comércio em são paulo - Museu da Pessoa
comércio em são paulo - Museu da Pessoa
comércio em são paulo - Museu da Pessoa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“A cozinha <strong>da</strong> minha casa na<br />
Itália era grande e o fogão<br />
a lenha tinha dez bocas. Eu,<br />
inclusive, tinha que limpar a<br />
chapa, tirar cinza para fazer<br />
sabão. Misturava com so<strong>da</strong> e<br />
tal. Decoava, como falavam,<br />
e fazia o sabão <strong>em</strong> casa. E o<br />
fogão também tinha outra<br />
função: com o frio, quando<br />
a gente acor<strong>da</strong>va cedo, a<br />
gente ia para perto, ficava<br />
perto do fogão. Cabiam<br />
três, quatro garotos. E o<br />
fogão servia de lareira,<br />
aquecia. Então a cozinha<br />
era um lugar... o hot place,<br />
<strong>em</strong> casa, né? E a mesa era<br />
enorme. Porque nós éramos,<br />
entre filhos, pai e mãe, nós<br />
éramos 12, 14 pessoas às<br />
vezes. E ali tinha papo, era<br />
o chamado get together.<br />
Ali é que meu pai contava<br />
histórias para as crianças.”<br />
86<br />
hot place<br />
Alex Periscinoto, Mappin<br />
/ Almap & BBDO, São<br />
Paulo, nascido <strong>em</strong> 1925<br />
Claudia Dragonetti<br />
Claudia Dragonetti nasceu <strong>em</strong> São Paulo, <strong>em</strong> 1965. Tendo crescido num ambiente comercial,<br />
Claudia e sua irmã administram a loja que pertence à família desde o ano de seu nascimento.<br />
Forma<strong>da</strong> <strong>em</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, test<strong>em</strong>unhou as transformações que afetaram a Aveni<strong>da</strong> Santo<br />
Amaro a partir <strong>da</strong> metade dos anos 80, obrigando os comerciantes a se a<strong>da</strong>ptar<strong>em</strong> para<br />
continuar no mercado. Hoje a loja é especializa<strong>da</strong> na ven<strong>da</strong> de utensílios para cozinha.<br />
abridor gourmet<br />
“Meu pai comprou o Bazar Priscila <strong>em</strong> 1965 e fomos morar no<br />
fundo <strong>da</strong> loja. Depois, já um pouco maior, quando a gente ia à<br />
casa de amigas, a gente achava estranho essa coisa de que, pra<br />
entrar na nossa casa, tinha que passar pela loja. Foi um t<strong>em</strong>po<br />
feliz: a Vila Nova Conceição era cheia de chácaras, você brincava<br />
de bicicleta na Aveni<strong>da</strong> Santo Amaro. Mas eu e a minha irmã<br />
s<strong>em</strong>pre fomos péssimas para queima<strong>da</strong>, para vôlei, então nós<br />
gostávamos de ficar fuçando, brincando de loja no balcão. Tinha<br />
aquelas caixas registradoras de brinquedo. a gente brincava<br />
de contar dinheirinho de mentira. Era uma coisa b<strong>em</strong> pareci<strong>da</strong><br />
com o dia a dia dos nossos pais e ali eu me criei. Mais tarde<br />
nós pegamos aquela fase nos anos 80, que foi a construção<br />
do corredor <strong>da</strong> Santo Amaro. Ficou um barro só. To<strong>da</strong>s aquelas<br />
casas, as nossas freguesas antigas mu<strong>da</strong>ram <strong>da</strong>li. Teve to<strong>da</strong> uma<br />
mu<strong>da</strong>nça no entorno, no público e, também, uma mu<strong>da</strong>nça<br />
no varejo. Antes você botava um balcão, o cliente chegava e<br />
parecia até que você estava fazendo favor <strong>em</strong> vender para<br />
ele. Hoje não, hoje o cliente entra na sua loja e ele é a principal<br />
visita. Você não pode mais ser aquela loja que o cliente chega<br />
e: ‘Quero um abridor de lata.’ Aí você pegava três abridores e<br />
colocava <strong>em</strong> cima do balcão: ‘Vou levar este.’ Hoje eu devo<br />
ter uns 20 modelos de abridores de lata. Então o abridor de<br />
latas combina com o espr<strong>em</strong>edor de alho, que combina com<br />
o cortador de pizza, que faz parte <strong>da</strong> linha que t<strong>em</strong> a grife x; e<br />
t<strong>em</strong> o outro que t<strong>em</strong> a grife y. Você vende conceitos, marcas.<br />
O utensílio, que antes podia ser aquele <strong>da</strong> feira mesmo, agora<br />
as pessoas falam: ‘Que é isso? Que horror!’ Porque as cozinhas<br />
tomaram um lugar nobre dentro <strong>da</strong> casa. Nos anos 80, quando<br />
você ia ver uma planta de apartamento, a cozinha era um<br />
corredor. A moça que ia casar dizia: ‘Eu n<strong>em</strong> sei fritar um ovo.’<br />
Cozinhar era coisa para a ‘nona’, para aquela mulher... Agora,<br />
quando você vai vender um apartamento, t<strong>em</strong> que ter espaço<br />
gourmet. Por incrível que pareça, hoje um dos produtos que<br />
mais vende na loja é máquina de macarrão. Aí você percebe<br />
essa coisa <strong>da</strong> volta, de fazer a massa <strong>em</strong> casa, receber os amigos<br />
na cozinha. Agora isso é o máximo. Todo mundo quer ter uma<br />
cozinha para receber os amigos. Antes não; ninguém ligava.”