Advir 22 - Asduerj
Advir 22 - Asduerj
Advir 22 - Asduerj
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
edro Ernesto no Dia Estadual do<br />
a outra batalha travada naquele<br />
rgico e nas enfermarias<br />
a a a a dir direita, dir eita, Car Carlos Car los Mor Moreno Mor eno eno, eno Iv Ivan Iv Iv an Ma Mathias Ma Ma thias e e Edna Edna da da Cunha Cunha<br />
Cunha<br />
Ernesto. “Eu fui explicar<br />
que eu não tinha nada a<br />
ver com o negócio, que<br />
eu era um médico de<br />
plantão e queria entrar<br />
para operar, mas não<br />
deixaram”, revela. Ainda<br />
sob tiros e bombas de<br />
gás, Ivan pulou o muro<br />
do outro lado do hospital,<br />
na saída da rua<br />
Teodoro da Silva.<br />
No centro cirúrgico,<br />
foram suspensas todas<br />
as operações agendadas<br />
a fim de dar lugar aos estudantes<br />
feridos. Sem saber<br />
nem mesmo o nome dos jovens, os médicos identificaram cada um<br />
deles por números escritos nos esparadrapos: “ferido 1”, “ferido 2”...<br />
Nesse dia, o plantão foi geral. Edna da Cunha conta que todos os médicos<br />
permaneceram no hospital por “24 horas ou mais”. O Pedro Ernesto<br />
tranformou-se num pronto-socorro. A necessidade de urgência no atendimento<br />
e o cerco policial obrigaram a equipe a atender os estudantes<br />
imediamente. “Ninguém pensou em pegar um aluno desse e botar numa<br />
ambulância, levar para o Souza Aguiar. Não havia tempo!”, conta Edna.<br />
Apesar de não funcionar como emergência, o Pedro Ernesto dispunha<br />
de bons cirurgiões, habituados com o trabalho em pronto-socorro. À exceção<br />
de Luiz Paulo, todos os demais se salvaram, alguns com seqüelas. Ao<br />
fim do plantão, só não foi curado o sentimento de impotência e tristeza,<br />
revela Edna: “Nós nunca pensamos em assistir isso. Nessa época já não<br />
éramos estudantes, mas vimos nossos estudantes morrerem e se ferirem<br />
dessa forma. Isso foi uma tristeza absoluta. Foi um luto”.<br />
Eisenstein. A correria tinha destino: retornar ao<br />
hospital. Nem todos conseguiram.<br />
Luiz Luiz Luiz P PPaulo<br />
P aulo<br />
Ele não estava lá, concordam todos. A memória,<br />
sem dúvida uma das faculdades mentais mais<br />
afeitas à intervenção do tempo, tem os seus ca-<br />
prichos. Após quarenta anos, tornou-se difícil<br />
para os entrevistados precisar o momento,<br />
definir a forma, delimitar o acontecimento. No<br />
entanto, o emaranhado de lembranças converge<br />
ao se dirigir a um personagem: Luiz Paulo<br />
não participava do ato. O amigo de todos, o<br />
bom aluno, o capitão do time, o belo rapaz não<br />
era exatamente um militante político.<br />
“Um exemplo típico de estudante que era<br />
contra a ditadura, mas que não pertencia a<br />
nenhuma organização política, sequer era do<br />
diretório”, descreve o professor João Andrade,<br />
que também integrava a direção do Casaf, em<br />
68. Segundo Evelyn, naquele dia, Luiz Paulo<br />
era um dos muitos alunos que foram às varandas<br />
do hospital para “simplesmente acompanhar<br />
o aglomerado e a bagunça”. “A Isabel,<br />
que era da nossa turma, viu-o na varanda e o<br />
chamou: ‘desce’. Isto foi pouco antes do tiroteio<br />
começar”, conta.<br />
A situação extrema, o passar do tempo e a<br />
angústia de cada um ao viver e ao relembrar<br />
aquele momento não permitem definir com precisão<br />
o que ocorreu depois. Para Evelyn, Luiz<br />
Paulo foi atingido ao chegar ao portão. O professor<br />
Valter, no entanto, lembra-se de uma<br />
curta conversa, em que perguntava por um<br />
amigo e ele respondia sorridente: “Você não o<br />
viu? Ele pôs os policiais para correr!”. Alto e<br />
forte, alguns se recordam dele ajudando a expulsar<br />
os policiais; para outros, estava tentando<br />
fechar o portão para evitar a invasão do hospital<br />
pela polícia e por isto fora atingido. Em reportagem<br />
publicada na revista Fatos e Fotos, uma funcionária<br />
afirmava que ele morrera ao tentar ajudar<br />
uma colega caída ao chão.<br />
“Corri em direção à entrada de carro e ele à<br />
de pedestre. Quando cheguei do outro lado e<br />
ADVIR ADVIR Nº Nº <strong>22</strong> <strong>22</strong> • • OUTUBRO OUTUBRO DE DE 2008 2008 • • 13<br />
13