BOLETINS TÉCNICOS PUBLICADOS - Publicações - USP
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Paulo (SINGER, P. 1967 p.79). Explica o autor que as<br />
indústrias, como qualquer outro setor da sociedade, procuram<br />
se instalar nos locais mais adequados ao desempenho de<br />
suas atividades, contudo, a vantagem locacional deve superar<br />
o preço da terra, um fator importante se levarmos em conta o<br />
fato de que a maioria das indústrias necessita de grandes<br />
instalações. Por esse motivo as indústrias instalaram-se<br />
prioritariamente em áreas vazias próximas às ferrovias, onde<br />
além da facilidade de transporte havia a abundância de água<br />
e o preço baixo dos terrenos que haviam sido desprezados<br />
por outros usos em razão da insalubridade dos mesmos,<br />
provocada pelas constantes enchentes. Com a ocupação<br />
dessas áreas e as obras realizadas e a instalação de usos<br />
residenciais, as mesmas tendem a se valorizar, o que fez o<br />
setor industrial procurar novas regiões mais distantes da<br />
localização ideal, mas com preços compensadores. Ao<br />
realizarmos uma comparação entre os mapas de Souza sobre<br />
a valorização e os mapas de transformações no uso do solo,<br />
podemos observar que essas áreas realmente sofreram<br />
valorização.<br />
Nas últimas décadas a diminuição da demanda industrial na<br />
área de estudo também foi incentivada pela própria<br />
reorganização da economia mundial, levando alguns ramos<br />
industriais mais antigos à rápida obsolescência e ao<br />
fechamento. Essa necessidade de modernização dos antigos<br />
parques industriais, provocada pelas novas formas de<br />
produção alcançadas pelo grande desenvolvimento<br />
tecnológico, tornou muito mais vantajoso para a indústria<br />
transformar suas antigas sedes em capital aplicável em<br />
modernização através da venda de seus terrenos, já<br />
valorizados, para novos usos, para os quais a vantagem da<br />
localização supera o preço desses terrenos.<br />
5.3 Tipo 5 - Preservação de alguns bairros residenciais<br />
horizontais<br />
Alguns bairros residenciais de elite (Campos Elíseos,<br />
Higienópolis, etc.) ou de classe média (Santa Cecília,<br />
Pinheiros, Itaim, etc.), mantiveram-se preservados por algum<br />
tempo para depois sofrerem algum tipo de transformação.<br />
Outros bairros, alguns bem antigos (Pacaembú, Jardim<br />
América, Jardim Europa), encontram-se em razoável estado<br />
de conservação (ou seja, com transformações nos corredores<br />
ou em pequenas áreas), embora o entorno da maioria desses<br />
bairros tenha sofrido grandes transformações.<br />
No primeiro caso, a preservação dos bairros se justifica por<br />
baixa demanda ou deficiências nas condições oferecidas por<br />
essas áreas para atender as demandas existentes e a<br />
disponibilidade de outras áreas com melhores condições para<br />
atender a essas demandas. A presença de enchentes, a<br />
distância ao centro, dificuldades de acesso, as deficiências de<br />
infra-estrutura (água, esgoto, iluminação, transportes, etc.), o<br />
baixo poder aquisitivo dos moradores e outros fatores<br />
dificultaram, por exemplo, a instalação de áreas comerciais e<br />
de apartamentos frente à concorrência de outras áreas com<br />
melhores condições disponíveis. Nem mesmo o baixo custo<br />
dos terrenos e a ausência de legislação restritiva incentivaram<br />
a instalação de novos usos. Quando esses fatores deixaram<br />
de existir, quer pela melhoria da infra-estrutura, obras viárias<br />
ou pelo esgotamento ou excessiva valorização de outras<br />
áreas, essas antigas áreas desprezadas passaram a receber<br />
novos usos.<br />
Já no segundo caso, da preservação dos bairros residenciais<br />
de elite e classe média, essa justificativa (principalmente de<br />
baixa demanda) foi parcialmente válida apenas nos primeiros<br />
anos desses bairros, pois seu entorno também não havia<br />
sofrido as profundas transformações atuais.<br />
Uma das causas prováveis dessa relativa conservação é a<br />
legislação. Os primeiros bairros residenciais horizontais de<br />
elite, loteados ainda no final do século XIX, Campos Elíseos e<br />
Higienópolis, sofreram grandes transformações com aumento<br />
de uso comercial e de apartamentos. Notamos que tais<br />
bairros foram pouco protegidos pela legislação, que quando<br />
da fundação dos mesmos eram instrumentos pouco<br />
utilizados. Bairros de classe média também chegaram a ter<br />
legislação restritiva a outros usos não residenciais, como o<br />
Jardim Paulista, a Aclimação e outros, entretanto, ela também<br />
foi sendo revogada ao longo dos anos.<br />
Alguns bairros residenciais horizontais de elite, como o Jardim<br />
América, o Alto da Lapa, construídos pela Companhia City,<br />
possuíram restrições particulares constantes no contrato<br />
estabelecendo, sobretudo, as condições de ocupação para<br />
garantir as qualidades urbanísticas, e que envolviam quase<br />
sempre a proibição de instalação de usos diferentes do uso<br />
residencial horizontal. Essas restrições foram incorporadas<br />
em sua maioria à legislação oficial. Há casos, fora da área de<br />
estudo, como o bairro popular do Jaguaré, em que essas<br />
restrições simplesmente não foram obedecidas e foram<br />
revogadas principalmente pela lei de zoneamento e suas<br />
modificações, que consideraram o fato de que contratos<br />
particulares não poderiam se sobrepor à legislação dos<br />
poderes públicos.<br />
Esses bairros residenciais de elite e classe média alta sofrem<br />
constante pressão por modificações na legislação e seus<br />
moradores estão razoavelmente organizados contra essas<br />
alterações. Entretanto, só essa mobilização parece não ser<br />
suficiente em todos os casos, pois mobilizações de moradores<br />
de bairros de classe média não têm sido tão eficientes na<br />
manutenção das características de seus bairros, como<br />
ocorreu recentemente com os moradores das imediações do<br />
prolongamento da avenida Faria Lima. Entretanto, os<br />
moradores dos bairros residenciais horizontais de elite têm<br />
sido capazes de barrar tais modificações.<br />
Fig. 19: áreas estritamente residenciais (apartamento não permitido)<br />
1922/1999<br />
REVOGADAS<br />
VIGENTES EM 1999<br />
5.4 - Considerações finais<br />
Através da análise dos capítulos anteriores podemos concluir<br />
que a transformação do uso do solo é um processo<br />
comandado principalmente pela demanda e oferta (WINGO;<br />
ALONSO apud CHORLEY, R. 1971 p.260); (WINGO;<br />
ALONSO apud SÓCRATES, J. 1983 p.31); (WINGO;<br />
ALONSO apud ZMITROWICZ, W, 1979 p.53). Contudo, uma<br />
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