As Meninas - Lygia Fagundes Telles O livro narra a história de três ...
As Meninas - Lygia Fagundes Telles O livro narra a história de três ...
As Meninas - Lygia Fagundes Telles O livro narra a história de três ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
complicado. "Três" - Lorena reflete sobre a violência do mundo; assaltos a bancos; a<br />
morte <strong>de</strong> Rômulo; a profissão <strong>de</strong> Remo propiciando sua "fuga" para o exterior.<br />
Gostaria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r alienar-se da "máquina <strong>de</strong>sse mundo" violento (intertextualida<strong>de</strong><br />
com o texto "A Máquina do mundo", <strong>de</strong> Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>), como uma<br />
ostra <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua concha dourada (= seu quarto - refúgio). Rememora a chegada <strong>de</strong><br />
Lia e A. Clara e a "invasão" das duas à sua privacida<strong>de</strong>, a amiza<strong>de</strong> das <strong>três</strong>, apesar das<br />
personalida<strong>de</strong>s opostas. Miúda e magra, mostra certa inveja da beleza <strong>de</strong> Ana Clara,<br />
apesar da diferença cultural... Através da visão <strong>de</strong> Lorena, conhecemos um pouco mais<br />
sobre as duas amigas: Lia <strong>de</strong> Melo Schultz tem um "pé" baiano, da mãe Diú (D.<br />
Dionísia) e outro berlinense, do pai seu Pô (Herr Paul, ex-oficial nazista). Herdou do<br />
pai o vigor germânico; da mãe, as "proporções gloriosas e a cabeleira <strong>de</strong> sol negro" e o<br />
açúcar da voz. É uma "mulher-hino", enquanto Lorena vê-se como uma civilizada,<br />
requintada "balada medieval" (ou "Magnólia <strong>de</strong>smaiada", para os colegas da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Direito). Ana Clara "arrombou" a privacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorena, obrigando-a a verda<strong>de</strong>iros<br />
exercícios <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> cristã: mexe em tudo, nos <strong>livro</strong>s, nos objetos pessoais. Tem<br />
olhos ver<strong>de</strong>s, é mo<strong>de</strong>lo, linda, mas "<strong>de</strong> cuca embrulhada", <strong>de</strong>primida e <strong>de</strong>primente,<br />
juntadíssima, afetadíssima, mentirosíssima - "ni ange ni bête" - (nem anjo, nem<br />
<strong>de</strong>mônio). Envolvida com sexo e drogas. Enquanto lancha ao sol, Lorena recorda o<br />
aborto <strong>de</strong> Aninha, resgatando a fábula da formiga e da cigarra (inconsciente,<br />
bagunceira, irresponsável), com quem compara a amiga. Recebe carta <strong>de</strong> Remo e<br />
pensa na morte <strong>de</strong> Rômulo. Filosofa sobre o lado omisso das relações humanas. Sonha<br />
em casar-se com M.N., pois sente-se frágil, insegura, precisando <strong>de</strong> um homem em<br />
tempo integral. Ao voltar para o quarto, pensa no colega Fabrízio, na noite chuvosa em<br />
que ele veio estudar mas preferiu envolvê-la nos braços, ameaçando sua virginda<strong>de</strong>;<br />
na falta <strong>de</strong> luz e subseqüente chegada <strong>de</strong> Lia, estragando o momento mágico com suas<br />
alpargatas molhadas e suas pesquisas sobre a vida das prostitutas, sua obsessão por<br />
Miguel. Lia sai, mas chega Ana Clara, e "se instala". Fim da noite para Fabrízio e<br />
Lorena. No dia seguinte, conheceu o Dr. M.N. na sua Faculda<strong>de</strong> e ganhou carona.<br />
Passa a viver aguardando seu telefonema, fantasiando um amor edipiano. "Quatro" -<br />
Max <strong>de</strong>lira na cama. Gosta <strong>de</strong> Chopin, <strong>de</strong> Renoir. Conversa com a Coelha (A. Clara)<br />
sobre a riqueza passada, as viagens. Ana compara os diferentes níveis <strong>de</strong> artistas<br />
abstratos e reclama <strong>de</strong> estar lúcida - teria tomado aspirina? Lembra o passado <strong>de</strong><br />
miséria e sonha com o futuro promissor como psicóloga <strong>de</strong> ricaços - "Nessa cida<strong>de</strong> as<br />
pessoas não se preocupam mais com nome, mas com o saco <strong>de</strong> ouro" (<strong>de</strong> que adianta<br />
o nome Vaz Leme <strong>de</strong> Lorena, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>irantes?). Quer esquecer a mãe, os<br />
amantes, Jorge, Aldo, Sérgio... e o suicídio com formicida. Lembra-se da amiga<br />
Adriana, feia e vesga, mas com casa na praia, on<strong>de</strong> A. Clara tentou lavar a memória<br />
do passado num banho <strong>de</strong> mar. Max <strong>de</strong>sperta e os dois <strong>de</strong>liram juntos. Ela está<br />
grávida e quer abortar. Ele <strong>de</strong>seja o filho, cuja voz diz ter ouvido. Vão ficar ricos e<br />
fazer cruzeiros pelo mundo. Ela é a gata borralheira, que tem encontro marcado com o<br />
noivo, que já <strong>de</strong>ve estar inquieto com o atraso. "Cinco" - Lorena aguarda o<br />
telefonema <strong>de</strong> M.N., como sempre. Pensa em arte, em literatura (Dante, Beatriz) , em<br />
música (jazz), em cheiros (incenso); em morte (Rômulo); na mãe e no carro (teme<br />
que Lia seja metralhada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le). Gostaria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r sair <strong>de</strong> moto com Fabrízio, um<br />
cinema, um jantar... mas acha que ele <strong>de</strong>ve estar na faculda<strong>de</strong>, incitando a greve e<br />
namorando uma poetazinha que resolveu seduzi-lo. Recebe a visita da irmã Bula e<br />
<strong>de</strong>sconfia que esta é a autora das cartas anônimas, que falam coisas horríveis sobre as<br />
meninas e as freiras, para Madre Alix, a superiora. Enquanto serve licor e biscoito para<br />
a freira, relembra a morte <strong>de</strong> Rômulo, as manchetes nos jornais; pensa em Lia, em<br />
Simone <strong>de</strong> Beauvoir (escritora francesa), em segundo e terceiro sexos, em M.N., em<br />
Che Guevara, em morrer e renascer (segundo S. Marcos, "é necessário nascer <strong>de</strong><br />
novo"). Recupera a teoria da amiga "terrorista" sobre a perda <strong>de</strong> pureza do baiano e<br />
do índio, e cita Gonçalves Dias. Coloca um Noturno <strong>de</strong> Chopin e serve constantemente