Estudo põe em foco a arquitetura dos túmulos do interior paulista
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<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>põe</strong> <strong>em</strong> <strong>foco</strong> a <strong>arquitetura</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>túmulos</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>interior</strong> <strong>paulista</strong><br />
10/11/2003<br />
O arquiteto Renato Cymbalista <strong>do</strong>cumentou c<strong>em</strong>itérios de mais de 40 cidades <strong>do</strong> <strong>interior</strong> <strong>paulista</strong>,<br />
com uma produção de cerca de 2000 registros fotográficos. Esse trabalho faz parte <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong><br />
defendi<strong>do</strong> na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, e hoje pode ser encontra<strong>do</strong><br />
nas livrarias sob o título de Cidades <strong><strong>do</strong>s</strong> Vivos (da Editora Annablume). O livro, além da pesquisa<br />
histórica, disponibiliza 250 fotos da dissertação.<br />
O pesquisa<strong>do</strong>r tratou os c<strong>em</strong>itérios como um microcosmo da cidade, no qual ricos e pobres,<br />
negros e brancos ocupam o mesmo espaço e constro<strong>em</strong> sua identidade social principalmente<br />
pela <strong>arquitetura</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>túmulos</strong>.<br />
Cymbalista buscou entender como os c<strong>em</strong>itérios passaram a integrar a paisag<strong>em</strong> urbana. No<br />
perío<strong>do</strong> colonial pre<strong>do</strong>minava uma relação íntima entre vivos e mortos - qu<strong>em</strong> morria, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, podia ser enterra<strong>do</strong> dentro de igrejas, um local de convívio. "Apenas no século XIX, é<br />
que a idéia de um c<strong>em</strong>itério <strong>em</strong> um lugar afasta<strong>do</strong> surgiu, junto com o desejo burguês de<br />
organizar e impor normas aos espaços, seguin<strong>do</strong>, muitas vezes, modelos de cidades européias."<br />
Apesar de os c<strong>em</strong>itérios ter<strong>em</strong> altera<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> de lidar com a morte, o arquiteto verificou que<br />
certos costumes, como as atitudes mágicas e a veneração de certos mortos, resistiram às<br />
mudanças. Um ex<strong>em</strong>plo é o <strong>do</strong> túmulo de Ivana Javanovitch (1907-1987), também conhecida por<br />
Cigana Ivana. Em São José <strong>do</strong> Rio Preto, onde seu corpo está sepulta<strong>do</strong>, ela recebe pedi<strong><strong>do</strong>s</strong><br />
escritos com batom sobre o granito de sua lápide, além de maquiag<strong>em</strong>, bijuterias e cigarros.<br />
O pesquisa<strong>do</strong>r procurou, ainda, entender os motivos que determinavam as formas arquitetônicas<br />
<strong><strong>do</strong>s</strong> c<strong>em</strong>itérios, assim como as relações de poder e os conteú<strong><strong>do</strong>s</strong> religiosos ou leigos conti<strong><strong>do</strong>s</strong><br />
nelas. Tentou reconstruir os processos pelos quais as representações, figuras e ornamentos<br />
foram reinterpreta<strong><strong>do</strong>s</strong> e reinventa<strong><strong>do</strong>s</strong> ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />
Um <strong><strong>do</strong>s</strong> el<strong>em</strong>entos analisa<strong><strong>do</strong>s</strong> foram as flores de Bauru. As flores acompanham os mortos há<br />
muito t<strong>em</strong>po. Porém, as flores naturais perd<strong>em</strong> o vigor rapidamente e, para fazê-las mais<br />
dura<strong>do</strong>uras, utilizaram-se representações <strong>em</strong> porcelana, lata ou plástico. O túmulo <strong>do</strong> primeiro<br />
enterra<strong>do</strong> no c<strong>em</strong>itério de Bauru, João Henrique Dix (que se suici<strong>do</strong>u <strong>em</strong> 1908, para inaugurar a<br />
necrópole), já levava flores esculpidas <strong>em</strong> mármore. Mais tarde, <strong>em</strong> 1928, as flores de um outro<br />
túmulo foram moldadas <strong>em</strong> alvenaria e reboco. Estes tipos de ornamento serviram na decoração<br />
<strong>do</strong> pórtico de entrada <strong>do</strong> c<strong>em</strong>itério da cidade e popularizaram-se para outros <strong>túmulos</strong> <strong>do</strong><br />
c<strong>em</strong>itério, crian<strong>do</strong> algo como um "estilo bauruense". "Na década de 1960, as flores praticamente<br />
deixaram de ser utilizadas e o padrão passou a ser o <strong>em</strong>prego <strong>do</strong> granito, pelos mais ricos, e de<br />
azulejos, pelos mais pobres".<br />
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Classes sociais no c<strong>em</strong>itério<br />
Cymbalista se interessou por estudar os c<strong>em</strong>itérios de cidades <strong>interior</strong>ioranas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São<br />
Paulo devi<strong>do</strong> à diversidade de formas, estilos e materiais <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>túmulos</strong>. "Além disso, os c<strong>em</strong>itérios<br />
de cidades <strong>do</strong> <strong>interior</strong>, apresentam uma maior interface entre as classes sociais", explica.<br />
Os <strong>túmulos</strong> das cidades <strong>do</strong> oeste <strong>paulista</strong> pareciam, ao pesquisa<strong>do</strong>r, caracterizar um tipo de<br />
<strong>arquitetura</strong> híbrida, que misturaria os estilos eruditos, com mo<strong><strong>do</strong>s</strong> construtivos populares. No<br />
entanto, durante o trabalho de campo, Renato verificou que sua hipótese não se confirmava.<br />
"Conversan<strong>do</strong> com mestres de obras <strong><strong>do</strong>s</strong> c<strong>em</strong>itérios, percebi que eles não se viam como<br />
porta<strong>do</strong>res de um estilo. Os <strong>túmulos</strong> das elites é que ditavam as modas. Mas isso não significa<br />
que a população tenha deixa<strong>do</strong> de se colocar no espaço <strong><strong>do</strong>s</strong> c<strong>em</strong>itérios. Ela se manifesta com os<br />
objetos de devoção, com a a<strong>do</strong>ração de certos mortos e santos, por ex<strong>em</strong>plo", conclui.<br />
Fonte: USP<br />
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