14.04.2013 Views

697-707 - Universidade de Coimbra

697-707 - Universidade de Coimbra

697-707 - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Saem <strong>de</strong>pois e apparece Liberata, a<br />

filha mais velha do lavrador, que anda<br />

com o irmão, Celiponcio, á caça pela<br />

serra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Mal o irmão a <strong>de</strong>ixa, Liberata põese<br />

a cantar, e apparece, chamado pela<br />

voz <strong>de</strong>lia, o selvagem ^Mon<strong>de</strong>rigon.<br />

. Ouvia-se o ruído que faziam os corpos<br />

das damas que se inclinavam para<br />

ouvir melhor, mas logo se callou o ruído<br />

das sedas e veltudos e mal se ouviam<br />

as respirações.<br />

É que começára Gil Vicente a trovar<br />

<strong>de</strong> amôr.<br />

Liberata ameaça Mon<strong>de</strong>rigon, que<br />

lhe respon<strong>de</strong> docemente:<br />

No os entiendo:<br />

Y tan valiente os sentis,<br />

Que me quereis hacer guerra?<br />

Para acabar com um suspiro:<br />

Yo me riendo.<br />

Continua Liberata com palavras <strong>de</strong><br />

morte para Mon<strong>de</strong>rigon, que remata:<br />

Senora, no tanto mal,<br />

Si muerto me <strong>de</strong>seais,<br />

Muerto só.<br />

Esquiva-se a donzella, até que Mon<strong>de</strong>rigon<br />

lhe perguntou se quer ser namorada<br />

d'elle.<br />

Todos escutavam aquêlle lindo diálogo<br />

:<br />

Lib. Namorada que cosa és?<br />

Mond. Linda cosa:<br />

Ser<strong>de</strong>s mansa y mo<strong>de</strong>rada,<br />

Hablar risuena y cortês<br />

Y amorosa.<br />

Liberata <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-o e Mon<strong>de</strong>rigon<br />

diz antes <strong>de</strong> sair:<br />

Librame <strong>de</strong> tu esquivanza<br />

Tan esquiva.<br />

Senora, daenje alvedrio<br />

Que vuelva por esperanza,<br />

Con que viva.<br />

Começavam a chorar as senhoras,<br />

quando appareceu <strong>de</strong> novo Celiponcio<br />

a contar á irmã que encontrara na floresta<br />

uma serpe e um leão, que o protegem<br />

e o seguem para toda a parte.<br />

Mal o irmão se vai, appareceu um homem,<br />

muito <strong>de</strong>sfigurado, coberto <strong>de</strong><br />

cabello, e com uma braga <strong>de</strong> ferro.<br />

Era SMelidomo, que vinha em nome<br />

do Mon<strong>de</strong>rigon, e pe<strong>de</strong> a Liberata que<br />

o livre a elle, á irmã e aos irmãos,<br />

que elle tem captivas, e que cada dia,<br />

aquella hora, faz cantar.<br />

Sus llantos son muy continos;<br />

Elloran con ojos divinos;<br />

Y las lágrimas son<br />

Arroyos <strong>de</strong>i corazon,<br />

Con que moleran molinos<br />

Escuchad, que aquellas son.<br />

Aqui, ouviu-se uma dôce música <strong>de</strong><br />

longe.<br />

As senhoras choravam, e as suas<br />

cabeças inclinadas pareciam vergar ao<br />

peso das lágrimas, como as flôres se<br />

dobram ao orvalho da madrugada.<br />

Liberata, não se commove, nem<br />

com os rogos <strong>de</strong> dMon<strong>de</strong>rigon que volta<br />

a persegui la.<br />

Quando o irmão chega diz a Liberata,<br />

que está namorado duma das captivas<br />

<strong>de</strong> Mon<strong>de</strong>rigon e que resolveu<br />

matá-lo.<br />

Mon<strong>de</strong>rigon accommette-o, toca Celiponcio,<br />

sua bozina, acco<strong>de</strong>m a Serpe<br />

e o Leão que matam a Mon<strong>de</strong>rigon,<br />

e logo se vám ao seu Castello, e tiram<br />

a princêza Colimena e suas donzellas<br />

e irmãos.<br />

I Entra por fim Colimena com seus<br />

irmãos e irmãs, com gran<strong>de</strong> apparato<br />

dè música, e a Serpe e o Leão acompanhando<br />

a dita princêza, e acabada a<br />

música o Peregrino convida as damas<br />

<strong>de</strong> Colimena a <strong>de</strong>scobrirem os seus<br />

nomes.<br />

Aqui começaram os pagens a sorrir-se<br />

e trocaram se os olhares <strong>de</strong> amor<br />

a darem razão ao poeta.<br />

Era plena renascença ouvia-se en<br />

tão no murmurar do vento, no choro<br />

da água, no torcer dos raminhos dos<br />

salgueiros, a dôr <strong>de</strong> Ignês <strong>de</strong> Castro.<br />

Dirigiu se a Dama para as senhoras<br />

<strong>de</strong>sta família que andavam na côrte e<br />

disse-lhes:<br />

As mulheres <strong>de</strong> Crasto são <strong>de</strong> pouca falia,<br />

Fermosas.e firmes, como saberes<br />

Pela triste morte <strong>de</strong> Dona Ines,<br />

A qual <strong>de</strong> constante morreu nesta sala.<br />

E fallando dos fidalgos dizia iroicamente<br />

á Dama:<br />

Todos os Crastos proce<strong>de</strong>i <strong>de</strong> mi<br />

Forão d'antig

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!