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comércio em são paulo - Museu da Pessoa

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Alvio Malandrino<br />

Nascido <strong>em</strong> São Paulo, capital, a 8 de outubro de 1939, Alvio Malandrino passou a infância no bairro<br />

<strong>da</strong> Lapa, entre descendentes de imigrantes italianos. Sua casa era no an<strong>da</strong>r de cima <strong>da</strong> loja de calhas e<br />

materiais hidráulicos. Formou-se <strong>em</strong> economia e, junto com o irmão, assumiu o estabelecimento após<br />

o falecimento de seu pai. Expandiram a loja no decorrer dos anos e se mantêm no segmento até hoje.<br />

planeta lapa<br />

“A Lapa era praticamente uma ci<strong>da</strong>de dentro de São Paulo, e a gente vivia isolado nesse<br />

mundo. Quase to<strong>da</strong>s as pessoas se conheciam. Aconteceram, inclusive, muitos casamentos<br />

entre as famílias que moravam lá. Todo mundo era meio parente de alguém, porque<br />

cresciam juntos, se conheciam, namoravam, iam casando. Então a Lapa praticamente<br />

cresceu autônoma, independente. Quando eu era pequeno, quase não existia urbanização<br />

no bairro. Aqui, ali, algumas casinhas. Na<strong>da</strong> mais. Indo <strong>da</strong> Lapa até a ci<strong>da</strong>de, você via muitos<br />

terrenos vazios. Atrás de onde nós estamos aqui, na Rua Clélia, você via chácaras. O pessoal<br />

plantava verdura, e a gente tinha tudo lá. Existia, um pouquinho mais longe, até mesmo<br />

criação de bois, de vacas. A gente pegava leite fresco lá, todo dia. Com seis anos, eu entrei<br />

no Grupo Escolar Anhanguera. Mas era pertinho de casa, eu ia a pé. Eram dois quarteirões.<br />

Naquela época, é interessante, a gente com sete, oito anos, an<strong>da</strong>va sozinho pela rua. Não<br />

precisava a mãe levar, não precisava o pai levar. Não tinha perigo. Era b<strong>em</strong> tranquilo: ia para<br />

a escola, voltava... Na mesma rua que eu morava. Então, desde os sete, oito anos, eu andei<br />

sozinho. Eu, não; todos, porque o pai trabalhava, a mãe trabalhava. E não tinha probl<strong>em</strong>a.<br />

Era uma vi<strong>da</strong> b<strong>em</strong> tranquila, um ambiente quase rural. Havia só duas ruas que ligavam o<br />

bairro ao centro: a Rua Clélia e a Rua Guaicurus. Mesmo assim, não eram calça<strong>da</strong>s; eram<br />

ruas de terra. O ponto de bonde ficava na Guaicurus e o bonde corria no meio <strong>da</strong> rua. Eram<br />

duas pistas e uma delas era b<strong>em</strong> larga. A Vila dos R<strong>em</strong>édios ficava longe, era isola<strong>da</strong>. Essa<br />

região to<strong>da</strong>: Piqueri, Freguesia, ficava longe. Itaberaba acho que n<strong>em</strong> existia. Tinha a Aveni<strong>da</strong><br />

Itaberaba e ali acabava o mundo. Depois já começava o pe<strong>da</strong>ço de mata atlântica, Serra <strong>da</strong><br />

Cantareira. Meu pai montou a loja <strong>em</strong> 1938, <strong>em</strong>baixo <strong>da</strong> casa onde a gente morava. E eu<br />

comecei a trabalhar cedo, até porque não tinha jeito: era só descer uma esca<strong>da</strong> e pronto, já<br />

estava na loja. Uma coisa curiosa que me v<strong>em</strong> à m<strong>em</strong>ória é que algumas entregas eram<br />

feitas de carroça. Na época <strong>da</strong> guerra, faltava combustível, então, havia muitos carroceiros<br />

lá na Lapa que tinham ponto. Como hoje t<strong>em</strong> ponto de táxi, tinha o ponto de carroça. Elas<br />

faziam uma entrega maior, mais pesa<strong>da</strong>. Mas voltando à loja, inicialmente eles começaram<br />

com fabricação de calhas. Aí, logo um ano depois, começaram com umas máquinas de<br />

dobrar calha. Foi melhorando a coisa já arrumaram dois funcionários, e começaram a<br />

vender, além <strong>da</strong>s calhas, torneira, registro e tal. Eu ficava por ali, atendendo, aprendendo a<br />

conhecer as peças devagar. E isso me trouxe ótimas relações, porque você passava a conviver<br />

com os clientes e com o t<strong>em</strong>po eles se tornavam amigos. Eram encanadores, pequenos<br />

<strong>em</strong>preiteiros que vinham atrás de material hidráulico. Hoje já estou aposentado. Tenho um<br />

filho que já está lá, trabalhando, e um sobrinho, filho do meu irmão. São jovens de 30, 40<br />

anos, e eles é que estão tomando conta do negócio... Eu na ver<strong>da</strong>de não tenho uma função<br />

hoje. Cuido do financeiro, mas assim, só pra dizer que t<strong>em</strong> alguma coisa. É mais para não<br />

ficar <strong>em</strong> casa. Eu brinco que sou a rainha <strong>da</strong> Inglaterra. Vou lá só para fazer relações públicas:<br />

converso com um, com outro. Mas <strong>em</strong>presa familiar é isso: ou alguém continua, ou fecha.”<br />

o t<strong>em</strong>po<br />

dos<br />

barreletes<br />

“Hoje, quando vejo essa<br />

criança<strong>da</strong> s<strong>em</strong> espaço para<br />

brincar, penso naquele meu<br />

t<strong>em</strong>po de infância. As ruas<br />

eram to<strong>da</strong>s de terra bati<strong>da</strong>,<br />

aqueles espaços, terrenos<br />

vazios, onde você colocava<br />

dois pe<strong>da</strong>ços de pau, um<br />

de ca<strong>da</strong> lado, e fazia <strong>da</strong>li<br />

traves, e fazia campinho.<br />

Podia <strong>em</strong>pinar, naquele<br />

t<strong>em</strong>po a gente chamava de<br />

barrelete, hoje chamam de<br />

pipas, s<strong>em</strong> muito perigo de<br />

enroscar <strong>em</strong> fios elétricos.<br />

Muitos, muitos passarinhos...<br />

e eu, garoto, s<strong>em</strong>pre de<br />

estilingue na mão, caçando<br />

passarinho, entrando nos<br />

terrenos vizinhos pra roubar<br />

frutas, entende? Chegava e<br />

entrava pra roubar laranja,<br />

roubar jabuticaba. Era<br />

b<strong>em</strong> diferente comparado<br />

com o que é hoje.”<br />

Sebastião Martins Vieira,<br />

Ravil Canetas e Lapiseiras,<br />

Centro, nascido <strong>em</strong> 1941<br />

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