14.04.2013 Views

As Meninas - Lygia Fagundes Telles O livro narra a história de três ...

As Meninas - Lygia Fagundes Telles O livro narra a história de três ...

As Meninas - Lygia Fagundes Telles O livro narra a história de três ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cruz na corrente, enquanto filosofa sobre Deus, religião, fé. Lia sai rindo. Lorena faz<br />

caretas. "Dez" - Lia pega carona com o motorista <strong>de</strong> mãezinha <strong>de</strong> Lorena e vai visitála.<br />

No caminho, consegue fundir a cabeça do senhor com seu discurso sobre família e<br />

liberda<strong>de</strong>. Recebida no hall pelo mordomo, fuma, examina os objetos e tapetes<br />

luxuosos, enquanto imagina sua viagem, a <strong>de</strong>sunião da esquerda; vê-se na Argélia<br />

escrevendo seu diário e exaltando a Pátria. Mãezinha chora, na cama, a morte do<br />

psiquiatra Dr. Francis. Desajeitada, Lia tenta consolá-la e ouve suas lamúrias sobre a<br />

diferença <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre ela e Mieux, a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhá-lo em seus<br />

programas, a dificulda<strong>de</strong> em aceitar a velhice e a morte. Lia lembra-se <strong>de</strong> sua família<br />

(tão equilibrada!) com sauda<strong>de</strong> e amor. Mãezinha pergunta sobre os namoros <strong>de</strong><br />

Lorena e Lia (acha-a masculinizada) e quer trazer a filha <strong>de</strong> volta à casa. Conta uma<br />

versão totalmente diferente sobre a morte <strong>de</strong> Rômulo (falência cardíaca, ainda bebê).<br />

Lia sente-se nauseada e pensa em ver o álbum <strong>de</strong> fotos na garagem: acha que<br />

mãezinha está escamoteando a tragédia por auto-<strong>de</strong>fesa. Ganha roupas e mala para a<br />

viagem. "Onze" - Tar<strong>de</strong> da noite. Ana Clara chega transtornada ao quarto <strong>de</strong> Lorena,<br />

que está estudando para a prova no dia seguinte (a greve terminara). Entra arrastada,<br />

gritando <strong>de</strong> dor no peito e imunda. Lorena coloca-a na banheira - seu corpo está cheio<br />

<strong>de</strong> nódoas roxas e sofre alucinações com formigas, baratas, Deus e Max. Pe<strong>de</strong> uísque e<br />

a bolsa. Delira. Lorena pensa no abismo entre o ser e o estar, num futuro feliz no<br />

campo, fora <strong>de</strong> sua casca. <strong>As</strong> novelas da vizinhança encobrem os ruídos e finalmente<br />

A. Clara adormece. Lorena toma chá. Finalmente Lia chega para preparar as malas (a<br />

viagem será na manhã seguinte) e Lorena vai até seu quarto. Conversam muito -<br />

sabem que estão se <strong>de</strong>spedindo - e Lia conta-lhe que Guga virá procurá-la. Não vêem<br />

futuro na relação com M.N., que jamais abandonará a família, pois a "dor do remorso<br />

dói mais que a dor física"(Tolstói). Ao voltar para o quarto, Lorena tem um choque: A.<br />

Clara está morta. "Doze" - Lia corre aos acenos da amiga. Ao entrar, encontra Lorena<br />

massageando o peito <strong>de</strong> A. Clara, tentando revivê-la, enquanto reza. Lia pensa em<br />

chamar o pronto-socorro, em acordar todo mundo, em que po<strong>de</strong>ria ter feito mais pela<br />

amiga, além dos "discursos". A bolsa <strong>de</strong> A. Clara está aberta: talvez dali ela tirara a<br />

própria morte. Lorena tem idéias e age: encomenda o corpo, reza em latim, veste e<br />

pinta A. Clara como se esta fosse a uma festa. Elimina todas as pista<br />

comprometedoras para Aninha e Max, além das freiras do pensionato. <strong>As</strong> duas amigas<br />

carregam A. Clara através da noite provi<strong>de</strong>ncialmente nebulosa e abandonam o corpo<br />

em um banco em uma linda praça do bairro. Voltam para o pensionato e separam-se:<br />

cada uma vai viver a própria vida. Lia no exílio. Lorena <strong>de</strong> volta para a casa <strong>de</strong><br />

mãezinha, <strong>de</strong>ixando sua concha para a futura hóspe<strong>de</strong>, que vem do Pará. Ação A ação<br />

do <strong>livro</strong> é prevalentemente interiorizada. Quase nada acontece na realida<strong>de</strong> exterior; a<br />

vidinha pacata e rotineira no pensionato, as conversas intermináveis, os estudos, as<br />

visitas das personagens ao redor do quarto <strong>de</strong> Lorena - centro daquele microcosmo -,<br />

poucos momentos na faculda<strong>de</strong> e no "aparelho"; as atitu<strong>de</strong>s contraditórias <strong>de</strong> Ana<br />

Clara e sua morte; a solução dada pelas amigas para se livrarem <strong>de</strong> um cadáver<br />

comprometedor. Tudo se passa no âmbito da memória, enquanto as meninas resolvem<br />

o passado e evocam suas experiências em busca <strong>de</strong> auto-conhecimento, <strong>de</strong> solução<br />

para seus traumas e conflitos interiores, para a exorcização <strong>de</strong> seus "fantasmas".<br />

Personagens Lorena Vaz Leme, filha <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros, culta, fina, aristocrática,<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>irantes. É aluna na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito e bastante estudiosa: cita<br />

com freqüência passagens da Bíblia, frases em latim, em francês, em espanhol, <strong>de</strong><br />

filósofos variados, escritores e músicos. Demonstra cultura e educação esmerada,<br />

on<strong>de</strong> se fun<strong>de</strong>m harmoniosamente o erudito e o popular. <strong>As</strong>sistiu impotente à<br />

<strong>de</strong>rrocada da própria família e evoca freqüentemente esse passado, on<strong>de</strong> contrapõe os<br />

momentos felizes da infância, na fazenda, à morte aci<strong>de</strong>ntal do irmão e a subseqüente<br />

<strong>de</strong>sagregação do núcleo familiar - a fazenda vendida, o pai internado em sanatório, o<br />

irmão traumatizado pela culpa, a mãe vivendo <strong>de</strong> fantasias, terapias e falsas ilusões.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!