comércio em são paulo - Museu da Pessoa
comércio em são paulo - Museu da Pessoa
comércio em são paulo - Museu da Pessoa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
“Nos anos 40, a vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> São<br />
Paulo era muito tranquila.<br />
Imagine, eu morava no Bom<br />
Retiro e o Bom Retiro era<br />
um lugar b<strong>em</strong> sossegado. E<br />
a gente era moleque de rua<br />
mesmo, até pela pobreza.<br />
A gente hoje seria quase<br />
o tipo do pedinte, desses<br />
que an<strong>da</strong>m na rua aí, os<br />
moleques de rua. Mas só<br />
que naquela época a vi<strong>da</strong><br />
na rua era saudável. Você<br />
brincava, brigava, fazia tudo<br />
o que tinha direito. A gente<br />
jogava bola na rua, jogava<br />
bola de meia, aquelas<br />
coisas de criança, não é?<br />
No final, aqui na várzea<br />
do Bom Retiro, tinha um<br />
descampado. Era uma várzea<br />
grande, tinha os campos<br />
de futebol, a gente jogava<br />
futebol, aquelas brincadeiras<br />
de criança: correr, pular.<br />
Tudo por ali. O Bom Retiro<br />
era muito pequeno.”<br />
50<br />
bola de<br />
meia<br />
Abram Szajman,<br />
sócio-proprietário do<br />
Grupo VR, de São Paulo,<br />
nascido <strong>em</strong> 1939<br />
João Machado de Siqueira<br />
Nascido <strong>em</strong> São Paulo, capital, <strong>em</strong> 19 de dez<strong>em</strong>bro de 1920, João Machado de Siqueira passou a<br />
infância no bairro <strong>da</strong> Freguesia do Ó, brincando nas ruas com carrinhos de rolimã que ele mesmo<br />
construía. Morou alguns anos <strong>em</strong> Santana do Parnaíba e Pirapora, mas depois regressou ao<br />
bairro de orig<strong>em</strong>, <strong>em</strong> busca de <strong>em</strong>prego. Trabalhou <strong>em</strong> um moinho de farinha até ser convi<strong>da</strong>do,<br />
<strong>em</strong> 1944, para ser sócio de uma <strong>da</strong>s pizzarias mais antigas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, a Pizzaria Bruno.<br />
a segun<strong>da</strong> que<br />
virou primeira<br />
“Meu pai me conta que antigamente a ci<strong>da</strong>de começava nas<br />
Perdizes, porque você olhando <strong>da</strong> Freguesia do Ó, no meio não<br />
tinha na<strong>da</strong> ali. Então meu pai vinha de burro e atravessava para<br />
as Perdizes. Ia lá para a ci<strong>da</strong>de vender palha, cidrão, rapadura,<br />
coisas que ele fazia. Quando eu era mocinho, era comum ter<br />
festas nos sítios, nas fazen<strong>da</strong>s do lado de lá. Eu era convi<strong>da</strong>do,<br />
mas, para chegar nos lugares, s<strong>em</strong>pre tinha o probl<strong>em</strong>a que<br />
precisava atravessar o rio de balsa. E não podia esquecer que,<br />
à meia-noite, fechava a balsa. Se você não chegasse a t<strong>em</strong>po,<br />
ficava preso no lado de lá. E aí não tinha outra opção: tinha que<br />
tirar a roupa, pôr na cabeça e atravessar o Tietê a nado. Era<br />
tudo diferente. Era comum você ver os aposentados sentados,<br />
conversando, jogando seu dominó no largo <strong>da</strong> Freguesia. Hoje<br />
não é possível n<strong>em</strong> mais passar lá, porque aumentou d<strong>em</strong>ais o<br />
movimento com aqueles barzinhos todos. Mas foi por essa época,<br />
por volta de 1930, que eu comecei a trabalhar <strong>em</strong> um moinho<br />
de farinha; não me l<strong>em</strong>bro mais o nome, sei que era perto do<br />
Moinho Santista. E depois uma parente minha me arrumou um<br />
<strong>em</strong>prego no Franco-Brasileiro, e então eu comecei a trabalhar no<br />
Curtume Franco-Brasileiro, que era ali no Largo Pompeia. E eu<br />
ia a pé <strong>da</strong> Freguesia até lá todos os dias. Ia e voltava. Os ônibus<br />
d<strong>em</strong>oravam uma eterni<strong>da</strong>de para passar e você corria o risco<br />
de perder a hora se ficasse ali esperando. Trabalhei oito anos no<br />
Curtume. Aí, <strong>em</strong> 1939, veio o convite para formar uma socie<strong>da</strong>de<br />
com o Bruno, Bruno Bertucci, que na época tinha uma casa<br />
que trabalhava frango com polenta. Não era pizzaria ain<strong>da</strong>. O<br />
nome Bruno ficou porque ele era o sócio mais antigo, ele que<br />
abriu a casa. A primeira pizzaria de São Paulo na ver<strong>da</strong>de foi a<br />
Telêmaco, que ficava na Aveni<strong>da</strong> Ipiranga, mas depois ela fechou<br />
e a Bruno ficou com esse título de primeira. Lá no lugar onde<br />
é a pizzaria hoje tinha um barzinho; um sírio que fazia comi<strong>da</strong><br />
síria. Aconteceu que um dia o Bruno foi lá e gostou do ponto;<br />
gostou porque tinha uma coisa interessante: você enxergava<br />
São Paulo <strong>da</strong> pizzaria. Nos anos 40 não existia nenhum prédio<br />
na Freguesia. Agora não, agora foram construindo prédios e<br />
tapou quase to<strong>da</strong> a vi<strong>são</strong>. Hoje o máximo que dá para enxergar<br />
é ain<strong>da</strong> uma parte <strong>da</strong>s Perdizes até a Lapa; é pouco, mas<br />
ain<strong>da</strong> dá. No começo <strong>da</strong>va para ver a ci<strong>da</strong>de inteirinha; só<br />
tinha a Vidraria Santa Marina ao longe e o resto era brejo.”