Advir 22 - Asduerj

seqüestros nos quais acabaram limitadas as grandes
ambições daquela estratégia.
Não é muito fácil dizer quando começou a reação
ao golpe que acabou por reunir em 1968
aquela explosão de vida cujo centro, mesmo que
se considere o que houve noutras capitais e cidades
pelo Brasil, foi o Estado da Guanabara, em
rigor, a cidade do Rio de Janeiro, em seu último
ano de autêntica capital do país. Pode ser que
tenha começado em outubro de 1964, no show
Opinião, protagonizado por Nara Leão, Zé Kéti e
João do Vale, e que, em 1965, lançou Maria
Bethânia. Talvez por eles, talvez pelo espetáculo
em si, idealizado por Oduvaldo Viana Filho e diri-
do Henfil, de mesmo espírito. A isso tudo se juntou
uma proliferação de grupos teatrais e montagens
de espetáculos em muitos lugares do país,
nos quais se tinha vontade de novas experiências
artísticas, políticas e existenciais, procurando seguir
o sucesso de espetáculos como Os Pequenos
Burgueses, Galileu Galilei e O Rei da Vela, cujo
diretor, José Celso Martinez Corrêa, ainda faria
com Roda Viva, texto de Chico Buarque, a maior
das provocações culturais naquele tempo de cinema
novo e Glauber Rocha. Claro, isso lavava a
alma da esquerda, mas enfurecia os militares e
os violentos grupelhos de direita como o MAC,
movimento anticomunista, e o CCC, comando de
Não é fácil dizer quando começou a reação ao golpe. Pode ser que tenha
começado em outubro de 1964, no show Opinião, protagonizado por
Nara Leão, Zé Kéti e João do Vale, e que, em 1965, lançou Maria Bethânia.
gido por Augusto Boal, porém muito mais pelo
que provocou nas platéias noite após noite no
Rio e no país afora, e pela repercussão que tiveram
as suas músicas, indicando que estávamos
descobrindo que, por meio da arte, muita coisa
podia ser dita, feita, esclarecida e transformada.
Aproveitando as ambigüidades e vacilações da
democradura, outros espetáculos foram montados,
com destaque para Liberdade, Liberdade,
escrito por Millôr Fernandes e Paulo Rangel, criando,
além daquele espírito de resistência, um
clima de deboche daquela contraditória ordem
política e dos responsáveis por ela. Isto, de certo
modo, começara com as colunas do Stanislaw
Ponte Preta na Última Hora e com a publicação
do Garoto Linha Dura, cuja seqüência veio nos
dois livros do FEBEAPÁ, Festival de Besteira que
Assola o País, aos quais se deve colar os cartoons
caça aos comunistas. Por isso, enquanto o tempo
não fechou de vez, fato que só aconteceria com o
AI-5, as manifestações literárias e artísticas de
resistência e/ou deboche correram o constante
perigo de serem proibidas, uma vez que a censura
oficial não tardou a desconfiar e a procurar
vetá-las porque contrárias à ordem e aos bons
costumes, fora o perigo de sofrerem ataques,
como, em 1968, o espancamento do elenco da
peça Roda Viva por parte do CCC e o seqüestro,
seguido de tortura, de Norma Bengell, presa em
São Paulo e libertada no Rio de Janeiro. Toda essa
movimentação incomodava quem se apropriava
das conhecidas palavras de Göring: “Quando ouço
a palavra cultura, puxo logo o revólver”.
Era um tempo de ser diferente, conforme, contestando,
Marcos e Paulo Sérgio Valle, no samba
A Resposta, cantaram contra Nara Leão,
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