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influência da urbanização nas vazões máximas ... - CERPCH - Unifei

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TECHNICAL ARTICLES<br />

INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NAS VAZÕES MÁXIMAS DE PEQUENAS BACIAS<br />

1 Thiago Roberto Batista,<br />

Sandra Regina <strong>da</strong> Luz,<br />

Benedito Cláudio <strong>da</strong> Silva<br />

RESUMO<br />

O aumento <strong>da</strong> impermeabilização <strong>da</strong>s superfícies tem gerado sérios problemas. A água <strong>da</strong> chuva que antes era infiltra<strong>da</strong> passa a<br />

escoar por superfícies de concreto, gerando problemas ambientais, relacionados à contaminação dos corpos de água, bem como<br />

os de saúde pública. Com a impermeabilização do solo há um aumento na veloci<strong>da</strong>de do escoamento bem como nos picos de<br />

<strong>vazões</strong>, potencializando os riscos de ocorrência de inun<strong>da</strong>ções. Diversas bacias localiza<strong>da</strong>s próximas de áreas urba<strong>nas</strong> ain<strong>da</strong> são<br />

de predominância parte rural, com grandes áreas cobertas por matas e pastagens, porém apresentam tendências de ampliação <strong>da</strong><br />

área urbaniza<strong>da</strong>, com a construção de novos loteamentos. O presente trabalho consiste numa análise do efeito do crescimento <strong>da</strong><br />

<strong>urbanização</strong> <strong>nas</strong> <strong>vazões</strong> de três bacias através de modelagem hidrológica, utilizando o software IPHS-1. A análise dos hidrogramas<br />

para os cenários atual e futuro comprovam que, se houver um crescimento <strong>da</strong> <strong>urbanização</strong>, a tendência é a diminuição dos tempos de<br />

concentração e o aumento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong>.<br />

PALAVRAS-CHAVE: <strong>urbanização</strong>, vazão máxima, simulação hidrológica.<br />

ABSTRACT<br />

URBANIZATION INFLUENCE IN MAXIMUM FLOWS OF SMALL BASINS<br />

The increase of sealing of the areas has created serious problems. The rainwater that used to infiltrate now runs by concrete surfaces,<br />

creating environmental problems related to contamination of the water bodies and the public health. With the sealing of soil there is<br />

an increase in speed of disposal and in peak flow rates, increasing the risk of floods. Several basins located near urban areas are still<br />

predominantly rural, with large areas covered by forests and pastures, but trends show expansion of the urbanized area, with the<br />

construction of new subdivisions. This paper is an analysis of the effect of increasing urbanization in the three basins flows through<br />

hydrologic modeling using the software IPHS-1. The analysis of the hydrographs for current and future scenarios show that if a growth<br />

of urbanization, the trend is to decrease the time of concentration and increase in maximum flows.<br />

KEYWORDS: urbanization, maximum flow, hydrologic simulation.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A <strong>urbanização</strong> desordena<strong>da</strong> <strong>da</strong>s bacias hidrográficas gera<br />

diversos desequilíbrios ao meio ambiente e, consequentemente,<br />

<strong>da</strong>nos ao homem. Uma <strong>da</strong>s consequências provoca<strong>da</strong>s pela falta<br />

de planejamento <strong>da</strong> ocupação e uso do solo é a alteração de alguns<br />

processos inerentes ao ciclo hidrológico. A <strong>urbanização</strong> acarreta<br />

na diminuição na cobertura vegetal e impermeabilização do solo,<br />

direcionando maior parcela de água pluvial a um escoamento<br />

superficial, <strong>da</strong><strong>da</strong> a redução <strong>da</strong> interceptação vegetal, infiltração e<br />

evapotranspiração pela retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua proteção natural, além de<br />

diminuir a recarga dos aquíferos subterrâneos. A consequência<br />

deste processo é um aumento nos volumes escoados e <strong>nas</strong><br />

<strong>vazões</strong> de pico, ao mesmo tempo em que ocorre a redução do<br />

tempo de concentração, provocando eventos de cheias ca<strong>da</strong> vez<br />

mais críticos (Urbo<strong>nas</strong>, 1993; Tucci, 2003; Clarke & King, 2005).<br />

O escoamento pluvial pode produzir inun<strong>da</strong>ções e impactos<br />

<strong>nas</strong> áreas urba<strong>nas</strong> por dois processos, que ocorrem isola<strong>da</strong>mente<br />

ou de forma integra<strong>da</strong>: inun<strong>da</strong>ções de áreas ribeirinhas e inun<strong>da</strong>ções<br />

devido à <strong>urbanização</strong>. Estas últimas ocorrem devido à impermeabilização<br />

do solo, canalização ou obstrução ao escoamento. As<br />

enchentes aumentam a sua frequência e magnitude em razão <strong>da</strong><br />

ocupação do solo com superfícies impermeáveis e <strong>da</strong> rede de condutos<br />

de escoamentos. O desenvolvimento urbano pode também<br />

produzir obstruções ao escoamento como aterros e pontes, drenagens<br />

inadequa<strong>da</strong>s, z<br />

entupimento de condutos e assoreamento.<br />

Com a <strong>urbanização</strong>, a cobertura <strong>da</strong> bacia é em grande parte<br />

impermeabiliza<strong>da</strong> com edificações e pavimentos e são introduzidos<br />

condutos para escoamento pluvial, gerando as seguintes<br />

alterações (Tucci, 2007):<br />

1 Universi<strong>da</strong>de Federal de Itajubá – UNIFEI, Av. BPS, 1303. Pinheirinho, Itajubá /MG (35) 3629 1411 – silvabenedito@gmail.com<br />

• Redução <strong>da</strong> infiltração no solo;<br />

• O volume que deixa de infiltrar fica na superfície, aumentando<br />

o escoamento superficial. Além disso, como foram construídos<br />

condutos pluviais para o escoamento superficial, tornando-o<br />

mais rápido, ocorre redução do tempo de deslocamento.<br />

Desta forma as <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> também aumentam por isso,<br />

antecipando seus picos no tempo (Figura 1);<br />

• Com a redução <strong>da</strong> infiltração, o aquífero tende a diminuir o nível<br />

do lençol freático por falta de alimentação (principalmente<br />

quando a área urbana é muito extensa), reduzindo o escoamento<br />

subterrâneo. As redes de abastecimento, pluvial e cloacal<br />

• possuem vazamentos que podem alimentar o aquíferos,<br />

tendo efeito inverso do mencionado;<br />

• Devido à substituição <strong>da</strong> cobertura natural ocorre uma redução<br />

<strong>da</strong> evapotranspiração, já que a superfície urbana não<br />

retém água como a cobertura vegetal e não permite a evapotranspiração<br />

<strong>da</strong>s folhagens e do solo.<br />

De acordo com Souza (2005), os hidrogramas de <strong>vazões</strong> para<br />

áreas desenvolvi<strong>da</strong>s sem controle apresentam menores tempos<br />

de concentração e, consequentemente, menores tempos de picos,<br />

provocando um aumento significativo no volume, além de maior<br />

duração de descarga com relação ao hidrograma natural. Na Figura<br />

1 são caracteriza<strong>da</strong>s as alterações no uso do solo devido à <strong>urbanização</strong><br />

e seu efeito sobre o hidrograma e nos níveis de inun<strong>da</strong>ção.<br />

Baseado nessas considerações, esse trabalho apresenta uma<br />

avaliação do comportamento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> de cheias para diferentes<br />

cenários de ocupação urbana em três diferentes bacias. As análises<br />

são realiza<strong>da</strong>s por meio de modelagem hidrológica do processo chuva-vazão<br />

e são utilizados cenários de usos e ocupação de acordo com<br />

as tendências de expansão <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des onde se localizam as bacias.<br />

19


a) Balanço Hídrico<br />

b) Escoamento<br />

2. MATERIAIS E MÉTODOS<br />

20<br />

ARTIGOS TÉCNICOS<br />

c) Resposta <strong>da</strong> geometria do escoamento<br />

FIG. 1: Efeitos <strong>da</strong>s alterações no uso do solo sobre os níveis e <strong>vazões</strong> dos rios (Fonte: Tucci, 2007).<br />

O desenvolvimento do trabalho consiste <strong>da</strong>s seguintes etapas:<br />

i) Levantamento de <strong>da</strong>dos físicos <strong>da</strong>s bacias, tais como área<br />

de drenagem, rede de drenagem, mapeamento de tipo<br />

de solos, mapas de usos do solo, relevo, comprimento e<br />

declivi<strong>da</strong>de dos rios principais e <strong>da</strong>dos hidrometeorológicos;<br />

ii) Divisão em sub-bacias e preparação dos <strong>da</strong>dos de entra<strong>da</strong><br />

do modelo hidrológico;<br />

iii) Definição e preparação dos cenários de uso do solo;<br />

iv) Simulação dos cenários e análises dos resultados.<br />

As bacias escolhi<strong>da</strong>s são:<br />

a) Bacia do Ribeirão José Pereira. Localiza<strong>da</strong> no município de<br />

Itajubá (MG), possui área de drenagem de 40km2 e seu<br />

trecho inferior encontra-se urbanizado, sofrendo frequentes<br />

inun<strong>da</strong>ções que atingem ruas, áreas residenciais e comerciais;<br />

b) Ribeirão Vargens de Cal<strong>da</strong>s. Bacia localiza<strong>da</strong> no município de<br />

Poços de Cal<strong>da</strong>s, com área de drenagem de 44 km 2 , também<br />

possui ocorrências frequentes de inun<strong>da</strong>ções no seu trecho<br />

inferior, onde se concentram as áreas urbaniza<strong>da</strong>s;<br />

c) Ribeirão de Poços. Também localiza<strong>da</strong> no município de Poços<br />

de Cal<strong>da</strong>s, possui área de 54 km 2 e apresenta densa ocupação<br />

urbana nos trechos médio e baixo do curso principal.<br />

Para a aplicação do modelo hidrológico de transformação chuvavazão<br />

na bacia em estudo foi utilizado o software IPHS-1 (UFRGS,<br />

2004). Para a separação do escoamento foi escolhido o modelo<br />

SCS, existente no IPHS-1, sendo que este foi ajustado através <strong>da</strong>


análise dos valores obtidos para o tempo de concentração.<br />

Para to<strong>da</strong>s as bacias as áreas e <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> rede de drenagem<br />

foram obtidos a partir de levantamentos topográficos planialtimétricos<br />

com curvas de nível de 10 em 10 metros, cedidos pelas<br />

prefeituras municipais. A divisão em sub-bacias foi realiza<strong>da</strong> com<br />

as características quanto à ocupação, o tipo de solo, os aspectos<br />

hidrológicos, dentre outros fatores, de forma a obter regiões que<br />

apresentem similari<strong>da</strong>des.<br />

O tempo de concentração é o tempo que a água precipita<strong>da</strong><br />

no ponto mais distante <strong>da</strong> bacia leva para chegar até a seção<br />

principal em estudo (Porto et al, 1993). Para as simulações foram<br />

utilizados os métodos de Kirpich com correção e Germano, pois<br />

estes são os únicos métodos que utilizam os <strong>da</strong>dos do parâmetro<br />

CN (Curve Number) e impermeabilização. O método de Kirpich<br />

com correção é apresentado na Equação 1:<br />

Onde tc é o tempo de concentração (h), L é o comprimento<br />

do talvegue principal (km), S é a declivi<strong>da</strong>de média equivalente<br />

(%). Para a utilização <strong>da</strong> Equação 1 devem ser observados os<br />

limites de aplicação: bacias rurais e de pequena magnitude; para<br />

superfície asfáltica ou concreta<strong>da</strong>, deve-se multiplicar por 0,4;<br />

se o CN <strong>da</strong> bacia for menor que 80 deve ser aplica<strong>da</strong> a seguinte<br />

correção (Equação 2):<br />

t t · [1 + (80 – CN) · 0,04] (2)<br />

c c<br />

O método de Germano é apresentado na Equação 3:<br />

Onde tc é o tempo de concentração (min.), L é o comprimento do<br />

rio principal (km), IMP é a porcentagem <strong>da</strong> área impermeável (%).<br />

Para a elaboração do mapa de uso e ocupação do solo foram<br />

utiliza<strong>da</strong>s imagens do satélite CBERS. Mesmo apresentando baixa<br />

resolução espacial esse satélite é uma importante ferramenta<br />

para analisar o uso do solo e pode ser feito constantemente, uma<br />

vez que as imagens são disponibiliza<strong>da</strong>s gratuitamente na página<br />

do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Com relação<br />

ao mapa pedológico, não foram coleta<strong>da</strong>s amostras de tipos<br />

de solos <strong>da</strong> bacia, por isso foi utilizado um banco de <strong>da</strong>dos do<br />

Instituto de Geociências Aplica<strong>da</strong>s (IGA) que contém um mapa<br />

pedológico do estado de Mi<strong>nas</strong> Gerais.<br />

Não existem <strong>da</strong>dos de chuvas observados para as bacias.<br />

Dessa forma, os hietogramas de projeto foram obtidos <strong>da</strong> curva<br />

Intensi<strong>da</strong>de-Duração-Frequência (curva IDF), estima<strong>da</strong>s para a<br />

região através do software Plúvio 2.1 – Chuvas Intensas para o<br />

Brasil (UFV, 2006). A equação para o cálculo <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de de<br />

chuva na ci<strong>da</strong>de de Itajubá é expressa na Equação 4 e para Poços<br />

de Cal<strong>da</strong>s a Equação 5.<br />

Onde i é a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> precipitação (mm/h), T é o tempo<br />

de retorno (anos), t é a duração <strong>da</strong> chuva (min).<br />

Os parâmetros obtidos <strong>da</strong> curva IDF para a região de Itajubá<br />

serviram como <strong>da</strong>dos de entra<strong>da</strong> para o software Curvas IDF 1.1,<br />

um subprograma do software IPHS-1, sendo obti<strong>da</strong>s as chuvas<br />

de projeto desagrega<strong>da</strong>s, para os tempos de retorno de 2, 5, 10,<br />

20 e 50 anos, discretiza<strong>da</strong>s de 5 em 5 minutos.<br />

(1)<br />

(3)<br />

(4)<br />

(5)<br />

TECHNICAL ARTICLES<br />

Foram considerados dois aspectos nos cenários de desenvolvimento<br />

do plano: (a) cenário de desenvolvimento urbano;<br />

(b) medi<strong>da</strong>s de controle adota<strong>da</strong>s nos cenários. Os principais<br />

cenários identificados quanto ao desenvolvimento urbano neste<br />

estudo foram os seguintes:<br />

I – Atual: Condições de <strong>urbanização</strong> atual, obti<strong>da</strong> de acordo<br />

com estimativas demográficas e imagens de satélite;<br />

II – Cenário futuro seguindo-se o PDDU: Este cenário<br />

envolve a ocupação atual para as partes <strong>da</strong> bacia onde o Plano foi<br />

superado na sua previsão, enquanto que para as áreas em que<br />

o Plano não foi superado, foi considerado o valor de densificação<br />

previsto no mesmo.<br />

III - Cenário de ocupação máxima: Este cenário envolve a<br />

ocupação máxima de acordo com o que vem sendo observado em<br />

diferentes partes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que se encontram neste estágio. Este<br />

cenário representa a situação que ocorrerá se o disciplinamento<br />

do solo não for obedecido.<br />

Para a bacia do Ribeirão José pereira considerou-se ape<strong>nas</strong><br />

os cenários I e III.<br />

3. RESULTADOS<br />

As bacias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s foram dividi<strong>da</strong>s em sub-bacias, sendo 19<br />

para o Ribeirão José Pereira, 14 para o Vargens de Cal<strong>da</strong>s e 45<br />

sub-bacias no Ribeirão de Poços. Dessa maneira, os resultados<br />

no modelo IPHS1 podem ser obtidos para ca<strong>da</strong> sub-bacia ou para<br />

a bacia com um todo. Os mapas de classes de tipos e usos do<br />

solo para as bacias são apresentados <strong>nas</strong> Figuras 2 a 4. Esses<br />

mapas foram obtidos através <strong>da</strong> combinação do mapa de tipos<br />

de solos e do mapa de uso do solo e cobertura vegetal. Foi feita<br />

a combinação para ca<strong>da</strong> sub-bacia, separa<strong>da</strong>mente, de forma<br />

a obter a área correspondente a ca<strong>da</strong> classe. Com isso, foram<br />

obtidos os valores do parâmetro CN para as classes de uso e<br />

ocupação do solo e seu respectivo tipo de solo.<br />

O cenário de crescimento <strong>da</strong> <strong>urbanização</strong> foi simulado através de<br />

alteração nos valores do parâmetro CN, para estimar as prováveis<br />

mu<strong>da</strong>nças no uso e ocupação do solo. A Figura 10 apresenta uma<br />

comparação entre o comportamento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> no exutório <strong>da</strong> bacia<br />

do Ribeirão José Pereira para tempo de recorrência de 5 anos<br />

para os dois cenários analisados. Por essa figura se observa que<br />

a ampliação <strong>da</strong> área urbana, mesmo que somente na parte mais<br />

baixa <strong>da</strong> bacia irá acarretar aumentos de picos <strong>nas</strong> cheias que, por<br />

consequência, acarretam elevação nos níveis de inun<strong>da</strong>ção.<br />

Os resultados para a bacia do Ribeirão de Poços são apresentados<br />

na Figura, mostrando que a adoção de medi<strong>da</strong>s simples como<br />

a ocupação com baixa densificação pode manter o controle sobre<br />

os <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> (Cenário com o plano diretor de drenagem urbana -<br />

PDDU). O cenário de ampliação <strong>da</strong> ocupação seguindo as tendências<br />

atuais, sem controle, resulta em uma grande ampliação na vazão<br />

de pico dessa bacia. Isso ocorre devido à grande declivi<strong>da</strong>de do<br />

relevo na bacia, que gera um escoamento com maiores veloci<strong>da</strong>des<br />

e <strong>vazões</strong> de maior magnitude nos trechos de jusante. Além disso,<br />

se observa na Figura 7 que houve uma antecipação <strong>da</strong> ascensão do<br />

hidrograma, reduzindo o tempo de formação <strong>da</strong>s cheias.<br />

Simulações semelhantes foram feitas para diferentes tempos<br />

de retorno, a partir <strong>da</strong>s chuvas de projeto. A Figura 7 apresenta<br />

os resultados para a seção de saí<strong>da</strong> do Ribeirão Vargens de<br />

Cal<strong>da</strong>s. Nessa figura são apresentados resultados somente<br />

em termos de <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> para os diferentes tempos de<br />

retorno. Nota-se que para to<strong>da</strong>s as frequências haverá aumento<br />

nos valores, sendo mais expressivos para o cenário que segue<br />

as tendências atuais de ocupação urbana. Caso seja seguido o<br />

PDDU do município, que prevê uma ocupação controla<strong>da</strong> e com<br />

medi<strong>da</strong>s de atenuação, a ampliação <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> será bem menor.<br />

21


22<br />

ARTIGOS TÉCNICOS<br />

FIG. 2: Mapa de classes de tipos e usos do solo na bacia do ribeirão José<br />

Pereira.<br />

FIG. 3: Mapa de uso e ocupação do solo e tipo de solo para o Ribeirão de<br />

Poços.<br />

FIG. 4: Mapa de uso e ocupação do solo e tipo de solo para a bacia do<br />

Ribeirão vargens de Cal<strong>da</strong>s<br />

Para a bacia do Ribeirão de Poços os resultados são apresentados<br />

na Figura 8, que apresenta as <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> em uma seção<br />

próxima a sua foz, junto a estação rodoviária de Poços de Cal<strong>da</strong>s.<br />

Conforme já comentado anteriormente, nota-se que a bacia<br />

apresenta fortes tendências de aumento <strong>da</strong> vazão máxima para<br />

os demais valores de tempo de retorno, devido à característica<br />

de maior declivi<strong>da</strong>de do seu relevo. Em seu trecho inferior o Ribeirão<br />

de Poços acompanha a Aveni<strong>da</strong> João Pinheiro, que possui<br />

grande fluxo de veículos. Esse trecho já registrou ocorrência de<br />

alagamentos e erosão <strong>da</strong> calha, podendo esses problemas serem<br />

agravados por uma possível ampliação <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong>. Além<br />

disso, o Ribeirão de Poços deságua no Rio Lambari e imediata-<br />

FIG. 5: Hidrogramas no exutório <strong>da</strong> bacia para tempo de retorno de 5 anos<br />

para o Ribeirão José Pereira.<br />

FIG. 6: Hidrogramas de <strong>vazões</strong> para diferentes seções na bacia do Ribeirão<br />

de Poços, para tempo de retorno de 5 anos.<br />

FIG. 7: <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> para diferentes tempos de retorno para a bacia<br />

do Ribeirão vargens de Cal<strong>da</strong>s.


FIG. 8: <strong>vazões</strong> Máximas para diferentes tempos de retorno para a bacia<br />

do Ribeirão de Poços.<br />

mente a jusante desse encontro existe uma cascata de três PCHs<br />

(Antas I, Antas II e Rolador), cujas estruturas de vertimento podem<br />

ser afeta<strong>da</strong>s pelo aumento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> do Ribeirão de Poços,<br />

induzi<strong>da</strong>s pelo processo de <strong>urbanização</strong>.<br />

Por outro lado, caso a ocupação se mantenha nos moldes<br />

atuais, a tendência natural é o aumento <strong>nas</strong> <strong>vazões</strong>, provocando<br />

inun<strong>da</strong>ções de maior nível e mais frequentes (Cenário sem<br />

controle). No caso desse cenário, se observa que na bacia de<br />

Poços há uma maior tendência para o aumento de picos de vazão.<br />

Essa tendência <strong>da</strong> bacia indica que devem ser reforça<strong>da</strong>s as<br />

diretrizes do Plano Diretor, para que não se exce<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de<br />

atual do canal do Ribeirão de Poços ao longo <strong>da</strong> av. João Pinheiro.<br />

Finalmente, na Figura 9 são apresentados os resultados do<br />

comportamento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> na bacia do Ribeirão José<br />

Pereira, para os dois cenários considerados nessa bacia. Notase<br />

que também há um aumento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> quando se<br />

considera um crescimento <strong>da</strong> <strong>urbanização</strong> e impermeabilização do<br />

solo <strong>da</strong> bacia e esse aumento é maior para as cheias de maiores<br />

tempos de retorno. Esse resultado mostra que a bacia apresenta<br />

um risco elevado de que os eventos de cheia se tornem mais<br />

intensos e frequentes em um curto período de tempo. Sinais desse<br />

comportamento já têm ocorrido nos últimos anos, onde cheias no<br />

Ribeirão José Pereira causaram importantes prejuízos materiais a<br />

residências e estabelecimentos comerciais do seu trecho inferior.<br />

3. CONCLUSÃO<br />

O presente trabalho apresentou uma avaliação dos impactos<br />

<strong>nas</strong> <strong>vazões</strong> para três bacias hidrográficas <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des de Itajubá<br />

e Poços de Cal<strong>da</strong>s (Sul de Mi<strong>nas</strong> Gerais) devido ao aumento <strong>da</strong><br />

<strong>urbanização</strong>. As alterações que podem ocorrer na bacia em função<br />

do crescimento <strong>da</strong> impermeabilização do solo podem ser traduzi<strong>da</strong>s<br />

pelos hidrogramas simulados com o modelo IPHS-1 para a chuva<br />

de projeto determina<strong>da</strong>, nos quais podem ser observados aumentos<br />

<strong>nas</strong> <strong>vazões</strong> de pico, bem como nos tempos de pico, indicando uma<br />

maior resposta <strong>da</strong> bacia às precipitações, ou seja, um aumento na<br />

veloci<strong>da</strong>de e intensi<strong>da</strong>de do escoamento superficial na bacia.<br />

Mas de forma geral, as simulações realiza<strong>da</strong>s funcionam como<br />

indicativos dos processos e podem auxiliar o planejamento <strong>da</strong><br />

ocupação <strong>da</strong> bacia. O planejamento adequado, dentro do Plano<br />

Diretor de Drenagem, aliado a implantação de obras hidráulicas<br />

poderá contribuir para o amortecimento dos impactos <strong>da</strong>s chuvas<br />

de projeto, reduzindo os efeitos sobre os hidrogramas e, consequentemente,<br />

reduzir a ocorrência de inun<strong>da</strong>ções.<br />

Os resultados mostraram que as bacias possuem risco de terem<br />

suas <strong>vazões</strong> amplia<strong>da</strong>s, uma vez que ain<strong>da</strong> existem áreas propícias<br />

TECHNICAL ARTICLES<br />

FIG. 9: <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> no exutório <strong>da</strong> bacia do Ribeirão José Pereira para<br />

os dois cenários analisados.<br />

para a ocupação urbana. O aumento <strong>da</strong>s <strong>vazões</strong> <strong>máximas</strong> tem<br />

por consequência direta a elevação dos níveis de inun<strong>da</strong>ção, que<br />

já ocorrem <strong>nas</strong> três bacias. Além disso, a frequência inun<strong>da</strong>ções<br />

também sofre acréscimo, agravado pelo menor tempo de resposta<br />

<strong>da</strong> bacia, que dificulta as ações de alerta as populações.<br />

O modelo utilizado tem sido empregado com êxito em muitos<br />

trabalhos que envolvem processos de transformação chuvavazão,<br />

com resultados bastante satisfatórios. Apesar disso, para<br />

ambas as bacias, é recomen<strong>da</strong>do que esses resultados sejam<br />

vali<strong>da</strong>dos com a calibração dos <strong>da</strong>dos utilizando <strong>da</strong>dos reais <strong>da</strong><br />

bacia. Atualmente não existem <strong>da</strong>dos disponíveis que podem ser<br />

utilizados para a calibração do modelo. Para isso é necessário que<br />

sejam instalados postos de monitoramento <strong>nas</strong> bacias, de chuvas<br />

e vazão, com aquisição automática via sensores com capaci<strong>da</strong>de<br />

para monitoramento em intervalos de tempo menores que 10min.<br />

4. AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem ao Departamento Municipal de Água<br />

e Esgoto (DMAE) de Poços de Cal<strong>da</strong>s pelo financiamento dos<br />

estudos realizados <strong>nas</strong> bacias desse município e a disponibilização<br />

dos <strong>da</strong>dos necessários.<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

• CLARKE, R., KING, J. O Atlas <strong>da</strong> Água, São Paulo, Publifolha, 2005.<br />

• PORTO, R.L., ZAHEL, F., TUCCI, C.E.M., BIDONE, F., Drenagem<br />

Urbana, In: Hidrologia: Ciência e Aplicação, Tucci, C.E.M.<br />

(Organizador), Editora <strong>da</strong> UFRGS/EDUSP/ABRH, 1993.<br />

• SOUZA, C.F., Mecanismos técnico-institucionais para a susten-tabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> drenagem urbana, Instituto de Pesquisas<br />

Hidráulicas - Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul, Porto<br />

Alegre, 2005.<br />

• TUCCI, C.E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. 3ª edição,<br />

Porto Alegre: Ed. Da UFRGS / ABRH, 2003.<br />

• TUCCI, C.E.M., Inun<strong>da</strong>ções Urba<strong>nas</strong>, 1ª edição, ABRH/<br />

RHAMA, Porto Alegre, 2007.<br />

• UFRGS – Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul, IPHS-1<br />

para Windows v.2.11 - Modelagem hidrológica e hidráulica.<br />

Porto Alegre. Disponível em: http://www.iph.ufrgs.br/iphs1/<br />

downloads.htm. Acessado em: 10/07/2008.<br />

• UFV - Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, PLÚVIO 2.1 – Chuvas<br />

intensas para o Brasil, Viçosa, 2006. Disponível em: http://<br />

www.ufv.br. Acessado em: 25/08/2008<br />

• URBONAS, B., STAHRE, P., 1993. Stormwater Best Management<br />

Practices and Detention. Englewood Cliffs, New Jersey, 440p.<br />

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