15.04.2013 Views

comércio em são paulo - Museu da Pessoa

comércio em são paulo - Museu da Pessoa

comércio em são paulo - Museu da Pessoa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Comecei a trabalhar com<br />

nove anos, aju<strong>da</strong>ndo na<br />

oficina de armas do meu pai<br />

<strong>em</strong> Penápolis. Ele me <strong>da</strong>va<br />

uma mesadinha e eu varria<br />

tudo. Eram três pavilhões<br />

enormes na oficina, oficina<br />

e loja. Então qu<strong>em</strong> cui<strong>da</strong>va<br />

<strong>da</strong> faxina era eu. Além disso<br />

eu ia buscar carvão numa<br />

carvoaria do outro lado <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de. Carvão para usar<br />

na forja, porque lá, se você<br />

não tinha uma peça, tinha<br />

que fazer. E tratava também<br />

com a clientela, que era<br />

b<strong>em</strong> varia<strong>da</strong>, tanto patrões,<br />

como <strong>em</strong>pregados. Aqueles<br />

que tinham mais poder<br />

aquisitivo já tinham uma<br />

espoleteira para caçar. Muitas<br />

pessoas que vinham <strong>da</strong> roça<br />

mesmo. Eu tenho o sotaque<br />

acentuado justamente por<br />

conversar com aquela gente.”<br />

28<br />

sotaque<br />

Sérgio Peli, Ao Gaúcho<br />

Armas, Centro,<br />

nascido <strong>em</strong> 1931<br />

Luiz Carlos Amando de Barros<br />

Luiz Carlos Amando de Barros nasceu <strong>em</strong> Botucatu, interior de São Paulo, no dia 11 de abril<br />

de 1950. Formou-se <strong>em</strong> Direito e Jornalismo. Após uma breve passag<strong>em</strong> por Londres, onde<br />

trabalhou como garçom, retornou ao Brasil e voltou à ativi<strong>da</strong>de jornalística. Nessa época<br />

também começou seu interesse como colecionador de obras de arte, que o levou, no início <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 80, ao <strong>comércio</strong>. Hoje é proprietário de uma galeria de arte na Vila Ma<strong>da</strong>lena.<br />

casa de <strong>comércio</strong><br />

“Eu nasci <strong>em</strong> Botucatu nos anos 50. Era uma ci<strong>da</strong>de b<strong>em</strong> típica<br />

do interior: pacata, tranquila, poucos veículos. Devia ter uns<br />

60, 70 mil habitantes; metade do que t<strong>em</strong> hoje. Minha casa era<br />

grande e tinha sido projeta<strong>da</strong> pelo arquiteto Leandro Dupré. Era<br />

antiga, mas com projeto, to<strong>da</strong> feita no estilo modernista. Ela<br />

fica lá na Rua Quintino Bocaiúva, no centro de Botucatu. Hoje<br />

ela está rodea<strong>da</strong> de edifícios, mas é a mesma casa. E a minha<br />

infância foi do tipo que era uma infância dos anos 50 e 60, de<br />

brincar na rua, de ter muito contato com a vizinhança. A televi<strong>são</strong><br />

d<strong>em</strong>orou para chegar, quer dizer, a televi<strong>são</strong> chegou no final<br />

dos anos 50, mas d<strong>em</strong>orou a contaminar a comuni<strong>da</strong>de. E a<br />

gente an<strong>da</strong>va de bicicleta pela ci<strong>da</strong>de – a ci<strong>da</strong>de tinha muito<br />

menos veículos do que hoje. E to<strong>da</strong> essa brincadeira: futebol<br />

na rua com bola de meia, bolinha de gude e todo esse tipo de<br />

coisa, porque nesse t<strong>em</strong>po ain<strong>da</strong> não existiam os brinquedos<br />

eletrônicos. Uma <strong>da</strong>s l<strong>em</strong>branças que eu tenho é que a gente<br />

ain<strong>da</strong> usava uma coisa que vocês não conheceram: uma caneta<br />

de pena! Você tinha aquele tinteiro que ia molhando, então a<br />

gente chegou a usar isso. E, antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Bic, teve outra<br />

caneta esferográfica que eu me l<strong>em</strong>bro do cheiro dela, enfim, e<br />

que era muito mais rudimentar. Quando estourava a ponta <strong>da</strong><br />

caneta era um horror, porque saía aquela tinta superforte e tal.<br />

Um horror. Minha família também tinha uma casa comercial <strong>em</strong><br />

Botucatu. Meu pai nunca foi sócio dela, mas meus tios eram os<br />

donos <strong>da</strong> loja. Essa loja se chamava Casa Armando. O imóvel,<br />

aliás, até hoje pertence aos meus primos. Ela ficava localiza<strong>da</strong><br />

num ponto central e vendia o chamado secos e molhados a<br />

granel. Eu tenho l<strong>em</strong>brança, por ex<strong>em</strong>plo... Nós éramos, nós<br />

fomos basicamente criados juntos, <strong>da</strong>í que tinha essa coisa de<br />

família grande, que os primos se viam o t<strong>em</strong>po todo e eram como<br />

irmãos. Então eu visitava essa casa comercial constant<strong>em</strong>ente<br />

e eu me recordo b<strong>em</strong> <strong>da</strong>quelas latas enormes de bolacha e de<br />

um lugar, mais ao fundo, que se chamava depósito de cereais.<br />

Aquele cheiro de cebola, aquela coisa que fica na m<strong>em</strong>ória.<br />

E, junto com os alimentos, eles vendiam também ferrag<strong>em</strong>,<br />

cimento. É um tipo de <strong>comércio</strong> que foi superado, mas era<br />

muito comum antigamente. E, por curiosi<strong>da</strong>de, nesse imóvel<br />

onde funcionava a Casa Armando, hoje funciona um Extra,<br />

do grupo do Abílio Diniz. Quer dizer, aquela rua, aquela casa<br />

continuam tendo um papel importante no <strong>comércio</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!