O mutirão autogerido como procedimento inovador na ... - Habitare
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inúmeros grupos de famílias da Zo<strong>na</strong> Sul da cidade. Após os violentos processos de<br />
desocupação, estas passaram a se articular em torno de lideranças que procuravam<br />
estabelecer meandros possíveis de negociação com o poder público: “Na invasão de Itupu o<br />
movimento sentou para discutir coisas concretas”, afirma Olímpio da Silva Matos,<br />
liderança que marcou época <strong>na</strong> Zo<strong>na</strong> Sul, um dos principais protagonistas do processo de<br />
urbanização da favela Recanto da Alegria, no Grajaú. É <strong>como</strong> decorrência desse processo<br />
que <strong>na</strong>scem diversos movimentos <strong>na</strong> Zo<strong>na</strong> Sul que irão, aos poucos, conquistando sucesso<br />
<strong>na</strong>s negociações promovidas junto ao poder público. Articulados numa Coorde<strong>na</strong>ção, o<br />
Movimento de Moradia da Zo<strong>na</strong> Sul acaba conseguindo negociar uma gleba de terras<br />
pertencente ao Instituto Adventista – 885.000m2 – e uma outra área menor no Parque<br />
Fer<strong>na</strong>nda. Às custas de acampamentos – durante 9 dias, em agosto de 1983, o Movimento<br />
manteve um grande número de pessoas acampadas em frente à COHAB – e de outras<br />
ocupações de terras, o Movimento inicia, neste ano, uma série de mutirões e, em agosto de<br />
1984, promove o 1º Encontro de Movimentos de Moradia – por Cooperativismo, Ajuda<br />
Mútua e Autogestão.<br />
Essa rápida pincelada nos termos de referência que a pesquisa acabou revelando, levou-nos<br />
considerar pelo menos 2 aspectos que julgamos importantes:<br />
a. Apesar do <strong>mutirão</strong> constituir prática corrente <strong>como</strong> cultura de ajuda mútua no Brasil,<br />
ele não guarda absolutamente nenhuma referência anterior ao que se compreende por<br />
autogestão: gestão autônoma de processos produtivos que implica <strong>na</strong> organização<br />
coletiva e participada dos mecanismos de administração dos recursos – sejam eles quais<br />
forem.<br />
b. Se por um lado o referencial teórico para as formulações que darão substrato aos<br />
<strong>procedimento</strong>s autogestionários para produção de moradias no Brasil é fundado a partir<br />
de experiências exter<strong>na</strong>s (as formulações teóricas de Turner e a experiência das<br />
Cooperativas Uruguaias), por outro lado o contexto que é criado e que cria as condições<br />
para o surgimento de um Movimento de Moradia que demanda tais <strong>procedimento</strong>s não<br />
se assemelha, em absoluto, às condições sócio-políticas que subjazem àquelas<br />
formulações.<br />
Dessa forma, foi significativo observarmos que:<br />
a. Os <strong>procedimento</strong>s autogestionários para produção da moradia estão inextricavelmente<br />
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