697-707 - Universidade de Coimbra
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Saem <strong>de</strong>pois e apparece Liberata, a<br />
filha mais velha do lavrador, que anda<br />
com o irmão, Celiponcio, á caça pela<br />
serra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Mal o irmão a <strong>de</strong>ixa, Liberata põese<br />
a cantar, e apparece, chamado pela<br />
voz <strong>de</strong>lia, o selvagem ^Mon<strong>de</strong>rigon.<br />
. Ouvia-se o ruído que faziam os corpos<br />
das damas que se inclinavam para<br />
ouvir melhor, mas logo se callou o ruído<br />
das sedas e veltudos e mal se ouviam<br />
as respirações.<br />
É que começára Gil Vicente a trovar<br />
<strong>de</strong> amôr.<br />
Liberata ameaça Mon<strong>de</strong>rigon, que<br />
lhe respon<strong>de</strong> docemente:<br />
No os entiendo:<br />
Y tan valiente os sentis,<br />
Que me quereis hacer guerra?<br />
Para acabar com um suspiro:<br />
Yo me riendo.<br />
Continua Liberata com palavras <strong>de</strong><br />
morte para Mon<strong>de</strong>rigon, que remata:<br />
Senora, no tanto mal,<br />
Si muerto me <strong>de</strong>seais,<br />
Muerto só.<br />
Esquiva-se a donzella, até que Mon<strong>de</strong>rigon<br />
lhe perguntou se quer ser namorada<br />
d'elle.<br />
Todos escutavam aquêlle lindo diálogo<br />
:<br />
Lib. Namorada que cosa és?<br />
Mond. Linda cosa:<br />
Ser<strong>de</strong>s mansa y mo<strong>de</strong>rada,<br />
Hablar risuena y cortês<br />
Y amorosa.<br />
Liberata <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-o e Mon<strong>de</strong>rigon<br />
diz antes <strong>de</strong> sair:<br />
Librame <strong>de</strong> tu esquivanza<br />
Tan esquiva.<br />
Senora, daenje alvedrio<br />
Que vuelva por esperanza,<br />
Con que viva.<br />
Começavam a chorar as senhoras,<br />
quando appareceu <strong>de</strong> novo Celiponcio<br />
a contar á irmã que encontrara na floresta<br />
uma serpe e um leão, que o protegem<br />
e o seguem para toda a parte.<br />
Mal o irmão se vai, appareceu um homem,<br />
muito <strong>de</strong>sfigurado, coberto <strong>de</strong><br />
cabello, e com uma braga <strong>de</strong> ferro.<br />
Era SMelidomo, que vinha em nome<br />
do Mon<strong>de</strong>rigon, e pe<strong>de</strong> a Liberata que<br />
o livre a elle, á irmã e aos irmãos,<br />
que elle tem captivas, e que cada dia,<br />
aquella hora, faz cantar.<br />
Sus llantos son muy continos;<br />
Elloran con ojos divinos;<br />
Y las lágrimas son<br />
Arroyos <strong>de</strong>i corazon,<br />
Con que moleran molinos<br />
Escuchad, que aquellas son.<br />
Aqui, ouviu-se uma dôce música <strong>de</strong><br />
longe.<br />
As senhoras choravam, e as suas<br />
cabeças inclinadas pareciam vergar ao<br />
peso das lágrimas, como as flôres se<br />
dobram ao orvalho da madrugada.<br />
Liberata, não se commove, nem<br />
com os rogos <strong>de</strong> dMon<strong>de</strong>rigon que volta<br />
a persegui la.<br />
Quando o irmão chega diz a Liberata,<br />
que está namorado duma das captivas<br />
<strong>de</strong> Mon<strong>de</strong>rigon e que resolveu<br />
matá-lo.<br />
Mon<strong>de</strong>rigon accommette-o, toca Celiponcio,<br />
sua bozina, acco<strong>de</strong>m a Serpe<br />
e o Leão que matam a Mon<strong>de</strong>rigon,<br />
e logo se vám ao seu Castello, e tiram<br />
a princêza Colimena e suas donzellas<br />
e irmãos.<br />
I Entra por fim Colimena com seus<br />
irmãos e irmãs, com gran<strong>de</strong> apparato<br />
dè música, e a Serpe e o Leão acompanhando<br />
a dita princêza, e acabada a<br />
música o Peregrino convida as damas<br />
<strong>de</strong> Colimena a <strong>de</strong>scobrirem os seus<br />
nomes.<br />
Aqui começaram os pagens a sorrir-se<br />
e trocaram se os olhares <strong>de</strong> amor<br />
a darem razão ao poeta.<br />
Era plena renascença ouvia-se en<br />
tão no murmurar do vento, no choro<br />
da água, no torcer dos raminhos dos<br />
salgueiros, a dôr <strong>de</strong> Ignês <strong>de</strong> Castro.<br />
Dirigiu se a Dama para as senhoras<br />
<strong>de</strong>sta família que andavam na côrte e<br />
disse-lhes:<br />
As mulheres <strong>de</strong> Crasto são <strong>de</strong> pouca falia,<br />
Fermosas.e firmes, como saberes<br />
Pela triste morte <strong>de</strong> Dona Ines,<br />
A qual <strong>de</strong> constante morreu nesta sala.<br />
E fallando dos fidalgos dizia iroicamente<br />
á Dama:<br />
Todos os Crastos proce<strong>de</strong>i <strong>de</strong> mi<br />
Forão d'antig