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o humanismo português entre o latim eo astrolábio - Núcleo de ...

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O HUMANISMO PORTUGUÊS ENTRE O LATIM E O ASTROLÁBIO:<br />

NOTAS SOBRE A TRANSLATIO IMPERII E OS ITINERÁRIOS DE<br />

DAMIÃO DE GÓIS (1523 – 1567)<br />

Luiz César <strong>de</strong> Sá Júnior ∗<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora – UFJF<br />

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo colocar em perspectiva o encontro <strong>entre</strong> os<br />

itinerários e trajetória do humanista <strong>português</strong> Damião <strong>de</strong> Góis (1502 – 1574) e a sua constituição <strong>de</strong><br />

textos laudatórios sobre o império luso. Homem <strong>de</strong> governo até 1533, tendo servido a D. Manuel I na<br />

corte e a D. João III na feitoria portuguesa <strong>de</strong> Flandres, passa a conviver com os eruditos <strong>de</strong> maior<br />

renome <strong>de</strong> seu tempo quando abandona o cargo. Desenvolve os estudos <strong>de</strong> <strong>latim</strong> em Louvain, vive<br />

com Erasmo por 17 semanas em Friburgo <strong>de</strong> Brisgóia, forma-se em Ars na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pádua sob<br />

os auspícios dos car<strong>de</strong>ais humanistas Pietro Bembo, Iacopo Sadoleto e Lazaro Buonamico. A partir<br />

daí, produz profícua obra opuscular, traduções e, finalmente, duas crônicas que cobrem o período dos<br />

reinados do príncipe D. João (futuro D. João II) e o venturoso D. Manuel I. Pretendo restituir as<br />

tentativas, nesses textos e em seu epistolário, <strong>de</strong> estabelecer diante do público erudito europeu uma<br />

imagem do império – e da península Ibérica, <strong>de</strong> modo mais geral - como sucessor dos romanos no<br />

controle do mundo, tentativa que se consolidou tanto como uma ação em prol do reino luso quanto<br />

como uma tentativa <strong>de</strong> incrementar seu prestígio nos círculos eruditos europeus.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Damião <strong>de</strong> Góis, Humanismo, Historiografia renascentista.<br />

0. A literatura laudatória <strong>de</strong> cariz historiográfico encontra em Damião <strong>de</strong> Góis 1 (1502-<br />

1574) um representante satisfatório. As conquistas portuguesas que transformaram a<br />

península Ibérica <strong>de</strong> periferia da Europa a ponta <strong>de</strong> lança <strong>de</strong> reluzentes expectativas<br />

encontram, aqui, um ponto basilar <strong>de</strong> sustentação. Gostaria <strong>de</strong> ilustrar essa assertiva a partir<br />

<strong>de</strong> um breve percurso pelos itinerários percorridos por Góis na sua Crônica <strong>de</strong> D. Manuel I,<br />

rei luso <strong>entre</strong> 1495 e 1521. Para tanto, seguiremos os nautas e a administração do reino até a<br />

costa do Malabar, em busca <strong>de</strong> um evento memorável; em seguida, acompanharemos a<br />

trajetória <strong>de</strong> um piedoso elefante em Lisboa; por fim, as memórias da Antiguida<strong>de</strong> entrarão<br />

em cena, quando, ao lado <strong>de</strong> Aníbal <strong>de</strong> Cartago e do mare nostrum romano, po<strong>de</strong>remos<br />

vislumbrar alguns pontos <strong>de</strong> compreensão para os problemas colocados ao longo do texto.<br />

1. Martinho era um dos súditos <strong>de</strong> D. Manuel I (GÓIS, 1749, p. 489). Vivia e<br />

trabalhava na praça <strong>de</strong> Cochim 2 , <strong>de</strong>ntro da fortaleza régia. Recebia, habitualmente, sua ração<br />

∗ Bolsista CAPES do mestrado em História da UFJF.<br />

1 As referências biográficas goisianas são extensas. A título <strong>de</strong> mera introdução, consultar: MACHADO, 1930,<br />

p. 602-607 (primeira tentativa <strong>de</strong> biografia goisiana, contém imprecisões sérias, mas persiste à guisa <strong>de</strong> consulta<br />

inicial). Mais recentemente, HIRSCH: 2002; SERRÃO, 1994, p. 45-114.; SERRÃO, 1972, p. 161-176.<br />

2 Sobre Cochim, AUBIN, 2006, p. 323-325 e passim.<br />

1


ao fim do dia 3 , além <strong>de</strong> recolher alguma renda na praia, on<strong>de</strong>, vez ou outra, fazia serviços<br />

adicionais. Caminhava pela cida<strong>de</strong> com o pagamento, sempre em busca <strong>de</strong> “pa<strong>de</strong>iras e<br />

fructeiras” que fornecessem os mantimentos necessários ao seu sustento.<br />

Um dia, após carregar uma pipa <strong>de</strong> vinho a pedido <strong>de</strong> um <strong>português</strong>, não obteve em<br />

troca a recompensa prometida, pois – argumentou o empregador – tratava-se <strong>de</strong> uma<br />

encomenda da fortaleza. Martinho sabia que o procedimento adotado pelo <strong>português</strong> era<br />

incorreto, e que, portanto, havia sido enganado, convencido a trabalhar <strong>de</strong> graça. Sua fúria foi<br />

enorme, tão gran<strong>de</strong> quanto a injustiça a que fora submetido.<br />

Descartada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo com um facínora daquele calibre, Martinho<br />

perseguiu seu adversário, que refugiou-se em casa. Com a porta fechada, a única solução<br />

encontrada foi <strong>de</strong>struir uma das pare<strong>de</strong>s do local, feito não muito difícil <strong>de</strong> se alcançar para<br />

um tão forte servo do Venturoso. Mesmo assim, foi incapaz <strong>de</strong> encontrá-lo; contudo, a pipa<br />

carregada <strong>de</strong> vinho ainda estava pelas redon<strong>de</strong>zas. Não hesitou quando a viu: tomou-a, “a<br />

lançou tam alta pera o ar, que ao cair se fez em pedaços […]”(GÓIS, 1749, p. 489).<br />

Diz-se que, noutra ocasião, foi-lhe pedido que lançasse ao mar uma galé. Como<br />

estivesse doente à época, foi obrigado a <strong>de</strong>clinar. Seu superior, ao saber disso, solicitou ao rei<br />

<strong>de</strong> Cochim que enviasse um <strong>de</strong> seus seguidores, alguém capaz <strong>de</strong> resolver o problema. O<br />

índio que acompanhava Martinho não pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar tal fato, dizendo que era<br />

motivo <strong>de</strong> vergonha ver a galé partir graças ao esforço do um súdito <strong>de</strong> governante tão<br />

simplório como o era o <strong>de</strong> Cochim, sobretudo quando comparado a D. Manuel. “Ouuindo,<br />

remet<strong>eo</strong> a ella [a galé] com tanta força, que como se fora um barco pequeno a lançou no mar,<br />

mas como andaua fraco da doença rend<strong>eo</strong> polas costas, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pois esteve muitos dias em<br />

cura […]” (GÓIS, 1749, p. 489).<br />

Góis afirma, em sua crônica, haver muito mais a dizer sobre Martinho, e que, dada a<br />

quantida<strong>de</strong> e magnanimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus feitos, <strong>de</strong>mandariam gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong> compilação.<br />

Parece-nos, no entanto, que <strong>de</strong>u-nos a conhecer o suficiente sobre aquele honrado e leal<br />

elefante.<br />

2. Histórias como a supracitada não foram incomuns nos quatrocentos e nos<br />

quinhentos, que estiveram às voltas com inúmeros relatos <strong>de</strong> criaturas estranhas ou perigosas.<br />

3 É curioso notar que há várias cartas na Torre do Tombo que dão conta dos cuidados com a alimentação <strong>de</strong> um<br />

elefante em Cochim, <strong>entre</strong> 1510 e 1512. Cf. Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, documentos simples PT-TT-<br />

CC/2/20/40, PT-TT-CC/2/23/29, PT-TT-CC/2/34/45, PT-TT-CC/2/35/96, PT-TT-CC/2/35/186, PT-TT-<br />

CC/2/35/262.<br />

2


O t<strong>eo</strong>r suculento <strong>de</strong>ssas mirabilia certamente contribuiu no esforço <strong>de</strong> construção dos mitos<br />

do além-mar. Merece reflexão, todavia, uma série <strong>de</strong> aspectos que po<strong>de</strong>m passar<br />

<strong>de</strong>spercebidos por uma leitura inicial.<br />

Se, a princípio, as lendas em torno do que se encontraria no mar – e nas terras que ele<br />

ocultava – focavam-se com freqüência em imagens <strong>de</strong> terror (DELUMEAU, 1978;<br />

GODINHO, 1990), <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r que não <strong>de</strong>veria ser provocado pelo homem, o que se vê na<br />

prosa goisiana é diverso. Temos uma construção do fantástico humanizado, ciente <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>ver para com o rei e <strong>de</strong> seus direitos 4 , na qual o lugar do medo diminui <strong>de</strong> forma<br />

consi<strong>de</strong>rável. Além disso, <strong>entre</strong> os exemplos elencados por Góis, encontramos um elefante<br />

que, estando em Narsinga, conhecia as letras gregas, sabendo ler e escrever (GÓIS, 1749, p.<br />

478); conseguiu redigir com sua tromba, no chão, sob o olhar atento do <strong>português</strong> Diogo<br />

Pereira, o que havia comido. É <strong>de</strong> se perguntar o que houve <strong>entre</strong> a gestação dos monstros<br />

ferozes e incontroláveis e o aparecimento <strong>de</strong> criaturas (algumas mesmo cultas, como se vê)<br />

que só extravasam seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>strutivo sob um motivo justo. A resposta, penso, está na<br />

articulação dos interesses do redator e dos elementos historiográficos <strong>de</strong> que dispunha,<br />

elementos que foram dispostos <strong>de</strong> maneira calculada, <strong>de</strong> modo a suscitar efeitos <strong>de</strong>sejados a<br />

priori. Há um padrão <strong>de</strong> intenção no retrato que Damião <strong>de</strong> Góis tenta estabelecer – e a<br />

referência ao trabalho <strong>de</strong> Baxandall (BAXANDALL, 2006, p. 80-118) não é casual. De fato, o<br />

cronista em tela fazia parte <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> estudiosos que “eram homens cultos, sem dúvida,<br />

mas que nunca haviam viajado à escala ultramarina, pelo que encaravam o mundo exótico no<br />

quadro i<strong>de</strong>al da sua formação <strong>de</strong> letrados.” (SERRÃO, 1994, p. 60)<br />

Ao iniciar o capítulo que trata <strong>de</strong> tais eventos, o cronista faz constantes referências<br />

aos escritores romanos e aquilo que se conhecia <strong>entre</strong> aquele povo sobre as criaturas em<br />

questão. A primeira lembrança trazida à tona é curiosa, ainda que um tanto previsível:<br />

“Acostumauam os Romanos, por gran<strong>de</strong>za, em lugares que pera isso tinhão, lançarem<br />

homens con<strong>de</strong>nados a morte, pera se matarem huns aos outros, ou com alimarias brauas, & as<br />

mesmas alimarias <strong>entre</strong> sim, aos quaes espetaculos concorriam todolos que os queriam ver, &<br />

os tinham elles em tanto, que em suas historias o contam como por cousa muito digna <strong>de</strong><br />

memoria...” (GÓIS, 1749, p. 477-478)<br />

4 Godinho pon<strong>de</strong>ra o problema geral nos seguintes termos: “Não há o mundo – um mundo único – mas retalhos<br />

<strong>de</strong> homens e seres em semelhança <strong>de</strong> humanos, separados por regiões inhabitáveis, como a zona tórrida <strong>de</strong>vido<br />

ao excesso <strong>de</strong> calor e as zonas boreais <strong>de</strong>vido ao excesso <strong>de</strong> frio, mas ainda por obstáculos formidáveis,<br />

fantásticos mesmo que com certa base real, suscitando o terror (o mar das Trevas, os <strong>de</strong>sertos em ebulição).<br />

Até chegar ao Adamastor, que simbolizava os perigos da navegação mas na sua figura conflui esse fundo antigo<br />

mítico e <strong>de</strong> pavor”. GODINHO, 1990, p. 61. [grifos meus]<br />

3


O relato prossegue com a afirmação <strong>de</strong> que D. Manuel <strong>de</strong>cidira fazer o mesmo em<br />

Lisboa, colocando em disputa um elefante e um rinoceronte. Antes <strong>de</strong> contar o que lá<br />

aconteceu, Góis proce<strong>de</strong> a um exame das características <strong>de</strong>sses seres, don<strong>de</strong> as narrativas<br />

prece<strong>de</strong>ntes, que intercalam citações <strong>de</strong> Plínio, Solino, etc, e “testemunhos confiáveis” <strong>de</strong><br />

portugueses.<br />

Três subsídios para a compreensão do problema impõem-se: (i) os autores antigos,<br />

que funcionavam como aparato <strong>de</strong> legitimação da argumentação, ao mesmo tempo em que<br />

compunham o mo<strong>de</strong>lo a ser superado – e não só imitado. (ii) Os relatos contemporân<strong>eo</strong>s,<br />

responsáveis por mostrar como os portugueses lidaram com o novo <strong>de</strong> forma mais produtiva<br />

que seus ancestrais – também aten<strong>de</strong>m ao propósito <strong>de</strong> legitimação, agora prática, sob o<br />

manto protetor da ascensão da experiência. Por fim, (iii) a conexão <strong>entre</strong> os dois parâmetros<br />

citados pelo testemunho do próprio autor 5 - será evi<strong>de</strong>nciada a seguir -, fórmula capaz <strong>de</strong><br />

atrair a atenção e enaltecer aquele que produz o texto, um agente reunidor da tensão<br />

experiência-t<strong>eo</strong>ria, então em voga. Um agente verda<strong>de</strong>iramente capaz <strong>de</strong> dizer a verda<strong>de</strong> 6 .<br />

Seria possível insinuar, <strong>de</strong> todo modo, que histórias tão fantásticas têm lugar nas<br />

crônicas somente por representarem uma realida<strong>de</strong> distante daquela vivida pelos leitores – e<br />

pelo redator -, susceptíveis que seriam à crença quase irrestrita das notícias <strong>de</strong> longe. Mas<br />

po<strong>de</strong>mos complexificar a questão, perseguindo as raízes do modo <strong>de</strong> arquitetar a crônica<br />

segundo Damião <strong>de</strong> Góis, a tessitura <strong>de</strong> sua intriga (para lembrar Ricoeur); para tanto, surge-<br />

nos um elefante que chegou ao centro reino – à Lisboa.<br />

Escreve Góis:<br />

Diz Solino que quando os querem embarcar pera os leuarem <strong>de</strong> uma provincia pera<br />

outra, que o nam querem fazer sem lhes prometerem & jurarem os que os leuam, que os ham <strong>de</strong><br />

tornar aquelle mesmo porto don<strong>de</strong> partem, o que he uerda<strong>de</strong> porque eu fui presente quando na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa no caes da pedra embarcaram o elephante que El Rei mandou ao Papa Leão<br />

<strong>de</strong>cimo, como atras fica dito, o qual senam quis nunca meter na barca pera o leuarem a nao,<br />

ate que El Rei mandou per duas vezes recado aho indio que o regia, que <strong>de</strong> sua parte lhe<br />

dixesse que se embarcasse, porque ele lhe prometia por sua fé real que o mandaua a outro mor<br />

senhor que ele <strong>de</strong> quem havia <strong>de</strong> ser melhor tractado, & que se isto nam fosse assi, lhe<br />

prometia trazer ao mesmo lugar don<strong>de</strong> partia. (GÓIS, 1749, p. 478) [grifos meus]<br />

5 Na opinião <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Matos, o interesse <strong>de</strong> Góis pela história teria começado por sua própria observação.<br />

Quando jovem, viveu em Lisboa, tendo sido pajem na corte <strong>de</strong> D. Manuel I. Teve inúmeras oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ouvir os relatos <strong>de</strong> navegantes que chegavam ao porto; além disso, “il était présent à l’embarquement <strong>de</strong><br />

l’éléphant, du léopard et du cheval persan envoyés par Emmanuel Ier lors <strong>de</strong> l’ambassa<strong>de</strong> d’obédience à L<strong>eo</strong>n<br />

X.” MATOS, 1991, p. 438.<br />

6 A noção <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, muito ligada à idéia moral ciceroniana, encontra-se no cerne da escrita <strong>de</strong> Góis. Cf.<br />

SOARES, 2003, p. 14.<br />

4


Comovido pelas palavras do rei, embarcou, “com lhe correrem as lagrimas pelos<br />

olhos” (GÓIS, 1749, p. 478). O capítulo é concluído com a narrativa do combate <strong>entre</strong> o<br />

elefante e o rinoceronte, seguido do transporte do primeiro para a corte papal.<br />

Segundo o cronista, a obra <strong>de</strong> Plínio, “sua natural historia”, diz terem sido os<br />

elefantes muito amigos dos homens, como que seus guias. Enumera outros autores, que, não<br />

por acaso, avaliaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se convencer os elefantes a mudar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado local<br />

para outro. O cronista anunciou ter presenciado, durante sua juventu<strong>de</strong>, a cena confirmadora<br />

das “qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> espírito” daqueles animais elencados pelos clássicos. Decorre disso o<br />

fundo da estratégia narrativa: agora que os medos do mar começam a dissipar-se – como se<br />

quer fazer crer -, convém divulgar aos <strong>de</strong>mais que os seres fantásticos foram subjulgados.<br />

Trata-se do fim <strong>de</strong> um ciclo e do início <strong>de</strong> outro.<br />

Vale a pena retomar, neste ponto, os comentários <strong>de</strong> Elisabeth F. Hirsch, estudiosa da<br />

vida e obra <strong>de</strong> Góis. “It seems, however, that nothing gave Damião more food for reflection<br />

than the strange animals sent to Portugal from Africa and Asia. The spectacle of elephants<br />

from India parading through the streets of Lisbon filled the hearts of Góis […]” (HIRSCH,<br />

1961, p. 6). Temos, por fim, que “such observations did not remain isolated facts in his<br />

resourceful mind but served as a gateway to Far Eastern life and customs” (HIRSCH, 1961, p.<br />

6).<br />

O erudito erasmista, ávido por sintetizar os conhecimentos antigos e aquilo que lhe<br />

rendiam as notícias do passado recente 7 , fez curvarem-se os elefantes, emocionados, diante <strong>de</strong><br />

D. Manuel I. Talvez tenha feito mais do que isso, não pelo o que disse, mas pelo o que <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> dizer.<br />

É patente o fato <strong>de</strong> que a presença <strong>de</strong> elefantes no oci<strong>de</strong>nte respalda-se numa<br />

historiografia que remonta à Antigüida<strong>de</strong>. O próprio humanista retomou sua presença nos<br />

jogos romanos, embora não tenha mencionado outra apreensão possível <strong>de</strong>sses seres, qual<br />

seja, no papel que tiveram em episódio bastante conhecido: a invasão <strong>de</strong> Aníbal <strong>de</strong> Cartago.<br />

Os elefantes, naquele contexto, assumiram o papel <strong>de</strong> ameaça, <strong>de</strong> temor e <strong>de</strong> porta-vozes <strong>de</strong><br />

um modo <strong>de</strong> guerrear que ameaçou as portas <strong>de</strong> uma Roma então invencível. Sendo Góis,<br />

como avaliou Hirsch, alguém muito interessado no tema, seria lícito questionar por que tal<br />

menção não ocorreu?<br />

7 Hirsch chega a conclusão similar: “It meant for him above all another welcome link between his humanist<br />

values and the much cherished overseas scene”. (HIRSCH, 1961, p. 16).<br />

5


Po<strong>de</strong>r-se-ia sustentar que, como cronista pertence à tradição humanista <strong>de</strong> culto ao<br />

mundo clássico, tal referência seria inoportuna, por trazer à tona eventos não “muito dignos<br />

<strong>de</strong> memoria”. Po<strong>de</strong>r-se-ia questionar, igualmente, se Góis sequer soube quem fora Aníbal – a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material disponível oriundo do mundo clássico aumentava consi<strong>de</strong>ravelmente<br />

com a ascensão da impressa, e não po<strong>de</strong>mos tomar por pressuposto que um humanista<br />

conhecia-o todo por ter frequentado círculos eruditos. Avancemos a partir <strong>de</strong>ssas proposições.<br />

Em primeiro lugar, é certo que Góis leu a respeito do cartaginês. Ao traduzir o livro<br />

<strong>de</strong> Catão Maior, <strong>de</strong> Cícero, anota: “E este é aquele velho que [fala <strong>de</strong> Quinto Fábio Máximo] ,<br />

assim como mancebo, sofria os trabalhos da guerra e que, com sua prudência e paciência,<br />

venceu a Aníbal, mancebo vão, glorioso e confiado <strong>de</strong> suas forças e po<strong>de</strong>r” (CÍCERO, 2003,<br />

p. 109) 8 . Noutra obra, o opúsculo Hispania, dado à <strong>de</strong>scrição da Península Ibérica, temos que<br />

“[...] parece até que Aníbal foi mais <strong>de</strong> Espanha que <strong>de</strong> Cartago, se algum crédito merece<br />

Floro que, no livro 2 – capítulo 6 -, o diz criado e nascido aqui.” (GÓIS, 1945, p. 110)<br />

Quanto à faceta guerreira dos elefantes, o cronista ainda po<strong>de</strong> ter tido contato com<br />

fontes contemporâneas, do reinado <strong>de</strong> D. Manuel 9 , que dão conta <strong>de</strong> elefantes <strong>de</strong> guerra que<br />

teriam estado a favor dos portugueses, sob comando do senhor <strong>de</strong> Narsinga (lembremo-nos <strong>de</strong><br />

que o elefante letrado em grego, segundo Góis, vivia naquelas terras). Passo a citar a epístola<br />

que o referido monarca enviou ao papa Leão X, relatando as vitórias no oriente. (o elefante<br />

visto por Góis foi mandado no ano seguinte 10 ) “Estavam, nessa altura, junto do nosso<br />

governador legados do rei <strong>de</strong> Narsinga, rei gentio tão po<strong>de</strong>roso que, segundo consta, ajuntava<br />

facilmente às suas or<strong>de</strong>ns, para combate, mil e quinhentos elefantes <strong>de</strong> guerra […].” (D.<br />

MANUEL, 1979, p. 19)<br />

Góis, enfim, tinha potencial conhecimento do assunto supramencionado. Isso<br />

importa ao estudo na condição <strong>de</strong> que, tendo podido citar aquelas fontes, não o fez,<br />

preferindo, antes, construir uma representação dos elefantes – também fundada no eixo textos<br />

antigos-experiência - como servos leais e subjugados, como se, sob o manto protetor do reino<br />

vitorioso, as outrora temíveis criaturas <strong>de</strong>spertassem não mais que curiosida<strong>de</strong> e piedosa<br />

admiração. São presentes que po<strong>de</strong>-se enviar ao sumo pontífice ou animais que só<br />

8<br />

Góis ainda esclarece, em nota, que Aníbal, “capitão dos Cartagineses, foi nobilíssimo e esforçado.” [nota 26 p.<br />

109].<br />

9<br />

Não é <strong>de</strong>mais relembrar que Góis, na posição <strong>de</strong> Guarda-mor da Torre do Tombo, tinha acesso privilegiado aos<br />

arquivos régios, embora, como pensa Aires. A Nascimento, só tenha <strong>de</strong>le feito uso lacônico e ocasional, no<br />

intuito <strong>de</strong> “credibilizar um dos mirabilia que aduz”. NASCIMENTO, 2002, p. 59.<br />

10<br />

Cf. “Carta do doutor João <strong>de</strong> Faria, membro da embaixada que D. Manuel I enviou ao papa Leão X, sobre a<br />

entrada solene em Roma do embaixador Tristão da Cunha. 18/03/1514.” Arquivos Nacionais/Torre do Tombo -<br />

PT-TT-CC/1/94/66.<br />

6


combateriam cercados, para distração cortesã. Ao acomodarem-se na comunida<strong>de</strong> do império<br />

nascente, não precisavam mais <strong>de</strong> sua faceta militar: eis a memória da vitória que Góis<br />

confere a D. Manuel.<br />

Subsiste o problema <strong>de</strong> se usar um repertório <strong>de</strong> rememorações que <strong>de</strong>sperta a<br />

lembrança <strong>de</strong> tempos fúnebres para o mundo romano; é necessário dizer que (i) Aníbal, ao<br />

que parece, não era persona non grata no pensamento goisiano - “capitão dos Cartagineses,<br />

foi nobilíssimo e esforçado.” – po<strong>de</strong>ria ter sido um homem nascido na Hispania; para mais, a<br />

memória constituída sobre aquele tempo foca-se em como o temível exército <strong>de</strong> elefantes foi<br />

<strong>de</strong>rrotado pela sapiência e po<strong>de</strong>rio romano. O humanista imputa ao Venturoso estatuto<br />

superior: venceu e aliciou as tropas <strong>de</strong> “um antigo inimigo” perdido no tempo, à distância. É a<br />

maneira pela qual Góis dimensionou realida<strong>de</strong>s tão distintas como as que tentava integrar<br />

num todo coerente.<br />

A hipótese colocada <strong>de</strong>ve ser analisada com cuidado, tanto pela pesquisa encontrar-<br />

se em fase inicial, como pelo risco presente em gerar inferências duvidosas a respeito <strong>de</strong><br />

pontos algo obscuros como os elencados. Embora acredite que o problema possa ser<br />

aprofundado pela via <strong>de</strong>monstrada, <strong>de</strong>staco, à guisa <strong>de</strong> alerta, um comentário muito pertinente<br />

<strong>de</strong> um autor que <strong>de</strong>dicou-se a pensar os limites da interpretação.<br />

Todo curto-circuito oculta uma re<strong>de</strong> cultural em que todas as associações, todas as<br />

metonímias e todas as ligações inferenciais potencialmente po<strong>de</strong>m ser exibidas e postas à<br />

prova. Deixando aos falantes a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer um imenso número <strong>de</strong> ligações, o<br />

processo <strong>de</strong> semiose ilimitada permite-lhes criar textos. Mas um texto é um organismo, um<br />

sistema <strong>de</strong> relações internas que actualiza certas ligações e narcotiza outras. Antes que um<br />

texto tenha sido produzido, po<strong>de</strong>ria inventar-se todas as espécies <strong>de</strong> texto. Depois <strong>de</strong> um texto<br />

ter sido produzido, é possível fazê-lo dizer muitas coisas – mas é impossível – ou pelo menos<br />

criticamente ilegítimo – fazê-lo dizer o que não diz. Muitas vezes os textos dizem mais do que os<br />

seus autores tinham intenção <strong>de</strong> dizer, mas menos do que muitos leitores incotinentes queriam<br />

que dissessem.(ECO, 1990, p. 119)<br />

3. É evi<strong>de</strong>nte que o propósito <strong>de</strong> propagan<strong>de</strong>ar Lisboa, no passado e no presente, esteve no<br />

centro das atenções <strong>de</strong> Góis. Ao fazê-lo, no entanto, clarificou um método <strong>de</strong> reflexão sobre a<br />

História, que, como dito, está fundado na operação constante <strong>entre</strong> a autorida<strong>de</strong> fornecida pelo<br />

passado clássico, as referências ao passado próximo (incluindo suas memórias) e as notícias<br />

contemporâneas. Um dos exemplos privilegiados <strong>de</strong>ssa prática representativa surge – procurei<br />

<strong>de</strong>monstrá-lo – da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> seres fantásticos, fonte <strong>de</strong> prestígio e curiosida<strong>de</strong>.<br />

Contrariamente às interpretações que por vezes <strong>de</strong>spontam, não se <strong>de</strong>ve atribuir<br />

exclusivamente o interesse <strong>de</strong> Góis por sereias, elefantes e tritões à pura atração por<br />

7


“irrational and occult matters” (HIRSCH, s/d. p. 338). Esse caminho interpretativo faz<br />

obnubilarem as estratégias mais sutis do erudito – tanto no que diz quanto no que <strong>de</strong>ixa<br />

encoberto. As sereias capturadas, assimiladas e taxadas pelo reino são exibidas no âmbito das<br />

relações <strong>de</strong> força costuradas num diálogo com o mitológico mais profundo do que se po<strong>de</strong><br />

supor à primeira vista. Afinal, as sereias (sirenes), na odisséia, são criaturas assustadoras;<br />

quase conseguem, com seu canto, arrastar Ulisses e seu navio para o fundo do mar 11 – nos<br />

arredores <strong>de</strong> Lisboa, como quer o cronista.<br />

Transformado em história por uma eficiente combinação <strong>de</strong> retórica e <strong>de</strong>monstração<br />

<strong>de</strong> pretensas provas 12 , o mito apagou o nefasto, o medo do <strong>de</strong>sconhecido que vagava no mar.<br />

Não são necessários sob os auspícios do reino on<strong>de</strong> tudo começa a ficar claro a partir dos<br />

relatos dos nautas portugueses. As tropas do Venturoso, seus homens <strong>de</strong> ciência e erudição,<br />

mais que vencer os perigos do oceano, os domesticaram, os trouxeram para perto. Antes, à<br />

distância, potenciais inimigos, elefantes, sereias e tritões passaram a <strong>de</strong>sfrutar das graças<br />

régias na capital. Pagaram-na com o uso das memórias que outrem tem <strong>de</strong> si, orquestradas<br />

pela pena goisiana num discurso que preten<strong>de</strong>u convencer seus leitores <strong>de</strong> que só se quis<br />

retomar “os fatos”.<br />

Um reino tão bem-sucedido só po<strong>de</strong>ria ter sido louvado, admirado, interna e<br />

externamente, pois conquistou, além <strong>de</strong> terras, mercadorias e novos rebentos para a fé cristã, a<br />

chance <strong>de</strong> herdar um império – o quinto Império do mundo, assim se veio a dizer ou assim se<br />

insinuou. Tão antiga quanto Roma, superior a ela na navegação, no trato das bestas, na luta<br />

contra os inimigos, a Lisboa <strong>de</strong> Góis estava preparada para prosperar até o fim dos tempos.<br />

O que a mim na realida<strong>de</strong> vejo acontecer-me é que, quanto mais a velhice se aproxima,<br />

mais coisas se me oferecem que em escritos <strong>de</strong>vam sinalar-se para a eternida<strong>de</strong>, quais com<br />

certeza esses actos preclaros da nossa gente, essa magnitu<strong>de</strong> e varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> empresas, essa<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ilhas e <strong>de</strong> climas, a ponto que, se acaso <strong>de</strong> novo algum Homero surgira, sem<br />

esforço alcançara nas gestas lusitanas encontrar argumentos <strong>de</strong> não fabulosas, antes reais,<br />

Ilíada e Odisseia 13<br />

11 valem as mesmas precauções interpretativas dispostas na p. 7 <strong>de</strong>ste texto.<br />

12 Cf. o seminal texto <strong>de</strong> GINZBURG, 2002, maxime p. 13-47.<br />

13 Carta enviada ao infante D. Luís, em novembro <strong>de</strong> 1548. Cf. TORRES, 1982, p. 366.<br />

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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