forte<br />

Vera Cruz 38 levanta<strong>do</strong> sobre o mar no governo <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r Correa <strong>de</strong> Sá, (1568/1572), e on<strong>de</strong> a praia<br />

fazia uma ponta. Em 1623, já estava soterra<strong>do</strong> esse forte. As casas foram <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>s no começo <strong>do</strong> atual<br />

século e no local construí<strong>do</strong> o edifício <strong>da</strong> Amortização.<br />

Homens <strong>do</strong> mar, na maioria espanhóis, construíram uma capela para o culto a São Pedro<br />

Gonçalves, nos fins <strong>do</strong> século XVI, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio espanhol, em 1580. Em dias <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1628,<br />

militares <strong>da</strong> guarnição <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> organizaram a irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Cruz <strong>do</strong>s Militares, com se<strong>de</strong> na<br />

dita capela. O atual templo <strong>da</strong> Cruz <strong>do</strong>s Militares teve a construção inicia<strong>da</strong> em 1780 e termina<strong>da</strong> em<br />

1811.<br />

É certo que nenhuma outra isenção <strong>de</strong> foro consta <strong>da</strong> <strong>do</strong>cumentação que cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente<br />

examinamos. Entretanto, gran<strong>de</strong> tem si<strong>do</strong> o sonegamento <strong>de</strong>ssa obrigação, principalmente <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />

incêndio <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1790, que <strong>de</strong>struiu parte <strong>do</strong> velho Arquivo Municipal. A queima <strong>de</strong> alguns<br />

livros <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong> terrenos, concedi<strong>do</strong>s pela Câmara no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1569 a 1609, serviu<br />

<strong>de</strong> expediente aos sonega<strong>do</strong>res para contestar em juízo os direitos senhoriais <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. É<br />

assim que, embora o apelo que lhes havia feito a respeitável corporação, eles, os sonega<strong>do</strong>res,<br />

assumiram uma atitu<strong>de</strong> cavilosa quan<strong>do</strong>, por <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Suplicação e <strong>da</strong> autorização <strong>do</strong> rei, o<br />

mesmo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>u início à reconstituição <strong>do</strong>s livros queima<strong>do</strong>s. Também, rezam notícias <strong>da</strong><br />

época, houve muita gente honesta que logo acorreu ao chamamento pacífico <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, apresentan<strong>do</strong><br />

as cartas <strong>de</strong> aforamentos e outros títulos <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> que eram posseiros, para os fins <strong>de</strong> ratificação<br />

e <strong>de</strong> novo registro. E essa gente manifestou ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara o pesar pelo incêndio, que feriu<br />

bastante a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> fatos <strong>da</strong> sua gloriosa<br />

vi<strong>da</strong> no passa<strong>do</strong>. Entre as pessoas que assim proce<strong>de</strong>ram, segun<strong>do</strong> os registros <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara,<br />

figuram as respeitáveis senhoras Brígi<strong>da</strong> e Teresa Câmara, as quais compareceram ao Sena<strong>do</strong> logo na<br />

primeira reunião <strong>de</strong>ssa Assembléia, após o incêndio. As irmãs Câmara tinham carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong><br />

terreno à rua Direita, canto <strong>do</strong> Terreiro <strong>do</strong> Paço, terreno que era ocupa<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mesmas senhoras, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>do</strong> seu irmão, o capitão Luiz Gago Câmara.<br />

No arrolamento <strong>de</strong> foreiros remissos à rua Direita, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1745 a 1775, aparece a<br />

Venerável Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Monte <strong>do</strong> Carmo não pagan<strong>do</strong> os foros <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s pelos terrenos <strong>de</strong> que<br />

estava <strong>de</strong> posse na dita rua. Para a prova, temos a questão <strong>do</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>de</strong> umas velhas casas<br />

compra<strong>da</strong>s a Feliciano Gomes Neves, em 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1747. No testamento com que faleceu o capitão<br />

Domingos Duarte Costa, irmão <strong>da</strong> dita Or<strong>de</strong>m, foi disposto que a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s remanescentes <strong>do</strong>s bens<br />

<strong>do</strong> testa<strong>do</strong>r fosse <strong>de</strong>spendi<strong>da</strong> pelos irmãos pobres <strong>da</strong> mesma Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo. Assim, estabeleci<strong>do</strong>s os<br />

remanescentes e assegura<strong>da</strong> a distribuição <strong>do</strong>s réditos, a Or<strong>de</strong>m pôs em execução a verba testamentária,<br />

compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> imóveis, entre os quais as ditas velhas casas, ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong> para essa compra a licença<br />

<strong>da</strong> Câmara, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno, terreno esse forma<strong>do</strong> <strong>de</strong> acresci<strong>do</strong>s à antiga<br />

marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. As casas, radicalmente modifica<strong>da</strong>s, transformaram-se <strong>de</strong> casas velhas em três bons<br />

prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s, com espaçosas lojas para armazéns. Um <strong>do</strong>s prédios, com frente à rua Direita, entre<br />

as casas <strong>do</strong> padre Lourenço <strong>de</strong> Vala<strong>da</strong>res Vieira e as pertencentes à Misericórdia, tinha a loja ocupa<strong>da</strong>,<br />

ain<strong>da</strong> em 1775, pelo estanque <strong>de</strong> fumo.<br />

O outro prédio <strong>da</strong>va frente para o beco <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res, e mais um outro que ficava na<br />

praia <strong>do</strong> Peixe – atual rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>. Por muitos anos, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> pagar os foros. Afinal, em<br />

1772, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara ofereceu libelo contra ela. Em recurso que apresentou, a Or<strong>de</strong>m propôs-se a


1 7 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

pagar um laudêmio, <strong>de</strong> quarenta em quarenta anos, sobre o valor <strong>do</strong>s imóveis ao tempo <strong>do</strong> vencimento,<br />

fican<strong>do</strong> conserva<strong>da</strong> na posse administrativa <strong>do</strong>s prédios e conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se-lhe o título ou carta <strong>de</strong><br />

aforamento <strong>do</strong> chão <strong>do</strong>s três prédios. Em 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1775, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara julgou o caso e<br />

<strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o parecer <strong>do</strong> seu síndico, o qual se fun<strong>da</strong>mentou na <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong> Fontenell, então<br />

pre<strong>do</strong>minante. A Or<strong>de</strong>m ficou manuteni<strong>da</strong> na posse <strong>do</strong>s prédios e obriga<strong>da</strong> a pagar, <strong>de</strong> trinta em trinta<br />

anos, um laudêmio ratea<strong>do</strong> à proporção <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les, ressarcin<strong>do</strong> os prejuízos causa<strong>do</strong>s ao cofre <strong>do</strong><br />

município. Fez-se o acor<strong>do</strong>, e, a 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1775, foi pago o primeiro laudêmio, e mais três foram<br />

pagos num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> cem anos – 1805/1905. Depois, não nos foi possível conhecer <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, à vista<br />

<strong>do</strong>s empecilhos que nos foram cria<strong>do</strong>s.<br />

Também, os Assecas – viscon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ... foram posseiros <strong>de</strong> terrenos foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, à<br />

rua Direita, canto <strong>da</strong> <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res – atual Alfân<strong>de</strong>ga, à mão direita, in<strong>do</strong> para São Bento. Esses<br />

terrenos foram ocupa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> remotos tempos por três prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, vincula<strong>do</strong>s ao morga<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

Assecas, instituí<strong>do</strong> em 1666. Um <strong>do</strong>s Assecas, o viscon<strong>de</strong> Antonio Maria Corrêa <strong>de</strong> Sá e Benavi<strong>de</strong>s,<br />

resi<strong>de</strong>nte no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, nas Laranjeiras, numa chácara <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Venâncio José Lisboa, *<br />

preten<strong>de</strong>u alienar, em 1818, os ditos e outros prédios urbanos pertencentes ao mesmo titular, a fim <strong>de</strong><br />

comprar a chácara em que residia, “por ser nesta mais condigno o assento <strong>da</strong> sua mora<strong>da</strong>” O viscon<strong>de</strong><br />

pediu ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a licença para essa alienação, obten<strong>do</strong>-a. Porém, a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> aprovação <strong>do</strong> rei, circunstância que <strong>de</strong>terminou a <strong>de</strong>sistência <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong>. Era <strong>de</strong> esperar<br />

que assim acontecesse, sabi<strong>do</strong>, pois, que os Benavi<strong>de</strong>s guar<strong>da</strong>vam justo ressentimento <strong>do</strong> governo e <strong>do</strong><br />

rei <strong>de</strong> Portugal pelo <strong>de</strong>sapreço em que foi ti<strong>do</strong> naquele país, o notável Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá e<br />

Benavi<strong>de</strong>s, chefe <strong>da</strong> ilustre família Benavi<strong>de</strong>s, enraiza<strong>da</strong> no Brasil. 39<br />

À rua Direita, canto com a <strong>de</strong> São Pedro, num acaçapa<strong>do</strong> e pequeno prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s<br />

primitivos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, instalou-se o primeiro Banco <strong>do</strong> Brasil, em 1809, e nesse prédio permaneceu até<br />

1816, quan<strong>do</strong> foi transferi<strong>do</strong> para a Casa <strong>do</strong>s Contos. Esse casarão, situa<strong>do</strong> também à rua Direita, la<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> mar, pertenceu ao prove<strong>do</strong>r Pedro <strong>de</strong> Souza Pereira e foi arremata<strong>do</strong>, em 1669, pela Fazen<strong>da</strong> Real,<br />

por seis mil cruza<strong>do</strong>s. Ficava entre as ruas <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e <strong>do</strong> Sabão – <strong>de</strong>pois, General Câmara. Na Casa<br />

<strong>do</strong>s Contos, esteve o Banco até o ano <strong>de</strong> 1854, e nesse ano passou a ocupar se<strong>de</strong> própria, à rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, canto <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária. Por falência, <strong>de</strong>sapareceu o primeiro Banco <strong>do</strong> Brasil e o segun<strong>do</strong> foi<br />

cria<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1851, e fundiu-se com o Banco Comercial. Dessa fusão, resultou<br />

o terceiro Banco <strong>do</strong> Brasil, que é o existente e nosso principal estabelecimento <strong>de</strong> crédito, com atuação<br />

<strong>de</strong> relevo na história financeira <strong>do</strong> país. Atualmente, o Banco <strong>do</strong> Brasil ocupa suntuoso palácio <strong>de</strong> sua<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, à rua Primeiro <strong>de</strong> Março. ** É curioso recor<strong>da</strong>r o <strong>de</strong>rrame <strong>de</strong> bilhetes falsos <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong><br />

Brasil, em 1823. Causou pânico na praça essa falsificação, pois que esses bilhetes ou notas corriam como<br />

moe<strong>da</strong> e tinham bastante giro. Dos falsifica<strong>do</strong>res a polícia só conseguiu apanhar o <strong>de</strong> nome Arman<strong>do</strong><br />

José <strong>de</strong> Moura e Silva, enforca<strong>do</strong> a 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1824, no largo <strong>da</strong> Prainha. Era irmão <strong>da</strong> Venerável<br />

Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Monte <strong>do</strong> Carmo, a qual, num gesto <strong>de</strong> pie<strong>da</strong><strong>de</strong> cristã, aten<strong>de</strong>u à súplica <strong>do</strong> infeliz,<br />

sepultan<strong>do</strong> o seu corpo na igreja <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m.<br />

À rua Direita, nº 54, funcionou a Casa Bancária Alves Souto, <strong>de</strong> J. A. Souto & Cia. <strong>de</strong> alto crédito<br />

no Brasil e no estrangeiro. Na manhã <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1864, rápi<strong>do</strong> correu a notícia pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

sobre ter a Casa Souto fecha<strong>do</strong> as suas portas e paralisa<strong>do</strong> as suas transações. Gran<strong>de</strong> e tumultuário foi<br />

o ajuntamento em frente ao estabelecimento, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a presença <strong>de</strong> força policial. Era sócio <strong>da</strong><br />

referi<strong>da</strong> casa bancária o riquíssimo banqueiro José Antonio Alves Souto. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, essa falência<br />

acarretou graves <strong>da</strong>nos financeiros, em época justamente <strong>de</strong> franca prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> para o Brasil. ***<br />

Na rua Direita, teve o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> o primeiro bar ao ar livre, no passeio a asfalto e arboriza<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Confeitaria Carceler, conceitua<strong>da</strong> casa <strong>da</strong> firma Viúva Carceler & Guimarães. Aí reunia-se, à tar<strong>de</strong>, o<br />

mun<strong>da</strong>nismo elegante <strong>da</strong> Corte. Viam-se os príncipes <strong>da</strong> Casa Imperial <strong>do</strong> Brasil, a alta nobreza, os<br />

gran<strong>de</strong>s políticos, banqueiros e a boêmia intelectual. Uma boa orquestra <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> cor<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>leitava essas reuniões elegantes, com o seu escolhi<strong>do</strong> repertório.<br />

A rua Direita também teve a primazia na melhoria <strong>do</strong> aspecto arquitetural <strong>da</strong>s casas, que eram<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros caixões, à guisa <strong>de</strong> fortalezas medievais. Segun<strong>do</strong> o plano organiza<strong>do</strong> na municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e<br />

já em execução em 1870, na rua Direita, as facha<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s prédios nessa via pública tiveram realce com<br />

as ornamentações introduzi<strong>da</strong>s, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> o pitoresco e a fantasia individual<br />

* Restier Gonçalves, no verbete “Chácara <strong>do</strong> Asseca”, escreveu que a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> pertencia a esse viscon<strong>de</strong> e localiza-a, corretamente, fora <strong>da</strong>s terras<br />

<strong>de</strong> Venâncio José Lisboa. (N.C.)<br />

** Nesse prédio está, também, hoje instala<strong>do</strong> o Centro Cultural Banco <strong>do</strong> Brasil. (N.E.)<br />

*** Jornal <strong>do</strong> Comércio e outros, e Anais <strong>do</strong> Parlamento Brasileiro – ano 1864. (N.A.)


A rco <strong>do</strong> Te l e s<br />

C A P Í T U L O X I I | 1 7 1<br />

A passagem ou arco <strong>do</strong> Teles, primitivamente chama<strong>do</strong> lugar ou estância <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res,<br />

formou-se em conseqüência <strong>da</strong>s edificações que foram sen<strong>do</strong> levanta<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1730 a 1740,<br />

entre a rua Direita e a praia <strong>do</strong> Peixe, obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> ao risco man<strong>da</strong><strong>do</strong> organizar pela Câmara para<br />

os lugares notáveis <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Determinavam as posturas que, então, se criaram, tivessem os prédios<br />

frentes para a praia <strong>da</strong>s Marinhas Novas ou <strong>do</strong> Peixe – atual rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> – fossem confortáveis, com<br />

soli<strong>de</strong>z, sobra<strong>do</strong> e feição nobre. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, em observância <strong>de</strong>sse plano <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> embelezamento,<br />

melhorou bastante a feição arquitetural <strong>da</strong> Sebastianópolis. Desapareceu a taipa <strong>de</strong> pilão e passaram a<br />

ser emprega<strong>do</strong>s o cal e a pedra nas edificações urbanas. Vieram as telhas portuguesas para as coberturas<br />

e os ladrilhos para substituir os tijolos <strong>de</strong> barro cru, chama<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>bes. Os telha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> telhão e levadio<br />

modificaram-se e aformosearam-se, com as beiras mais salientes cerca <strong>de</strong> cinco palmos e sen<strong>do</strong> que<br />

muitas bem <strong>de</strong>cora<strong>da</strong>s.<br />

Nessa época, reconstruíram-se as velhas casas <strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> órfãos Antonio Teles <strong>de</strong> Menezes,<br />

situa<strong>da</strong>s entre a antiga estância <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res e as casas <strong>do</strong>s Câmaras, que eram <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, em nº <strong>de</strong><br />

duas e pega<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> uma frente para a rua Direita e fronteira à igreja <strong>do</strong> Carmo. Homem <strong>de</strong> muita<br />

populari<strong>da</strong><strong>de</strong>, o juiz Teles <strong>de</strong> Menezes <strong>de</strong>u o nome à antiga passagem para a Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res, cuja<br />

boca ou entra<strong>da</strong>, pelo la<strong>do</strong> <strong>da</strong> praça, com as transformações havi<strong>da</strong>s, ficou sen<strong>do</strong> por baixo <strong>de</strong> um prédio<br />

e ten<strong>do</strong> a forma <strong>de</strong> um arco. Dai a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> arco <strong>do</strong> Teles. Por <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1863, o arco <strong>do</strong> Teles passou a chamar-se travessa <strong>do</strong> Comércio.<br />

Desestimam o passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> aqueles que dizem ter havi<strong>do</strong> apenas o crescimento <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, continuan<strong>do</strong> a feição <strong>de</strong>scui<strong>da</strong><strong>da</strong>. O que acabamos <strong>de</strong> narrar é completo <strong>de</strong>smenti<strong>do</strong> a essa gente.<br />

No velho Arquivo Municipal, no Arquivo Nacional e, mesmo em arquivos particulares, existem provas<br />

<strong>de</strong> que no passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> apresentam-se fases <strong>de</strong> acentua<strong>do</strong> interesse e <strong>de</strong> especiais cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

pela arte, bom gosto e conforto <strong>da</strong>s habitações.<br />

Além <strong>do</strong> arco <strong>do</strong> Teles e <strong>do</strong>s arcos <strong>da</strong> Carioca, <strong>do</strong>is outros tiveram sua importância na velha<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: o arco <strong>da</strong> Misericórdia e o arco <strong>de</strong> Catumbi. O primeiro, no<br />

largo <strong>da</strong> Misericórdia, <strong>da</strong>va acesso para os fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> hospital. O <strong>de</strong> Catumbi, com dupla serventia,<br />

porque se prestava ao trânsito <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres para o alto <strong>da</strong> montanha e <strong>de</strong>sta trazia, pelos canos que sobre<br />

eles corriam, a água potável para abastecer aos mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Catumbi. Ain<strong>da</strong> em 1868, e bem sóli<strong>da</strong>,<br />

existia uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sse arco, servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> quartel-general <strong>da</strong> malandragem perigosa <strong>do</strong> bairro. Os<br />

arcos <strong>da</strong> Carioca, maravilha <strong>da</strong> engenharia, obra monumental <strong>de</strong> espantosa soli<strong>de</strong>z, com existência <strong>de</strong><br />

perto <strong>de</strong> <strong>do</strong>is séculos, vem servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> viaduto há anos. Por ele correm os bon<strong>de</strong>s elétricos <strong>da</strong><br />

Companhia Ferro Carril Carioca, * que fazem o transporte <strong>de</strong> passageiros e cargas para o morro <strong>de</strong> Santa<br />

Teresa, bairro aprazível e aristocrático <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Beco ou Travessa <strong>do</strong>s A d e l o s<br />

Como <strong>de</strong>ixamos dito <strong>de</strong> começo, na larga faixa <strong>de</strong> terra, que acresceu à antiga marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

vias públicas foram sen<strong>do</strong> forma<strong>da</strong>s com a casaria que ia sen<strong>do</strong> levanta<strong>da</strong>. Fez-se, então, uma passagem<br />

pública <strong>da</strong> ribeira <strong>do</strong> Mar para a rua <strong>da</strong> praia, corren<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Balança <strong>de</strong> Ver o Peso,<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá e Benavi<strong>de</strong>s, em 1640. Era nessa passagem on<strong>de</strong> estacionavam os<br />

a<strong>de</strong>los, homens e mulheres ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res <strong>de</strong> roupa usa<strong>da</strong>, traste, ferro velho e também empresta<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

dinheiro por penhores. Tronco <strong>da</strong> numerosa família ju<strong>da</strong>ica que se constituiu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, esses<br />

a<strong>de</strong>los colaboraram bastante na formação <strong>do</strong> nosso comércio. Eis o motivo <strong>do</strong> nome <strong>da</strong><strong>do</strong> ao antigo<br />

logra<strong>do</strong>uro, que é hoje a travessa Tinoco.<br />

* Hoje, os bon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Teresa estão a cargo <strong>da</strong> Central – Companhia Estadual <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Transporte e Logística a companhia Ferro Carril<br />

Carioca foi incorpora<strong>da</strong> pela Light em 1916 e, em 1963, os bon<strong>de</strong>s passaram para a CTC – Companhia <strong>de</strong> Transportes Coletivos, em processo <strong>de</strong><br />

liqui<strong>da</strong>ção. (N.E.)


1 7 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r<br />

Um arenoso e estreito caminho <strong>do</strong> mar ao fosso, aberto pelos primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> vi<strong>da</strong> à incipiente ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa via pública é a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, assim chama<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1745,<br />

quan<strong>do</strong> na mesma passou a residir o ouvi<strong>do</strong>r <strong>da</strong> comarca – dr. Manoel <strong>de</strong> Amaro Pena <strong>de</strong> Mesquita Pinto<br />

– em uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, pouco acima <strong>do</strong> passo <strong>de</strong> Sucussarará, atual rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>, à mão direita,<br />

caminhan<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar.<br />

O sucessor <strong>de</strong> Manoel Amaro, o ouvi<strong>do</strong>r Francisco Antonio Berquó <strong>da</strong> Silveira Pereira<br />

(1748/1750) também residiu no dito prédio, incorpora<strong>do</strong> aos bens <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Real, por força <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m<br />

Régia, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1745. Tinha o nº 64 quan<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>, entre 1902/1907. Primitivamente,<br />

a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r teve o nome <strong>de</strong> Aleixo Manoel, homem bom <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que fez parte <strong>da</strong> expedição<br />

portuguesa <strong>de</strong> 1567, ten<strong>do</strong> fica<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Auxiliou com <strong>de</strong>no<strong>do</strong> os portugueses na luta contra<br />

os tamoios e as suas façanhas nas armas <strong>de</strong>ram-lhe fama e importância social. Era hábil cirurgião e foi<br />

verea<strong>do</strong>r. Depois <strong>de</strong> 1605, com a montagem <strong>do</strong> forte Vera Cruz, à beira-mar, on<strong>de</strong> está a igreja <strong>da</strong> Cruz<br />

<strong>do</strong>s Militares, o caminho, passagem ou rua <strong>de</strong> Aleixo Manoel passou a ser chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> rua <strong>da</strong> Cruz e por<br />

mais <strong>de</strong> século.<br />

Augusto Malta, 18/5/1906. Arcos <strong>da</strong> Lapa. Obras <strong>de</strong> abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Mem <strong>de</strong> Sá (passagem na rua Riachuelo, toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua Evaristo <strong>da</strong> Ve i g a ) .<br />

Des<strong>de</strong> 1896, os bon<strong>de</strong>s para Santa Teresa passam pelo aqueduto <strong>da</strong> Carioca, também conheci<strong>do</strong> como Arcos <strong>da</strong> Lapa, construí<strong>do</strong> em 1750 para<br />

transportar água <strong>da</strong>s nascentes <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> Carioca e abastecer o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Durante algum tempo parte <strong>de</strong> seus arcos serviu <strong>de</strong> moradia.


C A P Í T U L O X I I | 1 7 3<br />

O passa<strong>do</strong> fala com entusiasmo <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, chaman<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> salão <strong>de</strong> visitas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Os primeiros trabalhos sobre alinhamento, nivelamento e melhoria <strong>da</strong>s casas <strong>da</strong>tam <strong>de</strong> 1624 e<br />

<strong>de</strong>les há segura notícia, como verificamos. Fizeram-se em observância às posturas cria<strong>da</strong>s pela Câmara,<br />

em vereança <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> abril <strong>da</strong>quele dito ano <strong>de</strong> 1624. Em 1641, uma comissão <strong>de</strong> técnicos organizou um<br />

plano <strong>de</strong> novo calçamento, aperfeiçoa<strong>do</strong> e uniforme, para a então rua <strong>da</strong> Cruz, submeti<strong>do</strong> à Câmara e<br />

por ela aprova<strong>do</strong>, em 09 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1641. No ano seguinte, executou-se a obra. Dois<br />

sensíveis rebaixamentos foram leva<strong>do</strong>s a efeito na rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> um, em 1815, e, o outro, em<br />

1834. No primeiro, contra a opinião <strong>do</strong> arquiteto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, Joaquim José <strong>de</strong> Santa Ana, e os protestos<br />

<strong>do</strong>s proprietários, <strong>de</strong>sceu cerca <strong>de</strong> quatro palmos o leito <strong>da</strong> rua, com o objetivo <strong>de</strong> fazer-se, como<br />

realmente se fez, um novo lageamento e pronto escoamento <strong>da</strong>s águas. No <strong>de</strong> 1834, <strong>de</strong>sceu o leito mais<br />

0,5 braça, para ser a rua calça<strong>da</strong>, como o foi, com cubos <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> pé e meio <strong>de</strong> aresta. Esse calçamento<br />

importou em quinze contos e trezentos mil réis – ao tempo muito dinheiro. São <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1834 os planos<br />

<strong>de</strong> aformoseamento <strong>da</strong>s facha<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s prédios <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r e <strong>de</strong> outras principais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Começou, nessa ocasião, a reedificação <strong>da</strong> casaria <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Apareceram os prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s bem altos. Vieram as largas portas <strong>de</strong> cantaria, as soleiras corri<strong>da</strong>s,<br />

s/a, s/d – Rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> corte portuguesa e a abertura <strong>do</strong>s portos, muitos negociantes estrangeiros vieram se estabelecer na<br />

rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, que passou a concentrar lojas elegantes, confeitarias, cabeleireiros, joalheiros, casas <strong>de</strong> música e livrarias com novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />

atraíam a elite carioca.


1 7 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

os lage<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mármore e as portas envidraça<strong>da</strong>s no sobra<strong>do</strong>. Na rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r reedificaram-se os<br />

prédios 151, 157, 161 e 156. O prédio 151 era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Tinot, o 157 estava arren<strong>da</strong><strong>do</strong> ao<br />

competente alfarrabista e livreiro Albino Jordão, com a sua livraria na loja <strong>do</strong> prédio; no 161 estava o<br />

atelier <strong>de</strong> Ma<strong>da</strong>me Pompou e o 156 era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Felix <strong>de</strong>s Essard. São <strong>de</strong>ssa época Ma<strong>da</strong>me<br />

Murat, célebre modista e coleteira, no 102; Ma<strong>da</strong>me Rosália Dubois, também modista e coleteira<br />

afama<strong>da</strong> e que aliava, à sua perícia profissional, um fino trato. O ateliêr Dubois era no 124, on<strong>de</strong> afluíam<br />

as elegantes <strong>da</strong> época; César & Gadia, alfaiates <strong>de</strong> renome, no 69; a conceitua<strong>da</strong> Ma<strong>da</strong>me Valois, com a<br />

famosa vitrine <strong>de</strong> Arrangement <strong>de</strong> la Mo<strong>de</strong> Française, no 70; a freqüenta<strong>da</strong> taverna Mitraud, ponto <strong>da</strong><br />

elite masculina, no 50; a aristocrática confeitaria Lacele, no 99; Ana Pisles, com as curiosas<br />

quinquilharias, no 87; Brid & Payler, com calça<strong>do</strong>s finos ingleses, no 98; o famoso cabeleireiro Roux,<br />

no 115; e o livreiro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> renome, Emílio Seignot Plancher, no 95, funcionan<strong>do</strong>, no primeiro an<strong>da</strong>r,<br />

a Tipografia Imperial, <strong>do</strong> mesmo Plancher. Em 1862, segun<strong>do</strong> a Revista Popular, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>do</strong><br />

dito ano, já se calculava em sessenta mil o nº <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as classes, sexos e i<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />

transitavam pela rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, durante as <strong>de</strong>zesseis horas <strong>de</strong> um dia. A partir <strong>de</strong> 1867, ficou proibi<strong>da</strong><br />

a passagem <strong>de</strong> veículos pela rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 9h <strong>da</strong> manhã até as 10 <strong>da</strong> noite, por ser gran<strong>de</strong> o<br />

trânsito <strong>de</strong> pessoas. Ao fin<strong>da</strong>r <strong>do</strong> século XIX, num memorial apresenta<strong>do</strong> à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a propósito<br />

<strong>de</strong> costumes e melhoramentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r aparece<br />

como instituição quase universal, representan<strong>do</strong> a concentração <strong>da</strong> nossa cultura, elegância e luxo. Nesse<br />

memorial, estão as assinaturas <strong>de</strong> Par<strong>da</strong>l Malet, Dermeval <strong>da</strong> Fonseca e Viriato Chaves espíritos<br />

brilhantes no mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s letras e inteligências operosas. Escragnole Dória, numa interessante crônica,<br />

publica<strong>da</strong> na Revista <strong>da</strong> Semana, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1927, nº 26, diz que a “rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r ain<strong>da</strong> é a rua<br />

Augusto Malta, 6/10/1906 – Rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>. Essa tradicional rua foi aberta no início <strong>do</strong> século XVII e ficou conheci<strong>da</strong> por outras <strong>de</strong>nominações,<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os trechos e o comércio que neles existia. Seu nome atual originou-se <strong>de</strong> uma conheci<strong>da</strong> quitan<strong>da</strong> <strong>de</strong> mariscos, situa<strong>da</strong> na esquina<br />

com a rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga.


s/a, s/d – Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma Casario existente na antiga rua <strong>do</strong>s Pesca<strong>do</strong>res, antes <strong>do</strong> novo alinhamento, realiza<strong>do</strong> durante a administração<br />

<strong>do</strong> prefeito Pereira Passos; a rua teve seu nome mu<strong>da</strong><strong>do</strong>, em 1869, em reconhecimento aos serviços presta<strong>do</strong>s pelo almirante Joaquim José Inácio,<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma,


1 7 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

<strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, feriu-a a aveni<strong>da</strong>, mas não po<strong>de</strong> matá-la”. Área consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> foreira pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara,<br />

inclui a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, entre a Uruguaiana e o largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula. Essa área era parte <strong>da</strong><br />

que fora <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> para o rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1705. Não se levan<strong>do</strong> a efeito a obra <strong>do</strong> rossio, a Câmara<br />

<strong>de</strong>cidiu lotear to<strong>da</strong> a área, em 1720, aforan<strong>do</strong> os lotes para edificações imediatas.<br />

Rua Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r<br />

Também, outro antiquíssimo logra<strong>do</strong>uro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com<br />

existência já no começo <strong>do</strong> século XVII, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> passagem, estreita e alagadiça, <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Cruz – Ouvi<strong>do</strong>r<br />

– para o caminho que ia para a cerca <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Carmo, agora rua Sete <strong>de</strong> Setembro. Durante o seu<br />

governo, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> beneficiou essa via pública, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe regular cor<strong>de</strong>amento, aterro<br />

alto e conveniente, calçamento <strong>de</strong> alvenaria e iluminação. Como medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> higiene e <strong>de</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong>, fez<br />

retirar as cabanas <strong>de</strong> quitan<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s pretas forras africanas e também <strong>de</strong>moliu to<strong>da</strong>s as casas velhas,<br />

provi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> sobre a imediata construção <strong>de</strong> outras, que seriam, como o foram, <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>. Nas ditas<br />

cabanas, completamente nus e em promiscui<strong>da</strong><strong>de</strong>, viviam negros <strong>de</strong> ambos os sexos, fabrican<strong>do</strong><br />

samburás durante o dia e passavam a noite em batuques e <strong>da</strong>nças, até alta madruga<strong>da</strong>. Nessas cabanas<br />

homiziavam-se ladrões <strong>do</strong> mar, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros e escravos fugi<strong>do</strong>s.<br />

Na rua Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, em 1842, fun<strong>do</strong>u-se a Casa Clark, afama<strong>do</strong> estabelecimento <strong>de</strong> calça<strong>do</strong><br />

inglês, e o Apostola<strong>do</strong> Positivista <strong>do</strong> Brasil teve a sua primeira se<strong>de</strong>. A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Francesa <strong>de</strong><br />

Beneficência, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1836, e o Clube <strong>de</strong> Engenharia também funcionaram na rua Nova<br />

<strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r – chama<strong>da</strong> primitivamente rua <strong>da</strong>s Flores.<br />

O <strong>de</strong>creto municipal 892, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1902, <strong>de</strong>u a essa rua o nome <strong>de</strong> Sachet, o<br />

mecânico francês <strong>do</strong> balão Pax, <strong>de</strong> invenção <strong>do</strong> brasileiro Augusto Severo <strong>de</strong> Albuquerque Maranhão.<br />

Morreram ambos, o inventor e o mecânico, no <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong>sse dirigível, a 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1902, em Paris.<br />

Severo tem o seu nome numa <strong>da</strong>s ruas <strong>da</strong> capital <strong>da</strong> França. Mo<strong>de</strong>rnamente, a rua Sachet voltou à<br />

nominação anterior.<br />

Embora incluí<strong>da</strong> na sesmaria <strong>do</strong>s Sobejos, conforme quer a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, apenas três são os<br />

terrenos reconheci<strong>do</strong>s foreiros, porque, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> são <strong>do</strong>s encrava<strong>do</strong>s compreendi<strong>do</strong>s na dita sesmaria.<br />

Entretanto, pelas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s surgi<strong>da</strong>s no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong>s nossas pesquisas, só encontramos elementos para<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>do</strong>is <strong>de</strong>sses três terrenos. Um terreno estava ocupa<strong>do</strong> por um prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong><br />

esse prédio foi vendi<strong>do</strong>, em 1811, pelo seu proprietário Simão Barbosa <strong>do</strong>s Santos, por 750$000, ao<br />

briga<strong>de</strong>iro Domingos <strong>de</strong> Souza Coelho Cal<strong>da</strong>s. Nessa ven<strong>da</strong>, ficou confirma<strong>da</strong> a natureza foreira <strong>do</strong> chãoterreno<br />

– com o reconhecimento pelo compra<strong>do</strong>r. Em 1834, foi esse prédio, então com o nº 45, registra<strong>do</strong><br />

no Livro <strong>da</strong>s Décimas, em nome <strong>de</strong> Bonifácio José Sérgio <strong>do</strong> Amaral. O outro terreno i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> tinha<br />

22 palmos <strong>de</strong> frente por 123 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e <strong>do</strong> mesmo era posseiro, em 1809, Maria Joaquina <strong>de</strong> Oliveira<br />

Cerqueira. Era, também, ocupa<strong>do</strong> por um prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 6, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mesma senhora. A i n d a<br />

em 1865, conservava a mesma numeração. Não conseguimos encontrar <strong>do</strong>cumento pelo qual fosse<br />

possível esclarecer a origem <strong>da</strong> nominação <strong>de</strong> Flores <strong>da</strong><strong>do</strong> à rua Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r.<br />

Rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong><br />

Um <strong>do</strong>s primitivos carreiros <strong>da</strong> várzea, on<strong>de</strong> foi assente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>u origem à rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>, <strong>de</strong> bastante importância no bairro comercial. A princípio muito<br />

tortuosa, essa via pública, em 1610 já cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong>, segun<strong>do</strong> as posturas <strong>da</strong> Câmara, as quais <strong>de</strong>terminavam<br />

fossem as ruas abertas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a tornar cômo<strong>da</strong>s e rápi<strong>da</strong>s as comunicações. A <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong> comunicou<br />

o bairro <strong>da</strong> Misericórdia com o <strong>da</strong> Prainha, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Porto – <strong>de</strong>pois São José –, no canto <strong>de</strong><br />

Inácio Castanheira e terminan<strong>do</strong> na cerca <strong>da</strong> horta <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s São Bento, <strong>de</strong>fronte à porta, por on<strong>de</strong>, mais


tar<strong>de</strong>, os ditos fra<strong>de</strong>s abriram uma rua a que se <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> São Bento, ain<strong>da</strong> conserva<strong>do</strong>. Do fim <strong>da</strong><br />

rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong> chegava-se à Prainha por um atalho e <strong>da</strong> Prainha alcançava-se o lugar – rua Uruguaiana<br />

– <strong>do</strong> curtume <strong>da</strong> vala gran<strong>de</strong>, que ficava <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s charnecas e lagoas que aí então existiam e que foram<br />

sen<strong>do</strong> aterra<strong>da</strong>s, forman<strong>do</strong>-se um rossio, <strong>do</strong> qual o largo <strong>de</strong> Santa Rita é vestígio. Parte <strong>do</strong> antigo rossio<br />

foi ocupa<strong>da</strong> por um cemitério <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a escravos e indigentes. Depois <strong>de</strong> 1690, aberta a quitan<strong>da</strong><br />

gran<strong>de</strong>, espécie <strong>de</strong> feira, teve to<strong>da</strong> essa rua o nome <strong>de</strong> Quitan<strong>da</strong>. O trecho entre as ruas <strong>de</strong> São José e<br />

Ouvi<strong>do</strong>r, chamou-se rua Sucussarará, porque ai residiu um famoso cirurgião inglês que era especialista<br />

no tratamento <strong>da</strong>s hemorrói<strong>da</strong>s. * Essa nominação Sucussurará aparece em <strong>do</strong>cumentos <strong>do</strong> século XIX.<br />

João Francisco Duclerc, o chefe <strong>da</strong> expedição francesa que invadiu o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 1710,<br />

feito prisioneiro <strong>da</strong>s forças portuguesas, foi recolhi<strong>do</strong> preso em uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> à rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>,<br />

canto com a <strong>do</strong>s Escrivães – <strong>de</strong>pois General Câmara. Nessa casa, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> tenente Tomás Gomes<br />

<strong>da</strong> Silva, Duclerc foi assassina<strong>do</strong> às 8h <strong>da</strong> noite, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1711. O seu corpo teve sepultura na<br />

capela <strong>de</strong> São Pedro <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária. Diz o historia<strong>do</strong>r Melo Morais, pai, que na precita<strong>da</strong> casa,<br />

em setembro <strong>de</strong> 1711, foram conta<strong>do</strong>s os seiscentos e <strong>de</strong>zesseis mil cruza<strong>do</strong>s, exigi<strong>do</strong>s pelos franceses<br />

<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> expedição, para o resgate <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, toma<strong>da</strong> por essa expedição capitanea<strong>da</strong> por Duguay<br />

Trouin.<br />

Rua <strong>de</strong> São Bento<br />

Em 14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1743, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara dirigiu um ofício ao aba<strong>de</strong> <strong>do</strong> mosteiro <strong>de</strong> São<br />

Bento <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, fazen<strong>do</strong> sentir a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> abertura <strong>de</strong> uma rua que cortaria a horta <strong>do</strong><br />

mosteiro. Os monges aquiesceram e a rua foi aberta com 33 palmos <strong>de</strong> largura e recebeu o nome <strong>de</strong> São<br />

Bento. Nos terrenos marginais <strong>de</strong> que ficaram <strong>de</strong> posse, os beneditinos levantaram espaçosos e sóli<strong>do</strong>s<br />

prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, os quais se alugaram rapi<strong>da</strong>mente. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século XIX, esses prédios foram<br />

sen<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong>s nas lojas por armazéns <strong>de</strong> café e pelos escritórios <strong>do</strong>s respectivos comissários nos<br />

sobra<strong>do</strong>s. A rua <strong>de</strong> São Bento foi o empório <strong>do</strong> café no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e no vale <strong>do</strong> Paraíba, na antiga<br />

província fluminense, os fazen<strong>de</strong>iros na<strong>da</strong>vam em ouro e as terras cobriram-se com a preciosa rubiácea,<br />

enquanto existiu o braço escravo. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Joaquim José <strong>de</strong> Souza Breves, o rei <strong>do</strong> café, tinha nas<br />

suas fazen<strong>da</strong>s, situa<strong>da</strong> naquela província, cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil escravos emprega<strong>do</strong>s nessa lavoura, que nos<br />

nossos dias vive em crise.<br />

Os religiosos beneditinos chegaram ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 1589, e no ano seguinte já ocupavam o<br />

outeiro <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Brito e a várzea ao re<strong>do</strong>r, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação que lhes fizera o respectivo<br />

proprietário Diogo <strong>de</strong> Brito, filho <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Brito. A <strong>do</strong>ação fez-se por escritura pública <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1590, sen<strong>do</strong> o ato <strong>da</strong> lavratura na própria Casa Conventual. No alto <strong>do</strong> dito outeiro construíram<br />

o mosteiro e a igreja, sen<strong>do</strong> esta to<strong>da</strong> em obra <strong>de</strong> talha – ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira maravilha em arte. Na várzea<br />

levantaram cerca e plantaram horta. Des<strong>de</strong> então, muitos os serviços presta<strong>do</strong>s pelos fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Bento<br />

à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, bastan<strong>do</strong> realçar o <strong>da</strong> educação e instrução. Até 1842,<br />

houve um passadiço que comunicava o mosteiro com a parte <strong>da</strong> horta que restou quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong><br />

rua <strong>de</strong> São Bento, parte que <strong>de</strong>sapareceu no dito ano <strong>de</strong> 1842, para a abertura <strong>da</strong>s ruas Beneditinos e<br />

Municipal. A rua Municipal tem, atualmente, o nome <strong>de</strong> Mayrink Veiga.<br />

Ruas Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma e Teófilo Otoni<br />

C A P Í T U L O X I I | 1 7 7<br />

Alagadiça era a região entre os morros <strong>de</strong> São Bento e <strong>da</strong> Conceição. As enxurra<strong>da</strong>s formavam<br />

enormes charcos que a preamar alimentava. Em baten<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontro às escarpas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is morros, o mar<br />

inun<strong>da</strong>va o vale pelo qual corria um canal natural, em cujas margens viviam pesca<strong>do</strong>res em toscas<br />

cabanas. Em crescen<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, tu<strong>do</strong> isso se transformou e, em menos <strong>de</strong> meio século, abriram-se ruas<br />

e vielas e levantou-se a casaria. Da praia Velha formou-se a rua <strong>do</strong>s Pesca<strong>do</strong>res e <strong>de</strong>ssa, alarga<strong>da</strong> e<br />

* A versão <strong>da</strong><strong>da</strong> ao nome “Sucussarará” não se sustenta historicamente. Seus propaga<strong>do</strong>res não informam o nome <strong>de</strong>sse médico. Acredito que a<br />

origem <strong>do</strong> nome seja outra: no final <strong>de</strong>ssa rua ficava a zona alagadiça <strong>da</strong> lagoa <strong>da</strong> Pavuna e era povoa<strong>da</strong> por aves aquáticas como o socó <strong>de</strong> cores<br />

varia<strong>da</strong>s e por algumas espécies com tons vermelhos ou laranjas, chama<strong>da</strong>s pelos índios <strong>de</strong> “sararás”. Unin<strong>do</strong> o substantivo (socó) ao adjetivo (sarará)<br />

chega-se a socó-sarará, que no sotaque português po<strong>de</strong>ria ter <strong>da</strong><strong>do</strong> “sucussarará”. (N.C.)


Augusto Malta, s/d – Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma. O novo aspecto <strong>da</strong> rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> alinhamento e ligação com a<br />

aveni<strong>da</strong> Marechal Floriano, à esquer<strong>da</strong>; a parte lateral <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> Santa Rita, que teve origem na capela construí<strong>da</strong> graças à <strong>de</strong>voção <strong>de</strong> Manoel<br />

Nascentes Pinto e sua esposa <strong>do</strong>na. Antonia Maria.


1 8 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

melhora<strong>da</strong>, fez-se a viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma, e pela ilha Seca, lugar arenoso e enxuto entre alagadiços,<br />

correu-se uma rua muito estreita, a qual se chamou <strong>de</strong> ilha Seca, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s Violas e, por fim, Teófilo<br />

Otoni. Em 1640, essa via pública prolongou-se até a <strong>da</strong> Conceição <strong>do</strong> Cônego. Nesse mesmo ano <strong>de</strong><br />

1640, levaram-se a efeito outros arruamentos nessa zona <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, forman<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>is pequenos<br />

logra<strong>do</strong>uros, que ficaram conheci<strong>do</strong>s por beco e largo <strong>de</strong> João Batista, porque, no canto <strong>do</strong> beco com a<br />

rua <strong>do</strong>s Ourives, residiu um famoso cirurgião <strong>de</strong> nome João Batista Darrigue. O prédio <strong>de</strong> residência <strong>do</strong><br />

Dr. Darrigue, e no qual prédio faleceu, era <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse cirurgião, e tinha <strong>do</strong>is sobra<strong>do</strong>s. *<br />

Rua <strong>do</strong>s Ourives<br />

A severi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s leis <strong>da</strong>s Minas e o rigor com que se aplicavam as penas aos contraventores não<br />

impediram o contraban<strong>do</strong> <strong>do</strong> ouro, pratica<strong>do</strong> em larga escala. Em 1730, gran<strong>de</strong> a maroteira <strong>de</strong>scoberta,<br />

apuran<strong>do</strong>-se, em Minas Gerais, a falsificação que fazia Antonio Pereira <strong>de</strong> Souza <strong>da</strong>s barras <strong>de</strong> ouro <strong>da</strong><br />

Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, com a cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gente graú<strong>da</strong>, como <strong>de</strong>ixou clara a <strong>de</strong>vassa procedi<strong>da</strong>. Entre os<br />

culpa<strong>do</strong>s estavam mestres e oficiais <strong>de</strong> ourives fundi<strong>do</strong>res, os quais foram expulsos <strong>do</strong>s lugares on<strong>de</strong><br />

assistiam e com seus haveres confisca<strong>do</strong>s. As falsificações continuaram, porém. No perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1742 a<br />

1752, tomaram gran<strong>de</strong> vulto, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> uma nova série <strong>de</strong> penali<strong>da</strong><strong>de</strong>s para serem aplica<strong>da</strong>s aos<br />

ourives faltosos ou <strong>de</strong>linqüentes. Assim é que o ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1753 obrigou o comparecimento<br />

<strong>do</strong>s ourives na Intendência Geral <strong>da</strong> Polícia, <strong>de</strong> seis em seis meses, e marcou-lhes local <strong>de</strong> residência<br />

obriga<strong>da</strong> e funcionamento <strong>da</strong>s lojas. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, foi <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> a travessa que ia <strong>da</strong> igreja <strong>do</strong> Parto<br />

à Santa Rita, para a residência <strong>do</strong>s ourives e funcionamento <strong>da</strong>s suas lojas <strong>de</strong> ouro e prata. A partir <strong>de</strong>ssa<br />

época, ficou a dita travessa com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua <strong>do</strong>s Ourives.<br />

A aveni<strong>da</strong> <strong>Rio</strong> Branco tirou um trecho à dita rua. A pequena parte entre a rua <strong>de</strong> São José e a rua<br />

Sete <strong>de</strong> Setembro tem, agora, o nome <strong>de</strong> Rodrigo Silva, e o trecho <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a referi<strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> ao final <strong>do</strong><br />

logra<strong>do</strong>uro, no largo <strong>de</strong> Santa Rita, recebeu recentemente o nome <strong>de</strong> Miguel Couto, que foi notável<br />

médico brasileiro, com consultório nessa parte <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Ourives. Por essa via pública muito fizeram<br />

os ourives, benefician<strong>do</strong>-a, por várias vezes, com melhoramentos. Em 1811, promoveram a reforma<br />

interna e externa <strong>da</strong>s casas, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhes mais conforto e embelezan<strong>do</strong> as facha<strong>da</strong>s com os lineamentos<br />

feitos. São <strong>de</strong>ssa ocasião as altas soleiras <strong>de</strong> cantaria lavra<strong>da</strong> ao cinzel e os <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> mármore, sen<strong>do</strong><br />

alguns jaspea<strong>do</strong>s e em ver<strong>de</strong>.<br />

Artísticas gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro fechavam as janelas e as portas. A primeira casa que assim se<br />

transformou foi a <strong>de</strong> nº 41, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Antonio José <strong>de</strong> Carvalho, com licença concedi<strong>da</strong> pelo<br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em 23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1811. Ain<strong>da</strong> <strong>do</strong>s ourives a idéia <strong>do</strong> alargamento <strong>da</strong> rua, que se<br />

fez em 1816, com recuo <strong>de</strong> 4 palmos, <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro. Nessa época, eram afama<strong>do</strong>s<br />

ourives os franceses Charles Gerar<strong>do</strong>t e Pierre Bernard Cousin, este estabeleci<strong>do</strong> no prédio 133 e aquele<br />

no 123.<br />

Artística e comercialmente, a ourivesaria no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> foi uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> bem perfeita e<br />

muito ren<strong>do</strong>sa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>scobriram as minas.<br />

Classe numerosa, os ourives <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, rivalizan<strong>do</strong>-se com os<br />

<strong>de</strong> Lisboa, apresentavam nos seus mostruários originali<strong>da</strong><strong>de</strong>s preciosas em lavores <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e fina arte.<br />

No fim <strong>do</strong> século XVIII, já a ourivesaria e a relojoaria constituíam um só ramo <strong>de</strong> comércio e ourives e<br />

relojoeiros, uma só corporação.<br />

Rua <strong>do</strong> Cano<br />

À medi<strong>da</strong> que se localizavam pela planície, os primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> iam fazen<strong>do</strong> o enxugo <strong>do</strong> alagamento, abrin<strong>do</strong> valas que <strong>de</strong>rivavam <strong>do</strong> fosso em<br />

direção ao mar. Uma <strong>de</strong>ssas valas, corren<strong>do</strong> em terrenos <strong>de</strong>volutos, <strong>de</strong> oeste a leste e quase to<strong>da</strong> em reta,<br />

* Realmente o cirurgião João Batista Darrigue, <strong>de</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> francesa, construiu muitos prédios nesse beco e nele residiu. Porém,<br />

não po<strong>de</strong> ter participa<strong>do</strong> <strong>da</strong> abertura <strong>do</strong> beco, em 1640, pois só chegou `a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> no século XVIII. (N.C.)


C A P Í T U L O X I I | 1 8 1<br />

veio a servir <strong>de</strong> traço a uma via pública que se cor<strong>de</strong>ou em 1640, quan<strong>do</strong> se canalizaram as águas <strong>da</strong><br />

vala. Des<strong>de</strong> então, ficou oficialmente aberta e reconheci<strong>da</strong> com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Cano, nome<br />

substituí<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong> Sete <strong>de</strong> Setembro, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1856, que aprovou a proposta <strong>do</strong>s verea<strong>do</strong>res Had<strong>do</strong>ck Lobo e Jerônimo <strong>de</strong> Mesquita para essa<br />

mu<strong>da</strong>nça.<br />

O notável governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> –, no seu fecun<strong>do</strong> governo<br />

(1733/1763), planeou o prolongamento <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cano até a praça <strong>do</strong> Carmo, atual Quinze <strong>de</strong><br />

Novembro. Esse plano cogitou <strong>de</strong> um novo alinhamento, <strong>de</strong> calçamento aperfeiçoa<strong>do</strong> e <strong>de</strong> uma galeria<br />

para a vazão <strong>da</strong>s águas. No governo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m. João VI, também foi pensa<strong>do</strong> o prolongamento <strong>da</strong> rua até<br />

o mar e o seu alargamento para uma melhor perspectiva. Em 1832, a Ilustríssima Câmara submeteu ao<br />

governo <strong>do</strong> Império o plano que man<strong>da</strong>ra organizar para o alargamento <strong>da</strong> rua, o seu prolongamento até<br />

o mar e a reconstrução radical <strong>da</strong> sua casaria. As novas edificações obe<strong>de</strong>ceriam a um tipo uniforme,<br />

to<strong>da</strong>s <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> e não exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> três – a bem <strong>da</strong> estética <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Houve larga discussão entre o<br />

Governo Imperial e a Administração Municipal. Por fim, negan<strong>do</strong> a sua colaboração ao referi<strong>do</strong> plano,<br />

o Governo <strong>do</strong> Império <strong>de</strong>terminou fosse suspensa a sua execução, a 23 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1835, por ser muito<br />

dispendiosa. Afinal, melhora<strong>da</strong> bastante, nota<strong>da</strong>mente quanto à feição arquitetural <strong>do</strong>s prédios, a rua<br />

Sete <strong>de</strong> Setembro abriu-se até o largo <strong>do</strong> Paço, em ato solene, no dia 7 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1856, num<br />

<strong>do</strong>mingo. Na administração <strong>do</strong> prefeito Passos (1902/1906) a velha via pública foi melhora<strong>da</strong> bastante,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> feito o seu alargamento.<br />

Damos por termina<strong>do</strong> este capítulo XII, que diz respeito ao bairro comercial <strong>da</strong> velha ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, empório <strong>do</strong> comércio sul-americano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1808, com a abertura <strong>do</strong>s<br />

portos <strong>do</strong> Brasil às nações amigas. De 1808 a 1822, foi notável o crescimento <strong>do</strong> nosso comércio, por<br />

grosso e a retalho e, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, o bairro Comercial afirmava uma gran<strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a abertura<br />

<strong>de</strong> armazéns, escritórios <strong>de</strong> comissões e consignações, <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias importa<strong>da</strong>s e a exportar,<br />

etc... E esse <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> comércio carioca fomentou a corrente imigratória, atrain<strong>do</strong> maiores<br />

capitais e maior impulso <strong>de</strong>u à nossa civilização, sempre a crescer, até as brilhantes <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong><br />

nossos dias.


C A P Í T U L O X I I I<br />

L i to ral No rte ou Re c ô n c avo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>d e


P r a i n h a<br />

C A P Í T U L O X I I I | 1 8 3<br />

Os primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, procuran<strong>do</strong> alcançar o litoral norte ou recôncavo <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, foram abrin<strong>do</strong> caminhos que beiravam charnecas e mateiros. Um <strong>de</strong>sses caminhos, origem <strong>da</strong><br />

antiga rua <strong>do</strong>s Ourives, foi sair a uma pequena praia abriga<strong>da</strong>, <strong>de</strong> areias limpas e fácil <strong>de</strong>sembarque, em<br />

um outeiro, <strong>de</strong>pois chama<strong>do</strong> Manoel <strong>de</strong> Brito e <strong>de</strong> São Bento, e uns altos pene<strong>do</strong>s, ditos mais tar<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

Pedra <strong>do</strong> Sal. A essa ribeira <strong>de</strong>ram o nome <strong>de</strong> Prainha, que se esten<strong>de</strong>u à região vizinha. Facilitan<strong>do</strong>, por<br />

terra, a comunicação com o recôncavo, foi sen<strong>do</strong> aberta passagem pela encosta <strong>da</strong> montanha e nesse<br />

estreito caminho, em alagadiços, a rua <strong>da</strong> Prainha tem sua origem. Por sua vez, uma pequena vala que<br />

esgotava os pântanos <strong>do</strong>s cajueiros e ia <strong>de</strong>spejar no fosso <strong>de</strong>u causa ao nome <strong>de</strong> Valinha ao trecho <strong>da</strong><br />

dita rua <strong>da</strong> Prainha, entre o Valongo – atualmente rua <strong>do</strong> Camerino – e a la<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> Conceição. A partir<br />

<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1734, o nome <strong>de</strong> Valinha começou a ser esqueci<strong>do</strong>, vigoran<strong>do</strong> o <strong>de</strong> Aljube, famosa prisão <strong>de</strong><br />

clérigos localiza<strong>da</strong> nessa rua. E foi nesse ano <strong>de</strong> 1734 que se iniciaram as obras <strong>de</strong> melhoramentos <strong>do</strong><br />

bairro <strong>da</strong> Prainha. Enxugaram-se os pântanos, empedrou-se a Valinha, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se-lhe maior vazão, que<br />

era feita na vala mestra <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>; nivelaram-se os terrenos; alinharam-se as casas; calçaram-se as vias<br />

públicas com alvenaria; construiu-se sóli<strong>do</strong> cais e levantou-se a gran<strong>de</strong> muralha <strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Conceição,<br />

muralha que chegou aos nossos dias. Também planeou-se a comunicação <strong>da</strong> Prainha com São Diogo,<br />

por via terrestre. Com ligeiras alterações, esse plano veio a ser executa<strong>do</strong>, cerca <strong>de</strong> oitenta e seis anos<br />

<strong>de</strong>pois, na forma <strong>do</strong> disposto pelos <strong>de</strong>cretos reais, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> novembro e 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1816. A obra<br />

teve a direção técnica <strong>do</strong> marechal Manoel <strong>da</strong> Silva Melo, na forma <strong>do</strong> disposto pelo aviso <strong>da</strong> Secretaria<br />

<strong>do</strong> Reino, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1818. Foram convoca<strong>do</strong>s os mora<strong>do</strong>res e os proprietários locais para<br />

prestar o auxílio necessário, em dinheiro ou em material, para a execução <strong>da</strong> obra, com a recompensa <strong>da</strong><br />

posse <strong>do</strong>s terrenos que resultassem <strong>do</strong>s aterros e <strong>de</strong> outros trabalhos. Em 1820, um trecho <strong>da</strong> obra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a Prainha até o Valongo, estava termina<strong>do</strong>, com a abertura <strong>de</strong> uma via pública e ao longo <strong>da</strong> mesma um<br />

grosso cais sobre o mar e para o qual foi preciso o corte <strong>de</strong> um pe<strong>da</strong>ço <strong>do</strong> pene<strong>do</strong> Pedra <strong>do</strong> Sal. No<br />

começo <strong>da</strong> via pública, na Prainha, formou-se um pequeno rossio para o recreio <strong>do</strong> povo. Esse<br />

logra<strong>do</strong>uro chegou aos nossos dias com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> largo <strong>da</strong> Prainha, que <strong>de</strong>sapareceu com a<br />

abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> <strong>Rio</strong> Branco e formação <strong>de</strong> uma praça, ain<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Mauá.<br />

Das pessoas que aten<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> pronto à convocação e bastante cooperaram na feitura <strong>da</strong> obra,<br />

<strong>de</strong>staca-se Francisco Martins Esteves, mestre carpinteiro e hábil construtor. Homem honesto nos<br />

negócios e perfeito nos trabalhos que executava, Martins Esteves fez-se afama<strong>do</strong> na sua profissão e<br />

enriqueceu. Assumiu a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer, à sua custa, o corte <strong>da</strong> rocha Pedra <strong>do</strong> Sal, e, nesse<br />

serviço, empregou <strong>de</strong>z homens, com salários <strong>de</strong> 240 a 500 réis por dia <strong>de</strong> trabalho e gastou <strong>do</strong>ze barris<br />

<strong>de</strong> pólvora na arrebentação <strong>da</strong> rocha, à razão <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil e quinhentos réis ca<strong>da</strong> barril. O corte que, então,<br />

se fez <strong>do</strong> roche<strong>do</strong> Pedra <strong>do</strong> Sal atingiu a uma altura <strong>de</strong> 20 braças – 44 metros – e a uma extensão <strong>de</strong> 50<br />

braças – 110 = m – para uma largura <strong>de</strong> 60 palmos – 12 = m necessários à abertura <strong>da</strong> já precita<strong>da</strong> via<br />

pública. A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> isso e <strong>da</strong>s condições estipula<strong>da</strong>s entre o Governo Geral e os proprietários<br />

coopera<strong>do</strong>res, em 1830, questionavam estes com o Governo <strong>do</strong> Império e com a Ilustríssima Câmara, na<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s seus direitos prejudica<strong>do</strong>s constantemente com a perturbação, por atos <strong>da</strong> administração<br />

pública, <strong>da</strong> posse mansa e pacífica <strong>do</strong>s acresci<strong>do</strong>s que se formaram por to<strong>do</strong> o litoral <strong>da</strong> Prainha e <strong>do</strong><br />

Valongo, posse assegura<strong>da</strong> pelas já cita<strong>da</strong>s concessões. To<strong>da</strong>s essas questões tiveram em juízo <strong>de</strong>cisões<br />

favoráveis aos proprietários. Depois <strong>de</strong> 1820, acentuou-se o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Prainha, com<br />

a abertura <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros públicos e melhorias <strong>do</strong>s que já existiam; instalações <strong>de</strong> armazéns,<br />

nota<strong>da</strong>mente os <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a cereais e aos vinhos portugueses; construções <strong>de</strong> sóli<strong>da</strong>s e confortáveis<br />

casas resi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong> edifícios para estaleiros. O maior e mais movimenta<strong>do</strong> estaleiro era o <strong>do</strong><br />

construtor naval Joaquim Corrêa <strong>do</strong>s Santos, que existia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1794, e que, em 1821, foi aumenta<strong>do</strong> e<br />

melhor aparelha<strong>do</strong>. Nesse estaleiro construiu-se a fragata Princesa <strong>da</strong> Beira e outros navios <strong>de</strong> guerra e<br />

também repara<strong>da</strong> foi a esquadra portuguesa refugia<strong>da</strong> no Brasil, em conseqüência <strong>da</strong> invasão <strong>de</strong> Portugal<br />

pelo exército francês <strong>do</strong> general Junot, em novembro <strong>de</strong> 1807, e que <strong>de</strong>terminou a trasla<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Família<br />

Real e <strong>do</strong> governo <strong>de</strong> Portugal para o Brasil, com uma comitiva <strong>de</strong> quase quinze mil pessoas. *<br />

Das casas resi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> importância no bairro <strong>da</strong> Prainha <strong>de</strong>stacamos a <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Felipe Neri <strong>de</strong> Carvalho e na qual morava esse culto titular, operoso homem <strong>de</strong> negócio e<br />

figura <strong>de</strong> relevo na política e na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época. O belo Palacete Neri, com magnífica chácara, era<br />

* As informações sobre o número <strong>de</strong> pessoas que vieram na comitiva <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI são <strong>de</strong>sencontra<strong>da</strong>s. (N.E.)


1 8 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

situa<strong>do</strong> no largo <strong>da</strong> Prainha, canto <strong>da</strong> la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> João Homem, a cavaleiro <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Livramento, e<br />

tanto no seu exterior como interiormente <strong>de</strong>notava o bom gosto <strong>do</strong> seu ilustre proprietário e mora<strong>do</strong>r. A<br />

entra<strong>da</strong>, um vasto pátio no qual sobressaíam o mármore artisticamente cinzela<strong>do</strong> e genuínos azulejos.<br />

Pela la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ingresso, corria bela balaustra<strong>da</strong> <strong>de</strong> cantaria e sobre a qual, simetricamente dispostos,<br />

estavam artísticos vasos <strong>de</strong> louça portuguesa. Esse e outros palacetes <strong>da</strong> velha São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> guar<strong>da</strong>vam, em linhas gerais, o aspecto nobre e o estilo arquitetônico portugueses <strong>do</strong> século<br />

XVIII, com as suas vidraças em guilhotina, os seus balcões em ferro, as ban<strong>de</strong>iras <strong>da</strong>s portas e em outros<br />

arranjos <strong>da</strong>s ornamentações. Em 1844, o Palacete Neri foi à praça, sen<strong>do</strong> arremata<strong>do</strong> pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r<br />

Manoel Brito <strong>da</strong> Fonseca Teles, por <strong>de</strong>zesseis contos <strong>de</strong> réis. Essas casas resi<strong>de</strong>nciais, relíquias que se<br />

<strong>de</strong>veriam conservar, foram sen<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s à <strong>de</strong>struição, servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> cômo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ínfima<br />

classe, sob o indiferentismo geral.<br />

Rua <strong>do</strong> Aljube – 1779/1837<br />

Terreno <strong>de</strong> 8 braças <strong>de</strong> frente, na face direita <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Aljube, caminhan<strong>do</strong> para a Conceição <strong>do</strong><br />

morro, com duas casas térreas <strong>de</strong> José Duarte Rodrigues e casas que, por morte <strong>de</strong>sse proprietário, foram<br />

à praça a 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1779, e arremata<strong>da</strong>s pelo cônego dr. José Rodrigues <strong>de</strong> Carvalho. Logo <strong>de</strong>pois,<br />

esse sacer<strong>do</strong>te fez <strong>do</strong>ação <strong>da</strong>s casas à Caetana Maria Olival, condicionan<strong>do</strong> que, no caso <strong>de</strong> casar-se a<br />

<strong>do</strong>natária, as casas não seriam objeto <strong>de</strong> penhora, por dívi<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, salvo haven<strong>do</strong> assistência e<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>la <strong>do</strong>natária. Caetana Maria veio a casar-se com José Antônio Gonçalves e ao seu<br />

mari<strong>do</strong> ela entregou a livre direção <strong>do</strong>s bens que possuía. Dessa forma, transações se fizeram em nome<br />

<strong>do</strong> mesmo, até o aforamento <strong>do</strong> terreno precita<strong>do</strong>, cujo título foi expedi<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em<br />

18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1779.<br />

A rua <strong>do</strong> Aljube, a princípio chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Valinha, era o prolongamento, para o la<strong>do</strong> norte, <strong>do</strong><br />

caminho aberto nos primórdios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, vin<strong>do</strong> <strong>da</strong> Misericórdia para a Prainha, como dissemos no<br />

começo <strong>de</strong>ste capítulo. Costeava a montanha – morro <strong>da</strong> Conceição – e era banha<strong>do</strong> por extensos<br />

alagadiços que as terras <strong>de</strong> aluviões enxugaram.<br />

Nessa região, que mereceu logo <strong>de</strong> começo cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Câmara <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi assente a quinta<br />

<strong>do</strong> arcediago Duarte Correa Vasqueanes, o qual governou o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> por três vezes e, na mesma<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, faleceu a 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1650, e foi sepulta<strong>do</strong> na igreja <strong>do</strong>s Jesuítas, no morro <strong>do</strong> Castelo. Era<br />

homem rico, muito conceitua<strong>do</strong>, e no governo agiu sempre com bon<strong>da</strong><strong>de</strong> e energia. Exerceu por duas<br />

vezes a Prove<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Voltemos, porém, à Valinha, que<br />

era quase intransitável, com os lameiros que a cobriam e passou assim mais <strong>de</strong> século. Somente em<br />

1734, recebeu a rua <strong>da</strong> Valinha calçamento e luz e foi nessa ocasião que se lhe <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> Aljube, a<br />

horrível prisão situa<strong>da</strong> no canto, à esquer<strong>da</strong>, <strong>da</strong> dita rua, em terreno possuí<strong>do</strong> por Domingos Joaquim <strong>da</strong><br />

Silva, com sua casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> Domingos e um curtume a ele pertencente. Domingos<br />

Joaquim <strong>da</strong> Silva, a muito custo, e só por bom dinheiro <strong>de</strong> conta<strong>do</strong>, largou o terreno e as benfeitorias<br />

existentes, principalmente o curtume que lhe <strong>da</strong>va boa ren<strong>da</strong>.<br />

A prisão <strong>do</strong> Aljube, 40 diz monsenhor Pizarro e Araújo, teve a sua origem nos pastorais cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> bispo <strong>do</strong>m Frei Antonio <strong>de</strong> Gua<strong>da</strong>lupe, procuran<strong>do</strong> evitar que os eclesiásticos, obriga<strong>do</strong>s à prisão<br />

pelos <strong>de</strong>litos pratica<strong>do</strong>s, se misturassem aos seculares criminosos. Essa masmorra foi teatro <strong>de</strong> cenas<br />

<strong>da</strong>ntescas e encarcerou cristãos novos, mulheres transvia<strong>da</strong>s, os inconfi<strong>de</strong>ntes e seus aponta<strong>do</strong>s<br />

cúmplices no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: padre Inácio Nogueira e sua tia Inácia Gertudres <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> e o ourives<br />

Domingos Cruz. Também passaram pelo Aljube João Guilherme Ratcliff, João Metrovich e Joaquim <strong>da</strong><br />

Silva Loureiro, revolucionários <strong>da</strong> Confe<strong>de</strong>ração <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r, que foi um movimento libertário<br />

irrompi<strong>do</strong> em Pernambuco, a 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1824, com a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> outras províncias. Ratcliff e os seus<br />

companheiros foram enforca<strong>do</strong>s, a 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1825, no largo <strong>da</strong> Prainha. Ain<strong>da</strong> na tétrica ca<strong>de</strong>ia <strong>do</strong><br />

Aljube, por longos e angustiosos dias, a murmurar preces e a gritar a sua inocência, esperou o patíbulo<br />

a que subiu, realmente inocente, a 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1837, o preto africano escravo Tomás Benedito, <strong>de</strong><br />

Moçambique, cego e sexagenário, impie<strong>do</strong>samente con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>, pela inconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> justiça <strong>do</strong>s homens,<br />

por um crime que não praticara e cujo autor confesso apareceu <strong>de</strong>pois.


Rua <strong>da</strong> Prainha – 1826/1848<br />

C A P Í T U L O X I I I | 1 8 5<br />

Terreno <strong>de</strong> 16 palmos <strong>de</strong> frente por 30 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> a encostar no paredão <strong>do</strong> Bispo, com uma sóli<strong>da</strong><br />

casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Gonçalves Ban<strong>de</strong>ira, por compra que fizera, em março <strong>de</strong> 1826, ao<br />

briga<strong>de</strong>iro Manoel Alves <strong>da</strong> Fonseca Costa, por 750$000 réis. Paredão <strong>do</strong> Bispo era a sóli<strong>da</strong> muralha<br />

que corria fronteira ao Palácio <strong>do</strong> Bispa<strong>do</strong>, no alto <strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Conceição. O briga<strong>de</strong>iro Fonseca Costa<br />

her<strong>do</strong>u, em lega<strong>do</strong>, a dita casa e outras na Prainha, Glória e Botafogo, <strong>do</strong> seu tio, o capitão Francisco <strong>de</strong><br />

Araújo Pereira, riquíssimo industrial e proprietário no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>de</strong> quem temos trata<strong>do</strong> neste<br />

livro, nos capítulos sobre Botafogo e a Glória. Também rico era José Gonçalves Ban<strong>de</strong>ira, <strong>do</strong>no <strong>de</strong><br />

vários prédios na Prainha, entre os quais um vasto, sóli<strong>do</strong> e <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com o nº 120 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Prainha<br />

até 1860 quan<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u <strong>de</strong> numeração passan<strong>do</strong> a ter o nº 94. Ban<strong>de</strong>ira era casa<strong>do</strong> com Feliciana<br />

Joaquina Ban<strong>de</strong>ira e tinha um irmão – Domingos Gonçalves Ban<strong>de</strong>ira— também rico, proprietário e<br />

resi<strong>de</strong>nte na Prainha. A esse seu cunha<strong>do</strong> a viúva <strong>de</strong> José Gonçalves ven<strong>de</strong>u alguns prédios, em 1831.<br />

Em 1846, Domingos Ban<strong>de</strong>ira já havia faleci<strong>do</strong>. Outra família bem conceitua<strong>da</strong> e rica na Prainha, nessa<br />

primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, era a Santos Touguinhas que se uniu à <strong>de</strong> Gonçalves Ban<strong>de</strong>ira pelo<br />

casamento <strong>de</strong> Antônio <strong>do</strong>s Santos Touguinhas com Rita Maria <strong>da</strong> Conceição Ban<strong>de</strong>ira. É interessante<br />

dizer que o prédio, compra<strong>do</strong>, em 1816, ao briga<strong>de</strong>iro Costa, por 750$000 mil réis, já em 1848 valia<br />

vinte contos <strong>de</strong> réis.<br />

Sítio <strong>da</strong> Prainha – 1810/1902<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente e extenso, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> quartel <strong>da</strong> polícia <strong>do</strong> sítio <strong>da</strong> Prainha. O terreno<br />

estava ocupa<strong>do</strong> pela tanoa ** <strong>de</strong> Manoel Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva. Esse tanoeiro era rico e avesso a questionar,<br />

principalmente com os po<strong>de</strong>res públicos. Em questões, dizia ele, per<strong>de</strong>-se tempo, gasta-se mal o dinheiro<br />

e ganha-se inimiza<strong>de</strong>s. Assim é que, <strong>de</strong>sapropria<strong>da</strong> a sua tanoaria e <strong>de</strong>pendências <strong>da</strong> mesma, em 1816,<br />

para o prolongamento e novo alinhamento <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Prainha, Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva <strong>de</strong>clarou ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara que não questionaria a <strong>de</strong>sapropriação e largava o seu estabelecimento, embora ali estivesse<br />

localiza<strong>do</strong> havia anos e muito afreguesa<strong>do</strong>. O Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>u em troca um outro terreno no largo<br />

<strong>da</strong> Prainha, fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Francisco Martins, que logo levantou protesto contra a concessão e embargou a<br />

posse. O tanoeiro Silva não questionou e pediu ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara um outro terreno. No mesmo largo<br />

<strong>da</strong> Prainha obteve Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva um chão, em frente à estância <strong>de</strong> José Joaquim <strong>da</strong> Silva e Menezes,<br />

o qual também protestou e pôs embargos à localização <strong>da</strong> tanoa na frente <strong>da</strong> sua estância, e para vencer<br />

empregou to<strong>do</strong> o seu prestígio <strong>de</strong> homem rico e bem relaciona<strong>do</strong>. Mas <strong>de</strong>ssa feita, Manoel Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />

Silva, como <strong>de</strong>ixou dito no seu arrazoa<strong>do</strong>, pôs <strong>de</strong> parte a sua bon<strong>da</strong><strong>de</strong> e paciência, para levar o seu caso<br />

aos tribunais e vencer, como venceu, nos últimos <strong>de</strong> 1829.<br />

Manoel Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva morreu bem i<strong>do</strong>so e a sua tanoa existiu no mesmo local em que foi<br />

assente, em 1829 e até 1902, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sapareceu, em conseqüência <strong>do</strong>s melhoramentos <strong>da</strong>quela zona<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na administração <strong>do</strong> prefeito Passos.<br />

O estancieiro José Joaquim <strong>da</strong> Silva Menezes possuía terras com espessa mata nos arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1810, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sócio e sucessor <strong>de</strong> Manoel Antonio Gomes, era o<br />

fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a lenha consumi<strong>da</strong> pelas guarnições militares <strong>da</strong> Corte e pelas embarcações navais<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

A Prainha e <strong>de</strong>pois a Saú<strong>de</strong>, em maior vulto, foram as tanoarias <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Indústria bem<br />

ren<strong>do</strong>sa, até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, e <strong>da</strong>í em <strong>de</strong>cadência pelas exigências <strong>da</strong>s posturas municipais e pela<br />

sobrecarga <strong>do</strong>s impostos. Ain<strong>da</strong> mais, medi<strong>da</strong>s repressivas à <strong>de</strong>vastação <strong>da</strong>s matas e as regras<br />

estabeleci<strong>da</strong>s para o funcionamento <strong>da</strong>s tanoas <strong>de</strong>ram o golpe <strong>de</strong> morte nessa barulhenta indústria, que<br />

no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> se operava em alguns pontos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ao ar livre, nas ruas e calça<strong>da</strong>s, num barulho<br />

<strong>de</strong> enlouquecer.<br />

* Tanoa – oficina ou fábrica <strong>de</strong> pipas e tonéis e tanoaria – bairro <strong>do</strong>s tanoeiros. (N.A.)


1 8 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Sítio <strong>da</strong> Prainha – 1817/1877<br />

Terreno no sítio <strong>da</strong> Prainha, no largo on<strong>de</strong> estava a forca e on<strong>de</strong> fazia uma frente <strong>de</strong> 9 braças e 3<br />

palmos. Esse terreno era parte <strong>de</strong> maior porção, bem à beira-mar e junto ao Arsenal <strong>da</strong> Marinha. Des<strong>de</strong><br />

1817, e até 1827, esteve em po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> reposteiro-mor <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara – Joaquim João Ribeiro —<br />

, sen<strong>do</strong> nesse último ano afora<strong>do</strong> a Manoel Francisco Martins, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> estaleiro nas<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Em 1847, aparece o terreno afora<strong>do</strong> ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r José Bernardino <strong>de</strong> Sá, <strong>de</strong>pois barão<br />

<strong>de</strong> Vila Nova <strong>do</strong> Minho. Em 1857, a Companhia Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Dom Pedro II – hoje Central <strong>do</strong> Brasil<br />

—, com a justificativa <strong>do</strong> <strong>de</strong>sembaraço local para edificar a estação inicial <strong>da</strong> sua estra<strong>da</strong>, conseguiu<br />

man<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> posse <strong>do</strong> terreno, a 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1857. O caso foi para os tribunais e vinte anos <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>cidia-se em favor <strong>do</strong> barão, já faleci<strong>do</strong>. Os seus her<strong>de</strong>iros representa<strong>do</strong>s pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Antônio <strong>de</strong><br />

Souza Ribeiro, entraram na posse <strong>do</strong> terreno em 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1877.<br />

Rua São Francisco <strong>da</strong> Prainha – 1834<br />

Terreno <strong>de</strong> 21 braças <strong>de</strong> frente pela rua São Francisco <strong>da</strong> Prainha, com extenso fun<strong>do</strong> e ocupa<strong>do</strong><br />

pelo armazém alfan<strong>de</strong>ga<strong>do</strong>, antigo trapiche <strong>da</strong> Pedra <strong>do</strong> Sal, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva, em<br />

nome <strong>de</strong> quem encontramos afora<strong>do</strong>, em 1834, o dito terreno. Esse aforamento foi concedi<strong>do</strong> pela<br />

Câmara ao referi<strong>do</strong> Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> filho, her<strong>de</strong>iro e sucessor <strong>de</strong> Manoel Fernan<strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong> Silva, o tanoeiro rico, inimigo <strong>de</strong> querelas e <strong>de</strong> uma paciência inigualável, <strong>de</strong> quem tratamos<br />

anteriormente.<br />

O trapiche mais antigo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> era o chama<strong>do</strong> trapiche <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

local <strong>do</strong> antigo prédio <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, * à rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaboraí. Ain<strong>da</strong> em 1790, existia este trapiche,<br />

sen<strong>do</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Caetano <strong>de</strong> Azere<strong>do</strong> Vieira, licencia<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a 6 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>da</strong>quele ano, para aumentar e melhorar o prédio <strong>do</strong> trapiche. No litoral <strong>da</strong> Prainha e no <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong><br />

existiram muitos trapiches, sen<strong>do</strong> o <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s mais antigos e assim chama<strong>do</strong> por pertencer à Or<strong>de</strong>m<br />

Terceira <strong>de</strong> São Francisco <strong>da</strong> Penitência, por <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> Dr. Francisco <strong>da</strong> Mota Leite, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

estabelecimento. Também na Prainha ficava o trapiche <strong>do</strong> Sal, fun<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo contrata<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ste produto,<br />

Luiz Antonio Ferreira, no governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha. No local on<strong>de</strong> está o Arsenal <strong>de</strong> Marinha<br />

esteve o trapiche <strong>de</strong> Luiz Manoel Pinto, transferi<strong>do</strong> para a ilha <strong>da</strong>s Cobras, a fim <strong>de</strong> permitir a construção<br />

<strong>do</strong> Arsenal, por or<strong>de</strong>m e segun<strong>do</strong> o plano <strong>do</strong> dito vice-rei, em 1764. O terreno <strong>do</strong> Arsenal <strong>de</strong> Marinha é<br />

<strong>do</strong>ação ao Esta<strong>do</strong> pelos fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Bento, por escritura <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1696. A Junta <strong>de</strong> Comércio<br />

ocupou gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sse terreno com os seus armazéns, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> <strong>do</strong>ação. A primeira embarcação que<br />

se construiu no Arsenal <strong>de</strong> Marinha foi a nau São Sebastião, lança<strong>da</strong> ao mar, a 8 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1767.<br />

Era arma<strong>da</strong> com 74 canhões e to<strong>da</strong> embuti<strong>da</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> várias cores. Cinqüenta anos <strong>de</strong>pois, fez uma<br />

viagem à Europa para transportar <strong>de</strong> Leorne a primeira imperatriz <strong>do</strong> Brasil, a arquiduquesa <strong>da</strong> Áustria,<br />

<strong>do</strong>na Maria Leopoldina, filha <strong>de</strong> Francisco I, impera<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Áustria, e que se casou com Dom Pedro I,<br />

em 1817.<br />

O con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha governou o Brasil, <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1763 a novembro <strong>de</strong> 1767, e fez um governo<br />

operoso em benefício <strong>do</strong> público. Era homem muito honesto e pobre. Severo, agia sempre seguin<strong>do</strong> a<br />

justiça <strong>da</strong> época – que per<strong>do</strong>ava pouco.<br />

Saú<strong>de</strong> – Valongo – Gamboa<br />

Da Prainha, prosseguin<strong>do</strong> pelo litoral, vamos ver a Saú<strong>de</strong>, o Valongo e a Gamboa, com seus<br />

pomares e quintas, suas ensea<strong>da</strong>s bonançosas, suas praias alvacentas e seus enormes roche<strong>do</strong>s. Saú<strong>de</strong>,<br />

bairro antigo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e, em sua origem, uma estreita faixa <strong>de</strong> terra<br />

entre os morros e o mar, on<strong>de</strong> faziam estância pesca<strong>do</strong>res e marujos. Depois, essa gente foi se afastan<strong>do</strong>,<br />

* O prédio <strong>da</strong> antiga alfân<strong>de</strong>ga é hoje a fun<strong>da</strong>ção Casa França Brasil (N.E.)


s/a, s/d – Chácara <strong>da</strong> Gamboa.<br />

C A P Í T U L O X I I I | 1 8 7<br />

por circunstâncias econômicas e sociais, e outros, com recursos materiais para a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

foram sen<strong>do</strong> os ocupantes, entre os quais figuravam arma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> navios, merca<strong>do</strong>res, tanoeiros<br />

e traficantes <strong>de</strong> escravos. Começou, então, pelos <strong>de</strong>clives <strong>do</strong>s morros a construção <strong>da</strong> casaria <strong>de</strong><br />

pedra e cal, extraí<strong>da</strong> a pedra <strong>do</strong>s roche<strong>do</strong>s locais, que se cortaram bastante para a formação <strong>de</strong> uma<br />

via pública distancia<strong>da</strong> <strong>da</strong> batente <strong>da</strong> maré e que se chamou, a princípio, praia <strong>do</strong> Valongo e,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1742, <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>. Montaram-se gran<strong>de</strong>s armazéns <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias a grosso os quais<br />

vieram a prosperar muito, com a navegação <strong>de</strong> costa a costa – cabotagem – que se iniciou logo a<br />

seguir à instalação <strong>do</strong>s armazéns (1738/1740).<br />

Também, instalaram-se estaleiros e trapiches, movimentan<strong>do</strong>-se a ensea<strong>da</strong>. Nesse an<strong>da</strong>r, ao<br />

começar o século XIX, bem próspero e populoso era o bairro <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, índice <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

comercial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> – 1821/1850<br />

Terreno <strong>de</strong> 6.5 braças <strong>de</strong> largura na face norte <strong>da</strong> praia e 4 ditas na <strong>do</strong> sul ou la<strong>do</strong> <strong>da</strong> terra,<br />

com 16 braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Era terreno artificial, por sua origem, como resultante <strong>do</strong>s aterros sobre<br />

o mar, na antiga praia <strong>do</strong> Valongo, <strong>de</strong>pois Saú<strong>de</strong>. O primeiro posseiro <strong>de</strong>sse terreno foi o tanoeiro<br />

João Rodrigues Dias, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> aforamento por <strong>de</strong>spacho<br />

<strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1821, mediante o foro <strong>de</strong> 840$000 anuais. Nessa época, Rodrigues Dias já<br />

estava enriqueci<strong>do</strong> e exercen<strong>do</strong> outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ele construiu uma casa no terreno em apreço,<br />

que ven<strong>de</strong>u a José <strong>da</strong> Silva Borges, casa<strong>do</strong> com senhorinha Luiza <strong>do</strong>s Santos. Em morren<strong>do</strong><br />

Borges, a sua viúva logo <strong>de</strong>pois, por má orientação à sua vi<strong>da</strong>, vem a ser penhora<strong>da</strong> em to<strong>do</strong>s os<br />

seus bens, que foram à praça no começo <strong>de</strong> 1844. A cita<strong>da</strong> casa, então com o nº 5 <strong>da</strong> praia <strong>da</strong>


1 8 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Saú<strong>de</strong>, foi arremata<strong>da</strong> por Joaquim Ferreira <strong>de</strong> Souza Flores, pela quantia <strong>de</strong> 4:000$. Esse Flores era<br />

associa<strong>do</strong> a Joaquim Príncipe <strong>da</strong> Silva e sob a razão Silva & Flores, à rua São Francisco <strong>da</strong> Prainha,<br />

comerciavam, em alta escala, ma<strong>de</strong>ira para construção civil e naval. Em 1850, a firma estava dissolvi<strong>da</strong><br />

e to<strong>do</strong> o seu ativo e passivo a cargo <strong>de</strong> Príncipe <strong>da</strong> Silva, cujos negócios foram em franca prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Fez-se Príncipe <strong>da</strong> Silva um homem <strong>de</strong> bastante fortuna e, em 1861, era um <strong>do</strong>s maiores posseiros <strong>de</strong><br />

terrenos <strong>de</strong> marinhas na Saú<strong>de</strong>. O prédio em que funcionou o estabelecimento <strong>de</strong> Silva & Flores foi<br />

compra<strong>do</strong> pela dita firma, em 6 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1846, por 9:400$, a Matil<strong>de</strong> Rodrigues <strong>de</strong> Araújo Bastos,<br />

viúva <strong>do</strong> capitalista Francisco <strong>de</strong> Oliveira Bastos, o qual, ao falecer, era estabeleci<strong>do</strong> com vastos<br />

armazéns e trapiche no princípio <strong>da</strong> antiga praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, adiante <strong>da</strong> Forca e aquém <strong>do</strong> trapiche <strong>do</strong> Sal<br />

alguns passos. Em segui<strong>da</strong> ao trapiche <strong>do</strong> Bastos, ficavam os terrenos reserva<strong>do</strong>s à abertura <strong>de</strong> um<br />

logra<strong>do</strong>uro e à construção <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong>, que ficaria bem próximo ao mar e fronteiro ao quartel <strong>da</strong><br />

Polícia, situa<strong>do</strong> este no local on<strong>de</strong>, nos nossos dias, está o edifício <strong>de</strong> A Noite. Ain<strong>da</strong> em 1832, era<br />

pensamento <strong>da</strong> administração municipal executar essa referi<strong>da</strong> obra, projeta<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1782, quan<strong>do</strong><br />

constantes estavam sen<strong>do</strong> as reclamações <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s capitanias <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Minas Gerais<br />

e São Paulo sobre levantar-se um merca<strong>do</strong>, e apontavam o dito local, por ser o que melhor cômo<strong>do</strong><br />

Augusto Malta,1904 – Cais e largo <strong>do</strong> Valongo, ou cais e largo <strong>da</strong> Imperatriz. Antigo e movimenta<strong>do</strong> cais, foi local <strong>do</strong> <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> <strong>do</strong>na<br />

Teresa Cristina, ao chegar ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 3/9/1843, proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Nápoles, apos seu casamento por procuração com <strong>do</strong>m<br />

Pedro II.


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oferecia para o ancora<strong>do</strong>uro <strong>da</strong>s lanchas proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Iguaçu e <strong>da</strong> Pavuna e lanchas que transportavam<br />

o café e outros mais abun<strong>da</strong>ntes produtos <strong>da</strong>s lavouras <strong>da</strong>queles distritos, com os quais se abasteciam os<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A campanha contrária ao merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

lavra<strong>do</strong>res, que ven<strong>de</strong>riam, assim, diretamente ao consumi<strong>do</strong>r, foi promovi<strong>da</strong> pelos barraqueiros ali<br />

instala<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saíram só em 1820, por força <strong>de</strong> um alvará régio <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI.<br />

Praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> – 1840/1856<br />

Terreno <strong>de</strong> marinha com frente <strong>de</strong> 5 braças por 15 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com um barracão, à praia <strong>da</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, nº 14. Esse barracão era pertencente a Antônio Pinheiro <strong>da</strong> Costa, a quem a Ilustríssima Câmara<br />

havia afora<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong> terreno. Deve<strong>do</strong>r <strong>de</strong> três contos <strong>de</strong> réis a Antonio José Gomes Marques,<br />

Pinheiro <strong>da</strong> Costa hipotecou ao dito cre<strong>do</strong>r o terreno, com o barracão e outras benfeitorias, para garantias<br />

<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>. Fican<strong>do</strong> entendi<strong>do</strong> que a hipoteca, realiza<strong>da</strong> no começo <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1840, valeria por uma<br />

ven<strong>da</strong> a retro, se no prazo <strong>de</strong> nove anos não tivesse si<strong>do</strong> liqui<strong>da</strong><strong>da</strong> a dívi<strong>da</strong>. Houve, para efetuar-se essa<br />

transação, um prévio pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> licença à Ilustríssima Câmara, a qual, usufrutuária <strong>do</strong>s rendimentos <strong>do</strong><br />

terreno, <strong>de</strong>cidin<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>rou essa convencional um caso to<strong>do</strong> particular e que feria os seus direitos e<br />

as suas vantagens <strong>de</strong> usufrutuária, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser a transação feita in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> licença. A dívi<strong>da</strong> não<br />

foi paga e Gomes Marques, em 1853, queren<strong>do</strong> efetuar a compra <strong>do</strong> terreno e <strong>da</strong>s benfeitorias veio a<br />

pedir licença à Ilustríssima Câmara. Esse pedi<strong>do</strong> motivou aze<strong>da</strong> polêmica entre o conta<strong>do</strong>r geral <strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o engenheiro-chefe <strong>da</strong>s Obras Municipais. O conta<strong>do</strong>r, opinan<strong>do</strong> sobre o arbitramento<br />

<strong>do</strong> valor <strong>do</strong>s imóveis na base <strong>do</strong> que teriam vali<strong>do</strong> na ocasião <strong>do</strong> contrato particular – ou seja, em 1840.<br />

O engenheiro chefe opinan<strong>do</strong> pela valorização a ser feita em 1853. Prevaleceu a opinião <strong>do</strong> engenheiro,<br />

sen<strong>do</strong> cobra<strong>do</strong> o laudêmio sobre o valor arbitra<strong>do</strong> em 1853, quan<strong>do</strong> realmente se processou a ven<strong>da</strong>.<br />

Os aterros que se fizeram no litoral <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> quatorze anos (1840/1853) <strong>de</strong>ram<br />

origem a novos acresci<strong>do</strong>s que se classificaram <strong>de</strong> novas marinhas ou terrenos artificiais, fican<strong>do</strong> as<br />

antigas marinhas e os seus acresci<strong>do</strong>s classifica<strong>do</strong>s – terrenos enxutos ou antimarinhas. Na nova rua <strong>da</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, cuja inauguração solene se fez a 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1872, há terrenos no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> que se<br />

dizem alodiais. São cerca <strong>de</strong> 150 metros <strong>de</strong> frente que pertenceram e ain<strong>da</strong> pertencem ao mosteiro <strong>de</strong><br />

São Bento <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> formou-se <strong>de</strong> terrenos <strong>de</strong> sesmaria e o direito <strong>de</strong> marinhas<br />

<strong>da</strong> antiga rua <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>. É interessante saber, ain<strong>da</strong>, que a medição <strong>da</strong> sesmaria municipal<br />

marcou como seu término a rua <strong>do</strong> Cemitério, hoje Harmonia. Foi um gran<strong>de</strong> erro, na opinião <strong>do</strong>s<br />

entendi<strong>do</strong>s no assunto. Daí, <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s que surgiram com os proprietários, quan<strong>do</strong> a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

procuran<strong>do</strong> corrigir o erro, começou a exigir-lhes o reconhecimento <strong>do</strong> seu senhorio direto naquela zona<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, queren<strong>do</strong> o pagamento <strong>de</strong> foros. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, o foro constitui <strong>de</strong>lica<strong>do</strong> problema econômico<br />

e social que pe<strong>de</strong> exame e solução pelo Esta<strong>do</strong>, e que, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, se impõe, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às novas idéias<br />

e conquistas que se realizaram para melhorar as condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Va l o n g o<br />

Outra região pitoresca <strong>do</strong> recôncavo norte <strong>da</strong> velha <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com as suas vastas e cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

chácaras pela planície e pelos altos <strong>da</strong>s colinas, on<strong>de</strong> ficavam as magníficas mora<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s seus ricos<br />

<strong>do</strong>nos – ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros senhores feu<strong>da</strong>is. Foi esse Feu<strong>da</strong>lismo a causa <strong>do</strong> lento progresso <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong><br />

Valongo, ain<strong>da</strong> pouco povoa<strong>do</strong> na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII. Os Autos <strong>da</strong>s Deman<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s<br />

Vistorias sobre as <strong>Terras</strong> <strong>do</strong> Valongo (1770/1780) dizem algo <strong>de</strong> interessante a respeito <strong>da</strong> ribeira <strong>do</strong> mar,<br />

estreita, coberta na preamar e num seu ponto <strong>de</strong> pouca batente ficava o <strong>de</strong>sembarca<strong>do</strong>uro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

primeiros tempos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. No dito ponto, na maré cheia, ia o mar terra a<strong>de</strong>ntro, pela garganta <strong>do</strong>s<br />

morros até a azinhaga que comunicava com o campo ou rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O ponto a que nos referimos,<br />

aludi<strong>do</strong> nos autos, é, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o local <strong>da</strong> praça Barão <strong>de</strong> Teffé, antiga Municipal, anteriormente<br />

Imperatriz e Valongo, ao tempo <strong>da</strong> sua formação, no fim <strong>do</strong> século XVIII, em conseqüência <strong>do</strong> aterro<br />

sobre o mar e sustenta<strong>do</strong> por grossa muralha. Na mesma ocasião, fizeram-se obras <strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> to<strong>do</strong><br />

o litoral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Saú<strong>de</strong> à Gamboa. Com esse aterro, que se esten<strong>de</strong>u até a azinhaga, <strong>de</strong>sapareceu o braço


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<strong>do</strong> mar e a azinhaga – que era um caminho estreito entre morros e que foi transforma<strong>do</strong> em via pública,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong>, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Valongo, <strong>de</strong>pois Imperatriz e por último<br />

Camerino. Este último nome, que se mantém, é justa homenagem ao jovem patriota Francisco Camerino,<br />

nasci<strong>do</strong> a 21 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1841, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Estância, em Sergipe, e que na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> voluntário<br />

paisano seguiu para a guerra com o Paraguai e morreu heroicamente na batalha <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1866, conheci<strong>da</strong> na história por Assalto <strong>de</strong> Curupaiti.<br />

As maiores proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s no Valongo foram as quintas <strong>do</strong> Livramento e <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus,<br />

confinantes.<br />

Quinta <strong>do</strong> Livramento<br />

Ocupava gran<strong>de</strong> área entre a la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Livramento e a rua <strong>da</strong> Harmonia, to<strong>da</strong> ela assente em chão<br />

foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A sua frente principal era volta<strong>da</strong> para o mar, on<strong>de</strong> se<br />

chamou caminho <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> e on<strong>de</strong> havia uma la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> acesso à quinta por portão nobre. Desmembra<strong>da</strong><br />

a quinta, essa la<strong>de</strong>ira foi entregue à servidão pública, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> escadinhas <strong>do</strong> Livramento.<br />

Também pela Gamboa havia outra entra<strong>da</strong>, em correspondência com a primeira cita<strong>da</strong>, e ten<strong>do</strong> muro e<br />

portão acastela<strong>do</strong>s. Por essa subi<strong>da</strong> transitavam as carruagens. A quinta <strong>do</strong> Livramento pertenceu,<br />

primitivamente, a José Caieiro <strong>da</strong> Silva e <strong>de</strong>pois ao capitão Manoel Pinto <strong>da</strong> Cunha. Por morte <strong>do</strong><br />

capitão Cunha, seus filhos, o briga<strong>de</strong>iro Francisco Cláudio Pinto <strong>da</strong> Cunha e Ana Teresa Angélica <strong>da</strong><br />

Cunha e Souza, tornaram-se <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para a partilha entre esses <strong>do</strong>is her<strong>de</strong>iros,<br />

a quinta foi <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> em duas porções, fican<strong>do</strong> na <strong>do</strong> filho varão o palacete e a capela. O briga<strong>de</strong>iro<br />

Francisco Cláudio, na porção que lhe tocou, abriu rua cortan<strong>do</strong> a quinta, <strong>de</strong> portão a portão, e cujo<br />

traça<strong>do</strong> foi planeja<strong>do</strong> pelo arquiteto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> José Joaquim <strong>de</strong> Santana. Essa rua foi entregue à servidão<br />

pública, a 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1818, com o nome <strong>de</strong> Livramento. Mais tar<strong>de</strong>, os terrenos <strong>de</strong> servidão privativa<br />

<strong>do</strong> palacete e <strong>da</strong> capela, e que eram, aliás, extensos, foram <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s ao sena<strong>do</strong>r Bento Barroso Pereira, por<br />

escritura <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1827, confirma<strong>da</strong> por um <strong>de</strong>creto Imperial, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> abril <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano.<br />

Quanto à parte <strong>de</strong> Ana Teresa, já <strong>de</strong>semembra<strong>da</strong> ao falecer essa senhora, veio a ser partilha<strong>da</strong> entre os<br />

seus her<strong>de</strong>iros, que foram José Maria Coutinho, o con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares, a Marquesa <strong>de</strong> Maceió e o sena<strong>do</strong>r<br />

Bento Barroso Pereira. 41<br />

A <strong>do</strong>ação ao sena<strong>do</strong>r Bento Barroso foi feita pela mesma Ana Teresa, a qual, em vi<strong>da</strong> dispôs, a<br />

favor <strong>de</strong> parentes e amigos seus, <strong>de</strong> bens móveis e imóveis que possuía e ven<strong>de</strong>u muitos terrenos tira<strong>do</strong>s<br />

à quinta <strong>do</strong> Livramento. Ain<strong>da</strong> em 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1827, encontramos Ana Teresa ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

área <strong>de</strong> terreno, à praia <strong>do</strong> Valongo, a Francisco Gonçalves Vaz Lobo. Nessa área, o compra<strong>do</strong>r edificou<br />

sóli<strong>da</strong> e gran<strong>de</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com chácara, vendi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>pois a Esteves Grasse pela quantia <strong>de</strong> 43:000$,<br />

em 1843. Com as transformações topográficas que se operaram, o trecho <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Valongo, em que<br />

estava a referi<strong>da</strong> casa, passou a fazer parte <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> e aí aparece o imóvel em apreço, com o nº<br />

45, junto à rua <strong>do</strong> Cemitério, atual Harmonia – segun<strong>do</strong> o Levantamento <strong>da</strong>s Décimas, no ano <strong>de</strong> 1843.<br />

Quinta <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus<br />

Um <strong>do</strong>s seus antigos <strong>do</strong>nos foi o tenente-coronel André Pinto Guimarães e quem levantou, na<br />

então quinta <strong>do</strong> Valongo, uma capela para o culto à Mãe <strong>de</strong> Deus, provisiona<strong>da</strong> em 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1733.<br />

O sucessor <strong>de</strong> Pinto Guimarães foi Paulo Pinto <strong>de</strong> Faria, cuja viúva, Antônia Viana <strong>de</strong> Castro, <strong>do</strong>ou, em<br />

1776, ao seu sobrinho capitão José <strong>da</strong> Costa Barros Viana <strong>do</strong> Amaral, a cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e valiosa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

já bem conheci<strong>da</strong> por quinta <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus. Pela frente, atualmente rua Sena<strong>do</strong>r Pompeu, confinava<br />

com a chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, pelos fun<strong>do</strong>s com o mar – hoje rua Sacadura Cabral, antiga Saú<strong>de</strong> e, numa<br />

extensão <strong>de</strong> 130 = m, a fin<strong>da</strong>r na la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Livramento; à direita, com a chácara <strong>do</strong> Livramento, e, à<br />

esquer<strong>da</strong>, com a chácara <strong>da</strong> Conceição ou Coqueiros. O capitão Costa Barros reconheceu o senhorio<br />

direto <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara sobre as terras <strong>da</strong> sua quinta, prontifican<strong>do</strong>-se a tirar, como tirou, a


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competente carta <strong>de</strong> aforamento, que traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1777. Em morren<strong>do</strong> Costa Barros,<br />

houve logo o <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> lendária e pitoresca chácara <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus, em cujo solar, que<br />

brilhou por to<strong>do</strong> o seu conjunto <strong>de</strong> arte e bom gosto, tinha ponto <strong>de</strong> reunião uma culta e fina socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O capitão Costa Barros <strong>de</strong>ixou os seguintes filhos: Antônio, Francisco, José, Maria Balbina, Mariana<br />

Leonidia, Luiza, Ana Joaquina, Delfina, Ana Maria, João e Antônia Francisca. O casamento ligou a<br />

família Costa Barros Viana <strong>do</strong> Amaral à família <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>da</strong> Gávea – família Fonseca Costa. Por<br />

último, a chácara <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus, já <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> em parte, pertenceu ao casal <strong>de</strong> João <strong>da</strong> Costa<br />

Barros Mascarenhas e Isabel Leopoldina Barracho <strong>da</strong> Costa Barros Mascarenhas, haven<strong>do</strong> o con<strong>do</strong>mínio<br />

<strong>de</strong> Miguel <strong>da</strong> Costa Barros Sayão. Em 1883, foram anuncia<strong>do</strong>s os leilões <strong>de</strong> ótimos terrenos,<br />

magnificamente situa<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> famosa chácara <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus, e, nessa ocasião, completou-se o seu<br />

<strong>de</strong>smembramento.<br />

Vamos terminar estas notas com ligeiras referências à pessoa <strong>do</strong> rico preto Maurício Pereira<br />

Cibrão, proprietário na Saú<strong>de</strong> e no Valongo, gozan<strong>do</strong> <strong>de</strong> muita consi<strong>de</strong>ração e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> crédito no<br />

comércio. Maurício Cibrão havia si<strong>do</strong> escravo <strong>do</strong> rico negociante José Caetano Cibrão, <strong>de</strong> quem,<br />

murmurava-se, o preto era filho, e foi o her<strong>de</strong>iro universal, por testamento <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1808. Uma<br />

disposição <strong>de</strong>sse testamento <strong>de</strong>u alforria ao dito her<strong>de</strong>iro. Maurício era educa<strong>do</strong> e instruí<strong>do</strong>. Vestia-se<br />

com esmero e luxo. Usava calções <strong>de</strong> superior se<strong>da</strong>, casaca e fivelas <strong>de</strong> ouro nos sapatos. Faleceu no ano<br />

<strong>de</strong> 1835, a 15 <strong>de</strong> novembro, na sua residência, que era em um bom prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> sua<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, à rua <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, 134. Deixou fortuna, e o inventário <strong>do</strong>s seus bens foi processa<strong>do</strong><br />

Chácara <strong>da</strong> Madre <strong>de</strong> Deus.


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pelo juiz <strong>de</strong> paz <strong>do</strong> 1º Distrito <strong>de</strong> Santa Rita. No arrolamento feito figuram prédios urbanos, um sítio na<br />

Tijuca, fino vestuário, jóias <strong>de</strong> valor e objetos outros <strong>de</strong> ouro e prata, entre os quais imagens com<br />

oratório, e ain<strong>da</strong> oitocentos mil réis em moe<strong>da</strong> ouro portuguesa. Ao falecer, Maurício Pereira Cibrão era<br />

viúvo <strong>de</strong> Florin<strong>da</strong> Maria <strong>da</strong> Conceição.<br />

Gamboa ou Camboa<br />

Região coberta <strong>de</strong> mato e banha<strong>da</strong> por uma ensea<strong>da</strong> piscosa e com remanso. Era assim o lugar <strong>do</strong><br />

recôncavo norte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e a esse lugar chamaram Camboa aqueles que primeiro o habitaram<br />

e que foram pesca<strong>do</strong>res. Como que enxota<strong>da</strong> <strong>de</strong> outros pontos <strong>do</strong> litoral pelos merca<strong>do</strong>res e pelos<br />

traficantes <strong>de</strong> escravos, os pesca<strong>do</strong>res localizaram-se ali, levantan<strong>do</strong> cabanas pela ribeira arenosa e pelo<br />

remanso <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong>, as camboas para apanha <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong>. “Camboa” ou “Gamboa” são caminhos ou<br />

cerca<strong>do</strong>s – caneiros – que se fazem <strong>de</strong>ntro na água, ten<strong>do</strong> entra<strong>da</strong> para o peixe com a maré e que se fecha<br />

logo com a vazante. O vocábulo camboa é o mais brasileiro e <strong>de</strong>via ter prevaleci<strong>do</strong>, como aliás<br />

prevaleceu por muitos anos, até mesmo em <strong>do</strong>cumentos oficiais.<br />

Na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, as terras <strong>da</strong> Camboa fizeram parte <strong>de</strong> sesmarias concedi<strong>da</strong>s pelos<br />

primeiros governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. No rol <strong>de</strong>ssas sesmarias <strong>de</strong>staca-se, pelo seu útil<br />

aproveitamento, aquela que foi vendi<strong>da</strong>, em 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1595, pelo governa<strong>do</strong>r Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong><br />

Sá, a Pedro Homem Albernaz, filho <strong>de</strong> Aleixo Manoel. * Com fun<strong>da</strong>mento na <strong>do</strong>cumentação que<br />

examinamos no antigo cartório <strong>do</strong> tabelião Castro e nos Arquivos Municipal e Nacional, o referi<strong>do</strong><br />

concessionário não po<strong>de</strong> ser outro senão o padre Pedro Homem Albernaz, que foi prela<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1639 a 1643, e nessa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> esteve presente à reunião havi<strong>da</strong> na Câmara, a 5 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1643, para a <strong>de</strong>cisão relativa à cobrança <strong>da</strong> vintena – tributo <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a custear as obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, receosa que, então, estava <strong>do</strong> temível invasor holandês.<br />

Memorável reunião à qual compareceram, além <strong>do</strong> dito prela<strong>do</strong>, Luiz Barbalho Bezerra, que governava<br />

a capitania e presidiu a reunião, os verea<strong>do</strong>res e outras pessoas distintas. Também, ao tempo <strong>da</strong> prelazia<br />

<strong>de</strong> Albernaz surgiu a questão <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s índios, entre a Câmara e os jesuítas, <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por estes,<br />

ar<strong>do</strong>rosamente. Em receben<strong>do</strong> o agravo <strong>da</strong> Câmara contra os jesuítas, o prela<strong>do</strong> Albernaz diligenciou a<br />

respeito com sereni<strong>da</strong><strong>de</strong>, embora se <strong>de</strong>clarasse ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jesuítas. A intervenção <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, que<br />

era Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá e Benavi<strong>de</strong>s, acomo<strong>do</strong>u a questão, com um acor<strong>do</strong> entre a Câmara e aqueles<br />

religiosos, a 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1640. Voltemos, porém, às terras <strong>de</strong> sesmaria <strong>do</strong> padre Pedro Homem<br />

Albernaz. Esse sesmeiro soube aproveitá-las bastante, com cultura ren<strong>do</strong>sa, casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> com quintal<br />

e o arren<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s sobras <strong>da</strong>s terras, nas quais se plantaram boas chácaras. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século<br />

XVII, a expansão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foi absorven<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> isso. Em 1656, por escritura pública, o padre Pedro<br />

Homem Albernaz, já bem i<strong>do</strong>so, fez <strong>do</strong>ações <strong>de</strong> bens imóveis a sobrinhos seus, filhos <strong>de</strong> Diogo Men<strong>de</strong>s<br />

Coluna e <strong>de</strong> Maria Albernaz Coluna, irmã <strong>do</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r. Essa escritura foi lavra<strong>da</strong> pelo notário Antônio<br />

Ferreira <strong>da</strong> Silva, a 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1656, às fls. 130 a 132 <strong>do</strong> livro próprio <strong>de</strong> escrituras <strong>do</strong> dito ano. A<br />

<strong>do</strong>ação foi feita como – remuneratória inter vivos. O dito livro, em 1797, era encontra<strong>do</strong> no cartório <strong>do</strong><br />

notário José Tomás <strong>da</strong> Silva Araújo e ain<strong>da</strong> se conservava no mesmo cartório, em 1843, sen<strong>do</strong> tabelião<br />

João Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>. Em 1923, tivemos em mão esse livro, estragadíssimo pela traça, no cartório <strong>do</strong><br />

tabelião Castro.<br />

Os beneficia<strong>do</strong>s <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> <strong>do</strong>ação foram Diogo Men<strong>de</strong>s Coluna Júnior, Manoel <strong>da</strong> Costa Tomás<br />

Rodrigues e Francisco <strong>da</strong> Costa, sobrinhos <strong>do</strong> padre Albernaz, como <strong>de</strong>ixamos dito, e aos quais esse<br />

sacer<strong>do</strong>te aju<strong>do</strong>u a criar, <strong>do</strong>utrinou-os e <strong>do</strong>s mesmos sobrinhos recebera sempre muita obediência e<br />

afeto, e lhes fazen<strong>do</strong> essa <strong>do</strong>ação prestava um reconhecimento aos pais <strong>de</strong>les <strong>do</strong>natários.<br />

Entre os imóveis <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s figuram uma chácara junta à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> aon<strong>de</strong> chamam ponta que vai para<br />

São Cristóvão. É a ponta <strong>da</strong> Chichorra, ao fim <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> Gamboa, no século passa<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> existente.<br />

Essa chácara tinha boa casa resi<strong>de</strong>ncial, senzala e plantação bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>. Confinava a su<strong>do</strong>este com a<br />

chácara <strong>do</strong> coronel João Rodrigues Pestana e <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar com as barracas <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res e, por on<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> remota época, corria um caminho que se prestava à servidão <strong>da</strong>s duas chácaras e <strong>do</strong> povo, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

vazante <strong>da</strong> maré e por permissão graciosa <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res. Esse caminho <strong>de</strong>u motivo a rixas entre os<br />

* Como consta <strong>do</strong> título <strong>da</strong> concessão, registra<strong>do</strong> no livro 8 <strong>da</strong>s Sesmarias, às fls. 17 a 20, <strong>do</strong> notário Pedro <strong>da</strong> Costa. (N.A.)


s/a, 1886 – Morro <strong>da</strong> Gamboa. Istmo que ligava o morro ao continente.<br />

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<strong>do</strong>nos <strong>da</strong>s ditas chácaras e provoca<strong>da</strong>s quase sempre pelo coronel Pestana, cujos her<strong>de</strong>iros, ain<strong>da</strong> mais<br />

rixentos, chegaram a <strong>de</strong>man<strong>da</strong>r em juízo para conseguir a posse privativa <strong>da</strong> mesma via pública –<br />

compri<strong>da</strong> e estreita beiran<strong>do</strong> o mar e que <strong>de</strong>sapareceu pelas transformações havi<strong>da</strong>s no litoral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

Prainha até São Diogo. Por escritura pública, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1662, em notas <strong>do</strong> tabelião Serrão<br />

Freire, Diogo Men<strong>de</strong>s Coluna Júnior e seus irmãos ven<strong>de</strong>ram a chácara que lhes fora <strong>do</strong>a<strong>da</strong> pela quantia<br />

<strong>de</strong> oitenta mil réis, em dinheiro <strong>de</strong> conta<strong>do</strong> e moe<strong>da</strong> prata corrente no Brasil. Foram compra<strong>do</strong>res Mateus<br />

<strong>da</strong> Silva e seu genro, Antônio Correia Brandão, os quais, quatro anos <strong>de</strong>pois, aparecem ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />

mesma chácara, por duzentos mil réis, em 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1666, a Domingos <strong>da</strong> Rocha Carreira e à sua<br />

mulher, Isabel Rodrigues <strong>de</strong> Souza Carreira. Rocha Carreira, que era homem afeito a altos negócios,<br />

alguns complica<strong>do</strong>s, morreu rico e com testamento feito a 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1732. O inventário <strong>do</strong>s seus<br />

bens só terminou a 9 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1741 e ain<strong>da</strong> mais <strong>de</strong>mora<strong>da</strong> a partilha, a qual, pelas questões<br />

surgi<strong>da</strong>s, somente terminou a 2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1753, cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> morte <strong>do</strong> testante.<br />

É bem interessante dizer que, no testamento <strong>de</strong> Carreira, há uma afirmativa quanto à natureza<br />

alodial <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> Câmara, na <strong>de</strong>claração que ele, testante, faz <strong>de</strong> ter compra<strong>do</strong> a chácara livre <strong>de</strong> foro<br />

e <strong>de</strong> pensão, por ser em terras próprias <strong>da</strong> sesmaria <strong>do</strong> padre Albernaz, que fora prela<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, e assim sempre havi<strong>da</strong>.<br />

Outra proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> extensa e valiosa na Camboa foi a chácara <strong>do</strong> rico sargento-mor José Dias <strong>de</strong><br />

Oliveira, casa<strong>do</strong> com Ana Teo<strong>do</strong>ra Mascarenhas. Ficava nos limites <strong>da</strong> Camboa ou Gamboa com o Saco<br />

<strong>do</strong> Alferes, ten<strong>do</strong> boa casa resi<strong>de</strong>ncial sobre o alto <strong>da</strong> Colina, edifica<strong>da</strong> com esmero e soli<strong>de</strong>z, <strong>de</strong><br />

sobra<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> o mar e la<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> arvore<strong>do</strong>s. Na encosta <strong>da</strong> colina, à beira <strong>do</strong> mar, com cais, ficavam<br />

a casa <strong>do</strong> feitor, a <strong>do</strong> armazém e a <strong>do</strong>s negros. Em morren<strong>do</strong> o sargento-mor José Dias e a sua esposa


1 9 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Ana Teo<strong>do</strong>ra, a chácara <strong>da</strong> Gamboa e <strong>de</strong>pendências ficaram ao aban<strong>do</strong>no, chegan<strong>do</strong> a ruínas. Afinal, em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1793, por escritura <strong>do</strong> tabelião Faustino Soares <strong>de</strong> Araújo, veio a ser vendi<strong>da</strong>, por 1:800$,<br />

pelas filhas <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> casal, <strong>de</strong> nomes Mariana Josefa Mascarenhas, Leonor Teo<strong>do</strong>ra Mascarenhas,<br />

Joaquina Rosa Mascarenhas e Eugenia Rosa Mascarenhas, as quais residiam na fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Engenho <strong>da</strong><br />

Pedra, no distrito <strong>de</strong> Inhaúma, em companhia <strong>de</strong> um tio – o padre Francisco Xavier <strong>da</strong> Fonseca. Moças,<br />

ain<strong>da</strong>, as irmãs Mascarenhas eram bem ricas e proprietárias <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> tinham residência,<br />

e <strong>de</strong> outras terras na zona rural. No ato <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Gamboa, 42 foram representa<strong>da</strong>s por Inácio<br />

José Car<strong>do</strong>so, como procura<strong>do</strong>r, a quem o padre Xavier escreveu <strong>da</strong>quela dita fazen<strong>da</strong> uma carta, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1793 – “Senhor Inácio José Car<strong>do</strong>so. Remeto a procuração para efetuar-se a<br />

ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Gamboa, que felizmente se dispôs <strong>de</strong>la, por vermos que sem assistência e<br />

benefícios se não po<strong>de</strong> conservar. O porta<strong>do</strong>r entregou o dinheiro. O mais fica para a vista. Deus guar<strong>de</strong><br />

a Vossa Mercê. Francisco Xavier.” Comprou a chácara, por 1:800$000, o ricaço Felix José Morato, que,<br />

firma<strong>da</strong> a escritura, tomou posse <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1794. Morato, que era escrivão <strong>da</strong><br />

Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e homem <strong>de</strong> fino trato, reformou por completo a chácara, melhoran<strong>do</strong>-a e<br />

embelezan<strong>do</strong>-a e fez <strong>da</strong> mesma a sua residência. Por escritura <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1798, <strong>do</strong> tabelião<br />

Faustino Soares <strong>de</strong> Araújo, Felix Morato ven<strong>de</strong>u a chácara <strong>da</strong> Gamboa e to<strong>da</strong>s as suas <strong>de</strong>pendências,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 3:400$000, ao capitão Francisco <strong>da</strong> Cunha Pinheiro.<br />

O Forno Gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cal<br />

Próspera bastante foi a indústria <strong>da</strong> cal <strong>de</strong> marisco no recôncavo norte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

principalmente na Gamboa, cuja praia cobria-se <strong>de</strong> sambaquis. Inúmeras embarcações cruzavam a<br />

ensea<strong>da</strong> <strong>da</strong> Gamboa, conduzi<strong>da</strong>s por caieiros ou seus agencia<strong>do</strong>res e na praia empenhavam-se em luta<br />

para a posse <strong>do</strong>s sambaquis.<br />

Em marinhas <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Gamboa, na encosta <strong>do</strong> morro <strong>de</strong>ste nome, ficava o forno gran<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

cal, com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e bem ren<strong>do</strong>sa, até 1758, quan<strong>do</strong> uma postura <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara proibiu o<br />

funcionamento <strong>de</strong> caieiras nas vizinhanças <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Muitos os prejudica<strong>do</strong>s, e fortes os protestos<br />

levanta<strong>do</strong>s. O padre Manoel Dias <strong>da</strong> Silva parece ter si<strong>do</strong> o mais prejudica<strong>do</strong>, porque abriu questão em<br />

juízo para embargar a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, julga<strong>da</strong>, entretanto, bem vantajosa à salubri<strong>da</strong><strong>de</strong> e por isso<br />

manti<strong>da</strong>.<br />

O forno ain<strong>da</strong> existia em 1770, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e em ruínas, sen<strong>do</strong> afinal <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>. O terreno passou<br />

ao <strong>do</strong>mínio útil <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial, forma<strong>da</strong> por Gabriel Ferreira <strong>da</strong> Cruz e Vitor Barre<strong>da</strong>, por<br />

compra feita a her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> José <strong>da</strong> Cunha Pinheiro, que era filho <strong>do</strong> capitão Francisco <strong>da</strong> Cunha<br />

Pinheiro, antigo proprietário <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Gamboa, como já <strong>de</strong>ixamos narra<strong>do</strong>.<br />

José Pinheiro ain<strong>da</strong> vivia, em 1829, porque nesse ano aparece, em transações <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> terrenos<br />

na parte <strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Gamboa que lhe pertencia e na qual estava a antiga caieira, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Cruz &<br />

Barre<strong>da</strong>, com 51 braças <strong>do</strong> terreno, e Cruz com 46 ditas.<br />

A topografia <strong>do</strong> litoral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Botafogo até São Cristóvão, alterou-se, e muito,<br />

com obras <strong>de</strong> aterros e <strong>de</strong> cais no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos. A construção <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> Cais <strong>do</strong> Porto fez apagar<br />

por completo os últimos vestígios <strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> <strong>da</strong> Camboa ou Gamboa, on<strong>de</strong> ficava a península ou ponta<br />

<strong>da</strong> Chichorra.


C A P Í T U L O X I V<br />

São Do m i ng o s


1 9 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Concentra<strong>do</strong>s na chama<strong>da</strong> várzea, entre o mar e o fosso – rua Uruguaiana – os primeiros<br />

habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, como encarcera<strong>do</strong>s ansiosos <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>itavam as suas vistas para o imenso campo que se abria <strong>do</strong> fosso, a per<strong>de</strong>r-se no horizonte e coberto<br />

<strong>de</strong> caatingas, areais e lagoas, oferecen<strong>do</strong>-lhes gran<strong>de</strong>s elementos <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Os mais<br />

<strong>de</strong>stemi<strong>do</strong>s enfrentaram a imensi<strong>da</strong><strong>de</strong> selvagem <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong> e, <strong>de</strong>ntro em pouco, estava <strong>de</strong>vassa<strong>do</strong> o<br />

sertão carioca e a planície sanea<strong>da</strong> e corta<strong>da</strong> <strong>de</strong> caminhos, terras lavra<strong>da</strong>s, casas e granjas. Temos aí a<br />

origem <strong>do</strong> bairro <strong>de</strong> São Domingos, ocupan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a planície <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o antigo fosso e até os areais <strong>do</strong><br />

Capueruçu.<br />

E foram as concessões <strong>de</strong> terras, sem obrigações outras senão a <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aproveitamento e<br />

um pequeno foro à Câmara, que impulsionaram o progresso nessa região, em curto tempo. Das quintas<br />

ou chácaras que, então, se formaram, <strong>de</strong>stacamos a <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> São Domingos. Essa importante<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> tinha frente no caminho <strong>de</strong> Fernão Gomes – atualmente rua Senhor <strong>do</strong>s Passos – e corria<br />

fun<strong>do</strong>s, à direita, com a chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes, e, à esquer<strong>da</strong>, com a estra<strong>da</strong> que subia para São<br />

Lourenço, vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> Matacavalos, na ban<strong>da</strong> <strong>do</strong> campo fronteira ao areal – correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> agora com a<br />

face oriental <strong>da</strong> praça <strong>da</strong> República. Pela parte sul, rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, hoje, a quinta ou<br />

chácara <strong>de</strong> São Domingos confinava com as terras <strong>da</strong> chácara que pertencera ao licencia<strong>do</strong> Francisco<br />

Viegas e, por sua morte, passou ao seu pai Cristóvão Lopes Monteiro, o qual, reconhecen<strong>do</strong>, como<br />

reconheceu, ser <strong>do</strong> senhorio direto <strong>da</strong> Câmara as terras <strong>da</strong> chácara que her<strong>da</strong>ra <strong>do</strong> seu filho, pediu e<br />

obteve o aforamento <strong>da</strong>s mesmas terras, por carta <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1669. A chácara <strong>do</strong> Viegas,<br />

também dita <strong>do</strong> Licencia<strong>do</strong>, mais tar<strong>de</strong> veio a ser conheci<strong>da</strong> pela <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-<br />

Mor, por pertencer ao guar<strong>da</strong>-mor <strong>da</strong>s minas gerais, Pedro Dias Paes Leme. *<br />

Voltemos à chácara <strong>de</strong> São Domingos, cujo comisso se fez público por edital <strong>da</strong> Câmara, no<br />

começo <strong>de</strong> 1702, e foi leva<strong>da</strong> à praça, sen<strong>do</strong> arremata<strong>da</strong> pelo dr. João Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, a quem a<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u carta <strong>de</strong> aforamento, em 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1702, ao foro anual <strong>de</strong> <strong>de</strong>z tostões. Em<br />

1709, com aprovação <strong>da</strong> Câmara, o dr. Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> <strong>do</strong>ou a chácara <strong>de</strong> São Domingos ao seu<br />

cunha<strong>do</strong>, capitão Paulo Carvalho <strong>da</strong> Silva, o qual pediu uma nova carta <strong>de</strong> aforamento, que lhe foi<br />

concedi<strong>da</strong> a 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1710. Em testamento, o capitão Carvalho <strong>da</strong> Silva legou a dita chácara<br />

à Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, com a obrigação <strong>de</strong> aplicarem-se os réditos à sustentação <strong>do</strong>s irmãos<br />

pobres, recolhi<strong>do</strong>s ao hospital <strong>da</strong> mesma Or<strong>de</strong>m. Mas a dita corporação, embora <strong>de</strong> mão morta, parecia<br />

querer perpetuar aquela sua posse, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> cumprir as disposições <strong>do</strong> lega<strong>do</strong>, senão quan<strong>do</strong>,<br />

obriga<strong>da</strong> pelo vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, inimigo cerra<strong>do</strong> <strong>de</strong> irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s, teve que <strong>de</strong>smembrar a<br />

chácara e entregar, no interesse <strong>do</strong> cômo<strong>do</strong> público e <strong>da</strong> facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s comunicações, os terrenos<br />

necessários à formação <strong>de</strong> novos logra<strong>do</strong>uros públicos. Foi, ain<strong>da</strong>, obriga<strong>da</strong> a facilitar as edificações em<br />

to<strong>da</strong> região <strong>da</strong> antiga quinta ou chácara <strong>de</strong> São Domingos e a pagar o foro e laudêmio <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s<br />

terrenos marginais aos logra<strong>do</strong>uros que se abrissem. Nessa ocasião, abriram-se as ruas con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha<br />

– atual viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco; Ciganos agora, Constituição; Hospício – hoje, Buenos Aires; a primeira<br />

e a segun<strong>da</strong> travessa <strong>de</strong> São Joaquim, sen<strong>do</strong> que esta veio a chamar-se rua <strong>da</strong> Con<strong>de</strong>ssa, <strong>do</strong>s Coqueiros<br />

e por fim <strong>do</strong> Núncio; e a primeira travessa – rua <strong>de</strong> Santa Teresa, <strong>do</strong> Regente e, ultimamente, Regente<br />

Feijó. Foi na época <strong>da</strong> abertura <strong>de</strong>sses logra<strong>do</strong>uros, que a Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo iniciou os<br />

arren<strong>da</strong>mentos e subarren<strong>da</strong>mentos <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> dita chácara e marginais às novas<br />

vias públicas.<br />

As pensões <strong>de</strong>sses contratos enfitêuticos variavam e foram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> altas, o que<br />

<strong>de</strong>terminou o protesto <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s arren<strong>da</strong>tários ou foreiros, os quais conseguiram, em 1772, a<br />

redução <strong>do</strong> foro que pagavam. Por sua vez, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, entran<strong>do</strong> no exame <strong>da</strong>s transações e<br />

mais atos pratica<strong>do</strong>s pela Or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>clarou-se prejudica<strong>do</strong> nos seus interesses <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> chão<br />

<strong>da</strong> antiga quinta <strong>de</strong> São Domingos, levou o caso ao tribunal competente, a fim <strong>de</strong> que a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> mesmo<br />

chão se fizesse segun<strong>do</strong> os princípios estabeleci<strong>do</strong>s pela sua lei própria. Não conseguin<strong>do</strong> a querela<strong>da</strong> –<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo – , amparo legal, e conhecen<strong>do</strong>-se perdi<strong>da</strong> na querela, entrou em negociações com o<br />

querelante – Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. No acor<strong>do</strong> amigável que se fez, a Or<strong>de</strong>m obrigou-se a aforar os terrenos<br />

por <strong>de</strong>z tostões anuais, que seriam pagos ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara ao fim <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ano, e, também, um <strong>de</strong><br />

trinta em trinta anos, a partir <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> expedição <strong>da</strong> carta <strong>de</strong> aforamento pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. A<br />

carta foi expedi<strong>da</strong> a 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1779, <strong>da</strong>ta em que a Or<strong>de</strong>m entrou para o cofre <strong>do</strong> município<br />

com o primeiro laudêmio, calcula<strong>do</strong> pelo valor <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s na ocasião <strong>da</strong> entra<strong>da</strong>. Quase to<strong>do</strong>s os<br />

* Vi<strong>de</strong> Bairro <strong>de</strong> Matacavalos. (N.A.)


C A P Í T U L O X I V | 1 9 7<br />

antigos arren<strong>da</strong>tários ou foreiros <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m reconheceram o senhorio municipal e legalizaram os seus<br />

aforamentos, com as respectivas Cartas concedi<strong>da</strong>s pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. É certo, porém, que muitos<br />

<strong>do</strong>s seus sucessores não seguiram o mesmo honesto procedimento e <strong>da</strong>í as novas posses ilegítimas nessa<br />

enfiteuse, causa, ain<strong>da</strong> nos nossos dias, <strong>de</strong> questões com a <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, a qual tem,<br />

indiscutivelmente, o senhorio direto sobre to<strong>da</strong> a área on<strong>de</strong> se assentou o bairro <strong>de</strong> São Domingos e<br />

somente a chicana levanta dúvi<strong>da</strong>s quanto à legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse senhorio.<br />

Enxuta, apenas, numa pequena parte, que era a sua frente no caminho Fernão Gomes e on<strong>de</strong><br />

ficava a casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>nos, a quinta ou chácara <strong>de</strong> São Domingos formava uma bacia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

atual rua Buenos Aires até a <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, linha <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara, em mato <strong>de</strong> brejo,<br />

como nos transmitem os Autos <strong>de</strong> Demarcação e Vistoria <strong>de</strong> <strong>Terras</strong>, no campo fora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou também<br />

dito campo <strong>de</strong> São Domingos, <strong>do</strong>s séculos XVII e XVIII. Por esse campo, nota<strong>da</strong>mente na parte <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara, foram sen<strong>do</strong> levanta<strong>da</strong>s pequenas casas <strong>de</strong> taipas, as quais, por ocasião <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

chuvas, ficavam submersas nas águas transbor<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>da</strong>s charnecas. Gente miserável, na maioria<br />

emigra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Europa, ocupava esses casebres. Ain<strong>da</strong>, em 1798, autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s fiscais <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara<br />

diziam que “to<strong>do</strong>s esse lugares, a poucos pés acima <strong>da</strong> rua aberta <strong>de</strong> novo, à mão esquer<strong>da</strong>, in<strong>do</strong> para o<br />

campo <strong>de</strong> Santana, estavam cobertos <strong>de</strong> águas apodreci<strong>da</strong>s e lameiros perigosos”. São <strong>de</strong>ssa época as<br />

tentativas para o enxugamento <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> pantanal no campo <strong>do</strong>s Ciganos. A rua aberta <strong>de</strong> novo é o<br />

trecho final <strong>da</strong> rua Senhor <strong>do</strong>s Passos, ou seja, o pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong>sse logra<strong>do</strong>uro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiga rua <strong>de</strong> São Jorge<br />

– agora, Gonçalves Le<strong>do</strong>, até o campo <strong>de</strong> Santana – atualmente praça <strong>da</strong> República. São <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

época estu<strong>do</strong>s e planos <strong>de</strong> obras que fizessem <strong>de</strong>saparecer o gran<strong>de</strong> pantanal, que se procurava ocultar<br />

às vistas públicas por um tabua<strong>do</strong>, levanta<strong>do</strong> à direita <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha até a <strong>de</strong> São Lourenço,<br />

na parte <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana. Portanto, to<strong>do</strong> o espaço entre as atuais ruas Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco e<br />

Constituição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Regente Feijó até a praça <strong>da</strong> República, foi ocupa<strong>do</strong> pelo pantanal. E justamente,<br />

por ser muito pantanosa, foi essa a parte <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> São Domingos que <strong>de</strong>morou em ser <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong><br />

e vendi<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> em 1803, fomos encontrar adquirentes <strong>de</strong> chãos nessa parte <strong>da</strong> chácara, obriga<strong>do</strong>s a<br />

gran<strong>de</strong>s aterros para po<strong>de</strong>rem edificar. Esses fatos, transmiti<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>cumentos escritos <strong>da</strong> época, e<br />

bem fi<strong>de</strong>dignos, constituem argumentos fortíssimos contra a opinião que se fez vence<strong>do</strong>ra, em 1892,<br />

lamentavelmente para localizar-se a execução <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes num terreno particular, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro charco<br />

no campo <strong>do</strong>s Ciganos, beiran<strong>do</strong> a rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – hoje, viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco. Acresce,<br />

ain<strong>da</strong>, consi<strong>de</strong>rar que a forca para a execução <strong>do</strong> mártir <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, a fim <strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>sse<br />

ser vista <strong>de</strong> longe, foi man<strong>da</strong><strong>da</strong> construir bem alta, com mais <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong>graus, e era bem pesa<strong>da</strong>. Foi<br />

levanta<strong>da</strong> no campo <strong>de</strong> São Domingos, que se mostrou sempre a região menos baixa <strong>do</strong> campo <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, com porções arenosas sóli<strong>da</strong>s e em cujo centro se erguia a capela <strong>de</strong> São Domingos, que <strong>de</strong>u o<br />

nome a esse lugar. *<br />

Quan<strong>do</strong>, em 1892, o governo <strong>da</strong> República quis fixar, por um monumento notável a Tira<strong>de</strong>ntes,<br />

o local <strong>da</strong> forca <strong>do</strong> mártir <strong>da</strong> Inconfidência Mineira, surgiu larga discussão pela imprensa e três grupos<br />

entregaram-se às investigações históricas sobre o local <strong>do</strong> enforcamento e <strong>de</strong>ssas pesquisas resultou<br />

gran<strong>de</strong> divergência. Um grupo oficializou-se, por vitoriosa a opinião – <strong>da</strong> qual discor<strong>da</strong>mos em face <strong>do</strong>s<br />

fatos já narra<strong>do</strong>s. O campo <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong>sse grupo foi muito estreito e duvi<strong>do</strong>so. Daí, mais um erro na<br />

História <strong>do</strong> Brasil.<br />

O outro grupo apresentou-se com opinião fu<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> no que se conhece, aliás com segurança,<br />

sobre a disposição <strong>da</strong> tropa e <strong>do</strong> itinerário <strong>do</strong> lúgubre préstito. Finalmente, o terceiro grupo que aparece<br />

próximo à ver<strong>da</strong><strong>de</strong> – ver<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica transmiti<strong>da</strong> por manuscritos e mapas fi<strong>de</strong>dignos <strong>da</strong> época <strong>da</strong><br />

execução. Não pa<strong>de</strong>ce dúvi<strong>da</strong> que, <strong>de</strong> momento, impressionem as razões <strong>do</strong> grupo vence<strong>do</strong>r,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> ele se diz ampara<strong>do</strong> pelo testemunho histórico <strong>de</strong> uma planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

levanta<strong>da</strong> em 1811, planta que foi exposta, em 1892, na vitrina <strong>da</strong> casa Max Nothmam, à rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r.<br />

Essa planta, topologicamente, não passa <strong>de</strong> um bosquejo e com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong>, apenas, <strong>de</strong> planear a obra<br />

<strong>de</strong> saneamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> assinalar os lugares <strong>de</strong> preferência a ser sanea<strong>do</strong>s. Foi feita sob as vistas<br />

<strong>do</strong> dr. João Manoel <strong>da</strong> Silva, ilustre medico higienista, incumbi<strong>do</strong> por <strong>do</strong>m João VI, ain<strong>da</strong> regente em<br />

1811, para estu<strong>do</strong>s sobre sanear-se a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O mapa, ou planta, <strong>do</strong><br />

dr. Manoel <strong>da</strong> Silva, existente no Arquivo Nacional, ain<strong>da</strong> em 1929, assinala um gran<strong>de</strong> espaço<br />

<strong>de</strong>socupa<strong>do</strong> entre o rossio Gran<strong>de</strong> e o campo <strong>de</strong> Santana, o que não é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro. Devoluta era apenas a<br />

parte entre a rua <strong>do</strong> Regente e o dito campo.<br />

* Classe <strong>de</strong> Manuscritos – Brasil, – Correspondência – 1790/1794 – Arquivo <strong>da</strong> Torre <strong>do</strong> Tombo – Portugal. (N.A.)


1 9 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

To<strong>da</strong> a porção compreendi<strong>da</strong> pelas atuais ruas Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, Regente Feijó e<br />

Constituição e pela praça Tira<strong>de</strong>ntes – antigo Rossio Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1803, estava bem aterra<strong>da</strong><br />

e dividi<strong>da</strong> em lote para edificação <strong>de</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, ex-vi <strong>da</strong>s posturas. Em 1807, já estava edifica<strong>da</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> o maior proprietário – o capitão Manoel Gonçalves Mole<strong>do</strong>. Pelo bosquejo cita<strong>do</strong>, a rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> Cunha, agora, viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, figura ain<strong>da</strong> por alinhar e a rua <strong>da</strong> Con<strong>de</strong>ssa, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />

Nuncio, não aparece. Entretanto, uma e outra estavam regularmente abertas e entregues ao trânsito<br />

público, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha (1763/ 1767). Esses, e outros fatos, parecem-nos<br />

provas bastante <strong>do</strong> lamentável engano que pôs a forca <strong>do</strong> mártir inconfi<strong>de</strong>nte no local on<strong>de</strong> se edificou<br />

a Escola Tira<strong>de</strong>ntes.<br />

Largo <strong>do</strong> Rosário – 1705/1840<br />

Terreno <strong>de</strong> 28,5 braças no largo <strong>do</strong> Rosário – também dito <strong>da</strong> Sé – corren<strong>do</strong> frente pela rua que<br />

ia <strong>da</strong> Sé Nova para as Pedreiras. Sé Nova é o edifício <strong>da</strong> Escola Politécnica e a rua, a <strong>da</strong> Conceição,<br />

atualmente. O terreno media 17 braças <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> confinava com a Casa <strong>da</strong> Aula <strong>do</strong>s padres<br />

<strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Jesus, e ficava <strong>de</strong>fronte <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Jogo <strong>da</strong> Bola. Por causas <strong>de</strong> divisas, querelavam<br />

constantemente o posseiro <strong>do</strong> terreno, Francisco <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Lisboa, e o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> chácara, João<br />

Vieira Borges. Afinal, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, intervin<strong>do</strong> como senhorio direto <strong>do</strong> terreno, man<strong>do</strong>u fosse<br />

o mesmo baliza<strong>do</strong> e arrua<strong>do</strong>. Em 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1764, foi cumpri<strong>da</strong> cabalmente a or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> 1705 até 1719, o largo ou campo <strong>do</strong> Rosário foi chama<strong>do</strong> Rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Impropriamente, no começo <strong>de</strong> século XVIII, <strong>de</strong>ram-lhe o nome <strong>de</strong> largo <strong>da</strong> Sé Nova, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> obras<br />

que diminuíram bastante esse logra<strong>do</strong>uro e que mais diminuí<strong>do</strong> foi em 1840.<br />

A edificação <strong>da</strong> casaria, conseqüência <strong>do</strong> crescimento rápi<strong>do</strong> que ia ten<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem<br />

acentua<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1725, obrigava o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> em vez, a retalhar o antigo campo<br />

para aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse progresso. Várias as questões que se fomentaram entre os que<br />

edificavam e os antigos posseiros <strong>de</strong> chãos, no antigo Rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entre essas questões, fez-se<br />

célebre a provoca<strong>da</strong> por Ana Matil<strong>de</strong> <strong>da</strong> Costa Viana, em 9 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1785.<br />

O Jogo * <strong>da</strong> Bola<br />

Divertimento predileto <strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> <strong>da</strong> época e com bastante animação. De começo, somente com<br />

assistência <strong>de</strong> amigos <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res, era pratica<strong>do</strong> em um terreno arren<strong>da</strong><strong>do</strong> no interior <strong>de</strong> uma chácara,<br />

<strong>de</strong> extensa frente pela rua <strong>do</strong> Alecrim – atual – Buenos Aires – e to<strong>da</strong> fecha<strong>da</strong> a muro <strong>de</strong> pedra e cal. Daí<br />

a origem <strong>da</strong> <strong>de</strong>nominação chácara <strong>do</strong> Jogo <strong>da</strong> Bola à importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Souza Meireles,<br />

em 1801. Neste ano começou a chácara a ser <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>, estan<strong>do</strong>, então, arren<strong>da</strong><strong>da</strong> por alto preço a<br />

Bento Esteves, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> uma taberna com comi<strong>da</strong> no morro <strong>da</strong> Conceição e o maior empresário <strong>do</strong> jogo<br />

<strong>da</strong> bola.<br />

Para a <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara houve a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, expedi<strong>da</strong> a 18 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1801, e, logo a seguir, iniciaram-se a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s terrenos e as edificações. Bento Esteves<br />

transferiu, então, o jogo <strong>da</strong> bola para o quintal <strong>da</strong> sua casa, o que <strong>de</strong>u origem a nominação <strong>de</strong> Jogo <strong>da</strong><br />

Bola à rua em que estava a mora<strong>da</strong> <strong>de</strong> Esteves. Depois <strong>de</strong> 1785, o jogo <strong>da</strong> bola tornou-se anima<strong>da</strong><br />

diversão pública, com torneios ou parti<strong>da</strong>s que se disputavam em campos públicos, com numerosa<br />

assistência. Em 1790, oficializou-se esse jogo, que passou a ter severa fiscalização policial e regras para<br />

a sua prática, em <strong>de</strong>fesa à pessoa física <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res. Não se realizava jogo sem prévia licença <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e sem que houvesse campo apropria<strong>do</strong>. Ain<strong>da</strong> em 1830, jogava-se a bola no quintal<br />

<strong>da</strong> casa <strong>de</strong> Bento Esteves, no morro <strong>da</strong> Conceição, sen<strong>do</strong>, na maioria, marujos os joga<strong>do</strong>res. Constantes<br />

os distúrbios com os parti<strong>do</strong>s que se formavam e as apostas em dinheiro.<br />

Viviam em sobressaltos os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> morro, e as queixas avolumaram-se, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a<br />

intervenção <strong>da</strong> policia, que agin<strong>do</strong> às cegas, quase sempre, tornava piores os conflitos. O jogo <strong>da</strong> bola 43<br />

* Precursor <strong>do</strong> futebol (foot-ball). (N.A.)


C A P Í T U L O X I V | 1 9 9<br />

consistia em <strong>de</strong>rrubar com bolas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> numero <strong>de</strong> paus, distancia<strong>do</strong>s alguns<br />

metros <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res <strong>da</strong> bola, e dispostos simetricamente, segun<strong>do</strong> as regras pré-estabeleci<strong>da</strong>s para um<br />

jogo ou parti<strong>da</strong>. Em 1891, apareceu a pelota, introduzi<strong>do</strong> esse jogo por um argentino <strong>de</strong> nome Irizarri.<br />

Era muito diferente <strong>do</strong> <strong>de</strong> Bento Esteves. Da pelota veio o fronton e <strong>de</strong>ste o foot ball.<br />

Com a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> organização social, política e judicial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, que os portugueses, em 1567, alicerçaram à margem oci<strong>de</strong>ntal <strong>da</strong> Guanabara, foi o jogo logo<br />

instituí<strong>do</strong>, em falta <strong>de</strong> outras distrações e mesmo como segurança à disciplina, à or<strong>de</strong>m e à boa moral<br />

<strong>do</strong>s costumes <strong>da</strong>queles que <strong>de</strong>veriam habitar a nova colônia portuguesa. E assim se fez, para que não se<br />

criassem, no convívio <strong>do</strong>s habitantes <strong>de</strong>la – colônia – piores males à saú<strong>de</strong> e aos costumes. * O jogo, no<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, nasceu e cresceu, pois, como instituição <strong>de</strong> benemerência. A principio, honesto e<br />

diverti<strong>do</strong>. Depois, <strong>de</strong>generan<strong>do</strong>-se, fez-se aviltante e corrupto. O jogo <strong>da</strong> bola, o <strong>do</strong> pau, <strong>da</strong> argola, <strong>da</strong><br />

barra, po<strong>de</strong>m ser classifica<strong>do</strong>s esportivos e constituíam atraentes diversões populares <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mingos e<br />

dias santifica<strong>do</strong>s <strong>da</strong> velha Sebastianópolis. As pelejas <strong>de</strong>sses jogos <strong>de</strong>senvolviam-se com animação e<br />

sem <strong>de</strong>satinos.<br />

A D a n ç a<br />

Em se recor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> as diversões <strong>da</strong> velha ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, não <strong>de</strong>ve ser<br />

esqueci<strong>da</strong> a <strong>da</strong>nça, que aparece nos costumes cariocas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dançavam os<br />

livres e os escravos, o rico e o pobre, o nobre e o plebeu. O baile era a alegria e o prazer nas noites <strong>de</strong><br />

outrora e, ain<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, <strong>da</strong>nçava-se muito.<br />

E repetin<strong>do</strong> o padre João Lucena, na Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> São Francisco Xavier, os nossos avós diziam: por<br />

que não <strong>da</strong>nçar, se até as estrelas movem-se em <strong>da</strong>nças, alegran<strong>do</strong> os céus. A quadrilha, a valsa e a<br />

mazurca foram as contra<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> mais aceitação nos salões <strong>da</strong> nobreza e nas mo<strong>de</strong>stas salas <strong>da</strong><br />

Sebastianópolis. O maxixe, <strong>da</strong>nça exótica popular, foi <strong>da</strong>nça<strong>do</strong> em palco pela primeira vez no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, em 1892, no teatro Alcazar. Genuinamente brasileira e carioca é a corta-jaca, a quebra-quebra e<br />

a <strong>da</strong>nça <strong>do</strong>s pastores. O cateretê po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>da</strong>nça brasileira. Nasceu no terreiro <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s,<br />

nas luarentas noites estivais. É filho <strong>do</strong> batuque africano e <strong>de</strong>ste conserva as cadências <strong>de</strong>leitosas.<br />

Lamentavelmente, usos e costumes nossos foram sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>precia<strong>do</strong>s e substituí<strong>do</strong>s pelas novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s bem<br />

disparata<strong>da</strong>s, que nos trazem <strong>de</strong> fora e que, muita vez, nos enchem <strong>de</strong> ridículo. Triste espírito <strong>de</strong> imitação<br />

esse e que tão mal faz ao Brasil. Entretanto, nos nossos costumes e nas nossas tradições há muito<br />

encantamento e bem poucas as banali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O trabalho <strong>do</strong>s nossos maiores na formação <strong>da</strong> nossa<br />

nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> foi envolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>res e sacrifícios, suaviza<strong>do</strong>s, porém, pela alegria comunicativa e sadia<br />

<strong>da</strong>s suas diversões.<br />

O canto, a <strong>da</strong>nça e a música foram, ao mesmo tempo, estimulantes e inspira<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s nossos avós<br />

na luta estóica que travaram, para a formação <strong>do</strong> alto sentimento <strong>de</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong> que nos legaram e que,<br />

tristemente, vai <strong>de</strong>scen<strong>do</strong> <strong>de</strong> nível, dia a dia, por influência <strong>de</strong> uma civilização mal dirigi<strong>da</strong>. Enfim, em<br />

tu<strong>do</strong>, e até mesmo na religião, os nossos antepassa<strong>do</strong>s punham um cunho original, to<strong>do</strong> ele bem<br />

brasileiro. A festivi<strong>da</strong><strong>de</strong> religiosa <strong>do</strong> mês <strong>do</strong> Rosário é uma prova. Por to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>da</strong> mais pobre casa ao mais rico solar, aromáticas flores ornamentavam improvisa<strong>do</strong>s<br />

altares, nos quais os círios ardiam em louvor à Virgem Maria. Simples na prática e profun<strong>do</strong>s na fé eram<br />

esses atos religiosos. Termina<strong>do</strong>s, seguiam-se as <strong>da</strong>nças, as cantorias e outros honestos folgue<strong>do</strong>s.<br />

Na festivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Rosário no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a <strong>da</strong>nça apropria<strong>da</strong> era a Baiana, um tanto sagra<strong>da</strong><br />

e um tanto profana. Jovens esbeltos, vesti<strong>do</strong>s a caráter, trazen<strong>do</strong> o rosto mascara<strong>do</strong>, <strong>da</strong>nçavam em<br />

público, ao ar livre, sobre altos tabla<strong>do</strong>s, enchen<strong>do</strong> o povo <strong>de</strong> entusiasmo. Também, em casas <strong>de</strong> família,<br />

exibiam-se os mais provectos <strong>da</strong>nçarinos <strong>da</strong> Baiana, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira arte coreográfica, e <strong>da</strong> qual foi o maior<br />

<strong>da</strong>nçarino Antônio Faustino <strong>de</strong> Paula, o qual se espiritualizava com a música, empolgan<strong>do</strong> pelo ritmo<br />

<strong>do</strong>s seus passos e a harmonia <strong>do</strong>s seus movimentos. Recebeu aplausos <strong>da</strong> mais seleta socie<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca,<br />

nos teatros e nos salões <strong>da</strong> aristocracia. Faustino <strong>de</strong> Paula apareceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, pela ultima vez,<br />

para <strong>da</strong>nçar a Baiana, como <strong>da</strong>nçou, no mês <strong>do</strong> Rosário <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1838, exibin<strong>do</strong>-se em casas<br />

particulares e <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> para o público, no segun<strong>do</strong> e no terceiro <strong>do</strong>mingo <strong>do</strong> mês <strong>do</strong> Rosário, 14 e 21<br />

* Provisões e registros <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – Séculos XVI e XVII. (N.A.)


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<strong>de</strong> outubro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1838. E <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> há provas nos Registros <strong>de</strong> Licenças <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara Municipal <strong>da</strong> Corte e no termo firma<strong>do</strong> no Juiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paz, como <strong>de</strong> lei, a 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1838, e pelo qual o famoso <strong>da</strong>nçarino obrigava-se a conduzir-se com <strong>de</strong>cência e or<strong>de</strong>m na exibição <strong>da</strong><br />

sua <strong>da</strong>nça. O magistral intérprete <strong>da</strong> Baiana era tipo forte e impressionante <strong>de</strong> mameluco – filho <strong>de</strong><br />

português com índia – e nasci<strong>do</strong> na Bahia. Analfabeto, fazia-se acompanhar sempre <strong>de</strong> um empresárioprocura<strong>do</strong>r<br />

para cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus negócios. Em 1838, exercia essa função José Francisco <strong>de</strong><br />

Araújo Silva. Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s as maiores que nos foram cria<strong>da</strong>s, lamentavelmente, levaram-nos a <strong>de</strong>sistir<br />

<strong>da</strong>s pesquisas que, bem possível, nos <strong>da</strong>riam a conhecer o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Antônio Faustino <strong>de</strong> Paula, on<strong>de</strong> e<br />

como terminou a sua existência.<br />

Largo <strong>do</strong> Rosário – 1813/1830<br />

Terreno <strong>de</strong> 10,5 braças <strong>de</strong> frente, junto à igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e São Benedito, e<br />

<strong>do</strong> qual era posseiro Maria Esperidiana <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Pizarro, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> filha e her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

monsenhor José <strong>de</strong> Souza Azeve<strong>do</strong> Pizarro e Araújo, filósofo e historia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> nomea<strong>da</strong>. monsenhor<br />

Pizarro legitimou a sua filha por escritura pública, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1813, ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong> aquiescência<br />

<strong>do</strong>s únicos parentes e her<strong>de</strong>iros <strong>da</strong>quele sacer<strong>do</strong>te, os seus sobrinhos, filhos <strong>de</strong> Bartolomeu Júlio Pizarro,<br />

resi<strong>de</strong>ntes em Santos, São Paulo. O alvará régio, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1814, confirmou a legitimação e<br />

investiu a legitima<strong>da</strong> na posse <strong>de</strong> bens materiais, <strong>de</strong> títulos, privilégios e regalias <strong>de</strong> que gozava o seu<br />

ilustre pai.<br />

A senhora Maria Esperidiana <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Pizarro <strong>de</strong> fina educação e instruí<strong>da</strong>, era muito<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, por seus <strong>do</strong>tes intelectuais e suas virtu<strong>de</strong>s morais. Em 1830, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong><br />

15 <strong>de</strong> setembro, a pedi<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma senhora, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u-lhe o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno em apreço.<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1785/1840<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Fogo, entre o largo <strong>do</strong> Capim e a rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res,<br />

nos limites <strong>do</strong> antigo campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Era posseiro <strong>de</strong>sse terreno, por aforamento <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, o rico homem <strong>de</strong> negócio e gran<strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> Bartolomeu Macha<strong>do</strong><br />

Ferreira, casa<strong>do</strong> com Joana Inácia <strong>da</strong> Luz, também proprietária e rica. Extinto o casal, por morte, o<br />

terreno e benfeitorias, casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e outros bens ficaram pertencen<strong>do</strong> a Delfina Ferreira e a Maria<br />

Joaquina <strong>do</strong> Bonsucesso, casa<strong>da</strong> com o dr. Felipe Gomes <strong>de</strong> Matos. O casal Gomes <strong>de</strong> Matos <strong>de</strong>ixou<br />

uma filha trazen<strong>do</strong> o mesmo nome <strong>de</strong> sua mãe. Em atingin<strong>do</strong> a maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, Maria Joaquina casou-se<br />

logo. Péssimo casamento, que lhe arruinou a existência. Esse mau mari<strong>do</strong>, que fez sofrer a sua esposa,<br />

reduzin<strong>do</strong>-a ain<strong>da</strong> à miséria, chamava-se Zeferino José Pinto <strong>de</strong> Magalhães. Enviuvan<strong>do</strong>, a pobre<br />

senhora viu-se na contingência, pelo assédio <strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>res, a entregar à praça <strong>de</strong> execução as suas<br />

maiores proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, entre as quais <strong>do</strong>is prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, então nºs 18 e 20, à rua <strong>do</strong> Fogo. O 18 foi<br />

arremata<strong>do</strong> por Felipe Caetano Viana e o 20 por Antônio Francisco Chaves. O maior e irreconciliável<br />

cre<strong>do</strong>r foi Manoel Pláci<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paiva, que recusou to<strong>da</strong> e qualquer concor<strong>da</strong>ta, inician<strong>do</strong> logo o processo<br />

<strong>de</strong> execução e que levou a efeito no fim <strong>de</strong> 1839. Dos <strong>do</strong>is precita<strong>do</strong>s arrematantes, somente Chaves<br />

pediu e obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> prédio que arrematava.<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1808/1844<br />

Terreno corren<strong>do</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Fogo, a começar <strong>do</strong> canto <strong>da</strong> rua Estreita <strong>de</strong> São Joaquim –<br />

agora, Marechal Floriano – e in<strong>do</strong> terminar na <strong>da</strong>s Violas – atual Teófilo Otoni – à mão direita,<br />

caminhan<strong>do</strong> para São Francisco <strong>de</strong> Paula. O terreno tinha quatro braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> pelas ditas ruas Estreita


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<strong>de</strong> São Joaquim e <strong>da</strong>s Violas, como foi verifica<strong>do</strong> por ocasião <strong>da</strong> arruação, feita em 1821, para as obras<br />

<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> edifício que ocupava o terreno em apreço. Edificação já bem antiga ao tempo <strong>de</strong>ssas obras e<br />

<strong>de</strong> muita soli<strong>de</strong>z, pedra e cal, e que formava em um só corpo <strong>do</strong>is prédios resi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, nºs<br />

30 e 32. Pertenceram ao capitão-<strong>de</strong>-mar-e-guerra José Domingos Moncorvo, <strong>de</strong> antiga e ilustre família<br />

carioca.<br />

Em morren<strong>do</strong> o capitão Moncorvo, passaram os imóveis aos filhos <strong>do</strong> fina<strong>do</strong> – José Domingos<br />

<strong>de</strong> Ataí<strong>de</strong> Moncorvo e Luiza Francisca Moncorvo Moutinho, casa<strong>da</strong> com o conselheiro Luiz Moutinho<br />

<strong>de</strong> Lima Alves e Silva. Nesse edifício fun<strong>do</strong>u-se, em 24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1821, a Loja Maçônica Comércio<br />

e Artes, on<strong>de</strong> se fizeram reuniões secretas em prol <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil. Em 1844, aparece José<br />

Domingos Ataí<strong>de</strong> Moncorvo, como único <strong>do</strong>no <strong>do</strong>s prédios nºs 30 e 32 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo e nessa quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

pediu e obteve, por <strong>de</strong>spacho <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1844, o aforamento <strong>do</strong> terreno<br />

em que estavam eles construí<strong>do</strong>s.<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1808/1850<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente no alinhamento <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo, face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Capim,<br />

e ocupa<strong>do</strong> por duas casas térreas nºs 51 e 53. Edificação ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> tempo <strong>da</strong>s urupemas, * essas casas<br />

foram reforma<strong>da</strong>s, em 1808, pela sua proprietária, Joana Maria <strong>de</strong> Jesus, antiga foreira <strong>do</strong> terreno. Da<br />

referi<strong>da</strong> senhora, foi her<strong>de</strong>iro Rodrigo Antônio <strong>da</strong> Costa Andra<strong>de</strong>, o qual, sen<strong>do</strong> homem <strong>de</strong> iniciativas<br />

progressistas e, além disso, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> outros prédios mo<strong>de</strong>rnos – e bem rico, transformou as duas velhas<br />

urupemas, radicalmente, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a <strong>de</strong> nº 51, em julho <strong>de</strong> 1833, a Jerônimo Ferreira Neves, outro<br />

proprietário ricaço.<br />

Em setembro <strong>de</strong> 1837, já a antiga casa 51 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo havia si<strong>do</strong> transforma<strong>da</strong> em prédio <strong>de</strong><br />

loja e sobra<strong>do</strong> e era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Francisca Antonia <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong>, por compra que fizera ao precita<strong>do</strong><br />

proprietário Jerônimo Ferreira Neves e pela quantia <strong>de</strong> 13.800$. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1837, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento, que havia si<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> pela referi<strong>da</strong> senhora,<br />

relativo à parte <strong>do</strong> terreno ocupa<strong>da</strong> pelo prédio 51, manten<strong>do</strong>, porém, o foro estipula<strong>do</strong> o to<strong>do</strong>, que era<br />

<strong>de</strong> mil quatrocentos réis anuais. Em novembro <strong>de</strong> 1848, a dita proprietária ven<strong>de</strong>u o prédio e também o<br />

<strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> respectivo terreno, por 15:000$, a Zebe<strong>de</strong>u Jacomo Tasso, comerciante e proprietário<br />

rico e ao qual a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u um novo aforamento, sob as mesmas condições <strong>do</strong><br />

anterior.<br />

Rua <strong>do</strong> Fogo – 1844<br />

Terreno <strong>de</strong> 2.5 braças ocupa<strong>do</strong> por um prédio nº 18, que pertencera a Felix Caetano Viana e que,<br />

na praça <strong>do</strong>s seus bens, para liqui<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> inventário, foi arremata<strong>do</strong> por Jesuino Antônio Horta, a quem<br />

a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u aforamento <strong>do</strong> terreno, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1844.<br />

Caetano Viana possuíra o dito prédio, também em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrematação em praça <strong>de</strong> cre<strong>do</strong>res, <strong>de</strong><br />

Zeferino José Pinto <strong>de</strong> Magalhães. ** Pinto <strong>de</strong> Magalhães foi casa<strong>do</strong> com a neta <strong>de</strong> Bartolomeu Macha<strong>do</strong><br />

Ferreira, enfiteuta <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara já no mea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVIII, pela posse <strong>de</strong> vastos terrenos <strong>da</strong><br />

chácara <strong>do</strong> Fogo, que se retalhou para a formação <strong>do</strong> Rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O quarteirão que nos nossos dias compreen<strong>de</strong> as ruas Uruguaiana – antiga <strong>da</strong> Vala – Andra<strong>da</strong>s –<br />

outrora, <strong>do</strong> Fogo – Conceição – anteriormente, Pedreira – e Marechal Floriano – antiga Estreita <strong>de</strong> São<br />

Joaquim – formou-se to<strong>do</strong> ele <strong>de</strong> terrenos foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pelas origens<br />

seguintes: a) sesmaria concedi<strong>da</strong> por Estácio <strong>de</strong> Sá, em 1565, confirma<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong> por Mem <strong>de</strong> Sá,<br />

em 1567, medi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>marca<strong>da</strong>, e por fim julga<strong>da</strong> por sentença, em 1757; b) sesmaria concedi<strong>da</strong>, a 26 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1667, <strong>da</strong>s terras que sobejaram pelo rumo que tomou a medição <strong>da</strong> sesmaria <strong>de</strong> 1567, sen<strong>do</strong> que<br />

a sesmaria <strong>de</strong> 1667 ficou chama<strong>da</strong> sesmaria <strong>do</strong>s Sobejos e foi confirma<strong>da</strong> pela carta régia <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> janeiro<br />

*Urupema: teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> palha forte, espécie <strong>de</strong> esteira, que tapava as portas e janelas <strong>da</strong>s casas pobres (N.A.)<br />

** Vi<strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Fogo – 1785/1840. (N.A.)


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<strong>de</strong> 1794; c) aforamentos que por to<strong>da</strong> a região extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foram sen<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong>s pela<br />

Câmara Municipal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVII, sem estorvo e nem con<strong>de</strong>nação.<br />

Dos primitivos e vastos aforamentos, os novos e menores prazos que vieram a formar, no <strong>de</strong>correr<br />

<strong>do</strong> século XVII, várias chácaras no chama<strong>do</strong> campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – ou seja, to<strong>da</strong> a planície <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fosso –<br />

on<strong>de</strong> corre a rua Uruguaiana – até o gran<strong>de</strong> mangal – São Diogo. Dessas chácaras, apenas interessa tratar<br />

a chácara <strong>da</strong> Conceição e a chácara <strong>da</strong> Mitra, que eram místicas.<br />

Chácara <strong>da</strong> Conceição<br />

A chácara <strong>da</strong> Conceição ocupava, em 1707, extensa área, com testa<strong>da</strong> on<strong>de</strong>, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, corre<br />

o la<strong>do</strong> impar <strong>de</strong> rua <strong>de</strong> São Pedro, poucos metros acima <strong>da</strong> rua Uruguaiana até a aveni<strong>da</strong> Passos. Tinha<br />

fun<strong>do</strong>s além <strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Conceição, intestan<strong>do</strong> com o litoral <strong>do</strong> Valongo. À esquer<strong>da</strong>, confrontava com<br />

a chácara <strong>da</strong> Mitra e, à direita, com o caminho <strong>do</strong> Valongo – atual rua Camerino – que servia <strong>de</strong> divisa<br />

com a chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>. A chácara <strong>da</strong> Conceição pertenceu, até 1717, a Maria Pereira Fulgêncio, a<br />

quem foi compra<strong>da</strong>, no dito ano, pelo alferes Antônio Coelho Lobo e <strong>de</strong>ste passou, por sucessão, a<br />

Antônio Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Castilho, a Julião Antunes <strong>da</strong> França, genro <strong>de</strong> Castilho, a Julião José <strong>de</strong> Oliveira,<br />

sobrinho <strong>de</strong> França e, por último, a Pedro Antônio <strong>de</strong> Oliveira, filho <strong>de</strong> Julião José <strong>de</strong> Oliveira, que<br />

faleceu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1792. Em terras <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Conceição, foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

em mil setecentos réis anuais, foram abertas as ruas Estreita <strong>de</strong> São Joaquim, Prainha – antigo trecho<br />

final, – Andra<strong>da</strong>s e Conceição, a partir <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Pedro – esta <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>, em 1944, com a abertura<br />

<strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas.<br />

Chácara <strong>da</strong> Mitra<br />

A chácara <strong>da</strong> Mitra ocupava uma área aproxima<strong>da</strong> à <strong>da</strong> Conceição, com a qual confinava à direita.<br />

Já em 1850, a chácara <strong>da</strong> Conceição estava bem reduzi<strong>da</strong> pelos cortes que vinha sofren<strong>do</strong>,<br />

compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a sua testa<strong>da</strong>, no precita<strong>do</strong> ano, apenas o trecho <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Prainha, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o prédio 86 até a la<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> Conceição, on<strong>de</strong> ficava o Aljube. To<strong>do</strong> o chão <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Mitra é foreiro<br />

à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e sempre assim ti<strong>do</strong> e havi<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a formação <strong>da</strong> chácara, no<br />

século XVII. * Ain<strong>da</strong> foreiros à dita municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, são to<strong>do</strong>s os terrenos <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas, compreendi<strong>da</strong> esta via pública, até o largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula. São<br />

provas suficientes as concessões feitas pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, no começo <strong>do</strong> século XVIII, após a<br />

<strong>de</strong>marcação <strong>do</strong> rossio <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e as <strong>de</strong>liberações <strong>da</strong>quela respeitável assembléia concernentes aos<br />

terrenos <strong>de</strong> Pedro Dias Paes Leme e <strong>do</strong> secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>. Esses terrenos<br />

estavam compreendi<strong>do</strong>s na área entre o largo <strong>do</strong> Rosário e o <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula.<br />

A rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s é <strong>da</strong>s primitivas vias públicas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Na sua origem, um estreito caminho, com ligeira sinuosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Capueruçu – agora, <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, in<strong>do</strong> terminar na gran<strong>de</strong> pedreira <strong>do</strong> Julião e <strong>da</strong>í a <strong>de</strong>nominação primitiva <strong>de</strong> caminho <strong>da</strong><br />

Pedreira. Com a localização <strong>de</strong> uma fábrica <strong>de</strong> pirotécnica no trecho final <strong>da</strong> via pública, junto à Valinha,<br />

passou, então, a ser chama<strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo. O nome <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong>s, que ain<strong>da</strong> conserva, é justa homenagem<br />

aos Andra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ilustre família paulista, à qual pertence o patriarca <strong>da</strong> nossa In<strong>de</strong>pendência – José<br />

Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Silva, o mais velho <strong>do</strong>s irmãos Andra<strong>da</strong>s – três irmãos. A rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s corre<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula até a rua <strong>da</strong> Prainha, sen<strong>do</strong> que, <strong>do</strong> seu começo até a rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, trecho que se cor<strong>de</strong>ou por último, constitui a testa<strong>da</strong> <strong>do</strong> rossio <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou, também, campo<br />

<strong>do</strong> Rosário. Esse rossio, <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> em 1705, como já temos dito, veio a <strong>de</strong>saparecer em sua quase<br />

totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com os cortes que se fizeram por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, facultan<strong>do</strong> melhor<br />

<strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros públicos, construção <strong>da</strong> casaria e maior ren<strong>da</strong> aos cofres municipais, com<br />

os aforamentos <strong>do</strong>s terrenos que sobejaram. Assim, <strong>do</strong> extenso e projeta<strong>do</strong> rossio apenas duas pequenas<br />

* Para confirmação, basta a narrativa <strong>do</strong> monsenhor Pizarro e Araújo, no tomo 7, fls. 243, <strong>da</strong>s suas Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e, também,<br />

Baltazar Lisboa, no livro 7, págs. 364 a 369, <strong>do</strong>s Anais. (N.A.)


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áreas permaneceram como logra<strong>do</strong>uro publico: o largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula e o pequeno largo <strong>do</strong><br />

Rosário, que também se chamou ilharga <strong>da</strong> Sé Velha. Os aforamentos pratica<strong>do</strong>s pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, por influência política, <strong>de</strong>ram origem a abusos <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a espécie, com prejuízo público. O<br />

aforamento consegui<strong>do</strong> pelo secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>, e o obti<strong>do</strong> pelo guar<strong>da</strong>mor<br />

<strong>da</strong>s Minas Gerais – Pedro Dias Paes Leme —, motivaram o trancamento, pelos ditos beneficia<strong>do</strong>s,<br />

<strong>do</strong> trecho <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo, entre o largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula e o <strong>do</strong> Rosário. Somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

1742, franqueou-se <strong>de</strong> novo esse trecho <strong>da</strong> rua à servidão pública, por um golpe <strong>de</strong>cisivo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara contra a chicana <strong>do</strong>s embargos.<br />

O trecho <strong>da</strong> rua teve a sua cor<strong>de</strong>ação – abertura – bem <strong>de</strong>mora<strong>da</strong> pelas intermitências que sofreu<br />

com as sentenças judiciais manutenin<strong>do</strong> posseiros no <strong>do</strong>mínio útil <strong>de</strong> terrenos que eram, justamente, os<br />

necessários à abertura <strong>da</strong> rua. Na sua maior porção, esses terrenos <strong>de</strong>smembraram-se <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Coqueiro, que pertencia ao coronel Julião José Oliveira e foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, em mil e setecentos<br />

réis anuais.<br />

No livro 6 <strong>de</strong> Aforamentos concedi<strong>do</strong>s pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, às fls.77v., aparece curioso<br />

registro localizan<strong>do</strong> fronteiro ao rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> o prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> que, mais tar<strong>de</strong>, constituiu o<br />

segun<strong>do</strong> ângulo <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, no encontro ou cruzamento com a <strong>do</strong> Fogo, à mão direita, vin<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> largo <strong>de</strong> São Francisco. Esse prédio, que alcançou os nossos dias, figurou com o nº 156 até os últimos<br />

anos <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>. Quase ao fim <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s, tornan<strong>do</strong> rápi<strong>da</strong> a comunicação entre a<br />

Prainha e o Valongo, abriu-se, ain<strong>da</strong> no século XVIII, uma passagem, in<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo à <strong>da</strong><br />

Conceição. Essa pequena via pública chamou-se, até 1871, passagem ou travessa <strong>da</strong> Pedreira. A 21 <strong>de</strong><br />

março, <strong>da</strong>quele dito ano, a Ilustríssima Câmara <strong>de</strong>u-lhe a <strong>de</strong>nominação oficial <strong>de</strong> travessa <strong>do</strong> Oliveira,<br />

sobrenome <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão que, à sua custa e em terrenos seus, abrira o dito logra<strong>do</strong>uro.<br />

Largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula – 1725/1841<br />

Terreno corren<strong>do</strong> frente pelo largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r até a<br />

travessa <strong>do</strong> Rosário, com fun<strong>do</strong>s corri<strong>do</strong>s até a rua <strong>da</strong> Vala – atual, Uruguaiana –, on<strong>de</strong> fazia outra frente<br />

com igual extensão <strong>da</strong> primeira cita<strong>da</strong>. *<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um edital <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, publica<strong>do</strong> em março <strong>de</strong> 1725, sobre a praça <strong>de</strong><br />

arrematação <strong>de</strong> terrenos <strong>do</strong> antigo rossio <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, no campo <strong>de</strong> São Domingos, João Barbosa<br />

Calheiros, conceitua<strong>do</strong> e rico homem <strong>de</strong> negócio, arrematou o terreno motivo <strong>de</strong>stas notas, pelo foro<br />

anual <strong>de</strong> 160 réis a braça. O título <strong>de</strong>sse aforamento foi man<strong>da</strong><strong>do</strong> expedir na vereança <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1725. Do terreno que arrematou, Calheiros <strong>de</strong>smembrou oito braças <strong>de</strong> frente<br />

pela rua <strong>da</strong> Vala, conta<strong>da</strong>s <strong>do</strong> canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r para a ban<strong>da</strong> <strong>do</strong> Rosário ou Sé Velha, e fun<strong>do</strong>s<br />

no largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, on<strong>de</strong> se contaram as mesmas oito braças. Essa <strong>de</strong>smembração foi<br />

vendi<strong>da</strong> por Calheiros, em 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1744, à Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Rosário, escritura em notas <strong>do</strong> tabelião<br />

Francisco Xavier <strong>da</strong> Silva. Por sua vez, a dita Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>smembrou <strong>da</strong> sua posse uma porção <strong>de</strong> 8<br />

braças <strong>de</strong> frente no largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula – ou seja, to<strong>da</strong> a frente nesse largo <strong>do</strong> terreno, que<br />

comprara a Calheiros, por <strong>de</strong>zessete braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s pela rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, e que ven<strong>de</strong>u a Simão<br />

Barbosa Barreto <strong>de</strong> Menezes, com carta <strong>de</strong> aforamento a 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1748. Simão Barbosa faleceu<br />

em 1749, e as oito braças <strong>de</strong> terreno que comprara, já com benfeitorias, passaram ao seu filho – Salva<strong>do</strong>r<br />

<strong>da</strong> Fonseca Souto Maior —, o qual pediu ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara uma nova carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno<br />

que her<strong>da</strong>ra, e que obteve a 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1750. O sucessor <strong>de</strong> Souto Maior na posse <strong>do</strong> terreno foi<br />

Jerônimo Teixeira Lobo e <strong>de</strong>ste, por compra, foi o cônego José <strong>de</strong> Souza Ribeiro <strong>de</strong> Araújo.<br />

Do referi<strong>do</strong> sacer<strong>do</strong>te passou o terreno a uma sua sobrinha <strong>de</strong> nome Antonia Maria Pizarro e por<br />

fim, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança, o imóvel veio a pertencer ao monsenhor José <strong>de</strong> Souza Azeve<strong>do</strong> Pizarro e<br />

Araújo, notável historia<strong>do</strong>r, autor <strong>da</strong> famosa obra histórica – Memórias Históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

monsenhor faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, repentinamente, a 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1830, no Jardim Botânico,<br />

quan<strong>do</strong>, <strong>do</strong> seu hábito, <strong>da</strong>va ali o seu passeio – <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e recreio. To<strong>do</strong>s os bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pelo ilustre<br />

sacer<strong>do</strong>te passaram à sua filha Maria Esperidiana <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Pizarro <strong>da</strong> Costa Pereira, como já<br />

<strong>de</strong>ixamos dito, senhora <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> trato social, estima e respeito. Era casa<strong>da</strong> com André Pinto Duarte <strong>da</strong><br />

* Vi<strong>de</strong> cap. XII, “Bairro Comercial – rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r – 1705/1877 – Notas”. (N.A.)


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Costa Pereira. Entre os bens her<strong>da</strong><strong>do</strong>s pela dita senhora estavam o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno em causa e os<br />

três prédios nele construí<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> nºs 32, 34 e 36, os quais vieram a ser vendi<strong>do</strong>s a Antônio Laurêncio<br />

Correia e José Alves Correia. O <strong>de</strong> nº 36 ficava no canto <strong>da</strong> travessa <strong>do</strong> Rosário e era ocupa<strong>do</strong> pela<br />

cocheira <strong>do</strong> Miran<strong>da</strong>, <strong>de</strong> Joaquim José <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, que alugava carruagens <strong>de</strong> luxo: coupês, caleches,<br />

carros e cabriolés.<br />

Largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula – 1747/1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 39 braças e 12 palmos, entre as ruas <strong>do</strong> Fogo – atual, Andra<strong>da</strong>s – e <strong>da</strong> Conceição, com<br />

17 braças pela dita rua e 138 ditas pela <strong>da</strong> Conceição. Esse terreno, a princípio, formava quatro porções<br />

distintas e que se reuniram em um to<strong>do</strong> para formar um só aforamento, trazen<strong>do</strong>, porém, origens<br />

diferentes. Excluem-se <strong>da</strong>s cita<strong>da</strong>s 39 braças e 12 palmos as porções larga<strong>da</strong>s em benefício <strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

pública, e que foram duas <strong>de</strong> 3 braças e 4 palmos ca<strong>da</strong> uma, tira<strong>da</strong>s nas extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> terreno, para a<br />

abertura <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Fogo e <strong>da</strong> que ia para a pedreira e dita <strong>da</strong> Conceição.<br />

Discriminaremos, a seguir, as quatro porções que constituíram o terreno em apreço, como matéria<br />

<strong>de</strong> divulgação interessante.<br />

1ª porção – Seis braças no canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s, afora<strong>da</strong>s a Tomás <strong>de</strong> Aquino César que as<br />

comprara ao cônego Roque <strong>da</strong> Mace<strong>do</strong> Paes Leme, filho <strong>do</strong> guar<strong>da</strong>-mor <strong>da</strong>s Minas Gerais Pedro Dias<br />

Paes Leme, o qual foi o primeiro posseiro <strong>do</strong> terreno por título <strong>de</strong> aforamento que lhe conce<strong>de</strong>u o Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara, em 1747, mediante o foro anual <strong>de</strong> 960 réis.<br />

2ª porção – Outras seis braças em seguimento às já referi<strong>da</strong>s e também possuí<strong>da</strong>s por Tomás <strong>de</strong><br />

Aquino César, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra que fizera, no ano <strong>de</strong> 1792, a Antônio Gonçalves Le<strong>do</strong>, o qual as<br />

arrematara na praça <strong>do</strong> seqüestro <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong>s jesuítas e a esses religiosos tinham si<strong>do</strong> vendi<strong>da</strong>s pelo<br />

cônego Henrique Moreira <strong>de</strong> Carvalho, primitivo foreiro por título concedi<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara,<br />

em 1748. Nessas seis braças, os Jesuítas edificaram um sóli<strong>do</strong> e vasto prédio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is sobra<strong>do</strong>s no qual<br />

instalaram a sua famosa Casa <strong>da</strong> Aula – que <strong>de</strong>veria ser transforma<strong>da</strong> em um seminário superior, não<br />

fora a expulsão <strong>do</strong>s ilustres religiosos – aos quais, repitamos palavras <strong>de</strong> Max Fleiuss, coube a mais alta<br />

e <strong>de</strong>lica<strong>da</strong> missão, como elementos forma<strong>do</strong>res <strong>da</strong> nossa civilização.<br />

3ª porção – Dezoito braças em seguimento às prece<strong>de</strong>ntes e que foram também possuí<strong>da</strong>s por<br />

Tomás <strong>de</strong> Aquino César, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrematação em praça <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, por comisso em<br />

que incorreu a enfiteuta Maria Barbosa, filha <strong>de</strong> Bento Gomes Freire, antigo foreiro. Nas ditas <strong>de</strong>zoito<br />

braças estavam assentes quatro prédios, sen<strong>do</strong> um no largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula e três na rua <strong>da</strong><br />

Lampa<strong>do</strong>sa – atual Luiz <strong>de</strong> Camões. Em 1860, esses prédios tinham a seguinte numeração : nº 14 para<br />

o <strong>do</strong> largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, e 2, 4 e 6 para os <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa.<br />

4ª porção – Nove braças e 12 palmos afora<strong>do</strong>s a Vitória Forjaz Paes Leme, em 1747, com quatro<br />

prédios. Em 1859, to<strong>do</strong>s esses quatro prédios, <strong>de</strong> pedra e cal, ain<strong>da</strong> se mostravam bem conserva<strong>do</strong>s e<br />

figuravam no Rol <strong>da</strong>s Décimas com os nºs 8 a 14 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, canto <strong>da</strong> Conceição, on<strong>de</strong><br />

também existiam três prédios <strong>de</strong> nºs 2 a 6, bem conserva<strong>do</strong>s.<br />

Largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula<br />

Logra<strong>do</strong>uro <strong>do</strong>s primitivos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, o largo <strong>de</strong> São<br />

Francisco <strong>de</strong> Paula resultou <strong>da</strong>s <strong>de</strong>marcações que se fizeram no começo <strong>do</strong> século XVIII, no intuito <strong>de</strong><br />

formar-se um gran<strong>de</strong> rossio para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e que se <strong>de</strong>marcou em <strong>de</strong>finitivo no ano <strong>de</strong> 1705. Por fim,<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> a idéia <strong>do</strong> rossio, o terreno a ele <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>, na quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi afora<strong>do</strong>, reduzin<strong>do</strong>-se <strong>da</strong><br />

projeta<strong>da</strong> praça ou recio, como diziam os antigos, e não rocio que, <strong>de</strong> fato, significa chuva miú<strong>da</strong>,<br />

orvalho. Quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>marcação <strong>da</strong> área <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à construção <strong>da</strong> Sé Nova, em 1749, fizeram-se novas<br />

retificações nos alinhamentos <strong>da</strong>s faces <strong>do</strong> recio, fican<strong>do</strong>, então, <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> a praça ou largo – que<br />

chegou aos nossos dias com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula e ufano <strong>de</strong> tradições. A


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20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1749, lançou-se a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> Sé Nova, cuja construção foi logo inicia<strong>da</strong> e a<br />

obra prosseguiu, diz monsenhor Pizarro e Araújo, com esperança <strong>de</strong> se concluir em tempo breve. Tal não<br />

aconteceu, porque, em 1752, por falta <strong>de</strong> dinheiro, pararam as obras e ain<strong>da</strong> para<strong>da</strong>s estavam em 1796.<br />

Afinal, a Sé Nova veio a ser transforma<strong>da</strong> em um edifício no qual se instalou a Aca<strong>de</strong>mia Militar, <strong>de</strong>pois<br />

a Escola Central e, por fim, a Escola Politécnica.<br />

Embora não reconheci<strong>do</strong>s em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s trechos, to<strong>do</strong>s os terrenos que na formação <strong>do</strong> largo<br />

<strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula são foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e disto há provas em vários<br />

códices manuscritos sobre logra<strong>do</strong>uros públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s no importante Arquivo Municipal. A nominação que lhe <strong>de</strong>ram <strong>de</strong> praça Coronel Tamarin<strong>do</strong><br />

não prevaleceu e ele continua a ser o largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula – on<strong>de</strong> sempre se proclamaram os<br />

nossos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, e o povo <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, cônscio e sem me<strong>do</strong>, se reunia para gritar bem alto o<br />

seu protesto e a revolta contra os <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s e as opressões <strong>do</strong>s governantes. Era ali, na estátua <strong>de</strong> José<br />

Bonifácio, o Patriarca <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência, a tribuna <strong>do</strong> Povo, antes e bem antes <strong>de</strong> aparecer a esca<strong>da</strong>ria<br />

granfina <strong>do</strong> Teatro Municipal.<br />

Na antiga ilharga <strong>de</strong> São Francisco – hoje rua Tucuman, funcionou o afama<strong>do</strong> Teatro Chabres, <strong>de</strong><br />

F. Chabres, francês, resi<strong>de</strong>nte no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, à rua <strong>do</strong>s Ourives, 80. Chabres, por ser muito amigo<br />

<strong>da</strong>s artes <strong>de</strong> cena viva, pediu permissão às autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s competentes para arrumar um teatrinho, entre os<br />

nºs 27 e 29 <strong>da</strong> antiga ilharga <strong>de</strong> São Francisco. * Esse pedi<strong>do</strong> registrou-se na Secretaria <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara no fim <strong>de</strong> janeiro, <strong>de</strong> 1833 e a 14 <strong>do</strong> mês seguinte, foi a licença concedi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> discuti<strong>da</strong>s<br />

e estipula<strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m técnica e <strong>de</strong> moral para o funcionamento <strong>do</strong> teatro. O teatrinho <strong>do</strong><br />

Augusto Malta, 1906 – Largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula.<br />

* A ilharga <strong>de</strong> São Francisco ficava no la<strong>do</strong> oposto <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> (2 a porção), portanto, não po<strong>de</strong>ria ser contínua à mesma (N.C.).


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francês, <strong>de</strong>pois chama<strong>do</strong> São Francisco e Ginásio, segun<strong>do</strong> Noronha Santos, tinha duas entra<strong>da</strong>s, uma<br />

pela antiga ilharga com três portas, sen<strong>do</strong> a entra<strong>da</strong> principal. A outra, pela rua <strong>do</strong> Cano – agora, Sete <strong>de</strong><br />

Setembro – com duas portas e privativa <strong>do</strong>s artistas e <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> teatro. O teatrinho <strong>do</strong> francês veio<br />

a ser reconstruí<strong>do</strong> e melhora<strong>do</strong> pelo insigne ator brasileiro João Caetano <strong>do</strong>s Santos. Tinha três or<strong>de</strong>ns<br />

<strong>de</strong> camarotes e a tribuna imperial. Depois <strong>de</strong> reforma<strong>do</strong>, e reaberto com um espetáculo <strong>de</strong> gala por uma<br />

companhia organiza<strong>da</strong> e dirigi<strong>da</strong> por João Caetano, recebeu o teatro, a 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1855, o nome <strong>de</strong><br />

Ginásio Dramático. Nesse teatro instalou-se a Imperial Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ópera Nacional, a 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1857, ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong>, após a sessão inaugural <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia, a representação <strong>da</strong> peça Estréia <strong>de</strong> uma<br />

Artista. No Ginásio Dramático foi representa<strong>da</strong>, e muita aplaudi<strong>da</strong>, a ópera Noite <strong>de</strong> castelo, <strong>de</strong> Carlos<br />

Gomes. Segun<strong>do</strong> cronistas e estudiosos <strong>do</strong> nosso teatro, foi no palco <strong>do</strong> Ginásio Dramático que se fez<br />

conheci<strong>da</strong>, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a escola realista. Também, na rua <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, existiu mais<br />

uma outra casa <strong>de</strong> espetáculos <strong>de</strong> comédias e dramas <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Teatro São Luiz, construí<strong>da</strong> pelo<br />

notável ator Furta<strong>do</strong> Coelho, e inaugura<strong>da</strong> a 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1870, com a Morgadinha <strong>do</strong> Val-flor, <strong>de</strong><br />

Pinheiro Chagas.<br />

Augusto Malta, s/d – Praça Tira<strong>de</strong>ntes, ven<strong>do</strong>-se o teatro São Pedro (atual João Caetano).


Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1721/1782<br />

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Terreno <strong>de</strong> extensa frente, começan<strong>do</strong> <strong>da</strong> capela <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa e terminan<strong>do</strong> na rua <strong>de</strong> São Jorge,<br />

por on<strong>de</strong> corria fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> duas e meia braças e estava ocupa<strong>do</strong>, junto à capela, por duas casas térreas<br />

pertencentes a Ursula <strong>de</strong> Queiroz <strong>de</strong> quem passaram, por compra, ao casal Manoel Gomes <strong>de</strong> Souza e<br />

Maria Rosa <strong>de</strong> Jesus. Enviuvan<strong>do</strong>, Rosa <strong>de</strong> Jesus casou, segun<strong>da</strong> vez, com Domingos Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong><br />

e já possui<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> fortuna em prédios, nota<strong>da</strong>mente no antigo caminho <strong>de</strong> Fernão Gomes. * A 6 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1782, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u ao casal Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong> o aforamento <strong>do</strong> terreno em apreço<br />

pelo tempo <strong>de</strong> duas vi<strong>da</strong>s e ao foro anual <strong>de</strong> duas patacas. As antigas casas térreas existentes no terreno,<br />

por se acharem bem arruina<strong>da</strong>s, foram <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>s e levantaram-se sóli<strong>do</strong>s prédios, por to<strong>da</strong> a frente <strong>do</strong><br />

terreno. Da gran<strong>de</strong> chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes, já em comisso em 1690, saiu esse terreno. A dita chácara,<br />

posta em praça pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a 19 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1721, foi arremata<strong>da</strong> por José <strong>de</strong> Vargas<br />

Pizarro, capitão miliciano e escrivão <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Em morren<strong>do</strong> Pizarro, a sua viúva Leonor<br />

Maria <strong>de</strong> Vasconcelos Pizarro completou o <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara, ten<strong>do</strong> antes vendi<strong>do</strong> uma<br />

extensa porção a Pedro Coelho <strong>da</strong> Silva, porção que se dividiu, também, em diversos lotes vendi<strong>do</strong>s a<br />

bom dinheiro. Dessa porção é o lote <strong>de</strong> terreno objeto <strong>de</strong>sta ligeira notícia e também to<strong>da</strong> área<br />

compreendi<strong>da</strong> nos nossos dias pela aveni<strong>da</strong> Passos, praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência – antiga Tira<strong>de</strong>ntes – e pelas<br />

ruas Gonçalves Le<strong>do</strong> e Senhor <strong>do</strong>s Passos.<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1818/1846<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente, com duas casas térreas, que pertenceram a João Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Carvalho, até 1818. Neste ano, foi o dito proprietário executa<strong>do</strong> pela Ouvi<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> Comarca e as casas<br />

leva<strong>da</strong>s à praça <strong>da</strong> execução, em 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1818, sen<strong>do</strong> arremata<strong>da</strong>s, por 1:750$, pelo sogro <strong>de</strong><br />

Tristão Ramos <strong>da</strong> Silva, a quem, já em 1846, fomos encontrar como proprietário <strong>da</strong>s cita<strong>da</strong>s casas, então<br />

com os nºs 68 e 70. Para a abertura <strong>da</strong> rua, hoje dita Imperatriz Leopoldina, Tristão Ramos <strong>da</strong> Silva, em<br />

1846, num acor<strong>do</strong> amigável com a Fazen<strong>da</strong> Nacional, largou as casas em benefício àquela obra e recebeu<br />

em troca duas outras casas resi<strong>de</strong>nciais, à rua <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> e mais um armazém na mesma rua. Esses<br />

imóveis, próprios <strong>da</strong> Nação, foram estima<strong>do</strong>s em 7:200$ e as casas 68 e 70 em 9:200$, receben<strong>do</strong> Tristão<br />

a diferença <strong>de</strong> 2:000$ em moe<strong>da</strong> corrente, paga no ato <strong>da</strong> lavratura <strong>da</strong> escritura. A municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

senhorio direto <strong>do</strong> terreno, ratificou a transação em 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1846, e recebeu na mesma <strong>da</strong>ta, o<br />

respectivo laudêmio, na importância <strong>de</strong> 362$575.<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1855<br />

Terreno <strong>de</strong> 30 palmos <strong>de</strong> frente por 19 braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com um telheiro <strong>de</strong> fins industriais, ten<strong>do</strong><br />

o nº 24 e era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Antônio Marques <strong>de</strong> Oliveira. Fechava o terreno um alto frontispício <strong>de</strong><br />

pedra e cal, com portais <strong>de</strong> cantaria e portão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, pesa<strong>do</strong> e com ornamentações. O <strong>do</strong>mínio útil<br />

<strong>do</strong> terreno e as benfeitorias existentes foram vendi<strong>da</strong>s pelo precita<strong>do</strong> proprietário a Manoel Martins<br />

Marinhas, em maio <strong>de</strong> 1855, e pela quantia <strong>de</strong> 6:000$. Em 18 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1855, Marinhas<br />

obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o aforamento <strong>do</strong> terreno.<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa – 1861/1872<br />

Terreno <strong>de</strong> 52 palmos <strong>de</strong> frente por 176 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com <strong>do</strong>is prédios nºs 16 e 18, pertencentes<br />

ao tenente-general José Maria Pinto Peixoto e que, por morte <strong>de</strong>sse militar, foram à praça <strong>de</strong> órfãos,<br />

sen<strong>do</strong> arremata<strong>do</strong>s em outubro <strong>de</strong> 1861, pela quantia <strong>de</strong> vinte contos <strong>de</strong> réis, por João José Bourrel. Em<br />

* Trata-se <strong>da</strong> atual rua Senhor <strong>do</strong>s Passos. (N.C.)


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novembro <strong>de</strong> 1865, foram esses prédios vendi<strong>do</strong>s a João Ferreira <strong>de</strong> Carvalho, <strong>de</strong> quem foi her<strong>de</strong>iro uma<br />

irmã <strong>de</strong> nome Máxima Ferreira <strong>de</strong> Carvalho. No começo <strong>de</strong> 1872, a referi<strong>da</strong> senhora requereu o<br />

aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s prédios que her<strong>da</strong>ra <strong>do</strong> seu irmão, o que lhe foi concedi<strong>do</strong> por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong><br />

27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1872.<br />

Rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa<br />

A rua <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, atual Luiz <strong>de</strong> Camões, é logra<strong>do</strong>uro público <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVII.<br />

A princípio, estreito e curto caminho que se cor<strong>de</strong>ou para edificações, seguin<strong>do</strong> <strong>do</strong> rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> até<br />

topar a chácara <strong>do</strong> escrivão José <strong>de</strong> Vargas Pizarro. Chamou-se ilharga <strong>da</strong> Sé Nova e <strong>de</strong>pois rua <strong>da</strong><br />

Lampa<strong>do</strong>sa, com o aparecimento <strong>de</strong> uma capela <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à N.S. <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa. Posteriormente a 1846,<br />

levou-se a efeito o prolongamento <strong>de</strong>ssa via pública até o local on<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> hoje termina, que é na rua<br />

Gonçalves Le<strong>do</strong>, antiga São Jorge.<br />

Para a construção <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, Pláci<strong>do</strong> Antônio <strong>do</strong>s Santos <strong>do</strong>ou um terreno <strong>de</strong> 10<br />

braças <strong>de</strong> frente por vinte ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Em sen<strong>do</strong> o terreno foreiro ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, essa<br />

Assembléia <strong>de</strong>u a indispensável licença para que se efetivasse a <strong>do</strong>ação, confirma<strong>da</strong> pela provisão régia,<br />

<strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1747, registra<strong>da</strong> no livro 3º <strong>da</strong>s Or<strong>de</strong>ns Régias, fls. 155, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. A atual<br />

igreja <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa difere bastante <strong>da</strong> primitiva, nota<strong>da</strong>mente quanto à feição <strong>da</strong> sua frente. A Confraria<br />

<strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa era hóspe<strong>de</strong> <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Rosário, quan<strong>do</strong>, em 1744, o juiz Paulo <strong>da</strong> Costa Matos e<br />

mais irmãos <strong>da</strong> Mesa <strong>da</strong> dita Confraria, porque <strong>de</strong>sejassem fazer a sua capela e ter as suas sepulturas,<br />

que na igreja <strong>do</strong> Rosário lhes vendiam por alto preço, apresentaram ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara uma petição<br />

<strong>de</strong> mercê <strong>de</strong> concessão gratuita <strong>de</strong> uns chãos que existiam <strong>de</strong>volutos na várzea <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, in<strong>do</strong> para<br />

Gamboa, <strong>de</strong> frente à chácara <strong>do</strong> padre Manoel Gomes <strong>da</strong> Cruz, cujos chãos eram pertencentes ao mesmo<br />

Sena<strong>do</strong>, que os trazia afora<strong>do</strong>s ao licencia<strong>do</strong> bacharel, Pláci<strong>do</strong> Pereira <strong>do</strong>s Santos, o qual estava disposto<br />

a fazer, como fez, a mercê. O referi<strong>do</strong> enfiteuta, consulta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>clarou, a 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1744, que para<br />

uma obra tão pia e <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> Deus, cedia a porção <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente por 20 [<strong>de</strong>]<br />

fun<strong>do</strong>s, que corria fronteiro à chácara <strong>do</strong> padre Cruz. A petição <strong>da</strong> Confraria foi <strong>de</strong>feri<strong>da</strong>, a 18 <strong>de</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1744, e, a 11 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> mesmo ano, expediu-se a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, registra<strong>da</strong> no Livro<br />

<strong>de</strong> Tombo <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, às fls. 1. De tu<strong>do</strong> e como confirmação <strong>da</strong> nossa narrativa, existe<br />

no Arquivo Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> uma certidão passa<strong>da</strong> por Antônio Torres Homem Junior,<br />

secretário <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> procura<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara. Esse <strong>do</strong>cumento<br />

traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1861. Segun<strong>do</strong> monsenhor Pizarro e Araújo, é <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1747, a provisão que permitiu fosse erigi<strong>da</strong> a capela <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, só benzi<strong>da</strong> para o culto, em 31 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1772.<br />

À porta <strong>da</strong> capela <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, para a sua última prece, ajoelhou-se Tira<strong>de</strong>ntes em caminho<br />

para a forca, que se levantou mais alto que <strong>de</strong> ordinário, no campo <strong>de</strong> São Domingos. Inaugura<strong>da</strong> a<br />

capela <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, a prática <strong>da</strong> <strong>de</strong>voção e as soleni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em homenagem à Virgem, atrain<strong>do</strong> os fiéis,<br />

influíram bastante para a toponímia <strong>de</strong> uma extensa parte <strong>do</strong> antigo campo <strong>de</strong> São Domingos.<br />

O campo <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>u a parte pantanosa <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong><br />

Gonçalo Nunes e já estava bem reduzi<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua primitiva área, quan<strong>do</strong> se transformou em largo <strong>do</strong><br />

Rossio, que passou a <strong>de</strong>nominar-se praça Tira<strong>de</strong>ntes. No campo <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, olhan<strong>do</strong> o nascente,<br />

entre as ruas <strong>de</strong> São Jorge e <strong>do</strong> Alecrim e a travessa <strong>da</strong> Pedreira, ficava o terreiro <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> ao exercício<br />

<strong>da</strong> peça e às manobras <strong>do</strong> Regimento <strong>de</strong> Artilharia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. As ruas<br />

precita<strong>da</strong>s têm agora os nomes <strong>de</strong> Gonçalves Le<strong>do</strong> e Buenos Aires, respectivamente, e a travessa é a rua<br />

<strong>da</strong> Conceição. Ao fin<strong>da</strong>r o século XVIII, ain<strong>da</strong> restavam, <strong>da</strong> antiga planície palu<strong>do</strong>sa, porções<br />

alagadiças. Em 1798, recomeçou a obra <strong>de</strong> saneamento <strong>da</strong> região com aterros, canalização <strong>de</strong> águas<br />

servi<strong>da</strong>s, calça<strong>da</strong>s, etc... De acor<strong>do</strong> com o resolvi<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, foi essa obra submeti<strong>da</strong> a<br />

uma rigorosa vistoria, em 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1798, por técnicos <strong>do</strong> município. A parte mais vistoria<strong>da</strong> foi a<br />

<strong>do</strong> então largo <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> Sé Nova – hoje Escola Politécnica. Com os melhoramentos<br />

executa<strong>do</strong>s, os possui<strong>do</strong>res <strong>de</strong> terrenos afora<strong>do</strong>s pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara mais facili<strong>da</strong><strong>de</strong> tiveram para a<br />

construção <strong>da</strong> casaria, levanta<strong>da</strong> num espaço que, nos nossos dias, correspon<strong>de</strong> a to<strong>da</strong> a área fecha<strong>da</strong><br />

pelas ruas Luiz <strong>de</strong> Camões, Andra<strong>da</strong>s, Buenos Aires e aveni<strong>da</strong> Passos.


C A P Í T U L O X I V | 2 0 9<br />

Na ocasião <strong>de</strong>sses melhoramentos, maior vazão teve uma gran<strong>de</strong> vala <strong>de</strong> esgoto que passava pelo<br />

meio <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, em to<strong>da</strong> a sua extensão, e foi coberta por resistente lageamento. A vala,<br />

ten<strong>do</strong> origem no dito campo, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> correr pelas ruas <strong>do</strong> Lavradio e <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, ia <strong>de</strong>saguar no<br />

mangue <strong>de</strong> São Diogo. *<br />

Em 1803, reclamações <strong>de</strong> proprietários sobre o esta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s calça<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s valas <strong>de</strong> escoamento,<br />

<strong>de</strong>terminaram medi<strong>da</strong>s administrativas para novas obras. Assim é que se fez o nivelamento <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a<br />

região, aterra<strong>da</strong> em uns pontos e rebaixa<strong>da</strong> em outros. Enxugou-se o encharca<strong>do</strong> <strong>da</strong> Polé – instrumento<br />

<strong>de</strong> tortura – <strong>de</strong>fronte <strong>da</strong> Casa <strong>do</strong> Erário, <strong>de</strong>pois Tesouro Nacional. Marcaram-se novos alinhamentos <strong>do</strong>s<br />

terrenos circunvizinhos ao precita<strong>do</strong> charco e, ain<strong>da</strong>, em combinação com o coman<strong>da</strong>nte <strong>do</strong> Regimento<br />

<strong>de</strong> Artilharia – José <strong>de</strong> Oliveira Barbosa, – foi <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> um novo terreiro <strong>de</strong> espaço suficiente para o<br />

exercício <strong>de</strong> tiro e para as manobras <strong>da</strong>quele corpo militar. Ficou o pequeno campo com vinte braças <strong>de</strong><br />

largura, entre as ruas <strong>de</strong> São Jorge e <strong>da</strong> Pedreira, on<strong>de</strong> começava o jogo <strong>da</strong> bola. O local on<strong>de</strong> está o<br />

teatro João Caetano, antigo São Pedro, e, ao fun<strong>da</strong>r-se, São João, era um encharca<strong>do</strong> impraticável a<br />

qualquer serventia. Fato este que <strong>de</strong>strói a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> execução <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes nessa parte <strong>do</strong> antigo<br />

campo <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa. Demais, <strong>do</strong>cumentos contemporâneos ao triste acontecimento <strong>de</strong>ixam claro que<br />

a forca para esse martírio levantou-se na parte enxuta e mais alta <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> São Domingos, in<strong>do</strong> para<br />

a ban<strong>da</strong> <strong>do</strong> mar pela rua [<strong>da</strong>] Forca – rua <strong>de</strong> São Pedro, posteriormente <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> com a abertura <strong>da</strong><br />

aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Os alagadiços <strong>de</strong>sse campo, que ain<strong>da</strong> permaneciam entre as ruas <strong>de</strong> São<br />

Jorge e Andra<strong>da</strong>s, começaram a ser afora<strong>do</strong>s pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara em 1801, na sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />

porções <strong>de</strong> 20 braças <strong>de</strong> frente ou testa<strong>da</strong>, por 34 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong> essa frente na nova rua <strong>da</strong><br />

Lampa<strong>do</strong>sa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Casa <strong>da</strong> Aula <strong>do</strong>s jesuítas, corren<strong>do</strong> pelo campo que olha para a barreira <strong>do</strong> morro<br />

<strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s, nos nossos dias rua Silva Jardim e morro <strong>de</strong> Santo Antônio. Com essas concessões <strong>de</strong><br />

aforamentos, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara fomentou as edificações nessa parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, aon<strong>de</strong> existiam, ain<strong>da</strong>, gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong>socupa<strong>da</strong>s. E, para a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> são, sobremo<strong>do</strong> importantes, os <strong>do</strong>cumentos <strong>da</strong> antiga Intendência Geral <strong>de</strong> Policia, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong><br />

1796, e relativos aos “baldios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>”, cujo crescimento já consi<strong>de</strong>rável e não comportan<strong>do</strong> mais os<br />

seus antigos limites, pedia o aproveitamento <strong>de</strong>sses baldios em seu benefício. Assim é que, em 9 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1796, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>cidiu sobre chãos <strong>de</strong>volutos no largo <strong>da</strong> Conceição, entre a rua<br />

<strong>da</strong> Conceição e a <strong>do</strong> Fogo – atual Andra<strong>da</strong>s – chãos que corriam fun<strong>do</strong>s pela rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res – agora<br />

Alfân<strong>de</strong>ga. No que dispôs, man<strong>do</strong>u o Sena<strong>do</strong> que os ditos chãos fossem afora<strong>do</strong>s ao cirurgião-mor, Luiz<br />

<strong>de</strong> Santa Ana Gomes, sob a condição <strong>de</strong> os aproveitar imediatamente, com edificações <strong>de</strong> prédios <strong>de</strong><br />

sobra<strong>do</strong>.<br />

Rua <strong>do</strong> Sacramento – 1798/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 11 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Sacramento, por 150 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Em 1798, estava <strong>de</strong><br />

posse <strong>de</strong>sse terreno Manoel Luiz Ferreira, ** por compra a Boaventura Luiz <strong>de</strong> Carvalho. Em 1818, estava<br />

to<strong>do</strong> edifica<strong>do</strong> e pertencia, ain<strong>da</strong>, a Manoel Luiz Ferreira. No Rol <strong>da</strong>s Décimas, para o ano <strong>de</strong> 1820, os<br />

prédios que se edificaram aparecem com os nºs 5, 7 e 9 pela rua <strong>do</strong> Sacramento, e 54 a 66 pela rua <strong>da</strong><br />

Lampa<strong>do</strong>sa, e como pertencentes a Marcos <strong>da</strong> Silva Vieira Braga e à sua mulher, Rita Clara <strong>de</strong> Souza<br />

Braga. Em 1859, a sentença que condicionou o <strong>de</strong>squite <strong>de</strong>sse casal, entregou à <strong>de</strong>squita<strong>da</strong> os prédios 5<br />

e 7. To<strong>do</strong>s esses pertenceram a Vieira Braga por herança <strong>do</strong> seu avô, Manoel Luiz Ferreira.<br />

Rua <strong>do</strong> Sacramento – 1803/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 9 braças <strong>de</strong> frente por 150 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, possuí<strong>do</strong> por João Batista <strong>de</strong> Alvarenga<br />

Pimentel, que o arrematara em praça <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Pública, no ano <strong>de</strong> 1803. Nesse terreno, Pimentel<br />

* Documentos A.D.F. (Arquivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral) – Cat 97 (N.A.)<br />

** Manoel Luiz Ferreira – cita<strong>do</strong> nesse verbete – era <strong>do</strong>no <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> teatro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>, a “Ópera Nova”, que pertencera ao primeiro empresário<br />

teatral, o padre Boaventura Dias Lopes. Situava-se essa casa <strong>de</strong> espetáculos na vizinhança <strong>da</strong> atual praça Quinze, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>molição teve<br />

seu o terreno incorpora<strong>do</strong> aos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> atual prédio <strong>da</strong> Assembléia Legislativa <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. (N.C.)


Augusto Malta, 7/11/1911 – Rua Silva Jardim, canto <strong>da</strong> praça Tira<strong>de</strong>ntes.


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edificou uma casa térrea resi<strong>de</strong>ncial, vendi<strong>da</strong> pela sua viúva a Manoel Alves Sampaio. Em 1859,<br />

<strong>de</strong>moliu-se a velha casa para construir-se um sóli<strong>do</strong> e nobre prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, na forma <strong>do</strong> novo Plano<br />

<strong>de</strong> Edificações e Posturas <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara. Esse prédio ficava no canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sacramento com<br />

a travessa <strong>da</strong>s Belas Artes e teve o nº 17.<br />

Caminho vicinal a uma vala que cortava chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes, caminho que se tornou <strong>de</strong><br />

servidão pública, no começo <strong>do</strong> século XVIII, com o <strong>de</strong>smembro <strong>da</strong> dita chácara. É nessa primitiva via<br />

pública a origem <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro chama<strong>do</strong> travessa <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, rua <strong>do</strong> Erário e <strong>do</strong> Sacramento, sen<strong>do</strong><br />

que este segun<strong>do</strong> nome, a partir <strong>de</strong> 1818 até 1903, quan<strong>do</strong> passou a ter a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> aveni<strong>da</strong> Passos,<br />

radicalmente transforma<strong>da</strong> na feição arquitetural <strong>do</strong>s seus prédios e aumenta<strong>da</strong> <strong>de</strong> extensão e <strong>de</strong> largura.<br />

Quan<strong>do</strong> em 1721, por comisso, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara pôs em praça a chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes,<br />

<strong>de</strong>terminou que se tirasse à mesma o terreno necessário à cor<strong>de</strong>ação <strong>do</strong> antigo caminho, para a sua<br />

cômo<strong>da</strong> e <strong>de</strong>finitiva servidão pública. A vala referi<strong>da</strong>, vaza<strong>do</strong>uro natural <strong>da</strong> lagoa <strong>da</strong> Polé, foi, então,<br />

cui<strong>da</strong><strong>da</strong> convenientemente. A lagoa <strong>da</strong> Polé ficava on<strong>de</strong> se levantou, e ain<strong>da</strong> permanece, a igreja <strong>do</strong><br />

Sacramento. Em 1798, a vala recebeu novos melhoramentos, sen<strong>do</strong> empedra<strong>da</strong> e lagea<strong>da</strong>, e a então<br />

travessa <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa foi melhor alinha<strong>da</strong>, prolonga<strong>da</strong> pela frente <strong>da</strong> Casa <strong>do</strong>s Pássaros e teve maior<br />

largura, com o recuo que se fez <strong>do</strong>s muros e <strong>da</strong>s cercas vivas <strong>da</strong>s frentes <strong>da</strong>s casas, cerca <strong>de</strong> duas braças<br />

e meia. A Casa <strong>do</strong>s Pássaros, espécie <strong>de</strong> museu zoológico, foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza,<br />

e entregue à direção <strong>de</strong> Francisco Xavier Car<strong>do</strong>so Cal<strong>de</strong>ira, exímio embalsama<strong>do</strong>r <strong>de</strong> animais. A sua<br />

construção foi inicia<strong>da</strong> no governo <strong>da</strong>quele vice-rei (1779/1798). Parou com a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong> Luiz Vasconcelos<br />

e, somente em 1814, foi termina<strong>da</strong> para a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Erário Real. Bem mais tar<strong>de</strong>, radicalmente<br />

tranforma<strong>do</strong>, o antigo prédio passou a ser ocupa<strong>do</strong>, por muitos anos, pelo Tesouro Nacional.<br />

Como muitas outras que dizem respeito à evolução <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

ao passa<strong>do</strong> pertence a idéia <strong>de</strong> rasgar-se a velha rua <strong>do</strong> Sacramento, pela casaria que a trancava na rua<br />

Senhor <strong>do</strong>s Passos, levan<strong>do</strong>-a até o mar pela rua <strong>da</strong> Imperatriz, hoje, Camerino. A custo fez-se a obra,<br />

ain<strong>da</strong> tema <strong>de</strong> discussões, em 1875. Nesse ano, o competente engenheiro, José Antônio <strong>da</strong> Fonseca<br />

Lessa, então no cargo <strong>de</strong> diretor <strong>da</strong> repartição <strong>de</strong> Obras Municipais <strong>da</strong> Corte, expunha, em relatório à<br />

Ilustríssima Câmara, a sua opinião sobre a execução <strong>da</strong> obra, apresentan<strong>do</strong> um orçamento <strong>de</strong> 70:790$.<br />

Muito discuti<strong>da</strong> a matéria e aprecia<strong>da</strong> pelo Governo Imperial, o qual <strong>de</strong>u, afinal, a sua aquiescência.<br />

Iniciaram-se as <strong>de</strong>sapropriações, logo <strong>de</strong>pois susta<strong>da</strong>s por falta <strong>de</strong> numerário. Até 1888, na<strong>da</strong> se fez e<br />

<strong>de</strong>pois, por intermitências, a Ilustríssima Câmara ia conseguin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sapropriar os prédios <strong>de</strong> menos<br />

custo. Na República, a Intendência Municipal, a 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1890, firmou um contrato com o<br />

engenheiro Antônio Lustosa Pereira Braga, para a feitura <strong>da</strong> obra. Mas, opon<strong>do</strong>-se o Ministério <strong>do</strong><br />

Interior, <strong>do</strong> qual <strong>de</strong>pendia a aprovação <strong>do</strong> mesmo contrato, ficou ele em suspenso. Na operosa<br />

administração <strong>do</strong> prefeito Pereira Passos, foi a rua <strong>do</strong> Sacramento alarga<strong>da</strong> e prolonga<strong>da</strong> até a Marechal<br />

Floriano, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se-lhe a largura <strong>de</strong> 15m60.<br />

A obra foi inicia<strong>da</strong> em 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1903, e, a 27 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1903, era inaugura<strong>do</strong><br />

o novo logra<strong>do</strong>uro. To<strong>da</strong> a aveni<strong>da</strong> Passos corre em terrenos foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

No la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, terrenos tira<strong>do</strong>s à chácara foreira <strong>de</strong> Pedro Coelho <strong>da</strong> Silva, com carta <strong>de</strong> aforamento<br />

que se registrou no livro 2 <strong>de</strong> cartas <strong>de</strong> 1747, às fls.20. Esse livro foi queima<strong>do</strong> no incêndio <strong>do</strong><br />

importante Arquivo Municipal, na noite <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1790. Os limites <strong>da</strong> chácara compreendiam<br />

110 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Rossio Gran<strong>de</strong> – praça Tira<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>pois – até o caminho <strong>de</strong> Fernão<br />

Gomes – atual rua Senhor <strong>do</strong>s Passos. Os fun<strong>do</strong>s corriam junto com a cerca viva <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Paulo<br />

Carvalho <strong>da</strong> Silva e correspon<strong>de</strong>m hoje a to<strong>da</strong> a extensão <strong>da</strong> atual rua Gonçalves Le<strong>do</strong>, antiga São Jorge,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a praça Tira<strong>de</strong>ntes – agora, In<strong>de</strong>pendência, até a rua Senhor <strong>do</strong>s Passos.<br />

Nessa parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s está compreendi<strong>do</strong> o terreno em que esteve assente a primitiva capela <strong>de</strong><br />

São Jorge, terreno esse <strong>do</strong>a<strong>do</strong> pelo capitão Paulo Carvalho <strong>da</strong> Silva à Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Jorge. As faces<br />

laterais <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Carvalho <strong>da</strong> Silva correspon<strong>de</strong>m, a <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>, a to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua<br />

Senhor <strong>do</strong>s Passos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua Gonçalves Le<strong>do</strong> até a aveni<strong>da</strong> Passos, e a <strong>da</strong> direita, a to<strong>da</strong> a face <strong>da</strong><br />

praça Tira<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua Gonçalves Le<strong>do</strong> até a aveni<strong>da</strong> Passos. A chácara <strong>de</strong> Pedro Coelho <strong>da</strong> Silva<br />

tinha pertenci<strong>do</strong> a José Vargas Pizarro e já estava <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> porção quan<strong>do</strong> foi<br />

vendi<strong>da</strong> a Pedro Coelho <strong>da</strong> Silva, ven<strong>da</strong> feita pela viúva <strong>de</strong> Pizarro, Leonor Maria <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Pizarro. A referi<strong>da</strong> senhora, inveridicamente, <strong>de</strong>clarou na respectiva escritura ser o chão <strong>da</strong> chácara livre<br />

<strong>de</strong> foro. Em conseqüência <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>claração, foi o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara obriga<strong>do</strong>, mais tar<strong>de</strong>, a questionar


2 1 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

com os possui<strong>do</strong>res <strong>de</strong> terrenos <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara. Afinal, em 1780, sentença judicial<br />

reconheceu legítimo o senhorio direto <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara sobre to<strong>do</strong> o chão <strong>da</strong> chácara que pertencera<br />

a Gonçalo Nunes e que, em praça <strong>de</strong> comisso, fora arremata<strong>da</strong> por José <strong>de</strong> Vargas Pizarro, no ano <strong>de</strong><br />

1721. Entre os que questionaram com a Câmara salientam-se, pela atitu<strong>de</strong> que tomaram, os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong><br />

Miguel Ferreira Forjáz. Ain<strong>da</strong> em 1859, nessa zona <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, muitas ven<strong>da</strong>s <strong>de</strong> imóveis se faziam<br />

irregulares, motivan<strong>do</strong> questões em juízo e nas quais a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> teve sempre<br />

ganho <strong>de</strong> causa. No la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Passos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a praça Tira<strong>de</strong>ntes até a rua Senhor <strong>do</strong>s Passos,<br />

os terrenos têm a mesma origem foreira – isto é, são <strong>de</strong>smembramentos <strong>da</strong> porção <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Pizarro,<br />

<strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> por ele próprio, e que veio à sua filha Ana <strong>de</strong> Vasconcelos Drumond. Das terras que<br />

<strong>de</strong>smembrou e compra<strong>da</strong>s à viúva Pizarro, Pedro Coelho <strong>da</strong> Silva ven<strong>de</strong>u uma porção ao licencia<strong>do</strong><br />

Pláci<strong>do</strong> Pereira <strong>do</strong>s Santos. Essa porção correspon<strong>de</strong> agora à quadra fecha<strong>da</strong> pelas linhas <strong>da</strong> casaria <strong>da</strong><br />

aveni<strong>da</strong> Passos, rua Luiz <strong>de</strong> Camões e Imperatriz Leopoldina e pela praça Tira<strong>de</strong>ntes. O licencia<strong>do</strong> fez<br />

uma <strong>de</strong>smembração <strong>de</strong> duas frentes e a ven<strong>de</strong>u por bom dinheiro ao ricaço Manoel Luiz Ferreira, o qual<br />

logo edificou prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>. Esses imóveis vieram a ser vendi<strong>do</strong>s por Miguel <strong>da</strong> Silva Vieira Braga<br />

e outros her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> dito Luiz Ferreira a José Gaspar d ` Antas Coelho. Em 1818, encontramos o<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Seco compran<strong>do</strong> os prédios a Antas Coelho. A casa <strong>do</strong> canto com o largo <strong>do</strong> Rossio<br />

s/a, 1906 – Praça Tira<strong>de</strong>ntes com rua <strong>do</strong> Espírito Santo.


Augusto Malta, 1/12/1906 —Rua <strong>do</strong> Espírito Santo. Fundição Nacional.<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 1 3<br />

Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois praça Tira<strong>de</strong>ntes, e, recentemente, <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência, foi residência <strong>de</strong> Manoel Luiz<br />

Ferreira e nela também residiram o viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Seco e José Bonifácio – o patriarca <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil. <strong>Rio</strong> Seco foi eleva<strong>do</strong>, no seu título, a marquês <strong>de</strong> Jundiaí. Nesse prédio<br />

hospe<strong>do</strong>u-se a embaixa<strong>da</strong> <strong>do</strong> sultão <strong>de</strong> Marrocos, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> visita ao rei <strong>do</strong>m João VI. Nos nossos dias,<br />

para construir-se no local um edifício <strong>de</strong> vários an<strong>da</strong>res, foi <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> o velho casarão, em cujo<br />

pavimento térreo funcionou o célebre Café Braguinha: câmara <strong>do</strong>s patriotas que conjuravam to<strong>do</strong>s, em<br />

segura fé, pela in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil.<br />

Terminaremos estas notas com um ligeiro retrospecto interessan<strong>do</strong> à chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes<br />

e a outros fatos dignos <strong>de</strong> ser anota<strong>do</strong>s. Gonçalo Nunes, homem bom <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, no século XVII,<br />

aparenta<strong>do</strong> com o padre Belchior <strong>da</strong> Ponte, que foi figura <strong>de</strong> relevo nos primitivos tempos <strong>da</strong><br />

Sebastianópolis, Gonçalo Nunes, dizíamos, <strong>de</strong>sapareceu <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, sem conhecer-se <strong>do</strong> motivo<br />

e <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino que levou. Em 1721, já <strong>de</strong>corri<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> vinte anos <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>saparecimento, a sua<br />

importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que era uma gran<strong>de</strong> chácara no campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, com boa casa <strong>de</strong> moradia,<br />

cavalariças, cocheiras e outras benfeitorias, foi leva<strong>da</strong> à praça, a 19 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano, por ter<br />

caí<strong>do</strong> em comisso, cumprin<strong>do</strong>-se, assim, <strong>de</strong>liberação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, ao qual a mesma chácara<br />

era foreira. Foi arremata<strong>da</strong> pelo capitão José <strong>de</strong> Vargas Pizarro, a quem se passou carta <strong>de</strong> aforamento,<br />

por três vi<strong>da</strong>s, registra<strong>da</strong> no livro 3, fls. 62, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e queima<strong>do</strong> no incêndio <strong>de</strong> 1790, mas restaura<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois, em presença <strong>do</strong>s títulos originais trazi<strong>do</strong>s pelos foreiros ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, por convocação


2 1 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

<strong>de</strong>ssa Assembléia. A chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes confinava <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> nascente com o muro e o portão<br />

<strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Jogo <strong>da</strong> Bola, entestan<strong>do</strong> com a vala <strong>do</strong> esgoto público, aterra<strong>da</strong> por ocasião <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>marcação <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong>; <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> poente ela confinava com a chácara <strong>de</strong> São Domingos, <strong>de</strong><br />

Paulo Carvalho <strong>da</strong> Silva. À sua frente começava a uma distância <strong>de</strong> 19 braças – 41m80 – <strong>da</strong> atual rua<br />

<strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s, nos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> pedra e cal, com frente à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga,<br />

canto, à esquer<strong>da</strong>, <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s. Essa frente ia terminar on<strong>de</strong> corre hoje a rua Gonçalves<br />

Le<strong>do</strong> e seguia, <strong>do</strong> começo ao fim, uma direção ou linha que correspon<strong>de</strong> à <strong>da</strong> atual casaria <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua Senhor <strong>do</strong>s Passos. Os fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> famosa chácara alcançavam as abas <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santo<br />

Antônio. Ocupava, pois, to<strong>da</strong> a área ora compreendi<strong>da</strong> pelas ruas <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s, Senhor <strong>do</strong>s Passos e<br />

Gonçalves Le<strong>do</strong> e pela praça Tira<strong>de</strong>ntes. Por morte <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Vargas Pizarro, que era escrivão <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e pessoa <strong>de</strong> conceito social, passou a chácara, já <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma boa parte, à<br />

sua viúva Leonor Maria <strong>de</strong> Vasconcelos Pizarro, e à filha <strong>do</strong> casal – Beatriz <strong>de</strong> Vasconcelos Drumond<br />

Pizarro, <strong>de</strong>pois, com a morte <strong>de</strong> sua mãe, única <strong>do</strong>na <strong>da</strong> chácara. Beatriz sustentou longa e complica<strong>da</strong><br />

querela pela posse <strong>de</strong> uma porção <strong>da</strong> dita chácara, na qual existia uma lagoa <strong>de</strong> águas para<strong>da</strong>s e podres,<br />

que se aterrou a man<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em benefício <strong>da</strong> salubri<strong>da</strong><strong>de</strong> pública. Aterra<strong>da</strong> a lagoa e<br />

adjacências, numa distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> três braças, <strong>de</strong>marcou-se um pequeno campo ou largo, on<strong>de</strong> se<br />

s/a, fins <strong>do</strong> século XIX – Praça Tira<strong>de</strong>ntes. Ven<strong>do</strong>-se o teatro São José, antigo Varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s.


C A P Í T U L O X I V | 2 1 5<br />

levantou a forca ou polé. Ain<strong>da</strong> em 1721, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara man<strong>do</strong>u tirar mais terreno <strong>da</strong> parte<br />

pantanosa <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à servidão pública, para uma futura obra <strong>de</strong><br />

melhoramentos <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong>, realiza<strong>da</strong> somente no governo <strong>do</strong> vice-rei Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e<br />

Souza (1779/1790). Também, providências foram toma<strong>da</strong>s sobre a vala que atravessava a dita chácara,<br />

<strong>da</strong> frente aos fun<strong>do</strong>s, na barreira <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s – atualmente rua Silva Jardim – e <strong>da</strong>í seguia, serpentean<strong>do</strong>,<br />

ora pela frente, ora pelos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> casaria, até o mangue <strong>de</strong> São Diogo, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>saguava. Por mais <strong>de</strong><br />

setenta anos, a vala motivou querelas entre a Câmara e os mora<strong>do</strong>res a ela ribeirinhos, os quais faziamna<br />

<strong>de</strong> vaza<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as imundícies. Em 1798, a vala era motivo <strong>de</strong> reclamações ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara e nesse ano, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, foi feito um aperfeiçoa<strong>do</strong> empedramento<br />

<strong>da</strong> vala, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se-lhe maior vazão. No governo <strong>do</strong> vice-rei Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza, completou-se<br />

o aterro <strong>do</strong>s alagadiços ain<strong>da</strong> existentes até as abas <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santo Antônio e <strong>de</strong>marcou-se, em<br />

<strong>de</strong>finitivo, o rossio e o lugar para a feira <strong>de</strong> animais – lugar agora ocupa<strong>do</strong> pelo teatro João Caetano,<br />

antigo São Pedro.<br />

Voltemos aos prédios que pertenceram ao ricaço Manoel Luiz Ferreira e adquiri<strong>do</strong>s, em 1818,<br />

pelo viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Seco. Por morte <strong>de</strong>sse titular, que faleceu com o título <strong>de</strong> marquês <strong>de</strong> Jundiaí, os<br />

prédios 1 e 3 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sacramento e os <strong>de</strong> nºs 28 e 30 <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Rossio, ficaram pertencen<strong>do</strong> à sua<br />

viúva, Maria <strong>da</strong> Cunha, marquesa <strong>de</strong> Jundiaí, na forma <strong>da</strong> escritura <strong>de</strong> composição amigável entre os<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> marquês e à sua viúva, a quem, também ficou pertencen<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno em<br />

que estavam assentes os prédios cujo aforamento foi concedi<strong>do</strong>, por Carta <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1818, e<br />

consta <strong>do</strong> livro 6, fls. 197, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. A marquesa <strong>de</strong> Jundiaí veio a casar-se com João<br />

Samuell, tambem proprietário no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, e comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa. Em 1853, Samuell,<br />

por seu procura<strong>do</strong>r no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Diogo Henri, pediu um novo título <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s<br />

precita<strong>do</strong>s prédios em seu nome, visto a sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iro e sucessor <strong>do</strong> seu filho menor,<br />

Fernan<strong>do</strong>, her<strong>de</strong>iro, por sua vez, <strong>de</strong> sua mãe – a marquesa <strong>de</strong> Jundiaí. Para comprovar o seu direito, o<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r João Samuell, nessa ocasião, residin<strong>do</strong> na Europa, juntou ao seu pedi<strong>do</strong> a carta <strong>de</strong><br />

aforamento, por três vi<strong>da</strong>s, ao marquês <strong>de</strong> Jundiaí, a escritura <strong>de</strong> composição amigável com a marquesa<br />

viúva, o reconhecimento nos assentos <strong>do</strong> batistério feito por ele, Samuell, e pela marquesa em relação a<br />

seu filho Fernan<strong>do</strong>, a certidão <strong>do</strong> seu casamento com a referi<strong>da</strong> titular e as <strong>do</strong>s óbitos <strong>da</strong> mesma senhora<br />

e <strong>de</strong> seu filho Fernan<strong>do</strong>. Julga<strong>do</strong>s os autos, foi concedi<strong>do</strong>, afinal, o traspasse <strong>do</strong> aforamento ao<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r João Samuell, a 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1853, como sucessor <strong>da</strong> terceira vi<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> o respectivo<br />

título registra<strong>do</strong> no livro 13, fls. 193, <strong>do</strong>s aforamentos <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara. Em agosto <strong>de</strong> 1856,<br />

aparece o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Samuell ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o prédio nº 28 <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Rossio, canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sacramento,<br />

por 50:000$, ao barão <strong>de</strong> Lorena. Esse prédio, como já dissemos antes, é o casarão <strong>de</strong> beira<strong>da</strong>, sobra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> muitas janelas e loja ocupa<strong>da</strong> pelo Café <strong>do</strong> Braguinha. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Samuell ven<strong>de</strong>u, também, os<br />

<strong>de</strong>mais prédios <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> o <strong>de</strong> nº 30, por 28:000$, em julho <strong>de</strong> 1858, a Francisco Dias<br />

Ribeiro Moreira; o <strong>de</strong> nº 1 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sacramento, em abril <strong>de</strong> 1859, a Antônio José Alves Souto, e o <strong>de</strong><br />

nº 3, <strong>de</strong>ssa mesma rua, ao barão <strong>de</strong> Lorena.<br />

A falência <strong>da</strong> importante casa bancária <strong>de</strong> Alves Souto & Cia. * motivou a ven<strong>da</strong> em praça <strong>do</strong>s bens<br />

<strong>da</strong> fali<strong>da</strong>, incluí<strong>do</strong> o prédio nº 1 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sacramento, que foi adquiri<strong>do</strong> pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco<br />

Ferreira <strong>da</strong>s Neves.<br />

Campo <strong>de</strong> São Domingos – 1714<br />

<strong>Terras</strong> no campo <strong>de</strong> São Domingos, extensas e beneficia<strong>da</strong>s, foreiras à Câmara e por ela<br />

arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s a Antônio Vieira, um <strong>do</strong>s ricos homens <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, no<br />

século XVII. Antônio Vieira era tipo esquisitão. Demasia<strong>do</strong> ambicioso, querelista e porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma<br />

alcunha bem imprópria <strong>de</strong> ser dita. Essas terras, no seu to<strong>do</strong>, constituíam uma chácara, a qual passou,<br />

por morte <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> arren<strong>da</strong>tário, ao seu filho, <strong>de</strong> nome Pedro Fernan<strong>de</strong>s a quem foi compra<strong>da</strong> por<br />

Manoel Casa<strong>do</strong> Viana, rico e conceitua<strong>do</strong> homem <strong>de</strong> negócio.<br />

Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1714, a Câmara <strong>de</strong>feriu o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Casa<strong>do</strong> Viana, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>lhe<br />

o aforamento <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> chácara, pelo tempo <strong>de</strong> três nove anos e ao foro <strong>de</strong> mil e seiscentos réis<br />

* Livro 3 <strong>do</strong>s Aforamentos, fls. 42. (N.A.)


2 1 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

anuais. Em 1741, termina<strong>do</strong> aquele tempo, Casa<strong>do</strong> pediu e obteve a renovação <strong>do</strong> aforamento pelo<br />

mesmo perío<strong>do</strong> e ao foro anual <strong>de</strong> mil e novecentos réis. A carta <strong>de</strong>sse segun<strong>do</strong> aforamento traz a <strong>da</strong>ta<br />

<strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1741. Por morte <strong>de</strong> Manoel Casa<strong>do</strong> Viana, ao seu irmão, coronel Joaquim Gonçalves<br />

<strong>da</strong> Rocha, transferiu-se a posse <strong>da</strong> então já chama<strong>da</strong> – chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>. Por fim, veio a pertencer a<br />

Clara <strong>de</strong> Menezes Sudré, em última vi<strong>da</strong>. A referi<strong>da</strong> senhora era sobrinha <strong>do</strong> coronel Rocha e a escritura<br />

<strong>de</strong> posse <strong>da</strong> chácara, por sentença <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Mesa <strong>de</strong> Consciência e Or<strong>de</strong>m foi lavra<strong>da</strong>, a 20 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1789, anulan<strong>do</strong> a <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> maio a favor <strong>de</strong> João Luiz Teles, indigita<strong>do</strong> sobrinho <strong>do</strong> mesmo<br />

coronel Rocha. Ao tempo <strong>da</strong> última foreira, Clara Sudré, começou o <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Casa<strong>do</strong>, completa<strong>do</strong> na administração <strong>de</strong> José Gonçalves <strong>da</strong> Silva Rocha, procura<strong>do</strong>r <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

senhora. Hábil procura<strong>do</strong>r, esse José Gonçalves, tão <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> aos interesses <strong>de</strong> sua constituinte, que,<br />

logo <strong>de</strong> início, conseguiu <strong>de</strong>la a <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> uma parte <strong>da</strong> chácara, por escritura <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1789,<br />

em notas <strong>do</strong> tabelião Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Morais Chaves, <strong>da</strong> comarca <strong>de</strong> Sabará, em Minas Gerais. Depois <strong>da</strong><br />

morte <strong>de</strong> Clara Sudré e também faleci<strong>do</strong> o dito <strong>do</strong>natário, os her<strong>de</strong>iros <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> senhora moveram ação<br />

<strong>de</strong> nuli<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>ação. Não obstante a posse e <strong>do</strong>mínio em que estavam pacificamente, <strong>da</strong> parte <strong>do</strong>a<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> chácara, havia anos, a viúva <strong>de</strong> José Gonçalves <strong>da</strong> Silva Rocha, Genoveva Maria Grinal<strong>da</strong> e seus<br />

filhos, para evitar um pleito <strong>de</strong> vencimento incerto e <strong>de</strong> outros inconvenientes, ce<strong>de</strong>ram aos querelantes<br />

a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os rendimentos, dívi<strong>da</strong>s e ven<strong>da</strong>s havi<strong>da</strong>s e por haver, <strong>da</strong> mesma parte <strong>do</strong>a<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

chácara ao esposo e pai <strong>do</strong>s querela<strong>do</strong>s.<br />

A escritura <strong>de</strong>sse contrato, composição e obrigação amigáveis, foi lavra<strong>da</strong> a 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1814, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em notas <strong>do</strong> tabelião Joaquim José <strong>de</strong> Castro. Os querelantes, que residiam em<br />

Minas Gerais, foram representa<strong>do</strong>s pelo procura<strong>do</strong>r capitão João José <strong>de</strong> Melo, e os querela<strong>do</strong>s,<br />

resi<strong>de</strong>ntes em Parati, na província fluminense, tiveram como procura<strong>do</strong>r Miguel José Fernan<strong>de</strong>s, que era<br />

cessionário <strong>de</strong> seus constituintes nos direitos à chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong> e às terras <strong>de</strong> um antigo engenho em<br />

Irajá, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O capitão João José <strong>de</strong> Melo adquiriu a posse <strong>do</strong> que restava <strong>da</strong> dita chácara,<br />

por compra aos her<strong>de</strong>iros e sucessores <strong>de</strong> Clara Sudré e <strong>de</strong> Maria Grinal<strong>da</strong>. Por morte <strong>do</strong> capitão Melo,<br />

<strong>de</strong>sapareceu a chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, em cuja área arruaram-se logra<strong>do</strong>uros públicos, que se incorporaram<br />

ao bairro <strong>de</strong> São Domingos.<br />

Os últimos terrenos <strong>da</strong> chácara foram vendi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1818, por Cândi<strong>do</strong> José Rodrigues e<br />

Francisco José Pacheco, genros <strong>do</strong> capitão Melo. A frente <strong>da</strong> chácara era no caminho <strong>do</strong> Capueruçu –<br />

rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga –, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> ímpar <strong>da</strong> recém-<strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> rua General Câmara,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Palácio <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> – também <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong> – até o antigo largo <strong>de</strong> São Domingos, que foi<br />

abrangi<strong>do</strong> pela aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Os seus fun<strong>do</strong>s chegavam às fral<strong>da</strong>s <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Livramento.<br />

À sua direita, que corria em linha oblíqua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cita<strong>do</strong> Palácio <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> até a rua Sena<strong>do</strong>r Pompeu,<br />

ficavam as chácaras <strong>de</strong> Emerenciana Isabel d' Antas Cunha, e <strong>de</strong> José Francisco <strong>de</strong> Araújo. À esquer<strong>da</strong>,<br />

ficava o caminho para o Valongo – hoje rua Camerino. Vem a propósito recor<strong>da</strong>r que, ain<strong>da</strong> em 1790,<br />

os alinhamentos e as edificações no bairro <strong>de</strong> São Domingos motivavam querelas e <strong>de</strong>bates no Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara. Diziam os verea<strong>do</strong>res progressistas: “a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> está se fazen<strong>do</strong> torta, anti-estética, antihigiênica,<br />

abrigo <strong>de</strong> maus costumes pelo livre arbítrio e criminosa ganância <strong>do</strong>s proprietários e pela<br />

incompreensível falta <strong>de</strong> ação <strong>do</strong>s fiscais <strong>de</strong>ste Sena<strong>do</strong>, com os alinhamentos que fazem e as edificações<br />

que levantam, forman<strong>do</strong>-se ângulos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> reentrância”.<br />

O mais teimoso querelista foi José Alves <strong>de</strong> Castilho, possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> terrenos que se estendiam até<br />

o sopé <strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Conceição, com frente no caminho <strong>do</strong> Valongo – rua Camerino, atualmente.<br />

Querelou com o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, e por muito tempo, sobre o alinhamento <strong>de</strong>sses terrenos, os quais<br />

foram <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s a ele, Castilho, pelo seu cunha<strong>do</strong>, o miliciano Antônio Coelho Lobo, por escritura pública,<br />

<strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1721, <strong>do</strong> notário Jorge <strong>de</strong> Souza Coutinho. Somente em 1728, Castilho legalizou a<br />

posse <strong>do</strong>s terrenos, sujeitan<strong>do</strong>-se ao aforamento <strong>do</strong>s mesmos, cuja carta traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1728. Também questionaram com o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, Clara <strong>de</strong> Menezes Sudré, <strong>do</strong>na <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Casa<strong>do</strong>, e Antônio Ferreira, proprietário <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> na travessa <strong>do</strong> Oratório.<br />

Motivou a questão a <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong> Câmara, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong>marcar uma rua que, começan<strong>do</strong> no<br />

oratório <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Bonsucesso, por entre as casas <strong>de</strong> Antônio Ferreira e as <strong>de</strong> José <strong>do</strong>s Santos Castro,<br />

fosse sair no Valongo, em terras <strong>de</strong> Costa Barros.<br />

Essa via pública que, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, correspon<strong>de</strong> ao trecho <strong>da</strong> rua Regente Feijó, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga à Marechal Floriano, começou a ser cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong> em 1787 e essa cor<strong>de</strong>ação continuou, embora<br />

os embargos que sofreu.


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A viúva Clara <strong>de</strong> Menezes Sudré embargou a obra <strong>de</strong> abertura <strong>da</strong> rua, a qual já estava to<strong>da</strong> aberta<br />

e com edificações <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a embargante conseguiu ganho <strong>de</strong> causa na Relação,<br />

em 1789. Em maio <strong>de</strong> 1790, Antônio Ferreira trancou a rua à servidão pública. Mas, às 3 horas <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1790, à requisição <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, fez-se uma vistoria presidi<strong>da</strong> pelo juiz<br />

Francisco Pinheiro Guimarães, cujo resulta<strong>do</strong> foi a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> tapagem. Outros embargos vieram<br />

interromper o uso público <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro e as edificações que no mesmo se faziam. Agiam a chicana e<br />

a advocacia administrativa em prejuízo ao progresso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Por<br />

força <strong>da</strong> lei <strong>do</strong> <strong>de</strong>terminismo, que não varia e nem sofre embargos <strong>da</strong> justiça humana, ao fin<strong>da</strong>r a<br />

primeira déca<strong>da</strong> <strong>do</strong> século XIX, a via pública em questão estava <strong>de</strong>sembaraça<strong>da</strong> e livre ao público, com<br />

a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Oratório.<br />

E assim, muito embora as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> juízes embargan<strong>do</strong> a ação progressista <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, pô<strong>de</strong> essa respeitável Assembléia prosseguir os arruamentos pelo campo <strong>de</strong> São Domingos<br />

afora até São Cristovão, na bica <strong>do</strong>s Marinheiros, <strong>de</strong>sprezan<strong>do</strong> estorvos ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

ao bom cômo<strong>do</strong> e a outros interesses <strong>do</strong>s seus mora<strong>do</strong>res, que nenhum direito particular po<strong>de</strong> prejudicar.<br />

Largo <strong>de</strong> São Domingos – 1849/1870<br />

Terreno <strong>de</strong> 35 palmos <strong>de</strong> frente pelo largo <strong>de</strong> São Domingos e fun<strong>do</strong>s até a antiga rua chama<strong>da</strong>,<br />

a princípio, <strong>do</strong> Sabão, <strong>de</strong>pois General Câmara, recém-<strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> com a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

Vargas. Um bem alto e forte paredão <strong>de</strong> pedra e cal fechava o terreno nos fun<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> havia, em puro<br />

estilo português, um largo portão encima<strong>do</strong> por uma água-furta<strong>da</strong>. Esse terreno era ocupa<strong>do</strong> por um bom<br />

prédio com frente no largo <strong>de</strong> São Domingos nº 8, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Inácio Ratton. 44 Em junho <strong>de</strong> 1849, o<br />

dito imóvel aparece vendi<strong>do</strong>, por 17:000$, ao dr. Bento José Martins, médico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fama na época.<br />

O dr. Martins, que residiu no mesmo prédio, requereu logo o aforamento <strong>do</strong> terreno, concedi<strong>do</strong> a 30 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1849. Ain<strong>da</strong> em 1870, figura o prédio com o nº 8 e proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> dr. Bento José Martins.<br />

Largo <strong>de</strong> São Domingos – 1884<br />

Terreno <strong>de</strong> 36 palmos <strong>de</strong> frente pelo largo <strong>de</strong> São Domingos, com um prédio antigo, <strong>de</strong> nº 7 que,<br />

em 1884, passou a pertencer a Philipp Halenbach, por compra a João Antônio D´Ávila, pela quantia <strong>de</strong><br />

7:500$. O terreno era <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> área que o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> conce<strong>de</strong>ra, a<br />

20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1706, em aforamento e por esmola, aos irmãos <strong>do</strong> patriarca São Domingos <strong>de</strong><br />

Gusmão. Esse aforamento compreen<strong>de</strong>u vinte braças <strong>de</strong> chãos, com frente à então rua <strong>do</strong>s Escrivães –<br />

<strong>de</strong>pois, General Câmara, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 26 braças, <strong>de</strong> rua à rua, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à construção <strong>da</strong> igreja<br />

<strong>de</strong> São Domingos <strong>de</strong> Gusmão, sob a condição <strong>de</strong> não serem aliena<strong>do</strong>s e nem vendi<strong>do</strong>s sem prévia licença<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara.<br />

A provisão Régia, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1791, para anular e <strong>de</strong>ixar claro, uma vez por to<strong>da</strong>s, a<br />

legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> posse <strong>do</strong>s mesmos chãos pela irman<strong>da</strong><strong>de</strong>, ratificou, plenamente, o título <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1706. É certo que a irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Domingos, por muitos anos, julgou-se também com<br />

direitos ao <strong>do</strong>mínio útil sobre os terrenos <strong>do</strong> antigo cemitério <strong>do</strong>s Mulatos, chegan<strong>do</strong> a criar estorvos ao<br />

beneficiamento e à ocupação <strong>do</strong>s ditos terrenos, situa<strong>do</strong>s entre a rua Bom Jesus – <strong>de</strong>pois General Câmara<br />

– e a <strong>de</strong> São Pedro. Tinham 12 braças <strong>de</strong> largura até a rua que estava sen<strong>do</strong> aberta para o Valongo, com<br />

fun<strong>do</strong>s para o adro <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> São Domingos. A rua que, então, se abria, é a atual Camerino.<br />

Mas, a partir <strong>de</strong> 1787, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> aceitar as razões <strong>da</strong> irman<strong>da</strong><strong>de</strong> e começou<br />

a aforar esses terrenos, como se verifica nos respectivos títulos <strong>do</strong>s aforamentos registra<strong>do</strong>s nos livros<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, nºs 2 e 5, nos anos <strong>de</strong> 1787/1808, fls. 45 e 88. O principal posseiro <strong>do</strong>s ditos terrenos foi João<br />

Monteiro Celi, rico negociante e industrial no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O seu aforamento, cuja Carta traz a <strong>da</strong>ta<br />

<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1787, compreen<strong>de</strong>u quase a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s terrenos. Por morte <strong>de</strong> Celi, em 1808,<br />

passaram eles – terrenos – a Hilário Antônio Júnior que, logo, os ven<strong>de</strong>u ao capitão Francisco Xavier


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Pires, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1808. A irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Domingos não<br />

se conforman<strong>do</strong> com a atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, foi a juízo para anular os ditos aforamentos. Mas,<br />

ti<strong>da</strong> como improce<strong>de</strong>nte a ação anulatória pedi<strong>da</strong>, na<strong>da</strong> conseguiu a irman<strong>da</strong><strong>de</strong> que, mais tar<strong>de</strong>, ela<br />

própria veio a reconhecer o seu erro e aceitar um acor<strong>do</strong> amigável.<br />

Gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> cemitério <strong>do</strong>s Mulatos já estava, em 1787, sem uso, <strong>de</strong>vassa<strong>do</strong> e profana<strong>do</strong>, por<br />

or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> juiz ordinário, em benefício <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> povo. Somente em 1820, foi <strong>de</strong> to<strong>do</strong> interdita<strong>do</strong>,<br />

propon<strong>do</strong>-se a irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Domingos a fun<strong>da</strong>r um outro para os confra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Domingos, em<br />

São Diogo, no campo <strong>do</strong>s Urubus, on<strong>de</strong> eram enterra<strong>do</strong>s os animais. O governo recusou a proposta <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>m, cujos irmãos passaram a ser enterra<strong>do</strong>s nos cemitérios comuns. O cemitério <strong>de</strong> São Domingos<br />

ou <strong>do</strong>s Mulatos, ocupava to<strong>do</strong> o espaço entre as ruas General Câmara, São Pedro e Conceição. Em<br />

tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s capelas filiais à matriz <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, monsenhor Pizarro diz ser<br />

<strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong> a antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong> São Domingos, sen<strong>do</strong> certo, to<strong>da</strong>via, que <strong>da</strong> mesma matriz <strong>de</strong> São<br />

Sebastião se transferiu a imagem <strong>de</strong> São Domingos <strong>de</strong> Gusmão à sua casa própria, ergui<strong>da</strong> em meio <strong>do</strong><br />

campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que passou a ser chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Domingos, fican<strong>do</strong> a capela a cargo <strong>da</strong> respectiva<br />

irman<strong>da</strong><strong>de</strong>, para o seu constante zelo e conservação. Não resta a menor dúvi<strong>da</strong> <strong>da</strong> existência <strong>de</strong>ssa<br />

confraria religiosa, quase to<strong>da</strong> composta <strong>de</strong> mulatos, anteriormente a 1686, porque, nesse ano, com<br />

provas <strong>da</strong> sua segura organização e bastante antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, ela obteve <strong>da</strong> Misericórdia, na prove<strong>do</strong>ria <strong>de</strong><br />

Francisco Brito Meireles (1686/1687), esquife próprio para os seus confra<strong>de</strong>s, mediante um cruza<strong>do</strong> para<br />

o enterramento. É <strong>de</strong> lamentar que o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e o zelo recomen<strong>da</strong><strong>do</strong>s fossem faltan<strong>do</strong> e por tal forma a<br />

<strong>de</strong>ixar cair a igreja em ruínas, como já se encontrava no ano <strong>de</strong> 1853. O prove<strong>do</strong>r, que era então<br />

Fortunato Correa <strong>de</strong> Jesus, muito se esforçou pela reconstrução <strong>do</strong> templo, na<strong>da</strong> conseguin<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s<br />

esses fatos constam escritura<strong>do</strong>s no arquivo <strong>da</strong> irman<strong>da</strong><strong>de</strong> e recolhi<strong>do</strong> à capela <strong>de</strong> Santa Efigênia. Em<br />

1905, existin<strong>do</strong> apenas as pare<strong>de</strong>s laterais e a facha<strong>da</strong>, fizeram-se projetos para a reconstrução <strong>da</strong> antiga<br />

capela, cuja facha<strong>da</strong> era <strong>de</strong> estilo barroco – estilo grosseiro, aliás, e <strong>de</strong> idéias <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, no qual<br />

pre<strong>do</strong>minam as linhas curvas. Os portugueses chamavam barrocas às pérolas irregulares. Dos projetos<br />

<strong>de</strong> 1905, teve aceitação oficial o <strong>do</strong> arquiteto <strong>da</strong> prefeitura <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Alfre<strong>do</strong> Burnier,<br />

<strong>de</strong>senha<strong>do</strong> primorosamente pelo <strong>de</strong>senhista <strong>da</strong> mesma <strong>Prefeitura</strong>, Álvaro <strong>da</strong> Cunha. Por esse projeto a<br />

nova igreja <strong>de</strong> São Domingos seria um monumento <strong>de</strong> arte arquitetural cuja execução ficaria a cargo <strong>do</strong><br />

engenheiro Gastão Luiz Bousquet. Constituiu-se uma comissão presidi<strong>da</strong> pelo prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

São Domingos – Filomeno Jocéliu Ribeiro. Na<strong>da</strong> se fez, porém. Afinal, na sua operosa administração<br />

(1926/1930), o prefeito Antônio Pra<strong>do</strong> Júnior, com o traço <strong>de</strong> inteligência, <strong>de</strong> interesse e <strong>de</strong> respeito às<br />

tradições <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, restaurou, fielmente, a capela <strong>de</strong> São Domingos<br />

<strong>de</strong> Gusmão – que a famosa aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas fez <strong>de</strong>saparecer.<br />

Rua <strong>de</strong> São Joaquim – 1827/1877<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>de</strong> São Joaquim, à mão direita, in<strong>do</strong> para o campo <strong>de</strong><br />

Santana e afora<strong>do</strong> à Rita Teresa <strong>da</strong> Silva, viúva <strong>de</strong> Custódio Gonçalves Moreira. A carta <strong>de</strong>sse<br />

aforamento traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1827, pela qual se conhece ter si<strong>do</strong> o terreno <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

antiga chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong> e, pelo <strong>do</strong>no <strong>da</strong> mesma, vendi<strong>do</strong> à pré-cita<strong>da</strong> senhora. Um sóli<strong>do</strong> prédio foi<br />

construí<strong>do</strong> no terreno pela referi<strong>da</strong> Rita Teresa e por ela vendi<strong>do</strong> a Manoel José <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, em 1833.<br />

Em 1855, o imóvel em apreço pertencia a Joaquim <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Brito, com carta <strong>de</strong> aforamento registra<strong>da</strong><br />

no livro 14, fls. 104, <strong>do</strong>s Aforamentos <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara Municipal <strong>da</strong> Corte. Em 1877, na revisão<br />

<strong>da</strong> numeração predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o prédio recebeu o nº 114.<br />

Rua <strong>de</strong> São Joaquim – 1827<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>de</strong> São Joaquim, com um prédio <strong>de</strong> nº 71, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Manoel Joaquim <strong>de</strong> Souza Lemos. O terreno era parte <strong>de</strong> maior porção, como veremos, e foi afora<strong>do</strong> ao<br />

referi<strong>do</strong> Souza Lemos, em 1827. * Souza Lemos ven<strong>de</strong>u o prédio a Antônio José Marques, a quem a


C A P Í T U L O X I V | 2 1 9<br />

Câmara transferiu o aforamento feito a Lemos e cujo título <strong>de</strong> transferência traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1828. Num ligeiro retrospecto, diremos que, anteriormente a 1780, uma gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> terreno, entre a<br />

rua <strong>da</strong> Conceição e a atual aveni<strong>da</strong> Passos foi concedi<strong>da</strong>, por aforamento, pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, a<br />

Antônio Rodrigues Claro, sob condição <strong>de</strong> logo construir mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas, condição que o foreiro<br />

cumpriu <strong>de</strong> pronto, construin<strong>do</strong> seis prédios com frentes para a parte estreita <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Joaquim.<br />

Esses prédios, em 1873, ain<strong>da</strong> bem conserva<strong>do</strong>s, tinham os nºs 61 a 73. Dos prédios que construiu,<br />

Rodrigues Claro ven<strong>de</strong>u três a João Rodrigues <strong>da</strong> Cunha. Por morte <strong>de</strong> Cunha, um seu filho <strong>de</strong> nome<br />

Agostinho Rodrigues <strong>da</strong> Cunha, her<strong>do</strong>u <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s prédios, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> o outro lega<strong>do</strong> a Salva<strong>do</strong>r Pimentel,<br />

<strong>de</strong> quem passou a Mariana <strong>da</strong> Penha <strong>de</strong> Franca, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança. Em 1785, encontramos<br />

Agostinho ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> um prédio <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is que her<strong>da</strong>ra <strong>do</strong> seu pai, a Ana Marques, a qual figura como<br />

foreira <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> prédio que comprou no livro 2 <strong>do</strong>s Aforamentos <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, fls. 198.<br />

Justamente, o prédio vendi<strong>do</strong> à precita<strong>da</strong> senhora foi o que seus her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram a Manoel Joaquim<br />

<strong>de</strong> Souza Lemos. Pela i<strong>de</strong>ntificação que fizemos, ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong>mos adiantar: a) os prédios vendi<strong>do</strong>s por<br />

Antônio Rodrigues Claro a João Rodrigues <strong>da</strong> Cunha foram os <strong>de</strong> nºs 69, 71 e 73; b) a Salva<strong>do</strong>r<br />

Pimentel, pertenceu o <strong>de</strong> nº 69, e a Agostinho Rodrigues <strong>da</strong> Cunha pertenceu os <strong>de</strong> nºs 71 e 73, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> o 73 vendi<strong>do</strong>, em 1795, a Antônio José Pereira <strong>da</strong> Cruz; c) o prédio 71 veio a pertencer, até 1861,<br />

a Otaviana Clara Vitorina <strong>do</strong> Vale e por ela vendi<strong>do</strong>, em outubro <strong>do</strong> dito ano, a José <strong>de</strong> Souza Dias.<br />

Rua <strong>de</strong> São Joaquim<br />

A antiga rua <strong>de</strong> São Joaquim era construí<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is trechos bem diferentes, arquitetural e<br />

topograficamente. O primeiro trecho, <strong>da</strong>tan<strong>do</strong> <strong>do</strong> começo <strong>do</strong> século XVII, estreito bastante, ligeiramente<br />

torto e sempre alagadiço, servia <strong>de</strong> comunicação entre o curtume <strong>de</strong> José <strong>da</strong> Costa, na vala Gran<strong>de</strong> – rua<br />

Uruguaiana, hoje – e o Valongo – rua Camerino, agora. O segun<strong>do</strong> trecho abriu-se no fim <strong>do</strong> século<br />

XVIII, cortan<strong>do</strong> <strong>de</strong> face à face a chácara <strong>de</strong> Casa<strong>do</strong>, em reta <strong>de</strong> 60 palmos <strong>de</strong> largura, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o trecho<br />

estreito até alcançar os limites <strong>da</strong> servidão pública no campo <strong>de</strong> Santana, em direção ao mangal <strong>de</strong> São<br />

Diogo. O primeiro trecho, melhora<strong>do</strong> bastante no governo <strong>do</strong> vice-rei marquês <strong>do</strong> Lavradio (1769/1779),<br />

teve o nome <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Curtume e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> São Joaquim, com a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong>sse santo, em<br />

1758. Da diferença havi<strong>da</strong> com a abertura <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> trecho [<strong>da</strong>] via pública em notícia, vieram as<br />

<strong>de</strong>nominações <strong>de</strong> rua Estreita e rua Larga <strong>de</strong> São Joaquim. Mo<strong>de</strong>rnamente, obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> a um plano<br />

uniforme <strong>de</strong> alinhamento e <strong>de</strong> largura, que o transformou por completo, esse importante e movimenta<strong>do</strong><br />

logra<strong>do</strong>uro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> recebeu a nominação <strong>de</strong> rua e, agora, aveni<strong>da</strong><br />

Marechal Floriano. 45<br />

Chácara <strong>do</strong> Coqueiro<br />

A chácara <strong>do</strong> Coqueiro ou, também, dita <strong>da</strong> Conceição, extensa e importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

começa<strong>da</strong> a <strong>de</strong>smembrar quan<strong>do</strong> possuí<strong>da</strong> pelo alferes Antônio Coelho Lobo. A quadra, entre as atuais<br />

ruas Uruguaiana e Andra<strong>da</strong>s e a antiga pedreira <strong>da</strong> Conceição, constituiu o aforamento <strong>de</strong> Antônio<br />

Rodrigues Celia. O padre João <strong>de</strong> Araújo <strong>do</strong> Amaral possuiu uma quadra compreendi<strong>da</strong> pelas atuais ruas<br />

Uruguaiana, Marechal Floriano, Teófilo Otoni e Andra<strong>da</strong>s. Os her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> dito padre sofreram<br />

execução <strong>de</strong> bens, incluí<strong>do</strong>s os terrenos que her<strong>da</strong>ram e que foram leva<strong>do</strong>s à praça e arremata<strong>do</strong>s pelo<br />

capitão-tenente José Domingos Moncorvo. Já fizemos referências sobre os terrenos <strong>de</strong> Antônio<br />

Rodrigues Claro, <strong>do</strong> qual foram her<strong>de</strong>iros conheci<strong>do</strong>s uma filha <strong>de</strong> nome Escolástica Maria <strong>da</strong><br />

Conceição e João Batista Ferreira, e ambos têm cartas <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong>s terrenos, com prédios que<br />

her<strong>da</strong>ram <strong>de</strong> Claro, registra<strong>do</strong>s nos livros 3 e 4, respectivamente, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1749. Com respeito à parte<br />

larga <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Joaquim existem, no Arquivo <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca, muitos códices que tratam<br />

exclusivamente <strong>do</strong>s terrenos que entraram na formação <strong>de</strong>sse logra<strong>do</strong>uro, com achegas bem<br />

* Na conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> lançamento feito no livro 7 <strong>do</strong>s Aforamentos <strong>da</strong> Câmara, fls. 165. (N.A.)


2 2 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

interessantes à história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Na rua larga <strong>de</strong> São Joaquim, o proprietário <strong>de</strong> maior importância, rico e figura social <strong>de</strong> relevo,<br />

foi o sargento-mor Bento Antônio Vahia, casa<strong>do</strong> com Rita Clara <strong>de</strong> Araújo Vahia, filha <strong>de</strong> um ricaço <strong>de</strong><br />

nome José Caetano <strong>de</strong> Araújo. O casal Vahia tinha residência em Meriti, on<strong>de</strong> possuía um gran<strong>de</strong> e<br />

próspero engenho e na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> muitos prédios, sen<strong>do</strong> que <strong>do</strong>ze na rua Larga <strong>de</strong> São Joaquim, números<br />

119 a 141. Em 1827, ain<strong>da</strong> era bem satisfatória a situação financeira <strong>do</strong> casal Vahia, o qual, em 1830, já<br />

estava empobreci<strong>do</strong>, com to<strong>do</strong>s os bens penhora<strong>do</strong>s. Entre os cre<strong>do</strong>res figura como sen<strong>do</strong> o maior, por<br />

hipotecas <strong>de</strong> prédios, o <strong>de</strong> nome Antônio Gonçalves Varela, calafate, que se fez bastante rico e <strong>do</strong>no <strong>de</strong><br />

vários prédios urbanos no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> residia à rua Larga <strong>de</strong> São Joaquim, em prédio <strong>de</strong> sua<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, adquiri<strong>do</strong> por compra ao sargento-mor José Rodrigues Gonçalves <strong>do</strong> Vale e sua mulher<br />

Domitília Flora <strong>do</strong> Vale <strong>da</strong> Silveira.<br />

I g reja <strong>de</strong> São Joaquim<br />

A igreja <strong>de</strong> São Joaquim, velho templo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e o prédio que lhe ficava contíguo e que servira<br />

<strong>de</strong> seminário, passaram a próprios <strong>da</strong> Nação, pelo <strong>de</strong>creto real, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1818, <strong>de</strong>creto esse que<br />

extinguiu o seminário e fez <strong>do</strong> prédio um quartel, e <strong>da</strong> igreja uma capela privativa <strong>da</strong> oficiali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em<br />

19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1821, restabeleceu-se o seminário, transforma<strong>do</strong>, mais tar<strong>de</strong>, em uma instituição oficial<br />

<strong>de</strong> ensino secundário, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Colégio Pedro II, na forma <strong>do</strong> disposto pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1837, <strong>da</strong>ta natalícia <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, Dom Pedro II – que, nesse dia 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1837,<br />

completava os seus 12 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. É, nos nossos dias, o estabelecimento <strong>de</strong> ensino secundário padrão<br />

<strong>do</strong> Brasil. A igreja, fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> pie<strong>do</strong>so Manoel <strong>de</strong> Campos Dias, que a legou aos órfãos <strong>de</strong> São Pedro,<br />

em 1766, sob o patrocínio <strong>de</strong> São João Joaquim, foi cain<strong>do</strong> em ruína alguns anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> volta <strong>do</strong>s<br />

seminaristas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> fecha<strong>da</strong> ao culto. Des<strong>de</strong> 1859 até 1876, foi ocupa<strong>da</strong> pelo Liceu <strong>de</strong> Artes e<br />

Ofícios, Escola <strong>de</strong> Farmácia e <strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> Instrução Pública Municipal. Restaura<strong>da</strong> em 1896,<br />

voltou ao culto. Veio a ser <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>, para melhoramentos locais, na administração <strong>do</strong> prefeito Pereira<br />

Passos (1902/1906). Era <strong>de</strong> estilo barocco ou barroco, com a frontaria <strong>de</strong> 18m, volta<strong>da</strong> para a rua larga<br />

<strong>de</strong> São Joaquim, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se cerca <strong>de</strong> 40m pela rua estreita <strong>do</strong> mesmo nome. Na atual aveni<strong>da</strong><br />

Marechal Floriano tem se<strong>de</strong>, ain<strong>da</strong>, o Ministério <strong>do</strong> Exterior, no antigo palácio que pertenceu a Francisco<br />

José <strong>da</strong> Rocha Filho, barão <strong>de</strong> Itamarati. O rico titular construiu esse palácio para a sua residência na,<br />

então, rua Larga <strong>de</strong> São Joaquim, on<strong>de</strong> tinham existi<strong>do</strong> os prédios nºs 158 a 172, até 1851, quan<strong>do</strong> foram<br />

<strong>de</strong>moli<strong>do</strong>s e inicia<strong>da</strong> a construção <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> Palácio Itamarati. Essa principesca residência veio a ser<br />

adquiri<strong>da</strong> pelo governo <strong>da</strong> República em 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1889, com to<strong>do</strong> o rico mobiliário que a<br />

guarnecia, por seiscentos e trinta contos <strong>de</strong> réis, para a se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República.<br />

Rua São Jorge – 1820/1852<br />

Terreno <strong>de</strong> duas braças <strong>de</strong> frente pela rua São Jorge, com uma casa térrea <strong>da</strong>s antigas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

pertencente a José <strong>de</strong> Freitas Rangel, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>do</strong> seu avô, José <strong>da</strong> Cruz Silva. Em 7 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1820, Freitas Rangel obteve a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara para ven<strong>de</strong>r a casa por<br />

1:500$, a Domingos José Corrêa, o qual tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em junho <strong>de</strong> 1821, ao foro<br />

anual <strong>de</strong> 800 réis. Rangel, que era rico, além <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> casa, possuía outra na mesma rua <strong>de</strong> São Jorge,<br />

nº 61. Em 1836, ele já era faleci<strong>do</strong>, pois que nesse ano encontramos Fortunata Maria <strong>de</strong> Assunção, na<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> viúva <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Freitas Rangel, sen<strong>do</strong> penhora<strong>da</strong> por dívi<strong>da</strong>s <strong>do</strong> casal. Na praça <strong>do</strong>s bens,<br />

a casa 61 foi arremata<strong>da</strong> por Domingos José Corrêa, proprietário também, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1820, <strong>da</strong> casa nº 53,<br />

como <strong>de</strong>ixamos dito anteriormente. Do terreno <strong>da</strong> casa que arrematou, Domingos tirou carta <strong>de</strong><br />

aforamento, em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1836. José Inácio Corrêa, filho e her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Domingos, ven<strong>de</strong>u a casa<br />

53, em 1840, a Jacinto Evaristo <strong>da</strong> Silva, o qual, em 1850, transferiu o dito imóvel, por ven<strong>da</strong>, pela<br />

quantia <strong>de</strong> <strong>do</strong>is contos e quinhentos mil réis, a Antônio Luiz <strong>da</strong> França. Já em 1852, a casa 53 <strong>da</strong> rua São


C A P Í T U L O X I V | 2 2 1<br />

Jorge como proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Diogo Hartley, aparece <strong>do</strong>s Registros <strong>de</strong> Aforamentos <strong>da</strong> Câmara, pagan<strong>do</strong><br />

o proprietário o foro anual <strong>de</strong> 320 réis. A Carta <strong>do</strong> Aforamento traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1852.<br />

Hartley era conheci<strong>do</strong> industrial e negociante, ten<strong>do</strong> residi<strong>do</strong> na casa que comprou e que reconstruiu<br />

radicalmente.<br />

Rua São Jorge – 1856<br />

Terreno <strong>de</strong> duas braças <strong>de</strong> frente à rua São Jorge, canto <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, à esquer<strong>da</strong>, e<br />

ocupa<strong>do</strong> pelo prédio nº 59, vendi<strong>do</strong> por Domingos Antônio <strong>de</strong> Faria ao dr. Nicolau Joaquim Moreira,<br />

por cabeça <strong>de</strong> sua mulher, Maria <strong>de</strong> Jesus Pinheiro Moreira.<br />

O dr. Nicolau Joaquim Moreira foi um <strong>do</strong>s mais notáveis médicos brasileiros no passa<strong>do</strong>. Gran<strong>de</strong><br />

a sua cultura e figura com <strong>de</strong>staque entre os esculápios <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>fensores <strong>da</strong> eficácia <strong>da</strong> vacina<br />

contra a varíola. Sob o ponto <strong>de</strong> vista científico e também social, a respeito <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Gerner, o<br />

dr. Nicolau Moreira escreveu diferentes trabalhos que foram publica<strong>do</strong>s na Gazeta Médica, em 1862.<br />

Gerner, notável médico inglês, natural <strong>de</strong> Gloucester, foi o <strong>de</strong>scobri<strong>do</strong>r <strong>da</strong> vacina varíola. Em Londres,<br />

nos fins <strong>do</strong> século XVIII, efetuou as experiências públicas <strong>da</strong> benemérita <strong>de</strong>scoberta e conseguiu<br />

mostrar, com feliz sucesso, a proficui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse preservativo. O famoso sábio faleceu, em 1823, aos 74<br />

anos, e teve a glória <strong>de</strong> ver a varíola vacina (sic) a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> por quase to<strong>da</strong>s as nações cultas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Pela <strong>do</strong>cumentação fi<strong>de</strong>digna que conhecemos e que <strong>de</strong>u origem a um mo<strong>de</strong>sto trabalho nosso,<br />

publica<strong>do</strong> pela <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, em 1929, <strong>de</strong>ve-se ao ilustre brasileiro Felisberto Freire<br />

Cal<strong>de</strong>ira Brant Pontes, marquês <strong>de</strong> Barbacena, a introdução no Brasil <strong>do</strong> preservativo gerneriano. *<br />

Barbacena, reconhecen<strong>do</strong> que muita vez o pus <strong>da</strong>s lâminas não era proveitoso, man<strong>do</strong>u sete rapazes,<br />

escravos seus, a Portugal, acompanha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> cirurgião Manoel Moreira <strong>da</strong> Rosa. Embarcaram no navio<br />

Bom Despacho, que partiu a 8 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> l804. O dr. Rosa foi recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> ao cirurgião <strong>da</strong> Arma<strong>da</strong><br />

portuguesa, Teo<strong>do</strong>ro Ferreira <strong>de</strong> Aguiar, o qual estava se notabilizan<strong>do</strong> em Lisboa pelos ótimos<br />

resulta<strong>do</strong>s que ia obten<strong>do</strong> <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong> vacina. Na viagem <strong>de</strong> regresso ao Brasil, o dr. Rosa, já<br />

perfeitamente instruí<strong>do</strong> no processo <strong>da</strong> vacinação, veio passan<strong>do</strong> o pus <strong>de</strong> um para outro escravo, e isso<br />

até chegar à Bahia. É certo, porém, que a propagação <strong>da</strong> vacina por to<strong>do</strong> o Brasil partiu, <strong>de</strong> fato, <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong>, em 1804, tinham si<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s e a aplicação <strong>da</strong> vacina, por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> vicerei<br />

<strong>do</strong>m Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Portugal, marquês <strong>de</strong> Aguiar.<br />

Rua São Jorge – 1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente à rua São Jorge, canto com a <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa. Em 1860, a<br />

Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u a Felipe <strong>de</strong> Barros Corrêa a ocupação <strong>de</strong>sse terreno, baldio havia anos,<br />

sob a condição <strong>de</strong> edificar no mesmo, como <strong>de</strong> fato edificou, cinco sóli<strong>do</strong>s prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>. Do la<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> oeste <strong>da</strong> antiga chácara <strong>de</strong> Gonçalo Nunes, que era foreira ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara em 1:200 réis anuais,<br />

o terreno em causa foi <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>, em 1721.<br />

I g reja <strong>de</strong> São Jorge<br />

Com altar próprio e a imagem <strong>de</strong> seu padroeiro existia a Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Jorge, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1740, na<br />

igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Parto. Para a construção <strong>da</strong> sua capela, <strong>do</strong>ou-lhe Pedro Coelho <strong>da</strong> Silva, em 1750, um<br />

terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente para um caminho <strong>de</strong> uso público, caminhan<strong>do</strong> <strong>do</strong> rossio Gran<strong>de</strong> para o<br />

Capueruçu – rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – e ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> 20 braças. Esse caminho serviu <strong>de</strong> risco para a abertura<br />

<strong>da</strong> rua que veio a ter o nome <strong>de</strong> São Jorge. Somente em 1753, provisão <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto, permitiu-se a<br />

edificação <strong>da</strong> capela, adquirin<strong>do</strong> a irman<strong>da</strong><strong>de</strong>, em seguimento ao <strong>do</strong>a<strong>do</strong>, mais terreno, em maior<br />

proporção e aí, nesse chão foreiro ao Sena<strong>do</strong>, levantou a Confraria <strong>de</strong> São Jorge a sua pequena igreja,<br />

on<strong>de</strong> esteve durante noventa e sete anos. O Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e <strong>de</strong>pois a Ilustríssima Câmara, por se<br />

* Na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1798, o cirurgião-mor <strong>do</strong> Primeiro Regimento <strong>de</strong> Milícias, Francisco Men<strong>de</strong>s Ribeiro <strong>de</strong> Vasconcelos, aplicou essa<br />

vacina em inúmeras pessoas. O resulta<strong>do</strong> benéfico <strong>de</strong>sse trabalho levou a que 34 pessoas, por via <strong>de</strong> um abaixo-assina<strong>do</strong>, solicitassem ao vice-rei,<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, apoio ao cita<strong>do</strong> trabalho <strong>da</strong>quele pioneiro cirurgião. (N.C.)


2 2 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

tratar <strong>de</strong> uma aplicação pie<strong>do</strong>sa, nunca cobraram foro <strong>do</strong> terreno. Em 1854, a Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Jorge<br />

agremiou-se à <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia e assim vivem ain<strong>da</strong> no templo, recém-restaura<strong>do</strong>, à rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, esquina, à direita <strong>de</strong>ssa rua, na praça <strong>da</strong> República. A velha capela e <strong>de</strong>pendências à rua <strong>de</strong><br />

São Jorge, ao aban<strong>do</strong>no, caíram em ruínas.<br />

De gran<strong>de</strong> fervor o culto <strong>de</strong> São Jorge no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong>, a 23 <strong>de</strong> abril, dia consagra<strong>do</strong> a<br />

esse santo e gran<strong>de</strong> vulto <strong>do</strong> cristianismo, são imponentes as festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em seu louvor. No Brasil<br />

monárquico, São Jorge tinha honras militares como oficial superior <strong>do</strong> Exército.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res – 1787<br />

Terreno <strong>de</strong> uma pequena casa térrea, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> capitão Francisco Couto Landim e <strong>da</strong> sua<br />

mulher Ana Francisca Landim. Esse casal, resi<strong>de</strong>nte em casa própria, <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, na mesma rua, ven<strong>de</strong>u<br />

a dita casa térrea a 18 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1787, por 153$600, a Ana <strong>de</strong> Lima, viúva <strong>de</strong> José Caetano <strong>da</strong><br />

Encarnação. A viúva, que residia na ilha Gran<strong>de</strong>, transferiu a sua residência para a casa que comprara,<br />

na qual pouco <strong>de</strong>morou por ter adquiri<strong>do</strong>, à rua Senhor <strong>do</strong>s Passos, uma outra casa para residir. O casal<br />

Landim era rico, possuía próspero engenho no recôncavo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e prédios urbanos.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res – 1808/1856<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa térrea, à rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res, canto <strong>da</strong> travessa que ia para a capela <strong>do</strong> Senhor<br />

<strong>do</strong>s Passos. A casa era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Ana Angélica <strong>de</strong> Jesus Maria, rica e respeitável senhora, viúva <strong>de</strong><br />

José <strong>da</strong> Cruz e Silva, e resi<strong>de</strong>nte em casa própria, <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, à rua <strong>de</strong> São Pedro. No dia 20 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1808, Ana Angélica ven<strong>de</strong>u a dita casa térrea a Manoel Antônio <strong>de</strong> Castro, por 1:050$. O ato <strong>de</strong><br />

ven<strong>da</strong>, para comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra, realizou-se na sua residência, sen<strong>do</strong> a escritura lavra<strong>da</strong> pelo<br />

notário Amaro <strong>da</strong> Silva Vieira. Manoel Antônio <strong>de</strong> Castro era negociante em secos e molha<strong>do</strong>s, à rua <strong>do</strong><br />

Sabão, e possuía vários prédios urbanos no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Quase to<strong>do</strong>s esses prédios foram vendi<strong>do</strong>s,<br />

logo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> sua morte, ocorri<strong>da</strong> em 1827, pela sua viúva Teresa <strong>de</strong> Jesus Castro. No rol <strong>do</strong>s foreiros<br />

<strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> figura Teresa <strong>de</strong> Jesus Castro, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong> um terreno à rua <strong>do</strong>s<br />

Ferra<strong>do</strong>res, canto <strong>da</strong> travessa que ia para o Senhor <strong>do</strong>s Passos, <strong>de</strong>pois, rua São Jorge e na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Gonçalves Le<strong>do</strong>, um <strong>do</strong>s próceres <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1762/1840<br />

Terreno no campo <strong>de</strong> São Domingos, com duas frentes: uma para a rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e a outra<br />

para a <strong>do</strong> Bom Jesus, que se chamou <strong>de</strong>pois Sabão e, por fim, General Câmara, até <strong>de</strong>saparecer. No dito<br />

terreno começaram a ser construí<strong>da</strong>s, em 1762, casas térreas, com quintais que se confinavam, sen<strong>do</strong> que<br />

quatro <strong>da</strong>s casas volta<strong>da</strong>s para a rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, além <strong>da</strong> Vala Gran<strong>de</strong>, rua Uruguaiana – adiante <strong>de</strong><br />

Santa Efigênia. No precita<strong>do</strong> ano, para concluir a construção, o proprietário <strong>da</strong>s casas, Domingos<br />

Ferreira Brandão, viu-se obriga<strong>do</strong> a hipotecá-las por oitocentos mil réis, pelo prazo <strong>de</strong> um ano. O<br />

negócio foi feito com Francisco Pereira Franco, que vivia <strong>de</strong> agiotagem. Domingos, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

levantar a hipoteca, e com o falecimento <strong>de</strong> Franco, viu-se assedia<strong>do</strong> pelos her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> hipotecário, os<br />

quais moveram penhora executiva, com embargos, em 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1767. A <strong>de</strong>man<strong>da</strong> durou até 1772,<br />

quan<strong>do</strong>, por sentença final, as casas foram à praça a 14 <strong>de</strong> setembro, e arremata<strong>da</strong>s pelo capitão José<br />

Alves <strong>da</strong> Costa Saraiva, por novecentos mil réis. Saraiva reconstruiu essas casas, que passaram a<br />

pertencer a Josefa Maria <strong>de</strong> Jesus e, em 1816, eram vendi<strong>da</strong>s para liqui<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> inventário <strong>da</strong> mesma<br />

senhora. Uma <strong>da</strong>s casas foi adquiri<strong>da</strong> por Simpliciano José <strong>de</strong> Souza Júnior e, no ano <strong>de</strong> 1840, aparece<br />

no Rol <strong>da</strong>s Décimas com o nº 262, já pertencen<strong>do</strong> a Domingos <strong>do</strong> Couto Alves


Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1799/1854<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 2 3<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa térrea à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, com fun<strong>do</strong>s na <strong>do</strong> Sabão. Em 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1799,<br />

a proprietária <strong>de</strong>ssa casa, Clara Maria <strong>da</strong> Conceição, fez <strong>do</strong>ação <strong>da</strong> mesma casa, em partes iguais, a<br />

Paulina Felícia <strong>do</strong>s Santos e a Joaquina Maria <strong>da</strong> Conceição, fican<strong>do</strong> a <strong>do</strong>a<strong>do</strong>ra usufrutuária <strong>do</strong>s<br />

rendimentos até a sua morte, que ocorreu em fevereiro <strong>de</strong> 1817. Ain<strong>da</strong> no mesmo mês <strong>do</strong> falecimento<br />

<strong>da</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>ra as <strong>do</strong>natárias ven<strong>de</strong>ram a casa ao casal Manoel Antônio <strong>de</strong> Castro e Teresa <strong>de</strong> Jesus Castro.<br />

Desse casal, foi her<strong>de</strong>ira uma neta <strong>de</strong> nome Teresa <strong>de</strong> Jesus, a quem a Ilustríssima Câmara, em 2 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1854, conce<strong>de</strong>u carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa em apreço, então com o nº 248. A<br />

<strong>do</strong>natária, Paulina Felícia <strong>do</strong>s Santos, era casa<strong>da</strong> com o sargento-mor Francisco José <strong>de</strong> Araujo Menezes,<br />

e a <strong>do</strong>natária Joaquina Maria <strong>da</strong> Conceição com o negociante José Vieira Sarmento e filha <strong>da</strong> rica<br />

fazen<strong>de</strong>ira, em Maricá, Angélica Felícia <strong>de</strong> Santana, que foi, até 1816, <strong>do</strong>na <strong>da</strong> importante fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Batiba.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1801/1858<br />

Terreno <strong>de</strong> trinta palmos <strong>de</strong> frente, com <strong>do</strong>is sóli<strong>do</strong>s prédios que pertenceram a José Joaquim <strong>de</strong><br />

Curvelo. Com segurança, conseguimos i<strong>de</strong>ntificar a existência <strong>de</strong>sses prédios, em 1858, ain<strong>da</strong> bem<br />

conserva<strong>do</strong>s com os nºs. 329 e 331, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, então, <strong>de</strong> Manoel Alves Marques. Em julho <strong>de</strong> 1801,<br />

já Curvelo havia faleci<strong>do</strong> e um alvará <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1801, licenciava a viúva<br />

<strong>de</strong> Curvelo a ven<strong>de</strong>r um <strong>do</strong>s prédios, o <strong>de</strong> nº 329, à Antônio Francisco <strong>do</strong>s Santos Porto, que era genro<br />

<strong>de</strong> Curvelo. Também, e ain<strong>da</strong> no ano <strong>de</strong> 1801, Santos Porto tornou-se proprietário <strong>do</strong> <strong>de</strong> nº 331, pelo<br />

falecimento <strong>da</strong> sua sogra Inácia Teresa <strong>de</strong> Jesus Curvelo. Posteriormente, o prédio <strong>de</strong> nº 329 foi vendi<strong>do</strong>,<br />

por 2:600$, a José Malheiros <strong>do</strong>s Santos e o 331, pela mesma quantia, a José <strong>da</strong> Silva Arouca.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1803/1855<br />

Terreno <strong>de</strong> vinte palmos <strong>de</strong> frente, com uma casa térrea <strong>de</strong> feição primitiva, pertencente à Inácia<br />

Maria <strong>do</strong> Bonsucesso, e a ela compra<strong>da</strong> pela quantia <strong>de</strong> três contos <strong>de</strong> réis – 3:000$000 -, por Inácio<br />

Gomes <strong>da</strong> Cruz, em 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803. A casa era <strong>de</strong> pedra e cal, muito baixa, ombreiras <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e<br />

beira<strong>da</strong> saliente, com duas janelas e uma porta. Compran<strong>do</strong>-a, Gomes <strong>da</strong> Cruz fez radical modificação<br />

na casa, vendi<strong>da</strong> pela sua viúva, Maria Vitória <strong>da</strong> Rocha, em 1832, a Manoel Luiz <strong>de</strong> Santana Gomes.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, pertencen<strong>do</strong> a Antônio Joaquim Ramos Leal, foi a casa <strong>de</strong> novo reforma<strong>da</strong> por completo,<br />

sen<strong>do</strong> transforma<strong>da</strong> em sobra<strong>do</strong> <strong>de</strong> janelas <strong>de</strong> peitoril, com vidraças, e ampla loja para armazém no<br />

térreo. Esse novo prédio, hipoteca<strong>do</strong> a Joaquim <strong>de</strong> Sales Soares, veio pertencer a ele pela quantia <strong>de</strong><br />

17:500$, em 1855.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1804/1839<br />

Terreno <strong>de</strong> duas frentes, sen<strong>do</strong> uma à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, e a outra na <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos, ambas<br />

com a mesma largura <strong>de</strong> três braças, um palmo e cinco polega<strong>da</strong>s, por uma extensão, <strong>de</strong> frente à frente,<br />

<strong>de</strong> vinte e três braças.<br />

Existia no terreno uma gran<strong>de</strong> casa, <strong>da</strong>s primitivas levanta<strong>da</strong>s no campo extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

que encontrava-se em ruínas. Pertencia à Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, que a ven<strong>de</strong>u, em<br />

11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1804, a Marcos Martins. Sobre essas ruínas, o novo proprietário levantou, com frente<br />

à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, um sóli<strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> que recebeu o nº 391, e, na rua Senhor <strong>do</strong>s Passos, duas boas<br />

casas térreas, as quais tiveram os nºs 140 e 142. O rico proprietário Marcos Martins, consuman<strong>do</strong> uma<br />

partilha amigável <strong>de</strong> bens com a sua filha Teresa A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Garcez, tornou-se o único <strong>do</strong>no<br />

<strong>do</strong>s precita<strong>do</strong>s imóveis, vendi<strong>do</strong>s por ele, Garcez, em 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1835, a Francisco Rodrigues


2 2 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Ferreira, a quem a Ilustríssima Câmara fez notificação sobre o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s prédios que<br />

ele, Ferreira, comprara. O Título <strong>de</strong>sse aforamento traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1836. Nessa época,<br />

o sobra<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga tinha o nº 301 e confinava, à direita, com o prédio 299, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Francisco Men<strong>de</strong>s Salga<strong>do</strong>, e, à esquer<strong>da</strong>, com o <strong>de</strong> nº 303, pertencente a Rita Delfina Teixeira Leal. As<br />

casas <strong>da</strong> rua Senhor <strong>do</strong>s Passos figuravam com os nºs 136 e 142.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1805/1830<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> pedra e cal, à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, junto à igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Efigênia, pertencente ao ricaço Francisco Rodrigues Chaves, faleci<strong>do</strong> no fim <strong>do</strong> século XVIII, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />

valiosos bens no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Dois irmãos <strong>de</strong> Chaves, João e Manoel Rodrigues Chaves, resi<strong>de</strong>ntes<br />

na vila <strong>de</strong> Barcelos, em Portugal, foram os her<strong>de</strong>iros. Entre os bens arrola<strong>do</strong>s, figurou a dita casa,<br />

vendi<strong>da</strong> em 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1805, por 1:268$200, ao capitão João Carneiro <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, tesoureiro <strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>spesas miú<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Real. Na numeração predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1808, a casa recebeu o nº 299,<br />

mu<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong>pois para 217. Em 1830, foi vendi<strong>da</strong> ao negociante José Gonçalves Moreira <strong>da</strong> Silva, por<br />

quatro contos <strong>de</strong> réis. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r João Pereira Darrigue Faro foi também proprietário <strong>de</strong>sse prédio,<br />

que ain<strong>da</strong> existe sóli<strong>do</strong> e conserva<strong>do</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1806/1848<br />

Terreno <strong>de</strong> vinte palmos, com uma casa térrea, <strong>de</strong> porta e janela, pertencente a Ana Justina <strong>de</strong><br />

Lima, por ela vendi<strong>da</strong>, em 1806, à sua irmã Rosa Alexandrina <strong>de</strong> Lima. Por morte <strong>de</strong>ssa proprietária,<br />

que era solteira, passou a casa, então com o nº 221, a Anastácio José <strong>de</strong> Souza Gama, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

lega<strong>do</strong> que lhe fez a mesma senhora Rosa Alexandrina, sua madrinha. Em abril <strong>de</strong> 1848, Gama ven<strong>de</strong>u<br />

a casa a Narciso <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, por três contos e setecentos mil réis. É curioso dizer que, em 1806, foi<br />

vendi<strong>da</strong> pela quantia <strong>de</strong> seiscentos mil réis.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1806/1858<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa térrea à mão direita <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, vin<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua Direita e passan<strong>do</strong> o<br />

Oratório <strong>de</strong> Pedra. A casa pertencia a Antônio Álvares <strong>da</strong> Silva, que a ven<strong>de</strong>u, em 3 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1806,<br />

a Joana Lima <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça, por quinhentos e cinqüenta mil réis. Em 1812, por escritura <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong><br />

novembro, e pelo mesmo preço <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> anterior, foi a casa vendi<strong>da</strong> pelos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Joana Luiza a<br />

Carlos Antônio <strong>de</strong> Souza. Manoel Rodrigues Manço, moço maior <strong>de</strong> vinte anos e músico <strong>da</strong> capela Real,<br />

e Eugênia Maria <strong>da</strong> Conceição, <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> trinta anos e solteira, foram os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Joana Luiza: o<br />

primeiro na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> filho e o segun<strong>do</strong> na <strong>de</strong> irmã. Em 1830, Luiz Carlos e Tomásia Deolin<strong>da</strong>, filhos<br />

e her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Carlos Antônio, ven<strong>de</strong>ram a casa, por três contos e duzentos mil réis, a João Batista <strong>da</strong><br />

Silva, a quem veio a ser compra<strong>da</strong> por Bento José <strong>de</strong> Araújo. Em 1858, era proprietário <strong>do</strong> imóvel José<br />

Antônio Alves <strong>da</strong> Rocha. No Rol <strong>da</strong>s Décimas figura a casa em apreço como ten<strong>do</strong> os nºs 168, <strong>de</strong>pois<br />

426 e, por último, 330, ain<strong>da</strong> manti<strong>do</strong> em 1858. Nos registros <strong>da</strong> Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Tesouro Nacional,<br />

consta anota<strong>do</strong> uma certidão <strong>do</strong> juízo Comercial, em prova <strong>de</strong> título aquisitivo <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> à rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga 330, por parte <strong>de</strong> José Antônio Alves <strong>da</strong> Rocha, pela arrematação que fizera <strong>da</strong> dita<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, leva<strong>da</strong> à praça <strong>do</strong> mesmo juízo, por dívi<strong>da</strong>s. Também, nos Registros <strong>do</strong>s Foreiros <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara Municipal figura o mesmo Alves <strong>da</strong> Rocha como posseiro <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa nº 330,<br />

<strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, e ten<strong>do</strong> carta <strong>de</strong> aforamento em 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1858.


Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1808/1856<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 2 5<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa térrea com frente na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e fun<strong>do</strong>s na <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos.<br />

Confinava, por um la<strong>do</strong>, com casas <strong>do</strong> padre Vicente e, pelo outro, com um beco sem nome que, mais<br />

tar<strong>de</strong>, veio a servir para o prolongamento <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Núncio, antiga <strong>da</strong> Con<strong>de</strong>ssa. A casa pertencia a<br />

Francisco José Álvares <strong>da</strong> Silva Coelho e foi por ele lega<strong>da</strong> a José Joaquim <strong>da</strong> Fonseca. Por escritura<br />

pública, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1808, pela quantia <strong>de</strong> oitocentos e cinqüenta mil réis, o dito legatário e sua<br />

mulher, Venância Ferreira Neves, ven<strong>de</strong>ram a casa a Inácio Gomes <strong>da</strong> Cruz, casa<strong>do</strong> com Maria Vitória<br />

<strong>da</strong> Rocha. O casal Cruz, que era rico e resi<strong>de</strong>nte na mesma rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, em casa própria, no trecho<br />

<strong>da</strong> Vala para baixo, on<strong>de</strong> chamavam <strong>de</strong> Mãe <strong>do</strong>s Homens, ven<strong>de</strong>u a casa a Agostinho Ferreira <strong>de</strong> Melo<br />

por 2:000$. Ferreira <strong>de</strong> Melo logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> comprar a casa, pediu o aforamento <strong>do</strong> terreno, o que lhe<br />

foi concedi<strong>do</strong> por Carta <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1827. Como dissemos no começo <strong>de</strong>sta notícia, o terreno tinha<br />

frente também à rua Senhor <strong>do</strong>s Passos, on<strong>de</strong> se edificaram duas casas térreas, as quais, em 1827, já<br />

pertenciam ao dito Agostinho Ferreira <strong>de</strong> Melo e figuravam com os nºs 180 e 182. A viúva <strong>de</strong>sse<br />

proprietário, Ana Joaquina <strong>de</strong> Jesus Melo, pelo alvará <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1844, obteve a licença para a ven<strong>da</strong> que fez <strong>da</strong> casa 180, <strong>da</strong> rua Senhor <strong>do</strong>s Passos, e <strong>da</strong> situa<strong>da</strong> à rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, então nº 345, ao seu genro Rafael Pereira <strong>de</strong> Carvalho, mais tar<strong>de</strong> proprietário também <strong>da</strong><br />

casa à rua Senhor <strong>do</strong>s Passos 182, por compra a José Maria <strong>do</strong> Amaral e a Eduar<strong>do</strong> Laemmert. 46 Pereira<br />

<strong>de</strong> Carvalho efetuou obras <strong>de</strong> vulto na casa 345 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, recuan<strong>do</strong>-a ao novo alinhamento<br />

marca<strong>do</strong> pela Ilustríssima Câmara e levantan<strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> com facha<strong>da</strong> <strong>de</strong> feição mo<strong>de</strong>rniza<strong>da</strong>. Tanto essa<br />

casa e também as <strong>da</strong> rua Senhor <strong>do</strong>s Passos foram compra<strong>da</strong>s ao dito Rafael Pereira <strong>de</strong> Carvalho por<br />

Antônio Francisco Martins pela quantia <strong>de</strong> treze contos <strong>de</strong> réis. Por carta <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1856, a<br />

Ilustríssima Câmara transferiu a Martins o aforamento <strong>do</strong> terreno. Nessa ocasião, unificaram-se os <strong>do</strong>is<br />

antigos aforamentos, com testa<strong>da</strong> em comum. A frente <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga era <strong>de</strong> 32 palmos e a <strong>do</strong><br />

Senhor <strong>do</strong>s Passos <strong>de</strong> 56 ditos. O novo alinhamento <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga corrigiu bastante os aleijões<br />

que apresentava essa via pública no seu antigo seguimento. Ain<strong>da</strong> em 1846, mostra <strong>de</strong>sses aleijões <strong>da</strong>va<br />

à casa 345, situa<strong>da</strong> no canto <strong>de</strong> um beco, e forman<strong>do</strong> enorme cotovelo bem perigoso – que apenas<br />

<strong>de</strong>ixava 7 palmos à passagem pública.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1810/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> duas braças <strong>de</strong> frente à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, por 13 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com uma casa térrea<br />

<strong>de</strong> porta e janela e feição primitiva grosseira. Pertenceu a Domingos Pires Chaves e, por sua morte, aos<br />

seus filhos Antônio José Pires e Teresa Alexandrina Pires. Antônio ven<strong>de</strong>u a sua parte à sua irmã, por<br />

escritura <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1810, sen<strong>do</strong> a compra<strong>do</strong>ra ain<strong>da</strong> solteira e mora<strong>do</strong>ra à rua <strong>do</strong> Piolho – atual,<br />

Carioca. Domingos Pires Chaves era casa<strong>do</strong> com Ana Teresa <strong>de</strong> Jesus Chaves e pertencia à conceitua<strong>da</strong><br />

e rica família <strong>do</strong>s Pires Chaves, <strong>de</strong> remota época <strong>do</strong>na <strong>de</strong> terras na serra <strong>da</strong> Carioca. Não conseguimos<br />

confirmação sobre ser Domingos irmão <strong>de</strong> Silvestre Pires Chaves, <strong>do</strong>no, em 1810, <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> chácara <strong>do</strong><br />

morro <strong>do</strong> Corcova<strong>do</strong>, no sítio anexo a que se chamou – Silvestre e, ain<strong>da</strong> até hoje, assim chama<strong>do</strong>.<br />

Teresa Alexandrina casou-se com José Pedro <strong>da</strong> Gama Freitas e ao casal, em 1843, a referi<strong>da</strong> casa térrea,<br />

então com o nº 346, compra<strong>da</strong> foi por Custódio Gonçalves Camacho, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong><br />

terreno <strong>da</strong> dita casa, em 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1843.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1811 / 1 8 5 0<br />

Terreno <strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 140, que pertenceu a Custódio José Soares e por seu filho e her<strong>de</strong>iro<br />

José Custódio Soares vendi<strong>da</strong> a Jacob <strong>de</strong> Castro, em 1º <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1811. Por morte <strong>de</strong> Castro, e em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> lega<strong>do</strong>, passou a casa à mulher <strong>de</strong> Jerônimo Pereira <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> e a essa legatária foi


2 2 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

compra<strong>da</strong> pelo negociante João Diogo Esteves, que se casou com Joaquina Teresa <strong>de</strong> Castro e Silva,<br />

viúva <strong>de</strong> Jacob <strong>de</strong> Castro. Diogo Esteves faliu e os seus bens foram à praça, em abril <strong>de</strong> 1845, no juízo<br />

Comercial. A casa 140 foi arremata<strong>da</strong> por José Manuel, negociante forte. Manuel pediu o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno <strong>da</strong> casa que arrematara, o que lhe foi concedi<strong>do</strong> somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> prontificar-se a pagar, como<br />

pagou, to<strong>do</strong>s os laudêmios <strong>da</strong>s transmissões anteriormente havi<strong>da</strong>s e também os foros venci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trinta<br />

e quatro anos, à razão <strong>de</strong> 360 réis por ano. Em 1850, os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Manuel ven<strong>de</strong>ram a casa <strong>da</strong> rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga 140 a José Narcizo <strong>da</strong> Silva Vieira.<br />

Rua Alfân<strong>de</strong>ga – 1811/1852<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa térrea à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga nº 207, pertencente ao casal João Nepomuceno e<br />

Francisca Luiza <strong>da</strong> Conceição e pelo mesmo casal vendi<strong>da</strong> por 1:600$, em 2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1811, ao capitão<br />

Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, na conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> alvará<strong>de</strong> Licença concedi<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, em vereança <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano. É interessante dizer que, por lei, em to<strong>da</strong> e<br />

qualquer transmissão <strong>de</strong> imóveis foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> precedia sempre <strong>de</strong> licença<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, que o suce<strong>de</strong>u. Curioso nos seus termos, o alvará<br />

<strong>de</strong> licença rezava que compra<strong>do</strong>r e ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong>viam jurar sobre os Santos Evangelhos o preço <strong>da</strong> ven<strong>da</strong><br />

e a obrigação <strong>do</strong> pagamento <strong>do</strong> laudêmio e <strong>do</strong>s foros em atraso e ain<strong>da</strong> a retira<strong>da</strong> imediata <strong>da</strong> nova carta<br />

<strong>de</strong> aforamento. Na vigência <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, não se <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> fazer a cerimônia <strong>do</strong> juramento<br />

perante a mesa <strong>da</strong>quela respeitável corporação. Ao tempo <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara negligenciou-se<br />

bastante nesse particular. Quanto à retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> nova carta <strong>de</strong> aforamento, foi sempre <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ci<strong>da</strong>.<br />

Meses e anos <strong>de</strong>corriam sem o cumprimento <strong>de</strong>ssa obrigação, a qual, justamente, completava <strong>de</strong> to<strong>do</strong> a<br />

posse enfitêutica. Numerosos os prejuízos, e Inocêncio <strong>da</strong> Rocha Maciel, provecto autor <strong>do</strong> Tombamento<br />

Municipal (1857/1872) diz que, dia a dia, crescia essa má casta <strong>de</strong> usurpa<strong>do</strong>res nos <strong>do</strong>mínios territoriais<br />

<strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O capitão Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> foi perjuro e manteve-se intruso na<br />

posse <strong>do</strong> imóvel que comprara há cerca <strong>de</strong> vinte anos e somente força<strong>do</strong> por interesses seus foi leva<strong>do</strong><br />

a <strong>de</strong>nunciar a sua situação, que, afinal, legalizou em 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1830, tiran<strong>do</strong> a carta <strong>de</strong> aforamento.<br />

Por morte <strong>do</strong> capitão Domingos, passou a casa 207 à sua filha Lucina Alves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> e Souza, casa<strong>da</strong><br />

com Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Souza. Por fim, o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r João Pereira <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cessionário <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Souza Júnior, filho <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> casal, tornou-se <strong>do</strong>no <strong>da</strong> casa nº 207,<br />

<strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, por ele vendi<strong>da</strong>, em março <strong>de</strong> 1852, a Manoel Álvares <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1813/1836<br />

Terreno <strong>de</strong> casa térrea nº 265 pertencente a Ana Teresa <strong>de</strong> Jesus, viúva <strong>de</strong> Manoel Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Brito, resi<strong>de</strong>nte à rua <strong>da</strong>s Violas – <strong>de</strong>pois Teófilo Ottoni – , em casa própria. Em 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1813,<br />

encontramos a viúva Brito ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, por quinhentos mil réis, a casa <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, 265, a<br />

Francisca <strong>de</strong> Menezes Antunes Cabral, <strong>do</strong>na solteira, resi<strong>de</strong>nte à rua <strong>da</strong> Vala, na casa <strong>de</strong> seu irmão – o<br />

padre Manoel Gonçalves Vitória. Esse sacer<strong>do</strong>te foi o her<strong>de</strong>iro <strong>da</strong> sua referi<strong>da</strong> irmã, por testamento<br />

<strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1825. Por morte <strong>do</strong> padre Vitória, pertenceu a casa a José Pereira Car<strong>do</strong>so, a<br />

este compra<strong>da</strong>, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1835, pela quantia <strong>de</strong> quatro contos <strong>de</strong> réis, pelo capitalista José <strong>do</strong>s<br />

Santos Para<strong>da</strong>, resi<strong>de</strong>nte à rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>. Entre os muitos prédios pertencentes a Para<strong>da</strong> contava o <strong>do</strong><br />

famoso Oratório <strong>de</strong> Pedra, <strong>do</strong> qual trataremos <strong>de</strong>pois.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1816/1858<br />

Terreno <strong>da</strong> casa térrea nº 311, mais tar<strong>de</strong> transforma<strong>da</strong> em casa com sobra<strong>do</strong>. Pertencia à Venância<br />

<strong>da</strong> Cruz Navarro, viúva <strong>do</strong> capitão Francisco Alves Navarro, que foi senhor <strong>de</strong> engenhos e terras pelos<br />

sertões <strong>da</strong> capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> manteve sempre gran<strong>de</strong> nº <strong>de</strong> colonos livres e escravos nas<br />

suas plantações, nos trabalhos <strong>do</strong>s seus engenhos e nas explorações <strong>do</strong> ouro e diamantes, nas suas terras


C A P Í T U L O X I V | 2 2 7<br />

<strong>da</strong> região ribeirinha <strong>do</strong> rio Negro, hoje, no território <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A viúva Venância,<br />

senhora <strong>de</strong> espírito adianta<strong>do</strong>, inteligente e operosa, aumentou bastante a fortuna que lhe <strong>de</strong>ixou o<br />

mari<strong>do</strong>. Na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> comprou bons prédios urbanos e associou-se a<br />

vários negócios. Fixou residência no seu próspero engenho <strong>da</strong> Vargem Gran<strong>de</strong>, em Jacarepaguá, on<strong>de</strong><br />

acabou os seus dias, no princípio <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1818, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> her<strong>de</strong>iro um seu filho <strong>de</strong> nome Leandro José<br />

Bento, lavra<strong>do</strong>r naquela locali<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca e ali faleci<strong>do</strong> no mesmo engenho <strong>da</strong> Vargem Gran<strong>de</strong>, a 21 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 1832, e sepulta<strong>do</strong> na igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Loreto, amortalha<strong>do</strong> <strong>de</strong> branco. A casa 311 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga veio a pertencer a um bisneto <strong>da</strong> viúva Venância <strong>da</strong> Cruz Navarro, chama<strong>do</strong> Pedro José <strong>da</strong><br />

Silva, a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u nova carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> dita casa, em 1º<br />

<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1858.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1818/1841<br />

Terreno <strong>de</strong> duas braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e fun<strong>do</strong>s na <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos,<br />

pertencente a José Teles <strong>de</strong> Menezes Drumond e outros mais her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Beatriz Teresa <strong>de</strong> Vaz<br />

Consellos – Vasconcelos, mo<strong>de</strong>rnamente. Por escritura pública <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1818 e pela quantia<br />

<strong>de</strong> cem mil réis, o terreno foi vendi<strong>do</strong> pelos referi<strong>do</strong>s posseiros a Manoel José <strong>da</strong>s Neves, o qual, na<br />

frente <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, construiu uma casa térrea e os fun<strong>do</strong>s fechou com muro <strong>de</strong> pedra e cal e<br />

portão no centro. A casa foi lança<strong>da</strong> nas Décimas com o nº 167 e vendi<strong>da</strong> a Joaquim Francisco <strong>de</strong> Faria,<br />

em 2 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1819. Em 1838, a 9 <strong>de</strong> junho e por três contos <strong>de</strong> réis, Faria ven<strong>de</strong>u a casa a Luiz<br />

Alves Pinto Bastos, o qual tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1841. À<br />

esquer<strong>da</strong>, a casa confinava com a <strong>de</strong> nº 169 proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia, e à direita, nº<br />

165, com a cocheira <strong>de</strong> seges, carros, carroças e também <strong>de</strong> cavalos <strong>de</strong> alta montaria, para aluguel ou<br />

para guar<strong>da</strong>r com bom trato. Essa cocheira era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Manoel José Araújo.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1818/1846<br />

Terreno <strong>de</strong> duas braças <strong>de</strong> frente, <strong>do</strong> qual estava <strong>de</strong> posse Maria Rita <strong>de</strong> Assunção. Em 1818, a<br />

referi<strong>da</strong> senhora construiu no terreno uma boa casa térrea para a sua residência. Maria Rita viveu sempre<br />

em residência própria, à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, na freguesia <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, on<strong>de</strong> nasceu, batizou-se, casouse<br />

e faleceu. Tinha fortuna e fez testamento instituin<strong>do</strong> her<strong>de</strong>iro o seu mari<strong>do</strong> José Gonçalves <strong>da</strong> Cunha,<br />

na falta <strong>de</strong> filhos ou <strong>de</strong> outros her<strong>de</strong>iros força<strong>do</strong>s. Porém, <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong> a herança ficou<br />

jacente até a liqui<strong>da</strong>ção e praça <strong>de</strong> ausentes, em 1846. Nessa praça foi a casa <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, então<br />

com o nº 290, arremata<strong>da</strong> por João Batista Bastos e Silva, pela quantia <strong>de</strong> 1:621$000. Em verifican<strong>do</strong> a<br />

arrematação, a Ilustríssima Câmara, aceitan<strong>do</strong>-a, fez expedir, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> arrematante, a carta <strong>de</strong><br />

aforamento <strong>do</strong> terreno ocupa<strong>do</strong> pela casa ao seu novo proprietário, em 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1846.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1819/1834<br />

Terreno <strong>da</strong> casa térrea nº 131, que pertenceu a Clara Maria <strong>da</strong> Conceição e que, em praça <strong>do</strong>s bens<br />

por ela <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s, foi arremata<strong>do</strong> por Luiz José <strong>de</strong> Araújo Gomes, a quem foi compra<strong>da</strong>, pela quantia <strong>de</strong><br />

1:600$, por Manoel Joaquim Lapa. Esse proprietário, somente em 1834, legalizou a sua posse perante a<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, tiran<strong>do</strong> a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa que comprara, carta expedi<strong>da</strong> a 24 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pagos os foros atrasa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1819. A lei sobre a numeração <strong>da</strong>s<br />

casas dispunha que os números pares caberiam às casas <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> direita <strong>da</strong> rua, caminhan<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />

começo, subin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar ou <strong>do</strong> nascente e assim também para a ban<strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>, os números ímpares.<br />

Mas nem sempre a lei foi obe<strong>de</strong>ci<strong>da</strong>. E para prova, além <strong>de</strong> muitos outros casos, temos o <strong>da</strong> casa em


2 2 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

apreço, a qual, situa<strong>da</strong> à direita <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, subin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar e <strong>de</strong>itan<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s para a rua <strong>do</strong><br />

Sabão – <strong>de</strong>pois General Câmara, recebeu e figurou anos com o nº 131, sem que encontrássemos um<br />

esclarecimento que justificasse o fato. Fato que salientamos porque contraria argumentos <strong>da</strong>queles que<br />

se fun<strong>da</strong>mentam na numeração predial para discutir, prol ou contra, o senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

sobre o chão em que está assente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, na qual a numeração <strong>da</strong>s<br />

casas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu remoto início, foi serviço feito confusamente. A princípio, numeração que se repetia<br />

num mesmo logra<strong>do</strong>uro, haven<strong>do</strong> <strong>do</strong>is e mais prédios com o mesmo nº, numeração que se alterava<br />

constantemente, sem <strong>de</strong>ixar provas <strong>do</strong>s números antigos. O trabalho <strong>de</strong> Curvelo Cavalcante – 1873/1876<br />

– cujo escopo principal era acabar com as repetições, as indicações alfabéticas, etc, veio a ser bem<br />

perturba<strong>do</strong> pelos lança<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, os quais <strong>da</strong>vam nº por conta própria, em<br />

flagrante <strong>de</strong>srespeito à Lei Orgânica <strong>do</strong> Município. De tu<strong>do</strong> isto, ressalta como única ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que o nº<br />

<strong>de</strong> um prédio pouca ou nenhuma importância tem nas questões enfitêuticas.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1820/1840<br />

Terreno <strong>da</strong> casa térrea nº 153, à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, à direita in<strong>do</strong> para o campo <strong>de</strong> Santana. Em<br />

1830, já a referi<strong>da</strong> casa figurava com o nº 386, pertencen<strong>do</strong> a José Manoel Carneiro e a Antônio <strong>da</strong> Costa<br />

Carneiro. Ao casal Francisco Dutra Serpa e Ma<strong>da</strong>lena Rosa <strong>de</strong> Jesus Serpa tinha pertenci<strong>do</strong> a dita casa.<br />

Aos filhos e her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> casal, o padre Francisco Pinto <strong>de</strong> Barros, Maria Rosa <strong>de</strong> Jesus, Ana<br />

Joaquina Rosa, João Dutra, José Dutra e Francisca Dutra, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, pelo alvará <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1820, conce<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> licença para ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa, por 1:700$, que os ditos her<strong>de</strong>iros fizeram<br />

a Francisco José Carneiro. Somente em 1824, Carneiro <strong>de</strong>cidiu-se a reconhecer o senhorio direto <strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o terreno <strong>da</strong> casa que comprara, tiran<strong>do</strong> a competente carta <strong>de</strong> aforamento, em 7<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1824, segun<strong>do</strong> aniversário <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, numa quinta-feira, dia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

gala, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s graças concedi<strong>da</strong>s pelo impera<strong>do</strong>r Pedro I e <strong>de</strong> muito regozijo <strong>do</strong> povo na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Em 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1830, faleceu Carneiro, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> avulta<strong>do</strong>s bens que legou a <strong>do</strong>is<br />

parentes seus, <strong>de</strong> nomes José Manoel Carneiro e Antônio <strong>da</strong> Costa Carneiro, já aludi<strong>do</strong>s no começo<br />

<strong>de</strong>stas notas. Esses her<strong>de</strong>iros concluíram partilha amigável, a 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1832, pela qual ficou<br />

José Manoel Carneiro com o <strong>do</strong>mínio pleno <strong>da</strong> casa 386, <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga. Manoel Carneiro pediu a<br />

transferência <strong>do</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa só para o seu nome, o que lhe foi concedi<strong>do</strong> pela<br />

Ilustríssima Câmara, em 9 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1833. Por fim, encontramos um José Antônio <strong>de</strong> Oliveira na<br />

posse <strong>da</strong> casa e terreno <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga 386, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança, e com uma nova carta <strong>de</strong><br />

aforamento, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1840.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1822/1844<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa térrea nº 141, <strong>da</strong>s primitivas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, muito baixa e beira<strong>da</strong>. Era<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Maria Jerônima Corrêa Lemos, viúva <strong>do</strong> cirurgião-mor João Antônio <strong>de</strong> Góes, e foi<br />

vendi<strong>da</strong> pela dita viúva por 800$000, em 1822, a José Francisco Sampaio, a quem Manoel Ferreira<br />

Gutierres comprou a dita casa, em março <strong>de</strong> 1823, pela quantia <strong>de</strong> <strong>do</strong>is contos <strong>de</strong> réis. Em falecen<strong>do</strong><br />

Gutierres, a sua viúva, Maria <strong>do</strong> Carmo Gutierres, e a sua filha, Teresa <strong>de</strong> Jesus Gutierres, tornaram-se<br />

proprietárias <strong>do</strong> imóvel em apreço, em partes iguais, e o melhoraram bastante. Em 1844, já pertenciam<br />

aos menores Antônio e Teresa, netos <strong>de</strong> Teresa <strong>de</strong> Jesus Gutierres. Eram filhos <strong>de</strong> Antônio Moreira<br />

Neves, em cujo nome aparece registra<strong>da</strong>, em 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1844, a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong> um terreno,<br />

à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, ocupa<strong>do</strong> pela casa térrea nº 273, antigo 141.


Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1823/1836<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 2 9<br />

Terreno <strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 277, pertencente a José Antônio Macha<strong>do</strong> Guimarães. Por<br />

circunstâncias financeiras, o referi<strong>do</strong> proprietário ven<strong>de</strong>u a casa a Antônio Francisco Leite, pela<br />

estipula<strong>da</strong> importância <strong>de</strong> quatro contos <strong>de</strong> réis. Leite tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 8 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1823, ao foro anual <strong>de</strong> 320 réis. Suce<strong>de</strong>u a Leite, na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> casa, um filho seu <strong>de</strong> igual<br />

nome – Antônio Francisco Leite Júnior. Em testamento, Leite Júnior legou a casa à menor Francisca<br />

Xavier, filha <strong>do</strong> dr. João Pedro <strong>da</strong> Veiga. Em 1836, quer nas Décimas, quer no Tombamento Municipal,<br />

a casa aparece registra<strong>da</strong> com o nº 340, em substituição ao antigo 277, no nome <strong>de</strong> pai <strong>da</strong> menor, na<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tutor.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1825/1834<br />

Terreno <strong>da</strong> casa térrea nº 299, que pertencera a Ana Maria <strong>de</strong> Jesus e, por sua morte, aos her<strong>de</strong>iros<br />

Rita Margari<strong>da</strong> e José Antônio <strong>de</strong> Oliveira Bastos, em partes iguais. Em 1825, Rita Margari<strong>da</strong> ven<strong>de</strong>u a<br />

parte, por quinhentos mil réis, a José Antônio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, o qual pagou os foros venci<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1790 até 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, para efetuar a compra. Posteriormente, Almei<strong>da</strong> e Oliveira Bastos<br />

concor<strong>da</strong>ram na reconstrução <strong>da</strong> casa, transforman<strong>do</strong>-a em prédio <strong>de</strong> loja e sobra<strong>do</strong>, que ven<strong>de</strong>ram, por<br />

escritura <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1834, a Luiz Antônio Pinheiro, com carta <strong>de</strong> aforamento, em 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1834.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1826/1849<br />

Terreno <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> que pertenceu a Joaquina <strong>da</strong> Conceição Pedrosa. Em 17 <strong>de</strong> junho<br />

<strong>de</strong> 1826, aparece o alferes Antônio Gomes <strong>da</strong> Cruz, licencia<strong>do</strong> pela Câmara para ven<strong>de</strong>r, como ven<strong>de</strong>u,<br />

a referi<strong>da</strong> casa ao capitão Manoel Francisco Xavier, por quatro contos <strong>de</strong> réis. O alferes Cruz, único<br />

her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Joaquina Pedrosa, para obter a licença referi<strong>da</strong>, teve que pagar os foros <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa,<br />

<strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> atraso. O capitão Francisco Xavier não tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> prazo legal,<br />

fican<strong>do</strong> intruso na posse <strong>do</strong> terreno durante treze anos. No fim <strong>de</strong> 1839, procurou legalizar a situação,<br />

requeren<strong>do</strong> a Carta, com justificativas não aceitas pela Câmara. Originou-se, então, questão em juízo.<br />

Somente em 1849, já faleci<strong>do</strong> o capitão Francisco Xavier foi o aforamento concedi<strong>do</strong> à viúva <strong>de</strong>sse<br />

militar – Francisca Elisa Xavier. A casa tinha nessa ocasião o nº 208. Nos autos <strong>de</strong>ssa querela judicial,<br />

há referências a uma Isabel Marins, posseira <strong>de</strong> chãos alaga<strong>do</strong>s e enxutos foreiros à Câmara <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

no século XVI. Esses chãos eram no campo extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> ia o caminho para o Capueruçu.<br />

No seu vaivém constante, por anos segui<strong>do</strong>s, as tropas <strong>do</strong>s mantimentos e as <strong>do</strong> ouro fizeram um trilho,<br />

que <strong>de</strong>u origem ao dito caminho, que veio a servir <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>amento à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1829/1852<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s, numa extensão <strong>de</strong> treze<br />

braças, pela primeira travessa <strong>de</strong> São Joaquim – também chama<strong>da</strong> <strong>do</strong> Oratório. Alcançavam a rua <strong>do</strong><br />

Sabão os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sse terreno, no qual existia uma casa térrea nº 388, que figurou entre os bens <strong>de</strong><br />

Clemente José Batista, leva<strong>do</strong>s à praça <strong>de</strong> ausentes e órfãos, por morte <strong>de</strong>le, Batista, em 1829. A casa,<br />

construção grosseira <strong>do</strong> começo <strong>do</strong> século XVIII, por baixo <strong>do</strong> Oratório <strong>de</strong> Pedra, era acaçapa<strong>da</strong> e, na<br />

dita praça <strong>de</strong> ausentes, foi arremata<strong>da</strong> pela quantia <strong>de</strong> três contos <strong>de</strong> réis, por Luiz Antônio <strong>da</strong> Costa. Na<br />

administração <strong>do</strong> prefeito Pereira Passos, (1902/1906), <strong>de</strong>moliu-se a velha casa e, bem assim, o nicho.<br />

Tradição <strong>da</strong> velha Sebastianópolis, a casa <strong>do</strong> Oratório, por mais <strong>de</strong> século, abrigou uma afama<strong>da</strong> taberna


2 3 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

com comi<strong>da</strong>, que pertenceu, a princípio, ao português Manoel Barbosa, seu fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r, bom homem,<br />

folgazão e conheci<strong>do</strong> por Manoel <strong>do</strong> Oratório. Na taberna, reuniam-se boêmios, gente <strong>da</strong> malandragem<br />

e mulherio <strong>da</strong> zona. Noite a<strong>de</strong>ntro, o gozo e o prazer, ao calor <strong>da</strong>s bebi<strong>da</strong>s e ao som <strong>do</strong>s violões,<br />

melodian<strong>do</strong> queixumes em canções amorosas. Em 1831, Antônio <strong>da</strong> Costa ven<strong>de</strong>u a casa <strong>do</strong> Oratório<br />

pelo mesmo preço que a comprara, sen<strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r Peregrino Agostinho Bernar<strong>do</strong>. Em 1834, e por<br />

2:000$, Bernar<strong>do</strong> ven<strong>de</strong>u a casa, em 24 <strong>de</strong> maio, a José Antônio <strong>do</strong>s Santos Para<strong>da</strong>, o qual pediu e obteve<br />

carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 12 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1834. Nessa época, tinha a casa o<br />

nº 298, que permaneceu até 1850, quan<strong>do</strong> foi mu<strong>da</strong><strong>do</strong> para 198. Por morte <strong>de</strong> Para<strong>da</strong>, a seu sobrinho<br />

Antônio José Ribeiro Para<strong>da</strong> passou a pertencer a casa <strong>do</strong> Oratório, então nº 198, e, bem assim, o<br />

<strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> mesma e que lhe [foi] afora<strong>do</strong> em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1852.<br />

O Oratório <strong>de</strong> Pedra foi construí<strong>do</strong> no século XVIII pelo capitão Manoel Barbosa <strong>do</strong>s Santos, já<br />

faleci<strong>do</strong> em 1787. Muito religioso e <strong>de</strong>voto <strong>de</strong> N.S. <strong>de</strong> Bonsucesso, cuja imagem colocou no oratório e,<br />

durante sua vi<strong>da</strong>, o manteve sempre ilumina<strong>do</strong> à noite por um candieiro <strong>de</strong> azeite. A imagem, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

praça <strong>de</strong> arrematação <strong>da</strong> casa, em 1829, havia muito si<strong>do</strong> retira<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> ignora<strong>do</strong> o <strong>de</strong>stino. O oratório<br />

era uma massa bruta <strong>de</strong> pedra, sem a mais ligeira preocupação <strong>de</strong> arte. Vieira Fazen<strong>da</strong>, escreven<strong>do</strong> sobre<br />

os oratórios <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, assim se expressa sobre o Oratório <strong>de</strong> Pedra: “De pedra o fizeram para<br />

que pu<strong>de</strong>sse apreciar os acontecimentos <strong>do</strong> Brasil Colônia, <strong>do</strong> Brasil Reino, <strong>do</strong> Brasil Império e <strong>do</strong><br />

Brasil República. Sem se abalar, resistiu sempre às tempesta<strong>de</strong>s e ven<strong>da</strong>vais <strong>do</strong> último ano – 1906 – <strong>da</strong><br />

sua existência. Po<strong>de</strong>ria ter-se vinga<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>res, esmagan<strong>do</strong>-os com o peso <strong>da</strong>s suas pare<strong>de</strong>s. Foi<br />

generoso.”<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1830/1848<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, com uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> que pertencera,<br />

em tempos anteriores, a Simão Antônio Diniz Barbosa. Na partilha <strong>do</strong>s [bens] <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s por Diniz<br />

Barbosa, realiza<strong>da</strong> em 1830, a referi<strong>da</strong> casa, então com o nº 398, coube ao her<strong>de</strong>iro comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel<br />

Caetano Pinto, homem <strong>de</strong> fortuna, empreiteiro <strong>de</strong> obras públicas, com especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> em pontes <strong>de</strong><br />

pedras. Além disso, era homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor moral e bem conceitua<strong>do</strong> na alta socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época.<br />

Caetano Pinto, logo <strong>de</strong> posse <strong>da</strong> casa a ven<strong>de</strong>u, por oito contos <strong>de</strong> réis, a Joaquim José Ferreira.<br />

Conforme disposição expressa no testamento <strong>de</strong> Ferreira, a casa em apreço, em 1847, já com o nº 306,<br />

passou em usufruto a Joaquina Maria. Pelo falecimento <strong>da</strong> usufrutuária, em 1848, a casa foi entregue à<br />

administração <strong>da</strong> Casa <strong>do</strong>s Expostos, para ser vendi<strong>da</strong> em benefício <strong>da</strong> dita instituição, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se<br />

assim à disposição testamentária <strong>de</strong> Ferreira. A ven<strong>da</strong> efetuou-se a 28 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1848,<br />

por oito contos e oitocentos e trinta e seis mil réis, sen<strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r Antônio José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. Quanto<br />

ao aforamento <strong>do</strong> terreno, indiscutivelmente foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, apenas encontramos registra<strong>da</strong> a<br />

Carta <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1841, expedi<strong>da</strong> a favor <strong>de</strong> Joaquim José Ferreira.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1835/1848<br />

Terrenos afora<strong>do</strong>s a Domingos Francisco <strong>de</strong> Araújo Roso * e ocupa<strong>do</strong>s por casas térreas e uma <strong>de</strong><br />

sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> nº 304. Dessas casas, na maioria antigas e arruina<strong>da</strong>s, o velho Roso melhorou as condições<br />

<strong>de</strong> algumas que foram por ele, Roso, vendi<strong>da</strong>s a bom preço. As que restaram, e ain<strong>da</strong> no primitivo<br />

esta<strong>do</strong>, passaram aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Roso, negociante e proprietário riquíssimo, resi<strong>de</strong>nte em Laranjeiras,<br />

numa extensa e cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> – conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong> Roso. A casa 304 coube<br />

ao seu filho, Domingos Francisco <strong>de</strong> Araújo Roso Júnior, que a ven<strong>de</strong>u em junho <strong>de</strong> 1835, por 800$000,<br />

a Francisco Antônio Gonçalves, com a obrigação <strong>de</strong> pagar, como pagou, o laudêmio <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> e os foros<br />

<strong>do</strong> terreno em atraso <strong>de</strong> três anos, à razão <strong>de</strong> mil e duzentos e oitenta réis por ano. Gonçalves <strong>de</strong>moliu o<br />

pardieiro e levantou casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedra e cal, que recebeu o mesmo nº 304, mu<strong>da</strong><strong>do</strong> para 226, em<br />

1840. Por morte <strong>do</strong> dito proprietário Gonçalves, a casa foi à praça <strong>de</strong> órfãos, em 11 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

* Roso faleceu em Portugal, em 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1832. (N.C.)


C A P Í T U L O X I V | 2 3 1<br />

1847, e arremata<strong>da</strong> por José Fortunato <strong>da</strong> Cunha pela quantia <strong>de</strong> seis contos e setecentos mil réis.<br />

Fortunato <strong>da</strong> Cunha reconheceu o senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o terreno <strong>da</strong> casa que<br />

arrematara, tiran<strong>do</strong> a respectiva carta <strong>de</strong> aforamento, em 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1848.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1836/1850<br />

Terreno <strong>de</strong> seis braças com três velhas casas nºs 335, 337 e 339, em 1836, e proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Teresa<br />

Jacinta, casa<strong>da</strong> com Antônio José Ribeiro <strong>da</strong> Cunha, o qual, por morte <strong>da</strong> sua esposa, ven<strong>de</strong>u as casas,<br />

na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iro sucessor, a Helena Maria Benedita <strong>do</strong> Amaral. A compra<strong>do</strong>ra reformou por<br />

completo as casas, levantan<strong>do</strong> um sobra<strong>do</strong> na <strong>de</strong> nº 339. Em morren<strong>do</strong> Helena <strong>do</strong> Amaral, os três<br />

imóveis passaram a José Pereira <strong>do</strong> Amaral, que os ven<strong>de</strong>u, em 1849, por <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis, a José<br />

Antônio <strong>de</strong> Carvalho e Silva, a quem foram compra<strong>do</strong>s pela dita quantia por Silvestre Monteiro<br />

Sarze<strong>da</strong>s, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong>s casas em apreço, em 26 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1850. Nesse<br />

ano <strong>de</strong> 1850, a numeração <strong>da</strong>s casas já era outra, assim é que a <strong>de</strong> nº 335 era 259; a <strong>de</strong> nº 337 era 261;<br />

e a 339 era 263.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1836/1837<br />

Terreno <strong>de</strong> <strong>de</strong>z braças <strong>de</strong> frente com quatro casas térreas, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jacinta Vieira <strong>do</strong> Amaral<br />

Cunha e, por sua morte, <strong>de</strong> seus <strong>do</strong>is filhos Antônio José <strong>do</strong> Amaral e Henrique José <strong>do</strong> Amaral, em<br />

partes iguais, segun<strong>do</strong> a partilha <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pela referi<strong>da</strong> senhora, julga<strong>da</strong> por sentença <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1836. Em setembro <strong>de</strong> 1837, os precita<strong>do</strong>s irmãos ven<strong>de</strong>ram as quatro casas, então com os nºs<br />

285, 287, 289 e 291, a Antônio Coelho Pereira, por oito contos <strong>de</strong> réis. O terreno era sujeito ao foro anual<br />

<strong>de</strong> oitocentos réis.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1836/1840<br />

Terreno <strong>de</strong> 17 braças <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, com três [casas] <strong>de</strong> nºs 280,<br />

284 e 286, que pertenciam a José Antônio <strong>de</strong> Freitas Guimarães, e por ele lega<strong>da</strong>s às suas duas irmãs,<br />

Antônia e Maria Benta Maria <strong>de</strong> Freitas Guimarães. Em setembro <strong>de</strong> 1836, as legatárias ven<strong>de</strong>ram a casa<br />

280, por seis contos <strong>de</strong> réis, a Manoel Pacheco <strong>da</strong> Costa Louza<strong>da</strong> e a <strong>de</strong> nº 284, por um conto e seiscentos<br />

mil réis, a Antônio Moreira Pinto. Em 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1838, elas ven<strong>de</strong>ram a <strong>de</strong> nº 286, por cinco contos<br />

<strong>de</strong> réis, ao padre Antônio Pereira <strong>da</strong> Costa Sevilha, o qual pediu e obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o<br />

aforamento <strong>da</strong> porção <strong>do</strong> terreno, cerca <strong>de</strong> duas e meia braças, ocupa<strong>da</strong> pela casa 286, que comprara. A<br />

Carta <strong>do</strong> Aforamento concedi<strong>do</strong> traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1840. Também proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Freitas<br />

Guimarães era a casa 288, <strong>da</strong> mesma rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga. Foi lega<strong>da</strong> às mesmas precita<strong>da</strong>s senhoras, que<br />

a ven<strong>de</strong>ram, na mesma <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1838, por seis contos <strong>de</strong> réis, a Manoel Peixoto <strong>da</strong> Costa<br />

Louza<strong>da</strong>, que tirou carta <strong>de</strong> aforamento a 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1840.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente, com uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 229, <strong>de</strong> quatro janelas com gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ferro, que pertencera a Antônio Julio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> e em praça <strong>do</strong>s seus bens foi arremata<strong>da</strong> por Clemente<br />

José Ferreira Braga pela quantia <strong>de</strong> cinco contos <strong>de</strong> réis. Ficava, então, a referi<strong>da</strong> casa 229 entre o<br />

sobra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Luiz Antônio Pinheiro, à direita, e as casas <strong>do</strong> patrimônio <strong>da</strong> capela <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos, à<br />

esquer<strong>da</strong>. Ferreira Braga, por Carta <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1843, obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o<br />

aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa que arrematara.


2 3 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1844<br />

Terreno <strong>da</strong> casa 252, que pertencera à confraria <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Terço, sedia<strong>da</strong> na matriz <strong>de</strong><br />

São José, e por ela, confraria, vendi<strong>da</strong> a Bento José <strong>de</strong> Carvalho. Ao ser processa<strong>do</strong> o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno <strong>de</strong>ssa, o dr. Manoel Joaquim Pereira <strong>da</strong> Silva, procura<strong>do</strong>r municipal, pôs dúvi<strong>da</strong>s sobre a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa, visto que a escritura se lhe afigurava pouco clara sobre ser ou não a casa<br />

um bem inalienável <strong>da</strong> confraria. Afinal, esclareci<strong>da</strong> a situação, ratificou-se a ven<strong>da</strong> e expediu-se a carta<br />

<strong>de</strong> aforamento ao compra<strong>do</strong>r, em outubro <strong>de</strong> 1844.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1841/1844<br />

Terreno <strong>de</strong> trinta e nove palmos <strong>de</strong> frente, por 77 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s quais 23 serviam <strong>de</strong> quintal<br />

para as duas casas térreas no mesmo terreno construí<strong>da</strong>s. Essas casas pertenciam ao casal Bernar<strong>do</strong><br />

Francisco <strong>de</strong> Brito e Genoveva Maria <strong>da</strong> Conceição. Por morte, extinto esse casal, três filhos maiores <strong>do</strong><br />

mesmo, <strong>de</strong> nomes Francisco Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brito, José Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brito e Mariana Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brito<br />

Silva, casa<strong>da</strong> com Bernar<strong>do</strong> Manoel <strong>da</strong> Silva, ficaram senhores <strong>de</strong> regular fortuna, causa, entretanto, <strong>de</strong><br />

sérias <strong>de</strong>savenças entre esses her<strong>de</strong>iros, instiga<strong>da</strong>s por Bernar<strong>do</strong> Manoel <strong>da</strong> Silva, cuja morte veio pôr<br />

término às dissensões. Em 6 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1841, lavrou-se o termo <strong>de</strong> partilha amigável entre aqueles<br />

ditos her<strong>de</strong>iros. O monte <strong>da</strong> herança foi calcula<strong>do</strong> em perto <strong>de</strong> trezentos contos <strong>de</strong> réis, <strong>de</strong> bens imóveis,<br />

móveis e semoventes. Ao her<strong>de</strong>iro Francisco Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brito coube as duas casas térreas que<br />

ocupavam o terreno objeto <strong>de</strong>stas notas. As casas ficavam entre as <strong>da</strong> irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia,<br />

à direita, e a <strong>de</strong> Teresa Joana <strong>de</strong> Jesus, à esquer<strong>da</strong>. A 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1844, pela quantia <strong>de</strong> quatro contos<br />

e seiscentos e sessenta mil réis, foram arremata<strong>da</strong>s por José Luiz Alves Bastos, em praça <strong>do</strong> juiz <strong>da</strong><br />

Segun<strong>da</strong> Vara Cível <strong>da</strong> Corte, na execução conciliatória que movia Nicolau Antônio Cosme <strong>do</strong>s Reis<br />

contra Francisco Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brito, proprietário <strong>da</strong>s mesmas casas, as quais figuram com os nºs 390 e<br />

392 nos autos <strong>da</strong> execução. O arrematante Alves Bastos tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 1º <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 1844.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1845<br />

Terreno <strong>de</strong> trinta palmos <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong> Regente num<br />

comprimento <strong>de</strong> 86 palmos. Esse terreno, em 1845, aparece afora<strong>do</strong> a Pláci<strong>do</strong> José Sanches, a 15 <strong>de</strong><br />

julho, ao foro anual <strong>de</strong> quinhentos e vinte réis. Era ocupa<strong>do</strong> pelos prédios nºs 281 e 283, <strong>de</strong> pedra e cal,<br />

com porta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cantaria e águas furta<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> que o <strong>de</strong> nº 283 enchia o ângulo forma<strong>do</strong> pela junção<br />

<strong>da</strong>s duas precita<strong>da</strong>s ruas. Tinham pertenci<strong>do</strong> em usufruto à religiosa carmelitana Tomásia <strong>de</strong> Jesus e a<br />

Maria José, com reversão ao casal <strong>de</strong> José Francisco <strong>do</strong> Amaral. Afinal, vieram a pertencer a Pláci<strong>do</strong><br />

José Sanches, por compra a Henrique José <strong>do</strong> Amaral, filho <strong>do</strong> dito Francisco <strong>do</strong> Amaral.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1856<br />

Terreno <strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 140, afora<strong>do</strong> a José Narciso <strong>da</strong> Silva Vieira, em 21 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1856. Narciso comprou a casa a José Maxwell Júnior, Jorge Rudge e Guilherme Francisco Young, filho,<br />

o primeiro, e genros, os <strong>do</strong>is outros, <strong>de</strong> José Maxwell, que foi ativo homem <strong>de</strong> negócio e proprietário <strong>de</strong><br />

um <strong>do</strong>s mais movimenta<strong>do</strong>s trapiches <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O velho Maxwell<br />

residia na fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Macaco, <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, e foi o tronco <strong>de</strong> ilustre família carioca. Em terras<br />

<strong>de</strong>ssa fazen<strong>da</strong> está assente o populoso bairro <strong>de</strong> Vila Isabel.


Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1858<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 3 3<br />

Terreno <strong>de</strong> 180 palmos <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, com fun<strong>do</strong>s na <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos. Era<br />

ocupa<strong>do</strong> pelas casas nºs 181 a 195 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, pertencentes ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r José Pereira <strong>da</strong><br />

Silva Manoel, sen<strong>do</strong> que as <strong>de</strong> nºs 181 e 183, por <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> Rosa Felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus, e as <strong>de</strong> nºs 185 a<br />

195, virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança paterna. Em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1858, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento<br />

<strong>do</strong> terreno <strong>da</strong>s ditas casas <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Silva Manoel, que era filho <strong>de</strong> Cláudio José Pereira <strong>da</strong> Silva<br />

Manoel, conceitua<strong>do</strong> e rico negociante e homem <strong>de</strong> influência político-social na <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>do</strong><br />

século XVIII. Era proprietário <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> chácara em que residia, no caminho <strong>de</strong> Matacavalos – atual rua<br />

<strong>do</strong> Riachuelo. Essa importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ocupava um terreno foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com 103<br />

braças <strong>de</strong> frente, adiante <strong>da</strong> Bica, e fun<strong>do</strong>s até o alto <strong>de</strong> Santa Teresa. Nessa chácara um filho <strong>de</strong> Cláudio<br />

José, o dr. Luiz Pereira <strong>da</strong> Silva Manoel, abriu uma rua a que <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> Silva Manoel e que ofereceu<br />

à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1832. Inadverti<strong>da</strong>mente, a <strong>Prefeitura</strong> substituiu esse nome pelo <strong>de</strong> André<br />

Cavalcante – um velho e bon<strong>do</strong>so magistra<strong>do</strong> que residiu por muitos anos na rua Silva Manoel, on<strong>de</strong><br />

faleceu. Cometeu a <strong>Prefeitura</strong> um ato, além <strong>de</strong> injusto, ilegal, em face <strong>do</strong> que dispõe o termo <strong>da</strong> <strong>do</strong>ação<br />

e aceitação <strong>do</strong> dito logra<strong>do</strong>uro, em 1832, por parte <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara.<br />

Augusto Malta, 24/8/1928 – Rua <strong>do</strong> Riachuelo. Antiga Matacavalos, por ela passavam várias linhas <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>; no século XIX, também partia<br />

<strong>de</strong>ssa rua o plano inclina<strong>do</strong> que conduzia ao largo <strong>do</strong>s Guimarães, em Santa Teresa, primeiro meio mecânico <strong>de</strong> transporte coletivo instala<strong>do</strong> no<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.


2 3 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 122 palmos ao norte e ao sul e pelos fun<strong>do</strong>s, ou linha <strong>de</strong> fecho, pouco mais <strong>de</strong> 16<br />

palmos <strong>de</strong> largura. Aparece afora<strong>do</strong>, em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1859, a José Antônio <strong>de</strong> Siqueira. Estava ocupa<strong>do</strong><br />

pela casa nº 311, que pertencera a Pedro José <strong>da</strong> Silva e <strong>de</strong>pois ao dito José Antônio <strong>de</strong> Siqueira, por<br />

compra.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1859<br />

Terreno <strong>de</strong> duas frentes, sen<strong>do</strong> uma para a rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, la<strong>do</strong> sul, com cinqüenta palmos, e a<br />

outra para a rua <strong>do</strong> Sabão, la<strong>do</strong> norte, com cinqüenta e seis palmos. Na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga estavam<br />

edifica<strong>do</strong>s três prédios <strong>de</strong> nºs 332, 334 e 336 e na <strong>do</strong> Sabão outros três <strong>de</strong> nºs 337, 339 e 341. To<strong>do</strong>s esses<br />

prédios pertenciam à irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, com carta <strong>de</strong> aforamento, em 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1859.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1860<br />

Terreno <strong>da</strong>s casas 393, 395 e 397, afora<strong>do</strong> ao negociante José Klian, em 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1860.<br />

Tinha <strong>de</strong> frente pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga cinqüenta palmos e corria fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sessenta palmos pela face<br />

oriental <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Aclamação – atual praça <strong>da</strong> República. À direita, confinava com a casa 391, <strong>de</strong><br />

Antônio José <strong>de</strong> Freitas Guimarães e, à esquer<strong>da</strong>, com o dito campo. Klian era o proprietário <strong>da</strong>s casas<br />

393, 395 e 397, acima referi<strong>da</strong>s, por compra ao dr. José <strong>da</strong> Cunha Pinheiro.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – 1865<br />

Terreno <strong>da</strong> casa 304 pertencente a Clemente H. Wilmot, por compra a Luiz Simões <strong>da</strong> Fonseca.<br />

Esse terreno media <strong>de</strong> frente vinte e cinco palmos, por cento e trinta ditos [<strong>de</strong>] fun<strong>do</strong> e foi afora<strong>do</strong> a<br />

Wilmot, por Carta <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1865. Confinava, à direita, com a casa <strong>de</strong> Cândi<strong>do</strong> José <strong>de</strong><br />

Almei<strong>da</strong> e, à esquer<strong>da</strong>, com a que pertencia aos expostos <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>.<br />

Rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga<br />

A rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga é <strong>do</strong>s primeiros logra<strong>do</strong>uros públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Aliás, logra<strong>do</strong>uros esses que tiveram como risco os caminhos ou passagens abertas pelos<br />

primeiros povoa<strong>do</strong>res, ao <strong>de</strong>sbravarem a terra carioca. Estreito e mais ou menos reto, o caminho que <strong>de</strong>u<br />

origem à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga corria <strong>do</strong> litoral ao fosso e <strong>da</strong>í, sinuoso e menos estreito, seguia até a estra<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> Engenho Pequeno, no Capueruçu. Já no começo <strong>do</strong> século XVII, se fazia sentir a <strong>de</strong>scentralização<br />

urbana. Transmigrava o povo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> praieira para sítios que se prestassem à plantação <strong>de</strong> roças. A<br />

Câmara, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> impulso a esse movimento <strong>de</strong> progresso, começou a fazer concessões <strong>de</strong> terrenos, por<br />

aforamento, no chama<strong>do</strong> Campo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por esse tempo, a antiga via pública, a que os coevos <strong>da</strong> sua<br />

abertura batizaram <strong>de</strong> caminho <strong>do</strong> Capueruçu, foi reduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> alguns palmos na sua largura, limita<strong>da</strong><br />

pelas chácaras que se foram plantan<strong>do</strong> ao longo <strong>da</strong>s suas margens, nos terrenos afora<strong>do</strong>s pela Câmara.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, recebeu novo e mais regular cor<strong>de</strong>amento, <strong>de</strong> forma a permitir a formação <strong>de</strong> outras vias<br />

públicas e a concessão <strong>de</strong> outros aforamentos, entre a Vala Gran<strong>de</strong> – rua Uruguaiana, e os areais <strong>de</strong> São


C A P Í T U L O X I V | 2 3 5<br />

Domingos, <strong>de</strong>pois chama<strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana. Esse segun<strong>do</strong> cor<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>terminou a <strong>de</strong>smembração<br />

<strong>da</strong>s duas maiores chácaras extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – a <strong>de</strong> Gonçalo Nunes e a <strong>de</strong> São Domingos.<br />

Francisco <strong>de</strong> Matos Fulgueiras, rico negociante, aparece bem aquinhoa<strong>do</strong> com <strong>da</strong>tas <strong>de</strong> terras no<br />

campo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, abrangen<strong>do</strong> extensa área <strong>de</strong> terreno variável, cuja testa<strong>da</strong>, corren<strong>do</strong> pelo caminho <strong>do</strong><br />

Capueruçu, começava na Vala Gran<strong>de</strong> e se estendia até <strong>de</strong>frontar as terras <strong>de</strong> São Domingos. Essa posse<br />

foreira registrou-se, <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente, no livro 2, fls. 232 e 237 verso, <strong>do</strong>s aforamentos <strong>da</strong> Câmara. Foi<br />

sucessor <strong>do</strong> velho Fulgueiras o seu filho, cônego Álvaro <strong>de</strong> Matos Fulgueiras, ao qual a Câmara<br />

conce<strong>de</strong>u nova carta <strong>de</strong> aforamento, em 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1702, registra<strong>da</strong> no livro 7, fls. 77.<br />

Comunicação menos dificultosa e mais direta ao porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o caminho <strong>do</strong> Capueruçu<br />

tornou-se, por isso, a passagem <strong>de</strong> preferência <strong>da</strong>s tropas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias. À cata <strong>do</strong> ouro correram os<br />

primeiros aventureiros pelo dito caminho, por on<strong>de</strong> também, impie<strong>do</strong>samente escraviza<strong>do</strong>, trilhou o<br />

homem negro que abriu com o vigor <strong>do</strong> seu braço a estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> progresso pelas ricas terras <strong>da</strong> capitania<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a qual em meio século suplantou as <strong>de</strong>mais. Compreen<strong>de</strong>-se, assim, por que rápi<strong>do</strong><br />

foi o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> via pública em apreço, na qual já se vendiam, no ano <strong>de</strong> 1600, a bom dinheiro,<br />

chãos e mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas, no quarteirão entre a quitan<strong>da</strong> <strong>do</strong> Marisco e o canto <strong>de</strong> Diogo <strong>de</strong> Brito. A<br />

quitan<strong>da</strong> era na rua <strong>de</strong>ste nome, que ain<strong>da</strong> conserva, na junção com a rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e canto <strong>de</strong> Diogo<br />

<strong>de</strong> Brito, o encontro <strong>da</strong> mesma rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga com a Primeiro <strong>de</strong> Março. Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> instala<strong>da</strong> a<br />

Alfân<strong>de</strong>ga Nova, em novembro <strong>de</strong> 1701, chamou-se travessa <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga o trecho <strong>do</strong> antigo caminho<br />

<strong>do</strong> Capueruçu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porta <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> estabelecimento até a Vala Gran<strong>de</strong> – atualmente, on<strong>de</strong> corre a<br />

rua Uruguaiana, e <strong>da</strong>í ao campo <strong>de</strong> Santana – rua <strong>do</strong>s Ferra<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>nominação esta que se conservou<br />

por muitos anos. Velhos códices <strong>do</strong>s séculos XVII e XVIII falam, com referências interessantes, sobre<br />

o ren<strong>do</strong>so ofício <strong>de</strong> ferra<strong>do</strong>r na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Um <strong>do</strong>s mais afama<strong>do</strong>s<br />

ferra<strong>do</strong>res, em 1703, foi Antônio <strong>da</strong> Rocha, com oficina própria no antigo caminho <strong>do</strong> Capueruçú, on<strong>de</strong><br />

pousavam as tropas junto à Vala Gran<strong>de</strong>, no campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – to<strong>do</strong> o espaço que se compreen<strong>de</strong> hoje<br />

entre a rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, aveni<strong>da</strong> Passos, largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula e rua Uruguaiana. Nos autos<br />

<strong>da</strong> medição <strong>do</strong> terreno necessário ao rossio <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o referi<strong>do</strong> ferra<strong>do</strong>r é cita<strong>do</strong> entre os posseiros que<br />

largaram terrenos para a formação <strong>do</strong> rossio, com troca <strong>de</strong> outros. Essa medição realizou-se a 22 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1705. O largo <strong>da</strong> Carioca, ao pé <strong>do</strong> tanque público, junto à casa <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> São<br />

Francisco, era também um ponto muito procura<strong>do</strong> pelos ferra<strong>do</strong>res, os quais ali estacionavam as suas<br />

ten<strong>da</strong>s com licença <strong>da</strong> Câmara, por <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tempo e licença quase sempre renova<strong>da</strong>. Um ferra<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> nome Antônio José <strong>de</strong> Souza, a questionar sempre por causa <strong>de</strong> local para o seu banco <strong>de</strong> ofício,<br />

estacionou longos anos no largo <strong>da</strong> Carioca e aí ain<strong>da</strong> era encontra<strong>do</strong> em 1808. Como os pontos <strong>de</strong><br />

jornais nos nossos dias, os pontos <strong>do</strong>s ferra<strong>do</strong>res eram disputa<strong>do</strong>s <strong>da</strong> mesma maneira, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem a<br />

interessantes querelas. No fim <strong>do</strong> século XVIII, transitavam pela Ouvi<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> Comarca <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, com recurso, <strong>de</strong>pois, para a Relação, volumosos autos relativos à competência para exercer o<br />

ofício <strong>de</strong> ferra<strong>do</strong>r. Motivou a questão o fato <strong>de</strong> existir um banco <strong>de</strong> ferra<strong>do</strong>r ocupa<strong>do</strong> por um indivíduo<br />

leigo no ofício, <strong>de</strong> nome Manoel Gonçalves Mota, que era rico senhor <strong>de</strong> escravos, homem <strong>de</strong> outras<br />

indústrias e antigo capitão <strong>do</strong> Terço. Em chegan<strong>do</strong> ao conhecimento <strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> ofício <strong>de</strong> ferra<strong>do</strong>r,<br />

exerci<strong>do</strong> então por Manoel Lopes <strong>do</strong> Pecegueiro, foi o capitão Gonçalves notifica<strong>do</strong> pelo dito juiz, em<br />

setembro <strong>de</strong> 1782, sobre não usar <strong>do</strong> ofício <strong>de</strong> ferra<strong>do</strong>r, que não apren<strong>de</strong>ra. O notifica<strong>do</strong>, homem<br />

traqueja<strong>do</strong> e <strong>de</strong> recursos pecuniários, levantou querela em juízo, opon<strong>do</strong> embargos à notificação. Corria<br />

a questão pela Ouvi<strong>do</strong>ria, quan<strong>do</strong>, por petição, se apresentou um preto forro, <strong>de</strong> nome Pedro Gonçalves,<br />

dizen<strong>do</strong>-se, com provas aliás, ferra<strong>do</strong>r habilita<strong>do</strong>, trabalhan<strong>do</strong> no banco <strong>do</strong> qual o capitão Manoel<br />

Gonçalves Mota era apenas o proprietário. Despachou o juiz ouvi<strong>do</strong>r, a 26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1782,<br />

<strong>de</strong>spacho esse man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> fosse apresenta<strong>da</strong> carta <strong>de</strong> alforria. Dois dias <strong>de</strong>pois, Pedro Gonçalves<br />

apresentou o <strong>do</strong>cumento, em termos. Os autos subiram à Relação e o certo é que o banco <strong>de</strong> ferra<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

capitão Gonçalves, em 1785, continuava funcionan<strong>do</strong> e com maior freguesia. Outro aspecto pitoresco <strong>da</strong><br />

rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga era o que ofereciam as quitan<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> verduras e hortaliças, com feijão e uma panela <strong>de</strong><br />

comi<strong>da</strong> para preto. Essas casas, que pertenciam quase to<strong>da</strong>s a pretos minas, enriqueceram os seus <strong>do</strong>nos<br />

e fizeram-se famosas pelos <strong>de</strong>spachos, muambas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za e outras feitiçarias.<br />

Na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, foram estabeleci<strong>da</strong>s importantes firmas <strong>do</strong> antigo alto comércio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Citaremos Artur Moss & Cia. Emi & Cia. Samuel Brother & Cia.<br />

Lavignole, Can<strong>do</strong>u & Cia. e Laport & Irmão. Em 1830, na casa 121, era estabeleci<strong>do</strong> Alexandre Laport.


2 3 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Hábil espingar<strong>de</strong>iro e fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> firma Laport. Ele foi licencia<strong>do</strong> para ven<strong>de</strong>r armas ofensivas e<br />

<strong>de</strong>fensivas, na forma <strong>do</strong> alvará <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1820, e, segun<strong>do</strong> a Lei Novíssima, não vendê-las às<br />

pessoas suspeitas. Eram fia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Alexandre Laport, como pessoas <strong>de</strong> reconheci<strong>da</strong> probi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o padre<br />

José Custódio Dias e Antônio Joaquim Francisco Navares. Na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, próxima à <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong><br />

Direita —, hoje, Primeiro <strong>de</strong> Março tinha o seu escritório central a empresa Carris <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, para o<br />

transporte <strong>de</strong> cargas e merca<strong>do</strong>rias. Tinha 70 carros, em 1845, to<strong>do</strong>s em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Era diretor <strong>da</strong><br />

empresa, no dito ano, o industrial Luiz Gomes <strong>de</strong> Oliveira Filho. Ain<strong>da</strong> em 1846, funcionavam à rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, nº 188, as oficinas <strong>do</strong> escultor brasileiro Joaquim Alves <strong>de</strong> Souza, apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> Alan, e na<br />

mesma rua, nº 150, a loja para a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong>s suas obras. Na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, ain<strong>da</strong><br />

aparecem localiza<strong>do</strong>s na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga o livreiro brasileiro Soares, no nº 6; no 3, Ferreira Hur<strong>de</strong>n &<br />

Cia. firma brasileira, comissões e consignações; no 11, a fábrica <strong>de</strong> trastes artísticos, <strong>de</strong> Dillon &<br />

Chauveau. Os belos e finos trabalhos <strong>de</strong>ssa marcenaria eram expostos e vendi<strong>do</strong>s no Bazar Dillon, à rua<br />

<strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, 60. No nº 16, a Casa <strong>de</strong> Couros Almei<strong>da</strong>, o mais antigo estabelecimento <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

no gênero. Pertencia ao brasileiro José Antônio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. No sobra<strong>do</strong> <strong>do</strong> nº 227, Clarin<strong>da</strong> Vitorina <strong>de</strong><br />

São José tinha a sua oficina <strong>de</strong> chapéus para senhora, vendi<strong>do</strong>s pelas ruas por duas mucamas escravas,<br />

com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara. Pela modici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s preços e pela perfeição e gosto com que eram<br />

confecciona<strong>do</strong>s – os chapéus <strong>de</strong> ma<strong>da</strong>me Clarin<strong>da</strong> vendiam-se muito.<br />

Em 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1867, em noticiário impressionante, os jornais tornavam público um fato que<br />

ocorria à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pela imprensa um bárbaro crime. Na casa nº 83, <strong>da</strong> rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, uma senhora vivia há muito reclusa e barbaramente martiriza<strong>da</strong> por <strong>do</strong>is irmãos seus –<br />

Custódio e Cândi<strong>do</strong> <strong>da</strong> Costa Figueire<strong>do</strong>, que foram processa<strong>do</strong>s, com o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem-se soltos,<br />

na forma <strong>do</strong> art. 189, <strong>do</strong> Código Criminal <strong>da</strong> época. * Chamava-se a vítima Amélia A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>da</strong> Costa<br />

Figueire<strong>do</strong>, que se recolheu à Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia para tratamento. A gran<strong>de</strong> celeuma que se<br />

levantou, exigin<strong>do</strong>-se a prisão <strong>do</strong>s criminosos, foi tal que, a 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1867, um grupo <strong>de</strong> populares<br />

assaltou a casa <strong>do</strong>s irmãos Figueire<strong>do</strong>, os quais, protegi<strong>do</strong>s por policiais, conseguiram escapar, e se<br />

recolherem à Chefatura <strong>de</strong> Polícia. Em pouco, gran<strong>de</strong> massa popular ocupou o largo <strong>do</strong> Rossio e investiu<br />

contra a polícia, com armas tira<strong>da</strong>s ao 1º Corpo <strong>de</strong> Artilharia <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Nacional, sedia<strong>do</strong> no mesmo<br />

largo, canto com a então rua <strong>do</strong> Espírito Santo, hoje Pedro I. Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro motim, sufoca<strong>do</strong> horas <strong>de</strong>pois,<br />

com feri<strong>do</strong>s e a morte <strong>de</strong> um popular <strong>de</strong> nome Manoel Pinto <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>.<br />

Na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, três <strong>da</strong>s antigas igrejas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> estão<br />

ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> pé: a <strong>de</strong> Santa Efigênia e São Elesbão, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1747; a <strong>de</strong> N.S. Mãe <strong>do</strong>s<br />

Homens, ereta a 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1758, e a <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia, que se erigiu também em 1758, a 14<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, em terreno <strong>do</strong>a<strong>do</strong> pelo cônego Antônio Lopes Xavier. Com origem popular e bem remota<br />

é a <strong>de</strong>voção à N.S. Mãe <strong>do</strong>s Homens no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em um oratório ergui<strong>do</strong> nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />

quitan<strong>da</strong> <strong>do</strong> Marisco, foi coloca<strong>da</strong> a imagem <strong>da</strong> Virgem Maria sob a invocação <strong>de</strong> Mãe <strong>do</strong>s Homens e<br />

aí, diariamente, ao cair <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, juntava-se o povo para rezar o terço. <strong>Fatos</strong> e costumes, simples e<br />

pie<strong>do</strong>sos, <strong>da</strong> Sebastianópolis <strong>do</strong> século XVIII.<br />

Em 1783, próximo a igreja <strong>de</strong> N.S. Mãe <strong>do</strong>s Homens, existia uma pequena casa térrea, <strong>de</strong> porta,<br />

janela e sótão, que se fez memorável. Sua facha<strong>da</strong> era singela, em ver<strong>de</strong> malva, realçan<strong>do</strong> o branco <strong>do</strong>s<br />

caixilhos. Habitavam-na a sua proprietária, Inácia Gertru<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, e uma sua filha cega.<br />

Arruina<strong>da</strong> pelo aban<strong>do</strong>no em que ficou, em 1796 já havia si<strong>do</strong> <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>. Viúva <strong>de</strong> Francisco <strong>da</strong> Silva<br />

Braga, com haveres, vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> hábitos austeros, lhana e pie<strong>do</strong>sa, <strong>do</strong>na Inácia merecia, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, estima e<br />

respeito. Entre as pessoas <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> <strong>da</strong> digna senhora estava o alferes <strong>de</strong> Dragões <strong>da</strong>s Minas Gerais –<br />

Joaquim José <strong>da</strong> Silva Xavier – o Tira<strong>de</strong>ntes, mártir na Inconfidência Mineira. Somente por esse fato, a<br />

pobre viúva, a sua filha e um sobrinho, o padre Inácio Nogueira, foram leva<strong>do</strong>s ao cárcere, em 1789,<br />

pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> maio, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> prisão <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes. Além <strong>de</strong> encarcera<strong>do</strong>s longos meses e<br />

martiriza<strong>do</strong>s, tiveram os seus bens seqüestra<strong>do</strong>s. É e sempre foi assim a justiça <strong>do</strong>s homens.<br />

Por aproveitável aos interesses <strong>da</strong> nossa municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, no que diz respeito aos seus direitos<br />

senhoriais sobre o chão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, entre as atuais ruas Uruguaiana e Primeiro <strong>de</strong> Março, é interessante<br />

dizer que a casinha malva <strong>de</strong> <strong>do</strong>na Inácia ocupava um terreno <strong>de</strong> 27 palmos <strong>de</strong> compri<strong>do</strong> por 30 ditos <strong>de</strong><br />

largo, e era reconheci<strong>do</strong> foreiro ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara pela precita<strong>da</strong> senhora, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> arrematara<br />

a referi<strong>da</strong> casa em praça <strong>de</strong> ausentes, realiza<strong>da</strong> a 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1783. Em vereança <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1783, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao que lhe expôs em petição Inácia Gertru<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, <strong>de</strong>cidiu<br />

conce<strong>de</strong>r à peticionária o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>de</strong> uma casa que arrematara em praça <strong>de</strong> ausentes,<br />

* O autor cita o Código Criminal <strong>de</strong> 1832. (N.E.)


C A P Í T U L O X I V | 2 3 7<br />

situa<strong>da</strong> à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, próximo ao oratório <strong>de</strong> N.S. Mãe <strong>do</strong>s Homens e ao foro anual <strong>de</strong> meia pataca<br />

– cento e sessenta réis.<br />

Ao final <strong>de</strong>stas notas sobre a velha rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, recor<strong>da</strong>mos a antiga se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong><br />

Brasil nesse logra<strong>do</strong>uro, canto com a rua <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1858, a 10 <strong>de</strong> abril, até mu<strong>da</strong>rse<br />

para a rua Primeiro <strong>de</strong> Março, ain<strong>da</strong> há pouco.<br />

Rua Senhor Bom Jesus – 1782<br />

Terreno <strong>de</strong> duas e meia braças <strong>de</strong> frente, por setenta e <strong>do</strong>is palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, à rua Senhor Bom<br />

Jesus, no trecho que ia <strong>da</strong> Vala Gran<strong>de</strong> para o campo <strong>de</strong> São Domingos. O terreno estava ocupa<strong>do</strong> por<br />

duas arruina<strong>da</strong>s casas térreas, <strong>da</strong>s primeiras construí<strong>da</strong>s nessa via pública, no mea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVII.<br />

Tinham pertenci<strong>do</strong> ao padre João Rodrigues <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> e, por sua morte, foram à praça e arremata<strong>da</strong>s<br />

por Francisco Pereira. Essa praça realizou-se a 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1774, e somente oito anos <strong>de</strong>pois o<br />

precita<strong>do</strong> arrematante procurou tirar a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, obten<strong>do</strong>-a por <strong>de</strong>spacho <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1782, ao fim <strong>de</strong> uma longa e complica<strong>da</strong> querela sobre o foro<br />

anual a pagar. Prevaleceu o <strong>de</strong> quatrocentos e vinte réis arbitra<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, ten<strong>do</strong> em vista<br />

a valorização <strong>do</strong>s terrenos nesta parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Pereira, que arrematara as casas pelo baixo preço <strong>de</strong><br />

cento e cinqüenta e quatro mil e seiscentos réis, havia proposto o foro <strong>de</strong> trezentos e vinte réis, recusa<strong>do</strong><br />

pelo Sena<strong>do</strong>, <strong>da</strong>í a questão. O terreno em apreço constituía uma <strong>de</strong>smembração <strong>do</strong> extenso aforamento<br />

concedi<strong>do</strong>, em 1702, ao cônego Álvaro <strong>de</strong> Matos Fulgueiras. Em 1784, Ana Maria <strong>do</strong>s Reis Pereira,<br />

viúva <strong>de</strong> Francisco Pereira, ven<strong>de</strong>u as duas casas, quase a caírem, a Teresa Maria <strong>de</strong> Jesus.<br />

Os autos <strong>da</strong>s arruações e vistorias <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1602 já registram referências às mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas<br />

edifica<strong>da</strong>s nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> estanque <strong>do</strong> azeite, à beira-mar <strong>da</strong> praia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na rua Direita, e<br />

fronteiras à passagem <strong>de</strong> Gonçalo Gonçalves, à mão direita, em direção ao antigo Fosso ou Vala Gran<strong>de</strong><br />

– na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, corre aí a rua Uruguaiana. Um século <strong>de</strong>pois, no memorável ano <strong>de</strong> 1705, em que os<br />

verea<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ram à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> um gran<strong>de</strong> impulso pelas sábias <strong>de</strong>cisões<br />

toma<strong>da</strong>s, os arruamentos leva<strong>do</strong>s a efeito falam <strong>da</strong> rua construí<strong>da</strong> e cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong> na forma <strong>da</strong>s posturas, cuja<br />

antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> e formação eram as mesmas <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e que vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar ia em direitura ao<br />

gran<strong>de</strong> mangal pelo campo <strong>de</strong> São Domingos. Sobre parte <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> mangal, parte norte, assentouse<br />

o bairro <strong>de</strong> São Diogo. A rua que se abriu e que, naquele ano <strong>de</strong> 1705, já se apontava como uma <strong>da</strong>s<br />

melhores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, é a primitiva Gonçalo Gonçalves, <strong>de</strong>pois Azeite <strong>do</strong> Peixe, <strong>do</strong>s Escrivães, <strong>do</strong><br />

Loureiro, <strong>do</strong> Bom Jesus, <strong>do</strong> Sabão 47 e, por último, General Câmara, <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> com a abertura <strong>da</strong><br />

aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Terrenos <strong>do</strong> antigo cemitério <strong>do</strong>s Mulatos, <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Domingos<br />

<strong>de</strong> Gusmão, fronteiros à capela <strong>do</strong> mesmo santo, prestaram-se ao novo cor<strong>de</strong>amento <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> rua –<br />

então dita <strong>do</strong>s Escrivães. Também para esse novo cor<strong>de</strong>amento saíram terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> cônego<br />

Antônio Lopes Xavier. O cônego Xavier foi quem construiu, em chãos <strong>da</strong> sua chácara, a bela e<br />

tradicional capela <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Conceição, a qual o povo chamou <strong>de</strong> Conceição <strong>do</strong> Cônego, e foi outro<br />

templo <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong> pela famosa aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. A capela <strong>da</strong> Conceição <strong>do</strong> Cônego remontava<br />

a 1757. To<strong>do</strong>s os terrenos que formavam às margens <strong>da</strong> <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> rua General Câmara são foreiros<br />

à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua Uruguaiana até a praça <strong>da</strong> República, como provam as concessões que se<br />

fizeram, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1705, <strong>do</strong>s terrenos que se reservaram para um gran<strong>de</strong> rossio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, no trecho entre<br />

Uruguaiana e Andra<strong>da</strong>s, e <strong>de</strong>ssa rua à praça <strong>da</strong> República [e] os aforamentos <strong>da</strong>s <strong>de</strong>smembrações <strong>de</strong><br />

chácaras foreiras à Câmara, <strong>de</strong> tempos imemoriais. O dito rossio não passou <strong>de</strong> projeto.<br />

Gonçalo Gonçalves foi merca<strong>do</strong>r bem rico no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong>, em 1598, já possuía boas<br />

mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas na Misericórdia, junto às portas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois beco <strong>da</strong> Música. Também <strong>de</strong> sua<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> era o estanque <strong>do</strong> azeite e as casas contíguas <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> estanque. Faleceu,<br />

em 1620, solteiro, e <strong>de</strong>ixou a sua fortuna aos seus sobrinhos – Leonor Gonçalves, casa<strong>da</strong> com Antônio<br />

Martins <strong>de</strong> Palma, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, e Gonçalo Gonçalves, o moço, que faleceu em<br />

1645, também muito rico, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> testamento <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1643. Uma outra igreja<br />

<strong>de</strong>rruba<strong>da</strong>, para se abrir a aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas, foi a <strong>do</strong> Senhor Bom Jesus <strong>do</strong> Calvário, que ficava<br />

na rua General Câmara, canto com a Uruguaiana. Esse templo, inicia<strong>do</strong> a construir em 1719 por José <strong>de</strong><br />

Souza Barros, só terminou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1722, ano em que, no mês <strong>de</strong> abril, faleceu Souza Barros, o qual<br />

<strong>de</strong>ixou trinta mil cruza<strong>do</strong>s para a conclusão <strong>da</strong> igreja e para a aquisição <strong>da</strong>s alfaias.


2 3 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>do</strong> Sabão – 1830/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 9 e meia braças <strong>de</strong> frente à rua <strong>do</strong> [Sabão], com fun<strong>do</strong>s a entestar com a São Pedro e<br />

afora<strong>do</strong> ao tenente-general José Manoel <strong>de</strong> Morais, em 23 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1830. A <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> gran<strong>de</strong><br />

chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong> <strong>de</strong>u origem a novos prazos foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Um <strong>de</strong>les, forman<strong>do</strong> uma<br />

quadra entre as antigas e <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>s ruas São Pedro e General Câmara, veio a pertencer a Manoel<br />

Caetano Pinto, por compra feita em 1830. Caetano Pinto loteou a quadra e ven<strong>de</strong>u um lote, que é o<br />

terreno motivo <strong>de</strong>stas notas, ao tenente-general precita<strong>do</strong> – José Manoel <strong>de</strong> Morais. Esse militar cortou<br />

em duas partes o terreno que comprou, sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong> três e meia braças que ven<strong>de</strong>u ao seu irmão, padre<br />

Antônio Manoel <strong>de</strong> Morais, e reservou a outra, <strong>de</strong> seis braças, para construir, como construiu, duas casas<br />

térreas com frente à segun<strong>da</strong> travessa <strong>de</strong> São Joaquim, <strong>de</strong>pois rua <strong>do</strong> Núncio e, hoje, Tomé <strong>de</strong> Souza. Na<br />

mesma ocasião, construiu também uma boa e mo<strong>de</strong>rna casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com frente à rua <strong>do</strong> Sabão, e<br />

nessa casa passou a residir <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1830. O tenente-general José Manoel <strong>de</strong> Morais 48 era homem <strong>de</strong><br />

fino trato e gastava largamente. Daí, dívi<strong>da</strong>s que se avolumaram e a penhora que sofreu <strong>do</strong>s seus bens,<br />

em 1838. A casa <strong>da</strong> sua residência, então nº 324, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sabão, foi arremata<strong>da</strong> por <strong>de</strong>zoito contos <strong>de</strong><br />

réis pelo exeqüente <strong>da</strong> penhora – o onzenário Antônio Luiz Fernan<strong>de</strong>s Pinto. Indivíduo que não per<strong>do</strong>ava<br />

dívi<strong>da</strong>s, mas gostava <strong>de</strong> não pagar as suas, principalmente, as que contraía com o fisco. Contra ele a<br />

Ilustríssima Câmara intentou ação para haver foros e laudêmios. Levou anos o pleito, com estações<br />

conciliatórias que faziam-no suspenso longo perío<strong>do</strong>. Afinal, gostan<strong>do</strong> <strong>da</strong> política e ambicionan<strong>do</strong> uma<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> verea<strong>do</strong>r na Ilustríssima Câmara, Fernan<strong>de</strong>s Pinto, ce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos, quitou-se<br />

com os cofres <strong>do</strong> município e apanhou o lugar <strong>de</strong> verea<strong>do</strong>r, eleito aliás por duas paróquias. O prédio 324,<br />

em 1859, por compra, passou a pertencer ao barão <strong>de</strong> Alegrete, também proprietário <strong>do</strong> 326.<br />

Como vimos, a rua <strong>do</strong> Sabão veio a chamar-se General Câmara e, primitivamente, foi dita Senhor<br />

Bom Jesus.<br />

Rua São Pedro – 1820/1874<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, e, pelos cessionários <strong>de</strong>la,<br />

vendi<strong>do</strong> a Leocádio José <strong>de</strong> Oliveira, por novecentos mil réis, em 7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1820. Eram<br />

cessionários João José <strong>de</strong> Melo e Miguel José Fernan<strong>de</strong>s, os quais, nas ven<strong>da</strong>s que vinham fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

terrenos <strong>da</strong> chácara, entravam sempre em luta, buscan<strong>do</strong>, ca<strong>da</strong> um, maiores vantagens. E com isso<br />

causavam prejuízos aos compra<strong>do</strong>res, que se viam envolvi<strong>do</strong>s nessa luta, procuran<strong>do</strong> anular as<br />

transações. Na ven<strong>da</strong> em apreço, o compra<strong>do</strong>r Leocádio, interessa<strong>do</strong> que estava em adquirir o terreno,<br />

calmamente aguar<strong>do</strong>u por quatro anos se dirimissem as dúvi<strong>da</strong>s entre Melo e Fernan<strong>de</strong>s. É assim que,<br />

somente a 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1824, Leocádio conseguiu ultimar a compra <strong>do</strong> terreno e, para melhor<br />

segurança <strong>de</strong> sua posse, tirou na mesma <strong>da</strong>ta a carta <strong>do</strong> respectivo aforamento. No terreno, Leocádio<br />

construiu um prédio que ven<strong>de</strong>u, em 1835, a Eulália Isabel <strong>do</strong>s Santos. Em 1874, esse imóvel figura no<br />

Rol <strong>da</strong>s Décimas como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, nº 390.<br />

Rua São Pedro – 1830/1845<br />

Terreno <strong>de</strong> 56 palmos pela rua São Pedro e 82 ditos pela rua <strong>do</strong> Núncio, on<strong>de</strong> fazia canto, e era<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sabão. Pertencia ao general José Manoel <strong>de</strong> Morais, que o ven<strong>de</strong>u ao seu irmão, o padre<br />

Antônio Manoel <strong>de</strong> Morais, como já dissemos em notícia anterior sobre a rua <strong>do</strong> Sabão. O referi<strong>do</strong> padre<br />

construiu no terreno um prédio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is corpos, sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com frente à rua <strong>de</strong> São Pedro, nº<br />

335, e o outro térreo, <strong>de</strong> beira<strong>da</strong>, e frente à rua <strong>do</strong> Núncio. O her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong> padre Morais, que foi um filho<br />

seu, Antônio Manoel <strong>de</strong> Morais Júnior, ven<strong>de</strong>u esse prédio, em 1845, a Benjamim Dias.


Rua São Pedro – 1833/1843<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 3 9<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente pela rua São Pedro e fun<strong>do</strong>s até a <strong>de</strong> São Joaquim, numa extensão<br />

<strong>de</strong> 22 braças – ou seja 48,40m – com benfeitorias que foram vendi<strong>da</strong>s, em 1833, pelo respectivo<br />

proprietário, Custódio Moreira Maia, a Francisco José Bernar<strong>de</strong>s, por treze contos e oitocentos mil réis.<br />

Nessa ven<strong>da</strong>, foi incluí<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno, <strong>do</strong> qual o compra<strong>do</strong>r Bernar<strong>de</strong>s se manteve posseiro<br />

intruso durante <strong>de</strong>z anos, pois somente em 1843 cui<strong>do</strong>u <strong>de</strong> legalizar a sua posse, com o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno, por Carta <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1843. Na frente <strong>da</strong> rua São Pedro existia uma pequena casa <strong>de</strong><br />

sótão, ocupan<strong>do</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa frente – ou seis braças. Na frente <strong>da</strong> rua São Joaquim, o terreno era<br />

fecha<strong>do</strong> por um alto e grosso paredão <strong>de</strong> pedra e cal, com duas janelas e uma porta que <strong>da</strong>va a uma<br />

cocheira. Nessa dita rua São Joaquim o terreno confinava, à direita, com as casas <strong>do</strong> fina<strong>do</strong> José Pereira<br />

Car<strong>do</strong>so e, à esquer<strong>da</strong>, com telheiros <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tu<strong>do</strong> isso Francisco José Bernar<strong>de</strong>s fez<br />

<strong>de</strong>saparecer, para construir, como construiu, um sóli<strong>do</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> largas janelas <strong>de</strong> vidraças,<br />

à rua <strong>de</strong> São Pedro, <strong>de</strong>fronte <strong>do</strong> Paço Municipal. Esse prédio teve o nº 332.<br />

Rua São Pedro – 1846/1851<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças e sete palmos à rua São Pedro, com <strong>do</strong>is prédios <strong>de</strong> nºs 214 e 218,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, já em 1846, <strong>de</strong> José Peixoto <strong>da</strong> Fonseca, a quem pertenceram, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>do</strong>s<br />

pais. Em 1850, já estavam vendi<strong>do</strong>s a Pedro Lopes <strong>da</strong> Cruz, o qual tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno,<br />

em maio <strong>de</strong> 1851. A casa 214 ocupava uma braça <strong>de</strong> frente, entre a casa 212, <strong>de</strong> Teresa <strong>de</strong> Jesus Peixoto,<br />

à esquer<strong>da</strong>, e a casa 218, que ocupava duas braças e sete palmos, no canto <strong>da</strong> antiga rua <strong>da</strong> Imperatriz,<br />

hoje Camerino, no trecho <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong> pelo prolongamento e alargamento <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sacramento, atual<br />

aveni<strong>da</strong> Passos.<br />

Rua São Pedro – 1862<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças e 3 palmos à rua São Pedro e cento e vinte ditos pela <strong>do</strong> Fogo, agora <strong>do</strong>s<br />

Andra<strong>da</strong>s, e to<strong>do</strong> ele ocupa<strong>do</strong> por um prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, que ia <strong>de</strong> rua à rua, ten<strong>do</strong> o nº 164 pela rua São<br />

Pedro. Pertenceu esse prédio a Manoel Francisco <strong>de</strong> Souza Lemos e <strong>de</strong>pois ao seu filho dr. José<br />

Francisco <strong>de</strong> Souza Lemos, ilustre médico, professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

especialista em moléstias nervosas, no tratamento <strong>da</strong>s quais aplicava o hipnotismo – ao qual se <strong>de</strong>dicava<br />

cientificamente em aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s.<br />

Rua São Pedro<br />

A rua São Pedro era um <strong>do</strong>s mais remotos logra<strong>do</strong>uros públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Originou-se <strong>de</strong> um caminho aberto pelo povoa<strong>do</strong>r ao penetrar a terra carioca, <strong>do</strong> litoral<br />

para o sertão. A princípio chegava até o fosso, que era o limite natural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – e o fosso, já temos<br />

dito, corria por on<strong>de</strong> corre a rua Uruguaiana. Os aterros pelas suas margens reduziram-no <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

uma e meia braça em ca<strong>da</strong> margem e aumentaram a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, ficou sen<strong>do</strong> a vala gran<strong>de</strong> ou<br />

mestra <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, por mais <strong>de</strong> século. Durante muitos anos, a rua São Pedro chamou-se <strong>do</strong> Carneiro,<br />

nome <strong>de</strong> antigo e conceitua<strong>do</strong> mora<strong>do</strong>r e cirurgião <strong>da</strong> Misericórdia, Antônio Carneiro, resi<strong>de</strong>nte em um<br />

prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> passagem <strong>do</strong>s Ourives. Na sua parte antiga, vários os nomes que<br />

tiveram <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s trechos e cujos limites não po<strong>de</strong>m ser restabeleci<strong>do</strong>s, senão por presunção. E<br />

assim acontece porque, <strong>de</strong> origem vulgar quase to<strong>da</strong> ela, a toponímia primitiva <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não é <strong>de</strong> fácil<br />

reconstituição, como julgam muitos <strong>do</strong>s cronistas <strong>da</strong> terra carioca. Depois <strong>de</strong> ereta a igreja <strong>de</strong> São Pedro,<br />

em 1733, teve a rua o nome <strong>do</strong> Príncipe <strong>do</strong>s Apóstolos. Era magnífica obra <strong>de</strong> arte a igreja <strong>de</strong> São Pedro,<br />

<strong>de</strong>moli<strong>da</strong> para a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Ocupava terreno à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua, canto <strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

Ourives, para esse fim <strong>do</strong>a<strong>do</strong> pelo padre Francisco Barreto <strong>de</strong> Menezes, por escritura <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong>


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1732. Construção baroca ou barroca, como querem os portugueses, que obe<strong>de</strong>ceu a arquitetura romana<br />

<strong>do</strong> século XVIII, a igreja, <strong>de</strong> forma circular, tinha duas torres, ricas <strong>de</strong>corações internas e obra <strong>de</strong> talha<br />

<strong>do</strong>ura<strong>da</strong>.<br />

Em 1705, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, dividin<strong>do</strong> as terras <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, para a <strong>de</strong>marcação <strong>do</strong><br />

rossio, <strong>de</strong>u impulso ao povoamento <strong>de</strong>ssa baixa região, on<strong>de</strong> fez traçar novos arruamentos, prolongan<strong>do</strong><br />

as primitivas ruas que partiam <strong>do</strong> mar e abrin<strong>do</strong> outras transversais às primeiras referi<strong>da</strong>s. Prolongou-se,<br />

nessa ocasião, a rua <strong>do</strong> Carneiro até a azinhaga, ou caminho estreito, que ia ter ao mar <strong>do</strong> Valongo. Esse<br />

caminho <strong>de</strong>u origem, ou serviu <strong>de</strong> traço, como então se dizia, para a abertura <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Valongo, <strong>de</strong>pois<br />

Imperatriz e, atualmente, Camerino. Ao fin<strong>da</strong>r o século XVIII, a rua São Pedro, arrua<strong>da</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />

conveniente, foi leva<strong>da</strong> a encontrar a ponte <strong>do</strong> Curtume, em São Diogo. Esse prolongamento veio a<br />

chamar-se rua São Pedro <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova e, <strong>de</strong>pois, Sena<strong>do</strong>r Euzébio. Excluí<strong>da</strong> a parte entre a rua<br />

Primeiro <strong>de</strong> Março e a Uruguaiana, existem sobre a rua São Pedro, guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s nos arquivos <strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e nos cartórios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, volumosos autos sobre as<br />

concessões <strong>de</strong> aforamentos nessa <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> via pública. A rua São Pedro era uma reta estreita <strong>de</strong><br />

bastante comprimento e perfeita <strong>de</strong> ponta a ponta. Na sua formação, entraram terrenos <strong>de</strong> marinhas até<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, terras concelhias, <strong>de</strong> uso e gozo <strong>do</strong>s povoa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

rua <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária até o fosso – hoje rua Uruguaiana, – e <strong>da</strong>í até o término <strong>da</strong> rua, os retalhos <strong>do</strong> campo<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, os terrenos <strong>da</strong>s chácaras <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, Conceição e Macha<strong>do</strong>, e os terrenos <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Mangue. Dos vários nomes atribuí<strong>do</strong>s à antiga rua São Pedro, no trecho entre o mar e a Vala Gran<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>stacamos o <strong>de</strong> Vaz Viçoso, com segura i<strong>de</strong>ntificação em <strong>do</strong>cumentos fi<strong>de</strong>dignos <strong>do</strong> século XVII. Esse<br />

nome era <strong>da</strong><strong>do</strong> à parte <strong>da</strong> dita rua, entre a <strong>do</strong>s Ourives e a Uruguaiana, pelo fato <strong>de</strong> aí residir e ter<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s Antônio Vaz Viçoso, o moço, filho <strong>de</strong> Antônio Vaz Viçoso, o velho, que foi riquíssimo<br />

senhor <strong>de</strong> engenho e <strong>de</strong> vastas terras cultiva<strong>da</strong>s no Guandu Mirim, em 1630, também possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

prédios urbanos. Documentos oficiais, <strong>do</strong>s últimos anos <strong>do</strong> século XVII, falam <strong>da</strong> rua Vaz Viçoso, on<strong>de</strong><br />

tinha residência, ain<strong>da</strong> em 1683, Antônio Vaz Viçoso, o moço, casa<strong>do</strong> com Maria <strong>de</strong> Vasconcelos Viçoso,<br />

e <strong>de</strong>sse casal havia uma filha – Vitória <strong>da</strong> Silva Vasconcelos Viçoso —, que se casou com Manoel<br />

Rodrigues Henriques, e foi <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> por seus pais generosamente, na ocasião <strong>do</strong> seu casamento, em maio<br />

<strong>de</strong> 1689. Nesse <strong>do</strong>te, foram incluí<strong>do</strong>s uma sorte <strong>de</strong> terras <strong>de</strong> 450 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> por meia légua <strong>de</strong><br />

fun<strong>do</strong>, no Guandú Mirim, e mais seis braças <strong>de</strong> chão <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> pela rua Antônio Viçoso e fun<strong>do</strong>s no<br />

outeiro <strong>da</strong> Conceição, no lugar <strong>da</strong> Vila Ver<strong>de</strong>, que é to<strong>da</strong> a área outrora compreendi<strong>da</strong> pelo antigo largo<br />

<strong>de</strong> Santa Rita e ruas Teófilo Otoni e Uruguaiana e que foi abrangi<strong>da</strong> pela aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas.<br />

Rua <strong>da</strong> Carioca – 1877/1879<br />

Terreno <strong>de</strong> cento e seis metros <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Carioca. No começo <strong>do</strong> ano<br />

<strong>de</strong> 1877, a Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>da</strong> Penitência, por seu procura<strong>do</strong>r José Francisco <strong>da</strong> Costa Braga, pediu à<br />

Ilustríssima Câmara o arruamento <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> frente, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a permitir as reedificações na mesma<br />

frente, na forma <strong>do</strong> disposto pelo novo projeto <strong>de</strong> alinhamento <strong>da</strong> rua. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano, a Câmara <strong>de</strong>feriu o pedi<strong>do</strong> e, <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong>pois, eram arrua<strong>do</strong>s 106m <strong>de</strong> frente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

canto <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Carioca com o largo <strong>do</strong> mesmo nome até a aresta <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> casa nº 57, com um<br />

recuo <strong>de</strong> 0,77cm, no ponto em que a rua fazia uma curva. A Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Penitência não <strong>de</strong>morou em<br />

<strong>de</strong>molir as antigas casas térreas <strong>de</strong> nºs 1 a 27, que ocupavam a referi<strong>da</strong> frente e a iniciar a edificação <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>ze prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, na forma expressa pelo alvará <strong>de</strong> licença expedi<strong>do</strong> na mesma <strong>da</strong>ta, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1877, e no qual ficou dito não ser foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> o terreno ocupa<strong>do</strong> pelos novos<br />

prédios. Essa <strong>de</strong>claração, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> os terrenos como alodiais, aparece em quase to<strong>do</strong>s os Alvarás <strong>de</strong><br />

Licenças para as novas edificações <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Carioca ao tempo – 1877/1879. Mais tar<strong>de</strong>, porém, em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses alvarás criaram-se casos <strong>de</strong> controvérsias, mostran<strong>do</strong> ser duvi<strong>do</strong>sa a situação <strong>do</strong>s terrenos,<br />

quanto à natureza alodial ou não <strong>do</strong>s mesmos. Citaremos o caso <strong>do</strong> prédio 79, reconstruí<strong>do</strong> em 1877, e<br />

que pertenceu a Inácia Maria <strong>da</strong> Conceição, que o construiu em terreno a ela vendi<strong>do</strong> pela Or<strong>de</strong>m<br />

Terceira <strong>da</strong> Penitência, e com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> ser o terreno vendi<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> parte alodial, ou livre,<br />

e <strong>de</strong> parte sujeita a foro à Ilustríssima Câmara. É interessante recor<strong>da</strong>r que, em tempos anteriores, o<br />

terreno havia si<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong> por uma casa térrea pertencente à dita Or<strong>de</strong>m, e que figurava no Rol <strong>da</strong>s<br />

Décimas, com o nº 69, antigo 163, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Piolho – nome anterior <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Carioca. A referi<strong>da</strong> Inácia


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Maria <strong>da</strong> Conceição dirigiu-se à Ilustríssima Câmara expon<strong>do</strong> a transação que fizera, obten<strong>do</strong> a<br />

ratificação e o aforamento <strong>da</strong> parte dita foreira. Foi um expediente <strong>de</strong> evitar polêmica. Por morte <strong>de</strong><br />

Inácia, o prédio ficou pertencen<strong>do</strong> a Carlos Luiz <strong>da</strong> Rocha, conforme a partilha <strong>do</strong>s bens <strong>da</strong> fina<strong>da</strong>,<br />

processa<strong>da</strong> no juízo Municipal <strong>de</strong> Niterói, escrivão Cantidiano Rosa, e julga<strong>da</strong> por sentença <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1863. Carlos Luiz ven<strong>de</strong>u o prédio a José Marques <strong>de</strong> Carvalho, com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> ser o<br />

terreno livre <strong>de</strong> foro, <strong>de</strong>claração essa manti<strong>da</strong> por Marques <strong>de</strong> Carvalho ao transferir a posse <strong>do</strong> terreno,<br />

também por ven<strong>da</strong>, a Avelino Coelho <strong>da</strong> Costa. Com esse posseiro, a Câmara Municipal, em setembro<br />

<strong>de</strong> 1879, entrou em entendimento sobre regularizar-se a situação <strong>do</strong> prédio 79, <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Carioca, que já<br />

pertencia ao dito Avelino Coelho <strong>da</strong> Costa, o qual prontificou-se a pagar o laudêmio <strong>da</strong> aquisição <strong>do</strong><br />

imóvel, quanto à parte foreira, que aceitou e reconheceu ser aquela, com frente ou testa<strong>da</strong> no la<strong>do</strong> direito<br />

<strong>do</strong> beco <strong>da</strong> Carioca, visto que a outra parte era <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>da</strong> Penitência. Por<br />

<strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1877, a Ilustríssima Câmara, aceitan<strong>do</strong> a situação como real, se não <strong>de</strong><br />

direito, mas <strong>de</strong> fato, man<strong>do</strong>u proce<strong>de</strong>r a cobrança <strong>de</strong> um laudêmio sobre oito contos <strong>de</strong> réis. O terreno<br />

media 6,4m na frente <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Carioca e 5,4m, na <strong>do</strong> beco, com um comprimento <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

27m. É interessante recor<strong>da</strong>r, com fun<strong>da</strong>mento na opinião <strong>do</strong> ilustra<strong>do</strong> Francisco <strong>de</strong> Bustamante Sá,<br />

então conta<strong>do</strong>r geral <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que to<strong>do</strong> o terreno não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser foreiro à Ilustríssima<br />

Câmara, por achar-se <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> área <strong>da</strong> sesmaria municipal e, ain<strong>da</strong> mais, porque era parte <strong>da</strong>queles que,<br />

em 1703, a Câmara havia afora<strong>do</strong> a José <strong>de</strong> Souza Barros e, em 1808, traspassa<strong>do</strong>s a Francisco José <strong>de</strong><br />

Augusto Malta, 28/1/1909 – Rua <strong>da</strong> Carioca. No final <strong>do</strong> século XVII, foram levanta<strong>da</strong>s as primeiras casas <strong>da</strong> atual rua <strong>da</strong> Carioca, caminho<br />

utiliza<strong>do</strong> pelos que iam buscar água no chafariz <strong>da</strong> Carioca; sua <strong>de</strong>nominação, aprova<strong>da</strong> por <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Câmara Municipal, em 1848, perdura<br />

até hoje apesar <strong>da</strong>s tentativas <strong>de</strong> modificá-la.


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Souza Guimarães. Quanto à parte contesta<strong>da</strong>, ou seja, ti<strong>da</strong> como parte alodial, a Ilustríssima Câmara<br />

<strong>de</strong>liberou, ressalvan<strong>do</strong> os seus direitos, que seria ventila<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> oportuno, essa questão e outras<br />

muitas idênticas. Lamentavelmente, a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> nunca chegou, e <strong>da</strong>í o esbulho sofri<strong>do</strong> pela<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, no seu patrimônio territorial, por sua própria culpa.<br />

Rua <strong>da</strong> Carioca<br />

A rua <strong>da</strong> Carioca tem origem bem remota e, <strong>do</strong> que era primitivamente, há ain<strong>da</strong> claro vestígio<br />

no beco <strong>da</strong> Carioca, o qual, recentemente, passou a ser rua com o nome <strong>de</strong> Gustavo Lacer<strong>da</strong>, aliás,<br />

classificação bem absur<strong>da</strong>, como muitas outras existentes no Rol <strong>do</strong>s Logra<strong>do</strong>uros Públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O antigo beco <strong>da</strong> Carioca é um pequeno logra<strong>do</strong>uro muito estreito<br />

e sem saí<strong>da</strong>. A topologia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>do</strong> século XVI não é <strong>de</strong> fácil reconstituição pelo <strong>de</strong>scaminho<br />

<strong>da</strong> <strong>do</strong>cumentação escrita <strong>da</strong> época e <strong>do</strong> estrago <strong>da</strong> que existe pelos arquivos públicos e particulares –<br />

esses, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns religiosas quase to<strong>do</strong>s. É certo, porém, que nas nossas longas e minuciosas buscas<br />

conseguimos algo <strong>de</strong> interessante sobre alguns <strong>do</strong>s primitivos logra<strong>do</strong>uros <strong>da</strong> Sebastianópolis, no<br />

precita<strong>do</strong> século. Um <strong>de</strong>les é o chama<strong>do</strong> porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em um ponto <strong>da</strong> praia, <strong>de</strong>pois rua <strong>da</strong><br />

Misericórdia, que melhor cômo<strong>do</strong> <strong>da</strong>va ao povo para o <strong>de</strong>sembarque <strong>do</strong>s seus mantimentos e <strong>da</strong>s suas<br />

<strong>de</strong>mais utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Do porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, partia um caminho que subia à praia para penetrar terra a <strong>de</strong>ntro,<br />

à mão esquer<strong>da</strong>, em direção ao engenho <strong>do</strong>s padres <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Jesus * Vestígios <strong>de</strong>sse remoto<br />

logra<strong>do</strong>uro tem-se ain<strong>da</strong>, acompanhan<strong>do</strong> os segmentos <strong>da</strong>s atuais vias públicas: rua <strong>de</strong> São José 49 , beco<br />

<strong>da</strong> Carioca, rua e travessa <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, ruas Frei Caneca, Estácio <strong>de</strong> Sá e Had<strong>do</strong>ck Lobo. Partia-se <strong>da</strong><br />

praia, atualmente, rua <strong>da</strong> Misericórdia, tomava-se pela encosta <strong>do</strong> <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo, hoje,<br />

rua <strong>de</strong> São José e, alcançan<strong>do</strong> o outeiro <strong>de</strong> Santo Antônio, rumava-se [pelas] suas vertentes, chama<strong>da</strong>s<br />

Abas <strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s, a esbarrar no morro <strong>de</strong> Pedro Dias, <strong>de</strong>pois Sena<strong>do</strong>, também arrasa<strong>do</strong>. Desse ponto,<br />

voltava-se à mão direita, atravessava-se um areal, caminhava-se à beira <strong>da</strong> lagoa salga<strong>da</strong> <strong>do</strong> Capueruçú<br />

e, para fugir aos treme<strong>da</strong>is, à direita, penetrava-se a estreita garganta <strong>do</strong> Barro Vermelho, galgava-se<br />

caminho alto e, por mato a <strong>de</strong>ntro, chegava-se, enfim, ao engenho <strong>do</strong>s jesuítas. Em menos <strong>de</strong> meio<br />

século, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se aos interesses <strong>de</strong> proprietários <strong>de</strong> extensas roças que se plantaram nessa região,<br />

foram sen<strong>do</strong> abertos logra<strong>do</strong>uros transversais ao caminho <strong>de</strong>scrito, o qual foi sen<strong>do</strong> alarga<strong>do</strong>, <strong>de</strong>svia<strong>do</strong><br />

e estreita<strong>do</strong> em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s pontos. Esses <strong>de</strong>svios foram causa<strong>do</strong>s pelos trancamentos que eram feitos<br />

nas frentes <strong>da</strong>s roças <strong>do</strong>s mandões <strong>do</strong> lugar.<br />

Depois <strong>de</strong> 1609, já instala<strong>do</strong>s os franciscanos no alto <strong>do</strong> morro, ao qual se chamou <strong>de</strong> Santo<br />

Antônio, começou a Câmara a cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong> saneamento <strong>da</strong> palu<strong>do</strong>sa região <strong>da</strong> Carioca, aterran<strong>do</strong> e<br />

escoan<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong> valas, as águas pluviais que aí se estagnavam. Para a construção <strong>da</strong> casa<br />

conventual e <strong>da</strong> igreja, os franciscanos cortaram gran<strong>de</strong> porção <strong>da</strong> rocha <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santo Antônio, na<br />

parte que lhes fora <strong>do</strong>a<strong>da</strong>. Em um lugar <strong>de</strong>ssa rocha, on<strong>de</strong> está, hoje, a igreja Evangélica, à rua Silva<br />

Jardim, antiga travessa <strong>da</strong> Barreira, havia água nativa, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> miraculosa e <strong>de</strong> ótimo resulta<strong>do</strong> na<br />

cura <strong>da</strong> orquite. Altas horas <strong>da</strong> noite, iam banhar-se nessa fonte, os ataca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dito mal. Depois,<br />

levantou-se no lugar <strong>da</strong> fonte um chafariz público, ao qual o povo chamou <strong>de</strong> chafariz <strong>da</strong>s Boiotas. Pelas<br />

fral<strong>da</strong>s <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santo Antônio, e ocupan<strong>do</strong> larga faixa <strong>do</strong> rossio público – largo <strong>da</strong> Carioca – existiu<br />

um cemitério fun<strong>da</strong><strong>do</strong> pelos fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Francisco, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s aos escravos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s. Em<br />

novembro <strong>de</strong> 1709, os ditos religiosos, movi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> compaixão e <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> por essas infelizes criaturas,<br />

cujos cadáveres ficavam em aban<strong>do</strong>no, insepultos, conseguiram <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, por esmola, o<br />

aumento <strong>da</strong> testa<strong>da</strong> <strong>do</strong> cemitério, com mais 18 braças, a começar <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> muro <strong>da</strong> la<strong>de</strong>ira que ia para<br />

o convento, on<strong>de</strong> tinha começo a rua que ia para o morro <strong>da</strong> Conceição – rua <strong>da</strong> Uruguaiana, agora – e<br />

com fun<strong>do</strong>s que se achasse em direção à capela <strong>do</strong>s Terceiros.<br />

A lagoa <strong>de</strong> Santo Antônio era a bacia que recolhia as águas <strong>do</strong> fosso, com vazão para o campo <strong>da</strong><br />

Aju<strong>da</strong>. Em 1712, entulha<strong>da</strong> no meio pelos franciscanos, ficou dividi<strong>da</strong> em duas. As obras leva<strong>da</strong>s a<br />

efeito (1721/1723) para o levantamento <strong>da</strong> fonte <strong>da</strong> Carioca, fizeram <strong>de</strong>saparecer a lagoa. Começaram,<br />

então, com o saneamento <strong>de</strong>ssa região, as edificações nos arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> dita fonte. Pela face <strong>do</strong> antigo<br />

campo alagadiço, que olhava para o outeiro <strong>de</strong> Santo Antônio, ou, atualmente la<strong>do</strong> leste <strong>do</strong> largo <strong>da</strong><br />

* Documentos Inéditos, Arquivo Ultramarino – Lisboa. (N.A.)


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Carioca, construíram-se bons prédios. O vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, * no seu governo (1763/1767), nos<br />

novos arruamentos a que man<strong>do</strong>u proce<strong>de</strong>r, em colaboração com o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, abriu a rua que<br />

se chamou <strong>do</strong> Egito, <strong>do</strong> Piolho 50 e por fim <strong>da</strong> Carioca, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 1848. Na administração <strong>do</strong> prefeito Passos (1902/1906), o largo e a rua <strong>da</strong> Carioca foram<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente melhora<strong>do</strong>s.<br />

Chácara <strong>de</strong> São Domingos<br />

Como dissemos em outro capítulo <strong>de</strong>ste livro, e vamos aqui repetir, com mais outras achegas<br />

interessantes à história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a famosa chácara ou quinta <strong>de</strong> São<br />

Domingos ocupou to<strong>da</strong> a área nos nossos dias limita<strong>da</strong> pelo la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> ou ímpar <strong>da</strong> rua Senhor <strong>do</strong>s<br />

Passos; la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> ou ímpar <strong>da</strong> rua Gonçalves Le<strong>do</strong>; face oci<strong>de</strong>ntal <strong>da</strong> praça Tira<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

última precita<strong>da</strong> rua até o canto, à direita, <strong>da</strong> rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco; to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> direito ou par <strong>da</strong><br />

dita rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco e to<strong>da</strong> a face oriental <strong>da</strong> praça <strong>da</strong> República, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua Senhor <strong>do</strong>s<br />

Passos até a <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco. To<strong>do</strong> o chão <strong>da</strong> chácara, com uma porção bem pantanosa, era<br />

foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em 1702, por comisso, foi a chácara à praça pública <strong>de</strong><br />

arrematação, sen<strong>do</strong> arremata<strong>da</strong> pelo dr. João Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, o qual tirou carta <strong>de</strong> aforamento, em<br />

fateusim perpétuo, a 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1702, ao foro anual <strong>de</strong> <strong>de</strong>z tostões. Em 1709, o dr. João Men<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> <strong>do</strong>ou a chácara ao seu cunha<strong>do</strong>, capitão Paulo Carvalho <strong>da</strong> Silva, <strong>de</strong> quem foi sucessor a<br />

Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> lega<strong>do</strong>. Esquecíamos [<strong>de</strong>] dizer que a <strong>do</strong>ação feita pelo dr.<br />

Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> teve a aprovação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em vereança <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1710,<br />

sen<strong>do</strong> expedi<strong>da</strong>, na mesma <strong>da</strong>ta, nova carta <strong>de</strong> aforamento ao capitão Paulo Carvalho <strong>da</strong> Silva. Também<br />

é importante recor<strong>da</strong>r que o lega<strong>do</strong> estipulou fossem os réditos <strong>da</strong> chácara aplica<strong>do</strong>s pela Or<strong>de</strong>m, em<br />

benefício <strong>do</strong>s irmãos pobres que se recolhessem ao hospital <strong>da</strong> mesma instituição. No governo <strong>do</strong> vicerei<br />

con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, pon<strong>do</strong>-se em execução um projeto <strong>de</strong> melhoramentos urbanos, a Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo<br />

foi compeli<strong>da</strong> a retalhar a chácara <strong>de</strong> São Domingos, em benefício público e a ce<strong>de</strong>r terrenos para<br />

arruamentos que se fizeram, e pelos quais foram prolonga<strong>do</strong>s existentes e antigos logra<strong>do</strong>uros.<br />

Prolongaram-se, então, as ruas São Jorge, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos ao rossio Gran<strong>de</strong>; Senhor <strong>do</strong>s Passos,<br />

la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> São Jorge até o campo <strong>de</strong> Santana; Lampa<strong>do</strong>sa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> São Jorge até a <strong>de</strong> Santa<br />

Teresa, – atual Regente Feijó; Hospício, atualmente Buenos Aires, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> São Jorge até o campo <strong>de</strong><br />

Santana, ten<strong>do</strong> esse prolongamento recebi<strong>do</strong> o nome <strong>de</strong> Alecrim, <strong>da</strong><strong>do</strong> pelo povo. Abriram-se a rua <strong>do</strong><br />

Núncio, com o nome <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ssa e <strong>de</strong>pois Coqueiro; a <strong>do</strong> Regente Feijó, com o nome <strong>de</strong> Santa Teresa,<br />

<strong>de</strong>pois Regente; <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, com o nome <strong>de</strong> con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, e a <strong>da</strong> Constituição, com<br />

o nome <strong>de</strong> Ciganos. Tanto a rua <strong>do</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco como a <strong>da</strong> Constituição foram ti<strong>da</strong>s, <strong>de</strong><br />

começo, como prolongamentos <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Piolho, a primeira, e <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cano, a segun<strong>da</strong>. A rua <strong>do</strong><br />

Piolho é a atual Carioca e a <strong>do</strong> Cano, Sete <strong>de</strong> Setembro. O la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco<br />

formou-se <strong>de</strong> terrenos tira<strong>do</strong>s à chácara <strong>do</strong> guar<strong>da</strong>-mor e o <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Jorge constituiu-se <strong>da</strong> <strong>de</strong> São<br />

Domingos. Como se vê, to<strong>do</strong>s os prédios construí<strong>do</strong>s nos logra<strong>do</strong>uros cita<strong>do</strong>s são obriga<strong>do</strong>s ao foro à<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Entretanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época <strong>da</strong>s primeiras edificações, inúmeras as<br />

transmissões que se tem feito <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s à revelia <strong>do</strong> senhorio direto – a dita municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> receber os laudêmios <strong>da</strong>s transações efetua<strong>da</strong>s. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, foram surgin<strong>do</strong> questões<br />

com a Fazen<strong>da</strong> Municipal, nas quais patente era a má-fé <strong>do</strong>s proprietários, inclusive a referi<strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m.<br />

Em 1857, graças ao ilustre Had<strong>do</strong>ck Lobo, a Ilustríssima Câmara reencetou um firme movimento <strong>de</strong><br />

reivindicação <strong>do</strong>s seus direitos senhoriais nessa zona <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>sse movimento resultam, ain<strong>da</strong> em<br />

nossos dias, benefícios à <strong>Prefeitura</strong> para a cobrança <strong>do</strong>s seus foros e laudêmios.<br />

* A rua <strong>da</strong> Carioca já existia muito antes <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha (1763-1767). O que ele po<strong>de</strong> ter feito é man<strong>da</strong><strong>do</strong> arruar e alinhar o<br />

logra<strong>do</strong>uro. (N.C.)


2 4 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1807/1873<br />

Terreno <strong>de</strong> 11 braças e 7 palmos ou, mo<strong>de</strong>rnamente, 25,74m – <strong>de</strong> frente no largo <strong>do</strong> Rossio<br />

Gran<strong>de</strong>, canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, por on<strong>de</strong> corria fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 15 braças e 2 palmos, ou 33, 44m.<br />

Bem pantanoso, ain<strong>da</strong> em 1807, esse terreno foi assim vendi<strong>do</strong>, no dito ano e por bom dinheiro, pela<br />

Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, ao capitão Manoel Gonçalves Mole<strong>do</strong>, a quem veio a ser compra<strong>do</strong> pelo<br />

sargento-mor Antônio Petra Bitencourt. Esse rico proprietário, já possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> outros terrenos no local,<br />

cui<strong>do</strong>u logo <strong>de</strong> aterrar, como aterrou, soli<strong>da</strong>mente, não só o terreno compra<strong>do</strong> a Mole<strong>do</strong>, também to<strong>da</strong> a<br />

área que já possuía, adquiri<strong>da</strong> por compra à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo. Essa área foi <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> <strong>da</strong> parte<br />

bastante alagadiça <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> São Domingos, parte que correspon<strong>de</strong>, nos nossos dias, a que é fecha<strong>da</strong><br />

pelas praças <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência – antiga Tira<strong>de</strong>ntes – e <strong>da</strong> República, e pelas ruas Constituição e Viscon<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco. No terreno, motivo <strong>de</strong>stas notas, Petra edificou um vasto prédio <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> nobre, <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>is pavimentos, com salões <strong>de</strong>cora<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>pendências para a cria<strong>da</strong>gem e para a cavalariça. O sargentomor<br />

Antônio Petra Bitencourt era casa<strong>do</strong> com senhorinha Joaquina Nobre <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> importante e rica<br />

família carioca. O casal Petra, possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, residiu por algum tempo no referi<strong>do</strong> prédio,<br />

vendi<strong>do</strong> ao viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Seco – <strong>de</strong>pois marquês <strong>de</strong> Jundiaí —, o que <strong>de</strong>u origem à <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

Planta <strong>da</strong> área <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-Mor, século XVIII.


C A P Í T U L O X I V | 2 4 5<br />

Palacete Jundiaí para o antigo casarão. Em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1836, foi leva<strong>do</strong> à praça e arremata<strong>do</strong> pelo<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r José Ferreira Carneiro, por quarenta e cinco contos e quatrocentos e cinqüenta mil réis. Em<br />

1851, já precisan<strong>do</strong> <strong>de</strong> reparos, foi adquiri<strong>do</strong> por um outro comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r – o lavra<strong>do</strong>r e negociante<br />

Francisco Pinto <strong>da</strong> Fonseca Teles – pela quantia <strong>de</strong> quarenta contos <strong>de</strong> réis. Esse último proprietário, em<br />

1873, ven<strong>de</strong>u o Palacete Jundiaí, e to<strong>da</strong>s as suas <strong>de</strong>pendências, à Fazen<strong>da</strong> Nacional para servir <strong>de</strong> se<strong>de</strong><br />

ao Ministério <strong>do</strong> Império, como serviu, e também ao Ministério <strong>do</strong> Interior e Justiça, na República. É<br />

interessante assinalar que a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> teve interferência nessas transações <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> dito<br />

palacete, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno em que o mesmo edifício estava assente, pagan<strong>do</strong>se-lhe<br />

os foros e laudêmios. Ain<strong>da</strong> interessante recor<strong>da</strong>r que o palacete Jundiaí, ao ser construí<strong>do</strong><br />

receben<strong>do</strong> o nº 2, pela rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, conservou sempre essa numeração, até 1873, quan<strong>do</strong> foi<br />

arrola<strong>do</strong> entre os próprios <strong>da</strong> Nação, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser numera<strong>do</strong>.<br />

Largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1813/1842<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças <strong>de</strong> frente no largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong>, com fun<strong>do</strong>s para os alagadiços que<br />

iam em direção ao campo <strong>de</strong> Santana. Manoel Gonçalves Galvão comprou esse terreno à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong><br />

Carmo e logo o ven<strong>de</strong>u ao sargento-mor Antônio Petra Bitencourt. Beneficia<strong>do</strong> bastante o terreno pelo<br />

compra<strong>do</strong>r, com sóli<strong>do</strong> aterro e a edificação <strong>de</strong> uma casa térrea resi<strong>de</strong>ncial. A casa veio a ser vendi<strong>da</strong> a<br />

Joana Máxima Leite Pereira, senhora <strong>de</strong> fino trato e <strong>de</strong> conceitua<strong>da</strong> família carioca.<br />

Joana Máxima residiu por algum tempo na dita casa, que ven<strong>de</strong>u ao dr. José Martins <strong>da</strong> Cruz<br />

Jobim, por <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis. A ven<strong>da</strong> efetuou-se por escritura pública, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1836, ten<strong>do</strong> a<br />

casa, nessa ocasião, o nº 70 <strong>da</strong> face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong>. O dr. Cruz Jobim, médico<br />

ilustre e político <strong>de</strong> influência, questionou anos com a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, sobre a obrigação <strong>do</strong> aforamento<br />

<strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa que comprara, acaban<strong>do</strong>, afinal, por aceitá-lo, tiran<strong>do</strong> a respectiva carta em 6 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1842.<br />

Largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1822/1845<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças <strong>de</strong> frente pelo largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> parte pantanosa<br />

<strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> São Domingos, arremata<strong>do</strong> pelo sargento-mor Antônio Petra Bitencourt, e logo edifica<strong>do</strong><br />

com casas térreas resi<strong>de</strong>nciais. Uma <strong>de</strong>ssas casas veio a ser vendi<strong>da</strong>, em 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1822, a Rosa<br />

Alexandrina Lima, para a sua residência. Em testamento, a dita senhora legou a precita<strong>da</strong> casa a Luiza<br />

Joaquina Gomes, viúva <strong>do</strong> abaliza<strong>do</strong> engenheiro Joaquim Vicente Gomes, irmão <strong>da</strong> testa<strong>do</strong>ra. A<br />

Ilustríssima Câmara conheceu <strong>do</strong> lega<strong>do</strong>, aceitan<strong>do</strong>-o e ratifican<strong>do</strong> por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />

1845, e, nessa mesma <strong>da</strong>ta, a legatária obteve a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa, então nº 75.<br />

Largo <strong>do</strong> Rossio Gran<strong>de</strong> – 1836<br />

Terreno <strong>de</strong> três braças <strong>de</strong> frente, ocupa<strong>do</strong> pelo prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 91, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João <strong>de</strong><br />

Azeve<strong>do</strong> Melo Pita<strong>da</strong>, vendi<strong>do</strong> ao dr. Lourenço Caetano Pinto, por <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis. O dr. Caetano<br />

Pinto, que era médico, residiu e teve consultório nesse prédio, que aumentou, em 1836, compran<strong>do</strong> para<br />

o aumento mais terreno, na parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, a Rodrigo José Pimenta. To<strong>do</strong> o chão ocupa<strong>do</strong> pelo prédio,<br />

com o acréscimo que se lhe fez, ficou constituin<strong>do</strong> um só prazo, sujeito ao foro anual <strong>de</strong> quatro contos<br />

e oitenta réis.


2 4 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1806/1807<br />

Terreno <strong>de</strong> 14 braças, 30,80m <strong>de</strong> frente pela rua chama<strong>da</strong> <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Con<strong>de</strong><br />

e, agora, Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco. Esse terreno era um <strong>do</strong>s muitos <strong>de</strong>smembramentos <strong>da</strong> área pantanosa<br />

<strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> São Domingos, cuja <strong>de</strong>smembração começou a ser feita em 1765, por or<strong>de</strong>m ou man<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

expresso <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha à Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, posseiro <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> chácara, a fim <strong>de</strong><br />

que, em benefício <strong>do</strong> público, as comunicações se fizessem mais rápi<strong>da</strong>s. O terreno foreiro à<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> era constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> duas porções diferentes: uma <strong>de</strong> oito braças <strong>de</strong><br />

testa<strong>da</strong> e a outra <strong>de</strong> seis ditas. Em 1806, a Or<strong>de</strong>m ven<strong>de</strong>u a porção menor ao capitão miliciano Luiz<br />

Antônio Ferreira e, em 1807, a maior a Custódio Moreira Lírio, o qual adquiriu, pouco <strong>de</strong>pois e por<br />

compra, a porção <strong>do</strong> capitão Ferreira. No to<strong>do</strong> <strong>de</strong> 14 braças, constituin<strong>do</strong> um prazo foreiro, conforme<br />

Carta <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1807, Lírio construiu quatro prédios, que receberam os números <strong>de</strong> 4 a 10, <strong>da</strong><br />

rua con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha e tinham, à esquer<strong>da</strong>, o palacete <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>do</strong> sargento-mor Petra<br />

Bitencourt e, à direita, a rua Santa Teresa – <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Regente. É interessante dizer que o capitão Luiz<br />

Antônio Ferreira e Custódio Moreira Lírio, que era comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r e muito rico, foram prove<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Santa<br />

Casa <strong>da</strong> Misericórdia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: em 1804/1805 e 1820/1822, respectivamente. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r<br />

Lírio prestou relevantes serviços à dita instituição, bastan<strong>do</strong> citar o <strong>da</strong> concessão <strong>de</strong> loterias. Foi<br />

arrematante <strong>do</strong> contrato <strong>da</strong>s miunças que, pela sua inteligente operosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, se elevou para mais <strong>de</strong><br />

trezentos contos <strong>de</strong> réis.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 7 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, vendi<strong>do</strong>, em 1807, pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong><br />

Carmo a Sabino Teixeira <strong>de</strong> Melo, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong><br />

terreno em apreço, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1807, ao foro anual <strong>de</strong> quinhentos réis. No ano<br />

seguinte, Teixeira <strong>de</strong> Melo iniciou a construção <strong>de</strong> bons prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> pedra e cal. A construção<br />

terminou em 1809, e foram três os prédios construí<strong>do</strong>s, os quais ficaram arrola<strong>do</strong>s para o pagamento <strong>da</strong>s<br />

décimas, sob os números 14, 16 e 18, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>.<br />

De fato, o serviço <strong>de</strong> lançamento ou, como era chama<strong>do</strong>, arrolamento <strong>do</strong>s prédios urbanos <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> teve início no ano <strong>de</strong> 1809 e, nessa ocasião, para melhor<br />

segurança e facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cobrança <strong>da</strong>s décimas a que ficaram obriga<strong>do</strong>s os prédios, proce<strong>de</strong>u-se a uma<br />

revisão na nomenclatura ou titulação <strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>uros públicos e <strong>do</strong>s seus limites, alteran<strong>do</strong>-se, em<br />

muito, os limites e modifican<strong>do</strong>-se, também, a nomenclatura. É assim que a rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, a<br />

partir <strong>de</strong>sse ano <strong>de</strong> 1809, passou a chamar-se rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> começo no rossio Gran<strong>de</strong> e fim no<br />

campo <strong>de</strong> Santana.<br />

O prédio 14 foi vendi<strong>do</strong> a José Joaquim Pereira, por Teixeira <strong>de</strong> Melo, e os <strong>de</strong> nºs 16 e 18, pelos<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>sse proprietário, a Francisco Ribeiro Moreira, ain<strong>da</strong> proprietário <strong>do</strong>s mesmos imóveis, em<br />

1859. O <strong>de</strong> nº 14 veio a pertencer ao negociante João Bruvél.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, vendi<strong>do</strong>, em 1807, pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong><br />

Carmo, ao capitão Joaquim Ribeiro <strong>da</strong> Silva Guimarães, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em vereança <strong>de</strong><br />

7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1807, conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno, ao foro anual <strong>de</strong> quatrocentos réis.<br />

Guimarães construiu, nesse terreno, um sóli<strong>do</strong> prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, vendi<strong>do</strong> por sua viúva, Damiana<br />

Teresa <strong>da</strong> Conceição Ribeiro, a Nuno José Ferreira, o qual não <strong>de</strong>morou a pedir uma nova carta <strong>de</strong><br />

aforamento, que lhe foi concedi<strong>da</strong>, a 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1817. O registro <strong>de</strong>ssa carta aparece no livro<br />

competente, na mesma cita<strong>da</strong> <strong>da</strong>ta, e pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, antiga Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha. Por morte <strong>de</strong> Nuno, o<br />

imóvel em apreço passou a Felipe Neri <strong>de</strong> Carvalho, filho <strong>do</strong> mesmo Nuno José Ferreira e, <strong>de</strong> Neri, foi<br />

transferi<strong>do</strong>, por ven<strong>da</strong>, a Luiz Queiroz Monteiro Rega<strong>da</strong>s. Em 1859, já pertencia a Miguel Henrique


C A P Í T U L O X I V | 2 4 7<br />

Soares, casa<strong>do</strong> com a viúva <strong>de</strong> Monteiro Rega<strong>da</strong>s. São bem valiosos à reconstituição <strong>da</strong> velha e colonial<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, os Registros <strong>do</strong>s Aforamentos <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, no<br />

<strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s séculos XVII e XVIII. Eles são minuciosos quanto à localização <strong>do</strong>s terrenos afora<strong>do</strong>s e<br />

também quanto à toponímia <strong>da</strong> região foreira. O título <strong>do</strong> aforamento, concedi<strong>do</strong> em 1807, ao capitão<br />

Joaquim Ribeiro <strong>da</strong> Silva Guimarães, dá provas <strong>de</strong> que, ain<strong>da</strong> em 1807, a nominação Lampa<strong>do</strong>sa era<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> oficialmente ao extenso campo alagadiço que, nos nossos dias, correspon<strong>de</strong> à área fecha<strong>da</strong> pelas<br />

praças <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência – antiga Tira<strong>de</strong>ntes – e <strong>da</strong> República e pelas ruas <strong>da</strong> Constituição e <strong>do</strong> Viscon<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco. Essas ditas ruas, ao tempo <strong>do</strong> mesmo aforamento, eram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como segmentos<br />

<strong>da</strong>s atuais ruas Sete <strong>de</strong> Setembro e Carioca, respectivamente. A rua Sete <strong>de</strong> Setembro era chama<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Cano e a <strong>da</strong> Carioca, <strong>do</strong> Piolho. São fatos reais, <strong>de</strong>smentin<strong>do</strong> certas crônicas sobre o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

cujos autores, indivíduos <strong>de</strong> gabinetes, poltronas, fogem à poeira <strong>do</strong>s arquivos e aborrecem as pesquisas.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1892<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente, rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, pertencente à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo. Foi por<br />

ela <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua antiga chácara <strong>de</strong> São Domingos, em 1807, e, nesse mesmo ano, vendi<strong>do</strong> a<br />

Antônio José Barbosa, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em<br />

vereança <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1807. Logo a seguir à compra <strong>do</strong> terreno, Antônio José Barbosa iniciou<br />

e concluiu, no começo <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1808, a construção <strong>de</strong> três sóli<strong>do</strong>s prédios e, ain<strong>da</strong> em 1808, edificou<br />

mais um bom prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>. Ao ser feita a numeração predial <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, em 1809, *<br />

os ditos prédios receberam os nºs 26, 28, 30 e 32, passan<strong>do</strong> o logra<strong>do</strong>uro a chamar-se, simplesmente, rua<br />

<strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, como, aliás, já dissemos antes. Na revisão <strong>da</strong> numeração predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, realiza<strong>da</strong> em<br />

1877, esses prédios tiveram os nºs 28, 30, 32 e 34, respectivamente. Em 1892, por motivo <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>,<br />

voltaram a ter os nºs antigos. Em 1859, o prédio 28 pertencia a Polucena Rosa <strong>da</strong> Silva Lisboa, o 30, a<br />

Cosme <strong>da</strong> Cunha Barros, o 32, a Cosme José <strong>da</strong> Cunha Barros e o 34, a Antônio Leite Rezen<strong>de</strong> e outros.<br />

Pelos livros <strong>do</strong>s registros <strong>de</strong> aforamentos, ** verifica-se que os precita<strong>do</strong>s proprietários reconheceram o<br />

senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o chão <strong>do</strong>s seus prédios.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1892<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se até a rua <strong>do</strong>s Ciganos,<br />

por on<strong>de</strong> fazia outra frente <strong>de</strong> 4 braças. Pertencia à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo e constituía um <strong>do</strong>s muitos lotes<br />

que se formaram com a <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> São Domingos. Esse terreno constituía um <strong>do</strong>s<br />

muitos lotes que se formaram com a <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chacara <strong>de</strong> São Domingos. Saiu <strong>da</strong> parte<br />

pantanosa <strong>da</strong> chácara e foi vendi<strong>do</strong> pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, em 1807, ao capitão José <strong>da</strong> Silva Alves. No<br />

terreno, o capitão Alves construiu <strong>do</strong>is prédios, sen<strong>do</strong> um com frente para a rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha e o<br />

outro para a <strong>do</strong>s Ciganos. O <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha recebeu o nº 36, em 1809, altera<strong>do</strong> para 40, em<br />

1877, e, em 1892, passou a ter o nº 38. Esse prédio pertenceu ao barão <strong>de</strong> São João <strong>do</strong> Príncipe, por<br />

compra a Manoel Alves <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, sucessor <strong>do</strong> primeiro proprietário, capitão José <strong>da</strong> Silva Alves.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1807/1892<br />

Terreno <strong>de</strong> 5 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, vendi<strong>do</strong> pela Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong><br />

Carmo ao padre José Caetano Ferreira <strong>de</strong> Aguiar, em 1807. Em vereança <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1807, o<br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u ao padre Aguiar o aforamento <strong>do</strong> terreno, no qual foi construí<strong>do</strong> um prédio<br />

térreo, que recebeu o nº 34A, <strong>de</strong>pois, em 1877, 38, mu<strong>da</strong><strong>do</strong>, em 1892, para 36. Pertenceu o prédio a<br />

Antônio Luiz Ferreira <strong>de</strong> Menezes, a quem foi compra<strong>do</strong>, em 1858, pela Companhia <strong>de</strong> Trilhos <strong>da</strong><br />

* Restier Gonçalves se enganou com relação ao nº <strong>do</strong>s prédios em 1809. A numeração <strong>de</strong>les era: “la<strong>do</strong> direito, 4, 5, 6 e 7”. (N.C.)<br />

** Livros nºs 6, 7 e 15. (N.A.)


2 4 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Tijuca, para se<strong>de</strong> <strong>da</strong> sua estação. Essa empresa tirou carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, registra<strong>do</strong> no livro<br />

15, fls. 159. Foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Trilhos <strong>da</strong> Tijuca o dr. Tomás Cochrane, médico ilustre e<br />

homem <strong>de</strong> iniciativas úteis. A sua concessão regulou-se pelo <strong>de</strong>creto imperial nº 1.777, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1856. A princípio, a tração animal e, a partir <strong>de</strong> 1859, a vapor. Os carros <strong>da</strong> Empresa Cochrane eram<br />

ditos Maxambombas. *<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha – 1808/1892<br />

Terreno <strong>de</strong> 17 braças, ou sejam, 37,40m, pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, vendi<strong>do</strong> pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong><br />

Carmo ao capitão Lourenço Antônio Ferreira, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u carta <strong>de</strong><br />

aforamento, a 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1808. Nesse terreno, foram construí<strong>do</strong>s três prédios, que receberam os<br />

números 20, 22 e 24, ain<strong>da</strong> manti<strong>do</strong>s em 1892. Em vereança <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1828, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara<br />

isentou <strong>de</strong> foro o terreno em apreço, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> dito foreiro, capitão Lourenço Antônio Ferreira, em<br />

troca <strong>de</strong> outro foro sobre o terreno <strong>do</strong> prédio nº 18, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cano.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1811 / 1 8 2 0<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 10 braças e 5 palmos pela <strong>do</strong> Lavradio.<br />

Constituía um <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> maior porção tira<strong>da</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor, que pertenceu ao<br />

guar<strong>da</strong>-mor <strong>da</strong>s Minas Gerais, Pedro Dias Paes Leme e, por sua morte, foi partilha<strong>do</strong> entre os seus filhos.<br />

Do filho cônego, Roque Luiz <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Paes Leme, é a porção <strong>da</strong> qual se <strong>de</strong>smembrou o terreno motivo<br />

<strong>de</strong>stas notas. No fim <strong>do</strong> século XVIII, Pedro Nolasco <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Paes Leme, filho e her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong><br />

precita<strong>do</strong> cônego Roque, ven<strong>de</strong>u esse terreno, com as velhas benfeitorias no mesmo existentes, a Manoel<br />

Antunes <strong>da</strong> Silva Guimarães. Antunes edificou sete prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> cinco <strong>de</strong> 1 a 9, com frente<br />

à rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, antiga Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, e <strong>do</strong>is, 1 e 3, pela frente <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Lavradio. Mais tar<strong>de</strong>, o nº<br />

1 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Lavradio passou a ser 3 e o 3 a 5. Joaquina Rosa <strong>de</strong> São José, viúva <strong>de</strong> Silva Guimarães,<br />

ficou bem rica e veio a casar-se com José <strong>do</strong>s Santos Pinto. A riqueza <strong>da</strong> viúva foi a causa <strong>de</strong>sse<br />

casamento. Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casa<strong>do</strong>, Santos Pinto apareceu, com procuração bastante <strong>da</strong> sua esposa, a<br />

efetuar negócios, dispon<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bens <strong>da</strong> sua mulher. E assim que os precita<strong>do</strong>s prédios, já em 1811,<br />

pertenciam a Antônio José Airosa, a quem foram compra<strong>do</strong>s, em 1820, por oito contos <strong>de</strong> réis, pelo<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Seco, <strong>de</strong>pois marquês <strong>de</strong> Jundiaí. Esse titular pagou à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> o laudêmio <strong>da</strong><br />

compra <strong>do</strong>s imóveis, mas, logo <strong>de</strong>pois, veio a querelar para reaver a importância paga. O escrivão <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, Luiz <strong>de</strong> Frias Vasconcelos e Souza sustentou a legali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cobrança, por se tratar<br />

<strong>de</strong> imóveis foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Contra a opinião <strong>do</strong> escrivão foi o parecer <strong>do</strong> síndico <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara, apresenta<strong>do</strong> a essa respeitável corporação, em 3 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1820. Diz o síndico Bernar<strong>do</strong><br />

Carneiro Pinto <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>: “Houve apenas, na ven<strong>da</strong> efetua<strong>da</strong>, a transmissão <strong>de</strong> benfeitorias,<br />

continuan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno em po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> enfiteuta.” Por sua vez, o procura<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara, ouvi<strong>do</strong>, diz no seu arrazoa<strong>do</strong>: “... e o laudêmio só se conce<strong>de</strong> ao senhorio direto, quan<strong>do</strong> o<br />

foreiro <strong>de</strong> to<strong>do</strong> <strong>de</strong>mite <strong>de</strong> sua pessoa o <strong>do</strong>mínio útil <strong>da</strong> posse afora<strong>da</strong>, para traspassá-la a outra: segun<strong>do</strong><br />

reza a or<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> livro 1º, tit. 38.” Afinal, em vereança <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1820, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara<br />

manteve a cobrança, negan<strong>do</strong> a restituição <strong>da</strong> importância <strong>do</strong> laudêmio – duzentos mil réis, porque “em<br />

chãos <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> estão as casas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> paga a sisa, o laudêmio sempre <strong>de</strong>ve ser cobra<strong>do</strong> e <strong>de</strong>mais<br />

gran<strong>de</strong> frau<strong>de</strong> para o senhorio direto era o contrato em que conviera o enfiteuta.” O viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

Seco recorreu para a Casa <strong>da</strong> Suplicação. Positivamente, na<strong>da</strong> po<strong>de</strong>mos dizer sobre o que <strong>de</strong>cidiu esse<br />

alto Tribunal, porque bem estraga<strong>do</strong> pelas traças encontramos os autos <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, faltan<strong>do</strong>-lhes as<br />

peças finais e nas quais <strong>de</strong>veria constar a sentença. É <strong>de</strong> se presumir, porém, que ela tenha si<strong>do</strong> favorável<br />

ao Sena<strong>do</strong>, porque fatos posteriores liga<strong>do</strong>s à questão provam que a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> continuou mansa e<br />

pacificamente a seguir sua <strong>do</strong>utrina no exercício pleno <strong>do</strong>s seus direitos senhoriais. Ain<strong>da</strong> mais, <strong>do</strong>s<br />

registros <strong>de</strong> receita e <strong>de</strong>spesa e <strong>de</strong> restituições <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> cinco anos, não há<br />

indícios <strong>da</strong> restituição <strong>do</strong> laudêmio ao titular querelante. Com o falecimento <strong>do</strong> então marquês <strong>de</strong><br />

* Noronha Santos, no seu valioso trabalho Meios <strong>de</strong> transporte no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, vol. 1, alu<strong>de</strong> à Companhia <strong>de</strong> Carris <strong>de</strong> Ferro <strong>da</strong> Tijuca, concessão<br />

a Tomás Cochrane, com farto e interessante comentário. (N.A.)


C A P Í T U L O X I V | 2 4 9<br />

Jundiaí, os seus her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram os prédios 1 e 3 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> a João Batista <strong>da</strong> Costa e os <strong>de</strong><br />

nºs 5, 7 e 9 <strong>da</strong> mesma rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> e 1 e 3 <strong>da</strong> <strong>do</strong> Lavradio a Atílio Borrelli.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1817/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 8 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> e outra frente <strong>de</strong> 10 braças pelo campo <strong>de</strong><br />

Santana, <strong>de</strong>itan<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s para as ruas <strong>do</strong>s Ciganos e <strong>do</strong> Núncio. Com frente à rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> foi<br />

construí<strong>do</strong> um prédio que, ain<strong>da</strong> em 1859, figurava com o nº 5, em bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação,<br />

pertencen<strong>do</strong> a José Antônio <strong>do</strong>s Santos Xavier. Na face <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana existiam cinco prédios,<br />

também em bom esta<strong>do</strong>, e habita<strong>do</strong>s, em 1859, to<strong>do</strong>s. Há vários títulos <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong>sse terreno,<br />

sen<strong>do</strong> o mais antigo <strong>de</strong> 1817 e registra<strong>do</strong> no livro 6, fls. 181.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1840<br />

Terreno <strong>de</strong> 7 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> e corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 19 ditas pela rua <strong>do</strong><br />

Regente. No terreno existia uma sóli<strong>da</strong> e vasta casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> nobre, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>do</strong><br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itanhaém, 5 1 e tinha o nº 10 pela rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>. O terreno era um <strong>do</strong>s muitos<br />

<strong>de</strong>smembramentos que se fizeram <strong>da</strong> antiga chácara <strong>de</strong> São Domingos e o prédio, vasta e confortável<br />

residência, com salões, gabinetes e outras <strong>de</strong>pendências. Tinha 12 janelas <strong>de</strong> saca<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> 7 à rua <strong>do</strong><br />

con<strong>de</strong> e 5 na <strong>do</strong> Regente, haven<strong>do</strong> mais 8 <strong>de</strong> peitoril para essa dita rua <strong>do</strong> Regente. As janelas <strong>do</strong> an<strong>da</strong>r<br />

térreo eram fecha<strong>da</strong>s por gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro. O viscon<strong>de</strong> pediu e a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u-lhe, em<br />

10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1840, a troca <strong>de</strong> sua casa, nº 10 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, pela chácara <strong>do</strong> sargento-mor<br />

Joaquim Moreira <strong>da</strong> Costa, situa<strong>da</strong> na estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> São Cristovão. Para essa troca <strong>de</strong>u o viscon<strong>de</strong> a<br />

importância <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito contos <strong>de</strong> réis. Ao tempo <strong>de</strong>ssa permuta, era residência suntuosa a casa <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> São Cristovão, nº 105. De soli<strong>de</strong>z, ela alcançou os nossos dias, transforma<strong>da</strong> em casa <strong>de</strong> cômo<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

mais ínfima espécie. Entregue à ignorância e ao barbarismo <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res e ao imper<strong>do</strong>ável<br />

indiferentismo <strong>do</strong>s dirigentes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, tu<strong>do</strong> ali se <strong>de</strong>struiu: belas estátuas pagãs, artísticos vasos<br />

orientais, grupos simbólicos <strong>de</strong> puro mármore branco, a monumental fonte <strong>de</strong> cantaria que se ostentava<br />

à entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> palacete.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – 1856/1867<br />

Terreno <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7m <strong>de</strong> frente por 27 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s e ocupa<strong>do</strong> por um prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 48,<br />

<strong>de</strong>pois 52, passan<strong>do</strong> a 50 em 1892. Esse prédio pertenceu ao casal Francisco Manoel <strong>da</strong> Silva – o insigne<br />

autor <strong>de</strong> nosso Hino Nacional 52 e servia <strong>de</strong> sua residência. O terreno constituía <strong>de</strong>smembramento <strong>de</strong><br />

maior porção possuí<strong>da</strong> por José Bento Alves, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo. O prédio<br />

precita<strong>do</strong> foi à praça <strong>do</strong> juízo <strong>da</strong> Prove<strong>do</strong>ria, em maio <strong>de</strong> 1867, sen<strong>do</strong> arremata<strong>do</strong> pelo dr. Manoel<br />

Bernardino Batista Pereira. Nas pesquisas que fizemos sobre esse imóvel, aliás com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />

espécie, apuramos que Francisco Manoel, por cabeça <strong>de</strong> casal, em 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1856, requereu e<br />

obteve licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara para, no prédio nº 48 <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, fazer obras <strong>de</strong><br />

embelezamento exterior e <strong>de</strong> reforma geral nas acomo<strong>da</strong>ções internas, melhoran<strong>do</strong>-as.<br />

Rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha<br />

A rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha foi aberta no vice-reina<strong>do</strong> <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha (1763/1767) em<br />

prolongamento à <strong>do</strong> Piolho – <strong>de</strong>pois, e ain<strong>da</strong> hoje, – Carioca. Serviu <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>amento um remoto<br />

caminho em reta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua então dita <strong>do</strong> Egito – <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Piolho – até a lagoa <strong>do</strong> Capueruçu, a que<br />

mais tar<strong>de</strong> foi chama<strong>da</strong> <strong>da</strong> Sentinela. Esse caminho corria entre duas chácaras: a <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor, à<br />

esquer<strong>da</strong> e a <strong>de</strong> São Domingos, à direita. Teve o nome <strong>de</strong> Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, que se simplificou para o <strong>de</strong><br />

Con<strong>de</strong> e, atualmente, viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco.


2 5 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1825<br />

Terreno <strong>de</strong> 18 braças <strong>de</strong> frente no campo <strong>de</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, por on<strong>de</strong> se cor<strong>de</strong>ara, não havia muito,<br />

o prolongamento <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Cano, prolongamento esse chama<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> rua <strong>do</strong>s Ciganos, por<br />

influência <strong>do</strong>s ciganos armênios, que ali estacionaram com suas barracas <strong>de</strong> cal<strong>de</strong>ireiros. *<br />

Esse terreno foi vendi<strong>do</strong> pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo ao ricaço capitão Florentino Aragão Hespanha,<br />

em 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1807, e, ao dito compra<strong>do</strong>r, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara conce<strong>de</strong>u carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong><br />

terreno, em 15 <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> mês e ano, ao foro anual <strong>de</strong> cinco tostões. Aragão edificou várias casas<br />

térreas, uma <strong>da</strong>s casas veio a ser vendi<strong>da</strong> pela sua viúva, Escolástica Antunes Aragão, por oitocentos mil<br />

réis, a Euzébio Casemiro <strong>de</strong> Oliveira, em 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1825.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1877<br />

Terreno <strong>de</strong> 15 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong>s Ciganos, atual Constituição, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 22<br />

braças pela rua <strong>de</strong> Santa Teresa, agora Regente Feijó. Foi vendi<strong>do</strong> em 1807, pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, a<br />

Custódio Moreira Lírio, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em vereança <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1807,<br />

conce<strong>de</strong>u carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno. Pela frente <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Ciganos foram construí<strong>do</strong>s quatro<br />

prédios e pela rua <strong>de</strong> Santa Teresa oito, receben<strong>do</strong> esses os nºs 16 a 30 e aqueles, 3, 5 , 7 e 9. A<br />

numeração <strong>do</strong>s <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Ciganos conservou-se por muitos anos e a <strong>da</strong> rua Santa Teresa alterou-se em<br />

1877, é assim que os prédios nºs 16 a 28 <strong>de</strong>ssa rua, já, então, chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Regente, passaram a ter os nºs<br />

18 a 30, ten<strong>do</strong> o antigo 30, que era <strong>de</strong> esquina, recebi<strong>do</strong> o nº 11, pela rua <strong>do</strong>s Ciganos. De passagem,<br />

recor<strong>de</strong>mos que o prédio nº 1 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Ciganos, canto com o largo <strong>do</strong> Rossio, foi conheci<strong>do</strong> por Casa<br />

<strong>do</strong> Hospital <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m. Velho casarão <strong>de</strong> três an<strong>da</strong>res, sen<strong>do</strong> que o terceiro <strong>de</strong>moliu-se no começo <strong>do</strong><br />

atual século.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1878<br />

Terreno <strong>de</strong> 17 e meia braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong>s Ciganos, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela rua Santa Teresa<br />

e possuí<strong>do</strong>, em 1807, por Manoel Martins Ban<strong>de</strong>ira, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> compra feita à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo.<br />

Ain<strong>da</strong> no precita<strong>do</strong> ano, Ban<strong>de</strong>ira pediu e obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno ao foro anual <strong>de</strong> cinco tostões,<br />

por concessão <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em vereança <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1807. Pela frente <strong>da</strong> rua<br />

<strong>do</strong>s Ciganos foram construí<strong>do</strong>s sete prédios, que receberam os nºs 11 a 23 e 4 pela rua <strong>de</strong> Santa Teresa,<br />

numera<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 3 a 7A. Essa numeração só foi altera<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1878.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1893<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente, vendi<strong>do</strong> pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo a José Antônio <strong>da</strong> Mota Guimarães,<br />

o qual negou-se a tirar a carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno e protestou não reconhecer o senhorio direto <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Igual proce<strong>de</strong>r tiveram os sucessores <strong>de</strong> Mota Guimarães, fican<strong>do</strong> o terreno sob o<br />

<strong>do</strong>mínio intruso <strong>de</strong>sses posseiros. Dois prédios foram edifica<strong>do</strong>s nesse terreno e receberam os nºs 25 e<br />

27, que ain<strong>da</strong>, em 1893, se conservavam.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1893<br />

Terreno <strong>de</strong> 34 braças <strong>de</strong> frente, vendi<strong>do</strong> em porções diferentes pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, no <strong>de</strong>correr<br />

<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1807. Essa frente correspon<strong>de</strong>, nos nossos dias, a to<strong>da</strong> a testa<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Constituição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> nº 29, numeração <strong>de</strong> 1893, até a rua <strong>do</strong> Núncio, por on<strong>de</strong> corria outra frente, com<br />

25 braças. Manoel Gomes <strong>de</strong> Oliveira Couto comprou uma porção <strong>de</strong> 9 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong>s<br />

* Documentos inéditos – Intendência Geral <strong>de</strong> Polícia, – 1795/1807 – Arquivo Nacional. (N.A.)


C A P Í T U L O X I V | 2 5 1<br />

Ciganos, para construir, como construiu, um prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, nº 29, e três térreos, nºs 31, 33 e 35. Essa<br />

numeração foi mu<strong>da</strong><strong>da</strong>, em 1877, sen<strong>do</strong> que os prédios 31 e 33 foram como um só, <strong>de</strong> habitação coletiva,<br />

com <strong>de</strong>z quartos nos fun<strong>do</strong>s e arrola<strong>do</strong> com o nº 31. Era, por esse tempo, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Joaquim<br />

<strong>de</strong> Oliveira e Silva. Também o padre dr. José Caetano Ferreira <strong>de</strong> Aguiar 53 foi adquirente <strong>de</strong> terreno à<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, compran<strong>do</strong>, em 1807, uma porção <strong>de</strong> 10 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong>s Ciganos e nesse<br />

terreno edificou quatro boas casas resi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> e que, em 1810, receberam os nºs 41 a 47. Em<br />

1877, essa numeração foi modifica<strong>da</strong>, passan<strong>do</strong> os prédios 41 e 43 a constituir um só, com o nº 39 e <strong>de</strong><br />

um sobra<strong>do</strong>. Quanto aos <strong>de</strong> nºs 45 e 47, que eram <strong>de</strong> <strong>do</strong>is sobra<strong>do</strong>s, passaram a ter os nºs 41 e 43. Esses<br />

prédios foram lega<strong>do</strong>s, pelo referi<strong>do</strong> padre, à Casa <strong>do</strong>s Expostos <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Rua <strong>do</strong>s Ciganos – 1807/1893<br />

Terreno <strong>de</strong> 16 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong>s Ciganos, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela travessa <strong>da</strong> Con<strong>de</strong>ssa,<br />

<strong>de</strong>pois rua <strong>do</strong> Núncio. Foi compra<strong>do</strong>, em 1807, à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, por Florentino <strong>de</strong> Aragão Hespanha,<br />

a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara aforou o terreno a cinco tostões anuais. Aragão construiu sete prédios pela<br />

rua <strong>do</strong>s Ciganos, os quais tiveram os nºs 55A a 67 e, pela travessa <strong>da</strong> Con<strong>de</strong>ssa, construiu três. O prédio<br />

55A passou a ser numera<strong>do</strong> pela rua <strong>do</strong> Núncio, em 1877, quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s esse imóveis já pertenciam a<br />

José Antônio <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> Júnior, conservan<strong>do</strong>-se a numeração até 1893.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana<br />

Da extensa planície palu<strong>do</strong>sa que era o antigo campo <strong>de</strong> São Domingos, procedi<strong>do</strong>s os<br />

arruamentos e levanta<strong>da</strong> a casaria, restou uma gran<strong>de</strong> área, circun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> chácaras e alagadiça, na quase<br />

totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a qual se chamou <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> Santana, a partir <strong>de</strong> 1735, ano em que se levantou, nesse<br />

campo, a capela <strong>de</strong> N.S. Santana. Diferentes e curiosas as questões sobre ser proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> particular os<br />

terrenos <strong>de</strong>sse campo e to<strong>da</strong>s elas suscita<strong>da</strong>s pelos <strong>do</strong>nos <strong>da</strong>s chácaras que o ro<strong>de</strong>avam. Porém, quer<br />

administrativas, quer judiciais, as <strong>de</strong>cisões foram sempre <strong>de</strong>sfavoráveis a essa pseu<strong>do</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

particular. É assim que o campo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIII, vem sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio público.<br />

Quanto aos caminhos vicinais ao mesmo campo, é certo que os mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tinham <strong>de</strong>les a<br />

servidão pacífica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> remotos tempos. Foi no ano <strong>de</strong> 1705, como nos transmitem os antigos Registros<br />

<strong>da</strong> Câmara, por ocasião <strong>da</strong> <strong>de</strong>marcação <strong>do</strong> rossio extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que a Câmara ativou a obra <strong>de</strong><br />

enxugamento <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> São Domingos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fosso – rua Uruguaiana, que era o limite <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

até os gran<strong>de</strong>s alaga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Capueruçú, on<strong>de</strong> mais tar<strong>de</strong> se assentou a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Nesse enxugamento,<br />

o aterro, em alguns pontos, atingiu a mais <strong>de</strong> quatro metros <strong>de</strong> altura e abriram-se valas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> – cerca <strong>de</strong> cinco metros. Depois, o campo <strong>de</strong> Santana ficou entregue ao aban<strong>do</strong>no, por<br />

mais <strong>de</strong> oitenta anos. À custa <strong>do</strong> dinheiro pedi<strong>do</strong> ao povo, por subscrições e outros meios, e <strong>do</strong> trabalho<br />

<strong>do</strong> braço escravo, levou-se a efeito, no governo <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, (1790/1801) a obra <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong><br />

um sóli<strong>do</strong> aterro e <strong>de</strong> uma perfeita <strong>de</strong>lineação <strong>do</strong> campo, que ficou com 285 braças <strong>de</strong> compri<strong>do</strong>, <strong>de</strong> norte<br />

a sul, e 125 braças <strong>de</strong> largo, <strong>de</strong> leste a oeste. Tiraram-se <strong>da</strong>s chácaras que o limitavam – ou corriam<br />

frentes pelas suas quatro faces – os terrenos necessários aos arruamentos, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as posturas,<br />

para a formação regular <strong>de</strong>ssas faces ou la<strong>do</strong>s, os quais foram calça<strong>do</strong>s. Das querelas que se fizeram<br />

fala<strong>da</strong>s nos tribunais <strong>da</strong> época, com respeito aos terrenos <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, é <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r a que<br />

provocou Manoel José Ribeiro, homem <strong>de</strong> dinheiro, polemista <strong>de</strong> natureza e teimoso. Sabia discutir e,<br />

na questão que levantou, teve co-autores no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> mesma.<br />

Ao fin<strong>da</strong>r <strong>do</strong> século XVIII, ativaram-se as ven<strong>da</strong>s <strong>de</strong> terrenos na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong><br />

Santana, entre a rua <strong>do</strong> Bom Jesus – mo<strong>de</strong>rnamente General Câmara, * e a <strong>de</strong> São Joaquim – agora


2 5 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Marechal Floriano. Procedia à essas ven<strong>da</strong>s o coronel José Gonçalves <strong>da</strong> Silva Rocha, que era o posseiro<br />

<strong>do</strong>s terrenos. Manoel José Ribeiro surgiu, então, levantan<strong>do</strong> embargos às ven<strong>da</strong>s, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os seus<br />

supostos direitos. No seu curioso arrazoa<strong>do</strong>, invocou a lei <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1766, por consi<strong>de</strong>rar o campo<br />

um realengo, cuja ven<strong>da</strong> só se permitia com licença prévia <strong>do</strong> rei, em face <strong>do</strong> disposto pela precita<strong>da</strong> lei.<br />

O campo <strong>de</strong> Santana, disse Manoel Ribeiro com ênfase, “é um bem <strong>de</strong> uso público, é o campo <strong>da</strong>s<br />

manobras <strong>da</strong>s tropas e o lugar <strong>do</strong>s festejos reais e <strong>do</strong> curro”. Mas, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> isso, ele per<strong>de</strong>u a<br />

questão no foro privativo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Em 1805, já isola<strong>da</strong>mente, Manoel José Ribeiro aparece<br />

recorren<strong>do</strong> para o Tribunal <strong>da</strong> Relação, a 26 <strong>de</strong> janeiro. Afinal, em 2 <strong>de</strong> maio, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1805, ven<strong>do</strong> mal<br />

encaminha<strong>da</strong> a sua causa, apresentou em juízo razões escritas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência <strong>do</strong> feito contra o querela<strong>do</strong><br />

José Gonçalves <strong>da</strong> Silva Rocha e o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

O coronel José Gonçalves <strong>da</strong> Silva Rocha, homem rico, gran<strong>de</strong> proprietário e relaciona<strong>do</strong>, foi um<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, <strong>da</strong> qual saíram os terrenos que entraram na formação <strong>da</strong> face oriental<br />

<strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua ain<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga até a atual Marechal Floriano, que<br />

também se formou <strong>de</strong> terrenos <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> chácara até a rua Camerino. Pela chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong> foram<br />

arrua<strong>do</strong>s os prolongamentos <strong>da</strong>s antigas e <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>s ruas São Pedro e General Câmara, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>do</strong><br />

Núncio ao campo <strong>de</strong> Santana. Um <strong>do</strong>s primeiros a adquirir terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong> foi o ricaço<br />

Manoel Alexandre Álvares, que comprou a dinheiro <strong>de</strong> conta<strong>do</strong> – dinheiro ou pagamento à vista – uma<br />

boa porção <strong>de</strong> terreno enxuto, vendi<strong>do</strong> logo <strong>de</strong>pois com lucro a José Gaspar Rego, gran<strong>de</strong> amigo <strong>do</strong><br />

ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r e, futuramente, seu her<strong>de</strong>iro, como veremos.<br />

Por fim, o terreno veio a pertencer, por herança, a José Pereira <strong>da</strong> Silva Guimarães, o qual, em<br />

presença <strong>da</strong>s questões surgi<strong>da</strong>s em torno <strong>da</strong>s <strong>de</strong>smembrações <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, procurou logo<br />

garantir-se na posse <strong>do</strong> terreno, pedin<strong>do</strong> e obten<strong>do</strong> o seu aforamento, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1815. Em morren<strong>do</strong> Guimarães e querela<strong>da</strong> a sua herança, esse terreno ficou aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>voluto e em comisso, ao fim <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze anos. Nos últimos [dias] <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1827, posto em praça pela<br />

Câmara, foi arremata<strong>do</strong> pela quantia <strong>de</strong> três contos <strong>de</strong> réis, por Bento José <strong>de</strong> Carvalho, com carta <strong>de</strong><br />

aforamento, em 26 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1837.<br />

O rico proprietário Manoel Alexandre Álvares, cita<strong>do</strong> anteriormente, era natural <strong>da</strong> vila <strong>de</strong><br />

Monção, em Portugal, e, ten<strong>do</strong> vin<strong>do</strong> ao Brasil, <strong>de</strong>cidiu fixar residência no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> ocupou<br />

o cargo <strong>de</strong> escrivão <strong>da</strong> Intendência <strong>da</strong> Marinha Real. Homem excêntrico, com instrução, zeloso <strong>de</strong> seu<br />

nome e <strong>da</strong> sua pessoa, o escrivão-mor Manoel Alexandre Álvares era ti<strong>do</strong> em muito apreço e bem<br />

estima<strong>do</strong>. Possuía boas casas resi<strong>de</strong>nciais, urbanas e rurais, mas sempre morou em casa aluga<strong>da</strong>.<br />

Residiu, por muitos anos, em uma <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong>fronte <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, na travessa <strong>do</strong> mesmo<br />

nome. O seu emprego <strong>da</strong>va-lhe uma boa ren<strong>da</strong> anual, avoluma<strong>da</strong> com os rendimentos <strong>da</strong>s suas<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>do</strong>s títulos <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pública <strong>de</strong> que era porta<strong>do</strong>r. Filho legítimo <strong>de</strong> Alexandre Álvares<br />

Torres e Antonia Maria Esteves, o escrivão-mor tinha <strong>do</strong>is irmãos resi<strong>de</strong>ntes em Portugal, em favor <strong>do</strong>s<br />

quais <strong>de</strong>sistiu <strong>da</strong> legítima <strong>do</strong>s seus pais, legítima que conservou intacta, com o objetivo <strong>de</strong> a transferir a<br />

esses irmãos, porque lhe parecia um <strong>de</strong>ver a transferência, <strong>da</strong><strong>da</strong> a riqueza que possuía. Realmente, foi<br />

transferi<strong>da</strong> pelo testamento <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1812, que fez por prever breve a morte, o que <strong>de</strong> fato<br />

ocorreu, a 25 <strong>de</strong> junho <strong>do</strong> dito ano. Morreu solteiro e a um amigo que lhe fora sempre <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> – a um<br />

homem <strong>de</strong> bem, diz Alexandre no testamento – <strong>de</strong>ixou to<strong>da</strong> a sua fortuna. Esse amigo <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> foi o<br />

negociante José Gaspar Rego, estabeleci<strong>do</strong> e resi<strong>de</strong>nte à rua <strong>do</strong> Rosário e <strong>de</strong> quem já falei nas linhas<br />

atrás. Alexandre Álvares dispôs que o seu corpo nu fosse envolto em um lençol e assim sepulta<strong>do</strong>,<br />

conforme, diz ele, “praticavam os primeiros cristãos – que se seguiam a N.S. Jesus Cristo e assim livres<br />

<strong>do</strong>s trajes mun<strong>da</strong>nos <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>”. Teve Alexandre Álvares sepultura na igreja <strong>da</strong> Misericórdia e, <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com a sua vonta<strong>de</strong>, duas missas foram reza<strong>da</strong>s por sua alma, sen<strong>do</strong> uma na precita<strong>da</strong> igreja e a<br />

outra na <strong>de</strong> Santa Rita, com esmola <strong>de</strong> seis mil réis para ca<strong>da</strong> uma.<br />

Voltemos ao campo <strong>de</strong> Santana, que foi sempre, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> remota época, olha<strong>do</strong> pela governança <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> como logra<strong>do</strong>uro muito útil ao gozo e à servidão <strong>do</strong> público<br />

e, por isso, exigin<strong>do</strong> fosse cui<strong>da</strong><strong>do</strong> convenientemente. No governo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI, fez-se obra <strong>de</strong> vulto<br />

com o ajardinamento, as calça<strong>da</strong>s, a arborização seleciona<strong>da</strong>, farta iluminação e levantan<strong>do</strong>-se<br />

monumental chafariz. To<strong>do</strong>s esses trabalhos foram executa<strong>do</strong>s pelos técnicos <strong>da</strong> Intendência Geral <strong>da</strong><br />

Polícia, sob a direção <strong>do</strong> próprio inten<strong>de</strong>nte, que era, então, o <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Paulo Fernan<strong>de</strong>s Viana,<br />

* A rua General Câmara foi extinta com a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. (N.E.)


C A P Í T U L O X I V | 2 5 3<br />

figura <strong>de</strong> relevo pelo seu saber e pela sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong> moral na política e na administração pública, ao<br />

tempo <strong>da</strong>quele soberano. Na fala <strong>do</strong> trono, li<strong>da</strong> à Assembléia Geral Legislativa pelo impera<strong>do</strong>r Dom<br />

Pedro I , a 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1823, o monarca diz o seguinte: “Na praça <strong>da</strong> Aclamação 54 antigo campo <strong>de</strong><br />

Santana – reedificou-se o palacete, privou-se a praça <strong>de</strong> inun<strong>da</strong>ções, calçaram-se to<strong>do</strong>s os seus la<strong>do</strong>s e,<br />

para mais embelezá-la, vão se fazen<strong>do</strong> travessas em diferentes direções e assim se transforma em<br />

agradável passeio.”<br />

Também farta e curiosa <strong>do</strong>cumentação existe sobre se transformar o tradicional campo em<br />

monumental parque e, para esse fim, realizaram-se concursos, cujos concorrentes, nacionais e<br />

estrangeiros, foram arquitetos e paisagistas <strong>de</strong> reputação firma<strong>da</strong>. É <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r o concurso <strong>de</strong> 1853, pelo<br />

nº e competência <strong>do</strong>s candi<strong>da</strong>tos, <strong>de</strong>ntre os quais se <strong>de</strong>stacou o engenheiro Carlos Alberto Pereira <strong>da</strong>s<br />

Neves. Mas, em tentativas <strong>de</strong> completo fracasso, passaram-se anos, e a obra não se executou. Em 14 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1871, apareceu a firma Fialho & Glaziou, com noticiário nos jornais <strong>da</strong> Corte, sobre a<br />

gran<strong>de</strong> obra a que se propunha executar para o embelezamento <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana. Constituía a firma<br />

um brasileiro, Francisco José Fialho, rico proprietário, homem <strong>de</strong> altos negócios e político <strong>de</strong> influência<br />

na freguesia <strong>da</strong> Glória, e um francês ilustre, Augusto Maria Glaziou, arquiteto e agricultor. Fialho &<br />

Glaziou apresentaram circunstancia<strong>da</strong> proposta, acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> um plano, traça<strong>do</strong> por Glaziou, sobre<br />

ajardinar-se o campo <strong>de</strong> Santana. Esse ajardinamento abrangeria uma área <strong>de</strong> 134.242m 2 , em<br />

paralelograma, com as quatro faces fecha<strong>da</strong>s por gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> <strong>de</strong>z palmos <strong>de</strong> altura e mostran<strong>do</strong>,<br />

além <strong>da</strong> soli<strong>de</strong>z, ricos <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> ornamentação. Seriam abertos canais e lagos artificiais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

extensão, sobre os quais seriam levanta<strong>da</strong>s pontes <strong>de</strong> arte. Também se formaria uma gran<strong>de</strong> cascata e<br />

<strong>de</strong>z gran<strong>de</strong>s estátuas seriam dispostas pelo parque, completan<strong>do</strong> a sua ornamentação interna. Em ferro<br />

fundi<strong>do</strong>, essas estátuas que se colocaram no parque foram fabrica<strong>da</strong>s na Casa Barbezat, em Paris, e,<br />

segun<strong>do</strong> a crítica <strong>da</strong> época, obra <strong>de</strong> arte e <strong>de</strong> muita perfeição. De cinco anos foi o prazo marca<strong>do</strong> pelo<br />

contrato para entrega <strong>do</strong> parque ao governo. A <strong>de</strong>spesa orça<strong>da</strong> em <strong>do</strong>is mil cento e vinte contos <strong>de</strong> réis,<br />

que seriam pagos em prestações mensais <strong>de</strong> trinta e cinco contos e trezentos e trinta e três mil e trinta e<br />

três réis, adianta<strong>da</strong>mente. Em discussões e empecilhos <strong>de</strong> to<strong>da</strong> espécie, passaram-se <strong>do</strong>is anos. Afinal,<br />

no fim <strong>de</strong> 1872, <strong>de</strong>cidiu-se o governo imperial a permitir a execução <strong>da</strong> obra, graças ao conselheiro João<br />

Alfre<strong>do</strong>, então ministro <strong>do</strong> Império no gabinete <strong>Rio</strong> Branco. Lavrou-se o contrato, a 2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />

1873, assina<strong>do</strong> por Augusto Glaziou. No mês seguinte, iniciou-se a obra, cujo plano veio a ser<br />

simplifica<strong>do</strong> para diminuição <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa, reduzi<strong>da</strong> a mil e seiscentos e noventa e quatro contos<br />

quatrocentos e nove mil e duzentos réis. Tal importância não chegou a ser gasta, porque a <strong>de</strong>spesa real<br />

com a obra não ultrapassou mil cento e oitenta e seis contos e setecentos e quarenta e três réis. Além <strong>da</strong><br />

gratificação mensal <strong>de</strong> seiscentos mil réis, o dr. Glaziou tinha direito à quarta parte <strong>do</strong> valor <strong>da</strong>s<br />

economias que se fizessem sobre o orçamento <strong>da</strong> obra. O famoso parque <strong>de</strong> Santana ficou concluí<strong>do</strong> em<br />

maio <strong>de</strong> 1880 e inaugurou-se a 7 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano, com soleni<strong>da</strong><strong>de</strong> e na presença <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r.<br />

Falar no passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana é lembrar também a pessoa <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa –<br />

José Maria Colaço <strong>de</strong> Magalhães —, que foi um infatigável batalha<strong>do</strong>r pelo progresso <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

lançan<strong>do</strong> idéias e organizan<strong>do</strong> planos <strong>de</strong> melhoramentos <strong>da</strong> capital <strong>do</strong> Império, a qual, dizia o ilustre<br />

titular, <strong>de</strong>sejava ver ao nível <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais capitais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, em melhoramentos materiais e no<br />

aperfeiçoamento <strong>do</strong>s costumes. Figura <strong>de</strong> relevo social pela sua cultura e pela sua sóli<strong>da</strong> fortuna, o<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, viajan<strong>do</strong> constantemente com especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> pelas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s adianta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europa,<br />

guar<strong>da</strong>va <strong>da</strong>s suas viagens as impressões <strong>do</strong> que via a<strong>da</strong>ptável à nossa metrópole, para embelezá-la e<br />

saneá-la convenientemente. Assim é que, em 1860, ao regressar <strong>de</strong> Londres, o viscon<strong>de</strong> movimentou<br />

logo uma gran<strong>de</strong> campanha em prol <strong>do</strong> embelezamento <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, muito a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, disse o<br />

ilustre titular, a um parque semelhante ao <strong>da</strong> capital inglesa, que visitara e admirara. Animan<strong>do</strong> a idéia<br />

e para auxiliar a obra, pôs à disposição <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, em uma casa bancária <strong>da</strong> Corte, a quantia<br />

<strong>de</strong> trinta contos <strong>de</strong> réis e, ain<strong>da</strong> mais seiscentos mil réis, para o prêmio ao autor <strong>do</strong> projeto que fosse<br />

aceito. Foram inúteis to<strong>do</strong>s os esforços e to<strong>da</strong> a boa vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, porque na<strong>da</strong> se<br />

fez. No bairro <strong>de</strong> Matacavalos, on<strong>de</strong> era gran<strong>de</strong> proprietário, conseguiu [que] se fizessem obras <strong>de</strong> vulto,<br />

úteis ao bem-estar <strong>do</strong> público, tais como a <strong>do</strong> nivelamento <strong>da</strong>s ruas, calçamento aperfeiçoa<strong>do</strong>,<br />

iluminação e aformoseamento <strong>da</strong>s casas. Para o calçamento e para a iluminação <strong>de</strong>u bom auxílio em<br />

dinheiro. O viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa foi casa<strong>do</strong> com uma filha <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r José Ferreira <strong>do</strong>s Santos,


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proprietário <strong>da</strong> antiga e gran<strong>de</strong> chácara situa<strong>da</strong> no caminho <strong>de</strong> Matacavalos – agora rua <strong>do</strong> Riachuelo –<br />

conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong> Souto. Em morren<strong>do</strong> o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Ferreira <strong>do</strong>s Santos, a maior porção <strong>da</strong><br />

referi<strong>da</strong> chácara veio a pertencer ao casal viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, e nessa porção estava compreendi<strong>da</strong> a<br />

casa <strong>de</strong> moradia nobre, <strong>da</strong> família <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Santos. Pertenceu, também, ao viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa<br />

a importante chácara <strong>da</strong> Boa Vista, no alto <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, ao fim <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> mesmo nome e on<strong>de</strong><br />

havia uma entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> acesso à casa resi<strong>de</strong>ncial que ficava bem no cume <strong>do</strong> dito morro, era <strong>de</strong> estilo<br />

colonial e com um mirante. Casa e mirante foram reforma<strong>do</strong>s, em 1852. A chácara <strong>da</strong> Boa Vista<br />

começou a ser retalha<strong>da</strong> em 1848 e, em 1851, restavam apenas os terrenos <strong>da</strong> coroa <strong>do</strong> morro e a casa<br />

resi<strong>de</strong>ncial que passaram aos her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1759/1878<br />

Terreno na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, com testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> 38 braças, entre as ruas <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga e <strong>do</strong> Sabão, ten<strong>do</strong> por essa rua 12 braças <strong>de</strong> frente e, pela <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, 11 braças.<br />

Desmembração <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>, esse terreno foi dividi<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is lotes iguais, sen<strong>do</strong> um adquiri<strong>do</strong><br />

pelo cônego Antônio Lopes Xavier e <strong>do</strong>a<strong>do</strong> por ele, adquirente, à Confraria <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia por<br />

escrituras <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1759 e <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1760. O outro lote, baldio por mais <strong>de</strong> trinta anos,<br />

caiu em comisso e, na forma <strong>do</strong> <strong>de</strong>libera<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong> <strong>de</strong> Câmara, foi à praça, em 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1801,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> arremata<strong>do</strong> pelo capitão João <strong>da</strong> Costa Lima, ao foro anual <strong>de</strong> trezentos e vinte réis. Lima<br />

edificou no terreno <strong>do</strong>is prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com frentes para o campo <strong>de</strong> Santana. Em 1878, os ditos<br />

prédios já pertenciam a Joana Cecília <strong>de</strong> Lima, neta <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> capitão e figuravam nas Décimas com<br />

os nºs 48 e 50 <strong>da</strong> então praça <strong>da</strong> Aclamação.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1806/1858<br />

Terreno <strong>de</strong> 23 braças ou 50m <strong>de</strong> frente pela face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entre as ruas <strong>do</strong><br />

Hospício e Senhor <strong>do</strong>s Passos. Esse terreno era <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> São Domingos e foi<br />

vendi<strong>do</strong>, pela Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, ao capitão José <strong>da</strong> Mota Pereira. O terreno formava uma<br />

quadra e, em conseqüência <strong>do</strong>s arruamentos que se fizeram, ficou com 55m pela frente <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Núncio,<br />

100m pela rua <strong>do</strong> Hospício, 110m pela Senhor <strong>do</strong>s Passos e 50m pelo campo <strong>de</strong> Santana. Mota Pereira,<br />

no terreno que comprara, construiu sóli<strong>do</strong>s prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s por ele, em 1858, à Santa Casa<br />

<strong>da</strong> Misericórdia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, segun<strong>do</strong> a escritura pública lavra<strong>da</strong> no cartório <strong>do</strong> tabelião Fialho. *<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1807/1858<br />

Terreno com frente <strong>de</strong> 45m na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>,<br />

atual viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, até on<strong>de</strong> começava o terreno possuí<strong>do</strong> pelo sargento-mor João Rodrigues<br />

Pereira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. O terreno objeto <strong>de</strong>stas notas foi compra<strong>do</strong> à Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, em 1807,<br />

por Francisco Rodrigues <strong>de</strong> Lima, o qual não <strong>de</strong>morou a edificar três prédios, vendi<strong>do</strong>s pela viúva <strong>de</strong><br />

Rodrigues <strong>de</strong> Lima, Teo<strong>do</strong>ra Mafal<strong>da</strong> Rodrigues <strong>de</strong> Lima, a José Antônio <strong>do</strong>s Santos Xavier, o qual<br />

<strong>de</strong>ixou vários her<strong>de</strong>iros e apenas <strong>de</strong> um conseguimos conhecer o nome – Luiz Antônio <strong>do</strong>s Santos<br />

Xavier. Dos três prédios, um tinha a frente principal volta<strong>da</strong> para a rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>, com 21m na linha <strong>da</strong><br />

testa<strong>da</strong> pelo campo <strong>de</strong> Santana, por on<strong>de</strong> era numera<strong>do</strong>. Em 1858, esses três prédios tinham os n o s 2, 4<br />

e 6, pela então praça <strong>da</strong> Aclamação.<br />

* Livro 145, fls. 99. (N.A.)


Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1807/1858<br />

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Terreno com frente <strong>de</strong> 74m na face oriental <strong>do</strong> antigo campo <strong>de</strong> Santana, fazen<strong>do</strong> canto com a rua<br />

<strong>do</strong>s Ciganos – atual Constituição – por on<strong>de</strong> corria outra frente, <strong>de</strong> 33m. Foi compra<strong>do</strong>, em 1807, à<br />

Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo, pelo sargento-mor João Rodrigues Pereira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, agracia<strong>do</strong>, mais tar<strong>de</strong>,<br />

com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Ubá .55 Nesse terreno, o dito titular construiu o vasto palácio que lhe serviu <strong>de</strong><br />

residência – bem luxuosa e fala<strong>da</strong>. Em 1818, o barão <strong>de</strong> Ubá ven<strong>de</strong>u seu palácio à Nação, por trinta<br />

contos <strong>de</strong> réis fortes, para servir <strong>de</strong> se<strong>de</strong> ao Museu Real que aí se instalou, em <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> mesmo ano<br />

<strong>de</strong> 1818. O terreno estava afora<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1811, ao barão, e a ele coube pagar ao Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara o laudêmio <strong>da</strong> dita ven<strong>da</strong>. Atualmente, ocupa o gran<strong>de</strong> edifício <strong>do</strong> Arquivo Nacional, *<br />

funcionan<strong>do</strong> o museu no antigo Palácio Imperial, na quinta <strong>da</strong> Boa Vista, em São Cristovão.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1809<br />

Terreno na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entre as ruas Senhor <strong>do</strong>s Passos e Alfân<strong>de</strong>ga, sobra<br />

<strong>do</strong>s cortes ao longo <strong>da</strong>s margens <strong>do</strong> antiqüíssimo caminho <strong>do</strong> Capueruçu, atual rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga. O<br />

terreno em apreço, com os arruamentos feitos, no fim <strong>do</strong> século XVIII, entre a rua <strong>da</strong> Vala – agora<br />

Uruguaiana – e o campo <strong>de</strong> Santana, tomou a forma <strong>de</strong> um quadrilátero irregular, com a largura <strong>de</strong> 46m,<br />

no campo <strong>de</strong> Santana, por on<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rou a frente ou la<strong>do</strong> principal <strong>do</strong> terreno e cujas faces laterais<br />

ficaram com 115m, e os fun<strong>do</strong>s, na rua <strong>do</strong> Núncio. No canto <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga edificou-se um prédio<br />

<strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> que, em 1809, foi arremata<strong>do</strong> em praça judicial por José Antunes <strong>da</strong> Costa, a quem o Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara, em vereança <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1809, conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>da</strong> porção <strong>do</strong> terreno<br />

ocupa<strong>do</strong> pelo prédio. Ao ser construí<strong>do</strong>, esse prédio recebeu o nº 44A, pelo campo <strong>de</strong> Santana,<br />

substituí<strong>do</strong>, em 1877, pelo 44 e, em 1894, passou a ser numera<strong>do</strong> pela rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, receben<strong>do</strong> o nº<br />

395. Nessa ocasião, era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Confraria <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1816<br />

Terreno <strong>de</strong> 51m <strong>de</strong> frente na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entre as ruas <strong>do</strong> Sabão e São<br />

Pedro, medin<strong>do</strong>, por essa, 34m e pela <strong>do</strong> Sabão, 28m. Nesse terreno, <strong>de</strong>sapropria<strong>do</strong>, a 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1816, ao seu possui<strong>do</strong>r, José Monteiro Teixeira Car<strong>do</strong>so, foi edifica<strong>do</strong> o primeiro Paço Municipal <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. 56<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1817/1866<br />

Terreno <strong>de</strong> 124m <strong>de</strong> frente na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entre a rua <strong>do</strong>s Ciganos e a <strong>do</strong><br />

Hospício. Esse terrreno constituía uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> antiga chácara <strong>de</strong> São Domingos e uma porção<br />

<strong>de</strong>sse mesmo terreno, medin<strong>do</strong> 92m <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> pelo campo <strong>de</strong> Santana até a rua <strong>do</strong> Hospício, foi<br />

adquiri<strong>da</strong> diretamente à Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, em 1817, pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Henrique José <strong>de</strong> Araujo, casa<strong>do</strong><br />

com Maria Bibiana <strong>de</strong> Araújo, pais <strong>do</strong> barão <strong>de</strong> Pirassununga, Henrique José <strong>de</strong> Araújo Filho. Nessa<br />

porção foram construí<strong>do</strong>s nove prédios, que tiveram os nºs 18 a 32A. O 32A, no canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong><br />

Hospício, era uma gran<strong>de</strong> e sóli<strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, ocupan<strong>do</strong> uma frente <strong>de</strong> 30m pelo campo <strong>de</strong> Santana<br />

e <strong>de</strong> 25 pela rua <strong>do</strong> Hospício. Nessa casa residiu a ilustre família Henrique <strong>de</strong> Araújo. O prédio 18 veio<br />

a ser proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> barão <strong>do</strong> Pilar, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> genro e her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong> casal comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Henrique <strong>de</strong><br />

Araújo. Em 1866, to<strong>do</strong>s esses prédios já pertenciam a outros proprietários, entre os quais figura o<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Jerônimo José Teixeira.<br />

* O Arquivo Nacional está, hoje, instala<strong>do</strong> na rua Azere<strong>do</strong> Coutinho, nº 77. O prédio a que se refere Restier, que na sua época abrigava o Arquivo<br />

Nacional, localiza-se na praça <strong>da</strong> República, nº 26. Atualmente, lá se encontra o Arquivo <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Judiciário. (N.E.)


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Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oriental – 1817/1878<br />

Terreno <strong>de</strong> 50m <strong>de</strong> frente na face oriental <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entre as ruas São Pedro e São<br />

Joaquim – atual Marechal Floriano. Esse terreno era uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> Casa<strong>do</strong>,<br />

pagan<strong>do</strong> o foro <strong>de</strong> mil novecentos e vinte réis anuais ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Um <strong>de</strong>creto real, <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1817, <strong>de</strong>sapropriou-o e a resolução, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1818, incorporou-o aos próprios <strong>da</strong> Nação.<br />

Nesse terreno existiram, até 1860, três barracões que serviam um <strong>de</strong> almoxarifa<strong>do</strong> <strong>da</strong> Iluminação<br />

Pública, outro <strong>de</strong> abrigo <strong>de</strong> africanos livres – que eram trabalha<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara – e mais<br />

um outro <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> material <strong>de</strong> obras públicas. Demoli<strong>do</strong>s esses barracões, foram construí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

prédios que figuram na numeração predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, feita em 1878, com os nºs 54 e 56.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oci<strong>de</strong>ntal – 1789/1893<br />

Terreno <strong>de</strong> 110 braças, – ou 244m, aproxima<strong>da</strong>mente, na face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana,<br />

entre o areal e o caminho para a lagoa <strong>da</strong> Sentinela. Na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o areal correspon<strong>de</strong> à rua Moncorvo<br />

Filho, antes <strong>do</strong> Areal, e o caminho à rua Frei Caneca. Tinha o terreno 235m no seu maior comprimento,<br />

<strong>de</strong> frentes a fun<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> era irregular. Ele, terreno, constituía uma <strong>da</strong>s primeiras <strong>de</strong>smembrações <strong>da</strong>s<br />

chácaras <strong>do</strong> Areal e <strong>do</strong> Capueruçu, <strong>de</strong>smembrações que se fizeram ao fin<strong>da</strong>r <strong>do</strong> século XVIII, pois que<br />

o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara havia <strong>de</strong>libera<strong>do</strong>, em 1789, o saneamento <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a região <strong>do</strong> Areal e <strong>do</strong> Capueruçu,<br />

enxugan<strong>do</strong>-se e cortan<strong>do</strong>-se as terras para novos arruamentos, que melhor aten<strong>de</strong>sssem à comodi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> público, facultan<strong>do</strong>-lhe as comunicações necessárias. O terreno era arenoso e enxuto em uma larga<br />

faixa <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a sua frente e alagadiço na parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Na face <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana foram sen<strong>do</strong><br />

levanta<strong>do</strong>s prédios, fican<strong>do</strong> apenas por edificar, durante anos, uma porção pela qual corrria a vala <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>spejos. Em 1857, três <strong>de</strong>sses antigos prédios eram próprios nacionais, ocupa<strong>do</strong>s pelo quartel <strong>da</strong><br />

Cavalaria <strong>do</strong> Exército e suas <strong>de</strong>pendências, figuran<strong>do</strong> com os nºs 91, 93 e 95. A vala <strong>do</strong>s <strong>de</strong>spejos era<br />

resto <strong>da</strong> antiga vala mestra <strong>da</strong> freguesia <strong>de</strong> Santana, que servia <strong>de</strong> esgoto a uma extensa zona <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Com o seu ponto culminante nas fral<strong>da</strong>s <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Desterro – agora Santa Teresa —, a vala mestra<br />

corria pela planície palu<strong>do</strong>sa <strong>de</strong> Matacavalos, serpentean<strong>do</strong> em alguns pontos, atravessava o campo <strong>de</strong><br />

Santana para <strong>de</strong>spejar-se no seu vaza<strong>do</strong>uro natural, que era o mangue <strong>do</strong> Capueruçú. No seu longo curso<br />

avolumava o seu <strong>de</strong>spejo, receben<strong>do</strong> o <strong>da</strong>s pequenas valas suas tributárias e, entre as quais, a vala <strong>da</strong><br />

Lampa<strong>do</strong>sa, cuja vazão se fazia justamente no local <strong>do</strong> terreno baldio a que aludimos anteriormente. Os<br />

três próprios nacionais precita<strong>do</strong>s ocupavam um terreno <strong>de</strong> 35m <strong>de</strong> frente, com fun<strong>do</strong> irregular, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

frente a fun<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 41m.<br />

Um <strong>do</strong>s maiores proprietários na face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, no século passa<strong>do</strong>, foi o<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Manoel Francisco Albernaz, possuin<strong>do</strong> <strong>de</strong>z prédios e, nos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les, uma<br />

habitação coletiva, ocupa<strong>da</strong> por famílias <strong>de</strong> militares inferiores. O prédio 67, no canto <strong>da</strong> rua Nova <strong>do</strong><br />

Con<strong>de</strong> – agora Frei Caneca – pertenceu ao Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Simão. Esse prédio, altos e baixos, e bem assim<br />

o que lhe ficava contíguo, à rua Nova <strong>do</strong> con<strong>de</strong> nº 2, serviram <strong>de</strong> se<strong>de</strong> à Ilustríssima Câmara e às<br />

principais repartições, durante o perío<strong>do</strong> [<strong>de</strong>] 1873/1882 – <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> Paço Municipal, a<br />

tradicional Casa <strong>do</strong> Povo, que se pôs abaixo, recentemente, para abrir-se a aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas.<br />

Os ditos <strong>do</strong>is prédios pertenciam, quan<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong>s pela Ilustríssima Câmara, ao viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Canoeiras,<br />

ocupação que se fez por arren<strong>da</strong>mento e mediante cinco contos e setecentos mil réis anuais.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Oci<strong>de</strong>ntal – 1809/1880<br />

Terreno <strong>de</strong> 128m <strong>de</strong> frente na face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entre a rua <strong>do</strong> Areal e o beco<br />

<strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>. Esse terreno <strong>de</strong>smembrou-se <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> chácara, com frente volta<strong>da</strong> para o campo. A<br />

chácara pertenceu ao capitão-mor a Anacleto Elias <strong>da</strong> Fonseca e, por sua morte, ao seu sobrinho cônego<br />

José <strong>da</strong> Costa Fonseca, a quem foi compra<strong>da</strong> pelo con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos, em 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1809. O con<strong>de</strong>


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s/a, s/d. – A casa n 0 131, em 1889, e 435, mo<strong>de</strong>rnamente, à rua <strong>de</strong> São Cristovão, on<strong>de</strong>, no segun<strong>do</strong> an<strong>da</strong>r, oficiais <strong>do</strong> 1º e 9 º regimentos<br />

nº 131 <strong>de</strong> Cavalaria <strong>do</strong> Exército faziam reuniões republicanas e on<strong>de</strong>, em 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1889, os conspira<strong>do</strong>res fixaram o “juramento <strong>de</strong><br />

sangue” para a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> República.


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<strong>de</strong>smembrou nos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara uma porção <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong> 40 braças <strong>de</strong> frente no chama<strong>do</strong> Areal e a<br />

ven<strong>de</strong>u, em 28 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1811, por três contos e duzentos mil réis. A ven<strong>da</strong> foi anula<strong>da</strong> e, somente<br />

em 1815, se verificou, por escritura <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> janeiro, em notas <strong>do</strong> tabelião Pires Garcia, livro 150, fls.<br />

66. Foi compra<strong>do</strong>r Joaquim José Car<strong>do</strong>so Guimarães, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>da</strong> porção <strong>de</strong> terreno que<br />

comprara. A carta é <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1825.<br />

O con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos, <strong>do</strong>m Marcos <strong>de</strong> Noronha Brito, ficou com a maior porção <strong>da</strong> chácara, que<br />

corria frente pelo campo <strong>de</strong> Santana e, nessa porção, construiu um palacete no qual passou a residir. Por<br />

escritura <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1825, o governo imperial comprou o palacete e to<strong>da</strong>s as suas servidões, para<br />

servir <strong>de</strong> se<strong>de</strong> ao Sena<strong>do</strong> <strong>do</strong> Brasil, * como serviu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> maio <strong>do</strong> Ano <strong>da</strong> Graça <strong>de</strong> Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo <strong>de</strong> 1826, quan<strong>do</strong> ali se <strong>de</strong>u a sua imponente instalação, e funcionou até dias <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1925.<br />

Assim, <strong>do</strong> terreno em apreço, <strong>de</strong> 128m <strong>de</strong> frente pela face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, o edifício<br />

on<strong>de</strong> esteve o Sena<strong>do</strong> e <strong>de</strong>pendências ocupa uma porção <strong>de</strong> 41m <strong>de</strong> frente pelo campo e <strong>de</strong> 50m pela rua<br />

<strong>do</strong> Areal, agora Moncorvo Filho, por 46m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s. A porção <strong>do</strong> terreno restante, <strong>de</strong> 87m, é ocupa<strong>da</strong><br />

pelo edifício <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> * e <strong>de</strong>pendências. O terreno <strong>de</strong>ssa última dita porção tem fun<strong>do</strong> irregular<br />

* Hoje, está instala<strong>da</strong> nesse prédio a Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. (N.E.)<br />

Augusto Malta, 26/7/1923 – Praça <strong>da</strong> República. Antigo campo <strong>de</strong> Santana – face norte.


e alcança, na sua maior extensão <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, cerca <strong>de</strong> 129m conta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> linha <strong>de</strong> frente. Dúvi<strong>da</strong>s e<br />

questões têm si<strong>do</strong> sugeri<strong>da</strong>s e suscita<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1803, sobre ser ou não foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> o chão <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> capitão-mor Anacleto Elias <strong>da</strong> Fonseca, pois que, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não existe<br />

o título primitivo <strong>do</strong> aforamento <strong>do</strong> mesmo chão ou terreno. Não pa<strong>de</strong>ce a menor dúvi<strong>da</strong>, porém, que os<br />

fatos concernentes às compras e ven<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s terrenos que a constituíram evi<strong>de</strong>nciam o reconhecimento<br />

<strong>do</strong> senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. ** Entre a Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> e o prédio nº 97C – numeração <strong>de</strong> 1860<br />

– ficou uma faixa <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong> 9m <strong>de</strong> largura por 119 <strong>de</strong> compri<strong>da</strong>, pertencente a Antônio Antunes<br />

Guimarães, a quem foi compra<strong>da</strong> pela Fazen<strong>da</strong> Pública Nacional, em março <strong>de</strong> 1860, por <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong><br />

réis. Na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno vendi<strong>do</strong>, a Ilustríssima Câmara recebeu laudêmio <strong>da</strong><br />

respectiva ven<strong>da</strong>, que lhe foi pago pelo ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r. Por esse terreno foi aberta uma via pública, por muitos<br />

anos sem saí<strong>da</strong>, e à qual se <strong>de</strong>u a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> beco <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>. Esbarrava no muro <strong>do</strong> quintal <strong>da</strong> casa<br />

nº 27, <strong>da</strong> então rua <strong>do</strong> Sabão <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova – <strong>de</strong>pois viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna. Em 1917, <strong>de</strong>rrubou-se o muro<br />

e prolongou-se o logra<strong>do</strong>uro até a rua General Caldwell. O <strong>de</strong>creto n 0 1.165, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1917,<br />

alterou a espécie <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro e <strong>de</strong>u-lhe novo nome. É assim que o velho beco <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> passou a<br />

chamar-se rua Ribeiro Rangel. Mais tar<strong>de</strong>, esse nome foi substituí<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong> Azere<strong>do</strong> Coutinho. Justa<br />

homenagem que se prestou ao dr. Cândi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Azere<strong>do</strong> Coutinho, proficiente prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong><br />

ao tempo <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> edifício <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>partamento público e pelo qual muito se esforçou. Foi uma<br />

operosa e bem útil administração a sua, melhoran<strong>do</strong> as oficinas e aperfeiçoan<strong>do</strong> bastante os trabalhos <strong>da</strong><br />

cunhagem. A pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> edifício <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> foi lança<strong>da</strong> a 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1858,<br />

aniversário natalício <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II, e logo inicia<strong>da</strong> a construção, que terminou em 1863.<br />

O prédio anteriormente cita<strong>do</strong>, nº 97C <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, pertenceu a Dioguina Maria <strong>de</strong><br />

Vasconcelos <strong>de</strong> Usmar, por herança <strong>do</strong> seu irmão Bernar<strong>do</strong> Pereira <strong>de</strong> Vasconcelos, brasileiro ilustre por<br />

muitos títulos. Em 1880, a dita senhora ven<strong>de</strong>u o prédio ao barão <strong>de</strong> Vassouras por setenta contos <strong>de</strong> réis.<br />

Ocupava um terreno foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a ela foi pago o laudêmio <strong>da</strong> dita ven<strong>da</strong>, em 31 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1880. O prédio 97C ocupava um terreno <strong>de</strong> 11m <strong>de</strong> frente, tira<strong>do</strong> à chácara <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos. O <strong>de</strong><br />

nº 99 ocupava uma frente <strong>de</strong> 16m, já na parte <strong>da</strong> antiga chácara <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong> e <strong>da</strong> qual<br />

há noticia no capítulo XIII – Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Esse prédio 99, ain<strong>da</strong> em 1878, pertencia ao dr. João Pedro<br />

<strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>. A numeração cita<strong>da</strong> é a <strong>do</strong> Rol <strong>da</strong>s Décimas para o ano <strong>de</strong> 1857. Nesse trecho <strong>da</strong> face<br />

oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, está a casa em que residia o generalíssimo Manoel Deo<strong>do</strong>ro <strong>da</strong> Fonseca<br />

quan<strong>do</strong>, a 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889, se pôs à frente <strong>do</strong> movimento militar que redun<strong>do</strong>u na que<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Monarquia no Brasil e na implantação <strong>da</strong> República. A abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas alterou por<br />

completo a feição topográfica <strong>de</strong>ssa região <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a igreja<br />

<strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária até a ponte <strong>do</strong>s Marinheiros, no canal <strong>do</strong> Mangue. To<strong>da</strong> a face oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> antigo campo<br />

<strong>de</strong> Santana – hoje praça <strong>da</strong> República – é foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Norte – 1811 / 1 8 5 8<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 5 9<br />

Terreno irregular na face norte <strong>do</strong> antigo campo <strong>de</strong> Santana forman<strong>do</strong> um quadrilátero <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

área. Com os arruamentos que se fizeram, em 1811, ficou o terreno compreendi<strong>do</strong>, ou fecha<strong>do</strong> na frente<br />

ou norte, pelo campo <strong>de</strong> Santana, numa extensão <strong>de</strong> 164m; nos fun<strong>do</strong>s ou sul, pela rua <strong>do</strong>s Quartéis –<br />

agora Marcílio Dias – numa extensão <strong>de</strong> 201m, à direita ou leste pela rua <strong>de</strong> Santana <strong>de</strong> 165m; pela<br />

esquer<strong>da</strong> ou oeste pela rua <strong>de</strong> São Lourenço cerca <strong>de</strong> 160m. A rua <strong>de</strong> Santana veio a chamar-se <strong>do</strong>m.<br />

João Ricar<strong>do</strong>, a 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1879; a <strong>do</strong>s Quartéis chamou-se Marcílio Dias, em 8 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1879,<br />

e a <strong>de</strong> São Lourenço recebeu o nome <strong>de</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>da</strong> Gávea, em 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1885 e, finalmente, o<br />

campo <strong>de</strong> Santana foi <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> praça <strong>da</strong> Aclamação, a 22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1822, e praça <strong>da</strong> República,<br />

a 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1890.<br />

A Fazen<strong>da</strong> Real adquiriu a posse <strong>do</strong> terreno em apreço para a construção <strong>de</strong> quartéis <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s<br />

à tropa militar. Na sua maior porção, o terreno foi tira<strong>do</strong> à chácara <strong>de</strong> Emerenciana Isabel Dantas Castro,<br />

e constitui uma <strong>do</strong>ação feita pela dita senhora à Nação, por escritura <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1811, em notas<br />

<strong>do</strong> tabelião Rocha Pita. Viúva que havia si<strong>do</strong> <strong>de</strong> Antônio José <strong>de</strong> Aguiar e Castro, <strong>de</strong> quem ela her<strong>do</strong>u<br />

* Atualmente, nesse edifício funciona o Arquivo Nacional (N.E.)<br />

** Cat, 454. Arquivo Municipal. (N.A.)


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gran<strong>de</strong> fortuna, Emerenciana Isabel Dantas e Castro, em 1811, já estava casa<strong>da</strong> com Manoel José <strong>da</strong><br />

Costa Martins Gil e, enviuvan<strong>do</strong> <strong>de</strong> novo, veio a contrair terceiro casamento com José Antônio Teixeira<br />

Car<strong>do</strong>so. Em 1816, a rica senhora já havia faleci<strong>do</strong>. Quanto à outra porção <strong>de</strong> terreno, a menor, foi<br />

aquisição por compra ao briga<strong>de</strong>iro Domingos José Ferreira e à Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Divino Espírito Santo <strong>da</strong><br />

Freguesia <strong>de</strong> Santana, por sete contos oitocentos e seis mil e trezentos réis. To<strong>do</strong> o terreno que forma um<br />

quadrilátero, como dissemos antes, é foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>do</strong> que há provas nos antigos registros<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. *<br />

O primitivo edifício <strong>do</strong> quartel <strong>do</strong> Campo construiu-se, com ligeiras modificações, segun<strong>do</strong> o<br />

plano <strong>de</strong> um arquiteto <strong>de</strong> sobrenome Costa, pelo custo <strong>de</strong> duzentos mil cruza<strong>do</strong>s portugueses. Esse<br />

edifício chegou aos nossos dias, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> e substituí<strong>do</strong> por outro <strong>de</strong> bastante soli<strong>de</strong>z, feição<br />

arquitetural mo<strong>de</strong>rna, mostran<strong>do</strong> perfeito acabamento e particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s próprias e bem características<br />

ao fim a que se <strong>de</strong>stinava o edifício. Mesmo assim, puseram-no abaixo, por força <strong>da</strong> megalomania<br />

americaniza<strong>da</strong> <strong>da</strong> época, para ser levanta<strong>do</strong> um monstro <strong>de</strong> cimento arma<strong>do</strong>, ** sem significação, apenas<br />

se <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> por uma alta torre.<br />

Até 1765, a guarnição militar <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> se compôs <strong>de</strong> <strong>do</strong>is batalhões <strong>de</strong> Infantaria e um<br />

<strong>de</strong> Artilharia. Naquele precita<strong>do</strong> ano, a Or<strong>de</strong>m Régia, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro, criou a Cavalaria Ligeira para a<br />

guar<strong>da</strong> <strong>do</strong> vice-rei. Esse corpo militar, para o qual se construiu o quartel <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong> Misericórdia, veio<br />

a ser extinto, em 1808. Nessa ocasião, foi cria<strong>do</strong> o 1 0 Regimento <strong>da</strong> Cavalaria <strong>do</strong> Exército, pelo <strong>de</strong>creto<br />

Real, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808, Regimento que ain<strong>da</strong> existe, coberto <strong>de</strong> glórias. Em 1767 chegou ao <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> a tropa portuguesa constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is Regimentos <strong>de</strong> Infantaria, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Moura e <strong>de</strong><br />

Bragança, que ficaram aquartela<strong>do</strong>s nas casas <strong>do</strong>s religiosos <strong>de</strong> São Bento, o <strong>de</strong> Bragança, e no quartel<br />

<strong>da</strong> Misericórdia, o <strong>do</strong> Moura.<br />

As casas <strong>do</strong>s religiosos ficaram num beco que ficou sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> beco <strong>do</strong> Bragança, ain<strong>da</strong><br />

existente no fim <strong>da</strong> rua Primeiro <strong>de</strong> Março. O Regimento <strong>de</strong> Bragança, então chama<strong>do</strong> 1º Regimento <strong>de</strong><br />

Infantaria <strong>de</strong> Linha, foi o primeiro corpo militar que, em 1814, ocupou o quartel <strong>do</strong> Campo, ain<strong>da</strong> por<br />

acabar. Também em casas situa<strong>da</strong>s em um beco, e que eram <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> quartel <strong>da</strong> Misericórdia,<br />

alojou-se o Regimento <strong>do</strong> Moura, fican<strong>do</strong> o logra<strong>do</strong>uro com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> beco <strong>do</strong> Moura. É <strong>do</strong> ano<br />

<strong>de</strong> 1767 a nomeação <strong>do</strong> tenente-general João Henrique Bohn, militar <strong>de</strong> envergadura, para coman<strong>da</strong>nte<br />

geral <strong>da</strong>s tropas <strong>da</strong> capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1809, criou-se a Divisão <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Real<br />

<strong>da</strong> Polícia <strong>da</strong> Corte, que ficou constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> três Regimentos <strong>de</strong> Infantaria Miliciana. Por ocasião <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, em 1822, a guarnição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> compunhase<br />

<strong>de</strong> três Regimentos: 1º <strong>de</strong> Cavalaria, 1º <strong>de</strong> Artilharia Monta<strong>da</strong>, um batalhão <strong>de</strong> Grana<strong>de</strong>iros, um <strong>de</strong><br />

Caça<strong>do</strong>res, três <strong>de</strong> Fuzileiros e um <strong>de</strong> Polícia Militar.<br />

Bem em frente ao quartel <strong>do</strong> Campo ficava a casinha <strong>da</strong> pólvora, man<strong>da</strong><strong>da</strong> construir, pelo Sena<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Câmara, para ven<strong>da</strong> pública <strong>de</strong>sse explosivo. Ocupava um terreno <strong>de</strong> duas braças <strong>de</strong> frente,<br />

pertencente a her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>. Em 1799, para melhoramentos locais, a casinha<br />

<strong>da</strong> pólvora foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> e o terreno ficou baldio até 1801, quan<strong>do</strong> os ditos her<strong>de</strong>iros – Luiz <strong>da</strong> Rocha<br />

Macha<strong>do</strong> e irmãos, filhos <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong> – pediram a <strong>de</strong>volução <strong>do</strong> mesmo terreno. Na<br />

face norte, e justamente no quadrilátero a que temos aludi<strong>do</strong>, <strong>de</strong>veria levantar-se o Palácio Imperial, na<br />

execução <strong>do</strong> plano <strong>de</strong> embelezamento <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, em 1862, <strong>da</strong> autoria <strong>de</strong> Vitor Frond e César<br />

Garnier.<br />

* 1788, livro 5 e 1832, livro 3. (N.A.)<br />

** O Palácio Duque <strong>de</strong> Caxias, (praça Duque <strong>de</strong> Caxias, s/nº, Centro), antigo Ministério <strong>da</strong> Guerra, menciona<strong>do</strong> por Restier, é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />

ícones <strong>do</strong> art déco no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Projeta<strong>do</strong> em 1935 pelo arquiteto Cristiano Stockler <strong>da</strong>s Neves, caracteriza-se pela interseção <strong>de</strong> <strong>do</strong>is volumes,<br />

um corpo horizontal mais baixo e recua<strong>do</strong> e uma torre central escalona<strong>da</strong>, que <strong>do</strong>mina a volumetria, servin<strong>do</strong>, funcionalmente, como organiza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

espaço interno. Numa subdivisão bastante clássica <strong>de</strong> sua composição, mantém embasamento revesti<strong>do</strong> em mármore com acesso em pórtico, corpo<br />

em argamassa e coroamento em torreão <strong>de</strong> coman<strong>do</strong>. (N.E.)


Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1819/1848<br />

s/a, 25/9/1907 – Primeiro edifício <strong>do</strong> quartel-general <strong>do</strong> Exército e Ministério <strong>da</strong> Guerra.<br />

C A P Í T U L O X I V | 2 6 1<br />

Terreno <strong>de</strong> 16 braças <strong>de</strong> frente, em reta, na face sul <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, constituin<strong>do</strong> uma<br />

<strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-Mor, pertencente a Maria Arcângela <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Forjaz<br />

Paes Leme, a cujos her<strong>de</strong>iros foi o terreno compra<strong>do</strong>, a 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1819, por Francisco José Alves<br />

Quintão. Litigioso estava o terreno quan<strong>do</strong> vendi<strong>do</strong> e <strong>da</strong>í a ratificação <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>, posteriormente. O<br />

aforamento <strong>de</strong> Alves Quintão traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1838. Quintão era gran<strong>de</strong> proprietário e bem<br />

rico. Além <strong>do</strong>s cinco prédios que construiu no terreno em apreço, possuía outros no mesmo campo e na<br />

rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>. Entre os prédios <strong>de</strong> Quintão, no campo <strong>de</strong> Santana, na face [sul] [...] e <strong>de</strong> 19 a 27, 31 e 33,<br />

ficava uma pequena casa <strong>de</strong> nº 29, baixinha, porta e janela, pinta<strong>da</strong> <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> e amarelo, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

religiosa Jacinta <strong>de</strong> São José, vendi<strong>da</strong>, em 1845, ao referi<strong>do</strong> Quintão. Em julho <strong>de</strong> 1848, ele já era<br />

faleci<strong>do</strong>, porque nos ditos mês e ano aparece a sua viúva, pedin<strong>do</strong> fosse transferi<strong>do</strong> para o seu nome o<br />

título <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong>s terrenos que, por morte <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>, Francisco José Alves Quintão, ficara <strong>de</strong><br />

posse.


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Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1827/1872<br />

Terreno <strong>de</strong> 40 braças <strong>de</strong> frente na face sul <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, vendi<strong>do</strong> pelos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Maria<br />

Arcângela <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Forjaz Paes Leme a Domingues José Corrêa <strong>de</strong> Araújo, com carta <strong>de</strong> aforamento,<br />

em 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1827. Logo <strong>de</strong>pois, Corrêa <strong>de</strong> Araújo edificou 11 prédios, que receberam os números<br />

47 a 57, e 57 a 65. Os <strong>de</strong> nº 47 e 49 vieram a pertencer a Miguel <strong>de</strong> Frias Vasconcelos, 57 figura <strong>de</strong> relevo<br />

nos acontecimentos políticos <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1831. Por morte <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Frias, passaram aos seus<br />

her<strong>de</strong>iros os prédios 47 e 49, que foram transforma<strong>do</strong>s em um só, <strong>de</strong> três sobra<strong>do</strong>s, vendi<strong>do</strong>s, em 8 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1860, a Clemente José Pereira Braga. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1869, foi o prédio compra<strong>do</strong> por<br />

Domingos Farani, afama<strong>do</strong> e rico joalheiro, ao filho e her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Pereira Braga, o médico dr. Luis José<br />

Pereira Braga. Em 1872, aparece o prédio vendi<strong>do</strong> por Farani a Luiz Desiré Cleofas Guion, pela quantia<br />

<strong>de</strong> quarenta e cinco contos <strong>de</strong> réis. Entre os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Frias, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> genro, aparece<br />

Emílio Pedro Carrière.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul – 1832/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente na face sul <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, canto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s, por<br />

on<strong>de</strong> corria fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 50 braças até encontrar a muralha <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, que estava sen<strong>do</strong> levanta<strong>da</strong>, em 1832,<br />

pela irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>do</strong>s Pobres, junto à sua igreja. Esse terreno, <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara<br />

<strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor, pertenceu a João Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, e foi quem construiu no mesmo terreno <strong>do</strong>is prédios<br />

vendi<strong>do</strong>s a José Ferreira <strong>da</strong> Rocha Araújo, com carta <strong>de</strong> aforamento, em 1852. Em 1859, os [prédios]<br />

pertenciam a her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Araújo, e, nessa ocasião, o prédio que fazia canto na rua <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s figurava<br />

com o nºs 2 <strong>de</strong>ssa rua.<br />

Campo <strong>de</strong> Santana – Face Sul/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 83m <strong>de</strong> frente na face sul <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, com sete bons prédios pertencentes à<br />

Joaquina Carolina <strong>de</strong> Oliveira, por herança <strong>de</strong> sua mãe – Maria Luiza <strong>de</strong> Oliveira, filha e her<strong>de</strong>ira <strong>do</strong><br />

casal Antônio Manoel <strong>de</strong> Freitas e Helena Maria <strong>da</strong> Cruz. O terreno era <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> parte <strong>da</strong><br />

chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-Mor, que coube à Maria Arcângela <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Forjaz Paes Leme e que compreendia<br />

extensa área limita<strong>da</strong> pelas atuais ruas Riachuelo, Lavradio, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Rio</strong> Branco e Frei Caneca –<br />

parte sul, frente <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-Mor, no então caminho <strong>de</strong> Matacavalos – atual rua <strong>do</strong> Riachuelo;<br />

norte, fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> mesma chácara, corren<strong>do</strong> por on<strong>de</strong> correm hoje a rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, a face<br />

sul <strong>da</strong> praça <strong>da</strong> República e a rua Frei Caneca, até a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Riachuelo. O casal Cruz Freitas,<br />

anteriormente cita<strong>do</strong>, her<strong>do</strong>u uma porção <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> área. Joaquina Carolina <strong>de</strong> Oliveira, quan<strong>do</strong> entrou<br />

na posse <strong>do</strong>s bens que lhe <strong>de</strong>ixou sua mãe, o que aconteceu em 1859, residia em Niterói, em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

solteira. Os prédios <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana tinham, no dito ano, os nºs 33 a 45.<br />

Rua <strong>do</strong> A real – 1825/1880<br />

Terreno <strong>de</strong> 18 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> e <strong>do</strong> qual era posseiro, por compra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1827,<br />

o tenente Carlos Correia Taveira, que edificou no terreno boa casa resi<strong>de</strong>ncial, com pequena e bem<br />

cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara. Essa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1880, tinha o nº 11 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Areal e já pertencia a Antônio<br />

Xavier <strong>da</strong> Rocha, por aquisição em praça judicial, pela quantia <strong>de</strong> vinte e quatro contos <strong>de</strong> réis. O terreno<br />

em apreço constituía uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Areal, situa<strong>da</strong> no campo <strong>de</strong> Santana, e corren<strong>do</strong><br />

fun<strong>do</strong>s pelo caminho <strong>do</strong> Areal. A referi<strong>da</strong> chácara era, em gran<strong>de</strong> parte, constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> espesso capinzal,<br />

trata<strong>do</strong> com muito cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> uma boa ren<strong>da</strong> aos <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> chácara, mais <strong>de</strong> três contos anuais.<br />

A partir <strong>de</strong> 1825, o capinzal foi sen<strong>do</strong> extinto. A chácara <strong>do</strong> Areal veio a pertencer ao sargento-


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mor Manoel Antônio Claro, já <strong>de</strong>mente em 1825, e sob a curatela <strong>de</strong> seu genro, Joaquim José Moreira<br />

Maia. Em 1825, faleceu a esposa <strong>do</strong> sargento-mor, Ana Teresa <strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong> Santo Elia, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />

casal cinco filhos: João Antônio, <strong>de</strong> 20 anos; Clara Luiza, casa<strong>da</strong> com o precita<strong>do</strong> Moreira Maia, que foi<br />

o primeiro testamenteiro e inventariante <strong>do</strong>s bens <strong>da</strong> sua sogra; Teresa <strong>de</strong> Jesus, casa<strong>da</strong> com Manoel<br />

Parente <strong>da</strong> Costa: Rosa Monteiro, com 18 anos e que mais tar<strong>de</strong> se [casou] com o alferes Gabriel José<br />

Ferreira, e Delfina Maria Antonia, menor. Esses her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>smembraram a chácara em porções<br />

diferentes – vendi<strong>da</strong>s com facili<strong>da</strong><strong>de</strong>. As edificações foram logo inicia<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> forma que, em 1834, já<br />

outra era a feição topográfica <strong>de</strong>ssa parte <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana.<br />

Rua <strong>do</strong> A real – 1830<br />

Terreno <strong>de</strong> 15 braças <strong>de</strong> frente, no la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Areal, afora<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1830, a Ezequiel<br />

Correa <strong>do</strong>s Santos. Nesse terreno, ficava a gran<strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong> produtos químicos farmacêuticos <strong>de</strong><br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo Ezequiel. Era um vasto edifício construí<strong>do</strong> sob a direção <strong>do</strong> mesmo Ezequiel e<br />

que compreendia <strong>do</strong>is corpos distintos: o <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, no qual funcionava a fábrica, e o <strong>da</strong> frente, no<br />

alinhamento <strong>da</strong> rua e com sobra<strong>do</strong> resi<strong>de</strong>ncial. O pavimento térreo, bem vasto, servia <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>da</strong>s<br />

drogas. Ezequiel Correa <strong>do</strong>s Santos foi boticário e químico <strong>de</strong> nomea<strong>da</strong>. A sua botica ficava à rua <strong>do</strong>s<br />

Ourives, 183. Mais tar<strong>de</strong>, a botica, que era fornece<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> Casa Imperial, passou a <strong>de</strong>nominar-se<br />

Farmácia Central e Drogaria <strong>de</strong> Ezequiel & Filhos. Influência política na freguesia <strong>de</strong> Santana, ocupou<br />

uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> verea<strong>do</strong>r na Ilustríssima Câmara. Muito conceitua<strong>do</strong>, com sentimentos superiores e<br />

firmeza <strong>de</strong> princípios, Ezequiel figurou sempre na vanguar<strong>da</strong> <strong>do</strong>s acontecimentos principais <strong>da</strong> nossa<br />

formação política. Foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r ativo <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Farmacêutica <strong>do</strong> Brasil e seu presi<strong>de</strong>nte. Amigo <strong>da</strong><br />

pobreza, que muito lhe <strong>de</strong>veu, principalmente em época <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias.<br />

A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Farmacêutica <strong>do</strong> Brasil fun<strong>do</strong>u-se, em 1851, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com o intuito <strong>de</strong><br />

aperfeiçoamento <strong>da</strong> farmacologia no nosso país e, segun<strong>do</strong> as suas forças, <strong>de</strong> ocupar-se <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> quanto<br />

interessasse à saú<strong>de</strong> pública. Em 1859, em franca prospreri<strong>da</strong><strong>de</strong> estava a <strong>do</strong>uta agremiação, cujas sessões<br />

se realizavam na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Imperial Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Farmacêutica criou um<br />

montepio <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> às viúvas e filhos pobres <strong>do</strong>s seus contribuintes e <strong>de</strong>u à publici<strong>da</strong><strong>de</strong> uma revista<br />

mensal sob o título Revista Farmacêutica.<br />

Rua <strong>do</strong> A re a l<br />

A rua <strong>do</strong> Areal teve sua origem em um remoto caminho que ia terminar na gran<strong>de</strong> lagoa <strong>do</strong><br />

Capueruçu. To<strong>da</strong> ela corre em terrenos foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. À direta, terrenos saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

aforamento <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos e <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>; à esquer<strong>da</strong>, terrenos saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

aforamento <strong>de</strong> Antônio José Vaz Guimarães e <strong>do</strong> sargento-mor Manoel Antônio Claro, aforamentos que<br />

alcançavam a atual rua Frei Caneca, margean<strong>do</strong>, em to<strong>da</strong> essa sua extensão <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, a antiga rua<br />

Formosa – agora General Caldwel. O aforamento <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos era uma extensa área <strong>de</strong> duas<br />

frentes <strong>de</strong>siguais, a maior pelo campo <strong>de</strong> Santana e a menor pela rua <strong>do</strong> Areal. Nessa área estava a boa<br />

casa resi<strong>de</strong>ncial <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos, na qual esteve o Sena<strong>do</strong> <strong>do</strong> Brasil por muitos anos, como já<br />

dissemos. O aforamento <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong> constituiu a gran<strong>de</strong> chácara <strong>do</strong> Capueruçu, com<br />

fun<strong>do</strong>s em Mataporcos, hoje [rua] Estácio <strong>de</strong> Sá.


C A P Í T U L O X V<br />

M a t a c ava l o s


C A P Í T U L O X V | 2 6 5<br />

Em 1567, estabeleci<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> no outeiro <strong>do</strong> Descanso, <strong>de</strong>use<br />

começo ao povoamento <strong>da</strong> várzea fronteira à dita colina, por melhor campo às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> segurança<br />

e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> nova Colônia portuguesa.<br />

Esse povoamento não <strong>de</strong>morou a esten<strong>de</strong>r-se além <strong>do</strong> fosso – rua Uruguaiana, hoje. É assim que,<br />

rapi<strong>da</strong>mente, na planície que se lhe seguia, foram surgin<strong>do</strong> os arraiais, alguns <strong>do</strong>s quais <strong>de</strong>ram origem a<br />

bairros importantes na velha Sebastianópolis. Desses bairros, interessa-nos o <strong>de</strong> Matacavalos, sítio<br />

ameno e pitoresco, com magníficas chácaras, pertencentes, quase to<strong>da</strong>s, às famílias oriun<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s<br />

primeiros casais <strong>de</strong> honestos trabalha<strong>do</strong>res, que se localizaram nessa parte <strong>do</strong> extenso vale <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

entre os morros <strong>de</strong> Santo Antônio, Santa Teresa, Paula Matos e Sena<strong>do</strong> – esse já arrasa<strong>do</strong>. É bem<br />

interessante dizer que muitas <strong>de</strong>ssas famílias se fizeram ricas e algumas chegaram a alcançar foros <strong>de</strong><br />

nobreza.<br />

Das antigas chácaras vamos <strong>de</strong>stacar, por serem as mais importantes, em primeiro lugar a chácara<br />

<strong>do</strong> Desterro e a chácara <strong>da</strong> Bica, ten<strong>do</strong> a primeira pertenci<strong>do</strong> a Luiz Correa <strong>da</strong> Silva e, <strong>de</strong>pois, às<br />

religiosas <strong>de</strong> Santa Teresa, e <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> foi seu antigo proprietário Domingos Rodrigues <strong>de</strong> Távora.<br />

Essas duas chácaras ocupavam terras místicas, com uma frente <strong>de</strong> 150 braças ou 330m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, até<br />

encontrar os canos <strong>da</strong> Carioca. Em 1779, foram compra<strong>da</strong>s pelas freiras <strong>de</strong> Santa Teresa, que remiram o<br />

foro <strong>da</strong>s terras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1853, a troco <strong>de</strong> apenas uma apólice <strong>de</strong> 400$, diz<br />

com acentua<strong>da</strong> ironia Inocêncio <strong>da</strong> Rocha Maciel, ilustre autor <strong>do</strong> Tombamento Municipal, ao comentar<br />

o ato <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, que permitiu essa remissão.<br />

Na chácara <strong>da</strong> Bica teve seu berço a Or<strong>de</strong>m Carmelitana Feminina <strong>de</strong> Santa Teresa no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, quan<strong>do</strong>, em março <strong>de</strong> 1742, nessa chácara, fez-se reclusa Jacinta <strong>de</strong> São José, a pie<strong>do</strong>sa<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong>ra <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> religiosa na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Já dissemos,<br />

algures, na história <strong>de</strong> Jacinta <strong>de</strong> São José, o raciocínio <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r lugar à fé, porque somente o coração<br />

po<strong>de</strong> aceitar uns tantos fatos, que a razão nega. Segun<strong>do</strong> a opinião <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s seus biógrafos, a<br />

meiga <strong>do</strong>nzela podia ser vítima <strong>de</strong> fenômenos nervosos, porém, não era uma hipócrita. Os seus senti<strong>do</strong>s<br />

podiam iludi-la e ro<strong>de</strong>á-la <strong>de</strong> ficções; mas, assim como outras criaturas que foram santifica<strong>da</strong>s, a heroína<br />

<strong>do</strong> Carmelo Brasileiro não era menos sincera quan<strong>do</strong> aludia às suas visões.<br />

Na chácara <strong>da</strong> Bica, como que movi<strong>da</strong> por uma força sobrenatural, Jacinta <strong>de</strong> São José<br />

<strong>de</strong>senvolveu energias, moral e fisicamente, para realizar, como realizou, a sua obra <strong>de</strong> amor e glória a<br />

Deus. Ela própria aju<strong>da</strong>va a carregar as pedras para a edificação <strong>da</strong> capela <strong>do</strong> Menino Deus, cuja bênção<br />

foi lança<strong>da</strong> pelo ilustre cônego dr. Henrique Moreira <strong>de</strong> Carvalho, sen<strong>do</strong> a primeira missa em 1º <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1744, pelo carmelita frei Manoel Francisco. Privações e santi<strong>da</strong><strong>de</strong>, era a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s reclusas <strong>de</strong><br />

Matacavalos. Um dia, os portões <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Bica abriram-se para <strong>da</strong>r passagem à mais alta autori<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> capitania, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, governa<strong>do</strong>r geral, que foi conhecer <strong>de</strong> perto o viver <strong>da</strong>quelas<br />

criaturas. E, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse dia, Jacinta <strong>de</strong> São José e suas companheiras conquistaram um gran<strong>de</strong> amigo na<br />

pessoa <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r Gomes Freire, cujo braço po<strong>de</strong>roso ergueu-se na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong>s religiosas <strong>da</strong> chácara<br />

<strong>da</strong> Bica.<br />

Tamanha resignação, embora tantos sofrimentos que passaram, levou o governa<strong>do</strong>r a consi<strong>de</strong>rálas<br />

merece<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> sua alta proteção. Gomes Freire <strong>de</strong>terminou a construção <strong>de</strong> uma casa conventual<br />

apropria<strong>da</strong> às ditas religiosas, casa que se construiu no monte <strong>do</strong> Desterro, junto à ermi<strong>da</strong> ali existente,<br />

e que foi aumenta<strong>da</strong> e melhora<strong>da</strong>. A pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> casa conventual foi coloca<strong>da</strong> a 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1750, e, no mesmo dia e mesmo mês <strong>do</strong> ano seguinte, as recolhi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Bica <strong>de</strong>ram entra<strong>da</strong><br />

na nova mora<strong>da</strong>, com direito a clausura e sob a regência <strong>de</strong> sóror Jacinta <strong>de</strong> São José. A propósito <strong>da</strong><br />

fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>ssa casa claustral, diz monsenhor Pizarro e Araújo nas suas Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>: “Como por <strong>de</strong>scui<strong>do</strong> ou engano <strong>de</strong> quem tratou <strong>do</strong> Breve Pontifício, para fun<strong>da</strong>r-se o convento<br />

e estabelecer-se a profissão religiosa, aconteceu <strong>de</strong>clarar-se no Diploma que professariam a Regra <strong>de</strong><br />

Santa Clara, já observa<strong>da</strong>s pelas freiras <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>.”<br />

É certo, porém, que Jacinta <strong>de</strong> São José não <strong>de</strong>sanimou e foi à Europa para cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong> caso – que<br />

foi resolvi<strong>do</strong> favoravelmente. Vitoriosa pois, regressou ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcou, a 17 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1756. Porém, dissenções entre o bispo e Gomes Freire e o falecimento <strong>de</strong>sse governa<strong>do</strong>r, a 1º<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1763, foram causas que influíram, contrarian<strong>do</strong> a realização <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al <strong>da</strong> pie<strong>do</strong>sa <strong>do</strong>nzela –<br />

que faleceu a 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1768, sem ser carmelitana.<br />

Somente, a 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1781, receberam o véu as primeiras freiras professas <strong>de</strong> Santa Teresa


2 6 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. No presbitério <strong>da</strong> igreja <strong>do</strong> convento <strong>de</strong> Santa Teresa, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> túmulo <strong>de</strong> seu<br />

protetor – Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, – teve sepultura Jacinta <strong>de</strong> São José, no século Jacinta Aires,<br />

nasci<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1715.<br />

Chácara <strong>do</strong> Caetano<br />

A chácara <strong>de</strong> Caetano, assim conheci<strong>da</strong> por pertencer a José Caetano <strong>do</strong>s Santos, tinha uma frente<br />

<strong>de</strong> 80 braças ou 176m, rumo <strong>de</strong> lés-sueste e fun<strong>do</strong>s até alcançar uma distancia <strong>de</strong> 300 braças ou 660m,<br />

rumo norte a sul, entre as terras <strong>da</strong>s religiosas <strong>de</strong> Santa Teresa, à direita, e as <strong>do</strong> capitão Cláudio José<br />

Pereira <strong>da</strong> Silva, à esquer<strong>da</strong>. José Caetano <strong>do</strong>s Santos comprou a chácara <strong>de</strong> Antônio Gomes <strong>da</strong> Cunha,<br />

por escritura <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1877, em notas <strong>do</strong> tabelião Domingos Coelho Brandão. O chão <strong>da</strong><br />

chácara pagava setecentos e vinte réis <strong>de</strong> foro ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Antônio Gomes <strong>da</strong> Cunha aparece,<br />

já em maio <strong>de</strong> 1777, nos Registros <strong>de</strong> <strong>Terras</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cessionário <strong>de</strong> José Francisco<br />

<strong>do</strong>s Santos na posse <strong>da</strong> chácara, que havia si<strong>do</strong> <strong>de</strong> Manoel Carvalho Ferreira, e que Santos arrematara<br />

em abril <strong>de</strong> 1777, na praça judicial <strong>de</strong> execução <strong>da</strong> penhora <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong> dito Carvalho Ferreira. Além <strong>da</strong><br />

chácara, com a sua boa casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong>, a penhora compreen<strong>de</strong>u também a nascente <strong>de</strong> superior água<br />

potável, que abastecia a chácara e ao público, canaliza<strong>da</strong> para um chafariz coloca<strong>do</strong> na rua, encosta<strong>do</strong><br />

ao muro que fechava parte <strong>da</strong> frente <strong>da</strong> chácara. O Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara levantou embargos à penhora<br />

quanto à nascente, por ser <strong>do</strong>mínio municipal, e quanto ao funcionamento <strong>do</strong> chafariz, por ser um<br />

benefício público. O Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara ganhou a questão. As terras <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Caetano eram<br />

místicas com as <strong>do</strong> capitão Cláudio José Pereira <strong>da</strong> Silva, terras que, primitivamente, tinham<br />

compreendi<strong>do</strong> um só aforamento em nome <strong>de</strong> Isabel Rodrigues, até o fim <strong>do</strong> século XVII, quan<strong>do</strong><br />

aparece o nome <strong>de</strong> Simão Lomba e a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> motivo <strong>de</strong>sse traspasse. Em 1710, no interesse <strong>da</strong>s<br />

suas ren<strong>da</strong>s, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> também as transformações havi<strong>da</strong>s nas duas chácaras,<br />

dividiu o aforamento em <strong>do</strong>is. As divisas <strong>da</strong>s duas chácaras, embora os limites marca<strong>do</strong>s pela divisão <strong>do</strong><br />

antigo aforamento, continuaram a ser causa, por muitos anos, <strong>de</strong> querelas entre seus proprietários.<br />

Chácara <strong>do</strong> Silva Manoel<br />

A chácara <strong>do</strong> Silva Manoel, adiante <strong>da</strong> bica pública, no caminho <strong>de</strong> Matacavalos, por on<strong>de</strong> corria<br />

uma frente <strong>de</strong> 103 braças ou 226,6m, com fun<strong>do</strong>s até as vertentes. Em tempos antigos, havia pertenci<strong>do</strong><br />

ao tenente-coronel Francisco Viegas <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, homem rico, muito seguro e honra<strong>do</strong> nos seus atos e<br />

negócios, <strong>do</strong> que há provas na <strong>de</strong>núncia que ele próprio <strong>de</strong>u ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong> possuir uma<br />

chácara no caminho <strong>de</strong> Matacavalos, por ele compra<strong>da</strong> como ocupan<strong>do</strong> um chão livre e por não ser real<br />

a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> quem lhe fizera a ven<strong>da</strong>, <strong>de</strong>nunciava a sua posse intrusa, pedin<strong>do</strong> se lhe conce<strong>de</strong>sse a<br />

carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> chácara para a legalização <strong>da</strong> sua posse, que compreendia a sua casa <strong>de</strong><br />

mora<strong>da</strong>. O aforamento foi concedi<strong>do</strong>, em 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1713. Mais tar<strong>de</strong>, pertenceu a chácara a<br />

Vitório Vieira Guimarães, <strong>de</strong> quem foi sucessor João Pinto Rodrigues e, por morte <strong>de</strong>sse proprietário,<br />

passou à sua viúva, Maria Bernardina Pacheco. A dita viúva, bem rica, contraiu segun<strong>do</strong> casamento com<br />

José Pereira <strong>da</strong> Silva, o qual por cabeça <strong>de</strong> casal pediu e obteve <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a carta <strong>de</strong><br />

aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> chácara.<br />

Em morren<strong>do</strong> Pereira <strong>da</strong> Silva e feita a partilha <strong>do</strong>s seus bens entre a viúva e os filhos, a chácara<br />

coube ao filho Cláudio José Pereira <strong>da</strong> Silva. Esse proprietário levantou questão judicial sobre os limites<br />

<strong>da</strong> chácara, embargan<strong>do</strong> a setença <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1780, que fixou os limites <strong>da</strong> chácara confinante <strong>de</strong><br />

José Caetano <strong>do</strong>s Santos. Durante seis anos <strong>de</strong>man<strong>da</strong>ram os <strong>do</strong>is vizinhos, até que, por sentença <strong>de</strong> 11<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1786, ficou confirma<strong>da</strong> a sentença <strong>de</strong> 1780. Somente a 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1810, o capitão<br />

Cláudio José veio tirar a carta <strong>de</strong> aforamento no Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, aceitan<strong>do</strong> os limites <strong>da</strong> sua chácara<br />

ex-vi <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão judicial já cita<strong>da</strong>. Foi sucessor <strong>do</strong> capitão Cláudio, o seu filho sargento-mor Luiz Pereira<br />

<strong>da</strong> Silva Manoel, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong> 1830 e registra<strong>da</strong> no livro 9, fls. 20. Des<strong>de</strong> a posse <strong>do</strong>


C A P Í T U L O X V | 2 6 7<br />

referi<strong>do</strong> sargento-mor ficou a chácara conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong> Silva Manoel e nome <strong>da</strong><strong>do</strong> também à<br />

rua aberta 58 pela chácara, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua frente até os fun<strong>do</strong>s nos canos <strong>da</strong> Carioca. Essa nova via pública<br />

abriu-se, em junho <strong>de</strong> 1831, e foi ti<strong>da</strong> como <strong>de</strong> muita utili<strong>da</strong><strong>de</strong> e logo se projetou levá-la pelas encostas<br />

<strong>do</strong>s morros, até alcançar a rua <strong>da</strong> Pedreira <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária – atual Bento Lisboa.<br />

Chácara <strong>do</strong> Padre Leite<br />

A chácara <strong>do</strong> Padre Leite era outra valiosa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> velho bairro <strong>de</strong> Matacavalos, assente<br />

em chão foreiro ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, ao qual pagava o foro anual <strong>de</strong> mil duzentos e oitenta réis.<br />

Chácara muito bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e plantações <strong>de</strong> árvores frutíferas, foi compra<strong>da</strong> por bom dinheiro <strong>de</strong><br />

conta<strong>do</strong> – dinheiro à vista – ao referi<strong>do</strong> padre Leite, em 1776, pelo rico sargento-mor Luiz Correa <strong>de</strong><br />

Mesquita. Por morte <strong>de</strong>sse militar, a sua filha Luiza Escolástica Botelho her<strong>do</strong>u a chácara, cuja<br />

<strong>de</strong>smembração logo começou a ser feita pela referi<strong>da</strong> senhora. A maior <strong>de</strong>smembração foi adquiri<strong>da</strong>, em<br />

1816, por José Ferreira <strong>do</strong>s Santos, pela quantia <strong>de</strong> três contos <strong>de</strong> réis. As outras constituíram-se<br />

pequenas, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se a <strong>de</strong> José Inácio Aleixo e a <strong>de</strong> Francisco José Fialho, <strong>de</strong> maiores dimensões e<br />

ten<strong>do</strong> casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> nobre. Em gran<strong>de</strong> parte, a rua Monte Alegre corre em terras <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Padre<br />

Leite.<br />

Caminho <strong>de</strong> Matacavalos – 1816/1908<br />

Terreno <strong>de</strong> 200 braças <strong>de</strong> frente pelo caminho <strong>de</strong> Matacavalos e fun<strong>do</strong>s no alto <strong>da</strong> montanha. Foi<br />

esse terreno a maior <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> Padre Leite, vendi<strong>da</strong>, em 1816, por Luisa<br />

Escolástica Botelho, então <strong>do</strong>na <strong>da</strong> chácara, ao rico negociante José Ferreira <strong>do</strong>s Santos, ven<strong>da</strong> que se<br />

fez mediante prévia licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno, que ficou<br />

afora<strong>do</strong> ao compra<strong>do</strong>r Ferreira <strong>do</strong>s Santos, por título <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1816. O terreno foi lotea<strong>do</strong>,<br />

vendi<strong>do</strong>s alguns lotes e, em outros, o dito posseiro Ferreira <strong>do</strong>s Santos construiu casas <strong>de</strong> aluguel e no<br />

maior <strong>do</strong>s lotes levantou boa casa, com magnífica chácara, para sua residência. Essa importante<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> figurou no Rol <strong>da</strong>s Décimas, com o nº 59, por algum tempo. Em falecen<strong>do</strong> Ferreira <strong>do</strong>s<br />

Santos, a chácara passou ao <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> uma sua filha, casa<strong>da</strong> com João Maria Colaço <strong>de</strong> Magalhães,<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, a quem veio a ser compra<strong>da</strong>, em junho <strong>de</strong> 1847, pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco<br />

Ferreira <strong>da</strong>s Neves, com Carta <strong>de</strong> Aforamento, em 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1853. José Ferreira <strong>do</strong>s Santos era<br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r e residiu algum tempo no distrito <strong>de</strong> Iguaçu, em boa casa <strong>de</strong> campo, e aí possuía também<br />

muitas terras e to<strong>da</strong>s cultiva<strong>da</strong>s. O comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Neves, também muito rico com a compra que fez, ten<strong>do</strong><br />

compra<strong>do</strong> a chácara imediata, ain<strong>da</strong> mais rico se tornou, possuin<strong>do</strong> duas boas chácaras, que foram<br />

transforma<strong>da</strong>s em uma só, <strong>de</strong> extensa frente à rua <strong>de</strong> Matacavalos e confinan<strong>do</strong>, à esquer<strong>da</strong>, com a<br />

chácara <strong>de</strong> Paula Matos. A segun<strong>da</strong> chácara compra<strong>da</strong> pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Neves havia pertenci<strong>do</strong> ao casal<br />

Joaquim <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Souto e Francisca Luiza Xavier Souto. A chácara <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco<br />

Ferreira <strong>da</strong>s Neves e a <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Paula Matos foram as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais importantes <strong>de</strong><br />

Matacavalos. A <strong>de</strong> Paula Matos começou a ser <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>, em 1845, e a <strong>do</strong> Neves, em 1853, com a<br />

abertura <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros para servidão pública, em uma área <strong>de</strong> 1.800 braças quadra<strong>da</strong>s, logra<strong>do</strong>uros que<br />

foram aceitos pela Ilustríssima Câmara, a 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1854, e são os seguintes: <strong>do</strong>na Josefa – rua <strong>de</strong><br />

55 palmos <strong>de</strong> largura e 60 braças <strong>de</strong> compri<strong>da</strong>, corren<strong>do</strong> rumo <strong>de</strong> sueste; <strong>do</strong>na Francisca – rua <strong>de</strong> 50<br />

palmos <strong>de</strong> larga e 92 braças <strong>de</strong> compri<strong>da</strong>, corren<strong>do</strong> em uma parte rumo <strong>de</strong> su<strong>do</strong>este e na outra o <strong>de</strong><br />

sueste; Dona Maria – rua <strong>de</strong> 50 palmos <strong>de</strong> largura e 80 braças <strong>de</strong> compri<strong>da</strong>, no rumo <strong>de</strong> su<strong>do</strong>este; Neves<br />

– rua <strong>de</strong> 50 palmos <strong>de</strong> largura e 77 braças <strong>de</strong> comprimento, no rumo <strong>de</strong> sueste; Neves – travessa <strong>de</strong> 50<br />

palmos <strong>de</strong> larga e 40 braças <strong>de</strong> compri<strong>da</strong> e mais um largo que se chamou <strong>do</strong> Neves. A rua Dona Josefa<br />

foi, <strong>de</strong> fato, um prolongamento <strong>da</strong> rua Paula Matos e a essa veio a [ser] incorpora<strong>da</strong>. O prolongamento<br />

referi<strong>do</strong>, na sua extensão <strong>de</strong> 60 braças – ou 132m, correspon<strong>de</strong> justamente às 60 braças que a Ilustríssima<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u a Francisco <strong>de</strong> Paula Matos, para completar as 200 braças <strong>do</strong> seu aforamento na


Prolongamento <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> Paula Matos pela chácara <strong>do</strong> Neves, 1854.


testa<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> Matacavalos – hoje Riachuelo. É certo que os limites entre as chácaras <strong>do</strong> Neves e <strong>de</strong><br />

Paula Matos nunca foram fixa<strong>do</strong>s, haven<strong>do</strong> dúvi<strong>da</strong>s em alguns pontos, crian<strong>do</strong>-se assim matéria <strong>de</strong><br />

controvérsia em muitos casos <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> e compra <strong>de</strong> imóveis, nos limites <strong>da</strong>s ditas chácaras.<br />

Entretanto, vencen<strong>do</strong>, aliás, os gran<strong>de</strong>s empecilhos que nos foram cria<strong>do</strong>s, conseguimos <strong>de</strong>itar<br />

vistas em plantas, escrituras e outros papéis, e assim abrir um caminho pelo qual chegamos à conclusão<br />

<strong>de</strong> que na rua Paula Matos, o prédio 28 – nº primitivo, antigo 46 e mo<strong>de</strong>rno 158 – marca o ponto final<br />

<strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Paula Matos. Ain<strong>da</strong> mais que o prédio 28A, no começo <strong>da</strong> rua Dona Josefa<br />

– ou prolongamento <strong>da</strong> Paula Matos, está assente em terreno que foi possuí<strong>do</strong> pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Neves,<br />

por ele vendi<strong>do</strong> a Francisco <strong>de</strong> Assis Chagas Carneiro, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> mesmo terreno, em<br />

10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1856. O prédio 28A passou a 48 e, ultimamente, a 162. Indiscutivelmente, na rua <strong>do</strong><br />

Riachuelo, o prédio 67A, nº antigo, marca o extremo <strong>da</strong> testa<strong>da</strong> <strong>do</strong> aforamento <strong>de</strong> Paula Matos, nessa<br />

dita rua <strong>do</strong> Riachuelo.<br />

Esse prédio passou a ter o nº 175 e, mo<strong>de</strong>rnamente, recebeu o nº 133. Pertenceu a Francisco José<br />

Gonçalves, com carta <strong>de</strong> aforamento em 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1852. Gonçalves era também proprietário <strong>do</strong><br />

prédio 67 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Riachuelo, por compra a her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> José Ferreira Santos. O prédio 67 passou a<br />

331.<br />

Caminho <strong>de</strong> Matacavalos – 1817/1844<br />

Terreno <strong>de</strong> 10.5 braças <strong>de</strong> frente, afora<strong>do</strong> em 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1844, a José Ferreira <strong>do</strong>s Santos. Uma<br />

<strong>da</strong>s muitas <strong>de</strong>smembrações <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Luiza Escolástica Botelho, esse terreno foi possuí<strong>do</strong> por<br />

Francisca Rosa Benedita, que o beneficiou com casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> e pomar e o transferiu, também as<br />

benfeitorias, por ven<strong>da</strong>, a Paulo <strong>da</strong> Silva Santos, com licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1817. Em morren<strong>do</strong> Paulo <strong>da</strong> Silva, o terreno e benfeitorias passaram à sua viúva, Maria <strong>da</strong> Conceição<br />

<strong>da</strong> vila Real. Na partilha <strong>do</strong>s bens <strong>da</strong> dita senhora, o terreno e as benfeitorias couberam a José Car<strong>do</strong>so<br />

e à sua mulher Maria Dias. A esse casal foram compra<strong>da</strong>s por José Ferreira <strong>do</strong>s Santos, em 1º <strong>de</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1820, pela quantia <strong>de</strong> <strong>do</strong>is contos e quatrocentos mil réis. Somente em 1843, cui<strong>do</strong>u Ferreira <strong>do</strong>s<br />

Santos <strong>do</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, concedi<strong>do</strong> por carta <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1844.<br />

Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Matacavalos – 1818/1845<br />

C A P Í T U L O X V | 2 6 9<br />

Terreno <strong>de</strong> 19 braças <strong>de</strong> frente por 80 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> guar<strong>da</strong>-mor <strong>da</strong>s<br />

Minas Gerais – Pedro Dias Paes Leme – na parte que pertenceu à sua filha Beral<strong>da</strong> Vitória <strong>da</strong> Horta<br />

Forjaz Paes Leme Pereira. Esse terreno foi vendi<strong>do</strong>, por bom dinheiro <strong>de</strong> conta<strong>do</strong>, pela referi<strong>da</strong> senhora,<br />

a 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1818, ao riquíssimo negociante Antônio Cunha. Na parte mais enxuta <strong>do</strong> terreno,<br />

Antônio Cunha construiu uma gran<strong>de</strong> casa assobra<strong>da</strong><strong>da</strong> e na outra, coberta <strong>de</strong> capim vendável e ten<strong>do</strong><br />

palmeiras, plantou boa chácara que foi bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong> até a sua morte. Em 1829, já havia faleci<strong>do</strong> Antônio<br />

Cunha, que sempre residiu na sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> então rua Matacavalos, nº 84, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que, por<br />

verba testamentária, coube, em partes iguais, a Maria Tomásia <strong>da</strong> Cunha, filha <strong>do</strong> testa<strong>do</strong>r – o já referi<strong>do</strong><br />

Antônio Cunha – e a um indivíduo <strong>de</strong> nome José Antônio Alves Viana. Quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> partilha <strong>do</strong>s bens<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s por seu pai, Maria Tomásia fez, em juízo, cessão <strong>de</strong> direitos sobre o que lhe coube <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s<br />

casa e chácara a Antônio Luiz Fernan<strong>de</strong>s Pinto, e que por ele, cessionário, foi logo vendi<strong>da</strong> a João<br />

Goulart, pela quantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis.<br />

Por sua vez, Alves Viana, para liqui<strong>da</strong>r dívi<strong>da</strong>s, ven<strong>de</strong>u a sua parte a João José Cezarino <strong>da</strong> Rosa,<br />

na forma <strong>do</strong> disposto pela escritura <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1831, passa<strong>da</strong> em notas <strong>do</strong> tabelião Manoel <strong>de</strong><br />

Lares Pinto, <strong>da</strong> vila Real <strong>da</strong> praia Gran<strong>de</strong> – atual ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Niterói.<br />

Exaustivas, por vezes infrutíferas e cheias <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, foram as buscas a que nos entregamos<br />

em relação a estas notas. Mas, resigna<strong>do</strong>s e pacientemente vencen<strong>do</strong> obstáculos e a má vonta<strong>de</strong>,<br />

conseguimos, ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong>scobrir a escritura <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1833, <strong>do</strong> notário João Caetano <strong>de</strong>


2 7 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Oliveira, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, sobre a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> casa e chácara <strong>da</strong> rua Matacavalos, nº 84, por<br />

Cesarino Rosa ao capitão <strong>da</strong> Marinha Portuguesa – Joaquim Ferreira, representa<strong>do</strong> na Corte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> pelo seu procura<strong>do</strong>r – o negociante João Fre<strong>de</strong>rico Möller. Ain<strong>da</strong> conseguimos <strong>de</strong>scobrir que,<br />

em 1845, to<strong>da</strong> a casa e to<strong>da</strong> a chácara <strong>da</strong> rua Matacavalos, 84, pertenciam a João Luiz <strong>do</strong> Livramento,<br />

por compra e pela quantia <strong>de</strong> vinte contos <strong>de</strong> réis.<br />

Rua Matacavalos – 1819/1912<br />

Terreno <strong>de</strong> 40 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pelo beco <strong>da</strong> Caçua<strong>da</strong> até<br />

a encosta <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Pedro Dias – <strong>de</strong>pois dito <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, já arrasa<strong>do</strong>. Foi <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Guar<strong>da</strong>-mor e, em 1819, aparece afora<strong>do</strong> ao capitão Antônio José <strong>de</strong> Afonso Lima, a quem o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, em vereança <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1820, conce<strong>de</strong>u a licença para <strong>de</strong>smembrar o dito terreno. Uma<br />

<strong>da</strong>s <strong>de</strong>smembrações com frente <strong>de</strong> 24 braças pela rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> 10 ditas, foi adquiri<strong>da</strong> por<br />

Manoel <strong>da</strong> Costa <strong>da</strong> Queiroga, que era taberneiro e rico. Ele construiu no terreno um grupo <strong>de</strong> casas<br />

térreas e duas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> <strong>de</strong> feição nobre, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> ao rico tabaqueiro Bento José <strong>de</strong><br />

Carvalho, o qual pediu o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong>s casas que comprara, pedi<strong>do</strong> esse atendi<strong>do</strong> por<br />

Despacho <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1844. Bento José tinha a sua fábrica <strong>de</strong> tabaco à rua Matacavalos, 214. É<br />

certo, ain<strong>da</strong>, que o capitão Afonso Lima fez promessas <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> outras <strong>de</strong>smembrações, não<br />

realiza<strong>da</strong>s porém, e que reservou sob o seu <strong>do</strong>mínio, cerca <strong>de</strong> 27 braças <strong>de</strong> frente, pela rua Matacavalos,<br />

por 12 ditas, pela travessa <strong>da</strong> Caçua<strong>da</strong> e ai construiu 14 casas térreas. A travessa <strong>da</strong> Caçua<strong>da</strong>, antigo beco<br />

<strong>do</strong> mesmo nome, chamou-se, também, travessa <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e, atualmente, rua Vinte <strong>de</strong> Abril, lembran<strong>do</strong><br />

a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> nascimento <strong>do</strong> barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, ocorri<strong>do</strong> nesse antigo logra<strong>do</strong>uro em uma casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>,<br />

então nº 8, * aos 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1845. A casa era, ao tempo <strong>do</strong> nascimento, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lima Figueire<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Faria, e nela residia o pai <strong>do</strong> barão – o tenente <strong>de</strong> engenheiros, José Maria <strong>da</strong> Silva Paranhos, mais<br />

tar<strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, e um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s estadistas <strong>do</strong> Brasil. 59 Do viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco diz<br />

Max Fleuiss: “seu nome pertence ao número <strong>do</strong>s que jamais se apagarão <strong>da</strong> nossa História.”<br />

Rua Matacavalos – 1820/1950<br />

Terreno <strong>de</strong> 2 braças <strong>de</strong> frente por 11 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com uma pequena casa <strong>de</strong> porta e janela,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência, em 1820, <strong>de</strong> Generosa Ricardina <strong>de</strong> Bonsucesso, a quem foi compra<strong>da</strong> por<br />

Joana Luiza <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, em agosto <strong>de</strong> 1837, pela quantia <strong>de</strong> um conto e cem mil réis, dinheiro <strong>de</strong><br />

conta<strong>do</strong> – dinheiro à vista. Joana Luiza ven<strong>de</strong>u a casa a Francisco Joaquim <strong>de</strong> Morais, no começo <strong>de</strong><br />

1843 e, a 15 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1843, ele obteve a Carta <strong>de</strong> Aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa<br />

que comprara. Em 1850, a casa conservava a mesma feição colonial e o mesmo nº 190.<br />

Rua Matacavalos – 1830/1883<br />

Terreno <strong>de</strong> 28.5 braças <strong>de</strong> frente, por 30 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e compra<strong>do</strong> pelo conselheiro José Caetano<br />

Gomes a Luiza Escolástica Botelho, em 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1830. O conselheiro José Caetano beneficiou<br />

o terreno, construin<strong>do</strong> boa casa com chácara, on<strong>de</strong> residiu. Essa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> figurou com o nº 53 até o<br />

ano <strong>de</strong> 1883 e, extinto o casal <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> conselheiro, veio a pertencer a uma filha <strong>do</strong> titular, casa<strong>da</strong> com<br />

Manoel Luiz Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, e ao cônego Pedro Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Gouvêa, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iro <strong>da</strong> segun<strong>da</strong><br />

esposa <strong>do</strong> conselheiro. A partilha foi feita em partes iguais. Em 1838, a 17 <strong>de</strong> outubro, a Ilustríssima<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u a licença para a ven<strong>da</strong>, por cinco contos <strong>de</strong> réis, <strong>da</strong> parte que coube à filha, sen<strong>do</strong><br />

compra<strong>do</strong>r José Pereira <strong>da</strong> Fonseca, que logo a transferiu, por ven<strong>da</strong>, a Manoel Gomes Ferreira, o qual<br />

comprou também a parte <strong>do</strong> cônego Gouvêa. Em 1854, Gomes Ferreira ven<strong>de</strong>u a casa e chácara <strong>da</strong> rua<br />

* Hoje o prédio abriga a Escola <strong>de</strong> Teatro Martins Pena. (N.E.)


C A P Í T U L O X V | 2 7 1<br />

Matacavalos, nº 53, por vinte contos <strong>de</strong> réis, ao negociante Henrique Jacob Neuman, com Carta <strong>de</strong><br />

Aforamento <strong>do</strong> terreno, em 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1857. Neuman <strong>de</strong>smembrou a chácara, à direita e à<br />

esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa, e construiu, na parte <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>, um prédio resi<strong>de</strong>ncial, que recebeu o nº 53A, que<br />

foi vendi<strong>do</strong>, juntamente com o prédio 53, por <strong>de</strong>zessete contos e duzentos e cinqüenta mil réis, em 1871,<br />

a José Antônio Soares <strong>de</strong> Souza, com carta <strong>de</strong> aforamento, em 1872. A <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> direita, um<br />

terreno <strong>de</strong> 15 braças <strong>de</strong> frente por 30 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, entre os prédios 51 e 53, Neuman ven<strong>de</strong>u por <strong>do</strong>ze<br />

contos setecentos e cinqüenta mil réis ao barão <strong>de</strong> Maroim. Em 1873, o barão ven<strong>de</strong>u essa<br />

<strong>de</strong>smembração, por quinze contos <strong>de</strong> réis, a José Antônio Soares <strong>de</strong> Souza que, logo <strong>de</strong>pois, ven<strong>de</strong>u 10<br />

braças a Vicente Ribeiro <strong>de</strong> Freitas, pela quantia <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze contos e quinhentos mil réis e também ven<strong>de</strong>u<br />

os prédios 53 e 53A, em 1883, por trinta contos <strong>de</strong> réis, ao major Camerino Fagun<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Castro e<br />

Menezes.<br />

Rua Matacavalos – 1836/1844<br />

Terreno <strong>de</strong> 14 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela rua <strong>do</strong> Lavradio, on<strong>de</strong><br />

fazia outra frente <strong>de</strong> 7 braças. Em 1836, ocupavam esse terreno cinco casas térreas, com frentes à rua<br />

Matacavalos, on<strong>de</strong> tinham os nºs 28 a 36, e mais uma <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> e aparência nobre, no canto com a rua<br />

<strong>do</strong> Lavradio, por on<strong>de</strong> tinha a sua entra<strong>da</strong>, e figurava com o nº 121. To<strong>do</strong>s esses prédios pertenciam a<br />

José Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oliveira, a quem foram compra<strong>do</strong>s, com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, por <strong>do</strong>m<br />

Antônio <strong>de</strong> Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1844.<br />

Rua Matacavalos – 1839/1843<br />

Terreno <strong>de</strong> 47 braças <strong>de</strong> frente, constituin<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Silva Manoel.<br />

Luiz Joaquim Moreira comprou esse terreno em fevereiro <strong>de</strong> 1839, por onze contos <strong>de</strong> réis, a Luiz<br />

Pereira <strong>da</strong> Silva Manoel, <strong>do</strong>no <strong>da</strong> dita chácara. O terreno confinava, à esquer<strong>da</strong>, com a casa 43, <strong>da</strong> rua<br />

Matacavalos. A dita casa pertenceu a José Maria Cavagna Quaresma e a uma sua irmã, e foi vendi<strong>da</strong> por<br />

eles, em agosto <strong>de</strong> 1843, pela quantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis, a Manoel <strong>do</strong>s Santos Cornélio. Cavagna<br />

Quaresma, homem íntegro, político <strong>de</strong> influência, foi fiscal <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara – cargo, aliás, <strong>de</strong> alta<br />

categoria e bastante importância política.<br />

Rua Matacavalos – 1840/1849<br />

Terreno <strong>de</strong> 19 braças e 4 palmos <strong>de</strong> frente, pela rua Matacavalos, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 24 braças e<br />

1 palmo pela rua <strong>do</strong> con<strong>de</strong>, constituin<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> antiga e extensa chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor<br />

<strong>da</strong>s Minas Gerais – Pedro Dias Paes Leme. 60 A testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente <strong>de</strong>ssa chácara correspon<strong>de</strong>, hoje, a to<strong>da</strong><br />

extensão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Riachuelo. O terreno está na parte <strong>da</strong> chácara que, por morte <strong>do</strong><br />

guar<strong>da</strong>-mor, pertenceu à sua filha Beral<strong>da</strong> Vitória <strong>da</strong> Horta Forjaz Paes Leme Pereira. Ocupava o terreno<br />

uma gran<strong>de</strong> e sóli<strong>da</strong> casa <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, com entra<strong>da</strong> pela rua Matacavalos, 284. Em morren<strong>do</strong> a referi<strong>da</strong><br />

senhora, a casa passou a pertencer, em partes iguais, a Garcia José <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Paes Leme e a Maria<br />

Luiza Paes Leme. A penhora que sofreu Garcia José pelos representantes – como está dito no <strong>do</strong>cumento<br />

examina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Abílio <strong>do</strong>s Santos Pereira, já faleci<strong>do</strong>, <strong>de</strong>terminou a praça <strong>da</strong> execução <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1840, na qual a dita casa foi posta em arrematação, e to<strong>da</strong> ela, como o quis a co-proprietária Maria<br />

Luiza. Foi arremata<strong>da</strong> por Antônio Fernan<strong>de</strong>s Ribeiro Forbes. Somente em 1846, pelos embargos<br />

opostos à referi<strong>da</strong> praça, pô<strong>de</strong> o arrematante ter a posse mansa e pacífica <strong>da</strong> casa. Por Despacho <strong>de</strong> 17<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1849, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u a Forbes o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa que ele<br />

arrematara.


2 7 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua Matacavalos – 1843/1845<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 30 braças pela rua Nova<br />

<strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – atual Frei Caneca. O terreno era um <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Paula<br />

Matos, por ele vendi<strong>do</strong> a Joana Serrilha Lolastra, em 1845, pelo preço <strong>de</strong> duzentos mil réis a braça. A<br />

Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u a licença para essa ven<strong>da</strong>. No perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1843 a 1845, a Ilustríssima<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u várias licenças para a ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> terrenos <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Paula Matos,<br />

na parte reconheci<strong>da</strong> foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e estipulou o foro <strong>de</strong> sete mil réis anuais.<br />

Rua Matacavalos – 1843/1853<br />

Terreno <strong>de</strong> 55 braças – 121m – <strong>de</strong> frente por 35 ditas – 77m – <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, vendi<strong>do</strong> em junho <strong>de</strong><br />

1853, com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 11 <strong>do</strong>s ditos mês e ano, pela quantia <strong>de</strong> onze contos <strong>de</strong><br />

réis. Foi ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra Luiza Escolática Botelho, que era posseira <strong>do</strong> terreno e que estava beneficia<strong>do</strong> por<br />

duas chácaras, ocupan<strong>do</strong> uma 44 braças <strong>do</strong> terreno com casa nobre, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>de</strong> Águi<strong>da</strong><br />

Brotero, a compra<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> terreno. A outra chácara ocupava 11 braças e tinha uma casa <strong>de</strong> campo,<br />

também proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Águi<strong>da</strong> Brotero, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrematação que fizera, a 30 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1843,<br />

na praça <strong>de</strong> execução movi<strong>da</strong> contra Francisco Luiz <strong>da</strong> Costa Guimarães, pelo capitão João Rodrigues<br />

Alves <strong>da</strong> Silva.<br />

Rua Matacavalos – 1845<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente por 30 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Paula Matos,<br />

vendi<strong>do</strong> a Manoel Pereira <strong>de</strong> Souza Barros, em 1845, à razão <strong>de</strong> duzentos mil réis a braça. Ficava entre<br />

o terreno <strong>de</strong> Manoel Ferreira Gomes e o <strong>de</strong> Joana Serrilha Lolastra, fazen<strong>do</strong> o terreno <strong>de</strong> Joana canto<br />

com a então rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> – agora Frei Caneca. No seu terreno, Ferreira Gomes, que era<br />

construtor, levantou um bom prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> para servir, como serviu, <strong>de</strong> sua residência.<br />

Rua Matacavalos – 1845<br />

Terreno <strong>de</strong> 5 braças e 2 palmos <strong>de</strong> frente na rua Matacavalos, por 29 braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com uma<br />

boa casa térrea resi<strong>de</strong>ncial e afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua 5 braças. O terreno ficava entre a chácara <strong>de</strong> Antônio<br />

Fernan<strong>de</strong>s Vaz e a casa térrea, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>de</strong> Flora Joaquina <strong>de</strong> Jesus e aparece afora<strong>do</strong>,<br />

em 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1845, a Militino José <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, que era o proprietário <strong>da</strong> casa térrea existente no<br />

mesmo terreno.<br />

Rua Matacavalos – 1845/1847<br />

Terreno <strong>de</strong> 13.5 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, ocupa<strong>do</strong> pelas casas térreas 176A e 178,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Domingos José Vieira Guimarães, o qual as comprara a José Cândi<strong>do</strong> Pereira Salga<strong>do</strong>.<br />

Primitivamente, essas casas tinham pertenci<strong>do</strong> a Feliciano José <strong>de</strong> Melo, cujos her<strong>de</strong>iros foram<br />

executa<strong>do</strong>s pela Fazen<strong>da</strong> Nacional, sen<strong>do</strong> os ditos imóveis leva<strong>do</strong>s à praça, em 1845, e arremata<strong>do</strong>s por<br />

Pereira Salga<strong>do</strong>, que os ven<strong>de</strong>u em 1847.


Rua Matacavalos – 1845/1859<br />

C A P Í T U L O X V | 2 7 3<br />

Terreno <strong>de</strong> 18 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos e fun<strong>do</strong>s no morro <strong>da</strong> Lagoinha, atual Paula<br />

Matos. Foi compra<strong>do</strong> por um conto e seiscentos mil réis a Francisco <strong>de</strong> Paula Matos pelo briga<strong>de</strong>iro<br />

Francisco <strong>de</strong> Paula Vasconcelos, a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento em 18 <strong>de</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1845. No terreno, o compra<strong>do</strong>r construiu uma boa casa para a sua residência. Ain<strong>da</strong> em 1856, esse<br />

prédio conservava o nº 67, <strong>da</strong> rua Matacavalos. Por morte <strong>do</strong> briga<strong>de</strong>iro Vasconcelos, ocorri<strong>da</strong> a 10 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1859, o prédio passou aos seus her<strong>de</strong>iros. O briga<strong>de</strong>iro Francisco <strong>de</strong> Paula Vasconcelos, que era<br />

irmão <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> patriota Miguel <strong>de</strong> Frias, faleceu, no posto <strong>de</strong> marechal reforma<strong>do</strong>, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

on<strong>de</strong> nasceu a 7 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1787. Foi militar <strong>de</strong> valor, com várias con<strong>de</strong>corações e fez parte <strong>do</strong><br />

Conselho <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Rua Matacavalos – 1845/1868<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong><br />

Paula Matos e vendi<strong>do</strong>, em agosto <strong>de</strong> 1845, a José Ferreira <strong>da</strong> Rocha Araújo, por um conto duzentos mil<br />

réis. O terreno ficou baldio e ao aban<strong>do</strong>no, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> vendi<strong>do</strong> pela viúva <strong>de</strong> Rocha Araújo, Senhorinha<br />

<strong>de</strong> Morais Rocha, em junho <strong>de</strong> 1851, por um conto oitocentos mil réis, a Francisco Lopes <strong>da</strong> Cunha e à<br />

sua mulher, Ana Rosa <strong>de</strong> Jesus Cunha. Ain<strong>da</strong> em aban<strong>do</strong>no, o terreno veio a ser compra<strong>do</strong>, em abril <strong>de</strong><br />

1854, por José Bernar<strong>de</strong>s Brandão, a Fernan<strong>do</strong> Antônio Pereira <strong>do</strong> Lago, genro e her<strong>de</strong>iro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong><br />

casal Cunha. Na licença para essa última ven<strong>da</strong>, expedi<strong>da</strong> a 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1854, a Ilustríssima Câmara<br />

estipulou o foro <strong>de</strong> sete mil réis anuais para o terreno, com a obrigação <strong>de</strong> requerer o compra<strong>do</strong>r o<br />

aforamento <strong>do</strong> terreno, no prazo <strong>de</strong> trinta dias, na forma <strong>da</strong> lei em vigor.<br />

Mas Brandão não cumpriu a disposição <strong>da</strong> lei senão quan<strong>do</strong> os seus interesses o exigiram. Essa<br />

inobservância, aliás, era comum, pelo <strong>de</strong>scaso <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, acarretan<strong>do</strong>, assim, ela própria, a<br />

ruína <strong>do</strong> seu patrimônio territorial. Somente em 1859, aparece o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> José Bernar<strong>de</strong>s Brandão, à<br />

Ilustríssima Câmara, para a legalização <strong>da</strong> posse <strong>do</strong> terreno, no qual já existiam duas casas térreas <strong>de</strong> nºs<br />

67N1 e 67N2 e <strong>da</strong>s quais ele, Brandão, era o proprietário. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1859, a<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno em questão. Bernar<strong>de</strong>s Brandão possuía, ain<strong>da</strong>, mais <strong>do</strong>is<br />

prédios na rua Matacavalos, os <strong>de</strong> nºs 67M e 67M1 e, também, em seguimento a esses prédios, um<br />

terreno <strong>de</strong> 65 palmos <strong>de</strong> frente, com fun<strong>do</strong>s na rua <strong>de</strong> Paula Matos, on<strong>de</strong> media 66 palmos <strong>de</strong> testa<strong>da</strong>.<br />

Os prédios 67M e 67M1 foram transforma<strong>do</strong>s em um só com cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara, adquiri<strong>da</strong> por <strong>do</strong>ze contos<br />

<strong>de</strong> réis, em maio <strong>de</strong> 1865, pelo briga<strong>de</strong>iro Zeferino Pimentel Moreira Freire, fican<strong>do</strong> o novo prédio com<br />

o nº 67M. Em 1868, aparece o terreno <strong>da</strong> então rua <strong>do</strong> Riachuelo nº 67M – antiga Matacavalos – afora<strong>do</strong><br />

a Úrsula Fortunata <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> Moreira Freire, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> viúva e sucessora <strong>do</strong> briga<strong>de</strong>iro Zeferino<br />

Pimentel Moreira Freire.<br />

Rua Matacavalos – 1845/1870<br />

Terreno <strong>de</strong> 8 braças <strong>de</strong> frente por 38 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, compra<strong>do</strong>, em maio <strong>de</strong> 1845, a Francisco <strong>de</strong><br />

Paula Matos, pela quantia <strong>de</strong> um conto seiscentos mil réis, por Francisco Manoel Chaves. Em<br />

seguimento a esse terreno que comprara, Manoel Chaves, em 1846, comprou mais 2 braças, e no to<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 10 braças construiu uma boa casa assobra<strong>da</strong><strong>da</strong>, com janelas <strong>de</strong> peitoril, à frente <strong>da</strong> rua Matacavalos.<br />

Essa casa veio a ser vendi<strong>da</strong>, em 1853, por quatorze contos <strong>de</strong> réis, a Leocádia Gonçalves <strong>de</strong> Lima.<br />

Segun<strong>do</strong> reza a escritura, Leocádia adquiriu a casa para seu filho menor, Rodrigo José Gonçalves. Teve<br />

o prédio nº 67A, ain<strong>da</strong> conserva<strong>do</strong> em 1870, e, nesse ano, encontramos o filho <strong>de</strong> Leocádia Gonçalves<br />

<strong>de</strong> Lima bem rico e proprietário <strong>de</strong> mais quatro prédios na então rua <strong>do</strong> Riachuelo, os <strong>de</strong> nºs 234 a 240.


2 7 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua Matacavalos – 1847<br />

Terreno <strong>de</strong> 30 palmos <strong>de</strong> frente por 200 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, ou sejam, 3 braças <strong>de</strong> frente por 20 ditas<br />

<strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e, mo<strong>de</strong>rnamente, 6m e 0,60 para a testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente e 44m para a extensão <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s.<br />

Nesse terreno existia uma sóli<strong>da</strong> casa resi<strong>de</strong>ncial, nº 46, <strong>da</strong> rua Matacavalos, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Pedro<br />

<strong>da</strong> Mota Sayão, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>de</strong> seus pais – Pedro Antônio Vieira Mota Sayão e Maria Justina<br />

<strong>de</strong> Velasco Molina Sayão, que foram bem ricos. Possuía esse casal boas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s no distrito urbano<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, entre as quais conseguimos i<strong>de</strong>ntificar a casa já cita<strong>da</strong>, o prédio 17, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>,<br />

e as casas 3, 5 e 7, <strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Sé. To<strong>do</strong>s esses imóveis passaram ao referi<strong>do</strong> filho <strong>do</strong> casal. Em <strong>da</strong>ta <strong>de</strong><br />

9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1847, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa 46, <strong>da</strong> rua<br />

Matacavalos, ao precita<strong>do</strong> José Pedro <strong>da</strong> Mota Sayão.<br />

Rua Matacavalos – 1847/1848<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças e 8 palmos pela rua Matacavalos, canto <strong>da</strong> <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, por on<strong>de</strong> corriam os<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> terreno, numa extensão <strong>de</strong> 28.5 braças. Era ocupa<strong>do</strong> por boa casa resi<strong>de</strong>ncial, com cui<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

chácara, nº 138 <strong>da</strong> rua Matacavalos, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Helena Tomásia Rosa até 1847, quan<strong>do</strong> passou ao<br />

seu her<strong>de</strong>iro, Henrique José Borges. Borges faleceu pouco <strong>de</strong>pois e a casa referi<strong>da</strong> aparece na praça, a 3<br />

<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1847, sen<strong>do</strong> arremata<strong>da</strong> por Francisco Antônio <strong>da</strong> Costa Bastos, homem rico, <strong>de</strong> iniciativas<br />

úteis e gran<strong>de</strong> proprietário no bairro <strong>de</strong> Matacavalos.<br />

Rua Matacavalos – 1847/1869<br />

Terreno <strong>de</strong> 19 braças <strong>de</strong> frente por 18 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, ocupa<strong>do</strong> pelas casas 61 e 63 <strong>da</strong> rua<br />

Matacavalos, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Manoel Antônio Bellen<strong>da</strong>, por compra feita aos her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r<br />

José Ferreira <strong>do</strong>s Santos. Foi o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Santos quem man<strong>do</strong>u construir as duas cita<strong>da</strong>s casas,<br />

reforma<strong>da</strong>s em 1851, por Bellen<strong>da</strong>. Essa reforma se fez para obe<strong>de</strong>cer a um novo plano <strong>de</strong> alinhamento,<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> para o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua Matacavalos. Para esse fim, os proprietários foram investi<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> terreno necessário à execução <strong>do</strong> novo plano. Nessa ocasião, modificou-se bastante o primitivo<br />

aspecto que ain<strong>da</strong> guar<strong>da</strong>vam as casas <strong>da</strong> rua Matacavalos, sen<strong>do</strong> que algumas foram totalmente<br />

<strong>de</strong>moli<strong>da</strong>s, para permitir novas e vistosas construções. Bellen<strong>da</strong> construiu, entre as <strong>de</strong> números 61 e 63,<br />

uma mo<strong>de</strong>rna casa, que recebeu o nº 61B. Em 1859, essas três casas foram à praça e arremata<strong>da</strong>s, por<br />

Antônio José Gomes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Araújo a <strong>de</strong> nº 61; a <strong>de</strong> nº 61B, por Manoel Gomes <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>; e a <strong>de</strong> nº<br />

63, por Agostinho José <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>. Mas, anula<strong>da</strong> judicialmente a praça <strong>da</strong> casa 63, outra se fez, em<br />

1859, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> arremata<strong>da</strong> pela quantia <strong>de</strong> três contos cento e sessenta mil réis, por Rozen<strong>do</strong> Garcia<br />

que era o posseiro <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa, já vendi<strong>da</strong>, em 1869, a João <strong>de</strong> Barros Lima.<br />

Rua Matacavalos – 1848/1855<br />

Terreno <strong>de</strong> 5 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos por 11 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Em 1848, foi concedi<strong>da</strong><br />

a arruação para esse terreno, a fim <strong>de</strong> que se executassem obras novas na <strong>de</strong> nº 108. Essa casa pertenceu<br />

a Joaquim José <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, até 1855, quan<strong>do</strong> foi compra<strong>da</strong>, por <strong>do</strong>ze contos <strong>de</strong> réis, pelo barão <strong>de</strong><br />

Cairu, notável brasileiro, que residiu na dita casa.


Rua Matacavalos – 1853/1865<br />

C A P Í T U L O X V | 2 7 5<br />

Terreno <strong>de</strong> 11 braças <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Neves,<br />

pertencente ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco Ferreira <strong>da</strong>s Neves. Com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, senhorio<br />

direto <strong>do</strong> chão <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> chácara, foi o terreno compra<strong>do</strong> por Tomás Xavier Ferreira <strong>de</strong> Menezes,<br />

segun<strong>do</strong> as disposições <strong>da</strong> mesma Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1853. A 22 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1853, havia si<strong>do</strong> <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> o terreno pelo técnico arrua<strong>do</strong>r municipal – Sebastião José<br />

<strong>de</strong> Oliveira – e nessa <strong>de</strong>marcação consi<strong>de</strong>rou-se testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente a face <strong>do</strong> terreno na nova praça Santo<br />

Alfre<strong>do</strong>, que estava sen<strong>do</strong> aberta com outros logra<strong>do</strong>uros pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Neves, pela sua chácara.<br />

Tomás Xavier, no terreno que comprou, construiu uma casa e junto a essa havia uma casa que ele,<br />

Tomás, comprou. Veio, também, a comprar um terreno em seguimento à casa nova, <strong>de</strong> 24 braças <strong>de</strong><br />

frente e no qual construiu. A casa que comprou tinha o nº 57, e as que construiu os nºs 57A e 57B e foram<br />

vendi<strong>da</strong>s por sessenta e cinco contos <strong>de</strong> réis, em 1861, ao banqueiro Antônio José Alves <strong>de</strong> Souto, sócio<br />

chefe <strong>da</strong> Casa Bancária Alves Souto. Em 1865, já fali<strong>da</strong> a dita Casa Bancária, as casas 57 e 57A foram<br />

vendi<strong>da</strong>s por <strong>do</strong>ze contos quatrocentos e cinqüenta mil réis, sen<strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r José <strong>da</strong> Costa Ferreira.<br />

Rua Matacavalos – 1855/1856<br />

Terreno <strong>de</strong> 28 braças <strong>de</strong> frente, ocupa<strong>do</strong> por duas casas com chácara, à rua Matacavalos, nºs 47 e<br />

49, que pertenceram a Francisco José Fialho, por compra a Luiza Escolástica Botellho, em novembro <strong>de</strong><br />

1855, pela quantia <strong>de</strong> quarenta contos <strong>de</strong> réis. Fialho obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno, a 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1856, ao foro anual <strong>de</strong> mil e duzentos e oitenta réis. 61<br />

Rua Matacavalos – 1855/1861<br />

Terreno <strong>de</strong> 39 palmos <strong>de</strong> frente por 115 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, com um prédio assobra<strong>da</strong><strong>do</strong>, <strong>de</strong> quatro<br />

portas <strong>de</strong> saca<strong>da</strong>s, com gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro e porta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cantaria. Era proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> monsenhor Narciso <strong>da</strong><br />

Silva Nepomuceno. Esse prédio tinha o nº 24, em 1855, e já estava bem arruina<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o seu<br />

proprietário, em setembro <strong>do</strong> dito ano, o ven<strong>de</strong>u a Joaquim Soares <strong>da</strong> Costa Guimarães, pela quantia <strong>de</strong><br />

sete contos <strong>de</strong> réis. Junto, e no mesmo terreno <strong>do</strong> prédio 24, existiu um sobradinho, com o nº 24A,<br />

adquiri<strong>do</strong>, também, por Costa Guimarães. Em janeiro <strong>de</strong> 1856, encontramos Costa Guimarães ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

o prédio 24 e o sobradinho 24A, por treze contos <strong>de</strong> réis, a Antônio José Gomes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Araújo, com<br />

carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s ditos prédios, em 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1855. <strong>Rio</strong> Araújo, <strong>de</strong> quem já<br />

falamos, tinha dinheiro compran<strong>do</strong> e ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> prédios e terrenos. Em vários Autos <strong>de</strong> Transmissões <strong>de</strong><br />

Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1856 a 1861, <strong>de</strong>scobrimos compras e ven<strong>da</strong>s em seu nome, <strong>da</strong>s quais<br />

conseguimos a confirmação <strong>de</strong> duas: a <strong>da</strong> casa 61, <strong>da</strong> rua Matacavalos, em 1857, e a <strong>de</strong> um terreno <strong>de</strong><br />

21 braças <strong>de</strong> frente na mesma rua e compra<strong>do</strong> ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco Ferreira <strong>da</strong>s Neves, por <strong>de</strong>z<br />

contos <strong>de</strong> réis, em 1861.<br />

Rua Matacavalos – 1857/1858<br />

Terreno <strong>de</strong> 2 braças <strong>de</strong> frente por 53 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, <strong>do</strong> qual estava <strong>de</strong> posse Manoel José<br />

Rodrigues Torres, por compra que fizera a José Luiz Dias Diniz, em 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1857, pela quantia<br />

<strong>de</strong> cinco contos <strong>de</strong> réis e escritura <strong>do</strong> tabelião Pedro José <strong>de</strong> Castro. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1858, <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, o terreno foi afora<strong>do</strong> a Rodrigues Torres, a quem a Ilustríssima Câmara<br />

também conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>de</strong> um outro terreno, <strong>de</strong> 7.5 braças <strong>de</strong> frente, na rua Matacavalos e<br />

fun<strong>do</strong>s a entestar com a <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>. Essa concessão traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1858.


2 7 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua Matacavalos – 1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente por 88 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, ocupa<strong>do</strong> pela casa assobra<strong>da</strong><strong>da</strong> nº 26. Por<br />

morte <strong>da</strong> proprietária, Leocádia <strong>do</strong>s Santos Teixeira, a casa foi à praça, em 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1860,<br />

arremata<strong>da</strong> por Manoel Álvares <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, com carta <strong>de</strong> aforamento <strong>do</strong> terreno, em 21 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1860. A casa acima dita, à rua Matacavalos, nº 26, tinha à direita, la<strong>do</strong> oeste, o prédio <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

residência <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Antônio Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama e pelo esquer<strong>do</strong>, la<strong>do</strong> leste, o prédio <strong>de</strong> José Antônio<br />

Gomes <strong>Rio</strong> Araújo.<br />

Rua Matacavalos – 1860/1861<br />

Terreno <strong>de</strong> 29 palmos <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, com uma casa antiga <strong>de</strong> nº 202, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Manoel Rodrigues Pereira <strong>da</strong> Cruz, a quem pertencia também a casa nº 200, que ocupava um terreno<br />

<strong>de</strong> 45 palmos <strong>de</strong> frente pelo la<strong>do</strong> su<strong>do</strong>este <strong>da</strong> rua Matacavalos, por 35 braças e 5 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. A<br />

extensão, <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa 202, era <strong>de</strong> 14 braças e 4 palmos. Pereira <strong>da</strong> Cruz ven<strong>de</strong>u,<br />

em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1860, por cinco contos <strong>de</strong> réis, a casa 200, a João Antônio Pereira, com carta <strong>de</strong><br />

Aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> casa que comprara, carta essa expedi<strong>da</strong> em 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1861. Também a<br />

casa 202 foi vendi<strong>da</strong> por Pereira <strong>da</strong> Cruz, em junho <strong>de</strong> 1861, por quatro contos <strong>de</strong> réis, a Fulgêncio José<br />

<strong>da</strong> Costa, com carta <strong>de</strong> aforamento, em 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1861.<br />

Rua Matacavalos – 1862<br />

Terreno <strong>de</strong> 43 palmos <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, por 52 braças e 6 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Era<br />

ocupa<strong>do</strong> por duas casas <strong>de</strong> números 76 e 78, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Henrique Ley<strong>de</strong>n, que as comprara aos<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> José Gervazio <strong>de</strong> Queiroz. O terreno foi afora<strong>do</strong> a Ley<strong>de</strong>n, em 23 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1862, ao foro<br />

anual <strong>de</strong> 1.280 réis.<br />

Rua Matacavalos – 1862/1863<br />

Terreno <strong>de</strong> 24 braças e 3 palmos <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, por 1.291 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> pelo<br />

la<strong>do</strong> direito e 1.347 pelo esquer<strong>do</strong>. Ocupavam esse terreno uma boa casa resi<strong>de</strong>ncial e cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara,<br />

<strong>de</strong> nº 55, <strong>da</strong> rua Matacavalos, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> conselheiro Tomás Xavier Garcia <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, que aí<br />

residia. Casa e chácara cita<strong>da</strong>s tinham pertenci<strong>do</strong> ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco Ferreira <strong>da</strong>s Neves, que as<br />

ven<strong>de</strong>u, com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1862, ao precita<strong>do</strong> conselheiro, por vinte<br />

contos <strong>de</strong> réis. Em 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1863, o conselheiro Garcia <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara<br />

o aforamento <strong>do</strong> terreno.<br />

Rua Matacavalos – 1864/1865<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças e 2 palmos <strong>de</strong> frente pela rua Matacavalos, por 21 braças e 3 palmos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>.<br />

Era ocupa<strong>do</strong> pelo prédio 278A, <strong>de</strong> William Cremer, por compra feita, em outubro <strong>de</strong> 1864, a Antônio<br />

Barbosa Macha<strong>do</strong>. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1865, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u a Cremer o<br />

aforamento <strong>do</strong> terreno, pelo foro anual <strong>de</strong> 1.280 réis.


Rua Mauá<br />

C A P Í T U L O X V | 2 7 7<br />

Terreno <strong>de</strong> 44 palmos <strong>de</strong> frente pela rua Mauá, fazen<strong>do</strong> canto, à esquer<strong>da</strong>, com a rua Junquilhos,<br />

no morro <strong>de</strong> Santa Teresa e afora<strong>do</strong> a Sarmento Ávila & Cia. em 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1860. A dita firma<br />

comprou o terreno a José Manoel Arzúa. Constituía esse terreno uma <strong>da</strong>s muitas <strong>de</strong>smembrações que se<br />

fizeram <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> Castro, no morro <strong>de</strong> Santa Teresa. Da mesma origem são to<strong>do</strong>s os terrenos<br />

<strong>da</strong> rua Mauá, la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles e <strong>de</strong> outros logra<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santa Teresa, abertos na dita<br />

chácara, por Joaquim <strong>da</strong> Fonseca Guimarães & Cia.<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1860<br />

Terreno <strong>de</strong> 16 braças <strong>de</strong> frente pela la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles no morro <strong>de</strong> Santa Teresa, bairro <strong>de</strong><br />

Matacavalos. Esse terreno corria fun<strong>do</strong>s pela rua Aprazível, numa extensão <strong>de</strong> 36 braças. Foi compra<strong>do</strong><br />

à firma Fonseca Guimarães & Cia. pela quantia <strong>de</strong> nove contos <strong>de</strong> réis, por Antônio Gonçalves<br />

Guimarães, a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno, por Despacho <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1860. Gonçalves construiu uma casa resi<strong>de</strong>ncial, com frente para a la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles e<br />

por on<strong>de</strong> teve o nº 33.<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1861/1873<br />

Terreno <strong>de</strong> 7 braças e 6 palmos <strong>de</strong> frente pela la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles, por 19 braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Era<br />

ocupa<strong>do</strong> pela casa resi<strong>de</strong>ncial nº 12, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro Charollais, por compra a Fonseca Guimarães<br />

& Cia. Em 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1861, Charollais obteve o aforamento <strong>do</strong> terreno que ficava entre o <strong>de</strong> João<br />

Antônio Ávila, à direita, e o <strong>de</strong> José Leonar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, à esquer<strong>da</strong>. Pedro Charollais, que era<br />

negociante à rua <strong>da</strong> Assembléia, nº 109, ven<strong>de</strong>u a casa nº 12, <strong>da</strong> la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles, ao seu vizinho João<br />

Antônio Ávila. Em 1873, já a referi<strong>da</strong> casa pertencia a João Pereira Car<strong>do</strong>so.<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1861<br />

Terreno <strong>de</strong> 10 braças e 5 palmos <strong>de</strong> frente pela la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles, por 36 braças e 8 palmos <strong>de</strong><br />

fun<strong>do</strong>. Era ocupa<strong>do</strong> pela casa nº 31, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Joaquim Ferreira Guimarães, a quem a Ilustríssima<br />

Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong> terreno, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1861.<br />

La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles – 1862/1886<br />

Terreno <strong>de</strong> 92 palmos <strong>de</strong> frente pela la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles, por 22 braças <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Era ocupa<strong>do</strong><br />

pela casa nº 29, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cláudio José <strong>da</strong> Silva, foreiro <strong>do</strong> terreno por carta <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />

1862. A casa veio a ser vendi<strong>da</strong> pela viúva <strong>de</strong> Cláudio, por <strong>do</strong>ze contos <strong>de</strong> réis, a Antônio Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Araújo Guimarães, a quem ain<strong>da</strong> pertencia, em 1881. Em 1886, figura no Rol <strong>da</strong>s Décimas como<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>de</strong> Luiz Batista Garnier. Na revisão <strong>da</strong> numeração predial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, realiza<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> 1874 a 1878, foram altera<strong>do</strong>s os limites <strong>da</strong> la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Meireles, passan<strong>do</strong> o seu la<strong>do</strong> ímpar a par e<br />

vice-versa. Daí ter a casa nº 29 passa<strong>do</strong> a 6, e o começo <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro, na rua <strong>do</strong> Aqueduto, e o fim, no<br />

morro <strong>de</strong> Santa Teresa.


2 7 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua Dona Josefa – 1854<br />

Terreno <strong>de</strong> 24 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Josefa, no morro chama<strong>do</strong> <strong>do</strong> Neves, no bairro <strong>de</strong><br />

Matacavalos. Constituía uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Francisco Ferreira <strong>da</strong>s Neves e<br />

pela qual esse titular abriu vários logra<strong>do</strong>uros, entre os quais a rua Dona Josefa, em continuação à <strong>de</strong><br />

Paula Matos. O terreno, em apreço, ficava entre a rua Dona Francisca – atual Fluminense —, à esquer<strong>da</strong>,<br />

e a rua Dona Maria – agora <strong>do</strong> Neves – à direita, e fazia, nessa última dita rua, uma outra frente <strong>de</strong> 12<br />

braças. Em 1854, o terreno aparece afora<strong>do</strong> à Imperial Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amante <strong>da</strong> Instrução, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

compra que fizera <strong>do</strong> mesmo ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Neves, por três contos cento e oitenta e cinco mil réis.<br />

Ain<strong>da</strong> em 1854, em dias <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> setembro, a dita Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> adquiriu um outro terreno <strong>de</strong> <strong>de</strong>z braças,<br />

na rua Dona Francisca, em seguimento ao que comprara na rua Dona Josefa.<br />

Rua Dona Josefa – 1855/1857<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Josefa, por 15 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, no antigo morro <strong>do</strong><br />

Neves – <strong>de</strong>pois Paula Matos O terreno pertenceu ao dr. Antônio José <strong>de</strong> Araújo, que o ven<strong>de</strong>u, com<br />

licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1855, a José Macha<strong>do</strong> Leonar<strong>do</strong>, por quatrocentos e<br />

cinqüenta mil réis. Em 1857, foi compra<strong>do</strong> a Leonar<strong>do</strong> por Inácio Garcia Dantas.<br />

Rua Dona Josefa – 1855/1857<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente por 19 <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r<br />

Neves, por esse titular vendi<strong>do</strong>, pela quantia <strong>de</strong> um conto e oitocentos mil réis, a Francisco <strong>de</strong> Assis<br />

Chagas, a quem foi o terreno afora<strong>do</strong>, a 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1855. Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse aforamento, houve a<br />

transferência <strong>do</strong> imóvel para Antônio José <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, visto que o adquirira <strong>de</strong> Chagas por compra e pela<br />

quantia <strong>de</strong> três contos <strong>de</strong> réis. Da anotação feita no livro competente <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, não consta sobre<br />

essa conferência a <strong>da</strong>ta em que ela se operou. Lamentavelmente, assim acontecem muitas outras.<br />

Antônio José <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> obteve o aforamento por <strong>de</strong>spacho <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1857, ao foro anual <strong>de</strong> mil e duzentos e oitenta réis.<br />

Rua Dona Josefa – 1857<br />

Terreno <strong>de</strong> 8 braças <strong>de</strong> frente pela rua Dona Josefa, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela rua Dona Francisca –<br />

atual Fluminense —, no morro <strong>de</strong> Paula Matos. Pertenceu a três menores <strong>de</strong> nomes Presciliana, Faustina<br />

e Maria. Por morte <strong>de</strong>sses menores, aparece João Lourenço Aires, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pai, pedin<strong>do</strong> a posse<br />

<strong>do</strong> terreno, o que obteve, em 1857. Mais tar<strong>de</strong>, Aires ven<strong>de</strong>u o terreno a Francisco José <strong>de</strong> Souza Bastos.<br />

Rua Paula Matos – 1857<br />

Terreno <strong>de</strong> 2.5 braças <strong>de</strong> frente pela rua Paula Matos, por 14 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Situa<strong>do</strong> entre o <strong>de</strong><br />

João Lourenço Aires e o <strong>de</strong> José Leonar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, nos fun<strong>do</strong>s confinava com o terreno <strong>de</strong> Brasil<br />

Barbosa <strong>da</strong> Silva. Pertenceu ao dr. Antônio José <strong>de</strong> Araújo, a quem foi compra<strong>do</strong> por Herculano José <strong>do</strong><br />

Amaral, que construiu no terreno prédio resi<strong>de</strong>ncial, com frente <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> na rua Paula Matos e<br />

acaban<strong>do</strong> térreo nos fun<strong>do</strong>s, na rua <strong>do</strong> Paraíso. Em abril <strong>de</strong> 1857, Herculano ven<strong>de</strong>u esse prédio, por <strong>do</strong>is<br />

contos e quinhentos mil réis, a João Lopes Ribeiro Brasil.


Rua Paula Matos – 1858/1865<br />

C A P Í T U L O X V | 2 7 9<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente pela rua Paula Matos, no trecho <strong>do</strong> prolongamento chama<strong>do</strong>, a<br />

princípio, rua Dona Josefa, e ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> frente a fun<strong>do</strong>s, na rua Paraíso, cerca <strong>de</strong> 15 braças. Pertenceu a<br />

José Leonar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, por ele vendi<strong>do</strong>, pela quantia <strong>de</strong> seiscentos mil réis, a Manoel Inácio Garcia<br />

Dantas, com Carta <strong>de</strong> Aforamento <strong>do</strong> terreno, em 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1858. Os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Garcia Dantas<br />

ven<strong>de</strong>ram o terreno a Francisco José <strong>de</strong> Souza Bastos, que o transferiu, em março <strong>de</strong> 1865, a Manoel<br />

Diniz Colombo, também por ven<strong>da</strong>.<br />

Rua Paula Matos – 1869<br />

Terreno <strong>de</strong> 5m <strong>de</strong> frente pela rua Paula Matos, por 33 ditos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s. Pertenceu a Januária<br />

Gaillard, que o ven<strong>de</strong>u por <strong>do</strong>is contos <strong>de</strong> réis a Antônio José <strong>da</strong> Silveira, com Carta <strong>de</strong> Aforamento, em<br />

10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1869. Ocupou esse terreno uma casa resi<strong>de</strong>ncial, <strong>de</strong> nº 28B.<br />

Rua Riachuelo – 1879/1880<br />

Terreno <strong>de</strong> 10m <strong>de</strong> frente pela rua Riachuelo, antiga Matacavalos, por 63,50m <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, ocupa<strong>do</strong><br />

pelo prédio nº 126, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Carlos Ribeiro <strong>da</strong>s Chagas, que o arrematou em praça <strong>do</strong> espólio <strong>de</strong><br />

Militino José <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, em 23 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1879. Ribeiro <strong>da</strong>s Chagas pediu e obteve o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno, em 5 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1880.<br />

Rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> – 1823/1837<br />

Terreno <strong>de</strong> 3 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> por 13 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, ocupa<strong>do</strong> pela casa<br />

assobra<strong>da</strong><strong>da</strong> nº 11, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Maria Jacinta <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Cabral. Esse terreno baldio, por muitos<br />

anos, esteve sob a posse <strong>de</strong> João Antônio Gomes, até o ano <strong>de</strong> 1823, quan<strong>do</strong> o dito posseiro <strong>de</strong>cidiu-se<br />

a vendê-lo à precita<strong>da</strong> senhora Maria Jacinta <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Cabral, viúva <strong>de</strong> João Bernar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lima. A<br />

casa cita<strong>da</strong> foi construí<strong>da</strong> por Maria Jacinta, que era portuguesa, natural <strong>da</strong> ilha <strong>de</strong> São Miguel, e residia<br />

no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> fez fortuna e on<strong>de</strong> faleceu, poucos dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer o seu testamento, que<br />

traz a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1837. Deixou fortuna em bens móveis, imóveis e semoventes – escravos. A<br />

casa nº 11, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, na qual residia, legou a seu pai – André <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Cabral —, por ele<br />

logo vendi<strong>da</strong>, em junho <strong>de</strong> 1837, a Joaquim Bernardino <strong>da</strong> Costa Aguiar, pela quantia <strong>de</strong> um conto e<br />

oitocentos mil réis. Joaquim Pereira <strong>de</strong> Lima, que <strong>de</strong>sfrutou sempre gran<strong>de</strong> estima <strong>da</strong> rica viúva, foi o<br />

contempla<strong>do</strong> com os principais lega<strong>do</strong>s.<br />

Rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> – 1840<br />

Terreno <strong>de</strong> 48 palmos <strong>de</strong> frente, na rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, com uma casa resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> nº 95, que<br />

pertencia meta<strong>de</strong> aos irmãos Manoel Jacinto Sampaio e Angelo Barata Sampaio, e, a outra meta<strong>de</strong>, a<br />

Isabel <strong>do</strong> Amor Divino, resi<strong>de</strong>nte na casa. A referi<strong>da</strong> senhora, com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 2<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1840, comprou a parte <strong>do</strong>s irmãos Sampaio, fican<strong>do</strong> sen<strong>do</strong> a única proprietária <strong>da</strong> casa. O<br />

terreno em apreço, <strong>do</strong> senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> enfiteuse <strong>do</strong>s Paes Leme, estava afora<strong>do</strong><br />

ao casal <strong>do</strong> cirurgião-mor Antônio Manoel <strong>de</strong> Freitas e Helena Maria <strong>da</strong> Cruz, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito. Esse


2 8 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

aforamento transferiu-se, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> casal, a Teresa Amélia <strong>de</strong> Oliveira Lobo,<br />

casa<strong>da</strong> com Tomás Antônio <strong>de</strong> Araújo Lobo. Da parte que lhe coube, por morte <strong>de</strong> seu pai, o guar<strong>da</strong>-mor<br />

<strong>da</strong>s Minas Gerais – Pedro Dias Paes Leme —, na chácara que ele possuía em Matacavalos, Maria<br />

Arcângela <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Forjaz Paes Leme legou uma gran<strong>de</strong> área ao dito casal <strong>do</strong> cirurgião-mor Antônio<br />

Manoel <strong>de</strong> Freitas. Por morte <strong>do</strong> cirurgião Freitas, o seu testamenteiro foi o seu genro e conheci<strong>do</strong><br />

latoeiro, João Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, por cabeça <strong>de</strong> sua mulher, Maria Luiza <strong>de</strong> Oliveira Miran<strong>da</strong>. Em 1811,<br />

Miran<strong>da</strong> aparece em juízo, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> plenos po<strong>de</strong>res a um indivíduo <strong>de</strong> nome Jorge Inácio para ven<strong>de</strong>r e<br />

ajustar qualquer negócio, que conviesse ao dito Inácio, com Antônio Alves <strong>da</strong> Silva Pinto, relativo às<br />

casas e mais benfeitorias feitas pelo mesmo Silva Pinto, nos terrenos <strong>do</strong>s her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> cirurgião-mor<br />

Antônio Manoel <strong>de</strong> Freitas. Não conseguimos <strong>de</strong>scobrir a causa pela qual Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong> foi leva<strong>do</strong><br />

à outorga que <strong>de</strong>u a Jorge Inácio, sobre quem também na<strong>da</strong> conseguimos conhecer. É certo, porém, que<br />

a herança <strong>do</strong> cirurgião-mor Freitas motivou <strong>de</strong>savenças entre os her<strong>de</strong>iros, dificultan<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong><br />

inventariante. É certo, ain<strong>da</strong>, que Antônio Alves <strong>da</strong> Silva Pinto, usufruin<strong>do</strong>, como usufruía, vantagens<br />

<strong>da</strong>s benfeitorias feitas em terrenos que trazia arren<strong>da</strong><strong>do</strong>s e em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>s fáceis com alguns <strong>do</strong>s<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> cirurgião-mor, levantou questão e impôs condições, principalmente em relação aos prédios<br />

que ele, Silva Pinto, havia construí<strong>do</strong> nos terrenos, prédios esses, em nº <strong>de</strong> quatro, ain<strong>da</strong> existentes em<br />

1844, com os números 69 a 75, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, e vendi<strong>do</strong>s por Silva Pinto ao conselheiro João Duarte<br />

Lisboa Serra. Nessa ven<strong>da</strong>, Silva Pinto <strong>de</strong>clarou-se sub-enfiteuta <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e arr<strong>de</strong>ntário <strong>de</strong><br />

Joaquina Carolina <strong>de</strong> Oliveira, a quem o conselheiro João Duarte comprou o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s<br />

ditos prédios. Por morte <strong>do</strong> conselheiro João Duarte Lisboa Serra, a sua viúva – Inês Amália <strong>de</strong> Sampaio<br />

Lisboa Serra, ven<strong>de</strong>u os prédios 69 a 75 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, e mais três <strong>do</strong> la<strong>do</strong> par <strong>da</strong> mesma rua, nºs 78,<br />

78A e 80, os quais, em 1872, já pertenciam a Antônio Teixeira Lopes, a quem a Ilustríssima Câmara, por<br />

<strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1872, conce<strong>de</strong>u não só o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong>s três prédios e, também,<br />

o <strong>de</strong> um terreno correspon<strong>de</strong>nte à meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma antiga vala já sem serventia, mas existin<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> aberta<br />

pelos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s casas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> par <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua <strong>do</strong> Riachuelo até a <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong><br />

terminava na vala mestra, com uma extensão <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 100m e largura <strong>de</strong> 6m60.<br />

Os velhos e curiosos mapas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> assinalam valas mestras com a largura acima <strong>de</strong> 4 braças –<br />

8m80 – e profundid<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,5 braças – 3m 50. A gran<strong>de</strong> vala <strong>do</strong> Mangue tinha 60 palmos – 12m <strong>de</strong><br />

largura, e uma profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> que permitia a fácil e rápi<strong>da</strong> navegação <strong>de</strong> barcos e balsas bem carrega<strong>do</strong>s.<br />

Essas embarcações traziam, <strong>do</strong> vasto e próspero recôncavo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, os produtos <strong>da</strong> lavoura e<br />

os <strong>da</strong> indústria cerâmica para abastecer a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Vinham <strong>de</strong>scarregar na cal<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Mangue, no Rossio<br />

Pequeno – <strong>de</strong>pois praça Onze <strong>de</strong> Junho, e isso quase diariamente, fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong> lugar um ponto<br />

movimenta<strong>do</strong> <strong>da</strong> velha Sebastianópolis.<br />

Voltemos a falar <strong>de</strong> Joaquina Carolina <strong>de</strong> Oliveira, neta <strong>do</strong> casal Antônio Manoel <strong>de</strong> Freitas e<br />

Helena Maria <strong>da</strong> Cruz e que, por morte <strong>do</strong>s seus avós, ficou possui<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> vastos terrenos <strong>da</strong> antiga<br />

chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor. Do seu avô, já faleci<strong>do</strong> em 1811, her<strong>do</strong>u 100 braças no prolongamento <strong>da</strong> rua<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, prolongamento esse começa<strong>do</strong> em 1807, com o corte que se fez <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> aba, piçarra e<br />

argilosa, <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Pedro Dias – <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>. Da terça <strong>da</strong> sua avó, her<strong>do</strong>u Carolina <strong>de</strong> Oliveira,<br />

além <strong>do</strong>s bens, prédios à rua Matacavalos, um terreno <strong>de</strong> 80 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Espírito Santo,<br />

conta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> vala <strong>do</strong> esgoto, junto à ponta, e com fun<strong>do</strong>s no morro <strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s – atual Santo Antônio. A<br />

ponte era sobre a vala, próxima à embocadura <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e em direção oblíqua. Das ditas 80<br />

braças, na rua <strong>do</strong> Espírito Santo, foram <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>s 13 braças, vendi<strong>da</strong>s por novecentos e <strong>de</strong>z mil réis,<br />

em 1845, a Carlos Miguel Fontaine, que construiu um bom prédio <strong>de</strong> loja e sobra<strong>do</strong>. Dos terrenos<br />

lega<strong>do</strong>s ao cirurgião-mor, Antônio Manoel <strong>de</strong> Freitas, por Maria Arcângela <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Forjaz Paes<br />

Leme, cerca <strong>de</strong> 24 braças foram beneficia<strong>da</strong>s com a construção <strong>de</strong> uma boa casa resi<strong>de</strong>ncial, com<br />

chácara, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>do</strong> dito cirurgião. Essa importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, conheci<strong>da</strong> por chácara<br />

<strong>da</strong> Boa Vista, em morren<strong>do</strong> o seu proprietário, passou a pertencer ao genro <strong>do</strong> mesmo – o rico latoeiro<br />

João Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong> —, contra o qual foi movi<strong>da</strong> penhora executiva, por Francisco João <strong>da</strong> Costa<br />

Xavier e sua mulher Paula Gertru<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aragão <strong>da</strong> Costa Xavier, resi<strong>de</strong>ntes em Paris, representa<strong>do</strong>s no<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pelo procura<strong>do</strong>r bastante João Maria Colaço <strong>de</strong> Magalhães – mais tar<strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Con<strong>de</strong>ixa. Em 1845, a Boa Vista foi compra<strong>da</strong>, pelo conselheiro Luiz Antônio <strong>de</strong> Carvalho Castro, ao<br />

conselheiro João Duarte Lisboa Serra, que a possuíra, também, por compra ao casal Guilherme Platt e<br />

Feliciana <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Platt, pela quantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>z contos <strong>de</strong> réis. Nessas compras e ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong>


C A P Í T U L O X V | 2 8 1<br />

Boa Vista, a transmissão <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> chão – terreno – <strong>da</strong> casa e chácara foi sempre questiona<strong>da</strong><br />

pelo viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, que consi<strong>de</strong>rava esse intransferível e excluí<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s que se fizeram<br />

num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos – 1835/1845. Afinal, em sessão <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1846, a Ilustríssima Câmara<br />

<strong>de</strong>liberou manter aquele titular na posse foreira <strong>do</strong> terreno e <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Boa Vista, sita à rua<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, 61, fican<strong>do</strong> o dito manuteni<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> como enfiteuta <strong>da</strong> mesma Ilustríssima Câmara,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1835, por ter si<strong>do</strong>, nesse ano, efetiva<strong>da</strong> a execução a João Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, pela carta<br />

adjucatória <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> outubro. Em 1846, a Boa Vista confinava, à esquer<strong>da</strong>, com outra importante<br />

chácara, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>do</strong>s con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Valença.<br />

Outro gran<strong>de</strong> proprietário à rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, nessa época, primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, o Século<br />

<strong>da</strong>s Luzes*, foi Domingo José <strong>de</strong> Moura, influente na política e sempre à frente <strong>do</strong>s movimentos em prol<br />

<strong>do</strong> bairro <strong>de</strong> Matacavalos. Entre os prédios que possuiu está o <strong>de</strong> nº 105, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, que<br />

arrematou, em praça judicial, na penhora que fizera a Ricar<strong>do</strong> Gomes Ferreira <strong>do</strong>s Reis. Do terreno <strong>de</strong>sse<br />

prédio, Moura pediu e obteve o aforamento por carta, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1844. Junto ao prédio 105,<br />

ficava uma casa assobra<strong>da</strong><strong>da</strong>, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>do</strong> célebre e <strong>de</strong>stemi<strong>do</strong> Catumbi – Manoel José<br />

<strong>da</strong> Mota —, homem endinheira<strong>do</strong>, popularíssimo e que se fazia valer nos colégios eleitorais <strong>do</strong> bairro<br />

<strong>do</strong> Catumbi, on<strong>de</strong>, como dizia, crescera e se fizera. Deixou bens e <strong>do</strong>s quais fez her<strong>de</strong>iro a José Antônio<br />

Macha<strong>do</strong>.<br />

A Domingos José <strong>de</strong> Moura e à sua mulher, Francisca Rosa <strong>de</strong> Moura, pertenceram as boas casas<br />

nºs 111 e 113 <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> a 113, que servia <strong>de</strong> residência ao cita<strong>do</strong> casal, uma cui<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

chácara. Essas duas casas foram arremata<strong>da</strong>s ao espólio <strong>do</strong> casal Moura, em 1848, pelo <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r<br />

João Antônio <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong>, que passou a residir na <strong>de</strong> nº 113. Já em 1863, a casa 113 pertencia a José<br />

Maria Pinto Guerra. Também ocupan<strong>do</strong> terrenos <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor e na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sub-enfiteutas <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> encontramos José Martins Leitão, Inês Maria <strong>de</strong><br />

Oliveira, Domingos <strong>de</strong> Barros Catalão, Joaquim Luiz Soares e a família Costa Sampaio, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque social. To<strong>do</strong>s esses terrenos tinham frente à rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que no arren<strong>da</strong><strong>do</strong> a Martins<br />

Leitão ficava a casa resi<strong>de</strong>ncial nº 12, que fazia pare<strong>de</strong>, pelo la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, às catacumbas <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong><br />

Santo Antônio <strong>do</strong>s Pobres, catacumbas ain<strong>da</strong> existentes, em 1846. A família Costa Sampaio, em 1871,<br />

representa<strong>da</strong> pelo primeiro tenente <strong>da</strong> Arma<strong>da</strong>, Joaquim Augusto <strong>da</strong> Costa Sampaio, adquiriu, por seis<br />

contos <strong>de</strong> réis, o <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno <strong>de</strong> que estava <strong>de</strong> posse. A aquisição foi feita, com audiência <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara, a Maria Olésia Pinheiro Paes Leme, que era a enfiteuta <strong>do</strong> terreno, cuja frente era<br />

<strong>de</strong> 100 braças na antiga passagem <strong>da</strong> barreira <strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s, por on<strong>de</strong> se cor<strong>de</strong>ou a rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>. Bem<br />

mais tar<strong>de</strong> —, foi o terreno dividi<strong>do</strong> em duas porções, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> rua Formosa – atual<br />

General Caldwell, mas continuou a constituir uma só enfileuse, sob as mesmas obrigações <strong>do</strong><br />

aforamento original, feito a 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1749<br />

Pantanal <strong>do</strong> Pedro Dias<br />

No seu curto governo (1763/1767) o vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, procuran<strong>do</strong> <strong>da</strong>r comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> aos<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, concertou, <strong>de</strong> harmonia com o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, um plano <strong>de</strong> novos logra<strong>do</strong>uros, que favorecesse à viação e ao saneamento <strong>da</strong> metrópole <strong>do</strong><br />

Brasil.<br />

Com a execução <strong>de</strong>sse plano, fez-se o enxugamento <strong>do</strong> pantanal <strong>de</strong> Pedro Dias, que, até essa<br />

época, cobrira uma extensa porção <strong>do</strong> vale <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, entre as terras eleva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Santa Teresa e a estra<strong>da</strong><br />

que, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ia para o engenho <strong>do</strong>s padres <strong>da</strong> Companhia – jesuítas. Essa estra<strong>da</strong><br />

correspon<strong>de</strong>, mais ou menos, na sua direção, à atual face <strong>da</strong> praça Tira<strong>de</strong>ntes, em seguimento à rua <strong>da</strong><br />

Carioca e mais as ruas Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, Frei Caneca e Had<strong>do</strong>ck Lobo, até o antigo largo <strong>da</strong><br />

Segun<strong>da</strong> Feira, on<strong>de</strong> ficava uma <strong>da</strong>s entra<strong>da</strong>s <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> e famoso engenho <strong>do</strong>s jesuítas, no qual tu<strong>do</strong> se<br />

obrava em benefício <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s – como rezam <strong>do</strong>cumentos fi<strong>de</strong>dignos <strong>da</strong> época. Essa entra<strong>da</strong> era fecha<strong>da</strong><br />

por grossa porteira, a poucos passos <strong>da</strong> qual ficava uma ponte sobre um córrego <strong>de</strong> águas limpas e que<br />

mereciam cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> conservação por parte <strong>do</strong>s padres, como <strong>de</strong>ixam prova<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>scrições e outras<br />

notícias <strong>do</strong>s volumosos Autos <strong>do</strong>s Arrolamentos <strong>do</strong>s Bens que <strong>de</strong>ixaram os jesuítas no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

* Ver “Notas Históricas”. (N.E.)


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Uma <strong>da</strong>s três <strong>de</strong>rivações <strong>do</strong> braço <strong>do</strong> mar – ou braço <strong>do</strong> salga<strong>do</strong> – no saco <strong>de</strong> São Diogo, comunican<strong>do</strong>se<br />

com a lagoa <strong>do</strong> Capueruçu, ia em direção ao dito pantanal, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> continuava até o local em que se<br />

abriu, mais tar<strong>de</strong>, uma via pública e que se chamou <strong>de</strong> rua <strong>de</strong> São Lourenço, hoje Inváli<strong>do</strong>s. As águas<br />

que se escoavam <strong>do</strong>s morros <strong>de</strong> Santa Teresa e Santo Antônio vinham alimentar com abundância essa<br />

<strong>de</strong>rivação, a qual, bem <strong>de</strong>pois, no século XVIII, veio a ser aproveita<strong>da</strong> em vala mestra. Do pantanal e<br />

por essa vazão, formava-se a fun<strong>da</strong> bacia <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na área hoje compreendi<strong>da</strong> pela praça<br />

Tira<strong>de</strong>ntes, rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, praça <strong>da</strong> República e ruas Buenos Aires e Gonçalves Le<strong>do</strong>.<br />

Nessa região palu<strong>do</strong>sa que, ligeiramente, esboçamos, abriu-se, pouco e pouco, a rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, cujo<br />

prolongamento até a rua <strong>do</strong> Riachuelo só foi completa<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1848.<br />

Em 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1807, encontramos curiosa reclamação <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res e proprietários <strong>da</strong> rua <strong>de</strong><br />

São Lourenço – atual <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s – e suas travessas, sobre providências que melhorassem esses<br />

logra<strong>do</strong>uros – cobertos <strong>de</strong> água, forman<strong>do</strong> lagos impuros nocivos à saú<strong>de</strong> e ao trânsito, que era feito com<br />

muita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, por pedras e tábuas. No plano então estu<strong>da</strong><strong>do</strong> para os melhoramentos reclama<strong>do</strong>s,<br />

figuram o arrasamento <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Pedro Dias – <strong>de</strong>pois chama<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> – situa<strong>do</strong> ao fim <strong>da</strong> travessa<br />

que partia <strong>da</strong> barreira <strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s ou <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – mais tar<strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>. Na<strong>da</strong> se fez, porém. Em<br />

1835, o Governo <strong>do</strong> Império autorizou o arrasamento, que se iniciou, mas logo paralisa<strong>do</strong>. Um<br />

Augusto Malta, 1915 – Rua Had<strong>do</strong>ck Lobo. Po<strong>de</strong>-se observar, nesse logra<strong>do</strong>uro, a convivência entre duas formas <strong>de</strong> habitar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>; a casa térrea<br />

<strong>de</strong> frente <strong>de</strong> rua, resquício <strong>da</strong> arquitetura colonial, e a residência com porão e quintal lateral, mais mo<strong>de</strong>rna e abasta<strong>da</strong>..


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memorial, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1841, firma<strong>do</strong> por João Francisco Madureira Pará, chama a atenção<br />

<strong>do</strong> governo para <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> <strong>do</strong> morro, propon<strong>do</strong>-se Madureira a fazer, por sessenta contos <strong>de</strong> réis. Não<br />

foi aceita a proposta. Em 1844, estava termina<strong>do</strong> o corte <strong>de</strong> mais uma aba <strong>do</strong> morro e entregue à servidão<br />

pública mais um trecho <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> travessa, que passou a terminar on<strong>de</strong> corre, nos nossos dias, a rua<br />

Barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco – antiga travessa <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>. Nesse prolongamento, foi cogita<strong>do</strong> levantar-se um<br />

edifício apropria<strong>do</strong> à Ópera Nacional e chegou-se a fazer a <strong>de</strong>sapropriação <strong>do</strong>s prédios 38 a 44, que<br />

estavam em po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Agricultura e assim continuavam em 1872. Na casa nº 88, <strong>da</strong> antiga<br />

rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, residiu, por muitos anos, a conceitua<strong>da</strong> ma<strong>da</strong>me Meunier – Maria Vitória Meunier –,<br />

parteira <strong>de</strong> <strong>do</strong>na Teresa Cristina, esposa <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II, e terceira imperatriz <strong>do</strong> Brasil –<br />

cognomina<strong>da</strong> a mãe <strong>do</strong>s brasileiros. A dita casa 88 era <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1810/1867<br />

Terreno <strong>de</strong> 36 braças pela rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, por 92 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, alcançan<strong>do</strong> a rua Matacavalos.<br />

Aparece esse terreno afora<strong>do</strong>, em 1810, a Manoel Gonçalves <strong>do</strong> Vale, possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> muitos outros<br />

terrenos na rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, to<strong>do</strong>s beneficia<strong>do</strong>s com casas e chácaras. O terreno <strong>de</strong> 36 braças, a que<br />

aludimos, foi ocupa<strong>do</strong> por duas chácaras com boas casas resi<strong>de</strong>nciais. Uma ocupava <strong>do</strong> terreno <strong>de</strong> 12<br />

braças <strong>de</strong> frente por 92 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s e teve o nº 26 <strong>da</strong> rua. Essas duas chácaras foram vendi<strong>da</strong>s, em<br />

1842, pela viúva <strong>do</strong> dito Gonçalves <strong>do</strong> Vale, Maria Teo<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Vale, a Bernar<strong>do</strong> Joaquim <strong>de</strong> Faria,<br />

também proprietário <strong>da</strong>s casas 28 e 30, que ficavam junto e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> chácara nº 26, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

adquiriu em 1842, compran<strong>do</strong> as casas a José Gonçalves Brandão, Manoel Alves Brandão e Carolina<br />

Rodrigues Nunes, netos e her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Manoel Gonçalves <strong>do</strong> Vale. Por morte <strong>de</strong> Bernar<strong>do</strong> Joaquim <strong>de</strong><br />

Faria, a casa e chácara nº 26, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, passaram a seu filho Bernar<strong>do</strong> Joaquim <strong>de</strong> Faria Junior<br />

e as casas, 28 e 30, à sua filha Alexandrina Pinto <strong>de</strong> Faria Men<strong>de</strong>s, casa<strong>da</strong> com Jacinto Joaquim Men<strong>de</strong>s.<br />

Em 1867, as casas 28 e 30 já pertenciam a Joaquim Antônio Carneiro Sal<strong>da</strong>nha, por compra que fizera<br />

à dita Alexandrina Pinto <strong>de</strong> Faria Men<strong>de</strong>s. Manoel Gonçalves <strong>do</strong> Vale foi proprietário <strong>de</strong> mais uma casa<br />

à rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> nº 34, e também <strong>de</strong> um extenso terreno, à direita e em seguimento à casa, terreno<br />

bastante beneficia<strong>do</strong> com plantações. Casa e terreno, por morte <strong>de</strong> Vale, passaram a seu filho Manoel<br />

Gonçalves <strong>do</strong> Vale Junior. Em junho <strong>de</strong> 1845, Vale Junior ven<strong>de</strong>u os imóveis a Graciano Leopoldino <strong>do</strong>s<br />

Santos Pereira, o qual, no mesmo ano, em novembro, os transferiu por ven<strong>da</strong> ao dr. Augusto Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas. Afinal, em 1847, o dr. Teixeira <strong>de</strong> Freitas 62 e a sua mulher Matil<strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, por<br />

escritura <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> outubro, em notas <strong>do</strong> tabelião João Gomes Guerra <strong>de</strong> Aguiar, ven<strong>de</strong>ram, por onze<br />

contos <strong>de</strong> réis, a casa e a chácara nº 34 e o terreno contíguo ao negociante Jacinto Joaquim Men<strong>de</strong>s,<br />

mari<strong>do</strong> <strong>de</strong> Alexandrina Pinto <strong>de</strong> Faria Men<strong>de</strong>s, a qual, enviuvan<strong>do</strong>, requereu a transferência, para o seu<br />

nome, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os títulos <strong>de</strong> aforamentos <strong>de</strong> terrenos em nome <strong>do</strong> seu fina<strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong><br />

21 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1856, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u a transferência. Por ocasião <strong>de</strong>sse novo registro<br />

<strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> aforamentos, além <strong>da</strong> casa nº 34, transforma<strong>da</strong> em sobra<strong>do</strong>, existiam mais duas <strong>de</strong> nºs 34A<br />

e 34B, no terreno contíguo à 34 e que, também, eram <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1812/1825<br />

Terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, na parte <strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor, que<br />

pertenceu a Beral<strong>da</strong> Vitória <strong>da</strong> Horta Forjaz Pereira e vendi<strong>do</strong> pela dita senhora, em 1812, a José<br />

Macha<strong>do</strong> Souto. Pela escritura <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1825, <strong>do</strong> tabelião Pires Garcia, verifica-se ter<br />

Manoel Joaquim Esteves compra<strong>do</strong>, por quatrocentos mil réis, a Maria Joana, viúva <strong>de</strong> José Macha<strong>do</strong><br />

Souto, um terreno <strong>de</strong> 4 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> tinha uma cobertura <strong>de</strong> telhas,<br />

construí<strong>da</strong> pelo mari<strong>do</strong> <strong>da</strong> ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra, mas já bem arruina<strong>da</strong>. O terreno é o mesmo adquiri<strong>do</strong> por<br />

Macha<strong>do</strong> Souto, em 1812.


2 8 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1844/1859<br />

Terreno <strong>de</strong> 21 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong> Lavradio. Esse<br />

terreno pertenceu a Manoel José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Rego e, por sua morte, passou a seu filho, dr. Joaquim<br />

Marcos <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Rego. O terreno foi dividi<strong>do</strong> em porções diferentes pelo dr. Marcos <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong><br />

Rego, que as ven<strong>de</strong>u logo. Vicente Joaquim Moreira comprou uma porção <strong>de</strong> 5 braças, na qual construiu<br />

um prédio resi<strong>de</strong>ncial que recebeu o nº 10. José Pedro <strong>da</strong> Mota Sayão adquiriu a porção <strong>de</strong> 3 braças e<br />

também edificou casa resi<strong>de</strong>ncial. Bento Joaquim Tavares ficou com 4 braças, construin<strong>do</strong> duas casas<br />

térreas, que receberam os nºs 10B e 10b e foram por ele, Tavares, vendi<strong>da</strong>s ao dr. Bento José Martins,<br />

por nove contos <strong>de</strong> réis, em 1849. Jesuína Rosa <strong>de</strong> Pinheiro Ribeiro adquiriu 6 braças, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, logo,<br />

3, a José Pedro <strong>da</strong> Mota Sayão. As 3 braças restantes, que ficaram entre a porção <strong>de</strong> Bento Joaquim<br />

Tavares, à direita, e a <strong>de</strong> Vicente Joaquim Moreira, à esquer<strong>da</strong>, o dr. Joaquim Marcos <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Rego<br />

as ven<strong>de</strong>u ao comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r José Ferreira Campos, que edificou uma casa resi<strong>de</strong>ncial nº 10A, conserva<strong>da</strong>,<br />

ain<strong>da</strong>, em 1855, quan<strong>do</strong> foi vendi<strong>da</strong> a José Ferreira Cabral, pelo comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Ferreira Campos. O terreno<br />

em apreço, sen<strong>do</strong> foreiro à Ilustríssima Câmara, os seus adquirentes ficaram obriga<strong>do</strong>s ao foro –<br />

obrigação que a maioria não cumpriu. Somente Vicente Joaquim Moreira – mesmo assim quinze anos<br />

<strong>de</strong>pois,— aparece, em 1859, regularizan<strong>do</strong> a sua situação.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846/1872<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente, com <strong>do</strong>is prédios <strong>de</strong> nº 59 e 61, construí<strong>do</strong>s em 1846, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> cônego José Antônio <strong>da</strong> Silva Chaves, a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno que o referi<strong>do</strong> cônego her<strong>da</strong>ra <strong>do</strong> seu pai e mais os prédios 53, 55 e 57, na mesma rua <strong>do</strong><br />

Resen<strong>de</strong>. O pai <strong>do</strong> cônego Chaves, Antônio José <strong>da</strong> Silva Chaves, era bem rico e <strong>do</strong>no <strong>de</strong> muitas prédios,<br />

possuin<strong>do</strong> na rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> mais os prédios 63, 65, 67 e 69, que ficaram pertencen<strong>do</strong> aos seus outros<br />

filhos: Severiano José <strong>da</strong> Silva Chaves, Antônio Ernesto <strong>da</strong> Silva Chaves e Maria Alexandrina <strong>da</strong> Silva<br />

Chaves. O prédio 65 passou a ter, em 1872, o nº 91, sen<strong>do</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Luiz Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong><br />

Montenegro, que o comprara a José Antônio Alves <strong>da</strong> Rocha, por onze contos <strong>de</strong> réis.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846<br />

Terreno <strong>de</strong> 26 braças <strong>de</strong> frente, na rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, corren<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s até o morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>.<br />

Ocupava o terreno uma cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara com boa casa resi<strong>de</strong>ncial nº 36, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Ezequiel José<br />

<strong>da</strong> Silva Passos. Em 1846, ao espólio <strong>de</strong>sse proprietário foram arremata<strong>da</strong>s, casa e chácara, pela quantia<br />

<strong>de</strong> 14:450$000, por João José <strong>da</strong> Rocha, a quem a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u o aforamento <strong>do</strong><br />

terreno. A casa e a chácara nº 36, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> confinavam, à direita, com João Ricar<strong>do</strong> Fajar<strong>do</strong><br />

Perdigão e, à esquer<strong>da</strong>, com José Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846/1848<br />

Terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente, pela rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, vendi<strong>do</strong> por Francisca <strong>da</strong>s Chagas Petronilha<br />

ao inglês Jorge Naylor, que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>scendência ilustre no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Naylor construiu boa casa<br />

com chácara nº 23, on<strong>de</strong> fixou residência. Por morte <strong>de</strong> Jorge Naylor, passaram casa e chácara, <strong>da</strong> rua<br />

<strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> 23, a Harriel Hannoch Naylor, filho <strong>do</strong> fina<strong>do</strong> e resi<strong>de</strong>nte na Inglaterra. Em 1846, Carlos<br />

Campbell comprou a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que ven<strong>de</strong>u, em 1848, por <strong>do</strong>ze contos <strong>de</strong> réis, a João Todd Naylor.


Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1846/1860<br />

C A P Í T U L O X V | 2 8 5<br />

Terreno <strong>de</strong> 12 braças <strong>de</strong> frente, ocupa<strong>do</strong> pela casa com chácara nº 24, <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e residência <strong>de</strong> José Ferreira Leal, a quem foram compra<strong>da</strong>s, casa e chácara, pelo francês<br />

Louis Bernard, por nove contos <strong>de</strong> réis. Em 1846, em se retiran<strong>do</strong> para a França, Bernard ven<strong>de</strong>u a casa<br />

e chácara referi<strong>da</strong>s, por <strong>do</strong>ze contos <strong>de</strong> réis, em 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1846, a Charles Schueler<br />

& Cia. fabricantes <strong>de</strong> rapé no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em sen<strong>do</strong> extinta essa firma, a um <strong>do</strong>s seus componentes,<br />

o dr. Napoleon Meuron, ficou pertencen<strong>do</strong> a valiosa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que lhe serviu <strong>de</strong> residência. Com o<br />

falecimento <strong>do</strong> dr. Meuron, foi a leilão, efetua<strong>do</strong> a 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1859, pelo leiloeiro Fre<strong>de</strong>rico<br />

Guimerme e arremata<strong>da</strong> por José Pereira Soares, pela quantia <strong>de</strong> vinte e seis contos <strong>de</strong> réis. Essa<br />

arrematação foi verifica<strong>da</strong> e aceita pela Ilustríssima Câmara, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1859, na<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio direto <strong>do</strong> terreno, que foi afora<strong>do</strong> ao arrematante José Pereira Soares, em 3 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1860.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong> – 1861<br />

Terreno <strong>de</strong> 8 braças e 6 palmos <strong>de</strong> frente, pela rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, e ocupa<strong>do</strong> pelas casas <strong>de</strong> números<br />

83, 85, 87, 89 e 91, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> major Manoel Pereira <strong>do</strong>s Santos Lara, a quem o terreno estava<br />

afora<strong>do</strong> por carta <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1861. Por ocasião <strong>do</strong> aforamento ao major Lara, o terreno confinava,<br />

à direita, com José Antônio Guerreiro Lima e, à esquer<strong>da</strong>, com o barão <strong>de</strong> Mauá. Em 1864, o major Lara<br />

pediu e obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, à vista <strong>de</strong> prece<strong>de</strong>ntes, a concessão <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio útil <strong>do</strong> terreno,<br />

ocupa<strong>do</strong> por uma antiga vala pública <strong>de</strong> esgotos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e que passava nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s precita<strong>do</strong>s<br />

prédios.<br />

À medi<strong>da</strong> que <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> ter serventia, as antigas valas <strong>de</strong> esgotos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> eram entregues<br />

pela Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as pedissem, aos foreiros <strong>do</strong>s terrenos corta<strong>do</strong>s pelas mesmas valas.<br />

Não se <strong>da</strong>va entrega, quan<strong>do</strong> o interesse público ou questões com terceiros a obstruíssem. No segun<strong>do</strong><br />

caso, a Ilustríssima Câmara aguar<strong>da</strong>va a <strong>de</strong>cisão judicial, para então <strong>de</strong>liberar. Essas questões, cujos<br />

questiona<strong>do</strong>res eram quase sempre pessoas endinheira<strong>da</strong>s ou <strong>de</strong> influência política, constituíram em<br />

juízo curiosas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s, as quais caracterizavam bem o espírito político-social <strong>da</strong> época.<br />

Rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong><br />

O caminho para os Arcos vin<strong>do</strong> [<strong>do</strong>] alto <strong>de</strong> Matacavalos pelas terras <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor não é senão<br />

a rua <strong>do</strong> Resen<strong>de</strong>, cujo cor<strong>de</strong>amento regular se operou em 1789, como se tem segura confirmação nos<br />

Autos <strong>de</strong> Vistorias <strong>de</strong> <strong>Terras</strong>, no sítio <strong>de</strong> Matacavalos, no Ano <strong>da</strong> Graça <strong>de</strong> N.S. Jesus Cristo – Arquivo<br />

Municipal. De extremo a extremo, costean<strong>do</strong> a chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor, os la<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa via pública<br />

formavam <strong>de</strong> terras tira<strong>da</strong>s à dita chácara e, por conseguinte, foreiros à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, em mil duzentos<br />

e oitenta réis anuais.<br />

Roças <strong>de</strong> arroz e hortas cobriam, ain<strong>da</strong>, em 1789, as margens <strong>do</strong> antigo e cita<strong>do</strong> caminho e<br />

<strong>de</strong>sapareceram para o cor<strong>de</strong>amento <strong>da</strong> rua. As <strong>de</strong>sapropriações que se fizeram <strong>de</strong>sses arrozais e hortas<br />

motivaram <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s com o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Dos proprietários que se levantaram contra as<br />

<strong>de</strong>sapropriações <strong>de</strong>staca-se Manoel José <strong>de</strong> Araújo, pela atitu<strong>de</strong> que tomou in<strong>do</strong> aos tribunais. A sua roça<br />

<strong>de</strong> arroz foi avalia<strong>da</strong> em vinte mil réis. Em juízo, os embargos apostos por Araújo à sentença que<br />

confirmou a dita avaliação foram bem discuti<strong>do</strong>s e, afinal, ti<strong>do</strong>s por improce<strong>de</strong>ntes.<br />

Finaliza o capítulo XV, “Bairro <strong>de</strong> Matacavalos”, a narrativa que se segue, relativa à chácara <strong>do</strong><br />

Desterro e a <strong>da</strong> Alagoinha.


2 8 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Chácara <strong>do</strong> Desterro<br />

Já em 1740, aparecem referências à chácara <strong>do</strong> Desterro, <strong>de</strong>pois conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong> Castro.<br />

A sua frente, bem extensa, corria pelo caminho <strong>do</strong> Desterro ou <strong>do</strong>s Canos <strong>da</strong> Carioca, e os seus fun<strong>do</strong>s<br />

chegavam às vertentes <strong>da</strong> pedreira gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> Glória. Era to<strong>da</strong> fecha<strong>da</strong> por cerca viva e pertencia a<br />

Catarina Mascarenhas, que residia na chácara em boa casa, ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> plantações e <strong>de</strong> muita mata. Em<br />

morren<strong>do</strong> Catarina Mascarenhas, a chácara passou ao padre Miguel Barbosa Mascarenhas e a Sebastiana<br />

Mascarenhas, filhos <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> Catarina Mascarenhas. Por morte <strong>de</strong> seu irmão, Sebastiana ven<strong>de</strong>u a<br />

chácara a Antônio Pereira <strong>da</strong> Costa, pela quantia <strong>de</strong> seiscentos mil réis. Esse novo <strong>do</strong>no <strong>da</strong> chácara,<br />

cumprin<strong>do</strong> a lei, <strong>de</strong>nunciou a sua posse ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, reconhecen<strong>do</strong>-lhe os direitos senhoriais.<br />

Assim, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> foreiro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, obteve o aforamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o chão <strong>da</strong> sua casa e<br />

chácara, pela carta <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1769, e, nessa ocasião, fixaram-se os limites <strong>da</strong> mesma chácara: pela<br />

frente, a estra<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Canos <strong>da</strong> Carioca; pelos fun<strong>do</strong>s, a pedreira gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> Glória; <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito os<br />

terrenos <strong>de</strong> Jerônimo Guimarães, e, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, os <strong>do</strong> capitão José Pereira <strong>da</strong> Silva. Por escritura<br />

pública <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1779, a chácara foi vendi<strong>da</strong> a João Caetano <strong>de</strong> Araújo, a quem veio a ser<br />

compra<strong>do</strong> por Francisco <strong>da</strong> Rosa Me<strong>de</strong>iros e sua mulher Catarina Maria Me<strong>de</strong>iros, escritura <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1783, <strong>do</strong> tabelião Pires Garcia. No dia 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1827, o padre José Francisco <strong>da</strong> Rosa,<br />

Maria <strong>do</strong> Amor Divino, casa<strong>da</strong> com José Maria <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, e Clara Maria <strong>da</strong> Rosa, casa<strong>da</strong> com Manoel<br />

Ferreira Carvalho, filhos e genros <strong>do</strong> casal Me<strong>de</strong>iros, ven<strong>de</strong>ram a chácara <strong>do</strong> Desterrro a João Joaquim<br />

Marques <strong>de</strong> Castro e a Antônio José Pereira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, os quais adquiriram porções iguais, por oito<br />

contos <strong>de</strong> réis. Os ditos compra<strong>do</strong>res pediram e obtiveram <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara o aforamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong><br />

o terreno <strong>da</strong> chácara, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1828. No título <strong>do</strong> aforamento precita<strong>do</strong>, consta ser<br />

a entra<strong>da</strong> pela rua Matacavalos, <strong>de</strong>fronte às religiosas <strong>de</strong> Santa Teresa, entre a chácara <strong>de</strong> Cláudio José<br />

Pereira <strong>da</strong> Silva, à esquer<strong>da</strong>, e a <strong>de</strong> Luiz Botelho Correa <strong>de</strong> Mesquita, à direita, e fun<strong>do</strong>s na pedreira <strong>da</strong><br />

Glória. Em compran<strong>do</strong>, a 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1828, por três contos <strong>de</strong> réis, a porção <strong>de</strong> Pereira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>,<br />

Marques <strong>de</strong> Castro ficou sen<strong>do</strong> o único <strong>do</strong>no <strong>da</strong> chácara, a qual <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>do</strong><br />

Castro. Nesse mesmo ano <strong>de</strong> 1828, começou o retalhamento <strong>da</strong> chácara, vendi<strong>do</strong>s os lotes por alto preço,<br />

por se tratar <strong>de</strong> um lugar saudável e pitoresco, <strong>de</strong> futuro próximo um <strong>do</strong>s mais ricos e habita<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por morte <strong>do</strong> velho João Joaquim Marques <strong>de</strong> Castro, os seus filhos, Joaquim e<br />

Vicente Marques Dias <strong>de</strong> Castro, e o seu genro Inocêncio Gomes <strong>do</strong> Amaral ven<strong>de</strong>ram a chácara, em<br />

março <strong>de</strong> 1856, a Joaquim <strong>de</strong> Fonseca Guimarães & Cia. comandita forma<strong>da</strong> para operar transações <strong>de</strong><br />

ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> terrenos e abertura <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros públicos, na extensa área <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santa Teresa, que<br />

havia si<strong>do</strong> ocupa<strong>da</strong> pela chácara <strong>do</strong> Castro.<br />

Na ven<strong>da</strong> efetua<strong>da</strong> em 1856, acima referi<strong>da</strong>, foram incluí<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>smembrações anteriormente<br />

feitas e quase to<strong>da</strong>s já com edificações. Também incluí<strong>da</strong> foi a casa nobre, que havia si<strong>do</strong> residência <strong>da</strong><br />

família Castro.<br />

Fonseca Guimarães & Cia. completaram a <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> velha chácara, <strong>da</strong> qual restou a casa<br />

resi<strong>de</strong>ncial, com terreno arboriza<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r, uma cocheira e um barracão, que foram vendi<strong>do</strong>s em<br />

agosto <strong>de</strong> 1871, por trinta contos <strong>de</strong> réis, a Bernar<strong>do</strong> Martins <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. Esse novo proprietário<br />

restaurou e embelezou a velha mansão <strong>do</strong>s Castros. Nas terras <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Castro foram abertas as<br />

principais vias públicas <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santa Teresa.<br />

Chácara <strong>da</strong> A l a g o i n h a<br />

Situa<strong>da</strong> adiante <strong>da</strong> lagoa <strong>da</strong> Sentinela e mística com as terras livres <strong>do</strong> Engenho Pequeno. Era<br />

foreira à Câmara em sete mil réis anuais, tinha <strong>de</strong> frente 70 braças ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> pública, que ia<br />

para o <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>, diante <strong>da</strong> lagoa <strong>da</strong> Sentinela, por 200 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, a topar com as terras alodiais<br />

<strong>do</strong> Engenho Pequeno, que pertenceu ao capitão Luis Macha<strong>do</strong> Homem, no outeiro <strong>da</strong> Alagoinha. Essas<br />

terras alodiais foram incorpora<strong>da</strong>s à chácara <strong>da</strong> Alagoinha, sobre as quais se encontram claras<br />

referências em <strong>do</strong>cumentos relativos às questões que, no começo <strong>do</strong> século XVIII, a ca<strong>da</strong> passo, se<br />

suscitavam a respeito <strong>de</strong> terras foreiras à Câmara. O mais remoto possui<strong>do</strong>r conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong>


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Alagoinha é Bárbara <strong>de</strong> Madureira, <strong>do</strong>na viúva e <strong>de</strong> haveres, mora<strong>do</strong>ra no outeiro <strong>da</strong> Alagoinha – que é,<br />

atualmente, o morro <strong>de</strong> Paula Matos. A chácara foi compra<strong>da</strong>, à referi<strong>da</strong> senhora, por Domingos Ferreira<br />

Vilamar, o qual teve por sucessor o seu genro – sargento-mor Antônio Figueiroa – e esse militar ven<strong>de</strong>u<br />

a chácara a Aleixo <strong>do</strong>s Santos Alves, oleiro rico e <strong>do</strong>no <strong>de</strong> terras além <strong>do</strong> rio Iguaçu e no Recôncavo <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O rio Iguaçu aludi<strong>do</strong> é o rio Compri<strong>do</strong> e não o pequeno Catumbi – como fizeram crer os jesuítas,<br />

sofisma<strong>da</strong>mente, procuran<strong>do</strong> ganhar terras férteis à sua sesmaria, cujo limite era o rio Compri<strong>do</strong>, antigo<br />

Iguaçu e primitivamente – Iububuracica, na foz <strong>do</strong> qual teve o seu primeiro al<strong>de</strong>amento o famoso índio<br />

Araribóia, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> Niterói.<br />

É certo que her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Aleixo Alves, ausentes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> tinham por procura<strong>do</strong>r<br />

Bernar<strong>do</strong> Gomes <strong>da</strong> Costa, ven<strong>de</strong>ram a chácara <strong>da</strong> Alagoinha a um indivíduo <strong>de</strong> nome Sebastião Ferreira<br />

<strong>da</strong> Rosa, representa<strong>do</strong> também por um procura<strong>do</strong>r – o cônego Francisco Moreira <strong>da</strong> Costa. Ferreira <strong>da</strong><br />

Rosa pediu e obteve <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara o aforamento, por três vi<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> chácara, em<br />

vereança <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1788. O título <strong>de</strong>sse aforamento registrou-se no livro 5 <strong>do</strong> cartório <strong>do</strong><br />

mesmo Sena<strong>do</strong>, às fls. 29v e 30. Místicas com as terras <strong>do</strong> Engenho Pequeno, que eram livres, a elas se<br />

reuniram as terras <strong>da</strong> Alagoinha, na forma <strong>do</strong> disposto pela escritura <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> feita por Domingos<br />

Ferreira Vilamar ao capitão Antônio Figueiroa. Essas terras, alodiais e foreiras, ficaram constituin<strong>do</strong><br />

duas chácaras <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s suas confrontações, confrontações que as situavam entre as terras que foram<br />

<strong>do</strong> capitão Jerônimo Fernan<strong>de</strong>s Guimarães e a estra<strong>da</strong> que ia para o rio Compri<strong>do</strong>, confinan<strong>do</strong> nos<br />

fun<strong>do</strong>s com a chácara <strong>de</strong> Vicente <strong>de</strong> Araújo – escritura <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1766, <strong>do</strong> notário Vicente <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>. Por morte <strong>de</strong> Sebastião Ferreira <strong>da</strong> Rosa, os seus her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram to<strong>da</strong> a chácara a Antônio<br />

<strong>de</strong> Melo e Oliveira, o qual pediu, e obteve, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, o aforamento <strong>da</strong> parte foreira <strong>da</strong><br />

chácara. * Em junho <strong>de</strong> 1844, já se discutia, na Ilustríssima Câmara, a respeito <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> Alagoinha,<br />

querelan<strong>do</strong>, então, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> com Francisco <strong>de</strong> Paula Matos, a quem as ditas terras tinham si<strong>do</strong><br />

adjudica<strong>da</strong>s. E foi nessa ocasião, a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os seus interesses, que Francisco <strong>de</strong> Paula Matos mostrou<br />

à Ilustríssima Câmara o precita<strong>do</strong> título <strong>de</strong> aforamento e mais outros valiosos <strong>do</strong>cumentos – hoje em<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> mesmo Paula Matos.<br />

De Antônio Mello e Oliveira passou a chácara a Manoel Caetano Muniz, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> posseiro<br />

intruso, pois que se recusou sempre a reconhecer o senhorio <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara. Muniz <strong>de</strong>smembrou<br />

a chácara, <strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> benfeitorias pela frente <strong>da</strong> rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, agora Frei Caneca, por on<strong>de</strong> fez<br />

a entra<strong>da</strong> nobre <strong>da</strong> chácara e que recebeu o nº 125. Em morren<strong>do</strong> Caetano Muniz, a sua viúva, Antônia<br />

Maria <strong>da</strong> Encarnação, her<strong>do</strong>u a chácara nº 125, <strong>da</strong> rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> residia. Her<strong>do</strong>u, também,<br />

prédios na dita rua e na Matacavalos, avalian<strong>do</strong>-se em sessenta contos <strong>de</strong> réis to<strong>do</strong>s os imóveis her<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

pela referi<strong>da</strong> senhora – que era sogra <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Paula Matos. Antônia Maria veio a casar-se com<br />

Leonar<strong>do</strong> José <strong>do</strong>s Reis, e, enviuvan<strong>do</strong> outra vez, foi obriga<strong>da</strong> a um segun<strong>do</strong> inventário <strong>do</strong>s seus bens,<br />

que estavam, então, adjudica<strong>do</strong>s ao seu genro Francisco <strong>de</strong> Paula Matos, por sentença judicial, como<br />

geral cre<strong>do</strong>r <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> casal <strong>de</strong> sua sogra. Entre os bens imóveis que se adjudicaram a Paula Matos<br />

figuram a gran<strong>de</strong> chácara à rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, nº 125, e na mesma rua, os bons prédios nºs 123 e 127<br />

a 153, e, na rua Matacavalos, os prédios 69 a 73 e o 79, incluí<strong>do</strong>s os respectivos terrenos. Em face <strong>da</strong><br />

adjudicação, Francisco <strong>de</strong> Paula Matos apareceu na Ilustríssima Câmara, em 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1844, e,<br />

<strong>de</strong>claran<strong>do</strong>-se proprietário <strong>da</strong> antiga chácara, pediu lhe fosse afora<strong>do</strong> o terreno <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> mesma<br />

chácara reconheci<strong>da</strong> foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Discutiu-se bastante o pedi<strong>do</strong>, entregue a <strong>de</strong>mora<strong>do</strong> e<br />

minucioso estu<strong>do</strong>. Afinal, em sessão <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1845, <strong>de</strong>liberou a Ilustríssima Câmara <strong>de</strong>ferir<br />

o pedi<strong>do</strong>, obten<strong>do</strong> Paula Matos o aforamento <strong>do</strong> terreno <strong>da</strong> parte foreira <strong>da</strong> chácara, ao foro anual <strong>de</strong> três<br />

mil réis, incluí<strong>da</strong>s as benfeitorias, entre as quais as cinco pequenas casas <strong>da</strong> rua Matacavalos, 71 a 79,<br />

manti<strong>do</strong>s os antigos limites e dimensões <strong>da</strong> chácara <strong>da</strong> Alagoinha, na parte dita foreira: à esquer<strong>da</strong>, as<br />

terras livres <strong>do</strong> antigo Engenho Pequeno; à direita Matacavalos; ao fun<strong>do</strong>, terreno <strong>de</strong> José Ferreira <strong>do</strong>s<br />

Santos e, pela frente, a rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, numa extensão <strong>de</strong> 70 braças. Ain<strong>da</strong>, na concessão <strong>de</strong>sse<br />

aforamento, ficou ressalva<strong>do</strong> à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> o direito <strong>de</strong>, em qualquer tempo, reivindicar as terras<br />

ditas livres <strong>da</strong> mesma chácara, se, porventura, fosse verifica<strong>do</strong> serem as mesmas terras foreiras.<br />

Entretanto, até os nossos dias, a verificação não se fez. Durante seis anos Paula Matos, mansa e<br />

pacificamente, <strong>de</strong>sfrutou a posse <strong>da</strong>s terras <strong>do</strong> antigo outeiro <strong>da</strong> Alagoinha, lotean<strong>do</strong>-as, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-as,<br />

cortan<strong>do</strong> o outeiro <strong>de</strong> vias e, <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> aquilo que fez, tirou, é certo, boas vantagens pecuniárias, mas <strong>de</strong>u,<br />

* O título <strong>de</strong>sse aforamento foi registra<strong>do</strong> no livro 6, fls. 1, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a apostila feita no mesmo título, em 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1802. É peça<br />

<strong>do</strong>cumentária bem interessante e que nos foi <strong>da</strong><strong>da</strong> a examinar. (N.A.)


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indiscutivelmente, vi<strong>da</strong> e progresso à pitoresca colina que, por fim, recebeu o nome <strong>de</strong> Paula Matos.<br />

De 1845 a 1849, Francisco <strong>de</strong> Paula Matos <strong>de</strong>smembrou to<strong>da</strong>s as suas terras, foreiras e alodiais,<br />

e <strong>de</strong>u-lhes uma frente <strong>de</strong> 50 braças por Catumbi, a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> terminavam as 70 braças <strong>da</strong> testa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

terras foreiras e 70 braças que se contavam <strong>da</strong> rua Matacavalos. Abriu os seguintes logra<strong>do</strong>uros: ruas<br />

Paula Matos – parte – Paraíso, São Sebastião – atual José <strong>de</strong> Alencar – la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e praça Dona<br />

Antônia. Esses logra<strong>do</strong>uros foram aceitos e reconheci<strong>do</strong>s pela Ilustríssima Câmara, em 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1849, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o parecer <strong>do</strong> ilustre verea<strong>do</strong>r dr. Francisco Torres Homem, o qual, nas suas<br />

consi<strong>de</strong>rações, salientou as vantagens <strong>de</strong>ssas novas vias públicas e o serviço assim presta<strong>do</strong> à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> por Francisco <strong>de</strong> Paula Matos, abrin<strong>do</strong> os ditos logra<strong>do</strong>uros e,<br />

gratuitamente, ce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> duas mil braças quadra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> terrenos para essa abertura estima<strong>da</strong>s,<br />

pelos avalia<strong>do</strong>res municipais, em vinte contos e trezentos e quinze mil réis.<br />

Em 1852, começaram os primeiros rumores contra Francisco <strong>de</strong> Paula Matos, já político<br />

influente, gozan<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prestígio em to<strong>da</strong>s as classes sociais, pela finura <strong>de</strong> seu trato, pelo seu<br />

dinamismo, pela sua liberali<strong>da</strong><strong>de</strong> e pelo seu dinheiro. A campanha fez-se forte e escan<strong>da</strong>losa, com artigos<br />

injuriosos pela imprensa. Foram políticos seus contrários que a movimentaram. Paula Matos foi acusa<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> espolia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> terrenos pertencentes ao município e <strong>do</strong>s quais se apossara, ilaquean<strong>do</strong> a boa fé <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s, para locupletar-se com os rendimentos <strong>de</strong> foros e laudêmios, que cobrava segun<strong>do</strong> entendia,<br />

lesan<strong>do</strong> os cofres municipais. Pressurosamente, Paula Matos ofereceu, a juízo <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara,<br />

um arrazoa<strong>do</strong>, no qual não oculta as suas faltas e procura, habilmente, atenuá-las, quan<strong>do</strong> diz “que<br />

aguar<strong>da</strong>ra os cobra<strong>do</strong>res municipais e porque não se apresentassem, sentiu-se com o direito <strong>de</strong> fazer<br />

alienações e praticar outros atos que, sem ser versa<strong>do</strong> em leis, os julgava regulares”. A Ilustríssima<br />

Câmara, levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração a valiosa aju<strong>da</strong> muita vez presta<strong>da</strong> por Paula Matos ao progresso <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, aceitou as razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica por ele invoca<strong>da</strong>s. No<br />

ano <strong>de</strong> 1853, toman<strong>do</strong> assento na Assembléia Municipal como verea<strong>do</strong>r, Paula Matos logo pediu e<br />

conseguiu <strong>do</strong>s seus pares fosse aprova<strong>da</strong> pela Ilustríssima Câmara uma nova medição e <strong>de</strong>marcação <strong>da</strong>s<br />

terras que possuía, a fim <strong>de</strong> serem discrimina<strong>da</strong>s as que fossem <strong>da</strong> sua plena proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e as que<br />

pertencessem ao senhorio direto <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Imediatas foram as providências para que se<br />

proce<strong>de</strong>ssem na forma <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>. Porém, em ofício <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1853, o engenheiro Miguel <strong>da</strong><br />

Cunha Galvão, diretor <strong>de</strong> Obras Municipais, <strong>de</strong>u a conhecer à Ilustríssima Câmara as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

surgi<strong>da</strong>s para aten<strong>de</strong>r-se com segurança o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paula Matos, com o qual, lembrou o engenheiro<br />

Galvão, <strong>de</strong>veria fazer-ser um acor<strong>do</strong>, toman<strong>do</strong> para divisas as ruas, <strong>de</strong> maneira que uma frente <strong>de</strong>las<br />

ficasse pertencen<strong>do</strong> a Paula Matos e a outra à Ilustríssima Câmara. Na<strong>da</strong> se <strong>de</strong>cidiu em <strong>de</strong>finitivo.<br />

Paula Matos foi sempre o homem <strong>de</strong> expedientes, homem que não olhava os meios para chegar<br />

aos fins e <strong>da</strong>í a atitu<strong>de</strong> que tomou, após os fatos <strong>de</strong> 1852, para livrar-se <strong>de</strong> um novo golpe <strong>do</strong>s seus<br />

inimigos, cuja sanha, dizia ele, é mister se amansar. Em 1854, novas e mais fortes acusações a Paula<br />

Matos – o usurpa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> terras. Nessa ocasião, mais agrava<strong>da</strong> a situação, porque a maioria <strong>do</strong>s que<br />

bra<strong>da</strong>vam era <strong>de</strong> pobre gente, atrain<strong>do</strong>, naturalmente, a simpatia <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> público. Paula Matos<br />

conheceu bem o perigo que o ameaçava, mas, revi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> os golpes que lhe vibravam, não se mostrou<br />

intimi<strong>da</strong><strong>do</strong> e, mais uma vez, conseguiu acomo<strong>da</strong>r a situação, com o que <strong>de</strong>liberou a Ilustríssima Câmara,<br />

em 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1856, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rar a rua Paula Matos, até a sua interseção com a Nova <strong>do</strong><br />

Con<strong>de</strong>, como sen<strong>do</strong> a linha divisória entre as terras foreiras e as terras livres. Em junho <strong>de</strong> 1856,<br />

expediu-se novo título <strong>de</strong> aforamento a Paula Matos, <strong>de</strong>marcan<strong>do</strong>-se, então, 140 braças <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> pela<br />

rua Matacavalos, corren<strong>do</strong> ao longo <strong>da</strong>s casas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> par, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a esquina <strong>da</strong> dita rua Matacavalos com<br />

a Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, até a divisa <strong>do</strong> comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Ferreira <strong>do</strong>s Santos, pela rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> a porção<br />

compreendi<strong>da</strong> entre a cita<strong>da</strong> esquina e o prolongamento <strong>da</strong> rua Paula Matos, até encontrar a Nova <strong>do</strong><br />

Con<strong>de</strong>; pelo morro <strong>de</strong> Paula Matos, a rua <strong>do</strong> mesmo nome, a qual ficou sen<strong>do</strong> a linha <strong>de</strong> fecho <strong>do</strong><br />

aforamento ou fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s terras foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, finalmente, pelo quarto la<strong>do</strong>, a divisa <strong>do</strong><br />

comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r José Ferreira <strong>do</strong>s Santos.<br />

Secular é a pen<strong>de</strong>nga sobre os terrenos <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Paula Matos que margeam a rua <strong>do</strong> Catumbi<br />

e a Frei Caneca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fonte <strong>do</strong> Lagarto até o alto <strong>da</strong> montanha, nas que<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Papa-couves. Os<br />

posseiros <strong>de</strong>sses terrenos sempre se arrogam o direito <strong>de</strong> se eximirem <strong>do</strong> pagamento <strong>de</strong> foro à<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse direito, porém, se nos afigura duvi<strong>do</strong>so, porque <strong>do</strong>s autos <strong>de</strong> aforamentos<br />

pratica<strong>do</strong>s pela Câmara, por to<strong>do</strong> o século XVIII, têm-se provas bastantes <strong>de</strong> que o município sempre


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exerceu, em to<strong>da</strong> a sua plenitu<strong>de</strong>, direitos senhoriais sobre to<strong>da</strong> a região banha<strong>da</strong> pelo rio Compri<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a nascente até a foz e que compreen<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as terras <strong>do</strong> Catumbi Pequeno, incluí<strong>do</strong>s os morros<br />

<strong>de</strong> Paula Matos e Santos Rodrigues; to<strong>da</strong>s as terras <strong>do</strong> Catumbi Gran<strong>de</strong> – Itapiru – até o alto <strong>da</strong> serra, na<br />

Cova <strong>da</strong> Onça, e to<strong>da</strong>s as terras marginais às atuais ruas São Cristovão, Estácio <strong>de</strong> Sá e Frei Caneca.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, não se compreen<strong>de</strong>, senão por <strong>de</strong>masia<strong>da</strong> con<strong>de</strong>scendência com os jesuítas, que a medição<br />

<strong>da</strong> sesmaria municipal, em 1754, tenha recua<strong>do</strong> <strong>do</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro rio Iguaçu – rio compri<strong>do</strong>, rio gran<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> frescas águas, <strong>de</strong>saguan<strong>do</strong> no mar – para o Pequeno Catumbi, que <strong>de</strong>saguava no mangal. Errou o<br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara quan<strong>do</strong> aceitou razões <strong>do</strong>s padres <strong>da</strong> Companhia, aliás sem provas, no que alegavam<br />

sobre a divisa <strong>da</strong> sesmaria que lhes fora também concedi<strong>da</strong>, para emprestar o nome <strong>de</strong> Iguaçu ao riacho<br />

Catumbi. Assim, aos jesuítas ficou pertencen<strong>do</strong> uma vasta região <strong>de</strong> terras férteis e ao tempo cultiva<strong>da</strong>s<br />

e produzin<strong>do</strong> boa ren<strong>da</strong>. 63<br />

Para completar este capítulo, algumas notas são ain<strong>da</strong> escritas dizen<strong>do</strong> respeito ao morro <strong>de</strong> Pedro<br />

Dias – <strong>de</strong>pois Sena<strong>do</strong>, no cume <strong>do</strong> qual se edificou a famosa chácara <strong>da</strong> Boa Vista, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

residência que foi <strong>de</strong> cultos e ricos fi<strong>da</strong>lgos, magistra<strong>do</strong>s e comerciantes e <strong>da</strong> qual temos fala<strong>do</strong><br />

anteriormente. Constituí<strong>do</strong>, quase to<strong>do</strong>, <strong>de</strong> terra pingue, o morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> – antigo <strong>do</strong> Pedro Dias –<br />

estava compreendi<strong>do</strong> no aforamento <strong>do</strong> guar<strong>da</strong>-mor <strong>da</strong>s Minas Gerais, Pedro Dias Paes Leme, e o seu<br />

<strong>de</strong>smonte começou no século XVIII, e só fin<strong>do</strong>u nos primeiros anos <strong>do</strong> século XX, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

consumi<strong>da</strong>s avulta<strong>da</strong>s somas. No começo <strong>do</strong> século XIX, ativou-se o trabalho <strong>do</strong> corte <strong>de</strong>ssa colina, para<br />

abertura <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, aterros no campo <strong>de</strong> Santana e outros melhoramentos projeta<strong>do</strong>s e<br />

executa<strong>do</strong>s, em parte, pelo notável Paulo Fernan<strong>de</strong>s Viana, inten<strong>de</strong>nte geral <strong>de</strong> polícia.<br />

Seguiu-se longo marasmo e, somente em 1835, voltou-se a cogitar <strong>da</strong> <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> <strong>do</strong> morro. É<br />

assim que, a 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1835, um aviso <strong>da</strong> Regência <strong>do</strong> Império, recomen<strong>do</strong>u se prosseguisse o corte<br />

entre a travessa <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e a rua Formosa – atuais ruas Vinte <strong>de</strong> Abril e General Caldwell,<br />

respectivamente. Quem diligenciou e bastante sobre a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> governo foi um Vicente Rodrigues com<br />

residência em um prédio, <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, muito agarra<strong>do</strong> ao morro e atingi<strong>do</strong>, <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> em vez,<br />

pelas que<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s barreiras – que acabariam por soterrá-lo. A Ilustríssima Câmara fez publicar editais<br />

sobre a obra <strong>do</strong> corte <strong>do</strong> morro, apresentan<strong>do</strong>-se Rodrigues com proposta, que foi aceita, para executála.<br />

Porém, o que fez não passou <strong>do</strong> necessário para livrar o seu prédio, então nº 81, <strong>da</strong> travessa <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong>, <strong>do</strong> perigo constante que o ameaçava. Em 1854, para um aterro mais sóli<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo <strong>de</strong><br />

Santana, novas investi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s picaretas contra o morro e foi nessa ocasião o contrato com o dr. João<br />

Pinto <strong>de</strong> Miran<strong>da</strong> para o arrasamento <strong>do</strong> morro, com o prazo <strong>de</strong> três anos, pela quantia <strong>de</strong> vinte contos<br />

<strong>de</strong> réis. O cita<strong>do</strong> contratante, por mais <strong>de</strong> um ano, especulou com o contrato que firmara, até associarse<br />

ao dr. Pedro <strong>de</strong> Albuquerque Rodrigues. O contrato, além <strong>do</strong> arrasamento <strong>do</strong> morro, cogitou, também,<br />

<strong>do</strong> aterro <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os pântanos existentes entre a então praça <strong>da</strong> Aclamação – atualmente, <strong>da</strong> República<br />

– e a rua <strong>do</strong> Aterro – agora Miguel <strong>de</strong> Frias; <strong>da</strong> abertura <strong>de</strong> uma aveni<strong>da</strong> pela área aterra<strong>da</strong>, começan<strong>do</strong><br />

na rua <strong>da</strong> Constituição e terminan<strong>do</strong> na <strong>de</strong> São Cristovão; <strong>do</strong> prolongamento <strong>da</strong> rua Santa Rosa – hoje<br />

marquês <strong>do</strong> Pombal – até a Matacavalos e, finalmente, <strong>da</strong> abertura <strong>de</strong> novos logra<strong>do</strong>uros no vasto campo<br />

a ser forma<strong>do</strong>, entre o Asilo <strong>de</strong> Mendigos e a chácara <strong>do</strong> Machadinho, ou seja, to<strong>do</strong> o espaço entre o<br />

atual hospital <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Assis e a rua Macha<strong>do</strong> Coelho. Como se vê, plano gigantesco que fez<br />

barulho e levantou castelos na mente <strong>de</strong> progressistas e também <strong>de</strong> negocistas. Na<strong>da</strong> se fez.<br />

Calamitoso foi o ano <strong>de</strong> 1878 para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, assola<strong>da</strong> por<br />

mortal en<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> febres malignas, cujo foco principal era a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, empesta<strong>da</strong>, então, pelos<br />

miasmas pestíferos <strong>do</strong>s pântanos <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Marte.<br />

Essa calami<strong>da</strong><strong>de</strong> motivou uma resolução <strong>da</strong> Assembléia Geral – Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s –<br />

habilitan<strong>do</strong> o governo <strong>do</strong> Império a provi<strong>de</strong>nciar, pronta e eficazmente, medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> higiene e <strong>de</strong><br />

assistência à população alarma<strong>da</strong>. Conclu<strong>de</strong>ntemente, sanear a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com o aterro <strong>do</strong>s paús que ain<strong>da</strong><br />

a ro<strong>de</strong>avam, foi o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para chegar-se a um plano geral que envolvesse to<strong>da</strong> a<br />

Sebastianópolis, melhoran<strong>do</strong>-a. Muito fala<strong>do</strong> e muito discuti<strong>do</strong> por engenheiros e médicos, esse plano<br />

não saiu <strong>do</strong> campo <strong>da</strong>s discussões. Apenas a Ilustríssima Câmara, no que foi <strong>da</strong> sua alça<strong>da</strong> e na medi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>s suas parcas finanças, levou a efeito a obra <strong>de</strong> um novo nivelamento <strong>do</strong>s principais logra<strong>do</strong>uros <strong>do</strong><br />

centro urbano e <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, rebaixan<strong>do</strong> uns e altean<strong>do</strong> outros. Em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> resolução<br />

legislativa, o governo imperial baixou o <strong>de</strong>creto nº 7.181, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1879, que conce<strong>de</strong>u ao dr.


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Posidônio <strong>de</strong> Carvalho Rodrigues, o direito <strong>de</strong> arrasar o morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e o <strong>de</strong> aterrar os pântanos e<br />

acresci<strong>do</strong>s existentes na área compreendi<strong>da</strong> pelo mesmo morro e as ruas Con<strong>de</strong> d´Eu – agora, Frei<br />

Caneca – Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna – <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> – Estácio <strong>de</strong> Sá e seguin<strong>do</strong> pela rua <strong>de</strong> São Cristovão até a<br />

praia <strong>do</strong>s Lázaros, compreendi<strong>da</strong>s as ilhas <strong>do</strong>s Melões e <strong>da</strong>s Moças, fronteiras à mesma praia. O<br />

concessionário estava obriga<strong>do</strong> a abrir ruas e praças e a executar melhoramentos em to<strong>da</strong> a área<br />

resultante <strong>do</strong>s aterros. Entretanto, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> falar os fatos por si mesmos, Possidônio <strong>de</strong> Carvalho, sem<br />

plano metodiza<strong>do</strong> e racional preconcebi<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong> obter, como obteve, uma tão vultosa concessão,<br />

visou apenas comerciá-la – primeiramente, em démarches na praça e junto ao próprio governo, <strong>do</strong> qual<br />

conseguiu o <strong>de</strong>creto nº 3.016, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1880, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> vantagens à empresa que se<br />

organizasse para o arrasamento <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>. Em meio <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1881, o dr. Possidônio fez<br />

público, pela imprensa, a causa <strong>da</strong> <strong>de</strong>mora em iniciar a obra gigantesca <strong>da</strong> sua concessão, sobre a qual<br />

procedia a estu<strong>do</strong>s, enquanto aguar<strong>da</strong>va <strong>do</strong> governo alguns elementos que lhe solicitara para <strong>da</strong>r início<br />

aos trabalhos preliminares. Os elementos solicita<strong>do</strong>s referiam-se ao ponto a que chegava a preamar<br />

média na superfície, entre a antiga ponte <strong>do</strong>s Marinheiros e as ilhas <strong>do</strong>s Melões e <strong>da</strong>s Moças – ilhas que<br />

<strong>de</strong>spareceram no começo <strong>do</strong> corrente século, com os aterros que se fizeram na antiga praia <strong>do</strong>s Lázaros.<br />

A respeito <strong>da</strong> consulta feita ao governo pelo dr. Possidônio, há material interessante no <strong>de</strong>creto nº 4.105,<br />

<strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1868, que trata <strong>de</strong> marinhas e acresci<strong>do</strong>s. Afinal, o concessionário apresentou a<br />

planta geral <strong>da</strong>s obras, aprova<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>creto nº 8.315, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1881. Em 1923, por<br />

gentileza <strong>da</strong> digna e ilustre diretoria <strong>do</strong> Arquivo Nacional, nos foi faculta<strong>do</strong> o exame <strong>de</strong>ssa planta, bem<br />

curiosa, aliás. O <strong>de</strong>smonte <strong>do</strong> morro e outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> terra e o seu transporte tiveram<br />

início e foram se fazen<strong>do</strong> morosamente, até que se paralisaram. O dr. Possidônio <strong>de</strong> Carvalho Rodrigues<br />

transferiu a concessão a Paulo Taves & Antônio Domingos <strong>do</strong>s Santos, que, por sua vez, transferiramna<br />

ao Banco Auxiliar, por escritura <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1887, em notas <strong>do</strong> tabelião Marcolino <strong>de</strong> Moura<br />

e Albuquerque, livro 391, fls. 41v. O <strong>de</strong>creto nº 687, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1890, autorizou a transferência<br />

<strong>da</strong> concessão Possidônio para a Empresa <strong>de</strong> Melhoramentos <strong>do</strong> Brasil. Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1908 foi arrasa<strong>do</strong>,<br />

totalmente, o morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, pelo Ministério <strong>da</strong> Viação, na forma <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto nº 4.969, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1903, <strong>do</strong> governo <strong>da</strong> República. Na área resultante <strong>do</strong> arrasamento foram abertos vários<br />

logra<strong>do</strong>uros públicos, nos quais se edificaram sóli<strong>do</strong>s e belos prédios. Embelezou-se, assim, esse ponto<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.


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Catumbi Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova e Ad ja c ê n c i a s


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C a t u m b i<br />

Pelos caminhos torci<strong>do</strong>s que foram sen<strong>do</strong> abertos na planície palu<strong>do</strong>sa, pelo pique a facão e pelo<br />

mato <strong>de</strong>stoca<strong>do</strong>, penetraram os conquista<strong>do</strong>res portugueses os sertões <strong>da</strong> terra carioca, cautelosamente,<br />

<strong>de</strong>sbravan<strong>do</strong>-a e assentan<strong>do</strong> arraiais, <strong>do</strong>s quais se originaram os antigos bairros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. De um arraial assente às margens <strong>do</strong> rio Catumbi, veio o bairro <strong>do</strong> mesmo<br />

nome, que significa água <strong>do</strong> mato escuro. Sítio ameno, terras ubérrimas e corta<strong>do</strong> <strong>de</strong> rio e <strong>do</strong>s seus<br />

esteiros, rápi<strong>do</strong> foi o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> arraial <strong>de</strong> Catumbi, <strong>de</strong> forma que o século XVII já encontrou,<br />

em franca ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho agrícola, engenhos e olarias. Para esse progredimento, foi fator <strong>de</strong><br />

importância o rio Catumbi – também dito <strong>do</strong>s Passarinhos —, que corria, então, em saltos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

nascente até uma regular distância e, <strong>de</strong>pois, ia serpentean<strong>do</strong>, a murmurar suas águas cristalinas, por<br />

espessa mata. Varia<strong>da</strong> espécie <strong>de</strong> pássaros cantores povoava as margens <strong>do</strong> rio, tornan<strong>do</strong> a região mais<br />

atraente. Porém, bem <strong>de</strong>pressa, veio a ser <strong>de</strong>spi<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> esse encantamento. Assim é que, ao fin<strong>da</strong>r o<br />

século XVII, o rio Catumbi tinha sofri<strong>do</strong> <strong>de</strong>svios <strong>do</strong> seu curso natural e represa <strong>de</strong> águas em diferentes<br />

pontos. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século XVIII, transformou-se em escoa<strong>do</strong>uro <strong>da</strong>s imundícies <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

bairro. Quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> divisão <strong>da</strong>s antigas quintas, fim <strong>do</strong> século XVII, os <strong>de</strong>svios <strong>do</strong> rio, seus braços ou<br />

abertas tomaram-se por afluentes e serviam <strong>de</strong> limites às terras que se dividiam. Esse mesmo erro<br />

repetiu-se na medição <strong>da</strong> sesmaria municipal, em 1753, toman<strong>do</strong>-se um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>svio ou braço <strong>do</strong><br />

Catumbi como sen<strong>do</strong> um outro rio, ao qual <strong>de</strong>ram o nome <strong>de</strong> Coqueiros e, também, Papa-couves. A<br />

partir <strong>do</strong> começo <strong>do</strong> século XVIII, nas terras <strong>da</strong>s antigas quintas que se <strong>de</strong>smembraram, plantaram-se<br />

novas e menores chácaras e mo<strong>de</strong>rnizaram-se as velhas mora<strong>da</strong>s e Catumbi fez-se núcleo <strong>de</strong> famílias<br />

nobres e ricas. Também, pelo número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> escravos <strong>de</strong>ssas famílias, foi em Catumbi que a<br />

concentração negra se acentuou bastante. Nos últimos anos <strong>do</strong> século XIX, eram ruínas esses antigos<br />

solares e Catumbi, sombra apenas <strong>de</strong> um passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> nobreza e opulência, fez-se em zona <strong>do</strong> bamba<br />

carioca.<br />

Das chácaras antigas, por mais importantes, citamos a <strong>do</strong> Pinheiro, a <strong>da</strong> Floresta, <strong>do</strong>s Coqueiros e<br />

a <strong>do</strong> Souto. A chácara <strong>do</strong> Pinheiro 6 4 ficava no alto <strong>do</strong> Catumbi, numa íngreme subi<strong>da</strong> para o morro <strong>da</strong><br />

Alagoinha – atual Paula Matos. Essa subi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> remota época, com servidão pública, veio a ser,<br />

oficialmente, aceita como tal pela Ilustríssima Câmara, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Pinheiro, <strong>de</strong>pois<br />

rua Antônio João e, atualmente, Eleone <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. A <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Pinheiro começou<br />

em 1856 e abriram-se, então, logra<strong>do</strong>uros, sen<strong>do</strong> as ruas <strong>do</strong> Cunha e Fresca, os primeiros e os principais.<br />

A chácara <strong>da</strong> Floresta, já em ruínas, em 1858, veio a pertencer ao ricaço José Bento Ramos<br />

Pereira, que procurou, quanto possível, restaurar o velho solar, on<strong>de</strong> fez a sua residência.<br />

A chácara <strong>do</strong>s Coqueiros – antiga <strong>do</strong> Viegas – foi vendi<strong>da</strong>, a 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1812, pelo seu <strong>do</strong>no,<br />

Joaquim Viegas, a Francisco Xavier Pires. Em uma situação magnífica, na parte mais alta <strong>do</strong> Catumbi,<br />

com fun<strong>do</strong>s em Santa Teresa, a chácara <strong>do</strong>s Coqueiros pertenceu, também, a Francisco Teresiano Fortes<br />

e <strong>de</strong>pois, menos extensa e bem modifica<strong>da</strong>, passou a pertencer a José Francisco Gonçalves, o qual<br />

passou a residir na chácara, fazen<strong>do</strong> as obras que a modificaram e <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> vila<br />

Cecília, ou Santa Cecília, prenome <strong>da</strong> esposa <strong>de</strong> Gonçalves. Por morte <strong>de</strong> José Francisco Gonçalves, a<br />

sua viúva e os seus filhos ven<strong>de</strong>ram a chácara a Farani & Cia. A dita firma retalhou a importante<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, abriu ruas e ven<strong>de</strong>u os terrenos em leilão público anuncia<strong>do</strong> no Jornal <strong>do</strong> Commércio, <strong>de</strong><br />

18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1875. O portão <strong>da</strong> vila Cecília ficava bem fronteiro à velha rua <strong>do</strong>s Coqueiros, que<br />

aí terminava, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong>, em 1875, prolonga<strong>da</strong> pela vila, cortan<strong>do</strong>-a.<br />

A chácara <strong>do</strong> Souto era bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>, boa casa resi<strong>de</strong>ncial e ocupava um terreno retangular, com<br />

frente <strong>de</strong> 90 braças e 300 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>.<br />

No mea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVIII, ain<strong>da</strong> pertencia ao velho e antigo oleiro João <strong>da</strong> Silva Souto e, por<br />

sua morte, passou aos seus her<strong>de</strong>iros Manoel José <strong>da</strong> Silva Souto e João Luiz <strong>da</strong> Silva Souto. Como<br />

sucessora <strong>de</strong>sses últimos proprietários, aparece Maria Joaquina Souto <strong>de</strong> Oliveira, casa<strong>da</strong> com Bento<br />

Gomes <strong>de</strong> Oliveira. Por <strong>de</strong>zenove contos <strong>de</strong> réis, foi a chácara <strong>do</strong> Souto vendi<strong>da</strong> pelo dito casal a<br />

Dionísio Uriost, em 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1827. Por fim, a 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1849, escritura em notas <strong>do</strong><br />

tabelião Joaquim José <strong>de</strong> Castro, Dionísio Uriost ven<strong>de</strong>u a chácara, pela quantia <strong>de</strong> quarenta e <strong>do</strong>is<br />

contos <strong>de</strong> réis, à Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, a qual fez a compra com o fim <strong>de</strong> localizar,<br />

no terreno <strong>da</strong> chácara, como localizou, o cemitério para os irmãos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, muito embora os protestos<br />

<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Catumbi.


C A P Í T U L O X V I | 2 9 3<br />

É interessante dizer que, por mais <strong>de</strong> século, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> exerceu<br />

pacificamente o senhorio direto sobre to<strong>do</strong>s os chãos <strong>de</strong>ssas ditas chácaras, como também praticou<br />

aforamentos que iam muito além <strong>do</strong> rio Catumbi e alcançavam to<strong>da</strong>s as terras à margem direita <strong>do</strong> rio<br />

Compri<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a nascente à foz, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, pois, to<strong>do</strong> o Catumbi Pequeno, os morros <strong>de</strong> Paula<br />

Matos e <strong>do</strong>s Santos Rodrigues e o Catumbi Gran<strong>de</strong> – Itapiru na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e até o alto <strong>da</strong> serra, no lugar<br />

<strong>da</strong> Cova <strong>da</strong> Onça, atualmente, rua Barão <strong>de</strong> Petrópolis – inclusive os terrenos <strong>do</strong> Papa-couves.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, não resta dúvi<strong>da</strong> que, em 1754, por ocasião <strong>da</strong> medição <strong>da</strong> sesmaria municipal,<br />

fugiu-se à ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, haven<strong>do</strong> erro ou má-fé, aceitan<strong>do</strong>-se como sen<strong>do</strong> o rio Iguaçu – o Catumbi, quan<strong>do</strong><br />

o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro Iguaçu é o rio Compri<strong>do</strong>. Per<strong>de</strong>u a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a favor <strong>do</strong>s jesuítas, um extenso<br />

território – com esse erro ou má fé.<br />

A nossa opinião tem fun<strong>da</strong>mento na farta e fi<strong>de</strong>digna <strong>do</strong>cumentação que existe sobre o fato –<br />

<strong>do</strong>cumentação, infelizmente, esparsa por diferentes arquivos públicos e particulares e pelos cartórios <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Por ela se conhece que, em 1610, o rico oleiro João Martins Castelhano obteve, a seu<br />

pedi<strong>do</strong>, à Câmara <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o aforamento <strong>da</strong>s terras on<strong>de</strong> estava a sua olaria, que eram duzentas braças<br />

<strong>de</strong> frente no caminho que vinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para São Cristovão, à mão esquer<strong>da</strong>, fican<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong>s,<br />

nesse aforamento, o outeiro, na encosta <strong>da</strong> qual ficava a viven<strong>da</strong> <strong>de</strong> Castelhano, uma engenhoca e outras<br />

benfeitorias. Ain<strong>da</strong> um outro aforamento, concedi<strong>do</strong> pela Câmara, em 1621, a Francisco <strong>da</strong> Costa<br />

Homem, prova que pertenciam à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as terras entre a rua <strong>de</strong> São Cristóvão e o Mangue.<br />

Te r renos <strong>do</strong> Papa-couves<br />

No fim <strong>do</strong> século XVIII, uma gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> terra acima <strong>do</strong>s canos <strong>da</strong> Carioca – hoje rua <strong>do</strong><br />

Aqueduto –, era ocupa<strong>da</strong> por uma chácara pertencente ao dr. Manoel Pinheiro <strong>da</strong> Fonseca. Essa chácara<br />

era mística com uma outra situa<strong>da</strong> abaixo <strong>do</strong>s ditos canos, foreira à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e que também<br />

pertencia ao dr. Pinheiro <strong>da</strong> Fonseca, tu<strong>do</strong> na forma <strong>do</strong> que se encontra registra<strong>do</strong> às fls. 28, <strong>do</strong> livro 6,<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, em 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1804. Os her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> dr. Manoel Pinheiro <strong>da</strong> Fonseca, que<br />

foram Maria <strong>da</strong> Conceição Pereira e os seus filhos, fizeram <strong>da</strong>s duas chácaras uma só, e ven<strong>de</strong>ram-na ao<br />

capitão Francisco Pires Leal, cujo filho e her<strong>de</strong>iro, o padre Dionísio Pires Leal, ven<strong>de</strong>u a nova e extensa<br />

chácara a João Marcos <strong>de</strong> Araújo Pereira. Por morte <strong>de</strong> Pereira, <strong>de</strong>savieram-se <strong>do</strong>is filhos seus, em<br />

conseqüência <strong>da</strong> herança. Daí a praça <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pelo fina<strong>do</strong>, inclusive a chácara. Na<br />

parte foreira <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> chácara, um extenso terreno permaneceu inculto e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> por alguns anos.<br />

No ponto mais alto <strong>de</strong>sse terreno, houve um posto telegráfico, instala<strong>do</strong> pelo governo, em começo <strong>do</strong><br />

ano <strong>de</strong> 1826, e já aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> em 1830, quan<strong>do</strong>, no mesmo terreno, acampou um indivíduo <strong>de</strong> nome<br />

Antônio Inácio Corrêa, o qual aí fixou moradia e fez gran<strong>de</strong> e varia<strong>da</strong> plantação.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, construiu uma boa casa para residir e outras benfeitorias. O bem-estar <strong>de</strong> Inácio<br />

Corrêa, a quem <strong>da</strong>vam a alcunha <strong>de</strong> Papa-couves, causou a inveja <strong>de</strong> vizinhos, alguns potenta<strong>do</strong>s, que<br />

tu<strong>do</strong> fizeram para <strong>de</strong>salojar o velho Corrêa, impie<strong>do</strong>samente injuria<strong>do</strong> e ridiculariza<strong>do</strong> por eles. Levaram<br />

a juízo <strong>de</strong>núncia contra Antônio Inácio Corrêa, aponta<strong>do</strong> como usurpa<strong>do</strong>r e como costuma<strong>do</strong> na prática<br />

<strong>de</strong> ilegali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O <strong>de</strong>sfecho <strong>da</strong> questão foi favorável a Corrêa. Em 1844, nova campanha contra o Papacouves,<br />

<strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> intruso no terreno que ocupava. Tu<strong>do</strong> isso, obra <strong>de</strong> apanigua<strong>do</strong>s <strong>da</strong> corrente política<br />

contrária ao ilustre verea<strong>do</strong>r Had<strong>do</strong>ck Lobo, que era o protetor <strong>do</strong> Papa-couves. Dessa feita, Antônio<br />

Inácio Corrêa dirigiu-se, em pessoa, a juízo e confessou ser intruso no terreno, que achou aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e<br />

inculto, e no qual fez a sua viven<strong>da</strong> e on<strong>de</strong> vinha passan<strong>do</strong> os seus dias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, sempre agin<strong>do</strong> <strong>de</strong> boafé.<br />

Fez-se-lhe justiça, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se-lhe sentença favorável. Ele ganhou a questão pela sua reta conduta, pela<br />

posse pacífica que <strong>de</strong>sfrutava <strong>do</strong> terreno havia anos e <strong>do</strong> direito que lhe <strong>da</strong>va o alvará régio <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1820.<br />

Ain<strong>da</strong> a favor <strong>de</strong> Corrêa, como rezam os autos <strong>da</strong> querela, foram, por várias vezes, <strong>de</strong>spreza<strong>da</strong>s<br />

as suas tentativas honestas para conseguir o aforamento <strong>do</strong> terreno. Mas, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua insistência e<br />

<strong>da</strong>s razões cabíveis à pretensão, não se lhe <strong>da</strong>va <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>finitiva e agia-se cavilosamente com<br />

protelações e má-fé. E foi em face <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s esses fatos, que a Ilustríssima Câmara <strong>de</strong>liberou, a 14 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1862, a favor <strong>de</strong> Ana Joaquina <strong>de</strong> São José, viúva <strong>de</strong> Antônio Inácio Corrêa, o Papa-couves, na<br />

conten<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssa senhora com o seu vizinho – o potenta<strong>do</strong> José Alves Ferreira <strong>de</strong> Magalhães, sobre a posse<br />

<strong>do</strong>s terrenos <strong>do</strong> Papa-couves.


2 9 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova<br />

Entre o maciço <strong>de</strong> Santa Teresa, ao sul, e a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> morros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> São Bento até São Diogo, ao<br />

norte, <strong>de</strong>mora a planície <strong>de</strong> origem palu<strong>do</strong>sa e para on<strong>de</strong> foram escorregan<strong>do</strong>, <strong>do</strong> alto <strong>do</strong> outeiro <strong>do</strong><br />

Descanso, os primeiros povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Na parte <strong>de</strong>sse extenso vale, além <strong>da</strong> atual praça<br />

<strong>da</strong> República, assentou-se a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova sobre os terrenos artificiais oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> aterro <strong>de</strong> enorme<br />

mangal que, então, ali existia.<br />

A transferência 65 <strong>da</strong> família real portuguesa para o Brasil, em 1808, e a escolha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> para se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Corte e <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> Reino <strong>de</strong> Portugal, Brasil e <strong>do</strong>s Algarves<br />

são fatos bem conheci<strong>do</strong>s e que assinalam na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> nossa principal ci<strong>da</strong><strong>de</strong> uma fase <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

evolução material, moral e social. Materialmente, realizaram-se obras <strong>de</strong> embelezamento e limpeza <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. São <strong>de</strong>ssa época as primeiras tentativas para a formação <strong>de</strong> uma nova ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a começar <strong>do</strong><br />

antigo campo <strong>de</strong> Santana e até São Cristóvão. Pelo muito que se projetou, bem pouco o que se fez e,<br />

mesmo esse pouco, que foi perfeito, aliás, o tempo e o <strong>de</strong>scaso <strong>da</strong> administração fizeram <strong>de</strong>saparecer por<br />

completo. Em 1858, dizia na Ilustríssima Câmara, o notável verea<strong>do</strong>r Gonçalves Fontes, mais tar<strong>de</strong><br />

barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Doce: “... E o esta<strong>do</strong> que se nos apresenta a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova é <strong>de</strong>sola<strong>do</strong>r e <strong>de</strong>primente aos<br />

nossos foros <strong>de</strong> civilização.” Seguiram-se, então, estu<strong>do</strong>s e planos para novos arruamentos,<br />

nivelamentos e outras obras <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública para essa zona <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Ilustríssima Câmara<br />

<strong>de</strong>terminou aos seus <strong>de</strong>partamentos técnicos a organização <strong>de</strong> planos e orçamentos necessários, pediu a<br />

colaboração <strong>da</strong> Inspetoria <strong>de</strong> Obras Públicas <strong>da</strong> Corte e convi<strong>do</strong>u, por editais, arquitetos nacionais e<br />

estrangeiros a também colaborarem na realização <strong>da</strong>s obras. Afinal, prevaleceu, com ligeiros cortes, o<br />

plano oficial <strong>de</strong> autoria <strong>do</strong> engenheiro Manoel <strong>da</strong> Cunha Galvão, então diretor <strong>da</strong> Repartição <strong>de</strong> Obras<br />

Municipais. O engenheiro Galvão <strong>de</strong>ixou o dito cargo, em fevereiro <strong>de</strong> 1859, por ter si<strong>do</strong> nomea<strong>do</strong><br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> província <strong>de</strong> Sergipe.<br />

Para sugestões, o plano Galvão, acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma memória <strong>de</strong>scritiva, foi faculta<strong>do</strong> ao exame<br />

<strong>do</strong> público no Paço Municipal. É assim que sobre o mesmo plano se manifestaram <strong>do</strong>is provectos<br />

engenheiros estrangeiros. Gusty, engenheiro inglês, que o aprovou, e o engenheiro francês Rainé<br />

Leroyir, que sugeria ligeiras modificações. São <strong>do</strong> plano Galvão a abertura <strong>da</strong> atual rua Macha<strong>do</strong><br />

Coelho; o prolongamento <strong>da</strong> antiga rua <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong> até a bica <strong>do</strong>s Marinheiros – rua que se chamou,<br />

<strong>de</strong>pois, Sena<strong>do</strong>r Euzébio, e que <strong>de</strong>sapareceu com a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas; aterro,<br />

alinhamento e alargamento <strong>da</strong>s ruas que então existiam transversais ao Mangue. O plano cogitou <strong>de</strong><br />

outros empreendimentos que não se realizaram e, entre os quais, citamos o prolongamento <strong>do</strong>s extremos<br />

<strong>da</strong>s ruas <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga – agora Benedito Hipólito – e São Leopol<strong>do</strong> – atual Júlio <strong>do</strong> Carmo. Esse<br />

prolongamento estendia essas ruas, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, até a atual praça <strong>da</strong> República e, <strong>do</strong> outro, até o An<strong>da</strong>raí<br />

Gran<strong>de</strong>. O edifício <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, que estava sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>, ficaria la<strong>de</strong>a<strong>do</strong> pelas duas precita<strong>da</strong>s<br />

vias públicas. Ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> mesmo plano, era uma praça ajardina<strong>da</strong>, entre o gasômetro e a rua Nova <strong>do</strong><br />

Con<strong>de</strong>, hoje, Frei Caneca. Depois, longos anos <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no, imperfeições maiores, males que<br />

obliteravam o seu povo e, como que temi<strong>da</strong>, a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova envelheceu e sempre na esperança <strong>de</strong><br />

melhores dias – que na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, nos parece, se concertam, <strong>da</strong><strong>da</strong> a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

Vargas.<br />

Adjacências – Mangues<br />

Coberta <strong>de</strong> lagoas, pântanos e restingas era a região extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. No século XVII, lota<strong>da</strong>s as terras nesse campo alagadiço, a Câmara começou a concedêlas<br />

aos mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, por módico foro anual, e sob a condição <strong>de</strong> seu imediato aproveitamento.<br />

Dessa planície restou enorme mangal ou sapal alaga<strong>do</strong>, <strong>de</strong> marés salga<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os areais <strong>do</strong> Capueruçu<br />

até São Cristóvão, e que se constituía <strong>de</strong> três diferentes porções: mangal <strong>do</strong> Capueruçu, mangal <strong>de</strong><br />

Mataporcos e mangal <strong>de</strong> São Diogo. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, <strong>de</strong>feituosa e lenta, foi sen<strong>do</strong> feita a obra <strong>do</strong><br />

aterro <strong>de</strong>sses mangues – sempre consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s bens próprios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ex-vi <strong>da</strong>s Or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> Reino.<br />

Nos últimos anos <strong>do</strong> século <strong>do</strong>s vice-reis, as vistas <strong>do</strong>s governantes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> voltaram-se, com<br />

acentua<strong>do</strong> interesse, para essa parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> coberta quase to<strong>da</strong> <strong>de</strong> enegreci<strong>do</strong> e repugnante<br />

Hoje há no bairro <strong>do</strong> Flamengo uma rua Sena<strong>do</strong>r Euzébio. (N.E.)


C A P Í T U L O X V I | 2 9 5<br />

lo<strong>da</strong>çal, na qual vivia, em casebres e palhoças, uma população <strong>de</strong> humil<strong>de</strong>s operários e trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Fizeram-se, então, obras aperfeiçoa<strong>da</strong>s e dura<strong>do</strong>uras, aterran<strong>do</strong>-se e dissecan<strong>do</strong>-se uma gran<strong>de</strong> porção<br />

<strong>do</strong>s antigos mangues. Nesse aterra<strong>do</strong>, e com as frentes volta<strong>da</strong>s para Matacavalos e Mataporcos,<br />

plantaram-se as gran<strong>de</strong>s chácaras, que se <strong>de</strong>smembraram no começo <strong>do</strong> século XIX para <strong>da</strong>r espaço às<br />

vias públicas e à casaria <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Os lo<strong>da</strong>çais que ain<strong>da</strong> ficaram, e que eram os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssas<br />

ditas chácaras, foram sen<strong>do</strong> aterra<strong>do</strong>s, lentamente, com o lixo <strong>da</strong>s casas – coberto <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> barreira e<br />

cinza <strong>de</strong> gás.<br />

O <strong>de</strong>ssecamento <strong>do</strong> extenso mangal, que ficava além <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana, entrou no Plano <strong>de</strong><br />

Melhoramentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> organiza<strong>do</strong> por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> príncipe regente, <strong>de</strong>pois rei <strong>do</strong>m João VI, logo após<br />

a sua chega<strong>da</strong> ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Para estimular a iniciativa particular, o mesmo regente conce<strong>de</strong>u<br />

porções <strong>de</strong>sse mangue, sob condição <strong>de</strong> imediato beneficiamento. Um <strong>do</strong>s contempla<strong>do</strong>s,<br />

generosamente, foi Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, o qual já, em 1809, com uma gran<strong>de</strong> área aterra<strong>da</strong>,<br />

operava vantajosos negócios com os terrenos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> aterro que fizera. Ce<strong>de</strong>u, <strong>da</strong> sua posse, o<br />

terreno necessário à construção <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia Nova, e lucrou com isso a empreita<strong>da</strong> <strong>da</strong> obra, que transferiu,<br />

por hipoteca, ao Banco <strong>do</strong> Brasil, sob a alegação <strong>de</strong> encontrar-se em dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras. Protegi<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Corte, Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, o Fernandinho, como era chama<strong>do</strong>, conseguiu, ain<strong>da</strong>, por fim,<br />

<strong>de</strong>sfazer-se <strong>do</strong>s seus terrenos, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-os a bom dinheiro e a fazer, com ótimas vantagens, a<br />

transferência <strong>da</strong> obra <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia Nova para o Governo Real. Os alicerces <strong>do</strong> edifício, em grossas pedras,<br />

chegaram a ser levanta<strong>do</strong>s e, sobre os mesmos, mais tar<strong>de</strong>, edificou-se a monumental igreja <strong>de</strong> Santana,<br />

matriz <strong>da</strong> freguesia <strong>de</strong> mesmo nome, na conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cessão e permuta feitas pelo governo imperial,<br />

em 1840. A matriz <strong>de</strong> Santana é agora o Templo Nacional <strong>de</strong> A<strong>do</strong>ração Perpétua – dia e noite – a Jesus<br />

Sacramenta<strong>do</strong>.<br />

Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, antigo cabeleireiro <strong>do</strong> vice-rei <strong>do</strong>m Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Portugal,<br />

fun<strong>do</strong>u, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, o teatro São João, que <strong>de</strong>pois se chamou São Pedro. Demoli<strong>da</strong> a velha e<br />

tradicional casa <strong>de</strong> espetáculos, levantou-se, no mesmo local, um outro edifício, que recebeu o nome <strong>de</strong><br />

teatro João Caetano.<br />

Em continuan<strong>do</strong> a obra <strong>da</strong> extinção <strong>do</strong>s lo<strong>da</strong>çais, o governo <strong>da</strong> Regência, em 1815, para<br />

incrementá-la, baixou a provisão <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> maio, que dispôs sobre a concessão <strong>de</strong> 220 braças <strong>de</strong> mangue,<br />

em prazos <strong>de</strong> 12 braças, às pessoas aptas e com recursos para beneficiá-los e aproveitá-las no interesse<br />

<strong>da</strong> comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> pública e <strong>do</strong> engran<strong>de</strong>cimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Com o<br />

intuito <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para custear obras a cargo <strong>da</strong> Intendência Geral <strong>da</strong> Polícia <strong>da</strong> Corte, o alvará régio <strong>de</strong><br />

19 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820 conce<strong>de</strong>u, à dita repartição, a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> arren<strong>da</strong>r terrenos oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> aterros<br />

<strong>de</strong> mangues na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova e adjacências. O mesmo alvará estipulou o preço <strong>da</strong> braça <strong>de</strong> terreno<br />

arren<strong>da</strong><strong>do</strong> em trezentos e vinte réis, com pagamento anual, e ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>u a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> aos arren<strong>da</strong>tários para<br />

usar e beneficiar os terrenos como enten<strong>de</strong>ssem. Outrossim, ficou entendi<strong>do</strong> que na vigência <strong>do</strong><br />

arren<strong>da</strong>mento, as benfeitorias seriam consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s bens hipotecários, fican<strong>do</strong> livre, porém, a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

mesmas, sob condições <strong>de</strong> obrigar-se o compra<strong>do</strong>r a tirar um novo título <strong>de</strong> posse. Ain<strong>da</strong>, os<br />

arren<strong>da</strong>tários obrigavam-se à conservação <strong>da</strong>s testa<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s terrenos, no interesse <strong>do</strong> bem público.<br />

Entretanto, embora precárias, essas concessões criaram, mais tar<strong>de</strong>, questões com a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

cujos direitos <strong>de</strong> usufrutuária <strong>de</strong>sses terrenos foram postos em dúvi<strong>da</strong>, a <strong>de</strong>speito <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1834. E foi em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa lei, que a Ilustríssima Câmara man<strong>do</strong>u proce<strong>de</strong>r larga <strong>de</strong>vassa sobre a<br />

ocupação <strong>de</strong> terrenos no mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, <strong>de</strong>vassa que <strong>de</strong>sven<strong>do</strong>u graves abusos e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras<br />

patifarias na posse <strong>de</strong>sses terrenos a coberto <strong>da</strong>quelas precita<strong>da</strong>s concessões. Não foi na<strong>da</strong> fácil penetrar<br />

no labirinto que é a <strong>do</strong>cumentação, quase to<strong>da</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> e estraga<strong>da</strong>, referente ao extenso mangue.<br />

Mas, mesmo assim, ain<strong>da</strong> oferece achegas bem valiosas e tanto é que, por ela, po<strong>de</strong>mos falar sobre duas<br />

importantes proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s foreiras à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e que ocuparam o mangue, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s Capueruçu<br />

e Machadinho.<br />

Chácara <strong>de</strong> Capueruçu<br />

No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século XVIII, Paulo Pinto <strong>de</strong> Faria e o seu cunha<strong>do</strong>, briga<strong>de</strong>iro Manoel <strong>de</strong><br />

Almei<strong>da</strong>, por cabeça <strong>de</strong> sua mulher Helena <strong>da</strong> Cruz Pinto <strong>de</strong> Faria <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, fizeram-se <strong>do</strong>nos <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> chácara chama<strong>da</strong> <strong>do</strong> Capueruçu, no campo extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança, na


2 9 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

liqui<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> inventário e <strong>da</strong> partilha <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pela rica viúva Ana <strong>de</strong> Faria, a quem pertencera<br />

a referi<strong>da</strong> chácara. A chácara <strong>do</strong> Capueruçu, na sua enorme área, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a atual praça <strong>da</strong> República até a<br />

rua <strong>de</strong> São Cristovão, compreendia terras arenosas, terras enxutas, alagadiços, mangues com perigosos<br />

lo<strong>da</strong>çais e era banha<strong>da</strong> nos fun<strong>do</strong>s pela lagoa <strong>do</strong> Capueruçu ou <strong>da</strong> Sentinela. Os precita<strong>do</strong>s her<strong>de</strong>iros<br />

ven<strong>de</strong>ram a chácara a Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>, homem bom <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

governo <strong>da</strong> capitania e com bastante influência política. Rocha Macha<strong>do</strong> foi pronto no reconhecimento<br />

<strong>do</strong> senhorio direto <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara sobre as terras <strong>da</strong> chácara que comprara, pedin<strong>do</strong>, logo após a<br />

compra, a respectiva carta <strong>de</strong> aforamento, que lhe foi concedi<strong>da</strong> em 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1742. Rocha<br />

Macha<strong>do</strong> pagou sempre pontualmente os foros <strong>da</strong>quele senhorio. Os seus her<strong>de</strong>iros, porém, sem<br />

qualquer justificativa apresenta<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> cumprir com sua obrigação e, ain<strong>da</strong>, arbitrariamente<br />

<strong>de</strong>ram início ao <strong>de</strong>smembramento <strong>da</strong> chácara e vendiam as <strong>de</strong>smembrações como alodiais. Esse<br />

irregular e ostensivo proce<strong>de</strong>r levou o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara a tomar enérgicas providências contra os<br />

mesmos her<strong>de</strong>iros, administrativa e judicialmente.<br />

A viúva <strong>de</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>, Teresa <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, veio a contrair uma dívi<strong>da</strong> <strong>de</strong> quinze mil<br />

cruza<strong>do</strong>s, juros e legítimas, com seu genro, o alferes José Elói Xavier. Em morren<strong>do</strong> a referi<strong>da</strong> senhora,<br />

os seus filhos e outros seus her<strong>de</strong>iros, para evitar <strong>de</strong>spesas, inimiza<strong>de</strong>s e outros prejuízos, ajustaram <strong>da</strong>r<br />

ao dito cre<strong>do</strong>r e co-her<strong>de</strong>iro, em pagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>, terras que possuíam <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong><br />

Capueruçu. Essas terras, muito aproveitáveis, corriam frente na estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Mataporcos – hoje rua Estácio<br />

<strong>de</strong> Sá —, e fun<strong>do</strong>s à beira <strong>do</strong> mar, on<strong>de</strong> ficava a bica <strong>do</strong>s Marinheiros – na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> começo <strong>da</strong> rua<br />

Miguel <strong>de</strong> Frias, antiga <strong>do</strong> Aterro e primitivamente, no século XVII, caminho <strong>da</strong> Bica.<br />

A entrega <strong>de</strong>ssas terras fez-se por escritura pública, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1801, em notas <strong>do</strong><br />

tabelião Antônio <strong>de</strong> Carvalho. Do casal <strong>de</strong> Antônio Rocha Macha<strong>do</strong> e Teresa <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> existiam, ao<br />

tempo <strong>da</strong> dita escritura, os seguintes filhos, Luiz e Joaquim <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>, Caetana Benedita <strong>de</strong><br />

Brito, casa<strong>da</strong> com o já referi<strong>do</strong> alferes José Elói Xavier, Palucena Luiza <strong>de</strong> Brito, Ana <strong>do</strong>s Prazeres Brito<br />

e Francisca <strong>de</strong> Paula Brito. As três últimas cita<strong>da</strong>s senhoras residiam em boa casa própria, à rua<br />

Sucussarará, atual Quitan<strong>da</strong>, e morreram em avança<strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, solteiras. Ana faleceu a 23 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1827 e, quatro dias <strong>de</strong>pois, Francisca. Foram sepulta<strong>da</strong>s na igreja <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula.<br />

Chácara <strong>do</strong> Machadinho<br />

Nas <strong>de</strong>smembrações <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Capueruçu foram sen<strong>do</strong> forma<strong>da</strong>s novas chácaras, uma <strong>da</strong>s<br />

quais, pela sua extensão e trato, a mais importante, tinha frente no arraial <strong>de</strong> Matacavalos e pertenceu a<br />

Manoel Macha<strong>do</strong> Coelho, negociante, proprietário e industrial, na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX.<br />

Macha<strong>do</strong> Coelho foi possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, muito conceitua<strong>do</strong>, e fez-se político <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

prestígio nas paróquias <strong>de</strong> Santana e <strong>do</strong> Espírito Santo.<br />

Na medição <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Machadinho, procedi<strong>da</strong> a 2 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1844, verificou-se ter a<br />

mesma uma frente <strong>de</strong> 158 braças e fun<strong>do</strong>s até encontrar o prolongamento <strong>da</strong>, então, rua <strong>do</strong> Sabão <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova – posteriormente chama<strong>da</strong> São Sebastião e, por último, viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna – <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong><br />

com a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Va rgas. Contam-se muitos os aforamentos <strong>de</strong> terrenos<br />

<strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Machadinho, pratica<strong>do</strong>s pela Ilustríssima Câmara. Desses aforamentos,<br />

<strong>de</strong>staca-se o que foi concedi<strong>do</strong> a Antônio Macha<strong>do</strong> Coelho <strong>de</strong> Castro, neto <strong>de</strong> Manoel Macha<strong>do</strong> Coelho,<br />

a 12 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1864. Esse aforamento compreen<strong>de</strong>u uma área <strong>de</strong> terreno, com testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente<br />

pela rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna, numa extensão <strong>de</strong> 283m, com largura <strong>de</strong> 387m nos fun<strong>do</strong>s. A curiosa<br />

<strong>do</strong>cumentação que conseguimos <strong>de</strong>scobrir e examinar, atentamente, sobre a chácara <strong>do</strong> Machadinho,<br />

<strong>de</strong>ixa crer em uma diferença, embora insignificante, entre a medição <strong>de</strong> 1844 e a <strong>de</strong> 1864, quanto às<br />

testa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> frente e <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> dita chácara, parecen<strong>do</strong> justificá-la os cortes que se fizeram para os<br />

logra<strong>do</strong>uros públicos, que se abriram pela mesma chácara e que, <strong>de</strong> 1844 a 1864, foram sen<strong>do</strong> alinha<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> conveniente. Uma larga faixa, <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Marte e as ruas até a <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Frias, formaramse<br />

<strong>de</strong> terrenos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> aterro <strong>da</strong> parte alagadiça <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Machadinho.


O Canal <strong>do</strong> Mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova<br />

C A P Í T U L O X V I | 2 9 7<br />

Pleitos administrativos e judiciais sustentou a Ilustríssima Câmara, por longos anos, para manter<br />

ilesos os seus direitos <strong>de</strong> usufrutuária <strong>do</strong>s rendimentos <strong>do</strong> mangue vizinho à Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Particulares,<br />

e o próprio governo <strong>do</strong> Império, pela sua política extrema<strong>da</strong>, procuraram prejudicar, por várias vezes, a<br />

ação municipal na obra sanea<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>ssa zona <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O governo anulan<strong>do</strong> atos perfeitos <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara e os particulares que, ampara<strong>do</strong>s por uma advocacia cavilosa, se arrogavam ao<br />

senhorio direto <strong>de</strong> áreas enormes <strong>de</strong>sse mangue, acenan<strong>do</strong> com o célebre alvará régio <strong>da</strong>s concessões,<br />

<strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820. Para prova, basta citar o caso <strong>do</strong>s terrenos afora<strong>do</strong>s pela Ilustríssima Câmara,<br />

a 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1851; o <strong>do</strong>s terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Socoman, em 1865, e o <strong>da</strong> firma Lima Borges &<br />

Cia.<br />

Seria ocupar muito espaço e tempo <strong>de</strong>senvolver matéria sobre o antigo mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova,<br />

cujo aterro, em muitos pontos, <strong>de</strong> altura superior a 3 braças – 6,6m – reduziram-no, afinal, a uma gran<strong>de</strong><br />

vala, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> século <strong>de</strong> insano trabalho. Com 60 palmos <strong>de</strong> largura e mais <strong>de</strong> 500 braças <strong>de</strong><br />

extensão, a vala, receben<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> águas <strong>de</strong> outras e lava<strong>da</strong> diariamente pelas marés, veio a<br />

ser transforma<strong>da</strong> em canal navegável, reconstruí<strong>do</strong>, em 1805, por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Com<br />

essa reconstrução, foi o canal aperfeiçoa<strong>do</strong> e estendi<strong>do</strong> até Mataporcos – Estácio <strong>de</strong> Sá – para tornar<br />

mais cômo<strong>do</strong> e rápi<strong>do</strong> o transporte <strong>de</strong> hortaliças, gêneros alimentícios, tijolos, telhas e outras utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

que vinham <strong>do</strong> sertão para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa obra <strong>de</strong> reconstrução <strong>do</strong> canal, na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

obe<strong>de</strong>ceu o risco e esteve a cargo <strong>de</strong> um afama<strong>do</strong> mestre pedreiro chama<strong>do</strong> Antônio Batista Coelho, <strong>de</strong><br />

quem falam muitos <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, no fim <strong>do</strong> século XVIII, e na<br />

primeira déca<strong>da</strong> <strong>da</strong> centúria seguinte. Em 1820, já o canal estava bem avaria<strong>do</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> motivo a<br />

constantes reclamações <strong>da</strong>s zonas por ele servi<strong>da</strong>s – que reclamavam sobre o aban<strong>do</strong>no e os estragos<br />

<strong>de</strong>sse útil duto <strong>de</strong> comunicações, cujas pare<strong>de</strong>s se solapavam e o fun<strong>do</strong> exigia geral limpeza. As<br />

reclamações apontavam como causa<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ssa ruína o indivíduo <strong>de</strong> nome Luis Pereira, que fazia o<br />

comércio <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras em telheiros, à margem direita <strong>do</strong> canal, junto à bica <strong>do</strong>s Marinheiros e próximo<br />

aos armazéns <strong>do</strong> arroz. Por fim, o antigo e pitoresco canal, pelo qual velejavam diferentes embarcações,<br />

ficou <strong>de</strong> to<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> cloaca. Somente voltou-se a cui<strong>da</strong>r-se <strong>do</strong> canal, em 1833, quan<strong>do</strong><br />

as febres intermitentes, que anualmente infestavam as zonas alagadiças, se manifestaram com sintomas<br />

estranhos, matan<strong>do</strong> muita gente. Principalmente, nos distritos <strong>de</strong> Irajá e Inhaúma a mortan<strong>da</strong><strong>de</strong> foi<br />

enorme. No arraial <strong>do</strong> Pilar, a igreja matriz, on<strong>de</strong> se faziam os enterramentos, teve que ser interdita<strong>da</strong>,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às exalações que saíam <strong>da</strong>s catacumbas. Uma portaria <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> Império, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1833, e dirigi<strong>da</strong> à Ilustríssima Câmara, dispôs sobre proibir-se os enterramentos na dita igreja<br />

e provi<strong>de</strong>nciar-se a feitura <strong>de</strong> um cemitério na mesma locali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Ilustríssima Câmara, em alarmante<br />

situação financeira, a <strong>de</strong>speito disso, pôs em execução medi<strong>da</strong>s profiláticas <strong>de</strong> emergência e dirigiu-se<br />

ao Governo Geral, pedin<strong>do</strong>-lhe auxílio pecuniário e colaboração eficaz. Foi quan<strong>do</strong> se discutiu, com<br />

bastante interesse, o saneamento <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. O verea<strong>do</strong>r Francisco Alves <strong>de</strong> Brito apresentou, à<br />

apreciação <strong>do</strong>s seus pares, um projeto seu, dispon<strong>do</strong> sobre o aterro completo <strong>do</strong>s mangues e a formação<br />

<strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> 60 palmos <strong>de</strong> largura, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a panela <strong>do</strong> Rossio Pequeno – <strong>de</strong>pois praça Onze <strong>de</strong> Junho,<br />

até o braço <strong>do</strong> mar, na antiga bica <strong>do</strong>s Marinheiros. O canal teria <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> uma rua, em to<strong>da</strong> a sua<br />

extensão, haven<strong>do</strong> <strong>de</strong> permeio um espaço necessário à atracação <strong>de</strong> barcos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao transporte <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>rias e outras utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O plano também cogitava <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> ruas transversais ao canal,<br />

facilitan<strong>do</strong> as comunicações entre São Diogo e Catumbi. Na forma <strong>da</strong> lei, a Ilustríssima Câmara aceitou<br />

o plano Brito, e enviou o respectivo processo ao ministro <strong>do</strong> Império para o aprovo <strong>do</strong> Governo. A<br />

correspondência havi<strong>da</strong> entre o dito ministro e a Ilustríssima Câmara, em novembro <strong>de</strong> 1834, <strong>de</strong>ixa crer<br />

em um <strong>de</strong>scaminho <strong>do</strong> processo no Ministério <strong>do</strong> Império. Depois <strong>de</strong> muita discussão e espera <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />

anos, viram os mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova o início <strong>da</strong> <strong>de</strong>canta<strong>da</strong> obra, em 1844, obra que se dizia ser<br />

completa, <strong>de</strong> magníficos efeitos e dura<strong>do</strong>ura e que, afinal, não foi além <strong>do</strong>s aterros laterais ao projeta<strong>do</strong><br />

canal e <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong>s duas ruas, a que <strong>de</strong>ram o nome <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong>, a <strong>da</strong> direita, e <strong>de</strong> São<br />

Sebastião, a <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>. Mais tar<strong>de</strong>, foram chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Sena<strong>do</strong>r Euzébio e <strong>de</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna,<br />

respectivamente. Para a obra <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Sebastião concorreu, com bastante auxílio,<br />

Manoel Macha<strong>do</strong> Coelho, recuan<strong>do</strong> a frente <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> chácara para ce<strong>de</strong>r, como ce<strong>de</strong>u,<br />

gratuitamente, o terreno necessário para a abertura <strong>da</strong> dita rua e não <strong>de</strong>morou em construir sóli<strong>da</strong>s e


2 9 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

confortáveis casas altas. Executou outras benfeitorias à sua custa e aterrou a parte alagadiça <strong>da</strong> sua<br />

chácara, por on<strong>de</strong> abriu ruas, uma <strong>da</strong>s quais teve o seu nome, que ain<strong>da</strong> conserva. Macha<strong>do</strong> Coelho,<br />

como já dissemos, era rico proprietário, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s armazéns e <strong>de</strong> trapiches à praia <strong>da</strong> Gamboa, na<br />

ponta <strong>da</strong> Joana, e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, tornou-se político <strong>de</strong> real importância.<br />

Em 1853, logo nos primeiros dias <strong>do</strong> ano, a Ilustríssima Câmara, mais uma vez, representou ao<br />

Governo Imperial sobre o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> canal <strong>do</strong> Mangue, que existia como um atentório à civilização <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua população. Na mesma ocasião <strong>da</strong> representação, a Ilustríssima Câmara sujeitou<br />

ao exame <strong>do</strong> governo um projeto sobre se reconstruir o velho canal e sobre o saneamento geral <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Nova. Foi quan<strong>do</strong> apareceu Irineu Evangelista <strong>de</strong> Souza, mais tar<strong>de</strong> barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá,<br />

propon<strong>do</strong>-se a compartilhar <strong>da</strong> obra, por ele, Mauá, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> meritória e patriótica. O plano Mauá<br />

remo<strong>de</strong>lava o antigo canal, tornan<strong>do</strong>-o <strong>de</strong> novo navegável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Rossio Pequeno até a ponte <strong>do</strong>s<br />

Marinheiros, ao fim <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong>, e <strong>da</strong>í esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se até a praia Formosa, com direção para a ilha <strong>do</strong>s<br />

Melões, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> largura 60 palmos e <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> 12 ditos. Firma<strong>do</strong> o contrato com o governo <strong>do</strong><br />

Império, Irineu Evangelista iniciou imediatamente a obra – que motivou polêmica, um tanto apaixona<strong>da</strong>,<br />

entre os gran<strong>de</strong>s profissionais <strong>da</strong> engenharia <strong>da</strong> época, chegan<strong>do</strong> a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> obra <strong>de</strong>feituosa e<br />

imprestável. O abaliza<strong>do</strong> engenheiro Julio Rey foi contrário ao plano Mauá, sobre o mesmo<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>-relatório, <strong>da</strong><strong>do</strong> à publici<strong>da</strong><strong>de</strong> em 1886. A obra <strong>de</strong> Mauá ficou incompleta,<br />

morren<strong>do</strong> o canal na ponte <strong>do</strong>s Marinheiros, em frente à rua <strong>do</strong> Aterro – hoje Miguel <strong>de</strong> Frias. Na<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ten<strong>do</strong>-se no apreço <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> as notícias <strong>da</strong> época, o plano Mauá foi <strong>de</strong>feituoso e não<br />

correspon<strong>de</strong>u ao fim almeja<strong>do</strong>. As imperfeições que se apontaram cresceram, ain<strong>da</strong> mais, pelo aban<strong>do</strong>no<br />

a que foi entregue logo <strong>de</strong> princípio, permitin<strong>do</strong>-se que ao canal viessem ter os resíduos <strong>da</strong>s matérias <strong>da</strong><br />

fábrica <strong>do</strong> gás, construí<strong>da</strong> na rua então dita <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong> e <strong>de</strong>pois Sena<strong>do</strong>r Euzébio. Foi um gran<strong>de</strong> erro<br />

<strong>de</strong> conseqüências maléficas e que perdurou até os nossos dias. O canal <strong>do</strong> Mangue, com a sua vasa<br />

enegreci<strong>da</strong>, mole e atoladiça, ain<strong>da</strong> existe para a<strong>do</strong>rno <strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Numerosos os estu<strong>do</strong>s e<br />

Canal <strong>do</strong> Mangue, aspecto <strong>da</strong> primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII, antes <strong>da</strong>s obras que obe<strong>de</strong>ceram ao risco <strong>do</strong> afama<strong>do</strong> mestre pedreiro, Antônio<br />

Batista Coelho, no fim <strong>de</strong>sse século.


Março <strong>de</strong> 1854 – Aterra<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Fábrica <strong>de</strong> Gás.<br />

C A P Í T U L O X V I | 2 9 9<br />

planos sobre esse fosso, que os antigos já pensavam em levá-lo até o cais <strong>do</strong>s Mineiros, atravessan<strong>do</strong> a<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> entre alame<strong>da</strong>s, com a largura <strong>de</strong> 28,40m e o nível conveniente ao fluxo e refluxo <strong>da</strong>s marés,<br />

evitan<strong>do</strong> as obstruções. No seu seguimento, <strong>de</strong> mar a mar, esse canal obe<strong>de</strong>ceria o mesmo que se <strong>de</strong>u à<br />

aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. É interessante dizer que a fábrica <strong>do</strong> gás 66 começou no princípio <strong>de</strong> 1854 e<br />

que, na noite <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> março <strong>do</strong> dito ano, aniversário <strong>da</strong> Constituição <strong>do</strong> Império, foram acendi<strong>do</strong>s os<br />

primeiros lampiões a gás na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O largo <strong>do</strong> Paço, as ruas Direita<br />

– atual Primeiro <strong>de</strong> Março –, Ouvi<strong>do</strong>r, Rosário, Sabão e São Pedro foram os primeiros logra<strong>do</strong>uros<br />

públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ilumina<strong>do</strong>s pelo novo sistema. Gran<strong>de</strong> acontecimento, bem festeja<strong>do</strong> pelo povo que,<br />

em massa, acorreu aos precita<strong>do</strong>s lugares.<br />

Em 1891, aparecem João Bráulio Muniz Júnior e Antônio Gentil Oliveira Bueno Parrot, que se<br />

propuseram a aterrar to<strong>do</strong> o canal <strong>do</strong> Mangue, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a resultar sóli<strong>do</strong> terreno para edificação <strong>de</strong> casas<br />

resi<strong>de</strong>nciais. Contra essa proposta, apresentou protesto o médico dr. Pedro Caminad, autor <strong>de</strong> gigantesco<br />

plano sobre trazer canaliza<strong>da</strong>s, ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, as águas <strong>do</strong> rio Paraíba. O canal artificial <strong>do</strong> belo e<br />

lendário rio partiria <strong>da</strong> Barra <strong>do</strong> Piraí – lugar on<strong>de</strong> nasci – com um percurso <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 150 quilômetros,<br />

e um volume <strong>de</strong> água <strong>de</strong> 120m cúbicos. O canal teria uma largura <strong>de</strong> 125m – média – por 5m <strong>de</strong><br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, enriquecen<strong>do</strong> o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> com um abastecimento <strong>de</strong> 27 milhões <strong>de</strong> metros cúbicos<br />

<strong>de</strong> água potável e <strong>de</strong> ótima análise. Teria uma que<strong>da</strong> <strong>de</strong> 350m, que serviria para irrigação, força


3 0 0 | C A P Í T U L O<br />

hidráulica, navegação e para abastecer <strong>de</strong> água, principalmente, o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> as águas <strong>do</strong><br />

Paraíba formariam <strong>do</strong>is canais ou artérias, sen<strong>do</strong> uma no mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, cujo canal seria<br />

transforma<strong>do</strong>, melhora<strong>do</strong> e amplia<strong>do</strong> para receber nova vi<strong>da</strong>. A outra artéria, que iria ter à baía <strong>de</strong><br />

Guanabara, com direção a terminar antes <strong>da</strong> ponta <strong>do</strong> Caju, e com maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> que a primeira,<br />

a fim <strong>de</strong> receber forte volume <strong>de</strong> água sempre corrente. O velho canal <strong>do</strong> Mangue, como dissemos, seria<br />

transforma<strong>do</strong> em centro <strong>de</strong> uma aveni<strong>da</strong> que começaria na frente <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>, à praça <strong>da</strong> República e,<br />

em linha reta, até alcançar 8km, e <strong>da</strong>í abrir-se em <strong>do</strong>is boulevards, um com direção a Cascadura e outro<br />

para a Tijuca. Tu<strong>do</strong> isso ficou em projeto. No governo Rodrigues Alves (1902/1906), com as obras que<br />

se fizeram, melhorou-se o canal <strong>do</strong> Mangue, prolonga<strong>do</strong>, então, até o mar, ao centro <strong>de</strong> uma aveni<strong>da</strong>, a<br />

qual recebeu o nome <strong>de</strong> Lauro Muller, ministro <strong>da</strong> Viação no benemérito e operoso governo Rodrigues<br />

Alves.<br />

É curioso recor<strong>da</strong>r <strong>de</strong> passagem e ligeiramente, que, em 1891, foi o ano <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong><br />

empreendimentos gigantescos para o rápi<strong>do</strong> progresso <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – gritavam os mágicos<br />

empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res. E tu<strong>do</strong> se dizia fácil <strong>de</strong> executar [...] mas o real é que na<strong>da</strong> se fez <strong>de</strong>sses rocambolescos<br />

projetos. Em 1891, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> atravessava crise <strong>de</strong> graves perturbações<br />

na sua vi<strong>da</strong> financeira, política, moral, social e, até mesmo, espiritual. Mas, não <strong>de</strong>smentin<strong>do</strong> o seu<br />

Emygdio Ribeiro, s/d – Canal <strong>do</strong> Mangue. Em 1906, como parte <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong> porto, o canal <strong>do</strong> Mangue, que já existia <strong>da</strong><br />

praça Onze até a antiga ponte <strong>do</strong>s Marinheiros, hoje viaduto <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s, foi prolonga<strong>do</strong> até o mar, fican<strong>do</strong> com extensão <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

2.500m.


C A P Í T U L O X V I | 3 0 1<br />

heroísmo e a sua leal<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sempre, a velha Sebastianópolis <strong>de</strong>senvolveu patrióticos esforços na <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>da</strong> República – que Floriano Peixoto, fechan<strong>do</strong> a boca aos <strong>de</strong>magogos e cortan<strong>do</strong> asas aos aventureiros<br />

e a<strong>de</strong>sistas, consoli<strong>do</strong>u, assumin<strong>do</strong> o governo a 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1891.<br />

Outra extensa área pantanosa, entre as ruas São Leopol<strong>do</strong> e Alcântara, que somente em 1834<br />

começou a ser aterra<strong>da</strong> pelo seu possui<strong>do</strong>r, João Antônio Serze<strong>de</strong>lo, homem <strong>de</strong> iniciativas e seguro em<br />

negócios, que cooperou bastante para o saneamento <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Na área que aterrou, Serze<strong>de</strong>lo<br />

construiu bons prédios com frentes para a rua <strong>do</strong> Sabão – <strong>de</strong>pois viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna – e fun<strong>do</strong>s a entestar<br />

com a chácara <strong>de</strong> Henrique José <strong>de</strong> Araújo, por on<strong>de</strong> se abriu a rua Laura <strong>de</strong> Araújo. Serze<strong>de</strong>lo e a sua<br />

mulher, Josefa Maria <strong>da</strong> Conceição Pereira Serze<strong>de</strong>lo, compraram, em 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1834, por <strong>do</strong>is<br />

contos <strong>de</strong> réis, 55 braças <strong>de</strong> terreno pantanoso em seguimento à área que o dito casal possuía, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1811, e que era constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> terra alaga<strong>da</strong>, cerca <strong>de</strong> 65 braças compra<strong>da</strong>s a diversos. O terreno<br />

pantanoso, <strong>de</strong> 55 braças, foi compra<strong>do</strong> a João José <strong>do</strong>s Santos Catão, possui<strong>do</strong>r também <strong>de</strong> muitos<br />

terrenos pantanosos, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> herança <strong>de</strong> seu sogro, Francisco José <strong>de</strong> Oliveira Guimarães. Com o<br />

prolongamento <strong>da</strong> antiga rua Bom Jardim – hoje Marquês <strong>de</strong> Sapucaí,– o chama<strong>do</strong> aterra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Serze<strong>de</strong>lo<br />

ficou dividi<strong>do</strong> em duas porções, sen<strong>do</strong> uma maior, com mais <strong>de</strong> 42 braças <strong>de</strong> frente, terminan<strong>do</strong> no dito<br />

prolongamento e começan<strong>do</strong> no prédio em que funcionava a estação <strong>da</strong>s Gôn<strong>do</strong>las, à rua São Leopol<strong>do</strong>;<br />

a outra porção, a menor, com mais <strong>de</strong> 26 braças <strong>de</strong> frente, a começar <strong>da</strong> rua Bom Jardim, ten<strong>do</strong> término<br />

na chácara <strong>de</strong> Henrique Araújo. Confinava essa menor porção, à direita, com a vala pública <strong>do</strong>s esgotos<br />

e, à esquer<strong>da</strong>, com terrenos baldios pertencentes a João José <strong>do</strong>s Santos Catão, João José <strong>de</strong> Oliveira e<br />

João Brand <strong>de</strong> Mesquita. Da chácara <strong>do</strong> Capueruçu, <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha Macha<strong>do</strong>, saíram to<strong>do</strong>s os<br />

terrenos possuí<strong>do</strong>s por Serze<strong>de</strong>lo, sabi<strong>do</strong> como está, por outras notas sobre a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, que a dita<br />

chácara era assente quase to<strong>da</strong> em terras alagadiças, banha<strong>da</strong>s pela lagoa <strong>do</strong> Capueruçu, pelo rio<br />

Catumbi e por extenso mangue. Mas, ain<strong>da</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> Serze<strong>de</strong>lo provinha <strong>do</strong> quinhão<br />

hereditário <strong>de</strong> Santos Catão, constituí<strong>do</strong> por uma <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong>s 150 braças <strong>de</strong> terras <strong>de</strong> pântanos<br />

salga<strong>do</strong>s, compra<strong>da</strong>s por Francisco José <strong>de</strong> Oliveira Guimarães, sogro <strong>de</strong> Catão, a Luiz <strong>da</strong> Rocha<br />

Macha<strong>do</strong>, filho e her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Antônio <strong>da</strong> Rocha. A compra fez-se por escritura, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1806,<br />

em notas <strong>do</strong> tabelião Manoel Marques Perdigão, livro 133, fls. 103v e 104. João Antônio Serze<strong>de</strong>lo<br />

levou <strong>de</strong>z anos para conseguir o aforamento <strong>do</strong>s terrenos que possuiu e essa <strong>de</strong>longa [foi] <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> a<br />

embargos opostos à sua justa pretensão, por terceiros <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong>s pela chicana. As razões apresenta<strong>da</strong>s<br />

contra Serze<strong>de</strong>lo caíram to<strong>da</strong>s nos tribunais.<br />

6 7<br />

Campo <strong>de</strong> Mart e<br />

Logra<strong>do</strong>uro público, que se formou no começo <strong>do</strong> século XIX, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> divisão <strong>do</strong>s terrenos<br />

oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s aterros que se fizeram na extensa região pantanosa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o antigo campo <strong>de</strong> Santana até<br />

a rua <strong>de</strong> São Cristovão. Destinou-se o campo às manobras <strong>da</strong>s tropas militares e <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> tiro. Daí<br />

o nome que lhe <strong>de</strong>ram <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> Marte e que, completamente aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, <strong>de</strong>pois se transformou<br />

num alagadiço – ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira lagoa fun<strong>da</strong> e infecta, cujos últimos vestígios <strong>de</strong>sapareceram no começo <strong>do</strong><br />

atual século. O <strong>de</strong>ssecamento <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Marte foi sempre consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> exigência máxima e urgente<br />

<strong>de</strong> profilaxia e constou <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os planos <strong>de</strong> saneamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com<br />

particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s interessantes <strong>de</strong> melhoramentos. Mas, morosa, incompleta e péssima, a obra que foi<br />

executa<strong>da</strong>. Pois que é real, ain<strong>da</strong> em 1894 se caçavam patos d’água e se navegava nas lagoas <strong>do</strong> campo<br />

<strong>de</strong> Marte. Em 1895, reencetou-se a obra <strong>de</strong> aterro <strong>do</strong> campo com a terra barrenta <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>.<br />

Os terrenos que se originaram <strong>de</strong>sse aterro foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s isentos <strong>de</strong> foro, fora <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

e <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, em observância ao disposto pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1879. Em<br />

se abrin<strong>do</strong> as ruas Viscon<strong>de</strong> Duprat Pinto <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, Pereira Franco e outras (1890/1896), <strong>de</strong>u-se por<br />

termina<strong>da</strong> a obra <strong>do</strong> aterro <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Marte, que compreendia to<strong>da</strong> a zona entre o edifício <strong>do</strong> Asilo<br />

<strong>de</strong> Mendigos e a antiga estação <strong>da</strong> Companhia <strong>do</strong>s Bon<strong>de</strong>s para São Cristóvão.


3 0 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

6 8<br />

Arraial <strong>de</strong> Mataporc o s<br />

O lugar <strong>da</strong> mata <strong>do</strong>s porcos – ou arraial <strong>de</strong> Mataporcos, como ficou sen<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong>,– era um<br />

sítio <strong>do</strong>s mais aprazíveis <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – no dizer <strong>de</strong> monsenhor Pizarro e Araújo. Inclui-se no,<br />

número <strong>do</strong>s primitivos povoa<strong>do</strong>s extra-muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os seus primeiros habita<strong>do</strong>res localizaram-se<br />

pelas encostas <strong>do</strong>s morros <strong>de</strong>ssa região, por extremo palu<strong>do</strong>sa, e suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s reduziam-se à caça, à<br />

pesca e a uma inferior cultura agrícola. Somente com o trabalho <strong>do</strong> negro africano escraviza<strong>do</strong> começou<br />

a prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Mataporcos, berço <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno bairro <strong>do</strong> Estácio.<br />

E s c r a v o s<br />

A primeira leva <strong>de</strong> escravos chegou ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> no governo <strong>do</strong> tirano Ruy Vaz Pinto<br />

(1617/1620) e veio consigna<strong>da</strong> a Diogo Vaz Pinto, irmão <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r e um terrível negocista. O braço<br />

escravo incentivou bastante a vi<strong>da</strong> rural carioca e a <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, substituin<strong>do</strong><br />

com muitas vantagens o indígena – em regra in<strong>do</strong>lente e insubmisso. Estabeleceram-se, então, novas<br />

fontes <strong>de</strong> progresso e Mataporcos <strong>de</strong>senvolveu-se bastante.<br />

P ro g re d i m e n t o<br />

No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século XVIII, outras as condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, com o progredimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, os antigos arrabal<strong>de</strong>s foram sen<strong>do</strong> urbaniza<strong>do</strong>s e per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> muito a antiga<br />

originali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os seus habitantes começaram a a<strong>do</strong>tar novas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e novos costumes. É certo ain<strong>da</strong>,<br />

porém, que, a um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> progredimento, seguiu-se uma fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência em alguns bairros, sen<strong>do</strong><br />

Mataporcos um <strong>de</strong>les. Depois, com os melhoramentos que se começaram a fazer, em 1790, abriram-se<br />

novos caminhos ao progresso <strong>de</strong> Mataporcos, beneficia<strong>do</strong> com melhores vias públicas <strong>de</strong> comunicações,<br />

calçamentos e outras utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Foi nessa ocasião que, regularizan<strong>do</strong>-se o trânsito para os pe<strong>de</strong>stres e<br />

para as tropas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>ria, se abriu uma estra<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Matacavalos até encontrar a <strong>do</strong> Engenho Velho,<br />

na embocadura <strong>do</strong> caminho <strong>de</strong> São Cristóvão. A entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Engenho Velho correspon<strong>de</strong> à rua Ha<strong>do</strong>ck<br />

Lobo, e a que se abriu às ruas Frei Caneca e Estácio <strong>de</strong> Sá. Des<strong>de</strong> 1790, o lugar <strong>da</strong> mata <strong>do</strong>s porcos veio<br />

sempre progredin<strong>do</strong>, para ser, nos nossos dias, o comercial e populoso bairro <strong>do</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá.<br />

Chácara <strong>de</strong> Mataporc o s<br />

Gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong> Mataporcos, em remota época, pertenceu a um Manoel Fernan<strong>de</strong>s, o<br />

qual, embora dito lavra<strong>do</strong>r, pouco trato <strong>de</strong>u às mesmas terras por ele, afinal, arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Desse<br />

arren<strong>da</strong>mento, que se fez no mea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVII, vieram as divisões e subdivisões <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong><br />

Mataporcos. Uma <strong>da</strong>s divisões, a maior talvez, com frente à estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Mataporcos e fun<strong>do</strong>s no mangue<br />

<strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, foi concedi<strong>da</strong> a Custódio José Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva, em 1812, por provisão <strong>da</strong> Mesa <strong>do</strong><br />

Desembargo <strong>do</strong> Paço, para o fim <strong>de</strong> aterrar os alagadiços, fican<strong>do</strong> o concessionário <strong>de</strong>sobriga<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

outros ônus. Suce<strong>de</strong>u a Fernan<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Silva, um operoso lavra<strong>do</strong>r, Manoel Francisco <strong>de</strong> Oliveira que,<br />

completan<strong>do</strong> e solidifican<strong>do</strong> os aterros feitos pelo seu antecessor, estabeleceu na gran<strong>de</strong> área aterra<strong>da</strong><br />

uma granja que lhe <strong>de</strong>u fortuna. Além <strong>da</strong> granja, era também <strong>do</strong>no <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> capinzal que cultivava<br />

com to<strong>do</strong> o trato apropria<strong>do</strong> e que lhe <strong>da</strong>va uma ren<strong>da</strong> anual superior a <strong>do</strong>ze contos <strong>de</strong> réis. A ven<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

capim era feita em larga escala, por ataca<strong>do</strong> e a varejo. A gran<strong>de</strong> freguesia, constituí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s tropas <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>rias que, <strong>de</strong> retorno ao interior, ali, na granja <strong>do</strong> Oliveira, faziam uma estadia <strong>de</strong> semana, quase<br />

sempre. A gran<strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> era conheci<strong>da</strong> por chácara <strong>de</strong> Mataporcos. Em morren<strong>do</strong> Manoel<br />

Francisco <strong>de</strong> Oliveira, foi a dita chácara à praça <strong>de</strong> ausentes e órfãos, sen<strong>do</strong> arremata<strong>da</strong> por Lourenço


C A P Í T U L O X V I | 3 0 3<br />

José ribeira. Esse novo <strong>do</strong>no, para <strong>da</strong>r fim às rixas com os seus ren<strong>de</strong>iros e, principalmente, visão à posse<br />

<strong>da</strong>s valas <strong>de</strong> agrião que atravessavam terrenos <strong>da</strong> sua chácara, conseguiu fixar, judicialmente, os limites<br />

<strong>da</strong> sua chácara, limites que se esten<strong>de</strong>ram bastante, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> sentença, forman<strong>do</strong>-se uma maior<br />

bacia, que abrangeu to<strong>da</strong> a extensão <strong>da</strong>s valas. Em 1833, já a chácara <strong>de</strong> Mataporcos pertencia ao rico e<br />

industrioso cônego José Luiz <strong>de</strong> Freitas, que era <strong>do</strong>no, também, <strong>de</strong> vastos terrenos no mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Nova, que foram por ele bastante beneficia<strong>do</strong>s. Os her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> cônego Freitas ven<strong>de</strong>ram a chácara a<br />

Lima, Borges & Cia. que, ain<strong>da</strong> em 1876, eram os <strong>do</strong>nos <strong>de</strong>la. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong>sse dito<br />

ano, a referi<strong>da</strong> firma obteve <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara a licença para aterrar um lo<strong>da</strong>çal que se formara nos<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> chácara, sob a condição <strong>de</strong> aforamento <strong>de</strong> terreno resultante <strong>do</strong> aterro e <strong>de</strong> um <strong>do</strong>nativo <strong>de</strong><br />

quatro contos <strong>de</strong> réis, para a construção <strong>do</strong> novo Paço Municipal. Mas a concessão <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara tornou-se nula em presença <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> Império <strong>de</strong>saproprian<strong>do</strong> terrenos em<br />

Mataporcos e nos quais estavam compreendi<strong>do</strong>s os <strong>da</strong> chácara. Lima, Borges & Cia. Apresentaram<br />

protesto contra a <strong>de</strong>sapropriação. Por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1876, a Ilustríssima Câmara<br />

consi<strong>de</strong>rou o caso como a ser julga<strong>do</strong> em juízo. Essa <strong>de</strong>sapropriação compreen<strong>de</strong>u uma área <strong>de</strong> 201<br />

braças na rua <strong>do</strong> Sabão <strong>do</strong> Mangue, <strong>de</strong>pois viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna, entre as ruas Laura <strong>de</strong> Araújo e Macha<strong>do</strong><br />

Coelho, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à construção <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Correção. Já em 1849, o governo havia cogita<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

construção, e <strong>do</strong> entendimento havi<strong>do</strong> com a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o local resultou a <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 1851, ce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao governo imperial, por aforamento, a precita<strong>da</strong> área, mediante<br />

o foro anual <strong>de</strong> vinte mil réis. Anos <strong>de</strong>correram, e na<strong>da</strong> se fez e cumpriu <strong>do</strong> ajuste, e <strong>da</strong>í a concessão a<br />

Lima, Borges & Cia.. em 1876. Em parte <strong>da</strong> área em apreço, está o edifício <strong>do</strong> Hospital <strong>de</strong> São Francisco<br />

<strong>de</strong> Assis, antiga se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Asilo <strong>de</strong> Mendigos.<br />

Mangue <strong>de</strong> São Diogo<br />

Uma larga e segura visão <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> teve o governo <strong>do</strong> príncipe regente<br />

<strong>do</strong>m João – <strong>de</strong>pois rei VI <strong>de</strong>ste nome ao fixar-se na antiga capital <strong>da</strong> Colônia. Entre as sábias medi<strong>da</strong>s<br />

toma<strong>da</strong>s figura o beneficiamento geral <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Com esse objetivo, pródigo foi o<br />

príncipe regente em conce<strong>de</strong>r alagadiços, para que fossem beneficia<strong>do</strong>s com aterros solidifica<strong>do</strong>s e<br />

mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas. As concessões eram a título precário e o concessionário pessoa idônea, <strong>de</strong> cabe<strong>da</strong>is e<br />

que pu<strong>de</strong>sse cumprir as condições estipula<strong>da</strong>s. Assim se proce<strong>de</strong>u no Mangue <strong>de</strong> São Diogo, no qual<br />

uma parte vinha sen<strong>do</strong> aterra<strong>da</strong> <strong>de</strong> anos atrás, mas <strong>de</strong>feituosamente.<br />

À direita <strong>do</strong> caminho <strong>da</strong>s Lanternas – rua Sena<strong>do</strong>r Euzébio <strong>do</strong>s nossos dias – mediram-se, então,<br />

220 braças <strong>de</strong> frente, dividi<strong>da</strong>s que foram em porções <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze braças ca<strong>da</strong> uma, reservan<strong>do</strong>-se quatro<br />

porções para a construção <strong>do</strong>s armazéns reais – obra nunca leva<strong>da</strong> a efeito. Na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, é<br />

interessante dizer, o aterro <strong>do</strong> Mangue <strong>de</strong> São Diogo fez-se <strong>de</strong> forma a <strong>da</strong>r aos terrenos resultantes a<br />

direção <strong>de</strong> norte a sul, em linhas regulares <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e a mostrar duas faces ou frentes. É ain<strong>da</strong> curioso<br />

recor<strong>da</strong>r os arruamentos feitos nessa região, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1809 a 1816, os quais se dispunham <strong>de</strong><br />

maneira a quadrar as ditas porções, que formaram grupos distintos, com superfícies diferentes. Mais<br />

tar<strong>de</strong>, com a abertura <strong>de</strong> novos logra<strong>do</strong>uros públicos, houve o corte <strong>de</strong>ssas porções e a alteração <strong>do</strong>s<br />

antigos grupos, aumenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> nº, em conseqüência <strong>da</strong>s divisões e subdivisões havi<strong>da</strong>s. O critério<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> tornou mais rápi<strong>do</strong> o enxugamento <strong>do</strong> mangue e a construção <strong>da</strong> casaria. Correram os anos, e<br />

com eles passaram os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s pela conservação <strong>do</strong> arrabal<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Diogo. A casaria envelheceu, as<br />

chácaras aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s, e novos alaga<strong>do</strong>s formaram-se nos terrenos <strong>de</strong>ssas antigas residências<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s e entregues à ruína. Vieram intrusos, gente <strong>de</strong> pouco trato e bem pouco escrupulosa, e com<br />

essa gente a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> lutou anos a fio para fazer firme os direitos <strong>de</strong> senhorio <strong>do</strong> município sobre<br />

os terrenos <strong>de</strong> São Diogo, incluí<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s nas suas sesmarias.<br />

Das primitivas chácaras, a mais importante foi a chácara <strong>de</strong> São Diogo, volta<strong>da</strong> para a nascente,<br />

ocupan<strong>do</strong> terras <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> mesmo nome, com a sua enorme pedreira e, ao alto, ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> palmeiras,<br />

a magnífica casa resi<strong>de</strong>ncial <strong>do</strong>s <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> chácara. Era banha<strong>da</strong>, <strong>de</strong> norte a oeste, pelo mar, à beira <strong>do</strong><br />

qual o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> chácara – capitão Antônio Fernan<strong>de</strong>s Pereira – abriu uma via pública, cortan<strong>do</strong> a rocha<br />

e aterran<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a bica <strong>do</strong>s Marinheiros até o saco <strong>do</strong> Alferes. Calçou to<strong>da</strong> ela, corren<strong>do</strong> sobre o mar


3 0 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

um cais <strong>de</strong> parapeito, to<strong>do</strong> ele <strong>de</strong> cantaria. Nesse logra<strong>do</strong>uro, que se <strong>de</strong>nominou praia Formosa, o capitão<br />

Pereira executou outras obras <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública e <strong>de</strong> aformoseamento, ven<strong>de</strong>u terrenos prontos para<br />

edificações e arren<strong>do</strong>u trechos <strong>da</strong> pedreira para fins industriais. Foram os próprios arren<strong>da</strong>tários <strong>do</strong><br />

capitão Pereira os autores, em 1835, <strong>de</strong> uma ação forense contra a sua viúva, Luísa Rosa Avan<strong>da</strong>no<br />

Pereira, porque a conceitua<strong>da</strong> senhora, procuran<strong>do</strong> conservar a obra <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>, se opusera às<br />

pretensões <strong>de</strong>sses indivíduos – pedreiros ricaços e brutamontes – ocupan<strong>do</strong> as marinhas fronteiras aos<br />

trechos <strong>da</strong> pedreira que traziam arren<strong>da</strong><strong>do</strong>s. Rosa Avan<strong>da</strong>no, procuran<strong>do</strong> afastar-se <strong>de</strong>ssa luta <strong>de</strong><br />

mesquinhas ambições e já possui<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, ven<strong>de</strong>u a chácara, pedreira, terrenos e mais bens<br />

imóveis que possuía, em São Diogo e na praia Formosa, ao rico proprietário José Joaquim Ferreira <strong>de</strong><br />

Lima e Silva, que comprou também os semoventes. Lima e Silva era riquíssimo, residia na casa nº 16<br />

<strong>do</strong> morro <strong>de</strong> São Diogo, e na partilha <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong> seu casal, por morte <strong>da</strong> esposa Joaquina Maria <strong>da</strong><br />

Conceição, a parte que lhe coube montou a mais <strong>de</strong> trezentos contos <strong>de</strong> réis, fora valiosos objetos <strong>de</strong><br />

ouro e <strong>de</strong> prata e gran<strong>de</strong> nº <strong>de</strong> escravos. Essa partilha foi processa<strong>da</strong> no juízo <strong>da</strong> 1º Vara Cível <strong>da</strong> Corte<br />

e julga<strong>da</strong> por sentença, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1876. Lima e Silva, em 1885, já havia faleci<strong>do</strong>, existin<strong>do</strong><br />

um filho seu <strong>de</strong> igual nome.<br />

P e d reira <strong>de</strong> São Diogo<br />

A histórica pedreira <strong>de</strong> São Diogo, rocha-gnais perfiroi<strong>de</strong> – imensa, envolta em len<strong>da</strong>s, começou<br />

a ser explora<strong>da</strong> industrialmente, no século XVIII, quan<strong>do</strong> o seu proprietário, o já referi<strong>do</strong> capitão<br />

Antônio Fernan<strong>de</strong>s Pereira, arren<strong>do</strong>u os principais pontos <strong>da</strong> pedreira. Um <strong>do</strong>s primeiros arren<strong>da</strong>tários<br />

foi Joaquim <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, mestre canteiro <strong>de</strong> arte. Perito pedreiro <strong>de</strong> muita nomea<strong>da</strong>, Joaquim <strong>de</strong><br />

Almei<strong>da</strong>, que enriqueceu, aparece funcionan<strong>do</strong>, várias vezes, em vistorias administrativas <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> árbitro <strong>de</strong>ssa Assembléia. Das hábeis mãos <strong>do</strong> pedreiro Almei<strong>da</strong> saíram as<br />

pedras lisas <strong>de</strong> palmo e meio e em quadra, com as quais se calçaram pela primeira vez,<br />

aperfeiçoa<strong>da</strong>mente, as ruas principais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Essas pedras foram<br />

extraí<strong>da</strong>s <strong>da</strong> pedreira <strong>de</strong> São Diogo, a qual, em 1907, mereceu <strong>de</strong> alguém a simpática idéia <strong>de</strong> um<br />

monumento que a perpetuasse, levantan<strong>do</strong> um monolito que marcasse a sua altura máxima. Por<br />

escritura, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1889, a pedreira <strong>de</strong> São Diogo foi vendi<strong>da</strong> por sessenta contos <strong>de</strong> réis à<br />

Fazen<strong>da</strong> Nacional, para uso <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Dom Pedro II – hoje Central <strong>do</strong> Brasil. Nessa ven<strong>da</strong>,<br />

foram incluí<strong>do</strong>s os terrenos adjacentes e <strong>do</strong>is prédios <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> à rua <strong>de</strong> São Diogo, fronteiros à estação<br />

<strong>da</strong> dita estra<strong>da</strong>.<br />

Praia Formosa<br />

Como em muitos outros pontos <strong>da</strong> costa brasileira, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> a penetração <strong>da</strong> terra fez-se<br />

<strong>do</strong> litoral para os sertões e, assim sen<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo se operou a ocupação <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>do</strong> mar<br />

pelos conquista<strong>do</strong>res <strong>da</strong> terra carioca. Acautelavam-se, assim, os primeiros povoa<strong>do</strong>res, <strong>do</strong>s ataques <strong>do</strong><br />

gentio que <strong>do</strong>minavam o sertão, e, também, para melhor angariarem os meios <strong>de</strong> subsistência. No século<br />

XVIII, to<strong>da</strong> a região litorânea, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Prainha até São Cristóvão, já estava coberta <strong>de</strong> chácaras, com<br />

casas <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> bem confortáveis. Roças estendiam-se pelos vales e ornavam os montes, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> notar<br />

os canaviais <strong>de</strong> morro <strong>de</strong> São Diogo, bati<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> pelo mar. Capelas e ermi<strong>da</strong>s coroavam os outeiros.<br />

Em 1711, ao pisar esse recôncavo, o invasor francês praticou <strong>de</strong>pre<strong>da</strong>ções, como se lê <strong>de</strong> uma memória<br />

no livro <strong>de</strong> assuntos <strong>de</strong> batismos e óbitos, fls. 85, <strong>da</strong> antiga freguesia <strong>da</strong> Sé e escrita pelo respectivo cura<br />

– o padre Bartolomeu Franca: “... e os invasores penetraram na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> fugiram to<strong>do</strong>s pela terra<br />

a <strong>de</strong>ntro a uma hora <strong>de</strong> uma noite escura e choven<strong>do</strong> a potes, parecen<strong>do</strong>, <strong>de</strong> pena, chorar o céu, e, nesse<br />

dias <strong>de</strong> cruel peleja, botaram gente pelos outeiros <strong>da</strong> Prainha até São Diogo e pelas roças que ali existiam<br />

apanharam muito ouro e prata.” * No chama<strong>do</strong> Recôncavo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, entre a ponta <strong>do</strong> saco <strong>do</strong> Alferes –<br />

dita mais tar<strong>de</strong> –, no século XVIII, <strong>do</strong> Boticário – e o braço <strong>do</strong> salga<strong>do</strong> na foz <strong>do</strong> Iububuracica ou Iguaçu


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– rio compri<strong>do</strong> <strong>de</strong> águas claras e volumosas, on<strong>de</strong> estava a agua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s marinheiros, estendia-se, em<br />

curva graciosa, a praia Formosa, amena e pitoresca, com as suas mora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> casas nobres, as suas<br />

características cabanas <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res e os seus canaviais a balançarem ao sopro constante <strong>da</strong> brisa. Para<br />

a ensea<strong>da</strong> <strong>da</strong> praia Formosa afluíam os barcos <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong> e as galeras <strong>da</strong>s merca<strong>do</strong>rias. Nas noites<br />

luarentas, um <strong>do</strong>ce encantamento envolvia essa paragem com as canções <strong>do</strong>s trova<strong>do</strong>res ao som mavioso<br />

<strong>da</strong>s violas. Mora<strong>da</strong> e proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ricos arma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> navios e <strong>de</strong> mestres pedreiros, as casas nobres<br />

<strong>da</strong> praia Formosa tinham terraços ajardina<strong>do</strong>s que avançavam sobre o mar, com parapeitos <strong>de</strong> cantaria<br />

sustenta<strong>do</strong>s por fortes colunas. Desses terraços, os que existiam, ain<strong>da</strong> em 1829, foram <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>s por<br />

or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Dom Pedro I – que, em um passeio matinal pela dita, os consi<strong>de</strong>rou ilegais, por<br />

ocuparem logra<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> servidão pública. Nessa época, ain<strong>da</strong> residiam na praia Formosa os irmãos<br />

Carlos Augusto Taunay e Felix Emílio Taunay, <strong>de</strong>pois barão <strong>de</strong> Taunay. 69 Outras ilustres famílias<br />

residiram na praia Formosa, on<strong>de</strong>, em 1835, os mora<strong>do</strong>res vinham sofren<strong>do</strong> certos vexames pela<br />

ausência <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> administração pública. A construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong> porto mu<strong>do</strong>u por completo a<br />

feição <strong>do</strong> litoral <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> São Bento até o Caju.<br />

São Diogo<br />

Também lugar <strong>de</strong> confortáveis residências, com cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s chácaras, on<strong>de</strong> assistiam distintas<br />

famílias e quase to<strong>da</strong>s ricas. A família <strong>do</strong> coronel Manoel José <strong>da</strong> Costa, casa<strong>do</strong> com Rita Maria <strong>do</strong><br />

Carmo, haven<strong>do</strong> <strong>do</strong> casal três filhos: o padre Manoel José <strong>da</strong> Costa, Engracia Maria <strong>da</strong> Costa e Rita<br />

Maria <strong>da</strong> Costa. Engracia foi casa<strong>da</strong> com Manoel José Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira e Rita com o dr. Luiz Joaquim<br />

Duque Estra<strong>da</strong> Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça. A família Costa residia em chácara <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem<br />

cui<strong>da</strong><strong>da</strong>, extensa e seleciona<strong>da</strong> arborização. Ocupava chão foreiro à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e tinha frente para<br />

os quartéis <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Santana e fun<strong>do</strong>s em São Diogo, no campo <strong>do</strong>s Urubus, sítio <strong>da</strong> rainha. To<strong>da</strong><br />

uma região está ocupa<strong>da</strong> pela Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Central <strong>do</strong> Brasil, com exceção <strong>da</strong> pequena parte norte<br />

<strong>da</strong> chácara, <strong>da</strong> qual saíram terrenos para abertura <strong>de</strong> rua, em direção ao saco <strong>do</strong> Alferes – atual rua <strong>da</strong><br />

América. No campo <strong>do</strong>s Urubus existiu um mata<strong>do</strong>uro público para abater o ga<strong>do</strong> <strong>de</strong> consumo <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse estabelecimento era subordina<strong>do</strong> ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e foi fecha<strong>do</strong>, em<br />

1798. Também existiu, no dito campo, um cemitério para animais. A chácara <strong>do</strong> coronel Costa começou<br />

a ser <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> em 1823, partilha por ocasião <strong>da</strong> morte <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> militar.<br />

Em se falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Diogo, não <strong>de</strong>ve ser esqueci<strong>do</strong> Eduar<strong>do</strong> Price, mora<strong>do</strong>r e proprietário no<br />

dito lugar, on<strong>de</strong> possuía vasta área <strong>de</strong> terrenos, <strong>da</strong> qual, com licença <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1859, Price <strong>de</strong>smembrou 101 braças que ven<strong>de</strong>u à Companhia Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Dom Pedro II,<br />

para a construção <strong>da</strong>s oficinas <strong>de</strong>ssa empresa, ain<strong>da</strong> existentes, aumenta<strong>da</strong>s e <strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rno<br />

aparelhamento. No restante <strong>de</strong> seu terreno, cerca <strong>de</strong> 104 braças <strong>de</strong> frente pela rua velha <strong>de</strong> São Diogo –<br />

atual João Caetano —, tinha a sua confortável casa <strong>de</strong> residência, com cui<strong>da</strong><strong>da</strong> chácara. Para terminar,<br />

resta-nos dizer sobre as concessões <strong>de</strong> terrenos, no antigo mangue <strong>de</strong> São Diogo, à Companhia <strong>de</strong><br />

Iluminação a Gás, representa<strong>da</strong> pelo seu presi<strong>de</strong>nte – o comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Irineu Evangelista <strong>de</strong> Souza – mais<br />

tar<strong>de</strong> barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá. Essas concessões foram feitas pela Ilustríssima Câmara, em 1852, e em<br />

1853. Dos terrenos concedi<strong>do</strong>s, tinha o <strong>do</strong>mínio útil um rico proprietário <strong>de</strong> nome José <strong>de</strong> Oliveira<br />

Fernan<strong>de</strong>s e por ele transferi<strong>do</strong> à dita Companhia, em duas diferentes porções, sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong> 58 braças<br />

<strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong> —, <strong>de</strong>pois Sena<strong>do</strong>r Euzébio – com fun<strong>do</strong>s na rua <strong>de</strong> São Diogo – atual<br />

General Pedra – e a outra <strong>de</strong> 5 braças apenas, ocupa<strong>da</strong> por cinco pequenas casas térreas <strong>de</strong> porta e janelarótula.<br />

A porção maior foi avalia<strong>da</strong> em <strong>de</strong>zoito contos quatrocentos e trinta mil réis e, por esse valor,<br />

transmiti<strong>do</strong> o seu <strong>do</strong>mínio útil. A menor avaliou-se em quatorze contos <strong>de</strong> réis. Nos termos <strong>da</strong> concessão<br />

<strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, o aforamento <strong>de</strong>sses terrenos fez-se à razão <strong>de</strong> quatrocentos réis a braça,<br />

anualmente. Mais um terreno, <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente pela rua <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong>, comprou a Companhia <strong>de</strong><br />

Iluminação, com licença <strong>da</strong> Câmara, a Francisco José <strong>de</strong> Assis e à sua mulher Polucena Maria <strong>de</strong> Assis,<br />

pela quantia <strong>de</strong> quatro contos <strong>de</strong> réis.<br />

* Monsenhor Pizarro e Araújo na sua obra Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> transcreve a memória <strong>do</strong> padre Bartolomeu Franca. (N.A.)


3 0 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Iluminação Pública<br />

A Lei Orgânica <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1828, dispon<strong>do</strong> sobre o sistema político e social <strong>da</strong>s<br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras, outorgou-lhes a direção <strong>de</strong> importantes serviços públicos <strong>de</strong> interesse local,<br />

sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong>les o <strong>da</strong> iluminação. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> esteve, no seu começo, a cargo <strong>da</strong> Câmara <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois entregue à Intendência Geral <strong>da</strong> Polícia e voltou à administração municipal, em fevereiro <strong>de</strong><br />

1831, em observância à lei precita<strong>da</strong>. Em janeiro <strong>de</strong> 1844, passou <strong>de</strong> novo para o governo <strong>do</strong> Império,<br />

na forma <strong>do</strong> disposto pelo parágrafo 18, <strong>do</strong> art. Iº, <strong>da</strong> Lei 317, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1843, e assim<br />

continuou com a República, entregue ao Governo Geral. Foi a 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1851 que a Companhia<br />

<strong>de</strong> Iluminação a Gás, presidi<strong>da</strong> pelo então comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r Irineu Evangelista <strong>de</strong> Souza, firmou contrato<br />

com o governo Imperial para a iluminação <strong>da</strong> Corte pelo novo sistema. Logo foram as obras inicia<strong>da</strong>s,<br />

e a 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1854, aniversário <strong>da</strong> Constituição <strong>do</strong> Império, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> estava ilumina<strong>da</strong> a gás. De fato, a iluminação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

estabeleceu-se durante o governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> (1790/1801) que <strong>de</strong>terminou fossem<br />

ilumina<strong>da</strong>s as ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – então com cerca <strong>de</strong> 50 mil habitantes, segun<strong>do</strong> Thomas Jefferson, que foi<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. *<br />

Cessionária <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Iluminação a Gás, a The <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> Gas Company Limited<br />

assumiu to<strong>da</strong>s as obrigações <strong>do</strong> contrato <strong>da</strong> ce<strong>de</strong>nte, a 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1865, na forma <strong>do</strong> disposto pelo<br />

<strong>de</strong>creto nº 3.456, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1865, que permitiu funcionasse a cita<strong>da</strong> empresa inglesa no Brasil. A<br />

30 <strong>de</strong> novembro <strong>do</strong> mesmo ano <strong>de</strong> 1865, a Ilustríssima Câmara conce<strong>de</strong>u a competente licença a Bartlett<br />

James, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> antiga empresa <strong>de</strong> Iluminação Pública, em liqui<strong>da</strong>ção, para a<br />

ven<strong>da</strong>, por duzentos contos <strong>de</strong> réis, <strong>do</strong>s terrenos e <strong>do</strong>s edifícios <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Fábrica <strong>do</strong> Gas, à rua <strong>do</strong><br />

Aterra<strong>do</strong>, e também <strong>de</strong> um terreno <strong>de</strong> 6 braças <strong>de</strong> frente por 22 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, na travessa <strong>do</strong> Gas. Em<br />

21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1879, a Gas Company Limited inovou o seu contrato. Posteriormente, apareceu Henry<br />

Brianth contratan<strong>do</strong> o serviço <strong>de</strong> iluminação por gás, aperfeiçoa<strong>do</strong> e autoriza<strong>do</strong> a requisitar to<strong>do</strong> o<br />

material <strong>da</strong> Gas Company Limited, inclusive o gasômetro e as oficinas. Logo <strong>de</strong>pois, Henry Brianth<br />

transferiu o seu contrato à Société Anonyme du Gaz <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, empresa francesa, que se<br />

organizou a 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1886, e com autorização para funcionar no Brasil, pelo <strong>de</strong>creto 9609, <strong>de</strong> 22<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1886. Henry Brianth associou-se à nova empresa, que começou a operar a 1º <strong>de</strong> setembro,<br />

ain<strong>da</strong> em 1886. Em 1899, foi inova<strong>do</strong> o contrato <strong>da</strong> Socié té e, em 1909, fez-se uma revisão. O contrato<br />

<strong>da</strong> Société Anonyme du Gaz terminou a 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1945. Agora o serviço <strong>da</strong> iluminação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> está a cargo <strong>da</strong> Companhia Luz e Força, a antiga Light and Power. O edifício <strong>do</strong> gasômetro<br />

ain<strong>da</strong> existe, guar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> as mesmas linhas arquitetônicas primitivas, modifica<strong>do</strong> na parte interna, apenas.<br />

Ocupa terreno artificial oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> aterro <strong>do</strong> mangue <strong>de</strong> São Diogo. Anteriormente ao gás, aplicava-se<br />

o azeite. Os lampiões eram suspensos por pilastras <strong>de</strong> ferro nos logra<strong>do</strong>uros. A princípio <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, até<br />

1843, quan<strong>do</strong> se fez a substituição, para chega<strong>da</strong>, a 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1843, <strong>da</strong> princesa Teresa Cristina,<br />

que foi a terceira e última imperatriz <strong>do</strong> Brasil. Nessa ocasião, possuía a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> apenas 1.759 lampiões e tinha uma população <strong>de</strong> 107.814 almas. Nos nossos dias, tem<br />

milhões <strong>de</strong> habitantes e é, dizem, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> melhor ilumina<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Questões sobre Te r re n o s<br />

De princípio, neste capítulo, fizemos notar que, na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, os terrenos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

aterros <strong>do</strong>s mangues <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e vizinhanças <strong>de</strong>ram motivos a complica<strong>da</strong>s questões nos tribunais <strong>da</strong><br />

Corte. A municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, fazen<strong>do</strong> valer os seus legítimos direitos senhoriais e usufrutuários, e os<br />

posseiros ou os arren<strong>da</strong>tários procuran<strong>do</strong> usurpar aqueles direitos. Os que se insurgiram contra a Câmara<br />

Municipal, como ain<strong>da</strong> hoje se insurgem muitos contra a <strong>Prefeitura</strong>, eram e são, na maioria, posseiros,<br />

intrusos <strong>do</strong>s terrenos, viven<strong>do</strong> acoberta<strong>do</strong>s pela advocacia administrativa, que bem funesta tem si<strong>do</strong> à<br />

* Jornal <strong>do</strong> Commércio, 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1883. (N.A.)


C A P Í T U L O X V I | 3 0 7<br />

vi<strong>da</strong> econômica <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Em São Diogo encontramos José <strong>de</strong> Oliveira Fernan<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> quem já falamos, como posseiro<br />

intruso <strong>de</strong> um terreno <strong>de</strong> 90 braças <strong>de</strong> frente pelo Aterra<strong>do</strong> e 60 ditas <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e <strong>de</strong> mais um outro, que<br />

comprara a Polucena Luiza <strong>de</strong> Brito, que media <strong>de</strong> frente pelo Aterra<strong>do</strong> 55 braças e igual extensão <strong>de</strong><br />

fun<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> a compra <strong>de</strong>sse último terreno em reserva.<br />

Manhoso homem <strong>de</strong> negócios, Oliveira Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nunciou à Coroa os precita<strong>do</strong>s terrenos<br />

como <strong>de</strong>volutos e conseguiu um alvará <strong>de</strong> mercê régia, em 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1818, que lhe entregou a posse<br />

administrativa <strong>do</strong>s mesmos terrenos. Mas, como ficou prova<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois, Fernan<strong>de</strong>s na sua <strong>de</strong>núncia<br />

ocultou a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira situação <strong>do</strong>s terrenos, sonegan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos sobre a ocupação precária que <strong>de</strong>les<br />

fazia e cuja posse útil <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>finitivo só po<strong>de</strong>ria ser reivindica<strong>da</strong> junto à Coroa, judicialmente. Em<br />

dispon<strong>do</strong>, como dispôs, por ven<strong>da</strong> amigável e particular, <strong>de</strong> vários lotes <strong>do</strong>s terrenos que administrava,<br />

Oliveira Fernan<strong>de</strong>s criou, com esse seu abusivo ato, uma situação falsa aos compra<strong>do</strong>res, que só foi<br />

posta <strong>de</strong>scoberta com a lei <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1834, que à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> [<strong>de</strong>u] em usufruto os rendimentos<br />

<strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> mangues e <strong>de</strong> marinhas <strong>do</strong> município <strong>da</strong> Corte. Bem rico, e valen<strong>do</strong>-se <strong>da</strong>s suas altas<br />

relações, José <strong>de</strong> Oliveira Fernan<strong>de</strong>s durante longos anos <strong>de</strong>sfrutou largas vantagens <strong>do</strong>s terrenos que<br />

possuía in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente, chegan<strong>do</strong> a transferir o <strong>do</strong>mínio útil <strong>de</strong> alguns, ocupa<strong>do</strong>s por prédios que ele<br />

próprio construíra. É <strong>de</strong> lamentar em tu<strong>do</strong> isso, a <strong>de</strong>fesa que Fernan<strong>de</strong>s encontrou <strong>da</strong> parte <strong>do</strong>s Tribunais.<br />

Afinal, em 1857, velho, cego e cansa<strong>do</strong> <strong>da</strong> luta, por ele mesmo consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> inglória, <strong>de</strong>cidiu-se a fazer<br />

a remissão <strong>do</strong>s terrenos e a <strong>de</strong>sistir <strong>da</strong>s questões que mantinha com particulares e com a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

cujos direitos <strong>de</strong>clarou reconhecer.<br />

Patrimônio Territorial <strong>da</strong> Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Em ofício <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1844, a Ilustríssima Câmara fez sentir ao ministro <strong>da</strong> Justiça, que<br />

era, então, o conselheiro Manoel Alves Branco, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns aos tabeliões sobre não serem<br />

passa<strong>da</strong>s escrituras <strong>de</strong> transmissões <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reconheci<strong>da</strong>s em direito, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> qualquer título,<br />

sem que as partes interessa<strong>da</strong>s provassem ter obti<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara Municipal a respectiva<br />

licença, visto que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, pela maior parte, está edifica<strong>da</strong> em terrenos <strong>do</strong> patrimônio territorial <strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, portanto, a continuar o critério em prática seria um ataque positivo ao senhorio direto<br />

<strong>do</strong> município, com as ven<strong>da</strong>s e compras livres que se faziam. Foi mais um esforço <strong>da</strong> Ilustríssima<br />

Câmara na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seu patrimônio territorial sempre esbulha<strong>do</strong>.<br />

Fim


No t a s


E x ó r d i d o<br />

1. p (37) – Vários significa<strong>do</strong>s se têm <strong>da</strong><strong>do</strong> à palavra indígena “carioca”:<br />

a) Casa <strong>da</strong> água corrente, segun<strong>do</strong> escreve Lery na sua Histoire d´un voyage fait en la terre <strong>de</strong><br />

Brésil, – págs 398 e 399.<br />

b) Água corrente <strong>de</strong> pedra, diz monsenhor Pizarro e Araújo, à pág. 51 <strong>do</strong> tomo VII <strong>da</strong>s suas<br />

Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 1822.<br />

c) Mãe d’água, na opinião <strong>do</strong> cônego Fernan<strong>de</strong>s Pinheiro, expressa na sua memória histórica e<br />

<strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong> A Carioca, publica<strong>do</strong> na pág. 565, <strong>do</strong> tomo XXV, <strong>da</strong> Revista <strong>do</strong> Instituto Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro —, 1862.<br />

d) Casa <strong>da</strong> Fonte – Domus Fontis, Fonte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc... Como se lê à pág. 495 <strong>do</strong> Glosiaria<br />

linguarium brasiliensis, <strong>de</strong> Martins.<br />

e) Casa <strong>do</strong>s Carijós diz Varnhagen, na sua importante obra História geral <strong>do</strong> Brasil, tomo 1, pag.<br />

86, infine —, 1876.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos este último o significa<strong>do</strong> mais aceitável. A tribo <strong>do</strong>s carijós habitou extensa região<br />

litorânea <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>da</strong>í a corruptela, pelos portugueses, <strong>do</strong> nome “carijós” para “carioca”. No<br />

interessante estu<strong>do</strong> Etimologias brasileiras – publica<strong>do</strong> no vol. II, pág. 404 <strong>do</strong>s Anais <strong>da</strong> Biblioteca<br />

Nacional, Vale Cabral trata <strong>do</strong> vocábulo Carioca.<br />

Capítulo I – Conquista e Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

2. pág. p (44) – Em chegan<strong>do</strong> ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e conhecen<strong>do</strong> <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> forte e segura<br />

<strong>de</strong>fensiva em que se encontrava o inimigo, Estácio <strong>de</strong> Sá, bem a<strong>de</strong>stra<strong>do</strong> na guerra e como sempre<br />

pru<strong>de</strong>nte, procurou localizar-se taticamente e aguar<strong>da</strong>r a ocasião propícia para, certo <strong>da</strong> vitória, acometer<br />

os franceses. Assim, esteve <strong>do</strong>is anos, <strong>do</strong>is anos que lhe custaram sacrifícios cruentos, para seguro êxito<br />

<strong>da</strong> sua alta e árdua missão, sempre atento com <strong>de</strong>no<strong>do</strong> e patriotismo.<br />

É <strong>de</strong> justíssima homenagem à memória <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá recor<strong>da</strong>r o que a respeito <strong>de</strong>le escreve o<br />

gran<strong>de</strong> padre Anchieta, o Apóstolo <strong>do</strong> Brasil, em tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> conquista <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pelos<br />

portugueses: “Nesta conquista que durou <strong>do</strong>is dias, an<strong>da</strong>ram os homens como os religiosos, confia<strong>do</strong>s<br />

em Deus, na presença <strong>do</strong> capitão-mor Estácio <strong>de</strong> Sá, o qual, além <strong>do</strong> seu gran<strong>de</strong> esforço e prudência, era<br />

a to<strong>do</strong>s exemplo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> e <strong>de</strong> religião cristã. Foi varão merece<strong>do</strong>r <strong>da</strong> nobreza <strong>do</strong>s seus antepassa<strong>do</strong>s,<br />

lustre <strong>da</strong> sua <strong>de</strong>scendência e exemplar <strong>de</strong> conquista<strong>do</strong>res valorosos”, Crônica <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Jesus,<br />

livro 3, e Vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> padre Anchieta, livro 2.<br />

Capítulo IV – Botafogo<br />

3. pág. (56 )— A bor<strong>da</strong> <strong>do</strong> vale on<strong>de</strong> está assente o velho bairro <strong>de</strong> Botafogo era uma praia, sem<br />

a monotonia <strong>da</strong> reta, em longa e graciosa curva, e fecha<strong>da</strong> no extremo esquer<strong>do</strong> pelo outeiro, <strong>de</strong>pois<br />

chama<strong>do</strong> morro <strong>da</strong> Viúva e, no <strong>da</strong> direita, pelo que veio a chamar-se <strong>do</strong> Matias. Essa obra natural, <strong>de</strong><br />

perfeição divina, como muitas outras com que Deus dispôs o panorama <strong>da</strong> terra carioca, veio a ser<br />

<strong>de</strong>struí<strong>da</strong> pela mão <strong>do</strong> homem.<br />

Por mais <strong>de</strong> 70 anos, a praia foi chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Francisco Velho, nome <strong>de</strong> um expedicionário<br />

português, <strong>de</strong> 1565, que ali logrou terras, e pelas suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s progressistas e úteis ao lugar se fez<br />

bastante conceitua<strong>do</strong>. Somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1640, o logra<strong>do</strong>uro começou a figurar, oficialmente, com a<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Souza e, posteriormente, Botafogo, prenome e sobrenome <strong>de</strong> um ricaço, João<br />

<strong>de</strong> Souza Botafogo, tronco <strong>de</strong> uma importante família carioca, senhor <strong>de</strong> engenho, oleiro e <strong>do</strong>no <strong>de</strong> terras<br />

na paragem <strong>de</strong> Botafogo, on<strong>de</strong> morava.<br />

N O TA S | 3 1 1


3 1 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

4. pág. (56) – Clemente José <strong>de</strong> Matos, antes <strong>de</strong> ser padre, formou-se em leis pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Coimbra. Voltou para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> passou a exercer a profissão <strong>de</strong> licencia<strong>do</strong> – bacharel<br />

em direito, advoga<strong>do</strong>. Em sen<strong>do</strong> persegui<strong>do</strong> pela Inquisição, por ter si<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> um crime que não<br />

cometera, teve que fugir para Roma. Ali, conseguiu o perdão <strong>do</strong> papa e or<strong>de</strong>nou-se, então. De volta ao<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, exerceu o cargo <strong>de</strong> vigário-geral <strong>do</strong> bispa<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

5. pág. (57) – Homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor, intelectual e moral, foi o <strong>de</strong>ão <strong>da</strong> Sé, Gaspar Gonçalves<br />

<strong>de</strong> Araújo, nasci<strong>do</strong> em Santos, São Paulo, a 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1661 e faleci<strong>do</strong> em 25 <strong>de</strong> outubro <strong>do</strong> 1754, no<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, sen<strong>do</strong> sepulta<strong>do</strong> na capela <strong>do</strong>s Terceiros <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Carmo. Or<strong>de</strong>nou-se em Portugal,<br />

receben<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> <strong>do</strong>utor em leis pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. Voltou para o Brasil, in<strong>do</strong> ser vigário<br />

na sua terra natal, juiz <strong>do</strong>s casamentos e também visita<strong>do</strong>r geral <strong>da</strong>s vilas <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> Brasil. No fim <strong>do</strong><br />

ano <strong>de</strong> 1706, fixou residência na Bahia, on<strong>de</strong> exerceu com raro brilhantismo a advocacia, e on<strong>de</strong>, diz<br />

monsenhor Pizarro, tornou-se acredita<strong>do</strong> pelos sábios <strong>da</strong>quela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> por literato <strong>da</strong> melhor nota, assim<br />

nas matérias <strong>de</strong> jurisprudência civil, canônica, teológica, como nas <strong>do</strong> Foro. Deixou a Bahia,<br />

aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> a advocacia, veio para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1712. Foi vigário-geral <strong>da</strong> diocese fluminense<br />

e recebeu a digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>canal, a 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1715.<br />

6. pág. (57) – Natural <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> faleceu a 14 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1821, e sepulta<strong>do</strong> na igreja<br />

<strong>de</strong> São Pedro – um primor <strong>de</strong> arte, <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> recentemente para a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. *<br />

monsenhor Miran<strong>da</strong> era forma<strong>do</strong> pela Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> Canônica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, <strong>de</strong>dicou-se à<br />

advocacia e pelos seus conhecimentos jurídicos fez-se notória a sua competência.<br />

7. pág. (66) – Foi uma justa homenagem a Nicolau Pereira <strong>de</strong> Campos Vergueiro, notável vulto<br />

<strong>da</strong> nossa história. Deputa<strong>do</strong> pelo Brasil às Cortes Gerais <strong>de</strong> Lisboa, brilhou pelo seu talento e sua gran<strong>de</strong><br />

eloqüência. Estava sempre à frente <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a campanha em <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong> Brasil. Foi <strong>de</strong>puta<strong>do</strong><br />

à Constituinte <strong>do</strong> Império e sena<strong>do</strong>r por Minas Gerais, em 1828. Regente <strong>do</strong> Império, em 1831, e<br />

ministro por várias vezes. Gran<strong>de</strong> abolicionista, só permitia o trabalho livre nas suas fazen<strong>da</strong>s, em São<br />

Paulo. Nasceu em 1779 e faleceu a 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1859.<br />

8. pág. (66) – Nasci<strong>do</strong> na Bahia, a 22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1796, e faleci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 5 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 1865. Homem culto, o marquês <strong>de</strong> Abrantes foi <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>, sena<strong>do</strong>r, ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e<br />

ocupava a pasta <strong>do</strong>s Estrangeiros quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> célebre questão Christie (1862/1863) que levou o Brasil a<br />

romper relações com a Inglaterra, exigin<strong>do</strong> <strong>de</strong>la satisfações. Foi árbitro nessa questão o rei Leopol<strong>do</strong> I<br />

<strong>da</strong> Bélgica, que a <strong>de</strong>cidiu favoravelmente ao Brasil, em 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1863. A 23 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1865,<br />

sen<strong>do</strong> o media<strong>do</strong>r o rei <strong>do</strong>m Luiz I <strong>de</strong> Portugal, fez-se o reatamento.<br />

9. pág. (67) – Luiz Felipe Gastão <strong>de</strong> Orleans, con<strong>de</strong> d’Eu, marechal <strong>do</strong> Exército Brasileiro,<br />

substituiu o duque <strong>de</strong> Caxias, em março <strong>de</strong> 1869, no coman<strong>do</strong> <strong>da</strong>s forças em operação na guerra com o<br />

Paraguai, dirigin<strong>do</strong> a toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> vila <strong>de</strong> Piribui. Filho <strong>do</strong> duque <strong>de</strong> Nemours, <strong>da</strong> mais alta e rica nobreza<br />

francesa progênie <strong>de</strong> reis, o con<strong>de</strong> d’Eu casou-se, a 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1864, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com a<br />

princesa imperial <strong>do</strong> Brasil, Isabel Cristina Gonzaga Bragança <strong>de</strong> Orleans, filha <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil,<br />

Dom Pedro II, e <strong>da</strong> imperatriz Teresa Cristina. A princesa Isabel, a Re<strong>de</strong>ntora, era a her<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> trono <strong>do</strong><br />

Brasil, cujos <strong>de</strong>stinos dirigiu por três vezes, como regente <strong>do</strong> Império, <strong>de</strong> 1871 a 1872, 1876 a 1877 e<br />

<strong>de</strong> 1887 a 1888. Notável figura <strong>de</strong> mulher e <strong>de</strong> soberana, ela amou e prestou relevantes serviços ao<br />

Brasil, ligan<strong>do</strong> o seu nome a feitos memoráveis, como o recenseamento <strong>do</strong> Império, trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> limites<br />

com o Paraguai, a reforma <strong>da</strong> instrução pública e a libertação <strong>do</strong>s escravos. A propósito <strong>de</strong>ste último<br />

escreve um <strong>do</strong>s muitos biógrafos <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> brasileira o seguinte: “O seu nome se encheu <strong>de</strong> glória,<br />

apresentan<strong>do</strong> e consagran<strong>do</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> humano e simples a abolição completa <strong>da</strong> escravidão. Assim<br />

foi a precursora <strong>da</strong> nova época <strong>da</strong> nossa civilização.” Por to<strong>do</strong> o Brasil é perene a lembrança <strong>da</strong> princesa<br />

Isabel, a Re<strong>de</strong>ntora.<br />

* A aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas foi inaugura<strong>da</strong> em 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1944. (N.E.)


Capítulo V – Copacabana<br />

10. pág. (69) – De época bem remota, existia um caminho ou estra<strong>da</strong>, para servir <strong>de</strong> comunicação<br />

entre Botafogo e o litoral sul. Durante longos meses, entretanto, ficava intransitável, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às gran<strong>de</strong>s<br />

chuvas <strong>de</strong> verão. Somente no começo <strong>do</strong> século XIX, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara voltou suas vistas para<br />

Copacabana, com a preocupação <strong>de</strong> fomentar o progresso <strong>de</strong>ssa região. Principalmente <strong>de</strong>pois <strong>da</strong><br />

chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Corte portuguesa ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Copacabana tornou-se lugar predileto <strong>de</strong> passeios.<br />

Melhorou-se, então, a precita<strong>da</strong> via pública, <strong>de</strong> forma a oferecer bom trânsito às cavalga<strong>da</strong>s reais em<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> à praia. Houve, <strong>de</strong>pois, um longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no e Copacabana tornou ao que era: um<br />

longínquo subúrbio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, oferecen<strong>do</strong> perigos <strong>de</strong> assaltos, pois as suas matas serviam <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>rijo<br />

a escravos fugi<strong>do</strong>s e a facínoras. Em 1870, já bem outra era a situação, melhora<strong>da</strong> com aberturas <strong>de</strong> vias<br />

públicas e construção <strong>de</strong> boas casas resi<strong>de</strong>nciais. Já em 1879, * o antigo caminho para Copacabana tinha<br />

a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Barroso e, no dito ano, foi bastante melhora<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu começo, on<strong>de</strong><br />

terminava a rua Real Gran<strong>de</strong>za, até o seu fim, que era a baixa<strong>da</strong> <strong>do</strong> morro, no areal <strong>da</strong> praia <strong>de</strong><br />

Copacabana. Esses melhoramentos foram leva<strong>do</strong>s a efeito pelo dr. Francisco Bento Alexandre <strong>de</strong><br />

Figueire<strong>do</strong>, na forma <strong>de</strong> um contrato que firmou com a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1879. O dr.<br />

Alexandre <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> era proprietário <strong>de</strong> boa e gran<strong>de</strong> chácara, situa<strong>da</strong> ao fim <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Barroso,<br />

assim chama<strong>da</strong> por ter si<strong>do</strong> aberta em terrenos <strong>de</strong> José Martins Barroso, ricaço mora<strong>do</strong>r em Copacabana.<br />

Capítulo VII – Laranjeiras<br />

11. pág. (84) – Com bastante ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, Luiz Gonçalves <strong>do</strong>s Santos – o padre Perereca – escreve<br />

na sua importante obra histórica Memórias para servir à história <strong>do</strong> Reino <strong>do</strong> Brasil, pág. 27: “... mas<br />

no governo <strong>do</strong>s vice-reis marquês <strong>do</strong> Lavradio e Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza é que propriamente a<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> fez o maior progresso em edifícios, regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ruas e civilização <strong>do</strong>s seus<br />

mora<strong>do</strong>res, como também na extensão <strong>do</strong> seu comércio, agricultura e alguns ramos <strong>de</strong> indústria e no<br />

aumento <strong>da</strong> sua população. Foi então que a Providência como que preparava <strong>de</strong> antemão esta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />

altos <strong>de</strong>stinos...” De fato na sua governança (1769/1779), o marquês <strong>do</strong> Lavradio, terceiro vice-rei <strong>do</strong><br />

Brasil, não se cingiu apenas a aten<strong>de</strong>r às exigências e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Metrópole portuguesa. Ele<br />

cogitou, também, <strong>do</strong>s interesses vitais <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, executan<strong>do</strong> obras e assentan<strong>do</strong> medi<strong>da</strong>s que<br />

trouxeram vantagens econômicas e materiais à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, além <strong>de</strong> abolirem antigos costumes contrários à<br />

civilização.<br />

Assim, também, útil e bastante foi a governança <strong>de</strong> Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza (1779/1790) ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento intelectual e material <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Esse vice-rei, gran<strong>de</strong> admira<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s nossas<br />

belezas naturais, espírito culto, pru<strong>de</strong>nte nas ações e simples no trato, soube conquistar a estima <strong>do</strong> povo.<br />

Pôs à frente <strong>da</strong> administração homens <strong>de</strong> competência, artistas e letra<strong>do</strong>s, aos quais cercou <strong>de</strong> prestígio.<br />

12. pág. (88) – José Antônio Lisboa Júnior foi conselheiro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Junta Comercial<br />

e ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> no reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pedro I. Bastante ilustra<strong>do</strong> e gran<strong>de</strong> financista. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, a 23 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1773, e na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> faleceu, a 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1850.<br />

Capítulo VIII – Catete<br />

13. pág. (104) – Esse rico proprietário <strong>de</strong>ixou três filhos: Manoel José Lisboa, Vicente José<br />

Lisboa e Venâncio José Lisboa Júnior – que foi, este último, notável jurisconsulto e íntegro magistra<strong>do</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong>, em 1861, nomea<strong>do</strong> <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r e conselheiro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, em 1871. Em militan<strong>do</strong> na<br />

política, foi presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s províncias <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>do</strong> Maranhão e <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> pelas mesmas.<br />

Formou-se pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, em 1830, e logo regressou ao Brasil. Nasceu a 7 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1810, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> faleceu a 23 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1880. Por ocasião <strong>da</strong> sua morte muito se falou<br />

* O primeiro plano <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> ruas em Copacabana <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1874. No entanto, a inacessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> local <strong>de</strong>sanimava possíveis interessa<strong>do</strong>s em<br />

habitá-lo. A inauguração <strong>do</strong> túnel Alaor Prata (túnel Velho), em 1892, ligan<strong>do</strong> a rua Real Gran<strong>de</strong>za à rua <strong>do</strong> Barroso (atual Siqueira Campos)<br />

intensificou a urbanização <strong>do</strong> bairro. (N.E.)<br />

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e se escreveu, exaltan<strong>do</strong> as virtu<strong>de</strong>s cívicas, o saber e a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> caráter <strong>do</strong> conselheiro Lisboa,<br />

cuja vi<strong>da</strong>, no dizer <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s seus biógrafos, “será o tipo <strong>da</strong> coragem cívica, que <strong>de</strong>ve distinguir o<br />

magistra<strong>do</strong>; sua memória a fonte em que irão retemperar-se na hora <strong>do</strong> <strong>de</strong>sânimo os diligentes apóstolos<br />

<strong>da</strong> sacrossanta religião <strong>da</strong> Justiça.”<br />

14. pág.— A rua Pedro Américo começou a ser aberta, * em 1810, com seguimento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua <strong>do</strong><br />

Catete até a pedreira <strong>do</strong> Cantagalo – <strong>da</strong>í, a <strong>de</strong>nominação vulgar que teve, por muitos anos, <strong>de</strong> rua<br />

Cantagalo. Recebeu o nome <strong>de</strong> Pedro Américo, em homenagem, justíssima, aliás, a um <strong>do</strong>s mais<br />

notáveis pintores brasileiros. Pedro Américo <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> Melo nasceu na Paraíba, a 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1843, e faleceu em Florença, na Itália, a 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1905. Pedro Américo, que aos 7 anos já<br />

<strong>de</strong>senhava, veio, em 1854, para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong>, à custa <strong>da</strong> bolsa particular <strong>do</strong> magnânimo<br />

impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil Dom Pedro II, iniciou os seus estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> línguas e ciências, ingressan<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois na<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas Artes. Em 1856, por or<strong>de</strong>m e ain<strong>da</strong> à custa <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r, partiu para a Europa, com<br />

<strong>de</strong>stino à Itália, on<strong>de</strong> permaneceu, tornan<strong>do</strong>-se notável pela sua brilhante inteligência, ilustração e arte.<br />

Era <strong>do</strong>utor em ciências naturais pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Bruxelas e foi lente <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> história <strong>da</strong>s artes,<br />

estética e arqueologia <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas Artes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Era dignatário <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa<br />

<strong>do</strong> Brasil, cavaleiro <strong>do</strong> Santo Sepulcro <strong>de</strong> Roma e <strong>da</strong> Coroa <strong>da</strong> Alemanha. Vasta a sua produção artística,<br />

literária e científica. O Museu <strong>de</strong> Belas Artes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> guar<strong>da</strong> cerca <strong>de</strong> 20 quadros <strong>de</strong> Pedro<br />

Américo, <strong>do</strong>s quais se <strong>de</strong>stacam – O Grito <strong>do</strong> Ipiranga e a Batalha <strong>do</strong> Avaí. Dos livros: A ciência e os<br />

sistemas; O Holocausto, romance filosófico e Estu<strong>do</strong>s filosóficos sobre as belas artes na Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Em 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1928, por iniciativa <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Belas Artes, inaugurou-se, no Passeio<br />

Público, o busto <strong>de</strong> Pedro Américo – escultura <strong>de</strong> Mazzuchelli.<br />

Capítulo IX – Glória e Lapa<br />

15. pág. (116) – Almoçataria era a repartição incumbi<strong>da</strong> <strong>de</strong> inspecionar os víveres e outras<br />

utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo público, fixan<strong>do</strong>-lhes os preços. Em tempo <strong>de</strong> carestia, era investi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

atribuições discricionárias, entre as quais a ven<strong>da</strong> direta ao consumi<strong>do</strong>r. O maioral <strong>da</strong> repartição tinha o<br />

título <strong>de</strong> juiz almotacé ou almotacel, eleito pela Câmara Municipal, cujas funções tinham não só o<br />

caráter administrativo, também o judiciário. A honesti<strong>da</strong><strong>de</strong> era a principal condição para o exercício<br />

<strong>de</strong>sse espinhoso cargo.<br />

16. pág. (119) – João Taylor, nasci<strong>do</strong> na Inglaterra a 22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1796, era oficial <strong>da</strong><br />

marinha inglesa e veio para o Brasil, ingressan<strong>do</strong> na marinha <strong>de</strong> guerra, em 1822. Na memorável batalha<br />

<strong>da</strong> Arma<strong>da</strong> Nacional na Bahia, em 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1823, o jovem oficial, coman<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a fragata Niterói,<br />

tornou-se um bravo <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil. Com o posto <strong>de</strong> almirante faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a<br />

26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1855.<br />

17. pág. (121) – Justa homenagem a Benjamin Constant, um <strong>do</strong>s chefes <strong>da</strong> revolução militar <strong>de</strong><br />

15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889, que implantou o regime republicano no Brasil. Fez parte <strong>do</strong> Governo<br />

Provisório <strong>da</strong> República, ocupan<strong>do</strong> a Pasta <strong>da</strong> Guerra. Era homem <strong>de</strong> alta cultura filosófica. Nasceu em<br />

Niterói, em 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1833 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 22 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1891.<br />

18. pág. (122) – Joaquim Gonçalves Le<strong>do</strong> era ultraliberal e agita<strong>do</strong>r popular e na campanha <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência fez-se notável como re<strong>da</strong>tor <strong>do</strong> Manifesto aos Brasileiros, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1822.<br />

Nasceu em 1781 e morreu em 1847.<br />

19. pág. (124) – O dr. Francisco <strong>de</strong> Paula Cândi<strong>do</strong>, nasci<strong>do</strong> em Minas Gerais, a 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1805, e faleci<strong>do</strong> em Paris, aos 5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1864, era <strong>do</strong>utor em medicina pela Escola Médica <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Na sessão <strong>do</strong> Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1864, o notável<br />

dr. Joaquim Manoel <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, em seu discurso, celebran<strong>do</strong> os sócios faleci<strong>do</strong>s no correr <strong>de</strong> 1864, ao<br />

*<br />

Essa rua, antes caminho para a pedreira, já era cita<strong>da</strong> no final <strong>do</strong> século XVII. Portanto, 1810, <strong>de</strong>ve ter si<strong>do</strong> o ano <strong>da</strong> regularização <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> e<br />

aceitação <strong>do</strong> caminho, pela Câmara <strong>de</strong> Verea<strong>do</strong>res, como via. (N.C.)


eferir-se a Paula Cândi<strong>do</strong> disse: “Per<strong>de</strong>mos um brasileiro, por muitos títulos distinto, o nosso consórcio<br />

conselheiro dr. Francisco <strong>de</strong> Paula Cândi<strong>do</strong>: a sua vi<strong>da</strong> oferece uma bela história <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação, <strong>de</strong> honra,<br />

<strong>de</strong> futuroso labor científico, <strong>de</strong> amor à humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e prova<strong>do</strong> patriotismo.”<br />

20. pág. (126) – Dr. José Joaquim <strong>da</strong> Silva, afama<strong>do</strong> médico, muito distinto e conceitua<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Faleceu em 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1857.<br />

Capítulo X – A j u d a<br />

21. pág. (128) – Era forma<strong>do</strong> em medicina e filosofia pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, ten<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> comissões <strong>de</strong> relevo e foi médico <strong>da</strong> Casa Real. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 25 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1766, e na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> veio a falecer a 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1837. Teve o título <strong>de</strong> barão<br />

<strong>de</strong> Jacutinga.<br />

22.. pág. (128) – Uma azinhaga – caminho estreito – aberta, no século XVI, pelos primeiros<br />

povoa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> para acesso ao morro <strong>do</strong> Desterro – Santa Teresa hoje – em busca <strong>da</strong> água<br />

<strong>da</strong> Carioca, e, <strong>da</strong>í, o nome que teve por muitos anos, <strong>de</strong> caminho <strong>do</strong>s Canos <strong>da</strong> Carioca. A partir <strong>da</strong><br />

segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVII, foram sen<strong>do</strong> levanta<strong>da</strong>s melhores edificações, <strong>de</strong> pedra, que<br />

obe<strong>de</strong>ceram a um alinhamento marca<strong>do</strong> pelas posturas <strong>da</strong> Câmara e, assim, aos poucos, essa via pública<br />

tornou-se importante e recebeu, afinal, a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> rua <strong>do</strong>s Barbonos – fra<strong>de</strong>s capuchinhos,<br />

italianos, cuja casa conventual instalou-se nesse logra<strong>do</strong>uro, em 1742.<br />

A gran<strong>de</strong> casa <strong>do</strong>s Barbonos veio a servir <strong>de</strong> quartel <strong>de</strong> Polícia e ain<strong>da</strong> serve, bem mais aumenta<strong>do</strong><br />

e com a<strong>da</strong>ptações mo<strong>de</strong>rnas convenientes. A Ilustríssima Câmara, em 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1870, <strong>de</strong>u à<br />

rua <strong>do</strong>s Barbonos o nome <strong>de</strong> Evaristo <strong>da</strong> Veiga, notável jornalista, muito patriota e polemista, cuja pena<br />

esteve sempre firme e altiva na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong>s causas liberais. Foi re<strong>da</strong>tor <strong>da</strong> Aurora Fluminense e fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r<br />

<strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Defensora <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e In<strong>de</strong>pendência Nacional – agremiação política, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a 19 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1831, com o intuito <strong>de</strong> sofrear os <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s que se seguiram aos acontecimentos políticos que<br />

<strong>de</strong>terminaram a abdicação <strong>de</strong> Pedro I, a 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1831. Evaristo <strong>da</strong> Veiga nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

a 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1799, e na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> faleceu, a 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1837. É interessante recor<strong>da</strong>r que,<br />

à mão esquer<strong>da</strong>, subin<strong>do</strong> a rua, ficava o edifício <strong>da</strong> Escola Municipal São José – uma construção, a nosso<br />

ver, leve, original e <strong>de</strong> linhas perfeitas. Com o advento <strong>da</strong> República e a nova organização municipal,<br />

passou a servir <strong>de</strong> se<strong>de</strong> ao Conselho Municipal. Demoli<strong>do</strong>, levantou-se o suntuoso palácio para<br />

funcionar a Assembléia Legislativa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

23. pág. (129) – O chafariz que, por muitos anos, existia no largo <strong>da</strong> Mãe <strong>do</strong> Bispo, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

belo logra<strong>do</strong>uro com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> praça Floriano Peixoto, esse chafariz, dizíamos, foi transferi<strong>do</strong><br />

para a praia <strong>de</strong> Botafogo, em outubro <strong>de</strong> 1903. Fez o <strong>de</strong>smonte, que importou em 762$000, Otávio<br />

Ribeiro Brasil, contratante <strong>da</strong>s <strong>de</strong>molições <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>. To<strong>da</strong> a cantaria e peças <strong>de</strong> ferro <strong>do</strong> tradicional<br />

chafariz foram transporta<strong>da</strong>s em vagões <strong>da</strong> Companhia Ferro Carril Jardim Botânico, que fizeram 14<br />

viagens.<br />

Na bela precita<strong>da</strong> praça, além <strong>do</strong> monumento ao marechal Floriano Peixoto, fica o teatro<br />

Municipal, inaugura<strong>do</strong> a 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1909, com uma ópera – Insônia, letra <strong>de</strong> Escragnole Dória e<br />

música <strong>de</strong> Francisco Braga; um Noturno <strong>da</strong> ópera Con<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> Carlos Gomes, e a ópera lírica Moema, <strong>de</strong><br />

Delga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Carvalho. Terminou a brilhante festivi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a comédia, em 1 ato, Bonança, <strong>de</strong> Coelho<br />

Neto, representa<strong>da</strong> pela Companhia Artur <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>. A construção <strong>do</strong> Teatro Municipal foi inicia<strong>da</strong> a<br />

2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1905, estilo Renascimento Francês, obra <strong>do</strong> engenheiro civil, brasileiro, Francisco <strong>de</strong><br />

Oliveira Passos. O pano <strong>de</strong> boca, muito artístico, <strong>de</strong> Eliseu Visconti. O Teatro Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> presta-se à ópera, ao drama e à comédia.<br />

24. pág. (132) – A rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> foi, na velha Sebastianópolis, a rua <strong>do</strong> comércio francês <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, esmera<strong>do</strong> no trato com a freguesia, constituí<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> elegante <strong>da</strong> época, aliás, bem<br />

afrancesa<strong>da</strong>. Os mostruários franceses <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>s femininas, alfaiataria, objetos <strong>de</strong> arte, novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, etc.<br />

eram afama<strong>do</strong>s. No n 0 177 <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> em 1865, funcionava o estabelecimento <strong>de</strong><br />

aparalhegem física <strong>de</strong> um técnico francês <strong>de</strong> nome Jean Lessou, <strong>de</strong> quem, já em 1861, os jornais<br />

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falavam, com reclamos, elogiosos bastante, <strong>da</strong>s curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu estabelecimento. Nesse ano <strong>de</strong> 1861,<br />

Lessou, licencia<strong>do</strong> pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s municipais e pela polícia, fez uma série <strong>de</strong> exibições na sua casa,<br />

e pelas casas particulares que pedissem, <strong>do</strong>s curiosos efeitos <strong>do</strong>s aparelhos <strong>de</strong> ótica que possuía. Foram<br />

os precursores <strong>do</strong> cinema.<br />

25. pág. (132) – Em 1886, a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amante <strong>da</strong> Instrução funcionava à rua Barão <strong>de</strong> São Felix<br />

e <strong>da</strong>í mu<strong>do</strong>u-se, a 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> dito ano. Foi, então, instalar-se em se<strong>de</strong> própria, no antigo Palacete<br />

<strong>do</strong> barão <strong>de</strong> Irapuã, à rua Ipiranga, nas Laranjeiras. Nessa época, a benemérita instituição tinha perto <strong>de</strong><br />

60 meninas asila<strong>da</strong>s.<br />

2 6 . pág. (135) – Na velha Sebastianópolis, a boêmia cachorra rivalizou com a <strong>de</strong><br />

Constantinópolis, antiga capital <strong>da</strong> Turquia. Ela dá tema à comédia, ao drama e à tragédia. Tinha atitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> heroísmo, enfrentan<strong>do</strong> saltea<strong>do</strong>res às altas <strong>da</strong> noite, salvan<strong>do</strong> os assalta<strong>do</strong>s. Era como que uma polícia<br />

noturna, uni<strong>da</strong> e que, valentemente, se <strong>de</strong>fendia com os <strong>de</strong>ntes...<br />

Tinha o seu ponto <strong>de</strong> reunião, que se fazia à noite. Aí, gran<strong>de</strong>s e pequenos se confundiam em<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> raça. Temi<strong>do</strong> era esse reduto: o beco <strong>do</strong>s Cachorros – <strong>de</strong>pois travessa <strong>de</strong> Santa Rita. No <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIII, aos animais era dispensa<strong>da</strong> proteção, principalmente quanto aos maus<br />

tratos. Os animais mortos eram apanha<strong>do</strong>s por emprega<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Intendência <strong>da</strong> Polícia, recolhi<strong>do</strong>s em<br />

carroças a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s e leva<strong>do</strong>s ao antigo campo <strong>do</strong>s Urubus, em São Diogo, on<strong>de</strong> ficava o cemitério <strong>do</strong>s<br />

animais e aí enterra<strong>do</strong>s. Extinto esse cemitério, os enterramentos passaram a ser feitos em terreno <strong>do</strong><br />

antigo Mata<strong>do</strong>uro Público, na parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Esse mata<strong>do</strong>uro tinha frente no largo <strong>de</strong> mesmo nome –<br />

hoje, praça <strong>da</strong> Ban<strong>de</strong>ira – e fun<strong>do</strong>s na praia Formosa. Ain<strong>da</strong> em 1868 funcionava esse cemitério. Em 17<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1860, encontramos, nos Anais <strong>da</strong> Câmara Municipal, a proposta <strong>de</strong> Rufier Martlet para fazer<br />

a remoção <strong>de</strong> animais mortos para lugar bem afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> centro urbano, a fim <strong>de</strong> aproveitá-los em<br />

produtos <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong>, tanto para as artes, como para a agricultura, com o privilégio <strong>de</strong> oito anos. Houve<br />

na Assembléia Municipal acalora<strong>da</strong> discussão em torno <strong>da</strong> proposta. A corrente contrária era constituí<strong>da</strong><br />

maioria, sen<strong>do</strong> a proposta recusa<strong>da</strong>.<br />

27. pág. (138) – Ao sancionar a lei nº 3.353 – a chama<strong>da</strong> lei Áurea – em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1888, que<br />

extinguiu a escravidão no Brasil, a princesa Isabel, então regen<strong>do</strong> o Império pela terceira vez, já previa<br />

as conseqüências <strong>de</strong>sfavoráveis à estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Monarquia. Mas, não vacilan<strong>do</strong>, <strong>de</strong> pronto <strong>de</strong>u-lhe<br />

sanção, leva<strong>da</strong>, é certo, dizem notícias <strong>da</strong> época, pela sua fé cristã. Conta-se ain<strong>da</strong> que, <strong>de</strong>pois, a princesa<br />

veio a ouvir <strong>de</strong> um acata<strong>do</strong> jornalista as seguintes palavras: “Vossa Alteza recebeu congratulações <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>; Vossa Alteza recebeu a Rosa <strong>de</strong> Ouro <strong>do</strong> papa: Vossa (Alteza) sorriu com satisfação – mas<br />

Vossa Alteza per<strong>de</strong>u o trono.” O ato <strong>da</strong> sanção foi no precita<strong>do</strong> dia, um <strong>do</strong>mingo, à tar<strong>de</strong> no Paço<br />

Imperial. O Paço, no então largo <strong>do</strong> Paço – na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> praça Quinze <strong>de</strong> Novembro. Foi feito luminoso,<br />

um transcen<strong>de</strong>nte acontecimento <strong>da</strong> nossa extinção <strong>da</strong> escravidão. Vibrou to<strong>da</strong> a <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> nesse<br />

dia, em manifestações patrióticas – homenagem à princesa Isabel – a Re<strong>de</strong>ntora – e aos abolicionistas –<br />

principalmente a José <strong>do</strong> Patrocínio, ar<strong>do</strong>roso abolicionista e emocionante tribuno – sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />

se tratava <strong>da</strong> libertação <strong>do</strong>s escravos. José Carlos <strong>do</strong> Patrocínio, que era mulato, nasci<strong>do</strong> em Campos,<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, foi um brilhante jornalista. Fun<strong>do</strong>u, a 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1887, o vespertino<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> abrir, como abriu, franca e forte campanha em prol <strong>da</strong> libertação <strong>da</strong><br />

raça negra no Brasil. Rosa <strong>de</strong> Ouro – con<strong>de</strong>coração <strong>do</strong> Vaticano, com a qual o papa agracia chefes <strong>de</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque político, moral e social, por fatos e feitos com objetivo <strong>de</strong><br />

benemerência. A entrega <strong>da</strong> comen<strong>da</strong> à princesa Isabel foi, com soleni<strong>da</strong><strong>de</strong> suntuosa, na catedral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com a presença <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r, imperatriz, to<strong>da</strong> a família imperial, ministros <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

parlamentares, prela<strong>do</strong>s, corpo diplomático, e, na rua Primeiro <strong>de</strong> Março, forma<strong>da</strong> a tropa militar. A<br />

princesa recebeu, ajoelha<strong>da</strong>, a Rosa <strong>de</strong> Ouro <strong>da</strong>s mãos <strong>do</strong> internúncio, que disse o seguinte: “Recebe <strong>da</strong>s<br />

nossas mãos esta Rosa. Depositamo-la nas tuas, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> comissão especial que nos foi outorga<strong>da</strong><br />

pelo Santíssimo Padre – papa Leão XIII. Papa pela Divina Providência”. A princesa, ain<strong>da</strong> ajoelha<strong>da</strong>,<br />

beijou a Rosa <strong>de</strong> Ouro, receben<strong>do</strong>-a, beijou o anel <strong>do</strong> internúncio e disse: “Agra<strong>de</strong>ço ao Santo Padre esta<br />

gran<strong>de</strong> prova <strong>de</strong> apreço e prometo ser filha obediente <strong>da</strong> Santa Sé.” Salvas <strong>da</strong> tropa e <strong>da</strong>s fortalezas, e<br />

repiques <strong>de</strong> sino fizeram-se ouvir. Pela primeira vez na América a Rosa <strong>de</strong> Ouro – e a <strong>da</strong> princesa Isabel<br />

<strong>do</strong> Brasil – é um lin<strong>do</strong> artefato <strong>de</strong> joalheria, segun<strong>do</strong> crônica <strong>da</strong> época.


28. pág. (138) – Há um carioca merece<strong>do</strong>r, por muitos títulos, <strong>de</strong> ser memora<strong>do</strong> e homenagea<strong>do</strong><br />

pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – que lhe <strong>de</strong>ve muitos serviços nota<strong>da</strong>mente, no terreno<br />

<strong>da</strong> moral. Esse carioca é o bispo <strong>do</strong>m José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco, primeiro e<br />

único prela<strong>do</strong> brasileiro que governou a diocese fluminense (1774/1805) no perío<strong>do</strong> colonial. Nasceu no<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1731 e faleceu a 28 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1805. Achava-se em Lisboa quan<strong>do</strong><br />

foi nomea<strong>do</strong> bispo coadjutor <strong>da</strong> diocese fluminense e logo, a 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1774, embarcou na<br />

fragata Nossa Senhora <strong>da</strong> Guia. Chegou ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> a 15 <strong>de</strong> abril <strong>do</strong> mesmo ano e, a 29 <strong>do</strong> mês<br />

seguinte, em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> falecimento <strong>do</strong> bispo titular, a 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1773, tomou posse <strong>do</strong> bispa<strong>do</strong>,<br />

que governou com zelo, bastante sabe<strong>do</strong>ria e digni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A respeito <strong>de</strong>sse ilustre bispo diz, um <strong>do</strong>s seus muitos biógrafos, o seguinte: “ <strong>do</strong>m José Joaquim<br />

Justiniano Mascarenhas Castelo Branco pertence ao número <strong>do</strong>s varões assinala<strong>do</strong>s que aju<strong>da</strong>ram a<br />

construir a gran<strong>de</strong>za moral e material <strong>do</strong> Brasil.” Na fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Capão, em Inhaúma – lugar hoje<br />

chama<strong>do</strong> Capão <strong>do</strong> Bispo, <strong>de</strong> cuja fazen<strong>da</strong> era <strong>do</strong>no em virtu<strong>de</strong> [<strong>de</strong>] herança, o bispo Mascarenhas<br />

promoveu, quanto lhe foi possível, diferentes culturas, principalmente a <strong>do</strong> café. Com o seu prestígio,<br />

concorreu bastante para a propagação <strong>da</strong> preciosa rubiácea, com a distribuição que fazia graciosamente,<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>s pela vizinhança.<br />

29. pág. (139) – Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boba<strong>de</strong>la, <strong>de</strong> quem temos fala<strong>do</strong> neste<br />

capítulo, governou a capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> durante trinta anos – 1733/1763 – e prestou-lhe<br />

administração inteligente e operosa. Instalou a nossa primeira tipografia, que pertenceu a Antônio<br />

Izi<strong>do</strong>ro <strong>da</strong> Fonseca, queima<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois por or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> governo português – para evitar a propagan<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

idéias contrárias ao Esta<strong>do</strong>. Presidiu o lançamento <strong>da</strong> pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> Catedral, construiu o<br />

convento <strong>de</strong> Santa Tereza e levantou os famosos arcos <strong>da</strong> Carioca. * Deu abrigo aos lázaros no campo <strong>de</strong><br />

São Cristóvão. Reconstruiu a fonte <strong>da</strong> Carioca, com um tanque público para lavagem. Instalou, a 15 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1752, a Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>da</strong> qual foi o primeiro presi<strong>de</strong>nte. Em sua honra, e para<br />

estímulo e exemplo <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res, man<strong>do</strong>u o rei <strong>de</strong> Portugal que se colocasse o retrato <strong>de</strong> Gomes<br />

Freire no salão <strong>de</strong> honra <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara. Esse retrato a óleo e <strong>de</strong> corpo inteiro é obra <strong>do</strong> insigne<br />

artista brasileiro Manoel <strong>da</strong> Cunha e Silva, preto escravo que a arte libertou. ** Gomes Freire faleceu a 1º<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1763, e gran<strong>de</strong>s homenagens lhe foram presta<strong>da</strong>s pelo governo, e pelo povo – que o<br />

chamava Pai <strong>da</strong> Pátria. O seu corpo teve sepultura no convento <strong>de</strong> Santa Teresa. O notável historia<strong>do</strong>r<br />

Varnhagem consi<strong>de</strong>ra Gomes Freire o maior governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s tempos coloniais.<br />

30. pág. (139) – A Aca<strong>de</strong>mia <strong>do</strong>s Seletos foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1752, e a sua primeira sessão realizouse<br />

no próprio Palácio <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, a 30 <strong>de</strong> janeiro <strong>do</strong> precita<strong>do</strong> ano. Da Aca<strong>de</strong>mia <strong>do</strong>s Seletos fez<br />

parte o notável poeta português dr. Simão Pereira <strong>de</strong> Sá, que era <strong>do</strong>utor em Leis, <strong>de</strong> notória competência.<br />

Exerceu o cargo <strong>de</strong> procura<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Coroa e Fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, cumulativamente com o <strong>de</strong><br />

promotor <strong>do</strong> juízo <strong>da</strong> Procura<strong>do</strong>ria <strong>da</strong>s Capelas e Resíduos. Simão Pereira é o autor <strong>da</strong> famosa obra<br />

poética Júbilos <strong>da</strong> América, organiza<strong>da</strong> e publica<strong>da</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1752, pela dita Aca<strong>de</strong>mia. Na<br />

referi<strong>da</strong> obra figura a História cronológica <strong>do</strong> bispa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. É trabalho <strong>de</strong> muito valor.<br />

31. pág. (140) – O <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Luiz Pereira <strong>do</strong> Couto Ferraz nasceu em Goiás, a 23 <strong>de</strong> junho<br />

<strong>de</strong> 1791. Fez o curso <strong>de</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong>s no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e foi a Portugal bacharelar-se em Leis, no ano<br />

<strong>de</strong> 1810. Juiz <strong>de</strong> fora <strong>da</strong> vila <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>de</strong> Sá, atual Magé, Couto Ferraz com a retidão <strong>de</strong><br />

magistra<strong>do</strong> justo, pru<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> saber, pô<strong>de</strong> exercer o seu cargo sem sofrer resistência <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rrosos e<br />

ricos senhores <strong>de</strong> engenho. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> foi juiz <strong>do</strong> crime.<br />

* Os “Arcos <strong>da</strong> Carioca” foram construí<strong>do</strong>s pelo governa<strong>do</strong>r Aires <strong>de</strong> Sal<strong>da</strong>nha (1719-1725) e inaugura<strong>do</strong>s em 1723. Coube a Gomes Freire reformálos.<br />

(N.C.)<br />

** O genial pintor Manoel <strong>da</strong> Cunha e Silva, par<strong>do</strong> e não preto, é autor <strong>de</strong> um segun<strong>do</strong> quadro com a imagem <strong>de</strong> Gomes Freire (aquele que se encontra<br />

na Câmara <strong>de</strong> Verea<strong>do</strong>res). O primeiro foi <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> pelo incêndio ocorri<strong>do</strong> no prédio <strong>da</strong> Câmara, em 1790. Obviamente, Manoel <strong>da</strong> Cunha pintou<br />

Gomes Freire <strong>de</strong> memória, basea<strong>do</strong> em informações <strong>de</strong> pessoas que o conheceram, pois faleceu em 1763. (N.C.)<br />

N O TA S | 3 1 7


3 1 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Capítulo XI – Misericórdia<br />

32. pág. (150) – Em falan<strong>do</strong> <strong>da</strong> pomicultura no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, diz monsenhor Pizarro e Araújo<br />

que “as frutas, assim as <strong>do</strong> país, como as transplanta<strong>da</strong>s, que se acham cultiva<strong>da</strong>s nas chácaras, adquirem<br />

saboroso gosto e boa nutrição que lhes comunica a fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> terra”.<br />

33. pág. (150) – Pela segun<strong>da</strong> vez, Martim Correa <strong>de</strong> Sá voltou a governar a capitania <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> (1623/1632) e foi nessa ocasião que se proce<strong>de</strong>u à restauração <strong>da</strong>s antigas fortalezas e<br />

levantaram-se novas na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, na iminência <strong>de</strong> ser invadi<strong>da</strong> pelos holan<strong>de</strong>ses. Os<br />

primeiros atos <strong>de</strong>sse governa<strong>do</strong>r, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assumir o governo, <strong>de</strong>terminam providências sobre<br />

fortificar-se, <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente, o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. São <strong>de</strong>ssa época a fortaleza <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Guia –<br />

atual Santa Cruz e a <strong>de</strong> Santiago – esta na ponta sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – ponta <strong>da</strong> Misericórdia – que veio a<br />

chamar-se, também, <strong>do</strong> Calabouço. Calabouço era uma prisão subterrânea e <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao castigo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>linqüentes e <strong>de</strong> escravos, na forma <strong>do</strong> disposto pelo alvará régio <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1693. Sobre<br />

as ruínas <strong>da</strong> antiga fortaleza <strong>de</strong> Santiago, no governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha (1763/1767),<br />

construiu-se, em seguimento ao Calabouço, o chama<strong>do</strong> Parque Militar. Começo, realmente, <strong>do</strong> Arsenal<br />

<strong>de</strong> Guerra – que, em 1902, foi mu<strong>da</strong><strong>do</strong> para a ponta <strong>do</strong> Caju.<br />

34. pág. (150) – Até fins <strong>do</strong> século XVIII, segun<strong>do</strong> monsenhor Pizarro e Araújo, eram em número<br />

<strong>de</strong> 126 as casas “em que se negociavam as fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> lei, não só por grosso mas a retalhos, ou por<br />

miú<strong>do</strong>s”. É certo, porém, que avultou <strong>de</strong> muito esse número <strong>de</strong> casas comerciais até o ano <strong>de</strong> 1808, como<br />

confirma a revisão na nominata <strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>uros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, no dito ano. E essa revisão<br />

se fez a fim <strong>de</strong> facilitar e garantir com segurança a cobrança <strong>da</strong>s décimas, tributo a que ficaram sujeitos<br />

os prédios urbanos, por força <strong>do</strong> alvará régio, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1808, e a partir <strong>de</strong>ste mesmo ano,<br />

concorreu, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, para esse aumento, a afluência <strong>de</strong> negociantes estrangeiros. Em 1822, ano <strong>da</strong><br />

nossa in<strong>de</strong>pendência política, existiam no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> 1.032 tavernas, 38 casas <strong>de</strong> pasto, 39 botequins<br />

e 501 armazéns, segun<strong>do</strong> o Tombo <strong>da</strong> Intendência Geral <strong>da</strong> Polícia <strong>da</strong> Corte. Em 1834, ano em que<br />

inaugurou, a 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, a praça <strong>do</strong> comércio <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, existiam na referi<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

aproxima<strong>da</strong>mente, cem mil habitantes, 3.840 casas comerciais, <strong>da</strong>s quais 3.501 situa<strong>da</strong>s no distrito<br />

urbano, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> as chama<strong>da</strong>s tavernas, em número <strong>de</strong> 1.186. Existiam 25 cartórios <strong>de</strong> corretores<br />

<strong>da</strong> praça e <strong>de</strong> cambistas, 100 empresas <strong>de</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes e ain<strong>da</strong> 17 <strong>de</strong> comissões e consignações,<br />

36 advoga<strong>do</strong>s; 37 tabelionatos; 9 leiloeiros; 28 casas <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>s – quase to<strong>da</strong>s francesas e a maioria na<br />

rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Inglês era o comércio em grosso, português o varejista. Raros os comerciantes<br />

brasileiros. A inauguração fez-se naquela precita<strong>da</strong> <strong>da</strong>ta, aniversário natalício <strong>do</strong> nosso impera<strong>do</strong>r Dom<br />

Pedro II, que, nesse dia 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1834, completava 9 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Foi solene o ato, com a<br />

presença <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r menino, cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> simpatias e homenagens. Compareceu essa criança<br />

acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> suas irmãs mais velhas e <strong>do</strong> seu preceptor. Era o soberano <strong>do</strong> único Império americano<br />

e um <strong>do</strong>s maiores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> – soberano que veio a encher o Brasil <strong>de</strong> glórias durante o seu largo reina<strong>do</strong>.<br />

Era, então, preceptor o notável marquês <strong>de</strong> Itanhaem. É interessante recor<strong>da</strong>r, ain<strong>da</strong>, que nesse ano <strong>de</strong><br />

1834, bem movimenta<strong>do</strong> esteve o porto <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com a vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1.609 embarcações <strong>de</strong><br />

cabotagem, <strong>de</strong> 105 mil tonela<strong>da</strong>s e mais a <strong>de</strong> navios transatlânticos, em número <strong>de</strong> 583. Exportaram-se<br />

539 sacas <strong>de</strong> café, 16 mil caixas <strong>de</strong> açúcar, 19 mil quilos <strong>de</strong> couros e 439 kg <strong>de</strong> chifres. A ren<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga montou a perto <strong>de</strong> seis mil contos <strong>de</strong> réis.<br />

35. pág. (150) – São achegas interessantes à história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

as notas que se seguem. Na sua gran<strong>de</strong> chácara, no An<strong>da</strong>raí Pequeno, João Francisco Pereira <strong>da</strong> Fonseca<br />

permitiu, em 1833, que se lavasse a roupa <strong>do</strong>s enfermos pobres <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia,<br />

aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim, por benemerência, às instâncias que nesse senti<strong>do</strong> lhe foram feitas. No rio Maracanã,<br />

que atravessava a chácara, começou a ser feita a lavagem. Mas, logo <strong>de</strong>pois, surgiram protestos <strong>de</strong><br />

mora<strong>do</strong>res ribeirinhos ao rio, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a suspensão <strong>da</strong> lavagem, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara.<br />

Pereira <strong>da</strong> Fonseca, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> filantrópico o serviço que prestava, como <strong>de</strong>clarou, continuou a<br />

lavagem <strong>da</strong> roupa, servin<strong>do</strong>-se <strong>da</strong> nascente que existia nos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sua chácara. Com licença <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara, fez um tanque a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> e um escoa<strong>do</strong>uro, <strong>de</strong>spejan<strong>do</strong> a 100 braças – 220m – <strong>de</strong>


distância, ten<strong>do</strong> correnteza <strong>de</strong> tranca<strong>da</strong> em tranca<strong>da</strong> até a montanha.<br />

O bairro <strong>do</strong> An<strong>da</strong>raí Pequeno, ameno e pitoresco, estendia-se <strong>da</strong> Fábrica <strong>da</strong>s Chitas à raiz <strong>da</strong> serra<br />

<strong>da</strong> Tijuca. An<strong>da</strong>raí Pequeno também era o nome <strong>da</strong><strong>do</strong> à velha estra<strong>da</strong> que ia <strong>da</strong> feira <strong>do</strong> engenho <strong>do</strong>s<br />

padres <strong>da</strong> companhia – padres jesuítas. Essa estra<strong>da</strong> é hoje a bela e nobre rua con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bonfim. A origem<br />

<strong>de</strong>ssa via pública outra não foi senão um trilho rasga<strong>do</strong> pelo mato a pique e alarga<strong>do</strong> pelo roçar repeti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s cargueiros e <strong>da</strong>s tropas que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>vam os sertões. O trilho corria tortuoso, com altos e baixos, até<br />

a serra dita <strong>da</strong> Tijuca e na época <strong>da</strong>s águas – chuvas torrenciais no mês <strong>de</strong> janeiro – ficava intransitável.<br />

No começo <strong>do</strong> século XVIII, fizeram-se as primeiras obras nesse logra<strong>do</strong>uro público, a<strong>da</strong>ptan<strong>do</strong>-o<br />

melhor ao trânsito, principalmente para o pe<strong>de</strong>stre, com o corte <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s elevações, evitan<strong>do</strong>-se assim<br />

o cansaço <strong>da</strong>s subi<strong>da</strong>s e o perigo <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sci<strong>da</strong>s escorregadias. Assim, bem melhora<strong>da</strong>, passou a ser<br />

chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> An<strong>da</strong>raí Pequeno e, por fim, rua con<strong>de</strong> <strong>do</strong> Bonfim, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1871, que lhe <strong>de</strong>u este último nome homenagean<strong>do</strong> ao con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Bonfim, José Francisco <strong>de</strong> Mesquita. Horticultores foram, na sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, os primeiros<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Tijuca, e <strong>da</strong>li <strong>de</strong>sciam com fartura <strong>de</strong> hortaliças e outros víveres para o abastecimento <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eram carrega<strong>do</strong>s em samburás – cestos <strong>de</strong> cipó – conduzi<strong>do</strong>s por burros – ou pelo homem<br />

escravo. Esses horticultores enriqueceram e os seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, bem ricos, educa<strong>do</strong>s e instruí<strong>do</strong>s,<br />

vieram a constituir as nobres e ilustres famílias que fizeram sobressair com brilhantismo o bairro <strong>da</strong><br />

Tijuca, na exigente e rigorosa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca <strong>do</strong> século XIX.<br />

É, ain<strong>da</strong>, interessante recor<strong>da</strong>r que, em janeiro <strong>de</strong> 1793, os mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Tojuca reclamaram<br />

contra o péssimo esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, pelos atoleiros e tijuco forma<strong>do</strong>s com as chuvas torrenciais caí<strong>da</strong>s<br />

naquele mês. No memorial ao vice-rei con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> – <strong>do</strong>cumento muito interessante existente no<br />

Arquivo Nacional – falam os reclamantes <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos causa<strong>do</strong>s aos seus sítios na Tojuca, <strong>do</strong>s quais saíam<br />

muita espécie <strong>de</strong> víveres para abastecer to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dizem ain<strong>da</strong> que os estragos <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> não<br />

permitiam o transporte, com os perigosos <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iros e a <strong>de</strong>nsa mata, causan<strong>do</strong> <strong>da</strong>nos à merca<strong>do</strong>ria<br />

e mais ain<strong>da</strong> pelos assaltos <strong>do</strong>s negros cainhamboras, que ali viviam foragi<strong>do</strong>s. As providências toma<strong>da</strong>s<br />

foram insignificantes e em aban<strong>do</strong>no ficaram muitas granjas, cujos <strong>do</strong>nos procuraram na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> outros<br />

meios <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

36. pág. (160) – No século XVIII, aperfeiçoaram-se os serviços <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> carne ver<strong>de</strong><br />

à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> franceses <strong>da</strong> expedição Duguay-Trouin – setembro <strong>de</strong> 1711 –<br />

<strong>de</strong>liciaram-se com os suculentos bifes <strong>da</strong>s carnes gor<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>liciosas <strong>de</strong>ssa parte <strong>da</strong>s Américas, e que se<br />

mostram superiores às <strong>da</strong> Europa (Documentos sobre as invasões <strong>do</strong>s franceses no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> –<br />

Arquivo Nacional) Quer quanto o mo<strong>do</strong> <strong>da</strong> matança <strong>da</strong>s reses para o consumo, quer quanto aos<br />

açougues, as reformas <strong>de</strong> 1750 melhoraram esse ramo <strong>da</strong> administração municipal. Estabeleceu-se uma<br />

severa fiscalização e um contínuo e minucioso exame por parte direta <strong>do</strong>s verea<strong>do</strong>res. Nas primeiras<br />

horas <strong>da</strong> manhã, os antigos edis cariocas an<strong>da</strong>vam em correições pelos talhos – açougues – <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

fazen<strong>do</strong> cumprir as posturas para o bem público. Os <strong>do</strong>cumentos escritos, <strong>de</strong> 1750, nos transmitem<br />

curiosas notícias <strong>de</strong>ssas correições, <strong>da</strong>s quais é <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r a que se fez pela manhã <strong>de</strong> uma quarta-feira,<br />

24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1750, no açougue gran<strong>de</strong>, multan<strong>do</strong>-se os marchantes em seis mil réis por faltar nos<br />

talhos a carne necessária ao consumo <strong>do</strong> povo, cujas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cumpria-se sempre prover por lei. Em<br />

1952, o Departamento <strong>de</strong> História e Documentação (nome anterior <strong>do</strong> Arquivo Geral <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>) <strong>da</strong> Secretaria Geral <strong>de</strong> Educação e Cultura <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>u à publici<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>sto<br />

trabalho nosso – Carnes ver<strong>de</strong>s em São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – 1500-1900. Vi<strong>de</strong> Arquivo <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral – Revista <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos para a história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, – vol. III – p. 283.<br />

Capítulo XII – Bairro Comerc i a l<br />

37. pág. (166) – Gonçalo Gonçalves era riquíssimo e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1620,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> fortuna <strong>de</strong> muitos milhares <strong>de</strong> cruza<strong>do</strong>s, fortuna quase to<strong>da</strong> lega<strong>da</strong> aos seus sobrinhos Leonor<br />

Gonçalves, casa<strong>da</strong> com Antônio Martins <strong>de</strong> Palma, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, e Gonçalo<br />

Gonçalves, moço, também faleci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1643.<br />

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3 2 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

38. pág. (169) – Divergem as opiniões <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res quanto à época <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> forte <strong>de</strong><br />

Vera Cruz. Pela leitura <strong>de</strong> antigos <strong>do</strong>cumentos, estamos propensos a aceitar que Salva<strong>do</strong>r Corrêa <strong>de</strong> Sá,<br />

na sua primeira governança (1568/1572), levou a efeito a construção <strong>de</strong>sse forte, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se <strong>do</strong>s<br />

franceses e gentios refugia<strong>do</strong>s em Cabo Frio. O forte foi levanta<strong>do</strong> sobre o mar, na ponta <strong>da</strong> praia, on<strong>de</strong><br />

se oferecia melhor <strong>de</strong>fesa à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao ancora<strong>do</strong>uro <strong>do</strong>s navios.<br />

39. pág. (170) – Salva<strong>do</strong>r Benavi<strong>de</strong>s nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1594, e faleceu em Lisboa, em<br />

1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1688. Foi um <strong>do</strong>s maiores generais <strong>do</strong> seu tempo e pelo muito que fez para engran<strong>de</strong>cer<br />

o Brasil, tem o seu nome grava<strong>do</strong> nas páginas <strong>da</strong> nossa história.<br />

Capítulo XIII – Litoral Norte ou Recôncavo<br />

40. pág. (184) A ca<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> Aljube foi construí<strong>da</strong> por iniciativa <strong>do</strong> bispo <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – frei<br />

<strong>do</strong>m Antônio <strong>de</strong> Gua<strong>da</strong>lupe —, que comprou o terreno por 3300$000, com licença <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Câmara, ao qual era o chão foreiro, em 16 tostões anuais. Desse foro o Bispo veio a conseguir a<br />

remissão, a 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1733, “enquanto a dita casa servisse <strong>de</strong> Aljube, porque reduzin<strong>do</strong>-se a outro<br />

uso pagaria o foro que lhe fosse imposto” – (Consultas <strong>do</strong> Conselho Ultramarino – 1724/1735 – Arquivo<br />

<strong>do</strong> Instituto Histórico Geográfico Brasileiro). – Em 1732, em franco an<strong>da</strong>mento já estava a obra <strong>do</strong><br />

edifício, que era um enorme casarão <strong>de</strong> <strong>do</strong>is pavimentos, fican<strong>do</strong> nos baixos <strong>do</strong> prédio as celas para os<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>linqüentes. As janelas ou balcões eram, a princípio, <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, e, <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> ferro.<br />

Ao ser <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>, no começo <strong>do</strong> atual século, bem outra era a sua feição, quer externa e quer<br />

internamente, e servia <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> cômo<strong>do</strong>s. O Aljube foi cria<strong>do</strong> para prisão <strong>de</strong> clérigos e no segun<strong>do</strong><br />

pavimento <strong>do</strong> prédio teve se<strong>de</strong> o juízo Eclesiástico. Nos tempos mo<strong>de</strong>rnos aí funcionou o Tribunal <strong>do</strong><br />

Júri. No Aljube ficavam os con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s pelo Santo Ofício até o embarque para Lisboa. Por fim, o Aljube,<br />

casa <strong>de</strong> suplícios <strong>da</strong>ntescos, transformou-se, em 1808, em prisão comum, até 1856, quan<strong>do</strong> foi extinta.<br />

Tira<strong>de</strong>ntes, o mártir <strong>da</strong> Inconfidência Mineira, ao ser preso, foi recolhi<strong>do</strong> ao Aljube. *<br />

41. pág. (190) – Bento Barroso, figura <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na política e na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época, impôs-se<br />

pela sua gran<strong>de</strong> cultura e pela sua circunspecção, estima<strong>do</strong> pela sua indulgência. Sena<strong>do</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

primeiro Sena<strong>do</strong> brasileiro, Bento Barroso foi presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssa Câmara Alta <strong>do</strong> Império e era o ministro<br />

<strong>da</strong> Guerra quan<strong>do</strong>, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em junho <strong>de</strong> 1828, sublevaram-se os batalhões <strong>de</strong> estrangeiros, na<br />

maioria irlan<strong>de</strong>ses contrata<strong>do</strong>s para o serviço <strong>do</strong> Império. Essa sol<strong>da</strong><strong>de</strong>sca amotina<strong>da</strong> teve a enfrentá-la,<br />

e com <strong>de</strong>no<strong>do</strong>, os <strong>de</strong>stemi<strong>do</strong>s e famosos capoeiras, logo <strong>de</strong> começo <strong>da</strong> sublevação. No chama<strong>do</strong><br />

Ministério <strong>do</strong>s Quarenta Dias, 6 <strong>de</strong> agosto a 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1832, a pasta <strong>da</strong> Guerra esteve <strong>de</strong> novo<br />

nas mãos <strong>de</strong> Bento Barroso, que era natural <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> faleceu. O con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares, que<br />

aparece no rol <strong>do</strong>s her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Ana Teresa, <strong>de</strong>ve ser o terceiro <strong>de</strong>sse título, <strong>do</strong>m Vitório <strong>de</strong> Souza<br />

Coutinho, briga<strong>de</strong>iro, par <strong>do</strong> Reino <strong>de</strong> Portugal, em 1826, ministro <strong>da</strong> Marinha <strong>de</strong>sse país, em 1835.<br />

Faleceu (em) junho <strong>de</strong> 1857, e era natural <strong>de</strong> Turim, na Itália, ten<strong>do</strong> ali nasci<strong>do</strong>, a 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1790.<br />

O primeiro con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares, <strong>do</strong>m Rodrigo <strong>de</strong> Souza Coutinho, faleceu a 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1812, sen<strong>do</strong><br />

sepulta<strong>do</strong>, no dia seguinte, no corpo <strong>da</strong> igreja <strong>do</strong> convento <strong>de</strong> Santo Antonio <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O<br />

primeiro con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares prestou inúmeros serviços ao Brasil e muito beneficiou a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, com a criação <strong>de</strong> úteis estabelecimentos públicos, quan<strong>do</strong> ministro <strong>de</strong><br />

Esta<strong>do</strong>. Ocupou as pastas <strong>do</strong>s Negócios <strong>do</strong> Reino, <strong>do</strong>s Estrangeiros e <strong>da</strong> Guerra. A Imprensa Régia, a<br />

fábrica <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> Ipanema e a Aca<strong>de</strong>mia Militar são criações suas. Animou o comércio, a agricultura e<br />

a indústria. Foi o autor <strong>do</strong> célebre Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paz, Aliança e Amiza<strong>de</strong> com a Inglaterra, assina<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1810. O segun<strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares, <strong>do</strong>m João Carlos <strong>de</strong> Souza<br />

Coutinho, filho <strong>do</strong> primeiro, morreu moço, a 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1824, e foi enterra<strong>do</strong> na mesma sepultura<br />

<strong>do</strong> pai. O her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Ana Teresa Angélica <strong>da</strong> Cunha e Souza não é outro senão <strong>do</strong>m Vitório <strong>de</strong> Souza<br />

* Tira<strong>de</strong>ntes circulou por prisões militares e terminou na ca<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Relação, local <strong>do</strong> prédio <strong>da</strong> atual Assembléia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. (N.C.)<br />

** Ver imagem p187 (N.A.)


Coutinho, terceiro con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares, pois a dita senhora faleceu muito <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> primeiro e <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares e bem tempos antes <strong>do</strong> terceiro.<br />

42. pág. (194) – Como se vê <strong>da</strong> foto, a chácara <strong>da</strong> Gamboa, * * começo <strong>do</strong> século XIX, ficava no alto<br />

<strong>do</strong> outeiro <strong>da</strong> Gamboa, então aprazível, e <strong>do</strong> qual se <strong>de</strong>scortinava um belo panorama. Em baixo, o armazém<br />

<strong>do</strong>s mantimentos, a casa <strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r e <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s. Aí, na chácara <strong>da</strong> Gamboa, possivelmente,<br />

hospe<strong>da</strong>ram-se os naturalistas austríacos João Batista von Spix e Carlos Fre<strong>de</strong>rico Felipe von Martius<br />

chega<strong>do</strong>s ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1817, a bor<strong>do</strong> <strong>da</strong> fragata Áustria. Vieram ao Brasil em missão<br />

científica, a respeito <strong>da</strong> qual há referências no tomo 3 <strong>do</strong>s Anais <strong>do</strong> Museu Paulista, pág. 221.<br />

Capítulo XIV – São Domingos<br />

43. pág. (198) – Roberto Southey, na sua História <strong>do</strong> Brasil, 4º volume, tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s índios<br />

guaranis, relata: “... e nos dias <strong>de</strong> festa os homens divertiam-se com batalhas simula<strong>da</strong>s, atiran<strong>do</strong> ao alvo<br />

com setas ou a jogar bolas <strong>de</strong> goma elástica, que eram impeli<strong>da</strong>s com o pé.” Isso acontecia em 1642. O<br />

foot-ball foi trazi<strong>do</strong> <strong>da</strong> Europa, em 1901, por um moço paulista, educa<strong>do</strong> em Lausanne. Divulgou-se<br />

bem <strong>de</strong>pressa, popularizan<strong>do</strong>-se.<br />

44. pág. (217) – Em 1836, para navegação nos portos <strong>do</strong> Brasil, organizou-se na Inglaterra a<br />

Companhia Brasileira <strong>de</strong> Paquetes, que começou a funcionar em 1840, prosperan<strong>do</strong> bastante. Em 1843,<br />

já havia inicia<strong>do</strong> a navegação entre o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e a França. Em 1861, construiu uma oficina na<br />

Saú<strong>de</strong>, para o conserto <strong>do</strong>s barcos <strong>da</strong> empresa. Pois bem, Inácio Ratton, homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> úteis iniciativas, foi diretor <strong>da</strong> precita<strong>da</strong> Companhia e dirigiu, também, a Companhia Pie<strong>da</strong><strong>de</strong>, com<br />

barcos para as ilhas Governa<strong>do</strong>r e Paquetá e para Inhomerim, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> Prainha. Teve início em 1838<br />

– Vi<strong>de</strong> Meios <strong>de</strong> transporte no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> —, Noronha Santos —, 1934.<br />

45. pág. (219) – Consoli<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> República e gran<strong>de</strong> vulto <strong>da</strong> nossa história, nasceu o marechal<br />

Floriano Peixoto em Alagoas, a 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1839. Fez o curso <strong>de</strong> engenharia militar. Tomou parte na<br />

campanha <strong>do</strong> Paraguai (1865/1870) com posto <strong>de</strong> capitão e por ato <strong>de</strong> bravura promovi<strong>do</strong> a major e a<br />

tenente-coronel. Teve a promoção a coronel, em 1874, a briga<strong>de</strong>iro, em 1883 e, em 1889, a marechal <strong>de</strong><br />

campo. Ao ser proclama<strong>da</strong> a República, exercia o cargo <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>nte-general <strong>do</strong> exército – que<br />

correspon<strong>de</strong> hoje a chefe <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Maior. Floriano Peixoto presidiu a então província <strong>de</strong> Mato Grosso,<br />

em 1884. Foi ministro <strong>da</strong> Guerra no Governo Provisório <strong>da</strong> República. A 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, foi<br />

eleito vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República e, a 23 <strong>de</strong> novembro <strong>do</strong> mesmo ano, assumiu a Presidência pela<br />

renúncia <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte marechal Deo<strong>do</strong>ro <strong>da</strong> Fonseca. Floriano Peixoto faleceu na Estação <strong>da</strong> Divisa,<br />

no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1895. Cognomina<strong>do</strong> Marechal <strong>de</strong> Ferro por haver sufoca<strong>do</strong><br />

gran<strong>de</strong>s movimentos revolucionários durante o seu governo, <strong>de</strong>ntre os quais a Revolta <strong>da</strong> Arma<strong>da</strong><br />

Nacional, chefia<strong>da</strong> pelo almirante Custódio <strong>de</strong> Melo – 1893/1894.<br />

46. pág. (225) – Eduar<strong>do</strong> Laemmert e o seu irmão Henrique foram os fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res, em 1837, <strong>da</strong><br />

livraria Universal, à rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>, 77. Teve fama e muita freqüência essa livraria. Em 1839,<br />

apareceram as “folhinhas <strong>de</strong> algibeiras” e, em 1844, foi publica<strong>do</strong> o 1º número <strong>do</strong> valioso Almanach<br />

Laemmert, edita<strong>do</strong>, e também as folhinhas, pela dita Livraria. Folhinhas e almanaques constituem,<br />

agora, fontes históricas <strong>de</strong> bastante valor. Os irmãos Laemmert eram alemães.<br />

47. pág. (237) – Depois <strong>de</strong> 1837, o comércio <strong>do</strong> sabão no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> tornou-se ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro<br />

monopólio. Os monopoliza<strong>do</strong>res assentaram os seus estanques na rua <strong>do</strong> Loureiro. Dai, passou esse<br />

logra<strong>do</strong>uro a ser chama<strong>do</strong> rua <strong>do</strong> Sabão. Até começo <strong>do</strong> século XIX, as ruas <strong>do</strong> Sabão e <strong>de</strong> São Pedro<br />

eram as únicas em que os seus mora<strong>do</strong>res ain<strong>da</strong> gozavam <strong>da</strong> vista <strong>do</strong> mar. Em 1820, já não era assim,<br />

porque na frente <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sabão acabava <strong>de</strong> ser termina<strong>da</strong> a bela casa <strong>da</strong> praça <strong>do</strong> Comércio e na <strong>de</strong><br />

São Pedro, havia mais tempo que se construira um trapiche para o trigo, e uma e outro na rua Direita,<br />

com fun<strong>do</strong>s para o mar – Vi<strong>de</strong> Memórias para servir à história <strong>do</strong> reino <strong>do</strong> Brasil, 1º vol. pág. 47 e 61,<br />

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3 2 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

<strong>de</strong> Luiz Gonçalves <strong>do</strong>s Santos, o Padre Perereca.<br />

Por <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1870, a rua <strong>do</strong> Sabão passou a chamarse<br />

General Câmara, em homenagem ao general Antônio Correa <strong>da</strong> Câmara, vence<strong>do</strong>r <strong>da</strong> batalha <strong>de</strong><br />

Aqui<strong>da</strong>ban, em 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1870, que pôs termo à Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

48. pág. (238) O tenente-general José Manoel <strong>de</strong> Morais foi militar <strong>de</strong> valor, com serviços<br />

presta<strong>do</strong>s ao Brasil, ten<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong> a pasta <strong>da</strong> Guerra por duas vezes, em 1831. A 16 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1823,<br />

substituiu o general Pedro Labatut no coman<strong>do</strong> <strong>da</strong>s forças em operações na Bahia, pela causa <strong>da</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil. Foi aju<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> campo <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Pedro I, e exerceu outras comissões<br />

importantes, as quais lhe valeram as con<strong>de</strong>corações <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Aviz e Imperial <strong>do</strong> Cruzeiro. Foi<br />

reforma<strong>do</strong> a 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1829, e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1848, sen<strong>do</strong> sepulta<strong>do</strong><br />

nas catacumbas <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, com to<strong>da</strong>s as honras <strong>do</strong> seu alto posto <strong>de</strong> tenentegeneral.<br />

49. pág. (242) – A rua <strong>de</strong> São José é logra<strong>do</strong>uro público <strong>do</strong>s primitivos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, existin<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foi assente (1567) sobre a colina a que chamaram morro<br />

<strong>do</strong> Descanso e mais tar<strong>de</strong> Castelo. O primeiro cor<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>ssa via pública partiu <strong>da</strong>, então, praia <strong>da</strong><br />

Misericórdia – hoje, rua <strong>de</strong>ste mesmo nome – e seguiu em direção à lagoa – agora, largo <strong>da</strong> Carioca –<br />

até topar a aba <strong>do</strong> Outeiro – morro <strong>de</strong> Santo Antônio – e <strong>da</strong>í seguiu o rumo <strong>do</strong> caminho, que vinha <strong>do</strong><br />

porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para o engenho <strong>do</strong>s jesuítas. Esse caminho foi aberto pelo constante vaivém <strong>da</strong>s tropas<br />

<strong>de</strong> mantimentos e utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>stinavam àqueles religiosos. O porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>, nos<br />

nossos dias, ao local <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> São José, ergui<strong>da</strong> sobre as ruínas <strong>da</strong> ermi<strong>da</strong> sob a invocação <strong>do</strong> mesmo<br />

santo patriarca, cuja frente era volta<strong>da</strong> para o oriente.<br />

Na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVII, um português, nasci<strong>do</strong> na ilha <strong>da</strong> Ma<strong>de</strong>ira, construiu uma<br />

capela para o culto <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Parto, cuja imagem o acompanhava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua terra natal. A ermi<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Parto foi levanta<strong>da</strong> em terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> um João Fernan<strong>de</strong>s, situa<strong>da</strong> à mão direita, vin<strong>do</strong> <strong>da</strong> praia<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – atualmente, ruas <strong>da</strong> Misericórdia e Primeiro <strong>de</strong> Março. A partir <strong>do</strong> aparecimento <strong>da</strong> precita<strong>da</strong><br />

capela, o trecho <strong>da</strong> rua São José, entre a capela e o largo <strong>da</strong> Carioca, chamou-se rua <strong>do</strong> Parto. Somente<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1850, <strong>de</strong>sapareceu o nome Parto, fican<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a rua com a <strong>de</strong>nominação – São José. O natural<br />

afastamento <strong>do</strong> mar, que se operou com rapi<strong>de</strong>z, aliás, e os aterros permitiram novos logra<strong>do</strong>uros e novas<br />

edificações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Calabouço até São Bento. Para remate <strong>de</strong>stas notas, é cabível e interessante recor<strong>da</strong>r<br />

a pessoa <strong>do</strong> barão <strong>de</strong> Catas Altas, João Batista Ferreira <strong>de</strong> Souza Coutinho, que, no começo <strong>do</strong> século<br />

XIX, era ti<strong>do</strong> como homem mais rico <strong>do</strong> Brasil, possuin<strong>do</strong> milhões. A sua imensa fortuna, a sua vi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

nababo e as suas excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ram-lhe fama mundial. Na rua São José tinha o barão <strong>de</strong> Catas Altas<br />

uma confortável casa <strong>de</strong> mora<strong>da</strong> própria, para as suas constantes permanências no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. De<br />

simples sacristão <strong>da</strong> igreja matriz <strong>de</strong> Catas Altas tornou-se arquimilionário, her<strong>da</strong>n<strong>do</strong> as gran<strong>de</strong>s minas<br />

<strong>de</strong> ouro <strong>do</strong> Congo, <strong>da</strong>s quais se extraíam, diariamente, mais <strong>de</strong> cem libras <strong>de</strong> ouro. Na sua residência, <strong>da</strong><br />

rua São José, ele <strong>da</strong>va festas suntuosas, durante as quais fazia distribuir aos seus convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s avelãs <strong>de</strong><br />

ouro maciço. Na sua opulência era <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> pródigo e quan<strong>do</strong> viajava era acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />

séquito, <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 40 pessoas, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente real. Afinal, veio a ven<strong>de</strong>r as minas a uma companhia<br />

inglesa. O barão <strong>de</strong> Catas Altas faleceu pobre, em maio <strong>de</strong> 1839.<br />

50. pág. (243) – Antigos cronistas cariocas emprestam a origem <strong>do</strong> nome – Piolho – <strong>da</strong><strong>do</strong>,<br />

primitivamente, à rua <strong>da</strong> Carioca, ao fato <strong>de</strong> nesse logra<strong>do</strong>uro ter residi<strong>do</strong> um procura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> causas –<br />

solicita<strong>do</strong>r e famoso chicanista— conheci<strong>do</strong> pela alcunha <strong>de</strong> Piolho. Na administração <strong>do</strong> prefeito<br />

Passos (1902/1906) a rua <strong>da</strong> Carioca foi alarga<strong>da</strong> e teve outras melhorias.<br />

51. pág. (249) – Manoel Inácio Souto Maior Pinto Coelho, barão, viscon<strong>de</strong> e marquês <strong>de</strong><br />

Itanhaém, foi tutor <strong>de</strong> Dom Pedro II, impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, substituin<strong>do</strong> a José Bonifácio, <strong>de</strong>stituí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

alta investidura pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1833, conseqüência <strong>do</strong>s acontecimentos <strong>do</strong> dia 6 <strong>do</strong><br />

mesmo mês e ano: reação popular contra as tendências <strong>de</strong> facções políticas simpáticas à volta <strong>de</strong> Dom<br />

Pedro I. É episódio empolgante <strong>da</strong> nossa história pátria.<br />

52. pág. (249) – Francisco Manoel <strong>da</strong> Silva nasceu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a<br />

21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1795, e foi batiza<strong>do</strong> na igreja <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária. Era filho legítimo <strong>de</strong> Joaquim Mariano


<strong>da</strong> Silva e Joaquina Rosa <strong>da</strong> Silva. Des<strong>de</strong> a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oito anos manifestou sua vocação pela música e,<br />

muito jovem ain<strong>da</strong>, compôs um Te-Deum que lhe valeu gran<strong>de</strong>s elogios. Discípulo <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> músico<br />

padre José Maurício, teve lições <strong>do</strong> notável compositor Neukomm. Fez parte <strong>da</strong> orquestra real, sob a<br />

direção <strong>do</strong> maestro Marcos Portugal. Em 1838, publicou o seu primeiro compêndio <strong>de</strong> música, a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

pelo governo. Teve a comen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa. Foi casa<strong>do</strong>, em primeiras núpcias, com Monica Rosa<br />

<strong>da</strong> Silva e, em segun<strong>da</strong>s, com a viúva Teresa Joaquina Nunes <strong>do</strong>s Santos Silva, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse casal cinco<br />

filhos. Francisco Manoel fun<strong>do</strong>u o nosso Instituto <strong>de</strong> Música, sen<strong>do</strong> o seu primeiro diretor. Faleceu a 18<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1865, na casa <strong>de</strong> sua residência, à rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, nº 48, e foi sepulta<strong>do</strong> no cemitério <strong>de</strong><br />

São Francisco <strong>de</strong> Paula, no Catumbi.<br />

53. pág. (251) – O padre dr. José Caetano Ferreira <strong>de</strong> Aguiar era homem <strong>de</strong> bastante cultura,<br />

influente no clero e no mun<strong>do</strong> político. Exerceu o man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> sena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1826 até 1836,<br />

ano em que faleceu, a 27 <strong>de</strong> julho. Era cônego titular <strong>do</strong> Cabi<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> e foi pároco cola<strong>do</strong> <strong>da</strong> freguesia <strong>de</strong> Santa Rita <strong>da</strong> dita ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, por carta régia <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1801, e também vigário-geral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1818 e em 1821.<br />

54. pág. (253) – A portaria <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Império <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1822, <strong>de</strong>u ao antigo<br />

campo <strong>de</strong> Santana a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> campo <strong>da</strong> Aclamação. Foi uma prova <strong>de</strong> acentua<strong>do</strong> sentimento<br />

cívico, para perpetuar a lembrança <strong>do</strong> local em que Dom Pedro I foi aclama<strong>do</strong>, entusiasticamente,<br />

impera<strong>do</strong>r constitucional <strong>do</strong> Brasil. E <strong>de</strong> fato o foi, no dia <strong>do</strong> seu aniversário natalício, 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1822, no campo <strong>de</strong> Santana, on<strong>de</strong> compareceram a Corte, o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

incorpora<strong>do</strong> e com o seu estan<strong>da</strong>rte, a tropa militar e gran<strong>de</strong> massa popular – que <strong>de</strong>lirou <strong>de</strong> entusiasmo.<br />

Depois <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889, <strong>de</strong>ram ao logra<strong>do</strong>uro a nominação <strong>de</strong> praça <strong>da</strong> República.<br />

55. pág. (255) – O sargento e comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r João Batista Pereira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, negociante<br />

riquíssimo, foi diretor <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil, em 1821. Em 1828, a 12 <strong>de</strong> outubro, aniversário natalício <strong>de</strong><br />

Dom Pedro I, foi agracia<strong>do</strong>, por esse impera<strong>do</strong>r, com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Ubá. Relata Noronha Santos<br />

– Meios <strong>de</strong> transporte no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> – que na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> os opulentos serviam-se <strong>de</strong><br />

cavalgaduras para o transporte. Quan<strong>do</strong> o barão <strong>de</strong> Ubá quebrou a perna, na rua <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, montava<br />

uma besta ruça, que ele preferia à sege <strong>de</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O barão <strong>de</strong> Ubá já era faleci<strong>do</strong>, em 1850, e<br />

foi sepulta<strong>do</strong> na igreja <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula.<br />

56. pág. (255)— Sobre o monte <strong>do</strong> Descanso, <strong>de</strong>pois chama<strong>do</strong> Castelo, assentou-se o governo <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1567, e, ali, se levantou a Casa <strong>do</strong> Conselho, sobra<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

telha<strong>da</strong> e gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>veriam achar os verea<strong>do</strong>res para aviarem prontamente as partes. O século<br />

XVII já encontrou bem povoa<strong>da</strong> a várzea <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> também já assistia a Câmara, que, em 1639,<br />

fez construir uma nova casa, mais apropria<strong>da</strong> à sua se<strong>de</strong>, à beira-mar, junto à ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> São José, no<br />

local <strong>da</strong> praia que melhor cômo<strong>do</strong> oferecia ao povo para o trato <strong>do</strong>s negócios. Anos <strong>de</strong>pois, e <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />

a instalar-se a Câmara com a <strong>de</strong>cência recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>, levantou-se sobre as ruínas <strong>da</strong> antiga casa um<br />

prédio <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> grossas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pedra e cal, com frente à rua que ia para a Misericórdia e fun<strong>do</strong>s<br />

olhan<strong>do</strong> o mar. Essa terceira Casa <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

veio a ser compra<strong>da</strong> pelo governo geral <strong>do</strong> Brasil, para servir <strong>de</strong> se<strong>de</strong> à Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s e chegou<br />

aos nossos dias cheia <strong>de</strong> tradições. No começo <strong>do</strong> atual século, foi o prédio <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> para levantar-se o<br />

Palácio Tira<strong>de</strong>ntes.<br />

O primeiro Paço Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (1816/1875). De autoria<br />

<strong>do</strong>s arquitetos José <strong>de</strong> Castro e Silva e João <strong>da</strong> Silva Muniz foi o plano <strong>do</strong> edifício. Os seus autores<br />

tiveram um prêmio <strong>de</strong> 128$000, ca<strong>da</strong> um. A construção foi inicia<strong>da</strong>, a 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1816, com 43<br />

operários, dirigi<strong>do</strong>s por um feitor <strong>de</strong> nome Antônio Costa e pelo mestre geral, Felix José <strong>de</strong> Souza. Não<br />

tar<strong>da</strong>ram as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras, pois, ao fin<strong>da</strong>r o ano <strong>de</strong> 1817, morosamente seguiam as obras. Por<br />

acabar ain<strong>da</strong>, inaugurou-se o primeiro Paço Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A<br />

inauguração foi solene, a 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1825, numa terça-feira.<br />

O segun<strong>do</strong> Paço Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (1875/1944). Em 1873,<br />

foi con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> à <strong>de</strong>molição o edifício <strong>do</strong> primeiro Paço. Na sessão <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1875, a<br />

* Demoli<strong>do</strong> para a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. (N.E.)<br />

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3 2 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Ilustríssima Câmara aprovou o projeto <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> edifício <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> Paço Municipal,* <strong>de</strong> autoria<br />

<strong>do</strong> afama<strong>do</strong> arquiteto José <strong>de</strong> Souza Monteiro, que foi discípulo <strong>do</strong> célebre Grandjean <strong>de</strong> Montigny. Para<br />

auxiliar a <strong>de</strong>spesa com a construção <strong>do</strong> edifício foi cria<strong>da</strong> uma taxa adicional, que passaram a pagar os<br />

quiosques próximos aos teatros, as casas <strong>de</strong> diversões e aos pontos <strong>de</strong> embarque e <strong>de</strong>sembarque, que<br />

quisessem permanecer abertos até uma hora <strong>da</strong> manhã. Foi uma boa ren<strong>da</strong> que a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

arreca<strong>do</strong>u. Em janeiro <strong>de</strong> 1876, iniciou-se a obra <strong>da</strong> construção. Pela manhã, às 11 horas, <strong>do</strong> dia 2 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1882, sába<strong>do</strong>, aniversário <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II, foi inaugura<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> e último<br />

Paço Municipal <strong>da</strong> muito heróica e leal ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, após a bênção <strong>do</strong><br />

bispo. Esteve presente o impera<strong>do</strong>r, salvaram as tropas militares, forma<strong>da</strong>s em continência e houve<br />

hurras ao impera<strong>do</strong>r e à Ilustríssima Câmara. Des<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1896 até os nossos dias, o antigo Paço fezse<br />

se<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral – cria<strong>do</strong> este pela lei n 0 85, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1892. Por<br />

disposição <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> lei, os po<strong>de</strong>res Executivo e Legislativo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral não podiam morar<br />

juntos, assim sen<strong>do</strong>, o Legislativo – Conselho Municipal – foi funcionar no prédio <strong>da</strong> Escola São José<br />

na, então, praça Ferreira Viana – <strong>de</strong>pois, Floriano.<br />

No Paço Municipal tomou posse o governo provisório <strong>da</strong> República, a 16 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889.<br />

Afinal, no começo <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1944, iniciou-se a <strong>de</strong>molição <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> Paço Municipal * - e <strong>de</strong> envolta<br />

com as nuvens <strong>de</strong> pó <strong>da</strong>s suas maciças pare<strong>de</strong>s, caiu rápi<strong>do</strong> o edifício <strong>da</strong> tradicional <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

também chama<strong>da</strong> Casa <strong>do</strong> Povo, on<strong>de</strong> vibraram forte a brasili<strong>da</strong><strong>de</strong> sadia, o civismo e o patriotismo <strong>do</strong><br />

povo carioca e on<strong>de</strong> sempre se agitaram os gran<strong>de</strong>s movimentos em prol <strong>da</strong> civilização e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

57. pág. (262) – Miguel <strong>de</strong> Frias e Vasconcelos nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1805 e, aí faleceu,<br />

em 1859. Teve o curso <strong>da</strong> Escola Militar. Em 1828, foi gradua<strong>do</strong> major, por merecimento. Quan<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

abdicação <strong>de</strong> Dom Pedro I, a 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1831, Miguel <strong>de</strong> Frias era o encarrega<strong>do</strong> <strong>da</strong> repartição <strong>do</strong><br />

Quartel General <strong>do</strong> Exército e foi ele quem leu ao povo, no campo <strong>de</strong> Santana, o <strong>de</strong>creto <strong>da</strong> abdicação<br />

<strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r. Foi presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara Municipal (1853/1857) e como engenheiro<br />

executou várias obras, entre as quais a canalização <strong>da</strong>s águas <strong>do</strong> rio Maracanã.<br />

Capítulo XV – Matacavalos<br />

58. pág. (267) – Em junho <strong>de</strong> 1831, Luiz Pereira <strong>da</strong> Silva Manoel <strong>do</strong>ou à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

[Sebastião] <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, para uso e gozo <strong>do</strong> povo, uma rua que abriu, à sua custa, pela sua chácara,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Matacavalos – atualmente rua <strong>do</strong> Riachuelo – até o alto <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Santa Teresa, à qual foi <strong>da</strong><strong>do</strong><br />

o nome <strong>de</strong> Silva Manoel. Tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com o termo assina<strong>do</strong> na Ilustríssima Câmara, em junho<br />

<strong>de</strong> 1831. Esse nome – Silva Manoel, se manteve até 1923, quan<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>creto n 0 1.860, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> janeiro,<br />

foi mu<strong>da</strong><strong>do</strong> para o <strong>de</strong> André Cavalcante – aliás, inadverti<strong>da</strong>mente. Numa <strong>da</strong>s suas antigas crônicas,<br />

Noronha Santos relata que no prédio <strong>da</strong> rua Silva Manoel, ao tempo nº 25, foi opera<strong>do</strong> o poeta Castro<br />

Alves, em 1859, que <strong>de</strong>pois veio a sofrer amputação <strong>do</strong> terço inferior <strong>da</strong> perna. O trecho <strong>da</strong> rua Silva<br />

Manoel, entre as ruas <strong>do</strong> Riachuelo e Resen<strong>de</strong>, foi aberto muito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1831, atravessan<strong>do</strong> terrenos<br />

<strong>da</strong> antiga chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-mor, Pedro Dias Paes Leme e terrenos pertencentes, na ocasião <strong>de</strong>sse<br />

prolongamento, a her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Joaquim <strong>da</strong> Rocha e Silva.<br />

59. pág. (270) – Paranhos <strong>da</strong> Silva foi um <strong>do</strong>s proeminentes na campanha abolicionista.<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Ministros (1871/1875) e já agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco,<br />

bateu-se fortemente pela emancipação <strong>do</strong> ventre escravo, consegui<strong>da</strong> com a chama<strong>da</strong> Lei <strong>do</strong> Ventre<br />

Livre, sanciona<strong>da</strong> pela princesa Isabel, a Re<strong>de</strong>ntora, a 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1871. A casa em que nasceu o<br />

barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco foi adquiri<strong>da</strong> pela <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, em 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1912, por<br />

oitenta contos <strong>de</strong> réis, e consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> monumento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas, a <strong>de</strong>speito disso, não fora o prefeito<br />

Henrique Dodsworth, já estaria <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>. Recentemente, iniciou-se a obra <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> casa. *<br />

60. pág. (271) – Da reunião <strong>de</strong> duas chácaras místicas, em Matacavalos, formou-se, em 1762, a<br />

extensa chácara <strong>do</strong> Guar<strong>da</strong>-Mor, Pedro Dias Paes Leme. Ela ocupava a área, quase to<strong>da</strong> pantanosa, que<br />

se estendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o morro <strong>de</strong> Santo Antônio até os areais <strong>da</strong> lagoa <strong>da</strong> Sentinela – atualmente rua Frei<br />

* Hoje o prédio abriga a Escola <strong>de</strong> Teatro Martins Pena. (N.E.)


Caneca – nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> qual ficava o solar <strong>do</strong>s Paes Leme, conheci<strong>do</strong> pelo nome <strong>de</strong> Casa Bicos.<br />

Depois <strong>de</strong> 1840, compra<strong>do</strong> por Fernan<strong>do</strong> Forbes, foi reconstruí<strong>do</strong> totalmente. À frente <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

chácara – hoje to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua Riachuelo, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Arcos – olhava para Matacavalos,<br />

atingin<strong>do</strong> os fun<strong>do</strong>s o caminho que ia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelo areal, à mão esquer<strong>da</strong>, para o engenho <strong>do</strong>s padres<br />

– (Manuscritos sobre aforamentos – livro III, 1929 – Aureliano Restier Gonçalves). O dr. Pedro Dias<br />

Paes Leme, segun<strong>do</strong> monsenhor Pizarro e Araújo, nasceu na freguesia <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong><br />

Apresentação <strong>de</strong> Irajá, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Vieira Fazen<strong>da</strong> dá Paes Leme nasci<strong>do</strong> em São Paulo. Era filho<br />

<strong>de</strong> Garcia Rodrigues Paes e <strong>de</strong> Maria Antonia Pinheiro <strong>da</strong> Fonseca e sobrinho <strong>do</strong> intrépi<strong>do</strong> sertanejo<br />

Fernão Dias Paes Leme, <strong>de</strong>scobri<strong>do</strong>r <strong>de</strong> esmeral<strong>da</strong>s em Serro Frio. Exerceu o lugar <strong>de</strong> guar<strong>da</strong>-mor <strong>da</strong>s<br />

minas gerais como sucessor <strong>de</strong> seu pai, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1738 até 1750. Pelos serviços na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong>s minas e<br />

exploração <strong>da</strong>s mesmas, obteve, além <strong>de</strong> foros <strong>de</strong> fi<strong>da</strong>lguia, uma pensão anual <strong>de</strong> cinco mil cruza<strong>do</strong>s.<br />

Em procuran<strong>do</strong> facilitar e garantir o transporte <strong>do</strong>s minerais, Paes Leme abriu novas estra<strong>da</strong>s e fun<strong>do</strong>u<br />

povoa<strong>do</strong>s, entre os quais o que, hoje, constitui a importante ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul, no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O dr. Pedro Dias Paes Leme faleceu, a 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1783, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariana, Minas<br />

Gerais.<br />

61. pág. (275)- Francisco José Fialho era natural <strong>do</strong> Piauí e veio ain<strong>da</strong> criança para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> faleceu a 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1885, ten<strong>do</strong> nasci<strong>do</strong> a 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1814. Inteligente,<br />

espírito culto e homem operoso, Fialho fez-se ilustre, rico e muito benquisto. Li<strong>do</strong>u na imprensa carioca,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> repórter <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Commércio. Colaborou com Glaziou no plano para o ajardinamento <strong>da</strong><br />

então praça <strong>da</strong> Aclamação – hoje República. Representou a sua província na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s e<br />

foi tabelião no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. No Jornal <strong>do</strong> Commércio, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1935, há interessante biografia<br />

<strong>de</strong> Fialho, escrita por Paulo Pires Brandão. Em 24 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1867, a Ilustríssima Câmara <strong>de</strong>u o nome<br />

<strong>de</strong> Fialho à rua Dona Mariana, [na] Glória.<br />

62. pág. (283)- O dr. Augusto Teixeira <strong>de</strong> Freitas, nasci<strong>do</strong> na Bahia, em 1817, foi um gran<strong>de</strong><br />

jurisconsulto brasileiro, autor <strong>da</strong> Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s leis civis, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um monumento jurídico<br />

lega<strong>do</strong> ao Brasil. Há [estátua] <strong>do</strong> notável patrício, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, à rua<br />

Augusto Severo, antiga praia <strong>da</strong> Lapa. Foi inaugura<strong>da</strong> em setembro <strong>de</strong> 1907, no antigo e <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong><br />

largo <strong>de</strong> São Domingos e <strong>da</strong>í mu<strong>da</strong><strong>da</strong> para o local acima cita<strong>do</strong>, em frente ao Silogeu. *<br />

63. pág. (289) – Francisco <strong>de</strong> Paula Matos, ci<strong>da</strong>dão carioca, verea<strong>do</strong>r à Ilustríssima Câmara,<br />

homem inteligente e operoso, rico proprietário e turfman apaixona<strong>do</strong>, faleceu a 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1866,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> dívi<strong>da</strong>s. Foi sepulta<strong>do</strong> no jazigo <strong>de</strong> sua família, nº 5.561, no cemitério <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong><br />

Paula, no Catumbi. Deixou três filhas: Rosa Fernandina Matos <strong>da</strong> Costa, casa<strong>da</strong> com Feliciano José <strong>da</strong><br />

Costa; Francisca Matos <strong>do</strong>s Santos, casa<strong>da</strong> com Francisco Ferreira <strong>do</strong>s Santos, e a menor Maria<br />

Bernar<strong>da</strong> <strong>de</strong> Matos. Gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s seus bens foi absorvi<strong>da</strong> pelas dívi<strong>da</strong>s e os seus her<strong>de</strong>iros tiveram<br />

que aceitar a herança judicialmente. O inventário foi cheio <strong>de</strong> complicações, <strong>de</strong>mora<strong>do</strong> e discuti<strong>do</strong>, em<br />

1870. Correu pelo cartório <strong>do</strong> 1º Ofício <strong>de</strong> Órfãos, <strong>da</strong> 2ª Vara Cível <strong>da</strong> Corte, escrivão Pires Ferrão.<br />

Capítulo XVI – Catumbi, Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, A d j a c ê n c i a s<br />

64. pág. (292) – Da chácara <strong>do</strong> Pinheiro, que pertenceu à viscon<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Alcântara, começaram<br />

a sair, em 1856, os terrenos para a formação <strong>de</strong> novos logra<strong>do</strong>uros públicos e loteamento <strong>de</strong> terras à<br />

margem <strong>do</strong>s mesmos, para a construção <strong>de</strong> bons prédios <strong>de</strong> pedra e cal, que foi rápi<strong>da</strong>.<br />

A chácara <strong>do</strong> Pinheiro, também dita <strong>do</strong> Alcântara e <strong>do</strong> morro, ficava no caminho <strong>do</strong> Catumbi,<br />

forman<strong>do</strong> ângulo com uma subi<strong>da</strong> muito íngreme e só reconheci<strong>da</strong> como logra<strong>do</strong>uro público em 1857,<br />

com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Pinheiro. A chácara <strong>da</strong> Floresta foi outra importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

solarenga no Catumbi, ocupan<strong>do</strong> extensa área e ostentan<strong>do</strong> mata luxuriante e uma ótima casa<br />

resi<strong>de</strong>ncial, ain<strong>da</strong> no começo <strong>do</strong> século XIX. Depois, veio sen<strong>do</strong> mutila<strong>da</strong> e <strong>de</strong>strata<strong>da</strong>, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a sua<br />

nobre feição – que a <strong>de</strong>stacou sempre <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais. Na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> dito século, restos <strong>da</strong> chácara<br />

<strong>da</strong> Floresta aparecem no Ca<strong>de</strong>rno <strong>da</strong>s Décimas lança<strong>do</strong>s pela estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catumbi, nº 7. Em 1858, era<br />

* Está atualmente na aveni<strong>da</strong> Marechal Câmara, em frente à Casa <strong>do</strong> Advoga<strong>do</strong>. (N.E.)<br />

N O TA S | 3 2 5


3 2 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

proprietário <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> chácara um burguês apataca<strong>do</strong>, <strong>de</strong> nome José Bento <strong>de</strong> Ramos Pereira, possui<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> outras proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s no Catumbi. Ramos Pereira era homem <strong>de</strong> trato e tradicionalista. É assim que no<br />

pedi<strong>do</strong> feito à Ilustríssima Câmara, em 1858, para obras na antiga e nobre residência <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong><br />

chácara <strong>da</strong> Floresta, ele manifestou o seu empenho pela execução <strong>da</strong>s obras, a fim <strong>de</strong> restaurar e<br />

conservar a antiga feição <strong>do</strong> velho solar, principalmente quanto à sua entra<strong>da</strong> nobre – portão – para lhe<br />

<strong>da</strong>r a sua primitiva forma artística. Nessa ocasião, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> fez uma série <strong>de</strong> exigências<br />

concernentes ao <strong>do</strong>mínio direto <strong>do</strong>s terrenos <strong>da</strong> chácara, <strong>do</strong>s quais ela se consi<strong>de</strong>rava senhoria. Em<br />

conseqüência, não se fizeram as obras, porque Ramos Pereira negou-se a satisfazer as exigências – entre<br />

as quais a <strong>da</strong> assinatura <strong>de</strong> um termo <strong>de</strong> compromisso sobre o reconhecimento, <strong>de</strong> futuro, <strong>do</strong> senhorio<br />

municipal pelos proprietários. A Ilustríssima Câmara procurava, por esse meio, reivindicar a posse <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>mínio direto <strong>de</strong> terrenos em Catumbi, ti<strong>do</strong>s por alodiais.<br />

65. pág. (294) – Uns, por ignorância ou conhecimento superficial <strong>de</strong> história, e outros,<br />

<strong>de</strong>turpan<strong>do</strong>, com malevolência política, os fatos históricos, emprestam à vin<strong>da</strong> <strong>do</strong> rei <strong>do</strong>m João VI para<br />

o Brasil, em 1808, quan<strong>do</strong> o exército <strong>de</strong> Napoleão invadiu Portugal, como um ato <strong>de</strong> fuga, <strong>de</strong> me<strong>do</strong>, <strong>de</strong><br />

covardia enfim. Absolutamente, não. De alta sabe<strong>do</strong>ria política foi a vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI para o Brasil.<br />

Estratégica retira<strong>da</strong>, buscan<strong>do</strong> on<strong>de</strong> melhor levantar novas e mais resistentes trincheiras. <strong>do</strong>m João VI<br />

vin<strong>do</strong> para o Brasil salvou a monarquia lusitana; <strong>de</strong>u o golpe <strong>de</strong> morte à política <strong>de</strong> Napoleão – que<br />

visionava uma monarquia universal; abriu caminho ao Brasil para o seu rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong>. A pru<strong>de</strong>nte e sábia política <strong>do</strong>s seus ministros chamou a atenção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> europeu para a<br />

nova se<strong>de</strong> <strong>da</strong> monarquia bragantina. Dom João VI <strong>de</strong>sfral<strong>do</strong>u a ban<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> na terra <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz e fez-se precursor <strong>da</strong> nossa In<strong>de</strong>pendência. Dom João VI esteve sempre à frente <strong>do</strong> movimento<br />

reformista <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong>, lamentavelmente, não há, mas <strong>de</strong>ve haver, um monumento <strong>de</strong><br />

gratidão à sua pessoa.<br />

66. pág. (299) – Figura no nosso mo<strong>de</strong>sto livro menção à antiga fábrica <strong>de</strong> gás. O logra<strong>do</strong>uro, à<br />

direita <strong>da</strong> casa <strong>do</strong> gás, aparece no original como rua sem nome, embora, naquela época, já fosse bem<br />

conheci<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>nominação, oficial aliás, <strong>de</strong> travessa <strong>da</strong> Correção. Era um antigo trilho, que<br />

comunicava os mangues com o Barro Vermelho, on<strong>de</strong> se construiu a Casa <strong>da</strong> Correção, ain<strong>da</strong> existente<br />

ali. Os primitivos habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, encurtan<strong>do</strong> as distâncias, e fugin<strong>do</strong> aos perigos <strong>do</strong> extenso<br />

treme<strong>da</strong>l, abriram, em local mais apropria<strong>do</strong>, um compri<strong>do</strong> caminho pelos manguais <strong>de</strong> São Diogo.<br />

Desse primitivo logra<strong>do</strong>uro originou-se a rua Sena<strong>do</strong>r Euzébio, <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> com a abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Do rei Dom João VI partiram as urgentes or<strong>de</strong>ns para melhoramentos na zona <strong>do</strong>s<br />

mangues. Nessa ocasião, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o trilho para o saco <strong>do</strong> Alferes até a bica <strong>do</strong>s Marinheiros, aterran<strong>do</strong>-se<br />

os lugares mais aptos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se por meio <strong>de</strong> grossa estacaria a bor<strong>da</strong> principal <strong>do</strong> perigoso treme<strong>da</strong>l,<br />

ilumina<strong>da</strong> à noite, <strong>de</strong> espaço a espaço, com lanternas especiais. Deu isso origem à <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

caminho <strong>da</strong>s Lanternas, para o logra<strong>do</strong>uro em apreço – rua Sena<strong>do</strong>r Eusébio. O trilho para o saco <strong>do</strong><br />

Alferes serviu – mais ou menos – com o corte <strong>da</strong> rocha – para o cor<strong>de</strong>amento <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> saco <strong>do</strong> Alferes,<br />

a qual, por <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> Ilustríssima Câmara, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1865, passou a chamar-se <strong>da</strong> América.<br />

67. pág. (301) – O campo <strong>de</strong> Marte, no mangue <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, logra<strong>do</strong>uro público que se<br />

formou no começo <strong>do</strong> século XIX, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> divisão <strong>de</strong> terrenos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s aterros que se fizeram,<br />

na extensa região pantanosa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o campo <strong>de</strong> Santana até a rua <strong>de</strong> São Cristovão. Destinou-se o campo<br />

para as manobras <strong>da</strong>s tropas militares e <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> tiro. Daí, é certo, o batismo que recebeu <strong>de</strong><br />

Campo <strong>de</strong> Marte. Aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> que foi, transformou-se num alagadiço, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira lagoa fun<strong>da</strong> e infecta,<br />

na qual habitavam diferentes aves aquáticas, nota<strong>da</strong>mente patos d’água, que ali eram caça<strong>do</strong>s. Afinal,<br />

em 1880, uma concessão <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> Império, com largos favores, a Possidônio <strong>de</strong> Carvalho e outros,<br />

pelo <strong>de</strong>creto 3016, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro <strong>da</strong>quele ano, entregou-lhes a obra <strong>do</strong> aterro <strong>do</strong> alagadiço, com o<br />

direito <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s terrenos <strong>do</strong> aterro e ain<strong>da</strong> isentou, por vinte anos, <strong>de</strong> impostos, inclusive o<br />

predial, as edificações que, ali, se levantassem. O Banco Auxiliar <strong>do</strong> Comércio fez-se concessionário <strong>de</strong><br />

Posidônio <strong>de</strong> Carvalho e, nessa quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, aparece em 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1890, pedin<strong>do</strong> para edificar nos<br />

seus terrenos <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Marte, com frente para a rua Pinto <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, numa extensão <strong>de</strong> 53,70m,<br />

no que foi atendi<strong>do</strong> pelo alvará nº 107, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> abril <strong>do</strong> dito ano <strong>de</strong> 1890. Foram construí<strong>do</strong>s nove<br />

prédios no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> dita rua. Esses e outros prédios construí<strong>do</strong>s no campo <strong>de</strong> Marte, ain<strong>da</strong>


trazem querelas sobre a isenção <strong>do</strong> imposto. Dessas questões, a mais <strong>de</strong>bati<strong>da</strong> e interessante diz respeito<br />

aos prédios <strong>de</strong> João Maria Ribeiro —imposto predial nº 1588/1947. – fls, 46. É, como se vê, caso bem<br />

antigo esse <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> imposto predial no campo <strong>de</strong> Marte. Seguimos a opinião <strong>de</strong> alguns juristas que<br />

consi<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> nenhum efeito mais o <strong>de</strong>creto imperial 3.016, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1880, o qual, por força<br />

<strong>da</strong>s leis posteriores, trazi<strong>da</strong>s pelo regime republicano, ficou revoga<strong>do</strong>. A<strong>de</strong>mais, é sabi<strong>do</strong>, as leis são<br />

<strong>de</strong>rroga<strong>da</strong>s por outras leis e são também "<strong>de</strong>rroga<strong>da</strong>s pela própria vi<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> entram em conflito com<br />

a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social e humana, para cuja regulação foram promulga<strong>da</strong>s." No juízo <strong>do</strong>s Feitos <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong><br />

Municipal há provas <strong>de</strong> que, em julho <strong>de</strong> 1904, baixaram os Autos <strong>do</strong> Executivo Fiscal contra João<br />

Maria Ribeiro, em débito <strong>do</strong> imposto predial, para audiência <strong>da</strong> Procura<strong>do</strong>ria. Em ofício nº 104, <strong>de</strong> 1904,<br />

o procura<strong>do</strong>r municipal competente firmou <strong>do</strong>utrina sobre a isenção <strong>do</strong> imposto predial para os prédios<br />

edifica<strong>do</strong>s no campo <strong>de</strong> Marte. O <strong>de</strong>creto nº 3.016, <strong>de</strong> 1880, em face <strong>da</strong> lei básica que organizou o<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, revogou, radicalmente, as leis e normas administrativas atinentes ao Município Neutro.<br />

68. pág. (302) – “Nesse sítio coberto <strong>de</strong> arvore<strong>do</strong>s silvestres se criavam, além <strong>de</strong> caças grossas,<br />

abun<strong>da</strong>ntes varas <strong>de</strong> porcos, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mortos eram conduzi<strong>do</strong>s à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por isso ficou conheci<strong>do</strong><br />

com o nome corruptamente expressa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mataporcos, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong>-se dizer Mata <strong>do</strong>s Porcos. O lugar é <strong>do</strong>s<br />

mais aprazíveis <strong>do</strong>s subúrbios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>” monsenhor Pizarro e Araújo, Memórias históricas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, 7º vol; nota 32, fls. 245.<br />

69. pág. (305) – Felix Emílio foi gran<strong>de</strong> pintor paisagista e autor <strong>de</strong> várias telas famosas. O<br />

quadro Caça<strong>do</strong>r e a Onça é ti<strong>do</strong> como obra prima e faz parte, com outros, <strong>da</strong> galeria <strong>da</strong> nossa Aca<strong>de</strong>mia<br />

<strong>de</strong> Belas Artes, <strong>da</strong> qual Felix Emílio foi diretor e professor, ten<strong>do</strong> instituí<strong>do</strong> as exposições <strong>de</strong> pintura que<br />

ali são feitas anualmente.<br />

N O TA S | 3 2 7


Ap ê n di c e s


Nota Prévia à Tr a n s c r i ç ã o<br />

Na transcrição <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos, não tivemos em vista qualquer edição erudita, mas,<br />

simplesmente, torná-los compreensíveis e acessíveis ao leitor.<br />

Quanto aos critérios <strong>de</strong> transcrição regulamo-nos pelas Normas Técnicas para a Transcrição e<br />

Edição <strong>de</strong> Documentos Manuscritos <strong>da</strong> AAB/Comitê <strong>de</strong> Paleografia e Diplomática, cujas linhas gerais,<br />

apresentam, basicamente as seguintes regras:<br />

1. transcrição <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento em linha contínua.<br />

2. uso <strong>de</strong> <strong>do</strong>is traços oblíquos ao final <strong>do</strong> texto.<br />

3. respeito absoluto pela ortografia <strong>do</strong> texto original, manten<strong>do</strong> maiúsculas e minúsculas e<br />

pontuação original.<br />

4. serão separa<strong>da</strong>s as palavras grafa<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>s in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente e serão uni<strong>da</strong>s as sílabas ou letras<br />

grafa<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>mente, mas <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>.<br />

5. as letras ramistas b, v, i, j, serão manti<strong>da</strong>s como no manuscrito.<br />

6. as letras serão grafa<strong>da</strong>s na forma usual, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seu valor fonético.<br />

7. <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s abreviaturas sem <strong>de</strong>stacar as letras introduzi<strong>da</strong>s.<br />

8. colocação <strong>da</strong> palavra sic em segui<strong>da</strong> aos erros e enganos <strong>do</strong> próprio texto original.<br />

9. o sinal <strong>de</strong> nasalização ou til será manti<strong>do</strong>.<br />

10. a acentuação será conforme o original.<br />

CARTA ESCRITA AO General por informação requerimento acima.<br />

A P Ê N D I C E S | 3 2 9<br />

1739 Abril 01, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Análise <strong>da</strong> situação <strong>do</strong>s Engenhos<br />

no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Este Sena<strong>do</strong> tem procura<strong>do</strong> actual na Corte digo tem Procura<strong>do</strong>r actual na Corte com a<br />

incumbencia <strong>do</strong>s requerimentos <strong>do</strong> mesmo Sena<strong>do</strong> que são to<strong>do</strong>s os que dizem respeito a utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

publica, e <strong>da</strong> mesma natureza <strong>do</strong> que os Suplicantes intentão, e reconhecemos justo porque hé sem<br />

duvi<strong>da</strong> que estão os Engenhos <strong>de</strong>sta Capitania em fatal <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia, e outros, e já <strong>de</strong> to<strong>do</strong> <strong>de</strong>strui<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

que se segue hum prejuizo conci<strong>de</strong>ravel a to<strong>da</strong> esta Repartição <strong>do</strong> sul, <strong>da</strong> qual rezultão os mais prejuízos<br />

que os Suplicantes pon<strong>de</strong>rão; o que suposto pela obrigação que nos toca, não duvi<strong>da</strong>mos <strong>da</strong>r conta a sua<br />

Magesta<strong>de</strong> <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> e recomen<strong>da</strong>r ao Procura<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ste Sena<strong>do</strong> tracta<strong>do</strong> que possa ser conducente para<br />

o bom effeito <strong>da</strong> dita. Quan<strong>do</strong> porem os Supplicantes a sua custa, e pela sua parte queirão fazer o<br />

requerimento e lhe parecer conveniente a bem <strong>do</strong>s seus Engenhos, nenhuma duvi<strong>da</strong> tem este Sena<strong>do</strong><br />

nesta materia, antes <strong>da</strong>ra a ella to<strong>do</strong> o favor, e aju<strong>da</strong> na parte que lhe toca, porque Sua Magesta<strong>de</strong><br />

recomen<strong>da</strong> muito que se não embarassem os requerimentos, e contas que se quizerem por na sua Real<br />

Prezença. Enquanto aquererem os Supplicantes Procura<strong>do</strong>r, e conformarem-se com a <strong>de</strong>ste Sena<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>vem fazer para isso requerimento ao mesmo Sena<strong>do</strong> para se lhe distinar dia em que em Camara na<br />

forma costuma<strong>da</strong> se juntem, e faça-se assento <strong>da</strong> sua conformi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e circunstancias <strong>do</strong> seu<br />

requerimento para que uniformemente se tracte <strong>do</strong> que for a bem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os ditos Supplicantes cujo<br />

referi<strong>do</strong> requerimento se faz digno <strong>da</strong> protecção <strong>de</strong> Vossa Excellencia, quan<strong>do</strong> se queira servir <strong>de</strong>por na<br />

prezença <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong> a attenção digo a atenuação em que se achão os ditos Supplicantes e a


3 3 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

utili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se segue a este Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> que <strong>de</strong> to<strong>do</strong> se não acabem os poucos Engenhos que ain<strong>da</strong> hoje<br />

se conservão. Deos guar<strong>de</strong> a Vossa Excellencia <strong>Rio</strong> em Camara, <strong>do</strong> primeiro <strong>de</strong> Abril, <strong>de</strong> mil setecentos<br />

e trinta e nove. Excellentissimo Senhor Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong>. Matheus Franco Pereira = Antônio <strong>de</strong><br />

Azeve<strong>do</strong> Coutinho = João <strong>de</strong> Araujo <strong>do</strong> Amaral = Sebastião <strong>de</strong> Sam Payo Maxa<strong>do</strong> Sau<strong>de</strong>.//<br />

1814 Maio 02, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Carta <strong>de</strong> Aforamento <strong>de</strong> terras situa<strong>da</strong>s<br />

na Lagoa <strong>de</strong> Santo Antônio<br />

Carta <strong>de</strong> Aforamento passa<strong>da</strong> ao Capitão João Mascarenha Castel Branco <strong>de</strong> <strong>de</strong>s brassas <strong>de</strong> cham<br />

<strong>de</strong> testa<strong>da</strong> abaixo <strong>de</strong>clara<strong>da</strong>s, e Citas na Lagoa chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Santo Antônio etc. O Doutor Prezi<strong>de</strong>nte<br />

Verea<strong>do</strong>res e Procura<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Senna<strong>do</strong> <strong>da</strong> Camara <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> que<br />

servimos o prezente anno por elleição etc. Fazemos saber aos que a prezente nossa Carta <strong>de</strong> aforamento<br />

virem que a nos no enviou a dizer por Sua Petição o Capitão João Mascarenha Castel Branco, mora<strong>do</strong>r<br />

nesta dita ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que elle havia remata<strong>do</strong> neste Senna<strong>do</strong> em praça publica, pela entreposta pessoa <strong>de</strong><br />

Antônio Gomes Jacomo <strong>da</strong> Costa, <strong>de</strong>s braças <strong>de</strong> Cham <strong>de</strong> testa<strong>da</strong>, Cita na rua travessa que hia <strong>da</strong>s suas<br />

Cazas para Nossa Senhora <strong>do</strong> Desterro na Lagoa chama<strong>da</strong> vulgarmente <strong>de</strong> Nossa Senhora d’Aju<strong>da</strong> ou<br />

Santo Antônio, partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> huma ban<strong>da</strong> com Cazas <strong>de</strong>lle dito Capitão João Mascarenhas; e <strong>da</strong> outra<br />

fasem Canto <strong>da</strong> rua que Volta para a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Parto; com os fun<strong>do</strong>s em vela latina e<br />

hião emtestar com os seos pilares e terminavão no segun<strong>do</strong> por <strong>de</strong>marcação feita, por este dito Senna<strong>do</strong><br />

na vistoria final que proximamente havia feito na referi<strong>da</strong> Lagoa em Oito <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong>sse mesmo<br />

anno cuja <strong>de</strong>marcação fizera por <strong>do</strong>is mil e sem reis <strong>de</strong> foro anual e tempo <strong>de</strong> tres Vi<strong>da</strong>s, como constava<br />

<strong>do</strong> Auto <strong>de</strong>sta em que as ditas <strong>de</strong>s braças <strong>de</strong> Chão hera em hum Citio alagadiço que Caricia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

beneficio, para se fazer nelles Cazas não podia entrar a beneficiar os ditos Chaons sem Carta <strong>de</strong><br />

Aforamento <strong>de</strong>ste Senna<strong>do</strong> para seu justo titulo; por tanto nos pedio lhe man<strong>da</strong>ssemos passar a dita<br />

Carta; e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> nos ao referi<strong>do</strong> requerimento que nos fes, man<strong>da</strong>ssemos se lhe passasse Sua Carta<br />

pelo referi<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong> tres Vi<strong>da</strong>s e foro anual <strong>de</strong> <strong>do</strong>us mil e sem reis, o qual foro pagará to<strong>do</strong>s os annos<br />

em Meza e mão <strong>do</strong> Thezoureiro que no tal tempo neste Sena<strong>do</strong> servir para logo ahy se lhe carregar em<br />

receita, e fica elle foreiro livre <strong>da</strong> obrigação <strong>do</strong> tal pagamento por aquelle anno Com condição que<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> elle foreiro <strong>de</strong> pagar o dito foro por tempo <strong>de</strong> tres annos continuos, per<strong>de</strong>rá logo o direito que<br />

nos ditos Chaons e suas bemfeitorias tiver para este Senna<strong>do</strong> e posto que ao <strong>de</strong>pois queira pagar digo<br />

queira purgar a mora oferecen<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, nem por isso será releva<strong>do</strong> <strong>do</strong> Commisso; ain<strong>da</strong> que este<br />

Senna<strong>do</strong> receba os foros venci<strong>do</strong>s, Salvo se expressamente lhe aprover, relevallo <strong>de</strong>lle, Com condição<br />

que os ditos Chaons e suas bemfeitorias não passarão em tempo algum a Religião com outra alguma<br />

Comoni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a que o direito Chama, recahir em Cabeça morta, e queren<strong>do</strong>-o faser a outra alguma pessoa<br />

fora <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s fará primeiro Petição a este Senna<strong>do</strong> e disen<strong>do</strong> nella que elle os quer passar a Fulano,<br />

e por tal presso, e mais condiçoens originarias, e com otorga que no cazo em que lhe <strong>de</strong>r; então po<strong>de</strong>rão<br />

passar ao novo pertenssor, comtanto que esta receba nova Carta <strong>de</strong>ste Senna<strong>do</strong>, pedin<strong>do</strong>-a em termo<br />

breve para effeito <strong>de</strong> logo se conhecer a pessoa a quem o dito foro se <strong>de</strong>ve pedir, e se faserem os acentos<br />

e <strong>de</strong>claraçoens necessarias nos Livros e tombo <strong>do</strong>s Aforamentos, com condição que me caso que por<br />

molestia <strong>de</strong>lle foreiro e os ditos chaons e suas bemfeitorias, se ajão <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r por justiça se terá sempre<br />

a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> Satisfação com este Senna<strong>do</strong> o qual para resposta <strong>de</strong> se as quer ou não será espera<strong>do</strong> trinta dias,<br />

e não respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro nelles então se po<strong>de</strong>rão ven<strong>de</strong>r como se pagar o laudêmio a rezão <strong>de</strong> <strong>de</strong>s por<br />

Centos. Com condição que os ditos chaons e suas bemfeitorias não serão parti<strong>do</strong>s, nem dividi<strong>do</strong>s entre<br />

os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>lle foreiro quan<strong>do</strong> falesça mas antes tu<strong>do</strong> junto cahirá a huma só parte na forma <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>nação, e com as sobre ditas condiçoens e obrigaçoens, lhe aforamos os ditos chaons, pelo tempo e<br />

foro asima <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s que lhe man<strong>da</strong>mos passar a prezente por nós assigna<strong>da</strong>s <strong>da</strong> qual se <strong>da</strong>rão aos


A P Ê N D I C E S | 3 3 1<br />

interessantes os tresla<strong>do</strong>s necessarios com esta concerta<strong>do</strong>s e Sella<strong>do</strong> com o sello <strong>de</strong>ste Senna<strong>do</strong>. Da<strong>do</strong><br />

em Camara a vinte e seis <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> mil e setecentos e quarenta annos o Escrivão <strong>do</strong> Senna<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Camara Miguel Rangel <strong>de</strong> Souza Coutinho o escrevy Francisco Luiz Miran<strong>da</strong> Spinola – Francisco<br />

Viegas Leitão e Souza – Domingos Moralo Roma e São Payo – João <strong>de</strong> Araujo <strong>de</strong> Amaral – José <strong>de</strong><br />

Azeve<strong>do</strong> Coutinho <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> o qual tresla<strong>do</strong> <strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> aforamento eu Miguel Rangel <strong>de</strong> Souza<br />

Coutinho a fis trasla<strong>da</strong>r bem e fielmente <strong>do</strong> proprio original que fica no Livro Actual <strong>de</strong> aforamento a<br />

que me reporto. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Outubro trinta <strong>de</strong> mil setecentos e quarenta annos – Miguel Rangel <strong>de</strong> Souza<br />

Coutinho – Na<strong>da</strong> mais contem o Tresla<strong>do</strong> <strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> Aforamento, que eu Tabellião abaixo assigna<strong>do</strong>,<br />

a que bem e fielmente fis passar a presente publica forma com o theor <strong>do</strong> proprio a que me reporto em<br />

po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Apresentante a quem entreguei esta, subscrevi e asignei em publico e raso. Nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> aos <strong>do</strong>us <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> mil oitocentos e quatorze e eu Joaquim Joaquim digo José <strong>de</strong> Castro a<br />

subscrevy em publico e raso em publico e raso (sic). O original <strong>do</strong> presente <strong>do</strong>cumento está encerra<strong>do</strong><br />

com a assignatura <strong>do</strong> Tabellião Joaquim José <strong>de</strong> Castro.//<br />

1819 Novembro 09, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Escritura <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> um terreno situa<strong>do</strong> na rua <strong>do</strong>s Barbonos<br />

DR. ANTONIO CARLOS PENAFIEL. Serventuário <strong>do</strong> 3º Ofício <strong>de</strong> notas, <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Capital <strong>da</strong> Republica <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil, na forma <strong>da</strong> lei.<br />

Certifico que reven<strong>do</strong> em meu cartório os livros <strong>de</strong> notas, no referente ao ano <strong>de</strong> 1819, às fôlhas<br />

157, consta a escritura que me é pedi<strong>da</strong> por certidão e cujo teor é o seguinte:<br />

Escritura <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> um terreno com oito a nove braças <strong>de</strong> frente que fazem Dr. JACINTHO<br />

FURTADO DE MENDONÇA e sua mulher a DAVID STEVENSON e outros.<br />

Saibam quantos êste público instumento <strong>de</strong> escritura <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> virem que no ano <strong>do</strong> Nascimento<br />

<strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo <strong>de</strong> mil oitocentos e <strong>de</strong>zenove (1819) aos nove dias <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>do</strong> dito ano, nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em meu escritório apareceram perante mim justos e<br />

contrata<strong>do</strong>s como outorgantes ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res o <strong>do</strong>utor Jacintho Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça e sua mulher <strong>do</strong>na<br />

Francisca <strong>de</strong> Paula Lins Castelo Branco, e como outorga<strong>do</strong>s compra<strong>do</strong>res DAVID STEVENSON,<br />

ROBERTO FINNIE, D.M. SAMUEL, DAVID PRICE, JOHN DALE, JAMES DUCHAN, WILLIAM<br />

BRIGGS, como tesoureiro e administra<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Inglez chama<strong>do</strong> Contribuição e Consolagem,<br />

to<strong>do</strong>s reconheci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mim tabelião pelos próprios, <strong>do</strong> que <strong>do</strong>u fé, e <strong>da</strong>s testemunhas ao diante<br />

nomea<strong>da</strong>s e assina<strong>da</strong>s perante as quais pelos outorgantes me foi dito que eles são senhores e possui<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> um terreno sito à rua <strong>do</strong>s Barbonos com frente quasi a leste imediatas ao la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s<br />

casas térreas <strong>do</strong>s outorgantes, e pelo la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> pelo muro novo <strong>da</strong>s casas pertencentes aos her<strong>de</strong>iros<br />

<strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> Dr. Estacio Goularte, continuan<strong>do</strong> em linha réta por ambos os la<strong>do</strong>s até a pare<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

que reparte o terreno que disse João Joaquim tem arren<strong>da</strong><strong>do</strong> aos antecessores <strong>do</strong>s outorgantes, com oito<br />

a nove braças, digo com oito a nove braças <strong>de</strong> frente com a mesma largura nos fun<strong>do</strong>s: <strong>do</strong> que assim<br />

como teem e possuem livre e <strong>de</strong>sembaraça<strong>do</strong> <strong>de</strong> penhora, hipoteca e <strong>de</strong> outro qualquer encargo Judicial,<br />

faziam como com efeito fazem <strong>de</strong> hoje para sempre ven<strong>da</strong> aos outorga<strong>do</strong>s David Stevenson e outros,<br />

pela quantia <strong>de</strong> 4.000$000 (quatro contos <strong>de</strong> réis) livres <strong>de</strong> siza que recebeu <strong>do</strong>s outorga<strong>do</strong>s neste ato,<br />

<strong>do</strong> que <strong>do</strong>u fé e <strong>do</strong>s quais disseram-lhe <strong>da</strong>vam quitação para mais lha não repetirem por si, por seus<br />

her<strong>de</strong>iros, com as condições seguintes: Que ven<strong>de</strong>m unicamente o terreno e reservam eles ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res<br />

para si to<strong>do</strong>s os materiais <strong>da</strong>s benfeitorias que sôbre ele existiam que os compra<strong>do</strong>res tomam sôbre si


3 3 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

aplanarem judicial ou amigavelmente qualquer dúvi<strong>da</strong> ou oposição que encontrar na parte <strong>do</strong>s her<strong>de</strong>iros<br />

<strong>do</strong> Dr. Estacio Goulart, relativa a linha divisoria entre eles, visto que para correr-se a mesma linha é<br />

necessário cortar-se a parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s ocupa<strong>do</strong>s por aqueles possui<strong>do</strong>res, inquilinos ou arren<strong>da</strong>tarios.<br />

Sen<strong>do</strong> êste terreno <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a edificação <strong>de</strong> uma Capela e Casas pertencentes, e <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> esta Capela<br />

ser térrea e nunca assobra<strong>da</strong><strong>da</strong>, reservam os ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res para si ou seus sucessores, ou para aqueles a<br />

quem expressamente o ce<strong>de</strong>rem o direito <strong>de</strong> a to<strong>do</strong> o tempo não só edificarem, erguerem, e alçaram-se<br />

sôbre o muro que servia o dito edificio <strong>do</strong>s compra<strong>do</strong>res, sem obrigação <strong>de</strong> pagar-lhes alguma parte <strong>de</strong><br />

seu valor, mas até <strong>de</strong> abrir saca<strong>da</strong>s, janelas, ou qualquer vistas para êsse la<strong>do</strong> ou sôbre os telha<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

dita Capela, sem que to<strong>da</strong>via os compra<strong>do</strong>res possam abrir vistas sôbre os terrenos e quintais que ficam<br />

para a parte <strong>do</strong>s ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res, entendi<strong>do</strong> que o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r só po<strong>de</strong>rá abrir janelas por cima <strong>da</strong> altura <strong>do</strong><br />

muro exterior. Ultimamente <strong>de</strong>claram os ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res que o título por que são senhores e possui<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

terreno aqui vendi<strong>do</strong> é o Fi<strong>de</strong>icomisso crea<strong>do</strong> pelo Excelentissimo fina<strong>do</strong> Bispo <strong>de</strong>sta Diocese Dom João<br />

Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco, o qual se acha registra<strong>do</strong> no livro <strong>de</strong> notas que se viu<br />

com o tabelião Antônio Teixeira <strong>de</strong> Carvalho no ano mil oitocentos e um às fôlhas <strong>de</strong>zenove, confirma<strong>do</strong><br />

por sua Majesta<strong>de</strong>, cuja carta <strong>de</strong> confirmação se acha registra<strong>da</strong> no mesmo cartório às fôlhas 113 <strong>do</strong> livro<br />

<strong>de</strong> registro e papeis que com o mesmo tabelião servia no ano mil oitocentos e <strong>do</strong>is. E como para fazerem<br />

esta ven<strong>da</strong> e <strong>de</strong>smembração foram autorisa<strong>do</strong>s por Sua Majesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinte e seis <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> corrente<br />

ano e Provisão que fica registra<strong>da</strong> no meu livro atual <strong>de</strong> Registro às folhas – <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se os compra<strong>do</strong>res<br />

por contentes e seguros com êstes títulos, sem que fique a ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra responsavel por dúvi<strong>da</strong> alguma que<br />

<strong>de</strong> futuro possa mover-se a respeito <strong>de</strong>ste contrato que os compra<strong>do</strong>res aceitam por valioso e firme com<br />

to<strong>da</strong>s as condições aqui expressa<strong>da</strong>s, as quais prometeram por si e por to<strong>do</strong>s os seus secessores e os hão<br />

por empossa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> terreno aqui vendi<strong>do</strong> por esta Escritura e <strong>de</strong> Clausula constituri; e assim justos e<br />

contrata<strong>do</strong>s pediram a mim tabelião lhes lavrasse êste instrumento em estas notas que sen<strong>do</strong>-lhes li<strong>da</strong><br />

disseram estar com as vonta<strong>de</strong>s, <strong>do</strong> que <strong>do</strong>i fé; e o Conhecimento <strong>de</strong> Siza é <strong>do</strong> teor seguinte: Número<br />

mil duzentos e quatorze. Pagou o senhor David Stevenson e outros a quantia <strong>de</strong> quatrocentos mil réis <strong>de</strong><br />

siza, correspon<strong>de</strong>nte a quatro contos <strong>de</strong> réis, importância porque compraram ao Dr. Jacintho Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Men<strong>do</strong>nça e sua mulher, um terreno com oito a nove braças <strong>de</strong> frente, sito à rua <strong>do</strong>s Barbonos. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, seis <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> mil oitocentos e <strong>de</strong>zenove. O Caixa Manoel Moreira Lirio. E o bilhete <strong>de</strong><br />

distribuição é <strong>do</strong> teor seguinte: Distribui<strong>do</strong> a Pires. O Dr. Jacintho Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça e sua mulher<br />

ven<strong>de</strong>m um terreno na rua <strong>do</strong>s Barbonos a David Stevenson e outros em nove <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> mil<br />

oitocentos e <strong>de</strong>zenove. Matos. E assinam sen<strong>do</strong> testemunhas aqui [falta o final <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento]..//<br />

1849 Julho 07, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

A Câmara Municipal estipulou o valor <strong>do</strong>s terrenos ocupa<strong>do</strong>s pelas<br />

novas ruas abertas por Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos em sua chácara<br />

C Ó P I A <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente autentica<strong>da</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento original guar<strong>da</strong><strong>do</strong> no Arquivo Geral <strong>da</strong><br />

<strong>Prefeitura</strong>, como se segue: Nós abaixo assigna<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>claramos que em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> Despacho <strong>da</strong><br />

Ilustrissima Camara Municipal <strong>de</strong> cinco <strong>de</strong> junho <strong>de</strong>ste anno, fomos a chacara <strong>do</strong> Ci<strong>da</strong>dão Francisco <strong>de</strong><br />

Paula Mattos, e ahi medimos to<strong>do</strong> o terreno occupa<strong>do</strong> pelas novas ruas, que aquelle Ci<strong>da</strong>dão tem aberto,<br />

em sua chacara, cortan<strong>do</strong>-a em diversos senti<strong>do</strong>s, e on<strong>de</strong> tem já cresci<strong>do</strong> numero <strong>de</strong> predios; e achamos<br />

occuparem essas ruas huma superficie <strong>de</strong> duas mil oitocentas e cincoenta braças quadra<strong>da</strong>s, a que dámos<br />

o valor estimativo <strong>de</strong> vinte hum contos tresentos e setenta e cinco mil reis, por calcularmos ca<strong>da</strong> braça<br />

a sete mil e quinhentos, valor comparativo, e proporcional aos preços porque se tem realisa<strong>do</strong> as ven<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> terrenos n’esse lugar. <strong>Rio</strong> em sete <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> mil oitocentos quarenta e nove. No presente <strong>do</strong>cumento<br />

constam as seguintes assinaturas: Amaro Emilio <strong>da</strong> Veiga, Antônio José <strong>de</strong> Araujo, Severianno Francisco<br />

Manuel e Sebastião José <strong>de</strong> Oliveira. E porque na<strong>da</strong> mais constasse <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento a que me reporto, bem<br />

e fielmente extraí a presente cópia, que eu, Angelica Moutinho subscrevo e assino, em 28 – 07 – 1947.


CONFERE<br />

Angelica Moutinho Dulce Carneiro <strong>da</strong> Cunha<br />

Escrituraria P. 23 DULCE CARNEIRO DA CUNHA<br />

Matrícula 34935 Matrícula 33542<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Setor III//<br />

1854 Fevereiro 25, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Medição <strong>do</strong>s terrenos <strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Paula Mattos<br />

Cópia autentica<strong>da</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento original guar<strong>da</strong><strong>do</strong> no Arquivo Geral <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> (2.H.D.),<br />

como se segue: Foi apensa<strong>do</strong> – <strong>Rio</strong> 25 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1854. Santos Rodrigues Presi<strong>de</strong>nte Interino –<br />

Para que esta Camara possa solver convenientemente parte <strong>da</strong>s duvi<strong>da</strong>s que o dr. Engenheiro <strong>do</strong> 1º<br />

Districto suscitou na occasião em que teve <strong>de</strong> medir os terrenos <strong>do</strong> morro <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> – Paula Mattos<br />

– cujo <strong>do</strong>minio direito pertence á mesma Camara; para o fim não só <strong>de</strong> os extremar <strong>de</strong> uns outros que<br />

se dizem allodiaes, mas ain<strong>da</strong> para que os cofres <strong>da</strong> Ilustríssima Camara possão ser in<strong>de</strong>mniza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

laudêmios que in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente tem si<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> por Francisca (sic) <strong>de</strong> Paula Mattos, conforme elle<br />

mesmo <strong>de</strong>clarou na petição que fez para se <strong>de</strong>terminar a referi<strong>da</strong> medição; sou <strong>de</strong> parecer que o mesmo<br />

Paula Mattos seja convi<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo Secretario <strong>de</strong>sta Camara a que no prazo <strong>de</strong> 15 dias lhe venha <strong>de</strong>clarar<br />

o seguinte. 1º – Se possue ain<strong>da</strong> hoje, pelo la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> mata-cavallos, to<strong>do</strong> o terreno que foi <strong>do</strong> fina<strong>do</strong><br />

Manoel Caetano Muniz, <strong>de</strong> quem o houve por ajudicação judicial como geral cre<strong>do</strong>r <strong>do</strong> casal <strong>do</strong> fina<strong>do</strong><br />

Leonar<strong>do</strong> José <strong>do</strong>s Reis; ou se ven<strong>de</strong>o parte d’elle.<br />

2º – No caso <strong>de</strong> que tal ven<strong>da</strong> ou ven<strong>da</strong>s se fizessem, as <strong>da</strong>tas e pessoas a quem forão feitas, com<br />

<strong>de</strong>claração <strong>do</strong> preço e numero <strong>de</strong> braças com que ca<strong>da</strong> um ficou.<br />

3º – Se em 4 <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>de</strong> 1845, quan<strong>do</strong> requereo e obteve a carta <strong>de</strong> aforamento que juntou, já<br />

se achava aberta no dito morro a continuação <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, e se na medição a que então se proce<strong>de</strong>o<br />

e que consta <strong>da</strong> mesma Carta ter si<strong>do</strong> <strong>de</strong> 200 braças para o la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> Mata-cavallos, forão inclui<strong>da</strong>s<br />

ou não as que ocupa a <strong>da</strong> rua. 4º – Que quantias existem em seu po<strong>de</strong>r pertencentes á Ilustríssima<br />

Camara, e recebi<strong>do</strong> o titulo <strong>de</strong> laudêmio; com <strong>de</strong>claração <strong>da</strong>s pessoas <strong>de</strong> quem os houve, <strong>de</strong> que numero<br />

<strong>de</strong> braças, e em que locali<strong>da</strong><strong>de</strong>. 5º – Que <strong>de</strong>claran<strong>do</strong> a referi<strong>da</strong> carta <strong>de</strong> aforamento, que fica a salvo á<br />

Ilustríssima Camara o direito <strong>de</strong> reimsindicar o terreno que o impetrante possue como livre <strong>de</strong> onus<br />

naquele naquele lugar se por ventura vier a verificar-se ser tal terreno foreiro – cumpre que o mesmo<br />

Paula Mattos exhiba no mesmo prazo <strong>do</strong>cumentos ou titulos legaes, por on<strong>de</strong> possa provar que possue<br />

n’esta locali<strong>da</strong><strong>de</strong> terrenos livres ou não pertencentes á Ilustríssima Camara; visto como sem esta<br />

exhibição, que é condição expressa <strong>da</strong> sua carta <strong>de</strong> aforamento, jamais se lhe po<strong>de</strong>rá reconhecer tal<br />

direito. Paço <strong>da</strong> Ilustríssima Camara 25 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1854 – No presente <strong>do</strong>cumento constam as<br />

seguintes assinaturas: Had<strong>do</strong>ck Lobo – Lima Nogueira – Dr. Lopes <strong>da</strong> Cunha. E porque na<strong>da</strong> mais<br />

constasse <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento a que me reporto, eu, Angelica Moutinho subscrevo e assino, em 2 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1947.<br />

Angelica Moutinho CONFERE<br />

Escrituraria – Matrícula 34935 Dulce Carneiro <strong>da</strong> Cunha<br />

DULCE CARNEIRO DA CUNHA<br />

Matrícula 33.542<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Setor III //<br />

A P Ê N D I C E S | 3 3 3<br />

1855 Abril 02, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>


3 3 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

Estabelecimento <strong>da</strong> linha divisória entre os terrenos<br />

pertencentes a Paula Mattos e a Câmara Municipal<br />

Cópia autêntica <strong>do</strong> Têrmo <strong>de</strong> Vistoria nos terrenos <strong>da</strong> chacara <strong>do</strong> Ci<strong>da</strong>dão Francisco <strong>de</strong> Paula<br />

Mattos, com frente para as ruas Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> e Mata Cavallos , existente neste Serviço <strong>de</strong> Arquivo<br />

Geral <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> (2.HD), como se segue: Aos <strong>do</strong>us dias <strong>do</strong> mez d’Abril <strong>de</strong> mil oitocentos e cincoenta<br />

e cinco na chacara <strong>do</strong> Ci<strong>da</strong>dão Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos, com frente para as ruas Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> e<br />

Mata Cavallos, on<strong>de</strong> se achavão presentes os Senhores Verea<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Ilustríssima Camara Municipal<br />

d’esta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, sob a presi<strong>de</strong>ncia <strong>do</strong> Senhor Francisco José <strong>do</strong>s Santos Rodrigues, os Engenheiros,<br />

Procura<strong>do</strong>r, Fiscal <strong>de</strong> Sant’Anna, Arrua<strong>do</strong>res, e o proprietario <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> chacara Francisco <strong>de</strong> Paula<br />

Matos com migo official Maior servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> Secretario, to<strong>do</strong>s abaixo assigna<strong>do</strong>s, a fim <strong>de</strong> se processar<br />

na forma <strong>do</strong>s <strong>de</strong>spachos <strong>da</strong> Ilustríssima Camara <strong>de</strong> 6 e 23 <strong>de</strong> Março proximo passa<strong>do</strong> á vistoria nos<br />

terrenos <strong>da</strong> menciona<strong>da</strong> chacara para terminação <strong>da</strong>s duvi<strong>da</strong>s, que se ha suscita<strong>do</strong> sobre o <strong>do</strong>minio que<br />

aos terrenos <strong>do</strong> morro <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> – <strong>de</strong> Paula Mattos tem este Ci<strong>da</strong>dão, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se fazerem os<br />

necessarios exames, foi accor<strong>da</strong><strong>do</strong> entre a Ilustríssima Camara, e o sobredito Ci<strong>da</strong>dão Francisco <strong>de</strong> Paula<br />

Mattos que se medisse pela rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>do</strong> canto <strong>da</strong> <strong>de</strong> Mata Cavallos, até ás proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

Chafariz <strong>do</strong> Lagarto setenta braças, fincan<strong>do</strong>-se ahi hum marco para servir <strong>de</strong> extremo <strong>do</strong>s terrenos <strong>da</strong><br />

Ilustríssima Camara, e <strong>do</strong> que pertence ao menciona<strong>do</strong> Ci<strong>da</strong>dão Paula Mattos: que pelo la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>de</strong><br />

Matta Cavallos se medissem cento e quarenta braças até encontrar com a casa <strong>do</strong> Ci<strong>da</strong>dão Francisco José<br />

Gonsalves a qual foi <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> José Ferreira <strong>do</strong>s Santos, seguin<strong>do</strong>-se a divisa <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> dito<br />

Ci<strong>da</strong>dão Francisco José Gonsalves até completar outras setenta braças iguaes ás <strong>da</strong> frente, fincan<strong>do</strong>-se<br />

no lugar, em que fin<strong>da</strong>rem outro marco, e que to<strong>do</strong> o terreno compreendi<strong>do</strong> d’entro <strong>do</strong>s marcos, digo <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>us marcos, e que foram colloca<strong>do</strong>s entre a rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, e a rua Mata Cavallos, seja unicamente<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como pertencente á Ilustríssima Camara Municipal, e por consequencia afora<strong>do</strong> ao dito<br />

Ci<strong>da</strong>dão Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos, pelo qual ficará pagan<strong>do</strong> o fôro annual <strong>de</strong> sete mil réis (7$000). E<br />

por esta forma se houve por conclui<strong>da</strong> a vistoria, lavran<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o presente têrmo, que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

li<strong>do</strong> por se achar conforme, vai por to<strong>do</strong>s assigna<strong>do</strong>. E eu Joaquim Antônio <strong>da</strong> Costa Official Maior<br />

servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> Secretario o escrevi; e assignei. Seguem-se as seguintes assinaturas: Francisco Jozé <strong>do</strong>s<br />

Santos Rodrigues. Post scriptum – Dr. Roberto Jorge Had<strong>do</strong>ck Lobo. – Jerônimo José Mesquita. Justino<br />

José Tavares. Dr. Antônio José Gomes Fontes. Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos. Manoel <strong>da</strong> Cunha Galvão. –<br />

Pedro Moraes <strong>da</strong> Cunha Lima. – Antônio Car<strong>do</strong>so Vianna <strong>de</strong> Barros. Carlos Gomes <strong>de</strong> Oliveira.<br />

Sebastião José <strong>de</strong> Oliveira. Manoel José <strong>de</strong> Serpa. //<br />

1856 Maio 13, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Requerimento <strong>de</strong> Francisco Paula Mattos para a<br />

substituição <strong>da</strong> linha divisória entre os seus<br />

terrenos e os <strong>da</strong> Câmara Municipal<br />

Cópia autêntica <strong>da</strong> Ata <strong>da</strong> Sessão <strong>da</strong> Camara Municipal, constante <strong>do</strong> Livro n º 124, folhas 182<br />

verso e 183, que serviu nos anos <strong>de</strong> 1855-1857, ora guar<strong>da</strong><strong>do</strong> neste Serviço <strong>de</strong> Arquivo Geral <strong>da</strong><br />

<strong>Prefeitura</strong> (2.HD), como se segue: 16 Sessão em 13 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1856<br />

Leo-se a seguinte informação <strong>do</strong> Engenheiro – Ilustríssimos Senhores Informan<strong>do</strong> o requerimento<br />

incluso <strong>do</strong> Senhor Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos em que pe<strong>de</strong> seja substitui<strong>da</strong> a linha divisoria que separa<br />

os seus terrenos <strong>do</strong>s <strong>da</strong> Ilustríssima Municipal, reporto-me a meos officios <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1853 e<br />

24 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1854 em que eu fazia ver que não sen<strong>do</strong> possivel preencher-lhe pela rua <strong>de</strong><br />

Matacavallos as 200 braças que lhe marca a Carta d’aforamento passa<strong>da</strong> por esta Camara e que<br />

resultan<strong>do</strong> graves inconvenientes <strong>da</strong> linha divisoria fixa<strong>da</strong> pela juncção <strong>do</strong> ponto <strong>da</strong> rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>


A P Ê N D I C E S | 3 3 5<br />

proximo ao Chafariz ao ponto fixa<strong>do</strong> na diviza <strong>de</strong> Ferreira <strong>do</strong>s Santos, acho rasoavel que em<br />

conpensação <strong>do</strong> terreno em que elle se acha prejudica<strong>do</strong> se marque para linha divisoria <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong><br />

Paula Mattos <strong>do</strong>s <strong>da</strong> Ilustríssima Camara a rua <strong>de</strong> Paula Mattos até a sua intersecção na rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>,<br />

vin<strong>do</strong> elle a ganhar a facha <strong>do</strong> terreno compreendi<strong>do</strong> entre esta linha divisoria e a mesma rua. No cazo<br />

<strong>de</strong> ser approva<strong>do</strong> o meo parecer <strong>de</strong>ver-se-ha passar nova carta d’ aforamento em que se <strong>de</strong>clara que em<br />

compensação <strong>da</strong>s 60 braças <strong>de</strong> frente que faltão pela rua Matacavallos se conce<strong>de</strong> a facha acima<br />

menciona<strong>da</strong>.<br />

Deos Guar<strong>de</strong> a Vossas Senhorias Directorias <strong>da</strong>s obras municipaes em 6 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1856.<br />

Ilustríssimos Senhores Presi<strong>de</strong>nte e Verea<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Ilustríssima Camara Municipal – Manoel <strong>da</strong> Cunha<br />

Galvão, Director <strong>da</strong>s obras Municipaes <strong>do</strong> 1º Distrito Foi apenso O Senhor Lima Nogueira não votou<br />

por ter suspeição. //<br />

1857 Agosto 27, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Edital informan<strong>do</strong> que os prédios abaixo relaciona<strong>do</strong>s estão<br />

localiza<strong>do</strong>s em área <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> <strong>do</strong> aforamento feito<br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara à Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo<br />

A Illustríssima Camara Municipal <strong>de</strong>sta muito Leal e Heroica ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>: Faz saber a to<strong>do</strong>s os proprietarios <strong>de</strong> predios <strong>da</strong>s ruas abaixo <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>s, que pelo Tombamento<br />

a que se acaba <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r, e vai annexo a este Edital, se reconheceu que os mesmos predios se achão<br />

edifica<strong>do</strong>s em terreno “<strong>de</strong>smembra<strong>do</strong>” <strong>do</strong> aforamento feito pelo Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Camara á Veneravel Or<strong>de</strong>m<br />

3ª <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Monte <strong>do</strong> Carmo, em 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1779, competentemente registra<strong>do</strong> a<br />

folha 126 vol. <strong>do</strong> Livro 4º <strong>de</strong> aforamentos existente no archivo <strong>da</strong> mesma Camara, e como tal sujeitos –<br />

1º, a lhe pagarem laudêmio <strong>de</strong> quarentena sempre que passarem por ven<strong>da</strong> ou troca á novos possui<strong>do</strong>res,<br />

para o que são obriga<strong>do</strong>s os ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res a lhe impetrarem previamente a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> licença; 2º, ao<br />

pagamento annual <strong>de</strong> fôro <strong>de</strong> 1$000 réis, institui<strong>do</strong> naquelle primeiro aforamento, sómente aquelles que<br />

já possuirem o <strong>do</strong>minio util <strong>do</strong> mesmo terreno por compra que <strong>de</strong>lle tenhão feito por si ou por seus<br />

antecessores áquella referi<strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m 3ª, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> tambem nesse caso impetrarem o competente titulo <strong>de</strong><br />

aforamento sob pena <strong>de</strong> que, não cumprin<strong>do</strong> estes <strong>do</strong>us <strong>de</strong>veres, ficarão incursos na pena <strong>de</strong> commisso<br />

que se lhes ha <strong>de</strong> pedir para o perdimento <strong>do</strong> <strong>do</strong>minio util que tiverem, como é <strong>de</strong> Lei.<br />

rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> Predios n. 2 a 50.<br />

“ <strong>do</strong>s Ciganos “ n. 1 a 63 e 2 a 68.<br />

“ <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa “ n. 49 a 63 e 96 a 116.<br />

“ <strong>do</strong> Hospício “ n. 199 a 287 e 266 a 354.<br />

“ <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos “ n. 81 a 217.<br />

“ <strong>de</strong> São Jorge “ n. 1 a 49.<br />

“ <strong>do</strong> Regente “ n. 1 a 41 e 2 a 44 F.<br />

“ <strong>do</strong> Nuncio “ n. 1 a 27 e 2 a 40.<br />

praça <strong>da</strong> Constituição “ n. 73 a 89.<br />

“ <strong>da</strong> Acclamação “ n. 2 a 34.<br />

E para que chegue á noticia <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s, Tabelliães e Escrivães <strong>do</strong> Civel. Commercio<br />

e Orphãos, e se não possa allegar ignorancia em tempo algum, se man<strong>do</strong>u affixar e publicar o presente<br />

Edital. Paço <strong>da</strong> Ilustríssima Camara Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 27 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1857.<br />

Dr. João <strong>de</strong> Oliveira Fausto<br />

Dr. Roberto Jorge Had<strong>do</strong>ck Lobo


3 3 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Dr. José Mariano <strong>da</strong> Costa Velho.<br />

José Lopes Pereira Bahia.<br />

Dr. Francisco Lopes <strong>da</strong> Cunha.<br />

Está conforme. – Luiz Joaquim <strong>de</strong> Gouvêa.<br />

Empreza Nacional <strong>do</strong> Diario. – rua <strong>do</strong> Rosario N. 84.//<br />

1859 Outubro 15, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

Pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> licença para construção <strong>de</strong> um prédio<br />

Cópia autentica<strong>da</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento original guar<strong>da</strong><strong>do</strong> neste Serviço <strong>de</strong> Arquivo Geral <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong><br />

(2.HD), como se segue: A Conta<strong>do</strong>ria. <strong>Rio</strong> em 3 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1859 – A Directoria – <strong>Rio</strong> em 11 <strong>de</strong><br />

Outubro <strong>de</strong> 1859. Ao Ilustríssimo Senhor Dr. Fon. Mesmos Senhores tes. <strong>Rio</strong>(em abreviatura) em 15 <strong>de</strong><br />

Outubro <strong>de</strong> 1859. O Barão <strong>da</strong> Bella Vista, preten<strong>de</strong> fazer na praça <strong>de</strong> Dona Antonia n. 24 em prédio<br />

assobra<strong>da</strong><strong>do</strong>, e por isso pe<strong>de</strong> licença a Ilustríssima Camara Municipal – <strong>do</strong> que espera. Receberá Mercê<br />

– Concedi<strong>da</strong>. <strong>Rio</strong> 21 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1859. Assinatura ilegivel. Ilustríssimos Senhores. O terreno em que<br />

o Suplicante preten<strong>de</strong> edificar he <strong>do</strong>s que pertencem a Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos. <strong>Rio</strong> 10 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong><br />

1859. O Conta<strong>do</strong>r – assina<strong>do</strong> – Innocencio <strong>da</strong> Rocha Maciel. <strong>Rio</strong> em 1. De Outubro ( em abreviatura)<br />

<strong>de</strong> 1859. Como Procura<strong>do</strong>r – Francisco <strong>de</strong> Paula Mattos. E porque na<strong>da</strong> mais constasse <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento a<br />

que me reporto, bem efielmente extraí a presente cópia, que <strong>da</strong>to e assino.<br />

Em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1947.<br />

Angelica Moutinho<br />

CONFERE<br />

Dulce Carneiro <strong>da</strong> Cunha<br />

DULCE CARNEIRO DA CUNHA<br />

Matrícula 33.542<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> setor III<br />

VISTO //<br />

Inventário <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pelo Bispo<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

SYNOPSE GERAL DOS BENS DOADOS PELO BISPO DO RIO DE JANEIRO À SUA<br />

SOBRINHA D. ANNA DE LEMOS MASCARENHAS, E DO SEU DESTINO.<br />

D. JOSÉ JOAQUIM JUSTINIANO MASCARENHAS CASTELLO BRANCO<br />

a) – Casas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> no canto <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, her<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>de</strong> seu Pae, no inventario<br />

julga<strong>do</strong> por sentença <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1787.<br />

b) – Duas casas terreas contiguas e em segui<strong>da</strong>, havi<strong>da</strong>s por seu Pae, por compra feita em 23 <strong>de</strong><br />

Dezembro <strong>de</strong> 1778, e outra pelo Bispo recebi<strong>da</strong> em pagamento, em 20 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1796.<br />

c) – Uma fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Capão, a Quinta <strong>de</strong> Sant’Anna, além <strong>de</strong> outras terras havi<strong>da</strong>s por


compras <strong>de</strong> 12 e 15 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1795 e 13 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1796, to<strong>da</strong>s na Freguezia <strong>de</strong> Inhauma.<br />

d) – O Engenho <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição, em Mira Penha, na Freguezia <strong>de</strong> Irajá.<br />

A P Ê N D I C E S | 3 3 7<br />

DONA ANNA DE LEMOS MASCARENHAS<br />

Sua sobrinha que recebeu os ditos bens em <strong>do</strong>ação (menos a Quinta <strong>de</strong> Sant’Anna e o Engenho<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição <strong>de</strong> Irajá, que tinha em fi<strong>de</strong>icomisso) em 30 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1801, com a<br />

condição <strong>de</strong> conserva-los intactos e sem <strong>de</strong>lles se po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sfazer por qualquer forma, passan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> sua morte, por ter faleci<strong>do</strong> solteira e sem her<strong>de</strong>iro, legitimo, ao seu Irmão Coronel Ignacio Manoel<br />

<strong>de</strong> Lemos Mascarenhas, porem, em fi<strong>de</strong>icomisso.<br />

CORONEL IGNACIO MANOEL DE LEMOS MASCARENHAS<br />

Falecen<strong>do</strong> este sem <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia, legitima, passou o fi<strong>de</strong>icomisso para a sua outra irmã, Dona<br />

Francisco (sic) <strong>de</strong> Paula Liz Castello Branco, casa<strong>da</strong> em primeiras nupecias (sic) com o Capitão José<br />

Thomaz Gusmão, que não <strong>de</strong>ixou filhos, e em segun<strong>da</strong>s nupcias com o Sena<strong>do</strong>r Jacinto Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Men<strong>do</strong>nça, com geração.<br />

DONA FRANCISCA DE PAULA LIZ CASTELLO BRANCO<br />

Falecen<strong>do</strong> ela em 6 <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>de</strong> 1833, foi feito inventario e partilha amigavel pelo viuvo e seus<br />

filhos: Jacinto Mascarenhas Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça, a Marqueza <strong>de</strong> Quixeramobim e Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Mascarenhas Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça, na qual manteve-se a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> fi<strong>de</strong>icomisso quanto aos bens <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Capão e <strong>da</strong> Quinta <strong>de</strong> Sant’Anna, que passaram imediatamente ao filho mais<br />

velho Jacinto <strong>de</strong> Mascarenhas Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça, mas fican<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> nullo o fi<strong>de</strong>icomisso<br />

concernente o Engenho <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição <strong>de</strong> Irajá, que passou para o monte-mór.<br />

JACINTO MASCARENHAS FURTADO DE MENDONÇA<br />

Recebeu o fi<strong>de</strong>icomisso como terceiro fi<strong>de</strong>icomissario e man<strong>do</strong>u registrar as fazen<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Capão<br />

e <strong>de</strong> Sant’Anna, no Registro <strong>de</strong> <strong>Terras</strong> <strong>da</strong> Freguezia <strong>de</strong> Inhauma, em 24 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1856, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com a Lei <strong>de</strong> <strong>Terras</strong>, na Freguezia <strong>de</strong> Inhauma. //<br />

Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s em Botafogo<br />

Luiz Alves <strong>da</strong> Silva Porto foi por muito tempo procura<strong>do</strong>r <strong>do</strong> rico negociante Joaquim Marques<br />

Batista <strong>de</strong> Leão – o velho, o qual era tambem gran<strong>de</strong> proprietario <strong>de</strong> predios e terrenos em Botafogo,<br />

on<strong>de</strong> residia em gran<strong>de</strong> chacara á rua <strong>de</strong> São Clemente.<br />

Em morren<strong>do</strong> Batista <strong>de</strong> Leão, Silva Porto apareceu como credôr ipotecário <strong>de</strong> quasi to<strong>do</strong>s os<br />

prédios e terrenos <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s pelo seu fina<strong>do</strong> constituinte. Moveu ação <strong>de</strong> penhora e teve ganho <strong>de</strong> causa,<br />

obten<strong>do</strong> a adjudicação <strong>do</strong>s imoveis penhora<strong>do</strong>s. Ain<strong>da</strong> gran<strong>de</strong> vantagem conseguiu Silva Porto, obten<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Ilustríssima Camara, em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1834, o aforamento <strong>do</strong>s terrenos adjudica<strong>do</strong>s. Por morte <strong>de</strong><br />

Silva Porto e [folha 2] e <strong>da</strong> sua mulher, os mesmos terrenos passaram ao <strong>do</strong>minio útil <strong>do</strong>s sete filhos <strong>do</strong><br />

casal, to<strong>do</strong>s com os seus titulos <strong>de</strong> aforamentos registra<strong>do</strong>s na Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> – Repartição <strong>de</strong><br />

Tombaménto, em 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1885. Em 1931, Eduar<strong>do</strong> Alves <strong>da</strong> Silva Porto, por sucessão <strong>do</strong>s seus<br />

irmãos, era o unico posseiro <strong>do</strong>s terrenos, e no dito ano propôr a <strong>Prefeitura</strong> comprar o <strong>do</strong>minio direto<br />

<strong>do</strong>s mesmos. A situação politica <strong>do</strong> momento, não permitiu fosse aceita a sua proposta.<br />

Assim, os terrenos, em Botafogo, que foram possui<strong>do</strong>s pelos Silva Porto são <strong>do</strong> <strong>do</strong>minio direto<br />

<strong>da</strong> Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> e obriga<strong>do</strong>s a fôro á <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral por serem <strong>de</strong>smembrações <strong>de</strong> um<br />

to<strong>do</strong> que constituiu a Fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Olaria, por sua vez <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> <strong>de</strong> um outro to<strong>do</strong> <strong>de</strong> [folha 3] <strong>de</strong><br />

muito maior porção, que era a Quinta <strong>de</strong> São Clemente, foreira á Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tempos imemoriais,<br />

por se achar assente em terras compreendi<strong>da</strong>s nas sesmarias <strong>da</strong> Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>:<br />

sesmaria <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1565, concedi<strong>da</strong> pelo capitão mór governa<strong>do</strong>r Estacio <strong>de</strong> Sá, e a <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1567, concedi<strong>da</strong> pelo governa<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong> Brasil – Mem <strong>de</strong> Sá, confirman<strong>do</strong> e amplian<strong>do</strong> a<br />

primeira.


3 3 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Quinta <strong>de</strong> São Clemente<br />

Importante proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que pertenceu ao padre dr. Clemente Martins <strong>de</strong> Matos, homem culto,<br />

forma<strong>do</strong> em Direito e foi Vigario Geral <strong>do</strong> Bispa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> [folha 4] <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era natural e<br />

on<strong>de</strong> morreu a 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1702. A testa<strong>da</strong> <strong>de</strong> frente <strong>da</strong> Quinta, cerca <strong>de</strong> 344 braças, estendia-se pela<br />

antiga praia <strong>de</strong> Botafogo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o riacho <strong>do</strong> “Banana Pôdre”, que <strong>de</strong>saguava na dita praia, no local on<strong>de</strong><br />

está assente a igreja <strong>do</strong> colégio <strong>da</strong> Imacula<strong>da</strong> Conceição, e terminava na fóz <strong>do</strong> rio Berquó – atualmente,<br />

começo <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Passagem. O fun<strong>do</strong> ou sertão <strong>da</strong> Quinta alcançava as terras, tambem foreiras, <strong>de</strong><br />

Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, na gran<strong>de</strong> lagôa. Os seus la<strong>do</strong>s confinavam, o <strong>do</strong> norte – ou esquer<strong>da</strong>, com<br />

Larangeiras, e o <strong>da</strong> direita – ou sul com Sacópenapam – hoje Copacabana. Nessa Quinta existiu uma<br />

capela sob [folha 5] a invocação <strong>de</strong> São Clemente, <strong>da</strong>i a sua <strong>de</strong>nominação. Em 1675 o padre Clemente<br />

fez a primeira <strong>de</strong>smembração <strong>da</strong> Quinta, na parte sul e que ficou margean<strong>do</strong> um caminho – digo ficou<br />

constituin<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>de</strong> um caminho publico, <strong>de</strong>pois rua <strong>do</strong> Berquo, atual General Polidóro,<br />

Assim, nessa porção <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong> estão compreendi<strong>do</strong>s to<strong>do</strong> o chão <strong>do</strong> cemiterio <strong>de</strong> São João Batista<br />

e to<strong>do</strong>s os terrenos que se seguem até a rua <strong>da</strong> Passagem, e portanto foreiros á Municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como<br />

<strong>de</strong>smembração <strong>de</strong> um to<strong>do</strong> – Quinta <strong>de</strong> São Clemente – que era foreiro, á razão <strong>de</strong> 2560 reis anuais.<br />

[folha 6]<br />

Fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Olaria:<br />

O restante <strong>da</strong> Quinta <strong>de</strong> São Clemente, por morte <strong>do</strong> seu já referi<strong>do</strong> <strong>do</strong>no, veiu a pertencer a Pedro<br />

Fernan<strong>de</strong>s Braga e a sua mulher Barbara Xavier <strong>de</strong> Carvalho e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>smembrou-se, por completo, na<br />

partilha entre os filhos e her<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> dito casal. Um rico oleiro, capitão Francisco <strong>de</strong> Araujo Pereira,<br />

comprou aos precipita<strong>do</strong>s her<strong>de</strong>iros uma gran<strong>de</strong> porção, la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Clemente e que se<br />

estendia até o morro <strong>do</strong> Pasma<strong>do</strong>, com fun<strong>do</strong>s, na lagôa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. Essa porção constituiu a<br />

fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Olaria, que pertenceu mais tar<strong>de</strong>, a Joaquim Marques Batista <strong>de</strong> Leão. = Assim, to<strong>do</strong>s os<br />

terrentos (sic) compreendi<strong>do</strong>s entre o la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> rua General Polidóro e o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>[ folha 7] <strong>da</strong><br />

rua <strong>de</strong> São Clemente e to<strong>do</strong>s os fun<strong>do</strong>s ate a Piaçaba, na lagôa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, fizeram parte <strong>da</strong><br />

fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Olaria.<br />

Niteroi, terça feira, 26 – junho – 1956<br />

Aureliano Restier Goncalves//


B i bl i ogra f i a


3 4 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Obras <strong>de</strong> A u reliano Restier G o n ç a l v e s<br />

Manuscriptos sobre aforamentos. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Archivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, 1929.<br />

Extractos e manuscriptos sobre vacina. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Archivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, 1929.<br />

“Carnes ver<strong>de</strong>s em São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>-1500/1900”, Revista <strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, vol.III, 1952, p.283-358.<br />

“Paço municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>”, Revista <strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, vol.IV, 1953, p.27-69.<br />

“ A governança <strong>de</strong> Luiz Vahia Monteiro – Correspondência entre Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara e Luiz<br />

Vahia Monteiro”, Revista <strong>do</strong> Arquivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, vol.V, 1954, p.3-57.<br />

Bibliografia cita<strong>da</strong> pelo autor<br />

F O N T E S<br />

L e g i s l a ç ã o<br />

BRASIL. Parlamento. Coleção <strong>de</strong> leis <strong>do</strong> Brasil.<br />

P O RTUGAL. Or<strong>de</strong>nações Filipinas. São Paulo: Saraiva, 1957, 3v.<br />

Manuscritos públicos<br />

Auto <strong>do</strong>s arrolamentos <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong>s jesuítas no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Autos <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s vistorias sobre as terras <strong>do</strong> Va l o n g o , 1 7 7 0 - 1 7 8 0 .<br />

Autos <strong>de</strong> arruação e vistorias, 1602.<br />

Autos <strong>de</strong> vistoria <strong>de</strong> terras no sítio <strong>de</strong> Matacavalos no ano <strong>da</strong> Graça <strong>de</strong> N. S. Jesus Cristo,<br />

1789. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Arquivo Municipal.<br />

Autos <strong>de</strong> vistorias, 1835.<br />

Cartas <strong>de</strong> aforamentos: <strong>do</strong>cumentos sobre as invasões francesas no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>: Arquivo Nacional, [18--?].<br />

Classe <strong>de</strong> manuscritos – Brasil – Correspondências, 1790-1794. Lisboa: Arquivo <strong>da</strong> To r r e<br />

<strong>do</strong> Tombo, [18--?].<br />

Consultas <strong>do</strong> Conselho Ultramarino, 1724-1735. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: [s.n., 18--?].<br />

Documentos inéditos: Intendência <strong>da</strong> Polícia, 1795-1807. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Arquivo Nacional,<br />

[ 1 9 - - ? ] .


B I B L I O G R A F I A | 3 4 1<br />

Livro <strong>da</strong>s décima urbanas.<br />

Livro <strong>de</strong> aforamento.<br />

Livro <strong>do</strong> imposto predial nº 1558 <strong>de</strong> 1947.<br />

Parecer <strong>do</strong> síndico <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, 3 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1820.<br />

Provisões e registros <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, séc.XVI e XVII.<br />

Registros <strong>da</strong> recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Tesouro Nacional.<br />

Registros <strong>de</strong> licenças <strong>da</strong> Ilma. Câmara.<br />

Registros <strong>de</strong> tombamento municipal <strong>de</strong> 1870.<br />

Registros <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, 1730-1740 e 1730-1805. Arquivo Municipal.<br />

Relatório <strong>do</strong> fiscal-engenheiro Charles Neate <strong>de</strong> 1861. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: IHGB, col. Olin<strong>da</strong>.<br />

[ 1 9 - - ] .<br />

Resolução 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1818.<br />

Sentença <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1859 <strong>de</strong> processo corri<strong>do</strong> na 3ª Vara Cível <strong>da</strong> Corte.<br />

Tombo <strong>da</strong>s terras municipais <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1885.<br />

Tombo <strong>do</strong>s foreiros <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara 1810; 1818.<br />

Manuscritos particulares<br />

Carta <strong>do</strong> padre Xavier <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1793.<br />

Carta <strong>do</strong> superior <strong>da</strong> Casa Conventual <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, Frei José Policarpo <strong>de</strong> Santa A n a<br />

Gertru<strong>de</strong>s sobre remissão <strong>de</strong> foro, 1835.<br />

Escritura <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1831, Livro <strong>de</strong> Notas <strong>do</strong> tabelião Manoel <strong>de</strong> Lares Pinto, Niterói.<br />

Escritura <strong>de</strong> compra e ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> Chácara <strong>do</strong> Souto <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1849, Livro <strong>de</strong> Notas<br />

<strong>do</strong> tabelião Joaquim José <strong>de</strong> Castro.<br />

Escritura <strong>de</strong> compra e ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1833 <strong>do</strong> tabelião João Caetano <strong>de</strong><br />

O l i v e i r a .<br />

Escritura <strong>de</strong> compra e ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1806, Livro <strong>de</strong> Notas nº 133 <strong>do</strong> tabelião<br />

Manoel Marques Perdigão.<br />

Escritura <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1811, Livro <strong>de</strong> Notas <strong>do</strong> tabelião Rocha Pita.<br />

Escritura <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1887, Livro <strong>de</strong> Notas nº 391<br />

<strong>do</strong> tabelião Marcolino <strong>de</strong> Moura e A l b u q u e r q u e .<br />

Escritura pública <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1721 <strong>do</strong> Notário Jorge <strong>de</strong> Souza Coutinho Escritura <strong>de</strong><br />

compra e ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1744 – Tabelião Francisco Xavier <strong>da</strong> Silva.<br />

Escritura pública <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1801 em Livro <strong>de</strong> Notas <strong>do</strong> Tabelião Antonio <strong>de</strong><br />

C a r v a l h o .<br />

Escritura Pública <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1646 no Livro <strong>de</strong> Notas <strong>do</strong> Tabelião Pedro <strong>da</strong> Costa.<br />

Escritura pública <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1766 <strong>do</strong> Notário Vicente <strong>de</strong> A n d r a d e .<br />

Inventário <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Paula Matos. Cartório <strong>do</strong> 1º Ofício <strong>de</strong> Órfãos <strong>da</strong> 2ª Vara Cível<br />

<strong>da</strong> Corte, 1866-1870.<br />

Inventário <strong>de</strong> Joaquina Maria <strong>da</strong> Conceição – sentença <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1876 Juízo <strong>da</strong>


3 4 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

1ª Vara Cível <strong>da</strong> Corte.<br />

Livro <strong>de</strong> Escrituras <strong>de</strong> 1656 <strong>do</strong> Notário Antonio Ferreira <strong>da</strong> Silva, consulta<strong>do</strong> no Cartório<br />

<strong>do</strong> Tabelião Castro em 1923.<br />

Livro <strong>de</strong> Tombo <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa.<br />

Livro nº 150 <strong>do</strong> Tabelião Pires Garcia.<br />

Testamento <strong>de</strong> Manoel Alexandre Alvares, escrivão-mor, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1812.<br />

P e r i ó d i c o s<br />

ALMANAQUE LAEMMERT, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,1844.<br />

ANAIS DA B I B L I O T E C A NACIONAL, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, v.2, 1877.<br />

ANAIS DA C Â M A R A M U N I C I PAL, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 17 abr, 1860.<br />

ANAIS DO MUSEU PA U L I S TA, São Paulo, t.III.<br />

ANAIS DO PA R L A M E N TO BRASILEIRO, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 1864.<br />

BOULANGER, Luiz Alexis. “Autos <strong>do</strong>s arrolamentos <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong>s jesuítas no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>”, Anuário Brasileiro, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 1861.<br />

BRANDÃO, Paulo Pires. “Biografia <strong>de</strong> Francisco José Fialho”, Jornal <strong>do</strong> Commercio, <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 9 jun 1935.<br />

CABRAL, Vale. “Etimologia brasílicas”. Anais <strong>da</strong> Biblioteca Nacional, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, v. 2 ,<br />

n.1, p.201-4; 404-6, 1876/1877.<br />

Documentos inéditos. Arquivo Ultramarino, Lisboa.<br />

DORIA, Escragnole. “A rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r”, Revista <strong>da</strong> Semana, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, v.28, no 26,<br />

p.18, 18 jun 1927.<br />

Estu<strong>do</strong>-relatório <strong>do</strong> engenheiro Júlio Rey, 1886.<br />

FAZENDA, Vieira. “Antiqualhas e memórias <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>”, Revista <strong>do</strong> Instituto<br />

Histórico Geográfico Brasileiro, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, t.88-89, v.142-3, 1920/1921.<br />

FLEIUSS, Max. “Apostilas <strong>de</strong> História <strong>do</strong> Brasil”, Revista <strong>do</strong> Instituto Histórico<br />

Geográfico Brasileiro, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 1933. 467p., vol. especial.<br />

F R E I TAS, Augusto Teixeira <strong>de</strong>. Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s leis civis.<br />

G A Z E TA MÉDICA, 1862.<br />

J O R N A L DO COMMERCIO, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 10 out 1883, 18 <strong>de</strong>z 1875, 1864..<br />

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Gl o s s á r i o


a grosso ven<strong>da</strong> por ataca<strong>do</strong>.<br />

à guisa à maneira <strong>de</strong>; à mo<strong>da</strong> <strong>de</strong>; à feição; ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>.<br />

a retalho ven<strong>da</strong> a varejo.<br />

acaçapa<strong>do</strong> baixo.<br />

achamento acha<strong>do</strong>.<br />

achegas subsídios, contribuições para o aperfeiçoamento e/ou ampliação <strong>de</strong> um ramo <strong>do</strong><br />

conhecimento.<br />

adjudicação transferência <strong>de</strong> valor ao exeqüente <strong>de</strong> bens ou valores penhora<strong>do</strong>s, ou seus<br />

rendimentos, em pagamento <strong>de</strong> seu crédito contra o executa<strong>do</strong>.<br />

aforamento instituto jurídico pelo qual o proprietário <strong>de</strong> terra passava a posse <strong>do</strong> imóvel para outra<br />

pessoa, então chama<strong>da</strong> foreiro, em troca <strong>do</strong> pagamento anual <strong>de</strong> uma taxa chama<strong>da</strong> foro. A posse era<br />

hereditária suce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o filho ao pai; enfiteuse.<br />

agua<strong>da</strong> no caso, abastecimento <strong>de</strong> água potável.<br />

água-furta<strong>da</strong> espécie <strong>de</strong> sótão em que as janelas abrem-se sobre o telha<strong>do</strong>.<br />

álacres alegres; anima<strong>do</strong>s; entusiasma<strong>do</strong>s.<br />

alcantila<strong>do</strong> escarpa<strong>do</strong>.<br />

alferes cargo na hierarquia militar, cavaleiro.<br />

algures em alguma parte ou lugar.<br />

almoxarife oficial <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> encarrega<strong>do</strong> <strong>da</strong> cobrança <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s reais.<br />

alodial livre <strong>de</strong> foros, vínculos, pessoa e ônus.<br />

aluvião <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> cascalho, areia e argila que se forma junto <strong>da</strong>s margens <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a erosão,<br />

enchentes ou, no caso, recuos <strong>do</strong> mar.<br />

apanigua<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong>.<br />

apataca<strong>do</strong> endinheira<strong>do</strong>; rico.<br />

apresto provimento necessário; preparativo necessário.<br />

arcediago eclesiástico investi<strong>do</strong> pelo bispo <strong>de</strong> certos po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> jurisdição <strong>da</strong> diocese; o primeiro<br />

entre os diáconos.<br />

arquiepiscopal relativo à se<strong>de</strong> <strong>do</strong> arcebispa<strong>do</strong>.<br />

arribar <strong>de</strong>sviar <strong>da</strong> rota prevista em razão <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> tempo ou mar.<br />

arruamento traça<strong>do</strong>, <strong>de</strong>marcação e abertura <strong>de</strong> ruas.<br />

assobra<strong>da</strong><strong>da</strong> com <strong>do</strong>is ou mais pavimentos; residência nobre em oposição às casas térreas ou chãs<br />

que, ao tempo, <strong>de</strong>notavam mais baixa categoria.<br />

áulico cortesão, palaciano.<br />

auto conjunto or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> <strong>de</strong> peças <strong>do</strong>s processos.<br />

aviar aten<strong>de</strong>r.<br />

aviso <strong>de</strong>signação <strong>da</strong><strong>da</strong> a um ofício <strong>de</strong> um ministro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> dirigi<strong>do</strong> a outro ministro.<br />

bahiana antiga <strong>da</strong>nça <strong>de</strong> pares, espécie regional <strong>de</strong> lundu, em que os parceiros eram convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s a<br />

participar por umbiga<strong>da</strong>s ou acenos <strong>de</strong> mãos.<br />

ban<strong>do</strong> pregão público; proclamação.<br />

batel pequeno barco; embarcação pequena usa<strong>da</strong> para comunicação entre naus e galeões;<br />

G L O S S Á R I O | 3 4 9


3 5 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

batente lugar on<strong>de</strong> a maré bate e se quebra; quebra-mar.<br />

bizarria sem ostentação ou pompa.<br />

boiota testículo muito <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> ou com hidrocele.<br />

bosquejo rascunho. croqui; esboço.<br />

botica estabelecimento on<strong>de</strong> se preparam e ven<strong>de</strong>m medicamentos; farmácia; mais antigamente, loja<br />

em geral.<br />

boulevard rua larga e arboriza<strong>da</strong>; aveni<strong>da</strong>.<br />

braça uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comprimento utiliza<strong>da</strong> neste texto equivalente a 2,20m (braça antiga) ou a 1,80m<br />

(braça inglesa).<br />

brejal pântano.<br />

breve rescrito papal que contém uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> caráter particular.<br />

bulício rumor ou sussurro contínuo e in<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> coisas e vozes; burburinho; agitação; tumulto.<br />

cabe<strong>da</strong>l conjunto <strong>do</strong>s bens que formam o patrimônio <strong>de</strong> alguém; riqueza.<br />

cabi<strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong>s cônegos <strong>de</strong> uma catedral, no caso, a <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

cabotagem navegação mercante ou comércio marítimo realiza<strong>do</strong> em áreas costeiras <strong>de</strong> um só país ou<br />

em águas marítimas limita<strong>da</strong>s.<br />

cabriolé carruagem leve <strong>de</strong> duas ro<strong>da</strong>s, com capota móvel, puxa<strong>da</strong> por um cavalo.<br />

cacimba poço cava<strong>do</strong> até um lençol d'água.<br />

caieiro caia<strong>do</strong>r; fabricante <strong>de</strong> cal.<br />

cal<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong> terreno ou fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> lagoa; cisterna; tanque.<br />

caleche carruagem <strong>de</strong> quatro ro<strong>da</strong>s e <strong>do</strong>is passageiros, puxa<strong>da</strong> por uma parelha <strong>de</strong> cavalos.<br />

caneiro pequeno canal.<br />

cantaria pedra para construção esquadreja<strong>da</strong>, dividi<strong>da</strong> e corta<strong>da</strong> com rigor.<br />

carne ver<strong>de</strong> carne fresca, não salga<strong>da</strong>.<br />

carreiro caminho.<br />

cateretê <strong>da</strong>nça rural canta<strong>da</strong> e em fileiras opostas.<br />

cavilação malícia; astúcia.<br />

celeuma barulho; algazarra; tumulto.<br />

centúria século.<br />

cessionário aquele que faz ou recebe cessão <strong>de</strong> um bem ou proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

charco pântano; água estagna<strong>da</strong> e imun<strong>da</strong>.<br />

charneca vegetação arbustiva mistura<strong>da</strong> à cactácea; pasto.<br />

chicana sutileza capciosa em questões judiciais; ardil; astúcia; tramóia.<br />

chistoso espirituoso; engraça<strong>do</strong>; charmoso.<br />

cipoal complicação; situação difícil, sem saí<strong>da</strong>.<br />

cloaca fossa que recebe <strong>de</strong>jeções e imundícies; coletor <strong>de</strong> esgoto.<br />

cocher cocheiro.<br />

códice registro ou compilação <strong>de</strong> manuscritos, <strong>do</strong>cumentos históricos ou leis.<br />

coevo contemporâneo.<br />

coitifício negociata.


cola<strong>do</strong> investi<strong>do</strong> <strong>de</strong> um título eclesiástico, no caso <strong>de</strong> pároco, que ao receber seu colar, passa a ser<br />

assim <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>.<br />

comandita socie<strong>da</strong><strong>de</strong> comercial em que, junto aos sócios responsáveis pela administração, há outros<br />

com obrigações referentes apenas ao capital subscrito.<br />

comisso pena ou multa em que incorre quem não cumpre certas condições impostas por contrato ou<br />

lei.<br />

concelhia referente à circunscrição administrativa <strong>de</strong> categoria imediatamente inferior ao distrito, <strong>do</strong><br />

qual o conselho é divisão.<br />

concertar harmonizar; ajustar.<br />

cônego padre secular pertencente a um cabi<strong>do</strong>, que possui impedimentos referentes a obrigações<br />

religiosas em uma sé ou colegia<strong>do</strong>.<br />

confinante confrontante; que faz limite.<br />

conto <strong>de</strong> réis um milhar <strong>de</strong> mil réis.<br />

contrata<strong>do</strong>r negociante; comerciante.<br />

cor<strong>de</strong>amento alinhar as edificações; arruar; medir com cor<strong>da</strong>s.<br />

cor<strong>do</strong>aria fábrica <strong>de</strong> cor<strong>da</strong>s.<br />

corográfico relativo ao estu<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>scrição geográfica <strong>de</strong> um país.<br />

correição ato ou efeito <strong>de</strong> corrigir; correção.<br />

G L O S S Á R I O | 3 5 1<br />

corta-jaca um <strong>do</strong>s passos tradicionais <strong>do</strong> samba-<strong>de</strong>-ro<strong>da</strong> em que o <strong>da</strong>nçarino torce e movimenta o pé<br />

como se estivesse a cortar uma jaca.<br />

cosmográfico referente a astronomia <strong>de</strong>scritiva.<br />

coupé carruagem fecha<strong>da</strong>, <strong>de</strong> quatro ro<strong>da</strong>s, geralmente para <strong>do</strong>is passageiros.<br />

couto lugar privilegia<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> não entrava a justiça <strong>do</strong> rei e no qual podiam asilar-se criminosos.<br />

cristão novo ju<strong>de</strong>u converti<strong>do</strong> à fé cristã.<br />

curatela capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que se investe a pessoa que tem por incumbência legal ou judicial zelar pelos<br />

bens e interesses <strong>da</strong>queles que por si não o po<strong>de</strong>m fazer, como órfãos, loucos, <strong>do</strong>entes e incapazes em<br />

geral; cura<strong>do</strong>ria.<br />

curro lugar anexo à praça <strong>de</strong> touros on<strong>de</strong> estes ficam antes e após as corri<strong>da</strong>s; curral.<br />

<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s pastoras <strong>da</strong>nça popular que se realizava com meia dúzia <strong>de</strong> personagens femininas, as<br />

pastoras, diante <strong>do</strong> presépio, entre os dias <strong>de</strong> Natal e <strong>de</strong> Reis, para festejar o nascimento <strong>de</strong> Jesus.<br />

<strong>de</strong>ão dignitário eclesiástico que presi<strong>de</strong> o cabi<strong>do</strong>.<br />

démarches <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s; diligências; providências.<br />

<strong>de</strong>sbarato <strong>de</strong>rrota; ruína; <strong>de</strong>struição.<br />

<strong>de</strong>vassa sindicância para apurar ato criminoso.<br />

<strong>de</strong>voluto <strong>de</strong>socupa<strong>do</strong>; vazio; <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong>; adquiri<strong>do</strong> por <strong>de</strong>volução.<br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>canal cargo e tratamento honorífico, no caso, relaciona<strong>do</strong> aos párocos <strong>da</strong> Sé <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, <strong>do</strong>s quais era <strong>de</strong>cano, ou seja, o mais velho.<br />

direito senhorial po<strong>de</strong>r legítimo <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

duto canal.<br />

edil verea<strong>do</strong>r.


3 5 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

empraza<strong>do</strong> intima<strong>do</strong>.<br />

emprazamento ce<strong>de</strong>r por contrato <strong>de</strong> enfiteuse; aforar.<br />

encrava<strong>do</strong> diz-se <strong>de</strong> prédio ou proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> menor que fica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outra maior e pertencente a<br />

outro <strong>do</strong>no.<br />

enfiteuse ver aforamento.<br />

entestar fazer frente; ser fronteiro; <strong>da</strong>r testa<strong>da</strong>; confrontrar; limitar.<br />

ermi<strong>da</strong> capela fora <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>; pequena igreja; ora<strong>da</strong>.<br />

esbulha<strong>do</strong> espolia<strong>do</strong>; <strong>de</strong>spoja<strong>do</strong>; rouba<strong>do</strong>.<br />

escol elite.<br />

escravo <strong>de</strong> ganho categoria <strong>de</strong> escravo urbano e <strong>do</strong>méstico que <strong>de</strong>sempenhava diversas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

nas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> produtos ou prestan<strong>do</strong> serviços, com os quais obtinha ren<strong>da</strong>s que<br />

repartia com seu proprietário. Gozava <strong>de</strong> ampla liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ir e vir e até podia morar fora <strong>da</strong> casa <strong>de</strong><br />

seu senhor.<br />

esculápio médicos.<br />

esponsais noiva<strong>do</strong>; contrato ou promessa recíproca <strong>de</strong> casamento.<br />

estacaria alicerce para um prédio, ou no caso, dique, feito com estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

estância região; paragem; lugar on<strong>de</strong> se está ou permanece por um tempo; armazém on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>positam<br />

ou ven<strong>de</strong>m ma<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> construção; carvão; lenha; etc...<br />

estanque local on<strong>de</strong> se recolhem os gêneros obti<strong>do</strong>s por estanco, pelo monopólio comercial instituí<strong>do</strong><br />

pelo Esta<strong>do</strong>.<br />

esteiro parte estreita <strong>de</strong> rios que penetram terra a<strong>de</strong>ntro; braço; estuário.<br />

estribeiro aquele que tem a seu cargo cavalariças, coches e arreios.<br />

estuque massa prepara<strong>da</strong> com gesso, água e cola.<br />

ex vi legis por força <strong>da</strong> lei.<br />

exeqüente quem intenta ou promove execução judicial.<br />

exórdio prefácio; preâmbulo.<br />

exposto enjeita<strong>do</strong>; criança aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>.<br />

ex-vi por força; por <strong>de</strong>terminação.<br />

ex-vi<strong>da</strong>s lei ver ex vi legis.<br />

factusim fateusim; ver enfiteuse.<br />

falua embarcaão <strong>de</strong> proa e popa afila<strong>da</strong>s, com <strong>do</strong>is mastros e velas latinas triangulares, usa<strong>da</strong> para<br />

transportar merca<strong>do</strong>rias e pessoal em portos, rios, etc.<br />

fateusim enfitêutico, relativo a enfiteuse<br />

feu<strong>da</strong>tário pessoa que paga feu<strong>do</strong>; vassalo; aquele que <strong>de</strong>ve obrigações ao senhor feu<strong>da</strong>l. O termo foi<br />

usa<strong>do</strong> ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente, uma vez que o autor se refere aos que pagam foro, e conforme o Direito<br />

brasileiro, a <strong>de</strong>signação apropria<strong>da</strong> seria foreiro ou enfiteuta, pois aqui não existiram senhores feu<strong>da</strong>is<br />

ou vassalos.<br />

fi<strong>de</strong>icomisso disposição testamentária na qual o testa<strong>do</strong>r institui <strong>do</strong>is ou mais her<strong>de</strong>iros impon<strong>do</strong> a<br />

um ou mais <strong>de</strong>les a obrigação, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua morte, <strong>de</strong> transmitir aos outros, a certo tempo e sob certa<br />

condição, sua her<strong>da</strong><strong>de</strong>, herança ou lega<strong>do</strong>.


foro quantia que o foreiro <strong>de</strong> um terreno paga anualmente ao senhorio direto; uso ou privilégio<br />

garanti<strong>do</strong> pela lei ou pelo tempo.<br />

frontispício facha<strong>da</strong> principal; parte acima <strong>do</strong> entablamento <strong>de</strong> uma construção; coroamento; numa<br />

igreja, o frontão sobre a porta<strong>da</strong> principal.<br />

fronton antigo jogo em que <strong>do</strong>is times tentam <strong>de</strong>rrubar, com bolas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, paus ou pinos que os<br />

antece<strong>de</strong>m; jogo <strong>da</strong> bola; frontão.<br />

frotilha flotilha; frota pequena; agrupamento <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> pequeno tamanho.<br />

gelosia gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ripas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira cruza<strong>da</strong>s espaça<strong>da</strong>mente que ve<strong>da</strong>m o vão <strong>de</strong> uma janela.<br />

gentilismo os gentios; a religião <strong>do</strong>s gentios; paganismo; etnicismo; gentilismo.<br />

gnaisse rocha metamórfica feldspática lamina<strong>da</strong> e cristalina.<br />

G L O S S Á R I O | 3 5 3<br />

granjearia no caso, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s com produção agrícola; reunião <strong>de</strong> granjas, pequenas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

rurais que produzem para o merca<strong>do</strong>.<br />

hemiciclo no caso, a meta<strong>de</strong> sul <strong>do</strong> globo terrestre, on<strong>de</strong> se encontra a América <strong>do</strong> Sul e o Brasil;<br />

hemisfério.<br />

her<strong>da</strong><strong>de</strong> herança.<br />

heresia professar <strong>do</strong>utrina contrária ao que foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pela Igreja católica como sen<strong>do</strong> matéria <strong>de</strong> fé.<br />

homiziar abrigar; escon<strong>de</strong>r; refugiar.<br />

homizio escon<strong>de</strong>rijo.<br />

ilaquear enganar; enre<strong>da</strong>r; lograr.<br />

ilharga flanco; pequeno largo lateral a um prédio, geralmente toman<strong>do</strong> o nome <strong>de</strong>ste; la<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

qualquer corpo ou edifício.<br />

in fine no fim.<br />

in solidum soli<strong>da</strong>riamente; em conjunto.<br />

in verbo sacer<strong>do</strong>tis forma <strong>de</strong> juramento com força <strong>de</strong> norma jurídica.<br />

indigitar apontar; indicar <strong>de</strong> forma pejorativa.<br />

industrioso esperto; hábil; habili<strong>do</strong>so; sagaz.<br />

ingente enorme; <strong>de</strong>smedi<strong>do</strong>.<br />

inovar tornar novo; renovar; aumentar o prazo <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> um contrato ou acor<strong>do</strong>.<br />

insigne muito distinto; notável; célebre.<br />

insula<strong>do</strong> separa<strong>do</strong>; ilha<strong>do</strong>; isola<strong>do</strong>.<br />

internúncio agente diplomático <strong>do</strong> Vaticano, cujas atribuições correspon<strong>de</strong>m às <strong>de</strong> ministro<br />

plenipotenciário.<br />

intrusão ato ou efeito <strong>de</strong> introduzir-se, contra o direito ou as formali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, no caso em terreno alheio;<br />

posse.<br />

jacente herança jacente é aquela cujos beneficiários ain<strong>da</strong> não são conheci<strong>do</strong>s e que fica, por isso,<br />

sob a guar<strong>da</strong>, conservação e administração <strong>de</strong> um cura<strong>do</strong>r, até aparecerem os her<strong>de</strong>iros ou <strong>de</strong>clarar-se-<br />

lhe a vacância.<br />

janela-rótula gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> fasquias <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira cruza<strong>da</strong>s a intervalos regulares, que ve<strong>da</strong> o vão <strong>de</strong> uma<br />

janela.<br />

j a s p e a d o pintura em fingimento semelhante ao jaspe (tipo <strong>de</strong> quartzo) na cor, nos matizes e nos veios.


3 5 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

lança<strong>do</strong>r funcionário público encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer o lançamento <strong>do</strong>s impostos.<br />

latoeiro fabricante ou ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> lata e/ou latão; funileiro.<br />

laudêmio imposto que o foreiro paga ao senhorio direto quan<strong>do</strong> há alienação <strong>do</strong> respectivo prédio por<br />

parte <strong>do</strong> enfiteuta.<br />

legatária aquela a quem se <strong>de</strong>ixou um lega<strong>do</strong>; her<strong>de</strong>ira.<br />

legítima parte <strong>da</strong> herança reserva<strong>da</strong> por lei aos her<strong>de</strong>iros necessários (<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e ascen<strong>de</strong>ntes), e<br />

<strong>da</strong> qual não se po<strong>de</strong> dispor livremente.<br />

légua medi<strong>da</strong> itinerária, no caso, por ser uma “légua <strong>de</strong> sesmaria” equivalente a 3.000 braças, ou<br />

6.600m.<br />

lés-sueste variação <strong>de</strong> leste-sueste (abreviatura: LSE), ponto astronômico a meia distância entre o<br />

Leste e o Su<strong>de</strong>ste, ou Sueste.<br />

levadio diz-se <strong>do</strong> telha<strong>do</strong> feito <strong>de</strong> telhas soltas.<br />

lhana simples; <strong>de</strong>spretensiosa; afável; amável.<br />

libelo exposição articula<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que se preten<strong>de</strong> provar contra alguém.<br />

licencia<strong>do</strong> aquele que exerce profissão <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente autoriza<strong>do</strong>.<br />

lineamento traço; linha, no caso mo<strong>de</strong>rnizan<strong>do</strong> as facha<strong>da</strong>s e <strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-as <strong>de</strong> estuques retos, cornijas,<br />

entablamentos, platiban<strong>da</strong>s.<br />

litigante que disputa; <strong>de</strong>man<strong>da</strong>nte.<br />

locupletar enriquecer; fartar; abarrotar.<br />

lustre honra; glória.<br />

mangal mangue; pântano; charco.<br />

maninho estéril; não aproveitável para o cultivo.<br />

manutenir conce<strong>de</strong>r man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> manutenção.<br />

mão-morta diz-se <strong>de</strong> bens inalienáveis, como são os <strong>da</strong>s agremiações religiosas, <strong>do</strong>s hospitais, etc...<br />

maracá Instrumento chocalhante que era usa<strong>do</strong> pelos índios nas soleni<strong>da</strong><strong>de</strong>s religiosas e guerreiras.<br />

marnéis pântano.<br />

maroteira vigarice; esperteza; malandragem; patifaria; velhacaria; malandrice.<br />

maxixe espécie <strong>de</strong> <strong>da</strong>nça <strong>de</strong> par uni<strong>do</strong>, surgi<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (entre 1870/80) numa<br />

mistura <strong>da</strong> habanera e <strong>da</strong> polca com o ritmo africano. Foi sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> pelo samba a partir <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920.<br />

mazurca <strong>da</strong>nça popular polonesa originariamente canta<strong>da</strong> e <strong>da</strong>nça<strong>da</strong> e que no século XIX, no Brasil,<br />

foi <strong>da</strong>nça <strong>de</strong> salão.<br />

mercancia comércio.<br />

mercê benefício.<br />

miasma emanação féti<strong>da</strong> e maléfica oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> animais e plantas em <strong>de</strong>composição.<br />

mística no caso, contígua; vizinha.<br />

miunça dízimo eclesiástico que se pagava em gêneros por miú<strong>do</strong>s; o que resta <strong>da</strong> merca<strong>do</strong>ria em<br />

liqui<strong>da</strong>ção.<br />

modici<strong>da</strong><strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> módico; exigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

montepio instituição assistencial através <strong>de</strong> cotas cujos associa<strong>do</strong>s têm o direito <strong>de</strong> indicar um


eneficiário para o recebimento <strong>de</strong> pensão, após sua morte, caixa <strong>de</strong> pecúlio.<br />

morga<strong>do</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> vincula<strong>da</strong> ou conjunto <strong>de</strong> bens vincula<strong>do</strong>s que não po<strong>de</strong>m ser aliena<strong>do</strong>s ou<br />

dividi<strong>do</strong>s e que, em geral, por morte <strong>do</strong> possui<strong>do</strong>r, passam para o filho mais velho.<br />

G L O S S Á R I O | 3 5 5<br />

mucama escrava negra, geralmente moça, <strong>de</strong> estimação, que era escolhi<strong>da</strong> para auxiliar nos serviços<br />

caseiros ou acompanhar pessoas <strong>da</strong> família e que, por vezes, era ama-<strong>de</strong>-leite.<br />

nomea<strong>da</strong> fama; reputação; renome.<br />

nominata lista ou relação <strong>de</strong> nomes.<br />

núncio embaixa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> papa.<br />

obliterar fazer <strong>de</strong>saparecer pouco a pouco; <strong>de</strong>struir; obstaculizar.<br />

obrar realizar; praticar; produzir; fazer.<br />

olaria fábrica <strong>de</strong> louça <strong>de</strong> barro, manilhas, tijolos e telhas.<br />

oleiro <strong>do</strong>no <strong>de</strong> olaria; trabalha<strong>do</strong>r em olaria.<br />

ombreira umbral; limiar; entra<strong>da</strong>.<br />

onzenário usurário; agiota.<br />

orago culto, no caso; cerimônia religiosa; também santo <strong>da</strong> invocação que dá nome a um templo.<br />

orquite inflamação <strong>do</strong>s testículos.<br />

outeiro pequeno monte.<br />

palmo uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comprimento equivalente a 0,22m.<br />

palu<strong>do</strong>sa on<strong>de</strong> há lagoas. pantanosa.<br />

palustre pantanosa.<br />

paquetes navios, geralmente a vapor, para transporte rápi<strong>do</strong> e regular <strong>de</strong> passageiros entre certos<br />

portos.<br />

pataca moe<strong>da</strong> antiga <strong>de</strong> prata, com valor <strong>de</strong> 320 réis.<br />

paús manguezais; mangues; pântanos.<br />

peça qualquer armamento usa<strong>do</strong> pela artilharia, especialmente canhões, obuses, morteiros, bocas <strong>de</strong><br />

fogo, etc.<br />

pedra e cal pare<strong>de</strong> construí<strong>da</strong> com pedra argamassa<strong>da</strong>, no caso com cal; construção segura e <strong>de</strong><br />

maior porte ou excelência.<br />

pedra fun<strong>da</strong>mental pedra que é assenta<strong>da</strong>, geralmente com soleni<strong>da</strong><strong>de</strong>, com o conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma ata<br />

ou <strong>do</strong>cumento, jornais <strong>do</strong> dia e moe<strong>da</strong>s, marcan<strong>do</strong> assim, a <strong>da</strong>ta <strong>do</strong> início <strong>de</strong> uma construção; cápsula<br />

<strong>do</strong> tempo.<br />

pejar encher.<br />

penedia reunião <strong>de</strong> pene<strong>do</strong>s.<br />

peremptório terminante; <strong>de</strong>cisivo.<br />

perifirói<strong>de</strong> forma periférica, no caso, o gnaisse à flor <strong>da</strong> pedreira <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era extraí<strong>do</strong>.<br />

piçarra saibreira; barreira.<br />

pingue fértil, fecun<strong>da</strong>; produtiva.<br />

polé tormento que consistia em pendurar o tortura<strong>do</strong> com uma cor<strong>da</strong> grossa pelos pulsos e pelas<br />

mãos, com pesos <strong>de</strong> ferro presos aos pés; local on<strong>de</strong> era realiza<strong>do</strong> esse castigo.<br />

pomicultura cultura <strong>da</strong>s árvores frutíferas.


3 5 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

pontifical missa; cerimônia religiosa.<br />

porfia<strong>da</strong> insistente; obstina<strong>da</strong>; perseverante; renhi<strong>da</strong>.<br />

portolanos mapa a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> navegação; portulanos.<br />

positivar evi<strong>de</strong>nciar.<br />

praça ven<strong>da</strong>; hasta pública.<br />

preceptor aquele que ministra preceitos ou instruções; mestre; mentor.<br />

preciosa rubiácea fruto <strong>do</strong> cafeeiro; café.<br />

pregão proclamação pública; propagan<strong>da</strong>; divulgação; anúncio.<br />

prelação direito <strong>de</strong> preferência que os filhos tinham <strong>de</strong> serem provi<strong>do</strong>s, coloca<strong>do</strong>s, nos cargos <strong>do</strong>s<br />

pais.<br />

prela<strong>do</strong> título honorífico <strong>de</strong> dignitário eclesiástico.<br />

prelazia cargo <strong>de</strong> prela<strong>do</strong>; prelatura.<br />

pressurosamente apressa<strong>da</strong>mente; zelosamente.<br />

preta forra escrava alforria<strong>da</strong>.<br />

primi capientis primeiro ocupante.<br />

privança privação.<br />

prócer homem importante.<br />

progênie ascendência.<br />

progredimento progresso; <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

provecto experiente.<br />

prove<strong>do</strong>r dirigente ou chefe <strong>de</strong> certos estabelecimentos <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

provisão <strong>do</strong>cumento oficial em que o governo confere benefícios ou expe<strong>de</strong> instruções.<br />

provisiona<strong>da</strong> garanti<strong>da</strong> por <strong>do</strong>cumento oficial em que é conferi<strong>da</strong> autorização.<br />

quadrar <strong>da</strong>r forma quadra<strong>da</strong> ao arruamento; arruar em forma <strong>de</strong> quarteirões.<br />

quebra-quebra passo <strong>de</strong> <strong>da</strong>nça.<br />

querelar disputar; discutir.<br />

rapé tabaco em pó para cheirar.<br />

razoa<strong>do</strong> alegação; exposição <strong>de</strong> fatos; arrazoa<strong>do</strong>.<br />

recebe<strong>do</strong>ria repartição on<strong>de</strong> se pagam os impostos.<br />

rédito ganho; lucro; rendimento.<br />

reinol natural <strong>do</strong> reino.<br />

réis plural <strong>de</strong> real; antiga uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> sistema monetário <strong>de</strong> Portugal e Brasil.<br />

réis fortes por <strong>de</strong>finição os “réis fortes” são os <strong>de</strong> Portugal em oposição aos “réis fracos” <strong>do</strong> Brasil,<br />

enquanto estes conviveram, até a In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil.<br />

remi<strong>da</strong> liberar a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer ônus foreiro.<br />

remissão <strong>de</strong>scui<strong>da</strong><strong>do</strong>; negligente.<br />

remuneratória inter vivus transação, gratificação ou recompensa entre vivos.<br />

reposteiro-mor cria<strong>do</strong> <strong>da</strong> casa real a quem compete fechar as cortinas.<br />

rixoso que rixa; conten<strong>do</strong>r; brigão; revolta<strong>do</strong>.<br />

rocambolesco complica<strong>do</strong>; enre<strong>da</strong><strong>do</strong>; cheio <strong>de</strong> peripécias.


omeiro peregrino.<br />

rossio praça ou terreno roça<strong>do</strong> pelo povo para usufruto comum.<br />

rótula esquadria biparti<strong>da</strong> em que as partes abrem-se no senti<strong>do</strong> vertical, geralmente guarneci<strong>da</strong>s por<br />

treliças <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou urupemas (esteiras <strong>de</strong> fibra vegetal).<br />

saco pequena ensea<strong>da</strong>.<br />

salga<strong>do</strong>s terrenos alagadiços e/ou estéreis, próximos ao mar; salgadios; sapais.<br />

salso argento o mar; o oceano.<br />

salvar sal<strong>da</strong>r com salvas <strong>de</strong> tiros e/ou fogos <strong>de</strong> artifício.<br />

sambaquis antiquíssimos <strong>de</strong>pósitos forma<strong>do</strong>s por conchas, restos alimentares e enterramentos,<br />

amontoa<strong>do</strong>s por habitantes pré-históricos geralmente nas margens <strong>de</strong> praias, rios ou lagoas.<br />

samburá cesto <strong>de</strong> cipó ou taquara, boju<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> boca estreita, usa<strong>do</strong>s para pesca ou transporte <strong>de</strong><br />

pesca<strong>do</strong>.<br />

sanha ira; fúria; rancor.<br />

sapais ver salga<strong>do</strong>s.<br />

sátrapa homem po<strong>de</strong>roso; <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r; déspota; governa<strong>do</strong>res <strong>de</strong> província <strong>da</strong> Pérsia antiga.<br />

século no caso, vi<strong>da</strong> secular, em oposição à vi<strong>da</strong> religiosa; laico.<br />

sege coche fora <strong>de</strong> uso, com duas ro<strong>da</strong>s e um assento, fecha<strong>do</strong> com cortinas na parte dianteira;<br />

carruagem.<br />

semovente bens constituí<strong>do</strong>s por animais selvagens, <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s ou <strong>do</strong>mésticos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> incluir<br />

escravos.<br />

senhorear tomar posse; conquistar; <strong>do</strong>minar.<br />

sesmaria lote <strong>de</strong> terra inculto ou aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> que os reis <strong>de</strong> Portugal cediam a sesmeiros que se<br />

dispusessem a cultivá-lo.<br />

sisa <strong>de</strong>signação antiga <strong>do</strong> imposto <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> bens imóveis.<br />

sobejan<strong>do</strong> sobran<strong>do</strong>.<br />

sobejo sobra; resto.<br />

sofisma argumento aparentemente váli<strong>do</strong>, porém, não conclusivo, que presupõe má fé <strong>de</strong> quem o<br />

apresenta.<br />

solarenga em estilo <strong>de</strong> solar.<br />

sóror tratamento <strong>da</strong><strong>do</strong> as freiras; feminino <strong>de</strong> frei.<br />

sub-enfiteuta aquele que transfere a outrem seus direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> enfiteuta manten<strong>do</strong>, entretanto,<br />

a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> perante o senhorio; subempraza<strong>do</strong>r.<br />

tabaqueiro fabricante <strong>de</strong> cigarros charutos e fumo em geral; proprietário <strong>de</strong> tabacaria; planta<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

fumo.<br />

taipa <strong>de</strong> pilão pare<strong>de</strong> feita com argamassa <strong>de</strong> taipa <strong>de</strong> cascalho e saibro soca<strong>do</strong>s entre formas <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira.<br />

taipa-<strong>de</strong>-mão pare<strong>de</strong> feita por argamassa <strong>de</strong> barro ou cal atira<strong>da</strong> com a mão, estrutura<strong>da</strong> por gra<strong>de</strong>a<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; estuque; pau-a-pique.<br />

talho açougue.<br />

tanoaria oficina para o fabrico ou conserto <strong>de</strong> barris, pipas, tinas, tonéis ou cubas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

G L O S S Á R I O | 3 5 7


3 5 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Te-Deum A ti, Deus; cântico <strong>da</strong> Igreja católica, em ação <strong>de</strong> graças e que se inicia com estas palavras<br />

latinas.<br />

tijuco charco; pântano.<br />

tilbury carruagem <strong>de</strong> duas ro<strong>da</strong>s e <strong>do</strong>is assentos, sem boléia e com capota, puxa<strong>da</strong> por um só animal.<br />

toponímia estu<strong>do</strong> histórico <strong>da</strong> origem <strong>do</strong> nome <strong>de</strong> um lugar.<br />

tranca<strong>da</strong> estaca<strong>da</strong> que atravessa um rio.<br />

tranqueira estaca<strong>da</strong> para cercar ou fortificar.<br />

transpasse cessão; transposição; transferência.<br />

trapiche armazém portuário on<strong>de</strong> se guar<strong>da</strong>m merca<strong>do</strong>rias importa<strong>da</strong>s ou para exportação, por vias<br />

marítima ou fluvial.<br />

treme<strong>da</strong>l pântano; mangue.<br />

turfman turfista; aficciona<strong>do</strong> por corri<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cavalo.<br />

ubérrima fecundérrima.<br />

urupema teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> palha com o qual se confeccionavam esteiras para ve<strong>da</strong>r portas e janelas <strong>de</strong> casas<br />

populares.<br />

usocapião mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> adquirir proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> móvel ou imóvel pela posse pacífica e ininterrupta <strong>da</strong> coisa<br />

por certo tempo; prescrição aquisitiva.<br />

usufrutuário aquele que usufrui, sem concessão <strong>de</strong> ven<strong>da</strong>, <strong>do</strong> direito <strong>do</strong> uso e <strong>da</strong> vantagem<br />

pecuniária (frutos) <strong>do</strong> bem imóvel <strong>de</strong> outrem.<br />

vali<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong>; favorito; amigo.<br />

vara mana<strong>da</strong> <strong>de</strong> porcos; porca<strong>da</strong>s.<br />

vela latina em ângulo; esconso.<br />

ven<strong>da</strong> a retro ven<strong>da</strong> com vali<strong>da</strong><strong>de</strong> anterior ou antiga, no caso <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>da</strong> época <strong>da</strong> hipoteca aludi<strong>da</strong> no<br />

texto.<br />

vereança no caso, seção <strong>da</strong> Câmara <strong>do</strong>s Verea<strong>do</strong>res.<br />

vicinal v i z i n h o .<br />

vigias baixos recifes; parcéis; bancos <strong>de</strong> areia.


Qu ad ro <strong>de</strong> Lograd ou ro s


3 6 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

A<strong>de</strong>los Beco <strong>do</strong>s, Centro. Atual travessa Tinoco (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1873), começa na rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaboraí e<br />

termina na rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>. Teve também os nomes <strong>de</strong> beco <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga e rua Dom Fernan<strong>do</strong>. A<strong>de</strong>los<br />

eram aqueles que vendiam coisas e móveis usa<strong>do</strong>s e que naquelas imediações se reuniam ou faziam<br />

ponto. O nome Alfân<strong>de</strong>ga <strong>de</strong>ve-se à proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a mesma (a velha) e Dom Fernan<strong>do</strong>, homenageia<br />

o vice-rei <strong>do</strong>m Fernan<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong>pois ministro <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI. O atual nome faz referência,<br />

aventa Brasil Gerson, a Luís Antonio Tinoco, prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia e comerciante<br />

importante na vira<strong>da</strong> <strong>do</strong>s séculos XIX e XX.<br />

Aju<strong>da</strong> Campo <strong>da</strong>, Centro. Partes <strong>da</strong>s atuais praças Mahatma Gandhi e Floriano. Recebeu este nome<br />

pela existência, no local, <strong>do</strong> convento <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Conceição <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, <strong>de</strong>saparecen<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>molição<br />

<strong>do</strong> mesmo em 1911.<br />

Alferes Saco <strong>do</strong>, ou praia <strong>do</strong> Saco <strong>do</strong>, Centro. Atual rua <strong>de</strong> Santo Cristo (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1874). O saco ou praia<br />

ficava fronteiro à ilhas <strong>da</strong>s Moças (ver) e com os sucessivos aterros foi incorpora<strong>do</strong> ao continente,<br />

transforman<strong>do</strong>-se em logra<strong>do</strong>uro, as antigas ruas <strong>da</strong> Gamboa e <strong>de</strong> Santo Cristo <strong>do</strong>s Milagres. Diogo <strong>de</strong><br />

Pina foi o alferes em questão, combatente incansável contra os franceses <strong>de</strong> LeClerc e Duguay-Troin,<br />

em 1710/11, respectivamente. Gamboa refere-se aos currais que os pesca<strong>do</strong>res colocavam no mar para<br />

aprisionar os peixes. Santo Cristo <strong>do</strong>s Milagres remete à igreja <strong>de</strong> mesmo nome construí<strong>da</strong> em 1850.<br />

Andra<strong>da</strong>s Rua <strong>do</strong>s. Ver Fogo, rua <strong>do</strong>.<br />

Arco <strong>do</strong> Teles Beco <strong>do</strong>, Centro. Atual travessa <strong>do</strong> Comércio (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1863), começa na praça XV e<br />

termina na rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Antigos becos <strong>do</strong> Teles, <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Peixe Nova e <strong>da</strong> capela. O arco foi<br />

construí<strong>do</strong> pelo briga<strong>de</strong>iro Alpoin para suportar os sobra<strong>do</strong>s sobre o referi<strong>do</strong> beco, nas casas <strong>do</strong> dr.<br />

Francisco Teles Barreto <strong>de</strong> Menezes. Estas foram <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s, junto com o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara que numa<br />

<strong>de</strong>las funcionava, por incêndio em 1790, mas, o arco subsiste até hoje. A seqüente <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong>veuse<br />

à instalação <strong>do</strong> novo merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> peixe nas imediações; capela refere-se à construção, em 1750, <strong>da</strong><br />

ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res ou Mascates; e Comércio faz menção à praça <strong>do</strong> Comércio,<br />

<strong>de</strong>pois Associação Comercial e Banco <strong>do</strong> Brasil, atual CCBB, localiza<strong>da</strong> próximo <strong>de</strong> seu final.<br />

Belas Artes Travessa <strong>da</strong>s, Centro. Com o mesmo nome (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1917), começa na aveni<strong>da</strong> Passos e<br />

termina na rua Gonçalves Lê<strong>do</strong>. Antigas travessas Leopoldina e <strong>do</strong> Sacramento. O nome inicial<br />

homenageava a primeira imperatriz <strong>do</strong> Brasil e por que a ruela se comunicava com a rua Leopoldina,<br />

atual Imperatriz Leopoldina. travessa <strong>do</strong> Sacramento, pois seu começo era nesta rua, atual aveni<strong>da</strong><br />

Passos; e Belas Artes remete à Imperial Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas Artes, organiza<strong>da</strong> por Grandjean <strong>de</strong><br />

Montigny e berço <strong>do</strong> ensino acadêmico <strong>da</strong> arquitetura e <strong>da</strong>s artes no Brasil a partir <strong>de</strong> 1826.<br />

Bispo Pedra <strong>do</strong>, <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>. Localiza<strong>da</strong> nas terras <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> bispo <strong>do</strong>m Antonio <strong>do</strong> Desterro,<br />

cuja se<strong>de</strong> é hoje a Fun<strong>da</strong>ção Roberto Marinho, na rua Santa Alexandrina, 336 – <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>.<br />

Caboclas <strong>Rio</strong> <strong>da</strong>s. Ver Carioca, rio.<br />

Cal<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Mangue Vala ou gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong> terreno, no caso localiza<strong>da</strong> no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> mangue <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, próxima ao antigo rossio Pequeno, <strong>de</strong>pois praça Onze <strong>de</strong> Julho. Em 1860, a vala foi<br />

transforma<strong>da</strong> em um canal, por obra <strong>do</strong> empresário barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá, segun<strong>do</strong> projeto <strong>do</strong><br />

engenheiro Ginty. Nessa época, o canal começava no rossio Pequeno e terminava na ponte <strong>do</strong>s<br />

Marinheiros. Entre 1902 e 1906, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong> porto, na gestão <strong>do</strong> prefeito Francisco<br />

Pereira Passos, o canal <strong>do</strong> Mangue foi prolonga<strong>do</strong> até o mar.<br />

Capueruçu Areais <strong>do</strong>, Cruz Vermelha. Os areais eram as terras <strong>da</strong>s margens <strong>da</strong> lagoa <strong>do</strong> Capueruçu,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>da</strong> Sentinela. Esta lagoa correspon<strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente ao quarteirão forma<strong>do</strong> pelas<br />

atuais ruas Frei Caneca, Riachuelo, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e General Caldwel. Nela terminava um <strong>do</strong>s mais antigos<br />

logra<strong>do</strong>uros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o caminho <strong>do</strong> Capueruçu, que tinha início na rua Direita (atual Primeiro <strong>de</strong><br />

Março), correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aproxima<strong>da</strong>mente ao traça<strong>do</strong> inicial <strong>da</strong> atual rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga.


Q U A D R O D E L O G R A D O U R O S | 3 6 1<br />

Carmo Várzea <strong>do</strong>, Centro. Atual praça XV <strong>de</strong> Novembro (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1890), limita<strong>da</strong> pelo mar e pelas ruas<br />

<strong>da</strong> Misericórdia, Primeiro <strong>de</strong> Março, <strong>da</strong> Assembléia, São José, e <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>. Antigas várzea <strong>de</strong> N.S.. <strong>do</strong><br />

Ó; praia, terreiro e largo <strong>do</strong> Carmo; terreiro <strong>da</strong> Polé; terreiro e largo <strong>do</strong> Paço ou <strong>do</strong> Palácio e praça Dom<br />

Pedro II. Em fins <strong>do</strong> séc. XVI foi ergui<strong>da</strong> uma ora<strong>da</strong> à Nossa Senhora <strong>do</strong> Ó, em intenção <strong>da</strong> expectativa<br />

ao parto <strong>de</strong> Nossa Senhora, comemora<strong>do</strong> a 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. O Ó em evidência <strong>de</strong>ve-se à adulteração <strong>da</strong><br />

interjeição – Oh! -, inicial <strong>de</strong> muitas <strong>da</strong>s antífonas e cantos religiosos. Teve efêmera existência este culto,<br />

uma vez que já em 1590 estavam na ermi<strong>da</strong> os irmãos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Carmo, oficialmente a eles cedi<strong>da</strong><br />

em 1611, passan<strong>do</strong> o local a tomar o epíteto, <strong>do</strong> Carmo. Aos recuos <strong>do</strong> mar e aterros sucessivos <strong>de</strong>vemse<br />

os substantivos terreiro e largo, sucedâneos <strong>da</strong> praia. Polé resulta <strong>da</strong> vin<strong>da</strong> <strong>da</strong>s casas <strong>de</strong> câmara e<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> Castelo para a várzea, conseqüentemente trazen<strong>do</strong> junto seu símbolo, o pelourinho, picota ou<br />

polé. Paço remete à inauguração, pelo vice-rei Gomes Freire em 1743, <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res ou<br />

Vice-Reis. Em 1870 recebe o nome <strong>de</strong> praça Dom Pedro II, <strong>de</strong> curta existência visto ter si<strong>do</strong>, em 1889,<br />

proclama<strong>da</strong> a República.<br />

Carro Caminho <strong>do</strong>, Botafogo. Atual rua São Clemente, começa na praia <strong>de</strong> Botafogo e termina no largo<br />

<strong>do</strong>s Leões. São Clemente refere-se a invocação <strong>da</strong> capela que existia na quinta <strong>de</strong> mesmo nome, no vale<br />

<strong>de</strong> Botafogo, <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> padre Clemente Martins <strong>de</strong> Matos.<br />

Catumbi Gran<strong>de</strong> Área aproxima<strong>da</strong> ao atual bairro <strong>do</strong> Catumbi.<br />

Catumbi Pequeno Área aproxima<strong>da</strong> aos atuais bairros <strong>do</strong> rio Compri<strong>do</strong> e Estácio.<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Praia <strong>da</strong>. Ver Marinha <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Ciganos Rua <strong>do</strong>s, Centro. Atual rua <strong>da</strong> Constituição (a partir <strong>de</strong> 1865), começa na praça Tira<strong>de</strong>ntes e<br />

termina na praça <strong>da</strong> República. A <strong>de</strong>nominação original provém <strong>de</strong> ali alojarem-se no séc. XVIII, entre<br />

os campos <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa (atual praça Tira<strong>de</strong>ntes) e <strong>de</strong> Santana, muitos ban<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ciganos. O nome atual<br />

homenageia o juramento <strong>da</strong> Constituição <strong>do</strong> Império, <strong>de</strong> 1824.<br />

Clapp Rua. Ver Marinhas Novas<br />

Conceição <strong>do</strong> Cônego Rua <strong>da</strong>, Centro. Atual rua Miguel Couto (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1936), começa na rua <strong>do</strong><br />

Ouvi<strong>do</strong>r e termina na rua Acre. Teve também os nomes <strong>de</strong> rua <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Conceição para o Parto;<br />

caminho que vai para a Conceição; caminho <strong>do</strong> Parto para Conceição; travessa <strong>de</strong> Santa Rita ao Parto;<br />

rua <strong>do</strong> Padre Bento Car<strong>do</strong>so; rua Rodrigo Silva e rua <strong>do</strong>s Ourives. Os nomes inicialmente fazia alusão<br />

a ligação entre <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s extremos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> então, a igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Parto, no sopé <strong>do</strong> morro <strong>do</strong><br />

Castelo e o morro <strong>da</strong> Conceição, on<strong>de</strong> havia a caso <strong>do</strong> Bispo (ou Cônego), feita através <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro.<br />

Ourives <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> época (mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII) que, para maior controle <strong>do</strong> contraban<strong>do</strong> <strong>de</strong> ouro foram<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s locais para residência e trabalho <strong>do</strong>s ourives, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> concentra<strong>do</strong>s neste local.<br />

A abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Central (atual <strong>Rio</strong> Branco) fez <strong>de</strong>saparecer um gran<strong>de</strong> trecho <strong>da</strong> rua <strong>do</strong>s Ourives,<br />

dividin<strong>do</strong>-a em duas partes. A primeira, entre 7 <strong>de</strong> Setembro e São José, voltou a ser Rodrigo Silva<br />

(assim <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> durante curto tempo em 1888) e o trecho maior permaneceu como rua <strong>do</strong>s Ourives<br />

até 1936, quan<strong>do</strong>, após a morte <strong>do</strong> ilustre médico dr. Miguel Couto, em 1934, passou a homenageá-lo,<br />

já que o mesmo teve consultório durante anos neste logra<strong>do</strong>uro.<br />

Costa Velho Travessa Doutor. Ver Guin<strong>da</strong>ste, Beco <strong>do</strong>.<br />

Cotovelo Beco <strong>do</strong>, Centro. Próximo à praia <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manoel, na área hoje <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Castelo. Seu<br />

nome <strong>de</strong>via-se ao fato <strong>de</strong> a rua ser estreita e tortuosa, fazen<strong>do</strong> um cotovelo. Teve vários outros nomes,<br />

como beco e rua <strong>do</strong> Açougue Gran<strong>de</strong>; beco <strong>do</strong> Padre Vicente; beco <strong>do</strong> Cairu e rua <strong>do</strong> Bispo Dom Vital.<br />

Uma parte sua sobrevive na atual rua Vieira Fazen<strong>da</strong>, que começa na aveni<strong>da</strong> Almirante Barroso e<br />

termina na rua Manuel <strong>de</strong> Carvalho.


3 6 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Cova <strong>da</strong> Onça Rua <strong>da</strong>, <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>. Atual rua Barão <strong>de</strong> Petrópolis, começa na rua <strong>da</strong> Estrela e<br />

termina no acesso ao túnel <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>. Antiga rua <strong>da</strong> Conciliação. Originalmente este caminho<br />

atravessava as terras o sítio Cova <strong>do</strong> Onça e cortava a chácara <strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>, começan<strong>do</strong><br />

no Catumbi e terminan<strong>do</strong> no largo <strong>do</strong> França.<br />

Curtume Lagoa <strong>do</strong>, Centro. Depois lagoa <strong>de</strong> Santo Antonio. Foi aterra<strong>da</strong> em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII e<br />

ficava no eixo <strong>da</strong> atual aveni<strong>da</strong> 13 <strong>de</strong> Maio, in<strong>do</strong> aproxima<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> Biblioteca Nacional até o largo<br />

<strong>da</strong> Carioca. O nome <strong>de</strong>ve-se a ter ali se instala<strong>do</strong> o curtume <strong>de</strong> Filipe Fernan<strong>de</strong>s, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVI.<br />

Curvelo Rua <strong>do</strong>, Santa Teresa. Atual rua Dias <strong>de</strong> Barros, começa na rua Hermenegil<strong>do</strong> <strong>de</strong> Barros e<br />

termina na rua Almirante Alexandrino, no largo <strong>do</strong> Curvelo. O barão <strong>do</strong> Curvelo foi um antigo mora<strong>do</strong>r<br />

e proprietário <strong>de</strong> terras em Santa Teresa.<br />

Direita Rua, Centro. Atual rua Primeiro <strong>de</strong> Março (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1870), começa na praça XV e termina na<br />

la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> São Bento. Antigos caminho ou praia <strong>de</strong> Manuel <strong>de</strong> Brito (início séc. XVII) e ruas Direitas<br />

(ou Diretas) <strong>do</strong> Carmo para São Bento (mea<strong>do</strong>s séc. XVII); <strong>de</strong> N.S. <strong>do</strong> Bonsucesso para São José; <strong>de</strong><br />

São José para São Bento; e <strong>de</strong> São José para Misericórdia. A marinha <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou sua orla original, ia<br />

<strong>da</strong> Misericórdia (largo, capela e hospital no sopé <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo) ao morro <strong>de</strong> Manuel <strong>de</strong> Brito<br />

(atual <strong>de</strong> São Bento). Inicialmente era chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> praia <strong>de</strong> Manuel <strong>de</strong> Brito visto ser este o seu<br />

proprietário, bem como <strong>de</strong> vastas áreas próximas. Manuel <strong>de</strong> Brito, capitão <strong>de</strong> infantaria e cavaleiro<br />

fi<strong>da</strong>lgo <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> El-rei, veio com Estácio <strong>de</strong> Sá em 1562 e aju<strong>do</strong>u a fun<strong>da</strong>r a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e expulsar os<br />

franceses <strong>de</strong> Villegaignon, receben<strong>do</strong> aqui diversas sesmarias. Seu filho Diogo <strong>de</strong> Brito Lacer<strong>da</strong> <strong>do</strong>ou,<br />

em 1586, a praia e o morro em questão aos padres <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> São Bento. Direita é uma <strong>de</strong>signação<br />

comum na toponímia urbana portuguesa, significan<strong>do</strong> que o caminho ligava, diretamente, um ponto<br />

extremo a outro, não haven<strong>do</strong> incongruência alguma caso este fosse tortuoso e não direito ou reto, como<br />

é a nossa primitiva rua Direita, em arco côncavo acompanhan<strong>do</strong> a praia. Primeiro <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1870<br />

marca a morte <strong>do</strong> dita<strong>do</strong>r Solano Lopez em Cerro-Corá (as margens <strong>do</strong> rio Aqui<strong>da</strong>bã) e é <strong>da</strong>ta oficial <strong>do</strong><br />

término <strong>da</strong> Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

Dom Manoel Praia <strong>de</strong>, Centro. Atual rua Dom Manoel, começa na praça XV e termina na aveni<strong>da</strong><br />

Erasmo Braga. Primitivamente rua <strong>do</strong> Porto <strong>do</strong>s Padres <strong>da</strong> Companhia (<strong>de</strong> Jesus, os Jesuítas), <strong>da</strong>li partiu<br />

o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong>m Manoel Lobo para a malogra<strong>da</strong> expedição à colônia <strong>de</strong> Sacramento, em 1679.<br />

Dona Antonia Praça, Catumbi. Com o mesmo nome, entre o Sambódromo e a aveni<strong>da</strong> 31 <strong>de</strong> Março,<br />

que liga o túnel Santa Bárbara a Santo Cristo.<br />

Dona Josefa Rua, Santa Teresa. Incorpora<strong>da</strong> pela rua Paula Matos em seu trecho final, próximo à rua<br />

Eduar<strong>do</strong> Santos.<br />

Eleone <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Rua, Catumbi. Com o mesmo nome, começa na rua Catumbi e termina na rua Dom<br />

Pedro Mascarenhas. Antiga la<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Pinheiro, <strong>de</strong>pois rua Antonio João.<br />

Fernão Gomes Caminho <strong>de</strong>, Centro. Atual rua Senhor <strong>do</strong>s Passos (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XIX), começa<br />

na rua Uruguaiana e termina na praça <strong>da</strong> República. Antigos caminho <strong>de</strong> Fernão Gomes e rua <strong>da</strong> Polé.<br />

O nome primevo remete, talvez, a um <strong>de</strong> seus primeiros mora<strong>do</strong>res; Polé remete à lagoa <strong>da</strong> Polé<br />

localiza<strong>da</strong> em suas imediações, porém, com a construção <strong>da</strong> capela <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos em 1737,<br />

<strong>de</strong>pois reconstruí<strong>da</strong> como igreja em 1843, passou a tomar este nome.<br />

Flores (Ouvi<strong>do</strong>r) Rua <strong>da</strong>s. Ver Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, rua.<br />

Flores (Santa Rita) Rua <strong>da</strong>s. Ver Santa Rita, travessa <strong>de</strong>.<br />

Flores (Santana) Rua <strong>da</strong>s. Ver Santana, rua <strong>de</strong>.


Q U A D R O D E L O G R A D O U R O S | 3 6 3<br />

Fluminense Rua, Santa Teresa. Atual rua Pintora Djanira, começa na rua Paula Matos e termina no largo<br />

<strong>da</strong>s Neves.<br />

Fogo Rua <strong>do</strong>, Centro. Atual rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1866), começa no largo <strong>de</strong> São Francisco e termina<br />

na rua Júlia Lopes <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. Antigas ruas <strong>da</strong> Pedreira <strong>do</strong> Aljube e <strong>do</strong> Fogo. Tomou o nome <strong>de</strong> Pedreira<br />

<strong>do</strong> Aljube quan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1742, o antigo caminho foi prolonga<strong>do</strong> até a la<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> Conceição ou <strong>da</strong><br />

Pedreira (atual rua Major Daemon), on<strong>de</strong> existia o Aljube, uma ca<strong>de</strong>ia para eclesiásticos. Fogo por ter<br />

si<strong>do</strong> aberta através <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> mesmo nome, a qual Vieira Fazen<strong>da</strong> aventa a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

nome originar-se em um incêndio que <strong>de</strong>struiu a Casa <strong>da</strong> Ópera <strong>do</strong> padre Ventura, localiza<strong>da</strong> nesta<br />

mesma rua.<br />

Fosso Rua <strong>do</strong>, Centro. Atual rua Uruguaiana (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1865), começa no largo <strong>da</strong> Carioca e termina na<br />

aveni<strong>da</strong> Marechal Floriano. Antigas ruas <strong>da</strong> Vala; fronteira à igreja <strong>do</strong> Rosário; e <strong>de</strong> Pedro <strong>da</strong> Costa. Pelo<br />

fosso aberto junto à muralha <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, construí<strong>da</strong> em 1711 entre os morros <strong>de</strong> Santo Antonio<br />

e <strong>da</strong> Conceição, eram escoa<strong>da</strong>s, para a Prainha, as águas <strong>do</strong> Chafariz <strong>da</strong> Carioca <strong>de</strong> 1723 e também o<br />

esgoto recolhi<strong>do</strong> em seu caminho. A já então rua <strong>da</strong> Vala teve esse esgotamento coberto por laje<strong>do</strong>s<br />

somente em 1765, pelo con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha. Uruguaiana <strong>de</strong>ve-se à rendição <strong>da</strong>s tropas inimigas, na Guerra<br />

<strong>do</strong> Paraguai, ocorri<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Uruguaiana.<br />

Fra<strong>de</strong>s Campo <strong>do</strong>s, Centro. Área compreendi<strong>da</strong> entre o atual beco <strong>do</strong>s Carmelitas e a praça Mahatma<br />

Gandhi, engloban<strong>do</strong> as antigas praias <strong>da</strong> Lapa e <strong>do</strong> Boqueirão. Tinha este nome pois ali bem próximo<br />

estava o convento <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s carmelitas.<br />

Fresca Rua. Ver Marinhas Novas.<br />

Fun<strong>da</strong> Praia, Lagoa. Localizava-se na lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, na orla volta<strong>da</strong> ao que seria atualmente<br />

o Parque <strong>do</strong> Cantagalo.<br />

General Pedra Rua, Centro. Antigos caminho para São Diogo e ruas <strong>de</strong> São Diogo, Velha <strong>de</strong> São<br />

Diogo, <strong>de</strong> São João e <strong>de</strong> El-rei. Começava na praça Duque <strong>de</strong> Caxias e terminava na rua Pedro<br />

Rodrigues, <strong>de</strong>sapareceu com as obras <strong>do</strong> viaduto <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> 31 <strong>de</strong> Março, que liga a rua Marquês <strong>de</strong><br />

Sapucaí a praça <strong>de</strong> Santo Cristo, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> lugar às oficinas <strong>do</strong> Metrô. Originalmente um caminho até a<br />

capela <strong>de</strong> São Diogo – que <strong>de</strong>u nome ao morro e a pedreira – teve, após 1849, incorpora<strong>da</strong> um<br />

prolongamento, a rua <strong>de</strong> El-rei, posto que não havia mais reis, e sim, impera<strong>do</strong>r. General Pedra<br />

homenageia o Briga<strong>de</strong>iro Herculano Sacho <strong>da</strong> Silva Pedra que teve atuação <strong>de</strong>staca<strong>da</strong> contra diversas<br />

rebeliões e revoltas no <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e São Paulo, bem como na Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

Gonçalves Lê<strong>do</strong> Rua. Ver São Jorge, rua.<br />

Guandu Mirim <strong>Rio</strong>, Santa Cruz. Junto com o rio Guandu é, ain<strong>da</strong> hoje, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no<br />

abastecimento <strong>de</strong> água <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e, à época, <strong>de</strong>notava a <strong>de</strong>nominação <strong>da</strong> região por on<strong>de</strong> passava.<br />

Guin<strong>da</strong>ste Beco <strong>do</strong>, Centro. Localizava-se entre o largo <strong>do</strong> Moura e a rua <strong>da</strong> Misericórdia. O nome vem<br />

<strong>do</strong> guin<strong>da</strong>ste que os jesuítas possuíam para levar água e víveres mais facilmente para seu convento no<br />

alto <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo. Teve também o nome <strong>de</strong> travessa <strong>do</strong> Guin<strong>da</strong>ste <strong>do</strong>s Padres <strong>da</strong> Companhia e<br />

travessa <strong>do</strong>utor Costa Velho, <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong> com a reurbanização <strong>da</strong> Esplana<strong>da</strong> <strong>do</strong> Castelo.<br />

Harmonia Rua <strong>da</strong>, Saú<strong>de</strong>. Atual rua Pedro Ernesto (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1946), começa na rua Sacadura Cabral e<br />

termina na rua Rivadávia Correia. Antigo caminho <strong>da</strong> Gamboa, por levar a praia <strong>de</strong> mesmo nome.<br />

Depois rua <strong>do</strong> Cemitério, por ali existir um cemitério <strong>de</strong> escravos que chegavam mortos <strong>da</strong> África ou<br />

morriam nos trapiches à espera <strong>de</strong> compra<strong>do</strong>res. Harmonia por começar na praça <strong>de</strong> mesmo nome (atual<br />

Coronel Assunção) e Pedro Ernesto em homenagem ao médico e prefeito <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

(como interventor <strong>de</strong> 1932/35 e eleito até 1936), faleci<strong>do</strong> em 1942.


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Hospício Rua <strong>do</strong>, Centro. Atual rua Buenos Aires (a partir <strong>de</strong> 1915), começa na rua Primeiro <strong>de</strong> Março<br />

e termina na praça <strong>da</strong> República. Anteriormente com diversas <strong>de</strong>nominações em vários trechos, passa,<br />

em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII, a ser conheci<strong>da</strong> como rua Detrás <strong>do</strong> Hospício, <strong>de</strong>pois, somente a <strong>do</strong> Hospício.<br />

Hospício <strong>de</strong>ve-se a chega<strong>da</strong> em 1720 <strong>de</strong> <strong>do</strong>is fra<strong>de</strong>s capuchos (barbadinhos) à ermi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s irmãos<br />

dissi<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Penitência, que ali estavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVII. Foi então construí<strong>do</strong><br />

um pequeno mosteiro ou hospício (alojamento) para residência <strong>de</strong>stes fra<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> peregrinos, cujos<br />

fun<strong>do</strong>s voltavam-se para a rua em questão.<br />

Iguaçú <strong>Rio</strong>, <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong>. Atual rio Compri<strong>do</strong>, na aveni<strong>da</strong> Paulo <strong>de</strong> Frontin.<br />

Imperatriz Leopoldina Rua, Centro. Com o mesmo nome, começa na praça Tira<strong>de</strong>ntes e termina na<br />

travessa <strong>da</strong>s Belas Artes, segun<strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> Grandjean <strong>de</strong> Montigny. Antigas ruas Bárbara <strong>de</strong> Alvarenga<br />

e Leopoldina. Bárbara <strong>de</strong> Alvarenga (entre 1917 e 1921) homenageava – equivoca<strong>da</strong>mente, diga-se,<br />

posto que seu nome real era Bárbara Helio<strong>do</strong>ra Guilhermina <strong>da</strong> Silveira – a esposa <strong>do</strong> coronel Inácio<br />

José <strong>de</strong> Alvarenga, inconfi<strong>de</strong>nte mineiro <strong>de</strong>porta<strong>do</strong> para a África. Leopoldina (a partir <strong>de</strong> 1846) e<br />

Imperatriz Leopoldina (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1921) remetem à arquiduquesa <strong>da</strong> Áustria, primeira imperatriz <strong>do</strong> Brasil<br />

ao casar-se com Dom Pedro I em 1817.<br />

In<strong>de</strong>pendência Praça <strong>da</strong>. Ver Tira<strong>de</strong>ntes, praça.<br />

Inglês Caminho <strong>do</strong>, Cosme Velho. Assim chama<strong>do</strong> porque levava ao morro <strong>do</strong> Inglês, <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> britânico Jorge Britain.<br />

Inhangá Sítio <strong>do</strong>. Chácara compra<strong>da</strong>, através <strong>de</strong> escritura <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1755, por José<br />

Antônio Sobral e sua esposa Agostinha Caetana <strong>da</strong> Silva, com foro perpétuo pago ao Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara,<br />

localiza<strong>da</strong> no morro <strong>do</strong> Inhangá, em Copacabana. Após o falecimento <strong>de</strong> Sobral, em 1778, foi feita a<br />

partilha <strong>do</strong> seu espólio, caben<strong>do</strong> a sua viúva a referi<strong>da</strong> chácara que se estendia <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong> Antônio<br />

Pires Afonso até a chácara <strong>de</strong> Francisco Pereira Leme. A palavra inhangá é um termo <strong>de</strong> origem<br />

indígena, que, conforme Teo<strong>do</strong>ro Sampaio, é uma alteração <strong>da</strong> palavra anhangá, que significa mau<br />

espírito, alma errante ou espírito que an<strong>da</strong> vagan<strong>do</strong>. O morro <strong>do</strong> Inhangá foi parcialmente <strong>de</strong>moli<strong>do</strong>, na<br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920, quan<strong>do</strong> a <strong>Prefeitura</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> interligou as duas partes que constituíam a aveni<strong>da</strong> Nossa<br />

Senhora <strong>de</strong> Copacabana, até então separa<strong>da</strong>s pelo morro. No início <strong>do</strong> século XX, foi aberto o<br />

logra<strong>do</strong>uro <strong>do</strong> mesmo nome no bairro <strong>de</strong> Copacabana.<br />

João Faro Rua, Urca. Atual rua Venceslau Brás, começa na aveni<strong>da</strong> Pasteur e termina na praça Juliano<br />

Moreira. Antiga rua Barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Bonito e, mais ancestralmente, Guapimirim.<br />

João Homem La<strong>de</strong>ira, Saú<strong>de</strong>. Com o mesmo nome, começa na la<strong>de</strong>ira Felipe Néri e termina na praça<br />

Major Valô. Antigas la<strong>de</strong>iras <strong>da</strong> Prainha e <strong>da</strong> Fortaleza <strong>da</strong> Conceição. O primitivo nome remete a seu<br />

início no largo <strong>da</strong> Prainha. Fortaleza <strong>da</strong> Conceição, pois era acesso ao dito morro on<strong>de</strong> localizam-se<br />

ain<strong>da</strong> hoje a casa <strong>do</strong> Bispo e a fortaleza <strong>da</strong> Conceição (atuais serviços cartográficos <strong>do</strong> Exército). Seu<br />

nome último faz menção ao comerciante e merca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> escravos João Homem <strong>de</strong> Amaral, que ali residia<br />

e possuía casas.<br />

Junquilhos Rua, Santa Teresa. Atual rua Felício <strong>do</strong>s Santos, começa na rua Pascoal Carlos Magno e<br />

termina na rua Almirante Alexandrino.<br />

Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res Beco <strong>da</strong>, Centro. Atual travessa <strong>do</strong> Comércio, começa na praça XV e termina na<br />

rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Teve também os nomes <strong>de</strong> beco <strong>do</strong> Arco <strong>do</strong> Teles; <strong>do</strong> Teles; <strong>da</strong> praia <strong>do</strong> Peixe Nova; e<br />

<strong>da</strong> capela. Como curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, capela tanto po<strong>de</strong>ria ser a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira loja ambulante (carrega<strong>da</strong> por<br />

escravos ou emprega<strong>do</strong>s) que os mascates (ou capelistas) usavam para percorrer sua freguesia, quanto a<br />

capela, propriamente dita, em intenção à N.S. <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res, erigi<strong>da</strong> no local em 1750.


Lazareto Praia <strong>do</strong>. Ver Lázaros, praia <strong>do</strong>s.<br />

Q U A D R O D E L O G R A D O U RO S | 3 6 5<br />

Lázaros praia <strong>do</strong>s, Gamboa. A antiga praia <strong>da</strong> Gamboa e a rua <strong>do</strong> Lazareto foram unifica<strong>da</strong>s num só<br />

logra<strong>do</strong>uro com o nome <strong>de</strong> rua <strong>da</strong> Gamboa, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s sucessivos aterros.<br />

Manoel <strong>de</strong> Carvalho Beco, Centro. Atual rua Manuel <strong>de</strong> Carvalho, começa na aveni<strong>da</strong> <strong>Rio</strong> Branco e<br />

termina na aveni<strong>da</strong> 13 <strong>de</strong> Maio. Teve também os nomes <strong>de</strong> beco <strong>do</strong> Carvalho e travessa Manuel <strong>de</strong><br />

Carvalho.<br />

Marinha <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Centro. Ver rua Direita. Zona litorânea, <strong>do</strong> cais Pharoux ao cais <strong>do</strong>s Mineiros,<br />

aproxima<strong>da</strong>mente seguin<strong>do</strong> o cor<strong>de</strong>amento <strong>da</strong> atual rua Primeiro <strong>de</strong> Março. Teve também o nome <strong>de</strong><br />

praia Manoel <strong>de</strong> Brito, praia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e ribeira <strong>do</strong> Mar.<br />

Marinhas Novas Praia <strong>da</strong>s, Centro. Teve também os nomes <strong>de</strong> praia <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manuel (ver) e ruas <strong>de</strong><br />

Antonio João (efêmera), Fresca e Clapp. Desapareci<strong>da</strong> com a abertura <strong>da</strong>s aveni<strong>da</strong>s Presi<strong>de</strong>nte<br />

Kubitschek (eleva<strong>do</strong>) e Alfre<strong>do</strong> Agache, começava na praça XV e terminava no largo <strong>do</strong> Moura. O nome<br />

Fresca remete à aragem que vinha <strong>do</strong> mar e Clapp ao verea<strong>do</strong>r João Clapp, abolicionista incansável,<br />

faleci<strong>do</strong> em 1889.<br />

Marte Campo <strong>de</strong>, Centro. Área <strong>de</strong> manobras e exercícios militares próxima ao atual campo <strong>de</strong> Santana<br />

e que se estendia até a região <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova.<br />

Matias Morro <strong>do</strong>, Botafogo. Atual morro <strong>do</strong> Pasma<strong>do</strong>, também conheci<strong>do</strong> como morro <strong>do</strong> Secretário.<br />

Mauá Rua, Santa Teresa. Atual rua Pascoal Carlos Magno, começa no largo <strong>do</strong> Guimarães e termina na<br />

rua Monte Alegre.<br />

Meireles La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong>, Santa Teresa. Com o mesmo nome, começa na rua Almirante Alexandrino<br />

(próximo ao largo <strong>do</strong> Guimarães) e termina no acesso à favela Francisco <strong>de</strong> Castro.<br />

Melões Ilha <strong>do</strong>s, Saú<strong>de</strong>. Incorpora<strong>da</strong> ao continente com os aterros necessários a construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong><br />

Porto, na administração Pereira Passos (1903-06).<br />

Merca<strong>do</strong> Rua <strong>do</strong>. Ver Praia <strong>do</strong> Peixe, rua <strong>da</strong>.<br />

Merca<strong>do</strong>res Beco <strong>do</strong>s, Centro. Atual rua <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1922), começa na rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r e<br />

termina na rua <strong>do</strong> Rosário. Antigos beco <strong>da</strong> capela; rua <strong>da</strong>s Carnes Secas; becos <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res<br />

e <strong>da</strong> Lapa; e rua José Maurício. capela remete à construção <strong>de</strong> um oratório e <strong>de</strong>pois capela em intenção<br />

à N.S. <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res entre 1740/50. Por ali ser comercializa<strong>da</strong> a carne seca, teve este nome.<br />

Termina<strong>da</strong>s as obras <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> capela, em 1753, passou a chamar-se beco <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res ou<br />

somente <strong>da</strong> Lapa. No séc. XIX, durante cerca <strong>de</strong> 20 anos teve nome em homenagem ao padre José<br />

Maurício Nunes Garcia, organista <strong>da</strong> capela Real. Torna, em 1922, ao tradicional nome <strong>de</strong> rua <strong>do</strong>s<br />

Merca<strong>do</strong>res em atenção à igreja <strong>do</strong>s mascates;<br />

Miguel Couto Rua. Ver Conceição <strong>do</strong> Cônego, rua <strong>da</strong>.<br />

Misericórdia Bairro <strong>da</strong>, Centro. Sua origem pren<strong>de</strong>-se à criação <strong>da</strong> capela e hospital <strong>da</strong> Misericórdia,<br />

no sopé <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Castelo, nos primórdios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e ain<strong>da</strong> existente com sua sucessora a Santa Casa<br />

<strong>de</strong> Misericórdia (rua Santa Luzia). A área no entorno <strong>da</strong> instituição era assim conheci<strong>da</strong>.<br />

Moças Ilha <strong>da</strong>s, Saú<strong>de</strong>. Incorpora<strong>da</strong> ao continente com os aterros necessários à construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong><br />

porto na administração Pereira Passos (1903/06).


3 6 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Moura largo <strong>do</strong>, Centro. Originalmente situava-se fronteiro ao antigo Merca<strong>do</strong> Municipal, limita<strong>do</strong><br />

pelas praça Marechal Âncora e ruas Dom Manuel e Clapp. Desapareceu com a urbanização <strong>da</strong> Esplana<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> Castelo, e sua localização atual seria, aproxima<strong>da</strong>mente, on<strong>de</strong> está a praça João Paulo II, lateral ao<br />

Museu <strong>da</strong> Imagem e <strong>do</strong> Som. O nome refere-se a ali ter-se aquartela<strong>do</strong> o regimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Moura,<br />

vin<strong>do</strong> <strong>de</strong> Portugal.<br />

Música Beco <strong>da</strong>, Centro. Desapareci<strong>do</strong> com a urbanização <strong>da</strong> Esplana<strong>da</strong> <strong>do</strong> Castelo. Começava no largo<br />

<strong>do</strong> Moura e terminava na rua <strong>da</strong> Misericórdia, seu nome alu<strong>de</strong> aos ensaios <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s regimentos<br />

portugueses <strong>do</strong> Quartel <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Moura, que aconteciam numa casa <strong>de</strong> esquina com o este largo.<br />

Neves Rua <strong>do</strong> ou <strong>da</strong>s, Santa Teresa. Atual rua Eduar<strong>do</strong> Santos, antiga Dona Maria, começa na rua Paula<br />

Matos e termina no largo <strong>da</strong>s Neves.<br />

Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r Rua, Centro. Atual travessa <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, começa na rua Sete <strong>de</strong> Setembro e termina<br />

na rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r. Antigas ruas <strong>da</strong>s Flores; <strong>do</strong> Padre Roque; travessas Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r;<br />

Cabo Roque; Sachet e Washington Luís. Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r em sua abertura, pois que nascera a partir <strong>da</strong><br />

rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, como beco, <strong>de</strong>pois passan<strong>do</strong> a Flores, <strong>de</strong> incerta origem. Padre Roque, pois nela residiu<br />

o padre Roque <strong>da</strong> Cunha Campos. Cabo Roque <strong>de</strong>ve-se a atos <strong>de</strong> heroísmo atribuí<strong>do</strong>s ao mesmo na<br />

Guerra <strong>de</strong> Canu<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>smenti<strong>do</strong>s, inclusive sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberto estar este ain<strong>da</strong> vivo à época.<br />

Sachet em homenagem ao mecânico francês, morto, junto com Augusto Severo <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Maranhão, na explosão <strong>do</strong> balão Pax, em 1902. Novamente travessa <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, passan<strong>do</strong> em apenas<br />

um ano (1946/47) a Washington Luís.<br />

Núncio Rua <strong>do</strong>, Centro. Atual rua República <strong>do</strong> Líbano (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1949) com trecho final <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />

aveni<strong>da</strong> Tomé <strong>de</strong> Souza, começa na rua viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco e termina na rua Buenos Aires. Antigas<br />

ruas <strong>do</strong> Carmo, <strong>do</strong>s Cajueiros, segun<strong>da</strong> travessa <strong>de</strong> São Joaquim, <strong>da</strong> Con<strong>de</strong>ssa, e Padre José Maurício.<br />

Aberta em terras <strong>do</strong>s carmelitas, na chácara <strong>do</strong>s Cajueiros, seus nomes primevos <strong>da</strong>í advém. As duas<br />

travessas abertas <strong>da</strong> rua <strong>de</strong> São Joaquim ficaram durante longo tempo assim <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s, como<br />

primeira a Regente Feijó e como segun<strong>da</strong>, a antiga rua <strong>do</strong>s Cajueiros. Núncio <strong>de</strong>ve-se a <strong>do</strong>is <strong>de</strong>les que<br />

residiram neste logra<strong>do</strong>uro, primeiro o núncio apostólico em Lisboa, Car<strong>de</strong>al Lourenço Caleppi que ao<br />

falecer foi substituí<strong>do</strong> pelo também núncio monsenhor João Francisco Marafoschi. Con<strong>de</strong>ssa faz<br />

menção à <strong>do</strong>na Gabriela <strong>de</strong> San Marsay, viúva <strong>do</strong> con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares, que, mesmo após sua morte,<br />

residiu ali durante muito tempo. Padre José Maurício alu<strong>de</strong> ao gran<strong>de</strong> compositor sacro que também<br />

morou na rua. Com a reforma <strong>de</strong> Carlos Sampaio (1920/22) um trecho <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro, alarga<strong>do</strong>, passou<br />

a <strong>de</strong>nominar-se Tomé <strong>de</strong> Souza, manten<strong>do</strong>-se Núncio a parte sem melhoramentos. Porém, em 1945, em<br />

homenagem aos comerciantes sírios e libaneses <strong>da</strong>s imediações, este trecho passou a chamar-se<br />

República <strong>do</strong> Líbano.<br />

Oliveira Travessa, Centro. Atual rua Júlia Lopes <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1946), começa na rua <strong>do</strong>s Andra<strong>da</strong>s<br />

e termina na rua <strong>da</strong> Conceição. Antigas travessas <strong>da</strong> Pedreira e Oliveira. e rua Chico Diabo.<br />

Originalmente <strong>da</strong> Pedreira por terminar na rua <strong>da</strong> Pedreira <strong>da</strong> Conceição (atual Major Daemon), passou<br />

em 1872 a Oliveira para homenagear José Antonio <strong>de</strong> Oliveira, mora<strong>do</strong>r local. Chico Diabo, durante<br />

apenas <strong>do</strong>is anos, entre 1917 e 19, para lembrar o sol<strong>da</strong><strong>do</strong> que matou Solano Lopez em 1870, terminan<strong>do</strong><br />

a Guerra <strong>do</strong> Paraguai, voltan<strong>do</strong> a Oliveira em segui<strong>da</strong>. Júlia Lopes <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> homenageia a escritora<br />

e autora teatral, esposa <strong>do</strong> poeta Filinto <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, faleci<strong>da</strong> em 1934.<br />

Oratório Travessa <strong>do</strong>, Centro. Há menção <strong>de</strong> três ruas <strong>do</strong> Oratório (<strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Abadia, <strong>do</strong> Sargento-<br />

Mor e <strong>de</strong> Pedra), porém, a referência parece ater-se à rua <strong>do</strong> Oratório <strong>de</strong> Pedra, trecho <strong>da</strong> rua <strong>da</strong><br />

Alfân<strong>de</strong>ga, entre travessa <strong>de</strong> São Domingos e rua <strong>do</strong> Regente (atual Regente Feijó) on<strong>de</strong> existia até<br />

1906, na esquina com esta última, um oratório.


Ourives Rua <strong>do</strong>s. Ver Conceição <strong>do</strong> Cônego, rua <strong>da</strong><br />

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Papa Couves Chácara <strong>do</strong>, Santa Teresa. Na rua <strong>do</strong> Aqueduto (atual Almirante Alexandrino), acima <strong>do</strong>s<br />

canos <strong>da</strong> Carioca, existia a residência <strong>de</strong> Antonio Inácio Correia, cuja alcunha <strong>de</strong>u nome ao local.<br />

Parto à Santa Rita Travessa que ia <strong>do</strong>. Ver Conceição <strong>do</strong> Cônego, rua <strong>da</strong>.<br />

Pedra Santa Lagoa. Originalmente localiza<strong>da</strong> no antigo morro <strong>do</strong> Bahiano (parcialmente arrasa<strong>do</strong>),<br />

existente na lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, em sua saí<strong>da</strong> para o mar, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> atual bairro <strong>do</strong> Leblon.<br />

Pedreira Travessa <strong>da</strong>. Ver Oliveira, travessa <strong>do</strong>.<br />

Polé Lagoa <strong>da</strong>, Centro. Área aproxima<strong>da</strong>mente compreendi<strong>da</strong> pelo quarteirão forma<strong>do</strong> pelas atuais ruas<br />

<strong>da</strong> Conceição, Buenos Aires, Senhor <strong>do</strong>s Passos e aveni<strong>da</strong> Passos, aterra<strong>da</strong> em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII.<br />

Antigas lagoas <strong>da</strong> Pavuna, <strong>da</strong> Panela ou <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa. Polé refere-se ao pelourinho ou picota que foi<br />

transferi<strong>do</strong> em 1705 <strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Polé (atual praça XV) para o novo rossio (atual praça Tira<strong>de</strong>ntes), nas<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Rosário. Pavuna e Panela são menções geográficas ao local, um vale fun<strong>do</strong>,<br />

propenso em seus baixios a reter as águas, forman<strong>do</strong> lagoas ou alagadiços. Lampa<strong>do</strong>sa remete a<br />

construção <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVI.<br />

Praia <strong>do</strong> Peixe Rua <strong>da</strong>, Centro. Atual rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>, começa na praça XV e termina na travessa<br />

Tinoco. Antigas ruas <strong>da</strong> Lapa <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>res e Paulo Bregaro. praia <strong>do</strong> Peixe <strong>de</strong>nota o estabelecimento<br />

<strong>da</strong> quitan<strong>da</strong> nova ou praia <strong>do</strong> peixe nova, em 1719. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII foi construí<strong>do</strong>, na esquina<br />

<strong>de</strong>sta com a rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, um pequeno oratório em intenção <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Lapa, pelos merca<strong>do</strong>res e<br />

mascates, <strong>da</strong>í a referin<strong>do</strong>-se o nome seqüente. Com a construção, em 1835, <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> projeta<strong>do</strong> por<br />

Grandjean <strong>de</strong> Montigny, conheci<strong>do</strong> como Merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, o logra<strong>do</strong>uro passou, a partir <strong>de</strong> 1849,<br />

a a<strong>do</strong>tar este nome, visto que nascia naquele edifício, <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> em 1911. Durante curto tempo, a partir<br />

<strong>de</strong> 1935, teve o nome <strong>de</strong> Paulo Bregaro em homenagem ao <strong>do</strong>no <strong>do</strong> jornal Correio <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência,<br />

leva<strong>do</strong> a man<strong>do</strong> <strong>de</strong> José Bonifácio a Dom Pedro I com as notícias <strong>de</strong> Portugal que precipitaram nossa<br />

in<strong>de</strong>pendência. Em 1938 torna à <strong>de</strong>nominação tradicional <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>.<br />

Praia <strong>do</strong>s Mineiros Rua <strong>da</strong>, Centro. Área próxima <strong>da</strong>s atuais rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaboraí, praça Barão <strong>de</strong><br />

Ladário e início <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas, volta<strong>da</strong> aos fun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Casa França-Brasil, cais <strong>do</strong>s<br />

Mineiros e igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária.<br />

Praia Fun<strong>da</strong> Travessa <strong>da</strong>, Copacabana/Ipanema. Atual, presumivelmente, rua Francisco Otaviano<br />

(<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1917) e antigas ruas <strong>da</strong> Igrejinha e <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, começa na aveni<strong>da</strong> Atlântica e termina na<br />

aveni<strong>da</strong> Vieira Souto. Ao que tu<strong>do</strong> indica, pelo texto, seria um trecho <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s três antigos caminhos<br />

que, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XIX, ligavam Copacabana ao restante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse nome, indica<strong>do</strong> por<br />

Restier Gonçalves – não oficial nem encontra<strong>do</strong> nas pesquisas -, <strong>de</strong>ve-se, talvez, por este caminho<br />

originalmente partir <strong>da</strong> praia Fun<strong>da</strong> (ver), na lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. Igrejinha refere-se à igreja <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora <strong>de</strong> Copacabana, ergui<strong>da</strong> no alto <strong>do</strong> outeiro <strong>da</strong> península <strong>da</strong>quela praia e cujo culto<br />

remonta ao século XVII. Foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> entre 1918/20 para a construção <strong>do</strong> quartel (1923) <strong>do</strong> Forte<br />

Copacabana, termina<strong>do</strong> em 1914. Francisco Otaviano homenageia o poeta, jornalista, advoga<strong>do</strong>,<br />

diplomata e sena<strong>do</strong>r, ministro plenipotenciário nas negociações <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>da</strong> Tríplice Aliança, por<br />

ocasião <strong>da</strong> Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

Prainha, Saú<strong>de</strong>. Cais e ancora<strong>do</strong>uro que existiu próximo <strong>de</strong> on<strong>de</strong> hoje localiza-se a praça Mauá. Área<br />

<strong>da</strong>s antigas praias <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> e Velha <strong>da</strong>s Farinhas, que transformou-se, com os aterros, no início <strong>da</strong> atual<br />

rua Sacadura Cabral.<br />

Primeiro <strong>de</strong> Março Rua. Ver Direita, rua.


3 6 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Recôncavo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Região próxima ao mangal <strong>de</strong> São Diogo, atualmente ocupa<strong>da</strong> por parte <strong>do</strong>s<br />

bairros <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, Estácio, <strong>Rio</strong> Compri<strong>do</strong> e praça <strong>da</strong> Ban<strong>de</strong>ira.<br />

Regelo Caminho <strong>do</strong>, Cosme Velho. Forma<strong>do</strong> por partes <strong>da</strong>s atuais ruas e estra<strong>da</strong>s que levam ao pico <strong>do</strong><br />

Sumaré, à partir <strong>da</strong> bifurcação final <strong>da</strong> antiga estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Cosme Velho (hoje rua Cosme Velho). O<br />

Regelo, em questão, se <strong>de</strong>veria ao fato <strong>de</strong> o pico <strong>do</strong> Sumaré, por sua altitu<strong>de</strong>, ser um lugar muito frio em<br />

relação ao restante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao nível <strong>do</strong> mar.<br />

Regente Rua <strong>do</strong>, Centro. Atual rua Regente Feijó (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1921), começa na rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco<br />

e termina na rua Marechal Floriano. Antigas ruas e travessa <strong>de</strong> Santa Teresa, primeira travessa <strong>de</strong> São<br />

Joaquim, travessa <strong>do</strong> Ban<strong>de</strong>ira e ruas <strong>do</strong> Regente e Tobias Barreto. Como era o primeiro logra<strong>do</strong>uro<br />

aberto que atravessava a rua Larga <strong>de</strong> São Joaquim, tomou esse nome. Ban<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> incerta origem. O<br />

regente em questão, <strong>do</strong> Império, é o Padre Diogo Antonio Feijó. Tobias Barreto, <strong>de</strong> Menezes,<br />

homenageia o escritor e crítico literário. Finalmente em 1921, retorna a <strong>de</strong>nominação mais conheci<strong>da</strong>.<br />

Ribeira <strong>do</strong> Mar. Ver Marinha <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Roso Rua <strong>do</strong>, Flamengo. Atual rua Coelho Neto, começa na rua Ipiranga e termina na rua Pinheiro<br />

Macha<strong>do</strong>. O nome advém <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> ela aberta nas terras <strong>da</strong> chácara <strong>de</strong> Domingos <strong>de</strong> Oliveira Roso.<br />

Sachet Rua. Ver Nova <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, rua.<br />

Santa Cristina Rua, Santa Teresa. Com o mesmo nome, começa na rua <strong>do</strong> Fialho e termina na rua<br />

Cândi<strong>do</strong> Men<strong>de</strong>s.<br />

Santa Rita Travessa <strong>de</strong>, Centro. Atual rua Alcântara Macha<strong>do</strong> (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1946), começa na rua Viscon<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Inhaúma e termina na rua Acre. Teve, também, os nomes <strong>de</strong> caminho <strong>da</strong> Prainha, beco <strong>de</strong> Gaspar<br />

Gonçalves; rua <strong>da</strong>s Flores; beco <strong>do</strong>s Cachorros; beco para São Bento. O nome inicial referia-se à ligação<br />

entre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e aquele embarca<strong>do</strong>uro, na região atual <strong>da</strong> praça Mauá. O seqüente reflete nele haver<br />

residi<strong>do</strong> Gaspar Gonçalves Chaves. Durante algum tempo, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVI, é nomina<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Flores, após o que, <strong>do</strong>s Cachorros, ambos <strong>de</strong> incerta – ou óbvia, como queiram – origem. Santa Rita,<br />

pois iniciava-se no largo <strong>de</strong> mesmo nome e, por fim, Alcântara Macha<strong>do</strong>, que homenageia o político e<br />

escritor membro <strong>da</strong> ABL, faleci<strong>do</strong> em 1941.<br />

Santana Rua <strong>de</strong>, Centro. Des<strong>de</strong> 1879 (antiga rua <strong>da</strong>s Flores), começa na rua General Pedra e termina<br />

na rua Frei Caneca. Ignora-se o motivo <strong>da</strong> <strong>de</strong>nominação original. Santana pren<strong>de</strong>-se à construção <strong>da</strong><br />

nova igreja em intenção a esta santa, inicia<strong>da</strong> em 1858, sobre as bases <strong>da</strong> inacaba<strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia, e inaugura<strong>da</strong><br />

em 1879.<br />

Santo Alfre<strong>do</strong> Praça, Santa Teresa. Atual largo <strong>da</strong>s Neves, limita<strong>do</strong> pelas ruas Progresso, Fluminense,<br />

Santo Alfre<strong>do</strong> e Eduar<strong>do</strong> Santos.<br />

Santo Amaro Rua, Glória. Com o mesmo nome, começa na rua <strong>do</strong> Catete e termina na rua Pedro<br />

Américo. Foi aberta nos terrenos <strong>da</strong> chácara <strong>do</strong> Conselheiro Amaro Velho <strong>da</strong> Silva, em 1852. O<br />

conselheiro, agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> barão pouco antes, era diretor <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil e possuía terras<br />

que iam <strong>da</strong>s cercanias <strong>da</strong> Glória às encostas <strong>de</strong> Santa Teresa. A rua teve, por breve tempo, a <strong>de</strong>nominação<br />

<strong>de</strong> rua Dom Carlos I .<br />

Santo Antônio Lagoa <strong>de</strong>, Centro. Ver Curtume, lagoa <strong>do</strong>.<br />

São Diogo Morro <strong>de</strong>, Saú<strong>de</strong>. Situa<strong>do</strong> entre a rua Pedro Alves e a linha férrea <strong>da</strong> Supervia atuais,<br />

confrontava com a antiga praia Formosa, on<strong>de</strong> havia uma pedreira bastante explora<strong>da</strong>. Anteriormente era<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> morro <strong>de</strong> Manuel <strong>de</strong> Pina, haven<strong>do</strong> atualmente nele a favela Moreira Pinto.


Q U A D R O D E L O G R A D O U R O S | 3 6 9<br />

São Diogo Mangal <strong>de</strong>, Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Extensa região pantanosa que abrangia parte <strong>do</strong> atual bairro <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, acompanhan<strong>do</strong>, aproxima<strong>da</strong>mente, o alinhamento <strong>da</strong> atual aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas, na<br />

área <strong>do</strong> canal <strong>do</strong> Mangue, chegan<strong>do</strong> até ao atual campo <strong>de</strong> Santana. O nome advém <strong>da</strong> antiga capela <strong>de</strong><br />

São Diogo, que também <strong>de</strong>u nome ao morro, a rua e à Pedreira, man<strong>da</strong><strong>da</strong> construir pelo célebre alferes<br />

Diogo <strong>de</strong> Pina, combatente <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> contra a invasão francesa <strong>de</strong> Duguay-Troin, em 1711.<br />

São Diogo Rua <strong>de</strong>, Ver General Pedra, rua.<br />

São Francisco Largo <strong>de</strong>, Centro. Com o mesmo nome (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1917). Limita<strong>do</strong> pelas ruas Ramalho<br />

Ortigão; <strong>do</strong> Teatro, Luís <strong>de</strong> Camões e beco <strong>do</strong> Rosário. Antigas praça <strong>da</strong> Sé Nova; largo <strong>de</strong> São<br />

Francisco <strong>de</strong> Paula; e praça Coronel Tamarin<strong>do</strong>. Demarca<strong>da</strong>s as terras <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> em 1705,<br />

apenas em 1742 foram estas cor<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s para a praça <strong>da</strong> Sé Nova, advin<strong>do</strong> disto seu nome inicial,<br />

entretanto, as obras <strong>da</strong> catedral <strong>do</strong> bispa<strong>do</strong>, inicia<strong>da</strong>s em 1749, foram logo paralisa<strong>da</strong>s e seus alicerces<br />

utiliza<strong>do</strong>s para a construção <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Militar, ali instala<strong>da</strong> em 1812 e que teve, sucessivamente, <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com seus usos, diversas <strong>de</strong>nominações: em 1851, Escola Central; em 1874, Escola Politécnica;<br />

<strong>de</strong>pois Escola <strong>de</strong> Engenharia; abrigan<strong>do</strong> atualmente o IFCS (Instituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Sociais),<br />

<strong>da</strong> UFRJ. A ermi<strong>da</strong> <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula construí<strong>da</strong> em 1758 teve em 1801 inaugura<strong>do</strong> um templo<br />

maior, que a partir <strong>de</strong> então passou a <strong>de</strong>nominar o local. Coronel Tamarin<strong>do</strong>, entre 1897 e 1917,<br />

homenageia Pedro Nunes Tamarin<strong>do</strong>, morto na Guerra <strong>de</strong> Canu<strong>do</strong>s. Em 1917 retorna o nome tradicional,<br />

simplifica<strong>do</strong> para largo <strong>de</strong> São Francisco.<br />

São Jorge Rua, Centro. Atual rua Gonçalves Le<strong>do</strong> (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1935), começa na praça Tira<strong>de</strong>ntes e termina<br />

na rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga. Antigas travessa Senhor <strong>do</strong>s Passos e ruas São Jorge e Le<strong>do</strong>. Senhor <strong>do</strong>s Passos<br />

por ligar o Rossio (atual praça Tira<strong>de</strong>ntes) à igreja <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos, construí<strong>da</strong> em fins <strong>do</strong> séc.<br />

XVIII. São Jorge remete à construção <strong>da</strong> capela para o santo (mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVI) na esquina <strong>de</strong>ste<br />

logra<strong>do</strong>uro com a travessa <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa (atual rua Luís <strong>de</strong> Camões). Em 1855 foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> a capela,<br />

posto que o culto a seu orago fora transferi<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1850, para a igreja <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia, com a<br />

qual a Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Jorge se fundira. Esta igreja, na esquina <strong>da</strong>s atuais ruas Senhor <strong>do</strong>s Passos e<br />

Alfân<strong>de</strong>ga, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então abriga a sincrética <strong>de</strong>voção ao santo guerreiro. Os outros nomes homenageiam<br />

a Joaquim Gonçalves Le<strong>do</strong> jornalista e político, um <strong>do</strong>s próceres <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência nacional.<br />

Secretário Morro <strong>do</strong>, Botafogo. Atual morro <strong>do</strong> Pasma<strong>do</strong>, anteriormente também conheci<strong>do</strong> como<br />

morro <strong>do</strong> Matias.<br />

Sena<strong>do</strong> La<strong>de</strong>ira <strong>do</strong>, Santa Teresa. Atual la<strong>de</strong>ira Frei Orlan<strong>do</strong>, começa na rua <strong>do</strong> Riachuelo e termina na<br />

rua José <strong>de</strong> Alencar.<br />

Senhor <strong>do</strong>s Passos Rua. Ver Fernão Gomes, caminho <strong>de</strong>.<br />

Socopenapam Lagoa <strong>de</strong>, Lagoa. Atual Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. Sacopenacam, Sacopenupã e Socopenapã,<br />

entre outras <strong>de</strong>nominações vetustas, tem origem indígena e significam caminho <strong>do</strong>s socós, ave pernalta<br />

muito comum na região, ou, segun<strong>do</strong> alguns autores, fazem menção à vegetação característica <strong>de</strong><br />

mangue, ou <strong>de</strong> raízes chatas. O nome atual refere-se a Rodrigo <strong>de</strong> Freitas Melo e Castro, <strong>do</strong>no <strong>de</strong><br />

importante engenho <strong>de</strong> açúcar nestas terras.<br />

Sucô-sarará. Ver Sucusarará, rua <strong>do</strong>.<br />

Sucusarará Rua <strong>do</strong>, Centro. Diz-se <strong>do</strong> trecho <strong>da</strong> rua <strong>da</strong> Quitan<strong>da</strong>, entre 7 <strong>de</strong> Setembro e Ouvi<strong>do</strong>r, on<strong>de</strong><br />

havia a casa e o consultório <strong>de</strong> um médico inglês especializa<strong>do</strong> no tratamento <strong>de</strong> hemorrói<strong>da</strong>s. Este, ante<br />

a <strong>do</strong>r e ao <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> seus pacientes, afiançava, confiante em suas técnicas e medicamentos, porém<br />

em um português meio atravessa<strong>do</strong>: “Senhor, non se preocupe, su cu sarará!”


3 7 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

Tinoco Travessa, Centro. Ver A<strong>de</strong>los, beco <strong>do</strong>s.<br />

Tira<strong>de</strong>ntes Praça, Centro. Limita<strong>da</strong> pelas ruas Sete <strong>de</strong> Setembro, <strong>da</strong> Constituição, Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

Branco e <strong>da</strong> Carioca. Antigos rossios Gran<strong>de</strong> ou <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>; campos <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa, <strong>da</strong> Polé e <strong>do</strong>s<br />

Ciganos e praças <strong>da</strong> Constituição e <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência. Os rossios ou rocios, na toponímia urbana<br />

portuguesa, significam campos, praças ou largos. Rossio Gran<strong>de</strong> ou <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para diferenciar-se o<br />

outro, pequeno (atual praça Onze). Lampa<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à inauguração <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Lampa<strong>do</strong>sa,<br />

em 1748. Ciganos por terem os mesmos ali instala<strong>do</strong>-se até transferirem-se, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às obras <strong>de</strong><br />

saneamento feitas por Luís <strong>de</strong> Vasconcelos (fins <strong>do</strong> séc. XVII), para o campo <strong>de</strong> Santana (ver rua <strong>do</strong>s<br />

Ciganos). Polé, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um novo pelourinho on<strong>de</strong> hoje está a estátua <strong>de</strong> Dom Pedro<br />

I. Constituição alu<strong>de</strong> ao juramento <strong>da</strong> Constituição Portuguesa <strong>de</strong> 1831. Tira<strong>de</strong>ntes (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1890) em<br />

homenagem ao mártir <strong>da</strong> Inconfidência Mineira, Joaquim José <strong>da</strong> Silva Xavier. In<strong>de</strong>pendência por curto<br />

perío<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> 1950, voltan<strong>do</strong> a Tira<strong>de</strong>ntes em 1953.<br />

Urubus Campo <strong>do</strong>s, Gamboa. O assim <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> sítio <strong>da</strong> Rainha é atualmente a área ocupa<strong>da</strong><br />

pelos armazéns <strong>da</strong> Flumitrens. O nome campo <strong>do</strong>s Urubus remete, em sua lógica, a êpoca em que ali<br />

havia um mata<strong>do</strong>uro público, fecha<strong>do</strong> em 1798. O campo também comportou um cemitério para<br />

animais.<br />

Uruguaiana Rua. Ver Fosso, rua <strong>do</strong><br />

Vala Rua <strong>da</strong>. Ver Fosso, rua <strong>do</strong>.<br />

Valongo e Va l o n g u i n h o. Área nas vizinhanças <strong>do</strong>s bairros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Gamboa, que segue<br />

aproxima<strong>da</strong>mente o traça<strong>do</strong> <strong>da</strong> atual rua Sacadura Cabral. Desapareceu com as obras <strong>do</strong> cais <strong>do</strong> Porto,<br />

no governo <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte Rodrigues Alves e <strong>do</strong> prefeito Pereira Passos.<br />

Velha <strong>de</strong> São Diogo rua. Ver General Pedra, rua.<br />

Violas Rua <strong>da</strong>s, Centro. Atual rua Teófilo Otoni (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1869), começa na rua Viscon<strong>de</strong> Itaboraí e<br />

termina na rua <strong>da</strong> Conceição. Antigas ruas <strong>de</strong> Domingos Coelho; Dona Serafina; <strong>da</strong> Ilha Seca; e <strong>do</strong>s Três<br />

Cegos. Morales <strong>de</strong> Los <strong>Rio</strong>s Fº informa que ali reuniam-se os violeiros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> em priscas eras.<br />

Domingos Coelho foi ministro <strong>da</strong> Venerável Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Carmo e rico proprietário <strong>de</strong> terras no<br />

local; sua viúva, <strong>do</strong>na Serafina <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, suce<strong>de</strong>u-o como <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro. Por conta <strong>de</strong><br />

a rua estar localiza<strong>da</strong> em uma parte insula<strong>da</strong> aos pântanos e alagadiços que envolviam a área (até a atual<br />

rua Miguel Couto), em <strong>da</strong><strong>do</strong> momento <strong>de</strong>u-se a ela o nome <strong>de</strong> Ilha Seca. Três Cegos alu<strong>de</strong> a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

com a igreja <strong>de</strong> Santa Rita, construí<strong>da</strong> após 1821 e padroeira <strong>da</strong>queles com problemas <strong>de</strong> visão. Teófilo<br />

Otoni homenageia o político (<strong>de</strong>puta<strong>do</strong> provincial, geral e sena<strong>do</strong>r) e chefe <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Liberal, faleci<strong>do</strong><br />

em 1869.


Notas Históricas<br />

N O T A S H I S T Ó R I C A S | 3 7 1


3 7 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Aca<strong>de</strong>mia Militar: Cria<strong>da</strong> em 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1811, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Aca<strong>de</strong>mia Real Militar,<br />

construí<strong>da</strong> sobre os alicerces <strong>do</strong> que seria a nova Sé <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, no largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula, pelo<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares. Seu objetivo era <strong>de</strong>senvolver o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ciências físicas, matemáticas e <strong>de</strong><br />

engenharia militar. Em 1851, foi reforma<strong>da</strong> e dividi<strong>da</strong> em duas: a Escola Militar e a Escola <strong>de</strong> Aplicação.<br />

Esta última foi transferi<strong>da</strong> para a fortaleza <strong>de</strong> São João, na praia Vermelha. A Escola Militar, na gestão<br />

<strong>do</strong> ministro <strong>da</strong> Guerra Jerônimo Coelho, passou a ser <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> Escola Central, voltan<strong>do</strong>-se para o<br />

aperfeiçoamento científico <strong>do</strong>s seus alunos e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem à Escola Politécnica. A partir <strong>de</strong> 1874, a<br />

Escola Militar e <strong>de</strong> Aplicação voltaram a se reunir, concentran<strong>do</strong> a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> formação militar na<br />

praia Vermelha, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem à mo<strong>de</strong>rna Escola <strong>de</strong> Guerra <strong>da</strong>s Agulhas Negras.<br />

Alvará Régio: Diploma legal rubrica<strong>do</strong> pelo monarca e assina<strong>do</strong> pelo ministro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> competente<br />

que estabelecia as medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> interesse público, certifican<strong>do</strong>, autorizan<strong>do</strong> e <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> certos atos e<br />

direitos, em geral em caráter temporário.<br />

Apostola<strong>do</strong> Positivista <strong>do</strong> Brasil: Instituição que se <strong>de</strong>senvolveu no Brasil, a partir <strong>da</strong> divulgação <strong>do</strong><br />

positivismo, <strong>do</strong>utrina fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo filósofo francês Auguste Comte, no século XIX. Esta <strong>do</strong>utrina<br />

estabelece que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> científica <strong>de</strong>ve se basear na análise <strong>do</strong>s fatos verifica<strong>do</strong>s pela experiência, a<br />

partir <strong>do</strong> que se po<strong>de</strong> formular as leis e as relações entre os fenômenos observa<strong>do</strong>s. Seus principais<br />

segui<strong>do</strong>res brasileiros foram Miguel Lemos, Teixeira Men<strong>de</strong>s e Benjamin Constant Botelho <strong>de</strong><br />

Magalhães, que fun<strong>da</strong>ram o Apostola<strong>do</strong>. Este, a partir <strong>do</strong>s anos 1880, passou a assumir um caráter<br />

religioso, promoven<strong>do</strong> cultos segun<strong>do</strong> o catecismo positivista e instalan<strong>do</strong> a primeira se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Igreja<br />

positivista no Brasil. Seus membros participaram ativamente <strong>do</strong>s movimentos abolicionista e<br />

republicano.<br />

Asilo <strong>de</strong> Mendigos ou <strong>da</strong> Mendici<strong>da</strong><strong>de</strong>: Instituição cria<strong>da</strong> pelo governo imperial, que lançou sua pedra<br />

fun<strong>da</strong>mental em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1876. Foi inaugura<strong>do</strong>, em 10 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1879, para promover o<br />

recolhimento <strong>do</strong>s mendigos e <strong>da</strong>r-lhes assistência. Localizava-se, no la<strong>do</strong> ímpar <strong>da</strong> rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Itaúna, atual aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas, no caminho <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong>. Foi extinto, como órgão fe<strong>de</strong>ral, por<br />

lei, em 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1891, sen<strong>do</strong> transferi<strong>do</strong> para a esfera administrativa municipal. Em 1892, foi<br />

reinstituí<strong>do</strong> no âmbito <strong>da</strong> administração municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, após a promulgação <strong>da</strong> lei orgânica<br />

que reorganizou o município <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Em 1894, sua <strong>de</strong>nominação foi altera<strong>da</strong> para Asilo São<br />

Francisco <strong>de</strong> Assis. Mais tar<strong>de</strong>, os asila<strong>do</strong>s foram transferi<strong>do</strong>s para um prédio no boulevar 28 <strong>de</strong><br />

Setembro, em Vila Isabel. O prédio <strong>da</strong> rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúna retornou para a administração fe<strong>de</strong>ral, em<br />

12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1920, quan<strong>do</strong> foi transforma<strong>do</strong> em hospital, inaugura<strong>do</strong> com o nome <strong>de</strong> Hospital<br />

Escola São Francisco <strong>de</strong> Assis, em 7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1922. Assim, permaneceu até 1939, quan<strong>do</strong> voltou<br />

para a administração <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>. Em 1946, foi novamente incorpora<strong>do</strong> ao patrimônio <strong>da</strong> União, por<br />

<strong>de</strong>creto-lei, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>sse ano, pertencen<strong>do</strong> hoje à Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Auditórios <strong>da</strong> Corte: Casas on<strong>de</strong> juízes, procura<strong>do</strong>res, escrivães, chanceleres, etc. <strong>do</strong>s diversos órgãos<br />

<strong>da</strong> administração metropolitana portuguesa se reuniam para exercer as diversas atribuições<br />

administrativas, eclesiásticas e judiciais que <strong>de</strong>tinham.<br />

Noite, A: Jornal vespertino, fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em 1911 por Irineu Marinho, Castelar <strong>de</strong> Carvalho e Marques <strong>da</strong><br />

Silva. Viveu seu apogeu entre 1929 e 1957 quan<strong>do</strong>, sob a direção <strong>de</strong> Geral<strong>do</strong> Rocha, passou a funcionar<br />

no primeiro “arranha-céu” <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o prédio A Noite, <strong>de</strong> 21 an<strong>da</strong>res, localiza<strong>do</strong> na praça Mauá e<br />

projeta<strong>do</strong> pelo engenheiro Eugenio Baumgart.<br />

Aurora Fluminense, A: Jornal que circulou na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, entre 1827 e 1835, fun<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

por José Apolinário <strong>de</strong> Morais, Francisco Val<strong>de</strong>rato e José Francisco Sigaud. A partir <strong>de</strong> 1828, Evaristo<br />

Ferreira <strong>da</strong> Veiga se tornou o seu re<strong>da</strong>tor e editor, transforman<strong>do</strong>-o no porta-voz <strong>do</strong> liberalismo<br />

conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong>, combaten<strong>do</strong> tanto o absolutismo e o aulicismo, quanto o radicalismo<br />

jacobino. Seu lema era “Queremos a Constituição, não queremos a revolução”. Tornou-se um jornal<br />

conheci<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o Brasil e o seu re<strong>da</strong>tor alcançou gran<strong>de</strong> populari<strong>da</strong><strong>de</strong>, durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> oito anos<br />

<strong>de</strong> sua existência.


N O T A S H I S T Ó R I C A S | 3 7 3<br />

Baldios <strong>do</strong> Conselho: Terrenos incultos pertencentes ao Conselho Municipal, órgão legislativo e<br />

executivo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> durante os perío<strong>do</strong>s colonial e imperial.<br />

Cainhamboras, Negro s: Termo que po<strong>de</strong> ter diversas variações: caiambola, caiambora, canhimbora,<br />

canhambora, canhembora, canhambola, canhembola. Designa os escravos fugi<strong>do</strong>s que vivem em<br />

quilombos com outros ou, isola<strong>da</strong>mente, em mocambos. Personagem <strong>da</strong> folia <strong>de</strong> reis <strong>de</strong> Itaocara.<br />

Caixa <strong>de</strong> Amortização: Órgão cria<strong>do</strong> por lei <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1827 e regulamenta<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>creto<br />

<strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1828. Era administra<strong>do</strong> por uma junta presidi<strong>da</strong> pelo ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>. A sua<br />

diretoria executiva era exerci<strong>da</strong> por um inspetor-geral, cargo que, em 1920, foi transforma<strong>do</strong> em uma<br />

diretoria. Suas finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s eram emitir, amortizar, resgatar e substituir as apólices <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pública e o<br />

pagamento <strong>do</strong>s seus juros. Extinta por <strong>de</strong>creto em 1965.<br />

Cananéia: Ilha localiza<strong>da</strong> na baía <strong>do</strong> mesmo nome, no atual esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> já existia um<br />

povoa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> para lá se dirigiu Martim Afonso <strong>de</strong> Souza, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> partir <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 31<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1531. Esse povoa<strong>do</strong> era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> porta <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> para as minas <strong>do</strong> sertão.<br />

Capitão <strong>do</strong> Terço: Oficial coman<strong>da</strong>nte <strong>do</strong>s antigos corpos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nanças, força <strong>de</strong> infantaria colonial,<br />

organiza<strong>da</strong> conforme o Regimento <strong>da</strong>s Or<strong>de</strong>nanças <strong>de</strong> 1570 e a provisão <strong>de</strong> 1574. Sua nomeação era<br />

feita por eleição entre os principais <strong>da</strong> terra, resi<strong>de</strong>ntes nos limites <strong>da</strong> vila e <strong>do</strong> Conselho Municipal <strong>de</strong><br />

atuação <strong>do</strong> terço.<br />

Carta <strong>de</strong> Aforamento: Instrumento ou escritura legal que estabelece o contrato <strong>de</strong> enfiteuse, que serve<br />

<strong>de</strong> título <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ao foreiro. Carta <strong>de</strong> foro. Este <strong>do</strong>cumento garante a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> imóvel<br />

adquiri<strong>do</strong> por compra ou aforamento, sob a condição <strong>do</strong> seu proprietário pagar uma taxa à <strong>Prefeitura</strong>, a<br />

título <strong>de</strong> aquisição.<br />

Carta <strong>de</strong> Mercê: Documento oficial que participa a alguém que lhe foi concedi<strong>da</strong> mercê lucrativa ou<br />

honorária. Era assina<strong>da</strong> pelo rei, com rubrica e tinha, além <strong>do</strong> selo, o referen<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ministro <strong>de</strong><br />

Esta<strong>do</strong>.<br />

Cartas <strong>de</strong> Mercês <strong>do</strong> Príncipe Regente: Documentos oficiais emiti<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>m João, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

títulos honoríficos e sesmarias em diversos pontos <strong>da</strong>s cercanias <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, após a transferência <strong>da</strong> Corte<br />

portuguesa para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, através <strong>do</strong>s quais fez farta distribuição <strong>de</strong> terras aos que o apoiaram,<br />

geralmente os comerciantes reinóis e os altos funcionários civis e militares. Estas concessões <strong>de</strong> terras<br />

e títulos fizeram parte <strong>da</strong> política joanina <strong>de</strong> estabelecer uma sóli<strong>da</strong> aliança entre os colonos e os<br />

coloniza<strong>do</strong>res, que se tornaram gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong> terras e escravos. Esta aliança favoreceu a<br />

ambos os grupos, que utilizaram as influências políticas que possuíam na Corte, em proveito <strong>de</strong> seus<br />

interesses particulares. Desse mo<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> que privilegiasse os antigos coloniza<strong>do</strong>res, a política joanina<br />

<strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> cartas <strong>de</strong> mercês contribuiu para aproximar colonos e coloniza<strong>do</strong>res, forman<strong>do</strong> um<br />

po<strong>de</strong>roso bloco <strong>de</strong> interesses que garantiu a sustentação <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> um império luso-brasileiro nos<br />

trópicos, cujo centro aglutina<strong>do</strong>r era a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, transforma<strong>da</strong> em capital e se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Corte<br />

portuguesa.<br />

Cartas Régias: Designação <strong>de</strong> diversos títulos e <strong>do</strong>cumentos rubrica<strong>do</strong>s pelo monarca, que são dirigi<strong>do</strong>s<br />

diretamente a uma autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, sem passar pelo ministério ou chancelaria, estipulan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>terminação<br />

imediata <strong>do</strong> soberano <strong>de</strong> estabelecer or<strong>de</strong>ns, direitos, regulamentos, leis, etc. Po<strong>de</strong>m também estar<br />

dirigi<strong>da</strong>s a um súdito, ao qual é reconheci<strong>do</strong> algum direito singular ou conferi<strong>da</strong> alguma digni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Casa <strong>da</strong>s Aulas <strong>do</strong>s Jesuítas: Prédio assobra<strong>da</strong><strong>do</strong>, construí<strong>do</strong> em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII, no largo <strong>de</strong><br />

São Francisco <strong>de</strong> Paula, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sediar uma escola que não chegou a funcionar, por que a<br />

Companhia <strong>de</strong> Jesus foi expulsa <strong>de</strong> Portugal e <strong>de</strong> suas colônias em 1759.<br />

Casa <strong>da</strong> Balança <strong>de</strong> Ver-o-Peso ou Paço <strong>de</strong> Ver-o-Peso: Edifício on<strong>de</strong> foi estabeleci<strong>da</strong>, na gestão <strong>do</strong>


3 7 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

governa<strong>do</strong>r Salva<strong>do</strong>r Correa <strong>de</strong> Sá e Benevi<strong>de</strong>s (1637-1642), uma repartição aduaneira ou alfan<strong>de</strong>gária,<br />

encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> fiscalizar e vistoriar a entra<strong>da</strong>, o carregamento e a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias <strong>de</strong>sembarca<strong>da</strong>s<br />

no porto; cobrar os correspon<strong>de</strong>ntes direitos <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong>; fazer as pesagens e o reconhecimento <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s merca<strong>do</strong>rias e assentar, no seu livro <strong>de</strong> registros, por navio, as cargas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias em<br />

trânsito.<br />

Casas <strong>da</strong> Câmara: Designação <strong>da</strong><strong>da</strong> aos prédios on<strong>de</strong> se instalou a Câmara ou Conselho Municipal nas<br />

suas an<strong>da</strong>nças pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A primeira foi construí<strong>da</strong> no morro <strong>do</strong> Castelo pelo governa<strong>do</strong>r-geral Mem<br />

<strong>de</strong> Sá, abrigan<strong>do</strong>, como era <strong>do</strong> costume <strong>da</strong> época, no an<strong>da</strong>r térreo, a ca<strong>de</strong>ia pública. Entre 1630 e 1640,<br />

a Câmara foi autoriza<strong>da</strong> pela Coroa portuguesa a se mu<strong>da</strong>r para a várzea, on<strong>de</strong> foi ergui<strong>da</strong> pelo mestrepedreiro<br />

Francisco Monteiro, na rua <strong>da</strong> Misericórdia, próxima ao terreiro <strong>do</strong> Carmo, manten<strong>do</strong> a ca<strong>de</strong>ia<br />

no térreo. O prédio <strong>da</strong> Câmara e <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia foi reconstruí<strong>do</strong> no começo <strong>do</strong> século XVIII, mas ambas as<br />

instituições passaram a utilizar o novo prédio a partir <strong>de</strong> 1733, apesar <strong>da</strong>s obras só se concluírem em<br />

1747. Nesse prédio, a Câmara permaneceu até 1751, quan<strong>do</strong> ce<strong>de</strong>u suas instalações para o Tribunal <strong>da</strong><br />

Relação, transferin<strong>do</strong>-se para os prédios assobra<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Teles <strong>de</strong> Meneses, no largo <strong>do</strong> Carmo, sobre<br />

o famoso arco <strong>do</strong> Teles. Ali funcionou a Câmara Municipal, até que os sobra<strong>do</strong>s foram <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s por<br />

um incêndio, em 1790. A partir <strong>da</strong>í, a Câmara passou a funcionar em diversos prédios aluga<strong>do</strong>s, na rua<br />

<strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r, na rua Direita, no consistório <strong>da</strong> igreja <strong>do</strong> Rosário. O primeiro prédio a ser <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> com<br />

o nome <strong>de</strong> Paço Municipal foi autoriza<strong>do</strong> a ser construí<strong>do</strong> em 1816, mas somente foi inaugura<strong>do</strong> em<br />

1825, quan<strong>do</strong> a Câmara Municipal ganhou uma se<strong>de</strong> própria, no campo <strong>de</strong> Aclamação, entre as ruas <strong>do</strong><br />

Sabão e <strong>de</strong> São Pedro, no qual funcionou a partir <strong>de</strong> 1828 até 1856, quan<strong>do</strong> se iniciaram as obras <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> um novo Paço, no mesmo local. Durante o tempo em que foi construí<strong>do</strong> o novo prédio, a<br />

Câmara se instalou num sobra<strong>do</strong> próximo, em frente ao campo <strong>de</strong> Santana. Em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1882,<br />

finalmente, foi inaugura<strong>do</strong> o novo Paço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, com gran<strong>de</strong>s festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que contaram com a<br />

presença <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Pedro II e outras autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A Câmara Municipal permaneceu neste prédio até<br />

1897, quan<strong>do</strong>, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> lei orgânica <strong>de</strong> 1892, que separou os Po<strong>de</strong>res Legislativo e Executivo, a<br />

Câmara Municipal se mu<strong>do</strong>u para o edifício <strong>da</strong> Escola São José, no antigo largo <strong>da</strong> Mãe <strong>do</strong> Bispo, atual<br />

praça Floriano. O prédio atualmente ocupa<strong>do</strong> pela Câmara, o Palácio Pedro Ernesto, foi ergui<strong>do</strong> no<br />

mesmo lugar <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> em 1922, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com pinturas <strong>de</strong> Eliseu Visconti.<br />

Casa <strong>de</strong> Correção <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Cria<strong>da</strong> por carta régia <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1769. O prédio <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia<br />

Nova <strong>de</strong>veria ser construí<strong>do</strong> no largo, on<strong>de</strong> mais tar<strong>de</strong> foi ergui<strong>da</strong> a igreja <strong>de</strong> Santana, na antiga rua <strong>da</strong>s<br />

Flores, atual rua <strong>de</strong> Santana, mas a sua construção foi inviabiliza<strong>da</strong> pela falta <strong>de</strong> recursos financeiros.<br />

Em 1831, a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Defensora <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência Nacional apresentou um projeto<br />

arquitetônico para a construção <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Correção, com planta <strong>do</strong> coronel Manuel José <strong>de</strong> Oliveira,<br />

nos mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s mo<strong>de</strong>rnas penitenciárias norte-americanas e européias. A prisão teria a forma <strong>de</strong> um<br />

panóptico, cujos raios constituiriam os seus corre<strong>do</strong>res, vigia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um observatório central. Em 18 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1833, um aviso <strong>do</strong> ministro <strong>da</strong> Justiça propõe a construção <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Correção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> aliviar a superlotação <strong>da</strong>s prisões <strong>do</strong> Aljube e <strong>de</strong> Santa Bárbara. Em 19 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1833, foi compra<strong>da</strong> pelo governo imperial a chácara <strong>do</strong> Catumbi, <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Manuel <strong>do</strong>s Passos<br />

Correia, situa<strong>da</strong> na rua <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> foi construí<strong>da</strong> a Casa <strong>de</strong> Correção. Em 19 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1835, foi<br />

aberto o primeiro livro <strong>de</strong> matrículas <strong>do</strong>s sentencia<strong>do</strong>s transferi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s calabouços <strong>do</strong> Castelo para a<br />

nova penitenciária. A Casa <strong>de</strong> Correção foi regulamenta<strong>da</strong> por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1850. Nesta<br />

mesma <strong>da</strong>ta foi nomea<strong>do</strong> o seu primeiro diretor. Oficialmente foi inaugura<strong>da</strong> em 1º <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1856.<br />

Em 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1856 foi concluí<strong>da</strong> a construção <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Detenção, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> o segun<strong>do</strong> raio<br />

<strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Correção. O chefe <strong>de</strong> polícia <strong>da</strong> Corte foi nomea<strong>do</strong> seu diretor e para ela transferiu os presos<br />

<strong>da</strong>s freguesias e <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> Intendência <strong>de</strong> Polícia. Em 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1941, a Casa <strong>de</strong> Correção<br />

teve sua <strong>de</strong>nominação altera<strong>da</strong> para Penitenciária Central <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral e a Casa <strong>de</strong> Detenção para<br />

Presídio <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Em 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1957, a sua <strong>de</strong>signação foi novamente mu<strong>da</strong><strong>da</strong> para<br />

Penitenciária Professor Lemos <strong>de</strong> Brito, pela lei nº 3.212. Em 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1970, o <strong>de</strong>creto nº 3.816<br />

<strong>de</strong>terminou nova alteração na sua <strong>de</strong>nominação que passou para Instituto Penal Lemos <strong>de</strong> Brito.


Atualmente faz parte <strong>do</strong> sistema penitenciário <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>..<br />

N O T A S H I S T Ó R I C A S | 3 7 5<br />

Casa <strong>do</strong>s Contos: Órgão crian<strong>do</strong> durante o reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Dinis (1279/1325) para fiscalizar e or<strong>de</strong>nar<br />

as receitas e as <strong>de</strong>spesas <strong>da</strong> Coroa portuguesa, verificar as contas <strong>do</strong> patrimônio real, cobrar as ren<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> Coroa e se responsabilizar pela administração econômica <strong>do</strong> reino. No Brasil colonial, este órgão<br />

originou-se <strong>do</strong> cargo <strong>de</strong> prove<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s Minas, subordina<strong>do</strong> diretamente às autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s metropolitanas. A<br />

partir <strong>de</strong> 1702, a Prove<strong>do</strong>ria <strong>da</strong>s Minas passou a <strong>de</strong>nominar-se Superintendência <strong>da</strong>s Minas e assumiu<br />

funções judiciais. Em 1736, foi substituí<strong>da</strong> pelas Intendências <strong>do</strong> Ouro, que, em 1751, passaram a ficar<br />

subordina<strong>da</strong>s à Intendência Geral <strong>do</strong> Ouro. Em 1808, foi cria<strong>da</strong> a Real Junta Administrativa <strong>de</strong><br />

Mineração e Moe<strong>da</strong>gem, encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> centralizar a administração <strong>da</strong> mineração. As intendências <strong>do</strong><br />

ouro se transformaram em juntas territoriais <strong>de</strong> mineração. Casa <strong>do</strong>s Contos era a <strong>de</strong>signação <strong>da</strong><strong>da</strong> ao<br />

prédio ocupa<strong>do</strong> pela Real Junta <strong>da</strong> Mineração e <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>gem ou Casa <strong>de</strong> Fundição, pois recebia, fundia<br />

e <strong>de</strong>scontava os quintos reais <strong>do</strong> ouro e centralizava a administração <strong>da</strong> mineração. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

a Casa <strong>do</strong>s Contos se estabeleceu na rua Direita, a atual Primeiro <strong>de</strong> Março, junto à Alfân<strong>de</strong>ga e sediava<br />

a Tesouraria Geral, mais tar<strong>de</strong> Tesouro Real ou Real Erário.<br />

Casa <strong>do</strong>s Expostos: Instituição cria<strong>da</strong> em 1738, por Romão <strong>de</strong> Mattos Duarte, sob os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Santa<br />

Casa <strong>da</strong> Misericórdia, para receber as crianças rejeita<strong>da</strong>s pelas suas famílias. Estas crianças passaram a<br />

ser coloca<strong>da</strong>s em uma ro<strong>da</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, que se introduzia numa abertura no muro <strong>da</strong> instituição,<br />

manten<strong>do</strong>-se o anonimato <strong>do</strong>s seus progenitores. Após girar a ro<strong>da</strong>, batia-se uma campainha e uma freira<br />

recolhia a criança. A instituição mantinha e educava a criança até que fosse reclama<strong>da</strong> por parentes ou<br />

que se tornasse adulta e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Estabeleci<strong>da</strong> inicialmente na rua Santa Luzia, <strong>de</strong>pois se transferiu<br />

para a rua <strong>do</strong>s Barbonos, atual rua Evaristo <strong>da</strong> Veiga. Em 1911, a Casa <strong>do</strong>s Expostos foi instala<strong>da</strong> em<br />

uma nova se<strong>de</strong>, localiza<strong>da</strong> em terreno <strong>do</strong>a<strong>do</strong> por José Carlos Rodrigues, na rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes.<br />

Atualmente é uma fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> beneficência à infância, que recebeu o nome <strong>do</strong> seu fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r.<br />

Casa <strong>da</strong> Suplicação: Órgão judiciário metropolitano para o qual se dirigiam as apelações <strong>de</strong> sentenças <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong>s as partes <strong>do</strong> império português, pois funcionava como um tribunal superior <strong>de</strong> justiça, receben<strong>do</strong> os<br />

pleitos <strong>de</strong> última instância. Era composto por um rege<strong>do</strong>r, um chanceler, oito <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>res, um<br />

correge<strong>do</strong>r <strong>do</strong> crime e um <strong>do</strong> cível, um juiz <strong>de</strong> feitos <strong>da</strong> Coroa e <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, um juiz <strong>de</strong> Chancelaria, um<br />

promotor <strong>de</strong> Justiça, um ouvi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Crime e seis <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>res extravagantes. Em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808,<br />

o Tribunal <strong>da</strong> Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> foi transforma<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong> alvará régio, na Casa <strong>da</strong> Suplicação<br />

<strong>do</strong> Brasil, passan<strong>do</strong> a funcionar com as mesmas atribuições <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Cavaleiros <strong>do</strong> Santo Sepulcro <strong>de</strong> Roma: Um <strong>do</strong>s quatro graus <strong>de</strong> con<strong>de</strong>coração <strong>da</strong> remanescente<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Santo Sepulcro <strong>de</strong> Roma ou Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Malta. Esta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> cavalaria foi instituí<strong>da</strong> por<br />

Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> <strong>de</strong> Bouillon, em Jerusalém, em 1099. Essa é uma <strong>da</strong>s or<strong>de</strong>ns militares que surgiram na época<br />

<strong>da</strong>s cruza<strong>da</strong>s e era encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> zelar pelo túmulo <strong>de</strong> Jesus Cristo. Ain<strong>da</strong> no século XI, a Or<strong>de</strong>m<br />

assumiu a administração <strong>de</strong> um hospital e no século XII passou a ter encargos militares, na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong><br />

cristãos contra os muçulmanos. Após a que<strong>da</strong> <strong>do</strong> reino cristão <strong>de</strong> Jerusalém, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>slocou-se,<br />

sucessivamente, para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Acra, as ilhas <strong>de</strong> Chipre e <strong>de</strong> Ro<strong>de</strong>s. Em 1522, foi venci<strong>da</strong> pelas forças<br />

mouras <strong>de</strong> Solimão II. E, entre 1530 e 1798, a Or<strong>de</strong>m se refugiou na ilha <strong>de</strong> Malta, que recebeu como<br />

concessão <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Carlos V, <strong>da</strong> Espanha, passan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nominar-se Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Malta. Aí<br />

permaneceu até a conquista <strong>da</strong> ilha por Napoleão Bonaparte. Em 1854, seus estatutos foram reforma<strong>do</strong>s<br />

pelo papa Pio IX e, em 1880, o papa Leão XIII conce<strong>de</strong>u-lhe a administração <strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> São Basílio e<br />

<strong>do</strong> priora<strong>do</strong> <strong>do</strong> monte Aventino, em Roma. É dirigi<strong>da</strong> por um grão-mestre, conferin<strong>do</strong> con<strong>de</strong>corações<br />

honoríficas a pessoas notáveis que tenham presta<strong>do</strong> relevantes serviços à Santa Sé.<br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, A: Jornal vespertino carioca fun<strong>da</strong><strong>do</strong> por José <strong>do</strong> Patrocínio, no final <strong>do</strong> século<br />

XIX, que se tornou o porta-voz <strong>do</strong> movimento abolicionista, circulan<strong>do</strong> até 1902 e contan<strong>do</strong>, na sua<br />

re<strong>da</strong>ção, com a participação <strong>de</strong> Olavo Bilac, Par<strong>da</strong>l Malet e outros jornalistas e escritores <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s.


3 7 6 | T E R R A S E FAT O S<br />

Companhia <strong>de</strong> Bon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Cristovão: A origem <strong>da</strong> empresa é a <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> Street Railway que<br />

tinha um contrato <strong>de</strong> concessão <strong>do</strong> serviço, firma<strong>do</strong> com o governo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1869. Em 1873, a empresa<br />

passou a <strong>de</strong>nominar-se Companhia <strong>do</strong>s Bon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Cristovão, após ser reorganiza<strong>da</strong> pelos novos<br />

estatutos, aprova<strong>do</strong>s pelos seus acionistas. O prazo <strong>de</strong> concessão <strong>do</strong> serviço à Companhia foi prorroga<strong>do</strong><br />

até 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1930, através <strong>de</strong> contrato firma<strong>do</strong> entre o seu presi<strong>de</strong>nte, José Dias Delga<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Carvalho, e o presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Intendência Municipal, José Félix <strong>da</strong> Cunha Menezes (1890-<br />

91). A alteração <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> concessão, estabelecen<strong>do</strong> novas bases e novas tabelas <strong>do</strong>s preços <strong>da</strong>s<br />

passagens, autoriza<strong>da</strong> pelo prefeito <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1901, provocou movimentos <strong>de</strong><br />

protestos <strong>da</strong> população contra a Companhia. Esses movimentos populares resultaram na revogação <strong>do</strong>s<br />

aumentos <strong>do</strong>s preços <strong>da</strong>s tarifas e, mais tar<strong>de</strong>, na suspensão <strong>de</strong> algumas cláusulas <strong>do</strong> contrato pela<br />

<strong>Prefeitura</strong>.<br />

Companhia <strong>de</strong> Jesus ou Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus: É uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> clérigos regulares, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em Paris,<br />

em 1534, por Inácio <strong>de</strong> Loyola (1491/1556) e aprova<strong>da</strong> pelo papa Paulo III, em 1540, na época <strong>da</strong><br />

ruptura <strong>da</strong> cristan<strong>da</strong><strong>de</strong>, causa<strong>da</strong> pelas reformas protestantes. Acompanhou a renovação <strong>da</strong> Igreja católica,<br />

estimula<strong>da</strong> pelo Concílio <strong>de</strong> Trento (1545/1563). Sua organização foi inspira<strong>da</strong> na formação militar <strong>do</strong><br />

seu fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r. É dirigi<strong>da</strong> por um superior-geral, que é eleito pela or<strong>de</strong>m em caráter vitalício. Seus<br />

integrantes, os jesuítas, proferem, além <strong>do</strong>s votos <strong>de</strong> casti<strong>da</strong><strong>de</strong> e pobreza, o <strong>de</strong> obediência ao superiorgeral<br />

e ao papa. Gran<strong>de</strong>s missionários, espalharam-se pelo mun<strong>do</strong>, atuan<strong>do</strong> tanto como confessores <strong>de</strong><br />

reis, quanto educa<strong>do</strong>res e evangeliza<strong>do</strong>res. Instalou-se em Portugal em 1541, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> partiu seu<br />

evangeliza<strong>do</strong>r São Francisco Xavier para o Oriente. A atuação <strong>da</strong> Companhia foi muito importante no<br />

Brasil colonial, on<strong>de</strong> os jesuítas chegaram em 1549, na comitiva <strong>de</strong> Tomé <strong>de</strong> Souza. Os jesuítas tiveram<br />

participação <strong>de</strong>cisiva na catequese <strong>do</strong>s indígenas, na fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> São Paulo e na criação <strong>de</strong> inúmeras<br />

escolas e missões. Foram expulsos <strong>de</strong> Portugal e <strong>de</strong> seus <strong>do</strong>mínios em 1759, pelo marquês <strong>do</strong> Pombal,<br />

quan<strong>do</strong> tiveram os seus bens confisca<strong>do</strong>s pela Coroa, mas retornaram ao Brasil em 1841.<br />

Confraria <strong>de</strong> São Gonçalo Garcia: Associação religiosa liga<strong>da</strong> à igreja <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> ao mesmo santo,<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1758, na esquina <strong>da</strong>s atuais ruas Senhor <strong>do</strong>s Passos e Alfân<strong>de</strong>ga. Como, em 1850, o prédio<br />

<strong>da</strong> igreja <strong>de</strong> São Jorge estava prestes a ruir, sua irman<strong>da</strong><strong>de</strong> propôs um acor<strong>do</strong> à confraria, homologa<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois, pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s eclesiásticas, para transferir a imagem e o culto <strong>de</strong> São Jorge para a igreja <strong>de</strong><br />

São Gonçalo, reunin<strong>do</strong> as duas irman<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Em 1854, constituiu-se a Venerável Confraria <strong>do</strong>s Gloriosos<br />

Mártires S. Gonçalo e S. Jorge, que atualmente promove os festejos que reúnem na igreja milhares <strong>de</strong><br />

fiéis, no dia <strong>de</strong> São Jorge.<br />

Conselho <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>: Órgão português cria<strong>do</strong> em 1591, com o objetivo <strong>de</strong> centralizar as disposições<br />

sobre administração <strong>do</strong>s rendimentos <strong>da</strong> Real Fazen<strong>da</strong>. Suas principais atribuições eram superinten<strong>de</strong>r o<br />

tráfico comercial e as arma<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>liberar sobre as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> navegação e <strong>de</strong> guerra. Instituí<strong>do</strong> no<br />

Brasil no século XVII, como órgão <strong>de</strong>liberativo <strong>do</strong>s contratos <strong>da</strong> Real Fazen<strong>da</strong>. Foi extinto em 1769,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à transformação <strong>da</strong>s prove<strong>do</strong>rias em juntas <strong>de</strong> fazen<strong>da</strong>, que se tornaram encarrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

administrar as ren<strong>da</strong>s régias. Porém, foi restabeleci<strong>do</strong> em 1808, quan<strong>do</strong> manteve a jurisdição <strong>do</strong><br />

Conselho <strong>de</strong> Fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Reino, com as atribuições <strong>de</strong> superinten<strong>de</strong>r e fiscalizar armazéns, alfân<strong>de</strong>gas,<br />

mineração, etc. Em 1831, o Conselho <strong>de</strong> Fazen<strong>da</strong> foi extinto, passan<strong>do</strong> suas funções para o Tribunal <strong>do</strong><br />

Tesouro. Em 1892, após o advento <strong>da</strong> República, foi cria<strong>do</strong> o Tribunal <strong>de</strong> Contas e se extinguiu o<br />

Tribunal <strong>do</strong> Tesouro, restabelecen<strong>do</strong>-se o Conselho <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, com nova composição e novas<br />

competências. Em 1931, suas competências foram incorpora<strong>da</strong>s ao Tesouro Nacional.<br />

Conselho <strong>da</strong> Intendência Municipal: Cria<strong>do</strong> por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1889, que, ao mesmo<br />

tempo, dissolveu a Câmara Municipal. Era composto por sete membros, nomea<strong>do</strong>s pelo Governo<br />

Republicano Provisório, que também <strong>de</strong>finiu suas atribuições. A Lei Orgânica <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1892, que estabeleceu a organização municipal <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, estipulou que o Conselho Municipal<br />

passaria a ter apenas funções legislativas. Os verea<strong>do</strong>res passaram a ser <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> inten<strong>de</strong>ntes. Os<br />

inten<strong>de</strong>ntes eram <strong>de</strong>z e um <strong>de</strong>les era eleito presi<strong>de</strong>nte por seus pares, com man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong><br />

duração. Esta lei <strong>de</strong>finiu também as atribuições, as competências e os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>sta corporação. E


N O TA S H I S T Ó R I C A S | 3 7 7<br />

<strong>de</strong>terminou que as funções executivas seriam exerci<strong>da</strong>s por um prefeito nomea<strong>do</strong> por <strong>de</strong>creto <strong>do</strong><br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República. O primeiro Conselho Municipal, após <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong>s inten<strong>de</strong>ntes serem<br />

reconheci<strong>do</strong>s, tomou posse em 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892. Em 1897, o Conselho <strong>de</strong> Intendência se<br />

transferiu <strong>do</strong> prédio <strong>do</strong> Paço Municipal, que fora construí<strong>do</strong> especialmente para alojar a Câmara<br />

Municipal, para o <strong>da</strong> Escola São José, no antigo largo <strong>da</strong> Mãe <strong>do</strong> Bispo, atual praça Floriano. A lei <strong>de</strong><br />

23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1898, que reorganizou o município <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, além <strong>de</strong> adiar a eleição <strong>do</strong><br />

Conselho <strong>de</strong> Intendência, conce<strong>de</strong>u ao prefeito o direito <strong>de</strong> administrar e governar o Distrito Fe<strong>de</strong>ral com<br />

plenos po<strong>de</strong>res, exceto o <strong>de</strong> criar e elevar impostos, por um prazo <strong>de</strong> até 180 dias. Em 1911, o Conselho<br />

promoveu um concurso público para a apresentação <strong>de</strong> projetos para a construção <strong>de</strong> um novo prédio<br />

para sediá-lo. O arquiteto Heitor <strong>de</strong> Melo venceu a concorrência e o novo prédio foi construí<strong>do</strong> no<br />

mesmo local, em 1922, receben<strong>do</strong> pinturas <strong>de</strong> Eliseu Visconti na sua <strong>de</strong>coração interna.<br />

Conselho Ultramarino: Órgão judicial metropolitano, cria<strong>do</strong> em 1642 pelo rei <strong>do</strong>m João IV, para<br />

substituir o Conselho <strong>da</strong>s Índias, cujo papel era cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as possessões portuguesas na América,<br />

na África e na Ásia. Subordina<strong>do</strong> ao secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Negócios <strong>da</strong> Marinha e <strong>do</strong>s Domínios<br />

Ultramarinos. Centralizou as <strong>de</strong>cisões sobre to<strong>do</strong>s os assuntos relativos à Fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> Ultramar,<br />

controlan<strong>do</strong> as embarcações vin<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s colônias portuguesas ou que para elas se dirigiam. Tratava <strong>do</strong>s<br />

assuntos referentes às guerras coloniais, examinava as questões judiciais, os relatórios e cartas <strong>da</strong>s<br />

autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s coloniais, distribuía mercês por serviços presta<strong>do</strong>s, emitia pareceres sobre to<strong>do</strong>s os assuntos<br />

relativos às colônias, <strong>de</strong>liberan<strong>do</strong> sobre os contratos firma<strong>do</strong>s pela Coroa e <strong>da</strong>va provimento a to<strong>do</strong>s os<br />

cargos civis e militares <strong>da</strong>s colônias, exceto os eclesiásticos, <strong>de</strong> alça<strong>da</strong> <strong>da</strong> Mesa <strong>da</strong> Consciência e Or<strong>de</strong>ns.<br />

Sua autori<strong>da</strong><strong>de</strong> também não abarcava a competência <strong>da</strong> administração <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Coroa, que<br />

permaneceram no âmbito <strong>do</strong> Conselho <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>. Entrou em <strong>de</strong>clínio durante a gestão <strong>do</strong> marquês <strong>do</strong><br />

Pombal (1750/1777), quan<strong>do</strong> as secretarias <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> assumiram suas funções. Em 1808, após a<br />

transferência <strong>da</strong> Corte para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, suas atribuições foram transferi<strong>da</strong>s para o Tribunal <strong>da</strong> Mesa<br />

<strong>do</strong> Desembargo <strong>do</strong> Paço.<br />

Coroa <strong>da</strong> Alemanha: Designação <strong>da</strong><strong>da</strong> a uma or<strong>de</strong>m honorífica instituí<strong>da</strong> pelo governo <strong>da</strong> Alemanha<br />

para comemorar fatos históricos, premiar serviços à pátria e atos <strong>de</strong> valor ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação.<br />

Décima Urbana: Imposto territorial que, por muitos anos, recebeu essa <strong>de</strong>nominação, incidin<strong>do</strong> sobre<br />

os prédios, os terrenos enfiteuticos ou alodiais, edifica<strong>do</strong>s ou não. Foi cria<strong>do</strong> em Portugal, pelo <strong>de</strong>creto<br />

<strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1762, e transplanta<strong>do</strong> para o Brasil, pelo alvará <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1808. A resolução<br />

<strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1808 <strong>de</strong>limitou a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para o pagamento <strong>da</strong> décima urbana, por um la<strong>do</strong>, pelo rio<br />

Laranjeiras e por outro pelo rio Compri<strong>do</strong>. Em 1830, os limites <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>do</strong> seu termo foram<br />

regulariza<strong>do</strong>s. Sob a regência, provi<strong>de</strong>nciou-se a <strong>de</strong>marcação <strong>do</strong>s limites <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para fins <strong>de</strong><br />

arreca<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> décima urbana. No Código <strong>de</strong> Posturas <strong>de</strong> 1838 e nas leis <strong>de</strong> 1842 e 1845 <strong>de</strong>finiu-se por<br />

zona urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a área limita<strong>da</strong> até o Engenho Novo, <strong>da</strong> qual era cobra<strong>da</strong> a décima urbana. A zona<br />

rural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que era constituí<strong>da</strong> pelos bairros <strong>de</strong> Inhaúma, Irajá, Jacarepaguá, Campo Gran<strong>de</strong>, Santa<br />

Cruz e as ilhas <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r e <strong>de</strong> Paquetá, estava isenta <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> décima, por estar fora <strong>do</strong>s<br />

limites urbanos. Em 1878, um <strong>de</strong>creto estabeleceu as disposições que regulamentaram a arreca<strong>da</strong>ção e<br />

o lançamento <strong>de</strong>ste imposto sobre os prédios localiza<strong>do</strong>s na zona urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse regulamento<br />

reuniu em um só título, sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> imposto predial, a décima urbana, a décima <strong>de</strong> uma légua<br />

e a décima adicional. Esteve em vigor até 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1903, quan<strong>do</strong> um <strong>de</strong>creto municipal<br />

estabeleceu uma outra alteração no seu regulamento.<br />

Dragões <strong>da</strong>s Minas Gerais: Termo antigo que <strong>de</strong>signava os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> cavalaria <strong>da</strong> antiga capitania<br />

<strong>da</strong>s Minas Gerais.<br />

Edifício <strong>da</strong> Amortização: Prédio on<strong>de</strong> funcionava a Caixa <strong>de</strong> Amortização. Ver Caixa <strong>de</strong> Amortização.<br />

Empresa Industrial <strong>de</strong> Melhoramentos <strong>do</strong> Brasil: Empresa fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo engenheiro Paulo <strong>de</strong><br />

Frontin, <strong>de</strong>pois prefeito <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1919. Foi organiza<strong>da</strong> em 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1890<br />

e funcionou até 1933. Foi encarrega<strong>da</strong> <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> diversas ferrovias no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e no Norte


3 7 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

e no Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> país. Realizou obras <strong>de</strong> melhoramentos urbanos e portuários em diversas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

brasileiras. Investiu gran<strong>de</strong>s capitais em empreendimentos agrícolas, incorporan<strong>do</strong> a Companhia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Trens, empresa liga<strong>da</strong> à formação <strong>de</strong> colônias agrícolas para imigrantes estrangeiros e<br />

colonos nacionais. Adquiriu fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> café, no Oeste paulista, investiu na produção <strong>de</strong> cacau, em<br />

Ilhéus (BA), na produção <strong>de</strong> cana <strong>de</strong> açúcar e <strong>de</strong> algodão, em Pernambuco, e na pecuária, no <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Sul. Formou indústrias <strong>de</strong> vidro, <strong>de</strong> couro e fundições <strong>de</strong> ferro no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Foi concessionária<br />

<strong>da</strong> obra <strong>de</strong> <strong>de</strong>smonte <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>. A terra <strong>de</strong>sse morro, transporta<strong>da</strong> em vagões <strong>de</strong> trens puxa<strong>do</strong>s<br />

por locomotivas, serviu para aterrar a região <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> e <strong>da</strong> Gamboa. Elaborou o plano geral <strong>da</strong>s obras<br />

<strong>do</strong> novo cais <strong>do</strong> porto, que com modificações foi utiliza<strong>do</strong> pela Comissão <strong>da</strong>s Obras <strong>do</strong> Porto,<br />

participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua execução, cujas obras foram inicia<strong>da</strong>s em 1904, mas somente inaugura<strong>da</strong>s em 1908.<br />

Foi também responsável pela construção, nos pântanos <strong>da</strong> praia Formosa, <strong>da</strong> estação ferroviária Alfre<strong>do</strong><br />

Maia, <strong>da</strong> linha auxiliar que, a partir <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1903, foi incorpora<strong>da</strong> à Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Central <strong>do</strong><br />

Brasil. Foi concessionária <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> abertura <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Central, atual <strong>Rio</strong> Branco, e <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Mangue.<br />

Escola <strong>da</strong> Glória: Era uma <strong>da</strong>s “escolas <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r”, isto é, uma escola construí<strong>da</strong> por Bethencourt<br />

<strong>da</strong> Silva, em estilo renascentista, a pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Dom Pedro II, com recursos <strong>da</strong> subscrição popular aberta<br />

para a ereção <strong>de</strong> uma estátua em homenagem ao impera<strong>do</strong>r, em comemoração à vitória brasileira na<br />

guerra contra o Paraguai. Situa<strong>da</strong> no largo <strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, então <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Glória, é atualmente<br />

o Colégio Estadual Amaro Cavalcanti.<br />

Escola Militar: Cria<strong>da</strong> por carta régia <strong>do</strong> príncipe regente <strong>do</strong>m João, em 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1811, com o<br />

nome <strong>de</strong> Aca<strong>de</strong>mia Real Militar, segun<strong>do</strong> o plano <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Rodrigo <strong>de</strong> Souza Coutinho, o con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Linhares. Em 1851, passou a ser <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> <strong>de</strong> Escola Militar. Na gestão <strong>de</strong> Jerônimo Coelho, no<br />

Ministério <strong>da</strong> Guerra, sua <strong>de</strong>nominação foi novamente altera<strong>da</strong> para Escola Central, vin<strong>do</strong> a <strong>da</strong>r origem<br />

à Escola Politécnica. Em 1874, a Escola Militar foi reuni<strong>da</strong> à Escola <strong>de</strong> Aplicação, na praia Vermelha,<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem à Escola <strong>de</strong> Guerra <strong>da</strong>s Agulhas Negras.<br />

Escola Politécnica: Sua origem remonta à Escola Central, estabeleci<strong>da</strong> no prédio <strong>da</strong> antiga Aca<strong>de</strong>mia<br />

Real Militar, no largo <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula. Foi cria<strong>da</strong> em 1874, como escola superior, on<strong>de</strong> eram<br />

ministra<strong>do</strong>s um curso geral e seis cursos especiais <strong>de</strong> ciências físicas, naturais, matemáticas e <strong>de</strong><br />

engenharia civil, <strong>de</strong> minas, artes e manufaturas. Em 1920, foi incorpora<strong>da</strong>, como Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Engenharia, à Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, posteriormente <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Brasil<br />

(1937) e atualmente Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (1965).<br />

Escola Tira<strong>de</strong>ntes: Escola construí<strong>da</strong> pela Intendência Municipal, por volta <strong>de</strong> 1892, num terreno<br />

<strong>de</strong>sapropria<strong>do</strong> <strong>da</strong> atual rua Viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, on<strong>de</strong> se supunha haver si<strong>do</strong> martiriza<strong>do</strong> Joaquim<br />

José <strong>da</strong> Silva Xavier, em homenagem ao qual foi <strong>da</strong><strong>do</strong> o nome <strong>da</strong> escola.<br />

Estação <strong>da</strong>s Gôn<strong>do</strong>las: As gôn<strong>do</strong>las eram um meio <strong>de</strong> transporte coletivo, movi<strong>do</strong> à tração animal, que<br />

surgiram no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX. A empresa responsável, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Companhia<br />

<strong>da</strong>s Gôn<strong>do</strong>las Fluminenses, estabeleceu sua estação terminal na antiga rua Leopol<strong>do</strong>, atual Júlio <strong>de</strong><br />

Carmo, na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova.<br />

Fábrica <strong>da</strong>s Chitas: Denominação <strong>da</strong><strong>da</strong> a vários estabelecimentos fabris, localiza<strong>do</strong>s na região <strong>da</strong> atual<br />

praça Saens Peña. O primeiro foi instala<strong>do</strong>, em 1820, por Joaquim José <strong>da</strong> Silva, sob os alicerces<br />

lança<strong>do</strong>s na época <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI. Foi uma <strong>da</strong>s primeiras estamparias <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> algodão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Faliu em 1840. Em 1841, uma nova fábrica <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> algodão foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por Fre<strong>de</strong>rico Guilherme,<br />

na mesma região, on<strong>de</strong> funcionou por 23 anos, quan<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>smonta<strong>da</strong> e transferi<strong>da</strong> para Parati, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> anexa<strong>da</strong> à fábrica Santa Teresa. Em 1852, uma terceira fábrica <strong>de</strong> chitas, pertencente a Joaquim<br />

Diogo Hertly funcionava na região, empregan<strong>do</strong> 76 teares e 56 operários e um motor movi<strong>do</strong> a vapor,<br />

produzin<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> mil metros <strong>de</strong> pano por dia. A sua <strong>de</strong>nominação esten<strong>de</strong>u-se ao populoso bairro, que<br />

compreendia parte <strong>da</strong> atual rua Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bonfim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a rua <strong>do</strong>s Araújos, até a rua Desembarga<strong>do</strong>r


Isidro. Por isso, a atual praça Saens Peña era antigamente <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> largo <strong>da</strong> Fábrica.<br />

N O T A S H I S T Ó R I C A S | 3 7 9<br />

Fábrica <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Ipanema: Possível referência à empresa organiza<strong>da</strong>, em 1819, para explorar o<br />

minério <strong>de</strong> ferro existente no distrito <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Ipanema, no município paulista <strong>de</strong> Sorocaba. No<br />

início <strong>do</strong> século XIX, era um estabelecimento mo<strong>de</strong>lar e foi dirigi<strong>do</strong> pelo engenheiro alemão Luiz<br />

Guilherme Varnhagen, contrata<strong>do</strong> pelo governo imperial para administrá-lo. Po<strong>de</strong> também ser uma<br />

referência às oficinas <strong>de</strong> fundição, estabeleci<strong>da</strong>s em terrenos <strong>da</strong> lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, por <strong>de</strong>creto<br />

régio <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1808.<br />

Fábrica <strong>de</strong> Gás <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong>: Estabelecimento instala<strong>do</strong> na rua Sena<strong>do</strong>r Eusébio, no Aterra<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, segun<strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> engenheiro inglês Guilherme Bragge, para a companhia <strong>de</strong> iluminação<br />

pública e <strong>do</strong>méstica, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá, em 1851. O primeiro diretor técnico <strong>da</strong><br />

fábrica <strong>de</strong> gás foi o engenheiro inglês Guilherme Ginty e o primeiro gerente-geral foi o seu conterrâneo,<br />

Bartlet James. Mais <strong>do</strong> que apenas uma usina, a empresa se constituiu em um conjunto <strong>de</strong> edificações<br />

que incluía as residências <strong>do</strong>s seus operários e <strong>de</strong> suas famílias, a biblioteca, o jardim, as cozinhas, a<br />

botica e os tanques para a lavagem <strong>de</strong> roupas. Havia também um <strong>do</strong>rmitório coletivo para os<br />

acen<strong>de</strong><strong>do</strong>res <strong>de</strong> lampiões e um outro para os escravos emprega<strong>do</strong>s pela companhia. Em 1864, a empresa<br />

foi vendi<strong>da</strong> por Mauá para um grupo inglês que, por sua vez, transferiu, em 1886, sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />

uma empresa belga – a Societé Anonyme du Gaz –, que obteve a concessão <strong>de</strong>ste serviço público para<br />

o empresário francês Henri Brianthe.<br />

Fábrica <strong>de</strong> Pólvora: Cria<strong>da</strong> por alvará régio <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI, em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808, no engenho<br />

situa<strong>do</strong> junto à lagoa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, então proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Maria Leonor Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, filha<br />

<strong>de</strong> Rodrigo <strong>de</strong> Freitas, que <strong>de</strong>u nome ao logra<strong>do</strong>uro. A fábrica <strong>de</strong> pólvora <strong>de</strong>stinava-se a abastecer o<br />

exército e a marinha. Seu primeiro diretor foi João Gomes <strong>da</strong> Silva Men<strong>do</strong>nça, marquês <strong>de</strong> Sabará que,<br />

em um prédio anexo, estabeleceu um pequeno horto, um jardim <strong>de</strong> plantas exóticas, que <strong>de</strong>u origem ao<br />

atual Jardim Botânico. Em 1851, a fábrica <strong>de</strong> pólvora se incendiou. Atualmente, suas ruínas permanecem<br />

no interior <strong>do</strong> Jardim Botânico, que oficialmente foi cria<strong>do</strong> em 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1819, com o nome <strong>de</strong> Real<br />

Jardim Botânico, como repartição <strong>do</strong> Museu Real, por <strong>de</strong>creto assina<strong>do</strong> pelo ministro <strong>do</strong> Reino, Tomás<br />

Antônio Vilanova Portugal.<br />

Fazen<strong>da</strong> Real: Órgão fazendário <strong>da</strong> Coroa portuguesa, também <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Erário Régio,<br />

responsável pelas <strong>de</strong>spesas <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e pela inspeção <strong>de</strong> fábricas, fundições e minerações. Em 1788, o<br />

ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> passou a acumular o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Erário Régio, fican<strong>do</strong> responsável pelo<br />

expediente <strong>do</strong>s ofícios <strong>de</strong> recebimento <strong>do</strong> reino e <strong>de</strong> suas colônias, além <strong>da</strong>s funções que já exercia. Em<br />

1808, foi implanta<strong>do</strong> no Brasil com as mesmas atribuições que <strong>de</strong>tinha em Portugal. Em 1821, passou a<br />

<strong>de</strong>nominar-se Tesouro Nacional.<br />

Feu<strong>da</strong>lismo: Em História, o termo <strong>de</strong>signa o sistema socioeconômico-cultural no qual os indivíduos<br />

estão subordina<strong>do</strong>s mutuamente por laços <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência pessoal. O conjunto <strong>de</strong>ssas relações se<br />

fun<strong>da</strong>menta, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, na exploração <strong>do</strong> camponês preso à terra, o servo <strong>da</strong> gleba, pelo senhor feu<strong>da</strong>l,<br />

o proprietário <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio. Por outro la<strong>do</strong>, nas relações <strong>de</strong> subordinação e suserania entre os nobres que<br />

são estabeleci<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> vassalagem, instituin<strong>do</strong> um contrato <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres mútuos entre os<br />

senhores feu<strong>da</strong>is. No Brasil colonial, não houve feu<strong>da</strong>lismo, pois o sistema feu<strong>da</strong>l já estava em acelera<strong>da</strong><br />

crise final na Europa, na época <strong>da</strong> ocupação <strong>do</strong> território pelos portugueses. No texto, o autor apropriase<br />

<strong>do</strong> conceito para <strong>de</strong>screver as relações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que se estabeleceram entre os proprietários<br />

legais <strong>da</strong>s terras e os posseiros que as ocupavam, em caráter precário, por concessão <strong>do</strong>s primeiros.<br />

Fonte <strong>do</strong> Lagarto: Chafariz público construí<strong>do</strong> em 1786, no governo <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Vasconcelos e Souza,<br />

a man<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara, cuja autoria é atribuí<strong>da</strong> a Valentim <strong>da</strong> Fonseca e Silva, o Mestre<br />

Valentim. Era abasteci<strong>do</strong> pelo aqueduto <strong>do</strong> Catumbi, que <strong>de</strong>scia <strong>de</strong> Paula Mattos. Era forma<strong>do</strong> por uma<br />

frontaria, composta por duas pilastras encima<strong>da</strong>s por um frontão curvo e por um tanque <strong>de</strong> cantaria, com<br />

um nicho elíptico, on<strong>de</strong> um lagarto <strong>de</strong> bronze fornecia água pelas mandíbulas, para servir à população e


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aos animais. No frontão, havia uma placa <strong>de</strong> mármore com uma inscrição em latim: “Ao se<strong>de</strong>nto povo,<br />

o Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>u água em abundância”. Localiza-se no antigo caminho <strong>do</strong> Engenho Pequeno,<br />

<strong>de</strong>pois rua Nova <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>, atual rua Frei Caneca.<br />

Fortaleza <strong>de</strong> Paranapocu ou Paranapucu: Edifica<strong>da</strong> na ilha <strong>do</strong>s Maracajás ou <strong>do</strong>s Gatos Bravos, atual<br />

ilha <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r, na época <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> colônia francesa <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, por Nicolas Durand<br />

Villegaignon, em 1556. Foi um <strong>do</strong>s principais baluartes <strong>da</strong> resistência <strong>do</strong>s tupinambás ou tamoios,<br />

dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> mil homens na sua <strong>de</strong>fesa e era equipa<strong>da</strong> com artilharia, durante a chama<strong>da</strong> Guerra<br />

<strong>do</strong>s Tamoios. Antes <strong>de</strong>ssa guerra, a ilha era um território ocupa<strong>do</strong> pela tribo <strong>do</strong>s maracajá-guassus ou<br />

temiminós, que nela tinham várias al<strong>de</strong>ias e <strong>da</strong>í sua <strong>de</strong>nominação ser ilha <strong>do</strong>s Maracajás ou <strong>do</strong>s Gatos<br />

Bravos. Os tupinambás ou tamoios, alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s franceses, se apossaram <strong>da</strong> ilha, <strong>de</strong>struin<strong>do</strong> as al<strong>de</strong>ias<br />

<strong>do</strong>s seus inimigos e os expulsan<strong>do</strong> <strong>do</strong> local. Em 1567, durante o segun<strong>do</strong> combate <strong>da</strong> guerra entre os<br />

portugueses e os franceses pela posse <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a fortaleza foi toma<strong>da</strong> pelos portugueses, com<br />

o apoio <strong>do</strong>s temiminós, chefia<strong>do</strong>s pelo famoso Araribóia, que estavam alia<strong>do</strong>s aos portugueses. A<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> ilha <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r é <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> ao fato <strong>de</strong> que, em 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1567, a ilha foi <strong>do</strong>a<strong>da</strong><br />

em sesmaria ao sobrinho <strong>de</strong> Mem <strong>de</strong> Sá, Salva<strong>do</strong>r Correia <strong>de</strong> Sá, que mais tar<strong>de</strong> foi nomea<strong>do</strong><br />

governa<strong>do</strong>r-geral <strong>da</strong> capitania e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Forte <strong>de</strong> Vera Cruz: Localizava-se à beira-mar, próximo à região, on<strong>de</strong>, mais tar<strong>de</strong>, foi aberta a rua<br />

Direita, atual Primeiro <strong>de</strong> Março. Demoli<strong>do</strong>, no governo <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r Correia <strong>de</strong> Sá (1568/1572), sobre<br />

suas muralhas e arcos foi ergui<strong>da</strong> a primeira igreja <strong>da</strong> Santa Cruz <strong>do</strong>s Militares, em 1628.<br />

Gabinete <strong>Rio</strong> Branco: Ministério <strong>do</strong> II Reina<strong>do</strong> que assinalou a volta <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Conserva<strong>do</strong>r ao po<strong>de</strong>r,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s liberais. Foi presidi<strong>do</strong> por José Maria <strong>da</strong> Silva Paranhos,<br />

o viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Rio</strong> Branco. Na sua gestão, entre 7 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1870 e 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1875, foi aprova<strong>da</strong><br />

a Lei <strong>do</strong> Ventre Livre ou <strong>Rio</strong> Branco. Esta lei <strong>de</strong>terminou que os filhos <strong>de</strong> mulher escrava eram livres,<br />

a partir <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> sua promulgação, mas ficavam em po<strong>de</strong>r <strong>do</strong>s senhores <strong>de</strong> sua mãe, até os 8 anos <strong>de</strong><br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong>, quan<strong>do</strong>, então, o senhor optava por receber uma in<strong>de</strong>nização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ou a utilizar-se <strong>do</strong>s<br />

serviços <strong>do</strong> menor, até os 21 anos.<br />

Havre, Le: Circunscrição administrativa <strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Seine-Maritime, na França, localiza<strong>da</strong> na<br />

margem norte <strong>do</strong> rio Sena, a 208 km <strong>de</strong> Paris. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> sempre esteve liga<strong>do</strong> ao seu<br />

porto, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>, em 1517, pelo rei Francisco I. Desse porto, partiu a expedição <strong>de</strong> Nicolas Durand <strong>de</strong><br />

Villegaignon, em 1555, que com o apoio <strong>do</strong> rei Henrique II e <strong>do</strong> almirante Gaspar <strong>de</strong> Coligny, tinha<br />

como objetivo fun<strong>da</strong>r uma colônia francesa no litoral <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Até hoje é o porto por on<strong>de</strong> é<br />

feita a maior parte <strong>do</strong> comércio francês com o continente americano.<br />

Homem Bom: Designação <strong>da</strong><strong>da</strong>, em Portugal e nos seus <strong>do</strong>mínios, ao súdito qualifica<strong>do</strong> que reunia as<br />

condições sociais para pertencer ao estrato privilegia<strong>do</strong> que <strong>de</strong>tinha o direito <strong>de</strong> ser eleito e eleger os<br />

membros <strong>da</strong>s Câmaras ou Conselhos Municipais. Participava <strong>da</strong>s listas que eram organiza<strong>da</strong>s pelo<br />

alcai<strong>de</strong>-mor para as referi<strong>da</strong>s eleições. No Brasil colonial, o critério fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> inclusão nessa<br />

categoria era ser proprietário <strong>de</strong> terras e <strong>de</strong> escravos, haven<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> resistência <strong>do</strong>s proprietários<br />

rurais a que homens liga<strong>do</strong>s a outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pu<strong>de</strong>ssem participar <strong>da</strong>s eleições. Em 1705, uma<br />

provisão <strong>de</strong>terminou que os mecânicos, os operários, os <strong>de</strong>gre<strong>da</strong><strong>do</strong>s, os ju<strong>de</strong>us e os peões fossem<br />

excluí<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sse processo eleitoral. Durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> colonial, ocorreram conflitos entre os gran<strong>de</strong>s<br />

proprietários rurais e os gran<strong>de</strong>s comerciantes reinóis nessas eleições Entre os conflitos mais famosos<br />

<strong>de</strong>staca-se o <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Guerra <strong>do</strong>s Mascates, ocorri<strong>do</strong> em Pernambuco.<br />

Huguenotes: Termo <strong>de</strong>preciativo com que os católicos franceses <strong>de</strong>nominavam os protestantes,<br />

especialmente os calvinistas, no século XVI, durante as chama<strong>da</strong>s guerras <strong>de</strong> religião, que<br />

ensangüentaram o reino. Os calvinistas franceses, apesar <strong>da</strong>s perseguições que sofreram, a<strong>do</strong>taram a<br />

<strong>de</strong>nominação para se i<strong>de</strong>ntificarem. A origem <strong>da</strong> palavra é controversa. Para alguns, <strong>de</strong>riva <strong>do</strong> nome <strong>de</strong><br />

Hugo Capeto, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> dinastia <strong>do</strong>s Capetíngios, cujos últimos representantes <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram os


N O TA S H I S T Ó R I C A S | 3 8 1<br />

calvinistas. Para outros, <strong>de</strong>riva <strong>do</strong> alemão Eidgenossen (confe<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s), utiliza<strong>do</strong> para <strong>de</strong>signar os<br />

habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> suíça <strong>de</strong> Genebra, entre os quais se encontravam calvinistas franceses refugia<strong>do</strong>s,<br />

que se rebelaram contra o bispo católico local.<br />

Hospital <strong>do</strong>s Lazáros ou Lazareto: Instituição cria<strong>da</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, como repartição <strong>da</strong> Santa Casa<br />

<strong>de</strong> Misericórdia, em prédio anexo à igreja <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, por iniciativa <strong>do</strong><br />

bispo <strong>do</strong>m Antônio <strong>do</strong> Desterro, que, em 1763, encarregou a Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento <strong>da</strong><br />

Can<strong>de</strong>lária <strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> recolher, socorrer e abrigar os hansenianos. O vice-rei con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Cunha, logo a<br />

seguir, propôs ao governo português que fosse cedi<strong>da</strong> a antiga casa <strong>do</strong>s jesuítas, localiza<strong>da</strong> em uma<br />

colina em São Cristovão, para abrigar o lazareto. Em 1765, uma resolução régia, fun<strong>da</strong> oficialmente o<br />

hospital, cujos estatutos foram aprova<strong>do</strong>s em 1766, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> suas atribuições e entregan<strong>do</strong> a sua<br />

administração à irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária. Em 1815, passou a ser<br />

administra<strong>do</strong> pelo Inten<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Ouro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, nomea<strong>do</strong> seu juiz conserva<strong>do</strong>r e teve sua <strong>de</strong>nominação<br />

altera<strong>da</strong> para Real Hospital <strong>do</strong>s Lázaros. A extinção <strong>do</strong> cargo <strong>de</strong> juiz conserva<strong>do</strong>r transferiu a jurisdição<br />

<strong>de</strong> sua administração para o juiz <strong>da</strong> Prove<strong>do</strong>ria <strong>da</strong>s Capelas e, mais tar<strong>de</strong>, para o juiz <strong>de</strong> direito <strong>da</strong><br />

Primeira Vara Civil. Após o advento <strong>da</strong> República, sua administração passou a ser feita exclusivamente<br />

pela Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento <strong>da</strong> Can<strong>de</strong>lária, que vem manten<strong>do</strong> o hospital sem qualquer<br />

subscrição pública, até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Igreja <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>do</strong>s Pobres: Localiza<strong>da</strong> na rua <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s, foi edifica<strong>da</strong> pela primeira vez<br />

em 1811, em terras foreiras <strong>do</strong> rico comerciante Antônio José <strong>de</strong> Souza e Oliveira, mais conheci<strong>do</strong> pelo<br />

apeli<strong>do</strong> <strong>de</strong> Panela, que a ofereceu à irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo nome e aos pobres, que já não freqüentavam<br />

a igreja <strong>do</strong> convento <strong>do</strong>s Franciscanos, pois não eram bem vistos pelos seus ricos freqüenta<strong>do</strong>res. Em<br />

1828, os fra<strong>de</strong>s capuchinhos foram se abrigar na igreja, mas logo se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>ram com a sua<br />

irman<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois retiram a imagem <strong>do</strong> seu padroeiro <strong>do</strong> altar-mor, substituin<strong>do</strong>-a pela <strong>do</strong> orago <strong>da</strong> sua<br />

or<strong>de</strong>m, S. Félix <strong>de</strong> Cantalice. Essa mu<strong>da</strong>nça foi feita sob os protestos <strong>da</strong> irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo Antonio<br />

<strong>do</strong>s Pobres, que passou a pressionar os capuchinhos a saírem <strong>da</strong> igreja. Finalmente, em 1832, os<br />

capuchinhos se retiraram, cumprin<strong>do</strong> a or<strong>de</strong>m estabeleci<strong>da</strong> por um aviso, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1831,<br />

assina<strong>do</strong> pelo regente Antônio Feijó, passan<strong>do</strong> a administração <strong>da</strong> igreja para a Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo<br />

Antônio <strong>do</strong>s Pobres e N.S. <strong>do</strong>s Prazeres. Por volta <strong>de</strong> 1840, a igreja foi reforma<strong>da</strong>, graças ao empenho<br />

<strong>do</strong> artífice Francisco José <strong>de</strong> Barros. Seu primeiro vigário, o cônego Quintiliano José <strong>do</strong> Amaral, foi<br />

nomea<strong>do</strong> em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1855. Em 1916, foi bastante <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> por um forte temporal e foi totalmente<br />

reconstruí<strong>da</strong>, entre 1940 e 1942, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao gran<strong>de</strong> empenho <strong>de</strong> monsenhor Magaldi, vigário <strong>da</strong> paróquia.<br />

Sua facha<strong>da</strong> é em pó <strong>de</strong> pedra e a igreja é to<strong>da</strong> <strong>de</strong>cora<strong>da</strong> com vitrais que evocam a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> seu padroeiro.<br />

É tradicional na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a distribuição <strong>de</strong> pães bentos, confecciona<strong>do</strong>s pelos membros <strong>da</strong> irman<strong>da</strong><strong>de</strong>, no<br />

dia 13 <strong>de</strong> junho.<br />

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: Cria<strong>do</strong> em 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1838, vincula<strong>do</strong> à Socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Auxilia<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> Indústria Nacional. Instala<strong>do</strong> oficialmente, por 27 sócios fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res, no Museu Nacional,<br />

com os seguintes objetivos: coligir, metodizar, publicar, arquivar os <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> interesse para a<br />

história e a geografia <strong>do</strong> Brasil; difundir conhecimentos <strong>de</strong>ssas duas disciplinas, por meio <strong>do</strong> ensino<br />

público; correspon<strong>de</strong>r-se com associações congêneres <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>; ramificar-se nas províncias <strong>do</strong><br />

Império, para facilitar o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong>s seus fins; publicar a Revista <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico<br />

B r a s i l e i ro. O impera<strong>do</strong>r Pedro II, seu gran<strong>de</strong> protetor, participou <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> quinhentas <strong>da</strong>s suas sessões.<br />

O IHGB representou o esforço <strong>da</strong> elite imperial no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> estabelecer, valorizar e difundir os seus<br />

i<strong>de</strong>ais, ten<strong>do</strong> como presi<strong>de</strong>ntes e membros ilustres personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política e cultural brasileira <strong>da</strong><br />

época. A partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX, organizaram-se diversas seções estaduais <strong>do</strong> Instituto,<br />

agregan<strong>do</strong> historia<strong>do</strong>res, geógrafos e intelectuais importantes <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> região.<br />

I m p rensa Régia: Tipografia oficial, cria<strong>da</strong> no Brasil por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI, em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> editar a coleção <strong>de</strong> leis <strong>do</strong> Brasil, os atos oficiais, <strong>de</strong>cretos, alvarás e provisões régias e o<br />

primeiro jornal oficial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a Gazeta <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Depois <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência, passou a <strong>de</strong>nominarse<br />

Imprensa Nacional e ficou encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> publicar as coleções <strong>de</strong> leis <strong>do</strong> país e as publicações oficiais e,


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<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834, o Diário Oficial. Também editava os atos normativos <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res Executivo e Legislativo.<br />

Inquisição ou Santo Ofício: Tribunal <strong>da</strong> Igreja católica, instituí<strong>do</strong> na Europa no século XIII para<br />

combater as heresias que questionavam os <strong>do</strong>gmas cristãos. Tornou-se uma instituição internacional,<br />

dirigi<strong>da</strong> pelos fra<strong>de</strong>s <strong>do</strong>minicanos, or<strong>de</strong>m religiosa cria<strong>da</strong> especialmente para este fim. Na época<br />

mo<strong>de</strong>rna, a Inquisição ou Tribunal <strong>do</strong> Santo Ofício teve gran<strong>de</strong> prepon<strong>de</strong>rância sobre as monarquias <strong>do</strong>s<br />

países <strong>da</strong> península Ibérica, voltan<strong>do</strong>-se especialmente contra os ju<strong>de</strong>us e os árabes muçulmanos que lá<br />

viviam. Devi<strong>do</strong> a essa prepon<strong>de</strong>rância, tornou-se um instrumento secular importante <strong>da</strong> política<br />

monárquica ibérica, obrigan<strong>do</strong> os ju<strong>de</strong>us e os mouros a se converterem ao catolicismo, perseguin<strong>do</strong>-os,<br />

confiscan<strong>do</strong> os seus bens e, finalmente, conseguin<strong>do</strong> expulsá-los <strong>da</strong> Espanha e <strong>de</strong> Portugal, nos séculos<br />

XV e XVI. Os instrumentos mais usa<strong>do</strong>s pelos inquisi<strong>do</strong>res eram as <strong>de</strong>lações e os atos <strong>de</strong> fé, nos quais<br />

os con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s por heresias ou práticas ju<strong>da</strong>izantes eram queima<strong>do</strong>s vivos em gran<strong>de</strong>s fogueiras,<br />

ergui<strong>da</strong>s em praças públicas. No Brasil colonial, sua atuação foi freqüente, atingin<strong>do</strong> o apogeu no século<br />

XVIII, especialmente no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> perseguiu os cristãos novos, ju<strong>de</strong>us recém- converti<strong>do</strong>s ao<br />

cristianismo.<br />

Intendência Geral <strong>de</strong> Polícia <strong>da</strong> Corte: Cria<strong>da</strong> em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808, encarrega<strong>da</strong> <strong>do</strong> expediente <strong>da</strong><br />

Casa <strong>de</strong> Correção, prisões, hospitais e casas <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>da</strong> inspeção <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> armas, <strong>da</strong> manutenção<br />

<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>da</strong> segurança públicas, <strong>da</strong> fiscalização portuária, <strong>de</strong> espetáculos públicos e <strong>da</strong> prevenção e<br />

repressão <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> vadiagem, latrocínio e homicídio. Mas também atuava como uma prefeitura,<br />

reforman<strong>do</strong> e abrin<strong>do</strong> ruas e estra<strong>da</strong>s, melhoran<strong>do</strong> o fornecimento <strong>de</strong> água à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, fiscalizan<strong>do</strong> as<br />

condições <strong>de</strong> higiene e saneamento <strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>uros públicos, <strong>da</strong>s lojas, oficinas e <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios<br />

particulares urbanos. Em 1825, já extinta a Intendência, foi cria<strong>do</strong> o Corpo <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Militar <strong>da</strong> Polícia,<br />

com as funções <strong>de</strong> fiscalizar o comércio e <strong>de</strong> reprimir levantes, quilombolas e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s secretas. Em<br />

1831, o Corpo <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Militar foi extinto, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> lugar ao Corpo <strong>de</strong> Guar<strong>da</strong>s Municipais Permanentes,<br />

subordina<strong>do</strong> ao chefe <strong>de</strong> Polícia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e ao Ministério <strong>da</strong> Justiça. Em 1832, passou a<br />

<strong>de</strong>nominar-se Polícia <strong>da</strong> Corte, manten<strong>do</strong>-se subordina<strong>da</strong> ao Ministério <strong>da</strong> Justiça. Seu órgão executor<br />

era a Secretaria <strong>de</strong> Polícia, dirigi<strong>da</strong> pelo chefe ou inten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> polícia, cargo que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua origem,<br />

foi exerci<strong>do</strong> por um juiz <strong>de</strong> direito. A partir <strong>de</strong> 1892, transformou-se no Serviço <strong>de</strong> Polícia <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Intendência Municipal: Órgão executivo, cria<strong>do</strong> após a instalação <strong>da</strong> República, encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

administrar o Distrito Fe<strong>de</strong>ral, a partir <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1889. Foi extinto em 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1892, quan<strong>do</strong> o governo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foi regulamenta<strong>do</strong> pela lei orgânica. Até então os chefes <strong>do</strong> governo<br />

municipal eram os presi<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> Intendência Municipal e eram nomea<strong>do</strong>s pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República.<br />

Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>do</strong>s Pobres: Associação religiosa forma<strong>da</strong> em 1808 por <strong>de</strong>votos <strong>de</strong> Santo<br />

Antônio, congrega<strong>do</strong>s em torno <strong>de</strong> sua nova imagem, trazi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Portugal. Recebeu, como <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> rico<br />

capitalista Antônio José <strong>de</strong> Sousa Oliveira, o terreno on<strong>de</strong>, na rua <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s, foi ergui<strong>da</strong>, em 1811, a<br />

igreja <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> ao referi<strong>do</strong> santo, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao povo pobre <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Imparcial, O: Jornal que surgiu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1912, sob a direção <strong>de</strong> José Eduar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong><br />

Soares, como um <strong>do</strong>s mais combativos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, juntamente com o Correio <strong>da</strong> Manhã. Em 1923,<br />

quan<strong>do</strong> foi compra<strong>do</strong> por Henrique Laje e passou a ser dirigi<strong>do</strong> por Mário Vasconcelos, tornou-se um<br />

veículo <strong>de</strong> propagan<strong>da</strong> <strong>do</strong> governo Artur Bernar<strong>de</strong>s.<br />

Jornal <strong>do</strong> Commércio, O: Instala<strong>do</strong> por Pierre Plancher, à rua <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga, 47, em 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1827, aproveitan<strong>do</strong> o espaço cria<strong>do</strong> pelo Diário <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong>dicou-se a divulgar notícias<br />

comerciais – preços, chega<strong>da</strong> e parti<strong>da</strong> <strong>de</strong> navios, informações sobre importação e exportação, anúncios,<br />

notícias locais e <strong>do</strong> exterior. Seus primeiros re<strong>da</strong>tores foram Pierre Plancher, Emil Seignot (que <strong>de</strong>pois<br />

<strong>do</strong> retorno <strong>de</strong> Plancher à França, se tornou seu proprietário), João Francisco Siguad, Júlio César Muzzi,<br />

Francisco <strong>de</strong> Paula Brito e Luís Sebastião Fábregas Guigné. Entre seus colabora<strong>do</strong>res figuraram<br />

Justiniano José <strong>da</strong> Rocha, José Maria <strong>da</strong> Silva Paranhos, o viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, Carlos <strong>de</strong> Laet,


N O TA S H I S T Ó R I C A S | 3 8 3<br />

Francisco Otaviano, José <strong>de</strong> Alencar, Homem <strong>de</strong> Mello, Joaquim Nabuco e Guerra Junqueiro. O próprio<br />

Dom Pedro II escrevia, sob pseudônimo, no jornal e influía em seus editoriais. De 1890 a 1915, foi<br />

dirigi<strong>do</strong> por José Carlos Rodrigues, homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> cultura, que alterou a forma <strong>do</strong> jornal, mas<br />

manteve seu conteú<strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> órgão oficioso <strong>do</strong> governo. Nessa época, era um <strong>do</strong>s mais<br />

importantes jornais <strong>do</strong> país, com gran<strong>de</strong> circulação, li<strong>do</strong> por políticos e empresários. Contava com<br />

colabora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> alto nível, como Rui Barbosa, Alcin<strong>do</strong> Guanabara, viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taunay, José Maria <strong>da</strong><br />

Silva Paranhos Júnior, o barão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Branco, Afonso Celso, entre outros. Em 1º <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1909,<br />

circulou a sua primeira edição vespertina, que durou até 1º <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1922. Felix Pacheco chefiou sua<br />

re<strong>da</strong>ção e, em 1923, assumiu a direção e a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> empresa até 1935, quan<strong>do</strong> faleceu. Suce<strong>de</strong>ulhe<br />

Elmano Cardim, até 1957. E, <strong>de</strong> 1957 até 1959, foi dirigi<strong>do</strong> por Francisco Clementino Santiago<br />

Dantas. A partir <strong>de</strong> 1959, o jornal passou a integrar os Diários e Emissoras Associa<strong>do</strong>s, organização<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por Francisco <strong>de</strong> Assis Chateaubriand Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Mello, jornalista empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r, faleci<strong>do</strong> em<br />

1968, que construiu a mais importante re<strong>de</strong> <strong>de</strong> jornais, rádios e televisões <strong>da</strong> América Latina na época.<br />

Entre 1982 e 1993, o Jornal <strong>do</strong> Commércio esteve sobre a presidência <strong>do</strong> jornalista Austregésilo <strong>de</strong><br />

Athay<strong>de</strong>, também presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras. O jornal passou por gran<strong>de</strong>s<br />

transformações, a partir <strong>de</strong> 1980, para a<strong>da</strong>ptar-se à era <strong>da</strong> informática. É o mais antigo jornal <strong>de</strong><br />

circulação diária ininterrupta <strong>da</strong> América Latina.<br />

Juiz Conserva<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Nação Inglesa: Órgão judicial que foi cria<strong>do</strong> pelo alvará régio, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1808, <strong>do</strong> príncipe regente <strong>do</strong>m João, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> processar, julgar e sentenciar causas que<br />

envolvessem súditos ingleses resi<strong>de</strong>ntes ou <strong>de</strong> passagem pelo Brasil. Esse foro privilegia<strong>do</strong> foi<br />

estabeleci<strong>do</strong> pelos Trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Aliança e Amiza<strong>de</strong> e Comércio e Navegação, assina<strong>do</strong>s entre os governos<br />

português e inglês, em 1810, que estabeleceram o direito <strong>do</strong>s súditos ingleses resi<strong>de</strong>ntes nos <strong>do</strong>mínios<br />

portugueses serem processa<strong>do</strong>s e julga<strong>do</strong>s por um magistra<strong>do</strong> privativo, que teria sobre eles a jurisdição<br />

<strong>de</strong> juiz conserva<strong>do</strong>r (direito <strong>de</strong> extraterritoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>). Foi extinto somente em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> trata<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1827. Em 1861, durante a chama<strong>da</strong> Questão Christie, os ingleses quiseram se prevalecer<br />

<strong>de</strong>sse foro especial para influir na <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong> justiça brasileira, exigin<strong>do</strong> a presença <strong>de</strong> um juiz inglês no<br />

processo. O governo brasileiro, entretanto, se opôs a essa pretensão (ver Questão Christie).<br />

Juízo <strong>do</strong>s Feitos <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>: A origem <strong>do</strong> órgão é a criação <strong>do</strong> cargo <strong>de</strong> procura<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s Câmaras<br />

Municipais, pela lei orgânica <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1828. O procura<strong>do</strong>r era nomea<strong>do</strong> pelas referi<strong>da</strong>s<br />

Câmaras com a atribuição <strong>de</strong> arreca<strong>da</strong>r e aplicar as ren<strong>da</strong>s e multas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s às <strong>de</strong>spesas <strong>da</strong> Câmara,<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>r diante <strong>do</strong>s juizes <strong>de</strong> paz a execução <strong>da</strong>s posturas municipais e a imposição <strong>de</strong> penas aos seus<br />

infratores, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos <strong>da</strong> Câmara perante a Justiça e prestar contas <strong>da</strong>s <strong>de</strong>spesas e receitas<br />

auferi<strong>da</strong>s. A lei orgânica <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1892 <strong>de</strong>terminou que o preparo e o julgamento <strong>de</strong><br />

processos <strong>de</strong> infrações <strong>de</strong> posturas municipais passasse a ser competência <strong>do</strong> juiz <strong>do</strong>s Feitos <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong><br />

Municipal e para isso criou três cargos <strong>de</strong>r procura<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Feitos Municipais, que tinham a<br />

incumbência <strong>de</strong> representar o município em to<strong>da</strong>s as causas judiciais <strong>de</strong> seu interesse. O <strong>de</strong>creto<br />

municipal, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1893, incumbiu os procura<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ste órgão <strong>de</strong> formularem juridicamente<br />

as cláusulas <strong>do</strong>s contratos que fossem firma<strong>do</strong>s nas repartições <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong>. A Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Leis<br />

Fe<strong>de</strong>rais <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1904, estabeleceu que os três procura<strong>do</strong>res, nomea<strong>do</strong>s<br />

pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, representassem o prefeito <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral em juízo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as<br />

causas <strong>de</strong> interesse <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ao Juízo <strong>do</strong>s Feitos <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Municipal competia ain<strong>da</strong><br />

conhecer e julgar, em primeira instância, as causas cíveis em que a Fazen<strong>da</strong> municipal fosse autora ou<br />

ré e fossem relaciona<strong>da</strong>s aos bens municipais, às habilitações <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iros e cessionários <strong>de</strong> quaisquer<br />

cre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Municipal, às <strong>de</strong>sapropriações e justificações <strong>de</strong> serviços remunera<strong>do</strong>s. Ain<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>tinha a jurisdição privativa para os processos e os julgamentos <strong>da</strong>s causas fiscais que tivessem por<br />

objeto a cobrança <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong> ativa <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Juízo <strong>do</strong> Resíduo Eclesiástico: Órgão judicial <strong>de</strong> primeira instância, cria<strong>do</strong> em 22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1676<br />

e regulamenta<strong>do</strong> por lei em 8 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1704. Entre as suas atribuições po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar a<br />

administração <strong>do</strong>s testamentos e codicilos <strong>do</strong>s <strong>de</strong>funtos faleci<strong>do</strong>s na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e seus subúrbios; a execução<br />

e o cumprimento <strong>da</strong>s últimas vonta<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s <strong>de</strong>funtos; o processamento e as sentenças <strong>do</strong>s feitos sobre as


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contas e as causas <strong>do</strong>s testamentos; a organização e a reunião <strong>do</strong>s papéis e certidões <strong>do</strong>s testamenteiros;<br />

o pronunciamento <strong>da</strong>s sentenças e <strong>da</strong>s quitações, ao fim <strong>do</strong> prazo or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelos testa<strong>do</strong>s.<br />

Lei Novíssima: Supõe-se que seja uma referência rara e invulgar à Constituição Política <strong>do</strong> Império <strong>do</strong><br />

Brasil, outorga<strong>da</strong> à nação pelo impera<strong>do</strong>r Pedro I, no dia 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1824. Esta Constituição<br />

estabeleceu como forma <strong>de</strong> governo a monarquia constitucional e representativa, instituiu os quatro<br />

po<strong>de</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> imperial (executivo, legislativo, judiciário e mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r) e um sistema eleitoral<br />

indireto e censitário.<br />

Lei Orgânica <strong>de</strong> 1828: Lei <strong>de</strong> organização <strong>do</strong>s municípios, promulga<strong>da</strong> pela Assembléia Geral <strong>do</strong><br />

Império, em 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1828, que estabeleceu uma drástica redução <strong>da</strong> autonomia administrativa<br />

e política <strong>da</strong>s municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, rompen<strong>do</strong> com a longa tradição ibérica <strong>de</strong> centralizar nos conselhos ou<br />

câmaras municipais as funções executivas, legislativas e judiciárias. Após a promulgação <strong>de</strong>sta lei, as<br />

câmaras municipais se tornaram órgãos meramente administrativos, sem po<strong>de</strong>r exercer qualquer<br />

jurisdição contenciosa. Ain<strong>da</strong> que não tenha instituí<strong>do</strong> um po<strong>de</strong>r Executivo Municipal, manten<strong>do</strong> essa<br />

atribuição com a câmara, essa lei <strong>de</strong>terminou sua a submissão ao rígi<strong>do</strong> controle <strong>do</strong>s conselhos gerais e<br />

<strong>do</strong>s presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> províncias e <strong>do</strong> governo geral. A concepção que estava na fun<strong>da</strong>mentação <strong>de</strong>sta lei<br />

comparava o município, na or<strong>de</strong>m político-administrativa, ao menor, na or<strong>de</strong>m civil, estabelecen<strong>do</strong> uma<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira tutela <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res provinciais e gerais sobre os órgãos municipais. Contu<strong>do</strong>, as funções<br />

administrativas exerci<strong>da</strong>s pelas câmaras municipais eram muito amplas, incluin<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong>s centros<br />

urbanos <strong>do</strong>s municípios, <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, pontes, prisões, mata<strong>do</strong>uros, abastecimento, iluminação pública,<br />

fornecimento <strong>de</strong> água, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos, saneamento, recolhimento <strong>de</strong> loucos, ébrios e animais ferozes<br />

nos logra<strong>do</strong>uros públicos, <strong>de</strong>fesa sanitária animal e vegetal, inspeção <strong>de</strong> escolas primárias, assistência a<br />

menores, hospitais, cemitérios, segurança pública, polícia <strong>de</strong> costumes, etc. Ou seja, as câmaras<br />

municipais podiam <strong>de</strong>liberar sobre os meios <strong>de</strong> promover e manter a or<strong>de</strong>m, a saú<strong>de</strong> e a segurança <strong>do</strong>s<br />

munícipes e garantir a limpeza e a regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> externa <strong>do</strong>s edifícios e logra<strong>do</strong>uros <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Cabia<br />

também às câmaras municipais elaborar as posturas sobre os assuntos <strong>de</strong> sua competência, com vali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> apenas um ano, até serem confirma<strong>da</strong>s pelos conselhos gerais <strong>da</strong>s províncias. Estes órgãos,<br />

entretanto, podiam revogar ou alterar essas posturas. A lei orgânica <strong>de</strong> 1828 regulou a forma <strong>de</strong> eleição<br />

<strong>do</strong>s verea<strong>do</strong>res e estabeleceu as normas <strong>de</strong>stas eleições. E possibilitou que, até mesmo os verea<strong>do</strong>res<br />

eleitos pelas municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>s fossem suspensos <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong>s seus man<strong>da</strong>tos pelos presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

províncias. Em matéria financeira estabeleceu sérias limitações à autonomia municipal, posto que não<br />

especificava a criação <strong>de</strong> nenhum imposto pelas câmaras municipais que possibilitasse à municipali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

auferir receitas financeiras. Menciona apenas a ven<strong>da</strong>, o aforamento, a troca, o arren<strong>da</strong>mento e a<br />

exploração <strong>de</strong> bens e serviços municipais como fontes <strong>de</strong> receitas <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Permitiu apenas a<br />

cobrança <strong>de</strong> multas, no caso <strong>de</strong> violações <strong>da</strong>s posturas, ain<strong>da</strong> que fixasse um limite máximo para essas<br />

multas. Estipulava ain<strong>da</strong> que as transações com bens e serviços <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong>pendiam <strong>da</strong> prévia<br />

autorização <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> província ou <strong>do</strong> ministro <strong>do</strong> Império, no caso <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Portanto, o po<strong>de</strong>r tributário <strong>da</strong>s câmaras municipais foi limita<strong>do</strong> ao <strong>de</strong> propor, aos conselhos<br />

gerais <strong>da</strong>s províncias, os meios <strong>de</strong> aumentar suas ren<strong>da</strong>s e as formas <strong>de</strong> aplicá-las. Com esses parcos<br />

recursos orçamentários, as câmaras <strong>de</strong>veriam realizar suas amplas competências e também remunerar<br />

seus funcionários.<br />

Loja Maçônica Comércio e Artes: A maçonaria é uma organização cujas origens remotas se per<strong>de</strong>m no<br />

tempo. Uma <strong>da</strong>s hipóteses possíveis acerca <strong>de</strong> suas origens, aponta para o seu surgimento nas confrarias<br />

francesas <strong>de</strong> pedreiros durante a I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média. Com o passar <strong>do</strong> tempo, <strong>de</strong>senvolveu ritos e símbolos<br />

esotéricos para diferenciar seus a<strong>de</strong>ptos <strong>do</strong> restante <strong>da</strong> população, transforman<strong>do</strong>-se em uma seita<br />

secreta. A loja é a célula básica <strong>da</strong> maçonaria. Um grupo <strong>de</strong> lojas constitui a gran<strong>de</strong> loja, sob a direção<br />

<strong>de</strong> um grão-mestre. A partir <strong>do</strong> século XVII, a maçonaria se espalhou pela Europa, seguin<strong>do</strong> as rotas <strong>de</strong><br />

comércio e fixan<strong>do</strong>-se nos gran<strong>de</strong>s portos e ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. No século XVIII, se <strong>de</strong>finiu como enti<strong>da</strong><strong>de</strong> política<br />

que visava transformar a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, lutan<strong>do</strong> contra a tirania, os déspotas e os privilégios, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as<br />

idéias liberais e racionalistas <strong>do</strong>s filósofos iluministas. No Brasil, teve influência nos movimentos que<br />

pretendiam a libertação nacional, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> século XVIII. Em 1804, um <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> português <strong>do</strong>


N O T A S H I S T Ó R I C A S | 3 8 5<br />

Gran<strong>de</strong> Oriente português veio ao Brasil para convencer os maçons brasileiros a a<strong>de</strong>rirem a essa gran<strong>de</strong><br />

loja, mas encontrou gran<strong>de</strong>s resistências, pois as lojas brasileiras já estavam liga<strong>da</strong>s ao Gran<strong>de</strong> Oriente<br />

francês, preten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a libertação <strong>do</strong> Brasil e a autonomia <strong>da</strong> maçonaria brasileira. Contu<strong>do</strong>, esse<br />

<strong>de</strong>lega<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>u as lojas Constância e Filantropia, vincula<strong>da</strong>s ao Gran<strong>de</strong> Oriente português. A primeira<br />

loja maçônica regular foi instala<strong>da</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 1808, receben<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Reunião e<br />

se associan<strong>do</strong> ao Gran<strong>de</strong> Oriente <strong>da</strong> França. Em 1815, foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a loja Comércio e Artes, existente até<br />

hoje. Esta loja recebeu como filia<strong>do</strong>s numerosos membros <strong>da</strong> loja Reunião. Após o retorno <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João<br />

VI e <strong>da</strong> Corte para Portugal, a Comércio e Artes teve um papel ativo nos fatos que antece<strong>de</strong>ram a<br />

in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil. O crescimento <strong>de</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s possibilitou que, em maio <strong>de</strong> 1822, essa loja<br />

se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brasse em duas novas: a União e Tranqüili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a Esperança, instituin<strong>do</strong> legalmente o Gran<strong>de</strong><br />

Oriente <strong>do</strong> Brasil. As lojas <strong>do</strong> Gran<strong>de</strong> Oriente e <strong>do</strong> Apostola<strong>do</strong>, <strong>da</strong>s quais Dom Pedro I e os irmãos<br />

Andra<strong>da</strong> e Silva eram membros, participaram ativamente <strong>da</strong>s articulações que culminaram com a<br />

Declaração <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, funcionan<strong>do</strong> quase como um bem organiza<strong>do</strong> parti<strong>do</strong> político.<br />

Mercê Régia: Benefício ou graça concedi<strong>do</strong> por um monarca como recompensa por serviços presta<strong>do</strong>s<br />

por um súdito, que po<strong>de</strong> assumir a forma <strong>de</strong> nomeação para um cargo público, <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> um título<br />

honorífico ou <strong>de</strong> uma con<strong>de</strong>coração.<br />

Mesa <strong>da</strong> Consciência e Or<strong>de</strong>ns: Órgão judiciário <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> português, cria<strong>do</strong> em 1532, encarrega<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> tratar <strong>do</strong>s assuntos eclesiásticos e <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong>s súditos <strong>de</strong>funtos e ausentes. Em 1551,<br />

incorporou os negócios <strong>da</strong>s Or<strong>de</strong>ns Militares, <strong>de</strong> Cristo, <strong>de</strong> Avis e <strong>de</strong> São Tiago. Seus juízes – clérigos<br />

ou civis – podiam julgar quaisquer processos <strong>de</strong> cunho eclesiástico ou civil que envolvessem religiosos<br />

com privilégios <strong>de</strong> foro. Também fornecia as provisões para as nomeações <strong>do</strong>s cargos eclesiásticos,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao direito <strong>do</strong> padroa<strong>do</strong>, e emitia pareceres sobre assuntos relaciona<strong>do</strong>s a estabelecimentos <strong>de</strong><br />

cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, capelas, hospitais e cemitérios. Estabeleci<strong>da</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1808 por<br />

alvará régio, na regência <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João foi extinta pela lei <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1828 e seus papéis foram<br />

transferi<strong>do</strong>s para o Supremo Tribunal <strong>de</strong> Justiça.<br />

Mesa <strong>do</strong> Desembargo <strong>do</strong> Paço: Originalmente funcionou como seção <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong>s Cortes ou Casa<br />

<strong>da</strong> Suplicação. Incumbi<strong>do</strong> <strong>de</strong> resolver as questões judiciais, a expedição <strong>de</strong> graças, mercês e cartas <strong>de</strong><br />

perdão <strong>de</strong> penas. Deliberava sobre petições, confirmava sentenças, perfilhamentos, <strong>do</strong>ações e concedia<br />

cartas <strong>de</strong> privilégios, <strong>de</strong> habilitações e <strong>de</strong> legitimações. Em 1521, transformou-se em Tribunal <strong>do</strong>s<br />

Desembarga<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Paço, agregan<strong>do</strong> às suas funções a revisão <strong>de</strong> processos julga<strong>do</strong>s pela Câmara <strong>do</strong><br />

Cível ou <strong>da</strong> Suplicação. Implanta<strong>da</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1808, com as atribuições<br />

amplia<strong>da</strong>s pelas pertencentes aos Conselhos Ultramarino e <strong>do</strong> Reino. Extinta em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1828, seus papéis foram transferi<strong>do</strong>s para o Supremo Tribunal <strong>de</strong> Justiça.<br />

Ministério <strong>do</strong>s Quarenta Dias: Foi o segun<strong>do</strong> gabinete <strong>da</strong> Regência Trina Permanente (17/06/1831 a<br />

12/10/1835), constituí<strong>do</strong> por Antônio Francisco <strong>de</strong> Paula e Holan<strong>da</strong> Cavalcanti <strong>de</strong> Albuquerque,<br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Albuquerque, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>, que acumulou as pastas <strong>do</strong> Império e <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>; Pedro <strong>de</strong> Araújo<br />

Lima, marquês <strong>de</strong> Olin<strong>da</strong>, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>, ministro <strong>da</strong> Justiça e <strong>do</strong>s Negócios Estrangeiros e Bento Barroso<br />

Pereira, sena<strong>do</strong>r e oficial-general <strong>do</strong> Exército, ministro <strong>da</strong> Marinha e <strong>da</strong> Guerra. Entre as propostas que<br />

esse gabinete apresentou <strong>de</strong>stacam-se a <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> apólices e a <strong>de</strong> proibição <strong>da</strong> concessão <strong>de</strong><br />

sesmarias apresenta<strong>da</strong>s pelo ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, que foram rejeita<strong>da</strong>s pela Comissão <strong>de</strong> Orçamento <strong>da</strong><br />

Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, em 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1832 e o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1832, <strong>de</strong><br />

complementação <strong>do</strong>s artigos <strong>do</strong> Código Criminal, assina<strong>do</strong> pelo ministro <strong>da</strong> Justiça. Esse gabinete<br />

ministerial foi instituí<strong>do</strong> em 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1832 e suprimi<strong>do</strong> em 13 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano, <strong>da</strong>í a<br />

sua <strong>de</strong>nominação.<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa: Or<strong>de</strong>m honorífica brasileira, cria<strong>da</strong> pelo impera<strong>do</strong>r Dom Pedro I, por <strong>de</strong>creto, em 17<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1829, para celebrar o seu consórcio com <strong>do</strong>na Amélia <strong>de</strong> Leuchtenberg, a segun<strong>da</strong><br />

imperatriz <strong>do</strong> país. Destinava-se tanto a civis, como a militares. Era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a or<strong>de</strong>m romântica <strong>da</strong><br />

monarquia e sua insígnia mais eleva<strong>da</strong> era o colar <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos agracia<strong>do</strong>s com o título <strong>de</strong> grãos-cruzes.


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Foi extinta pelo Governo Republicano Provisório, em 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1890.<br />

Or<strong>de</strong>m Régia: Designação <strong>da</strong><strong>da</strong> a lei, <strong>de</strong>creto ou or<strong>de</strong>nação que expresse uma <strong>de</strong>cisão escrita <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

real, no qual é or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> ou <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> uma regra, um regulamento ou uma medi<strong>da</strong> para ser cumpri<strong>da</strong><br />

obrigatoriamente por to<strong>do</strong>s os súditos. Publicação oficial, or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> pelo rei, que contém leis, <strong>de</strong>cretos,<br />

regulamentos, etc. relativos aos negócios <strong>do</strong> rei e <strong>do</strong> reino.<br />

Or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> Reino: Compilação <strong>de</strong> forma clara e metódica <strong>de</strong> leis e atos emana<strong>do</strong>s <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r real,<br />

através <strong>do</strong>s quais, em Portugal e na Espanha, eram promulga<strong>da</strong>s as leis, normas, <strong>de</strong>cisões e outras<br />

medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a regulamentar os mais diferentes assuntos. Eram os códigos oficiais <strong>do</strong> direito<br />

português e espanhol. Em Portugal, são especialmente importantes as Or<strong>de</strong>nações A f o n s i n a s ,<br />

Manuelinas e Filipinas. As Or<strong>de</strong>nações Afonsinas constituem uma coleção ou código sistematiza<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

leis que começaram a serem compila<strong>da</strong>s no reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João I e somente foram publica<strong>da</strong>s no<br />

reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Afonso V, entran<strong>do</strong> em vigor a partir <strong>de</strong> 1446. Estavam dividi<strong>da</strong>s em cinco livros que<br />

tratavam <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> justiça, <strong>da</strong>s leis relativas à jurisdição <strong>da</strong> Igreja, <strong>da</strong> forma <strong>do</strong> processo civil<br />

e penal e <strong>da</strong>s leis <strong>do</strong> direito civil e penal. As Or<strong>de</strong>nações Manuelinas, instituí<strong>da</strong>s pelo rei <strong>do</strong>m Manoel I,<br />

em 1505, foram uma revisão <strong>da</strong>s leis prece<strong>de</strong>ntes e mantiveram a mesma divisão e or<strong>de</strong>nação <strong>da</strong>s<br />

anteriores, ain<strong>da</strong> que lhes tenham feito aditamentos e supressões importantes. Foram publica<strong>da</strong>s entre<br />

1512 e 1521. As Or<strong>de</strong>nações Filipinas reformaram as leis anteriores, acrescentan<strong>do</strong>-lhes aditamentos e<br />

poucas alterações. Sua elaboração foi inicia<strong>da</strong> no reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Felipe I, <strong>de</strong> Portugal. Publica<strong>da</strong>s e<br />

promulga<strong>da</strong>s em 1603, como uma recompilação sistematiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s anteriores. Foram confirma<strong>da</strong>s em<br />

1643 e constituíram o fun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> direito civil português até a promulgação <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Processo<br />

Civil.<br />

Ouvi<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> Comarca: Órgão cria<strong>do</strong> em 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1534. Suas atribuições constam em um órgão<br />

específico, a Junta Territorial <strong>de</strong> Mineração, que <strong>de</strong>via ser instala<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> comarca ou município on<strong>de</strong><br />

houvesse exploração <strong>de</strong> minas. As funções <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> comarca, cargo provi<strong>do</strong> pelo rei, eram:<br />

pronunciar e julgar <strong>de</strong>núncias encaminha<strong>da</strong>s pelos fiscais nos impedimentos <strong>do</strong>s inten<strong>de</strong>ntes; promover<br />

<strong>de</strong>vassas e inquéritos na ausência <strong>do</strong> inten<strong>de</strong>nte; aprovar os indica<strong>do</strong>s aos cargos <strong>de</strong> fiscal <strong>da</strong>s<br />

intendências <strong>do</strong> ouro; man<strong>da</strong>r abrir correições e revisar as aferições <strong>de</strong> balanças, pesos e medi<strong>da</strong>s nas<br />

comarcas; abrir processos, na sua área <strong>de</strong> jurisdição, contra capitães-mores e oficiais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nanças<br />

suspeitos <strong>de</strong> transgressões, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> apelação e agravo ao governa<strong>do</strong>r-geral.<br />

Paço Municipal: O primeiro prédio <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a abrigar o Paço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foi autoriza<strong>do</strong> a ser construí<strong>do</strong><br />

em 1816, porém a insuficiência <strong>de</strong> recursos retar<strong>do</strong>u o início <strong>da</strong> obra, que somente foi inaugura<strong>da</strong> em 12<br />

<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1825. O Paço <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong> se localizou no campo <strong>de</strong> Santana, entre as ruas <strong>do</strong> Sabão<br />

e <strong>de</strong> São Pedro e tinha apenas <strong>do</strong>is pavimentos. Em 1875, os verea<strong>do</strong>res <strong>de</strong>cidiram <strong>de</strong>rrubar esse prédio,<br />

que já não comportava as suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e construírem um novo no mesmo local. Em 1876, iniciouse<br />

a construção <strong>do</strong> novo paço, sob o projeto <strong>do</strong> engenheiro José <strong>de</strong> Souza Monteiro. Foi inaugura<strong>do</strong>, com<br />

gran<strong>de</strong>s soleni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1882, às quais compareceram o impera<strong>do</strong>r Pedro II e altas<br />

autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s governamentais. Após o advento <strong>da</strong> República, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> lei orgânica <strong>de</strong> 1892, o paço<br />

passou a ser a se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Intendência Municipal e, a partir <strong>de</strong> 1895, <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

reforma<strong>do</strong> durante as gestões <strong>do</strong>s prefeitos Francisco Pereira Passos (1903/1906) e Antônio Pra<strong>do</strong> Júnior<br />

(1926/1930). Em 1945, foi <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> pelo prefeito Henrique Dodsworth (1937/1945), para a abertura <strong>da</strong><br />

aveni<strong>da</strong> Presi<strong>de</strong>nte Vargas. Atualmente a <strong>Prefeitura</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> está sedia<strong>da</strong> no edifício<br />

<strong>do</strong> Centro Administrativo São Sebastião, na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova e no Palácio <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em Botafogo.<br />

Padres <strong>da</strong> Companhia: Referência aos jesuítas. Ver Companhia <strong>de</strong> Jesus.<br />

Palácio Grandmasson: Palacete construí<strong>do</strong> na faixa litorânea <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> Botafogo, na belle époque<br />

carioca, <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> empresário industrial Emílio Grandmasson, um <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res <strong>do</strong> A u t o m ó v e l<br />

Clube <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1907 e sogro <strong>do</strong> primeiro-ministro <strong>da</strong> Aeronáutica, Salga<strong>do</strong> Filho.<br />

Plano <strong>de</strong> Melhoramentos <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>: Política <strong>de</strong> urbanização <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> empreendi<strong>da</strong> pelo<br />

governo real português, após a instalação <strong>da</strong> Corte na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Intendência Geral <strong>de</strong> Polícia, na época<br />

chefia<strong>da</strong> por Paulo Fernan<strong>de</strong>s Viana, foi encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> realizar várias obras públicas visan<strong>do</strong> a<strong>da</strong>ptar a


N O T A S H I S T Ó R I C A S | 3 8 7<br />

urbe às suas novas funções <strong>de</strong> se<strong>de</strong> <strong>da</strong> monarquia lusitana. Esta política <strong>de</strong> melhoramentos urbanos<br />

concentrou-se em três pontos interliga<strong>do</strong>s: o aumento <strong>do</strong> nº <strong>de</strong> habitações urbanas, o incentivo ao<br />

aterramento <strong>de</strong> locais pantanosos e o estímulo à edificação <strong>de</strong> prédios assobra<strong>da</strong><strong>do</strong>s, ao mesmo tempo<br />

que procurava impedir a construção <strong>de</strong> casas térreas. Preten<strong>de</strong>u mo<strong>de</strong>rnizar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, atualizan<strong>do</strong> o<br />

urbanismo pragmático a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelos seus habitantes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fun<strong>da</strong>ção, e que estabelecera uma<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> espaço que acompanhava o traça<strong>do</strong> <strong>de</strong> morros e outeiros, contornan<strong>do</strong> charcos,<br />

pantanais e lagoas, <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>. O Plano <strong>de</strong> Melhoramentos preten<strong>de</strong>u ampliar o espaço<br />

urbano e estabelecer melhores comunicações entre a área central, on<strong>de</strong> se localizava o Paço Real, e a<br />

área <strong>de</strong> São Cristovão, on<strong>de</strong> se localizava o Paço <strong>da</strong> Quinta <strong>da</strong> Boa Vista. Através <strong>do</strong> aterramento <strong>do</strong>s<br />

pântanos <strong>do</strong> mangal <strong>de</strong> São Diogo, área <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aterra<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova, facilitou-se<br />

essa ligação reforman<strong>do</strong> a estra<strong>da</strong> que o atravessava, comunican<strong>do</strong> o centro urbano com os arre<strong>do</strong>res e<br />

favorecen<strong>do</strong> o início <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um novo bairro. Além disto, preten<strong>de</strong>u <strong>da</strong>r um aspecto mais<br />

europeu à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, proibin<strong>do</strong> a permanência <strong>de</strong> gelosias nas janelas resi<strong>de</strong>nciais e alargan<strong>do</strong>, alinhan<strong>do</strong> e<br />

calçan<strong>do</strong> novas ruas e estra<strong>da</strong>s. Também fizeram parte <strong>de</strong>ste plano a construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong> Valongo e a<br />

edificação <strong>de</strong> quatro quartéis para as tropas reais.<br />

Praça <strong>do</strong>s Ausentes: Hasta pública on<strong>de</strong> se realizava o leilão e a arrematação <strong>do</strong>s bens <strong>do</strong>s ausentes,<br />

isto é, <strong>do</strong>s indivíduos <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong>s que eram reconheci<strong>do</strong>s legalmente como tais, por sentença judicial.<br />

Provisão Régia: Documento pelo qual o monarca conferia mercês, cargos, e digni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, expedia ofícios<br />

e alvarás, autorizava o exercício <strong>de</strong> uma profissão ou <strong>de</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e emitia instruções e or<strong>de</strong>ns.<br />

Questão Christie: <strong>Fatos</strong> político-diplomáticos ocorri<strong>do</strong>s entre 1860 e 1862, envolven<strong>do</strong> os governos<br />

brasileiro e britânico. O contexto histórico <strong>de</strong>sses episódios, marca<strong>do</strong>s pela proeminência inglesa nas<br />

relações entre os <strong>do</strong>is países, possibilitou que, diante <strong>de</strong> vários inci<strong>de</strong>ntes, envolven<strong>do</strong> súditos <strong>da</strong>s duas<br />

nações, o embaixa<strong>do</strong>r inglês no Brasil, William Douglas Christie, radicalizasse suas posições,<br />

provocan<strong>do</strong> um sério conflito diplomático. O primeiro inci<strong>de</strong>nte aconteceu em 1860, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is<br />

marinheiros ingleses assassinaram um funcionário <strong>da</strong> alfân<strong>de</strong>ga brasileira. O crime ficou impune e os<br />

criminosos foram acoberta<strong>do</strong>s pelo embaixa<strong>do</strong>r inglês, que se prevaleceu <strong>do</strong> direito <strong>de</strong><br />

extraterritoriali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s súditos ingleses. O segun<strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte relaciona-se com o naufrágio <strong>de</strong> um<br />

cargueiro britânico, nas costas <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, ocasião em que o seu carregamento foi saquea<strong>do</strong>.<br />

Por fim, em 1862, três oficiais ingleses <strong>de</strong>sacataram autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais. Presos em uma <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong><br />

polícia, somente foram libera<strong>do</strong>s, após a intervenção <strong>do</strong> embaixa<strong>do</strong>r Christie, que exigiu, então, o<br />

pagamento <strong>de</strong> vultosa in<strong>de</strong>nização pelo governo brasileiro, alegan<strong>do</strong> os prejuízos que o seu país teria<br />

sofri<strong>do</strong> nesses inci<strong>de</strong>ntes. Além disso, requereu, ain<strong>da</strong>, um pedi<strong>do</strong> formal <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas <strong>do</strong> governo<br />

brasileiro e a punição <strong>do</strong>s oficiais nacionais que haviam <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> os militares britânicos. Diante <strong>da</strong> recusa<br />

<strong>do</strong> governo brasileiro em aten<strong>de</strong>r tais <strong>de</strong>scabi<strong>da</strong>s exigências, ameaçou bloquear o porto <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> com a esquadra inglesa. Diante <strong>de</strong> tais fatos, o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas<br />

com a Inglaterra e solicitou arbitragem internacional para resolver o contencioso. O rei Leopol<strong>do</strong> II <strong>da</strong><br />

Bélgica, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> árbitro, <strong>de</strong>u ganho <strong>de</strong> causa ao governo brasileiro, que, no entanto, pagou uma<br />

in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong> 3.200 libras esterlinas ao governo britânico. As relações diplomáticas entre os <strong>do</strong>is países<br />

somente foram reata<strong>da</strong>s em 1865, já durante a Guerra <strong>da</strong> Tríplice Aliança contra a República <strong>do</strong><br />

Paraguai.<br />

Real Junta <strong>de</strong> Comércio: Órgão cria<strong>do</strong> em Portugal pelo rei <strong>do</strong>m José I, em 1755, para orientar as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas <strong>do</strong> reino e <strong>de</strong> suas colônias. Em 1788, foi eleva<strong>do</strong> à categoria <strong>de</strong> tribunal,<br />

passan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nominar-se Real Junta <strong>de</strong> Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, com po<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong>liberativos sobre as iniciativas toma<strong>da</strong>s nesses quatro setores <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas. Instala<strong>do</strong> no<br />

Brasil em 1808, recebeu as funções <strong>da</strong> então extinta Mesa <strong>da</strong> Inspeção, órgão com atribuições fiscais e<br />

técnicas, relativas ao controle <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> comercialização <strong>do</strong> açúcar e <strong>do</strong> tabaco. A Real Junta <strong>do</strong><br />

Comércio tinha amplas atribuições, que abrangiam falências comerciais, consula<strong>do</strong>s comerciais e aulas<br />

<strong>de</strong> comércio. Foi extinta em 1850.


3 8 8 | T E R R A S E FAT O S<br />

Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Órgão cria<strong>do</strong> em 25 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1834, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

Recebe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong>s Ren<strong>da</strong>s <strong>do</strong> município Neutro <strong>da</strong> Corte. Suas atribuições eram a fiscalização e a<br />

arreca<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s provenientes <strong>do</strong>s produtos <strong>do</strong>s bens municipais, <strong>da</strong>s taxas <strong>do</strong>s escravos, <strong>da</strong><br />

cobrança <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> ativa <strong>do</strong> município, <strong>do</strong>s impostos sobre estabelecimentos comerciais e sobre os meios<br />

<strong>de</strong> transporte. Os escrivães e os coletores <strong>da</strong> Décima Urbana e <strong>da</strong> Coletoria <strong>da</strong>s Carnes Ver<strong>de</strong>s estavam<br />

subordina<strong>do</strong>s à Recebe<strong>do</strong>ria. Extinta em 1891, foi, entretanto, restabeleci<strong>da</strong> em 1892, como Recebe<strong>do</strong>ria<br />

<strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral e, em 1909, passou a ser subordina<strong>da</strong> à Diretoria <strong>da</strong> Receita Pública <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, assumin<strong>do</strong>, entre outras funções, a cobrança <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s municipais, a organização <strong>de</strong><br />

estatísticas, balanços e orçamentos e o pagamento <strong>da</strong>s restituições <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> município.<br />

Regimentos Régios: Denominação <strong>da</strong><strong>da</strong> aos títulos <strong>de</strong> nomeação <strong>do</strong>s ouvi<strong>do</strong>res pelos reis <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> a<br />

ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s nomea<strong>do</strong>s, os po<strong>de</strong>res e a alça<strong>da</strong> que lhes competiam.<br />

Registros <strong>de</strong> Licenças <strong>da</strong> Câmara Municipal: Livros instituí<strong>do</strong>s por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou interesse <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

público, no caso a Câmara <strong>de</strong> Verea<strong>do</strong>res, nos quais eram anota<strong>do</strong>s por escrito os fatos que aconteceram<br />

para que pu<strong>de</strong>ssem ser mostra<strong>do</strong>s em qualquer tempo. Nos livros <strong>de</strong> registros, se faziam os assentos a<br />

respeito <strong>de</strong> concessões <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong> aforamentos e <strong>de</strong> alvarás para o estabelecimento <strong>de</strong> ofícios e <strong>de</strong><br />

lojas comerciais e se anotavam, nos próprios assentos originais, as modificações ou alterações que<br />

podiam surgir sobre os fatos primários.<br />

Repartição Geral <strong>do</strong>s Correios e Telégrafos: Órgão público encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> centralizar os serviços<br />

postais e telegráficos <strong>do</strong> país. Depois <strong>do</strong> advento <strong>da</strong> República, foi instala<strong>do</strong> no prédio <strong>do</strong> antigo Paço<br />

Imperial, localiza<strong>do</strong> na praça Quinze <strong>de</strong> Novembro, on<strong>de</strong> funcionou até mea<strong>do</strong>s <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980. Esse<br />

prédio era a antiga Casa <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res, adquiri<strong>do</strong> pela Coroa portuguesa em 1698. A partir <strong>de</strong> 1808<br />

tornou-se Paço Real e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1822, Paço Imperial. Em 1743, o governa<strong>do</strong>r Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>nou a reconstrução <strong>de</strong>sse prédio, com frente para o mar, ocupan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a lateral direita <strong>do</strong> largo <strong>do</strong><br />

Carmo, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se até o alinhamento <strong>da</strong>s ruas Direita, atual Primeiro <strong>de</strong> Março, e <strong>da</strong> Misericórdia.<br />

Essa obra foi realiza<strong>da</strong> sob a direção <strong>do</strong> briga<strong>de</strong>iro Alpoim. Em 1763, após a transferência <strong>da</strong> capital <strong>da</strong><br />

colônia para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a Casa <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res foi eleva<strong>da</strong> à categoria <strong>de</strong> Paço <strong>do</strong>s<br />

Governa<strong>do</strong>res e novamente reforma<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong>í, o logra<strong>do</strong>uro on<strong>de</strong> ele se localiza passou a ser<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> largo <strong>do</strong> Paço.<br />

Revista <strong>da</strong> Semana: Periódico fun<strong>da</strong><strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1901, por Álvaro <strong>de</strong> Tefé,<br />

com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque e <strong>de</strong> Raul Pe<strong>de</strong>rneiras, apareceu como suplemento ilustra<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Jornal <strong>do</strong> Brasil, que, em segui<strong>da</strong>, passou a ser seu proprietário. Em 1915, foi vendi<strong>da</strong> a Carlos<br />

Malheiros Dias, Aureliano Macha<strong>do</strong> e Artur Brandão. Exerceu um papel pioneiro, inauguran<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> os méto<strong>do</strong>s fotoquímicos – o fotozinco e a fotogravura. Deu cobertura, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>svincular <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil, principalmente às atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais, políticas e culturais, tornan<strong>do</strong>-se<br />

leitura agradável e elegante, com ilustrações <strong>de</strong> Raul Bambino, Amaro <strong>do</strong> Amaral e Luís Peixoto.<br />

Disputava a preferência <strong>do</strong> público com O Malho, que surgiu em 1902, com a Kosmos, em 1904, com o<br />

Fon-fon, em 1907 e com A Careta, em 1908. A partir <strong>de</strong> 1950, para tentar a<strong>da</strong>ptar-se a uma nova fase <strong>da</strong><br />

imprensa nacional, assumiu um caráter sensacionalista, mas <strong>de</strong>sapareceu em 1959.<br />

Revista Popular: Periódico mensal que circulou no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, entre 1859 e 1862, edita<strong>do</strong> por<br />

Garnier, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o gran<strong>de</strong> editor <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX. Foi uma <strong>da</strong>s publicações mais<br />

conceitua<strong>da</strong>s <strong>da</strong> época, contan<strong>do</strong> com a colaboração <strong>de</strong> Gonçalves Dias, Joaquim Manuel <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>,<br />

Porto Alegre, Justiniano <strong>da</strong> Rocha, Alexandre Herculano e outros intelectuais. Na fase <strong>de</strong> pre<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong><br />

imprensa política, não havia espaço nos jornais para as letras, que ficaram relega<strong>da</strong>s às revistas e jornais<br />

literários, na sua maioria, <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> efêmera. Quan<strong>do</strong> a imprensa política entrou em <strong>de</strong>clínio, começou a<br />

fundir-se com a literária. É a imprensa <strong>do</strong> romantismo. A Revista Popular trazia figurinos intercala<strong>do</strong>s<br />

no texto e algumas estampas que eram impressas na França e remeti<strong>da</strong>s para o seu editor publicar.<br />

Santo Ofício: Ver Inquisição.<br />

Sebastianopólis: Neologismo referente à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em homenagem ao<br />

seu padroeiro.


N O TA S H I S T Ó R I C A S | 3 8 9<br />

Secretaria <strong>do</strong> Reino: Órgão <strong>da</strong> monarquia portuguesa, estabeleci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 1808, com a<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Secretária <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Negócios <strong>do</strong> Reino. Em 1821, foi <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> em duas<br />

secretarias: a <strong>do</strong> Interior e a <strong>da</strong> Justiça. A primeira ficou encarrega<strong>da</strong> <strong>do</strong>s negócios <strong>do</strong> comércio, <strong>da</strong><br />

agricultura e <strong>da</strong>s obras públicas, bem como <strong>do</strong>s relativos à indústria, aos estabelecimentos pios,<br />

instrução e saú<strong>de</strong>. Em 1891, as pastas <strong>da</strong> Justiça e <strong>do</strong> Interior voltaram a se reunir. Em 1930, o Ministério<br />

<strong>da</strong> Justiça e <strong>do</strong> Interior per<strong>de</strong>u as atribuições referentes à saú<strong>de</strong>, com a criação <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong><br />

Educação e Saú<strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong> 1957, passou a constituir o Ministério <strong>da</strong> Justiça e Interiores.<br />

Século <strong>da</strong>s Luzes: Denominação historicamente <strong>da</strong><strong>da</strong> ao século XVIII, quan<strong>do</strong> na Europa,<br />

especialmente na França, <strong>de</strong>senvolveu-se o Iluminismo ou Ilustração, um amplo movimento intelectual,<br />

basea<strong>do</strong> na crença <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> razão para resolver os problemas sociais, políticos e econômicos. Os<br />

filósofos <strong>de</strong>sse século acreditavam que a razão era a luz que iluminava os caminhos <strong>do</strong> homem, rumo à<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao progresso. Daí, o nome <strong>do</strong> século e <strong>do</strong> próprio movimento. A principal expressão política<br />

<strong>do</strong> Iluminismo foi a Revolução Francesa (1789). Restier Gonçalves atribuiu essa <strong>de</strong>nominação ao século<br />

<strong>de</strong>zenove.<br />

Sena<strong>do</strong> <strong>da</strong> Câmara: Título especial que foi conferi<strong>do</strong> à Câmara Municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

através <strong>de</strong> uma provisão régia, em 1757, durante o governo <strong>de</strong> Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> (1733/1763).<br />

Era um órgão que <strong>de</strong>sempenhava funções administrativas, legislativas, judiciais, fazendárias e <strong>de</strong><br />

polícia. Sua jurisdição não se limitava à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se por to<strong>do</strong> o termo, o território municipal.<br />

Tinha um caráter local, mas se integrava ao conjunto <strong>da</strong> administração geral <strong>da</strong> colônia. Por um la<strong>do</strong>,<br />

era um órgão <strong>de</strong> representação <strong>da</strong> população <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas, por outro la<strong>do</strong>, estava subordina<strong>do</strong> ao<br />

governa<strong>do</strong>r-geral ou ao vice-rei, atuan<strong>do</strong> como instrumento executivo <strong>da</strong>s suas <strong>de</strong>cisões. Era composto<br />

por um juiz presi<strong>de</strong>nte, três verea<strong>do</strong>res e um procura<strong>do</strong>r e era regi<strong>do</strong> pelas leis metropolitanas: as<br />

Or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> Reino. No princípio <strong>do</strong> século XIX, com a transferência <strong>da</strong> corte portuguesa para o<br />

Brasil, per<strong>de</strong>u gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua autonomia administrativa e política, já então bastante limita<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o governo <strong>do</strong> vice-rei con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>. Por ocasião <strong>do</strong>s acontecimentos que prece<strong>de</strong>ram a Declaração<br />

<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, voltou a ter expressão política. Em janeiro <strong>de</strong> 1830, começou a funcionar na ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> a sua sucessora, a Câmara Municipal <strong>da</strong> corte.<br />

Serviço <strong>de</strong> Iluminação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Implanta<strong>do</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo empresário Irineu Evangelista <strong>de</strong><br />

Souza, o barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá. Em 1851, o empresário ganhou a concessão pública, mas somente<br />

em 1854 sua empresa, a <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> Gaz Companhy Limited começou a operar, garantin<strong>do</strong> a<br />

iluminação a gás <strong>de</strong> ruas, praças e <strong>do</strong>micílios <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em 1904, durante a gestão <strong>do</strong> prefeito<br />

Francisco Pereira Passos, foi estabeleci<strong>da</strong> a <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> Light and Power, empresa fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por um<br />

grupo <strong>de</strong> capitalistas cana<strong>de</strong>nses, com o objetivo <strong>de</strong> fornecer iluminação elétrica para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A<br />

empresa foi inaugura<strong>da</strong> em 1907 e sua se<strong>de</strong> se instalou no prédio construí<strong>do</strong>, em 1911, na rua Larga <strong>de</strong><br />

São Joaquim, atual aveni<strong>da</strong> Marechal Floriano, on<strong>de</strong> até hoje está funcionan<strong>do</strong>.<br />

Silogeu: Termo proveniente <strong>do</strong> grego que significa local <strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> associações literárias e<br />

científicas. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> oitocentista foi a <strong>de</strong>nominação <strong>da</strong><strong>da</strong> ao prédio <strong>do</strong> IHGB, <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> alargamento e embelezamento <strong>do</strong> largo <strong>da</strong> Lapa.<br />

Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amante <strong>da</strong> Instrução: Instituí<strong>da</strong> como socie<strong>da</strong><strong>de</strong> benemérita em 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1829, por<br />

21 sócios com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Jovial e Instrutiva. Reorganiza<strong>da</strong>, em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1831,<br />

alterou a sua <strong>de</strong>nominação para Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amante <strong>da</strong> Instrução. Em 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1840, seus estatutos<br />

foram aprova<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> as suas finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> promover e proteger a instrução <strong>da</strong>s classes<br />

sociais mais <strong>de</strong>sfavoreci<strong>da</strong>s. Seus objetivos eram manter, educar, instruir e cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> órfãs <strong>de</strong>svali<strong>da</strong>s em<br />

um estabelecimento <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Asilo <strong>da</strong>s Órfãs <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amante <strong>da</strong> Instrução, um internato<br />

construí<strong>do</strong> com <strong>do</strong>nativos e fun<strong>do</strong>s próprios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nesse internato era ministra<strong>do</strong> um curso,<br />

dividi<strong>do</strong> em quatro anos e que constava <strong>de</strong> diversas disciplinas, como português, matemática, história,<br />

geografia, <strong>de</strong>senho, francês, música e trabalhos manuais. Ao seu final, as alunas eram encaminha<strong>da</strong>s<br />

para um emprego. Além <strong>do</strong> internato, a SAI manteve também um externato, on<strong>de</strong> era ministra<strong>do</strong> um


3 9 0 | T E R R A S E FAT O S<br />

curso primário para meninas pobres. O asilo, <strong>de</strong> início, se localizou na rua Barão <strong>de</strong> São Felix,<br />

transferin<strong>do</strong>-se, <strong>de</strong>pois, para rua Ipiranga, em prédio adquiri<strong>do</strong> em 1876. A partir <strong>de</strong> 1918, passou a se<br />

<strong>de</strong>nominar Instituto João Alves Afonso, em homenagem a esse seu gran<strong>de</strong> benemérito.<br />

Temiminós: Designação <strong>da</strong><strong>da</strong> ao grupo indígena, já extinto, que habitava o Sul <strong>do</strong> atual esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Espírito Santo, o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e o vale <strong>do</strong> Paranapanema, em São Paulo. No século XVI, aliaram-se<br />

aos portugueses contra os franceses e os tamoios, confe<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, durante a Guerra <strong>do</strong>s<br />

Tamoios e a luta pelo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Tobixara ou Tubixaba: O mesmo que morubixaba, muruxaua ou tuxaua. O chefe temporal <strong>da</strong>s tribos<br />

indígenas brasileiras.<br />

Tombo Municipal: Repartição pública encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> realizar e manter o inventário <strong>de</strong> bens, terrenos<br />

e imóveis <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, através <strong>da</strong> sua medição e tombamento. O primeiro inventário municipal<br />

foi instituí<strong>do</strong> pela Lei Orgânica <strong>de</strong> 1828, estabelecen<strong>do</strong> a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Câmara Municipal sobre os<br />

terrenos que a mesma possuía <strong>de</strong>ntro e fora <strong>do</strong>s limites <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. O tombamento<br />

<strong>de</strong>ssas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s foi feito com base na organização e na compilação <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos e títulos <strong>do</strong><br />

Arquivo <strong>da</strong> Câmara, <strong>da</strong> Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> município e <strong>do</strong>s cartórios <strong>do</strong>s quatro tabeliães <strong>da</strong> corte, cujos<br />

livros foram consulta<strong>do</strong>s para que fosse estabeleci<strong>da</strong> a divisão <strong>do</strong>s terrenos e aforamentos pertencentes<br />

à Câmara.<br />

Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Iperoig, Iperoígue ou Iperoí: Convenção <strong>de</strong> paz estabeleci<strong>da</strong> pelos jesuítas Manoel <strong>da</strong><br />

Nóbrega e José <strong>de</strong> Anchieta, no local on<strong>de</strong>, no século XVI, havia a al<strong>de</strong>ia <strong>do</strong>s índios tamoios <strong>do</strong> mesmo<br />

nome, numa praia <strong>do</strong> litoral <strong>de</strong> Ubatuba, São Paulo. Este trata<strong>do</strong> estabeleceu uma trégua na luta entre os<br />

tamoios e os colonos portugueses, por ocasião <strong>da</strong> invasão <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pelos franceses, alia<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong>queles índios que estavam confe<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, então, contra os portugueses. Os <strong>do</strong>is jesuítas permaneceram<br />

juntos um perío<strong>do</strong> na al<strong>de</strong>ia, em negociações e, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> parti<strong>da</strong> <strong>de</strong> Nóbrega para São Vicente, Anchieta<br />

permaneceu como refém <strong>do</strong>s tamoios, aproveitan<strong>do</strong> para compor o seu famoso poema em latim à Virgem<br />

Maria, no qual <strong>de</strong>nunciou o rompimento <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> pelos colonos portugueses.<br />

Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paz, Aliança e Amiza<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1810: É um <strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong>siguais assina<strong>do</strong>s pelos<br />

representantes <strong>do</strong> governo inglês, Lord Strangford e <strong>do</strong> governo português, Rodrigo <strong>de</strong> Souza Coutinho,<br />

quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> transferência <strong>da</strong> Corte para o Brasil. Consoli<strong>do</strong>u a prepon<strong>de</strong>rância inglesa sobre o império<br />

português, pois ratificou e ampliou as vantagens estabeleci<strong>da</strong>s pelo acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1809.<br />

De acor<strong>do</strong> com os seus principais artigos, os <strong>do</strong>is reinos se apoiariam mutuamente, sen<strong>do</strong> que os ingleses<br />

ratificaram o reconhecimento <strong>da</strong> dinastia <strong>de</strong> Bragança como legítima governante <strong>de</strong> Portugal e apoiaram<br />

a invasão portuguesa <strong>da</strong> Guiana Francesa, em conseqüência <strong>da</strong> <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra <strong>do</strong>s franceses.<br />

Tribunal <strong>da</strong> Relação: O primeiro tribunal <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> instância <strong>do</strong> Brasil foi cria<strong>do</strong> por regimento régio<br />

em 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1609, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Relação <strong>do</strong> Brasil, se instalan<strong>do</strong> na Bahia. Por falta <strong>de</strong><br />

recursos financeiros <strong>da</strong> Coroa, foi extinto em 1626. Enquanto existiu, foi a instância judicial máxima <strong>da</strong><br />

colônia, subordinan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os funcionários judiciais e ten<strong>do</strong> como atribuições fiscalizar, julgar e punir<br />

os <strong>de</strong>scumprimentos <strong>da</strong> legislação vigente, aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s judiciais <strong>da</strong> população, emitir alvarás,<br />

inspecionar a prática <strong>da</strong> justiça e aplicar a suspensão <strong>de</strong> salários <strong>de</strong> funcionários faltosos. Foi<br />

restabeleci<strong>do</strong> pela lei <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1652. O Tribunal <strong>da</strong> Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> foi cria<strong>do</strong><br />

por regimento <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1751, durante o governo <strong>de</strong> Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (1733/1763),<br />

com as mesmas atribuições <strong>da</strong>quele instala<strong>do</strong> na Bahia, visan<strong>do</strong> aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população<br />

crescente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> capitânia era o presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Relação. O pessoal era<br />

constituí<strong>do</strong> por um chanceler, cinco <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>res <strong>de</strong> agravos, um ouvi<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong> cível, um ouvi<strong>do</strong>r<br />

geral <strong>do</strong> crime, um juiz <strong>do</strong>s feitos <strong>da</strong> Coroa e <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, um procura<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Coroa e <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, um<br />

promotor <strong>de</strong> justiça, um capelão, um guar<strong>da</strong>-mor, <strong>do</strong>is guar<strong>da</strong>-menores e <strong>do</strong>is escrivães <strong>de</strong> apelações. As<br />

reuniões <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>res se iniciavam após a celebração <strong>de</strong> uma missa pelo seu capelão. O alvará


N O TA S H I S T Ó R I C A S | 3 9 1<br />

<strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808 alterou a <strong>de</strong>nominação <strong>da</strong> Relação <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> para Casa <strong>da</strong> Suplicação <strong>do</strong><br />

Brasil, elevou-a a categoria <strong>de</strong> um tribunal superior <strong>de</strong> justiça para o qual eram encaminha<strong>do</strong>s os pleitos<br />

finais em última instância, não caben<strong>do</strong> recursos às sentenças que proferisse, a não ser a revista. Seus<br />

ministros <strong>de</strong>tinham a mesma alça<strong>da</strong> <strong>do</strong>s <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Suplicação <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Venerável Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>do</strong> Monte <strong>do</strong> Carmo: Associação religiosa, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no convento <strong>do</strong>s<br />

carmelitas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1648, na atual praça Quinze <strong>de</strong> Novembro.<br />

Nessa ocasião, a sua primeira mesa administrativa foi eleita, sen<strong>do</strong> composta por uma prove<strong>do</strong>ria, uma<br />

secretaria e uma tesouraria. Realizavam seus cultos na igreja <strong>do</strong> convento <strong>do</strong>s carmelitas, que funcionou,<br />

até 1976, como catedral metropolitana. Em 1661, o prior propôs a construção <strong>de</strong> uma capela própria para<br />

a congregação, no terreno ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Sé. A nova capela foi concluí<strong>da</strong> em 1669 e a Or<strong>de</strong>m nela passou a<br />

realizar seus ofícios religiosos. Em 1749, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao enriquecimento e crescimento <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, foi<br />

proposta a construção <strong>de</strong> uma igreja maior, <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à N.S. <strong>do</strong> Monte <strong>do</strong> Carmo. A sua construção,<br />

porém, começou em 1755 e somente foi concluí<strong>da</strong> em 1770, inaugura<strong>da</strong> por solene procissão e por<br />

festejos que tiveram a assistência <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>do</strong> povo. A Or<strong>de</strong>m possui um cemitério para seus<br />

membros no bairro <strong>do</strong> Caju e um hospital, fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em 1743, atualmente localiza<strong>do</strong> na rua <strong>do</strong> Riachuelo.


3 9 2 | T E R R A S E FAT O S<br />

Notas Biogr á f i c a s


N O TA S B I O G R Á F I C A S | 3 9 3<br />

Alcântara, barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>. João Inácio <strong>da</strong> Cunha. Político brasileiro. Nasceu no Maranhão, em<br />

1871 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1834. Gradua<strong>do</strong> em Direito pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, em<br />

1806. Em 1807, acompanhou a família real na sua transferência para o Brasil. Foi nomea<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Relação <strong>da</strong> Bahia, em 1808, e rege<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Suplicação, em 1814.<br />

Eleito sena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império, em 1826. Ocupou, ain<strong>da</strong>, o cargo <strong>de</strong> ministro <strong>da</strong> Justiça, entre 1829 e 1831,<br />

quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> Dom Pedro I.<br />

Alcântara, viscon<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>. Violante Luiza <strong>de</strong> Vasconcelos. Esposa <strong>de</strong> João Inácio <strong>da</strong> Cunha, viscon<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Alcântara. Nobre brasileira. Nasceu em Lisboa, em 1780 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1855.<br />

Recebeu o título nobiliárquico <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu casamento com João Inácio <strong>da</strong> Cunha, originário <strong>de</strong> família<br />

maranhense, em 1826.<br />

Alegrete, segun<strong>do</strong> barão <strong>de</strong>. José <strong>de</strong> Araújo Gomes. Administra<strong>do</strong>r brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1817 e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1871. Sua família era originária <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Sul. Foi tesoureiro <strong>da</strong> Alfân<strong>de</strong>ga <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>da</strong> Casa <strong>do</strong>s Expostos. Senhor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna.<br />

Foi agracia<strong>do</strong> com o título nobiliárquico <strong>de</strong> barão <strong>do</strong> Alegrete, em 1867, em referência à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> gaúcha<br />

<strong>do</strong> mesmo nome.<br />

Alpoim, José Fernan<strong>de</strong>s Pinto. Militar e engenheiro português, mais conheci<strong>do</strong> como briga<strong>de</strong>iro<br />

Alpoim. Nasceu em Viana <strong>do</strong> Castelo, em 1695 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1765. Em 1738, foi<br />

envia<strong>do</strong> ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pelo governo real, para ministrar aulas no curso regular <strong>de</strong> engenharia militar,<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Aulas <strong>de</strong> Artilharia e Uso <strong>de</strong> Fogos Artificiais. É figura relevante no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

arquitetura setecentista, especialmente na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> lhe são atribuí<strong>da</strong>s muitas<br />

edificações importantes, entre as quais se <strong>de</strong>stacam: a Casa <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>pois Paço Real e<br />

Imperial; os prédios assobra<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Teles <strong>de</strong> Menezes, nos quais se localiza o famoso Arco <strong>do</strong> Teles,<br />

no terreiro <strong>do</strong> Carmo, atual praça Quinze <strong>de</strong> Novembro; os conventos <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, <strong>de</strong> Santa Teresa e <strong>do</strong>s<br />

Barbonos; a facha<strong>da</strong> interna <strong>do</strong> claustro <strong>do</strong> mosteiro <strong>de</strong> São Bento e a igreja <strong>de</strong> N.S. <strong>da</strong> Boa Morte.<br />

Dirigiu a construção <strong>da</strong> parte principal <strong>do</strong>s arcos <strong>da</strong> carioca, o aqueduto que canalizou as águas <strong>do</strong> rio<br />

Carioca. Seus projetos alteraram o panorama arquitetônico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em 1750, integrou a comissão <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> limites <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Madri. Em 1760, foi promovi<strong>do</strong> a briga<strong>de</strong>iro.<br />

Arcos, oitavo con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s. Marcos <strong>de</strong> Noronha e Brito. Administra<strong>do</strong>r e político português. Nasceu em<br />

Lisboa, em 1771 e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1828. Veio para o Brasil nomea<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r e<br />

capitão-geral <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Grão-Pará e rio Negro. Convoca<strong>do</strong> ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, substituiu o con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Resen<strong>de</strong> no cargo <strong>de</strong> vice-rei (1806/1808). Com a transferência <strong>da</strong> família real para o Brasil, foi<br />

nomea<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Bahia. Lá estabeleceu a primeira tipografia <strong>do</strong> país, imprimin<strong>do</strong> o jornal I<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Ouro <strong>do</strong> Brasil. Criou a biblioteca pública <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r e concluiu o cais <strong>da</strong> alfân<strong>de</strong>ga e o teatro São<br />

João, além <strong>de</strong> instalar uma linha <strong>de</strong> correio para o Maranhão. Em 1817, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> Revolução<br />

Pernambucana, aju<strong>do</strong>u a combater os rebel<strong>de</strong>s. Nomea<strong>do</strong> ministro <strong>da</strong> Marinha e Ultramar, transferiu-se<br />

para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Com o retorno <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João VI a Portugal, foi secretário <strong>do</strong> Reino e <strong>do</strong>s<br />

Estrangeiros <strong>do</strong> então príncipe regente Dom Pedro. Porém, após a in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, Dom Pedro<br />

I o <strong>de</strong>mitiu por pressão <strong>da</strong>s tropas que não suportavam o trato que ele lhes dispensava e, então, regressou<br />

a Portugal, on<strong>de</strong> faleceu.<br />

Assecas, viscon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ou casa <strong>do</strong>s. Título nobiliárquico português hereditário, cria<strong>do</strong> por Mêrce <strong>de</strong> 15<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1666, pelo rei português <strong>do</strong>m Afonso VI para a família <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r Correia <strong>de</strong> Sá e<br />

Benavi<strong>de</strong>s, nasci<strong>do</strong> em Cádiz, em 1594, e faleci<strong>do</strong> em Lisboa, em 1688. Militar e político brasileiro.<br />

Recebeu o título vitalício <strong>de</strong> alcai<strong>de</strong>-mor <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1627, como recompensa <strong>do</strong> governo<br />

português. Foi também cavaleiro <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo e <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> São Tiago. Exerceu o cargo <strong>de</strong><br />

governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em três perío<strong>do</strong>s distintos: 1637/1642; 1648; 1660/1662, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> como um <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> sua família. Organizou as cerimônias <strong>de</strong> aclamação <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João IV, em<br />

1641, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, a<strong>de</strong>rin<strong>do</strong> à restauração <strong>da</strong> monarquia portuguesa, apesar <strong>do</strong> seu parentesco com


3 9 4 | T E R R A S E FAT O S<br />

os governantes espanhóis <strong>da</strong> América, aos quais prestara relevantes serviços. Em 1643, foi nomea<strong>do</strong><br />

general <strong>da</strong>s frotas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Brasil, estabelecen<strong>do</strong> um sistema <strong>de</strong> transporte <strong>do</strong> açúcar para o reino.<br />

Em 1644, foi nomea<strong>do</strong> membro <strong>do</strong> Conselho Ultramarino. Em 1647 foi chama<strong>do</strong> a Lisboa, on<strong>de</strong> recebeu<br />

o cargo <strong>de</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> reino <strong>de</strong> Angola, então sob <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s holan<strong>de</strong>ses, com a tarefa <strong>de</strong> recuperálo<br />

para a Coroa portuguesa. Em 1648, foi nomea<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

partiu, com uma frota <strong>de</strong> 15 navios, para Angola. No seu curto perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> governo no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

conseguiu apropriar-se <strong>de</strong> extensas sesmarias que haviam si<strong>do</strong> distribuí<strong>da</strong>s por Martim Correia <strong>de</strong> Sá,<br />

em Campos <strong>de</strong> Goitacases. Em Angola, após três meses <strong>de</strong> guerra, <strong>de</strong>rrotou os holan<strong>de</strong>ses e assumiu o<br />

governo <strong>de</strong>ste país. Em 1659, retornou ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. No ano seguinte, foi investi<strong>do</strong> nos cargos <strong>de</strong><br />

governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e <strong>de</strong> capitão-geral <strong>da</strong>s províncias <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> Brasil, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>do</strong> governo instala<strong>do</strong> na Bahia. No governo, estimulou as expedições em busca <strong>de</strong> esmeral<strong>da</strong>s e <strong>de</strong> prata<br />

e <strong>de</strong>cretou a cobrança <strong>de</strong> novos e pesa<strong>do</strong>s impostos sobre a população carioca. Durante uma <strong>da</strong>s<br />

expedições <strong>da</strong> qual participou, em 1660, os habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> se revoltaram, sob a<br />

li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Jerônimo Barbalho, contra as imposições fiscais recém-cria<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>pon<strong>do</strong> seu substituto,<br />

Tomé Correia <strong>de</strong> Alvarenga. Agostinho Barbalho foi aclama<strong>do</strong> como novo governa<strong>do</strong>r. Em 1661,<br />

quan<strong>do</strong> retornou à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, reassumiu o governo e organizou uma corte marcial arbitrária que <strong>de</strong>liberou<br />

pela execução sumária <strong>do</strong>s principais lí<strong>de</strong>res <strong>da</strong> revolta. Essa <strong>de</strong>cisão foi mal recebi<strong>da</strong> em Lisboa,<br />

contribuin<strong>do</strong> para que fosse substituí<strong>do</strong> no cargo, em 1662, quan<strong>do</strong> retornou a Portugal. A família Sá<br />

Correia e Benavi<strong>de</strong>s, porém, continuou a administrar o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> por quase 150 anos, sen<strong>do</strong> uma<br />

<strong>da</strong>s mais antigas e po<strong>de</strong>rosas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> no século XVIII. Seus membros foram gran<strong>de</strong>s<br />

proprietários <strong>de</strong> terras, <strong>de</strong> engenhos e <strong>de</strong> fazen<strong>da</strong>s nos subúrbios cariocas e foram contempla<strong>do</strong>s com<br />

sesmarias nos vales <strong>do</strong>s rios Paraíba, Pomba e Muriaé. O título <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>da</strong> Ponte <strong>de</strong> Asseca foi<br />

concedi<strong>do</strong> a Martim Correia <strong>de</strong> Sá e Benevi<strong>de</strong>s e Velasco, nasci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> em 1674. Mestre<br />

<strong>de</strong> campo <strong>do</strong> terço <strong>de</strong> Moura e general <strong>da</strong>s armas <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Setúbal, que serviu com gran<strong>de</strong> mérito<br />

na guerra <strong>de</strong> Aclamação. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, fun<strong>do</strong>u sua casa no Engenho d’água, construin<strong>do</strong> a capela<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Cabeça, nas terras <strong>da</strong> extensa sesmaria <strong>da</strong> família, que se estendia <strong>do</strong> antigo campo<br />

<strong>do</strong> Marangá, atual Campinho, até as lagoas <strong>da</strong> Tijuca, Camorim, Jacarepaguá, Marapendi e campos <strong>de</strong><br />

Sernambetiba. Em 1753, Martim Correia <strong>de</strong> Sá, nasci<strong>do</strong> em 1698 e faleci<strong>do</strong> em 1778, recebeu outra<br />

mercê <strong>de</strong> <strong>do</strong>m José I, rei <strong>de</strong> Portugal, elevan<strong>do</strong> seu título a con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Asseca. Antônio Maria Correia <strong>de</strong><br />

Sá e Benevi<strong>de</strong>s e Velasco <strong>da</strong> Câmara, nasci<strong>do</strong> em 1786 e faleci<strong>do</strong> em 1844, recebeu <strong>do</strong> rei <strong>de</strong> Portugal,<br />

o título <strong>de</strong> 6º viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Asseca. Nessa época, os Assecas eram gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong> terras na<br />

Tijuca, on<strong>de</strong> possuíam um cafezal <strong>de</strong> 30.000 pés na fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Cascata. Este cafezal fazia parte<br />

<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> morgadio <strong>da</strong> família, que se estendia <strong>da</strong> Tijuca até Jacarepaguá, cuja praça Seca po<strong>de</strong> ser uma<br />

corruptela <strong>do</strong> título <strong>da</strong> família e on<strong>de</strong> possuíam a fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Taquara.<br />

Azere<strong>do</strong> Coutinho, Cândi<strong>do</strong>. Escritor brasileiro. Faleceu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1878.<br />

Licencia<strong>do</strong> em matemática. Lente em química <strong>da</strong> antiga Escola Militar. Prove<strong>do</strong>r e diretor <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong><br />

Moe<strong>da</strong>, em 1850. Membro <strong>do</strong> Conselho <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r. Comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa e <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Cristo. Comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Ernestina <strong>da</strong> Casa Ducal <strong>da</strong> Saxônia. Sócio <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Auxilia<strong>do</strong>ra <strong>da</strong><br />

Indústria Nacional e <strong>de</strong> diversas associações nacionais e estrangeiras, literárias e científicas. Autor <strong>de</strong><br />

várias obras sobre me<strong>da</strong>lhística, sistema monetário e moe<strong>da</strong> brasileira, tais como Reflexões sobre o<br />

nosso sistema monetário (1837); Notícia sobre as moe<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Brasil (1867); Metrologia atual <strong>do</strong> Brasil<br />

(1868) e Estu<strong>do</strong> sobre a moe<strong>da</strong> <strong>de</strong> cobre <strong>do</strong> Brasil (1869). Seu nome foi <strong>da</strong><strong>do</strong> ao logra<strong>do</strong>uro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

on<strong>de</strong> se localizava a Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, atualmente Arquivo Nacional, em reconhecimento aos serviços<br />

presta<strong>do</strong>s.<br />

Azeve<strong>do</strong>, Artur Nabantino Gonçalves <strong>de</strong>. Escritor, teatrólogo e jornalista brasileiro. Nasceu em São<br />

Luís, MA, em 1855 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1908. Des<strong>de</strong> criança era apaixona<strong>do</strong> por teatro,<br />

escreven<strong>do</strong> peças teatrais aos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Fixou-se no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1873, on<strong>de</strong> começou<br />

carreira como funcionário público. Foi amanuense no Ministério <strong>da</strong> Agricultura, ten<strong>do</strong> como colega <strong>de</strong><br />

repartição o escritor Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis. Logo, se tornou conheci<strong>do</strong> por seus versos humorísticos.<br />

Desenvolveu intensa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> como jornalista, fun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> vários periódicos, entre os quais, a Revista <strong>do</strong>s<br />

Teatros, em 1879; A Gazetinha, em 1880 e O Álbum, em 1891. Participou também <strong>de</strong> outros periódicos,


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como Vi<strong>da</strong> Mo<strong>de</strong>rna e Revista <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Colaborou com diversos jornais, como O País, O<br />

Século, A Notícia, Diário <strong>de</strong> Notícias e Correio <strong>da</strong> Manhã, entre outros. Na sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> jornalística,<br />

muitas vezes, usava pseudônimos, sen<strong>do</strong> o mais conheci<strong>do</strong> o <strong>de</strong> Gavroche. Como ativo abolicionista,<br />

escreveu peças critican<strong>do</strong> a escravidão, como O liberato, <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a Joaquim Nabuco, outro gran<strong>de</strong><br />

abolicionista, e O escravocrata. Escreveu ficção e poesia (Sonetos, 1876; Contos possíveis, 1889;<br />

Rimas, 1908). Destacou-se como dramaturgo, escreven<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> 70 peças teatrais, entre as quais<br />

ressaltam: O bilontra (1885); A almanjarra (1888); O <strong>do</strong>te (1888); A capital fe<strong>de</strong>ral (1897), O ba<strong>de</strong>jo<br />

(1898) e O mambembe (1904). Consoli<strong>do</strong>u a comédia <strong>de</strong> costumes e, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Martins Pena, é<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o pioneiro <strong>da</strong> dramaturgia brasileira. Casou-se duas vezes, mas somente com a segun<strong>da</strong><br />

esposa, Carolina A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Leconflé, teve quatro filhos. Em 1896, participou <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Letras, ocupan<strong>do</strong> a ca<strong>de</strong>ira nº 29, para a qual escolheu como patrono Martins Pena. Por<br />

muito tempo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a idéia <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> um teatro municipal com companhia própria e permanente,<br />

mas não chegou a ver sua idéia concretiza<strong>da</strong>.<br />

Bonfim, con<strong>de</strong> e marquês <strong>de</strong>. José Francisco <strong>de</strong> Mesquita. Nobre, empresário, fazen<strong>de</strong>iro, banqueiro<br />

brasileiro. Nasceu em Congonhas <strong>do</strong> Campo, MG, em 1790 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em<br />

1873.Ve<strong>do</strong>r honorário <strong>da</strong> Casa Imperial, foi agracia<strong>do</strong> sucessivamente com os títulos <strong>de</strong> barão <strong>de</strong><br />

Bonfim, em 1841; <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong>, em 1854; <strong>de</strong> con<strong>de</strong>, em 1860 e <strong>de</strong> marquês, em 1872. Comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo. Dignatário <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa e oficial <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Imperial <strong>do</strong> Cruzeiro. Membro <strong>da</strong><br />

Legião <strong>de</strong> Honra francesa. Foi proprietário <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> Valqueire, em Jacarepaguá e <strong>de</strong> casarão na rua<br />

Barão <strong>de</strong> Itapagipe, que foi <strong>de</strong>moli<strong>do</strong> para a construção <strong>do</strong> Hospital Alemão, que na II Guerra Mundial<br />

foi expropria<strong>do</strong> e transforma<strong>do</strong> em Hospital <strong>da</strong> Aeronáutica.<br />

Braga, Francisco. Compositor e regente brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1868 e faleceu na<br />

mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1945. Órfão aos oito anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi cria<strong>do</strong> no Asilo <strong>do</strong>s Meninos Desvali<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong>u piano. Ingressou, posteriormente, no Conservatório Imperial <strong>de</strong> Música, on<strong>de</strong> fez cursos <strong>de</strong><br />

clarineta, harmonia, contraponto e fuga. Em 1889, inscreveu-se no concurso que o Governo Republicano<br />

Provisório instituiu para escolher o Hino <strong>da</strong> República. O vence<strong>do</strong>r foi Leopol<strong>do</strong> Miguez, mas a<br />

composição <strong>de</strong> Braga <strong>de</strong>spertou tamanho entusiasmo que as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s governamentais resolveram<br />

premiá-lo com uma viagem <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s à Europa. Em Paris, foi aluno <strong>de</strong> Jules Massenet que, admira<strong>do</strong><br />

com o seu talento, solicitou ao governo brasileiro a prorrogação <strong>de</strong> sua bolsa <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s por mais <strong>do</strong>is<br />

anos. Compôs, nessa época, suas gran<strong>de</strong>s obras sinfônicas Paysage e Cauchemar. Em 1896, foi para a<br />

Alemanha, estabelecen<strong>do</strong>-se em Dres<strong>de</strong>n. Ali conheceu a obra <strong>de</strong> Wagner, <strong>da</strong> qual sofreu forte influência<br />

nas suas novas composições. De volta ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, foi nomea<strong>do</strong> professor <strong>da</strong> Escola Nacional <strong>de</strong><br />

Música. Musicou o poema <strong>de</strong> Olavo Bilac para o Hino <strong>da</strong> Ban<strong>de</strong>ira e compôs Marabá, poema sinfônico,<br />

e Jupira, ópera, Episódio sinfônico e Variações sobre um tema brasileiro.<br />

Cairu, barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>. José <strong>da</strong> Silva Lisboa. Economista e político brasileiro. Nasceu em<br />

Salva<strong>do</strong>r, BA, em 1756 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1835. Após os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>s feitos<br />

na Bahia, foi estu<strong>da</strong>r em Portugal, on<strong>de</strong> se matriculou nos cursos <strong>de</strong> Medicina e Filosofia, que<br />

aban<strong>do</strong>nou para estu<strong>da</strong>r Direito. Formou-se bacharel em Direito na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. Ao<br />

retornar ao Brasil, foi nomea<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>r em Ilhéus (1780), advoga<strong>do</strong> e professor <strong>de</strong> Filosofia e Grego,<br />

em Salva<strong>do</strong>r (1782). Em seus estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> economia, conheceu as idéias <strong>de</strong> A<strong>da</strong>m Smith. Sob a influência<br />

<strong>do</strong> liberalismo econômico, escreveu Princípios <strong>de</strong> Direito Mercantil e Leis <strong>da</strong> Marinha para uso <strong>da</strong><br />

moci<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao comércio, dividi<strong>do</strong>s em oito trata<strong>do</strong>s elementares conten<strong>do</strong> a<br />

respectiva legislação pátria e indican<strong>do</strong> as fontes originais <strong>do</strong>s regulamentos marítimos <strong>da</strong>s principais<br />

praças <strong>da</strong> Europa, edita<strong>do</strong> em Lisboa, em 1798. Primeira obra sobre o assunto publica<strong>da</strong> em português.<br />

Foi pioneiro <strong>do</strong> Direito Comercial e <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s econômicos no Brasil. Após a transferência <strong>da</strong> Corte<br />

para o Brasil, sob sua influência, o então príncipe regente, <strong>do</strong>m João, abriu os portos brasileiros para o<br />

comércio com as nações amigas e não apenas para a Inglaterra, pon<strong>do</strong> fim ao monopólio comercial e<br />

liberan<strong>do</strong> a exportação <strong>de</strong> produtos brasileiros. Como conselheiro <strong>do</strong> príncipe regente, acompanhou a<br />

Corte para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> continuou a <strong>de</strong>senvolver as suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> político e escritor. Ain<strong>da</strong><br />

em 1808, foi nomea<strong>do</strong> professor regente <strong>da</strong> recém-cria<strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Ciências Econômicas. Ocupou


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diversos cargos na administração joanina, influin<strong>do</strong> nas principais medi<strong>da</strong>s a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s em prol <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, como por exemplo a lei que liberou a produção manufatureira. Foi<br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Mesa <strong>do</strong> Desembargo <strong>do</strong> Paço, <strong>da</strong> Mesa <strong>da</strong> Consciência e Or<strong>de</strong>ns e <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong><br />

Suplicação. Depois <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Assembléia Nacional Constituinte<br />

pela província <strong>da</strong> Bahia, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>clarou a favor <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> uma universi<strong>da</strong><strong>de</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Em 1825, foi agracia<strong>do</strong> com o título honorífico <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Cairu e, em 1826, foi eleva<strong>do</strong> ao título <strong>de</strong><br />

viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairu. Também se <strong>de</strong>dicou ao jornalismo, sen<strong>do</strong> fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> jornal O Concilia<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Reino<br />

Uni<strong>do</strong>, no qual escreveu importantes artigos sobre economia e crônicas políticas. Foi escolhi<strong>do</strong> sena<strong>do</strong>r<br />

pela Bahia, em 1826. Publicou vários outros trabalhos sobre economia, tais como: Observações sobre o<br />

comércio franco <strong>do</strong> Brasil (1808/1809), Observações sobre a fraqueza <strong>da</strong> indústria e o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> fábricas no Brasil (1810), Ensaio sobre o estabelecimento <strong>de</strong> bancos para o progresso <strong>da</strong> indústria<br />

e <strong>da</strong> riqueza nacional (1811), A constituição moral e <strong>de</strong>veres <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão (1824/1825) e História <strong>do</strong>s<br />

principais sucessos políticos <strong>do</strong> Império <strong>do</strong> Brasil (1829).<br />

Caravelas, segun<strong>do</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>. Manoel Alves Branco. Estadista brasileiro. Nasceu em Salva<strong>do</strong>r,<br />

BA, em 1797 e faleceu em Niterói, RJ, em 1855. Fez seus estu<strong>do</strong>s em Portugal, on<strong>de</strong> se formou bacharel<br />

em Direito, pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. De volta ao Brasil, iniciou sua carreira como magistra<strong>do</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> juiz no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em 1832, foi nomea<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> tribunal <strong>do</strong> Tesouro Nacional.<br />

Dessa época são os seus estu<strong>do</strong>s sobre economia política e finanças. Desempenhou diversos cargos<br />

políticos relevantes. Liga<strong>do</strong> aos liberais, foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Assembléia Geral pela província <strong>da</strong> Bahia,<br />

entre 1830 e 1833. Escolhi<strong>do</strong> sena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império, a partir <strong>de</strong> 1837. Nesse mesmo ano, recusou o convite<br />

<strong>do</strong> regente Antônio Feijó para assumir a regência, quan<strong>do</strong> ocupava o cargo <strong>de</strong> ministro <strong>do</strong> Império.<br />

ministro <strong>da</strong> Justiça e <strong>de</strong> Estrangeiros, em 1835 e 1844; ministro <strong>do</strong> Império, em 1837, 1847 e 1848;<br />

ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em 1837, 1839, 1844, 1845 e 1847. Foi o primeiro presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong><br />

Ministros, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ministro <strong>do</strong> Império e <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, entre 1847 e 1848, organizan<strong>do</strong> esse<br />

gabinete. Re<strong>da</strong>tor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Processo Criminal, em 1832. Foi um <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res<br />

<strong>da</strong> re<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> Ato Adicional, <strong>de</strong> 1834. Em 1844, como ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, a<strong>do</strong>tou uma política<br />

alfan<strong>de</strong>gária protecionista, conheci<strong>da</strong> como Tarifa Alves Branco. Propôs a criação <strong>de</strong> um fun<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

reserva <strong>do</strong> meio circulante para valorizar a moe<strong>da</strong> brasileira, somente posto em prática em 1898, quan<strong>do</strong><br />

Joaquim Murtinho ocupou a pasta <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>. Após reduzir o déficit orçamentário <strong>do</strong> país, lançou as<br />

bases <strong>de</strong> um novo sistema monetário, para manter o papel-moe<strong>da</strong> brasileiro a par <strong>do</strong> ouro. Elaborou o<br />

projeto <strong>de</strong> instituição <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong> Contas, que somente se efetivou em 1890. Destacou-se no<br />

parlamento por sua cultura diversifica<strong>da</strong>. Agracia<strong>do</strong> com o título nobiliárquico <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caravelas,<br />

em 1854, referi<strong>do</strong> à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baiana <strong>do</strong> mesmo nome.<br />

Cavalcanti, João Cruvello. Intelectual e advoga<strong>do</strong> brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Bacharel em<br />

Direito pela Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife. Escriturário-chefe <strong>da</strong> Recebe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Tesouro Nacional <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Tenente-coronel honorário <strong>do</strong> exército. Cavaleiro <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa. Con<strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com a<br />

me<strong>da</strong>lha <strong>da</strong> campanha <strong>do</strong> Paraguai, on<strong>de</strong> serviu. Inspetor <strong>da</strong> alfân<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> Porto Alegre e <strong>de</strong> Recife. Foi<br />

proprietário <strong>de</strong> uma chácara na antiga estra<strong>da</strong> Real <strong>de</strong> Santa Cruz, atual aveni<strong>da</strong> <strong>do</strong>m Hel<strong>de</strong>r Câmara,<br />

que <strong>de</strong>smembrou para a abertura <strong>da</strong>s ruas Maria, A<strong>da</strong>lgisa e Teresa Cavalcanti. Foi encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

estabelecer a nova numeração <strong>do</strong>s prédios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Câmara<br />

Municipal, Antônio Barroso Pereira. Publicou Nova numeração <strong>de</strong> prédios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong><br />

(1878); Relatório sobre a nova numeração <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>; Relatório <strong>do</strong> <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> fiscal <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul (1891); Relatório sobre as fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Santa Cruz e <strong>da</strong> Quinta <strong>da</strong> Boa Vista (1892).<br />

Coelho Neto, Henrique Maximiliano. Escritor, professor e jornalista brasileiro. Nasceu em Caxias,<br />

MA, em 1864 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1934. Filho <strong>de</strong> um comerciante português e <strong>de</strong> uma<br />

índia amazonense, aos oito anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> começou a estu<strong>da</strong>r no Colégio Jordão, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, mas<br />

logo interrompeu os seus estu<strong>do</strong>s, por problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Restabeleci<strong>do</strong>, estu<strong>do</strong>u no colégio <strong>do</strong><br />

mosteiro <strong>de</strong> São Bento e, a seguir, no Colégio Pedro II. Em 1883, matriculou-se no curso <strong>de</strong> Direito <strong>da</strong><br />

Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> São Paulo. Porém, em 1885, aban<strong>do</strong>nou o curso <strong>de</strong> Direito e retornou ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> iniciou carreira jornalística na Gazeta <strong>da</strong> Tar<strong>de</strong>. Depois, foi secretário <strong>de</strong> re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>


N O TA S B I O G R Á F I C A S | 3 9 7<br />

Gazeta <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> e re<strong>da</strong>tor <strong>do</strong> Diário <strong>de</strong> Notícias. Participou ativamente <strong>da</strong>s campanhas abolicionista e<br />

republicana. Em 1891, publicou a sua primeira coletânea <strong>de</strong> contos, Rapsódia. Em 1893, publicou o seu<br />

primeiro romance, A capital fe<strong>de</strong>ral. A seguir, publicou muitos outros, entre os quais citamos, A<br />

conquista (1899), Miragem (1895), Sertão (1896), Inverno em flor (1897), Seara <strong>de</strong> Rute (1898), O<br />

morto (1898), A tormenta (1901), Turbilhão (1906), Esfinge (1908), Jardim <strong>da</strong>s Oliveiras (1908), Banzo<br />

(1913), Sertão (1914), Rei Negro (1914) e Fogo-fátuo (1930). Em 1900, foi nomea<strong>do</strong> professor <strong>de</strong><br />

literatura no Ginásio <strong>de</strong> Campinas, cargo que ocupou até 1904, quan<strong>do</strong> retornou ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Entre<br />

1908 e 1909, encenou, com gran<strong>de</strong> sucesso, suas peças teatrais Quebranto e Bonança. Em 1909, foi<br />

eleito lente <strong>de</strong> literatura <strong>do</strong> Colégio Pedro II. Ocupou o cargo <strong>de</strong> secretário <strong>de</strong> Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em 1909, foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s pelo Maranhão. Foi professor e diretor<br />

<strong>do</strong> curso <strong>de</strong> história <strong>da</strong>s artes <strong>da</strong> Escola Dramática Municipal (1910). Colaborou com quase to<strong>do</strong>s os<br />

jornais <strong>da</strong> sua época. Foi sócio-fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r e presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras. Em 1828, foi<br />

nomea<strong>do</strong> ministro plenipotenciário brasileiro em Buenos Aires. Em 1933, foi indica<strong>do</strong> pela Aca<strong>de</strong>mia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Letras ao prêmio Nobel <strong>de</strong> literatura. Ao morrer, <strong>de</strong>ixou 112 volumes publica<strong>do</strong>s, além <strong>de</strong><br />

5 obras inéditas e 4 inacaba<strong>da</strong>s. A sua produção literária é muito extensa e varia<strong>da</strong>, incluin<strong>do</strong> contos,<br />

romances, crônicas, memórias, conferências, peças teatrais, poesia e crítica literária, mas foi no romance<br />

e no conto que encontrou seus principais meios <strong>de</strong> expressão. Depois <strong>da</strong>s conferências <strong>de</strong> Graça Aranha,<br />

em 1922 e 1924, muitos <strong>do</strong>s seus escritos foram severamente critica<strong>do</strong>s pelos mo<strong>de</strong>rnistas que se<br />

opunham ao seu i<strong>de</strong>al estilístico e à sua riqueza lexical. Atualmente, sua obra foi reabilita<strong>da</strong>, pois seu<br />

processo criativo o <strong>de</strong>staca, especialmente, nas obras autobiográficas, nas quais retrata o caráter, os tipos<br />

e os costumes brasileiros.<br />

Delga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Carvalho, Carlos Miguel. Geógrafo, historia<strong>do</strong>r, professor e educa<strong>do</strong>r brasileiro. Nasceu<br />

na legação brasileira em Paris, on<strong>de</strong> seu pai exercia as funções <strong>de</strong> secretário <strong>da</strong> embaixa<strong>da</strong>, em 1884, e<br />

faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1980. Seus primeiros vinte e <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> foram reparti<strong>do</strong>s entre<br />

Paris, Londres, Lyon e Lausanne e os últimos anos viveu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Foi um <strong>do</strong>s<br />

pioneiros <strong>da</strong> introdução <strong>da</strong>s concepções geográficas mo<strong>de</strong>rnas no país, com a publicação, em 1910, <strong>da</strong><br />

obra Le Brésil Meridionel, escrita originalmente em francês. Em 1913, publicou Geografia <strong>do</strong> Brasil.<br />

Como historia<strong>do</strong>r, publicou História <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1926, um clássico <strong>de</strong>ssa disciplina.<br />

Professor <strong>de</strong> Sociologia <strong>da</strong> Educação <strong>do</strong> Colégio Pedro II e diretor <strong>do</strong> mesmo, entre 1930 e 1933.<br />

Professor <strong>do</strong> Colégio Bennett e <strong>de</strong> História Mo<strong>de</strong>rna na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Brasil, atual UFRJ. Destaca<strong>do</strong> membro <strong>da</strong> Associação Brasileira <strong>de</strong><br />

Educação. Estudioso <strong>da</strong> Geografia Econômica e Política, a respeito <strong>da</strong>s quais publicou vários livros.<br />

Seus livros didáticos formaram to<strong>da</strong> uma geração. Foi pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Geografia.<br />

Foi diretor fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Educação (1933) e presi<strong>de</strong>nte e<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Educação (1926).<br />

Dória, Luís Gastão d’Escragnolle. Escritor brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1869 e faleceu<br />

na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1948. Foi diretor <strong>do</strong> Arquivo Nacional (1917/1922). Publicou diversas obras,<br />

algumas sob pseudônimos <strong>de</strong> Ulisses <strong>de</strong> Aguiar, <strong>do</strong>m Demétrio, Branca <strong>de</strong> Mirosimar, Nemo, e Vegex.<br />

Entre elas se <strong>de</strong>stacam: Coração: cousas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> (1909); Romão <strong>de</strong> Mattos Duarte (1916); Terra<br />

fluminense (1929); Memória histórica <strong>do</strong> Colégio Pedro II (1937); Estu<strong>do</strong> sobre a obra e a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

Emanuel Guimarães (1934); Caxias (1938) e Irmã Luísa (romance).<br />

Fleiuss, Max. Historia<strong>do</strong>r e jornalista brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1868 e faleceu na<br />

mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1943. Membro e secretário <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Dirigiu as<br />

publicações periódicas A Semana (1893/1895), O Século XX e A Renascença (1904). Entre as suas várias<br />

obras, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar Organização política <strong>do</strong> Império, História <strong>da</strong> imprensa no Brasil, História<br />

administrativa <strong>do</strong> Brasil (1922), Biografia <strong>de</strong> Dom Pedro II (1925), História <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> (1928), A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, aspecto histórico (1932) e as biografias <strong>de</strong> <strong>Rio</strong> Branco<br />

(1931) e <strong>de</strong> Ouro Preto (1931).


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Frond, jean Victor. Fotógrafo retratista e paisagista francês, nasci<strong>do</strong> em 1821 e faleci<strong>do</strong> em 1881.<br />

Estabeleci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, entre 1857 e 1862, fotografou panoramas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> outras<br />

locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras e retratou membros <strong>da</strong> família real. Foi pioneiro na fotografia <strong>de</strong> escravos e <strong>do</strong><br />

seu trabalho, em 1858, mostran<strong>do</strong>-os no contexto cotidiano <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> café <strong>do</strong> vale <strong>do</strong><br />

Paraíba e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Foi autor e editor <strong>do</strong> primeiro livro <strong>de</strong> fotografias feito na América<br />

Latina – Brasil pitoresco (Brésil pittoresque), publica<strong>do</strong> em Paris em 1861. Esse livro assumiu a forma<br />

<strong>de</strong> um álbum com reproduções litográficas feitas a partir <strong>da</strong>s suas 74 fotografias. Essas fotografias<br />

registraram <strong>do</strong>cumentalmente paisagens, costumes e tipos humanos <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

e <strong>da</strong> Bahia. A seu pedi<strong>do</strong>, o texto <strong>do</strong> livro foi escrito pelo seu conterrâneo Charles Ribeyrolles e foi<br />

publica<strong>do</strong>, em separata, pela Imprensa Oficial <strong>do</strong> Brasil. De volta à França, <strong>de</strong>dicou-se a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

editoriais.<br />

Gaffarel, Paul. Em 1878, foi o tradutor para o português <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Jean <strong>de</strong> Lery, História <strong>de</strong> uma<br />

viagem feita à terra <strong>do</strong> Brasil.<br />

Glaziou, Auguste Marie François. Botânico e paisagista francês. Nasceu na Bretanha, em 1833 e<br />

faleceu em Bouscal, em 1897. Em 1860, veio para o Brasil para dirigir a reforma <strong>do</strong> Passeio Público <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Em 1868, foi nomea<strong>do</strong> diretor <strong>do</strong>s jardins imperiais. Influencia<strong>do</strong> pela idéia <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

espaços paisagísticos, cria<strong>do</strong>s na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1860, em Paris durante a administração <strong>do</strong> prefeito<br />

Haussmann, transformou o campo <strong>de</strong> Santana em um gran<strong>de</strong> parque, inaugura<strong>do</strong> no dia 7 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1880, no qual introduziu uma concepção romântica <strong>de</strong> paisagismo. Também dirigiu as obras <strong>de</strong><br />

reforma <strong>do</strong> parque <strong>da</strong> Quinta <strong>da</strong> Boa Vista e publicou vários estu<strong>do</strong>s sobre a flora brasileira.<br />

G e r n e r ou Jenner, Eward. Médico inglês. Nasceu em Berkeley, Gloucestershire, em 1749, e faleceu em<br />

1823. Aos 13 anos, começou a estu<strong>da</strong>r Medicina com Daniel Ludlow, médico cirurgião em Sodbury, perto<br />

<strong>de</strong> Bristol. Em 1770, foi para Londres, por três anos, para estu<strong>da</strong>r com o naturalista e cirurgião John<br />

H u n t e r. Durante esse perío<strong>do</strong>, trabalhou com Joseph Banks, na preparação e organização <strong>de</strong> espécies<br />

zoológicas recolhi<strong>da</strong>s pela primeira expedição <strong>do</strong> capitão Cook (1771). Em um <strong>do</strong>s seus escritos para a<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina londrina, antecipou as <strong>de</strong>scobertas sobre as <strong>do</strong>enças reumáticas <strong>do</strong> coração.<br />

Estu<strong>do</strong>u ornitologia e geologia. De volta à sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong> natal, exerceu a medicina e retomou o contato com<br />

as tradições locais que afirmavam a imunização <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes <strong>de</strong> varíola bovina diante <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença em<br />

humanos. Fez, então, experiências com a inoculação <strong>do</strong> vírus <strong>da</strong> varíola bovina em várias pessoas,<br />

conseguin<strong>do</strong> imunizá-las. Em 1798, publicou o trabalho científico Uma inquirição sobre as causas e os<br />

efeitos <strong>da</strong> vacina <strong>de</strong> varíola, no qual expôs sua <strong>de</strong>scoberta. O sucesso <strong>de</strong> seu tratamento espalhou-se por<br />

to<strong>do</strong> o país, pela Europa e pelas Américas. Vários países tornaram obrigatória a vacinação antivariólica.<br />

Como recompensa pelas suas pesquisas, foi agracia<strong>do</strong> com graus honoríficos pelas Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Oxford e <strong>de</strong> Harvard. Publicou, ain<strong>da</strong>, outros trabalhos científicos, tais como S o b re a influência <strong>da</strong>s<br />

e rupções artificiais em algumas <strong>do</strong>enças (1782) e S o b re a migração <strong>do</strong>s pássaro s (1783).<br />

Gomes, Antônio Carlos. Compositor e regente brasileiro. Nasceu em Campinas, SP, em 1836 e faleceu<br />

em Belém, PA, em 1896. Um <strong>do</strong>s 26 filhos <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>sto músico José Gomes. Aos 10 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, já<br />

era percurssionista <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> regi<strong>da</strong> por seu pai. Ain<strong>da</strong> em Campinas, estu<strong>do</strong>u piano e compôs uma<br />

missa, fantasias e romanças que agra<strong>da</strong>ram ao público. In<strong>do</strong> estu<strong>da</strong>r em São Paulo, em 1859, compôs o<br />

Hino Acadêmico e a modinha Quem sabe? que fez enorme sucesso. Vin<strong>do</strong> para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> nesse<br />

mesmo ano, foi apresenta<strong>do</strong> ao impera<strong>do</strong>r Pedro II pela con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Barral, que reconheceu seu talento.<br />

Matriculou-se no Conservatório Imperial <strong>de</strong> Música, on<strong>de</strong> estu<strong>do</strong>u composição com Gioacchino<br />

Gianninni. Em 1860, compôs duas cantatas que alcançaram gran<strong>de</strong> sucesso. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse fato,<br />

foi convi<strong>da</strong><strong>do</strong> a ocupar o cargo <strong>de</strong> regente <strong>da</strong> Imperial Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Música e <strong>da</strong> Ópera Nacional. Em<br />

1861, estreou a sua primeira ópera – A noite no castelo – encena<strong>da</strong> no Teatro Lírico Fluminense, que<br />

obteve gran<strong>de</strong> êxito <strong>de</strong> crítica e <strong>de</strong> público. A seguir, essa sua ópera foi representa<strong>da</strong> em Campinas e em<br />

São Paulo, alcançan<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> repercussão. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse sucesso, recebeu várias homenagens,<br />

como jovem maestro e compositor, sen<strong>do</strong> agracia<strong>do</strong> com o hábito <strong>de</strong> cavaleiro <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa, pelo<br />

impera<strong>do</strong>r Pedro II. Em 1863, estreou a ópera Joana <strong>de</strong> Flandres. Escolhi<strong>do</strong> entre os alunos <strong>do</strong><br />

Conservatório Imperial, foi aperfeiçoar-se na Europa, com as <strong>de</strong>spesas custea<strong>da</strong>s pelo governo. Em<br />

1864, instalou-se em Milão, conseguin<strong>do</strong> ingressar no conservatório <strong>de</strong> música local, ain<strong>da</strong> que fosse


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estrangeiro. Lá obteve o título <strong>de</strong> maestro-compositor, em 1866. Em 1867, escreveu as partituras para as<br />

revistas Não se sabe e Na lua. Depois, se <strong>de</strong>dicou a compor sua mais importante ópera, O Guarani,<br />

basea<strong>da</strong> no romance homônimo <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Alencar. Em 1870, essa ópera foi apresenta<strong>da</strong> ao público no<br />

Teatro Scala <strong>de</strong> Milão. De volta ao Brasil, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>sse mesmo ano, estreou O Guarani no Teatro<br />

Lírico Fluminense. Foi ovaciona<strong>do</strong> pelo público e con<strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com a comen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa. De<br />

volta à Itália, em 1871, compôs as óperas Fosca (1873), Salva<strong>do</strong>r Rosa (1874) e Maria Tu<strong>do</strong>r (1878).<br />

Retornou ao Brasil, em 1880, sen<strong>do</strong> recepciona<strong>do</strong> com gran<strong>de</strong>s comemorações populares em Salva<strong>do</strong>r,<br />

on<strong>de</strong> compôs o Hino a Camões. No <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, foi recebi<strong>do</strong> apoteoticamente, a ponto <strong>de</strong> se<br />

libertarem escravos em homenagem à sua chega<strong>da</strong>. Tornara-se o símbolo <strong>da</strong> cultura brasileira. Retornou<br />

à Itália, após equilibrar sua situação financeira, e compôs sua segun<strong>da</strong> ópera com tema nacional: O<br />

escravo. No Brasil, essa ópera somente foi monta<strong>da</strong> no teatro Lírico Fluminense <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em<br />

setembro <strong>de</strong> 1889. Após o advento <strong>da</strong> República, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua ligação com a monarquia <strong>de</strong>posta, per<strong>de</strong>u<br />

o apoio oficial. Em 1890, voltou a Milão, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> recusou o convite oficial <strong>do</strong> governo republicano para<br />

compor o Hino <strong>da</strong> República, alegan<strong>do</strong> sua amiza<strong>de</strong> e gratidão a Dom Pedro II. Compôs a ópera Con<strong>do</strong>r<br />

(1891) e o oratório sinfônico Colombo (1892), em comemoração ao quarto centenário <strong>do</strong> Descobrimento<br />

<strong>da</strong> América. Em 1892, foi nomea<strong>do</strong> membro <strong>da</strong> <strong>de</strong>legação brasileira à Exposição Universal Colombiana<br />

<strong>de</strong> Chicago, nos EUA. Em 1893, retornou a Milão, on<strong>de</strong> compôs peças isola<strong>da</strong>s, enquanto aguar<strong>da</strong>va<br />

uma nomeação <strong>do</strong> governo brasileiro para organizar um conservatório <strong>de</strong> música em Campinas, ou em<br />

Minas Gerais, ou no Pará. Em 1895, foi nomea<strong>do</strong> diretor e organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Conservatório <strong>de</strong> Música <strong>de</strong><br />

Belém (PA), mas não pô<strong>de</strong> assumir o cargo porque já estava gravemente enfermo, vin<strong>do</strong> a falecer<br />

naquela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, no ano seguinte.<br />

Irapuã, barão <strong>de</strong>. José Luís Car<strong>do</strong>so <strong>de</strong> Sales. Nobre brasileiro. Nasceu em Campanha <strong>da</strong> Princesa,<br />

MG, em 1815, e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1876. Sua família era originária <strong>da</strong> ilha <strong>do</strong>s Açores<br />

e se estabeleceu no município <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>do</strong> Amparo, MG, no século XVIII. Seu título provém<br />

<strong>do</strong> nome <strong>de</strong> um município paulista.<br />

Lavradio, segun<strong>do</strong> marquês <strong>do</strong>. Luís <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Soares Portugal Alercão Eça Melo Silva e<br />

Mascarenhas, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Avintes. Fi<strong>da</strong>lgo, militar e político português. Nasceu em Rebal<strong>de</strong>ira, Portugal,<br />

em 1729 e faleceu em Lisboa, em 1790. Descen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> governantes, participou na administração <strong>do</strong><br />

reino e ocupou importantes funções no Brasil colonial. Em 1761, coman<strong>do</strong>u com gran<strong>de</strong> eficiência o<br />

regimento <strong>de</strong> Cascais, que tornou uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo, sen<strong>do</strong> promovi<strong>do</strong> a briga<strong>de</strong>iro. Estava indica<strong>do</strong><br />

para ser o preceptor <strong>do</strong> príncipe <strong>do</strong>m José, quan<strong>do</strong>, em 1768, foi nomea<strong>do</strong> capitão-geral <strong>da</strong> capitania <strong>da</strong><br />

Bahia. Em 1769, foi <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>, por alvará régio, vice-rei e capitão-<strong>de</strong>-mar-e-terra <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Brasil.<br />

Partiu para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, toman<strong>do</strong> posse <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s cargos, ain<strong>da</strong> nesse mesmo ano. Sua principal<br />

missão era preparar a resistência no <strong>Rio</strong> Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, diante <strong>do</strong> conflito entre Portugal e a Espanha.<br />

Fortificou a barra <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, construin<strong>do</strong> as fortalezas <strong>do</strong> Pico e <strong>do</strong> Leme, ampliou<br />

quartéis e fez gran<strong>de</strong>s melhoramentos urbanos, como a construção <strong>do</strong> mata<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> Santa Luzia, a<br />

construção <strong>do</strong>s chafarizes <strong>da</strong> Glória e <strong>de</strong> Matacavalos e a abertura <strong>de</strong> ruas, entre as quais a que recebeu<br />

o seu nome. Organizou as tropas <strong>do</strong>s regimentos coloniais e combateu a corrupção na arreca<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s<br />

impostos. No seu governo, foi publica<strong>do</strong> o Regimento <strong>do</strong> Distrito Diamantino (1771) e se combateu o<br />

contraban<strong>do</strong> <strong>do</strong> ouro e <strong>do</strong>s diamantes. Em 1772, fun<strong>do</strong>u a Aca<strong>de</strong>mia Científica, junto com o seu médico,<br />

Manuel Joaquim Henriques <strong>de</strong> Paiva, e outros eruditos, para incentivar e <strong>de</strong>senvolver os conhecimentos<br />

<strong>de</strong> história natural no Brasil. Segui<strong>do</strong>r <strong>da</strong> política <strong>do</strong> marquês <strong>de</strong> Pombal, <strong>do</strong>is anos após a morte <strong>do</strong> rei<br />

<strong>do</strong>m José I, em 1779, foi substituí<strong>do</strong> no governo <strong>do</strong> Brasil. Seu relatório final é um <strong>do</strong>cumento clássico<br />

para o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> administração colonial brasileira.<br />

Maroim, barão <strong>de</strong>. João Gomes <strong>de</strong> Melo. Militar e político brasileiro. Nasceu em Sergipe, em 1809 e<br />

faleceu, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1890. Coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Nacional <strong>de</strong> Maroim, SE. Foi eleito<br />

<strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Assembléia Geral pela sua província natal, em duas legislaturas (1853 e 1857). Sena<strong>do</strong>r por<br />

Sergipe, a partir <strong>de</strong> 1861. Em 1854, foi agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Maroim. Foi cavaleiro <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo, oficial <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Imperial <strong>do</strong> Cruzeiro, cavaleiro <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa e comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />

Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> São Gregório Magno <strong>de</strong> Roma. Em 1867, recebeu a mercê <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong> Brasão <strong>de</strong> Armas.


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Passos, Francisco <strong>de</strong> Oliveira. Empresário e político brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1878<br />

e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1958. Filho <strong>do</strong> prefeito Francisco Pereira Passos (1903/1906). Estu<strong>do</strong>u<br />

os preparatórios nos Colégios Abílio e Pedro II. Depois foi estu<strong>da</strong>r na Alemanha, on<strong>de</strong> se formou<br />

engenheiro civil pela Real Escola Superior Politécnica <strong>da</strong> Saxônia, em 1901. De volta ao Brasil,<br />

trabalhou como engenheiro na Leopoldina Railway e na Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ferro Central <strong>do</strong> Brasil. Foi<br />

consultor técnico <strong>da</strong> <strong>Prefeitura</strong> <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, entre 1904 e 1908. Obteve o primeiro prêmio no<br />

concurso, promovi<strong>do</strong> pela <strong>Prefeitura</strong>, para a escolha <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> Teatro Municipal <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Seu projeto, com alterações, foi aprova<strong>do</strong>, em 1904, quan<strong>do</strong> a obra <strong>de</strong> edificação <strong>do</strong><br />

teatro se iniciou. Em 1909, o teatro foi inaugura<strong>do</strong>. Foi diretor <strong>da</strong> empresa ma<strong>de</strong>ireira e <strong>de</strong> material <strong>de</strong><br />

construções Comércio e Indústria Paulo Passos, após a morte <strong>do</strong> seu irmão. Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Sindicato <strong>de</strong><br />

Serraria e <strong>do</strong> Centro <strong>do</strong>s Industriais <strong>de</strong> Serraria <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A partir <strong>de</strong> 1926, tornou-se importante<br />

lí<strong>de</strong>r empresarial. Entre 1926 e 1931, foi presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Centro Industrial <strong>do</strong> Brasil (CIB). Em 1928,<br />

tornou-se membro <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>do</strong> Trabalho, solicitan<strong>do</strong> medi<strong>da</strong>s governamentais em <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>da</strong> indústria nacional, diante <strong>da</strong> crise econômica, através <strong>de</strong> um memorial en<strong>de</strong>reça<strong>do</strong> ao presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><br />

República. Em 1929, como representante <strong>do</strong> CIB, fez parte <strong>da</strong> comissão <strong>de</strong> empresários que entregou<br />

uma mensagem ao presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, aprova<strong>da</strong> pela Associação Comercial <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

pedin<strong>do</strong> o apoio governamental para a classe empresarial brasileira. Em 1931, o CIB transformou-se em<br />

Fe<strong>de</strong>ração Industrial <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (FIRJ), <strong>do</strong> qual Passos continuou como diretor-presi<strong>de</strong>nte, até<br />

1934. Destacou-se na criação <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Economista, organização política <strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong>, em 1932.<br />

Em 1933, propôs a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Confe<strong>de</strong>ração Industrial <strong>do</strong> Brasil (CIB). Como <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> <strong>da</strong> FIRJ, foi<br />

eleito presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> CIB, em 1933. Nesse mesmo ano, foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> classista à Assembléia<br />

Constituinte. Em 1934, foi reeleito presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> FIRJ para a gestão <strong>de</strong> 1934/1936. Porém, em 1935,<br />

renunciou ao cargo. Pertenceu ao Conselho Consultivo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral e foi presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho<br />

<strong>de</strong> Contribuintes e membro <strong>do</strong> Conselho Diretor <strong>do</strong> Clube <strong>de</strong> Engenharia.<br />

Pilar, barão <strong>de</strong>. José Pedro <strong>da</strong> Motta Saião. Proprietário rural brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

RJ, em 1822, e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1894. Sua família, <strong>de</strong> origem portuguesa, se estabeleceu<br />

em Minas Gerais, no século XVIII e, <strong>de</strong>pois, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Pilar,<br />

em 1851.<br />

Pinto, Rui Vaz. Militar e administra<strong>do</strong>r português. Faleceu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Ve<strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />

Fazen<strong>da</strong>. Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, entre 1617 e 1620. O seu governo foi marca<strong>do</strong> por<br />

arbitrarie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e violências. Na sua curta gestão, a capitania <strong>de</strong> São Tomé foi incorpora<strong>da</strong> às terras <strong>do</strong><br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, foi inicia<strong>da</strong> a construção <strong>do</strong> convento <strong>do</strong> Carmo, concluí<strong>da</strong> a igreja <strong>do</strong>s beneditinos e se<br />

acentuou o tráfico <strong>de</strong> escravos africanos para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Pirassinunga, segun<strong>do</strong> barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>. Joaquim Henrique <strong>de</strong> Araújo Filho. Fazen<strong>de</strong>iro<br />

brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1821 e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1883. Sua família era<br />

originária <strong>da</strong> província <strong>de</strong> Entre-Douro e Minho, em Portugal. Proprietário <strong>de</strong> vastos terrenos na<br />

freguesia <strong>do</strong> Engenho Velho, on<strong>de</strong> abriu para o trânsito público as ruas <strong>do</strong>s Araújos, Santo Henrique,<br />

Dona Bibiana, entre outras. Agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> segun<strong>do</strong> barão <strong>de</strong> Pirassinunga, em 1858, e com<br />

o <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pirassinunga, em 1876.<br />

Porto Seguro, barão e viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>. Varnhagen, Francisco A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong>. Militar, diplomata e historia<strong>do</strong>r<br />

brasileiro. Nasceu em Sorocaba, SP, em 1816 e faleceu em Viena, Áustria, em 1878. Seu pai, Fre<strong>de</strong>rico<br />

Luís Guilherme <strong>de</strong> Varnhagen (1782-1842), engenheiro alemão, veio para o Brasil, em 1909, a serviço<br />

<strong>do</strong> governo português para administrar a fábrica <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Ipanema. Aos oito anos <strong>de</strong><br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong>, viajou para Portugal, acompanhan<strong>do</strong> sua família. Iniciou seus estu<strong>do</strong>s no Real Colégio Militar <strong>de</strong><br />

Lisboa, interrompen<strong>do</strong>-os para ingressar, como voluntário, nas tropas fiéis a Dom Pedro IV (Dom Pedro<br />

I, <strong>do</strong> Brasil). Após a guerra civil portuguesa, estu<strong>do</strong>u engenharia, forman<strong>do</strong>-se, em 1840, na Aca<strong>de</strong>mia<br />

Real <strong>de</strong> Fortificação. Des<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>nte, <strong>de</strong>dicou-se aos estu<strong>do</strong>s históricos, publican<strong>do</strong>, aos<br />

vinte anos, na Coleção <strong>de</strong> Notícias para a História e Geografia <strong>da</strong>s Nações Ultramarinas, o ensaio<br />

“Reflexões críticas sobre um escrito <strong>do</strong> século XVI”. Participou também <strong>da</strong> revista Panorama, on<strong>de</strong><br />

publicou a “Crônica <strong>do</strong> Descobrimento <strong>do</strong> Brasil”. Ao retornar ao Brasil, já como membro <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia


N O TA S B I O G R Á F I C A S | 4 0 1<br />

<strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Lisboa, reivindicou ao governo imperial o direito à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia brasileira, que havia<br />

perdi<strong>do</strong> com a abdicação <strong>de</strong> Dom Pedro I. Tornou-se oficial <strong>do</strong> Imperial Corpo <strong>de</strong> Bombeiros. Demitiuse<br />

<strong>de</strong>sse cargo para se <strong>de</strong>dicar à carreira diplomática, que iniciou em 1841. Em 1842, foi nomea<strong>do</strong> adi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 1ª classe <strong>da</strong> legação brasileira em Lisboa. Em 1847, foi transferi<strong>do</strong> para a legação <strong>de</strong> Madri, como<br />

encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> negócios. Lá, em 1854, publicou o primeiro volume <strong>da</strong> sua História geral <strong>do</strong> Brasil.<br />

Nomea<strong>do</strong> ministro plenipotenciário em Assunção. Depois, foi transferi<strong>do</strong> para Caracas. Posteriormente,<br />

representou o país no Peru e no Chile. Terminou sua carreira como ministro plenipotenciário brasileiro<br />

em Viena, na Áustria, para on<strong>de</strong> foi removi<strong>do</strong>, em 1868. Em 1872, recebeu o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Porto<br />

Seguro. Logo <strong>de</strong>pois, o título foi eleva<strong>do</strong> para viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Seguro. Foi membro fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. É consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o pai <strong>da</strong> História <strong>do</strong> Brasil, pois, como<br />

historia<strong>do</strong>r, foi pioneiro na utilização <strong>de</strong> vasta <strong>do</strong>cumentação primária para estu<strong>da</strong>r as gran<strong>de</strong>s áreas <strong>da</strong><br />

história brasileira, especialmente os primeiros séculos <strong>da</strong> nossa formação. Preocupa<strong>do</strong> com problemas<br />

políticos, econômicos e administrativos <strong>do</strong> país, escreveu o Memorial orgânico, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a<br />

administração basea<strong>da</strong> em uma nova divisão territorial, em <strong>de</strong>partamentos. Dirigiu uma famosa carta ao<br />

ministro <strong>da</strong> Agricultura, na qual expôs a proposta <strong>de</strong> vários melhoramentos que po<strong>de</strong>riam ser feitos nos<br />

engenhos <strong>de</strong> açúcar. Publicou cerca <strong>de</strong> cem livros, entre os quais se <strong>de</strong>stacam: História geral <strong>do</strong> Brasil<br />

(Viena, 1845, 2 v.), História <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil (Revista <strong>do</strong> IHGB, 1916), O <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong><br />

Brasil: crônica <strong>do</strong> século XVI (1840) e Os holan<strong>de</strong>ses no Brasil.<br />

<strong>Rio</strong> Doce, barão <strong>do</strong>. Antônio José Gonçalves Fontes. Médico e político brasileiro. Faleceu em Paris.<br />

Foi verea<strong>do</strong>r e presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r póstumo <strong>da</strong> escola<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Barão <strong>do</strong> rio Doce, construí<strong>da</strong> na freguesia <strong>de</strong> Santo Antônio e manti<strong>da</strong> com o patrimônio<br />

lega<strong>do</strong> pelo seu patrono. A escola ministrava ensino gratuito para os alunos que a freqüentavam, nos <strong>do</strong>is<br />

turnos em que funcionava. Foi agracia<strong>do</strong> com o título <strong>de</strong> barão <strong>do</strong> rio Doce, em 1876.<br />

<strong>Rio</strong> Seco, barão, viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> e marquês <strong>de</strong> Jundiaí. Joaquim José <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>. Nobre brasileiro.<br />

Nasceu em Lisboa, em 1761, e faleceu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1835. Fi<strong>da</strong>lgo cavaleiro <strong>da</strong> Casa<br />

Real (1808), acompanhou a família real, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> transferência <strong>da</strong> Corte para o Brasil. Conselheiro <strong>de</strong><br />

Sua Majesta<strong>de</strong> (1810). Alcai<strong>de</strong>-mor <strong>de</strong> Santos (SP). Tesoureiro <strong>da</strong> Casa Real. Escrivão <strong>de</strong> filhamentos.<br />

Almoxarife <strong>do</strong>s Paços Reais. Sob a sua inspeção, foi aprova<strong>do</strong> o regimento <strong>da</strong> Real Couta<strong>da</strong> <strong>da</strong> ilha <strong>do</strong><br />

Governa<strong>do</strong>r, em 1811. Agracia<strong>do</strong> pelo governo português com o título <strong>de</strong> barão <strong>do</strong> rio Seco, em 1813,<br />

foi eleva<strong>do</strong> a viscon<strong>de</strong>, em 1818. Decidiu permanecer no Brasil, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>m João VI voltou a Portugal,<br />

passan<strong>do</strong> a servir a Dom Pedro I. Recebeu <strong>do</strong> governo brasileiro os títulos <strong>de</strong> barão e <strong>de</strong> viscon<strong>de</strong> <strong>do</strong> rio<br />

Seco, em 1822 e foi eleva<strong>do</strong> a marquês <strong>de</strong> Jundiaí, em 1826. Publicou a Exposição analítica e<br />

justificativa <strong>da</strong> conduta e vi<strong>da</strong> pública, no <strong>Rio</strong> e <strong>Janeiro</strong>, em 1821. Essa obra é uma fonte importante<br />

para o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> transferência <strong>da</strong> Corte portuguesa para o Brasil.<br />

Santos, Luís Gonçalves <strong>do</strong>s. Padre Perereca. Sacer<strong>do</strong>te e cronista histórico brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1767, e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1844. O apeli<strong>do</strong> é proveniente <strong>do</strong> hábito que<br />

tinha <strong>de</strong> saltitar e arregalar os olhos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> esbugalha<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> fazia os seus sermões. Colaborou<br />

com o jornal O Revérbero, em 1821. Entre os seus livros, <strong>de</strong>stacam-se: O Império <strong>do</strong> Brasil consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

em suas relações políticas e comerciais (1824) e, sobretu<strong>do</strong>, as famosas Memórias para servir à História<br />

<strong>do</strong> Reino <strong>do</strong> Brasil (1825), que são <strong>de</strong> consulta obrigatória para o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1808 a 1821. Durante o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> regência <strong>de</strong> Antônio Feijó, manteve com ele uma polêmica pública, através <strong>do</strong>s jornais, sobre<br />

o celibato clerical.<br />

São Simão, con<strong>de</strong> <strong>de</strong>. Paulo Fernan<strong>de</strong>s Carneiro Viana. Nobre brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>,<br />

RJ, em 1804, e faleceu na mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1865. Filho <strong>do</strong> primeiro inten<strong>de</strong>nte geral <strong>da</strong> polícia <strong>da</strong><br />

Corte, Paulo Fernan<strong>de</strong>s Viana. Agracia<strong>do</strong> pelo governo português com o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> São Simão,<br />

em 1818. Recebeu <strong>do</strong> governo imperial brasileiro o mesmo título, em 1823. Depois foi eleva<strong>do</strong> a con<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Simão, em 1826.<br />

Taunay, barão <strong>de</strong>. Felix Émile Taunay. Pintor francês. Nasceu em Montmorency, França, em 1795, e<br />

faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1881. Veio para o Brasil em 1816, com seu pai, o pintor Nicolas<br />

Antoine Taunay, membro <strong>da</strong> Missão Artística Francesa, convi<strong>da</strong><strong>da</strong> por <strong>do</strong>m João VI para <strong>de</strong>senvolver as


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artes no país. Foi nomea<strong>do</strong> professor <strong>de</strong> pintura <strong>da</strong> Real Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas Artes, <strong>da</strong> qual foi diretor,<br />

entre 1834 e 1851. Implantou reformas <strong>de</strong>cisivas nessa instituição e como preceptor <strong>do</strong> jovem Dom<br />

Pedro II, cujo retrato pintou, participou <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diárias <strong>do</strong> monarca. Foi um <strong>do</strong>s sócios fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Sua obra pictórica inclui paisagens, cenas históricas e<br />

retratos. Foi pai <strong>do</strong> romancista Alfre<strong>do</strong> d' Escragnolle Taunay e avô <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r Afonso Taunay.<br />

Valença, barão, con<strong>de</strong> e marquês <strong>de</strong>. Estevão Ribeiro <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>. Político e fazen<strong>de</strong>iro brasileiro.<br />

Nasceu em Pra<strong>do</strong>s, MG, em 1777, e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1856. Forma<strong>do</strong> em Direito pela<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. Ao terminar o curso, recebeu a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> ofício <strong>de</strong> tabelião judicial <strong>de</strong><br />

São João <strong>de</strong>l Rei, MG. Em 1806, foi nomea<strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> fora em Palmela, Portugal. Permaneceu no seu<br />

cargo durante a invasão <strong>do</strong> reino português pelas tropas francesas, em 1807. Em 1810, retornou ao<br />

Brasil, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> nomea<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Em 1813, foi nomea<strong>do</strong> fiscal <strong>do</strong>s diamantes.<br />

Em 1814, foi nomea<strong>do</strong> <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Relação <strong>da</strong> Bahia. Em 1817, foi nomea<strong>do</strong><br />

aju<strong>da</strong>nte <strong>do</strong> inten<strong>de</strong>nte geral <strong>de</strong> Polícia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e, em 1818, <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong><br />

Suplicação. Em 1821, foi nomea<strong>do</strong> superinten<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> contraban<strong>do</strong>. Procura<strong>do</strong>r <strong>da</strong> província <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais, foi nomea<strong>do</strong> secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Dom Pedro I. Em 1823, foi nomea<strong>do</strong> inten<strong>de</strong>nte geral <strong>de</strong><br />

polícia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Assembléia Nacional Constituinte por Minas Gerais e<br />

recebeu o título <strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Valença. Em 1824, foi nomea<strong>do</strong> <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r honorário <strong>da</strong> Mesa <strong>do</strong><br />

Desembargo <strong>do</strong> Paço. Nesse ano e no seguinte, ocupou o cargo <strong>de</strong> ministro <strong>de</strong> Império. Indica<strong>do</strong> ao<br />

sena<strong>do</strong> por Minas Gerais e São Paulo, optou pela ca<strong>de</strong>ira ofereci<strong>da</strong> pela sua província natal. Assumiu o<br />

seu cargo <strong>de</strong> sena<strong>do</strong>r, em 1826. Nesse ano, passou a <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r efetivo <strong>do</strong> Paço e pediu sua<br />

aposenta<strong>do</strong>ria. Ain<strong>da</strong> nesse ano, seu título foi eleva<strong>do</strong> a con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valença. Em 1827, foi ministro <strong>da</strong><br />

Justiça, até a dissolução <strong>do</strong> gabinete. Em 1828, seu título foi eleva<strong>do</strong> a marquês <strong>de</strong> Valença. Foi sócio<br />

honorário <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sócio efetivo <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Auxilia<strong>do</strong>ra <strong>da</strong><br />

Indústria Nacional e <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Agricultura <strong>da</strong> Suécia. Dignatário honorário <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Imperial <strong>do</strong><br />

Cruzeiro, por carta <strong>de</strong> 1830, e cavaleiro e grão-cruz <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo. Durante o perío<strong>do</strong> regencial,<br />

combateu o liberalismo, mas, em 1840, quan<strong>do</strong> os liberais se tornaram maioria e aban<strong>do</strong>naram as idéias<br />

republicanas, a<strong>de</strong>riu ao ministério liberal <strong>da</strong> Maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Vasconcelos, Bernar<strong>do</strong> Pereira <strong>de</strong>. Estadista, político e jurista brasileiro. Nasceu em Ouro Preto, MG,<br />

em 1795 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1850. Aos <strong>do</strong>ze anos, foi estu<strong>da</strong>r em Portugal, mas logo<br />

retornou ao Brasil, por causa <strong>da</strong> invasão francesa <strong>de</strong> 1807, concluin<strong>do</strong> os preparatórios no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>. Em 1813, viajou para Portugal, forman<strong>do</strong>-se em Direito e Filosofia pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra, em 1819. Regressou ao Brasil, em 1820, e foi nomea<strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> fora em Guaratinguetá. Depois,<br />

foi nomea<strong>do</strong> <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Tribunal <strong>da</strong> Relação <strong>do</strong> Maranhão. Foi membro <strong>da</strong> Junta <strong>de</strong> Governo <strong>da</strong><br />

província <strong>de</strong> Minas Gerais. Foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Assembléia Geral por Minas Gerais, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o<br />

parlamentarismo, na primeira legislatura. Em 1828, foi escolhi<strong>do</strong> sena<strong>do</strong>r vitalício. Com a ascensão <strong>do</strong>s<br />

liberais ao po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1831, ocupou a pasta <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, durante a Regência Trina.<br />

Em 1832, quan<strong>do</strong> foi dissolvi<strong>do</strong> esse ministério, <strong>de</strong>ixou o governo. Em 1833, como primeiro vicepresi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>da</strong> província <strong>de</strong> Minas Gerais, reprimiu a revolta contra o presi<strong>de</strong>nte mineiro. Em 1834,<br />

elaborou uma proposta <strong>de</strong> Ato Adicional, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o fortalecimento <strong>do</strong> Executivo, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

política parlamentarista. Em 1835, foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> à Assembléia Provincial mineira, apresentan<strong>do</strong><br />

projetos sobre estra<strong>da</strong>s e ensino público. Expoente <strong>do</strong> liberalismo no país, recuou <strong>de</strong>ssas idéias, durante<br />

regência <strong>de</strong> Antônio Feijó, fun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o Parti<strong>do</strong> Regressista, tendência política fun<strong>da</strong>mentalmente<br />

conserva<strong>do</strong>ra. Na regência <strong>de</strong> Pedro <strong>de</strong> Araújo Lima, foi ministro <strong>da</strong> Justiça e, interinamente, <strong>do</strong><br />

Império. Nesse perío<strong>do</strong>, referen<strong>do</strong>u a fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> Colégio Pedro II e <strong>de</strong> outros estabelecimentos <strong>de</strong><br />

ensino, que não chegaram a ser implanta<strong>do</strong>s por falta <strong>de</strong> recursos. Foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Instituto Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro. Deixou o cargo <strong>de</strong> ministro com a dissolução <strong>do</strong> gabinete. Em 1839, como<br />

sena<strong>do</strong>r, apresentou uma proposta <strong>de</strong> reforma <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Processo Criminal. Em 1840, <strong>de</strong> volta à<br />

política, como ministro <strong>do</strong> Império, tentou adiar a proclamação <strong>da</strong> maiori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Dom Pedro II, mas


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fracassou e o gabinete, <strong>do</strong> qual fazia parte, foi <strong>de</strong>posto nove horas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> forma<strong>do</strong>. No Ministério<br />

Liberal <strong>da</strong> Maiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, como sena<strong>do</strong>r, foi o autor <strong>da</strong> proposta, <strong>de</strong>pois aprova<strong>da</strong>, <strong>de</strong> criação <strong>do</strong> Conselho<br />

<strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>. Foi nomea<strong>do</strong> conselheiro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> em 1840. Em 1849, foi con<strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com a grãcruz<br />

<strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Imperial <strong>do</strong> Cruzeiro. Colaborou com os jornais Sete <strong>de</strong> Abril e A Sentinela <strong>da</strong><br />

Monarquia. Escreveu Comentários à Lei <strong>do</strong>s Juizes <strong>de</strong> Paz (1839) e Carta aos senhores eleitores <strong>da</strong><br />

província <strong>de</strong> Minas Gerais (1838), na qual resumiu a história <strong>de</strong> seus trabalhos legislativos.<br />

Vassouras, barão <strong>de</strong>. Francisco Teixeira Leite. Proprietário rural, empresário e banqueiro brasileiro.<br />

Nasceu em São João <strong>de</strong>l Rei, MG, em 1804, e faleceu em Vassouras, RJ, em 1884. Abasta<strong>do</strong> proprietário<br />

<strong>de</strong> fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> café, era <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s mais importantes famílias <strong>da</strong> aristocracia rural cafeeira,<br />

os <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s “barões <strong>do</strong> café”, estabeleci<strong>do</strong>s no Vale <strong>do</strong> Paraíba fluminense. Agracia<strong>do</strong> com o título<br />

<strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Vassouras, em 1874, em referência ao município <strong>do</strong> mesmo nome, on<strong>de</strong> se localizavam suas<br />

fazen<strong>da</strong>s. Foi dignitário <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> Rosa, cavaleiro <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo e comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império.<br />

Viana, Paulo Fernan<strong>de</strong>s. Administra<strong>do</strong>r e advoga<strong>do</strong> brasileiro. Nasceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em 1757, e<br />

faleceu nessa mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em 1821. Bacharel em Direito pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. Foi nomea<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Paço, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Mesa <strong>de</strong> Consciência e Or<strong>de</strong>ns e conselheiro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>. Em 1808,<br />

foi nomea<strong>do</strong> inten<strong>de</strong>nte-geral <strong>da</strong> Intendência <strong>de</strong> Polícia <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, por <strong>do</strong>m João VI. A polícia,<br />

nessa época, <strong>de</strong>tinha funções mais amplas <strong>do</strong> que a manutenção <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m pública e a prevenção e<br />

repressão <strong>de</strong> crimes e <strong>de</strong>litos. Exercia atribuições executivas, legislativas e até judiciárias. Como<br />

inten<strong>de</strong>nte-geral or<strong>de</strong>nou a construção <strong>do</strong> cais <strong>do</strong> Valongo, a edificação <strong>de</strong> quatro quartéis, a organização<br />

<strong>da</strong> polícia, a abertura, o alinhamento e o calçamento <strong>de</strong> ruas, o aterro <strong>de</strong> pântanos, a construção <strong>do</strong><br />

chafariz <strong>do</strong> caminho <strong>de</strong> Matacavalos, atual rua <strong>do</strong> Riachuelo, em 1817, e <strong>do</strong> chafariz <strong>da</strong>s Lava<strong>de</strong>iras, no<br />

campo <strong>de</strong> Santana. Melhorou o abastecimento <strong>de</strong> água <strong>da</strong> urbe e construiu novas estra<strong>da</strong>s e pontes,<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> início a drenagem <strong>do</strong> mangue <strong>do</strong> Aterra<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova. Introduziu o cultivo <strong>de</strong> amoreiras e a<br />

criação <strong>do</strong> bicho-<strong>da</strong>-se<strong>da</strong> no campo <strong>de</strong> Santana, on<strong>de</strong> criou o seu primeiro jardim. Foi ouvi<strong>do</strong>r geral <strong>do</strong><br />

crime e comen<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo.<br />

Visconti, Eliseu d’Angelo. Artista plástico e professor brasileiro, <strong>de</strong> origem italiana. Nasceu na Villa<br />

Santa Caterina, Giffoni Valle e Piana, Itália, em 1866 e faleceu no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, RJ, em 1944. Ain<strong>da</strong><br />

criança, viajou com a família para o Brasil. Estu<strong>do</strong>u no Liceu <strong>de</strong> Artes e Ofícios <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.<br />

Cursou a Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong> Belas Artes, on<strong>de</strong> foi aluno <strong>de</strong> Victor Meirelles, Ro<strong>do</strong>lfo Amoe<strong>do</strong> e José<br />

Maria Me<strong>de</strong>iros. Participou <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> renovação <strong>da</strong>s artes plásticas nacionais e foi um <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res <strong>do</strong> Ateliê Livre, com Zeferino Costa e os irmãos Henrique e Ro<strong>do</strong>lfo Berna<strong>de</strong>lli. Em 1892,<br />

ganhou o prêmio <strong>de</strong> viagem à Europa <strong>do</strong> Salão Nacional <strong>de</strong> Artes Plásticas. Em Paris, entre outras<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que <strong>de</strong>senvolveu, estu<strong>do</strong>u na École <strong>de</strong>s Arts Décoratifs. Em 1900, retornou ao Brasil. Entre<br />

1906 e 1913, lecionou na Escola <strong>de</strong> Belas Artes. É o autor <strong>da</strong> <strong>de</strong>coração <strong>do</strong> Teatro Municipal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>, on<strong>de</strong> pintou as Oréa<strong>da</strong>s no espaço, na frisa <strong>do</strong> alto <strong>do</strong> proscênio e a notável pintura <strong>de</strong> <strong>da</strong>nça<br />

antiga na cúpula, em 1909. É <strong>de</strong> sua autoria, também, a pintura <strong>do</strong> teto <strong>do</strong> foyer, realiza<strong>da</strong> entre 1913 e<br />

1917. Em 1934, refez a pintura <strong>do</strong> proscênio, manten<strong>do</strong> alguns nus femininos <strong>de</strong>ita<strong>do</strong>s ou flutuantes e a<br />

figuração <strong>da</strong> serra <strong>do</strong>s Órgãos e <strong>do</strong> De<strong>do</strong> <strong>de</strong> Deus. É também autor <strong>da</strong>s pinturas internas <strong>da</strong> Biblioteca<br />

Nacional e <strong>da</strong> Câmara Municipal. Dedicou-se ao <strong>de</strong>senho industrial e à produção <strong>de</strong> cerâmicas, papéis<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>coração, cartazes e vinhetas publicitárias. Deixou inúmeras pinturas <strong>de</strong> paisagens, <strong>de</strong> retratos e <strong>de</strong><br />

cenas urbanas e familiares. Inicialmente, seus trabalhos eram influencia<strong>do</strong>s pelos pré-rafaelistas, em<br />

voga no país, no final <strong>do</strong> século XIX. Na maturi<strong>da</strong><strong>de</strong>, transitou entre o estilo art-nouveau e o<br />

impressionismo.

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